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SEMINÁRIO DIOCESANO SÃO JOÃO MARIA VIANNEY

CENTRO DE ESTUDOS ACADÊMICOS – CEA


CURSO LIVRE DE FILOSOFIA
DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA

ANDERSON DE ANDRADE FREITAS


PEDRO HENRIQUE VIEIRA FERNANDES

RESENHA CRÍTICA DA OBRA “O NOME DA ROSA”,


DE JEAN-JACQUES ANNAUD

CAMPINA GRANDE
2023.2
RESUMO
O filme “O nome da rosa”, lançado em 1986, é uma versão cinematográfica do
romance de Umberto Eco, o qual dirigido por Jean-Jacques Annaud, apresenta com fidelidade
o enredo do livro, acrescendo algumas particularidades próprias do cinema.
A história concentra-se em dois personagens principais, o Guilherme de Baskerville,
encenado por Sean Connery e Adson de Melk interpretado pelo jovem ator Christian Slater,
ambos estão presentes em todo o contexto da obra, a qual inicia-se com a chegada desses dois
franciscanos a um mosteiro beneditino italiano do século XIV. O contexto da vinda dos dois a
esse lugar religioso, deu-se a partir de uma morte misteriosa de um monge, a qual, de início,
apresentava indícios de suicídio por influências malignas e diabólicas, mas Guilerme, como
um bom estudioso de Aristóteles e do racionalismo, buscou por primazia entender e
compreender os fatores físicos e naturais na procura de respostas para os eventos que
ocorrera.
Com o decorrer da história e com mais algumas mortes acontecendo, eles descobrem
que elas não são casos isolados, mas que estavam relacionados a um escrito privado da
enorme biblioteca do mosteiro. É evidente que, era um possível manuscrito considerado
herético pela Igreja e que ninguém poderia ter acesso, sendo assim, quando foi descoberto por
alguns monges, eles acabavam morrendo com algumas manchas pretas em seu corpo, todas
elas onde houve um possível toque no livro, o que denotava que o manuscrito poderia estar
envenenado.
No entanto, as investigações foram prejudicadas e dificultadas pelo Abade do mosteiro,
uma vez que ele e mais alguns monges não queriam que essa verdade viesse à luz, mas
preferiam mantê-la sob o espectro sombrio tenebroso daquela enorme biblioteca. Sendo
assim, o filme entra em seu clímax quando Guilherme e Adson descobrem essa biblioteca e,
por assim dizer, evidenciam um problema daquela época, na qual muitas obras eram
descartadas e tornadas inutilizáveis porque algumas pessoas ingênuas a tornavam prejudiciais
a fé da Igreja, o que muitas vezes não era.
Em meio a esse contexto de investigação, Adson se envolve com uma mulher e mantém
uma relação íntima durante o filme, porém, ela é considerada uma bruxa, por ser obrigada a
participar de um culto não cristão em vista de conseguir alimento, visto que era pobre e não
tinha o que comer.
A partir disso, com a chegada de um inquisidor, muitos foram os desenrolares da
história, pois Guilherme mais uma vez seria condenado por não crer que pessoas seriam
condenadas por mera ingenuidade em ter acesso a escritos que não eram prejudiciais a Igreja,
mas suas investigações não foram levadas em conta. No entanto, por não querer ver sua
paixão ser queimada na fogueira e seu mestre preso, Adson, com a ajuda de seu mestre, fazem
de tudo para provar que eles estavam errados e consegue provar que o livro estava sob
envenenamento, porém ocorre um grande incêndio na biblioteca, sendo queimado todos os
livros inclusive essa obra envenenada que fora tão escondida e desejada por muitos.
Conseguindo sair vivos do incêndio, o filme conclui com uma reflexão crítica sobre a perca
de conhecimento nessa época, algo exposto de forma clara no filme.
RESENHA CRÍTICA

