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Copyright © 2020 Bruno Jovovich

Todos os direitos reservados


1ª Edição - 2017

Diagramação: Isabela Gonçalves


Capa: Bruno Jovovich
Revisão: Bruno Jovovich; Igor Falcão

Baseado em fatos reais. Alguns nomes, lugares e acontecimentos foram


alterados para manter a discrição e integridade dos personagens.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
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dessa obra, através de quaisquer meios — Tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito do autor.
Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do código penal.
Dedico este livro ao Igor Falcão. Principal inspiração para o Iago.
Um moleque tonto, mas de grande coração.

Agradeço principalmente aos fãs de Enzo e Iago, que torceram e


vibraram a cada capítulo publicado no Wattpad.
SUMÁRIO

SUMÁRIO
PRÓLOGO
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— Sobre o Autor —
— Outros Livros —
PRÓLOGO
Tu se lembra de quando era criança e ficava viajando imaginando e
sonhando o que você seria quando crescesse? Às vezes tem uma galera
graduada e pós-graduada em vivência, pronta para opinar e dar, aquilo que
julgam, serem os maiores conselhos das nossas vidas, e ainda alertam:
“escuta o que eu tô te falando!”. Mas a real é que eu vim aqui hoje para te
contar que na vida, por mais conselhos que possamos receber, nunca teremos
uma receita perfeita que servirá para todos. Se nem um bolo que tem receita
fica igual um do outro, imagina nossa vida que é perpassada por tantas e
tantas experiências. Vivências únicas e particulares.

Muitas vezes você será encurralado pela vida e ela exigirá que você
tome uma decisão e faça uma escolha que será determinante na sua
trajetória, por mais que você ouça todos os conselhos do mundo, apenas
você enfrentará as consequências desta escolha. Logo, a sua vida é o seu
bem mais precioso, e nunca deixe que alguém te diga o que deve ou não
fazer. Óbvio que devemos ouvir nossos pais, termos respeito e tudo mais,
mas essa linha tênue entre respeito, autonomia e amor próprio deve ser
percebida, e também precisa ser respeitada.

Aí, boom! Como em uma explosão, passa a infância e chegamos à


adolescência e, posteriormente, à juventude com toda a carga hormonal e
emocional que essas fases carregam. Sabe todo aquele livrinho interno de
regras, normas, conselhos e tudo mais que você ouviu durante toda a
infância? Pegue um rascunho, anote algumas frases e rasgue o resto. Aqui,
nada faz sentido, tudo é confusão e completa desarmonia entre o querer e o
ter. E, hey! Não adianta mais fazer pirraça ou manha, isso não te ajudará a
alcançar seus objetivos. Como diz o que se tornou um ditado popular trazido
por Zeca Pagodinho: Deixe a vida te levar.

Sabe o natal? Aquela fase do ano deliciosa que tem aquele monte de
comida gostosa, com exceção do arroz com uvas passas, seu tio com a
piadinha do pavê e sua tia perguntando sobre as namoradinhas? Pois é! Eu
também te pergunto: E as namoradinhas?! Ouvi essa pergunta muitos e
muitos natais, mas eu por acaso queria saber de namorar? Eu só queria saber
de me divertir! Mas inconscientemente, essa pergunta sempre esteve
rondando em minha cabeça: “Cara, cadê essa pessoa que vai me deixar
arriado?” Isso é só comigo, ou com você também acontece isso?

Nessas fases da vida, você descobrirá que, assim como o livrinho da


infância sobre a vida, o livrinho dos relacionamentos que tentaram te
ensinar, também não terá validade. Assim como a vida, cada relacionamento
é único e também não possui uma receita que te fará ter o relacionamento
dos contos de fada da Disney. É um arranjo diário de encaixe ou desencaixe
de duas personalidades diferentes. Mas cabe a você decidir se vai passar por
isso ou não, e caso opte pelo não, tudo bem também. Você não precisa ser
mais um com relações disfuncionais apenas para se adequar a essa sociedade
que exige estarmos em relacionamentos. Apenas seja feliz, da maneira que
você acreditar que deva ser feliz.
—1—
Comecemos com a definição dessa palavra tão... Distinta?
Brotheragem: do inglês brotherhood, que significa irmandade. Mas aqui pra
nós (BR) o termo brotheragem é usado pra descrever o ato sexual (seja ele
qual for) entre dois homens, de um modo não homossexual, como: não tendo
contato olho no olho, sem beijos e sem bater saco com saco.
Essas são só algumas das regras pra fazer uma brotheragem bem
massa e caso alguma delas seja quebrada os indivíduos estão fazendo uma
ação 100% homossexual, sendo então... Gays! O negócio é pegação entre
dois machos, mas com cuidado pra não colocar a masculinidade e a
heterossexualidade em risco. É parceria, camaradagem, mas claro, sem
viadagem! haha.

Me pergunte o porquê de eu estar falando disto que eu respondo! Eu


tenho um brother (bem óbvio isso) e faz alguns meses que estamos em uma
brotheragem bem louca e intensa. Se eu estou curtindo? Caraca maluco, tô
me descobrindo!

Mas então, seria legal eu começar falando de como eu entrei nessa,


não é mesmo? Então manolo, vem comigo! Vamos começar pela época em
que todo mudou, ou começou a mudar, porque não foi de um dia pro outro,
foram várias sequências de acontecimentos que desencadearam nisto que
estou vivendo hoje. Talvez pelo meu linguajar você deva estar se
perguntando o que um doido como eu, com jeito de hétero, tá fazendo num
livro onde a descrição que escreve é romance gay, te explico isso também:
não tem "brotheragem" na categoria de escrita, haha.

Mas me tornando sério novamente, eu não me encaixo na categoria


hétero, como devem ter percebido, isso depois que o Enzo me abriu os olhos,
hoje me encaixo na categoria ser sexual. Não é isso que somos? Seres
sexuais? Movidos pelo prazer?

Sim, pare e pense, tudo que te dá prazer você irá curtir, seja trabalho,
família, relacionamentos... Com prazer fica mais gostoso, logo, você é
movido a prazer, êhhhh!

Eu curto mina, mano, trans, lésbicas, travesti, cachorro... Mentira,


não curto zoofilia, a não ser quando o Léo (meu labrador) começa lambendo
minha orelha, dá um tesão... ok, isso é zoeira, não se preocupem, haha.

Conheço o Enzo desde pirralho, somos brothers do tipo irmãos,


crescemos juntos, nos descobrimos juntos, vimos um a transformação do
outro; o primeiro pentelho no saco, o primeiro pelo no peito, a voz mudando,
músculos crescendo, enfim. Enzo sempre foi o mais desinibido, o que me
ensinava as paradas. Com ele que aprendi a bater punheta, isso eu com 13
anos e ele 14. Com ele que vi meu primeiro filme pornô (hoje sou viciado),
com esse leque que descobri o que é tesão, mas na real? Nunca senti tesão
nele, propriamente dito, isso veio a ocorrer pouco tempo atrás.

Mas vamos aos fatos.

Crescemos juntos até os meus dezessete anos. Quando ele fez dezoito
teve que se mudar de cidade pra fazer o curso que queria, engenharia
química. Ele terminou o ensino médio com dezessete anos, mas ficou um
ano se preparando pra ingressar nessa facul. Nessa época eu sofri um bocado
porque perdi meu parceiro de balada. Com a cara que tínhamos, entravamos
desde mais jovens em qualquer rave/noitada sem ninguém pedir
documentos, agradeço isso ao futebol e natação que ajudou a tonificar os
músculos naturalmente, mas que tal eu me apresentar? Já que estou aqui
falando e falando e você se perguntando, quem é esse maluco?

Então, me chamo Iago, tenho hoje vinte e dois anos recém-


completos, sou branco do tipo bronzeado, queimado do sol da tarde de
quando bato uma bolinha com os manos (time sem camisa), peso uns 80
quilos de músculos bem distribuídos, não tenho barriga trincada, mas ela é
sequinha, em compensação meu peitoral e braços são grandes. Mas meus
maiores orgulhos mesmo são minhas pernas e bunda, caraca moleque, tenho
maior raba! As mina pira e os mano enlouquece! Sou todo peludo, quase um
urso, concentrados nas pernas, bunda, peito e braços, tenho 1.85 e mantenho
uma barba fechada sem falhas, cabelos bem normalzinho, enfim, me desenhe
na sua mente.

Enzo é o um galego pra lá de safado, cabelos loiros naquele corte


undercut que eu acho um charme particularmente, tem 1.80 de altura, uns 70
quilos, músculos mais definidos que os meus, uma barriga trincadinha,
sorriso de lábios rosados pequenos com dentes brancos certinhos, um nariz
afilado de bacana, sardas espalhadas pelos ombros e peitos, pernas torneadas
e uma bunda grande que mal cabe em minhas mãos, os pentelhos do
moleque são clarinhos e, porra, ele fica rosinha quando pego com força...
Mas a história ainda não chegou nesse estágio, não é mesmo?
Que tal voltarmos no tempo agora? Sim, sou quase Doctor Who indo
e voltando, estuprando o espaço tempo contínuo.

— Aí Iago, sabe quem tá voltando? — perguntou Lipinho, um


moleque parça que cresceu conosco, vizinhos de bairro, amigo de
brincadeiras e posteriormente de baladinhas.

— Ih cara, sei não, diz aí! — depois de correr feito maluco atrás de
bola, tudo o que eu não iria fazer nesse momento era pensar. Enxuguei o
suor da testa e olhei pra ele com o cenho franzido pelo sol, esperei ele falar.
Primeiro deu um gole na água que trouxe em sua garrafinha de esportes,
estávamos sentados lado a lado na arquibancada descansando do jogo de fim
de tarde, o qual perdemos, fazer o quê?

Ele engolindo o líquido incolor, inodoro e insípido: O Enzo, maluco!


Postou no Facebook que tá voltando pra terrinha.

Uma coisa sobre minha pessoa, odeio essas redes sociais, Facebook,
Twitter, Instagram... Pra mim é tudo nome de doença, e veja bem, não é
mesmo? Coisas que te deixam dependente e cativo tão facilmente, além de
deixar lerdo no raciocínio só pode ser doença, celular pra mim só pra receber
e fazer ligação, de quando em vez ouvir uma musiquinha.

Mas continuando nessa linha de pensamento: "Raciocínio"... “Onde


está o meu? O que esse moleque tá falando? Que meu mano do coração tá
voltando? E o puto não me diz nada? Lindo eu socando aquela carinha
bonita.”

— Caraca, Maluco! — respondi depois do momento letárgico. Ele ia


me ouvir um monte.

Enzo voltando pra casa da frente, onde morava com o pai! Foram
quantos anos longes? Cinco anos! Quatro destes vendo ele esporadicamente,
apenas em datas comemorativas e quando isso ocorria a família tomava
conta. Por falar neles, eles são mó de boa, mas eu tinha um ódio quando isso
acontecia, putz! Porém o Enzo morava só com o pai que é mais porra louca
que eu e ele juntos.
A mãe do Enzo morreu quando ele tinha uns dois anos e com três
eles se mudaram pra nossa rua. Como eu era praticamente da idade dele e o
pai precisava sair pra trabalhar, ele fez um acordo com minha mãe pra ela
tomar conta do moleque, assim, ele se tornou meu maninho do coração.

Antes da chegada deles ao nosso condomínio, morávamos minha


mãe, meu pai e minha irmã recém-nascida, porém meu pai nos abandonou
logo após o nascimento dela e se juntou com uma quenga aí, minha mãe não
desanimou e criou três crianças sozinha. Sim, digo três porque ela
praticamente adotou o Enzo quando kid, e o seu Pedro se tornou minha
referência paterna, hoje somos uma grande família, sem musiquinha, é claro.

Mas as pessoas crescem, não é mesmo? Apesar de nos tratar ainda


como família, não era mais a mesma coisa. Todos temos que trabalhar e
constituir sua vida, criar reponsabilidades e ir por caminhos que muitas
vezes se divergem dos de quem convivemos. Mas o principal sempre se
manteve, o respeito e carinho, e o seu Pedro sempre tava lá em casa pra dar
uma assistência, amo esse coroa.

Mas retomando...

— Tá sabendo que o Enzo tá voltando, né? — minha mãe perguntou


assim que coloquei os pés pra dentro de casa, camisa no ombro, chuteiras na
mão, shorts típicos de jogadores, branco, e todo suado.

— Tô sabendo sim, o Lipinho disse lá na quadra. Ele chega quando?


— me joguei no sofá, mas levantei rapidamente com o olhar matador que ela
me deu.

— Tá chegando amanhã. E o pulha do Pedro só deu de avisar hoje de


manhã. Um imprestável!

— Mas tu ama ele, que eu sei. — dito isso corri corredor adentro
porque vi quando ela tirou o chinelo do pé, aquilo ia ser nas minhas costas se
eu não me esquivasse, haha.

Tomei um banho gelado bem demorado imaginando que íamos por o


papo em dia, as novidades que ele tinha, o tanto de baladinha que íamos, as
minas que eu ia comer... Sim, porque sair com o Enzo é chamariz pra biscate
rondar, melhor companhia esse leque.

Teve até um dia que nós dois comemos uma mina pra lá de puta.
Bom, foi estranho porque foi a primeira vez que fiz isso com ele e eu tenho
pra mim que ali algo mudou, olhar a cara dele de tesão enquanto mandava
ver naquela menina me deixava com tesão consequentemente. Ele mordia os
lábios vermelhos e franzia as sobrancelhas, seu olhar nublado era
direcionado a mim e eu tenho quase certeza que não imaginei coisas. Teve
um momento que segurei na coxa dele pra que entrasse mais fundo (se é que
era possível) na menina e, caralho, a pele dele era quente, macia e ficou com
as marcas dos meus dedos ali e eu gozei chupando o pescoço da menina
imaginando ser a pele dele.

— Porra, tô variando já, foi o sol na cabeça. — inconscientemente eu


já tava de pau duro na mão, no entanto me recusei a tocar uma (embora
quisesse muito), não pensando no Enzo, não mesmo, eu só precisava fuder
uma xota que esse lance passava.

— É isso, só preciso trepar gostoso.

Eu sabia que alguma coisa tava rolando com a minha cabeça e isso
muito antes dele ir embora, mas eu me recusava a pensar sobre, não sabia
como ia ser com ele ali de volta.

Terminei o banho e saí enrolado na toalha molhando o chão, minha


mãe ia enlouquecer se visse aquilo e eu tava nem aí. Nosso banheiro era
compartilhado e ficava no final do corredor então eu precisava passar por
todos os quartos até chegar no meu, quando ia passando em frente ao quarto
da minha irmã a porta se abriu e eu dei de cara com uma amiga dela que usa
óculos e era toda tímida, a menina ficou mais vermelha que pimenta e virou
o rosto pro outro lado, arrumei a toalha na cintura e sorri cafajeste, minha
irmã gritou pra eu sair da frente dela e eu fui pro meu quarto rindo sozinho.

Peladão e já enxuto me joguei na cama e puxei um ronco, daria


tempo até a hora de ir pra faculdade de RH que eu cursava. Cocei meu saco
e dormi.
Acordei com batidas na minha porta, minha mãe gritando dizendo
que eu ia me atrasar. Realmente, estava em cima da hora. Me troquei
rapidão, peguei dinheiro, mochila e corri pro ponto de ônibus, mesmas
pessoas de sempre, isso é engraçado, você até se torna amigo de algumas e
quando a que senta lá no fundo não aparece você se pergunta internamente
"o que será que aconteceu?" divagações de uma cabeça que não tem o que
pensar.

Pedi parada e dei tchau pra tia cobradora, desci no ponto próximo a
faculdade e lentamente caminhei pra dentro do prédio, meu celular tocou no
bolso e eu tirei pra ver quem ligava, era o Enzo e meu coração falhou até
uma batida, eu hein.

— Fala, cabeça! — atendi sorrindo. Enquanto ia pra minha sala


cumprimentei, com um aceno, um amigo de outro curso que ia pra sala dele.

— Eae, mano! — Diz o Enzo, e pelo tom de voz, dá pra perceber que
ele também está sorrindo — Aí, meu pai te disse que tô voltando pra casa?

— Cuzão do teu pai só veio falar hoje, e por que você mesmo não
disse? — Respondo fingindo aborrecimento.

— Olha o respeito com o coroa, maluco! Eu tava acertando tudo por


aqui porque, não sei se percebeu, mas tô indo pra ficar.

— Real, minha mãe falou haha. Ó, te ligo quando sair da aula,


beleza? Tô entrando aqui, falow Enzin. — me despedi. Ele respondeu com
um "Beleza, liga mesmo! Té mais, cabeça" e desligou, entrei com um sorriso
besta na cara e me perguntaram o que eu tinha pra tá assim, respondi que foi
a pelada de mais cedo e um cuzão lá de trás disse que meu time tinha
perdido, como eu poderia estar feliz?

— Porque saindo de lá comi tua mãe. — respondi. Ele chateou e a


turma riu, segue a aula.
—2—
— 5 ANOS ANTES —

Ainda tentava me recuperar da Nagasaki que jogaram na minha


cabeça há pouco tempo. Era fim de tarde e o sol lançava suas cores
avermelhadas pelo céu colorindo as nuvens que por ali passavam. Estávamos
no campinho e meu corpo encharcado de suor após mais uma bolinha que
havíamos batido. Mas o que mais ficava notório era o meu coração que
parecia uma escola de samba no meu peito. Enzo iria embora!

Sem qualquer cerimônia Lucas havia chegado no campinho correndo


pra nos dar a notícia e agora estava eu com o cu na mão. Não conseguia mais
ficar ali, catei minha camisa e meti o pé pra casa correndo como se tivesse
uma alcateia de quengas sedentas querendo meu corpo virginoso. Da mesma
forma que vinha da rua feito um touro selvagem, entrei em casa e minha mãe
deu um grito falando que podiam levar tudo, mas que não a matassem. Véia
maluca, eu hein!

Pedro e Juliana estavam sentados na mesa tomando café enquanto


minha mãe se recuperava do susto já tirando a sandália do pé pra tacar em
mim, antes que ela se armasse eu já perguntei que história era essa de que o
Enzo iria embora. Notei quando os três trocaram um rápido olhar e antes que
qualquer palavra fosse dita, vi ali a confirmação do que Lucas havia dito.

Puta merda... Meu molequinho iria embora! Não entendia o porquê


da minha cabeça estar como estava. Parecia que uma represa havia se
rompido e milhões de pensamentos inundavam-na em uma fração ínfima de
segundos. Há alguns meses o Enzo havia prestado o vestibular e com a nota,
conseguiu se candidatar para engenharia química em algumas universidades,
mas como sou lesado, esqueci completamente que o resultado sairia naquele
dia. O que eu não entendia também era o porquê dele não ter me ligado pra
contar. Foi quando tateando meus bolsos, percebi que eu não estava com
meu celular, pra variar. No meio de tantos pensamentos ainda havia
esperança de que fosse mentira, mas como ele não estava ali, não teria como
saber naquele momento.

Sem falar mais nada, joguei a camisa no ombro e voltei pra rua, fui
andando em direção à praça. Como era fim de tarde, as ruas estavam cheias:
pessoas voltando do trabalho, da escola, saindo pra trabalhar, saindo para
estudar... Todos de certo modo em movimento e eu ali num estado letárgico,
posso dizer assim. Fiquei ali tentando organizar os pensamentos. Não
conseguia entender porque eu estava tão desesperado. Enzo sempre foi meu
melhor amigo, meu irmão! Havíamos crescido juntos, compartilhado muitas
histórias e momentos, talvez pudesse ser isso. É, talvez. Eu sabia que essa
ida dele, mudaria tudo. Eu não teria mais meu parceirinho comigo.

Fiquei na pracinha por algum tempo e quando consegui me acalmar e


pensar com mais clareza, resolvi voltar pra casa. Quando entrei na rua do
condomínio, percebi que havia uma certa movimentação em frente à casa do
Enzo, eu não sabia como seria encará-lo naquele momento então fui direto
pra casa. Chegando lá, percebi que estava vazia e fui tirando a roupa pelo
caminho enquanto ia pro banheiro tomar uma ducha. Tirei a bermuda junto
com a cueca enquanto abria a porta do quarto pra pegar um short e puf!
Quase me cago com o susto que tomei.

Na minha cama havia os contornos de um corpo que eu não sabia


quem era por causa da escuridão, fui me aproximando e abri a cortina sem
fazer barulho, quando olhei de volta pra cama, tomei outro susto ao ver
aquele par de olhos claros me encarando de uma forma tão intensa que
minhas pernas chegaram a dar uma amolecida. Enzo estava deitado na minha
cama me encarando e o clima ficou tão estranho que se eu pegasse uma faca,
era capaz de cortar o ar. Reparei quando seus olhos foram descendo pelo
meu corpo e ele engoliu em seco ao pousar os olhos sobre a minha virilha.

Nunca tivemos neura de ficar pelado na frente um do outro, mas ali


tinha algo estranho que eu não sabia explicar o que era. Instintivamente eu
levei minhas mãos até meu pau e saí do quarto sem dizer nada. Me tranquei
no banheiro e tentei entender o que havia acabado de acontecer. Aquilo foi
muito estranho. Entrei debaixo do chuveiro e fiquei uns bons minutos lá até
que resolvi sair e encarar a situação. Enzo já não estava mais no meu quarto,
então coloquei meu short e fui em direção à sala vendo que ele tava sentado
no sofá apoiando seus cotovelos na perna e olhando pra suas mãos.

Sentei no outro sofá de frente pra ele e fiquei esperando que ele
dissesse algo. Demorou um pouco até que ele finalmente falou:

— Você já sabe não é?

Suspirei e olhando pra qualquer ponto da sala, menos pra ele, eu


respondi:
— O Lucas contou pra gente.

Outro silêncio se formou e dessa vez eu achei melhor falar. Voltei


meus olhos pra ele e percebi que ele ainda estava de cabeça baixa evitando
me olhar também. Suspirei fundo e falei baixo:

— Já tá tudo certo então? Você vai mesmo?

Ele também soltou um suspiro e então me olhou triste afirmando com


a cabeça. É foda isso! Eu conseguia entendê-lo perfeitamente. Por mais que
ele estivesse feliz com a aprovação, havia toda uma mudança de vida. Ele
teria que se mudar, ficar longe dos nossos pais, dos nossos amigos, da Ju,
dos amigos dele... Fora que ele iria pra um lugar totalmente novo e eu
consegui então imaginar como deveria estar a cabeça dele também. Levantei
e fui até ele puxando-o pra um abraço. Ele não se opôs e me abraçou forte
apertando-me. Da mesma forma eu o envolvi com meus braços e o apertei
também. Ali não havia a necessidade de palavras, o que estávamos sentindo
já falava por si só.

Ficamos assim por algum tempo, até que reparei que ele estava
chorando. Me afastei um pouco, sequei as lágrimas dos seus olhos e
forçando um sorriso eu disse:

— Ei, molequinho! Não fica assim não! Pensa que isso será bom pro
teu futuro e que tu vai ser um engenheiro, véi! Vai passar logo e quando tu
menos imaginar, tu já terá voltado pra gente.

Vi que ele acabou sorrindo também e afirmou com a cabeça. Ele


ergueu os braços me dando um último abraço e se afastou de vez. Em meio a
uma risadinha ele falou:

— Nossa, que dramático que isso ficou, né? — eu ri concordando e


cocei a nuca.

— Ah, inferno! Não acredito que tu vai meter o pé daqui — eu disse.

— Nem eu, mano! São Paulo... Quem diria! Mas se liga, bora lá pra
casa. Tá todo mundo lá me esperando. — ele respondeu. Balancei a cabeça
concordando e voltei pro quarto pra trocar de roupa e ir curtir a festinha que
tinham organizado pra comemorar a aprovação dele.

Os dias após aquela reuniãozinha da aprovação/despedida passaram


rapidamente e quando me dei conta, já era o dia da ida do meu brother. Eita
que o coração tava DAQUELE jeito! Estávamos no aeroporto aguardando a
hora do embarque dele. Acho que a galera toda estava lá, incluindo Juliana e
umas amiguinhas estranhas dela.

Quando o voo foi anunciado, Enzo se levantou e começou a despedir


de todo mundo. Fiquei quietinho no canto observando as pessoas se
despedindo e quando enfim ele chegou em mim eu forcei um sorriso, mas
que logo sumiu abrindo espaço para as lágrimas que inundaram meus olhos e
os deixaram marejados. Abri os braços e ele colocou a mochila no chão me
abraçando forte, o envolvi num abraço e falei baixinho: — Véi, promete que
vai se cuidar? Me ligar sempre que precisar, não esquecer de se alimentar e
ter juízo quando for sair com alguém? — ele não respondeu, apenas
balançou a cabeça afirmando e suspirou.

— Eu vou sentir sua falta, manézão! — ele por fim disse baixinho.
Respirei fundo e tive que reprimir um soluço do choro forte que sufocou
minha garganta.

Ah mano, ele tinha que judiar, né? Ouvir ele dizer isso foi demais. As
palavras ficaram repetindo na minha cabeça igual um eco e, por fim, as
lágrimas que eu estava segurando, finalmente rolaram, mas rolaram bonito
mesmo! Igual minha dignidade rolando pelo nariz disfarçada de meleca.
Apertei ele mais forte e falei: — Eu vou sentir tua falta também, mano! Tu
não tem ideia do quanto!

Abri meus olhos e porra, é aquilo né? Algo tinha que acontecer.
Acabei olhando pra galera e meu rosto queimou na hora! Todo mundo tava
olhando pra nós dois, mas o que mais me chamou atenção foi a mini gangue
da Juliana. Todas estavam tirando foto minha e do Enzo e fazendo
comentários baixinhos entre risadinhas. Eita que meu cu trancou!

Mas quer saber? Foda-se! Dei alguns tapinhas nas costas dele e vi
que ele foi me soltando a muito custo. Ele sorriu pra mim enxugando as
lágrimas.

— Tu bem que podia ir comigo né, cuzão? — ele disse e eu acabei


rindo.

— Tu vai me sustentar? Se for, eu já tô pronto pra ir! — ficamos


rindo e ele foi até o Pedro novamente pra lhe dar um último abraço rápido.
Ver ele abraçando o pai me deu a certeza de que agora eu não sabia quando o
veria novamente.

Ele me olhou e sorriu enquanto se abaixava pra pegar a mochila,


demos um toque de mãos que sempre fazíamos e então ele foi se afastando
caminhando para o portão de embarque e dando tchau pra gente. Cada passo
que ele dava era um degrau de saudade que já começava a se formar em
mim. Ele parou na entrada do portão e me deu uma última olhada,
lentamente um sorriso enorme foi se abrindo e involuntariamente, também
acabei sorrindo, ele acenou e entrou pelo portão. E então, por ali, partia o
meu companheirinho.

— ATUALMENTE —
Eu durmo feito uma pedra, na verdade dormir é um dos meus
esportes favoritos, ronco e tudo, isso quem diz é minha mãe, não tô acordado
pra ouvir mesmo, mas falando em dormir... Acordei com um lado da minha
cama sendo afundado, sinal de que alguém tinha sentado ali, mas quem?
Minha mãe não entra no meu quarto sem ser convidada e a Ju (minha irmã) é
que não entra mesmo, é zona proibida pra ela, então algo não estava certo...

"Hm, essa mão gelada nas minhas costas...”.

— Porra! — pulei da cama e dei de cara com o guarda roupas,


escutei só o riso alto do Enzo, esse filho da puta!

— Caralho, mané! Seu cuzão! — me endireitei rindo e fui pra cima


dele iniciar aquela brincadeira de héteros: agarramentos, apertões e
encoxadas; normal... Porra nenhuma! Eu tava pra lá de excitado, com a taca
mais dura que barra de ferro, me embolando com o cara, haha.
— Tá armado, mano? Isso tudo é a felicidade em me ver? — ele
disse olhando pra minha cueca. Quando percebi esse detalhe me afastei e
senti meu rosto pegar fogo. Eu tava de cueca boxer branca, barraca
totalmente armada, acho até que vazei durante a noite porque tinha uma
mancha molhada bem no local da cabeça da pica e o cheiro de pau era
inconfundível. Mas não podia perder a oportunidade de zoar com ele.

Olhei pra ele que mantinha um sorriso safado nos lábios rosados e
falei — Cê também tem pau mermão, moleque acorda animado.

Pra deixar ele mais desconcertado dei uma patolada marcando o


pauzão na cueca e percebi ele prender a respiração, não tinha como desviar o
olhar da mala aqui. O clima descontraído até tinha pesado um pouco.

— Vou botar uma roupa, pere aí!

— Te dou três meses pra colocar essa bermuda, Iago! — ele brincou
em tom de repreensão e nós rimos. Era isso, meu parceirinho de volta.

Ainda no quarto colocamos o papo em dia, escovei os dentes, com


ele sentado na tampa da privada, e continuamos na mesa da cozinha, não
tinha falta de assunto com esse moleque.

— Diz aí, o que tu andou fazendo lá em Sampa, além de estudar? —


passei manteiga no pão e mordi.

— Além de estudar? Trepei muito. — deu de ombros e bebeu café na


xícara mega grande que era intitulada dele ali em casa, tinha uns bons anos.
Eu sorri safado.

— Vou querer saber todos os detalhes. — fiz um movimento com as


sobrancelhas sugestivamente e ele sorriu de lado.

— Não sei se você vai gostar de ouvir, mas posso tentar te contar,
mas só se me prometer que será mente aberta! — apontou o dedo pra mim.

— Eu hein. Papo estranho, mas ok, vou ser... Mente aberta. —


balancei a mão com desdém e terminamos o café da manhã quase na hora do
almoço. Minha irmã tava na escola e minha mãe trabalhando.
Enzo estava vestido com uma bermuda jeans meio velha, rasgada nas
barras, já que o moleque tem estilo todo fashionzinho, uma camiseta preta de
gola v e um cordão com pingente militar que pendia no pescoço branquelo
dele, cheiroso, diga-se de passagem, e usava um allstar branco. Ele tem uma
tribal que pega sua canela esquerda, na altura da panturrilha grossa.

Como ele convidou pra ir passear no shopping e lá mesmo almoçar,


fui colocar uma roupa mais de acordo. A bermuda ficou a mesma que era
preta e eu dobrava nas barras pra ficar mais legal, coloquei uma camiseta
cinza que ficava meio soltinha, uma camisa jeans com as mangas dobradas
por cima e calcei meus chinelos pretos e peguei meus óculos escuros.
Modéstia à parte, mesmo eu sendo mais desleixado, nós tavamos gatos.

Passei aquele perfume amadeirado pra finalizar, catamos carteira e


celular e saímos rumo ao ponto de ônibus.

Shopping é legal, tem de tudo, de tudo mesmo, né?! Tem paquera,


tem gente chata, gente esnobe, tem pechincha, tem cheiro de comida, cheiro
de roupa nova, tem os namorados esperando com cara de bunda por suas
namoradas que não sabem se decidir... Enfim.

Na verdade... Shopping é o caralho de ruim, hehe. Mas ali tinha o


adendo, eu estava com meu parceirinho (mesmo ele sendo um ano mais
velho, me sinto eu um irmão mais velho que carece de proteger o mais novo)
e isso diminuía essa chatice que eu achava daquela rede de lojas
aglomeradas.

Depois de bater muita perna, de comprar roupas e acessórios, que


talvez eu nem usasse, nós fomos numa dessas lanchonetes famosas e ficamos
papeando sobre tudo, pedimos um lanche que nem de longe se parecia com o
anunciado, mas fazer o quê? Reclamar com a atendente com cara de cu que
fala o cardápio e a promoção do dia mecanicamente? Eu nem.

Esfomeado como sou comi logo três daqueles e duas batatas grandes,
incluso dois copos de refri, pena que ali não servia sobremesa. Tô sendo
hipócrita por falar mal do lanche e comer vários? Que seja, não sou o
certinho da história, haha. Enzo é trincadinho, mas não tem uma alimentação
fit, logo, comeu parecido comigo, embora ele queimasse tudo em academia e
futebol assim como eu.

Na volta ele não quis ir de ônibus então rachamos um uber, o que no


final das contas foi legal porque a viagem é bem mais tranquila e tal.

Eu tava tranquilo e na good vibe, (como sempre sou) mas uma coisa
me encafifava desde a manhã daquele dia, Enzo, (sim, sempre ele), ele tava
mais mudado, mais homem, mais decidido, o meu maninho tinha crescido,
talvez tenha apanhado lá fora porque, venhamos e convenhamos, só assim
crescemos inteiramente, ele ainda conservava aquela cara de moleque
sapeca, com sorriso maroto de covinhas e... "Eu hein, estou eu acá a pensar
num gajo, cujo vi crescer e desenvolver... PAROU!" me auto repreendo,
haha. Meu alter-ego é lusitano só pra constar.

Mas a coisa boa disso tudo era que eu poderia me atualizar acerca de
tudo sobre ele, saber o que havia mudado nele, o que ele viveu e aprendeu...
Eu tinha meu parceirinho de volta comigo!
—3—
De repente foi como se o Enzo nunca tivesse saído de perto da gente.
Nós marcamos várias coisas pra primeira semana dele, o que foi ótimo pra
colocar o papo em dia, deixando de lado aquele que ele falou que eu teria
que ser mente aberta pra entender. Ambos estávamos atrasando esse assunto,
nada demais.
Além disso tudo, eu senti minha conexão com ele mais forte que
antes e isso, de certo modo, me assustou um pouco. Eu imaginei que se
agora ele fosse embora não seria tão fácil suportar como da outra vez. Bom,
como ele havia passado tanto tempo longe, essa dependência era justificável,
né?

Mas daí começaram a rolar algumas coisas que me fizeram repensar


minha amizade com ele. Se era só amizade mesmo, sabe? Muita coisa tinha
mudado, e não foi só com ele.

O primeiro episódio foi uma vez que a gente tava batendo uma
bolinha daquelas, nós dois no time sem camisa... puta que pariu, que
abdômen era aquele? O mais engraçado foi os caras passando a mão e
chamando ele de gostoso, claro que eu fui um deles, haha.

Depois a gente foi tomar uma ducha pra esfriar e como os boxers
eram sem divisória era impossível não ver os caras pelados e os moleques
sempre tiraram aquela onda comigo por ser digamos, acima da média, hehe.
A maior algazarra foi quando o Enzo fingiu deixar o sabonete cair no chão
só pra jogar a bunda em cima de mim. Caralho, foi um tanto difícil segurar a
ereção, o bicho até deu uma encorpada e aí a zorra foi maior. O que eu posso
fazer se a bunda dele tava tão linda como nunca foi? E os caras também
ficaram excitados porque macho não pode ver outro com tesão que quer ser
solidário, haha.

Outra coisa interessante, se posso falar assim, era o fato do nosso


grupinho sempre se cumprimentar com beijos e abraços. Nós sempre fomos
muito carinhosos uns com os outros e no tempo de colégio esse
comportamento chamava atenção das gurias que achava a gente "fofo" por
não ter neura em beijar na bochecha ou elogiar outro garoto quando esse era
bonito, e desse jeito a gente passou o rodo nas meninas, mas o costume
persistiu e até se tornou natural. No entanto, beijar a bochecha do Enzo, ou
ser beijado por ele parecia ter se tornado necessidade. E se rolasse a
oportunidade de sentar no colo um do outro, lá estávamos nós.

Sem neura, eu tenho que frisar. Mas você já deve ter notado que eu
tava pra lá de neurado, enfim.
Num desses dias rolou um aniversário do irmãozinho de um dos
nossos amigos, o Rafa, que morava em um bairro vizinho ao nosso, e como
sempre acontecia os moleques se juntaram pra farrear. E foi aí que a coisa
mais insana aconteceu.

Quando tinha niver de algum parente os moleques apareciam em


massa pra representar, afinal, a gente era uma galera que havia crescido
junta. Até tratávamos as mães uns dos outros de tia. A disputa era grande pra
ver quem fazia a galera rir mais, mas eu tenho que confessar que eu era o
mais sem noção. Acho que o pessoal ria de mim, não das piadas, e quando
eu ficava pileque isso aumentava consideravelmente.

Eu até poderia estar queimado, mas flagrei os moleques me


manjando, de olho na minha mala, e também na minha bunda. Na mala
porque quando eu bebo eu fico sempre meia bomba, não tenho culpa.

O Rafa era daqueles caras que quando bebe "emboiolam", gosta de


ficar te abraçando, passando a mão no seu peito, que mal te conhecem, mas
te consideram amigos de infância, sabe? Pra quem não conhece ele, fica
cabreiro. Mas a gente já era acostumado, até dava asa pra no outro dia tirar
uma com a cara dele, haha. Ele me deu tapas na bunda e umas pegadas na
vara que me fizeram dar pulinhos de susto e tudo isso em tom de brincadeira
(sei...) típicas de amigos héteros. E por último, mas a melhor, flagrei ele
cutucando a bunda do Biel, um outro amigo nosso, nessas brincadeiras, e
notei uma certa intimidade, daquelas grandes, entre eles. Guardei pra mim,
lógico.

A festa era de criança, mas pra variar, tinha cerveja, e muita.


Apareceram também vodka com frutas, e caipirinha de cachaça, essa sob
minha responsabilidade. Então, lá pelas 9 da noite a situação era a seguinte:
as pessoas que ainda estavam na festa, estavam embriagadas, as mulheres
num canto, longe da gente, em grupinhos, e os homens num outro canto,
num corredor, ao lado da casa, e as poucas crianças que ali restavam,
brincavam no pula-pula instalado lá nos fundos, onde também estavam as
mulheres.

Nós, homens, exalávamos putaria. A gente estava em uma roda com


uns oito caras ou mais. Alguns dos nossos amigos do fut e uns outros
vizinhos do Rafa. O papo era só baixaria, falávamos de zona, putas, punheta,
comer cuzinho, famosas gostosas. Eu tava de vara dura, como todos ali,
penso eu. Aí saiu o papo sobre tamanho de pau. E o Enzo língua solta disse
que viu meu pau crescer na frente dele, já que crescemos juntos, que eu era
um jegue, e fez todos me olharem gargalhando. Muitos dali concordaram
com ele e eu lá, vermelho pra porra, mas com um sorriso idiota na cara
porque macho adora ter o tamanho do pau elogiado.

Nessas sugeriram até que o Enzo e eu já tínhamos feito alguma


sacanagem entre nós dois, tirando aquelas que realmente participamos juntos
como comer uma mina. Enzo, liso como sempre, saiu pela tangente, dizendo
que nunca que aguentaria minha rola no cu, aí a algazarra foi maior.

Aquele papo fazia meu pau dar uns pinotes na cueca de tanto tesão e
eu nem entendia o porquê, só sentia. Vi os meninos tentando esconder suas
malas com a mão, porque é claro, também estavam igual a eu... Putz, macho
quando se junta não presta, tô falando, haha.

A certa altura da algazarra eu nem me importei mais em disfarçar. Os


caras ficavam de cara, rindo, exclamando, apontando pro meu pau duro, tudo
isso sem que as mulheres lá do outro lado notassem ou escutassem alguma
coisa.

— Meu deus do céu, é um jumento mesmo, ó. — falou o rafa


admirado apontando pro meu volume, tirando gargalhadas de geral. Com
certeza ele iria colocar a culpa na bebida no outro dia, como sempre fazia.

Mas aí o sangue voltou pra cabeça de cima e o primeiro a falar


alguma coisa contra isso foi o Lucas que disse pra gente maneirar, porque
tinha mulher e criança ali perto. Levou alguns minutos, mas a gente
conseguiu. Mais cachaça entrou e a gente se controlou, lógico, sem deixar a
zoeira de lado.

O que eu tenho pra falar acerca disso é que a ressaca do outro dia foi
a pior até então e a zoeira com a cara do Rafa durou pra mais dia.
—4—
Tava tudo muito bem, mas ainda pairava aquela sombra de uma
conversa não tida, e num desses dias eu o cobrei, aí ele logo arrumou um
jeito da gente ter aquela conversa. Conversa essa que mudaria os rumos da
minha e da vida dele.
Naquele dia nós tínhamos juntado a galera num barzinho ali da
esquina no fim de tarde (isso porque não havia tido o nosso habitual futebol),
ficamos um pouco altinhos pelas brejas e de lá passamos na minha casa,
jantamos uma comidinha da mamãe que foi feita especialmente pra ele e
quando terminamos partimos pra casa dele que era de frente pra minha, que
foi quando eu cobrei aquele bate-papo.

Sobre minha família fazer coisas pra ele, não sinto ciúmes, eu
inclusive sempre o mimei. Era até engraçado isso, mas, enfim, não vem ao
caso aqui.

Voltando ao assunto. O cenário é o seguinte: Estamos em seu quarto


jogados na cama box forrada com uma colcha de algodão florida (típicas),
estamos de meias e mantemos as roupas no corpo, ainda... Por que estou
falando isto? Simples, minutos atrás Enzo sacudiu meu mundo. Como isso
foi acontecer? Caralho olha a situação do mano, de pau duro marcando a
bermuda, Enzo em cima de mim, com a cara totalmente rosada e respiração
que bate no meu rosto de forma descompassada, prestes a me selar os lábios,
se me concentrar consigo ouvir o tamborilar do coração do leque.

Mas como sempre eu faço, que tal voltar ao tempo um pouquinho pra
explicar algumas coisas? Prometo não enrolar tanto, nem eu quero esperar.

— Meu pai vai namorar uma mulher aí e temos a casa toda pra nós.
Vou te por em dia da minha vida em Sampa. — ele disse com um levantar de
sobrancelha, característico dele. — Se joga aí!

Ele tirou os sapatos e caiu de costas na cama, fiz o mesmo ao lado


dele, trouxemos umas long neck pra continuar a curtição, ele pegou o
controle da TV do quarto super espaçoso dele e botou num canal de esporte,
na verdade nem estávamos prestando atenção, eu sei disso porque conseguia
sentir a tensão que emanava dele.

Suspirei alto antes de falar: — Qual é? Tá com algum problema lá


em Sampa, por isso voltou? — fiz um cafuné na cabeleira loira e esperei.
— Tem mais a ver com o que eu fiz lá e que você perguntou no outro
dia, e eu te disse que não sabia se você ia aceitar muito bem. — ele respirou
fundo e como vi que a conversa ia ser mais tensa do que imaginava, peguei o
controle e desliguei a TV.

— Tenta aí, vamos ver no que dá. — dei de ombros.

— Beleza, tu sabe que eu não tenho neura, então vou tentar ser o
mais direto possível. — suspirou — Lá em Sampa eu conheci uma galera
descolada...

— Tu tá usando droga? — perguntei espantado e ele riu, o que de


certa forma nos aliviou um pouco.

— Não, cabeção! Não é isso, deixa eu falar, porra! Continuando...


Então, essa galera me mostrou que tem outras formas de... De sentir prazer...
Não só com mulheres... — me olhou de forma intensa esperando eu captar a
mensagem.

Tentei processar o que ele disse e fiquei um tanto de segundos assim


até realmente entender nas entrelinhas o que ele quis dizer. As coisas
demoram a fazer sentido no meu cérebro, normal, hehe.

— Prazer? Tipo o que? Tu pegou algum leque lá? — perguntei


espantando. A realidade me cai como bomba no colo e por mais absurda que
possa parecer a cena, o que mais me embrulhava o estômago era imaginar o
Enzo nos braços de um mano.

Eu nem sei descrever esse sentimento na verdade. Repulsa desse


lance de gay? Não! Definitivamente. Eu sempre soube que meninos podiam
namorar meninos, foi assim que foi ensinado lá em casa pela mãe, eles não
escolhem de quem gostar e blá blá blá. O lance não é esse, não mesmo. Era o
Enzo pegar outro cueca, caraca como isso me perturbou, demais.

Ele dando de ombros com um leve sorriso contido nos lábios: — É,


pode ser isso. — quase sussurrou e eu levantei da cama andando pelo quarto
e passando as mãos pelos cabelos, desarrumando-os.
— Ow, se acalma aí, não é fim do mundo, eu sei que tu não tem
preconceito com essas coisas, então pra quê essa reação? Além do mais a
gente vive brincando com essas paradas entre nós, até com os outros caras.
— me olhou meio indignado e eu devolvi a mesma cara, duas vezes pior eu
acredito.

— E eu não tenho! Mas com os caras é normal, pô. É brincadeira de


macho. Além do mais, como você quer que eu reaja me falando as paradas
assim? Eu só não consigo te ver com outro mano, sei lá, eu não sou fã nem
inimigo, mas eu só não consigo te ver, te ver... — não consegui completar a
frase, por isso fiz movimentos com a mão que ele achou engraçado.

— Ciúmes? — e lá estava o maldito sorriso pretencioso nos lábios


rosados dele.

— Vai se fuder! Tu pode ser viado, mas eu ainda sou homem, porra!
— explodi. Vi a cara dele se fechar em vermelho, ele levantou e me jogou na
cama caindo por cima de mim e me deixando preso. Na verdade, me deixei
ser preso porque a reação dele de certa forma foi engraçada. Até tive vontade
de rir, mas queria ouvir o que o moleque queria dizer.

— Viado? Tu acha que sou viado? Sou não porra! — gritou na minha
cara e depois baixou o tom pra falar de forma sensual, próximo ao meu
ouvido esquerdo. — Mas é pra lá de excitante sentir uma pica no rabo. —
sorriu sacana.

Prendi a respiração e encarei extático o teto, meu pau acordou lá


embaixo e porra, o cheiro/calor dele em todo meu tórax me fez tremer de
excitação.

“Excitação? Estou mesmo sentindo tesão com um cara em cima de


mim? O cara que cresceu comigo?” pensei. Aí ele deu uma rebolada bem de
leve e esse movimento me faz afirmar: “Sim! Eu estou com tesão nessa
situação, nele...”

Afirmo ainda, não é de hoje. Agora que estava acontecendo tinha


noção que não é de hoje mesmo, só que eu tentei mascarar com amor/afeto
entre irmãos, mas vendo hoje do jeito que eu estava ali, garanto, o buraco é
bem mais embaixo.

“E ciúmes? Será mesmo? Mas isso é tão estranho, eu não posso


sentir ciúmes de cueca, do cara que é meu irmão praticamente, além do
mais, eu sou macho, macho pra caralho... e tem um macho claramente
excitado em cima de mim. Eu também tô igual, admito. Porra, meu culhão!”

— Pow, Iago. Eu gosto de ti pra caralho, deixa eu te ensinar umas


paradas, na brotheragem, sem viadagem. — ele disse. E a frase ficou rolando
pelos meus pensamentos, feito uma marola suave que lambe a areia da praia,
indo e voltando, suave feitos os movimentos que ele fazia em cima de mim.

Engoli em seco e tentei achar palavras pra poder expressar o que eu


tava pensando, e o que eu estava pensando mesmo? Não posso precisar,
afinal, todo o sangue foi pra cabeça de baixo, ela que tava comandando e
minhas escolhas (e ele me deu pouco tempo pra pensar devo dizer)
definiriam o que ia rolar daquele dia em diante.

Aí eu balancei a cabeça confirmando que sim, que eu queria que ele


me ensine essas "paradas", porque, caralho, eu queria aquilo há um tempão,
né? Porém ninguém precisava saber disso... Mas ele não aceitou isso.

— Quero ouvir a tua voz, brother! — e me deu uma mordida de leve


na minha orelha, ao mesmo tempo que pressionava mais forte o traseiro em
toda minha barraca armada. Soltei um gemido involuntário e gaguejando
respondi.

— Si-sim, me ensina!

Aí ele sorriu aquele sorriso cafajeste, este que até hoje só vi


direcionado as meninas que ele quer pegar (e pega, sempre!). Lambeu todo o
cumprimento da minha orelha e se sentou, ainda rebolando, no meu colo.
Depois bateu as mãos no meu peitoral sentindo os bicos pontudos na palma
da mão e riu ainda mais aberto, e eu não conseguia tirar os olhos daquele
filha da puta gostoso do caralho (tenho que admitir) nem por um momento.
Também não queria perder nada, afinal, se você está no inferno, abrace o
capeta! E que capeta, ou será diabo louro? Carnaval tá chegando...
— Tudo bem, mano! — falou levantando e arrancando a camisa,
deixando o peitoral liso e bem torneado a mostra, os mamilos marrons claros
me chamaram atenção, além das pintinhas que ele tem salpicadas nos
ombros. Desabotoou a bermuda e a puxou pra baixo, ficando de cueca preta
de uma marca famosa aí. Prendi um suspiro que talvez saísse como gemido.
Não sabia se iria conseguir tudo de primeira, então tentei falar isso pra ele.
Bom, tentei.

— Enzo, é... eu não sei, não sei se... bom... — gaguejei o fazendo rir
divertido.

— Relaxa Aguinho, a gente vai com calma, quase parando. Prometo!


Tem mais, se tu não curtir ou quiser parar a gente finge que isso nunca rolou.
— ele disse muito seguro do que falava e lembro de ter pensado:
"Impossível, até aqui não tem como não pensar que isso nunca rolou, já é
tarde demais".

— Senta aí. — ele ordenou e me arrumei na cama, pernas esticadas,


mãos suadas nas coxas e com muito calor. Ele veio do meu lado e enfiou a
mão direto no meu couro cabeludo, isso me fez fechar os olhos e gemer com
o prazer que me causou, senti a cama ser afundada e o calor dele nas minhas
costas, pulei de susto, mas ele me conteve.

