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Um erro grave é imaginar que a Inquisição Católica foi a única inquisição religiosa que

existiu. Nesse período histórico, os governos de todas as nações eram extremamente


violentos, se comparados aos de hoje. A lei e a ordem eram mantidas com mão de ferro e as
penas eram sanguinárias em todas as culturas, tanto cristãs quanto islâmicas, hindus e pagãs
em geral. Parece que uma página muito especial é descartada deste capítulo da História, por
muita gente, quando discute-se a Inquisição.

1) Que instituição religiosa condenou mais de 300 pessoas pela prática de bruxaria,
decretando tortura e pena de morte na forca às famosas "bruxas de Salem"?

2) Que instituição religiosa levou à morte mais de 30.000 camponeses anabatistas na


Alemanha?

3) Sob que ordens o médico espanhol Miguel Servet Grizar, o descobridor da circulação
sanguínea, foi condenado a morrer na fogueira?

ó4) Quem mandou para a fogueira mais de mil mulheres escocesas, num período de seis anos
(1555 - 1561)?

Sem dúvida muitos responderiam rapidamente, sem pensar e sem medo de errar, que a
responsável por todas as barbaridades citadas acima foi a Igreja Católica. Porém, todos esses
crimes foram cometidos pela Inquisição Protestante, que quase nunca é mencionada pelos
maiores críticos da Igreja Católica, simplesmente porque esses críticos, na maioria das vezes,
são protestantes. Para piorar a situação, certos "pesquisadores" de conduta duvidosa só
procuram conhecer os fatos que parecem confirmar aquilo que melhor convém.

A Inquisição da Igreja Católica foi estabelecida na França, pelo Papa Gregório IX em 1231,
para combater a heresia cátara, uma seita cuja doutrina contrariava todos os princípios que os
Evangelhos e a Igreja defenderam desde o início do cristianismo. Foi uma das maiores
ameaças à fé cristã de todos os tempos, mas não apenas isso. Os cátaros também ameaçavam
a própria ordem social, pois eram contra a procriação e o matrimônio. Consideravam malditas
as grávidas, defendiam o suicídio por inanição, pregavam a renúncia radical aos prazeres,
negando a Igreja e o culto religioso. Viam o corpo como intrinsecamente mau (uma
manifestação do mal), e ensinavam a salvação através de um ciclo de reencarnações.

O catarismo expandiu-se muito, dominaram o Languedoc, a Provença, influenciaram o


nordeste da Espanha, a Lombardia, a Itália, a atual Yugoslávia e os Bálcãs. Passaram a
ameaçar a estrutura da sociedade ocidental como um todo, e o problema cresceu a níveis
realmente alarmantes, já que proibiam o juramento de lealdade, que era o fundamento das
relações. Combatidos pelo Estado, os cátaros ocultaram-se, mas continuaram difundindo suas
ideias e práticas.

O catarismo tornou-se uma ameaça grande demais para ser tolerada. A população assustada
clamava por uma providência firme, o Estado passou a perseguir os cátaros com grande
violência. Com o tempo, a situação ficou insustentável, havia uma histeria e pessoas
inocentes eram perseguidas e executadas sob falsas acusações. Assim, por incrível que possa
parecer aos nossos ouvidos, tão habituados a ouvir grandes calúnias com este pretexto, a
Inquisição surgiu como uma providência da Igreja para combater a onda de violência e buscar
a justiça no combate à heresia.

Por incrível que pareça, muitos desavisados ainda acreditam nas fábulas claramente
tendenciosas (para dizer o mínimo) escritas por Voltaire e outros. Chegamos a ouvir e ler que
a Igreja teria mandado matar 4 milhões de mulheres só na Inglaterra, quando a população de
Londres do século XV era de aproximadamente seis milhões de pessoas... Bem, se ainda
existem ingleses no mundo, hoje, aí está a prova cabal da ridícula calúnia.

O Papa João Paulo II afirmou certa vez: “Na opinião do público, a imagem da Inquisição
representa praticamente o símbolo do escândalo”. E perguntou “Até que ponto essa imagem é
fiel à realidade?”. Vamos, então, aos fatos: evidentemente, a elucidação da questão depende
diretamente dos dados e números históricos os quais presentamo-los abaixo.

Tomamos como referência as atas do Grande Simpósio Internacional sobre a


Inquisição (L'inquisizione. Atti del Simposio internazionale (Città del Vaticano, 29-31
ottobre 1998 / 9788821007613 / cura di Agostino Borromeo, editora da Biblioteca Apostolica
Vaticana, 2003) – do qual participaram 30 reconhecidos historiadores de diversas confissões
religiosas –, com o objetivo de conferir um tratamento histórico e definitivo ao controverso
tema Inquisição: uma proposta feita e motivada (atenção) pela própria "cruel" Igreja Católica.

