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Direito Empresarial
UNIDADE IV
Chanceler
Prof. Antonio Colaço Martins Filho

Reitora
Profª. Denise Ferreira Maciel

Diretor Administrativo Financeiro


Edson Ronald de Assis Filho

Diretora Executiva
Ana Cristina de Holanda Martins

Diretora Executiva
Sandra de Holanda Martins

Assessoria de Desenvolvimento Educacional – ADE


Profª. Elane Pereira
Prof. Silvio Rodrigues

Produção de Conteúdo:
Profª. Vanessa Gomes Leite

Revisão Textual
Cristiana Castro

Diagramação
Wanglêdson Costa
Sumário

Apresentação 06
Para começo de conversa 07

01 - Sociedade Anônima 08
Sociedade Anônima (lei 6404 / 1976 – lei das S.As) 10
Classificação das S.A 12
Constituição da S.A: 13
Ações: 14
Quanto ao valor: 14
Quanto às vantagens: 15
Quanto à forma de circulação 16
Demais valores mobiliários 16
Capital Social: 17
Redução do Capital social: 19
Aumento do Capital Social: 19
Órgãos Societários: 20
Sociedade Comandita por Ações 20
Dissolução de Sociedade de Capitais 21

02 - Operações Societárias 25
Transformação 27
Fusão 29
Incorporação 31
Cisão 33
Direito dos Credores: 34
Sumário

03 - Dissolução e Liquidação das Sociedades 40


Conceitos 41
Previsão legal 42
Causas de Dissolução 42
O Processo de Liquidação 46

Referências 50
Anotações 51
Apresentação

Seja bem-vindo à disciplina Direito Empresarial. A metodologia


adotada pela UNIFAMETRO na modalidade a distância conta com aulas
ministradas no Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle, favorecen-
do atividades colaborativas, aproximando professores e alunos distantes
fisicamente.
Para a melhor compreensão do assunto, é importante que, além da
leitura desse conteúdo, você participe das atividades e tarefas propostas
no cronograma e consulte dicas e complementos sugeridos no decorrer
da disciplina. Este material também está disponível para impressão ou
para download em formato pdf clicando no botão abaixo:

educacaoonline.unifametro.edu.br

É importante ressaltar que, nessa metodologia, o seu compromis-


so com a aprendizagem é fundamental para que ela aconteça. Portanto,
participe, lendo os textos antes de cada aula para interagir melhor nos
momentos de comunicação virtual e presencial, nas discussões com os tu-
tores, professores e colegas de curso.

BONS
ESTUDOS!

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Para começo de
conversa
A disciplina Direito Empresarial é dividida em 4 unidades, nas quais você
encontrará o conteúdo, bem como conteúdos adicionais e sugestões de
leituras. Ao longo do texto, você irá se deparar com vários ícones que irão
ajudá-lo neste percurso em busca do conhecimento, tais como:

SUGESTÕES PARA REFLETIR OBJETIVOS

PARA LER ATENÇÃO EXEMPLO

SAIBA MAIS VOCÊ SABIA VÍDEO

Esses ícones nortearão a sua leitura, oferecendo amplas possibilidades de


aprofundamento. A linguagem dialógica aqui utilizada também irá aproxi-
málo das aulas ora apresentadas, levando-o à motivação e ao entendimen-
to da disciplina. Esperamos, por meio da diagramação desse material, con-
tribuir com sua interação plena com os conteúdos. Agora que já estamos
“conectados”, mãos à obra!

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01

Sociedade Anônima
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OBJETIVOS

Sociedade Anônima
Olá turma! Vamos aprender mais um pouco hoje?

“Não desanimes...a tua derrota de hoje é treino para a vitória definitiva.”

(Josemaria Escrivá)

“Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência.”

(Santo Agostinho)

Essa aula tem como objetivo:

• Resumir as principais características de todos os tipos de sociedades per-


sonificadas e não personificadas.
• Classificar as sociedades quanto à personalidade jurídica, à responsabili-
dade dos sócios, à composição e ao ato constitutivo.
• Conhecer as peculiaridades de cada tipo societário, considerando-os na
criação, interpretação e aplicação do Direito.

ATENÇÃO

Termos-chave
Classificação. Dissolução. Sociedades.

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Sociedade Anônima (lei 6404 / 1976 – lei das S.As)
A sociedade anônima ou S.A ou Companhia tem sua origem em Gênova na Itália
em 1409, onde surgiu na figura do Banco Casa de São Jorge. No Brasil, a primeira
sociedade anônima foi o Banco do Brasil, o qual ainda existe até hoje.
Esse tipo de sociedade é bastante utilizado para os grandes empreendimentos.
A relação entre os sócios, os quais são denominados de acionistas, revela-se pre-
ponderantemente impessoal, havendo uma maior ingerência no capital. Para ser só-
cio, basta capacidade financeira. O termo ‘anônima’ está relacionado ao ‘anonimato
dos sócios’, não importando quem são estes, mas quanto podem investir na socieda-
de. Por conta disso, a sociedade anônima é classificada como sociedade de capital.
O ato constitutivo consiste em estatuto social, em que a relação societária é
constituída por meio de um ato de vontade de natureza não contratual, logo os pos-
tulados da ‘teoria dos contratos’ do Direito Civil não contribuem para a compensação
dos direitos e deveres dos membros da sociedade. Fabio Ulhoa (2011, p. 44) propõe
o seguinte questionamento: o herdeiro de um acionista falecido está obrigado a in-
tegrar a sociedade? Sendo a sociedade institucional, o herdeiro da ação necessaria-
mente passa a integrar o quadro de acionistas. Se não o deseja, pode negociar suas
ações, vendendo-as a interessados no investimento.
Contudo, para isso, ele precisa tornar-se, ainda que por pouco tempo, um mem-
bro da sociedade. O vínculo societário não pode ser desfeito mediante o reembolso
da participação societária, porque não tem natureza de um contrato. Em uma socie-
dade contratual de pessoas, como a sociedade limitada (LTDA), o herdeiro poderia
exigir a liquidação da participação societária (passando a titularizar não mais direitos
de sócio, mas um mero crédito pelo reembolso), o que não ocorre na anônima (insti-
tucional e de capital).

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Vale ressaltar que a S.A SEMPRE É EMPRESÁRIA. Mesmo que as atividades


desempenhadas sejam de cunho intelectual (medicina, engenharia, etc), se for uma
sociedade de capitais, será empresarial.

Sabe-se que as sociedades consistem em pessoas jurídicas de direito privado, for-


madas a partir da união entre duas ou mais pessoas. Contudo, quanto à exigência de
pluralidade de sócios, há duas exceções nas sociedades anônimas:

1) Subsidiária integral – Trata-se de uma sociedade disposta no Art. 251 da LSA, for-
mada por uma única pessoa, sendo essa pessoa uma pessoa jurídica brasileira e a
aquisição tem que ser feita por uma escritura pública.
2) Nos termos do art. 206 da Lei das S.A, por no máximo 1 ano, a Companhia pode
estar centralizada nas mãos de um único acionista.

No que tange à responsabilidade dos sócios, todos respondem de forma LIMI-


TADA, mas NÃO HÁ SOLIDARIEDADE pela integralização do capital social (art. 1a Lei
das SA). Cada sócio responde apenas pela sua parte no capital social, não assumindo
qualquer responsabilidade pelas dívidas da sociedade, salvo nos casos de desconsi-
deração da personalidade jurídica ou a imputação direta de responsabilidade pela
prática de atos ilícitos.
Em caso de mora do acionista no pagamento de sua parte do capital social, tor-
nando-se remisso, a S.A tem duas alternativas: a cobrança dele em juízo e a aliena-
ção, em bolsa, das ações não integralizadas. Percebam que não existe a possibilidade
de redução do capital. Ainda que o acionista primitivo seja excluído, não haverá liqui-
dação da sua parte, pois em se tratando de uma sociedade de capitais, o investimen-
to previsto deve ser efetivado, ou seja, o que foi subscrito tem que ser integralizado.
Quanto ao direito de retirada, ele é menos utilizado e mais restrito do que nas
sociedades de pessoas, em que há a dissolução parcial. Aqui na sociedade anônima,
essa situação é diferente, pois a venda pela cessão das ações é livre, não sendo ne-
cessário o direito de retirada para garantir a liberdade de se associar ou deixar de ser
associado.
Lembrem-se que a Sociedade Anônima é um tipo societário classificado como
sociedade de capitais, em que o dinheiro investido pelos sócios é mais importante
do que a própria pessoa deles. Assim, não importa se o sócio deixe a sociedade, por-
que o mais importante foi o investimento que ele realizou. Existe apenas uma troca
do quadro societário. Sendo assim, o direito de retirada, mediante o reembolso do
valor de suas ações, será bastante restrito nas possibilidades do art 137 LSA.
A Lei de S.A., em seu artigo 109 enumera os direitos essenciais dos acionis-
tas, que são aqueles que não podem ser supridos nem pelo estatuto nem pela as-
sembleia geral.

Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembleiageral poderão privar o acio-
nista dos direitos de:

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I. participar dos lucros sociais;


II.participar do acervo da companhia, em caso de liquidação;
III.
fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais;
IV.preferência para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis
em ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição, ob-
servado o disposto nos artigos 171 e 172;
V. retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei.

A participação dos lucros é direito essencial em todas as sociedades. Isso não


significa dizer que é obrigatória a distribuição de lucros sempre, mas que um sócio
não pode ser privado, discriminadamente dessa distribuição. Se não houver distribui-
ção em um dado exercício social, isso irá valer para todos os acionistas.
Também terá o acionista o direito sobre o patrimônio da sociedade, pois ao
integralizar ele contribuiu para a sua formação e se a sociedade for liquidada ele
receberá sua proporção.
O direito de preferência se refere a todas as formas de criação de novos inves-
timentos na sociedade, pois o acionista deve ter o direito de buscar manter a porcen-
tagem no capital caso sejam aumentadas as ações.
Se ele tem 20 % das ações do capital social, quando houver emissão de novas
ações ou algum outro tipo de financiamento que aumente o capital da S.A, esse sócio
tem direito de preferência investir mais 20%, para manter sua porcentagem. Caso
queria investir mais, não terá preferência, terá que obedecer à ordem já existente.
Por exemplo, terá que esperar que o demais que possuem porcentagem maior não
queiram investir, para ele poder investir mais e assim obter maior poder de decisão
sobre a S.A (quem tem maior porcentagem no capital tem maior poder de mando).
Observem que não há, nos direitos essenciais, o direito de voto. Porém, há
uma situação que se deve ter atenção: o acionista que não tem direito a voto ou o
tem de maneira restrita e recebe preferência na distribuição de lucros recebe valo-
res maiores, porém, como ele não vota, fica sujeito à decisão dos ordinaristas (acio-
nistas com direito à voto) sobre a partilha dos lucros.

