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Advertência

As hipóteses de resposta que são apresentadas seguidamente servem de apoio às aulas práticas de
Direito Fiscal, tendo por base a bibliografia de referência, pelo que traduzem as opiniões
expressas nessa bibliografia e, como tal, não têm pretensão de originalidade científica. São
disponibilizadas às/aos estudantes com fins exclusivamente pedagógicos e não dispensam a
frequência das aulas nem a consulta da bibliografia.
Aulas práticas de Direito Fiscal – 2021/22

IRS:

1. Explique, fazendo apelo à legislação relevante, a seguinte afirmação: “O IRS é um


imposto anual, baseado numa estrutura classificatória, com regimes geral e específicos”.

Critérios de correção:
§ Noção do IRS;
§ Anualidade: artigos 1.º e 143.º CIRS;
§ Estrutura classificatória: diferentes categorias de rendimentos (artigo 1.º CIRS);
§ Breve referência aos rendimentos incluídos em cada categoria (artigos 2.º, 2.º-A, 3.º, 5.º,
8.º, 9.º e 11.º CIRS);
§ Regime geral: englobamento (artigo 22.º CIRS) e deduções à coleta (artigo 78.º CIRS);
§ Regimes específicos: deduções específicas de cada categoria de rendimento (artigos 20.º,
n.º 6; 25.º; 31.º, n.º 2; 41.º; 53.º CIRS);
§ Ausência de deduções específicas na categoria E;
§ Distinção entre deduções específicas e deduções à coleta.

Resolução:
O IRS é um imposto incidente sobre o valor anual dos rendimentos dos contribuintes
singulares, depois de efetuadas as deduções a que haja lugar. O rendimento tributável é apurado
após a sujeição das diferentes categorias de rendimento às regras estipuladas no CIRS e feitas as
correspondentes deduções a essas categorias específicas de rendimentos.
Como decorre da afirmação em análise, o IRS é um imposto anual, ou seja, incide sobre
os rendimentos obtidos pelos contribuintes durante 1 ano. Isso mesmo resulta do artigo 1.º CIRS,
que, no seu corpo, declara que o IRS “incide sobre o valor anual dos rendimentos”. Para estes
efeitos, importa ter em conta o artigo 143.º CIRS, nos termos do qual o ano fiscal coincide com o
ano civil.
No que respeita à estrutura classificatória deste imposto, esta resulta evidente no referido
artigo 1.º CIRS, segundo o qual existem várias categorias de rendimento sujeitas a IRS. Está em
causa a incidência material/real do IRS. O legislador não tributa globalmente todo o rendimento,
mas antes através de categorias, o que permite atribuir diferentes regimes: A – trabalho
dependente; B – trabalho independente (empresários e profissionais); E – rendimentos de capitais
(ex.: lucros, dividendos); F – rendimentos prediais (ex.: rendas); G – incrementos patrimoniais
(mais valias); H – rendimentos de pensões.

