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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Instituto de Ciências Humanas e Sociais

Departamento de História e Relações Internacionais

TRABALHO CONTEMPLANDO TESE

As seduções da ordem: violência, criminalidade e administração da


justiça

Minas Gerais - século 19

DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL II

DOCENTE: ADRIANA BARRETO DE SOUZA

DISCENTE: LUCAS ESTEVÃO SILVA DE OLIVEIRA

Seropédica
2022.2

1
INTRODUÇÃO

Este trabalho pretende analisar o livro “As seduções da ordem: violência,


criminalidade e administração da justiça Minas Gerais - século 19” do professor Ivan de
Andrade Vellasco. A publicação em questão é uma versão “ligeiramente modificada”,
como o próprio coloca, de sua tese de doutorado apresentado no IUPERJ 1 no ano de 2002.
O escritor possui mestrado em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal de
Minas Gerais e, como mencionado, doutorado em Sociologia. Vale ressaltar que sua tese
foi premiada no concurso promovido pelo CNPq - ANPOCS2 e atualmente é professor
titular da Universidade de São João Del-Rei com pós-doutorado em história da justiça na
Universidade de Sevilha.

Nas primeiras páginas da tese, o autor inicia contextualizando todo universo que
rodeia o tema central de seu estudo. O período que corresponde a construção de um
Estado-nação brasileiro começa ser idealizado no século XIX. Ivan nos mostra que todo
período antes de 1822 se caracteriza como uma “fase de acumulação primitiva de poder”,
termo que diz respeito a falta de centralização do poder estatal brasileiro. Após a chegada
da família real, que intensifica a formação desse novo estado, o tema central da política
que é aplicada no Brasil diz respeito a reorganização, expansão e fortalecimento da
máquina burocrática.

O desenvolvimento dessa força legítima de aplicação e ordenamento social ocorreu


dentro de uma dinâmica bastante ambígua devido as diferenças de entrelaçamento social
que existiam no Brasil. Um dos aspectos mais criticados, desde períodos que antecedem a
Independência, era a política fiscal e administração da justiça. O objetivo do autor com
essa pesquisa é entender o desenvolvimento da máquina público-administrativa do Estado
brasileiro, porém focando em como esse processo de construção e expansão do aparato
jurídico foi vivido em uma região central, que serviu também na dinâmica de consolidação
do Estado imperial. O autor visa analisar também a relação construída entre Estado e
sociedade, ou seja, o modo no qual o povo (incluindo homens e mulheres pobres, mestiços,
negros ou brancos) possuíam uma atuação decisiva no campo do exercício de cidadania. O
Estado passar a se responsabilizar pelo monopólio de jurisdição nacional, foi fruto de lutas

1
Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro
2
Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
Graduação em Ciências Sociais

2
e negociações envolvendo diferentes agentes e grupos sociais que, até então, eram
ignorados pela historiografia.

O autor apresenta sua delimitação de tempo e espaço, onde trabalhara a comarca do


Rio das Mortes, em Minas Gerais, uma das 3 regiões administrativas que foram
estabelecidas em 1714. O período de 1808 a 1899, escolhido pelo autor, compreende o
desenvolvimento dos temas pautados aqui. Dessa forma, Ivan desenvolve seu texto em um
período longo e em uma comarca do Império que se desenvolveu, em grande parte, com
um forte enraizamento social em virtude da antecipação da instalação da máquina
governamental em seu território, fruto do desenvolvimento comercial, econômico, urbano
e social provocados pela mineração.

A tese de Ivan se insere no debate historiográfico de forma crítica ao apagamento


da participação político-social da população pobre na consolidação do novo Estado
brasileiro. Essa visão que defende a noção do aparelho jurídico apenas como uma “fachada
legal para o domínio e controle estatal [...] dos potentados locais” 3, tem sido amplamente
questionada a partir de trabalhos que respaldam suas ideias em processos criminais e fontes
jurídicas, onde puderam revelar que havia uma ampla participação popular dentro do poder
jurídico.

