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LLM EM DIREITO E

PROCESSO TRIBUTÁRIO

PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
E SUCESSÓRIO: USO DE
ESTRUTURAS SOCIETÁRIAS

A u la 0 1

PROFESSOR CLÁUDIO TESSARI


DIREITO
PA R A
MELHOR AR
O MUNDO_
Processo Tributário
PARTE 01

Este material é complementar e 100% produzido a


partir do conteúdo transmitido nas aulas do curso.

PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO E SUCESSÓRIO:


USO DE ESTRUTURAS SOCIETÁRIAS

Antes de iniciarmos esta disciplina, cabe fazer alguns esclarecimentos preliminares, que são os
seguintes: é entendido que o direito tributário não tem um fim em si mesmo, então, quando
começamos a relacionar o direito tributário com outras áreas do direito, como o direito socie-
tário, efetivamente conseguimos dar ao direito tributário sua maior efetividade, porque saber
o direito tributário em si, não nos leva a nada, agora, justamente, poder fazer com que o direito
tributário esteja relacionado com as outras áreas do direito e possa trazer benefícios, nesse
caso, efetivamente, estaremos dando ao direto tributário a sua maior efetividade na sua intei-
reza. Acredita-se na interdisciplinaridade do direito do direito tributário.
Nesse primeiro momento, iremos analisar a questão societária mais básica em relação ao pla-
nejamento tributário, que é a Holding Patrimonial Familiar, veremos as questões básica envol-
vendo este assunto e, vamos no decorrer da aula, ver como se analisa holding e fazer ela servir
ao planejamento tributário, para justamente dar maior segurança jurídica as pessoas em rela-
ção aos seus bens e poder otimizar a carga tributária, pelo qual é o nosso objetivo.

HOLDING PATRIMONIAL FAMILIAR


A expressão ‘’holding’’ significa segurar, manter, controlar e guardar. Então, se efetivamente,
estamos fazendo o planejamento tributário para uma família e, o objetivo dela é segurar, man-
ter, controlar e guardar o patrimônio, a Holding Patrimonial Familiar, efetivamente, vai ser uma
arma eficaz nessa questão, isso porque é possível fazer algumas cláusulas no contrato de cons-
tituição da holding, onde efetivamente se dará essas características que precisam segurar, man-
ter, controlar e guardar. Além de conseguir otimizar os custos, pelo qual veremos.
Atualmente, verifica-se um crescimento significativo na aquisição de imóveis por pessoas que
querem aumentar o seu patrimônio com a intenção de assegurar um futuro tranquilo para si e
sua família. E a maioria destas pessoas deseja perpetuar suas riquezas para toda a vida e para
as gerações futuras.

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Fala-se bastante em questões de bens imóveis, porque geralmente, as famílias que organizam
a sua questão familiar, organizam através de patrimônio, de imóveis, e esses imóveis acabam
dando sustentáculo para a família e para geração de riqueza em relação ao patrimônio. Não se
fala em relação à questão do aluguel na exploração de imóveis, e sim em relação ao patrimônio
da família.
Comprar e vender imóveis, alugá-los e operar no mercado imobiliário, tornou-se um meio de
arrecadação de recursos de muitas pessoas e famílias. Observando esta crescente tendência,
desenvolveram-se no mercado atual técnicas de organização deste patrimônio através de uma
ou de um conjunto de empresas batizas de Holding Familiar.

É nesse ponto que começa o planejamento, começa o planejamento quando efetivamente


tem que escolher qual o tipo societário que será utilizado para estabelecer, dar a característica
a esse tipo societário de Holding Patrimonial Familiar.

A Holding Familiar, hoje, é uma das melhores ferramentas para:

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REDUÇÃO DOS ENCARGOS TRIBUTÁRIOS


É possível reduzir os encargos tributários com a Holding Patrimonial Familiar, porque ao passar
um bem imóvel, da pessoa física para a pessoa jurídica, é retirado do rol de propriedade da
pessoa física, sai da declaração de imposto de renda da pessoa física e vai para declaração de
imposto de renda da pessoa jurídica, da Holding Patrimonial Familiar.
Existem despesas indedutíveis na base de cálculo do imposto de renda da pessoa física, que
como o seu próprio nome diz, elas são indedutíveis para a manutenção desses bens imóveis
que estão na declaração de imposto de renda da pessoa física. Se são despesas indedutíveis,
elas vão simplesmente aumentar o custo de manutenção desses bens. Ao trazer esse bem da
pessoa física para a pessoa jurídica, se transforma esse custo, esta despesa indedutível da base
de cálculo do imposto de renda da pessoa física, em um custo dedutível da base de cálculo da
pessoa jurídica Holding Patrimonial Familiar, dependendo da forma de apuração de lucro. Para
que esse custo seja dedutível da base de cálculo da pessoa jurídica holding, a forma de apura-
ção de lucro tem que ser lucro presumido, e não lucro real.

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RAPIDEZ E AGILIDADE NAS QUESTÕES DE SUCESSÃO FAMILIAR


Veja, se efetivamente estiver tudo previsto no contrato social da Holding Patrimonial Familiar,
não será preciso inventariar e partilhar esses bens. Na falta de um dos sócios da Holding Patri-
monial Familiar, o que precisará ser feito, justamente, é executar o contrato social. No contrato
social vai haver cláusulas, pelas quais estudaremos no decorrer desta aula, onde restará, claro,
o que vai acontecer se um dos herdeiros, se fala herdeiros e sócios porque, para Holding Pa-
trimonial Familiar funcionar como uma arma de rapidez e agilidade nas questões de sucessão
familiar, os sócios da holding têm que ser os herdeiros. Se for feito isso, então, fica dispensado
inventariar esses bens para fazer a partilha, porque simplesmente será executado o contrato
social da Holding Patrimonial Familiar.

Este é o ponto em que vemos a primeira arma de planejamento tributário, logo, se o objetivo
com a Holding Patrimonial Familiar é, também, fazer uma rapidez e agilidade nas questões da
sucessão familiar, qual é o tipo societário a se escolher para constituir a pessoa jurídica e depois
dar a ela a característica de Holding Patrimonial Familiar? Pois bem, se o objetivo é a rapidez e
a agilidade nas questões da sucessão familiar, não se tem a menor dúvida que a sociedade, por
cota de responsabilidade limitada, é o tipo societário que melhor atende essas necessidades.
Isso porque pode-se dividir as cotas sociais de acordo com as legítimas. Serão respeitadas as
legítimas nas divisões das cotas sociais e com isso evita-se que exista alguma distribuição desi-
gual ou evita-se que seja necessário fazer um inventário, a partilha, para regularizar essas ques-
tões. O objetivo é organizar o patrimônio de uma família, otimizar os custos tributários e fazer
uma rapidez e agilidade nas questões de sucessão familiar, o tipo societário mais indicado é a
sociedade por cotas de responsabilidade limitada.
Na prática funciona da seguinte maneira: vamos imaginar uma família onde nós temos cônjuge
varão, cônjuge virago e dois filhos, uma família onde existem entre si quatro herdeiros. O que
será feito é, constituir uma empresa, uma sociedade, por cotas de responsabilidade limitada,
onde entrarão o cônjuge varão, a cônjuge virago e os dois filhos, com participação societária
respeitando as legítimas.
Se, efetivamente forem respeitadas as legítimas, será dividida a participação societária de cada
um deles de acordo com a sucessão, logo, será organizada a sucessão de uma forma em que
os herdeiros não terão mais condições de brigar entre si em relação a individualidade de bens,
porque cada um deles terá uma cota à parte no capital da Holding Patrimonial Familiar, que
então será o patrimônio da família, pelo qual será trazido das pessoas físicas, dos sócios, para
dentro da pessoa jurídica.

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Geralmente, os filhos (os herdeiros), não tem patrimônio para ingressar na Holding Patrimonial
Familiar, quem tem o patrimônio é o cônjuge varão ou o cônjuge virago, inclusive dependendo
da faixa etária dos filhos, como é que se constitui a holding de uma forma em que se otimize
os custos tributários?
Será constituído da seguinte forma: o cônjuge varão e a cônjuge virago, ingressam na empresa
e fazem o que se chama de ingresso de capital dentro da holding, e os filhos ingressam na so-
ciedade por cotas de responsabilidade limitada no primeiro momento, com cotas sociais bem
pequenas, que não representam as suas legítimas. Depois que está constituída a sociedade por
cotas de responsabilidade limitada e todos são sócios entre si, herdeiros, se faz uma sessão de
cotas para os herdeiros, igualando as legítimas.
E como é que isso se faz na prática? Na prática, aquele patrimônio que está lá na declaração do
imposto de renda da pessoa física, é transferido para a pessoa jurídica e é realizada uma altera-
ção no contrato social da sociedade por cotas de responsabilidade limitada, onde será dito que
essa sociedade é a controladora do patrimônio dos sócios, que está abaixo relacionado, e aí
será trazido aquele patrimônio que está na pessoa física para dentro da pessoa jurídica, poden-
do estabelecer qual o quinhão, qual a cota parte de cada filho e qual a meação de cada cônjuge
varão, cônjuge virago e assim será possível fazer a organização da Holding Patrimonial Familiar.
Veja, essa questão tem tudo a ver com o que foi falado no início da aula, a questão de que o
direito tributário em si, não tem um fim, aqui o direito de família presta um grande serviço ao
direito tributário, na medida em que ele diz ‘’olha, para que efetivamente você possa estabele-
cer que não haja uma distribuição desigual, que não haja um desrespeito à questão do direito
de família, respeite as legítimas, e aí você consegue organizar a sucessão’’.