— Quê isso? Assim não Enzo, vou ficar na frente não! — falei
tentando me soltar do abraço dele que se fechou no meu torso, uma mão foi
pro meu pescoço me fazendo colocar a cabeça pra trás apoiada no ombro
dele.

Um "shi" prolongado no ouvido me fez parar.

— Primeira lição: Nada de frescura, nada de viadagem! Porque isso


que tu tá fazendo é coisa de viadinho. — engoli em seco — Não vou te
comer não... Não hoje, só quando você me pedir. — ele riu e lambeu minha
mandíbula, na base do pescoço, o que eu acharia nojento tempos atrás, mas
que no momento foi o suprassumo da excitação e se isso podia melhorar eu
queria muito ver.
— Segunda lição: Relaxa! Falei que vamos com calma e hoje a gente
só vamos fazer uma brincadeira que nem as que a gente costuma fazer, só
que sem roupa, tu vai curtir, eu te conheço. — falou beijando minha
bochecha. Depois terminou de se encaixar atrás de mim e isso parecia tão
certo que eu apenas relaxei as costas contra o corpo quente dele, suspirei
sentindo mãos grandes descer pelo meu abdômen ainda vestido, ainda...

— Levanta os braços e deixa as mãos sobre minha cabeça. — ele


mandou. Obedeci e fiquei assim esperando novas ordens, mãos sobre os
cabelos macios e cheirosos dele. Me deixa ressaltar que sentia a pica dura
dele me cutucar as costas. Depois ele desce as mãos até o cós da minha
bermuda, e eu, como muitas vezes naquele dia, prendo a respiração, ele riu
contra meu ombro e as mãos entraram na minha camisa, tocando minha
barriga, me causando espasmos involuntários. Até tive vontade de rir, mas o
prazer de sentir as mãos dele contra minha pele não deixava.

E as mãos bem cuidadas dele continuaram subindo até relar no meu


mamilo tugido e, putz, até aquela noite eu não sabia que tinha tanto tesão
nesse ponto tão ignorado do meu corpo. Gemi e fiz um arco com as costas
me jogando mais ainda contra o corpo dele, e quando falo gemer, eu não
quero dizer o gemido normal de quando você come sua comida preferida
(lasanha), falo de gemido vindo de dentro, do fundo, aquele que reverbera
por toda sua caixa torácica e te deixa com as pernas moles.

— Isso, só se solta. — sussurrou depositando um selo na minha


orelha o que me causou mais espasmos de excitação. Aí aquele selo se
transformou em beijo molhado e eles descem por meu pescoço e ficam ali,
ele lambeu meu pescoço enquanto brincava com ambos meus mamilos, coisa
de louco! De repente ele parou e me empurrou de leve pra tirar minha
camisa por completo e quando isso aconteceu eu sentei minhas costas contra
o peito duro dele, meu pau até deu uns pinotes pronto pra atirar. A verdade é
que se eu me tocasse, eu melaria toda minha cueca.

— Tá sentindo? Tá sentindo esse tesão louco, brother? Vai ficar


melhor. — disse ofegante contra minha pele, depois se esfregou todo em
mim enquanto continuava a me melar de saliva no pescoço.
— Tá gostando? — perguntou. Eu nunca conseguiria responder,
lógico, então apenas gemi. Ele riu.

Aí as mãos descem de novo pela minha barriga e passam da bermuda


indo parar no volume que se formou ali na frente, eu quase gozei, mas
consegui controlar colocando as mãos sobre a dele que estavam fechadas
sobre meu volume.

— Ainda não! Segura mais um pouco, cê fazer isso na minha mão.


— pediu. E mais uma vez eu me seguro respirando fundo. Aí a mão dele vai
pro botão da minha bermuda, que nesse momento parecia ter diminuído 5
números, e puxou o zíper pra baixo revelando o início da minha cueca azul
marinho.

Como eu falei antes, eu sou bem peludo e minha virilha não deixa de
ser assim, é claro que ele já tinha visto em diversas oportunidades, inclusive
na outra semana onde ele me deu aquelas pegadas maneiras na piroca, mas
ali a situação era diferente, não tinha ninguém vendo, não tinha tom de
zoação ou brincadeira, era tudo para o nosso prazer. E antes eu não sabia
como eu o deixava então foi uma surpresa quando senti o pau dele dar uns
pulinhos alegres contra minhas costas, mas também não me atentei muito a
esse fato porque as mãos dele continuaram a trabalhar.

— A bermuda, tira, tira ela! — falou ofegante contra meu ouvido.


Levantei o traseiro e ajudei ele a puxar minha bermuda pra baixo onde tirei o
resto com movimentos dos pés.

Ele dobrou as pernas que ficaram em um ângulo de V invertido "Os


braços aqui!" falou me fazendo pousar meus braços ali em cima dos joelhos
dele enquanto eu estava todo esparramado em cima do seu peitoral forte. Ele
tava contra a cabeceira da cama o que o deixou confortável creio eu, mas eu
também não tava ligando muito pra isso, só no tesão fudido que eu tava
sentindo.

— Agora a diversão vai começar. — ele falou rindo. Eu ia perguntar


como era isso, mas só pude travar com força minha mandíbula pra não gozar
porque ele meteu ambas as mãos dentro da minha cueca segurando meu pau.
— Ahhh, caralhoo! — consegui falar enquanto ele me masturbava
em movimentos cadenciados, porém devagar. Minha pélvis criou vida
própria e ia contra a mão dele, haha.

Eu babo pra cacete (que trocadilho) e quando ele colocou os dedos


sem parar a punheta na cabeça do meu pau eu dei aquelas contraídas de
gozo, que não veio porque ele apertou a base do meu pau com força
retardando a gozada fenomenal que eu ia dar.

— Só mais um pouco, eu tenho que provar isso aqui. — pediu. Aí


tirou os dedos melados de pré-sêmen e levou até o nariz onde cheirou
revirando os olhos, e eu gemendo de frustração por não poder gozar, com os
narizes quase colados ele botou a língua pra fora e lambeu a pontinha do
dedo médio (e meu pau pinotando na mão dele) depois colocou os dedos
inteiros dentro da boca e sugou fechando os olhos e gemendo baixinho. E eu
gemi junto porque a punheta recomeçou e sem tirar os olhos dos meus ele
voltou a mão pra baixo. Mordi os lábios em expectativa e minha respiração
acelerou assim como a dele, os dedos melados de saliva desceram até
minhas bolas e esse foi o estopim pra eu me derramar todo em sua mão e
cueca.

Gozei gemendo, das vistas ficarem escuras e ele do mesmo modo,


sarrando nas minhas costas, gozou mordendo meu ombro, deixando uma
marca pra eu lembrar dessa situação no decorrer dos próximos dias, eu senti
minhas costas molhadas enquanto eu descansava sobre ele, que continuava a
brincar com meu pau todo melado e meia bomba. O cheiro de sexo era
surreal.

— Olha a sujeira que tu fez manézão! — ele disse rindo e eu tive que
rir junto, serviu pra desencanar do que tínhamos acabado de fazer, e ia dar
um trabalho do caralho tirar toda a gala dos pentelhos, mas tudo bem.

— Que porra foi essa, mano? — perguntei ainda entorpecido pelo


prazer. Ele tirou os dedos sujos de dentro da minha cueca (que estava com
uma tonalidade mais escura onde o meu gozo bateu) e levou até a boca
lambendo toda a mão e me deixando embasbacado.
— Foi exatamente isso, porra pra caralho. Tu precisa provar teu
gosto. — falou sugestivo.

— Talvez eu faça isso. — sussurrei.

— É? Só vem. — me mordeu no queixo e deixou a boca perto da


minha, respirando o mesmo ar eu, só precisei me inclinar poucos centímetros
pra tocar os lábios rosados dele de leve, depois coloquei devagar minha
língua ali e quando ele abriu a boca eu iniciei um beijo esfomeado, sugando
toda a saliva que tinha gosto de cerveja e porra, minha porra.

E então, tudo aquilo que eu sentia pelo o Enzo pareceu se triplicar,


mas eu não tava apaixonado no cara não, já era demais lidar como fato de
que eu gozei na mão do meu brother e agora estava ali no maior sarro, aos
beijos de língua e muita saliva com outro cara. Se minha cabeça estava
bagunçada? Mais que a cama dele. Pode crer. Mas eu decidi me jogar de
cabeça, como tudo que eu faço na vida, e se me fazia bem (porra, naqueles
vários minutos fizeram muito) valia a pena tentar. Ele só teria que ter muita
paciência.
—5—
Fui pra casa ainda atordoado e de pau meia bomba.

Uma cueca branca do Enzo me vestia, cueca que ele fez questão
escolher e me dar em mãos. Ele tirou a dele toda gozada deixando jogada no
chão enquanto desfilava aquela bunda durinha e redondinha pelo quarto me
fazendo salivar... Mas não, não naquele momento, talvez nunca, hehe,
pensei. Minha cabeça já estava bagunçada o bastante por uma noite.

Foi o álcool, né? Sim, vou por a culpa nas brejas como sempre.

Entrei em casa que já estava escura, as minas já dormiam, então fui


direto pro meu quarto, tirei toda a roupa e me joguei na cama, mente a mil.

"Caralho, o que eu fiz? Eu me peguei com um cueca! Um cara que


cresceu comigo, um mano que vi os pentelhos crescerem, e hoje estão lindos
aparados, inclusive, são loiros e combina pra cacete com o pau branquinho
dele.”

— Oi? Tô achando pau de homem bonito? Pentelho? Enzo me


estragou mesmo! Filho da puta!

Chacoalhei a cabeça e me levantei pra banhar, afinal, estava


pregando de porra até as costas (literalmente) a cueca deixei em cima da
cama e fui pelado pelo corredor, não tinha neura da minha mãe e irmã me
verem assim, o que é bonito tem que ser mostrado mesmo.

Acredita que meu pau ainda tava meia bomba? Será que o Enzo
botou alguma parada na minha bebida pra me deixar tão excitado assim?
Porque, puta que pariu! Só de arregaçar o bicho pra lavar a cabeça ele
acordou pronto pra outra. Me ensaboei até fazer bastante espuma branca,
uma mão contornou minhas bolas e pau enquanto a outra subia por minha
barriga relando em meu mamilo duro, prendi um gemido que queria sair e
fraquejei das pernas, a mão lá em baixo começou a trabalhar e senti que não
ia me durar muito nesse ritmo.

Tirei a mão do mamilo e a levei pra parte traseira e lavei minhas


costas, onde a porra do Enzo me melou, inconscientemente minha mão desce
pelo meu rabo e eu senti como minha era bunda grande, "Seria legal me
comer...", penso errado, mas na hora parecia bem certo, haha. Meus dedos
encontraram meu cuzinho pregueado de onde só sai e, na moral? Já tentei me
dedar e ver se o que os manos que dão o cu sentem é legal, mas o dedo mal
entrou e eu fiquei de cu ardido o resto do dia.
Mas é a situação era diferente, eu tava me descobrindo, descobrindo
meu corpo, outras formas de obter prazer e na boa, tava sendo legal. E
sozinho é bem mais de boa do que com o Enzo. Só que com o Enzo eu
ficava pronto pra gozar em dois segundos.

Mas como eu sei disso, se a gente só ficou uma vez?

“Caralho, tenho certeza que se ele vier do jeito certo, com um papo
mole de que não vai doer e só vai colocar a cabecinha eu libero e ele me
enraba gostoso...”.

Me assustei com meus pensamentos e percebi que tava sentindo tesão


no cu, inclusive meu dedo médio tava quase todo enfiado dentro de mim, e
eu o tirei logo em seguida causando dor em mim mesmo, hahaha eu babaca!

— Vamo ficar só aqui na frente mesmo.

Me concentrei na cabeça da pica e com três socadas fortes gozei todo


o box do banheiro. Porra, eu não sabia que era possível gozar tanto em tão
pouco tempo. E eu nem comi ninguém! Cê louco!

Resumindo a porra toda, fritei na cama até de madrugada quando o


cansaço venceu e eu finalmente dormi.

Acordei lá pras 10 horas, com barulho na cozinha, uma mão dentro


da cueca segurando o pau (dormi com a cueca do Enzo), um braço cobrindo
os olhos e uma enorme vontade de mijar. Coloquei uma bermuda de
moletom e fui pro banheiro onde esvaziei a bexiga e dei descarga. Coçando a
bunda fui pra cozinha e quando cheguei lá me deparei com minha mãe, irmã,
seu Pedro e Enzo super entrosados. Poderia começar o dia melhor? Fodendo
minha cabeça logo de manhã? Não!

— Opa, reunião em família! — chamei a atenção dos presentes


enquanto me aproximava. Puxei uma cadeira pra sentar, a única disponível,
que ficava do lado do seu Pedro e de frente pro Enzo que estava do outro
lado, perto da minha irmã baixinha e irritante.

— E aí Iago, pensei que ia te encontrar em casa de manhã. Não


dormiu lá não? — perguntou o seu Pedro enquanto eu botava café em uma
xícara pra mim.

— Dormi nada. Fui lá e fiquei trocando umas ideias com o bundão


aí.

— Bundão tem você! — ele retrucou e eu serrei os olhos fazendo


careta pra ele que devolveu um riso divertido.

— Aí depois voltei pra casa porque precisava estudar pras provas que
terão antes de entrarmos de férias. — até me assusto com minha própria
capacidade de mentir, mas eu já acostumei, hehe.

— Entendi. E vão sair hoje pra pegar as cocotinhas? — perguntou


com um sorriso sugestivo nos lábios e eu ri achando graça.

— Por favor, Pedro, cocotinha? Nem no meu tempo se falava isso.


— minha mãe riu da cara dele, aí todos nós rimos enquanto tirávamos onda.

O legal dessa família é isso, a gente se divertia, nos apoiávamos,


passávamos perrengue juntos, mas acima de tudo nos amávamos... E eu amo
a família que tenho do jeito que ela é.

— Se o Iago puder nós vamos sair sim, tem uma balada GLS que tô
querendo ir lá na cidade alta. — Enzo disse.

Silêncio.

Ele falou isso mesmo? Caralho que porra louca sem noção!

— GLS é tão anos 80. — Juliana troçou.

— GLS? É aquela que vai um monte de viadinho atrás de rola? —


Pedro perguntou despreocupado e eu parei de mastigar de boca aberta
enquanto minha irmã ria desesperada do outro lado.

— Que linguajar de pedreiro, Pedro. Coisa feia! — ralhou minha


mãe.
— E num é verdade? Eu já comi muito viadinho na vida. — ele disse
sonhador e eu cuspi o café na cara da minha irmã que se levantou
derrubando a cadeira pra trás. Enzo riu feito hiena e eu não consegui
controlar o riso que queria sair a qualquer custo. Minha irmã jogou pão com
margarina minha cara.

— Pouca vergonha! Tem uma menina aqui sabia? — minha mãe


continuou suas broncas ao que ele só deu de ombros.

— Eu gosto de gays, eu sou fujoshi. — minha irmã disse limpando o


rosto no guardanapo.

— Tu é o que? Isso é um tipo gangue? Tá usando droga? Ah, não


quero saber, arrumem essa bagunça pra ontem! — minha mãe levantou
emburrada e saiu da cozinha enquanto rimos ainda mais. Depois a tarefa de
limpar a cozinha ficou comigo e Enzo já que a Ju correu pro quarto sem
olhar pra trás e o Pedro disse um se virem dando tapinha nas nossas costas.

Enfim, me levantei da mesa sem olhar o Enzo nos olhos e fui pra pia
que tinha poucos pratos graças ao bom Deus. Comecei ensaboando e
deixando de lado pra não desperdiçar água como minha mãe me ensinou,
sabia que o Enzo tava me olhando as costas. Não sei se falei, mas tenho uma
tattoo de lobo maori na escapula direita, minha mãe surtou quando viu, mas
como sempre faz nesses assuntos, deixou de mão, só deixou claro que não
queria que eu virasse um rabiscado por completo, pois isso afetaria meu
futuro profissional. Mães...

Mas porra, por que eu tô aqui falando e falando sem parar? Talvez
pra desviar minha atenção desse cara que tá me fazendo repensar quem eu
sou. “Que profundo, eu não sou assim, sou moleque zoeiro, caralho”.

— Tu fica, puta que pariu, perfeito na minha cueca. — ele disse


chegando por trás e eu parei o que estava fazendo instantaneamente. Prendi a
respiração quando senti uma de suas mãos contornando a barra da cueca
branca que estava aparecendo, desde a parte de trás para frente onde baixou
um pouco a mão relando meus pelos ali a mostra. O calor do corpo dele nas
minhas costas já me deixou duro, prontinho pra gozar até os cabelos.
— Puta que pariu, Enzo, tu tá me estragando, caralho. — falei
baixinho e rouco enquanto a mão dele entrava pela minha cueca e escovava
os meus pentelhos na base da pica. Aí ele se encostou em mim me fazendo
senti-lo por completo, porra, tenho que admitir aqui que é massa sentir um
pau duro na tua bunda (isso estando vestido, porque eu não quero imaginar a
parada pelado) com ele rebolando marotamente beijando meu pescoço.

— Estragando nada, tô é te apresentando todas as possibilidades. Vou


te transformar no maior putão dessa cidade e tu vai me agradecer por isso.
— falou mordendo o lóbulo da minha orelha pra logo depois se afastar se
pondo do meu lado pra secar e guardar a louça... Louça? Era isso que
estávamos fazendo? E por que ele parou agora justo quando eu tava tão
entregue?

“Argh! Melhor assim, muito melhor assim, não dá trela pra esse
cuzão!”. — e que cuzão — olhei pra bunda dele numa bermuda muito curta
pro meu gosto e percebi que o moleque é bem servido. Se Enzo quer brincar
de médico/casinha, tudo bem, nós brincamos, mas eu vou ser o
médico/papai.
—6—
A balada GLS, como ele chamou, era como qualquer outra, tinha os
manos, minas e monas, a diferença era olhar toda aquela diversidade e não
encontrar o olhar atravessado que se via nos outros lugares, que
convenhamos, ainda assim estão cada vez mais receptivos. Eu gosto de ir em
baladas e dançar pra mim, de olhos fechados e me deixar levar na batida da
música seja ela qual for, mas especialmente naquela noite eu não estava
conseguindo me soltar como queria, então sendo assim, vamos apelar pras
bebidas.

Deixei o Enzo na pista já envolto por meninas e fui pro bar pedir algo
pra descer queimando, pedi desse jeito mesmo e nem sei o que pensou o
barman de sorriso metalizado. Só sei que bebi numa única tacada, fazendo
uma careta que fez o carinha dar risada e eu rir por tabela.

— Noite difícil? — ele perguntou limpando o balcão com um pano


que antes pendia no seu ombro esquerdo.

— Você nem imagina. Me dá duas long’s agora. — pedi, e


rapidamente ele me atendeu me dando uma piscada quando propositalmente
deixou nossas mãos se encostarem, eu ri já sacando qual era a dele e fui pra
pista procurar o cara que me levou pro caminho errado (que parece tão certo
hoje em dia).

Encontrei ele dando um sarro numa garota de curvas estonteantes,


que eu nunca soube se era uma garota raiz (com vagina) ou uma garota do
século 21 (com peitos, bunda e piroca). Encostei a garrafa gelada no pescoço
dele e ele se virou alarmado, depois rimos. Ele tomou a cerveja da minha
mão e me apresentou a menina que agora não lembro o nome, peguei a
cintura dela e a puxei pra mim dando um beijo no canto da sua boca cheia de
gloss, depois ficamos os três dançando até umas amigas a puxarem dali pra
não sei onde.

— Dança comigo agora. — Enzo disse me puxando pro corpo dele e


eu naquele torpor de corpos e bebida na cabeça não pude recusar. Não fiquei
de neura porque vi coisas piores ali, na pista de dança, do que estávamos
fazendo, além do mais a bebida me deixou desinibido.

Ele colocou uma perna entre as minhas e nossas rolas, já duras, se


esfregavam uma na coxa do outro, eu estava com uma mão na nuca dele com
a outra pendurada segurando a cerveja enquanto ele estava com uma no meu
ombro e a outra com o antebraço apoiado no meu oblíquo. Que sensação
gostosa da porra, a respiração dele diretamente contra a minha e a batida da
música nos levando por caminhos sem volta, nossas testas coladas uma na
outra e os olhares conectados.

Vi ele mordendo os lábios enquanto me olhava e eu sem um pingo de


vergonha sorri cafajeste. Ouvi alguém dizer do lado "Nossa, eles são
tesudos!". Então o Enzo riu e me deu um selinho molhado, depois me largou
e se afastou só pra virar de costas e relar a bunda que estava justa numa calça
clara na minha pica tesa, gemi e enlacei a cintura daquele puto.

A sensação da bunda dele no meu pau era nova e eu tenho que falar,
era ótima, meu pau tava muito feliz. Muito. Então a música mudou e nós nos
separamos, ele riu e arrumou a mala que tava marcada e isso me deu uma
água na boca que eu não sei explicar e nem quero entender o porquê.

— Bora pegar mais bebida. — me pegou pela mão e saiu abrindo


caminho entre os corpos suados e cheios de desejo. Fui cheirando aquele
pescoço branquinho enquanto ele apenas ria e, caralho, isso parecia tão
certo, nós dois ali no meio de todo aquele pessoal apenas se divertindo e
dando vazão aos desejos sem ligar para o que o outro vai falar...

Se eu tava pilhado quando cheguei ali, naquele momento eu tava bem


relaxado, menos uma parte do meu corpo, hehe.

Pedimos mais uma bebida e quem novamente nos atendeu foi o


barman gatinho, ficamos por ali conversando sobre tudo e nada ao mesmo
tempo. Mas chega aquele momento, em que quando se ingere muita bebida,
que você tem que aliviar, aí você faz o quê? Procura um banheiro, um
matinho ou uma parede mais escura (os bebuns sabem do que tô falando), e
como a vibe tava muito gostosa eu não queria sair pra mijar na rua. Ia
enfrentar uma fila sim, afinal, brasileiro ama uma fila, não pode ver uma que
já quer saber pra quê é.

Pois pronto, lá fui eu com Enzo no encalço, normal né? Sempre


íamos no banheiro juntos em baladas... normal um caralho, antes a gente não
tinha se pegado, agora a atmosfera transmitia e pulsava tensão sexual.

Entramos e, caralho, aquilo era o antro da perdição (como diria tia


Gê) tinha mano se chupando, se sarrando, se comendo, hahaha, putz... Não
sei se estava muito preparado pra ver aquilo, mas que se foda, ver não quer
dizer que eu vá fazer igual. Porra, tinha um viado chupando dois caras
enquanto eles se beijavam!

Se meu pau tava bomba, agora ele tava no ponto, do meu lado Enzo
riu e deu dois tapinhas no meu ombro.

— Esvaziou uma cabine, bora lá antes que alguém entre.

Entrar em uma cabine com o Enzo seria o mesmo que pedir pra rolar
uma sacanagem e mais ainda naquele lugar, mas eu não raciocinei, estava
com a cabeça cheia de cana e cheia de cenas pornográficas que acabara de
ver. Ele me conduziu até a cabine do meio e passou o trinco da mesma, tirou
a rola dura pra fora e deu um mijão com dificuldade se dobrando e
empurrando o pau pra baixo, prendi a respiração, que caralho, porra, cena
fodida gostosa de ver! Puta que o pariu!

— Vai ficar só olhando? Mija aí, porra! Alívio do caralho! — ele


soltou um "ahh" e fechou os olhos. Eu só encarava a pica dele dura apontada
com dificuldade pro vaso sanitário, grossa, grande na medida certa, pelos
loiros aparados em volta, bolas num saco rosadinho e a cabeça tão vermelha
quanto um morango, "Será que tão gostosa quanto?" lá vai eu pensando
errado de novo, eu só nunca tinha visto ele duro em toda sua magnitude, tava
impressionado, é isso, "Para de olhar e mija logo nesse caralho"

Fazendo um malabarismo eu tirei a rola pra fora, dura, babada e


dando pinotes a esmo, maior e mais grossa que a do Enzo, mais escura
também, mais pelos em volta e um saco pesado pra ornar com a coisa toda.
Sim, sou "ajegado", mas não desproporcional, já que sou mais alto e parrudo
que Enzo, fica normal no final.

Mas por que tô me descrevendo aqui feito retardado? Simples, pra


desviar minha atenção do cara que, do meu lado, já parou de mijar e agora
manipula despudoradamente a pica pra lá e pra cá numa punheta (creio eu)
lenta e torturante. Terminei de mijar e sacudi pra tirar o excesso de mijo
(mas a última gota é sempre da cueca, não tem como) umas gotinhas do mijo
bateram em nossas roupas e inclusive na boca do Enzo, que riu safado e
passou a língua vermelhinha pra catar a gota de mijo que bateu no lábio dele,
eu ri safado.

Abrindo um parêntese aqui, não sei se vocês sabem, mas o mijo


alcoólico não tem gosto de urina, algumas pessoas inclusive tomam apenas
breja para mijar no parceiro. É fetiche. Isso porque o líquido que sai da pica,
nessa situação, é inodoro e de sabor adocicado. Não é zoação, é fato, pode
até pesquisar aí!

Voltando.

— Puta pirocão mijador, hein! — ele sorriu de lado e olhou


descaradamente pra minha jeba que pulsava na minha mão. Levantei minha
camisa e mordi na barra pra deixar meu peitoral livre pro que ele quisesse
fazer. Era um convite mudo, mas que ele entendeu rapidinho.

Ele por sua vez pegou a barra da camisa dele com gola e tudo e
passou pra trás da cabeça como se fosse tirar, porém deixando presa nos
braços torneados dele e com o abdômen liso e trincado todo a vista. Eu arfei.
Ele se aproximou e segurando a base do pau dele, bateu na cabeça do meu,
estremeci.

— A terceira lição, Iago, tu aprende hoje: Frottage! Outros chamam


de briga de espada ou sarro e a gente fez ontem só que mais de leve. Hoje
quero te testar. — riu de lado e encostando todo o corpo no meu e me beijou
de língua, puta que pariu! Bambeei as pernas dessa vez.

Com uma mão ele envolveu nossos paus e começou a movimentar


pra cima e pra baixo, eu sentia a quentura do corpo dele junto ao meu e acho
que a pica dele tava em uma temperatura à cima de 40 graus, haha.

— Ahh, caralho, Enzo! Como isso é bom. — era a primeira vez que
eu falava alto e abertamente que aquilo estava e matando de tesão. Porra, eu
tava babando horrores. Joguei a cabeça pra cima e ele começou a lamber
meu pescoço, pomo de adão, mandíbula e orelha, tudo que estava ao alcance,
isso sem parar o gingado que adquiriu segundos atrás, como se estivesse
fodendo alguém e estava, na verdade, estava fodendo meu pau, e minha
cabeça.
Meti minhas duas mãos na bunda durinha dele e trouxe mais pra
perto de mim, ele até parou de nos punhetar pra gemer na minha boca. Mordi
o lábio inferior dele e desci os beijos até o pescoço cheiroso, onde eu, numa
excitação sem precedentes lhe meti um chupão daqueles de deixar roxo na
hora. Ele parou o que fazia lá em baixo na hora e tirou minha cabeça do
pescoço dele com ambas as mãos, me encostando todo na parede do
banheiro, me olhou nos olhos.

— Filho da puta! — e mastigou minha boca enquanto fodia adoidado


nossos cacetes. Foi nesse ritmo alucinado que ambos gozamos todo nosso
peitoral, lógico que eu fiquei todo nojento de goza nos pelos do peito, mas
aquele alívio que dá depois que goza nem me deixou raciocinar sobre nada.
Enzo estava gemendo feito animal ferido apoiado com o lado do rosto no
meu trapézio enquanto minhas mãos faziam carinho por sua cintura indo até
a bunda de pele macia, ele ainda manipulava nossos paus todo melecados
um no outro e quando ele me olhou nos olhos, mais uma vez naquela noite,
eu senti que podíamos avançar mais nessa brotheragem que estava
consumindo meus neurônios enquanto o lado sexual tomava conta.
—7—
Sim, eu senti que podia avançar, eu só não falei quando, hehe.
Passaram-se duas semanas desde a última vez que Enzo e eu nos pegamos,
digo pegar, pegar mesmo, porque sarrada, passada de mãos e beijos
roubados ainda aconteciam de forma esporádica, bem esporádicas mesmo.
Ele tentava me animar pra fazer algo a mais, só que a coragem
passou junto a bebida e ressaca daquele dia. Tá certo que eu sentia que podia
confiar nele e dar mais esse passo, mas porra, eu era hétero, hétero pra
caralho, top... Comia meninas, tirava cabaços vez ou outra, pegava a mulher
safada do vizinho, as prima todas passaram no meu crivo e agora estava eu
aqui pensando em marmanjo barbado, que mais, era praticamente meu
irmão. Era de foder qualquer mente, né não?

— Vai ficar de cu doce agora? — ele perguntou quando um dia eu


recusei o beijo, na certa ficou irritadinho.

— Se liga, mané! Olha pra mim! Tu não acha que foi tudo muito
rápido, não? Numa hora tava me contando que curtia garotos e na outra tava
me agarrando. — respondi contrariado. Ele deu aquele riso de incredulidade
e virou de costas pra mim, meus olhos foram pra bunda dele, lógico.

— Agarrei mesmo, mas você deixou e curtiu pra caralho!

O sorriso cínico dele me deixava irritado e com tesão ao mesmo


tempo, eu não queria sentir isso, amor e ódio (não propriamente ditos).

— E o que tu quer de mim? Quer namorar comigo? Sair de mãos


dadas por aí pelo vale dos homossexuais? — perguntei irritado.

Nos encaramos como se fossemos nos bater, mas por fim acabamos
rindo até lágrimas sair dos olhos. No final disso tudo ele me abraçou,
daquele jeito que sempre fazíamos, éramos irmãos no fim de tudo.

— Pow Iago, gosto de tu pra caralho, tu é meu irmão mais velho, a


gente tem essa conexão louca e eu senti que podia rolar isso entre a gente
justamente por termos essa cumplicidade, essa irmandade que já é natural
desde o berço. A gente viu um o piru do outro crescer, porra. — rimos e ele
continuou. — Mas eu vi como você tá ficando introspectivo e se isso tiver te
fazendo mal a gente para agora mesmo e tudo volta a ser como antes. Só
queria mesmo curtir com um cara que eu tivesse confiança. E fica tranquilo
que não quero você como meu namorado não, nem me passou pela cabeça.

Ele riu e deu de ombros.


— Enzo, mesmo que eu pare agora eu não vou esquecer! Tem como?
— ele balançou a cabeça negativamente abaixando-a depois. — Foi bom,
pra caralho de bom, mas como eu te disse, deveríamos ter ido com mais
calma, tu foi me dando as lições e tudo mais, mas foi de uma hora pra outra,
minha cabeça tá bagunçada.

Ele concordou e se levantou.

— Tem razão, fui meio que no instinto. Vou te dar um espaço sem te
incomodar com isso. Relaxa, manézão! Mas — se aproximou e abaixou
perto de mim me fazendo inclinar para trás no sofá —, procura pensar na
nossa safadeza desses dias aí. — Meteu a mão cheia no meu pau bomba e
apartou me arrancando um suspiro. Ele riu de lado e de surpresa me deu um
beijo daqueles de sugar os miolos, mordeu meu queixo pra finalizar com o
papai aqui e saiu pela porta naquele gingado na cintura que só ele tem.

— Onde eu fui me meter? — me perguntei jogando a cabeça pra trás.


Coração acelerado e martelando no peito. O que eu deveria fazer agora?

Talvez pegar uma bucetinha... e foi isso que fiz aquela noite, comi
uma mina que vez ou outra me dava sem compromisso e posso falar? Não
broxei nem nada do tipo não, eu ficava de pau duro pro Enzo, mas eu ficava
de pau duro pras minas também.

Não comi o Enzo — ainda — mas depois de ficar com a guria


percebi que são prazeres diferentes, e o que o Enzo me propôs não foi muito
diferente do que eu tinha com essa menina, sexo esporádico, sem
compromisso. Matamos a sede um no corpo do outro e tudo fica bem, para
ambos, não é como se eu fosse namorar o Enzo, até porque isso estava fora
dos meus planos, com ambos os sexos...

Então se passou mais uma semana, Enzo e eu estávamos normais.


Saíamos com os guris e juntos pegávamos meninas, tudo sem neura, mas eu
ainda pensava nas nossas putarias e com uma vontade enorme de repeti-las e
porque não ir mais além, os dias de folga que ele me deu serviram pra eu
entender que do mesmo jeito que eu curtia com mina, poderia curtir com
mano, então a oportunidade surgiu.
— Hey cabeção, bora descer a serra? Pegar uma praia. Ver umas
mina de biquíni, uns mano de sunga?! — Enzo me convidou em uma manhã
bastante quente, entrou no meu quarto e eu dormia — tentava — apenas de
cueca atolada no rego, sem nenhum lençol em cima do meu corpinho tesudo,
haha.

— Porra, mania chata me acordar de madrugada, seu cuzão do


caralho! — meti o travesseiro na cara e mentalmente pedi pra ele sumir da
minha frente. Sou um doce de jiló quando acordo.

— Porra nenhuma! Madrugada é teu cu! Levanta desse caralho, filho


da puta! — ele se jogou em cima de mim e ficou me encoxando como se
estivesse me fodendo de bruços, tentei me soltar mas ele já tinha prendido
meus braços e nessa posição eu ficava vulnerável, né!?

— Bunda grande da porra! — jogou a pélvis com mais força sobre


minha bunda e mordeu minha orelha. Ele tava de pau duro e eu ainda mais.
Gemi.

Com força consegui me soltar e virar, fazendo ele ficar em baixo de


mim, com as pernas abertas e eu no meio delas, em cima dele sentindo a taca
dura bater na dele. Abaixei o rosto e lambi o lado da bochecha daquele puto,
ele gemeu e jogou a pélvis pra cima.

— Faz isso não que eu fico prontin pra gozar, caralho. — ele disse
dando um gemido baixo.

— Então bora descer a serra e lá vou te descer a pica. — sussurrei no


ouvido dele e ele prendeu a respiração. Olhei nos olhos dele pra passar a
verdade nas minhas palavras e ele riu safado me atacando num beijo
esfomeado, soltei as mãos dele que foram direto pra minha bunda apertando
com força e me cutucando o rego com os dedos, curti aquilo, não minto.

— Tu trancou minha porta? — perguntei alarmado. Ele riu e


balançou a cabeça, sorri e beijei ele mais uma vez saindo de cima logo
depois. Peguei uma mochila e joguei algumas sungas dentro, assim como
bermudas e camisetas, os meus produtos de higiene e um par de sandálias já
que íamos de tênis. Ele apertava o pau duro sob a roupa e ia conversando
comigo. Falou que tinha pedido a tia dele pra ficar lá na casa de praia, dela,
que é pequena, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro e fica afastada de
tudo. A praia chega a ser deserta e isso é foda de bom.

— Já falou com minha mãe? — perguntei colocando uma bermuda


jeans e uma camiseta branca de gola arredondada, minhas pulseiras de couro
no braço e tênis adidas brancos nos pés.

— Sim, e com meu pai também, ele vai liberar o carango.

Mesmo sendo adultos nós sempre avisávamos quando íamos sair e


isso inquiria na confiança que ambos tinham em nós. Eles nem reclamavam
quando chegávamos de manhã em casa das noitadas.

Botei meu óculos escuros e saí do quarto acompanhado dele, joguei


minha mochila no sofá e fomos pra cozinha onde seu Pedro contava uma
história engraçada pra minha irmã e minha mãe fritava ovos no fogão.

— Bom dia, família. — me sentei à mesa e já catei um copo com


suco de laranja daqueles de caixa que o seu Pedro trouxe pro café da manhã,
comi algumas torradas em quanto o pai do Enzo nos passava instruções de
como nos comportar lá na casa da irmã dele que era uma chatona, disse que
tínhamos que deixar tudo como encontramos e blá blá blá, minha mãe só
assinando em baixo.

Enfim, às 11 horas da manhã seguimos pra rodovia onde pegamos


um retorno e descemos a serra, paramos uma vez num posto qualquer pra dar
um mijão e ficamos lado a lado no mictório fazendo uma putaria de leves um
com o outro. Chegando à praia às 13h50min da tarde, com o sol pegando e o
calor fodendo.

— Fazia tempo que eu tinha vindo aqui. As estradas tão melhores ou


é aquela buraqueira ainda? — perguntei limpando o suor da testa com a
camisa que eu já tinha tirado assim como o Enzo. Tínhamos passado no
supermercado local pra nos abastecer de comida e água pra uma semana,
embora fossemos passar apenas três dias.

— Tá tudo certinho. Melhoraram as estradas. O carro não vai morrer


que nem daquela vez, te juro, hahaha. — ele falou lembrando de uma vez em
que tivemos, todos, que sair do carro pra empurrar, porque com o tanto de
buraco que tinha o carro já velho tinha morrido.

Encontramos a casa cheia de poeira, mas bem conservada no mais.


Resolvemos dar uma arrumada dentro do possível e cada um ficou com um
cômodo. Enzo limpou o banheiro, tiramos no palitinho, e nos dividimos com
os outros cômodos. À noite fizemos uma massa com molho vermelho e
umas 19 resolvemos ir pra praia nadar pelado.

É aquele ditado né? Seja o que Deus quiser!


—8—
— Tu tá de boa mesmo? — Enzo perguntou quando estávamos
dentro do mar, com água na altura do peito. Meio fria devo dizer, já que era
noite. A lua tava lá maneirona no céu sem nuvens e salpicado de estrelas.
Eu entendi sobre o que foi aquela pergunta dele, sobre o lance de
transar e tal e desde a hora em que ele me acordou nós não nos pegamos
mais e isso foi bom, porque eu passei essas horas pensando no passo que eu
tava dando.

Eu rindo e balançando a cabeça afirmativamente:

— Tô de boa, e muito longe de tu, vem mais perto. — chamei


baixinho e passei as mãos nos cabelos molhados jogando-os para trás. Ele
riu e chegou perto colando nosso peitoral desnudo, de leve me deu uma
mordida no lábio inferior e isso me ascendeu lá em baixo. Como eu disse,
estávamos nadando pelados e rapidinho ficamos de pau duro.

— Tu é muito gostoso, puta que pariu! — ele falou rindo. Aí


iniciamos um beijo cheio de língua e mãos bobas. As minhas, logicamente,
foram pra bunda dele, puxando-o pra mim, e nos deixando bem próximos.
As dele foram pra minha nuca, me afagando os cabelos ali e me deixando
dolorido de tesão. Desci os beijos e chupões pelo pescoço branquinho dele,
que eu tinha certeza, daqui pra acabar essas férias ia ficar todo roxo, dou
minha palavra.

Ele desceu as mãos pelo meu peitoral, arranhando e me arrancando


gemidos no processo e isso me fez chupar com mais força a pele salgada
dele, aí aquelas mãos grandes de dedos compridos desceram pelo meu corpo
e tocaram o meu pau, porra, bambeei as pernas. Ele puxou a pele pra trás e
passou o polegar na cabeça sensível do meu caralho. Soltei um gemido
rouco contra o pescoço dele.

Mais movimentos como esse no meu cacete e eu gozaria ali mesmo,


então tínhamos que ir pra casa, trepar no seco, porque as únicas coisas que
eu queria molhado era meu pau e o cuzinho dele. Tava aceitando isso muito
de boa já, acho que a cabeça de baixo tava pensando por dois, e caralho,
deixa ela assumir o controle.

Virei ele de costas pra mim e senti na ponta do dedo médio o cuzinho
pregueado dele piscar desejoso, depois encaixei meu pau ali e sarrei gostoso
sentindo ele rebolar contra minha pélvis.
— Frottage que fala, é? É bom, mas prefiro te atolar a pica! Bora! —
falei rindo.

Ele gemeu e nós saímos da água feito dois moleques brincando e nos
agarrando, tirando o fato que estávamos pelados de rola dura e com um tesão
fora do comum.

Rapidão chegamos em casa.

— Vem cá, Iago, quero fazer uma parada com tu desde o dia que te vi
duro naquela cueca branca. — ele pediu me chamando com o dedo. Falei
nada, apenas me deixei levar, fomos pro quarto principal que tinha suíte e
voltamos a nos beijar com força e desejo, só senti quando a parte de trás dos
meus joelhos bateram na cama e eu caí pra trás, deitado, mas de pau em pé...

— Assim que eu te queria. Puto gostoso do caralho. — ele disse


enquanto punhetava o cacete de cabeça vermelha e brilhante dele, me
olhando. Chamei ele com a mão que riu safado e devagar veio pra cima de
mim cheio de mãos, eu tinha ligado o foda-se e não queria pensar em mais
nada a não ser no prazer. Que eu estava sentindo e que eu queria
proporcionar a ele...

— Fica assim. — ele disse pegando minhas mãos e me fazendo


coloca-las atrás da cabeça. Sentou nas minhas coxas e me olhou de cima, eu
mordi meu lábio esperando os próximos movimentos dele.

Até aqui o que nós fizemos? Nos sarramos, nos beijamos e gozamos
um sentindo o corpo do outro... Pouca coisa? Sim, mas pra mim era muiiita
coisa; demais.

E eu queria, mesmo, mais? Não pude pensar, a boca do Enzo tava


lambendo nesse instante a cabeça da minha pica. Só podia, por fim, gemer
que nem doente.

— Hmmm, faz isso com a língua. Isso! Ahaha! Puta que tesão! Isso
caralho!

Mano, melhor boquete da minha vida! Falo com convicção. E


quando ele tremia a língua no meu frênulo eu só faltava morrer de tesão.
— Proveita que é pra poucos. — disse tirando o pau da boca que fez
um som de "pop" e voltou a chupar descendo mais no cumprimento, me
engolindo mais da metade. Me pegou desprevenido, até me curvei sentando
na cama e segurando a cabeça dele pra ditar os movimentos. Segurando nos
cabelos loiros escuros dele eu o fiz me chupar até gozar naquela boquinha
linda e macia e acolhedora e... porra, quero mais!

— Delícia! Caralho Enzo, se eu soubesse tinha socado rola nessa tua


boquinha tesuda antes.

Puxei ele pra cima e nos atracamos num beijo com gosto de porra e
rola, minha rola, haha, e isso foi ainda mais excitante. Meu pau nem chegou
a baixar, o dele dava pinotes no ar e eu enlacei minha mão ali.

— Quer que eu faça isso em você? — perguntei baixinho como se


alguém fosse ouvir eu propor isso pra ele. Nada muda de uma pra outra, né
mesmo? Mas ele riu e negou com a cabeça.

— Não. E larga meu cacete, senão eu gozo. — soltei e o olhei


curioso — Hoje a noite é tua, vou te dar uma canseira que tu não tem noção,
molecão! — ele falou inclinando a cabeça de lado e sorriu malicioso, até
tremi nessa hora.

— A lição de hoje é: Trepar como se não houvesse amanhã. Se soltar


sem vergonha nenhuma, e perguntar/falar quando algo não te agradar. Tô te
ensinando, posso tirar qualquer dúvida que tu tenha. Preparado? — bateu as
mãos no meu peitoral e levantou a sobrancelha ao perguntar isso, eu ofeguei
e balancei a cabeça.

— Fica assim. — pediu. Deitado eu estava, deitado eu fiquei. Ele


levantou e foi caçar algo na mochila dele — pacotes de camisinhas e um
pote de lubrificante —, voltou pra cama sorrindo, nem parecia que ia dar o
cu, risos.

— Primeiro tu tem que preparar o passivo, não é que nem em mina


que elas já ficam prontas e todas molhadinhas, por isso o lubrificante. —
levantou o pote e balançou no ar me mostrando. Acho que ele sentia prazer
em ser o "professor" e eu o "aluno".
— Vou te preparar pra levar isso aqui? — perguntei safado segurando
o pau com uma mão e batendo com ele na outra, fez aquele som gostoso, nós
rimos.

— Vai sim, dá espaço! — ele sorriu safado e eu dei o espaço que ele
pediu. Daí ele deitou de bruços, aquela bunda ali pertinho de mim só
pedindo pra ser montada! Mas não, a preparação.

— Faz tua parte aí! — ele riu e relaxou o corpo na cama. Abriu as
pernas e botou o queixo em cima do antebraço cruzado, eu suspirei.

OK, uma coisa eu aprendi com meninas e acho que serve pra geral:
carinho. Isso relaxa qualquer criatura, até animal, haha. Então de primeira
fui dar um beijinhos nas costas dele, ombros cheio de pintinhas discretas...
Sentei nas costas dele, acima da bunda, e meu pau pesado se acomodou bem
naquela fenda que tem no meio das costas, eu abaixei e beijei o pescoço
dele.

Enquanto isso comecei a esfregar meu pau ali, que babão como é já
deixou ele todo melado. Sussurrei umas besteiras no ouvido dele e ele
arrepiou sorrindo em seguida. Aí comecei a descer os beijos molhados pelas
costas, consequentemente tive que passar a língua na minha baba que ficou
ali, gostoso admito. Também, é minha mesmo. E a bunda dele a um palmo
de distância do meu rosto, putz! Segurei os dois montes com ambas as mãos
e apertei, ficou vermelho e com marcas de dedos, foi aí que descobri que
adoro essa cor na pele dele, avermelhada.

Abri as bandas e vislumbrei o cuzinho marrom claro piscando, me


chamando pra mergulhar ali. Caralho, até tive que segurar meu pau que já ia
gozando sem eu permitir. Passei o dedo e senti a textura, olhei no rosto do
Enzo pra ver a reação e não poderia ser melhor, ele sorria de olhos fechados,
claramente excitado, sorri comigo mesmo e voltei a atenção pro cuzinho
dele, precisava dar uma atenção especial ali.

Salivei os dedos e levei até a fenda dele, o toque ficou mais gostoso
que antes, então de cima eu mirei e cuspi. A bola de cuspe bateu certinho ali.
Aí eu usei mais dedos e comecei a esfregar enquanto ouvia ele aumentar os
gemidos, roucos e sofridos.
Sabe qual é a sensação de ver um macho todo entregue pra você,
gemendo com tuas caricias? Isso é tão gay! E tão maravilhosamente bom.
Puta que pariu!

Por fim eu não aguentei só passar os dedos, precisava sentir o gosto


na ponta da minha língua, nem perdi mais tempo, fui beijando do meio das
costas dele até o cóccix onde a pele da bunda ficava mais clara que o resto
do corpo, beijei ali e dei uma mordida em seguida rancando um gemido
mais alto dele, que se empinou. Sorri safado.

— Empina mais, vai! — pedi safado. Ele engoliu em seco pelo que
vi e empinou mais, deixando o cuzinho todo abeto pra eu brincar. Botei um
travesseiro em baixo pra ficar na posição certinha e me diverti. Primeiro
distribui vários chupões e mordidas pela bunda dele, negligenciando de
propósito o cuzinho que piscava a todo instante, onde eu só assoprava de
pertinho. Na arte do sexo o legal é provocar, e isso eu sempre soube fazer
muito bem, não seria diferente dessa vez.

— Porra Iago, maltrata não caralho, ahhhh! — ele pediu gemendo.


Sorri com isso. Me botei em cima dele, beijei de leve o pescoço e o meu pau
encaixou direitinho naquela fenda, como se ali fosse a caminha dele, own!
Sarrei pra cima e pra baixo e gemi com a quentura que vinha dali, ainda
nesse movimento levei meus dedos salivados pra fenda dele, onde peguei
meu pau e fiz força pra aumentar o contato, ele gemeu mais forte e jogou a
bunda pra trás, de encontro a minha pélvis.

— Ali. Em pé! — levantei bruscamente e indiquei a parede contraria


pra ele, que virou atordoado e tocou uma punheta de leve.

— Ali, porra! — bati na bunda dele deixando a marca da minha


mãozona. Ele falou um "aii" e me olhou de cara feia, devolvi um sorriso
cafajeste, por fim ele se colocou lá, de pernas abertas como se fosse fazer
uma revista policial, e eu era o policial...

Coloquei minhas mãos sobre as dele na parede e cheguei com meu


corpo todo colado ao dele, lambi e chupei o pescoço deixando mais uma
marca ali, ele riu e rebolou se esfregando todo em mim, gemíamos juntos.
— Tu tá me enlouquecendo, caralhoo! — ele gemeu rindo e botou a
cabeça pra trás escorada no meu ombro. Beijei a bochecha dele e resolvi
parar de maltratar, desci os beijos até me ajoelhar atrás dele e numa tacada
só, soquei a língua no cuzinho quente e gostoso dele. Gostoso demais devo
dizer. Só sei que ele gemeu e se eu não tivesse segurando com força as coxas
dele, ele teria caído.

Eu intercalava as lambidas entre lentas e maçantes, com língua


britadeira. Ele ajudava separando as bandas com as mãos e rebolando na
minha cara, gemia em cima e eu gemia em baixo. Nunca me imaginei
socando a língua no rabo de um moleque, mas isso era tão gostoso que eu
me perguntei por que eu demorei tanto pra experimentar esse prazer.