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Cada uma das categorias inclui os rendimentos que se encontram legalmente previstos.
Os rendimentos da categoria A encontram-se exaustivamente previstos nos artigos 2.º e 2.º-A
CIRS, compreendendo as remunerações principais e acessórias, fixas ou variáveis, periódicas ou
ocasionais, pagas ou postas à disposição do trabalhador. Os empresários e profissionais incluem-
se na categoria B, encontrando-se tais rendimentos elencados no artigo 3.º CIRS. Os rendimentos
da categoria E estão previstos no artigo 5.º CIRS, incluindo-se juros, dividendos, ganhos
decorrentes de instrumentos financeiros derivados, etc. Os rendimentos da categoria F estão
elencados no artigo 8.º CIRS, consistindo, essencialmente, nas rendas dos prédios rústicos,
urbanos e mistos pagas ou colocadas à disposição dos respetivos titulares. Os rendimentos da
categoria G encontram-se elencados no artigo 9.º CIRS, tratando-se das mais valias, dos
acréscimos patrimoniais não justificados e outros de natureza incerta ou variável (ex.: prémio de
jogo), etc. Os rendimentos da categoria H estão previstos no artigo 11.º CIRS, consistindo,
essencialmente, nas prestações devidas a título de pensões de aposentação ou reforma, velhice,
invalidez, sobrevivência ou alimentos. A tributação das pensões existe porque, enquanto
trabalhador ativo, o contribuinte teve a possibilidade de deduzir as contribuições obrigatórias para
a SS.
Relativamente ao regime geral do IRS, ou seja, ao regime que conforma as diferentes
categorias de rendimentos sem atender às suas especificidades, há que atender a dois aspetos
distintos. Por um lado, todas as categorias são sujeitas à técnica do englobamento, consagrada no
artigo 22.º CIRS, que se traduz no facto de o rendimento líquido total consistir na soma dos
rendimentos específicos do contribuinte após as deduções permitidas em cada uma das categorias.
Por outro lado, as deduções à coleta integram também o regime geral. As deduções são específicas
quando incidem sobre cada uma das categorias de rendimentos, especialmente consagradas. As
deduções são à coleta quando incidem sobre o montante de imposto calculado após efetuadas as
deduções ao rendimento e aplicadas as taxas. São admitidas por razões de política social, familiar
e cultural. Encontram-se previstas no artigo 78.º CIRS, destacando-se deduções com despesas
gerais familiares, despesas com saúde, despesas com educação, encargos com imóveis, dupla
tributação internacional, etc. Assim sendo, a coleta não é o imposto final porque pode haver lugar
a deduções, podendo ser chamada de imposto provisório.
Quanto aos regimes específicos, chamam-se à colação as especificidades de cada uma das
categorias de rendimentos em relação às demais, destacando-se, neste âmbito, as deduções
específicas. As categorias de rendimentos, com exceção da categoria E (não existe nenhum artigo
que preveja deduções específicas para esta categoria), admitem deduções específicas. Na
categoria A, rege o artigo 25.º CIRS, admitindo deduções específicas relacionadas com as
contribuições obrigatórias para a SS, com as quotizações sindicais, etc. Na categoria B, admite-
se a dedução das contribuições obrigatórias para regimes de proteção social (artigos 20.º, n.º 6 e
31.º, n.º 2 CIRS). Na categoria F, são dedutíveis encargos com o condomínio, IMI e IS e gastos

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relativos a obras de conservação e manutenção, nos termos do artigo 41.º CIRS. No caso da
categoria H, o artigo 53.º CIRS prevê as deduções de 4104€, das quotizações sindicais e das
contribuições obrigatórias para regimes de proteção social e para subsistemas legais de saúde.

2.
2.1 Identifique a categoria G no CIRS.
Encontra-se consagrada no artigo 9.º CIRS. Trata-se das mais valias, dos acréscimos
patrimoniais não justificados e outros de natureza incerta ou variável, etc. O conceito de mais
valia está previsto no artigo 10.º CIRS. As mais valias são valorizações dos imóveis e móveis,
podendo ser latentes ou realizadas. As latentes são expressas na contabilidade, sendo registada
qualquer valorização (ex.: A é proprietário de um prédio e, devido à dinâmica do mercado, o
prédio valoriza-se, mas A não o pretende transacionar). As mais valias realizadas ligam-se aos
resultados de transações onerosas e só estas relevam para efeitos ficais, ao passo que as mais
valias latentes relevam para efeitos de contabilidade.

