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Relação situacional e contexto histórico:

Les Miserábles é um romance escrito pelo dramaturgo francês, Victor Hugo, em 1862. O texto
põe em voga a crítica social à sociedade vigente, dando voz às pessoas do povo, que trabalham
por um soldo, mas em condições próximas a escravidão, por vezes, precisando vender seus
objetos pessoais, seu cabelo, seu corpo para sobreviver e, por vezes, morrendo nessa
trajetória(Fantine). Põe em pauta um sistema judiciário injusto, no qual uma pessoa que rouba
um pão, por exemplo, é condenada ao exílio, tortura e trabalho escravo para o resto de sua
vida(Jean Val-Jean); O ciais in exíveis, que seguem a lei à tinta, cancelam os sentimentos, o
raciocínio, a humanidade, apenas seguem a lei(Javert); traz jovens acadêmicos, que se reunem
em bares, inspirados em mudar o mundo, a partir da luz do conhecimento, jovens dispostos a
protestar e a lutar por uma causa( Marius; Enjolras; meninos); Con ito de classes, amor
impossível, contradições também entram em voga(Eponine). Dentre outros personagens e
situações. A obra original é dividida em cinco volumes, divididos , respectivamente entre: Fantine;
Cossette; Marius; Batalhas e Jean Val Jan.

Em 1980 nasceu a versão musical ,composto por: Claude-Michel-Schonberg, com letras de


Herbert Kretzmer e libreto de Allan Boubill. Nasceu experimentalmente em Paris sua versão
musical, e no mesmo ano, estreiou em West End, Londres. Ganhando o mundo
subsequentemente. No Brasil, foi montado duas vezes: Em 2001 e em 2017. Possui também uma
versão de lme longa metragem, realizada nos moldes do musical, gravada e produzida nos
Estados Unidos, em 2012, também com sucesso em escala mundial, ganhando três Oscar,
dentre 17 prêmios e mais de 30 indicações. O musical segue em cartaz em Londres, desde sua
estreia, e conta com diversas montagens concomitantes ao redor do mundo.

Avaliação:

Apesar de a obra original ser relativamente antiga, seu conteúdo permanece bastante atual, o que
traz pontos de identi cação com diversas sociedades ao redor do mundo, inclusive nos dias
atuais. Desigualdade social, exploração humana, marginalização de pessoas, violência excessiva,
divergência entre classes, amor impossível, dentre outros. No demais, o que mudou e deu tanto
poder e vida à essa obra? A acessibilidade. Se pegarmos o texto original de Victor Hugo, são
cinco volumes. É uma linguagem bastante rebuscada e um texto bastante descritivo. É incrível,
mas não acessível. A partir do momento que a peça é adaptada numa dramaturgia de dois atos,
em que os personagens são concentrados em seus arquétipos e a linguagem se torna mais
uida, vem o sucesso. A partir do momento que a peça é traduzida para diferentes idiomas,
como o português por exemplo, ela se torna mais presente. Aproxima o expectador do texto e do
contexto. A partir do momento que a peça possui audiodescrição e tradutor de LIBRAS, a peça
chega a todes. Por conseguinte, faz- se a análise das características físicas, vestimenta, voz dos
personagens; efeitos especiais, cenário e gurino.

Na versão musical brasileira de 2017, temos um elenco todo “mais jovem”(característica física de
16-20 anos os estudantes); gurinos mais leves, com menos adereços e excesso de pano, de
modo que, apesar de respeitar as características da obra do Victor Hugo, também atua como
signo remetendo a contemporaneidade; Temos personagens com ajustes vocais mais próximos à
fala, caracterizando-se como “menos canto e mais texto no canto”. Todos esses fatores citados
criam pontos de contato entre nós expectadores e os atores, de modo que as sinapses de
identi cação se tornem mais frequentes e a evocação da emoção, da memória, da re exão se
torne mais presente. Do ponto de vista de luz, entendemos que a ascensão da tecnologia permite
a criação de efeitos especiais e direcionamento luminoso de modo preciso ao passo que a
iluminação também seja um componente marcial para a narração do enredo. Quanto aos
cenários, a disposição de recursos nanceiros somados a tecnologia, como dispositivos
giratórios e material de qualidade, rico em detalhes, também tornam a percepção do espaço,
pelo expectador, mais dedigna.

Quanto à paisagem sonora estabelecida ao longo do espetáculo: Entendemos que para


concentrar e traduzir os lotes de informação trazidos na obra de Victor, estruturas musicais
caracterizadas como “temas" , enquanto signos, são, também, fundamentais(ex. tema/melodia
de “on my own” se remete sempre à Eponine), o que também acaba por aproximar o expectador
do espetáculo, pois o torna “inteligível, sem muito esforço intelectual”.

Quanto às características vocais: Les Mis não tem texto em modo de fala. Todas as palavras,
todos os diálogos estão contemplados por músicas, por temas, por tempo. Acentua-se assim
arquétipos, do ponto de vista fonoaudiológico-teatral: personagens do povo/ pobres: tem vozes
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mais densas/mais poderosas, com sonoridade mais aberta/ampla” enquanto personagens
“ricos"tem uma voz mais aveludada, arredondada, coberta quando comparado aos primeiros. O
posicionamento e a quantidade de determinados instrumentos musicais também fazem toda a
diferença na experiência; Assistir pela televisão ou no teatro e em diferentes locais do teatro faz
diferença.

E isso faz muita diferença na experiência técnico-sensitiva , mesmo que o expectador não saiba
nada de musica.

São muitos pontos para avaliar, o que nos faz re etir o quão amplo pode ser esse tema,
identi car quantas dissertações e teses ainda podem ser desenvolvidas a partir de cada ponto
citado dessa temática.

Cremos que o que mantém a obra viva e até hoje é não apenas o tema desta, tampouco o
sucesso acumulado ao longo dos anos apenas, mas a permeabilidade a mudanças e ajustes à
sociedade contemporânea, de modo que ajustes, como os descritos, tornem a experiência
compatível com aquele lugar e realidade.

Poe/ reforça uns “para nós”

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