PROTEÇÃO PATRIMONIAL E TRANSMISSÃO DA HERANÇA


Pode-se estabelecer dentro da Holding Patrimonial Familiar, cláusulas de incomunicabilidade,


impenhorabilidade e inalienabilidade, inclusive, cláusulas vitalícias, podendo o patrimônio se
perpetuar dentro do seio de uma família, que efetivamente tenha uma Holding Patrimonial
Familiar.
Temos diversos exemplos práticos disso, em planejamentos tributários já feitos, como por
exemplo, grandes redes de supermercados em que o patrimônio, as lojas próprias não são co-
municáveis, penhoráveis ou alienáveis, logo, o que acontece é que este patrimônio acaba fican-
do dentro do seio familiar.
Como é que funciona na pratica? É transferido o patrimônio da pessoa física para a pessoa
jurídica. Qual é a pessoa jurídica que se transfere? A empresa por cotas de responsabilidade
limitadas. Logo, passa a essa empresa, por cotas de responsabilidades limitada, a característica
de holding. E esse patrimônio, como é que ele está dentro da holding? Esse patrimônio está
dentro da holding como cotas sociais representativas desse patrimônio. Então esse patrimônio
deixa de ser um automóvel, deixa de ser um bem imóvel? Na questão da divisão, na questão da
organização societária e contábil sim, porque quando se integraliza o capital dentro da holding,
como um sócio, quando o cônjuge varão, virago ou herdeiro ingressam com patrimônio, esse
patrimônio passa a ser representativo das cotas sociais da Holding Patrimonial Familiar, logo,
ele deixa de ser identificado como um imóvel e passa a ser representativo das cotas.

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A vantagem que isso traz na prática, é o fato de que, ao não individualizar mais o bem, evita-se
qualquer disputa sobre esse bem, porque todos os herdeiros passam a ter uma cota parte re-
presentativa desse patrimônio que agora esta dentro da Holding Patrimonial Familiar.
A criação e utilização desse tipo de sociedade é de suma importância para a família que visa se
proteger concentrando os bens no âmbito familiar e nas mãos daqueles que serão aptos a pros-
seguir com o bom andamento dos negócios.
Dentro da holding é possível criar regras de sucessão patrimonial, de proteção patrimonial, de
governança corporativa e sustentabilidade da empresa para as gerações futuras. Vamos supor
que se organize a Holding Patrimonial Familiar de uma forma que se deseja que todo o patri-
mônio, todos os bens imóveis que a família tem, tenham cláusulas de impenhorabilidade e
inalienabilidade, pode ser feito isso? Pode, os bens não se transmitem e, efetivamente, não são
alienáveis, devendo constar no contrato social da Holding Patrimonial Familiar.
O contrato da Holding Patrimonial Familiar é a transformação do tipo jurídico que se fará da
empresa por cotas de responsabilidade limitada que, depois se dará a característica de holding.
Vale lembrar, por que cotas de responsabilidade limitada? Porque, no caso de Holding Patri-
monial Familiar, é a melhor forma de organizar o patrimônio da família, de poder organizar as
cotas respeitando as legítimas.
• Onde podemos encontrar a Gênese da Holding Patrimonial Familiar?

Veja, esta lei é a gênese da Holding, é a lei das sociedades anônimas lá de 1976, esta lei de 1976
trazia em seu bojo, o entendimento da fiscalização da época, então veja que, em 1976, pode-
ria constituir, dar a uma sociedade a característica de holding, para se beneficiar de incentivos
fiscais. Hoje não se pode fazer mais isso, porque de 1976 até hoje, o entendimento do ente tri-
butante em relação ao planejamento tributário mudou, e a mudança crucial que aconteceu em
relação a isso foi o fato de que se uma sociedade hoje, tem como objetivo apenas se beneficiar
de incentivos fiscais, falta a ela uma coisa que se chama propósito negocial.

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Vamos analisar a questão do início. Se tenho patrimônio de pessoa física, transfiro ele para pes-
soa jurídica, transformo despesas indedutíveis na base de cálculo do imposto de renda da pes-
soa física em custos dedutíveis na base de cálculos da pessoa jurídica Holding Patrimonial Fa-
miliar, se ela apurar o lucro na modalidade lucro presumido, e se esses bens estiverem em uma
conta contábil que se chama ativo imobilizado. O incentivo fiscal está no fato de que, pode-se
deduzir da base de cálculo do imposto de renda da pessoa jurídica as despesas para manuten-
ção desses bens, inclusive, os custos tributários, com isso se reduz a carga tributária.
Vamos utilizar como exemplo a questão do ITCMD. Na pessoa física, como é que se faz para
tributar pelo ITCMD? Acontece o evento morte, o bem é avaliado pela Secretaria da Fazenda do
Estado do Rio Grande do Sul, atribui-se um bem e, efetivamente é emitida a DIT e a guia para
pagamento. Agora, se esse bem não estiver na pessoa física e sim na pessoa jurídica e ele for
cotas sociais representativas do patrimônio, pode-se avaliar este bem com os métodos contá-
beis geralmente aceitos.
Com os métodos contábeis geralmente aceitos, pode-se puxar um pronunciamento do comi-
tê de pronunciamento contábil, cujo número é 46, e avaliar este bem a valor justo. Isso pode
reduzir substancialmente a base de cálculo do ITCMS, porque ao avaliar esse bem, não mais
como um bem imóvel, mas como cotas representativas no capital social de uma holding, pode-
-se abater os custos para a manutenção deste bem, que na pessoa física não se pode manter.
Isso reduz a carga tributária, dando incentivo fiscal. Se o objetivo da Holding Patrimonial Fami-
liar for apenas, única e exclusivamente, administrar os bens da família para reduzir os custos
tributários, pode acontecer de faltar proposito negocial justamente pela questão de incentivo
fiscal.
Apesar dessa previsão em relação a gênese da Holding Patrimonial Familiar estar contida na
lei das sociedades anônimas, nada impede que as sociedades holding se revistam de forma de
sociedade por cota de responsabilidade limitada, ou de outros tipos societários, pois a expres-
são holding não reflete a existência de um tipo societário específico, mas reflete a existência de
uma característica que se dá no tipo societário.
Lá em 1976, o legislador dizia que podia-se constituir uma Holding Patrimonial Familiar para
se beneficiar de incentivos fiscais. Por que hoje, 2020, não se pode mais fazer isso? Porque de
1976 até 2020, muita água passou por debaixo da ponte e, muito o Fisco evoluiu na sua forma
de fiscalizar. Hoje, o entendimento do Fisco é o seguinte: sempre que o objetivo for única e
exclusivamente reduzir a carga tributária, faltará propósito negocial porque, ao simplesmente
fazer uma movimentação societária, onde se pode avaliar os bens de uma forma diferente e de-
duzir custos que antes eram indedutíveis, irá se reduzir a carga tributária e, no final das contas,
o tributo que cairá no caixa do Fisco é de valor menor.
O entendimento mais atual do Fisco é que, se o objetivo for única e exclusivamente reduzir
a carga tributária, mesmo que de forma lícita, será considerado uma imposição de prejuízo a
toda a sociedade. Isso porque, esse dinheiro que deixou de entrar no caixa do Fisco, é um di-
nheiro que efetivamente iria fomentar políticas públicas, e essas políticas públicas visam o bem
de todos e, a partir do momento que efetivamente, o objetivo for só de reduzir a carga tributá-
ria, estar-se-á impondo um prejuízo a sociedade.

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CLASSIFICAÇÃO DAS HOLDINGS

• HOLDING PURA
• HOLDING MISTA

HOLDING PURA

Aquela que tem como objetivo a participação no capital de outras sociedades, controlando-as.
Então, se o objetivo da Holding Patrimonial Familiar for só, única e exclusivamente, reduzir a
carga tributária, ou seja, administrar o patrimônio da família, de uma forma de transformar
esse patrimônio de bens móveis e bens imóveis em cotas representativas do capital social e,
essas cotas puderem ser avaliadas a valor justo, ou seja, com os conceitos contábeis onde se
consegue deduzir os custos de manutenção desse bem, consegue-se reduzir a carga tributária,
contudo, irá faltar propósito negocial. Nesse caso o Fisco pode autuar e desconstituir a Holding
Patrimonial Familiar.