2.2 Qualifique os seguintes rendimentos em sede de IRS:


a) subsídios de residência – são remunerações acessórias, previstas no artigo 2.º, n.º 3, alínea b),
4 CIRS. Nas remunerações acessórias, compreendem-se “todos os direitos, benefícios ou regalias
não incluídos na remuneração principal que sejam auferidos devido à prestação principal ou em
conexão com esta e constituam para o respetivo beneficiário uma vantagem económica”.
b) ajudas de custo – são rendimentos decorrentes do trabalho dependente, integrando a categoria
A, nos termos do artigo 2.º, n.º 3, alínea d) CIRS (ex.: transporte).
c) os auferidos por conta própria – são rendimentos de trabalho independente (artigo 3.º, n.º 1
CIRS).
d) juros – são rendimentos de capitais (artigo 5.º, n.º 1 e n.º 2, alínea a) CIRS). Juridicamente,
são frutos civis.
e) rendas – são rendimentos prediais (artigo 8.º, n.ºs 1 e 2 CIRS).
f) mais valias – são incrementos patrimoniais, portanto pertencentes à categoria G (artigo 9.º, n.º
1, alínea a) CIRS).

3. Explique a técnica de englobamento, dando exemplos de deduções específicas nas


diferentes categorias de rendimentos.

Critérios de correção:
§ Noção da técnica de englobamento (artigo 22.º CIRS);
§ Noção de deduções específicas;
§ Exemplos de deduções específicas para cada uma das categorias;

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§ Ausência de deduções específicas na categoria E.

Resolução:
A técnica de englobamento encontra-se prevista no artigo 22.º CIRS. Consubstancia-se
no facto de o rendimento líquido total consistir na soma dos rendimentos específicos do
contribuinte após as deduções permitidas em cada uma das categorias. Obtém-se, assim, o
rendimento total líquido.
As deduções específicas incidem sobre cada uma das categorias de rendimentos,
individualmente consideradas. Não existem deduções específicas na categoria E.
Exemplos de deduções específicas:
§ Categoria A – 4104€, quotizações sindicais, indemnizações pagas pelo trabalhador à
entidade patronal a título de rescisão unilateral do contrato de trabalho (artigo 25.º CIRS);
§ Categoria B – dedução das contribuições obrigatórias para regime de proteção social
(artigos 20.º, n.º 6 e 31.º, n.º 2 CIRS);
§ Categoria F – gastos com o condomínio, IMI, IS, gastos com obras de conservação e
manutenção do prédio (artigo 41.º CIRS);
§ Categoria H – 4104€ e quotizações sindicais (artigo 53.º CIRS).

4. Determine o rendimento tributável em sede da categoria B.

Critérios de correção:
§ Temática do IRS;
§ Rendimentos incluídos na categoria B (artigo 3.º CIRS);
§ Dedução específica das contribuições para o regime de proteção social (artigos 20.º, n.º
6 e 31.º, n.º 2 CIRS);
§ O rendimento é apurado através de um dos regimes a que ficam sujeitos estes
contribuintes: contabilidade organizada ou regime simplificado (artigos 28.º, 31.º e 32.º
CIRS).

Resolução:
A categoria B, em sede de IRS, diz respeito aos trabalhadores independentes. Abrange os
rendimentos previstos no artigo 3.º, n.º 1 CIRS: “decorrentes do exercício de qualquer atividade
comercial, industrial, agrícola [...]; auferidos no exercício, por conta própria, de qualquer
atividade de prestação de serviços [...]; provenientes da propriedade intelectual ou industrial [...]”.
A este propósito, importa ter em conta o artigo 3.º, n.º 4 CIRS que exclui os rendimentos de
atividades agrícolas, silvícolas e pecuárias de baixo valor, tratando-se de um benefício fiscal. O

