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Aulas teóricas de D. Comercial II

Direito Comercial II (Universidade de Coimbra)

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Aulas Teóricas Direito Comercial II (3ª turma) Dr. Soveral Martins e Dr. Pedro Maia

Aula 26.02.2020

CAPÍTULO I – Noção de sociedade e figuras afins

1. Introdução
2. Sociedade enquanto ato jurídico e entidade

O art.1º, nº2 CSC não nos oferece uma noção de sociedade, apenas nos diz quando é que uma
sociedade é comercial. A noção é construída a partir do art.980ºCCivil, que é uma noção de sociedade
enquanto contrato.

Hoje já está ultrapassada em grande medida pela evolução legislativa que vamos encontrar no CSC, uma
vez que são hoje admitidas sociedades que não assentam em contratos ou negócios jurídicos
pluripessoais, como por exemplo, as sociedades por quotas unipessoais.

Saber o que é uma sociedade é fundamental para sabermos se temos uma sociedade comercial (primeiro
tem de ser uma sociedade). As partes, nos litígios, muitas vezes, discutem se o que esta alí em causa é
uma sociedade ou nao. Relevancia do ponto de vista prático. Muitas vezes as pessoas celebram contratos
sem se aperceberem que estão a celebrar um contrato de sociedade.

Exemplo: se alguém se associa em participaçao com outrem, é o associante que vai exercer a
atividade e o associado pode estar a realizar uma contribuição do outro sujeito – não há atividade em
comum, só um dos sujeitos é que realiza a atividade, o outro apenas realiza uma contribuição. Numa
situação destas, o patrimonio do associante é enriquecido, a partir daqui o que pode surgir é um conflito
em torno do contrato celebrado. Da parte do associado que queira ver ressarcidos os seus prejuízos,
temos que ver se é um contrato de sociedade ou se ele terá que instaurar uma ação de cumprimento.
Se houver um contrato de associação e se coloca um termo no contrato, o que se transfere para o
associante fica com ele.

Se pelo contrário, é o contrato de sociedade que é celebrado, a partir daí temos regras específicas,
nomeadamente a obrigação de realizar contribuições para um fundo patrimonial da sociedade.

Se por outro lado, se extinguir a sociedade, o que vamos ter é uma liquidação daquele patrimonio, o
socio que fez a contribuição ate pode vir a receber exatamente aquilo que deu à sociedade – partilha do
património.

Normas relevantes:

 Art.36º/1CSC: falsa aparência de contrato de sociedade


 Art.36º/2CSC: regime antes da celebração do contrato de sociedade
 Art.52ºCSC: regime completamente diferente do que é a regra quando o contrato é declarado
nulo ou anulado. Não temos aqui o funcionamento do regime-regra da declaração de nulidade
ou da anulação que tem efeitos retroativos.

Esta liquidação tem regras próprias para se proceder à partilha do património que contribuiu para a
formação daquela sociedade.

Como vimos, o conceito de sociedade é contruído a partir do art.980ºCCivil. O CSC apenas


acrescenta as notas de comercialidade a esta definição (DL 262/86). Esta noção já não é suficiente para

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cobrir todas as realidades que vamos encontrar no CSC, por força de várias alterações que surgiram ao
próprio CSC (que é originariamente de 1986).

Quando falamos de sociedade temos que ter presente que a palavra pode ter 1 de 2 significados:

 Sociedade como ato constitutivo


 Sociedade como entidade.
(Uma sociedade civil será sempre uma entidade, apesar de ser discutível se é ou não pessoa jurídica).

O art. 52º CSC serve para esta distinção, trata das consequências da invalidade do contrato. Por
um lado, temos um contato que foi declarado nulo ou anulado, que não produz efeitos. Mas há algo que
sobra, que é a sociedade, que é preciso liquidar.

Hoje, temos muitos atos constituitvos de sociedade comerciais para além do contrato. Podemos
ter negócios jurídicos unilaterias, uma sentença (no ambito de um processo de insolvência) e atos
legislativos (DL de constituição de sociedades). Há outras vias, através do processo de fusao, cisão e
transformação. Vamos preocupar-nos dos contratos e negócios juridicos unilaterias.

3. Os elementos ou notas essenciais da noção genérica de sociedade

O art. 980º CCivil define o contrato de sociedade como aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam
a contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa atividade económica, que não
seja de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa atividade.

Concluem-se como elementos da noção civilista de sociedade enquanto entidade:

1) Duas ou mais pessoas obrigadas - associação ou agrupamento de pessoas;


2) Contribuição com bens ou serviços - fundo patrimonial;
3) Exercício em comum de certa atividade económica que não seja de mera fruição - objeto;
4) Obtenção de lucros para serem repartidos pelos associados - fim da sociedade.

3.1 Sujeito ou agrupamento de sujeitos (sócios)

Olhando para o CSC encontramos exemplos de sociedade criadas desde o inicio com um único sócio –
art. 488º consagra a figura da sociedade anónima unipessoal (unipessoalidade originária, que não se
confunde com a unipessoalidade superveniente) – ficamos com a ideia errada que a sociedade sócia
única, dominante, pode ser qualquer sociedade mas isto está integrado no regime mais vasto das
sociedades coligadas – hoje cada vez mais existem ligações entre sociedades, as ligações podem ser de
natureza muito diversa.

Sociedades coligadas

O art. 488º deve ser lido à luz do art. 481º/1, que se aplica às sociedades por quotas, anónimas
e sociedade em comadita por ações, logo, o sócio único da sociedade anónima unipessoal tem que ser
necessariamente uma sociedade de um destes 3 tipos. Ou seja, não podemos ter, na constituição, um
sócio único que seja uma pessoa singular, uma sociedade civil, uma sociedade em comandita simples.

Quando isto acontece, temos um grupo de sociedades que constituem o grupo de dominio total – art.
481º CSC  art. 501º a 504º (são importantíssimos, vão estabelecer uma série de exigências a cargo da
sociedade totalmente dominante).

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Contrato de grupo paritário: duas sociedades daquelas 3, podem celebrar entre si um contrato
de grupo paritário.

Quando há uma sociedade dominante que participa no capital da sociedade totalmente dominada, é
uma relação de grupo por subordinação.

Uma sociedade dominante (sociedade-mãe), sócia única, não tem de ser uma sociedade unipessoal.
Nesta sociedade-mãe, pode haver interesse da maioria em constituir uma sociedade totalmente
dominada porque através dela consegue-se uma transferência da riqueza para a maioria na sociedade-
mãe (porque vai controlar os administradores da sociedade-mãe que vai ditar os movimentos da
sociedade-filha).

Em qualquer dos casos temos sociedades coligadas.

Regime das sociedades por quotas:

Contamos já com um regime para as sociedades unipessoais por quotas: art. 270º-A e ss.

Art.270º-Aº, nº1: agora, qualquer pessoa humana já pode constituir uma sociedade anónima por quotas
unipessoal. Claro que haverá algumas limitações:

 Por exemplo, não podemos ter uma sociedade unipessoal que por sua vez é sócia única de uma
sociedade unipessoal (art.270º-C, nº2). Há um risco de diluição do capital social ao longo dessa
cadeia.
 Art.270º-C, nº1: evitar eventuais abusos.

Logo no início da definição encontramos aspetos que hoje estão sujeitos a uma revisão:

 O ato constitutivo não tem de ser um contrato, pode ser um negócio jurídico unilateral;
 Hoje pode ser apenas uma pessoa;
 Em cada tipo de sociedade comercial esta possibilidade vai ser ou não confirmada: há tipos de
sociedades comerciais em que os sócios só podem entrar com bens; noutros tipos de sociedades
comerciais é possível entradas com bens e com serviços.

Substrato Pessoal

Se começamos por dizer que a sociedade vai ter um ou mais sócios, essa exigência, enquanto ato, vai ter
uma consequência na sociedade enquanto entidade.

3.2. Substrato patrimonial

Substrato Patrimonial

Se os sócios se obrigam a contribuir com bens ou serviços, isto dá origem a um crédito da sociedade em
relação a esses sócios. O simples facto de a sociedade ter um crédito sobre o sócio ou já ter o bem com
o qual o sócio realizou a entrada, vai permitir falar na formação de um património. O crédito que a
sociedade tem sobre o seu sócio, já integra o ativo dessa sociedade e, portanto, já está a contribuir para
a formação do fundo patrimonial.

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3.3. Objeto da sociedade

“Exercício comum” – deve ser entendido em função do que a lei prevê de exercício de poderes
reservados aos sócios. Em qualquer tipo de sociedade os sócios vão ter determinados poderes em
relação à sociedade.

A sociedade comercial que adquire personalidade jurídica com o registo constitutivo é uma nova pessoa
jurídica, distinta dos sócios, que vai exercer essa atividade económica por si.

“A atividade económica que não seja de mera fruição”: temos aqui uma divergência doutrinal.

Exemplo 1: eu e outra pessoa combinamos comprar um imóvel para o arrendar a estudantes.


Esta é uma atividade económica (visa satisfazer as necessidades que resultam da escassez dos bens),
mas limita-se a receber os frutos civis.

Quando se trata de frutos civis, não temos sociedade.

 Dr. Coutinho de Abreu: refere que o CIRC admite as chamadas sociedades de simples
administração de bens. Estas sociedades são sociedades de mera fruição.

 Dr. Soveral e Dr. Pedro Maia discordam: uma sociedade que administra bens não tem uma
atividade de simples fruição. Administrar para arrendar não é simples fruição: desde tratar das
despesas de condomínio, celebração dos contratos de arrendamento, infiltrações, video-
vigilância, etc.

As sociedades constituídas para adquirir imóveis para habitação dos seus sócios também não constitui
atividade de simples fruição.

Exemplo 2: A morre e B e C, seus filhos, herdam uma quinta e uma padaria (que aos mesmos
ficam a pertencer em compropriedade).

a) Na primeira possibilidade, B e C acordam em arrendar a quinta e a locar a padaria.

 Dr. Coutinho de Abreu: nestes casos, as partes propõem-se a exercer atividade de mera fruição,
de aproveitamento dos frutos civis da empresa comuns. Portanto, não constituem qualquer
sociedade.
 DR. Pedro maia: a resolução do caso é incerta e depende de caso a caso, não se podendo concluir
que, porque há arrendamento, estamos perante uma atividade económica de mera fruição.

A linha que separa as circunstâncias em que há uma mera fruição das que não há é muito ténue e
dependerá sempre da análise do caso.
Ainda assim, consideramos que sempre que há uma organização minimamente empresarial (organizada)
a atividade não é de mera fruição e, preenchidos os restantes requisitos, estamos perante uma
sociedade. Ex: pense-se que, a par destas locações, os sujeitos realizam mais cinquenta (atividade vasta
e de dimensão empresarial).
b) Numa segunda possibilidade, B e C acordam em explorar eles próprios cada uma das empresas.

 Dr. Coutinho de Abreu (posição adotada): isto ignifica que os herdeiros constituem duas
sociedades, uma civil (agrícola), outra comercial - cada um deles obriga-se a contribuir com as
respetivas quotas nas comunhões para o exercício em comum de determinadas atividades

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económicas que não são de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessas
atividades.

Esta solução não é diferente ainda que os herdeiros não tenham consciência de que os seus acordos
significam a constituição de sociedades, ou que não queiram “transformar” a situação de
compropriedade em situação societária, ou não tenham formalizado devidamente tais acordos
(arts.981º e 1408º/3 CCivil e art. 7º/1 CSC).

Estando reunidas todas as notas caracterizadoras do contrato de sociedade, existe sociedade.

c) Numa terceira hipótese, enquanto a propriedade de A não é entregue na partilha, as empresas ficam
a ser exploradas por B, cabeça-de-casal, que as administra.

 Dr. Pedro Maia: embora exista uma pluralidade de sujeitos e uma atividade económica que não
é de mera fruição, não estamos perante uma sociedade. Enquanto os bens estiverem inscritos
na herança, não existe uma sociedade, por inexistência do propósito da mesma (pode até haver
lugar a repúdio da herança). Existe uma comunhão hereditária não regulável pelo direito
societário.

Exemplo 3: E e F compram um restaurante a G:

a) E e F decidiram comprar o restaurante a fim de o explorarem. Para isso, cada um deles entrou com
determinada importância em dinheiro.

 Dr. Coutinho de Abreu: apesar de não ter havido qualquer explícito contrato de sociedade, existe
sociedade, não compropriedade.

b) E e F compraram o restaurante a fim de, logo que possível, o venderem, com algum ganho. Entre o
momento da compra e o momento da venda mediaram dois meses, período em que E e F, para
preservarem o valor do restaurante, o exploraram. Pertenceu-lhes em compropriedade ou
sociedade?

 Dr. Coutinho de Abreu: parece dever falar-se de simples compropriedade. O que os primeiros
quiseram fazer foi comprar uma empresa para revender e vender uma empresa que haviam
comprado com esse intuito (art. 463º/1 e 3 CC).

A exploração da empresa entretanto ocorrida, apesar de não representar uma atividade de mera fruição,
não apresenta a consistência necessária para poder dizer-se que os compradores arriscaram bens para
o exercício comum de uma atividade económico-lucrativa.

 Dr. Pedro Maia: tem algumas dúvidas quanto ao seguimento da mesma posição.

Exemplo 4: H pretende comprar um prédio para arrendar e, para tal, propõe-se a constituir uma
sociedade unipessoal por quotas – não o poderá fazer, porque a atividade projetada é de mera fruição.

Exemplo 5: D. I, J e L sucederam a M, sendo que a herança integra um estabelecimento comercial.


L, cabeça-de-casal, continua a sua exploração.

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Haverá aqui uma sociedade ou uma comunhão sucessória? Apesar de se tratar de uma atividade que
não é de mera fruição, na verdade os herdeiros não acordaram/contrataram pôr as suas quotas
hereditárias ao serviço daquele exercício – tratar-se-á, como tal, de uma comunhão hereditária não
regulável pelo direito societário.

 Não é razoável que seja um código fiscal que decida o que é sociedade ou não, isto porque estas
sociedades não são qualificáveis, nem como comerciais, nem como civis, porém, a legislação
nacional qualifica-as como “sociedades”. Isto faz com que a construção de um conceito geral de
sociedade as tenha que abarcar.

 No caso das sociedades comerciais isto anda tem maior importância: para podermos falar de
sociedade comercial, este objeto, esta atividade económica que não seja de mera fruição, tem
de ser uma atividade comercial (que se traduza na prática de atos objetivamente comerciais).

Conclui-se, por isso, que não são de “mera fruição”, nem de “simples” administração de bens as
sociedades comerciais dedicadas à “administração” ou “gestão” de bens – como por exemplo,
sociedades gestoras de património, de locação financeira.

3.4. Fim da sociedade

“A fim repartir os lucros resultantes dessa atividade”: para termos sociedade, temos de ter um fim
lucrativo, que é pressuposto pelo CSC  Isto não é doutrina unânime em Portugal.

Estes elementos também hoje deverão ser revistos no que diz respeito às sociedades unipessoais:

 Só há exercício comum pelos sócios quando exista mais do um sócio;


 Se só há um sócio, não há que repartir.

Para termos sociedade, o lucro vai ser o resultado da atividade que a sociedade vai desenvolver, que
depois será repartido pelos sócios. O lucro não se produz diretamente na esfera do sócio, produz-se no
âmbito da atividade que a sociedade desenvolve e depois é atribuído ou repartido (se forem dois ou
mais sócios) pelos sócios.
Acórdão sobre profissionais liberais (contabilistas): havia ou não uma sociedade entre eles? Poder-se-ia dizer que
os pagamentos que os clientes faziam eram feitos à sociedade para depois serem divididos pelos sócios ou se cada
pagamento era feito a cada um deles individualmente?

3.5. Sujeição a perdas


3.6. Síntese

Há um elemento desta noção que não resulta do art.980ºCC.


Uma sociedade, em vez de ter lucros, pode ter perdas. Nos casos em que a sociedade tem perdas, os
sócios também terão de participar nelas.

Art. 994ºCC e art. 22º/3 CSC: vem proibir o chamado pacto leonino: um sócio não pode ser isento de
participar nas perdas – isto tem de ser uma das partes da noção geral de sociedade.

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4. Sociedade e empresa

Também é importante ter presente que uma sociedade e uma empresa não se confundem.
Vemos a empresa em sentido objetivo. Podemos ter uma sociedade entidade e contrato sem termos
uma empresa. Uma sociedade pode ter uma empresa, mas não é obrigatório que assim seja. O que é
normal é que uma sociedade explore uma empresa.

5. Sociedade e figuras afins

Há um conjunto de figuras afins das sociedades que interessa definir sobretudo para ver melhor em
que consiste uma sociedade comercial e que há diferenças significativas.

5.1. Cooperativas. A Sociedade Cooperativa Europeia

Serão comerciantes se tiverem objeto comercial.

As cooperativas têm hoje um regime próprio (Código Cooperativo). Na realidade, já têm um


regime próprio há vários anos, tivemos mesmo a lei basilar em termos de cooperativas. O Código
Cooperativo foi aprovado pela Lei 119/2015. Tem já algumas novidades que, na opinião de alguns
autores, desvirtuam as características das cooperativas.

As cooperativas não têm um fim lucrativo nem podem ter. Isto resulta logo da noção de
cooperativa que encontramos no art.2ºCCop. Tal pode não ser muito atraente do lado do financiador,
porque este está à espera de receber de volta o crédito que concedeu por isso, é muito mais difícil obter
crédito e aceder ao financiamento. As cooperativas são extremamente resilientes em momentos de
crise, nomeadamente no que diz respeito a postos de trabalho.

Estão sujeitas ao chamado princípio da porta aberta: pode-se entrar e sair com muito maior facilidade
face a uma sociedade comercial. O capital pode variar sem necessidade de alterar os estatutos. Têm de
obedecer aos princípios cooperativos, coisa que as sociedades não têm de fazer.

O CCop permite o chamado reembolso (art.89º) e o retorno.

Retorno: a cooperativa não pode distribuir aos cooperadores lucros, no entanto, nos casos em
que se trata de um excedente gerado nas relações com esses cooperadores, pode distribuir aos
cooperadores esse excedente. Mas é apenas o excedente que resulta das relações estabelecidas com os
cooperadores.

Na verdade, é apenas a restituição aos cooperadores daquilo que eles pagaram a mais. Por isso é que se
fala não em lucro, mas em retorno: regressa ao património dos cooperadores aquilo que não deveria ter
saído. Se a cooperativa desenvolve relações com terceiros, esses excedentes daí resultantes não podem
ser distribuídos aos cooperadores.

Regulamento 1435/2003 da UE, relativo ao estatuto da sociedade cooperativa europeia. O Regulamento


é também direito interno, vale em Portugal sem necessidade de transposição. Não impõe um fim
lucrativo e acaba por deixar ao estado membro em que a sociedade cooperativa europeia a possibilidade
de ter esse fim lucrativo.

Uma sociedade cooperativa europeia que se constitua em Portugal não pode ter fim lucrativo. O
Regulamento não é exaustivo, deixa muitos aspetos para serem regulados pelo direito interno.

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Como sociedade cooperativa europeia, este instrumento obriga a uma nota de caráter transfronteiriço.
Essa nota vamos encontrá-la prevista no art.m2º do Regulamento, que depois vai estar prevista em todas
as outras alternativas de constituição de sociedade cooperativa europeia.

Resistência a este regime:

 As cooperativas estão muito ligadas a um determinado espaço geográfico, cooperativa “da


terra”;
 O capital deve ser 30.000 euros. Também por aí tem sido dito que isto pode ser uma limitação
considerável;
 O regime em muitos segmentos é muito pouco claro;
 Regime da participação dos trabalhadores: Lei 8/2018 vem transpor a Diretiva 2003/72. Este
regime é muito pesado, quase transposto de uma outra figura, que é a sociedade anónima
europeia, mas que é algo que está pensado para as grandes sociedades. Até pode ser
interessante para as sociedades grandes porque embora seja pesado para nós latinos, para os
alemães é mias leve do que o regime de co-gestão que eles lá têm para as grandes sociedades.

5.2. ACEs e AEIEs

ACE (Agrupamentos Complementares de Empresa): têm um regime próprio: Lei 4/63 e DL 430/73.

Num ACE o que se pretende é melhorar as condições de exercício dos agrupados ou melhorar o resultado
das atividades económicas desses agrupados.

Vamos encontrar casos de ACE em que o próprio IAP-MEI participa e casos em que ACE têm como
atividade distribuir os medicamentos pelo país às diversas farmácias.

 Base segunda da Lei 4/63: não podem ter como fim principal a realização e distribuição de lucros.
 Art.4º DL 430/73: para fins de registo, o ACE é equiparado às sociedades comerciais (o que nos
indica que não será a mesma coisa).
 Art. 20º: no caso dos ACE, havendo omissão de lei, o ACE fica sujeito às normas sobre sociedades
em nome coletivo.

AEIE’s (Agrupamentos Europeus de interesse Económico): regulados pelo Regulamento 2137/2005.

Visam facilitar e desenvolver a atividade dos membros e melhorar essa atividade.

 Art. 3º: não é seu objetivo realizar lucros para si próprios. Nem mesmo como fim acessório
podemos encontrar esse fim lucrativo.

5.3. Consórcios

É também um contrato muito importante na prática – DL 231/81.

O que vamos ter neste contrato é um negócio jurídico que tem como justificação e objeto a articulação
e coordenação das atividades de cada um dos contratantes.

 Art. 1º: cada contratante vai exercer na mesma a sua atividade, mas concertadamente com os
outros membros do consórcio.

Um caso muito frequente de contrato de consórcio é aquele que é celebrado para a realização de obras
públicas.

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Exemplo: Há um concurso para uma determinada empreitada para construir uma ponte. A ponte vai
implicar a criação de fundações para os pilares da ponte, a construção dos acessos, etc, criam um
consórcio e cada sociedade participar numa parte daquela empreitada.

O contrato de consórcio também deve prever o que acontece caso haja uma tempestade, por exemplo.
Este pode ser interno ou externo – art.5º.

a) Externo: as partes do contrato vão realizar diretamente a atividade a favor de terceiros com
expressa invocação dessa qualidade.
b) Interno: quando preencher uma de duas notas caracterizadoras
i. Fornecem a um dos membros do consórcio que depois entrega esses bens ao terceiro;
ii. Bens fornecidos diretamente a terceiro sem invocar essa qualidade.

No contrato de consórcio externo tem de haver o chamado chefe de consórcio – art.12º.

No entanto, podem surgir, na prática, muitos conflitos.

 Art. 14º: tem de haver procuração a atribuir poderes de representação ao chefe de consórcio.
 Art. 7º: no consórcio externo também é possível criar o conselho de orientação e fiscalização.
Podemos chegar a um ponto em que este conselho é regulado de tal maneira que se calhar
temos mesmo ali uma atividade exercida em comum.

No contrato de consórcio não temos uma sociedade, cada um dos membros do consórcio é que continua
a desenvolver a sua atividade.

Não se podem criar fundos patrimoniais comuns, portanto, nessa medida, não há aqui também uma
sociedade – art.20º.

Aula 04.03.2020

5.4. Associação em participação. Diferenças em relação à associação à quota/à participação social

1. Associação em participação: tem um regime legal que consta do decreto lei de consórcio. Há
um sujeito que desenvolveu uma atividade e que vai associar a essa atividade um associado. Associante
e associado. No entanto, neste caso a atividade continua a ser uma atividade desenvolvida pelo
associante, nao em comum. O associado vai participar nos lucros ou na perdas ou em ambos. Pode ser
afastada a participação nas perdas. Nao há uma atividade economica desenvolvida em comum, nao há
um lucro resultante para repartir entre os associados. Nao surge aqui uma nova entidade, ao contrario
do contrato de sociedade em que vigora ao proibição do pacto leonino. Aqui é possivel que o associado
nao participe nas perdas.

No entanto, isto é assim entre nós. Nao está excluida a possibilidade que se conceba noutros termos a
associação, noutros ordenamento juridicos.

2. Associação à quota, à participação: temos um contrato pelo qual alguem vai participar nos
direitos e obrigações inerentes a uma participação social, atraves do contrato que se celebra com o sócio
da sociedade. Aqui nao se trata de associar um sujeito à atividade de outro sujeito. Este a associar-se
aos direitos e, eventualmente, as obrigações inerentes àquela quota, parte social. Quem desenvole a
atividade é a sociedade, aquele socio vai arranjar alguem para participar na sua quota. Os termos vão
variar do conteudo contratual. O ambito exato deste contrato pode variar. Permite participar nos direito
e obrigações.

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CAPÍTULO II – Tipos de sociedades comerciais

1. Noção de “tipo” e de “tipicidade” societária


2. Caracterização geral dos tipos legais societários

Tudo isto permite pensar em alternativas para a celebração de negócios. Alguém quer investir, alguém
quer colocar dinheiro num negócio, quais são as alternativas que tem ao seu dispor? O que caracteriza
cada um dos contratos?

Tipos de sociedades comerciais – a caracterização dos vários tipos vai permitir identificar uma série de
aspetos do regime que vamos ter que ter em conta para decidir.

Estes tipos são conjuntos de caracteristicas abertas, diferentemente de conceito (algo que tem notas
que vamos sempre encontrar nas realidades onde se aplicam). Um dos aspetos que tem a caracterização
é o que diz respeito a responsabilidade que cada sócio vai assumir quando aceita ser sócio daquela
sociedade.

Temos que refletir que hoje cada vez mais as sociedades comerciais são constituidas por outras
sociedades, formando-se as coligações de sociedades, não tem de se necessariamente pessoas
individuais (os singulares vão querer limitar a sua responsabilidade, surgindo sob forma de EIRL).

Exemplo: Temos uma sociedade me nome coletivo (1) e uma sociedade por quotas (2) que é
sócia da 1. Os sócios da 1 respondem pessoal e ilimitada pelas dívidas da sociedade 1 (responsabilidade
ilimitada). Se a 2 for por quotas e sócia da 1 ela também responde pelas dívidas da sociedade 1 e a
responsabilidade acaba aqui. Isto é interessante porque vai aumentar a possibilidade de credito da
sociedade 1 – se a sociedade 2 tiver um património avultado, os credores da sociedade 1 pode contar
com este património.

 Os sócios de responsabilidade ilimitada numa sociedade em comandita chamam-se – os


comaditados (são os tramados).
 Os sócios de responsabilidade limitada são os comanditários

2.1. Responsabilidade dos sócios perante a sociedade pela realização da ou das entradas e
(eventual) responsabilidade dos sócios perante credores sociais (por dívidas da sociedade)

A Responsabilidade que cada sócio assume naquela sociedade tem q ser analisada em duas vertentes:

A) Para com a sociedade:

Nas sociedades nome coletivo cada sócio vai responder pela realização da entrada que se
obrigou, nas sociedades anónimas também é assim, nomeadamente na subscrição das ações.

Já nas sociedades por quotas, cada sócio responde para com a sociedade efetivamente pela
realização da entrada que se obrigou MAS TAMBÉM se obriga a realizar as entradas de qualquer outro
sócio que não cumprir – regime que encontramos no art. 197º CSC. Isto é importante para ver com quem
se parte para a constituição da sociedade, saber se os sócios que aceitam são de confiança.

B) Para com os credores da sociedade (titulares de créditos sobre a sociedade).

Sociedade em nome coletivo: cada um dos sócios dessa sociedade vai responder pessoal e
ilimitadamente pelas dívidas. Nota: art. 175º - é uma responsabilidade subsidiária, só respondem se a
sociedade não cumprir essas obrigações.

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Sociedade por quotas: os sócios tem responsabilidade limitada, em regra, na medida em que só
respondem pela sua entrada, não respondem perante os credores da sociedade. No entanto, é possível
convencionar no contrato de sociedade que um ou mais sócios (art. 198º CSC), respondam por dívidas
da sociedade. Essa responsabilidade tem sempre que ser limitada (“até determinado montante”). Pode
ser responsabilidade solidária, responsabilidade subsidiária, responsabilidade a efetivar na fase de
extinção, etc – grande flexibilidade.
Mas porque é que um sócio vai aceitar incluir essa cláusula no contrato para assumir as dívidas
da sociedade? Vamos falar mais adiante dos direitos especiais dos sócios, onde há uma regra sobre a
distribuição dos lucros e onde um sócio pode ter uma posição previlegiada nessa distribuição.
Por outro lado, isto irá aumentar o crédito da sociedade podendo negociar o crédito mais
facilmente (por exemplo, um banco pode impor essas condições). No entanto, continuará a ser uma
sociedade de responsabilidade limitada – tem sempre um limite.

Nas sociedades anónimas – art. 271º CSC. Cada sócio so é responsável pela realização das ações
que subscreveu. Não responde pelas dividas da sociedade.

Isto é o regime regra. Vamos depois encontrar normas que tratam de regimes especiais!! Importante na
prática:

o Art.83º CSC – trata de casos em que um sócio de uma sociedade pode responder para com a
sociedade por outros factos que não tem a ver com a realização da sua entrada. O nr. 3 trata da
eventual responsabilidade para com a sociedade por atos de gerentes, administradores ou orgão
de fiscalização.

o Art. 84º CSC – responsabilida do sócio único em caso de insolvência – so existe quando se prove
que o património está a ser usado para benefício pessoal do sócio, violando as normas legais
sobre separação de património.

o Regime do art. 501º CSC – diretamente dirigido aos casos em que temos um grupo de sociedades
onde há contratos de subordinação – sociedade diretora e outra subordinada. A sociedade
diretora é responsável pelas obrigações da entidade subordinada constituidas antes ou depois
da celebração do contrato de subordinação – tem que fazer uma auditoria muito cuidadosa às
contas da sociedade subordinada.

o Art. 491º CSC – manda aplicar o art. 501º aos grupos constituídos por domínio total – uma
sociedade que tem 100% do domínio de outra sociedade. As relações de coligação só ficam
sujeitas a estes regime quando temos sociedades por quotas, anónimas ou por comandita por
ações.

2.2. Estrutura organizatória

Quanto mais complexa for a estrutura maiores serão os custos que terá de suportar a sociedade.
Nesta apreciação, a estrutura organizatória é importante para saber quem controla ou domina a
sociedade. Quando olhámos para a estrutura organizatória temos essencialmente de ver como se
relacionam os órgãos. Por isso, vamos estudar os regimes das sociedades quanto à sua estrutura
organizatória.

Todos os tipos de sociedade vão ter um órgão deliberativo constituido pelo sócio ou sócios –
tem poderes deliberativos internos. Cada um dos tipos vai ter um órgão de administração e

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representação – nas sociedades em nome coletivo e por quotas vamos ter a gerência, singular ou plural.
Nas sociedades anónimas vai depender, o regime pode variar.

Podemos ter 1 de 3 estruturas possiveis. Todas estas alternativas resultam do art. 278º CSC. No entanto
estes são os traços largos que permitem identificar estes modelos (mas podem dar origem a vários
submodelos):

1. ESTRUTURA TRADICIONAL OU LATINA:

Vamos encontrar, em regra, um Conselho de Administração (eventualmente de composição


plural com elevado número de membros, nao há número de limite legal) ou um administrador único
(caso o capital não exceda os 200mil euros – isto é um submodelo). Estas sociedades vão ter
necesssairmente um órgão de fiscalização, em regra, um Conselho Fiscal, no entanto a lei permite que
se substitua por um fiscal único, exceto, em certas situações (ver art. 278º/1/a); art. 390º/2; art.
413º/1/a) CSC)
Se tivermos um Conselho de Administração e um Conselho Fiscal temos várias cabeças a pensar e maior será a
probabilidade de encontrar uma solução melhor, mas por outro lado, têm que haver reuniões de trabalho, decisões
conjuntas e consequentemente maior dificuldade em chegar a um consenso.

Há casos em que não é possivel nomear um Fiscal Único, e situações em que pelo contrário, a lei impõe
uma fiscalização reforçada: art. 413º/2 CSC: conselho fiscal + um revisor oficial de contas de fora.

Em regra, as sociedades anónimas podem escolher. Se não tiverem capital superior a 200mil euros,
podem escolher um fiscal único ou um conselho fiscal ou uma fiscalização reforçada. Em alguns casos,
as sociedade anónimas com estrutura tradicional ou latina têm necessariamente de ter conselho fiscal +
fiscal ou revisor oficial de contas = fiscalização reforçada.

2. ESTRUTURA OU MODELO DITO ANGLO-SAXÓNICO OU MONÍSTICO:

O órgão de fiscalização vai estar inserido no próprio órgão de adminsitração – art. 278º/1/b) CSC.
O conselho de administração vai ter no seu seio o órgão de fiscalização – Comissão de Auditória. Foi
importado do Reino Unido, e é típico nos EUA.

Lógica deste modelo: garantir que o órgao de fiscalização acompanha de forma mais próxima as
tomadas de decisão pelo órgão de administração, uma vez que está dentro deste órgão e,
consequentemente, presente nas reuniões. Tem riscos: a familiaridade. A composição da Comissão de
Auditória tem que corresponder a determinadas competências, aptidões. Por outro lado, a Comissão
terá competências especificas: art. 423º/3/b) – não pode tomar decisões sobre matéria executiva. É
evidente que há um risco de autofiscalização e ninguém é bom juíz em causa própria. Se temos que ter
pelo menos 3 membros, o Conselho de Administração nunca pode ter um órgão de administração com
menos membros que a Comissão de Auditória e não podemos ter um administrador único. Quantos dos
mesmbro têm que ser de fora e quantos de dentro da Comissão de Auditoria? É discutivel.
Nas sociedade anónimas com Comissão de Auditoria vamos também encontrar exigências
adicionais para as grandes anónimas e anónimas cotadas: art. 423º-B/4 CSC. O nr. 5 vem exigir que a
maioria dos membros seja independente – não se exige um novo órgão, ao contrário do que se passa na
sociedade anónima de estrutura latina. Na Comissão de Auditoria o que se trata é de exigências
adicionais na composição desse órgão. Encontrar pessoas independentes para preencher estes cargos
nem sempre é fácil.

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Este sistema não existia quando foi criado o Código das Sociedades Comerciais – o legislador
nacional optou pela regra do menor esforço, encaixou umas normas sobre Comissão de Auditoria o que
vai levar a que muitas vezes seja difícil encontrar o regime aplicável.

3. MODELO DUALISTA OU GERMÂNICO

Já existia quando o CSC foi aprovado. O órgão da Administração referido no art. 278º é um
Conselho de Administração Executivo. Antigamente chamava-se de direção, isto levava a uma
sobrevalorização destes membro que eram considerados diretores face aos administradores normais.

O Conselho de Administração Executivo não pode delegar nenhum dos seus membros ao
contrário dos outros 2 modelos (sociedades com estrutura tradicional ou modelos anglo-saxónico) em
que o órgão de administração pode ter administradores delegados. O que permite criar uma espécie de
hierarquia.

 Art. 424º/2 – admite a substituição por um administrador único que não se chama administrador
executivo, apenas administrador único.

O órgão de fiscalização será o Conselho Geral de Supervisão e terá um revisor oficial de contas.
Tanto no modelo anglo-saxónico como neste, temos o revisor fora do órgão de fiscalização.

O Conselho Geral de Supervisão também não pode ter um só membro, ao contrário do que
acontece no modelo tradicional ou latino – art. 434º/1 CSC. exige que tenha uma composição plural.

 Art. 444º/2 CSC: nas grande anónimas ou anónimas quotadas (emite valores mobiliários que são
as ações), o Conselho Geral de Supervisão tem que constituir uma comissão com especiais
competências para as matéria financeiras.

 As sociedades por quotas, em regra, não precisam de ter um órgão de fiscalização. Se estas
ultrapassarem determinada fasquia, passam a estar obrigadas a ter das duas uma:
(1) um revisor oficial de contas ou
(2) um órgão de fiscalização.

Antes de ultrapassar os limites do art. 262º/2 CSC, pode ter esses órgãos mas se ultrapassar
passa a estar obrigada (nr. 3). No que diz respeito ao conselho fical, não se faz referência ao
fiscal único .

 Para as sociedades em nome coletivo ou comandita não está nada previsto, mas valem as
remissões que são feitas para as sociedades anónimas.

 Isto é assim desde que não se trate de uma entidade de interesse público. Qualquer sociedade
de qualquer tipo que seja, desde que preencha o regime das entidades de interesse público,
passa a ter de adotar a estrutura organizatória das sociedades anónimas cotadas ou das grandes
anónimas.

2.3. Transmissão de participações sociais (quer por morte quer entre vivos)

Qualquer destes regime vai ter diferenças conforme os tipos de sociedades.

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 Sociedades em Nome Coletivo:

 Transmissão por morte (art.184º CSC). Morrendo um sócio ficam 3 alternativas abertas:

1. Proseguir para a liquidação daquela parte social;


2. Dissolução da sociedade;
3. Podem decidir continuar com os herdeiros dos sócios (podem não querer continuar pois passam
a ter responsabilidades – não há uma garantia que venham a ocupar o seu lugar).

 Transmissão entre vivos (art. 182º CSC):

A parte do sócio só pode ser transmitida, por ato entre vivos, com expresso consentimento dos
restantes sócios. Os sócios respondem solidariamente entre eles: se tivermos 5 sócios e se for necessário
responsabilizar todos e tiverem patrimónios com saude, todos eles estão no mesmo barco perante os
credores – todos eles correm o mesmo risco de serem demandados pelos credores. A partir do momento
em que um deles é substituído, para os restantes é importante saber a situação patrimonial do sócio que
entra, se este não tiver património o risco dos outros 4 aumenta. Um credor da sociedade perante 4
sócios ricos e 1 pobre, o mais provável é demandar só os ricos. Por isso limita-se bastante a possibilidade
a entrada de um sócio novo.

 Atenção ao seguinte: art. 191º são gerentes todos os sócios.

 Nas Sociedades por Quotas:

 Transmissão por morte:

Valem os termos gerais, mas é possivel limitar isso no contrato de sociedade – art. 225º: pode-se afastar
a transmissão por morte ou sujeitá-la a certos requesitos. As sociedades familiares são muitas vezes
sociedades por quotas e aqui há a possibilidade de planear a sucessão de modo a que a sociedade
continue na titularidade da família. Mas estas sociedades conhecem o drama dos 3 ciclos: a 1ª geração
cria a riqueza, a 2ª geração usufrui e a 3ª da cabo da riqueza. Para evitar isto, estabelecem-se requesitos
quanto a formação, idade, competências técnicas, profissionais para se realizar a transmissão.

 Transmissão entre vivos:

A transmissão da quota pode ser uma cessação da quota – transmissão voluntária entre o cedente e o
cessionário. As transmissões forçadas não são cessões de quotas. Em regra, está sujeita ao
consentimento da sociedade dada por deliberação dos sócios – art. 228º CSC. Ao contrário do que se
passa nas sociedades em nome coletivo.

O regime que vamos encontrar é bastante flexível. Em regra, o consentimento não é exigido quando se
trata de cessação da quota a favor de outro sócio ou a favor de ascendentes ou descendentes ou mesmo
a favor do conjugê desse sócio. Nos restantes casos, há consentimento da sociedade. O art. 229º mostra
nos que o contrato de sociedade pode mudar muitos aspetos deste regime ou estabelecer limites: pode
proibir a cessão de quotas, por outro lado é possivel dispensar no todo ou em parte o consentimento da
sociedade nos casos em que ele seria necessário.

Exemplo: certas cessões de quotas que precisavam do consentimento vão deixar de precisar,
pode dar-se o caso de, numa sociedade familiar, só o sobrinho ter jeito para o negócio e portanto, o
titular da quota transmiti-la-á na linha colateral ao mesmo. Pode fazer sentido neste caso concreto. Por
outro lado, se for uma cessão da quota a favor do conjugê ela não necessita do consentimento, mas os
sócios podem acordar no contrato uma cláusula de consentimento para este tipo de transmissão.

