Você está na página 1de 37

Com a recente construção de patrimônio pela família brasileira,

que se intensificou a partir dos anos 1980, a classe média se deparou


com o ônus da manutenção desse patrimônio, principalmente no
momento da sucessão, tendo como alternativa para essa sucessão
apenas um processo longo, doloroso e caro denominado inventário.

O trabalho com Holding Familiar é uma área que não tem crise e
está crescendo exponencialmente. Afinal, quando o cenário econômico
está instável você consegue entregar ao seu cliente uma proteção
patrimonial.

O que é Holding Familiar?


Antes de mais nada, temos que deixar claro que Holding não é
uma empresa. Holding Familiar é um sistema, que tem como objetivo
oferecer um planejamento patrimonial, tributário e sucessório, e que
poderá ser estruturado com quantas empresas (células) forem
necessárias, para atender à complexidade patrimonial de determinada
família.

O sistema de
Holding Familiar, veio
para atender a
demanda de
organização e proteção
do patrimônio de uma
família, sendo uma
alternativa ao processo
de inventário.

Contudo, apesar desta necessidade latente, poucos são os


profissionais que efetivamente dominam esse sistema e por isso até
bem pouco tempo atrás esse sistema era utilizado apenas por famílias
que tinham acesso aos serviços das grandes bancas de advocacia,
normalmente famílias com vasto volume patrimonial.

02
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Porém, ao implementar o sistema de Holding Familiar, além de
conseguir organizar, planejar e proteger a estrutura patrimonial de uma
família, conseguimos, também, impedir a ocorrência do inventário.

Origem e fundamento da Holding Familiar


Para uma melhor compreensão do Sistema de Holding Familiar é
necessário o entendimento de sua origem.

O primeiro sinal de um sistema com os parâmetros comparados a


uma Holding nasceu na Inglaterra, com o surgimento da Revolução
Industrial, quando James Watt inventa a primeira máquina a vapor e
gera uma complexidade nas relações humanas.

No fim da primeira etapa e já no início da segunda etapa da


revolução industrial houve reflexos do desenvolvimento tecnológico
dentro das indústrias, surgindo a necessidade de captar maiores
investimentos. Foi quando nasceu uma nova classe social, a empresária.

Essa nova classe social encontrava-se carente de métodos e


sistemas organizacionais, tanto no setor produtivo, quanto nas relações
empresariais. Diante dessa necessidade, os investimentos realizados
nas empresas através das pessoas físicas não eram tributariamente
vantajosos, surgindo, então, a criação de uma sociedade empresária
com o intuito, apenas, de participar em outras companhias. Nascendo
assim, os primeiros sinais do que hoje conhecemos como Holding.

03
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
É com o surgimento do conceito da sociedade empresária que não
se exerce, em tese, atividade econômica, mas que possui, apenas, a
finalidade de controlar ou participar de negócios de outras empresas.

Nos Estados Unidos, o sistema de Holding só se consolidou no ano


de 1888, no Estado de Nova Jersey, onde foi criada uma norma que
proporciona uma maior eficiência tributária.

A partir de então, com essa eficiência tributária que surgiu nos


Estados Unidos, o sistema de Holding se popularizou pelo mundo de
forma muito mais acentuada. A Holding na América do Norte teve tanto
sucesso que foi exportada para a maioria dos países do globo.

Muitos dizem que o termo Holding é derivado do verbo da língua


inglesa, to holding, que em tradução livre significa segurar, portar.
Porém, na verdade, esse termo surge da palavra shareholder, que é uma
palavra de origem inglesa muito comum no ambiente empresarial, e
que em língua portuguesa significa acionista, ou seja, é uma pessoa
que é portadora de ações de outras sociedades. Logo, quando você cria
uma Holding, a sua finalidade será a de ser portadora de ações de
outras empresas.

Já no Brasil, a Holding tem origem em 1976, através da


implementação da Lei de S/As (Lei 6.404/76), possibilitando uma
conotação liberal, trazendo assim inovação para o Estado brasileiro, que
é em sua grande maioria, até hoje, intervencionista. Veja que esse
sistema já existia no mundo há mais de um século.