Classificação das S.A


Abertas: é aquela que está autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários1 (CVM)
a negociar os seus valores mobiliários no mercado de capitais2. O objetivo é fazer ca-
pitação de recursos no mercado, quando não consegue mais levantar crédito junto a
instituições financeiras. (art 3º da lei das S.A) OBS: A CVM é uma autarquia federal

1 É vinculada ao Ministério da Fazenda, tendo poderes de agência reguladora. Foi ciada em 1976. Antes de 1976, quem fiscali-
zava o mercado de capitais era o Banco Central, o que não deu muito certo, pois a bolsa do RJ teve problemas graves em 1971,
surgiu necessidade de um órgão específico para isso. Ela fiscaliza, regulamente o funcionamento e autoriza quem entra nesse
mercado. Ela analisa se uma S.A tem condições de entrar e de permanecer no mercado.
2 Formado pela Bolsa de valores e pelo Mercado de Balcão, o Mercado de Capitais é um termo abstrato que se refere ao lugar
público que possui essa oferta e compra de títulos emitidos pela S.A. É fiscalizado pela Comissão de Valores Mobiliário - CVM).
(Art.3º da LSA, e art.22 da lei 6385/76- trata da CVM).

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criada pela Lei n° 6.385/76 para fiscalizar as S.A abertas, pois o movimento de venda
de ações gera um grande interesse social e principalmente econômico.

Fechadas: não contam com autorização da CVM para negociar os seus valores mobi-
liários (art.4º LSA). São negociadas dentro da própria sociedade. Ou seja, para que
eu me torne acionista, tenho que conhecer alguém que esteja interessado em ven-
der ações. Não tenho lugar público para entrar em contato com o acionista, esse se
revela o âmbito fechado desse tipo de S.A.

Constituição da S.A:
A constituição da sociedade anônima ocorrerá de duas maneiras diferentes, a depen-
der do tipo. Porém, independentemente de ser a constituição de uma S.A aberta ou
fechada, terão que ser observadas três etapas que passaremos a analisar.

Etapa 1: Requisitos preliminares: art. 80 lei S.A


Subscrição, por pelo menos duas pessoas, de todas as ações em que se divide o
capital social fixado no estatuto da sociedade;
Prévio PAGAMENTO, realização, como entrada, de 10% no mínimo, do preço de
emissão das ações subscritas em dinheiro; [Exceção: Instituições financeiras (50%) e
outras companhias para as quais a lei exige percentual maior].
Que seja depositado no Banco do Brasil ou outro estabelecimento bancário au-
torizado pela Comissão de Valores Mobiliário (CVM), da parte do capital realizado em
dinheiro.

Etapa 2: Subscrição.
Se os três requisitos estiverem devidamente preenchidos, passa-se à próxima
etapa que é conhecida como subscrição. A companhia será criada por subscrição públi-
ca se ela for de capital aberto ou por subscrição particular se ela for de capital fechado.
Constituição por Subscrição Pública (sucessiva): quando para completar o mon-
tante do CS se fizer necessária a captação de recursos no mercado. As S.A abertas se
constituem por meio de subscrição pública de ações. Depende de prévio registro
da emissão na CVM e precisa da intermediação de instituição financeira. A com-
panhia aberta gera interesse público, pois ela terá grande responsabilidade sobre o
movimento do mercado de capitais e, consequentemente, sobre o sistema econômi-
co do país. Nesse contexto, não se pode permitir que sejam constituídas sociedades
que já nasçam sem boas perspectivas, por isso o crivo da CVM para análise da viabili-
dade econômica da sociedade (ROSSIGNOLI, 2015, p. 162).
Constituição por Subscrição Particular (simultânea): se dá quando total do capi-
tal necessário à sociedade já houver sido obtida pelos próprios fundadores da com-
panhia. Não há que se falar em intervenção da CVM para sua constituição tendo em
vista que a companhia fechada não movimenta o mercado de capitais e exatamente
por isso não tem como captar os investidores no mercado, ou seja, para criar a S.A.
Fechada, os fundadores irão buscar os investidores de modo particular, apresentado
diretamente a proposta para a criação da sociedade.

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Etapa 3: Registro e Publicação.


Após a subscrição, o estatuto deverá ser registrado na Junta Comercial, mo-
mento em que a sociedade passa a ter personalidade jurídica. Posteriormente ele
deve ser publicado, em até 30 dias, em jornal de grande circulação local. Finalmente
a S.A estará constituída e regularizada. Percebam que se revela um procedimento
bastante burocrático.

Ações:
O capital social é dividido em ações, que constituem o principal valor mobiliá-
rio emitido pela companhia. A ação é livremente negociável e pode ser penhorada
para a garantia de dívidas pessoais de seus titulares, sem que, para tanto, a co-
munidade dos sócios tenha que ser previamente consultada. Em regra, o acionista
não tem direito pleno de exigir a restituição do valor da ação em caso de querer sair
da sociedade, de modo que obterá a restituição mediante a negociação com tercei-
ros. Assim, a princípio, uma ação não poderia ser liquidada, mas vendida para um
terceiro, o qual entraria na sociedade anônima.
ATENÇÃO

Enquanto o sócio quotista pode exigir da sociedade a restituição do per-


centual correspondente de sua quota aplicada sobre o valor do patrimô-
nio líquido calculado a data de sua retirada (valor de crédito), o acionista
NÃO pode! Ademais, só há livre circulação de ações (compra e venda, com
o consequente ingresso de terceiros), e não de quotas!

Quanto ao valor:
Valor Nominal: corresponde ao resultado da divisão do valor do Capital Social (CS)
pelo quantitativo (quantidade) de ações. A finalidade de atribuir valor nominal às
ações é de oferecer certa garantia aos acionistas em face da diluição de seu patrimô-
nio acionário (situação em que a S.A emite novas ações com valor de emissão inferior
ao valor patrimonial das ações já existentes, ou seja, a diluição equivale à redução
do valor patrimonial das ações). O Art. 13: da lei das S.A prevê “É vedada a emissão
de ações por preço inferior ao seu valor nominal”. Nesse sentido, a lei cria um limite
para a diluição. Portanto, o estatuto que atribui às ações valor nominal resguarda,
relativamente, os acionistas dos efeitos da diluição.
Se o CS de uma sociedade anônima é de 500.000,00 e ela conta com 500 ações, o va-
lor nominal será de um mil reais. (Montante do CS / Quant. das ações = valor nominal
das ações). Ex2: CS de 1.000.000 e emitiu 100.000, o valor nominal será de 10 reais.
CS / Quant. das ações = valor nominal das ações

Valor de negociação: nas S/A há livre circulação de ações, sendo estas, portando,
documentos negociáveis. Nesse sentido, o valor de negociação é exatamente o valor
obtido com a alienação da ação.

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Valor patrimonial: corresponde à participação do sócio no patrimônio líquido da


companhia. Calcula-se por meio da divisão do patrimônio líquido pela quantidade
de ações. (PL / Q de ações). O cálculo do valor patrimonial da ação é de suma impor-
tância em situação de liquidação da CIA. Após o balanço patrimonial, na partilha do
saldo remanescente, cada acionista receberá o valor patrimonial correspondente às
ações que possuir.
O Patrimônio Líquido é a diferença entre os valores do ativo (+) e do passivo (-) de
uma entidade em determinado momento, ou seja, se a sociedade tem um Ativo (bens
+ direitos) de R$100.000,00 e um Passivo (obrigações) de R$40.000,00, o Patrimônio
Líquido dessa entidade será de R$60.000,00. PL / Quant. das ações = valor patri-
monial das ações.

Valor econômico: decorrente da avaliação de peritos (valor das ações teriam se pos-
tas à venda no mercado de capitais).
Importante no caso de averiguação de responsabilidade dos administradores, cuja
gestão tenha havido negociações de ações.
Caso as ações tenham sido vendidas por preço muito abaixo de seu valor econômico,
pode-se responsabilizar os administradores que conduziriam a negociação.

Valor de emissão: estipulado unilateralmente pela S.A emissora quando esta é cons-
tituída ou quando aumenta seu capital social. OBS: seu preço de emissão não pode
ser inferior ao seu valor nominal.

Quanto às vantagens:
Ordinárias (ou comuns): são ações de emissão obrigatória por toda e qualquer S/A.
Ações que conferem direitos comuns aos seus titulares. Por exemplo: voto (art 110
LSA), o direito de participar nos lucros e nas perdas da S/A, tudo isso sem quaisquer
restrições ou privilégios. (Art.16, 110 LSA).

Preferenciais: conferem aos seus titulares certas vantagens, certas preferências,


certos privilégios. Por exemplo: prioridade na distribuição de lucros e prioridade no
reembolso do capital. (Art.15 e 17, LSA), e na distribuição de dividendos. Vale res-
saltar que as ações preferenciais, em regra, não conferem direito de voto aos seus
titulares.

ATENÇÃO

O que são classes de ações? As ações preferenciais sempre podem ser di-
vididas em classes, cabendo ao estatuto especificar a gama de direitos e
restrições correspondente a cada uma, ou seja, a classe reúne ações cujos
titulares têm os mesmos direitos e restrições.

Gozo ou fruição: ações emitidas para amortizar dívidas da S.A. (Art.44, §5º, LSA).
Amortização consiste “na distribuição aos acionistas, a título de antecipação e sem

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redução do capital social, de quantias que lhes poderiam tocar em caso de liquidação
da companhia”. É um meio que a companhia dispõe para entregar antecipadamente
aos acionistas as quantias que eles somente poderiam ter acesso se e quando a so-
ciedade anônima vier a ser dissolvida, com a liquidação do seu patrimônio. Ações de
fruição, decorrentes da amortização das ações, devolvem ao acionista o valor de seu
investimento. Somente as ações integralmente amortizadas podem ser substituídas
por ações de fruição, pois, caso contrário, haveria o fracionamento das ações, que é
expressamente vedado pelo artigo 28 da Lei n. 6.404/76.

ATENÇÃO

As ações ora estudadas podem ser convertidas, ou seja, são conversíveis


de um tipo a outro, de acordo com o que dispuser o estatuto social.

Quanto à forma de circulação


Quanto à forma, a teor do art. 20 da Lei de S.A., temos que as ações devem ser nomi-
nativas, e quanto a esse aspecto dividem-se em nominativas e escriturais, cuja clas-
sificação se dá pela forma de transferência da sua titularidade (ROSSIGNOLI, 2015,
p. 170).

Nominativas: são aquelas cujos titulares encontram-se nominados no livro de regis-


tro de ações nominativas. Portanto, o proprietário desse tipo de ação tem o seu nome
consignado, lançado no chamado livro de registro de ações nominativas. (art.31 da
LSA) O registro no livro é condição indispensável para que se opere validamente a
transferência da propriedade da ação. Exigem solenidade e possuem um certificado.