— Iago, Iago, hmm. — ele chamou minha atenção olhando pra baixo,
só olhei de volta sem parar de lamber. — Mete logo a pica, mano. Mete vai,
tô doido pra sentir tua pica me fudendo ahhhh! — gemeu quando dei mais
uma mordida pra marcar.

Levantei e não perdi mais tempo, ele deitou na cama de barriga pra
cima, se punhetando, e rapidamente deslizei uma capa na minha pica e
besuntei de lubrificante, fui pra cima dele que me recebeu de sorriso e pernas
abertas. Me apoiei nos braços e desci uns beijos bem molhados naquela
boquinha tesuda. Deixei ele guiar meu pau pro buraco dele, e ele fez isso
passando a cabeça pra cima e pra baixo, meu pau sentia e lambia o cuzinho
dele, mas ele não socava pra dentro e eu sabia que não podia mergulhar pra
não machucar ele, esperei, afinal, eu o torturei. Nada mais justo, né!?

Porém não demorou muito, ele cedeu quando mordi a orelha dele e
sussurrei um pedido pra entrar, hahaha, moleque endoidou. Soltou a rola e
me puxou devagar pra ele, daí foi só correr pro abraço... abraço era o que o
cu dele fazia com minha rola, nunca em toda minha vida sexual (que nem é
longa) eu tinha sentido algo tão extasiante como isso.

— AHHH QUE DELÍCIA DO CARALHO! — ele gemeu embaixo


de mim e me abraçou com pernas e braços pra eu não me mexer. Acho que
tinha que esperar um pouquinho pra acostumar com a pica nas entranhas,
deu até pra ouvir o som das preguinhas deles se partindo pra eu entrar,
caralho, quero isso pra sempre.
Fiquei dando beijinhos e lambidas no rosto dele, que tinha uma barba
por fazer baixinha que furava minha língua, o gosto salgado estava ali, do
suor, dos nossos fluidos...

— Vai, pode, vai isss. — falou balançando a cabeça e gemendo, me


olhando nos olhos.

Tirei a pica até a cabeça e volte pro fundo devagar, refiz os


movimentos diversas vezes até pegar um embalo legal e começar socar rola
até os pentelhos lamberem as bolas rosadas do puto.

— AH. AH. AH! ISSO! COME ESSE CU, CARALHO! SOCA A


PICA! — ele começou a gritar ensandecido e a partir daí eu não pude mais
me controlar, foi surra de rola até cansar, e quando cansava eu deitava em
cima dele e ficava só das reboladas lentas pra lacear o cuzinho que agora eu
não sabia se seria tão "inho" mais.

— Quer mais? Quer? — perguntei depois que lhe dei uma lambida
na orelha. Ele só balançou a cabeça afirmando. Tirei rápido a pica do cu dele
só pra olhar e ver o esfíncter piscar e ir se fechando. Tava vermelhão,
arrombei o moleque, mas ainda parecia pouco.

Ele gemeu com dor e tesão e eu o virei de costa, pegando nos joelhos
e fazendo-o ficar de 4 pra mim. Abaixei a cabeça dele pro colchão, desse
jeito ele ia ficar todo lindo aberto e disponível pra mim, e me punhetei vendo
essa imagem. Se eu soubesse onde estava o celular teria tirado uma foto pra
guardar de lembrança, mas a real é que essa imagem ia ficar na minha mente
por diversos anos.

Desci um tapão pra ficar mais vermelho e ele reclamou dizendo que
não ia poder sentar no outro dia, concordei rindo, abri a bunda dele e lambi
pra sentir o gosto de cu na língua, tava mó quente e desse jeito ele até
relaxou o buraco pra mim, depois segurei na cintura dele e cutuquei com a
cabeça da rola pra daí entrar devagar dentro do meu molequin, tinha que ser
legal pra ele também, né!? E eu acho que estava sendo, pelo jeito que ele
tava arrepiado e com o pau duro e babando... só podia tá sendo bom.
— Isso é bom demais, porra!, ahhh. Vai Iago, mete! — ele pediu.
Meti, mas meti devagar, degustando cada centímetro de músculo que
apertava minha rola, ia até o fundo e voltava lento, só pra entrar de novo na
mesma velocidade, as costas dele estavam brilhando de suor e os cabelos
molhados, cabelos esses que eu peguei e fiz uma rédea, pra só então começar
uma sequência de pirocada fundas e rápidas, firmes.

Ele gemia no ritmo das bombadas até eu puxar ele pelo pescoço
fazendo-o ficar de joelhos ainda engatado e lamber a orelha dele dizendo que
aquilo era a trepada mais deliciosa da minha vida, que eu queria casar com o
cu dele e viver em lua de mel, ele riu e rebolou no meu pau ainda de joelhos,
gemi e pedi pra ele fazer de novo até ele parar e pedir pra eu deitar, foi o que
eu fiz.

Deitei na cama e ele me puxou pra ficar com a bunda fora do


colchão, pés apoiados no piso gelado, ele derramou um tanto de lubrificante
na minha pica e veio por cima, ainda de pé começou a descer com o cu
encaixadinho, a cena era linda de se ver, eu lá largadão deitado na cama
enquanto um leque comia minha rola de cima pra baixo.

— Se mexe não, eu que mando nessa porra agora! — bateu no meu


peito e sorriu presunçoso, sorri de volta enquanto ele começava a se
movimentar. Meu Deus do céu, era surreal. Eu nem conseguia focar a visão,
só sabia revirar os olhos e gemer alto, ele nem se fala, se esfregava por
completo, lambia os músculos dos próprios braços, esfregava o peitoral e
beliscava os próprios mamilos, claramente buscando prazer no meu corpo.

Não aguentei muito ficar nessa de expectador, minha pélvis tinha


vida própria. Enquanto ele quicava, eu comecei alisar ele, dei meu dedão pra
ele chupar, o que ele fez me olhando nos olhos e com esse mesmo dedo eu
que belisquei os mamilos dele. Ele apoiou as mãos no meu peitoral e ficou
só dando umas travadas com cu na minha rola. Gemíamos feito animais,
acho até que éramos nesse momento.

Puxei ele pra um beijo e depois ele voltou os movimentos de sobe e


desce, eu tava já gozando e pelo jeito que ele tava ensandecido também tava
quase lá. Olhei aquela pica dura e babando com a cabeça pra lá de vermelha
e não consegui me conter de só olhar, peguei na mão causando um choque
nele que parou os movimentos pra receber meu carinho. Com o polegar eu
passei na cabeça vermelha e brilhante e levei o dedo até a boca, o gosto dele
é bem melhor que o meu, sorri ao constatar esse fato, então me sentei, com
ele ainda engatado na minha rola. Fiz ele se inclinar pra trás tendo como
equilíbrio só as mãos na minha cabeça e meu pau no seu cu, só precisei me
inclinar pra baixo pra cabeça da rola dele ir direto na minha boca. Chupei
sem frescura enquanto ele rebolava pra mim, em busca de alívio, chupei até
doer as costas. Daí voltei com as costas pra cama e balancei a cabeça
pedindo pra ele voltar a quicar, cuspi na mão e enlacei a pica desejosa por
atenção dele.

Ele tomou um fôlego e voltou os movimentos de sobe e desce, os


gemidos ficaram mais altos e eu me segurando pra não gozar antes dele, de
repente senti umas travadas violentas na rola e na minha mão o pau dele
inchou pra então começar a esguichar porra por todo meu corpo. O Enzo
tremia e gemia de olhos fechados enquanto rebolava e fodia minha mão,
voou porra até nos meus cabelos e rosto, lambi com vontade e gosto. Aí fiz
ele sair de cima de mim e deixei ele deitado de barriga pra cima,
rapidamente tirei a capa da pica e em três socadas gozei farto no peito e
rosto dele, que ficou lindo com a cara toda melada da minha goza, essa foi
sem dúvida, a gozada mais espetacular que eu dei.

Com as mãos eu espalhei toda a porra no peito dele, vendo a pele


lisinha ficar brilhante, o mesmo ele fez em mim. Só que o resultado foi de
pelos grudados, rimos e eu deitei por cima dele esfregando nosso peito um
no outro. Beijamos com gosto de porra, a minha e a dele, inclusive lambi a
minha que sujou o rostinho de moleque dele.

Daí lhe encarei de cima, ofegante e de bochechas vermelhas, os olhos


castanhos mais claros que o normal e nesse instante, eu percebi que amo esse
moleque. Não como homem porque pra chegar nesse estágio eu precisaria
estar bem fodido da cabeça. Amo como irmão, como parceiro, amigo, como
brother que esteve e vai estar comigo em todas as minhas descobertas, e o
mesmo ele deveria esperar de mim.

No final das contas isso que é brotheragem... eu acho, hehe.

— Bora tomar um banho? — ele perguntou sorrindo.


— Não quer ficar de chameguinho aqui na cama não? — sorri aberto
e ele devolveu o sorriso.

— Só se for pra eu te fuder a raba! — ele falou juntando a mão na


minha bunda e com os dedos caçou meu rego, o dedo médio dele achou meu
buraco e ele o cutucou me arrancando uns gemidos enquanto eu mordia os
lábios.

— Hoje não, filho da puta! Bora pra esse banho. — gargalhamos e


fomos nos lavar, o que rolou depois disso é história e não termina aqui.
—9—
Quando eu comecei a ficar com o Enzo eu não imaginava que ia ser
assim, tão intenso e maneiro. Todo esse tesão sendo expelido pelos poros e
as descobertas acerca do meu próprio corpo, é muito foda! Mas na vida
sempre soubemos que nada que é bom dura para sempre, comecemos esse
texto com uma pergunta: Acabou a Brotheragem, pow? Nem eu sei!
O que rolou? Eu fodi minha cabeça nessa parada, como sempre tive
medo. E o que ocorreu? Me apaixonei! Quer estar mais fodido que isso?
Simples, se apaixone por um cueca! Melhor, pelo cara que é praticamente
seu irmão! Parece até piada, hahaha.

E sabe o que é mais engraçado? Te digo, o cara que me fez entrar


nessa tava nem aí pra isso, ele só queria meu corpo nu! Queria que eu me
libertasse desse mundo hétero de meu Deus, que eu virasse um putão, e o
que eu fiz? Fiz exatamente isso, virei um putão, o melhor deles!

Depois daquele find na praia, sempre que dava estávamos trepando,


era no carro, na casa dele, na minha, na balada, no muro atrás do colégio...
Fogo não faltava e isso era foda de bom. Sempre que rolava oportunidade lá
estava eu com meu pau enterrado até as bolas no Enzo, sentir ele empinar a
bundinha que rela nos meus pentelhos é umas das 7 maravilhas do mundo.

— Vem cá, quem foi o cara que tirou teu cabaço? — perguntei depois
de uma gozada de faltar fôlego. Estávamos jogados no tapete do seu quarto
onde minutos atrás ele quicava em mim que nem uma bola. Ele alisou meu
peito com o pé e sorriu de lado antes de responder:

— Tu tá ligado que eu fiquei numa república, né? — assenti —


Então, nessas repúblicas onde só tem macho, rola muito essas coisas. No
caso da que eu fiquei tinha que pagar uma espécie de prenda pra poder ser
aceito e como eu não tava em posição de recusar, aceitei. — deu de ombros e
sentou com as pernas esticadas. Sentei de frente pra ele e escorei as costas na
cama, estávamos pelados ainda.

— Continua, tô ficando excitado.

E era verdade, meu pau já começava a dar sinais disso. Ele olhou e
sorriu safado, o pau dele começou a acordar também.

— Lá tinha um carinha que era tipo o líder e a prenda foi


basicamente sentar pelado no colo deles, que estavam de cueca, e rebolar ao
som de um funk proibidão desses aí.
Nós gargalhamos e eu apertei meu cacete que já estava todo pronto
pra outra, só imaginando a cena.

— E tu ficou muito grilado? — perguntei começando a me punhetar


de leve.

— Porra, muito! Eu lá rebolando com o pau murcho que só, enquanto


sentia piroca dura no rabo, como tu acha que eu fiquei?

Gargalhamos mais um bocado e ele completou com um: "Sorte que


eles tavam de cueca".

— Então, aí eu fui aceito, só que depois lembrando do ocorrido


comecei a achar excitante, normal. Depois de um tempo comecei a perceber
o que os caras lá tinham um lance de sexo, saca? Eles se encoxavam, davam
selinho, pegavam no pau do outro, dormiam juntos sem roupas e tudo isso
sem neura. As brincadeiras que a gente fazia com nossos amigos parecia até
coisa de criança perto do que eles faziam entre si. Eu ficava meio chocado
no começo, mas depois se tornou até banal. Até o dia que eu voltei mais
cedo de uma aula e peguei dois dos meninos trepando no meio da sala,
caralho, aquilo fodeu minha cabeça!

— Meio que me senti assim quando tu chegou com esses lances, seu
cuzão! Com a cabeça fodida. — falei jogando uma almofada que ele
desviou.

— Mas nem é igual, mano. A gente sempre se conheceu, tinha


intimidade... Peguei foi leve com você no começo.

Rimos e ele continuou.

— Os manos riram da minha cara e eu super constrangido fui pro


quarto, mas fiquei ouvindo a putaria deles. Fiz o quê? Toquei uma bronha
bem louca e o pau nada de baixar. Enfim, passou, mas a putaria deles
começou a ficar frequente e vez ou outra eu pegava eles trepando, era toda
hora. Té que um dia ele resolveram me incluir na festinha deles, falaram que
eu não tomava atitude então tomariam por mim. Aí me ensinaram o lance da
Brotheragem. Te falar, altas festenhas regadas a cerveja e putaria, de todo
tipo que tu imaginar. — deu de ombros e apertou as bolas, sorriu de lado e
balançou o pau como que me convidando, e eu fui.

Aquela história me deixou fodido de tesão, imaginar o Enzo com


outros caras era excitante, mas eu não sei se teria coragem de ver isso...
rapidamente eu empurrei os pensamentos pro lado e chupei aquela pica com
gosto, ainda melada da gozada anterior. Nossa putaria tinha ficado mais
forte, eu já pegava e chupava naquele pau rosadinho sem neura e ele se
amarrava! Outras coisas mais precisariam de muita conversa e tempo pra ser
feito, hehe.

Soquei nele com a cara no chão (tapete) e as mãos para trás,


enquanto ele se empinava e gemia sempre pedindo mais. Se eu visse o cara
que tirou esse cabaço e ensinou ele a gostar de rola no cu, eu daria um beijo
de língua no filho da puta.

— Sente a pica, sente! — tirei até a cabeça e soquei lentamente pra


dentro, ele apertava a musculatura do ânus me deixando ainda mais tarado.
Aí ele pediu pra pegar ele de frango, adorava gozar relando na minha
barriga, então assim fizemos, também gostava dessa posição. Era ótimo ver a
carinha dele de tesão. Nos beijávamos e nos chupávamos, nos marcando e os
moleques sempre perguntavam se a gente se pegava, aí a gente dizia que se
comia loucamente e caíamos na gargalhada. Uma meia verdade, já que ele
nunca me comeu, mas o safado vinha investindo nisso também.

Ele chupava o dedo e com ele cheio de saliva me cutucava o botão.


No começo eu relutei, aí ele disse pra deixar de ser viadinho com aquela cara
de desafio, tomei um dedo no rabo e curti... agora eu que chupava o dedo
dele pra entrar em mim, haha.

— Quando eu vou te comer, hein filha da puta? — ele perguntou


quando eu parei de socar só pra dar aquela rebolada com a rola toda
entalada, sei que ele curte.

— Não sei, molequinho! Qualquer dia desses. — sorri de lado e lhe


beijei de forma lenta, do mesmo modo são minhas metidas naquele cuzinho
apertado, ele subia e descia as unhas pelas minhas costas contraídas pelo
esforço que faço. Caralho, a gente tá fazendo amor! O pensamento me
abateu e como eu não queria — nem um pouco — ficar neurótico, voltei
pras cenas anteriores, socadas de rola a todo vapor!

— Isso, caralho! Me fode! Vai, estoura esse cu, seu filho da puta!

— Vou gozar Enzo, vou te leitar, caralho!

Ele fez uma cara de puro desejo e tesão e gozou primeiro nos
melando inteiros, segundos depois foi minha vez de gozar. Caí praticamente
morto em cima dele, respiramos com dificuldade.

— Sai de cima porra, tu é pesado! — ele me empurrou e eu caí pro


lado, tirei a camisinha do pau e joguei em qualquer canto.

— Te ensinei certin! — ele falou sorrindo e batendo a mão no meu


peito. Nós rimos e ficamos de molecagem pelo resto da tarde.

— Iago, tá ligado na festa que o Lipe e os moleques falaram? — ele


puxou assunto. Eu só afirmei com a cabeça, sei que ele tava atento aos meus
movimentos.

— Tô afim de ir, bora?

A festa seria naquela noite, ir nela significaria perder uma noite de


aula, e eu como exemplo de bom aluno responsável deveria recusar, não é?
Pena que não sou nada disso.

— Jaé! Precisando desopilar mesmo.

— Então vai pra casa, vai! Passo lá umas 22, meu pai libera o carro.
— ele me empurrou pelo ombro, mas eu permaneci no mesmo lugar.

— Não! Me larga! Quero ficar aqui.

Fui pra cima dele e me deitei com a cabeça em cima daquele peito
largo e musculoso, ele sorriu, o que faz a minha cabeça subir e descer, por
fim alisou meus cabelos e ficamos ali apenas curtindo o momento. Sei lá,
acho que ali alguma coisa estava mudando...
—10—
— Caralho mano, eu pensei que ia ser na casa do Lipe. Demora da
porra!

Estávamos no trânsito há uns 20 minutos, tá que nem era tanto


tempo, mas é que trânsito me deixa sempre irritado.
— Teu cu! Fica de boa aí que tamo quase chegando. — ele falou. Dei
um tapa na cabeça dele que riu e continuamos a viagem, o clima estava
legal; falo do tempo e do de dentro do carro. No rádio Jorge e Mateus
cantavam, aí prestei atenção e comecei a refletir na música. Eu hein?!

(...) e fica pro coração

A missão de avisar

E o meu tá dando sinal

E tá querendo te amar (...)

— Hehe, Jorge e Mateus é foda, né? — eu estava visivelmente


constrangido, mas caralho, por quê? Tava ali no carro a caminho de uma
social, ouvindo um som com o mano, e só! Pra quê tanto grilo?

— Verdade. — e ele fala apenas isso, pelo jeito não era o único a
pensar besteira ali naquele carro.

E aquele clima legal que eu acabei de falar de um minuto pro outro


tinha ficado estranho. Mas enfim, graças a Deus que chegamos ao local.
Negócio era só aproveitar ao máximo. Mas na real? Se eu soubesse nunca
teria aceitado ir.

Nunca tinha ido naquele lado da cidade e digamos que as pessoas ali
são mais favorecidas, era um bairro de classe média alta com casas de
segundo piso e tudo mais, mas isso não vem ao caso, o que vem ao caso é:
Que porra o Lipe tá fazendo aqui? O moleque mais nóia que eu conheço, de
boa numa casa de abastados, hahaha. Foi meu pensamento quando o Enzo
estacionou na frente da “mansão”.

A casa de dois andares estava bem iluminada e cheia de gente, tocava


alguma eletrônica lá dentro e conseguimos ouvir de fora, olhei pro Enzo e
sorrindo e balancei a cabeça como que dizendo "É isso aí, porra! Vamo
encher a cara!" Ele devolveu o sorriso e olhou pra frente, onde acenou com a
mão pra alguém, olhei na mesma direção e vi o Lipe vindo ao nosso
encontro, com o sorriso mais aberto que o coringa.
Ele estava bem vestido, o que é difícil de ver, já que conheço apenas
a cor da pele dele, queimada de sol, já que ele vivia sem camisa exibindo os
músculos que ganhou de uns dois anos pra cá na academia.

— Tá parecendo até gente! E ae, cuzão! — falei de braços abertos.


Nos cumprimentamos com abraços e beijo no rosto enquanto relávamos a
mala uma na outra, o que nunca foi estranho no nosso meio, era bem coisa
de moleque zoero mesmo.

— Tenho que tá, né? Aniversário da minha mina! — ele sorriu


orgulhoso e eu fiz aquela cara de dúvida. “Esse mané namorando e eu sem
saber? Quando foi isso?” Pensei desnorteado.

— Ué, cê tá namorando? Sabia não! — cocei a cabeça e sorri sem


graça.

— Todo sonso esse menino. Já vai fazer um mês, cabeção! Se vocês


passassem mais tempo com a galera, saberiam. Mas só vivem grudados de
pegação. — ele disse rindo alto e nós acompanhamos porque, verdade seja
dita, ele tava coberto de razão.

— E aí, qual nome da gata? Se tu tivesse me falado eu teria trago um


presente. — apontei o dedo no rosto do Enzo antes de dar um soco no braço
dele que massageou o local e deu de ombros em seguida. Existe alguém mais
desligado que eu...

— Carol, porra! Nem o nome dela tu sabe? Te dá uns murro! — ele


veio pra cima e nós ficamos nessa de nos bater até cairmos na risada.

Depois de conversarmos um pouco o Lipe nos levou pra dentro da


casa da guria que, tenho que falar, era cheia de frescura, até lustre tinha na
sala de jantar. Desnecessário isso, hein? Lá ele nos apresentou pra menina
que era simpática e bem gostosa, e logo depois fomos curtir a festa. Os
outros moleques estavam ali e nós ficamos bebendo e dançando do jeito que
dava.

— Aí, vou ali pegar outra cerveja pra mim, tá afim? — Enzo
perguntou depois de algumas horas no meu ouvido e eu neguei com a cabeça
mostrando que ainda tinha metade da minha quarta (ou quinta?) cerveja. Não
queria beber até cair, mesmo já estando alegrinho, além do mais, alguém
tinha que levar o carro pra casa e do jeito que ele estava bebendo, esse seria
eu.

Fiquei ali com os moleques curtindo a festa e o som, e nada do mano


voltar, dei de ombros afinal, ele era bem grandinho; grandinho até demais —
sorriso involuntário — lembrei da sacanagem de mais cedo, o jeito que ele
gemia quando eu acertava a próstata dele com minhas roladas certeiras.
Acordei dos pensamentos quando estalaram os dedos na frente do meu rosto.

— Qual é? Pensando em buceta? Quem é a gata da vez? — Lucas


perguntou me fazendo ficar sem graça.

— Uma mina aí. — me limitei dizer sorrindo no final.

— Ah, qual é? Tu toda hora aparece marcado. É uma mina bem


selvagem, né? Conta mais, porra. — ele estava interessado em saber?
Contarei...

— Porra, ela é insaciável, gosta que pegue ela forte e puxe pelos
cabelos, as marcas nas minhas costas é de quando eu acerto no lugar certin,
fica toda mole debaixo de mim. — sorri safado e apertei meu pau que já
despertava.

Os moleques estavam todos eriçados querendo saber mais, só que se


eu contasse mais, ia acabar entregando que transo com um cueca, e mesmo
que sejam todos desencanados sobre isso, não seria legal abrir minhas
intimidades desse jeito.

— Porra, já quero conhecer! Me apresenta, mano! — ele passou o


braço pelo meu ombro e sorriu safado. Nós rimos e continuamos um papo
descontraído. E nada do filho da puta voltar. Acho que vou atrás dele,
pensei.

— Hey, vou pegar outra que a minha acabou. — mostrei minha


garrafa e os caras apenas acenaram com a cabeça. Saí andando pela casa,
cheia de gente bem vestida e bonita, as meninas se insinuavam jogando o
cabelo pra trás ou mostrando como suas bundas são empinadas nos vestidos
supercurtos e apertados, mas eu não tava interessado.
Deveria! Mas não estava. Estava nesse momento procurando um
filha da puta gostoso do caralho. Um mano que deixava eu socar minha rola
no cuzinho apertado dele. O moleque que é praticamente meu irmão. O
cuzão, que tava de putaria com uma vadiazinha do tamanho da minha irmã!

Eu sorri incrédulo olhando a cena. Ela massageava a pica dele


enquanto ele pegava na bunda maior que ela mesma.

A cerveja quis até voltar, mas eu segurei com força. Nem sei porque
estava me sentindo assim. Ele tava no direito, né? Sim, estava. Não temos
nada um com outro além de brotheragem. Ou temos?

Melhor do que ficar ali com minhas perguntas sem cabimento seria
voltar pra festa e beber alguma coisa mais forte, pegar alguém e esquecer
que Enzo tava lá se pegando com uma buceta; pelo menos por enquanto.

E é o que eu fiz pelas próximas horas. Não lembrei de Enzo, de


dirigir de volta e de como é meu nome.

Tomei uma atrás da outra, peguei uma menina atrás da outra, umas
me batiam e saíam de perto bem bravas, outras se entregavam e me
deixavam de pau duro. E o Enzo? Queria que ele se fodesse!

Queria que ele fosse pro inferno! Esse filha da puta só me trouxe pra
essa merda de festa pra me deixar de lado? Toma no cu!

— Por que, cara? Por que ele fez isso comigo? Eu não mereço! Eu
sou um mano legal, não sou?

Lucas estava ouvindo minhas pitangas de bêbado e eu nem me


atentei a quem eu estava abrindo minha vida assim.

— Ele não tem o direito! Ele tá cagando na parada toda! Não tá? Ele
tem que ficar comigo, né?

— Cara, ajuda aqui. Moleque tá bebasqueda! Falando coisa com


coisa, leva ele pra casa, dá pra deixar ele circular assim não. — Lucas falou
pra alguém enquanto eu chorava de molhar sua camisa. Se eu estivesse
sóbrio eu nunca faria uma babaquice dessas, mas porra, atire a primeira
pedra aquele que nunca deu um vexame bêbado.

"Amiga, vem me buscar amiga ... eu tô... vômito* eu tô bêbada! Por


favor amiga, vem me buscar."

Já ouviram esse áudio? Essa menina sou eu na versão masculina.

Depois disso o que eu lembro são flashs, eu sendo carregado; O carro


em movimento, a bebida quer voltar e quando param o carro é o que eu faço;
Eu sendo carregado pra dentro de casa e sendo jogado na cama sem
cuidados; Eu chorando abraçado a alguém e finalmente escuridão, dormi.

— ahhh porra! — dor de cabeça desgraçada! Minha cabeça parecia


que pesava dez quilos e eu não queria abrir os olhos porque sabia que viria
doer bem mais.

Acordei, não recomendo.

Como previsto, ao abrir os olhos a dor triplicou, um monte de


pensamentos passavam pela minha cabeça, mas eu com algum esforço
consegui coloca-los de lado. Levantei cambaleante e fui pro banheiro, graças
a deus não tinha ninguém pra atrapalhar.

Quem me trouxe pra casa? Perguntas...

Depois de um banho gelado de 15 minutos eu consegui raciocinar


melhor, embora a dor agora estivesse mais seca. Aquela coisa latejante que
não é meu pau, sabem?

Saí pelado do banheiro e fui pro quarto, onde me joguei na cama e


fiquei pelas próximas duas horas. Despertei com alguém chamando meu
nome, eu totalmente letárgico, eu odeio ficar assim, sem conseguir controlar
minhas próprias ações, mas é o preço que se paga por beber demais e depois
desse tempo pensando eu consegui lembrar mais ou menos o que aconteceu
ontem.
Acho que fodi com alguma coisa, e a cara do Enzo me olhando
escorado na minha porta não é das melhores, hehe.

— A gente precisa conversar! — ele disse. Se você nunca ouviu essa


frase, você não sabe o que é adrenalina. O que é ficar com o cu na mão.
Ponto.
—11—
— Senta aí. — pedi aparentemente despreocupado, mas no fundo,
tava me cagando de medo.

— Veste uma cueca, primeiro.


— Tu nunca teve vergonha de ver isso aqui. — falei pegando na pica
já bomba, efeito Enzo perto de mim.

— Assunto é sério, porra. Veste um caralho de uma cueca!

Uhhh ele ficou vermelho, tá irritado mesmo, melhor obedecer.

— Pronto, diz aí. — eu estava sentado na cama, de cabeça baixa.


Sabia que iria levar um sermão, por isso estava agindo assim, com cautela.

Normalmente nunca abaixo a cabeça pra ninguém, mas a situação


pedia.

— Tu se lembra das merdas que tu fez ontem, lá na festa? —


perguntou irritado. O olhei com um sorriso cínico, porque a última merda
que eu me lembro, é dele se agarrando com uma vadia mirim.

— Lembro não, me diz aí. Tô curioso pra porra! — cruzei meus


braços na altura do peito e lhe encarei com audácia. Uma veia saltou bem na
testa dele e eu queria rir com isso, mas era melhor me manter quieto.

— Tira esse arzinho de riso da cara, caralho, porque depois de tu


ouvir o que eu tenho pra dizer, tenho certeza que não vai ficar assim. Tu saiu
dizendo por lá, que "ele" tinha te trocado, que você tava magoado e que tu
amava "ele". Tem noção do que isso implica?

Tranquei meu cu? Tranquei meu cu! Espera! Quando foi que eu disse
isso que não lembro? Puta que pariu! Estou fudidinho.

— Não brinca. — descruzei os braços e encarei o Enzo com um


sorriso descrente. Ele revirou os olhos e bagunçou o cabelo sem paciência, o
que foi muito sexy...

— Não iria brincar com isso, caralho. E sabe o que é pior? Tu vir me
enchendo os ouvidos dizendo que me amava e que eu não devia ter feito isso
contigo! Qual é a tua, Iago? O que tá pegando nessa tua cabeça, caralho?

Eu o olhei cético e não consegui enxergar quem era esse ser sem
coração na minha frente. Me levantei e o encarei de frente. Essa era a pior
coisa da noite? Eu, supostamente, dizer que o amava? Porra...

— Qual é a minha? Qual é a tua! Tu que me arrastou pra esse mundo


da "brotheragem".

— Sim, meu irmão, mas isso não quer dizer que temos um
relacionamento. Lembra que foi você quem pediu isso? Que não queria
andar por aí de mãos dadas e o caralho a quatro?

Ele estava irritado, o que na verdade eu não entendia bem o porquê, e


o que mais me deixou mal foi ele ter passado essas verdades assim na minha
cara; machucou, mas eu nunca iria admitir isso pra ele.

— Tá legal, Enzo. Foi mal, ok? Mas você esperava que acontecesse o
quê? A gente se pega feito bicho há mais de um mês, toda hora... tô
começando a te curtir, porra! Normal! — me virei de costas pra não olhar na
cara dele porque senti vergonha de estar abrindo meus sentimentos assim.

Não que eu estivesse dizendo explicitamente "eu te amo", mas


caralho, a gente se apega, quer a pessoa a todo o momento, estar pertinho e
sei lá... isso deve ser paixão, ele deveria respeitar pelo menos, né?

— Sinto muito, mas eu não te amo, nem tô apaixonado. A gente trepa


e isso é muito maneiro, mas eu não sou cara de me apegar e você deveria
saber disso. É o lance da brotheragem, meu irmão! — ele falou
tranquilamente. Eu olhei pra ele que tinha um sorriso contido nos lábios e
tudo que eu queria no momento era tirar ele daquela carinha bonita. Com um
soco.

— Então é isso? O lance é pega e não se apega?

Ele apenas balançou a cabeça afirmativamente, soltei uma gargalhada


incrédula. Depois respirei fundo e falei:

— Tudo bem então, relaxa.

Ele abriu aquele sorriso e eu entendi que toda a neura dele não era o
lance que aconteceu na festa, e sim o que ele descobriu; o que eu estava
sentindo em relação ao nosso envolvimento.
Depois de eu falar isso ele sorriu satisfeito e veio me abraçar, porém
eu o parei com uma mão estendia em seu peitoral, ele perguntou "o quê?"
com as mãos. Minha vez de sorrir.

— Se o lance é só foder, eu vou, mas isso não quer dizer que seja
com você.

Dessa vez era eu que tinha o sorriso cínico nos lábios enquanto via
ele tentando processar a informação. Não era assim que ele queria? Então
teria.

— O quê? Como assim?

— É, porra, percebi que tu não gostou nem um pouco de descobrir


que eu tô te curtindo assim, então pra gente encurtar conversa, vamos deixar
de fazer essas paradas. E não se preocupa que eu vou conversar com os
moleques. Acho que nem falei teu nome, e quem vai acreditar em maluco
bêbado, né? Pode ir, recado dado.

Ele até tentou falar alguma coisa, mas como eu não dei a mínima, e
deixei claro que não íamos discutir, ele saiu irritado do meu quarto.

Lembro muito bem de uma conversa entre nós, em que ele falou que
queria que eu expandisse meus horizontes. Que ser hétero era chato e
limitado e que homem é bem mais desencanado dessas coisas de
relacionamento e coração.

Não estava enxergando isso... Mas eu me pergunto aqui, quem


manda no coração? Quem escolhe por quem se apaixonar? Ninguém! Foi e
sempre será assim, desde os primórdios.

Mas eu não quero e nem vou transformar isso em um romance-


tragédia, tenho mais o que fazer e se Enzo desdenha tanto do que eu estava
sentindo (que nem mesmo eu sei o que é), não ficarei pelos cantos
choramingando um amor não correspondido.

É amor? Toma no cu com esses pensamentos. Porra de amor. Amor


de cu é rola!
E não tem apenas cu e rola de Enzo... queria que eu virasse putão?
Beleza irmão. Virarei!

Mas como eu disse, tinha mais o que fazer, e isso começava por levar
o Léo pra passear. Nem sabia que horas eram, mas sabia que ainda era de
manhã. Fui na cozinha e comi qualquer coisa que encontrei ali. Minha mãe e
irmã estavam em seus devidos compromissos e eu gostava de ter a casa só
pra mim.

Quando tinha Enzo ali era melhor, porque a gente se pegava


loucamente e sem neura. Mas eu tinha que fuder tudo né? Ou foi ele, sei lá.

Prendi a corrente na coleira do Léo, peguei minha camisa e a joguei


no ombro direito, boné na cabeça e celular no bolso; saí sendo arrastado pelo
canino. Conversei com os vizinhos, briguei com o Léo por me puxar demais
e no final sentei em um banco e soltei o cachorro que correu desesperado pra
brincar com não sei o quê.

Tentei não pensar, mas era impossível. Enzo. Enzo. Enzo.

Caralho, mano fode com minha cabeça e comigo (literalmente) e


depois pula fora. Na verdade, ele não pulou fora, eu pulei. Mas porra, como
não pular, maluco fala na minha cara que não sente nem carinho por mim
enquanto eu vivo com a cabeça nele, pensando nas paradas que fazemos
juntos... E não digo nem das putarias, falo das conversas e conselhos que nos
damos, dos abraços e beijos carinhosos e tudo mais de afeto que temos um
com o outro. Ou tínhamos... Sei mais de nada e minha cabeça até começou
doer por pensar tanto.

Mas logo fui tirado dos pensamentos quando alguém sentou do meu
lado no banco da praça.

Lucas. Flashes da noite de ontem vem à cabeça e eu me vejo bêbado


e chorando no ombro desse mano, haha. Tô rindo internamente, mas com um
medo do caralho. Se ele somar um mais um vai chegar ao resultado de
número 24: viadagem!
—12—
— Fala, cabeça! Tá passeando com o Léo?

Olha que situação! Dei apenas um sorriso amarelo e confirmei com a


cabeça. Estávamos constrangidos. Sim, muito.
— Tá de ressaca não? — ele prendeu o riso e eu fiquei vermelho,
mas por fim acabamos os dois rindo feito idiotas.

— Caralho, Lusca (chamo ele assim), lembro de quase nada! Dei


muito vexame, né? — cocei a cabeça envergonhado. Ele riu mais um pouco
e enxugou uma lágrima do olho esquerdo, depois balançou a cabeça
afirmativamente.

— Deu. Tu agarrou um monte de mina, cara. Um mano lá só não te


bateu por que te tiramos de perto, aí eu te arrastei pra um canto e tu começou
a chorar... — ele deu aquela pausa dramática e eu me tranquei todo, engoli
em seco e o olhei de soslaio.

— Quem é o cara que tu tá afim? — perguntou bem baixo, se eu não


tivesse atento, não teria ouvido. Demorei alguns minutos pra responder, dei
um suspiro e resolvi tacar o foda-se.

— Isso morre aqui, hein? — falei incisivo — É o Enzo. A gente tá se


pegando há alguns meses aí. Ou tava, sei lá.

Olhei pra ele e ele tinha uma cara de surpresa impagável, eu


gargalhei, porque sim, trato assuntos sérios com humor. Pra quê chorar o
leite derramado se a gente pode rir do cara que derramou? Dando de ombros.

— Não brinca?!! Porra! Nas nossas vistas e ninguém percebeu! Quer


dizer, a gente sempre tirou onda de vocês tarem se pegando, mas normal.
Nunca achei que pudesse ser sério. — passou a mão no rosto pasmo.

— Pois é, rolou. Mas como te falei, isso morre aqui. — pedi lhe
apontando o dedo.

Ele balançou a cabeça confirmando.

— Mas agora tô curioso, por que tu tava lá chorando que nem uma
margarida? Cês acabaram?

Suspirei antes de responder:


— Mano, pra acabar a gente precisa ter algo sério antes, né? E isso a
gente não tinha. Só vim perceber isso hoje quando ele jogou umas verdades
na minha cara. Tipo, a gente não tinha nada sério mesmo não, mas não
pegávamos meninas, tavamos nos bastando, saca? — ele confirmou com a
cabeça — Mas aí eu me apaixonei, ele percebeu, pegou uma vadiazinha lá e
eu dei vexame. Hoje ele disse que não me amava, que o lance era só putaria
e a gente só iria trepar mesmo. Cabou que eu que dispensei ele.

— Nossa. — ele apenas falou e ficamos assim por não sei quantos
minutos, até o Léo vir pra perto de mim todo sujo de terra, ia precisar de um
banho quando chegasse em casa. Nos levantamos e caminhamos de volta pra
casa, o Lucas junto, afinal, a conversa ainda não tinha acabado.

Esse mano é do tipo observador, que te escuta e demora a falar, mas


sempre vai ter um conselho bacana pra te dar. Do nosso grupo era ele que os
moleques sempre procuravam quando tinham um problema.

— Mas se vocês... terminaram, como vai ficar a amizade?

Tá aí, a pergunta do século. Eu também queria muito descobrir.

— Sei não, hein? Eu queria dizer que tudo ok, mas a gente sabe que
algo sempre muda. Aquele lance de "vamos ser só amigos" nunca funciona
na real.

— Pode crer.

Mais silêncio e finalmente casa, o carro do Pedro não tava em frente


a casa deles, o que quer dizer que o Enzo não estava, já que o Pedro prefere
usar metrô pra ir pro trampo. E Enzo não estando significa o quê?

Sei não. Não sou vigia da vida dele.

“Porra, onde esse moleque se meteu? Ele deve ter ficado chateado
com a forma que eu o tratei. Mas porra, e como ele me tratou? Não conta
não? Droga, só não quero pensar. Não quero e não vou, me proíbo.”

— Entra aí, mano, vou trocar de roupa pra dar um banho nele, já
volto.
Lucas entrou e se jogou no sofá, nenhum dos meus amigos tinha
pudores quando ia a minha casa, e vice-versa. Até abro a geladeira porque
sou desses. Me dê de tudo, menos liberdade.

Fui no meu guarda roupas e coloquei um shorts de jogar bola,


branco, sem nada por baixo. Tinha certeza que o maluco do meu cachorro ia
me molhar todo, então, melhor evitar.

Passei pela cozinha e catei uma maçã do cesto dando uma mordida,
segui pra sala e Lucas estava entretido com uma revistinha de quadrinhos
japoneses que era da minha irmã, assobiei chamando sua atenção e ele
rapidamente mirou os olhos em mim. Cara toda vermelha, estranhei.

— Qual é? — franzi o cenho.

— Isso é teu? — levantou a revista na altura do rosto. Neguei com a


cabeça.

— Da minha irmã. Por quê?

— É gay porra, tem uns maluco se pegando aqui. Nunca vi isso em


desenho. — deu um riso nervoso e eu acompanhei na risada, na verdade eu
tava rindo da cara dele.

— Se quiser pode levar. — sorri sacana.

— Teu cu! Vai dar banho no teu cachorro logo, carai. — ele largou a
revistinha ali na mesinha de centro e me empurrou pelos ombros pra ir pros
fundos da casa, que era onde ficava o Léo. Peguei o shampoo e uma esponja
pra auxiliar e deixei por perto, Lucas se sentou ali no degrau da porta da
cozinha e ficou olhando. Prendi o cachorro numa armação que tinha ali e
liguei a mangueira que já estava no registro.

Comecei o molhando, ele fica quietinho, adora um banho, o que é


estranho, mas enfim. Depois desliguei a mangueira (cuide da água do
mundo) e passei shampoo no pelo dele, joguei mais um tanto na esponja e
comecei a esfrega-lo todo, desde a cabeça até o rabo grosso, nem a pica do
meu parceiro escapou, haha.
— Ele gosta de tomar banho, hein? — Lucas puxou assunto.

— Real, fica paradinho, mas as vezes dá a louca e ele me molha


inteiro. — rimos. E só foi eu falar que o cachorro se encapetou. Começou a
pular e se sacudir inteiro, voou espuma no meu rosto e se alguém desavisado
olhasse acharia que era uma gozada na minha cara, não espuma branca. Aí
ele pulou com as patas dianteiras no meu peitoral e eu caí de bunda no chão
molhado. Filho de uma cadela (literalmente). Lucas só rindo.

Olhei indignado pra ele que tinha a mão na barriga de tanto rir, aí tive
uma ideia, liguei a mangueira e mirei nele, bem na cara. Ele fez uma "ahhh"
puxando o ar pra dentro, aí foi minha vez de rir, ele se olhou e sorriu de lado,
se levantou e tirou a camisa molhada, aí foi minha vez de fazer um "ahhh" só
que mais baixo... puta corpinho gostoso.

Mais baixo que eu e menos forte, Lucas tinha o corpo de um


adolescente em transição pra corpo de adulto, jeito de moleque. Todos
pensavam que ele era o mais novo da turma sendo que ele é mais velho que
eu. Nunca tinha reparado nele com outros olhos, mas agora, depois do Enzo
(quem?) eu tinha necessidade de olhar cueca com outros olhos. E caralho,
ele era bem gostosinho, hein.

— Agora tu me paga, porra. — ele pegou um baldinho e encheu no


reservatório de água que ficava ali, e sem eu me atentar ele virou o balde na
minha cabeça e dessa vez eu me molhei até a alma.

— Filho da puta! — apertei o dedo na boca da mangueira que fez


pressão e mirei no rosto dele, daí foi guerra de água e o Léo se divertiu mais
que nós dois juntos.

Sobre aquele lance de cuidar da água do planeta: esqueci total.

— Caralho Iago, olha como eu tô, porra! — ele disse depois de


pararmos cansados e totalmente ensopados.

— Culpa tua. Quem mandou rir de mim?


Conversávamos enquanto ele e eu secávamos o Léo com toalhas que
eram dele mesmo. Esse cachorro tem mais regalia que eu.

— Tu tá com o rabo todo de fora. — ele falou depois de alguns


minutos. Olhei pra ele que olhava pra minha bunda com um sorriso
malicioso, só naquele momento havia me atentado que o shorts molhou e
ficou transparente, puta que pariu! Eu tava na posição que o Brasil perdeu a
copa, bunda empinada virada pro lado dele. Sorri malicioso também e me
endireitei.

— Olha pra cá, ó! — virei de frente e juntei o pacote na mão, ele


esbugalhou os olhos e prendeu a respiração. Eu ri que nem doido, logo
depois ele também riu.

— Tenho é medo, já te vi pelado. — rimos — Mas vem cá, quem


comia quem?

Sério que ele vai querer entrar nesse assunto? Tudo bem.

— Eu metia rola nele. — falei despreocupado.

— Caraca mano, nem consigo imaginar. — chacoalhou a cabeça e


continuou secando o Léo.

— Pra quê imaginar se pode fazer? Te ensino, pow! — sorri safado.


Ele olhou pra mim com uma cara de quem não entendeu, mas eu sei que sim,
visto o movimento da garganta dele, subindo e descendo.

O cacete acordou, bicho tava solto no shorts transparente e com esses


papos assim, além dele tá todo gostosinho e molhado perto de mim... É,
Enzo me estragou. Ou me mostrou um mundo cheio de possibilidades. Não
sei mando tomar no cu ou agradeço. De qualquer forma, as duas opções
seriam válidas. Mas pra quê pensar em Enzo agora, quando se tem Lusca
aqui todo vermelhinho? hahaha.
—13—
Não sei bem o que tava rolando comigo, mas uma coisa era certa,
tava com pau doendo de tanto tesão.

Motivos: Lucas molhadinho e vermelho na minha frente.


Detalhe: Sem camisa, barra da cueca preta mostrando.

Mas voltemos para o tempo real e preciso...

Ele engoliu em seco com minha proposta e eu quis rir da cara dele,
mas controlei; vai que ele aceitasse, hehe.

— Qual foi? Pegou o Enzo e agora quer me pegar também? Ainda


curto mulher, maluco! — ele jogou água na minha cara e em seguida
levantou arrumando o calção nos quadris. Não tinha nada fazendo volume
desmedido ali, o que queria dizer que ele não paudureceu. Mordi o lábio
inferior e suspirei resoluto.

— Tudo bem, tudo bem. Foi mal. Não fica bolado. — pedi. Ele riu e
balançou a cabeça pros lados.

— Relaxa. Mas sabe o que eu acho? — perguntou sério e eu apenas


fiquei calado esperando o que ele ia falar. — Acho que tu tá tão afim do
Enzo que tá querendo pegar qualquer mano, só pra tirar ele da cabeça. — fez
uma cara de "sei de tudo" e eu engoli em seco com a constatação.

Era verdade, não era? Eu não tava apaixonado pelo Enzo (acho eu)?
Querendo namorar aquele corpinho até o dia amanhecer?

Porra! Olha os pensamentos do moleque, "Querendo namorar até o


dia amanhecer"... logo eu, puto de profissão, moleque piranha. Tava
precisando pegar geral (geral mesmo) e se o Lucas não queria, tinha quem
quisesse. Bom, eu pelo menos acho...

— Não viaja! O que rolou com o Enzo foi coisa de pele. Como ele
mesmo disse, foi trepação. E vai rolar com outros, com ele mais não.

— Se tu não tivesse tão na dele, essa taca aí ainda tava dura querendo
me passar. — ele apontou pro meu calção e eu olhei pra minha pélvis
automaticamente. Bom, verdade, colocou Enzo no papo, moleque logo
broxou. Não pelo fato de ser o Enzo, porque vamos combinar, ele é tipo um
viagra pra mim, mas sim pelo fato do que aconteceu esses meses passados;
no dia anterior e pela manhã precisamente.
— Nada a ver! Ainda te como moleque. — fui pro lado dele com
braços abertos e ele se armou como se fosse lutar, eu ri porque foi
engraçado. Lembro que ele fez algumas artes marciais quando mais novo e
mesmo eu sendo maior ele tinha mais técnica, logo, eu estava em
desvantagem. E brincando, porque ser sério o tempo todo é chato.

— Se liga, gosto de mina, mas quando sentir curiosidade vai ser


contigo que eu vou matá-la. — ele sorriu de lado e fez um movimento com
as sobrancelhas tentando ser sexy, aí sim rimos pra valer.

O pau até deu um comichão de felicidade, mas ficou nisso, e eu


agradeço, porque se rolasse alguma coisa, ambos depois iríamos nos
arrepender, ele mais ainda porque eu mesmo tava era fodido. Só queria
prazer, e vamos combinar, fazer o mesmo que Enzo fez comigo seria de
muita canalhice da minha parte.

Depois dessas "molecagens" nós fomos nos trocar, emprestei umas


roupas pro Lucas que ficaram meio largas e coloquei bermuda e regata pra
ficar em casa. Como passava da hora de almoçar e nesse dia especialmente
minha mãe e irmã só voltariam mais tarde, eu teria que preparar o meu
alimento. E como tinha visitas e ele iria comer ali também, teria que botar a
mão na massa. Bom, se fosse em outro lugar seria mais gostoso...

— Sabe fazer arroz? O meu fica grudado. — perguntei coçando a


nuca. Ele riu e balançou a cabeça afirmativamente indo preparar o
branquinho.

— Faço a carne de panela, tu nunca comeu nada parecido. — me


gabei antes de fazer. É verdade, a minha é a melhor, ganho até pra minha
mãe.

— Seeei. Quero só ver... — ele me olhou torto e riu. O Lucas era o


tipo de cara que te faz esquecer o tempo, ótima companhia e tenho certeza
que a menina que ganhasse esse cara tiraria a sorte grande. Eu mesmo tava
doido pra ensinar brotheragem pra ele, haha. Mas deixa quieto.

— Nossa, comi demais. — falei alisando a barriga saliente. Suspirei.


— Eu também, tu precisa passar a receita dessa carne pra minha mãe.
— ele pediu rindo. Estávamos sentados lado a lado no sofá da sala apenas
descansando do almoço. Um silêncio não desconfortável se fazia. Curtindo a
presença um do outro, mas volta e meia meus pensamentos iam para aquele-
que-não-deve-ser-mencionado: E N Z O.