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Nas sociedades por quotas, o art. 229º/5 vem dizer que o contrato de sociedade não pode subordinar
os efeitos da cessão a um requisito diferente do consentimento, isto é, introduzir cláusulas que ponham
em causa efeitos da cessão que não sejam as cláusulas do consentimento. Exemplo: fazê-lo atravás de
uma cláusula de preferência que ponham em causa os efeitos da transmissão. Mas são admitidas
cláusula de preferências que não ponham em causa os efeitos da cessão.

Em regra as ações das sociedades anónimas são livremente transmissíveis – estão pensadas
como instrumento de reunião de capitais avultados. Vai se aceitar mais facilmente investir sabendo que
se pode mais facilmente desistir/sair.

No entanto também é possivel modelar o conteúdo do contrato de sociedade para introduzir


notas personalísticas numa sociedade de capitais: através das alternativas que encontramos no art. 328º
CSC – permite introduzir limitações à transmissibilidade das ações. Temos uma proibição de emissão de
valores ao cotador.

Em relação às sociedades de comandita por ações aplica-se as regras aqui enunciadas (art. 469º
CSC) e para as sociedades em comandita simples – art. 475º CSC.

Aula virtual dia 11.03.2020

2.4. Número mínimo de sócios

Número minimo de sócios: importante para estruturar a atividade, os investimentos. Se so contamos


connosco sabemos que podemos optar por uma sociedade unipessoal por quotas.

Sociedades enquanto ato constitutivo, se for um contrato:


 Sociedades em nome coletivo ou sociedade em comadita simples: o número minimo é, em regra,
2 sócios;
 Sociedade em comadita por ações: número mínimo é de 6 sócios – 5 comaditários 1 comaditado,
pelo menos.
 Sociedade por quotas: a lei admite a sua constituição com um único sócio que pode ser singular
ou pessoa coletiva.
 Sociedades anónimas: art. 488º CSC permite a constituição de uma anónima unipessoal mas
socio único tem que ser uma sociedade por quotas, anónima ou em comadita por açoes – limita
mutio as possibilidade. Em regra, o número minimo é 5 socios, poderão ser constituidas só com
duas pessoa se preenchidos os requesitos do art. 273º/2 CSC – se se der o caso de o estado ou
outras entidades equiparadas, direta ou indiretamente, deterem a maioria do capital.

2.5. Exigências relativas ao Capital social

Tipos legais:

Nas sociedade em nome coletivo a lei admite a possibilidade da sua constituição sem capital social nos
casos do art. 9º - podemos ter uma sociedade comercial sem capital social. No caso das sociedade em
nome coletivo que não preencham esses requesitos, comandita simples poderam ter um capital social
mas não há propriamente uma exigência de limite minimo.

Nas sociedade anónimas: o capital social é em regra de 50.000 euros

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Nas sociedade por quotas: não há requesito mínimo, mas como o valor nominal mínimio da quota é 1€,
se houver só um sócio o capital social mínimo tem que ser 1€. Indiretamente temos esta exigência de
valor. Corresponde ao número de quotas em que se vai dividir o seu capital social no momento da sua
construção.

3. Tipos doutrinas societários

Sociedades de pessoas – o que acontece é que é dada maior importancia à pessoa de cada um dos
sócios, isto reflete-se no plano da responsabilidade dos sócios e no regime de transmissão das
participações sociais; haverá maior peso dos sócios na tomada das decisões.

Sociedade de capitais – responsabilidade limitada, mais fácil transmissão das participações sociais,
maior separação entre competência dos sócios e do orgão de administração. Aqui há firmas que não
identificam os sócios. Não há regras relativas à concorrência entre os sócios e a sociedade. É o caso da
Sociedade por quotas

Sociedades abertas ou Sociedades fechadas – distinção doutrinal. No código dos valores imobiliários,
temos referência às sociedade abertas ao investimento do público. Essa distinção tem hoje algum apoio
legal também.

Estas distinções podem depois ter interesse na matéria da interpretação da lei e estatutos. A
existência de vários tipos não deixa de ser curiosa na medida em que se pode discutir se se justifica a
existência de tantos tipos entre nós, ou se na realidade podiamos limitar um pouco esse conjunto de
tipos legais. Só ter sociedade por quotas e anónimas e dentro delas algumas variações/subtipos. Noutros
OJ encontramos realidades diversas de tipos mais ao menos próximos dos nossos, exemplo nos EUA
temos as corporations, partnerships, etc.

Na União Europeia vamos encontrar um regulamento sobre a Sociedade Europeia, também


chamada de Sociedade Anónima Europeia, sobre a qual podemos discutir se é um novo tipo ou um
subtipo dentro do tipo de sociedade anónima, que também é direito vigente em Portugal.

4. Taxatividade dos tipos legais de sociedades

Esta tipicidade é taxativa, isso resulta do art. 1º/3 CSC. Isto permite-nos identificar com alguma
segurança qual o regime jurídico associado àquele tipo de sociedade comercial. No que diz respeito a
taxatividade temos que referir a limitação à liberdade contratual, à autonomia privada dos sujeitos que
vão celebrar o negócio jurídico em causa. Evidentemente vamos encontrar associado a cada tipo regimes
mais restritivos ou permissivos, no caso das SA é mais provável que encontremos normas de caráter
imperativo, noutros caso (como sociedades por quotas) normas de caráter supletivo ou preceitos que
vão apresentar a possibilidade para construir o contrato de sociedade. Esta taxatividade é nalguns casos
bastante aberta, nas sociedade por quotas o tipo deixa margem significativa para a intervenção da
vontade do fundador. Este regime associado a cada um dos tipos vai permitir identificar as notas
caracterizadoras dos tipos.

5. Sociedades civis e civis sob forma comercial

Uma sociedade civil também pode adotar forma comercial, em regra, nos termos do art. 1º/4.
Temos que ver se não estamos a falar de sociedade civis sujeitas a regimes especiais e nesses casos
poderam ter essa possibilidade de escolhas de tipos limitada.

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Se uma sociedade tiver um objeto misto a partir do momento em que parte para a atividade de foro
comercial já tem que adotar um tipo comercial e já será uma sociedade comercial.

6. Apontamento histórico

Cada um destes tipos vai ter origens históricas em momentos diferentes. No caso das Sociedades
em Comandita podemos dizer que a sua origem é medieval, no caso das Sociedades Anónimas o
antecedente mais próximo situar-se-á nas companhias coloniais. Soceidade por quotas tem origem na
Alemanha do sec. 19. Hoje enfrentamos varios desafios em matéria das sociedades, o nosso direito
encontra-se limitado pela UE, na pagina da EurLex podemos encontrar uma divisao dedicada as
sociedades comerciais e podemos encontrar a legislação que vigora atualmente na UE. Nao são só as
normas relacionadas com o direito das sociedade que hoje interressam, há também muitos atos da UE
na área dos valores imobiliarios que vão interessar às sociedade.

Hoje conhecemos a realidade da globalização com as influências do exterior. A reforma de 2016


do CComercial também já foi motivada por isso mesmo. Hoje continua a falar-se de melhorar a
governação das sociedade comerciais e do que deve ser o direito das sociedade comerciais. No plano
inernacional, é comum vermos muitas discussão em torno das sociedades sem fim lucrativo. Cada vez
mais se procura garantir que as sociedades comerciais se orientem num principio de sustentabilidade e
da responsabilidade social.

CAPÍTULO III - CONSTITUIÇÃO DAS SOCIEDADES COMERCIAIS

1. A constituição de sociedades como processo

Não vamos falar de outros processos de constituição não regulados no CSC. O legislador pode
criar sociedades por ato legislativo (decreto lei). Outras alternativas são o saneamento por transmissão
com a constituição de uma nova sociedade (regulado no código da insolvência); podemos ter sociedades
que vão ser constituidas através de um processo de subscrição pública (obriga a recorrer ao código de
valores imobiliário e ao regime das ofertas públicas de subscrição de ações) – divergência entre o Dr.
Coutinho de Abreu e a opinião do Dr. Soveral – para ele, segundo o art. 283º CSC, o ato constitutivo deve
considerar-se realizado por dois promotores que serão os representantes legis dos restantes
subscritores.

No CSC temos vários processos regulados: processo tradicional através de ato constitutivo (por
contrato, negócio juridico unilateral). Hoje já não tem que estar sujeito a escritura pública – art. 7º CSC.
o registo comercial é importantíssimo porque é constitutivo. Art. 5º CSC – o registo é requesito de
aquisição de personalidade jurídica ou um requesito para se poder falar efetivamente de uma sociedade
comercial. Art. 70º C.Reg.Com – obrigatória a publicação em certos casos do ato constitutivo. Nos casos
em que a lei admite que se escolha outra via – art. 18º CSC

No que diz respeito ao processo de constituição de sociedades comerciais, em alguns casos todo
o processo que leva à fusão, cisão, tranformação, pode também implicar a constituição de sociedades
comerciais – art. 7º/4 CSC.

Depois temos 2 processos de constituição de sociedades por quotas e anónimas (desenvolvidos melhor
nas aulas práticas):

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 Processos da empresa na hora – utilizado para as PME, regime facilitado para obter uma firma,
possibilidade para recorrer aos modelos pré-aprovados;
 Empresa on-line.

2. Ato constituinte

Pode ser um negócio unilateral, um contrato, vimos também as sociedades constituidas por
subscrição pública, podemos ter o saneamento por transmissão, ter uma sentença de homologação que
terá também natureza de ato constituinte, bem como os atos de caráter legislativo. As sociedades
podem ser constituidas por pessoas singulares, as vezes com limitações. A pessoa coletiva também tem
que ter atenção às limitações resultantes do seu fim (limitação da capacidade pelo fim).

Entre os sujeitos que podem constituir ou participar na constituição de sociedades,


mencionaremos em primeiro lugar as pessoas singulares.

Há regras que devem ser tidas em consideração quando se trata de sociedades constituidas por 2 sócios,
quando participem ambos os conjugês – art. 8º CSC: não podemos ter 2 sócios a constituir uma
sociedade em nome coletivo ou serem ambos sócios de responsabilidade ilimitada numa sociedade em
comandita. + a limitação para as sociedades anónimas do art. 488º CSC – tem que ser uma sociedade
por quotas, anónima, em comandita por ações  só essas podem ser titulares de todas as ações da
sociedade no moemnto da sua constituição.

Relativamente ao conteúdo do ato constitutivo:

Há aqui uma norma que é fundamental – art. 9º CSC: enuncia uma lista de elementos que devem constar
de qualquer tipo de contrato.

Alínea d): o objeto tem que ser certo e determinado, não se pode dizer qualquer atividade
jurídica ou comercial. Quando se trata de uma sociedade por quota tem que se saber em que medida os
gerentes podem desenvolver uma atividade por conta própria, nas sociedades em nome coletivo até
onde vai a possibilidade de os sócios desenvolverem atividade por conta própria.

Alínea e): a sede da sociedade. É possivel limitar os poderes da adminitração para deslocar a
sede.

É importante fazer a diferença entre a sede principal/real ou efetiva (da administração) do centro dos
interesses principais do devedor. É por ela que se determina a lei pessoal da sociedade. No entanto se
tiver em Portugal a sua sede estatutária (art. 3º CSC) então não pode opor a terceiros a sua sujeição a
lei diferente da lei portuguesa, que poderia eventualmente resultar do 1º critério da sede principal
efetiva da sua administração. Podemos ter a sede estatutária em portugal mas a sede efetiva da
administração noutro estado.

Alínea g): a quota de capital e a natureza da entrada de cada sócio, bem como os pagamentos
efetuados por conta de cada quota. Aqui tem surgido na prática notarial alguma divergência sobre qual
é o âmbito de aplicação desta alínea. Em alguns cartórios dizem que esta não se aplica às sociedae
anónimas porque fala de quota. Mas o Dr. Soveral acha que se aplica na mesma às sociedades anónimas
por força do nr. 1 deste artigo. Quota será a fração que cabe a cada sócio. Se não for assim estaremos a
abrir uma porta pouco clara na constituição das sociedades.

O nr. 3 do art. 9º mostra a importância do contrato de sociedade – é ele que permite afastar os
preceitos dispositivos da lei, temos que saber se o preceito que queremos afastar é um preceito de

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carater dispositivo ou imperativo. Dentro de cada um dos tipos de sociedade vamos encontrar regras
específicas para integrarem os contratos constitutivos.

Regime das relações societárias anteriores à celebração do contrato de sociedade:

Antes da sociedade estar constituida através da forma legalmente exigida, pode dar-se o caso de já se
ter iniciado a atividade em nome da sociedade.

 O art. 36º/2 diz que “se for acordada a constituição de uma sociedade comercial, mas antes da
celebração do contrato de sociedade os sócios iniciarem a sua atividade”, vão ser aplicadas as
disposições sobre sociedade civis – art. 980º e ss do CCivil.

 Questões relacionadas com eventuais dívidas contraídas: ver art. 997º Ccivil: “respondem a
sociedade e, pessoal e solidariamente os sócios”, podendo exigir a “prévia excussão do
património social” = admite-se aqui a existência de um património social também para estas
sociedades que têm um objeto comercial e ficam sujeitas ao art. 36º/2 CSC.

Regime das relações das sociedades com terceiros posteriores à celebração do ato constituinte e antes
do registo

Aqui temos que lidar com o art. 37º para as relações entre os sócios ou os sócios e a sociedade
que manda aplicar as regras do próprio contrato de sociedade e do CSC.

Relações da sociedade com terceiros:


Art. 38º CSC - para as sociedades em nome coletivo;
Art. 39º CSC – para as sociedadesd em comandita simples.

Sociedade por quotas, anónima ou em comandita por ações: art. 40º/1 tem essencialmente 2 partes:
1ª parte: pelos negócios realizados em nome da sociedade vao responder ilimitada e
solidariamente todos os que no negócio agirem em representação da sociedade, bem como os sócios
que tais negócios autorizarem;
2ª parte: os restantes sócios respondem até às importâncias das entradas a que se obrigaram…

Há aqui uma norma que dá importância ao saber quem é que atuou em nome da sociedade, quem é que
eventualmente autorizou esses negócios – isso vai ter consequências na responsabilidade. Contudo não
faz referência à responsabilidade da própria sociedade. Vários argumentos podem ser sustentados no
sentido de dizer que a sociedade também responde.

Para o Dr. Soveral, o argumento mais sólido está no art. 36º/6 do CSC – deve ser aplicado por
maioria de razão, uma vez que se remete para o art. 997º CCivil: parece fazer sentido que deve responder
também quando o ato constituido já foi celebrado pela forma legalemente exigida. Antes da celebração
do ato constitutivo, o acordo que exista até é nulo por vício de forma (antes de se respeitar a forma
legalmente exigida) e mesmo assim a sociedade já responde.

Outros argumentos que se podem invocar:


 Art. 40º/1 CSC: “negócios celebrados em nome da sociedade”, assume-se que haverá uma
responsabilidade dessa sociedade. Parece ser a solução mais adequada pois a sociedade já pode

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ter produzido lucros, poderá haver um fundo patrimonial a que os sócios se obrigaram. Não há
verdadeiramente uma proibição da responsabilização da sociedade antes do registo definitivo
do ato constitutivo.

 Art. 19º CSC, por outro lado, diz que com o registo definitivo do contrato usa a expressão
“assunção”/ “assumir”, e portanto não fala em transmissão das obrigações, o que dá ideia de
que estas já seriam obrigações resultantes da atividade da sociedade.

Coisa mais difícil de resolver é saber se realmente estes sujeitos do art. 40º/1 vão responder
solidariamente com a sociedade. Haverá argumentos para afirmar que sim no que toca aos sujeitos da
1ª parte, recorrendo à analogia com o art. 36º/2 e com a remissão para o regime das sociedades civis.
Contudo já será mais difícil sustentar esta tese em relação aos sujeitos da 2ª parte, na medida em que
há aqui várias limitações da responsabilidade.

A sociedade também responderia pelas obrigações do art. 38º, 39º e 40º mas há aqui 2 limites
importantes e que devem ser tidos em conta:

1) não faz sentido que a sociedade responda por obrigações pelas quais não pode responder
depois do registo, nomeadamente, art. 19º/4 CSC (casos em que nem se quer com o registo é possivel
assumir determinadas obrigações);
2) quanto às sociedades anónimas há que ter em atenção a norma do art. 277º que trata da
entrada dos sócios. Em relação às entradas que sejam depositadas em instituições de crédito para a
realização da contribuição mínima, o número 5 diz que dessa conta só podem ser efetuados
levantamentos depois do contrato estar efetivamente registado, ou depois de celebrado o contrato caso
os accionista autorizem, entre outras situações.

3. Registo do ato constituinte

Feito o registo do ato constitutivo, a sociedade vai adquirir personalidade jurídica. Poderá
discutir-se se esse registo, nos termos do art. 5º CSC, também é ou não requesito para se falar de uma
sociedade comercial. A ver do Dr. Soveral, sim, Dr. Coutinho de Abreu tem opinião diferente.

Esse registo será um registo feito por transcrição – haverá um controlo da legalidade. E é um registo
obrigatório que tem efeitos importantes.
Os efeitos previsto no art. 19º CSC – vem estabelecer que o registo definitivo do ato constitutivo conduz
à assunssão, por força da lei, de um conjunto de direitos e obrigações por parte da sociedade e, por
outro lado, vem permitir que o orgão de administração assuma outros direitos e outras obrigações.

Outra consequêcia importante do registo: quanto às sociedades por quotas e sociedades anónimas é a
consequência prevista no art. 42º – os efeitos sanantes do registo se o ato constitutivo sofrer de vícios
diferentes dos que estão previstos no art. 42º (e que pudessem conduzir à anulidade ou à anulabilidade
do ato constitutivo). Se não estão previstos no art. 42º já não podem ser invocados depois do registo
definitivo do ato constitutivo.

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4. Publicação do ato constituinte

Só é obrigatório nos casos do art. 70º do C. Reg. Com – para as sociedades por quotas, sociedades
anónimas, sociedades em comandita por ações essa publicação vai ser requesito da eficácia em relação
a terceiro – art. 168º CSC. É uma publicação que já não é feita no Diário da Pepública, é feita num sítio
da internet de acesso público.

5. Interpretação e integração dos estatutos

Se é um ato constitutivo sujeito a determinados requesitos de forma temos que lidar com este assunto
com algum cuidado quando formos tratar da interpretação e integração desse mesmo ato.
No que diz respeito à interpretação do ato constitutivo é fundamental ter em atenção que
estamos a falar de problema que sobretudo nos obriga a perguntar se devemos ter em atenção ou não
elementos externos ao próprio ato constitutivo, que não estejam contidos no documento, ou se
devemos dar maior importância ao que resulta objetivamente do texto ou à vontade real das partes, se
basta recorrer aos elementos dos art. 236º a art. 238º CCivil sobre a matéria em interpretação negocial
tendo em conta que estamos aqui a falar da interpretação de um negócio de caráter formal.

O Dr. Coutinho de Abreu faz a distinção fundamentalmente entre dois tipos de cláusulas:

A. cláusulas de organização e funcionamento, sendo que aqui a interpetação deve ser mais
objetiva;
B. cláusulas que digam respeito entre as relações entre os sócios e estes e a sociedade, que apelam
sobretudo às regras do art. 236º a 238º CCivil.

O Dr. Soveral tem uma posição um pouco diferente:

1) Temos que ver se estamos nas relações entre sócios que foram fundadores da sociedade e,
portanto, celebraram o ato constitutivo, aqui não repugna aplicarmos os art. 236º ao art. 238º
CCivil.
2) Se, pelo contrário, estamos perante sócios que entraram posteriormente na sociedade ou se
estamos nas relações com terceiros, o cunho objetivo da interpretação deve ser reforçado.

O ato constitutivo pode também colocar um problema de integração de lacunas.

O Dr. Coutinho admite o recurso ao art. 239º CC: haver a possibilidade de recorrer a normas supletivas,
mas estas podem não ser suficientes, então teremos que recorrer à vontade hipotética conjetural, mas
eventualmente isso poderá nao ser adequado em função do que são as exigências resultantes da boa fé.

Quer uma quer outra suscitam algumas dúvidas quando estamos a falar de relações com terceiros. Se
faz sentido recorrer a estas regras quando estamos a falar das relações entre os sócios, nas relações com
terceiros isto é duvidoso. O Dr. Soveral pergunta se não será mais razoável convocar as normas sobre
integração de lacunas da lei.

6. Invalidades do ato constituinte. Breve nota. Consequências da invalidade do contrato

Temos desde logo uma regra para o momento anterior ao momento definitivo do registo, vai
se aplicar o regime dos negócios nulos ou anuláveis, exceto quanto ao art. 52º CSC que diz respeito às
consequências de declaração de nulidade ou da anulação do ato constitutivo.

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Depois do registo é que a situação complica um pouco: vamos dar especial atenção ao art. 42º
CSC – efeitos do registo e efeito sanante (diz respeito a sociedade por quotas, anónima ou em comandita
por ações). Este regime de invalidade é um regime que preve a possibilidade da sanação de certas
invalidades nos casos previstos no nr.2.

Se concluirmos que o ato constituiente diz respeito a uma sociedade atipica então parece que este artigo
já não pode ser aplicado. Se for uma sociedade em nome coletivo ou em comandita simples temos regras
nos artigos seguintes.

Há no art. 44º uns desvios quanto ao regime de invalidade, especialmente em matéria de nulidade de
negócios jurídicos, limitando-se aqui a legitimidade para intentar a ação. Há um prazo para intentar a
ação de nulidade, exceto para o MP.

Importância do art. 52º - a sociedade não desaprece, entra em liquidação. No nr. 2 há uma limitação
quanto aos efeitos dessa declaração de anulação, os negócios jurídicos celebrados anteriormente em
nome da sociedade não vão ver a sua eficácia afetada, importante do ponto de vista de terceiros que se
relacionaram com a sociedade.

7. Acordos parassociais

Tem o regime previsto no art. 17º CSC – podem ser acordos de variada natureza. Podem dizer
respeito ao exercício do direito de voto, transmissão das participações sociais ou outros aspetos relativos
à vida da sociedade e direitos e obrigações dos sócios.

Pode ser celebrado entre todos os sócios ou apenas alguns, bem como pode ser no mesmo momento
do ato constitutivo ou até antes – pode suscitar problemas especiais.

Será que ainda se pode falar de acordo parassocial quando o mesmo é celebrado com alguém que não
é sócio, ou seja, quando intervêm sócio e terceiros? A ver do Dr. Soveral já não será um acordo
parassocial pois não está previsto como tal no artigo, sem o prejuízo de apesar de não ser um acordo
parassocial, poder-mos aplicar ainda assim o art. 17º por analogia.
Da mesma forma não será acordo parassocial um acordo entre os sócios e a sociedade.
Não é essa a opinião de muitos autores.

Para além das regras restritivas do art. 17º/2 e 3, com algumas proibições muito importantes,
temos que ter a noção de que um acordo parassocial pode ter muitas outras consequências sobretudo
quando estamos a falar de acordos parassociais de sociedades abertas. No CVM estão previstas várias
situações de imputação de direitos de voto a quem não é titular de participações sociais naquela
sociedade, imputação de direitos de voto a quem não é titular daquelas participações mas pode ser
titular de outras participações. E portanto, um acordo parassocial pode levar a que votos inerentes a
participações de outros sócios sejam imputados por via do acrodo parassocial a quem não é titular
dessas mesmas participações sociais.
Um acordo parassocial pode ser celebrado por razões muito variadas, desde logo, razões relacionadas
com o regime jurídico – não é o mesmo ao qual fica sujeito um ato constitutivo.
 Vamos ter diferenças em matérias de cláusulas admissíveis, há cláusulas que podem constar do
acordo e não podem estar no ato constitutivo e vice versa.
 Por outro lado, em matéria de alteração do negócio em causa, se estivermos a falar de alteração
no acordo parassocial temos umas regras diferentes da alteração do ato constitutivo.
 O regime em matéria de interpretação e integração também é diferente.

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 Em matéria de publicidade, o acordo parassocial está sujeito a publicidade, há exigências


específicas para sociedades abertas, instituições de crédito e sociedades financeiras,
seguradoras.

Em regra, um acordo parassocial só produz efeitos entre as partes mas há certas situações em
que não é exatamente assim: se tivermos um pacto de preferência que pode ter eficácia real, então
produz efeitos erga omnes e teremos um direito real que aquisição. Além disso, o CC nos art. 443º e ss
trata dos contratos a favor de terceiros. Um acordo parassocial pode conter um regime que permita falar
de um contrato em favor de terceiro, e quando assim seja, o art. 444º CC até estabelece que o terceiro
adquire o direito à prestação independentemente de aceitação = produz efeitos a favor de terceiros.

Existem diferenças também em matéria de forma para o ato constitutivo e para o contrato
parassocial, bem como exigências de validade – diferenças entre as regras do contrato de sociedade e
as regra dos negócios jurídicos.

No caso dos acordos parassociais podemos ter acordos relativos ao exercício do direito de voto,
necessidade de os sócios conversarem uns com os outros, à obrigação de tomarem certas deliberações,
acordos parassociais que incidam sobre a transmissão das participações sociais com cláusulas diferente.
Podemos ter claúsulas que impõem a transmissão: claúsulas de tega long – permitem acompanhar outro
sócio quando este transmite a sua participaçao; claúsulas de draga long – arasta outro sócio quando se
decide transmitir.

Pode ser útil incluir clausulas que permitam resolver situações de impasse.
Exemplo: quando um sócio tem 50% das quotas e o outro sócio outra quota da restante metade
o que pode suscitar dificuldades no momento de voto e decisão. Cláusulas de “roleta russa” – um sócio
numa circunstância dessas pode oferecer à outra parte, para adquirir a quota do outro sócio por um
determinado valor e esse outro sócio tem o direito de aceitar a proposta ou pelo contrário adquirir o
direito de ficar com a quota do proponente pelo mesmo valor que lhe foi oferecido. A faz a proposta de
vender por 1000, a B. B pode vender por 1000 ou dizer que fica com a quota do A por esse mesmo valor.
Isto é um estímulo para que quem inicia o processo faça uma proposta elevada.

Aula virtual 18.03.2020

CAPÍTULO IV – PERSONALIDADE E CAPACIDADE DAS SOCIEDADES COMERCIAIS

1. Aquisição da personalidade jurídica. O art. 5.º do CSC

Não existe conceito específico de personalidade ou capacidade só para sociedades. Vamos usar os
conceitos que aprendemos em Teoria Geral.

 Personalidade: aptidão para ser titular autónomo de relações jurídicas. Personalidade ou se tem
ou não tem.

 Capacidade Jurídica (ou de gozo): aptidão para se ser titular de um círculo de relações jurídicas.
A capacidade não tem uma medida certa, única. Ela pode ser e é limitada. Pode-se ter mais ou
menos capacidade. As pessoas coletivas tem uma medida menor de capacidade do que as
pessoas singulares. Justamente porque ela é variável, podemos ter na pessoa coletiva X uma
medida diferente de capacidade da pessoa Y.

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2. Sentido e limites da personalidade jurídica. Em especial, a desconsideração da personalidade


coletiva: os casos de imputação e os casos de responsabilidade

Não há um “quanto?” de personalidade jurídica porque ou se tem ou não tem. Mas podemos
perguntar “quando?” é que surge a personalidade jurídica ou quando é que passa a existir pessoa
jurídica. A resposta está na lei, as sociedades comerciais passam a ter personalidade no momento do
registo definitivo do ato constituinte – art. 5º CSC. Significa que o registo tem natureza constitutiva, com
ele nasce a pessoa jurídica da sociedade comercial. A sociedade comercial pode ter uma duração por
tempo indeterminado – art. 15º CSC, ou seja as sociedades podem não morrer, mas podem extinguir-se
com o registo de encerramento da liquidação – art. 160º/2 CSC.
O legislador apresenta outros casos em que nasce uma sociedade, são eles o da fusão (art. 112º)
e da cisão de uma sociedade (art. 120º). A fusão e a cisão, que podem ser causas de constituição de uma
sociedade, podem também ser causa da sua extinção de uma sociedade. Como afinal pode isto
acontecer?

Casos de Fusão:

1) Temos a Sociedade A e a Sociedade B. B pode entrar na sociedade A, e fruto dessa incorporação,


a sociedade B deixou de existir = fusão por incorporação (art. 97º/4/a) CSC);
2) Temos a Sociedade A e a Sociedade B. Juntas vão constituir uma sociedade nova, C. A e B vão
deixar de existir. A fusão extinguiu 2 sociedades e criou uma nova = fusão dissolução (art.
97º/4/b) CSC).

Casos de Cisão:

1) Temos a Sociedade A que, nos termos da lei, destaca parte do seu património para construir
uma sociedade B. A continua a existir, mas acresce uma sociedade nova B constituida em virtude
da cisão de A = cisão simples (art. 118º/1/a) CSC)
2) Temos a Sociedade A que vai dividir-se em 2 sociedades novas B e C. Fruto dessa cisão extingue-
se a A mas constitui-se a B e C = cisão dissolução (art. 118º/1/b) CSC).

Quem é que está sujeito a este regime de personalidade jurídica?

 Sociedades comerciais;
 Sociedades civis sob forma comercial.

Sociedades civis que não adotam forma comercial têm personalidade jurídica? Isso já é
discutível, mas a posição de Coimbra é que não gozam de personalidade jurídica.

O quê? Para quê? Saber se não deve haver lugar à relativização da personalidade jurídica – não vai ser
muito abordado nas aulas.

Desconsideração da personalidade jurídica – é uma matéria complexa no plano teórico e prático. São
muitas construções que giram em torno deste tema bem como a falta de consenso na doutrina e
jurisprudência. Em face de uma situação concreta não é evidente se sim ou não, se se deve desconsiderar
a personalidade. São muitas as questões que se colocam uma vez que não são evidentes os seus
fundamentos, o seu âmbito e amplitude, consequências ou efeitos e também a própria legitimidade (até
que ponto, em face de uma lei que determina a existência de personalidade jurídica, o aplicador do
direito pode ultrapassar essa barreira da personalidade jurídica).

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A sociedade é uma pessoa juridica e os sócios são outras pessoas juridicas. E porque são pessoas distintas
a desconsideração é um saltar da barreira da personaldiade que existe entre eles.

Noção possível (existem várias): derrogação ou não observância da autonomia jurídico subjetiva
e/ou patrimonial das sociedades em face dos respetivos sócios. Não existe uma noção óbvia ou
consensual de personalidade jurídica. Podemos dizer que temos 2 círculos de dimensões muito
diferentes:

Um bastante grande onde se incluem os casos em que a própria lei desconsidera a personalidade
jurídicia. Há uma norma nos termos da qual se parece chegar a uma desconsideração da personalidade
jurídica.

Outra visão, mais restritiva do que esta, em que os casos que a própria lei determina a
desconsideração jurídica, não são casos que se incluam neste universo. Ou seja, nos casos em que se há
uma previsão legal então não há desconsideração jurídica – art. 254º/2 CSC: a norma em casua proibe
que o gerente das sociedades por quotas concorra com essa sociedades. Há um gerente que é sócio de
uma outra sociedade que, essa sim, concorre com a sociedade onde ele é gerente, ou seja, tanto pode
ser concorrência direta ou indireta por intermédio da sociedade. Para quem tem uma visão mais ampla,
isto é um caso de uma solução legal que desconsidera a personalidade jurídica. Ao invés, para quem
tenha uma visão mais restrita, se isto está lei, então não é um caso de desconsideração jurídica. O Dr.
Pedro Maia prefere a visão restritiva, quando temos esta visão separamos dois universos muito distintos.
Uma coisa é aqueles casos em que a propria lei equipara situações destas, um sujeito e outro sujeito, é
uma questão de interpretar e aplicar a lei. Outra coisa diferente são os casos para os quais não podemos
invocar nenhuma norma para resolver. São esses os casos em que, verdadeiramente, a desconsideração
tem a sua particularidade e onde oferece maiores dificuldades.

Qual é o fundamento jurídico da desconsideração da personalidade jurídica?

A Personalidade Jurídica tem fundamento na lei e se desconsideramos a PJ então pdoemos dizer


que de certo modo estamos a desconsiderar a lei e a violar a lei (contra legem). Não existe norma legal
para a desconsideração da PJ e isto levanta certos riscos como o facto de isto possa redudnar numa
arbitrariedade de quem aplica a lei, se quer ou não respeitar a PJ. Podia transformar um juiz aplicador
num anti-legislador, dado que estaria a desconsiderar aquilo que o legislador criou. É portanto uma
matéria crucial saber o fundamento da desconsideração da PJ.

Um dos fundamentos apresentados pela doutrina é a interpretação teleológica (?? Há dúvidas).


Saber se quando chegamos a determinada solução com base na interpretação teleológica estamos a
fazer algo que seja desconsiderar a PJ ou a fazer outra coisa mais simples, aplicar a lei devidamente
interpretada. Se os caos em que a interpretação teleológica é que funda a desconsideração da PJ, para
quem tem uma noção restritiva, estaremos ainda no âmbito da aplicação de uma lei devidamente
interpretada que leva para um resultado de desconsideração.

Outro fundamento: abuso de direito. O senhor A que é sócio e está, por força de uma probição legal,
proibido de determinado comportamento, e não tem esse comportamenteo, mas é a sociedade que o
faz. Ele serve-se da sociedade para contronar essa proibição ou dever que assumiu.

Grupos de casos:

Na ausência de lei, o mecanismo que tem sido utilizado pela doutrina e jurisprudência é selecionarem
uns casos arrumados em grupos para saber quando estariamos perante uma desconsideração. Estes não

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constituem lei. Não se trata de dizer sempre que acontece a situação A então há desconsideração da PJ.
Apresentam-se casos em que é apenas expectável que se desconsidere a PJ. São dois grupos:

(1) DESCONSIDERAÇÃO POR VIA DA IMPUTAÇÃO – determinados conhecimentos, comportamentos ou


qualidades de sócios que possam ser referidos ou imputados à sociedade ou vice versa. Comportamento
que sendo da sociedade vão ser imputados aos sócios. E desta forma se desconsidera a PJ da sociedade.

1. a) trespasse: alguém transmite a outrem (trespassário) um estabelecimento comercial. Fruto


desse trespasse emerge para o trespassante uma obrigação implicita de não concorrência (do
trespassante). Vamos supor que essa pessoa se faz sócia, gerente ou administradora de uma sociedade.
Por força da personalidade jurídica da sociedade, ela é uma pessoa diferente dos seus sócios. Por isso,
em princípio, a proibição de não concorrer que afeta o sócio, não afetaria a sociedade. ela poderia
livremente concorrer com o trespassário sem que isso consubstanciasse uma violação da obrigação
implicita da concorrência. Porém, justamente por força da desconsideração da PJ da sociedade, essa
atuação da sociedade vai ser imputada ao sócio. Se o sócio não o podia fazer também a sociedade não
pode. Estamos a imputar ao sócio um comportamento que é da sociedade.

1. b) venda da totalidade ou maioria das participações sociais: A é sócio de uma determinada


sociedade em mais de 50% e faz uma transmissão das suas ações/quotas (participações sociais) para
outra pessoa. A sociedade tem os seus bens, pode ter fábricas, estabelecimentos. Neste caso, do ponto
de vista da pessoa jurídica que interveio no negoico, que é o socio, e o titular da fábrica, há uma
separação, são duas pessoas distintas. Dir-se-ia que um qualquer vício ou facto respeitante à fábrica
(bem que pertecne a sociedade) seria irrelevante no que toca ao negócio da transmissão das ações do
sócio. Mas não é assim (ou pode não ser assim) por força da desconsideração da PJ. Por exemplo, pode
aplicar-se, semelhantemente, à venda das participações socias, o regime da venda de bens onerados se
por ventura houver uma oneração nos bens da sociedade – art. 905º e ss e 913 e ss. Também igual
equiparação podera resultar para uma situação de uma obrigação implícita de não concorrência: o sócio
ficar abrangido por essa obrigação em virtude de esta transmissão ser equiparada a um trespasse.
Desconsideração da PJ: um negócio que é celebrado por um sócio, sobre participações sociais, a ser
tomado como um negócio sobre um bem diretamente da sociedade apesar de exsitir uma pessoa
jurídicia autónoma entre elas.

1. c) venda a filhos ou a netos – art. 877º CCivil. Se o casal tiver 4 filhos, por força desta norma,
para que haja doações a algum dos filhos é necessário o consentimento dos restantes. Imaginemos que
2 destes filhos são sócios de uma sociedade, a sociedade é outra pessoa jurídica diferente e, portanto,
dir-se-ia que no caso do casal fazer uma doação à sociedade, não se aplicava o art. 877º CC. Sucede que
justamente dada a relação dada a relação dos filhos com aquela sociedade, o recurso à desconsideração
da PJ, devemos considerar esta venda como venda a filhos e portanto para a sua validade carece do
cosnentimento dos restantes filhos.

1. d) inoponibilidade a terceiros de boa fé – art. 291º CCiv – ou das excepções extra-cartulares


– art. 17 LULL. A saca sobre B uma letra a favor de C. C endossa esta letra a D. Vamos supor que D é uma
sociedade em que C é gerente ou mesmo sócio maioritário. A sociedade D é outra pessoa jurídica, no
plano da PJ, C não é D. por uma qualquer razão A tinha uma excepção que poderia opor a C, por se tratar
de um domínio de relações imediatas. C tinha coagido A ou havia um qualquer vício na relação
subjacente, portanto, A tinha uma excepção extra-cartular que podia opor a C, podia porque se tratava
do domínio das relações imediatas, mas não podia opor a D, porque é um portador mediato (as
excepções são inoponíveis). Também aqui, por força da desconsideração da PJ, vmaos poder chegar ao

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resultado de que aquilo que é verdadeiramente de D como se fosse de C. estamos a imputar o D,


sociedade, conhecimentos que são de C, seu sócio ou gerente.

1. e) conflito de interesses – alguém é sócio de uma sociedade, nos termos da lei, há certas
circunstâncias em que se afirma exsitir um conflito de interesses entre sócio e sociedade. Exemplo: 251º,
384º/6 CSC – sócio A está a comprar ou a vender qualquer coisa à sua sociedade X e é preciso deliberar
sobre isso. Ele está numa situação de conflito de interesses com a sociedade, logo, a lei dispõe que o
sócio não pode votar.
Agora imaginemos que, afinal, a pessoa A é sócio de uma outra sociedade, Y, e essa sociedade sim é
sócia da sociedade X que tem a relação de conflito com a pessoa singular A. O que teriamos era que,
formalmente, a sociedade Y podia votar enquanto sócia na deliberação a tomar, ela própria não tem
conflito nenhum. Mas por força da desconsideração da PJ, o que vamos ter é que, aquilo que a pessoa
singular A não podia fazer, estava impedida de votar, também a sociedade não poderá fazer.

(2) DESCONSIDERAÇÃO POR VIA DA RESPONSABILIDADE – a separação patrimonial, que a personalidade


jurídica oferece, é afastada. Temos uma sociedade anónima cujos sócios não são responsáveis pelas
dividas da sociedade (o tipo implica essa separação entre o património dos sócios e da própria
sociedade). Por via da desconsideração da PJ esta seapração patrimonial pode deixar de existir e fazer
com que os credores da sociedade agridam o património de um dos sócios, exatamente através da
desconsideração da PJ da sociedade para efeitos de responsabilidade. Aqui já não é igualmente claro
que possa ter um sentido inverso.

