O filme “O Nome da Rosa” é baseado no livro homônimo escrito pelo crítico
literário italiano Umberto Eco, e lançado no ano de 1980. O filme, lançado em 1986, foi dirigido por Jean-Jacques Annaud e estrelado por Sean Connery, renomado ator Americano. Nesta resenha serão abordados assuntos como a tirania soberana da Igreja Católica na Europa Medieval, a busca pelo conhecimento e a influência das escolas e universidades do período, e alguns aspectos da sociedade medieval. Começando pela análise do filme em si, é perceptível a divisão em três partes distintas. A primeira parte se trata de uma ambientação do personagem principal e seu assistente ao novo ambiente em que se encontram. Em seguida existe a parte da investigação dos ocorridos. E por último a parte da reta final para as descobertas e da intervenção da Santa Inquisição. Nessa história vemos o frade Franciscano William de Baskerville e seu aprendiz, o Noviço Adso von Melk chegando a um mosteiro Beneditino, famosos por suas vastas bibliotecas e monges copistas, para investigar a misteriosa morte de um jovem monge, cujo maior suspeito era o próprio Demônio. Após uma breve demonstração de suas habilidades dedutivas, o irmão William e Adso logo descobrem que o jovem se suicidou. Enquanto tentavam descobrir o motivo do suicídio outros dois monges jovens morrem de maneiras muito peculiares. Após muita investigação, William descobre uma ligação entre as mortes, envolvendo um antigo livro Grego, ao mesmo tempo que Adso, ao ajudar nas investigações se envolve e se apaixona por uma jovem camponesa que morava nos arredores do monastério. Porém, nesse momento chega a delegação Papal, trazendo consigo a Santa Inquisição, que iria interferir em sua busca pela verdade e acusaria todo e qualquer suspeito de Heresia, com a pena de morte pelo fogo. A Inquisição descobre, por causa de um pequeno acidente que ocorreu no chiqueiro, a presença de dois ex-Dolcinianos no monastério, enquanto um deles tentava performar um ritual satânico envolvendo a camponesa pela qual Adso se apaixonou. A camponesa levou a culpa pelo ritual e foi condenada à fogueira por bruxaria, enquanto os dois Dolcinianos foram condenados à fogueira por Heresia. Com cautela redobrada, William e Adso logo voltam às suas investigações, e descobrem que o livro Grego causador de tantas mortes, fora escrito por Aristóteles sobre o riso e a comédia, ambos assuntos repudiados pelos monges beneditinos, em especial o Venerável Jorge, o monge mais velho e respeitado do monastério. Em uma final dramático, Jorge causa um incêndio na biblioteca enquanto destruía o livro de Aristóteles e acaba morrendo. Enquanto isso Adso escapa e William fica para salvar os livros, saindo pouco depois com os braços abarrotados de conhecimento antigo que ficava escondido. O filme, assim como o livro, critica abertamente a hipocrisia da Igreja Católica Medieval e os conflitos sociais da época. De maneira muito bem trabalhada, o filme mostra várias escolas de pensamento da Igreja Medieval, como e por que essas ideologias se contradiziam e quais foram as medidas tomadas pela alta cúpula Católica para solucionar tais problemas. Começando pela junção de Franciscanos e Beneditinos, o filme explicita as suas maiores diferenças no século XIV. Mesmo Ambas escolas tendo começado de maneira similar, cada uma seguiu seu caminho fazendo com que quase 10 séculos após suas criações, inúmeros conflitos de interesse surgissem. William, como é visto no início da terceira parte do filme, não foi sempre um monge Franciscano, e possuía um vasto conhecimento da filosofia grega e outros assuntos considerados perigosos pela Igreja. Na época em que o filme se situa, os textos antigos haviam sido muito disseminados pelos Árabes que viveram na região da península Ibérica alguns séculos antes, mas continuavam sendo condenados pela hierarquia Católica, com a justificativa de que tais escritos iam contra a palavra de Deus. Dessa forma é retratado a luta da Igreja contra o conhecimento antigo, representado pelo Venerável Jorge, um ancião que que fazia questão de esconder todo tipo de escritura filosófica antiga, mesmo que isso custasse sua vida. Outro aspecto importante da época que é retratado na obra é a soberania tirana da Igreja. No caso, sendo retratada pela Santa Inquisição, que era a maior forma de censura da Igreja. A Santa Inquisição fora criada para exterminar movimentos considerados Heréticos pela hierarquia Católica, como por exemplo os Dolcinianos (que são representados no filme por Salvatore e Remigio da Varagine), que além do voto de pobreza, exterminaram padres, bispos, frades e monges que ostentavam riquezas em demasía. Perto do final do filme, também podemos ver a insatisfação popular com a opressão da igreja, quando uma multidão enfurecida salva a jovem que foi condenada à fogueira por bruxaria durante o desenvolvimento de um sub-enredo do filme, e mata Inquisidor Bernardo Gui que fugia após o caos causado pelo incêndio na biblioteca. Ademais, podemos ainda perceber um comportamento extremamente machista e amplamente aceito durante o período, não sendo permitido às mulheres nem o aprendizado básico. Em vários momentos durante o filme, a imagem da mulher é tratada como uma doença que corrompe a alma do homem, a menos que ela seja submissa e se atenha aos cuidados da casa e da prole. E como mencionado no parágrafo acima, as mulheres eram tidas como culpadas de qualquer crime, sendo conveniente para o homem juiz em questão, como por exemplo os casos de bruxaria, ou corrompimento de clérigos aos prazeres da carne. Assim sendo, a única personagem mulher do filme (que dá o nome ao filme, já que nunca é mencionado seu nome) é vista de forma quase animalesca, tendo poucas falas e todas elas desconexas e simples, sem formação de diálogo. De maneira geral a obra informa com um alto grau de acurácia a ordem vigente da sociedade Medieval. Embora deixe de fora certos aspectos sobre o contexto histórico como a criação das escolas, faculdades e universidades. Alguém com conhecimento prévio de tais assuntos pode muito bem identificá-los no decorrer da história. Também é deixado de lado a influência dos Árabes na Europa da época, que permaneceram aproximadamente oito séculos na península Ibérica antes de serem expulsos e tiveram um papel crucial na disseminação da cultura Grega e Oriental pela Europa e pela tradução de textos clássicos. Mesmo assim o filme tem um ótimo desenvolvimento de enredo e sub-enredos, e mantém certa fidelidade com a realidade em muitos aspectos. Jean-Jacques dirigiu muitos filmes antes e depois deste, ganhando o César de melhor filme (premiação anual do cinema francês) com os filmes “A Guerra do Fogo” e “O Urso” em 1981 e 1988 respectivamente, e em 1986 ganhou o César de melhor filme estrangeiro com “O Nome da Rosa”. Jean-Jacques nasceu em Draveil na França no dia primeiro de Outubro de 1943 e vive até hoje. Já Umberto Eco foi um escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano, e escreveu dezenas de livros, sendo altamente reconhecido no mundo acadêmico mundialmente e lecionou temporariamente em Yale, Harvard, Collegè de France entre outros. Umberto nasceu em Alexandria em 5 de Janeiro de 1932 e faleceu em Milão na Itália em 19 de Fevereiro de 2016. Matheus Baarini Martim, RA: 11201722323. Aluno do Bacharelado em Ciência e Tecnologia na Universidade Federal do ABC (UFABC).