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momento de sujeição a tributação está previsto no n.º 6 do mesmo artigo, relacionando-se com a
emissão de fatura.
Como visto anteriormente, podem deduzir-se as contribuições obrigatórias para regime
de proteção social (artigos 20.º, n.º 6 e 31.º, n.º 2 CIRS).
Os trabalhadores independentes não ficam sujeitos a retenção na fonte, pelo que os seus
rendimentos e despesas podem ser determinados com base no regime de contabilidade organizada
ou no regime simplificado. Estes trabalhadores fazem pagamentos por conta, ou seja, pagamentos
faseados do imposto ao longo do ano, nos termos do artigo 102.º CIRS. Os pagamentos por conta
baseiam-se nos rendimentos do ano anterior.
O regime de contabilidade organizada implica a contratação de um contabilista para tratar
da contabilidade, aplicando-se as regras do CIRC, por força da remissão do artigo 32.º CIRS. O
regime simplificado aplica-se aos contribuintes que tenham rendimento ilíquido não superior a
200 mil €, nos termos do artigo 28.º CIRS. Este regime foi criado para pequenos negócios, não
ficando estes sujeitos a contabilidade organizada, pelo que se tributam os coeficientes de
rendimento, identificados no artigo 31.º CIRS, ou seja, parte do rendimento é tributada e outra
parte fica isenta; neste regime, a AT não avalia os gastos porque se assume a aproximação de
despesas com o facto de se tributar apenas parte do rendimento. Até 200 mil €, o contribuinte
pode, contudo, optar pelo regime de contabilidade organizada (artigo 28.º, n.º 3 CIRS). Assim
sendo, o regime simplificado tributa rendimentos ilíquidos parcialmente e não admite gastos.

5. Com base na definição de sistema fiscal, explique a tributação dos dividendos em sede de
IRS.

Critérios de correção:
§ Noção de sistema fiscal;
§ Conceito de dividendos;
§ Problema da dupla tributação;
§ Diferentes soluções com base em diferentes sistemas (ex.: artigos 40.º-A; 39.º-A; 71.º, n.º
1, alínea a); 78.º, n.º 1, alínea j) CIRS);
§ Explicação sucinta dos sistemas em questão.

Resolução:
Os dividendos são rendimentos de capitais. A empresa obtém lucro e pode distribuí-lo
pelos sócios ou retém os lucros (reservas). Caso o lucro seja distribuído pelos sócios, o montante
transforma-se em dividendos para os sócios, pelo que os dividendos são lucros distribuídos, o que
entrará na categoria E quando os sócios pagarem IRS, nos termos do artigo 5.º, n.º 2, alínea h)
CIRS.

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O sistema fiscal visa tratar do problema relacionado com o facto de os lucros distribuídos
estarem sujeitos a dois níveis de tributação: ao nível da sociedade e, posteriormente, ao nível do
sócio, visto que os dividendos são transferidos aos sócios pela sociedade.
Em sede de IRS, de uma forma complexa e contrária ao princípio da simplicidade, o
legislador consagrou várias soluções. Assim, por força do disposto nos artigos 40.º-A e 39.º-A
CIRS, os lucros devidos por pessoas coletivas sujeitas e não isentas de IRC são, no caso da opção
pelo englobamento, considerados em apenas 50% do seu valor, pelo que se consagra aqui um
sistema de isenção parcial. Por outro lado, está também consagrado um sistema de imputação, na
medida em que o artigo 71.º, n.º 1, alínea a) CIRS sujeita estes rendimentos a uma taxa liberatória
de 28%. O mesmo sistema está consagrado no artigo 78.º, n.º 1, alínea j) CIRS que prevê uma
dedução à coleta relativa à dupla tributação internacional. Vide p. 139 do manual adotado
No sistema de isenção, os lucros distribuídos são tributados ao nível da sociedade e
isentos nas mãos dos sócios. Há uma isenção material, diferente da isenção pessoal, visto que
incide apenas sobre o rendimento.
O sistema de imputação pode ser parcial ou total. Num sistema de imputação total, o IRC
pago é totalmente creditado ou reembolsado ao sócio individual, mitigando-se a dupla tributação
dos dividendos. Diversamente, num sistema de imputação parcial, os sócios que recebem
dividendos beneficiam de um crédito parcial que reflete apenas uma parte do imposto subjacente
aos dividendos (IRC).

6. Diferencie as taxas liberatórias das taxas especiais com base nos rendimentos aos quais
se aplicam em sede de IRS.

Critérios de correção:
§ Noção de taxa liberatória;
§ Noção de taxa especial;
§ A questão da progressividade do sistema fiscal;
§ A diferença está na retenção na fonte (taxas liberatórias).

