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A Criação da Mulher — Joel Beeke

Copyright © 2014, Os Puritanos


Sermão do Dr. Joel R. Beeke, presidente e professor de Teologia
Sistemática e Homilética no Seminário Teológico Reformado Puritano, e
pastor da Heritage Netherlands Reformed Congregation of Grand Rapids,
Michigan.
2ª Edição digital: Janeiro de 2015
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem autorização
por escrito do editor, exceto citações em resenhas.
Editor: Manoel Canuto
Designer: Heraldo Almeida
www.os-puritanos.com
Sumário
Capa

Créditos

A Criação da Mulher
1. A mulher feita como uma auxiliadora idônea para o homem.
2. A mulher feita por Deus como Seu especial trabalho manual
3. A mulher feita para ser uma com o homem.
Aplicações Conclusivas

Nossos livros

Mídias
AC M

Querida congregação, Gênesis 2:18-25 descreve de uma forma


gráfica a criação da primeira mulher realizada por Deus. Começa
com uma declaração marcante do Criador: “Não é bom que o
homem esteja só”. A negativa “não é bom” é enfática. Até então,
Deus fizera tudo bom; Ele pronunciou Sua bênção sobre toda Sua
criação. Aqui, pela primeira vez, encontramos que algo está faltando.
Sem companhia feminina e uma parceira para a reprodução, o
homem não podia realizar totalmente sua humanidade. Dessa
necessidade surge a criação da mulher que será companheira e
esposa de Adão.
A criação da mulher em Gênesis 2 tem consequências de longo
alcance. Ela estabelece a fundamentação para três áreas importantes
no relacionamento de um esposo e uma esposa dentro do
casamento:
1. A mulher como uma auxiliadora idônea para o homem.
2. A mulher feita por Deus como Seu trabalho manual especial.
3. A mulher feita para ser uma com o homem.

Nosso texto é Gênesis 2: 18-24:


“Disse mais o senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma
auxiliadora que lhe seja idônea. Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os
animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes
chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome
deles. Deu nome o homem a todos os animais domésticos; para o homem, todavia, não se
achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea. Então, o Senhor Deus fez cair pesado sono
sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com
carne. E a costela que o senhor Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e
lha trouxe. E disse o homem; Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne;
chamar-se-á varoa. Porquanto do varão foi tomada. Por isso, deixa o homem pai e mãe
e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”.
Com a ajuda de Deus, desejamos considerar os temas acima
referidos:
1. A mulher feita como uma auxiliadora idônea
para o homem.
A criação de Eva por Deus está colocada dentro do contexto da
história da criação. A primeira parte desta história é preparação do
homem para a chegada da mulher. Adão foi feito à imagem de Deus.
Ele foi preenchido com a glória primitiva de Deus. E, contudo, Deus
mostrou para Adão que, em toda a ordem criada, com toda sua
variedade, nenhuma criatura adequada havia para ser sua
companheira.
Deus escolheu um modo fascinante para ensinar esta lição a Adão.
Deus ficou lado a lado com Adão enquanto uma grande variedade de
animais passava diante de Adão. Enquanto eles passavam – da anta
à zebra – Adão estudava cada animal e depois lhes dava nomes. Não
foi uma nomeação arbitrária. Adão observou a natureza e o
relacionamento de cada animal. No fundo da sua mente ele deve ter
imaginado se algum poderia ser apropriado para ser sua
companheira. Contudo, nenhum havia. Como diz Gênesis 2.20:
“Para o homem todavia, não se achava idônea”.
Depois que pôs nomes em todos os animais, Adão verificou que
nenhum havia sido criado à imagem de Deus. Todos tinham um
corpo e mesmo, em certo sentido, uma personalidade. Nenhum,
porém, tinha uma alma. Adão não poderia ter qualquer comunhão
com qualquer um deles a nível espiritual. Não importa quão bom
fosse o relacionamento de Adão com um animal, algo ficava
faltando. Deixe-me ilustrar.
Talvez você tenha um excelente relacionamento com o seu cão.
Tem com o animal um grande companheirismo. Você compartilha
com ele, mostra-lhe afeição. Mas, todo seu companheirismo tem
que ser a nível de um cão porque um cão pode comunicar-se apenas
nesse nível. Sem dúvida Adão imaginava que se fosse para ter uma
companhia, o companheiro deveria ser especialmente criado por
Deus à Sua imagem, exatamente como ele próprio, Adão, havia sido.
Assim, Adão estava preparado para uma mulher e a mulher devia
agora ser preparada para ele. Ela deveria ser criada como sua réplica
perfeita no mundo. Homem e mulher foram feitos de modo
diferente e, contudo, pelo ato criativo de Deus, eles deveriam ser
mais semelhantes do que qualquer outra coisa na criação.
Eva foi criada como uma mulher perfeita. Que mulher admirável
ela deve ter sido! Ao comentar sobre a criação do homem, Lutero
disse que Adão deve ter sido um espécime extraordinário. Pensava
ele que Adão deve ter superado os animais até mesmo nos detalhes
em que eles eram insuperáveis; ele devia ter uma força maior que a
de um leão, uma visão mais aguçada que a da águia. Se isso era
verdade para Adão, que podemos dizer de Eva? Lutero pensava que
Eva teria sido tão forte, ágil, perspicaz e brilhante quanto Adão. E
mais, disse Lutero, ela deve tê-lo superado em beleza e graça. Isto
podemos afirmar com certeza: Eva também foi criada com a glória
primeira de Deus.
A despeito da excelência física, mental e moral de Eva, o verso 18
diz que ela foi feita “para” o homem, “uma auxiliadora idônea [ou
adequada] para ele”. Nesta condição perfeita pré-queda, toda mulher
tem um indício para sua posição única, dada por Deus, no
casamento. Ela deve ser uma “ajudadora idônea” para seu marido.
Gênesis 2:18 enfurece grandemente as feministas radicais como
também, algumas vezes, é motivo de preocupação, senão de
ansiedade, para outras mulheres. Falar de mulher sendo feita para o
homem, ou da sua necessidade de ser obediente ao homem no
casamento, é anátema. Muitas mulheres – e mesmo homens –
acham tais ideias ultrapassadas, injustas e preconceituosas contra
as mulheres.
Nossa natureza humana decaída nunca se agrada de renunciar a
sua desejada independência. O homem não quer ser sujeito a Deus e