Escriturais: as ações escriturais não são transferidas por termo em livro próprio, mas
sim por conta de depósito, através de movimentação bancária (virtualmente), de um
ato escritural e não a partir da consignação no livro de registro das ações nominati-
vas. Não possuem certificado. (Art. 34 LSA).

ATENÇÃO

Somente instituições financeiras autorizadas pela CVM podem manter


serviços de ações escriturais.

Demais valores mobiliários


Valores mobiliários são títulos de investimento, emitidos pela S/A para capta-
ção de valores no mercado. Além das ações, as S.A podem emitir debêntures, bônus
de subscrição e partes beneficiárias.

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No caso das Debêntures (art.52 a 74 da LSA), terceiros pagam à sociedade pela


aquisição delas, investindo-se na condição de debenturistas, gozando de um direito
de crédito oponível àquela SA no futuro, nos termos da inscrição dessa debênture.
Funciona, para a AS como um empréstimo. Esses ‘investidores’ têm direito de resti-
tuição dos recursos prestados com acréscimo remuneratórios.
Imagina que uma S/A formada por 10 sócios vive uma dificuldade de caixa im-
portante. Não há mais como recorrer a instituições financeiras porque o crédito foi
todo tomado. Todavia, a busca de linhas de crédito em instituições financeiras não se
revela a única alternativa. A S.A poderá emitir títulos de investimento (por exemplo:
as debêntures) e negociá-las no mercado de capitais (S.A aberta) ou com terceiros
conhecidos (fechada). Então, as debêntures serão adquiridas por terceiros e, natural-
mente, quando eles adquirem essas debêntures, eles estão pagando por essa aquisi-
ção e, dessa maneira, injetando dinheiro na S/A e, com isso, haverá captação de recur-
sos a partir destas, que são uma expressão de títulos de investimento (debêntures).
Já as Partes beneficiárias (art.47§ único, da LSA) não poderão ser emitidas pelas
S/A abertas, mas unicamente pelas S/A fechadas. Elas não possuem valor nominal, e
são estranhas ao capital social. As partes beneficiárias conferem aos seus titulares
direito de crédito, que consiste na participação nos lucros anuais da sociedade até o
limite de 10% do lucro da empresa. É um negócio de alto risco, pois o detentor desse
valor mobiliário somente obterá vantagens se a sociedade der lucros, o que pode
não ocorrer.
Por fim, o Bônus de subscrição (art.75-79 da LSA): representa uma espécie de va-
lor mobiliário, que atribui ao seu titular direito de preferência para subscrever novas
ações da companhia por ocasião do aumento do seu Capital Social. Se o capital da SA
vai ser objeto de aumento, o titular do bônus de subscrição goza de direito de prefe-
rência para subscrever essas novas ações da SA que estão sendo objeto de aumento.

Capital Social:
O capital social pode ser entendido como uma medida da contribuição dos só-
cios para a sociedade anônima. Para dar início à sua atividade econômica, a compa-
nhia necessita de recursos, ou seja, máquinas, tecnologia, serviços, trabalho e outros
meios, cabendo aos sócios prover tais recursos. Ao transferirem a propriedade de
dinheiro bem ou crédito para a S.A, recebem ações correspondentes ao valor inves-
tido. Uma vez iniciada a atividade, pode ocorrer de a sociedade necessitar de mais
recursos, e os acionistas (pelo voto da maioria com direito de voto) entenderem que
é caso de ampliar a contribuição deles para o desenvolvimento da empresa.

tecnologia
S.A precisa de Recursos máquinas

serviços, etc
Bens
Provido pelos sócios $
Crédito

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No caso de integralização do CS por meio de bens, segundo art. 7º LSA, devem


ser suscetíveis de avaliação em dinheiro. Para tanto, é preciso que 3 peritos avaliem
o bem, exigência que não tem na sociedade LTDA. Já no caso de ser por meio de
crédito, essa forma de capitalização é condicionada à concordância da maioria dos
demais sócios que podem votar na S.A.
Nesse contexto, as sociedades têm duas maneiras de obter recursos: capitali-
zação e financiamento. No primeiro caso, recebe dos sócios os recursos, não tendo
ela o dever de restituir ou remunerar, embora possa fazê-lo se atendidos certos pres-
supostos econômicos e jurídicos. No segundo caso, seja por financiamento bancá-
rio ou por autofinanciamento (emissão de debêntures), a S.A se torna devedora dos
prestadores de recursos, isto é, tem a obrigação de restituir o valor destes, com os
acréscimos remuneratórios.

Capitalização: Sócios
Meios de obter
Autofinanciamento
recursos
Financiamento

Bancário

Sobre o capital social da S.A predomina o princípio da intangibilidade do capital


social, o qual estabelece que, em princípio, a sociedade está proibida de restituir re-
cursos correspondentes aos sócios.
Salvo em casos específicos legais, se querem sair da sociedade e receber o valor
de suas ações, devem vender tais valores mobiliários a terceiros.
Diferentemente do que ocorre com as sociedades de pessoas, segundo Fábio
Ulhoa Coelho (2011, p. 181; 197), o capital social não tem função de garantia dos cre-
dores, essa garantia é função do patrimônio da sociedade (ativo e passivo). Por conta
disso, ao avaliarem uma S.A, os analistas não atribuem absoluta importância ao CS,
prestando maior atenção a outros indicadores, como resultados, ativo, passivo, liqui-
dez. Assim, o prestador de recursos, na condição de acionista, tem o retorno de seu in-
vestimento condicionado ao sucesso da empresa e decorrentes lucros da companhia.

ATENÇÃO

A Companhia NÃO tem a obrigação de restituir, com acréscimos remune-


ratórios, os recursos nela aportados a título de capitalização. Contudo,
pelos recursos decorrentes de autofinanciamento ou financiamento ban-
cário, responde na condição de devedora.

Vale ressaltar que o montante da contribuição dos sócios nem sempre coin-
cide com o montante do capital social, apenas se o preço de emissão é igual ao va-
lor nominal das ações. Nessa situação, a parte do preço que supera o valor nominal

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(denominada ágio) deve ser contabilizada como reserva de capital. Essa observação
é relevante para que se esclareça que o capital social é apenas uma medida das con-
tribuições dos sócios, e não necessariamente a medida.
Em suma:
- Contribuição dos sócios = CS (soma das ações nominais) + Reserva de Capital
- Preço da emissão > valor nominal : ágio -> vai para a Reserva de Capital
O CS pode ser, voluntariamente, reduzido em razão de perda ou excessividade.
Nesse último caso, os recursos podem ser apropriados em reservas, permanecendo
no patrimônio da Companhia, ou restituídos aos acionistas. Por outro lado, o CS pode
ser aumentado com a emissão de novas ações, em que há o ingresso de mais recursos
na sociedade, e também pode ser majorado sem haver a captação de novos recursos,
sendo por meio da captação de lucros ou reservas e por meio de conversão de valo-
res mobiliários em ações.
Quando se opera a capitalização de lucros ou reservas, pode (não é obrigatório)
a Companhia emitir novas ações para distribuí-las, proporcionalmente, entre os acio-
nistas ou manter o mesmo número, caso em que elas terão o seu valor nominal ma-
jorado. Por conta disso, a capitalização de lucros ou reservas é chamado de aumento
gratuito do CS, já que não importa alteração no patrimônio líquido da S.A.
A outra hipótese de aumento do capital sem ingresso de recurso decorre da
conversão de valores mobiliários (partes beneficiárias e debêntures) em ações, em
que o titular do valor mobiliário torna-se acionista e opera-se o concomitante au-
mento do capital social. No entanto, não se pode considera-la um aumento gratuito,
pois ela acarreta a redução do passivo, na medida em que o investidor deixa de ser
o titular de direito creditício perante a S.A e torna-se sócio do negócio, sujeito aos
sucessos ou insucessos da empresa.

Redução do Capital social:


1) por perda: em razão do insucesso no desenvolvimento da atividade empresarial.
Capital referido no estatuto # dos recursos que, de fato, titulariza;
2) por excesso: considera excessivo o CS para as necessidades de seus negócios;

Aumento do Capital Social:


1) emissão de novas ações
2) conversão de debêntures ou partes beneficiárias em ações
3) recursos decorrentes de lucros ou reservas.

ATENÇÃO

Para melhor compreensão das sociedades de capital e como a quantidade


de ações para cada acionista influencia nas decisões da sociedade, assista
ao filme “Mauá: o imperadorrei”.

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Órgãos Societários:
A companhia se desdobra em vários órgãos, vezes por exigência jurídica, vezes por
objetivos administrativos.

1. Assembleia Geral:
• Órgão máximo da companhia.
• Regulado pelos arts.121-137 da LSA
• É o órgão deliberativo da companhia, deliberativo por excelência
• Conta com poderes para decidir sobre todos os negócios relativos ao objeto e
desenvolvimento da atividade.
• Assembleia geral ordinária (132, LSA)
• Assembleia Geral extraordinária (135 e 136, LSA – 131 e 132): quando tratar de
tema não elencado no art 132
• Representa a congregação de vontades individuais dos sócios que são somadas, e
o resultado da deliberação da assembleia é a expressão da vontade da sociedade.

2. Conselho de administração:
• Regulada pelos arts.138-142, LSA.
• Deve ser composto por ao menos 3 acionistas PF
• Cuida-se de órgão de formação facultativa
• Tem a responsabilidade de orientar os negócios da companhia. Ele responde pela
orientação geral dos negócios da S/A
• Ele será obrigatório nas companhias abertas, companhia de capital autorizado e
companhia de economia mista.

3. Diretoria:
• Órgão executivo por Excelência. Executa o que a
Assembleia decide.
• Órgão de representação da SA.
• Art.143 e 144 da LSA

4. Conselho Fiscal:
• Art.161 e 165 da LSA
• Órgão de fiscalização e controle da administração da S/A.
• Órgão obrigatório para todas as companhias, ainda que o seu funcionamento seja
facultativo.

