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Geriátrica
Fisioterapia
Geriátrica
A prática da assistência ao idoso
2ª edição ampliada
Vários colaboradores.
Bibliografia.
ISBN 978-85-204-4410-8
07-0041 CDD-618.97062
Índice para catálogo sistemático:
1. Fisioterapia geriátrica 618.97062
1a edição – 2004
2a edição – 2007
1ª reimpressão – 2011
Dedicatória
À minha esposa Daisy e aos meus filhos Marcelo e Aron, por serem os aspec-
tos mais importantes do contexto no qual esta obra foi gerada.
V
Introdução
Agradecimentos
A todos os colaboradores dos treze capítulos, tanto pelo empenho quanto pela
coragem que tal empreendimento exigiu.
A toda minha família (irmãos, cunhados, sobrinhos e sogros) por ser a minha
família.
À minha amiga Marilane Santos Caiano (in memoriam) pelos seus ensina-
mentos, pela sua amizade e pela dedicação na busca da ética na profissão de fi-
sioterapeuta.
A todos os colaboradores, pois sem eles esta obra não seria viável.
Ao meu amigo, professor e orientador prof. dr. José Rubens Rebelatto por sa-
ber a dose exata da amizade, do ensino e, especialmente, da orientação.
VII
Introdução
Sobre os autores
IX
Introdução
Sobre os colaboradores
Daniela Garbellini
Fisioterapeuta formada pela USP (SP)
Especialização em Neurologia pela Unicamp
Mestre em fisioterapia pela UFSCar
Professora responsável pela área de neuropediatria na Unimep
XI
Fisioterapia geriátrica
Marcelo Velloso
Doutor em Ciências pela Unifesp-EPM
Mestre em Reabilitação pela Unifesp-EPM
Especialista em Terapia Intensiva pela Faculdade de Medicina da USP
Graduado em fisioterapia pela Unesp de Presidente Prudente
Professor adjunto na UFMG
XII
Sobre os colaboradores
XIII
Introdução
Sumário
XV
Fisioterapia geriátrica
XVI
Sumário
XVII
Fisioterapia geriátrica
XVIII
Sumário
XIX
Fisioterapia geriátrica
XX
Sobre os colaboradores
Prefácio
O
que é ficar velho? Quando ou a partir de que idade um indivíduo
(ou uma população) pode ser entendido ou ser considerado como par-
te da chamada terceira idade?
As respostas a perguntas como essas podem, naturalmente, ser as mais di-
versas, conforme o ponto de vista adotado. Podem, por exemplo, partir da idade
média de vida de uma dada população e da realização de cálculos matemáticos
para o estabelecimento de referenciais exatos do que sejam a primeira, a
segunda ou a terceira idades. Além dos aspectos numéricos, podem também
considerar outros fatores, tais como: a independência funcional do indivíduo
nas diversas faixas etárias, sua condição social e os aspectos relativos à qualidade
de vida familiar. Ou, ainda, levar em conta a própria opinião dos indivíduos de
determinada faixa etária em relação a como eles se definem ou se sentem no
contexto da experiência que adquiriram e das expectativas que fomentam para
o futuro. No entanto, o que parece ser fundamental, independentemente da
referência utilizada para responder a essas questões, ou mesmo das próprias
respostas geradas, é entender a razão que preside comportamentos e ações tão
díspares de indivíduos e instituições em relação a um grupo de sujeitos, a partir
do momento em que eles são categorizados, definidos e reconhecidos como
pertencentes a uma faixa etária mais avançada.
Em países desenvolvidos, onde a longevidade aumentou e, por decorrên-
cia, a população é constituída por uma porcentagem significativa de pessoas
de mais idade, o status social e os cuidados dedicados aos idosos sofreram al-
terações substantivas no decorrer das últimas décadas, fazendo com que o
contexto de oportunidades, de atitudes de respeito individual, de situações de
lazer e de dignidade socioeconômica experimentasse um incremento visível.
De outra parte, naqueles países onde o grau de desenvolvimento ainda é
entendido como insatisfatório (subdesenvolvidos ou em desenvolvimento),
muitas vezes, a situação dos indivíduos mais idosos chega a se caracterizar
como subumana. A dificuldade de subsistência, a desconsideração social, o
desrespeito individual, a ausência de assistência à saúde, o abandono familiar
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Fisioterapia geriátrica
e a quase completa falta de perspectivas de uma vida digna são aspectos cotidia-
namente verificáveis, com exceção, talvez, das sociedades em que predomina
um forte componente religioso ou espiritual, como algumas tribos indígenas ou
populações asiáticas, de países como a Índia e o Tibete.
Nas várias oportunidades que tive de estudar o comportamento geral
de sociedades, muitas foram as vezes em que me detive especificamente na
relação que cada sociedade estabelecia com seus idosos. Em uma delas iden-
tifiquei um comportamento interessante. A sociedade era monogâmica, de
forma tal que, quando um dos indivíduos do casal morria, o outro era ado-
tado por uma família mais jovem e adquiria papéis importantes nesse novo
contexto, como cuidar dos filhos desse novo casal, enquanto eles saíam para
providenciar a subsistência de todos. Esse indivíduo “adotado” treinava os
jovens para funções que eles necessariamente teriam de assumir no decorrer
da vida adulta e protegia a residência de invasões de qualquer ordem. Em
contrapartida, era considerado um dos elementos mais importantes da fa-
mília, tratado com respeito e acariciado por todos, de tal maneira que,
quando o casal retornava com a alimentação, o idoso era o primeiro a se ali-
mentar, antes mesmo dos filhos do casal, podendo escolher sua parte prefe-
rida da alimentação. Era realmente interessante o comportamento dessa
sociedade de lobos — pena que esses animais estivessem em extinção já na
época em que os estudei.
No Brasil, onde a maioria da população é constituída por jovens, o estu-
do e a dedicação voltados aos idosos são recentes. Contudo, o incremento sig-
nificativo deste patamar da população nas últimas décadas justifica a preocu-
pação com a produção de conhecimento e o alerta para uma lacuna que
necessariamente terá de ser preenchida em um futuro próximo. No campo da
saúde, a situação não é diferente e, de certa maneira, faz com que o idoso sig-
nifique não só o passado como também o futuro. O passado, do ponto de vis-
ta individual e grupal, considerando as experiências vivenciadas por essa
população e os resultados obtidos pelas diversas intervenções que mais recen-
temente foram realizadas nessa população longeva, nas variadas especialida-
des. O futuro, da ótica profissional, pois a demanda por profissionais capazes
de lidar adequadamente com os problemas próprios dessa população será
marcadamente crescente, determinando a significância social das profissões
desse campo e, talvez, a própria continuidade da existência de algumas delas.
Na fisioterapia o quadro é o mesmo, destacando o agravante de esta ser
uma das profissões mais recentemente surgidas no campo da saúde no Brasil.
Assim, a organização e a disponibilização do conhecimento fisioterápico exis-
tente para a assistência específica do idoso são fundamentais.
No contexto geral, não há dúvida de que esta obra significa somente uma
das contribuições possíveis, necessária, mas não suficiente, para cobrir a gama
de deficiências existente no conhecimento atual. Por outro lado, ao abrigar o
pioneirismo que todo empreendimento exige, caracteriza-se como contribui-
ção útil a vários tipos de profissionais da saúde (em formação ou formados) e,
especificamente, aos fisioterapeutas que tenham como preocupação conhecer
e se dedicar ao cuidado com o idoso.
XXII
Prefácio
O livro foi organizado segundo uma seqüência lógica, que vai desde os
estudos recentes do conceito e da medida de qualidade de vida na velhice até
o conhecimento atual a respeito das teorias do envelhecimento e da fisiologia
inerente a esse processo. Discorre sobre as formas atualmente adotadas para a
avaliação do idoso e aborda cada uma das especialidades fisioterápicas que as-
sistem os problemas comuns dessa população, terminando com a explicitação
de comportamentos específicos de primeiros socorros que todo profissional
da saúde deve ter em seu repertório. Acompanham o texto a descrição de
exemplos práticos e ilustrações de apoio, que têm como objetivo facilitar o
entendimento e a apreensão desse universo de informações.
Considero um privilégio ter organizado uma obra como esta e ter dividi-
do o trabalho com um ex-aluno, José Geraldo da Silva Morelli, que hoje se
caracteriza como profissional de primeira linha. O desenvolvimento deste
trabalho, importante não somente pela oportunidade de participação na
história profissional da fisioterapia, mas também pela aprendizagem individual
que o processo me propiciou, tornando claras as evidências que até então
estavam presentes somente por meio de informações gerais e idéias para
projetos futuros.
A expectativa é, em síntese, de que tal obra constitua-se em leitura coti-
diana para fisioterapeutas e profissionais da saúde em geral, como também
em instrumento contributivo para o processo de ensino-aprendizagem nos
cursos de graduação e pós-graduação.
Ao lado dessa expectativa, fica a expressão do meu mais profundo reco-
nhecimento a todos os colaboradores deste livro — pesquisadores renomados
e com reconhecida carreira acadêmica ou jovens pesquisadores que, por sua
dedicação e competência, sem dúvida alguma estarão no cerne do conheci-
mento científico que caracterizará a futura fisioterapia no país.
XXIII
Capítulo 1
Qualidade de
vida na velhice
Anita Liberalesso Neri
N
os países desenvolvidos, a emergência da preocupação com o tema
qualidade de vida ocorreu depois da Segunda Grande Guerra Mun-
dial e coincidiu com o desenvolvimento de procedimentos e técnicas
destinados à manutenção da vida de enfermos crônicos e terminais e de bebês
prematuros ou que estavam sob risco de morte, avanços esses que decorre-
ram, em parte, das oportunidades geradas por aquele conflito. Tais progressos
geraram discussão sobre a relação custo-benefício, considerando tanto o bem-
estar do indivíduo como os interesses da sociedade. Foi nesse contexto que se
começou a falar em qualidade de vida em medicina.
Na área médica, a avaliação da qualidade de vida passou a ser vista como
a terceira dimensão a ser considerada, além da eficácia (modificação da doen-
ça por efeito das drogas) e da segurança (prevenção de reações adversas a dro-
gas), principalmente em especialidades como a oncologia, em que a dignidade
e o bem-estar psicológico do paciente podem ser muito prejudicados, por
causa e apesar dos procedimentos destinados a preservar-lhe a vida. Essa
questão é igualmente recorrente em geriatria, campo em que muitas vezes
ocorrem dilemas de ordem ética e prática envolvendo a legitimidade e a opor-
tunidade do prolongamento da vida de idosos, muito frágeis do ponto de vis-
ta físico e mental. Os investimentos no tema foram reforçados quando, à mes-
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Qualidade de vida na velhice
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Bem-estar Qualidade de
psicológico vida percebida
Competência Condições
comportamental ambientais
Competências comportamentais
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Comportamento social
Uso do tempo
Cognição
Capacidade funcional
Saúde
Antecedentes da competência
comportamental no ciclo vital
FIGURA 1.3
Maior dependência
aos recursos da cultura
Nascimento
Velhice
Menor resiliência e
plasticidade comportamental
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sidades (42). O respeito à autonomia dos idosos é questão ética da mais alta
importância e é central à avaliação da qualidade de vida no contexto institu-
cional e na velhice patológica.
A independência pode ser afetada por muitos eventos, e não só por pro-
blemas de saúde física e mental que acarretem incapacidade funcional (65),
conforme exemplificamos a seguir:
• Incapacidade funcional decorrente de doenças, senso de desamparo,
desmotivação, estados afetivos negativos e escassez ou inadequação de
ajuda física e psicológica.
• Efeitos da maior exposição a ocorrências inesperadas ou incontroláveis
no dia-a-dia (por exemplo, quedas) e na vida familiar (acidentes com
filhos e netos), bem como maior probabilidade de vivência de grandes
eventos estressantes do próprio ciclo vital ou dos ciclos da vida familiar
(morte de entes queridos).
• Acúmulo dos efeitos das pressões exercidas por perdas em vários domí-
nios (perda de amigos + aposentadoria compulsória + afastamento dos
filhos + doenças pessoais = maior senso de vulnerabilidade).
• Desmotivação para o estabelecimento de metas, para a manutenção de
uma vida ativa, produtiva e saudável e para o cultivo da espiritualidade.
• Desestruturação do ambiente físico motivada por pobreza, abandono
ou negligência.
• Presença de barreiras arquitetônicas (escadas, buracos no passeio, pisos
escorregadios) e ergonômicas (camas muito altas, letreiros muito pe-
quenos) ou falta de apoios ambientais (bengalas, cadeiras de rodas,
aparelhos auditivos).
• Práticas sociais discriminativas (ser recusado ou demitido do emprego, ser
tratado como incapaz, ter negado atendimento médico e pensionário).
• Desestruturação do ambiente social (excesso ou falta de rotinas, falta de
privacidade, despersonalização e falta de estímulos sociais).
• Tratamentos medicamentosos inadequados ou iatrogenia, que podem
induzir à inatividade, à apatia e à deterioração cognitiva.
• Falta de clareza ou de compreensão do significado da dependência para
o idoso e para seu grupo de referência, o que pode gerar menor tole-
rância e menor aceitação de ambas as partes, além de cuidados de pior
qualidade.
• Efeitos negativos do comportamento dependente sobre o ambiente.
Tanto a negligência quanto a superproteção — em relação ao idoso que
manifesta algum grau de dependência — são prejudiciais à preservação
de sua autonomia.
Condições ambientais
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• assegurar a privacidade;
• dar oportunidades para interação social;
• dar oportunidades para exercício de controle pessoal, liberdade de es-
colha e autonomia;
• personalizar tratamento, objetos e locais;
• facilitar a orientação espacial;
• garantir a segurança física;
• facilitar o acesso a equipamentos e o seu funcionamento no dia-a-dia;
• propiciar um ambiente estimulador e desafiador;
• facilitar a discriminação de estímulos visuais, táteis e olfativos;
• na medida do possível, planejar ambientes bonitos e agradáveis;
• adaptar o ambiente ao atendimento de novas necessidades;
• tornar o ambiente mais familiar por meio de referências históricas, objetos
familiares, arranjos tradicionais de mobiliário e contato com a natureza.
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Visão
• Aumentar a iluminação e o contraste, especialmente quando os estímu-
los forem sutilmente detalhados e apresentados com pouco contraste
de luz e sombra.
• Evitar ofuscamento e exposição a raios ultravioletas.
• Utilizar mais contrastes de cor em situações que envolvam discrimina-
ção sutil entre diferentes comprimentos de onda.
• Evitar apresentação simultânea de estímulos muito parecidos em situa-
ções que exijam discriminação refinada.
• Fornecer pistas em situações em que a percepção de profundidade for
importante.
• Fornecer correção óptica e condições especiais de iluminação em situa-
ções que envolvam visualização a curta distância.
• Apresentar estímulos grandes, simples, claros, regulares e centrais no
campo visual.
• Evitar situações que exijam tempos de reação muito curtos.
• Evitar tarefas concorrentes, para prevenir distração, uma vez que os
mais velhos sofrem diminuição na capacidade de inibir informação ir-
relevante.
• Fornecer pistas que direcionem a atenção para os estímulos relevantes.
Audição
• Evitar exposições prolongadas a ruídos.
• Evitar situações que exijam identificação e discriminação de sons de
alta freqüência.
• Fornecer pistas acústicas, maximizando as diferenças em amplitude,
freqüência e localização.
• Minimizar reverberações e ruídos de fundo.
• Oferecer estímulos claros, redundantes, ricos em contexto e relativa-
mente graduados.
• Maximizar diferenças em localização e em freqüência, com o objetivo
de melhorar a localização do som.
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• Visão: usar óculos e lupas para tarefas que exijam visão a pequena dis-
tância; cuidar da iluminação, quer acomodando bem a cabeça e os om-
bros, quer providenciando lâmpadas de leitura (em casa) ou lanternas
(em ambiente exteriores); usar luz fria; ao atravessar uma rua, tomar o
comportamento dos outros como guia; desembaraçar-se de coisas miú-
das e delicadas ao toque; colocar etiquetas fosforescentes ou de cores
fortes nos objetos de uso diário ou que precisem ser encontrados com
facilidade.
• Audição: usar aparelhos para surdez, fones de ouvido, amplificadores de
campainha e de telefone; olhar de frente para as pessoas enquanto con-
versa; avisar às pessoas que não ouve bem; perguntar imediatamente
quando não escutar ou não entender o que foi dito; procurar conversar
sobre assuntos de que tenha mais domínio.
• Paladar e olfato: temperar mais a comida e tomar um pouco de líquido
nas refeições, para ajudar a deglutição; consultar um dentista sobre a
diminuição do fluxo de saliva; ter sempre à mão balas ou pastilhas de
menta sem açúcar; cuidar dos odores produzidos pelo próprio corpo
para evitar constrangimentos ou afastamento das pessoas.
• Tato: adotar utensílios mais pesados e mais fáceis de manejar; acompa-
nhar a numeração das páginas dos jornais e de outras publicações, para
evitar pular páginas por causa das dificuldades táteis.
• Equilíbrio: andar mais devagar; usar bengala; calçar sapatos confortá-
veis, de solado mais grosso e com sola antiderrapante; evitar chinelos
(com ou sem meias).
• Segurança: usar capachos e tapetes com a parte inferior emborrachada;
usar cadeiras e sofás dos quais seja fácil se levantar; usar grades prote-
toras na cama, barras de apoio no boxe do banheiro, elevadores de vaso
sanitário e corrimões em todas as escadas; instalar travas e alarmes para
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ficar mais tranqüilo dentro de casa (mas deixar uma chave com alguém
de confiança para casos de emergência); usar protetores de ouvido se o
entorno for muito barulhento; usar condicionadores e aquecedores de
ar e aerossóis contra insetos e maus odores; andar em ruas bem ilumi-
nadas e pouco acidentadas; se sofrer tentativa de assalto, não reagir.
• Rotinas: manter rotinas diárias, incluindo horários para meditar, ler, es-
crever, fazer trabalhos manuais, cuidar da casa, mexer nos guardados,
conversar, telefonar, fazer visitas, alimentar-se e fazer exercícios físicos.
Não ceder à tentação de passar o dia de pijama e chinelos; demarcar a
rotina com horários estabelecidos para atividades, descanso e vigília.
• Ambiente: promover um ambiente agradável e variado; desfazer-se de
coisas que não usa mais; mudar a disposição de móveis, enfeites e plan-
tas; implementar novidades na casa, nas roupas, na comida e no lazer;
manter-se ocupado.
• Esquecimento: adotar técnicas mnemônicas baseadas em associações;
preparar-se para situações sociais em que terá de se lembrar do nome
das pessoas, por exemplo, lendo antes a lista de convidados, ou lem-
brando junto com alguém as particularidades das pessoas mais signifi-
cativas; fazer listas de compras, adotar agendas, calendários, lembretes
de geladeira, caixinhas com marcação de dias e horas para remédios, e
etiquetas; ter sempre um lugar fixo para cada objeto; fazer anotações
das tarefas importantes de que se lembra de repente, para poder reali-
zá-las depois.
A avaliação que cada pessoa faz sobre seu desempenho em qualquer do-
mínio das competências comportamentais é o conteúdo primário da qualida-
de de vida percebida. As medidas mais comumente contempladas pela pes-
quisa sobre essa dimensão são: saúde percebida, doenças relatadas, consumo
relatado de medicamentos, dor e desconforto relatados, alterações percebidas
na cognição e auto-eficácia nos domínios físico e cognitivo.
De Vitta (22) desenvolveu uma pesquisa que teve como objetivo caracte-
rizar as relações entre sexo, idade, nível de atividade física, saúde percebida e
bem-estar físico de adultos jovens e idosos. Participaram duzentos voluntários
que formaram dois grupos de idade com cem indivíduos cada, sendo um de
20 a 35 anos e o outro de 60 a 70 anos. Cada grupo continha cinqüenta ho-
mens e cinqüenta mulheres, metade sedentários e metade ativos. Os instru-
mentos incluíram: um questionário de caracterização sociodemográfica de
prática de atividades físicas e doenças; um questionário de queixas relativas a
desconfortos musculoesqueléticos percebidos no último ano e nos últimos
sete dias; uma escala para avaliação da saúde percebida contendo itens sobre
saúde física e mental atual, em comparação com a de cinco anos atrás e em
comparação com a de pessoas da mesma idade.
As mulheres, os idosos e os sedentários apresentaram mais auto-relatos
de doenças. As idosas ativas se queixaram mais que as sedentárias. Os homens
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Bem-estar subjetivo
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for Dementia of the CERAD (2) — escala desenvolvida pelo grupo de trabalho
do CERAD (79); o Inventário de Sintomas Comportamentais e Psicológicos na
Demência — BPSD (4); o CDR — Clinical Dementia Rating (43); o NPI —
Neuropsychiatric Inventory (20).
A avaliação da atividade, dependendo da finalidade, pode ser considerada
um indicador de capacidade funcional, de bem-estar subjetivo e de integração
social. Pode analisar, por exemplo, os seguintes elementos:
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tros domínios da vida do adulto. No âmbito das escalas de múltiplos itens que
avaliam bem-estar subjetivo, satisfação, afetos ou felicidade de modo geral, há
numerosos instrumentos destinados a adultos de todas as idades. Outras são
utilizadas especificamente com indivíduos idosos, mas todas têm sido objeto
de análises metodológicas que demonstraram sua validade em diversos níveis.
Ao lado das escalas de múltiplos itens, há várias outras de item único, de esco-
po evidentemente limitado, uma vez que, além da validade temporal, é im-
possível fazer qualquer outra avaliação, já que elas não avaliam domínios es-
pecíficos da satisfação. No entanto, esses instrumentos podem ser úteis em
situações que exijam uma medida breve do bem-estar global.
No Quadro 1.2 é apresentado um resumo ilustrativo de exemplos das es-
calas mais utilizadas na literatura internacional para mensuração do bem-es-
tar subjetivo. Elas cobrem aspectos afetivos e cognitivos do bem-estar subjeti-
vo. Algumas foram construídas especificamente para idosos, enquanto outras
servem para adultos de modo geral. Algumas são de item único, outras são de
múltiplos itens. Comportam várias formas de resposta, tais como sim/não/
talvez, concordo-discordo, grau de intensidade da experiência, ou grau atri-
buído à apreciação. Os itens podem ser apresentados em frases, listas de adje-
tivos, escadas, ou mesmo pequenas faces humanas indicando gradação em es-
tados emocionais. A opção por este ou por aquele modo de resposta depende
principalmente das características da amostra que vai responder. A maioria
dos instrumentos avalia satisfação global com a vida. Podem ser usados para
avaliar a satisfação no presente, no passado (há cinco anos) e no futuro (daqui
a cinco anos). No entanto, o pesquisador pode preferir utilizar medidas refe-
renciadas a domínios específicos da vida social, do desenvolvimento ou do
ajustamento das pessoas, quando essas medidas têm relações com os funda-
mentos teóricos de sua investigação, ou com os problemas práticos que pre-
tende resolver. Pode usar uma perspectiva temporal (hoje, ontem, amanhã),
ou então, a comparação social. Solicitar que a pessoa se compare com outros
da mesma idade significa a adoção do pressuposto de que a avaliação do bem-
estar é referenciada a padrões socionormativos compartilhados por pessoas
pertencentes a uma mesma coorte. Estar de acordo com o esperado confere às
pessoas uma noção de ajustamento, motivo pelo qual o uso de comparação
social é indicador do uso de mecanismo de auto-regulação do self, e é fonte de
explicação para o bem-estar subjetivo (86).
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Autores Nome da Escala O que mede Uso Descrição
Gurin, Veroff e Feld (1960) Escala Gurin Satisfação geral com a vida Geral Uma questão sobre “como tem se sentido ultimamente”. O respondente
escolhe entre “felicíssimo”, “feliz” e “não tão feliz”.
Neugarten, Havighurst e Inventário de satisfação de vida (life Satisfação geral com a vida Idosos Dois formatos: A, com vinte itens tipo concordo-discordo e B, com doze
Tobin (1961) satisfaction index - LSI) itens para completar. Os fatores medem animação e apatia, resolução,
fortaleza e congruência entre metas desejadas e alcançadas.
QUADRO 1.2
Cantril (1965) Escada de auto-avaliação (self- Satisfação geral com a vida Geral Uma escada vertical, em cujo topo pode-se ler “a melhor vida para você”
anchoring ladder) e em cuja base se pode ler “a pior vida possível para você”. São nove
degraus e o respondente deve marcar aquele que corresponde à sua
avaliação.
Neri (1999) Escala de satisfação global Satisfação geral com a vida Geral Nova forma gráfica da Ladder Scale, contendo uma escada ascendente
com a vida com dez degraus dispostos em diagonal, da esquerda para a direita,
ancorados pelos conceitos “a pior vida” e “a melhor vida”. Admite
resposta única (1 a 10).
Neri (1999) Escala de satisfação referenciada a Satisfação referenciada a domínios Geral Dez escalas de 5 pontos (pouquíssimo a muitíssimo) avaliando saúde,
domínios capacidade física, saúde mental, capacidade mental e integração social e
espiritualidade (“a minha” e “a minha em comparação com outras
pessoas da minha idade”).
Bradburn (1969) Escala de equilíbrio afetivo (affect Geral Dez itens destinados a medir afetos positivos e negativos. Exemplo:
balance scale) o respondente assinala os que tem vivido ultimamente.
Lawton (1975) Escala do Centro Geriátrico de Filadélfia Satisfação geral com a vida Idosos São dezessete itens (na versão original de 1972, 22 itens) no formato
para Medida do Moral (The Philadelphia concordo-discordo. Os fatores são: insatisfação-solidão, agitação e
Geriatric Center Morale Scale – PGC). atitudes ou relação com a própria velhice.
Campbell, Converse e Inventário bem-estar, inventário de Satisfação geral com a vida (aspectos Geral Um item do tipo concordo-discordo quanto à satisfação com a vida
Rodgers (1976) afeto geral (index of well-being, index of cognitivos) e estados emocionais como um todo (1 a 7). Oito itens escalares (1 a 7) medindo intensidade
general affect) (aspectos afetivos) de estados afetivos. Exemplo: interessado-entediado.
Andrews e Whitney (1976) Escala satisfeito-terrível (delighted- Estados afetivos Geral Um item aplicado duas vezes, tendo a segunda de 15 a 20 minutos
terrible scale) depois da primeira. O respondente assinala numa escala de 7 pontos,
de “satisfeito” a “terrível”, o ponto que corresponde ao seu sentimento
em relação à vida como um todo.
do bem-estar subjetivo
Fordyce (1977, apud Medida de felicidade Estados afetivos Geral Dois itens. Solicita ao respondente avaliar a porcentagem do tempo em
Andrews e Robinson, que se sente feliz, infeliz ou neutro. Inclui também uma escala de 11
1991) pontos em que o respondente utiliza para avaliar seu grau de felicidade.
Fazio (1977, apud Andrews Escala de bem-estar geral Estados afetivos (no último mês) + Geral Trinta e três itens: catorze com opções de seis respostas, quatro com
Exemplos de instrumentos de medida
e Robinson, 1991) saúde mental (nos dois últimos anos) barras graduadas de 0 a 10 e quinze de auto-avaliação comportamental.
Hupy (1978, apud Andrews Escala de bem-estar geral Aspectos cognitivos e aspectos Geral Avalia sete aspectos específicos do bem-estar: satisfação com a vida,
e Robinson, 1991) afetivos preocupações com a saúde, depressão, adequação da pessoa ao
ambiente, enfrentamento, nível de energia e estresse.
Kozma e Stone (1980) Escala de felicidade da Memorial Estados emocionais e satisfação Idosos Medida de saúde mental para idosos composta por cinco itens sobre
University de Newfoundland (Memorial global com a vida hoje e em afetos positivos, cinco de afetos negativos, sete itens sobre experiências
University of Newfoundland Scale of comparação com a juventude positivas e sete sobre experiências negativas. O respondente assinala
Happiness, MUNSH) “sim”, “não” ou “não sei”, em relação a como vai indo ultimamente.
Kammann e Flett (1983) Aspectômetro 2 Afetos positivos e afetos negativos Geral Mede a freqüência de afetos positivos e negativos na experiência
recente. Quarenta itens do tipo “sim” ou “não”, sendo vinte sentenças e
vinte adjetivos. Exemplos: Eu estou sempre rindo, eu penso clara e
criativamente, sozinho, retraído, entusiasmado.
Siqueira e Martins (1999) Escala de ânimo positivo e negativo Estados emocionais positivos e Geral Contém catorze itens dicotômicos (sim/não), metade positivos (feliz,
negativos alegre, animado) e metade negativos (deprimido, chateado, desanimado).
Fisioterapia geriátrica
Conclusões
A compreensão do conteúdo da qualidade de vida na velhice é central ao
desenvolvimento de iniciativas de intervenção visando à prevenção e à reabili-
tação nos vários contextos da vida do indivíduo e também ao planejamento e
à avaliação de serviços e políticas destinados a promover o bem-estar dos ido-
sos. Estamos diante de um campo relativamente recente, que mais se desdo-
bra em decorrência das preocupações dos técnicos e de alguns setores da so-
ciedade do que, propriamente, da mobilização da população-alvo. Assim, no
Brasil, além de dar conta do desafio de compreender o fenômeno, temos tam-
bém de tomar providências culturais para a mudança de atitudes em relação
ao tema e para a compreensão de que ele só tem sentido num contexto de
bem-estar para pessoas de todas as idades.
Em todo o mundo, e em especial no Brasil, o campo é relativamente novo
e se ressente da relativa escassez de programas multidisciplinares e longitudi-
nais de pesquisa. Esse é um outro desafio para os que se ocupam da pesquisa e
da intervenção envolvendo idosos. Antes de tudo, porém, seria bom que os in-
teressados no tema qualidade de vida na velhice estabelecessem uma posição
teórica e filosófica clara em relação ao que significa envelhecer e ao que é de-
sejável da experiência de desenvolvimento e envelhecimento.
28
Qualidade de vida na velhice
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Fisioterapia geriátrica
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Fisioterapia geriátrica
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36
Capítulo 2
Aspectos
biológicos do
envelhecimento
Wilton Rogério Lustri
José Geraldo da Silva Morelli
Teorias do envelhecimento
N
as últimas décadas, tem-se observado um ritmo mais acelerado no
crescimento da população idosa nos países em desenvolvimento,
quando comparado ao dos países desenvolvidos. Esse crescimento
fatalmente implicará conseqüências sérias que afetarão diretamente os servi-
ços de assistência social e de saúde da população geriátrica. Diante desse qua-
dro, torna-se inadiável a adoção de políticas sociais que atendam às necessida-
des básicas do idoso. Entre os vários problemas a ser enfrentados, um dos
mais preocupantes talvez seja o elevado custo da assistência ao idoso, que che-
ga a ser de três a sete vezes maior que o custo médio da assistência à popula-
ção em geral. Isso pode explicar, em parte, o grande interesse da comunidade
científica no estudo do fenômeno do envelhecimento.
As discussões sobre o processo de envelhecimento envolvem, além de vá-
rias manifestações, o acúmulo de doenças crônicas. Mas como separar as alte-
rações advindas apenas do processo de envelhecimento fisiológico das altera-
ções provenientes de seqüelas de diversos processos patológicos? Essa questão
se faz muito presente em nosso cotidiano, visto que o idoso é, em geral, este-
reotipado como um doente. Hoje se sabe que tal concepção não corresponde
37
Fisioterapia geriátrica
38
Aspectos biológicos do envelhecimento
39
Fisioterapia geriátrica
NH2 O
C N C N
N C HN C
a CH CH
HC N C N H2N C N C N
H H
Adenina Guanina
O NH2
C C CH3 C CH
HN N
b C CH C CH
O N O N
H H
Timina Citosina
Fonte: Zaha, A. (coord.). Biologia molecular básica. Porto Alegre, Mercado Aberto, p. 39, 1996.
Modelo da molécula
de DNA
FIGURA 2.3
40
Aspectos biológicos do envelhecimento
Modelo da replicação da
molécula de fita dupla de DNA
FIGURA 2.4
Mostrando a formação da 3’ 5’
forquilha de replicação e cada
uma das fitas-mãe atuando AT
como “molde” para a síntese CG
das fitas-filha que constituirão CG
AT
as duas novas moléculas
de DNA TA
CG
GC
CG
TA
TA
AT
GC
TA
AT
CG
CG
TA
T A
G C
G
C G
C Forquilha de T
A replicação A
T G
GC G
GC AT 5’
AT
Parental TA
TA CG
GC TA
TA Nova TA
TA GC
GC AT
TA CG
CG GC
GC GC
GC TA
TA TA
TA TA
TA CG
AT AT
5’ AT 3’ 5’ CG 3’
Fonte: Watson (38), p. 20.
41
Fisioterapia geriátrica
Síntese
do primer
FIGURA 2.5
Promovendo a formação de uma extremidade de fita dupla para a ação da DNA polimerase
T T A G A G T A G A A G T G A G G G T T G
3’ 5’
Fita molde de DNA
42
Aspectos biológicos do envelhecimento
Replicação
do DNA
FIGURA 2.6
Cad
de Okasaki 3’
Primer Primer
ada
e
ia r
ant
Cad
5’ 5’
eta
adi
3’ 3’
rd
e
ia r
ada
eia
eta
5’ 5’
Cad
rd
Fragmento
ada
3’ de Okasaki 3’
3’ 5’ 3’ 5’
Fonte: modificado de De Roberts, E. D. P. Bases da biologia celular e molecular. 2. ed. Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, p. 171, 1993.