— Pensando em quê? Ou melhor, em quem? — jogou uma almofada


na minha cara e sorri travesso.

— Ahh, nuns lances aí. — dei de ombros.

— Sei até o nome e endereço desse lance. — negou com a cabeça


rindo — Tu tá apaixonado, né?

Apenas acenei que sim.

— E já tentou mostrar isso pra ele? Pelo que tu disse, vocês só


conversaram hoje pela manhã, e vamos combinar, tu acorda de muito mau
humor.

— Mas cara, ele disse que não me amava nem nada do tipo, o quê
que eu vou conversar com ele? Não tô afim de me humilhar pra cueca não.
— bufei irritado.

— Tu é muito cabeça dura, cabeção! Eu gosto de vocês dois, então


vamos fazer assim: Você vai esfriar essa cabeça aí e vai chamar o Enzo pra
conversar tranquilamente, vocês só brigaram e foi cada um pra um lado. Na
real? Precisa por uma pedra em cima disso pra seguir em frente, e se vocês
não fizerem isso, você vai ficar voltando toda hora o pensamento nele.
Acredita em mim!

Viajei nas palavras e no fundo sabia que ele tinha razão. Eu podia
fazer isso, ter uma conversa amigável e definitiva com o Enzo. Embora ele
tenha deixado claro que não queria nada comigo além de sexo. Mas ele é
meu amigo, não é? Meu irmãozinho (que eu comi gostoso).

Conversa do cérebro com o coração:


— Mas e o sexo, não é gostoso?

— Sim, pra caralho!

— Então qual a tua neura?

— Pow, eu quero me deixar apaixonar, quero namorar e esse leque é


tão fofinho.

— Larga de ser idiota ow bombado, se apaixonar é furada, não vou


deixar tu fuder com a gente.

— Você não sabe de nada insensível, ele pode muito bem retribuir.

— Porra nenhuma. Ele quer transar e a gente pode fazer isso porque
é bom e porque sim!

— Não, sai daqui! Me larga. Me deixa!

— Hey! Tu as vezes dá uma viajada! Cara de maluco, eu hein? Qual


foi dessa vez?

Olhei pra ele e ri. Se ele soubesse como minha cabeça estava uma
confusão, daria razão a mim por ficar assim fazendo cara de idiota.

— Nada, esquece.

Depois disso ele falou que tinha que ir embora porque tava com uma
atividade pra fazer. Ele fazia curso de Engenharia Civil. Nos despedimos e
ele disse que manteria contato pra eu não sair por aí dando a louca. Como se
eu fosse disso. Né?!

Fiquei moscando por um tempo até minha irmã entrar pela porta com
aquela amiga de óculos que fica vermelha ao me ver, acho essa guria mó
engraçada.

— A mãe ainda não chegou? — perguntou a Ju fazendo aquela cara


de tédio que só ela tem.
— Espera, deixa eu ver. — olhei nos bolsos da bermuda. — Aqui ela
não tá.

A amiga dela ficou vermelha tentando segurar o riso.

— Grosso! — olhou pras revistas dela, abertas em cima da mesinha


de centro. — Hey, quem mexeu nas minhas HQ's?

— Eu. Tava batendo punheta pros boyzinho aí. Me erra, Juliana! —


revirei os olhos e vi ela dar um sorriso mínimo.

— Sempre soube que tu curtia. Você deve ser Seme. O Enzo que é o
Uke? Ou vocês trocam? Drica, a gente precisa desenhar eles dois! Vamos
fazer um Yaoi bem fofinho, eu já tenho a história bolada na minha cabeça.
Me ajuda? Nossa, vai ficar muito bom.

Ela arrastou a amiga pro quarto e eu fiquei sem entender porra


nenhuma do que ela falou. Que ela desenha eu sei, mas daí a criar uma
história minha (é minha né?)... Essa menina deve ser maluca. Não é minha
irmã.

— Eu hein! — balancei a cabeça e catei meu celular. Já comentei


antes que eu não curtia ficar apegado ao aparelho, mas pra uma coisa ele
servia muito bem, músicas. Coloquei o fone de ouvido e botei pra tocar uma
música aleatoriamente. Andei pra fora e sentei na mureta que fica em frente
a minha casa e deixei as melodias encherem meus ouvidos.

Anavitória cantou me fazendo viajar na música...

Encontrei descanso em você

Me arquitetei, me desmontei Enxerguei verdade em você

Me encaixei, verdade eu dei

Fui inteira e só pra você

Eu confiei, nem despertei


Silenciei meus olhos por você

Me atirei, precipitei

Agora eu quero ir

Pra me reconhecer de volta

Pra me reaprender e me apreender de novo

Quero não desmanchar com teu sorriso bobo

Quero me refazer longe de você...

Porra manoooo! Essa guria tá cantando minha vida? Não tão sofrida
porque eu não sou disso, mas caralho. Olha isso! Não, me deixa! Sai de
mim! — agitei meu corpo para tirar as mazelas e no final da rua vi o carro
do Pedro apontar.

Não me faltava mais nada, nada mesmo.

Será que devo confrontá-lo agora? Ou é melhor entrar e deixar pra


depois? Não! Melhor esperar pra ver.

Ele parou em frente a casa dele e demorou alguns segundos pra


descer. O que fez lindamente. Óculos escuros e boné virado para trás. Calça
clara apertadinha e camisa preta que destaca a cor dourada da sua pele.

Essa cara fechadinha me dá tesão, não posso negar, e ver ele abaixar
a cabeça como que mostrando arrependimento me enche o peito de coisa
boa. Ele se arrependeu de ter me falado aquelas coisas né?

Bom, vendo a menina que desce do carona e fala animadamente em


direção a ele, acho que o arrependimento não é por ter me falado o que ele
falou. Ele visivelmente fez a fila andar, e eu feito idiota sofrendo por ele.

Sorri incrédulo e balancei a cabeça pros lados. Ele me viu e fez como
se fosse vir pro meu lado. Provavelmente iria pedir desculpas por eu ver
aquilo (será?) ou tentar dar alguma explicação (deve ser a prima né?), mas
antes que ele pensasse em algo a menina contornou o carro e toda sorrisos
abraçou ele pelos ombros e deu um selinho nos lábios que só eu deveria
beijar.

E eu não precisei ver mais nada, senão colocaria todo almoço pra
fora. Virei nos calcanhares e entrei em casa. Acho que vou ouvir mais
músicas como esta. Se tá na fossa se lambuza!
—14—
Há exatos 5 dias que não dou chance de Enzo se aproximar, lógico
que ele tenta e atenta. E eu me atento... confuso, como tudo na minha vida.
Mas o que quero dizer é que não dei chance, mesmo querendo muito.
Gosto dele ainda? Claro. Não se deixa de gostar da noite pro dia, mas
a gente se esforça, né? Como? Catando meio mundo de pessoas.

No dia seguinte ao que o vi com a "prima", ele chegou lá em casa


todo sonso pro café da manhã, agi como se nunca tivesse rolado nada
daquilo entre nós, mas repeli qualquer contato, até mesmo as passadas de
perna que ele me dava por debaixo da mesa. Paudereceu, mas me mantive
firme.

Ju me chamou de Seme e chamou Enzo de Uke na nossa frente e a


gente ficou sem entender nada; Seu Pedro contou que a nova namorada grita
mais que gralha quando tá tomando; minha mãe falou sobre a vizinha que foi
pega pelo marido aos pegas com o irmão do cara.

Enzo tentou conversar, mas não dei chance... rotina.

Mas enfim algo aconteceu pra me tirar do marasmo e foi graças a


isso que resolvi me tornar aquilo que falei no segundo parágrafo.

Na minha cidade fazia alguns dias que estava chovendo e com a


chuva vem o clima mais ameno. Eu me amarro muito, mas a minha mãe
gripa na primeira troca de clima; e isso ocorre direto, quase todo mês. BR
né, amigos?

Como estava sem nada pra fazer me ofereci pra ir comprar um


remédio pra ela lá no outro bairro, aproveitaria pra espairecer. Eu tava bem
confortável, bermuda de tecido mole, sandálias e sem camisa, mas peguei
uma no guarda roupas e joguei no ombro.

Resolvi levar o Léo pra ele marcar uns postes e saí falando que
voltava logo. Cumprimentei uns conhecidos, recebi uns assobios de meninas
e me achei, adoro me exibir, haha. Chegando perto da farmácia um cara
baixinho ia saindo de lá e o Léo latiu pra ele o fazendo dar um pulo.

— Ah, droga. Que susto!

— Léo, quieto. — puxei a guia e o trouxe pra mais perto. — Isso.


Bom menino. Foi mal, cara. — pedi sorrindo um tanto sem graça. O carinha
era uns bons centímetros mais baixo que eu, estava de calça, tênis e uma
camisa apertadinha. Ele estava com o que parecia um mapa na mão. Os
olhos dele eram meio puxadinhos, achei charmoso.

— Ahh... Er... Não foi nada. — ele olhou pro Léo e deu um passo pra
trás, embora eu o mantivesse bem preso. — Tu mora aqui? — ele perguntou.

Eu ri pra quebrar o clima: — Na farmácia?

— Na cidade. — ele sorriu.

— Sim. Tá querendo alguma informação? Parece perdido.

— Meu namorado e eu nos desviamos um pouco do nosso trajeto,


iríamos sentido São Paulo e acabamos vindo pra cá. — ele falou fazendo
uma careta engraçada.

— Putz! Sério? Que amadores. Vocês estão bem longe do destino. —


falei rindo.

— Hey, não ria. Pode me ajudar ou não?

— De onde vocês vem? — perguntei.

— De Montes Claros, Minas. Mas sou do Pará. Me chamo Fernando.


— ele estendeu a mão e eu apertei.

— Me chamo Iago. E sou do Rio mesmo.

— Ah sim. E essa fofura? — ele olhou pro Léo que balançou o rabo.
— Morde?

— Não, ela é deboinha.

Se aproximou e afagou a cabeça do cachorro que se deixou levar.

— Tu disse que estava com tua namorada? Cadê ela? — perguntei


olhando em volta.

Ele rindo: — Não, falei namorado. — enfatizou no O.


Caralho! O mano era gay? Nunca imaginaria. Parece que agora que
eu descobri esse mundo eu olho pro lado e tem uma pessoa gay/bissexual.
Surreal.

— Você é gay? — não me contive em perguntar assustado.

— Algum problema? — ele perguntou alarmado e olhou pra uma


Hillux preta estacionada a uns bons metros da onde a gente tava. — Se tu for
algum preconceituoso, meu namorado é lutador e faixa preta. Ele te mata...

O interrompi agitando a mão: — Hey, hey... Relaxa. Sou nada disso.


Cadê, mostra o mapa.

Ele aliviado: — Ufa, ainda bem. Oh, o mapa. Aqui está

— Vocês não usam GPS não?

— Longa história. — revirou os olhos.

Expliquei por onde era bom ir, apontando no mapa e disse também
que, por aquele caminho e seguindo as sinalizações, logo estariam na
rodovia que levaria pro Sul, que era pra onde eles iriam.

— Obrigado. Tu é um cara legal. — ele falou sorrindo.

— De nada, mano. Você parece ser um carinha maneiro. — devolvi o


cumprimento.

Pelo jeito que ele falava do namorado, mesmo com raiva, ele parecia
o amar. Deveriam ser bem parceiros. Lembrei do Enzo.

— Há algum problema? Parece meio... Abatido. — ele perguntou


notando minha apatia momentânea.

— Não é da tua conta! — respondi grosseiramente.

— Ah, claro. Desculpe. — falou sem graça. Me arrependi de tê-lo


tratado mal.
— Foi mal. Tô meio grilado. Tô passando por uns tempos estranhos,
difíceis.

— Namoro? — sondou.

— Mais ou menos isso. — respondi.

Nesse momento o Léo latiu animado pra alguém do outro lado da rua
e olhamos pra ver quem era. Enzo. Andando que nem modelo, todo lindo e
despreocupado. Ele certamente notou que era meu cachorro e olhou pra
confirmar, nisso nos viu. Ele nos fitou e pareceu pensar se continuava a
andar ou não, mas dois segundos depois, apressou o passo e se foi. O
acompanhei com o olhar até ele dobrar a esquina e só parei de olhar naquela
direção quando Fernando pigarreou para chamar minha atenção.

— Tu conhece ele?

— Infelizmente sim. — confirmei tristemente.

— Olha, eu possivelmente nunca mais irei te ver, e por essa razão se


tu quiser dizer algo antes do meu namorado vir. Põe pra fora, mesmo que de
forma rápida. Ajuda.

Achei estranho. Me abrir com um desconhecido nunca me passou


pela cabeça. Eu até tinha feito isso com o Lucas, mas ele era meu amigo e eu
não poderia falar tudo que eu tinha feito com o Enzo pra ele. Seria estranho.
Com o Fernando eu falaria agora e não o veria nunca mais, além do fato dele
ser gay e estar em um relacionamento. E ter uma opinião de alguém de fora,
que veria as coisas por outra ótica, seria bem legal. Então de boa, né?

— Você falou que é gay de forma tão simples... É até surreal ouvir
isso. Eu achei que nunca conheceria um cara com pinta de homem falando
isso com tanta facilidade.

Ele riu um pouco antes de responder: — Levou tempo e custou caro.


Mas foque em ti, tu é gay, mano?

— Eu não, tu que deixa! — rimos por um tempo, com a menção do


meme, depois olhei em volta pra ver se tinha gente prestando atenção porque
para todos os olhos eu ainda era hetero.

— Então, mais ou menos. Tô só confuso sobre o que eu sinto. Tive


um lance de brotheragem com um amigo meu. A gente se descobriu...
Despertou muitos sentimentos. Acarretou em uma pá de coisas.

— Esse que passou agora do outro lado da rua é ele? — chutou.

— Você é algum mago ou adivinho? — perguntei surpreso.

— Deu pra ver pelos seus olhos.

Fiquei envergonhado: — É tão notável assim?

— Pra quem conhece esses lances como eu, sim. — ele riu.

— Opa, algum problema aqui?

Um cara grandão todo armado chegou por trás do Fernando e me


encarou nos olhos. Marcando território. Deveria ser o tal namorado.

Fernando o olhou antes de responder: — Não, amor. Esse é Iago, e


esse o Léo. — falou afagando a cabeça do meu cachorro que já simpatizava
com ele como fazia com meus amigos. — Estão me ajudando a achar um
caminho bom. Iago, esse é Caio. Caio, esse é Iago.

— Fala, truta. — Caio me cumprimentou desconfiado. Eu acenei


com a cabeça.

— Cadê o carro? — Fernando perguntou pra ele.

— A tia da padaria não tem troco pra cem. Vim ver se tu tem.

— Bastante. — ele respondeu rindo.

Ele deu o dinheiro pra ele e esse voltou até a padaria. Daí voltamos
ao assunto.

— E vocês estão brigados... Tu e teu amigo? — perguntou.


— Estamos dando um tempo. O Enzo e eu... É difícil de explicar.

— Eu sei, cara. Mas vocês tipo... Se amam?

— Eu sinto algo muito forte por ele, mas meio que foi isso que nos
afastou. Não vejo futuro. Não como estou vendo o teu e teu namorado, que
aliás é muito parrudo. Como você aguenta?

— Todo mundo pergunta isso. É muito amor e K.Y, cara. — ele falou
rindo.

— Caramba... Imagino. — ri também. Oh se imaginava.

A Hillux parou do nosso lado e o Caio deu uma leve buzinada.


Fernando fez um sinal de calma com a mão pra ele.

— Iago, seja lá qual for o problema amoroso, não se reprima, não se


prive e nem guarda pra ti as emoções que te fazem enlouquecer, cara.

— Você acha que devo me declarar ou propor namoro? — perguntei


aflito porque no fundo era isso que eu queria.

— Não conheço os problemas teu e do Enzo. E cara, ele é muito


gato, hein.

Eu ri: — Você é engraçado.

— Se você achar que tem de fazer algo, faça. Se você acha que teu
amor por ele está acima de tudo, vai fundo sem ligar pros outros. Mas se
você acha que, ao decorrer desse tempo que ambos estão dando um do outro,
tu deva repensar e aproveitar, faça-o. Nunca duvide ou pare no tempo. Viva
e aproveite. Se for pra acontecer, se for pra vocês dois ficarem juntos, vai
acontecer. Se não, segue o baile.

— Verdade. — respondi sorrindo.

— Carpe diem, mano. Conhece? — ele falou.

— Sim.
— Pois pratique. O amanhã é consequência do hoje, se você se priva
agora, não vai obter nada depois.

— Cara, valeu mesmo. Sei até o que fazer. Muito bom ouvir essas
coisas de alguém desconhecido, mas que conhece meu problema tão bem.

— Disponha, agora deixa eu ir antes que meu impaciente namorado


quebre a buzina. Tchau, Léo. — ele afagou as orelhas do meu cachorro que
abanou o rabo alegre.

— Ele gostou de ti. Fernando-do-Pará. Foi uma honra. Boa viagem.


Adeus.

— Boa sorte com o Enzo, Iago. Felicidades. — ele falou se dirigindo


até a Hillux onde Caio, o namorado desconfiado, o esperava.

Foi muito bom ter aquele papo com ele que mesmo não me
conhecendo deu conselhos pra lá de proveitosos. Ele era um carinha bem
bacana e se até o Léo gostou dele isso era um fato incontestável.

Sim, eu saberia o que fazer depois de ter conversado com ele. Eu iria
pra pegação! Lógico, Enzo tinha seguido em frente e, como Fernando disse:
Viva e aproveite. Eu iria aproveitar demais, haha.

Na farmácia comprei o remédio pra minha mãe e voltei cheio de


ideias na cabeça. Mais tarde fui pra aula e lá coloquei meu plano em ação.

Na nossa sala sempre rolava conversa sobre contatinhos, matchs,


crush... e eu sempre ficava boiando calado porque se falasse algo iria passar
vergonha. Mas depois de ter conversado com Nando eu iria perguntar ao
Lucas pra cair naquele mundo que eu sabia previamente que era de pegação.

Na faculdade ia tudo muito bem, sou ótimo com números e relação


com pessoas, extrovertido por natureza, e sabemos que para se trabalhar
nesse meio (RH) era necessário ter jogo de cintura, afinal, você está lidando
com pessoas (nooooossa, sério?).
Mas deixemos de falar de aulas. No restaurante universitário nos
juntávamos sempre nos intervalos e finais de aula, Lucas estudava em outro
bloco, mas sempre que dava se juntava a mim e aos meus amigos na nossa
mesa.

— Hey, bora bater um papo ali? — perguntei depois de alguns


minutos que ele tinha chegado ali. Ele apenas afirmou com a cabeça e nos
levantamos.

— Fala. Parece sério, hein?! — ele perguntou quando chegamos a


uma parte menos movimentada, mas ao longe dava pra ver um casal se
pegando. O cara tava com uma mão por debaixo da saia da guria que gemia
fininho tentando se segurar. Rimos.

— É sério, sim. O que é match? — perguntei coçando a nuca


constrangido. Ele me olhou estranho e quando entendeu riu até sair lágrimas.
Dei um tabefe na cabeça dele.

— Pra quê tu quer saber disso, porra? — riu mais um pouco.

— Ué, povo só fala nisso, quero ficar de fora não. Fala aí vai. — pedi
aflito.

— É de um aplicativo de celular, o Tinder. De relacionamento. Lá tu


coloca o gênero de pessoas que você quer conhecer e sai dando like (fiz cara
de dúvida)... tipo assim, se tu gosta do perfil da pessoa, cê vai e dá um like,
quer dizer que tu gostou. Aí se a pessoa gostar de você também, ela vai te
dar um like de volta. Aí vocês podem trocar mensagem.

— Então só dá pra trocar mensagem depois que os dois dão like? —


tentei entender.

— Exatamente. Já ouviu falar que quando um não quer, dois não


brigam? Mesma coisa. Só troca o brigar por trepar. É app de pegação
mesmo, haha.

Aí eu fiz uma cara de "ahhhh entendi" e ele riu. Pedi pra ele baixar
no meu celular porque nem isso eu sabia, ele me explicou por alto como se
baixava e eu entendi (fingi). Baixou outro lá que é um verdinho e disse que é
ótimo pra trocar mensagem, que geral tinha e bla bla bla, até minha mãe
tinha e vivia me cobrando pra colocar no celular, que era mais fácil se
comunicar assim e tals. Tava cedendo a mudança naquele momento.

— Aqui ó, baixei. Agora me diz que tipo de pessoas tu quer


conhecer? Mulheres ou homens? Dá pra ser os dois também. — falou dando
de ombros e riu de lado.

Aí entrei naquela dúvida paradoxal: o que eu escolho? Botemos na


balança que sempre peguei gurias e que Enzo foi a exceção, ok. Mas se eu
tivesse a oportunidade eu pegaria outro cueca sem ser ele; que o diga o
Lucas. Mas se já é demais pra assimilar com um, então imagine com mais de
um.

Então era melhor tentar só com mina por enquanto. Embora eu nunca
tivesse tido problemas em arrumar um lancinho no cara-a-cara. Mas se esse
app era assim tão bom e maneiro eu agradeceria ao Lucas por me ensinar a
mexer.

— Coloca só com mina aí. Cabeça fudida demais pra pensar em


cueca. Mas se você quiser, eu tô aqui. Sou ótimo pra matar a curiosidade. —
falei sorrindo e apertando a coxa dele perto da virilha. Ele me devolveu um
murro no ombro que doeu e rapidamente tirei a mão.

— Se liga, mané! Libera o cuzinho que a gente fica. — ele falou.


Neguei com a cabeça e ele riu. Deixa assim então, haha.

Ele escolheu umas fotos minha e colocou no perfil, disse que ajudava
a pessoa te curtir e tal. Devo falar que sou fotogênico, e adoro tirar foto sem
camisa, então devia ser um prato cheio pras gurias de plantão. Depois me
ensinou todas as funções e deixou na minha mão, se despediu e foi com a
turminha dele. Fiquei mexendo no app e dando like em todas que via, recebi
também, inclusive de garotas da faculdade que conhecia de vista, mas não
troquei mensagem com ninguém.

Mas por ora chegava de celular. Gostava do contato direto, olho no


olho.
Voltei pra mesa e os malucos falavam de futebol, engatamos em uma
conversa sobre qual era o melhor time da temporada e coisas afins.

Quando deu a hora, me despedi e voltei pra casa dormindo com a


cabeça encostada na janela fria do busão, acordei uma parada antes da
minha. Adoro o poder do pobre de não perder a parada que tem que descer,
haha.

Já em casa tinha comida feita e eu tratei de acabar com ela, a Ju


dormia, assim como minha mãe e eu também fui me deitar, então essa era a
hora de mexer naquele trocinho e ver se descolava mais matchs.

Aí sozinho uma questão me bateu, por que só ter meninas no meu


app se eu claramente estava curtindo cuecas? Tudo bem que eu só tenha
ficado com o Enzo, mas tenho certeza que não travaria se fosse pegar outro
mano. Por que não começar a mudar agora?

Fui nas configurações e mudei pra aparecer na minha tela não só


meninas, mas meninos também. Que se foda.

Apaguei a tela e deixei o celular de lado do travesseiro. Com as mãos


atrás da cabeça encarei o teto e vi na minha mente cenas do Enzo e eu
reproduzidas em todos os detalhes. Nos beijávamos, nos olhávamos, tinha
sintonia e química fora do comum. Será que só eu sentia aquilo? Será que
ele era tão insensível ao ponto de não conseguir se apaixonar? Porque,
caralho, pra mim foi impossível.

Mas nem cheguei a pensar muito, um som no celular me tirou dos


pensamentos. Aquele som eu não conhecia, quando destravei o celular vi
que era uma notificação do aplicativo, "Hmm, vamos ver quem é!" abri e pá!
Um mano. Moreno do sol, rosto anguloso com barba despontando no queixo
bem feito, os olhos que se fecham quando sorri, o que o deixava com cara de
moleque sacana, cabelos bem estilosos...

Guilherme, haha.

Bonito. Na verdade, muito bonito pro meu gosto. O que ele viu em
mim? Devolvi o match pra ele não se sentir rejeitado, e nem foi. Segundos
depois recebi uma mensagem dele e essa foi a primeira noite em que eu
fiquei até altas da madrugada conversando com um mano que queria
claramente me dar. Se pá, eu foderia com ele? Por que não? hahaha.
—15—
— Então, Guilherme...

— Pow Iago, me chama de Gui. Parece meu pai quando fala comigo,
haha.
Nós rimos antes de eu falar: — Beleza. Então, Gui, faz o quê da
vida?

Depois de um tempo de tinder, outro de WhatsApp, fomos pra etapa


das vozes. Ele perguntou se podia ligar e eu meio tímido disse que sim, e já
fazia quase uma hora que estávamos batendo um papo gostoso pelo celular.
A pergunta "faz o quê da vida" já tinha aparecido, mas estávamos ficando
sem assunto. Odeio quando isso acontece, por isso gosto do olho no olho, dá
pra ficar calado e olhando o rosto da pessoa, é legal, haha.

— A gente já falou isso, hahaha. — ele riu — Acho que estamos


ficando sem assunto. Vou te mandar uma foto de como eu tô aqui.

O celular ficou um tempo em mudo e logo depois vibrou, indicando


que eu tinha recebido uma mensagem. Eu havia tirado o som do aparelho
porque aquela merda não parava de assoviar no meu ouvido. Gosto não!

Abri a mensagem, que era do Gui, e meu pau deu aquela fisgada
ficando duro no próximo segundo. Ele tinha me enviado uma foto deitado
em sua cama, aquela cara com sorriso fechado, consequentemente seus olhos
também, peito desnudo e a barra da cueca aparecendo, os pelinhos
aparecendo também, bem na minha cara! Maluuuco, pirei!

— Filho da puta! Quer me matar? — falei ofegante e ele riu do outro


lado da linha.

— Que é? Foto normal, ué. Nada demais, haha.

Apertei meu pau que já estava no ponto. Esses lances eram novos pra
mim e eu tinha que dizer que era um prazer diferente. Diferente, mas
gostoso.

— Tu é um safado. Fica mostrando esse peitoral construído aí. Vôlei


que te fez assim é? Hmm, gostei. — enfiei minha mão dentro da cueca e
apertei a cabeça do caralho.

— Vôlei, natação... e você pratica que esporte? — ele perguntou.


Essa era a deixa pra mandar uma fotinha dessas? Que seja.
— Eu só jogo um fut e faço musculação. Espera, vou te mostrar. —
levantei e fui pra frente do espelho grande que tinha ali no meu quarto, tirei a
foto e já enviei esperando a reação.

— Caralho mano, puta que pariu! Tu é maior gostosão. Nossa, chega


deu um calor aqui. — ele falou rindo de nervoso e eu por tabela ri junto.

Agora não vou contar o que aconteceu depois disso. No básico, sexo
por telefone. Novidade pra mim.

Aí você me pergunta:

— Já estamos nessa fase, Iago?

— Sim, lógico!

Tava vendo com meus contatinhos e pelo jeito o primeiro a ir pro real
seria o Guilherme, esse tesudinho do caralho. Meter a pica!

Essa troca de nudes aconteceu pela manhã, saí do quarto quase perto
do almoço.

— Menino, tá doente? No quarto até uma hora dessas? — Minha


mãe ralhou. Ela não tinha ido ao trabalho não sei porquê. Juliana estava no
colégio.

— Tava dormindo não. Bom dia mãe. — dei um beijo na bochecha


dela e fui pra geladeira pegar um suco que ela tinha feito.

— Como vai na faculdade, Iago? — ela perguntou enquanto cortava


verduras para temperar algum prato que estava fazendo pro almoço.

— Normal. Tá bem. Já tá na época de caçar estágio, aliás. — falei


tomando um gole de suco. Ela só respondeu "hm". Ela cobrava nos estudos,
mas não se metia tanto, o que era bom na verdade.

— Me diz, você brigou com Enzo? — me sondou desconfiada,


engasguei com suco e bolacha que estava comendo.
— Por quê? — perguntei limpando a boca com as costas da mão.

— Sei lá. Viviam grudados e agora não mais. O que aconteceu? —


limpou a mão no pano de prato e sentou na cadeira a minha frente, pegou a
garrafa de café que vivia cheia e colocou numa xícara pra bebericar o líquido
superquente. Língua de aço.

— Aconteceu nada não, mãe. Tamo normal. — falei meio


constrangido.

— Ah, mas aconteceu sim! Pedro até veio me perguntar por que
vocês tinham brigado. Falei até que foi por casa de xoxota, mas eu tenho
certeza que o buraco é mais em baixo. Anda. Fala!

Oi? Como eu estou agora? Super vermelho, e com cara de pânico.


Até o Pedro percebeu isso? Caralho mermão.

— É por conta da faculdade, mãe. Ele também não tá de férias, tá


caçando emprego e não sobra muito tempo pra gente... digo, pra gente sair e
tals. Não encana com isso não. — desconversei e logo em seguida me
levantei, colocando o que eu tinha sujado na pia.

— Encana não, hunf, não sou encanador. Não vou encanar mesmo!
— ela resmungou saindo da cozinha e eu ri. Conhecendo minha mãe como
conheço, ela não deixaria esse assunto passar, e como ela já tinha me
interrogado (tentado, sou liso) era vez do Enzo entrar na reta. Só esperava
que a desculpa dele fosse tão convincente, e parecida, como a minha. Vamos
rezar!

Final de tarde e eu morgando em casa, esperando sentado que algo


acontecesse pra me tirar dessa preguiça, e quando a gente quer com força o
universo conspira a favor, né?

Celular chamando, nome do Gui no identificador. Ai meu saco!

— Faaala, mano. — atendi sorrindo.


— Aí, desculpa te ligar assim, mas tava a fim de sair contigo. Bora?
— perguntou. Caralho, direto o moleque, hein? Nossa!

O quê eu respondo?

Que não; E ficamos nisso de virtual que nunca foi minha praia?

Que sim; E levamos esse lancinho pra outro patamar? Porque, tipo,
se a gente ia sair, ia rolar safadeza, certeza.

Mas eu tô preparado pra isso? Pode ser que sim. Pode ser que eu
precise exatamente disto...

— Jaé! Fala onde a gente se encontra.

Estava decretado, ia rolar (ou não). Ele deu as indicações de onde


encontrá-lo e a que horas. Iaguinho já tinha um date pra noite, uhuu!

— Porra, tô nervoso, hehe.

Frente a frente pra um primeiro encontro com um cueca, que não era
o Enzo, tremendo as pernas de leves, mãos suando e o coração martelando
no peito, me sentindo uma princesa! Enxuguei as palmas das mãos na minha
calça e sorri sem graça.

— Eu também tô, mas relaxa. Eu não mordo. Bom, só se pedir. —


falou sorrindo de lado. Clássica, hahaha. Quebrou até o clima, rimos e
continuamos com um papo animado, porém cabeça.

Fui até certo bairro de ônibus e no lugar indicado ele me pegou de


carro, ou seja, o lugar pra onde iriamos estava nas mãos dele, acho que
rodamos uns 30 minutos até sair da cidade.

“OK, isso é estranho. Iago está tenso. Relaxa, relaxa, porra!”

— Te levar num lugar que eu gosto de ir pra ficar sozinho e pensar


na vida. — ele me deu uma rápida olhada e voltou o olhar pra estrada.
Alguns minutos depois chegamos a uma parte mais alta da cidade, onde dava
pra ver as luzes dos carros e casas, o que deixava um visual bacana e...
romântico (eca), pra coisa toda.

— Curtiu?

— Porra, nunca tinha vindo aqui. Bonito, hein? — admirei com as


mãos nos bolsos. Tínhamos saído do carro e lá de fora admiramos o lugar,
um vento frio e gostoso passava pelo nosso corpo, arrepiei os pelos dos
braços e a sensação se intensificou quando ele encostou o ombro no meu,
suspirei e olhei pra ele. Precisava falar mais nada.

Com um mão em sua nuca eu o puxei pra mim, não teve resistência
nem relutância, ele veio bonitinho e colou os lábios no meu. O beijo
começou forte, senti um gosto metálico na boca, só não sei se foi meu ou
dele. Rodeei sua cintura fina com meus braços e o trouxe pra mais perto
possível enquanto ele enlaçava os braços nos meus ombros. Beijava gostoso
o moleque, mas faltava uma coisa a mais que não soube identificar o que era.
Não disse nada, só continuei.

Nos beijamos e nos pegamos por não sei quanto tempo. Tempo é
relativo na verdade, já assistiram Lucy? Filme foda que deveria ter sido mais
aprofundado em suas teorias... Mas por que caralho eu estou aqui falando de
algo que não tem nada a ver? Porque o moleque tá de taca dura relando na
minha. Tá gostoso? Tá! Mas eu tô nervoso, parece a primeira vez que eu fui
transar.

— Bora pra outro lugar? — ele me tirou dos pensamentos


distribuindo beijos pela minha bochecha. Apenas afirmei com a cabeça.

Então fomos em direção a um motel com ele amassando minha pica,


safado, hehe. Não sei como conseguia se concentrar na pista, porque eu
mesmo não estava conseguindo esse feito. Também não vi o trajeto e
enquanto tempo ele foi feito, só vi quando chegamos ao motel e ele pediu
um quarto lá.

Maluco!! Nunca fui com mano pra um motel! Na verdade, até pouco
tempo atrás, eu nunca havia pegado um mano. Eu tava nervoso e pilhado,
mais isso foi revertido para tesão.

Ele ia levar pica, ôh se ia!

Entramos aos trancos no quarto e só senti quando caí por cima dele
em cima da cama redonda (negócio brega) ele riu em meio a um gemido e eu
desci lambendo o pescoço moreno dele, deixei algumas marcas ali e ele não
reclamou, ou seja, curtiu.

Tiramos as roupas no desespero mesmo e novamente eu subi em


cima dele prendendo os braços acima da cabeça, imobilizando enquanto me
deliciava de sua pele quente e boquinha suculenta.

— Ahhh, porra! Como cê é gostoso, mano! — ele gemeu. Eu não


poderia discordar, né? Deixa ele achar o que tiver que achar.

Soltei as mãos dele e desci os beijos pelo peitoral magro, porém


definido dele, lambi um mamilo e torci o outro de leve nos dedos, ele gemeu
e arqueou as costas indicando que gostava daquilo, haha. Lambi a barriga e
cheguei perto da pica dura do moleque, não me deu vontade de chupar nem
nada, embora parecesse convidativo, a única que eu tinha colocado na boca
era a do... voltemos ao agora.

Não chupei, mas bati uma punheta nele pra ficar mais gostoso. Ele só
gemia e falava coisas safadas que me atiçavam, aí achei certo ele me
retribuir o carinho, me deitei na cama e balancei o pau babado pra ele se
divertir. Sorriu de lado e se deitou entre minhas pernas, segurou meu pau e
deu uma lambida na cabeça sentindo o gosto, depois engoliu até onde deu e
me pagou um boquete pra lá de satisfatório, quase gozei umas duas vezes.

— Já volto. — ele disse se levantando. Foi nas roupas dele e tirou


uma camisinha do bolso da calça. Bundinha magra, lisinha que cabia nas
minhas mãos, doido pra sentir o gosto na cabeça da pica.

Voltou pra onde eu estava e fez algo que nunca ninguém fez comigo,
colocou a camisinha com a boca, achei maior viagem e acho que o pau ficou
ainda mais duro.
— Se liga! — ele falou se posicionando em cima de mim e
segurando o saco com uma mão e meu pau com outra, se encaixou no meu
caralho e foi descendo devagar, porém cadenciadamente. Talentoso, devo
dizer.

— Aiii que grosso! — ele gemeu e eu ri mentalmente pra não cortar o


tesão do leque.

— Cuzinho apertado, hein? Isss rebola! — dei um tapa na bunda dele


que obedeceu rapidamente. Aí ele começou a se soltar e tenho pra mim que
nessa noite, ele que me fodeu.

— Ahhhhh, piroca boa da porra. Soca vai! — ele fez uma cara de
tesão e se apoiou nos joelhos e mãos pra me dar liberdade. Tomou rola de
baixo pra cima, revirava os olhos e o pau melado batia na minha barriga.

Cansei da posição e virei com ele ainda engatado pra ficar de frango,
aí ele tomou rola de cima pra baixo, haha.

Senti meu gozo chegando e pelo visto o dele não iria demorar muito,
pelo jeito que ele delirava e apertava os mamilos... eu mesmo parecia um
cachorro em cima dele.

— Ahhhhh porra, aguenta, aguenta rola, caralho! — falei


ensandecido. Ele só ganiu e eu martelei o pau no fundo do cu dele, moleque
não durou três segundos. Se esporrou todo no próprio peito e apertou meu
cacete no cuzinho, quase como que me ordenhando. Dei mais uma socada
profunda e soltei toda goza na camisinha, arfando feito um condenado.

Caí pro lado e mirei nosso reflexo no espelho acima de nós. Ele tinha
um sorriso de satisfação no rosto e respirava com dificuldade, as vezes fazia
um "ixxx" puxando o ar pra dentro, haha. Devo ter estourado algumas pregas
dele, deveras, machucou até cabeça do meu pau, tava até ardido.

Suspirei.

Por que mesmo cansado e saciado eu sentia que faltava algo? Queria
paz, mas não sabia como consegui-la, ai ai, foda isso. Mas um pensamento
me abateu naquela hora: Eu continuaria tentando esse feito.
Aí me deixei dormir e minha última lembrança foi de um rosto
infantil e risonho, com boca pequena e vermelha e olhos claros, verdes/azuis
pela luz do sol que o ofuscava. Ahhhh — suspiro.
—16—
"O que é a filosofia, senão a (in)certeza de que toda sabedoria é fruto das
nossas dúvidas?" — Alex Verly.

— Nossa, profundo... Mas não entendi nada. Puf! — bloqueei a tela


do celular e guardei no bolso.
— Oi? Falando comigo? — Lipinho perguntou do meu lado.
Estávamos em mais um dos nossos jogos de fim tarde, ele como sempre
bebia água da sua garrafinha.

— Não, não. Divagando aqui comigo mesmo.

— Tá mais profundo que uma poça de rua. — riu e eu joguei minha


camisa suada na cara dele.

Dessa vez eu tinha ficado no time com camisa, porque afinal, Enzo
tinha ficado nos sem camisa. Acho que pra me provocar com aquele corpo
sensual molhado de suor.

Ficamos mais um tempo calados, até ele abrir a boca.

— Voltaram as boas? — ele perguntou como quem não quer nada,


até tirava a sujeira da unha pra mostrar desinteresse. Mingana que eu gosto.

— É... tamo tentando, se preocupa não. — dei dois tapinhas no


ombro dele pra passar aquela confiança que nem eu tinha.

— É que cês são tipo irmão, é chato ver vocês brigados. Os moleques
também comentaram. — ele falou realmente preocupado e eu achei fofo
(oi?) o jeito e intenção do moleque. Sorri.

— Liga não, irmãos também brigam, mas a gente se resolve. — olhei


pra frente e vi que Enzo me encarava sério, uma cara meio que de tristeza,
não sei bem.

— Enfim, tô indo nessa. Mais tarde tem faculdade e tenho um


trabalho pra entregar. A gente se vê maninho. — falei me levantando.

Nos abraçamos rapidamente e eu saí sem olhar pra trás.

O campinho ficava a alguns minutos da minha casa, dava pra ir e


voltar andando sem se cansar. Perto da minha rua recebi uma mensagem, que
pelo som reconheci ser do Tinder, tirei o celular do bolso, desbloqueei a tela
e abri a notificação. Match com uma carinha que parecia ser mais velho,
Renan. Ui. Sorri comigo mesmo. Esse app é bem diversificado e maneiro,
cada gostoso que me aparece...

Quando fui mandar mensagem pro cara, senti meu celular sendo
arrancado da minha mão, já me armei pra esmurrar o ladrão, que de ladrão
não tinha nada. Era o Enzo olhando meu celular com a testa franzida.
Rapidamente tomei da mão dele e enfiei no bolso.

— Qual é a tua? Quer tomar uns tapas? — perguntei irritado e ele


sorriu de lado. Engoli em seco e continuei aguardando.

— Que porra é essa no teu celular? Tinder? — ele sorriu, mas


começava a ficar vermelho e isso era indicação de que ele tava começando a
ficar irritado mesmo. Dessa vez eu que sorri de lado.

— É ué. Que tem? — perguntei dando de ombros.

— Tu tá dando match em macho? É isso?

— Pelo jeito que você falou, conhece bem o app né? — perguntei ao
que ele hesitou.

— Não muda o foco, caralho! Que porra é essa, Iago? — apontou pro
meu bolso.

— Tô, caralho. Tô cheio de contatinhos — ri aberto —, ficando


difícil administrar até.

— Seu idiota! Tá virando puto, é isso? Precisa de app pra pegar


alguém? — ele veio pra cima me empurrando e eu rapidamente o imobilizei
contra a parede. Rostos quase colados, assim como nossos corpos.

— Tu que falou que ia me fazer virar um putão, idiota. Só tô fazendo


o que você disse. Satisfeito?

— Me larga! — ele pediu baixo e ameaçador.

— Ou o quê? — desafiei. Ele riu de lado e jogou a pélvis pra frente


batendo a mala dura na minha. Não tinha percebido em como eu estava ereto
com esse contato com ele. Rapidamente o larguei e voltei a andar de forma
apressada pra casa, mas ele tinha que me seguir.

— Me deixa, porra! — gritei. Ele botou as mãos pra cima rindo.

— Vou almoçar lá, ohh.

Cínico! Que raiva. Que vontade de meter a porrada, e depois comer o


cuzinho dele até ele chorar... opa, essa parte a gente edita e tira...

— ... aí quando ele veio pra cima, eu meti o joelho no meio das
pernas dele. Ele caiu sem ar e eu enchi ele de chutes e socos. Parece que
quebrou uma costela.

Pedro contava mais uma de suas histórias educativas pra minha irmã.
Nem ligávamos mais, ela é pior que nós todos juntos mesmo.

— Ele chorou? Adoro ver homem chorando, dá vontade de cuidar.

— Vai cuidar de lavar suas calcinhas! Chega de história, Pedro, passa


pra cozinha fazer a salada. Juliana faz o suco, e vocês dois? Parados que nem
dois idiotas no meio da sala, ainda todo suado. Os dois pro banheiro! Rápido
que o almoço já vai sair. ANDA! — minha mãe apareceu na sala do nada e
todo mundo se mexeu sem falar um "a", ou íamos apanhar, como diversas
vezes já aconteceu.

Entramos no meu quarto rindo feito idiotas e eu só fui me ligar que


ria com o inimigo quando ele caiu na minha cama cheirando meus lençóis,
consequentemente deixando o cheiro dele na minha cama!

— Sai já daí! — puxei ele pelo pé que mal se mexeu. Encolheu as


pernas e riu.

— Vai ter que vir aqui me tirar. — alisou o abdômen trincado que eu
tanto lambi outrora.
— Vai se foder, tá bom? Vai ser foder! — peguei minha toalha e
deixei ele lá. Fui pro banheiro e tirei a bermuda ficando de cueca, a porta
abriu e fechou. Enzo. Puta que pariu!

— Vai tomar no seu cu, caralho! Sai já dessa porra, desgraça!! —


falei alterado.

Ele não ligou e foi tirando a roupa devagar e eu fui ficando estático, e
de pau duro. Não sou de ferro, talvez meu pau sim...

— Sai! — pedi baixo.

— Sai você. Ou fica aí. A tia disse pra irmos pro banheiro, ou seja,
os dois. Como nos velhos tempos, lembra? — tirou a cueca e eu engoli em
seco, ele já tava duro e eu salivei. “Autocontrole, Iago, autocontrole!”
Mentalizei meu mantra.

“Ele quer brincar, tudo bem, vamos brincar.”

Tirei minha cueca e joguei no cesto de roupas sujas, ele já se banhava


de olhos fechados, deixando o fluxo de água cair sobre o rosto, o que fazia
os cabelos irem para trás.

“Deus, como desejo esse mano, como eu preciso dele...”

Cheguei por trás e o abracei, me molhando por inteiro, ele gemeu e


encostou a cabeça no meu ombro todo entregue, meu pau duro relando
naquela bunda durinha que se encaixa direitinho na minha pélvis. Passei as
mãos pra cima e pra baixo sobre o abdômen, os bicos durinhos relando nas
minhas mãos. Rebolei o quadril pra aumentar o atrito. Depois alcancei o
sabonete no suporte e fiz bastante espuma, ensaboei o peito lisinho dele e fui
descendo de encontro ao pau que de tão empinado batia no umbigo. Tudo
isso com meu pau encaixado naquele rego quente, lógico. Quando minha
mão contornou o pau, enquanto a outra lhe apertava as bolas, ele gemeu
bambeando as pernas. Eu lambi o pescoço dele e pude notar uma farta gota
de pré-gozo se formar na cabeça exposta. Delícia demais. Porém...

— O que você quer de mim? — perguntei no ouvido dele depois de


outra lambida. Ele tremeu. Parei todos os movimentos que fazia.
— E-euu, eu quero te sentir, porra. Saudades do caralho de você,
Aguinho.

Suspirei. Eu também estava, mas...

— Eu abri meus sentimentos pra você e você desdenhou. Por isso, só


vamos ter algo novamente quando você descobrir o que sente por mim, e eu
não aceito "tesão" como resposta. Nós dois sabemos que não é só isso. Você
sabe como me sinto em relação a você e ao que nós temos. Seja homem e me
tenha quando quiser. — beijei a bochecha dele, catei minha toalha e saí do
banheiro deixando ele lá parado.

Devo dizer que me doeu ter que colocá-lo contra a parede desse
modo, mas era necessário. Moleque precisava crescer, ele precisava sair do
segundo armário. Esse de revelar os sentimentos. Cabou que nem tomei
banho direito, e fiquei de pau duro, foi por uma boa causa, né?

— Tiaa! Traz uma toalha pra mim, por favor!

Ouvi o Enzo gritar minutos depois e ri de forma leve. Era um


moleque mesmo. Delicioso, mas moleque. Espero que não demore em
descobrir o que sente por mim, porque eu não estarei aqui para ele pra
sempre.

— Tô saindo. Beijos! — gritei da porta de casa. Era hora de labutar,


faculdade me chamava. Fiz todo o trajeto tranquilamente, estava com alguns
minutos de vantagem, então não precisava correr pro ponto como diversas
vezes já aconteceu.

Acho que já falei aqui que as pessoas do ônibus/ponto são sempre as


mesmas e que, de alguma forma, você pega intimidade e afeição com elas.
Tinha um menino que era claramente gay, se vestia todo apertado e tinha
trejeitos femininos, era divertido e sempre solícito com os mais velhos.

Nesse dia em especial, dois garotos novos estavam no ponto e eu


percebi que eles eram aquele tipo de gente que fala alto e faz piada até da cor
do carro; inconvenientes é a palavra. O Rodrigo (o garoto gay) estava mais
afastado, pois ele percebeu que os manés estavam zuando ele, daquele jeito
hétero de ser, imitando o jeito dele e tal.

Já fiquei inquieto, porque se antes eu já não era tolerante a esse tipo


de coisa, agora era muito menos. Podia não concordar com o jeito dele, mas
eu precisava respeitar. Sabemos que respeito é a base de tudo.

As outras pessoas ali também não estavam gostando do que eles


estavam fazendo, mas não falavam nada.

— Me diz, florzinha, você transa de costas? — o mais baixo deles


perguntou e caiu na gargalhada com o amigo. Foi a gota d'água pra mim. Me
aproximei devagar e coloquei um braço sobre o ombro do Rodrigo, ele até se
sobressaltou, os caras pararam de rir e as pessoas em volta olharam pra nós
esperando os acontecimentos.

— Algum problema aqui?

— Nan mano, só tamo zuando. — o mais alto respondeu.

— Mas ele não tá confortável, e eu acho melhor vocês pararem com


isso. — sorri de lado de forma ameaçadora.

— Qual é? Tu é viado também? — o mais baixo perguntou e eles


riram.

— Oh, seu filho da puta. Com quem me deito não é do interesse de


vocês. E se eu quiser dar o meu cu, tu vai me impedir? — fui pra cima dele e
o empurrei pelo peitoral, ele se armou e o amiguinho o segurou.

— Não entendo porque vocês se preocupam tanto com o cu dos


outros. Aposto que vocês se pegam. Quê isso? Inveja de mostrar quem
realmente é? Bota a cara no sol, mona! — fiz trejeitos com as mãos e
rebolei a cintura, as pessoas do ponto estouraram em risadas e começaram a
vaiar e mandar os caras saírem dali.

Perderam o ônibus. Senti muito, na verdade, não senti.


No ônibus sentei ao lado do Rodriguinho e perguntei como ele
estava.

— Eu tô legal, não é a primeira vez que isso me acontece, nem será a


última. Mas é a primeira vez que alguém me defende assim. Obrigado
mesmo, gato.

Ri e falei um “não há de quê.”

— Cara, na real? Não dá pra se calar diante de uma agressão (isso é,


sim, uma agressão), não pode ter medo. Se imponha, denuncie, não abaixe a
cabeça, mostre que não aceita esse tipo de brincadeira. Você não é carpete
pro outro pisar. Somos uma minoria e temos que nos unir contra o
preconceito pra ficarmos fortes.

