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SAÚDE PÚBLICA I

Caio Luisi

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CONHECENDO A DISCIPLINA
Prezado aluno, vamos iniciar nossa caminhada por este conteúdo que permeia
todos os processos de saúde e de doença em território nacional. Isso inclui você,
sua família, seus amigos e seus colegas, pois vocês ou já utilizaram ou ainda
utilizarão serviços de saúde em nosso território nacional. Por isso, abordaremos
temas de suma importância para a formação e para a capacitação de um
profissional da saúde.

Neste livro abordaremos desde conceitos simples sobre saúde pública até a
complexa bioestatística, que é importantíssima para a capacidade holística
populacional, seja a população da sua rua, do seu bairro, da sua região ou do
nosso País. Para isso, você deve entender o Sistema Único de Saúde (SUS) e os
conceitos de saúde da coletividade, realizando análises e descrições das condições
para agravos de saúde e para doenças de uma população. 

Você acompanhará, na primeira unidade, as noções básicas de saúde coletiva e


como ela permeia a saúde coletiva e a saúde pública. Na Unidade 2, iremos nos
aprofundar nas políticas públicas em saúde e a maneira como os profissionais de
saúde podem atuar para promover a saúde no Sistema Único de Saúde (SUS),
oferecendo cuidados à população, os quais lhes permitam protegê-la de doenças e
de condições que levem ao dano e que comprometam seu viver, além de entender
suas principais bases legais e princípios doutrinários. Na Unidade 3, abordaremos
os conceitos epidemiológicos, como variações no perfil populacional, morbidades,
mortalidade e, na expectativa vida, veremos como são realizados os
monitoramentos dessas mudanças na saúde da população. Por fim, na Unidade 4,
apresentaremos o conceito da bioestatística e estudaremos como realizar as
medidas de tendência central, cálculos amostrais, expressão de variáveis, medidas
de distribuição e de frequência, tabelas e gráficos.

Ao final você conseguirá entender o processo de saúde aplicada, trazendo consigo


a compreensão acerca do SUS, de políticas públicas e de análise populacional, o
que fará de você um profissional mais completo e competitivo no mercado de
trabalho. Não esqueça que o aprendizado é individual e que cada um possui a sua
velocidade, portanto respeite-a e tenha foco. Você está pronto para fazer a
diferença?
NÃO PODE FALTAR I

NOÇÕES DE SAÚDE COLETIVA

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Caio Luisi

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Fonte: Shutterstock.

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CONVITE AO ESTUDO
Nesta unidade de ensino, abordaremos conceitos da saúde coletiva e sua diferença
com relação à saúde pública; estudaremos a aplicação dos conhecimentos pelos
profissionais de saúde na saúde coletiva, abrangendo o conceito mais vasto para a
palavra “saudável”, que vai muito além da ausência de doença; trataremos de
conceitos históricos, passando pela reforma sanitária, passando pela reforma
sanitária, para entender a atenção primária até chegarmos à Estratégia Saúde da
Família (ESF). Após a compreensão histórica, podemos identificar como os modelos
de saúde-doença influenciam o modelo assistencial nacional. No esquema abaixo
podemos identificar os principais temas a serem abordados bem como seus
enfoques. Observe a Figura 1.1:

Figura 1.1 | Temas abordados


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Fonte: elaborada pelo autor.

Prontos para entender como os serviços de saúde funcionam? Se sim, vamos em


frente. Entenda que até mesmo o setor privado, como hospitais e clínicas, depende
desse sistema de saúde coletiva para existir. Fica aqui um desafio: tente encontrar
a conexão entre os conceitos de saúde coletiva e os de serviços privados durante o
aprendizado.

Bons estudos!

PRATICAR PARA APRENDER


Nesta seção, abordaremos os conceitos e as noções básicas da saúde coletiva,
apontando as diferenças que ela guarda com relação à saúde pública, e trataremos
do início histórico do Sistema Único de Saúde (SUS), passando pela Reforma
Sanitária Brasileira, que teve seu início na década de 1970, sua fundação na 8ª
Conferência Nacional de Saúde e sua fundamentação em 1986, a qual terminou na
nova Constituição Nacional que, em 1988, determinou: “A saúde é direito de todos
e dever do Estado” (BRASIL, 1988). Partindo, então, desse modelo histórico,
abordaremos os principais modelos assistenciais de saúde que estão presentes no
Brasil e que melhor se enquadram no SUS e em suas modalidades.

No primeiro momento da seção, falaremos de saúde coletiva, a qual é confundida


continuamente com saúde pública, embora elas não sejam a mesma coisa. Para
esclarecer melhor, usaremos este exemplo: programas nacionais de saúde
materno-infantil, programa de imunização e programa cidade saudável. Quais
deles possuem enfoque na saúde coletiva? Saiba que apenas um: a cidade
saudável. Nós abordaremos tal diferença nesta seção e deixaremos claro porque
ela existe.

Em um segundo momento, abordaremos a história do SUS e seu surgimento.


Quando pensamos em saúde, o SUS aparece quase que instantaneamente em
nossas mentes, sendo até mesmo um sinônimo para algumas pessoas. Isso ocorre,
pois esse sistema pode ser considerado um dos melhores programas de saúde
mundial, abrangendo diversas áreas e atenções da saúde. Para estudá-lo e
compreendê-lo faz-se necessário o entendimento de sua história e de sua origem,
que está intimamente relacionada à história do Brasil na fase pós-regime militar.

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Ao final, faremos uma correlação dos conceitos do SUS com as modalidades de
assistência em saúde aplicadas em território nacional. Para isso utilizaremos esse

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contexto histórico e tentaremos entender quais dessas modalidades se adéquam
melhor ao Brasil, se uma mais hegemônica ou outra mais alternativa, finalizando,
assim, nossa primeira seção.

Para contextualizar os temas desta seção às possibilidades das vivências


profissionais que você, como futuro profissional da saúde, poderá se deparar,
vamos nos inserir na Estratégia Saúde da Família (ESF), que leva serviços
multidisciplinares às comunidades por meio das Unidades de Saúde da Família
(USF). Em particular, entraremos no contexto da rotina de trabalho do gestor de
uma USF em um município de médio porte do nosso País. Será que compreender
os conceitos da saúde pública trará perspectivas favoráveis para a gestão desse
tipo de ambiente de saúde?

Muito bem, dessa forma chegamos à situação-problema desta seção. Nela o gestor
da USF está realizando a apresentação de sua unidade e dos aspectos que oferece
à comunidade do município. Essa apresentação está sendo exposta para alguns
novos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) no primeiro dia de trabalho deles
nessa função. Conforme a apresentação evoluía, foram surgindo alguns
questionamentos ao gestor da unidade. Um dos novos funcionários questionou:
por que, no SUS, as pessoas são atendidas dessa forma? Como podemos cuidar de
uma população com o melhor modelo assistencial?

Você, aluno, no lugar do gestor, como responderia aos questionamentos do ACS?  

Quem estuda possui o poder de transformar todos ao seu redor e não só a própria
vida. Lembre-se de que este conteúdo é um dos mais importantes para a saúde
populacional e o mais cobrado em concursos públicos.

CONCEITO-CHAVE
     Se você tivesse que responder essa pergunta: “Qual a diferença entre saúde
coletiva e saúde pública?”, você saberia? Para dar a resposta a esse
questionamento, devemos primeiramente citar que existe uma dissonância, ou
uma não concordância, entre os autores, pois esse termo já foi modificado
inúmeras vezes com o passar do tempo. Para tentar explicar a definição mais
utilizada atualmente, podemos dizer que o foco é o mesmo: saúde da população,
porém com inúmeras diferenças, pois as visões são diferentes. Agora você deve
estar se perguntando: “Como assim? Agora que não faz nenhum sentido mesmo”.
Para exemplificar, observe a Figura 1.2 e vamos tentar entender isso:

Figura 1.2 | Confusão


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Fonte: Pixabay.

Analisando a Figura 1.2, é possível perceber que estamos diante de um dilema, o


qual dependerá da sua perspectiva, isto é, de como e onde você olha para ele. Isso
também ocorre quando pensamos em saúde, pois podemos olhá-la como ausência
de doença ou podemos pensar em um conceito mais amplo de saúde enquanto
bem-estar físico, mental, social e espiritual, focando, com isso, na qualidade de
vida.

Se analisarmos esse conceito apresentado anteriormente, podemos diferenciar


saúde coletiva de saúde pública utilizando como referência a definição da
Associação Brasileira de Saúde Coletiva:

Saúde Pública pode ser definida como uma área do saber como foco na
saúde, definidos pelos agravos a saúde, morbidade, mortalidade, risco de
ocorrência entre outros. Dessa forma, leva-se em consideração, então, o
conceito mais simples de ausência de doença, o que nos mostra que toda ação
tomada pela saúde pública está voltada ao controle da doença, isto é, à
promoção de saúde e à prevenção de doença. O planejamento das ações é
feito unicamente pelo Estado.

Saúde Coletiva pode ser definida a partir da observação de seu objetivo como
sendo o necessário para a saúde. Ou seja, busca-se realizar ações que não
tenham como intuito apenas prevenir doenças, mas que também ajam para a
melhora da qualidade de vida e para a busca da felicidade. Além disso, a saúde
coletiva planeja democraticamente suas ações, permitindo a participação
social. Além disso, a saúde coletiva planeja democraticamente suas ações,
permitindo a participação social, definindo, então, a área do saber da
coletividade.

COMPARANDO A SAÚDE COLETIVA COM A SAÚDE PUBLICA


Podemos diferenciar saúde coletiva de saúde pública através de três principais
eixos: os meios de trabalho; os conceitos e a evolução histórica; e o trabalhador, os
quais mostram as diferenças fundamentais entre elas.

Meios de trabalho: podemos diferenciá-las através dos meios de trabalho,


segundo os quais a saúde pública mobiliza a epidemiologia tradicional em
abordagens biologistas da saúde. Trata-se das ações isoladas da Vigilância
Epidemiológica e da Vigilância Sanitária ou do desenvolvimento de programas
especiais. Já a saúde coletiva se propõe a utilizar como instrumentos de
trabalho a epidemiologia social, priorizando o estudo da determinação social e
das desigualdades em saúde, o planejamento estratégico e comunicativo e a

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gestão democrática. Além disso, promove a saúde, cidades saudáveis e

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políticas públicas saudáveis (SOUZA, 2014).

Conceitos e evolução histórica: a saúde pública adota o pressuposto filosófico-


teórico da doença e da morte como ponto de partida para explicar a situação
de saúde. A saúde coletiva propõe o pressuposto filosófico-teórico da saúde e
da vida. Isso significa que a saúde pública parte do conceito base de vida, que é
amparado no nascer, viver e morrer, e a saúde coletiva se ampara na relação
de viver, que não é apenas estar presente e sim possuir novas e boas
experiências, sendo que, para alcançá-las, deve-se manter a saúde
(biopsicossocial e espiritual) (SOUZA, 2014).

Trabalhador: na saúde pública, o trabalhador que desempenha as atividades


das vigilâncias tradicionais – epidemiológica e sanitária – aplica os modelos de
transmissão de doenças (controle de riscos), realiza ações de educação
sanitária e fiscaliza a produção e a distribuição de bens e serviços definidos
como de interesse da saúde na perspectiva reducionista do risco sanitário,
definido pela clínica biomédica. Diferentemente, ao agente da saúde coletiva se
atribui um papel abrangente e estratégico: a responsabilidade pela direção do
processo coletivo de trabalho, tanto na dimensão epidemiológica e social de
apreensão e compreensão das necessidades de saúde, quanto na dimensão
organizacional e gerencial de seleção e de operação de tecnologias para o
atendimento dessas necessidades. O profissional da saúde coletiva é um
técnico de necessidades de saúde e um gerente de processos de trabalho em
saúde, comprometido com os valores de solidariedade, igualdade, justiça e
democracia (SOUZA, 2014).

REFLITA

No caso de um gestor público da saúde, este deveria alinhar-se à saúde


coletiva, à saúde pública ou a ambas? Será que temos uma resposta certa?
Lembre-se de que o terceiro eixo refere-se ao trabalhador, que poderá ser
você.

Para facilitar essa comparação, podemos utilizar o Quadro 1.1:

Quadro 1.1 | Saúde coletiva e saúde pública em detalhe


Saúde pública  Saúde coletiva 

Conceito Saúde individualizada, Processos coletivos e não


preocupada com a causa voltados a problemas individuais;

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da doença (saúde = enfoque na qualidade de vida da

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ausência de doença). população (saúde = bem-estar
biopsicossocial e espiritual).
Base conceitual:
Organização Mundial da Base conceitual: 8ª Conferência
Saúde (OMS). Nacional de Saúde (CNS).

Metodologia Ação vertical Ação horizontal


(ordem de
Estado Estado    Profissional  
importância)
  População

Profissional

População

Enfoque Estado Demandas da população

Programa Participação da população

Indivíduo Coletivo

Fonte: adaptado de Egry (1996).

EXEMPLIFICANDO 

Na saúde coletiva, as equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) utilizam


as visitas domiciliares (VD) e a relação dos agentes de saúde para identificar
e coletar dados familiares, os quais, além de servirem para a prevenção,
auxiliam no planejamento de projetos terapêuticos, em pesquisas e em
definições governamentais voltadas à comunidade e à população.

ENTENDENDO A SAÚDE COLETIVA E SUA HISTÓRIA


A fim de entender a saúde coletiva, nada melhor do que estudarmos sua origem.
Para isso, voltemos no tempo, em meados de 1960. Observe a Figura 1.3:

Figura 1.3 | Linha do tempo para o surgimento da saúde coletiva nacional


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Fonte: elaborada pelo autor.

Observando a linha temporal, encontramos os principais marcos históricos para a


definição de saúde coletiva e para a criação do modelo de saúde presente até o
momento em território nacional. Para entender melhor, vamos trabalhar cada um
desses marcos separadamente.

Começaremos por 1964, período em que houve o golpe militar, manobra usada
para calar toda uma sociedade que buscava por reformas de base – reforma
agrária, reforma tributária, reforma urbana e também reforma sanitária. Nesse
período, o que se via era uma crescente desigualdade e cada vez mais contrastes
sociais. Porém, isso só se evidenciou em meados dos anos 1970 com o fim do
“milagre econômico”, que representou um dos maiores crescimentos do Produto
Interno Bruto (PIB) brasileiro e cujo marco foi a queda do petróleo. Nesse
momento, volta a ter força o movimento da reforma sanitária, que se referia ao
conjunto de ideias em relação às mudanças e às transformações necessárias para
a área da saúde, não apenas no que dizia respeito ao sistema, mas também a todo
o setor, cujo intuito era melhorar a condição de vida da população. Este se torna o
primeiro movimento para o desenvolvimento do conceito de saúde coletiva e para
a criação do SUS.

ASSIMILE

PIB: é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país,


estado ou cidade, geralmente no período de um ano. Resumindo: é tudo o
que gera dinheiro ao país, ao estado ou à cidade.

Reforma sanitária: movimento pela melhoria da saúde brasileira na


década de 1970.

Após o fim da ditadura militar, em 1985, o Brasil ansiava por direitos, e o fato de a
saúde estar numa situação crítica, com seus indicadores no chão, tais quais
mortalidade infantil (morte de crianças menores de um ano para nascidos no
mesmo período) e mortes por causas evitáveis em índices alarmantes, além de alta
incidência de agravos em saúde, como difteria, tétano, sarampo, poliomielite, fez
com que grupos de especialistas e pesquisadores multiprofissionais preocupados
com saúde pública desenvolvessem teses e integrassem as discussões políticas, o
que teve como marco a 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986.
A 8ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
Nela foram lançadas as diretrizes para a construção de um sistema
descentralizado e único através de uma visão de saúde como dever do Estado. Foi
realizada entre 17 e 21 de março de 1986 e foi a primeira aberta ao povo. Ela

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apresentava três principais temas: “A saúde como dever do Estado e direito do

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cidadão”, “A reformulação do Sistema Nacional de Saúde” e “O financiamento
setorial”. Para que fosse possível alcançar esses objetivos, era necessária uma
reforma não somente administrativa e financeira, mas também uma revisão de
conceitos de saúde e legislações (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 2019)

Ao final da Conferência, houve um consenso para a formação de um sistema único


de saúde separado da previdência e comandado pela esfera federal, por meio de
um único ministério, e houve a integralização das ações, a regionalização e a
hierarquização das unidades prestadoras de serviço, o que fortaleceria os
municípios. Além disso, ela trouxe como marco a participação da população
através de entidades representativas e, por fim, determinou uma resolução mais
abrangente de saúde (idealização da saúde coletiva), voltada não somente ao
processo saúde-doença, mas também ao processo de preservação da saúde no
seu conceito mais amplo. A partir dali, os novos rumos levariam à nova
Constituição, em 1988, e à criação do SUS.

Assim, a Constituição Federal de 1988 garantiu muito mais direitos à população,


inclusive colocando a saúde como “dever do Estado e um direito de todos”. Com
ela também surge um dos maiores serviços de saúde do mundo: o SUS.

UM RESUMO DO SUS
Primeiramente é importante lembrar que, embora o SUS permita acesso integral,
universal e gratuito a serviços de saúde, isso não significa que ele atua somente no
serviço público, já que ele também é permeado pelo serviço privado, como o
Hospital Israelense Albert Einstein, o Hospital Brigadeiro, o Hospital do Rim e
Hipertensão, entre outros, o que o faz ter um melhor acompanhamento da
população e uma melhor amplitude para a cobertura populacional.

O SUS visa abranger todas as necessidades da população e não somente dar um


suporte para o não adoecimento, prestando assistência ambulatorial simples. Isto
é, esse sistema busca prestar atendimentos de alta complexidade, como
transplantes de órgãos, além de realizar programas e desenvolver estratégias
capazes de entender cada indivíduo e a população em geral, como faz a ESF. O SUS
também realiza consultas, exames e internações, promove campanhas de
vacinação e ações de prevenção de vigilância sanitária, como fiscalização de
alimentos e registro de medicamentos.

Podemos dizer, então, que ele não veio para mudar apenas a assistência à saúde,
mas veio também para mudar hábitos e conceitos de cuidado com a saúde,
integrando a população neste processo e criando políticas para a prevenção e a
promoção da saúde.

ASSIMILE
Lembre-se de que esta abordagem do SUS é apenas um resumo e que nos
aprofundaremos nas próximas seções e unidades. Isto não acaba aqui!

LEI N° 8.080/90 - LEI ORGÂNICA DA SAÚDE

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Essa lei regula, em todo o território nacional, as ações e os serviços de saúde

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executados, isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por
pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou privado. Afirma que a saúde é
direito fundamental do ser humano e que é dever do Estado garantir seu pleno
exercício. Garante obediência aos princípios do SUS, à universalidade de acesso, à
integralidade e à igualdade da assistência à saúde.

Dentro da sua formulação, ainda apresenta os determinantes de saúde e os


define. Além disso, ela determina como algumas das atribuições do SUS: vigilância
sanitária, vigilância epidemiológica, saúde do trabalhador, assistência integral,
assistência farmacêutica, formulação da política e, na execução de ações de
saneamento, formação de recursos humanos para a área da saúde e assim por
diante. Essa lei pode ser considerada a coluna vertebral de toda a legislação do
SUS.

Como podemos perceber, a Lei nº 8.080 possui uma abrangência nacional, com
capacidade de regulamentar todo e qualquer serviço de saúde, seja ele de pessoa
física ou jurídica, dos setores privados ou públicos.

MODELOS ASSISTÊNCIAS DE SAÚDE


A primeira pergunta que surge agora é: o que é um modelo assistencial?

Esse termo é abrangente e pode ser entendido como modelo de atenção ou modo
de intervenção em saúde, os quais são entendidos como diferentes combinações
tecnológicas e que apresentam diversas finalidades, como resolver problemas,
atender a necessidades de saúde em determinada realidade e de uma população
adstrita (indivíduos, grupos ou comunidades), organizar serviços de saúde ou
intervir em situações em função do perfil epidemiológico e da investigação dos
danos e dos riscos à saúde (FERTONANI et al., 2015).

EXEMPLIFICANDO

Modelo assistencial nada mais é do que um método ou uma forma utilizada


para prestar um atendimento ou assistência a um indivíduo, à população
ou à sociedade em geral.

Para entender a formação dos modelos assistenciais de saúde aplicados no


território nacional, é necessário entender a evolução histórica do estudo da saúde,
observado desde o período por volta de 384-322 a.C., com Aristóteles (importante
filósofo grego e o principal representante da terceira fase da história da filosofia
grega), até os séculos XIX e XX, o que demostra um processo de construção lento e
modificável a partir do estudo e da pesquisa. Essa evolução traz consigo diversas
teorias que acabaram sendo incorporadas ao serviço de saúde, gerando modelos
assistenciais como os a seguir:
Teoria de Pasteur e Claude Bernard, que gerou o modelo assistencial curativo,
hospitalocêntrico e centrados em atendimentos e intervenções médicas
(biomédico).

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Teoria da história natural das doenças (Leavell e Clark), que deu origem ao
modelo prevencionista, o qual possui como espaço de atuação os centros de

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saúde.

Teoria Laurell e Ludwig gerou um modelo de ações e de promoção à saúde.

Para exemplificar melhor os modelos, utilizaremos a Figura 1.4, que apresentará os


quatro modelos de assistência à saúde mais aceitos.

Figura 1.4 | Modelos assistenciais e processos saúde-doença

Fonte: Ohara e Saito (2014, p. 41).

Como podemos observar, os modelos biologistas (biomédico) e o modelo de


atenção médica da família (saúde da família), em destaque na Figura 1.4, são os
mais bem aceitos e aplicados em território nacional.

Para conhecermos melhor esses dois modelos, veja o Quadro 1.2 de comparação
entre eles.

REFLITA

Será que existe um modelo ideal e único que deve ser adotado? Para
responder a essa pergunta, lembre-se que o modelo atende à necessidade
que é imposta.

Quadro 1.2 | Características do modelo biomédico e do modelo de atenção médico da família


Modelo Biomédico Saúde da Família

Hegemônico nos serviços de saúde. Surge em 1994 e passa a constituir-se em


Organização das práticas de saúde estratégia privilegiada para superação dos

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com foco nas queixas dos problemas decorrentes do modelo

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indivíduos que procuram os biomédico e efetivação dos princípios do
serviços na identificação de sinais e SUS. Desenha um “novo modelo
de sintomas e no tratamento das assistencial de saúde”, inspirado na
doenças. A promoção da saúde não Atenção Primária à Saúde (APS),
é prioridade. ampliando a abordagem aos problemas
de saúde. Articula ações de promoção da
saúde, de prevenção e de tratamento de
doenças e reabilitação.

Prioriza a assistência individual, Propõe a atenção à saúde com foco na


com ênfase na especialização e no família, em grupos e em comunidades. O
uso de tecnologias do tipo material. indivíduo é entendido com um ser
Organiza a assistência a partir da histórico e social, que faz parte de uma
demanda espontânea. família e de determinada cultura.
Considera os determinantes de saúde –
doença para o planejamento em saúde e
propõe promoção da autonomia e da
qualidade de vida.

O trabalho é desenvolvido de Prevê o trabalho em equipe


forma fragmentada, com multiprofissional, que deve atuar na
predomínio de práticas perspectiva interdisciplinar.
hierarquizadas e de desigualdade
entre as diferentes categorias
profissionais.

Apresenta dificuldade na Resgata o conceito de integralidade,


implantação da integralidade, tanto indicando a atenção básica como porta
no entendimento da privilegiada de acesso, articulada aos
multidimensionalidade do ser demais níveis de atenção. Prevê a
humano, quanto na integração construção de uma rede integrada de
entre níveis de atenção. Falta de serviços de saúde que atenda o conjunto
comunicação e integração entre os das necessidades de assistência de
serviços que compõem as redes. indivíduos e populações. A relação entre
os níveis de complexidade inclui referência
e contrarreferência.
Modelo Biomédico Saúde da Família

Formação profissional e produção Reconhece a importância de formar


de conhecimento fundamentado recursos humanos para o SUS.

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no modelo flexneriano de 1910.

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Profissionais de saúde formados
por currículos que pouco valorizam
o SUS e o modelo da Saúde da
Família.

O planejamento em saúde é pouco Assume, como um dos eixos centrais das


utilizado como ferramenta de práticas, a construção de relações
gestão e temas como vínculo e acolhedoras e de vínculo de compromisso
acolhimento não são priorizados. e de corresponsabilidade entre
profissionais de saúde, gestores e
população.

Fonte: Fertonani et al. (2015, p. 1869-1878).

Quando analisamos o quadro, fica clara a diferença entre os dois modelos, sendo o
biomédico com foco no tratamento e na melhoria das doenças, e a saúde da
família com atenção voltada às necessidades globais do cidadão para a
manutenção da saúde na sua maior amplitude. E podemos citar que ambos os
modelos podem ser aplicados no SUS, com ressalva para maior complacência para
o modelo saúde da família.

Após essa leitura, acredita-se ter alcançado um bom entendimento acerca da


evolução e do crescimento da saúde coletiva, com o surgimento do SUS e de seus
principais modelos assistenciais aplicados hoje no território nacional. Dessa forma,
pode-se dizer que já houve um bom avanço com esta primeira seção.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
A saúde coletiva se propõe a utilizar, como instrumentos de trabalho, a
epidemiologia social ou crítica, que, aliada às ciências sociais, prioriza o estudo da
determinação social e das desigualdades em saúde; o planejamento estratégico e
comunicativo; e a gestão democrática. Além disso, abre-se às contribuições de
todos os saberes – científicos e populares.

Logo, podemos definir a saúde coletiva como:

a. Uma disciplina de formação obrigatória para todos os profissionais da saúde, a partir da qual se permite
apenas conhecer a maneira pela qual o SUS atende na esfera municipal de saúde.

b. Um meio de trabalho para o profissional de saúde, como a sistematização e os modelos de gestão que
determinam a atuação de algumas classes de trabalhadores que têm formação em saúde.

c. Um campo de saberes e de práticas que estudam a saúde exclusivamente a partir dos processos sociais
relacionados à estrutura da sociedade, para fins de gestão pública e privada da saúde nas mais diferentes
áreas.

d. Uma disciplina multiprofissional e que tem como objeto de estudo a prevenção da doença, a fiscalização
de produtos de saúde e a alimentação, bem como produtos ligados ao diagnóstico de saúde.
e. Um campo de saberes que se caracteriza pela multiprofissionalidade e que objetiva o estudo da saúde e
da prevenção de agravos por meio da higiene, da fiscalização ambiental e de conceitos sociais.

Questão 2
Em diversos momentos do ano de 2020, saúde pública e saúde coletiva foram

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confundidas, principalmente devido ao advento da pandemia de covid-19. Muitos

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confundem a dimensão e a necessidade de seus conceitos, pois, em algumas
circunstâncias, pensamos apenas em não morrer e, em outras, em como voltar a
viver bem. Isso traz um conflito de ideologias que representa a queda de braço
entre a saúde pública e a saúde coletiva no âmbito da sociedade. Considerando as
informações apresentadas e a correta diferenciação entre saúde coletiva e saúde
pública, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas:

I. Na saúde coletiva, o trabalhador que desempenha as atividades das vigilâncias


tradicionais – epidemiológica e sanitária – aplica os modelos de transmissão de
doenças (controle de riscos), realiza ações de educação sanitária e fiscaliza a
produção e a distribuição de bens e serviços definidos como de interesse da
saúde na perspectiva reducionista do risco sanitário, definido pela clínica
biomédica.

PORQUE

II. Diferentemente, ao agente da saúde pública se atribui um papel abrangente e


estratégico: a responsabilidade pela direção do processo coletivo de trabalho,
tanto na dimensão epidemiológica e social de apreensão e compreensão das
necessidades de saúde, quanto na dimensão organizacional e gerencial de
seleção e de operação de tecnologias para o atendimento dessas necessidades.

Em relação as asserções, assinale a alternativa correta.

a. As asserções I e II são verdadeiras e a I, é a justificativa correta da II.

b. As asserções I e II são verdadeiras e a I, não é a justificativa correta da II.

c. A asserção I é falsa e a II, correta.

d. A asserção II é falsa e a I , correta.

e. As duas asserções são falsas. 

Questão 3
Diversos modelos de saúde desenvolvidos em diferentes momentos da história
podem ser relatados no Brasil. Dentre eles destacam-se os modelos biomédico e
sanitarista, que possuem sua utilidade até os dias de hoje. No entanto, muitos
pesquisadores apontam o modelo médico “saúde da família” como o melhor
modelo para o SUS. Com relação ao modelo de atenção médico da família, analise
as afirmativas abaixo:

I. Tem seu início na década de 1970, com o movimento Reforma Sanitária


Brasileira, que defendia a criação de um sistema de saúde universal e com
atendimento integral, com ênfase na saúde coletiva.

II. É pautado pelos princípios e diretrizes do SUS, como a hierarquização e a


regionalização dos serviços de saúde, de atendimento universal e integral, de
territorialização, de humanização, de acolhimento e de ações programadas de
saúde.

III. É direcionado para atendimento holístico/individualizado, abrangendo a família

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e a comunidade e levando em conta os aspectos socioeconômicos, culturais e
políticos.

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IV. Esse modelo é centrado nas ações programáticas de saúde, na ESF, no
acolhimento, na vigilância da saúde, no movimento Cidades Saudáveis e na
promoção e na prevenção da saúde.

Considerando o contexto apresentado e a avaliação das afirmativas, é correto o


que se afirma em:

a. II, apenas.

b. I e II, apenas.

c. I, II, III, apenas.

d. II, III e IV, apenas.

e. I, II, III e IV.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para
a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento
dos serviços correspondentes e dá outras providencias. Brasília, DF: Presidência da
República, 1990. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 19 set. 2020.

CAMPOS, G. W. de S. Saúde pública e saúde coletiva: campo e núcleo de saberes e


práticas. Ciência & Saúde Coletiva, v. 5, n. 2, p. 219-230, 2000. Disponível em:
https://bit.ly/3tr6wld. Acesso em: 25 set. 2020.

CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. 8 ° conferência Nacional de Saúde: quando o


SUS ganhou Forma. Conselho Nacional de Saúde, [S.l.], 22 maio 2019. Disponível
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SÃO PAULO (Cidade). Secretaria da Saúde. O que é e como funciona o conselho

seõçatona reV
gestor no SUS. São Paulo: SMS, 2016. Disponível em: https://bit.ly/3nTWgR7.
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Acesso em: 14 mar. 2021.
I

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


NOÇÕES DE SAÚDE COLETIVA

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Caio Luisi

seõçatona reV
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SEM MEDO DE ERRAR


Caro aluno, estamos prestes a resolver nossa problemática, a qual envolvia o
acompanhamento do gestor de uma USF, que, no momento, apresentava a
unidade para novos agentes comunitários de saúde. Estes fizeram uma série de
questionamentos ao gestor, dentre eles, por que, no SUS, as pessoas são
atendidas de determinada forma e como podemos cuidar de uma população com
o melhor modelo assistencial possível.

Para atender aos questionamentos do ACS, primeiramente é necessário entender


a história do Brasil no período militar e, a partir desse ponto, entender porque foi
necessária a criação do SUS; e, para a segunda pergunta, é necessário conhecer os
modelos existentes e pensar que cada um é único e possui seu objetivo e seu
alcance.

A fim de responder a primeira questão, o gestor poderia dizer que, em relação à


evolução histórica do Brasil, o SUS surgiu a partir de uma necessidade de direitos,
após o período da ditadura militar, a qual incluía a saúde. Tudo se iniciou após a
reforma sanitária, um grande movimento político que lutava por mudanças em
todo o setor da saúde nacional e na melhoria da qualidade de vida. Mas esse foi
apenas o pontapé inicial para esse processo, pois o determinante foi a 8ª
Conferência Nacional de Saúde, que norteou sua estrutura e conferiu a formulação
da nova Constituição, que nomeou o novo modelo de Sistema Único de Saúde
(SUS).

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Para responder a segunda questão, o gestor deveria enfatizar alguns modelos

seõçatona reV
assistenciais. O primeiro é o chamado biomédico e o segundo, o modelo de
atenção médica da família. O gestor deve destacar que não podemos elencar um
único modelo, pois cada um tem uma função e uma necessidade de
implementação. Por isso, deve dar ênfase também ao fato de que o modelo de
atenção médica da família apresenta um escopo mais abrangente, focando no
bem-estar não apenas do indivíduo, mas também da família, da sociedade e da
comunidade, com abordagem voltada à qualidade de vida, enquanto que o modelo
biomédico centra-se na saúde como ausência de doença, o que o torna um modelo
mais limitado e com menor abrangência.

A partir desses apontamentos, é possível que o gestor possa sanar as dúvidas do


ACS. No entanto, você ainda poderá determinar uma nova perspectiva de resposta.
Vá em frente! É só lembrar de tudo que discutimos nesta seção.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
CAPACITAÇÃO A FUNCIONÁRIOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE
Um consultor especializado em serviços de saúde estava envolvido com o
treinamento de funcionários terceirizados de um hospital da rede pública e, ao
longo da capacitação, foram feitos vários questionamentos a ele, dentre os quais
um chamou a atenção: “— Senhor, eu acabei de ler aqui no mural que a saúde
coletiva garante saúde para todos através das unidades. Por que não está escrito
saúde pública?”. O consultor retrucou com outra pergunta para o grupo: “— Vocês
sabem a diferença entre as duas?”. Após essa pergunta o grupo ficou calado. A fim
de responder essas questões, o consultor convidou o grupo a pesquisar sobre o
tema nos computadores da sala de treinamento, sendo que um grupo ficaria
incumbido de procurar sobre a saúde pública e o outro sobre a saúde coletiva. Ao
final da pesquisa, pediu a cada grupo que apresentasse e defendesse as
considerações encontradas para cada conceito. Você, aluno, no lugar desses
funcionários, como diferenciaria cada conceito, expondo o seu ponto de vista?

RESOLUÇÃO 

Para atender à solicitação, é possível dizer que saúde pública é uma área do
saber voltada para problemas e doenças, como a morte ou as sequelas
deixadas por determinada doença. Ela estuda as doenças, com o objetivo de
tratá-las e de cuidar para que elas não matem pessoas ou agravem a situação
da população. Acredita-se que essa área seja de grande importância, pois sem
as doenças podemos viver muito mais, e sem as suas sequelas também
viveremos melhor.

Quanto à saúde coletiva, é possível dizer que constitui outra área do saber,
cujo foco é o bem-estar geral e o trabalho em prol não somente do indivíduo,
mas também de toda a sociedade e da família. Além disso, seu foco é a
qualidade de vida, conceito que envolve o bem-estar físico, mental, social e
espiritual, tratando saúde não somente de uma perspectiva de ausência de
doença, mas também a partir de uma visão mais macroscópica e abrangente.
Ainda, essa área permite a participação social em seu planejamento. Com isso,

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procure se lembrar de que, por viver em uma sociedade complexa, um ser

seõçatona reV
humano não pode ser feliz sozinho.

Possivelmente o consultor se sentiria satisfeito com as colocações a partir


desses momentos, mas você ainda poderá determinar uma nova perspectiva
de resposta. Vamos lá! Certamente você conseguirá desenvolver outras
possibilidades utilizando o conteúdo abordado nesta seção.
NÃO PODE FALTAR I

ATENÇÃO À SAÚDE

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Caio Luisi

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.

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PRATICAR PARA APRENDER


Caro aluno, nesta seção vamos conhecer melhor o desenvolvimento da saúde no
Brasil, apreendendo o cenário dessa área no País e entendendo como aconteceu e
acontece a promoção da saúde e o reconhecimento da população por parte das
tecnologias utilizadas no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS) e todos os
recursos que a federação precisa para manutenção e acompanhamento
epidemiológico em cada comunidade, em cada município ou estado.

Com isso, veremos também um cenário de saúde voltado, agora, à promoção em


saúde e não mais apenas ao tratamento, que aguarda o adoecimento da
população para iniciar o processo de cuidado. Para isso, será necessário entender
o papel da atenção primária e o que a distingue das outras atenções, além de
compreender o principal programa do SUS, a Estratégia Saúde da Família (ESF), um
dos eixos centrais para que sejam atingidas as metas relacionadas à saúde, ao
bem-estar e à qualidade de vida da população. A ESF faz parte do programa saúde
da família e, na sua criação, em 1994, foi chamada justamente de Programa Saúde
da Família. Este surgiu com o objetivo de contribuir para a reorganização do
modelo assistencial nacional e acabou sendo aprimorado e modificado, o que
culminou até na alteração de seu nome, pois um programa tem começo meio e
fim, e a estratégia (modelo) é contínua sem determinação temporal. Outro ponto
importante é que os profissionais estão intimamente ligados a esse processo e
devem ser preparados.
Em um terceiro momento, abordaremos a vigilância em saúde, cujo papel, como
seu próprio nome evidencia, é o de vigiar a população por meio de dados
epidemiológicos, os quais funcionam para criação de parâmetros e para tomadas
de decisões, como controle de doenças, agravos, morbidades, mortalidade,

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letalidade, natalidade e determinantes para risco ou fatores de risco para o

seõçatona reV
desenvolvimento e/ou prevenção de doença, entre elas doenças transmissíveis ou
crônicas.

No último momento, trabalharemos determinantes para o desenvolvimento de


doença; riscos e violência; e vulnerabilidade, realizando uma relação entre esses
três fatores e os itens discutidos anteriormente na seção.

Agora você, estudante desta área, deve se preparar para ser um profissional de
saúde e deve aprender a “ser” um educador em saúde, pois assim será mais bem
reconhecido. Fica aqui, então, o desafio de conhecer nomes importantes da nossa
história, os quais nomeiam nossas avenidas repetidamente, em todo o nosso País.

No intuito de trabalharmos os temas desta seção, considerando as possíveis


atividades profissionais que futuramente você poderá vivenciar, continuaremos
acompanhando o gestor de uma USF, que, no momento, está apresentando a
unidade para novos agentes comunitários de saúde (ACS).

Assim, chegamos à situação-problema desta seção: nela, os ACS estavam


conhecendo a unidade e sendo capacitados pelo gestor em seus primeiros dias.
Durante esse treinamento, foi proposto um estudo de caso para a tomada de
decisão e para o entendimento do tema. No estudo de caso, o gestor apresentou a
seguinte história:

O ACS do território laranja estava voltando para sua USF quando se deparou com
uma idosa caminhando assustada com o neto em direção à USF. O ACS então
decidiu ajudar. Tomou a criança no colo e se dirigiu, com a maior velocidade
possível, para sua unidade. Quando chegou lá, deparou-se com seu gestor, que
perguntou o que estava fazendo e por que trouxera a criança para unidade. Após o
atendimento e o encaminhamento para o serviço de emergência, o gestor chamou-
o para conversar e explicou sobre os pontos incorretos de sua conduta.

Considerando as informações apresentadas e o que aprenderemos nesta seção,


você, aluno, no lugar do gestor, como faria para explicar o porquê de a conduta
estar incorreta e qual seria a melhor opção naquele momento?

Seja você um transferidor de memórias dos nossos verdadeiros heróis.

CONCEITO-CHAVE
A EVOLUÇÃO DO CENÁRIO DA SAÚDE NO BRASIL
O cenário de saúde deixa uma grande reflexão para nosso País, que ainda se
encontra em pleno desenvolvimento, enfrentando uma realidade sanitária que
compete com a imensidão territorial, com uma população de mais de 209 milhões
de habitantes, com a provável prevalência de idosos em relação a crianças e com
diversidades regionais variáveis, como as culturais e riscos de excesso e escassez,
culminando com o agravamento dos processos de doenças e com a diminuição
cada vez maior da meta de desenvolvimento de saúde e coletividade, temas já
discutidos aqui juntamente com os conceitos de saúde pública e saúde da
comunidade.

0
Nossa tecnologia teve grande desempenho no setor de saúde pública,
principalmente no que se refere à vacinação, que tanto gerou desajustes e até

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mesmo revoluções (Revolução da Vacina, em 1904, por exemplo), devido à baixa
compreensão da comunidade sobre o avanço na prevenção de doenças,
principalmente por estar enriquecida por desavenças políticas e sociais. E não
podemos esquecer de nomes importantes como Oswaldo Cruz (médico
sanitarista), Rodrigues Alves (presidente do Brasil de 1902 a 1906) e Pereira Passos
(prefeito do Rio de Janeiro na época) nem da grande contribuição tecnológica de
controle e de prevenção às doenças infectocontagiosas que houve na época. Para
entender o avanço do cenário da saúde, podemos observar a linha do tempo na
Figura 1.5.

Figura 1.5 | Projeção histórica da atenção primária

Fonte: elaborada pelo autor.

No modelo biomédico, tivemos avanços inegáveis, como o desenvolvimento


farmacêutico, os métodos diagnósticos, o instrumental de ponta e o conhecimento
genético (descoberta do genoma humano), aumentando, com isso, o controle das
enfermidades. Mas, mesmo diante de tanta tecnologia, ainda estamos em busca
do aprimoramento da saúde da comunidade, com maior qualidade no processo
extrínseco e intrínseco de aquisição de saúde. Alguns detalhes podem ser
discutidos, como o aumento de morbimortalidade no milênio (Figura 1.6):

Figura 1.6 | Morbimortalidade no milênio


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seõçatona reV
Fonte: elaborada pelo autor.

Ainda vamos ter que entender melhor a desigualdade social e a interação


ambiental para conseguirmos acelerar e evidenciar nosso processo de saúde.

Sabe-se que a tecnologia cresceu nas últimas décadas deste milênio,


principalmente em relação à sanitização, a melhores condições de trabalho e a
melhores condições de atendimento à saúde, o que com certeza explica o
aumento na expectativa de vida, que segue aumentando, chegando a 72 anos e 5
meses para os homens e 79 anos e 4 meses para as mulheres. Entretanto, junto a
essa notícia, vem também o desafio com a manutenção da saúde e da
aposentadoria, cujas soluções deverão englobar, além da redução das
desigualdades, reformas e busca por recursos para cuidar dos anos a mais de vida
(IBGE, 2017).

Atualizando para a nova década que se inicia (2020), a expectativa de vida das
mulheres aumentou para 79,9 anos e a dos homens manteve-se em 72,8 anos, já
que podem ser observadas mais adversidades para o adulto jovem masculino, as
quais são apresentadas na figura anterior. (IBGE, 2019).

Assim sendo, com essa parte do estudo, conseguimos entender que o SUS
enfrenta uma transição ao tentar manter sua atenção integral, universal e
equitativa.

REFLITA

Como um País de grande área territorial, uma população imensa, com


grande crescimento da população idosa, e ainda de problemas de
saneamento básico e educação pode se manter mais saudável?

A fim de tentar restabelecer os meios para a manutenção de adequação da saúde,


o sistema foi inundado por organizações consumidoras de planos privados, mas,
mesmo assim, boa parte da população brasileira depende do SUS para
fornecimento de medicamentos dispendiosos, para ações de vigilância sanitária e
epidemiológica ou mesmo para ou mesmo para auxílio para as restrições de
planos a doenças crônicas degenerativas, como o câncer e as doenças autoimunes,
que dependem de serviços especializados e caros. Então, fica visível uma transição
no País, afinal estamos passando por importantes mudanças sociais, demográficas,
nutricionais (aumento do sobrepeso e da obesidade), de perfil epidemiológico

0
(tripla carga de doenças, por exemplo: síndrome metabólica, doenças

seõçatona reV
cardiovasculares, etc., que necessitam de maiores recursos na federação). Essa
relação é apresentada na Figura 1.7:

Figura 1.7 | Relação de recursos financeiros versus necessidade epidemiológica

Fonte: elaborada pelo autor.

Enfim, a promoção da saúde leva a uma reflexão que está em constante


movimento e que não tem finalização, pois precisamos sempre discutir sobre
qualidade de vida e sobre ter uma relação harmoniosa com nosso meio ambiente,
o que compete também à conservação desses recursos.

ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE


Com o intuito de entendermos a atenção primária, faz-se necessário desvincular os
outros níveis de atenção, secundária e terciária, e, para isso, observaremos um
modelo de demonstração do sistema de saúde e de seus níveis na Figura 1.8:

Figura 1.8 | Representação do sistema de saúde e de suas atenções


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seõçatona reV
Fonte: adaptada de Ohara e Saito (2014).

Observando essa pirâmide no que diz respeito à hierarquização das atenções,


podemos perceber a importância, a resolubilidade e o peso que a atenção primária
tem. Talvez exista a falsa ilusão de que a atenção primária estaria no ápice da
pirâmide, no entanto ela se apresenta, na verdade, na base, como um alicerce para
o modelo de saúde.