Resolução:
As taxas gerais de IRS são as previstas no artigo 68.º CIRS, consagrando a
progressividade do sistema, em cumprimento do artigo 104.º, n.º 1 CRP.
As taxas especiais são taxas proporcionais. Em sentido amplo, abarcam as taxas
liberatórias (artigo 71.º CIRS), as taxas especiais (artigo 72.º CIRS) e as taxas de tributação
autónoma (artigo 73.º CIRS). Incidem sobre rendimentos (ex.: mais valias) ou transações em
especial.

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As taxas especiais em sentido estrito estão previstas no artigo 72.º CIRS, aplicando-se a
algumas mais valias e a alguns rendimentos prediais. São rendimentos não sujeitos a retenção na
fonte.
As taxas liberatórias encontram-se consagradas no artigo 71.º CIRS, sujeitando a retenção
na fonte alguns rendimentos de capitais.
A diferença entre estas duas taxas encontra-se, portanto, na retenção na fonte. No caso
das taxas liberatórias, a tributação é efetuada à parte, a taxa incide sobre o rendimento bruto, o
rendimento é taxado diretamente na fonte, no momento em que é pago e não é necessário declarar
o rendimento na declaração de IRS. Já na taxa especial, a tributação é efetuada à parte, o
rendimento é taxado no momento da liquidação anual do imposto e é obrigatório declarar o
rendimento na declaração de IRS.

7. Explique o regime fiscal e o fundamento para a aplicação de taxas de tributação


autónoma.

Critérios de correção:
§ Noção de taxa de tributação autónoma (artigo 73.º CIRS);
§ Procuram combater a fraude e a evasão fiscal, arrecadando, paralelamente, receita.

Resolução:
As taxas de tributação autónoma são as taxas de imposto que incidem sobre despesas (ex.:
despesas confidenciais ou não documentadas, despesas relativas a pessoas singulares ou coletivas
residentes fora do território nacional e submetidas a um regime fiscal claramente mais favorável)
e não sobre rendimentos. Estão previstas no artigo 73.º CIRS, aplicando-se uma taxa de 50%. O
objetivo é combater a fraude e a evasão fiscal, arrecadando, paralelamente, receita.

8. Dê exemplos de deduções à coleta em sede de IRS.

Critérios de correção:
§ Noção de dedução à coleta;
§ Alguns exemplos de entre os artigos 78.º e ss. CIRS.

Resolução:
Para a noção de dedução à coleta, vide questões anteriores.
Exemplos: montantes definidos para cada ascendente ou descendente (artigo 78.º-A
CIRS), despesas de saúde (artigo 78.º-C CIRS), despesas de formação e educação (artigo 78.º-D
CIRS), encargos com lares (artigo 84.º CIRS), etc.

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9. Distinga dedução específica de dedução à coleta.
As deduções são específicas quando incidem sobre cada uma das categorias de
rendimentos, especialmente consagradas.
As deduções são à coleta quando incidem sobre o montante de imposto calculado após
efetuadas as deduções ao rendimento e aplicadas as taxas. São admitidas por razões de política
social, familiar e cultural. Encontram-se previstas no artigo 78.º CIRS, destacando-se deduções
com despesas gerais familiares, despesas com saúde, despesas com educação, encargos com
imóveis, dupla tributação internacional, etc. Acontecem já na fase final de cálculo do imposto a
pagar. Assim sendo, a coleta não é o imposto final porque pode haver lugar a deduções, podendo
ser chamada de imposto provisório.

10. Enuncie algumas das obrigações acessórias previstas no CIRS.

Critérios de correção:
§ Noção de obrigação acessória;
§ Alguns exemplos (artigos 112.º e ss. CIRS).

Resolução:
A obrigação principal é o pagamento do imposto devido. As obrigações acessórias estão
para além dessa obrigação de pagamento.
Exemplos: obrigação de declaração de início de atividade, de alterações e de cessação
(artigo 112.º CIRS); obrigação de emitir recibos (artigo 115.º CIRS); obrigação de deter
contabilidade organizada (artigo 117.º CIRS); obrigação de faturação, de emissão de recibo e de
arquivo (artigo 118.º CIRS), etc.