Sociedade Comandita por Ações


É regida pelas normas relativas às sociedades anônimas (artigos 280 e seguin-
tes da Lei 6.404/76), mas possui duas categorias de sócios: o acionista diretor e os
que não participam da administração. Somente os acionistas podem ser diretores,
respondendo ilimitadamente pelas obrigações da sociedade empresária, enquanto
os sócios que não participam da administração possuem responsabilidade limitada

20
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ao capital social. Assim como as S/As, pode ser empresa de capital aberto (ações em
Mercado de Capitais).
A sociedade comandita por ações é um tipo societário no qual o capital está
igualmente dividido em ações e que se rege pelas normas aplicáveis à sociedade anô-
nima. Seu capital social é formado pela retirada do patrimônio do sócio, seja dinhei-
ro, bens suscetíveis de valor econômico ou direitos, transferindo-os para o sustento
da sociedade (ROSSIGNOLI, 2015, p. 200).
Tanto na sociedade anônima (S/A) e como na comandita por ações (C/A), os acio-
nistas não têm o direito de impedir o ingresso de terceiro não sócio na sociedade,
assegurado o princípio da livre-circulação das ações (LSA, art. 36). Nestas sociedades,
as ações são sempre penhoráveis por dívida de sócio e a morte não autoriza a disso-
lução parcial, seja a pedido dos sobreviventes ou dos sucessores. (COELHO, 2002).
Diferencia-se da sociedade anônima pela questão dos diretores terem que ser
acionistas e responderem ilimitadamente pelas obrigações sociais, e talvez este
seja justamente o motivo pelo qual sua utilidade prática nos dias atuais seja quase
inexistente.

Dissolução de Sociedade de Capitais


TOTAL:
Em sociedade por ações, o procedimento de dissolução não segue as regras previs-
tas no CC/02, mas as regras da LSA (lei 6404/1976), apesar de acabarem sendo bem
semelhantes, conforme veremos a seguir.

Art. 206. Dissolve-se a companhia:


ATENÇÃO

I. De pleno direito:
a) pelo término do prazo de duração;
b) nos casos previstos no estatuto;
c) por deliberação da assembleia-geral (artigo 136, número VII);
d) por deliberação da assembleia-geral (art. 136, X);
e) pela existência de 1 (um) único acionista, verificada em assembleia-ge-
ral ordinária, se o mínimo de 2 (dois) não for reconstituído até à do ano
seguinte, ressalvado o disposto no artigo 251;
f) pela extinção, na forma da lei, da autorização para funcionar.

II. Por decisão judicial:


a) quando anulada a sua constituição, em ação proposta por qualquer
acionista;
b) quando provado que não pode preencher o seu fim, em ação proposta
por acionistas que representem 5% (cinco por cento) ou mais do capi-
tal social;
c) em caso de falência, na forma prevista na respectiva lei;

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III. por decisão de autoridade administrativa competente, nos casos e na


forma previstos em lei especial.

No caso de dissolução por decisão judicial prevista na regra do art 206, II, b, o
STJ (RESP 408.122/PR) já se pronunciou acerca da possibilidade da desistência da
ação por um dos autores, no curso do processo:

Direito societário. Ação de dissolução de sociedade anônima, pro-


posta por acionistas minoritários. Quórum mínimo atendido na
data da propositura da ação. Desistência da ação por um dos au-
tores, no curso do processo. Homologação pelo juízo. Correspon-
dente diminuição da participação detida pelos autores no capital
social da companhia a ser dissolvida, para patamar inferior ao mí-
nimo legal. Irrelevância. - A titularidade de 5% do capital social
da companhia, em ações de dissolução proposta com base no
art. 206 da Lei das S.A., é condição a ser preenchida na data da
propositura da demanda, sendo irrelevantes as alterações nes-
se percentual ocorridas no curso do processo. - Na hipótese dos
autos, a desistência de um dos litigantes não poderia prejudicar os
demais. Sendo necessário o litisconsórcio formado por ocasião da
propositura da ação, o consentimento dado pelo autor no início do
processo não pode ser revogado em seu curso. A desistência só
pode ser admitida caso subscrita por todos os autores. Recurso
especial conhecido e provido.

Portanto, em caso de dissolução total requerida no Judiciário quando provado


que a Companhia não pode mais preencher o seu fim, a desistência só cabe quando
subscrita por unanimidade dos sócios que pleitearam a ação. Ademais, o requisito de
5% da titularidade do capital social só é exigido no momento da propositura da ação.
A Companhia dissolvida conserva a Personalidade Jurídica até a extinção, para
ultimar as obrigações e realizar a liquidação, nos termos do art 207 LSA. Quanto ao
nome empresarial, o art. 212 determina que, assim como nas sociedades de pessoas,
o liquidante deverá usar a denominação social seguida das palavras ‘em liquidação’.
Ocorrendo um dos atos de dissolução, passa-se à fase de liquidação, em que
haverá o pagamento dos credores. Sendo ela extrajudicial (art 206, I), salvo dispo-
sição contrária no estatuto, o liquidante será nomeado pela Assembleia – Geral ou
pelo Conselho de Administração, caso exista. O Art. 208 §2º da LSA prevê que o li-
quidante poderá ser destituído, a qualquer tempo pelo órgão que o tiver nomeado.
Contudo, nada impede que os acionistas requeiram a destituição judicial do liquidan-
te, caso se verifique o descumprimento de alguns dos seus deveres, estabelecidos
no art. 210 LSA.
Cumpre destacar que, nas assembleias-gerais realizadas durante a fase de li-
quidação da companhia, todas as ações passam a ser iguais no que diz respeito ao
direito de voto, conforme art. 213 §1º LSA: “Nas assembleias-gerais da companhia
em liquidação todas as ações gozam de igual direito de voto, tornando-se ineficazes
as restrições ou limitações porventura existentes em relação às ações ordinárias ou

22
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preferenciais; cessando o estado de liquidação, restaura-se a eficácia das restrições


ou limitações relativas ao direito de voto”.
A última fase, que é a da partilha, também possui regras semelhantes às dispos-
tas no CC/02.

ATENÇÃO

Art. 215. A assembleia-geral pode deliberar que antes de ultimada a liquida-


ção, e depois de pagos todos os credores, se façam rateios entre os acionis-
tas, à proporção que se forem apurando os haveres sociais.

§ 1º É facultado à assembleia-geral aprovar, pelo voto de acionistas que re-


presentem 90% (noventa por cento), no mínimo, das ações, depois de pagos
ou garantidos os credores, condições especiais para a partilha do ativo rema-
nescente, com a atribuição de bens aos sócios, pelo valor contábil ou outro
por ela fixado.

§ 2º Provado pelo acionista dissidente (artigo 216, § 2º) que as condições es-
peciais de partilha visaram a favorecer a maioria, em detrimento da parcela
que lhe tocaria, se inexistissem tais condições, será a partilha suspensa, se
não consumada, ou, se já consumada, os acionistas majoritários indenizarão
os minoritários pelos prejuízos apurados.

Dessa maneira, por votação dos acionistas que representem o mínimo de 90


% do CS, é facultado estabelecer condições especiais de partilha. Por outro lado, se
algum sócio se sentir prejudicado e conseguir provar, a partilha é suspensa (caso não
consumada) ou haverá o pagamento de indenização (se consumada).

Parcial
Conforme já discutido, na dissolução parcial, não há a extinção da sociedade,
mas apenas a resolução desta para um sócio e sua consequente apuração de haveres
e possível redução no capital social.
Ocorre que, tendo em vista ser predominante o princípio da intangibilidade do
capital social nas sociedades por ações, em razão da ausência de affectio societatis
nesse tipo societário e do fato de o direito de retirada do acionista estar previsto
taxativamente na Lei 6404/1976, durante muito tempo essa possibilidade foi negada
em juízo.

COMERCIAL. SOCIEDADE ANÔNIMA. DISSOLUÇÃO PARCIAL. IM-


POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO.
Nas sociedades anônimas o direito de retirada do acionista é res-
trito às hipóteses do art. 137 da Lei 6.404/76, apresentando-se
impossível o pedido de dissolução parcial da sociedade, próprio
das empresas organizadas por quotas de responsabilidade limi-
tada, sem relevo a qualificação de coligada da empresa acionista,
cuja condição poderá ser desfeita mediante alienação de ações de

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modo a reduzir a menos de dez por cento do capital da sociedade


anônima.” (AgRg no Ag 34.120/SP, Rel. Ministro Dias Trindade, Ter-
ceira Turma, julgado em 26/04/1993, DJ 14/06/1993).

A virada na orientação jurisprudencial do STJ iniciou com o Recurso Especial


111.294/PR, Relator p/ Acórdão Min. Cesar Asfor Rocha, julgado pela Quarta Turma
em 19/09/2000 e publicado em 28/05/2001. Vejam:

“DIREITO COMERCIAL. SOCIEDADE ANÔNIMA. GRUPO FAMILIAR.


INEXISTÊNCIA DE LUCROS E DE DISTRIBUIÇÃO DE DIVIDENDOS
HÁ VÁRIOS ANOS. DISSOLUÇÃO PARCIAL. SÓCIOS MINORITÁRIOS.
POSSIBILIDADE. Pelas peculiaridades da espécie, em que o ele-
mento preponderante, quando do recrutamento dos sócios, para
a constituição da sociedade anônima envolvendo pequeno grupo
familiar, foi a afeição pessoal que reinava entre eles, a quebra da
affectio societatis conjugada à inexistência de lucros e de distribui-
ção de dividendos, por longos anos, pode se constituir em elemen-
to ensejador da dissolução parcial da sociedade, pois seria injusto
manter o acionista prisioneiro da sociedade, com seu investimento
improdutivo, na expressão de Rubens Requião. O princípio da pre-
servação da sociedade e de sua utilidade social afasta a dissolução
integral da sociedade anônima, conduzindo à dissolução parcial.
Recurso parcialmente conhecido, mas improvido. (REsp 111.294/
PR, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, Rel. p/ Acórdão Ministro CE-
SAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 19/09/2000, DJ
28/05/2001, p. 161)”

Hoje, a jurisprudência, baseada nos precedentes do STJ, tem permitido a disso-


lução parcial apenas em Sociedades Anônimas de capital fechado organizadas como
grupos familiares, quando houver a affectio societatis. Assim, verificada a quebra
desse vínculo, é preferível a dissolução parcial da sociedade, com a continuação des-
ta, do que a sua dissolução total.

24
02

Operações Societárias
unifametro.edu.br - Direito Empresarial - Unidade IV

OBJETIVOS

Operações Societárias
Olá turma! Vamos aprender mais hoje?

“O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário. ”

(Albert Einstein).

Sabendo disso, não se precisa de pressa, precisa-se de foco. Persista na bus-


ca de sua realização profissional, que a vitória chegará. Para cada dia, uma
preocupação. Nesta unidade, vamos discutir as operações societárias e suas
respectivas consequências no âmbito jurídico.

ATENÇÃO

Termos-chave
Transformação; Fusão; Incorporação; Cisão.