A atenção primária é o primeiro nível de atenção em saúde e se caracteriza por um


conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e no coletivo, que abrange a
promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o
tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde com o
objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte positivamente na
situação de saúde das coletividades (MINISTÉRIO DA SAÚDE, [s.d.]a).

A atenção primária da saúde é a principal porta de entrada do SUS e foi


desenvolvida sob a compreensão de uma natureza prática, científica e socialmente
aceitável. Nesse contexto, temos como elementos essenciais a educação em
saúde; o saneamento básico; o programa materno infantil/imunização e o
planejamento familiar; a prevenção de endemias; o acompanhamento e o
tratamento de doenças mais comuns; a promoção de uma alimentação mais
saudável e a valorização das práticas complementares. A partir dessa
determinação, a proposta seria a de organizar e de fazer funcionar a porta de
entrada do sistema, como podemos observar na Figura 1.9:

Figura 1.9 | Exemplos de redes de atenção à saúde


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seõçatona reV
Fonte: elaborada pelo autor.

ASSIMILE

Redes de atenção à saúde: são “arranjos organizativos de ações e serviços


de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio
de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a
integralidade do cuidado” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010, [s.p.]).

Então o cidadão que utiliza a rede tem direito ao atendimento no sistema


de saúde, segundo a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde.

A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde traz informações para que você
conheça seus direitos na hora de procurar atendimento de saúde. Ela reúne
os seis princípios básicos de cidadania que asseguram ao brasileiro o
ingresso digno nos sistemas de saúde, seja ele público ou privado.


Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde.

Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema.

Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação.

Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e seus direitos.

Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu trata- mento aconteça da forma
adequada.

Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que os princípios
anteriores sejam cumpridos. 

— (BRASIL, 2011, [s.p.])

Por se tratar de uma porta de entrada aos cuidados de saúde, foi necessário
estabelecer uma conexão para o conhecimento da população sobre os vários
atendimentos agora oferecidos. A partir desse momento, tivemos a inclusão da
Estratégia Saúde da Família, que visa à reorganização das unidades de
atendimento básicas. Agora a ESF consegue adentrar as casas da população
indicando o caminho e as necessidades do atendimento. Várias derivações são
necessárias para o aporte e para o funcionamento ideal, como o Núcleo de Apoio à
Saúde da Família (NASF), agora chamado Núcleo Ampliado de Saúde da Família e
Atenção Básica (NASF-AB), e como os Agentes de Saúde, favorecendo um
gerenciamento e uma importante relação custo-efetividade. Observe a Figura 1.10.
Figura 1.10 | Estratégia da atenção primária através de redes de atenção

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Fonte: elaborada pelo autor.

E o que seria o Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF)? Como ele estaria
atrelado à atenção primária e à ESF?

Para responder às perguntas, é preciso primeiro estudar esses conceitos. O NASF


foi criado, em 2008, pela Portaria nº 154 e substituído pela 2ª Portaria do Ministério
da Saúde, para ampliar a capacidade resolutiva das equipes do antigo PSF (agora
chamado ESF) e para qualificar a atenção com vistas à integralidade. Ele utiliza os
dados epidemiológicos, verifica as necessidades locais e seleciona as equipes de
saúde que serão apoiadas.

Esses núcleos são compostos por equipes multiprofissionais que, juntamente com
as equipes de ESF, com as equipes de atenção básica para populações específicas
(por exemplo consultório de rua ou ribeirinhos e fluviais) e com o Programa
Academia da Saúde e saúde bucal, realizarão os processos de prevenção e de
promoção à saúde em uma determinada área, sendo capaz de realizar discussões
de casos clínicos, possibilitando, assim, a criação de um projeto terapêutico mais
adequado e de melhor qualidade para o território e para a população. Os NAFS
podem se dividir em três modalidades: as chamadas NASF 1, NASF 2 e NASF 3.
Cada uma tem uma composição diferente e uma capacidade de atendimento
diferente (maior ou menor). Vale ressaltar que o NASF-AB é uma alteração nominal
para melhor adequação e para demostrar uma maior abrangência. Observe o
Quadro 1.3:

Quadro 1.3 | Composição do NASF por modalidade

Número de
equipes
Modalidade vinculadas Somatória de cargas horárias profissionais

NASF 1 5 a 9 ESF e/ou Mínimo de 200 horas semanais. Cada


eAB* ocupação deve ter no mínimo 20h e no
máximo 80h de carga horária semanal.
Número de
equipes
Modalidade vinculadas Somatória de cargas horárias profissionais

0
NASF 2 3 a 4 ESF e/ou Mínimo 120 horas semanais. Cada ocupação

seõçatona reV
eAB* deve ter no mínimo 20h e no máximo 40h de
carga horária semanal.

NASF 3 1 a 2 ESF e/ou Mínimo 80 horas semanais. Cada ocupação


eAB* deve ter no mínimo 20h e no máximo 40h de
carga horária semanal.

Legenda: * eAB = Atenção básica para populações específicas.


Fonte: Ministério da Saúde ([s.d.]c).

Poderão comporto o NASF: médico acupunturista; assistente social;


profissional/professor de educação física; farmacêutico; fisioterapeuta;
fonoaudiólogo; médico ginecologista/obstetra; médico homeopata; nutricionista;
médico pediatra; psicólogo; médico psiquiatra; terapeuta ocupacional; médico
geriatra; médico internista (clínica médica); médico do trabalho; médico
veterinário; profissional com formação em arte e em educação (arte educador) e
profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de saúde e
com pós-graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente em
uma dessas áreas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, [s.d.]c).

É preciso lembrar que a instalação do NASF pelo município garante um repasse


financeiro federal que auxiliará no processo da atenção primária, mas que a gestão
desses profissionais fica a cargo do gestor municipal.

ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA


É uma estratégia cuja origem é a reorganização da atenção básica, bem como a
organização e o fortalecimento da atenção primária. Podemos considerá-la como
um modelo assistencial escolhido para implementar a atenção básica. Sua
principal proposta atualmente é a de aproximar a Unidade Saúde da Família (USF)
à população, proporcionando acesso aos serviços e gerando vínculo com o usuário
do SUS.

E o que é a USF? É uma unidade ambulatorial pública de saúde que realiza


assistência nas especialidades básicas e que dispõe de ações de prevenção, de
promoção, de diagnóstico precoce, de tratamento e de reabilitação. Deve ser
reconhecida como o mais próximo de uma residência para o usuário. Atualmente o
conceito de USF e de Unidade Básica de Saúde (UBS) estão intrinsecamente
relacionados, pois, a partir da definição da Política Nacional de Atenção Básica
(PNAB), foi estabelecido que se deve implementar a ESF nas UBS, processo que as
torna semelhantes às USF.
A ESF deve possuir:


uma equipe multiprofissional [...] composta por, no mínimo: (I) médico generalista, ou especialista em Saúde da
Família, ou médico de Família e Comunidade; (II) enfermeiro generalista ou especialista em Saúde da Família;
(III) auxiliar ou técnico de enfermagem; e (IV) agentes comunitários de saúde. Podem ser acrescentados a essa
composição os profissionais de Saúde Bucal: cirurgião-dentista generalista ou especialista em Saúde da Família,

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auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal.

— (MINISTÉRIO DA SAÚDE, [s.d.]b)

seõçatona reV
Territorialização: é um dos principais avanços da implementação da ESF, pois
demonstra um processo de descentralização da saúde, que visa atender as
diferenças socioepidemiológicas das mais variadas regiões nacionais, levando-
se em consideração que cada equipe deve ser responsável por, no máximo,
4.000 pessoas (sendo 3.000 o número ideal). Além disso, deve-se observar o
grau de vulnerabilidade populacional e devem-se considerar restrições
geográficas e de acesso ao serviço de saúde e o perfil epidemiológico de
morbimortalidade.

Mapeamento: após a definição territorial, realiza-se o mapeamento,


procedimento que consiste no estudo e na apreensão do território no qual
cada agente comunitário de saúde (ACS) será alocado. Cada ACS deve construir
um mapa que possibilite a identificação de casas, igrejas, creches, escolas,
fábricas, microáreas de risco e outros pontos importantes (como pontos de
venda de drogas, descarte de lixo irregular, áreas de enchentes, etc.), utilizando
símbolos para melhor entendimento.

O diagnóstico da comunidade: consiste em realizar um levantamento da


mortalidade, da morbidade, da incidência e da prevalência de doenças, dos
fatores de risco, do risco relativo relacionado a esses eventos, das internações,
dentre outras análises epidemiológicas. E não se deve somente analisar
doenças e seus agravos, mas se deve também abordar o perfil socioeconômico
e sociocultural do território, a fim de entender as condições de moradia das
pessoas, os hábitos, os costumes, o estilo de vida, a renda, a escolaridade, a
religiosidade, o transporte, o lazer e o saneamento básico. Para esse controle,
orienta-se que estes dados sejam cadastrados no Sistema de Informação da
Atenção Básica (SIAB), que possui um importante instrumento para monitorar o
perfil epidemiológico e sanitário de um território e que permite à equipe
planejar ações de educação e de priorização de atividades.

VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Agora vamos entender melhor as ações de promoção de saúde voltadas para a
prática de atenção à saúde dos cidadãos brasileiros. Anteriormente, já vimos que a
atenção primária em saúde teve que se desenvolver diante de muitas relações
problemáticas, que incorporam a extensão territorial, a dimensão populacional e a
assimilação do conhecimento precário de saúde. Então, agora, as redes de atenção
à saúde proporcionam portas de atendimento à população e acompanhamento de
suas famílias.

A vigilância em saúde por sua vez integra diversas áreas de conhecimento e aborda
diferentes temas, como podemos observar na Figura 1.11 abaixo:
Figura 1.11 | Modelos de vigilância

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seõçatona reV
Fonte: adaptada de Fiocruz ([s.d.]).

Podemos dizer, então, que a vigilância em saúde possui um papel de grande


importância não só no que diz respeito à promoção de saúde e à prevenção de
doenças com relação à população, mas também no planejamento, no auxílio do
processo de territorialização, na epidemiologia, no ambiente, na saúde do
trabalhador entre outros, realizando a vigilância e o acompanhamentos dos
marcadores determinados pelo estado, pelo município e/ou pela USF.

Segundo Corvalan, Duarte e Vazquez (2014), diversas discussões foram feitas para
motivar a população a compreender a necessidade de uma mudança ambiental,
social, e econômica, mas ainda estamos em pleno desacordo com tais eventos.


Em 2012, essa visão foi reconhecida no documento final da Rio +20, em seu parágrafo 138: “reconhecemos que
a saúde é uma condição prévia, um resultado de um indicador de três dimensões do desenvolvimento
sustentável ... Estamos convencidos de que as medidas sobre determinantes sociais e ambientais de saúde
tanto para pobres e vulneráveis como para toda a população, são importantes para criar sociedades, inclusivas,
equitativas, economicamente produtivas e saudáveis” (ONU, 2012).

— (CORVALAN, DUARTE, VAZQUEZ, 2014, p. 7)

E, em 12 de julho de 2018, a Resolução nº 588 foi aprovada e foi instituída a Política


Nacional de Vigilância em Saúde, fruto da mobilização do Conselho Nacional de
Saúde (CNS) em defesa do SUS (ALMEIDA; SANTOS; SOUZA, 2018).

SAÚDE DO TRABALHADOR


A Vigilância em Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (VISATT) é um conjunto de ações feitas sempre
com a participação dos trabalhadores e articuladas intra e intersetorialmente, de forma contínua e sistemática,
com o objetivo de detectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores determinantes e condicionantes da saúde
relacionados ao trabalho, cada vez mais complexo e dinâmico. (SAÚDE..., [s.d., s.p.], grifos do autor)

A especificidade de seu campo é dada por ter como objeto a relação da saúde com o ambiente e os processos
de trabalho, abordada por práticas sanitárias desenvolvidas com a participação dos trabalhadores em todas as
suas etapas. Como componente da vigilância em saúde e visando à integralidade do cuidado, a VISAT [Vigilância
em Saúde do Trabalhador] deve inserir-se no processo de construção da Rede de Atenção à Saúde, coordenada
pela Atenção Primária à Saúde (VIGILÂNCIA..., [s.d., s.p.]).
Por meio desses recursos, a Vigilância em Saúde do Trabalhador, juntamente com
as políticas nacionais de saúde, possibilita a redução da morbimortalidade dessa
população e orienta para a prevenção de agravos.

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VIOLÊNCIA, RISCO E VULNERABILIDADE

seõçatona reV
O termo vulnerabilidade sempre esteve ligado à fragilidade ou à suscetibilidade a
problemas de saúde e, inicialmente, era associado à epidemia da AIDS, durante a
qual se discutia a fração de grupos que poderiam ser suscetíveis à infecção ou que
teriam potencial para danos à própria saúde. Também pode ser compreendido
como área afetada por um determinante de risco. A partir disso pode-se dizer que
essas conceituações se completam ou se autodefinem, tanto no que se refere à
saúde humana quanto à ambiental, estando, de uma maneira geral, sempre
associadas a processos de adoecimento.

Entretanto, vulnerabilidade também pode ser considerada em questões cognitivas


(acesso à comunicação, processamento da informação e prevenção),
comportamentais (desejos e capacidades do comportamento) e sociais (adoção de
comportamentos de proteção). Assim, pode-se dizer que esse termo determina os
diferentes riscos (evidências) de infecção, de doença e de morte. Ainda, a
concepção de vulnerabilidade social também pode estar associada à ausência ou à
precariedade de acesso, por exemplo, à renda e a provisões de vida. Enfim, a
vulnerabilidade está ligada às políticas públicas para a garantia dos direitos de
cidadania e é empregada desde 1980, época em que se iniciaram as pesquisas
sobre a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS).

Outro sentido que esse termo pode adquirir no contexto social tem a ver com a
probabilidade de violência, que pode ser correlacionada às várias transformações
da vida, por exemplo, as ocorridas na adolescência ou também as estimuladas por
hábitos sociais, como o alcoolismo e o uso de entorpecentes/drogas. Nesse
sentido, entende-se violência como uma situação em que um ou vários indivíduos
agem de uma maneira direta ou indireta, causando danos a uma ou várias pessoas
em níveis variados, seja em sua integridade física ou moral, seja em suas posses ou
em suas participações simbólicas e culturais (MICHAUD, 1989).

O início da definição da política pública de assistência social aconteceu em meio a


um cenário de conflitos e contradições, na sequência das normativas da política
pública de saúde, em 2004. Instituída a Política Nacional de Assistência Social
(PNAS) ressaltando que a vulnerabilidade social, expressa por diferentes situações
que podem acometer os sujeitos em seus contextos de vida, surgindo a partir
desse momento, a capacidade de implementações de ações direcionadas a essa
população (CARMO; GUIZARDI, 2018). A preocupação com a violência, então, está
atrelada a consequências à integridade física, psicológica/emocional das pessoas,
que geram um efeito nas demandas de serviço de saúde e nos custos sociais que
delas derivam e que se tornam uma preocupação constante com propostas na
promoção da saúde coletiva.
Como se pode perceber, o processo de formação e de instalação do novo modelo
assistencial, colocado na atenção primária e que utiliza a ESF como mecanismo de
modelo assistencial, sofre várias influências, iniciando com a Alma Ata, em 1978, e
indo até a formação do PSF (hoje ESF), em 1994, a criação do NASF, em 2008, e as

0
Políticas de Vigilância em Saúde, em 2018. Por fim, acredita-se que, a partir desta

seõçatona reV
seção, pudemos entender o cenário atual da saúde nacional.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
A Estratégia Saúde da Família (ESF) possui um papel fundamental no modelo
assistencial nacional atual e está cada vez mais presente no território nacional para
disseminar atenção básica para diferentes populações.

A partir do contexto apresentado, podemos entender que a ESF:

a. Deve ser formada pela menor quantidade de profissionais possível, proporcionando melhor controle e
homogeneidade para o desenvolvimento de seu papel.

b. É uma unidade de saúde ambulatorial pública, que realiza assistência nas especialidades básicas.

c. Deve ser composta por equipe multiprofissional para a melhor abrangência de atendimento e para o
enriquecimento de áreas de atuação, a fim de proporcionar a promoção de saúde e a prevenção de
doenças.

d. É uma unidade de apoio modelo, cuja implementação é dificultada em diversos territórios nacionais
devido a sua especificidade.

e. É considerada um plano emergencial da saúde pública para atender a demanda de prevenção de doenças
e agravos à saúde. 

Questão 2
A atenção primária é definida como o primeiro nível de atenção em saúde e


caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a
proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a
manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte [positivamente] na
situação de saúde [...] das coletividades.

— (ATENÇÃO..., [s.d., s.p.])

Logo, podemos afirmar que, na sua composição, existem as redes de atenção:

I. NASF – Núcleo de Apoio a Saúde da Família, equipe formada com a intenção de


aprimorar e melhor a ESF.

II. Saúde Bucal – Responsável integralmente pela ESF, fornecendo atendimento à


população para saúde bucal.

III. Atenção básica a populações especiais – Modelo assistencial criado para


atender populações de rua e ribeirinha.

IV. ESF – Estratégia Saúde da Família, responsável por aplicar o modelo assistencial
descentralizado e holístico.

V. UBS – Unidade Básica de Saúde, compõe uma rede de atenção integrada ao


processo saúde-doença.

Considerando o contexto apresentado e a avaliação das afirmativas, é correto o


que se afirma em:
a. I e II, apenas.

b. II e V, apenas.

c. III e IV, apenas.

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d. I, III e V apenas.

seõçatona reV
e. I, II, III e IV, apenas.

Questão 3
A vigilância epidemiológica é definida pela Lei n° 8.080/90 como:

I. Fonte de reconhecimento das principais doenças de notificação compulsória.

II. Geradora de investigação de epidemias que ocorrem em territórios específicos.

III. Agente no controle dessas doenças descobertas.

Considerando o contexto apresentado e a avaliação das afirmativas, é correto o


que se afirma em:

a. I, apenas.

b. III, apenas.

c. I e II, apenas.

d. II e III, apenas.

e. I, II e III.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, P. F. de; SANTOS, A. M. dos; SOUZA, M. K. B. de. (org.). Atenção Primária
à Saúde na coordenação do cuidado em regiões de saúde. Salvador: EDUFBA,
2015.

ATENÇÃO Básica. Sesab, Salvador, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/2SoM33t.


Acesso em: 15 mar. 2021.

BRASIL. Ministério da Saúde. Carta dos direitos dos usuários da saúde. 3. ed.
Brasília: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em: https://bit.ly/3xNNjNQ. Acesso
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BRASIL. Ministério da Saúde. PNAB – Política Nacional de Atenção Básica.


Departamento de Atenção Básica. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012.
Disponível em: https://bit.ly/3uvtQj5. Acesso em: 30 set. 2020.

CARMO, M. E.; GUIZARDI, F. L. O conceito de vulnerabilidade e seus sentidos para


as políticas públicas de saúde e assistência social. Cadernos de Saúde Pública, Rio
de Janeiro, v. 34, n. 3, mar. 2018. Disponível em: https://bit.ly/3h770Kz. Acesso em:
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CORVALAN, C.; DUARTE, E.; VAZQUEZ, E. Desenvolvimento sustentável e saúde:


tendências dos indicadores e desigualdades no Brasil. Brasília: OPAS, 2014.
Disponível em: https://bit.ly/3bcXcLv. Acesso em: 29 set. 2020.
FIGUEIREDO, E. N. de. Estratégia Saúde da Família e Núcleo de Apoio à Saúde
da Família: diretrizes e fundamentos. Módulo Político Gestor. [S.l.]: UNA-SUS:
UNIFESP, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3o0qIt8. Acesso em: 1 out. 2020.

0
FIOCRUZ. Vigilância em saúde. Pense – SUS, [S.l., s.d.]. Disponível em:
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seõçatona reV
GABRIEL, C. G. et al. Cantinas escolares de Florianópolis: existência e produtos
comercializados após a instituição da Lei de Regulamentação. Revista de nutrição,
Campinas, v. 23, n. 2, p. 191-199, 2010. Disponível em: https://bit.ly/2RzMyHA.
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IBGE. Censo Agro 2017, [S.l.], 2017. Disponível em: https://bit.ly/33mLyJp. Acesso
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IBGE. Expectativa de vida dos brasileiros aumenta para 76,3 anos em 2018. Censo
2021, [S.l.], 28 nov. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3nWEjkY. Acesso em: 29 set.
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Estratégia Saúde da Família. Ministério da Saúde, Brasília,


[s.d.]b. Disponível em: https://bit.ly/3o0wUkS. Acesso em: 29 set. 2020.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Núcleo Ampliado da Saúde da Família. Ministério da


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MINISTÉRIO DA SAÚDE. O que é Atenção Primária? Ministério da Saúde, Brasília,


[s.d.]a. Disponível em: https://bit.ly/3eqM3IQ. Acesso em: 29 set. 2020.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº 4.279, de 30 de dezembro de 2010. Estabelece


diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS). Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Disponível em:
https://bit.ly/3b9WoqF. Acesso em: 29 set. 2020.

NONATO, L. O. F. et al. Estratégias de gerenciamento na Atenção Primária à Saúde


em territórios de vulnerabilidade social expostos à violência. Rev. esc.
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Acesso em: 1 out. 2020.

OHARA, E. C.; SAITO, R. X. de S. Saúde da família: considerações teóricas e


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RENAST. Diretrizes de implantação da Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS.


Plataforma RENAST, [S.l., s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3etcLRi. Acesso em: 7
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VIGILÂNCIA. Portal da Vigilância em Saúde, Belo Horizonte, c2020. Disponível em:


https://bit.ly/3uGRDg9. Acesso em: 29 set. 2020.

VIGILÂNCIA em saúde do trabalhador. Plataforma RENAST, [S.l., s.d.]. Disponível


em: https://bit.ly/2PZV823. Acesso em: 15 mar. 2021.

YVES, M. A violência. São Paulo: Ática, 1989. (Série Fundamentos).


I

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


ATENÇÃO À SAÚDE

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Caio Luisi

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Fonte: Shutterstock.

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SEM MEDO DE ERRAR


Caro aluno, é chegada a hora da resolução de nossa problemática, a partir da qual
estávamos acompanhando o gestor de uma USF, que propôs um estudo de caso
para exemplificar uma tomada de decisão, dentro do contexto da ESF, para os
novos ACS da unidade. Especificamente, você teria que se colocar no lugar do
gestor para explicar aos novos ACS o porquê da conduta incorreta em direcionar
às pressas uma criança que estava com problemas de saúde para a USF.

Para explicar essa situação, precisamos entender que a USF compõe o grupo de
atividade da atenção primária, a qual está voltada à promoção da saúde e à
prevenção de doenças e não ao tratamento agudo de doenças, papel que cabe à
atenção terciária, composta pela rede de hospitais e prontos-socorros. Quanto à
conduta correta, esta teria sido aguardar no local e solicitar o serviço de
emergência para que a criança fosse encaminhada para o atendimento correto.
Lembre-se de que na USF são prestados atendimentos através da estrutura da
Estratégia Saúde da Família, que tem como principal proposta a aproximação do
usuário ao serviço, utilizando atenção multiprofissional, territorialização e
diagnóstico desse território, o que possibilita implementações de medidas
específicas e voltadas para o perfil populacional e territorial, cuja função é a
prevenção de doenças e a promoção da saúde no seu entendimento mais amplo.
Possivelmente, a partir desses apontamentos, o gestor conseguiria explicar o
motivo da conduta ser incorreta e como o ACS deveria ter agido, mas você ainda
poderá determinar uma nova perspectiva de resolução. Vamos lá! Olhe para tudo o
que foi discutido nesta seção e elabore sua resposta.

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seõçatona reV
AVANÇANDO NA PRÁTICA
VIGILÂNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR
Para compreender melhor os temas trabalhados nesta seção, adentraremos no
contexto de uma equipe de sanitaristas da vigilância de saúde do trabalhador.
Segundo a plataforma pública da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do
Trabalhador (RENAST),


a essência da ação de vigilância em saúde do trabalhador é desenvolvida por análises de documentos,
entrevistas com trabalhadores e observação direta do processo de trabalho. Corresponde ao modo de olhar do
sanitarista para o trabalho na tentativa de destacar seus impactos na saúde e ao meio ambiente. É a
observação da forma de trabalhar, da relação trabalhador com os meios de produção e da relação dos meios
de produção com o ambiente. 

— (RENAST, [s.d., s.p.])

Muito bem! Dessa forma, imagine que você é o coordenador da equipe de


vigilância em saúde do trabalhador e deve realizar alinhamentos de estratégias
para o time a respeito das atribuições dos profissionais que estarão envolvidos em
futuras ações de inspeção nas localidades. Assim, considerando características e
objetivos da vigilância em saúde do trabalhador, que estratégias colocaria em
pauta para sua equipe?

RESOLUÇÃO 

Nesta situação-problema nos deparamos com um coordenador de equipe de


sanitaristas em vigilância em saúde do trabalhador, portanto sua atividade
estava voltada a se colocar no lugar desse profissional e a definir estratégias
para ações em futuras inspeções da equipe.

Para atender tal demanda, devemos atentar para o fato de que, segundo as
perspectivas da RENAST, a ação geradora de uma intervenção de redução dos
riscos à saúde dos trabalhadores deve estar relacionada a um ambiente, a uma
atividade ou a um processo de trabalho. Essa ação é exercida por uma equipe
de Vigilância em Saúde do Trabalhador, não devendo ser realizada de forma
individual.


Os profissionais envolvidos com a VISAT não devem possuir conflitos de interesses para a realização plena
de suas atribuições de autoridade sanitária, que deve estar pautada pelos princípios voltados à saúde
pública.

A observação realizada deve destacar os aspectos técnicos, epidemiológicos e sociais do ambiente, das
atividades e do processo de trabalho em foco. 

O diálogo com os trabalhadores é imprescindível no momento da observação, no preparo da observação


e nas discussões das intervenções a serem prescritas. 

— (RENAST, [s.d., s.p.])


Assim, algumas estratégias devem ser priorizadas, pois “as ações de Vigilância
em Saúde do Trabalhador deverão ser desenvolvidas por profissionais da
Vigilância em Saúde, dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador,
devidamente instituídos como Autoridades Sanitárias, e quando necessário da

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Atenção Primária no âmbito estadual [...]” (RENAST, [s.d., s.p.]). Dessa forma,

seõçatona reV
segundo a RENAST ([s.d.]), deve-se preconizar estratégias como:


•  Identificar e analisar a situação de saúde dos trabalhadores da área de abrangência;

•  Analisar dados, informações, registros e prontuários de trabalhadores nos serviços de saúde,


respeitando os códigos de ética dos profissionais de saúde;

•  Planejar, executar e avaliar sobre situações de risco à saúde dos trabalhadores e os ambientes e
processos de trabalho;

•  Realizar ações programadas de Vigilância em Saúde do Trabalhador a partir de análises dos critérios de
priorização definidos;

•  Verificar a ocorrência de anormalidades, irregularidades e a procedência de denúncias de inadequação


dos ambientes e processos de trabalho, apurar responsabilidades e recomendar medidas necessárias
para promoção da saúde dos trabalhadores;

•  Efetuar inspeções sanitárias nos ambientes de trabalho, identificar e analisar os riscos existentes, bem
como propor as medidas de prevenção necessárias;

•  Utilizar de recursos audiovisuais e outros que possibilitem o registro das ações realizadas;

•  Garantir a participação de representantes dos trabalhadores e assessores técnicos nas ações de


Vigilância em Saúde do Trabalhador, inclusive quando realizadas em ambientes de trabalho;

•  Estabelecer estratégias de negociação com os empregadores formalizadas por termos, acordos e outras
formas, para promoção da saúde dos trabalhadores garantindo a participação dos trabalhadores;

•  Realizar atividades de educação continuada para formação de profissionais da saúde e áreas afins bem
como trabalhadores no que diz respeito a Vigilância em Saúde do Trabalhador.

— ([s.p.])

Dessa maneira, poderíamos determinar um bom caminho para atender a


demanda levantada nesta problemática. A partir do que foi discutido na seção,
veja se há outras formas de atender aos questionamentos. Vá em frente!
NÃO PODE FALTAR I

MODELOS EXPLICATIVOS DE SAÚDE-DOENÇA

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Caio Luisi

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Fonte: Shutterstock.

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PRATICAR PARA APRENDER


A partir de agora vamos conhecer a evolução histórica de alguns dos principais
modelos de saúde criados, vamos identificar suas principais características e
compreender a importância deles no desenvolvimento das bases epidemiológicas,
da saúde coletiva e da saúde pública no Brasil e em outros lugares do mundo.

Vamos juntos descontruir o modelo biomédico, autoritário e que vê o indivíduo e a


coletividade como seres incapazes de pensar a própria saúde e, portanto, passivos
e inativos nas ações que envolvem sua saúde. Embora esse modelo tenha sido
criado há muito tempo, ainda hoje podemos enxergar suas marcas na forma como
os profissionais conduzem um tratamento que, na maioria das vezes, tem foco na
doença e exclui o doente e suas individualidades.

Veremos também o desenvolvimento de novos modelos que rompem com essa


ideia ultrapassada, já que outras correntes de pensamento surgem como
alternativas, estimulando discussões mais abrangentes sobre os modelos de
saúde.

E é nesse ponto que percebemos como a complexidade de um indivíduo ou de


uma coletividade engloba também os aspectos sociais, econômicos, psicológicos e
ambientais, além dos biológicos apenas. Assim, o cuidado integral e humanizado
só ocorre quando, de fato, entendemos essa complexidade existencial e
integramos o próprio indivíduo e a sociedade como figuras ativas no processo de
promoção e de manutenção da saúde.
É por esse motivo que nossos esforços enquanto profissionais da saúde devem ser
ainda mais intensos na Atenção Primária à Saúde, sendo exatamente nesse
contexto em que assumimos nosso papel mais importante, o de educadores!

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Por fim, nesta seção, discutiremos a importância da educação em saúde, do papel
de educador do profissional da saúde, bem como algumas estratégias adequadas

seõçatona reV
para tonar esse processo de ensino-aprendizagem ainda mais eficaz.

Para contextualizar os temas desta seção às possibilidades das vivências


profissionais com as quais você, futuro profissional da saúde, poderá se deparar,
vamos aplicar os nossos conhecimentos sobre os modelos de saúde e educação
em saúde na rotina de um gestor de saúde de uma Unidade de Atenção Primária.
Você consegue imaginar os desafios com que esse profissional pode se deparar
nessa situação?

A partir disso, imagine que o gestor de saúde foi remanejado para uma Unidade de
Saúde da Atenção Primária em um pequeno município do interior do Brasil. Ao
pesquisar sobre a população local, fez um diagnóstico situacional e descobriu as
seguintes características na comunidade:

O município tem aproximadamente vinte mil habitantes no perímetro urbano e


três mil habitantes na área rural.

A unidade atende cerca de três mil usuários da área rural do município.

Mais de 70% dos moradores da área rural não possuem acesso à rede de
esgoto e a tratamento de água e menos de 40% residem em casas de alvenaria.

A maioria deles (56%) tem acima de 55 anos, não havendo diferenças


numéricas significativas entre homens e mulheres na região.

Quanto ao nível socioeconômico, 60% da população ganha até um salário


mínimo, 20% entre um e dois salários mínimos, 15% entre dois e três salários
mínimos e apenas 5% acima disso.

O nível de analfabetismo chega a 55% nas pessoas acima de 65 anos, e apenas


30% da população tem ensino médio completo ou educação superior.

O profissional também descobriu que, no último levantamento feito na área, as


doenças crônicas como diabetes e hipertensão encontraram altos índices de
prevalência e baixo nível de controle em pessoas acima de 55 anos. Quais medidas
podem ser tomadas para controle e melhoria da situação? Qual modelo de saúde
você deve escolher para basear suas ações? Como você resolveria esta situação
utilizando os conceitos e definições abordadas nesta seção?

Agora, convido você, estudante e futuro profissional da área da saúde, a estudar e


a discutir os conhecimentos desta seção e, desde já, a refletir sobre o seu papel
como agente transformador da saúde! Bom estudo!

CONCEITO-CHAVE
O MODELO BIOMÉDICO
Para que se compreenda o modelo biomédico do cuidado, é preciso voltar no
tempo, alguns séculos atrás, por volta do século XVII, quando filósofos
importantes, como Galileu, Newton e Descartes, acreditavam que o nosso mundo

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era como uma grande máquina composta de suas partes e engrenagens e que,
para compreendê-lo, bastava entender cada peça que o formava. Como essa lógica

seõçatona reV
também era aplicada à medicina, para que pudessem compreender o
funcionamento do corpo humano como um todo, estudavam cada parte ou órgão
isoladamente.

Esse modelo ganhou ainda mais força durante os séculos XIX e XX e teve suas
bases sustentadas pela corrente positivista, que defendia a ciência como única
fonte de obtenção do conhecimento verdadeiro e que negava argumentos sociais,
ambientais, psicológicos e espirituais.

Um marco importante no desenvolvimento do modelo biomédico ocorreu em 1910


quando Abraham Flexner, um educador norte-americano, elaborou um relatório
sobre o ensino da Medicina no país e provocou uma reforma no ensino da área.
Essa reforma fez com que o modelo biomédico também ficasse conhecido como
Modelo Flexneriano. Para que você entenda melhor as características dele, observe
a Figura 1.12.

Figura 1.12 | Características do modelo biomédico ou flexneriano

Fonte: elaborado pelo autor.

Assim, ao observarmos a Figura 1.12, podemos entender o modelo biomédico


como um modelo mecanicista, que pode ser considerado reducionista por negar o
indivíduo como um ser complexo e holístico, com características sociais,
psicológicas e espirituais, e o resumir ao campo biomédico, atribuindo seus
problemas de saúde a falhas nas “peças da máquina”, como se a saúde pudesse
ser definida apenas pela presença ou pela ausência de doença.

A doença, nesse contexto, é encarada sempre como resultado de um agente causal


(unicausalidade), como vírus, bactéria, agentes físicos (como fogo, radiação ou
compostos químicos), más formações congênitas, entre outras causas similares.
Embora as ideias apresentadas pelo modelo biomédico pareçam distantes e
ultrapassadas, ainda hoje podemos notar sua forte influência na formação de
profissionais da saúde de diversas áreas do conhecimento, bem como sua
aplicação nos serviços de saúde privados e públicos do Brasil e do mundo. Isso

0
ocorre toda vez que, por exemplo, o enfoque da consulta, da avaliação clínica ou

seõçatona reV
do tratamento proposto é exclusivamente baseado nos sinais e nos sintomas da
doença, não levando em consideração o contexto em que o cliente está inserido,
os aspectos culturais que o cercam, suas crenças e outras características sociais e
demográficas importantes.

REFLITA

É possível tratar a doença sem compreender quem você está tratando?


Quais são os impactos que esse modelo, amplamente aplicado no passado,
ainda traz para os dias de hoje?

MODELO DE DETERMINAÇÃO SOCIAL DA DOENÇA


A ideia do modelo de determinação social da doença nasce junto com um
movimento denominado Medicina Social, ainda no século XIX. Essa corrente
afirmava, de maneira geral, que os indivíduos adoecem e morrem de acordo com
suas condições de vida, de modo que eram considerados, então, os fatores sociais,
culturais e econômicos.

Esse modelo era muito popular na Europa até meados de 1870, quando a ideia
unicausal ganhou força e o modelo biomédico, que já estudamos, tornou-se
hegemônico.

A ideia do modelo de determinação social é retomada mais tarde, mas fica restrita
à área das ciências sociais e é ofuscada pelo modelo norte-americano flexneriano.

O modelo tem as classes sociais como importante pilar da investigação


epidemiológica, ou seja, a condição social é um fator determinante para o
conhecimento epidemiológico de uma população.

É essencial estudar os processos que impactam nas condições de vida de


determinada população, pois saúde e doença passam a ser associadas às
condições de vida e de trabalho dos indivíduos, e os aspectos sociais, políticos e
econômicos são considerados determinantes no processo de adoecimento.

Figura 1.13 | Determinantes de saúde e de doença de acordo com o modelo de determinação social da
doença
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seõçatona reV
Fonte: elaborada pelo autor.

EXEMPLIFICANDO

Você sabia que as ideias do modelo de determinação social da doença


serviram, por exemplo, para fortalecer os movimentos sanitaristas na
década de 1970, o que impulsionou um novo campo de conhecimento, o da
saúde coletiva? No Brasil, há também um grande movimento que pede pela
reforma sanitária, sobretudo a partir da nova Constituição Federal de 1988,
a qual estabeleceu saúde como direito de todos e dever do Estado e que
direcionou as bases do SUS, o nosso Sistema Único de Saúde.

Para que não haja mais dúvidas com relação às características dos dois modelos
que estudamos até agora, vamos compará-los no Quadro 1.4.

Quadro 1.4 | Diferenças entre o modelo de determinação social da doença e o modelo biomédico

Determinação social da doença x Modelo biomédico

Movimento pela reforma sanitária x Valorização do complexo


industrial

Verdade como processo x Provisoriedade – verdade


absoluta

Valorização da psicologia e do cultural x Valorização da célula e da química

Valorização da atuação x Todo poder do médico


multiprofissional/interdisciplinar

Valorização da pessoa como um todo x Valorização do conhecimento


fragmentado

Permeabilidade/humildade x Onipotência

Flexibilidade x Rigidez

Pensamento crítico político x Alienação centro de saúde


Determinação social da doença x Modelo biomédico

Comunidade x Hospital/indivíduo

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Inclui promoção da saúde x Só trata o doente

seõçatona reV
Educação como relação sujeito-sujeito, x Educação como médico-sujeito e
na relação médico-paciente o paciente como objeto

Flexibilidade para outras racionalidades x Fechamento para outras


médicas racionalidades (chamadas de
charlatanismo)

Valorização da saúde pública x Negação da saúde pública

Determinação social x Determinação biológica

Modelo saúde coletiva brasileira x Modelo biomédico/flexneriano

Responsabilidade social x Culpabilização individual

Fonte: DA ROS (2004).

MODELO DA HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA


Ao avançarmos um pouco no tempo, mais precisamente até o período pós-
Segunda Guerra Mundial, podemos observar que esforços coletivos, de diversas
lideranças mundiais, resultaram na criação da Organização das Nações Unidas
(ONU) e, posteriormente, da Organização Mundial da Saúde (OMS). É nesse
período também que o conceito de saúde é reformulado e ganha um significado
mais abrangente: “saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e
não mera ausência de moléstia ou enfermidade” (PUTTINI, PEREIRA, OLIVEIRA,
2010).

Nesse contexto de mudanças conceituais e com base na obra Medicina Preventiva


(LEAVELL; CLARK, 1976), surge o modelo da história natural da doença com uma
explicação multicausal que leva em consideração três fatores principais para
explicar o adoecimento: agente, hospedeiro e meio ambiente.

O reestabelecimento da saúde, nesse modelo, tem relação direta com a noção de


prevenção dessas doenças por meio de ações que promovam saúde e previnam
agravos do indivíduo e da coletividade.

Logo, podemos entender que, ao contrário do modelo biomédico, o modelo da


história natural da doença considera fatores externos adicionais, de natureza
social, política e cultural, que contribuem para o adoecimento.

A história natural da doença ocorre em dois períodos distintos, o pré-patogênico e


o patogênico. Vamos compreender esses dois momentos a seguir!

PERÍODO PRÉ-PATOGÊNICO
Compreende o período em que há interação dos condicionantes sociais e
ambientais com o suscetível (o indivíduo). É a somatória das inter-relações entre os
agentes etiológicos da doença, o indivíduo e todos os outros fatores envolvidos,

0
sejam eles ambientais, sociais, políticos, econômicos e culturais e que resultarão
na evolução da doença.

seõçatona reV
Essa combinação entre os fatores de risco e o indivíduo suscetível poderá impactar
no desenvolvimento da doença e em sua gravidade, que vai da gravidade mínima
até as situações de alto risco. Os principais fatores de risco estão descritos na
Figura 1.14.

Figura 1.14 | Fatores de risco que interferem no período pré-patogênico

Fonte: elaborada pelo autor.

PERÍODO PATOGÊNICO
Compreende o período em que a doença se implanta e evolui no indivíduo. Seu
início se dá quando o patógeno exerce as primeiras ações no organismo afetado,
inicialmente com perturbações de ordem bioquímica contra células, evoluindo
para defeitos, que podem ser permanentes, para agravos crônicos, para a morte
ou para a cura. Esse período é composto por quatro níveis de evolução (LEAVELL;
CLARK, 1976).

1. Interação estímulo-suscetível: nessa fase a doença ainda não se desenvolveu,


porém já se fazem presentes todos os estímulos necessários para que ela
ocorra.

2. Alterações bioquímicas, fisiológicas e histológicas: a doença já está instalada,


porém não há manifestação clínica possível de ser notada. Há interação
bioquímica nos tecidos, mas não há sinais ou sintomas.

3. Sinais e sintomas: é o estágio clínico com sinais e sintomas evidentes. A partir


desse ponto, a doença pode evoluir para cura ou se tornar crônica; pode
progredir para a invalidez ou até mesmo para a morte.

4. Cronicidade: a evolução progressiva da doença pode causar cronicidade ou


levar a lesões físicas incapacitantes por períodos variáveis, além de poder
culminar em incapacidade permanente, em morte ou, em alguns casos, em
cura.
Para compreender conceitualmente as principais diferenças entre os períodos pré-
patogênico e patogênico, observe a Figura 1.15.

Figura 1.15 | Conceito dos períodos pré-patogênico e patogênico

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seõçatona reV
Fonte: elaborada pelo autor.

Conhecer a história natural da doença e as condições sociais, ambientais e


econômicas que facilitam seu aparecimento na população é necessário para
adotar medidas para preveni-la e para tratá-la. A prevenção nesse modelo ocorre
em três etapas.

No período pré-patogênico, também conhecido como período de suscetibilidade, a


prevenção primária se divide em promoção de saúde e proteção específica. A
prevenção secundária ocorre já sobre a ação do agente causador da doença e
inclui diagnóstico, tratamento precoce e prevenção de incapacidades; ela acontece
no período patogênico, nas fases pré-clínica e clínica. Por fim, a prevenção terciária
ocorre na fase de incapacidade residual, cujo enfoque envolve a reabilitação e a
redução de incapacidades. Os níveis de prevenção são mais bem apresentados na
Figura 1.16.

Figura 1.16 | Níveis de prevenção primário, secundário e terciário


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seõçatona reV
Fonte: elaborada pelo autor.

EDUCAÇÃO E ESTRATÉGIAS EM SAÚDE


Com a popularização da medicina preventiva no Brasil a partir da década de 40 do
século XX, há a criação de serviços do Estado, como o Serviço Especial de Saúde
Pública, que disseminava estratégias de educação em saúde, a exemplo das
chamadas “campanhas sanitárias”, consideradas extremamente autoritárias e
pautadas nas características do modelo biomédico tecnicista, já que considerava o
indivíduo e a coletividade como passivos e incapazes.

Esse cenário autoritário se modifica, a partir da década de 1960, com movimentos


sociais, como o Movimento de Educação Popular conduzido por Paulo Freire e que
incentivava um processo educativo mais democrático e menos mecânico. Na área
da saúde, esse movimento era chamado de Movimento de Educação Popular em
Saúde e foi incorporado por profissionais da saúde insatisfeitos com o modelo
antigo, que não atendia a necessidade, principalmente, das camadas mais pobres
da população e que procurava incentivar e fortalecer os movimentos sociais e criar
conexões entre o cuidado médico e as questões e características do cotidiano da
população (GOMES; MERHY, 2011).

O Ministério da Saúde define educação em saúde como um processo educativo de


construção de conhecimentos em saúde e determina um conjunto de práticas ao
setor, as quais contribuem para aumentar a autonomia das pessoas no seu
cuidado e no debate com os profissionais e os gestores a fim de alcançar uma
atenção de saúde de acordo com suas necessidades (BRASIL, 2006).

ASSIMILE

Conceitualmente, a educação em saúde se relaciona com a promoção de


saúde e diz respeito a processos que englobam toda a população e seus
hábitos de vida do dia a dia e não somente aquelas pessoas sob o risco de
adoecimento. Logo, podemos entender que esse processo se aproxima de
um conceito mais abrangente de saúde, pois se relaciona com a busca pelo
bem-estar, que se pauta nos aspectos físicos, mentais, sociais, ambientais e
pessoais.

