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Vestido de Noiva - Nelson Rodrigues

→ Vestido de Noiva marca não só um novo teatro brasileiro, mas também “a eclosão de uma nova
crítica, dentro de uma imprensa que não tardará a se reformular.”
→ A década de 1940 é um período onde se valoriza particularmente a questão da brasilidade; em
entendê-la e expressá-la nos mais diferentes aspectos da vida sócio, político e cultural, sempre
associando a ideia de modernidade. Vestido de Noiva supre uma demanda política por modernidade e
apazigua frustrações artísticas da elite.
→ Vestido de Noiva representava a dose exata de ruptura e continuidade, na medida em que seguia na
direção de outras experiências como a Semana de Arte Moderna.
→ Contexto teatral dos anos de 1940: polêmica dentro dos gêneros teatrais (discussão entre o que era
amador e o que era profissional e discussão do que era “teatro sério” e “teatro para rir”.
→ Dualidade e oposição: Ditadura Getulista (teatro de revista e comédias de costume) Versus Estado
Novo (teatro moderno, sério e intelectual- Vestido de Noiva como representante da ideia de
modernidade e mudança - projeto de construção ideológica do próprio Estado)
→ Vestido de Noiva apresenta tendências modernistas embora não estivesse presente na Semana de
22 → modernidade dramatúrgica presente já em textos como Eva e Moral Quotidiana (ambos de
Mario de Andrade); O Rei da vela e A Morta (ambas de Oswald de
→Deu início ao processo de modernização do teatro brasileiro.
→ Vestido de Noiva, para Décio de Almeida Prado (1988, p.40), é desses encontros
felizes de um autor e um diretor.
→ no texto de Vestido de Noiva já estavam presentes possibilidades cênicas como a multiplicidade do
espaço, a simultaneidade, os cortes e a fragmentação, que indicavam um novo caminho no teatro
brasileiro.
→ Ao propor a subversão dos elementos paradigmáticos do teatro, Nelson Rodrigues rompeu com as
estruturas, deixando antever seu projeto estético moderno, naquele momento pouco delineado, mas já
apontando por quais caminhos seguiria. Em Vestido de noiva, nada é convencional: seja a composição
das personagens – variantes da mente alucinada de Alaíde –, seja a disposição dos espaços e a
transposição dos tempos entre o passado remoto (1905), o passado recente e o presente (1943). As
vias estéticas escolhidas apontam para a explosão dos limites dramatúrgicos, num movimento de
repensar a própria concepção de arte dramática da década de 40.
→ Em se tratando do contexto teatral brasileiro, as comédias de costumes – em especial da Geração
Trianon, que obteve vigor na cena nacional entre 1915 e meados da década de 1930 – eram compostas
a partir de um paradigma textual fechado em si mesmo: encadeamento linear das ações dramáticas,
composição dialógica estruturada e alternada em pergunta-resposta, e três atos distribuídos segundo
pressupostos de apresentação, desenvolvimento e conclusão. O drama moderno, enquanto proposta de
confronto ao drama tradicional, foi teorizado especialmente por Peter Szondi (2001), que se dedica a
compreender como, no seio da estrutura fechada do drama, o elemento épico foi se desenvolvendo a
fim de explodir suas barreiras, provocando a fragilidade dos três elementos por ele apontados como
fundamentais ao gênero: a relação intersubjetiva, o diálogo e o tempo presente. Já Sarrazac (2012)
repensa a noção elaborada por Szondi e propõe uma expansão acerca da reflexão do que é o drama
moderno. É nesse sentido, pois, que nos propomos a olhar para a obra de Nelson Rodrigues, e mais
especificamente aqui para Vestido de noiva: uma obra que, no confronto do panorama de um teatro
tradicional que se apresentava no cenário nacional, propõe o transbordamento de seus elementos, e
que aqui serão delineadas a partir da recomposição do sonho e da memória da personagem Alaíde
→Existem 3 planos principais na obra: o plano da realidade (3º plano), da alucinação (1º plano, é um
plano inconsciente) e da memória (2º plano, turvo, deformando a realidade).
→O tempo mostrado na obra é não linear e misturado.
→Tema principal: decadência de uma classe burguesa carioca. Ele parte do pressuposto de que “o
brasileiro tem síndrome de vira lata”. Nelson Rodrigues representa a classe burguesa como sendo uma
classe cafona, porque ela valoriza muito a cultura norte-americana.
→ Nelson Rodrigues tem uma perspicácia machadiana (seus conflitos são básicos, cotidianos). A
genialidade dele está na construção dessas banalidades e na linguagem.
→Personagens:
Alaíde: protagoniza um pouco, é irmã de Lúcia, casada com Pedro (as duas irmãs disputam
o Pedro)
A família de Alaíde se muda para uma casa bem antiga (que era a casa de uma meretriz -
Madame Clessi). A Alaíde encontra um diário na casa (que era de Madame Clessi).
→No plano da realidade, Alaíde foi atropelada e estava no hospital.
→Nelson vai lidar sempre com o problema da moralidade dessa classe média brasileira,
muito fundada no princípio de um discurso cristão, tradicional, dos bons costumes (mas isso
mascara os defeitos).
→Ele usa muitas ironias também.
→As traições, os corrompimentos mostram a decadência mascarada dessa classe burguesa.