“O Nome da Rosa”, de título original “Le Nom de la Rose” se trata de uma obra
cinematográfica de drama e suspense baseado numa obra literária escrita por Umberto Eco e
adaptado às telas por Jean-Jacques Annaud. O filme é situado em um mosteiro beneditino
ambientado no período histórico da baixa idade média, mais precisamente no séc. XIV, no qual
as atividades cotidianas unem-se à busca por viver o tempo de uma forma religiosa. Ao longo
do filme, observam-se fatores próprios do ambiente e do tempo histórico, como, por exemplo,
a demonização da feminilidade, atrelada à figura do desejo e do pecado; à hipocrisia religiosa,
apresentada através da incoerência entre o discurso religioso apresentado nos atos litúrgicos
retratados ao longo do filme e as ações e decisões dos monges.
Como figura decisiva à trama, está William de Baskerville (interpretado por Sean
Connery), frade franciscano que foi convidado para, junto a seu acólito, Adso (interpretado por
Christian Slater), participar de uma reunião entre os monges e uma delegação papal sobre a
pobreza do clero. No entanto, após um fatídico falecimento no monastério, sua atenção se volta
a investigar uma série de assassinatos ocorridos dentro dos muros da casa religiosa. Sendo
assim, sua presença configurava uma ameaça aos atos que aconteciam naquele espaço.
Primeiramente, a perspectiva do investigador era a possibilidade do suicídio da primeira vítima.
No entanto, a partir da segunda tragédia, o frade confirma a possibilidade de homicídio, uma
vez que a vítima estava afogada em um tonel de sangue.
Ao desenrolar da trama, o frade investigador adentra nos fatos do cotidiano daquele
mosteiro em busca de compreender as fatalidades ocorridas. No decorrer do filme ocorrem
algumas discussões teológicas, a exemplo de uma sobre o protagonismo ou antagonismo do
riso entre os frades. Sendo assim, o filme tenta expor -ao passo em que satiriza- o aspecto
religioso dentro de um mosteiro que, por princípio, deveria ser um local plenamente dedicado
à religião. Dentre as sátiras, está o despertar sexual do acólito Adso.
De fato, é notável que a atmosfera na qual o filme é ambientado retrata um local sombrio
e claustrofóbico, tornando o mosteiro o cenário ideal para um mistério de homicídios. Quanto
ao elenco, a seleção do corpo de atores é excelente. Sean Connery (Williaam de Baskerville)
interpreta de maneira magnífica o papel de um investigador sólido e intelectual que, para
desvendar os enigmas que estão por trás dos assassinatos, utiliza da lógica e da perspicácia;
além de interpretar perfeitamente a imagem de um religioso e de um mestre em sua relação
paternal com Adso. Além dele, Christian Slater atua solidamente como o jovem acólito que está
observando e aprendendo com as ações de seu mestre, além de oferecer uma atuação perfeita
da imagem de um jovem confuso que busca compreender a si mesmo ao que está ao seu redor,
quase que ingenuamente. O jovem personagem serve também de narrador.
Outrossim, uma das perspectivas mais claras apresentadas pela obra é o choque
ideológico entre o pensamento científico e lógico usado pelo frade William de Baskerville e a
ortodoxia religiosa que é observada no mosteiro, inclusive por meio do retrato dos atos
litúrgicos em algumas partes do filme, mesmo que incoerentemente ao que acontece naquele
espaço. Tal dicotomia cria uma constante tensão que permanece ao longo de toda a narrativa,
sobretudo na luta do investigador para encontrar respostas lógicas em um ambiente
essencialmente religioso e dogmático, no qual essa busca se torna ainda mais árdua e distante,
uma vez que a lógica não é vista como elemento essencial na vivência dos monges retratados
no filme, somente a obediência. O filme retrata magistralmente a maneira como o frade utiliza
da psicologia em sua investigação, inclusive por meio da análise grafológica de um escrito do
irmão Belingar, uma das vítimas de assassinato. A perspicácia do investigador se sobrepõe à
ignorância dos monges e gera, mais ainda, uma tensão crescente ao longo da trama, sobretudo
a partir da chegada do inquisidor Bernardo Gui, cuja ignorância e crença exclusiva no
sobrenatural e em métodos de tortura desumanos se contrapõem à racionalidade do frade
Baskerville.
Sobre a perspectiva técnica, a obra traz elementos gráficos próprios do tempo em que foi
produzida, com uma imagem menos nítida e mais lenta, logicamente distinta ao que estamos
acostumados nos filmes produzidos após a virada do milênio. A aplicação da legenda destoa do
tempo das falas originais do filme, criando um breve delay, mas que não afeta na experiência
do filme. A fotografia e a direção de arte no filme são distintas e capturam com sucesso a
atmosfera sombria citada anteriormente; o cenário retrata perfeitamente a arquitetura medieval
do mosteiro, incluindo nele um ar de mistério e escuridão. Já a trilha sonora escolhida contribui
de forma magistral para a experiência do espectador, que é imerso no ambiente do filme. Nos
momentos oportunos, gera em quem assiste uma sensação de inquietação e suspense que
complementa perfeitamente a história.
Em contrapartida, "O Nome da Rosa" apresenta claramente algumas críticas, sobretudo
no que se refere à rejeição à lógica de William de Baskerville e sua dificuldade em desvendar
a trama do crime sobretudo em um ambiente religioso. A complexidade da trama também se dá
na quantidade de detalhes filosóficos e teológicos presentes, sobretudo nos diálogos entre os
religiosos e nas discussões, podendo tornar o filme um desafio para espectadores que não estão
familiarizados com o ambiente religioso e as discussões que dele advêm ou, ainda, com a obra
original de Umberto Eco. Além disso, a narrativa pode parecer muito lenta, arrastada em certos
momentos, com cenas longas de diálogos e esperas muito longas que acabam por tornar-se
cansativos a quem assiste e poderiam facilmente ter sido encurtadas ou terem outros elementos
adicionados.
Além disso, ao retratar o ambiente religioso de uma forma pouco convencional, inclusive
com cenas de sexo explícito que incluem um personagem que retrata um noviço -logo, uma
figura celibatária, o filme corre o risco de ser injusto com a comunidade que partilha do mesmo
ideal religioso retratado. Não obstante a ser uma obra feita justamente para retratar racional e
logicamente o ambiente religioso, inclusive a partir da descoberta sexual de Adso, poderia ter
sido mais cautelosamente preparado nesse sentido.
Por fim, a obra de Jean-Jacques Annaud pode ser considerado um filme cativante e
estimulante intelectualmente, com uma atmosfera que envolve e imerge o espectador em sua
trama, fazendo-o também sentir-se parte de toda a história apresentada, sobretudo pelas
atuações sólidas e bem colocadas. Pode somente se tornar um desafio para aqueles que preferem
narrativas menos lentas e com ação constante, assim como àqueles que são mais leigos nos
assuntos discutidos ao longo do filme, como os filósofos citados e os aspectos teológicos.
Portanto, para os amantes de uma obra rica em mistério, aspectos filosóficos e debates
intelectuais, este filme é uma escolha acertada.
REFERÊNCIAS
O NOME DA ROSA (Le Nom de la Rose, 1986). Direção e roteiro de Jean-Jacques Annaud,
com Andrew Birkin, Gérard Brach e Howard Franklin. Baseado no livro Il nome della rosa de
Umberto Eco. Distribuidora France 3 Cinéma. França: 1986.

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