— Como assim, tu é do babado? — ele fez uma cara engraçada.

Ri antes de responder: — Tô me descobrindo agora. — dei de


ombros.

— Nossa, um homão desses! Se eu tiver uma chance me dá um


toque! — falou. Rimos e seguimos viagem, ele desceu antes de mim.

Preconceito sempre foi algo abominável lá em casa, minha mãe


sempre nos ensinou a respeitar as diferenças. Tanto eu quanto Enzo tivemos
uma ótima educação nesse quesito e isso estava sendo de suma importância
nessa minha nova fase. Óbvio, eu não estava pronto pra tudo ainda, como
falar pra minha mãe que eu agora ficava com garotos, nem sei se um dia irei
estar, mas o que eu sei é que quando eu falar ela ficará do meu lado
independente de qualquer coisa.

Mas eu parei de divagar quando um toque no meu celular me


acordou, Renan no identificador. Sim, trocamos número mais cedo. Com o
Guilherme ficou só coisa do momento mesmo, foi pegação e foi bom pra eu
ver que tinha outras opções.

Sorri ao atender: Fala man! ... Quando você quiser uai ... Então
fechou! ...
Só não esfreguei as mãos uma na outra porque estavam ocupadas.
Vai rolar de novo. Uhuu!
—17—
Renan, como disse em outra ocasião, era um cara mais velho que eu,
32 anos pra ser exato. Mais experiente, mais relaxado, mas de boa com a
vida e com quem ele era; sem neuras com a sexualidade. Tudo que eu estava
precisando, tranquilidade. Como dizem por aí? Ele era do tipo amorzinho.
Pele naturalmente bronzeada, cabelos normais, com duas entradas na
testa, o que evidenciava a idade mais madura, corpo magro definido. Ele
praticava alguns esportes além de fazer musculação. Posso falar? O mano
era gostoso. Demais.

Já havíamos saídos duas vezes e na primeira rolou um sarro básico.


Percebi que ele não é do tipo que quer sexo no primeiro encontro e resolvi
me aventurar nesse lado também, da conquista, porque vamos combinar, eu
só chegava e pegava, sem emoção.

O Beijo dele era muito gostoso, chupava uma língua como ninguém,
haha, além de ter uma bunda super durinha que encheu minha mão. Falar em
mão, ele me deu umas patoladas que voltei pra casa cobrindo a parte da
frente da minha calça com a camisa, tava tudo manchado de baba de pica.
Safado.

Marcamos de nos ver no outro final de semana, e eu acho que ia


rolar... Mas por agora o que eu tinha era o Lucas. Não nesse sentido que
você está pensando.

Estávamos na frente da minha casa, no final da tarde. Ele tinha vindo


aqui pra jogarmos um jogo novo que ele havia comprado, mas o calor dentro
de casa era tanto que desistimos e fomos pra fora. Eu estava sem camisa,
boné na cabeça e descalço. Bermuda tipo moletom preta e a cueca branca
aparecendo nas laterais.

Lucas tirou a camisa também, mas ao contrário de mim estava mais


arrumadinho, bermuda jeans clara, tênis estilo skatista e óculos escuros,
barriga sequinha com pelos abaixo do umbigo entrando na cueca que notei
ser vermelha. Delícia esse moleque. Ainda pego, tenho dito!

— Mas eu gosto mais de RPG. — ele falou dando de ombros.


Falávamos de jogos.

— Nerd! Se bem que até no futebol tu me ganha. — rimos. — Ei, e


aquela guria que tu tava pegando? — fiz desenhos imaginários no chão com
o dedo.
— Só isso, pegando. Rolou mais nada. E tu? Dando matchs ainda?
— sorriu de lado de forma sugestiva.

— Tenho um encontro marcado pro próximo find, o outro na


verdade. Acho que como. — rimos mais uma vez e ele me chamou de filho
da puta. Minha mãe ouvir quebra a vassoura nas costas dele.

— E o Enzo? — perguntou. Alegria se escondeu num sei onde,


tristeza e decepção tomaram conta.

— Botei o mané na parede, disse que ele só ia ter algo comigo


novamente quando ele admitisse o que sentia por mim. Desde então ele
sossegou, nem aí aparece mais. — dei de ombros, mas no fundo senti a
"perda".

— Tu tá ligado que ele pode estar com medo, como você no começo
desse lance de vocês aí? — disse me olhando atentamente. Fiz cara de
dúvida e ele continuou.

— Sim. Pelo que você me contou, tu levou algum tempo pra digerir o
que tava rolando entre vocês. Ele pode estar do mesmo jeito, só que o lance
agora é o coração, e não apenas tesão. Dá um tempo pra ele.

Olhando por esse lado, ele tinha total razão. Naquele tempo o Enzo
me esperou botar as ideias nos lugar, eu poderia fazer isso também. Mas eu
ia continuar pegando, hehe.

— Pode crer. — falei apenas.

Jogamos mais conversa fora e ele se foi tempo depois com a camisa
no ombro.

O Legal de conversar com o Lucas era que ele me tirava um monte


de dúvidas. Mesmo sendo hetero, o filho da puta, entendia sobre assuntos do
mundo LGBT. Isso que dá ser estudado.

“Podemos trocar sabedoria, hmmm é uma ótima ideia, haha. Sei até
como isso poderia acontecer.”
Me peguei com sorriso idiota na cara quando ouvi uma voz perto de
mim: — Sorrindo atoa? Tem mulher na parada.

Rodolfo, meu vizinho, na verdade nem tanto, já que ele morava no


começo da rua. É branquelo, um pouco gordinho, mas tem aquele charme
que passei a admirar nos manos, as pernas são grossas o que deixa tudo
muito mais interessante, cabelos castanhos e um sorriso jovial no rosto, deve
ter uns 25. E inimigo do Enzo haha, nunca se bicaram, desde criança eles
viviam competindo.

Todo mundo tem um vizinho que não gosta nem a pau, ele era o do
Enzo. Nunca nos aproximamos por, basicamente, eu sempre ficar do lado do
Enzo.

Respondi sorrindo: — Que nada, só lembrando de umas coisas aí. E


aí, de boa? Indo na padoca? — estendi a mão e ele apertou, mão quente,
gordinha e bem tratada. Imaginei ela no meu cacete...

— Tô indo comprar um sonho pra mim. — riu e lambeu os lábios,


senti uma certa malícia e pensei que naquele mato tinha coelho...

— Maneiro, haha. O importante é sonhar. — mordi os lábios e ele


desviou o olhar, hahaha. Adoro flertar com macho. — Quero bomba de
chocolate!

— Te dar outro tipo de bomba! — ele disse de modo safado e saiu


rindo. Eu fiquei com cara de boboca, né? É, mano, acho que minha lista de
contatinhos tinha aumentado e eu nem havia percebido.

Como o sol aquele horário era de boas e uma delícia, eu resolvi


tomá-lo pra valer, botei as mãos em apoio pra trás e deixei o abdômen
completamente exposto, joguei a cabeça pra trás e fechei os olhos.
Maravilha, vitamina D!

Fiquei alguns minutos até ouvir um "fiu fiu" vindo de longe. Era o
Rodolfo com um saquinho de papel em mãos. Rimos e ele se aproximou,
sentou do meu lado e de dentro do saquinho tirou uma bomba de chocolate
me oferecendo. Porra! Queria me dar? Era só pedir! Amo bomba de
chocolate! Nossa!
— Caralho, gosto muito!

Numa mordida foi metade do doce, ele riu negando com a cabeça e
comeu o sonho dele. Conversamos algumas banalidades, ele tinha um papo
super divertido e descontraído, mas isso até ele ficar calado olhando pra
frente. Segui o olhar e tinha um Enzo visivelmente irritado nos encarando.
Balancei a cabeça pros lados pedindo silenciosamente pra ele não fazer nada.
Adiantou? Lógico que não!

— De amiguinho novo, Iago? — ele perguntou desdenhando.

— Então, Iago, tô indo nessa. Teu irmãozinho me odeia, hehe. —


Rodolfo falou se levantando, levantei junto. Ele riu jocoso, me estendeu a
mão e foi embora sem olhar pra cara do Enzo. Eu quase ria da cara dele, se
não tivesse achado uma babaquice o que ele tinha feito.

— Qual é, agora? Até pro Rodolfo tu vai dar mole? — perguntou


irritado. Cruzei os braços e olhei bem pra carinha vermelha dele antes de
responder.

— Vou dar mole não. Se ele quiser vai ser bem dura mesmo. — falei
sugestivo e ele arregalou os olhos de um jeito engraçado.

— Teu cu, Iago! — se aproximou — Tu é meu! Esse caralho aqui


ainda é meu! — ele segurou meu pau na mão e se aproximou com o corpo, o
calor que vinha dele era muito gostoso e convidativo, endureci rapidamente
e ofeguei.

“Quer brincar de novo? Vamos.”

Segurei ele pela cintura e tasquei um beijão naquela boca presunçosa,


só assim pra parar de falar merda. Porra, que saudade daquele beijo, nada se
comparava.

“Que língua deliciosa de se chupar, e essa mão amassando meu


cacete? Vou gozar na cueca. Ahhh porra que saudades de atolar a mão
nesse rego quentinho.”
O cuzinho dele piscava nos meus dedos e isso me atiçava ainda mais.
Juntei a cintura dele o trazendo mais pra perto de mim. O coração dele
martelava contra meu peito e ele gemia na minha boca. Ele puxava meus
cabelos e então eu gemia... caralho, monte de sensações.

Mas fomos interrompidos pelo som de um rock no celular dele. Só aí


nos demos conta que estávamos no meio da rua, correndo o risco de sermos
pegos pela boca maldita da dona Marieta, a fofoqueira!

Eu estava atônito e de caralho pulsando, Enzo todo descabelado e


vermelho, mas só queria mais, e do modo que ele me olhava de volta, a coisa
era bem recíproca!

Ele levantou a mão como se fosse me tocar e eu a segurei, vendo ele


fazer uma cara de "não entendi".

— Nada muda! — falei. Ele murchou e os olhos brilharam, eu queria


por no colo e cuidar, mas caralho, me dá um desconto!

— Porra, Iago... — ele tentou falar, mas eu balancei a cabeça


negativamente o impedindo.

— Primeiro descubra o que sente por mim. — falei dando um beijo


na mão dele que eu segurava. Logo em seguida entrei em casa, com os
sentimentos mais confusos que antes. Queria me bater, queria bater no Enzo,
mas no fundo eu sabia que era necessário. E ele iria abrir os olhos.

Ou não...

Os dias se passaram e nas vezes que seu Pedro foi comer lá em casa,
Enzo não havia ido mais, pena. Estava tudo a mesma loucura de antes na
faculdade, no Tinder e no Whatsapp, mas eu me recusava a pegar vício nesse
último.

Continuei vendo o Rodolfo que tinha um papo super bacana e com o


Lucas as coisas meio que tavam virando brotheragem... sem a parte da
pegação, ele era meu novo melhor amigo e novamente me disse que quando
tivesse curiosidade eu seria o felizardo. Esperava que fosse logo, haha.

Os dias se passaram assim e na sexta de manhã Renan me mandou


mensagem falando que me pegaria de carro na faculdade. Recusei? Lógico
que não. Tudo certo e combinado. O dia passou, briguei com Juliana, minha
mãe nos deu umas sandalhadas, tomei banho, me masturbei no banheiro e
logo depois me arrumei pra aula e pro que viria depois disso (aquela
carinha).

No ponto de ônibus conversei com Rodriguinho e os outros


companheiros de labuta, sentei perto da tia cobradora e ela me contou que
meteu uma surra numa vadia que tava secando o marido dela no pagode. Ri
bastante.

Na faculdade Lipe veio me falar que já tinha planos pro carnaval e


estavam arrumando gente pra descer a serra e passar os dias na casa de praia
da namorada dele, me fez aquele convite maroto que eu fiquei de responder
depois. Ele e a namorada estavam mais firmes que nunca.

Estávamos a uma semana do carnaval e já saíamos pra bloquinhos da


vida que já rolavam desde o início do mês. Peguei uns boy vestidos de
mulher aliás, o que fez os meninos descobrirem que eu curtia barbado. No
final tudo virou zueira e ninguém se afastou, o que agradeci a Deus não
acontecer ou eu iria morrer...

Mentira, ia não. Não devia nada a eles!

Vou revelar aqui que beijei uns dois meninos da nossa turma, claro,
na zueira, hehe.

Perguntaram se o Enzo tava na reta e eu deixei implícito. O que os


fez especularem bastante. Mas como não era da conta deles, e eu não dei
moral, acabaram que deixaram pra lá.

Naquela noite tivemos aula de legislação social e trabalhista... até


curtia a matéria, de verdade, mas tava nem aí pra isso, além do mais nós
iriamos entrar de férias e ninguém estava prestando atenção. Eu queria
mesmo era encontrar o Renan e descarregar meu tesão com ele. O que
aconteceu ao término das aulas.

O carro dele era um corola prata do ano de 2015, foi fácil identificar,
mesmo assim liguei pra ele que respondeu onde estava e piscou os faróis, me
despedi da galera e fui até ele, entrei e coloquei a mochila no banco de trás.
Ele riu e colocou o carro pra andar.

— Onde tu quer ir? — ele perguntou.

— Hoje você escolhe, tô disponível a noite toda. — sorri safado e


tenho pra mim que ele captou a mensagem.

— Vamos pra minha casa, lá pedimos uma pizza. O que acha?

— Jaé!

E fomos. Era um pouco longe, mas nada enfadonho, afinal, o cara


tinha um papo muito bom.

— Entra aí, pode deixar a mochila no sofá. — ele convidou. Assim


eu fiz, coloquei a mochila no sofá e me sentei de lado.

A casa dele era bastante arrumadinha e ele disse que isso era obra da
diarista dele. Tinha jeito e aura masculina, gostei muito. Depois se dirigiu
para cozinha e como ela era aberta (estilo americana) eu pude ver tudo o que
ele fazia. Abriu a geladeira e pegou uma garrafa de água.

— Quer algo pra beber, comer? — perguntou me olhando.

Eu sorrindo: — Quero uma coisa pra comer sim.

Ele que tomava água nesse instante se engasgou e tossiu enquanto eu


ria do afobamento dele, haha.

— Tu é muito intenso, hahaha. Às vezes fico constrangido. — disse


vindo pra sala novamente.
— Fica não. Senta aqui. — bati a mão no espaço vago do sofá ao
meu lado. Ele se sentou e me olhou. O que tinha pra falar? Nada. Deixa que
o corpo fala por si só.

Puxei ele pelo braço que se encostou em mim com a respiração já


acelerada. Ele era um charme sim e eu gostava disso. Começamos um beijo
tímido, as mãos na altura dos braços alisando pra cima e pra baixo. Gostoso,
mas queria mais, e pelo jeito que ele gemia quando eu mordia seu lábio
inferior a coisa poderia passar pro próximo nível.

Me deitei sobre o corpo dele enquanto nos amassávamos. As mãos


dele, já não tão tímidas como antes, apertaram minha bunda e foram subindo
pelas minhas costas, por dentro da camisa. Eu estava bem quente e muito
duro, assim como ele que relava na minha coxa.

— Gostoso. — ele sussurrou quando lambi o pescoço dele devagar.

— Você que é. — mordi o lábio dele. — Onde é teu quarto?

— Vem comigo! — nos levantamos e ele me arrastou pro quarto, me


jogando na cama e caindo por cima de mim. Rimos e recomeçamos os
beijos. Ele sentou em cima do meu pau e tirou a camisa, peitoral mais
definido do que aparentava nas roupas, mamilos pontudinhos, que eu
claramente belisquei nos dedos.

Dei meu polegar pra ele chupar, o que ele fez me olhando nos olhos e
esse dedo melado de saliva usei pra relar o mamilo tugido dele, que gemeu e
rebolou no meu colo, o que só me deixou mais duro.

Depois disso ele se dobrou e me beijou mais uma vez, arrancou


minha camisa, desabotoou minha calça e a tirou e eu chutei os tênis com os
pés, fiquei de meia.

Isso te broxa? Transar de meias. Eu acho tesudo, na verdade. Mas


voltando, hehe.

Comigo de cueca em cima da cama ele veio lambendo do meu


pescoço até a barriga. Língua ligeira. Depois lambeu a cabeça do meu pau
ainda dentro da cueca e como eu estava vazando pré-gozo ele se divertiu.
Falou até um "puta que pariu", ou seja, ele ama baba de pica, e como eu amo
dar...

Aí devagar ele puxou a cueca pra baixo e meu pau duro bateu na
minha barriga peluda. Ele pegou na mão e punhetou, cobrindo e descobrindo
a cabeça com o prepúcio e sorriu me olhando nos olhos. O próximo passo foi
socar até a garganta pra só então, devagar, ir tirando até ficar só a cabeça na
boca molhadinha. O movimento foi repetido até eu estar perto de gozar.

— Deixa eu te provar também. — pedi. Ele saiu de cima e deitou de


barriga na cama. Me livrei das meias e cueca e caí de boca naquele cuzinho
pregueado, depilado e pronto pro abate. Chupei e meti o dedo até dizer
chega, apertei a bunda e estapeei com vontade. Mano só gemia.

— Tem camisinha ali no guarda roupas. — ele apontou. Me levantei


de taca dura e abri a gaveta que era de cuecas e meias. Junto com as
camisinhas catei um pote de KY que tinha lá, o famoso "deixa liso". Já
desenrolei a borracha no bicho que pinotava na minha mão.

Voltei pra cama e dei mais umas linguadas e taquei gel no rabo dele.
Me deitei por cima e beijando o pescoço dele coloquei a pica pra dentro. Ele
gemia de dor no processo mas foi guerreiro, hehe.

— Vai. Mete. — sussurrou e eu comecei a socar gostoso. Tirava tudo


e socava de volta, e os gemidos que antes eram de dor passaram a ser de
prazer.

Acho que era bom tomar no cu assim... quando eu der o cu pro...


deixa pra lá.

— Ahhh. Me come forte! — pediu gemendo. Seu desejo era uma


ordem e eu iria realizá-lo. E tome madeirada naquele cu apertadinho!

Quando quase gozei pela quarta vez saí de cima dele e deitei de lado,
respirando fundo. Ele ficou gemendo e se esfregando na cama, todo tesudo,
era uma cena maneira de se ver, mas ainda não tinha acabado.

Quando ele tomou um fôlego, tirou a camisinha do meu pau e me


chupou até engasgar. O cara tinha talento, devia ter alguns anos de técnica,
hehe. Aí ele levantou e colocou mais uma camisinha no meu pau, e bastante
gel, e sentou no meu caralho com um sorriso aberto na cara, o pau dele
bastante duro batia na minha barriga a cada quicada que ele dava.

— Filho da puta! Isso! Isso, rebola nessa pica, safado! Ahhhh. —


gemi agarrando a cintura dele e socando rola de baixo pra cima. Ele dava
umas travadas tão maneiras que não teve como segurar. Gozei me tremendo
todo. Renan continuou quicando até se derramar todo na minha barriga e
ainda rebolou pra perdurar o prazer dele.

Quando terminou ele sorriu e fez um "uffa" me olhando faceiro,


jogou os cabelos suados pra trás e deu uma última rebolada saindo de cima.
Tirou a camisinha e chupou meu pau melado até deixar ele limpinho, eu
continuei duro e ele chupou até eu amolecer na boca quente dele.

— Porra! Tu é bom, hein!? Caralho. — falei com voz de preguiça.


Ele se deitou ao meu lado e riu.

Depois de um tempo pedi por um banho pra tirar o calor e o suor e


ele me disse pra ficar à vontade, me alcançou uma toalha, apontou o
banheiro e falou que ia pedir uma pizza. Saiu do quarto em seguida.

Eu sabia que aquela noite tinha apenas começado. Renan ainda ia


levar muita rola no cuzinho. Deixar ele viciado passou a ser minha meta
daquela noite.
—18—
O carnaval já havia começado e os meninos já tinham animado uma
praia, eu tava só esperando. Oficialmente começava dali uns dois dias.
Esfriei no Tinder, larguei Whatsapp — pra falar com contatinho — de lado e
foquei em me divertir e conseguir meus lances olho no olho, do jeito que eu
sempre gostei.
A real é que os caras eram meio grudentos. Outro dia marquei com
um boyzinho de ficarmos, marcamos numa pracinha que tinha pouco
movimento de pessoas e quando eu cheguei lá broxei um pouco. Ele não era
muito meu tipo, afeminado demais, e nem tente me censurar, pois eu sou um
mano cueca que gosta de outro mano cueca. E algumas coisas nunca irão
mudar em mim.

Mas o lance não era o jeito dele. O Renan e o Gui mesmo, dois fala
mansa, trejeitos delicados e tudo mais, porém que me atraíam muito e seus
jeitos em nada diminuíram meu tesão. Já esse carinha aí, todo atirado,
gostava de passar a mão no meu peitoral e vivia suspirando quando fazia
isso, parecia uma boneca inflável furada, vazando "aiii", "isssh", gostei não,
não vou mentir.

Foi apelidado de desentupidor. Que beijo esfomeado era aquele?


Quase arrancou meus lábios no processo. Desde lá vem tentando marcar algo
a mais, e eu saindo pela tangente, logicamente.

Às vezes é muito ruim ser gostoso.

Sem querer parecer metido a gostosão, eu não precisava muito pra


fazer alguém se amarrar no moreno aqui. Acho eu que meu jeito atraía
bastante as pessoas, embora eu mesmo não me ache isso tudo. Sou o que
chamam de carismático e tenho papo fácil. Mas como o meu antigo
amorzinho, fujo de relacionamentos (com ele mesmo eu queria ter algo
sério, mas pelo visto ele nunca irá querer).

— Cadê o Enzo, Pedro? — a Ju perguntou pro Pedro que deu de


ombros. Ele veio almoçar conosco e o Enzo mais uma vez não apareceu.
Minha irmã também estranhou esse fato, e olha que ela é bem desligada,
porém só eu sabia o motivo. Na certa ele não queria nada mesmo comigo e
resolveu se afastar pra mostrar isso. Doeu, mas eu sobreviveria.

— Acho que tá namorando, mal para em casa. Deus queira, né? —


Pedro falou.

“Não, Deus queira não. Ele é meu.”


— Teu olho esquerdo tá tremendo. — Ju cochichou no meu ouvido e
eu a olhei assustado. Ela riu cinicamente e colocou uma mecha do cabelo
atrás da orelha.

“Rapariga! Percebeu que me incomoda o fato do Enzo estar


namorando, até onde ela sabe?”

— Que ele arrume dez nega por aí, mas fale pra ele não sumir das
minhas vistas. Eu criei aquele sem coração, tenho direito de saber com quem
anda e tudo mais. Onde já se viu. — minha mãe falou colocando salada no
prato dela.

— E eu não tenho participação na criação dele? — Pedro perguntou


ofendido ao que minha mãe lhe deu um olhar desdenhoso. Ele encolheu os
ombros e voltou a comer calado. Nós rimos, mas minha fome passou um
pouco. Disse um pouco, limpei meu prato.

A tarde fui pro futebol com os manos e o Enzo não apareceu, não
sabia se ria ou se chorava. Sentia falta daquele filho da mãe.

Naquele dia fiquei na zaga e logicamente não produzi nada, ao


menos pro meu time, já que facilitei pro outro time fazer um gol, haha, não
tenho culpa, sou melhor no ataque.

— Ei, Iago. Tu ainda não confirmou se vai descer a serra com a


gente, caralho. — Gustavo, um negro pra lá de intimidante (e gostoso), falou
chegando perto de mim. Ele era primo do Lipe e trabalhava como segurança
de uma boate onde vez ou outra liberava uns passes pra galera. Super gente
boa.

— Então, preciso saber com o que tem que contribuir, né? — me


abanei com a camisa, calor do cão tava fazendo. Gustavo estava com aquele
peito super definido quase na minha cara, brilhando de suor, quero!

— Para de me olhar, ohh. — ele cobriu os peitos e riu. Os caras que


estavam por perto também riram.
Como eu havia dito, eles já sabiam que eu beijava rapazes e não foi
feita nenhuma tempestade acerca disso, grazadeus! Isso agora servia pra eles
me zoarem e me dar aquele mole de leves, se neguinho bobeasse eu passava
a rola.

— Cobre mesmo, tão pedindo por uma mamadinha! — lambi os


lábios descaradamente e os moleques zoaram ele. Depois me passaram o que
era preciso contribuir pros dias lá na praia serem bacanas. Fiquei de dar 5
pacotes de Skol Beats... Sanguessugas!

— Tá ligado quantas pessoas vão ser? — perguntei caminhando pra


fora do campinho acompanhado pelo Lipe e o Gus.

— Estamos agora em 22. Falta umas 6 confirmarem e fecha. Fica


tranquilo que tem espaço pra todo mundo dormir. Agora se tu quiser levar
colchonete fica melhor porque fica mais confortável pra tu. Decide depois.
Vou te passar o endereço por mensagem. Fui lá semana passada com a Carol
e te dizer, casa é um espetáculo, até piscina tem. Ela vai levar um monte de
amiguinhas. — esfregou as mãos e fez um movimento com as sobrancelhas
engraçado.

— Tu tá com o pau amarrado, se liga. — falei rindo.

— Em compensação o teu tá bem livre, né? Nenhum buraco escapa!


— falou levantando uma sobrancelha. Dei de ombros rindo e fomos cada um
pra um lado.

Pelo que eu havia apurado, algumas pessoas da turma do Lucas iam,


incluindo ele, que conhecia a Carol, o que seria legal. Quem sabe eu não
invista nele e lá começamos uma brotheragem daquelas...

A noite fui encontrar a galera numa lanchonete e depois iriamos


esticar pra uma baladinha ou barzinho, Lucas também estava lá e eu tratei de
sondar.

— Tu vai mesmo, né? Tô a fim de ficar avulso não. — mordi minha


coxinha com bastante catchup que respingou na camisa, Lucas riu e me
passou um guardanapo, limpei a camisa como pude.
— Vou sim, pow. Querendo sair do zero à zero. Me falaram que ia ter
um monte de meninas. — ele deu um sorriso torto que me lembrou uma
certa pessoa.

— Tem eu também, não serve? — passei a mão descaradamente no


braço dele, que a tirou dali fazendo careta.

— Ainda sou espada!

— Exatamente, ainda... — sorri descarado. Ele revirou os olhos e foi


pra turma dele. Uma menina se aproximou de mim.

— Iago, verdade que você é bi? — ela perguntou jogando


charminho. Conhecia bem o tipo dela e sabia o que ela tava querendo.

— Sou sim, gata. E bi ainda beija meninas. Quer ver? — segurei a


cintura dela e aproximei meu rosto, mas ela se afastou.

— Sai! Seu ousado! Só perguntei mesmo. — jogou os cabelos negros


pra trás que quase batiam no meu rosto e fez um som de "hunf". A menina
era cheirosa e eu tava muito afim.

— Mas eu acho que você deveria tirar a prova. O que você vai falar
pras suas amigas? Tem que falar e levar a prova, gata. — beijei a bochecha
dela e depois um selinho nos lábios com gloss de cereja, se entregou e eu
peguei aquela noite. Bom variar às vezes, né?

— Hey, putão! Pegou a mensagem? Os moleques já tão se


arrumando. Mais tarde saímos, hein? — recebi a ligação do Lipe na sexta de
manhã, resolvemos pegar a estrada lá pelas 4 da tarde, pela lógica deles, não
teria tanto trânsito. Sei não...

— Peguei sim, mas eu vou com quem? — cocei a nuca. Sim, deixei
pra perguntar de última hora.

— Moleque sonso, meu Deus. Tu vai com quem tá mais perto, Enzo.
Teu vizinho, teu "brodinho", teu amorzinho... Tchaaaau! — ele falou e
desligou em seguida. E eu fiquei viajando nas palavras, claro. Quando caí
em mim e tentei tirar a história a limpo só tive como retorno o "tu tu tu" do
telefone.

— Lipe? Lipe, caralho! Argh! Filho da puta. Já sei, vou de ônibus. É


isso! Vou de ônibus...

Levantei da cama e coloquei uma bermuda, porém antes de sair do


quarto escutei vozes na cozinha, que parecia ser o lugar mais legal dali. Voz
do Enzo, inconfundível. Ai minha bola esquerda!

Saí do quarto na ponta dos pés e fui pro banheiro. Escovei os dentes
umas duas vezes e passei enxaguante bucal pra ficar com o hálito maneiro,
fiz uma série de flexões e uma de marinheiro pra definir os músculos, baixei
a bermuda pra mostrar a barra da cueca preta e as duas entradas nas laterais
da cintura que ficaram bem acentuadas.

— Gostoso! — falei pro meu reflexo e arrumei meu cabelo que tava
precisando de um corte. Sorri malicioso e saí do banheiro me achando,
depois fui pra cozinha e lá encontrei Enzo batendo algumas frutas no
liquidificador. Ele ficou até abobalhado me olhando e eu fiz a minha maior
cara de sonso que conseguia; não é difícil, hehe.

— Bom dia! — falei me sentando à mesa e levantando os braços pra


cima me espreguiçando, isso só pra mostrar os músculos e meu peitoral
peludo.

— Tá dormindo? Desliga isso! Quando a conta de energia chegar é tu


que vai pagar! — minha mãe bateu no braço dele que "despertou" sorrindo
sem graça.

Ele tava lindo. Bermuda cinza estilo moletom, camisa preta com um
triângulo de cabeça pra baixo, bem estilosa, e uma touca vermelha cobrindo
os fios loiros dele. Cheiroso também, senti quando cheguei na cozinha, e
todo nervosinho, o que só me deixou querendo mais.

— Tu vai comigo! — ele falou sentando na cadeira do outro lado da


mesa, na minha frente. Fiz uma cara de dúvida e ele riu aquele riso
desdenhoso que eu odeio/amo.
— Você, vai comigo, pra casa de praia da namorada do Lipe.
Tendeu? — colocou o líquido do liquidificador num copo pra ele e outro pra
mim. Não se recusa boquete nem comida, tomei e tava gostoso. Uma mistura
de bananas, mamão e maçã, acho que gengibre também, ou hortelã, não sei
bem.

— Gostoso. — falei olhando o copo e ele riu.

— Eu sei. — alisou do peitoral à barriga, mesmo por cima da camisa,


e eu engasguei. Ele riu e passou a língua pelos lábios vermelhinhos.
Cachorro!

Juliana entrou nesse momento na cozinha de camisa enorme, que um


dia foi minha, e os cabelos parecendo um ninho de passarinhos, ri e Enzo
também. Ela acorda meio sonâmbula e só fica normal quando come e as
vezes come mais que eu. Ela olhou pra todos com os olhos franzidos e
localizou o Enzo, devagar foi pra perto dele e o abraçou apoiando a cabeça
no seu ombro. Ele fez um carinho nos cabelos bagunçados dela e ela se
aninhou nele feito um gatinho atrás de carinho.

Estou com ciúmes? Com certeza. De ambos.

— Vai lavar essa cara, vai Ju. Fica dormindo em pé! — ele a
empurrou de leve que nem falou nada e sumiu pelo corredor que levava ao
banheiro.

— Estranha. — cochichei.

— De família. — seu Pedro rebateu entrando na cozinha. Ouvia


melhor que o Léo, meu cachorro.

— O quê? — minha mãe perguntou entrando pela porta da cozinha,


acho que estava trocando a água do Léo.

— Nada não, bom dia!

Respondemos o cumprimento e ele foi até minha mãe lhe dar um


beijo na bochecha. Ela ficou toda rizinhos e nós a zuamos, mas não por
muito tempo, pois ela ameaçou a bater em todo mundo.
— Já falou com a Luciana que vocês vão juntos? — seu Pedro
colocou café preto numa xícara e umas cinco colheres de açúcar. Minha mãe
balançou a cabeça em negação pelo ato e nós fazemos o mesmo, ele tinha
um fraco por doce.

— Vão pra onde? — ela perguntou com interesse.

— Pra casa de praia da namorada do Lipe. Vai uma galera curtir o


carnaval por lá. Vou com o carro do papai. A gente e uma galera. — Enzo
explicou alternando o olhar entre minha mãe e eu.

— Por que tu não me falou nada, hein Iago? — Dona Luciana


colocou o pano de prato no ombro esquerdo e num quebrar de cintura botou
a mão fechada no quadril. Me olhou levantando uma sobrancelha.

— Eu só tô sabendo agora. E eu tava afim mesmo de ir de ônibus. —


dei de ombros esperando não ser impedido, Enzo me olhou triste.

— Ahhh, mas não vai mesmo! Vai de carro com o Enzo e quero os
dois na quarta pela tarde. E meu carro sem nenhum arranhão. — Pedro falou
de forma autoritária e eu não tive como rebater. Ele falou tá falado. Minha
mãe apenas afirmou com a cabeça.

E eu estava como? Vencido. Na certa o idiota do Lipe acertou com o


Enzo que nós iríamos juntos no carro, e eu nem sabia quem eram as outras
três pessoas. Restava esperar.

Pelo resto da manhã e tarde não fiz quase nada: dei um passeio com o
Léo, malhei uma hora na academia do outro bairro, arrumei minha bagagem
que se resumia a bermudas, camisetas e sungas e fiquei esperando o meu...

O que o Enzo era meu? Poderia ser um monte de coisas, mas agora
era apenas meu "irmão" e se ele não fazia nada pra mudar essa situação eu
também não faria, pois já fiz demais eu acho.

Só esperava que nesse lugar não rolasse coisas pra me deixar


desconfortável e com vontade de ir embora, pois se isso acontecesse, não
teria ninguém que me impediria.
— Porra, Lipe acertou com uma garota, agora. Olha essa casa, coisa
de rico! — Gustavo falou ao sair do carro.

Vieram ele, a namorada e o Lucas conosco. Lucas foi uma surpresa.


Digo isso, pois ele já tinha combinado com o Enzo, o que achei uma
filhadaputagem em dobro. Ele era mais meu amigo que do Enzo, deveria ter
me avisado que era o loiro que me traria, assim eu arrumava outra pessoa pra
vir. Mas deixe estar, pego esse safado depois.

— Ai amor, para de falar bobagem, essa casa nem é dela, é do pai. —


a guria que eu não sabia o nome falou de forma desdenhosa. Percebia-se de
longe a inveja que ela tinha da Carol.

Ridículo isso? Ridículo isso!

Fiz um alongamento ao sair do veículo e olhei pra casa, tinha dois


andares e parecia enorme. Bem ao fundo era possível ver a praia. A casa
ficava localizada em um bairro bastante residencial, com residências no
mesmo estilo. Lipe veio nos recepcionar junto à namorada que estava com
uma saída de praia e óculos escuros, muito gata ela. Percebi a namorada do
Gus ajeitando os cabelos pra parecer melhor, ri de forma contida e Lucas riu
do meu lado percebendo o que acontecia.

— Fica à vontade, gente. A casa é de vocês. — ela falou com todos e


distribuiu beijinhos no rosto de cada um ali. A namorada do Gus fazia a falsa
e devolveu o beijinho na bochecha dela como se fossem amigas de longa
data. Carol a chamou de Amanda e descobri que esse era o nome dela. Gus
nem devia sacar nada da índole dessa menina, afinal ela tinha uma mega
raba, ele queria mais nada, só isso.

— Ajuda a gente a pegar as bebidas aqui, Lipe. — Enzo abriu o porta


malas e carregamos tudo pra dentro, Carol sumiu pela porta com Amanda no
seu calcanhar, falsa do caralho.

— Cada um trouxe cinco dessas, o que nos dá bastante até a quarta.


Quem quiser pode comprar mais pelos quiosques da região. — Lipe falou
colocando os pacotes de Skol no freezer que já estava abarrotado. Vi um
monte de gente conhecida curtindo o som perto da piscina, eles acenaram
pra gente enquanto tomavam um goró.

— Bora lá em cima. Vou mostrar onde vocês vão ficar. — Lipe


arrastou todo mundo pra dentro da casa que parecia maior por dentro e pediu
apenas pra ninguém estragar nada ali, o sogrão confiou nele e na filha para
manterem a casa de pé.

— Gus, tu pode ficar nesse quarto com a Amanda. É o quarto da


empregada, mas tem cama de casal. — ele abriu uma porta que ficava ainda
na cozinha e mostrou o cômodo pro primo. Ele sorriu e falou um "show",
jogou as malas lá na cama e tirou a bermuda ficando de sunga, nós rimos da
empolgação dele e conhecemos o resto do térreo.

Subimos a escada e encontramos com algumas meninas que nos


foram apresentadas, todas amigas da Carol.

Lá em cima Lipe bateu na porta de um quarto e alguém autorizou a


entrada.

— Oi, Sofia! Trouxe o outro inquilino. Esse é o Lucas, o Enzo e o


Iago. O Lucas vai ficar aqui com vocês, ele é amigo da Laninha. — Lipe
falou pra menina. Lucas e Sofia se encaram e o mundo pareceu parar pra
eles, certeza que rolou um clima bem ali.

— Oi! — um cara de pele morena e cabelos encaracolados falou


entrando pela porta. Aí todos acordaram daquele momento.

— Entra Lucas, fica a vontade, hehe. Esse é o Mateus, meu irmão. Tá


aqui no quarto também, a Laninha deve tá na piscina. — a Sofia falou
arrumando os cabelos. No quarto tinha dois beliches, vi que as coisas das
meninas estavam nas camas de baixo, logo os manos ficariam em cima.
Percebi que fizeram a distribuição dos quartos de acordo com afinidade das
pessoas, por isso o Lucas ficou no quarto onde a amiga dele também estava.
Ele só não conhecia esse casal de irmãos que logicamente eram amigos da
Carol.

Quando o garoto de cabelos encaracolados nos foi apresentado,


percebi o olhar dele parar em mim. O segundo clima rolou, mais da parte
dele que da minha. Olhei pro lado e Enzo tinha aquele olhar irado pro outro
lado, ele nem queria ver, haha.

— Bom, lugares mostrados, falta vocês dois. Bora! — Lipe falou nos
empurrando pelas costas. Dei um tchau e disse que falava com o Lucas
depois, ele apenas acenou com a cabeça e entrou num papo com os irmãos,
saímos dali com o Mateus me olhando nos olhos.

— Cara folgado! — Enzo resmungou e eu o olhei sem entender.

— Por quê? — Lipe fez a pergunta que eu queria tanto fazer e eu


faltei beijar a boca dele em agradecimento, pois estava louquinho pra
perguntar isso.

— Viu como ele encarou o Iago não? Faltei dar um soco nele. — fiz
cara de surpresa por ele externar os ciúmes assim e o Lipe riu até lacrimejar.

— Eu pretendo ser o padrinho desse casamento, hein?

— Teu cu! Mostra onde vou ficar logo! — pedi impaciente e parti na
frente, nem sei pra onde ir. Só ouvi os dois rirem atrás de mim.

— Hey, putão! Por aqui. — virei pra trás e ele me chamou com a
mão, Enzo tinha um sorriso contido e bonito nos lábios. Derrotado os segui.

Descemos as escadas e fomos pro fundo da casa novamente, não


entendi nada. Andamos um pouco e notei uma edícula no fundo da
residência.

— Aqui é a casa do caseiro, mas ele não fica aí porque mora lá no


final da praia, ou seja, fica sempre vazio. Cês vão ficar aí. — ele riu de lado
e eu fiz cara de desespero. Abriu a porta e nós entramos.

Tinha uma cama de casal no centro, no canto esquerdo uma pia com
fogão e geladeira e no outro lado uma porta que dava pro banheiro. Era um
grande cômodo que foi feito uma casinha simpática. Gostei. Menos de saber
que eu e o Enzo ficaríamos ali.

— Por que temos que ficar aqui? — perguntei meio irritado.


— Você pode dormir na grama, porque até na sala tem gente, vão
dormir em colchão. Olha que isso aqui é o paraíso, hein. — sorriu de lado e
saiu quase correndo da edícula. Gritei por ele algumas vezes, mas fui
ignorado, logicamente.

Olhei pra frente e vi o Enzo sem camisa desabotoando a bermuda


jeans que usava, salivei.

— O-o que tu tá fazendo? — perguntei abobalhado. Ele gargalhou.


Se livrou da bermuda e arrumou o pau na sunga preta. Se aproximou de
mansinho e limpou meu queixo.

— Tá babando, óh! — deu um beijo na minha bochecha e saiu pela


porta. Meu pau latejava e eu de repente fiquei com um calor desgraçado.
Arranquei minha camisa e me joguei na cama de cara no travesseiro. Uma
grande janela que ficava ao fundo deixava uma brisa salgada entrar, suspirei.

Não podendo fazer mais nada, vesti uma sunga e fui pra piscina.
Mateus colou e eu dei trela, Enzo ficou emburrado o tempo todo
conversando com o Lucas e a Sofia que parecia se dar muito bem com o
molequinho e eu tava um pouco feliz de ver o Enzo sofrer por mim. É,
prevejo agitação!

— Bora, porra! Pior que mulher pra se arrumar!

Era tarde de sábado e eu passei um sufoco dormindo com Enzo


apenas de cueca do meu lado. Pau duro a noite toda. Só sei que acordamos
de conchinha, ele com a cueca toda socada no rabo dele e eu de pau doendo
de tão duro. O cheiro do cabelo dele na minha cara me trouxe lembranças de
um tempo bom.

Mas logo me levantei e fui pro banheiro aliviar no chuveiro.

Estávamos nos arrumamos pra ir pro bloco principal daquele dia. Eu


tava de bermuda jeans super apertada, coturnos marrons e abadá do bloco,
pulseiras no braço e óculos escuros na cara, boné virado pra trás.
Enzo estava parecido comigo, mas sem boné e com um all star preto.
Gostosinho demais, porém eu resolvi dar uma ignorada nele, só não naquele
momento porque precisava esperar ele pra sair e encontrar a galera que já
está se agitando lá em frente da residência.

Ele arrumando alguns fios do cabelo estiloso dele: — Só um


segundo... pronto. — abriu os braços e deu uma volta em torno de si mesmo.
— Tô bonito?

Aquele sorriso...

— Uhun. Bora logo. — saí na frente e aproveitei pra ajeitar meu pau
que cresceu na cueca e puxou meus pentelhos. Isso dói. Ele logo me
acompanhou.

Como usar o carro para ir pra concentração seria roubada, e nem era
tão longe, resolvemos ir a pé mesmo. Só as meninas reclamaram, mas
acabaram sendo vencidas pelos cuecas. Estava bastante animado, riamos,
bebíamos (de forma moderada no meu caso) e zuávamos com todo mundo.
Apesar dos pesares eu senti que aquele carnaval ia ficar marcado pra geral,
só esperava que de forma boa.

O Som rolava solto lá no meio da galera, a gente dançava e se


divertia, vi o povo se pegando sem compromisso e ninguém encanar com
isso. Tinha até um casal de lésbicas no nosso grupo e eu me senti confortável
pra pegar alguém, caso aparecesse alguém...

Desde o outro dia o Mateus tinha grudado em mim. Ele deveria ter
uns 20 anos, era alto, esguio e tinha o corpo de um nadador, o sorriso era
aberto e bonito e ele tinha mãos enormes, imaginei ele as usando em mim,
porém eu não tava afim dele. Na verdade eu não tava afim de ninguém. Enzo
me inibia totalmente e se não fosse ele me olhando acusatoriamente todo
minuto, eu já teria beijado algumas bocas.

— Eu moro lá no bairro da Carol, quando quiser aparecer por lá é só


me dá um toque. — Mateus falou no meu ouvido, o que nem era preciso
porque o som era alto, mas não impedia de conversar. Apenas afirmei com a
cabeça tomando o conteúdo da minha garrafa. Fechei os olhos e dancei
rebolando os quadris de forma desinteressada. É assim que se dança nesses
lugares, pra você e mais ninguém, afinal, não estamos em um clipe dessas
divas do pop pra fazer coreografia.

Nesse momento só senti duas mãos na altura do meu ombro e um


corpo chegar mais perto de mim, abri os olhos e dei de cara com Mateus
sorrindo de forma safada e quase me beijando, e ele veio e eu não impedi,
mas fiz uma cara de assustado. Rolou um selinho, mas que foi interrompido
rapidamente por um Enzo muito furioso.

Ele segurou o abadá do menino e puxou pra trás e se ele não fosse
rápido em se equilibrar teria caído de bunda no chão. A galera abriu uma
rodinha e fizeram "uhhhh", pessoal adora confusão... Eu mesmo tava
letárgico esperando os próximos movimentos.

— Qual é, seu mané? Tá louco? — Mateus fez que ia pra cima do


Enzo e eles se armaram pra brigar, mas os moleques ali seguraram o moreno.

— Qual é, você! Presta atenção, pirralho. Vai arrumar outro macho


pra tu que esse aqui é meu! Se tu chegar perto dele de novo eu arrebento tua
carinha de anjo.

Silêncio (mesmo em meio ao barulho da festa). O Mateus olhou pra


todos de forma ofendida e confusa e a irmã apareceu de não sei onde com o
batom todo borrado e arrastou ele dali junto ao Lucas, que estava sem graça.
Entendi tudo, mas esse não era o momento, tinha coisa mais importante
rolando ali.

Ofegante Enzo virou de frente pra mim, se aproximou e parou com o


rosto quase colado ao meu. Prendi a respiração.

— Que caralho tu pensa que tá fazendo? — ele perguntou quase


estourando. Me deu aquela vontade básica de rir e de beijar ele logo em
seguida, mas me segurei.

— Eu não fiz nada, ele que fez. — dei de ombros. — Não sei porque
tu se meteu. — Olhei ao redor e nossos amigos estavam esperando o
desenrolar das coisas. Engoli em seco.
— Ah não? Vou te explicar melhor. Tu. É. Meu! Só meu! — ele
agarrou minha cintura e colou nossos corpos. Ouvimos gritos, palmas e
assobios, mas quando ele uniu nossos lábios eu não consegui ouvir mais
nada, só o som do coração dele batendo junto ao meu. Ele tinha o mesmo
gosto que eu me lembrava, ou até melhor, o abracei e dessa vez eu não tinha
a menor pretensão de soltar. Perdeu playboy!
—19—

O que você pensa quando escuta a palavra brotheragem? Deve te vir


logo à cabeça algo relacionado a brothers, caras muito amigos, parceria e
tudo mais... Você não está errado, longe disso. Brotheragem é isso tudo e um
pouco mais. Mais para mim, mais para o Iago; mais!
Eu que o levei pra esse mundo, como ele gosta de passar na minha
cara. É verdade, mas se ele não quisesse não teria cedido, certo? Porém eu
sei que sou o capeta quando a questão é "atentar" e se ele não tivesse cedido
naquela noite em meu quarto, teria cedido em outro momento. Iago era meu
e eu iria pega-lo para mim! Fato.

Problema é quando rola sentimento e foi isso que aconteceu com


meu brother. Ele se apaixonou, foda isso! Logo por quem? Eu? O cara que
não fica uma noite sem foder, seja lá qual buraco fosse, o mano putão que
ensinava os amigos a chegar nas meninas... definitivamente ele não deveria.

Mas quem manda nessa porra que se chama coração, né verdade?


Ninguém! Estou falando por experiência própria, meu caro. Ele me fez
enxergar o que eu estava sentindo e agora estou aqui com um misto de
sensações que nunca antes havia sentido. Se você está deduzindo que eu tô
balançado pelo Iago (apaixonado, para os leigos), sim, você tem razão, mas
eu escolho o que fazer com esses sentimentos.

Os soterrarei e os deixarei no fundo da alma para morrer? Ou deixo


aflorar e pago para ver o que nasce daí?!

Encontro-me numa longa estrada de terra, onde o cenário é bonito.


Flores dos dois lados, os raios de sol deixam uma cor bonita, a terra era
macia sob meus pés descalços; Eu ainda tinha Iago.

Agora a estrada e cheia de pedregulhos e eu machuco meus pés ao


caminhar, tudo que tem aos lados são ervas daninhas e o tempo é fechado,
como se fosse chover a qualquer momento. Tenho consciência que isso é a
lei do retorno. Eu o magoei, ele me magoou; Agora Iago não é mais meu.

Mas a questão é que depois de tanto andar eu cheguei numa


bifurcação. Esquerda ou direita? Não enxergo muito à frente e não sei o que
esperar lá na frente. Só o que sei é que eu devo escolher uma dessas estradas
e minhas escolhas dirão o que será do meu futuro. Com, ou sem Iago.

Quando ele deu vexame na festa da Carol foi como se o mundo


tivesse ruído, isso pelo fato de que esse vexame foi basicamente por eu ter
ficado com uma menina. Ele demonstrou ciúmes demasiado e eu sabia que
isso iria acabar com nosso lance; era o primeiro passo pra fazer brotheragem:
sem sentimentos. Mas quem disse que as regras estavam claras ali.

Primeiro que nem beijo deveria rolar, e isso aconteceu no nosso


primeiro sarro... foda.

Sim, eu tentei mostrar isso pra ele, que esse tipo de envolvimento não
poderia acontecer, mas ele me repeliu totalmente e isso quebrou minhas
pernas. Passei o dia pensando nisso até que resolvi sair pra pegar uma
menina que me dava mole sempre que me via.

