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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ANÁLISE DA OBRA “O NOME DA ROSA”

ANÁLISE DA OBRA “O ÓLEO DE LORENZO”

DISCIPLINA:
FILOSOFIA DAS CIÊNCIAS

DOCENTE:
CRISLANE BARBOSA DE AZEVEDO

DISCENTE:
LEANDRO AUGUSTO E SILVA MIRANDA CAVALCANTE

Natal, setembro de 2022.


“O NOME DA ROSA”

Este trabalho faz parte de uma atividade avaliativa presente na disciplina “Filosofia das
Ciências” cursada dentro da pós-graduação em Educação, e trata de uma análise da obra “O Nome
da Rosa”, inspirada no romance de Umberto Eco (1980) – e no filme de Jean-Jacques Annaud
(1986) – se fundamentando em discussões advindas dos textos “Estudo de História e Filosofia das
Ciências” de Cibelle Celestino (SILVA, 2006, p.23-40) e “Introdução à Filosofia da ciência” de
Inês Lacerda (ARAÚJO,2010, p.12-35).
“O nome da Rosa” é um romance de Umberto Eco, publicado em 1980, que trata de uma
grande discussão sobre preceitos ideológicos do pensamento racional versus o emocional, tendo
como inspiração a história fictícia de um monge franciscano chamado William de Baskerville, que
vai até um mosteiro (abadia no norte da Itália) participar de um conclave com dominicanos.
William se depara com uma série de mortes que acontecem “misteriosamente” dentro do mosteiro
e se interessa em investigar à luz de um pensamento mais racionalista e metodológico, o que
provoca desconforto, e posteriormente, oposição ao pensamento religioso. Esta obra, além de
evidenciar a diferença entre um pensamento científico e religioso, trata de temas dualistas como o
paradigma da juventude e velhice, do celibato e a paixão carnal, da riqueza e da pobreza da igreja,
do julgamento inquisidor e da razão.
A história é narrada por Adson de Melk, que na época era um noviço que estava sob tutoria
de William, mas que agora velho toma coragem de relatar acontecimentos do ano de 1327 (Baixa
Idade Média). Já em um primeiro momento da narrativa, Adson proclama que Deus o conceda
sabedoria e graça para ser um cronista fidedigno ao que aconteceu em sua juventude. Isso já
demonstra que o pensamento religioso ainda permaneceu em suas decisões de vida, e além, há
um temor em colocar os acontecimentos para fora de sua mente atormentada.
A história inicia com a chegada do monge William de Baskerville e seu pupilo a abadia, e
já deixa o leitor/espectador alerta quanto aos enfrentamentos de algo misterioso, quando coloca 03
personagens conversando sobre a necessidade ou não, de contar ao monge visitante sobre questões
ocorridas na abadia. Ao que um dos personagens enfatiza que não se deve contar nada, pois o
monge irá procurar em lugares errados e que não deveria supervalorizar a “capacidade” para
descobrir por conta própria. Jorge de Burgos (um cego que é o mais velho do mosteiro) expõe que
as ideias mundanas devem ficar para os jovens. Estes pontos demonstram a ideia de capacidade
distanciada de método e aproximada de característica de dom, há também a concepção de que o
material/real deve ser de natureza jovem e o que é divino é dos sábios anciões. No início do
filme/livro existe uma preocupação em mostrar para o “leitor” uma série de ferramentas e
tecnologias mais voltadas para o pensamento científico (ampulheta, ampliadores de imagem,
aparelho astronômico) e que se contrapõem ao pensamento religioso, num simples gesto de cobrir
estes materiais ao ter o quarto visitado pelo “padre superior da abadia”.
A obra trata a todo instante da quebra de paradigma de um pensamento medieval para a
chegada a um pensamento empirista moderno, tanto é que William de Baskerville, em uma cena
“banal”, ao perceber que seu pupilo quer ir ao banheiro cita uma frase que traduz parte do
pensamento científico de Francis Bacon (1561-1626), dizendo que “Para comandar a natureza é
preciso aprender a obedecê-la.” Nesse mesmo ponto, é demonstrado uma característica empírica
de método dedutivo, quando o pupilo (suando com a mão na barriga) se surpreende ao saber que
mesmo o mestre nunca tendo conhecido aquele lugar sabia a localização do banheiro, apenas por
ter “observado” o comportamento de um homem que se dirigiu apressado e saiu calmo e contente
de um lugar. Temos outro momento empírico de observação quando um urubu está por cima de