HOLDING MISTA

Além da integralização do capital, ela poderá exercer outras atividades empresariais (proteção
do patrimônio), como por exemplo, imobiliário, e esta também é denominada como holding
operacional.
Existia, então, o objetivo de proteger, controlar o patrimônio da família e efetivamente organi-
zar a sucessão. Constituía-se uma Holding Patrimonial Familiar para efetivamente organizar tri-
butos, esta holding tinha como objetivo só controlar o patrimônio da família, se isto acontece,
se esse é o único objetivo da holding, pode acontecer de faltar o propósito negocial.
Com a Holding Mista, além de controlar o patrimônio da família, a holding tem que praticar o
fato gerador de algum tributo, podendo ser qualquer fato gerador. Vamos supor que João tem
um patrimônio e esse patrimônio está em uma Holding Patrimonial Familiar, se esse patrimô-
nio está dentro de sua Holding Patrimonial Familiar e ele quer protegê-lo em relação às cláu-
sulas de impenhorabilidade, inalienabilidade, não comunicabilidade, ele deverá colocar esses
bens, depois de constituir a sociedade por cotas de responsabilidade limitada, em uma conta
contábil do ativo imobilizado, ele então terá que efetivamente, se esse for o único objetivo da
sua Holding Patrimonial Familiar, dar uma outra atividade para essa holding. Qual a atividade
mais simples que ele poderia dar para essa holding? Vamos supor que ele tivesse mais de um
bem imóvel e um desses bens imóveis, ao invés de colocar na conta do imobilizado, ele colocas-
se em uma conta contábil da Holding Patrimonial Familiar do ativo disponível.
Na prática muda que, em relação à qualificação contábil dele, este bem deixa de estar prote-
gido pelas cláusulas de incomunicabilidade, inalienabilidade e passa a estar passível para atos
de comércio. Este bem poderá ser explorado, podendo locar, comprar, vender, dando a holding
uma outra atividade além da atividade de proteção dos bens, dando a ela uma atividade ope-
racional. A holding mista serve justamente para isso, a holding tem que praticar o fato gerador
de algum tributo.

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Vamos supor que o professor Cláudio tivesse uma Holding Patrimonial Familiar e que seu pa-
trimônio estivesse todo nessa holding. A gente sabe que se fosse assim, teríamos uma holding
pura, mas a holding não pode ser pura, porque se ela for pura, efetivamente, poderá faltar
propósito negocial. Como, além de advogado, João é professor, a atividade operacional que se
pode dar para essa holding, além de administrar os bens da família é ministrar aulas através
dos sócios, cônjuge varão.
Com isso se resolve a questão de, efetivamente, gerar alguma receita operacional da holding além
da mais ou menos valia dos bens que está se administrando? Quando se tem a holding patrimo-
nial família, se tem uma receita, decorrente dos bens que estão imobilizados da holding, que é a
mais ou menos valia dos bens que se busca administrar ou proteger, esta é uma receita operacio-
nal contábil da holding. Depois tem uma outra receita, pela qual é decorrente da atividade opera-
cional da holding, que é o aluguel e a compra e venda desses bens, essa é uma outra receita.
O que diferencia uma receita da outra? A receita, para ser diferenciada contabilmente, deve-
mos analisar aonde os bens estão localizados na contabilidade, se os bens estão no ativo imo-
bilizado, eles não podem efetivamente praticar nenhum ato de comércio, não se pode vender
o bem imóvel de uma Holding Patrimonial Familiar que está no seu imobilizado, terá então que
primeiro, tirar esse bem de uma conta contábil de imobilizado, passar para o disponível, e aí
poder fazer a venda, e, mais que isso, no contrato social da Holding Patrimonial Familiar, tem
que estar previsto que a sua atividade é também de locação e compra e venda, porque não é
cabível tirar um bem do imobilizado, passar para uma conta de disponível e fazer a venda.
Hoje, quem constitui holding patrimonial pura, está efetivamente correndo um risco grande
de ser autuado por falta de propósito negocial, e, não se engane, grandes escritórios e grandes
corporações não sabem disso, continuam constituindo holdings puras, e os autos de infração
acabam aparecendo com a questão da falta do propósito negocial.
A partir do momento em que se movimenta para dar propósito negocial, deve-se cuidar de
uma coisa chamada preponderância da receita. Nós temos duas receitas, em relação a Holding
Patrimonial Familiar, a receita não operacional e a receita operacional. A receita não opera-
cional contábil da holding é decorrente da mais ou menos valia do patrimônio que ela busca
administrar e que está alocado em uma conta do ativo imobilizado. E qual o patrimônio que ela
busca gerar alguma tributação? O patrimônio que está dentro do ativo disponível.

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Jamais a receita decorrente da atividade operacional da holding, que é a que se atribui para
dar a ela propósito negocial, ou seja, aquela decorrente dos bens que estão locados dentro do
ativo disponível, poderão ser maiores que as receitas que estão no ativo imobilizado. Porque
se isso acontecer, irá novamente faltar propósito negocial, porque a legislação de regência, os
autos de infração e a fiscalização que é feita em cima da holding, determina que, se a atividade
operacional da holding é maior que a receita não operacional da mais ou menos valia dos bens,
estará novamente impondo um prejuízo à sociedade, e nesse sentido, não será uma holding, e
sim uma imobiliária.

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PARTE 02

Holding não é uma espécie societária, mas uma característica de sociedade. Assim sendo, a
sociedade deverá ser constituída de acordo com uma das formas existentes na legislação atual.
Temos várias formas existentes na legislação atual e todas elas com decorrências, por exemplo,
existem tipos jurídicos que exigem que sejam publicados balanços, existem tipos jurídicos que
determinam que efetivamente sejam mostradas para o mercado as demonstrações contábeis.
Por óbvio que, se o objetivo for organizar o patrimônio da família, organizar a sucessão e pro-
teger o patrimônio, não vai querer se passar por isso, vai se querer, justamente, tratar essas
questões de forma que não seja obrigado a mostrar isso.

SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA

O tipo societário preferível pelos pequenos e médios empresários e inclusive, por grandes em-
presas que não tem a intenção de se abrir ao mercado.
Verificam-se como características positivas deste tipo de sociedade a responsabilidade limita-
da e a dispensa de publicação obrigatória de balanços. Esta dispensa, além de torná-la econo-
micamente mais viável, evita a exposição decorrente da publicação obrigatória de demonstra-
ções financeiras.
Veja, a questão da responsabilidade limitada, ainda vai proporcionar um outro objetivo, pelo
qual já foi visto no início da aula, que é o fato de poder estabelecer que as cotas e a responsabi-
lidade sejam proporcionais às legítimas, e assim, evita-se a necessidade de efetivamente fazer
um inventário e partilha.
Além disso, é a mais adequada quando se pretende impedir que terceiros, estranhos à família,
participem da sociedade. Isso porque, podem ser estabelecidas dentro da holding cláusulas
que estabeleçam que só os herdeiros diretos é que serão sócios da Holding Patrimonial Fami-
liar, assim sendo, deixam as noras e os genros de fora, se esse for o objetivo da família.

Utiliza-se a expressão holding familiar para qualificar uma empresa que controla o patrimônio
de uma ou mais pessoas físicas, ou seja, ao invés das pessoas físicas possuírem bens em seus
próprios nomes, elas possuem através de uma pessoa jurídica, a controladora patrimonial.

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O bem deixa de ser da pessoa física, ou seja, sai da declaração de imposto de renda da pessoa
física e vai para a declaração de imposto de renda da pessoa jurídica. Qual pessoa jurídica?
A Holding Patrimonial Familiar, da qual ele é sócio. Com qual percentual? Com percentual da
legítima que ele terá em cima deste patrimônio. Um dos objetivos da holding é partilhar o pa-
trimônio.
A formação de uma empresa holding familiar promove a reunião daqueles bens que forem
escolhidos, que antes eram pessoais, no patrimônio desta sociedade, oferecendo a seu titular
a possibilidade de entregar a seus herdeiros as cotas, na forma que entenda mais adequada e
proveitosa para cada um, conservando para si o usufruto vitalício dessas participações, o que
lhe proporciona condições de continuar administrando integralmente seu patrimônio mobiliá-
rio e imobiliário.
Existem determinados bens que pode ser que não se queira que faça parte da sociedade, por
exemplo, um automóvel, se não for da vontade da pessoa que este faça parte da Holding Patri-
monial Familiar, pode-se fazer com que este automóvel não faça parte da holding e continue no
rol de propriedade da pessoa física.
Isso porque, vamos supor que este automóvel tenha um alto risco de sofrer acidente, por ser
um automóvel turbo, de muita potência, e esse sócio pode dirigir esse automóvel de uma for-
ma muito agressiva, logo, existe risco de sofrer acidente. Se esse automóvel for para dentro da
Holding Patrimonial Familiar, para transformar ele de bem móvel em cotas representativas no
capital da holding, quem passa a ser responsável por uma indenização caso ocorra um acidente
em decorrência deste automóvel, será a holding.

Isso pode gerar riscos para a holding, como por exemplo, vamos supor que aconteça um aci-
dente e esse acidente seja causado por um sócio da holding, onde nesse fato causou a morte
de uma pessoa. É obvio que, o parâmetro para indenização, se este automóvel estiver em uma
pessoa física ou em uma pessoa jurídica muda, altera, com isso, devemos ter muito cuidado
com quais patrimônios serão levados para a Holding Patrimonial Familiar, devendo sempre ser
aqueles que não tragam riscos para a holding.
Ao criar a holding familiar, a transferência dos bens particulares ocorre por meio de integrali-
zação na constituição ou aumento de capital social. Conforme visto no início da aula, imagine-
mos, cônjuge varão e cônjuge virago e dois filhos, quando se constituiu sociedade por cotas de
responsabilidade limitada, pode ser que só o cônjuge varão ou só a cônjuge virago tenham a
maioria do patrimônio, logo, os filhos não têm patrimônio ainda, o que acontece é o seguinte:
é constituída a sociedade por cotas de responsabilidade limitada, o cônjuge varão e a cônjuge
virago entram com a maioria do capital, os herdeiros entram com capital pequeno, formando-
-se a constituição do capital.