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Quando falamos em educação em saúde, podemos destacar três atores principais:

seõçatona reV
Os profissionais da saúde: têm papel fundamental nos processos educativos e
devem se utilizar das ferramentas adequadas para que o processo de ensino-
aprendizagem seja eficaz e empoderador.

Os gestores de saúde: devem dar todo suporte e estrutura necessários para


educação em saúde em todo seu processo.

A população: necessita absorver os conhecimentos e aumentar sua autonomia.

No entanto, infelizmente, sabemos que, na prática, essa interação está ainda


distante do ideal.

Para que seja efetivo, o processo de educação em saúde deve conduzir o indivíduo
à autonomia e deve torná-lo capaz de tomar decisões que vão impactar, de
maneira positiva, em seu estado de saúde. Podemos observar, de maneira prática,
esse processo de emancipação e de empoderamento ativado pela educação em
saúde na Figura 1.17.

Figura 1.17 | Impactos positivos da educação em saúde para o indivíduo e para a coletividade

Fonte: elaborada pelo autor.

Muito bem! Agora já sabemos que a educação em saúde é ferramenta


indispensável na Atenção Primária em Saúde e, para que o processo de ensino-
aprendizagem se concretize de maneira satisfatória, deve existir participação do
educador e do educando, sendo resultado dessa interação, a construção do
conhecimento em saúde e a transformação positiva das ações em saúde com
impactos no coletivo e no indivíduo.
Conhecer estratégias que favorecem o processo educacional é fundamental e, para
além disso, adotar práticas pedagógicas inovadoras de acordo com a necessidade
e com o contexto do indivíduo são passos importantes para que ele adquira
pensamento crítico-reflexivo e se torne ativo nas decisões que envolvem sua

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saúde.

seõçatona reV
As principais estratégias educativas utilizadas na Atenção Primaria à Saúde (APS)
são as oficinas educativas, que podem envolver dinâmicas reflexivas e de
criatividade, filmes e documentários, culinária saudável, jogos e dinâmicas em
geral, palestras educativas, entre outras possibilidades (GUBERT et al., 2009).

As visitas domiciliares também configuram momento ideal para educar em saúde e


não devem se restringir apenas às visitas de rotina nas casas dos usuários, mas
devem, também, estenderem-se a visitas em instituições de ensino (escolas,
creches, faculdades), empresas e outros estabelecimentos.

Outras estratégias ainda podem envolver produções artísticas, como


dramatização, concursos de arte, artesanato, entre outras opções utilizadas
amplamente em saúde mental, porém que também podem ser aplicadas a outras
áreas. Para isso, basta que você, como profissional consciente e capacitado, seja
capaz de compreender as necessidades e as características da população da qual
irá cuidar.

Bom, agora você é capaz de compreender, por meio dos fatos históricos e
conceitos apresentados até aqui, quais foram os principais modelos de saúde
desenvolvidos e aplicados e quais são suas características. Aprendemos que o
cuidado deve levar em consideração não apenas a doença do indivíduo, mas
também e principalmente os aspectos sociais, econômicos, culturais e ambientais
que o cercam. Essa é a única forma que temos de garantir um cuidado
individualizado, integral e humanizado.

E não se esqueça: para além das obrigações do processo de cuidar, somos


primeiramente agentes educadores e transformadores da saúde individual e
coletiva!

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
História natural da doença é o nome dado ao conjunto de processos interativos
compreendendo


as inter-relações do agente, do suscetível e do meio ambiente que afetam o processo global e seu
desenvolvimento, desde as primeiras forças que criam o estímulo patológico no meio ambiente, ou em
qualquer outro lugar, passando pela resposta do homem ao estímulo, até às alteração que levam a um defeito,
invalidez, recuperação ou morte. 

— (LEAVELL; CLARK, 1976.)

Sobre o modelo da história natural da doença, assinale a alternativa correta.

a. As medidas de prevenção devem ser iniciadas no período patológico, na fase pré-clínica.

b. As medidas de promoção de saúde, de prevenção de doenças e de proteção específica ocorrem na


prevenção secundária.
c. Os fatores envolvidos no processo saúde-doença são, principalmente, o próprio hospedeiro e o meio
ambiente em que ele vive.

d. As medidas que visam à reabilitação e à redução da incapacidade fazem parte da prevenção secundária.

e. As medidas que visam à reabilitação e à redução da incapacidade fazem parte da prevenção terciária.

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seõçatona reV
Questão 2


O modelo biomédico vê o corpo humano como uma máquina muito complexa, com partes que se inter-
relacionam, obedecendo a leis natural e psicologicamente perfeitas. O modelo biomédico pressupõe que a
máquina complexa (o corpo) precise constantemente de inspeção por parte de um especialista. Assume-se,
assim, de modo implícito, que alguma coisa, inevitavelmente, não estará bem dentro dessa complexa máquina.
Não fosse por isto, por que as inspeções constantes? O modelo biomédico não vê o corpo como uma máquina
perfeita, mas como uma máquina que tem, ou terá, problemas, que só especialistas podem constatar. 

— (KOIFMAN, 2001.)

Assinale a alternativa que apresenta características do modelo biomédico de


cuidado.

a. Preventivismo, curativismo e promoção à saúde.

b. Diversas especialidades por área do conhecimento, preventivismo e biologismo.

c. Assistencialismo, tecnicismo e promoção à saúde.

d. Mecanicismo, diversas especialidades por área do conhecimento e curativismo.

e. Promoção à saúde, mecanicismo e diversas especialidades por área do conhecimento.

Questão 3
Educação em saúde é o


Processo educativo de construção de conhecimentos em saúde que visa à apropriação temática pela população
[...]. Conjunto de práticas do setor que contribui para aumentar a autonomia das pessoas no seu cuidado e no
debate com os profissionais e os gestores a fim de alcançar uma atenção de saúde de acordo com suas
necessidades. 

— (BRASIL, 2006.)

Sobre a educação em saúde, assinale a alternativa correta.

a. A finalidade principal é educar indivíduos para que obedeçam a todas as recomendações médicas
prescritas. 

b. O profissional da saúde tem o papel exclusivo de ser o transmissor de informações úteis para a saúde
individual.

c. O receptor deve ser agente passivo no processo de educação, o que facilita a comunicação e a adoção das
práticas recomendadas pelo profissional da saúde.

d. As ações de promoção de saúde incluem também as de educação em saúde.

e. O plano de educação em saúde deve ser aplicado individualmente para fins didáticos. 

REFERÊNCIAS
ALMEIDA FILHO, N.; ROUQUAYROL, M. Z. Introdução à Epidemiologia. 4. ed.
Revisada e Ampliada. Rio de Janeiro: Editora Guanabara-Koogan, 2006. E-book.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na


Saúde. Departamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde. Câmara
de Regulação do Trabalho em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
Disponível em: https://bit.ly/3biSR9t. Acesso em: 5 out. 2020.

CEBALLOS, A. G. C. Modelos conceituais de saúde, determinação social do


processo saúde e doença, promoção de saúde. Recife: [s.n.], 2015. Disponível

0
em: https://bit.ly/3o6yRvP. Acesso em: 5 out. 2020.

seõçatona reV
DA ROS, M. A. A ideologia nos cursos de medicina. In: MARINS, J. J. N.; REGO, S.,
LAMPERT, J. B.; ARAÚJO, J. G. C. (orgs.). Educação médica em transformação:
instrumentos para a construção de novas realidades. São Paulo: Editora Hucitec,
2004. p. 224-244.

FALKENBERG, M. B. et al. Educação em saúde e educação na saúde: conceitos e


implicações para a saúde coletiva. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3,
p. 847-852, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3vVu6Z0. Acesso em: 5 out. 2020.

GOMES, L. B.; MERHY, E. E. Compreendendo a educação popular em saúde: um


estudo na literatura brasileira. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 27, n.
1, p. 7-18, 2011. Disponível em: https://bit.ly/3y0ukzE. Acesso em: 16 mar. 2021.

GUBERT, F. do A. et al. Tecnologias educativas no contexto escolar: estratégia de


educação em saúde em escola pública de Fortaleza-CE. Revista eletrônica
enfermagem, [S.l.], v. 11, n. 1, p. 165-72, 2009. Disponível em:
https://bit.ly/3f0X6ra. Acesso em: 16 mar. 2021.

KOIFMAN, L. O modelo biomédico e a reformulação do currículo médico da


Universidade Federal Fluminense. Hist. cienc. saúde, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p.
49-69, 2001. Disponível em: https://bit.ly/3bf6W7K. Acesso em: 16 mar. 2021.

LEAVEL, H.; CLARK, E. G. Medicina Preventiva. São Paulo: Megraw-Hill, 1976.

MELO, M. A. N. et al. Visita à unidade de saúde por escolares: estratégia educativa


para adesão ao programa de planejamento reprodutivo. Revista Brasileira de
Ciências da Saúde, [S.l.], v. 16, n. 1, p. 93-98, 2012. Disponível em:
https://bit.ly/2Q6SFTv. Acesso em: 4 out. 2020.

MOREIRA. T. C. et al. Saúde Coletiva. Porto Alegre: SAGAH, 2018. E-book.

PUTTINI, R. F.; PEREIRA JÚNIOR, A.; OLIVEIRA, L. R. de. Modelos explicativos em


saúde coletiva: abordagem biopsicossocial e auto-organização. Physis, Rio de
Janeiro, v. 20, n. 3, p. 753-767, 2010. Disponível em: https://bit.ly/2R7HRF7. Acesso
em: 5 out. 2020.

VASCONCELOS, E. M. Participação popular e educação nos primórdios da saúde


pública brasileira. In: VASCONCELOS E. M. (org.). A saúde nas palavras e nos
gestos: reflexões da Rede de Educação Popular nos Serviços de Saúde. São Paulo:
Editora Hucitec, 2001.
I

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


MODELOS EXPLICATIVOS DE SAÚDE-DOENÇA

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Caio Luisi

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SEM MEDO DE ERRAR


Vamos resolver a nossa situação-problema utilizando os conhecimentos que
aprendemos nesta seção. Desta vez nos deparamos com o gestor de uma Unidade
de Saúde da Atenção Primária que deveria implementar medidas para controle e
melhoria da situação relacionada a algumas doenças crônicas, como diabetes e
hipertensão. A partir disso, é preciso também escolher o modelo de saúde em que
baseará suas ações.

Como você já sabe, o gestor está lidando com um pequeno município do interior
do Brasil, cuja população é de baixo nível socioeconômico, de baixa escolaridade,
tem saneamento básico precário, é composta predominantemente de pessoas
acima dos 55 anos e tem um número expressivo de indivíduos com doenças
crônicas não-transmissíveis, como diabetes e hipertensão arterial.

É nesse contexto que podemos notar que as variáveis socioeconômicas e


ambientais são tão importantes quanto as doenças que atingem essa população, o
que nos leva a pensar sobre modelos de saúde mais abrangentes e que
contemplem o indivíduo como um todo (ser holístico). Nesse contexto podemos
ressaltar o modelo da história natural da doença.

As medidas a serem tomadas pelo novo gestor para o controle da situação


poderiam ser:
Aumentar os estoques de anti-hipertensivos e de medicamentos para controle
do diabetes.

Distribuir folhetos educativos para alertar sobre os perigos dessas doenças.

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Aumentar o número de aparelhos para medir pressão arterial e níveis de

seõçatona reV
glicemia.

Pedir a contratação de mais profissionais da saúde para a unidade.

As possíveis ações para o manejo da situação podem se basear nos períodos que
esse modelo estabelece:

AÇÕES DO PERÍODO PRÉ-PATOGÊNICO


Conceito: ações de promoção de saúde que visam evitar que haja a interação
entre indivíduo e agente patogênico.

Ações possíveis: essas ações podem envolver as questões ambientais, como a


instalação de rede de esgoto e tratamento de água na região afetada, além de
outras medidas juntamente às autoridades locais competentes, que vão
impedir o adoecimento populacional e melhorar a qualidade de vida. Ações
conjuntas com a secretaria da educação para promover programas de
alfabetização para adultos. Ações de educação para promoção de saúde e
prevenção de doenças que serão descritas com maiores detalhes adiante.

AÇÕES DO PERÍODO PATOGÊNICO


Conceito: ações que visam à detecção precoce de doenças, prevenção de
agravos, redução de incapacidades e reabilitação.

Ações possíveis: elaboração de campanhas para diagnóstico de doenças


crônicas mais comuns, como o diabetes e a hipertensão arterial. Programa de
acompanhamento e capacitação dos portadores dessas doenças e/ou de seus
cuidadores com diversas atividades que promovam educação em saúde e
estimulem o autocuidado com a participação da equipe multiprofissional.
Rastreamento dos usuários inativos nesses programas e criação de estratégias
que assegurem a adesão ao tratamento dessas doenças. Visita domiciliar da
equipe de saúde para garantir o cuidado aos que não têm acesso à Unidade de
Saúde, entre outras ações.

Estratégias educativas para a situação-problema: oficinas educativas com


diversos temas relacionados à saúde, ao bem-estar e à alimentação;
desenvolvimento de dinâmicas de grupo e dramatizações; capacitação para
cuidadores; visitas domiciliares; utilização do contato telefônico para
orientações, entre outras possibilidades.

Lembre-se de que essas são apenas algumas possibilidades. Outras ações e


estratégias também poderiam atingir bons resultados para a resolução da situação
apresentada. Ter flexibilidade, criatividade e raciocínio crítico é essencial para
pensar soluções em saúde, independentemente do contexto que você enfrentará
futuramente em sua vida profissional! Mas diga: você consegue pensar em outras
soluções possíveis? Vá em frente!
AVANÇANDO NA PRÁTICA
DE VOLTA AO MODELO BIOMÉDICO
Imagine a seguinte situação: dona Ana e Sr. Osvaldo são casados há muitos anos,
são católicos, sitiantes, têm seis filhos adultos, residem sozinhos na casa e ambos

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são analfabetos e de baixa renda. Os dois são idosos, hipertensos, têm problemas

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com colesterol e diabetes. Eles tinham consulta marcada na Unidade de Saúde e,
pela primeira vez em mais de dez anos, dirigem-se à unidade. Ao chegar na
consulta, são recebidos pelos profissionais da triagem, que fazem algumas
perguntas sobre o que eles estão sentindo, verificam alguns sinais vitais e
perguntam acerca de outras doenças prévias, depois do que ambos são
direcionados para o atendimento médico.

Ao final do atendimento, o profissional decide prescrever uma série de medicações


ao casal, muitas delas que não são encontradas na farmácia da unidade. Dá ainda
algumas recomendações quanto à dieta rica em frutas, legumes, grãos e outros
produtos específicos.

Alguns meses se passam após a consulta e Sr. Osvaldo volta à unidade alegando
dor forte na nuca e “tonteira”. É verificada a sua pressão arterial e percebe-se que
ele está com a pressão muito elevada, além de apresentar também outros
problemas.

Ao ser questionado sobre a origem desses problemas, os profissionais descobrem


que Sr. Osvaldo, bem como sua esposa, não estavam seguindo o tratamento da
forma como fora prescrito, pois eram analfabetos e não haviam conseguido
entender as orientações da receita médica, nem comprar alguns dos
medicamentos prescritos, confundindo por vezes os horários e a ordem da
ingestão deles. Além do mais, não haviam adotado as orientações quanto à
alimentação, pois não tinham acesso a boa parte dos alimentos necessários, pois
alguns eram caros demais para comprar. Segundo o que aprendemos sobre o
modelo biomédico, esses problemas poderiam ter sido evitados? Quais medidas
poderiam ter sido tomadas? O que pode ser feito daqui para frente para assegurar
a adesão às medidas que foram prescritas? Se você fosse um dos profissionais de
saúde envolvidos nesse atendimento, como responderia a essas demandas?

RESOLUÇÃO 

Nesta situação, deparamo-nos com o atendimento de um casal de idosos em


uma unidade de saúde. Considerando a situação apresentada, nossa demanda
estava pautada em destacar uma perspectiva sobre as ações, dentro do
modelo biomédico, que poderia ser efetivada para assegurar a adesão ao
tratamento e para trazer melhorias aos pacientes.

Podemos ver, neste caso, uma forte influência do modelo biomédico. Embora
pareça distante, casos como este ocorrem rotineiramente na prática clínica por
todo Brasil e em outros lugares do mundo.

Vamos analisar as condutas realizadas durante o atendimento para comparar


com o que poderia ter sido feito de diferente.

Condutas do atendimento, segundo a descrição da situação:


Entrevista direcionada exclusivamente aos problemas de saúde que os
pacientes apresentavam.

Prescrição de medicações sem evidências de orientação sobre os detalhes

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da prescrição, como posologia, eventuais efeitos adversos e outras
orientações que determinam o uso correto dos medicamentos,

seõçatona reV
considerando as caraterísticas dos pacientes.

Prescrição de medicamentos e recomendações para a alimentação fora da


realidade econômica e/ou social dos indivíduos.

Falta de atuação apropriada da equipe multiprofissional em boa parte do


atendimento.

Conduta ideal:

Para além das questões biomédicas, inicialmente, na entrevista, o casal


deveria ter sido questionado sobre o contexto em que vive, o contexto
sanitário em que se encontra, as questões socioeducacionais e econômicas.

Se houvesse uma interação entre as questões socioeconômicas e culturais


dos pacientes, seria possível saber que são analfabetos e que, portanto,
necessitariam de maiores esforços nos processos de educação em saúde.
Além da explicação direcionada na consulta, outros meios poderiam ter
sido utilizados, como sistema de cores ou gravuras com horários
específicos, bem organizado nas caixas para evitar confusão. Essa
responsabilidade não é apenas do profissional médico, mas de toda equipe
multiprofissional de saúde na Atenção Primária. É importante que haja
integração dos saberes da enfermagem, da farmácia, da psicologia, da
assistência social, entre outros campos do conhecimento.

É possível e necessário adaptar a indicação de dietas, medicações e


terapias, para que o indivíduo possa sempre ter acesso ao que foi prescrito.
Optar por medicações e tratamentos fornecidos gratuitamente pelo
Sistema de Saúde. O mesmo se aplica à prescrição de dietas que sejam
acessíveis, levando em conta os gostos e aspectos culturais do indivíduo.

Sr. Osvaldo teve complicações que poderiam ter sido evitadas com um pouco
mais de atenção por parte da equipe. Cabe aos profissionais corrigir esse erro
prestando a assistência necessária para evitar agravos ainda piores e aplicando
todas as condutas já mencionadas para que o casal possa finalmente
compreender, internalizar e incorporar em seu dia a dia o tratamento
adequado.

Para além disso, outras estratégias de acompanhamento e de educação em


saúde devem ser ofertadas ao casal para garantir o aprendizado em saúde e
para torná-los conscientes e ativos nas decisões que afetam sua saúde.
Consegue pensar em algumas? Vamos lá, coloque a mão na massa e tente
resolver essa situação de outra maneira!
NÃO PODE FALTAR I

POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE

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Caio Luisi

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.

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CONVITE AO ESTUDO  
Nesta unidade estudaremos mais a fundo as políticas públicas de saúde no Brasil e
o contexto histórico que nos levou à criação do maior projeto de política pública no
Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS).

Vamos nos aprofundar nos estudos desse sistema que revolucionou a saúde
pública no Brasil por ser universal e gratuito e, ainda, por surpreender devido a
sua implantação em um país com mais de 200 milhões de habitantes, caso único
no mundo, em um país com essas proporções.

Além disso, você conhecerá as bases legais que sustentam o SUS, seus objetivos,
suas diretrizes e sua organização.

Estudaremos também sobre os princípios da integralidade, da universalidade e da


equidade, sobre como eles se relacionam e sobre como direcionam o cuidado
humanizado. Além disso, veremos as características da descentralização do
cuidado, a qual conta com a participação da comunidade na gestão. 

Esse conjunto de saberes será essencial para a compreensão da proposta de


saúde pública que temos em nosso País e será imprescindível para sua atuação
como profissional, sobretudo na tomada de decisão frente a desafios de sua futura
rotina de trabalho.

PRATICAR PARA APRENDER


Nesta seção você estudará as políticas públicas, o plano de saúde pública para o
Brasil e o maior projeto em saúde de nosso país, o SUS.

Primeiramente vamos entender o que é uma política pública, para que de fato ela

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serve, como é pensada e como se aplica na área da saúde, além de
compreendermos as responsabilidades do Estado no compromisso pactuado na

seõçatona reV
Constituição Federal de 1988, que assegura a saúde como um direito de todos.

Além de compreendermos esses conceitos básicos, também nos aprofundaremos


quanto aos saberes sobre as relações entre os três Poderes: Executivo, Legislativo
e Judiciário. Procuraremos compreender como eles atuam na elaboração de leis e
de novas políticas, bem como na execução e no acompanhamento desses novos
planos e políticas.

Também conheceremos melhor o SUS a partir da análise de cada um de seus


objetivos e do estudo de outras atribuições que também são de sua
responsabilidade.

Conhecer o nosso sistema de saúde é imprescindível para uma atuação de


qualidade no mercado de trabalho futuro, pois as diretrizes e os princípios que o
regem são parâmetros fundamentais para qualquer profissional que atue na área
de saúde, seja no serviço público ou no privado.

Por fim, abordaremos a estruturação do Sistema Suplementar de Saúde, que


engloba as seguradoras e planos de saúde, estudaremos como ele funciona e
veremos quais são os órgãos que o regulam e fiscalizam.

Esses são os conhecimentos básicos e introdutórios para que mais adiante


possamos nos aprofundar ainda mais nas características do Sistema Único de
Saúde.

A fim de que você possa aplicar os conhecimentos que aprenderá ao longo desta
seção, vamos propor uma situação com a qual você, futuro profissional, poderá se
deparar no mercado de trabalho. Assim, utilizaremos o contexto de um gestor de
saúde que atua na Secretaria de Saúde de um pequeno município.

Esse profissional foi convidado a ministrar um minicurso de capacitação intitulado


“Políticas públicas em saúde e a responsabilidade do Estado” para os novos
profissionais do sistema público de saúde local. Dentre eles se encontravam
profissionais da enfermagem, agentes comunitários, dentistas, assistente sociais e
outros. O gestor iniciou sua apresentação e, ao citar o art. 196. da Constituição
Federal de 1988, “A saúde é direito de todos e dever do Estado” (BRASIL, 1988, [s.
p.]), foi gentilmente interrompido pela pergunta de uma profissional que assistia à
sua fala: “Se o SUS é gratuito, é para todos e é um dever do Estado, então por que
temos de ter plano de saúde? Todos os meus amigos e familiares se esforçam para
pagar um plano de saúde, pois têm medo de depender do SUS. Eu mesma, nunca
o utilizei! ”.

Nesse momento, outros colegas dão apoio às palavras da profissional, pois


aparentemente também concordam com as ideias apresentadas por ela e
apresentam as mesmas dúvidas.
O palestrante observa a reação dos ouvintes e joga a questão de volta a eles:
“Vocês sabem qual o real papel do SUS para a nossa sociedade? Sabiam que todos
aqui já o utilizaram e ainda se beneficiam diariamente dos serviços do nosso
Sistema Único? ”.

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Dali em diante, o palestrante decide dividir os participantes da capacitação em

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grupos e pede para que eles descrevam as vezes em que utilizaram os serviços do
SUS e depois que apresentem o que sabiam do SUS e qual a relevância desse
sistema para o País.

Agora imagine que você, aluno, é um dos participantes da palestra. Após ter
internalizado os conteúdos desta seção, como você responderia a esses
questionamentos? Concordaria ou não com a opinião da colega com base no que
aprendeu?

Ter a oportunidade de aprender, atuar e, acima de tudo, vivenciar uma saúde


pública universal e gratuita é privilégio de poucos profissionais no mundo. Vamos
internalizar os conhecimentos desta seção e compreender a essência do cuidado
acessível para todos!

CONCEITO-CHAVE

POLÍTICA PÚBLICA EM SAÚDE: CONCEITO E IMPORTÂNCIA


Podemos conceituar, de maneira geral, política pública (PP) como “um conjunto de
ações do governo que irão produzir efeitos específicos” (SOUZA, 2006, p.20-45).
Souza (2006) vai além e explica PP como “decisões e análises sobre política pública
[que] implicam responder às seguintes questões: quem ganha o quê, por quê e
que diferença faz”. Embora existam outras definições mais e menos abrangentes,
podemos compreender PP, basicamente, como todas as ações e decisões de um
governo cujo objetivo é, ou não, a solução de problemas da sociedade, os quais
influenciam a vida dos cidadãos nas mais diversas áreas, seja social, de
infraestrutura, de saúde, entre outras. Elas são pensadas e implementadas em
fases, processo conhecido como Ciclo de Políticas Públicas, conforme mostra a
Figura 2.1.

Figura 2.1 | Ciclo de Políticas Públicas

Fonte: elaborada pelo autor.


Podemos compreender, então, que o nascimento de uma política pública passa
primeiro pela identificação de um problema, depois passa à etapa de construção
de uma agenda (conjunto de problemas e de assuntos a serem tratados), em
seguida à formulação da política, seja por meio de elaboração de programas

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específicos, seja por meio de ações e estratégias para enfrentar o problema, segue

seõçatona reV
para a implementação, momento em que se coloca em prática o que foi
formulado, e, por fim, chega-se à monitorização e à avaliação, que é, de fato, a
etapa em que se verifica se o que foi planejado e colocado em prática foi eficaz ou
não e se é viável ou não sua continuidade do ponto de vista econômico,
administrativo e até mesmo de eficácia.

EXEMPLIFICANDO

Você sabia que o nosso Sistema Único de Saúde (SUS) é o maior projeto de
saúde pública do País? Pois é, ele foi criado em 1988 e é regulamentado
pela Lei nº 8.080/90. Nesta seção aprofundaremos nossos conhecimentos
sobre esse sistema que revolucionou a saúde pública de nosso País!

Agora que já compreendemos o que são as políticas públicas de maneira geral,


vamos entendê-las aplicadas à área da saúde.

As políticas públicas de saúde são ações, programas e projetos feitos pelo governo
com o objetivo de solucionar problemas em saúde, de prevenir agravos e de
promover saúde de maneira geral, ou seja , é a forma de operacionalizar as leis
existentes.

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu a seguridade social como o padrão de


proteção social no Brasil e assegurou a saúde como direito fundamental a todos e
como dever do Estado. É importante lembrar que o conceito mais amplo e
profundo de “saúde” adotado na Constituição exige que o Estado se utilize também
de políticas econômicas e sociais para reduzir os riscos de doenças e de agravos e
para garantir esse direito previsto.

Dessa forma, podemos compreender que as políticas públicas de saúde são todas
as ações e os programas organizados pelo Estado, com ou sem participação de
organizações não governamentais, os quais  têm por objetivo afetar positivamente
a saúde do indivíduo e da coletividade direta e/ou indiretamente.

POLÍTICA PÚBLICA EM SAÚDE E OS PODERES LEGISLATIVO,


EXECUTIVO E JUDICIÁRIO
Agora que já entendemos o que é uma política pública de saúde, precisamos
compreender como ela se relaciona com as diferentes esferas do poder.

O governo brasileiro divide-se basicamente em três esferas de atuação: a federal, a


estadual e a municipal, conforme podemos ver na Figura 2.2.

Figura 2.2 | Esferas federal, estadual e municipal


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Fonte: elaborada pelo autor.

Cada um desses representantes citados na Figura 2.2 desempenha uma função


específica dentro do que chamamos de três Poderes de comando, são eles: o
Executivo, o Legislativo e o Judiciário. O objetivo central dessa divisão é
descentralizar o poder e favorecer o estabelecimento de um Estado mais justo,
democrático e igualitário, que é a base de um Estado democrático contemporâneo.

Ao Poder Executivo cabe administrar o Estado, governar o povo, executar as leis,


propor planos de ação e administrar os interesses públicos.

O Poder Legislativo é responsável por criar e aprovar leis, por fazer a análise da
gerência do Estado e por aprovar ou reprovar as contas públicas, além de,
também, questionar os atos do Poder Executivo. Podemos concluir, portanto, que
ele exerce um controle político, administrativo e financeiro/orçamentário.

Já o Poder Judiciário é responsável por interpretar as leis e julgar os casos de


acordo com a Constituição e com as leis criadas pelo Poder Legislativo.

Os três Poderes atuam de maneira conjunta e têm igual força, de maneira que um
não se sobrepõe ao outro.

ASSIMILE

Em resumo:

O Legislativo cria as leis.

O Executivo coloca as leis em prática.

O Judiciário cobra o cumprimento das leis.

Para entender quem são os envolvidos em cada um dos Poderes, observe a Tabela
2.1.

Tabela 2.1 | Cargos de acordo com os três Poderes nas esferas federal, estadual e municipal

Poderes/Esferas Federal Estadual Municipal

Executivo Presidente da Governador e Prefeito e


República e secretários secretários
ministros estaduais municipais
Poderes/Esferas Federal Estadual Municipal

Legislativo Deputados federais Deputados Vereadores


e senadores estaduais

0
Judiciário Ministros do Tribunais de Justiça Juízes

seõçatona reV
Supremo Tribunal
Federal

Fonte: elaborada pelo autor.

Ao compreendermos o papel de cada um dos poderes, podemos entender que o


Poder Legislativo tem o papel de criar leis e de fiscalizar a atuação do executivo,
garantindo que os recursos sejam aplicados de acordo com o que estabelece a lei
nas esferas federal, estadual e municipal. O Poder Executivo administra e
implementa as políticas de saúde pública e, quando se trata do Brasil,
automaticamente elencamos o modelo do Sistema Único de Saúde (SUS) como o
representante dos serviços de saúde pública existentes no País. Já o Poder
Judiciário assegura que essa administração ocorra de forma a garantir que a
Constituição seja cumprida, ou seja, que todos tenham direito e acesso à saúde a
fim de assegurar sua dignidade.

ASSIMILE

Quanto às políticas públicas na saúde:

O Poder Legislativo as formula.

O Poder Executivo é quem assegura a execução das leis que são


formuladas.

O Poder Judiciário garante legalmente que a lei seja cumprida.

O PAPEL DO ESTADO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE E OS


OBJETIVOS DO SUS
O marco histórico da Constituição Federal de 1988 trouxe avanços importantes
para as políticas de saúde e de bem-estar social. Observe os arts. 6 e 196:

“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a


moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL,
1988, [s. p.]).

Como vimos anteriormente, é nesse ponto que a seguridade social tem maior
protagonismo e destaque. Com foco nas garantias de acesso aos direitos básicos
para toda população brasileira, o direito à saúde torna-se universal e uma
obrigação do Estado brasileiro.

“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação” (BRASIL, 1988, [s. p.]).
É no art. 5º da Lei 8.080/90 que encontramos os três objetivos do SUS. Vamos
conhecê-los e discuti-los um a um.

“I - a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da

0
saúde” (BRASIL, 1990, [s. p.]). Fatores condicionantes e determinantes da saúde
são todos os fatores que influenciam direta ou indiretamente a saúde de um

seõçatona reV
indivíduo ou de uma coletividade. Para exemplos, observe a Figura 2.3.

Figura 2.3 | Fatores condicionantes e determinantes da saúde

Fonte: elaborada pelo autor.

“II - a formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos


econômico e social, a observância do disposto no § 1º do art. 2º desta lei”
(BRASIL, 1990, [s. p.]). Esse objetivo diz respeito à criação de políticas públicas
em saúde, e podemos citar como exemplos as políticas nacionais de atenção à
mulher, ao idoso, à população indígena, ao trabalhador, entre outros. O
parágrafo 1º do art. 2º reafirma o compromisso do Estado quanto à
reformulação e à execução de políticas econômicas e sociais com o objetivo de
garantir o acesso universal e igualitário aos serviços para promoção, proteção e
recuperação da saúde.

“III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e


recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e
preventivas” (BRASIL, 1990, [s. p.]). A assistência prestada pelo SUS deve ser
integral, ou seja, deve atender o indivíduo em todas as suas necessidades, seja
ela social, psicológica, física, etc.

São ainda atribuições do SUS, de acordo com o art. 6º da Lei nº 8.080/90, atuar
sobre: a assistência terapêutica integral e a assistência farmacêutica; o controle e a
fiscalização de alimentos, água e bebidas; a ordenação da formação de recursos
humanos na área da saúde; a saúde do trabalhador, a vigilância epidemiológica,
sanitária e nutricional, entre outras obrigações.

O dever de prover saúde aos cidadãos, em território brasileiro, assumido pelo


Estado na Constituição de 1988, é fruto de intensa discussão política impulsionada,
principalmente, pelo Movimento de Reforma Sanitária da década de 1970. Esse
avanço permitiu a conquista da universalização na saúde, ou seja, fez com que a
saúde fosse para todos e não apenas para aqueles que tinham vínculo
empregatício ou que pagavam por assistência privada. Com o passar das décadas,
inúmeros problemas de gestão, atrasos no repasse de verbas, escassez de
recursos financeiros e materiais, entre outras situações, tornaram-se cada vez mais

0
frequentes e impactaram diretamente no acesso dos cidadãos aos serviços

seõçatona reV
públicos de saúde. Sendo este um direito de todos previsto em lei, houve, nas
últimas décadas, um aumento significativo em sua reivindicação por meios
processuais para garantir tratamentos, cirurgias, internações, acesso a
medicamentos de alto custo e outros serviços de saúde. Esse fenômeno foi
chamado de Judicialização da Saúde e ocorre intensamente até os dias de hoje, ou
seja, o indivíduo se utiliza do Poder Judiciário e processa o Estado para garantir o
seu direito. Porém, essas demandas processuais têm impacto econômico
orçamentário altíssimo e não previsto pelo SUS, agravando ainda mais sua gestão.

REFLITA

Para além dos problemas orçamentários, é necessário repensar e otimizar a


gestão do SUS, com mais recursos e acesso a novos tratamentos, a fim de
assegurar saúde de maneira eficaz e de diminuir a demanda de novos
processos judiciais. E você, o que pensa dessa situação? Quais seriam as
alternativas para fugirmos desse embate de poderes e direitos?

ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA SUPLEMENTAR DE SAÚDE


A Saúde Suplementar é constituída basicamente pelos serviços de planos e de
seguros de saúde privados. Historicamente, o desenvolvimento do Sistema
Suplementar de Saúde no Brasil tem início na década de 1960, com expressiva
expansão nos anos subsequentes e com progressivo aumento da complexidade de
seus serviços em função das demandas de mercado, sobretudo com iniciativas
autônomas de empresas estatais e multinacionais da época, embora até então não
houvesse um modelo de regulação próprio.

Para compreendermos melhor como essa regulação ocorreu, temos de conhecer


dois marcos históricos principais: o primeiro diz respeito à Constituição Federal
promulgada em 1988, por meio da qual a saúde passa a ser um dever do Estado,
segundo o art. 196, e por meio da qual também é liberada a participação da
iniciativa privada na saúde, de acordo com o art. 199. O segundo marco ocorre
apenas mais de dez anos depois, com a Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000, a
qual estabelece as bases para a criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS), que regula as operadoras de saúde suplementar no País. São consideradas
operadoras as seguradoras de saúde, as cooperativas, a medicina de grupo, as
instituições filantrópicas e as autogestões. Seu objetivo principal é o de promover a
defesa do interesse público na assistência suplementar à saúde, contribuindo para
o desenvolvimento das ações de saúde no País.

Atualmente, mais de 47 milhões de brasileiros possuem plano de saúde privado.


Nessa modalidade, a saúde suplementar não possui vínculo com o SUS, exceto em
algumas situações advindas de normas jurídicas.
No entanto, a iniciativa privada é considerada como complementar quando, por
meio de contratos ou convênios celebrados junto ao poder público, com eles firma
parceria. As instituições sem fins lucrativos e filantrópicas têm preferência para
parcerias desse tipo e, uma vez celebrada a parceria, a instituição passa a fazer

0
parte do SUS e deve seguir suas diretrizes, princípios e objetivos. Um exemplo

seõçatona reV
conhecido e que você já deve ter ouvido falar é o das Santas Casas de Misericórdia
espalhadas por todo país. O Sistema Suplementar de Saúde é fiscalizado por três
órgãos, conforme Figura 2.4.

Figura 2.4 | Órgãos que participam do Sistema Suplementar de Saúde

Legenda: ANS: Agência Nacional de Saúde Suplementar; ANVISA: Agência Nacional de Vigilância
Sanitária; SBDC: Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência.

Fonte: elaborada pelo autor.

ASSIMILE

Ainda que o setor privado da saúde represente e atenda uma parcela


significativa da população brasileira, este segue a lógica do mercado, é
fragmentado e individualista. O SUS, desde sua criação, enfrenta uma série
de desafios e, por vezes, é desacreditado e tem seu valor diminuído
socialmente, principalmente pelas dificuldades que enfrenta, as quais estão
relacionadas à sua gestão e à qualidade dos serviços. Se temos saúde como
um valor social e universal, precisamos repensar nosso “poder cidadão”
para exigirmos um serviço público de qualidade e que abarque toda a
sociedade. Lembre-se: sistemas universais de saúde que funcionam no
mundo inteiro são sistemas pensados para a população como um todo!

Tendo em vista todo o conhecimento apresentado nesta seção, aprendemos a


importância que as políticas públicas em saúde têm para a sociedade.
Compreendemos também que saúde é um direito de todos e um dever do Estado
e que o poder de elaboração, execução e fiscalização dessas políticas é
descentralizado justamente para garantir maior representatividade nas decisões. O
SUS é o nosso maior projeto de saúde pública e serve de modelo para outros
países inclusive. É fundamental que, como profissionais e cidadãos, reconheçamos
a importância desse sistema e lutemos para que seu financiamento e seus serviços
aconteçam da melhor forma possível.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
A criação do SUS está diretamente relacionada à tomada de responsabilidade por
parte do Estado. Seu papel é maior do que simplesmente disponibilizar postos de
saúde e hospitais para que as pessoas possam acessar quando precisem; na

0
realidade, a proposta é que seja possível atuar antes disso, através dos agentes de

seõçatona reV
saúde que visitam frequentemente as famílias para antecipar os problemas e para
conhecer a realidade de cada família, encaminhando as pessoas para os
equipamentos públicos de saúde quando necessário.

Com base no que está estabelecido nas Lei Orgânica de Saúde , são considerados
campos de atuação do Sistema Único de Saúde:

a.  A execução de ações de vigilância sanitária e epidemiológica, em caráter obrigatório, e de saúde do


trabalhador, em caráter excepcional apenas.

b.  O controle de bens de consumo que se relacionem diretamente com a saúde da população,
compreendidas todas as etapas do processo.

c.  A formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e outros insumos de


interesse para a saúde e a participação na sua produção.

d.  Participação na normatização, na fiscalização e no controle dos serviços de saúde do trabalhador nas


instituições e nas empresas públicas.

e.  A participação nas etapas de controle e de fiscalização da produção e no transporte de substâncias e de


produtos psicoativos, tóxicos e radioativos.

Questão 2
Leia o trecho e responda: “Lamentavelmente, todas as vezes em que falamos dos
objetivos da saúde pensamos em Tratar das Pessoas Doentes. Isso no público e no
privado. Esquecemos que o maior objetivo da saúde é impedir que as pessoas
adoeçam” (CARVALHO, 2013).

De acordo com a Lei nº 8.080/90, é um dos objetivos do Sistema Único de Saúde:

a.  Preservar a autonomia e a dignidade da pessoa humana.

b.  Formular políticas voltadas apenas para a área da saúde.

c.  Identificar e divulgar os fatores condicionantes e determinantes da saúde.

d.  Promover ações assistenciais e atividades preventivas separadamente.

e.  Administrar os recursos orçamentários e financeiros destinados à saúde. 

Questão 3
“A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) é uma autarquia sob regime
especial vinculada ao Ministério da Saúde e responsável pela regulação,
normatização, controle e fiscalização das atividades que garantam a assistência
suplementar à saúde” (PIETROBON; PRADO; CAETANO, 2008).

Considerando as informações apresentadas, analise as afirmativas a seguir:

I. A ANS deve fixar critérios e procedimentos específicos para credenciar ou


descredenciar planos de assistência à saúde.

II. É função da ANS estabelecer critérios de aferição e de controle da qualidade


dos serviços oferecidos pelas operadoras de planos privados de assistência à
saúde.
III. A ANS deve promover a defesa do interesse das empresas privadas na
assistência suplementar à saúde.

IV. Cabe à ANS a regulação do fluxo financeiro e de serviços relacionados à saúde

0
suplementar.

seõçatona reV
V. Cabe à ANS a regulação financeira das operadas e de questões relacionadas
aos direitos dos consumidores desses produtos.

Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:

a.  III, apenas.

b.  I e II, apenas.

c.  I, II e III, apenas.

d.  I, II, IV e V, apenas.

e.  II, III, IV e V, apenas.

REFERÊNCIAS
BAPTISTA, T. W. F.; MACHADO, C. V.; LIMA, L. D. Responsabilidade do Estado e
direito à saúde no Brasil: um balanço da atuação dos Poderes. Ciênc. saúde
coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 3, p. 829-839, 2009. Disponível em:
https://bit.ly/2R8wdcY. Acesso em: 15 out. 2020.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de


1988. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:
https://bit.ly/3uDdgO5. Acesso em: 29 out. 2020.

BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para


a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento
dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da
República, 1990. Disponível em: https://bit.ly/3tCtllS. Acesso em: 20 out. 2020.

BRASIL. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Atenção à saúde no setor


suplementar: evolução e avanços do processo regulatório. Rio de Janeiro: ANS,
2009. 80p. Disponível em: https://bit.ly/3fagCld. Acesso em: 14 out. 2020.

CAPELLA, A. C. N. Perspectivas Teóricas sobre o Processo de Formulação de


Políticas Públicas. In: HOCHMAN, G.; ARRETCHE, M. et al. (org.). Políticas Públicas
no Brasil. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2007. p. 87-121. Disponível em:
https://bit.ly/3y2r471. Acesso em: 5 out. 2020.

CARVALHO, G. A saúde pública no Brasil. Estud. av., São Paulo, v. 27, n. 78, p. 7-26,
2013. Disponível em: https://bit.ly/3eE6tOw. Acesso em: 15 out. 2020.

LASSWELL, H. D. Politics: Who Gets What, When, How. Cleveland: Meridian Books,
1958.

LUCCHESE, P. T. R. (coord.). Informação para tomadores de decisão em Saúde


Pública. São Paulo: BIREME: OPAS: OMS, 2004. Disponível em:
https://bit.ly/3y598IQ. Acesso em: 16 out. 2020.
SOUZA, Celina. Políticas públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, n. 16,
p. 20-45, 2006. Disponível em: https://bit.ly/3tLLMox. Acesso em 06 mai.2021.

PIETROBON, L.; PRADO, M. L. do; CAETANO, J. C. Saúde suplementar no Brasil: o

0
papel da Agência Nacional de Saúde Suplementar na regulação do setor. Physis,
Rio de Janeiro, v. 18, n. 4, p. 767-783, 2008. Disponível em: https://bit.ly/2Q8XvQ9.

seõçatona reV
Acesso em: 15 out. 2020.

SANTOS, M. A. Lutas sociais pela saúde pública no Brasil frente aos desafios
contemporâneos. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 16, n. 2, p. 233-240, 2013.
Disponível em: https://bit.ly/3y1v4Vi. Acesso em: 22 out. 2020.

SESTELO, J. A. F.; SOUZA, L. E. P. F.; BAHIA, L. Saúde suplementar no Brasil:


abordagens sobre a articulação público/privada na assistência à saúde. Cad. Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v. 29, n. 5, p. 851-866, 2013. Disponível em:
https://bit.ly/2Sz6mLG. Acesso em: 15 out. 2020.
I

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE

0
Caio Luisi

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.

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SEM MEDO DE ERRAR


Na situação-problema desta seção, deparamo-nos com um gestor de saúde que
estava palestrando para uma plateia de profissionais de saúde em um curso de
capacitação. Esse profissional questionou a turma, da qual você fazia parte, sobre
qual era o real papel do SUS para a nossa sociedade. Ele perguntou também se a
turma sabia que todos os presentes já utilizaram os serviços do SUS e que ainda se
beneficiavam diariamente deles.

Inicialmente é importante pontuarmos que o SUS é universal, ou seja, para todos e


gratuito, logo atende a todos os mais de 200 milhões de brasileiros. Além disso, é
importante destacar também que, por problemas de gestão e de administração,
enfrenta desafios desde que foi concebido, em 1988. 