Como cada fita dupla nova é constituída por uma fita original e uma fi-
lha, a replicação é dita semiconservativa.
A replicação permite que ocorra a transmissão da informação genética de
geração para outra. Como veremos adiante, o DNA de uma célula se replica
antes da divisão celular, de modo que cada célula-filha receba um cromosso-
mo idêntico ao original. A informação contida no DNA também é transcrita
em mRNA (RNA mensageiro) e traduzida em uma proteína.
Como visto anteriormente, os genes são constituídos por DNA cuja se-
qüência de bases nitrogenadas especifica a seqüência de aminoácidos que
constituirão a cadeia polipeptídica de determinada proteína.
A informação contida no DNA é transcrita em uma seqüência comple-
mentar de bases nitrogenadas de RNA (ácido ribonucléico) mensageiro que é
traduzida pelos ribossomos produzindo proteínas específicas.
Transcrição Tradução
DNA mRNA Proteínas
43
Fisioterapia geriátrica
a O- 5’-fosfato b
O P O-
O Base
NH2
CH2 O Adenina
Fosfatos N C C
N
O O O HC
H H -O CH
H H P O P O P O CH2 N C N
O
O OH O- O- O- C H H C
O P O- H C C H Ribose
O OH OH
H H
H H
O OH
O P O- Ligação fosfodiéster
O
CH2 O Uracil
H H
H H
O OH
O P O-
O
CH2 O Guanina
H H
H H
HO OH
Fonte: Zaha, A. (coord.). Biologia molecular básica.
3’-hidroxila Porto Alegre, Mercado Aberto, p. 41, 1996.
44
Aspectos biológicos do envelhecimento
deos de RNA com os de DNA da fita molde, sempre adenina com uracil e ci-
tosina com guanina.
A transcrição se inicia quando a RNA polimerase se liga a um local espe-
cífico do DNA denominado promotor. A RNA polimerase move-se ao longo
da cadeia de DNA, sempre no sentido 5’ → 3’ até encontrar outro local do
DNA denominado terminador, onde ocorre o desacoplamento da RNA poli-
merase e da fita recém-sintetizada de mRNA.
Após a síntese e o processamento da molécula de mRNA no núcleo da cé-
lula, esta migra para o citoplasma onde irá se associar aos ribossomos para a
tradução. Além do mRNA, outros dois RNAs encontram-se envolvidos na sínte-
se de proteínas: o tRNA (RNA transportador) e o rRNA (RNA ribossômico).
O ribossomo é um organóide citoplasmático constituído por duas subu-
nidades, uma menor (subunidade 40S) e uma maior (subunidade 60S) for-
mado por rRNA e proteínas. Na tradução, a subunidade 40S do ribossomo
liga-se ao mRNA e, após encontrar um códon de iniciação, junta-se à subuni-
dade 60S originando a partícula ribossomal completa (80S) e assim, a cadeia
polipeptídica vai se formando.
A linguagem genética do mRNA apresenta-se sob a forma de códons (se-
qüências de três nucleotídeos), que determinam a seqüência de aminoácidos
envolvida na cadeia polipeptídica da proteína a ser sintetizada.
Existem 64 códons possíveis para os vinte aminoácidos existentes, isso
significa que podem existir códons alternativos para cada aminoácido, reve-
lando uma degeneração no código genético (Tab. 2.1). A degeneração do có-
digo genético permite que ocorram mutações no DNA, sem, no entanto, afe-
tar a proteína sintetizada.
Código genético
padrão
TABELA 2.1
45
Fisioterapia geriátrica
Tradução
FIGURA 2.8
46
Aspectos biológicos do envelhecimento
47
Fisioterapia geriátrica
P M
A
T
G2 M
M
G2
1h
3h
G1
5h G1
S
G0 7h
S
Fonte: modificado de Cooper (8), p. 575.
S
G0
G1 G2 Prófase
Telófase
Anáfase Metáfase
G0
G1
48
Aspectos biológicos do envelhecimento
49
Fisioterapia geriátrica
50
Aspectos biológicos do envelhecimento
Ação da enzima
telomerase
FIGURA 2.10
5’ 3’
DNA T T G G G G T T G G G G T T G
telomérico
A A C C C C A A C
3’ 5’
Ligação da telomerase
Telomerase
5’ 3’
T T G G G G T T G G G G T T G
A A C C C C A A C A A C C C C A
3’ 5’ 3’ 5’
Telomerase do RNA
5’ 3’
T T G G G G T T G G G G T T G G G G T T G
5’ 3’
T T G G G G T T G G G G T T G G G G T T G
A A C C C C A A C C C A A C C C C A A C
3’ Primer
5’
5’ 3’
T T G G G G T T G G G G T T G G G G T T G
51
Fisioterapia geriátrica
52
Aspectos biológicos do envelhecimento
53
Fisioterapia geriátrica
Genéticos
Desde o começo do século XX até os dias atuais, muito se tem feito pela
melhora da qualidade de vida dos seres humanos, pelos avanços tecnológicos,
pelo saneamento básico, por maior acesso a informações, pelo avanço da me-
dicina entre outros. Todo esse esforço resultou em aumento considerável da
expectativa de vida da população, chegando aos 80 anos de idade nos países
desenvolvidos. Porém, a duração máxima da vida não se alterou e, segundo
alguns autores, não se alterará com o tempo. Essa duração máxima é particu-
lar a cada espécie estudada e nos seres humanos tem um valor aproximando
de 110 a 115 anos.
Dessa forma, acredita-se que a duração máxima da vida é determinada
pelo padrão genético, mas esse estudo é muito difícil, visto que o processo de
envelhecimento se dá por vários motivos associados e não por apenas um
que, por exemplo, poderia ser genético.
Há relatos de que as mulheres vivam mais que os homens, apresentando
expectativa de vida média ao nascer de cinco a sete anos a mais. Sugerem a pos-
sibilidade desse fato ser conseqüência da proteção de hormônios, principalmen-
te do estrógeno, no aparecimento da aterosclerose. Também levantam a hipóte-
se de uma tendência maior dos homens em adotar atitudes de risco à saúde.
A literatura científica relata a influência genética no processo de enve-
lhecimento, por exemplo, algumas síndromes que se caracterizam por apre-
sentar envelhecimento precoce decorrente da aceleração dos mecanismos que
o determinam. Assim, temos a síndrome de Hutchinson-Gilford, que se carac-
teriza por crescimento aparentemente normal da criança seguido de proble-
mas como atrofia da pele, catarata, hipertensão arterial, entre outros. Essas
manifestações são próprias de idosos e, dessa forma, faz com que essas crian-
ças também tenham morte prematura, geralmente na adolescência. Outra do-
ença característica é a síndrome de Werner, na qual a criança sofre de calvície,
alterações cutâneas e vasculares, osteoporose, diabetes etc. Nessa síndrome os
indivíduos também morrem precocemente, porém um pouco mais tarde que
a síndrome citada anteriormente, por volta dos 30 anos.
O mongolismo, ou síndrome de Down, também apresenta algumas parti-
cularidades de envelhecimento precoce entre seus portadores, por exemplo,
maior incidência de doenças auto-imunes, maior incidência de neoplasias e de
diabetes e também alterações do sistema nervoso central observadas em ne-
cropsias como degeneração neurofibrilar e calcificação dos gânglios da base.
54
Aspectos biológicos do envelhecimento
Sistema imunológico
55
Fisioterapia geriátrica
Ligações cruzadas
Radicais livres
Vários são os mecanismos que podem levar a uma lesão celular e, entre
eles, podemos citar as lesões provocadas pelos radicais livres. Esses radicais
correspondem a espécies reativas de oxigênio (superóxidos = O2- • e radicais
hidroxila = •OH) produtos da redução incompleta do O2 durante o metabo-
56
Aspectos biológicos do envelhecimento
57
Fisioterapia geriátrica
58
Aspectos biológicos do envelhecimento
59
Fisioterapia geriátrica
Diferença de estatura
entre um adulto e um idoso
FIGURA 2.11
60
Aspectos biológicos do envelhecimento
te pela diminuição do número de células nos órgãos. Esses fatos levam o ido-
so a perder massa corporal, afetando vários órgãos, como os rins e o fígado,
mas os músculos são os que mais sofrem com essa perda de massa com o pas-
sar do tempo e, sobre eles, será comentado mais adiante quando abordaremos
as alterações do sistema muscular.
A pele e os pêlos seguem direções próprias conforme suas linhas de ten-
são. Por esse raciocínio, entende-se o motivo pelo qual ao perfurar-se a pele
de um idoso com um objeto cilíndrico produz-se uma fenda e não um orifí-
cio circular (Fig. 2.12). Em conjunto, a pele fica menos elástica por causa da
alteração da elastina e ocorre diminuição da espessura da pele e do tecido
subcutâneo, levando ao aparecimento das rugas. Também observa-se dimi-
nuição da atividade das glândulas sudoríparas e sebáceas, resultando em uma
pele áspera e seca, mais sujeita a lesões e infecções. Os melanócitos, células
que caracteristicamente dão cor à pele, podem sofrer alterações no seu fun-
cionamento e, conseqüentemente, levar à formação de manchas hiperpig-
mentadas, marrons, lisas e achatadas, principalmente na face e no dorso da
mão. A epiderme sofre algumas alterações tornando-se mais fina, por isso, aos
menores traumas podem apresentar equimoses com manchas vermelhas, ou
púrpuras, e salientes.
Perfuração na pele
de um adulto produz
um orifício circular, em
um idoso a perfuração
produz uma fenda.
Adulto Idoso
Quanto aos pêlos, há diminuição geral por todo o corpo, exceto nas nari-
nas, na orelha e nas sobrancelhas. O cabelo é constituído de células modifica-
das da epiderme que formam a medula e o córtex. Na medula encontra-se ar
ou líquido e no córtex pigmentos que darão cor aos cabelos. Com o envelhe-
cimento, a medula se enche de ar e as células do córtex perdem pigmento, re-
sultando cabelos brancos.
61
Fisioterapia geriátrica
Figura mostrando
o osso esponjoso
localizado mais no Osso esponjoso
centro e o osso
compacto localizado
mais na periferia.
Osso compacto
62
Aspectos biológicos do envelhecimento
Atividade osteoblástica
e osteoclástica no mesmo osso
FIGURA 2.14
Periósteo fibroso
Osso
Veia
Osteoclastos
Osteoblastos
Fonte: adaptado de Guyton, A. C. & Hall, J. E. (16), p. 900, Fig. 79.6
63
Fisioterapia geriátrica
Modelagem e
remodelagem óssea
FIGURA 2.15
Figura mostrando a ação osteoclástica digerindo a matriz óssea com conseqüente ação
osteoblástica preenchendo o local digerido.
Fatores do crescimento Células osteoprogenitoras
liberados ligados à matriz
Fatores mecânicos
Hormônios
Citocinas
Osteoblastos ativos
Osteoblastos superficiais
Osteoclasto
Fonte: adaptado de Cotran, R. S.; Kumar, V. & Collins, T. (9), p. 1.090, Fig. 28.5.
64
Aspectos biológicos do envelhecimento
Corte aumentado
Ósteon
Lacunas
Canalículos
Canal de
Havers
65
Fisioterapia geriátrica
66
Aspectos biológicos do envelhecimento
tem como objetivo aumentar os níveis de cálcio sérico e sua secreção está sob
controle de um feedback negativo da concentração sérica do cálcio. Há evi-
dências demonstrando que o PTH interfere na atividade dos osteoclastos,
bem como na atividade dos osteoblastos. Os osteoclastos seriam estimulados
indiretamente, após a ação do paratormônio nos osteoblastos, pois estes últi-
mos apresentam receptores específicos para o PTH.
A vitamina D tem como efeito principal aumento da absorção de cálcio e
fósforo pela mucosa intestinal. Além disso, apresenta atividade similar à do
PTH no osso.
Já a calcitonina, que é um hormônio produzido pela glândula tireóide,
tem como função baixar a concentração de cálcio no sangue. Alguns estudos
apontam para o fato da calcitonina apresentar uma função “antagônica” ao
PTH, mas essa afirmação necessita de maiores esclarecimentos.
Com o envelhecimento, a paratireóide aumenta discretamente seu volu-
me, mas seu funcionamento parece não sofrer alteração significativa quanto à
liberação de PTH sérico. Em compensação, os níveis séricos de cálcio total po-
dem ser menores que em adultos sadios, possivelmente devido a alterações no
metabolismo da vitamina D.
67
Fisioterapia geriátrica
vés da matriz interposta. Segundo Gray (37), essa nutrição é feita por inúme-
ros canais que se ramificam contendo uma pequena artéria ou arteríola, uma
ou duas largas vênulas e alguns capilares que são envolvidos por tecido con-
juntivo.
Existe uma variedade de cartilagem, mas a principal é a cartilagem hia-
lina articular que é um tecido conjuntivo singular, pois não possui supri-
mento sangüíneo e não tem drenagem linfática ou inervação. As cartilagens
são compostas de colágeno do tipo 2, água, proteoglicanas e condrócitos,
sendo que, cada elemento apresenta uma função específica. As fibras de co-
lágeno mostram orientação horizontal, dando estruturalmente resistência
às forças compressivas geradas durante a transmissão de peso, em mudanças
rápidas de posturas e em ações musculares. A água e as proteoglicanas são
responsáveis pelo turgor e pela elasticidade da cartilagem. Já os condrócitos
sintetizam a matriz e a digerem enzimaticamente, com o tempo de vida dos
seus componentes variando de semanas (proteoglicanas) a anos (colágeno
do tipo 2).
As informações citadas fazem parte da fisiologia das articulações, mas à
medida que o organismo envelhece ocorrem algumas alterações características.
As articulações sinoviais sofrem alterações nas cartilagens articulares. O
envelhecimento promove diminuição no número de condrócitos, na quantida-
de de água e proteoglicanas, e aumento no número e na espessura das fibras
colágenas, tornando a cartilagem mais fina e com rachaduras e fendas na su-
perfície. Nas articulações não-sinoviais fibrosas, como as suturas cranianas, o
tecido fibroso vai sendo substituído por osso por volta dos 30 anos de idade.
Dessa forma, o crânio tende a ter menor número de ossos e, conseqüentemen-
te, menor resistência a fraturas.
Algumas alterações clássicas também ocorrem nas articulações interver-
tebrais. Já é sabido que os discos intervertebrais são constituídos por um nú-
cleo pulposo e um anel fibroso. No jovem, esse núcleo é formado por água, fi-
bras colágenas finas e proteoglicanas. O anel é constituído por condrócitos,
fibras colágenas espessas e proteoglicanas. Com o envelhecimento a água e as
proteoglicanas diminuem no núcleo, enquanto as fibras colágenas aumentam
em número e espessura. No anel fibroso, ocorre um adelgaçamento das fibras
colágenas. A associação desses fatores faz com que o disco intervertebral do
idoso diminua em espessura, aumentando as curvaturas da coluna vertebral,
em especial a curva dorsal, dando o aspecto característico de um indivíduo
cifótico. Além disso, a diminuição na espessura dos discos intervertebrais
determina reduções nas amplitudes dos movimentos das diversas regiões da
coluna, impondo, por vezes, a necessidade de uma movimentação em bloco
da coluna vertebral, principalmente nos movimentos de rotação. Uma outra
decorrência é o aumento dos contatos das superfícies ósseas dos corpos
vertebrais, iniciando um processo artrósico, fato que determina uma reação
orgânica caracterizada pela deposição de cálcio, dando origem a osteófitos, os
quais podem ser notados com maior freqüência na região lombar.
Esses aspectos (a diminuição das amplitudes de movimentos e o aumen-
to do contato das superfícies ósseas) devem ser levados em conta tanto no
68
Aspectos biológicos do envelhecimento
69
Fisioterapia geriátrica
Aspectos estruturais da
fibra muscular esquelética
FIGURA 2.17
Músculo
Fascículo muscular
Fibra
muscular
Sarcômero
Filamentos
H
de F-actina
Filamento
Miofilamentos de actina
Z Z
Filamento
de miosina
Molécula
de miosina
Meromiosina Meromiosina
leve pesada
Fonte: adaptado de Smith, L. K.; Weiss, E. L. & Lehmkuhl, L. D. (34), p. 84, Fig. 3.1.
70
Aspectos biológicos do envelhecimento
71
Fisioterapia geriátrica
Classificação da fibra
Sistema 1 Contração lenta Contração rápida a Contração rápida b
Sistema 2 Tipo I Tipo IIA Tipo IIB
Sistema 3 OL GOR GR
Características
Capacidade oxidativa Alta Moderadamente alta Baixa
Capacidade glicolítica Baixa Alta A mais alta
Velocidade contrátil Lenta Rápida Rápida
Resistência à fadiga Alta Moderada Baixa
Força da unidade motora Baixa Alta Alta
Nota: neste texto, nós utilizamos Sistema 1 para classificar os tipos de fibra muscular. Outros sistemas também são
freqüentemente utilizados. O Sistema 2 classifica as fibras CL como Tipo I e as fibras CR como Tipo IIA e Tipo IIB.
O Sistema 3 classifica os tipos de fibra baseando-se na velocidade de contração e no principal modo de produção
de energia da fibra. As fibras CL são denominadas OL (oxidativas lentas), as fibras CRa são denominadas GOR
(glicolíticas oxidativas rápidas) e as fibras CRb são denominadas GR (glicolíticas rápidas).
Fonte: Wilmore, J. H. & Costill, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2. ed. São Paulo, Manole, p. 40, 2001.
72
Aspectos biológicos do envelhecimento
Estruturas
cerebrais
FIGURA 2.18
a) Identificação de
estruturas cerebrais a
Ventrículo lateral
(corpo)
Corpo frontal
do ventrículo Corno occipital
lateral do ventrículo
lateral
Terceiro ventrículo
Ventrículo lateral
(corno temporal)
Quarto ventrículo
Aumento dos
ventrículos
Perda da substância
branca em virtude
da perda axônica
ou da diminuição
da mielinização
Fonte: adaptado de
Cohen, H. (6), p. 404. Cérebro adulto normal Cérebro envelhecido
73
Fisioterapia geriátrica
74
Aspectos biológicos do envelhecimento
75
Fisioterapia geriátrica
Fisiopatologia da
formação do trombo
FIGURA 2.19
a
a) Fluxo sangüíneo livre. Luz arterial
sem qualquer impedimento
Núcleo
lipídico
Capa
fibrosa
Estria
gordurosa
76
Aspectos biológicos do envelhecimento
Núcleo
c lipídico
c) Diminuição da luz arterial pela
FIGURA 2.19
Luz vascular
estreitada
Placa
d) Placa instável com grande núcleo d instável
Núcleo
lipídico com tênue capa protetora.
Essa placa rompe-se com facilidade, lipídico
sendo responsável pela formação de Pontos de
trombos e por dois terços dos calcificação
infartos agudos do miocárdio.
Matriz
amorfa
Ruptura
da placa
Trombo em
formação
Hemácias
e) Após o rompimento da placa, o
Plaquetas
conteúdo lipídico sofre processos e
coagulantes induzindo a formação Núcleo
de trombos que obstruirá completa lipídico
ou parcialmente a luz arterial.
Pontos de
calcificação
Trombo
Oclusão
arterial
Fibrinogênio
(rede de fibrina)
77
Fisioterapia geriátrica
Aspectos estruturais
do coração idoso
TABELA 2.3
78
Aspectos biológicos do envelhecimento
79
Fisioterapia geriátrica
Aspectos estruturais
da aorta senil
TABELA 2.4
e) calcificação;
f) amiloidose.
Fonte: adaptado de Carvalho Filho, E. T. & Papaléo Netto, M. (4), p. 130, Fig. 9.2.
80
Aspectos biológicos do envelhecimento
81
Fisioterapia geriátrica
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Fisioterapia geriátrica
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(37) WARWICK R. & WILLIANS, P. L. Gray – Anatomia. 35. ed. Rio de Janei-
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(38) WATSON, J.; GILMAN, M.; WITKOWSKI, J. & ZOLLER, M. O DNA re-
combinante. 2. ed. Minas Gerais, Universidade Federal de Ouro Preto, p.
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(42) WICKELGREN, I. “For the cortex, neuron loss may be less than thou-
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84
Capítulo 3
Avaliação do
idoso: anamnese
e exame da
performance
física
Gilberto Eiji Shiguemoto
O
diagnóstico é um aspecto de suma importância na prática fisioterá-
pica com pacientes idosos. Obter informações precisas a partir da
história clínica e selecionar os testes mais adequados para o exame
físico funcional são procedimentos fundamentais para a melhor compreensão
dos resultados obtidos na avaliação. A obtenção do diagnóstico fisioterápico
em geriatria é um processo dinâmico, que requer do fisioterapeuta a habilidade
de buscar na literatura evidências científicas que determinem a precisão na
interpretação das informações fornecidas pela história clínica e pelos resulta-
dos obtidos nos testes aplicados ao exame físico.
A fisioterapia tem uma história muito rica de diálogo sobre o significado
do processo diagnóstico para o aspecto clínico da profissão (18). O Guide to
physical therapy practice (Guia para a prática fisioterápica) (19) identifica o di-
agnóstico fisioterápico como a chave fundamental no processo de maximiza-
ção dos resultados obtidos, representando o ponto culminante do processo de
avaliação e, como conseqüência lógica, direcionando decisões subseqüentes
relacionadas com o processo de intervenção e prognóstico fisioterápico.
85
Fisioterapia geriátrica
DIAGNÓSTICO – Inclui tanto o processo quanto o resultado final obtidos nos dados do exame
de avaliação, no qual o fisioterapeuta organiza para definir grupos, síndromes ou categorias
para auxiliar na determinação do prognóstico (incluindo o plano de tratamento) e a estratégia
de intervenção mais apropriada.
86
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
Anamnese
A anamnese de pacientes idosos normalmente vai requerer um tempo
maior quando comparada à anamnese de pacientes jovens. Pacientes idosos
podem apresentar diversos sintomas não específicos, dificultando o foco da
anamnese e, conseqüentemente, o foco do exame físico. Deficiências sensoriais
(alterações auditivas ou visuais), muito comuns em idosos, também podem
interferir no processo de avaliação. Além disso, os idosos podem não relatar
87
Fisioterapia geriátrica
88
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
89
Fisioterapia geriátrica
90
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
História pregressa
Quando realizar a história pregressa da doença, o fisioterapeuta deve per-
guntar primeiramente ao paciente sobre as doenças que ocorrem mais comu-
mente (febre reumática, poliomielite) e sobre os tratamentos que não são muito
comuns atualmente (tratamento de pneumotórax para tuberculose, mercúrio
para sífilis). História de imunizações (tétano, gripe, penumococos), reações
adversas às imunizações e o resultado do teste cutâneo para tuberculose de-
vem também ser obtidos. Se o paciente relatar ter sofrido cirurgias e não se
lembrar do procedimento ou do propósito das mesmas, o prontuário cirúrgi-
co deve ser solicitado. Outras doenças e queixas devem ser revistas sistemati-
camente (Tab. 3.2).
Revisão de regiões e
sistemas corpóreos (51)
TABELA 3.2
91
Fisioterapia geriátrica
92
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
Medicamentos
O fisioterapeuta deve registrar a história medicamentosa — uma folha de
receituário é bastante útil — e fornecer uma cópia para o paciente ou para o
acompanhante. A história medicamentosa deve determinar quais os tipos de
drogas usadas, a dosagem, a freqüência, o médico que fez a prescrição e o por-
quê da prescrição. Drogas de uso tópico também devem ser incluídas, pois co-
lírios para o tratamento de glaucoma são absorvidos sistematicamente, po-
dendo produzir efeitos colaterais nos sistemas cardiovascular, pulmonar e
nervoso. Drogas utilizadas por conta do paciente devem ser incluídas, já que o
uso indevido pode trazer sérias conseqüências para o paciente. A fórmula de
qualquer droga antialérgica deve ser determinada. Em algumas situações é
conveniente solicitar ao paciente trazer todas os remédios (comprimidos, po-
madas, xaropes etc.) que estão em sua caixa pessoal de medicamentos. Entre-
tanto, estar ciente da prescrição medicamentosa corrente não garante o com-
promisso do paciente com o tratamento proposto pelo fisioterapeuta. A caixa
pessoal de medicamentos deve ser conferida a cada visita subseqüente ao pri-
meiro contato. Alguns pacientes podem demonstrar habilidade para ler bulas
e abrir frascos de outros tipos de medicamentos e tomá-los combinados com
outros que são administrados por via oral.
História nutricional
A quantidade e a qualidade da alimentação deve ser determinada, incluin-
do o número e a freqüência das refeições realizadas por dia e por semana.
Qualquer dieta especial (baixo teor de sal, baixo teor de carboidratos) ou die-
tas antioxidativas prescritas por conta própria devem ser anotadas. A ingestão
de álcool, a dieta de fibras e as vitaminas prescritas por conta própria também
são registradas. O padrão financeiro do paciente e a conseqüente acessibilida-
de a estoques de alimentos constituem-se importantes fontes de dados.
A habilidade do paciente em alimentar-se por conta própria deve ser
avaliada. Ela pode ser prejudicada pela xerostomia (secura excessiva da
boca), que é bastante comum em idosos. A diminuição do paladar ou do ol-
fato reduz o prazer de comer, proporcionando redução no apetite. Pacientes
com diminuição da visão, artrite, imobilidade ou tremores podem apresen-
tar dificuldades de preparar suas refeições, processo que usualmente causa
lesões ou queimaduras. Pacientes que sentem vergonha por apresentar in-
continência urinária podem reduzir a ingestão de água, fato que além de
prejudicar a hidratação corporal, pode levar à diminuição na ingestão de ali-
mentos sólidos.
História psiquiátrica
Problemas psiquiátricos podem não ser detectados tão facilmente em
pessoas idosas. Insônia, mudanças no padrão de dormir, constipação, dimi-
nuição da cognição, anorexia, perda de peso, fadiga, preocupação com as fun-
93
Fisioterapia geriátrica
Manifestações clínicas
da depressão em idosos (6)
TABELA 3.3
ITENS SINTOMAS
Humor Atitude depressiva, irritabilidade ou ansiedade (entretanto,
o paciente pode sorrir ou negar mudanças subjetivas no
humor e, em lugar disso, queixar-se de dor ou outras
angústias somáticas).
94
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
Status funcional
A avaliação do status funcional do paciente idoso é o contraponto do
bom atendimento geriátrico, pois os objetivos terapêuticos deverão estar cen-
trados na melhoria do status funcional, que nem sempre tornam-se realidade
em virtude das próprias limitações econômicas e sociais do idoso. É impor-
tante lembrar que qualidade de vida está intimamente ligada ao status funcio-
nal que o paciente apresenta e, conseqüentemente, ao próprio progresso de
qualquer programa de reabilitação. Portanto, a compreensão da avaliação do
status funcional em geriatria deve pautar-se na revisão da maior parte das ha-
bilidades funcionais, aqui divididas em duas categorias: as atividades de vida
diária (AVDs) e as atividades instrumentais de vida diária (AIVDs).
O conceito de atividades de vida diária é talvez um dos únicos conceitos
em que há consenso geral. Existem muitas revisões sobre o conceito de AVDs
e suas medidas (1;12;13;15;27), mas o mecanismo de medida das AVDs me-
lhor padronizado e mais utilizado mundialmente é o Barthel ADL Index (48)
(Tab. 3.4).
95
Fisioterapia geriátrica
Índice de Barthel
para AVDs (48)
TABELA 3.4
Uso do Dependente 0
toalete Necessita de algum auxílio, mas realiza algumas atividades 1
sozinho
Independente (vestir-se, enxugar-se) 2
Alimentar-se Incapaz 0
Necessita de auxílio para cortar alimentos, passar manteiga etc. 1
Independente 2
Mobilidade Imóvel 0
Independência com cadeira de rodas, incluindo os cantos 1
Caminha com auxílio de uma pessoa (verbal ou físico) 2
Independente (mas pode ser utilizado qualquer tipo de auxílio; 3
por exemplo, bengalas)
Vestir-se Dependente 0
Necessita de auxílio, mas pode vestir-se quase sem auxílio 1
Independente (incluindo botões, zíper, cadarço etc.) 2
Uso de Incapaz 0
escadas Necessita de auxílio (verbal, físico, levando auxílio) 1
Independente 2
Banho Dependente 0
Independente (ou no chuveiro) 1
96
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
1. O índice deve ser usado como registro do que o paciente FAZ, não como registro do que o paciente PODERIA FAZER.
2. O objetivo principal do índice é estabelecer graus de independência de qualquer tipo de auxílio, físico ou verbal, por
menor que seja e por qualquer razão.
3. A necessidade de supervisão acarreta ao paciente a NÃO independência.
4. O desempenho do paciente deve ser estabelecido utilizando-se a melhor evidência disponível. Pacientes, familiares,
amigos e enfermeiros são as principais fontes de respostas, mas a observação direta e o senso comum também são
importantes. No entanto, testes diretos não são necessários.
5. Normalmente o desempenho do paciente pelo período de 24-48 horas precedentes é a observação mais importante,
mas, ocasionalmente, a observação por longos períodos pode ser relevante.
6. Categorias médias implicam que o paciente supra mais de 50% do esforço.
7. O uso de auxílio para ser independente é permitido.
97
Fisioterapia geriátrica
Avaliação da dor
Idosos que relatam dor freqüentemente apresentam múltiplos problemas
de saúde e fontes potenciais de dores variadas, tornando o diagnóstico e o tra-
tamento da dor mais dificultosos nesse tipo de paciente. A comunicação da
dor pelo idoso aos familiares e aos profissionais que o assistem pode estar
98
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
Classificação
“Dor é uma experiência multidimensional que envolve aspectos quanti-
tativos, sensitivos e hedônicos” (45).
99
Fisioterapia geriátrica
100
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
Classificação
da dor (16)
TABELA 3.6
TIPO EXEMPLO
101
Fisioterapia geriátrica
Localização da dor
A localização e a distribuição da dor são extremamente importantes para
o direcionamento do exame físico, além de auxiliarem na compreensão da fi-
siopatologia da queixa dolorosa do paciente idoso. A dor central, muitas ve-
zes, é de localização difusa, sentida em grandes áreas do corpo, embora possa
estar restrita a uma mão ou parte dela. A dor neuropática decorrente do HIV
e da doença diabética freqüentemente é distal, simétrica e acomete vários ner-
vos. Na infecção pelo herpes-zóster, a dor refere-se ao território do nervo aco-
metido. Para a aferição do local da dor, os diagramas corporais podem ser
muito úteis (Fig. 3.2). O uso desses diagramas aumenta a precisão da localiza-
ção da dor e melhora a diferenciação dos aspectos de dor (localizada, referida,
irradiada, superficial e profunda). Alguns profissionais recomendam que o
próprio paciente registre o local de sua dor nos diagramas. Figuras humanas
com exposição frontal, dorsal ou lateral são apresentadas aos pacientes, que
localizam os pontos de dor e assinalam as diferentes qualidades sensitivas e as
intensidades da dor.
Diagrama
postural (46)
FIGURA 3.2
102
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
103
Fisioterapia geriátrica
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Sem Pior dor
dor imaginável
Escala gráfica
visual (50)
FIGURA 3.5
0 1 2 3 4 5
0 = Feliz, sem dor
1 = Dor que machuca muito pouco
2 = Dor que machuca um pouco mais
3 = Dor que machuca muito
4 = Dor que machuca muito mais
5 = Dor que machuca muito mais que se possa imaginar
104
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
105
Fisioterapia geriátrica
106
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
3) Circule o número que melhor descreve a pior dor que você sentiu nas últimas 24 horas.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
QUADRO 3.2 (cont.)
4) Circule o número que melhor descreve a dor mais fraca que você sentiu nas últimas 24
horas.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Sem dor Pior dor imaginável
9) Circule o número que descreve como, nas últimas 24 horas, a dor interferiu na sua:
107
Fisioterapia geriátrica
108
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
109
Fisioterapia geriátrica
110
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
• Palpação: deve ser realizada de forma sutil e precisa, para que não se
mascare ou se reproduza um sintoma já preestabelecido. A palpação
tem por objetivo:
1) avaliar a sensibilidade, a flexibilidade e a densidade do tecido mole;
2) determinar a localização exata do sintoma doloroso e as áreas
correlatas;
3) determinar áreas de espasmos musculares adjacentes ao processo
doloroso que possam contribuir para a manutenção do mesmo;
4) encontrar pontos de edema ou efusão articular;
5) verificar a temperatura da pele na região afetada (sempre com o
dorso da mão).
• Força muscular: a avaliação da força muscular, por meio dos testes ma-
nuais, é um instrumento importante do diagnóstico, do prognóstico e do
tratamento dos distúrbios do sistema musculoesquelético, contribuindo
decisivamente para a seleção dos testes funcionais (ver adiante). Exis-
tem vários sistemas de graduação dos testes de força muscular disponí-
veis na literatura especializada. Adotaremos o sistema proposto por
Stolov e Hays (20), que se baseia na habilidade do músculo de mover,
contra a força da gravidade, a parte onde ele está ligado:
– Grau 5: Força normal. O músculo move a articulação que ele cruza
na amplitude total do movimento contra a gravidade e contra a “re-
sistência completa” aplicada pelo examinador.