- Como se estabelece o trágico nessa obra?


1-) Duas irmãs e um triângulo amoroso (o conflito se dá aqui)
Quanto mais estreito for a proximidade das personagens, maior será o conflito (para
Aristóteles).
2-) Temário essencial: morte (A Alaíde morre - a morte é um agravamento de um
determinado conflito)

→Os 3 planos se confundem. Eles que orientam o conflito (não dá para saber se aquilo acontece ou
não).
A alucinação e a memória se misturam a todo tempo (é difícil saber onde termina a
memória).
→Os objetos têm vida.
Há uma relação com a psicanálise de Freud e Lacan (Alaíde mistura sua identidade com a
de Madame Clessi). A Alaíde quer meio que se libertar desse sentimento quase “casta”.
→No plano da realidade, Alaíde está no hospital, na passagem da vida para a morte. No plano da
memória tem o conflito com a irmã (ela está viva e tem um relacionamento com Pedro).
→ O plano da realidade é responsável por diálogos rápidos, incisivos, quase telegráficos, de uma
concretude terrível como vemos nas falas abaixo:
1o MÉDICO: − Pulso?
2o MÉDICO: − 160.
1o MÉDICO (pedindo): − Pinça.
2o MÉDICO: − Bonito Corpo.
1o MÉDICO: − Cureta.
3o MÉDICO: − Casada − Olha a aliança.
(Rumor de ferros cirúrgicos).
1o MÉDICO: − Aqui é amputação.
3o MÉDICO: − Só milagre.
1o MÉDICO: − Serrote. (VN, p. 134)
→ A crueza da realidade contrasta com o coloquialismo cheio de humor e sensualidade do plano da
alucinação, particularmente das cenas no bordel e dos diálogos de Alaíde com Madame Clessi,
prostituta que viveu em 1903 e cujo diário Alaíde encontra no sótão de casa e lê. É nestes diálogos
que Alaíde solta sua libido e seus desejos mais inconscientes, assumindo uma voluptuosidade e uma
licenciosidade não permissíveis para uma senhora casada na sociedade brasileira daquela época e até
mesmo, de hoje:
CLESSI (forte): − Quer ser como eu, quer?
ALAÍDE (veemente): − Quero, sim. Quero.
CLESSI (exaltada, gritando): − Ter a fama que eu tive. A vida. O dinheiro. E morrer assassinada?
(VN, p. 117)
→ A voluptuosidade e a sensualidade que emergem do plano da alucinação se chocam com o plano da
memória
→ → O diálogo de Alaíde com Clessi, por exemplo, pode ser lido – no limite – como um extenso
monólogo. A protagonista estaria apenas projetando a conversa que tem consigo mesma, exteriorizada
pela duplicação do seu eu. Percorrendo esse argumento, toda a ação da peça, inclusive o plano da
realidade, seria projeção do pensamento de Alaíde.
→ O público entra em contato não com uma cena lógica e coerente como era o costume do teatro
brasileiro do início do século, mas se defronta com a incompletude e a dúvida que estão expressas na
linguagem.
l a MULHER (misteriosa): − Madame Clessi?
ALAÍDE (numa alegria evidente): − Oh! Graças a Deus! Madame Clessi, sim.
2a MULHER (voz máscula): − Uma que morreu?
ALAÍDE (espantada, olhando para todas): − Morreu?
2a MULHER (para as outras): − Não morreu?
la MULHER (a que joga “paciência”): − Morreu, Assassinada. (VN, p. 110)
Com a palavra “assassinada”, Nelson Rodrigues instaura o suspense e a tragicidade que
perpassarão a peça e assim convida o espectador a investigar a trama, como um detetive.