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Depois que estiver constituído o capital e a Holding Patrimonial Familiar e os bens estiverem
dentro da holding, será feita uma sessão de cotas para os herdeiros, e assim consegue-se igua-
lar as legítimas, a percentagem de cada herdeiro em relação às legítimas.

E aí está a questão do planejamento tributário, pelo qual as pessoas não enxergam, o bem dei-
xa de ser imóvel e passa a ser cotas representativas do capital que está integralizado dentro da
holding, essas cotas sociais são passiveis de avaliação com base em conceitos contábeis, que
inclusive veremos em seguida.
O dono do bem transfere o patrimônio à holding (cotas) e o instrumento constitutivo da so-
ciedade disciplina a quem caberá a administração da sociedade, qual será o procedimento em
caso de morte de algum dos sócios, etc.
Pode-se determinar a divisão das cotas de forma igualitária ou ainda podem ser estipuladas as
hipóteses de doação com reserva de usufruto e gravar os bens com cláusulas de:

Cumpre atentar quando diz ‘’podem ser estipuladas as hipóteses de doação’’, sem esquecer
que doação é fato gerador ITCMD; mas, se o bem já estiver efetivamente na holding, não será
mais avaliado com um bem imóvel, e sim como cotas sociais representativas do capital da hol-
ding, logo, se aplicam conceitos contábeis para a avaliação dessas cotas representativas que, na
pessoa física não se pode aplicar, já na pessoa jurídica pode.

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Contudo, o ideal seria fazer cessão dessas cotas, e não doação, e mesmo nessas cessões de
cotas, pode-se colocar cláusulas de incomunicabilidade, impenhorabilidade e inalienabilidade
que protegem o patrimônio dos sucessores em relação a terceiros.
Por possuírem os sócios o vínculo familiar, deve-se atentar a requisitos legais do direito de su-
cessões para que os bens pertencentes à pessoa jurídica não sejam enquadrados como ANTE-
CIPAÇÃO DA LEGÍTIMA.
A legítima é preceituada no Código Civil como uma parcela de bens que não pode ser disposta
pelo detentor do patrimônio, caso ele possua herdeiros necessários. Esta parcela equivale a
50% do patrimônio; os outros 50% são considerados bens disponíveis.
Para evitar a nulidade da transferência, do patrimônio da pessoa física para a pessoa jurídica,
o ideal é fazer uma divisão igualitária aos herdeiros necessários, respeitando as legitimas. Por-
que, se efetivamente forem respeitadas as legitimas, evita-se a necessidade de ter que inventa-
rias esses bens.
Ou seja, se o detentor do patrimônio possuir filhos, todos devem ser sócios da holding, e o pa-
trimônio deve ser dividido igualmente entre eles. Além disso, poderá ser estabelecida uma
cláusula de usufruto vitalício para o detentor do patrimônio, com o intuito de manter a sua
subsistência, assim como, preservar seu poder no controle dos negócios e dos bens.
Imaginemos a seguinte situação: nós temos uma Holding Patrimonial
Familiar, pela qual é constituída pelo cônjuge varão, cônjuge virago e
dois filhos; porém, depois de constituída a holding, acontece que um
dos cônjuges descobre que tem um terceiro filho e que esse filho não
foi gerado com a sócia da Holding Patrimonial Familiar, foi gerada por
uma outra pessoa.
Nesse caso, este filho terá que entrar para a Holding Patrimonial Fami-
liar e terá que ser feita uma divisão igualitária entre o patrimônio, por-
que senão ele pode alegar no futuro que lhe foi negada a legitima. O
patrimônio dos irmãos que já estavam dentro da holding, terá que ser
redistribuído para que efetivamente esse novo herdeiro ingresse na
Holding Patrimonial Familiar em igual condição.
Como é que poderia ser feito um planejamento dentro da Holding Patri-
monial Familiar, para evitar que isso aconteça, para evitar que, se efeti-
vamente aparecer um novo herdeiro, pelo qual foi gerado fora da rela-
ção da holding, não tenha que mexer no patrimônio dos filhos que estão
na holding?
Pode ser colocado na cláusula da Holding Patrimonial Familiar que, os
sócios da Holding Patrimonial Familiar, pelo qual são herdeiros entre si,
declaram, no ato de constituição da holding, que todos os herdeiros es-
tão presentes, incluindo, um parágrafo único que diga que, caso exista
algum herdeiro que não esteja presente neste ato, ou que esteja des-
conhecido, somente o herdeiro que deu origem ao conteúdo genético
para existência dele é que ficará responsável por trazê-lo para dentro da
holding em iguais condições com os demais.

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Vamos supor que quem gerou esse novo herdeiro foi a cônjuge virago, o patrimônio do cônjuge
virago não vai se alterar com isso, mas os dos filhos deles sim, porque esse novo herdeiro é ir-
mão deles e terá que ser feita uma reorganização desse patrimônio.
Os benefícios trazidos pela holding familiar são diversos, iniciando principalmente na diminui-
ção do custo tributário, pelo qual já foi visto, contudo vale lembrar que para diminuir o custo
tributário, basta transformar despesas indedutíveis na base de cálculo da pessoa física para a
manutenção dos bens que possui na pessoa física, e quando se transfere esses bens para pes-
soa jurídica, transforma esses bens em cotas representativas do capital que a holding busca
administrar, essas cotas serão avaliadas com princípios contábeis e esses princípios contábeis,
dependendo da forma de apuração do lucro da Holding Patrimonial Familiar, pelo qual pode ser
lucro presumido, pode dar ensejo a redução de custos que antes não se tinha na pessoa física.
Isso pode determinar que o bem, o mesmo bem, na pessoa física, se for passado para a holding
tem um valor menor. E este valor é base de cálculo do ITBI, é base de cálculo do ITCMD e é base
de cálculo do imposto de renda sobre renda e capital.
Outro benefício trazido pela holding familiar é a agilidade e rapidez na questão da partilha, isso
porque, não precisará mais fazer o inventário e sim apenas executar o contrato da Holding Pa-
trimonial Familiar.

Vejamos a seguir, cada um deles pormenorizadamente:

PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO

Pretende-se proteger o patrimônio pessoal do sócio em face das inúmeras situações de respon-
sabilidade solidária (art. 135, III –CTN) em relação às empresas das quais por ventura participe.
Ou até mesmo de problemas envoltos em sua vida pessoal, que possam acabar por provocar
medidas, como sequestro de bens, busca e apreensão e etc.

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O artigo mencionado trata dos atos de má gestão na administração de uma empresa, então
veja, vamos supor que João tem um patrimônio pessoal e, antes de praticar atos de má gestão
em uma outra empresa que ele é sócio, ele pega seu patrimônio pessoal e constitui uma Hol-
ding Patrimonial Familiar, ou seja, transforma esse patrimônio, que antes era bens móveis e
imóveis, pelo qual estavam na sua pessoa física, em cotas representativas do patrimônio, que
agora fazem parte da pessoa jurídica.
Após constituída a holding, João pratica atos de má gestão de uma outra sociedade pelo qual
é sócio. Então João é condenado, pelo fato de praticar atos de má gestão. Nesse caso os seus
bens ficam passiveis de serem alienados para que ele ressarça a outra empresa. João pode bus-
car os bens que estão dentro da holding para fazer esta responsabilização? Não, o bem não,
porque a holding foi constituída antes da origem deste outro débito.
Se a dívida gerada pelo sócio da holding for posterior a criação da holding, o que vai ser passível
de penhora, serão as cotas sociais representativas nesse patrimônio e os rendimentos dessa
cota social, mas não o patrimônio que está dentro da holding, esse é inalienável. Inclusive, dí-
vidas de pensão alimentícia, se essas dívidas foram geradas pós constituição da holding, o que
é passível de penhora são as cotas representativas do patrimônio e os rendimentos dessa cota,
mas o patrimônio, pelo qual está lá dentro, não.

Antes de constituir a Holding Patrimonial Familiar, deve-se analisar como é que está a
situação patrimonial dos sócios. Deve-se analisar se existem dívidas tributárias, se exis-
tem dívidas civis, se existem parcelamentos e, caso tenha alguma irregularidade, deve-
-se regularizar tudo antes da constituição da holding. Ao deixar que os sócios, pelos
quais são herdeiros entre si, constituam uma Holding Patrimonial Fami-
liar de uma forma limpa, ou seja, sem nenhum débito pré-existente, es-
ses débitos posteriores que porventura surgirem, só tocarão nos bens
se for realizada a desconstituição da Holding Patrimonial Familiar, e,
para isso, terá que haver uma ação de desconstituição da holding.

Como é que se desconstitui uma Holding Patrimonial Familiar? Se for comprovado que ela foi
constituída de uma forma viciada, e, uma das formas de constituir uma Holding Patrimonial
Familiar de forma viciada é, constituir a holding com objetivo de dificultar a cobrança de uma
dívida pré-existente da holding. Ou seja, não pode haver nenhuma dívida pré-existente, e, caso
haja dívidas posterior a criação da holding, deverá ser feita uma ação de desconstituição da
holding para somente depois buscar o patrimônio.
Com os bens integralizados na pessoa jurídica holding, há uma maior proteção do patrimônio
familiar. Quando os sócios da holding possuem riscos de responsabilidade civil, o patrimônio
pessoal fica exposto. Quando não há a figura da holding, os próprios bens (móveis e imóveis)
ficam sujeitos a essa responsabilidade (penhora, alienações judiciais, etc).