Vejamos o artigo 2º, §3º, da Lei n.º 6.404/76, que possibilita a criação
desse sistema estabelecendo que:
Artigo 2º. §3º. A companhia pode
ter por objeto participar de outras
sociedades; ainda que não prevista no
estatuto, a participação é facultada
como meio de realizar o objeto social,
ou para beneficiar-se de incentivos
fiscais.
04
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
É o artigo acima que autoriza a criação de uma empresa que tenha
como objeto participação social em outras empresas, sendo que é esse
artigo que autoriza a criação de Holding no Brasil.

Modalidades de Holding
A doutrina conceitua vários tipos de modalidades de Holdings,
sendo algumas como: Holding de participações, Holding imobiliária,
Holding internacional, Holding de controle, dentre outras.

Acontece que, para o nosso Sistema de Holding Familiar, é


necessário ter em mente os seguintes conceitos:
▶ Holding Pura;
▶ Holding Patrimonial;
▶ Holding Mista.

A Holding Pura é conhecida por ser uma sociedade que detenha


participação societária em outras sociedades, substituindo a pessoa
física nesse papel. A finalidade da Holding, em sua essência é pura, ou
seja, é a participação em outras sociedades.

05
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Já a Holding Patrimonial é a sociedade criada com o propósito tão
somente de organizar o patrimônio de um determinado grupo (ou uma
família), sendo que o patrimônio fica em nome da pessoa jurídica e não
da pessoa física.

Ainda nesse mesmo seguimento, temos a Holding Mista que é


quando a Holding ao mesmo tempo que participa de outras
sociedades, também organiza o patrimônio de um indivíduo.

No sistema de Holding Familiar iremos trabalhar com a Holding


Patrimonial, pois dessa forma afastamos o acervo patrimonial da família
dos negócios, evitando quaisquer revés decorrentes desses ambientes.

06
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Soluções que o Sistema de Holding Familiar
entrega ao cliente, em comparação aos
demais instrumentos
O planejamento patrimonial da família no Brasil, ainda, é uma área
pouco conhecida e quando é apresentada ao cliente, muitas das vezes,
é confundida com planejamento financeiro.

Diante dessa problemática,


concluímos que, em última análise,
toda formação patrimonial é
destinada à família. Pois quando
cada pessoa busca a formação de
um patrimônio, essa pessoa busca
uma formação patrimonial sólida e
duradoura, para que esse bem
ultrapasse a sua vida, fica claro que
essa pessoa está construindo algo
para além dela. Por isso que
entendemos que a Holding Familiar
é um instrumento de planejamento
patrimonial da família.

Como uma Holding Familiar evita o inventário


Os bilionários, principalmente os oriundos do cenário empresarial,
jamais passaram pelo processo de inventário, pois estes já utilizam o
sistema sistema de Holding Familiar, para organização do seu
patrimônio.

07
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Essa organização inicia-se
através da institucionalização
do patrimônio, ou seja,
começa a ser realizado através
de uma empresa que,
literalmente, não faça nada, no
momento que o patrimônio
deixa de ser da pessoa física
(CPF) e passa a ser de uma
instituição (PJ).

O titular dos bens transfere seu patrimônio para empresa, mas


permanece no controle, tanto da empresa quanto do seu patrimônio. A
partir do sistema de Holding Familiar, o patrimônio pode ser passado de
geração para geração, sem perda patrimonial através do inventário.

Doação de bens em vida com reserva de usufruto


A doação de bens em vida com reserva de usufruto é um
instrumento utilizado para que uma pessoa ceda gratuitamente a
nua-propriedade de um bem a um terceiro (donatário), reservando para
si o usufruto sobre o referido bem. Esse instrumento é utilizado por
algumas famílias para evitar o inventário.

Acontece que, a doação


em vida dos bens com reserva
de usufruto, faz com que o
titular do patrimônio perca o
controle do bem, sendo que tal
instituto não tem reversão em
caso de arrependimento.

08
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Além do mais, essa opção não garante eficiência tributária em
relação ao ITCMD, sendo que o valor do imposto a ser pago é o mesmo
valor cobrado no inventário, tendo em vista que a base de cálculo para
calcular o ITCMD é o valor de mercado dos bens.

