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Aos

Exmo. Secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais


Exma. Secretária‐adjunta de Cultura e Turismo de Minas Gerais
Exmo. Sub‐secretário de Cultura de Minas Gerais
Membros da Comissão Estadual da Lei Paulo Gustavo MG

Minas Gerais, 20 de outubro de 2023

Prezados(as),

A Lei Paulo Gustavo, atualmente em operação nos estados e municípios brasileiros, nasceu de
demanda popular articulada junto aos parlamentares do Congresso Nacional para realização de
ações emergenciais que visem a “combater e mitigar os efeitos da pandemia da Covid‐19 sobre
o setor cultural”.

Para tal, a Lei dispõe de mecanismo de execução em consonância com o Sistema Nacional de
Cultura, implicando em organização por regime de colaboração, de forma descentralizada e
participativa”, ainda devendo “estimular a desconcentração territorial de ações apoiadas”.

Em seu Art. 8º, para os recursos destinados a todas as áreas artísticas e culturais, exceto
audiovisual, a lei estabelece que:
§ 5º Os instrumentos de seleção referidos no § 1º deste artigo devem, preferencialmente, ser
disponibilizados em formatos acessíveis, tais como audiovisual e audiodescrição, bem como em
formatos acessíveis para pessoas com deficiência, com a utilização, por exemplo, do Sistema
Braille, do Sistema de Informações Digitais Acessíveis (Daisy) e da Língua Brasileira de Sinais
(Libras).

§ 6º O procedimento de entrega das propostas em atendimento aos instrumentos referidos no


§ 1º deste artigo deverá observar logística facilitada, por meio da internet, em sítio oficial, ou
presencialmente, de forma descentralizada, por meio de equipamentos públicos como locais de
referência para esclarecimentos de dúvidas e protocolo das propostas.

§ 7º No caso de grupos vulneráveis, de pessoas que desenvolvem atividades técnicas e para o


setor de culturas populares e tradicionais, o ente da Federação deverá realizar busca ativa de
beneficiários, e as propostas oriundas desses grupos poderão ser apresentadas por meio oral,
registradas em meio audiovisual e reduzidas a termo pelo órgão responsável pelo instrumento
de seleção.

A partir disso, foi criada a Comissão Estadual da Lei Paulo Gustavo MG, com a nomeação de 5
(seis) membros do Consec para compor a Comissão. Entendemos que a participação de tais
membros contribuiu significativamente para o cumprimento de prerrogativa de participação
social na pactuação de distribuição dos recursos por linhas de financiamento, levantando as
demandas dos diversos setores culturais e apontando necessidades de aplicação de ações
afirmativas e de distribuição descentralizada dos recursos.

No entanto, o que vimos na publicação dos editais e documentos complementares, bem como
da plataforma para inscrição dos projetos, em muito se distanciou dos objetivos da própria Lei
Paulo Gustavo e dos apontamentos dos membros do Consec junto à Comissão da LPG. Listamos
aqui alguns pontos que justificam tal crítica:
1. A plataforma Prosas, usada para as inscrições dos projetos, apresenta‐se pouco amigável e
muito complexa para a realidade dos agentes culturais, além de apresentar instabilidade
constante com perda de dados e necessidade de retrabalho. Os membros do Consec apontaram,
em reuniões ordinárias do Conselho, em reuniões da Comissão, em diálogo via WhatsApp em
grupos oficiais junto ao poder público e via e‐mail a inadequação da Prosas para a aplicação da
LPG em Minas Gerais, exatamente pelos motivos aqui expostos.

2. A planilha orçamentária é considerada complexa e exige uma quantidade excessiva de


informações, sendo apresentada a mesma complexidade para projetos de mais de 1 milhão de
reais e para projetos de 10 mil reais. Ora, entendemos que a complexidade de orçamento
deveria corresponder a distintos portes de projetos, não se podendo equiparar grandes
produtoras com registro e histórico profissional a agentes culturais empreendedores individuais,
sejam eles pessoas físicas ou jurídicas, tampouco a associações comunitárias, grupos e coletivos
de culturas populares que não têm perfil profissional de atuação por projetos.

3. A realidade dos territórios e municípios mineiros é muito diversa, bem como de seus agentes
culturais. Em muitos locais as relações interestaduais são uma realidade cotidiana, além do que,
a limitação de realização das atividades dentro dos limites territoriais do estado de Minas Gerais
desconsidera as necessidades de artistas, grupos e técnicos em suas especificidades. Muitos
projetos poderiam se beneficiar de circulações fora do estado e, em alguns casos, até mesmo
fora do país levando Minas para o Mundo.

