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PONTIFÍCIO ATENEU SANTO ANSELMO

Faculdade de Teologia

INSTITUTO SÃO PAULO DE ESTUDOS SUPERIORES

Teologia da Esperança

José Cleisson Rodrigues Nunes


Jocimar Marinho Arantes

Introdução a teologia

Prof. Oscar Lopez Maldonado

São Paulo 2023


1. Introdução

O livro "Introdução à Teologia do Século XX" aborda uma variedade de


correntes teológicas que surgiram durante o século XX, e uma delas é a Teologia da
Esperança, desenvolvida pelo teólogo alemão Jürgen Moltmann. Essa teologia propõe
uma nova abordagem da esperança cristã, que se baseia na ressurreição de Jesus Cristo e
na promessa do Reino de Deus, e que tem como objetivo transformar a realidade
presente em direção a esse Reino.

A Teologia da Esperança é apresentada como uma resposta às crises e desafios


enfrentados pela Igreja e pelo mundo no século XX, incluindo a Segunda Guerra
Mundial e o surgimento de regimes totalitários. Segundo Moltmann, a esperança cristã
deve ser uma resposta à injustiça e ao sofrimento, e não uma fuga da realidade. Essa
abordagem da esperança cristã é essencialmente escatológica, ou seja, baseia-se na
crença de que a história humana tem um fim e que Deus está trabalhando para realizá-
lo.

2. Redescoberta da Escatologia

Jürgen Moltmann é o teólogo que articula um projeto de teologia escatológica


desenvolvida como doutrina da esperança e da práxis da esperança. Em 1964 Jürgen
Moltmann publica sua Teologia da Esperança contendo como subtítulo Pesquisa Sobre
os Fundamentos e Sobre as Implicações de uma Escatologia Cristã. Esta obra vem,
segundo o teólogo holandês J. M. Jong, abalar os campos teológicos bartiano e
bultimaniano. “A obra enunciava o princípio teológico da primazia da esperança e
traçava as linhas de uma cristologia escatológica e de uma eclesiologia messiânica”
(GIBELLINI, 1998, p.282).

A redescoberta da escatologia começara por volta do século XIX, início do


século XX, pela obra de Johannes Weiss, e depois de Albert Schweitzer, trata
basicamente sobre a vida de Jesus, um Jesus ético da teologia liberal, tendo como
característica uma mensagem de amor. Por outro lado, foi substituído por um Jesus
escatológico e anunciava um reino futuro e supramundano. A respeito da história de
Jesus, para Schweitzer as únicas escatologias históricas aceitas em termo de críticas as
de Jesus de Marcos e Mateus.
Pela pesquisa de Schweitzer, ele descreve Jesus como um anônimo
desconhecido que ele vem ao nosso encontro, do mesmo modo como então, a beira do
lago, se aproximou daqueles homens que não sabiam quem era ele.

2.1. Primazia da Esperança

O teólogo alemão diz que “Na vida cristã, a prioridade pertence à fé, mas o
primado, à esperança”. Ou seja, a esperança tem seu princípio na fé e dá sentido a ela. A
fé em Cristo sem a esperança produz um conhecimento sem frutos, enquanto a
esperança sem a fé é utopia. “A esperança (…) é o ‘companheiro inseparável’ da fé e dá
à fé o horizonte oniabrangente do futuro de Cristo” (GIBELLINI, 1998, p.282).

A fé é vista como o centro da esperança e sem a esperança a fé enfraquece. E a


fé em cristo sem esperança seria uma fé sem ânimo e sem valor. A esperança por sua
vez, se perpetua na fé, pois não há esperança sem fé e seria uma utopia sem ela.

2.2. Cristologia Escatológica

A cristologia escatológica de Jürgen Moltmann enfoca a conexão entre a morte e


ressurreição de Jesus Cristo e a esperança de salvação e renovação do mundo. De
acordo com Moltmann, a ressurreição de Jesus Cristo é a manifestação antecipada da
renovação final de toda a criação no fim dos tempos.

Moltmann argumenta que a ressurreição de Jesus Cristo não foi apenas um


evento histórico, mas também uma realidade presente e futura. A ressurreição de Jesus
Cristo é a base da esperança cristã de uma nova criação na qual Deus transformará todas
as coisas, inclusive a humanidade, à sua imagem.

A cristologia de Jürgen Moltmann está voltada para um futuro em Cristo


diferente da cristologia tradicional que está voltada para o passado. Esse futuro de
Cristo traz algo radicalmente novo sem estar separado da realidade presente, isto é,
como um futuro “virtual”, ele exerce influência sobre o presente despertando
esperanças.
Para melhor traçar uma explicação melhor na teologia da esperança, Moltman,
faz uma passagem pelo antigo testamento por um caminho histórico chamado
veterotestamentária, baseadas nas promessas e nos profetas da esperança escatólogicas.