OBJETIVOS

Buscando fazer uma crítica a visão historiográfica sobre o processo de


desenvolvimento comercial causado pela mineração em Minas Gerais, Ivan inicia o
primeiro capítulo de sua tese apresentando argumentos que vão contra essa ideia
hegemônica. Seguindo essa premissa, o autor desenvolve uma explicação para mostrar que,
mesmo com a decadência da mineração, a província possuía meios de lidar com essa
“crise”, algo que a os trabalhos produzidos até então, de certa forma, ignorava. Ele baseia
seus argumentos nos estudos de Alcir Lenharo e Roberto Martins. e destaca,
principalmente, a importância da região central de Minas, onde está a comarca estudada,
no cenário nacional ainda no século XVIII.

No decorrer do capítulo, o escritor desenvolve ainda mais o panorama para o leitor


conhecer o local e entender como foi a influência, desse novo processo de
3
VELLASCO, Ivan de Andrade. As seduções da ordem: violência, criminalidade e administração da justiça
: Minas Gerais - século 19. Editora da Universidade do Sagado Coração. 2004. p. 21

3
desenvolvimento, na região da Comarca de Rio das Mortes. Ivan nos mostra o quanto o
movimento comercial transformaria as dinâmicas de sociabilidade e cultura até em locais
pequenos, e no Rio das Mortes isso não seria diferente. Diante disso, ele nos deixa bastante
evidente os motivos que o levaram a escolher esse local para estudar o desenvolvimento do
corpo judiciário brasileiro.

Em conclusão, o autor finaliza o primeiro capítulo apresentando os dados sobre a


metodologia usada no processamento das fontes. Ivan descreve com clareza a forma como
iniciou e dirigiu seu trabalho tendo como referência principal três fontes documentais, que
são: processos criminais e cíveis do acervo do Cartório do Crime do Fórum de São João
Del-Rei, três livros de rol dos culpados e oito livros de querela 4. Além disso, os
documentos usados na pesquisa, por mais que apresentassem dados inéditos, também
possuíam incompletudes resultadas da falta de controle da época, o que exigiu grande
esforço do escritor para realização desta pesquisa. Dentro deste trabalho, dedico um
capítulo apenas para maior desenvolvimento das fontes e seus usos.

Seguindo essa linha de pensamento, no segundo capítulo o autor passa dar um foco
maior ao processo de ordenamento do corpo jurídico brasileiro da Comarca de Rio das
Mortes.

O autor inicia o desenvolvimento apresentando uma história que deixa evidente o


quanto ter um sistema judiciário desestruturado poderia ir diretamente contra a manutenção
da ordem e tranquilidade pública. É possível notar que somente com a presença da família
real no país, puderam colocar em prática o plano de desenvolver e monopolizar o aparelho
judiciário. E, mesmo com a volta para Portugal, D. João havia deixado a administração
judiciária organizada de outra maneira, mas com heranças ainda coloniais. O autor
pretende, neste capítulo, mostrar como se deu o processo de expansão do judiciário
brasileiro pós 1808.

A falta de centralização do poder estatal, principalmente em relação ao controle


judiciário, fazia com que grupos políticos disputassem esse campo. Uma das inovações
surgidas nesse período de instabilidade política, é a criação das “guerrilhas burocráticas” 5.
4
Querela é o nome do movimento na qual uma ação jurídica é iniciada (queixa-crime)
5
As chamadas “guerrilhas burocráticas” foram “[...] medidas que seriam capazes de melhorar o estado da
justiça, tornando-a mais ágil e menos dispendiosa, mais eficaz e menos abarrotada pela demora nos trâmites.
Entre elas, a implementação de divisões administrativas — comarcas, julgados e distritos — e do sistema de
jurados e juízes de paz, o fim de privilégios de foro e a criação de uma Relação na província, com ‘uma
cadeira de direito regida por um dos desembargadores’”. Ibidem p. 107

4
Vale ressaltar que a promulgação do Código do Processo Criminal em 1832, que
influenciou diretamente à centralização da máquina judiciária, foi feita ainda com os
liberais no poder, um período que é chamado pelo autor de “fase de experimentação
institucional”6. De forma resumida, essas “guerrilhas” foram formas que os liberais
encontraram para se opor, como o nome diz, burocraticamente, a nova visão de
organização do Estado brasileiro comandada pelo grupo conservador a partir de 1837.