Logo, o ideal seria que os profissionais tivessem consciência de que não temos,
necessariamente, de ter um plano de saúde privado, mas que, principalmente,
precisamos pressionar e exigir, como sociedade, que o SUS seja gerido de maneira
mais eficaz, que haja mais investimentos, que exista maior fiscalização e, tudo isso,
para que esse serviço, que é para todos, se mantenha operante e com qualidade. 

É importante citar que existe um pensamento coletivo e sem fundamento de que o


SUS é para a parcela pobre da população ou que pagar por um plano de saúde
privado irá “desafogar” a sobrecarga do serviço público, mas isso é falso! E,
conforme já aprendemos nesta seção, sistemas universais de saúde que
funcionam no mundo inteiro são sistemas pensados para a população como um
todo.

0
Outro ponto importante é a ideia do “nunca utilizei o SUS”. Todos os cidadãos que
estão em território nacional utilizam o SUS, já que este é responsável não só pela

seõçatona reV
assistência médica, mas também pela qualidade de alimentos, da água e de outras
bebidas que ingerimos; pelas campanhas de vacinação e por várias outras medidas
de vigilância epidemiológica, sanitária, nutricional e uma infinidade de serviços.
Tendo essa consciência, as perguntas devolvidas pelo gestor seriam facilmente
respondidas!

Lembre-se de que essa poderia ser uma maneira de responder aos


questionamentos levantados. A partir do que discutimos, você tem plenas
condições de apontar uma nova resposta. Vá em frente!

AVANÇANDO NA PRÁTICA
ACESSO A DETERMINADOS TRATAMENTOS PELO SUS
Para trabalharmos mais alguns temas discutidos nesta seção, contextualizaremos
uma situação vivenciada pelo secretário de saúde de uma cidade interiorana. Ele
recebeu, em uma reunião, alguns representantes de associações de moradores
dos bairros da cidade em que trabalha.

Durante a reunião, um dos representantes dos moradores questionou o secretário


de saúde sobre um problema recorrente do município. Alguns cidadãos
simplesmente não conseguem acesso a tratamentos ou a medicamentos de alto
custo e recorrem à justiça para se valerem de seus direitos. A secretaria da pasta
de saúde está constantemente sendo intimada pela justiça para dar conta de todas
as demandas judiciais. Se o SUS é para todos e a saúde é mesmo um dever do
Estado, qual o motivo de ocorrer essa situação com tanta frequência? Quais as
soluções para esse problema? E qual o impacto que tantas demandas judiciais
podem trazer ao sistema?

Você, aluno, no lugar do secretário de saúde, como responderia a esses


questionamentos dos representantes dos moradores da cidade?

RESOLUÇÃO 

O gestor poderia enfatizar que esse “fenômeno” é chamado de judicialização


da saúde e que ocorre intensamente nos dias de hoje.

O cidadão tem o direito de recorrer ao Poder Judiciário para processar o


Estado a fim de garantir o seu direito previsto na Constituição. Porém, essas
demandas processuais têm um impacto econômico orçamentário altíssimo,
pois não estão previstos pelo SUS. Isso piora a situação orçamentária do
sistema e afeta os serviços oferecidos.

Uma possível solução, que demanda muita iniciativa e pressão por parte da
sociedade civil, seria repensar e otimizar a gestão do SUS, pois, se mais
recursos são investidos nos lugares certos, maior será a disponibilidade de
serviços e de tratamentos em saúde e melhor será a assistência prestada. Isso
diminuiria a necessidade de judicializar a saúde, pois as pessoas teriam, de
fato, acesso universal garantido por lei e atendimento de qualidade. 

0
No entanto, é importante ressaltar que esse esforço deve ser conjunto,
atingindo todas as esferas (federal, estadual e municipal) e com a atuação

seõçatona reV
integrada dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário e da população.

Você poderia imaginar outra proposta para a resolução desses


questionamentos? 
NÃO PODE FALTAR I

BASES LEGAIS E OS PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS DO SUS

0
Caio Luisi

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.

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PRATICAR PARA APRENDER


Caro estudante, nesta seção você conhecerá as bases que sustentam a
organização, o funcionamento, a gestão e a participação do Sistema Único de
Saúde (SUS).

Num primeiro momento, vamos discutir a Lei Orgânica de Saúde nº 8.080 de 1990,
que, de maneira geral, fala sobre a organização e a gestão do SUS.

Em seguida, conheceremos a Lei nº 8.142 de 1990, que fala sobre a participação da


população na gestão do SUS. Assim, discutiremos mais a fundo o papel do cidadão
na fiscalização e no gerenciamento dos serviços de saúde, além de refletirmos
sobre essa lei como uma conquista histórica para a nossa democracia.

Outro ponto relevante diz respeito às atribuições e às responsabilidades dos


gestores de saúde em nível municipal, estadual e federal. Além disso,
compreenderemos o que são os Conselhos de Saúde e para que servem as
Conferências de Saúde.

Para finalizar a seção, analisaremos de maneira reflexiva os princípios da


universalidade, da equidade e da integralidade propostos pelo SUS. Essa análise
partirá do contexto histórico da criação do SUS e dos desafios que ainda hoje
enfrentamos como nação, principalmente quanto às pautas relacionadas à
profunda desigualdade social que compromete a ideia de saúde como direito para
todos.
Compreender o SUS em sua complexidade é requisito importante para que o
profissional da saúde possa não só atuar nos serviços de saúde, mas também se
posicionar como cidadão frente aos desafios contemporâneos que enfrentamos
com a saúde no Brasil.

0
Considerando os temas discutidos nesta seção, vamos acompanhar as atividades

seõçatona reV
de um secretário de saúde de um pequeno município.

O gestor público foi convidado para participar de uma convenção de gestores da


saúde promovida pelo SUS. Durante uma mesa redonda do evento, o medidor
convidado explanava sobre a Gestão Participativa no SUS. Ele falava sobre a
importância da participação dos usuários na gestão do SUS e sobre como a
composição paritária dos Conselhos de Saúde garantia efetivamente uma gestão
democrática. Um dos profissionais participantes pediu a palavra e questionou o
mediador: Não seria melhor se nós, gestores de saúde que atuamos dia a dia nos
serviços desse âmbito, tivéssemos obrigatoriamente formação na área da saúde
para podermos fazer parte do contingente dos Conselhos de Saúde, visto que essa
nem sempre é uma realidade?

Você, aluno, no lugar do mediador, como responderia aos questionamentos do


participante após ter internalizado os conteúdos desta seção? Concordaria ou não
com a opinião do profissional?

O SUS é um fascinante projeto de saúde. Conhecer melhor seus objetivos,


princípios e diretrizes fará com que você não apenas seja um ótimo profissional da
saúde, mas também que se empodere como cidadão. Então vamos aos estudos!

CONCEITO-CHAVE

AS BASES LEGAIS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE


Como já vimos nas seções anteriores, o Sistema Único de Saúde (SUS) é fruto da
luta árdua de diversos movimentos e setores da sociedade que reivindicavam
maior participação política e a redemocratização do País. Em 2021, o SUS completa
33 anos e enfrenta desafios que ameaçam sua existência da forma como
conhecemos.

A proposta de saúde universal e participativa, posta pela Constituição Federal de


1988, é um marco histórico na conquista de direitos sociais do Brasil, de modo que
se torna imprescindível conhecer as leis que regem esse sistema.

O SUS foi estabelecido na Constituição, promulgada em 5 de outubro de 1988, na


seção II, que trata do tema saúde, no capítulo II, que discorre sobre a Seguridade
Social, e no título VIII – “da ordem social”.

Figura 2.5 | As principais demandas aprovadas no texto final


0
seõçatona reV
Fonte: elaborada pelo autor.

A base legal que sustenta nosso Sistema Único de Saúde é constituída pela Lei
Orgânica da Saúde – Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 –, que regulamenta o
SUS, e pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe sobre a
participação da comunidade na gestão do SUS. 

A Lei nº 8.080/90 regulamenta o SUS, proposto na Constituição de 1988, e dispõe


sobre as condições para promoção, proteção e recuperação de saúde, além de
especificar o funcionamento e a organização dos serviços de saúde. A Figura 2.6
apresenta e conceitua as áreas de atuação do SUS.

Figura 2.6 | Áreas de atuação do SUS

Fonte: elaborada pelo autor.

Para além disso, a Lei nº 8.080/90 ainda fala dos objetivos e de outras atribuições
do SUS já mencionadas na Seção 2.1. 

Quanto às responsabilidades, em cada esfera da federação (municipal, estadual e


federal), há atribuições comuns às três e outras específicas a cada ente federado
(MACHADO; LIMA; BAPTISTA, 2011).
É competência em âmbito federal: identificar problemas e prioridades em
caráter nacional, buscar equidade, incentivar as práticas inovadoras nas esferas
estaduais e municipais, garantir os recursos suficientes para o setor da saúde,
redistribuir a verba de forma a garantir equidade, investir em redução das

0
desigualdades, regular os sistemas estaduais, apoiar a articulação entre os

seõçatona reV
estados, avaliar os resultados das políticas nacionais e do desempenhos dos
sistemas estaduais, entre outras muitas atribuições.

É competência estadual: identificar problemas e prioridades no âmbito


estadual, promover a regionalização, incentivar o fortalecimento institucional
das secretarias municipais de saúde, definir os critérios de uso dos recursos
federais e estaduais entre os municípios, buscar a equidade na alocação dos
recursos, diminuir desigualdades, regular os sistemas municipais, apoiar a
articulação intermunicipal, avaliar o desempenho dos sistemas municipais,
entre outras obrigações.

É competência municipal: identificar problemas e prioridades no âmbito


municipal, planejar ações e serviços, organizar oferta de ações, de serviços
públicos e de contratação de privados caso haja necessidade. Garantir a
aplicação dos recursos próprios com transparência, integrar a rede de serviços,
definir as portas de entrada do sistema de saúde local, realizar articulações
com outros municípios para referências, prestar assistência diretamente,
fortalecer a vigilância sanitária e epidemiológica, gerenciar os serviços de
saúde, realizar contratação, capacitação e gerenciamento dos profissionais de
saúde, entre outras atribuições.

Quanto ao estabelecimento dos recursos financeiros, os estados deverão garantir


12% de suas receitas para a área da saúde e os municípios deverão investir 15%. Já
em âmbito federal, os gastos com saúde devem ser iguais ao do ano anterior
somados com a correção do valor do Produto Interno Bruto (PIB).

A Lei nº 8.142/90 dispõe sobre a criação de dois importantes mecanismos de


participação da comunidade no SUS. São eles: os Conselhos de Saúde e as
Conferências de Saúde.

Os Conselhos de Saúde são implantados em todas as esferas de governo e são


compostos por representantes do governo (25%), prestadores de serviço e
profissionais da saúde (25%) e usuários do SUS (50%), também chamados de
tripartites por envolver três “partes” em sua composição. Dessa forma, podemos
dizer que a representatividade é paritária, ou seja, há a mesma quantidade de
usuários do SUS e de demais representantes, garantindo assim a participação
popular na gestão do sistema.

Os Conselhos de Saúde apresentam caráter deliberativo, isso significa que têm


poder de tomar decisões. Eles atuam na formulação de estratégias e no controle
da execução das políticas nas diferentes esferas. Logo, podemos entender que há
Conselhos de Saúde municipais, estaduais e federais. 
Esse poder de atuação se estende também aos aspectos econômicos e financeiros.
As decisões são homologadas pelo chefe do poder constituído nos diferentes
níveis de poder, ou seja, prefeitos, governadores e Presidente da República. O
objetivo central é assegurar a gestão participativa da população no SUS e evitar

0
uma gestão centralizadora e distante. As atribuições dos conselhos de saúde são

seõçatona reV
resumidas na Figura 2.7.

Figura 2.7 | Atribuições dos Conselhos de Saúde

Fonte: elaborada pelo autor.

ASSIMILE

Existem os Conselhos de Saúde municipais, estaduais e nacionais. A cada


quatro anos ocorrem as Conferências nos âmbitos municipal, estadual e
nacional para discutir e propor novas políticas em todos os níveis. A
Conferência Nacional de Saúde discutirá novas diretrizes baseadas nas
demandas apresentadas nas esferas municipal e estadual.

As Conferências de Saúde ocorrem a cada quatro anos, em todas as esferas do


governo, com participação de diversos segmentos sociais e têm por objetivo avaliar
a situação da saúde e propor novas diretrizes para formulações de políticas de
saúde. As propostas das Conferências Municipais são levadas à Conferências
Estaduais que, por sua vez, discutem e avaliam os pontos mais relevantes para a
apresentação na Conferência Nacional de Saúde. Dessa forma, é possível ter a
representatividade de vários segmentos sociais, fator que legitima e organiza as
discussões e elaborações de políticas públicas para saúde. As características das
Conferências de Saúde estão resumidas na Figura 2.8.

Figura 2.8 | Características das Conferências de Saúde

Fonte: elaborada pelo autor.

PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS DO SUS


PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE
Ao reconhecer a saúde como “direito de todos e dever do Estado” a Constituição
Federal de 1988, em seu art. 196, passa a considerar a saúde como um valor social

0
e coletivo e não como um serviço ao qual se tem acesso por meio da contribuição

seõçatona reV
ou por outro meio. Assim, em teoria, sequer poderíamos afirmar que é gratuito, já
que não há relação de pagamento por ser um direito de todos.

O direito aqui se expande para o que entendemos por Estado de bem-estar social,
em que o Estado tem por obrigação corrigir as injustiças (iniquidades) sociais e
estimular o desenvolvimento econômico e social, os quais têm importância
reconhecida no processo saúde-doença.

A universalidade do SUS ultrapassa apenas o direito ao acesso aos serviços de


saúde, mas passa também por questões importantes como o direito à vida e à
igualdade de acesso independentemente da raça, da etnia, da religião, do sexo, da
orientação sexual ou de qualquer outro tipo de discriminação (MATTA, 2007).

O arco da universalidade traz ainda consigo dois desafios a serem vencidos. O


primeiro diz respeito à universalidade de acesso aos serviços de saúde e o
segundo se refere ao entendimento também de que esse princípio deve ser
estendido às condições de vida que possibilitem boa saúde.

PRINCÍPIO DA EQUIDADE
A desigualdade social e econômica ocorreu, historicamente, por toda a construção
do Brasil desde a época do descobrimento. A equidade constitui, portanto, um dos
problemas mais relevantes e complexos de nossa sociedade, e os abismos sociais
e econômicos revelam quão distantes estamos ainda de solucioná-lo.

A palavra equidade é frequentemente confundida com igualdade, o que gera


confusão na correta compreensão do termo. Equidade se aproxima mais das
diferenças do que do conceito de igualdade. Atua como uma espécie de
ferramenta reguladora das desigualdades existentes, ou seja, reconhece a
pluralidade e os diferentes graus de necessidades dos cidadãos e tenta equilibrá-
los com diferentes medidas de reparo.

EXEMPLIFICANDO

Para fixar o significado de equidade, podemos citar como exemplo o


atendimento em um pronto-socorro. Os critérios para atendimento são:
ordem de chegada, urgência e gravidade. Com base nesses critérios, uma
vítima de acidente grave passará na frente de outros casos menos graves,
mesmo tendo chegado depois, pois, naquele momento, aquele indivíduo
precisa de mais atenção. Logo, podemos dizer que a equidade reconhece as
diferenças nas condições de vida e de saúde das pessoas e cria
mecanismos específicos para diminuir as desigualdades entre os grupos. É
agir de maneiras diferentes para grupos com necessidades diferentes.
O grande desafio da equidade está em aplicar um juízo de valor para os critérios
de distribuição de renda e de recursos que, de fato, consigam promovê-la, afinal
para isso é necessário classificar pessoas e populações. Embora indicadores
epidemiológicos sejam apontados como uma maneira para o estabelecimento

0
desses critérios, sabe-se que esse parâmetro técnico nem sempre abrange as

seõçatona reV
questões políticas e sociais envolvidas (MATTA, 2007).

REFLITA

O Brasil enfrenta seu maior desafio quando nos deparamos com uma
distribuição de renda absurdamente desigual. Sabemos hoje que 10% dos
milionários de nosso País detêm juntos cerca de 55% da riqueza total de
nossa nação e que esse abismo social apenas aumenta com o passar das
décadas. Para você, qual impacto isso causa na saúde de nossa população?
Quais mecanismos sociais e econômicos podem ajudar na distribuição de
renda para as camadas mais pobres? Como essa redistribuição de renda
pode afetar positivamente a saúde populacional?

PRINCÍPIO DA INTEGRALIDADE
A integralidade, no campo da saúde, segue diversos caminhos em sua
complexidade (MATTOS, 2001):

Historicamente, houve a ideia de se construir um sistema unificado de saúde


que romperia com a ideia dicotômica de dois serviços isolados, um para a
prevenção e outro para a assistência médica no Brasil.

Incorpora o conceito mais abrangente, adotado pelo Estado, para definição de


saúde, indo contra as ideias reducionistas do modelo biomédico e levando em
consideração todos os determinantes envolvidos no processo saúde-doença.
Nessa concepção, o indivíduo e a comunidade são vistos em suas
complexidades e são tratados de forma integral, como seres com necessidades
sociais, econômicas, físicas, psicológicas e espirituais, fatores importantes para
a manutenção de sua saúde ou até mesmo para que a assistência em saúde,
em todos os níveis, ocorra de maneira humanizada.

A integralidade inclui diferentes grupos populacionais e apresenta formulação


de políticas públicas específicas para atendê-los em suas necessidades
específicas. Citamos como exemplos a Política Nacional de Atenção ao Idoso e a
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher.

A integralidade, na formação e no preparo de profissionais de saúde, é eixo


norteador de atuação, deixando de lado a formação e a prática tecnicistas.
Profissionais que compreendem a importância da integralidade no cuidado são
capazes de articular o trabalho e os processos de educação em saúde,
contribuindo, assim, para o processo emancipatório como cidadãos, tanto do
profissional quanto do cliente.

Dessa forma, podemos compreender que a integralidade vai além do cuidar do


paciente ou da comunidade nas diferentes esferas, ela também impacta na forma
como vivenciamos nossas conquistas históricas, como elaboramos novas políticas
públicas em saúde e como formamos os novos trabalhadores da saúde.

Bem, chegamos ao fim desta seção, ao longo da qual nos aprofundamos na


legislação que sustenta o SUS e conhecemos seus princípios. Dessa maneira, vimos

0
que a proposta do SUS vai além da reformulação do sistema de saúde e agrega,
principalmente, a difícil missão de uma sociedade mais justa e menos desigual, que

seõçatona reV
realmente se preocupa em corrigir as desigualdades para que haja justiça social. É
exatamente por isso que, ao tentar promover equidade para mais de 200 milhões
de brasileiros, enfrenta diversos problemas em seu financiamento e em sua
gestão.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
A proposta de saúde universal e participativa proposta pela Constituição Federal
de 1988 é um marco histórico na conquista de direitos sociais do Brasil, sendo
imprescindível conhecer as leis e os princípios doutrinários e organizativos que
regem esse sistema.

Com relação aos princípios doutrinários do SUS, assinale a alternativa correta.

a.  A universalidade prevê a saúde como direito para todos os cidadãos contribuintes do país.

b.  A equidade traduz a ideia de que todos são iguais perante a lei e, portanto, devem ser tratados de forma
igual.

c.  A integralidade garante o acesso a todas as especialidades médicas em saúde.

d.  A equidade entende que as pessoas vivem em condições desiguais e, portanto, devem ser tratadas de
acordo com suas necessidades. 

e.  A participação popular é um princípio doutrinário do SUS que consta em várias políticas de saúde.

Questão 2
A participação popular na gestão do SUS é uma conquista resultante dos esforços
de diversos movimentos sociais que lutaram por uma política descentralizada e
inclusiva a partir da década de 1970, culminando no marco histórico da publicação
da Constituição Federal de 1988, que atendia a essa demanda popular.

Assinale a alternativa que representa uma característica dos Conselhos de Saúde:

a.  Participam do monitoramento e do controle das políticas de saúde, porém não interferem nos aspectos
econômicos e financeiros.

b.  A participação desse colegiado ocorre apenas na esfera municipal, pois, nas demais, as decisões são
tomadas pelo legislativo.

c.  São compostos por representantes do governo, por prestadores de serviço, por profissionais da saúde e
por usuários do SUS.

d.  São considerados órgãos de caráter consultivo, de participação apenas de representantes do Distrito


Federal.

e.  A representação do governo, de prestadores de serviços e de profissionais da saúde é mais expressiva


numericamente na composição dos Conselhos de Saúde.

Questão 3
A Lei nº 8.080/90 e a Lei nº 8.142/90 formam as bases legais do SUS, descrevendo
sua organização, seu funcionamento, sua gestão e sua participação popular,
respectivamente. A gestão descentralizada e participativa é importante, pois
aproxima o usuário do serviço e o coloca como corresponsável pelas ações de
saúde e pelas políticas públicas implementadas.

Com relação à Lei nº 8.142 de 1990 é correto afirmar que o controle social no SUS

0
contará com as seguintes instâncias:

seõçatona reV
a.  Conselho de Saúde e Fundação Nacional de Saúde.

b.  Fundação Nacional de Saúde e Conferência de Saúde.

c.  Organizações Não Governamentais e Fundação Nacional de Saúde.

d.  Fundação Nacional de Saúde e autoridades governamentais.

e.  Conselho de Saúde e Conferência de Saúde.

REFERÊNCIAS
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:
https://bit.ly/3hjAsgs. Acesso em: 29 out. 2020.

BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para


a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento
dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da
República, 1990a. Disponível em: https://bit.ly/33BZSOl. Acesso em: 20 out. 2020.

BRASIL. Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da


comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências
intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1990b. Seção 1. Disponível em:
https://bit.ly/2SHd42q. Acesso em: 29 out. 2020.

MACHADO, C. V.; LIMA, L. D.; BAPTISTA, T. W. de F. Princípios organizativos e


instâncias de gestão do SUS. In: GONDIM, R.; GABROIS, V.; MENDES, W.
Qualificação de gestores no SUS. Rio de Janeiro: EAD: Ensp, 2011. p. 47-72.
Disponível em: https://bit.ly/3biAAJv. Acesso em: 29 out. 2020.

MANOROV, M. et al. Bases legais do SUS no conselho municipal: Um desafio para


efetivar a gestão participativa na saúde. Revista Eletrônica de Extensão,
Florianópolis, v. 14, n. 25, p. 61-72, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3bm0pZg.
Acesso em: 20 out. 2020.

MATTA, G. C. Princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. In: MATTA, G. C.;


PONTES, A. L. de M. (org.). Políticas de saúde: organização e operacionalização do
sistema único de saúde. Rio de Janeiro: EPSJV/FIOCRUZ, 2007. p. 61-80. Disponível
em: https://bit.ly/3f7xtW0. Acesso em: 29 out. 2020.

MATTOS, R. A. Os sentidos da integralidade: algumas reflexões acerca de valores


que merecem ser defendidos. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A (org.) Os Sentidos da
Integralidade na Atenção e no Cuidado Saúde. Rio de Janeiro: IMS: Uerj:
Abrasco, 2001.
PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. Construção Social da Demanda: direito à saúde,
trabalho em equipe e participação e os espaços públicos. Rio de Janeiro: IMS: Uerj:
Cepesc: Abrasco, 2005.

0
SANTOS, M. A. Lutas sociais pela saúde pública no Brasil frente aos desafios
contemporâneos. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 16, n. 2, p. 233-240, 2013.

seõçatona reV
Disponível em: https://bit.ly/3y5LUm7. Acesso em: 29 out. 2020.
I

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


BASES LEGAIS E OS PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS DO SUS

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Caio Luisi

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Fonte: Shutterstock.

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SEM MEDO DE ERRAR


Em nossa situação-problema, observamos a participação de um secretário de
saúde em uma convenção para gestores do SUS. Nela, um dos participantes havia
questionado o mediador de uma mesa redonda sobre as perspectivas de formação
dos profissionais que deveriam fazer parte dos Conselhos de Saúde dentro do
contexto da gestão participativa dos usuários do SUS.

A participação popular é importante, pois a Lei nº 8.142 de 1990 dispõe justamente


sobre a participação dos usuários na gestão do sistema. O controle social e a
gestão participativa no SUS são um dos princípios fundamentais da reforma
sanitária, ou seja, são frutos, historicamente, de lutas dos movimentos
democráticos desde a década de 1970, sendo considerada uma importante
inovação da Constituição Federal de 1988.

Essa participação contribui diretamente para a ampliação da cidadania e dá ao


usuário e à comunidade envolvida direitos e deveres. Dessa forma, a sociedade
torna-se figura ativa na gestão e na fiscalização do serviço de saúde e deixa de ser
um mero consumidor. Assim, ter formação na área da saúde para participação nos
conselhos de saúde poderia trazer aspectos gerenciais mais abrangentes e
direcionados, porém não é obrigatório se ter formação na área para se alcançar
tais objetivos, fator que também respeita os aspectos democráticos próprios do
SUS. 
Levantar os problemas existentes, que afetam a saúde de uma população, e
participar da formulação de políticas públicas em saúde para solucioná-los é dever
de todos, gestores, profissionais da saúde e principalmente do usuário que
vivencia os problemas diariamente. Pode-se dizer, então, que esta é a forma mais

0
pura de legitimação do poder cidadão.

seõçatona reV
Agora que você já aprofundou seus conhecimentos sobre as bases legais do SUS
nesta seção, é plenamente capaz de formular uma nova perspectiva de resposta
para essa problemática, trazendo uma resolução com argumentos bem sólidos. Vá
em frente!

AVANÇANDO NA PRÁTICA
APONTANDO O ERRO
Considerando o caráter participativo dos usuários do SUS dentro das decisões do
contexto da saúde, principalmente nas instâncias municipais. Para
contextualizarmos esse tema, imagine que o prefeito e a secretária de saúde de
um município convocaram uma reunião com representantes de associações de
moradores. A reunião é para tratar do orçamento previsto para saúde no próximo
ano, no município. A secretária de saúde municipal inicia sua fala e apresenta o
cronograma de atividades, as metas e, finalmente, o orçamento para a área de
saúde, segundo o qual considerava que, para o próximo ano, seriam destinados
12% de todos os recursos municipais para a saúde da cidade, destacando tal
porcentagem com tom de orgulho. A reunião segue e tudo parece normal, mas
talvez não para você, usuário do SUS, que acompanha a reunião.

Há algo de errado com o orçamento previsto? O que você faria nesse caso?

RESOLUÇÃO 

O usuário tem participação garantida na gestão do SUS através da Lei nº


8142/90, que diz respeito justamente sobre essa participação. Logo, você,
como usuário, teria total autoridade para questionar as decisões dos gestores
municipais presentes, manifestando-se contra o orçamento apresentado.

Nesse caso, o principal argumento se concentra no fato de que, quanto ao


estabelecimento dos recursos financeiros, os municípios devem investir, no
mínimo, 15% das arrecadações para a saúde segundo as políticas e normativas
do SUS.

Portanto, o usuário poderia pedir a palavra, citar a legislação, informar todos


os outros presentes e confrontar as autoridades para que a lei se cumpra. 

Você imaginaria outra perspectiva para se manifestar nesse caso? Aprofunde-


se mais no tema e aponte sua resposta.
NÃO PODE FALTAR I

NORMAS OPERACIONAIS E OS PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS DO


SUS

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Caio Luisi

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.

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PRATICAR PARA APRENDER


Prezado estudante, seja bem-vindo à última seção da Unidade 2. Nela você
aprofundará seus conhecimentos nas diretrizes e nos instrumentos normativos
que embasam a implementação, o funcionamento e a articulação das esferas
municipal, estadual e federal na gestão do nosso Sistema Único de Saúde (SUS).

Inicialmente, conceituaremos o princípio da descentralização do SUS e


entenderemos quão importante ele é na garantia de uma gestão democrática, que
leva em conta a autonomia dos municípios e a participação da sociedade.

Discutiremos também sobre a regionalização e a hierarquização que organizam o


sistema de saúde e que permitem estabelecer o fluxo a ser percorrido pelo
usuário, além de garantir a integralidade do cuidado, tendo em vista a
preocupação com as características, as necessidades da população e o seu
fornecimento em todos os níveis de complexidade.

A última diretriz, que diz respeito à participação da comunidade, reforça um


modelo democrático e participativo nas decisões de saúde e sustenta o SUS desde
sua criação.
Estudaremos o contexto histórico da implantação das Normas Operacionais
Básicas (NOB-SUS) de 91, 92, 93 e 96, bem como suas premissas. As NOB foram
normativas criadas para efetivar a implementação do SUS no Brasil, atendendo às
exigências da Constituição Federal de 1988 e das Leis Orgânicas da Saúde.

0
Por fim, estudaremos as Normas Operacionais da Assistência à Saúde (NOAS) de

seõçatona reV
2001 e 2002, as quais impulsionaram o processo de descentralização, dando maior
autonomia aos municípios, entre outras medidas importantes.

Esta seção encerra os conteúdos sobre o SUS, que, mesmo com inúmeros
problemas e desafios, segue sendo o único sistema universal no mundo que
abarca mais de 200 milhões de brasileiros.

Considerando os conteúdos apresentados nesta seção, sobretudo quanto aos


princípios da regionalização e da hierarquização, vamos acompanhar um dia de
trabalho do gestor da Secretaria de Saúde de um município do interior do Brasil.

O gestor de saúde visita o hospital municipal da pequena cidade como parte das
suas tarefas rotineiras. Ao chegar à unidade de internação, após cumprimentar os
funcionários, é surpreendido por uma mulher, acompanhante de um dos pacientes
internados. A mulher parecia estar realmente alterada e nervosa, pois esbravejava:
“Eu pago impostos! Meu marido tem que fazer hemodiálise e não há máquinas
nem profissionais capacitados nesta cidade! Eu exijo que o senhor compre
urgentemente esses aparelhos para a cidade!”.

Vendo a situação, o gestor de saúde pede à mulher que se acalme e a chama em


um local mais apropriado para conversar e explicar o que poderia ser feito. Você,
estudante, no lugar do gestor de saúde, como resolveria a situação e quais
argumentos utilizaria para conversar com a acompanhante?

O SUS é um sistema complexo e único e conhecê-lo a fundo é muito importante


para sua vida profissional. Então, mãos à obra e bons estudos!

CONCEITO-CHAVE

DIRETRIZES DO SUS
Caro estudante, nas seções anteriores estudamos os princípios do SUS, que são
universalidade, equidade e integralidade. Vimos também que eles devem se
articular com algumas diretrizes constituintes da base para a organização do nosso
sistema de saúde. São as diretrizes do SUS: descentralização, regionalização e
hierarquização, e participação da comunidade. As ações em saúde dos serviços
públicos ou privados, contratados ou conveniados devem atender a essas
diretrizes, previstas no art. 198 da Constituição Federal de 1988.

DIRETRIZ DA DESCENTRALIZAÇÃO
Podemos entender a descentralização em diversos âmbitos, como
descentralização política, administrativa, de serviços, entre outras possibilidades. A
descentralização no SUS parte do pressuposto de que a União deve ser obediente
aos princípios da Constituição, os quais devem ser assegurados e implementados
em todas as esferas (municipal, estadual e federal).
No SUS, a descentralização do sistema de saúde deve ocorrer em direção única em
cada esfera do governo e envolve descentralizar poder, responsabilidades,
recursos e, consequentemente, sua gestão, isso tudo para garantir que seja
democrática e que haja, de fato, a participação da sociedade.

0
A legislação e outros instrumentos, como as Normas Operacionais Básicas (NOB),

seõçatona reV
do SUS, dispõem de atribuições comuns, responsabilidades específicas e
articulação entre esferas. Mais adiante nos aprofundaremos um pouco mais nesse
tema.

DIRETRIZ DA REGIONALIZAÇÃO E DA HIERARQUIZAÇÃO


O entendimento desse princípio vai além da simples delimitação territorial; ele se
relaciona com a organização dos serviços de saúde locais. A regionalização deve
levar em conta os indicadores geopolíticos, culturais, epidemiológicos e os
determinantes sociais locais para pautar as ações de saúde. Afinal, quanto mais
próxima a gestão está de seus munícipes, melhor compreenderá suas
necessidades.

A hierarquização organiza os serviços de saúde em níveis crescentes de


complexidade, criando, assim, um fluxo de atendimento com o estabelecimento
dos serviços de referência e contrarreferência, de modo que os serviços de um
município se integram aos de outros quando necessário. Dessa forma fica
assegurado ao usuário o princípio da integralidade no cuidado em todos os níveis
de complexidade, ou seja, desde a prevenção até a reabilitação.

DIRETRIZ DA PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE


A participação da sociedade na gestão do SUS é fruto da reforma sanitária, a qual
exigia não só a reformulação do sistema de saúde, mas também que este fosse
universal e democrático. Tal premissa foi acatada na Constituição Federal de 1988
e, com isso, o SUS pôde ser construído em cima dessa diretriz. Como já vimos na
seção anterior, a representação dos usuários nos Conselhos de Saúde, sua
participação nas Conferências de Saúde e em outros órgãos representativos
demonstram o seu importante papel na gestão, bem como na participação das
decisões e da elaboração de políticas públicas em saúde.

NORMAS OPERACIONAIS BÁSICAS DO SUS


A Lei nº 8.142/90, já vista na seção anterior, dispõe sobre a participação da
sociedade na gestão do SUS com a criação dos Conselhos de Saúde e das
Conferências de Saúde, além de também tratar de como ocorrerá a transferência
de verbas entre as esferas federal, estadual e municipal. No art. 5º dessa mesma
lei, fica definida a responsabilidade do Ministério da Saúde quanto ao
estabelecimento das condições de aplicação da lei mediante a publicação de
portarias posteriores que discorressem sobre o financiamento, a gestão e o
planejamento do SUS. Nesse sentido, as Normas Operacionais Básicas do SUS
(NOB-SUS) são criadas. A Figura 2.9 apresenta alguns objetivos gerais das NOB-
SUS.
Figura 2.9 | Objetivos gerais das Normas Operacionais Básicas do SUS

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seõçatona reV
Fonte: elaborada pelo autor.

CONTEXTO HISTÓRICO E NORMAS OPERACIONAIS BÁSICAS 91 E 92


(NOBS 91 E 92)
Historicamente podemos notar que tanto a NOB 91 quanto sua sucessora, de 92,
dificultaram o processo de financiamento e descentralização do SUS no Brasil. A
primeira NOB, a de 1991, foi editada pelo Instituto Nacional de Assistência Médica
da Previdência Social (INAMPS) com a Resolução nº 258, em 7 de janeiro 1991, e
reeditada seis meses mais tarde pelo mesmo Instituto, com novas alterações. É
importante destacar que o INAMPS, criado na segunda metade da década de 1970,
ficou responsável por estabelecer essas normas de acordo com a Lei nº 8.142/90,
porém acabou guiando-se por seus próprios princípios, que valorizavam muito
mais as questões relacionadas ao financiamento da assistência hospitalar e
ambulatorial, na lógica assistencialista, típica do período pré-SUS. No entanto, por
ser o primeiro instrumento prático a sistematizar e a regular os inúmeros pontos
de interrogação deixados pelas Leis Orgânicas de Saúde, representou o início da
mudança de um sistema complexo.

Dentre as principais características da NOB-SUS 91, podemos destacar: 

Equiparou prestadores públicos e privados na modalidade de financiamento: o


pagamento de ambos é feito pela produção de serviços.

Centralizou a gestão do SUS e dificultou o processo de descentralização e de


municipalização, previsto na Lei nº 8.142/90.

Criou o instrumento convenial para transferência de recursos entre o INAMPS,


os estados, os municípios e o Distrito Federal.

Implantou o Sistema de Informações ambulatoriais do SUS.

A Norma Operacional Básica 92 (NOB-SUS 92) foi criada pela Portaria nº 234/92,
ainda com o INAMPS como órgão responsável pelo repasse de recursos entre as
esferas e ainda utilizando o instrumento convenial na transferência desses
recursos.

Alguns avanços na formulação da NOB 92 devem ser destacados, já que ela é


editada pelo INAMPS junto à Secretaria Nacional de Assistência à Saúde do
Ministérios da Saúde (SNAS/MS), ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde
(CONASS) e ao Conselho Nacional de Secretarias Municipais (CONASEMS). Essa
interação foi importante, pois trouxe outros pontos de vista e fomentou discussões
que permitiram realinhar alguns aspectos da NOB.
O enfoque na NOB-SUS 92 ainda é assistencialista no que diz respeito ao
financiamento, porém é considerado instrumento transicional, pois descreve
melhor os princípios da descentralização e o papel dos municípios.

0
É importante enfatizar que a Lei nº 8.142/90 estabelecia critérios que acabavam
favorecendo municípios mais bem organizados econômica e politicamente,

seõçatona reV
excluindo, assim, os mais carentes. Esse fator levou muitos municípios a se
organizarem a fim de terem algum poder na gestão, ainda que de forma limitada.
Em 1993, cerca de 1/5 dos municípios, os quais eram, em sua maioria, capitais e
grandes cidades, já haviam implementado a política de descentralização.

NORMA OPERACIONAL BÁSICA 93 (NOB 93)


Mudanças importantes ocorreram na formulação desse novo instrumento, fruto
da mobilização de diferentes atores do Movimento Sanitário que lutaram pela
descentralização. Esses atores começavam a constituir, estrategicamente, o
CONASS e o CONASEMS no Ministério da Saúde. Enquanto isso, aumentava a
pressão exercida por prefeitos e secretários municipais de saúde pela
reivindicação de melhores condições para terem, de fato, autonomia na saúde
local.  

Por fim, a NOB 93 foi elaborada pelo trabalho do Grupo Especial de


Descentralização (GED) e foi editada pelo ministro da Saúde com o intuito de
regulamentar não só o financiamento do SUS, mas também o processo de
descentralização, dificultado pelas NOB-SUS anteriores. 

Uma característica importante aqui é o conceito de descentralização como a


redistribuição de poder e não como desconcentração do poder. Além disso, nesse
momento houve a redefinição das funções e o estabelecimento de novas relações
entre União, estados e municípios.

Finalmente, a NOB 93 foi instituída pela Portaria do Ministério da Saúde nº 545/93


e foi fruto dos princípios aprovados na 9ª Conferência Nacional de Saúde, cujo
tema foi “A municipalização é o caminho”.

Dentre as principais mudanças dessa NOB, destacam-se:

A descentralização das ações dos serviços de saúde para nível municipal com
recebimento de recursos fundo a fundo.

A criação de transferência de verba regular e de forma automática, ou seja,


fundo a fundo. Diretamente do fundo federal para os fundos das demais
esferas.

Os estados passam a ter como função a gestão do sistema estadual de saúde.

A definição do gerenciamento do processo de descentralização por meio da


Comissão Intergestores Tripartite, da Comissão Intergestores Bipartites e dos
Conselhos Municipais.

A catalisação do processo de municipalização da gestão com habilitação dos


municípios, sendo elas categorizadas em três níveis de governo: incipiente,
parcial e semiplena. Já a gestão dos estados foi categorizadas em dois tipos:
parcial e semiplena. Esses diferentes níveis abarcam municípios e estados com
diferentes realidades frente à descentralização.

ASSIMILE

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Comissão Intergestores Tripartite (CIT): instância de articulação federal

seõçatona reV
que atua na direção nacional do SUS e que é composta de forma
paritária por quinze membros das esferas federal, estadual e municipal
(cinco membros de cada). As decisões são tomadas por consenso e não
por votação.

Comissão Intergestores Bipartites (CIB): instâncias de articulação


estadual cujo objetivo é avaliar o processo de descentralização das
ações de saúde. É composta por representantes da secretaria estadual
de saúde e das secretarias municipais de saúde.

NORMA OPERACIONAL BÁSICA 96 (NOB 96)


A NOB 96 foi publicada pela Portaria nº 2.203, de 5 de novembro de 1996, pelo
ministro da Saúde e, de maneira geral, pretendia dar continuidade ao processo de
municipalização do financiamento e dos mecanismos de gestão do SUS. Dessa
forma, podemos dizer que a NOB 96 trouxe uma redefinição para as atribuições
das diferentes esferas de gestão, principalmente no que diz respeito à
operacionalização e à consolidação do SUS, estabelecendo as normas que
permeiam as relações e as obrigações entre as esferas.

Concedeu aos municípios e ao Distrito Federal a função de gestores de atenção à


saúde de seus munícipes, o que se cumpriria a partir do apoio técnico e financeiro
dos estados e do governo federal.

A NOB 96 também instituiu os chamados “campos de atenção à saúde”, que


constituem conjuntos de ações em todos os níveis de governo. São eles:

Da assistência: engloba todas as atividades assistenciais dirigidas às pessoas,


tanto individual quanto coletivamente, no âmbito hospitalar, ambulatorial e em
outros espaços, principalmente no domiciliar.

Das intervenções ambientais: inclui as relações e condições sanitárias nos


ambientes de vida e de trabalho. Engloba também o controle de vetores e
hospedeiros e a operação de sistema de saneamento básico, ou seja, as ações
da vigilância epidemiológica, ambiental e de saúde do trabalhador.

Das políticas externas ao setor saúde: diz respeito às ações voltadas aos
Determinantes Sociais de saúde, como políticas voltadas à habitação, ao lazer,
ao emprego, à educação, à alimentação, entre outras.

Os conceitos de gestão e de gerência recebem uma definição específica aplicada à


NOB 96, sendo esta a administração de uma unidade de saúde ou de um órgão
que presta serviços ao SUS; e aquela o ato ou a responsabilidade de dirigir um
sistema de saúde.

EXEMPLIFICANDO
São exemplos de gerência, segundo a perspectiva da NOB 96: a gerência de
um hospital, de um ambulatório, de um instituto, etc. São unidades que
compõem o sistema de saúde.

0
São exemplos de gestão: o sistema municipal, estadual e nacional de saúde,
geridos pelos secretários municipais, pelos estaduais e pelo ministro da

seõçatona reV
Saúde, respectivamente. Diz respeito às diferentes esferas do sistema de
saúde.

As instâncias de negociação, articulação e decisão entre gestores dentro do SUS


ocorrem pela Comissão Intergestores Bipartite (CIB), com gestores das esferas
municipal e estadual, e pela Comissão Intergestores Tripartite (CIT), composta por
gestores das esferas municipal, estadual e federal. A CIB, a CIT e os Conselhos de
Saúde, juntos, viabilizam a articulação entre as esferas de gestão do SUS, porém
apenas os dois primeiros (CIB e CIT) são instâncias de negociação entre gestores,
cabendo aos Conselhos de Saúde a função de criar espaços de participação
popular e de controle social.

Entre outras medidas implementadas pela NOB 96 estão:

O aumento no percentual do repasse de recursos da esfera federal, que se dá


de maneira regular e automática (fundo a fundo) para os estados e municípios.

A criação do Piso de Atenção Básica (PAB) que inclui os recursos financeiros


destinados a procedimentos e a ações de assistência básica, de
responsabilidade municipal.

A criação da Fração Ambulatorial Especializada (FAE), montante que abarca


procedimentos ambulatoriais de média complexidade, medicamentos, órteses
e próteses ambulatoriais, insumos excepcionais e tratamento fora do domicílio,
de responsabilidade do estado.

O aumento do repasse fundo a fundo dos recursos federais, incluindo os


mecanismos criados, como o PAB, FAE e incentivo ao Programa Saúde da
Família (PSF), Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), entre outros
mecanismos.

As modalidades de gestão estabelecidas pela NOB 96 são apresentadas nas


Figuras 2.10 e 2.11.

Figura 2.10 | Modalidades de gestão municipal segundo a NOB 96

Fonte: elaborada pelo autor.


Figura 2.11 | Modalidades de gestão estadual segundo a NOB 96

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seõçatona reV
Fonte: elaborada pelo autor.

ASSIMILE

As NOB-SUS de 91, 92, 93 e 96 operacionalizaram as estratégias de


descentralização da gestão e do financiamento do SUS e estabeleceram os
papéis da União, dos estados e dos municípios nesse processo. Além disso,
estabeleceram as ações necessárias para sua implantação, tendo em vista a
Constituição Federal de 1988 e as Leis Orgânicas da Saúde.

NORMA OPERACIONAL DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE (NOAS-SUS 01/2001


E 01/2002)
A Portaria nº 95, de 26 de janeiro de 2001, aprovou a Norma Operacional da
Assistência à Saúde (NOAS-SUS 01/2001), a qual foi resultado de muitas
negociações entre as esferas, ou seja, de negociações entre o Ministério da Saúde,
o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (CONASS) e o Conselho
Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS). Dentre os objetivos da
NOAS 2001 podemos destacar:

A ampliação das responsabilidades dos municípios na atenção básica em


saúde.