– Grau 4: Força boa. O músculo move a articulação que ele cruza na
amplitude total de movimento contra a gravidade apenas com “re-
sistência moderada” aplicada pelo examinador.
– Grau 3: Força regular. O músculo move a articulação que ele cruza
na amplitude total do movimento apenas contra a gravidade.
111
Fisioterapia geriátrica
112
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
113
Fisioterapia geriátrica
• Teste da performance física – TPF (34): é uma medida usual das ativida-
des de vida diária, incluindo as básicas e as instrumentais, na qual a per-
formance física é avaliada de forma global. Existem duas versões para o
teste: o TPF de sete itens e o TPF de nove itens. O TPF de sete itens consis-
te nas seguintes atividades: escrever uma sentença, simular a atividade de
comer, vestir e tirar uma jaqueta, girar 360 graus em pé, erguer um livro e
colocá-lo numa estante, pegar uma moeda pequena do chão, e caminhar
uma distância de 15,2 metros. O TPF de nove itens acrescenta duas tarefas
de subida de escadas: o tempo de subida de apenas um degrau e o tempo
de subida e descida e o número de degraus atingidos (máximo de 4). O
TPF leva aproximadamente dez minutos para ser administrado e requer
poucos e simples recursos de avaliação, tornando-se uma medida prática
em qualquer consultório. As atividades e os escores de pontuação são de-
monstrados na Tabela 3.8. O escore de avaliação é determinado por uma
escala de pontuação de 5 pontos (0-4), tendo como pontuação máxima 4
(“muito capacitado”) e mínima 0 (“incapaz de realizar a tarefa”). Os pon-
tos de corte da escala foram determinados pelo exame da distribuição dos
escores e, então, foram determinados pontos de corte facilmente identificá-
veis. A pontuação final varia entre 0 e 28 pontos no TPF de sete itens, e en-
tre 0 e 36 pontos no TPF de nove itens; pontuações mais altas determinam
performances melhores. O TPF envolve a performance de tarefas diárias
usuais, fato que melhora a compreensão do teste e diminui a necessidade
de instruções mais detalhadas. O público-alvo é constituído por idosos ins-
titucionalizados e idosos que vivem em comunidades. A utilização é volta-
da para monitorar a performance física, avaliar a possibilidade de quedas,
prescrever a necessidade de institucionalização e monitorar a expectativa
de vida (ou determinar a probabilidade de morte). As dimensões avaliadas
são as funções motoras fina e grossa do membro superior, o equilíbrio, a
114
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
• Teste de equilíbrio de Berg – BBT (Berg et al., 1989): foi desenvolvido para
ser uma medida de avaliação do equilíbrio destinada a pacientes idosos com
o objetivo de ser aplicada de forma segura, simples e, principalmente, reapli-
cável. Constitui-se em catorze tarefas relacionadas com as atividades básicas
e instrumentais de vida diária que necessitam de equilíbrio para serem reali-
zadas: transferir-se, sentar-se, levantar-se, manter-se em pé, inclinar-se para
a frente, girar 360 graus, sustentar-se em apenas uma perna, caminhar passo
a passo. As tarefas são pontuadas numa escala de 5 pontos (0 a 4), conside-
rando 4 como “performance normal” e 0 como “tarefa não realizada”; a
pontuação total varia de 0 (“equilíbrio prejudicado severamente”) a 56 (“ex-
celente equilíbrio”). Os idosos institucionalizados e os idosos que vivem em
comunidades são o público-alvo desse teste. O teste é utilizado para monito-
rar o status funcional referente ao equilíbrio, para avaliar o curso da doença
e a resposta ao tratamento, e para predizer o risco de quedas e a expectativa
de vida (ou a probabilidade de morte).
115
Fisioterapia geriátrica
116
Avaliação do idoso: anamnese e exame da performance física
117
Fisioterapia geriátrica
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Fisioterapia geriátrica
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121
Fisioterapia geriátrica
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sical Therapy. v. 79, n. 12, p. 1.122-33, 1999.
122
Capítulo 4
Fisiologia do
exercício aplicada
ao idoso
Cássio Mascarenhas Robert Pires
A
despeito das várias teorias que procuram desvendar as causas ou os
processos biológicos subjacentes ao envelhecimento, muitos pesquisa-
dores em gerontologia têm baseado seus estudos sobre possíveis fato-
res associados a um prolongamento do tempo de vida, ou seja, um pretenso
retardo do processo de envelhecimento.
Três fatores têm despertado maior interesse nesse campo de pesquisa: a
restrição calórica, o nível de atividade geral e a atividade física. Desses, os re-
sultados mais consistentes para o alcance de maior longevidade advêm da
prática regular e sistemática de atividade física. Isso, por si só, revela uma im-
portância particular na compreensão dos principais benefícios inerentes à
prática regular de atividade física por idosos, contextualizando-a numa di-
mensão de estratégia tanto profilática como curativa para os distúrbios ou as
disfunções associadas ao envelhecimento.
123
Fisioterapia geriátrica
120
Valor de 100%
100 sedentário
Nível geral da função
fisiológica (em %)
80
60
40
20
10 20 30 40 50 60 70 80 90
124
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
Sistema cardiovascular
O sistema cardiovascular sofre alterações marcantes com o envelheci-
mento, tanto em relação ao tecido cardíaco e às características do ciclo cardía-
co, como aos vasos sangüíneos e à hemodinâmica.
Inúmeras investigações científicas têm revelado efeitos altamente benéfi-
cos do exercício físico sobre a função cardiovascular em idosos, refletindo em
melhoras da reserva funcional e, conseqüentemente, da capacidade de ajustes
frente às mais variadas circunstâncias de demanda funcional, determinando
também a diminuição da sobrecarga funcional cardiovascular.
Antes de enfocar os benefícios da prática regular e sistemática de ativida-
de física sobre a função cardíaca em idosos, é oportuno o esclarecimento do
comportamento de algumas variáveis cardiovasculares em idosos sedentários
durante o repouso e durante os exercícios físicos submáximo e máximo.
125
Fisioterapia geriátrica
Por meio dos dados expressos na Tabela 4.1, é possível notar que, com o
envelhecimento, as alterações mais marcantes da função cardiovascular du-
rante o repouso referem-se a um aumento do volume diastólico final (VDF) e
do volume sistólico (VS) para assegurar a manutenção do débito cardíaco
(DC) diante de uma discreta e não significativa redução da freqüência cardía-
ca (FC) (22). Conforme ilustrado na Tabela 4.1 e também na Figura 4.2, ocor-
re um aumento significativo dos valores de pressão arterial (PA) sistólica e
diastólica (em torno de 20%), do volume e do peso cardíaco. A diminuição do
volume sangüíneo também é uma importante peculiaridade do sistema car-
diovascular no idoso.
Jovens Idosos
126
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
Peso cardíaco
Volume cardíaco
Em repouso
Hemoglobina
Freqüência cardíaca
Pulso de O2
Volume sangüíneo
Capacidade vital
Ventilação pulmonar
Capacidade de difusão
VO2 máximo
-30 -20 -10 0 10 20 30
% alteração
127
Fisioterapia geriátrica
128
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
15
12
9
6
0,9 ( )
Volume
corrente
0,7
0,5
0,3
28 (Respirações/min)
Freqüência
respiratória
22
16
10
-20 0 20 40 -20 0 20 40
Tempo (s) Tempo (s)
129
Fisioterapia geriátrica
Sistema respiratório
Diferentemente do sistema cardiovascular, o nível de reserva funcional
do sistema respiratório não se constitui em fator limitante do desempenho
durante exercícios máximos ou próximos do máximo (2), exceto em situações
nas quais a restrição ou a obstrução sejam mais severas, configurando qua-
dros clinicamente patológicos. Dessa forma, as eventuais perdas da função
respiratória decorrentes do envelhecimento, em condições normais, não com-
prometem o desempenho de idosos, principalmente durante exercícios sub-
máximos.
O processo do envelhecimento não promove perdas muito marcantes da
função respiratória em situação de repouso, conforme demonstrado na Figu-
ra 4.4. Dos volumes e das capacidades pulmonares estáticos mensurados em
espirometria, as perdas mais significativas são observadas na capacidade vital.
Segundo Spirduso (69), a capacidade vital é diminuída em cerca de 4 a 5% a
cada década de vida após os 30 anos. O autor também afirma que o aumento
do volume residual em idosos saudáveis e não-fumantes é muito pequeno e
tem pouca significância para as funções cotidianas ou mesmo em exercícios
submáximos. A Figura 4.5 ilustra valores de capacidade vital em adultos jo-
vens e idosos de ambos os sexos.
VRI
4
Litros, TCPS*
CVF CPT
3
VC
2
VRE CRF
1
Valores no envelhecimento
* Temperatura do corpo e pressão de saturação VR
0
130
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
6 Homens Mulheres
5
Capacidade vital ( )
0
25 65 25 65
Idade (anos)
131
Fisioterapia geriátrica
Idosos Jovens
80
70
60
Pressão arterial diastólica Pressão arterial sistólica Pressão arterial média
106 (mmHg)
94
82
70
150 (mmHg)
140
130
120
110
86 (mmHg)
74
62
50
-20 0 20 40 -20 0 20 40
Tempo (s) Tempo (s)
132
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
133
Fisioterapia geriátrica
A partir dos dados acima expostos, pode-se esperar que o VO2máx apre-
sente um declínio considerável em função do envelhecimento. Tal suposição
encontra ampla sustentação na literatura.
O VO2máx apresenta uma redução de cerca de 0,4 a 0,5 ml/kg.min a cada
ano de vida em adultos sedentários (29;69). Esses valores representam uma
perda de aproximadamente 1% ao ano, portanto, entre 30 e 80 anos, a estima-
tiva de redução do VO2máx aproxima-se de 50%. A Figura 4.7 ilustra essa perda
em termos absolutos e relativos, assim como expressa sua correlação com a
diminuição da capacidade oxidativa dos músculos gastrocnêmios em idosos,
conforme relatado por Houmard et al. (29).
5,0 r = -0,80
4,0 p < 0,001
3,0
2,0
1,0
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Idade
Consumo máximo relativo (VO2 máx relativo)
VO2máx (ml/kg • min)
50 r = -0,85
40 p < 0,001
30
20
10
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Idade
134
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
135
Fisioterapia geriátrica
que aos 55 anos, esses indivíduos dispunham dos mesmos valores de VO2máx
que aos 45 anos.
A análise do desempenho de atletas de endurance da categoria master
(acima de 50 anos) explicita de maneira mais criteriosa a realidade de atenua-
ção do declínio do VO2máx ao longo da vida. A consolidação de uma perda sig-
nificativamente menor do VO2máx parece depender da intensidade de treina-
mento durante os anos de vida. Pollock et al. (58) observaram perdas desde
54,2 para 53,3 ml/kg.min em atletas masters, os quais mantiveram níveis altos
de treinamento e competição durante um período de 10 anos. Atletas que di-
minuíram sensivelmente a intensidade de treinamento no mesmo período re-
portaram perdas desde 52,5 para 45,9 ml/kg.min. Essa perda, contudo, é sig-
nificativamente menor que aquela reportada entre idosos sedentários.
Apesar das importantes melhoras obtidas na função cardiovascular e no
VO2máx por meio da prática regular de atividade física aeróbia, tais benefícios
não se configuram como irreversíveis à medida que se interrompe a atividade.
O estudo de Pickering et al. (57) abordado anteriormente é bastante eluci-
dativo em relação a tal afirmação. Após quatro meses de destreinamento, todos
os benefícios advindos dos quatro meses anteriores de exercício foram perdidos,
ou seja, os valores de VO2máx retornaram aos níveis da situação pré-treinamento.
De maneira semelhante, Marti e Howard (49) reportaram perdas significativas
do VO2máx e aumentos igualmente significativos dos depósitos de gordura
corporal em atletas de endurance, os quais interromperam seus regimes de
treinamento ao final da carreira competitiva, por volta dos 30 aos 35 anos.
136
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
Idades e DP dos avaliados foram: jovens treinados = 27,09 ± 2,36; jovens sedentários = 26,4 ± 1,98
idosos treinados = 61,6 ± 4,9; idosos sedentários = 59,1 ± 8,9
Freqüência cardíaca máxima (bpm)
150
100
187,89 188,80 168,01 167,70
50
0
treinados sedentários treinados sedentários
137
Fisioterapia geriátrica
138
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
Sistema neuromuscular
Da mesma forma que os sistemas cardiovascular e respiratório, o sistema
neuromuscular também é passível de perdas marcantes em função do enve-
lhecimento. Neste tópico, algumas das principais características da função
neuromuscular no idoso serão descritas e, posteriormente, serão apresentados
resultados destinados a investigar os efeitos do exercício resistido (muscula-
ção) sobre a função neuromuscular no idoso.
Grande parte dos estudos da função neuromuscular no idoso concentra-
se nas investigações sobre o comportamento da força muscular, que pode ser
definida como a capacidade do músculo de gerar tensão (7) e da qualidade
muscular, também denominada de tensão específica, a qual refere-se à força
por unidade de massa muscular (14), podendo constituir-se num melhor in-
dicador de função muscular que a força isoladamente. Existem algumas dife-
renças da capacidade de força dos diversos grupos musculares (ver adiante),
porém, pode-se estabelecer um padrão médio de força muscular em função
da idade, ou seja, uma curva teórica de envelhecimento para a força muscular,
conforme ilustra a Figura 4.9.
Van
tage
m
Força muscular
de
tre
ina
me
nto
Normal
0 20 40 60 80 100
Idade (anos)
139
Fisioterapia geriátrica
% da Alteração/ Valor
n 1985-86 1997-98 Variação alteração
ano de P
Extensores do joelho
60°/s 9 161 ± 37 124 ± 39 -38 ± 24 -23,7 ± 14,6 -1,98 ± 1,22 0,001
240°/s 8 83 ± 23 62 ± 29 -24 ± 18 -29,8 ± 22,9 -2,48 ± 1,91 0,007
Flexores do joelho
60°/s 9 102 ± 34 72 ± 31 -30 ± 29 -28,5 ± 23,3 -2,37 ± 1,94 0,015
240°/s 8 63 ± 22 44 ± 27 -19 ± 23 -29,4 ± 35,4 -2,45 ± 2,95 0,03
Extensores do cotovelo
60°/s 9 40 ± 5 32 ± 8 -7 ± 7 -19,4 ± 18,6 - 1,61 ± 1,55 0,01
180°/s 8 26 ± 7 24 ± 9 -3 ± 10 -9,0 ± 36,8 -0,75 ± 3,06 0,43
Flexores do cotovelo
60°/s 9 39 ± 8 32 ± 7 -7 ± 7 -16,4 ± 18,7 -1,37 ± 1,56 0,022
180°/s 8 31 ± 8 22 ± 6 -9 ± 10 -26,5 ± 30,0 - 2,21 ± 2,50 0,027
Valores representam as médias ± DP em n • m somente para os voluntários que retornavam (n).
140
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
141
Fisioterapia geriátrica
Curvas de desenvolvimento
de força unilateral (18)
FIGURA 4.10a
500
Força média (N)
400
300
200
100
0
100 200 300 400 500
Tempo (ms)
Curvas de desenvolvimento
FIGURA 4.10b
1.000
Força bilateral média (N)
800
600
400
200
0
100 200 300 400 500
Tempo (ms)
142
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
a b
Velocidade
de contração Contração máxima
Jovem
Força isométrica
Força isométrica
1/2
tempo de Idoso
relaxamento
Deve-se entender que a maior área de secção transversa das fibras muscula-
res é decorrente do aumento do número e do tamanho das miofibrilas e, por-
tanto, dos sarcômeros em paralelo. O aumento do número de sarcômeros em
paralelo advém do aumento da síntese de miofilamentos protéicos de actina e
miosina. Dessa forma, quanto maior a área das fibras musculares, maior será o
número de sarcômeros e filamentos de miosina e actina, maior a possibilidade
máxima de acoplamento actomiosínico e, conseqüentemente, maior a tensão
máxima gerada pelo músculo. De maneira semelhante, um maior número de
unidades motoras recrutadas simultaneamente também oferece maiores possi-
bilidades de interação actomiosínica e de tensão máxima a ser gerada.
Claramente, a área de secção transversa representa um componente mus-
cular determinante da força, ao passo que a capacidade de recrutamento mo-
tor representa um componente nervoso de controle da força máxima.
143
Fisioterapia geriátrica
144
Sexo n Peso (kg) Altura Índice de Massa Massa Massa magra, Massa magra,
e idade (cm) massa corporal magra magra parte parte
(anos) (kg/m2) total (kg) relativa (%) inferior (kg) superior (kg)
TABELA 4.3
Mulheres
18-29 40 65,0 ± 16,8 164 ± 6 24,1 ± 5,3 21,8 ± 4,6 34,1 ± 5,7 12,5 ± 2,6 8,7 ± 2,6
30-39 63 73,6 ± 21,3 165 ± 7 27,0 ± 7,3 21,6 ± 3,7 30,6 ± 5,6 12,7 ± 2,5 8,5 ± 1,5
40-49 46 75,6 ± 17,1 162 ± 7 28,9 ± 6,0 21,4 ± 3,4 29,2 ± 5,0 12,7 ± 2,1 8,4±1,3
50-59 21 72,7 ± 17,1 165 ± 8 26,8 ± 4,3 20,9 ± 3,4 29,1 ± 4,4 12,0 ± 2,0 8,3 ± 1,5
60-69 11 69,7 ± 16,8 162 ± 8 26,4 ± 5,6 18,4 ± 2,2 27,3 ± 4,6 10,5 ± 1,9 7,5 ± 1,5
70 + 19 60,8 ± 12,2 157 ± 6 24,6 ± 4,9 18,0 ± 2,5 30,2 ± 4,7 9,7 ± 2,0 7,7 ± 2,1
Total 200 70,9 ± 18,2 163 ± 7 26,6 ± 6,2 21,0 ± 3,8 30,6 ± 5,5 12,2 ± 2,5 8,4 ± 1,8
Homens
18-29 66 79,9 ± 15,4 178 ± 7 25,3 ± 4,5 33,7 ± 5,8 42,3 ± 4,4 18,5 ± 3,3 14,3 ± 2,9
30-39 77 89,0 ± 17,0 176 ± 7 28,2 ± 4,9 34,0 ± 4,7 39,1 ± 5,0 18,7 ± 3,0 14,7 ± 2,2
em homens e mulheres (33)
Massa muscular esquelética
40-49 64 90,9 ± 16,6 177 ± 7 28,9 ± 4,5 33,5 ± 5,5 37,1 ± 4,0 18,3 ± 3,0 14,1 ± 2,6
50-59 36 90,0 ± 14,0 176 ± 6 28,9 ± 4,0 31,4 ± 4,8 35,1 ± 3,4 17,3 ± 2,7 13,5 ± 2,5
60-69 14 90,1 ± 11,5 177 ± 5 28,6 ± 3,5 30,2 ± 3,1 33,8 ± 3,9 16,7 ± 2,2 12,8 ± 1,6
70 + 11 78,8 ± 12,1 173 ± 8 26,5 ± 4,5 27,8 ± 3,4 36,0 ± 7,3 13,8 ± 2,9 13,5 ± 2,8
Total 268 87,1 ± 16,2* 171 ± 7* 27,7 ± 4,7* 33,0 ± 5,3* 38,4 ± 5,1* 18,1 ± 3,1* 14,1 ± 2,6*
145
Fisioterapia geriátrica
a 1.000
Número total de fibras (1.000x)
900
800
700
600
500
400
300
200
100
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Idade (anos)
b 100
90
Área muscular, mm2 ÷ 48
80
70
60
50
40
30
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Idade (anos)
146
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
Fibras perdidas ou
morte das células
Fibras musculares
I tipo I Alguma atrofia
Algumas fibras
perdidas
(30) relataram uma redução de 33% da taxa de recaptação de Ca++ pelo retí-
culo sarcoplasmático, fato decisivo para o prolongamento do tempo de rela-
xamento muscular observado no idoso.
147
Fisioterapia geriátrica
148
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
31,5
27
23,6
22,5
Quilogramas
18
13,5
4,5
0
Início Final
Carga média
Fonte: Fundamentos de força para terceira idade
sos (± 70 anos), após seis meses de treinamento resistido com intensidades que
variaram desde 50 até 80% de 1RM. Esses indivíduos apresentaram aumentos
significativamente maiores da EMG integrada dos agonistas da extensão do
joelho que da área de secção transversa desse grupo muscular. O aumento da
EMG integrada dos agonistas da extensão do joelho foi acompanhado de uma di-
minuição significativa da EMG integrada dos antagonistas, denotando uma me-
149
Fisioterapia geriátrica
70
60
50
40
30
20
10
Distal Proximal
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Fatia (1 cm)
b
80
Área de secção transversa (cm2)
70
60
50
40
30
20
10
Distal Proximal
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Fatia (1 cm)
150
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
Extensão Flexão
70
60
50
40
1RM. kg
30
20
10
0
0 2 4 6 8 10 12
Semanas de treinamento
cia muscular, medida por meio de testes de saltos verticais. Isso representa,
sem dúvida, um importante aspecto ligado à prevenção de quedas em idosos.
A capacidade de plasticidade neuromuscular está também preservada
em idosos com idades superiores a 75-80 anos. Após doze semanas de exer-
cícios resistidos com intensidade moderada (uso de borracha elástica), ido-
sos com idade entre 76 e 93 anos, exibiram aumentos médios de 27% para a
extensão do joelho, 22% para a flexão do joelho e 4% para a força de preen-
são das mãos (66). Os autores desse estudo verificaram que para algumas
tarefas cotidianas (como subir escadas, sentar-se e levantar-se rapidamente),
esses ganhos de força determinaram a melhora da habilidade funcional des-
ses indivíduos. Esses dados tornam óbvia a contribuição do treinamento de
força no sentido de prover maior independência e autonomia ao idoso de
idade mais avançada, resultando em substancial melhora do nível de quali-
151
Fisioterapia geriátrica
152
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
153
Fisioterapia geriátrica
154
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
155
Fisioterapia geriátrica
2
Alteração do peso (kg)
-1
-2
-3
Peso corporal Massa gorda Massa magra
156
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
Para ACTH (a) e cortizol (b) ao longo de 10 semanas de treinamento periodizado de força e potência
— Valores significativamente diferentes em relação aos valores da semana 0 (zero)
30 anos 62 anos
a 7
ACTH plasmático (pmol/ )
6
5
4
3
2
1
0
Semana 0 Semana 3 Semana 6 Semana 10
b Semanas de treinamento
500
Cortisol plasmático (nmol/ )
400
300
200
100
0
Semana 0 Semana 3 Semana 6 Semana 10
Semanas de treinamento
157
Fisioterapia geriátrica
158
Fisiologia do exercício aplicada ao idoso
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165
Capítulo 5
Quedas: fatores
determinantes,
conseqüências e
intervenções
profissionais
José Geraldo da Silva Morelli
José Rubens Rebelatto
Camila Fernanda Borges
E
ntre os vários acometimentos da população idosa, a queda talvez seja
um dos mais incapacitantes e preocupantes, pois um único evento
pode trazer relevantes conseqüências. Poderá haver situações proble-
máticas no âmbito social (institucionalização) e no econômico (maior tempo
de hospitalização e maior demanda por medicamentos), e em relação à saúde,
em função de fraturas, úlceras de decúbito, síndrome do imobilismo, entre
outros. Nota-se, então, a necessidade de políticas públicas voltadas a essa par-
cela populacional e, também, de estudos direcionados para tentar minimizar
as quedas e suas conseqüências.
As quedas constituem grande causa de morbidade e mortalidade para
pessoas com mais de 65 anos. Entre as pessoas com mais de 80 anos, aproxi-
167
Fisioterapia geriátrica
madamente 2/3 das mortes ligadas a lesões são decorrentes das quedas (1). De
acordo com Chandler (2), 30% dos idosos não institucionalizados com mais
de 65 anos, 40% daqueles com mais de 80 anos e 66% dos institucionalizados
sofrem quedas a cada ano. Além disso, como uma parte significativa das que-
das pode resultar em lesões que não exijam atenção médica, é provável muitas
quedas permanecerem sem relato e as taxas de quedas serem subestimadas.
A queda pode ser definida como ocorrência de um evento não intencio-
nal que leva uma pessoa, inadvertidamente, ao chão em um mesmo nível ou
em outro inferior. É um evento freqüente e temido pelos idosos, constituindo
grave problema de saúde pública em países desenvolvidos e em desenvolvi-
mento, cujo contingente de idosos cresce de forma exponencial.
Na população idosa que já sofreu uma ou mais quedas, pode haver sinais
evidentes de uma situação clínica de fragilidade, imobilidade, instabilidade ou
outras doenças secundárias não diagnosticadas. Da mesma forma, as quedas
recorrentes em idosos podem contribuir para o declínio funcional, caracteri-
zado por limitação da atividade física diária, medo de sofrer novas quedas e
perda de mobilidade e da independência para realização das tarefas habituais
e básicas da vida diária.
A maior susceptibilidade dos idosos a sofrer lesões decorrentes de quedas
se deve à alta prevalência de comorbidades presentes nessa população, associ-
ada a declínio funcional, aumento do tempo de reação e diminuição da eficá-
cia de estratégias motoras do equilíbrio corporal; fenômenos característicos
do processo de envelhecimento. De acordo com Papalleo Netto e Brito (3), a
morbidade e a mortalidade resultantes de uma queda da pessoa idosa são de-
terminadas tanto pela disponibilidade dos serviços de atendimento de emer-
gência quanto pelo tempo médio de permanência do indivíduo no chão. Os
mesmos autores afirmam que 7% das pessoas com mais de 75 anos de idade
vão ao pronto-socorro para receber tratamento para lesões decorrentes de
quedas, tais como, fraturas, trauma craniencefálico, lacerações diversas e com-
prometimentos articulares. Desses atendimentos, mais de 40% resultam em
internações hospitalares; e, daqueles não internados, 40% ainda continuam,
após dois meses de atendimento, com queixas de dores persistentes ou limita-
ção de alguma de suas atividades habituais.
Perracini (4) menciona que 5 a 10% dos idosos da população mundial
têm como conseqüência lesões severas que reduzem mobilidade e indepen-
dência, aumentando as chances de morte prematura; e metade dos idosos
hospitalizados por fratura de quadril não recupera a mobilidade prévia ao
evento. A autora afirma também serem 90% das fraturas de quadril causadas
por quedas, e o custo atual estimado de seu tratamento ser em torno de 10 bi-
lhões de dólares. Segundo Paixão Jr. e Heckmann (5), o impacto psicológico
das quedas é outro fator importante entre os idosos. Além da alta mortalida-
de, destacam-se como conseqüências relevantes o isolamento social, a insegu-
rança e o medo, iniciando processos cumulativos de eventos prejudiciais à
saúde e à qualidade de vida dos idosos.
As conseqüências psicológicas e funcionais das quedas podem ser relevan-
tes, pois estudos mostram que entre 40 e 73% dos idosos que já caíram e 20 a
168
Quedas: fatores determinantes, conseqüências e intervenções profissionais
46% dos que não sofreram quedas admitem ter receio de cair. Mais da metade
das pessoas idosas que manifestaram temor de cair restringiu ou eliminou ativi-
dades físicas ou sociais em decorrência desse medo (6). O impacto ocasionado
pelas quedas pode durar um longo tempo. Outro estudo relatado por Brito e
Costa (6) mostrou que 43% dos idosos que haviam sofrido uma queda e ti-
nham sido atendidos em pronto-socorro ainda referiram dores ou limitação de
suas atividades oito semanas após o acidente e quase a metade deles, 41%, ainda
não tinha se recuperado totalmente após sete meses do acidente.
Várias são as complicações decorrentes das quedas e elas podem trazer
conseqüências sérias e custosas aos idosos e à própria sociedade. Entre essas
complicações estão mortes, lesões ósseas e de tecidos moles, medo de cair, decú-
bito de longa duração, imobilismo, redução das atividades e da independência.
Segundo Brito e Costa (6), a possibilidade de uma pessoa sofrer uma le-
são grave decorrente de uma queda depende de fatores como velocidade da
queda, capacidade de absorção de energia da superfície na qual a pessoa cai,
capacidade da pessoa de se autoproteger, limiar de lesão dos tecidos moles e
direção e local do impacto.
Os mesmos autores também relatam fatores de risco independentes para
lesões graves decorrentes das quedas: idade mais avançada, raça branca, baixa
densidade mineral óssea, baixo índice de massa corporal (IMC), déficit cogni-
tivo, diminuição do tempo de reação e distúrbios do equilíbrio, diminuição
da acuidade visual, antecedentes de quedas ou lesões decorrentes de quedas,
presença de doenças crônicas específicas como demência, diabetes melito ou
seqüelas de episódios sistêmicos cerebrais.
Além disso, entre 10 e 15% dos idosos que caem são acometidos por le-
sões graves, 2/3 delas fraturas ósseas, sendo a de quadril a mais comum (25%)
e de conseqüências mais devastadoras, com elevada taxa de mortalidade (25%
morrem nos primeiros seis meses após a fratura) e incapacidade para realiza-
ção de suas funções habituais (60%).
169
Fisioterapia geriátrica
170
Quedas: fatores determinantes, conseqüências e intervenções profissionais
171
Fisioterapia geriátrica
História
É importante obter informações a respeito da história do evento queda e,
para isso, Perracini (4) propõe um questionário que possibilita obter quanti-
dade significativa de informações pertinentes relativas à queda de um idoso:
• Quantas vezes o Sr.(a) caiu no último ano?
• Houve alguma conseqüência, como fratura, luxação, trauma craniano
ou escoriação, contusão, corte?
172
Quedas: fatores determinantes, conseqüências e intervenções profissionais
Avaliação etiológica
A avaliação etiológica permite identificação dos déficits nos sistemas sen-
sorial, efetor e de processamento central, os quais podem contribuir para o
problema das quedas.
• Sistema sensorial: inclui exames dos sistemas visual, vestibular e soma-
tossensorial. Para análise do sistema visual, devem ser consideradas
acuidade, sensibilidade ao contraste, campos periféricos e percepção de
173
Fisioterapia geriátrica
174
Quedas: fatores determinantes, conseqüências e intervenções profissionais
20
400
20
200
20
100
20
70
20
50
20
40
das. A força também pode ser avaliada por meio da utilização de apare-
lhos específicos de musculação com cálculo da resistência máxima ou
RM. A amplitude de movimento (ADM) e a flexibilidade podem ser
medidas pela utilização da goniometria clássica, havendo, do ponto de
vista científico, restrições quanto à confiabilidade da medida, mas sob a
ótica clínica é um meio a ser usado com facilidade. A flexibilidade tam-
bém pode ser avaliada por meio do banco de Wells. Embora não se sai-
ba até que ponto ela contribui para a instabilidade do idoso, é possível
verificar que uma limitação significativa da movimentação do tronco,
pescoço ou membros inferiores pode diminuir a capacidade de obter
uma resposta postural de qualidade, pois a variedade de estratégias
posturais necessárias pode estar restrita como conseqüência de um seg-
mento corporal rígido. A resistência também deve ser avaliada, pois um
idoso pode ser capaz de gerar força adequada durante algumas contra-
ções repetidas, mas pode ter dificuldade durante tarefas que requerem
esforços continuados. Um teste clínico útil e fácil de ser aplicado para
avaliar a resistência em idosos frágeis é o de caminhada de seis minutos.
175
Fisioterapia geriátrica
Avaliação funcional
A identificação dos componentes relatados nos itens anteriores é funda-
mental para que se possa realizar um bom diagnóstico do problema das quedas.
No entanto, a avaliação do desempenho funcional é vital para orientar o planeja-
mento do tratamento específico, especialmente para profissionais que utilizam o
movimento como ferramenta de trabalho, como fisioterapeutas. Por meio da
avaliação funcional, o terapeuta poderá determinar como os déficits específicos
no sistema afetam a função global do paciente. Por exemplo, dificuldade em le-
vantar-se de uma cadeira pode sugerir necessidade de trabalho específico nos
membros inferiores. Portanto, a utilização de instrumentos que avaliem a fun-
cionalidade é importante, e vários são os instrumentos descritos na literatura.
Segundo Perracini (4), um levantamento de risco para quedas geralmen-
te é eficaz na identificação de idosos com maior chance de sofrer um evento
futuro. A mesma autora afirma que nenhum instrumento aplicado de forma
isolada é capaz de identificar idosos em risco de quedas. É consenso que,
quanto maior o número de fatores de risco presentes, maior a chance de que-
da; e queixa de dificuldade de equilíbrio e marcha e histórias prévias de que-
das têm sido apontadas como fatores de risco significativos para idosos.
Uma série de tarefas de mobilidade cada vez mais difíceis pode e deve ser
utilizada para rastrear os déficits de equilíbrios funcionais. Um protocolo de
habilidades progressivas de mobilidade leva o paciente a sentar-se sem auxílio
ou subir escadas, por meio de uma série de tarefas cada vez mais complexas.
Os testes descritos a seguir têm como objetivo avaliar funcionalmente equilí-
brio e marcha, buscando identificar parâmetros que sugiram maior ou menor
susceptibilidade a quedas.
176
Quedas: fatores determinantes, conseqüências e intervenções profissionais
passar de sentado para de pé, virar 360°, que devem ser categorizados
em uma escala de três pontos.