Notas: embora não sendo isto linear, tendencialmente os casos de imputação tem o seu fundamento na
interpretação teleológia e os casos de responsabilidade tem mais que ver com o fundamento do abuso
de direito.

2. a) descapitalização provada pelos sócios: as sociedades existem para exercer uma atividade
económica que se espera gerar riqueza, receita para a sociedade. Por força da PJ, esta receita é da
própria sociedade e não dos sócios. Mas os sócios podem fazer algo que colide ou contraria esta
separação, eles podem constituir uma segunda sociedade (2) e podem limitar a atividade da primeira
sociedade (1) e transferi-la para a sociedade 2, fazendo com que a sociedade 2 passe a fazer o que a
primeira fazia, desviando os seus clientes, negócios e fazer singir a atividade da primeira sociedade e
aumentar a atividade da segunda sociedade. Isto tem efeitos patrimoniais, a primeira vai ter cada vez
menos riqueza tornando-se insolvente enquanto a segunda vai ter cada vez mais. Os credores da
primeira sociedae estão neste caso em risco, os sócios tiveram uma atuação de descapitalização, levando
o benefício económico para a segunda sociedade. Quando isto acontece, a doutrina refere-se ao abuso
da personalidade coletiva – assenta num ato ilícito, porque a conduta dos sócios é violadora das regras
de direito, e é culposa, seja por dolo ou negligência. Uma tal atuação gera danos para os credores da
sociedade e, uma vez que existe aqui um nexo de causalidade, então podemos dizer que estão aqui
preenchidos os pressupostos das responsabilidade – isto leva à desconsideração da PJ e,
consequentemente, acontece aquilo que normalmente não acontecia, os sócios serão responsáveis
pelas dívidas da sociedade.

Esta solução é discutível, tanto o caminho a seguir para se chegar a determinada solução como a solução
em si mesmo. Uma sociedade é uma pessoa jurídica que tem o seu património e, porque os sócios são
pessoas distintas, o património dos sócios é dos sócios. Num caso como este, em que os sócios causaram
o empobrecimento da sociedade, uma conduta que causou danos, em virtude disso gera-se uma
responsabilidade dos sócios perante a sociedade.

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I. Responsabilidade interna: por força desse regime vamos ter que o património dos sócios deve
indemnizar o da sociedade – vai receber no seu patrimonio o valor correspondente ao dano causado
pelos sócios. Isto acontece porque os sócios agiram contra os bons costumes ou contra o dever de
lealdade. Os credores da sociedade vão ser satisfeitos através do patrimonia sa sociedade que incorpora
aquilo que ela já tinha e aquilo que passou a ter graças ao património dos sócios – o caminho da
responsabilidade interna fez com que os credores fossem pagos. Não temos um acesso dos credores ao
património dos sócios, eles apenas agridem o património da sociedade e, portanto, esta não é uma via
que passe pela desconsideração da PJ, tudo se passou com inteiro respeito pela PJ. Os sócios
indemnizaram internamente os danos causados à sociedade.

II. Responsabilidade externa: o caminho da desconsideração da PJ é diferente – os sócios


respondem diretamente perante os credores da sociedade. São pagos em parte com o património da
sociedade e, em outra parte, são pagos diretamente com o património dos sócios.

Qualquer das vias têm inconvenientes identificados pela doutrina:

 I. RESPONSABILIDADE INTERNA:
 A sociedade não vai demandar os sócios. Para ser indemnizada é necessário que a
sociedade acione os seus próprios sócios, mas é pouco provável que isso aconteça. Eles
convivem na mesma realidade, muitas vezes os sócios são os próprios gerentes,
administradores que representam e decidem por ela.

 Há danos causados aos credores que não foram causados à sociedade. Podemos ter os
sócios a indemnizar a sociedade, mas na verdade, se os credores tiverem tidos outros
ou mais danos isso não vai ser tido em conta.

 Existe uma ação sub-rogatória seria uma solução complexa e custosa (art. 606º CCivil).
Os credores podem substituir-se à sociedade para demandar os sócios. É um mecanismo
para a tutela dos credores, exigindo assim a responsabilidade dos seus sócios.

 II. RESPONSABILIDADE EXTERNA:


 Impõe uma desigualdade de sortes dos credores. Se há responsabilidade externa então
cada credor terá que accionar a sociedade tentando a desconsideração da PJ e accionar
também cada um dos sócios. Cada credor terá que acionar os sócio para ser ressarcido.
Como cada credor o fará pessoalmente, poderão vir a ter sortes diferentes porque a
desconsideração da PJ requer que se verifiquem determinados pressupostos. E pelas
mais diversas vicissitudes processuais, desde logo o êxito da prova, podem vir a
acontecer que diferentes credores da mesma sociedade venham a ter sortes diferentes
na exigência do pagamento dos seus créditos por parte dos sócios. Pode vir a acorrer
que num processo entandam que há lugar à desconsideração e noutro tribunal, noutro
processo, que não – pode haver respostas muito dispares no momento da decisão.

Os credores de pequenas quantias terão menos estímulo para aceder a serviços jurídicos
para construir a sua posição com base na desconsideração da PJ, ou porque não faz
sentido acionar inúmeros sócios para o pagamento de pequenas dívidas, ou investiram
menos na construção das ações e, consequentemente, deixaram-se ficar pelo
património da sociedade. Os credores maiores poderão ter um benefício líquido maior,
com mais oportunidades para lançar mão da desconsideração da PJ.

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Os sócios respondem diretamente perante credores então pelo mesmo dano não vão
ressarcir também a sociedade, o que se entrega ao credores não será creditado no
património da sociedade, há um valor patrimonial que poderá não estar disponível para
os pequenos credores.

 Nada impede a sociedade de descontinuar a empresa, os credores têm que contar com
esse risco. Por outro lado, também se pode dizer que esta responsabilidade protege para
lá do que é expectável.

2. b) mistura da patrimónios: o patrimonio da sociedade é responsável pelas dívidas da


sociedade enquanto os patrimónios dos sócios só respondem pelas dívidas próprias dos sócios. Pode
suceder, no entanto, que o património da sociedade e dos sócios seja misturado e não se consiga
perceber bem o que é que afinal é de uns e o que é de outrém. Isso pode acontecer porque, desde logo,
pode haver uma intensa circulação de bens entre os sócios e a sociedade, mas precisa de existir uma
adequada contabilidade dessa circulação, de modo a saber o que é que a sociedade vendeu ou comprou
aos sócios. Quando estes registos não existam ou seja insuficientes pode colocar-se o problema de saber
de quem são os bens. Quando ocorre esta mistura, os credores da sociedade podem vir a ser
prejudicados uma vez que podem existir bens sa sociedade que estejam a ser usados pelos sócios. Aqui,
por força da desconsideração da PJ os credores, no caso de insolvência da sociedade, possam lançar mão
de todos estes bens: bens da sociedade + bens que embora não estejam registados na contabilidade
como seus, fruto desta mistura de patrimónios, estão no património dos sócios.

2. c) subcapitalização material manifesta: trata-se de matéria muito discutível. Ela lida com
opções de política legislativa e está longe de ser líquida. São os casos em que a sociedade não dispõe de
capitais próprios suficientes e os sócios não suprem essa falta com, por exemplo, empréstimos seus.
Muitas sociedades não dispõe de capitais próprios para financiar toda a sua atividade, é por isso que
carecem de financiamento bancário e até junto dos seus próprios sócios. Pode ser uma:

 subcapitalização material qualificada – a sociedade não dispõe de capitais próprios


suficientes para o exercício da sua atividade. Pode ser originária – insuficiente de meios
que é evidente desde o início da atividade da sociedade. Pode ser superveniente –
insuficiência posterior.

Nestes casos, parte da doutrina afirma que se trata de um caso de abuso da personalidade coletiva. Se
os sócios introduzem ou mantêm no comércio de jurídico, na atividade económica,uma sociedade em
anifesta subcapitalização material então estão a abusar da PJ – deve afirmar-se a desconsideração da PJ.
Quem vai ser responsável nestes casos? Depende. Temos 2 universos de sujeitos:

 Se for originária então defende-se que todos os sócios devem ser responsáveis pois todos
contribuiram para que a sociedade estivesse naquela situação.
 Se for superveniente, surgido entretanto, então apenas os sócios controladores, os que
dominam a sociedade, é que devem ser responsáveis.

Em benefício de quem é que esta desconsideração da PJ opera?

Aqui a doutrina distingue entre credores fracos (aqueles que não conheciam a situação em que a
sociedade se encontrava) e os credores fortes (que conheciam a situação). Para os credores fracos há
desconsideração da PJ, para os fortes não.

OLGA STELMASHCHUK – 2019/2020 29

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Se fisessemos um gráfico desta situação, numa situação de insolvência devida à tal subcapitalização
material manifesta, os credores vão em primeiro lugar agredir o património da sociedade para se fazrem
pagar, mas se este não for suficiente eles vão subsidiariamente ter oportunidade de atingir o património
dos sócios – apenas do sócio controlador, se a subcapitalização for superveniente, ou de todos os sócios
se a subcapitalização for originária. Além disso temos outra limitação: para os credore fortes, não. Para
os credores fracos sim, haverá uma desconsideração da PJ em benefício destes.

O que é que está verdadeiramente aqui em causa do ponto de vista político-legislativo e político-
económico?

Uma sociedade exerce uma atividade económica colhendo os frutos dessa atividade e tendencialmente
vai enriquecendo com ela. É para isso que ela opera. Mas isso pode não acontecer justamente porque
existem riscos associados à atividade económica, ela pode vir a empobrecer. A questão é saber, quando
as coisas não correm bem, quem é que suporta as consequências. As sociedades de responsabilidade
limitada (as mais usadas no tráfego, sociedades por quotas e anónimas). Fruto dessa responsabildiade
limitada, os sócios estão protegidos, o risco é limitado mas não desaparece, o risco é transferido para os
credores da sociedade. Isto está conforme com a política-legislativa?
Hoje fala-se muito em incentivar o empreendorismo e para isso tenta-se diminuir o risco associado à sua
atividade, também esta em casua em saber se lhe oferecemos ou não a limitação da responsabilidade –
tudo isto depende das opções legislativas.

Respostas na ordem jurídica:

1) até há pouco tempo, nas sociedades por quotas e anónimas havia capital social mínimo. Hoje,
isso mantém-se nas sociedades anónimas mas já não nas sociedades por quotas. Pode constituir-se uma
sociedade por quotas apenas com 1€.

2) existe uma liberdade de descontinuar a atividade da sociedade – o legislador permite que a


sociedade interrompa a sua atividade. Tendencialmente, elas vão vivendo enquanto forem lucrativas.
No plano jurídico o legislativo não impõe que prossigam para sempre uma detemrianda ativdade.
Quando dizemos que, por via da desconsideração da PJ, um sócio vai passar a ser responsável pelas
dívidas da sociedade se não financiou a sociedade ou não adotou patrimonialmente dos meios
suficientes necessários para o efeito, estamos a dizer aos sócios que eles vão correr um risco muito
maior. ou então, hão de ter primeiro meios próprio e suficiente para dotarem a sociedade desses meios
e só depois ela pode exercer a atividade. Isso pode ter um efeito muito perverso sobre a iniciativa
económica e mesmo sobre a capacidade de empreendedores, porque não têm meios capitais próprios
suficientes, de acederem à atividade – nunca o poderiam fazer porque na ausência de meios próprios as
sua sociedades serão, naturalmente, subcapitalizadas no plano material e, portanto, para eles haverá
responsabilidade ilimitada. Esta é a coclusão que temos que tirar daqui. Mas esta doutrina é muito
discutível, longe de conseguir consenso.

3. Capacidade jurídica das sociedades comerciais. A capacidade de gozo limitada pelo fim social
(e não pelo objeto). Outras soluções possíveis. Liberalidades e garantias

Delimitação da capacidade pelo fim social

As pessoas humanas têm uma capacidade diferente das pessoas coletivas pois estas têm capacidade
limitada. Em que medida é limitada?

OLGA STELMASHCHUK – 2019/2020 30

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2 extremos que se podem ter sobre esta matéria. Estes extremos possíveis têm as suas vantagens e os
inconvenientes. As vantagens de um são as desvantagens do outro e vice-versa.

 Limite à capacidade jurídica como limite geral – dentro universo de possibilidade da pessoa
coletiva ela tem a capacidade juridica toda, seja la qual for a pessoa coletiva. O universo da
Capacidade Juridica das pessoa humana é amplo, máximo e rrestrito e dentro dele temos um
círculo mais pequeno das pessoas coletivas.
Vatangens:
 segurança do tráfico – é bom não ter que conhecer cada pessoa coletiva com
que se contrata. Qualquer pessoa coletiva tem a mesma capacidade geral,
que é a máxima possível;
 rapidez nos negócios ou para contratar – não se perder tempo a estudar a
capacidade de cada uma delas;
 proteção de terceiros – ficam muito mais desobrigados face as circunstâncias
particulares de cada pessoa coletiva pois o regime da capacidade é igual para
todas as pessoas coletivas.

 Extremo oposto: capacidade jurídica muito limitada (doutrina dos atos ultra vires) – significa que
cada sociedade ou pessoa coletiva têm a sua capacidade limitada pelos estatutos. A medida da
capacidade é um medida individualizada. Temos um universo das pessoas humanas com a
capacidade máxima e dentro dele um mais pequeno das pessoas coletiva, só que dentro deste
útlimo, cada pessoa coletiva tem a sua própria capacidade definida individualmente. Para uma
pode ser uma parte x e para outra pessoa coletiva pode ser a parte y.
Vantagens:
 proteção à pessoa coletiva que se limitou através dos seus estatutos ou
determinada atividade/finalidade. Assegura o cumprimento desse desígnio
da pessoa coletiva e se, por ventura, forem praticados atos fora desse
universo definido para aquela pessoa coletiva, então o ato estará fora da sua
capacidade e não a vinculará.
 proteção dos sócios – estando definida a capacidade eles estão garantidos
de que se algum agente praticasse outro ato para além dos permitidos, a
sociedade não ficaria vinculada.

QUAL É A POSIÇÃO DO DIREITO PORTUGUÊS?

Art. 6º/1 CSC – “a capacidade da sociedade compreende os direitos e obrigações necessários ou


convenientes à prossecução do seu fim excetuados aqueles que lhe sejam vedados por lei ou sejam
inseparáveis da personalidade singular.”

Temos uma regra e duas excepções: “vedados por lei” – exemplo: direito de uso ou habitação (art. 1484º
CCiv); e “inseparáveis da personalidade singular” – direito da família (casamento, adoção, perfilhação).

Com base nesta norma podemos dizer que naquele universo que é o universo da pessoas
humanas, há um círculo menos restrito à capacidade das sociedades, está limitado pelo fim que é o
escopo lucrativo. Nas sociedades há a projeção do princípio da especialidade do fim (art. 160º CCiv) e o
fim das sociedade é o escopo lucrativo e, é esse fim, que limita a capacidade das sociedades comerciais.
Estão fora da capacidade os atos contrários ao fim – atos gratuitos (prestação ou vantagem sem
contraprestação) – é esta a regra.

OLGA STELMASHCHUK – 2019/2020 31

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Atenção: o escopo lucrativo não é obter lucros, é prosseguir, tentar ter lucros. O fim reside no intuito.
Ele não está no resultado. Uma sociedade sem ter violado o seu fim, pode nunca ter conseguido obter
lucros, mas isso nada tem a ver com a violação do próprio fim.

As excepções: atos gratuitos que, em princípio, seriam contra o fim, se forem necessário ou
convenientes ao escopo lucrativo serão atos gratuitos conformes com o fim.

Exemplo: a sociedade concede um empréstimo sem juros (gratuito) a um fabricante que é um


fornecedor importante para a sociedade mas que está a passar dificuldade económicas. A sociedade faz
este empréstimo porque tem todo o interesse em que o fabricante continue a sua atividade para a
sociedade também laborar, o ato é lhe conveniente ou necessário.

Exemplo: perdão de dívida : a sociedade tem um cliente importante que está com dificuldade
financeiras e perdoa-lhe a dívida convencidade de que desse modo o cliente continue a laborar, a
comprar e a ser seu cliente.

No direito português temos a capacidade humana, mais restritamente temos a capacidade das
pessoas coletivas e dentro desta a capacidade das sociedade, graças ao seu fim lucrativo que singe a
capacidade das sociedade. Outras pessoas coletivas. como as fundações ou associações, não têm a
mesma capacidade que as sociedades. As sociedades não estão naquela configuração geral da
capacidade jurídica das pessoas coletivas. Mas também não têm uma configuração estritamente
individual.

Embora por via daquelas exceções é possivel moldar a sua capacidade, no direito português temos um
sistema geral limitado. A base da capacidade juridica da sociedade é uma definição geral, do escopo
lucrativo, independentemente de qual seja a sociedade, mas é um geral limitado porque depende da
finalidade daquela própria sociedade com os pontos que decorrem de 2 aspetos.

O nosso sitema tem, portanto, a vantagem de apresentar a segurança do que é geral, porque
todos os atos não gratuitos são conformes com a capacidade da sociedade. inconveniente: os atos
gratuitos serão validos ou não consoante a uma apreciação individual.

Sistema geral limitado: assenta num critério de capacidade das sociedades que é um critério
igual para todos que é o fim lucrativo, e isso define a capacidade de todas as sociedade mas depois o
legislador introduziu um aspeto de individualização que faz apreciar o ato daquela sociedade em
concreto – temos alguma incerteza nesta matéria.

Regime do ato contrário à capacidade: o ato que a sociedade pratique mas que esteja fora da
sua capacidade é um ato que padece de nulidade. Entre nós a doutrina não tem uma opinião unânime.

 Regime da nulidade geral – art. 286º CCivil.


 Pode trata-se de uma deliberação nula dos sócios (art. 56º/1/d), ou de uma deliberação nula em
virtude do regime aplicado as deliberações do conselho de administração (art. 411º/1/c) CSC).
 Este regime é, sem dúvida, imperativo, e por isso, não podem os estatutos, ao abrigo do art.
9º/3 CSC, dispor diversamente ou livremente sobre esta matéria – não podem atribuir um círculo
de capacidade maior do que aquele que lhe impõe o art. 6º/1 CSC, limitada pelo seu fim
lucrativo.

4. Capacidade de exercício das sociedades comerciais

Devemos distinguir o que é capacidade daquilo que é vinculação.

OLGA STELMASHCHUK – 2019/2020 32

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Dentro do círculo da capacidade das pessoas humanas temos o círculo da capacidade das
sociedades. O círculo da capacidade pode dizer-se que é um circulo de possibilidade porque é aquilo que
a sociedade pode fazer. Podendo a sociedade atuar dentro desse universo então é possível ela aí
vincular-se – universo máximo da vinculação da sociedade. Mas não é um universo igual ou
necessáriamente igual. Dentro desse universo é preciso perguntar se em cada ato foram cumpridas as
regras ou requesitos para vincular a sociedade àquele ato.

Exemplo: saber se o administriador podia ter agido ou se devia ter sido antes o sócio, se era necessária
uma deliberação e ela foi efetivamente tomada, etc.

Temos que verificar se as regras da vinculação foram observadas. Podemos ter casos em que
apesar do ato estar dentro da esfera da capacidade da sociedade, todavia, naquele caso concreto não
ficou. Não porque o ato estava fora, mas sim porque naquele contratação não se observaram as regras
da vinculação. Exemplo: não interveio o gerente que tinha poderes para o ato.

O objeto social não limita a capacidade

Recordar noções:
1) Objeto – é a atividade económica que os sócios estabelecem que a sociedade vá exercer ou se
proponha a exercer. Não é qualquer atividade, não pode ser de mera fruição.

2) Objeto é uma menção obrigatória no contrato de sociedade. Todos os estatutos devem ter
identificado o objeto da sociedade e estes são publicados e conhecidos de terceiros – art. 9º/1/d) CSC.

Quid iuris se a sociedade (o orgão da administração) desrespeita o objeto praticando atos que
não correspondem à atividade económica fixada nos estatutos?

O que se entende por atos fora do objeto?

A pergunta não tem resposta óbvio. No entender do Dr. Pedro Maia deve-se entender que só podem ser
considerados “atos fora do objeto” aqueles atos que pudessem constituir objeto da sociedade (por
corresponderem ao exercício de uma atividade aconómica que não seja de mera fruição).

Atividades económicas possíveis para


serem o objeto de uma sociedade.

Universo de atos que os sócios


identificaram nos estatutos como sendo o
objeto daquela sociedade. Selecionaram
um determinado universo mais pequeno.

Tudo o que está fora deste quadrado, mas dentro do círculo, são os atos fora do objeto. Podiam
constituir o objeto da sociedade mas não constituem objeto daquela sociedade porque os sócios
não o elegeram. Estão à margem desta categorização, de “dentro” ou “fora” do objeto, aqueles atos
que não correspondem ao exercício de uma atividade económica que não seja de mera fruição –
esses atos, porque não podiam estar dentro do objeto, também não faz sentido dizer que estão fora
do objeto. Os atos que estão “fora do objeto” são aqueles que, podendo estar dentro, naquela
sociedade estão fora porque os sócios não os selecionaram.

OLGA STELMASHCHUK – 2019/2020 33

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Voltanto à pergunta “quid iuris se o orgão da administração praticar atos fora do objeto fixado
nos estatutos?” – encontramos a resposta no art. 6º/4 CSC: as cláusulas contratuais e as deliberações
que fixem à sociedade determinado objeto ou proíbam a prática de certos atos não limitam a capacidade
da sociedade, mas constituem os órgãos da sociedade no dever de não excederem esse objeto ou de
não praticarem esses atos. Ou seja, o legislador dá nos uma resposta clara: o objeto não limita a
capacidade. Todavia, a norma tem duas projeções:

1ª) projeção externa: na relação com terceiros não limita a capacidade, então, um ato contrário ao
objeto não é nulo por violar a capacidade da sociedade. Isto ao contrário do que vimos acontecer para
os atos que violam o fim, esse estão fora da capacidade e são nulos. Mas o ato que é contrário ao objeto
não é nulo! Os atos praticados à margem do objeto não são nulos.

Exemplo: se a sociedade faz uma compra para revenda de um bem imóvel e não está no seu objeto
efetuar compras para revenda, ela está a praticar um ato fora do seu objeto. Mas essa compra para
revenda poderia constituir objeto da sociedade, pois consubstância o exercício de uma atividade
económica sem ser de mera fruição.

2ª) projeção interna: constituem os órgãos da sociedade no dever de não excederem esse objeto ou de
não praticarem esses atos.

(1) CONSEQUÊNCIAS EXTERNAS

Não há nenhuma consequência para os atos praticados fora do objeto? Tanto faz ser praticado dentro
ou fora? Os atos contrários ao objeto são válidos (uma vez que não são excluídos da capacidade) e
também eficazes (porque incluidos nos poderes dos gerentes e administradores)? Isto são dois
problemas distintos.

Resposta: Depende do tipo societário.

 Sociedades em nome coletivo (art. 192º/2 e 3 CSC) + sociedades em comandita simples (art.
474º CSC):

 os gerentes não têm competência para praticar atos fora do seu objeto. O ato praticado é eneficaz.
Não se trata de um limite à capacidade da sociedade, ela continua a ter capacidade, o ato não é nulo,
mas o gerente não tem poderes para praticar o ato fora do objeto. O ato é eneficaz relativamente à
sociedade = pode opor a terceiros a sua não vinculação/ a sua ineficácia. Mas, justamente porque o ato
não é nulo, ele pode vir a ser retificado pela sociedade através de uma deliberação unânime pelos sócios.

 Sociedades por quotas (art. 260º/1 CSC) + sociedades anónimas (art. 409º/1 e 431º/3 CSC) +
sociedades em comandita por ações (por remissão do art. 478º CSC aplica-se o regime das SA):

 nas SA podemos ter gerentes ou administradores e elem têm competência para praticar os atos.
Diferença total face as sociedades anteriores. A lei atribui-lhes competência mas não significa que o
possam fazer livremente. O facto de terem competência tem uma grande implicação: o ato praticado
pelo gerente ou administirador fora do objeto, será valido e eficaz. Esta é a regra.

Excepção: em vez de o ato ser eficaz, pode padecer de ineficácia. Comporta 2 possibilidades:

OLGA STELMASHCHUK – 2019/2020 34

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1) o terceiro saber ou não poder ignorar objetivamente que o ato estava fora do objeto
da sociedade. exemplo nos casos em que o terceiro é um contratante habitual da
sociedade ou até seu sócio. Ele sabia que a sociedade tinha aquele limite.

2) se a sociedade não tiver assumido o ato nem expressa nem tacitamente. A sociedade
pode invocar a ineficácia e só ela pode invocar, não é o terceiro que vai poder
prevalecer-se da ineficácia do ato. Também só invoca se quiser! É uma faculdade, não
está obrigada, mesmo não tendo assumido o ato, pode não se prevalecer da ineficácia.

Caso específico com regime distinto:

Aquisição de participação noutra sociedade – A é sócio da sociedade X e vai transmitir quotas ou ações
à sociedade Y. A sociedade Y adquiriu uma participação e tornou-se sócia da X. Agora vamos perguntar
se este ato (de aquisição de participações noutra sociedade) está dentro ou fora do seu objeto. Pode
praticá-lo ou não?

Resposta: depende
1) do tipo de sociedade participada – vai ser relevante saber se a X é por quotas ou nome coletivo,
anónima ou comandita simples;
2) do objeto da sociedade X e Y – será o mesmo ou diferente?

Art. 11º CSC – estabelece uma tabela implicita:

Primeiro grupo: sociedade de responsabilidade limitada (sociedades por quotas, sociedades anónimas
e sociedades em comandita relativamente às participações dos sócios comanditários, nessas o sócio tem
responsabilidade limitada):

A. Primeira possibilidade: se as sociedades têm o mesmo objeto e X é uma sociedade de


responsabilidade limitada – a resposta é SIM, a sociedade Y pode praticar este ato, segundo o
art. 11º/3. A não ser que os estatutos de Y diponham diferentemente.

B. Segunda possibilidade: se as sociedades não tem o mesmo objeto (não é relevante ver o objeto
que consta dos estatutos mas sim aquilo que a atividade económia que a sociedade
efetivamente exerce) e X é uma sociedade de responsabilidade limitada = resposta, em regra,
SIM, se existir essa autorização nos estatutos!! Se os estatutos não tiverem uma autorização
então Y não pode adquirir as participações de X, ainda que seja uma sociedade de
responsabilidade limitada – é o mais comum.

Segundo grupo de casos: sociedade de responsabilidade ilimitada (sociedades em nome coletivo e


sociedades em comandita relativamente às participações dos sócios comanditados):

A. Regra: NÃO é possivel – art. 11º/4 CSC. Y não pode adquirir participações de uma sociedade
ilimitada. Seja o objeto das duas sociedades igual ou diferente.

B. Pode ser SIM se os estatutos autorizarem. Se os estatutos de Y autorizarem a adquirir


partiicações, pode fazê-lo. Seja o objeto das duas sociedades igual ou diferente.

E se mesmo assim a sociedade Y adquiriu as participações, violando art. 11º CSC?

OLGA STELMASHCHUK – 2019/2020 35

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As consequências externas são as mesmas que vimos anteriormente – em certos casos termos
ineficácia.

 Em suma, o objeto não limita a capacidade mas não é de todo irrelevante. Há casos em que a
violação do limite estabelecido pelo objeto pode originar a ineficácia do ato.

(2) CONSEQUÊNCIAS INTERNAS

Art. 6º/4 CSC, pode acontecer:

a) destituição com justa causa dos administradores/gerentes que tiverem praticado o ato –
eles estão obrigados a respeitar o objeto, violando o objeto estão a violar os seus deveres (cfr. art. 64º;
191º/4 e 7; 257º; 403º; 430º e 471º CSC);

b) invalidade de deliberações – se a assembleia geral de sócios ou a coletividade de sócios


praticar um ato que viola os estatutos, está a tomar uma deliberação anti-estatutária que é causa de
invalidade (da AG, at. 58º/1/a); da ADM, art. 411º/3 CSC);

c) responsabilidade civil dos gerentes/administradores – por força do art. 64º e 72º CSC.
Podemos ter um ato que exorbita do objeto da sociedade, ele não será nulo porque o objeto não limita
a capacidade, não será ineficaz porque não é um dos casos que já vimos, todavia, pode incorrer em
responsabilidade pelos danos que possa ter causado à sociedade.

Liberalidades e garantias concedidas por sociedade:

 Liberalidade (gratuitidade): negócio com intenção de efetuar uma atribuição patrimonial a favor de
outrém, sem contrapartida ou correspetivo. Exemplo: doação, mútuo gratuito, comodato.
 Doação (art. 940º CCivil): contrato pelo qual uma pessoa, por espírito de liberalidade e à custa do
seu património (prejuízo próprio), dispõe gratuitamente uma coisa ou um direito. Exemplo:
transmissão de direito, assunção de dívidas ou remissão de dívida.
Não significa que exista necessariamente um fim altruístico. Pode ter um fim interesseiro, próprio – art.
6º/1 CSC: uma doação que sirva um interesse próprio da sociedade, é conforme com o seu fim.

A questão coloca-se naquelas liberalidade que tenham um fim realmente altruístico – art. 6º/2 responde:
as liberalidades que possam ser consideradas usuais, segundo as circunstâncias da época e as condições
da própria sociedade, não são havidas como contrárias ao fim desta. Estão dentro da capacidade e não
padecem de nulidade.

Para serem consideradas usuais é necessário que se verifiquem 2 requesitos:

 ser usuais circunstâncias da época (requesito objetivo, geral, vale para todas as sociedades) e
 usuais conforme as condições da própria sociedade (requesito subjetivo ou individual).

Prestação de garantias:

Uma sociedade pede financiamento a um banco (contraindo assim uma dívida), e presta uma
garantia a essa dívida própria. A sociedade pode dar em hipoteca um imóvel seu, é um uso do seu
património no exercício da sua atividade e no seu interesse. Aqui não se levanta nenhuma questão.

O problema surge quando a sociedade presta garantias para uma dívida de um terceiro, uma
outra entidade. Surgem questões sobre a validade destas garantias. A sociedade ao fazê-lo, está a

OLGA STELMASHCHUK – 2019/2020 36

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arriscar o seu património, não para o exercício da sua atividade, mas para beneficiar outra entidade.
Posto isto, os seus credores também correm risco. Resposta:

 Art. 6º/3 CSC: considera-se contrária ao fim da sociedade a prestação de garantias reais ou
pessoais a dívidas de outras entidades (REGRA GERAL DE PROIBIÇÃO), salvo se existir justificado
interesse próprio da sociedade garante ou se se tratar de sociedade em relação de grupo ou de
domínio (EXCEPÇÕES – TEMOS UMA PERMISSÃO).

Qual é o âmbito desta proibição? Para aplicar a regra geral devemos atender a 2 questões:

 Saber se abrange as garantias prestadas gratuitamente: SIM


 Saber se abrange as garantias onerosas: DISCUTÍVEL. Há quem entenda que o art. 6º/3 se
inscreve no universo do nr. 2, no universo das liberalidades ou seja dos atos gratuitos. E há quem
entenda que se inscreve no nr. 1 por inteiro e sejam gratuitos ou não, temos um regime especial
para a prestação de garantias.

Se a sociedade presta uma garantia a favor de terceiro, imaginemos, a um banco, e ela for gratuíta cabe
na regra  é proibida.

Se for onerosa há doutrina (Dr. Coutinho de Abreu) considera que isso já é permitido – as garantias não
estão abrangidas pelo art. 6º/3, entram antes no regime geral de atos onerosos que são conformes com
a capacidade da sociedade.

Para aplicar as excepções, onde há uma permissão:

1) “JUSTIFICADO INTERESSE PRÓPRIO” – objetivamente a prestação da garantia é apta a satisfazer o fim


lucrativo da sociedade.
Exemplo: a 3ª entidade é um fornecedor importante da sociedade, a sociedade não encontra
alternativa equivalente. Neste caso, a sociedade garantir a dívida da 3ª entidade, pode, de facto,
corresponder a um interesse próprio. Desta forma, a entidade vai laboral melhor, produzir mais
rapdiamente, satisfazer mais encomendas, etc. Note-se que a garantia é sempre um risco para a
sociedade, pode vir a ter que pagar uma dívida que não aproveitou, bem como para os seus
credores. Isto é um caso em que se justifica, numa dinâmica empresarial, o risco por uma dívida
de um terceiro.

O que fica de fora?

 Satisfazer interesses extra sociais dos sócios – interesses que não têm nada a ver com o facto de
serem sócios da sociedade (exemplo: aquisição de automóvel ou moradia);

 Satisfazer interesses de outras sociedade que têm os mesmos sócios.

Ónus da prova do justificado interesse próprio: é muito discutível. Uma das respostas é o credor
garantido, exemplo, o banco – orientação da maioria da doutrina. Há quem diga que será a sociedade
que livremente praticou o ato. Na pratica, de facto, o credor grantido até pode não saber se a garantia
foi prestada gratuita ou onerosamente. Para bastante doutrina, se for onerosa então é valida, só há
problema com a capacidade se for gratuita. Só que o credor não sabe se a garantia é válida ou nula, não
sabe se houve um negócio oneroso ou gratuito.

OLGA STELMASHCHUK – 2019/2020 37

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2) “RELAÇÃO DE DOMÍNIO OU DE GRUPO” – a 3ª entidade devedora pode estar numa relação de


domínio – significa que a 3ª entidade detém mais de 50% do capital social da sociedade. Quando isto
acontece, este sócio, 3ª entidade, tem o nome de DOMINANTE. A sociedade é a DEPENDENDE.

A terceira entidade em vez de ser dominante pode ser totalmente dominante – estabelece uma relação
de grupo

Ressalva: para isto acontecer, o nosso legislador estabelece no art. 488º CSC alguns requesitos. Quer a
3ª entidade quer a sociedade, tem que ser sociedades por quotas, anónimas ou em comandita por ações.
A relação de domínio e de grupo só se estabelecem entre este tipo de sociedades! E têm que ser
sociedades com sede em Portugal.

A relação de grupo pode consistir num caso de domínio total (existem também o contrato de
subordinação). Isto acontece quando a sociedade tem 100% do capital, é sócia única.

Situação inversa: em vez de a sociedade ser dependente ela pode ser dominante de uma terceira
entidade, neste caso ela ser sócia em mais de 50% numa outra entidade. Pode acontecer que seja
totalmente dominante e esteja a estabelecer uma relação com uma netidade que é totalmente
dependente.

Temos a sociedade que presta uma garantia ao banco de uma dívida de uma outra entidade com a
qual está numa relação de grupo (100%) que tem um regime característicos:

 a sociedade totalmente dominante tem o direito de dar instruções, mesmo que desvantajosas,
à sociedade totalmente dependente – art. 503º/1 e 2 CSC – e, além disso,
 ela assume a responsabilidade ilimitada pelas dívidas da sociedade totalmente dependente –
numa sociedade anónima, no regime comum, o sócio não seria responsável pelas dívidas, uma
vez que tem responsabilidade limitada, existindo uma relação de grupo, apesar disto, pelas suas
dívidas também vai responder a sócia dominante, única – art. 491º e 501º CSC.

Já não é assim nas relações de domínio!

A sociedade totalmente dominante NÃO tem o direito de dar instruções NEM assume a responsabilidade
ilimitada pelas dívidas da sociedade totalmente dependente. Temos assim, dois mundos diferentes e
que suscitam questões diferentes.

TEREMOS ASSIM 4 POSSIBILIDADE:

A – relação de domínio, a sociedade que presta B) relação de grupo, a sociedade que presta a
a garantia é a dependente. garantia é a totalmente dependente.

Os casos A e B são as chamadas garantias UPSTREAM (prestadas de baixo para cima) –


garantias prestadas pela dependente à dominante (A) ou à totalmente dominante ou à diretora
(relações de subordinação) (B)  quadro mais restritivo: se houver relação de domínio simples, não
é permitido; no domínio total, que constitua uma relação de grupo então, já é possivel, exigindo-se
uma instrução por parte da dominante.

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C – relação de domínio, a sociedade que presta D) relação de grupo, a sociedade que presta a
a garantia é a dominante. garantia é a totalmente dominante.

Os casos C e D são chamadas garantias de DOWNSTREAM (prestadas de cima para baixo) –


garantias prestadas pela dominante à dependente (C) ou pela totalmente dominante ou diretora à
dependente ou subordinada (D)  quadro de permissão.

Tendo em conta a grande diferença de regimes quanto às instruções e responsabildiade – os casos B e


D são muito diferentes dos casos A e C. A posição dos credores também é diferente.
O que é afinal uma relação de grupo ou de domínio e o que é que elas incluem? Art 6º/3 CSC - para
efeitos da lei devemos entender o que se inclui aqui: a matéria é muito discutível. Saber qual é o Âmbito
da excepção. Quando isenta da proibição uma relação de domínio ou de grupo, isenta todos os casos ou
devemos fazer uma interpretação restritiva? Vamos ver caso a caso.

Casos C e D  esta prestação de garantia é permitida pela segunda excepção ao art. 6º/3 CSC.
A dominante ou totalmente dominante pode garantir /gratuitamente) dívidas da dependente ou
subordinada.

Uma vez que A é dominante ou totalmente de dominante, ao garantir uma dívida de B, aquilo que de
bom acontece em B repercute-se favoravelmente em A, o seu património também beneficia. Há um
refluxo de vantagem em A.

Caso A  a sociedade B que presta a garantia a uma dívida da sua dominante A. Para os credores
de A está tudo bem mas, para a sociedade que está a correr o risco não existe refluxo de vantagem
patrimonial, a B em troca não recebe nada, ela não é sócia de A. A resposta é não, não está incluída na
situação de excepção quando a sociedade que presta a garantia é a sociedade dependente. Temso que
fazer uma interpretação restritiva, no art. 6º/3 não se deve ler “em qualquer situação de domínio”,
apenas quando a sociedade que presta a garantia é a dominante. Esta situação é discutível e coloca
também outra questão, saber se existe um interesse de grupo, comum, e que legitimaria esta atuação
por parte de B.

Caso B  a sociedade (B) totalmente dependente ou subordinada (em caso de contrato de


subordinação) presta uma garantia a uma dívida da sociedade totalmente dominante ou diretora (A). Os
credores de A são os beneficiários. Relação de grupo. A sociedade A é ilimitadamente responsável pelas
dívidas da sua totalmente dependente ou subordinada. Os credores da scoeidade B ( de baixo) tanto
podem agredir o património da sua devedora como o património de A. É por isso que nestes casos, sim
é possível a sociedade B (totalmente dependente ou suboridnada) prestar garantias a A (totalmente
dominante ou diretora) mas é preciso que haja uma instrução que seja dada pela sociedade dominante
à sua dependente. É necessário que exerça este poder, para que a sociedade de baixo esteja legitimada
para o fazer. Sem ess aordem, instrução, não é permitida esta garantia.

Os casos em que não se aplica a excepção (2) Relação de domínio de grupo, pode, ainda assim, aplicar-
se a excepção do (1) Justificado interesse próprio.

Assim, uma sociedade dependente que não pode, ao abrigo da excepção (2), prestar uma
garantia à sua dominante (com base na interpretação restritiva), pode ainda assim, vir a prestar
validamente essa garantia se existir (1) justifica interesse próprio. Mas isso é outra coisa, as exigências

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são outras – é preciso que estejam verificados os requesitos que já vimos. Verificada a relação de grupo,
ela própria justifica a prestação da garantia, não é preciso provar nada.