uma cova, fazendo William deduzir que houve uma morte recente de um padre.
Um grande contraste do pensamento religioso versus o pensamento científico se dá na
narrativa do padre superior, de que algo sobrenatural, o demônio, pode estar atormentando aquele
mosteiro, já que um jovem padre morreu caindo do alto de seu quarto, nas rochas, mas que sua
janela estava fechada (trecho deduzido por William pelo gesto reticente do padre superior).
É possível perceber uma lógica cartesiana nas ações investigativas de William, pois ele
estipula a razão de um exercício cerebral que recorra evidências para que boatos irracionais não se
consagrem como verdades. Na investigação da primeira morte, investiga observando o local,
constrói uma hipótese de que o padre caiu de outra parte e rolou para perto da verticalidade de seu
quarto. O discípulo propõe uma hipótese de assassinato, mas William refuta essa tese, por questões
de não encontrar outras evidências da participação de alguém, o que é confirmado mais tarde. Na
segunda morte (homem encontrado de cabeça para baixo em uma bacia de sangue, as evidências
sobrenaturais, conjuradas e ratificadas por passagens bíblicas do Apocalipse trazem a crença no
demônio, no entanto para William as evidências mostram um assassinato verificado pela
observação de pegadas na neve (de costas e bem afundadas) dando a hipótese de que alguém
carregou o corpo nas costas e colocou dentro da bacia de sangue.
As investigações dão margem ao aprofundamento desta crise religiosa versus a científica
em vários outros momentos. Quando os corpos são examinados, o olhar se volta para evidências e
não para constatações sobrenaturais; ao descobrir um escrito em pedaço de papel rasgado, o olfato
faz revelar no calor uma escrita omitida com suco de limão; a visita à biblioteca observada com
poucos livros dá margem à construção da hipótese que os livros são a chave de “mistérios”. Assim,
o desenrolar do filme vai mostrando um antagonismo entre o pensamento Aristotélico vivido nas
ações de William e o pensamento Agostiniano esmiuçado pelas atitudes de Jorge de Burgos.
Há também uma crise no pensamento político vivido pelo poder nas mãos dos
dominicanos contra os franciscanos, bem como a reflexão sobre as riquezas da igreja. Isso
demonstra um momento em que a igreja luta na Baixa Idade Média para manter suas propriedades
capitais e propriedades intelectuais. Em determinado ponto da obra um dos sermões emitido pelo
cego Jorge de Burgos diz que a igreja é guardiã do saber e não buscadora do saber. Esta metáfora
com um velho cego, demonstra a tentativa de manutenção de um pensamento conservador na
religião sem os conceitos racionais, e que mais tarde vão ser iluminados substituindo a cegueira
decrépita da igreja na Idade Média.
Um dos momentos icônicos dessa obra se dá no momento em que revela-se para nós
leitores, o motivo dos assassinatos estarem associados ao aprisionamento do saber por uma
conspiração pelo cego Jorge de Borges, para que os “jovens” (outra metáfora), não queiram buscar
conhecimentos que destruam os desígnios da igreja, pois o “riso mata o medo e sem o medo não
pode haver fé.” Assim sem demônio não existiria Deus. Esse pensamento vem de encontro a
“Poética” de Aristóteles que empresta, em um de seus livros, à comédia um papel importante na
ideia de risível. Inclusive, em outro momento do filme William começa a ver livros que estão
sendo traduzidos, cujas imagens colocam iminências da igreja como animais (burros e raposas).
No fim, a grande biblioteca redentora de vários conhecimentos pega fogo, Jorge e sua
cegueira são queimados e William segue seu caminho com um punhado de livros embaixo do
braço. “Pense mais com a cabeça que com o coração.” Oposição racional versus emocional dito
ao pupilo apaixonado por uma camponesa sem nome. Sobre o nome da obra penso na metáfora de
que toda rosa tem espinhos, e em geral quando buscamos nos aproximar muito dela, tomar para si,
é possível que o dedo seja espetado. Nesta analogia teríamos o livro, a sabedoria, a beleza do
conhecimento como uma rosa e o veneno em suas folhas como o espinho. Ao levar o dedo barra a
boca e tentar continuar a pegar a rosa o ser humano se envenena, trazendo a ideia de escolha.
“O ÓLEO DE LORENZO”

