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FICHAMENTO BRASIL III – QUE TENHAS TEU CORPO

CAPÍTULO I: OS DESCAMINHOS DA LOCALIZAÇÃO

“...agir independentemente dos limites legais em algumas circunstâncias.” (página 29) –


postura policial diante da prostituição.

“o poder de polícia” colocado no texto como algo que se legitimou diante das relações de
poder perante a ocupação do espaço público e central da cidade do rio de janeiro pelas
prostitutas e todo o aparato envolvido (pois ela cita as pessoas envolvidas também).

“Tanto eles como elas procuravam legitimar suas ações e defender seus interesses por meio da
repetição de certos acordos e comportamentos.” (eles – policiais/ elas- prostitutas de janela,
mais especificamente). Página 30

A autora nos traz que com uma nova organização do trabalho e da própria cidade a
prostituição transformou as redes de sociabilidade dos trabalhadores e também das próprias
prostitutas onde diante das relações com esses homens se estabeleceram conexões de
proteção e também de aliados nas disputas com os homens fardados (os policiais).

“A entrada nesse cenário de um grupo de médicos com preocupações eugênicas traduziu-se


em propostas – e em algumas práticas – de saneamento e de educação, o que contribuiu para
alterar, aos poucos, os termos do debate sobre o “problema da prostituição”.” (página 31) o
discurso da saúde em detrimento da prostituição. Os médicos entram nessa disputa de poder.

- 1896: “Que tenhas teu corpo”

Quem eram essas mulheres? A autora nos aponta que eram em maioria, ex-escravas e
migrantes nordestinas e também imigrantes europeias (ainda salienta para a questão da
ocupação dessas mulheres em locais que estavam em crescente aumento de preço, ou seja, a
parte mais valorizada da cidade – a região central da cidade)

A autora nos coloca o aumento da prostituição diante das imigrantes brancas e também nos
anos seguintes ao final da escravidão. Ela também nos coloca a perspectiva de um observador
desse fato na cidade do RJ e em como ele nos aponta para a moralidade da cidadã brasileira
(como recatada e do lar, retirando dela a natureza da imoralidade e colocando na mulher
estrangeira).

“A maior parte dos relatos registrava um aumento inédito de prostitutas estrangeiras nesse
período, mas as estatísticas consultadas até a década de 1920, mesmo com seus limites e
lacunas, indicam que havia uma decidida vontade de exagerar a presença das estrangeiras em
relação às nacionais.” (página 34)

Diante da mulher ex-escrava havia um esforço para enexerga-la como portadora da mesma
moral que a mulher branca uma vez que o problema atual tratado era em si a prostituição . “A
afirmação do recato das mulatas e negras brasileiras deslocava o sentido das teorias
degenerativas em moda na época: a nacionalidade, pensada através de um certo conteúdo
de gênero naturalizado, redimia a cor das prostitutas nacionais. A escravidão era o mal do
passado, já superado; as prostitutas estrangeiras eram o mal do presente.” (IMPORTANTE)
página 34

O posicionamento do delegado diante de suas medidas giravam em torno da não legitimação


da prostituição “A seus olhos, a regulamentação da prostituição pelo Estado significaria o
reconhecimento dos direitos daquelas mulheres, algo que ele considerava inaceitável.” E
também em relação ao que ele chamava de “delito permanente” que as mulheres envolvidas
nessa questão (da prostituição) voltariam a agir assim diante do seu próprio histórico
apresentado diante de alguns exemplos no texto. Ou seja, ele não achava que a prisão seria
uma solução, somente a expulsão dos locais que elas estavam, porém paralelamente não havia
preocupação com os seus respectivos destinos.

Diante dessa medida repressiva de expulsão a autora nos aponta que haviam dois projetos
distintos de República. Uma desse delegado que expulsara as prostitutas do local, que era um
projeto inspirado numa filosofia positivista, “o presidente da República incorporaria o
interesse geral e coletivo da nação” (página 36) , que separava os cidadãos de bem dos outros
(nesse caso, as prostitutas dos cidadãos honrados e possuidores da moral). E o outro projeto
era do advogado que redigiu o habeas corpus e diante disso ela nos aponta que em sua
concepção a República deveria resguardar os direitos de todos independente do seu “status
moral”.

