.Saúde é um tema complexo, produto da história, da cultura, da religião da
organização social e econômica, das condições de vida e trabalho, da subjetividade, dos valores, desejos e das relações afetjvas das pessoas e dos grupos de que elas são parte. Ou seja, a maneira como as pessoas vivem, moram, alimentam-se, trabalham, amam, divertem-se, movimentam seus corpos, ou seja, a maneira como as pessoas levam a sua vida, interfere em seu equilíbrio vital e, portanto, no seu processo saúde-doença. Além disso, os modos como as pessoas compreendem a saúde e a doença, definem o que lhes faz bem ou mal, como buscam informações sobre saúde, e como procuram cuidar de sua saúde interfere no modo como se relacionam com os serviços de saúde e nas expectativas que têm a respeito deles — individual e coletivamente. O setor saúde em determinado momento é a combinação articulada de todos os campos de força gerados pelas questões relacionadas à saúde. Isso porque cada problema em discussão na sociedade gera seu campo de forças, ou seja, mobiliza a ação de determinados sujeitos interessados. Por ser um espaço social, ele se redefine permanentemente, conjuntural e historicamente, como espaço em que se disputa o poder cotidiano e como espaço em que se disputa o poder social geral. Há vários exemplos significativos de temas específicos que desdobram a área clássica das ‘políticas de saúde* e conformam novas possibilidades de trabalho e de inserção em organizações governamentais, privadas e do terceiro setor. Um deles refere-se às questões de "saúde e gênero". Inicialmente as mulheres (por meio dos movimentos de mulheres) e atualmente também os homens reivindicaram atenção especial para seus problemas específicos de saúde (sexualidade, sexo seguro, prevenção de doenças, planejamento familiar, etc.), exigiram que fossem respeitados concepções, temores e apreensões dos diferentes segmentos a respeito dessas questões, exigiram que se eliminasse o preconceito e os maustratos anteriormente existentes em determinadas situações (atenção pós aborto, por exemplo). Hoje há distintos segmentos sociais organizados com o objetivo de conquistar/assegurar as melhores condições possíveis para a produção de sua saúde: respeito aos seus valores e práticas, linguagem adequada, profissionais capazes de dialogar e cuidar, acesso aos serviços de acordo com suas necessidades, etc. Nessa categoria se enquadram desde movimentos de portadores de patologias específicas até movimentos sociais como os “Sem Terra” neste conjunto de direitos e demandas se conectam outros campos temáticos que fluem e se desdobram das “ciências humanas e sociais,’' como por exemplo, "cidadania e participação'’, 'bioética' "saúde e cultura'’ que vêm sendo reconhecidas como campos de pesquisas e produção de conhecimentos e práticas e se configurando como oportunidades de trabalho em organizações públicas e privadas. As ciências da saúde trabalham fortemente com a referência dos processos biológicos como central, mas existem outras referências, historicamente construídas, a respeito da saúde, da doença, da vida e da morte, como as medicinas orientais, o saber popular sobre saúde e os conhecimentos que os diferentes segmentos sociais acumularam a respeito. Os movimentos sociais, além de muitos profissionais e pesquisadores, desejam, então, que a produção de informação e a comunicação em saúde levem em conta outras dimensões que não a biológica. Desejam também o mesmo em relação ao processo de educação em saúde, de modo que ele se faça por meio de um diálogo entre saberes e de referências. E que as pessoas possam optar pelas maneiras de evitar, enfrentar e/ ou conviver com seus problemas de saúde da maneira que lhes for mais adequada. Comunicação e Informação e Educação em Saúde, portanto, são campos de produção de saber, de práticas sociais e objeto de políticas públicas em nosso País e, portanto, campo de trabalho aberto. Há várias outras dimensões operando na produção da vida (e da saúde), que não estão sendo levadas em conta: a subjetividade, a cultura, a espiritualidade, os valores, o lugar social, as condições de vida material. as relações de trabalho, a urbanização, os conflitos ambientais, etc. Por isso a verdade científica sobre saúde é parcial, incompleta e limitada. Nesse sentido, a epidemiologia, área clássica da saúde coletiva. se recida e abre possibilidades para outras articulações de produção de conhecimentos e práticas como por exemplo, “saúde e espiritualidade'; “saúde e trabalho” "saúde urbana", “saúde e ambiente", "saúde e desenvolvimento* que gradativamenie vão se apresentando como espaços de inserções organizacionais. Para começar, o trabalho em saúde não é completamente controlável. Como se baseia em uma relação entre pessoas, em todas as fases de sua realização ele está sujeito aos desígnios do trabalhador em questão. Cada trabalhado e cada usuario, em idéias, valores e concepções acerca de saúde, do trabalho em saúde e de como ele deveria ser Tealizado. E todos fazem uso de seus pequenos espaços de autonomia para agir como lhes parece correto, ou de acordo com seus interesses. O terreno das organizações de saúde, por ser um espaço de intervenção de diferentes atores a partir de suas capacidades de autogoverno, que disputam a orientação do dia-a-dia com as normas e regras instituídas, está sempre tensionado pela polaridade entre autonomia e controle. Este também é um espaço de possibilidades para a construção de estratégias que levem os trabalhadores a utilizar seu espaço privado de ação em favor do interesse público (dos usuários). Considerando a complexidade do trabalho em saúde, assim como para a produção de conhecimento, é necessário o concurso de várias disciplinas, a produção do cuidado integral às pessoas e populações também requer o trabalho articulado de diferentes profissionais em uma equipe dentro de uma unidade, por meio do apoio matricial de especialistas às equipes básicas quando elas assim o necessitam, por meio da construção articulada de projetos terapêuticos de modo que garanta o acesso das pessoas aos cuidados e serviços de que necessitam. A mudança do perfil epidemiológico, com o envelhecimento da população e o predomínio de doenças crònico-degenerativas e a diversificação da oferta de serviços de saúde para além dos cuidados básicos (incluindo a saúde bucal, a saúde mental, a reabilitação) que o SUS vem promovendo, tem aberto novas possibilidades de inserção no trabalho de atenção à saúde para muitas profissões da saúde, como os farmacêuticos, os nutricionistas, os fisioterapeutas, os odontólogos, os psicólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros. Além de trabalhar com o tema do cuidado às pessoas, a saúde coletiva também se ocupa do cuidado ao meio ambiente e da vigilância à saúde. Meio ambiente e saúde é um campo interdisciplinar em que há grande necessidade de produção de conhecimento e de agendas, que, necessariamente são intersetoriais, o que agrega ainda mais complexidade ao campo de práticas. São ferozes as disputas neste campo, em que interesses contraditórios se explicitam particularmente no que diz respeito aos constrangimentos que a proteção do meio-ambiente impõe a determinadas atividades econômicas.