Você está na página 1de 12

jusbrasil.com.

br
17 de Maio de 2022

O fim do Inventário com a Holding Familiar

Publicado por Daniel Frederighi há 23 horas  1.382 visualizações

Existem institutos jurídicos que com o passar do tempo acabam por


cair em desuso ou dar lugar a novas práticas, mais modernas e
eficientes. Vejamos o exemplo da tecnologia, que fez com que a
circulação do dinheiro se torna-se em grande parte digital.
Documentos como o cheque e a nota promissória são cada vez mais
raros, e dão lugar ao cartão de crédito, ao pix, etc.

Esse singelo exemplo pode ser transportado a outras áreas do direito,


como por exemplo à sucessão de bens pelo falecimento de seu
proprietário. A sucessão é um instituto sobre o qual não se vislumbra o
fim, porém, a maneira como tradicionalmente é feita pode ser algo que
está encontrando seus últimos dias, por assim dizer.
Neste artigo iremos abordar sobre o que especialistas do direito estão
chamando de “o fim do inventário”. Iremos entender como o fim do
inventário será possível, e o que será usado como seu substituto.

Índice do artigo:

1. Como ocorre a sucessão de bens?

2. O que é a Holding?

3. O que é o planejamento sucessório?

4. O que é a Holding Familiar?

5. Como a sucessão é feita através da Holding Familiar?

6. Por que a holding é mais vantajosa que o inventário?

7. A holding familiar e a possibilidade de proteção patrimonial

8. Clausulas restritivas na doação das quotas da holding

9. Conclusão

Como ocorre a sucessão de bens?


O fato que da origem à sucessão de bens é o falecimento do seu
proprietário. Isso acontecendo, é necessário que o patrimônio que em
vida detinha seja transferido a outras pessoas, que o direito chama de
herdeiros. Na prática ocorre a mudança da titularidade dos bens, sejam
eles móveis, imóveis e também ativos financeiros.

A sucessão tradicional é feita por meio da abertura de um processo de


inventário, no qual ocorrerá o levantamento do conjunto patrimonial
do falecido, dos seus direitos e também de suas obrigações. Neste
mesmo processo é que será feita a partilha de bens, ou seja, a divisão
dos bens remanescentes entre os herdeiros sobreviventes.
A fala sobre o fim do inventário não significa a extinção do direito de
herança, tampouco o fim da necessidade de formalização da sucessão.
Ela existe por que há uma nova ferramenta jurídica mais eficiente e
econômica que o inventário, e que está à disposição de qualquer pessoa
para que possa planejar a sucessão dos seus bens ainda em vida: a
Holding Familiar. Nos próximos títulos compreenderemos o que é a
Holding Familiar e como ela pode ser usada para a concretização do
direito sucessório.

O que é a Holding?
A criação da holding se deu no âmbito do Direito Empresarial, mas há
possibilidade de sua utilização como ferramenta de planejamento
sucessório, por oferecer uma série de vantagens, algumas das quais
serão tratadas à frente.

O objetivo inicial da holding é a criação de uma empresa com a


finalidade de exercer o controle sobre a totalidade ou parcela de outras
empresas, sem que ingresse diretamente na atividade econômica por
elas desempenhadas. Encontra previsão na Lei das Sociedades
Anonimas, Lei 6.404/76, que desta forma dispõe:

Art. 2º Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de


fim lucrativo, não contrário à lei, à ordem pública e aos bons
costumes.

[…]

§ 3º A companhia pode ter por objeto participar de outras


sociedades; ainda que não prevista no estatuto, a
participação é facultada como meio de realizar o objeto
social, ou para beneficiar-se de incentivos fiscais.
Vejamos um exemplo que pode ajudar na compreensão dos aspectos da
Holding no contexto do Direito Empresarial. Imaginemos um
empresário que atue em diversos ramos, e seja sócio de inúmeras
empresas, cada qual com uma atividade específica. Para melhorar a
gestão de seus negócios e otimizar os lucros, ele então decide criar uma
empresa que será responsável por gerenciar os negócios, e constitui o
seu capital social de todas as quotas parte das demais empresas de que
é proprietário.

Essa nova empresa por ele criada é a Holding. Uma sociedade que
surge apenas com a finalidade de administrar e controlar as empresas
das quais detém quotas em seu capital social. Então, a Holding passa a
ser a proprietária direta das frações das demais empresas, e o
empresário o proprietário da Holding.

A Holding não irá ingressar diretamente em nenhuma das atividades


desenvolvidas pelas empresas de que detém participação, sua
finalidade é unicamente controle. Surge, desta forma, duas figuras
distintas: a empresa controladora e a empresa controlada, distinção já
prevista pela Lei 6.404/76:

Art. 243. O relatório anual da administração deve relacionar


os investimentos da companhia em sociedades coligadas e
controladas e mencionar as modificações ocorridas durante o
exercício.