Tendo apresentado o termo ainda na introdução, Ivan retoma a ideia de


“acumulação primitiva de poder” mostrando que, no final dos anos 30, a elite imperial
estava pronta para avançar no processo de monopolização e controle da máquina pública.
Portanto, podemos entender esse período como uma disputa sobre quem e como deveria
controlar a administração judiciária. Em suma, ao trabalhar a montagem e evolução do
judiciário na comarca do Rio das Mortes, o escritor deixa evidente que o império havia se
fortalecido para ter condições de comandar a máquina administrativa, tirando das mãos de
grandes proprietários.

O terceiro capítulo começa sendo explicado já no final do anterior. Com a expansão


da máquina burocrática, o autor se atenta agora a entender o que era produzido e qual a
função dessa estrutura na organização social da comarca. Ou seja, “[...] sobre quem os seus
poderes gradativamente expandidos se exerceram, e quem eram os seus usuários”7.

Este capítulo marca o debate sobre a expansão da máquina jurídica, onde podemos
ver que isso não significou necessariamente uma boa relação com a sociedade e nem que
acompanhasse o crescimento das cidades. É visto de forma clara que, na década de 20, a
justiça era acionada somente por uma minoria, os proprietários locais, e para a população
pobre, a justiça representava não só um corpo inútil, mas, também, algo prejudicial. No
decorrer do capítulo, o escritor vai apresentar a posição de diversos autores que revisaram
a historiografia sobre a justiça brasileira, tendo como fontes os materiais produzidos por
ela (processos criminais, ações de liberdade, livros de sentenças) e que puderam evidenciar
a transformação desse quadro aos poucos, principalmente no início de 1830.

6
Com as ‘guerrilhas burocráticas’, e a criação do juizado de paz, os juízes formados em Direito, entravam em
conflito por motivos que, dentre outras opções apresentadas pelo autor, podem estar envolvidas com questões
partidárias. O autor, então, nos apresenta um aspecto das tensões judiciárias, dizendo que esta não teria tido
“[...] início como um conflito entre os grupos locais, mas como um enfrentamento entre autoridades
judiciárias que mediam armas e defendiam suas prerrogativas e poderes”. “Essa luta, portanto, expressa e
exemplifica o debate que atravessará toda a década e que terá seu desfecho em 1841, com a vitória da
centralização da máquina judiciária e o fim da fase de experimentação institucional.” Ibidem. p. 106
7
Ibidem. p. 147

5
Ivan nos apresenta alguns relatos de uso da justiça por parte de pessoas pobres que
obtiveram êxito na sua denúncia. Tais relatos sustentam a crítica do autor ao apagamento
da participação de homens e mulheres pobres no exercício de cidadania. Porém, ao mesmo
tempo, ele nos lembra que esses casos não são frequentes, mas que, os conflitos que
ocorriam eram entre pessoas que estavam no mesmo espaço e a função da justiça, nesse
caso, era administrá-los sem colocar qualquer hierarquia no julgamento entre o réu e a
vítima. Uma das fontes usadas pelo autor nessa pesquisa, os livros de querela, se tornam
principais nesse momento pois revelam quem realmente passam a ser os agentes que
buscam a justiça brasileira, dessa vez fortalecida e centralizada no corpo do Estado. Existia
uma parte da população que tinha crença na eficácia da justiça. Pessoas pobres, portanto,
passaram a utilizar da justiça para legitimar a sua posição como cidadão e ser posto na
igualdade de enfrentar outrem, mais poderoso ou não, perante a lei.

Este capítulo vai chegando a sua parte final com o autor fazendo um paralelo sobre
a existência de um mercado consumidor em Minas e como se tornava viável a presença
desse mercado apenas pela presença do “fórum”. Existiram mudanças estruturais no
funcionamento daquela sociedade, onde inicia-se uma nova organização social. Quer dizer,
com o desenvolvimento do corpo jurídico, pessoas que eram “desclassificadas”
socialmente, passaram a ser inseridas como cidadãos brasileiros, tendo a justiça como
ferramenta de inclusão. Os trabalhos de Patricia Aufderheide e Celeste Zenha, dão
sustentação a essa impressão de que a justiça, aos poucos, iria se incorporando no cotidiano
das pessoas. E, parar entender melhor ainda como e porque o povo pobre passou a usar da
justiça como ferramenta de inclusão, o autor aconselha o trabalho de Sidney Chalhoub
intitulado “Visões da Liberdade”.