(Ao final da página 36 ficou meio confuso o ir e vir da discussão a cerca da repressão policial,
entretanto) é possível observar o discurso higienista como forte argumentação para
derrubada/ expulsão das pessoas/prostitutas da localidade em questão e também da sua
própria vestimenta como algo que infringia as leis do código penal (entrando na questão do
“delito permanente”).

“Ao atribuir a iniciativa dos habeas corpus aos gananciosos proprietários dos insalubres
casebres do centro da cidade, o redator e o delegado tentavam deslocar o eixo do conflito,
encobrindo seu caráter político com argumentos higienistas. Angariando o respaldo da
autoridade sanitária, que teria o argumento técnico, neutro, indiscutível, o delegado
procurava legitimar sua medida política” IMPORTANTE-Página 37. Esse ponto se torna
interessante, pois dialoga com a perspectiva do jornal O Paiz que coloca que só houvera
interesse na defesa das prostituas, não por sua vida ou seus direitos mas sim por ter
interferido diretamente em suas propriedades.

“Havia, então, uma dupla estratégia que evidenciava a lógica de ação do delegado e seus
aliados. Para afrontar os interesses dos proprietários e senhorios, a lei. Para os
“desqualificados sociais”, as prostitutas, o arbítrio policial.” IMPORTANTE PÁGINA 37
(Argumentação do advogado que defendia as prostitutas e seus respectivos direitos)

“O debate público motivado pela campanha policial, assim, transformava-se em uma


oportunidade de explicitação de duas concepções conflitantes sobre como deveria concretizar-
se a relação entre indivíduos e Estado na república, e sobre o próprio sentido do novo regime.”
Página 38

Os homens que testemunhavam a favor das prostituas tomavam cuidado com suas expressões
para que não fossem mal interpretados nem como envolvidos em lenocínio e nem envolvidos
sexualmente com as mesmas. “A suposta experiência e interesses em comum entre as
prostitutas e esses homens podiam não ser suficientes para que eles expressassem em público
qualquer solidariedade mais evidente com elas. Mas que, por alguma razão, eles aceitassem
comparecer aos tribunais e caracterizar a violência policial com seus depoimentos, era crucial
para as mulheres.” (página 40)

A presença do interesse de certos advogados no causa das prostitutas com relação ao habeas
corpus fora a única garantia ou tentativa de alcançar seus direitos/ obter a garantia deles.

“O episódio de 1896, neste sentido, é exemplar de como interesses diversos foram


articulados na defesa da república constitucional e liberal de Evaristo de Morais, e ao mesmo
tempo de uma certa maneira de ocupar o espaço urbano que favorecia os pequenos
comerciantes, os proprietários dos casebres insalubres e, como conseqüência, viabilizava
várias atividades de trabalho e de diversão que há anos vinham tendo lugar naquelas ruas.”
Página 42 – IMPORTANTE!!! A questão central é compreender que a defesa ou a não defesa
das prostitutas e da forma como o espaço público era ocupado apontava para uma
determinada forma de República que estava sendo desenhada no período,
consequentemente, apontava ainda para as disputas de poder desse período (onde temos com
o paralelo do Sidney Chalhoub a presença além de advogados e polícias, os higienistas).
PAREI NA PÁGINA 43

- HOSPEDARIAS, PENSÕES, CASAS DE TOLERÂNCIA, RENDEZ-VOUS (PÁGINA 69)

“Essas diferenças eram socialmente construídas com base em critérios de distinção social do
público freqüentador, bem como das mulheres e também do tipo de repressão e controle que
cada categoria de casa mereceria. Para as autoridades e a maior parte dos freqüentadores
habituais, essas deviam ser classificações tão óbvias e evidentes que não precisavam ser
explicadas.” (página 70) Em relação a nomenclatura das casas de prostituição e a fluidez diante
do meio social e dos personagens que as ocupavam/frequentavam.

“A prostituição exercida em casas de rendez-vous, casas de alugar quartos por hora e


hospedarias, assim, parece ter sido a maneira encontrada por algumas prostitutas para
persistir em ruas movimentadas, esquivando-se das habituais medidas de repressão e
controle.” (página 71) A autora nos sinaliza que apesar da repressão e expulsão das
prostitutas dos lugares centrais da cidade, a prostituição não acabou ela apenas transformou o
seu formato diante de algo mais refinado/ para outros públicos.

