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Inquisição – Texto de introdução:

NOTA: Originalmente publicado na edição de Novembro de 1999 da revista The Angelus, este artigo é a
defesa precisa de um capítulo muito incompreendido da história da Igreja Católica. Jean-Claude Dupuis é PHD em
historia pela Laval University de Quebec, Canadá.
“Os supostos horrores da Inquisição costumam ser os primeiros argumentos dos inimigos da Igreja.
Voltaire falou “daquele tribunal sangrento, aquela terrível lembrança do poder monástico”[1]. A lenda negra
da Inquisição impregnou nossas mentes de tal modo que, hoje, a maioria dos católicos é incapaz de
defender essa fase da história da Igreja. Na melhor das hipóteses, eles justificam a Inquisição lembrando
que ela existiu num período muito mais bárbaro e violento que o da nossa época “iluminada”.
Contudo, os santos que viveram na época da Inquisição nunca criticaram-na, exceto para dizer que
ela não combatia as heresias o suficiente. O Santo Ofício examinou minuciosamente os escritos de Santa
Teresa D’Ávila para verificar se não se tratava de uma falsa mística, porque naquela época havia muitos
falsos místicos na Espanha, como os Alumbrados [2]. Longe de enxergar nisso um sistema de intolerância, a
santa confiou plenamente no julgamento do Tribunal, que não encontrou nada herético em seus escritos.
Também é evidente que os santos nunca hesitaram em denunciar os abusos do clero: esta é uma das suas
principais missões. Como alguém lida com o fato de que nenhum deles disse algo contra a Inquisição?
Como explicar que a Igreja canonizou nada menos que 04 grandes inquisidores: Pedro, o Mártir (morto em
1252), João de Capistrano (morto em 1456), Pedro de Arbués (morto em 1485) e Pio V (morto em 1572)?
O próprio São Domingos (morto em 1221) foi um dos primeiros inquisidores.
As críticas à Inquisição por autores católicos só começaram a aparecer no século 19, e apenas entre
os católicos liberais. Antes da Revolução Francesa, o discurso anti-inquisição era especialidade dos
protestantes. As gravuras do século 16 retratando Autos de Fé (anúncio público da sentença dos
investigados pela Inquisição) exibiam construções com telhado triangular. Este tipo de arquitetura era
comum nos Países Baixos e no vale do Reno, não na Espanha. Esse detalhe revela as origens protestantes
das gravuras. De fato, a lenda negra da Inquisição é produto da propaganda protestante, que foi
transmitida ao século 18 pela filosofia iluminista, ao século 19 pela Maçonaria e ao século 20 pela
“democracia cristã”.
Como se não bastasse, os mais sérios estudos históricos demonstraram que a Inquisição Católica
era um tribunal honesto, que buscava mais a conversão dos hereges que sua punição; um tribunal que
condenou poucas pessoas à morte. No entanto, a lenda negra da Inquisição ainda circula na opinião
pública. O próprio Voltaire disse que uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.
Mas, e o pedido de perdão de João Paulo II ?
NOTA: Originalmente publicado no site https://ocatequista.com.br/
Dez em cada dez vezes em que nos propomos a expor a alguém as mentiras da lenda negra da
Inquisição, somos logo questionados: “Ora, o Papa João Paulo II já pediu perdão pela Inquisição! Então não
faz sentido você tentar defender isso!”. Porém entenda: São João Paulo II jamais pediu perdão pelas
Inquisições, nem sequer sugeriu que essa instituição não deveria ter existido.
Sim, é isso que você leu! Nunca houve pedido de perdão por parte da Igreja pela criação e controle
das Inquisições. “Mas saiu em todos os jornais, eu vi!”. Pois é... Às vezes a pessoa fixa na mente somente o
que leu nas manchetes ou em leituras apressadas, sem dar tanta atenção às ricas informações contidas nas
pequenas letras do corpo da matéria. Resultado: Tira conclusões superficiais e distorcidas dos fatos!
São João Paulo II pediu perdão pelos ABUSOS cometidos nos processos dos tribunais das
Inquisições – atenção, pelos abusos! Em nenhum momento ele disse ou insinuou que as Inquisições jamais
deveriam ter existido, ou que foi uma instituição, por si, ruim.
Veja o que o santo Papa realmente disse:
“Na opinião pública, a imagem da Inquisição representa como que o símbolo de tais anti-
testemunhos e escândalos. Em que medida esta imagem é fiel à realidade? Antes de pedir perdão, é
necessário ter um conhecimento exato dos acontecimentos e colocar as faltas cometidas contra as
exigências evangélicas lá onde elas efetivamente se encontram. Este é o motivo pelo qual o Comitê pediu a
consulta de historiadores, cuja competência científica é universalmente reconhecida”.
Carta de João Paulo II ao Cardeal Roger Etchegaray. 5 de Junho de 2004.
Ele disse também:
“O magistério eclesial não pode certamente propor-se levar a cabo um ato de natureza ética, como
é o pedido de perdão, sem primeiro estar rigorosamente informado acerca da situação daquele tempo. E
também  não pode apoiar-se nas imagens do passado veiculadas pela opinião pública, pois estão
frequentemente sobrecarregadas de uma emotividade passional que impede a diagnose serena e objetiva.
(…) Por isso, o primeiro passo consiste em interrogar os historiadores (...), que ajudem à reconstrução a
mais rigorosa possível dos acontecimentos, costumes e mentalidade de então, à luz do contexto histórico da
época”. Discurso aos participantes no Simpósio Internacional do estudo sobre a Inquisição. 31 de Outubro
de 1998.
Os tais historiadores citados pelo papa eram os membros Comitê Histórico-Teológico convocado
pelo Vaticano para realizar um estudo rigoroso e científico sobre a Inquisição. O grupo era formado por 30
historiadores renomados, e o trabalho foi liderado pelo professor Agostino Borromeo.
O critério para a formação desse grupo restrito de historiadores foi:
1. Sua competência reconhecida internacionalmente sobre o tema em questão;
2. Não importava o credo que professavam, sua orientação ideológica ou a escola historiográfica
a que pertenciam (Alguns historiadores eram católicos, outros não, e pertenciam a diversas
linhas ideológicas);
3. Os historiadores envolvidos no Simpósio NÃO eram ligados ao Vaticano;
Em 1998, São João Paulo II abriu o Arquivo Secreto do Vaticano para o acesso dos maiores
especialistas do mundo no tema Inquisições. Os historiadores renomados se reuniram no Simpósio
Internacional sobre as Inquisições. As investigações teriam fim seis anos depois, em 2004, quando o
resultado dos trabalhos foi publicado. E assim surgiram as Atas do Simpósio Internacional sobre as
Inquisições (L'inquisizione. Atti del Simposio Internazionale). É um verdadeiro tijolão, com quase 800
páginas! Nunca antes um volume só reuniu informações tão amplas, atualizadas e aprofundadas sobre as
Inquisições!
Durante a coletiva de imprensa de apresentação do L’Inquisizione, o cardeal Georges Cottier,
teólogo da Casa Pontifícia, declarou que aquele era um trabalho de “purificação da memória, porque a
memória histórica, isto é, que a nossa noção do passado, não está isenta de deformações e preconceitos”. E
deixou bem claro que “Não se pede perdão por algumas imagens difundidas pela opinião pública, que têm a
ver mais com o mito do que com a realidade”.
Mas sejamos bem honestos: o L'inquisizione não é para todo o mundo. Não é um livro para as
massas. Não tem tradução para o português (ao menos não ainda), é caríssimo (porque é fabricado sob
demanda, devido ao baixíssimo número de encomendas) e apresenta artigos em quatro línguas diferentes.
(Cada historiador escreveu em sua língua materna, então, o leitor precisa necessariamente saber ler em
italiano, francês, espanhol e inglês). Quem quiser adquirir o volume, impresso pela Biblioteca Apostólica
Vaticana, pode encomendar pela internet, em alguns sites italianos. Um deles é o da livraria online IBS.
No entanto, há no Brasil outros trabalhos feitos por comentadores, ou seja, a partir do L'inquisizione.
Podemos citar a coleção História da Igreja do professor Felipe Aquino, os livros de Alexandre e Viviane
Varela (Os autores deste pequeno artigo):