O quarto, e último, capítulo do livro trata sobre a “evolução” dos crimes violentos
na região. Dado o grande fluxo de pessoas que se aventuravam na corrida do ouro, a
violência interpessoal era algo do cotidiano. E, com dificuldades de impor a ordem,
aumentava-se a denúncia de ineficiência das instituições para lidar com esse problema e
impor a obra civilizatória.

Diante de um aumento da necessidade de maior controle da criminalidade na


comarca, as pessoas atribuíam essa situação a alguns culpados, principalmente os juízes,
que passam a ser vistos como não contribuintes do serviço de Deus e da manutenção do
sossego dos povos e da Majestade. Além disso, são destacados alguns estudos que

6
buscaram analisar por que havia constantes mudanças nos crimes que ficavam em
evidência e pode-se notar que influências sociais, o próprio desenvolvimento urbano, e
outros aparelhos culturais, vão ser os “culpados” por essas variações. Diante de uma
sociedade que deixa de ter, em sua centralidade, a economia mineradora e passa a ter um
grande fluxo comercial, esse capítulo vai relacionar muito bem a ideia de como essas
influências atingiam o quadro criminal da comarca.

Pode ser observado que essa violência fazia parte do ethos na sociedade de 1800,
algo que atravessava todas as esferas sociais. Além disso, um problema comum na região
era a associação de bebidas alcóolicas e armas de fogo. Constantes são os atos judiciais que
absolvem, ou punem brandamente, acusados que cometeram crimes alcoolizados. Mesmo
diante de uma crescente nos números de criminalidade, o autor nos mostra que essa
questão não implica, necessariamente, que o aparelho de controle e justiça do estado
fossem ineficientes.

O último capítulo é finalizado trabalhando os documentos provinciais. Com o


intuito de produzir gráficos que traduzem a evolução e característica da criminalidade em
Rio das Mortes e nos mostrar como essa questão, durante o processo de formação do
Estado e da estrutura jurídica brasileira, pode nos evidenciar a forma de pensamento das
elites do governo sobre a violência e a busca por alguma possibilidade de controle. É,
principalmente, através da burocratização das ações policiais que o Estado passa a
considerar essa emergência da criminalidade como um problema dele próprio.

METODOLOGIA E FONTES

De maneira geral, as fontes utilizadas pelo autor são resultadas do trabalho de um


núcleo de pesquisa dos anos 90, no qual ele fez parte, que organizou o acervo do Cartório
do Crime do Fórum de São João Del-Rei. A intenção era montar um banco de dados sobre
justiça e criminalidade, na comarca de Rio das Mortes, no século XIX. Após catalogarem e
indexarem os dados, o resultado do banco teve influência de três fontes documentais: os
processos criminais e cíveis, que compreendem um período de 1807 a 1900, os 3 livros de
rol dos culpados, de 1772 a 1878, e por fim os 8 livros de querela que vão de 1779 a 1833.

Todas as fontes anteriormente mencionadas, somadas após catalogação, dão um


total de 2.246 registros criminais, de 1772 a 1900. Cada uma possui sua importância para o

7
estudo de Ivan, porém aqui ressaltaremos duas: os processos criminais e cíveis e os livros
de querela. O autor após realizar o cruzamento das fontes, pode observar que juntos trazem
uma visão mais ampla dos processos, com maior riqueza de detalhes, ajudando a distribuir
um conjunto de informações por um período longo, tornando-se a representação do que era
produzido pela comarca na época.

A primeira fonte merece devida atenção por alguns fatores. O primeiro diz respeito
ao detalhamento de dados existentes no processo, que ajudam a historiografia entender as
noções de mundo que estavam presentes naquela sociedade e, também, a evidenciar atores
sociais anônimos onde, através da justiça, se tornavam sujeitos centrais dos movimentos
históricos. É necessário destacar que dos 1128 registros, 918 se trata de crimes, e os 210
restantes, se trata de causa cíveis. Outro ponto importante a ser mencionado, é que essa
documentação não é composta apenas por processos criminais, mas também por “traslado
dos autos do processo, o exame de corpo de delito, o auto de denúncia, a acusação crime, o
sumário crime ou de culpa, petições várias etc.” 8. Sendo assim, estes processos
possibilitaram uma análise detalhada da organização e do desenvolvimento da atuação
judiciária no seu papel de aplicação da ordem.