[…]

§ 2º Considera-se controlada a sociedade na qual a


controladora, diretamente ou através de outras controladas,
é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo
permanente, preponderância nas deliberações sociais e o
poder de eleger a maioria dos administradores.

Agora vamos entender como a criação de uma Holding pode ser feita
com a finalidade precípua de planejamento sucessório.
O que é o planejamento sucessório?
As sociedades criadas com base na cultura cuja predominância da
orientação espiritual provém do cristianismo observam a morte de uma
maneira emotiva, deixando a razão de lado quando este é o assunto.
Claro, uma das experiências mais tristes e marcantes na vida de
qualquer pessoa é a perda de um ente querido. Mas o assunto da
sucessão patrimonial é algo que precisa deixar de ser tratado como
tabu e abordado de maneira clara e objetiva.

A julgarmos pelo Código Civil, a vontade do proprietário quanto à


sucessão dos seus bens fica limita ao que se pode dispor em
testamento, significando uma considerável limitação, conforme
previsão expressa:

Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da


totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua
morte.

§ 1 o A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser


incluída no testamento.
Ao dispor em testamento sobre a sua última vontade, o testador
somente poderá incluir nas cláusulas aquilo que o no Direito se chama
de parte disponível. Na prática, significa que somente poderá dispor de
metade do quee lhe pertence. Essa é uma das limitações que, conforme
veremos, pode ser flexibilizada no âmbito da Holding Familiar.

Outra grande questão é quanto ao dispêndio de recursos com gastos do


inventário, representados pelas taxas e emolumentos com cartório,
eventuais custas judiciais, tributos com a transferência dos bens e
ainda com honorários advocatícios. Em muitos casos isso se torna um
problema para os herdeiros, que não raro precisam se desfazer de parte
do patrimônio para arcar com essas despesas.

Veremos adiante que a Holding pode facilitar o processo de sucessão


de bens, deixando-o mais dinâmico, e com menos custos.

O que é a Holding Familiar?


Anteriormente nós estudamos que a Holding é uma empresa criada
com a finalidade de exercer o controle sobre outras empresas. Agora
vamos compreender como essa prática pode ser aplicada no âmbito
familiar.

A criação de uma holding familiar consiste na abertura de uma


empresa que irá deter em seu capital social os bens de propriedade da
família. Podendo ela ser utilizada como forma de proteção,
planejamento e sucessão.

Tomemos como exemplo uma família composta por pai e mãe, e dois
filhos. Essa família atua no agronegócio, e possui como propriedade
uma porção de terras e algumas máquinas agrícolas, que são utilizadas
no cultivo do solo, além de um armazém para armazenamento de
veículos e ferramentas.
A criação da holding será feita da maneira normal como se faz a
abertura de qualquer outra empresa, por que na teoria em nada ela
difere. Quando da criação do contrato social, o instituidor colocará em
seu capital social os bens que são propriedade da família, transferindo
a sua propriedade da pessoa física para a pessoa jurídica. Ele, a esposa
e os filhos, se quiser, serão então sócios da empresa, detentores de
quotas parte de seu capital.

O que ocorre com a transferência dos bens da pessoa física para a


empresa é a sua transformação em quotas capitais. O instituidor deixa
de ser proprietário dos bens, e passa a deter quotas da empresa que é
proprietária direta.

Como a sucessão é feita através da


Holding Familiar?
Ao criar a empresa holding, o instituidor poderá inserir as clausulas no
contrato social da maneira como preferir, e inclusive doar sua parte da
empresa a quem quer que seja. De modo que, a sucessão por meio da
holding pode ser feita basicamente de duas maneiras, as quais serão
tratadas a seguir.
No primeiro cenário, o instituidor insere os herdeiros no contrato
social como sócios da empresa, detendo cada um deles uma parte.
Quando ocorrer o evento morte o instituidor, os herdeiros já são
proprietários da holding, e consequentemente do patrimônio que
integra o capital social.

Outra forma, e a mais utilizada, é a doação das quotas capitais da


empresa com cláusula de reserva de usufruto vitalício. Na prática, o
instituidor cria a empresa holding, inserindo seus bens no capital
social, e os transformando em quotas capitas.

Após esse procedimento, ele faz uma doação para as pessoas que quer
como herdeiro, na proporção que considerar mais adequada. E por
meio da reserva de usufruto vitalício se mantém na posse dos bens e na
administração da empresa até que chegue o momento de sua morte.

Quando morrer, extingue-se o usufruto e a posse dos bens é transferida


aos herdeiros sem a necessidade de que se realize o inventário.

Por que a holding é mais vantajosa que o inventário?