a mulher não quer ser sujeita ao homem. O Rev. J. Fraanje escreveu
uma vez que “Independência – hoje talvez devêssemos dizer
‘autonomia’ – é a palavra escrita do lado de dentro do portão que
leva para fora do Paraíso”.
Necessitamos de um pensamento claro nesta discussão hoje. Nós
precisamos compreender, primeiro que tudo, que a palavra
ajudadora não é um termo depreciativo. Deus nos criou para servi-
lO e para ajudar o nosso próximo. É uma honra para uma mulher
ajudar seu esposo, pois ajuda é uma palavra usada
frequentemente, com referência ao próprio Deus nos Salmos (10:14;
22:11; 28:7; 46:1; 54:4; 72:12; 86:17; 119:173, 175; 121:1-2 NIV). Se
Deus não está envergonhado de ser uma ajuda para pecadores
decaídos, porque deveríamos nós olhar com desdém para Eva por
ser a “ajudadora” do seu não-decaído esposo? Ser uma ajudadora
idônea não é uma posição degradante. A forma verbal desta palavra
significa basicamente auxiliar ou suprir aquilo de que um indivíduo
não pode prover-se por si só. A Septuaginta a traduz com uma
palavra que o Novo Testamento usa com o sentido de “médico” (Mt
15:25). Ela transmite a ideia de socorrer alguém aflito. Certamente
uma esposa piedosa se deleita em satisfazer as necessidades do seu
esposo.
Idônea vem da palavra que em hebraico significa “oposto”.
Literalmente é “de acordo com o oposto dele”, significando que uma
mulher complementará e corresponderá ao seu marido. Ela deve ser
igual ao homem e ser adequada para ele.
De que maneira ela deve ser igual? Devemos pegar esta palavra
igualdade que tanto ouvimos hoje em dia. Homens e mulheres
são realmente iguais? Sim e não. Há pontos importantes nos quais
homens e mulheres são iguais. (1) Ambos foram criados igualmente
à imagem de Deus. Isto é que os fez companheiros idôneos um para
o outro. Isto explica porque os animais não são companheiros
adequados para nós. (2) Eles foram ambos, colocados sob o
comando moral de Deus e, dessa maneira, lhes foram dadas
responsabilidades morais. (3) Ambos foram culpados de
desobedecer ao comando de Deus e foram, por isso, julgados por
Deus por sua desobediência. (4) Paulo nos diz em Gl 3:28 que
ambos, homens e mulheres, são igualmente objeto da redenção
graciosa de Deus em Cristo Jesus. (5) Como esposo e esposa, um
homem e uma mulher são igualmente conclamados a deixar pai e
mãe para unir-se um ao outro e para amar um ao outro como uma
só carne.
Contudo, em outro sentido, homem e mulher não foram criados
iguais. Porque a mulher foi criada para o homem, eles não foram
criados iguais em autoridade. Deus traçou uma estrutura de
autoridade para os homens, diferente das mulheres. No entanto, a
desigualdade desta estrutura de autoridade não quer dizer que um
marido tem vantagem sobre sua esposa ou que uma posição é
melhor que outra. Nem significa que uma posição é mais alta do que
a outra. Nós temos que expurgar nossas mentes desse modo de
pensar que é muito comum no mundo dos negócios dos nossos dias.
Quanto mais alto estivermos na escada dos negócios da coletividade,
muitos pensam, em melhores condições estaremos.
Não é isto que Deus tem em mente para o homem e a mulher. Na
estrutura de autoridade dada por Deus, o marido e sua esposa
submetem-se mutuamente a Cristo (Ef 5:21), então, sob Cristo,
um ao outro, preenchendo as necessidades um do outro. Já no
paraíso há glória e humildade tanto no homem quanto na mulher. A
glória do homem é que ele é o cabeça; sua humildade é que ele não
está completo sem a mulher. A glória da mulher é que só ela pode
completar o homem; sua humildade é que ela é feita do homem.
Após a queda estes papéis complementares surgem até mais
fortes, especialmente para esposos e esposas que desejam modelar
seu casamento em Cristo de acordo com as diretrizes de Deus. Paulo
nos elucida sobre estes papéis em Efésios 5. O esposo deve amar sua
esposa como Cristo ama a igreja – de modo absoluto (Ele deu-se a
Si mesmo, v. 25b), de modo real (Cristo concebeu que a igreja em si
mesma, necessitava de purificação, v. 26), de modo intencional (i.e.,
para fazer a igreja santa e sem mácula (v. 27) e de modo sacrificial
(i.e., para cuidar da noiva como quem cuida do seu próprio corpo, vs.
28-29).
Por seu lado, a esposa deve mostrar ao seu esposo reverência e
submissão, Paulo diz (vs. 22, 33). Em outro lugar Paulo nos dá
quatro razões por que:
1) porque a mulher é feita do homem (I Co 11: 3, 8),
2) porque a mulher é feita para o homem (I Co 11: 9),
3) porque o homem foi criado primeiro (I Tm 2:12-13) e
4) porque o pecado entrou no mundo pela mulher (I Tm 2: 14).

