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CONCENTRAÇÃO E DEMOCRATIZAÇÃO*
RESUMO
ABSTRACT
Rarely set forth in legal discourse, the phenomenon of media concentration in Brazil
affects strongly constitutional principles and values that give support to democracy,
especially freedom of speech, press freedom and pluralism. The social forces, political
and economic powers exercised by the mass media are indisputable, but it is
questionable how the assets have been delivered to a small number of social voices. We
live today under the cloak of a restriction of freedom of speech, a cloak constructed
throughout the history of communication policies in Brazil. Achieve a media democracy
depends on understanding how the actions and omissions of the Brazilian State - mostly
from the eighties - resulted in the current concessions distribution policy for
broadcasting, a policy built in alliance with the constant economic and political powers .
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Trabalho publicado nos Anais do XVIII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em São Paulo –
SP nos dias 04, 05, 06 e 07 de novembro de 2009.
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This study aims the communication right - fundamental guideline for the freedom of
speech in a Constitutional Democracy – survives precariously in the current model of
mass media, a factor even more serious considering the needs of the information society
in the XXI century.
INTRODUÇÃO
Num país como o Brasil, que devido a inúmeros fatores históricos, sociais,
políticos e econômicos ainda não atingiu todas as precisões para uma efetiva
emancipação dos seus cidadãos, os meios de comunicação social desempenham
gigantesco papel de educador, de enterteiner[2], de espaços para a participação popular,
de motivador para a mobilização social e muitas vezes de única fonte de informação. O
rádio e a televisão tornaram-se massivamente populares.
O início das transmissões de rádio no Brasil teve início em 1922, numa primeira
demonstração pública de irradiação feita no dia da Comemoração do Centenário da
Independência, no Rio de Janeiro, e a fundação da Rádio Clube de Pernambuco em
1919, que também é considerada um marco antecessor na história da comunicação
eletrônica brasileira. Já a implementação da televisão no Brasil teve como fomentador
Assis Chateaubriand, fundador da TV Tupi, que protagonizou a primeira transmissão de
televisão no Brasil, em setembro de 1950.
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muitos, ou seja, concentrado (COSTA, 2002). No decorrer das duas últimas décadas do
século XX e a primeira do século XXI, a história da comunicação se defronta com
novos paradigmas, e atualmente o desenvolvimento da comunicação atingiu patamares
que modificaram a forma como as teorias da comunicação lidam com seu principal
objeto de estudo: o emissor e o receptor. Apesar de a revolução tecnológica ter
projetado uma transformação de como os sujeitos articulam a comunicação em novas
mídias de armazenamento de informação digital, a radiodifusão permanece
indubitavelmente como meio de comunicação de maior e mais fácil acessibilidade ao
grande público.
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Segundo Nick Moore (1999), três são as características principais da sociedade
da informação. A primeira delas é o uso da informação pelo setor empresarial como
forma de fomentar sua competitividade e eficácia na prestação de serviços e
fornecimento de produtos. A segunda característica advém da facilidade encontrada
pelos indivíduos em obter informação de forma generalizada, o que promove uma
disseminação do conhecimento desses indivíduos como consumidores, como detentores
de direitos, como cidadãos no exercício de suas prerrogativas políticas e cívicas e por
último, o advento das tecnologias da informação permite um acesso muito mais amplo
ao conteúdo cultural e intelectual produzido. A terceira e última característica da
sociedade da informação é a própria tecnologia da informação, que hoje tem lugar
essencial na economia, inclusive promovendo o desenvolvimento das indústrias
criadoras da informação que circula na rede, e faz com que os meios de comunicação
tradicionais revisitem a forma como disponibilizam a informação e a posição do
espectador, que deixa de ser mero receptor para interagir no conteúdo em uma rede de
comunicação não mais linear.
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Já o conceito que existe acerca de informação é bem vago e intuitivo. Nas ações
do dia-a-dia é possível identificar centenas de atitudes que necessitam de informação,
seja a mais primordial, como a posologia de um medicamento, até a mais rotineira,
como verificar o noticiário na mídia impressa ou televisiva. Essas informações
comumente são utilizadas, absorvidas, assimiladas, manipuladas, transmitidas e
produzidas durante todo o processo das relações sociais. A informação sempre foi
ressalvada como uma necessidade sociológica, pois significa o exercício relevante de
um direito individual essencial para o desenvolvimento cultural e econômico da
sociedade, um direito que transcende o direito natural individual para converter-se em
um direito social-democrático.
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Além disso, compreender o impacto da formação de opinião que os meios de
comunicação exercem na sociedade fortalece a urgente necessidade de visões plurais
aos agentes públicos e privados responsáveis pela emissão de informação, transformada
em elemento comunicacional. Este é o quadro que se encontra a liberdade de expressão,
de informação e o direito de comunicação na atual conjectura de desenvolvimento dos
meios de comunicação e das tecnologias da informação. A informação e o
conhecimento são considerados produtos de grande potencial econômico, e na atual
economia global a preocupação com a efetividade desses direitos é ainda mais
primorosa. O processo de comunicação desenvolvido e conduzido nos dias atuais
movimenta não somente valores pecuniários, mas também valores de influência política
e social. A pressão que a convergência tecnológica enseja no modelo constitucional de
1988 demanda uma melhor adequabilidade normativa aos fenômenos da tecnologia, e
requer instrumentos eficazes para a emancipação do homem nesse processo irreversível
de expansão do conhecimento na sociedade da informação.