A instituição do processo de regionalização da assistência.

O fortalecimento da capacidade de gestão do SUS.

A atualização dos critérios de habilitação, criados na NOB 96, de estados e


municípios.

Essa portaria de 2001 teve alguns pontos rediscutidos e foi editada com base nos
encaminhamentos da reunião da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), no fim de
2001. Por isso, foi publicada a Portaria nº 373, de 27 de fevereiro de 2002, a NOAS-
SUS 01/2002.

Como já mencionada, a regionalização constitui um dos objetivos das NOAS e,


portanto, demanda uma organização em territórios e leva em consideração as
características geográficas, políticas e sociais que devem pautar o planejamento e a
organização dos serviços de saúde. Para isso, foi instituído o Plano Diretor de
Regionalização, instrumento de organização desse processo que definiu as
prioridades de intervenção de acordo com as necessidades da população e que
garantiu o acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de atenção, além de
estabelecer os mecanismos de referência e contrarreferência intermunicipais, ou
seja, o fluxo ou caminho que o usuário do serviço de saúde deveria fazer quando
precisasse utilizar diferentes serviços e especialidades, seja no próprio município,
seja em municípios vizinhos.
Para as condições de gestão municipal, a NOAS-SUS 2002 estabeleceu uma série
de requisitos para o repasse de verbas em cada uma das possíveis modalidades.
São elas: 

0
Gestão Plena do Sistema Municipal.

seõçatona reV
Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada: condições mínimas para a atuação
nas áreas de eliminação de hanseníase, de controle da tuberculose, de controle
do diabetes mellitus e da hipertensão arterial, de saúde da criança, de saúde da
mulher e de saúde bucal.

É importante enfatizar que o Pacto pela Saúde extinguiu todas as formas de


habilitação dos municípios e estados.

REFLITA

Com a enorme pressão pela descentralização e pelo financiamento do SUS,


a NOB 93 inovou ao dar mais autonomia, ainda que com limitações, aos
municípios na gestão do SUS, pois permitia, pela primeira vez, que os
recursos fossem utilizados de maneira mais adequada frente à realidade
local. No âmbito federal ou estadual, seria possível compreender as reais
necessidades de cada município? Qual seria a importância da
descentralização da gestão do SUS?

O Pacto pela Saúde é um conjunto de reformas pactuadas entre as esferas


municipal, estadual e federal, cujo objetivo é o de promover inovações nos
processos e nos instrumentos de modo a otimizar a gestão do SUS. Essa série de
pactos ocorreu no ano de 2006, por meio da Portaria nº 399, e sua adesão se deu
pela assinatura e preenchimento do Termo de Compromisso de Gestão (TCG), que
continha diversas responsabilidades a serem pactuadas em diferentes eixos.

Caro aluno, chegamos, assim, ao fim desta seção e agora você é capaz de
compreender quão complexos e ricos são as leis, os princípios e as diretrizes que
sustentam o maior sistema de saúde universal de todo o mundo. Os desafios da
gestão e do financiamento do SUS devem ser discutidos e solucionados junto às
diferentes esferas do poder, para que, assim, as futuras gerações possam se
beneficiar de um sistema mais justo, acessível e de qualidade. Lute pelo SUS!

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
As NOB-SUS tinham por objetivo operacionalizar as estratégias de descentralização
da gestão e de financiamento do SUS, além de estabelecer os papéis dos estados,
municípios e do governo federal nesse processo.

Pode-se afirmar que a criação do Piso da Atenção Básica se deu em qual portaria?

a.  Norma Operacional Básica de 1991.

b.  Norma Operacional Básica de 1992.

c.  Norma Operacional Básica de 1993.

d.  Norma Operacional Básica de 1996.


e.  Norma Operacional de Assistência à Saúde de 2002.

Questão 2
A Portaria nº 95, de 26 de janeiro de 2001, aprovou a Norma Operacional da

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Assistência à Saúde (NOAS-SUS 01/2001), que foi resultado de muitas negociações
entre as esferas municipal, estadual e federal.

seõçatona reV
Qual o principal aspecto abordado Norma Operacional da Assistência à Saúde
(NOAS-SUS)?

a.  Conselhos e Conferências de Saúde.

b.  Gestão plena do sistema.

c.  Regionalização.

d.  Municipalização.

e.  Centralização da gestão.

Questão 3
A integralidade no cuidado e no acesso à saúde constitui um dos princípios do SUS.
No cuidado, a integralidade leva em consideração os aspectos socioeconômicos e
culturais, a fim de ofertar um cuidado humanizado; já no acesso, deve ofertar
serviços de saúde de forma organizada em todos os níveis de complexidade.

A oferta de um sistema de saúde com serviços de referência e contrarreferência


têm por objetivo:

a.  Integrar a comunidade no cuidado.

b.  Assegurar a autonomia do usuário.

c.  Integrar-se a outros setores da economia.

d.  Assegurar a dignidade da pessoa humana.

e.  Hierarquizar o cuidado.

REFERÊNCIAS
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em: Link. Acesso em:
29 out. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 545, de 20 de maio de 1993. Estabelece


normas e procedimentos reguladores do processo de descentralização da gestão
das ações e serviços de saúde, através da Norma Operacional Básica - SUS 01/93.
Brasília, DF: Ministério da Saúde, 1993. Disponível em: https://bit.ly/3f8zscB. Acesso
em: 5 nov. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2203, de 5 de novembro de 1996.


Brasília, DF: Ministério da Saúde, 1996. Disponível em: https://bit.ly/3xYXbEN.
Acesso em: 5 nov. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Assistência à Saúde. Portaria


n° 234, de 7 de fevereiro de 1992. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 1992.
Disponível em: Link. Acesso em: 8 nov. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde/INAMPS. Resolução n° 273, de 17 de julho de 1991.
Brasília, DF: Ministério da Saúde, 1991. Disponível em: https://bit.ly/3hiDPo1.
Acesso em: 10 nov. 2020.

0
MACHADO, C. V.; LIMA, L. D.; BAPTISTA, T. W. de F. Princípios organizativos e
instâncias de gestão do SUS. In: GONDIM, R.; GABROIS, V.; MENDES, W.

seõçatona reV
Qualificação de gestores no SUS. Rio de Janeiro: EAD: Ensp, 2011. p. 47-72.
Disponível em : https://bit.ly/3uREctT. Acesso em: 4 nov. 2020.

MATTA, G. C. Princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. In: MATTA, G. C.;


PONTES, A. L. de M. (org.). Políticas de saúde: organização e operacionalização do
sistema único de saúde. Rio de Janeiro: EPSJV: FIOCRUZ, 2007. Disponível em:
https://bit.ly/3o4TyIM. Acesso em: 4 nov. 2020.
I

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


NORMAS OPERACIONAIS E OS PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS DO
SUS

0
seõçatona reV
Caio Luisi

Fonte: Shutterstock.

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SEM MEDO DE ERRAR


Em nossa situação-problema, observamos uma cidadã, e usuária do sistema de
saúde, confrontar o gestor local devido à indisponibilidade de equipamentos e à
falta de acesso a tratamentos específicos, como a hemodiálise, em um pequeno
município do interior do Brasil.

É importante que os gestores e profissionais da saúde, em primeiro lugar, tenham


empatia pela população e procurem sempre entender seus medos, suas dores e
seus anseios. A mulher em questão estava com o marido hospitalizado e
necessitando de cuidados avançados para a manutenção de sua saúde. Ao saber
que o gestor de saúde estava no hospital, foi prontamente confrontá-lo para que
seu marido tivesse o direito ao acesso universal e integral à saúde preservado e,
embora não conhecesse, necessariamente, a legislação do SUS e não soubesse
como está implantado o sistema, ela deveria ter suas dúvidas esclarecidas e seu
marido deveria ter acesso ao tratamento de que precisa.

O gestor poderia explicar que o SUS funciona de maneira regionalizada e


hierárquica. Isso quer dizer que existe um fluxo dentro da rede, o qual estabelece
o caminho que cada usuário deverá seguir dentro do sistema de saúde, seja para
questões de prevenção, seja para tratamentos com diferentes níveis de
complexidade ou até mesmo para a reabilitação.
Logo, por se tratar de um município pequeno, esse usuário será redirecionado a
uma unidade de saúde fora do município que tenha hemodiálise, pois já está
previsto na lei que os municípios devem seguir um fluxo de referência e
contrarreferência, de modo a garantir a integralidade no cuidado, sem nenhum

0
prejuízo ao usuário.

seõçatona reV
Com essa explicação, a mulher entenderá que seu marido não ficará desassistido e
que existe uma organização já prevista pelo serviço local.

Não esqueça que você ainda poderá propor uma nova resposta a partir do
conhecimento adquirido nesta seção. Tente! Você tem plenas condições para isso.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
POR QUE NÃO CENTRALIZAR?
Tendo em vista os temas discutidos nesta seção, vamos acompanhar um secretário
de saúde de uma pequena cidade, que participará de uma reunião do Conselho de
Saúde local.

O gestor público foi convidado para fazer uma fala na reunião mensal do Conselho
de Saúde local, a fim de explicar melhor as relações entre as esferas do governo
quanto ao financiamento e à gestão do SUS. Iniciou sua contribuição agradecendo
aos presentes e prosseguiu com os pontos principais a serem abordados. Ao citar
a descentralização, foi questionado por um dos presentes sobre a pertinência
desse princípio: “Não seria mais fácil gerir e organizar um sistema de saúde
centralizado na esfera federal? Afinal, poderíamos ainda enviar as necessidades
dos cidadãos, nas esferas municipal e estadual, para os gestores da União, os quais
repassariam os recursos de acordo com a necessidade de cada região. Qual o
problema com esse delineamento?”. O gestor público agradeceu a pergunta e
repassou-a a todos os participantes da reunião. Afinal, qual a real importância da
descentralização do SUS? Você, estudante, o que responderia? Concorda com o
questionamento levantado?

RESOLUÇÃO 

Retomemos o conceito de descentralização para entendermos as razões pelas


quais ele é tão importante para a implementação do nosso sistema único de
saúde.

A descentralização no SUS atinge diferentes setores, tanto os da administração


de serviços de saúde quanto os de recursos. A centralização do poder é
sempre autoritária e pouco democrática, o que pode ser comprovado por meio
de exemplos de modelos de saúde anteriores ao SUS que se comportavam
dessa maneira.

O SUS, desde sua formulação, propõe-se a ser um sistema participativo e


democrático, e isso só se faz com participação da sociedade em todos os níveis
de governo. Essa diretriz fortalece o espaço democrático nos serviços de saúde
e permite uma gestão mais justa e colaborativa. 
A descentralização fortalece também as decisões municipais e estaduais,
sendo a articulação destes com a União, imprescindível para a prestação de
um serviço de qualidade.

0
Logo, centralizar significa, historicamente, retroceder nas conquistas
democráticas que tivemos no Brasil. 

seõçatona reV
Esses argumentos poderiam ser apresentados a todos na reunião para que
fossem discutidos.
NÃO PODE FALTAR I

INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA

0
Caio Luisi

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.

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CONVITE AO ESTUDO
Prezado estudante, nesta unidade aprofundaremos nossos conhecimentos quanto
à epidemiologia, um importante eixo da saúde pública que se dedica a estudar o
processo saúde-doença e a distribuição das doenças em diferentes grupos e
segmentos populacionais.

Incialmente, veremos os principais conceitos da epidemiologia, os estudos


descritivos e observacionais, e as variáveis de tempo, lugar e pessoa em
epidemiologia, além de compreender o conceito de prevalência, de incidência e de
conhecer um pouco mais sobre os sistemas de informação disponíveis e sua
aplicabilidade. 

Na segunda seção, trataremos de métodos epidemiológicos, de seus


delineamentos e de sua casualidade. Aprenderemos o que são e para que servem
os estudos experimentais, o que é controle e o que é transversalidade. Além disso,
veremos outros conhecimentos relacionados a inferências estatísticas e erros
aleatórios.

Na última seção da unidade, vamos nos aprofundar nas questões relativas à


transição demográfica e a taxas de natalidade e de mortalidade. Falaremos sobre
Vigilância em Saúde, Indicadores de Mortalidade e Morbidade, Indicadores de
Incidência e Prevalência.

Estudar epidemiologia é de fundamental importância para o profissional da saúde,


pois compreender os aspectos que cercam diferentes sociedades e que podem
interferir na saúde humana possibilita criar ações de promoção de saúde que
evitam a propagação de doenças as quais, em determinadas condições de saúde,
podem colocar em risco a vida humana. Bons estudos!

PRATICAR PARA APRENDER

0
Prezado estudante, seja bem-vindo à primeira seção desta unidade. Nela você

seõçatona reV
aprofundará seus conhecimentos em epidemiologia, aprendendo desde o
desenvolvimento histórico dessa área de estudo, até o conceito, a atuação e as
metodologias próprias dela. 

Inicialmente trataremos dos conceitos básicos que a cercam para, então,


compreendermos uma parte da metodologia utilizada na área. Os estudos
observacionais viabilizam a realização de retratos sociais, econômicos e de saúde
importantíssimos. Essas informações podem ter recortes quanto às variáveis
analisadas, seja de tempo, seja de lugar ou da própria pessoa. 

As medidas de ocorrência de agravos também serão abordadas, com ênfase na


caracterização do que é prevalência e do que é incidência, pois essas medidas
estão presentes no cotidiano da sociedade e é imprescindível que o profissional da
saúde saiba reconhecer as diferenças e os significados delas, já que são tão
utilizadas na epidemiologia.

Por fim, discutiremos também sobre a informação para a ação, ou seja, sobre os
sistemas de informação que acumulam milhares de dados sobre diversos agravos
e doenças e que permitem análises capazes de demonstrar melhor as reais
prioridades, vulnerabilidades e segmentos populacionais de risco que sustentarão
as discussões para elaboração de novas políticas públicas de saúde ou de outras
ações que solucionem esses problemas.

Esta seção inicia os conteúdos sobre epidemiologia por meio da abordagem dos
principais conceitos da área, os quais são fundamentais para a compreensão dos
demais conteúdos da unidade e, consequentemente, para o seu desenvolvimento
profissional, uma vez que o tema permeia todas as áreas do conhecimento em
saúde.

Considerando os conteúdos apresentados nesta seção, sobretudo os conceitos


fundamentais de epidemiologia e as medidas de ocorrência das doenças, vamos
acompanhar a reunião de um grupo de profissionais da vigilância epidemiológica
de uma cidade do interior do Brasil. O tema central a ser discutido nessa ocasião
são os resultados de um estudo de prevalência local para Hanseníase.

Durante a reunião semanal para discussão e planejamento de ações


epidemiológicas, um relatório com dados sobre a prevalência de hanseníase na
cidade é apresentado. O número anunciado para prevalência estava
substancialmente maior do que o da última investigação realizada poucos meses
atrás. Ao analisar o relatório, um dos profissionais percebe que, na data da coleta
(um dia específico da semana anterior), o número de casos existentes foi acrescido
dos casos que já haviam apresentado desfecho para óbito e cura. O grupo, então,
discute as medidas a serem tomadas antes da divulgação dos números. Agora
imagine que você, estudante, é um dos componentes desse grupo. Qual seria a
conduta a ser tomada? O que consideraria para o cálculo?
Os saberes epidemiológicos são indispensáveis a todos os profissionais e gestores
de saúde. Entender as bases dessa área de estudo fará de você um profissional
instrumentalizado e preocupado com a saúde do indivíduo e da sociedade. Bons
estudos!

0
seõçatona reV
CONCEITO-CHAVE

EPIDEMIOLOGIA: CONCEITOS BÁSICOS


Etimologicamente, a palavra epidemiologia significa: epi = sobre, demos = povo e
logos = estudo ou conhecimento. Logo, pode-se dizer que ela é a ciência que se
propõe a conhecer ou a estudar o que recai sobre o povo.

Os primeiros registros epidemiológicos datam de mais de 2000 anos atrás, quando


Hipócrates observou fatores ambientais que interferiam na ocorrência de doenças.
No entanto, o primeiro relato documentado de investigação de doenças, em
grupos populacionais específicos, feito em larga escala ocorreu em Londres, no
século XIX, com John Snow, quem conseguiu correlacionar o surto de cólera com o
consumo de água contaminada de uma companhia da época. Um avanço
importante para o que hoje conhecemos como epidemiologia.

A partir do final do século XIX, estudos epidemiológicos que comparavam as taxas


de doenças transmissíveis em segmentos populacionais tornaram-se mais
frequentes. E foi apenas na segunda metade do século XX que as doenças crônicas
não transmissíveis, como hipertensão, diabetes e câncer, começaram a ser
investigadas. Além disso, iniciaram também, nessa época, os estudos que
correlacionavam hábitos de vida com o surgimento de doenças, como ocorria na
relação do uso do tabaco com o aparecimento do câncer de pulmão.

A epidemiologia é um dos eixos da saúde pública que estuda o processo saúde-


doença e a distribuição das doenças na sociedade ou em grupos populacionais de
humanos específicos. É essa ciência que se preocupa com a distribuição de
mortalidade e morbidade, tendo em vista não só a doença, mas também os
determinantes e os condicionantes envolvidos nessas condições.

Dentre os objetivos da epidemiologia ainda podemos destacar os seguintes:

•  Descrever a distribuição e a magnitude de problemas relacionados à saúde em


diferentes populações humanas.

•  Levantar evidências que subsidiem o planejamento, a implementação e a


avaliação de ações de controle e de tratamento para as doenças, bem como
determinar as prioridades.

•  Identificar as causas dos agravos e das doenças.

•  Fornecer dados sobre formas de transmissão de doenças, fatores associados ao


seu aparecimento e padrões de sua distribuição geográfica para formulação de
medidas de enfrentamento às doenças.

ASSIMILE
A definição de epidemiologia deixa claro que sua preocupação central não é
apenas com a doença, a mortalidade ou as incapacidades geradas, mas é
também com todos os indicadores e determinantes de saúde, sejam
sociais, sejam econômicos, geográficos, culturais, entre outros fatores que

0
se relacionam com o surgimento e a propagação de doenças. Logo,

seõçatona reV
podemos dizer que a epidemiologia se preocupa com a melhoria desses
indicadores e com a promoção de saúde.

A epidemiologia sempre terá como alvo de suas análises a população humana, que
pode ser escolhida de acordo com sua posição geográfica, ou com outras
características, em determinado momento/período do tempo. A partir da escolha
da população, outros subgrupos são criados de acordo com variáveis como sexo,
idade, etnia, escolaridade, renda, entre outros aspectos que permitem
compreender melhor o comportamento da doença conforme as diferentes
características da população, identificando subgrupos potencialmente mais
vulneráveis.

EXEMPLIFICANDO

Exemplos disso podem ser trabalhadores de uma fábrica, estudantes de


universidade, moradores de uma comunidade específica, habitantes de
determinada região, país ou cidade, entre outros. A investigação de Richard
Doll e Andrew Hill, em 1950, estudou a relação entre tabagismo e câncer de
pulmão em uma população de médicos britânicos fumantes e não
fumantes. A partir dessa análise, eles conseguiram encontrar a correlação
do tabagismo com o câncer de pulmão.

ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS DESCRITIVOS


Os estudos epidemiológicos se dividem em duas categorias principais:
observacionais e experimentais. Nesta seção abordaremos apenas as
características e as aplicações dos estudos observacionais.

Pode-se dizer que a principal característica desse tipo de estudo é a não


interferência do pesquisador, ou seja, nele a natureza segue seu próprio curso, e
as análises são feitas a partir apenas do que é observado, daí o nome
“observacional”. Há dois tipos básicos de estudos observacionais, como pode ser
visto na Figura 3.1.

Figura 3.1 | Principais características dos estudos observacionais descritivo e analítico

Descritivo Analítico

Primeiro passo da investigação Utiliza correlações e inferências


epidemiológica estatísticas mais profundas

Descreve a ocorrência e a distrubuição Examina a associação entre uma


de uma doença em uma população exposição e uma doença ou condição

Fonte: elaborada pelo autor.


Os estudos observacionais descritivos avaliam como os casos novos (incidência) ou
como os casos existentes (prevalência) de uma condição de saúde ou doença
sofrem variações de acordo com outras características como sexo, idade,
escolaridade, renda e outras. Os resultados desses estudos permitem maior

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compreensão sobre a condição de saúde ou de doença e antecedem os estudos

seõçatona reV
analíticos, que aprofundarão as análises de correlação e cujos resultados são
capazes de subsidiar a elaboração de políticas públicas específicas para atuar na
prevenção de doenças e na promoção de saúde, sobretudo para os grupos de
maior vulnerabilidade. A Figura 3.2 apresenta os principais questionamentos a
serem respondidos por estudos epidemiológicos.

Figura 3.2 | Questionamentos da investigação epidemiológica

Fonte: elaborada pelo autor.

A obtenção de dados para análises epidemiológicas pode se dar a partir do uso de


dados primários, ou seja, coletados diretamente de indivíduos de determinada
população ou em certa condição para um estudo; ou de dados secundários, com a
utilização de informações já coletadas em prontuários, em fichas de notificação,
em relatórios oficiais ou mesmo em bancos de dados nacionais com informações
específicas. São exemplos de bancos de dados nacionais: o Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM-SUS), o Sistema de Informações de Nascidos
Vivos (SINASC), o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), entre
outros que existem justamente para estudo e análise epidemiológica, já que a
epidemiologia é uma ferramenta imprescindível para a saúde pública.

VARIÁVEIS RELACIONADAS À EPIDEMIOLOGIA DESCRITIVA


O perfil epidemiológico pode ser compreendido como as circunstâncias em que os
agravos à saúde ou as doenças ocorrem em diferentes populações. Há três
características principais observadas na epidemiologia descritiva: o tempo, o lugar
e a pessoa.

AS VARIÁVEIS RELACIONADAS AO TEMPO


A descrição do estado atual é basicamente um registro, uma captação da situação
média de um agravo ou de uma doença num determinado período de tempo,
como ano, mês, semana, dia e hora. A descrição da tendência histórica, por sua
vez, parte da análise de uma série de descrições momentâneas, mostrando uma
tendência ao longo tempo, a qual pode ser de aumento, de redução ou de
estabilização.

0
É importante conceituar alguns termos utilizados para a variável tempo em
epidemiologia:

seõçatona reV
•  Intervalo de tempo: é a quantidade de tempo transcorrido entre dois eventos
sucessivos. 

•  Intervalo cronológico: refere-se a uma sequência temporal especificada no


calendário, datada em anos, meses, semanas, etc.

•  Período: diz respeito a uma parte delimitada do tempo, como um período ou


estação do ano, período do mês, do dia de ocorrência de um determinado agravo.

EXEMPLIFICANDO

•  Exemplo para intervalo de tempo: o tempo entre a exposição a um


antígeno e o aparecimento dos sintomas.

•  Exemplo para intervalo cronológico: a distribuição da incidência de


poliomielite feita para um intervalo de dez anos, intervalo de 1979 a 1989.

•  Exemplo para período: ocorrência de crises respiratórias típicas da


primavera entre os meses de março e junho nos Estados Unidos da
América.

A variação de ocorrência do agravo ou da doença pode ser atípica (quando não é


possível detectar relação temporal plausível ou alguma lei de variação) ou pode ser
cíclica (quando há padrão de oscilações periódicas de frequência,
independentemente de tendências de aumento ou de diminuição).

A sazonalidade tem por característica oscilações periódicas e sempre coincide com


determinada época do ano, o exemplo das doenças respiratórias da primavera,
nos Estados Unidos da América, é um exemplo de agravo sazonal.

AS VARIÁVEIS RELACIONADAS AO LUGAR


Incluem as variáveis geográficas e geopolíticas, além dos fatores ambientais, e
permitem uma série de inferências importantes para a saúde de populações, tais
como:

•  Identificar os indicadores de risco a que as pessoas estão sujeitas em


determinada região. Um exemplo é a hanseníase, endêmica nas regiões Norte e
Centro-Oeste do País.

•  Identificar e prever a ocorrência de eventos com base nas características e nas


exposições de fatores ambientais de uma região.

•  Permitir o melhor planejamento para ações de saúde, definir as prioridades


quanto às intervenções e avaliar-lhes o impacto quando implementadas.

•  Conseguir estabelecer explicações causais para determinados eventos em uma


população.
AS VARIÁVEIS RELACIONADAS À PESSOA
Inúmeras variáveis são inerentes à própria pessoa. Dentre elas podemos destacar
a idade, o sexo biológico, o grupo étnico, os fatores genéticos, a renda, a ocupação,
o grau de instrução, a prática de exercícios físicos, a presença de desnutrição ou

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obesidade, o consumo de álcool, tabaco ou outras drogas, etc. Além destas, há

seõçatona reV
diversas outras variáveis biológicas e socioeconômicas relacionados à pessoa.

REFLITA

Qual poderia ser o papel dos estudos epidemiológicos para ações de saúde
em determinadas doenças, como a recente Covid-19, que é mais severa em
indivíduos idosos e com doenças preexistentes?

MEDIDAS DE OCORRÊNCIA DAS DOENÇAS


Para que se possa medir a magnitude de uma doença e sua distribuição em uma
população, a epidemiologia utiliza alguns indicadores, os quais são apresentados
na Figura 3.3.

Figura 3.3 | Indicadores utilizados na epidemiologia

Proporções

Qual a fração da população afetada? Ex.: 2

10
x100 = 20%

Nesse exemplo, em uma população de dez indivíduos, dois foram afetados.

Taxas

 Velocidade de ocorrência de um evento ao longo do tempo. Ex.: proporção de


nascidos em um ano em relação ao número de habitantes de uma cidade. 

2000/300.000=0,0067x1000=6,7 para cada 1000 hab por ano.

Razões

Permite comparar quantidades de diferentes naturezas.

Ex.: número de profissionais da saúde por leito = 200/10=20/1.

Nesse caso, são vinte leitos para cada profissional.

Fonte: elaborada pelo autor.

As medidas de ocorrência são usadas para descrever uma situação existente ou,
ainda, para avaliar mudanças ou tendências durante um período de tempo. A
medida transversal é feita a partir da observação de um momento específico no
tempo. São um exemplo de medida transversal os estudos de prevalência que
informam o número de casos de uma doença no momento em que foi realizado.
Podemos calcular a prevalência pela fórmula a seguir, adaptada de OPAS (2010, p.
39):
º
n  de pessoas doentes num per odoí
ê
T axa de Preval ncia = 
º
n  total de pessoas no mesmo per do í
x Fator

Com relação ao “fator”, este é usado com a finalidade de facilitar a comparação,


expressando a proporção em números inteiros e não decimais. Costuma-se

0
multiplicar o resultado por 100, 1.000, 10.000 ou 100.000, conforme a nossa
conveniência ou seguindo uma convenção preestabelecida. 

seõçatona reV
A prevalência não pode ser considerada uma taxa, pois não considera o início nem
a duração da doença. Seu denominador não necessariamente corresponde à
população em risco, isto é, aquela população exposta e suscetível em que surgem
os casos. No entanto, a prevalência é um indicador de grande importância na
saúde pública, pois fornece uma medida do volume ou da carga da doença em
uma comunidade ou população em um dado momento, informação essencial para
o planejamento dos serviços de saúde (BRASIL, 2010).

As medidas longitudinais são obtidas quando os indivíduos são acompanhados por


um período de tempo, a exemplo dos estudos de incidência. É importante
considerar que essa medida representa a velocidade com que novos casos de uma
doença aparecem. Dessa forma, demonstra a força da morbidade e da
mortalidade de uma doença quando avalia os óbitos que causou por exemplo.
Podemos calcular a medida de incidência pela seguinte equação (OPAS, 2010, p.
40):
º í
n  de casos novos em per odo
ê
T axa de Incid ncia = 
º ç
n  total de em risco no come o do mesmo per odo í
x Fator

EXEMPLIFICANDO

Para calcularmos a prevalência de Covid-19 para a data de 11 de maio de


2020, teríamos as seguintes informações: 168.331 brasileiros já haviam sido
diagnosticados com doença até o momento considerando a população total
de 210 milhões de pessoas.

Logo, o cálculo de prevalência seria:

ê
T axa de Preval ncia = 
168.331

210.000.000
x 100

A taxa seria igual a 0,08% de prevalência da doença no Brasil, no dia 11 de


maio.

Para calcularmos a incidência da Covid-19 no mesmo dia, 11 de maio de


2020, utilizaríamos as seguintes informações:

ê
T axa de Incid ncia = 
5.632

209.837.301*
x 100.000

A taxa de incidência de Covid-19 para esse período seria de 0,27 para cada
100.000 habitantes. 

*Número referente à população brasileira menos o número de casos já


confirmados no dia 11 de maio.

Nos cálculos de incidência e de prevalência, sempre é importante deixar bem claro


qual é a população e a que período de tempo se refere. Esses cálculos podem dizer
respeito à população inteira de uma região ou a um grupo específico que estaria
exposto ao problema (BRASIL, 2010).
INFORMAÇÃO PARA AÇÃO
O complexo e abrangente quadro sanitário brasileiro traz consigo desafios no
estabelecimento de prioridades e de ações em saúde tanto para os gestores
quanto para a sociedade como um todo. Para que essa lacuna seja preenchida, a

0
utilização de informação em saúde, seja de bancos de informações específicos,

seõçatona reV
seja de estudos epidemiológicos, auxilia na discussão de dados epidemiológicos
que podem subsidiar ações de promoção de saúde e de controle de doenças.

A articulação entre os sistemas de informação, bem como a correta alimentação


dos dados por parte dos serviços, ainda configura um desafio que vem sendo
auxiliado pelas inovações tecnológicas nas últimas décadas.

A produção e a divulgação dessas informações representam parte importante da


construção da cidadania e do fortalecimento do controle social. Conhecer os
sistemas de informação é imprescindível para os profissionais que atuam na
vigilância em saúde.

É a partir da análise das informações acumuladas em sistemas e em bancos de


dados que podemos pensar ações a fim de elaborar políticas públicas para
combater doenças e outros agravos à saúde. Assim, nota-se que a informação é a
base para a ação.

Chegamos ao fim da primeira seção desta unidade, e agora você já sabe o que é e
qual a importância da epidemiologia para o cuidado em saúde e para a sociedade
como um todo. Os métodos epidemiológicos permitem prever condições de saúde
e de doenças e atuar sobre elas, evitando agravos ou até mesmo propagações
endêmicas de doenças. Inúmeras são as variáveis envolvidas no processo saúde-
doença de um indivíduo e de uma população, portanto é imprescindível que o
profissional da saúde conheça seus métodos e utilize dados de estudos
epidemiológicos para pautar análises e compreender fenômenos em determinada
população.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
As medidas de ocorrência são usadas para descrever uma situação existente ou,
ainda, para avaliar mudanças ou tendências durante um período de tempo. A
prevalência é uma medida do tipo transversal amplamente utilizada em estudos
epidemiológicos.

Com relação aos estudos de prevalência é correto afirmar que:

a.  Identificam apenas casos de pessoas vivas, os quais são diagnosticáveis no período da avaliação.

b.  Incluem também aqueles casos em que os afetados já faleceram.

c.  Incluem os casos em que os indivíduos já foram curados da doença.

d.  Permitem estabelecer relação temporal entre o fator causal e a doença.

e.  Permitem seguir temporalmente o comportamento e a evolução de uma doença.

Questão 2
Os primeiros registros epidemiológicos datam de mais de 2000 anos atrás, quando
Hipócrates observou fatores ambientais que interferiam na ocorrência de doenças.
No entanto, o primeiro relato documentado de investigação epidemiológica em
grupos populacionais ocorreu em Londres, no século XIX.

0
De acordo com a perspectiva da epidemiologia frente à descrição de uma doença,

seõçatona reV
assinale a alternativa correta.

a.  Objetiva caracterizar os períodos da doença quando atinge o indivíduo.

b.  Objetiva avaliar os recursos empregados na assistência aos casos da doença.

c.  Objetiva revelar os problemas de saúde-doença em nível coletivo.

d.  Objetiva descrever as características de doenças nas diferentes fases da história.

e.  Objetiva identificar o seu agente causal e resolver problemas individuais.

Questão 3
A epidemiologia se preocupa em descrever a distribuição e a magnitude de
problemas relacionados à saúde em diferentes populações humanas, além de
levantar evidências que pautam o planejamento, a implementação e a avaliação de
ações de controle e de tratamento para as doenças.

Dentre os diferentes usos da epidemiologia no planejamento em saúde, é correto


afirmar que:

a.  Avalia constantemente os serviços de saúde apenas durante pandemias.

b.  Protege a saúde individual através de medidas assistencialistas.

c.  Identifica associações causais de doenças em casos individuais.

d.  Realiza o diagnóstico de problemas de saúde na comunidade.

e.  Provê recursos financeiros e materiais para combater pandemias.

REFERÊNCIAS
DOLL, R.; HILL, A. Mortality in relation to smoking: ten years’ observations on British
doctors. Br Med J., [S. l.], v. 1, n. 5396, p. 1460–1467, 1964. Disponível em:
https://bit.ly/3zuAJUO. Acesso em: 15 nov. 2020.

GOMES, E. C. de S. Conceitos e ferramentas da epidemiologia. Recife: Ed.


Universitária da UFPE, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3pTxr9d. Acesso em: 28
nov. 2020.

LIMA-COSTA, M. F.; BARRETO, S. M. Tipos de estudos epidemiológicos: conceitos


básicos e aplicações na área do envelhecimento. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília,
v. 12, n. 4, p.189-201, 2003. Disponível em: https://bit.ly/3vqzjHv. Acesso em: 15
nov. 2020.

OPAS. Módulos de Princípios de Epidemiologia para o Controle de


Enfermidades (MOPECE) – Módulo 3: medição das condições de saúde e doença
na população. Organização Pan-Americana da Saúde. Brasília: Organização Pan-
Americana da Saúde: Ministério da Saúde, 2010. Disponível
em: https://bit.ly/3pU0Srm. Acesso em: 3 dez. 2020.
PIZZICHINI, M. M. M.; PATINO, C. M.; FERREIRA, J. C. Medidas de frequência:
calculando prevalência e incidência na era do COVID-19. J. Bras. Pneumol., São
Paulo , v. 46, n. 3, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3vrvlye. Acesso em: 15 nov.
2020.

0
SILVA JUNIOR, J. B.; GOMES, F. B. C; CEZÁRIO, A. C.; MOURA, L. Doenças e agravos

seõçatona reV
não transmissíveis: bases epidemiológicas. In: ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA
FILHO; N. de. Epidemiologia e Saúde. 6. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003.

SNOW, J. On the mode of communication of cholera. London: Churchill, 1849.


Disponível em: https://bit.ly/3pUwYDK. Acesso em: 15 nov. 2020.

VASCONCELLOS, M. M.; MORAES, I. H. S. de; CAVALCANTE, M. T. L. Política de saúde


e potencialidades de uso das tecnologias de informação. Saúde em Debate, Rio de
Janeiro, v. 26, n. 61, p. 219-235, 2001. Disponível em: https://bit.ly/3vo3jDO. Acesso
em: 15 nov. 2020.
I

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA

0
Caio Luisi

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.

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SEM MEDO DE ERRAR


Em nossa situação-problema, estávamos analisando a experiência de um grupo de
profissionais da vigilância epidemiológica que identificou problemas na
consistência de dados sobre a hanseníase em determinado município.

O aumento no número da prevalência, que seria publicado pelo grupo, estava


superestimado, pois, no cálculo, foram incluídos, além dos casos existentes no dia
da coleta, todos os casos que já haviam tido desfecho para óbito e para cura.

O profissional deveria atentar-se para o que, de fato, representa a medida de


ocorrência de prevalência. Sabe-se que ela é obtida a partir da observação de um
momento específico no tempo, ou seja, é uma medida de característica
transversal. Os resultados de um estudo de prevalência de hanseníase levam em
consideração o número de casos de uma doença no momento em que foi
realizado. Desse modo, podemos realizar o cálculo a partir da fórmula a seguir: 
º í
n  de pessoas doentes num per odo
ê
T axa de Preval ncia = 
º
n  total de pessoas no mesmo per do í
x Fator        

Para além disso, o profissional poderia também sugerir a realização do cálculo de


incidência, pois permitiria compreender melhor o comportamento da hanseníase
num período de tempo. Dessa forma, os números seriam apenas divulgados após
a reformulação do cálculo.
Lembre-se de que essa poderia ser uma maneira de resolver o problema em
questão. A partir do que discutimos, você tem plenas condições de expressar outra
possibilidade, vá em frente!

0
AVANÇANDO NA PRÁTICA

seõçatona reV
ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA
Uma doença, que é endêmica em uma região, continua a avançar, e o número de
casos diagnosticados vêm aumentando nos últimos tempos.

A vigilância epidemiológica da região reavalia as ações já implementadas frente ao


avanço inesperado da doença. Ao apresentar os relatórios sobre tal doença no
local, os pesquisadores percebem que o aumento ocorreu, principalmente, na
população de um bairro periférico, porém não conseguem estabelecer mais
relações, pois as variáveis relacionadas às pessoas não haviam sido consideradas
para o estudo epidemiológico.

Agora imagine que você é um dos técnicos responsáveis pela adequação do


estudo. Qual seria sua contribuição para solucionar o problema?

RESOLUÇÃO 

Caso você fosse o profissional responsável pelo estudo, poderia, inicialmente,


reconhecer uma falha na coleta dos dados para a análise epidemiológica local
e poderia refazer a pesquisa incluindo as variáveis necessárias para
compreender a real situação.

Conforme já vimos nesta seção, há três características principais observadas


na epidemiologia descritiva: o tempo, o lugar e a pessoa. Nesse caso, notamos
que as variáveis da pessoa não foram levadas em consideração, o que
configura um erro grave na condução de uma investigação como essa. As
variáveis de idade, sexo, comorbidades e outros fatores biológicos, bem como
aquelas relacionadas às características culturais, sociais e econômicas, são
fundamentais para a identificação de grupos vulneráveis.

Estabelecer correlações entre essas variáveis e a doença é importante para


pensar ações específicas e para subsidiar a elaboração de política públicas
efetivas que possam, nessa circunstância, reduzir o número de casos de
hanseníase.

Com os conhecimentos adquiridos até o momento, você será capaz de


apresentar essa sugestão ao grupo!
NÃO PODE FALTAR I

MÉTODOS EPIDEMIOLÓGICOS

0
Caio Luisi

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.

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PRATICAR PARA APRENDER


Prezado estudante, seja bem-vindo a mais uma seção desta disciplina. Nela você
aprofundará seus conhecimentos sobre os principais delineamentos
metodológicos em epidemiologia e aprenderá sobre causalidade, erro aleatório e
inferência estatística.

Inicialmente conceituaremos os diferentes tipos de desenhos metodológicos, suas


características e sua aplicabilidade na epidemiologia.

Para cada pergunta que se tem, um delineamento diferente é utilizado. Logo, é


imprescindível ter em mente que, por meio desses métodos, é possível encontrar
evidências que apontam ações e políticas de controle para diferentes doenças e
para situações em saúde.

Os estudos analíticos são amplamente utilizados, pois são estudos mais complexos
e que propiciam estabelecer relação entre fatores de risco e doenças ou entre
causa e efeito. 

Por fim, abordaremos a possibilidade de erros na condução de estudos que


utilizam amostras de populações, conceituaremos inferência estatística e
discutiremos o que é causalidade em epidemiologia, a relação causa-efeito versus
a associação isolada de variáveis e a importância dessa construção de raciocínio
para a correta interpretação e discussão de dados epidemiológicos.
Esta seção nos permite correlacionar todos os saberes que estudamos em Saúde
Pública até agora, afinal já aprendemos sobre fatores de risco, determinantes em
saúde e formulação de políticas públicas. Porém, para que tenhamos essas
informações básicas, é necessário o acúmulo de conhecimento produzido a partir

0
de estudos epidemiológicos, daí a importância de nos aprofundarmos nesse tema. 

seõçatona reV
Considerando os conteúdos a serem apresentados nesta seção, principalmente
sobre os diferentes métodos epidemiológicos, vamos acompanhar novamente a
reunião de um grupo de profissionais da vigilância epidemiológica de uma cidade
do interior do Brasil, cuja pauta central é a pertinência de uma investigação sobre
as consequências do tabagismo numa população de jovens adultos que trabalham
na área rural. O interesse por esse estudo surgiu ao detectarem, em um inquérito
(pesquisa descritiva), que mais de 54% dos indivíduos entre 18 e 30 anos se
declararam tabagistas.

Os pesquisadores iniciam a reunião e começam a discutir sobre quais modelos


metodológicos podem adotar e as razões de sua pertinência.

Tendo em vista os objetivos do estudo e supondo que você é um membro dessa


equipe de pesquisadores, qual delineamento você sugeriria? 

Continue se aprofundando na ciência da epidemiologia e seja um profissional


diferenciado, consciente e mais qualificado!

CONCEITO-CHAVE

DELINEAMENTO DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS


Como já vimos na seção anterior, os estudos epidemiológicos são considerados
alicerces dos saberes e das ações na área da saúde. São desenvolvidos em
diferentes níveis de complexidade, desde as investigações descritivas, que
caracterizam e traçam o perfil epidemiológico de diferentes populações, até
estudos com análises mais complexas, que correlacionam essas características
com o surgimento de doenças e agravos.

O ramo médico dedicado ao estudo de metodologias de pesquisa é chamado de


epidemiologia clínica, uma área básica que originou a maioria dos delineamentos
de pesquisa para responder a diferentes questões de saúde. Sua contribuição para
o avanço médico é imensurável por, desde seu surgimento, utilizar as melhores
evidências científicas disponíveis para conduzir decisões clínicas.

Na literatura, é possível encontrar diversas nomenclaturas para “delineamento de


pesquisa”, o que pode gerar desentendimento entre estudantes e iniciantes no
tema. Outros sinônimos para essa expressão são: “desenhos de pesquisa”,
“modelos de estudos”, “delineamentos de estudos”, “métodos epidemiológicos”,
“tipos de estudos”, “tipos de investigação”, entre outros possíveis. Dessa forma, em
geral, os autores, quando utilizam as diferentes expressões citadas, referem-se ao
mesmo tema.

Os delineamentos, ou desenhos de pesquisa epidemiológica, podem ser


classificados por diversas características como a originalidade dos dados, os tipos
de amostras ou populações, o recorte temporal ou até mesmo o período de
segmento do estudo. Esses detalhes serão descritos a seguir de maneira a facilitar
o entendimento do todo. 

•  Originalidade: o delineamento do estudo epidemiológico pode ser classificado

0
inicialmente quanto à originalidade do estudo. Estudos primários utilizam dados
originais, coletados a partir de uma população ou amostra. Estudos secundários

seõçatona reV
utilizam registros existentes, como dados de prontuários ou de sistemas de
informação de saúde, por exemplo o Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde (DATASUS).

•  Tipo de interferência: o desenho de estudo também pode ser categorizado


quanto à interferência no estudo, como podemos verificar na Figura 3.4.

Figura 3.4 | Caraterísticas gerais dos estudos epidemiológicos

Observacional Apenas observa, descreve características.

Não há interferência.

Intervencional ou Não se limita à observação.


experimental
Há inclusão, exclusão ou modificação de fatores
no estudo.

Fonte: elaborada pelo autor.

•  Natureza das amostras ou populações: as investigações podem envolver seres


humanos, como no caso da pesquisa clínica, que testa a eficácia de vacinas e de
outras medicações (ela será abordada com mais detalhes adiante), e podem
também envolver modelos experimentais com cultura de células ou de tecidos,
com cadáveres ou com animais experimentais, a exemplo da pesquisa
experimental ou de bancada.

•  Período de seguimento: pode ser classificado em estudos longitudinais e


transversais. As investigações transversais ocorrem pela observação de um grupo
num determinado momento do tempo, como em uma fotografia, que determinará
presença ou ausência de uma exposição e presença ou ausência do efeito em dado
momento. Os estudos longitudinais são aqueles que seguem uma população ou
amostra específica em diferentes momentos, que podem ser dias, semanas,
meses, anos e até mesmo décadas, ou seja, há uma sequencialidade também. Esse
tipo de estudo analisa e correlaciona certa exposição com o desfecho.

EXEMPLIFICANDO

•  Exemplo de estudo transversal: verifica-se, em um grupo de mulheres, a


prevalência de infarto prévio naquelas que faziam uso de hormônio e
naquelas que não faziam uso. A coleta de dados ocorre, nesse caso, apenas
uma vez.

