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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS

PRIMEIRO SEMESTRE DE DIREITO MATUTINO


FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DO DIREITO

LUIZ ALEX LEMES MARTINS

TEMA: O TRIBUNAL DE SANTA INQUISIÇÃO E O JULGAMENTO DE


CONDENAÇÃO DE JOANA D´ARC

FERNANDÓPOLIS
2023
O TRIBUNAL DE SANTA INQUISIÇÃO

Foi durante os séculos XII e XIII que o poder eclesiástico atingiu o seu
apogeu; os reis recebiam o seu poder da Igreja, que os sagrava e podia
excomungá-los. Numa questão jurídica sob influência da Igreja, sistema de direito
penal foi alterado, para que os crimes de heresia e bruxaria pudessem ser
eficazmente combatidos. Novas regras aliadas à reintrodução da tortura como meio
de extrair a confissão, dificilmente o acusado escapava sem condenação. A
metade delas concentrou-se em terras germânicas pertencentes ao Sacro Império
Romano, a Itália, a França, a Suíça, a Polônia, Portugal e Espanha.
Nesse período é que teve início a Inquisição, criada para combater toda e
qualquer forma de contestação aos dogmas da Igreja Católica. Recebeu essa
denominação devido ao processo per inquisitionem utilizado pelas cruzadas
religiosas no combate às heresias. A heresia englobava qualquer atividade ou
manifestação contrária ao que havia sido definido pela Igreja em matéria de fé,
como os os mouros, os judeus, os cátaros e albigenses no sul da França, bem
como os supostos praticantes de bruxaria. Na sua origem a Inquisição Medieval e
consistia na identificação, julgamento e condenação de indivíduos suspeitos de
heresias. tarefa, desempenhada por membros do clero, no início da Idade Moderna
já se encontrava dividida entre Tribunais Eclesiásticos e Tribunais Seculares.
Os dois tipos de tribunais adotaram o mesmo procedimento: pessoas com
base em meros boatos, interrogavam-nas, fazendo o possível para conseguir-lhes
a confissão que, ao final, levava à condenação. A condenação consistia na
execução do condenado pelo fogo, banimento, trabalho nas galeras dos navios,
prisão e, invariavelmente, no confisco dos bens.
Com sua política de pacificação, os reis católicos fizeram muitas concessões
aos nobres, tanto de terras quanto de poder para dirigir o país. Em 1492, a nobreza
expulsou os mouros, decretou a expulsão dos judeus da Espanha, caso não se
convertessem ao catolicismo.

