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03/05/2022 12:01 Holdings familiares, blindagem patrimonial e divisão de poder

PLANEJAMENTO PATRIMONIAL SUCESSÓRIO

Holdings familiares, blindagem patrimonial e divisão de


poder: verdades e lendas
Holding familiar não é um tipo societário novo, mas uma sociedade empresária cujos sócios são da mesma
família

DANIEL BUSHATSKY

14/04/2022 05:00

Crédito: Unsplash

As famosas holdings familiares são o primeiro instrumento societário que as


famílias questionam e demandam no planejamento patrimonial sucessório, como
forma de organização do patrimônio e sua “blindagem”. A holding tem também
outras duas vantagens latentes: permite a organização do poder dentro do seio
familiar e é o pontapé inicial no processo de governança corporativa[1], já dividindo
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(sócios e administradores, por
exemplo).
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As holdings[2] nada mais são que sociedades, limitadas ou anônimas[3], cujo objeto
social é a administração de bens próprios[4] da família, sem a produção de bens ou
serviços. Elas podem ser patrimoniais, quando recebem os bens imóveis; e
operacionais, quando controlam os negócios. Nada impede que a mesma sociedade
empresária seja a detentora do patrimônio e dos negócios, mas, para fins de
planejamento e organização, na maioria dos casos é recomendável, ao menos,
constituir duas sociedades. Por fim, quando os sócios são membros de uma mesma
entidade familiar, denomina-se holding familiar. Ou seja, a holding familiar não é um
tipo societário novo e sim uma sociedade empresária que possui como sócios
membros da mesma família.

Pesquisa da KPMG[5] aponta que 49% das empresas familiares optam pela
sociedade limitada, 40% são sociedades anônimas fechadas e 6% são sociedades
anônimas abertas. Já no âmbito do poder de controle, 35% são controladas através
de holdings (controle indireto), 29% por pessoas físicas (controle direto) e as demais
possuem controle compartilhado entre diversos membros da família.

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Ora, não existe um modelo unânime de estrutura societária, cada caso é um caso.
Como observado no primeiro artigo desta série, a resposta à difícil equação entre
patrimônio, poder e sentimento é sempre um grande “depende”! A decisão de se
optar por um dos dois tipos societários citados acima dependerá certamente dos
objetivos da família, do grau de proximidade e confiança, da necessidade de
captação de recursos no mercado financeiro, da divisão e tamanho dos negócios e
assim por diante.

Entretanto, com a sociedade limitada se aproximando cada vez mais da anônima


em alguns aspectos — como na possibilidade de quotas preferenciais, conselho de
administração, quotas em tesouraria e conselho fiscal[6] — e a anônima, por sua vez,
se aproximando cada vez mais da limitada — inclusive com as novas disposições
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legais sobre a sociedade anônima simplificada e a possibilidade de dissolução

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parcial de sociedade anônima familiar[8] —, a opção por um dos dois tipos


societários deve, realmente, ser sopesada com os objetivos da família a médio e
longo prazo. Uma família numerosa, com vários irmãos, primos, netos, com alguns
se dedicando ao negócio familiar e outros não, provavelmente deveria optar pelo tipo
societário do anonimato; por outro lado, uma família pequena, com todos
trabalhando no negócio familiar, poderia se inclinar pela sociedade limitada.

E quanto ao famigerado aspecto da “blindagem”[9] patrimonial? É cediço que as


holdings não blindam o patrimônio, elas podem criar “camadas” de proteção contra
a investida de credores, com o objetivo de salvaguardar o patrimônio da família. São
amplamente aceitos nos tribunais pátrios a autonomia patrimonial da pessoa
jurídica, a limitação de responsabilidade dos sócios e a desconsideração da
personalidade jurídica[10] em caso de desvio de finalidade ou confusão patrimonial,
conforme disciplina o artigo 50 do Código Civil[11].

Nesse passo, a holding ajudará na “blindagem” do patrimônio, mas dependerá da


conduta dos sócios e administradores (muitas vezes, nos negócios familiares, a
mesma pessoa), para que não seja atingido o patrimônio pessoal destes.

