O Povo Brasileiro é um documentário dirigido por Isa Grinspum Ferraz e produzido pela TV Cultura, GNT e a fundação do antropólogo, historiador, sociólogo escritor e político, Darcy Ribeiro, que é conhecido por focar na educação do país, indígenas e ser o criador da obra “O Povo Brasileiro: a Formação e o Sentido do Brasil (1995)”, tema principal do documentário. No geral, o documentário fala sobre as matrizes culturais e dos mecanismos de formação étnica e cultural do povo brasileiro divididos em 10 capítulos de aproximadamente 30 minutos (Matriz Tupi, Matriz Lusa, Matriz Afro, Encontros e Desencontros, Brasil Crioulo, Brasil Sertanejo, Brasil Caipira, Brasil Sulino, Brasil Caboclo e a Invenção do Brasil). Um dos pontos fortes do documentário são imagens reais e históricas apresentadas ao longo dos capítulos, logo no primeiro, são apresentados vídeos em preto e branco filmados em 1950 quando Darcy Ribeiro passou meses convivendo com os Caiapó. Esse episodio em si é sobre as comunidades indígenas que viviam no Brasil antes da invasão portuguesa. Uma coisa muito interessante do capítulo é a parte em que é mostrada a divisão de tarefas entre homens e mulheres, mostrando que o Patriarcado existe desde a raiz do povo brasileiro e até hoje está presente. Dois locais são recorrentemente citados ao longo do documentário, Portugal e o continente africano. Portugal pela colonização brasileira e suas consequências étnicas e culturais, consequências essas que mudaram totalmente a paisagem racial do país. Mostrando também a introdução de novas tecnologias, miscigenação e ideologias que mudaram o Brasil, tendo grande influência até hoje, como a língua portuguesa. E a África, que teve grande influência cultural e racial no país, contribuindo com uma imensa quantidade de técnicas, comidas, músicas, religião, genética, entre outras coisas. O documentário tem um capítulo (Matriz Afro) sobre os africanos que chegaram no Brasil na primeira metade do século XVI após serem arrancados de forma brutal de seus países para serem escravizados, e mesmo após a escravidão, foram introduzidos na sociedade da pior forma possível, sendo marginalizados e dando origem as primeiras favelas do Brasil, consequências vistas até hoje. Um dos capítulos mais bacanas do documentário se chama Encontros e Desencontros e mostra o processo de mestiçagem do povo brasileiro. No começo do capítulo, é mostrado a interação de portugueses e índios, que era a troca de Pau Brasil por espelhos e missangas. Outra interação que é mostrada é a de portugueses e índias, surgindo assim os primeiros mestiços entre índios e portugueses. O maior prejudicado nessa interação foram os nativos, já que foram escravizados, forçados a mudar seu idioma para português, abandonar suas crenças e culturas, além das inúmeras doenças trazidas pelos europeus, dizimando grande parte dos índios. Outro ponto positivo é a forma que o documentário celebra a força e a felicidade dos povos sertanejos, que mesmo assolados por fome e seca, se mantém firme, tudo isso ilustrado com vários trechos de filmes como o prestigiadíssimo “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e diversas imagens e filmagens raras. Explicando também a origem dos caipiras, compostos por descendentes de portugueses e índios, Bandeirantes que abriram caminho para o interior e outras pessoas que foram atraídas pela febre do ouro em Minas Gerais e acabaram permanecendo nas zonas rurais, mas com o crescimento das cidades na década de 50, os “caipiras” acabaram saindo da zona rural em busca de melhores oportunidades, muitas vezes sendo marginalizados. Assistindo o documentário, é fácil entender o fato dos povos do sul do Brasil terem sua cultura tão divergente do resto do país, primeiramente pelos nativos da região não serem Tupi e sim Guarani, povo esse que deu origem na figura “gaúcha”. Outro fator que ajudou nisso é a migração de outros povos europeus para o sul do Brasil, como Alemães, que aos poucos moldaram a cultura regional. O último povo citado foram os caboclos, residentes da área da Bacia Amazônica, que se desenvolveram com uma forte influência da cultura indígena, preservando até hoje práticas e costumes que acabaram sendo perdidos ao longo do tempo. Podemos concluir que “O Povo Brasileiro” é um documentário didático e informativo que todo brasileiro devia assistir para descobrir um pouco mais sobre sua origem e toda mistura étnico-racial que faz o Brasil ser um país heterogêneo e cheio de diversidade.
BIBLIOGRAFIA: RIBEIRO, Darcy - O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995 e 1996.