Marcamos no shopping e de lá a convidei pra ir pra minha casa, ela


nem titubeou. Problema foi que quando chegamos na minha casa eu logo vi
o Iago sentado no murinho, todo pensativo. “Puta que pariu”, pensei, “vou
ter que passar por ele com a menina do meu lado. Como ele vai reagir?
Bom, pagar pra ver.”

Notei logo aquela carinha de saudades, e vontade, e senti muito por


ele; por nós. Talvez agora, com os dois mais calmos e com as ideias no lugar,
fosse uma boa hora pra ter um papo cabeça, né? Errado. A guria saiu do
carro e me deu um beijo de surpresa, que eu nem tentei repelir já que tinha
sido eu a convidá-la pra um date.

Até tentei ir de encontro a ele, mas quando ele negou de leve com a
cabeça eu travei no lugar. Soube ali que qualquer chance de conversa que
tínhamos havia sido desperdiçada. Até a vontade de ficar com a Cíntia havia
passado e ela notou isso logo depois do segundo beijo, no sofá da minha
sala.

— Que foi? Aconteceu alguma coisa? Você ficou desligado de


repente. — ela perguntou.

Mirei um quadro na parede sem realmente vê-lo e confirmei com a


cabeça. Sabia que ela estava prestando atenção.

— Quer conversar? Talvez ajude.

— É meio pessoal. — fui sincero.


— Pensa em mim como uma estranha. E vamos combinar, somos
quase isso. — ela riu de leve e eu sorri por tabela, me inclinei e dei um beijo
nela de verdade porque ela tava sendo fofa comigo e isso sempre me atraiu
nas pessoas.

Depois de muito beijo e amasso eu resolvi contar pra ela o porquê da


minha cabeça estar tão nas nuvens. Primeiro falei que era bi e que pegava os
caras na diversão, mas que com um desses a coisa tinha se tornado rotineira
e com mais cumplicidade. Que tínhamos o que casais têm, mas sem o fato de
colocar rótulos porque isso era tudo que eu sempre fugi. Falei que sabia que
o lance com ele tava se tornando algo mais que contato de pele e que isso
estava me assustando, mas que eu não consegui refrear esse fato. Que ele se
declarou e eu, como bom aquariano que sou, fugi do relacionamento — que
ele nem tinha proposto — como diabo foge da cruz. Que ele terminou nosso
rolo e que ali eu senti a perda sem saber como aquilo me afetaria. Enfim, me
abri com ela. E isso foi bom, porque em nenhum momento ela opinou ou
julgou. Apenas ouviu.

— Então de algum modo você sente algo por ele, né? — ela
perguntou.

— Nós crescemos juntos. — dei de ombros.

— Você entendeu o que eu quis dizer. — ela pontuou. E sim, eu sabia


o que ela queria dizer com aquilo, mas nem eu sabia como me sentia em
relação ao Iago, só na falta que nosso rolo ia me fazer.

— Eu nem sei... — me limitei a responder.

— Talvez você deva tentar descobrir. Se é só curtição, ou se você,


assim como ele, tá sentindo algo a mais. Aí depois tu tenta conversar com
ele novamente e expõe tua opinião. Vai que vocês voltem às boas.

Bom, ela tinha um ponto. Primeiro eu tinha que dar um espaço pro
Iago, e até pra mim mesmo, depois eu tentaria conversar numa boa com ele
novamente e aí quem sabe a gente poderia voltar ao que sempre foi... Mas
como ele sabiamente disse uma vez, isso nunca iria acontecer. Impossível ser
como antes.
E os dias se passaram assim, comigo pensando sobre a gente tendo
algo a mais e com ele ignorando minhas investidas. E olha que eu sou bem
insistente. Mas o pior dia mesmo foi quando, no banheiro, ele me deixou na
mão — literalmente — e me colocou na parede dizendo que eu também
sentia algo a mais em relação a ele, além de tesão.

Desde esse dia que eu não tenho vivido direito. Na verdade, isso
aconteceu muito antes, no dia da festa, onde ele veio se declarando o
caminho todo no carro do papai, e quando eu segurei a cabeça dele pra ele
vomitar e eu senti que deveria cuidá-lo pra sempre. Mas eu sou bem
orgulhoso e mostrar meus sentimentos não é nem um pouco fácil.

Passei noites acordado pensando nas palavras dele. Valeria a pena


"me declarar" só para tê-lo de volta? Bom, eu realmente não sabia, mas eu
tive um gostinho do que seria viver sem ele quando o peguei cheio de papo
com o sonso do Rodolfo. Aquela bicha vivia de me afrontar, sempre soube
que dava ré no quibe, mas com o meu boy não! Caça um pra tu... Olha eu
aqui, haha, ele nem é mais meu.

Só que eu não iria perdê-lo e se para tê-lo eu precisasse oficialmente


o pedir em namoro eu faria, porque, porra, eu também estava apaixonado!
Nossa, como afirmar isso pra mim mesmo abriu minha visão...

Na noite em que finalmente admiti isso pra mim mesmo eu resolvi


ligar pra ele, claro, depois de fritar bastante na cama. Eu precisava contar
como eu tava me sentindo nem que fosse um pouco e ele sempre foi meu
confidente, ele me atendia a qualquer hora que eu ligasse, embora tivesse
algo como aversão ao celular. Mas naquela noite ele não atendeu. Suspirei
derrotado. Encorajado por uma voz eletrônica que pedia pra deixar recado eu
fui em frente.

“Mano, desculpa por aquele dia da menina que tu viu comigo aqui
em frente de casa. Ela é foda, na verdade. Mas calma! Não pare de escutar
antes de saber o que tenho pra falar. Só quero dizer que ela não tem culpa
dos nossos rolos. E sabe o que é o mais foda disso tudo? Ela percebeu que
eu sou seu antes mesmo de eu ter percebido isso...
Desculpa não ter coragem de te falar pessoalmente nem
corresponder seus sentimentos da maneira que tu merece, eu nem deveria
estar te ligando a essa hora da noite, né? Enfim, como tá o pessoal aí em
casa? Nem fui aí hoje né? Faz um tempinho que não apareço por aí na
verdade...

Ah, mano, eu sinto tanto tua falta! Eu só queria conversar com você
e ouvir qualquer palavra apaixonada. Daria qualquer coisa pra uma
declaração bêbada tua agora. Essa saudade não passa, saco!

Enfim, preciso desligar. Tô falando com a caixa postal, mesmo


sabendo que você nunca irá abrir ela porque eu sei como tu é com celular,
mas é que só você sabe como me acalmar e a saudade tá acabando
comigo...”

Foi a coisa mais românica que eu fiz na minha vida, eca. Dizer que
não dormi aquela noite é desnecessário, mas de uma coisa eu tinha certeza,
agora o que iria acontecer era Enzo lutando por Iago. Só precisava descobrir
o que fazer para pegar o que é meu de volta. Quem poderia me ajudar? E
nem me venha com piadas de Chapolim. Quem nos conhecia que poderia dar
uma força, e umas dicas para mim?

— Lucas? LUCAS! — gritei pelo cara que era nosso amigo. Mais do
Iago. E dele eu não tinha ciúmes, embora devesse ter, pois ele e o Iago se
davam super bem, mas esse não é o foco.

— Oi? — ele perguntou desconfiado. Estava passando


coincidentemente pelo bairro dele, que fica a duas ruas da minha e de Iago, e
percebi como ele andava distraído tomando um picolé de chocolate que
sujava o lábio inferior dele... gostosinho.

Será que Iago comeu? Sim, porque fiquei sabendo que ele beijou uns
caras do nosso grupinho... Talvez eu também possa...

— Hmm, você teria uns minutinhos pra falar comigo. Prometo que é
jogo rápido. — quase supliquei e aliviei quando o vi dar de ombros. Ele me
chamou e nós caminhamos em direção à casa dele, que eu já tinha ido outras
vezes quando mais novo, quando tínhamos mais intimidade.
Foram apenas alguns minutos até chegar lá e tivemos que atravessar
um pequeno jardim muito bem cuidado, que deveria ser da mãe dele, pra
chegar na porta de entrada de madeira, que parecia pesada. Ele abriu com as
chaves e me convidou a entrar, nem me fiz de rogado, só pedi licença.

— Fala aí. — ele sentou no outro sofá e colocou os cotovelos


apoiados nos joelhos esperando. Achei o moleque fofo, comeria muito.

— Então, tu ficou bastante amigo do Iago, né? — perguntei ao que


ele assentiu desconfiado.

— Ele deve ter te contado, depois daquela vez lá na festa, que a gente
tinha... mmmm... — tentei achar as palavras, mas ele foi mais rápido.

— Brotheragem? — perguntou rindo, o que serviu pra quebrar o


clima meio pesado, também ri e relaxei.

— É. Problema, mano, é que ele se apaixonou e eu meio que


"terminei" com ele. Quer dizer, ele que terminou comigo. — fiz um bico e
desviei o olhar. O ouvi suspirando, o olhei e ele coçava a têmpora com o
polegar, como se estivesse pensando em algo.

— Posso ser sincero? — apenas assenti — A verdade é que tu foi


maior cuzão!

Eu ia rebater, mas ele levantou o dedo me fazendo parar.

— Você foi, e sabe disso. Iago é todo tongo, mas ele é muito coração
também. Nunca vi o moleque apaixonado e você conseguiu esse feito. E pra
quê? Pra meter uma bicuda na bunda dele? Por favor, né?! — ele levantou e
andou de um lado pro outro continuando a falar. — Sabe o que eu acho mais
engraçado? É que tu sente o mesmo que ele. E nem adianta dizer o contrário.
Você sente e capaz de ser até mais forte, mas não sei por que tem esse medo
irracional de se entregar. Porra, o que custa dar uma chance pro teu coração?
É a tua felicidade e do teu mano que tão em jogo e eu vou te falar, se tu não
se decidir, ele vai partir pra outra e aí, meu amigo, cê vai ficar chupando
dedo.
Ele sentou no sofá e ficou cutucando as unhas desinteressadamente, e
eu estava como? Bestificado, nunca levei tantos tiros de uma única vez. Tava
bem metralhado na verdade.

— Hmm, mas eu tô afim de reconquistá-lo. O que eu poderia fazer?


— perguntei tímido. Ele levantou a cabeça e me encarou com um sorriso
contido nos lábios e eu vermelho sorri de volta.

— Beleza. Primeiro passo era admitir o que sentia, e isso tu deixou


bem claro agora. — falou fazendo meu rosto pegar fogo. — Agora você vai
ter que rebolar um pouquinho pra ter ele de volta. Ele me contou das tuas
mancadas e a que mais me chocou foi tu pegar uma menina na frente dele.
— ele disse acusadoramente.

— Isso... — abaixei a cabeça com vergonha. — A gente tinha


brigado e tal, aí eu fiquei com raiva e fui atrás de uma menina que sempre
me dava mole e levei ela lá pra casa, mas o Iago tava lá na frente e eu morri
naquele momento ao ver a cara dele. Na verdade a gente nem chegou a ficar
direito e ela foi super bacana comigo. Eu contei pra ela que tava tendo um
rolo com o Iago e ela me aconselhou a dar um espaço pra ele e descobrir o
que eu tava sentindo também. Depois eu nem pude conversar com ele sobre
isso porque ele tava muito puto por causa dela, que nem teve culpa de nada.

— Beleza, legal da parte dela. Mas passado é passado, né? O que tu


pretende fazer agora? — ele perguntou apoiando novamente os cotovelos
nos joelhos.

— Porra, tô aqui pra tu me ajudar! — supliquei.

— Deixa eu pensar... o que tem marcado pra esses dias? — ele


perguntou olhando pra cima de forma engraçada.

— Tem carnaval.

— Isso, caralho! Não tão marcando de ir pra casa da Carol, namorada


do Lipe? Oportunidade perfeita, cês só tem que ficar juntos no mesmo lugar
e o resto é por tua conta. — ele disse esfregando as mãos uma na outra e eu
sorri empolgado, aquilo me contagiou e me faz acreditar que podia dar certo.
Ligamos pro Lipe que em alguns minutos apareceu lá na casa do
Lucas. Contamos tudo que planejamos e ele ficou encarregado de arrumar
um quarto lá na casa da namorada dele só pra Iago e eu.

Jogaria meu charme e ele cederia. Isso já aconteceu uma vez, né


mesmo?!

Ótimo, agora precisaríamos esconder esse fato dele, ou ele não iria,
mas conhecendo como o conheço era só não comentar sobre o assunto da
onde ficaríamos, que ele nem iria se tocar de colher informações.

Meu tongo, haha.

Deixei meu pai de sobreaviso que pegaria o carro pedi pra ele não
comentar nada com a tia ou o Iago. Ele não questionou, apenas fez o que eu
pedi e eu o amo por isso.

No dia da viagem ele quase desistiu de ir comigo, mas meu pai deu
uma força junto a tia Lu. E colocamos o plano em ação. Eu só não esperava
que um parasita ia colar no Iago logo no primeiro dia! Moleque folgado,
achando que podia competir comigo. Conversei com Lucas e o Lipe acerca
disso e eles pediram pra eu relaxar e marcar logo em cima ou o Iago ia
acabar ficando com o maluco.

Só por cima do meu cadáver.

A hora de dormir era a mais divertida, relei nele a noite toda e senti
aquele troço duro na minha bunda. Tinha que deixar ele na vontade de me
pegar e quando ele viesse forte eu iria aguentar tudo sem reclamar e ainda
pediria mais. Saudades da porra desse mano dentro de mim...

— Olha lá, caralho. Aquele mané não sai de perto dele, como eu vou
chegar? — perguntei ao Lipe, irritado. Estávamos em uma rodinha, ele, a
namorada e eu. Eles riram.

— O Mateus tá bem atirado mesmo, e ó. Se tu não for atrás do Iago,


vai perder. — ela apontou pra eles e eu vi o Iago rebolando gostoso e o
carinha chegando perto demais dele. Um alerta soou na minha cabeça e eu
saí abrindo caminho em meio a multidão, não à tempo de impedir um
selinho do carinha nos lábios que são meus.

Meus!

Segurei o abadá dele e puxei com força pra trás, senti o tecido se
rasgar na costura e ele quase caiu no chão. Com cara bastante irada ele
perguntou qual era a minha e eu respondi que aquele macho tinha dono e ele
era eu.

Não sou de brigar por qualquer coisa, mas se ele viesse, iria tomar
umas porradas bem no nariz arrebitado dele. Por sorte a irmã dele e o Lucas
tiraram ele da minha frente.

Me virei pro Iago bastante ofegante e ele tinha uma cara de surpresa
engraçada.

— Que caralho tu pensa que tá fazendo? — perguntei irritado. Sim,


se ele não tivesse dado trela para aquele oferecidinho, nada disso teria
acontecido.

— Eu não fiz nada. Ele que fez. — falou presunçoso. Sorri de lado e
tive a impressão de uma veia saltar na minha testa.

Odeio o jeitinho debochado dele.

— Não sei porque tu se meteu. — ele completou fazendo qualquer


pingo de sanidade se esvair do meu corpo.

— Ah, não? Vou te explicar melhor. Tu. É. Meu! Só meu! — juntei


ele pela cintura e colei nossos corpos, minha respiração bateu na dele e eu
não deixei margens para dúvidas quando o beijei de forma possessiva,
mostrando que esse mano era somente meu. E ele apenas se entregou, o que
me deixou bastante feliz.

Ouvimos palmas e gritos do nossos amigos, tenho consciência de que


se não fosse eles eu não teria reconquistado esse mano...
Mas será que o reconquistei? Saberemos agora.

— Te quero agora, mano, tô galudo aqui ó! — ele pegou minha mão


e pousou em cima da bermuda dele. Senti aquela taca durona e salivei de
desejo, me esfreguei na cocha dele e o mostrei que eu também o queria.

— Vamo sair daqui. — segurei a mão dele e o arrastei em meio à


multidão. Nossos amigos comemoraram e eu não consegui esconder o meu
sorriso de satisfação.

— Tu vai sofrer na pica agora. — Iago falou contra minha nuca.


Entramos aos tropeços na edícula que o Lipe bondosamente nos cedeu,
poderíamos gritar que ninguém lá fora iria ouvir.

O que era perfeito.

— Me faz sofrer mesmo, vai. Tô tão afim de tu, porra. Cê me deixou


na mão por vários dias. — me esfreguei contra o corpo dele de forma
manhosa e fui virado de frente bruscamente.

— Errado. Tu me deixou na mão várias vezes. Porra, eu sofri por um


cueca. Que loucura isso. — ele beijou meu pescoço e eu me derreti todo.

— Escuta. — agarrei os cabelos dele e o forcei a me olhar. — Quer


fazer dar certo? — perguntei. Ele afirmou positivamente. — Beleza, mas
vamos com calma, ok? Foi foda ficar esse tempo longe de tu mano, preciso
de você de verdade. Só quero você e se tu me quiser de volta, a gente faz dar
certo.

Ele assentiu com a cabeça e me beijou devagar. Beijos que aumentam


com o passar dos minutos. Desejo louco nos domina e caímos na cama
arrancando as roupas do corpo como se elas causassem alergia. Não tem
preliminares, não tem amorzinho porque nenhum de nós quer isso.

Ele encapou o pau e no outro instante estava dentro de mim, me


marcando como só dele, me deixando febril de paixão. Nos entregamos ao
nosso momento de forma única, olho no olho.
Ele limpou o suor da minha testa sem parar de mover os quadris
contra mim. Minha perna rodeou a cintura dele o trazendo mais pra dentro.
Arranhei suas costas e deixei seu pescoço marcado pra mostrar que ele tinha
dono.

Iago era meu e eu não iria deixa-lo ir nunca mais.

Gozei sem me tocar e ele fazendo uma careta linda se derramou


dentro de mim (embora na camisinha), tentei encontrar meu fôlego e só
voltei ao normal depois de alguns minutos. Ele continuou deitado sobre meu
corpo e me prendeu nos braços fortes dele, não me deixando escapar, mas
com esse peso, impossível aguentar muito tempo.

— Vai me sufocar, porra! — pedi batendo nas costas dele sorrindo


em seguida. A contragosto ele rolou pro lado, tirou a camisinha do pau dele
e jogou no chão. Não me olhou em momento algum e eu achava que isso era
medo do que viria agora.

Ele não sabia, mas eu sabia.

— Hey! Não vou fugir de novo. Se tu tiver comigo eu enfrento tudo.


Beleza, meu brother?! — segurei o rosto dele que abriu um sorriso bonito
em minha direção. Depois me puxou pra cima dele e beijou minha testa.
Caralho, queria até chorar, mas seria muito mariquinha se o fizesse.

— Eu não ia te deixar ir mesmo. Sou teu, e tu é meu! — disse


alisando minhas costas e eu relaxei em cima do coração peludo dele. Rindo
eu o encarei e devagar, fui beijando da bochecha até chegar em sua boca.

— Tamo namorando agora? — perguntou descontraído e eu ri contra


o peitoral dele.

— Se isso quer dizer não te dividir com ninguém e vice-versa,


estamos sim. — senti meu rosto pegar fogo, mas logo passou quando escutei
a risada de moleque que ele tem. Aí ele me apertou mais forte até minhas
costas doerem e eu reclamar.

— Juntos? — mostrou o dedo mindinho e com o meu eu o agarrei.


Como quando éramos crianças e fazíamos promessas.
— Juntos!
—20—
A Brotheragem acabou... E agora é pra valer! Tô mentindo não,
hein?! Isso mesmo que você leu, acabou! Acabou porque se tornou algo
mais profundo, virou relacionamento sério. Do tipo amorzinho mesmo,
selinho aqui, selinho ali, só não chegamos ao estágio em que chamamos um
ao outro de amor. Nem sei se o que temos é amor mesmo, mas enquanto
isso, estamos trabalhando em descobrir, haha.

— Porra de rola gostosa, hein? E de quem é? Fala! — Enzo pediu


apertando meu pau na mão e me fez olhar pra ele enquanto eu respondia com
a voz cortada que era dele, só dele, todos os centímetros. Esse porra só podia
ter amarrado meu pau em alguma macumba, só sobe com ele! Onde já se viu
uma coisa dessas.

— Faz um carinho nele, Enzin. Vai! — pedi sussurrando no ouvido


dele. Enquanto me mexia na sua mão, ele suspirava pesado e eu sabia que
tinha um sorriso safado naquela boquinha chupeteira.

Eram 16 horas da tarde e estávamos no meu quarto namorando —


palavra estranha —, Enzo almoçou comigo e por ali mesmo ficou. Fazia
cerca de um mês que oficializamos nosso namoro e estava tudo às mil
maravilhas... Mentira! Sou muito ciumento (eu admito) e isso estressa pra
caralho o Enzo, mas a gente sempre acaba se fodendo em cima de uma
cama, ou no carro do pai dele, ou atrás de um muro... enfim, a gente se
entende e se resolve.

Mas voltemos pro agora.

— Dá esse pau pra eu engasgar também vai. — pedi me deitando na


cama. Ele riu safado e com os joelhos do lado da minha cabeça chegou com
a taca pra lá de dura na minha cara. Certeza que eu tinha o maior sorriso
idiota na cara. Porra, eu amo putaria!

Engolimos um a pica do outro e enquanto isso ia alargando o cuzinho


vermelhinho que me adora, faz bico pedindo beijo e tudo. Mas não
aguentamos ficar muito tempo só na felação, precisava descer rola até o talo
nesse safado. Ele ama, se amarra.

— Vai caralho! Fode com vontade! Isso, porra!! — ele pediu todo
tarado. E como sempre falei, não se nega um pedido desse tipo, muito menos
ao meu molequinho. Soquei rola até o talo.

— Quer mais forte? Quer? Então pede, pede gemendo na rola, vai!
— falei rebolando e chupando a orelha dele. Senti minhas costas arderem,
consequência das unhas dele sobre minha pele. Gritamos e a partir daí, me
perdi na sensação de torpor e relaxamento que me apetece — tô falando
muito difícil porque tenho que exercitar meu curso de RH, haha.

— Caralho, não me canso de trepar contigo. — ele disse baixinho,


alisando meus cabelos molhados de suor. Isso depois da gozada maravilhosa
que demos. Ainda estávamos conectados e totalmente duros, minha barriga
toda melada de suor e gozo; virou rotina ele gozar sem se tocar e eu me
sentia muito foda por conseguir esse feito.

— Tu é perfeito mano, me sinto tão completo contigo. — falei


distribuindo beijinhos pelo peitoral dele, em um deles deixei uma marca pra
ele lembrar de mim, embora o ardor no cuzinho seja um lembrete bem
melhor, hehe.

— Também me sinto assim, mas sabe, eu sinto falta de algo. — ele


disse parando os carinhos e eu levantei o rosto para olhar ele nos olhos. Em
dúvida, pergunto “o quê?”.

— Falta a gente contar pros coroas. — ele deu de ombros e eu engoli


em seco.

— Bom, é verdade, mas precisa ser agora? — perguntei receoso.

— Agora, agoora, não. Mas tem que ser o mais breve possível. A
não ser que você não esteja querendo algo real pra valer. — olhos claros
semicerrados. Sorri.

— Não, caralho. Tá mais que na cara que quero algo sério contigo,
senão nem estaríamos namorando, — rimos — mas eu preciso dizer que
tenho um medo cagado do que nossos pais vão falar. — me deitei ao lado
dele mirando o teto.

— Eu também tenho esse medo. Meu pai é minha única família, tu


sabe, seria horrível ter ele me virando as costas, mas vamos pensar positivo,
né? Eles são tão mente aberta que acho que não vai chocar eles tanto assim.

— Aham, e teu pai comeu viadinhos, como ele mesmo disse.


Qualquer coisa a gente joga na cara deles. — gargalhamos e depois ficamos
de beijo por um longo tempo. Mas não muito, porque escutamos os barulhos
da Ju chegando em casa. Aí pra não dar na cara que estávamos trepando
feito animais, temos que ligar a televisão, ligar o computador e jogar
conversa fora... de roupa.

— Ei, seus cabeção! Quem tá comendo quem? Quero ver o Iago


liberando o rabinho, hein!? — Juliana gritou na minha porta me fazendo
engolir minha saliva errado. Engasguei e Enzo deu um tabefe nas minhas
costas, rindo que nem idiota que é.

Essa menina me mata um dia desses, e ela não sabe de nada, só


insinua. Ela não sabe, né?

— E tu acha maneiro contar agora? — Lucas perguntou.

Estávamos na faculdade, eu tinha poucas matérias agora, pois já


havia fechado em todas as outras. Delícia o curso de RH que só dura dois
anos — acaba logo quarto semestre! Lucas tava anotando algo no caderno
enquanto eu tava trocando mensagem com o Enzo. Lucas e eu falávamos
sobre minha conversa de mais cedo com o Enzo.

— Ele acha que é maneiro estudar a possibilidade, eu também acho


isso. Não sei se você sabe, jovem menino hétero, mas pra gente é bem
importante a aceitação dos coroas. — dei um leve sorriso e Lucas revirou os
olhos fechando o caderno. Ele se voltou totalmente para mim.

— Eu sei que aceitação é importante, de todas as formas. Sempre é.


Mas o que quero dizer é: Precisa ser agora? Vocês tão nisso aí há uns dois
meses só, contado do começo, só não quero que vocês se precipitem e
venham chorar pitangas no meu ombro.

— Eu sei que tu ama a gente, porrinha, e te dizer, quando enjoar da


Sofia corre pra nós que a gente te dá colinho e carinho, tá? — alisei o braço
dele e ele me devolveu um soco na coxa.

Doeu! Esse filho da puta tava batendo mais forte depois que entrou
na academia. “Vou dá-lhe!”
— Corre não, porra! Espera eu te devolver. Aii, filho de quenga, vou
pedir massagem ao Enzo quando chegar em casa. — falei alisando o local
onde ele acertou. Garoto correu mais que The Flash, resmunguei sozinho e
alisei minha perna.

— Oi, tá tudo bem? — uma garota de cabelos de ponta azul me


perguntou. Se conheço o modo que ela mexe neles? Ahan, tá me pedindo pra
me comer.

— Hmm, tudo sim, e você? — estranho porque sempre vi essa


garota, e ela cagava pra mim, não entendi o súbito interesse.

— Melhor agora. Você pode bater um papo? Tava a fim de conversar


umas coisinhas com você. — pediu de forma interessada. Arqueei uma
sobrancelha e sorri de lado, como se cedesse as cantadas dela.

— Então, gata. Sabe o que é? Eu tô namorando agora. — cocei a


nuca e dei de ombros. Ela chegou mais perto e colocou a mão no meu peito.
Engoli meu sorriso.

— Eu ouvi dizer que você tá namorando um cara, é verdade? —


perguntou. Meio receoso eu afirmei, apenas. — Mas aposto que te faço virar
homem rapidinho.

Estourei numa gargalhada, capaz de ter voado um perdigoto na testa


dela. A garota me olhou como se eu fosse louco e isso chamou a atenção de
algumas pessoas que estavam perto e elas riram junto sem saber o porquê.
Adoro o riso contagioso. Enxuguei uma lágrima antes de falar.

— Gata, te falar, meu namorado fez alguma parada comigo, que


assim, nem me excito contigo. Se fosse quando eu pagava pau pra ti, já
estaria com a taca dura aqui querendo te comer. Agora, nem uma coceirinha
no saco. — dei de ombros e ela envergonhada saiu sem falar mais nada.

Agora que deu, esse povo só vem atrás quando a gente tá namorando,
quando estamos solteiros nem uma alma viva. Vai entender. E o pior é que
tem umas minas que adoram converter os viado, eu acho muito mais fácil
converter um hétero, só acho...
Os moleques que jogam futebol comigo se aproximaram. São gatos?
Até que sim, mas aprendi a ser seletivo, e agora só tenho pic... olhos para
um.

— Ei, cuzão! Tá me enrolando! Tá me devendo aquela partida,


mané! Te sentar o braço, hein!

— Vem, Murilão! Te sento a pica!

Héteros, adoro, sou... não, espera!


—21—
— Conseguiu? — minha mãe perguntou assim que o Enzo entrou
pela porta. Ele deu de ombros e sorriu triste. A minha vontade era de pôr ele
no colo e cuidar, mas com a família toda reunida na sala, só se eu quisesse
ser excomungado. Mais tarde poderia fazer isso.
— Foi dessa vez não. — ele deixou os ombros caírem e sentou do
meu lado no sofá. Vontade de beijar e encher de carinho, mas me limitei a
passar o braço pelo ombro dele e dar aquele meio abraço estilo heterozão.

Cheiroso meu mano, foda não poder dar uns beijos.

— Não desanima, filho. Tem outros lugares pra ir, você consegue! —
Pedro disse.

— Isso aí. Falar nisso preciso caçar estágio também. Já tenho alguns
lugares em vista.

— Tem que cortar esse cabelo e aparar essa barba, né? Chegar lá com
cara de mendigo, ninguém vai te dar trabalho. — minha mãe disse como
dona da verdade. E é sempre melhor deixar ela pensar que é. Não contraria
que faz bem pra saúde!

— Pow mãe, mas tem gente que gosta muito dessa barba assim. —
alisei meu rosto com um sorriso sugestivo nos lábios. Percebi Enzo ficar
vermelho do meu lado, mas engoli meu sorriso ao ver Juliana olhar do Enzo
pra mim, com uma cara de "Sei tudo que vocês fazem no quarto".

— Desmiolada essa daí. Homem pra mim tem que tá com rosto
lisinho, é muito mais gostoso. — ela falou fazendo uma cara engraçada e eu
fiz cara de nojo.

— Olha lá gente, o Pedro alisando rosto! Hahaha, tão se pegando que


eu sei! — Ju gritou nos fazendo olhar pro seu Pedro que realmente, alisava o
rosto vendo o tamanho dos pelos ali. Rimos até o cu fazer bico e os dois
ficaram pra lá de vermelhos, claro que Juliana tomou algumas panadas de
pano de prato.

— Aqui, mais tarde vamo sair pra distrair um pouco, cê precisa. —


sugeri. Enquanto os outros estavam distraídos em suas atividades (lê-se, se
matarem) eu fiz um carinho escondido nas costas dele que sorriu pra mim.
Ele afirmou com a cabeça e disse pra escolher o lugar.

Aí vai uma coisa ruim de namorar um cara e estar dentro do armário:


arrumar lugares bacanas para ir, mas sem que ninguém conhecido frequente
o lugar — pelo menos os que não sabem da gente. Mas a gente sempre dava
um jeito e pra todos os efeitos, éramos dois amigos curtindo a night, isso
nunca foi estranho pra ninguém.

Acho que tem coisa pior. O Rodriguinho (guri do ônibus que sofreu
preconceito) me disse que quando estava no armário e saía com a mãe e
algum amigo, claramente gay, vinha cumprimentá-lo, ele faltava cavar um
buraco na terra e se esconder, haha. Então vamos agradecer, negada!

— Tão combinando o quê aí, hein? — Juliana perguntou me fazendo


revirar os olhos.

— Não te interessa, pirralha! Vai ver anime! — ela fez uma cara
emburrada e jogou os cabelos pra trás.

— Vou mesmo, bem mais educativo! — levantou e saiu rebolando


pro quarto dela, graças a Deus, e minha mãe sumiu, com o Pedro atrás dela,
pra cozinha. O que nos deu alguns minutos sozinhos. E fica tudo muito mais
gostoso aliado a adrenalina de sermos pegos.

Olhei em direção a cozinha e em direção aos quartos, e não tinha


ninguém à vista. Beijo no meu molequinho!

— Fiquei triste por tu, o que te falaram lá? — perguntei cheirando o


pescoço dele que arrepiou.

— Para, doido! Vai aparecer alguém aí e nós tamo ferrado. — ele


disse me empurrando. Nem liguei, obviamente, sabia que ele tava gostando,
visto o rostinho vermelho de excitação.

“Porra, esse mano me deixa no ponto, que gosto bom tem a pele
dele, ahhhhh quero morrer trepando nele!”

— Disseram que tinha que ter no mínimo 1 ano de experiência. Meu


cu! Como que vou ter experiência se esses caralho não dão emprego, ah vão
chupar prego! — falou irritado e eu tive vontade de rir, mas me segurei
porque do jeito que ele tava, eu levaria uns tabefes se risse.
— Acho isso mó injusto também, mas não pensa nisso agora. Ó aqui
como tu me deixa galudão! — peguei a mão dele e coloquei em cima do
meu volume, que ele apertou gostoso me fazendo prender um gemido.

— Tu é maior putão mesmo, eu criei um monstro. Tenho que matar


esse monstro? Provavelmente. Mato na cama! Safado! — falou enquanto me
apertava e lambia minha orelha. Com mais algumas dessas amassadas eu já
tava em ponto de me esporrar todo. Pena minha mãe chamar pra comer justo
nesse momento. Fomos cada um pra um canto do sofá no mesmo instante
haha, foi engraçado, mas triste também. Queria tanto o cuzinho dele.

— Mais tarde a gente resolve isso, precisamos avançar esse lance,


hein!? — me encoxou no caminho pra cozinha e eu fiquei vermelho ao
entender que ele queria comer meu rabinho peludo. Tá que a língua era
gostoso, os dedos dele na entrada também, mas a pica... aquela pica retinha e
cabeçuda dentro do meu virginal buraquinho? Sei não, hein!?

— Tem o quê pra comer? — perguntei ao chegar na cozinha. Recebi


aquele olhar mortal da mãe e segurei o riso.

— Comida!

Tooooma! Hahaha, tá na lista de tarefas dos filhos bons irritar as


mães na hora do almoço, e quando vamos procurar alguma coisa que não
achamos também.

"Ô mãe! Cê viu minha meia?" "Na gaveta de meias, procura que
acha!" "Tá não!" "Se eu for aí e encontrar, te enfio goela abaixo!" — coisas
de mãe...

— Os moleques vêm? Acho meio difícil, hein?

Estávamos em um pub que ficava há algumas quadras da boate que


escolhemos, tocava uma música ambiente animada e eu mexia o dorso na
batida da música. Íamos há uma boate gay, e era a primeira vez que nossos
amigos iriam nos acompanhar num programa desse tipo. Já pensou, um
monte de hétero numa balada GLS? Parece que já vi essa história...
— Vão vir sim, pow! Eles são vacilão não. Será que vai ter hétero
convertido? — perguntou rindo e bebendo dois dedos da vodka que
compramos. Fiz o mesmo.

— Converter eu não sei, mas que tem gente que vai tirar o atraso de
comer cuzinho, isso vai! — nós rimos e ficamos conversando até a hora que
os meninos e meninas chegaram, é aquela algazarra.

Quem tinha namorada, veio com ela a tiracolo, e do jeito que


estavam vestidas, seriam mais cantadas que eles, pelas lésbicas.

— A gente tá pensando em acampar no domingo. Cês tão dentro? —


o Lipe perguntou pro Enzo e eu. Olhei pro Enzo e dei de ombros, então ele
afirmou com a cabeça.

— Vamos sim. Aquele esquema? Miojo, pão, salame e bebida? —


perguntei.

Já acampamos muitas outras vezes e era sempre uma festa, comida


era só besteira mesmo, só se as meninas quiserem cozinhar algo mais
elaborado. Acho que ia ser legal meter no meio do mato, hehe.

— Beleza então, a gente acerta direito depois. E sim, aquele


esquema. — ele respondeu tomando uma dose de bebida.

Ficamos ali até dar umas 23h30min, já deveria estar cheio de gente lá
na boate. O lugar era bem agitado, tocava diversos estilos musicais, com
foco nos remix eletrônicos e dava pra rebolar legal com as luzes que eram
jogadas em cima da gente. Já agarrei a cintura do meu mano pra nenhum
marmanjo com tara de cu chegar perto.

— Vamos comprar um combo? — Lucas perguntou chegando perto


pra ser ouvido, já que a música tava bem alta. Os outros concordaram e ele
foi com a Sofia comprar o tal combo. Tava gostando de ver esses dois, deu
liga e achava que tinha futuro, contanto que ela faça ele feliz... dando de
ombros.

— O Lucas é tão fofíneo, né? — Enzo disse no meu ouvido. Olhei


pra cara cínica dele e sorri. Confirmei.
— É sim, haha. E é todo hétero, tu acha que eu não tentei? — sorri
de lado e ele fez dos olhos fendas. Tava brabo? Num sei.

— Safado do caralho. Moleque é teu amigo e tu tentando comer ele,


tsc tsc tsc. — disse. Aí nós rimos e ele me apertou num abraço.

— A gente também é amigo e eu quero te comer a todo minuto. —


falei mordendo o queixo dele que furava minha língua por causa da barba
nascendo e depois dei um beijinho, ele segurou minha cabeça e me deu um
beijo de verdade, com língua e mordida nos lábios.

— Hoje a gente vai meter até dormir de cansaço, mano. — falou no


meu ouvido e eu arrepiei com o tom sensual que a voz dele tinha. Sorri de
olhos fechados e esfreguei meu volume no dele.

— Já falei que quero morrer trepando contigo? — perguntei. Ele


gargalhou.

— Essa é tua forma de dizer que me ama? — me sondou. Aquele


sorriso de ladinho, todo cínico, filho da puta! Segurei o pescoço dele com as
duas mãos e meti um beijão naquela boquinha que só sabe falar merda, ele
gemeu em meio ao beijo e eu faltei tirar minhas roupas pra fuder com ele ali
mesmo.

“Se é amor eu não sei, mas que eu sou tarado nele, ah isso pode ter
certeza!”
—22—
— Tu pegou a mochila com as besteiras? — Enzo me perguntou e eu
levantei a mochila, que tava abarrotada de lanches, pra ele ver.

— Será que dá? — perguntei meio aflito e ele revirou os olhos antes
de responder.
— Tu tem um medo de passar fome, né? Se liga, dá e sobra.

Cheguei por trás e o abracei. Beijei a nuca dele que riu. Covardia ele
ficar rebolando aquela bunda durinha numa cueca preta pra lá e pra cá pelo
quarto. Se bem que eu tava só de shorts de malha que fica entrando no meu
rego e que ele dizia ficar tarado quando me via com ele...

— Aquela tua barraca de camping, nunca gostei tanto dela, haha.


Vamo ficar apertadinho, né não? — ele se virou e mordeu meu lábio inferior,
eu arfei de desejo.

— Tão apertado que acho que vou ter que dormir com o pau
enterrado em tu. — falei. A gente riu e se amassou no quarto dele, primeiro
lugar onde ele me pegou e me fodeu... pelo menos com meus neurônios,
hehe.

— A mãe encheu minha mochila de repelente, dois pra mim e dois


pra tu. — disse revirando os olhos e ele riu.

— Hey, a Juliana sabe de alguma coisa? Tu abriu tua boca? Sim,


porque tu se entrega sem falar nada. — ele perguntou. Dei de ombros, afinal,
era verdade.

— Eu não disse nada, mas dia desses ela disse que tem gaydar. Quê
isso? — cocei a nuca embaraçado.

— Tu é muito sonso mesmo, hahaha. Gaydar é tipo um sensor que


apita quando tu vê uma pessoa, aí pensa logo: Hmm, aquele é do babado.
Mesmo se a pessoa não aparenta.

— Então eu não tenho isso, não. A não ser com os viadinhos que
andam rebolando. — dei de ombros.

— Ai Iago, a gente precisa conversar sobre esse teu jeito de tratar


essas pessoas, hein? Quero namorar um heteronormativo não. — ele disse se
jogando na cama com os braços atrás da cabeça. Tudo aquilo exposto só pro
meu prazer. Esqueci qualquer assunto que ele queria entrar e me deitei em
cima dele.
— Beleza, mas pode ser outra hora? Tô com vontade de te fuder,
agora. Nem sei o que é esse troço de paranormal aí. — rebolei e fiz ele
sentir minha pica já bomba contra a dele. O beijei na mandíbula e o ouvi
gemer, logo depois apertou meus ombros suspirando.

Ele apertando minha bunda: — Tu sabe mudar de assunto direitinho,


mas esse assunto fica pra depois, a gente vai voltar nele. — falou me
apontando o dedo. Balancei a cabeça e o beijei de língua. Melhor beijo que
eu dei na minha vida, e só ficava melhor com o tempo.

Como eu fui me amarrar a um cueca? Perguntas que eu não soube


responder no momento, ele tava chupando meu mamilo durinho enquanto
me batia uma punheta e — uowww — como isso é pra caralho de bom!

— Porra de mato com espinho! — Enzo reclamou logo atrás de mim.


Não segurei a risada.

Subimos a serra pela manhã em dois carros, dois grupos. Deixamos


os veículos onde ficava a casa do biólogo, já que estávamos em uma reserva
florestal e o biólogo tinha uma casa onde ele fazia e mantinha as pesquisas
dele, era o melhor lugar para "guardar" os carros. A casa ficava mais ao sopé
da montanha. Arrumamos nossas mochilas e subimos a trilha indo pra onde
o Lipe disse ter uma clareira foda de acampar.

Eu me amarro nessas paradas de natureza, trilhas, escaladas,


canoagem... até de asa deltas eu já saltei. Enzo não, Enzo era o medroso,
haha. Não que ele fosse cagão, porque não era. Ele só não curtia a
adrenalina... bom pelo menos desse tipo de adrenalina, já que a que dá
quando nos pegávamos em local público ele adorava.

— Por isso eu vim de calça. — Sofia disse na minha frente.

— Na verdade, você tá de legging, se tiver uma pra me emprestar


quando a gente retornar, eu vou querer. — ele respondeu e a gente riu.

— Empresta mesmo, Sofia. Ele vai ficar muito tesudo. — mordi meu
lábio ao imaginar a cena de Enzo de legging na minha frente. Se bem que
tem aquelas calças de ginástica que os caras usam e dá o mesmo efeito, meu
caralho deu até uma fisgada no calção. O que não podia acontecer, já que eu
tava usando uma bermuda própria pra caminhada que ficava no meio das
minhas coxas. Calçava tênis de amortecedores e uma camisa cinza de
algodão que não me deixava sentir muito calor, usava um boné vermelho e
carregava uma mochila super pesada nas costas, com minhas coisas e do
Enzo, ele tinha outra parecida.

— Ohh, se liga na trilha. Fica me imaginando aí em roupa diferente,


é melhor imaginar pelado. — Enzo disse no meu ouvido me fazendo
arrepiar. Tive que ajeitar meu pau na cueca e me concentrar na trilha que era
subindo e tinha galhos e alguns declives escondidos pela matéria orgânica
que naturalmente tinha ali. Me virei sorrindo e beijei aquela boquinha
molhadinha. Ele tava com o rosto todo vermelho pelo esforço, cara de pós
sexo... vixi, até me adiantei pra não parar ali mesmo e foder com ele na
frente de todo mundo.

— Porra de clareira que não chega, hein Lipe!? — Gustavo bufou


irritado e ofegante. Ele era todo marombado, mas não tinha condicionamento
físico. Posso fazer nada, haha.

— Fecha esse cu que falta pouco. E guarda fôlego pra subir a parte
mais alta, hahaha. — Lipe falou e nós rimos do som de desgosto que o Gus
fez. Até o Lucas que é molequim não reclamou, nem as meninas, mas no
caso delas eu explico: agachamento dá muita força nas pernas! Essas
marombeiras, haha.

— Misericórdia, pensei que não chegava nunca mais! — Carol falou


ofegante enquanto tomava água da garrafinha dela. Estávamos todos
sentados próximos uns dos outros e descansávamos da subida, Gustavo tava
jogado no chão e parecia morto, haha.

— Lá na frente, depois daquelas árvores, tem uma vista muito foda.


— Lipe disse bebendo água antes de continuar. — E por aquela trilha,
descendo, tem uma cachoeira bem louca.

— Ai, adoro cachoeira! Vamos mais tarde, né? — Carol perguntou


pro Lipe que confirmou a beijando. Enzo tava deitado com a cabeça no meu
colo e eu afagava os cabelos molhados dele, esse delícia!

— Por que tua namorada não veio, Gus? — perguntei interessado.


Ele suspirou antes de responder.

— Frescura. Nem sei se a gente ainda tá junto. Ela ficou muito puta
porque eu fui na boate gay com vocês, mandei um foda-se e deixei ela
falando sozinha. — respondeu um tanto irritado. Travei ao ouvir que
provavelmente a mina era uma preconceituosa, tomei fôlego, mas antes de
abrir a boca o Enzo segurou minha perna e fez que não com a cabeça.

— Eu vou terminar com ela, cara. — ele continuou depois de um


tempo. — A cabeça dela é outra da minha, muito superficial, entende?
Naquela noite eu só fiquei com o carinha lá pra provar pra mim mesmo que
ela tava errada no julgamento dela. Ficar com um mano não mudou nada da
pessoa que eu sou, ainda continuo hétero. Também não mudou meu caráter
nem nada do tipo; eu não fui "contaminado". — ele finalizou fazendo aspas
com os dedos.

Caralho, foi melhor eu ter ficado caladinho mesmo. Gustavo só falou


um monte de verdades e mostrou como a cabeça de algumas pessoas pode
ser ultrapassada. Então quer dizer que Enzo e eu fomos contaminados?
Haha, a louca! Ô guria de mente limitada essa. Se bem que mesmo eu tenho
a minha mente limitada para algumas coisas, mas tô me deixando levar e
aceitar, tô entendendo que não tem nada de errado em namorar o Enzo, nem
fazer o que fazemos juntos, somos apenas dois seres humanos em busca de
prazer. E eu sei que um dia chego lá, espero que ela também chegue.

— Espero que tu encontre uma mina bem firmeza que te mereça,


porque tu é um cara muito responsa e parceiro. — Enzo disse e Gustavo riu
concordando.

— Por isso eu não namoro. — Raoni, um dos nossos amigos de


pelada que veio conosco, disse nos fazendo gargalhar. Na verdade, ele não
namorava por ser queimado na boca das meninas. Guri era mais galinha que
toda a granja da Seara. Ele era baixo com os cabelos pretos espetados de gel
e tinha uma barriguinha de cerveja, meio amorenado e com jeito de
marrento. Enzo falou que ele era cafuço, não me perguntem o que significa.
Depois de descansarmos a galera se mobilizou pra armar as barracas
pra logo mais aproveitar o espaço. O cheiro de relva me deixava muito à
vontade, e a vontade que eu tinha era de sair pelado por aí marcando as
árvores tipo um cachorro.

— Ó, trouxe aquele saco de dormir que cabem dois, hehe. — Enzo


me mostrou depois que já tínhamos montado a nossa barraca e estávamos
tirando as coisas das mochilas. Eu ri de lado e me inclinei pra dar um selinho
nele.

— Tá de sunga? — ele me perguntou e eu respondi mostrando a


barra da sunga preta, sorri safado.

— Tô de sunga não, ó! — ele tirou a bermuda e logo depois baixou a


parte da frente da cueca branca. Fiquei de boca aberta olhando a cena, ele já
tava de pau duro, safado. Mexia na pica pra cima e pra baixo me olhando
com cara de tarado, aguentei olhar muito tempo? Não aguentei! Coloquei
minha mão em cima da dele e ajudei naquela punheta lenta e gostosa. Ele se
inclinou e me beijou de língua, de forma lenta torturante... só pra depois me
jogar pra trás e rapidamente tirar a cueca e colocar uma sunga vermelha.
Filho puta!

— Porra, tá brincando com fogo, seu cuzão! — me joguei em cima


dele que gargalha e ficamos "lutando" até alguém lá fora gritar pra fazermos
isso depois. Mas nem fizemos nada, culpa dele, tivemos que ficar ali alguns
minutos falando bobeira até a piroca diminuir de tamanho.

A tarde fomos à cachoeira e realmente era uma linda queda d'água. A


água bem geladinha ajudou a refrescar. Nos divertimos bastante, Lucas caiu
e ralou o cotovelo, Enzo me deu um caldo de entrar água pelo nariz, fizemos
briga de galo na parte mais funda, enfim, é muito bom passar momentos
assim com quem a gente gosta.

— Aqui Lucas. — Enzo entregou uma pomada pra ele passar no


ralado do braço.
— Quer ajuda pra passar? — perguntei me fazendo de sensual e a
galera riu.

— Deixa meu namorado em paz, Iago. — Sofia agarrou o braço dele


pra proteger o indefeso de mim. Enzo bateu atrás da minha cabeça.

— É, deixa o namorado dela em paz, se liga, mané! Mas se quiser


ajuda, Luquinhas, me chama. — completou e todo mundo riu, até o Lucas,
todo vermelhinho. Own, e aquela vontade de pôr no colo e comer o cuzinho?

— Trouxe um monte de Finis, quem quer? — Carol disse tirando


vários pacotes daquela maravilha. Estendi as duas mãos e ela me jogou
apenas um pacote, mão de vaca.

— Toca uma música aí, Gustavo. — Raoni pediu mastigando de boca


aberta.

Mano que delícia, fogueira, bobagens e os amigos por perto, queria


mais nada.

— Qual vai ser a primeira? — ele perguntou afinando o violão. Cada


um gritou uma música e virou aquela algazarra, por fim ele mesmo se
decidiu por Titanium do David Guetta e Sia. A gente enrolou no inglês, mas
até que ficou bonito em voz e violão. Depois ele tocou algumas de sertanejo,
Jorge e Mateus tava lá... olhei pro Enzo e catei a mão dele beijando em
seguida, era nossa música, aquela que ouvimos quando íamos pra festa da
Carol. Parecia que havia sido em outros tempos.

