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RESENHA DO LIVRO “TRATADO DE SAÚDE COLETIVA”.

MARIA CAROLINA CARIZIO MARINO

BEBEDOURO 2019
Resenha do capítulo 6

 .Saúde é um tema complexo, produto da história, da cultura, da religião da


organização social e econômica, das condições de vida e trabalho, da
subjetividade, dos valores, desejos e das relações afetjvas das pessoas e
dos grupos de que elas são parte. Ou seja, a maneira como as pessoas
vivem, moram, alimentam-se, trabalham, amam, divertem-se, movimentam
seus corpos, ou seja, a maneira como as pessoas levam a sua vida, interfere
em seu equilíbrio vital e, portanto, no seu processo saúde-doença. Além
disso, os modos como as pessoas compreendem a saúde e a doença,
definem o que lhes faz bem ou mal, como buscam informações sobre saúde,
e como procuram cuidar de sua saúde interfere no modo como se relacionam
com os serviços de saúde e nas expectativas que têm a respeito deles —
individual e coletivamente.
 O setor saúde em determinado momento é a combinação articulada de todos
os campos de força gerados pelas questões relacionadas à saúde. Isso
porque cada problema em discussão na sociedade gera seu campo de
forças, ou seja, mobiliza a ação de determinados sujeitos interessados. Por
ser um espaço social, ele se redefine permanentemente, conjuntural e
historicamente, como espaço em que se disputa o poder cotidiano e como
espaço em que se disputa o poder social geral.
 Há vários exemplos significativos de temas específicos que desdobram a
área clássica das ‘políticas de saúde* e conformam novas possibilidades de
trabalho e de inserção em organizações governamentais, privadas e do
terceiro setor. Um deles refere-se às questões de "saúde e gênero".
Inicialmente as mulheres (por meio dos movimentos de mulheres) e
atualmente também os homens reivindicaram atenção especial para seus
problemas específicos de saúde (sexualidade, sexo seguro, prevenção de
doenças, planejamento familiar, etc.), exigiram que fossem respeitados
concepções, temores e apreensões dos diferentes segmentos a respeito
dessas questões, exigiram que se eliminasse o preconceito e os maustratos
anteriormente existentes em determinadas situações (atenção pós aborto,
por exemplo).
 Hoje há distintos segmentos sociais organizados com o objetivo de
conquistar/assegurar as melhores condições possíveis para a produção de
sua saúde: respeito aos seus valores e práticas, linguagem adequada,
profissionais capazes de dialogar e cuidar, acesso aos serviços de acordo
com suas necessidades, etc. Nessa categoria se enquadram desde
movimentos de portadores de patologias específicas até movimentos sociais
como os “Sem Terra” neste conjunto de direitos e demandas se conectam
outros campos temáticos que fluem e se desdobram das “ciências humanas
e sociais,’' como por exemplo, "cidadania e participação'’, 'bioética' "saúde e
cultura'’ que vêm sendo reconhecidas como campos de pesquisas e
produção de conhecimentos e práticas e se configurando como
oportunidades de trabalho em organizações públicas e privadas.
 As ciências da saúde trabalham fortemente com a referência dos processos
biológicos como central, mas existem outras referências, historicamente
construídas, a respeito da saúde, da doença, da vida e da morte, como as
medicinas orientais, o saber popular sobre saúde e os conhecimentos que os
diferentes segmentos sociais acumularam a respeito. Os movimentos sociais,
além de muitos profissionais e pesquisadores, desejam, então, que a
produção de informação e a comunicação em saúde levem em conta outras
dimensões que não a biológica. Desejam também o mesmo em relação ao
processo de educação em saúde, de modo que ele se faça por meio de um
diálogo entre saberes e de referências. E que as pessoas possam optar
pelas maneiras de evitar, enfrentar e/ ou conviver com seus problemas de
saúde da maneira que lhes for mais adequada. Comunicação e Informação e
Educação em Saúde, portanto, são campos de produção de saber, de
práticas sociais e objeto de políticas públicas em nosso País e, portanto,
campo de trabalho aberto.
 Há várias outras dimensões operando na produção da vida (e da saúde), que
não estão sendo levadas em conta: a subjetividade, a cultura, a
espiritualidade, os valores, o lugar social, as condições de vida material. as
relações de trabalho, a urbanização, os conflitos ambientais, etc. Por isso a
verdade científica sobre saúde é parcial, incompleta e limitada. Nesse
sentido, a epidemiologia, área clássica da saúde coletiva. se recida e abre
possibilidades para outras articulações de produção de conhecimentos e
práticas como por exemplo, “saúde e espiritualidade'; “saúde e trabalho”
"saúde urbana", “saúde e ambiente", "saúde e desenvolvimento* que
gradativamenie vão se apresentando como espaços de inserções
organizacionais.
 Para começar, o trabalho em saúde não é completamente controlável. Como
se baseia em uma relação entre pessoas, em todas as fases de sua
realização ele está sujeito aos desígnios do trabalhador em questão. Cada
trabalhado e cada usuario, em idéias, valores e concepções acerca de
saúde, do trabalho em saúde e de como ele deveria ser Tealizado. E todos
fazem uso de seus pequenos espaços de autonomia para agir como lhes
parece correto, ou de acordo com seus interesses. O terreno das
organizações de saúde, por ser um espaço de intervenção de diferentes
atores a partir de suas capacidades de autogoverno, que disputam a
orientação do dia-a-dia com as normas e regras instituídas, está sempre
tensionado pela polaridade entre autonomia e controle. Este também é um
espaço de possibilidades para a construção de estratégias que levem os
trabalhadores a utilizar seu espaço privado de ação em favor do interesse
público (dos usuários).
 Considerando a complexidade do trabalho em saúde, assim como para a
produção de conhecimento, é necessário o concurso de várias disciplinas, a
produção do cuidado integral às pessoas e populações também requer o
trabalho articulado de diferentes profissionais em uma equipe dentro de uma
unidade, por meio do apoio matricial de especialistas às equipes básicas
quando elas assim o necessitam, por meio da construção articulada de
projetos terapêuticos de modo que garanta o acesso das pessoas aos
cuidados e serviços de que necessitam.
 A mudança do perfil epidemiológico, com o envelhecimento da população e o
predomínio de doenças crònico-degenerativas e a diversificação da oferta de
serviços de saúde para além dos cuidados básicos (incluindo a saúde bucal,
a saúde mental, a reabilitação) que o SUS vem promovendo, tem aberto
novas possibilidades de inserção no trabalho de atenção à saúde para
muitas profissões da saúde, como os farmacêuticos, os nutricionistas, os
fisioterapeutas, os odontólogos, os psicólogos, terapeutas ocupacionais,
entre outros.
 Além de trabalhar com o tema do cuidado às pessoas, a saúde coletiva
também se ocupa do cuidado ao meio ambiente e da vigilância à saúde.
Meio ambiente e saúde é um campo interdisciplinar em que há grande
necessidade de produção de conhecimento e de agendas, que,
necessariamente são intersetoriais, o que agrega ainda mais complexidade
ao campo de práticas. São ferozes as disputas neste campo, em que
interesses contraditórios se explicitam particularmente no que diz respeito
aos constrangimentos que a proteção do meio-ambiente impõe a
determinadas atividades econômicas.

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