3-) Trata da moral e da ética.


4-) Lida com o plano familiar.
5-) Há uma proposta cênica experimental.
O plano mais importante é o da alucinação (do inconsciente de Alaíde).
Projeções da feminilidade (as personagens principais são mulheres, que lidam com os seus
desejos reprimidos. A mulher tem uma importância grande na peça).

- O que permite a Nelson desvencilhar-se da prática tradicional da dramaturgia?


A Alaíde e a Madame Clessi ficam em um processo de espectro.
O Nelson libertou a personagem da aparência unitária do consciente, para trazer à tona as
forças da subconsciência (dramatizou conquistas da psicanálise).
→No plano da realidade, os acontecimentos são mínimos (para Nelson eles não têm tanta importância
- o que importa é a aventura interior da Alaíde).
→Tudo que se passa nos planos da memória e da alucinação é a projeção exterior da mente de Alaíde.
Nesses planos não existem censuras.
→Há na peça uma atração mítica da pureza pelo mistério da prostituta (Alaíde tem um fascínio por
Madame Clessi).
→ a preocupação do dramaturgo não está centrada exatamente na história em si, mas na
forma como essa história é apresentada ao leitor/ espectador.

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Reunião com a Regina
-contexto histórico - falar do contexto teatral - inovações do nelson rodrigues - fazer crítica
de um outro ponto de vista - rei da vela foi encenado anos mais tarde - vestido de noiva por
ser encenado traz um maior impacto - mostrar esse papel significativo - início do teatro
moderno - modernidade por trazer uma ruptura com o que era mais comum no contexto
teatral brasileiro - dialogando com alguns dramaturgos estrangeiros - lugar do nelson
rodrigues
-extrapola o elemento da escrita na encenação - como naquele momento aquela encenação
foi impactante naquele momento, nessa forma de encenação - cada momento histórico vai
fazer mudanças no texto a partir das necessidades - pontuar os focos que a encenação traz
que o texto pode não trazer
-pesquisar anatol rosenfeld
-décio de almeida prado
-peter szondi
-movimento de trazer uma dramaturgia ancorada numa crítica social e de comportamentos
por meio de uma perspectiva que aborda o ilógico, o irracional, a memória
-não traz uma perspectiva realista - percorre outros caminhos - coloca o leitor num jogo de
mostrar que é uma encenação, uma ficção, mas sabe que muito daquilo é possível
-tira a estabilidade do leitor
-atitude recorrente de trazer o inconsciente para a peça - o inconsciente tem mais força de
realidade do que a própria realidade - plano da realidade com ação mínima
-inconsciente vivo e presente - ele toma a cena - joga com a verdade, com a fantasia, com
o mais concreto na vida
-manipulação do tempo - não tem linearidade temporal que aparecia no teatro e na narrativa
do séc 19 - o modernismo já começa com isso, mas no nelson é muito mais enfático -
-temporalidades que se cruzam
-tempo e espaço em movimento
tópicos fundamentais -em que medida o nelson traz uma perspectiva nova da produção
teatral e quais seriam os elementos que ele trabalha dessa perspectiva nova; trazer o
inconsciente, tempo; a maneira como ele trabalha as personagens, os movimentos entre as
personagens e das próprias personagens, como elas transitam entre tempos, espaços e
perspectivas (não tem uma perspectiva única - deslizam de um lugar para o outro - essência
e da aparência/ bom e mau/ bem e mal/ verdade e mentira) - movimento dialético da
ambiguidade e como ele faz isso; questões que ele traz (temas não costumam aparecer
muito - traição; papel da mulher na sociedade, família, casamento)
-legado desse escritor para as gerações futuras - qual a força de presença desse autor para
o que vem depois
-sentido do vestido de noiva, o que ele significa dentro do texto; elementos simbólicos para
trazer algumas discussões

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