ASPECTOS LEGAIS
O direito canônico era o direito da comunidade religiosa dos cristãos,
desempenhou um papel importante durante toda a Idade Média. Foi um direito
redigido, comentado e analisado desde a Alta Idade Média, tendo sido o único
direito escrito durante a maior parte do período. Elaborado inicialmente para
aplicar-se aos membros e as autoridades do clero católico.
O direito canônico passa a ter influência sobre o direito laico, porque era um
direito escrito e formalizado, por constituir-se objeto de vários estudos doutrinais e
ter sido sistematizado antes que o laico. As relações entre Igreja e Estado o poder
da Igreja acabou refletindo-se sobremaneira nos princípios e na lógica de
ordenação do direito laico.
Igreja e Estado uniram-se no combate à proliferação dos seguidores de Satã,
que ameaçavam não somente o poder da Igreja, como o poder do soberano.
O processo penal acusatório.
Esse sistema apresentava sérias deficiências, tomava os crimes ocultos
difíceis de serem julgados, consistia num risco para a pessoa do acusador, que
responderia um processo em caso de inocência do acusado,o apelo a meios
sobrenaturais de prova poderia ensejar a manipulação do processo em benefício
do acusado, uma maior resistência à dor e a facilidade para a cura de ferimentos,
bem como técnicas respiratórias poderiam facilitar a passagem pelo ordálio,
homens de renomada reputação ou muitas posses poderiam reunir muitas
testemunhas e ser inocentados através da compurgação.
O processo por inquérito.
Veio substituir o processo acusatório no século XIII, alterou profundamente
todo o sistema penal, atribuindo ao juízo humano um papel essencial, condicionado
pelas regras racionais do direito. Por processo de inquérito, o desencadeamento da
ação penal ainda poderia ser feito pela acusação privada, mas o acusador não
tinha nenhuma responsabilidade em caso de inocência do réu. Também poderia
ser feita por habitantes de uma comunidade inteira.
Os oficiais do tribunal poderiam intimar um suspeito de crime com base em
informações por eles mesmos obtidas. Toda uma tradição de direito romano-
canônico prescrevia exatamente a natureza e a eficácia da prova.
As provas dividiam-se em: diretas, indiretas, manifestas, imperfeitas ou, ainda, as
provas plenas, indícios próximos e os indícios longínquos.
A tortura
O argumento para o uso da tortura era o de que, quando uma pessoa fosse
submetida ao sofrimento físico durante o interrogatório, inevitavelmente,
confessaria a verdade. Entretanto, o uso indiscriminado da tortura, seu grau
excessivo e as perguntas. capciosas formuladas pelos interrogadores redundavam
no que foi definido como “processo infalível”, em que o índice de condenação
chegava até “noventa e cinco por cento”.
A condenação
Após a confissão, vinha a condenação e, em seguida, a execução da pena.
Mas o condenado era obrigado a confessar sua culpa em uma igreja, pedindo
perdão a Deus e aos Santos por ter-se entregue ao Diabo. Nesse evento,
denominado auto-de-fé,a multidão comparecia para ouvir o relato de suas
maldades e seu arrependimento. Em seguida, era conduzido ao cadafalso,
normalmente situado em praça pública, onde seria queimado pelo carrasco.
Durante a execução, malefícios por ele praticados.
Pelo fato de ainda não existir o Princípio da, Pessoalidade da Pena e devido à
crença de que a propensão para prática de certos crimes era hereditária,
dificilmente os familiares de um condenado escapavam dos processos.