Testamento
O testamento, no ordenamento jurídico brasileiro, é um sistema
obsoleto, já que não impede a realização do inventário e muito menos a
judicialização. O imposto do ITCMD também é cobrado nos mesmos
moldes do inventário.

O grande problema que


as famílias brasileiras
enfrentam com esse processo
é o elevado custo que ele
impõe e também a sua
morosidade. Sem descartar
que é muito comum ter litígios
por parte dos envolvidos.

Seguro de vida e VGBL


Muitas famílias, no intuito de proteger seus filhos, fazem seguro de
vida ou VGBL, que em suma, é dinheiro em espécie que não precisa
passar por inventário, para que seja usado pelos herdeiros para as
despesas com o processo de inventário.

O seguro de vida não pode ter essa finalidade, de arcar com


despesas do inventário. O seguro de vida deve ser usado para dar um
certo conforto aos herdeiros em uns dos momentos mais difíceis das
suas vidas.

09
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Passo a passo do sistema tradicional
com uma célula
O primeiro passo para a constituição da célula cofre é a criação de
uma empresa. Para isso, utilizando o modelo d e contrato social
disponibilizado pela própria Junta Comercial, visando a celeridade do
processo, e estipulando um capital social mínimo, como por exemplo,
mil reais. É nessa empresa que ficará guardado todo o patrimônio da
família.

O objeto da célula cofre, via de regra, será o de participação


societária, seguindo as orientações do artigo 2º, §3º da Lei de S/As, que
diz:

Artigo 2º Pode ser objeto da


companhia qualquer empresa de
fim lucrativo, não contrário à lei, à
ordem pública e aos bons costumes.

§ 3º A companhia pode ter por


objeto participar de outras
sociedades; ainda que não prevista
no estatuto, a participação é
facultada como meio de realizar o
objeto social, ou para beneficiar-se
de incentivos fiscais.

O patrimônio da família será integralizado na empresa em ato


seguinte, isso porque, com base no conhecimento adquirido da prática,
futuramente essa operação facilitará o não pagamento do ITBI.

10
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Empresa que não faz nada. Existe? Pode?

Uma das principais indagações que deparamos é sobre a


possibilidade de existir uma empresa que não desenvolve nenhuma
atividade econômica.

Para melhor compreensão, da possibilidade de se constituir


empresas que não desenvolva nenhuma atividade econômica, olhemos
para o nosso ordenamento jurídico.

Em princípio, a teoria da empresa estabelecida no artigo 966, do


Código Civil, que disciplina que:

Artigo 966º. Considera-se empresário


quem exerce profissionalmente
atividade econômica organizada
para a produção ou a circulação de
bens ou de serviços.

Nota-se que, fica conceituado que o empresário é quem exerce


atividade econômica.

Artigo 967º. É obrigatória a


inscrição do empresário no Registro
Público de Empresas Mercantis da
respectiva sede, antes do início de
sua atividade

Esse artigo estabelece que a criação da empresa é anterior ao


exercício da sua atividade econômica.
11
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Seguindo, assim, o raciocínio, o artigo 982 do Código Civil dispõe
que
Artigo 982º. Salvo as exceções
expressas, considera-se empresária a
sociedade que tem por objeto o
exercício de atividade própria de
empresário sujeito a registro (art.
967); e, simples, as demais.

Ou seja, a sociedade independe do exercício da atividade


econômica, ela apenas precisa ter um objeto que prevê um atividade
econômica para existir e ter validade jurídica.

Diante disso, concluímos, então, que uma empresa pode não


exercer uma atividade econômica, pois o ordenamento jurídico
brasileiro tem toda uma sistemática que possibilita e pressupõem a
existência da empresa.

O que faz a sociedade ser empresária não é o exercício da atividade


econômica e muito menos a realização do seu objeto. O que faz a
sociedade ser empresária é a mera previsão da atividade na descrição
do objeto e o registro na junta comercial.

Essa dedução fica mais clara, através do artigo 2º, §3º da Lei n.º
6.404/1976, que prevê:

Artigo 2º. Pode ser objeto da


companhia qualquer empresa de
fim lucrativo, não contrário à lei, à
ordem pública e aos bons costumes.