“Prostitutas com pretensões de elegância estrangeira eram aceitas como parte do cenário das
diversões da elite masculina carioca havia tempos, e o delegado parecia saber que seria difícil
alterar esse quadro de um momento para o outro, só porque elas desceram das sacadas dos
sobrados e ganharam as ruas, como de resto muitas outras mulheres que se pretendiam
elegantes e modernas, e jamais aceitariam ser associadas à prostituição.” (Página 75) Em
relação as “marrequinhas” isto era mulheres/prostitutas que desceram “das janelas” e
ocuparam as ruas com seus gracejos e olhares na busca por clientes. A autora salienta que isso
dificultou o policiamento, uma vez que ficou difícil distinguir quem eram as “mulheres de bem”
e quem eram as prostitutas, já que elas andavam por ruas modernas e se portavam de
maneira não muito alarmante.

“Com todas as letras, o delegado explicava que a grande dificuldade de reprimir a exibição
dessas mulheres decorria não só dos escândalos provocados por ocasião de uma tentativa
frustrada, mas também porque os agentes corriam um grande risco de confundir “senhoras
honestas com mulheres da vida airada”.” (página 75)

“A saída para o impasse seria concretizar espacialmente a segregação, reforçando a


delimitação de áreas para a prostituição.” (página 76) IMPORTANTE! A autora nos chama
atenção para um caso que ocorrera em 1901 onde uma mulher de bons modos/ mãe de
família e portadora da moral fora confundida com uma prostituta “de janela”. Ela ressalta esse
exemplo para nos apontar a arbitrariedade e a aplicabilidade de critérios únicos de
identificação numa sociedade complexa. Por isso, a tentativa de afastar a prostituição do
centro, no intuito de saber efetivamente diferenciar quem eram as mulheres que deveriam
receber o tratamento repressivo policial.

As habitações situadas no centro como pensões/hospedarias também foram hostilizadas não


somente por terem prostitutas como inquilinas, mas também por terem sido habitadas por
pessoas que foram desalojadas do centro da cidade com a reforma urbana (derrubada dos
cortiços). Por isso tinha o estigma rodante em cima desse local como de vícios e vagabundos.
“...residência temporária de trabalhadores que procuravam meios de permanecer no centro
da cidade, a despeito das demolições promovidas com a reforma urbana.” (página 78)

“Ao mesmo tempo em que reforçavam o policiamento das hospedarias, as autoridades


policiais continuaram preocupadas em definir locais específicos para a prostituição pública e
notória. Porém, não havendo acordo sobre que locais deveriam ser esses, a tendência era
dispersiva, e não concentradora, o que se percebe pela própria amplitude da localização das
hospedarias pela cidade na década de 1910, revelada por essas perseguições policiais.” (página
79)
- A POLÍCIA DAS ZONAS

“Tanto o Mangue como a Lapa, portanto, podiam ser ocupados pelas mesmas mulheres, que
por motivos específicos escolheriam as condições de trabalho de um lugar e não do outro.”
(página 84) A repressão policial e consequente influência nos lucros e condição de vida das
prostitutas tinha função direta e específica no tipo de prostituição que aconteceria em
determinados locais.

No último tópico do Capítulo I, a autora estabelece um diálogo com um jornalista (Ricardo


Pinto). Entretanto, ela aponta algumas discordâncias diante dos apontamentos desse autor.

“A história da localização da prostituição ao longo do começo do século XX é também a


história de lutas que se davam em muitos âmbitos pela garantia de direitos como os de
morar, circular e trabalhar na cidade, nas quais as prostitutas de janela contavam com
aliados vindos de muitos lados. Para elas, a república parece ter significado um
deslocamento não apenas espacial, para ruas afastadas e quartos escondidos, mas também
simbólico, em que suas possibilidades de negociação se tornavam mais estreitas e invisíveis.
Aparentemente, foi só quando essa invisibilidade já estava bastante estabelecida, que
médicos e juristas começaram a sentir-se cômodos para questionar certos significados
sociais da prostituição. Os pedidos de habeas corpus ganharam respostas e repercussões
variadas ao longo dessas três décadas. Mas a insistência de tantas mulheres em recorrer a
este instrumento, mais que evidenciar uma resistência às medidas policiais, criou um dos
poucos registros escritos das complexas negociações cotidianas e orais que elas entabularam
com as autoridades encarregadas de vigiá-las. Ao lado das correspondências administrativas
entre autoridades diversas, essa documentação evidencia as não poucas dificuldades
encontradas pelas autoridades policiais para legitimar socialmente seu campo de ação na
Primeira República.” (página 88) IMPORTANTE!!!

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