• Timed up and go test (TUG) (18): cronometra-se o tempo gasto para que o
idoso levante de uma cadeira sem braço, percorra uma distância de 3 m,
faça um giro de 180o e torne a sentar na mesma cadeira. A cronometragem
inicia-se quando o idoso desencosta a coluna da cadeira e finaliza quando a
encosta novamente nela. A literatura mostra que um idoso normal realiza
este teste em, aproximadamente, dez segundos, entre 11 e 20 s é o tempo
gasto por um idoso normal, mas frágil; e, mais de 20 s na execução deste
teste é indicativo da necessidade de intervenção adequada.
Avaliação ambiental
Há necessidade de uma boa e criteriosa verificação do ambiente no qual
vive o idoso, pois seu desempenho funcional está intrinsecamente relacionado
177
Fisioterapia geriátrica
178
Quedas: fatores determinantes, conseqüências e intervenções profissionais
Perfil da avaliação
funcional domiciliar
QUADRO 5.1
Perigo
0 = Nenhum risco
1 = Risco baixo a moderado (o paciente provavelmente terá dificuldade em 10 a 40%
das vezes em que o risco é encontrado)
2 = Risco moderado a alto (o paciente teria dificuldade em 50 a 100% das vezes em
que o risco é encontrado)
Freqüência (freqüência do encontro)
0 = Nunca
1 = < 1 X/mês
2 = < 1 X/semana
3 = 2-3 X/semana
4 = 1-2 X/dia
5 = > 2 X/dia
Total = Soma (freqüência X perigo)
Adaptado de Chandler, Julie M. In: Guccione, Andrew A. (2)
179
Fisioterapia geriátrica
Meios de intervenção
Diversas são as situações que devem ser enfrentadas para minimizar a
ocorrência do evento quedas, e os enfrentamentos devem ser realizados de
maneira associada, pois ações isoladas não surtem efeito satisfatório. Portan-
to, as ações intervencionistas são de vários tipos, como as descritas a seguir.
Intervenção domiciliar
180
Quedas: fatores determinantes, conseqüências e intervenções profissionais
181
Fisioterapia geriátrica
182
Quedas: fatores determinantes, conseqüências e intervenções profissionais
183
Fisioterapia geriátrica
Intervenção clínica
• Treino de marcha:
Exemplo 1: fazer com que o idoso caminhe pelas barras paralelas ou ou-
tro local com espaço amplo, orientando-o quanto às fases da marcha e pedin-
do que apóie primeiro o calcanhar e, em seguida, a parte anterior do pé.
Exemplo 2: treiná-lo quanto à dissociação das cinturas escapular e pélvi-
ca com bastão durante a caminhada.
Exemplo 3: treiná-lo para realizar mudanças de direção; portanto, fazer
com que caminhe de lado e para trás.
Exemplo 4: se houver possibilidade, treiná-lo a subir e descer escadas.
184
Quedas: fatores determinantes, conseqüências e intervenções profissionais
185
Fisioterapia geriátrica
“Com a idade, estou notando que já não sou tão ágil e que meus reflexos
se tornam mais lentos. Tenho alguns sintomas que me produzem uma certa
insegurança. Quando sofro uma pequena queda, fico preocupado, porque sei
que as quedas podem causar complicações importantes. Mas também aprendi
a preveni-las e sei que sou capaz de recuperar minha agilidade, cuidando-me
e cuidando do meu entorno. Sigo as recomendações que me dão e tenho me
sentido muito bem. Sei que meu corpo deve estar em forma, que devo elimi-
nar os obstáculos em minha casa, o que fazer se sofrer uma queda e que a ati-
vidade física evita a dependência.” (Declaração de um idoso que freqüenta o
Programa de Revitalização Geriátrica da Universidade Federal de São Carlos).
186
Quedas: fatores determinantes, conseqüências e intervenções profissionais
Referências bibliográficas
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Med. v. 1(3), p. 501-12, 1985.
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TONIOLO NETO, J. Geriatria e gerontologia. São Paulo, Manole, 2005.
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BRITO, F.C. Urgências em geriatria. Epidemiologia, fisiopatologia, quadro
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Sciences. v. 47, p. M79-M87, 1992.
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opsis and contrast sensitivity”. Am J Optom Physiol. v. 63, p. 724-32, 1986.
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sons with unexplained falls: results and methodologics issues”. Am J Ge-
riatric Soc. v. 39, p. 229-34, 1991.
187
Fisioterapia geriátrica
(13) RAY, W.A. & GRIFFIN, M.R. “Prescribed medications and the risk of falling”.
Topics in geriatrics rehabilitation. v. 5, p. 12-20, 1990.
(14) TINETTI, M.E. et al. “Risk factors for falls among elderly persons living in the
community”. N Engl J Med. v. 319, p. 170-7, 1988.
(16) BERG, K.O. et al. “Measuring balance in the elderly: validation of an instru-
ment”. Can J Public health. v. 83, p. S7-11, 1992.
(18) PODSIADLO, D. & RICHARDSON, S. “The Timed Up and Go: a test of basic
functional mobility for frail elderly persons”. Am J Geriatr Soc. v. 39, p. 142-8,
1991.
(19) DUNCAN, P.W. et al. “Functional Reach: a new measure of balance”. J Gerontol.
v. 45, p. M192-7, 1990.
(20) DUNCAN, P.W. et al. “Functional reach: predictive validity”. J Gerontol. v. 47(3),
p. M93-8, 1990.
188
Capítulo 6
Aplicações
dos recursos
eletrotermo-
fototerápicos
em idosos
Jamilson Simões Brasileiro
Maria Cristina Sandoval Ortiz
A
aplicação dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos requer cui-
dados individuais e um amplo conhecimento das alterações orgânicas
que ocorrem nessa etapa da vida. Antes de estabelecer qualquer pres-
crição é essencial conhecer os vários fatores de riscos envolvidos, pois os pos-
síveis benefícios dos recursos também podem induzir prejuízos ao indivíduo.
É fundamental conhecer as variações sistêmicas que ocorrem com o passar da
idade e, ao mesmo tempo, reconhecer as variações entre os próprios indivíduos.
Muitos estudos, por exemplo, têm demonstrado diminuição na sensibilidade
tátil no envelhecimento, bem como diminuição na umidade cutânea; esses fa-
tores podem comprometer a aplicação dos recursos fisioterápicos. Dessa for-
ma, este capítulo apresentará os principais recursos disponíveis dentro da
eletrotermofototerapia moderna e relacionar as suas principais precauções de
aplicação no idoso.
189
Fisioterapia geriátrica
Recursos eletroterápicos
As correntes elétricas têm sido usadas terapeuticamente há centenas de
anos. Com o surgimento de novas formas de corrente ao longo do século XX,
diferentes tipos de geradores também foram desenvolvidos. A proliferação
desses estimuladores tem sido acompanhada de muita confusão na prática clí-
nica em relação a qual tipo de corrente deve ser usada e em quais circunstân-
cias. O último foco de interesse da estimulação elétrica esteve relacionado
com o seu uso para modular a dor; nas últimas décadas, porém, o uso desse
recurso se expandiu muito além da aplicação em estados dolorosos.
Como regra geral, o desenvolvimento desses equipamentos costuma as-
sociá-los aos nomes dos seus inventores ou mesmo de seus fabricantes, cau-
sando mais confusão que auxílio para tomada de decisões clínicas. Na verdade,
não existe necessidade para as múltiplas e redundantes formas de estimulação
encontradas hoje, pois confunde o processo de decisão do clínico e, provavel-
mente, adiciona um custo desnecessário ao estimulador. Todos eles são esti-
muladores elétricos transcutâneos, e muitos são também estimuladores elétricos
nervosos transcutâneos (Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation — TENS),
por serem aplicados através da pele com o objetivo fisiológico de excitar nervos
periféricos. Portanto, qualquer estimulador é essencialmente uma unidade de
TENS, desde que utilize eletrodos de superfície e estimule nervos periféricos.
190
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
0
Tempo
50 µs
0
Tempo
60 µs
Fonte: modificado de Robinson, A. J. & Snyder - Mackler, L. Eletrofisiologia clínica. 2. ed. Porto Alegre, Artmed, 2001.
191
Fisioterapia geriátrica
192
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
Trem de pulso
usado na EENM
FIGURA 6.2
Fonte: modificado de Nelson, R. M.; Hayes, K. W. & Currier, D. P. Clinical electrotherapy. 3. ed. Stamford, Appleton & Lange, 1999.
Correntes interferenciais
193
Fisioterapia geriátrica
4.100 Hz
Amplitude
+2
Circuito 0 1
1 -2
11
4.000 Hz
Amplitude
+2
Circuito 0 1
2 -2
A
B
11 + 12 Pico
+4 Envelopes
Amplitude
Circuito 0 1
1+2
-4
0 0-100 Hz
Fonte: modificado de Nelson, R. M.; Hayes, K. W. & Currier, D. P. Clinical electrotherapy. 3. ed. Stamford, Appleton & Lange, 1999.
194
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
Corrente russa
Amplitude (mA)
195
Fisioterapia geriátrica
Padrão da corrente
contínua
FIGURA 6.5
Amplitude
Tempo (t)
Corrente farádica
196
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
Amplitude
Tempo
Corrente diadinâmica
197
Fisioterapia geriátrica
a (mono)
5 5
b (di)
Tempo (ms)
Fonte: modificado de Nelson, R. M.; Hayes, K. W. & Currier, D. P. Clinical electrotherapy. 3. ed. Stamford, Appleton & Lange, 1999.
Pico da corrente
Carga do pulso
Amplitude
100 µs 9.900 µs
Duração do pulso Intervalo interpulso
10.000 µs
Tempo (µs)
Fonte: modificado de Nelson, R. M.; Hayes, K. W. & Currier, D. P. Clinical electrotherapy. 3. ed. Stamford, Appleton & Lange, 1999.
198
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
Estimuladores de microcorrente
Tempo
2,5 s 2,5 s
199
Fisioterapia geriátrica
200
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
Fortalecimento muscular
201
Fisioterapia geriátrica
Aplicação de NMES
no quadríceps
FIGURA 6.11
202
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
203
Fisioterapia geriátrica
Cicatrização de tecidos
Controle de edemas
204
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
Precauções
Os profissionais que fazem uso da NMES devem também estar cientes de
uma série de medidas de segurança que devem ser tomadas durante o uso da
estimulação elétrica nos idosos:
205
Fisioterapia geriátrica
206
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
TENS x
EENM de
baixa freqüência x x x
Interferenciais x x x x x
Russa x x x
Contínua x x x
Farádica x
Diadinâmicas x x x x
Alta voltagem x x x x x
Microcorrentes x x x
207
Fisioterapia geriátrica
Recursos termoterápicos
Ultra-som
O ultra-som é uma das modalidades mais utilizadas na fisioterapia, apre-
sentando-se como calor profundo produzido por um gerador que cria uma
corrente alternada de alta freqüência (cerca de 0,75 a 3 MHz). Essa corrente é
então convertida por um transdutor em vibrações mecânicas. O transdutor
consiste basicamente em uma cerâmica piezoelétrica sintética inserida entre
dois eletrodos. A conversão da corrente alternada de alta freqüência em vibra-
ção mecânica é efetuada pela reversão do efeito piezoelétrico. Dessa forma, o
campo ultra-sônico constitui-se de vibrações elásticas capazes de serem trans-
portadas através de gases, sólidos e líquidos, embora com velocidades distin-
tas, em função do meio de propagação.
Todos os aparelhos de ultra-som têm o mesmo projeto básico, consistin-
do num gerador que pode ser alimentado por eletricidade convencional ou
bateria. O equipamento se compõe de um circuito oscilador, um transforma-
dor e um microcomputador ligado ao instrumento de aplicação do tratamen-
to. O aplicador (também conhecido como cabeçote) abriga o transdutor, que
gera o ultra-som quando é estimulado pela corrente proveniente do gerador.
Os aparelhos são capazes de produzir diferentes freqüências de saída, varia-
ções na intensidade e no modo de saída (contínuo ou pulsátil).
Os geradores de ultra-som modernos apresentam freqüências que variam
de 1 a 3 MHz. A escolha da freqüência determina a profundidade atingida
pela energia e também o mecanismo físico em ação: quanto maior a freqüên-
cia de saída do ultra-som, menor a profundidade da penetração e vice-versa.
Sem considerar aspectos físicos mais complexos, para uma mesma potência
de energia em 3 MHz, a penetração efetiva será aproximadamente um terço
da profundidade de um gerador de 1 MHz.
A intensidade do ultra-som é a quantidade de energia que cruza uma
área numa determinada unidade de tempo: a unidade de medida utilizada
nos ultra-sons terapêuticos é o W/cm2. À medida que a área se distancia do
transdutor ocorre atenuação do campo energético; portanto, uma energia
consideravelmente reduzida alcançará um tecido mais profundo; nesses casos,
deve-se aumentar a intensidade do ultra-som para o aquecimento desse teci-
do. Em geral, são utilizadas potências na ordem de 0,1 a 1,5 W/cm2, mas a de-
terminação da energia total depositada é que desencadeará certos tipos de rea-
ções. Assim, o tempo de aplicação depende também da área a ser tratada, ou
seja, quanto maior a área lesada, maior será o tempo de aplicação.
O ultra-som pode ser aplicado de modo contínuo ou pulsado (Fig. 6.13).
A terapia contínua significa que as ondas ultra-sônicas estão freqüentemente
sendo emitidas pelo transdutor, que precisa ser movido de forma constante
enquanto a cerâmica estiver vibrando, pois a diminuição ou a interrupção do
movimento pode produzir aquecimento excessivo. A transmissão contínua
provocará o aquecimento dos tecidos, já que não haverá tempo hábil para o
208
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
b
y
Tempo
x
Fonte: modificado de Young, S. (26)
209
Fisioterapia geriátrica
• Controle da dor: o ultra-som pode controlar a dor pelo efeito direto que
a energia exerce sobre o sistema nervoso periférico, ou seja, ocorre esti-
mulação direta sobre a transmissão dos impulsos nervosos, provocando
alterações dentro das próprias fibras nervosas. A permeabilidade da
membrana celular aos íons sódio é modificada alterando a atividade elé-
trica da fibra nervosa e elevando o limiar de dor. De forma indireta, o
controle da dor pode ser resultado de outras alterações teciduais produ-
zidas em função da aplicação do ultra-som, como o aumento do fluxo
sangüíneo e da permeabilidade capilar, o que eleva a oferta de oxigênio
na área hipóxica, reduzindo a atividade dos receptores sensíveis à dor. A
estimulação dos receptores mecânicos da dor diminui por causa da redu-
ção do espasmo muscular com conseqüente relaxamento dos músculos.
210
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
Precauções
211
Fisioterapia geriátrica
Ondas curtas
As ondas curtas também são recursos amplamente empregados, em par-
ticular quando grandes áreas corporais estão em tratamento, tais como a re-
gião dorsolombar, a coxa e o quadril. Os geradores terapêuticos operam em
uma freqüência de 27 MHz, com comprimento de onda de onze metros. Na
aplicação desse agente, os campos elétricos e magnéticos são aplicados no pa-
ciente, o qual torna-se parte do circuito. A interação dos campos com os teci-
dos aumenta a cinética molecular, elevando a temperatura, levando a um
aumento das reações enzimáticas, provocando, com isso, aumento no meta-
bolismo tecidual.
Os tecidos biológicos geralmente oferecem resistência à passagem dessas
ondas, sendo que alguns tecidos (como as gorduras) sofrem menor aqueci-
mento por apresentarem menor conteúdo eletrolítico.
Os geradores de ondas curtas utilizam um par de eletrodos de aplicação,
e o paciente funciona como um dielétrico para formar o campo condensador
ou elétrico. A energia oscila entre os eletrodos enquanto o paciente, posicio-
nado entre eles, oferece resistência à passagem de energia. Assim como os
equipamentos de ultra-sons modernos, as ondas curtas também possuem as
formas contínua e pulsada. Isso significa que, na forma pulsada, haverá curtos
períodos de emissão da radiação intercalados com intervalos. Esses intervalos
entre as aplicações indicam que o paciente estará recebendo menor dose de
energia que a gerada pela forma contínua, caso o período de tratamento seja o
mesmo. Como conseqüência, haverá o predomínio de efeitos atérmicos na
forma pulsada, enquanto na forma contínua prevalecerão os efeitos térmicos.
Os parâmetros a serem utilizados na descrição dos aparelhos de diater-
mia por ondas curtas devem incluir a freqüência (normalmente fixa), a po-
tência (podendo ir a 100 mA), o tempo de irradiação e a forma de aplicação.
212
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
• Inflamação: as respostas dos tecidos à aplicação das ondas curtas são si-
milares a outras formas de calor, variando, entretanto, quanto a sua
profundidade. O fluxo sangüíneo aumenta em resposta ao aquecimen-
to, sendo esse aumento proporcional à potência média oferecida pelo
equipamento. A elevação da energia cinética molecular causa aumento
nas reações enzimáticas com conseqüente aceleração do processo infla-
matório. Assim, a exemplo de outros recursos termoterápicos, as ondas
curtas seriam um pró-inflamatório.
Precauções
213
Fisioterapia geriátrica
Recursos fototerápicos
Laser de baixa potência
A palavra laser é a abreviatura de “amplificação da luz por emissão estimu-
lada de radiação”, sendo esse o princípio em que foi baseado sua criação.
Portanto, o laser é simplesmente uma luz com características especiais que a
diferenciam de outros tipos de luz. O laser pode ser emitido nas regiões visível,
ultravioleta e infravermelha do espectro eletromagnético, mas cada uma das
longitudes de onda terá uso específico e, portanto, efeitos diferentes (Fig. 6.14).
Espectro
eletromagnético
FIGURA 6.14
Ultravioleta
Raios-Xo
Gamma
Ondas
Visível
Raios
rádio
1m 1 mm 1 µm 1 nm
Laser Laser
Fonte: baseado em Colls, J. La terapia laser hoy. GaAs HE-NE
Edición Centro de Documentación del Laser. Barcelona. 904 nm 632,8 nm
214
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
Emissão estimulada
do laser
FIGURA 6.15
E3 E3
E2 E2
E1 E1
E0 E0
Absorção estimulada
E3 E3
E2 E2
E1 E1
E0 E0
Emissão espontânea Emissão estimulada
Fonte: modificado de Baxter, G. D. Therapeutic laser. Churchill Livingstone.
215
Fisioterapia geriátrica
216
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
Monocromaticidade
do laser
FIGURA 6.16
Intensidade relativa %
Intensidade relativa %
Longitude da onda Longitude da onda
Fonte: Baxter, G. D. Therapeutic laser. Churchill Livingstone.
Colimação
do laser
FIGURA 6.17
d
2d
Fonte: modificado de Baxter, G. D. Therapeutic laser. Churchill Livingstone.
217
Fisioterapia geriátrica
Coerência
do laser
FIGURA 6.18
Todas essas características são necessárias para criar uma reação fotobioló-
gica em um organismo ou só a monocromaticidade é suficiente para produzir
tais reações? Alguns autores consideram que a coerência, a monocromaticidade
e a polarização são muito importantes para os efeitos positivos observados
nos tecidos vivos, pois são essas características que asseguram a resposta foto-
biológica óptica.
218
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
D = (P • t)
A
• Tipo de feixe: pode ser contínuo ou pulsado. O tipo de feixe será deter-
minado pela freqüência utilizada e esta, por sua vez, definirá a duração
do pulso. O feixe pulsado ou contínuo depende da fonte do material e
da configuração do sistema de produção da radiação laser. As taxas de
repetição dos pulsos variam de 2 Hz a 500 kHz. Apesar da baixa potên-
cia média dos lasers, a potência de pico do laser pulsátil pode ser alta,
sendo da ordem de W ou superior a mW.
219
Fisioterapia geriátrica
ainda sobre dosificação, podem não produzir efeitos ou podem ainda gerar
prejuízos, principalmente em pessoas idosas. Também deve-se considerar que
os efeitos da exposição à terapia laser são cumulativos.
Uma vez absorvida, a energia laser pode fazer com que as biomoléculas
específicas alcancem um estado de excitação eletrônica, no qual são capazes
de sofrer reações químicas como oxidação, redução, isomerização, ruptura de
ligações covalentes ou interações com outras biomoléculas.
Não há certeza se alguns efeitos biológicos que ocorrem com o laser são
decorrentes de efeitos diretos da radiação ou como resultado do aquecimento.
Em seus trabalhos, a maioria dos autores tem encontrado pequenos aumentos
na temperatura, o que permite concluir que os efeitos são baseados em meca-
nismos não-termais, os quais não geram aumento significante na temperatura dos
tecidos (10-3 até 0,6˚C), que não conseguem alcançar a temperatura mínima
necessária para influenciar a atividade celular.
Concluindo, durante os estados de excitação eletrônica, uma notável fra-
ção de energia excitada é convertida em calor, gerando aumento local na tem-
peratura dos cromóforos absorventes, o que vem a ser um possível mecanismo
da ação do laser. Deve-se levar em conta que o aquecimento local e transitório
das moléculas absorventes é muito diferente da média de aquecimento da cé-
lula total, o que não é observado nas doses e nas intensidades usadas em expe-
rimentos com culturas celulares. Portanto, em tecidos, não se consegue detec-
tar mudanças significativas na temperatura local.
220
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
Representação esquemática
da teoria fotoquímica
FIGURA 6.19
221
Fisioterapia geriátrica
condição deteriorada, tais como quando o paciente sofre algum tipo de desor-
dem funcional ou alguma lesão tecidual.
O laser de baixa potência gera efeitos fotoquímicos, fotofísicos e fotobio-
lógicos, afetando não só a área de aplicação como também as regiões circun-
dantes. Os efeitos fotobiológicos podem, por convenção, ser divididos em curto
prazo ou direto e longo prazo ou respostas indiretas à radiação. As respostas a
curto prazo são aquelas em que o efeito pode ser observado poucos segundos
ou minutos depois da irradiação. Os efeitos a longo prazo são observados ho-
ras, ou ainda dias, depois do final da irradiação. Entre as repostas a curto prazo
estão a fotoestimulação da taxa respiratória e a síntese de ATP. Os possíveis
mecanismos sugeridos nesse caso poderiam ser a ativação dos componentes
da cadeia respiratória NADH e do citocromo C oxidase, ou também tem sido
proposto uma possível fusão de mitocôndrias, gerando uma mitocôndria gi-
gante, a qual gerará altos níveis de energia. Entre os efeitos fisiológicos do
LLLT a longo prazo estão o aumento da mitose e da divisão celular, o efeito
analgésico e o efeito antiinflamatório.
O aumento da mitose é um efeito proliferativo do laser que tem aplicação
nos processos de cicatrização de tecidos, obtendo bons resultados em várias
pesquisas. É importante assinalar que os melhores resultados são obtidos
quando há doença de base no paciente. Assim, se a ferida ocorre em um paciente
diabético, a resposta ao laser será ótima quando comparada com um paciente
sadio, no qual o laser não pode acelerar o processo normal de cicatrização. O
efeito analgésico atua sobre diferentes regiões, com um número amplo de me-
canismos, que do ponto de vista científico não estão claramente definidos. Al-
guns dos possíveis mecanismos de ação do laser para diminuir a dor são o au-
mento dos níveis de endorfina no fluido espinal, a diminuição da liberação de
substâncias algogênicas ou o aumento do limiar da dor. Também há indícios de
que o laser de baixa potência tem um efeito antiinflamatório e as evidências clí-
nica e laboratorial podem ser amplamente revisadas em vários estudos, embora
não se conheça claramente o mecanismo; além disso, os resultados são contro-
versos. O efeito modulatório do laser sobre a inflamação pode envolver os
seguintes processos no seu mecanismo: inibição de fatores quimiotáticos nas
primeiras etapas da lesão, interferência do laser de baixa potência nos efeitos dos
mediadores químicos ou superóxidos induzidos pela inflamação, intervenção
do laser de baixa potência nos processos inflamatórios modulando os níveis de
várias prostaglandinas. Isso sugere que diferentes mecanismos podem estar en-
volvidos nos efeitos inibitórios do laser de baixa potência sobre a permeabilidade
vascular da água e das proteínas do plasma.
Os efeitos antiinflamatórios do laser têm sido avaliados clinicamente em
lesões inflamatórias musculoesqueléticas e na síndrome miofascial, com di-
vergências nos resultados. Alguns trabalhos mostraram alívio da dor de forma
duradoura, outros trabalhos afirmam não encontrar diferenças significativas
entre os grupos de tratamento e de controle. Estudos sobre o efeito do laser de
baixa potência nos processos inflamatórios estão ainda numa etapa inicial,
havendo necessidade de mais estudos experimentais e clínicos bem controla-
dos para confirmar se as ações são pró ou antiinflamatórias.
222
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
Técnica de aplicação
223
Fisioterapia geriátrica
Aplicação de laser
em feridas
FIGURA 6.20
Margens da ferida
224
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
Aplicação do laser em
tecido musculoesquelético
FIGURA 6.21
Tecido denso
(por exemplo osso)
Tecido-alvo
Fonte: baseado em Baxter, G. D. Therapeutic laser. Churchill Livingstone.
225
Fisioterapia geriátrica
Precauções
226
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
Radiação ultravioleta
A radiação ultravioleta não é tecnicamente um agente termal, e seu prin-
cipal uso está no tratamento de enfermidades dermatológicas. A luz ultravio-
leta foi utilizada na fisioterapia por décadas, mas atualmente seu uso está de-
caindo, pois o avanço farmacológico em dermatologia gerou seu desuso.
A luz ultravioleta encontra-se entre 180 a 400 nm no espectro eletromag-
nético, podendo ser dividida em três tipos:
227
Fisioterapia geriátrica
DE = (P • t)
A
228
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
229
Fisioterapia geriátrica
Precauções
As pessoas que operam com freqüência equipamento que emite RUV de-
vem ter cuidado para não expor sua pele à radiação, pois a exposição crônica,
mesmo em dose suberitematosa, aumenta o risco de câncer de pele. Os opera-
dores e os paciente submetidos a esse tipo de tratamento devem proteger seus
olhos da irradiação excessiva usando óculos filtradores desse tipo de luz.
De acordo com a condição de saúde do paciente, ele deverá ser submetido
previamente ao teste do eritema para definir a dose necessária para o trata-
mento. Antes de iniciar o tratamento, a área da pele a ser submetida à irradia-
ção deve ser limpa para eliminar possíveis sujeiras que possam interferir no
230
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
Radiação infravermelha
A radiação infravermelha (IV) é considerada um meio de aquecimento
superficial e encontra-se num comprimento de onda entre 0,78 e 1 µm, per-
manecendo entre as microondas e a luz visível do espectro eletromagnéti-
co. Como acontece com a RUV existem três tipos de IV: IVA: 0,78–1,4 µm;
IVB: 1,4–3 µm; e IVC: 3 µm–1 mm. Os comprimentos de onda usados clini-
camente estão concentrados na IVA entre 0,7 e 1,5 µm.
As fontes de RIV podem ser naturais (sol) ou artificiais. Estas últimas são
as usadas em fisioterapia e podem ser de dois tipos: geradores luminosos ou
não-luminosos. Os geradores luminosos produzem radiações com compri-
mentos de onda de 1 µm além da luz visível. Os geradores não-luminosos
produzem radiações com comprimento de 4 µm.
A penetração da energia dentro do meio depende da intensidade da fonte
de RIV, além do comprimento de onda, da sua freqüência, do ângulo com que
o raio se choca contra a superfície e do coeficiente de absorção do material. A
profundidade de penetração do RIV varia de acordo com a estrutura da su-
perfície e de acordo com o grau de dispersão da microestrutura na pele. A pe-
netração máxima acontece com comprimentos de onda de 1,2 µm, pois a pele
é opaca a comprimentos de onda de 2 µm ou mais. Como a energia absorvida
diminui exponencialmente com a profundidade, o aquecimento ocorrerá de
forma superficial. Há controvérsias sobre o grau de penetração da RIV, mas,
em geral, sabe-se que ela não penetra mais de 3 mm na pele.
A quantidade de energia recebida pelo paciente será determinada pela in-
tensidade da lâmpada (mensurada em W), pela distância entre a lâmpada e o
paciente e pela duração do tratamento.
Os principais efeitos da radiação infravermelha são decorrentes de au-
mento da temperatura dos tecidos e são descritos a seguir:
231
Fisioterapia geriátrica
Algumas das alterações podem ocorrer por uso excessivo da RIV, como
danificação dos olhos, que podem apresentar queimaduras da córnea por ex-
posição à RIV, ou lesão lenticular por exposição à RIV próxima. Outras alte-
rações aparecerão depois de exposições prolongadas à RIV:
232
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
Referências bibliográficas
(1) ALON, G. “The principles of the electrical stimulation”. In: Clinical elec-
trotherapy. 3. ed. Stafford, Appleton & Lange, 1999.
233
Fisioterapia geriátrica
(12) GUIRRO, E. et al. “As variáveis físicas do ultra-som terapêutico: uma re-
visão”. In: Revista de Ciência & Tecnologia, 1996.
(16) KANTOR, G.; ALON, G. & HO, H. “The effects of selected stimulus wa-
veforms on pulse and phase characteristics at sensory and motor
thresholds”. In: Physical Therapy. v. 74, n. 10, 1994.
234
Aplicações dos recursos eletrotermofototerápicos em idosos
(26) TURNER, J. & HODE, L. “Low level laser therapy”. In: Clinical practice
and scientific background. Sweden, Primabooks, 1999.
235
Capítulo 7
Fisioterapia
aplicada aos
idosos
portadores de
disfunções
neurológicas
Daniela Garbellini
O
envelhecimento está freqüentemente associado ao comprometimen-
to do desempenho cognitivo e fisiológico, o que torna as pessoas mais
susceptíveis à morte. Enquanto as principais causas de óbito em pra-
ticamente todas as faixas etárias são acidentes automobilísticos entre outros
traumas, nos grupos de 45 a 64 anos e de 65 anos para cima, as principais
causas de óbito são as doenças cardíacas e as neoplasias malignas. Além disso,
alguns distúrbios, como a doença de Alzheimer, o mal de Parkinson e as doen-
ças cerebrovasculares, cuja incidência tem aumentado, são específicos da ida-
de avançada (6).
237
Fisioterapia geriátrica
Alterações neurológicas do
envelhecimento normal
O cérebro do idoso apresenta alterações significativas na função fisiológi-
ca, principalmente relacionadas com o comprometimento da memória, o re-
tardo das funções centrais e a diminuição do peso cerebral.
238
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neurológicas
Ventrículo
lateral
Córtex cerebral e
substância branca
Corpo
caloso
Tálamo
Diencéfalo
Hipotálamo
Mesencéfalo
Ponte Cerebelo
Bulbo
Fonte: baseado em Sobotta,
J. Atlas de anatomia humana.
Medula espinhal v. 1. Rio de janeiro,
Guanabara Koogan, 2000.
239
Fisioterapia geriátrica
Imagens de RNM
FIGURA 7.2
do encéfalo de um idoso
240
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neurológicas
241
Fisioterapia geriátrica
242
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neurológicas
Aspectos primários
Segundo Shumway-Cook e Woollacott (13), existe uma importante con-
trovérsia na literatura a respeito do declínio da função neural relacionada com
a idade avançada. Essas autoras sugerem que tal controvérsia ocorra pela hete-
rogeneidade entre os idosos, resultando num importante conceito de que o de-
clínio na capacidade física não seja inerente a todos os idosos. Portanto, o en-
velhecimento não deve ser caracterizado por um declínio em todas as funções,
requisitando instrumentos de avaliação capazes de identificar qual a função
comprometida e, conseqüentemente, a estrutura responsável. Parece ser im-
portante, portanto, abordar os aspectos primários relacionados com o envelhe-
cimento, admitindo uma interação entre predisposição genética e fatores am-
bientais. Dessa forma, instabilidades e quedas podem, inclusive, funcionar
como sinais rastreadores de saúde prejudicada e declínio da função. Alguns au-
tores (13;14) são unânimes em afirmar que as quedas estão entre as principais
causas de morte acidental em idosos, correspondendo à sétima causa de óbito
na população acima de 75 anos. As quedas possuem sérias conseqüências físicas
e psicológicas incluindo lesões, hospitalização, mobilidade deficitária, atividade
restrita, acarretando declínio da função e, em alguns casos, necessidade de aten-
dimento domiciliar, além do aspecto psicológico do medo de cair novamente. O
idoso que se sente instável, porém sem episódio prévio de queda, restringe sua
atividade, resultando em redução da mobilidade, queda da funcionalidade e
isolamento social (4). Atualmente, segundo Shumway-Cook e Woollacott (13),
pesquisas recentes demonstram que quedas nessa população possuem fatores
considerados multicausais, incluindo fatores intrínsecos, tanto psicológicos como
musculoesqueléticos, e fatores extrínsecos ou ambientais. Examinar os fatores
intrínsecos relacionados com as quedas e com as instabilidades significa relatar
as mudanças que ocorrem nos sistemas motor e sensorial, bem como em
243
Fisioterapia geriátrica
244
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neurológicas
Aspectos secundários
Neste tópico serão descritas sucintamente as doenças neurológicas de re-
levância fisioterápica que podem acometer a população idosa, em ordem de-
crescente de ocorrência. Vale ressaltar que muitas modificações clínicas neu-
rológicas têm sido atribuídas à idade sem que haja estudos adequados e
suficientes que permitam a verificação de tais fatos. Esse aspecto freqüente-
mente torna-se decisivo para alta fisioterápica do paciente, visto que, após um
acidente vascular encefálico (AVE), por exemplo, o paciente recupera-se fun-
cionalmente, porém continua apresentando fraqueza, sendo essa atribuída à
idade avançada.