Aula virtual 25.03.2020

Capítulo V – DAS PARTICIPAÇÕES SOCIAIS

1.Noções introdutórias

1.1. Classificação dos direitos. Direitos especiais. Algumas considerações adicionais acerca da
atribuição de direitos especiais a todos os sócios
1.2. Obrigações
1.3. Partes, quotas, ações

Participação social: conjunto de direitos e obrigações atuais e potenciais do sócios enquanto tal.

Há um conjunto de direito que eles tem contra ou sobre a sociedade e por sua vez, a sociedade
tem direitos contra os sócios que correspondem a obrigações dos sócios para com a sociedade. Também
se podem identificar na relação entre sósico determinados deveres, sobretudo de lealdade. Este
conjunto de direitos e deveres, esta relação, designa-se de participação social ou socialidade.

Depois o legislador tem designações específicas conforme o tipo societário:

 Numa sociedade em nome coletivo ou em comandita simples: a participação social pode


designar-se como parte ou parte social.
 Numa sociedade por quotas: designa-se por quota.
 Numa sociedade anónimas: designa-se por ação (mas é uma palavra polissémica)
 Numa sociedade em comandita por ações: também haverá ações dos sócios comanditários.

Esta participação social pode ter uma:

1. Aquisição originária: pode ter a participação desde o nascimento da sociedade ou desde o


aumento de capital quando se emitem novas participações sociais.
2. Aquisição derivada: seja ela mortis causa ou inter-vivos.

Classificação dos direitos. Direitos especiais. Algumas considerações adicionais acerca da


atribuição de direitos especiais a todos os sócios

Direitos previsto no art. 21º CSC:

A. Direito a quinhoar nos lucros: direito típico, a sociedade tem por fim alcançar lucro para o
distribuir pelos sócios;
B. Direito a participar nas deliberações de sócios;
C. Direito a obter informações sobre a sociedade – projeta-se numa série de outros direitos;
D. Direito de ser designado para os órgãos de administração ou fiscalização – é apenas a
possibilidade de o ser, mas pelos processos próprios, nem todos os sócios o serão, naturalmente.

Outros direito:
E. Direito de ação judicial:

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o pode ser um direito de impugnação das deliberações (art. 59º CSC);


o direito de requerer inquérito judicial (art. 67º CSC);
o direito de ação de responsabilidade (civil contra gerentes, administradores,
membros do órgão de fiscalização – art. 77º CSC).

F. Direito de preferência:
o em aumentos de capital por entradas em dinheiro (art. 266º e 458º CSC).

G. Direito de exoneração: são muito raros (art. 3º/5; 137º/; 161º/5 CSC).

H. Direito à quota de liquidação: na morte/fim da sociedade, havendo ativo há que distribuir esse
valor pelos sócios (art. 156º CSC).

Estes direitos podem ser classificados, organizados, mediante vários critérios:

Critério funcional:
1º grupo: direitos de participação: direito que tem a ver com a vida do sócio na sociedade
enquanto ente associativo: B), D);

2º grupo: direitos patrimoniais: são os direitos A), F) E H);

3º grupo: direitos de controlo ou fiscalização relacionados com o direito de informação: C) e E).

Outra classificação:

Direitos gerais – são aqueles que pertencem, em regra, a todos os sócios da mesma sociedade e estão
sujeitos ao poder da maioria. Exemplo: direitos do art. 21º CSC

Direitos especiais – estes merecem a nossa atenção por serem mais complexo. São atribuido no contrato
de sociedade a certo ou certos sócios, os sócios titulares de ações de certa categoria conferindo-lhe(s)
uma posição previlegiada que não pode, em princípio, ser suprimida ou limitada sem o consentimento
do(s) respetivo(s) titular(es). Art. 24º/1 CSC – esta previsão no contrato de sociedade pode ser originária
(prever desde o início da sua formação o direito) ou superveniente (quando for introduzido mais tarde,
alteração ao contrato, é posível mas é preciso que haja unanimidade – art. 85º/1 CSC).

Estes direito especiais definem-se pelo regime por um traço que é essencial: ficam à margem do poder
da maioria. Art. 24º + 386º CSC. 2 exemplos de direitos especiais:

Exemplo: A, eleito gerente (pela maioria), a maioria que o elegeu é a mesmo que pode
distituí-lo (art. 257º/1) e eleger outro (art. 252º/2). Ou seja, A é gerente se e enquanto a
maioria assim o entender. O princípio maioriatário determina a aprovação das deliberações,
nas sociedades por quotas (mas não só).

Situação diferente: se A tem um direito especial à gerência, ele não depende da maioria
para a sua eleição nem para a destituição. Só pode ser destituído com justa causa (art.
257º/3, 2ª parte). Tem um lugar firme de gerente, graças a um direito que consta do
contrato de sociedade.

Exemplo: o direito de participação nos lucros – regra geral: proporcionalidade (art. 22º). Se
um sócio tem uma quota que corresponda a 40% do capital, então os dividendos a que tem
direito também serão de 40%. Mas imaginemos que algum sócio tem um direito especial a

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uma proporção maior nos dividendo, de onde decorra que, por exemplo, tendo uma quota
de 40% os seus dividendos constituem 60%. Ele te aqui um direito especial de acrescimo
nos seus dividendos.

Exemplo: voto duplo (art. 250º/2) – em regra, numa sociedade por quotas, cada cêntimo de
euro de valor nomial da quota, atribui um voto. Mas pode estipular-se que 0,01€
corresponda a 2 votos (direito especial).

Exemplo: direito a designar um ou mais gerentes; direito à informação mais amplo do que
o previsto na lei.

Em que é que consiste esta nota de serem direitos “à magem do poder da maioria”? – estes direitos
especiais constam dos estatutos, porém os estatutos podem ser alterados, em regra, por uma maioria
qualificiada. Numa Sociedade por Quotas – art 265º; Sociedade Anónima – art. 386º/; Sociedade em
Comandita por Ações ou Simples – art. 478º e 476º; só nas Sociedade em nome Coletivo é que a regra é
a da unanimidade – art. 194º.

Se se trata de um direito especial, então o titular, mesmo minoritário, obsta à produção de efeitos contra
si, da alteração: se é gerente, ele continua gerente - ainda que a maioria, até suficiente para alterar os
estatutos, pretendesse o contrário (art. 24º/5). Significa que quando um sócio é titular de um direito
especial ele está ao abrigo do poder da maioria  Sem o consentimento do titular do direito especial, a
deliberação é ineficaz: art. 65º CSC.

Exemplo: eu tenho 1% numa sociedade por quotas, mas nos direitos especiais que eu tenha, ninguém
toca sem o meu consentimento, eles estão à margem do poder da maioria. Eu tenho um direito de voto
duplo, os outros sócios não podem mexer nisso.
 Nas SA os direitos especiais tem um sentido um pouco diferente: o direito especial pertence a
uma categoria de ações e não a sócios em concreto (art. 24º/4) e é dado pela maioria dos
titulares o consentimento para a derrogação ou supressão, e o titular de ações numa categoria
especial pode, por força dessa maioria dos consócios dessa categoria especial, vir a ter os seus
direitos suprimidos.

O direito especial não é necessariamente um plus relativamente aos direitos dos outros sócios. Exemplo:
todos os sócios podem ter o direito especial à gerência – significa que têm todos a mesma posição mas
que sem o consentimento de cada um, nenhum poderá deixar de ser gerente. Nenhum é mais do que
os outros, todos têm o direito especial igual. Mas é especial porque tem o traço de regime que o
identifica. Qualquer um dos sócios gerentes vai poder manter-se gerente até quando quiser, nã será a
maioria que o possa destituir, a não ser que haja uma violação grave de poderes que sustente uma
destituição com justa causa.

 Dificuldade de qualificação do direito como especial:

É sempre uma questão de interpretação do contrato. Muitas vezes a tarefa está facilitada quando se
menciona nos estatutos que se trata de um direito especial, noutros casos isso não acontece. Exemplo:
o mais comum: no contrato de sociedade originário, designam-se os gerentes, há uma claúsula no
contrato que diz que A e B são gerentes – o que é que isto?

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1) significa à luz do art. 252º/2 que os gerentes estão a ser designados no contrato em vez de ser por
uma deliberação social mas isso não têm nada a ver com o direito especial?

OU

2) significa que ao abrigo do art. 24º e 257º, está no contrato, precisamente, porque trata-se de um
direito especial?

A resposta é: por si só, não é o facto de estar previsto no contrato de sociedade que isso faz com que,
sem mais, se trate de um direito especial à gerência de A e B.

Nota: o direito especial não colide necessariamente com o princípio da igualdade de tratemento dos
sócios. A matéria é discutível: tanto em saber em que consiste o princípio como na sua relação com os
direitos especiais.

A sociedade em condições iguais deve tratar igualmente os sócios – o princípio da igualdade


pode, portanto, redundar num princípio da proporcionalidade (tratar igual em situações iguais e
diferente em situações diferentes) e num princípio de equivalência (isto não implicar que sejam todos
iguais, são iguais naquilo que é igual mas equivalentes naquilo que é ligeiramente diferente).

Até podem ser atribuídos a todos os sócios e nesse caso o problema de tratamento igual nem se
coloca. Por outro lado, os direitos especiais legitimam o tratamento diferente dos sócios, na medida em
que são especiais – há, portanto, sócios com um estatuto diferente.

 Transmissão: o regime não é o mesmo para todos os tipos societários – art. 24º CSC:

 Sociedade em Nome Coletivo – são intransmissíveis salvo claúsula em contrário.


 Sociedade por quotas – são transmissíveis os que têm natureza patrimonial, os restantes não -
salvo claúsula em contrário.
 Sociedade Anónimas – transmitem-se com as categorias de ações.

 não se confundem com vantagens especiais (art. 26º CSC) – os direitos especiais não têm uma causa
(naturalmente há um acordo subjacente), enquanto as vantagens especiais têm uma causa específica
que é uma remuneração de serviços relativas à fase de constituição da sociedade. Em segundo lugar, os
direitos especiais estão necessariamente ligados à qualidade de sócio, existem enquanto ele for sócio,
já nas vantagens especiais há uma dissociação da qualidade de sócio da vantagem – ela é atribuída
originariamente por casua da relação da cosntituição da sociedade, mas depois é tratada
separadamente.

2. Principais direitos e obrigações


2.1. Direitos
2.1.1. Direito de quinhoar nos lucros (remissão)
2.1.2. Direito de participar nas deliberações dos sócios
2.1.2.1. Noção e formas de deliberação
2.1.2.2. Participação plena. Direito de voto

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Direito de Participação nas deliberações :

 Direito de estar presente na AG (quando exista), ou intervir no procedimento de formação de


uma deliberação. Também é o direito de discutir, de usar da palvra no decurso dessa reunião.
 É o direito de ouvir e ser ouvido.
 Também se projeta como um direito para apresentar proposta para que sejam sujeitas à votação
dos restantes sócios.
 Direito de votar: diretamente contribui para a formação das deliberações. O que é o voto? é uma
declaração de vontade (sim – aprovação, ou não – rejeição) sobre uma proposta colocada em
deliberação. Discute-se se a abstenção também deve ser aqui enquadrada, mas em princípio,
não.
 Poder de voto: consiste no número de votos que cada sócio tem, é o peso de voto de cada
sócio. Há dois critérios que correspondem ao chamados princípios de atribuição de votos:
1. Princípio Personalístico (igualitário): a cada sócio corresponde um voto – voto per capita
– cada cabeça é um voto e cada sócio tem direito a um voto qualquer que seja o valor
da sua participação social  Sociedades em Nome Coletivo (art. 190º/1) e Sociedade
em Comandita Simples (art. 472º).

2. Princípio capitalístico (proporcional): um sócio vale mais ou menos em função dos euros
que tiver aportado à sociedade. O seu voto não é igualitário, nem sempre os sócios
valem o mesmo, o seu voto vale tanto mais ou tanto menos quanto maior ou menor for
a sua participação no património da sociedade  Sociedade por Quotas (art. 250º/1),
Sociedade Anónima (art. 384º/1) e Sociedade em Comandita por Ações.

O nosso legislador acolheu estes dois princípios em diferentes tipos de sociedades. Contudo, estas regras
podem ser desviadas através de claúsulas estatutárias.

– Nas SNC podem os estatutos estabelecer um voto de capital fazendo com que os sócios
tenham mais ou menso votos.

– Nas SQ a regra é que a cada cêntimo corresponde um voto, mas os estatutos podem atribuir
a cada cêntimo dois votos, através de um direito especial do voto duplo, como vimos – o legislador
estabelece um limite, no máximo, podem gozar de voto duplo uma quota correspondente a 20% do
capital social, não mais que isso. Podemos ter um sócio cujo poder de voto está sujeito á regra geral e
ter outro que beneficie do direito especial de 2 votos.

– Na SA a regra (princípio capitalístico) assenta nas ações. A cada ação correponde um voto. Os
estatutos podem afastar-se dela de três formas:

(1) Pode haver um conjunto de ações que atribuem um voto – exemplo: 1 voto por cada 100
ações. A lei todavia estabelece um limite, por cada mil euros de capital tem que haver, pelo
menos, um voto! Atenção: isto não afeta o critério igualitário ou proporcional da atribuição de
voto – todos os accionistas têm o mesmo critério, isto é diferente de um direito especial de voto.
o critério aplica-se a todos os sócios - art. 384º/2/a)

Este desvio tem um efeito quase meramente organizacional: desperdiçar o poder de voto de
muito pequenos accionistas, sócios. Se é preciso ter pelo menos 100 ações para ter um voto,
quem tem só 80 não chega a completar essa fração mínima, logo, é desperdiçado. Nestes casos,
há um direito de agrupamento (veremos mais adiante).

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(2) “Teto de voto” (voting CAP) – na regra geral, vimos que quantas mais ações mais votos.
Exemplo: se tem um milhão de ações têm um milhao de votos Mas podemos atribuir-lhe um
máximo através de um teto fixado nos estatutos, vai poder acontecer que nenhum acionista vai
ter mais de 500 votos ou mais de 30% do total do votos. Exemplo: se A tem 400mil ações, visto
que está dentro do limite, terá na mesma 400mil votos. Mas B, titular de 800mil ações, terá
apenas 500mil votos e não 800mil votos (que aconteceria de acordo com o critério geral) - art.
384º/2/b)

O teto de voto tem um efeito material que afeta os maiores acionistas – podem impedir o
controlo da sociedade por um só acionista.

(3) Ações sem voto – art. 341º e ss CSC. Só é possivel retirar ou prever que ações não atribuam
votos se elas atribuirem uma preferência no dividendo – é indissossiável a atribuição deste
direito especial à ação para se lhe poder retirar o voto, há uma espécie de balanço, se menos
votos então mais dividendos (há uma vantagem patrimonial). Mas o inverso não é necessário,
pode haver ações que tneham direito preferêncial ao dividendo sem que lhe seja retirado o voto,
mas se se quir retirar o voto então tem que se atribuir um direito especial ao dividendo.

Em rigor, estas ações não são ações sem direito de voto, o voto está la mas adormecido,
condicionado. Nos termos da lei, se não for respeitado a preferência de dividendo, seja por não
haver ou a sociedade não o pagar (que seria o contrapeso de não haver voto), então a ação passa
a atribuir voto – significa que o voto está lá na mesma, está condicionado até serem distribuidos
os dividendos.

Na hipotese 1 e 2, diz-se no art. 384º/3, que é proibido que se faça distinção entre os acionistas, ter
regras diferentes em função da pessoa do acionista. Mas já é possível diferenciar em função da
categorias de ações (podem ser sujeitas a regimes diferentes) – quem tem ações da categoria A está na
regra, mas as ações da categoria B estão sujeitas a um teto de voto, aqui não interessam os sujeitos. Se
for assim, então já existira um efeito material, teremos um universo de acionista que tem uma
determinada categoria de voto e um regime diferente de voto.

Nas Soceidades Anónimas é proibido o voto plural (art. 384º/5)  do que vimos nas Sociedade
por Quotas onde isto é possível por haver um multiplicador específico admitido que é o voto duplo. Na
SA não se pode atribuir mais do que um voto por ação, mas podemos fazer o inverso, uma ação não ser
suficiente para atribuir um voto, sendo preciso 10 ou 20, ou até pode acontecer, que determianda
categoria de ações, desde que tenha aquela preferência de dividendos, não atribua sequer direito de
voto. Ou seja, nas SA:

SIM – ações sem voto (com preferência de dividendos) art. 341º;

NÃO – ações com voto plurar

Impedimento ou inibição do direito de voto – o sócio tem direito, mas em situação específica está
impedido de votar sobre determinado assunto. O fundamento é

 o conflito de interesses – isto é regra geral nas SQ (art. 251º), SNC (art. 189º/1) e SCS (art. 474º).
No art. 251º, o legislador introduz, através de uma enumeração exemplificativa, exemplos de
alguns conflitos. São uma concretização de uma claúsula geral, com a consequências de que para
além daqueles outros casos também podem entrar no âmbito da claúsula geral.
 noutras situações serão casos específicos de conflito – SA (art. 384º/6) e SCA (art. 478º). O
legislador não seguiu uma enumeração exemplificativa mas sim uma enumeração taxativa (isto

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é discutível). Há doutrina que defende que apesar de taxativa pode comportar alguma aplicação
analógica.

É regime imperativo? No mínimo, sim! Isto é, aqueles casos que o legislador estabeleceu que
determinam um impedimento são imperativo. Não podem os estatutos dispor que um sócio delibere
sobre a destituição com justa causa do seu cargo de gerente, etc.

E para mais? Podem acrescentar casos? Nas SQ diz-se que sim, no sentido de precisar outros casos de
conflitos de interesses. A margem que os estatutos têm é de regulamentarem masi especificamente algo
que esteja num universo de conflito de interesses. Os estatutos nao podem prever casos onde, sem se
tratar de um conflito, excluam o direito de voto – isto significaria que estava a retirar o voto ao sócio e
a impor uma restrição que não é admitida nas SQ (nas SA pode mas só com a atribuição de benefícios
patrimoniais).

Aplica-se a sociedade unipessoais? Não, em geral, o impedimento não pode observar-se quando
todos os sócios estão impedidos de votar, ainda por mais quando for apenas um. Se forem dois sócios?
Se estiverem os dois em simultâneo impedidos de votar então também não se aplica este regime

 O impedimento de voto não é um impedimento de a sociedade a deliberar sobre determiando


assunto, mas sim porque há um sócio que, naquela circunstância, está em conflito com aquela
sociedade, este não deve interferir na decisão tomada pela sociedade. Mas há de ser tomada com
vontade de outros, se os houver. Se todos estivessem impedidos de votar isso implicaria impedir que a
sociedade não deliberasse sobre certas materias. Portanto, se todos estão impedido de votar, então,
nenhum está impedido de votar. Depois havera, com certeza, outro controlo sobre a deliberação.

2.1.2.3. Participação limitada

Refere-se àqueles casos em que o direito de particpação do sócio (que comporta um conjunto de vários
súb-direitos) é limitado. Ou seja, não se incluem todos os direitos, há ali algo que está a restringir seja a
lei ou os estatutos.

1) sócio sem direito de voto – nas SA isso é possível se e apenas o sócio for titular de ações preferênciais
sem voto, é possível retirar o voto de se as ações tiverem um privilégio patrimonial. Neste caso, ele pode
estar na AG como se tivesse voto e participar livremente?

A regra é sim, pode estar presente na discussão, não pode é, naturalmente, votar – art. 379º/2
CSC (a não ser que os estatutos prevejam diferente).

No mínimo, os acionistas que não possam estar presenta na AG, porque os estatutos retiraram
essa possibilidade, ele tem sempre o direito de se fazer representar em comum por alguém, pode ser
um de entre eles, portanto, um dos acionistas titular das ações preferências sem voto ou até um terceiro.
Haverá alguém na AG em representação de todos os acionistas não presentes.

2) sócio sem poder de voto suficiente – art. 384º/2/a). Os esttutos em vez de manterem a regra de uma
ação = um voto, têm uma regra que exige um conjunto de ações para atingir um voto. exemplo: 100
açções = 1 voto. Então e os acionistas que não chegam a esse número, o que tem 80 ou 90 ações? O
legislador estabeleceu, para estes casos, o direito de agrupamento (art. 379º/5) – caratér imperativo
deste regime – os estatutos não podem obstar a que acionistas em núemro inferior se agrupem para
atingir aquele número mínimo. Este regime não tem grande importância prática (os acionistas que têm
poucas ações, raramento se mobilizam para participar nas deliberações pois sabem que raramento isso
influência o rumo das coisas, não têm estímulo), mas tem importância dogmática:

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 Justamente por causa da imperatividade deste regime, podemos dizer que todas as ações
atribuem o direito de voto ainda que numa fração inferior a uma unidade, embora seja preciso juntar
um conjunto de ações para se atingir um voto, mas elas têm lá a fração. Ao soma-las consegue-se atingir
a unidade. Podemos afirmar que todas as ações dão direito a voto, e a única excepção será aquela que
vimos sobre as ações preferênciais sem voto.

3) sócio com impedimento de voto – o que resta daqueles direitos de participação? Será que pode
continuar a estar presente na AG? Isto é discutível, há diferentes respostas. Mas podemos dizer que
parece que sim, pode estar presente.
E quanto a participar, intervir no debate? É discutível mas parece-nos que sim. O sócio que está
em conflito não pode interferir no sentido da deliberação e, por isso, não pode ser por causa do voto
dele que a votação foi aprovada ou recusada. Ele tem que estar fora da decisão, mas coisa diferente
desta é o momento em que se está a discutir o assunto, a formar a opinião dos sócios, a pesar as
vantagens e inconveninentes de uma qualquer proposta. O sócio que está impedido pode ser ouvido, a
decisão não lhe pertence, mas pode dar a sua ipinião e ter o direito de o fazer, contribuir, não para a
decisão em si mesma, mas para a formação da vontade dos outros sócios.

2.1.3. Direito à informação. Informação e direitos à informação

Direito à informação – art. 21º/1/c) CSC

É depois concretizado em múltiplos aspetos em diversas normas: art. 181º; 214º ao 216º; 282º ao 292º;
474º; 478º; 480º + Estatutos.

Este direito geral à informação pode consubstanciar-se em vários conjuntos:


 (1) Direito à informação em sentido estrito: dirigir ou formular questões à sociedade, em regra,
ao seu órgão de adminisitração. Sobre assuntos que respeitem à vida da sociedade. Este direito
reflete-se no direito de obter respostas que sejam verdadeiras, completas e tempestivas (em
tempo útil).
 (2) Direito de consulta: traduz-se no direito de obter a exibição dos livros da sociedade (são
obrigadas a ter livros e contabilidade) e consultar documentos da sociedade.
 (3) Direito de inspeção: vistoria a bens sociais.

(1) DIREITO À INFORMAÇÃO EM SENTIDO ESTRITO

Pergunta-se se o direito à informação é um direito instrumental, meramente acessório, que não


serve um fim por si só mas sim um fim instrumental de outro direito. Há uma visão histórica segundo a
qual sim, é um direito instrumental. Ainda hoje é assim, em parte, vejamos o art. 290º - o direito aqui, é
um direito instrumental, o sócio tem o direito de ser informada para poder votar mais esclarecidamente.
Mas devemos reconhecer que é um direito autónomo, com uma função própria porque o facto
de os sócios de terem o direito de se informarem, obterem informações, produz por si só,
independentemente de qualquer outro direito, efeitos próprios – na medida que os sócios tem este
direito, as administrações terão mais cuidado no cumprimento da lei, dos estatutos e dos direitos dos
sócios: mantém um escrutínio mais rigoroso sobre a vida da sociedade o que contribui para um melhor
funcionamente da mesma.

A informação pode surgir no âmbito de um procedimento deliberativo (AG) ou fora de um


procedimento deliberativo (AG):

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 Em Assembleia Geral: exemplo, pode incidir sobre o esclarecimento sobre a proposta, sobre as
implicações, sobre documentos que são apresentados (relatório, contas, etc.).
 art. 290º/1 e 2 (SA que se aplicar por remissão também às SCA);
 art. 478º (SCA);
 art. 214º/7 (SQ);
 art. 189º/1 (SNC, também se aplica por remissão às SCA);
 art. 474º (SCS).

 Fora da Assembleia Geral: exemplo, informações sobre os negócios realizados, quais são as
relações da sociedade com outras sociedades coligadas, desempenho económico, etc.
 art. 181º (SNC);
 art. 214º/1 (SQ);
 art. 291º/1 (SA)

Quem pode pedir informações? Os sócios. Serão todos os sócios?

- SIM: todos os sócios nas SNC (art. 181º/1); nas SQ (art. 214º/1); nas SCS (art. 474º); nas SCA
(relativamente aos sócios comanditados art. 480º).

- NÃO: na SA – art. 291º/1 restringe o direito à informação aos sócios que tenham uma participação igual
ou maior a 10% (nos casos fora da AG) mas a lei salvaguar o direito de agrupamento, um sócio que tenha
menos de 10% do capital social, pode juntar-se a outros de forma a atingir o tal mínimo de 10% para,
em conjunto, exercerem o direito à informação. O mesmo vale para as SCA (sócios comanditários).

Os sócios impedidos de votar também têm direito à informação?

Isto está relacionado com a pergunta anterior de sabermos se o direito à informação é um direito
meramente instrumental ou não. Para quem entendia que é um direito instrumental do direito de voto,
se não existe o direito de voto então também não haveria direito à informação. Mas nós dissemos que
é um direito autónomo, por isso, quem está impedido de votar também te direito de informação.

E os sócios sem direito de voto? (nos casos de ações preferênciais)

Têm direito à informação justamente por este ser um direito autónomo.

(2) DIREITO DE CONSULTA

Traduz-se em direito de consultar escrituração, livros e documentos sociais. É muito amplo em


determinados tipos societários:

 SNC – art. 181º/1 e 3; O sócio pode estar acompanhado de


 SQ – art. 214º/1,2 e 4; um ROC ou outro técnico como
 SCS – art. 474º; contabilista, advogado, economista.
 SCA – art. 480º quanto aos sócios comanditados.

Já não é assim nas SA (art. 288º e 289º) e nas SCA (art. 478º relativamente aos sócios comanditários)
onde o direito de consulta é muito restrito:
 Objetivamente – o legislador fixou um elenco taxativo de documentos que um sócio
pode consultar.

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 Subjetivamente – para as SA é preciso que um acionista tenha uma participação igual ou


superior a 1% (art. 288º/1, se tiver menos, está excluído deste direito) mas também aqui
temos o direito de agrupamento (é discutível).

 No seu fundamento – para exercer este direito é preciso que o sócio apresente um
motivo justificado para o efeito (art. 288º/1) – muito discutível e criticável. Alguma
doutrina sustenta que se deve interpretar de forma muito lata este “motivo justificado”,
como entedimento de que basta ser a mera “vontade de conhecer”.

(3) DIREITO DE INSPEÇÃO

Traduz-se em ver, fotografar e reproduzir bens sociais. Qualquer sócio tem direito de exercer este
direito, podendo estar acompanhado (ROC ou qualquer périto) nos seguintes tipos societários:

 SNC – art. 181º/4;


 SQ – art. 214º/5;
 SCS – art. 474º + art. 181º/4;
 SCA – art. 480º quanto aos sócios comanditados.
Em relação as SA,os art. 288º e ss, são omissos nesta materia. Colocam a doutrina de saber se neste tipo
societário também existe este direito de inspeção? Não, mas os estatutos podem prever e acrescentá-
lo. Mas nesse caso, será um direito de base estatutária pois a lei não confere este direito diretamente.

Qual é o papel que os estatutos podem ter no que toca ao direito à informação?
Não há limite, podem livremente conferir mais direito à informação, seja conferindo direito a
quem não o teria ou podem ampliar o objeto, oferendo mais informação do que aquela que
decorria da lei.
E o inverso?
 SQ – art. 214º/2  os estatutos podem regulamentar o acesso ao exercício do direito e
pode versar sobre o procedimento (podem estabelecer como específicamente se
exercer esse direito) ou o âmbito e conteúdo. Esta previsão, entende a doutrina, deve
ser extendida a outros tipos societários, que não têm um preceito com este teor, por via
da analógia. Por isso, outros tipos = sim!

O que significa, em concreto, “regulamentar”?

1) não é suprimir o direito à informação – os estatutos não podem retirar, seja expressa ou
implicitamente (tornando excessivamente oneroso ou difícil) – e também não é restringir
relevantemente, pelo menos. Deve-se entender que o nível de informação que o legsialdor preve é o
mínimo abaixo do qual os estatutos não podem fixar restrições – podem concretizar mas nunca restringir
totalmente  é como devemos entender o art. 214º/2.

2.1.4. Direito à designação para os órgãos de administração e fiscalização

Art. 21º/1/d) CSC. Apesar de ser esse o sentido literal da normal, este naõ é um direito a ser
designado ou eleito membro da adminsitração ou da fiscalização. Numa SA, em que há 2mil sócios não
têm todos, e cada um, direito de ser membro dos cargos sociais. O que leva alguma doutrina a concluri
que é um direito que não o é. É um direito de eventualmente poder ser eleito ou designado. Uma coisa
diferentes também é o direito especial à gerência (vimos anteriormente).

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Justamente, porque se tem este direito, não é válida uma claúsula estatutária que exclua algum
sócio(s) de integrar os corpos sociais, dizendo que não podem ser eleitos gerentes, administradores, etc.
Também não é válida uma claúsula que exclua o sócio do direito de propor candidatos. Havendo vaga
num orgão de gestão, fiscalização, todos os sócios têm o direito de propor candidados – não é o direito
de serem designados mas sim direito a poderem ser ou a poderem indicar quem querem que seja. Isto
não obsta à validade de uma claúsula, prevista nos estatutos ou na lei, que defina requesitos objetivos
ou subjetivos para que alguém possa integrar os cargos sociais – exemplo: alguma qualificação ou
formação especial para se ser gerente.

2.2. Obrigações

As obrigações dos sócios podem ter origem legal ou estatutária.

2.2.1. Obrigação de entrada

Obrigações Legais

1. Obrigação de entrada – art. 20º/1/a) CSC + art. 980º CCivil.

Pode portanto dizer-se que esta é uma obrigação típica, faz parte da noção de sociedade. Temos que
distinguir 3 hipóteses diferentes:
 (A) Entrada em bens de dinheiro;
 (B) Entrada em bens de espécie;
 (C) Entrada em serviços.

2.2.1.1. Entradas possíveis


2.2.1.2. Avaliação de entradas

(A) Entrada em bens de dinheiro – o regime não é igual para todos os tipos societários.

 Dinheiro é moeda, não significa necessarimanete que seja papel ou moeda física, pode ser valor
de moeda escritural, valor em contas bancárias.
 Esta entrada é admitida em todos os tipos societários. Não será assim para todas as entradas.
 O valor de uma entrada em dinheiro corresponde ao seu valor nominal, uma entrada de 1000€
vale 1000€.
 O momento em que a entrada deve ser realizada:
Regra: até ao ato constitutivo – art. 26º/1 CSC (vale para todos os tipos societários).

Exceções:

1. A entrada poder fazer-se mais tardiamente nas SQ, até ao termo do 1º exercício
económico (art. 26º/2 e 202º/4 e 199º/b) CSC), coincide, normalmente, com o ano cívil,
portanto 1 de janeiro a 31 de dezembro. Uma sociedade constituida em oubtubro, os
sócios vão poder realizar as entradas até ao dia 31 de dezembro desse ano. A que
montante de dinheiro fica sujeita esta possibilidade de se atrasar relativamente à regra?
À totalidade das entradas em dinheiro. Este regime não se aplica nas SNC, SA, SCS e SCA.

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2. “Empresas na Hora” – têm um regime especial que permite que haja um atraso por
alguns dias (art. 7º/2 DL 111/2005 e art. 6º/1/e) DL 125/2006)  vale para as SQ e SA
com os mesmos fundamentos.

3. Diferimento das entradas: significa que as entradas podem ser realizadas num
momento posterior. As duas excepções anteriores são, no fundo, também casos de
diferimento. Aqueles são casos em que, de facto, não se segue a regra geral mas não são
casos que se qualifiquem na lei como diferimento de entradas, mas sim apenas como
excepções ao prazo regra. Mas nesta terceira hipótese vamos tratar dos casos
específicos criados pelo legislador como situações de diferimento.

SQ SA SC

De Quase 100% da entrada! 70% pode ser diferido!


quanto?
Decorre do facto de a lei não Ficam excluídos 30% - estão
permitir o diferimento de 1€ por sujeitos ao regime geral,
cada quota. Um sócio que tenha devem ser realizados até ao
uma entrada de 1milhão € pode ato constitutivo – art. 277º/2.
diferir apenas 999.999,00€. 70% de cada entrada, por sócio
Art. 199º/b) + 203º/1 CSC ou do valor global das
entradas? É discutível mas, O regime das SA
segundo a ratio do regime, aplica-se por
parece que será 70% de cada remissão às
entrada. Sociedade em
Comandita – art.
478º.
Até Art. 203º/1 – o diferimento tem Art. 285º - o prazo tem que
quando? de acentar em “factos certos e ser igual ou inferior a 5 anos.
determinados”. Pode ser fixado Não podem ser estabelecidos
um praxo, pode ser longo mas o diferimentos sem prazo.
legislador diz que decorridos 5
anos a entrada passam a poder ser
exigídas.Pode ser fixado um prazo
maior.
Podem ser realizadas sem prazo –
assim, as entradas são exigíveis a
qualquer tempo pela sociedade.

(B) Entrada em bens de espécie – que bens podem constituir estas entradas? “Bens suscetíveis de
penhora” – art. 20º/a) + 735º ss. CPCivil.
Este regime tem sido sujeito a muitas críticas relacionadas com a ratio – é uma matéria discutível.
Compreendemos qual é a ratio de se exigir bens penhoráveis, uma sociedade que vai usar de
personalidade jurídica, vai ter deveres perante credores, o legislador teve a preocupação de garantir que
esse acervo patrimonial, que os sócios estão a dotar a sociedade, seja sucetível de penhora. Se não
forem, não satisfaram os credores numa ação executiva. Mas essa preocupação é pouco ágil e razoável,
na verdade, aqueles bens entregues não ficam lá necessariamente à espera de um dia satisfazer

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credores, o acervo patrimonial é um ser vivo que vai alterando a sua composição, vão trocando. É
provável que esses bens não persistam na sociedade para sempre. Razão pela qual a doutrina tem
preferido interpretar esta norma no sentido de bens sucetíveis de avaliação económica.

Os bens em espécie podem constituir direitos reais ou direitos obrigacionais. É discutível saber se um
sócio pode entrar para a sociedade atribuindo um direito de gozo sobre um imóvel do sócio. Contra a
sua admissibilidade pergunta-se:

 como se vai avaliar o valor atribuido ao direito obrigacional – mas isso já é possível, são
avaliáveis;

 questiona-se também o momento da realização, não estariamos a realizar a entrada até ao


ato constitutivo porque o direito obrigacional prolonga-se no tempo – mas não é assim, o direito
obrigacional realiza-se naquele momento com a constituição da sociedade, o gozo pela sociedade é que
surgira futuramente.

 argumenta-se que o direito obrigacional seria impenhorável e teriamos então um confronto


com art. 20º/a) – esse obstáculo será ultrapassado se seguirmos a interpretação do artigo como
“suscetíveis de avaliação económica” e não “suscetíveis de penhora”.

E, portanto, sim, os direitos obrigacionais também são admitido, podendo versar sobre bens
móveis ou imóveis.

Quando é que se realiza essa entrada em espécie? Não é possível o diferimento (art. 26º/1). Têm que
ser realizadas até à celebração do ato constitutivo, sejam direitos reais ou obrigacionais. Isto traduz uma
diferença relevante entre o regime dos bens em dinheiro. Quando estamos a diferir o dinheiro, este
dinheiro será o mesmo pagando na hora ou mais tarde, mas se for um imóvel e a entrada não se der
naquele momento surgiram muitos problemas: a sociedade pode precisar daquele imóvel e o sócio deixa
de poder realizar a sua entrada daqui há algum tempo; e também o problema da variação do valor que
o imóvel ou móvel possam sofrer = para proteger a sociedade e os credores, fixou-se a sua realização
até ao momento da constituição.

As entradas em espécie têm de ser avaliadas – art. 28º. Têm um regime rigoroso de avaliação por um
ROC independente, que irá produzir um relatório de avaliação do bens, dizendo qual o valor, quais os
critérios utilizados, etc. O sócio interessado, que realiza a entrada, está impedido de votar sobre a sua
admissibilidade.

Ratio deste regime: o capital social das sociedade vai formar-se com base no valor das entradas
dos sócios, e se não houvesse nenhum controlo sobre o valor atribuído a estas entradas, podia muito
facilmente acontecer que este montante de capital social estivesse muito dissociado da realidade
económica da sociedade. Para proteger a confiança dos credores e para haver alguma vericidade no
montante que sobre o valor se atribui ao capital social, o legislador fixa este regime apertado de
avaliação.

Algo que não é corresponde às entradas em espécie mas que é tratado pelo legislador com o mesmo
regime das entradas em espécie: aquisição de bens a sócios.

Exemplo: num primeiro momento, um sócio, realiza a entrada de um milhão €, dentro dos termos da lei.
Mas num segundo momento, esse sócio realiza um contrato de CV com a sociedade, recebendo da
sociedade um milhão €. Pode dar-se o caso de ele ter vendido à sociedade um automóvel com 30 anos
que já não está sequer capaz de circular e não tem valor nenhum. Conjugando estes dois momentos, o

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sócio entregou um bem que não foi sujeito ao regime de avaliação dos regimes em espécie porque foi
através de uma CV.

Foi possível construir aqui uma operação de fraude ao regime – para evitar isto, o art. 29º dispõe de um
regime que, verificados determinados requesitos:

1) Se houver um negócio celebrado, entre o sócio e a sociedade, até dois anos após a
constituição da sociedade ou aumento de capital;
2) Se o valor desse negócio exceder 2% do capital social (quando este for 50.000€) ou for
superior a 10% do capital social (quando este for superior a 50.000€);
3) Estão fora deste regime os negócios em bolsa, determinados por processo judicial e negócios
que se increvam no seu obejto social (requesito negativo).

= prevê que o bem que está a ser transicionado, apesar de não ser a titulo de entrada, TEM
QUE SER sujeito à avaliação do ROC (1) + para proteger os outros sócios é necessário que isto seja
aprovado em AG sem que o sócio interessado possa votar (2)  Se isto não acontecer o ato é ineficaz.

O art. 29º aplica-se, literalmente, às SA e SCA. Mas as SQ não estão mencionadas e por isso, do ponto de
vista da letra da lei, não estão abrangidas, mas do ponto de vista da ratio é mais discutível a sua exclusão.
O objetivo é tutelar credores, logo, não se percebe qual a diferença entre os credores das SA, SCA e SQ
– uns e outros têm como garantia dos seus créditos, exclusivamente, o património social. Os sócios das
SA e das SQ não respondem pelas dívidas sociais. O Dr. Pedro Maia tem grandes dúvidas sobre esta
exclusão das SQ.

(C) Entrada em Serviços ou Indústria

Soc. Nome Coletivo Soc. por Soc. Anónima Soc. Comandita (Simples ou
Quotas por Ações)

São  – art. 177º/1/a) b) X – art. 202º/1 X – art. 277º/1  – art. 468º: admitidas
admitidas? para os sócios
comanditados.

X – art. 486º: não


admitidas para os sócios
comanditários.