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Porém, quando existe a figura da holding, os bens não são atingidos diretamente, a não ser em
casos muito extremos (fraude, desvio patrimonial, em situações de insolvência, etc), quando
ocorrer o afastamento da personalidade jurídica da holding. Só se consegue afastar a personali-
dade jurídica da holding, se for provado que ela foi constituída de uma maneira viciada.
Com a holding, o que se torna passível de penhora são os frutos e rendimentos que as cotas
ou ações irão produzir, ou as próprias cotas ou ações. Por ser uma sociedade contratualista, a
holding familiar pode dispor no seu contrato social qual deverá ser o procedimento em caso de
retirada do sócio da sociedade.
Sendo o objetivo da constituição desta empresa que os bens permaneçam na família durante
muitas gerações, então, constará no contrato a preferência na compra de cotas pelos sócios,
caso um deles queira se retirar da sociedade. Assim, impede-se que terceiros integrem a socie-
dade sem a anuência e vontade dos outros sócios e os bens por vontade das partes, permane-
çam no seio familiar.
Quando se propõe isso dentro de uma relação familiar, é obvio que, a parte que puder se sentir
prejudicada financeiramente, poderá solicitar uma compensação financeira, o que na prática
acontece, pelo qual as partes irão acertar entre si, juntamente com seus advogados.

PARTILHA DE BENS E PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Em relação ao planejamento sucessório, o que se visa é estruturar o patrimônio familiar evitan-


do disputas futuras quando da abertura do processo de sucessão. Isso porque, não se consegue
mais individualizar o bem, o bem que saiu da pessoa física e agora está dentro da holding, ele é
cotas sociais representativas do patrimônio, ele não é mais um apartamento em Punta Del Este,
ele não é mais uma fazenda no interior do Rio Grande do Sul, ele não é mais um automóvel Fer-
rari, não existe mais, o que existe são cotas representativas desse patrimônio.
No contrato social da holding, consta que a holding, por exemplo, vai administrar um rol de
patrimônios do sócio João, e quando esse contrato for registrado, João terá que ir até o DE-
TRAN para alterar a propriedade do seu veículo pelo qual foi para holding, e no DUT do veículo
deixará de aparecer o nome do João e aparecerá Holding Patrimonial Familiar de João. Isso na
prática representa que, o automóvel não é mais de João, e sim da holding, tanto que para alie-
nar este automóvel, quem deve assinar o DUT é aquele que representar a Holding Patrimonial
Familiar, e isso acontece da mesma forma com os bens imóveis.
Em relação ao planejamento sucessório, o que se visa é estruturar o patrimônio familiar evi-
tando disputas futuras, isso porque, por exemplo, ninguém vai mais brigar pela Ferrari, vez que
cada um dos herdeiros possui 33,33% dela. Cada núcleo familiar possui características peculia-
res e, portanto, deve contar com soluções únicas e igualmente peculiares para a realidade de
seus problemas.

INVENTÁRIO

No inventário, apura-se o patrimônio do de cujus, cobram-se as dívidas ativas e pagam-se os le-


gados e o ITCMD. Após, procede-se a partilha. O inventário é um processo muito dispendioso,
sendo de forma contenciosa ou de jurisdição voluntária, tem-se os custos judiciais, honorário
advocatícios e ainda a incidência do imposto causa mortis. Além disso, é um processo que leva
em média cinco anos ao passo que uma sociedade holding pode ser constituída em 30 dias.

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PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

Para evitar estes transtornos e o desgaste da família, é indicado fazer um planejamento suces-
sório ainda em vida, o que evitará a incidência de impostos, como o ITCMD. Não vai se evitar
a incidência, e sim reduzir a base de cálculo do ITCMD em relação aos bens que deixam de ser
bens imóveis e bens móveis e passam a ser cotas sociais representativas no capital da holding,
pelo qual são avaliadas pelas normas contábeis geralmente aceitas. E isso não é possível fazer
na pessoa física.
O planejamento é realizado através do contrato social da holding. O patrimônio pertencente à
família é integralizado em forma de capital social.
No caso da sociedade limitada, é facultativa a integralização do patrimônio, de acordo com o
valor constante na declaração de bens da pessoa física (o que é mais vantajoso financeiramen-
te), ou pelo valor de mercado. Determinado o valor dos bens, este é convertido em cotas da
sociedade e incorporado ao patrimônio da empresa.
Ao passar o patrimônio pessoal ao da empresa, a pessoa física estará compartilhando os seus
bens com os outros sócios (herdeiros), sendo este um dos principais objetivos da holding fami-
liar. Isto facilita o planejamento familiar na sucessão empresarial, na medida em que os herdei-
ros recebem cotas da sociedade holding como herança e não mais bens determinados (moveis
ou imóveis).
A holding familiar proporciona maior facilidade na transmissão de heranças, pois ao invés de in-
ventários, custos e demorados, transmitir-se-á apenas cotas, normalmente através de doação.
Se for realizada a transferência do patrimônio das pessoas físicas para a pessoa jurídica holding e
constituí-la, poderá ser feita a transferência desse patrimônio no valor original. Significa dizer que
é o valor original pelo qual consta na declaração de imposto de renda da pessoa física, e caso isso
seja feito, deixará de praticar o fato gerador de um tributo chamado imposto de renda.
O problema que isso gera é grave, porque as cotas sociais da Holding Patrimonial Familiar terão
o valor pelo qual forem transferidos, logo, vamos supor que João tem um imóvel na declaração
de imposto de renda de pessoa física, pelo qual comprou há 20 anos, por R$ 50.000,00, e este
imóvel, hoje, é sabido que vale R$ 300.000,00; mas, se João transferir para holding por valor
original, existe uma subavaliação da cota representativa da holding.
A cota representativa do capital da família, pelo qual está dentro da Holding, não será repre-
sentativa efetiva do capital.

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Isto é um problema enorme, e, pode gerar um acordo em valores enormes, porque ninguém irá
querer desconstituir a sua Holding Patrimonial Familiar depois de ter organizado todo o negó-
cio da família em decorrência de uma subavaliação de cotas, logo, irão indenizar a pessoa ou fa-
zer um acordo; contudo, isso sairá muito mais caro do que, na hora de fazer a transferência do
patrimônio, pagar o imposto sobre ganho de capital e trazer para dentro da Holding Patrimonial
Familiar o patrimônio a valor original.

Isso gera um problema muito sério no futuro, só não gera problema se as pessoas nunca briga-
rem, quando efetivamente existe uma harmonia familiar total, onde não exista nenhuma desa-
vença, aí sim a coisa vai se manter ad eternum; contudo, sabemos que as famílias não funcio-
nam assim, sabemos que existem disputas, sabemos que existem brigas, e essas brigas podem
ocasionar uma ação de dissolução da Holding Patrimonial Familiar por subavaliação das cotas
representativas do patrimônio e uma subavaliação do valor que foi oferecido aquele cônjuge
que está se retirando da sociedade em decorrência do fim da relação conjugal.
Para continuarem a receber lucros e administrarem as empresas controladas, podem gravar a
doação com reserva de usufruto. Além disso, o detentor do patrimônio poderá protegê-lo dos
sucessores em face de casamento e/ou dívidas futuras. Ou seja, por mais que um dos sócios
da holding, após o patrimônio já estar compartilhado dentro da holding, venha se casar com
uma comunhão universal de bens, se houver na holding uma cláusula de incomunicabilidade
de bens, o regime de bens não determina que se busque esses bens, esse patrimônio que está
dentro da holding, se protege esse patrimônio.
Por meio do contrato social da holding é possível a criação de cláusulas, inclusive vitalícias de:
• INCOMUNICABILIDADE – Os bens que estão com esse gravame não entraram na comunhão
em virtude de casamento, independentemente do regime de bens convencionado.
• INALIENABILIDADE – Os bens passam a ser indisponíveis, ficando fora do comércio, ou
seja, não são passíveis de alienação. O efeito primordial da cláusula é impedir a alienação
do bem gravado a qualquer título: não pode vender, doar, gravar, permutar ou dar em
pagamento, a não ser que desconstituam a Holding Patrimonial Familiar.

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• IMPENHORABILIDADE – Evita que o bem seja penhorado, não respondendo assim por
qualquer tipo de dívida contraída pelo sucessor, inclusive pensão alimentícia, dívida
tributária e dívida trabalhista.

No próprio contrato social da holding familiar é possível disciplinar a questão de falecimento


dos sócios. A regra disposta no Código Civil é de liquidação das cotas do de cujus, salvo disposto
em contrário.
Ou seja, havendo o evento morte, as cláusulas serão liquidadas; mas, se houver disposição em
contrário, no contrato social poderá prever a sucessão das cotas, logo, ao invés de fazer a liqui-
dação, terá que haver a sucessão das cotas. Como os sócios da holding são herdeiros entre si
e eles efetivamente, além de herdeiros entre si, são sócios, as cotas permanecerão dentro da
família.
Substitui-se, em tese, assim o inventário, realizando a partilha dos bens de forma mais célere.
Pode acontecer de que nem todo o patrimônio esteja dentro da holding, se existirem bens fora
da holding deverão ser inventariados, mas, aquilo que já está dentro, bastará executar o contra-
to social.
Outra opção de transferência de bens, dentro da sociedade, e antes do falecimento de um só-
cio é a cessão de cotas. Conforme foi visto no início da aula, esta é a forma mais efetiva de
trazer para dentro da holding, aqueles sócios que não são detentores de muito patrimônio,
geralmente os filhos, ou seja, quem tem patrimônio é o cônjuge varão ou cônjuge virago, pelo
qual realizam a integralização de todo o patrimônio, os herdeiros entram na holding com uma
participação pequena e depois é feita a cessão de cotas, justamente para igualar a questão das
legítimas.
A cessão de cotas poderá estar prevista no contrato social da holding, em virtude do qual o ce-
dente transfere ao cessionário cotas da sociedade.