§ 3º A companhia pode ter por


objeto participar de outras
sociedades; ainda que não prevista
no estatuto, a participação é
facultada como meio de realizar o
objeto social, ou para beneficiar-se
de incentivos fiscais.
12
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
O exercício de participação societária em outra sociedade por uma
empresa, só pode ser considerado evento futuro, tendo em vista, por
óbvio, que só uma sociedade que já existe poderá participar de alguma
outra empresa.

Além disso, a permissão para existir empresa sem atividade


econômica vem da ausência de proibição ou de penalidade.

Qual CNAE usar na célula cofre?


O objeto social de uma sociedade é a indicação das atividades que
serão realizadas por ela e serve como parâmetro para a definição do
código CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), que é
um sistema adotado pelo IBGE e que indica a atividade desenvolvida
por uma empresa.

Vale observar que o IBGE analisa as atividades que as sociedades


empresárias estão desenvolvendo e a partir disso estabelece a sua
classificação. Esse código também é utilizado pela Receita Federal para
definir a tributação.

13
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Na constituição do Sistema de
Holding Familiar, é possível utilizar o
CNAE 6462-0/00 (Holdings de
instituições não financeiras). Ocorre
que, esse não é o único CNAE que
pode ser atribuído no momento da
constituição do sistema. É possível
atribuir CNAE diverso, a depender
do caso concreto.

EXERCÍCIO 2:

Transferência do Patrimônio
para a célula cofre
A transferência do patrimônio da família para a célula cofre é
realizada através da integralização dos bens imóveis da pessoa física
para pessoa jurídica (célula cofre).

14
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Essa transferência dos bens
para a célula cofre, será realizada
através do aumento de capital social
com a integralização dos bens da
família.

O valor que será utilizado nessa integralização, será o constante na


Declaração de Imposto de Renda da Pessoa Física, conforme
possibilidade prevista no artigo 42 do Decreto 9.580/18. Vejamos:

Artigo 142º. As pessoas físicas


poderão transferir a pessoas jurídicas, a
título de integralização de capital, bens
e direitos, pelo valor constante da
declaração de bens ou pelo valor de
mercado.

Logo, utilizamos esse mecanismo visando eficiência tributária.

15
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
ITBI na institucionalização do patrimônio
A despeito da integralização do capital social por meio de bens
imóveis, ser um ato oneroso e que, em princípio, impõe a incidência do
ITBI, no Sistema de Holding Familiar, não há que se falar nessa
tributação em razão da imunidade prevista no artigo 156, §2º, I da
Constituição Federal, que disciplina que:

Artigo 156º.§ 2º O imposto previsto


no inciso II (ITBI):

I - não incide sobre a transmissão de


bens ou direitos incorporados ao
patrimônio de pessoa jurídica em
realização de capital [...]

Importante se atentar a exceção que esse mesmo dispositivo traz:

[...], salvo se, nesses casos, a


atividade preponderante do
adquirente for a compra e venda
desses bens ou direitos, locação de
bens imóveis ou arrendamento
mercantil;

Nos casos em que a sociedade empresária exerça


preponderantemente atividade imobiliária, ou seja, mais de 50% da
receita operacional, não terá direito à imunidade do ITBI.

16
Prof. Marcio Car valh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Acontece que a limitação, prevista acima, não perdura
eternamente, ficando restrita ao lapso temporal de que cuida o artigo
37, §1º do Código Tributário Nacional, vejamos:

Artigo 37º. §1º Considera-se


caracterizada a atividade
preponderante referida neste artigo
quando mais de 50% (cinquenta por
cento) da receita operacional da pessoa
jurídica adquirente, nos 2 (dois) anos
anteriores e nos 2 (dois) anos
subsequentes à aquisição, decorrer de
transações mencionadas neste artigo.

Já o artigo 37, §2º, discorre sobre empresas novas, que é o nosso


caso, vejamos:
Artigo 37º. § 2º Se a pessoa jurídica
adquirente iniciar suas atividades após
a aquisição, ou menos de 2 (dois) anos
antes dela, apurar-se-á a
preponderância referida no parágrafo
anterior levando em conta os 3 (três)
primeiros anos seguintes à data da
aquisição.