245
Fisioterapia geriátrica
a) Principais Excitotoxidade
eventos da
Impacto
Glu
Gl
Despolarização K+
Glu
Na+
Glu K+ Glu
Ca2+ +
Na Swelling Glu
Liberação de (edema)
glutamato Ca2+
Lesão
b) Panorama mitocondrial
simplificado dos Indução
mecanismos enzimática
fisiopatológicos Apoptose
de um AVE Radicais
isquêmico focal Degradação livres de NO
Lesão no DNA
da membrana
Mediadores
inflamatórios
Ativação da Infiltração
Fonte: baseado em Dirnagl, U. et al. (3) microglia leucocitária
246
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neurológicas
247
Fisioterapia geriátrica
Corpo caloso
Fórnix
Núcleos anteriores
do tálamo
Giro para-hipocampal
Hipocampo
248
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neurológicas
249
Fisioterapia geriátrica
Intervenções fisioterápicas
O objetivo da medicina geriátrica, considerando o aumento da prevalên-
cia de doenças crônicas, deve ser preferencialmente o de detectar doenças e li-
250
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neurológicas
dar com elas em vez de apenas curar. Isso implica dar ênfase na promoção da
condição funcional do paciente, abordagem eficaz por meio de uma equipe
interdisciplinar. Trabalhar em interação com outros profissionais propor-
ciona ao idoso um ambiente com maior qualidade de estímulos adequados
em que seja possível otimizar a independência, a funcionalidade e a auto-
nomia (14).
Fundamental na prática geriátrica é reconhecer a existência de grande hete-
rogeneidade entre a população idosa. Clínicos reconhecem que a idade cronoló-
gica é um indicador muito pobre da condição funcional do paciente. Dessa
forma, o melhor determinante dessa condição, nessa faixa etária, é a história
da moléstia, a condição funcional e o contexto social (14).
Partindo do pressuposto da solução de problemas, a dificuldade em realizar
adequadamente o movimento decorrente de dano neurológico deve ser com-
preendida por meio da análise dos déficits da doença que prevalece. Nesse
sentido, a abordagem fisioterápica em pacientes idosos deve ser ampla, incluindo
aspectos preventivos, reabilitadores e maximizadores de habilidades.
A solução de problemas pode ser considerada em ambos os contextos: tan-
to do fisioterapeuta, que identifica os problemas do paciente e adota uma abor-
dagem apropriada de tratamento, quanto do próprio paciente, que aprende a
lutar com o déficit de movimento por meio de estratégias compensatórias.
Especificamente em relação à população idosa que apresenta sinais neuro-
lógicos decorrentes da presença ou não de doenças, o fisioterapeuta deve rever
vantagens e desvantagens de cada intervenção. Enquanto a qualidade do mo-
vimento é importante para adequada funcionalidade, pode-se reconhecer que a
restauração do movimento normal torna-se um objetivo inatingível. Deve ha-
ver um equilíbrio entre reeducação de padrões normais de movimento e acei-
tação da compensação desejada e necessária.
251
Fisioterapia geriátrica
252
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neurológicas
Influência da integração
sensorial no equilíbrio
FIGURA 7.6
3 4
Espuma
Modificado
de Shumway-Cook (12).
253
Fisioterapia geriátrica
Localização e funcionamento
dos gânglios da base
FIGURA 7.7
O diagrama mostra as conexões entre os gânglios basais e o córtex motor por meio da retransmissão talâmica.
As projeções são indicadas por setas e os neurotransmissores sobre as setas (+, excitatório; -, inibitório).
a Córtex sensório-motor
Área Área Área Córtex
motora pré- motora somatossensorial
suplementar motora primária primário
Córtex + Glutamato
+ Dopamina
Substância Núcleo caudado GABA/
Glutamato + negra +/- Encefalina Globo
compacta Putâmen pálido
Dopamina externo
Sn
Córtex
c Doença de
Parkinson (+)
(--)
GB TAL
Globo pálido externo Putâmen
Globo pálido interno Núcleo caudado
Sn Substância negra (Sn) Tálamo (TAL)
254
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neurológicas
255
Fisioterapia geriátrica
256
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neurológicas
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Fisioterapia geriátrica
258
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neurológicas
Reflexo de estiramento
Aferente la
Neurônio Interneurônio
motor alfa inibitório la
Fuso Antagonista
Músculo homônimo
Sinergista Modificado
de Kandel, E. et al. (9)
Porém, após lesão encefálica ou medular que atinja esses tratos descen-
dentes moduladores, há liberação do reflexo de estiramento, determinando
aspectos característicos da espasticidade, tais como maior reflexo de estira-
mento, postura anormal e padrões de movimento em massa, co-contração
inadequada e incapacidade em desempenhar movimento isolado em uma ar-
ticulação ou exagero de reflexos exteroceptivos, como retirada em flexão, es-
pasmos extensores e sinal de Babinski. Na maioria dos casos a espasticidade
desenvolve-se gradualmente, determinada não apenas pela extensão e pela
gravidade da lesão, mas também pelas influências ambientais e pelos fatores
psicológicos, tais como postura, esforço e motivação. Nesse sentido, a espasti-
cidade pode ser entendida como uma compensação do SNC ao dano neuro-
lógico, ou seja, a ocorrência de um fenômeno plástico nos circuitos espinhais
devido à eliminação das influências descendentes. Alguns estudos demons-
tram a influência desse fenômeno sobre o sistema musculoesquelético, como
a atrofia de fibras do tipo II em pacientes paréticos, havendo estreita relação
259
Fisioterapia geriátrica
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Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neurológicas
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Fisioterapia geriátrica
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Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neurológicas
Figura 7.14:
Estratégias para
melhorar o
controle do
equilíbrio.
FIGURA 6.18
267
Fisioterapia geriátrica
Resumo
O tratamento de pacientes idosos requer uma abordagem ampla incluin-
do prevenção, reabilitação e maximização das habilidades funcionais. Atual-
mente existe um crescente número de estudos demonstrando que muitos dos
declínios no desempenho neurológico pode ser revertido ou estabilizado (12).
Enquanto fisioterapeutas acreditamos que as intervenções propostas são
eficazes em intensificar a recuperação após lesão cerebral ou, mesmo, retardar
a sintomatologia nos casos de doenças degenerativas, porém, examinando cri-
teriosamente o que e como fazer. Resultados experimentais sugerem que, ape-
sar da maior recuperação ocorrer num curto período de tempo após a lesão, a
recuperação pode continuar durante vários anos, sugerindo que a princípio a
terapia mais intensa instituída precocemente pode ser mais efetiva, porém ao
longo do tempo devem ser realizadas reavaliações periódicas e intervenções
seletivas tornando o tratamento mais específico, melhorando o resultado fun-
cional (6). Ao longo deste capítulo enfatizou-se a necessidade da avaliação das
atividades funcionais, observando especificamente as compensações ou estra-
tégias adotadas pelos pacientes portadores ou não de doenças, para posterior-
mente selecionar a estratégia melhor adaptada a cada caso. Nessa seqüência
de raciocínio está embutido o conceito de que o melhor desempenho de ha-
bilidades motoras específicas somente será conseguido a partir da aquisição
dessas habilidades, ou seja, que o aprendizado motor de padrões normais de
movimento apenas ocorre se esses forem promovidos dentro de um contexto
de tarefas específicas e intencionais (5;6).
268
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neurológicas
Referências bibliográficas
(1) CARVALHO, E. T. & NETTO, M. P. Geriatria: fundamentos, clínica e tera-
pêutica. São Paulo, Atheneu, 2000.
(7) HELD, J. M. & PAY, T. “Recuperação da função após lesão cerebral”. In:
H. COHEN. Neurociência para fisioterapeutas – incluindo correlações clí-
nicas. São Paulo, Manole, 2001.
(11) NITRINI, A. & BACHESCHI, R. A neurologia que todo médico deve saber.
Santos, São Paulo, p. 335, 1993.
269
Fisioterapia geriátrica
270
Capítulo 8
Fisioterapia
aplicada aos
idosos portadores
de doenças
reumáticas
Anamaria Siriani de Oliveira
A
artrite reumatóide e a osteoartrose estão entre as doenças reumáticas
articulares mais prevalentes na população que sofre de acometimen-
tos crônicos, sendo comum em países desenvolvidos, como os Estados
Unidos, e em desenvolvimento, como o Brasil. De forma geral, as patologias
reumáticas (musculares e ósseas) nos idosos acarretam comprometimento da
função, diminuição do nível de independência do paciente, diminuição da
destreza para os movimentos, prejuízos na marcha e quedas recorrentes. Este
capítulo apresenta, inicialmente, uma revisão sobre os tecidos comuns às arti-
culações sinoviais, à lesão e ao potencial de reparação da cartilagem articular.
Na seqüência, as principais patologias reumáticas mais incidentes entre os pa-
cientes idosos que procuram pela assistência fisioterápica são apresentadas
juntamente com as considerações sobre as possibilidades de intervenção.
271
Fisioterapia geriátrica
A membrana sinovial
A membrana sinovial é um tecido delgado, composto por células especiali-
zadas de origem mesenquimal chamadas sinoviócitos, as quais produzem o lí-
quido sinovial e estão dispostas em camadas de até cinco células sobrepostas.
Esse tecido é vascularizado, com elevada capacidade de regeneração e inerva-
do, podendo ser fonte de dor nas lesões.
Mesmo na ausência de sangramentos significativos, a membrana sinovial
pode apresentar uma resposta vasomotora considerada grave. Os capilares da
membrana sinovial se dilatam, a infiltração aumentada leva proteínas para o
interstício e forma-se um edema tecidual. Ocorre hiperemia na membrana e
espessamento reativo que desaparece rapidamente se o agente lesivo age so-
mente em uma oportunidade. Nos casos crônicos, a membrana apresenta-se
constantemente espessada.
As propriedades físicas de uma efusão particular parecem estar refletidas
em alterações da membrana sinovial dessa articulação. Em efusões de baixa
pressão observa-se hiperplasia do revestimento sinovial e em efusões de alta
pressão, superfície sinovial atenuada.
O líquido sinovial
O líquido sinovial é um filtrado do plasma sangüíneo com adição de pro-
teínas e mucopolissacarídeo — o ácido hialurônico. A entrada de proteínas é
regulada pela membrana sinovial e a secreção de hialuronato, pelos sinovióci-
tos. O líquido sinovial é avascular e contém um número pequeno de células,
que varia de cem a duzentas por milímetro cúbico. Em situação fisiológica, o
líquido sinovial é amarelo claro, transparente, altamente viscoso devido à pre-
sença do ácido hialurônico, contém poucos sinoviócitos e células fagocitárias
derivadas da membrana sinovial.
As funções do líquido sinovial são: auxiliar na lubrificação das articula-
ções, servir como meio de difusão de metabólitos para a cartilagem articular e
reduzir o atrito durante o movimento. O líquido sinovial também se compor-
ta de maneira distinta dependendo do agente irritativo e do processo inflama-
tório desencadeado, como pode ser observado na Tabela 8.1.
272
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
Características classificatórias
do líquido sinovial
TABELA 8.1
A cápsula articular
A cápsula articular é formada por tecido conjuntivo fibroso, podendo con-
ter espessamentos específicos chamados de ligamentos, que juntos servem para
unir firmemente as peças ósseas influenciando a amplitude do movimento ar-
ticular. Os vasos sangüíneos perfazem um curso tortuoso entre os fascículos
colágenos, e uma fibra nervosa pode ser encontrada perivascularmente, ou
por vezes livre no ligamento ou na cápsula. A cápsula articular se fixa ao osso
por meio de um tecido de transição fibrocartilaginoso que se torna calcificado
na inserção.
273
Fisioterapia geriátrica
Estruturas intra-articulares
Os meniscos são estruturas fibrocartilaginosas inervadas e vascularizadas
somente em sua periferia, por isso sua resposta à lesão depende da extensão e
da região da lesão. Nas lesões periféricas o processo de reparação leva à for-
mação de um tecido de reparação fibroso, enquanto nas lesões em áreas sem
vascularização, em geral, há necessidade de procedimento cirúrgico por não
acontecer cicatrização. Além disso, a ruptura de suas inserções periféricas pode
resultar em reação sinovial aguda no espaço articular. Com a lesão, estão pre-
judicadas as funções de aumento da congruência entre as peças ósseas que
se articulam, diminuição dos espaços intra-articulares, movimentação entre
disco e osso (compartimento articular, como aquele observado nas articula-
ções temporomandibulares), absorção de choques, ação restritora de movi-
mentos anormais, distribuição de cargas e proteção da cartilagem articular.
A cartilagem articular
A cartilagem sinovial desempenha papel vital no sistema musculoesque-
lético, pois permite o movimento com baixo atrito, distribui cargas minimi-
zando o estresse de contato e dissipando a energia associada à carga. Nessa es-
trutura, a função e a manutenção do estado saudável do tecido cartilaginoso
estão intimamente relacionadas de forma que, apesar do baixo turnover (taxa
de morte/crescimento de tecido novo) e das altas sobrecargas, possa manter a
estrutura íntegra ao longo de décadas.
O turnover aumenta em patologias como o paratiroidismo e as doenças
mestastásicas e, nessas condições, a cartilagem é mais suscetível ao estresse.
A cartilagem sinovial é hialina, composta por condrócitos e matriz extra-
celular.
Os condrócitos são células especializadas, metabolicamente responsáveis
pelo desenvolvimento da cartilagem articular, pois produzem, secretam e man-
têm o componente orgânico da matriz extracelular. Essas células são especialmen-
te sensíveis à presença da interleucina 1, um mediador inflamatório presente nas
sinovites, que leva à diminuição da síntese dos componentes orgânicos da matriz.
A matriz extracelular é composta em sua maior parte por água, colágeno
e proteoglicanas, e ainda por uma pequena quantidade de proteínas e lipídeos.
O colágeno constitui 10 a 30% do peso úmido da cartilagem normal e as
proteoglicanas, 3 a 10%. A água e os eletrólitos dissolvidos compreendem 60 a
85% do peso úmido.
274
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
Superfície articular
a Zona superficial b
Zona intermediária
Zona profunda
Faixa limítrofe
Zona calcificada
Osso subcondral
275
Fisioterapia geriátrica
esponja, ou seja, sob pressão a água deixa esse espaço e há uma maior capaci-
dade de deformação do tecido na absorção da força. Na zona profunda, cor-
respondendo a 30% da espessura total da cartilagem articular, as fibras colá-
genas estão dispostas perpendicularmente às placas terminais mais próximas
e organizadas em feixes que cruzam a faixa limítrofe (tidemark) e fazem o an-
coramento da cartilagem articular no tecido ósseo.
A cartilagem que sofre lesão regenera-se com dificuldade e freqüente-
mente de modo incompleto, salvo em crianças de pouca idade. A cartilagem
degenerada exibe danos nas fibras colágenas do tipo II. No adulto, a regenera-
ção se dá por tecido conjuntivo denso ou fibrocartilaginoso com colágeno do
tipo I, semelhante àquele encontrado no tecido ósseo que facilita a deposição
de cálcio e cristais de hidroxiapatita. O dano colágeno é, portanto, um evento
fisiopatológico irreversível. De maneira geral, as forças mecânicas excessivas e
a presença de colagenases, como aquelas dos fagócitos, contribuem para a de-
generação da estrutura colágena e da cartilagem articular, como aquela obser-
vada nas osteoartrites.
Agentes físicos, como a temperatura, influenciam a atividade enzimática
e levam a respostas específicas como, por exemplo, as proteínas de “choque”
encontradas na sinóvia de articulações artríticas submetidas a um estresse fí-
sico de aumento da temperatura.
As proteoglicanas estão diluídas na matriz extracelular e são polissacarí-
deos chamados de mucopolissacarídeos. São polímeros conjugados de sulfato
de condroitina e sulfato de queratina que se ligam ao ácido hialurônico for-
mando o agrecan (Fig. 8.2).
Representação esquemática
do agrecan
FIGURA 8.2
Agrecan
Sulfato de queratina
Proteína central
Proteína Agrecan
de ligação
Ácido hialurônico
Fonte: baseado em Newman, A. P. (44).
276
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
Fibrila colágena
Ácido hialurônico
40 nm Fluido intersticial
Mais uma vez, a ação enzimática pode levar à degradação das proteogli-
canas e alterar a hidratação e, conseqüentemente, a capacidade da articulação
em suportar cargas.
A água é o componente mais abundante da cartilagem articular e decres-
ce de modo linear com o aumento da concentração de colágeno, ou seja, de
acordo com a distribuição por zonas. Apenas 30% do volume total de água do
tecido cartilaginoso está dentro das células. A maior parte da quantidade de
água encontra-se nos espaços intramoleculares (matriz extracelular) livre
para mover-se sob influência do gradiente de concentração e forças, sendo
que, sob pressão, cerca de 70% da água extracelular pode ser mobilizada, daí
277
Fisioterapia geriátrica
278
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
ção das lesões do tecido cartilaginoso hialino depende, entre outros fatores,
do tamanho do dano e da idade do indivíduo.
279
Fisioterapia geriátrica
280
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
Vários estudos têm mostrado que a resposta dos condrócitos é mais favo-
rável, com aumento de 38% na síntese de glicosaminoglicanas, quando os
exercícios são ciclados numa proporção de quatro segundos de exercício e
onze sem exercício. A resposta varia com a freqüência da pressão, a duração
da aplicação e o estado das células. Ainda sobre os condrócitos, em protolocos
utilizando exercícios prolongados, observou-se uma hipertrofia reativa nessas
células. Também foram evidenciados o aumento da matriz pericelular e o au-
mento do número de células por área.
Ao expor cartilagens mantidas in vitro a estresses cíclicos de freqüência
alta (dois segundos On e dois Off) e baixa (sessenta On e sessenta Off), obser-
vou-se diminuição na síntese de proteoglicanas e proteínas no exercício com
baixa freqüência, enquanto o de alta freqüência produziu um efeito estimula-
dor sobre os mesmos componentes anteriormente citados. Quando essas car-
tilagens deixaram de ser estimuladas com os exercícios, a quantidade de ativi-
dade sintética voltou às taxas pré-exercício.
Aplicações com duração de uma hora e meia produzem maiores efeitos
inibitórios, enquanto uma aplicação de vinte horas aumenta a fixação dos sul-
fatos no tecido cartilaginoso. Essa variação pode estar relacionada com o tem-
po da síntese completa de um agrecan que dura cerca de uma hora e meia até
duas horas. Essas considerações devem nortear os planos de tratamento fisiote-
rápico sugerindo períodos alternados de aplicação de carga e de retirada dessa
carga, nos estágios iniciais da reabilitação, sendo os períodos sem aplicação de
cargas maiores que o dos exercícios.
Esses resultados indicam que nos estágios iniciais da reabilitação, após al-
gum nível de redução dos sinais inflamatórios, movimentos rápidos sem car-
ga devem ser utilizados para estimular o aumento da síntese de proteoglica-
nas. Quando as cargas estáticas forem introduzidas, um período de ausência
de carga de proporção maior que a dos exercícios deve ser instituído.
281
Fisioterapia geriátrica
Osteoartrose
A osteoartrose (OA) pode ser definida como o quadro clínico articular
conseqüente às alterações bioquímicas, moleculares e histológicas que ocor-
rem na cartilagem articular e no osso subcondral quando, por diversos fatores,
há uma falha dos condrócitos em sintetizar qualitativa ou quantitativamente a
matriz extracelular. Essas evidências clínicas podem ser acompanhadas de
anormalidades radiográficas nas articulações, sintomas típicos ou ambos.
Em estágio inicial, trata-se de uma degeneração não-inflamatória e sua
evolução leva à formação de osso subcondral novo na superfície articular e
nas margens articulares. O desenvolvimento da degeneração articular primá-
ria é fortemente relacionado com o envelhecimento. A despeito dessa associa-
ção, a relação entre a idade e a degeneração articular ainda não é completa-
mente compreendida. No entanto, a OA não é causada simplesmente pelo uso
da cartilagem articular. As modificações normais nos tecidos articulares que
ocorrem com a idade são diferentes das observadas na OA, embora favoreçam
o processo de instalação da doença.
Clinicamente, a artrose pode ser classificada de diferentes maneiras. Quan-
do o paciente apresenta sinais radiográficos das lesões articulares, sem os sinto-
mas característicos, a OA é dita muda. Por outro lado, quando além dos sinais
radiográficos relatam-se queixas associadas, a OA é dita ativa.
A transição da forma muda para ativa depende da sobrecarga mecânica
sobre as articulações e de fatores irritativos, como por exemplo, a presença de
cristais de ácido úrico, ou a variação brusca da temperatura a qual a articula-
ção é exposta.
Quando o aspecto do envelhecimento não está presente e não é possível
identificar um fator etiológico capaz de iniciar o processo de lesão inflamató-
ria da cartilagem articular, a artrose é denominada idiopática.
Na forma secundária, a artrose é decorrente de doença de base, em que os
fatores mecânicos, bioquímicos, inflamatórios, imunológicos, genéticos e me-
282
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
Incidência
A OA é considerada a mais importante doença reumática, não só por ser
a primeira em freqüência mas também por seu impacto socioeconômico, já
que causa incapacidade. Os pacientes portadores de OA representam cerca de
30 a 40% da procura por consultas em ambulatórios especializados no siste-
ma osteoartromuscular. Essa doença causa incapacidade laborativa em 15%
da população adulta do mundo e, no Brasil, ela está em terceiro lugar entre as
causas de pagamento de seguros da Previdência Social e representa 7,5% de
todos os afastamentos do trabalho. É a segunda doença entre as que justificam
auxílio inicial e auxílio-doença (prorrogação) e a quarta a determinar as apo-
sentadorias, representando 6,2% do total.
De forma geral, após os 30 e 35 anos, 50% das pessoas apresentarão alte-
rações articulares degenerativas que predispõem a OA e, após a quinta década,
praticamente essas mudanças estarão presentes em toda a população, sendo
que as mulheres apresentam esses sinais mais precocemente que os homens.
Sua prevalência aumenta com a idade: é pouco observada antes dos 40
anos, muito freqüente após os 60, e aos 75 anos, ou mais, cerca de 85% dos
indivíduos têm evidência radiológica ou clínica da enfermidade.
Etiologia e fisiopatologia
A OA é uma doença degenerativa que consiste em uma seqüência de alte-
rações que envolvem os tecidos da cartilagem articular, da membrana sinovial
e do osso subcondral. Em sua forma primária, pode-se observar além das lesões
da cartilagem, uma falência dos demais tecidos das articulações diartrodiais.
Na cartilagem articular as mudanças nos condrócitos e na matriz cartila-
ginosa resultam na perda da estrutura normal, anteriormente descrita, e em
tentativas de reparação e remodelagem do osso subcondral. Devido a essas rea-
ções de reparação e remodelagem, o aspecto degenerativo não é uniforme-
283
Fisioterapia geriátrica
Matriz normal
Cartilagem normal Condrócitos
Matriz
1 Proteo-
glicanas
Osso subcondral
Colágeno
Cartilagem com erosão
Fibrilação Enzima
2 Quebra
do ácido
aluriônico
Espessamento do
osso subcondral
284
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
285
Fisioterapia geriátrica
286
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
Tratamento fisioterápico
Uma vez que a OA é uma doença com características fisiopatológicas ir-
reversíveis, especialmente em estágios avançados, e com progresso incapaci-
tante, a fisioterapia é sempre uma medida conservadora no acompanhamento
dos pacientes com essa doença.
Indiscutível ao planejamento do tratamento fisioterápico em suas mais
diversas áreas de atuação, a característica de individualização dos planos de
assistência deve basear-se em uma minuciosa avaliação das condições articu-
lares do paciente, mas também na atenção à grande apresentação de comorbi-
dade encontrada entre os pacientes idosos. Por exemplo, a presença de uma
neuropatia periférica em decorrência da diabetes mellitus, deve ser considera-
da quando se pretende utilizar uma técnica eletroterápica. Outro exemplo é a
investigação da hipertensão arterial e da osteoporose para nortear a escolha
dos exercícios cinesioterápicos que serão executados pelo paciente.
De forma geral, os objetivos do tratamento fisioterápico na OA são dire-
cionados para redução ou alívio da dor e rigidez articulares, redução da sen-
sação parestésica, aumento da funcionalidade, manutenção e aumento da for-
ça muscular, aumento da estabilidade articular, proteção articular e aumento
da propriocepção e sensação cinestésica. No entanto, muitas vezes não lem-
brados ou enfatizados nos planos de tratamento de maneira direta, a orienta-
ção, a educação do paciente sobre sua condição e a prevenção do desenvolvi-
mento gradual da degeneração articular são objetivos de grande importância
nessa condição articular.
287
Fisioterapia geriátrica
288
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
289
Fisioterapia geriátrica
Artrite reumatóide
A artrite reumatóide (AR) é uma doença inflamatória crônica e sistêmi-
ca. Uma ampla gama de achados articulares e extra-articulares está associada
com a artrite reumatóide. A poliartritre crônica, que perpetua com gradual
destruição dos tecidos, pode resultar em deformidades severas e incapacidade.
As articulações da coluna cervical são freqüentemente envolvidas, promoven-
do potencial subluxação atlanto-occipital e compressão medular. As mudan-
ças extra-articulares são variadas e espalhadas, determinando a natureza sistê-
mica da doença. O quadro articular pode regredir ou evoluir em surtos para
anquilose, originando deformidades fixas. Alguns sistemas como, por exemplo,
os sistemas cardiovascular, pulmonar e gastrintestinal podem estar envolvidos.
Lesões oculares, infecção e osteoporose são manifestações extra-articulares
potenciais.
Uma vez que a AR tem amplas possibilidades de acometimentos combi-
nados, é necessário um critério de classificação baseado no nível de incapaci-
dade decorrente da doença. O critério apresentado abaixo (Tab. 8.2) é especi-
almente utilizado nos trabalhos publicados sobre os efeitos de diferentes tipos
de tratamento destinados ao paciente portador de AR.
290
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
Incidência
Aproximadamente 1 a 2% da população mundial adulta tem artrite reu-
matóide, cuja incidência independe da raça. Pessoas de qualquer idade podem
sofrer com a AR, sendo mais comum dos 20 aos 45 anos e atinge mais a popu-
lação urbana que a rural. É vista claramente como uma doença que atinge o
indivíduo em fases importantes de sua vida, quando seu potencial de produção
está no auge e, nas donas de casa, quando os filhos ainda encontram-se sob
seus cuidados. Todas essas razões, mais a cronicidade da doença, exigem cuida-
do e tratamento efetivos no controle da doença e dos seus sintomas e na aten-
ção holística. A estimativa para os Estados Unidos é de 60 mil crianças envol-
vidas a cada 200 mil.
Fatores de risco
A idade e o sexo são dois fatores de risco primários associados à AR. Em-
bora o início da doença possa ocorrer em qualquer idade, o pico de início é
usualmente durante a terceira ou quarta década de vida. As mulheres são atin-
gidas duas vezes mais que os homens. A gravidez e o uso de anticoncepcionais
orais parecem influenciar a incidência e a severidade da doença. A incidência
da AR em mulheres que já deram à luz o primeiro filho é menor e o contra-
ceptivo oral diminui a severidade da doença. Mulheres que nunca tiveram filhos
e que não fizeram uso de anticoncepcionais orais têm quatro vezes mais riscos
de desenvolver AR.
Alguns autores associam o aparecimento da AR com exposição a frio, umi-
dade, traumas físicos e psíquicos, porém, seus estudos estatísticos não são vá-
lidos e suas hipóteses inconclusivas.
Etiologia
A causa da AR é desconhecida. Acreditou-se na influência de desequilí-
brio hormonal com predomínio de hormônios mineralocorticóides sobre os
glicocorticóides. Essa hipótese ficou conhecida como teoria endócrina, a qual
teve grande aceitação após a descoberta do valor terapêutico da cortisona, mas
que agora já foi refutada.
O mecanismo imunológico parece desempenhar importante papel nessa
doença. A teoria da auto-agressão define a AR como sendo uma doença auto-
imune na qual os auto-anticorpos estão significativamente ativos.
Por inúmeras razões, a patogenia da AR pode ser considerada dependente
da resposta imunológica contínua e do antígeno persistente. Um agente exó-
geno, supostamente infeccioso, localizar-se-ia na articulação e desencadearia a
inflamação por intermédio do não reconhecimento do self, funcionando como
um antígeno. A resposta imunológica ocorreria por meio da reação antígeno-
anticorpo, pela reação inflamatória mediada por células ou ainda, por ambas
as reações. A perpetuação do processo estaria subordinada à permanência do
antígeno na articulação. É possível também que um agente externo determine
291
Fisioterapia geriátrica
Patogênese
Na fase inicial, no exame microscópico, as estruturas articulares apresen-
tam aspecto mais proeminente, que é o de uma sinovite do tipo subagudo, mas
não do tipo agudo como a traumática. A membrana sinovial torna-se edema-
ciada e avermelhada e as vilosidades aumentam em volume.
Aproximadamente 80% da população com AR é fator-reumatóide (FR)
positivo. Os fatores reumatóides são anticorpos que reagem com imunoglo-
bulinas encontradas no sangue. O FR também pode ser encontrado no líqui-
do sinovial e na membrana sinovial dos acometidos. Faz-se hipóteses de que a
interação entre a AR e as imunoglobulinas estejam relacionadas com o início
dos eventos da reação inflamatória. Com a atração de leucócitos, monócitos e
linfócitos fagocitários, as enzimas são liberadas, levando à destruição da carti-
lagem articular e à hiperplasia sinovial. Essas mudanças podem resultar no
desenvolvimento do tecido de granulação vascular destrutivo chamado pannus.
Esse tecido prolifera-se no espaço articular e amontoa-se sobre ele. As células
inflamatórias que se encontram dentro do pannus são destruídas, afetando a
cartilagem, o osso e outras estruturas periarticulares (Fig. 8.5). O resultado fi-
nal pode ser a instabilidade articular e a deformidade articular (ou anquilose),
ambas de caráter irreversível.
Perda óssea/erosão
Perda da cartilagem
Cápsula articular
edemaciada
292
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
Vasculite Pleurite
Pericardite Lesões oculares (esclerite, uveíte)
Miocardite intersticial Nefrite intersticial
Arterite coronária Síndrome de Felt
Pneumonia intersticial Síndrome de Sjörgren
Fibrosite pulmonar intersticial
Fonte: Goodman, C.C.; Boissonnault, W. G. & Biblis, M. Pathology: Implications for the physical therapist. W. B. Saunders.
Manifestações clínicas
A AR é tipicamente manifestada por queixas articulares e extra-articula-
res (Quadro 8.1). Os sintomas são usualmente insidiosos e progridem lenta-
mente. Queixas de fadiga, perda de peso, fraqueza e dor muscular difusa e ge-
neralizada são muitas vezes os sintomas iniciais. Os sintomas nos músculos
esqueléticos lentamente vão se localizando em articulações específicas. Arti-
culações múltiplas, simétricas e bilaterais são, em geral, envolvidas. As articu-
lações mais freqüentemente envolvidas são o punho, o joelho, as articulações
dos dedos, das mãos e dos pés. O envolvimento da coluna espinhal normalmen-
te limita-se à coluna cervical, com dor no pescoço relatada em 40 a 88% dos
acometidos. A afecção articular caracteriza-se por edema, calor, dor e rigidez.
Após períodos de repouso (sono, sentar prolongadamente etc.) pode ocorrer
dor intensa e rigidez (chamada de “rigidez gel pós-repouso”), com duração
aproximada de 30 minutos a várias horas a partir do início da atividade.
293
Fisioterapia geriátrica
Deformidade em
pescoço de cisne
FIGURA 8.6
Bandas laterais
Ligação articular transversa
Deformidade
em boutonnière
FIGURA 8.7
Tendão/feixe central
Extensor comum
dos dedos
Bandas laterais
Interósseos
Ligamento reticular transverso
Fonte: Gould III, A. Fisioterapia na ortopedia e na medicina do esporte. 1. ed. brasileira, Manole, p. 429, 1993.
294
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
SINTOMAS
Rigidez articular Encontrada em 98% dos pacientes, mais pronunciada após inatividade, sua
duração após o “levantar-se” mostra o grau de inflamação sinovial;
melhora com a fisioterapia.
Dor articular Reflete a severidade da sinovite, pode ser ponto proeminente no repouso.
Fadiga Muitas vezes pronunciada com início em cerca de 4,5 horas após o
“levantar-se”; encontrada em 80% dos pacientes.
Fraqueza Comum a todos os pacientes de AR; muitas vezes fora de proporção com
o grau de atrofia muscular.
Depressão psicológica Comum, reflete a atividade da doença, pelo menos em partes.
Edema Alargamento fusiforme dos tecidos moles de pequenas articulações e
bainhas tendíneas nas mãos, no punho e no antepé mais freqüentemente;
mas pode afetar qualquer estrutura sinovial no corpo.