4. O prazo para as inscrições tem sido considerado curto, com menos de 20 dias para que os
candidatos preparem suas propostas. Isso se torna ainda mais desafiador com uma plataforma
complexa, instável e com erros sistemáticos, que demandam tempo para retorno aos
proponentes. A própria Secult não tem conseguido responder às inúmeras dúvidas enviadas aos
canais oficiais oferecidos. Outra questão a ser considerada é que muitos municípios também
têm seus próprios editais abertos no mesmo período. Assim, indicamos a imediata prorrogação
do prazo e os devidos ajustes necessários para que os proponentes consigam atender às
exigências dos editais.

5. Um ponto crucial que merece destaque é a questão da busca ativa, mencionada na própria
LPG como um mecanismo essencial para a inclusão de grupos economicamente desfavorecidos,
especialmente das culturas populares. A Comissão da LPG, a Subcomissão de Culturas Populares
Tradicionais, Afro Brasileiras, indígenas e Patrimônio Cultural, a Comissão de Cultura da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e o CONSEC defenderam incansavelmente a
implementação desse instrumento como estratégia fundamental para atingir o objetivo real da
LPG, que é a descentralização e capilarização dos recursos culturais no estado.

No entanto, é lamentável que a busca ativa não tenha sido aplicada aos editais da LPG em Minas
Gerais, e a Secretaria de Estado de Cultura (Secult) não tenha apresentado alternativas eficazes
para cumprir essa recomendação. A falta de implementação desse mecanismo compromete
seriamente a capacidade de alcançar grupos e iniciativas culturais que estão fora das áreas
metropolitanas e das estruturas tradicionais de poder.

Além disso, é crucial ressaltar a questão da acessibilidade. A LPG também enfatiza a importância
de garantir a acessibilidade e a possibilidade de acesso aos editais por meio da oralidade. É
inadmissível que os editais da LPG em Minas Gerais não tenham sido oferecidos com tais
recursos, uma vez que isso representa uma clara violação dos princípios de inclusão e igualdade
de acesso que a legislação deveria promover.
É fundamental que as autoridades responsáveis pela implementação da LPG em Minas Gerais
revejam urgentemente suas práticas e adotem medidas concretas para corrigir essas falhas. A
descentralização dos recursos culturais e a garantia de acessibilidade são passos essenciais para
a construção de uma cultura verdadeiramente inclusiva, diversificada e democrática em nosso
estado. Como defensores da cultura, exortamos a todos os envolvidos a trabalharem juntos para
cumprir as promessas da LPG e assegurar que a riqueza cultural de Minas Gerais seja acessível
a todos, independentemente de sua localização geográfica, condição econômica ou capacidades
físicas.

Tudo isso representa uma histórica e constante violência e criminalização, por parte do estado,
dirigida aos artistas e grupos, sobretudo das culturas populares. O contexto de burocratização e
obstaculização ao acesso à LPG tem trazido preocupação com o fato de que apenas as empresas
de elaboração de projetos, grandes produtoras e artistas mais estabelecidos tenham a
capacidade de superar burocracias, enquanto aqueles que estão na base da cadeia cultural
acabem por ficar excluídos dos recursos da Paulo Gustavo.

Ainda, os conselheiros da sociedade civil participaram da audiência pública realizada na


Assembleia Legislativa de Minas Gerais em 5 de abril de 2023, com objetivo de debater a
distribuição e a implementação da Lei Paulo Gustavo, onde foram levantados os principais
pontos para que a lei cumprisse sua função de ser abrangente e emergencial, com acesso aos
fazedores e trabalhadores de cultura de todo o estado, na sua plenitude.

Naquela ocasião, ficou demonstrada a preocupação, a partir da experiência da aplicação da Lei


Aldir Blanc, com o atendimento primordial às culturas populares, que acabaram sendo as mais
prejudicadas pelas dificuldades de acesso, o que, infelizmente, agora se repete.

Como conselheiros estaduais de cultura, é nosso dever assegurar que os recursos e


oportunidades oferecidos pela Lei Paulo Gustavo sejam acessíveis a todos os que contribuem
para a riqueza cultural de Minas Gerais. Portanto, insistimos, veementemente, que a SECULT
avalie, com a agilidade necessária, as questões aqui apresentadas e busque soluções imediatas
para que o processo de inscrição se torne de fato mais inclusivo, acessível, transparente e
eficiente, garantindo, sobretudo, que as culturas populares e as comunidades culturais do
interior tenham seus direitos garantidos de acessar os recursos da Lei Paulo Gustavo em todo
estado de Minas Gerais.

Atenciosamente

Membros da Sociedade Civil do Conselho Estadual de Política Cultural de Minas Gerais

CONSEC MG

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