Diante disso, para que não haja cobrança do ITBI nessa operação, a
célula cofre só poderá exercer atividade imobiliária após 03 anos

Transferência de quotas aos herdeiros.


O terceiro passo consiste na realização de nova alteração
contratual, agora, prevendo a doação das quotas, com reserva de
usufruto, aos herdeiros do seu cliente.

17
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Essa doação, por não ser
do próprio bem (imaginemos
um bem imóvel, por exemplo)
mas sim das quotas da
empresa, obedecerá às regras
do Direito Empresarial, mais
precisamente das normas das
Sociedades Anônimas.

Porém, os efeitos desta doação não são imediatos, pois nesse


Sistema é estabelecido um gatilho e ele só é disparado quando ocorre o
falecimento do titular do patrimônio. A partir desse momento,
automaticamente, os herdeiros passarão a ser donos de tudo, ou seja,
das quotas. A chave do cofre passará a ser dos filhos.

Sabemos que a doação,


assim como a morte, é fato
gerador do ITCMD (Imposto
sobre Transmissão Causa
Mortis e Doação), mas o
grande diferencial, no sistema
de Holding Familiar, é a base
de cálculo considerada para a
incidência desse imposto.

18
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Para fins comparativos, vejamos a tabela abaixo com o impacto
tributário (ITCMD) no Inventário e no Sistema de Holding Familiar:

Sistema Patrimônio Base de Valor da BC Alíquota Valor Alíq.


Cálculo

Inventário R$ 2 milhões Valor de R$ 2 milhões 8% R$ 160 mil


Mercado

Holding R$ 2 milhões Valor da R$ 450 mil 4% R$ 18 mil


DIRPF

O ITCMD é um tributo de competência Estadual, logo cada Estado


terá sua previsão quanto a base de cálculo e alíquota incidente. No
exemplo acima consideramos como referência o Estado do Rio de
Janeiro.

No Inventário, a base de
cálculo para o ITCMD é o valor
de mercado do patrimônio
(geralmente muito superior
ao valor de aquisição do bem),
ao passo que no Sistema de
Holding Familiar, a base de
cálculo é o valor histórico do
patrimônio, o que resulta em
uma base de cálculo menor
para a incidência da alíquota.

Logo, a primeira diferença que notamos entre o Sistema de


Holding Familiar e o Inventário, é a economia financeira de
aproximadamente 90% com o ITCMD. Além disso, no Sistema de
Holding Familiar é possível fragmentar os atos para possibilitar que
essas despesas sejam pagas parceladamente.

19
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Outro ponto importante
a ser observado, é que quando
não ocorre um planejamento
patrimonial da família,
dificilmente os herdeiros terão
o valor correspondente para
arcar com todas as custas do
processo de Inventário (aqui
vimos somente o custo com o
ITCMD), gerando nesse caso
perda patrimonial.

Já no Sistema de Holding Familiar, seu cliente poderá realizar o


planejamento patrimonial, tributário e sucessório com seus próprios
rendimentos, sem ocasionar essa perda.

Reserva de usufruto na transferência


de quotas aos herdeiros
A reserva de usufruto, que por ocasião da doação, somente é
transmitida a propriedade da quota, ficando os frutos em favor
daqueles que constituem o sistema, o que se extingue somente no
momento do falecimento dos titulares da herança.

Cláusulas elementares na Transferência


de quotas
As cláusulas essenciais no momento da transferência das quotas
sociais aos herdeiros são oriundas do direito empresarial. Essas
cláusulas são comuns no cenário das sociedades anônimas, inclusive
costumamos chamá-las de cláusulas especiais, são elas:

20
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Administração Permanente

Direitos Políticos

Mandato

Call Option

Golden Share
Proteção Patrimonial x Blindagem Patrimonial
A proteção patrimonial configura-se, principalmente, na cláusula
de impenhorabilidade que é estabelecida no momento da doação das
quotas, com base no artigo 833, inciso I do Código de Processo Civil. Tal
cláusula é utilizada para que eventuais problemas financeiros dos
herdeiros não recaiam sobre o patrimônio que compõem o Sistema da
Holding Familiar.

