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ATIVIDADE AVALIATIVA

Nome: André Bogni


Turma e Cidade: Turma Brasil 03
Referente ao módulo: Relações Étnico-raciais
(nome da disciplina)
Referências: Ribeiro, G. R. (2010) – “Nha Fala, uma festa do tradicional com o
moderno”; Bamba, M. e Meleiro, A. (2012) – “Filmes da África e da Diáspora,
objetos de discurso”; Carelli, F. (2012) – “Cantam pretos, dançam brancos:
Coreografia da colonização em Nha Fala, de Flora Gomes”.
Valor: 10 pts. Nota:

A presente atividade consistiu na visualização do filme “Nha Fala”, de


Flora Gomes, e na análise dos pontos que nos chamaram a atenção e que
conseguimos relacionar com os temas de debate em sala.
O filme é uma produção do diretor Flora Gomes, nascido em Guiné-
Bissau, que retrata a jornada de Vita, uma jovem que sai de sua cidade natal,
em África, para estudar em Paris. O Enredo gira em torno de uma
tradição/maldição que permeia a família de Vita, que impede que as mulheres
da família cantem, sob a pena de perder a vida.
Contudo, desafiando esse destino silenciador, Vita conhece Pierre em
Paris, um músico, ao qual ela se apaixona. Encorajada, Vita permite-se cantar,
e a sua bela voz é recebida por Pierre com tanta admiração, que juntos gravam
um disco. Com o sucesso do disco gravado, Vita se dá conta de um fato: Como
ela cantou, apesar de não ter morrido, ela deveria ter que passar pelo seu rito
de morte. Pensando nisso, ela retorna com Pierre à Guiné-bissau para realizar
o seu próprio funeral, e durante a cerimônia, Vita e Pierre encorajam sua mãe a
também expressar sua voz, a livrando também da maldição que a calava.
Um primeiro ponto que me chamou a atenção na produção de Flora
Gomes, foi a estética do filme, retratando a cultura local de uma forma muito
alegre e otimista, diferentemente do que costuma-se observar na maioria dos
filmes (principalmente ocidentais) que se passam na África. As cores, as
vestimentas, as músicas, e até mesmo os ritos de passagem, são retratados de
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maneira vívida, com falas que remetem a um povo feliz, e referenciados em
sua própria cultura.
No mesmo sentido, me chamou a atenção a língua falada no filme. Em
vez de produzir um longa-metragem em Francês ou mesmo em Português, o
diretor optou por utilizar-se do Crioulo, língua nativa de Guiné e região,
novamente retratando mais fielmente a cultura local, a partir de suas próprias
linguagens.
Outro ponto marcante da produção é a relação sutil exposta entre
Europa e África, representada por vezes como um conflito simbólico entre a
modernidade da cultura ocidental e a tradição das culturas originárias
africanas, remetendo ao debate Colonizador x Colonizado. Esse debate surge
por meio de falas, como dos garotos pedindo para Vita trazer para o país “Nike,
Coca-Cola, Barbie”; O personagem Louco jogando farinha em seu rosto e
dizendo “Agora assim pareço mais sério” – como branco; ou o Idoso francês,
que apesar de dançar com as mulheres de guiné, dizia repetidamente “não
gosto e pretos”; dentre outras cenas.
A própria temática central do filme – a voz –, pode ser interpretada como
um ensaio sobre o silenciamento e a liberdade de expressão, remetendo à
povos/pessoas que não são ouvidos, apesar de possuírem voz e enunciarem
suas próprias narrativas. A superação da maldição colocada às mulheres da
família de Vita, representa, de certa forma, a ousadia daqueles que precisam
vencer as amarras socialmente e historicamente impostas a si mesmos, para
poderem ser ouvidos.
O tempo retratado no filme também é marcado por uma representação
cíclica, diferentemente da lógica ocidental do tempo linear. A morte como um
renascimento, o início como um fim, a imagem da bicicleta andando de ré na
cena final, são elementos que trazem uma certa circularidade à narrativa do
filme, mais uma vez apresentando uma estética referenciada nos valores e
percepções das filosofias africanas.
Em suma pode-se dizer que o filme nos auxilia a realizar simbolicamente
o exercício do giro decolonial, nos conduzindo para começar a compreender e
respeitar as vozes que falam (e cantam) a partir de outras epistemologias, para
além da cultura ocidental moderna.

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