11. Quais as categorias de contribuintes sujeitas ao regime dos pagamentos por conta?

Critérios de correção:
§ Noção de pagamento por conta;
§ Contribuintes sujeitos: trabalhadores independentes.

Resolução:
O regime dos pagamentos por conta aplica-se aos contribuintes da categoria B
(trabalhadores independentes), consistindo no pagamento do imposto à AT por parte do
contribuinte em três vezes, nos termos do artigo 102.º, n.º 1 CIRS. O pagamento tem que ser
efetuado até ao dia 20 de julho, setembro e dezembro.

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12. Exemplifique alguns dos rendimentos sujeitos a retenção na fonte.

Critérios de correção:
§ Noção de retenção na fonte;
§ Finalidade de tal retenção;
§ Exemplos.

Resolução:
A técnica de retenção na fonte, consagrada no artigo 34.º LGT, consiste em atribuir a
certas entidades a capacidade de arrecadação de imposto que será depois entregue ao Estado. Por
razões de facilidade e para evitar a fraude fiscal, certos rendimentos são entregues ao contribuinte
com o imposto já liquidado, visto que o imposto foi retido na fonte. A retenção pode ser definitiva
ou provisória (neste caso, trata-se do pagamento por conta).
Exemplos: rendimentos de capitais, rendimentos do trabalho dependente, contribuições
obrigatórias para a SS e rendimentos de pensões – artigos 99.º, 99.º-C, 99.º-D, 100.º e 101.º CIRS.

13. Quais os regimes contabilísticos e fiscais a que se encontram sujeitos os contribuintes da


categoria B?

Critérios de correção:
§ Categoria B: trabalho independente;
§ Não sujeição a retenção na fonte;
§ Regime simplificado e regime de contabilidade organizada (artigos 28.º, 31.º e 32.º
CIRS).

Resolução:
Os contribuintes da categoria B (trabalhadores independentes) encontram-se sujeitos ao
regime de contabilidade organizada ou ao regime simplificado, nos termos do artigo 28.º, n.º 1
CIRS.
No regime de contabilidade organizada, o lucro tributável assenta nos rendimentos e
despesas. Assim, este regime é obrigatório para negócios que lucrem a partir de 200 mil € (artigo
28.º, n.º 2, a contrario CIRS) e optativo para aqueles que lucrem menos (artigo 28.º, n.º 3 CIRS).
O CIRS opera uma remissão para o CIRC (artigo 32.º CIRS). O contribuinte tem de ter um
contabilista para registar os rendimentos e as despesas, sendo que a diferença entre rendimentos
e despesas constitui o lucro tributável. Seguidamente, o contribuinte pode deduzir ao lucro
tributável os gastos fiscalmente relevantes, isto é, aqueles que sejam essenciais à prossecução da
atividade (requisito material) e que estejam documentalmente comprovados (requisito formal). O

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contribuinte declara também as mais valias realizadas, muito embora a contabilidade possa
registar as mais valias latentes, que são irrelevantes para efeitos fiscais. Não obstante, ao nível da
dedutibilidade de gastos, é relevante a diferença entre depreciações (bens corpóreos) e
amortizações (bens incorpóreos), que são perdas de valor dos bens do ativo, fiscalmente
dedutíveis. Por último, neste regime, é necessário ter uma conta bancária exclusivamente afeta à
atividade exercida, nos termos previstos no artigo 63.º-C LGT.
O regime simplificado é opcional para contribuintes que faturem até 200 mil € porque se
trata de pequenos negócios. O legislador pede ao contribuinte que declare os seus rendimentos e
registe as suas vendas, tributando-se o rendimento ilíquido e não os gastos. Em consequência, por
se considerar os eventuais gastos que o contribuinte possa ter tido, tributa-se apenas uma parte do
rendimento ilíquido, que é o coeficiente, variando entre 0.15 e 0.95, em conformidade com o
disposto no artigo 31.º CIRS.