Este trabalho faz parte de uma atividade avaliativa presente na disciplina “Filosofia das
Ciências” cursada dentro da pós-graduação em Educação, e trata de uma análise do filme “O Óleo
de Lorenzo” (1992) do diretor George Miller, se fundamentando em discussões advindas dos
textos “Estudo de História e Filosofia das Ciências” de Cibelle Celestino (SILVA, 2006, p.23-40)
e “Introdução à Filosofia da ciência” de Inês Lacerda (ARAÚJO,2010, p.12-35).
“O óleo de Lorenzo” é um filme do gênero dramático, mas baseado na história real de um
garoto chamado Lorenzo Odone, em que seus pais Augusto e Michaela Odone persistem em
encontrar a cura para uma doença rara que degenera o cérebro, levando um paciente a morte em
dois anos. Esta doença genética, adrenoleucodistrofia (ADL) faz com os pais transitem entre a
crença no tempo da ciência e em suas próprias pesquisas, levantando a reflexão sobre os
procedimentos metodológicos rigorosos que a ciência médica segue para iniciar tratamentos. A
frustração com as terapias fracassadas e a ausência de medicamentos faz pessoas com discurso do
senso comum empreenderem uma jornada ao conhecimento científico do estudo, para que
desenvolvam métodos mais rápidos e eficazes em busca de evitar a morte de seus filhos.
Em muitos momentos é possível vermos questões religiosas, ausência de procedimentos
científicos, jogo político de poderes da indústria farmacêutica, vaidade científica, marketing
capitalista e individualismo da pesquisa científica. Todos esses pontos esmiuçados pela “simples”
criação de dois óleos para consumo dos pacientes, pois vinculam saberes da bioquímica,
neurologia, genética, microbiologia, dentre outros.
Há no filme a exposição de diversos procedimentos de pesquisa exploratória tentando
procurar padrões e hipóteses para preencher várias lacunas sobre a doença do filho; pesquisa
bibliográfica levantando e revisando obras de diferentes áreas da biomedicina para tentar construir
um sentido analítico da doença; pesquisa experimental tentando observar efeitos que o uso de
óleo (azeite) provoca nos dados e variáveis, e vendo se influencia na diminuição do aumento de
gordura que envolve o axônio dos neurônios e explicativa; e pesquisa explicativa ao conseguir
identificar a causa da doença na cadeia de cromossomos, bem como descrever e explicar os efeitos
do uso terapêutico do óleo de Lorenzo (óleo de colza e de azeite de oliva) para combater a ADL.
O início do filme se dá a partir de uma frase: “Só há sentido na vida com luta. O triunfo ou
a derrota está na mão dos deuses.” Ou seja, partimos de um pensamento religioso de destinação
ontológica da vida. Após uma apresentação “mágica” multicultural da família de Lorenzo com
uma comunidade no continente africano, e que Lorenzo permanece por quatro anos em plena
alegria, o filme representa o retorno para o EUA, para uma localidade mais “urbanizada”. Nesse
ambiente, Lorenzo começa a apresentar na escola, e posteriormente em casa, comportamentos
agressivos que fazem as professoras gerarem a hipótese de ele ter algum problema como
hiperatividade, e ser indicado para frequentar uma classe especial.
Outras evidências de que Lorenzo tem alguma questão a ser investigada, surgem
relacionadas a aspectos de equilíbrio, quando ele se acidenta na bicicleta e cai de uma cadeira,
tendo bastante sangramento, ou ainda quando começa a querer escutar música com muita
intensidade. Essas observações do senso comum fazem a família buscar uma visão médica que
tente dar explicações científicas (muitos aparelhos e fios) sobre algum diagnóstico que os traga
conforto, mas a maioria dos médicos traz apenas uma visão técnica e sintomática. O diretor do
filme recorre a um corte levando-nos para uma visão religiosa, a partir de uma igreja católica, onde
a família de Lorenzo quase implora para Deus que tudo fique bem.
É então que o diagnóstico de Adenoleucodistrofia (ADL) é confirmado. Os pais, assim
como o senso comum, desconhecem completamente esta visão científica e vai tentando
compreender do que trata esta doença. Neste ponto, temos a apresentação de uma doença que ainda
não foi investigada suficientemente, nos fazendo mergulhar no universo da pesquisa exploratória