Quando? Nos casos em que são admitidas, realizam-se ao longo da vida da sociedade. O sócio
que se obriga a entrar com serviços, obriga-se a fazê-lo ao longo da vida da sociedade.

Como se faz a avaliação? Pelos próprios sócios. Descrepância relativamente às entradas de


espécie, onde é um técnico habilitado que faz a avaliação. Aqui a avaliação tem efeitos meramente
internos. O valor das entradas de indústria não é contabilizado no capital social. São os sócios, entre eles,
que decidem quanto vale cada entrada em indústria e, portanto, quando chegar a altura de dividir
dividendos, a parcela de lucro será de x e o poder de voto também será em função desse valor de
entrada. Para os credores isto é irrelevante. Em SNC os credores podem atignir o património dos sócios,
estes tem responsabilidade ilimitada , últimos garantes da sociedade.

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O legislador exclui as entradas de indústria nas SQ e SA – é uma solução consensual. Mas há uma nota
crítica: a primeira resposta seria de que não pode haver porque essas entradas não são suscetíveis de
execução, penhora e portanto iria lesar os interesses dos credores. Mas, olhando melhor para este
regime hoje, devemos questionar: se se pode criar uma SQ com 1€, porque é que é proibido que para
além deste euro, o sócio se obrigue a prestar serviços? Em que medida isto prejudica os credores? Não
vemos como, uma coisa não implica a outra pois este valor não se reflete no capital social. O Dr. Pedro
Maia defende uma alteração deste regime. Hoje, com as condições do regime de SQ, os crescentes
incentivos para as StartUps, não se percebe porque é que isto é proibido.

Aula virtual 01.04.2020

3. Transmissão de participações sociais


3.1. Transmissão de quotas
3.1.1. Transmissão por morte

A regra é a transmissão por morte com base no direito das sucessões mas os sucessores podem
não querer essa quota que foi transmitida e pretende-se acautelar essa possibilidade no contrato de
sociedade (art. 226º e 227º), ou seja podem optar por não ingressar nessa sociedade. Ao olharmos para
estes artigos, pode haver algum tipo de consequências, amortizar, adquirir ou fazer adquirir, para os
sucessores e vamos olhar para isso, vamos olhar para as razões pelas quais os sócios não queiram
continuar com os sucessores ou razões para que os sucessores não queiram ficar com a quota. Esta
reflexao ajuda-nos a compreender este regime. Os sócios podem antecipar problemas da relação entre
filhos e netos, entre irmãos e primos. Estas claúsulas podem de alguma maneira servir já para impedir
essa tradição, essa regra que muitas vezes vemos funcionar na sociedade por quotas.

O art. 225º CSC está pensado para os casos em que se pretende impedir ou limitar a entrada dos
sucessores, pode haver aqui alguns requisitos.

 requisitos objetivos (relativos, desde logo, ao objeto): não se transmite se o adquirente se


tornar titular de quotas que representem certa percentagem do capital social; se a quota tiver
entretanto atingido certo valor nominal ou se a quota já representar certa percentagem do
capital social; se a sociedade recusar o consentimento;

 requisitos subjetivos (relativos à pessoa do adquirente): não se transmite se: o adquirente


exercer atividade concorrente; o adquirente não for familiar até certo grau (requisito negativo);
o adquirente não for herdeiro legitimário/herdeiro legitimário da 1º classe de sucessíveis na
sucessão legal, com exclusão dos descendentes de filhos; se casado, não estiver casado no
regime de separação de bens (?);

 requisitos positivos e negativos

Se a quota não se transmite por força da cláusula do contrato de sociedade, a sociedade deve optar uma
destas alternativas:

1. Amortizando a quota – pode não ser possível adquirir a quota tendo em conta os requisitos do
art. 236º CSC. Os direitos e obrigações da quota ficam suspensos porque retroage à data da
morte do sócio – art. 227º/1 e 2.
2. Adquirindo a quota.
3. Fazendo adquirir a quota, por sócio ou por terceiro – só vai poder ser usada se tivermos outro
sócio ou terceiro que queira adquirir a quota.

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Se nenhuma destas medidas for tomada no prazo de 90 dias (art. 225º/2 CSC) considera-se transmitida
a quota. Ver exceção constante do art. 227º/3. Pode acontecer que nenhuma das alternativas seja
concretizável.
 Aquisição da quota: Pode não ser possível atendendo ao regime das quotas próprias (art. 220º
CSC).

 Aquisição por sócio ou por terceiro: pode não se encontrar interessado na aquisição. Há a
necessidade de saber como escolher o ou os sócios que vão adquirir, a igualdade de tratamento.
O contrato pode prever essas condições de escolha.

 Enquanto não for paga a contrapartida pelo adquirente, resulta do art. 225º/4 CSC a suspensão
dos efeitos de alienação.

 A falta de pagamento tempestivo da contrapartida, regulada no art. 225/nº5 CSC, diz-nos que o
sucessor tem parante si uma alternativa, ou a efetivação do crédito ou ineficácia da alienação
(neste último caso, a quota considera-se transmitida para sucessores a quem tenha cabido
direito ao pagamento).

Art. 226º CSC, possibilidade de serem os sucessores a terem uma palavra a dizer. Pode-lhes
interessar, por exemplo, porque precisam de dinheiro, querem fazer dinheiro, não vale a pena continuar
naquela sociedade. Ou seja, este artigo torna a transmissão dependente da vontade dos sucessores e
garante a possibilidade de saída aos sucessores. Neste caso, o contrato pode atribuir aos sucessores o
direito de exigir a amortização da quota e condicionar a transmissão da quota á vontade dos
sucessores. Nestes casos, os sucessores têm um prazo de 90 dias para declarar por escrito á sociedade
que não aceitam a transmissão, o ónus está do lado deles.

Recebida a declaração mencionada, a sociedade deve, no prazo de 30 dias: amortizar a quota OU adquirir
a quota OU fazer aquirir a quota por sócio ou terceiro (art. 226º/2). Se naquele prazo de 30 dias a
sociedade não tomar nenhuma das medidas referidas, o sucessor pode requerer a dissolução da
sociedade por via administrativa.

O art. 227º diz-nos que os direitos e obrigações relativos as quotas ficam suspensos enquanto
não se efetivar a amortização ou aquisição dela. Diz-nos também que os sucessores poderão, durante a
suspensão exercer todos os direitos necessários à tutela da sua posição jurídica, nomeadamente votar
em deliberações sobre a alteração do contrato ou dissolução da sociedade (não é uma enumeração
taxativa).

Pode fazer-se uma importante questão neste âmbito: “durante a suspensão, os sucessores são
titulares da quota, são sócios??” O doutor Soveral Martins, Ferrer Correia, Rita Lobo Xavier, entre outros
defendem que NÃO!!
Estas razões têm a ver com aquilo a que se denominava de anteprojeto e com as suas
explicações, bem como a própria letra do art. 225º/1 e 2 CSC dá a entender que efetivamente não haverá
essa transmissão. O professor Coutinho de Abreu, por sua vez pensa que sim.

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3.1.2. Transmissão de quotas entre vivos


VS
3.1.2.1. Cessão de quotas

TRANSMISSÃO DE QUOTAS ENTRE VIVOS (art. 228.º/1 e 3):

 abrange a cessão de quotas, que é uma transmissão voluntária (compra e venda, doação,
entrada em sociedade…) – art. 228.º/2;
 também abrange transmissões não voluntárias (venda executiva, venda em liquidação da massa
insolvente).

CESSÃO DE QUOTAS:

O art. 170º CSC diz-nos que a eficácia para com a sociedade de atos, que nos termos da lei,
devam ser-lhe notificados ou comunicados não depende de registo ou de publicação.

O problema reside no art. 242º- A CSC, este diz que os factos relativos a quotas são ineficazes
perante a sociedade enquanto não for solicitada, quando necessária, a promoção do registo (aditado
pelo Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de março).

 O Doutor Coutinho de Abreu defende que o art. 170º CSC prevalece sobre o art. 242º-A e, portanto,
esta exigência não valeria para estes casos previstos no art. 228º/3.

 Para o Doutor Soveral Martins isto não acontece, primeiro porque o art. 242º-A é lei posterior e
porque o art. 170º CSC apenas se preocupa com uma questão diferente, o registo e publicação. Uma
coisa é o registo outra coisa é a solicitação da promoção do registo, por isso o artigo não afasta o relevo
do art. 242º-A CSC = art. 242º-A prevalece sobre art. 170º.

 MAS, o pedido de promoção do registo vale como comunicação nos termos do art. 228º/3.

Quanto á exigência de consentimento pode servir para proibir a entrada de estranhos mas
também pode servir para impedir a saída dos que lá estão.

O art. 229º CSC vem alargar as possibilidades para que se proíba esta cessão de quotas.

 Proibir cessão – problema: ao fim de dez anos sobre o ingresso, direito de exoneração
(consequências – em especial, 240.º/4,6 e 7);

 Exigir consentimento para as cessões que dele não carecem ao abrigo do art. 228.º, 2, ou exigir
certos requisitos para ser dado consentimento nesses casos. Algumas razões (manter
equilíbrios, obtenção de qualificações, formação, etc.);

 Dispensar consentimento exigido pelo art. 228.º, 2 (para todos ou alguns; dispensar mediante
estarem verificados certos requisitos – exemplo: se se quiser facilitar a transmissão da quota a
outros familiares como o sobrinho). Outras dispensas dentro da família (linha colateral,
familiares do cônjuge do sócio).

O art. 229º/4 vem estabelecer que a eficácia das alterações dependem do consentimento de todos os
sócios por ela afetados.

Cessão entre cônjuges de quota que é bem próprio do cedente:

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O n.º 2 do art. 228.º do CSC «apenas dispensa o consentimento da sociedade para a cessão de quotas
entre cônjuges que, nos termos da lei civil, for de considerar válida». A cessão de quotas entre os
cônjuges, nem sempre são validas:

 Doação entre cônjuges: art. 1762º do CCivil (sanciona com a nulidade a doação entre casados
quando vigore imperativamente entre os cônjuges o regime da separação de bens).

 Só podem ser doados bens próprios do doador e os bens doados não se comunicam. (n.ºs 1 e 2
do art. 1764.º do Código Civil).

 A compra e venda de quotas entre cônjuges e o art. 1714º/2 CCivil: os contratos de compra e
venda são abrangidos pela proibição de alteração, depois do casamento, das convenções
antenupciais e do regime de bens resultante da lei.

Quanto à cessão de quotas entre os ascendentes e descendentes há que lembrar o art. 877º/1 CCivil,
que estabelece que os pais ou avós não podem vender a filhos ou netos sem o consentimento dos outros
filhos ou netos.

Sobre a venda a noras ou genros, ver Ac. TRL de 22/1/2004, P. 9061/2003-2

Vamos ter também em conta o regime das doações e liberalidades inoficiosas.

PEDIDO DE CONSENTIMENTO:

Vamos supor que é formulado o pedido de consentimento, este tem de ser por escrito com
indicação do cessionário e todas as condições da cessão (art. 230º/1). A sociedade tem de deliberar
sobre o pedido, no prazo de 60 dias seguintes à recepção, caso contrário a cessão deixa de depender do
consentimento (art. 230º/4).

 O consentimento pode ser expresso: deliberação dos sócios (art. 230º/2);


 Consentimento dado a cessão posterior a outra não consentida: art. 230º/5;
 Consentimento que se considera dado como prestado nos termos do art. 230º/6
 Parece que também pode haver um consentimento através de uma deliberação tácita.
 Pode haver recusa de consentimento, possível nos termos do regime das deliberações abusivas.

Imaginando que há uma recusa (comunicação da recusa – art. 231º/1), as consequências dessa
recusa vão ser muito variadas:

a. Quota há apenas três anos ou menos na titularidade do cedente, seu cônjuge ou de


pessoa a quem tenham, um ou outro, sucedido por morte (art. 231.º, 3) – cessão de
quota não será eficaz para com a sociedade;

b. Quota há mais de três anos na titularidade do cedente, seu cônjuge ou de pessoa a quem
tenham, um ou outro, sucedido por morte:

 Comunicação de recusa deve incluir proposta de amortização ou aquisição (sociedade


deve deliberar: art. 231º/1 e 4); caso contrário, a cessão torna-se livre (art. 231º/2/a));
o regime da amortização – em particular, o art 236º.

 No caso da proposta de aquisição, «o direito a adquiri-la é atribuído aos sócios que


declarem pretendê-la no momento da respetiva deliberação, proporcionalmente às
quotas que então possuírem; se os sócios não exercerem esse direito, pertencerá ele à

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sociedade» (art. 231.º, 4). Mas… Terá de pagar contrapartida! E há que contar com
regime de quotas próprias…

 Proposta e aceitação devem cumprir os requisitos do art. 231º/2/b) – caso contrário,


cessão torna-se livre.

 Proposta deve abranger todas as quotas para cuja cessão tenha sido pedido
simultaneamente consentimento – caso contrário, cessão torna-se livre (art. 231º/2/c)).

 Proposta deve oferecer contrapartida prevista no art. 231º/2/d) – caso contrário, cessão
torna-se livre.

 Proposta que comporte diferimento do pagamento deve oferecer logo garantia


adequada – caso contrário, cessão torna-se livre (art. 231º/2/e)).

 Sócio recusa proposta/não a aceita no prazo de 15 dias – fica sem efeito, mantém-se
recusa de consentimento (art. 231º/1).

3.1.2.2. Cessão de quotas e direito de preferência

Vamos falar agora das claúsulas de preferência, previstas no art. 229º/5 CSC. este artigo parece afastar
a possibilidade de afastar estas clausulas introduzidas no contrato de sociedade.

 No entanto, na opinião do doutor Soveral Martins elas podem ser introduzidas num contrato
de sociedade desde que não ponha em causa os efeitos da cessão. Falamos aqui no direito de
preferência, mas este direito parece que não tem de ser em sentido estrito. O doutor Soveral Martins
entende que as claúsulas de entrada em sociedade (art. 28º, 89º/ 1), permuta e doação (art. 883º/ 1
CCiv. e art. 231º/1/d) CSC) possam ser introduzidas no contrato desde que resultem desse mesmo
contrato e que não ponham em causa os efeitos da cessão. Já o doutor Coutinho de Abreu pensa o
contrário. Pode ainda estabelecer uma causa de preferência que dependa de consentimento, mas isto
tem ainda alguns requisitos.

3.2. Transmissão de ações

O que nos interessa é a transmissão entre vivos, quanto á transmissão por morte sera aplicado
o regime sucessório. Vamos falar de:

 (1) ações não representadas por títulos ou registos em conta;


 (2) transmissão entre vivos e voluntária de ações tituladas não integradas em sistema
centralizado (ao portador - emissão proibida pela Lei 15/2017; regulamentação no DL
123/2017; e nominativas);
 (3) transmissão entre vivos e voluntária de ações escriturais não integradas em sistema
centralizado;
 (4) transmissão entre vivos e voluntaria de ações integradas em sistema centralizado
(escriturais/tituladas);
 (5) limites à transmissibilidade de ações.

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3.2.1. Antes da representação por registos em conta ou por títulos

(1) Transmissão de ações não representadas por títulos ou registos em conta:

I. Começando pelo período anterior a celebração do ato constitutivo legalmente exigível, há a


ideia de que temos o art. 36º/2 CSC que remete para o art. 995º/2 CCivil – a cessão de quotas está sujeita
à forma exigida para a transmissão dos bens da sociedade.

II. Se for depois da celebração do ato constitutivo pela forma legalmente exigida mas antes do
registo definitivo, o art. 37º/2 CSC também dá uma ajuda (requer o consentimento unânime dos sócios).
Qual a forma exigível? O Dr. Coutinho defende que se aplica a forma da cessão de quotas por analogia
(não é um argumento decisivo).

III. Depois do registo definitivo do ato constitutivo, há que ter em conta que o art. 304º/3 CSC
obriga as sociedades a entregarem aos acionistas os títulos difinitivos nos 6 meses subsequentes ao
registo definitivo do contrato de sociedade ou do aumento de capital.
No entanto, segundo o art. 274º CSC, a qualidade de sócio não depende da emissão e entrega
do titulo de ação ou da inscrição na conta de registo individualizado. O próprio art. 95º CVM também diz
respeito a estas situações.
Porque é que após o registo definitivo pode não ter havido ainda representação?? Pode ser por
negligência ou pode ser de prepósito. Mas que regime vale após o registo definitivo mas antes da
representação?? O Dr. Coutinho defende o regime da cessão de quotas, por analogia – forma escrita,
sujeição às limitações constantes do contrato de sociedade, exigência de comunicação como requisito
de eficácia. Por outro lado, se houver limitações à transmissão, estas deverão valer, mais discutível será
a exigência de comunicação como registo de eficácia que resulta do regime da cessão de quota.

3.2.2. Transmissão de ações tituladas e escriturais

(2) Transmissão entre vivos e voluntária de açoes tituladas não integradas em sistema centralizado

Aqui há que chamar atenção ao art. 43º CSC que nos diz que a emissão de ações (valores
mobiliários) está sujeita a registo junto do emitente (a SA), vale para tituladas e escriturais, e também o
art. 44º/1, alínea f) que nos diz o que deve constar nesse mesmo registo (ata da entrega dos títulos e a
identificação do primeiro titular). Chamamos também a atenção da importância da representação.

Quanto à transmissão de ações entre vivos voluntária de ações não inegradas em sistema
centralizado nem representadas num único titulo, há que chamar a atenção do art. 304º CSC, o que não
se confunde com os cupões mencionados no art. 104º/3 CVM e 301º CSC.

Quanto às ações ao portador, o art. 299º CSC não as admite e o art. 101º CVM foi revogado.

Quanto às ações tituladas nominativas, o art. 102º/1 CVM diz que é necessário a declaração de
transmissão e registo. Qual o valor desta transmissão?? Ver acórdão do STJ de 15.05.2008 que nos diz
que vale como modo. Coutinho de Abreu defende que as ações não se transmitem.

Quanto ao registo já há uma divergência entre o entendimento do doutor Coutinho de abreu


(defende que o registo vale como condição de eficácia perante a sociedade) e o que entende o doutor
Soveral Martins (na sua opinião, quer a declaração de transmissão quer o registo são requisitos para que
a transmissão ocorra, mesmo entre as partes, sem prejuízo de o eventual contrato ser válido e obrigar

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as partes ao seu cumprimento). Dr. Soveral pensa assim para garantir a certeza e a segurança jurídica,
porque quem não esta registado como titular não é efetivamente titular.

 Razões apontadas: segurança e certeza, necessidade de garantir que titularidade e legitimação


andam associadas; evita problemas futuros – os que decorrem de termos alguém que é
proprietário perante uns e não perante outros; os que decorrem das relações entre transmitente
e transmissário, das relações entre estes e a sociedade + interesses de sócios futuros, para
garantir a sua posição – antes de adquirir sabe que quem não está registado não é titular.

O STJ parece sustentar, no acordão de 2008, que a transmissão só se opera com o modo, que vai de
encontro a opinião do doutor Soveral. Há ainda outro acordão, do Tribunal da Relação de Coimbra que
ainda é mais claro (16.03.2010). Ver ainda a Portaria 290/2000, 25 de maio e Portaria 289/2000.

(3) Transmissão entre vivos e voluntária de açoes escriturais não integradas em sistema centralizado

Importa saber que os valores mobiliários escriturais constituem-se por registo em contas
individualizadas abertas junto das entidades registadoras – art. 73º/1 CVM + art. 80º/1 e art. 71º/1 CVM.

(4) Transmissão entre vivos e voluntária de ações escriturais integradas em sistema centralizado

O art. 88º/1 CVM diz-nos que um sistema centralizado é um conjunto de contas através das quais
se processa a constituição e a transferência dos valores mobiliários nele integrados e se assegura o
controlo de quantidade dos valores mobiliários em circulação e dos valores sobre eles constituídos.
O art. 62º CVM mostra a importância deste sistema centralizado – são obrigatoriamente
integrados em sistema centralizado os valores mobiliários escriturais admitidos à negociação em
mercado regulamentado, em sistema de negociação multilateral ou organizado.
O art. 91º/1 CVM mostra-nos o conjunto de contas que constitui o sistema centralizado:
a. Contas de emissão, abertas no emitente, nos termos do art. 44º/1;
b. Contas de registo individualizado, abertas junto dos intermediários financeiros para o
efeito autorizados;
c. Contas de controlo da emissão, abertas por cada um dos emitentes na entidade gestora
do sistema, nos termos da alínea a) do art. 44º/3;
d. Contas de controlo das contas de registo individualizado, abertas pelos intermediários
financeiros na entidade gestora do sistema.

Ver página da Interbolsa.pt na internet.

O art. 71ºCVM também é muito importante, as transferências entre as contas integradas em


sistema centralizado são feitas em conformidade com os valores globais a transferir, comunicados pela
entidade gestora do sistema centralizado de valores mobiliários.

O art. 65º/1 CVM mostra-nos que os registos integrados em sistema centralizado são feitos em
suporte informático, podendo consistir em referências codificadas, no caso de ações escriturais.

O art. 62º CVM diz-nos ainda que são obrigatoriamente integrados em sistema centralizado os
valores mobiliários escriturais admitidos à negociação em mercado regulamentado, em sistema de
negociação multilateral ou organizado, isto em relação às ações escriturais.

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Em relação às ações tituladas, diz-nos o art. 99º/2 CVM as situações em que estas são
obrigatoriamente integradas em sistema centralizado. Se forem integradas em sistema centralizado
passam a estar sujeitas ao regime dos valores mobiliários escriturais, de acordo com o art. 105º CVM,
passam a transmitir-se a partir do regime de conta em conta.

3.2.3. Limitações estatutárias à transmissão de ações

A norma central é o art. 328º CSC, a regra é da livre transmissibilidade de ações. Vemos também
que o contrato de sociedade não pode excluir transmissibilidade nem limitá-la além do que a lei permitir.
O nº2 deste artigo admite 3 conjuntos de limites, cláusulas de consentimento, de preferência a que
subordinam transmissão a existência de determinados requisitos, subjetivos e objetivos – só dizem
respeito a ações nominativas.

O art. 204º/1/a) CVM também é muito importante no diz respeito a esta matéria pois diz-nos o
que pode ser objeto de negociação organizada.

Quanto ás claúsulas de consentimento, é necessário chamar a atenção para que o órgão


competente é em regra a coletividade dos sócios/ Assembleia Geral, mas esta pode ser atribuída a outra.
 A única questão que se coloca aqui surge do art. 441º/1/r) CSC, discute-se se só é possível
atribuir competência ao conselho geral ou se este artigo pressupõe a regra geral que permite
atribuir a competência a outro órgão ou depender do consentimento dos sócios, que é a opinão
do doutor Soveral Martins.

 Outro problema é se estas claúsulas se podem transmitir por morte: Coutinho de Abreu entende
que sim, o doutor Soveral Martins tem as suas dúvidas e diz que talvez não por causa da regra
da livre transmissibilidade para interpretação de casos duvidosos, por causa da comparação com
o art. 225º CSC, da possibilidade de consagrar cláusulas de amortização e dos trabalhos
preparatórios.

Há uma previsão de conteúdo obrigatório para as cláusulas de consentimento (sob pena de


nulidade): art. 329º/3 CSC. Por outro lado não se exige que sejam apresentados os motivos de recusa,
no entanto a deliberação deve indicar o motivo de recusa para sabermos se foi respeitado esse motivo
ou se foi uma deliberação tomada com base num motivo não admitido, o que pode por em causa a
própria deliberação, pode violar o próprio contrato de sociedade.

Outra questão é de liberdade deixada ao sócio na redação destas cláusulas, estaremos perante
um direito de preferência em sentido próprio e só pode ser admitido aos outros acionistas. Estas
cláusulas são oponíveis erga omnes, mas não quer dizer que tenham eficácia real, se bem que Coutinho
de Abreu entende que sim, Soveral entende que a eficácia erga omnes não significa necessariamente
que tenham eficácia real (não se confunde com caráter real do direito de aquisição).

Temos ainda as cláusulas que subordinam a transmissão à existência de determinados


requisitos, subjetivos ou objetivos.

Ela exige também a necessidade de transcrição nos títulos ou contas de registo sob pena de
inoponibilidade a adquirentes de boa fé (não basta o contrato de sociedade e a sua publicidade).

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O que acontece se houver uma violação da limitação?? Isto relaciona-se com o caracter erga
omnes. Coutinho de Abreu entende que haverá uma ineficácia da trasnmissão em relação à sociedade,
já Soveral Martins entende que se permite recusa do registo da transmissão, ou seja impede-se a
transmissão.
Se a sociedade já se constitui, é possível alterá-lo para integrar cláusulas para alteração do
contrato de sociedade o art. 328.º, 3, exige consentimento de todos os acionistas cujas ações sejam por
elas afetadas. Para a atenuação ou extinção são as regras da alteração do contrato.

3.3. Transmissão de quotas e ações e registo do beneficiário efetivo. O registo na sociedade e o


Registo Central do Beneficiário Efetivo

Procuramos destacar a relação entre isto e a transmissão de ações. Procuramos a identificação


do beneficiário efetivo e a razão de ser do regime, no entanto, encontramos algumas dificuldades, as
cadeias de intermediários, os patrimónios de afetação e os diferentes regimes aplicáveis ao longo das
cadeias.

A Diretiva 2015/849/EU é muito importante nesta matéria e é relativa à prevenção da utilização do


sistema financeiro e das atividades e profissões especialmente designadas para efeitos de
branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo. Considerando (12) e (14). O
enquadramento legislativo entre nós é constituído fundamentalmente pela Lei 83/2017 e pela lei
89/2017, artigo 4º e 5º.

Algumas distinções importantes, entre sócio e beneficiário efetivo. Entre registo do beneficiário
efetivo na sociedade comercial, registo central do benefeciário efetivo gerido pelo IRN e registo escrito
que as entidades obrigadas devem manter. Devemos distinguir ainda o papel dos sócios do papel da
sociedade comercial e do papel das entidades obrigadas e distinguir também a declaração inicial do
beneficiário efetivo das atualizações de informação, das confirmações anuais, das retificações oficiosas,
das comunicações de omissão, inexatidão, desconformidade ou desatualização.

O registo central gerido pelo IRN vai ser alimentado pelas declarações que as sociedades
enviam, elas recebem informação dos sócios (art. 5º/1 Lei 89/2017 – mostra que há uma serie de
exigências que devem ser verificadas).

Quanto ao registo do beneficário efetivo mantido pela sociedade este deve ser um registo
privado e constituído por elementos de identificação dos sócios, discriminação das participações sociais,
etc…. e este registo integra um registo dos sócios. O art. 30º/1 desta lei contem uma lista de pessoas
que se vão considerar beneficiários efetivos.

Quanto ao registo central do beneficiário efetivo, vai ser consultado pelas entidades da lei
83/2017, podem ser advogaos, solicitadores, etc. Temos de ver qual a informação que tem de chegar ao
registo central efetivo, tem de conter informação, não pode ser apenas a relativa ao beneficiário efetivo,
tem também de conter informação dos titulares do capital social (Diretiva 2015/848 ). O sócio e o
beneficiário efetivo podem, no entanto, ser a mesma pessoa. Há que distinguir também a informação
que tem de ser feita chegar ao Registo Central, informação que este registo deve conservar e ainda a
informação que constitui o próprio registo central.

Temos também de distinguir a propriedade do beneficiário efetivo da propriedade legal, ou seja


art. 3º e 4º lei 89/2017 do art. 1º do Regime Registo Central do Beneficiário Efetivo (RRCBE) .

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Cabe distinguir ainda a propriedade do beneficiário efetivo do controlo, que não são
efetivamente a mesma coisa, art. 30º/1, al. a) da Lei 83/2017.

Para sabermos quem é o benificiário efetivo temos alguns indícios, indício de propriedade
económica direta e indireta (art. 30º/2, al. a) e b) da Lei 83/2017,). Encontramos ainda outros indicadores
de controlo e de outras circunstâncias, presentes na alínea c) desta lei. Há uma exceção de
impossibilidade, caso não se consiga saber quem é o beneficiário efetivo por outra via.

Aula virtual 15.04.2020

Capítulo VI – Capital e Património Sociais, Lucros, Reservas e Perdas

1. Capital social (noções)

Capital social – previsto no art. 9º/1/f). É um cifra representativa da soma do valor nominal das
entradas fundadas em entradas em dinheiro ou/e espécie. É um número de menção obrigatória em
qualquer ato externo (recibo, faturas, etc.), resulta de uma operação aritmética, soma de valores
nominais das entradas (  valor real) que sejam fundadas em dinheiro ou espécia (ficam de fora as
entradas em indústria).

Nota: hoje, já existem ações sem valor nominal (art. 25º/2, 298º/1) – mas aqui o legislador adaptou o
regime para estas ações.

2. Património social (em confronto com o capital social)

Património – conjunto de relações jurídicas com valor económico (avaliáveis em dinheiro).

Os sócios têm uma obrigação de entrada – elemento tipico da noção de sociedade – estas
entradas contituem o património da sociedade. No caso da entradas em espécie o valor resulta de uma
avaliação (art. 28º) que o tranforma num determinado valor real. Mas o valor real não vai sempre
corresponder ao valor nominal, este vai ser atribuído arbitrariamente. Como é que isto se decide? Por
acordo entre os sócios, são eles que atribuem o valor nominal = não tem que ser idêntico ao real. Mas
também não pode ser qualquer um, o legislador impõe que o valor nominal das entradas nunca pode
ser superior ao valor real, está limitado pelo valor real. O valor nominal vai determinar a proporção com
que cada sócio fica no capital social e será esta que depois ditará a proporção dos lucros.

Quando somamos o valor nominal das participações temos o capital social.


Mas quando juntamos as entradas (seja dinheiro, imóveis, etc) temos o património global da
sociedade – conjunto variado de todos os direitos e obrigações da sociedade suscetíveis de avaliação
económica.

 Património bruto ou ilíquido: é a soma de direitos computáveis em dinheiro (sem considerar


dívidas) – só direitos. O valor real é o valor que irá construir o montante deste património. O
património ilíquido já é um valor numérico, estamos a somar os valores gerados pela avaliação
de cada entrada (exemplo: entrada em dinheiro 100€ + imóvel no valor real de 15mil euros), mas
apenas os direitos! Ficam de fora as dívidas (valor bruto).

 Património líquido: resulta de um apuramento realizado de acordo com as regras da


contabilidade, que atribuem determinado valor seja ao ativo ou passivo, que gera o valor de

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património líquido. Não é uma avaliação que qualquer pessoa pode fazer. É o conceito mais
importante que vamos utilizar.

(A) De um lado – é uma soma de direitos. O patrimonio líquido resulta de uma soma de direitos = ativo
da sociedade, posições me que ela é credora, sinal positivo de património.

(P) De outro lado – soma do valor da dívida. Vamos somar as dívidas, responsabilidades, valores
negativos = passivo da sociedade.

PATRIMÓNIO LÍQUIDO DA SOCIEDADE = ATIVO (A) – PASSIVO (P)

Quando temos um capital social, ele vai manter-se tendencialmente estável ao longo do tempo. Se não
se fizer nada, o capital será sempre o mesmo ao longo da vida da sociedade, por muito que a sociedade
empobreça ou enriqueça (a não ser que se façam operações próprias para aumentar ou diminuir o
capital – art. 87º e ss. + art. 94º e ss). Graficamente, teremos uma linha estável do capital social, que se
manterá assim.

Outra linha, do património líquido. Imaginemos que, no momento em que a sociedae nasceu, o PL
coincidia com o valor do capital social (não precisa de ser sempre assim, pode ser superior ao capital
social, mas nunca inferior porque o valor nominal das entradas não pode ser superior ao valor real das
entras, portanto, se houver diferença será sempre o PL ser superior). Na linha do tempo, graficamente,
a curva já será diferente da do capital social. O PL é uma soma de direitos deduzidas as dívidas – a
sociedade vai iniciar a sua atividade, vai começar as fazer transações, a ter ganhos patrimónios, depois
pode vir a ter dificuldade no negócio e assitirá a um aumento de passivo, etc – isto é uma linha possível
na vida de uma sociedade. O Património Líquido, ao contrário do capital social, não está parado no
tempo, ele transforma-se a cada segundo que passa, valorizando ou desvalorizando-se  constantes
mutações.

Confronto entre as duas noções:


O capital reporta-se ao passado, a um ponto fixo no tempo, tende a ser o momento da constituição da
sociedade. O capital nada garante pois não é mais do que um número, é apenas um mecanismo que
associado a vários aspetos legais, ajuda a conferir alguma proteção aos interesses dos credores.

O património reporta-se a qualquer data, momento, ele é mutável na sua composição e no valor. É uma
diferença aritmética que pode representar realidades muito diferentes. É tecnicamente a garantia geral
das obrigações (dos credores) da sociedade.

3. Funções do capital social

3.1. Financiamento da sociedade


3.2. Ordenação
3.3. Avaliação económico-financeira da sociedade
3.4. Garantia para credores sociais

São dois conceitos diferentes mas eles relacionam-se. O património, no momento que a
sociedade se constitui serve como limite ao capital social. Este último é determinado no âmbito, no limite
do valor real das entradas dos sócios, do património que eles dotaram a sociedade. Em função do
montante do património que se vai poder fixar um capital social, é um limite, não uma imposição direta.

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Mas inversamente, o capital social, que por si, não é património, permite aos credores fazer uma
inferência. Quando vemos o valor do capital social numa fatura, recibo, não sabemos nada daquela
sociedade, esse número não nos diz nad aa respeito do valor do património líquido naquele momenot.
Mas diz-nos qual foi o momento daquele património no momento em que a sociedade foi constituida
ou por força de adições resultantes de aumentos de capital. Inferência de que no momento da
constituição, o seu património tinha pelo menos aquele valor correspondente ao capital social. É o
regime legal que permite concluir isto, porque obrigou os sócios a realizar entradas, a sua avaliação e
impôs o limite fixado no máximo do valor real do bem e não permitiu que o valor nominal fosse superior
ao valor real das entradas. Portanto, o legislador assergurou que este montante de capital social tem
uma ligação ao valor do património, pelo menos durante a sua constituição, o que aconteceu depois não
sabemos.

PL = X (ativo) – Y (passivo)  este valor pode aumentar ou reduzir conforme haja enriquecimento ou
empobrecimento da sociedade.

 Causas de enriquecimento das sociedade:


1) risco patrimonial, risco de exercício da empresa que gera um incrimento patrimonial
(ex: comprou um imóvel e ele valorizou).

2) sócios fazerem novas entradas realizando um novo aumento de capital.

 Causas de empobrecimento das sociedades:


1) risco patrimonial/empresarial, em muitos momentos há empobrecimento.
Naturalmente, isto é mau para os credores, sobretudo se se tratar de sociedade de
responsabilidade limitada. Mas isto é um risco próprio da atividade, há transferência de risco
para os credores, são eles que suportam todo esse insucesso porque o património não será
suficiente. Se houverem grandes perdas isso vai tocar no bolso dos credores. Suportam esse
risco quando este advém do risco patrimonial ou empresarial.

2) distribuição de lucros ou entregas de bens aos sócios (a sociedade está a empobrecer-


se, implicação patrimonial de entregar um ativo seu aos sócios), também pode acontecer fruto
de liberalidade (mas estas estão muito limitadas pelo art. 6º e pela especialidade do fim que
limita a capacidade das sociedades). O legislador não deixou isto à mercê do risco, estabeleceu
um regime nos art. 32º e 33º CSC que define os casos em que sim pode ou não pode empobrecer
por força desta distribuição. Não pode acontecer quando o PL é um valor que está, naquele
momento, abaixo do limite da linha do capital social.

4. Lucros

São um incremento do património da sociedade, é sempre uma diferença entre o que a sociedade tinha,
X, e o que passou a ter, Y. Lucro = Y – X. consoante oq eu seja X e Y teremos diferentes noções de lucro:
lucro de balanço, Lucro de exercício ou Lucro final ou de liquidação.

Reserva: de forma simplificada, são lucros não distribuídos. Em rigor, a lei sujeita ao regime das reservas,
valores que não são em propriamente lucros, como o ágio – caso em que esse aumento não se deve à
atividade da sociedade (art. 295º/2/a)). É algo que está a mais no seu património, por isso é lucro, mas
está retido, não foi distribuído aos sócios.

Estas reservas, consoante a fonte / causa / origem da reserva, podem ser:

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1) LEGAIS: cuja causa, fonte e razão de ser provém da lei. É assim nas SQ (art. 218º); SA (art. 295º/1) e
SCA (art. 478º). Ou seja, impõe-se que havendo lucro, haja uma parte que não seja distribuída aos sócios.
Que parte é essa?

Em cada exercício, 5% dos lucros formados desse ano, devem ser levados à reserva legal. Não é
sempre, não é um valor a ser somado todos os anos indeterminavelmente, infinito, o legislador
diz que deve ser até se atingir um montante global de reserva que seja 20% do capital social
daquela sociedade – isto é a regra para as SA.

Nas SQ, além deste montante de 20% do capital social, o legislador fixou um mínimo absoluto
de 2.500€ independentemente do montante de capital social. A sociedade tem de atingir este
valor no mínimo, mas se os 20% corresponderem a mais, terá que ser até esse valor que devems
er somadas as parcelas de lucros de exercícios. Na prática, isto significa que as sociedade por
quotas com capital social até 12.500€ - 1/5 disso será 2.500€ ou menos – estás tem que cosntituir
uma reserva de 2.500€. As sociedades que tenham um capital social superior a 12.000€, o critério
a usar será o de 20% porque isso já será mais do que 2.500€.

Nota: o montante legal das reservas pode ser aumentado pelos estatutos, mas nunca diminuido.
Em rigor, quando os estatutos intervém sobre este montante, já não estamos a falar de uma
reserva legal mas sim de outra natureza.

A lógica destas reservas é criar uma segurança para os tempos menos lucrativos da sociedade,
indo guardando uma parcela dos lucros que obtém em tempos mais favoráveis.

2) ESTATUTÁRIAS: existem se os estatutos assim as detemrinarem.

3) LIVRES: existem se os sócios assim deliberarem (livremente). Podemos ter que num ano 1, tendo
lucros, os sócios decidam levá-los à reserva e, num ano 2, podem tomar uma decisão dferente e pegar
no valor dessas reservas e distribuirem-no a título de lucros.

4) OCULTAS:

Exemplo: uma sociedade que tem 1000 de ativo e 500 de passivo, têm um PL = 500. Mas vamos imaginar
que os sócios ou quem preparou as contas, subvalorizou o ativo e o ativo foi de 700, então o PL será de
200 (1). Mas se, por outro lado, se o que aconteceu foi uma sobreavaliação do passivo, passando de 500
para 800, o PL seria igualmente de 200 (2). De qualquer das formas, seja atraves de um sub-avaliação do
ativo ou sobre-avaliação do passivo é possível chegar a um valor diferente do PL, menor. Se formos
comparar a comparar, temos que, na realidade, o lucro que ela tem foi de 500 – lucro real. Mas o lucro
que se apura nos outros dois casos é bem diferente, se figura um PL não de 500 mas apenas de 200,
então o lucro que evidencia é apenas de 200. Nestas duas situações (1 e 2)temos um lucro que , na
realidade é de 500, mas estão apenas evidenciados 200, há 300 que são reservas ocultas. Eles estão lá,
mas não transparecem nas contas e obviamente não foram distribuídos  são reservas que não
aparentam.

Elas serão lícitas? Durante muito tempo se disse que não só eram permitidas como eram uma prática
boa para a sociedade. Mas não é assim, esta ocultação de lucros constitui evasão fiscal, ela é tributada
apenas como um ganho de 200 – o que a sociedade consegue com isto é apenas pagar menos impostos.
Prática violadora da lei.

