Disciplina: CAP05-08911 História da África e Currículos na
Educação Básica Docente: José Roberto da Silva Rodrigues Aluna: Gabrielle Reginatto do Carmo Matrícula: 201710292511 Semestre: 2021.1
Relatório I: SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: uma introdução
às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autentica, 1999. Os trechos a serem relatados a seguir fazem parte do livro “Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo”, de autoria de Tomaz Tadeu da Silva. Atuante na área de educação, o autor é professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e dá ênfase na área de Teoria do Currículo. Durante o segmento inicial intitulado “Teorias do currículo: o que é isto?”, Silva mostra como um currículo é forjado a partir do processo de escolhas condicionadas pela formação histórica de seu autor. Não é um processo natural nem universal, pois é artificialmente produzido pelo contexto de sua produção e por quem o produz, sendo um conjunto de informações que são selecionadas por meio da importância dada pelo autor. Tendo isso em vista, o autor partilha da ideia de que o currículo forma quem somos e como agimos tornando-se, portanto, uma questão de identidade e poder. Junto a essa discussão, há também aquela referente à descrição da teoria e do discurso no viés pós- estruturalista. Para Silva, a teoria não tem a função somente de “dar vida” ao que acontece na realidade, ela é capaz de forjá-la. Ou seja, ela é responsável por formar uma realidade. O mesmo ocorre com o discurso, pois ele também é capaz de dar sentido ao que está sendo descrito. Partindo para a segunda parte, “O currículo como narrativa étnica e racial” propõe uma discussão sobre como as pautas de raça e etnia aparecem nos discursos curriculares. Se o currículo é entendido como um instrumento capaz de colaborar com relações de poder desiguais e preconceituosas que buscam uma hegemonia, ele deve ser considerado um texto racial. Os assuntos pertinentes a raça e etnia são pautas obrigatórias na estruturação curricular, e não devem ser somente tratados como transversais. Portanto, o autor adota a defesa da instituição de um currículo crítico. O currículo crítico seria aquele que parte da problematização. Silva defende o entendimento da desigualdade de ensino a partir de sua verdadeira origem e não como um problema individual, assim como o racismo. Para ele, não basta celebrar as diferenças, é preciso combater a desigualdade. A perspectiva crítica entra por conta da necessidade de politizar o ensino, pois, como anteriormente mencionado, o currículo não é neutro e desconexo das relações de poder do contexto o qual é produzido. Na terceira e última parte chamada “Uma teoria pós-colonialista do currículo”, o autor parte da importância da teoria pós-colonial para a construção do currículo. Para ele, a cosmovisão Ocidental imposta com os séculos de colonização deixou marcas profundas na estrutura das nações que participaram da dinâmica desigual de metrópole e colônia, e isso reflete na formação dos currículos de ensino. Tendo como ponto de partida a dimensão pedagógica do projeto colonial, o Outro foi subjulgado e tido como selvagem, frente ao civilizado e progressista. Para quebrar isso, o currículo precisa ser multicultural de maneira que não basta somente a inserção dos grupos de minoria política, é preciso dá-los o espaço necessário para o entendimento de suas histórias e possibilidades. Não basta celebrá-los, é preciso ouvi-los não como se fossem vozes transversais, e sim como as principais. Relatório II: LIMA, Mônica. Fazendo soar os tambores: o Ensino de História da África e dos Africanos no Brasil. In: BRANDÃO, André Augusto P. (Org.). Programação de educação sobre o negro na sociedade brasileira. Rio de Janeiro: EdUFF, 2004. O relatório a seguir conta com a autoria da professora de História da África do PPGHIS e PPGEH da UFRJ, Mônica Lima. Doutora em História Social, desenvolve pesquisas sobre o ensino de história a África e cultura afro-brasileira e relações entre o Rio de Janeiro e Cabinda no século XIX. Na primeira parte intitulada “História dos africanos no Brasil e identidade brasileira”, a professora escreve a partir da perspectiva da Lei 10.639, responsável por tornar obrigatório o ensino de História da África, dos africanos e da Cultura e história de afro-brasileiros no nas instituições educacionais do Brasil. Diante disso, relata que essas histórias sempre foram negadas, algo que, consequentemente, deturpou a identidade e a autoimagem dos povos africanos e da comunidade afro-brasileira. O processo de branqueamento da sociedade brasileira foi um movimento institucional, político e também histórico. A história do povo negro esteve restrita à opressão, escravidão e resistência. Dessa maneira, a autora reflete sobre como será a inserção dessa história no contexto da educação brasileira da primeira metade dos anos 2000, tendo em vista que o currículo de formação dos professores que estarão em sala de aula não contemplou -ou contemplou, mas de maneira restrita-, a História da África e dos afro-brasileiros. Em “Pedras no meio do caminho”, a segunda parte, há um esforço em demonstrar a necessidade de pesquisa, divulgação científica e estímulo financeiro sobre os temas que refutem a imagem deturpada da História da África. As visões estereotipadas contaminam o ensino, e devem combatidas. Durante a quarta parte, de nome “Una, múltiplas”, a autora chama atenção para o fato de mais um estereótipo: a África como um continente único que partilha de poucos costumes, povos e culturas. Lima fala sobre a multiplicidade cultural do continente africano e defende que ela deve ser valorizada em sala de aula e nos espaços culturais. Mostrar a história de diferentes regiões e a riqueza de costumes é também uma forma de combate à ideia da África dominada por uma história única. Na quinta parte, de título “Reconhecer, reconhecer-se”, é exposta a necessidade de tratar a História da África em sala de aula a partir de um ponto de equilíbrio entre uma história que gere um sentimento de orgulho e pertencimento, e que combata os preconceitos que algumas vezes saem do senso comum. Para esse tratamento, não há fórmula, e sim caminhos possíveis. Para Mônica Lima, um desses caminhos anteriormente citados é a pesquisa e a informação. A academia precisa estar preenchida de conhecimento sobre o tema, tratando-o com a seriedade devida, para que assim esse conhecimento ultrapasse o muro das universidades. A História que foi negada deve ser, então, escrita. Além disso, há também o caminho da cobrança dos órgãos governamentais para que a Lei 10.639 consiga ser cumprida e fiscalizada, que precisa partir tanto dos estudantes e professores universitários, quanto dos docentes da educação básica. No âmbito do conteúdo dos ensinos, os professores do ensino fundamental e médio também devem militar inserindo conteúdos que não se atrelam somente à escravidão: mostrar a grandiosidade das civilizações egípcias, a riqueza cultural da Núbia na História Antigas e os costumes levados ao mundo por aqueles que passaram pelo processo do tráfico de escravos também são caminhos. É preciso, portanto, multiplicar essas iniciativas para a criação de uma memória justa, que, por sua vez, gera a construção de uma identidade e de uma história que por séculos foi negada.