•  Exemplos de estudo longitudinal:


­-  Prospectivo: verifica-se anualmente, em um grupo composto pelas
mesmas mulheres, a incidência (novos casos) de infarto naquelas que
faziam uso do hormônio e naquelas que não o utilizavam.

0
­-  Retrospectivo: determina a incidência de câncer em trabalhadores
expostos à radiação em um acidente nuclear no passado.

seõçatona reV
•  Direcionalidade temporal: os estudos longitudinais, quando são realizados a
partir de dados e de registros do passado, são chamados retrospectivos, ou ex
post facto, ou, ainda, “coorte histórica”. Nesses casos, partimos dos registros
históricos e seguimos até o momento presente, principalmente para avaliar uma
exposição no passado com um desfecho no presente. São prospectivos quando o
seguimento parte do presente e vai para o futuro, como no exemplo citado no item
Exemplificando.

•  Quanto ao perfil epidemiológico: conforme vimos na seção anterior, os estudos


quanto ao perfil epidemiológico podem ser descritivos e analíticos. Os estudos
descritivos se preocupam em caracterizar aspectos etiológicos, fisiopatológicos e
outras características de uma doença e já foram abordados mais profundamente
na Seção 3.1. Portanto, vamos nos aprofundar agora nos estudos analíticos.

ESTUDOS ANALÍTICOS EM EPIDEMIOLOGIA


São desenhos mais complexos e são geralmente considerados “o próximo passo”
dos estudos descritivos, os quais são utilizados para verificar hipóteses, ou seja,
para atestar a existência de associação entre um fator de exposição e uma doença
ou condição de saúde.

ASSIMILE

Enquanto os estudos descritivos se preocupam em descrever e caracterizar


doenças ou condições de saúde, os estudos analíticos vão investigar se
exposições a diferentes fatores têm relação com o surgimento de uma
doença. Um exemplo é a relação entre a exposição de trabalhadores rurais
ao sol (fator de exposição) e o aparecimento de câncer de pele (doença).
Dessa forma, é possível pensar ações e formular políticas de saúde
específicas para benefício dessa população.

Os estudos analíticos englobam as seguintes categorias:

•  Estudos ecológicos: comparam a exposição a fatores de interesse e à ocorrência


de doenças em diferentes grupos populacionais, ou seja, os dados referem-se a
grupos e não a indivíduos. A unidade de estudo pode ser um país, um estado, um
município ou uma região geográfica. São utilizados, por exemplo, na pesquisa
sobre câncer e podem abordar como ocorrem diferentes tipos de câncer em
determinadas áreas. Os resultados desses estudos podem necessitar de outros
desenhos metodológicos que comprovem a relação causa-efeito nos indivíduos,
pois nem sempre a relação entre exposição e desenvolvimento de doença,
detectada num grupo agregado, significa que ela ocorra a nível de indivíduos,
evento chamado de falácia ecológica ou viés ecológico.
•  Estudos transversais: de maneira geral, representam uma fotografia da situação
em determinado recorte de tempo e avaliam exposição e condição de saúde
simultaneamente, tema já aprofundado e exemplificado anteriormente nesta
seção.

0
•  Estudos de caso-controle: podem investigar a etiologia de doenças ou de

seõçatona reV
condições de saúde. Os participantes são divididos entre os que já possuem a
doença (casos) e os que não têm a doença ou condição (controles). Nos dois
grupos são verificadas as exposições aos fatores de risco da doença em questão e,
se a proporção do fator de risco for maior no grupo de casos, há então indicativo
de que aquele fator realmente pode levar ao surgimento da doença.

•  Estudos de coorte: são estudos longitudinais que seguem, no tempo, uma


população. Os participantes são divididos em dois grupos: os que foram expostos e
os que não foram expostos ao fator de interesse do estudo. Espera-se que a
incidência da doença ou da condição seja maior no grupo de expostos, e o
acompanhamento temporal permite essa identificação e exclui o viés da seleção de
casos e controles. Já vimos exemplos desse tipo de estudo anteriormente nesta
seção.

ESTUDOS EXPERIMENTAIS
Ao contrário dos estudos observacionais, os experimentais têm interferência direta
sobre os participantes, o que pode significar a eliminação de um fator de risco ou a
inserção de algum tratamento para um grupo de pacientes. Os efeitos da
intervenção são medidos por meio da comparação do desfecho entre os indivíduos
do grupo experimental e o de controle.

São estudos mais complexos metodologicamente e originam evidências científicas


robustas sobre eficácia de drogas, intervenções e diferentes tratamentos.

Os estudos de intervenção englobam os ensaios clínicos randomizados, os ensaios


de campo e as intervenções comunitárias.

Os ensaios clínicos randomizados são utilizados para testar os efeitos de


intervenções específicas. Para garantir a equivalência entre os grupos, os
indivíduos dos grupos intervenção e controle são alocados por meio de
randomização ou aleatorização (sorteio). O grupo controle receberá um placebo ou
o tratamento convencional e o grupo intervenção receberá a nova intervenção ou a
nova droga que está sendo testada. Os resultados são avaliados com base na
comparação dos desfechos entre os grupos.

É comum que haja mascaramento nesses estudos, ou seja, que alguns


participantes e/ou pesquisadores e envolvidos não saibam que pertencem ao
grupo controle ou que pertencem ao grupo intervenção. Tal medida serve para
evitar vieses relacionados à superestimação dos efeitos de tratamentos ou o
contrário também. Podemos classificar os estudos, quanto ao mascaramento, em
aberto, quando todos sabem a que grupo pertencem, inclusive os participantes;
em cego, quando apenas a equipe sabe quem faz parte do grupo intervenção ou
controle; em duplo-cego, quando nem os pesquisadores, nem os participantes
sabem quem está recebendo a intervenção ou placebo; em triplo-cego, quando
nem os participantes, nem os pesquisadores, nem o estatístico sabem quem
recebe intervenção ou placebo, sendo revelado apenas na hora da redação dos
resultados e da discussão. Além desses há ainda os estudos quadruplo-cego, que é
quando os participantes, os pesquisadores, o estatístico e o investigador que está

0
escrevendo a discussão não sabem dessa informação, sendo revelada apenas após

seõçatona reV
a redação e a posterior edição, a fim de garantir a menor interferência possível.

Os ensaios de campo envolvem pessoas que não estão doentes, mas que têm risco
de desenvolver a doença. Eles necessitam de um grande número de pessoas, e os
dados são coletados em campo, ou seja, os indivíduos não estão
institucionalizados. São estudos caros e logisticamente complicados.

Os ensaios comunitários têm como grupo de tratamento comunidades em vez de


indivíduos. São estudos que se aplicam principalmente a doenças relacionadas às
condições sociais e que podem ser influenciadas por intervenções voltadas ao
comportamento do grupo e do indivíduo. 

ERROS EM ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS: ERRO ALEATÓRIO


Os estudos epidemiológicos objetivam encontrar medidas precisas de ocorrência
de doenças e de agravos em saúde. Essas medidas, porém, estão sujeitas a
possibilidades de erros, que podem ser classificados em aleatórios ou sistemáticos.
Vamos nos ater ao erro do tipo aleatório nesta seção.

O erro aleatório ocorre quando um valor medido em determinada amostra do


estudo é diferente do verdadeiro valor da população, ou seja, é decorrente de uma
imprecisão na medida da associação.

Para que possamos compreender isso ainda melhor, é importante termos os


conceitos de população e de amostra bem delimitados:

•  População: conjunto de elementos que possuem a característica que se pretende


observar e de que se pode extrair uma amostra. Por exemplo: trabalhadores de
uma fábrica, motoristas de ônibus, brasileiros, etc.

•  Amostra: conjunto extraído a partir da população e utilizado para representar o


todo por meio de inferência, conceito que será apresentado adiante.

A Figura 3.5 apresenta os principais tipos de erro aleatório.

Figura 3.5 | Causas de erro aleatório

Erros aleatórios

Variação biológica individual Erro de amostragem Erros de medida

Fonte: elaborada pelo autor.

É importante considerar que é impossível eliminar completamente o erro aleatório,


pois quase sempre as investigações são conduzidas em uma pequena amostra
populacional. O principal motivo para erro aleatório diz respeito ao erro de
amostragem por falta de representatividade suficiente da amostra. O tamanho
amostral, ou seja, a quantidade de participantes do estudo deve ser suficiente para
contemplar toda a variabilidade da população, por isso a melhor forma de reduzir
esse erro é aumentando o tamanho populacional. Há cálculos específicos para se
determinar o tamanho de uma amostra, inclusive há sites de órgãos
epidemiológicos oficiais que fazem esse cálculo.

0
Os erros poderiam ser evitados por meio do uso de protocolos rigorosos e bem

seõçatona reV
definidos para a realização das medidas. Além disso, é imprescindível aos
pesquisadores conhecer os métodos de medida utilizados e os erros que podem
causar.

INFERÊNCIA ESTATÍSTICA
A inferência estatística utiliza o método estatístico para, a partir de amostras
populacionais, inferir conclusões para populações. Inferir, nesse caso, significa tirar
conclusões a partir de dados, já que é praticamente impossível e logisticamente
inviável estudar populações inteiras. Dessa forma, os estudos epidemiológicos
selecionam uma porção dessa população chamada amostra, que deve ser
suficiente para retratar o todo.

Assim, podemos dizer que a inferência estatística é um conjunto de técnicas que


objetiva inferir características de uma população a partir do estudo de uma
amostra, como podemos ver na Figura 3.6.

Figura 3.6 | Inferência estatística

Fonte: elaborada pelo autor.

REFLITA

As técnicas de amostragem são imprescindíveis para a análise estatística


em estudos epidemiológicos e é o que, de fato, os torna viáveis. Notem que
um simples erro de cálculo ou de composição amostral pode comprometer
todo o estudo e seus resultados. 

É importante lembrar que são esses estudos que subsidiarão a formulação


de políticas públicas e as ações para controle de doenças e agravos. Assim,
pode-se dizer que a epidemiologia é imprescindível para a sobrevivência
humana e que o financiamento de pesquisas no tema é, portanto, dever
das autoridades públicas competentes.

Tendo em vista esses pontos, reflita: como enfrentar o progressivo


descrédito e a diminuição dos investimentos governamentais em
laboratórios e em centros de pesquisa do Brasil nos últimos anos?
CAUSALIDADE EM EPIDEMIOLOGIA
O conceito de validade nos estudos epidemiológicos tem papel fundamental na
avaliação dos efeitos causais, e a relação causa-efeito depende das características
do desenho metodológico adotado.

0
Causa pode ser definida como qualquer condição, característica ou evento que

seõçatona reV
tenha função essencial na ocorrência de determinada doença. A ocorrência de
uma doença, em geral, está associada a um conjunto de fatores e não apenas a um
isolado.

A causa suficiente é definida como conjunto de condições ou eventos mínimos que


acarretam a ocorrência da doença, sendo que “mínimo” aqui significa não poder
dispensar nenhum dos eventos ou características componentes. É importante
considerar que, para uma mesma doença, podem existir diversos grupos ou
conjuntos de causas suficientes para seu aparecimento.

Quando essas características ou condições são afetadas por uma intervenção,


modificam o risco de desenvolver a doença. Dessa forma, conhecer-lhe os fatores
causais auxilia na formulação de ações para se evitar determinada doença ou
situação em saúde.

Dentre as explicações para a associação entre duas variáveis podemos citar:

•  Relação causa-efeito: quando de fato existe a relação terminal de efeito.

•  Acaso: quando ocorrem coincidências.

•  Viés: fenômenos que fazem com que duas variáveis caminhem juntas, mesmo
que não exista relação de causa-efeito. Por exemplo: em um estudo, a variável “uso
de roupas caras na infância” se relacionou estatisticamente com “maior
probabilidade de terminar um curso de ensino superior”. Embora a roupa não
tenha relação direta com completar um curso de ensino superior, sabe-se que a
variável “renda mensal”, por exemplo, é a responsável por proporcionar o poder de
comprar roupas caras na infância e de realizar um curso superior no futuro. Logo,
as variáveis, nesse caso, caminharam juntas, mas não tinham relação de causa e
efeito.

Há ferramentas na bioestatística que diminuem a possibilidade de acaso ou de


enviesamento, fator importante já estudado é a composição e o tamanho da
amostra estudada.

Chegamos ao fim de mais uma seção e agora você está apto a compreender a
complexidade dos estudos epidemiológicos e o motivo de existirem e serem tão
importantes para a manutenção da saúde das populações do mundo. 

Os diversos delineamentos e ferramentas estatísticas possibilitam uma melhor


visão das variáveis que interferem em nossa saúde e nos permitem atuar sobre
elas com a implementação de políticas e de ações específicas. Conhecer
epidemiologia é fundamental para o desempenho profissional na área de saúde.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
Nas investigações epidemiológicas, estudos em Ciências Sociais e em Biologia, o
delineamento transversal é classificado como um estudo do tipo observacional, ou
seja, sem interferência sobre as variáveis e que analisa dados de uma população
ou de um subconjunto representativo.

0
Com relação aos estudos transversais epidemiológicos, é correto afirmar que:

seõçatona reV
a.  Estudos transversais são estudos de maior complexidade, já que têm a necessidade de seguir os
participantes da amostra em um período de tempo.

b.  Estudos transversais verificam a situação de exposição e de efeito de uma doença em uma população,
em um único momento apenas, não seguindo os participantes no tempo.

c.  Estudos transversais são estudos complexos que permitem o estabelecimento da associação de causa-
efeito, seguindo os participantes no tempo.

d.  Estudos transversais são estudos complexos em que se pode determinar o risco relativo de um fator
causal associado a uma doença ou a fenômeno ao longo do tempo.

e.  Estudos transversais são estudos de menor complexidade em que uma amostra randomizada da
população é dividida em grupos, os quais passam por experimentação.

Questão 2
Os estudos epidemiológicos são considerados alicerces dos saberes e das ações na
área da saúde. São desenvolvidos em diferentes níveis de complexidade, desde as
investigações descritivas, que caracterizam e traçam o perfil epidemiológico de
diferentes populações, até estudos com análises mais complexas, que
correlacionam essas características com o surgimento de doenças e agravos.

Tendo em vista os inúmeros delineamentos de estudos epidemiológicos, é correto


afirmar que:

a.  Estudos do tipo coorte se estendem, geralmente, por longos períodos e são indicados para a análise de
fatores causais raros.

b.  Estudos do tipo transversal são indicados para a investigação de doenças raras.

c.  Estudos experimentais ou de intervenção estão direcionados, principalmente, para o estudo de doenças


raras.

d.  Estudos ecológicos são fáceis de realizar e constituem a melhor opção para testar hipóteses de causa e
efeito no estudo de uma doença.

e.  Estudos longitudinais retrospectivos devem estar limitados ao estudo de doenças raras.

Questão 3
Os delineamentos, ou desenhos de pesquisa epidemiológica, podem ser
classificados de acordo com diversas características, como a originalidade dos
dados, os tipos de amostras ou populações, o recorte temporal ou até mesmo o
período de seguimento do estudo. Os diferentes delineamentos servem para
responder a diferentes questionamentos.

Um estudo clínico cujo objetivo é investigar um grupo de trabalhadores rurais por


determinado período para verificar se eles desenvolverão câncer de pele é
denominado:

a.  Estudo experimental.

b.  Estudo transversal.

c.  Estudo de caso-controle.
d.  Estudo de coorte.

e.  Estudo randomizado.

REFERÊNCIAS

0
BOTELHO, F.; SILVA, C.; CRUZ, F. Epidemiologia explicada – viéses. Acta Urológica,

seõçatona reV
Lisboa, v. 25, n. 3, p. 55-57, 2008. https://bit.ly/2TyfZuv. Acesso em: 5 dez. 2020.

FLETCHER, R. H.; FLETCHER, S. W.; WAGNER, E. H. Epidemiologia clínica:


elementos essenciais. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

GOMES, E. C. de S. Conceitos e ferramentas da epidemiologia. Recife: Ed.


Universitária da UFPE, 2015. Disponível em: https://bit.ly/2RZuiIo. Acesso em: 7 dez.
2020.

HOCHMAN, B., NAHAS, F. X., OLIVEIRA FILHO, R. S. de; FERREIRA, L. M. Desenhos de


pesquisa. Acta Cir. Bras., São Paulo, v. 20, supl. 2, p. 2-9, 2005. Disponível
em: https://bit.ly/3cG5ZGw. Acesso em: 5 dez. 2020.

LIMA-COSTA, M. F.; BARRETO, S. M. Tipos de estudos epidemiológicos: conceitos


básicos e aplicações na área do envelhecimento. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília,
v. 12, n. 4, p. 189-201, dez. 2003. Disponível em: https://bit.ly/35nQDSZ. Acesso em:
5 dez. 2020.

NUNES, L. N.; CAMEY, S. A.; GUIMARÃES, L. S. P.; MANCUSO, A. C. B; HIRAKATA V. N.


Os principais delineamentos na Epidemiologia. Clinical & Biomedical Research,
Porto Alegre, v. 33, n. 2, p. 178-183, 2013. Disponível em:  https://bit.ly/3gzM3Gi.
Acesso em: 7 dez. 2020.

SILVA JÚNIOR, J. B.; GOMES, F. B. C; CEZÁRIO, A. C.; MOURA, L. Doenças e agravos


não transmissíveis: bases epidemiológicas. In: ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA
FILHO; N. de. Epidemiologia e Saúde. 6. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003. 
I

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


MÉTODOS EPIDEMIOLÓGICOS

0
Caio Luisi

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SEM MEDO DE ERRAR


Em nossa situação-problema, analisávamos um grupo de profissionais da vigilância
epidemiológica, que identificou alta prevalência de tabagismo numa população de
jovens trabalhadores rurais em uma cidade do interior do Brasil.

Os pesquisadores decidiram iniciar uma nova investigação para saber qual impacto
o hábito tabagista poderia ter nessa população, por isso estão discutindo quais
desenhos metodológicos poderiam utilizar para chegar a essa resposta.

Você, enquanto membro e pesquisador do grupo, poderia sugerir um estudo de


coorte, ou seja, um estudo com característica longitudinal que acompanharia uma
amostra de jovens, na referida faixa etária (18 a 30 anos), que fumam e outra com
os que não fumam. O seguimento desses indivíduos ao longo dos anos poderia
mostrar os desfechos do grupo fumante e do não fumante. Por exemplo, pode ser
que, em cinco anos, o grupo de tabagistas desenvolva, em média, mais
complicações respiratórias ou cardiovasculares do que aqueles que não possuem
o hábito. O ponto negativo é que coortes levam muito tempo e os resultados,
consequentemente, demorariam mais a chegar.

Lembre-se de que esta não é a única forma de encontrar respostas. Quais outras
formas você acredita serem possíveis para se alcançar resultados que auxiliem a
equipe?
AVANÇANDO NA PRÁTICA

RESPOSTAS RÁPIDAS!
Vamos novamente acompanhar a reunião do grupo de profissionais da vigilância

0
epidemiológica que discute a questão do impacto que o tabagismo pode ter na

seõçatona reV
população de jovens trabalhadores rurais.

Os pesquisadores ainda discutem formas de se medir as consequências do


tabagismo naquela população em específico, pois necessitam de respostas e de
resultados mais rápidos para apresentarem às autoridades competentes. Inicia-se
então a discussão para se determinar qual delineamento seria adequado e quais
respostas haveria. Supondo que você faça parte desse grupo, quais sugestões você
daria? Quais os prós e os contras da nova metodologia adotada?

RESOLUÇÃO 

Nessa situação-problema, o estudo de coorte seria o ideal para apontar


desfechos a longo prazo em populações como essa, porém os pesquisadores
necessitam de respostas mais rápidas para compor seus relatórios.

Eis algumas possibilidades para a resolução da situação-problema proposta:

Os pesquisadores poderiam começar por uma rápida busca na literatura, na


qual deveriam encontrar estudos que tivessem abordado populações
semelhantes e com o mesmo objetivo para se basearem.

Tendo em vista que as complicações do tabagismo podem levar anos para se


manifestarem, você poderia sugerir a condução de um estudo de coorte a
longo prazo e também um outro protocolo de pesquisa do tipo transversal
para avaliar as condições de saúde de jovens nessa faixa etária. Depois os
resultados seriam analisados e seria feita a comparação entre os jovens que
fumam e o grupo controle. Dessa forma, poderíamos saber quais são os
problemas já existentes, quais são as diferenças no estado de saúde geral,
quais são os riscos cardiovasculares e outras análises pertinentes entre os dois
grupos.

Essa é apenas uma das possibilidades. E você? Quais outras estratégias


adotaria?
NÃO PODE FALTAR I

EPIDEMIOLOGIA NOS SERVIÇOS DE SAÚDE

0
Caio Luisi

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.

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PRATICAR PARA APRENDER


Prezado estudante, seja bem-vindo a mais uma seção desta unidade. Nela
conheceremos os principais indicadores de mortalidade e de morbidade, suas
aplicabilidades e as variáveis que compõem suas fórmulas. Aprofundaremos
nossos conhecimentos sobre transição demográfica e epidemiológica, além de
refletir sobre o Sistema de Vigilância em Saúde.

Incialmente discutiremos a questão da transição demográfica a partir de um breve


retrato histórico; em seguida, serão apresentados os conceitos de transição
demográfica e epidemiológica e, mais adiante, serão discutidos os pontos sensíveis
dessa questão. A correlação entre os temas é abordada frente aos desafios do
envelhecimento populacional.

Em um segundo momento, conheceremos os principais indicadores de morbidade


e de mortalidade, bem como sua aplicação na epidemiologia, porque compreender
esses conceitos é fundamental para a correta interpretação dos dados
provenientes de estudos epidemiológicos, os quais analisam doenças e agravos
que atingem diferentes populações.

Por fim, abordaremos o Sistema de Vigilância em Saúde de forma que você possa
conhecer o contexto que levou à integração das vigilâncias epidemiológica,
ambiental e sanitária, incorporadas pela Vigilância em Saúde, além de repensar os
desafios da articulação e da distribuição das responsabilidades entre as esferas
federal, estadual e municipal na operacionalização desse serviço. 
As ações para controle de doenças e agravos estão estruturadas sobre esses
sistemas e são definidas como um ciclo cujas principais etapas são: coleta e análise
de dados e interpretação e difusão da informação.

0
De maneira geral, esta seção complementa os saberes discutidos nas seções
anteriores, propiciando a análise dos temas mais relevantes em epidemiologia.

seõçatona reV
Considerando os conteúdos apresentados nesta seção, principalmente sobre os
indicadores de morbidade e de mortalidade, vamos novamente acompanhar uma
reunião de um grupo de profissionais da vigilância epidemiológica de uma cidade
do interior do Brasil. 

O grupo se reúne para discutir os achados epidemiológicos da última investigação,


que analisou as condições gerais de vida e de saúde da população. Um fato chama
a atenção dos pesquisadores, pois o coeficiente de mortalidade geral estava
elevado. Nesse momento, muitos questionamentos quanto aos motivos que
levavam a um coeficiente de mortalidade tão elevado surgiram, e a preocupação já
era evidente. Um dos membros enfatiza que esse coeficiente, isolado, não diz
muita coisa e que isso poderia ser explicado, talvez pelas características da
população local.

Imagine que você faz parte desse grupo. Qual seria a sua contribuição para a
análise desse dado? Quais as possíveis justificativas para um elevado coeficiente de
mortalidade geral?

Estamos chegando ao fim de mais uma unidade. É hora, portanto, de aprender os


últimos conceitos, de rever outros e de fazer correlações. Pensar saúde é integrar
diferentes saberes em um único raciocínio. Bons estudos!

CONCEITO-CHAVE

TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA: BREVE HISTÓRICO


As diversas transformações demográficas do Brasil ocorridas nas últimas décadas
impactam diretamente as esferas econômica e social, além de apresentarem um
novo quadro quanto ao perfil de morbimortalidade da população.

Após décadas de crescimento populacional constante, o Brasil vem, nas últimas


décadas, apresentando queda na taxa de natalidade e mortalidade.

Até a década de 1970, o Brasil era conhecido como o país do futuro, pois o grupo
etário de 0 a 14 anos era expressivo se comparado aos demais. Porém, esse
cenário mudou e começou a ser mais bem compreendido apenas no final do
século XX.

A diminuição da taxa de mortalidade acaba beneficiando mais os recém-nascidos,


entretanto a diminuição dos níveis de fecundidade também vem ocorrendo em
intensidade nunca antes registrada em nosso país.

Fatores importantes como a industrialização e a demanda de força de trabalho nas


grandes cidades culminaram no êxodo rural, o que significa que o trabalhador do
campo migrava para as cidades, principalmente para as capitais, em busca de
oportunidades de trabalho. Além disso, as campanhas de controle de natalidade, o
maior acesso à educação se comparado às décadas anteriores e outros fatores
socioculturais transformaram a sociedade e o contexto familiar para algo próximo
ao que conhecemos hoje. Assim, se antes havia grandes núcleos familiares, por
vezes com cinco ou mais filhos que ajudavam na força de trabalho no campo,

0
agora a composição da família, nos grandes centros urbanos, conta com apenas

seõçatona reV
um ou dois filhos em média. A esse fenômeno de mudança de comportamento e
de composição da população, ou seja, menor participação do grupo das crianças,
devido à redução da taxa de natalidade, e a ampliação do grupo de idosos, devido
ao aumento da longevidade, chamamos de transição demográfica.

O rápido avanço da ciência e o acesso a serviços de saúde de maior qualidade


trouxeram benefícios como redução das mortes materno-infantis, erradicação e
controle de doenças infecciosas e, consequentemente, aumento da expectativa de
vida da população. A mudança no perfil de morbimortalidade pelas questões
apresentadas recebe o nome de transição epidemiológica.

Se, por um lado, conseguimos viver por mais tempo agora do que era possível no
passado, tendo, assim, participação mais expressiva de idosos na população, por
outro, a “nova vida urbana”, com seus hábitos pouco saudáveis associados à
longevidade, fez com que as doenças crônicas não transmissíveis, como o diabetes
e a hipertensão, aumentassem significativamente. 

Nesta seção entenderemos melhor o impacto dessas mudanças na sociedade e


como elas pautam as ações e as decisões em saúde coletiva.

TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E EPIDEMIOLÓGICA E O


ENVELHECIMENTO POPULACIONAL
O envelhecimento populacional, impulsionado pela melhora das condições sociais
e econômicas e pelos avanços médico-científicos, tem estreita ligação com a
transição demográfica e epidemiológica.

A transição demográfica, em um momento inicial, apresenta baixo crescimento


populacional devido a elevados níveis de natalidade e de mortalidade; na fase
seguinte, tem baixo crescimento populacional devido à estabilização ou ao
crescimento negativo das duas variáveis (natalidade e mortalidade).

ASSIMILE

Para compreender melhor a transição demográfica, pode-se dividi-la em


dois momentos:

•  1º momento: nesse momento há baixo crescimento populacional e


elevados níveis de natalidade e de mortalidade. Historicamente podemos
entendê-lo ao lembrarmos que, no passado, havia um número muito maior
de nascimentos, porém havia também um maior número de óbitos, tanto
em crianças quanto no resto da população. As doenças infecciosas
causavam muitos óbitos e os recursos sociais, econômicos e técnico-
científicos eram mais escassos.
•  2º momento: nessa fase há baixo crescimento populacional, ou
estabilização, ou crescimento negativo. Diferentemente do que ocorria no
passado, as variáveis natalidade e mortalidade diminuem
significativamente. Como já abordado, isso se relaciona com o aumento da

0
longevidade e com as mudanças sociais e econômicas das últimas décadas.

seõçatona reV
A transição demográfica consiste na passagem de uma situação a outra.

Essas mudanças geram uma nova distribuição entre os três grupos etários, que
são: de 0 a 14 anos, de 15 a 59 anos e 60 anos ou mais. A participação do grupo de
60 anos ou mais na sociedade passa a ser maior à medida que cada vez mais
pessoas o integram, o que ocorre de maneira mais intensa em países
desenvolvidos.

Esse novo cenário traz consigo desafios importantes, como a elaboração de novas
políticas públicas (tanto na área da saúde quanto na social e na econômica) que
atendam esse grupo e que promovam outras adaptações, desde as idades iniciais,
para que, no futuro, os idosos tenham melhores condições de vida e maior
controle dos agravos relacionados ao envelhecimento, como doenças crônicas não
transmissíveis e degenerativas.

A transição demográfica apresenta, historicamente, quatro fases principais, como


podemos ver na Figura 3.7.

Figura 3.7 | Fases da transição demográfica

1 Fase I - pré-industrial.

Taxa de natalidade e de mortalidade elevadas. Crescimento populacional


lento. Estende-se até meados do século XX.

2 Fase II - intermediária de divergência de coeficientes (1950).

Redução do coeficiente de mortalidade. Taxa de natalidade ainda elevada.


Aumento populacional.

3 Fase III - intermediária de convergência de coeficientes (1970).

Redução dos coeficientes de natalidade e de mortalidade. Crescimento


populacional e aumento do envelhecimento populacional.

4 Fase IV - moderna ou de pós-transição (anos 2000).

Redução significativa dos coeficientes de natalidade e de mortalidade. Estado


de equilíbrio populacional. Aumento da expectativa de vida.

Fonte: elaborada pelo autor.

COEFICIENTES DE NATALIDADE E DE FECUNDIDADE


Ao nos depararmos com textos epidemiológicos, ou com aqueles que se referem a
medidas epidemiológicas populacionais, os termos “taxa de natalidade” e “taxa de
fecundidade” são frequentemente utilizados. No entanto, divergem em seus
significados e necessitam ser corretamente conceituados, a fim de evitar
interpretações erradas.

O coeficiente de natalidade tem relação com o número de nascidos vivos, por mil

0
habitantes, em determinada região e em um intervalo de tempo considerado.

seõçatona reV
O uso do coeficiente de natalidade permite analisar as variações regionais e
temporais relacionadas à natalidade; estimar o componente migratório da variação
demográfica; além de subsidiar a elaboração de políticas públicas específicas para
a atenção materno-infantil.

O coeficiente de natalidade é calculado a partir da seguinte equação:


á
N ascidos vivos em determinada  rea e per do í
T axa de Natalidade =  x 1000
P opulação total residente

                   

O coeficiente de fecundidade, por sua vez, se relaciona com o número de mulheres


em idade fértil e é expresso também em uma média de filhos por mulher.

O coeficiente de fecundidade é calculado a partir da seguinte equação:


á
N ascidos vivos em determinada  rea e per do í
T axa de Fecundidade =  x 1000
á
M ulheres de 15 a 49 anos na mesma  rea e per odo í

                   

COEFICIENTE E INDICADORES DE MORTALIDADE E DE LETALIDADE


O coeficiente de mortalidade representa o risco ou a probabilidade de óbito em
determinada região ou comunidade, num período de tempo específico. Esse
coeficiente pode ser medido de maneira geral (Coeficiente de Mortalidade Geral)
ou de modo particular, em grupos (coeficiente de mortalidade infantil, coeficiente
de morte perinatal e coeficiente de morte materna, por exemplo) e por tipo de
doença coeficiente por doenças transmissíveis).

A contagem de óbitos auxilia a investigar a ocorrência de determinadas doenças e


a estabelecer relações entre os grupos populacionais mais atingidos, ou seja, essa
medida pode também representar o peso que os óbitos têm em determinada
população.
ú ó í
N mero de  bitos no per odo
Coef iciente de Mortalidade Geral =  x 1000
P opulação total na metade do período

                   

É importante ressaltar que esse coeficiente é limitado, pois não leva em


consideração a faixa etária da população envolvida ou o tipo de agravo específico.

ASSIMILE

O Coeficiente de Mortalidade Geral não leva em consideração a


estruturação etária da população, ou seja, não verifica se a população
estudada é predominantemente jovem ou idosa. Caso esse coeficiente
esteja aumentado em uma população de maioria idosa, pode indicar
apenas que os indivíduos já viveram o suficiente e estão morrendo por um
processo natural. Por outro lado, em uma população jovem, poderia indicar
morte prematura. Esse coeficiente pode ser comparado tendo como
referência uma população padrão, por exemplo a população mundial na
comparação entre países, ou população nacional na comparação entre
diferentes lugares do mesmo país.

0
O coeficiente de mortalidade infantil estima o risco que nascidos vivos têm de

seõçatona reV
morrer antes de completar o primeiro ano de vida. É um importante indicador
social em uma comunidade.
Óbitos de menores de 1 ano na comunidade / ano
Coef iciente de Mortalidade Inf antil =  x 1000
N ascidos vivos na comunidade / ano

                   

É importante atentar-se a alguns conceitos para efetivamente classificar os casos


que entrarão para o cálculo desse coeficiente, conforme demonstra a Figura 3.8.

Figura 3.8 | Conceitos importantes para cálculo de coeficientes de mortalidade infantil

Nascido Expulsão, ou extração completa do corpo da mãe, de um produto


vivo que respire ou que apresente qualquer outro tipo de sinal vital.

Óbito É a morte do produto de concepção antes da expulsão ou da


fetal extração completa do corpo da mãe.

Óbito É a criança que, nascida viva, morreu em qualquer momento antes


infantil de completar um ano de idade.

Fonte: elaborada pelo autor.

Para atuação em saúde pública, também se faz necessário conhecer outros


indicadores de mortalidade como: coeficiente de mortalidade perinatal – que diz
respeito às mortes ocorridas entre a 22ª semana de gestação até o 7º dia após o
nascimento –, coeficiente de mortalidade materna e coeficiente de mortalidade por
doenças transmissíveis.
a
Óbitos f etais da 22 ó
sem. +  bitos de menores de 7 dias de vida
Coef . Mort. Perinatal =  x 1000
N ascidos vivos + nascidos mortos na mesma comunidade / ano

                   

Óbitos por causa ligada a gestação, parto e puerpério
Coef . Mort. Materna =  x 1000
Nascidos vivos na mesma comunidade / ano

                   

Óbitos por Doenças Inf ecciosas e Parasitárias (DIP)
Coef . Mort. Doe Trans. =  x 100.000
P opulação est. para meio do ano na mesma área

                   

O coeficiente de letalidade representa a proporção de óbitos entre os casos de


uma doença específica, sendo um ótimo indicativo para a avaliação da gravidade
de doença ou agravo em determinada população. Além disso permite reconhecer
condições que aumentam a letalidade de acordo com características específicas,
como condição socioeconômica, comorbidades, estado nutricional, entre outras.

O coeficiente de letalidade é calculado a partir da seguinte fórmula:


ç á
M ortes por uma doen a em determinada  rea e per odo í
Letalidade =  x 100
ç á
Casos da mesma doen a na mesma  rea e per odo í

                   
O resultado representará o risco que os indivíduos têm de morrer pela doença em
questão e será expresso em percentual, diferente de outros, que expressam um
número por 1000 ou 100.000 habitantes.

0
EXEMPLIFICANDO

seõçatona reV
•  Exemplo 1: a raiva humana apresentada 100% de letalidade, ou seja,
todos os casos que contraem a doença têm seu desfecho em óbito.

•  Exemplo 2: a letalidade da COVID-19 varia entre 0,5 a 1%, ou seja, a cada


100 indivíduos aproximadamente 1 morre da infecção causada pelo vírus.

INDICADORES DE MORBIDADE
A morbidade diz respeito a doenças ou a situações existentes cujas medidas são
capazes de avaliar o comportamento e as mudanças ao longo tempo e de prever
tendências futuras. São essenciais para a formulação de ações e de políticas de
saúde pública.

Os indicadores de morbidade são: prevalência, incidência e taxa de ataque. Os dois


primeiros já foram devidamente abordados em outras seções desta unidade e,
quanto à taxa de ataque, ela é a taxa de incidência de uma doença para um grupo
de pessoas expostas a um risco de natureza aguda, em uma área bem definida e
com intervalo de tempo limitado. São expressos em porcentagens.
ú
N mero de casos novos em determinada popula ção e período
Taxa de ataque =  x 100
população sob risco no início do período

                   

VIGILÂNCIA EM SAÚDE
As constantes mudanças políticas e sociais no Brasil trouxeram novos problemas
de origens distintas e que se sobrepõem. Para atender à complexidade desses
novos desafios, em 2003, por meio do Decreto nº 4.726/2003, o Ministério da
Saúde instituiu a Vigilância em Saúde como responsável pela coordenação nacional
das ações das vigilâncias epidemiológica, ambiental e sanitária.

Posteriormente, a Portaria nº 1.172/2004 potencializou o processo de


descentralização das ações e das responsabilidades entre as esferas. As secretarias
estaduais assumiram a supervisão e a assessoria para que municípios fossem
capazes de desenvolver as ações e a coordenação da Vigilância em Saúde
gradativamente embora sob forte influencia da esfera federal no controle.

O Pacto pela Saúde foi considerado um importante instrumento regulatório e


operacional do SUS, que tinha por objetivo integrar as ações das vigilâncias
epidemiológica, sanitária e ambiental. Nesse pacto cada gestor deveria assinar um
termo de compromisso para a execução de diversas ações, em diversas áreas,
inclusive na de Vigilância em Saúde.

É importante considerar que, mesmo com incentivo à descentralização das ações e


dos compromissos assumidos pelo Pacto pela Saúde, ainda existem limitações
importantes na autonomia dos entes federativos do Brasil, o que pode gerar um
desequilíbrio, já que as decisões da União dificilmente conseguem atender às
demandas das esferas estadual e municipal.
REFLITA

Ainda não há total clareza quanto às responsabilidades de cada esfera na


implementação da Vigilância em Saúde. Essa importante limitação dificulta

0
a gestão e a operacionalização das ações e impede que o processo ocorra

seõçatona reV
de forma democrática e direcionada. Não só para a questão das vigilâncias,
mas também para a gestão da saúde pública como um todo, o desafio de
integrar e articular todas as esferas ainda é um dos obstáculos a serem
vencidos.

E você, como acha que podemos articular os poderes e as


responsabilidades numa gestão descentralizada do sistema de saúde?

SISTEMAS DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE


Todas as ações para controle de doenças e agravos estão estruturadas sobre
Sistemas de Vigilância em Saúde, os quais podem ser definidos como um ciclo que
inclui atividades específicas, intersetoriais e contínuas. É importante ressaltar a
importância da articulação entre as esferas para o sucesso desses sistemas.

As etapas e as atividade básicas que envolvem os Sistemas de Vigilância em Saúde


são:

•  Coleta de dados: inclui a detecção dos casos, a notificação, a classificação e a


confirmação dos dados de doença ou agravo sob vigilância. São responsáveis por
essa etapa as autoridades locais de saúde.

•  Análise dos dados: inclui a consolidação de dados e a análise de variáveis


epidemiológicas básicas. É competência das autoridades de saúde municipais,
estaduais e nacionais.

•  Interpretação da informação: inclui a comparação com dados prévios e com


outras informações de relevância local. É competência das autoridades de saúde
municipais, estaduais e nacionais.

•  Difusão da informação: inclui a elaboração de material com orientações e


diretrizes para distintos níveis de decisão (por exemplo: usuários, profissionais da
saúde, gestores). Compete às autoridades de saúde municipais, estaduais e
nacionais.

Além dessas etapas, é importante também a capacitação e a supervisão de todos


os recursos humanos envolvidos, além dos recursos materiais mínimos
necessários.

Os dados sobre os casos são obtidos por meio de diferentes tipos de vigilância, são
eles:

•  Vigilância passiva: de maneira rotineira e periódica, os dados sobre uma doença


ou agravo são enviados em cada nível de saúde.

•  Vigilância ativa: ocorre uma busca intencional de casos do evento (doença ou


agravo), isto é, os profissionais buscam diretamente os casos sob vigilância.
•  Vigilância sentinela: a informação advém de um grupo específico selecionado
como fonte para averiguação de um determinado evento de interesse ou doença
específica.

0
Assim chegamos ao final de mais uma unidade e agora podemos agregar esses
novos conhecimentos a todos os demais conceitos e teorias que já abordamos na

seõçatona reV
disciplina de Saúde Pública. A epidemiologia constitui uma ferramenta importante
para a vida em sociedade como a conhecemos, pois seus métodos e indicadores
permitem diagnosticar problemas de ordem coletiva e atuar com a formulação de
políticas públicas específicas para o controle e até mesmo para a prevenção de
doenças e agravos.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
As diversas transformações demográficas no Brasil das últimas décadas impactam
diretamente sobre as esferas econômica e social, além de apresentar um novo
cenário quanto ao perfil de morbimortalidade da população.

Com relação ao processo de transição demográfica, assinale a alternativa correta:

a.  O envelhecimento da população diminui.

b.  A mortalidade de crianças e de adultos jovens aumenta significativamente.

c.  As taxas de fecundidade e de natalidade aumentam significativamente.

d.  A proporção de adultos diminui em relação à proporção de crianças.

e.  Há uma redução significativa dos coeficientes de natalidade e de mortalidade. 

Questão 2
Os termos “taxa de natalidade” e “taxa de fecundidade” são frequentemente
utilizados em textos e em relatórios epidemiológicos, sendo importantes
indicadores de saúde. No entanto, divergem em seus significados.

Tendo em vista os coeficientes de natalidade e de fecundidade, assinale a


alternativa correta:

a.  O coeficiente de natalidade tem relação com o número de todos os nascidos, por cem mil habitantes, em
determinada região e em um intervalo de tempo considerado.

b.  O uso do coeficiente de natalidade permite analisar as variações regionais e temporais relacionadas à
natalidade e subsidia a elaboração de políticas públicas.

c.  O coeficiente de fecundidade se relaciona com o número de mulheres de todas as idades e é expresso
também em uma média de filhos por mulher.

d.  A taxa de natalidade é igual ao número de nascidos vivos multiplicado por mil e dividido pelo número
total de partos em um determinado período de tempo.

e.  A taxa de fecundidade abrange mulheres entre 18 a 49 anos e os nascidos vivos em determinada área e
período de tempo

Questão 3
As ações para controle de doenças e agravos estão estruturadas sobre Sistemas de
Vigilância em Saúde, que podem ser definidos como um ciclo no qual estão
incluídas atividades específicas, intersetoriais e contínuas, divididas em quatro
etapas principais.
Tendo em vista os Sistemas de Vigilância em Saúde, assinale a alternativa correta:

a.  Na obtenção dos dados, a vigilância sentinela ocorre de maneira rotineira e periódica, e os dados sobre
uma doença ou agravo são enviados em cada nível de saúde.

b.  A etapa da análise dos dados diz respeito à detecção dos casos, à notificação, à classificação e à

0
confirmação dos dados da doença ou do agravo sob vigilância.

seõçatona reV
c.  A coleta de dados inclui a consolidação de dados e a análise de variáveis epidemiológicas básicas. É
competência das autoridades de saúde municipais, estaduais e nacionais.

d.  A etapa da interpretação da informação inclui a comparação com dados prévios e com outras
informações de relevância local.

e.  A difusão da informação inclui a elaboração de material com orientações e diretrizes, que é de
competência das autoridades municipais locais.

REFERÊNCIAS
CASTELLANOS, P. L. A epidemiologia e a organização dos sistemas de saúde. In:
ROUQUAYROL, M. Z. (org.). Epidemiologia & Saúde. 4. ed. Rio de Janeiro: Medsi,
1994. 

CASTIGLIONI, A. H. Inter-relações entre os processos de transição demográfica,


envelhecimento populacional e transição epidemiológica no Brasil. In: CONGRESSO
DA ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE POPULAÇÃO, 5., 2012, Montevidéu. Anais
[...]. Montevidéu: ALAP, 2012. Disponível em: https://bit.ly/3gn1K4W. Acesso em: 11
jun. 2021.

COSTA, A. A. Z. Vigilância em saúde. Porto Alegre: SAGAH, 2018. E-book. 

FLETCHER, R. H.; FLETCHER, S. W.; WAGNER, E. H. Epidemiologia clínica:


elementos essenciais. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003. E-book. 

GOMES, E. C. de S. Conceitos e ferramentas da epidemiologia. Recife: Ed.


Universitária da UFPE, 2015. Disponível em:  https://bit.ly/2Tygu7S. Acesso em: 28
nov. 2020.

OLIVEIRA, A. S. Envelhecimento Populacional e o surgimento de novas demandas


de políticas públicas em Viana/ES. 2015. Dissertação (Mestrado em Geografia) –
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2015. Disponível
em: https://bit.ly/3gopup6. Acesso em: 15 dez. 2020.

SILVA JÚNIOR, J. B.; GOMES, F. B. C; CEZÁRIO, A. C.; MOURA, L. Doenças e agravos


não transmissíveis: bases epidemiológicas. In: ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA
FILHO; N. de. Epidemiologia e Saúde. 6. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003. E-book.