CUSTOS TRIBUTÁRIOS

Em relação aos custos tributários na Holding, conforme visto, o que efetivamente se busca é re-
duzir a base de cálculo do ITCMD, ITBI e é efetivamente evitar o imposto de renda sobre ganho
de capital, são os três tipos de impostos pelos quais incidirão quando for feita a transferência
do patrimônio da pessoa física para a pessoa jurídica.

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A principal vantagem que a Holding Patrimonial Familiar pode dar no planejamento tributário,
ou seja, na utilização deste tipo societário no planejamento societário, é o fato de que, aquele
patrimônio pelo qual está na pessoa física, sai da pessoa física e vai para a pessoa jurídica, exis-
tem despesas para a manutenção desses bens na pessoa física que são indedutíveis na base de
cálculo do imposto de renda da pessoa física; mas, a partir do momento em que esse bem sai
da pessoa física e entra na pessoa jurídica Holding Patrimonial Familiar, em uma conta contábil
que se chama imobilizado, existem despesas para a manutenção, pelo qual deixam de ser des-
pesas e passam a se transformar em custos, e, esses custos são dedutíveis da base do imposto
de renda da pessoa jurídica.
Estes custos são todos os custos necessários para a manutenção desses bens, logo, as despesas
tributárias, as despesas com manutenção, as despesas ordinárias, para que esses bens sejam
mantidos de forma hígida. Tudo isso é necessário para que efetivamente possa haver a dedu-
ção desse custo, que pode ser tributário ou não, na base de cálculo desse bem.
Se fala da base de cálculo porque, a base de cálculo do ITCMD, ITBI e sobre o Imposto de Renda
sobre ganho de capital, é o valor do bem. Se conseguir mexer no valor do bem, conseguirá re-
duzir a base de cálculo desses tributos. Por outro lado, não se pode fazer isso na pessoa física,
vez que na pessoa física a Secretaria da Fazenda Estadual vai avaliar o bem e não a participação
societária.
Até 29/09/2020, alguns dias atrás, a forma de avaliação das participações societárias de em-
presas de capital fechado no estado do Rio Grande do Sul, dentre elas as Holdings Patrimoniais
Familiares, sociedades por cotas de responsabilidades limitada, era avaliado da seguinte forma:
patrimônio líquido mais 6 meses de receita para fins de ITCMD.

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PARTE 03

Isso era feito desta forma, porque efetiva-


mente, o estado do Rio Grande do Sul era o
único estado da federação que avaliava as
participações societárias para fins de tribu-
tação pelo imposto de transmissão causa
mortis, considerando patrimônio líquido
mais seis meses de faturamento. Veja, o
patrimônio líquido é uma mensuração contábil cientifica, quando se tem o patrimônio líquido,
considera-se receita, despesa e custo, chegando efetivamente no que vale a empresa.
No patrimônio líquido pode-se, inclusive, mensurar prejuízos? Sim, os custos decorrentes de
manutenção da atividade. Agora, quando se soma a isso seis meses de receita, não se conside-
ra qualquer custo.
Qual o objetivo da receita do estado do Rio Grande do Sul em fazer isso? Nunca dava negativa a
base de cálculo do ITCMD da participação societária de empresas de capital fechado. Mas isso
alterava o valor do ITCMD?
Imagine, por exemplo, ao pegarmos os valores de uma empresa como a Forjas Taurus. A Forjas
Taurus S/A é uma empresa de capital aberto, logo, ela é obrigada a fazer a publicação das suas
demonstrações contábeis, então, podemos saber quais são os números da Forjas Taurus, não
por investigação, e sim porque é obrigatório efetivamente que a empresa publique tais de-
monstrações.
Nesse sentido, ao analisar a publicação da empresa e fazer o cálculo da mensuração da parti-
cipação societária, com base no patrimônio líquido e, adicionando a esse patrimônio líquido
mais seis meses de faturamento, vejamos:

FORJAS TAURUS S/A


Data base: 26.09.2016
Avaliação pelo mercado
BOVESPA R$ 104.900.000,00
Avaliação com os critérios o Estado do Rio Grande do Sul
Receita líquida de vendas 2015 R$ 823.809.000,00
Média mensal de faturamento 2015 (4 em 1 12) R$ 68.650.750,00
Sete meses de faturamento 2015 (item 2x7) R$ 480.555.250,00
Patrimônio líquido PL R$ 60.116.000,00
Diferença financeira dos métodos
BOVESPA R$ 104.900.000,00
Estado do Rio Grande do Sul R$ 420.439.250,00
Diferença entre os métodos e/ou critérios R$ 315.539.250,00

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Se tivesse como mensuração só o patrimônio líquido, teria como base de cálculo do ITCMD
R$ 104.900.000,00. Agora, se efetivamente for somado ao patrimônio líquido mais seis meses
de faturamento, esses R$ 104.900.000,00 viram R$ 420.539.250,00, logo, se tem uma diferen-
ça pecuniária de R$ 315.539.250,00 com base no ITCMD, na transferência de cotas sociais das
Forjas Taurus, se algum sócio vier a falecer e tiver que fazer a transferência dessas cotas para a
família.

MUNDIAL S.A PRODUTOS DE CONSUMO


Data base: 26.09.2016
Avaliação pelo mercado
BOVESPA R$ 22.640.000,00
Avaliação com os critérios o Estado do Rio Grande do Sul
Receita líquida de vendas 2015 R$ 16.324.000,00
Média mensal de faturamento 2015 (item 1 12) R$ 33.679.000,00
Sete meses de faturamento 2015 (item 2x7) R$ 235.753.000,00
Patrimônio líquido PL R$ 19.429.000,00
Diferença financeira dos métodos
BOVESPA R$ 22.640.000,00
Estado do Rio Grande do Sul R$ 216.324.000,00
Diferença entre os métodos e/ou critérios R$ 193.684.000,00

Podemos analisar outra prova real na empresa Mundial S.A Produtos de Consumo, ao analisar a
tabela, podemos ver que se tinha R$ 22.640.000,00 de patrimônio líquido em 2016 e, ao somar
esse valor a seis meses de receita líquida, esse valor vai para R$ 216.234.000,00, ficando com
uma base de cálculo aumentada no valor de R$ 193.684.000,00. Com isso, aumenta-se subs-
tancialmente a base de cálculo do ITCMD para fins de transferência de cotas sociais de empresa
de capital fechado, inclusive Holdings Patrimoniais Familiares.
Em 29/09/2020, a Secretaria da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul alterou essa legislação
e determinou o seguinte, que a partir de agora, para fins de mensuração de ITCMD, a base de
cálculo em relação a mensuração de cotas sociais de empresa de capital fechado, inclusive Hol-
dings Patrimoniais Familiares, se dê através do patrimônio líquido e o ajuste do registro contá-
bil. Ou seja, retirou aquela necessidade de considerar seis meses de receita líquida.
Para fins de entendimento da matéria, por meio da Instrução Normativa nº 76, de 29/09/2020,
a Secretaria da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul alterou a Instrução Normativa nº 45 de
1998 e, modificou a forma de apuração da valoração da participação societária de empresas de
capital fechado, pelo qual antes era PL mais seis meses de faturamento, e, transformou isso em
patrimônio líquido mais ajuste a valor contábil. Ou seja, não se soma mais absolutamente nada,
simplesmente é realizado um ajuste.

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Isso fez com que o planejamento tributário, através de uma Holding Patrimonial Familiar, se
tornasse ainda muito mais benéfico, na medida em que, agora, a mensuração das cotas sociais,
representativas do patrimônio que estão dentro da Holding Patrimonial Familiar, não se faz
mais necessário somar ao patrimônio líquido mais seis meses de receita da Holding Patrimonial
Familiar, bastando apenas considerar o patrimônio líquido mais o ajuste de registro contábil, e
esse ajuste de registro contábil faz com que seja possível efetivamente eliminar esta indevida
majoração da base de cálculo do ITCMD, pelo qual foi demonstrado de forma matemática.

