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Universidade do Estado do Rio De Janeiro

Aluna: Gabrielle Reginatto do Carmo


Matrícula: 201710292511
Disciplina: IFCH01-10068 História da África
Docente: Washington Santos Nascimento
Ano: 2021
Segunda resenha da disciplina – Entrega
21/09
Material escolhido: Pierre Fatumbi Verger – Um Mensageiro entre Dois
Mundos [PT] [Legendado] – Youtube.

Dirigido por Lula Buarque de Holanda, produtor, diretor e dono da produtora


Conspiração Filmes, e lançado no Brasil no ano de 1998, o documentário “Pierre
Fatumbi Verger – Um Mensageiro entre Dois Mundos” mostra a trajetória de Pierre
Fatumbi Verger, fotógrafo nascido na França que chegou a Salvador no ano de
1946. Com uma narrativa emocional, vista principalmente através dos depoimentos
de pessoas próximas ao francês, a obra demonstra o choque entre realidades tão
distintas, verdadeiros “Dois Mundos”: a França burguesa do século XX, seu local de
origem, e a Bahia, um Estado brasileiro que manteve relações diretas com a cultura
africana, lugar em que escolheu passar o resto de sua vida.
Por ser uma obra audiovisual, conta com uma série de gravações e
fotografias do próprio acervo do artista, e entrevistas com figuras com as quais
manteve relações pessoais. O simbolismo começa logo na escolha do narrador, que
é Gilberto Gil. Nascido na Bahia, em Salvador, a voz do músico, cantor e compositor
logo nos dá um tom de familiaridade com a vida que Pierre Fatumbi escolheu viver
no Brasil, e isso se soma à atmosfera de intelectualidade que o documentário vai
criando ao entrevistar diversas figuras como Jorge Amado, o Conselho de Reis de
Benin, Pai Agenor Miranda, a arquivista Ceci, entre outros.
A ambientação vai seguir os principais caminhos percorridos pelo fotógrafo:
França, Brasil e África. Esforçando-se para demonstrar como Pierre Verger
renunciou a símbolos burgueses como a maneira de se vestir e até mesmo o local
de moradia, Gilberto Gil nos conta como ele se encantou pela arte africana e pela
estética novecentista que Salvador exalava ainda na segunda metade do século XX.
Mais que isso, preocupa-se em demonstrar como o encanto religioso pelo
candomblé foi construído ao longo de sua vida em Salvador.
A sede pela fotografia é vista em relatos de pessoas que trabalharam com
Pierre Fatumbi. Para elas, foi um homem cujo o trabalho era detalhista, quase
perfeccionista, e que adotou técnicas que estiveram à frente de seu tempo. Capturou
a realidade de Salvador, um lugar cujo os terreiros compunham uma das camadas
de personalidade do lugar, e o fotógrafo não esteve alheio a isso, pois foi inserido ao
mundo do Candomblé por Jorge Amado, e sua cabeça foi consagrada à Xangô e à
Ifá. Estudioso, visitou sua fonte, a República de Benin, na África Ocidental, a cidade
de Kêto, origem das pessoas que fundaram os primeiros terreiros de Candomblé na
Bahia, lugar o qual manteve laços diretos e sempre foi muito bem recebido. Em
conversa com figuras importantes do local, Gilberto Gil descobriu que Verger
aprendeu os 16 Odus, visitou a floresta sagrada e estudou sobre os Orixás, quase
sempre com sua câmera em mãos, numa atividade etnográfica.
A preocupação em ser inserido na realidade do Candomblé faz-se muito
presente em sua vida, até mesmo ganhou um novo nome devido sua iniciação,
“Fatumbi” é de origem africana e significa “nascido de novo graças ao Ifá”. Passou
aproximadamente 17 anos na África, e suas fotografias mostravam a realidade de
uma religião e como ela tinha relações diretas com os terreiros encontrados em
Salvador. Essa herança cultural e material é intransferível e inapagável, e o fotógrafo
tentou buscar essa origem em sua arte, na tentativa de demonstrar da riqueza da
História Africana.
A vinda de escravos para o Brasil garante um bom tempo de tela no
documentário, pois junto com eles, toda essa cultura também foi transportada. A
relação entre brasileiros e africanos é demonstrada através do início, com tráfico de
escravos, e depois a partir das relações advindas dessa atividade. “Um africano que
chega em Bahia, sente-se na África”, é uma das falas que são expostas e nos
permite compreender essa relação direta entre uma África diversa e uma cultura
afrobrasileira, e principalmente a valorização dessas raízes.
Pierre Fatumbi Verger dedicou sua vida à apreciação e a catalogar essas
semelhanças entre a vida encontrada em Salvador e àquela de Kêto, na República
de Benin. Suas fotografias capturaram mais do que um momento, são
representações de uma maneira de viver e enxergar a vida, uma verdadeira
cosmovisão. Essa, por sua vez, ancorada no Candomblé e sua relação com a
natureza, o espaço e a vida material.

Referências
PIERRE FATUMBI VERGER: UM MENSAGEIRO ENTRE DOIS MUNDOS.
Lula Buarque de Holanda,1998, 1h26min. Acesso em 13/09/2021 às 13:28.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=tlbomZeH_p4>.

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