VASCONCELOS, A. M. N.; GOMES, M. M. F. Transição demográfica: a experiência


brasileira. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 21, n. 4, p. 539-548, 2012. Disponível
em: https://bit.ly/3vxbdLq. Acesso em: 29 nov. 2020.

WONG, L. L. R.; CARVALHO, J. A. O rápido processo de envelhecimento populacional


do Brasil: sérios desafios para as políticas públicas. R. bras. Est. Pop., v. 23, n. 1, p.
5-26, jan./jun. 2006. Disponível em: https://bit.ly/3gz8GuC. Acesso em: 14 dez. 2020.
I

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


EPIDEMIOLOGIA NOS SERVIÇOS DE SAÚDE

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Caio Luisi

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SEM MEDO DE ERRAR


Em nossa situação-problema, analisávamos a experiência vivida por um grupo de
profissionais da vigilância epidemiológica que identificou alto Coeficiente de
Mortalidade Geral na população de uma cidade no interior do Brasil. Esse fato
chamou tanto a atenção que logo questionamentos surgiram com o intuito de
entender o real significado do achado e de propor soluções para a situação.

Você, como um promissor epidemiologista, poderia dar diversas explicações para o


fenômeno.

É importante considerar que o Coeficiente de Mortalidade Geral, de maneira


isolada, não possibilita muitas inferências, pois não leva em conta, por exemplo, a
distribuição etária da população.

Logo, uma das possibilidades para que esse coeficiente esteja alto seja a idade
média avançada da população. Em uma população predominantemente idosa,
esse achado, por exemplo, poderia não ter tanta importância epidemiológica, já
que indicaria que os indivíduos já viveram o tempo médio da expectativa
epidemiológica e que começavam a falecer.

Você, como pesquisador, poderia sugerir uma comparação com outras regiões ou
com médias nacionais para melhor análise.
Por fim, a avaliação de outros indicadores de mortalidade mais específicos, como
mortalidade infantil e materna, também deve ser realizada.

Esses pontos poderiam ser colocados por você na reunião e, com certeza,

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conduziriam a uma melhor análise por parte do grupo.

seõçatona reV
AVANÇANDO NA PRÁTICA

TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E O DESAFIO DA GESTÃO EM SAÚDE


Gestores de saúde locais, profissionais da saúde e representantes usuários de um
município, que formam o Conselho de Saúde, discutem a necessidade de ações
frente ao aumento significativo de idosos na região. O grupo já superou o número
de crianças de 0 a 14 anos e enfrenta diversas dificuldades no acesso à saúde, ao
lazer e a outros bens de consumo. O secretário de saúde, preocupado com o
crescente número de complicações médicas relacionadas a doenças crônicas não
transmissíveis, propõe aumento do número de ações de assistência médica, maior
número de profissionais nos hospitais para atender a demanda e investimentos
para que tenham acesso ao tratamento farmacológico.

Supondo que você esteja participando da reunião, quais outras medidas julgaria
importantes?

RESOLUÇÃO 

Para além das ações assistencialistas, outras medidas de caráter preventivo e


de promoção de saúde são igualmente importantes.

Você, participante da reunião, com o intuito de diminuir o impacto no sistema


de saúde, poderia destacar que são necessárias medidas que vão além do
tratamento convencional.

Dessa forma, a criação de um plano de acesso a lazer, cultura e práticas de


exercício físico para toda a população é imprescindível, pois não basta apenas
cuidar dos idosos de hoje, é preciso pensar que esse investimento terá impacto
no idoso de amanhã.

Ações preventivas, com acompanhamento constante para monitorizar o


estado de saúde e para intervir sobre possíveis agravos futuros junto à
Atenção Básica, é imprescindível.

Permitir acesso aos bens de consumo básicos, à boa alimentação e a condições


ambientais, epidemiológicas e de trabalho dignas também terão um peso
importante na qualidade de vida do idoso e poderão fazer com que ele
permaneça ativo por mais tempo. Afinal, tão importante quanto longevidade é
a qualidade de vida.

Por fim, pode-se notar que as medidas sugeridas vão ao encontro do que o
SUS determina: um cuidado preventivo e holístico e menos assistencialista e
biomédico.
NÃO PODE FALTAR I

NOÇÕES BÁSICAS DE ESTATÍSTICA

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Caio Luisi

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.
Áudio disponível no material digital.

CONVITE AO ESTUDO
Prezado estudante, nesta unidade aprofundaremos nossos saberes a respeito dos
conceitos e das ferramentas da bioestatística, disciplina essencial para diversas
áreas do conhecimento, principalmente para os profissionais da área da saúde.

Inicialmente, serão apresentados os conceitos básicos e introdutórios da estatística


e a sua aplicação na área da biologia e da saúde, a bioestatística. 

Em um segundo momento, abordaremos as bases da estatística descritiva, sua


aplicabilidade, os conceitos importantes para sua interpretação (média,
frequências, desvio médio, dispersão) e suas formas de apresentação, que podem
ocorrer em gráficos e tabelas por exemplo. Tais conceitos são amplamente
aplicados em estudos científicos da área da saúde, além de apontarem outros
indicadores de saúde na prática clínica.

Na terceira e última seção, estudaremos a probabilidade, outra ferramenta


estatística importante e amplamente utilizada. Os conceitos abordados serão:
probabilidade, mediana, média, desvio padrão e testes utilizados para comprovar
ou refutar hipóteses, além de outros instrumentos da bioestatística.

A compreensão desses saberes complementa o conteúdo contemplado na


disciplina até aqui e fornece ferramentas essenciais para enfrentar situações-
problema nas áreas das ciências biológicas. Portanto, todos os critérios de coleta,
organização e análise de dados serão apresentados e detalhados à luz dos
principais métodos estatísticos. Bons estudos!
PRATICAR PARA APRENDER
Prezados acadêmicos, iniciamos a primeira seção da Unidade 4. Nesta etapa
construiremos e aperfeiçoaremos saberes a respeito dos conceitos e das

0
ferramentas da bioestatística, disciplina fundamental para os profissionais da área

seõçatona reV
da saúde.

Inicialmente, serão abordados os conceitos gerais da estatística e serão


apresentadas suas principais vertentes. Além disso, veremos os primeiros registros
históricos da utilização dessa ciência amplamente empregada por todas as áreas
do conhecimento.

Em um segundo momento, conceituaremos os principais termos utilizados na


área, como o que é população, amostra, dado, variável e suas subdivisões.
Compreender esses termos-chave é muito importante para a compreensão e a
utilização dos métodos, em bioestatística, pelos profissionais da saúde.

Trataremos ainda dos tipos de variáveis quantitativas e qualitativas e os tipos de


escalas existentes com diversos exemplos para fixar o conhecimento e facilitar a
compreensão. 

Para encerrar a seção, abordaremos os principais tipos de amostragem, suas


aplicações, vantagens e desvantagens, além de discutirmos sobre a importância da
formação do tamanho amostral de um estudo, desde a quantidade adequada de
participantes até a adequação deles ao estudo, para que expressem a
característica que se quer investigar, e a problemática das amostras tendenciosas
e suas consequências.

Considerando os conteúdos desta seção sobre os conceitos básicos de


amostragem, vamos acompanhar um grupo de pesquisadores que deseja realizar
um estudo sobre a presença de doenças crônicas em trabalhadores da indústria
têxtil de uma cidade do Sudeste do Brasil.

Os estudiosos desenvolvem, então, o projeto para essa pesquisa e o encaminham


ao Comitê de Ética do Hospital Central (grupo composto por diversos
representantes especialistas e membros da sociedade que avaliam a pertinência
do projeto) para que ele avaliasse o estudo e aprovasse ou não o projeto. Dois
meses se passam e o trabalho retorna, sem aprovação, para que os pesquisadores
realizem alterações em seu método. No item “Amostra” há uma observação que
questiona a utilização de uma amostra por conveniência e que indaga o motivo dos
dados serem coletados em apenas uma das oito fábricas do ramo na cidade e o
fato de não existir nenhum cálculo amostral para se definir o tamanho da amostra.
Você, enquanto pesquisador do grupo, concordaria com as observações feitas pelo
Comitê de Ética? Quais as possíveis soluções para essa questão metodológica?

Compreender os conceitos e termos-chave de bioestatística permite ao futuro


profissional da saúde ser suficientemente capaz de desenvolver estudos científicos
para investigar problemas que atingem a população e para propor possíveis
soluções às questões identificadas. Bom estudo a todos!
CONCEITO-CHAVE
INTRODUÇÃO À ESTATÍSTICA E À BIOESTATÍSTICA
Os primeiros registros encontrados sobre a utilização da estatística são relatos de

0
Confúcio sobre levantamentos feitos na China e datam de 2.000 anos antes da era

seõçatona reV
cristã. Outras civilizações antigas, como a dos egípcios, e civilizações pré-
colombianas (incas, maias e astecas), também utilizaram informações estatísticas,
segundo estudos arqueológicos. 

Dessa maneira, podemos compreender que, desde a Antiguidade, dados


estatísticos com informações populacionais e de riquezas eram utilizados pelos
governantes para decidir sobre suas ações e movimentos políticos, principalmente
nas áreas tributária e militar.

Essa prática tornou-se indispensável e, até os dias de hoje, é amplamente utilizada,


não só para questões econômicas e militares, mas para todos os outros setores,
como os sociais, os educacionais e também na área da saúde.

ASSIMILE

É possível notar, em diferentes períodos no decorrer da história, a utilização


de dados estatísticos para nortear a administração pública. Durante o
Renascimento, por exemplo, vemos o reconhecimento da importância da
estatística principalmente a partir do episódio em que a Igreja Católica
Romana, na Itália, torna compulsório os registros de batismo, casamento e
óbito a partir do Concílio de Trento entre 1545 a 1563. Esses dados foram
preservados pela Igreja e pelo Estado e encontram-se disponíveis para
consulta até os dias de hoje.

A palavra “estatística” deriva da palavra latina status, que, originalmente, era


compreendida como “informações úteis ao Estado”, ou seja, as questões
relacionadas à composição demográfica, aos recursos, às taxações, etc. Pode-se
conceituar estatística, então, como a ciência que coleta, organiza e analisa dados
quantitativos, de forma que seja possível julgá-los ou interpretá-los racionalmente.

Essa ciência se correlaciona com todas as áreas do conhecimento e tem como


função principal auxiliar o método científico em diversas fases, desde a coleta até a
interpretação e a estimação de parâmetros populacionais.

ASSIMILE

Podemos compreender, ainda, a estatística como a ciência da significação e


uso dos dados, pois, como nenhuma outra ciência, transita em todas as
áreas do conhecimento e serve como um dos principais instrumentos da
pesquisa científica. A partir dela torna-se possível pegar um conjunto de
dados para transformar em informações que podem ser comparadas com
outros resultados ou que podem ser julgadas quanto à adequação a teorias
e hipóteses.
CONCEITOS EM ESTATÍSTICA
A estatística é, de maneira geral, fundamental à análise e à interpretação de dados
que apresentam variabilidade, bem como à elaboração de conclusões que servirão

0
para tomada de decisão e para elaboração de ações em diferentes áreas do

seõçatona reV
conhecimento. Podemos dividi-la em três áreas principais, conforme Figura 4.1.

Figura 4.1 | Principais áreas em estatística

Fonte: elaborada pelo autor.

Estatística descritiva: tem por objetivo sintetizar e descrever uma série de


dados de mesma natureza, permitindo uma visão geral sobre a variação desses
valores.

EXEMPLIFICANDO

A estatística descritiva permite organizar e descrever os dados por meio


de tabelas, gráficos e medidas descritivas. Por exemplo, descrever
características sociodemográficas de uma população, como idade, sexo,
etnia, altura, etc.

Probabilidade: teoria matemática que estuda a incerteza proveniente de


fenômenos de caráter aleatório. Ou seja, diz respeito à chance de que algo
ocorra, como a chance de obter cara ou coroa no lançamento de uma moeda
ou de que uma pessoa desenvolva determinada complicação ou doença em um
contexto.

Inferência estatística: ao contrário da estatística descritiva, ela faz afirmações


sobre características de uma população por meio da análise de uma amostra. É
amplamente utilizada em estudos epidemiológicos, pois torna viável
investigações de grandes populações.

Além de estatística, é importante conceituar também o termo bioestatística, que


nada mais é que a estatística aplicada a dados biológicos, seja de animais, seja de
seres humanos ou de outros seres vivos.
Agora que já sabemos o que, de fato, é estatística e alguns de seus
desdobramentos, faz-se imprescindível compreender alguns termos-chave
utilizados para seu estudo.

0
População: representa o conjunto de pessoas ou de coisas que têm uma
característica observável comum. Por exemplo, moradores da região Nordeste

seõçatona reV
do Brasil ou as árvores de determinada área. Podemos distinguir população
ainda em dois tipos: populações comuns e populações estatísticas.

As populações comuns contemplam a definição mais geral de “população”,


citada acima, enquanto que populações estatísticas não se referem a pessoas
ou a objetos de estudo, mas a características específicas desses elementos.

Amostra: representa um subconjunto da população, ou seja, são elementos da


população de interesse selecionados para determinada análise, já que estudar
todos os componentes de uma população nem sempre é viável ou possível.

Dados: são observações documentadas ou resultados de medições de


características de interesse. Exemplo: os dados podem ser sobre a altura dos
participantes e podem ser registrados em centímetros, por exemplo.

Variável: é toda característica que pode diferir ou variar de membro para


membro do estudo (os membros podem ser seres humanos, outros seres vivos
ou objetos). Por exemplo: a variável peso, altura, etnia e renda são
características que variam entre os componentes da amostra ou população.
Explicitaremos a seguir os principais tipos de variáveis.

TIPOS DE VARIÁVEIS
As variáveis são classificadas em dois grupos principais: as variáveis qualitativas e
as quantitativas.

Variáveis qualitativas: são também conhecidas como categóricas e representam


um atributo ou uma qualidade do participante da pesquisa. Apresentam-se em
dois grupos:

Nominal: para essas variáveis não existe uma ordenação por valores
quantitativos, mas são definidas por categorias que classificam o indivíduo com
determinada característica.

Exemplos: sexo, etnia, orientação sexual, tipo sanguíneo, causa da morte, tipo
de doença.

Ordinal: nesses casos há ordenação ou diferentes graus nos possíveis


resultados.

Exemplos: classe social (A, B, C,...), grau de escolaridade (ensino básico,


fundamental, superior, pós-graduação), intensidade de dor (nenhuma, leve,
moderada, forte).

Variáveis quantitativas: apresentam valores que podem ser exprimidos por


números. Dividem-se em dois grupos:

Discreta: os possíveis valores se apresentam como um conjunto finito ou


enumerável. Não estão relacionados a uma escala de medida específica.
Exemplo: número de habitantes, número de filhos, número de células em uma
cultura de laboratório.

Contínua: assume valores que, frequentemente, formam um intervalo de

0
números reais resultantes de uma mensuração.

seõçatona reV
Exemplo: altura dos brasileiros (em centímetros), peso de idosos diabéticos (em
quilogramas), valores de pressão arterial de um grupo (em milímetros de
mercúrio – mmHg), distância entre dois países (em quilômetros).

ASSIMILE

Podemos sintetizar essa explicação com o esquema da Figura 4.2.

Figura 4.2 | Tipos de variáveis

Fonte: elaborada pelo autor.

TIPOS DE ESCALAS DE MEDIDAS


Quando medimos alguma variável, automaticamente atribuímos a ela números,
termos, letras ou símbolos que a caracterizam por meio de diferentes escalas. Por
exemplo, utilizamos centímetros (cm) quando medimos a circunferência abdominal
de indivíduos ou mililitros (ml) para determinarmos a quantidade de uma droga
administrada.

As escalas se dividem em quatro tipos principais: nominal, ordinal, intervalar e


proporcional (ou razão).

Escala nominal: é o tipo mais básico entre as escalas e é meramente


classificativa, sem nenhuma informação relacionada a valor ou à quantidade. A
comparação, nesse caso, é feita entre o que é “semelhante” ou “divergente”.
Além disso, não há como estabelecer o conceito de maior ou menor. Por
exemplo: classificar em sexo masculino ou sexo feminino.

Escala ordinal: também classificativa, como a nominal, porém, nesse caso, há


como diferenciar o que é “menor”, o que é “menor” ou “crescente” e o que é
“decrescente”, ou seja, há diferentes classes que se organizam em diferentes
graus de acordo com critérios estabelecidos. Por exemplo: estadiamento do
câncer de grau I a IV.

Escala intervalar: é uma forma quantitativa de registrar a intensidade de


determinado fenômeno medido. Utilizam-se os termos “quanto mais” e “quanto
menos”. Para essas escalas determina-se um ponto zero arbitrário (não
verdadeiro) e a aferição ocorre definindo-se a unidade de medida e
comparando o “ponto zero” com um segundo valor conhecido. 

0
É importante considerar que o ponto zero na escala não significa
necessariamente ausência da característica. Por exemplo: a escala de

seõçatona reV
temperatura é determinada em Celsius, na qual zero é o ponto de
congelamento da água e 100 é o ponto de ebulição. No entanto, não podemos
dizer que não há temperatura a zero graus, já que o zero nesse caso é também
uma temperatura, que pode inclusive cair para valores negativos (-1, -2 graus). 

Escala de proporcionalidade ou razões: é considerada a mais sofisticada


entre as escalas, pois nela há um zero absoluto (verdadeiro), o qual é
representado pela total ausência de uma característica ou de uma propriedade.
Por exemplo: o peso de um corpo é um ponto de referência natural, em que
zero representa, de fato, a ausência da característica peso, e o valor 2kg é, de
fato, duas vezes maior do que o valor “1”, o que assegura as propriedades
matemáticas e torna possível quantificar exatamente as diferenças entre as
medições, ao contrário do exemplo da temperatura da água, no qual o zero
havia sido estabelecido de maneira arbitrária (temperatura de congelamento
da água).

TIPOS DE AMOSTRAGEM
É muito frequente que, em estudos de diversas áreas do conhecimento, seja
inviável ou impossível acessar todos os indivíduos ou componentes de uma
população. Por isso, como já descrito anteriormente nesta seção, seleciona-se uma
porção dessa população, que é denominada amostra. Essa amostra deve ser
suficiente para expressar as características de toda a população de interesse, logo
podemos entender que o termo “amostragem” diz respeito ao ato de analisar uma
pequena parte de um grande grupo a fim de aprender mais sobre esse grupo
maior.

A Figura 4.3 lista os motivos que levam à utilização das técnicas de amostragem em
estudos científicos.

Figura 4.3 | Motivos para a utilização de técnicas de amostragem


Fonte: elaborada pelo autor.

Quanto ao tipo de amostragem, podemos dividir em dois tipos principais:

Não probabilística: não se conhece a probabilidade de cada unidade amostral

0
pertencer à amostra, cuja seleção depende do julgamento do pesquisador. Há

seõçatona reV
três tipos de amostragem não probabilística:
Amostragem por conveniência: os participantes são selecionados pela
facilidade de acesso a eles. É menos rigoroso se comparado aos demais
métodos. Exemplo: um repórter entrevista pessoas que transitam na rua no
momento.

Amostragem intencional: como o próprio nome já diz, a amostra é escolhida


propositalmente, o que exige um conhecimento prévio do subgrupo
selecionado e da característica que se quer analisar/observar.

Amostragem por cotas: é a que, dentre as amostragens não probabilísticas,


possui maior rigor. Nesse método, inicialmente a população é classificada e,
em seguida, determina-se a proporção entre as diferentes classes, e as
cotas são fixadas tendo em vista a proporção delas. É utilizada em pesquisa
eleitoral e de mercado.

É importante considerar que, nesse tipo de amostragem, não há igual


probabilidade, entre os elementos da população, de que serão selecionados, logo
não há garantia de representatividade da população.

Probabilística: cada unidade amostral tem a mesma probabilidade de pertencer


à amostra, sendo utilizada alguma forma de sorteio (aleatorização) para se
determinar a amostra. Dividem-se em quatro tipos principais:
Amostragem aleatória simples: nesse processo, todos os elementos da
população têm igual probabilidade de serem incluídos na amostra, sendo
indicado para populações homogêneas, ou seja, com características
semelhantes, sem grandes variações entre os elementos. Para tal, rotulam-
se todos os componentes da população e um sorteio é realizado para saber
quais farão parte da amostra.

Amostragem sistemática: ocorre quando os elementos da população estão


dispostos de maneira organizada, como em filas, em listas, entre outras
formas, e quando se tem um ponto de partida para selecionar, a cada
número específico de integrantes, um elemento. Exemplo: em uma fábrica,
a cada 100 seringas produzidas uma é retirada para inspeção de qualidade,
compondo, assim, a amostra da população total de seringas produzidas.

Amostragem estratificada: nesse tipo de amostragem, divide-se a


população em estratos (subgrupos) homogêneos, cujos critérios podem ser
idade, sexo, renda, entre outras características. Quanto à forma de seleção
da amostra, poderá ainda ser:
Uniforme: o mesmo número de participantes é sorteado entre os
diferentes estratos.
Proporcional: nesse caso os estratos deverão ser proporcionais ao que
existe na população.

Ótima: nesse caso o tamanho das camadas é definido em proporção ao

0
desvio-padrão das variáveis estudadas, a fim de representar melhor a
população.

seõçatona reV
Amostragem por conglomerados: a população é dividida em
conglomerados ou clusters, sendo que, aleatoriamente, um conjunto de
conglomerados é selecionado como representativo da população.

REFLITA

Qual seria a importância dos estudos estatísticos em processos que


vivenciamos atualmente, por exemplo a pandemia de Covid-19? Você
poderia expor sua opinião de como os estudos estatísticos pouco
criteriosos e equivocados metodologicamente poderiam nos afetar neste
momento?

É imprescindível ressaltar a importância de selecionar os componentes que


realmente expressem a característica que se quer estudar para a composição da
amostra, além de assegurar que a amostra não é tendenciosa. Por exemplo, uma
pesquisa que objetiva saber qual é o estilo musical favorito da população brasileira
não pode ser realizada na fila de um show de rock, afinal a maioria esmagadora
escolheria esse estilo musical como seu favorito, o que não necessariamente
refletiria o gosto da população como um todo. Por fim, pode-se dizer que um dos
principais cuidados com a amostra diz respeito a seu tamanho, que deve ser
adequado. Para saber o tamanho amostral ideal, é preciso determinar o número
mínimo de participantes por meio de cálculos específicos. Atualmente há diversos
sites que disponibilizam gratuitamente ferramentas para calcular tamanho
amostral. 

Agora que você já conhece os principais conceitos de estatística e de bioestatística,


é importante correlacioná-los com o que foi apresentado no decorrer da disciplina
de Saúde Pública. Conhecer as bases da bioestatística é fundamental para a prática
profissional na área da saúde como um todo. Até a próxima seção!

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
A estatística é fundamental à análise e à interpretação de dados que apresentam
variabilidade, bem como à elaboração de conclusões que servirão para a tomada
de decisão e para a elaboração de ações em diferentes áreas do conhecimento.

Tendo em vista os principais termos utilizados em estatística e em bioestatística,


assinale a alternativa correta.

a.  Variável é toda característica que pode diferir ou variar de membro para membro do estudo (os membros
podem ser seres humanos, outros seres vivos ou objetos).

b.  Dado é representado pelo conjunto de pessoas ou de coisas que têm uma característica observável
comum.

c.  População é representada por um subconjunto, ou seja, são elementos de interesse que são selecionados
para uma determinada análise.
d.  Amostras são observações documentadas ou resultado de medições de características de interesse.

e.  População e amostra são palavras sinônimas, não havendo distinção entre seus significados, e indicam o
universo de participantes de uma pesquisa. 

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Questão 2

seõçatona reV
Os componentes que caracterizam uma população e que podem variar entre os
elementos pertencentes a um grupo são denominados variáveis. O conhecimento
e o controle dessas variáveis em uma investigação são importantes para o alcance
de resultados fidedignos.

Com respeito aos tipos de variáveis, assinale a alternativa correta:

a.  Variável qualitativa ordinal é definida por categorias que classificam o indivíduo com determinada
característica.

b.  Variável qualitativa nominal possui como característica uma ordenação, por vezes em diferentes graus,
nos possíveis resultados.

c.  Variáveis qualitativas são também conhecidas como categóricas e representam um atributo ou qualidade
do participante da pesquisa.

d.  Variáveis quantitativas contínuas se apresentam como um conjunto finito ou enumerável e não estão
relacionadas a uma escala de medida específica.

e.  Variáveis quantitativas discretas assumem valores que, frequentemente, formam um intervalo de


números reais resultantes de uma mensuração.

Questão 3
A análise de grandes populações torna inviável a maioria das investigações
populacionais em diversas áreas do conhecimento. Para que essas análises se
tornem possíveis, seleciona-se uma porção dessa população, denominada
amostra, a qual deve ser suficiente para expressar as características de toda a
população de interesse. Logo, pode-se entender que o termo “amostragem” diz
respeito ao ato de analisar uma pequena parte de um grande grupo para que se
aprenda mais sobre ele. Considerando as informações apresentadas, analise as
afirmativas a seguir:

I. Na amostragem aleatória simples, todos os elementos da população têm igual


probabilidade de serem incluídos na amostra por meio de sorteio. É indicada
para populações heterogêneas, ou seja, com diferentes caraterísticas.

II. A amostragem sistemática ocorre quando os elementos da população estão


dispostos de maneira organizada, como em filas e em listas, e quando se tem
um ponto de partida para selecionar, a cada número específico de integrantes,
um elemento.

III. Na amostragem por conglomerados, a população é dividida em conglomerados


ou em clusters, sendo que os pesquisadores escolhem, após análise criteriosa,
um conjunto de conglomerados para ser representativo da população.

Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:

a.  I, apenas.

b.  II, apenas.

c.  I e II, apenas.


d.  II e III, apenas.

e.  I, II e III. 

REFERÊNCIAS

0
ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia sem números: introdução crítica à ciência

seõçatona reV
epidemiológica. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1989.

BARRETO, M. L. A. Epidemiologia, sua história e crises: notas para pensar o futuro.


In: COSTA, D. C. Epidemiologia: teoria e objeto. São Paulo: Hucitec-Abrasco, 1990.

BUSSAB, W. O.; MORETTIN, P. A. Estatística básica. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
E-book. 

CALLEGARI-JAQUES, S. M. Bioestatística: princípios e aplicações. Porto Alegre:


Artmed, 2007. E-book. 

MAGALHÃES, M. N.; LIMA, A. C.P. Noções de Probabilidade e Estatística. São


Paulo: EDUSP, 2008.

STIGLER, S. M. The history of statistics: the measurement of uncertainty before


1900. Cambridge: Harvard University Press, 1986.

VIRGILLITO, S. B. Estatística aplicada. São Paulo: Saraiva, 2017. E-book.

ZWARCWALD, C. L.; CASTILHO, E. A. Os caminhos da estatística e suas incursões


pela epidemiologia. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 5-21, 1992.
Disponível em: https://bit.ly/3cCrUOS. Acesso em: 4 jan. 2021.
I

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


NOÇÕES BÁSICAS DE ESTATÍSTICA

0
Caio Luisi

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.
Áudio disponível no material digital.

SEM MEDO DE ERRAR


Em nossa situação-problema, analisávamos a vivência de um grupo de
pesquisadores que estava desenvolvendo um estudo sobre a presença de doenças
crônicas em trabalhadores da indústria têxtil de uma cidade do Sudeste do Brasil.
Após dois meses de apreciação pelo Comitê de Ética em pesquisa, o estudo
retornou com adequações a serem feitas na metodologia, precisamente na parte
de amostragem.

Ao analisarmos essa situação, precisamos ter em mente que não há apenas uma
resposta correta, porém algumas questões importantes serão apresentadas aqui.

Deve-se levar em consideração que o objetivo era avaliar a presença de doenças


crônicas em trabalhadores da indústria têxtil local. Logo, a população são todos os
trabalhadores dessa indústria.

Como seria inviável entrevistar todos os funcionários, os pesquisadores optaram


por selecionar uma amostra. Entretanto, essa amostra foi feita por conveniência e
em apenas uma fábrica de oito existentes.

É importante considerar que, para a amostra representar todas as características


da população, deve-se sortear os participantes entre as oito fábricas (caso seja
possível). Quando há aleatorização, todos os elementos do grupo têm igual
possibilidade de integrar a amostra, logo a chance de erro amostral é menor. 

Outro ponto importante é que não foi feito cálculo amostral, fator que enfraquece
o estudo metodologicamente. 
O desejável seria coletar dados no maior número de fábricas possível, desde que
houvesse autorização, e sortear, de maneira proporcional, os participantes entre
elas, afinal as realidades e condições de trabalho podem variar bastante de um
lugar para outro.

0
seõçatona reV
AVANÇANDO NA PRÁTICA
UM CASO RARO
Um grupo de pesquisadores pretende estudar a qualidade de vida de pessoas com
Lúpus Eritematoso (doença autoimune) num município com cerca de 10 mil
habitantes. Decidem fazer um estudo descritivo exploratório nas Unidades de
Saúde e, por medo de não obterem uma amostra de qualidade, decidem que
sortearão a amostra com base no número total de usuários cadastrados. Um dos
chefes do departamento, no entanto, atenta para um erro metodológico
importante nesse aspecto e desafia os jovens pesquisadores a descrevê-lo. E,
então, prezado estudante, quais os erros metodológicos dessa amostragem?

RESOLUÇÃO 

Uma das possíveis respostas diz respeito ao fato de que Lúpus não é uma
doença tão comum, de modo que os pesquisadores erraram ao admitir que
sua população eram todos os indivíduos cadastrados na Unidade de Saúde
quando, na verdade, deveriam ser os usuários, com diagnóstico médico prévio
de Lúpus, cadastrados nas unidades.

Como vimos nos conteúdos da seção, é importante saber a característica ou


variável que se quer investigar. Neste caso, a qualidade de vida a ser avaliada é
a das pessoas que têm a doença, por isso seria errôneo dar a possibilidade de
participar às pessoas que não expressam essa característica (Lúpus).
NÃO PODE FALTAR I

ESTATÍSTICA DESCRITIVA E GRÁFICOS

0
Caio Luisi

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.
Áudio disponível no material digital.

PRATICAR PARA APRENDER


Prezados estudantes, daremos início agora à segunda seção desta unidade. Nela
aprofundaremos nossos conhecimentos sobre as diferentes formas de se
representar um conjunto de dados por meio das medidas de posição as quais
permitem identificar um valor que melhor o representa.

Iniciaremos a seção abordando, de maneira mais aprofundada, a estatística


descritiva, cujo principal objetivo é analisar as características dos dados da etapa
inicial e que permite avançar para análises mais aprofundadas com outras
abordagens estatísticas.

Trataremos também das medidas de posição: média, mediana e moda. As


definições e cálculos serão apresentados de forma a explicitar a importância
dessas medidas para melhor representação dos dados.

Outro ponto a ser abordado é o cálculo do desvio médio, que permite identificar a
distância média que todos os elementos de um conjunto se encontram do ponto
médio da série. Esse cálculo introduz as medidas de dispersão que serão tratadas
na próxima seção da unidade. 

Por fim, estudaremos os conceitos de frequência e encerraremos a seção tratando


de gráficos e tabelas, desde suas principais características até seus tipos e sua
pertinência frente ao tipo de variável.

Todos os temas serão apresentados com diversos exemplos e serão


contextualizados para melhor compreensão e aplicação da estatística na prática
profissional.
Considerando os conteúdos a serem apresentados nesta seção, vamos novamente
acompanhar um grupo de pesquisadores que deseja realizar um estudo sobre a
presença de doenças crônicas em trabalhadores da indústria têxtil de uma cidade
do Sudeste do Brasil.

0
A essa altura, o grupo de pesquisadores já obteve a autorização do Comitê de Ética

seõçatona reV
em Pesquisa, coletou todos os dados e agora está na fase de análise final e de
construção dos resultados. Ao terminarem de escrever os resultados preliminares,
os estudiosos decidem rever as tabelas e gráficos e se deparam com o gráfico a
seguir.

Figura 4.4 | Gráfico das doenças referidas por participantes da pesquisa no munícipio

Fonte: elaborada pelo autor.

Você, como membro integrante do grupo de pesquisa, como modificaria o gráfico


acima? Qual a melhor maneira de se apresentar as informações das doenças
referidas pelos participantes do estudo?

Bioestatística é uma ciência que está presente em várias outras ciências e presta
uma contribuição imensurável para a sociedade. Conhecer suas bases fará com
que seja um profissional de excelência e que, acima de tudo, faça a diferença por
onde passe.

CONCEITO-CHAVE
ESTATÍSTICA DESCRITIVA
Ainda que com diferentes finalidades, a coleta de dados de natureza estatística
ocorre em todas as áreas do conhecimento e atualmente está mais facilitada,
sobretudo devido ao surgimento de diversos softwares para armazenamento e
para análise de dados.

Observar extensos agrupamentos de dados com diversas características a serem


analisadas não possibilita obter conclusões sensatas sobre nenhum assunto.
Nesse sentido, uma análise que descreva inicialmente as características gerais é
essencial.
A estatística descritiva é a análise inicial mais básica dos dados coletados. É a partir
dessa técnica que é possível organizar, sintetizar, descrever ou mesmo comparar,
entre os grupos, os principais aspectos dos dados coletados. Os resultados dessa
análise descritiva podem ser apresentados em gráficos, tabelas, porcentagens,

0
médias e índices.

seõçatona reV
A estatística descritiva vai muito além dos estudos científicos e está presente em
muito do que consumimos socialmente, como em jornais, em revistas e em outras
mídias sociais.

EXEMPLIFICANDO

Embora nem sempre percebamos, a estatística faz parte do nosso dia a dia.
Por exemplo: ao ler alguma reportagem sobre a alta nos preços de
alimentos, no ano de 2020, causada pela pandemia de Covid-19, é comum
medirmos esse aumento em porcentagem, como no caso do arroz, que
acumulou uma alta de 76% em seu valor durante o ano.

Outro exemplo ainda mais simples são as estatísticas de esportes, como o


futebol, segundo as quais é possível ver o percentual de posse de bola
entre os times durante a partida.

MEDIDAS DE POSIÇÃO
Como já vimos, a estatística descritiva otimiza a interpretação de um ou mais
conjuntos de dados e permite uma análise mais completa das características
observadas, seja por meio de números percentuais, seja por meio de gráficos,
tabelas, etc. Entretanto, é possível resumi-los ainda mais e encontrar valores que
representam uma série inteira de dados que se quer analisar. Esses valores ainda
mais resumidos são capazes de caracterizar a tendência central dos dados e de
sua dispersão.

As medidas de posição ou de tendência central mostram um valor representativo,


ou seja, sintetizam os dados de um valor em torno do qual os dados do conjunto
observável se distribuem. 

Podemos dividir as medidas de posição em:

MÉDIA
A média aritmética nada mais é que a resultante da somatória de todos os
elementos do conjunto dividida pela soma do número total de elementos.
ções da amostra
Soma de todas as observa

Média X̄ =  Tamanho da amostra

Sendo  , o símbolo que representa média.


¯
X

Por exemplo: para saber a média aritmética da temperatura na última semana,


deve-se somar as temperaturas de cada dia e dividir a soma pelo número de dias.
Para fins didáticos, observe o Quadro 4.1 que apresenta os dados sobre a
temperatura em cada um dos dias de uma semana.

Quadro 4.1| Temperaturas de acordo com os dias de uma semana


Dia Temperatura

1 27ºC

0
2 28ºC

seõçatona reV
3 30ºC

4 29ºC

5 25ºC

6 23ºC

7 17ºC

Fonte: elaborado pelo autor.

Devemos então aplicar os valores do quadro na fórmula:


27+28+30+29+25+23+17
= 25,57 C º
Média X̄ =  7

Logo, podemos concluir que a média de temperatura dessa semana foi de


aproximadamente 25,6ºC.

ASSIMILE

Há também a média ponderada, cuja principal diferença em relação à


média aritmética é que aquela leva em consideração o peso de cada um
dos termos, enquanto que nesta todos os termos possuem o mesmo peso.

Fórmula da média ponderada:


ó
Somat rio das multiplicações entre valores e pesos

Média Ponderada =  ó
Somat rio dos pesos

Exemplo: em um cálculo da média ponderada das notas de uma prova,


deve-se somar as multiplicações entre valores e pesos e dividir pela soma
dos pesos.

O Quadro 4.2 apresenta os dados referentes à nota da prova e o número


de alunos que atingiram cada um dos valores.

Quadro 4.2 | Número de alunos e notas da prova

Número de Alunos Notas

4 10,0

2 8,5

3 6,0

3 5,0

Fonte: elaborado pelo autor.


Média Ponderada =  =  =  = 7,5
(10x4)+(8,5x2)+(6x3)+(5x3) 40+17+18+15 90

4+2+3+3 12 12

MEDIANA
A mediana representa o “valor do meio” ou a posição central de um conjunto de

0
dados. Para que que esse valor seja encontrado, os dados devem estar

seõçatona reV
organizados em ordem crescente ou decrescente. 

Em conjuntos com número ímpar de dados, a mediana será representada pelo


valor que estiver ocupando o meio da série. Já em conjuntos com número par de
dados, o valor da mediana corresponderá à média aritmética dos dois valores
centrais.

Exemplo de conjunto de dados com número ímpar de componentes:

Em um conjunto de dados sobre a temperatura em treze dias diferentes, o valor da


mediana será representado pelo número que se encontrar exatamente no meio do
conjunto. Em nosso exemplo no Quadro 4.3, os dados já estão organizados em
ordem crescente.

Quadro 4.3 | Valores de temperatura

Dia Temperatura

1 21ºC

2 22ºC

3 23ºC

4 24ºC

5 25ºC

6 26ºC

7 27ºC

8 28ºC

9 29ºC

10 30ºC

11 31ºC

12 32ºC

13 33ºC

Fonte: elaborado pelo autor.

O conjunto de dados é (21; 22; 23; 24; 25; 26; 27; 28; 29; 30; 31; 32; 33).

O dado que ocupa exatamente a posição central do conjunto é 27. Logo, ele
representa a mediana desse conjunto.
Para um conjunto com número par de elementos, devemos encontrar a média
aritmética simples dos dois valores centrais.

Exemplo: conjunto de dados: (4; 8; 9; 12; 5; 7).

0
Inicialmente organizamos os dados em ordem: (4; 5; 7; 8; 9; 12).

seõçatona reV
Identificamos os dois valores centrais: (4; 5; 7; 8; 9; 12). Nesse caso, os valores 7 e 8
devem ser somados e divididos por dois. A mediana será (7 + 8) / 2 = 7,5.

ASSIMILE

Passo a passo para encontrar a mediana em um conjunto de dados:

1. Organize os dados em ordem crescente ou decrescente.

2. Verifique se é um conjunto com número par ou ímpar de elementos.

3. Caso seja um conjunto com número ímpar de elementos, a mediana


será o seu valor central.

4. Caso seja um conjunto com número par de elementos, deve-se fazer a


média aritmética dos dois valores centrais e dividir a soma por dois para
encontrar a mediana do conjunto.

MODA
A moda é representada pelo valor mais frequente em um conjunto de dados. Esse
valor pode ser identificado observando-se a série de dados que se pretende
analisar.

Exemplo:

Conjunto de dados: (2,3; 1,8; 4,5; 8; 12; 7; 1,8; 3,5; 1,8). Ao analisarmos o conjunto
de dados, é possível observar que 1,8 é o elemento mais frequente, logo, para essa
série de dados, há apenas uma moda (1,8). Esse conjunto de dados é, portanto,
unimodal.

Quando existem duas modas, o conjunto será bimodal.

Exemplo: (2,3; 1,8; 4,5; 8; 12; 7; 1,8; 3,5; 2,3). Nesse caso há duas modas 2,3 e 1,8, e
o conjunto é bimodal.

O conjunto pode ainda ser classificado como multimodal quando possuir mais de
duas modas.

Exemplo: (2,3; 1,8; 3,5; 8; 12; 7; 1,8; 3,5; 2,3). As modas do conjunto são 2,3; 1;8 e
3,5, logo dizemos que ele é multimodal. 

Há ainda a possibilidade de a série de dados não ter nenhum elemento que se


repita, nesse caso diremos que é amodal.

DESVIO MÉDIO
Pode ser definido como a média das distâncias dos valores do conjunto em relação
à média.

Fórmula do desvio médio:


¯
X =
¯
¯
¯
x1 −X + x2−X +...+ xn−X

= = 3
Dam =

Logo, a média é igual a 3.

2º passo: aplicar os valores à fórmula.

Desvio Médio (Dam) = 

3º passo: calcular o desvio médio.

Desvio Médio (Dam) = 


6
∣ n

Os valores x1,x2,... xn representam cada um dos elementos do conjunto e, como já


sabemos, X̄  representa a média. Por fim, “n” representa o número total de
elementos. Logo, o desvio médio é igual (=) a cada um dos elementos do conjunto
menos (-) a média aritmética do conjunto de dados em módulo somados, dividido
pelo número total de elementos do conjunto.

É importante considerar, ainda, que os elementos devem ser calculados em


módulo ou valor absoluto de um número real, que representa a distância desse
número em relação à origem, já que o objetivo, nesse caso, é conhecer a distância
em que cada elemento do conjunto se encontra da média. Portanto, o cálculo em
módulo desconsidera o sinal, por exemplo, - 3 e + 3 estão à mesma distância do
número zero, de modo que essa distância será sempre positiva.

Para melhor compreensão, vejamos o exemplo a seguir:

Levemos em consideração o seguinte conjunto: (-7; 4; 0; 3; 8; 10).

Para reconhecermos os valores na fórmula, notamos que x1 é igual ao primeiro


elemento do conjunto (-7) e assim sucessivamente. Como “n” representa a
quantidade de elementos no conjunto, nesse caso temos seis elementos.

Para a resolução do problema, seguimos o seguinte passo a passo:

1º passo: encontrar a média do conjunto. Para isso, é necessário somar todos os


elementos e dividir a soma pelo número total de elementos do conjunto.
−7+4+0+3+8+10 18

10+1+3+0+5+7

Distribuição de frequências, gráficos e tabelas


6
6

[|−7−3|+|4−3|+|0−3|+|3−3|+|8−3|+|10−3|]

Desvio Médio (Dam) = 


6

[|−10|+|1|+|−3|+|0|+|5|+|7|]

Como os números estão em módulos, os negativos ficarão positivos.

=  26

Logo, podemos dizer que o desvio médio para essa série de dados é 4,33.
=

= 4,33

Frequência absoluta: é o número de vezes que um evento ocorre em uma série


de dados, ou seja, é a frequência com que determinado dado aparece num
conjunto.

Frequência relativa: é o quociente entre a frequência absoluta e o tamanho da


amostra.

Frequência percentual: é resultante da multiplicação da frequência relativa por


100.
=

0
seõçatona reV
Frequência acumulada: é o total acumulado da soma de todas as classes
anteriores até a classe atual.

EXEMPLIFICANDO

0
Em um conjunto de dados:

seõçatona reV
(8; 10; 15; 18; 15; 20; 22; 12; 11; 9; 15; 100; 13; 3; 1; 82; 87; 99)

A frequência absoluta do elemento “15” será 3, pois ele ocorre três


vezes no conjunto.

A frequência relativa do elemento “15” poderá ser calculada tomando-se


como base a frequência absoluta (nesse caso 3), dividida pelo número
total de observações do conjunto (= 18 elementos). 3/18 = 0,17.

A frequência percentual deverá ser calculada a partir da frequência


relativa (0,17) multiplicada por 100, o que, nesse caso, seria 17%.

Para que os dados sejam melhor representados utilizamos instrumentos como


tabelas e gráficos.

As tabelas têm por objetivo apresentar dados agrupados a fim de simplificar sua
compreensão. Recomenda-se que a tabela:

Tenha descrições suficientes a fim de que não haja necessidade de consulta ao


texto para sua compreensão.

Esteja disposta de forma simples e objetiva, contendo somente os dados


necessários.

Apresente ordenação lógica dos dados.

Os gráficos são também representações ilustrativas que servem para organizar e


apresentar, de maneira mais clara e objetiva, os dados. Deve ser composto por
título, subtítulo, fonte e eixos vertical (y) e horizontal (x), que podem ser visíveis ou
não.