“Caralho, em imaginar que depois de tudo estaríamos aqui e agora;


é surreal, mas tão certo, ao mesmo tempo, era pra ser assim, sem tirar nem
pôr. Não mudaria nada.” — e peguei pensando.

Mas agora era minha vez de mostrar meus dotes... não é minha pica
que vive meia bomba não, meus dotes ao violão mesmo.

— Nunca te vi tocando violão e cantando. — Lucas falou me


fazendo ficar meio sem graça.
— É que eu fico meio tímido de tocar e cantar em frente a muita
gente, então fechem esses cuzinhos e me deixa quieto. — pedi posicionando
o violão na perna. Eles riram e eu dei os primeiros acordes da música.

Banda do Mar — Mais Ninguém.

Mesmo que não venha mais ninguém

Ficamos só eu e você

Fazemos a festa

Somos do mundo

Sempre fomos bons de conversar...

— Nossa, tô passada, ele canta muito! — Carol disse me fazendo


ficar vermelho. Agradeci sem graça e passei violão pra frente, que não
quiseram pegar e me obrigaram a cantar mais uma. Toquei a versão acústica
de Islands do The XX, essa música me deixava num estado muito
contemplativo, me desliguei e me doei aos acordes. Quando terminei todos
aplaudiram e agora sim, outro pegou o violão.

— Me amarro nessa música. — Enzo apertou minha coxa e beijou


minha bochecha. Tava tão afim dele, tão carecido, sorte a gente ter armado
nossa barraca mais afastada das outras, poderíamos gemer sem se importar, e
se alguém ouvir eu também não iria ligar.

Lucas tocou a música Oração - de A Banda Mais Bonita da Cidade, e


geral cantou junto. Essa música é tipo um looping e se você quiser, ela nunca
acaba, haha, eu me amarro.

Ficamos ali cantando músicas, comendo, bebendo e conversando


sobre tudo até o sono bater, assim que começaram a se arrumar pra dormir,
Enzo e eu corremos pra nossa barraca, deitamos um do lado do outro e
ficamos olhando pro "teto".

— Tá com frio? — perguntei quando ele deu um tremelique.


Bocejou antes de responder: — Pouquinho. Vai me esquentar ou tá
esperando eu pedir? — me olhou sugestivo. Aquele sorrisinho, e eu não
tinha esquecido de como ele me deixou na mão mais cedo. Subi em cima do
corpo dele e relaxei, sim, soltei meu peso.

— Tu é pesado, caralho. — rimos e nos beijamos. Beijo gostoso ele


tinha, o melhor que eu já provei até hoje. Finalizei mordendo o queixinho
bem feito dele e distribuindo selinhos por onde via.

— Mano, nunca pensei em ficar assim contigo. — ele disse alisando


meu rosto e eu ri abobalhado.

— E eu? Tu era só o molequinho mano, agora é meu namorado.


Quem iria imaginar isso? Iago, heterozão, namorando um cueca, e curtindo!
— ri em descrença e ele me puxou pra um beijo cheio de segundas e
terceiras intenções. Usando o peso do corpo ele me virou e se colocou em
cima de mim, sentou na minha pélvis e tirou minha camisa, depois tirou a
dele. Sempre ficava admirado, ele era tão lindo.

— Filho da puta gostoso! — me sentei e cobri o mamilo rosinha dele


com a boca. Ele segurou um gemido que queria vir do fundo e eu não dei
trégua, deixei marca e tudo.

— Trouxe camisinha? — perguntou me afastando. Olhei atordoado


pra ele e balancei a cabeça que sim, ele suspirou aliviado e eu voltei a
mamar nos peitinho dele enquanto ele arranhava minhas costas e rebolava no
meu cacete confinado nos shorts.

Depois me jogou pra trás e sorriu da forma mais putinha que


conseguia. Coloquei meus braços atrás da cabeça e esperei ansioso.

— Tu é muito piranho, Iago. — disse apertando meu cacete me


fazendo gemer rouco. Logo depois ele tirou meus shorts desesperado ficando
pelado logo em seguida e voltando pra posição inicial em seguida, sendo que
agora o caralho dele tocava no meu, eles se beijavam e pareciam namorar,
own tão lindos. Shippei!

— Lembra qual foi a primeira lição que te dei?


— Porra mano, tu quer me pôr pra pensar justo agora? Meu sangue tá
todo na cabeça de baixo. — gemi manhoso e ele riu colocando as mãos no
meu peitoral.

— Fruttage, Iago. Sarração, briga de espada, rola com rola. Lembra?


— perguntou com aquela carinha cínica e eu abri meu sorriso cheio de
dentes pra logo depois capturar nossas pirocas e tocar uma punheta pra lá de
safada. Ele gemeu com a cara toda vermelha e contraída, depois rebolou o
quadril, se inclinou e me beijou, voltou pra posição e cuspiu bem nas nossas
rolas, gemi alto e ele faz um "xiu" com a boca. Afirmei com a cabeça pra
logo depois ele ondular o quadril em cima de mim. Já vi algumas lap dancs
muito fodas, mas a desse mano, ganhava de lavada, e era só pra mim.

— Cata a camisinha aí, quero foder esse pau até te deixar seco. —
pediu mordendo meu queixo. Engoli um gemido e procurei na minha bolsa
uma cartela de camisinhas que seriam muito bem usadas, obrigado.

Mas antes de tudo ele fez aquele bola-gato que me deixava


prontinho. Mano usa a garganta e quando a cabeça da pica tá lá no fundo ele
faz uns sons que reverbera pela rola, posso falar? Adoro.

— Deixa eu te chupar também vai. — pedi me lambendo só de


pensar o gosto daquele rabo branco e durinho na minha boca. Ele riu e se
sentou com a bunda na minha cara. O cheiro do cuzinho dele sempre ficava
na minha barba e eu não queria lavar a cara nunca mais!

— Vem mano, me come com vontade, vai. — gemeu enquanto falava


e se coloca de quatro, com a cabeça encostada sobre os lençóis e saco de
dormir e o rabo lá em cima. Bati uma punheta vendo aquilo tudo só pra mim
e depois deslizei a capa pela pica, dei umas lambidas e passei a barba pela
bunda dele pra logo depois cuspir na olhota. Esfreguei a cabeça do pau no
buraquinho dele e deixei encaixado, aí me inclinei pra frente só pra morder a
orelha dele e falar baixinho pra ele aguentar pica até o talo, teve nem tempo
de responder, haha.

— Arrombado filho da puta! — falou sôfrego e eu ri soltando um


tapão no rabo dele. Tava tudo travado lá no fundo, só quando ele começou a
piscar relaxando a musculatura e rebolar de levinho é que eu comecei com as
estocadas que acertavam bem na próstata dele. Cada cabeçada era um
gemido. Eu gosto muito disso, haha, serião!

— Vai, mete! Desce rola nesse rabo, vai. — pediu manhoso se


empinando. Nem respondi, só acatei o pedido e meti até cansar.

— Vou ficar sentando de lado amanhã, mas vale muito a pena,


ahhhh! — ele falava com ele mesmo e eu rebolava meu quadril com tudo
dentro só pra aumentar o prazer dele.

Me retirei de dentro e abri a bunda dele pra conferir, tava


vermelhinho e piscando, como se pedisse beijo, e eu beijei, de língua, haha.

— Deita aqui, vem! — deitei de lado e fiz com que ele se deitasse na
minha frente. Iríamos fazer a famosa posição de ladinho. Adorávamos essa
posição porque dava pra se beijar e explorar o corpo sem muito malabares.
Ele deitou a cabeça no meu braço e eu levantei sua perna definida, logo
depois enterrei minha rola no buraquinho dele sem estresse, ambos
gememos.

Daí ficamos nisso até eu envolver minha mão na pica durona dele e
aumentar o ritmo. Esse macho sempre dava de pau duro, exibindo o prazer
que sentia em me ter lhe fodendo, o que só aumentava o meu prazer. Ele
gemia rouco e falava pra fazer mais forte, no mesmo ritmo eu aumentei a
punheta dele, que não se demorou e espirrou porra longe, chegando a bater
no tecido na barraca, hahaha. O cuzinho dele apertou minha rola e com mais
algumas estocadas eu gozei tudo dentro, embora na camisinha, mordi seu
ombro pra não gemer muito alto e rebolei devagar pra prolongar as
sensações que estávamos sentindo.

— Cara, tô todo grudando. — ele disse baixinho e eu ri lambendo o


lugar onde mordi.

— Essa foda, foi foda, hein? — brinquei empurrando meu quadril


pra frente, ainda tava meia bomba.

— Hmmm. Porra, aposto que vou ficar dolorido amanhã. — suspirou


e eu o enchi de beijinhos por onde alcançava.
Depois de retirar a camisinha cheia de gala e amarrar, colocando num
saquinho que havíamos levado só pra pôr lixo, nos limpamos com uma
toalha de rosto e ficamos de preguiça e chamego. Na mesma posição nos
cobrimos e ficamos conversando sobre nossas ambições, sobre os quereres e
sobre o futuro.

Eu não sabia bem o que queria do futuro, nunca pensei muito nele.
Costumo viver mais o hoje. O passado também nunca me pareceu muito
atraente; alguns momentos inclusive, eu queria deletar da mente, porém, isso
não é possível, então eu prefiro viver o aqui e agora. O Enzo era o meu
agora.

Também nunca fui de pedir coisas para Deus, ou seja lá como você
chama, mas depois que o Enzo voltou pros meus braços eu sempre pedia pra
ele ficar ao meu lado por diversos anos. E isso é pensar no futuro, sem se
importar muito com o que eu ia encontrar lá na frente. Se o Enzo estivesse
nele, tenho certeza de que ele seria perfeito.

Beijei a bochecha dele e desejei um boa noite, ele me desejou o


mesmo, com uma voz de sono e preguiça, e se aconchegou nos meus braços.
E assim nós dormimos.

Eu só esperava que o nosso futuro não fosse tão cruel conosco.


—23—

— As montanhas me deixam energizado, ahhh. Valeu a carona


galerinha. — Gustavo disse se despedindo. Raoni fez o mesmo e logo depois
os dois sumiram pela rua lateral que levava pra casa deles. Nossa rua ficava
há uns dois minutos dali e eu almejava por um banho daqueles. Faltava
pouco.

— Tenho mais uma entrevista marcada essa semana, tô confiante. —


Enzo falou sorrindo.

— Que bom que está, eu tenho certeza que vai dar certo. Vou falar
com meu professor amanhã, ele disse que ia me dar uma força quando o
curso tivesse acabando. Vou cobrar, né não? — sorri pra ele, que diminuiu a
velocidade num cruzamento.

— Com certeza, joga teu charme. Só não demais, vai que o professor
curte umas brotheragem?!

Rimos e chegamos em frente de casa, aí ele me deu um beijo de


levinho, ainda ocultados pelos vidros escuros, e entramos na minha
residência com nossas "bagagens". Pedro tava largado no sofá comendo
pipoca, daquelas industrializadas, e vendo um jogo na TV. Enzo deu um bom
dia e beijou a cabeça dele e eu fiz o mesmo, porém o meu gesto foi bagunçar
os cabelos dele, que reclamou.

— Cadê a mãe? — perguntei me jogando no sofá do lado.

— Foi no mercado com a Ju. A Ju reclamando que era trabalho de


vocês, não dela. — ele riu e a gente acompanhou.

— Muito folgada tua irmã, Iago. — Enzo disse alongando o pescoço.


Porra, ele nem notou que tinha uma marca do tamanho da minha boca bem
ali. Ainda bem que era do lado oposto ao Pedro, que nem reparou.

— É tua irmã, tanto quanto minha. Eu deveria te chamar de papai,


né? — falei apontando pro Pedro que abriu um sorrisão todo besta.

— Quando tu era molequinho, tu me chamava de pai. Mas daí foi


crescendo, foi ficando besta e se tornou esse ingrato que é hoje. — disse
levantando uma sobrancelha. Quase falei um "teu cu", mas ele ainda era
mais velho e eu devia respeito, hehe.
— Né assim não, cê que abandou a gente! — falei acusatoriamente e
ele riu.

Teve uma época em que ele trabalhava durante toda a noite e dormia
o dia todo, logo não sobrava tempo pra gente. Coitado do Enzo foi o que
mais sofreu, logicamente.

— E aí, fizeram o que na nossa ausência? — perguntei. Olhei pra ele


que engoliu em seco e nos devolveu um olhar desconfiado. Fiz os olhos em
fenda.

— Tu tá pegando a minha mãe, Pedro? — perguntei de olhos


arregalados e o coração chegou a martelar no peito. Tá certo que o Pedro era
um coroa boa pinta, de cabelos grisalhos e uma barriguinha de chopp, e a
minha mãe tava inteirona com os cabelos sempre pintados de pretos (haha),
mas caralho, eles não podiam, eles são o pai e a mãe do Enzo e do Iago. Isso
num tá certo!

— Não fala besteira, menino! As ideia dele. — falou se levantando


todo vermelho e foi pra cozinha. Olhei pro Enzo que tentava segurar o riso
dando ombros logo depois. Dei um soco nesse ombro; sem força.

— Hey! — ele alisou o local.

— É a minha mãe, caralho. Eles não podem. — falei indignado. Ele


riu negando com a cabeça.

— Se até a gente pode, por que eles não? Se liga, cabeção! — deu
um peteleco na minha orelha. Parei pra pensar na lógica e, tá, pode ser que
sim... pooode ser que sim...

— Vou botar a coroa na parede.

— Ela vai te dar uma surra, e vai sobrar pra mim. Deixa eles, porra!

Ai meu saco, ninguém facilita pra mim! Vida cruel.

Depois ficamos ali vendo o jogo e opinando sobre passes e toques, e


a bunda dos jogadores — isso aos cochichos —, até minha mãe entrar pela
porta com a Ju de cara de feia. Cheias de sacolas. A menina soltou as bolsas
ali na entrada e sentou no meio do Enzo e eu, se fazendo de morta.

— Os dois, vão guardar essas compras. — minha mãe disse levando


algumas coisas pra cozinha.

— Oi, mãe! Sim, foi muito dahora! Obrigado por perguntar. Tamo
bem sim! — falei sarcástico a vendo revirar os olhos.

— Pow, tia, chegamos agora. Dá um desconto. — Enzo pediu


fazendo voz de manha.

— Não sou nem banco, ouviu? E vai logo que eu odeio ver essas
coisas espalhadas pela sala.

Juliana fingiu um ronco e eu puxei uma mecha do cabelo dela, que


me estapeou e assim sucessivamente até o Enzo apartar a gente. Depois nos
levantamos a contragosto e arrumamos as compras, sempre fizemos isso
então era de boa, mas ô servicin chato, hein? Depois disso cada um tomou
um banho separado e fomos descansar da viagem. Queria ter esfregado as
costas dele, mas tudo bem.

A tarde Enzo foi dormir na casa dele e eu na minha cama, só sei que
apaguei legal. Tudo bem que eu já estava acostumado a dormir com ele, seja
na minha cama ou a dele, mas a gente tinha que dar uma disfarçada básica,
pelo menos em casa. O legal de termos sidos criados juntos é que desde
sempre rolou essa cumplicidade, de tomar banho juntos, dormir juntos,
comer no mesmo prato, usar as mesmas roupas, tals... hoje a gente troca
muito mais coisas, muitos fluidos, hehe. Menos o cu, pra isso ainda não tô
preparado.

— Mano, bora sair pra vadiar um pouco? Só eu e tu? — perguntei


ao Enzo que levantou a sobrancelha como que questionando.

— Mas a gente já não faz isso? — perguntou rindo.


— Idiota, somo vadio memo, hahaha. Hein, tu já foi lá no Palácio
Quitandinha, né? — me joguei do lado dele no sofá, ele passou o braço por
cima do meu ombro e cheirou meus cabelos.

— Sim. Lembra quando a gente era moleque e uma vez a gente fugiu
pra lá? A tia ficou doida sem saber onde a gente tava, hahaha. — ele
respondeu.

— Putz, lembrei disso, e da surra que levamos, haha. Mas a gente só


brincava nos terrenos mesmo. Se liga que em 2007, mais ou menos, ele foi
aberto pras paradas culturais. A gente podia ir lá dar uma olhada. — sugeri
dando um beijo na bochecha dele. Ele pensou um pouco e assentiu
concordando.

— Sabe o que tô lembrando? — perguntei — Dos passeios que a


gente fazia com o colégio. Tu odiava se rolava alguma coisa que tivesse
contato com a natureza. Tu sempre foi cagão pra essas coisas, mano. —
rimos.

Lembrei de um determinado passeio que fizemos a um hotel fazenda


que tinha um porrada de bichos e atividades pra fazer, tinha até arvorismo.
Nós tínhamos por volta de onze, doze anos e desde moleque eu sempre curti
coisas de aventura. Na bike eu que empinava, Enzo demorou uns 5 meses
pra tirar a rodinha e nunca empinou, haha. Nesse dia em questão eu fiz de
tudo pra ele entrar no barco comigo pra gente pescar, claro que tinha um
adulto no nosso barco e mais algumas crianças, mas nem com a professora
que ele tinha mais confiança ele foi, preferiu ficar jogando comida pros
patos.

— Ih, mano, isso mostra que desde pequeno eu prezo minha


integridade física. — disse com ar de sabichão, ri mordendo o ombro dele.

— Tu não preza porra nenhuma tua integridade física, senão não


ficava me atentando quando tô com vontade de gozar. — provoquei baixinho
no ouvido dele que se arrepiou.

— Eu sei meus limites, né carai? E correr risco assim é bom que só.
— ele sorriu de lado e nos beijamos, mas não muito porque estávamos na
sala da casa dele e corria o risco do Pedro entrar a qualquer momento,
mesmo eu achando que isso era impossível já que ele mal saía da minha
casa, hunf.

— Mas então, bora lá? Passar o dia por lá, aloprar um pouco.
Visitamos o palácio, vamos no pedalinho se for dia e depois a gente vê. —
pedi fazendo carinho na orelha dele.

— Bora sim. Vamo ali no quarto que vou colocar uma roupa. Hey, a
gente pode passar lá na Marli pra cortar meu cabelo? Tô precisando. — ele
se levantou e passou a mãos pelos fios rebeldes que estavam realmente
grandes. E que eu amava segurar e puxar enquanto metia nele de quatro.
Putz, lá tava eu de pau duro. Abracei ele por trás e desse jeito a gente chegou
no quarto.

— Eu amo teu cabelo assim. Dá pra fazer de rédea. — lambi o


pescoço dele que gemeu.

— Por isso que eu só vou cortar nas laterais. Sou burro não, mano.
Também me amarro quando tu me pega assim. — virou de frente e me deu
um amasso daquele que me deixou de quatro. Mas não ficamos muito nisso
senão não íamos aproveitar o dia.

Ele colocou uma bermuda branca de tecido mole e dobrou nas barras,
vestiu uma camiseta cinza e calçou um allstar branco. Colocou a corrente
que gostava no pescoço, pegou os óculos escuros e um boné branco e me
chamou pra ir. Eu tava vestido com uma bermuda verde militar um tanto
curta, uma camiseta branca e tênis também brancos. Não tava de boné, mas
tava de óculos escuro também.

Passamos em casa e peguei minha carteira e celular e já deixamos os


coroas avisados que provavelmente voltaríamos tarde. Nem questionaram,
haha.

Fomos andando até o salão da Marli que ficava há uns 5 minutos de


caminhada, chegando lá já fizemos sucesso com as clientes e isso era
sempre, a Marli adorava. Enzo pediu o corte e uma outra mulher fez pra ele
enquanto eu esperava. Aí a Marli que tinha acabado de finalizar uma cliente
olhou pro meu cabelo e franziu o cenho.

— Que você acha de pintar, Iago? — ela mexeu no meu cabelo pra lá
e pra cá, tava enorme também. Dei de ombros.

— Nunca pintei não. Tu faria o que nele?

— Ah, platinaria! Fica lindo combinado com teu tom de pele, essa
cor morena, bronzeada do sol. As meninas vão cair matando. — ela sorriu.
Sutilmente olhei pro Enzo que riu minimamente e fez que sim com a cabeça.
Dei de ombros mais uma vez e concordei. Ela nem deu tempo de eu me
arrepender, quando dei por mim já tava lá com o cabelo cor de bagaço de
laranja. Quase choro.

— Marli, vai ficar assim? — choraminguei. Enzo deu uma


gargalhada.

— Não, pow. Ela vai passar a parada que dá a cor de platinado aí.
Né, Marli? — Enzo falou. Ele já tinha terminado o corte dele e tava me
esperando. Suspirei aliviado com a informação.

Daí foram mais alguns minutos até a cor certinha, mais alguns pro
corte degradê, outros pra aparar a barba... foi quase a manhã toda, aff odeio
isso. Mas no final ficou fodinha, eu curti, Enzo ainda mais. Percebi pelo
brilho do olhar dele, haha.

— Bora almoçar onde, mano? — perguntou enquanto andávamos


pela rua, ambos com novos cortes de cabelo. Tava me sentindo!

— Hoje eu tô afim de fazer tudo diferente. Bora almoçar num lugar


onde nunca almoçamos. Tu conhece Petrópolis toda? — perguntei
interessado.

— Pior que não. Nossa cidade é tão legal, né? Mas mesmo assim a
gente prefere sair pra outros lugares?

Concordei sorrindo. Aí olhei de lado e vi uma casa de muro alto


bonito, um portão chique e uma entrada grande pra garagem. Sorri comigo
mesmo e me aproximei ao o olhar atento do dele. Apertei a campainha e saí
correndo feito maluco com ele nos meus calcanhares e me xingando, haha.
Dobramos a esquina e botei as mãos no joelho buscando fôlego, ele tava
igual, todo vermelho.

Ficamos rindo da molecagem e ali perto pegamos o busão que nos


deixou perto do shopping. Mas não almoçamos lá, invés disso escolhemos
um restaurante maneiro de comida caseira e curtimos um rango bem
caprichado, demos um tempo ali pela pracinha e quando era por volta das
13h30min chamamos um uber pra nos levar até o palácio. O motorista era
bacana, gatinho, cheiroso e ficava tentando puxar assunto e dar ideia em nós
dois, o que não rolou é claro, haha. Ainda bem que nenhum de nós ficou
com ciúmes de verdade. Chegamos lá em mais ou menos meia hora, já que o
Palácio fica no mesmo bairro em que morávamos.

Fazia muito tempo mesmo que não íamos ali, eu não lembrava que a
construção era tão imponente, apesar de achar que precisava de uma
pinturinha. O lago era outra atração à parte, de perto você não percebe, mas
ele tem o formato do mapa do Brasil. O cara que fez o projeto almejava que
o palácio fosse na verdade o maior cassino da América Latina então você
deve ter uma ideia do tamanho/imponência do prédio and entorno.

Compramos os bilhetes para visitação guiada e aguardamos um


pouco pra começar. Descobrimos que o lago só era aberto à visitação as
terças e domingos, mas tinha um boliche que poderíamos ver arriscar depois
da visitação. E foi o que fizemos, junto a um bando de adolescentes.
Ganhamos todas porque somos competitivos demais, haha.

Quando saímos dali já era hora de fechar. Nos divertimos como


moleques nesse dia, mas pra encerrar ainda faltava algo.

— Topa fazer uma loucura? — perguntei enquanto a maioria das


pessoas iam embora. Ele me olhou desconfiado, mas assentiu. Eu ri como
um vilão que trama um crime e descemos a estrada que leva ao Palácio
ficando lá perto do lago. Só que relativamente longe de tudo. O coração dele
aos pulos com o que possivelmente viria.
— Tu tá louco? O que a gente tá fazendo aqui ainda? Bora chamar
um uber logo pra ir embora. — ele cochichou ao que eu ri.

— A gente vai roubar um pedalinho e ficar namorando lá no meio do


no lago. Lá longe os vigilantes geralmente não vão. Só esperar ficar mais
tarde um pouco. — contei meu plano e ele fez olhos enormes.

— Não, maluco! Tô fora! Bora embora logo.

— Deixa de ser frouxo, é de boa. Os moleques e eu já fizemos isso


algumas vezes. Ninguém vai pegar nós.

Devo dizer que ele relutou um monte, mas por fim acabou cedendo.
O palácio com todas as luzes acesas ficava ainda mais bonito e nós
namoramos um bocado ali antes de colocar meu plano em ação. Eram quase
8 da noite quando enfim conseguimos fugir pro ponto do lago onde ficavam
os pedalinhos. Os dois tentando segurar a risada feito idiotas.

— Vou soltar a corda, fica de olho aí se tem gente vindo, beleza? —


pedi desatando o nó que segurava o brinquedo. Quando consegui o chamei
pra entrar e ele fez se segurando em tudo. Falei, um cagão.

Pedalamos até o meio do lago e ficamos namorando vendo as estrelas


super acesas. Não era noite de lua, o que deixava o céu salpicado dos astros
que possivelmente já morreram. Aí teve uma hora que eu sugeri.

— Bora nadar pelado, mano? Tá maior calor. — ele nem hesitou.


Tiramos as roupas rapidamente e deixamos nos bancos. Ambos excitados,
não sei se por causa da adrenalina ou por causa do outro. Acho que os dois.
Devo dizer que a água tava gostosinha já que era verão. Nos beijamos muito,
mas não transamos por motivos óbvios. Aquilo era muito maneiro e
divertido. Eu tava me sentindo um bandido, hahaha.

— Acho melhor a gente ir, não? Tamo dando mole aqui, cuzão. —
ele disse me trazendo sanidade. Concordei e depois de nadarmos mais um
pouco nós subimos no pedalinho e pelados, pra não molhar, as roupas
levamos ele até o lugar de onde o pegamos. Aí ficamos um tempo nos
secando e ao vento onde não nos notariam de longe. Os dois tremendo de
frio com os mamilos tudo apontando, acabamos nos abraçando e sarrando
pra chegar um calorzinho mais rápido. Deu certo. Nos vestimos e pedimos
um uber que rapidamente chegou. O motorista olhando desconfiado os dois
de cabelos molhados e a gente trocando risos. Deve ter pensado que
estávamos bêbados.

A gente tava tão entrosado, tão na nossa bolha que nem vimos
quando o carro parou em frente à casa do Enzo. Pagamos o motorista e
entramos as gargalhadas comentando sobre a loucura que havíamos feito.
Enzo deu aquela olhada pra ver se o pai estava em casa e como obteve
apenas o silêncio em resposta ele me agarrou e jogou no sofá sentando no
meu colo em seguida.

— Amei o dia de hoje. Você é louco, mano. — ri concordando e nos


beijamos mais um bocado. Depois fomos pro quarto dele e nos livramos das
roupas e pelados entramos no banheiro dele. Debaixo do chuveiro eu fiz uma
gulosa que deixou minhas amígdalas doloridas. Lógico que não deixei
barato, fiz ele engasgar contra o box do banheiro, hahaha. Me chamou de
filho da puta, mas tudo bem, minha mãe aguenta.

Quando caímos na cama dele eu mandei uma mensagem pra minha


mãe e disse estar com o Enzo, pra ela não se preocupar e depois de bater um
papo gostoso nós dormimos abraçados.

Se eu soubesse o que aconteceria dali uns dias eu nem iria querer ter
acordado na manhã seguinte.

Passaram dois dias depois do meu passeio com o Enzo e nada muito
interessante aconteceu nesse intervalo, mas naquela sexta-feira eu tinha
acordado no susto. Porém o pior susto mesmo viria depois.

— Iago! — buf buf buf — minha mãe batendo na porta. Em que


mundo eu vivo? Tô sonhando ou acordado? Droga! Odeio acordar lezadão
assim, parece até que fumei um baseado, e eu nunca fumei, e nunca mais
vou fumar!

— Oi, tô indo! — levantei cambaleante e vesti um shorts que depois


vi estar avessado, tirei e coloquei do jeito certo, alonguei o corpo e bati na
minha cara pra acordar de vez. Coloquei uma regata e fui em direção ao
banheiro dar um mijão daqueles de fazer "ahhhh". Lavei o rosto e fui pra
sala onde encontrei minha mãe, o Pedro, a Ju e o Enzo sentados com cara de
poucos amigos.

Enzo na verdade nem me olhava, o Pedro parecia assustado e a Ju


tinha aqueles olhões arregalados com algo que me pareceu felicidade. Um
arrepio passou pelo meu corpo. Eu hein.

— Que aconteceu, gente? Alguém morreu? — tentei fazer piada, mas


pelo visto não era uma boa hora, já que ninguém riu.

— Iago, eu ouvi alguns comentários na boca da vizinhança e eu


quero ouvir de vocês se isso é verdade. — ela apontou do Enzo para mim, e
eu? Tinha meu cu beeeem trancadinho, tinha minha alma deixando meu
corpo e tinha a maior cara de pânico que se possa ter, haha; rindo de
nervoso. A mãe descobriu que ando metendo meu pau onde não deve? Ixe,
fudeu, né?

— O-o quê que você ouviu? — perguntei o mais inocente possível.


Juliana baixou a cabeça querendo rir e Enzo meteu o cotovelo pra que ela
parasse. Engoli em seco.

— Vou ser direta. Me disseram que você o Enzo estavam se pegando


no meio da rua. Isso quer dizer, de beijos e abraços. Isso procede? — a
pergunta foi para o Enzo e para mim, mas eu não tava nem ali; estava em
outro plano astral onde tudo são ruídos e coisas desconexas, certeza que a
minha cara era de idiota. Espero que eu não estivesse babando, que mico
seria...

Depois de um tempo (que não sei precisar qual) eu só conseguia


enxergar Enzo mexendo a boca e Juliana batendo palmas, Pedro fazendo
uma cara de preocupado e minha mãe uma de que não acredita.

No meu ouvido apenas um zumbido, e porra, eu nem pra desmaiar!


Seria ótimo desmaiar naquele momento, pelo menos me livraria de passar
toda essa vergonha.
Ah não, eles descobriram, tava tudo tão gostosinho, espero só que
não embaçem pro nosso lado. Que não empatem minha foda. Isso! Tudo o
que eu sei, é que Enzo e eu vamos continuar na brotheragem, e tenho dito!

E é nessa hora que a gente encerra um capítulo pra não passar mal do
coração.
—24—

— Hey, cabeção! Acorda pra Jesus! — Enzo batia de leve no meu


rosto e eu “despertei” do momento lezeira olhando pra todos ali feito um
tongo que sou.
— Chegou a hora. Não me deixa sozinho nessa, caralho. — ele pediu
baixinho e suplicante, só consegui balançar a cabeça e apertar a mão dele pra
passar confiança, tomando confiança também. Precisávamos muito disso.

Nos levantamos e de mãos dadas — eu tremendo tipo vibrador —


nos colocamos na frente da família. Descobertos e abertos a qualquer
conversa civilizada que eles pudessem ter conosco.

— Já ouvi do Enzo, agora quero ouvir da sua boca, Iago. — minha


mãe pediu. Estava controlada, mas eu pude ver o nervosismo e medo que ela
tinha no rosto. Engoli em seco antes de falar.

— A gente tá namorando. — parecia que tinha um caroço na minha


garganta e eu mal reconhecia minha voz. Falar em voz alta é tão diferente do
que apenas saber e pensar.

Minha mãe se sentou no sofá e, aparentemente, não ligou muito pro


que eu tinha acabado de dizer.

— Desde quando? — Pedro perguntou.

— Desde quando eu voltei. Umas semanas depois, na verdade. Já faz


alguns meses, mas oficialmente 1 mês e meio. — Enzo respondeu dando de
ombros.

Então é esse o tempo que estamos namorando? Nossa. Preciso


perguntar pra ele a data exata, pra deixar marcado como data especial no
celular, pra não esquecer no dia, vai que ele fique brabo caso isso aconteça,
né? Vamos prevenir.

— Mãe, Pedro. Nada vai mudar, ainda somos filhos de vocês, ainda
somos garotos de bem, ainda somos amigos e parceiros, com o adendo de
que a gente agora se... — cotovelada no meu braço — Se namora. — sorri
sem graça, já ia falar besteira mesmo.

Aí a doida da Juliana se levantou gritando e pulando em cima da


gente, nem parecia que fez 18 no verão passado. Ela ria feito idiota e a gente
até ficou contagiado. Consegui ver o Pedro e minha mãe com sorrisos
contidos no rosto, mas eu tinha o pressentimento de que não iria ser tão
simples.

— Eu sabia! Ahh caralho! Que legal! Ai que delícia, gosto muito!


Vocês deixam eu ver vocês se pegando, é o meu sonho. — Ju pediu juntando
as mãos na altura do peito e fazendo aquela carinha de dog que caiu da
mudança.

— Ju! Senta! — minha mãe pediu e minha irmã emburrada se sentou


do lado do Pedro.

— Eu tenho que dizer que eu não esperava isso de vocês, sempre


com namoradas e tudo mais, me surpreendeu bastante. Mas vocês são os
meus meninos, eu não posso virar as costas pra vocês. Eu desejo acima de
tudo que ambos sejam felizes e se pra isso vocês precisam estar juntos, eu
vou aceitar. Só me deixem assimilar tudo aqui. — ela apontou pra cabeça e
se levantou. Veio até a gente e nos abraçou apertado, tive vontade chorar,
mas me segurei o máximo possível. Ela não sabia a importância dessa
aceitação para o Enzo e eu.

— Por favor, só... — fez gestos com as mãos que deu pra entender
que ela não queria ver nós dois se agarrando na frente dela, ou pelas ruas.

— Pode deixar tia, vamos respeitar vocês.

— Não se preocupa comigo, pode fazer na minha frente. — Juliana


disse fazendo minha mãe revirar os olhos indo pra cozinha em seguida. Era
melhor ela ficar um pouco sozinha mesmo.

Mas ainda faltava o Pedro. Ele levantou e veio pra perto da gente,
Enzo tremeu um pouco e eu apertei a cintura dele passando força.

— Quem diria, hein!? — chegou mais perto. — Quem come quem?


— perguntou em tom conspiratório. Eu quase parei de respirar nesse
momento, aí alguém bateu nas minhas costas e eu me endireitei.

— Pai, que tipo de pergunta! Cê nunca vai saber. — Enzo riu de lado
e Pedro apenas balançou a cabeça de leve.
— Olhem garotos, eu não vou ser hipócrita de dizer que estou feliz
com isso, porque não tô. Mas como a mãe de vocês disse, desejo a felicidade
dos dois. Apesar de eu ter medo do que vocês possam ouvir lá fora e tudo
mais, a gente sabe que não é fácil manter um relacionamento assim. Então
mantenham o respeito e se apoiem um no outro pra que dê tudo certo
futuramente. A gente ama os dois. — nos abraçou e foi atrás da minha mãe.

— É sério gente, pode se pegar na minha frente, eu fico quietinha. —


minha irmã que ainda tava ali falou chamando atenção. Minha vez de revirar
os olhos e arrastar o Enzo pro meu quarto, ele riu e mandou um beijo pra Ju
que ficou ligando pra alguém do celular dela.

— Acho que eu preciso trocar de cueca. Tô todo borrado. — falei.


Rimos e nos jogamos na cama, um ao lado do outro.

— Tô tremendo ainda, ó! — me mostrou a mão que realmente estava


trêmula e eu a peguei, beijando os nós dos dedos dele.

— Cara, ainda tô tentando assimilar tudo que aconteceu, como a mãe


ficou sabendo? — perguntei me apoiando no cotovelo pra olhar melhor o
meu namorado. Ele suspirou antes de responder.

— O pai foi me acordar agora de manhã e disse que tinha algo sério
pra conversar comigo. Lógico que eu fiquei muito tenso, como você diria:
tranquei o cu. Aí tua mãe tava lá na sala me esperando e disse que veio falar
comigo primeiro porque você é muito sonso.

Abri a boca pra protestar e ele sustentou o olhar em mim, por fim dei
de ombros. Né verdade mesmo que sou sonso? Deixe estar. Ele continuou.

— Aí ela disse que a vizinha parou ela no meio da rua pra falar que
acha uma pouca vergonha dois meninos que foram criados juntos ficarem se
agarrando na frente de casa. Tu acha que foi a boca maldita? — perguntou
curioso e eu dei de ombros. Tava sendo capaz de opinar no momento não.

— Enfim, ela me pediu sinceridade e eu disse que a gente tava


namorando. Cara, nunca me senti tão pressionado em toda minha vida. E
ainda tô me sentindo um pouco mal, fora do eixo, sei lá. — suspirou e olhou
pro teto, fiz o mesmo.
Eu nunca cheguei a pensar, real, como seria esse dia. Também acho
que nem deu tempo de pensar; um dia eu tava me pegando com meu brother,
no outro tava sendo tirado do armário... caralho, deu nem tempo de
esquentar lugar nesse armário, foi tudo muito brusco, e eu nem sabia se
agradecia ou ficava com mais receio. Uma coisa é se mostrar pra seus
amigos (que basicamente, não tem nada com a sua vida) outra bem distinta é
assumir pra família (esses sim, podem meter o dedo no teu calo).

— Tamo junto ainda, né? — perguntou e eu pude ver o medo que ele
tinha ao perguntar isso.

Porra, como não estar junto dele? Como ficar longe desse mano
assim, todo meigo e com medinho? Sorri de lado e passei meu dedo de leve
sobre a bochecha dele; a barba meio crescida, sobrancelhas franzidas de um
jeito tenso, boquinha vermelha e os olhos claros me fitando a alma.

— Não precisa nem perguntar. Juntos até que acabe. E nem quero
que acabe. — dei de ombros e virei de lado pra dar um selinho nele, que se
aconchegou no meu peito e eu o abracei. Um sentindo o respirar do outro, o
coração batendo no mesmo compasso.

— Cara, como a gente é gay, né? — falei fazendo ele gargalhar, e a


risada reverbera no meu peito, rimos até sair lágrimas. Acho que foi o modo
da gente botar o stresse/pressão pra fora.

Repito, se ele estiver comigo, eu enfrento tudo, até comer buchada.


Mentira, odeio buchada, eca!

— Te falaram alguma coisa? Tipo: “Viadinho, bicha, sai da minha


casa”? — tentei imitar a voz da minha mãe, o que acho que foi engraçado
porque ele riu, depois suspirou e olhou pra cima todo sério.

— Dá pra notar que não rolou essas paradas, né? Tipo, eu não fiquei
com medo de isso acontecer, não. Não faz o estilo dos coroa agir desse
modo. Agora o que me deixou com medo, e ainda tô, foi de decepcionar
eles, de perder a confiança, saca?

Apenas confirmei com a cabeça.


Nossa, tava tudo tão recente, nem parece que aconteceu. Ainda me
achava hetero, ainda agia como hetero, aliás. Eu não sabia o que essas
revelações iriam implicar na minha vida e na do Enzo do momento em
diante, sem contar que a boca maldita que contou pra minha mãe, ou seja,
toda a rua tava sabendo, ahhhhh.

— Deixa eles falarem, ué! — Enzo disse. Quê, tá lendo pensamento


agora?

— Tu falou em voz alta, cabeção, haha. Se liga, se aquela mulher


vier falar alguma merda pra mim, ou pra você, vou dizer que nós dois
pegamos o marido dela. Tá ligado que ele dá umas olhadas nos moleque que
joga bola, né?

Rimos. Verdade que o marido dela manja macho suado, e quando


bebe, solta a franga, ui.

— Vai dizer que a gente botou ele pra mamar e depois fez DP? —
falei. E gargalhamos que nem dois idiotas imaginando o seu Osvaldo
aguentando duas rolas, tadinho.

— Tu acha que vai mudar muita coisa aqui em casa? — perguntei


receoso e ele me fez um cafuné nos cabelos antes de responder. Eu estava
deitado no peito dele.

— Provavelmente, né mano? Mas tipo, lá na hora que a gente tava se


abrindo, lembra que disse pra você ficar comigo, por que eu precisava de
você no momento? — afirmei com a cabeça. — Então, vai continuar sendo
assim. Se você estiver comigo, ótimo, vamos enfrentar esses zé povinho, e
até os coroa se eles embaçar. A gente só precisa ter irmandade, e acima de
tudo, paciência com eles.

— Certo então, engolir alguns sapos, né? — perguntei e ele balançou


a cabeça. Depois me tirou do seu peito, virou de costas e se aconchegou em
mim, o abracei e o beijei na bochecha.

Ficamos cada um com seu pensamento. Sabia que ele não tava
dormindo porque eu também não estava, muita coisa na cabeça, muita
informação, muitos “e se”.
“Mano, se eu tivesse que enfrentar essas paradas sozinho,
certamente eu iria enlouquecer. E ainda tem o fim de curso, o trampo pra
caçar, as pessoas na rua, o resto dos parentes...”

— Iago. Dá pra ouvir as engrenagens da tua cabeça trabalhando


daqui. Mano, sabe o “foda-se”? Tá na hora de usar ele. Relaxa um pouco,
tenta dormir. — ele pediu tranquilo. Invertemos a conchinha e eu finalmente
consegui relaxar nos carinhos dele. Não sei o momento que dormi, mas o
fato era que não queria acordar nunca mais!
—25—

— Vai lá, cê vai conseguir. Quem é o gatão? Você é o gatão! Sorri de


ladinho que nem tu faz pra mim. Isso! Mostra a covinha. Bicho gostoso da
porra, Jesus! — Iago tentou me animar e eu ri com as bobagens dele me
encorajando, antes de eu ir barganhar uma vaga numa empresa que tinha
poucos anos de carreira, mas que se mostrava estar em ascensão... sim, eu
dei a maior googleada da minha vida! Não sou idiota de chegar lá e não
saber nem quem eles são.

— Valeu, mano. Essa é pra nós, vou trazer esse caneco pra casa!

Ele me deu um beijo e eu entrei no carro do papai pegando a avenida


dentro de alguns minutos. Tava todo engomadinho com a roupa que a tia
passou pra mim, meu cabelo topetudo, que a doida da Ju arrumou e um
perfume amadeirado que o Iago me passou, ou seja, cada um contribuiu um
pouquinho pra eu ter mais sorte nessa entrevista. Agora eu sinto que vai!

Iago virou a noite estudando sobre a empresa comigo. Na verdade, a


gente virou a noite fazendo outras coisinhas mais, hehe.

Porra! Precisávamos. Como foi estressante todo aquele confronto


com a família, eu nunca havia imaginado que as coisas seriam desse modo,
mas posso falar? Tava até tranquilo. O que me deixava muito com o pé atrás.

Já ouvi falar que a calmaria precede a tempestade.

Por enquanto estávamos todos agindo com normalidade, ou como se


nada tivesse mudado, mas eu sabia que as coisas mudaram, dava pra sentir
no ar... Menos a Ju, que ficava pedindo pra ver Iago e eu trepar toda hora,
haha. Nem rola.

Mas tudo o que eu queria agora era não pensar na família e em todos
os problemas que isso traz. Não tava tendo essa capacidade. Tinha que me
concentrar apenas na conquista do meu emprego, ponto!

Cheguei lá na hora marcada, graças a Deus, me apresentei e esperei


junto a outros candidatos, maioria gatinhos (num tô cego). Uma menina
sentou do meu lado e me desejou boa sorte; só consegui ver o decote, mas
agradeci desejando o mesmo. Depois um garoto mais baixo que eu chegou
com sua bunda; sim, chegou ele, e sua bunda enorme. Fui incapaz de desviar
o olhar e a menina que conversava comigo percebeu.
Nem me sinto culpado, o Iago sempre foi pior, ele fazia isso na
minha frente; e a gente até comentava de como aquela bunda era linda.
Bundas... Caralho, ficava tentando não olhar pra dele porque sabia que ele
não tava preparado, mas era sacanagem sentir o gostinho na língua e não
poder sentir na cabeça do pau. Percebi alguém lá embaixo acordando e
comecei a pensar em cachorrinhos e coelhinhos pro danado abaixar.

Mas o que realmente me broxou foi a voz estridente da secretária


dizendo que o boss iria começar a entrevistar. Cu trancado e lá vamos nós!

O entrevistador foi bastante legal e tentou ao máximo me deixar


tranquilo, o que funcionou. Ele olhou meu currículo e fez todo aquele
questionário técnico, perguntou o que mais me chamou atenção no curso e
mais esse monte coisa. Depois ele fez perguntas de conhecimento geral, o
que eu achei um porre, mas segundo ele, aquilo era pra ver o quanto
pensávamos rápido. Ele perguntou quantos quilômetros de vasos sanguíneos
existiam no corpo humano... dá pra acreditar? Lógico que a pergunta era pra
eu dizer o quanto eu achava que tinha, uma estimativa, e eu passei longe.
Pelo menos saí de lá sabendo que as artérias, arteríolas, veias e capilares
sanguíneos, em conjunto, têm o comprimento de 160 000 cm.

Tô menos burro, agora.

No mais, eu acho que tinha me saído bem. Dentre todas as entrevistas


que eu tive até agora, essa foi a que mais me deixou animado e eu acho que
agradei o tiozinho do bigodão também.

Vamos orar.

Como eu tava muito animadinho e com fome, eu resolvi passar no


shopping que ficava no caminho e comprar um açaí pra tomar. O açaí que
vende aqui é do tipo, um monte de coisa com ¼ de açaí, e eu me amarro.
Tenho amigos de Manaus que dizem que isso é tudo, menos açaí. Foda-se!

Aí pedi uma tigela que veio com uma porrada de coisas dentro e
sentei numa mesa, catei o celular e liguei pro Iago, já tava com saudades.
Ele demorou um pouco pra atender e eu já tava acostumado com
isso, nem me estressava mais.

— Fala, bro. — atendeu. Respiração acelerada, música eletrônica de


fundo, barulho de ferro... Academia.

— Hey, cabeça. Terminei minha entrevista, agora tô aqui tomando


um açaí, ia te chamar, mas cê tá na academia, né? — perguntei sorrindo. Ele
respirou fundo antes de falar e confirmou.

— Tava dando mole, só comendo besteira e esquecendo de cuidar. —


falou e eu quase pude ver aquele sorriso de moleque.

— Tava nada! O que a gente faz é exercício, haha. Queimamos muita


caloria. — respondi safado o fazendo rir alto.

— Não fala essas coisas que eu tô aqui de bermuda de tecido fino,


filho da puta. Diz aí, como se saiu lá?

Quando eu ia responder ouço uma voz de mulher falar com o meu


namorado: — E aí, mocinho? Quando vai rolar um Quintanejo no Espeto
Carioca?

Eu imediatamente de cá: — Iago, que porra é essa? — e o cabeção


abafa o celular e fala com a mulher por algum tempo.

— Era a personal, hehe. Sem interesse nenhum.

— Sei, e ela tá querendo ir contigo no Quintanejo por que agora cê


virou o melhor amigo gay dela? Conta outra.

— Isso aí, lindão! Tá esperto hoje, hein? — tirou uma com a minha
cara e nós acabamos rindo. Falei que na entrevista foi tudo legal e que
contaria os detalhes quando chegasse em casa, depois desligamos.

Tá que sentimos ciúmes um do outro e isso é normal, ele sabe que o


meu é moderado, e eu sei que às vezes ele passa do limite, uma vez até
brigamos por causa disso. Eu não tive culpa da menina me agarrar no meio
da boate, dei de ombros.
Depois que eu terminei meu “lanchinho” peguei o carro e me mandei
pra casa. Precisava fazer alguma coisa com resto do meu dia, então fui ver se
os meninos não queriam bater uma bolinha no final de tarde.

Deixei o carro parado em frente de casa e segui pra casa do Iago, que
é onde mais passamos o tempo, só alguns metros de distância. Inclusive meu
pai tava passando muito mais tempo lá e eu tenho quase certeza que ele tava
pegando a mãe do Iago, minha sogra... Que embolação do caralho, mas dava
certo, isso que importa.

Quando vou pegando a maçaneta da porta pra abri-la, ouço as vozes


dos coroas conversando, e como eu não sou nem um pouco curioso, entrei
dando boa tarde... Mentira! Escuto mesmo.

Mas não queria ter ouvido...

“Eu não sei se vou aguentar ficar ouvindo piadinha, Pedro.”

“E o que fazemos? É a vida deles, uai.”

“Vamos nos mudar. Ninguém precisa saber deles, mas pra isso eles
têm que se manter no respeito. Aí você vende sua casa, eu vendo a minha, e
a gente compra uma melhor em outro lugar.”

“Luciana, eu não sei, mas a ideia é boa. Tenho certeza que a família
da Antônia vai falar merda no meu ouvido, dizendo que não criei o menino
direito. Parece que é verdade, né?”

“Não, a culpa não é nossa. Ou talvez seja, sei lá. Mas o melhor agora
é se afastar. Vai ser bom mudar de lugar, a gente pode ir pra outro bairro, ou
outra cidade, você pode arrumar um emprego melhor... vamos amadurecer
essa ideia.”

“Tudo bem, a gente vai pesquisando lugar. Me diz, tu também tá com


vergonha de sair de casa? Nem minha cervejinha eu fui tomar mais, certeza
que aqueles babaca vão dizer que sou pai de dois viado.”