Os livros de querela basicamente são livros que dispõe das denúncias de um crime,
feito pela vítima ou por testemunha, apresentando uma versão precisa de como ocorreu o
crime e suas circunstâncias. Estes livros também dispõem de dados, assim como nas outas
fontes, que ajudaram o autor na qualificação dos crimes e dos envolvidos. Porém, ele
destaca sua importância fazendo uma comparação com os processos criminais, vejamos:

Acresce, no entanto, a riqueza dessa


documentação, tal como nos processos
criminais, para um a análise mais matizada e
circunstanciada dos eventos. (VELLASCO,
2004)

As querelas puderam evidenciar que grande parte dos processos se tratava de


disputas interpessoais. Mesmo sendo um período em que as elites dominantes
influenciavam massivamente o poder, os livros são novidade no sentido de explanar quem
realmente eram os agentes que buscavam a intervenção do sistema judiciário para
resolução de seus problemas pessoais. É dessa forma, portanto, que essa fonte se torna
importante pois demonstra que, em sua maioria, os casos registrados eram de “homens e
8
Ibidem. p. 66

8
mulheres do povo, socialmente igualados” 9, que buscavam a justiça como um instrumento
de resolução para seus problemas.

CONCLUSÃO

Em suas considerações finais, Ivan conclui que buscou apresentar o tema da ordem,
analisando o momento de consolidação do Estado brasileiro, através de atores sociais que,
normalmente, são ignorados pela historiografia. Reforça que podemos entender esses
agentes como relevantes nesse processo, pois fizeram com que suas vozes fossem levadas
para o campo de decisão do Estado, mesmo em uma sociedade que não os consideravam
como parte do corpo de cidadãos.

O autor volta a tecer críticas a essa historiografia apontando que a documentação


produzida, até então, sobre a justiça no Império, a apresentava como instrumento de
dominação. Essas informações acabam sendo equivocadas pois esses materiais produzidos
foram influenciados diretamente por disputas políticas, o que não nos permite tomá-las
como verdade. Com o cruzamento de fontes feito pelo autor, podemos observar que a
atuação da justiça, na verdade, produziu resultados que não podem ser desprezados pois
demonstra a existência de juízes que cumpriam seu papel sem discriminações ou
negligências. Mesmo em uma sociedade marcada pela escravidão, a população de homens
e mulheres pobres, negros, ainda assim estava atenta as movimentações que ocorriam no
país, porém com entendimentos próprios, por exemplo, do conceito de ‘justiça’ ou
‘liberdade’.

Em seu último parágrafo, Ivan de Andrade coloca que estudar esse processo, da
forma que foi feita, aconteceu pela diversidade da sociedade brasileira e, por isso, é
precisou atentar-se as variações e evoluções sociais diferenciadas provocadas por essa
homogeneidade. Seu trabalho, portanto, é uma tentativa de produzir a história incluindo a
atuação de homens e mulheres pobres. Dessa forma, finaliza seu livro com um
entendimento de Maria Yedda Linhares onde reconhece ser forçoso a tentativa de testar
novas hipóteses e esquemas teóricos diante de uma história que, dificilmente, nos permite
penetrá-la.

REFÊRENCIA BIBLIOGRÁFICA

9
Ibidem. p. 171

9
CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da
escravidão na corte. São Paulo. Companhia das Letras. 1990

FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. São Paulo:
Unesp, 1977.

MOTTA, K. S. da. Trajetória política e perfil dos primeiros juízes de paz da Província do
Espírito Santo (1827-1841). Revista do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, [S.
l.], v. 3, n. 6, p. 95–107, 2019. Disponível em:
https://periodicos.ufes.br/revapees/article/view/32298. Acesso em: 14 fev. 2023.

VELLASCO, Ivan de Andrade – As seduções da ordem: violência, justiça e


criminalidade : Minas Gerais - século 19. São Paulo. Editora da Universidade do Sagrado
Coração. 2004

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