Assim como o homem deve mostrar liderança amorosa, também a


mulher deve mostrar submissão amorosa.
A submissão não é degradação. Ela é encontrada mesmo entre
pessoas da Divindade; de fato, o casamento é um paralelo da
Trindade divina, a este respeito. Os teólogos falam da Trindade
essencial, a qual a Confissão de Westminster define como “três
pessoas na Divindade, o mesmo em substância, iguais em poder e
glória”. Eles também falam da Trindade econômica, na qual os
vários membros da Divindade deliberada e voluntariamente
submetem-se um ao outro na obra da redenção. O Filho se submete
ao Pai como Mediador e Servo. O Espírito Santo se submete ao Pai e
ao Filho em Sua obra salvífica. Paulo aponta para o paralelismo
entre tais submissões e a submissão marital quando diz: “O cabeça
de todo homem é Cristo, e o cabeça da mulher é o homem e o
cabeça de Cristo é Deus” (I Co 11:3; ver também Ef 5:22-24).
Algumas feministas respondem a tais textos argumentando que a
submissão faz parte da maldição agora anulada pela expiação de
Cristo. Seus argumentos contudo, não consideram a submissão
entre as pessoas divinas nem o fato de que a relação subordinada da
esposa para o esposo é baseada primeiro em Gênesis 2, antes da
queda e da maldição.
A submissão dentro do casamento tem paralelo também com a
igreja que é a família de Deus. Embora as mulheres possam e devam
exercer numerosos papéis nos ministérios da igreja, Paulo deixa
claro que o princípio da autoridade impede-as de serem oficiais na
igreja. Além disso, esta submissão no casamento e na igreja deve ser
voluntária. Resumindo, se uma mulher não pode ser uma ajudadora
submissa amorosa para o homem que a pede em casamento, não
deveria desposá-lo e muito menos um homem deveria propor
casamento a uma mulher a quem ele não pretende mostrar uma
autoridade sacrificial, amorosa.
2. A mulher feita por Deus como Seu especial
trabalho manual
A mulher não é somente feita para o homem; ela é também feita
por Deus como um ato especial da criação. Tanto o homem como a
mulher foram criações especiais de Deus. Eles foram criados em
igual dignidade. Gênesis 2:21-22 diz: “E o Senhor Deus fez cair
pesado sono sobre o homem e este adormeceu; tomou uma das
suas costelas e fechou o lugar com carne”.
Deus causou um profundo sono em Adão como um passo inicial
na criação da mulher. Este “sono profundo” deve ter sido algo como
uma anestesia hoje, e a operação que Deus realizou, semelhante à
cirurgia médica. Deus extraiu uma das costelas do homem e
preencheu o lugar vazio com carne, fechando a ferida.
Da costela, Deus então “fez” – literalmente, em hebraico,
“edificou” ou “construiu” uma mulher. Deus miraculosamente,
meticulosamente, belamente, laboriosamente, formou a mulher
com Suas próprias mãos, fazendo-a cada pedacinho, tão especial
quanto o homem que Ele havia criado antes.
Existe algo particularmente belo, até mesmo poético, sobre esta
criação. A mulher é feita para o homem e, por isso, poder-se-ia
pensar nela como uma serva do homem. Gênesis porém, não diz
isto. Ao contrário, como coloca Matthew Henry: “A mulher não foi
feita da cabeça do homem para governar sobre ele nem dos seus pés
para ser oprimida por ele, mas do seu lado para ser igual a ele, sob o
seu braço para ser protegida e perto do seu coração para ser amada”.
Então, o Pai amoroso apresentou ao homem a noiva que Suas
próprias mãos tinham cuidadosamente formado. Ele “a trouxe para
o homem” (v. 22b), o que é uma frase especial em Hebraico que
significa “apresentou-a ou conduziu-a ao homem”. A palavra
também implica na entrega solene, formal da mulher dentro dos
vínculos do pacto matrimonial, que Provérbios 2:17 chama “o pacto
de Deus”. Deus, como Criador e Pai da mulher, trouxe-a ao homem,
como os puritanos costumavam dizer: “como o seu segundo eu, para
lhe ser uma auxiliadora idônea”.
Ao trazer a mulher para o homem, Deus estabeleceu o casamento
como a primeira, a mais fundamental das instituições humanas.
Antes que houvessem governos ou igrejas ou escolas ou quaisquer
outras estruturas sociais, Deus estabeleceu uma família baseada no
respeito e no amor mútuos de um esposo e uma esposa. Todas as