O último ponto a ser abordado é a possibilidade real de manter o controle das


holdings familiares com o patriarca ou matriarca (fundadores). O controle é detido
por quem vence as deliberações sociais (assembleias ou reuniões de sócios) e elege
a maioria dos administradores[12]. Assim, com arranjos societários, seja com o
controle direto pelo fundador da família, seja através da doação de participação
societária com reserva de usufruto, ou ainda por meio de acordo de sócios, é
possível respeitar a vontade da família, do sucedido e do sucessor, sobre o poder
dentro da sociedade empresária.

Naturalmente, a introdução de regras de governança corporativa poderá ajudar a


balizar poderes, trazer transparência na gestão, com informações claras e precisas
sobre os negócios, implementar procedimentos para as reuniões e alçadas para a
tomada de decisões. É importantíssimo avaliar a necessidade da formação do
conselho de administração e/ou do conselho familiar para que sejam possíveis
discussões — saudáveis — sobre os rumos dos negócios e da família.

Se é lenda que há blindagem total do patrimônio, certamente é verdade que é


possível respeitar os desejos e anseios dos fundadores, com estruturas societárias
que atendam a intrincada fusão entre patrimônio, poder e sentimentos em uma
família.
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Para quem quiser saber mais, recomendo a leitura da Cartilha do IBGC “Análises e
Tendências 5: Empresas familiares”, disponível em
https://conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/Publicacao.aspx?PubId=24059.

[1]Segundo o IBGC, governança familiar é o: “Sistema pelo qual a família desenvolve suas relações

e atividades empresariais, com base em sua identidade (valores familiares, propósito, princípios e
missão) e no estabelecimento de regras, acordos e papéis. Seu objetivo é obter informações mais
seguras e com mais qualidade na tomada de decisões, auxiliar na mitigação ou eliminação de
conflitos de interesse, superar desafios e propiciar a longevidade dos negócios.”(realce nosso)
 IBGC. Governança Familiar: dicionário da governança. Disponível em:
 https://www.ibgc.org.br/blog/governanca-familiar. Acesso em: 04. abril 2022.

[2]“ECON. empresa que detém a posse majoritária de ações de outras empresas, ger.

denominadas subsidiárias, centralizando o controle sobre elas [De modo geral a holding não
produz bens e serviços, destinando-se apenas ao controle de suas subsidiárias].” HOUAISS,
Dicionário. Holding. Brasil: Objetiva, 2007. 1544 p.

[3]É possível outros tipos societários, mas a sociedade limitada e a sociedade anônima são as

mais utilizadas.

[4]O objeto social pode ser amplo, como exemplos: desenvolvimento de empreendimentos

imobiliários, incorporação, compra, venda e locação, administração de bens próprios, assessoria


empresarial e participação no capital de outras sociedades no país e no exterior.

[5]KPMG. Retratos de Família: um panorama das práticas de governança corporativa e

perspectivas das empresas familiares brasileiras. Disponível em:


https://assets.kpmg/content/dam/kpmg/br/pdf/2021/02/Retratos-Familia.pdf. Acesso em: 04.
abril 2022.

[6]Instrução Normativa DREI nº 81/2020. Disponível em:

https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-n-81-de-10-de-junho-de-2020-
261499054. Acesso em: 04. abril 2022.

[7]Alterações feitas por meio das leis: Lei do Ambiente de Negócio (Lei nº 14.195/2021) e Marco

Legal das Startups (Lei Complementar nº 182/21). Alguns exemplos: (1) possibilidade de um
únicoleu
Você diretor; (2)matérias
2 de
10 não necessidade
a que temde diretor
direito no residente
mês. Querno Brasil; (3) a publicação
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sociedades com faturamento abaixo de R$ 78 milhões de reais poderá ser realizada de forma
eletrônica.

[8]AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DECISÃO DA PRESIDÊNCIA.