Eritema palmar Muito comum sobre a palma e a eminência tenar, com mudanças idênticas
àquelas encontradas em patologias do fígado e na gravidez; persiste
mesmo na remissão.
Pele úmida e fria Nas mãos e nos pés; sugerem tônus simpático excessivo, o verdadeiro
fenômeno de Raynaud é extremamente raro.
Atrofia cutânea Nas mãos e nos pés; sugerem tônus simpático excessivo, o verdadeiro
fenômeno de Raynaud é extremamente raro.
Atrofia muscular Ocorre rapidamente na doença severa.
Contratura articular Extensão das articulações envolvidas é muitas vezes limitada.
Nódulos Ocorre em sítios de pressão em cerca de 20% dos pacientes, sobre o
olécrano e na ulna proximal, sobre a superfície extensora dos dedos, ou
sobre o tendão calcâneo mais freqüentemente, mas podem ocorrer na
superfície de tendões, ossos, esclerótica, ouvido, em órgãos viscerais,
especialmente no pulmão.
Hérnia sinovial Ocorre em defeitos da cápsula causados pela sinovite na mão e também
na ausência de nódulos.
Perda de peso Pode ocorrer raramente, especialmente em vasculites, pode ser sinal de
prognóstico pobre.
Fonte: Goodman, C. C.; Boissonnault, W. G & Biblis, M. Pathology: Implications for the physical therapist. W. B. Saunders.
295
Fisioterapia geriátrica
Diagnóstico
Nos estágios iniciais da AR, o diagnóstico pode ser difícil devido à
característica das queixas. Os sintomas podem aumentar e diminuir logo em
seguida, retardando a visita ao consultório médico. O diagnóstico é atualmen-
te baseado na combinação da história, do exame físico e dos testes laboratoriais.
A seguir estão os critérios diagnósticos propostos pela American Rheumatism
Association (quatro ou mais das seguintes condições devem estar presentes para
estabelecer um diagnóstico de artrite reumatóide):
• rigidez matinal por, no mínimo, uma hora e presente nas últimas seis
semanas;
• edemaciamento de três ou mais articulações nas últimas seis semanas;
• edemaciamento das articulações do punho, da metacarpofalangiana ou
da interfalangiana proximal nas últimas seis semanas;
• evidências radiográficas de edema articular simétrico;
• mudanças típicas de artrite reumatóide nas mãos, incluindo erosão ou
descalcificação óssea inequívoca;
• nódulos reumatóides;
• fator reumatóide presente no soro constatado por método que é positi-
vo em até 5% de normais.
Tratamento e prognóstico
O tratamento efetivo para AR requer diagnóstico precoce e intervenção
adequada na tentativa de impedir o dano articular irreversível. Os objetivos
da equipe de tratamento que providencia assistência aos portadores são: aliviar
a dor, manter ou melhorar a capacidade funcional, prevenir as incapacidades,
adaptar o paciente ao meio e melhorar sua qualidade de vida.
Outro aspecto também importante no tratamento da AR é a orientação
do paciente sobre a doença para que possa conviver com uma doença crônica
296
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
297
Fisioterapia geriátrica
ção da dor e da rigidez matinal. Também não foram observados efeitos nega-
tivos como aumento na dor ou edema, geralmente relacionados com exercícios
extenuantes, mesmo em protocolos de alta intensidade e em pacientes classifi-
cados pela incapacidade como grupos I e II em períodos não-agudos. Esses
protocolos, em geral, são aplicados de duas a três vezes por semana, durante
períodos de quatro semanas a doze meses, com duração de trinta minutos a
uma hora. Estudo de follow-up de seis meses a um ano mostram que o efeito
reabilitador desses protocolos induzem benefícios a longo prazo. No entanto,
sem desmerecer as melhoras anteriormente relatadas, os achados radiográfi-
cos e as variáveis sangüíneas são inconclusivos para dar suporte à prática de
protocolos de exercícios dinâmicos.
Embora exista carência de estudos bem controlados, a balneoterapia mos-
tra resultados positivos na redução da dor e no aumento da flexibilidade arti-
cular. Esse recurso terapêutico, que associa os benefícios da hidroterapia ao
potencial medicinal de algumas fontes de água mineral, não pode ser despre-
zado em um país com tantas estâncias hidrominerais reconhecidas por suas
características terapêuticas para diferentes condições crônicas.
A hidroterapia em sua modalidade de corrida em piscina profunda, ou o
aqua-jogging, tem resultados positivos no tratamento da artrite reumática para
o treinamento de resistência e de potência muscular. Essa modalidade também
é benéfica para o tratamento das patologias cardiorrespiratórias e para as in-
tervenções pré e pós-operatórias de diferentes patologias musculoesqueléticas.
Em estudos sobre as variáveis de freqüências cardíacas e VO2, nenhuma dife-
rença significativa foi encontrada quando comparados os resultados de um
grupo de indivíduos que realizava bicicleta ergométrica, em teste máximo
gradativo, e o grupo que praticava aqua-jogging com aparelho flutuador.
Comparando os exercícios de hidroterapia, a imersão em água quente e
os exercícios no solo combinados com técnicas de relaxamento, em um pro-
grama com freqüência de duas sessões semanais de trinta minutos e duração
total de quatro semanas, todos os pacientes apresentaram melhora nos aspec-
tos físico e emocional que se manteve no período de follow-up de seis meses.
Todos os grupos são beneficiados pelos protocolos, porém o grupo que reali-
zou a hidroterapia apresentou aumento da amplitude de movimento na arti-
culação do joelho, diminuição da sensibilidade articular e a manutenção dos
resultados por um período mais prolongado após o sexto mês.
A técnica de oscilação articular aplicada às vértebras T12 e L4 por doze
minutos demonstrou ser capaz de aumentar o limiar de dor nos músculos pa-
ravertebrais e nas articulações do joelho e do tornozelo de pacientes com ar-
trite reumatóide. No entanto, a aplicação dessa técnica e a manipulação ou
mobilização articular devem ser restritas aos pacientes que não apresentam si-
nais de instabilidade das articulações da coluna vertebral, uma vez que são co-
muns a subluxação atlanto-occipital e a subluxação atlanto-axial, ocorrendo
em um ou mais níveis, além de erosões nos corpos vertebrais com redução do
espaço discal.
Uma tendência ainda pouco difundida no Brasil é a formação de grupos
de autotratamento. Esses grupos têm por função promover a saúde e auxiliar
298
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
299
Fisioterapia geriátrica
Osteoporose
A osteoporose é uma doença que leva ao enfraquecimento dos ossos, tor-
nando-os vulneráveis aos pequenos traumas. A osteoporose é assintomática,
lenta e progressiva. Seu caráter silencioso faz com que, usualmente, não seja
diagnosticada até que ocorram as fraturas, principalmente nos ossos do pu-
nho, do quadril e da coluna vertebral.
Nas últimas duas décadas, a osteoporose foi amplamente reconhecida
como um importante problema de saúde pública. É a doença ósseo-metabólica
mais comum, afetando pelo menos 30% de todas as mulheres na pós-meno-
pausa. Baseando-se em estudos internacionais, verificou-se que no ano de 2000,
aproximadamente quinze milhões de brasileiros apresentavam essa doença, o
que ilustra a importância de se conhecer mais sobre a prevenção, o diagnóstico
precoce e os fatores de risco associados à osteoporose.
A diminuição da massa óssea decorrente da osteoporose é a principal res-
ponsável pela alta incidência de fraturas nas mulheres na pós-menopausa e
nos idosos de ambos os sexos. Nos EUA, ocorrem anualmente cerca de 500 mil
fraturas vertebrais e 250 mil fraturas de colo de fêmur devido à osteoporose.
As fraturas femorais são as mais graves, fatais em 12 a 20% dos casos, necessi-
tando de tratamento a longo prazo em metade daqueles que sobrevivem, com
custos estimados em US$ 7 a 10 bilhões anuais. Nesse sentido, muitos esforços
têm sido concentrados para se evitar ou diminuir esse ônus para o paciente e
para a sociedade; o resultado dessa mobilização da comunidade científica levou
a uma melhor compreensão da fisiopatologia da osteoporose, assim como
progressos significativos nas formas de diagnósticos precoces e de tratamentos
da doença.
Até o momento, a melhor forma de se evitar as complicações resultantes
da osteoporose é o diagnóstico precoce da perda de massa óssea. Vários estu-
dos mostram que quanto mais cedo essa perda for identificada e tratada, me-
300
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
301
Fisioterapia geriátrica
a b c
302
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
Fatores de risco
A osteoporose depende de fatores genéticos, biológicos e ambientais e de
alguns hábitos que aumentam a chance de desenvolver a doença. Portanto,
trata-se de uma doença complexa cujas causas não são totalmente conhecidas.
Sabe-se que algumas pessoas estão mais propensas a desenvolver essa doença,
como:
• as mulheres;
• as idosas;
• as de pequeno porte;
• as brancas ou as asiáticas;
• aquelas com histórico familiar da doença.
303
Fisioterapia geriátrica
Ingestão de cálcio
Exercícios
Exercícios com suporte de peso (mesmo o peso corporal) tais como ca-
minhadas, exercícios aeróbicos, tênis e jogging são essenciais para o paciente
com osteoporose. Sempre se deve consultar um especialista para um progra-
ma de exercícios adequados.
304
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
Diagnóstico da osteoporose
Seguindo as normas da Organização Mundial da Saúde (OMS, 1994), o
diagnóstico da osteoporose é feito por meio da densitometria óssea. Esse é um
teste simples e não-invasivo da medida da densidade óssea. Os locais do es-
queleto mais importantes para o exame são: o colo do fêmur, a coluna vertebral
baixa (região lombar) e os ossos do punho, já que exatamente nesses locais
ocorrem as fraturas com mais freqüência. A densidade óssea obtida é então
305
Fisioterapia geriátrica
Prevenção
A preocupação com a osteoporose deve anteceder a vida adulta, pois os
hábitos de vida, a alimentação, a prática de exercícios físicos durante a infância e
a adolescência influirão diretamente na quantidade de massa óssea adulta. A
prevenção da osteoporose muitas vezes significa mudança nos hábitos de vida
da pessoa o que dificulta sua realização, porém considerando-se a gravidade
da doença e a incapacidade que pode levar o indivíduo na terceira idade, todo
esforço deve ser empregado nesse sentido. É recomendado um programa de
prevenção ao fumo e ao álcool, a prática de exercícios físicos, a ingestão de dieta
rica em cálcio, vitamina D e flúor. É também importante a avaliação periódica
das condições ósseas pela densitometria óssea, que é um exame indolor e per-
mite diagnóstico precoce da osteoporose, bem como acompanhamento do
tratamento realizado. A prevenção deve ser mais intensa para mulheres no
período de dez anos após a menopausa.
306
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
307
Fisioterapia geriátrica
308
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
Patologias reumatológicas do
tecido muscular
O tecido muscular é um grande reservatório de proteínas e representa,
em média, 45% do peso corporal, de forma que não se pode ignorar a contri-
buição desse tecido e a manutenção do funcionamento fisiológico do corpo
humano. As miopatias são comuns nos idosos e causam conseqüências de im-
pacto negativo, sendo seus sintomas sobrepostos ao declínio da função natural,
relacionada com o envelhecimento. Esse tópico apresentará as miopatias mais
comuns nos idosos indicando as possibilidades terapêuticas adequadas a esses
pacientes.
Sarcopenia
A sarcopenia nos idosos está associada com mudanças intrínsecas do te-
cido muscular caracterizadas por perda da massa muscular, da força e da qua-
lidade de contração em esforço máximo. Essas alterações são causadas pela
perda das proteínas musculares, pelas mudanças na proporção de tipos de fi-
bras musculares, pela inervação, pela resistência à fadiga e pelo metabolismo
para obtenção de energia.
O pico de força da contração isométrica voluntária máxima ocorre em
torno da segunda década e está relacionado com maior área de secção trans-
versa das fibras e maior proporção de fibras musculares do tipo II, de contra-
ção rápida, oxidativas glicolíticas (IIa) e glicolíticas (IIb), além dessas fibras
serem em média 15 a 20% mais espessas que as fibras do tipo I, de contração
lenta e oxidativas. No entanto, quando os indivíduos atingem cerca de 65
anos, um terço da força de contração isométrica é perdido e um maior declí-
nio é esperado nas décadas subseqüentes.
A perda de massa muscular ocorre mais nas extremidades que no tronco,
sendo mais pronunciada no membro inferior que no superior. Essa redução é
conseqüência da mudança no número absoluto de fibras e de seus diâmetros,
sendo que aos 70 anos, fibras do tipo II terão diâmetro igual ao do tipo I. Ma-
croscopicamente, essa perda reflete-se na diminuição da área de secção trans-
versal, que pode ser detectada por análise histológica. A potência muscular,
medida do trabalho muscular em um determinado tempo, diminui com o en-
velhecimento ainda mais rapidamente que a força muscular.
Com a diminuição da força e da potência muscular, declina também a
habilidade de desenvolvimento de torques rápidos nas articulações, necessária
para atividades rápidas que necessitam de força moderada, tais como recupe-
rar o equilíbrio.
No entanto, nem todas as pessoas idosas desenvolvem um declínio funcio-
nal, a despeito das mudanças intrínsecas descritas acima. Apenas quando o
nível de sarcopenia ultrapassa o limite arbritário e individual do que se pode
chamar de “reserva funcional”, essa alteração natural do envelhecimento é
309
Fisioterapia geriátrica
Polimialgia reumática
Devido ao aumento da longevidade, a polimialgia reumática torna-se mais
incidente, mas ainda há poucos estudos controlados sobre métodos de trata-
mento fisioterápico disponíveis na literatura. Essa doença caracteriza-se pela
presença de dor musculoesquelética nas cinturas pélvica e escapular. É igual-
mente incidente em ambos os sexos e, em especial, nos indivíduos com mais de
55 anos e nas populações de regiões de clima temperado. Apresenta-se repenti-
namente por meio de uma rigidez matinal proeminente. Os exames laboratori-
ais revelam elevação da hemossedimentação sangüínea, caracterizando quadros
inflamatórios. Essa característica também é confirmada pela resposta terapêuti-
ca satisfatória a pequenas doses de corticosteróides.
Cerca de 30% dos pacientes com quadro de polimialgia reumática po-
dem apresentar, em conjunto, algum tipo de vasculite específica de artérias
que retardam o diagnóstico clínico prejudicando a evolução do paciente com,
por exemplo, o aparecimento de cegueira e de sintomas cerebrais isquêmicos
ou hemorrágicos.
Uma atenção especial deve ser dada às queixas de dor, ao espasmo e à in-
capacidade relatados pelos pacientes, porém, pobremente descritos na prática
clínica, uma vez que se tratam de sintomas subjetivos. É importante lembrar
310
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
311
Fisioterapia geriátrica
312
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
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Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
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316
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de doenças reumáticas
317
Capítulo 9
Fisioterapia
aplicada aos
idosos portadores
de patologias
traumato-
ortopédicas
Anamaria Siriani de Oliveira
A
s pessoas idosas constituem um grupo crescente em todo o mundo, e
com avanços contínuos na prática e nas ciências da área da saúde, essa
tendência perdurará. Com o envelhecimento, acontecem mudanças
nos tecidos corpóreos que se manifestam de vários modos. Essas mudanças
envolvem alterações bioquímicas na composição do tecido e alterações causa-
das secundariamente pelos danos acumulados em estruturas com potencial de
reparação limitado. Este capítulo descreve as considerações clínicas e as mani-
festações ortopédicas degenerativas de patologias comuns nos pacientes ido-
sos que buscam o tratamento fisioterápico ortopédico e traumatológico.
319
Fisioterapia geriátrica
Síndrome do impacto
A síndrome do impacto é um processo patológico musculoesquelético pro-
gressivo caracterizado pela diminuição do espaço subacromial, pela presença
de alterações morfológicas do acrômio e, eventualmente, da articulação acro-
mioclavicular, pelas alterações estruturais do ligamento coracoacromial, pela
compressão da bursa subacromial, do tendão do manguito rotador, do tendão
da porção longa do músculo bíceps braquial e pelo envolvimento funcional do
músculo deltóide. Esses são fatores mais comumente envolvidos na síndrome
do impacto ocasionada por fatores funcionais. Outras causas do desenvolvi-
mento da síndrome do impacto relacionada com a função da cintura escapu-
lar são as contraturas e as frouxidões da cápsula articular, e as anormalidades
da movimentação da escápula.
O impacto nas estruturas contidas no espaço subacromial pode ser tam-
bém ocasionado por fatores estruturais, como as formas curva e ganchosa do
acrômio, as malformações ou alterações do alinhamento pós-fraturas do
acrômio, da cabeça umeral e da articulação acromioclavicular, as alterações
ósseas de etiologia reumática, ou ainda, ser secundário a um depósito calcifi-
cado no tendão do manguito rotador levando a uma diminuição do espaço
subacromial.
Para melhor compreender os fatores intrínsecos e extrínsecos envolvidos
na etiologia e no tratamento da síndrome do impacto, é fundamental uma
breve revisão da anatomia e da cinesiologia relacionadas com o complexo ar-
ticular do ombro.
O tendão do manguito rotador inclui: anteriormente o tendão do músculo
subescapular, superiormente o tendão do músculo supra-espinhoso e, poste-
riormente, os tendões dos músculos infra-espinhoso e redondo menor, os três
últimos inserem-se no tubérculo maior do úmero e do ligamento transverso
(Fig. 9.1). O músculo subescapular é mais anterior à cápsula e insere-se no
tubérculo menor do úmero. A ação muscular combinada dos músculos infra-
espinhoso, redondo menor e subescapular, e da porção longa do músculo bí-
ceps braquial quando o úmero está em rotação lateral, formam um compo-
nente depressor da cabeça umeral que previne seu impacto superior contra o
acrômio, controlando a excessiva translação superior da cabeça do úmero.
320
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de patologias traumato-ortopédicas
Músculos do
manguito rotador
FIGURA 9.1
Clavícula
Cabeça umeral
Supra-espinhoso
Úmero
Infra-espinhoso
Redondo menor
Redondo maior
321
Fisioterapia geriátrica
322
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de patologias traumato-ortopédicas
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Fisioterapia geriátrica
324
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de patologias traumato-ortopédicas
Lesões meniscais
Os meniscos do joelho são estruturas semilunares cartilaginosas que aju-
dam na distribuição do peso através da articulação. A incongruência femoro-
tibial, ocasionada por côndilos femorais convexos e planaltos tibiais planos ou
convexos, é anulada pela presença dos dois meniscos que são relativamente fixos
à superfície tibial. Sua presença sobre os planaltos tibiais os transformam em
convexos para a perfeita recepção dos côndilos femorais côncavos (Fig. 9.2).
A forma dos meniscos, diferentes entre si na altura, no comprimento, na
largura e também, especialmente no medial, nas suas três porções, corno an-
terior, corpo e corno posterior, permite essa perfeita adaptação às estruturas
ósseas, conferindo à articulação do joelho estabilidade e congruência, que se
revestem de significativa importância. Além dessa função estabilizadora, os
meniscos absorvem forças aplicadas sobre a articulação pela sua qualidade de
deformação elástica.
Em secção cruzada, os meniscos são triangulares na forma, com a porção
mais espessa localizada na periferia. A organização interna consiste em fibras
colágenas circunferencialmente orientadas com maior concentração na perife-
ria. A função das fibras transversalmente orientadas é a de estabilizar as bandas
circunferenciais e são concentradas dentro de uma região central dos meniscos
conhecida como feixe perfurante medial. Essa disposição de bandas transver-
sas e circunferenciais é fundamental para resistir ao grande nível de estresse
325
Fisioterapia geriátrica
Menisco
lateral
Menisco medial
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Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de patologias traumato-ortopédicas
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Fisioterapia geriátrica
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Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de patologias traumato-ortopédicas
Segmento
móvel
FIGURA 9.3
Forame
intervertebral
Articulação
posterior
interapofisária
Corpo
vertebral
anterior
Disco
intervertebral
anterior
Processo
espinhoso
posterior
329
Fisioterapia geriátrica
94% dos pacientes, sendo bilaterais em 69% dos casos. De início, a dor ocorre ao
caminhar e, com o aumento da estenose, deve progredir para presença de dor na
posição ortostática ou na posição deitada. Uma pequena porcentagem de pacientes
pode apresentar apenas sintomas radiculares e alguns apresentam uma combinação de
pseudoclaudicação e sintomas radiculares. Esses sintomas são aliviados com posições
que aumentam o diâmetro do canal como: inclinar-se para a frente (flexão do tronco),
sentar-se e subir degraus. Os sintomas são exacerbados em posição de estreitamento do
canal, tais como inclinar-se para trás, deitar em pronação ou descer degraus.
Achados físicos variam de mínimos a severos. Deve haver diminuição da
mobilidade da coluna e dor reproduzida com a extensão da coluna. Sinais de tensão
como na elevação da perna estendida, ou teste de Lasegue, estão geralmente ausentes.
Sintomas motores devem estar ausentes ou devem envolver a raiz do nervo L5 e
fraqueza no músculo extensor do hálux. Achados sensoriais podem seguir padrões de
dermátomos simples ou múltiplos. O teste stoop consiste em manter o paciente
andando até o aparecimento dos sintomas, para então solicitar a flexão do tronco. Se a
dor for aliviada, o teste é considerado positivo. Uma vez avaliado um paciente com dor
na coluna, um exame neurológico detalhado e cuidadoso é importante.
As imagens da coluna que normalmente são apresentadas na avaliação do
paciente com estenose são as radiografias-padrão e a imagem de ressonância
Locais de incidência
da estenose
FIGURA 9.4
Vértebra súpero-lateral
Recesso lateral
Canal medular
Margem inferior
do forame
intervertebral
330
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de patologias traumato-ortopédicas
331
Fisioterapia geriátrica
Exercícios da
série de Williams
FIGURA 9.5
Artroplastia
Existem procedimentos e implantes que diminuem a dor e restauram a
função para a maioria das grandes articulações do corpo. No entanto, a artroplas-
tia total da articulação do quadril e do joelho são as substituições articulares mais
comuns realizadas pelos cirurgiões ortopédicos. As primeiras tentativas de
artroplastia iniciaram-se após o ano de 1800, com uma ressecção simples das su-
perfícies articulares diminuídas. Os cirurgiões começaram a fazer experiências
com o uso de auto-enxertos ou aloenxerto interposicionais para obter melhores
resultados funcionais. De início, os resultados mostravam melhora, mas eram de-
cepcionantes a longo prazo. Com o desenvolvimento de materiais cirúrgicos
implantáveis mais fortes, os resultados melhoraram e os ortopedistas entraram
numa era moderna de artroplastia.
Nos Estados Unidos são realizadas, a cada ano, cerca de 123 mil artro-
plastias totais de quadril e 150 mil artroplastias totais de joelho. Uma vez que
os procedimentos cirúrgicos básicos têm permanecido relativamente sem
mudanças, os sucessos obtidos nas artroplastias mais recentes envolvem
maior entendimento sobre a biomecânica articular e o uso de novos materiais
e projetos das peças substituidoras. Uma discussão completa da substituição
da articulação está além do objetivo deste capítulo, contudo, serão discutidos
alguns aspectos dos procedimentos cirúrgicos relevantes para a prática da fi-
sioterapia pré e pós-operatória.
332
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de patologias traumato-ortopédicas
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Fisioterapia geriátrica
334
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de patologias traumato-ortopédicas
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Fisioterapia geriátrica
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Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de patologias traumato-ortopédicas
Fraturas
Uma fratura tem sido definida como sendo uma lesão grave de partes mo-
les com falha óssea subjacente. Essa definição não é usual, por enfatizar mais os
tecidos moles que os ósseos, mas é particularmente útil para aqueles cujo traba-
lho é trazer o paciente à sua plena função em um período razoável de tempo.
As mudanças no tecido ósseo que ocorrem com o envelhecimento fazem
das fraturas outra questão importante quando se trata de pacientes idosos. A
massa óssea, em geral, atinge o ápice de desenvolvimento entre os 25 e 30 anos
e permanece relativamente constante até os 40 e 50 anos. Após esse período, ini-
cia-se um período de declínio. A taxa de perda de osso cortical é similar no
homem e na mulher; contudo, a taxa de perda de osso trabecular é aproxima-
damente duas vezes mais alta na mulher pós-menopausa quando comparada
com os homens da mesma idade. Essa diminuição na densidade óssea (osteo-
porose) continua por toda a vida a uma média anual de 0,075% nos homens e
2% nas mulheres.
As fraturas típicas que ocorrem nesses pacientes são no osso metafisário
(trabecular) e incluem fraturas do fêmur, fraturas distais do rádio, fraturas
proximais do úmero e fraturas por compressão vertebral. Os objetivos dos
tratamentos conservador e ortopédico são voltados para permitir a mobiliza-
ção precoce e o retorno do paciente no nível de função antes da lesão. É impor-
tante considerar o contexto do idoso, pois as opções de tratamento variam de
acordo com as condições de co-morbidade e as condições funcionais que prece-
337
Fisioterapia geriátrica
Fratura intertrocantérica e
subtrocantérica do fêmur
FIGURA 9.6
5 cm
338
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de patologias traumato-ortopédicas
339
Fisioterapia geriátrica
340
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de patologias traumato-ortopédicas
341
Fisioterapia geriátrica
Complicações pós-fratura
Algumas das possíveis complicações pós-fraturas, que acometem não só
os idosos, são descritas a seguir:
Atrofia de desuso
As alterações do tecido muscular relacionadas com a imobilização depen-
dem da posição em que a musculatura permaneceu durante o período. Como
o tecido muscular é plástico, ou seja, pode se transformar, dependendo das
condições do meio, as fibras musculares, que ficam em posição de encurta-
342
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de patologias traumato-ortopédicas
Pseudartrose
Se após cinco meses seguidos à fratura a consolidação óssea ainda não esti-
ver estabelecida, diz-se que ocorreu uma pseudartrose. Os fatores que influen-
ciam a consolidação óssea são:
343
Fisioterapia geriátrica
Consolidação viciosa
É um tipo de consolidação, no qual o alinhamento fisiológico funcional
não é atingido após o período de imobilização e, em geral, ocorre o encurta-
mento ou a perda da função. O tratamento cirúrgico adotado é a osteotomia
para o realinhamento, sendo necessária, em alguns casos, a colocação de fixa-
dores (internos ou externo) ou alongadores.
Distrofia simpático-reflexa
Doença caracterizada por uma resposta anormal e excessiva do sistema
nervoso autônomo simpático de uma extremidade, em geral, um membro su-
perior, em reação a um período de imobilização. Essa doença é muito inci-
dente entre senhoras com mais de 40 anos e também após fratura do punho
(fraturas de Colles e Smith).
O paciente apresenta dor, edema, alterações tróficas da pele e instabilida-
de vasomotora. A instabilidade vasomotora varia de acordo com o tempo de
acometimento, ocorrendo no período agudo (que dura cerca de três meses)
uma dilatação vascular que é percebida pela temperatura elevada da pele e
pelo aumento da sudorese. Na fase crônica, o quadro vasomotor se inverte
ocorrendo diminuição da temperatura da pele acompanhada de diminuição
da sudorese (ressecamento), extremidades azuladas e diminuição do pH san-
güíneo pela redução do fluxo venular. A acidez do sangue favorece a retirada
de cálcio dos tecidos ósseos, levando à osteoporose.
A prevenção envolve a mobilização precoce e a observação regular e aten-
ciosa das condições da pele e da temperatura do membro. Com a instalação
do quadro, o tratamento é medicamentoso e a fisioterapia deve preconizar a
conservação da amplitude de movimento e a estimulação do gânglio estrela-
do, situado no espaço posterior à clavícula, próximo à inserção dos escalenos.
A distrofia simpático-reflexa também é conhecida como osteoporose dolorosa
e síndrome ombro-mão.
344
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de patologias traumato-ortopédicas
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350
Capítulo 10
Fisioterapia
aplicada
aos idosos
portadores de
disfunções
cardiovasculares
Marcelo Velloso
Valéria Amorim Pires Di Lorenzo
E
ste capítulo tem como objetivo abordar de forma geral as principais
doenças que acometem o sistema cardiovascular no idoso e as inter-
venções fisioterápicas nessa área, proporcionando ao profissional um
melhor entendimento.
A compreensão das mudanças na fisiologia do sistema cardiovascular e
das principais doenças cardiovasculares é de fundamental importância para
que o fisioterapeuta possa discernir os processos fisiológicos dos fisiopatoló-
gicos e, conseqüentemente, encontrar a devida fundamentação para a inter-
venção da fisioterapia. As doenças cardiovasculares se caracterizam por serem
351
Fisioterapia geriátrica
352
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções cardiovasculares
Mudanças estruturais
As dimensões da cavidade ventricular mostram pequena ou nenhuma
mudança relacionada com o envelhecimento. Normalmente, a espessura má-
xima da parede não é maior que 13 mm. Essa espessura é significativamente
menor no idoso que em pacientes de idade avançada que apresentam doença
hipertrófica como cardiomiopatia hipertrófica, hipertensão ou doença valvu-
lar aórtica. A Figura 10.1 ilustra em corte longitudinal um coração normal e
com hipertrofia ventricular esquerda.
Coração
normal
353
Fisioterapia geriátrica
Mudanças fisiológicas
A função ventricular sistólica não parece estar significativamente alterada
pelo envelhecimento. Em repouso, a fração de ejeção ventricular é semelhante
em pacientes mais velhos e jovens. As mudanças associadas com o envelheci-
mento incluem aumento na duração de contração ventricular, redução da taxa
de enchimento ventricular e incapacidade para aumentar a fração de ejeção
ventricular em exercício comparado com jovens.
Em contraste à função ventricular sistólica, alterações significantes na
função ventricular diastólica acontecem com o envelhecimento: aumento da
rigidez ventricular, diminuição na complacência com prolongamento da fase
de relaxamento e uma redução da taxa de enchimento rápido diastólico. Há,
portanto, um comprometimento da função ventricular diastólica, e o enchi-
mento diastólico se torna mais dependente da contração atrial em pessoas de
idade avançada. O grau de deterioração ventricular diastólica, próprio da se-
nescência, não é normalmente grave suficiente para causar falência cardíaca.
Os idosos apresentam risco de falência cardíaca quando há hipertensão ou
doença isquêmica do coração com função ventricular sistólica normal. Estu-
dos divulgam que 45 a 55% de pacientes com 65 anos portadores de insufi-
ciência cardíaca clínica possuem função ventricular sistólica normal.
O efeito do envelhecimento, em especial na função cardíaca, permanece
controverso. Anteriormente, estudos divulgavam diminuição na função cardía-
ca relacionada com a idade, em repouso e ao realizar exercício. A função car-
díaca é semelhante em jovens e em indivíduos mais velhos, ambos em repou-
354
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções cardiovasculares
355
Fisioterapia geriátrica
356
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções cardiovasculares
Um estudo realizado por Ness et al. (17) avaliou o risco de doença cardíaca
em 467 homens com 80 anos (+ 8 anos) e 1.444 mulheres com 81 anos (+ 8
anos) e verificou que ele estava presente em 43% dos homens e 33% das mu-
lheres, tendo forte associação com a idade para mulheres. Além disso, tabagis-
mo, hipertensão, diabetes mellitus, obesidade e altos níveis de colesterol au-
mentam o risco de doença para ambos os sexos. Esse estudo demonstra que é
possível investir em um programa de prevenção, atuando na redução dos fa-
tores de risco, os quais, como podemos notar, são de fácil intervenção, com
programas educativos que incentivam a mudança dos hábitos alimentares. A
melhora da situação socioeconômica possibilita o acesso aos cuidados e aos
modernos métodos de diagnóstico e tratamento.
357
Fisioterapia geriátrica
ternal, podendo ser irradiada para a superfície ulnar e ombros; em idosos pode
vir acompanhada de dispnéia, fadiga, eructações e tontura.
A angina ainda pode ser causada por outros fatores que não a obstrução
ou o estreitamento arteriosclerótico do leito vascular quando a demanda de
oxigênio exceder a oferta. Isso pode ocorrer nos pacientes portadores de acen-
tuada hipertrofia ventricular esquerda, hipertensão sistêmica, regurgitação
aórtica e miocardiopatia hipertrófica.
A angina por espasmo de artérias coronárias desempenha um papel im-
portante na isquemia coronária e constitui a maior causa de angina em re-
pouso. Os sintomas aparecem em virtude da diminuição da oferta de sangue
no miocárdio e não por um aumento do MVO2. A isquemia por espasmo está
ligada à deficiência transitória de irrigação em determinada área cardíaca, o
que se refletirá no eletrocardiograma. Esses eventos podem ocorrer de forma
espontânea ou induzida por medicamentos.
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Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções cardiovasculares
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Fisioterapia geriátrica
cer vários dias no leito. Nesse momento o fisioterapeuta deve saber avaliar
muito bem o paciente e, embora nas primeiras horas pós-infarto não é acon-
selhado submetê-lo ao esforço físico, pode-se solicitar respirações profundas,
tosse e acompanhar de perto a evolução desse paciente para evitar as compli-
cações decorrentes do período do imobilismo.
Após as primeiras 24 a 48 horas de permanência no leito hospitalar, os
pacientes com IAM não complicados, já poderão ser mobilizados, evitando
assim os efeitos indesejáveis do imobilismo. Essa mobilização deverá ser feita
de forma gradual, evitando exercícios isométricos para não aumentar a sobre-
carga cardíaca.