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Imagem: Freepik
Operações Societárias
Ao se constituir uma sociedade não se tem como prever como será o seu de-
senvolvimento e como ela irá atuar no mercado. Por isso a estrutura societária nem
sempre irá se manter intacta, sendo que por vezes os sócios se veem na necessidade
de alterar o formato da sociedade, unindo-se a outra, alterando o tipo societário,
transferindo parcela de seu patrimônio, dentre outras situações. Essas modificações
pelas quais as sociedades podem passar são conhecidas como operações societárias,
que serão discutidas a seguir.
A matéria está disciplinada tanto na LSA (lei 6404/1976) quanto no Código Civil.
No caso de uma S.A participar de uma operação societária, o que é bastante comum,
aplicam-se as regras previstas na LSA, em razão da especialidade desse diploma legis-
lativo. Todavia, se a operação não conta com a participação de uma sociedade anôni-
ma, aplicam-se as regras do CC/02. Sobre esse tema, dispõe o Enunciado 70 do CJF:
“As disposições sobre incorporação, fusão e cisão previstas no Código Civil não se apli-
cam às sociedades anônimas. As disposições da Lei n. 6.404/76 sobre essa matéria apli-
cam-se, por analogia, às demais sociedades naquilo em que o Código Civil for omisso”.

Transformação

Sociedade Calçados LTDA Antes Sociedade limitada

Transformação

Companhia Calçados Depois Sociedade anônima

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A transformação se caracteriza pela mera alteração do tipo societário sem


que, para tanto, sejam necessárias a dissolução e a liquidação (art 220 LSA; 1.113
CC/02). Admite-se a transformação de uma sociedade limitada para uma sociedade
em nome coletivo e vice-versa, de uma sociedade anônima para uma limitada e vice-
-versa, dentre outros, não há restrições para essa operação.
Imaginemos, por exemplo, que dois sócios criaram uma pequena loja de depar-
tamento, e escolheram a sociedade limitada como o tipo societário que mais se ade-
quava ao tipo de atividade. Com o decorrer do tempo, tal negócio começa a crescer, à
ponto de eles perceberem a necessidade de uma maior capitação de investimentos.
Procuram um advogado que os sugere uma transformação para sociedade anônima
de capital fechado, pois assim poderão emitir debêntures e ter uma forma mais viá-
vel de conseguir o investimento necessário. (ROSSIGNOLI, 2015, p. 209).
Por se tratar de uma mudança de grande profundidade na sociedade, a delibe-
ração acerca da transformação exige, em regra, votação unânime, salvo nos casos
em que o ato constitutivo (contrato ou estatuto) da sociedade transformada já con-
tenha expressa disposição autorizando a operação. Nesse último caso, aprovando-se
a transformação por maioria, permite a lei que o sócio dissidente se retire da socie-
dade, nos termos do art. 221 da Lei de S.A. e do art. 1114 do Código Civil vigente.

ATENÇÃO

Art. 221. LSA A transformação exige o consentimento unânime dos sócios ou


acionistas, salvo se prevista no estatuto ou no contrato social, caso em que o
sócio dissidente terá o direito de retirar-se da sociedade.

Parágrafo único. Os sócios podem renunciar, no contrato social, ao direito de


retirada no caso de transformação em companhia.

Art. 1.114. CC/02 A transformação depende do consentimento de todos os


sócios, salvo se prevista no ato constitutivo, caso em que o dissidente poderá
retirar-se da sociedade, aplicando-se, no silêncio do estatuto ou do contrato
social, o disposto no art. 1.031.

V ou F?
( ) Com relação aos procedimentos de reorganização societária de uma so-
ciedade anônima, é correto afirmar que a transformação é a operação pela
qual a sociedade muda seu tipo societário, independentemente, porém, de
sua dissolução e liquidação, e dependerá da aprovação de no mínimo 4/5
(quatro quintos) dos sócios cotistas.
Nota-se que a mesma é falsa, por contrariar o que expressa o artigo 221 da Lei 6.404/76, ao cobrar,
como regra geral, o consenso unânime.

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A falência produz efeitos em relação aos sócios da empresa falida de acor-


do com o tipo societário adotado. Por exemplo: os sócios de uma sociedade limi-
tada, falida, não respondem pessoalmente pelas obrigações da massa falida3, salvo
nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, já os sócios de uma socie-
dade em nome coletivo falida responderão com seus bens particulares, caso os da
massa falida não forem suficientes para satisfazer os débitos sociais. Por conta disso,
havendo falência da sociedade transformada, há de se distinguir entre credores an-
teriores e posteriores à transformação (LIMA, 2014, p. 927).
Quanto aos créditos constituídos após a transformação, a falência ocorrerá de
forma normal, de conformidade com o novo tipo societário. No que tange aos crédi-
tos constituídos anteriormente à transformação, o parágrafo único do art 1.115 CC/02
(assim como o art 222 LSA) faculta aos respectivos titulares o direito de pedir que, so-
mente quanto a eles, a falência produza efeitos em relação aos sócios de massa falida,
na forma da legislação pertinente ao tipo societário anterior à transformação.
Todo o ato constitutivo deverá ser refeito para se adaptar ao novo tipo societá-
rio, sendo que é possível até mesmo a transformação de uma sociedade simples para
uma empresária ou vice-versa, caso haja mudança no objeto social.
Em virtude da recente mudança que foi feita no Código Civil foram alterados
o art. 968 e o 1033. O primeiro dispositivo passou a contar com um § 3° que tem a
seguinte redação:

§ 3° Caso venha a admitir sócios, o empresário individual poderá


solicitar ao Registro Público de Empresas Mercantis a transforma-
ção de seu registro de empresário para registro de sociedade em-
presária, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a
1.115 deste Código.

A lei apenas está garantindo a simplificação dos procedimentos administrativos


e fiscais, ao permitir que o empresário individual aproveite seu CNPJ na sociedade
que constitui com seus sócios.
Já no art. 1033 foi acrescentado um parágrafo único que dispõe:

Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio


remanescente, inclusive na hipótese de concentração de todas as
cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Pú-
blico de Empresas Mercantis, a transformação do registro da so-
ciedade para empresário individual ou para empresa individual de
responsabilidade limitada, observado, no que couber. o disposto
nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.

Fusão
A fusão irá ocorrer quando uma ou mais sociedades unem-se, criando uma nova
sociedade e extinguindo as anteriores. Essa nova sociedade irá suceder as anteriores

3 A massa falida consiste no acervo de bens pertencentes ao falido (sociedade ou sócio ou empresário individual) após a sen-
tença declaratória de falência decretando a perda do direito à administração e à disposição do referido patrimônio. Trata-se
de um ente despersonalizado voltado à defesa dos interesses gerais dos credores do falido. A massa falida é o substituto
processual do falido nos processos, sendo representada por um síndico, que é o seu administrador (GONÇALVES, 2003, p. 193).

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em todos seus direitos e obrigações (Art. 228 LSA e 1.119 CC/02). Ademais essa ope-
ração societária poderá ocorrer entre sociedades de diversos tipos societários, inclu-
sive entre sociedades simples e empresárias.

A + B = C

Não se tem uma absorção do corpo de uma sociedade por outra, MAS O SOMA-
TÓRIO de dois corpos societários, CONSTITUINDO UM TERCEIRO corpo societário.
Somam-se os patrimônios (ativo e passivo) e as coletividades sociais (sócios quotis-
tas e/ou acionistas), emergindo um novo corpo social, extintas as sociedades ante-
riores (artigos 1.119 do Código Civil e 228 da Lei 6.404/76), ainda que se opte por dar
à terceira pessoa o nome de uma das duas sociedades que se fundiram (MAMEDE,
2012, p. 142).

EXEMPLO

Imaginemos que eu tenho a sociedade A, produtora de leite e a sociedade B


que faz pasteurização de produtos derivados do leite. Essas duas sociedades
percebem que estão perdendo espaço para uma concorrente que faz as duas
atividades e então surge a proposta para que elas se fundam. Irão desapare-
cer, como pessoa jurídica, tanto a sociedade A, quanto a sociedade B e será
criada a sociedade C que irá sucedê-las em todos os direitos e obrigações
(ROSSIGNOLI, 2015, p. 210).

Em regra, o interesse em se realizar a fusão é para que a sociedade nova seja


mais forte e competitiva no mercado, mas tal operação irá depender de aprovação
do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), pois poderá representar
risco à liberdade de concorrência, se se configurar domínio de mercado.
Vale ressaltar que, para que ocorra a fusão, deverá haver a aprovação dos só-
cios em cada sociedade que está sendo proposta. Tal operação e o quórum para
aprovação irá depender de cada tipo societário.
Por exemplo, no caso de fusão entre uma sociedade limitada e uma anônima,
na primeira, o quórum para aprovação de uma fusão societária é a quantidade de
sócios que representem pelo menos 3⁄4 do valor do capital social (ou seja, não é por
cabeça, mas por valor do capital social que o sócio detém), nos termos do art 1.076,
I CC/02; já no âmbito da segunda, o quórum é necessária a aprovação de acionistas
que representem metade, no mínimo, das ações com direito a voto, nos termos do
art 136, IV LSA.

30
unifametro.edu.br - Direito Empresarial - Unidade IV

ATENÇÃO

A exigência da unanimidade nas votações para a aprovação de operação


societária é exclusiva da transformação, não se estendendo aos demais
casos (fusão, incorporação e cisão).

PARA REFLETIR

Havendo sócios que não concordam com a operação, o que podem fazer?
Podem exercer o direito de retirada da sociedade, nos termos da lei.

Assim, aqueles que não concordarem com a fusão da sociedade de que perten-
ce a outra podem exercer o direito de retirada, havendo uma dissolução parcial, con-
forme já estudamos na unidade anterior, mas desde que observados os requisitos
legais a depender do tipo societário.
Por exemplo, na circunstância de haver sócios dissidentes quanto à operação
societária, a depender do tipo de sociedade, eles podem exercer o seu direito de
retirada. No caso de sociedade limitada, o sócio poderá retirar-se da sociedade, nos
trinta dias subsequentes à reunião (art 1.077 CC/02). Se se tratar de sociedade anôni-
ma, o acionista dissidente terá o direito de retirar-se da companhia, mediante reem-
bolso do valor das suas ações, salvo no caso de ser titular de ação de espécie ou
classe que tenha liquidez4 e dispersão5 no mercado (art 137, II LSA).

Incorporação

A + B = A
(Incorporadora) (Incorporada)

A incorporação segue uma ideia parecida com a da fusão que é a união de socie-
dades, porém, aqui, uma sociedade será mantida e as demais serão absorvidas e irão
desaparecer. Portanto, haverá a extinção das sociedades incorporadas, mas não
surgirá uma nova sociedade.

4 Quando a espécie ou classe de ação, ou certificado que a represente, integre índice geral representativo de carteira de valo-
res mobiliários admitido à negociação no mercado de valores mobiliários, no Brasil ou no exterior, definido pela Comissão de
Valores Mobiliários;
5 Quando o acionista controlador, a sociedade controladora ou outras sociedades sob seu controle detiverem menos da meta-
de da espécie ou classe de ação.

31
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Aprovados os atos da incorporação, a incorporadora declarará extinta a incor-


porada, e promoverá a respectiva averbação no registro próprio. Extinta a sociedade
incorporada, ela será sucedida em todos os seus direitos e obrigações pela sociedade
incorporadora (art. 1.116 a 1.118 CC/02 e 227 LSA).