Pode acontecer que isto corresponda a critérios legais ou prudências de mensuração (ativo ou passivo)
ou de amortizações. Estamos a falar de valores contabilísticos, temos que dizer quanto vale cada bem.
Ora, existem regras que cosnsitem em inscrever no ativo o valor que se pagou por ele, mas passado um

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ano este bem já valerá menos. Por isso, existem regras para fazer a depreciação contabilística do valor.
Passados alguns anos, o bem vai valer zero na contabilidade, mas pode ainda ter algum pequeno valor
no mercado, pode vender-se. Ou então, sociedade que têm ativo no seu aptrimónio e que teme que
detemrinado bens em stock não vai conseguir vender e que possam estragar-se, a sociedade,
prudentemente, desde, logo, desvaloriza esses bens no seu ativo, avalia-os de uma forma a reduzir o seu
valor. Nestas situações não há propriamente um objetivo de evasão fiscal e podem ser atos conformes
com a lei e, portanto, não oferecem dúvidas.

Estas reservas, consoante o destino podem ser:

A) Impostas por lei (art. 296º) – nas reservas legais. Podem servir para cobertura de perdas de exercício;
cobertura de perdas transitadas do(s) exercício(s) anterior(es); incorporação no capital de uma
sociedade.

Exemplo: existe uma reserva legal compeltamente constituida (20% do capital social). O que pode
acontecer com esta tal incorporação em capital de uma sociedade – a sociedade, faz um aumento
do seu capital social a incorporar aquilo que era reserva no capital = aquilo que era reseva social
deixou de existir e passou a ser capital social de um montante maior. não acontece nenhuma
alteração patrimonial: é apenas contabilística. Deixou de ter a reserva legal para ter um valor mais
avultado no capital social, mas não só, agora aquele montanto passou a estar sujeito ao regime
do capital social que é diferente.

B) Destino que os estatutos determinarem – nas reservas estatutárias.

C) O que a deliberação dos sócios determinar – nas reservas livres. Pode ser para cobrir perdas ou
incorporar no capital ou destribuir aos sócios (esta é uma finalidade que as reservas estatutárias e legais
não podem ter – isto destingue as reservas livres).

4.1. Lucro de balanço

Lucro de Balanço = Património Líquido – (Capital Social + Reservas Legais + Reservas estatutárias)

Este lucro é importante porque, nos termos do art. 32º, corresponde ao valor do lucro distribuível. Se
quisermos responder à pergunta: qual é o montante de lucros que se pode distribuir pelos sócios? A
resposta será o valor do lucro de balanço.

Este lucro faz o balanço da vida da sociedade. Estamos a comparar a riqueza que a sociedade tem em
determinado momento (PL) com o nascimento (CS) – há que respeitar a exigências das reservas também.

4.2. Lucro de exercício

O período de exercício é normal de um ano, correspondendo ao ano civil (365 dias). Mas pode não ser
assim, as sociedades desportivas que podem adotar a época desportiva para o efeito.

Vamos comparar o PL que a sociedade tem no momento 2 (ex: 31 de dezembro de 2019) com o PL que
tinha no momento 1 (1 de janeiro de 2019).

Lucro de exercício = PL2 – PL1  se for positivo é porque há lucro.

Lucro positivo não é lucro distribuível, mas podemos a partir desse valor chegar também ao montante
de lucro distribuível:

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Lucro de exercício – (PT – RL – RE + LT) = Lucro Distribuível


Àquilo que a sociedade ganhou naquele ano, posso subtrair aquilo que a sociedade perdeu em anos
anteriores (Perdas Transitadas), substrair reservas legais (RL), reservas estatutárias (RE) e somar lucros
transitados (LT) e chegar a um montante de lucros distribuível que há de ser o mesmo valor a que
chegaria através do cálculo anterior do Lucro de Balanço – art. 33º/1.

4.3. Lucro final ou de liquidação

É um lucro de uma vida inteira da sociedade – realiza-se no útlimo momento, o da sua liquidação e
calcula-se qual é o lucro.

Lucro final ou de liquidação = Património Líquido – Capital Social (dote patrimonial com o qual ela
nasceu)

Representação gráfica

Num primeiro exercício completo, a sociedadee teve x ganhos durante esse período e constituiu
a primeira parcela da sua reserva legal. Mas depois imaginamos que as coisas correm mal, no segundo
exercício o PL cai imenso, a sociedade vai ter as suas evoluções mais ou menos baixas. Como consumiu
a reserva legal constituída, no período em que sofreu perdas (curva descendente), quando voltou a ter
ganhos, há uma parte que deve ser levada à cosntituição de novo da reserva legal.

Então, no primeiro exercício, conseguiu ter Lucros de Exercício, num segundo exercício já
registou Perdas de Exercício e assim sucessivamente (linha de lucros ou perdas de exercício) conforme
a oscilação da linha de vida do património líquido.
Em relação aos Lucros de Balanço: calcula-se a comparar o património líquido num determiando
momento deduzindo-lhe o CS e as reservas.
No primeiro momento, temos um lucro de balanço que não corresponde ao lucro de exercício –
desse lucro de exercício uma parte foi levada para constituir reservas legais. Nesse primeiro exercício, a
sociedade teve ganhos, comparando com o ponto de partida CS, mas temos que reduzir o montante das
reservas. No segundo exercício já temos perdas de balanço, o nível do PL e sobtraírmos o montante de
capital social (que é superior à curva do PL) logo percebemos que há perdas. No ano seguinte,

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continuamos a ter PB, o PL está abaixo do valor do CS. Nos exercícios seguintes, já temos LB, olhando
para o montante do PL, mesmo com a constituição de reservas, temos uma diferença positiva. Podemos
ter em certos momentos, situações descrepantes, no exercício entre 2 --- 3, aqui temos Lucros (porque
o PL a 1 de janeiro do ano y era inferior ao PL registado no dia 31 de dezembro do ano y – houve
incremento patrimonial) mas naquele exercício continua a registar-se Perdas de Balanço porque se
compararmos, não o que aconteceu em concreto naquele exercício, mas sim o histórico da sociedade, o
PL comparado com o momento de nascimento da sociedade, ou seja o seu CS, continuamos a ter um PL
inferior = então há perdade de balanço apesar de haver lucros de exercício.

Já sabemos que se há LB = então há lucros distribuíveis. Se há apenas PB, mesmo que haja Lucros de
Exercício, esses lucros não são distribuíveis!

No final do exercício (art. 33º) a sociedade pode ter:

 Lucros:
1ª operação: vai se fazer uma cobertura de perdas transitadas (pode existir ou não) =
 ficamos com zero de lucros porque servem para cobrir totalmente (ficamos por aqui,
não há mais nada a fazer)
OU

 podemos ter um valor superior a zero (ou porque não havia perdas transitadas ou o valor
dos lucros era superior a estas):

2ª operação: constituição da reserva legal (5% dos LE – art. 295º e 218º) – só


não teremos que levar nada se ela já estiver totalmente preenchida (20% do CS).

3ª operação (eventual): se houver reservas estatutárias, teremos que


tirar mais alguma coisa deste montante de Lucros de Exercício.

= feitas estas paragens, teremos um LUCRO DISCTRIBUÍVEL – mas isto não significa que será
efetivamente distribuído, podem optar por um de 3 caminhos:

A) Distribuir aos sócios;


B) Decisão de não distribuir os lucros e, em todo ou em parte, constituir com esse valor reservas
livres ou lucros transitados.
C) Entregar a terceiros (?? É matéria discutível, mas o Dr. Pedro Maia parece aceitar a sua
admissibilidade).

 Perdas

Direito ao lucro
É o poder de exigir o lucro, na parte respetiva, quando sejam distribuídos. O sócio não tem direito
em si mesmo, em qualquer circunstância, mas sim quando sejam distribuídos.
A doutrina tem distinguido o direito abstrato ao lucro (que é o direito de quinhoar se houver
lucros e se houver distribuição de lucros) do direito concreto ao lucro (direito de crédito ao
pagamento/entrega do lucro pela sociedade).

O facto do direito ao lucro ter um patamar abstrato não significa que este seja um patamar
irrelevante porque é neste patamar que conseguimos identificar a proibição do pacto leonino (art.22º/3).

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Não é evidente a ratio desta proibição, é muito discutível. Há quem considere que se trata de uma forma
de proibir algo que é desconforme com a própria noção de sociedade e outros que dizem que se trata
de proteger o mínimo de cada participante, há um mínimo de tutela. Também se questiona o seu âmbito
e conteúdo:
Exemplo: é proibido estabelecer, nos estatutos, que há um sócio que não tem direito aos lucros,
mas pergunta-se se fora dos estatutos, à margem dessa relação intrasocietária, dois sócios ou até um
sócio e um terceiro, podem contratar entre si que um deles não ficará com os lucros?? Esta proibição
vale so dentro da relação ou vai para lá disso?

Portanto, havendo esta proibição, é nula uma cláusula estatutária que fira o art. 22º/3 CSC.
Também será nula uma deliberação dos sócios que afaste um sócio do direito aos lucros (art. 56º/1/d)
CSC). Este direito abstrato não pode ser afastado!! Uma coisa diferente será num exercício concreto,
numa distribuição concreta a que se chegou, haver um sócio que para aquele montante, aqueles
dividendos, está a ser afastado (isto tem um tratamento diferente).
 Os estatutos neste caso não são nulos mas dá se sim uma redução dos estatutos, não se lendo esta
cláusula.
A proibição do pacto leonino proíbe a exclusão do lucro (ou algo materialmente equivalente a
zero), mas não proíbe a desproporção, são válidos os direitos especiais aos lucros (art. 341ºCSC).
Quando se permite esta desproporção temos como consequência de que uns sócios terão mais lucros e
outros menos lucros – é sempre algo relativo a uma referência de participação de cada sócio.
Nos direitos patrimoniais, uma vez que se trata de repartir o bolo dos ganhos pelos sócios, há uma
fenómeno matemático: se há uma atribuição maior de direitos a um sócio, outros sócios terão, necessariamente,
menos proporção. Não será assim em todos os direitos, vimos a possibilidade de se atribuir um direito especial à
gerência a um sócio, isto não impede que um outro sócio também tenha este direito especial – o outro pode ter
igualmente mais.

O direito ao lucro é pois um direito de proporção. Em qualquer tipo societário, se um sócio tem
1% de participação social então deverá ter 1% dos lucros = regra! Mas não será assim no direito de voto
– há tipos societários em que o voto tem um poder de proporção, quanto maior a participação social
maior o poder voto, mas não é assim numa sociedade em nome coletivo – aqui a regra é de voto per
capita, cada sócio, seja qual for a sua participação, tem o mesmo direito ao voto.

Quem é o titular do direito ao lucro?


Todos os sócios (justamente porque é proibído o pacto leonino e nenhum sócio pode ser
afastado do direito abstrato ao lucro). Mas será que são só os sócios? Apesar de discutível, parece que
a resposta é não, é possível atribuir a gerentes ou administradores da sociedade, a título de remuneração
– de forma a linhar os interesses de uns com outros, e prezar pelo bem da sociedade, pois os gerentes
ganharão mais se a sociedade ganhar mais lucros (art. 255º/3 e 399º/2 e 3). Também os promotores da
sociedade podem ter uma parte dos lucros (art. 279º/6), além disso, também é possível (e muito comum)
atribuirem aos seus trabalhadores uma participação nos lucros, i.e, premiá-los das vantagens
económicas que a sociedade tenha gerado, integrando na remuneração.

E outros casos, sem ser estes casos? É muito discutível, mas continua a ser possível, se forem
observados limites. Em certos casos isto será válido, noutros casos já não. Apesar disso, a totalidade dos
lucros não podem ser entregues todos aos não sócios, porque ai os sócios não receberiam e estaríamos
a violar a proibição de pacto leonino. É necessário ver se não estamos num caso abusivo e ilegal,
averiguando também se o caso está dentro da capacidade da sociedade (art. 6º/1 e 2).

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Exemplo: entrega de lucros, em grande parte, a um terceiro prejudicando assim o interesse de


vários sócios. A doutrina discute que, sendo isto possível, talvez será preciso aqui uma deliberação
unânime de todos os sócios, não bastando uma mera maioria.

Distribuição de lucros de Balanço

Em rigor não existe o direito à distribuição dos lucros de balanço, ou seja, cada sócio não tem o
direito de, individualmente, exigir à sociedade para lhe dar lucros de balanço. Mas a administração da
sociedade tem o dever de (1) apresentar, anualmente, um relatório de gestão (art. 65º/1 e 5). Este
relatório de gestão é um documento que tem um conteúdo diverso, amplo, e um dos elementos que
incorpora é a (2) referência as resultados, que se forem positivos são lucros (art. 65º e 66º/2). A lei dispõe
que o órgão de administração tem de (3) apresentar um proposta de aplicação, uma proposta de
distribuição dos resultados (art. 66º/5/f)).

Os sócios é que deliberam sobre isto, nos termos aplicáveis sobre a matéria, e, portanto, os
sócios (em comum, em regra, por maioria) decidem a distribuição dos dividendos. Apesar do direito ao
lucro ser um direito individual, a decisão de se distribuírem os lucros, de concretizarem o montante aos
sócios, é uma decisão que decorre da maioria.
Porem, há casos em que a liberdade dos sócios de não distribuírem dividendos é muito mais
restrita:
1. Desde logo, o caso das ações preferências sem voto (art. 342º), visto que estas ações, havendo
dividendos, os sócios têm de receber o dividendo prioritário;

2. Também há uma norma para as SQ e SA onde se dispõe que, em principio, devem ser distribuídos
pelo menos 50% dos lucros de cada exercício, salvo se acontecer uma de 2 coisas:
 haver uma cláusula estatutária que dispense a sociedade desta distribuição (apesar do
legislador ter estabelecido a regra, permitiu que os estatutos afastassem esta exigência
e pode não distribuir nada)
ou
 há uma deliberação de ¾ dos votos totais, do capital social (não apenas de quem estiver
presente na assembleia – art. 217º e 294º CSC).

 se os sócios não cumprirem esta regra? É matéria discutível.

Concluído o exercício, ou seja, um ano de atividade, a 31 de Dezembro, inicia se o período de


preparação do relatório de contas pela Administração, que haverá de ser levado à Assembleia e
aprovado até ao final do 1º trimestre (até 31 de Março) ou, se a sociedade proceder à consolidação de
contas até 31 de Maio do ano subsequente.
Antes desta Assembleia, a Administração haverá de ter os resultados determinados, no tal
relatório de gestão, e haverá de ter uma proposta para o efeito e os sócios terão acesso a ele 15 dias
antes da assembleia. Quando chegar o dia da Assembleia haverá uma deliberação que, se tiver
resultados positivos, poderá levar a uma distribuição de lucros.

Até esta deliberação da distribuição de lucros, os sócios teriam apenas o direito abstrato ao
lucro porque, sem haver, por um lado, a preparação das contas que revela a existência do lucro e,
subsequentemente, sem a deliberação da distribuição de lucros, o que existe é apenas direito abstrato
ao lucro.

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Uma vez deliberada a distribuição dos lucros, surge o direito concreto de crédito (ao pagamento
dos lucros) contra a sociedade. O direito forma-se neste momento mas não se vence neste momento, o
pagamento dos lucros vai surgir num momento posterior, sendo que o legislador fixa um prazo de, em
regras, 30 dias (art. 217º/2 e 294º/2 CSC).
Decorridos os tais 30 dias, os administradores ou gerentes têm a obrigação de proceder ao
pagamento  mas há casos em que também têm o DEVER DE NÃO proceder ao pagamento! O legislador
estipula que apesar de ter sido decidido a distribuição dos lucros e de já se ter vencido o pagamento dos
lucros, a sociedade não deve proceder ao pagamento.

Exemplo, caso do art. 31º/2/a) CSC – infelizmente é muito cumum. Imaginemos, que uma
sociedade, em 2019, teve lucros, já fez a assembleia em março nates da pandemia, deliberou destribuir
dividendos, decorridos 30 dias, então já nesta altura – quando já devia pagar dividendos, a sociedade
constata que está numa situação patrimonial desfavorável. Ao longo dos 30 dias, a sociedade teve
prejuízos e, portanto, está numa situação diferente daquela em que foi aprovada a distribuição.  em
casos como estes, a sociedade tem o dever de não proceder ao pagamento, porque nesta data a situação
económica da sociedade já não o permite. Se tiver existido uma providência cauteral, a administração
terá de a cumprir (art. 381º/3 CPC) bem como uma ação de impugnação de deliberação (art. 31º/4), sem
prejuízo do que vem disposto no CPC sobre o porcedimento cautelar de suspensão das deliberações
sociais, inibe a sociedade de proceder ao pagamento. É o legislador a acautelar maximamente a situação
patrimonial da sociedade.

Deliberação da distribuição de dividendos


Esta pode ser inválida, justamente, por ela ter identificado lucros que foram distribuídos que não
existiam, afinal a situação patrimonial da sociedade não era aquela e portanto a sociedade não poderia
ter distribuído os lucros. Quando uma deliberação destas é invalida, se a distribuição chegou a ser
executada e os lucros chegaram a ser pagos aos sócios, é compreensível que exista um dever de
restituição dos dividendos que tenham sido pagos, uma vez que foram entregues lucros indevídos – art.
34º/1, 1ª parte.
Esta seria a regra, a restituição de dividendos, contudo, o legislador prevê exceções:

 o caso da boa fé dos sócios, estes não conhecia nem tinha o dever de conhecer, então ele não
tem o dever de restituir os dividendos da sociedade – art. 34º/1, 2ª parte. Esta solução é muito
discutível de iure condendo, pois a sociedade viu-se privada do seu património, pondo em causa
interesses dos credores que só têm como garantia o património da sociedade que acabou de
ficar mais pobre de forma ilegal. Aplica-se esta benesse (de não ter o dever de restituir), desde
logo, ao sócio. Mas pode acontecer que, desde o momento em que houve a destribuição e o
momento em que se decretou a invalidade da transmissão (= se deu conta do erro), tenha havido
uma transmissão da participação, o que quer dizer que foi A (antigo sócio) que recebeu mas
agora é um terceiro que possuí as ações OU quem tomou a deliberação foi A, mas agora B é que
têm as ações e vai receber os lucros a distribuir.

 Este regime também se aplica ao novo titular da participação social. E também se aplica ao novo
titular de direito se este tiver sido transmitido o direito ao próprio dividendo – num momento
delibera-se a distribuição e pode-se destacar, cindir, transmitir aquele direito de crédito de
receber um detemrinado montante – o acionista é um e o sujeto que vai receber o lucro é outro.

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Distribuição de lucros de exercício

Os lucros de exercício distinguem-se dos lucros de balanço. Os lucros de exercício são a diferença
entre o património líquido no fim do exercício e o património líquido no inicio do exercício. Por sua vez,
os lucros de balanço é uma diferença entre o património líquido e o capital social somado as reservas
legais e estatutárias.

1ª nota: o lucro de exercício não é todo distribuído, pode ser ou não. Já os de balanço, são lucros
por definição distribuíveis.

Dentro do universo dos lucros gerados por um exercício, qual é o montante distribuível?

Nem todos são distribuíveis porque os lucros de exercícios, antes de ser distribuídos, têm
destinos impostos por lei: em primeiro lugar, eles servem para cobrir perdas transitadas; em segundo
lugar, servem para a formação de reserva legal; e, caso exista, em terceiro lugar, à reserva estatutária
(impostas pelos estatutos). E, portanto, pode haver lucro de exercício e não haver nenhum lucro
distribuível.
O art. 217º (SQ) e o art. 294º (SA), dizem-nos que há de proceder-se à distribuição de 50% do
lucro distribuível, no mínimo, a não ser que exista uma cláusula estatutária que dispense esta
distribuição (estatutos tenham derrogado este regime) ou, salvo se, na assembleia geral em causa for
tomada essa decisão por ¾ dos votos correspondentes ao capital social (da totalidade dos votos, se
muitos faltarem, estão a impossibilitar esta tomada). Os sócios têm direito à distribuição de 50%, a não
ser que alguma destas ressalvas se verifique no caso.

Vamos atender então a cada hipótese:

1) Os estatutos não derrogam o regime legal:

 Pode acontecer que os sócios não deliberem e, por isso, não há distribuição de lucros. Apesar
disso, a doutrina tem defendido que, se não houver deliberação e decorrido o prazo legal para haver
deliberação (até 31 de março ou 31 de maio), o tal direito abstrato ao lucro passa a ser um direito
concreto ao lucro e o sócio passa a ter direito ao crédito do pagamento da deliberação. Não se dispensa,
contudo, que haja contas que permitam apurar a existência de lucro, questão diferente é quando, já
havendo contas, não se decide sobre a distribuição.

 Os sócios tomam uma deliberação de ¾ dos votos correspondentes ao capital social, temos
aqui a hipótese de se verificar aquela ressalva que o próprio legislador permite. Neste caso, pode haver
distribuição ou não, e tanto pode ir de 0 a 100%, os sócios têm livre passe para decidirem acerca do
destino dos lucros. Pode haver aqui uma deliberação abusiva, que apesar de formalmente conforme
com a lei, em que se verifica que ela visa prejudicar sócios minoritários não lhes dando acesso a nenhuma
distribuição de lucros.

 Ser tomada uma deliberação mas sem os ¾ dos votos correspondente ao capital social, só se
atingindo uma maioria simples. Nestes casos, o presidente da mesa deve constatar que não tendo sido
atingida tal maioria teria de se distribuir 50% dos lucros de exercício. Se a deliberação for considerada
aprovada – temos invalidade da deliberação e os sócios podem exigir na mesma a sua distribuição.
Assim, podemos ter 2 casos: ou essa maioria simples decide distribuir 50% ou mais dos lucros
de exercício e aí pode porque não se exige mais do que a maioria simples; OU se decide não distribuir
de todo ou distribuir menos de 50% e há uma violação já que se exige maioria qualificada e não é
aprovada, tendo os sócios o direito de exigir os 50% na proporção da participação de cada um.

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2) Os estatutos derrogam o regime (art. 217º ou 294º):

 Os estatutos remetem livremente para cada assembleia geral anual. Em cada assembleia
geral, os sócios vão deliberar livremente sobre o destino da totalidade dos lucros. Esta é uma cláusula
válida. Em cada assembleia, por maioria simples, os sócios podem decidir o destino dos lucros gerados.

 Os estatutos derrogam os 50%, estabelecendo um limite diferente, inferior a 50%. Apenas


sujeitarem-se a distribuir 30% ou 20% dos lucros. Isto também é valido.

 Os estatutos em vez de baixarem a percentagem, sobem-na, subindo até 100%. Isto é, todo
o lucro do exercício que seja distribuível, tem necessariamente de ser distribuído e, portanto, os sócios
não vão ter liberdade nenhuma porque se impõe a distribuição total dos lucros (está pré-determinado).
A validade desta cláusula é discutível, aparentemente diríamos que é válida (art. 980º - a sociedade serve
para formar lucros, na verdade), mas vendo concretamente pode ser ilegal.

 Os estatutos decidem que nada se distribui, 0%. À partida isto parece que é contrário ao pacto
leonino, só que nós só estamos a falar dos lucros de exercícios não de todos os lucros, quando a
sociedade se extinguir o lucro acabará por ser distribuído para os sócios, neste sentido continua a ahver
direito ao lucro simplesmente remetido para um certo se e quando. O lucro está dependente do fim da
sociedade. Só que a sociedade pode viver eternamente, por tempo indeterminado, e por isso parece
muito discutível (Não?). Diferente seria a situação de uma sociedade com prazo – estará à vista o dia em
que serão repartidos os lucros (Sim?).

Distribuição do Lucro Final

Art. 154º CSC - quando a sociedade se extingue, dá se a liquidação da sociedade que significa
essencialmente a liquidação do património social. A primeira parte é o pagamento ao credor. Uma vez
pago aos credores, há o reembolso das entradas aos sócios (art. 156º/2 CSC), isto não constitui lucros,
não é um ganho dos sócios, apenas recebem de volta o que entregaram à sociedade è título de entrada,
eles recebem o valor nominal da entrada e não o valor real da sociedade. E, por fim, dá se lugar à
distribuição dos sócios do lucro restante (se restar ainda algo).
Este lucro assenta em relatório dos liquidatários (art.157ºCSC), e depois disso, sobre esse
relatório, os sócios tomam uma deliberação e com esta deliberação emerge o direito de crédito ao
pagamento de lucro final.
Ele pode ser pago em espécie se os estatutos ou uma deliberação unânime o determinarem. Ou
pode ser pago em dinheiro (esta é a alternativa regra) que pode exigir uma alienação prévia dos bens da
sociedade.

Aula virtual 22/04/2020

5. Reservas
(já foi tratado supra)

6. Perdas

São o oposto do lucro, são variações negativas, ou seja, sobre a mesma conta, que faríamos para
achar lucros, temos perdas. Podemos ter, perdas de balanço, perdas de exercício e perdas finais, assim

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como os lucros, as operações são exatamente iguais, só que num caso o resultado é positivo enquanto
que no outro caso é negativo.

O que significa o dever de quinhoar nas perdas que o art. 20º/g) CSC preve?

Isto versa sobretudo sobre as sociedades de responsabilidade limitada. Nestas é aparentemente


estranho falar-se num dever de quinhoar as perdas porque os sócios não respondem por dívidas sociais
e, por isso, não parece fazer muito sentido dizer que os sócios devem quinhoar nas perdas. Em que
sentido se pode fazer neste dever a cargo dos sócios?

Mas este dever existe. Esta não é a uma obrigação de pagar dívidas sociais (porque nas
sociedades de responsabilidade limitada este não existe), mas eles têm o dever de perder (em parte ou
em proporção) o que tiverem investido (entregue em titulo de entradas) na sociedade. O que os sócios,
verdadeiramente têm é o dever de assumir o risco necessário de, tendo realizado entradas, nunca serem
remunerados por elas. Ele não assume as perdas todas mas, necessariamente, os sócios vão sofrer uma
perda. Essa perda pode concretizar-se na extinção da sociedade (liquidação da sociedade, no momento
em que o sócio devia ser reembolsado pelas suas entradas, não o é – concretiza-se nesse momento a
perda) ou, antes da extinção da sociedade, na extinção da relação societária (o sócio pode extinguir a
relação societária no momento em que se exonera ou no momento em que é excluído – o sócio recebe
uma contrapartida e pode concretizar uma perda do valor do sócio recebendo ele menos do que aquilo
que entregou a título de entradas).

Funções do capital Social

1. Financiamento da sociedade – pode ter esta função. Todavia, é certo que o capital social existe
obrigatoriamente mas nem sempre tem essa função, exemplo disso são aquelas sociedades por
quotas em que o capital social pode ser de apenas 1 euro, onde nunca será financiamento da
sociedade. Mesmo nas sociedade anónimas, onde há um mínimo de 50.000€ de capital social,
este valor pode ser tão irrisório face a atividade exercida que não se pode dizer que será este
valor o responsável pelo financiamento. É economicamente obrigatório que a sociedade se
financie, mas é livre o meio jurídico para o efeito: pode ser capitais próprios ou alheios, ser
financiados por sócios ou por terceiros.

2. Ordenação – sim, mas não é imprescindível. De facto, quando temos um capital social que
resulta da soma do valor nominal das participações sociais, o capital social permite arrumar,
estabelecer rácios ou proporções entre os sócios, que vão permitir, por exemplo, saber qual é o
quinhão de cada um nos lucros, qual é o poder de voto de cada um, etc. Só que, como dito em
cima, não é imprescindível, há sociedades que não têm capital social mas também são
ordenadas. O capital social pode cumprir essa função, mas não é por causa disso que existe
capital social.

3. Avaliação económico-financeira – olharmos para uma sociedade e em função do montante do


capital social podemros avaliar económico-financeiramente a sociedade. Ora, já sabemos que a
situação económico-financeira vem do seu património líquido não do seu capital social. Duas
sociedades com capital social igual podem ter realidades económico-financeitar totalmente
distintas.

4. Garantia para credores – esta é a mais referida na doutrina! Enquadrando, o capital social é uma
cifra estável e este valor não garante nada aos credores, não impede (obviamente) que a
sociedade se empobreça ou que o PL se torne inferior ao passivo da sociedade.

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Art. 35º CSC: encontrando-se perdida metade do capital social (o legislador tem aqui uma
hipótese na norma que não é totalmente rigorosa, já que o capital social não se perde, corra bem ou
mal, o capital social é o mesmo, o que se perde é o património líquido. A doutrina tem de interpretar
corrigindo o legislador e, por isso, consideramos que o que está aqui em causa é quando o valor do
património liquido se torna inferior a metade do capital social), emerge um dever para os
administradores para se convocar uma assembleia geral para que os sócios tomem medidas.

1) Impõe um dever à administração (gerentes e administradores) de convocar ou requerer a


convocação de uma AG de sócios. O legislador utiliza esta alternativa porque nas SQ quem tem poder
para convocar são os gerentes, mas nas SA quem tem este poder não são os administradores mas sim o
presidente da mesa da AG (neste caso os administradores têm de requerer ao presidente para ocorrer
a AG).

2) A Administração tem também o dever de informar os sócios da situação da sociedade (de


quanto são as perdas);

3) A administração tem também o dever (especificado no art.171º/2, in fine) de mencionar nos


atos externos da sociedade a perda de “metade do capital social” justamente que terceiros fiquem
cientes – o facto de estar na situação do art. 35º.
4) Os sócios aqui não têm nenhum dever imposto, eles podem fazer algo mas não são obrigados
a fazer. Apesar disso, o legislador, no art. 35º/3, oferece um elenco não fechado de hipóteses para a
situação. O que os sócios poderão fazer, entre outras coisas:

a. Dissolução – solução mais radical, vai extinguir a sociedade;

b. Cessar o engano do tráfico/credores, descendo o capital social, fazendo uma redução. A


sociedade não fica melhor do ponto de vista patrimonial, não se vai ter mais ativo ou
património para executar, é completemente irrelevante para os credores atuais. A
sociedade deixe apenas de aparentar algo que não é. Isto protege eventuais futuros
credores – que podem decidir contratar ou não com a sociedade em função disso.

c. Aumentar a garantia patrimonial, a sua solvabilidade, aumentando o património líquido


da sociedade. Esta é a solução boa, que verdadeiramente aproveita aos credores
existentes da sociedade na data da decisão.

Art. 35º/3/c) CSC – “podem ser realizadas entradas para reforço da cobertura do capital”. Não é
claro de como isto se concretiza. Notas:
1) Isto não é certamente um aumento de capital, embora a expressão usada pelo legislador
sugira isso. Mas estas entradas não podem repercutir-se em capital social. Se o problema aqui em causa
é o facto de o capital social ser muito superior ao património líquido e uma das vias para resolver esta
descrepância é realizar entradas, então, obviamente não se pode aumentar dos dois lados – a diferença
que existia à partida entre CS e PL continuaria a existir depois.

2) Se unanimemente todos os sócios estiverem dispostos a realizar entradas na proporção da


sua participação no CS, até aqui tudo bem! Mas pode não ser assim, pode dar-se o caso de eles não
estarem todos de acordo em realizar as tais entradas.

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Podem o A e o B deliberar que, eles e também o C, ficarão obrigados a realizar as entradas, sendo
isto contra ou sem a vontade de C? Será um sócio obrigado a entregar mais valor à sociedade, contra a
sua vontade? Parece que não, sem acordo do sócio não vai haver obrigação de realizar as entradas, isto
não impede que A e B o façam! Os que aceitam podem sempre realizar essas entradas mas isto não
obriga o outro sócio que não o queira. Se não há unanimidade, não se impõe aos sócios que não queiram
realizar entradas. Ora, isto pode levar a uma situação muito injusta:

Exemplo: A aceitou dar entradas mas B e C não. O capital social mantem-se e por isso A que tinha
antes uma participação de 1/3 do CS, depois desta sua segunda entrada, continua a ter na mesmo este
1/3 de participação. No caso de a sociedade começar a ter lucro, será justo A continuar a participar no
mesmo valor de 1/3 (independentemente de ter participado 2 vezes) enquanto o B e C, que não
realizaram mais entradas, continuam a participar na mesma medida que A nos lucros? Daí por diante, se
a sociedade se extinguir e for altura de repartir o ativo, o A, B e C vão receber o mesmo? Aqui as soluções
são muito discutíveis. Há quem defenda que, numa situação como esta, deve afirmar-se um direito
especial para o sócio que executou as entradas, de modo a compensá-lo pelo esforço acrescido que fez.
Como vão ser qualificadas estas entradas? Se for uma SQ denomina-se prestações
suplementares (art. 20º e ss CSC), se for uma SA denominam-se prestações acessórias sujeitas ao regime
das prestações suplementares (art. 287ºCSC).

Em suma, a função do capital social é apenas instrumental, em si mesmo, o capital social não
protege credores: é o regime legal de vários institutos (o regime de entradas, o regime da distribuição
de lucros, aumento de capital, redução, exoneração do pagamento da contrapartida, etc) que, servindo-
se do capital social, lhe atribuem essa função de garantia aos credores. Temos 2 ideias centrais:
1ª) O capital social tem uma função de informação: veicula a informação de que no momento em que
se constituiu a sociedade ou em momento subsequente, ela recebeu património de um determinado
montante, ela chegou a ter ativo no valor correspondente ao valor do capital social; também diz aos
credores que, se a sociedade não revela que está na situação do art. 35º, então, eles podem inferir que
ela até pode ter perdido PL, mas não há de te rum PL inferior a metade do CS, eles teriam que ser
advertidos disso através da divulgação em atos externos.

2ª) Limite ao empobrecimento por certos motivos: os credores não estão garantidos pelo regime do
capital social do que este não se vai empobrecer por alguma situação, eles estão necessariamente
expostos ao risco da atividade económica da sociedade. As coisas podem correr mal e a sociedade pode
perder valor, mas o seu regime assegura que a sociedade não se empobrece por atos livres de atribuição
patrimonial aos sócios (dividendos ou entrega de bens). Por essa razão, os credores estão protegidos de
que esse empobrecimento não poderá ocorrer porque ele não é permitido por lei.

7. O financiamento da sociedade (notas muito sumárias)

7.1. Aumento de capital

O financiamento da sociedade pode fazer-se, essencialmente, por 2 caminhos, ou por capitais próprios
ou por capitais alheios. Quando a sociedade se financia por capitais próprios, a sociedade fica
proprietária desses fundos, é o que acontece quando os sócios votam para realizam entradas, mas
também se pode realizar por capitais alheios.

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7.1.1. Aumento de capital por novas entradas (em dinheiro/em espécie). O aumento de capital
por incorporação de reservas e o seu significado.
7.1.2. O aumento de capital como alteração do contrato de sociedade

Capitais próprios – entradas dos sócios ou prestações suplementares. No que trata a estas entradas,
elas podem surgir inicialmente ou subsequentemente, quando surgem subsequentemente (art. 35º) ela
surgem no âmbito de um aumento de capital social (art. 87º e ss CSC).

Quais são as modalidades do aumento do capital?


1) Por novas entradas – quando isto acontece há um incremento patrimonial da sociedade,
a sociedade passa a ter mais património.
2) Incorporação de reservas (art. 91º) – aqui não há incremento patrimonial da sociedade,
era algo que já estava na sociedade que passa a incorporar-se na sociedade.
Além das diferentes modalidades, o aumento de capital pode distinguir-se por quem participa
no aumento. Pode haver um aumento de capital que é reservados a sócios, só eles podem subscrever
(o capital aumentará mas o número de sócios e a identidade dos sócios não se alterará) mas pode
também ser um aumento aberto a terceiros (com este aumento surgirão novos sócios, aqueles que
vierem a subscrever o aumento).

Capitais alheios – dívida da sociedade, estando no outro lado um credor que pode ser ou credor bancário
ou os próprios sócios (suprimentos, emprestam à sociedade, é diferente uma entrada da sociedade,
porque neste último caso os sócios não têm direito à restituição das entradas salvo a extinção a
sociedade).

7.1.3. A deliberação dos sócios. Aumento de capital deliberado pelo órgão de administração
(art. 458.º do CSC)

AUMENTO DE CAPITAL RESERVADOS A SÓCIOS

 Nestes casos põe-se a questão do direito de preferência: A (particiação de 40%), B


(participação 40%) e C (participação de 20%). Se se fizer um aumento de capital, onde só A e B
participasse, pode dar-se o caso de C, que à partida, tinha 20%, passasse a ter apenas 10%. Os outros
aumentaram a sua aprticipação e ele não, foi diluído uma vez que não participou na mesma proporção
que os seus co-sócios. Para que o aumento de capital não tenha este efeito de diluição, a lei, associa-
lhe, em regra, um direito de preferência, se em dinheiro (art. 266º SQ; art. 458º SA) para que os sócios
possam, acompanhando o aumento, manter a sua participação na mesma proporção até então – mas
este direito pode ser limitado ou mesmo suprimido.

7.1.4. O aumento do capital por conversão de suprimentos (art. 87.º, 4) e o seu significado

Qual o objeto da entrada? O regime é idêntico ao da constituição, por isso pode ser bens,
dinheiro, etc. (art. 89º CSC). O importante aqui é falar no caso do objeto é da conversão de créditos dos
sócios (suprimentos) ou de terceiros (não suprimentos) – art. 89º/4 e 87º/4.

Imaginando que alguém é credor da sociedade (que pode ser sócio ou não) e o sócio vai entrar
para a sociedade com os seus créditos, ou seja ele é credor da sociedade. A sociedade passa a ser o
credor e o devedor da mesma obrigação a dívida extingue-se, seja por compensação ou confusão. Ora,
o curioso deste aumento de capital é que, por via desta conversão de crédito (sujeito que era credor, vai
deixar de o ser para virar sócio, titular de capital na sociedade), o aumento do capital faz- se por alteração

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patrimonial da sociedade que não é comum, a sociedade não recebe mais ativo, há passivo da sociedade
que se reduz (tinha dívidas que deixa de ter). Vai haver na mesma um aumento do PL, vamos subtrair é
menos passivo porque agora este é menor porque as dívidas se extinguiram.

7.2. Obrigações de prestações acessórias (PA)


7.3. Obrigações de prestações suplementares (PS)
7.4. Suprimentos (S)

Podem ser enquadradas de diferentes maneiras:

1) Olhar para elas como obrigações dos sócios – estamos a olhar para a matéria num plano mais
jurídico, que obrigação é que é, quais as consequências, etc.
2) Olhar como modo de financiamento pelos sócios à sociedade – estamos a olhar num plano mais
económico e funcional, para que é que serve, porque razão se obrigam a umas e não a outras, etc.

Elas não são sempre, nem todas, obrigações dos sócios, as Prestações Acessórias são obrigações
sim, as Prestações Suplementares não são imediatamente obrigações (segundo o que resulta dos
estatutos) e os Suprimentos podem ser ou não, pode não haver obrigação nenhuma e mesmo assim
haver suprimentos. Por isso a matéria não entra exatamente numa perspetiva jurídica porque há casos
em que estes não constituem obrigações dos sócios.

Por outro lado, a função de financiamento não existe em todos os casos porque as PA podem
cumprir essa função mas também podem não cumprir essa função. Já as PS e S têm sempre uma função
de financiamente. Temos uma perspetiva que vale quase sempre, exceto no PA.

Vamos analisar esta matéria com tabelas e essencialmente em relação a dois tipos societários:
Sociedades por Quotas e Sociedades Anónimas.