O PRONUNCIAMENTO DO COMITÊ DE PRONUNCIAMENTO CONTÁBIL

CPC, nº 46, trata do valor justo. Por que o valor justo? Porque aí é que vem efetivamente a
vantagem de transformar o patrimônio da pessoa física em pessoa jurídica, porque agora é
possível avaliar ele a valor justo, porque esse valor justo é onde efetivamente irão ser aplicados
questões contábeis que podem reduzir a base de cálculo do ITCMD na transferência de cotas
sociais da Holding Patrimonial Familiar, sendo que essas cotas são representativas do capital da
família, pelo qual não se consegue fazer isto na pessoa física, pois, se a pessoa física tem uma
quantidade enorme de bens, a Secretaria da Fazenda do estado avalia esses bens e aplica a alí-
cota do ITCMD, já, se esses bens forem para a pessoa jurídica, serão avaliados, agora, conforme
a Instrução Normativa 076/2020 da Secretaria da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul, po-
dendo ser feito ajuste de registro contábil, inclusive com base no valor justo. Com isso, se tem
uma vantagem pecuniária efetiva na redução da base de cálculo do ITCMD.
O pronunciamento do comitê de pronunciamento contábil, CPC nº 46, que trata do valor justo,
fomenta e fortalece a prática de planejamento tributário. Com o crescente avanço no mercado
de capitais, o processo de divulgação das informações contábeis aos usuários sobre a gestão
das organizações empresariais, pode ser considerado fato preponderante a sobrevivência das
empesas.
As informações evidenciadas de maneira oportuna e uniforme, além de proporcionarem credi-
bilidade aos gestores das empresas junto ao mercado, harmonizam igualdade de direitos entre
os acionistas, sendo que algumas dessas informações tem forma definida de como devem ser
divulgadas.
Se colocássemos 10 pessoas, cada uma de um país em uma sala, falando seu próprio idioma, a
comunicação seria impossível, mas, se todas falassem o inglês, por exemplo, certamente o gru-
po não teria nenhuma dificuldade. Esse, pois, é o principal objetivo da contabilidade interna-
cional, ou seja, alinhar a linguagem contábil para que órgãos governamentais e países falem a
mesma língua e, com isso, fatos contábeis possam ser fielmente relatados e as demonstrações
tornem-se confiáveis e transparentes.
Foi exatamente isso que aconteceu com essa Instrução Normativa 076/2020 da Secretaria do
Estado do Rio Grande do Sul, quando determinou que na avaliação da participação da cota so-
cial de empresa de capital fechado, pode ser feito com ajuste de valor contábil.
Dessa forma, a contabilidade internacional define métodos a serem utilizados pelas áreas con-
tábil e fiscal para que possam se adaptar a um contexto internacional por meio de um ins-
trumento que foi batizado de Internacional Financial Reporting Standard, o IFRS, que no bom
português significa Normas Internacionais de Relatórios Financeiros, sendo que as IFRS são
emitidas pelo Internacional Accounting Standards Board, ou seja, o Conselho de Normas Inter-
nacionais.

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Diferentemente do direito, a contabilidade se tornou uma ciência universal, e por se tornar


uma ciência universal, os parâmetros por ela estabelecidos para mensuração das cotas sociais
representativas do capital que estão na Holding Patrimonial Familiar, nos dá uma arma efetiva
para mensurar esses cotas de uma forma muito diferente do que se mensura na pessoa jurídi-
ca, e aqui, consegue-se fazer planejamento tributário, reduzindo a base de cálculo ITCMD, ITBI
e do Imposto de Renda de ganho de capital, quando se transfere da pessoa jurídica holding
para outra pessoa jurídica.
Assim sendo, para que as demonstrações e os relatórios contábeis e financeiros sejam apresen-
tados no contexto internacional, é necessário que sejam observados PRINCÍPIOS FUNDAMEN-
TAIS:
a) Fornecer informações sobre resultados e posições financeiras que tenham utilidade e
relevância a investidores, fornecedores, clientes e empregados das empresas;
b) Clareza, confiabilidade, relevância, comparabilidade e equilíbrio na elaboração das
demonstrações contábeis e financeiras;
c) Tais demonstrações devem incluir o balanço patrimonial, fluxo de caixa, demonstração
do resultado do exercício, notas e divulgações incluindo informações por segmento do
negócio;
d) Nas referidas demonstrações devem estar presentes fatores de mensuração e avaliação do
curso corrente, custo histórico, valor realizável e valor presente;
e) Critérios de reconhecimento das receitas, despesas, ativos e passivos.
No Brasil, as IFRS foram internalizadas pela Lei nº 11.688/2007, que levou a efeito diversas alte-
rações na Lei nº 6.401/1976 (Lei das Sociedades por Ações), sendo que, ao que aqui interessa,
destaca-se o que hoje dispõe o art. 177, §§ 2º e 5º, da referida lei:
Art. 177. A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência
aos preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos princípios de contabilidade geralmente
aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as
mutações patrimoniais segundo o regime de competência. 1

ATENÇÃO! ‘’Registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência’’, significa


poder avaliar a cota social representativa do patrimônio da família, pelo qual está dentro da
holding, considerando mutações patrimoniais, o que na pessoa física não se consegue fazer.
§ 2º A companhia observará exclusivamente em livros ou registros auxiliares, sem qualquer
modificação da escrituração mercantil e das demonstrações reguladas nesta Lei, as disposições
da lei tributária, ou de legislação especial sobre a atividade que constitui seu objeto, que
prescrevam, conduzam ou incentivem a utilização de métodos ou critérios contábeis diferentes
ou determinem registros, lançamentos ou ajustes ou a elaboração de outras demonstrações
financeiras. (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009)2

‘’A legislação especial sobre a atividade que constitui seu objeto’’ pode ser observada na avalia-
ção da cota representativa do capital da Holding Patrimonial Familiar, podendo reduzir a base
de cálculo do ITBI e ITCMD.

1 BRASIL. LEI 6401/76. http://www.portaldecontabilidade.com.br


2 BRASIL. LEI 6401/76. http://www.portaldecontabilidade.com.br

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§ 5º As normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários a que se refere o § 3º deste


artigo deverão ser elaboradas em consonância com os padrões internacionais de contabilidade
adotados nos principais mercados de valores mobiliários. (Incluído pela Lei nº 11.638, de 2007)3

Essa legislação que trouxe essas normas internacionais de contabilidade, está regulamentada
na Lei das AS, isso significa que essa é uma norma contábil que deve ser observada por toda
empresa que queira efetivamente fazer sua demonstração contábil, respeitando as normas in-
ternacionais de contabilidade. A legislação que se escolheu para efetivamente estar represen-
tada foi a Lei das AS; mas, isso serve como um norte, como uma norma a ser seguida.
Nesse sentido, o caput do art. 117 da Lei nº 6.404/1976 é expresso quanto a observância dos
‘’princípios de contabilidade geralmente aceitos’’, os quais são estabelecidos pela IFRS, sendo
que, no Brasil, eles são adaptados e expedidos pelo Conselho de Pronunciamentos Contábeis
– CPC, órgão que surgiu da fusão do Conselho Federal de Contabilidade – CPC e Comissão de
Valores Mobiliários – CVM.
Ou seja, tem-se que os Pronunciamentos do CPC de observância obrigatória aos profissionais
de contabilidade, pela necessidade de observância aos ‘’princípios de contabilidade geralmen-
te aceitos’’, salvo se os agentes reguladores se manifestem de forma contrária. Todavia, haven-
do ratificação dos pronunciamentos pelo agente regulador, eles adquirem força de lei com as
respectivas consequências legais de seu descumprimento.
Em resumo, hoje, as cotas sociais de empresa de capital fechado, inclusive, holdings patrimo-
niais familiares, para fins de mensuração de imposto de transmissão causa mortis, devem ser
avaliadas com base no patrimônio líquido e mais os ajustes de registro contábil, ou seja, o que
está previsto nos pronunciamentos.
Nesse contexto, as empresas estão obrigadas a observar as disposições contidas no Pronuncia-
mento Técnico nº 46, exarado pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC, que, ao tratar
do tema preceituo os seguintes conceitos e procedimentos:
Pronunciamento nº 46:
Objetivo:
1. O objetivo do pronunciamento é:
a) Definir valor justo;
b) Estabelecer em um único pronunciamento a estrutura para a mensuração do valor jurídico; e
c) Estabelecer divulgações sobre mensurações do valor justo.
2. O valor justo é uma mensuração baseada em mercado, e não uma mensuração específica da
entidade. Para alguns ativos e passivos, pode haver informações de mercado ou transações
de mercado observáveis disponíveis e para outros pode não haver, contudo, o objetivo
da mensuração do valor justo, em ambos os casos é o mesmo, estimar o preço pelo qual
uma transação não forçada para vender o ativo ou para transferir o passivo ocorreria entre
participantes do mercado na data de mensuração sob condições correntes de mercado
(ou seja, um preço de saída na data da mensuração do ponto de vista de participante do
mercado que detenha o ativo ou o passivo).

3 BRASIL. LEI 6401/76. http://www.portaldecontabilidade.com.br

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Ou seja, valor justo é quanto o mercado está disposto a pagar pelo teu ativo, logo, vamos supor
que João tem um ativo representativo de um patrimônio imóvel em sua pessoa física, quando
a Secretaria da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul for avaliar este bem, ela não vai estar
nem aí para quanto o mercado está disposto a pagar, ela vai avaliar a valor de mercado. Agora,
na contabilidade, se esse bem deixou de ser um bem imóvel e passou a ser uma cota social
representativa do patrimônio da Holding Patrimonial Familiar, pode-se utilizar o valor justo, o
valor justo é quanto o mercado o mercado está disposto a pagar pelo bem, em um determina-
do momento.
As questões de pandemia, Covid 19, podem influenciar na avaliação das cotas, porque o CPC nº
46 diz que pode, e, o Comitê de pronunciamento contábil determina que assim se faça a avalia-
ção, com isso, é possível reduzir a base de cálculo para fins de ITCMD e ITBI.
3. Quando o preço para um ativo ou passivo idêntico não é observável, a entidade mensura o
valor justo utilizando outra técnica de avaliação que maximiza o uso de dados observáveis
relevantes e minimiza o uso de dados não observáveis. Por ser uma mensuração baseada
em mercado, o valor justo é mensurado utilizando-se premissas que os participantes do
mercado utilizariam ao precificar o ativo ou passivo, incluindo premissas sobre o risco.
Como resultado, a intenção da entidade de manter um ativo ou de liquidar ou, de outro
modo, satisfazer o passivo não é relevante ao mensurar o valor justo.
Ou seja, deve-se considerar todos os fatores de mercado para apurar o valor justo, o valor justo
da cota social representativa do patrimônio que está na Holding Patrimonial Familiar.