Entretanto, afirmar que em nosso ordenamento jurídico existe


blindagem patrimonial é um erro. Vejamos a alteração legislativa
trazida pela Lei da Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019), que inseriu o
artigo 49-A no Código Civil, estabelecendo que:

Artigo 49-Aº. A pessoa


jurídica não se confunde com os
seus sócios, associados,
instituidores ou administradores.
Parágrafo único. A autonomia
patrimonial das pessoas
jurídicas é um instrumento lícito
de alocação e segregação de
riscos, estabelecido pela lei com
a finalidade de estimular
empreendimentos, para a
geração de empregos, tributo,
renda e inovação em benefício
de todos.

Veja que essa alocação e segregação de riscos é conferida apenas


à pessoa jurídica. Porém, nesse mesmo contexto, o artigo 421-A do
Código Civil, também inserido pela Lei da Liberdade Econômica,
disciplina que:

22
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Artigo 421-A. Os contratos
civis e empresariais
presumem-se paritários e
simétricos até a presença de
elementos concretos que
justifiquem o afastamento dessa
presunção, ressalvados os
regimes jurídicos previstos em
leis especiais, garantido também
que:

I - as partes negociantes poderão


estabelecer parâmetros objetivos
para a interpretação das
cláusulas negociais e de seus
pressupostos de revisão ou de
resolução;

II - a alocação de riscos definida


pelas partes deve ser respeitada
e observada; e

III - a revisão contratual somente


ocorrerá de maneira excepcional
e limitada.

Tal dispositivo se restringe apenas à alocação de riscos, não


mencionando a segregação. Além disso, faz menção à “partes”, sem
diferenciar pessoa física ou jurídica, logo cabe para ambas. Com base
nisso, fica evidente que tratando-se de pessoa física (que é o cerne da
questão, já que ela que implementa o Sistema de Holding Familiar), não
há que se falar em blindagem patrimonial, mas sim proteção.

23
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Cláusulas especiais
No sistema de Holding Familiar a doação das quotas com reserva
de usufruto é o fato que impede a ocorrência do inventário, mas para
que os pais não sofram os mesmos obstáculos da doação pura e
simples, ordinariamente utilizada, utilizamos alguns critérios que
conferem maior segurança e conforto ao titular do patrimônio.

Para a constituição do Sistema de Holding Familiar existe a


necessidade de inclusão de algumas cláusulas que consideramos
imprescindíveis, cláusulas estas encontradas tanto na área do Direito
Empresarial quanto na área do Direito Civil.

As cláusulas que importamos do Direito Civil para a constituição


do Sistema de Holding Familiar são:

Inalienabilidade

Impenhorabilidade

24
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Incomunicabilidade

Reversão

O poder do acordo de sócios


O acordo de sócios é um
contrato celebrado entre os
sócios de uma empresa. No
sistema de Holding Familiar
ele será celebrado entre os
pais (usufrutuários das
quotas) e seus herdeiros, com
o objetivo definir quem ficará
com o que, permitindo que a
sucessão seja fidedigna à
vontade dos titulares do
patrimônio. Além disso, outra
vantagem, é que através do
acordo de sócios é possível
definir a gestão dos negócios,
que o cliente possa ter.
25
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
No acordo de sócios é que são ditadas as diretrizes da sucessão, ou
seja, é nesse acordo que fica estabelecido a vontade do pai, quem vai
gerir os negócios, quais bens ficam com quem. O acordo de sócios é
onde o titular do bem exprime todos seus desejos em relação ao seu
patrimônio após seu falecimento.

Holding Familiar com prazo determinado


As sociedades empresárias, via de regra, são criadas com prazo
indeterminado, porém na intenção de garantir os 110% de proteção aos
clientes na constituição do Sistema de Holding Familiar, atribuímos o
prazo determinado no contrato social da célula cofre.

Isso ocorre para proteger


o titular do patrimônio de
passar pelo dissabor de um
herdeiro requerer a dissolução
da sociedade e, em
decorrência disso, a extinção
do usufruto. Sendo este mais
um mecanismo de proteção
do Sistema de Holding
Familiar.