outras instituições humanas derivam-se desta. Da autoridade do pai
vieram os sistemas patriarcais de governo humano os quais
eventualmente dariam origem às monarquias e democracias. Da
responsabilidade dos pais para educar seus filhos vieram os
sistemas de educação mais formais que chamamos escolas e
colégios. Da necessidade de cuidar da saúde da família vieram os
médicos e os hospitais. Da obrigação dos pais de treinarem seus
filhos no conhecimento de Deus vieram templos, sinagogas e
igrejas. Todas as organizações humanas podem ser retro
acompanhadas até o lar, a família e, finalmente, até o casamento.
Adão, a quem Deus despertou, reconheceu Eva imediatamente
como sua companheira – o complemento perfeito para a
necessidade que havia sido despertada nele. Em resposta ele
explodiu numa espécie de canção nupcial, celebrando sua
similaridade e união com a mulher, ao dar-lhe um nome.
Adão diz: “Esta, afinal” (v. 23a) – i.e., “desta vez” – agora,
finalmente, Adão encontra aquela que lhe corresponde. A íntima
associação é enfatizada pelos seus nomes, desde que ela é chamada
“varoa” [ishah] porque foi tirada do varão [ish]. A palavra hebraica
para “varoa” é formada pelo acréscimo da terminação feminina “–
ah” à palavra “varão”. Uma diferença paralela seria entre leão e leoa,
ou tigre e tigreza. Assim Adão, por revelação divina, percebeu que a
mulher havia sido tirada dele. Seu ato de dar o nome à sua esposa
reforçou sua liderança e autoridade sobre ela, mas seu nome
indicou também que ele compreendeu a igualdade dela com ele,
como sua parceira.
O milagre divino testemunhado por Adão encheu-o de alegria
inexprimível, inspirando-lhe o lindo brado poético: “Esta, afinal, é
osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se –á varoa,
porquanto do varão foi tomada” (v. 23).
Adão e Eva entraram, então, num casamento sem pecado. “O
matrimônio é honroso”, escreveu Mathew Henry, “mas este foi
certamente o mais honroso matrimônio que jamais houve, no qual
o próprio Deus teve desde o começo uma participação direta”.
À canção nupcial de Adão, Deus acrescenta no verso 24 um projeto
sagrado para o casamento que envolve um deixar, um juntar, e uma
unidade: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher,
tornando-se os dois uma só carne”. Estas são provavelmente as
palavras de Moisés, o inspirado autor do Gênesis, que nos provê
com este preceito sagrado que Jesus repete em Mateus 18 e Paulo
repete em Efésios 5:31-32, dizendo: “Eis porque deixará o homem a
seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois
uma só carne. Grande é este mistério,, mas me eu refiro a Cristo e à
Igreja”. Estes três traços essenciais – deixar, unir [ou juntar] e
unidade – ainda existem depois da queda, num bom casamento, em
Cristo.
3. A mulher feita para ser uma com o homem.
As três partes do projeto de Deus para o casamento são marcas
importantes de um bom casamento:
1) Deixar. Deixar pai e mãe é um tremendo reajustamento. A
intimidade da unidade familiar deve ceder lugar para uma nova
unidade familiar com uma nova cabeça. Esta nova unidade tem
prioridade sobre a relação pai-filho. Há uma corrente de
pensamento racional aqui: Um deve deixar a fim de juntar e dois
devem juntar para se tornarem um só (“uma só carne”).
2) Juntar. Um par recém-casado deve unir-se
concomitantemente. A palavra grega original pode ser traduzida
como “cimentado ao mesmo tempo”. O recém-casado e a recém-
casada formam um novo relacionamento inseparável, um do outro.
A mulher torna-se parte do homem e vice-versa. Eles se tornam
mais do que companheiro íntimo, melhor amigo e parceiro fiel, um
do outro.
3) Unidade. A expressão “uma só carne” é a construção hebraica
mais forte para indicar uma mudança de estado. Isto já está
subentendido no fato de ter Eva sido formada de Adão. O objetivo
do casamento, contudo, não é apenas tornar-se um fisicamente, não
importando o quanto isso seja importante e realizador, mas em cada
aspecto do relacionamento: um só no coração, um só no amor, um
só em confiança, um só em propósito, em pensamento e, acima de
tudo, um só em Cristo. Uma unidade que não seja mais profunda do