Dentre as vantagens de realizar a sucessão através da holding ao invés


do inventário está a possibilidade de planejamento. A partilha costuma
ser um procedimento que gera atrito entre os herdeiros, e é comum
criar desavenças que duram pela vida toda. São muitos os casos em que
irmãos deixam de se falar por conta da herança dos pais.

Com a abertura da holding, e a doação das cotas com reserva de


usufruto, não haverão surpresas e os desentendimentos serão evitados.
No evento morte, tudo estará determinado por que foi anteriormente
planejado pelo instituidor.

Outro benefício é a economia com taxas, custos, tributos e honorários.


A transmissão dos bens aos herdeiros é acompanhada de gastos nada
modestos. Em muitos casos é preciso que haja a venda de um ou mais
bens da herança para o pagamento destas despesas.
Por outro lado, a sucessão realizada por meio da holding familiar
representa uma enorme economia de recursos financeiros, se
comparada com o inventário tradicional. Remetemos o leitor a outros
artigos em nosso site, que tratam especificamente sobre a diferença de
custos entre o inventário e a sucessão feita pela holding.

A holding familiar e a possibilidade


de proteção patrimonial
Existe um outro aspecto que merece destaque, e que pela importância
decidimos tratar em tópico apartado dos demais: a proteção
patrimonial. O cenário de prosperidade dos pais nem sempre é
usufruído pelos filhos, por conta de atitudes menos atentas.

Ao que parece, a habilidade no trato com os negócios e a prudência não


são hereditários, e muitos herdeiros terminam por dilapidar por
completo o patrimônio construído pelos pais. Com a holding, é possível
que o instituidor crie uma certa proteção e garanta que os bens não
sejam consumidos e que permaneçam com a família.

Ao elaborar o contrato social da empresa, o instituidor poderá inserir


ali clausulas contratuais de modo a fazer valer sua vontade quanto à
administração dos bens. Poderá, por exemplo, determinar qual dos
herdeiros será o administrador da empresa após a sua morte, fazendo
com que o mais apto tome conta dos negócios da família.

Outra vantagem criada pela holding é o direito de preferência dos


sócios em relação a adquirir as quotas do sócio disposto a vender.
Antes de transferir a um terceiro estranho à empresa, terá de oferece-
las formalmente aos demais, sob pena de nulidade da transação.
Cláusulas Restritivas na Doação das
Quotas da Holding
No momento em que realiza a doação das parcelas da empresa aos seus
herdeiros, o instituidor o fará por meio de um contrato de doação. No
qual poderá inserir algumas cláusulas que limitarão a livre disposição
dos bens pelos donatários/herdeiros, conforme exposto a seguir.

Por meio de uma cláusula de inalienabilidade, o doador garante que o


patrimônio permaneça sob o domínio da família. A imposição da
inalienabilidade restringe a vontade do donatário, que não poderá
dispor dos bens recebidos. Significa que fica impedido de vender, doar,
dar em pagamento ou em garantia.

Para evitar que os bens sejam oferecidos em garantia por dívidas dos
herdeiros, o instituidor pode inserir uma cláusula de
impenhorabilidade. Isso coloca os bens a salvo de eventuais credores
do donatário, pois impede que o patrimônio recebido seja utilizado
como garantia de obrigações por ele assumidas.

Pela cláusula de reversibilidade, o empresário garante que se o


donatário falecer antes, a doação fique sem efeito e o patrimônio
retorne à holding, não indo para a sucessão.
Já a cláusula de incomunicabilidade impede que os bens se
comuniquem com o cônjuge do herdeiro. Isso é importante por que a
depender do regime de bens adotado pelo casal, os bens recebidos em
doação integrarão o patrimônio em comum de ambos. Ocorrendo um
divórcio ou separação, o cônjuge então teria direito à metade do que o
outro recebeu em doação, o que não ocorrer se houver a cláusula de
incomunicabilidade.

Conclusão
A possibilidade de realização da sucessão de bens por meio da criação
de uma holding patrimonial é algo que por suas vantagens vem fazendo
com que o inventário se torne obsoleto, e a previsão é que nos anos
futuros venha a cair em desuso. Deixado apenas para estudo histórico
em livros acadêmicos.

Ainda que se trate relativamente de uma inovação jurídica, não há


motivos para que os benefícios com a criação de uma empresa holding
não sejam imediatamente usufruídos.

Importante que se ressalte que a abertura da empresa holding sempre


deve ser precedida de um estudo de viabilidade técnica e econômica, e
contar com o acompanhamento de uma assessoria jurídica, para o
completo êxito.

Gostou desse artigo? Para qualquer dúvida que tenha restado


recomendamos a leitura dos demais artigos disponíveis no site, bem
como disponibilizamos nossa equipe especializada em Holding
Familiar para esclarecê-las.

Disponível em: https://danielfrederighi.jusbrasil.com.br/artigos/1501333540/o-fim-do-


inventario-com-a-holding-familiar

Você também pode gostar