As atas documentais do Simpósio já foram e continuam sendo utilizadas em diversas obras


acadêmicas; tais documentos são o resultado de uma profundíssima pesquisa sobre os dados
realmente históricos dos processos inquisitoriais: as seguintes afirmações foram proferidas
pelo citado Agostinho Borromeo9:

Sobre a “terrível” Inquisição espanhola: “A Inquisição na Espanha celebrou, entre 1540 e


1700, 44.674 juízos. Os acusados condenados à morte foram apenas 1,8% (804), destes,
1,7% (13) foram condenados em 'ontumácia', ou seja, pessoas de paradeiro desconhecido ou
falecidos os quais, em seu lugar, simbolicamente se 'executavam' bonecos”. É fundamental
entender que a Inquisição espanhola foi uma instituição principalmente civil, não controlada
pela Igreja, que a própria Igreja censurou e tomou medidas contra ela. Também é fundamental
saber que quase tudo o que divulgou-se a respeito da Inquisição espanhola é fruto das
calúnias difundidas pelo ex-padre Juan Antonio Llorente, um apóstata que produziu
documentos sobre a Inquisição na Espanha com o interesse de ajudar a França de Napoleão a
dominar aquele país. Llorente queimou todos os documentos que usou, para que não se
descobrissem falsificações.
• Sobre a famosa “caça às bruxas”: “Dos 125.000 processos ocorridos em toda a sua
história, os tribunais da Inquisição espanhola condenaram à morte 59 pessoas” (a propaganda
anticatólica diz que foram milhões).Constatou-se que os tribunais religiosos eram
indubitavelmente mais brandos que os tribunais civis, que tiveram poucas participações
nestes casos, o que não aconteceu com os tribunais civis que, estes sim, condenaram à morte
milhares de pessoas.

• Sentenças de um famoso inquisidor: “Em 930 sentenças que o Inquisidor Bernardo Guy
pronunciou, em 15 anos, houve 139 absolvições, 132 penitências canônicas, 152 obrigações
de peregrinações, 307 prisões e 42 'entregas ao braço secular'”, isto é, ao Estado (AQUINO,
2009, p.23).
O Simpósio concluiu, ao final, que as penas de morte e os processos em que se usou de
tortura foram raros e pouco expressivos, ao contrário do imaginava-se e do que foi
amplamente propagado, por séculos a fio. Tais dados históricos definitivos representam a
verdadeira demolição das falsas e fantasiosas ideias sobre a Inquisição. 

• Sobre a tortura, que era imposta pelo Estado, e não pela Igreja: A Inquisição foi a
primeira instituição jurídica no mundo a declarar que as confissões sob tortura não seriam
válidas para a condenação de alguém. A Inquisição exigiu que a tortura fosse limitada, e que
deveria ser usada apenas para a obtenção de informações, e não como instrumento de
punição. Que não poderia violar a integridade física da pessoa, que deveria ser limitada a no
máximo meia hora, que deveria ser assistida por um médico e que jamais poderia se repetir.

•O recurso da tortura, que era usado sempre nos tribunais laicos, não era constante na
Inquisição, que recorreu muito raramente a esse procedimento: ao todo, menos de 10%
dos processos usaram tal método. A Inquisição impôs uma regra que proibia aos
eclesiásticos derramar qualquer gota de sangue dos réus, e confissões obtidas sob tortura
perderam a validade. No fim, o tribunal religioso condenou pouco.

O fato é que a Inquisição também tinha por finalidade controlar os excessos de violência
cometidos pelo Estado, e este é um fato tão certo que muitos presos, julgados pelos
tribunais do Estado, passavam a blasfemar contra Deus e contra a Igreja, na esperança
de serem transferidos para os tribunais da Inquisição.

• Fato: as ações repressoras da Inquisição foram bem menos implacáveis que as civis, e
indubitavelmente os métodos aplicados pela Inquisição eram mais humanos que os da
autoridade civil: um notário transcrevia o processo, os acusados não ficavam presos durante o
inquérito, podiam recusar um juiz e apelar para Roma contra alguma decisão do tribunal.
Porque é que então mantém-se uma imagem tão terrível do Santo Ofício? Por vários
motivos, mas foi sobretudo o fanatismo do inquisidor espanhol Tomás de Torquemada
(século XV), que ficou gravado na memória popular. Daí veio o protestantismo, no século
XVI, o antipapismo anglicano, o iluminismo e o anticlericalismo dos séculos XIX e XX...
Um conjunto de eventos e adversários da Igreja que pintaram um quadro pavoroso da
Inquisição, que, mesmo sendo falso, ainda repousa na mentalidade do nosso tempo.

MODELO PROCESSUAL PENAL INQUISITÓRIO

O processo de acusação
Neste processo, era dada ao delator a oportunidade de acusar. Este se propunha a comprovar
a heresia do acusado caso não conseguisse, pagaria sua pena. O inquisidor então, na presença
de duas pessoas idôneas, lavrava a acusação e dava início aos atos processuais. A acusação
era realizada de maneira clara, com a descrição dos fatos de tal forma que o acusado soubesse
do que era acusado e pudesse se defender.

O processo por denúncia


Ao delator era requerido o sigilo de tudo que fosse declarado e o escrivão transcrevia tudo
que fosse dito.

O processo por investigação


Acontecia quando tudo que se tinha eram boatos. Nesse processo poderia, então, ser
procedida investigação geral, quando existissem suspeitas de heresias sem, entretanto, haver
hereges específicos, ou investigação especial, quando o inquisidor tivesse conhecimento de
quem eram os hereges, razão pela qual poderia prendê-los pela simples suposição de prática
delitiva.

Os atos processuais
Ao Inquisidor era dado o direito de prender o acusado quando ficasse óbvio que o mesmo
havia se contradito, passando a interroga-lo na prisão. Nos processos era requisitada a
presença de cinco figuras: o juiz, a testemunha ou o acusado, e duas testemunhas. Ao
Inquisidor (ou o acusador) caberia fazer as perguntas que mandar que estas fossem
transcritas. Antes de ser procedido um interrogatório, as testemunhas e o acusado fariam
juramento de dizer a verdade sob pena de nulidade do ato, estando o Inquisidor livre desse
procedimento.

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