JULGAMENTO DE CONDENAÇÃO DE JOANA D´ARC

Sua Origem:
Joana d’Arc nasceu em Domrémy (atual Dorémy-la-Pucelle, na França)
em 1412. Pertencia a uma família de camponeses. Seus pais se chamavam Jacques
d’Arc e Isabelle Romée. A criação dela foi muito católica, como era tradicional na
França do século XV. Enquanto camponesa, começou cedo a trabalhar no cultivo
das terras de seus pais.
No período em que a França travava uma guerra contra os ingleses pelo
controle de terras e pelo trono francês. Essa era a Guerra dos Cem Anos, iniciada
em 1337 e finalizada em 1453.
Foi nesse contexto que Joana d’Arc gravou seu nome na história. Desde os
13 anos de idade, ela alegava ouvir vozes e ter visões, as quais diziam que ela
deveria ingressar na luta contra os ingleses e ajudar na coroação do rei francês,
Carlos VII.
Muitos historiadores atualmente procuram desvendar o mistério das visões e
vozes que Joana d’Arc afirmava ver e ouvir e duas teorias circulantes apontam
para esquizofrenia e epilepsia idiopática parcial.
Joana D’arc foi muito importante em duas vitórias expressivas da França,
Orleans e Reims que era a cidade onde os reis eram coroados, em 1429 o rei Carlos
VII recebe a coroa. Os ingleses então queriam capturá-la para que fosse julgada e
sua hora e mérito tivessem ruína, e assim a coroação de Carlos VII seria invalida já
que sua participação na retomada do trono foi fundamental.
Joana D’Arc, foi capturada em batalha por franceses aliados à Inglaterra em
1430 e, entre janeiro e maio de 1431, julgada e condenada por heresia por suas
famosas visões religiosas. Conduziram o julgamento o bispo francês Pierre Cauchon
e o vice-inquisidor da França, Jean le Maistre, entre outras autoridades, um conselho
de juristas e teólogos da Universidade de Paris.
A natureza processual e o caso de Joana D’Arc
A compreensão das formas processuais e de julgamento da época escapam
das análises dogmáticas, restritas à comparação entre institutos e mecanismos
específicos. É necessário ampliar o olhar para ao contexto sociopolítico vigente, bem
como ao jogo travado entre os atores políticos envolvidos.
As “vozes” ouvidas por Joana, sobre as quais depôs e pelas quais foi
condenada, eram políticas nesse sentido: diziam que era a vontade de Deus que os
ingleses fossem expulsos da França e a ordenavam a se juntar à batalha ao lado do
Rei Charles, de onde a vontade de partidários dos ingleses de provar que Joana
estaria enganada e não passaria de uma herege. O julgamento também envolve
questões sociais, que na época se fazia o controle da sexualidade feminina, pela
acusação de uso das roupas masculinas.
A escolha do uso do processo inquisitorial por heresia, por exemplo,
oficialmente coordenado pela Igreja Católica, mas não pelos inimigos de Joana,
ajudou na construção de determinada narrativa sobre a figura da acusada que
servia aos propósitos de alguns dos principais atores políticos da ocasião.
A análise das formas de julgamento utilizadas no caso de Joana D’Arc foi por
inquérito, baseado na colheita do depoimento de testemunhas e no interrogatório do
suspeito, Como técnicas de produção da verdade adotadas pelo instrumento
processual do inquérito, seu estudo contribui a uma melhor compreensão de como o
poder se manifesta e se efetiva nos julgamentos pela via dos instrumentos e
técnicas processuais.
Verifica-se, portanto, que a “fama” ocupa papel central na justificação do
processo inquisitorial, sendo requisito para sua adoção. O que dificulta saber como
se configurou a “fama” que teria embasado a acusação formal de Joana, pode-se
destacar dois aspectos dos procedimentos adotado nessas investigações que
podem servir para ilustrar o uso político das formas processuais.
No processo de Joana D’Arc, não há registro de participação de advogados
em sua defesa, nem de questionamento da acusada sobre este ponto. A única
objeção encontrada é a de um certo Jean Lohier, jurista que estava de passagem
por Rouen à época do julgamento e criticou que os primeiros interrogatórios
estavam sendo feitos sem o acompanhamento de advogados. Ainda assim,
formula-se a mesma hipótese de uma atuação estratégica da parte dos julgadores
de Joana, era por persegui-la pelo crime de heresia.
As hipóteses de utilização da tortura, contudo, não eram bem definidas.
Apesar do processo inquisitorial admitir a condenação baseada exclusivamente na
confissão, mesmo se obtida em um interrogatório sobre acusações desconhecidas
ou por meio de tortura, o padrão probatório adotado no julgamento de Joana
mostra-se diferente da prática inquisitorial da época, particularmente por não haver,
segundo os registros de testemunhas.
Joana permaneceu firme em suas opiniões, mesmo sendo-lhe dito que, se
não confessasse a verdade das acusações, seria posta sob tortura. Foram-lhe
mostrados os instrumentos do suplício. Mantidas as duras respostas da ré, os
juízes decidiram não aplicar a tortura até obterem maiores conselhos, justificando-
se na sua pouca utilidade no caso. Podemos dizer que há uma tortura psicológica
em questão.

Conclusão

Joana D´arc foi acusada e condenada à morte na fogueira por ser uma
mulher, que na flor da idade comandou um exército com mais de cinco mil homens,
trajada com armaduras e usando cabelos curtos, teve sua fé colocada à prova,
pode-se considerar que suas vozes naquela época era de origem desconhecida,
mesmo tendo uma boa causa, passou a ser vista então como demoníaca, as vozes
foram interpretadas como prática de bruxaria.
Assim sendo, o estado e igreja passam a persegui-la pois ela fere as doutrinas da
igreja católica e é uma perigo oferecido ao poder da Inglaterra.
Podemos dizer que o período de inquisição foi de grande importância na evolução
do Direito processual e penal. Olhando como agimos no passado, certos da
evolução moral e dos direitos, com a regulamentação dos poderes, a garantia dos
direitos humanos básicos fundamentais que conhecemos hoje, e na produção de
provas adequadas para evitar ao máximo condenações arbitrarias.

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