que física, cedo dissipar-se-á e mais provavelmente terminará em
um casamento infeliz ou num processo de divórcio. Porém um
casamento que tenha uma unidade global de coração, de mente e
atitude terá igualmente uma unidade física especial! A unidade
física não produz um grande casamento, mas um grande casamento,
em Cristo, produz grande unidade física tanto quanto grande
unidade intelectual, emocional e espiritual.
Unidade é o grande objetivo do casamento – ser um com Deus
através de Cristo, depois, por causa desta unidade, ser um, um com
o outro. Mas, como pode um pecador que se separou de Deus
tornar-se um com Deus? Unicamente através do Salvador, Jesus
Cristo, que se comprometeu no deixar, no juntar e na unidade em
atrair e ganhar Sua noiva. Paulo coloca isto dessa maneira: “Grande
é o mistério, mas eu me refiro a Cristo e à Igreja” (Ef 5:32). Aqui
está como Ele fez isto:
(1) Cristo deixou Seu Pai voluntariamente. Ele deixou a coroa, o
trono, a corte de glória para vir a este mundo buscar Sua noiva. Ele
suportou uma dilacerante separação do Seu Pai, na cruz. Ele pagou
assim o preço do dote por Sua noiva a fim de que ela se tornasse
parte do Seu corpo, Sua carne e Seus ossos.
(2) Na cruz do Calvário, Cristo juntou-se à Sua noiva. Enquanto
Ele estava morrendo, ela foi misticamente formada dEle, como o
Segundo Adão, exatamente como Eva foi formada do primeiro Adão,
enquanto esteve em profundo sono. Assim como a mulher veio do
lado de Adão para simbolizar o seu estar unido concomitantemente,
assim também do lado ferido, sangrando, agonizante do nosso
Salvador, foi tirada a Igreja, por assim dizer, para nascer, viver e ser
unida com seu Salvador. Este é, realmente, um grande mistério!
(3) A maior parte deste mistério, no entanto, é: “Se tornarão os
dois uma só carne”. A igreja de Deus, diz Paulo, constitui a
plenitude total de Cristo como Mediador. Ele é a cabeça; a igreja é o
corpo. “E, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à Igreja, a
qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas
as coisas” (Ef 1:22-23). Esta união mística será aperfeiçoada um dia
no céu, numa união ideal, indestrutível.
Quando nascemos de novo através do poder regenerador do
Espírito Santo, nós nos tornamos pessoalmente unidos com Jesus
Cristo. Nos tornamos um “em Cristo”. Por isso é que Paulo jamais
se cansou de descrever um cristão desse modo. Em suas epístolas
Paulo usa esta frase ou uma similar – em Cristo, em Cristo
Jesus ou nEle – pelo menos 164 vezes. Esta é a maneira favorita de
Paulo para descrever um cristão.
Por exemplo, Paulo escreve: “Se alguém está em Cristo, é nova
criatura”, ou como está no original “uma nova criação” (2 Co 5:17).
Por estar unida com Cristo, uma pessoa se torna uma nova criação.
Ela é uma em Cristo; ela está unida com Cristo. Igualmente, Paulo
diz em Efésios 1:3 “Bendito o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus
Cristo que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual
nas regiões celestiais em Cristo”.
A união do crente com Cristo é profundamente íntima. Quando
Paulo fala de união com Cristo, ele usa um prefixo especial, em
Grego, melhor traduzido como “co-“, significando que o laço é
indissolúvel. Literalmente, ele diz em Gálatas 2:19: “Estou co-
crucificado com Cristo”. Isto é, quando Ele morreu, num sentido eu
também morri. Em Romanos 6:4, quando Paulo fala de ser
glorificado juntamente com Cristo, ele está dizendo que a
intimidade da união do crente com Cristo é tão grande que há um
sentido no qual, quando Ele crucificado, o crente foi também
crucificado; quando Ele morreu, o crente também morreu; quando
Ele foi sepultado, o crente também foi sepultado; quando Ele foi
levantado de entre os mortos, o crente também foi levantado;
quando Ele ascendeu, o crente também ascendeu. Quem pode
compreender esta união mística? Um poeta disse:
Um na tumba, um quando Ele se levantou,
Um quando Ele triunfou sobre Seus inimigos,
Um quando no céu Ele se sentou
Enquanto serafins cantavam que o inferno derrotou.
Com Ele, o nosso cabeça, prevalecemos ou caímos
Nossa vida, certeza, nosso tudo.