Como já estudamos na seção anterior, os dados podem ser de diferentes


naturezas (quantitativos e qualitativos) e, dessa forma, é necessário estudar as
principais ferramentas utilizadas para melhor organizá-los e apresentá-los. Veja a
seguir a partir de gráficos e tabelas.

Exemplo de tabela:

Com o intuito de verificar a variável sexo numa população de 97 estudantes, seria


mais viável apresentar as categorias masculino e feminino numa linha, conforme
mostra a Tabela 4.1.

Tabela 4.1 | Distribuição dos estudantes segundo o sexo

Sexo  Frequência absoluta Frequência relativa (%)

Feminino 35 36,1

Masculino 62 63,9
Sexo  Frequência absoluta Frequência relativa (%)

Total 97 100

Fonte: elaborada pelo autor.

0
seõçatona reV
Utilizando ainda o mesmo exemplo da variável “sexo”, a informação da tabela pode
também ser representada em gráfico. Apresentaremos dois exemplos de gráficos
para a apresentação de variáveis qualitativas: o gráfico setorial, popularmente
conhecido como “pizza”, e o gráfico de coluna.

Gráficos setoriais: são utilizados para mostrar a importância relativa das


proporções. Geralmente usam porcentagens.

Figura 4.5 | Exemplo de gráfico setorial

Fonte: elaborada pelo autor.

Gráficos de coluna: podem ilustrar comparações entre itens ou até demonstrar


alterações de dados em determinado período.

Figura 4.6 | Exemplo de gráfico de colunas

Fonte: elaborada pelo autor.


Gráficos em linha: representam observações feitas ao longo de um período e
demonstram o comportamento de determinado fenômeno e suas tendências.
Temos como exemplo o gráfico a seguir do Ministério da Saúde (Figura 4.7).

0
Figura 4.7 | Gráfico em linha dos casos acumulados de COVID-19 por data de notificação

seõçatona reV
Fonte: Covid-Saúde (2021, [s. p.]).

Há ainda os histogramas, que são um conjunto de retângulos com bases sobre um


eixo horizontal, divididos de acordo com o tamanho das classes polígono de
frequências, polígonos de frequências acumuladas percentuais, entre outros.

REFLITA

É imprescindível compreender as bases e os conceitos iniciais da estatística,


pois conhecer os dados e os tipos de variáveis analisadas possibilita
escolher o tipo mais adequado de apresentação, seja por tabelas ou
diferentes gráficos, seja pela apresentação da informação de maneira
descritiva. Dentro do contexto da saúde pública, por quais motivos essas
ferramentas denotam tal importância?

Chegamos ao fim de mais uma seção e agora você já conhece algumas formas
possíveis de sintetizar séries de dados para melhor apresentá-los e interpretá-los.
Isso é essencial em qualquer pesquisa e faz parte do cotidiano de muitos
profissionais da área da saúde. Por isso, é imprescindível que tente aplicar esses
conhecimentos, tendo como base todo conteúdo já visto até aqui.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
A estatística descritiva permite otimizar a interpretação de um conjunto de dados e
analisar, com maior precisão, suas características. É possível resumir ainda mais
esses dados e encontrar um valor que represente a série inteira deles. Para isso
servem as medidas de posição ou de tendência central.

Com relação às medidas de posição, assinale a alternativa correta:

a.  A média é representada pelo valor mais frequente em um conjunto de dados. Esse valor pode ser
identificado observando-se a série de dados que se pretende analisar.

b.  A mediana nada mais é que a resultante da somatória de todos os elementos do conjunto dividido pela
soma do número total de elementos.

c.  Para conjunto com número par de elementos, devemos encontrar a média aritmética simples dos dois
valores centrais para obtenção da mediana.
d.  A moda representa o “valor do meio” ou a posição central de um conjunto de dados, podendo ser
amodal, unimodal, bimodal ou multimodal.

e.  Em conjuntos com número ímpar de dados, a mediana será representada pelo valor da soma dos dois
elementos centrais da série dividida por dois.

0
Questão 2

seõçatona reV
Dentre as medidas de dispersão, o desvio médio pode ser definido como a média
das distâncias dos valores do conjunto em relação à média. Seu cálculo é baseado
em uma fórmula que leva em consideração variáveis como a média aritmética do
conjunto e o número de elementos nele existentes.

Com relação ao cálculo de desvio médio, é correto afirmar que:

a.  Faz parte da fórmula a soma entre cada um dos elementos e a média do conjunto.

b.  Os elementos devem ser calculados em módulo, pois não existe distância negativa.

c.  É necessário calcular a média do conjunto de dados para aplicar na fórmula.

d.  Tem por finalidade identificar a distância entre os elementos da série de dados.

e.  É necessário calcular a mediana da série de dados para aplicar na fórmula.

Questão 3
Para que os dados sejam mais bem representados e sintetizados, instrumentos
como tabelas e gráficos são utilizados. Essas ferramentas têm por objetivo
apresentar dados agrupados e simplificar sua compreensão.

Com relação aos gráficos e tabelas, é correto afirmar que:

a.  A tabela deve ser composta por título, subtítulo, fonte e eixos vertical (y) e horizontal (x), que podem ser
visíveis ou não.

b.  A tabela deve estar suficientemente descrita, de modo que não seja necessária uma consulta ao texto
para sua compreensão.

c.  Os gráficos são representações ilustrativas que servem para organizar e apresentar os dados de maneira
integral e não resumida.

d.  O gráfico de coluna representa observações feitas ao longo de um período e demonstra o


comportamento de um determinado fenômeno e suas tendências.

e.  O gráfico em linha pode ilustrar comparações entre itens ou até mesmo demonstrar alterações de dados
num determinado período.

REFERÊNCIAS
BUSSAB, W. O.; MORETTIN, P. A. Estatística básica. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
E-book. 

CALLEGARI-JAQUES, S. M. Bioestatística: princípios e aplicações. Porto Alegre:


Artmed, 2007. E-book. 

CARVALHO, S.; CAMPOS, W. Estatística básica simplificada. Rio de Janeiro:


Juspodivm, 2016. 

COVID-SAÚDE. Painel Coronavírus. Coronavírus Brasil, Brasília, 2021. Disponível


em: https://bit.ly/3czvKbx. Acesso em: 26 jan. 2021.
FEIJOO, A. M. L. C. de. Medidas de tendência central. In: FEIJOO, A. M. L. C. de. A
pesquisa e a estatística na psicologia e na educação. Rio de Janeiro: Centro
Edelstein de Pesquisas Sociais, 2010. p. 14-22. Disponível em:
https://bit.ly/2RLTmSV. Acesso em: 10 jan. 2021.

0
FINKELMAN, J. Caminhos da saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ,

seõçatona reV
2002. Disponível em: https://bit.ly/3iAwKQn. Acesso em: 13 maio 2021.

MAGALHÃES, M. N.; LIMA, A. C. P. de. Noções de Probabilidade e Estatística. São


Paulo: EDUSP, 2008.

REIS, E. A., REIS I. A. Análise Descritiva de Dados. Relatório Técnico do


Departamento de Estatística da UFMG. Belo Horizonte: UFMG, 2002. Disponível em:
https://bit.ly/35aXcYP. Acesso em: 10 jan. 2021.
I

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


ESTATÍSTICA DESCRITIVA E GRÁFICOS

0
Caio Luisi

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.
Áudio disponível no material digital.

SEM MEDO DE ERRAR


Em nossa situação-problema, acompanhávamos um grupo de pesquisadores que
se deparou com um problema na apresentação dos dados de um estudo.

Os pesquisadores apresentaram, em gráfico tipo linha, os dados referentes às


doenças referidas pelos participantes da pesquisa.

O principal problema observado está na escolha do tipo de gráfico e no tipo de


variável que se queria apresentar, pois, como já vimos nos conteúdos desta seção,
os gráficos de linhas servem para apresentar o comportamento de um fenômeno
ao longo do tempo, bem como sua tendência.

A variável, no caso, é do tipo qualitativa, afinal são doenças referidas pelos


participantes. Tendo isso em vista, você, enquanto pesquisador, poderia sugerir,
então, um gráfico em barras para demonstrar essa variável ou poderia, até
mesmo, inseri-la em uma tabela junto a outros dados.

Figura 4.8 | Exemplo de gráfico pertinente


0
seõçatona reV
Fonte: elaborada pelo autor.

Lembre-se de que esta é uma das formas de solução para os questionamentos


levantados. A partir do que vimos nesta seção, você tem plenas condições de
realizar uma nova proposta, vá em frente!

AVANÇANDO NA PRÁTICA
PIZZA OU BARRA?
Agora acompanharemos um grupo de pesquisadores em saúde pública que
realizou um estudo sobre a presença de doenças crônicas em trabalhadores da
construção civil de uma cidade do Sudeste do Brasil. Vamos imaginar que os
pesquisadores utilizaram um gráfico setorial para realizar a apresentação das
doenças de base autorreferidas. Essa situação levou a uma discussão sobre os
dados do gráfico, e os pesquisadores ficaram em dúvidas durante a redação dos
resultados, já que perceberam que o mesmo indivíduo poderia apresentar duas ou
mais doenças de base. Por fim, resolveram que seria melhor refazer o gráfico.

Figura 4.9 | Gráfico gerado pelos pesquisadores

Fonte: elaborada pelo autor.

O que você, membro integrante do grupo de pesquisa, modificaria no gráfico


acima?
RESOLUÇÃO 

Nesta situação, os pesquisadores encontraram dificuldades com a


apresentação dos dados no gráfico tipo “pizza”, pois ele somava mais que

0
100%, ou seja, alguns participantes haviam referido ter mais de uma doença.
Assim sendo, utilizar esse formato não seria adequado.

seõçatona reV
A partir da observação do gráfico, não seria possível fazer algumas inferências
como “menos da metade dos participantes têm hipertensão arterial”, pois o
mesmo participante pode ter referido duas doenças ou mais. 

O gráfico de setores é utilizado principalmente para demonstrar proporções e,


nesse caso, realmente não é a melhor escolha.

Não há apenas uma forma de resolução para essa problemática, porém é


possível utilizar novamente o gráfico de barras com números absolutos, o que
já demonstraria muito bem a diferença entre os grupos de doenças.

Figura 4.10 | Possibilidade de novo gráfico para a apresentação dos resultados

E você, conseguiria pensar em mais alguma maneira para apresentar esses


dados? Há várias formas possíveis! Vamos lá!
NÃO PODE FALTAR I

PROBABILIDADE

0
Caio Luisi

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.
Áudio disponível no material digital.

PRATICAR PARA APRENDER


Caros estudantes, estamos iniciando a terceira e última seção da unidade de
bioestatística. Nela vamos aprofundar ainda mais nossos conhecimentos sobre as
medidas de dispersão e sobre a probabilidade, além de estudar sobre os principais
conceitos dos testes de hipótese.

Partiremos dos conhecimentos já adquiridos até aqui sobre estatística descritiva


dos dados e avançaremos no estudo da estatística inferencial, aquela que nos
permite tirar conclusões sobre características de uma população a partir de uma
amostra.

Assim, iniciaremos a seção apresentando o conceito e a aplicabilidade dos quartis,


demonstrados com exemplos para melhor compreensão. Adiante, trataremos das
medidas de dispersão: amplitude, variância, desvio padrão e coeficiente de
variação, conceitos fundamentais que nos permitem conhecer melhor um conjunto
de dados para além das medidas de posição já vistas até aqui. Outros pontos
abordados serão o cálculo de probabilidade básico e os conceitos sobre intervalo
de confiança. Por fim, os conceitos gerais de teste de hipótese e alguns dos
principais testes estatísticos utilizados pela área da saúde serão descritos.

Novamente, todos os assuntos serão amplamente exemplificados e


contextualizados para melhor compreensão e internalização. Bons estudos!

Tomando como base os conteúdos apresentados nesta seção, vamos imaginar


uma situação hipotética na qual um grupo de gestores e profissionais da saúde de
um município do Sudeste brasileiro se reúne para averiguar os resultados de
testes que avaliaram o conhecimento sobre medidas de prevenção contra a Covid-
19 em usuários idosos, com capacidade cognitiva preservada, de duas instituições
de longa permanência (instituições A e B).

0
Os integrantes desse grupo decidiram que a nota 6,0 seria a média considerada
desejável e obtiveram os seguintes resultados:

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Média das notas dos idosos da instituição A: 6,0

Média das notas dos Idosos da instituição B: 6,0

Os gestores e profissionais envolvidos ficaram satisfeitos com os resultados,


considerando o perfil da população, e atribuíram os resultados positivos a
programas de educação em saúde promovidos pelo município. Concluíram,
portanto, que as medidas educativas haviam sido suficientes e que não havia
necessidade de outras intervenções em nenhuma das instituições. Você,
profissional que acaba de se juntar à equipe, concorda com os demais membros
do grupo?

Para auxiliá-lo na decisão, estão adiante as notas de cada um dos idosos das duas
instituições.

Quadro 4.4 | Notas dos idosos nas duas instituições

Notas dos idosos da instituição A Notas dos idosos da instituição B

7 10

5 2

6 2,5

5,5 3

6,5 9,5

8 1,5

4 9

6 6,5

7 10

5 6

X̄  = 6 X̄  = 6

Fonte: elaborado pelo autor.

Estamos chegando ao final da unidade de bioestatística e você, futuro profissional,


estará pronto para utilizar mais esta ferramenta em sua jornada profissional para
fazer a diferença!

CONCEITO-CHAVE
MEDIDAS SEPARATRIZES: QUARTIS, DECIS E PERCENTIS
Os quartis são observações ou medidas de localização que dividem o rol (a
sequência ordenada de dados) em quatro partes de igual valor, as quais são,
portanto, apresentadas em primeiro, segundo e terceiro quartil ou Q1, Q2 e Q3,

0
respectivamente. 

seõçatona reV
Há também os decis, que dividem o rol em dez partes iguais, e os percentis, que o
dividem o rol em cem partes iguais.

A partir de agora, direcionaremos nossos estudos para os quartis, valores dados a


partir de uma série de elementos dispostos em ordem crescente, que dividem a
distribuição em partes iguais. Sendo: Q1 = número que deixa 25% abaixo e 75%
acima; Q2 = será sempre igual à mediana, deixa 50% das observações abaixo e 50%
acima; e Q3 = número que deixa 75% das observações abaixo e 25% acima.

Para melhor compreensão vamos acompanhar o seguinte exemplo:

A variável peso, de pacientes internados em uma clínica médica, é representada a


seguir:

Rol: 73 – 74 – 77 – 52 – 85 – 59 – 73 – 84 – 92

A partir desse conjunto vamos determinar os quartis (Q1, Q2 e Q3):

1º passo: devemos organizar o nosso rol de observações em ordem crescente.

Rol: 52 – 59 – 73 – 73 – 74 – 77 – 84 – 85 – 92

2º passo: note que esse conjunto apresenta número ímpar de dados. Agora,
deveremos identificar o valor central dele, o que, nesse caso, fica fácil, já que é um
conjunto com poucos elementos, mas, para conjuntos maiores, você deverá somar
o número total de elementos do conjunto (nesse caso 9) + 1 e dividir por 2, o
resultado dará a posição em que o valor central se encontra, ou seja, 9+1 = 10/2=
5. Logo o valor na quinta posição do conjunto representa o valor central.

Rol: 52 – 59 – 73 – 73 – 74 – 77 – 84 – 85 – 92

Lembre-se de que o segundo quartil (Q2) é igual à mediana, logo podemos dizer
que Q2 = 74.

3º passo: para calcular Q1 e Q2, é necessário calcular a mediana à direita e à


esquerda do conjunto. Para tal, deve-se identificar os valores centrais novamente e
fazer o cálculo da mediana.

Q1 = 59+73/2 = 122/2 = 66

Q2 =  74

Q3 = 74

Caso o conjunto seja formado por um número par de elementos, para conhecer a
mediana (Q2), deve-se somar os dois números centrais e dividir por dois.

Exemplo:

Rol: 52 – 59 – 73 – 73 – 74 – 77 – 84 – 85 – 92 – 93
Como o conjunto em questão possui dez elementos, deveremos descobrir Q2
somando os dois valores centrais, que serão divididos por 2.

Rol: 52 – 59 – 73 – 73 – 74 – 77 – 84 – 85 – 92 - 93

0
Q2 = 74+77/2= 75,5.

seõçatona reV
Como pudemos observar, nem o elemento 74, nem o 77 representam a mediana,
logo eles deverão ser considerados para encontramos os quartis restantes (Q1 e
Q3).

Rol: 52 – 59 – 73 – 73 – 74 – 75,5 – 77 – 84 – 85 – 92 - 93

Agora é só identificar o valor central à esquerda e à direita!

Rol: 52 – 59 – 74 – 73 – 74 – 75,5 – 77 – 84 – 85 – 92 - 93

Resultados para o conjunto com número par de elementos serão:

Q1 = 73

Q2 =  75,5

Q3 = 85

MEDIDAS DE DISPERSÃO
Como já vimos na seção anterior, para que seja possível caracterizar
adequadamente uma série de dados, é necessário expressar as tendências do
conjunto em números ou estatísticas. Para tal, utilizamos as medidas de posição, já
apresentadas, e as medidas de dispersão.

As medidas de dispersão auxiliam as medidas de tendência central a melhor


descrever a série de dados, pois é capaz de identificar a distância que os elementos
de um conjunto estão uns dos outros. Logo, podemos dizer que a finalidade das
medidas de dispersão é encontrar um valor que seja capaz de resumir a
variabilidade de um conjunto de dados.

ASSIMILE

É importante compreender que a média aritmética de um conjunto de


dados cuja dispersão é muito grande não apresentará uma
representatividade adequada do conjunto observado. Logo, temos as
medidas de dispersão que melhor representarão essa série de dados.

Exemplo: em um conjunto de dados hipotético, dois grupos se apresentam:


Grupo 1: -10, 0, 10, 20, 30

Grupo 2: 8, 9, 10, 11, 12

Ao calcularmos a média aritmética dos dois conjuntos, encontramos o valor


10. Porém se observarmos os elementos de cada um deles, veremos que há
uma variação ou uma distância muito maior entre os valores e o valor
central no Grupo 1 do que no Grupo 2. 
Dessa forma, para compreendermos melhor essas séries de dados, é
necessário calcular as medidas de dispersão, como variância e desvio
padrão.

0
Com o intuito de que você compreenda melhor, vamos tomar como exemplo a

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seguinte série de dados:

Quadro 4.5 | Série de notas dos alunos A e B

Boletim Notas Aluno A Notas Aluno B

Biologia 7 7,5

Português 10 6

História 6 7

Física 8 6,5

Matemática 4 8

Fonte: elaborado pelo autor.

É possível notar uma variabilidade diferente entre os elementos de cada conjunto


(alunos A e B), porém, quando calculamos a média aritmética, encontramos valor
igual: ambos têm média geral 7 entre todas as matérias, como podemos ver nos
cálculos abaixo.

Média do Aluno A =  7+10+6+8+4

5
=7

Média do Aluno B =  7,5+6+7+6,5+8

5
=7

É possível notar que o Aluno A apresentou maior variabilidade nas notas para
alcançar a média 7, já o Aluno B alcançou a mesma média com notas mais
uniformes. 

Então, nesse caso, o que poderemos fazer para melhor diferenciar essas duas
distribuições? Utilizaremos esse exemplo para explicar: amplitude, variância e
desvio padrão.

Amplitude: uma das formas de medir a dispersão de um conjunto de dados. A


amplitude de uma série de dados é representada pela diferença entre o maior e o
menor elemento do conjunto, ou seja, consiste em, basicamente, subtrair o menor
elemento do maior.

Tomando como base o exemplo da média dos alunos A e B, temos:

Amplitude: 

Aluno A: 10 – 4 = 6

Aluno B: 8 – 6 = 2

Note que a amplitude dos dados do Alunos A é maior que a do B, logo podemos
dizer que os dados (ou notas) do Aluno A estão mais dispersos do que os do Aluno
B, em relação à média.
Essa medida, no entanto, dá-nos apenas noção da distância entre o menor e o
maior valor do conjunto. Para entender melhor a dispersão entre os elementos,
falaremos sobre a variância e o desvio padrão.

0
Variância: é uma medida de dispersão que demonstra quão distante cada
elemento do conjunto está do valor central ou média. A variância é representada

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pelo símbolo sigma ao quadrado (σ2). Para calculá-la é preciso seguir as etapas
adiante:

1. É necessário, primeiramente, identificar a média do conjunto de dados. Nesse


caso, como estamos seguindo o mesmo exemplo das notas dos Alunos A e B,
temos média 7.

Média do Aluno A =  7+10+6+8+4

5
=7

Média do Aluno B =  7,5+6+7+6,5+8

5
=7

2. Verificar a diferença entre cada um dos elementos com relação à média, ou


seja, subtrair os elementos do valor da média e elevá-los ao quadrado.
2 2 2 2 2

Variância (σ ) =  =
2 (7−7) +(10−7) +(6−7) +(8−7) +(4−7)

Continuando:
2 2 2 2 2

Variância (σ ) =  =4
2 (0) +(3) +(−1) +(1) +(−3)

3. Agora deve-se calcular uma segunda média. Para tal, basta dividir os valores
encontrados ao elevar cada um dos elementos ao quadrado pelo número de
elementos do conjunto.

Variância (σ ) = 
2 0+9+1+1+9

5
=  20

5
=4

A variância (σ ) do conjunto de notas referentes ao Aluno A será igual a 4.


2

EXEMPLIFICANDO

Vamos tomar como exemplo extra o cálculo da variância das notas do


Aluno B. 

Já sabemos que a média é a mesma que a do Aluno A, ou seja, 7.

Vamos ao segundo passo então:


2 2 2 2 2

Variância (σ ) =  =
2 (7,5−7) +(6−7) +(7−7) +(6,5−7) +(8−7)

Calculemos as diferenças entre cada elemento e as médias:


2 2 2 2 2

Variância (σ ) =  =
2 (0,5) +(−1) +(0) +(−0,5) +(1)

Em seguida, elevemos as diferenças encontradas ao quadrado:

Variância (σ ) = 
2 0,25+1+0+0,25+1

5
=  2,5

5
= 0,5

A variância (σ ) do conjunto de notas referentes ao Aluno B será igual a 0,5.


2

Logo, pelos resultados apresentados, podemos dizer que as notas do Aluno B


apresentam menor variância, o que significa que os elementos estavam mais
próximos do valor central do que as notas obtidas pelo Aluno A.
Desvio Padrão (DP): representa a uniformidade ou o grau de dispersão de
determinado conjunto de dados. Quanto mais próximo esse valor for de zero,
maior será a homogeneidade dos dados.

0
Para calcularmos o DP dos dados, devemos encontrar a raiz quadrada da variância.

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DP do Aluno A = √4 = 2

DP do Aluno B = √0,5 ≅ 0,71Ou seja, embora ambos tenham alcançado a mesma


média geral, encontramos valores diferentes de variação entre os conjuntos.

Podemos dizer, então, que, em média, as notas do Aluno A se afastaram 2 pontos


ou duas unidades, para cima ou para baixo, em relação à média.

O DP resultante das médias do Aluno B demonstra que houve menor variação em


torno da média, sendo, aproximadamente, 0,71 unidades para cima ou para baixo
em relação à média.

Coeficiente de variação: é também conhecido como Desvio Padrão Relativo e é


interpretado como a variabilidade dos dados em relação à média, sendo expresso
usualmente em porcentagem. Quanto menor o coeficiente de variação, mais
homogêneo são os dados do conjunto.

Para exemplificarmos isso, tomaremos ainda o mesmo exemplo das notas dos
Alunos A e B.

Nesse caso, já temos todos os valores de que necessitamos para o cálculo, sendo
eles o Desvio Padrão e a média, bastando agora apenas substituí-los na fórmula e
operacionalizarmos o cálculo.

Fórmula:
Desvio Padr oã
CV = x100
é
M dia

CV do Aluno A =  2

7
x 100 = 0,2857x100 = 28,57 ou 28,6

CV do Aluno B =  = 0,1014x100 = 10,14 ou  ≅ 10,1%


0,71
x 100
7

Os resultados mostram, mais uma vez, que as notas do Aluno B apresentaram


menor variação em relação à média, sendo a taxa identificada de 10,14%,
enquanto o Aluno A apresentou coeficiente de variação mais elevado (28,57%).

PROBABILIDADE
É o ramo matemático que se dedica ao cálculo das chances de ocorrência de um
fenômeno ou experimento, como a probabilidade de se obter cara ou coroa no
lançamento de uma moeda ou, ainda, a chance de se tirar seis em uma rolagem de
um dado com seis faces.

Para compreender melhor probabilidade é necessário conceituar alguns termos


amplamente utilizados em seu estudo.

Espaço amostral: representado pela letra ômega (Ω), é definido como o conjunto
de todos os possíveis resultados de um experimento. Exemplo: ao lançar um dado
não viciado, o espaço amostral (Ω) será igual ao conjunto: 1, 2, 3, 4, 5, 6, pois estes
são os possíveis resultados de um dado com seis faces.
Evento: é o resultado esperado, ou seja, o evento que se quer investigar. Exemplo:
ao rolar um dado, qual a probabilidade de se obter um resultado acima de 4?
Nesse caso o evento será representado por uma letra maiúscula A = 5, 6. Estes
seriam os possíveis resultados acima de 4, ou seja, o evento que se deseja

0
investigar é a chance dessa ocorrência.

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Fórmula:
á
Probabilidade (P) =  P arte

T odo
ou seja, P =  Re sultados F avor veis

í
Resultados Poss veis

Parte ou resultados favoráveis: são aqueles resultados favoráveis à sua


pergunta, ou seja, em nosso exemplo, desejamos saber qual a probabilidade de se
obter acima de 4 em um dado. Sabemos que acima de 4 há os valores 5 e 6, ou
seja, há dois resultados possíveis para o evento desejado.

Todo ou resultados possíveis: são todos os resultados possíveis de se obter em


um dado. Nesse caso temos 6 resultados possíveis (podemos obter os resultados
1, 2, 3, 4, 5 e 6).

Probabilidade (P) =  2

6
e simplificando por 2 temos  1

A probabilidade pode ser expressa não só por número fracionário, mas também
por números decimais. Nesse caso,  1

3
≅  0,333 . Ou pode ser expresso, ainda, em
taxa decimal, multiplicando-se o valor por 100 ≅33,3%.

INTERVALO DE CONFIANÇA
O intervalo de confiança (IC) é utilizado para indicar a confiabilidade de uma
estimativa. Como já vimos em outras seções, a maioria dos estudos científicos
utilizam amostras populacionais para responder seus questionamentos, já que
estudar populações inteiras inviabilizaria a maioria dos protocolos de pesquisa,
seja pela logística de coleta de dados, seja pela escassez de recursos humanos
e/ou materiais para sua realização. A questão que surge é: como assegurar que a
amostra selecionada refletirá as características que queremos observar na
população-alvo? 

Esse questionamento é legítimo, pois muitos cuidados devem ser tomados no


momento da seleção da amostra, questão também já discutida nas seções
anteriores. Nesse sentido, a estatística apresenta ferramentas capazes de
minimizar a possibilidade desse tipo de erro, dentre elas discutiremos mais a
fundo o IC.

O IC diz respeito ao nível de confiança, por meio de uma estimativa para um


parâmetro populacional, obtido a partir de elementos amostrais, os quais se
espera que contenham o valor do parâmetro populacional com um nível de
confiança que, geralmente, vai de 90 a 99%.

É importante ressaltar o risco de erro na construção de um intervalo de confiança.


Por exemplo, se o nível de confiança é de 95%, o risco de erro da inferência
estatística será de 5%.

EXEMPLIFICANDO
Caso o intervalo de confiança escolhido seja o de 95%, isso significará que,
se averiguássemos a variável de interesse em 100 amostras diferentes da
mesma população (por exemplo a média de altura ou de peso dos
habitantes), 95 dessas amostras conteriam o parâmetro populacional, ou

0
seja, refletiriam as reais características daquela população, e as outras cinco

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amostras não conteriam o parâmetro.

Há vários cálculos para o IC, mas vamos focar no cálculo para a média, o qual pode
ser usado para conhecer o desvio padrão populacional ou para amostras grandes
com trinta ou mais elementos.

Fórmula do cálculo do IC para média:


¯ σ
X ±  Zc x 
√n

Sendo:

X̄  = a média.

Zc = Z crítico é representado por valores disponíveis na tabela de distribuição


normal padrão, sendo os valores mais utilizados os de 1,96 para 95% de confiança;
1,64 para 90% de confiança; e 2,57 para 99% de confiança. São valores padrão.

σ = Desvio Padrão Populacional.

√n  = tamanho da amostra.

Exemplo de cálculo:

Tem-se uma amostra de 100 participantes e encontra-se uma média de 24 anos


entre os participantes. Sabendo que a variância das idades é de 16 anos, construa
um intervalo de 95% de confiança para a média.

1. É necessário compreender que, neste caso, o que estamos fazendo é calcular a


¯
X ±  Zc x  margem de erro para a média. 
σ

√n

2. Calcular a margem de erro, representado pela letra E.


σ
E = Zc x 
√n

Substituímos os valores:

Note que o exemplo apresenta apenas a variância das idades, que é 16, porém
não há o valor do Desvio Padrão (DP). Sabemos, no entanto, que o DP é igual a
raiz quadrada da variância. Sendo a variância 16, podemos dizer, então, que o
DP é igual a 4.

O valor de Z crítico será 1,96, pois o intervalo de confiança pedido foi de 95%.
Sendo a amostra composta por 100 participantes, logo teremos:
4
E = 1,96 x
√ 100

3. Efetuar o cálculo da margem de erro:


7,84
E = = 0,784
10

4. Apresentar o resultado para o intervalo de 95%:


Vamos relembrar que a fórmula do IC, que nada mais é que a média, mais ou
menos a margem de erro, parte da fórmula representada anteriormente.
¯
X ±  E = (24  ± 0,784 ) Logo:  anos

0
Assim sendo, pode-se concluir que esse intervalo está, mais ou menos, 0,784 a

seõçatona reV
partir da média 24, entre 23,216 e 24,784, para IC de 95%.

TESTES DE HIPÓTESE
Consiste em uma metodologia que auxilia na tomada de decisão sobre uma ou
mais populações obtidas a partir de informações extraídas de uma amostra por
meio de inferência estatística. É a partir do teste de hipótese que podemos avaliar
a veracidade de um ou mais parâmetros populacionais.

Para realizar o teste de hipótese, inicialmente, devemos admitir um valor


hipotético para um parâmetro populacional, o qual pode ser a variável altura, peso
ou qualquer outro parâmetro que se deseja observar na população e que pode ser
obtido a partir de uma amostra. Com base nas informações dessa amostra, é feito
um teste estatístico que aceitará ou rejeitará esse valor hipotético assumido.

REFLITA

É importante atentar-se para o fato de que a decisão de aceitar ou rejeitar


uma hipótese a partir de elementos coletados de uma amostra sempre
apresentará risco de erro, ou seja, jamais será definitivamente correta.
Porém, é possível dimensionar a probabilidade (risco) da decisão de aceitar
ou rejeitar a hipótese. Lembre-se sempre de que, quando se tenta inferir
algo sobre uma população a partir de uma amostra, tem-se a possibilidade
de erro estatístico ainda que se assuma um erro mínimo de 1% ou de 5%. O
erro será zero apenas quando se trabalhar com toda a população, o que, na
maioria das vezes, é inviável ou impossível. 

Em que momento podemos aplicar tais ferramentas em um estudo de


população dentro do contexto da saúde pública?

Para que seja possível testar um parâmetro populacional, é necessário afirmar um


par de hipóteses. Uma hipótese deverá representar a afirmação do parâmetro e a
outra seu complemento. Dessa forma, quando uma das hipóteses for falsa, a outra
automaticamente será verdadeira. Elas são chamadas de hipótese nula e hipótese
alternativa.

Hipótese nula (H ): hipótese estatística que possui uma afirmação de igualdade,


0

como menor ou igual, igual ou maior ou igual (≤, = ou ≥).

Hipótese alternativa (H ): é o complemento da hipótese nula. Será verdadeira


a

caso a outra seja falsa e vice-versa. Contém afirmação de desigualdade estrita,


como menor, diferente ou maior (<, ≠ ou >).

Exemplo:

μ = a letra grega “mi” representa, em estatística, a média populacional.

K= representa um número real.


H0 : μ = K
{ }
Ha : μ  ≠  K

A hipótese nula diz que a média populacional é igual a K, já a hipótese alternativa


diz que a média populacional é diferente de K. É importante observar que esse

0
contraste sempre ocorrerá entre as hipóteses, pois uma sempre deverá ser o

seõçatona reV
oposto complementar da outra, ou seja, se a hipótese nula é falsa, a alternativa é
sempre verdadeira e também o contrário é verdadeiro.

Para visualizarmos melhor o exemplo, imaginemos que estamos avaliando a média


de altura populacional. Vamos tomar como valor hipotético a altura de 1,65, obtida
a partir de uma amostra dessa população.

Logo, poderíamos supor que a hipótese nula diz que a média de altura da
população é igual ou menor que 1,65. A hipótese alternativa será de que a média
de altura da população é superior a 1,65.

H0 : μ  ≤  1,65

Ha : μ > 1,65

No processo de aceitar ou refutar uma hipótese, podem ocorrer alguns tipos de


erros, denominados: Erro Tipo I (α) e Erro Tipo II (β).

Erro Tipo I: é o erro de rejeitar H , sendo H verdadeira.


0 0

Erro Tipo II: é o erro de aceitar H , sendo H falsa.


0 0

Logicamente, o objetivo do tomador de decisões é diminuir, ao mínimo, a


probabilidade de ocorrência dos dois tipos de erros. Porém, à medida que a
probabilidade de ocorrência do Erro Tipo I diminui, aumenta a probabilidade do
Erro Tipo II e vice-versa.

A única forma de diminuir o risco dos dois tipos de erros simultaneamente é


aumentando o tamanho da amostra, porém, como já falamos, isso nem sempre é
possível.

Fórmula de teste de hipótese para média populacional com variância conhecida:


¯
X  = a média amostral

μ = a média populacional testada (sob H ) 0

σ = Desvio Padrão Populacional

√n = raiz quadrada do tamanho da amostra


¯
X −μ
Zobs σ

√n

Testes T: são testes de hipótese utilizados para comparar as médias de uma


amostra com uma população, comparar duas amostras pareadas ou duas
amostras independentes.

E assim chegamos ao fim de mais uma unidade. É hora de revisarmos todos os


conceitos e compreendermos a forma como cada assunto se relaciona com as
outras áreas e com nossa prática profissional. A bioestatística é uma ciência rica e
complexa que se relaciona com todos os saberes e é ferramenta indispensável
para a manutenção e para a proteção à saúde em nossa sociedade.
FAÇA VALER A PENA
Questão 1
Em um relatório mensal, analistas da Receita Federal perceberam que um

0
contribuinte em particular apresentava o maior desvio padrão de toda a base de

seõçatona reV
dados com relação aos valores pagos em impostos se comparado aos demais
contribuintes.

Assinale a alternativa que apresenta a afirmação correta com relação à situação


apresentada:

a.  O contribuinte pagava valores mais altos de impostos.

b.  O contribuinte pagava valores mais baixos de impostos.

c.  O contribuinte pagava os mesmos valores que os demais, em média.

d.  O contribuinte pagava valores dispersos em relação à média.

e.  O contribuinte pagava valores duplicados de impostos.

Questão 2
A variância é definida como uma medida de dispersão que demonstra quão
distante cada elemento do conjunto está do valor central ou média, sendo muito
utilizada, junto à medida de desvio padrão, por melhor caracterizar um conjunto
de dados, se comparados à média aritmética simples.

Com relação ao conceito de variância e de desvio padrão, assinale a alternativa


correta:

a.  A variância é uma medida cujo significado é a metade do desvio padrão.

b.  A variância é calculada com base no dobro do desvio padrão.

c.  A média, dividida pelo desvio padrão, forma a variância.

d.  A variância elevada ao quadrado indica qual é o desvio padrão.

e.  O desvio padrão é a raiz quadrada da variância.

Questão 3
Os cálculos de dispersão são essenciais para melhor caracterizar um conjunto de
dados e até mesmo para compará-los. Os dados a seguir são as quantidades de
agentes de saúde em cinco unidades de saúde: 6, 5, 8, 5, 6.

Assinale a alternativa que representa a variância e o desvio padrão (DP) da


quantidade de agentes de saúde dessas cinco unidades.

a.  Variância de 0,8 e DP 0,88.

b.  Variância de 2,4 e DP 1,55.

c.  Variância de 2,0 e DP 1,41.

d.  Variância de 1,2 e DP 1,1.

e.  Variância de 1,6 e DP 1,26.

REFERÊNCIAS
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CALLEGARI-JAQUES, S. M. Bioestatística: princípios e aplicações. Porto Alegre:

0
Artmed, 2007. E-book. 

seõçatona reV
CARVALHO, S.; CAMPOS, W. Estatística básica simplificada. Rio de Janeiro:
Juspodivm, 2016. 

FEIJOO, A. M. L. C. de. Medidas de tendência central. In: FEIJOO, A. M. L. C. de. A


pesquisa e a estatística na psicologia e na educação. Rio de Janeiro: Centro
Edelstein de Pesquisas Sociais, 2010. p. 14-22. Disponível em:
https://bit.ly/2TrR3VM. Acesso em: 10 jan. 2021.

GUEDES, T. A.; JANEIRO, V.; MARTINS, A. B. T.; ACORSI, C. R. L. Estatística descritiva.


In: GUEDES, T. A.; JANEIRO, V.; MARTINS, A. B. T.; ACORSI, C. R. L. Projeto de Ensino:
aprender fazendo estatística. [S. l.: s. n.], 2005. Disponível em:
https://bit.ly/35ql7U9. Acesso em: 18 jan. 2021.

MAGALHÃES, M. N.; LIMA, A. C. P. Noções de Probabilidade e Estatística. São


Paulo: EDUSP, 2008.

REIS, E. A., REIS I. A. Análise Descritiva de Dados. Relatório Técnico do


Departamento de Estatística da UFMG. Belo Horizonte: UFMG, 2002. Disponível em:
https://bit.ly/3cFjciQ. Acesso em: 10 jan. 2021.
I

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


PROBABILIDADE

0
Caio Luisi

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.
Áudio disponível no material digital.

SEM MEDO DE ERRAR


Em nossa situação-problema, gestores e profissionais da saúde, que avaliaram os
resultados de intervenções educativas com idosos institucionalizados sobre as
medidas de prevenção contra a Covid-19, consideraram que a média 6,0 seria
suficiente para essa população e foi exatamente esse número que os dois grupos
de idosos obtiveram. Os profissionais e gestores, ao olharem as médias dos
resultados, consideraram satisfatório o conhecimento sobre o tema na população
de idosos e, a partir desses resultados, decidiram que não seria mais necessária,
ao menos no momento, qualquer outra ação educativa.

No entanto, você, profissional que acaba de integrar o grupo, tem acesso às notas
individuais dos idosos e, considerando a dispersão dos valores em relação à média,
percebe que há diferenças importantes entre os dois grupos.

Quadro 4.4 | Notas dos idosos nas duas instituições

Notas dos idosos da instituição A Notas dos idosos da instituição B

7 10

5 2

6 2,5

5,5 3
Notas dos idosos da instituição A Notas dos idosos da instituição B

6,5 9,5

0
8 1,5

seõçatona reV
4 9

6 6,5

7 10

5 6

X̄  = 6 X̄  = 6

Fonte: elaborado pelo autor.

Notas A (Rol): 4 – 5 – 5 – 5,5 – 6 – 6 – 6,5 – 7 – 7 – 8 

Notas B (Rol): 1,5 – 2 – 2,5 – 3 – 6 – 6,5 – 9 – 9,5 – 10 – 10 

Ao olharmos as notas individuais, podemos perceber que houve uma variação


muito maior dos elementos do conjunto de idosos do grupo B em relação à média
6 do que a que houve no grupo A.

Note que alguns indivíduos do grupo B ficaram até 4,5 pontos abaixo da média
mínima desejável, fator indicativo de que, naquela população, alguns participantes
tinham praticamente nenhum conhecimento no tema, enquanto outros
dominavam completamente as questões do teste, vide os indivíduos com notas de
7 a 10.

Por outro lado, o grupo de idosos A apresentou maior homogeneidade em torno


da média, de modo que os integrantes dele possuem conhecimento em grau
similar entre si.

Logo, seria importante chamar a atenção dos outros profissionais para o fato de
que existem pessoas vulneráveis, principalmente no grupo B, e de que as medidas
educativas devem continuar naquele grupo, ainda que seja apenas com aqueles
que ficaram muito abaixo da média.

A média aritmética deve sempre ser analisada com cautela, pois a dispersão dos
dados pode variar e gerar interpretações equivocadas dos resultados.

Essa resolução poderia ser uma maneira de contemplar os questionamentos


apresentados, mas você sempre pode e deve apontar novos caminhos. Vá em
frente!

AVANÇANDO NA PRÁTICA
COMPROVANDO O PONTO DE VISTA
Profissionais da saúde de uma cidade interiorana estão reunidos para averiguar os
resultados de testes que avaliaram o conhecimento sobre medidas de prevenção
contra a Covid-19 em idosos com capacidade cognitiva preservada de duas
instituições de longa permanência (Instituição A e Instituição B). No entanto, ao
visualizar as notas individuais dos dois grupos, é possível verificar que há
diferentes dispersões entre os elementos e a média dos conjuntos dentro dos dois
grupos (A e B). Um dos profissionais apresenta esse ponto sensível da análise e
enfatiza que a média aritmética não é a melhor medida representativa desses

0
conjuntos e que, preferencialmente, outros cálculos de medida de dispersão

seõçatona reV
deveriam ser feitos.

Sendo assim, o grupo pede que as outras medidas de dispersão sejam


apresentadas para que esse ponto possa ser efetivamente comprovado. Imagine
que você seja um dos integrantes desse grupo, como apresentaria e explicaria os
dados, segundo as medidas de dispersão?

Notas dos dois grupos ordenadas:

Notas de A (Rol): 4 – 5 – 5 – 5,5 – 6 – 6 – 6,5 – 7 – 7 – 8 

Notas de B (Rol): 1,5 – 2 – 2,5 – 3 – 6 – 6,5 – 9 – 9,5 – 10 – 10

RESOLUÇÃO 

Em nossa problemática, um grupo de profissionais da saúde de uma cidade


interiorana pedem que você demonstre matematicamente o seu ponto com
relação à inadequação da utilização da média aritmética isoladamente.

Nesse caso, é importante inicialmente atentar para os conjuntos de notas dos


grupos A e B:

Notas de A (Rol): 4 – 5 – 5 – 5,5 – 6 – 6 – 6,5 – 7 – 7 – 8 

Notas de B (Rol): 1,5 – 2 – 2,5 – 3 – 6 – 6,5 – 9 – 9,5 – 10 – 10 

Você poderia calcular a amplitude, a variância e, em seguida, o desvio padrão


(PD) em cada um dos grupos.

Amplitude do Grupo A = 8 – 4 = 4

Amplitude do Grupo B = 10 – 1,5 = 8,5

Percebe-se que a amplitude dos dados é maior no Grupo B, o que implica


maior dispersão dos dados nesse grupo em comparação com o Grupo A.

Em seguida o cálculo de variância (soma das diferenças entre cada elemento


do conjunto e a média elevados ao quadrado e divididos pelo total de
elementos do conjunto. Caso haja dúvida, retorne ao tópico da seção que
ensina passo a passo esse cálculo) revelaria:

Notas A (Rol): 4 – 5 – 5 – 5,5 – 6 – 6 – 6,5 – 7 – 7 – 8 

Variância = 1,25 e DP = 1,12

Notas B (Rol): 1,5 – 2 – 2,5 – 3 – 6 – 6,5 – 9 – 9,5 – 10 – 10 

Variância = 11,1 e DP = 3,33

Os resultados poderiam ser traduzidos da seguinte maneira:

As notas do Grupo A se afastaram, em média, 1,12 pontos acima ou abaixo da


média 6,0, enquanto no Grupo B essa dispersão em torno da média 6,0, para
cima ou para baixo, foi de 3,33 pontos, o que demonstra uma variabilidade e
uma heterogeneidade maior nos resultados obtidos. Portanto, há indivíduos
do Grupo B que ficaram muito abaixo da média desejada e que demandam
maior atenção quanto às medidas educacionais e mesmo as de
acompanhamento.

0
Essa forma de expor os resultados é uma das possibilidades existentes.

seõçatona reV
Haveria uma forma diferente de avaliá-los e expô-los?

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