ATENÇÃO

Art. 1.116 CC/02. Na incorporação, uma ou várias sociedades são absorvidas


por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações, devendo todas
aprová-la, na forma estabelecida para os respectivos tipos.

Art. 1.117 CC/02. A deliberação dos sócios da sociedade incorporada deverá


aprovar as bases da operação e o projeto de reforma do ato constitutivo.

§ 1º A sociedade que houver de ser incorporada tomará conhecimento desse


ato, e, se o aprovar, autorizará os administradores a praticar o necessário à
incorporação, inclusive a subscrição em bens pelo valor da diferença que se
verificar entre o ativo e o passivo.

§ 2º A deliberação dos sócios da sociedade incorporadora compreenderá a


nomeação dos peritos para a avaliação do patrimônio líquido da sociedade,
que tenha de ser incorporada.

Art. 1.118 CC/02. Aprovados os atos da incorporação, a incorporadora decla-


rará extinta a incorporada, e promoverá a respectiva averbação no registro
próprio.

A incorporação apresenta, em relação à fusão, uma significativa vantagem ope-


racional. Como a lei considera a sociedade resultante da fusão uma nova pessoa jurídi-
ca, ela deve regularizar-se na Junta Comercial e nos diversos cadastros fiscais. Ocorre
que essas providências demandam tempo, durante o qual a nova sociedade não pode
realizar nenhum negócio regular. Some-se isso ao fato de que as sociedades partici-
pantes da fusão deixam de existir, o que acarreta uma total paralisação da empresa.
Por outro lado, na incorporação, a sociedade incorporadora sucede a incorporada,
proporcionando o regular desenvolvimento dos negócios das duas. Em razão dessa
considerável diferença, a fusão praticamente não existe (COELHO, 2011, p. 513).

ATENÇÃO

Importa destacar que o administrador de uma sociedade empresária que


leva adiante qualquer operação societária sem a devida verificação da re-
gularidade da outra sociedade envolvida não cumpre seu dever de dili-
gência e responde pelos prejuízos resultantes.

32
unifametro.edu.br - Direito Empresarial - Unidade IV

Se a sociedade incorporada, por exemplo, não recolhia corretamente determi-


nado imposto, a incorporadora, na condição de sucessora, terá de honrar o tributo
devido, com os acréscimos moratórios.
Se esse passivo não é devidamente considerado na avaliação das empresas en-
volvidas, os sócios que compunham a incorporadora anteriormente à operação são
prejudicados e têm direito ao ressarcimento contra o administrador incompetente.

Cisão

Divisão da soc. A
em duas ou mais

De uma maneira simples, a cisão constitui em mera transferência de patrimô-


nio de uma sociedade para outra. Haverá a cisão total quando a sociedade ocorrer
a transferência de todos os bens da sociedade cindida, a qual, nessa circunstância,
será extinta. Esse tipo de operação societária é regulado apenas na LSA, sendo apli-
cável a todos os tipos societários, e não apenas às companhias (Enunciado n. 231 da
CJF, aprovado na III Jornada de Direito Civil).

ATENÇÃO

Art. 229. LSA A cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas
do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim
ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de
todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão.

§ 1º Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que absorver parcela


do patrimônio da companhia cindida sucede a esta nos direitos e obrigações
relacionados no ato da cisão; no caso de cisão com extinção, as sociedades
que absorverem parcelas do patrimônio da companhia cindida sucederão a
esta, na proporção dos patrimônios líquidos transferidos, nos direitos e obri-
gações não relacionados.

§ 2º Na cisão com versão de parcela do patrimônio em sociedade nova, a ope-


ração será deliberada pela assembleia-geral da companhia à vista de justifi-
cação que incluirá as informações de que tratam os números do artigo 224;

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a assembleia, se a aprovar, nomeará os peritos que avaliarão a parcela do


patrimônio a ser transferida, e funcionará como assembleia de constituição
da nova companhia. [...]

V ou F?
( ) A cisão total é a operação pela qual uma sociedade empresária transfere
para outra sociedade já existente a totalidade dos seus ativos, permanecen-
do apenas com o seu passivo.
A afirmativa é falsa, pois, na cisão total, a sociedade que recebe o patrimônio da cindida fica responsá-
vel solidariamente pelo passivo (obrigações) da referida sociedade extinta.

Por outro lado, haverá cisão parcial quando forem transferidos apenas alguns
bens da sociedade cindida para uma já existente ou para uma construída exclusiva-
mente para esse fim, conforme a segunda parte do art 229 da LSA.
CISÃO PARCIAL: não há extinção da sociedade cindida

A A B

Na cisão parcial, as empresas que absorveram o capital, passam a sucedê-la ape-


nas nos direitos e obrigações que serão relacionados anteriores à efetivação da cisão
(ROSSIGNOLI, 2015, p. 213).
Destaque-se ainda que a sociedade que recebe os bens da sociedade cindida
pode ser sociedade constituída especificamente para tal operação ou sociedade já
existente. Nesse último caso, a transferência de parcela do patrimônio obedecerá às
disposições sobre incorporação (art 227 LSA).

Direito dos Credores:


A) Na transformação:

ATENÇÃO

Art. 1.115 CC/02. A transformação não modificará nem prejudicará, em qual-


quer caso, os direitos dos credores.

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Parágrafo único. A falência da sociedade transformada somente produzirá


efeitos em relação aos sócios que, no tipo anterior, a eles estariam sujeitos,
se o pedirem os titulares de créditos anteriores à transformação, e somente
a estes beneficiarão.

Os direitos dos credores não podem ser modificados nem prejudicados pela
transformação. Dever-se-á fazer distinção entre credores anteriores à transforma-
ção e os posteriores. Em homenagem ao princípio da segurança jurídica, se a socie-
dade sai de um tipo em que os sócios tinham responsabilidade ilimitada pelas obri-
gações para um tipo em que a responsabilidade é limitada, as obrigações anteriores
à transformação permanecerão regidas pelo que era no tipo societário anterior.

V ou F?
( ) Na transformação, os direitos dos credores não são afetados, permane-
cendo com as mesmas garantias oferecidas pelo tipo societário anterior, sal-
vo no que diz respeito à responsabilidade subsidiária ou solidária dos sócios.
Está falso, pois a transformação não modificará nem prejudicará, em qualquer caso, os direitos dos
credores ( art. 1.115 CC/02). A lei não prevê exceções.

B) Na incorporação e na fusão:

O artigo 1.122 do CC/02 dispõe que o credor prejudicado pela incorporação e


fusão pode pleitear judicialmente a anulação da incorporação e fusão no prazo de 90
dias da publicação de tais atos.
Contudo, considerando-se que, com exceção das sociedades anônimas, as de-
mais sociedades não tem a obrigação legal de publicar os seus atos societários, dis-
cute-se se dita publicação diz respeito à publicação feita pela Junta Comercial dos
atos por ela registrados, ou se as sociedades em geral passam a ter o dever de pu-
blicar o documento societário referente à incorporação e à fusão, a fim de propiciar
aos credores oportunidade de tomarem ciência da operação e pleitearem a anulação
judicial se forem prejudicados.
Pela Lei das S/A, o credor da companhia (incorporada ou que sofre fusão) ante-
rior à incorporação ou à fusão, por ela prejudicado, também poderá pleitear judicial-
mente a anulação da operação, porém, no prazo de até 60 dias depois de publicados
os atos relativos à incorporação ou fusão, após o qual, decairá o credor de tal direito,
se não o tiver exercido, nos termos do art. 232 LSA.
Credor prejudicado deve ser entendido como aquele que tem um dano em
seu direito de crédito, que será decorrente de ato ilícito da sociedade devedora
por sucessão, tendo em vista que é pressuposto da incorporação e da fusão não
prejudicarem os direitos dos credores, que continuarão, até o pagamento inte-
gral de seus débitos com as mesmas garantias que a(s) sociedade(s) envolvidas lhe
ofereciam.

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V ou F?
( ) Quando a sociedade incorporadora possuir ativo inferior ao passivo, o cre-
dor da incorporada que tiver a garantia patrimonial de seu crédito reduzida,
ainda que se sinta prejudicado, não terá legitimidade para pedir a anulação
da operação.
Está falso, pois o credor que se sentir prejudicado poderá pedir anulação da operação no prazo de 90
dias (Art 1.122 CC/02), mas se a sociedade incorporada for anônima, o prazo é de 60 dias (Art. 232 LSA).
Vale ressaltar que existe um prazo para isso, não é a qualquer tempo!

( ) A fusão de duas sociedades não pode modificar os direitos de seus credores.


Verdadeiro, pois a fusão nem a incorporação podem modificar os direitos dos credores. Caso isso acon-
teça, os credores que se sentirem prejudicados terão prazo de 90 dias em sociedades de pessoas e 60
dias em sociedades por ações para pedir anulação da operação societária.

Se a importância devida ao credor que pleiteou a anulação for depositada, o


processo judicial de anulação não prosseguirá, por estar prejudicado. Se a dívida for
ilíquida, poderá ser garantida à execução, com suspensão do processo de execução.
Se ocorrer a falência da sociedade incorporadora, qualquer credor anterior terá di-
reito de pedir a separação dos patrimônios, para o fim de serem os créditos pagos
pelos bens das respectivas massas.
ATENÇÃO

Art. 1.122. CC/02. Até noventa dias após publicados os atos relativos à incor-
poração, fusão ou cisão, o credor anterior, por ela prejudicado, poderá pro-
mover judicialmente a anulação deles.

§ 1º A consignação em pagamento prejudicará a anulação pleiteada.

§ 2º Sendo ilíquida a dívida, a sociedade poderá garantir-lhe a execução, sus-


pendendo-se o processo de anulação.

§ 3º Ocorrendo, no prazo deste artigo, a falência da sociedade incorporadora,


da sociedade nova ou da cindida, qualquer credor anterior terá direito a pedir
a separação dos patrimônios, para o fim de serem os créditos pagos pelos
bens das respectivas massas.

C) Na cisão:

No que diz respeito à responsabilidade, o legislador se preocupou em proibir


qualquer possibilidade de a cisão se transformar em instrumento de fraude contra
os credores. A Lei de S.A. determina em seu art. 233 que, na cisão total, os direitos
e obrigações se transferem para a nova sociedade, legítima sucessora daquela que
se extinguiu. Caso o capital tenha sido dividido em diversas sociedades, cada qual
responderá solidariamente pelas obrigações da companhia extinta.

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ATENÇÃO

Art 233 LSA: Na cisão com extinção da companhia cindida, as sociedades que
absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas
obrigações da companhia extinta. A companhia cindida que subsistir e as
que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pe-
las obrigações da primeira anteriores à cisão.