Oh, que dignidade existe em tudo isto – dignidade na criação de


Eva, como uma mulher, uma com seu marido, partilhando esta
dignidade com ele! E agora, através da fé, dignidade na recriação da
noiva de Cristo, para ser feita uma com o esposo – para partilhar
Sua dignidade e glória, ser amada por Deus com uma parte daquele
mesmo amor com que Deus ama Seu próprio Filho!
Verdadeiramente, não há dignidade como a dignidade da recriação –
de ser feito a verdadeira noiva de Jesus Cristo.
Aplicações Conclusivas
E o seu casamento – ele reflete unidade em Cristo? Quando ele
não está como você esperava que estivesse, você pergunta: Como
posso eu (não meu cônjuge) fazer uma unidade mais profunda?
Você trabalha no sentido de cultivar uma intimidade maior no seu
casamento?
Nos dias de hoje, o casamento está sob ataque. O Hedonismo está
exuberante. O adultério está ganhando uma aceitação que se
espalha. Divórcios antibíblicos se concretizam via internet.
A estrutura básica da sociedade está se rompendo. Com certa
frequência os crentes estão em situação pouco melhor.
Necessitamos desesperadamente compreender o valor do
casamento e fazer um grande esforço para atingir a excelência no
casamento através do Senhor Jesus. Devemos nos empenhar por
unidade de modo que nossos casamentos possam ser epístolas
abertas da graça de Deus em um mundo impiedoso.
Não devemos nos render ao amor a nós mesmo que é fomentado
pela nossa cultura. O único caminho para ter um casamento
realmente bem sucedido é colocar Cristo como primeiro, seu
cônjuge como segundo e você como terceiro. O amor de si próprio
deve ser quebrado ao pé da cruz de Cristo. Apenas quando nos
vemos como pecadores em rebelião contra Deus e nos prostramos
diante dEle por perdão e ajuda para buscar a santidade, o amor
encherá nossos casamentos e transbordará sobre todos os nossos
outros relacionamentos. Então nós entenderemos que um
casamento não existe para o “eu” mas para o “nós” – para os filhos e
a sociedade e, finalmente, para a glória de Deus.
Estamos buscando diariamente a glória de Deus em nosso
casamento? Esposos, estão se empenhando para ser o cabeça que
ama, em seu casamento? Esposas, estão se empenhando para
mostrar submissão amorosa ao seu esposo? Num casamento bíblico
não há lugar para patrões – apenas para liderança amorosa e
submissão amorosa quando um homem e uma mulher buscam
vivenciar, pela graça de Deus, o relacionamento Cristo-Igreja na
terra.
Finalizando, uma palavra para os jovens: A unidade que Deus
tenciona que o casamento seja, em Cristo, significa que você não
pode casar com um descrente. Se você casa com alguém que tem
uma agenda pessoal para o casamento diferente da agenda de Deus,
você estará certamente preparando para si mesmo anos de dor e
coração partido. Em 2 Co 6:14 lemos: “Não vos ponhais em jugo
desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver
entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as
trevas?”. Procure um cônjuge que lhe seja dado pelo favor de Deus e
das Suas mãos. E se você deseja ser você mesmo, um bom cônjuge,
escreveu Thomas Manton, “liquide seu direito e seu título por meio
de Cristo” (Works 2:164). Esteja convicto do seu chamado e eleição.
Se você e seu cônjuge são tementes a Deus, seu casamento se
beneficiará grandemente porque você terá alguém para ajudá-lo a se
esforçar por viver para a glória de Deus, para viver uma vida santa, a
suportar as cruzes que Deus enviará ao seu caminho e a se
aproximar de Deus confiantemente, pela intermediação de Cristo,
em oração e adoração.
Ore por direção, conselho e bênção de Deus enquanto você espera
nEle para levá-lo a um cônjuge temente a Deus, apropriado para
você. Peça a Ele um que seja ajudador idôneo para você.
Caros amigos, vocês estão casados com Jesus Cristo? Adão e Eva
não se envergonharam porque estavam vestidos com a retidão
original, dada por Deus. Vocês também não estão envergonhados
por estarem vestidos com a retidão de Jesus Cristo, dada por Deus?
Lembrem-se, este Salvador bendito requer sua fidelidade. Ele tem
ciúmes do seu amor de casado. Vocês não devem extraviar-se dEle.
O que acha deste Noivo perfeito? Você está casado com um outro
senhor – com o príncipe deste mundo? As promessas de Satanás são
mentiras. Seu dote é angústia. Seu abraço é morte. Seu quarto é
escuridão. Sua cama está nas chamas do fogo.
Qualquer que possa ser o seu caso, vamos abandonar todas as
nossas negligências em nossa vida matrimonial natural e em nosso
casamento espiritual com o Noivo perfeito, Jesus Cristo. Vamos
deixar a impiedade deste mundo e nos juntar com Cristo para
sermos um com Ele – agora e para sempre.
Amém.
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