Prestações Acessórias Prestações Suplementares Suprimentos

SQ Art. 209º CSC Art. 210º e ss. CSC Art. 243º CSC

SA Art. 287º NÃO ESTÃO PREVISTAS NÃO ESTÃO PREVISTAS


Discute-se na doutrina se, na falta Mas defende-se que sim, são
da sua previsão, devem ser admitidas por analógia – é
adminitadas – é discutível. Mas discutível.
talvez não.

OBJETO Bens, dinheiro, Necessariamente em Dinheiro Dinheiro, coisa fungível ou


serviços créditos diferidos (o sócio não
(contornar a proibição (art. 209º/2) exigiu os dividendos).
de entradas em indústria O que importa é o caráter de
nas SQ e SA) parmenência (presume-se que
(art. 209º e 287º/1) sim se decorrer mais de 1 ano)

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Prestações Acessórias Prestações Suplementares Suprimentos

FONTE Têm de estar previstas nos Estatutos (apenas permitem) Não têm de estar
Estatutos + Deliberação (torna exigível previsto nos estatutos
(+ celebração do negócio) a prestação ao sócio) mas, se forem
obrigatórios, para
(art. 210º/1 e 211º) serem obrigatórios,
têm que estar
previstos
(art. 244º)

Podem ser remuneradas Não são remuneradas, não Podem ser


(onerosas) ou não podem vencer juros – é remunerados ou não
REMUNERAÇÃO (gratuitas). proibido. consoante o que seja
acordado em a
Só não podem exceder o (art. 210º/5) sociedade e o sócio.
valor de mercado – impedir
que através deste contrato
entre sócio e sociedade, a
sociedade se empobreça e
esteja implicitamente a
entregar bens aos sócios a
não ser a título de lucros –
hemorragia patrimonial a
favor a de um dos sócio à
margem da distribuição de
dividendos.

(art. 287º/3  art. 209º/3


que se aplica às SQ – mas
continua a não ser possível,
no cumprimento das PA, ser
remunerado fora do
mercado.

TRANSMISSÃO Apenas com a participação Podem transmitir-se com a Podem transmitir-se


DA OBRIGAÇÃO social. participação social com a participação
(DO SÓCIO) Se infungíveis então a social (depende do
obrigação não é contrato)
transmissível.

TRANSMISSÃO Se forem pecuniárias – Intransmissíveis São transmissíveis –


DO DIREITO sim, a sociedade pode (art. 212º/4) embora isso não afete
(PELA transmitir o seu direito o regime dos
SOCIEDADE)
(art. 209º/2) suprimentos.

Se não forem pecuniárias –


não pode (art. 287º/2)

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Prestações Acessórias Prestações Suplementares Suprimentos

NÃO Em regra, não afeta a Ao não cumprimento das Se obrigatórios – aplica-


CUMPRIMENTO posição do sócio PS, vai aplicar-se o regime se o mesmo regime das
DAS (art. 209º/4 e 287º/4) do sócio remisso  no PS que já vimos.
OBRIGAÇÕES
limite pode levar à
exclusão
(art. 212º/1, 204º e 205º)

A sociedade não pode


exonerar o sócio da obrigação
– art. 212º/3

REEMBOLSO Sim, mesmo na ausência Só podem ser Podem ser pagos


de lucros. Sem reembolsadas se a situação mesmo na ausência de
necessidade de líquida o permitir – só se lucros, mas existe aqui
deliberação. tiver lucros para entregar um regime muito
aos sócios. E mediante importante de proteção
(art. 209º/3 e 287º/3) deliberação. de credores.
Faz-se sem deliberação,
Se A entrega, a título de PA, (art. 213º/1 e 2) salvo em caso de
1 milhão à sociedade, ele suprimentos
vai poder receber o O sócio que empresta 1 obrigatórios
pagamento desse milhão a título de PS, só vai
empréstimo (celebrado um poder recebe-lo de volta se e
contrato de quando houver 1 milhão de
mútuo/empréstimo), lucros para distribuir.
mesmo que a sociedade As PS são consideradas
não tenha 1 milhão de capitais próprios da
lucros para lhe entregar. sociedade. Não são CS, é uma
dívida que a sociedade tem
cujo pagamento está
condicionado ao facto de a
sociedade ter capitais
exorbitantes. Na relação com
credores elas são tão firmes
no valor quanto o capital
social –o sócio so pode reaver
o montante se a sociedade
pudesse empobrecer
igualmente com a entrega de
dividendos.

INTRODUÇÃO Sim, mas só vincula com Sim, mas aplica-se o art. Sim, mas aplica-se o art.
SUPERVENIENTE voto favorável (art. 85º) 86º/2 86º/2

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Aula virtual 29.04.2020

Capítulo VII – Órgãos Sociais e Deliberações dos sócios

Secção I – Deliberações dos Sócios

1.1 Noção de deliberação. “Formas” de deliberação

Deliberação é um negocio jurídico formado por declarações de vontade (os votos) dos membros do
órgão.

A deliberação forma-se a partir de uma proposta e, consoante o resultado da votação, a


deliberação pode ser positiva (aprovação da proposta) ou negativa (rejeição da proposta). Tanto num
caso como no outro há uma deliberação, também é deliberação a recusa de uma proposta.

Formas da deliberação – art. 53º CSC

Há aqui um princípio de tipicidade ou numerus clausus (nº1) e de equivalência (constante do nº2,


quando a lei regula as deliberações em AG equivalentemente regula qualquer outra forma de
deliberação mesmo que não seja em AG) – temos um regime que, em princípio, é tendencionalmente o
mesmo.

Em rigor, o legislador utiliza esta expressão de formas de deliberação mas era melhor utilizar a
expressão de “meios/processos para adoção de deliberações”.
O critério essencial que o legislador utiliza para distinguir umas formas de outras tem que ver
com o procedimento e a sua relevância para a tomada de deliberação. É em função do diferente
procedimento que vamos encontrar as várias formas previstas.

1.2 A relevância do procedimento nos casos em que a deliberação não assenta no consenso entre
os sócios (princípio maioritário)
2.1. Deliberações com procedimento (deliberações em assembleia geral, em assembleia geral
universal e deliberações por voto escrito)

Temos as deliberações com procedimento, neste caso o procedimento já é relevante. Podemos


distinguir aquelas que assentam num:

Procedimento completo – a) são as deliberações em Assembleia Geral, o momento principal é a


convocatória e depois uma reunião. São as 2 fases essenciais. O procedimento destas deliberações inclui
isto tudo, começa com uma convocatória e prossegue com uma reunião de sócios – art. 247º/1/, in fine,
e 373º/1.
b) podem também ser deliberações por voto escrito (estão previstas apenas
para as SQ no art.247º) em que não existe uma reunião mas existe na mesma um procedimento que
suporta as deliberações.

Procedimento parcial – são as deliberações em Assembleia Geral Universal. A convocatória ou não existe
ou, mesmo existindo, esse momento torna-se juridicamente irrelevante, essa convocatória está fora do
seu procedimento. Art. 54º/1/2ª parte).

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2.2. Deliberações sem procedimento (deliberações unânimes por escrito)

Existem deliberações sem procedimento: são as deliberações unânimes por escrito (art.
54º/1/1ª parte). Não interessa aqui o procedimento para a deliberação, interessa apenas que os sócios,
unanimemente, chegaram a uma deliberação porque estão todos em concordância com ela, como
chegaram ai, qual o processo utlizado para aquela deliberação é algo irrelevante para a deliberação, não
interessa.

Procedimento deliberativo

Esta é uma matéria essencial das deliberações porque ele transforma a vontade uma parte dos
membros numa vontade que é imputável á sociedade e que se impõe a todos os sócios. É, por sua vez,
uma sucessão de atos ordenados de certo modo em vista da produção de um determinado efeito final.
Esta é a relevância jurídica específica do procedimento nas deliberações, ao inverso do que acontece
num negócio jurídico comum, em que é o consenso que o suporta, a vontade concordante das partes
que sustenta e legitima os efeitos do negocio jurídico.

Nas deliberações, o sócio pode discordar e pode até não estar presente mas fica igualmente
vinculado, fica abrangido pelas deliberações tomadas na AG mesmo não tendo ido à AG ou não tendo
aprovado aquela matéria. No direito privado, em geral, esta vinculação, contra ou sem a vontade de
alguém, constitui um desafio. Como é que no direito privado vamos impor um negócio jurídico que não
quis, ou mesmo contra o qual manifestou a vontade?

 O procedimento legitima a vinculação. A deliberação não se impõe porque o seu conteúdo


seja o mais adequado, mas porque o seu procedimento foi seguido = legitimação pelo processo.
Portanto, o procedimento é dispensável quando exista consenso (unanimidade) – deliberações
unânimes por escrito.

Quando não haja consenso ou possa não haver, o procedimento em que essencialmente se
constrói o efeito jurídico das deliberações é o chamado MÉTODO DE ASSEMBLEIA que consiste
essencialmente numa reunião dos sócios, o que tem na sua essência 2 notas: cada membro vai poder
ouvir e ser ouvido nas suas intervenções. Há a possibilidade de cada sócio influenciar a vontade dos
outros e também de ser influenciado pela vontade dos outros – efeito prático deste método. Isto
concretiza-se através do uso da palavra e manifesta-se através da apresentação de propostas.

Portanto, apesar da decisão ser determinada pela maioria, o procedimento assenta


em direitos individuais !!


Em direitos que não são da maioria. É o direito de participação, este concretiza-se me diversos
aspetos: em o sócio ser convocado, estar presente na Assembleia, o direito de, no decurso da reunião,
usar a palavra e o direito de apresentar propostas e por fim votar. A maioria não pode deliberar se este
direito se aplica ou não, estes são individuais, cada sócio tem estas faculdades, independentemente da
vontade da maioria.

OLGA STELMASHCHUK – 2019/2020 83

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Aulas Teóricas Direito Comercial II (3ª turma) Dr. Soveral Martins e Dr. Pedro Maia

Deliberações sem método de Assembleia

As deliberações que são aprovadas sem método de assembleia, nos casos em que haja
procedimento, são uma exceção, quer dizer que elas só estão previstas para as SQ nos termos do art.
247º CSC (embora se aplique por remissão a outros tipos societários) embora nas SA não estão previstas
e por isso não são adotáveis nesta.

Estas assentam numa renúncia ao direito individual a que as deliberações sejam tomadas no
decurso de uma reunião, para esse efeito o art. 247º/2 prevê justamente que os sócios acordem que a
deliberação seja tomada por voto escrito, acordam que não se faz uma reunião. Isto não quer dizer que
se forma sem procedimento apenas que o procedimento não irá incluir uma reunião. Como é que isto
se passa?

1. Consulta aos sócios, pelos gerentes da SQ, sobre a admissibilidade de adotarem uma
deliberação sem uma reunião;
2. Se todos os sócios dispensarem a AG, então
3. Enviam os seu voto (e não se realiza a AG). Toods os sócios têm que dispensar a AG para
que a deliberação seja tomada.

 Este é um procedimento diferente de uma AG universal porque neste caso há reunião, todos
os sócios estão de acordo que se realize a reunião, mesmo sem que tenha havido uma convocatória ou
essa convocatória seja irregular, nas deliberações por voto escrito não há reunião.

 Também não é uma deliberação unânime por escrito (previstas no art. 54º) porque nestas
existe um procedimento que é essencial para suportar a deliberação. A deliberação neste caso será
aprovada nos termos comuns, se convidados os sócios a dispensarem a reunião, nos termos do art. 247º,
a maioria votar no sentido de determinada proposta, então ela será tomada sem unanimidade. Não se
trata aqui de unanimidade para se aprovar umadeliberação, mas só para dispensar a reunião  a
deliberação em si, será tomada nos termos comuns. Há uma unanimidade em relação ao conteúdo mas
dispensa-se o procedimento.

Sistema Misto

Neste caso não se dispensa o método da Assembleia, mas não é integralmente o método da assembleia.

Art. 384º/9 (SA) – os sócios podem votar por correspondência. O sócio exerce o seu direito de voto sem
ir à AG. Por isso há reunião mas cada sócio pode (não tem de) votar fora e antes da AG.

Isto permite que haja votos expressos emitidos dentro da reunião e outros antes e à margem da
reunião. É um sistema misto porque combina o método da assembleia para aqueles que foram à reunião
e uma deliberação tomada sem método de assembleia para aqueles que votaram por correspondência.
Ora, isto está previsto para as SA, e nada diz para as SQ. Se se aplica a estas, é discutível, porque
o art.248º/1 manda aplicar às SQ o regime das SA em tudo o que não existe regime especial. Será que
existe aqui um regime especial? Será que estas deliberações por voto escrito (sem reunião – art. 247º)
devem ser entendidas como um regime especial que afasta a aplicação por remissão deste regime misto
das SA ou não? É discutida na doutrina esta matéria.

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Convocatória das Assembleias

Tem uma função instrumental da Assembleia, não é um fim em si mesmo. Fazem se convocatórias por
causa das Assembleias,

1) Ela serve para permitir aos sócios o exercício de participar numa assembleia, serve para
chamar os sócios – serve por isso um interesse dos sócios.

2) A verdade é que a convocatória também serve outro propósito, o de permitir à sociedade


deliberar sem a presença de todos os sócios. Se foram convocados nos termos da lei ou dos estatutos,
então, pode deliberar-se sem a presença de determinados sócios.

A convocatória tem o sentido e o propósito de chamar os sócios e neste sentido satisfaz o interesse dos
sócios, mas também tem o sentido de permitir à sociedade, porque chamou os sócios, de poder deliberar
sem eles estarem presentes. Neste sentido favorece a vida da sociedade.

A convocatória tem uma relevância específica apesar de ser um elemento apenas eventual do
procedimento. Não é imprescindível que para haver uma reunião tenha de existir uma convocatória. O
método da assembleia define-se por uma reunião mas não tem de ser assim.

O momento da convocação é muito importante, sendo necessário saber quem convoca (para
saber se o órgão que a convocou tinha ou não tinha competência para o efeito), para quando se convoca,
para onde se convoca (local da reunião), para que (qual a ordem dos trabalhos), a quem se convoca (os
sócios mas não só, podem ser membros da administração, órgãos fiscais, etc) e o prazo (com que
antecedência se convoca) e qual a forma dela (carta registada ou anúncio).

Ora, apesar de importantíssima, a convocatória é prescindível porque o legislador admite as AG


universais. Uma AG universal é uma AG em que estão presentes todos os sócios, em que exista uma
vontade unânime para que se constitua a AG e para que se delibere sobre determinados assuntos, se
estes requisitos estiverem verificados a convocatória é prescindível (pode não ter existido), mesmo ela
tendo existido ou tendo vícios estes não relevarão = procedimento irrelevante (art. 54º/1, 2ª parte).

Já não tem que haver unanimidade para aprovar a deliberação propriamente dita, estão todos de acordo
sobre eleger um gerente mas depois a deliberação corre nos termos comuns.

Depois vem o momento da reunião, e isso é a parte essencial do método da Assembleia. Neste
momento é que se consubstanciasse o direito de participação que os sócios têm – isto porjeta-se no
direito de estar presente, a usar da palavra, a apresentar propostas, pedir informações e votar.

3. Deliberações inexistentes(?) 4. Deliberações inválidas


4.1. Deliberações nulas
4.1.1. Deliberações nulas (rectius, nulidade atípica ou invalidade mista) por vícios de
procedimento (art. 56º, nº 1, als. a) e b), CSC))
4.1.2. Deliberações nulas por vícios de conteúdo (art. 56º, nº 1, als. c) e d), CSC) (contrárias a
preceitos legais imperativos, ofensivas dos bons costumes, “cujo conteúdo não esteja, por
natureza, sujeito a deliberações dos sócios”)
4.1.3. “Regime especial” das deliberações de aprovação do relatório de gestão e de documentos
de prestação de contas (art. 69º CSC)
4.1.4. Ação de declaração de nulidade

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4.2. Deliberações anuláveis


4.2.1. Por vício de conteúdo ou de procedimento decorrente de violação da lei (art. 58º, nº 1, al.
a), 1ª parte, CSC)
4.2.2. Por vício de conteúdo ou de procedimento decorrente de violação dos estatutos (art. 58º,
nº 1, al. a), 2ª parte, CSC)

Invalidade de deliberações

As deliberações são negócios jurídicos mas sujeitam-se a um regime especial, em parte diferente
do negócio jurídico. Porque motivo o legislador teve necessidade de fixar um regime especial para
invalidade das deliberações sociais?

A razão essencial vem da relevância do procedimento nestas deliberações. O que


verdadeiramente vais ser muito especial é o regime da invalidade por causa de vícios de procedimento,
por violações de regras legais ou estatuarias em relação ao procedimento. Entendemos essa
especialidade porque no negócio jurídico comum não há relevância nenhuma do procedimento, não é
uma parte integrante do negócio jurídico.

Esta relevância leva a que se tenha de assentar o regime das invalidades numa distinção básica
e essencial.

Vícios de procedimento – o como da deliberação, como se chegou à deliberação, como foi feita
a convocatória. Exemplo: convocatória irregular (foi efetuada por quem não tinha competência, não foi
efetuada na forma ou prazo devido); erro na proclamação (contaram mal os votos, entenderam que
devia ser uma maioria simples em vez de qualificada); não satisfação do direito à informação.

Vícios de conteúdo – o quê da deliberação, o que é que se deliberou, qual o seu teor. Exemplo:
eleição de pessoa coletiva para administrador (art. 390º/3); eleição de administrador sem curso superior,
mas os estatutos assim o exigiam; distribuição dos lucros sem respeitar as regras do art. 32º e 33.

Esta distinção é essencial para aplicação do regime da invalidade das deliberações sociais.

DA PERSPETIVA DO VÍCIO

Quando temos um vício (qualquer desconformidade com a lei ou estatutos) – tanto pode surgir no
procedimento (no como) ou no seu teor (no conteúdo).

1. Invalidade por procedimento

Que consequências é que ela tem?

O procedimento visa tutelar sócios individualmente (não só). É por isso cada deliberação tem de
respeitar os direitos individuais dos sócios e, por isso, quando se violam estes direitos tem de haver
consequências.

Exemplo: não ter sido convocado um sócio, não foi admitido a estar presente, não aceitaram a
sua votação.

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Apesar da epígrafe do art. 56º dizer “nulidade”, o seu regime é na verdade uma nulidade
atípica ou invalidade mista. Há um vício de uma gravidade extrema. Não houve se quer uma
convocatória ou houve mas ocorreu num lugar diferente, etc. O art. 56º/1/a) tem que ser lido em
conjugação com o art. 56º/3 !! O legislador dispõe que são nulas as deliberações tomadas em AG
não convocada. MAS, considera-se não convocada, não só a assembleia como também outros casos
em que a AG até teve uma convocatória mas é como se não tivesse tido – ela é equiparada para
efeitos de regime a uma Assembleia Não Convocada. São os casos em que o aviso convocatório foi
assinado por quem não tinha competências, aquelas cujo aviso não tinha o dia, hora ou local da
reunião ou diverso constantes do aviso, etc. = NULIDADE ATÍPICA OU INVALIDADE MISTA

A doutrina tem entendido que o sócio que não foi convocado, para ele a gravidade do vício é identica,
como se a AG não foi convocada para ninguém. Não pode sujeitar-se a um prazo de anulabilidade
que está sujeita a prazos apertados para a impugnação.

2. Invalidade do conteúdo

Aqui podemos ter uma desconformidade com uma lei dispositiva (anulabilidade – art. 58º/1/a))
e uma desconformidade com o conteúdo dos estatutos (= mera anulabilidade).
Tendo em atenção o art. 9º/3, o legislador dispõe que os preceitos dispositivos desta lei só
podem ser derrogados por contrato de sociedade a não ser que esta, expressamente, admita a
derrogação por deliberação dos sócios. Ou seja, se temos uma lei dispositiva e os sócios tomam uma
decisão contrária à essa lei, de acordo com a regra, essa derrogação só se pode fazer através dos
estatutos e não diretamente pela deliberação. Podemos ter uma deliberação inválida apesar da lei ser
apenas dispositiva bem como por violação dos estatutos. O caminho para se desviar dos estatutos é
alterarem os estatutos mas não é fazer uma deliberação anti-estatutária. E são coisas diferentes, uma
deliberação para derrogar os estatutos têm que seguir um procedimento próprio, caso contrário, é anti-
estatutária e está sujeita à anulabilidade.

Caso seja uma desconformidade com uma lei imperativa, neste caso a sanção é o da nulidade
(art. 56º/1/d)). Exemplo: eleição de uma pessoa coletiva para gerente; doação com desrespeito pelo art.
6º CSC; distribuir lucros à margem do disposto no art. 32º e 33º CSC. As deliberações cujo conteúdo
contende com normas legais imperativas = nulidade.

OLGA STELMASHCHUK – 2019/2020 87

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Aulas Teóricas Direito Comercial II (3ª turma) Dr. Soveral Martins e Dr. Pedro Maia

PERSPETIVA DAS NORMAS LEGAIS OU ESTATUTÁRIAS

Podemos ter regras estatutárias que são:

 Violadas no procedimento = anulabilidade (art. 58º/1/a) – exemplo: os estatutos


dispunham que a convocatória devia fazer-se com 1 mês de antecedência mas foi com
15 dias.
 Violadas no conteúdo da deliberação = anulabilidade (art. 58º/1/a) – exemplo: os
estatutso dispõem que só podem ser adminsitradores pessoas com mais de 30 anos e 5
de experiência profissional e foi admitido alguém que não reunia estas condições.

Podemos ter regras legais dispositivas que são:

 Violadas pelo procedimento = anulabilidade (art. 58º/1/a)


 Violadas pelo conteúdo da deliberação = anulabilidade (art. 58º/1/a) – apesar da norma
ser dispositiva, o art. 9º/3 não admite que as deliberações derroguem diretamente estas
normas, devem ser os estatutos a fazê-lo.

Podemos ter regras legais dispositivas que são:

 Violadas pelo procedimento:


Regra = anulabilidade (art. 58º/1/a)) – exemplo: um prazo que é imperativo, 15
dias. Uma sociedade convoca apenas com 8 dias, mas apesar disso a consequência é
apenas a anulabilidade.
Excepção = invalidade mista ou nulidade atípica (art. 56º/1/a) e b)).

 Violadas pelo conteúdo da deliberação = nulidade da deliberação (art. 56º/1/d). Só há


nos casos em que é o conteúdo, nunca o porcedimento, que contende com uma norma
legal imperativa. Como vimos supra, mesmo nas normas legais imperativas, não se
conduz à nulidade se o vício é de procedimento – mesmo nestes casos temos só uma
mera anulabilidade.


Temos aqui a especificidade deste regime da invalidade das deliberações sociais.

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4.2.3. Abusivas (art. 58º, nº 1, al. b), CSC)


4.2.4. Ação de anulação

Deliberações abusivas – art.58º/1/b)

É uma das matérias mais controversas do ponto de vista dogmático e prático.

Requisitos:

1º) Tem de haver um propósito de um ou mais sócios – pressuposto subjetivo. É preciso haver
uma intenção, tem de haver dolo. Será que basta um dolo meramente eventual? Discute-se
doutrinalmente.

2º) Esse propósito se mostrar adequado a conseguir um determinado resultado – pressuposto


objetivo

3º) O propósito é o sócio obter vantagens especiais para si ou para terceiros (vantagens
patrimoniais especiais, tem de ser uma vantagem que não fosse devida ao sócio naqueles termos, está
para lá do que decorreria da sua qualidade de sócio) ou querer apenas prejudicar a sociedade ou os
sócios ( são as deliberações emulativas, visam prejudicar).

4º) A menos que se prove que as deliberações teriam sido tomadas mesmo sem os votos abusivos
– é a prova de resistência. Mesmo havendo votos abusivos, se se provar que não existindo esses votos,
aquela deliberação seria na mesma aprovada, então a deliberação subsiste e é valida. Este requisito da
prova de resistência é quase um equívoco, porque, na verdade, o que o legislador diz é que estas
deliberações não são, por si só, inválidas, os votos é que são inválidos. Se o voto é abusivo, o voto é
inválido e por isso não pode ser considerado, depois é que se vê se a deliberação sem aqueles votos
subsiste, prossegue ou não subsiste. Naõ é mais do que a consequência estar no próprio voto, não na
deliberação.

 Só isto permite explicar que uma deliberação com um determinado conteúdo tanto pode ser
válida como inválida porque tudo estará em saber se ela foi determinada por votos movidos pelo
tal prepósito de obter vantagens especiais ou prejudicar. Se não foi, independentemente do seu
conteúdo, a deliberação é válida. Se foi, caso ela seja apropriada objetivamente a ter esse tal
resultado de prejudicar sócios ou sociedade, então ela será inválida.

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 Exemplo: um sócio que quer que a sociedade seja prejudicada, tenha uma incapacidade de
florescer na sua atividade económica. Conscientemente, aprova uma deliberação que vai
implicar um grande dano para a sociedade, este sócio votou abusivamente. Ele estava certo,
tinha informações que outros não tinham, sobre a desvantagem daquela decisão e mesmo assim
votou favoravelmente –o problema não está na deliberação em si mesma, mas sim na motivação
daquele sócio. Os outros nem sabia de nada. O voto é inválido. E, se a decisão foi determinada
por votos abusivos, então a deliberação também o será. Mas só será abusiva no sentido de
inválida se os votos abusivos forem determinantes para a sua aprovação.


A primeira consequência é o da anulabilidade, mas há muitas dúvidas aqui. Mesmo assim não
podemos prescindir em alguns casos deste pressuposto subjetivo, mesmo que o sócio não tenha de facto
intenção, se mostrarmos que a deliberação é objetivamente idónea a produzir aquele dano à sociedade?
Não devemos cosniderar que ela é inválida? Quem tem exatamente o ónus da prova? Temos que provar
mesmo a intenção do sócio ou será que basta ser verosímil a sua intenção de prejudicar a sociedade?
Mesmo quanto ao prazo e quanto às consequências… É tudo muito discutível. Há quem entenda que, as
vezes, a deliberação deve ser nula, mas parece que aqui já se confunde com as deliberações onde de
facto o dano é um dano que acenta numa deliberação cujo conteúdo viola uma norma legal imperativa,
estas não podem ser abusiva, mas sim nulas porque a sociedade não pode fazer aquele ato fora dos
critérios legais do art. 6º, por exemplo, no caso de uma doação.

Art. 58º/3 – as deliberações abusivas, além de gerarem anulabilidade, também geram


responsabilidade dos sócio que formaram maioria, no caso de votarem abusivamente! O sócio que não
votou abusivamente não deve ser responsável, porque ele próprio não violou dever nenhum.

Regime de deliberações inválidas

O regime da invalidade das deliberações é um regime especial, não apenas quanto aos fundamentos
mas também quanto às consequências e quanto ao processo.

 AÇÃO DE DECLARAÇÃO DE NULIDADE

Vamos ter de distinguir a nulidade “pura” (aquelas deliberações que são verdadeiramente deliberações
nulas) daquelas deliberações que, embora também estejam referidas no art. 56º, todavia estão sujeitas
a um regime de nulidade atípica ou invalidade mista (alíneas a) e d)).

 Nulidade “pura” – quanto ao prazo ela pode ser invocada a todo o tempo, é do conhecimento
oficioso, qualquer interessado a pode invocar e é insuscetível de sanação (regime comum do
Código Civil).

 Invalidade mista ou nulidade atípica – na verdade, a generalidade da doutrina não afasta estas
deliberações do regime comum da nulidade. Só numa pequena parte, afastam estes diferentes
aspetos do regime da nulidade pura (todavia o Dr. Pedro Maia tem muitas dúvidas sobre isto):

Em relação ao prazo: estamos a falar de deliberações que não aparentam nenhum vício de
conteúdo, é exclusivamentente no seu procedimento. Por isso, parece estranho, passado vários anos,
que se possa vir atacar uma deliberação invocanco que ela decorreu em hora e dia diferente daquele
que ela foi convocada, etc, isto sem qualquer prazo. Então, parece fazer sentido aplicar o art. 44º, o que
significa que afinal talvez exista aqui um prazo.

OLGA STELMASHCHUK – 2019/2020 90

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Em relação ao conhecimento oficioso, parece que sim, não há nenhuma lei que o afaste, mas
parece que se justifique algumas dúvidas porque estes vícios são sanáveis (art. 56º/3) e, por isso, parece
não fazer muito sentido o conhecimento oficioso.

Em relação a terceiro, parece um pouco estranho qualquer interessado, mesmo terceiros,


poderem invocar este vício, porque elas são sanáveis mediante declaração dos sócios e, portanto, uma
declaração nula, nos termos do art. 56º/1/a) e d), se todos os sócios vierem dar o seu assentimento à
deliberação, esta fica com o vício sanado, ora, isto demonstra que não estão aqui em causa interesses
de terceiros, porque se assim estivesse, a sanação do vício exigiria o assentimento de terceiros, mas não
é o caso. Não faz sentido estes terceiros terem legitimidade.

Em relação a serem insuscetíveis de sanação, é dito na lei o oposto, são deliberações que podem
ser até renovadas, não só os sócios atingidos podem dar o seu assentimento como pode a própria
sociedade retomar aquela deliberação exatamento com o mesmo conteúdo, renovando-a, com efeito
retroativo (art. 62º/1 e 56º/3).

Outro aspeto relevante:

Deveres do órgão de fiscalização a respeito destas deliberações quando elas sejam nulas –
estamos no âmbito da nulidade pura!

O legislador impõe ao órgão de fiscalização (art. 57º) um dever de informar os sócios da existência do
vício e de que a deliberação padece de nulidade. Depois disso, os sócios podem promover a declaração
judicial de nulidade. Se os sócios assim não o fizerem, então é o próprio órgão de fiscalização que deverá
fazer.
Nem todas as sociedades têm órgão de fiscalização, quando não têm, a lei prevê que é o gerente que
tem o dever de o fazer (art. 57º/4). Ou seja, relativamente às deliberações nulas, mesmo não existido
órgão de fiscalização, existe sempre um órgão da sociedade obrigado a informar os sócios e,
potencialmente, promover a declaração de nulidade.

 AÇÃO DE ANULAÇÃO

O prazo é apenas de 30 dias (art. 59º/2), é muito mais curto que o prazo geral da anulabilidade
civil (um ano, art. 287º CC). Estes 30 dias contam-se desde o encerramento da assembleia. Esta é a
regra. Só em alguns casos é que se contam a partir do conhecimento que o sócio tenha da deliberação
viciada (o que é também uma diferença relevante do regime civil da anulabilidade) – art.59º/2/a) e c)
CSC. Aqui pode muito bem acontecer, que o sócio quando conheça o vício, já tenha decorrido o prazo
para a sua impuganação. O prazo conta-se do conhecimento apenas nos casos em que a deliberação
verse sobre assunto que não constava da ordem de trabalho.

 Legitimidade ativa:
 Qualquer sócio que não tenha votado no sentido que fez vencimento. São, portanto, os
sócios ausentes, também os sócios presentes que não votaram de todo, que se
abstiveram, e os sócios que votaram mas que não foi vencedor (significa que ele votou a
favor e a deliberação foi uma deliberação negativa ou votou contra e a deliberação foi
positiva). A razão de ser desta fórmula, exsite justamente para permitir adaptar-se às duas
hipóteses (positiva ou negativa).

OLGA STELMASHCHUK – 2019/2020 91

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 Por sua vez, o sócio que quis a deliberação não tem legitimidade, se a quis, seria uma
espécie de venire contra factum proprio destruir os seus efeitos (votou a favor e tratou-se
de uma deliberação positiva, ganhou, ou votou contra e tratava-se de uma deliberação
negativa e ganhou também).

 Também o órgão de fiscalização tem legitimidade, mas não é uma legitimidade igual ao
das deliberações nulas. Desde logo, porque o legislador não prevê a hipótese de não haver
órgão de fiscalização (como vimos no art. 57º, para os casos de nulidade).

Aqui, neste caso, o legislador não preve essa hipótese. Na doutrina, há quem entenda que
nestas situações o órgão de fiscalização é o único compentente e se não houver órgão de
fiscalização não há outro órgão que tenha legitimidade, para além dos sócios. Outros
dizem que não, deve aplicar-se por igualdade de razão, a possibilidade de terem os
gerentes essa legitimidade.

Também se discute se isto é um dever ou um mero poder, é claro que o órgão de


fiscalização pode arguir a anulabilidade da fiscalização mas, de facto, não se trata de um
dever, de uma verdadeira imposição (como sucede nas deliberações nulas) mas é
verdadeiramente um mero poder (que deve ter em conta a existência de sócios
interessados na impugnação mas que ou não têm meios para o efeito ou não têm estímulo
para o efeito ou são sócios demasiado distantes da sociedade). Exemplo: nas SA onde
podem existir imensos sócios e órgão de fiscalização representa os seus interesses. Mas,
se por outro lado, o órgão de fiscalização conhece os sócios e sabe que conformam-se com
a situação, entendem que não vale a pena impugnar, então o órgão de fiscalização, por
uma questão de economia de meios, também não deve propor a ação.

Será que o órgão de fiscalização tem competência mesmo que nenhum sócio tenha
competência? Isto pode acontecer no caso de votação unanimes, quando não há nenhum
sócio com legitimidade para impugnar a decisão, será que ainda assim subsiste esta
legitimidade do órgão de fiscalização? Doutor Pedro Maia entende que não, porque nas
deliberações anuláveis, por definição, só estão em causa interesses dos sócios e interesses
disponíveis pelos sócios = regime da anulabilidade. Se todos querem a deliberação,
compreende-se que órgão só deve intervir para tutela dos sócios e aqui não faz sentido
porque todos os sócios decidiram no mesmo sentido. Se estiverem em causa interesses
de terceiros ou públicos, etc, então a sanção é a da nulidade.

 Legitimidade passiva – é comum às ações de nulidade ou anulação, é a sociedade (art. 60º/1


CSC).

5. Documentação das deliberações: as atas

Documentação sobre deliberações sociais

As deliberações sociais devem ser documentadas. O que significa que devem constar num
documento, todavia este documento pode ter 2 relações distintas com a deliberação:

 O documento pode ser forma da deliberação – deliberação unânime por escrito. O documento
é forma de deliberação. Ora, neste caso, se não houver documento, afeta a sua validade: se não

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houver documento, significa que a deliberação não obedeceu à forma legal e, portanto, é nula
por vício de forma.

Aqui não podemos falar de uma ata, não há uma ata de reunião da deliberação unânime por escrito (não
há procedimento nenhum), o que existe é só a deliberação unânime por escrito. Neste caso existe o
dever de escrever uma menção da existência dessa deliberação no livro de atas – art.63º/4 CSC.

 O documento como uma formalidade da substância (ad substantiam). Algo que é exeterno à
deliebração, não tem apenas uma função de prova mas tem uma função verdadeiramente
substancial, enquanto não se cumprir esse requisito que é externo ao negócio jurídico, ela não
está a produzir os efeitos. Isto é assim para todas as deliberações que têm procedimento. Neste
caso, a ausência de documento inibe apenas a eficácia da deliberação, torna apenas a
deliberação ineficaz, embora se deva entender que mesmo assim a deliberação pode produzir
alguns efeitos.
Exemplo: já decorreu assembleia numa SQ onde se decidiu adquirir um imóvel, ainda não foi
preparada a ata mas todavia os gerentes já têm certos deveres, porque conhecendo o teor da
deliberação que foi tomada, não devem, por exemplo, ter comportamentos contrários ou
conflituantes com aquilo que foi decidido pelos sócios. Não têm ainda uma deliberação que
possam executar mas sobre eles já impendem determinados deveres porque já conhecem o seu
sentido.

Neste caso já existe a obrigação de existir uma ata – art.63º/1, 1ª parte.

Função de uma ata

Na verdade a ata tem uma função de ligar o procedimento de uma deliberação a uma determinada
deliberação. O porocedimento legitima as deliberações.

 art. 63º/2 CSC – estabelece o conteúdo mínimo da ata (ver também art. 37º CCom.)

A ata é uma narração do procedimento que culmina em deliberação.

A sociedade tem a obrigação de guardar um acervo organizado das atas, num livro ou em folhas soltas-
art. 31ºCCom.

Quem redige a ata?


 art. 63º/6 CSC: notário, quando assim se deliberar ou algum sócio o requerer.
 art. 388º/2 CSC: nas SA é o presidente da mesa da AG e secretário.
 art. 248º/4 CSC: nas SQ, SNC e SCS, não há nada expresso sobre quem elabora a ata mas
mas parece fazer sentido que seja quem esteja a presidir.

Quem assina a ata?


 art. 388º/2 CSC: nas SA são as mesmas pessoas que elaboram, ou seja o presidente da
mesa da AG e o(s) secretário(s). Há uma prática muito difundida que as atas têm que ser
aprovadas pelos sócios, isto é muito disconforme com a lei no que toca às SA – os sócios
não aprovam as atas!!
 art. 248º/6 CSC (remissão para o art. 63º/4 e 8): nas SQ, nas SNC e nas SCS todos os
sócios têm de assinar as atas.

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Aulas Teóricas Direito Comercial II (3ª turma) Dr. Soveral Martins e Dr. Pedro Maia

Qual o valor probatório de uma ata?

Se a ata for um documento particular ela tem o valor do princípio de prova (art. 63º/7), se for um
instrumento notarial então é um documento autêntico e tem força probatória plena naquilo que respeita
aos factos que são exarados por conhecimento direto do próprio notário (art. 371º).

6. Deliberações ineficazes

Deliberações ineficazes – art. 55º CSC

São casos em que o procedimento e o conteúdo não têm vícios (não há fundamento para determinar a
sua anulabilidade ou nulidade), todavia, elas carecem de um elemento externo para a produção de
efeitos: o consentimento de certo sócio. Para que o que se deliberou possa produzir efeitos é necessário
que haja consentimento de certo socio.

Isto faz com que a deliberação esteja privada desses efeitos para todos, enquanto o interessado
não der o seu acordo (expressa ou tacitamente).

O caso mais conhecido ou mais relevante é o dos direitos especiais, que atribuem aos sócios uma
tutela individual e que fica protegido dos poderes da maioria, ali só se mexe com o consentimento do
respetivo titular. Para alterar direitos especiais é preciso alterar estatutos, pois estes estão
necessariamente lá previstos, toma-se a deliberação estatutária nos devidos termos, mas é ineficaz
enquanto não se obter o acordo do sócio atingido (art. 24º). Outros casos: art. 131º/1, 133º/2; art.
221º/7, 229º/4; art. 328º/3  conjsuno de situações em que é necessário um certo consentimento sem
o qual a deliberação é inficaz. Nas SQ e SA a regra geral é o princípio maioritário, mesmo contra a vontade
de alguns sócios pode-se alterar o ordenamento jurídico ou societário daquela entidade, pode-se mexer
nos estatutos, etc.

Esta ineficácia é uma ineficácia absoluta, ou seja a deliberação não produz efeitos, o que nos
permite desde logo distinguir este regime da anulabilidade, porque a deliberação anulável continua a
produzir efeitos, só deixa de ser assim quando for anulada ou quando haja algum procedimento cautelar
que suspenda os seus efeitos.

A ineficáciz absoluta, é uma grande vantagem para quem tem direitos especiais porque a
deliberação não produz efeitos quando o titular do consentimento não faz rigorosamente nada, ele não
precisa de “atacar” para destruir.

É também diferente a uma situação de nulidade porque esta deliberação vai poder produzir
efeitos, ela está inibida de produzir efeitos se e enquanto não há acordo do sócio em causa, havendo
consentimento ela produz efeitos. Numa deliberação nula, aquela nunca produz efeitos.