MENSURAÇÃO

DEFINIÇÃO DE VALOR JUSTO

Este pronunciamento define valor justo como o preço que seria recebido pela venda de um
ativo, ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre
participantes do mercado na data da mensuração.

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ATIVO OU PASSIVO

A mensuração do valor justo destina-se a um ativo ou passivo em partículas. Portanto, ao men-


surar o valor justo, a entidade deve levar em consideração as características do ativo ou passivo
e os participantes do mercado ao precificar o ativo e o passivo na data da mensuração, levarem
essas características em consideração. Essas características incluem, por exemplo:
a) A condição e a localização do ativo; e
b) Restrições, se houver, para a venda ou o uso do ativo.
Nesse contexto, tomemos como exemplo uma empresa industrial e comercial que pratica fatos
geradores de ICMS, de PIS e de COFINS, tanto na industrialização do produto (créditos e débitos
de insumos) como na venda dos produtos e que, diante da referida situação fática e jurídica,
discutiu judicialmente a tese da exclusão do ICMS nas bases de cálculo das Contribuições So-
ciais destinadas ao PIS e a COFINS.
Imaginemos também que a referida demanda judicial foi proposta há 5 anos e que a empresa
está depositando, judicialmente, mensalmente, desde então, o valor referente à incidência do
ICMS nas bases de cálculo das Contribuições Sociais destinadas ao PIS e COFINS, o que, atual-
mente, perfaz o montante atualizado pela taxa Selic de R$ 9.000.000,00, que, então está lança-
do numa conta contábil que compõe o seu ativo realizável a longo prazo na medida em que in-
fluencia positivamente na apuração de seu patrimônio líquido no final de cada exercício fiscal.
Vamos analisar o exemplo, uma empresa está discutindo ICMS na base de cálculo do PIS e CO-
FINS, ela sabe que o Supremo julgou favorável ao contribuinte, então, ela realizou depósitos
judicialmente, mensalmente. Só que agora temos um julgamento do Supremo Tribunal Federal
dizendo: ‘’ICMS não compõe a base de cálculo de PIS e COFINS’’.
No decorrer de 2017, o STF, por meio de sua composição plenária, sob relatoria da Min. Car-
mem Lucia, julgou o RE n. 574.706/PR, com efeitos vinculantes, e em caráter definitivo, no sen-
tido de declarar inconstitucional a inclusão do ICMS nas bases de cálculo do PIS e COFINS.
Tão logo, proferido tal julgamento, a PGFN opôs recurso de embargos declaratórios no referido
processo, pleiteando que seja atribuído efeito modulador ao referido julgamento, para que,
então, na dedução da base de cálculo das contribuições destinadas ao PIS e COFINS, seja con-
siderado o valor do ICMS a recolher em cada mês em que houver recolhimento das tais contri-
buições ao invés do ICMS destacado nas Notas Fiscais de venda, o que, inclusive, foi objeto de
uma decisão administrativa proferida pela COSIT (n 13/2018). Cabe ressaltar que tal recurso
está pendente de análise no STF até hoje.
Por óbvio, se o pleito da PGFN for deferido – no sentido de que seja considerado o valor do
ICMS a recolher em cada mês em que houver recolhimento das contribuições ao PIS e COFIND,
ao invés do ICMS destacado nas notas fiscais de venda, para fins de restituição –, haverá uma
substancial redução do valor a ser recuperado pelo contribuinte com base no referido julga-
mento, o que pode ser mensurado num percentual aproximado de 80%.
Tomando-se, mais uma vez, o exemplo antes citado, ao invés de recuperar os R$ 9.000.000,00,
a empresa traria de volta ao seu caixa, apenas, e tão somente, R$ 1.800.000,00.
Assim sendo, a partir de agora, com base na referida realidade fática e jurídica antes referida
e ainda com base nas disposições constantes no pronunciamento nº 46 do CPC, que determi-
na que o valor justo é mensurado se utilizando as premissas que os participantes do mercado

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utilizariam ao precificar o ativo ou o passivo incluindo premissas sobre o risco, a empresa utili-
zada no exemplo deveria passa a lançar na conta contábil que compõe o seu ativo realizável a
longo prazo apenas R$ 1.800.000,00 a título da exclusão do ICMS nas bases de cálculo do PIS e
COFINS e o restante dos R$ 7.200.000,00 seriam lançados em uma conta do passivo a título de
provisionamento de despesas de tributos.
Veja a importância da aplicação do pronunciamento contábil número 46 no CPC em relação a
questão acima mencionada. A empresa tem nove milhões depositado judicialmente e entende
o seguinte, o Supremo Tribunal Federal disse que o ICMS não compõe a base de cálculo do PIS e
COFINS, logo, tudo que for depositado judicialmente, os nove milhões de reais, serão lançados
em uma conta contábil de ativo realizável a longo prazo, isso porque teve um julgamento favo-
rável do Supremo. Foram interpostos embargos de declaração, pelo qual foi pedido para que
fosse feita a mensuração só do ICM pago e não descontado na nota, assim, o benefício de nove
milhões reduz para um milhão e oitocentos, logo, por força do CPC 46, a empresa é obrigada a
lançar em um ativo realizado a longo prazo apenas um milhão e oitocentos e não mais nove mi-
lhões, e, dos nove milhões, lançar sete milhões e duzentos em uma conta de provisionamento
de despesa.
Isso porque, os princípios de contabilidade determinam que assim seja, não é mais correto
sob o aspecto contábil considerar que se tem nove milhões a receber, quando existe grandes
chances de o Supremo Tribunal Federal dar o efeito modulador e os nove milhões virarem um
milhão e oitocentos. Nesse deslinde, com base no pronunciamento contábil número 46, deve
substituir os nove milhões para um milhão e oitocentos, no ativo realizável a longo prazo e sete
milhões e oitocentos deverão ser provisionados em uma conta de despesa, porque pode-se
perder. O efeito prático disso é que isso faz com que a demonstração contábil do contribuinte
esteja mensurada a valor justo.
Agora, vamos relacionar todo esse exemplo prático, fático e real com a holding, se tem que
mensurar o ativo desta forma, com base no CPC nº 46, pode-se considerar todos os custos para
manutenção dos bens que, agora, deixaram de existir na pessoa física e estão na pessoa jurídi-
ca, com base no CPC nº 46 e com base na Instrução Normativa nº 076/2020 do Estado do Rio
Grande do Sul? Pode, e é aí que está o planejamento tributário. Planejamento tributário em re-
lação à Holding Patrimonial Familiar, é em relação a avaliação das cotas sociais representativas
do patrimônio que, deixaram de ser da pessoa física e passaram a ser da pessoa jurídica.
O efeito contábil e financeiro dessa alteração vislumbra-se na diminuição da valorização do
patrimônio líquido da empresa e em decorrência na diminuição do valor das ações e dos divi-
dendos pagos aos sócios e acionistas dela, mas sem dúvida, passaria a refletir o valor justo da
possível recuperação dos valores depositados judicialmente a título da exclusão do ICMS nas
bases de cálculo do PIS e COFINS, e afastaria qualquer hipótese dissimulação da prática do fato
gerador dos tributos PIS e COFINS.
Conclui-se, então, que resta inequivocamente demonstrado e comprovado que o Pronuncia-
mento nº 46 do CPC, ao estabelecer um conceito e a mensuração do valor justo para fins de
reconhecimento de um ativo realizável a longo prazo, no caso valores depositados judicialmen-
te bem como que sejam considerados os riscos da não realização dele para escrituração contá-
bil, fomenta a aplicação do compliance no planejamento contábil e tributário, evitando que se
mensure equivocadamente o valor do patrimônio líquido de uma empresa e, em decorrência
de suas ações e dos dividendos pagos aos acionistas da mesma afastando a possibilidade de
considerar-se dissimulada a base de cálculo de PIS e COFINS.

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Devemos pegar toda essa última parte da aula referente ao CPC nº 46 e relacionar com a men-
suração das cotas sociais representativas do patrimônio da família na Holding Patrimonial Fami-
liar e assim, conseguimos fazer planejamento tributário reduzindo a base de cálculo do ITCMD,
do ITBI e do Imposto de Renda sobre ganho de capital, na questão da Holding Patrimonial Fa-
miliar.

‘’Todas as temáticas pelas quais foram trabalhadas nessa aula, tanto a Holding Patrimo-
nial Familiar, quanto a mensuração ao valor justo do CPC nº 46, quanto ao fato de não
atribuição de efeito modulador na decisão do ICMS na base de cálculo do PIS e COFINS,
eu tenho artigos escritos e já publicados, que estão disponíveis na íntegra no site do
meu escritório que é: www.tessaripohlmann.avd.br, no ícone artigos Cláudio Tessari, e
lá você vai encontrar toda produção científica, em relação a aula que eu dei para vocês
hoje’’ – Cláudio Tessari

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