14. Em que circunstâncias será mais vantajoso para um contribuinte enquadrado na


categoria B optar pelo regime de contabilidade organizada?

Resolução:
Como visto supra, o regime simplificado tem na base coeficientes e não atenta nas
despesas dos trabalhadores da categoria B. Quando, in casu, se conclua que o contribuinte tem
muitas despesas, ser-lhe-á desvantajoso optar pelo regime simplificado porque tais despesas não
serão tidas em conta (ex.: despesas com circulação, despesas com o escritório, despesas com
matéria-prima). Assim, deve ser feita uma avaliação casuística para se perceber qual é o regime
mais vantajoso.

15. Defina sumariamente o conceito de “realização”.

Critérios de correção:
§ Conceito de realização;
§ Vertentes jurídica e económica;
§ Situações de tributação díspar.

Resolução:
Do ponto de vista económico, realização é o rendimento colocado à disposição do
contribuinte ou o preço recebido. A tributação real ou efetiva do lucro ou rendimento apenas se
verifica nestas situações, não se tributando rendimentos latentes ou ainda não recebidos ou não
auferidos pelo sujeito passivo de imposto.

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Do ponto de vista jurídico, associa-se a situações de posse, tradição, alienação ou
transmissão, liquidação, etc.
O conceito de realização pode ser ficcionado em casos de transferência de sede ou
residência do contribuinte e em situações de alteração no estatuto ou regime fiscal do contribuinte.
Pode também ocorrer a imputação de rendimentos de fonte estrangeira a entidades nacionais ou
ao abrigo de cláusulas anti-abuso que permitam a requalificação de negócios jurídicos (ex.: artigo
66.º, n.º 1 CIRC). Nesses casos, o conceito de realização é substituído por técnicas tributárias que
permitem uma tributação efetiva de rendimentos obtidos mundialmente por entidades residentes
ou para evitar a erosão da base tributável através da simulação de negócios ou atos jurídicos.
A interligação entre vertentes jurídica e económica pode originar soluções de tributação
díspares, conforme prevaleça o critério jurídico ou económico (ex.: alienação ou transferência em
que não ocorre o pagamento do preço). Entre nós, o legislador utiliza os dois critérios, conforme
o tipo de rendimento ou realidade tributária, fazendo também apelo a ficções ou técnicas
tributárias específicas.

16. Explique como é que é resolvido o problema da dupla tributação económica do


rendimento de dividendos em sede de IRS.

Critérios de correção:
§ Noção de dividendos;
§ Problema da dupla tributação;
§ Sistemas possíveis;
§ Alguns exemplos na lei.

Resolução:
Os dividendos são rendimentos de capitais. A empresa obtém lucro e pode distribuí-lo
pelos sócios ou retém os lucros (reservas). Caso o lucro seja distribuído pelos sócios, o montante
transforma-se em dividendos para os sócios, pelo que os dividendos são lucros distribuídos, o que
entrará na categoria E quando os sócios pagarem IRS.
Os lucros distribuídos estão sujeitos a dois níveis de tributação: ao nível da sociedade e,
posteriormente, ao nível do sócio, visto que os dividendos são transferidos aos sócios pela
sociedade.
O sistema clássico tributa em separado sociedades e sócios, pelo que defende a
manutenção dos dois tipos de imposto sobre o rendimento. O sistema de imputação procura
tributar lucros de pessoas coletivas em poder dos sócios e, por conseguinte, mitigar a dupla
tributação económica dos dividendos, mas sem abolir a tributação dos rendimentos da sociedade.
No sistema de isenção, os lucros distribuídos são tributados ao nível da sociedade e isentos nas

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mãos dos sócios. No sistema de dedução, permite-se uma dedução total ou parcial dos lucros
distribuídos. Tais lucros são tributados total ou parcialmente nas mãos dos sócios e a sociedade
pode deduzir esse pagamento em sede de IRC.
Entre nós, o legislador adota variadas soluções, violando o princípio da simplicidade.
Exemplos: a taxa liberatória de 28% é um reflexo do sistema de imputação (artigo 71.º, n.º 1,
alínea a) CIRS); os artigos 39.º-A e 40.º-A CIRS concedem uma isenção parcial; os artigos 91.º-
A e 91.º CIRC refletem o sistema de imputação. A este propósito, vide página 139 do manual
adotado.