Parágrafo único. O ato de cisão parcial poderá estipular que as sociedades que ab-
sorverem parcelas do patrimônio da companhia cindida serão responsáveis apenas
pelas obrigações que lhes forem transferidas, sem solidariedade entre si ou com a
companhia cindida, mas, nesse caso, qualquer credor anterior poderá se opor à esti-
pulação, em relação ao seu crédito, desde que notifique a sociedade no prazo de 90
(noventa) dias a contar da data da publicação dos atos da cisão.

Na cisão total, em que a sociedade cindida é extinta, as sociedades que absor-


verem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações
daquela.
Supondo a existência de três sociedades: A, B e C. Se a sociedade A sofrer cisão
total, dividindo seu patrimônio entre as sociedades B e C, estas duas irão respon-
der de maneira solidária pelas obrigações da sociedade A, ou seja, tanto B como C
estão na qualidade de devedores da eventual dívida toda de A, como se fosse único
devedor.
Já em caso de cisão parcial, a sociedade cindida que subsistir e as que absor-
verem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações da
primeira anteriores à cisão. Utilizando o mesmo exemplo acima, supondo que A não
deixasse de existir, permanecesse ainda com parte de seu patrimônio, B e C respon-
deriam de maneira solidária apenas pelas dívidas de A anteriores `cisão. Caso a so-
ciedade A contraia novas dívidas após a cisão parcial, B e C não responderão por elas.
No entanto, a regra da solidariedade passiva entre as empresas envolvidas na
operação de reorganização societária pode ser excepcionada. O parágrafo único do
art 233 da LSA traz uma possibilidade, no contexto da cisão parcial, de se afastar a so-
lidariedade existente entre as sociedades que absorveram o patrimônio da cindida.
O ato de cisão parcial poderá estipular que as sociedades que absorverem par-
celas do patrimônio da sociedade cindida serão responsáveis apenas pelas obriga-
ções que lhes forem transferidas, sem solidariedade entre si ou com a sociedade
cindida.
Assim, mediante a estipulação de cláusula expressa no protocolo de cisão é
possível excepcionar a regra da solidariedade passiva acerca das responsabilidades
das sociedades cindida e daquela que resultar da cisão, facultada, no entanto a opo-
sição do credor à estipulação (PAPINI, 2015). Nessa circunstância, qualquer credor
poderá se opor à estipulação em relação aos seus créditos, notificando a sociedade
no prazo de 90 dias a contar da data de publicação dos atos de cisão. Feito isso, a
solidariedade permanece em relação ao crédito do notificante.

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Conforme dito no início da unidade, as disposições sobre cisão previstas no Có-


digo Civil não se aplicam às sociedades anônimas. Por outro lado, as disposições da
Lei n. 6.404/76 sobre essa matéria aplicam-se, por analogia, às demais sociedades
naquilo em que o Código Civil for omisso. A cisão parcial não é prevista com detalhes
no CC/02, logo deve-se utilizar a LSA para sanar tais lacunas. Nesse sentido explica
Fabio Ulhoa Coelho (2014, p. 184):

De se notar que a lei das sociedades por ações, por sua abran-
gência e superioridade técnica tem sido aplicada a todos os tipos
societários, inclusive a limitada, também por via analógica. Quer
dizer, sendo o Código Civil lacunoso, poderá o juiz aplicar a LSA,
mesmo que o regime de regência supletiva da limitada seja o da
simples. Portanto, deve ser reconhecida a possibilidade de aplica-
ção subsidiária das disposições da Lei 6.404/76 as sociedades por
quotas de responsabilidade limitada (grifo nosso).

Nesse contexto, em âmbito de recurso especial, ratificou o Superior Tribunal de


Justiça o entendimento doutrinário:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL.


EMBARGOS DE TERCEIRO. PENHORA DE BENS PARA GARANTIA
DA AÇÃO DE EXECUÇÃO. CISÃO PARCIAL DA EMPRESA DEVEDO-
RA. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DA LEI DAS SOCIEDADES ANÔ-
NIMAS. SOLIDARIEDADE PASSIVA ENTRE A EMPRESA CINDI-
DA E A RESULTANTE DA CISÃO.
1. Os princípios contidos na Lei de Introdução ao Códi-
go Civil, por terem assumido contornos nitidamente
constitucionais, não podem ser objeto de recurso
especial, sob pena de, se analisados nessa via, ferir-
-se a esfera de distribuição de competência jurisdi-
cional estabelecida pela Constituição Federal.
2. Viabilidade de aplicação subsidiária da Lei das
Sociedades Anônimas (Lei 6404/76) às socieda-
des limitadas para suprir as lacunas da sua regu-
lamentação legal.
3. Possibilidade de ser excepcionada a regra da solida-
riedade passiva entre as empresas na cisão parcial
mediante a estipulação de cláusula expressa no pro-
tocolo de cisão acerca das responsabilidades sociais
da empresa cindida e da resultante da cisão.
4. Nessa hipótese, pode haver o repasse às sociedades
que absorveram o patrimônio da cindida apenas das
obrigações que lhes forem expressamente trans-
feridas, afastando a solidariedade passiva relativa-
mente às obrigações anteriores à cisão.
5. Necessidade, porém, de cláusula expressa no pacto
de cisão na forma do art. 233, e seu parágrafo único,
da Lei n.º 6.404/76 6. Não reconhecimento, no caso

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dos autos, pelas instâncias de origem da existência


de cláusula de exclusão da solidariedade passiva no
pacto de cisão. Súmulas 05 e 07 do STJ. 7. Preceden-
te específico desta Corte. 8. RECURSO ESPECIAL
DESPROVIDO. (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça.
Recurso Especial no 1.396.716 – MG. Rel. Min. Paulo
de Tarso Sanseverino , julgamento em: 24/03/2015).

Dessa maneira, doutrina e jurisprudência perfilham entendimento uniforme


acerca da aplicabilidade da Lei das Sociedades Anônimas para resolver questões so-
bre cisão parcial dos demais tipos societários, quando o CC/02 for omisso.

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03

Dissolução e Liquidação
das Sociedades
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OBJETIVOS

Dissolução e Liquidação
das Sociedades
Olá turma! Vamos aprender mais hoje?

“O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário. ”

(Albert Einstein).

Sabendo disso, não se precisa de pressa, precisa-se de foco. Persista na bus-


ca de sua realização profissional, que a vitória chegará. Para cada dia, uma
preocupação.

Imagem: Freepik

Conceitos
No processo de encerramento de uma sociedade há 03 conceitos bem distintos:

a) Dissolução; b) Liquidação; c) Extinção.

Dissolução é o ato por meio do qual se manifesta a vontade ou o dever de por


um fim à existência da sociedade. A dissolução pode ocorrer por vontade dos sócios
ou por determinação do poder público, nos casos previstos em lei.

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Já a liquidação é o processo imediatamente posterior à dissolução. Nele, ocorre


a apuração de bens e direitos da sociedade, a sua venda e, com os valores apurados,
realiza-se o pagamento das obrigações e a divide-se as sobras, se houverem, entre
os sócios.
Já a extinção diz respeito à baixa da sociedade no registro, com a averbação da
prestação de contas final e da decisão de extinguir a sociedade.

Previsão legal
O procedimento de dissolução está previsto no Código Civil, entre os arts. 1.033
e 1.038. Em relação às Sociedades Anônimas, o procedimento é previsto entre os ar-
tigos 206 a 219, da Lei n. 6.404/76.
De qualquer forma, embora existam dois regulamentos separados, o processo
e os conceitos são muito parecidos. Por esse motivo, essa aula irá tomar por base as
regras contidas no Código Civil.

Causas de Dissolução
Conforme dito anteriormente, o processo se inicia com o ato que determina a
vontade ou a necessidade de encerrar a empresa. Para tanto, o Código Civil estabe-
lece as causas de dissolução, que são as hipóteses em que essa vontade ou necessi-
dade se tornaram reais. Veja o que a lei diz:

ATENÇÃO

Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:

I. o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição


de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará
por tempo indeterminado;
II. o consenso unânime dos sócios;
III. a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo
indeterminado;
IV. a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e
oitenta dias;
V. a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.

Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente,


inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titu-
laridade, requeira, no Registro Público de Empresas Mercantis, a transformação do
registro da sociedade para empresário individual ou para empresa individual de res-
ponsabilidade limitada, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115
deste Código.

42
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Percebe-se que o inciso IV estabelece como uma das causas, a falta de plurali-
dade de sócios.
Porém, o parágrafo único estabelece uma exceção, que se dá quando o sócio
remanescente, aquele que ficou sozinho no quadro de sócios da sociedade, resolver
transformá-la em uma EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, ou
no caso dele resolver continuar a atividade como um empresário individual, pessoa
física.
É sempre bom lembrar, de todo modo, que antes de decidir entre a dissolução
ou a transformação, o sócio remanescente terá 180 dias (não confunda com seis me-
ses, pois esse prazo é contado em dias, numa soma que não completa um semestre),
para tentar recompor a pluralidade de sócios.
Além disso, se for sociedade por tempo DETERMINADO, somente a unanimida-
de dos sócios pode dissolvê-la; se for por tempo indeterminado, basta a vontade da
maioria absoluta.
É bom observar, ainda, que se chegar ao fim do prazo e não for providenciada a
dissolução (não entrar em liquidação), haverá a prorrogação da sociedade por prazo
indeterminado. Nesse caso, entretanto, a sociedade passaráa ser IRREGULAR, sen-
do-lhe aplicáveis as regras da sociedade em comum.
Além disso, há a previsão expressa das hipóteses de dissolução judicial, ou seja,
as situações em que a sociedade será liquidada perante a justiça:

ATENÇÃO

Art. 1.034. A sociedade pode ser dissolvida judicialmente, a requerimento de


qualquer dos sócios, quando:

I. anulada a sua constituição;


II. exaurido o fim social, ou verificada a sua inexequibilidade.

Além disso, o Código Civil prevê a possibilidade de que o próprio contrato social
da sociedade estabeleça outras hipóteses de dissolução.
Em que pese a previsão legal já ser ampla, é tradição no caso das sociedades
contratuais a forte flexibilidade para que os sócios modelem as suas próprias regras:

ATENÇÃO

Art. 1.035. O contrato pode prever outras causas de dissolução, a serem veri-
ficadas judicialmente quando contestadas.

Liquidante
De acordo com o art. 1.036 do Código Civil:
Art. 1.036. Ocorrida a dissolução, cumpre aos administradores providenciar
imediatamente a investidura do liquidante, e restringir a gestão própria aos

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negócios inadiáveis, vedadas novas operações, pelas quais responderão soli-


dária e ilimitadamente.

Parágrafo único. Dissolvida de pleno direito a sociedade, pode o sócio requerer, des-
de logo, a liquidação judicial.

