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Prezados(as),
A Lei Paulo Gustavo, atualmente em operação nos estados e municípios brasileiros, nasceu de
demanda popular articulada junto aos parlamentares do Congresso Nacional para realização de
ações emergenciais que visem a “combater e mitigar os efeitos da pandemia da Covid‐19 sobre
o setor cultural”.
Para tal, a Lei dispõe de mecanismo de execução em consonância com o Sistema Nacional de
Cultura, implicando em organização por regime de colaboração, de forma descentralizada e
participativa”, ainda devendo “estimular a desconcentração territorial de ações apoiadas”.
Em seu Art. 8º, para os recursos destinados a todas as áreas artísticas e culturais, exceto
audiovisual, a lei estabelece que:
§ 5º Os instrumentos de seleção referidos no § 1º deste artigo devem, preferencialmente, ser
disponibilizados em formatos acessíveis, tais como audiovisual e audiodescrição, bem como em
formatos acessíveis para pessoas com deficiência, com a utilização, por exemplo, do Sistema
Braille, do Sistema de Informações Digitais Acessíveis (Daisy) e da Língua Brasileira de Sinais
(Libras).
A partir disso, foi criada a Comissão Estadual da Lei Paulo Gustavo MG, com a nomeação de 5
(seis) membros do Consec para compor a Comissão. Entendemos que a participação de tais
membros contribuiu significativamente para o cumprimento de prerrogativa de participação
social na pactuação de distribuição dos recursos por linhas de financiamento, levantando as
demandas dos diversos setores culturais e apontando necessidades de aplicação de ações
afirmativas e de distribuição descentralizada dos recursos.
No entanto, o que vimos na publicação dos editais e documentos complementares, bem como
da plataforma para inscrição dos projetos, em muito se distanciou dos objetivos da própria Lei
Paulo Gustavo e dos apontamentos dos membros do Consec junto à Comissão da LPG. Listamos
aqui alguns pontos que justificam tal crítica:
1. A plataforma Prosas, usada para as inscrições dos projetos, apresenta‐se pouco amigável e
muito complexa para a realidade dos agentes culturais, além de apresentar instabilidade
constante com perda de dados e necessidade de retrabalho. Os membros do Consec apontaram,
em reuniões ordinárias do Conselho, em reuniões da Comissão, em diálogo via WhatsApp em
grupos oficiais junto ao poder público e via e‐mail a inadequação da Prosas para a aplicação da
LPG em Minas Gerais, exatamente pelos motivos aqui expostos.
3. A realidade dos territórios e municípios mineiros é muito diversa, bem como de seus agentes
culturais. Em muitos locais as relações interestaduais são uma realidade cotidiana, além do que,
a limitação de realização das atividades dentro dos limites territoriais do estado de Minas Gerais
desconsidera as necessidades de artistas, grupos e técnicos em suas especificidades. Muitos
projetos poderiam se beneficiar de circulações fora do estado e, em alguns casos, até mesmo
fora do país levando Minas para o Mundo.
4. O prazo para as inscrições tem sido considerado curto, com menos de 20 dias para que os
candidatos preparem suas propostas. Isso se torna ainda mais desafiador com uma plataforma
complexa, instável e com erros sistemáticos, que demandam tempo para retorno aos
proponentes. A própria Secult não tem conseguido responder às inúmeras dúvidas enviadas aos
canais oficiais oferecidos. Outra questão a ser considerada é que muitos municípios também
têm seus próprios editais abertos no mesmo período. Assim, indicamos a imediata prorrogação
do prazo e os devidos ajustes necessários para que os proponentes consigam atender às
exigências dos editais.
5. Um ponto crucial que merece destaque é a questão da busca ativa, mencionada na própria
LPG como um mecanismo essencial para a inclusão de grupos economicamente desfavorecidos,
especialmente das culturas populares. A Comissão da LPG, a Subcomissão de Culturas Populares
Tradicionais, Afro Brasileiras, indígenas e Patrimônio Cultural, a Comissão de Cultura da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e o CONSEC defenderam incansavelmente a
implementação desse instrumento como estratégia fundamental para atingir o objetivo real da
LPG, que é a descentralização e capilarização dos recursos culturais no estado.
No entanto, é lamentável que a busca ativa não tenha sido aplicada aos editais da LPG em Minas
Gerais, e a Secretaria de Estado de Cultura (Secult) não tenha apresentado alternativas eficazes
para cumprir essa recomendação. A falta de implementação desse mecanismo compromete
seriamente a capacidade de alcançar grupos e iniciativas culturais que estão fora das áreas
metropolitanas e das estruturas tradicionais de poder.
Além disso, é crucial ressaltar a questão da acessibilidade. A LPG também enfatiza a importância
de garantir a acessibilidade e a possibilidade de acesso aos editais por meio da oralidade. É
inadmissível que os editais da LPG em Minas Gerais não tenham sido oferecidos com tais
recursos, uma vez que isso representa uma clara violação dos princípios de inclusão e igualdade
de acesso que a legislação deveria promover.
É fundamental que as autoridades responsáveis pela implementação da LPG em Minas Gerais
revejam urgentemente suas práticas e adotem medidas concretas para corrigir essas falhas. A
descentralização dos recursos culturais e a garantia de acessibilidade são passos essenciais para
a construção de uma cultura verdadeiramente inclusiva, diversificada e democrática em nosso
estado. Como defensores da cultura, exortamos a todos os envolvidos a trabalharem juntos para
cumprir as promessas da LPG e assegurar que a riqueza cultural de Minas Gerais seja acessível
a todos, independentemente de sua localização geográfica, condição econômica ou capacidades
físicas.
Tudo isso representa uma histórica e constante violência e criminalização, por parte do estado,
dirigida aos artistas e grupos, sobretudo das culturas populares. O contexto de burocratização e
obstaculização ao acesso à LPG tem trazido preocupação com o fato de que apenas as empresas
de elaboração de projetos, grandes produtoras e artistas mais estabelecidos tenham a
capacidade de superar burocracias, enquanto aqueles que estão na base da cadeia cultural
acabem por ficar excluídos dos recursos da Paulo Gustavo.
Atenciosamente
CONSEC MG