2.3. Eclesiologia Messiânica

Moltmann tenta responder qual a tarefa da comunidade cristã, sendo que este
está marginalizado, sendo colocado de lado de sua função de compromisso social, sendo
assim, é preciso assumir uma postura de abertura, não se pode de maneira alguma
permanecer fechada em si mesma. “A comunidade não existe para si, não existe em
função de uma ‘eclesialização’ do mundo [...] ela vive de uma promessa que que
descortina num horizonte de esperança para a humanidade.” (GIBELLINI, 1998, p.285).

3. Filosofia da Esperança e Teologia da Esperança

Ao abordar a questão da teologia da esperança e a filosofia da esperança, é


possível perceber que ambas têm em comum a preocupação com a esperança como
elemento fundamental para a vida humana. No entanto, enquanto a filosofia da
esperança se concentra na reflexão filosófica sobre a condição humana em meio à
adversidade, a teologia da esperança se concentra na reflexão teológica sobre a
esperança cristã baseada na ressurreição de Jesus.

4. Teologia da esperança e Teologia da Cruz

Ao observar teologia da esperança, que enfatiza a ressurreição e a vitória final


de Deus sobre o mal, a teologia da cruz destaca a importância do sofrimento e da morte
de Jesus como uma expressão do amor divino que se manifesta na fraqueza e na
vulnerabilidade. Para Moltmann, a teologia da cruz é fundamental para compreender a
natureza do amor de Deus e a necessidade de que a fé cristã esteja enraizada na
realidade da dor e do sofrimento humanos.

Sendo assim, numa relação entre a ressurreição e a cruz vemos que a


ressurreição caracteriza o crucificado como o Cristo e a sua paixão como evento de
salvação. Ela não esvazia a cruz, mas a preenche de escatologia e significado. Não é
possível dissociar a cruz da ressurreição uma vez que Cristo morreu por nós para nos
tornar mortos e participantes de sua nova vida de ressurreição e do seu futuro de vida
eterna.
5. Cristianismo e Messianismo

Moltmann, ver o cristianismo com uma religião messiânica que tem como
fundamento a esperança na vinda do Reino de Deus. Essa esperança é vivida pelos
cristãos como uma expectativa ativa, que os impulsiona a trabalhar pela transformação
do mundo e pela construção de uma sociedade mais justa e solidária.

Sendo assim, para o teólogo, o cristianismo e o messianismo estão intimamente


relacionados, sendo que a figura do Messias é central para a esperança cristã na vinda
do Reino de Deus. Essa esperança impulsiona os cristãos a trabalhar pela transformação
do mundo e pela construção de uma sociedade mais justa e solidária.

6. Considerações Finais

Para Moltmann, a esperança cristã não se resume a uma espera passiva pela
salvação, mas deve ser ativa e engajada. A esperança é vista como uma força
transformadora que nos permite enfrentar as dificuldades da vida e trabalhar pela justiça
e pelo bem-estar da humanidade. Isso implica em uma mudança de perspectiva sobre o
papel da Igreja no mundo, que deve ser ativa na transformação da sociedade, ao invés
de se isolar dela.

A Teologia da Esperança apresenta uma visão positiva da história, pois acredita


que o Reino de Deus está sendo realizado na história, apesar das dificuldades e desafios
enfrentados. A ressurreição de Jesus Cristo é vista como um evento que marca o início
dessa realização do Reino, e que dá esperança de que todas as coisas serão restauradas.

No entanto, a Teologia da Esperança também reconhece a realidade do


sofrimento humano e das injustiças sociais. Moltmann enfatiza que a esperança cristã
não é uma fuga da realidade, mas sim uma força que nos capacita a enfrentar a realidade
de frente e trabalhar pela transformação. Nesse sentido, a Teologia da Esperança tem
sido uma inspiração para muitos movimentos sociais e políticos que buscam a
transformação social.

Em resumo, a Teologia da Esperança apresenta uma abordagem cristã da


esperança que se baseia na ressurreição de Jesus Cristo e na promessa do Reino de
Deus. Para Jürgen Moltmann, a esperança é uma força transformadora que deve nos
engajar na busca pela justiça e pelo bem-estar da humanidade, em resposta às crises e
desafios do mundo contemporâneo.
Bibliografia

GIBELLINI, R., A Teologia do Século XX, trad. João Peixoto Neto, São Paulo:
Edições Loyola, 1998

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