O liquidante é a pessoa responsável por executar o processo. O liquidante irá


substituir o representante legal da sociedade, porém, seus poderes serão limitados
aos negócios pendentes e inadiáveis, bem como aos atos próprios da liquidação:

ATENÇÃO

Art. 1.105. Compete ao liquidante representar a sociedade e praticar todos


os atos necessários à sua liquidação, inclusive alienar bens móveis ou imóveis,
transigir, receber e dar quitação.

Parágrafo único. Sem estar expressamente autorizado pelo contrato social, ou pelo
voto da maioria dos sócios, não pode o liquidante gravar de ônus reais os móveis e
imóveis, contrair empréstimos, salvo quando indispensáveis ao pagamento de obri-
gações inadiáveis, nem prosseguir, embora para facilitar a liquidação, na atividade
social.

Registre-se que o parágrafo único do art. 1.036 permite que qualquer sócio so-
licite que a liquidação ocorra na forma judicial.
De qualquer modo, o liquidante pode estar previsto no contrato social. Por
exemplo, dentre as atribuições do administrador pode estar contida a determinação
de que ele se torne automaticamente o liquidante, nos casos de dissolução. Fora
isso, sempre haverá a possibilidade de que o liquidante seja indicado numa delibera-
ção entre os sócios:

ATENÇÃO

Art. 1.038. Se não estiver designado no contrato social, o liquidante será elei-
to por deliberação dos sócios, podendo a escolha recair em pessoa estranha
à sociedade.

§ 1º O liquidante pode ser destituído, a todo tempo:


I. se eleito pela forma prevista neste artigo, mediante deliberação dos
sócios;
II. em qualquer caso, por via judicial, a requerimento de um ou mais só-
cios, ocorrendo justa causa.

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§ 2º A liquidação da sociedade se processa de conformidade com o disposto


no Capítulo IX, deste Subtítulo.

Inclusive, as atribuições do liquidante são similares às do administrador, dife-


renciando-se especialmente na finalidade, tendo em vista que o administrador visa
o desenvolvimento da sociedade, enquanto o liquidante visa ultimar seus negócios.
Por isso, os princípios aplicados para esses agentes, tendem a ser congêneres, con-
forme determina o Código Civil:

ATENÇÃO

Art. 1.104. As obrigações e a responsabilidade do liquidante regem-se pelos


preceitos peculiares às dos administradores da sociedade liquidanda.

Quando a dissolução ocorrer pela extinção da autorização de funcionamento,


se os administradores não tomarem as providências para a liquidação em 30 dias, ou
se algum sócio resolver pedir a liquidação judicial, o Ministério Público é que será
responsável pela liquidação.

ATENÇÃO

Art. 1.037. Ocorrendo a hipótese prevista no inciso V do art. 1.033, o Minis-


tério Público, tão logo lhe comunique a autoridade competente, promoverá
a liquidação judicial da sociedade, se os administradores não o tiverem feito
nos trinta dias seguintes à perda da autorização, ou se o sócio não houver
exercido a faculdade assegurada no parágrafo único do artigo antecedente.

Parágrafo único. Caso o Ministério Público não promova a liquidação judicial da so-
ciedade nos quinze dias subsequentes ao recebimento da comunicação, a autoridade
competente para conceder a autorização nomeará interventor com poderes para re-
querer a medida e administrar a sociedade até que seja nomeado o liquidante.

O legislador ainda previu a possibilidade de que o Ministério Público não realize


a liquidação. Nesse caso, a autoridade responsável pela autorização de funcionamen-
to deverá nomear um interventor, para realizar o processo.
São deveres do liquidante:
ATENÇÃO

Art. 1.103. Constituem deveres do liquidante:

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I. averbar e publicar a ata, sentença ou instrumento de dissolução da


sociedade;
II. arrecadar os bens, livros e documentos da sociedade, onde quer que
estejam
III. proceder, nos quinze dias seguintes ao da sua investidura e com a assis-
tência, sempre que possível, dos administradores, à elaboração do in-
ventário e do balanço geral do ativo e do passivo;
IV. ultimar os negócios da sociedade, realizar o ativo, pagar o passivo e par-
tilhar o remanescente entre os sócios ou acionistas;
V. exigir dos quotistas, quando insuficiente o ativo à solução do passivo, a
integralização de suas quotas e, se for o caso, as quantias necessárias,
nos limites da responsabilidade de cada um e proporcionalmente à res-
pectiva participação nas perdas, repartindo-se, entre os sócios solventes
e na mesma proporção, o devido pelo insolvente;
VI. convocar assembleia dos quotistas, cada seis meses, para apresentar re-
latório e balanço do estado da liquidação, prestando conta dos atos pra-
ticados durante o semestre, ou sempre que necessário;
VII. confessar a falência da sociedade e pedir concordata, de acordo com as
formalidades prescritas para o tipo de sociedade liquidanda;
VIII. finda a liquidação, apresentar aos sócios o relatório da liquidação e as
suas contas finais;
IX. averbar a ata da reunião ou da assembleia, ou o instrumento firmado
pelos sócios, que considerar encerrada a liquidação.

Parágrafo único. Em todos os atos, documentos ou publicações, o liquidante


empregará a firma ou denominação social sempre seguida da cláusula “em
liquidação” e de sua assinatura individual, com a declaração de sua qualidade.

Percebe-se que as atribuições do liquidante, por si só, na ordem em que foram


inscritas, já demonstram não apenas o seu papel, mas, especialmente, as etapas do
processo de liquidação, apresentadas a seguir.
Ressalte-se que em todo o processo, deverá ser utilizada, de forma ostensiva, a
cláusula “em liquidação”.

O Processo de Liquidação
De acordo com o Código Civil:

ATENÇÃO

Art. 1.102. Dissolvida a sociedade e nomeado o liquidante na forma do dis-


posto neste Livro, procede-se à sua liquidação, de conformidade com os

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preceitos deste Capítulo, ressalvado o disposto no ato constitutivo ou no ins-


trumento da dissolução.

Parágrafo único. O liquidante, que não seja administrador da sociedade, investir-se-


-á nas funções, averbada a sua nomeação no registro próprio.

O procedimento contém etapas simples:

• Apuração dos valores a receber;


• Venda de bens do ativo imobilizado;
• Pagamento dos Credores;
• Prestação de contas;

Rateio, mediante partilha, entre os sócios, dos valores remanescentes.


Naturalmente, o processo de liquidação tem uma prioridade clara: pagar as dí-
vidas da sociedade. O liquidante deve procurar pagar a todos os credores, ainda que
de forma proporcional.
Porém, se o ativo for maior que o passivo, ou seja, se a sociedade tiver mais
bens e direitos a receber do que dívidas a pagar, o liquidante poderá pagar as dívidas
vencidas integralmente. É o que estabelece o Código Civil:

ATENÇÃO

Art. 1.106. Respeitados os direitos dos credores preferenciais, pagará o liqui-


dante as dívidas sociais proporcionalmente, sem distinção entre vencidas e
vincendas, mas, em relação a estas, com desconto.

Parágrafo único. Se o ativo for superior ao passivo, pode o liquidante, sob sua res-
ponsabilidade pessoal, pagar integralmente as dívidas vencidas.

Além disso, depois de pagos os credores, caso existam recurso sobrando, os só-
cios podem decidir que o liquidante faça rateios entre os sócios de forma antecipada
à partilha:

ATENÇÃO

Art. 1.107. Os sócios podem resolver, por maioria de votos, antes de ultimada
a liquidação, mas depois de pagos os credores, que o liquidante faça rateios
por antecipação da partilha, à medida em que se apurem os haveres sociais.

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No entanto, apurado todos os valores a receber, inclusive com a venda de bens,


pagos os credores e partilhado o acervo remanescente entre os sócios, deverá o li-
quidante convocar uma assembleia de sócios, a fim de apresentar a eles as contas da
liquidação:

ATENÇÃO

Art. 1.108. Pago o passivo e partilhado o remanescente, convocará a liquidan-


te assembleia dos sócios para a prestação final de contas.

Com a aprovação das contas, o processo de liquidação se encerra. Caberá,


então, ao liquidante, proceder à extinção da sociedade, com o registro da ata
da assembleia e a baixa da sociedade no registro:

Art. 1.109. Aprovadas as contas, encerra-se a liquidação, e a sociedade se ex-


tingue, ao ser averbada no registro próprio a ata da assembleia.

Parágrafo único. O dissidente tem o prazo de trinta dias, a contar da publica-


ção da ata, devidamente averbada, para promover a ação que couber.

No caso de uma liquidação judicial, entretanto, a assembleia não será realizada


pelo liquidante, mas sim pelo juiz do processo:

ATENÇÃO

Art. 1.112. No curso de liquidação judicial, o juiz convocará, se necessário,


reunião ou assembleia para deliberar sobre os interesses da liquidação, e as
presidirá, resolvendo sumariamente as questões suscitadas.

Parágrafo único. As atas das assembleias serão, em cópia autêntica, apensa-


das ao processo judicial.

Ressalte-se, conforme acima mencionado, que o sócio que se sentir insatisfeito


com a aprovação da prestação de contas poderá propor a ação judicial que entender
cabível.
De igual modo, o credor que não houver sido pago no processo de liquidação,
poderá exigir o seu crédito diretamente dos sócios. Mesmo que a sociedade seja
de responsabilidade limitada, constata-se que, encerrada a liquidação, a mesma não
contará mais com patrimônio.
Por esse motivo, o legislador estabeleceu que a dívida seja cobrada dos sócios,
conforme a seguir:

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ATENÇÃO

Art. 1.110. Encerrada a liquidação, o credor não satisfeito só terá direito a


exigir dos sócios, individualmente, o pagamento do seu crédito, até o limite
da soma por eles recebida em partilha, e a propor contra a liquidante ação de
perdas e danos.

Porém, conforme acima, a responsabilidade de cada sócio será restrita ao valor


por eles recebido em partilha.
Quer dizer, o legislador não visou penalizar os sócios pela dissolução, porém
garantiu o interesse do credor na mesma medida em que o mesmo ordinariamente
faria jus, com a satisfação de seu direito dentro das possibilidades patrimoniais da
pessoa jurídica.

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REFERÊNCIAS

ARNOLDI, Paulo Roberto Colombo. Art. 966 a 1.051. In. Código Civil Inter-
pretado. São Paulo: Manole, 2014.

COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 13a ed., São Paulo: Sa-
raiva, 2002.

LIMA, Célia Guedes Faria. Art. 1.052 a 1.149. In. Código Civil Interpretado.
São Paulo: Manole, 2014.

RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial esquematizado. 4. ed.


São Paulo: Método, 2014.

ROSSIGNOLI, Estefânia. Direito empresarial. 4o ed. Salvador: Juspodivm,


2015.

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