Veja a disposição legal do artigo 1.029 do Código Civil:

Artigo 1.029º. Além dos casos


previstos na lei ou no contrato,
qualquer sócio pode retirar-se da
sociedade; se de prazo indeterminado,
mediante notificação aos demais
sócios, com antecedência mínima de
sessenta dias; se de prazo
determinado, provando judicialmente
justa causa.”
26
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Sendo assim, quando a sociedade tem prazo determinado, o
herdeiro não poderá dissolver a sociedade sem comprovação de justa
causa. E sabemos que, judicialmente, a justa causa são casos
excepcionais e não de mera alegação de contrariedade. Isso é
estabelecido pensando sempre em 110% de proteção ao cliente.

Filhos menores, incapazes e filhos


fora do casamento
Algumas famílias que buscam a realização da Holding Familiar
têm filhos oriundos de outro núcleo familiar, não atrapalhando em
nenhum momento a realização do sistema ou ferindo a legítima,
prevista no Código Civil.

Os filhos oriundos de
outros núcleos (filhos de
outros casamentos) podem
ou não participar da
composição do Sistema de
Holding Familiar, o que vai
depender da vontade do
titular do patrimônio, contudo
um fator determinante que
deve ser destacado é que o
sistema não pode de forma
alguma afrontar a legítima,
sob pena de ser anulado.

Outra peculiaridade no sistema em roga é quando existem filhos


menores ou incapazes, sendo que estes podem participar
normalmente do sistema de Holding Familiar, desde que estejam
representados ou assistidos. Vejamos o que dispõe o artigo 974 §3 do
Código Civil:

27
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Artigo 974º. §3º O Registro Público
de Empresas Mercantis a cargo das
Juntas Comerciais deverá registrar
contratos ou alterações contratuais de
sociedade que envolva sócio incapaz,
desde que atendidos, de forma
conjunta, os seguintes pressupostos:

I – o sócio incapaz não pode exercer a


administração da sociedade;

II – o capital social deve ser totalmente


integralizado;

III – o sócio relativamente incapaz


deve ser assistido e o absolutamente
incapaz deve ser representado por
seus representantes legais.

Pessoas casadas em comunhão


universal de bens
Os casamentos celebrados na vigência do Código Civil de 1916
tinham como regime de bens padrão, o que hoje equivale à comunhão
universal, sendo este padrão alterado com o advento da Lei do Divórcio,
de modo que a partir de 1977 passou a ser o da comunhão parcial de
bens.

O Código Civil, em seu artigo 977, prevê que os cônjuges casados


em comunhão universal de bens e na separação obrigatória, não
podem constituir sociedade entre si. Vejamos:

28
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Artigo 977º. Faculta-se aos
cônjuges contratar sociedade, entre si
ou com terceiros, desde que não
tenham casado no regime da
comunhão universal de bens, ou no da
separação obrigatória.

A proibição mencionada
no artigo acima não impede a
realização do Sistema de
Holding Familiar, pois neste
caso a sociedade será
constituída com apenas um
dos cônjuges (limitada
unipessoal), porém ambos
serão administradores.

Para que não haja qualquer nulidade na constituição do Sistema


de Holding Familiar, aquele cônjuge que não está formalmente na
sociedade confere sua anuência e, logo em seguida, é realizado o
planejamento sucessório com a doação das quotas aos herdeiros.

Caso um dos cônjuges não se sinta confortável com a alternativa


acima, utilizamos a instituição do condomínio de quotas nos termos do
artigo 1.056, §1º do Código Civil.

29
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Como lidar com imóveis de locação?
O exercício da atividade econômica por uma sociedade está
envolvido direta ou indiretamente em uma série de riscos que são
inerentes ao próprio negócio. Por vezes esses riscos se tornam tão
sensíveis que acabam envolvendo o patrimônio pessoal da família que
desempenha alguma atividade econômica.

Os riscos inerentes a qualquer atividade econômica, na maioria


das vezes, recaem sobre o patrimônio pessoal, que sequer tinha sido
obtido durante a construção do cenário de risco empresarial ou mesmo
em decorrência dele.

Diante desse viés e


visando evitar esses riscos, é
que o Sistema de Holding
Familiar aparece como um
protetor do patrimônio
pessoal dos sócios de uma
empresa, dentro das
disposições que a lei permite.

