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Trecho retirado do seguinte artigo: MORAES, Aline de Prado (org.).

SABEH, Luiz An-


tônio. RAMOS, Wanessa Mareotti. In: Inquisição no Brasil: Casos das Heresias da Colônia.
“Durante a Idade Média, a Igreja Católica começa a ser questionada e cresce novas manifes-
tações religiosas que contrapõem os dogmas católicos. Havia no clero demasiada desordem, desar-
monizando a integridade doutrinal dos preceitos cristãos. Na esteira de acusações tão categóricas,
muitos historiadores fizeram, durante muito tempo, dos abusos de todos os gêneros que então a
Igreja a causa principal da Reforma.
As novas doutrinas que estavam surgindo foram denominadas de heresias, sendo severamen-
te combatidas e tendo seus seguidores capturados. Protestando contra essa ordem religiosa, Marti-
nho Lutero e João Calvino começam a divulgar suas doutrinas pela Alemanha, Suécia, Dinamarca,
Noruega e França, reivindicando uma reforma no seio do catolicismo. A distância entre o protestan-
tismo e o catolicismo talvez tenha surgido da mecanização que se transformou as orações católicas,
perdendo seu sentido mais profundo da teologia.
A maioria dos casos de manifestações protestante aconteceu quando os culpados estavam
vindo ao Brasil e foram capturados por protestantes nas naus.
[…] O banimento de hereges, feiticeiros, bígamos, entre outros para o Brasil Colônia ocor-
reu para que, num conceito teológico, pudessem purgar seus pecados na nova e desconhecida terra.
Os inquisidores portugueses não se esqueceram das “almas impuras” degredadas para o Brasil (fos-
se pelos crimes seculares ou eclesiásticos); muito menos dos povos que aqui viviam e que foram
educados segundo os dogmas da Igreja Católica. Com toda a imensidão e diversidade popular, os
crimes da colônia ganhavam características peculiares.
[…] A primeira visitação no Brasil foi feita entre 1591 e 1595, percorrendo Bahia, Pernam-
buco, Itamaracá e Paraíba. Além da preocupação constante com os cristãos-novos, ela também tinha
preocupações relativas ao protestantismo e aos comportamentos morais e sexuais não pertinentes
aos dogmas católicos. A primeira visitação teve 187 confidentes (152 na graça e 23 fora), e a segun-
da, 65 (63 na graça, 2 fora). Fazendo um balanço das duas visitações, temos 204 homens e 59 mu -
lheres que confessaram. A Inquisição era para as mulheres uma forma de se livrarem da autoridade
dos maridos, uma vez que a instituição valorizava o depoimento feminino.
[…] Os confidentes eram, na maioria, ligados às atividades agrícolas e comerciais. No en-
tanto, a Inquisição abrangia todas as esferas sociais, independente da etnia, faixa etária e nacionali-
dade. Enfim, todos eram alvo das ações inquisitoriais.
[…] As principais culpas, as quais levavam uma pessoa a se confessar eram: sodomia, práti-
cas judaicas, muçulmanas e protestantes, bigamia, adultério, feitiçaria, pacto com o demônio e leitu-
ra de livros proibidos. Na colônia, os inquisidores se deparavam com heresias novas como: práticas
gentílicas, seita da Santidade e fornecimento de armas aos índios. Na primeira visitação são poucos
os casos de feitiçaria e pacto demoníaco, não sendo encontrado nenhum sobre prática muçulmana.”

Angelo Adriano Faria de Assis (2013). As duas mortas do Brasil: Inquisição e heresia judaizante no
Brasil – séculos XVI-XVIII. XIV Jornadas Interescuelas/Departamentos de Historia. Departamento
de Historia de la Facultad de Filosofía y Letras. Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza.

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