Apesar de o artigo 220, §5º da Constituição de 1988 ser claro ao impedir que os
meios de comunicação social sejam organizados em monopólio ou oligopólio, o Texto
Constitucional não condiz com a realidade. Em todo o Brasil, o Ministério Público
Federal e entidades representativas demandam ações na busca da quebra de monopólios
e oligopólios de empresas de radiodifusão, fato indicativo de uma realidade ofensiva aos
princípios constitucionais que resguardam a livre manifestação do pensamento e o
direito de receber informação adequada e plural.
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O desequilíbrio entre as forças econômicas e o interesse público caracteriza
fortemente o atual modelo de concessão do serviço de radiodifusão. No Brasil, a
realidade das empresas de radiodifusão é a da concentração de mercado. Isto porque o
sistema capitalista vigente na atual economia globalizada não deixa margens para outro
padrão de negócios que não tenha como principio uma política de maximização de
lucros em uma economia de mercado, ou seja, da mesma forma que acontece em outros
setores econômicos, a concentração é uma resposta/ enquadramento da mídia ao modelo
econômico vigente (MARTÍNEZ, 2007).
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setor, que toma vestes de censura no discurso dos “donos da mídia” quando se trata de
discutir a adequação do conteúdo ao interesse público.
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Essa estrutura de poder, esquematizada tanto por decisões e omissões políticas,
numa dança que une a mídia ao poder econômico privado ajuda a compreender
historicamente a estrutura do poder político no Brasil. É o que abordaremos no próximo
item.
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contratos de concessão de serviço público. O excesso de discricionariedade na
implementação da atividade administrativa ainda é empecilho para uma efetiva
participação popular na Administração Pública. A participação conjunta de todos os
interessados em determinada ação governamental é imprescindível para implicar uma
composição de interesses (BUCCI, 2006), ou seja, a participação popular é precípua
para a legitimidade das políticas públicas, e consequentemente das ações e resultados
que derivam dela.
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permaneciam - e ainda permanecem - no Congresso Nacional, e logo a distribuição das
concessões de radiodifusão se transformou em valiosa moeda de troca por favores
políticos e econômicos. Quanto maior era a crise política, maior era o número de
emissoras distribuídas. Segundo manifesto da Federação Nacional de Jornalistas, a
FENAJ (1988), já no Governo Sarney, imediatamente após a retomada do processo de
redemocratização no Brasil, o então ministro das Comunicações, Antônio Carlos
Magalhães, suspendeu cerca de 140 concessões conferidas no governo Figueiredo para
então, imediatamente, outorgar mais de 500 concessões. Além de privilegiar
apadrinhados políticos para conceder as concessões, as suspensões serviram de
retaliação aos inimigos do então ministro, conforme dados do manifesto, realizado em
outubro de 1988.
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cheque a isenção tão necessária na transmissão da informação verdadeira na imprensa.
Portanto, cabe ao Estado instrumentalizar os agentes sociais para que possam participar
dos processos de concessão dos meios de comunicação de massa, especialmente um
meio de tão grande alcance como a radiodifusão, e assim permitir a inibição da
formação de monopólios ou oligopólios dos mass media.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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públicas de comunicação, ao longo desses vinte anos de Constituição democrática, nem
mesmo conseguiram atingir os logros dos direitos fundamentais e dos fundamentos
republicanos erigidos no Texto Constitucional. Com o advento das novas tecnologias, o
modelo concentrador da comunicação social esperneia por uma reforma adequada não
só às realidades do século XXI, mas também a um mínimo de direitos necessários para
a manutenção de um Estado Democrático de Direito. A democratização da comunicação
em veículos tão relevantes para a formação da opinião pública brasileira, como o rádio e
a televisão, permanece estagnada mesmo que em meio a uma verdadeira revolução
tecnológica que permite a produção, o acesso e a troca instantânea de informação,
características da sociedade da informação.
REFERÊNCIAS
BUCCI, Maria Paula Dallari. Direito Administrativo e Políticas Públicas. São Paulo:
Saraiva, 2006.
CABRAL FILHO, Adilson Vaz; DUARTE, Lívia Dias. Comunicações na era digital: a
apropriação do processo regulatório pela sociedade civil. In: SARAVIA, Enrique;
MARTINS, Paulo Emílio; PIERANTI, Octavio (orgs). Democracia e regulação dos
meios de comunicação de massa. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2008.
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FERRIGOLO, Noemi Mendes Siqueira. Liberdade de Expressão: direito na
Sociedade da Informação: mídia, globalização e regulação. São Paulo: Ed. Pillares,
2005.
MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Trad.
De Eloá Jacobina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
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[4] Apesar de o direito de resposta estar desregulamentado após a revogação total da Lei
de Imprensa pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADPF 130 em 30 de
abril de 2009, é um direito fundamental dos mais importantes para o pluralismo e
garantia de manifestação de um pensamento diverso do conteúdo determinado pela
hegemonia do empresariado midiático. Até o presente momento, apenas discussões
esparsas sobre um novo projeto de lei que regulamente o assunto foram colocadas em
pauta (setembro de 2009). Segundo o voto do Ministro e Presidente do Supremo
Tribunal Federal, Gilmar Mendes, “o direito de resposta é assegurado no plano
constitucional, mas necessita no plano infraconstitucional de normas de organização e
procedimento para tornar possível o seu efetivo exercício”.
[6] Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes
(...)
(...)
[7] Termo popularizado em inglês para designar o conjunto dos meios de comunicação
de massa e muito utilizado na teoria da comunicação.
[8] Segundo Giovani Clark (2006, p.241), esse modelo consiste numa nova técnica de
ação do Estado na vida econômica, uma intervenção indireta através de normas e das
agências reguladoras. Estas apenas fiscalizam e regulam o mercado ditando meros
comandos técnicos. A técnica regulatória de intervenção, entretanto, também permite a
existência de empresas estatais, mas que sejam em menor número e com reduzida
capacidade de ingerência na vida econômica.
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