RECONSIDERAÇÃO. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE. PROCESSUAL CIVIL E


SOCIETÁRIO. TRIBUNAL LOCAL CONCLUIU PELA LEGITIMIDADE DOS SÓCIOS DISSIDENTES
PARA PROMOVER A AÇÃO. REEXAME FÁTICO E PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA 7/STJ.
ALEGAÇÃO DE OFENSA A DISPOSITIVO DISSOCIADO DA TESE RECURSAL. SÚMULA 284/STF.
SOCIEDADE ANÔNIMA DE CUNHO FAMILIAR. DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE POR QUEBRA DA
AFFECTTIO SOCIETATIS E DA CONFIANÇA ENTRE OS SÓCIOS. POSSIBILIDADE. SÚMULA
83/STJ. AGRAVO INTERNO PROVIDO PARA CONHECER DO AGRAVO E NEGAR PROVIMENTO AO
RECURSO ESPECIAL. 1. Agravo interno contra decisão da Presidência que conheceu do agravo
para não conhecer do recurso especial, devido à ausência de impugnação específica dos óbices
contidos na decisão de admissibilidade do recurso especial. Reconsideração. 2. O Tribunal a quo,
analisando o acervo fático-probatório carreado aos autos, concluiu que os sócios retirantes
possuem legitimidade para propositura da ação, pois possuem mais de 5% do capital social. A
modificação do referido entendimento demandaria o reexame de provas. […] 4.”A jurisprudência
do STJ reconheceu a possibilidade jurídica da dissolução parcial de sociedade anônima fechada,
em que prepondere o liame subjetivo entre os sócios, ao fundamento de quebra da affectio
societatis” (realce nosso) (REsp 1.400.264/RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma,
julgado em 24/10/2017, DJe de 30/10/2017). 5. Agravo interno provido para conhecer do agravo
e negar provimento ao recurso especial. (realce nosso) (AgInt no AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL Nº 1539920 – RS – Data do Julgamento – 18/05/2020)

[9]O termo blindagem induz à ideia de revestimento ou cobertura, sendo esta utilizada como

forma de proteção patrimonial.

[10]INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. Decisão que deferiu o

pedido de desconsideração da personalidade jurídica da devedora e autorizou a inclusão de


terceira empresa no polo passivo da execução Pessoa jurídica devedora que foi constituída
como “holding” para participação societária em terceira empresa, conjuntamente com seu
próprio controlador – Hipótese em que, após o ajuizamento da execução, a empresa devedora
retirou-se de sociedade da qual detinha 90% do capital social, ocasião em que foi substituída por
terceiras empresas pertencentes ao grupo familiar de seu controlador Sucessivas alterações na
estrutura social da empresa, realizadas entre o próprio grupo familiar controlador, que
culminaram
Você no esvaziamento
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10 matérias a quepatrimonial damês.
tem direito no pessoa jurídica
Quer sujeita à execução
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dos autos que evidenciam a ocorrência de desvio de finalidade e confusão patrimonial aptos a
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autorizar a desconsideração da personalidade jurídica, nos termos do art. 50, do Código Civil
Ausência de comprovação de prejuízos a terceiros acionistas RECURSO NÃO PROVIDO. (realce
nosso) (TJ-SP – AI: 2034697-18.2020.8.26.0000, Relator RENATO RANGEL DESINANO, Data de
Julgamento: 26/10/2020, Tribunal da Justiça do Estado de São Paulo).

[11]Art. 50 Código Civil. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de

finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério


Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de
administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo
abuso.

[12]Art. 116 Lei das Sociedades Anônimas. Entende-se por acionista controlador a pessoa,

natural ou jurídica, ou o grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle
comum, que: a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria
dos votos nas deliberações da assembleia-geral e o poder de eleger a maioria dos
administradores da companhia; e b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais
e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia.

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DANIEL BUSHATSKY – Sócio da Bushatsky Advogados. Mestre e doutor em Direito Comercial pela PUC-SP.
Docente no curso de pós-graduação em Direito Empresarial na COGEAE/PUC-SP e na disciplina de
Mediação e Arbitragem da Universidade Municipal de São Caetano (USCS). Professor convidado da Escola
Superior de Advocacia (ESA) e da Escola Paulista de Direito (EPD). Instrutor Convidado do Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Presidente do Conselho de Administração da INOVAFARM.
Fundador do Instituto de Direito Empresarial e Negócios (IDEN)

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