Para as famílias que desempenham atividades empresariais, o


sistema de Holding Familiar deve ser estruturado com dois
microssistemas: um que abrigará o acervo patrimonial da família e
outro que abrigará a atividade econômica.

Em ambos microssistemas é realizado o planejamento sucessório


e entre eles não é criado nenhum vínculo, guarnecendo com isso o
patrimônio da família, que não se confunde com o acervo da atividade
econômica.

30
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
O objetivo do contrato de locação, ao contrário do que ocorre na
compra e venda, não é a transferência de propriedade, e sim da posse. O
locatário passa a ser o possuidor do direito do imóvel, conservando o
locador a posse indireta.

O artigo 1.225 do Código Civil estabelece que:

Art. 1.225º. São direitos reais:

I - a propriedade;
II - a superfície;
III - as servidões;
IV - o usufruto;
(...)

O artigo acima
estabelece quais são os
direitos reais no ordenamento
brasileiro. Acontece que,
nesse rol não se encontra a
posse, ou seja, a posse é um
direito pessoal.

Outro indicativo nesse sentido, é previsto no artigo 10 da Lei


8245/91 (Lei do Inquilinato), que descreve que morrendo o locador, a
locação transmite-se aos herdeiros.

Na morte do titular do direito, quando envolve direito real,


transmite-se ao espólio, ou seja, é transmitido direto aos herdeiros, os
direitos pessoais.

31
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Segundo preceitua o professor Sylvio Capanema, justamente
porque não se trata de ato translativo de domínio, não se exige do
locador que seja o titular da propriedade do imóvel locado,
bastando-lhe ter a sua posse e dela poder dispor.

Tendo a locação natureza jurídica de relação de direito pessoal, não


existe a obrigatoriedade de ser realizada pelo proprietário do imóvel.

JURISPRUDÊNCIA DO STJ (RESP


1196824)
[..] LOCAÇÃO. NATUREZA JURÍDICA.
DIREITO PESSOAL. AÇÃO DE
DESPEJO [...] LEGITIMIDADE ATIVA.
PROVA DA PROPRIEDADE.
DESNECESSIDADE. [...] 1. Tendo em
vista a natureza pessoal da relação
de locação, o sujeito ativo da ação de
despejo identifica-se com o locador,
assim definido no respectivo
contrato de locação, podendo ou
não coincidir com a figura do
proprietário.

Com isso, a solução para realizar a locação de imóveis dentro do


Sistema de Holding Familiar, é a constituição de mais uma célula, que
chamamos de célula operacional, que ficará responsável por realizar
essa atividade. Porém, essa atividade também poderá ser exercida pela
pessoa física do seu cliente.

O que ou quem vai delimitar a escolha pela criação da célula


operacional ou não, é o próprio cliente munido das informações
necessárias, principalmente sobre a diferença tributária envolvida nessa
operação.

32
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
Nesse contexto, o patrimônio será integralizado na célula cofre e a
célula operacional irá exercer a atividade de locação. Entre elas surge
uma relação jurídica de cessão de uso onerosa. Observa-se que, esta
cessão deve ser onerosa para que não haja o fato gerador do imposto de
renda. Veja o que dispõe o Artigo 41, §1 do Decreto 9.580/18
(Regulamento do Imposto de Renda):

Artigo 41º, §1º. Na hipótese de


imóvel cedido gratuitamente,
constitui rendimento tributável na
declaração de ajuste anual o
equivalente a dez por cento do seu
valor venal[...].

Considerando que é possível o legislador aplicar a mesma regra da


pessoa física, citada no artigo anterior, à pessoa jurídica, isso garantirá
os 110% de proteção ao cliente, tendo em vista que estará estabelecido
uma relação de comutatividade nessa operação.

33
Prof. Marcio Car va lh o d e S á , Tim e H old in g Bra sil, H old in g Tota l, M a io d e 2023 .
INSIGHTS DÚVIDAS APRENDIZADOS
INSIGHTS DÚVIDAS APRENDIZADOS
INSIGHTS DÚVIDAS APRENDIZADOS

Você também pode gostar