No primeiro dia após o período de repouso citado (24 a 48 horas), o pa-
ciente deverá ser incentivado a sentar-se com as pernas para fora do leito. Esse
procedimento deverá ser realizado vagarosamente, pois poderá ocorrer episó-
dio de hipotensão postural pela mudança do decúbito. Quando o paciente es-
tiver habituado com a posição será possível levá-lo para a poltrona ao lado do
leito, onde deverá permanecer por um período curto, aproximadamente o
tempo de arrumação do quarto. No segundo dia, o paciente poderá estar uti-
lizando a pia e permanecer sentado fora do leito por um período maior, desde
que não apresente nenhum episódio de dor ou sintomas de IAM. No terceiro
dia, poderá estar saindo da cama e permanecer na poltrona durante dois perío-
dos, sendo um pela manhã e outro à tarde. No quarto dia iniciaremos a de-
ambulação pelo quarto que será estendida ao corredor nos dias que se segui-
rão caso o paciente se mantenha estável.
É importante notar que cada paciente evolui de forma própria e a gravi-
dade de cada caso é bastante diferente. Porém, cabe ao fisioterapeuta uma
avaliação, sendo extremamente importante que durante todo o período de
tratamento haja preocupação com a função respiratória do paciente, pois se
ele desenvolver infecção pulmonar poderá comprometer todo o tratamento.
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a b
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• Exame físico: sopro sistólico mais intenso no ápex irradiado para a axi-
la esquerda e para a base do pulmão esquerdo.
• ECG: pacientes com grau leve e moderado de insuficiência da válvula
mitral é geralmente normal, mas poderão apresentar aumento de átrio
esquerdo. Outra característica é a hipertrofia de ventrículo esquerdo,
em que o complexo QRS é normal, porém com alterações inespecíficas
da onda T.
• Radiograma de tórax: verifica-se aumento acentuado do átrio esquer-
do e aumento moderado do ventrículo esquerdo.
Arritmias
Arritmia é um batimento anormal do coração, que diminui a eficiência
do trabalho de bombear sangue para o organismo. O batimento cardíaco nor-
mal inicia-se no átrio direito quando um grupo de células especiais emitem
um sinal elétrico. Essas células formam o nó sinusal que é o “marca-passo” do
coração e se conectam através do átrio a um outro grupo de células (nó atrio-
ventricular) que por sua vez se conectam a um grupo de fibras nervosas den-
tro dos ventrículos (sistema de His-Purkinje). Essas conexões formam o siste-
ma de condução do estímulo elétrico permitindo a contração harmônica do
coração e estão demonstradas na Figura 10.7.
As arritmias cardíacas são classificadas por seu mecanismo e por sua sede de
origem. As arritmias supraventriculares e ventriculares são mais comuns em idosos
devido à alta prevalência de hipertensão arterial e doença coronariana. Entre as
arritmias, as bradiarritmias são particularmente freqüentes em idosos. A inserção de
um marca-passo temporário pode ser indicada em paciente com doença do nó
sinusal ou com bloqueio atrioventricular avançado, no qual a elevação da fre-
qüência cardíaca pode contribuir para o aumento do débito cardíaco.
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Bradiarritmias
Bloqueio sinoatrial
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Bloqueio atrioventricular
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Taquiarritmias
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sangue bombeada pelo coração torna-se insuficiente com grande risco à vida.
A sua reversão depende de uma ação medicamentosa rápida ou de uma cardio-
versão elétrica (choque).
Hipertensão
A hipertensão arterial é um dos principais fatores associados ao desen-
volvimento de doenças cardiovasculares, como aterosclerose coronariana e a
insuficiência cardíaca, bem como de outras doenças como insuficiência renal
e derrames cerebrais. Apesar de tantos malefícios, a hipertensão arterial é ain-
da muito negligenciada por alguns pacientes. Vários fatores têm contribuído
para esse descaso, por exemplo, o fato de a hipertensão quase sempre não
apresentar qualquer sintoma, o que muitas vezes dificulta o diagnóstico e a
adesão ao tratamento. A hipertensão arterial é a doença crônica degenerativa
mais comum em nosso meio, estimando-se que sua prevalência na população
adulta acima de 50 anos seja de 15%. Essa doença constitui um importante
fator de risco coronário, estando relacionada com 40% dos óbitos por doenças
cardiovasculares e com o aumento do risco de complicações, tais como aciden-
te vascular cerebral (derrame), infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca.
Existem dois tipos de hipertensão arterial: hipertensão primária e secun-
dária. A hipertensão arterial primária corresponde a 90% dos casos e se carac-
teriza por não haver uma causa conhecida; os 10% restantes correspondem a
hipertensão arterial secundária, na qual é possível identificar-se a causa do
problema, que pode ser: problemas renais, problemas na artéria aorta, tumo-
res (feocromocitoma) e algumas doenças endocrinológicas.
O diagnóstico é feito pela medida da pressão arterial, com a ajuda de um
esfigmomanômetro. Existem alguns fatores que alteram a pressão arterial,
portanto, uma medida isolada da pressão arterial não é suficiente para o diag-
nóstico, sendo necessário, quando há suspeita de hipertensão arterial, várias
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Programa de exercícios
O programa de exercícios físicos tem o objetivo de levar o paciente a al-
cançar um condicionamento físico satisfatório, melhorar a eficiência dos bati-
mentos cardíacos, proporcionar a vascularização colateral, além de fazer com
que o paciente incorpore a atividade física nas suas atividades diárias.
As indicações do condicionamento físico incluem: indivíduos aparentemente
sadios; portadores de fatores de risco de doença coronária aterosclerótica (taba-
gismo, HA, dislipemia, diabetes mellitus, obesidade, sedentarismo e outros); indi-
víduos com TE anormal e/ou com cinecoronariografia anormal; portadores de
doenças da artéria coronária, isquemia miocárdica silenciosa, angina estável, pós-
IAM, pós-revascularização miocárdica, pós-angioplastia coronária, valvopatias,
portadores de cardiopatias congênitas, cardiopatia hipertensiva, cardiomiopatia
dilatada, indivíduos em pós-transplante cardíaco, portadores de marca-passo.
Na abordagem inicial dos benefícios do treinamento, foi salientado que o
sedentarismo pode ser considerado fator de risco independente para a doença
da artéria coronária (DAC) uma vez que esses benefícios, avaliados entre 1975
e 1995, evidenciam declínio na mortalidade em 20 a 30%. Entretanto, o nú-
mero de eventos cardiológicos, incluindo a taxa de IAM, não teve redução sig-
nificativa. Dados demonstram que o impacto do treinamento físico associado
a mudança de estilo de vida diminuiu a mortalidade cardíaca de 20 a 35%.
O desenvolvimento do programa deverá levar em consideração as parti-
cularidades de cada paciente, visando a alcançar uma freqüência cardíaca-alvo
(de 60 a 80% da FCmáx), de acordo com os resultados das avaliações e do teste
ergométrico. Embora os exercícios sejam iguais para todos os pacientes, a di-
ferenciação do programa ocorrerá pela determinação da carga de trabalho
imposta, tendo em vista que os pacientes têm capacidade física, idade e condi-
ções gerais diferentes. As sessões de exercício deverão ocorrer durante dez ou
doze semanas com freqüência de três vezes (mínima) a cinco vezes (máxima)
por semana, com duração de vinte a trinta minutos para que sejam alcança-
dos os efeitos benéficos da atividade aeróbia preconizados pela fisiologia do
exercício.
A cada sessão o paciente deverá iniciar suas atividades com exercícios le-
ves de aquecimento, fazendo caminhadas, exercícios de membros superiores e
inferiores, preparando-se para o período de atividade mais intensa em esteira
ou em bicicleta ergométrica.
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Fisioterapia geriátrica
Figura 10.12:
Paciente realizando
teste ergométrico
em esteira rolante
monitorizado e com
acompanhamento
clínico.
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Fisioterapia geriátrica
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Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções cardiovasculares
Referências bibliográficas
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Ann Intern Med. v. 126, n. 10, p. 753-60, 1997
383
Fisioterapia geriátrica
(17) NESS, J.; ARONOW, W. S. & AHN, C. “Risk factors for coronary artery
disease in old persons in an academic hospital-based geriatrics practice”.
In: Coron Artery Dis. v. 11, n. 5, p. 437-9, 2000.
384
Capítulo 11
Fisioterapia
aplicada aos
idosos portadores
de disfunções
do sistema
respiratório
Valéria Amorim Pires Di Lorenzo
Marcelo Velloso
O
idoso é mais propenso a apresentar problemas respiratórios e a de-
senvolver quadros de insuficiência respiratória, podendo desenvolver
atelectasias, reter secreções e sofrer infecções respiratórias. Os sinto-
mas respiratórios agudos estão entre as razões mais comuns de enfermidades
respiratórias nos idosos e acabam por necessitar de atenção médica e fisiote-
385
Fisioterapia geriátrica
rápica. Além das manifestações clínicas das doenças respiratórias crônicas de-
sempenharem um importante papel na função respiratória reduzida, hospita-
lizações agudas e taxa de mortalidade alta são observadas em indivíduos mais
velhos. Neste capítulo serão abordados o significado clínico de mudanças na
função respiratória relacionadas com a idade, algumas das manifestações clí-
nicas de doenças agudas e crônicas respiratórias mais comuns, que são espe-
cialmente pertinentes aos cuidados de pacientes idosos e ao tratamento fisio-
terápico aplicado.
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Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
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Fisioterapia geriátrica
VRI = 50%
CI = 60%
VC = 10%
CV = 80%
VRE = 20%
CPT = 100%
CRF = 40%
VR = 20%
388
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
Complacência
Pulmão idoso
Complacência
Volume (ml)
Pulmão jovem
200
Pressão
5 10 cmH2O
Fonte: Duthie, E. H. (25).
389
Fisioterapia geriátrica
Resistência
das vias
aéreas
Curvatura
do diafragma
Recolhimento Recolhimento
elástico normal elástico diminuído
Fonte: Duthie, E. H. (25).
xas de fluxo expiratório que podem resultar em uma tosse menos efetiva. Ou-
tra é relativa ao fechamento prematuro de vias aéreas pequenas podendo levar
a anormalidades na troca gasosa. O volume expiratório forçado no primeiro
segundo (VEF1) diminui aproximadamente 30 ml anualmente; e a capacidade
vital (CV), que corresponde ao volume de ar, na qual o recuo elástico dos
pulmões fica insuficiente para sustentar bronquíolos pequenos sem suporte
cartilaginoso (< 1 mm), alcança a capacidade residual funcional (CRF) com a
idade de 60 anos.
Dois princípios importantes enfatizam a realização da espirometria para
avaliar a função pulmonar. Primeiro, os níveis normais de compreensão e a ade-
quada coordenação neuromuscular do indivíduo para a realização das medidas
espirométricas, inclusive a avaliação da resposta ao broncodilator, têm o mesmo
grau de precisão tanto em pessoas mais velhas como em jovens. A prova é nor-
malmente verificada pelas observações diretas feitas no exame da função pulmonar,
estabelecendo a reprodutibilidade de medidas repetidas. Segundo, a precaução
quanto ao uso de padrões de normalidade para os vários índices espirométricos.
O caminho habitual para descrever valores normais é a partir de equações de re-
gressão baseadas em resultados espirométricos de indivíduos não-fumantes. A
determinação do que venha a ser ou não uma anormalidade em espirometria,
apesar das já existentes tabelas de valores previstos, continua a ser objeto de
estudo e questionamento. A boa interpretação do conjunto dos valores constitui
um procedimento cautelar, que deve ser adotado a fim de estabelecer, com se-
gurança, se há ou não anormalidade espirométrica e qual tipo (18).
390
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
391
Fisioterapia geriátrica
toma possa indicar uma fase mais avançada da doença. A resposta do sistema
imunológico pode também mascarar alguns sinais e sintomas de doença res-
piratória mais comumente observados e infecções respiratórias agudas. Desse
modo, resposta febril e aumento da produção de secreção são manifestações
comuns de pneumonia em pacientes idosos.
392
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
Pneumonia
Apesar das técnicas sofisticadas de diagnóstico e das novas terapias, as in-
fecções respiratórias continuam sendo preocupantes enfermidades entre os
idosos. A pneumonia continua sendo “o inimigo especial da velhice”. Com-
pondo esse retrato de incidência elevada, mortalidade e dificuldades em diag-
nóstico estão os problemas terapêuticos associados com o metabolismo alte-
rado de agentes farmacológicos entre os idosos.
A pneumonia e a gripe são atualmente a quarta ou a quinta causa comuns de
óbito nos indivíduos com idade acima de 65 anos nos Estados Unidos. A infecção
por vírus da gripe é talvez o exemplo mais dramático da importância da infecção
respiratória nesses grupos de idosos. Apesar da importância clínica da infecção da
gripe no meio de pessoas idosas e da disponibilidade de métodos de imunização
segura e barata, a administração anual de vacina no meio de pessoas com mais de
65 anos na maioria das comunidades ainda é pequena. Sabe-se que a imunização
da gripe reduz as taxas de hospitalização em 50% e as de mortalidade em 40 a
55%. A imunização anual de pessoas acima de 65 anos, talvez seja a prática de
menor custo, a qual os médicos podem proporcionar como cuidados primários
para pacientes idosos. A pneumonia adquirida na comunidade ainda é uma
doença muito comum e séria. A Sociedade Torácica Americana (American Tho-
racic Society) publicou diretrizes para a avaliação e terapia inicial de pneumonia
para pacientes mais jovens e mais velhos.
Tuberculose
O bacilo da tuberculose, Mycobacterium tuberculosis, conhecido como
bacilo de Koch (BK), foi isolado pela primeira vez em 1882. O bacilo da tuber-
culose é aeróbio, tem crescimento e duplicação lentos, não forma esporos e não
produz toxina. Ele é capaz de sobreviver e multiplicar-se no interior de fagóci-
tos (intracelular facultativo). Sua principal característica é a presença de um
envelope celular composto de macromoléculas (peptideoglicanas, arabinoga-
lactana e ácido micólico), lipopolissacárideos e lipoarabinomannan. A trans-
missão da tuberculose ocorre por inalação do bacilo, eliminado em gotículas
respiratórias (gotículas de Flügge). As partículas maiores depositam-se no
chão, enquanto as menores sofrem rápida evaporação, dando origem a um
núcleo seco, o núcleo de Wells, o qual contém de um a três bacilos, que após
inalados poderão chegar até os alvéolos.
A contagiosidade da tuberculose depende:
393
Fisioterapia geriátrica
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Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
O principal sintoma é a tosse, que pode ser seca inicialmente, mas tende a
agravar-se com a evolução da doença, com expectoração purulenta, acompa-
nhada ou não de hemoptóicos. A dor torácica é menos freqüente e a presença
de dispnéia dependerá da extensão do comprometimento pulmonar. A febre
apresenta-se em mais de 50% dos pacientes com tuberculose pulmonar, sendo
muitas vezes acompanhada de sudorese noturna. Outros sintomas são referi-
dos com freqüência, como adinamia, anorexia e fraqueza. Muitas vezes o iní-
cio dos sintomas, principalmente da tosse e dos outros sintomas, é insidioso,
por isso muitos pacientes procuram ajuda médica com quadro de mais de um
mês de evolução. A maior parte dos pacientes, que chegam ao atendimento
médico, já apresenta perda de peso. As alterações no exame físico não são ex-
tensas, geralmente restringindo-se à presença de ruídos adventícios (estertores
e, às vezes, roncos) nas regiões acometidas. Pode ocorrer ainda a presença de
sopro cavitário.
Os segmentos acometidos com mais freqüência são o apical e/ou o poste-
rior do lobo superior direito, o apicoposterior do lobo superior esquerdo e os
superiores dos lobos inferiores. As principais alterações encontradas são as ima-
gens alveolares, raramente formando imagem de consolidação, às vezes com ca-
vitações, sendo as cavidades bem definidas, com paredes espessas, geralmente
sem níveis hidroaéreos. Os segmentos envolvidos muitas vezes apresentam re-
dução volumétrica. O envolvimento inicial tende a ser unilateral, mas com a
progressão da doença o pulmão contralateral pode ser envolvido, assim como as
regiões inferiores dos pulmões.
A tentativa do diagnóstico microbiológico inicia-se com a pesquisa de
BAAR (bacilos álcool-ácido resistentes) no escarro pela coloração de Ziehl-
Neelsen. O exame da cultura do escarro não é realizado de forma rotineira em
todos os pacientes. O exame da cultura e o antibiograma são recomendados
nos pacientes em que há maior probabilidade de tuberculose multirresistente,
por exemplo, pacientes HIV positivo, pacientes que abandonaram o trata-
mento de tuberculose ou o fizeram de forma incorreta. Nos pacientes com
pesquisa de BAAR negativa nas primeiras três amostras, a cultura também
deve ser realizada na tentativa de aumentar a possibilidade diagnóstica.
O diagnóstico de tuberculose pela biópsia pulmonar pode ocorrer em si-
tuações clínicas em que este diagnóstico não seja o mais provável (como qua-
dros pulmonares alveolares difusos), ou durante a investigação de um nódulo
pulmonar solitário. Os testes sorológicos mais comumente usados no diagnós-
tico da tuberculose utilizam a técnica de Elisa. Esses testes não apresentam,
ainda, sensibilidade e especificidade suficientes para serem recomendados na
prática clínica. O PPD é um teste cutâneo realizado com a injeção da tuber-
culina, extraída de culturas do bacilo da tuberculose, após filtragem e
esterilização por calor. O termo PPD é derivado de purified protein derivative
of tuberculin (proteína purificada derivada de tuberculina). A leitura do teste
é realizada após 72 a 96 horas da aplicação, medindo-se o maior diâmetro do
endurado formado pela reação de hipersensibilidade celular retardada. A
classificação da resposta ao PPD é a seguinte:
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Dados da tuberculose
no Brasil
TABELA 11.1
Casos novos
notificados 84.310 82.395 85.955 91.013 85.860 82.931
Coeficiente/100.000
habitantes 64,6 58,5 57,6 58,6 54,7 51,3
Câncer de pulmão
O câncer de pulmão é responsável por 18% de todos os casos de câncer em
homens e 12% em mulheres. De todos os óbitos relacionados com câncer, cerca
de 34% dos casos em homens e 22% em mulheres são atribuíveis ao câncer de
pulmão. Metade de todos os casos de câncer de pulmão acontecem aos 65 anos
ou mais, e a incidência pico acontece por volta dos 75 anos. A importância acres-
centada desse neoplasma com a idade de ambos os sexos é atribuível sobretudo
ao cigarro e possivelmente à diminuição na resistência imunológica relacionada
com a idade. A abordagem para o diagnóstico não difere em pessoas mais velhas.
A confirmação de tecido e a evidência de metástases podem, em geral, ser obtidas
de forma não-invasiva pelo uso de citologia de secreção, broncoscopia com fibra
óptica e processamento de imagens na tomografia computadorizada (TC). As
decisões sobre o tratamento devem cuidadosamente levar em consideração o
prognóstico e a presença de co-condições mórbidas.
Disfunções do sono
As disfunções do sono no idoso são extremamente comuns. Na maioria
das instâncias, essas são reclamações principais durante uma avaliação direcio-
nada predominantemente ao sistema respiratório. Um conhecimento da pa-
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Fonte: modificado de
www.pneumoatual.com.br.
As pressões requeridas pela via aérea variam bastante, com uma média
de normalidade entre 4 e 20 cmH2O. Durante o exame de titulação de CPAP
(que dura uma noite inteira de sono), o paciente é adaptado ao aparelho,
com uma escala de variação de 4 e 20 cmH2O. Os estágios do sono, a posição
corporal e a resistência nasal afetam as necessidades de pressão, então, a
maior pressão titulada é necessária apenas por uma fração da noite. Os
aparelhos de autotitulação (Autoset) ajustam a pressão do ar de acordo com
as necessidades do paciente, fornecendo menores pressões que os aparelhos
de CPAP e aumentando o conforto do paciente.
A iniciação de uma efetiva terapia por pressão positiva reduz a fragmen-
tação do sono assim como o IAH melhora a realização das funções diárias,
como equilibrar o sono e a vigília e proporcionar maior qualidade de vida. A
pressão positiva também induz à regulagem da função dos quimiorreceptores
num período de três meses e, com isso, melhora a taxa de gases sangüíneos e
despertares relacionados com a apnéia. Estudos demonstram que essa terapia
estabiliza ou melhora os níveis de HAS em alguns pacientes e a função
cardiovascular em pacientes com ICC associado ao padrão respiratório pato-
lógico de Cheyne-Stokes. A terapia por CPAP é comprovadamente o melhor
tratamento para AOS e, quando usada de forma apropriada, obtêm-se resul-
tados de 100% de eficácia.
Os principais efeitos colaterais do CPAP são: dermatite de contato,
vazamentos orais, congestão nasal, rinorréia, secura nasal, epistaxe, secura
dos olhos ou conjuntivite, dificuldade para exalar, pneumotórax (muito raro)
e aerofagia.
403
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DPOC é um estado de doença caracterizada por limitação ao fluxo aéreo, não total-
mente reversível. A limitação ao fluxo aéreo é, em geral, progressiva e está associada
a uma resposta inflamatória anormal à inalação de gases ou partículas tóxicas.
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Portanto, a DPOC é uma doença que causa grande impacto social, pois é
incapacitante, necessita de alto investimento para que seja mantido o tratamen-
to do paciente e leva à morte prematura de indivíduos que poderiam estar em
plena atividade produtiva. A mortalidade por DPOC abaixo de 45 anos é baixa,
aumentando com a idade. Os fatores de risco para o aparecimento e desenvolvi-
mento da DPOC são: os ambientes que propiciam a inalação da fumaça do
cigarro, da poeira e de substâncias químicas; a deficiência de alfa-1 antiprotease
já comprovada; a desnutrição; as infecções constantes na infância, entre outros.
A DPOC pode ser diagnosticada com base nos sintomas relatados pelo
paciente devido à inflamação das vias aéreas. Em geral a tosse e a presença de
secreção precedem a falta de ar, com um intervalo de vários anos, mas não
obrigatoriamente evoluem para um estado de limitação ao fluxo aéreo. Outra
forma possível é pelas alterações da mecânica pulmonar e da biomecânica da
caixa torácica, provocadas pela doença de acordo com seu grau de evolução.
Bronquite crônica é considerada uma síndrome clínica com presença de
tosse crônica e produtiva com duração de pelo menos três meses a dois anos
consecutivos, eliminando-se outras causas de tosse crônica, como tuberculose
e bronquiectasia, entre outras. Enfisema é definido como aumento anormal
dos espaços aéreos distais aos bronquíolos terminais, acompanhado por des-
truição de suas paredes e sem fibrose evidente. Dessa forma, a bronquite crô-
nica é definida pelos aspectos clínicos nos quais predominam os processos in-
flamatórios brônquicos, ao passo que o enfisema tem sua definição pautada
nos aspectos anatomopatológicos.
A realização de uma boa anamnese ainda é muito importante para se diag-
nosticar a DPOC, embora exames como a espirometria sejam de alta utilidade
na complementação diagnóstica.
Durante a anamnese deve-se valorizar os seguintes sintomas e sinais:
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408
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monares para que se possa conduzir uma avaliação detalhada e criteriosa das
condições do paciente.
As informações obtidas na avaliação levarão o fisioterapeuta a traçar os
objetivos do tratamento e a eleger as manobras ou as técnicas mais adequadas
para cada paciente, acompanhando o caso com reavaliações freqüentes, e
ajustando a conduta para alcançar o objetivo desejado.
A reabilitação pulmonar vem evoluindo nas últimas décadas devido ao
aumento do número de pacientes com doenças pulmonares crônicas, além do
grande desenvolvimento dos estudos na área da fisiologia do exercício. Atual-
mente, os conhecimentos relativos à reabilitação pulmonar são derivados, em
sua maioria, de estudos com pacientes portadores de doença pulmonar obs-
trutiva crônica (DPOC). Esses pacientes foram tratados durante anos apenas
com medicamentos e repouso, porém, hoje se sabe que a inatividade e o se-
dentarismo levam a uma grande perda funcional e a piora do quadro clínico.
A reabilitação pulmonar trouxe um conceito totalmente novo ao trata-
mento dos pacientes com DPOC, embora possa ser aplicada em pacientes
com doenças intersticiais, apnéia do sono, transplante pulmonar, cirurgia re-
dutora de volume, cifoescoliose, fibrose cística, doenças vasculares e asma pe-
rene, desde que sejam observadas as particularidades de cada caso. Essa forma
de tratar o pneumopata crônico preconiza a prática de exercícios físicos e res-
piratórios e a participação em programa educativo. Além de propiciar suporte
emocional e nutricional, essas medidas têm o objetivo de melhorar o condici-
onamento físico, a funcionalidade e envolver a família para que possa ajudar
no processo de tratamento, viabilizando a continuidade do mesmo após o tér-
mino do programa. Reabilitação pulmonar é definida como um programa
contínuo de serviços dirigidos a pessoas com problemas pulmonares e a suas
famílias, proporcionado por uma equipe multiprofissional de especialistas,
com o objetivo de alcançar e manter o indivíduo com o máximo nível de in-
dependência e funcionalidade na comunidade. A visão abrangente do
tratamento proporcionada pela reabilitação pulmonar possibilitou a
formação de equipes profissionais, envolvendo médico, fisioterapeuta,
enfermeira, terapeuta ocupacional, psicólogo, nutricionista e assistente social,
atuando de forma coordenada no sentido de atingir os objetivos do
tratamento. Os objetivos da reabilitação pulmonar são: controlar e aliviar,
tanto quanto possível, os sintomas e as complicações fisiopatológicas; treinar
o paciente de modo que ele alcance sua máxima capacidade de realizar as
atividades da vida diária; diminuir os sintomas psicológicos como ansiedade e
depressão; melhorar a qualidade de vida; possibilitar o retorno do paciente às
atividades produtivas; promover independência e auto-confiança; aumentar a
tolerância ao exercício; reduzir exacerbações e hospitalizações; encorajar a
participação em atividades recreativas.
O programa de reabilitação pulmonar compreende a otimização dos me-
dicamentos no intuito de melhorar o desempenho dos pacientes; a prática de
exercícios físicos para treinamento de membros inferiores e superiores, rela-
xamento e alongamento; e a participação de um programa educacional com
orientações sobre a doença, as formas de utilizar a medicação, o tabagismo, o
409
Fisioterapia geriátrica
410
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
411
Fisioterapia geriátrica
412
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
Figura 11.8:
Paciente realizando
teste de caminhada
de 6 minutos
acompanhado
pelo fisioterapeuta.
413
Fisioterapia geriátrica
Treinamento intervalado
414
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
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Fisioterapia geriátrica
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Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
417
Fisioterapia geriátrica
418
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
freqüente em pacientes de idade avançada, fato que faz com que se considere o
envelhecimento como fator de risco secundário para o pós-operatório. Com o
avançar da idade, ocorre declínio significativo na capacidade funcional do sistema
respiratório. Dados longitudinais evidenciam que até em atletas mais velhos as
capacidades respiratórias deterioram progressivamente com a idade (cerca de
10% por década), mesmo com a realização continuada de exercícios de
resistência. Em indivíduos saudáveis a capacidade de fornecimento de oxigênio
para os tecidos é diminuída em quatro vezes no período dos 20 aos 70 anos.
A insuficiência da função respiratória torna-se particularmente relevante
na posição supina durante a anestesia e também no período pós-operatório.
Fatores como o hábito de fumar, a obesidade e a existência prévia de doença
pulmonar podem determinar maiores complicações pulmonares. A presença
de DPOC é considerada importante fator de risco para morbidez e mortalidade
no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Cirurgias prolongadas (mais de 6 ho-
ras) e cirurgias torácicas e abdominais superiores apresentam riscos maiores
de complicações no pós-operatório.
A fisioterapia começou a atuar nos serviços hospitalares no início do sé-
culo XX, quando as cirurgias torácicas tornaram-se procedimentos usuais nos
419
Fisioterapia geriátrica
420
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
Período pré-operatório
421
Fisioterapia geriátrica
alguns cuidados são necessários para a sua execução: realizar nos inter-
valos das refeições (pelo menos duas horas após) para evitar refluxo
gastroesofágico, principalmente em idosos e indivíduos com hérnia de
hiato; pacientes neurológicos ou aqueles internados em unidades de
terapia intensiva (UTI) deverão ser monitorizados com a mensuração
da pressão arterial (PA), sobretudo naqueles pacientes com história
prévia de hipertensão arterial; da freqüência respiratória (f), da oxime-
tria de pulso (SpO2) e da freqüência cardíaca (FC); a ausculta pulmo-
nar deverá ser feita durante todo o tratamento para avaliação dos seus
resultados. Existem situações em que algumas posturas utilizadas na
DPBS são contra-indicadas para pacientes com refluxo gastresofágico,
fístulas traqueoesofágicas, hipertensão intracraniana, hidrocefalia, pós-
operatório de cirurgias neurológicas, edema agudo de pulmão, grandes
coleções pleurais não drenadas, desconforto respiratório; anastomose
esofágica, lesões ortopédicas limitantes, infarto agudo do miocárdio
recente, arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca congestiva e angina
instável (17).
• Vibração ou vibroterapia: é uma técnica de higiene brônquica que visa
à movimentação de secreções já soltas na árvore brônquica em direção
aos brônquios de maior calibre, facilitando a expectoração. Para sua
realização, o fisioterapeuta deverá colocar as mãos espalmadas com leve
pressão sobre o tórax do paciente, fazendo uma contração isométrica
dos membros superiores, o que gerará uma vibração que será transmi-
tida ao tórax do paciente com movimentos rítmicos e rápidos durante
a fase expiratória, acompanhando o movimento das costelas. A vibra-
ção deverá ser realizada com intensidade suficiente para que chegue ao
nível bronquial, provocando uma onda vibratória no interior do tórax.
A vibração quando bem aplicada se assemelha ao movimento ciliar hu-
mano com freqüência de 12 a 20 Hz (29). Alguns autores citam ainda a
ação da vibração como forma de redução da dispnéia em quadros de
exacerbação, pois essa técnica estimula os comandos motores eferentes
e as informações aferentes oriundas do sistema respiratório (19;55).
Em pacientes idosos é muito importante uma avaliação detalhada das
condições gerais, pois se o mesmo apresentar-se caquético ou desnutri-
do, aumentam as chances de osteoporose e, nesses casos, o fisioterapeu-
ta deverá dosar a pressão aplicada a fim de evitar fraturas.
• Manobras de percussão torácica: a tapotagem é a mais conhecida for-
ma de percussão, que é realizada sobre o tórax de forma rítmica e veloz,
utilizando ambas as mãos em forma de concha para aprisionar um co-
xim de ar entre as mãos e a parede torácica, alternando-se seqüencial-
mente. Os braços e os cotovelos do fisioterapeuta devem estar parcial-
mente fletidos e os punhos soltos. Essa técnica deverá ser realizada pelo
fisioterapeuta após ausculta pulmonar minuciosa para localizar a re-
gião mais comprometida dos pulmões. Recomenda-se um período de
três a cinco minutos de aplicação em cada região, sendo que alguns es-
tudos recomendam até dez minutos. Durante a realização é preciso ter
422
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
423
Fisioterapia geriátrica
424
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
425
Fisioterapia geriátrica
Fases do uso do
aparelho flutter
FIGURA 11.15
Fase de Fase de
aceleração fechamento
Débito
do ar
Tempo
1) Período de 2) Período de 3) Período 4) Período de
interrupção total (PIT) abertura (PA) de abertura fechamento (PF)
período de aumento total (PAT)
da pressão
Período total de abertura
Ciclo abertura/fechamento
Fonte: modificado de dossier clínico – OM Portuguesa.
426
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427
Fisioterapia geriátrica
428
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
C
VRI P
CI T
VC
VR CV
VR CR
VRI
VC
VR
VR
Fonte: Mayer, A. F.; Cardoso, F.; Velloso, M. & Ramos, R. R. “Fisioterapia respiratória.” In: Tarantino, A. B. Doenças pulmonares.
5. ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2002.
429
Fisioterapia geriátrica
Período pós-operatório
430
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
pode variar desde poucas horas até períodos bastante prolongados. Sofrem
uma série de agressões no aparelho respiratório, devido às altas frações inspi-
radas de oxigênio (FiO2), e lesões na mucosa respiratória induzidas pela aspi-
ração traqueal. Outro problema bastante comum é a ativação de mediadores
inflamatórios pela presença da via aérea artificial, que dificulta o transporte de
muco pelo sistema mucociliar, podendo causar retenção de secreções e pneu-
monia. A atuação do fisioterapeuta na desobstrução brônquica é fundamental
nesses casos para evitar e prevenir complicações respiratórias.
No período pós-operatório imediato ou tardio é sabido que indivíduos
idosos ou mesmo jovens, quando submetidos ao repouso prolongado no leito,
freqüentemente desenvolvem problemas pulmonares causados pelo imobilismo
que é um dos fatores agravantes das condições gerais do paciente, pois leva à
redução da força muscular respiratória com queda de 25 a 50% na capacidade
respiratória e conseqüente diminuição da eficácia dos mecanismos de tosse.