e bibliográfica, mas não antes de termos uma cena com prognósticos terríveis de morte rápida para
pessoas com ADL.
A própria busca dos pais por especialistas, revela uma crença no paradigma da ciência
enquanto campo moderno de satisfação às respostas que buscamos, e que a religião não conseguiu
satisfazer. No entanto, ao adentrarem neste universo de desconhecimento sobre a ADL, percebem
que tanto a religião quanto a ciência têm um tempo diferente daqueles que buscam. Na verdade, a
religião tem um objetivo mais confortador e a ciência uma função sistematizadora de
conhecimentos. Esse paradoxo de vida versus morte de Lorenzo faz com que as ações de múltiplos
profissionais precisem ser visitados.
A partir de teorias e hipóteses de alguns especialistas, a família de Lorenzo submete-o a
tratamentos vinculados a pesquisas científicas. Porém os procedimentos metodológicos rigorosos
do método científicos exigem prazo e verificação de dados que não serão satisfatórios para a
família de Lorenzo. Mais uma vez, o filme expõe uma visão religiosa ao trazer a ideia de culpa e
punição para a mãe de Lorenzo, por ser a única da família a ter um filho com ADL.
Nesse interim, os resultados após seis semanas demonstram que o tratamento está piorando
alguns dados/resultados de Lorenzo e os pais refletem sobre se devem desistir e procurar outras
formas, ou confiar na ciência médica. É então que os pais de Lorenzo iniciam estudos sobre cadeias
de cromossomos, ácido graxo, gordura saturada e outras pesquisas em áreas de bioquímica,
genética, neurologia, microbiologia, pois o especialista que está aplicando a pesquisa com Lorenzo
(e outros pacientes) defende que médicos precisam ter métodos rigorosos, com amostras
estatísticas, em um grupo controlado, com prazo e um escrutínio minucioso, onde isso estaria à
serviço da ciência médica. Neste ponto, lembramos de Thomas Khun, pois existe uma quebra de
paradigma dada pela frase: “Doentes à serviço da ciência médica, ou a ciência médica a serviço
dos doentes?”
A pesquisa dos pais de Lorenzo, faz com que descubram a possibilidade de diminuição dos
sintomas e desacelere a perda de mielina do cérebro. Isso gera uma grande polêmica que vai
permanecer durante outras descobertas do filme, e que diz respeito ao tempo, às cobaias, a ética
médica, e da ciência objetiva, mas sabendo que a medicina é uma ciência diferente da ciência da
matemática física. Essa menção aparece quando existe o consumo de uma semente na Índia e
China que geraria uma hipótese de cura para a doença, mas que por ser um senso comum não
estaria pautada na razão de evidências médicas. E isso é levado às últimas consequências quando
o diretor escolhe colocar no filme o paradigma do método versus uma vida.
O filme termina com o reconhecimento das pesquisas do pai de Lorenzo (Augusto Odone),
que recebe um diploma honorário de médico e faz com que suas pesquisas sejam validadas, ou
seja, é necessário ele estar no campo científico para fazer ciência. Assim, o óleo de Lorenzo é
considerado um tratamento médico a partir de dois óleos extraídos de oliva e de semente de colza,
confirmando as hipóteses de diminuição de gordura e quebra das cadeias de ácido graxo.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Inês L. Introdução à filosofia da ciência. 3 ed. Ver Curitiba: EdUFPR, 2010.

ECO, Umberto. O nome da rosa. Tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de
Andrade. Rio de Janeiro: O Globo / São Paulo: Folha de S. Paulo, 2003.

SILVA, Cibelle Celestino. Estudos de História e Filosofia das Ciências, SP: Editora Livraria da
Física, 2006.

FILMOGRAFIA

O NOME DA ROSA (Der Name der Rose – filme original). Direção: Jean-Jacques Annaud.
Produção: Bernd Eichinger, Jake Eberts, Tomas Schuly. Roteiro: Andrew Birkinet al. Elenco: Sean
Connery, Christian Slater, F. Murray Abraham, Michael Lonsdale, Valentina Vargas et al. 1986.
Ingles.Color. 130 min.

O ÓLEO de Lorenzo. Direção: George Miller. Produção: Doug Mitchel e George Miller. Interpretes:
Mick Nolte; Susan Sarandon; Peter Ustinov; Zack O’Malley Greenburg e outros. Universal Pictures
Internacional B.V.; Microservice Tecnologia Digital da Amazônia, 1992. 1 DVD (135 Min.), son,
color. 2

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