17. Um trabalhador dependente recebeu um prémio de desempenho. Este rendimento está


sujeito a tributação?
Nos termos do artigo 2.º, n.º 2 CIRS, este rendimento está sujeito a tributação.

18. Demonstre as modalidades de tributação em sede de IRS do rendimento de dividendos.

Critérios de correção:
§ Noção de dividendos;
§ Categoria E;
§ Tributação aquando do momento da distribuição aos sócios;
§ Não havendo distribuição, há uma mais valia latente para os sócios.

Resolução:
Para a noção de dividendos, vide a questão anterior.
Nos termos previstos no artigo 5.º, n.º 2, alínea h) CIRS, os dividendos são rendimentos
de capitais, portanto integram a categoria E. Caso o lucro seja distribuído pelos sócios, o montante
transforma-se em dividendos para os sócios, pelo que os dividendos são lucros distribuídos. Caso
a empresa retenha o lucro (reservas), o dinheiro mantém-se na sua conta e os sócios não pagam
imposto porque não receberam qualquer rendimento, embora tenham direito a ele; para os sócios,
trata-se de rendimento latente pelo que não há responsabilidade fiscal. O lucro que se transforme
em reservas é mais valia latente para os sócios e transforma-se em mais valia realizada quando os
sócios alienarem as suas participações sociais, tributando-se, nessa altura, esses lucros. Ou seja,
os lucros retidos são tributados aquando da alienação das participações, tornando-se mais valias
realizadas de mais valias móveis/direitos.

19. Dê exemplos de mais valias latentes.

Critérios de correção:

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§ Noção de mais valia latente e mais valia realizada;
§ Categoria G;
§ Exemplos.

Resolução:
As mais valias, previstas no artigo 10.º CIRS, são valorizações dos imóveis e móveis,
podendo ser latentes ou realizadas. As latentes são expressas na contabilidade, sendo registada
qualquer valorização (ex.: A é proprietário de um prédio e, devido à dinâmica do mercado, o
prédio valoriza-se, mas A não o pretende transacionar). As mais valias realizadas ligam-se aos
resultados de transações onerosas e só estas relevam para efeitos ficais, ao passo que as mais
valias latentes relevam para efeitos de contabilidade. Nos termos do artigo 9.º, n.º 1, alínea a)
CIRS, integram a categoria G.
Exemplos: um prédio rústico valoriza-se devido à variação do mercado imobiliário à
mais valia latente; as ações de uma empresa registam subidas na variação da bolsa de valores à
mais valia latente; o tal prédio rústico foi comprado por 200 mil € e hoje o proprietário vende por
300 mil € à mais valia realizada.

20. Explique o tratamento fiscal dado pelo legislador em sede de IRS às despesas não
documentadas.

Critérios de correção:
§ Sujeição a uma taxa de tributação autónoma (artigo 73.º CIRS);
§ Objetivo de combate à fraude e a evasão fiscal, arrecadando, paralelamente, receita.

Resolução:
As despesas não documentadas ficam sujeitas à taxa de tributação autónoma, fixada em
50%, prevista no artigo 73.º CIRS. Trata-se de uma taxa especial lato sensu.
O legislador procura combater a fraude e a evasão fiscal, arrecadando, paralelamente,
receita.

Bibliografia:
TEIXEIRA, GLÓRIA – Glossário Fiscal, Almedina, 2021.
TEIXEIRA, GLÓRIA – Manual de Direito Fiscal, 6.ª ed. Almedina, 2022.

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