Aula virtual 06.05.2020

Secção II – Vinculação das sociedades

1. Como atuam vinculativamente as sociedades. Representação orgânica vs. representação


voluntária. Representação ativa vs. representação passiva. A importância do tema. A Primeira
Diretiva sobre direito das sociedades e a sua importância para o regime do CSC

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Este tema diz respeito à natureza intrínseca das sociedades comerciais, ou seja, o comércio
envolve relacionar-se com os outros e, portanto, diz respeito à relação destas sociedades comerciais
com o exterior ou com terceiros.

A relação das sociedades com terceiros foi algo que mereceu a atenção do legislador da UE tanto
que a primeira diretiva da então CEE sobre direitos das sociedades foi a diretiva que tratou da
representação e poderes de vinculação das sociedades por quotas, das sociedades anónimas e das
sociedades em comandita por ações. Não foi só sobre isto mas em grande parte incidiu sobre este tema
pois estamos a falar de um espaço alargado em que os operadores económicos, em geral, vão atuar para
lá das fronteiras do seu país e é importante que possam ter e dar maiores garantias de quem está a atuar
vai vincular a sociedade. Esta matéria surge como matéria fundamental para assegurar alguma certeza
e segurança jurídica nas trocas comerciais, principalmente, quanto à questão de saber se o negócio é
eficaz em relação à sociedade que está a atuar.

Nas trocas ao nível europeu isto também é fundamental. Por exemplo, se uma sociedade alemã
vem a Portugal atuar, é evidente que por um lado quer saber se quem está a atuar em nome da
sociedade portuguesa vincula a sociedade e quem está a atuar do lado da sociedade portuguesa também
quer saber se quem está a atuar do lado da sociedade alemã vai ou não vincular.

Agilizar isto ao nível europeu não foi fácil. Mas foi conseguido ao estabelecer um mínimo
denominador comum. A diretiva ainda assim abre porta a várias soluções possíveis, como se vê pela sua
leitura. A diretiva não se ocupa de tudo o que diz respeito a representação e vinculação, ocupa-se
principalmente dos poderes de extensão da representação e deixa ainda muita margem a Estados
membros para intervirem em matéria de vinculação e representação. Entendemos que não há um
regime uniforme.

A primeira diretiva é importantíssima, influenciou o legislador nacional na elaboração do CSC


nomeadamente no que diz respeito às sociedades por quotas, sociedades anónimas e às sociedades em
comandita por ações. Também influenciou quanto aos efeitos da cláusula relativa ao objeto social desde
logo ao dizer no CSC que o objeto não limita a capacidade de gozo das sociedades comerciais.

Isto remete-nos para o problema de atos que cabem dentro da capacidade de gozo da sociedade.
Quando falamos da capacidade temos de ver que o gerente e os administradores da sociedade não
podem ultrapassar aquele limite que se estabelece à sociedade. Mas estamos agora a pensar em atos
que se situam dentro dessa capacidade de gozo.

Quando tratamos de vinculação e representação, importa dizer que estas não significam a
mesma coisa. Doutor Coutinho de Abreu entende que os termos se identificam um com o outro, no
entanto, o Doutor Soveral Martins tem algumas dúvidas sobretudo se olharmos para a representação
passiva. A representação passiva distingue-se da representação ativa.

A representação ativa diz respeito à atuação de sujeitos em nome da sociedade adotando


comportamentos dirigidos a terceiros, enquanto que a representação passiva abrange comportamentos
de terceiros dirigidos à sociedade. Esta é uma questão que importa ter em conta. Na representação
passiva, quando um terceiro dirige um comportamento à sociedade, para a sociedade dizer que não
pode ter recebido esse comportamento declarativo é evidente que terá de considerar que não foi ao seu
representante passivo que o comportamento declarativo foi dirigido. Se é desta representação de que
estamos a falar então dificilmente poderemos estar a falar de vinculação.

Outro aspeto importante prende-se com a distinção entre representação orgânica (1) e
representação voluntária (2).

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1) Damos mais atenção à representação orgânica, aquela que tem lugar através dos órgãos da
sociedade, através dos membros destes órgãos. Nesta representação, quando o membro do
órgão atua é como se fosse a sociedade a atuar e, portanto, não há que falar de uma imputação
de comportamento do representante ao representado, porque quando o representante atua
em nome da sociedade é como se fosse esta a atuar.
2) Quando estamos a falar em representação voluntária, através de procuradores ou
mandatários com poderes de representação, nesses casos, quando o representante atua, o seu
comportamento vai produzir efeitos na esfera de outrem que será o representado, portanto,
há uma diferença considerável entre estas representações.

Voltando à representação passiva, encontramos normas que já têm alguma importância para esta
questão, nomeadamente, quanto às sociedades por quotas (art. 260º e 261º/5 CSC). Mas sobretudo
interessa-nos o art. 261º/3 porque, numa situação dessas, a representação passiva está descrita numa
forma imperativa, é como se fosse a sociedade e receber essas declarações ou essas notificações. Aqui,
a sociedade deixa de poder dizer que não sabia ou que não tinha conhecimento e, tudo o resto passa a
tratar-se internamente, ou seja, o terceiro não vai ter de suportar os problemas da organização interna
da sociedade por quotas.

Nas sociedades anónimas vamos encontrar uma norma de conteúdo semelhante, o art. 408º/3 (ver
também os art. 405º e 408º CSC). Este regime é imperativo com essa consequência de nulidade pois
trata-se de dar certeza e segurança aos terceiros e que eles não sejam onerados de terem em conta
defeitos internos de funcionamento daquela sociedade.

Ver material de apoio: diretiva 1968 (1ª diretiva, nomeadamente o seu artigo 4º) + atual diretiva 1132/2017 que
consagra soluções muito idênticas à diretiva de 1968

2. Requisitos subjetivos

2.1. Indicação da qualidade de administrador. O Acórdão de Uniformização de Jurisprudência


1/2002
2.2. Órgãos de representação plural
2.2.1. Regras legais e derrogações. O modo de exercício dos poderes de representação
2.2.2. A conjunção (supletiva ou estatutária) e a atuação de um só gerente ou administrador
2.2.3. Exercício da representação conjunta e da representação disjunta. A ratificação

REPRESENTAÇÃO VOLUNTÁRIA

Há aqui um aspeto muito melindroso que é o de saber até onde os membros do órgão de
administração podem conferir a outrem poderes para representar a sociedade. Se em relação às
procurações gerais para toda a sociedade parece haver algum consenso no sentido que estas não são
admissíveis, depois saber onde fica a linha de fronteira que pode ser mais difícil de averiguar.

O Dr. Coutinho de Abreu admite procurações em que seja reservado ao órgão de administração
apenas manter aquilo a que se chama a alta direção não sendo a administração retirada ao órgão de

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administração e mantendo o órgão de administração a possibilidade de eventualmente chamar a si a


representação que tenha sido conferida.
Por outro lado, o Dr. Soveral Martins entende que realmente não só devem ser consideradas
proibidas não só as procurações que conferem a terceiro toda a atividade de representação da sociedade
comercial, mas também aquelas em que indiretamente se alcança a mesma finalidade. Isto vai colocar
uma dificuldade adicional quando estamos perante os chamados contratos de gestão de empresas.

Quando estamos perante um contrato de gestão de empresas uma sociedade entrega a outra entidade,
normalmente a outra sociedade, a gestão das suas empresas e paga também pela prestação do serviço
de gestão e isto pode ser lícito ou não, tudo depende. Podemos ter situações em que para permitir a
quem vai gerir a empresa atuar também celebrando negócios, a sociedade que concede em gestão a sua
empresa também emite uma procuração a favor do gestor dessa empresa e, é preciso ver se essa
procuração na prática não se traduz na transferência para esse gestor da atividade que era do órgão de
gestão, pois nem o administrador nem o gerente se podem fazer substituir no todo ou em parte por
outrem, porque isto poderia ser uma forma de contornar as regras sobre a designação dos membros do
órgão de administração ou uma forma de tentar fugir às regras sobre responsabilidade dos membros do
órgão de administração. Ou seja, Soveral Martins entende que, por isto, estas situações têm de ser
olhadas com particular atenção.

Há 3 conjuntos de problemas aos quais se deve prestar muita atenção, o tema da identificação
dos representantes orgânicos das sociedades, o modo de exercício e o problema da extensão dos poderes
de representação.

 Em relação ao problema da titularidade dos poderes de representação, nós temos de começar


por ver o que nos diz o CSC. Nas SQ, o art. 252º é claro. Nas SA temos uma norma semelhante,
o art. 405º para as sociedades com estrutura tradicional ou latina e também para as sociedades
de estrutura monista, neste artigo podemos ver que há casos em que a lei vai atribuir os poderes
de representação a outro órgão nas SA, e temos para as sociedades com estrutura dualista ou
germânica que, em regra, será atribuido ao conselho de administração executivo que competirá
representar a sociedade (art. 431º/2 com a ressalva do art. 441º que vai ser analisada mais a
frente).

Há outra questão importantíssima com que nos devemos preocupar quando nos perguntamos
quem representa a sociedade. Sabemos que são os gerentes da sociedade X, sabemos que esses
gerentes são o Senhor A e a Senhora B mas de cada vez que alguém atua em nome daquela sociedade
dizendo que é gerente nós sabemos que é o senhor A e a senhora B mas temos de ter a certeza que a
pessoa que aparece perante nós é realmente o senhor A e a senhora B, e nós vemos através dos dados
constantes da conservatória do registo nacional quem é que foi designado gerente daquela sociedade e
sabemos quem foi designado administrador da sociedade e temos de saber se quem aparece diante de
nós é efetivamente o sujeito que está registado como gerente ou como administrador. E, portanto,
quando alguém está a estabelecer um contacto ou relação com qualquer sociedade comercial, se está
perante si alguém que diz que é gerente ou administrador é necessário controlar isso, pedindo por
exemplo o cartão de cidadão ou o passaporte, se não corre o risco de o gerente ou administrador não
ser aquela pessoa.

E, hoje, quanto ao saber quem foi designado podemos aceder os dados da conservatória do
registo comercial através da Internet, através do telemóvel.

Há outro aspeto também deveras importante, que se relaciona com um acórdão de


uniformização da jurisprudência (acórdão nº1/2002), quando o gerente ou o administrador vai atuar em
nome da sociedade é necessário olharmos para o art. 260º/4 CSC. Destacar que os gerentes e os

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administradores não vinculam a sociedade somente com base em atos escritos, pois podem vinculá-la
com base em atos meramente orais, tudo depende da forma exigida para determinados negócios. Para
as sociedades por quotas e para as sociedades anonimas coloca-se a questão de saber se esta indicação
da qualidade de gerente ou administrador tem de ser expressa ou se pode ser tácita no sentido de
resultar de factos concludentes. Para resolver esta questão revela-se muito importante o tal acórdão de
uniformização da jurisprudência, trata de uma questão muito interessante que tem a ver com a
vinculação em negócios cambiários e este acórdão veio defender o seguinte: “a indicação da qualidade
de gerente prescrita no art. 260º/4 CSC pode ser deduzida, nos termos do art. 217º CCivil, de factos que,
com toda a probabilidade, a revelem”. Isto é muito importante para a vida das sociedades e vemos que
a qualificação pode ser obtida tacitamente.

Vamos ver agora casos em que a própria lei, neste caso só CSC, vem afastar o que ela própria
considera a regra quanto à titularidade dos poderes de representação. Vamos só dar os exemplos mais
importantes para mostrar que, embora se diga que é o gerente que representa a sociedade e se diga
que é o conselho que tem exclusivos e plenos poderes de representação da sociedade, ao longo do CSC
encontramos muitas que afastam a regra ou que tornam possível afastar aquela regra.

 Começando pelo regime do art. 76º CSC: fala-se da possibilidade de justamente nomear os
chamados representantes especiais da sociedade para representar a sociedade em ações de
indemnização que a sociedade entenda mover contra os membros do órgão de administração, ou
seja, contra o gerente ou conta os administradores. O art. 76º CSC abre então a porta à
representação especial da sociedade, deixando de ser represente pelos seus gerentes e pelos seus
administradores.

 Outro caso digno de nota tem a ver com as sociedades por quotas e está previsto no art. 253º/1
CSC. Esta norma é muito importante no nosso universo de micro e nano sociedades comerciais, o
que nos diz este artigo que se faltarem todos os gerentes, todos os sócios assumem por força da
lei os poderes de gerência ate à designação de novos gerentes. É a lei que diz quem vai representar
a sociedade, apesar de ficarem com os poderes de gerente eles não vão, de acordo com Soveral
Martins tornar-se gerentes.

 No caso das sociedades anónimas temos um caso muito interessante a propósito das
competências do conselho fiscal ou do fiscal único, art. 20º/1 CSC. Uma das competências deste
órgão é a de receber comunicações de irregularidades, o chamado whistle blowing, ou seja, canais
para que sejam transmitidas as denuncias das irregularidades. Quem recebe essas comunicações
é o órgão de fiscalização e nessa medida tem poderes de representação passiva para receber essas
comunicações das irregularidades. A alínea l) deste artigo também se revela muito importante, o
órgão de fiscalização tem competência para contratar prestação de serviços de peritos que vão
ajudar os seus membros no exercício dessas funções, isto depois é objeto de maior atenção no
art. 521º/4 e 5 CSC, aqui já falamos de representação ativa.

 Temos outros exemplos, nas sociedades com estrutura dualista, nas relações com os membros do
órgão de administração com a sociedade, é ao conselho geral e de supervisão representar a
sociedade nas relações com os administradores e depois esta matéria é aprofundada a propósito
das relações com administradores mandando aplicar os art. 408º e 409º CSC.

 Nas sociedades em comandita também encontramos um artigo importante em que os sócios vão
adquirir excecionalmente poderes de representação da sociedade, art. 470º CSC.

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Há ainda um aspeto por tratar que tem a ver precisamente com a atuação de gerentes delegados
e de administradores delegados (art. 261º/2 CSC para as sociedades por quotas, tem de ser a gerência a
delegar os poderes de representação e essa delegação resulta de uma decisão do órgão gerência. Nas
sociedades anónimas vamos encontra coisa diferente, art, 407º CSC, nós vimos nas SA quando tem lugar
a delegação em sentido próprio nos podemos falar de um novo órgão previsto na lei e é um órgão
facultativo. Havendo delegação de poderes de gestão não significa que os administradores delegados
adquiram poderes para representar a sociedade no âmbito da delegação. Há assim, de acordo com
Soveral Martins há aqui um limite legal ao poder dos administradores delegados. No entanto, não é o
conselho de administração que delega poderes de representação nos administradores delegados ou nos
membros da comissão executiva, tem de ser o contrato de sociedade a dizer, ao contrario do que
acontece nas sociedades por quotas).

 Vamos agora falar de modo de exercício dos poderes de representação. Este tema trata de
saber como é que os membros de representação devem atuar para que a sociedade fique
vinculada. Esta questão é fundamental e sobretudo é importante quando o órgão de
representação é de composição plural porque se órgão é de composição singular sabemos que
é aquele gerente ou aquele administrador que tem de atuar. O problema coloca-se quando o
órgão de composição plural, vamos supor que temos um conselho de administração de uma
sociedade anónima com 5 administradores, que temos 3 gerentes numa sociedade por quotas
por exemplo. É preciso saber quais têm de atuar para que a sociedade fique vinculada, e é
importante também saber até onde pode ir o contrato de sociedade se é que o contrato de
sociedade pode de alguma forma alterar o que seja o regime regra previsto na lei.

Em abstrato podemos conceber muitos modelos para a atuação dos membros de um órgão de
representação plural, podíamos em abstrato conceber um modelo em que se um conselho de
administração tivesse cinco membros todos tivessem de atuar para que a sociedade ficasse vinculada,
poderíamos conceber um modelo de atuação conjunta por maioria, ou seja, atuarem apenas 3 desses
cinco membros, ou teria de atuar uma maioria qualificada, 4 neste caso. Mas também podíamos
conceber um modelo em que a sociedade ficasse vinculada com menos administradores do que a
maioria, neste caso com 2 ou até eventualmente só com 1.

As diversas alternativas têm de ser ponderadas em função dos interesses que possam estar em
questão, de um lado os interesses da sociedade, a sociedade pode querer um funcionamento mais ágil
do órgão de representação, quanto menos membros do órgão tiverem de atuar, mais fácil será a
celebração de negócios, mais rápidas serão as transações e pode haver também interesse da sociedade
em querer que os gerentes ou administradores se controlem uns aos outros porque se permitirmos que
só um gerente ou só um administrador vincule a sociedade é fácil de perceber que isso acarreta maiores
riscos para a sociedade, a sociedade corre o risco de ficar vinculada pela atuação de um só gerente ou
de um só administrador e este pode estar a atuar sem controlo. Se nos exigirmos a intervenção de um
maior numero de gerentes e administradores isto significa que eles se vão controlar uns aos outros para
verem se o negocio interessa à sociedade ou não.
Para as sociedades anónimas e para as sociedades por quotas as matérias são tratadas de forma
diferente:

 No art. 408º CSC nós vemos para as sociedade anónimas que vale a regra da atuação conjunta
por maioria, isto significa que se nada resultar do contrato de sociedade, a sociedade que tinha
um conselho de administração com 5 membros ficará vinculada com 3 membros. A lei diz

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também que é possível estabelecer no contrato de sociedade que a sociedade fica vinculada
pelos negócios concluídos pela maioria dos administradores ou por numero menor destes fixado
no contrato de sociedade, é possível estabelecer no contrato de sociedade fixar um numero
inferior à maioria.

 Poderá discutir-se se se pode fixar no contrato de sociedade que a sociedade anónima fique vinculada
apenas por um administrador, Dr. Coutinho e Dr. Soveral ambos entendem que sim, mas a questão é
discutível, pode porque e lei diz que pode ser qualquer numero inferior à maioria e, por outro lado, não
há uma razão de fundo que possa levar a impedir essa possibilidade porque estamos a alargar as
alternativas à sociedade, ou seja, deixa-se margem para os sócios intervirem também. O problema é
problema porque diz-se no art. 408º CSC que os poderes de representação do conselho de administração
são exercidos conjuntamente e podia afirmar-se que apenas um administrador não forma um conjunto,
mas, na opinião do Dr. Soveral não parece que seja esta a boa leitura, a leitura correta seria que
conjuntamente significa que o exercício de representação não pode ser retirado a qualquer um deles,
todos eles têm de ter a possibilidade de participar nos exercícios de representação.

Questão diferente é a de saber se é possível estabelecer no contrato de sociedade que os


administradores devem atuar em numero superior maioria. É uma questão discutível, o art. 408º/1 CSC
não diz que as cláusulas que exijam um número superior que essas clausulas não são permitidas, o que
a lei diz é que se houver afixação de um número inferior no contrato de sociedade esse número inferior
é suficiente para vincular a sociedade. Dr Soveral Martins entende que é possível estabelecer no contrato
de sociedade que os administradores devem atuar em número superior a maioria, mas essa clausula não
é oponível a terceiros, esta é uma questão discutível.

 Nas sociedades por quotas encontramos um regime ligeiramente diferente. Nas sociedades por
quotas, se por um lado se estabelece também a regra da maioria (art. 261ºCSC) a verdade é que
esta norma começa por dizer quando haja vários gerentes salvo clausula estipulada no contrato
de sociedade que disponha de modo diverso, ora é diferente estabelecer aqui que o contrato de
sociedade dispõe de modo diverso e estabelecer a propósito das sociedades anónimas que a
sociedade fica vinculada pelos negócios concluídos pela maioria ou número inferior, ou seja, é
fácil de ver que ao abrigo do art. 261º/1 CSC não há duvida que antes de mais que é valida uma
cláusula a exigir um número superior à maioria para que a sociedade fique vinculada, questão
diferente é a de depois saber se essa cláusula é ou não oponível a terceiros.

 Dr. Coutinho e Dr. Soveral entendem ambos que sim, isto por várias razões, vamos supor uma cláusula
numa sociedade por quotas que tem 3 gerentes e o contrato de sociedade exige a intervenção dos 3
gerentes para que a sociedade fique vinculada e só intervêm 2 ou 1. Aquela cláusula a exigir os 3 é uma
cláusula oponível a terceiros ou não? Na realidade isso parece resultar do art. 261º/1 CSC, ou seja, se há
uma cláusula a dispor de modo diverso a sociedade já não fica vinculada pelos negócios concluídos pela
maioria, fica sim vinculada pelo número exigido por essa cláusula do contrato de sociedade que dispõe
de modo diverso, é claro que esta cláusula diga respeito a um contrato de sociedade que é oponível a
terceiros no seu todo, nomeadamente cumprindo as regras do art. 168º CSC, sendo o contrato de
sociedade oponível a terceiros também será essa cláusula oponível a terceiros. Esta leitura é a leitura
que a ver do Dr. resulta de uma interpretação do art. 261º/nº1 em conformidade com a primeira diretiva
sobre direito das sociedades. Olhando para esta diretiva de 1968, sendo as soluções apresentadas pela
diretiva de 2017 iguais, vamos aqui olhar para o art. 9º da primeira diretiva é algo de muito interessante.
Por um lado, há aqui uma regra sobre a extensão dos poderes de representação, mas o que parece
importante agora é olha para os nr.º 2 e 3. À partida podíamos dizer isto, olhando para o nº2, se a regra
é a da exigência de dois e maioria é de três, se exigirmos três estaríamos a limitar os poderes de

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representação dos gerentes da sociedade por quotas mas se olharmos para o nº3 da diretiva diz-se
quando a legislação nacional preveja que o poder de representar a sociedade é atribuído por cláusula
estatutária (art. 261º/1 CSC admite cláusula estatutária) derrogatória da norma legal sobre a matéria e
nos também temos uma norma legal sobre a matéria no art. 261º CSC que exige a intervenção da
maioria. A clausula estatutária exige, por exemplo, a intervenção de todos atuando conjuntamente
derrogando a norma geral que exigia só dois. Diz-se também que essa legislação nacional, que no caso
será o CSC pode prever a oponibilidade de tal cláusula a terceiros, ora o que o art. 261º CSC parece dizer
é que essa cláusula é oponível a terceiros, se não há cláusula a sociedade fica vinculada pelos negócios
concluídos pela maioria, se há cláusula a sociedade fica vinculada pelos negócios concluídos nos termos
dessa cláusula quanto ao número de gerentes necessários para vincular a sociedade. Além disso, temos
também o art. 168º CSC e as regras gerais sobre a oponibilidade a terceiros das cláusulas constantes do
contrato de sociedade e essa oponibilidade a terceiros só pode ser estabelecida na lei interna desde que
seja referente ao poder geral de representação, quer dizer que a cláusula sobre este modo de exercício
dos poderes de representação tem de ser uma cláusula para os poderes de representação em geral, não
pode ser em relação ao ato x ou ao ato y, se é uma cláusula sobre este modo de exercício para os poderes
gerais de representação a diretiva permite que o direito interno de cada Estado torne oponível essa
clausula a terceiros e foi isso que fez o art. 261º CSC em conjugação com o art. 169º CSC.

 No que diz respeito às sociedades anónimas, a questão não se coloca em relação às cláusulas
que exigem mais do que a maioria porque essas já sabemos que não são oponíveis a terceiros,
mas às cláusulas que vão exigir menos do que a maioria, permitidas pelo art. 408º/1 CSC, já nem
são propriamente uma limitação em relação à regra geral. Quando dizemos que a sociedade
anónima fica vinculada pela maioria ou por número inferior fixado no contrato de sociedade,
quando dizemos que a sociedade por quotas fica vinculada pela maioria dos gerentes ou por
número diferente fixado no contrato de sociedade, se dizemos que essas cláusulas que afastem
a norma legal são oponíveis a terceiros o que se quer dizer é que se atua um número inferior ao
exigido na lei, inferior ao exigido por essa cláusula oponível a terceiros, a sociedade não fica
vinculada (o gerente ou o administrador que atua em nome da sociedade nestes casos sem
cumprir a exigência da lei no caso das normas supletivas ou dos estatutos, não cumpre ou não
respeita essas normas atua como representante sem poderes e portanto aplicar-se-á, pelo
menos por analogia, o art. 268º CCivil o que significa que o negócio será ineficaz perante a
sociedade perante a falta de poderes de representação e isso pode ser invocado perante os
terceiros, isto em regra, porque evidentemente podemos sempre também eventualmente estar
perante situações em que possa ser feita valer a cláusula geral do abuso de direito, se não
houvesse abuso de direito a sociedade podia invocar a regra legal da maioria, podia invocar o
regime da cláusula estatutária para dizer que não ficou vinculada mas em concreto
eventualmente essa invocação da norma legal supletiva ou da cláusula estatutária pode
constituir um abuso de direito por parte da sociedade e nessa medida a sociedade poder ficar
vinculada na mesma se a tentativa de se desvincular, invocando a norma legal ou a cláusula
estatutária, for em concreto um abuso de direito.

Uma referência importante ainda ao seguinte, no caso das sociedades com a chamada estrutura
anglo-saxónica ou monística há que ter em atenção que há uma série de normas sobre a comissão de
auditoria e há aqui um preceito muito importante que o art. 423º-B/3 CSC que diz o seguinte: aos
membros da comissão de auditoria é vedado o exercício de funções executivas na sociedade. Ora, há
quem entenda que isto impede os membros da comissão de auditoria de exercerem também poderes
de representação da sociedade anónima.

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 O Dr. Soveral não partilha dessa opinião e tem uma leitura diferente deste preceito, na sua
interpretação o que nos temos que ter presente é que se se tratar de um ato que se possa considerar
um ato de natureza executiva há aqui um limite legal aos poderes de representação e portanto, nessa
medida, vai impedir a vinculação da sociedade por este regime. Este é um aspeto muito importante que
irá ser falado mais detalhadamente na próxima aula a propósito da existência ou não de limites legais
aos poderes de representação dos administradores.

Ratificação dos atos

Já vimos que no caso das sociedades anónimas e no caso das sociedades por quotas a regra é a
da vinculação pela maioria, são os negócios concluídos pela maioria dos administradores ou pela maioria
dos gerentes que vão vincular a sociedade. Diz-se no art. 408º CSC para as sociedades anónimas, e a
redação semelhante para as sociedades por quotas, que o negócio concluído por um número inferior à
maioria pode ser ratificado pela maioria. Num caso desses o que acontece então é que sendo necessária
a ratificação pela maioria vai discutir-se qual é o número necessário para fazer essa ratificação posterior,
a ratificação será posterior à prática do ato. Vamos supor que se aplica a regra da atuação conjunta pela
maioria, seriam necessários 3 dos 5 administradores e intervieram apenas 2, a sociedade não ficou
vinculada por falta de poderes de representação o que levou à ineficácia do ato em relação à sociedade.
Quantos é que tem de intervir agora para ratificar o ato?

 O Dr. Coutinho de Abreu entende que só é necessário que intervenha mais um, ou se o negócio
tivesse sido celebrado só por um bastaria que interviessem mais dois a ratificar o ato. O Dr. Soveral
considera que não, ele considera que essa ratificação é uma nova manifestação de vontade da sociedade
e portanto nessa ratificação terá de intervir o número de administradores ou gerentes que eram
necessários para a sociedade ficar vinculada desde o início, porque a ratificação vai implicar uma nova
ponderação daquele ato.

Aula virtual 13.05.2020

2.2.4. Referência ao art. 546.º do CSC e aos arts. 4.º e 6.º do DL 16/2020, de 15 de abril

É o último artigo do CSC, foi introduzido em 2017 e trata do Sistema de Certificação de Atributos
profissionais. Estando inserido neste sistema, o gerente, o administrador (SQ ou SA) e o membro de
administração de uma cooperativa, podem assinar e autenticar-se utilizando certificados digitais de
assinatura e autenticação. Estes certificados vão conduzir a uma presunção de autoria dos atos
praticados, justamente, por estes agentes. Isto é importante para a comunicação pela internet com a
administração pública, mas não só. Quando a sociedade, através destes sujeitos, entra em contacto com
o serviço de registos, notários ou advogados, estes podem fazer a verificação da qualidade invocada, dos
poderes, e competências delegadas, através deste sistema de certificação – isto do ponto de vista da
agilização do funcionamento é muito útil e importante.

Com a legislação que foi recentemente publicada, graça à pandemia, alguns diplomas também
são relevantes para o funcionamento das sociedade. A prepósito da representação das sociedades
comerciais, temos o DL 16/2020, 15 de abril – aqui vem reguladas várias possibilidades de utilização de
meios digitais pelos gerentes, administradores e secretários das sociedades. Recorrendeo ao SCAP é
possível a digitalização e envio de documentos originais para entrar em contacto com os serviços
públicos e também para utilizar nas relações com privados – é importante para pedir registos online de
atos relativos à sociedade. Podem os gerentes certificar os documentos eletrónicos com os documentos
originais – através da Assinatura Digital Qualificada.

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3. A extensão dos poderes de representação

Em relação as sociedade em nome coletivo e as sociedades em comandita simples:

O art. 192º CSC trata dessa extensão, aqui manda atuar o gerente sempre dentro do limite do
objeto social, podendo essa representação ficar sujeita a outros condicionamentoes pelo contrato, bem
como a cláusula que contém o objeto social – tudo isto é oponível a terceiros. Se um gerente pratica
uma to violando uma dessas limitações esse ato não vinculará, em regra, a sociedade e será um praticado
sem poderes de representação e será, por isso, um ato ineficaz por força do art. 268º CCivil, aplicado por
analogia.

3.1. A Primeira Diretiva sobre direito das sociedades (art. 9.º) e a sua importância para a leitura das
soluções do CSC quanto às sociedades por quotas, anónimas e em comandita por ações

O regime das SQ, SA é muito diferente, por força da primeira diretiva comunitária sobre o direitos das
Sociedade. No CSC, esta matéria encontra-se tratada nos art. 260º para as SQ, e 409º para as SA.

Estes artigos foram fortemente influenciados pelo art. 9º dessa diretiva. Primeiro tratma dos
limites legais ao poderes de representação, aos limites estatutários, dos limites que resultam de uma
dleiberação dos sócios e depois da cláusula que trata do objeto social. O art. 9º inverte a ordem, primeiro
dá atenção à cláusula relativa ao objeto sócial, aos limites legais e depois no nº 2 das restantes limitações
resultantes dos estatutos ou das resoluções dos órgãos competentes. Algumas diferenças de redação
importantes:

Quanto aos limites resultantes da lei: a sociedade não ficará vinculada se os órgãos excederem os
poderes que a lei atribui ou permite atribuir, esta parte não aparece no art. 260º nem no art. 409º/1.

Diferença no art. 9º/2 – inoponibilidade dos limites que resultem de uma resolução dos órgãos
competentes, não se limita aqui o regime às deliberações dos sócios. Tem um âmbito de aplicação muito
mais alargado.
 Na leitura das normas do CSC devemos ter isto em atenção, a referência aos “órgãos
competentes” e não apenas aos sócios, e também referência aos “poderes que a lei permite atribuir”.
Nenuma destas surge nos artigos do CSC.

3.2. Os limites legais aos poderes de representação. Os atos praticados dentro dos poderes que a
lei permite conferir e a interpretação dos arts. 260.º, 1 e 409.º, 1

O art. 260º/1 começa por revelar que os limites legais aos poderes de representação são
oponíveis a terceiros. É evidente que os gerentes de uma SQ e os administradores de uma SA, não podem
ultrapassar os limites que a própria lei estabelece à capacidade de gozo de uma sociedade comercial, o
limite resulta do fim lucrativo. A ver do Dr. Soveral esta limitação faz todo o sentido, nomeadamente
para acautelar os interesses dos credores da sociedade. Mas esses são limites que resultam da extensão
da capacidade de gozo da sociedade, são limites à própria capacidade e, portanto, os administradores e
gerentes também não podem ultrapassar.

Específicamente para os poderes de representação dos gerentes e administradores também podemos


encontrar limitações na lei: podem ser limites que atribuem capacidade para representação a outros

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sujeitos ou podem ser limites que vão exigir que os gerentes ou administradores obtenham antes uma
atuação de um outro órgão, nomeadamente, uma deliberação dos sócios.

Exemplo 1: art. 246º/1 exige a deliberação dos sócios para a prática de vários atos. Alguns destes
atos vão envolver a representação da sociedade.

Exemplo 2: nas SA, em regra, é o órgão de administração que representa a sociedade. O Conselho
de Adminsitração Executivo têm poderes plenos na representação perante terceiros – art. 431º/2 – sem
prejuízo do disposto na alínea c) do art. 441º. Estamos a falar da representação da SA nas relações com
os administradores, aí quem representa é o Conselho Geral e de Supervisão. Se nessa relação intervir
antes o Conselhor de Adminsitração Executivo, a sanção será a da ineficácia do ato – falta de poderes de
representação, art. 268º CCivil.

3.3. As limitações estatutárias

Nas SQ, recorremos ao art. 260º/1 – as limitações que resultam do contrato ou de deliberações, não são
inoponíveis a terceiros. A sociedade fica vinculada apesar dessa slimitações que resultavam do contrato
de sociedade ou da deliberação. Isto sim é uma clara aplicação do regime que resultava da primeira
diretiva sobre o DIreito das Sociedades no seu art. 9º.

Nas SA, temos um regime idêntico a este. Podemos ter uma limitação aos poderes de representação.

Exemplo: cláusula no contrato, que ao abrigo do art. 246º/1, vem acrescentar mais exigências
para a atuação em nome da sociedade. O contrato pode exigir deliberações dos sócios para a prática
destes atos. Os sócios queriam limitar esses poderes, mas essas cláusulas não são oponíveis a terceiros,
mesmo que haja alguma que exija mais deliberações para estes atos = não impede a vinculação da
sociedade.

Há, no entanto, aqui um regime especial para as limitações que resultam da cláusula relativa ao
objeto social, que constam também dos estatutos da sociedade, art. 409º/2 CSC – em princípio, a
cláusula relativa ao objeto social também é inoponível a terceiros na medida em que não impede a
vinculação da sociedade. Os atos praticados pelos gerentes e administradores que ultrapassam o objeto
social, esses atos, em regra, ainda vinculam a sociedade a não ser que a SQ consiga provar que o terceiro
sabia ou não podia ignorar que o ato não respeitava o objeto social.

 Nesta medida, embora seja uma cláusula do contrato que, em princípio, seria oponível a terceiro tal
como as restantes cláusulas estatutárias, nos termos do art. 168º CSC, no entanto, as limitações que daí
resultam para os poderes de representação dos gerentes e adminsitradores essas é que são inoponíveis
a não ser que se prove que o terceiro sabia. Analisando o art. 409º.

3.4. As limitações resultantes de deliberações dos sócios e de outros órgãos. As resoluções de


órgãos competentes mencionadas no art. 9.º da Primeira Diretiva

Analisando agora o art. 460º/1 CSC:

Atenção: Faz-se aqui referência, no nº 1,à eventual publicação das limitações que resultam do contrato
ou das deliberações, mesmo que elas sejam publicadas elas não impedem a vinculação da sociedade.
Isto não consta do art. 260º/1. A ver do Dr. Soveral este regime também se aplica por analogia às SQ.

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No que diz respeito às limitações que resultam das deliberações dos acionistas, podemos ter
deliberação dos sócios a estabelecer determinados requesitos para a prática de certos atos, se falta o
respeito por esse exigências na prática do ato, ainda assim a sociedade ficará vinculada. A mesma
solução se deve extrair dos casso em que falta o respeito pela limitação que resultava da deliberação de
outros órgãos da sociedade, exemplo, numa SA com um conselho de administração.

Exemplo: imaginemos agora, que falta a deliberação sobre uma determinada matéria, sabemos
que o cosnelho de adminsitração tem competência para deliberar sobre matéria de gestão. Mas neste
caso faltou essa deliberação, houve umaa tuação de administradores em nome da sociedade sem essa
deliberação – agora não é uma limitação é a falta dela. O Dr. entende que sim, por maioria de razão, a
sociedade fica vinculada na mesma.

Outra questão que se pode colocar é a de saber se é possível ou não a introdução de uma
cláusula para exigir que certos atos de gestão da SA devam ser precedidos de uma deliberação dos
acionistas. O Dr. Soveral entende que não, se se trata de matéria de gestão, o art. 373º/3 é imperativo
e, portanto, não é possível exigir, no contrato de sociedade, aos administradores vão pedir deliberação
aos sócios, podem até pedir mas não podem exigir obter essa deliberação.

Tratando-se de uma limitação que resulta do contrato de sociedade, ela não é oponível a terceiros. Aqui
pergunta-se o que são terceiros para este efeitos.

 O Dr. Coutinho entende que ainda serão terceiros os sócios de uma SA que não intervieram na
celebração do atos cosntitutivo nem participaram numa eventual alteração ao contrato de
sociedade que introduziu essa limitação.
 O Dr. Soveral diverge desta opinião e considera que quaisquer sócios de uma SA ou SQ ou os
membros dos órgãos dessas sociedade não são terceiros e, portanto, essas limitações ser-lhes-
aos oponíveis.

Em relação às limitações que resultam das deliberações dos sócios:

 O Dr. Coutinho também estabelece uma limitação para as SA, entende que ainda serão terceiros
os sócios que não participaram nas deliberações.
 O Dr. Soveral nem mesmo esses sócios não devem ser considerados terceiros.

Temos ainda as limitações que resultam de deliberações de outros órgãos competentes (exemplo, do
Conselho de Administração). Aqui também se discute quem é terceiro em relação ao qual a deliberação
não é oponível:

 O Dr. Coutinho entende que se se trata de um sócio que não é membro desse órgão então deve
ser considerado terceiro (tanto vale para as SQ e SA).
 O Dr. Soveral entende que não será terceiro sócio da sociedade, o membro do órgão da
sociedade e, portanto, a deliberação ainda lhe será oponível.

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3.5. Abusos do poder de representação. Os casos de colusão e de abuso do poder de representação

Se, em princípio, estas limitações que estivemos a ver não são oponíveis a terceiros e não impedem a
vinculação da sociedade, há casos limites em que esse regime não se pode aplicar:
1) Casos em que existe colusão – quer o gerente/adminsitrador quer o terceiro atuam em colusão para,
justamente, causar um prejuízo à sociedade, de forma consciente e intencional = em situações dessas é
aplicável o art. 281º CCivil e o ato é considerado nulo.

2) Situação de abuso evidente de poderes de representação – art. 269º CCivil. O ato será ineficaz em
relação à sociedade. É necessário que o terceiro também conheça ou deva conhecer esse abuso.

3.6. Ainda uma nota final sobre a representação voluntária

Tratamos desta matéria ao destinguir entre representação orgânica e representação voluntária.

Há uma pequena divergência entre as lições e a opinião do Dr. Soveral em relação à procuração
geral ad negotium. Dr. Soveral considera que é a mesma é nula, nem o regime das SA e das SQ admitem
essa procuração. O Dr. retira essa conlusão para as SA do art. 391º/7 que justamente só permite a
nomeação de procuradores ou mandatários para a prática de determinados atos – isto já é uma excepção
à regra do nº 6. Mas é so para esses casos apenas, não podem ser procurações gerias. Isto também
abrange aquelas situações em que se procura contornar essa proibição.

Se se trata apenas de situações em que se atribuem poderes limitados de representação, não estamos
perante uma procuração geral ad negotium mas temos que ver se são mesmo limitados ou se se está a
tentar deixar entrar pela janela aquilo que não pode entrar pela porta.

 O Dr. Coutinho admite que órgão de administração ainda mantenha a direção da sociedade e
que vai controlar e supervisionar a representação.
 O Dr. Soveral desde que se trate de uma representação geral isso não é admitido pelo art. 391º/7
CSC.

BOA SORTE  

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