Esses fatores associados levam ao aumento excessivo de secreção pulmonar
431
Fisioterapia geriátrica
que poderá bloquear algumas regiões das vias aéreas, propiciando a formação
de atelectasias e um meio ideal para o desenvolvimento de pneumonia bacteria-
na, além de provocar confusão mental, sobretudo em idosos.
O fisioterapeuta que atua na UTI, principalmente nos casos de pós-ope-
ratório, deverá ter amplo conhecimento da função ventilatória, pois sua atuação
está centrada no recebimento do paciente sob ventilação mecânica, na moni-
torização dos parâmetros ventilatórios, nos cuidados com a permeabilidade das
vias aéreas, visando a otimização da ventilação para evitar ou corrigir quadros
de alterações gasométricas e, assim, tornar possível o desmame da ventilação
mecânica e a extubação.
As técnicas manuais e os recursos fisioterápicos de desobstrução brôn-
quica e reexpansão pulmonar estão indicados em vários casos, porém na tera-
pia intensiva existem alguns recursos que podem ser utilizados quando se ob-
serva a retenção de secreções pela inabilidade de remoção e pela diminuição
da capacidade inspiratória ou pela redução da eficácia da tosse. São eles:
432
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
433
Fisioterapia geriátrica
434
Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções do sistema respiratório
Referências bibliográficas
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cise in patients with COPD”. In: Chest. v. 105, p. 782-9, 1994.
439
Fisioterapia geriátrica
440
Capítulo 12
Revitalização
geriátrica
José Ignacio Calvo Arenillas
José Rubens Rebelatto
A
o trabalhar com indivíduos idosos e para o desenvolvimento de inicia-
tivas de intervenção destinadas à promoção, prevenção e reabilitação,
é fundamental serem incluídas técnicas de revitalização geriátrica. Ao
utilizar o termo revitalização geriátrica, referimo-nos à utilização da fisiotera-
pia como recurso preventivo (57, 58) e promocional, aplicada com o objetivo
de contribuir para integração das condições de vida com a satisfação pessoal
(influenciada por valores pessoais), cuja conseqüência nada mais é do que a
qualidade de vida (18). É preciso considerar, no entanto, que as condições de
vida estão diretamente relacionadas ao estado de saúde, fazendo com que as
técnicas de fisioterapia revitalizante se encontrem relacionadas ao conceito de
qualidade de vida, no contexto da saúde. Portanto, tais técnicas devem ser
consideradas também como aspectos importantes da promoção da saúde (Fi-
gura 12.1). Dessa maneira, a revitalização geriátrica, além de constituir uma
técnica (ou conjunto de técnicas) preventiva e, em alguns casos, reabilitadora,
converte-se, principalmente, em um agente positivo para manter bons estados
das condições de saúde de indivíduos idosos ou melhorá-los ainda mais.
441
Fisioterapia geriátrica
Estado Revitalização
de saúde geriátrica
Qualidade de vida
Condições relacionada à saúde
de vida
Valores Qualidade
pessoais de vida
Satisfação
pessoal
Aspectos demográficos
dos indivíduos idosos
É evidente o crescente aumento da população de idosos em todo o mundo.
Existem, segundo a classificação mais freqüentemente aceita, três categorias
para denominar os países de acordo com a idade de sua população estabeleci-
das em função do índice de envelhecimento, que relaciona a população de 65
anos ou mais à população total. Essas categorias são jovem, adulta e idosa; e a
separação entre elas é marcada pela porcentagem de anciãos em relação à po-
pulação total. Dessa forma, os países jovens são aqueles com um índice de en-
velhecimento inferior a 7%; os países adultos os que possuem índice entre 7 e
10%; e os países idosos os que apresentam índice superior a 10%.
Hoje, já é possível considerar uma nova categoria para aqueles países
onde o percentual supera os 14%, os quais podem ser denominados países
muito idosos (ver Figura 12.2) (69). Atualmente, existem 46 países muito ido-
sos. Dentre eles, destaca-se o Japão, com 25% da população com idade igual
ou superior a 60 anos, com uma esperança de vida ao nascer de 78 anos para
homens e 85 para mulheres. Alguns outros países também merecem ser cita-
dos, como a Espanha, com 21,8%; Portugal, com 21,2%; Estados Unidos, com
16,3%, com esperanças de vida ao nascer entre 74 e 76 anos para homens e
442
Revitalização geriátrica
0-14 anos
15-64 anos
65 ou mais anos
100
5,7 3,1 7,1 4,1 12 7,9
80
60 51,7 57,5
60,4 65 62,6
40
Envelhecimento
É possível afirmar que o envelhecimento é caracterizado por modifica-
ções biológicas acontecidas com o passar dos anos, as quais, por sua vez, le-
vam-nos a pensar nos mecanismos íntimos envolvidos nesse processo. Ocor-
rência do envelhecimento celular devido às mudanças nos telômeros (50, 20),
alteração da membrana celular (86) e mutação genética ou erro catastrófico
(78), e oxidação mitocondrial (48) são fenômenos que poderiam explicar a
diminuição do rendimento fisiológico e as alterações anátomo-patológicas e
443
Fisioterapia geriátrica
444
Revitalização geriátrica
445
Fisioterapia geriátrica
1
Quando o nosso cérebro interpreta alguma situação como ameaçadora (estressante), todo nosso organismo passa a
desenvolver um conjunto de alterações denominadas síndrome geral da adaptação ao estresse. A síndrome descrita
por Selye consiste em três fases sucessivas: reação de alarme, fase de adaptação ou resistência e fase de exaustão. A
última é atingida apenas em situações mais graves e, normalmente, persistentes.
446
Revitalização geriátrica
500
400
300 Homens
Mulheres
200
100
0
- de 6 6 a 16 17 a 44 45 a 64 65 a 79 + de 80
anos anos anos anos anos anos
447
Fisioterapia geriátrica
Revitalização
Avaliação inicial para seleção de sujeitos
QUADRO 12.1
Número: Data:
DADOS PESSOAIS
Nome: Data de nascimento: Idade:
Endereço: Telefone:
Estado civil: Vive sozinho:
ANTECEDENTES PATOLÓGICOS
OBSERVAÇÕES:
448
Revitalização geriátrica
Contra-indicações absolutas
- Infecções e inflamações agudas
- Insuficiência grave: hepática, cardíaca, respiratória, renal
- Estenose coronária grave
- Angina de peito a esforços mínimos
- Infarto do miocárdio recente
- Bloqueio auriculoventricular grave
- Aneurisma ventricular aórtico
- Embolia pulmonar ou sistêmica recente
- Hipertensão arterial não controlada
- Enfermidades infecciosas crônicas
- Enfermidades que perturbem o equilíbrio
- Enfermidades metabólicas não controladas
- Processos tumorais malignos
- Cor pulmonale crônico (hipertrofia do ventrículo direito)
- Síndrome de Wolf-Parkinson-Whait (fibrilação atrial anômala)
449
Fisioterapia geriátrica
Contra-indicações relativas
- Enfermidades vasculares compensadas
- Extra-sístole ventricular
- Bloqueio do ramo esquerdo
- Marca-passo cardíaco
- Varizes graves com história de tromboflebite
- Ingestão de medicamentos β-bloqueadores
- Alterações neuromusculares
- Artrite, artrose deformante
- Isquemia cerebral transitória recente
- Antecedentes de traumatismo craniencefálico
- Cirurgia na cabeça ou coluna vertebral
- Obesidade mórbida
- Osteoporose
Limitações
- Doenças psicofísicas
- Cardiopatias sem insuficiências cardíacas
- Pacientes com cirurgia cardíaca
- Limitações graves de visão e audição
- Hérnia de hiato ou abdominal
- Alterações musculoesqueléticas que dificultem a atividade motora
450
Revitalização geriátrica
451
Fisioterapia geriátrica
Flexibilidade do tronco: pode ser utilizado o teste sit and reach (sentar e
alcançar). Consiste em medir em centímetros o deslocamento de uma régua
móvel com precisão de 0,5 cm fixada na superfície de uma caixa de 35 cm de
comprimento, 45 cm de largura e 32 cm de altura. O idoso deverá sentar-se
no chão, com as extremidades inferiores estendidas e apoiando as plantas dos
pés sobre a face anterior da caixa (Figura 12.6). A partir da posição de flexão
coxofemoral em 90o, os dedos de ambas as mãos são estendidos até fazer con-
tato com a régua, e é solicitada a maior flexão possível do tronco, deslocando
a régua sobre a caixa.
Composição corporal: pode ser feita por meio do índice de massa corpo-
ral (IMC) de Quetelec (22), calculado utilizando-se dados de peso e altura do
idoso (IMC = peso/altura2) e que varia de acordo com a seguinte classificação:
19 Kg/m2 – indivíduos magros; de 19 a 24,9 Kg/m2 – indivíduos normais;
de 25 a 29,9 Kg/m2 – indivíduos com sobrepeso; de 30 a 34,9 Kg/m2 – obesi-
dade leve; de 35 a 39,9 Kg/m2 obesidade moderada; e acima de 40 Kg/m2 –
obesidade mórbida.
Às vezes é necessário ou conveniente calcular a porcentagem de massa ma-
gra. No mercado existem aparelhos para medir essas variáveis (Figura 12.7).
Também é possível, nesse processo, avaliar a densidade mineral óssea
(DMO) por meio de ultra-sonometria, a qual indica graus de osteopenia e
riscos de fratura.
452
Revitalização geriátrica
453
Fisioterapia geriátrica
Essa prova é utilizada por ser de fácil administração e bastante precisa em seus
resultados. No entanto, como é realizada geralmente ao ar livre, é necessário levar em
conta as condições de clima, que podem, algumas vezes, determinar variações nos
resultados. Para avaliação dos resultados, utiliza-se a tabela do Rockport Walking Test
(Tabela 12.1), que dá os indicadores de acordo com idade e classificação em muito
pobre, pobre, razoável, bom, excelente e superior para homens e mulheres.
454
Revitalização geriátrica
MULHERES
Idade Muito pobre Pobre Razoável Bom Excelente Superior
13-19 < 25,0 25,0-30,9 31,0-34,9 35,0-38,9 39,0-41,9 > 41,9
20-29 < 23,6 23,6-28,9 29,0-32,9 33,0-36,9 37,0-41,0 > 41,0
30-39 < 22,8 22,8-26,9 27,0-31,4 31,5-35,6 35,7-40,0 > 40,0
40-49 < 21,0 21,0-24,4 24,5-28,9 29,0-32,8 32,9-36,9 > 36,9
50-59 < 20,2 20,2-22,7 22,8-26,9 27,0-31,4 31,5-35,7 > 35,7
60+ < 17,5 17,5-20,1 20,2-24,4 24,5-30,2 30,3-31,4 > 31,4
HOMENS
Idade Muito Pobre Pobre Razoável Bom Excelente Superior
13-19 < 35,0 35,0-38,3 38,4-45,1 45,2-50,9 51,0-55,9 > 55,9
20-29 < 33,0 33,0-36,4 36,5-42,4 42,5-46,4 46,5-52,4 > 52,4
30-39 < 31,5 31,5-35,4 35,5-40,9 41,0-44,9 45,0-49,4 > 49,4
40-49 < 30,2 30,2-33,5 33,6-38,9 39,0-43,7 43,8-48,0 > 48,0
50-59 < 26,1 26,1-30,9 31,0-35,7 35,8-40,9 41,0-45,3 > 45,3
60+ < 20,5 20,5-26,0 26,1-32,2 32,3-36,4 36,5-44,2 > 44,2
Existe uma prova parecida na qual se caminha 2 mil metros e são regis-
trados a freqüência cardíaca e o tempo do percurso ao terminar (54). É possí-
vel utilizar outros tipos de provas com bicicleta ergométrica ou escada (67).
Outras formas de medição de variáveis antropométricas, como, por
exemplo, perimetria, plicometria e diâmetros articulares, contribuem para o
conhecimento mais acurado da condição física dos idosos (67).
Com todas as informações produzidas pelas provas mencionadas, obtém-
se uma visão bastante aproximada da realidade da condição física dos indiví-
duos idosos e, partindo-se dela, é indicada a possibilidade de praticar ativida-
de física ou não e a quantidade de atividade recomendada.
Quando existe algum tipo de contra-indicação absoluta (Quadro 12.2),
desaconselha-se ou contra-indica-se esse tipo de atividade, enviando o idoso
para terapia individualizada ou fisioterapia específica. Quando existe alguma
contra-indicação relativa ou limitação associadas a condição física normal ou
superior à normal ou, ainda, condição física inferior à normal mas sem con-
tra-indicações ou limitações, atividades de revitalização estão indicadas. Com
uma condição física normal ou superior à normal, é aconselhada a prática de
algum esporte adaptado ou manutenção de tal condição por meio de progra-
mas gerais de exercitação física (6, 8).
O acompanhamento do programa deve ser realizado depois de um perío-
do de prática que pode variar de 3 a 12 meses. Habitualmente deve ser feito
455
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Fisioterapia geriátrica
Com essas técnicas, pretende-se ser como “as chuvas de abril e o sol de
maio”, do poema escrito por Don Antonio Machado, em Soria, Castilla y
León, Espanha, em 1912, o qual diz:
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468
Capítulo 13
Emergências
e primeiros
socorros em
geriatria
Maria Tereza Claro
O
envelhecimento, processo irreversível a que todos estamos sujeitos,
deve ser mais bem compreendido, dado que nosso país depara-se
com um crescente número de população idosa e nossa sociedade en-
contra-se despreparada, praticamente em todas as suas esferas, para lidar com
essa realidade (5).
No caso da fisioterapia, principalmente nos serviços ambulatoriais, com
freqüência um fisioterapeuta atende pacientes idosos com quadro de emer-
gência médica aguda intercorrente. Embora essas intercorrências não sejam
rotineiras (talvez, até por isso mesmo), o fisioterapeuta precisa estar bem pre-
parado e treinado para atendê-las de forma adequada. Quando forem reco-
nhecidos sinais e sintomas de um problema que exige socorro imediato, as es-
tratégias de ação devem ser: alertar as outras pessoas da equipe clínica do
ambulatório, realizar as manobras necessárias de primeiros socorros ao qua-
dro apresentado, estabilizar o paciente enquanto o transporte de emergência é
providenciado.
Essas ações exigem do profissional, da equipe e do serviço ambulatorial
como um todo: 1) registro sistemático da história clínica dos pacientes aten-
didos no ambulatório, 2) elaboração e treinamento de um plano de ação dire-
cionado aos primeiros socorros, 3) equipamentos de emergência disponíveis
469
Fisioterapia geriátrica
470
Emergências e primeiros socorros em geriatria
471
Fisioterapia geriátrica
472
Emergências e primeiros socorros em geriatria
473
Fisioterapia geriátrica
Dor torácica
Poucas queixas são tão alarmantes para o paciente ou para o terapeuta quan-
to as dores torácicas. Todas as queixas de dores torácicas, sejam de início súbi-
to ou gradual, devem ser consideradas seriamente. Segundo Harrison (1), as
dores torácicas podem estar associadas a inúmeras causas, tais como problemas
cardíacos (doença coronariana, estenose aórtica, miocardiopatias, pericardi-
tes), vasculares (dissecção da aorta, embolia pulmonar, hipertensão pulmonar,
sobrecarga do ventrículo esquerdo), pulmonares (pleurite, pneumonias, tra-
queobronquite, pneumotórax, tumores, enfisema), gastrintestinais (refluxo e
espasmo esofágico, úlcera péptica, doença biliar, pancreatite), musculoesque-
léticos (discopatia cervical, artrite do ombro ou da coluna, costocondrites,
cãibras musculares intercostais, síndrome do escaleno ou de hiperabdução do
ombro, bursite subacromial), ou ainda, doenças da mama, tumores da parede
torácica, herpes-zoster e causas emocionais.
Quando um paciente apresenta história de problemas cardíacos, a inves-
tigação de sua condição é essencial. O paciente poderá apresentar sintomas
associados com o problema cardíaco como a própria dor no peito, além de
náuseas, vômitos, dispnéia e sudorese intensa. O terapeuta deve ainda investi-
gar se os sintomas estão associados com a quantidade de atividade física, com
o tempo decorrido de refeições ou se aparecem durante períodos de estresse.
Também é importante saber se o paciente já faz tratamento, incluindo reco-
mendação médica de repouso ou uso de nitroglicerina sublingual (isordil).
Assim que os sintomas forem detectados, as atividades físicas devem ser
totalmente interrompidas e os sinais vitais checados; se dentro de poucos
minutos os sintomas não desaparecerem, o plano de emergência deverá ser
iniciado.
Se a pressão sangüínea estiver mais baixa que o normal (diferenças de 20
mmHg, tanto na pressão sistólica como na diastólica, devem ser consideradas
significativas), o paciente deve ser posicionado com a cabeça mais baixa que o
nível do coração (posição de Trendelenburg). Se o paciente não estabilizar em
poucos minutos, é indicado o transporte de urgência a um hospital para melhor
avaliação. Se o paciente estabilizar rapidamente, o médico de referência deve ser
informado e o paciente deve retornar ao tratamento fisioterápico somente após
criteriosa avaliação médica.
Se os níveis pressóricos estiverem elevados, o paciente deve ser colocado
em repouso e a pressão arterial tem de ser reavaliada após quinze minutos.
Caso a pressão ainda apresente níveis acima do padrão normal (139 mmHg
para a sistólica e 89 mmHg para a diastólica), o paciente deve ser encaminha-
do para avaliação médica, indicando seu retorno ao tratamento fisioterápico
somente após liberação médica.
Caso o paciente apresente hipertensão grave (acima de 180 mmHg para
sistólica e de 110 mmHg para a diastólica) associada à dor torácica, deve-se
considerar a possibilidade de problemas mais graves, tais como edema agudo
de pulmão e infarto do miocárdio. Nesses casos, há risco iminente de morte
474
Emergências e primeiros socorros em geriatria
Dificuldade respiratória
Pacientes com queixa de “grande falta de ar” podem estar apresentando
dificuldade respiratória aguda (dispnéia), cujo significado clínico varia de
acordo com o contexto. Em situações desportivas de competição ou em pro-
gramas de recondicionamento físico, é esperado que os indivíduos tenham
“falta de ar”, contudo, depois de um episódio de dispnéia, a freqüência e a in-
tensidade respiratória retornam para a linha de base dentro de alguns minu-
tos. As pessoas que permanecem dispnéicas por mais tempo que o esperado
ou por razões não imediatamente aparentes, precisam ser encaminhadas a um
serviço de saúde. As causas mais comuns de dispnéia são: obstruções das vias
aéreas por doença pulmonar obstrutiva crônica, angioedema ou corpo estra-
nho, problemas cardíacos (isquemia, insuficiência valvular e edema pulmo-
nar), problemas pulmonares (asfixias, embolias, pneumotórax ou aspiração),
reações alérgicas (anafilaxia). Conhecer os medicamentos usados pelo pacien-
te e saber de sua história clínica e pessoal, ajuda o terapeuta a analisar as quei-
xas em perspectiva. Por exemplo, há relatos de pessoas que após ficarem imo-
bilizadas por certo período de tempo (percurso de carro, acamadas, longas
viagens de avião) desenvolvem trombose venosa profunda que evolui para
embolia pulmonar, tendo como única queixa dificuldade respiratória. Não
deve ser esquecida a causa mais óbvia da dispnéia, que é a obstrução de vias
aéreas.
Pacientes com comprometimento neurológico podem apresentar dificul-
dade para retirar e expelir suas próprias secreções, as quais podem ocasionar
475
Fisioterapia geriátrica
obstrução respiratória. Nesses casos, é necessário ter acesso às vias aéreas e ser
capaz de limpá-las usando equipamento de sucção (aspirador). Uma traqueos-
tomia tubar pode ser necessária, lembrando que esse procedimento demanda
atendimento médico.
O comprometimento respiratório requer atendimento de urgência e ava-
liação constante das condições respiratórias do paciente. Além do controle do
número de inspirações por minuto, devemos observar as características da
respiração, tais como presença de ruídos, profundidade, padrão e músculos
envolvidos. Para verificar a respiração de uma pessoa, deve-se cuidar para que
ela não perceba que isso está sendo feito, pois pode haver alteração voluntária.
O modo mais fácil de fazer isso é manter os dedos no pulso, dando a impres-
são que é ele que está sendo verificado. A freqüência respiratória deve ser con-
tada durante um minuto inteiro.
A freqüência respiratória (FR) de um adulto normal, em repouso, é de 14
a 18 movimentos respiratórios por minuto. Se o paciente apresentar parada
respiratória, as manobras de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) deverão ser
iniciadas.
476
Emergências e primeiros socorros em geriatria
B) Respiração boca-a-boca
Após desobstruir as vias aéreas, o socorrista deve avaliar se a vítima respi-
ra espontaneamente, colocando seu ouvido próximo à boca e ao nariz da víti-
ma, mantendo a posição anteriormente descrita. Devem ser observados os
movimentos respiratórios do tórax, o ruído respiratório e a percepção do ar
exalado em sua face. Caso a vítima não respire, deve-se iniciar imediatamente
a respiração boca-a-boca, ou boca-a-nariz.
Inicialmente deve-se realizar duas insuflações pulmonares rápidas e pro-
fundas. Em seguida, palpar o pulso carotídeo, se este estiver presente, manter
a ventilação na freqüência de 12 a 15 insuflações por minuto. Essa insuflação é
feita ocluindo-se as narinas da vítima com os dedos da mão que está sobre a
fronte do paciente e, após fazer uma expiração profunda, insuflar o ar na boca
da vítima. Se após as duas primeiras insuflações pulmonares não se constatar
a presença de pulso carotídeo, deve ser iniciada a etapa C de circulação
artificial. Recomenda-se, como medida de proteção de ambos, que durante a
etapa B seja usada uma bandagem ou um pedaço de tecido limpo entre a
boca da vítima e a do socorrista. Caso disponha de um ambu, adaptar a más-
cara do mesmo à boca da vítima e insuflar, seguindo a mesma orientação aci-
ma. Durante a ventilação, observar se não há acúmulo de secreção o que difi-
cultará o procedimento. Se houver, retire-o utilizando um aspirador ou, na
falta deste, os dedos envoltos em um pedaço de tecido ou gaze rodados no in-
terior da boca do paciente, antes de insuflar o ambu.
477
Fisioterapia geriátrica
478
Emergências e primeiros socorros em geriatria
479
Fisioterapia geriátrica
Vítima inconsciente
Respiração
Não Sim
Não Sim
Sim
CTI
480
Emergências e primeiros socorros em geriatria
481
Fisioterapia geriátrica
Perda de consciência
A consciência pode ser definida como o estado de completa percepção de
si mesmo e do meio e quantificada pelo grau de alerta e o seu conteúdo. O
grau de alerta, do ponto de vista comportamental, está relacionado com o des-
pertar e quão acordado está o indivíduo. O conteúdo da consciência é repre-
sentado pela somatória das funções cognitivas e afetivas. O grau de consciência
varia do estado pleno de alerta (estado normal de pleno despertar) ao coma (es-
tado de inconsciência sem resposta ao meio, mesmo frente a uma estimulação
enérgica). A síncope (desmaio) é a perda repentina e temporária da consciência,
devida a uma diminuição de fluxo sangüíneo e à oxigenação do cérebro. Pode
ser provocada por fome, nervosismo intenso, emoção súbita e violenta, ambien-
te fechado e quente, dor intensa e mudança brusca de posição. A pessoa torna-
se pálida, suando frio; depois há escurecimento da vista, falta de controle mus-
cular, queda e a perda dos sentidos.
As causas do coma são variadas, podendo ser divididas em três grandes
grupos:
482
Emergências e primeiros socorros em geriatria
para a avaliação da função neurológica. Essa avaliação é feita por meio de três
parâmetros: o estímulo necessário para a abertura dos olhos, as melhores res-
postas motora e verbal. O uso da escala implica pontuação (nota) dada ao es-
tado de alerta. A somatória das notas associadas aos parâmetros de avaliação
perfaz um total que varia de 3 a 15 pontos. A nota mínima corresponde à
morte cerebral e a máxima ao estado de pleno alerta, ou seja, quanto maior a
nota obtida, melhor é o prognóstico do paciente. Por exemplo, em casos de
traumatismos cranioencefálicos, os pacientes são classificados em três catego-
rias: traumas graves, escore de 3 a 8; traumas moderados, escore de 9 a 12;
traumas leves, escore de 13 a 15. A escala é importante por classificar a gravi-
dade do estado do paciente em categorias, permitindo acompanhamento
linear objetivo na sua evolução. Por exemplo, se o paciente deu entrada no
hospital com escore 12 e após algum tempo evoluiu para 8, sem dúvida ele
piorou, por isso novas atitudes devem ser tomadas. Além disso, a utilização
sistemática da escala de coma de Glasgow possibilita que todo a equipe do
hospital se comunique de forma padronizada, facilitando o trabalho de todos.
Sem levar em consideração a etiologia, nos casos de inconsciência, os pa-
cientes necessitam ser monitorados em relação ao próprio nível de consciência,
além da pressão sangüínea, do pulso e do ritmo respiratório. Se a pressão esti-
ver baixa, posicionar o paciente com a cabeça abaixo do nível cardíaco (posi-
ção de Trendelenburg). Se os pacientes respondem e a recuperação é rápida, a
avaliação médica pode ser feita posteriormente, mas em bases de emergência.
Por outro lado, quando os pacientes não respondem dentro de alguns minutos,
o mais indicado é pedir auxílio para transporte e assistência de emergência.
Escala de coma
QUADRO 13.2
de Glasgow
Abertura ocular Espontânea 4
Ao comando verbal 3
À dor 2
Ausente 1
Resposta motora Obedece comandos 6
Localização da dor 5
Flexão inespecífica (retirada) 4
Flexão hipertônica 3
Extensão hipertônica 2
Sem resposta 1
Resposta verbal Orientado e conversando 5
Desorientado e conversando 4
Palavras inapropriadas 3
Sons incompreensíveis 2
Sem resposta 1
483
484
Emergências e primeiros socorros em geriatria
485
Fisioterapia geriátrica
486
Emergências e primeiros socorros em geriatria
dos que sejam, não estão associados a quadros clínicos agudos, como obnubi-
lação, vômitos, dispnéia etc., e, portanto, não apresentam risco imediato de vida
ou de dano agudo a órgãos-alvo (por exemplo, hipertensão acelerada e hiper-
tensão perioperatória). Nessa situação, o controle da pressão arterial deve ser
feito em até 24 horas. Inicialmente, a pressão arterial deve ser monitorizada
por trinta minutos. Caso permaneça nos mesmos níveis, deverá ser encami-
nhado para avaliação e tratamento médico para o qual preconiza-se a admi-
nistração, por via oral, de um dos seguintes medicamentos: diurético de alça,
betabloqueador, inibidor da enzima conversora da angiotensina (ECA) ou an-
tagonista dos canais de cálcio.
Nas emergências hipertensivas, a crise é acompanhada de sinais que indicam
lesões de órgãos-alvo em progressão, tais como encefalopatia hipertensiva,
acidente vascular encefálico, edema agudo de pulmão, infarto do miocárdio e
evidências de hipertensão maligna ou de dissecção aguda da aorta. Nesses casos,
há risco iminente de vida ou de lesão orgânica irreversível, por isso os pacientes
devem ser hospitalizados e submetidos a tratamento com vasodilatadores de uso
endovenoso, tais como nitroprussiato de sódio ou hidralazina. Depois de obtida a
redução imediata dos níveis de pressão, deve-se iniciar a terapia anti-hipertensiva
de manutenção e interromper a medicação parenteral. Somente após o
estabelecimento do tratamento adequado para o controle da pressão arterial, o
paciente deverá retornar ao tratamento fisioterápico. No início de cada sessão de
tratamento, o fisioterapeuta deverá reavaliar a pressão arterial do paciente.
Segundo o III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial, a medida da
pressão arterial, pela sua importância, deve ser estimulada e realizada em toda
avaliação de saúde, por todos os profissionais da área. O esfigmomanômetro
de coluna de mercúrio é o aparelho ideal para essas medidas. Os aparelhos do
tipo aneróide, quando usados, devem ser periodicamente testados e devida-
mente calibrados. A medida da pressão arterial deve ser realizada na posição
sentada, de acordo com o procedimento descrito a seguir:
487
Fisioterapia geriátrica
Convulsão
É a perda súbita da consciência acompanhada de contrações musculares
bruscas e involuntárias. Acontece de forma repentina, podendo ser causada
por febre muito alta, epilepsia, traumatismo na cabeça e intoxicações. Na con-
vulsão, a pessoa perde a consciência e cai no solo, agita todo o corpo, batendo
a cabeça, os braços e as pernas, e retorce a face como se estivesse expressando
agressividade, com olhos revirados e salivação abundante. Após a convulsão, a
pessoa entra em sono profundo.
Estar ciente da história do paciente é importante. Histórias clínicas de
epilepsia, lesões anteriores na cabeça, diabetes, dependência de drogas ou re-
488
Emergências e primeiros socorros em geriatria
489
Fisioterapia geriátrica
490
Emergências e primeiros socorros em geriatria
Transporte de acidentados
A movimentação ou o transporte de um acidentado ou doente deve ser fei-
to com cuidado a fim de não complicar as lesões existentes. Antes de providen-
ciar a remoção da vítima, estabilize a respiração e a pulsação, imobilize todos
os pontos suspeitos de fraturas, controle hemorragias e evite ou controle um
possível estado de choque. Ao remover ou transportar a vítima, obedeça às se-
guintes orientações:
491
Fisioterapia geriátrica
Transporte
de apoio
FIGURA 13.6
492
Emergências e primeiros socorros em geriatria
Transporte
em “cadeirinha”
FIGURA 13.7
493
Fisioterapia geriátrica
Transporte
em cadeira
FIGURA 13.8
494
Emergências e primeiros socorros em geriatria
Transporte pelas
extremidades
FIGURA 13.9
495
Fisioterapia geriátrica
de dois socorristas
496
Emergências e primeiros socorros em geriatria
497
Fisioterapia geriátrica
Dados de identificação:
Nome: _____________________________ No de matrícula: ____________
Endereço: _____________________________ Telefone: ______________
Familiar para contato (nome e telefone): ____________________________
Data de nascimento:___/___/___ Idade: _____ Escolaridade: ___________
Estado civil:______________________ Profissão: ___________________
Médico de referência (nome e telefone): ____________________________
Hipótese diagnóstica: ___________________________________________
Uso de:
Fumo: nenhum; parou (data ___/___/___); fumante quantidade/
dia:____
Álcool: nenhum; parou (data ___/___/___); usa tipo e quantidade/
dia:____
Outras drogas: nenhuma; parou (data ___/___/___); usa tipo e quan-
tidade/dia:____
498
Emergências e primeiros socorros em geriatria
Atividade 0 1 2 3 4
QUADRO 13.3 Comer/beber
Banho
Vestir-se/arrumar-se
Uso do vaso sanitário
Mobilidade no leito
Transferência
Deambulação
Subir escadas
Fazer compras
Cozinhar
Manutenção do lar
Equipamentos auxiliares:
Peso: ________________
Estatura: _____________
Dieta especial/suplementos:
Instrução dietética anterior: não; sim (qual?_________________).
Apetite: normal; aumentado; reduzido.
Sintomas: sensação de paladar reduzido; náuseas; vômito; lesões na
boca (tipo:_________________).
Dificuldade de deglutição: nenhuma; sólidos; líquidos.
Dentes: saudáveis; com danos; prótese dentária superior; prótese
dentária inferior.
499
Fisioterapia geriátrica
Padrão eliminatório:
• Hábitos intestinais: freqüência normal; obstipação;
diarréias; intercorrências.
• Hábitos urinários: freqüência normal; em excesso;
retenção; disúria; noctúria; hematúria.
• Incontinência: não; sim; total; durante o dia;
durante a noite; ocasional.
• Equipamentos auxiliares: cateterismo intermitente;
cateterismo de demora. Tempo de uso:_________________
Padrão de sono/repouso:
• Hábitos: ___ horas/dia; repouso/ manhã; repouso à tarde.
• Acorda disposto? sim; não.
• Problemas: nenhum; acorda muito cedo; insônia;
pesadelos.
Padrão cognitivo-perceptual:
• Estado mental: alerta; orientado; confuso; combativo;
não-reativo.
• Fala: normal; arrastada; murmurada;
afasia expressiva; afasia receptiva; relato pobre.
Capacidade para ler: sim; não.
Capacidade para comunicar-se: sim; não.
Capacidade de compreensão: sim; não.
Habilidades interativas: apropriadas; outras.
500
Emergências e primeiros socorros em geriatria
Padrão de sexualidade/reprodução
Padrão de papel/relacionamento
Ocupação: ____________________________________________________
Situação empregatícia: __________________________________________
Sistema de apoio: cônjuge; pais/parentes; vizinhos/amigos; nenhum.
família na mesma residência; família em residência separada; outro.
Padrão de valor/crença
Dados clínicos
Sinais vitais
Sistema metabólico-tegumentar:
Pele: ______________________________
Cor: normal; pálida; cianótica; cinzenta; icterícia; outra.
Temperatura: normal; quente; fria.
501
Fisioterapia geriátrica
Sistema neurossensorial
Sistema musculoesquelético
_________________________ ___________________ / /
____________
Nome do terapeuta responsável Assinatura Data
502
Emergências e primeiros socorros em geriatria
Situação passada
Dados evolutivos
503
Fisioterapia geriátrica
Exames complementares
504