Dentre outros que deixaremos a seguir:


 AQUINO, Felipe. Para Entender a Inquisição. Ed. Cleófas, 5ª ed., 2011.
 WOODS Jr., Thomas. A Igreja Católica: Construtora da Civilização Ocidental. Ed. Quadrante, 1ª
ed., 2010.
 PEÑA, Alessandro Rodriguez de la. Lendas Negras de Ontem, hoje e amanhã. Disponível
em http://www.bibliacatolica.com.br/blog/historia-da-igreja/lendas-negras-de-ontem-hoje-e-amanha/
 MARCOS, Alexandre. Inquisição: Como se Mente a Respeito. Disponível em
http://meublogsemcensura.blogspot.com.br/2011/01/inquisicao-como-se-mente-respeito.html
 MADDEN, Thomas F. Investigando o Mito Popular. Disponível em http://ocatequista.com.br/?
p=207 (parte I) e http://ocatequista.com.br/?p=227 (parte II)
 DUVIVER, Padre W. Curso de Apologética Cristã. Disponível
em http://www.veritatis.com.br/antigo/8976-a-historia-da-inquisicao
 NABETO, Carlos Martins. A Inquisição Protestante: do Século XV aos Tempos Atuais! Disponível
em http://www.veritatis.com.br/apologetica/familia-sociedade/8063-ainda-as-inquisicoes-
protestantes
 A Inquisição Evangélica. Disponível em http://deusfilho.blogspot.com.br/2009/03/inquisicao-
evangelica.html
 KONIK, Roman. A Inquisição: Mito e realidade Histórica. Disponível
em: http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=6113500D-3048-560B-
1C9A57FBCEBD780D&mes=Setembro2006
 OLIVEIRA. Vinicius. A Inquisição Espanhola Para Leigos. Disponível
em http://www.caosdinamico.com/2012/04/inquisicao-espanhola-para-leigos.html

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