“Não fui nem na padaria, a Ju que foi e ela disse que tinha duas
senhoras cochichando e olhando pra ela, mas aquela ali tu sabe como é,
mandou as velha tomar no cu. Briguei com ela por isso, mas não achei
errado não.”

“Por isso eu gosto dela, não leva desaforo pra casa. A gente não
podia ser assim? Mandar tomar no cu e se foderem, além de tomar conta
cada um do seu rabo?”

“Eu acho mais fácil me mudar, você quem sabe.”

“É, eu também penso assim... Mas vamos pensar nisso com calma”

Não ouvi mais, não quis, não tinha estômago, simplesmente virei nos
calcanhares e fui pra minha casa, meu quarto.

Que filhadaputagem os coroas tavam fazendo com a gente! Tudo


bem que eu sei que eles não iam simplesmente soltar fogos e aceitar, mas
eles tavam sendo duas caras, falsos! Na nossa frente agiam como se tudo
estivesse bem, mas por trás falavam de se mudar por estarem sentindo
vergonha dos filhos... Ninguém disse que seria fácil e agora eu tô notando
que é verdade mesmo.

Vou conversar com meu parceiro e a gente vai dar um jeito nisso, só
sei que agora eu não tô com cabeça pra mais nada, até a felicidade em ter me
saído bem na entrevista foi ofuscada por esse episódio. Temo muito pelo
Iago também, por isso, pra ele, eu tento sempre parecer forte, afinal, eu que
arrastei ele pra esse mundo, então é por minha causa que todas essas paradas
estavam acontecendo. Esperava que um dia ele pudesse me perdoar por isso.

Me perdoar por ama-lo.


— No próximo podemos aumentar o peso das pernas, o que acha? —
Luana, a personal, perguntou enquanto eu enxugava o suor da testa e bebia
um gole de água antes de responder.

— Pode ser, amanhã tô aí de novo, beijos! — me despedi dela e


caminhei por entre os aparelhos falando com quem conhecia. Pode não
parecer, mas eu sou mó tímido, porém basta ter um conhecido pra eu me
soltar legal.

Academia é um ambiente que tem de tudo; tem magro querendo virar


monstro, tem gordinho querendo emagrecer, coroas querendo melhorar a
saúde... e é essa diversidade que deixa tudo meio que divertido, sempre
aparece aquelas pérolas.

O que eu não gosto mesmo é de gente metida a sabe tudo e que quer
rebaixar as outras por ela ser como é. Odeio, e infelizmente lá tinha esse
grupinho mandando por tio Luci.

Dessa vez quem eles escolheram pra mexer? O gostosin aqui mesmo!
E o pior é que foram zoar justamente com minha sexualidade, coisa que tava
me deixado pra lá de doente esses tempos.

— Hey, tu que é o viadinho que namora com uma loirinha? —


risadas. Essa porra foi comigo? Porque se foi eu vou sair daqui com os dedos
quebrados de tanto bater em macho.
— Tá falando comigo, parça? — me virei pro carinha que tava com
mais dois amigos, estufei o peito e cheguei perto pra ouvir direito.

— Ué, cê não é viadinho mesmo? Namora o outro lá com pinta de


modelo. — eles riem e eu rio junto, porque achei engraçado mesmo... “muito
engraçado sua audácia, e a tua cara na minha mão”, pensei.

— Eu namoro um mano, sim e vou te falar, melhor trepada da minha


vida. Tu ao contrário não parece nem ter pelo no saco. — peguei a camisa
dele na gola e puxei pra perto de mim, certeza esgarçou o tecido, ele tomou
um susto e os outros se armaram. — E se eu te pegar fazendo piadinha
comigo ou com meu namorado outra vez, não vai sobrar um dente pra tu dar
esse sorrisinho idiota aí. E fala pra tuas cadelas se acalmarem, porque eu
posso acabar com os três em meio segundo.

Segurei o queixo dele que devido a força fez um biquinho


involuntário e dei um selinho, os outros prenderam a respiração e o molecote
fez uma cara de nojo, eu quase ri.

— Quando quiser repetir é só falar, delicinha. — pisquei pros amigos


dele e saí da academia. Eu tava tão nervoso com a situação que ia errando o
lado que ia pra casa, respirei fundo, contei até 5 e quando comecei a andar
escutei alguém assobiando, olhei e vi que era um dos personais da academia.

— Iago, você tá bem? — ele perguntou genuinamente preocupado,


cocei a nuca e balancei a cabeça.

— Não fica constrangido, ok? Aqueles caras foram babacas e a


direção só tava esperando mais uma queixa pra convidar eles a deixar o
estabelecimento, hehe. Enfim, se você quiser dar queixa na polícia a gente tá
disposto a ser testemunha. — ele deu um soco de leve no meu ombro e eu
soltei o ar que tava segurando sem notar.

— Elton, valeu, mas eu quero mexer com essas coisas não. Só não
queria topar com eles de novo, posso não me segurar, e olha que tô aqui me
controlando pra não voltar lá e fazer eles engolir os alteres pelo rabo. —
rimos e ele reforçou que os manos iam ser expulsos, ele agradeceu eu não ter
feito nada que fosse prejudicar a mim (porque certeza eu seria indiciado por
assassinato, hue) nem a academia e reforçou o pedido de desculpas. Nem era
ele que me devia desculpas, eram os babaquinhas, mas deles eu não queria
ver nem rastro, e aposto que nem eles de mim. Enfim.

Segui rumo a minha house, todo pensativo.

Enzo me disse que isso poderia acontecer, que a gente provavelmente


ia ouvir muita piadinha e preconceito por parte de pessoas que não
conhecemos e de pessoas que também conhecemos. Ele disse que ia doer, e
dói mesmo. Saber que você é julgado simplesmente por ser quem você é, por
transar com quem te atrai, porra, é tão baixo.

Cada um deveria cuidar da sua vida eu acho, todo mundo têm


problema, e por que não cuidar deles e deixar a vida do coleguinha em paz?
Tanto marido traindo a mulher, tanta mulher traindo o marido... e eles ainda
querem por um cinto de castidade em pessoas que apenas vivem? Ah, vá se
foder e dar meia hora de cu que isso passa. Hipocrisia me deixa a ponto de
querer tirar sangue de poste!

Sai da frente, tô muito brabo! *emoji irritado*

Tudo o que precisava no momento era de um banho e de um


chamego bem gostoso do meu boy pro dia ficar melhor, por isso mandei
mensagem perguntando se ele já havia chegado. Caminhei dez metros e
recebi uma mensagem dele: “Tô aqui na casa do pai. Vem pra cá!”.

“Eu hein? Que mensagem estranha, toda certinha, ele não é assim.
Porra, vai ver a entrevista foi uma merda.”

Caminhei até mais rápido depois disso, queria chegar lá e pôr ele no
colo, embora eu também estivesse precisando, a prioridade sempre foi ele.
Por que, sei lá, eu amo esse cara? Que seja. Dei de ombros.
—26—

— Cheguei! — falei entrando pela porta da casa do Enzo. Como


resposta ouço ele gritar “aqui no quarto!”.
“Beleza, ele continua vivo, vou tomar uma água, respirar um pouco e
ir lá falar com ele.”

Peguei água do filtro de barro que tinha na casa do Enzo e abri a


geladeira pra poder misturar. Se minha mãe me visse fazendo isso ela ia
dizer que eu ia morrer com a boca torta, por chegar “quente” da rua e abrir a
geladeira. Oush, quente eu sou toda hora!

Tomei a água em alguns goles e fui lá no quarto do meu gato saber o


porquê dele tá todo estranho.

Parei na porta e vi ele concentrado no celular. Cueca boxer amarela,


sentado/deitado, escorado na cabeceira da cama; os cabelos que sempre
estão arrumadinhos caindo na testa dele com aquele ar de sujinho; o peito
definido que sobe e desce devagar denotando a sua respiração leve e... porra,
tesão!

Paudureceu.

Limpei a garganta e ele me olhou, o cacete faz volume na minha


bermuda de malhar e como eu tava sem camisa (tirei quando saí da
academia, ando na rua sem camisa, sim!) os olhos dele foram parar ali. Tava
brilhando de suor e ele deu aquele sorrisinho de lado que eu amo.

Me aproximei enquanto jogava a minha camisa suada em cima dele,


que pegou e cheirou ainda me olhando — filho da puta quer me matar de
tesão —, subi em cima da cama, em cima dele, pairando sem colocar meu
peso, olhando de cima como a respiração dele muda quando chego perto e as
pupilas dilatam e... eu amo esse maluco!

— Demorou. — ele disse manhoso e eu tive aquela vontade de por


no colo, mas só quando estivéssemos pelados.

— Demorei nada, vim rapidão! Tu que tá carente. — falei o fazendo


rir. Ele balançou a cabeça em afirmação, segurou minha nuca com as duas
mãos e me puxou pra um beijo daqueles que só nós dois conseguimos dar.
Me deitei em cima dele e depois de perdemos o fôlego eu desci um pouco e
deitei com a cabeça em cima do peitoral dele. Ganhei um monte de cafunés e
fechei os olhos pra aproveitar.
— Aconteceu alguma coisa? Tu tá mó estranho. — perguntei e minha
voz sai engraçada por ter minha bochecha amassada no peitoral dele. Podia
ver o mamilo arrepiadinho com pelos loiros e finos em volta. Tava pedindo
uma chupada, mas do jeito que ele tava esquisito, nem era hora pra isso.

— Aconteceu sim, e eu vou te contar. Mas age como adulto, hein? —


ele pede. Deus! Me levantei e sentei de frente pra ele, com as pernas em
posição flor de lótus. Ele se ajeitou na cama e olhou muito interessado as
próprias mãos.

— Foi algo na tua entrevista? Foi uma merda, né? — perguntei me


abaixando pra ver o rosto dele, que sorri de leve negando com a cabeça.

— Longe disso. Lá foi bem foda, acho que tenho chances. Mas não é
isso. Então, manja que a gente tava achando os coroas muito de boa com
nosso lance? — perguntou. Afirmei com a cabeça — Então, descobri que
eles não tão de boa não.

E a minha cara de dúvida e medo.

— Assim. Eu cheguei da entrevista lá na sua casa todo felizão indo


contar pra eles, né? Então peguei eles no meio de uma conversa. Ficou claro
que eles tão com vergonha da gente; com vergonha dos vizinhos, da
família... tavam falando em se mudar e tudo. — aí ele abaixou a cabeça e
suspirou cansado e eu faço o quê? Eu rio.

Sim, porque rir em horas inconvenientes é comigo mesmo.

Certa vez fomos em um velório de uma tia que era velhinha já,
maquiaram a coitada e ela ficou parecendo aquelas meninas que vão com um
quilo de maquiagem pro colégio pela manhã. Meu riso contagiou todo
mundo, então, rimos e depois eu apanhei.

— Porra, Iago. Não ri de coisa séria. —falou emburrado. Own. Me


controlei.

— Mano, conta isso direito. — enxuguei as lágrimas e escutei


pacientemente ele falar tudo que ouviu e toda a explanação do que acha a
respeito disso.
— Então eles tão com vergonha? — perguntei meio abobalhado. Eu
ainda não conseguia acreditar, mas visto o jeito do Enzo, ele não aumentou
nem um pouco do que me contou.

— Sim. Eu fiquei chateado pelo fato deles terem aceitado, saca? Aí


por trás falam esse monte de merda. Ah cara, toma no cu! — levantou e
colocou uma bermuda jeans toda rasgada nas barras. Queria gritar pra ele
não pôr, mas tudo bem.

Me levantei e o abracei por trás, ele relaxou um pouco, beijei o


ombro dele que é cheio de sardas um pouco claras.

— E se eles se mudarem, a gente vai junto? — pergunto receoso.

— Com esse emprego em vista? Nem fudendo. — ele riu sem humor
e se virou de frente pra mim.

— Minhas coisas também tão por aqui, o professor separou empresas


que abrem vagas pra estagiários todos os anos e eu já vou marcar minha
entrevista pra semana que vem. Nossa vida tá aqui, caralho. E se eles tão
com vergonha, que se mudem, eu não quero me separar de você, ou ter que
me mudar de cidade e viver uma vida de aparências. Justo agora que saímos
do armário, voltar pra lá? Meu cu. — falei indignado. Ele riu com os olhos
brilhando e eu apertei aquele abraço que fica tão gostoso por estarmos de
peito nu. Beijei por cima de cada olho dele.

— E você? Foi de boa lá na academia? Te senti meio tenso. —


perguntou ainda me abraçando. Respirei fundo, melhor contar logo, depois
ele vai ficar sabendo pelos meninos de lá que mantem contato com ele,
mesmo. Dei de ombros.

— Nem tanto. Quer dizer, o treino foi bacana, a Luana passou uns
exercícios legais, mas rolou uma parada chata lá... — ele me solta e me olha
com os olhos em fenda, eu reviro os olhos percebendo que ele tá com
ciúmes.

— Nada com ela não. Pior. Sofri preconceito. — digo meio


envergonhado e me solto dele pra mexer na escrivaninha que tem alguns
carrinhos da coleção de quando ele era criança e um livro desses cheios de
número que é o universo profissional dele; o antigo com o novo, sorrio de
leve.

Ele segurou meu braço e me virou de frente pra ele muito cauteloso,
aquele olhar de medo (medo por mim) me dá um nó na garganta. Respirei
fundo de novo e me sentei na cama, dessa vez eu muito interessado nas
minhas mãos.

— Tinha uns manos, desses homofóbicos, malhando. Quando


terminei minha série e ia vir embora ele soltou uma piadinha; me chamou de
viadinho, te chamou de loirinha... Porra, moleque, enxerguei vermelho.

— Caceta, mano! Cê bateu neles? — perguntou com rostinho de


medo.

— Vontade não faltou, mas eu pensei no constrangimento e nos


equipamentos que eu ia ter que pagar se fizesse isso, hehe. — ele riu de leve
depois respirou fundo, esfregou os olhos nas palmas das mãos.

— Parece que estamos crescendo, não é?

Eu balançando a cabeça: — Pelo menos os problemas são de adulto,


hehe. Saudades de acordar cedo e correr com o lençol pra sala pra ver
desenho de manhã. E Digimon é melhor que Pokémon, sim! — falo com
convicção e nós rimos.

— Teu cu! Digimon é bom, mas Pokémon tem o Pika. Respeita! —


gargalhamos e ficamos nisso por alguns minutos. Depois ele resolve ficar
sério de novo.

— Me diz Iago, você falou com algum responsável pela academia a


respeito desse caso aí?

— O Elton disse que se eu quisesse prestar queixa ele testemunharia


ao meu favor, certeza que geral da academia também, mas eu resolvi deixar
na baixa, ia ser muita humilhação pra mim.

Percebi ele ficar tenso.


— Iago, o certo seria denunciar. Homofobia é crime.

— Eu sei, mas eu não queria ficar mais exposto do que já tô, e todo
mundo ia ficar olhando e apontando o viadinho. Ah mano, sirvo pra isso não.
— certeza que fiquei com a cara vermelha.

— Porra, Iago, quando eu acho que você tá evoluindo... — ele nega


com a cabeça e eu fico sem entender. Pergunto o porquê.

— Porque esse é um direito teu, e se você não exercer ele, pra quê
que vai servir? — ele pergunta como se fosse óbvio.

— Mas isso é pros caras que são afeminados, eu não sou assim. Não
preciso porra nenhuma.

Aí ele levanta e eu sei que tá irritado comigo.

— Tem uma coisa que todos nós somos mesmo se formos


afeminados, urso, machão, mona... A gente é gay! Apenas aceite. E a lei não
defende quem apenas é afeminado, defende todos que sofreram crime de
homofobia, como você sofreu! — ele fala apontando pra mim com as duas
mãos.

— Sabe o que eu acho? Que se não fosse esses gays tão afeminados e
atirados, a nossa classe não seria tão julgada como é. — disse dando de
ombros. Ele revirou os olhos e passou a mão nos cabelos.

— E se não fossem esses mesmos gays que dão a cara à tapa, que se
mostram como são, a gente não teria todos os direitos que temos hoje,
teríamos que viver escondidos em cavernas com medo do que iriam pensar
da gente lá fora. Já tá na hora de você mudar seus conceitos, porque o
mundo não vai ser nada fácil pra você desse modo. Amor, entenda que não é
errado ser quem você é. — ele se aproxima de mim e segura meu rosto com
as duas mãos. Ainda tava sentado e ele em pé, tinha que olhar pra cima pra
vê-lo direito e, caralho, como ele é lindo e entendido das coisas. E ele me
chamou de amor... Porra.

— Tu sabe que eu sou novo nisso, Enzo, e eu tento, eu juro que tento.
Mas até ontem eu era hetero, mano, pra mim ainda é difícil entender todas
essas paradas e ainda assimilar que eu tô namorando um cara. Segura essa
barra junto comigo. — pedi suplicante abraçando a cintura dele. Ele suspirou
e fechou os olhos, depois encostou a testa na minha e afirma em silêncio.

— Eu te ajudo, claro que te ajudo, mas a gente vai esclarecer um


monte de coisa. Primeiro, não fica se achando a bocetuda só porque tu é
machudo não. Ser assim não te faz melhor que os afeminados.

Bom, eu não acho, mas quem sou eu pra falar, né? Além do mais ele
sentou no meu colo de frente pra mim. Esse porra sabe como me convencer
das coisas.

— Tudo bem, eu posso ser mais tolerante, né essa a palavra? —


perguntei. Ele balança a cabeça em afirmação. — E você também pode ser
comigo? Porque eu não vou mudar da noite pro dia.

Ele ri e revira os olhos, depois balança a cabeça em afirmação, mas


não fala nada.

— Hm, urso no mundo gay são aqueles caras gordinhos e todo


peludos, né? — perguntei em dúvida ao que ele diz que sim. — Então eu sou
o quê? Filhote de urso?

Aí ele gargalha, filho da mãe tá tirando com a minha cara só porque


eu não sei das coisas.

— No mundo LGBT tu seria um Lontra. — ele diz alisando meu


peito. Alá minha cara de dúvida.

— Tu descreveu bem um urso, gordinho, peludo, fofinho a maioria


das vezes... Lontra é o cara que é peludinho, tipo tu, mas é mais pra magro
definido, além de ser alto. Tu é lontra.

“Ahhh, entendi nada, mas finjo que sim.”

— E você é o quê?

— Eu sei lá, eu sou padrãozinho. Barbie. Definido, loiro, olhos


claros. Mas não me acho melhor que os outros por isso, não. — ele ri
enquanto fala.

“Certo, entendi... mas deu né? Por hoje tá bom de lição LGBT,
melhor ele me ensinar coisas mais educativas.”

Apertei a bunda dele e o trago pra mais perto de mim, cheiro o


pescoço e lambo o lóbulo da orelha dele. Ele gemeu e enfiou os dedos no
meu couro cabeludo, minha vez de gemer. Aí ele sai do meu colo, com a
barraca armada e ofegante, rostinho vermelho.

— Deixa eu trancar essa porta, se meu pai pega a gente assim ele vai
me deserdar. — bundinha caminhando pro outro lado do quarto. Eu me
levanto e o abraço por trás quando ele gira a chave nos trancando. Daí eu
canto enquanto tento tirar a roupa dele.

Diz pra eu ficar mudo

Faz cara de mistério

Tira essa bermuda

Que eu quero você sério

Tramas do sucesso

Mundo particular

Solos de guitarra

Não vão me conquistar.

— hahaha, tua voz é muito charmosa. — ele me elogia. Nos


beijamos feito desesperados, aí eu me livrei do resto das roupas e ele me
empurrou na cama caindo por cima de mim.
— Espera, eu não tomei banho. — falei tentando tirar ele de cima de
mim, daí ele canta no meu ouvido.

Uhh, eu quero você como eu quero.

Arrepiei? Arrepiei. O pau deu uma pulsada e eu relaxei na cama, me


entreguei. Caraca, o mano veio me dando um banho de língua, ui. Tá, você
pode ter achado meio nojento, mas eu sou bicho limpinho, não tava fedendo
que nem macaco não, só o meu cheiro natural mais acentuado. Expliquei.

— Ahh, Enzo. Morde assim, isso... porra, mano! — pedi vendo ele
pagar o melhor boquete que já recebi na vida. Ele adorava brincar com meu
prepúcio e eu adorava deixar ele brincar, hehe.

— Pica gostosa do caralho. — disse apertando na base do meu pau e


eu vejo uma gotinha de pré-sêmen brotar da fenda, ele riu muito feliz e me
olha enquanto com a língua cata a gotinha e saboreia com a maior cara de
puta que tem. Eu gemo, né? Fazer o quê.

Dessas linguadas calmas ele parte pra garganta profunda. Meu Deus!
Quero morrer com a rola entalada na garganta dele! Já falei isso?

Depois de quase me fazer gozar duas vezes, ele chega pra cima e
coloca o pau em cima do meu, quentura gostosa, agarro a bunda dele com
uma mão e nossas picas com a outra e ele fode minha mão muito bem
enquanto chupa meu pescoço. Tá que não é meu cu que ele tá fodendo, mas
ficar nessa posição e desse jeito, já dá um gostinho do que ele pode ter se
esperar mais um tempo (talvez um ano, ou dois...).

Soco um dedo no cuzinho dele e cutuco a próstata, só pra fazer ele


acelerar os movimentos contra minha mão, abro as pernas pra ele se encaixar
melhor, aí ele me olha nos olhos e falando um “te amo” mudo goza me
sujando todo. Gozei no mesmo instante.

Porra mano, “eu te amo”. Qual significado dessas palavras pra gente?

— Também te amo. — sussurro no ouvido dele que solta um risinho


se aconchegando em cima de mim.
O que eu sei é que essas três palavras, significam irmandade,
significa nos apoiarmos um no outro para o que for possível, significa
parceria acima de tudo. Eu amo esse molequinho e eu quero cuidar dele, se
bem que acho que mais serei cuidado que o contrário.

E uma coisa se torna mais clara na minha mente: Ficaremos juntos.


Não vai ter sociedade, pais, o caralho que for que vá nos separar, eu quero
ele, eu preciso dele! Já sou dependente.

“Eu preciso de um companheiro”.

— Mano, bora tomar banho que eu ainda não acabei contigo. —


beijo a bochecha dele, que tá sonolento e faço ele levantar.

— A gente vai conversar com os coroa? — pergunto receoso, ele dá


de ombros.

— Eu acho melhor. Temos que deixar algumas coisas claras pra eles.
Chegou a hora de crescer pra valer, mano. Mas não hoje. — ele me beija na
bochecha e eu engulo em seco, e seja o que Deus quiser.
—27—

Era a hora de crescer mesmo? Provavelmente. Então se vamos fazer


isso, que façamos de formar direita.
Havia se passado duas semanas e nós estávamos naquela de fingir
normalidade. Tanto da nossa parte quanto da parte dos coroas. Era tanta
toxicidade que tava parecendo Chernobyl, mas a gente ia levando como
dava. Até o dia em que sentei com Enzo e juntos decidimos encarar os fatos,
principalmente porque na noite anterior eu tinha pego minha mãe falando
com o Pedro, de novo, sobre como os vizinhos comentavam e que ela não
queria nem ir na esquina...

Estávamos na casa dele e já íamos pra minha, pra falar com os


coroas. Ele abriu a porta de casa pra sair, mas antes dele pôr os pés pra fora,
o segurei pela mão e beijei os nós do dedos dele. Ele me olhou surpreso e
com a mão livre me puxou pela nuca pra me dar um selinho molhado. Rimos
um contra a boca do outro.

Precisava matar meus preconceitos, me desconstruir, como ele


mesmo disse antes, e precisava ser o cara forte e decidido pra ele, e somente
pra ele, então que assim seja.

Ele fechou a porta e de mãos dadas seguimos até minha casa, são
poucos metros, que pra mim pareceram quilômetros, haha.

Saca aquele horário que todos os seus vizinhos decidem ir pra porta
de casa? Então, esse era o horário. Mas nós andamos de cabeça erguida, não
temendo ninguém. A gente não tava trepando no meio da rua. E se
resolvermos trepar, olha se quiser! Né foda?!

— Boca maldita a frente. — Enzo sussurrou apertando minha mão.

— Deixa ela vir. — falei firme.

— Boa tarde. — ela sorriu pra gente sendo muito falsa.

— Tava ótima até tu cruzar nosso caminho. — disse fazendo ela e


Enzo me olharem chocados.

— Que má educação. Creeedo.

— Má educação é cuidar da vida dos outros. Faça o favor de não me


dirigir à palavra, e pare de ser fofoqueira. Que coisa feia! — falei enquanto
via ela tentar retrucar gaguejando, mas não fiquei esperando e eu arrastei o
Enzo até minha casa.

“Olhe, que minha mãe não venha com discursos de preconceito,


porque eu tô com sangue nos olhos! Não vai prestar me pegar nesse
momento.”

Entramos em casa e minha mãe estava sentada no sofá com Pedro e


Juliana ao lado, primeira coisa que eles olham são nossas mãos dadas e eu
sorrio presunçoso. Vamos ver se eles tão pra teatro hoje, pensei.

— E aí, Enzo já te ligaram pra falar alguma coisa da entrevista?


Conseguiu emprego, vai me dar um celular novo? — Juliana, né?

— Interesseira. — ele soltou minha mão e foi sentar do lado dela. —


Eu fiz a entrevista e agora tô esperar uma ligação, ainda tá em tempo, não
perdi a esperança. Eu acho que me saí muito bem, e a empresa é minha cara.
Agora é torcer. — ele deu de ombros e a Ju sorriu batendo palmas, fiquei
encarando nossos pais que apenas olhavam sem falar nada, até minha mãe se
tocar e abrir a boca pra falar algo.

— Você vai conseguir, tenho certeza. Tinha muita gente pra fazer
entrevista também? — ela perguntou pra ele e eu me sentei no espaço livre
perto do Pedro.

— Tinha, tia. Mas o papo com o chefe lá foi muito bacana. Eu tô


confiante.

Pedro também reforçou o apoio ao filho e Juliana resolveu abrir a


boca.

— Vocês tavam andando de mãos dadas na rua? — perguntou ao que


Enzo apenas deu ombros e olhou pra mim buscando força.

— Tavamos sim. Descobri que não precisamos nos esconder de


todos. E andar de mãos dadas não é nenhum atentado ao pudor, tá cheio de
casal hetero andando de mãos dadas, se beijando e quase trepando no meio
da rua e ninguém fala nada só porque são homem e mulher. — respondi.
Pedro abaixou a cabeça e minha mãe me olhou como se estivesse
com o cão no couro.

— Ninguém ignora porque é normal, Iago.

Silêncio na sala. Juliana olhou chocada pra minha mãe e Enzo


também abaixou a cabeça. Parece que vai ser embate de mãe e filho.

Eu ri sem humor e bati palmas. Dava pra sentir a tensão na sala e se


eu pegasse uma faca, conseguiria cortar o ar.

— Isso mãe, fala mais. Por que Enzo e eu não somos normais, né?
Duas aberrações que vocês tiveram o desprazer de pôr no mundo. — disse
injetado de raiva. Pedro se levantou coçando a garganta e foi pra perto da
minha mãe.

— Não foi isso que ela quis dizer, Iago. Se acalme.

— Não foi? Então por favor, expliquem pra mim porque eu sou tonto
demais pra entender. — coloquei os cotovelos nos joelhos e apoiei o queixo
nas mãos esperando.

— Filho, não é normal pelo fato de vocês serem dois homens. A


bíblia fala...

— Ahh, claro, vamos nos basear na bíblia. Seguindo a bíblia: Você


pode forçar a Juliana a casar com algum cara rico em troca de dinheiro. Você
não pode chegar perto da gente quando estiver menstruada. O seu marido
tem o poder de mandar em você, e você tem que se sujeitar sem contestar...
Eu posso continuar ou já tá bom?

Ela ficou vermelha e eu sabia que ela ia explodir.

— Me respeita, Iago! São coisas diferentes. Deus fez homem e


mulher por algum motivo e vocês estão indo contra todas as regras. Isso é
pecado. Ponto!

— Não acredito que tô ouvindo isso. — falei pra mim mesmo. —


Mas é isso mãe, isso que eu esperei ouvir no primeiro dia e vocês vieram
com todo aquele falso moralismo, dizendo que aceita e ama a gente acima de
tudo. Essa é a verdadeira face de vocês. Eu sei que vocês tão com vergonha
de pôr a cara na rua porque os filhos são viadinhos. Eu sei! Mas presta
atenção, mude seu jeito de pensar ou não vai mais ter filho pra se preocupar
em cuidar do cu dele. Quer se mudar de cidade? Mude! Deixe os vizinhos
influenciar no modo como vocês pensam. Hipocrisia do caralho... isso
porque nenhum deles fazem coisas que vão contra a bíblia, ninguém rouba,
ninguém mente, nem comete adultério... ahh não, é todo mundo santo. Se
foder!

Todo mundo olhando com cara de espanto pra mim, mas eu não
aguentei ficar nenhum mais um minuto ali. Levantei e saí pela porta da sala
escutando Juliana brigar com eles enquanto Enzo me chamava pra voltar, pra
tentar resolver isso de forma adulta. Mas eu sentia muito, isso não iria
acontecer.

— Depois, Enzo!

Caminhando a passos largos eu me afastei dali, sabia que Enzo não


tava me seguindo e eu agradeci mentalmente a ele por me deixar sozinho
pelo menos naquele momento. Precisava esfriar a cabeça, colocar os
pensamentos em ordem e ver como seria de agora em diante.

Por que o ser humano tem que complicar tudo? Por que cuidar da
vida alheia quando se tem a própria vida pra se preocupar? Por que atacar
quando e é bem mais fácil estender a mão e oferecer ajuda? Tantos porquês e
nenhuma resposta. Que triste isso.

Mas tudo bem, eu sei que estamos no mundo justamente para isso:
descobrir as respostas. E eu espero imensamente descobrir as respostas para
as minhas angustias e dores. Na verdade, eu preciso.

Caminhei até chegar numa praça mais afastada do nosso bairro. Não
havia levado celular, nem dinheiro... trouxe apenas minhas dores.

Lana Del Rey, por favor, gata, faz uma música sobre a minha vida,
vai ser sucesso!
Sentei num banquinho de madeira que tinha ali, e que tava mole, e
fiquei vendo a vida passar. Uma garota fala ao celular com a amiga (isso eu
sei por ela gritar um “miiiiga”), um menino pede dinheiro para o avô pra
comprar sorvete, dois rapazes comentam sobre o último jogo do time deles...
Cada um com seus assuntos, sem interferir na vida do coleguinha. Olha
como é lindo! Não poderia ser sempre assim?

Suspirei derrotado e olhei pra cima, várias nuvens escuras


começavam a tomar o céu: — É, acho que vai chover.

— Vai sim, senti nos ossos. — uma voz rouca e cansada falou do
meu lado. Olhei automaticamente pro senhor de boina preta que se sentou no
mesmo banco que eu, e que eu nem fui capaz de notar.

— Como o senhor sabe? — perguntei com divertimento na voz.

— Ah, meu filho, eu sou velho, tô aqui há muito tempo pra saber das
coisas. E eu sei que você tá bem atordoado com alguma coisa que aconteceu.
Namorada? — ele me olhou com interesse e eu consegui ver sabedoria e paz
de espírito nas rugas pouco profundas que adornavam o rosto dele.

— Não, meus pais. — olhei pra frente onde prestei atenção um


passarinho voar atrás de um inseto.

— Ser pai não é fácil, um dia você se lembrará dessa conversa e vai
entender do que eu tô falando. Sabe, a gente não acerta sempre. O que eu sei
sobre ser pai é que a gente sempre erra tentando acertar. Tudo que fazemos
nunca está bom para os filhos e por aí vai...

— Mas e quando você sabe que seus pais não estão certos? Quando
se tem convicção disto? — perguntei e ele sorriu pra mim.

— O tempo resolve. Ele é o grande regente do universo, ele que cura


todas as feridas e todo esse blá blá blá que você já deve ter ouvido falar.
Meu conselho é para que você seja paciente, ninguém veio ao mundo
sabendo sobre tudo, a gente aprende todo dia. Talvez seus pais estejam
tentando acertar. — ele deu de ombros e sorriu aquela risada cansada, eu ri
junto. Ele podia ter falado um monte de besteiras, mas serviu pra me
acalmar.
— Posso ter falado um monte de bobagens, mas espero ter ajudado.
— também é mutante, lê pensamentos. — Apenas tenha paciência com eles.
Eu como pai tive que ser paciente todos os anos de vida dos meus filhos.
Não é fácil... — se levantou e apontou pra uma casinha amarela com um
jardim bem diverso na frente.

— Moro ali naquela casa. Quando quiser jogar conversa fora pode
chamar na porta. Até mais meu jovem. E vai chover, viu? — avisou antes de
seguir pra casinha dele, e eu fiquei ali remoendo a fala dele e rindo comigo
mesmo.

Eles até podiam estar na mesma que eu, querendo aprender e errando
no processo. Havia feito isso com o Enzo mais cedo, quando soltei uns close
errado sobre preconceito, então não seria muito improvável... Mas mesmo
assim o que eu nunca aceitei é falsidade e falso moralismo. Isso eu podia, e
iria, cobrar deles.

A chuva veio e eu fiquei ali me molhando, é bom pra lavar a alma e


os pensamentos.

“Porra, só não posso ficar gripado... Ah, mano... É demais suportar


tudo isso. Eu não sei se quero mais isso pra mim”. — suspiro.

“Conhecendo como eu o conheço, é bem melhor deixar ele no canto


dele. Mas que é um filho da puta, isso é. Soltou a bomba e correu. Agora eu
que vou ter que apagar o incêndio. Mereço!” — pensei.

Voltei pra casa ensaiando discursos que eu nem sabia mais como
fazer. Mas deixar o coração falar é sempre uma boa.

Abri a porta e já ouvi a Ju falando irritada em direção aos coroas.

— Eu também tava esperando isso de vocês. Tava tudo muito calmo


e amorzinho pro meu gosto. — Juliana bufou irritada e a tia Luciana olhou
pra ela com raiva.

— Você não tá ajudando, Ju. — meu pai disse pra ela que saiu
irritada pro quarto. Eu fiquei ali olhando os dois estranhos na minha frente.
Estranhos mesmo. Estava sendo incapaz de entender o jeito deles. Na
verdade, podia tentar, mas não conseguia engolir.

— Se eu for aceito nesse emprego, vocês podem ficar


despreocupados, não vou morar mais aqui. — falei tranquilo e tenho olhares
assustados sobre mim.

— Como assim? Essa é a casa de vocês, vocês não podem


simplesmente sair de casa. — tia Lu falou fazendo gestos com as mãos.

— Pode ser nossa casa, tia, mas a gente não reconhece mais como
lar. Tô falando por mim e pelo Iago. Tudo que a gente busca é aceitação,
respeito. Se vocês não podem aceitar, tudo bem, eu juro que entendo, mas
vocês tão desrespeitando o Iago e a mim. Vocês tão magoando nós dois e eu
vou falar: algumas feridas nunca se fecham. Cuidado pra onde vocês estão
levando esse barco.

Ela chorou e meu pai ficou muito pensativo.

— Enzo, você sabe o quanto é frustrante criar um filho com todo


cuidado e amor pra quando ele crescer virar via... — e se calou antes de
continuar. Meus olhos se encheram de lágrimas.

— Viado, pai? É isso? Olha só — enxuguei os olhos na manga da


camisa. — Não me agrida com palavras baixas desse tipo, você é meu pai e
eu te amo apesar de tudo isso, mas eu não aceito ouvir isso do senhor. Eu
não mudei, o Iago não mudou, a gente se ama e a gente tá descobrindo apoio
um no outro, apoio que não estamos tendo de vocês. A gente tá vendo que
podemos nos entregar e ser feliz desse jeito. Mas ainda somos os mesmos.

Respirei antes de continuar.

— O Iago tava se cagando de medo de ter rejeição da parte dos


nossos amigos e isso não aconteceu. A gente achava que com vocês ia ser
mais tranquilo, sabia que ia rolar coisas do tipo, mas porra, vocês tão
pegando mó pesado, poxa. Tudo bem. Tudo bem... — engoli um soluço.
Aquela respiração que você puxa com dificuldade enquanto o choro quer
tomar conta. — Ó só, sobre sair de casa... Isso vai ter que rolar, a empresa é
lá na puta que pariu, não ia dar certo morar por aqui mesmo. — dei de
ombros como se não me importasse muito, mas por dentro eu tava
devastado. — E depois de tudo isso que rolou é melhor cada um ir pra seu
canto. Certeza que o Iago vai junto, cês nem precisam se mudar nem nada do
tipo. Fiquem tranquilos, a gente não vai mais envergonhar vocês.

Terminei de falar com a voz embargada, mas também nada mais


poderia ser dito. Não esperei nem mais um segundo pelo que eles poderiam
falar e fui pra casa a passos largos. Olhei pro céu e as nuvens estavam mó
escuras, ameaçando chover, e nada melhor que chuva pra deixar tudo ainda
mais pra baixo, né? Ô vida!

Me tranquei no quarto e esperei. Só isso eu poderia fazer no


momento. Esperar.

Esperar pelo que nos aguardava, esperar pelo futuro, esperar que Iago
continuasse comigo apesar de tudo isso. Esperar que tudo melhorasse.
Esperar pela chuva...

Os pensamentos vieram em enxurradas até um momento em que eu


resolvo simplesmente desligar. Pensar em nada é um exercício que eu
aprendi há muito tempo, ajuda na ansiedade. Deixei a mente em branco e
adormeci esperando pelo que viria.
—28—

Ele não voltou... Pelo menos não para mim, não totalmente; inteiro.

O clima entre as duas casas estava pesadíssimo, não tinha papo com
a tia, com o pai, nem com a Ju que tentava de toda a forma amenizar toda a
tensão existente. Meu pai até tentou falar comigo algumas vezes, porém
desistiu quando viu que eu, definitivamente, não ia dar abertura pra
aproximação, não naquele momento; eu precisava de um tempo. E foi
pensando nesse tempo que eu precisava que resolvi deixar o Iago na dele.

“Também se for pra ser, será!” — tentava me consolar.

Mas quem eu tava querendo enganar mesmo? Tava sendo barra não
conversar com ele sobre todos os assuntos que normalmente falávamos, de
não beijar aquela boquinha gostosa sentindo a barba me arranhar o rosto
quando ele aprofunda o beijo.

Porra, ele me fazia uma falta do caralho, e esse afastamento dele já


durava bem uma semana... Muito tempo. E, caralho, não sabia se iria
aguentar todo esse tempo afastado, nem se aguentaria vê-lo me
abandonando.

“Se bem que é isso que ele tá fazendo agora.” — respirei fundo,
frustrado.

E é ser muito cuzão me fazer entrar nessa — e geral viu que foi ele
que arrastou pra esse mundo, não o contrário como ele gosta de falar — e
simplesmente cair fora na primeira balançada que o barco dá.

Ah, bebê, comigo não! Cê vai precisar ter culhão!

— Alô? — atendi o telefone meio aéreo. Acho que já chamava há


algum tempo, inclusive.

— Enzo Müller? — perguntou a voz. Respondi com um “sim” afoito.


É estranho ouvir meu sobrenome Alemão na boca dos outros. Origem da
minha mãe. Por isso fiquei assim mais alarmado. Se chama pelo sobrenome,
é treta.

— Somos da filial da Heringer, e você fez uma entrevista conosco há


algumas semanas. Correto? — balancei a cabeça afirmando. O coração
acelerado e só depois de alguns segundos eu lembrei que ela não pode ver
meu movimento é que eu falei que sim. Ela tinha a voz divertida, decerto
percebeu o meu nervosismo.
— Senhor Enzo, gostaria de parabeniza-lo. Você foi aceito como
novo colaborador do nosso grupo. Gostaria também que estivesse aqui
amanhã, nas primeiras horas úteis. Seria possível?

— Lógico! Quer dizer, sim, sim, eu estarei aí às sete. Levo todos os


meus documentos, né? Nossa! Brigado, brigado! — respondi sorridente. Ela
riu.

— Isso mesmo. Traga todos os documentos. Estarei lhe enviando um


e-mail com tudo que será necessário, qualquer dúvida é só retorná-lo. Até lá!
— ela se despediu e eu fiz o mesmo. Mal conseguia caber em mim e eu tinha
que contar pra alguém.

“Iago! Ele precisa sabe disso, eu preciso dividir com ele minha
felicidade, ele..”.

Porra, nem sabia por onde ele andava. Cheguei a murchar. Mas não
era hora... A verdade é que era hora de trazê-lo de volta. Isso! A gente iria
conversar e tudo iria voltar a ser como antes, ou melhor. Mas a gente
precisava, real, conversar sobre tudo isso que tava acontecendo.

Saí do quarto e passei pela cozinha, meu pai tava distraído


escrevendo alguma coisa num caderno de anotações dele.

— Pai? — ele me olhou atento e se endireitou na cadeira. Eu limpei a


garganta e sentei à frente dele.

— Algum problema? — ele me perguntou e sorri sincero.

— Acabaram de me ligar da empresa e, ao que tudo indica, eu fui


aceito como novo colaborador. A moça me pediu pra levar meus documentos
amanhã. — falei realmente feliz e sabia que ele também iria ficar. Apesar de
tudo esse velho é meu pai e eu o amo de paixão.

Como dito, ele levantou quase derrubando a cadeira e veio me dar


um abraço, a gente riu e ele me tirou do chão. Senti a emoção na garganta.

— Parabéns, filhote. Cê merece demais as coisas boas que tão


acontecendo. Desculpa o pai. — ele fungou e eu o afastei pra olhar no rosto
dele, que tinha uma cara de choro contida.

— Por que isso agora, pai? Relaxa. — tentei sair do abraço, mas ele
não deixou.

— Não! Senta aqui, vamos conversar. — ele me fez sentar na cadeira


e pegou a dele trazendo pra pertinho de mim. Olhei pras minhas mãos.

— De verdade, eu quero me desculpar com você. Tô muito


arrependido de tudo que você ouviu esses dias aí, e queria te dizer que você
tem meu apoio, sempre teve. Eu tava confuso e com medo. Medo por você,
sabe? Medo de você sofrer por ser quem é e tudo mais. Mas nisso eu acabei
fazendo o que tinha medo que fizessem com você na rua. Foi muita
hipocrisia da minha parte e eu me senti horrível quando percebi. — ele
chorou e eu por estar muito sensível acabei chorando junto. Ele continuou:

— Eu só te peço perdão e eu quero mais que tudo na vida que você


seja feliz, seja do jeito que for, com homem, mulher, só você e um
cachorro... só quero te ver bem. E a partir de hoje eu vou te dar meu apoio
incondicional, quero ser seu melhor amigo, quero que confie em mim e que
possa contar comigo sempre que precisar. Eu te amo muito pra deixar uma
coisa tão pequena nos afastar.

Quem consegue se controlar num momento como esse? Eu não fui


capaz, e nem queria.

Me joguei nos braços dele e choramos feito duas maricas, a todo


momento ele me dizia estar feliz pelo filho que Deus lhe deu e estava mais
feliz ainda pelas minhas conquistas. Eu estava feliz por ter meu pai de volta,
esse homem que sacrificou noites de sono em um trabalho pesado pra me dar
algo bom no final do mês, esse homem que assumiu minha criação quando
minha mãe nos deixou. E eu já disse antes, eu super entendia a confusão e
pensamentos de antes, dele.

Quem seria eu se não entendesse?

O que eu precisava naquele momento era correr atrás do outro


pedaço que ia me deixar completo e totalmente feliz, agora com meu pai do
nosso lado ia ser muito mais fácil.
Seu Pedro fez um café daqueles bem fortes, como ele gosta, e juntos
tomamos com uns pãezinhos de queijo que eu esquentei no micro-ondas.
Melhores momentos. Depois ele saiu e eu catei meu celular pra ligar pro cara
que fode meus pensamentos e meu corpo.

Desligado pra variar um pouquinho. Mas eu não desisto. Liguei pra


Ju e ela atendeu dizendo que ele saiu cedinho e nem pra almoçar em casa
voltou, fiquei preocupado, mas não transpareci, afinal, sempre que ele tá
irritado ele dá um chá de sumiço. Mas eu podia procurar nos lugares onde eu
sabia que ele costumava ir quando isso acontece.

Troquei de roupa, já que estava só de bermuda de ficar em casa, e fui


até o campinho, que tinha uns moleques na faixa dos 12 jogando bola. Ele
não tava lá. Assisti um pouco da partida dos garotos e fui pro outro lado.

Talvez o Lucas soubesse por onde ele andava. Liguei pra ele e
perguntei onde ele estava no momento, sorte ele estar em casa. O trajeto não
era tão longo. Quando cheguei lá o chamei pelo nome e ele saiu fechando a
porta atrás de si.

— Bora ali na sorveteria. — ele convidou. Eu ri porque o moleque


era viciado em sorvete de chocolate.

Seguimos conversando bobagens e quando chegamos lá cada um fez


seu pedido, depois nos sentamos na mesinha que ficava do lado de fora e
introduzi o assunto que eu tanto queria abordar.

— Falou com o Iago esses dias? — perguntei. Ele apenas balançou a


cabeça negando e me perguntou o porquê. Aí devagar eu fui me abrindo e
contando todos os acontecimentos das últimas semanas. Na verdade, precisei
voltar um pouco antes que foi quando a dona Boca Maldita fez o nosso
relacionamento chegar aos ouvidos dos nossos pais. Ele não sabia e ficou
bem surpreso.

— Caralho mano, e vocês nem contaram nada!

— Foi muito de repente, Lucas. Uma hora a gente tava no maior


love, na nossa bolha de felicidade, no outro os coroa tavam colocando a
gente contra a parede pra saber de tudo. Acho que o Iago não te contou
porque ainda tava atordoado. Eu ainda tô!

— O que mais me choca é ver que a tia pode ser duas pessoas em
uma. Tão defensora quando é com os outros e quando o lance acontece em
casa ela age assim. Teu pai eu não posso falar porque não conheço tão bem.
Mas e aí, como vocês ficaram depois disso? — perguntou raspando o fundo
do recipiente com a colher, que até pouco tempo estava transbordando. O
meu ao contrário tava quase derretido.

— Não ficamos. Tu sabe como é teu amigo, quando se chateia com


algo, some das vistas de geral. Tava procurando ele pra gente pôr esses
lances nos trilhos. Já que fomos tirados do armário, vamos fazer jus. E tem o
lance da empresa que eu vou ser contratado e eu queria contar pra ele. —
mexi meu sorvete sem interesse. Deveria estar com a maior cara de enterro
que já fiz na vida.

— Que pena. — ele disse me fazendo olhá-lo. — Derreteu. —


completou me arrancando uma gargalhada sincera, passei o sorvete pra ele
que nem hesitou em atacar.

— Assim, Enzo, ele do jeito que é sonso, deve tá mó confuso com


tudo isso, além dos pais de vocês terem sido total decepção, né? Mas eu acho
bom vocês conversarem sim, já deu a hora. Cês tem que se apoiar agora, a
merda já tá feita mesmo, tem nada pra perder. Apoio da gente cê sabe que
sempre vai ter, sempre mesmo. Só que eu acho que tu vai ter que ter um
pouco de jogo de cintura com o Iago. Manja aqueles animais acuados? Que
com medo, atacam pra se defender? Então, é ele. Seja um pouco paciente
que vocês levam isso adiante.

Como era bom conversar com esse mano, tão novinho e tão cabeça
aberta e coração grande, conselhos ótimos e um excelente amigo. Fiquei até
mais animado depois de conversar com ele e no final da tarde fui embora pra
casa.

“De amanhã não passa! Só mais essa noite e você volta a ser meu
Iago.” — pensei convicto.
Mas nem precisei esperar mais uma noite, ele apareceu lá no final da
rua; sem camisa, de chinelo de dedos, boné virado pra trás, mesmo fazendo
sol na cara, e andando meio despreocupado, embora os ombros estivessem
um tanto caídos.

“Vai ser agora! ele querendo ou não vai ter que ouvir. Já fugiu por
tempo demais, já dei o tempo que devia dar. É isso!”.

— Iago! — gritei. Ele me olhou assustado e prendeu o fôlego pra


parecer maior, eu conheço o jeito dele e posso dizer que tava assustado,
mesmo mostrando uma carinha de bravo.

— Oi. — ele respondeu. Devo ter ficado vermelho, senti o sangue


subir à cabeça.

— Oi? Oi?! Oi, o caralho! O teu cu! Cadê você esses dias? Soltou
aquela bomba e me deixou sozinho pra apagar o incêndio! Cê tá sendo
covarde, mano. Qual é? Se arrependeu já? — falei nervoso. Estávamos em
frente a minha casa, a sorte era não ter ninguém na rua. Final de tarde e tem
dois machos brigando em tom alto que nem duas cadelas? Hunf!, ia ser
assunto pro mês inteiro.

Bom, eu tava latindo sozinho por enquanto, mas ele iria falar, a veia
na testa até dilatou; tava brabo memo.

— Vai tomar no seu cu, tá bom? Me dar um espaço era o mínimo,


olha a merda que tá nossa vida! — ele ficou vermelho, mas tinha que
entender que estávamos do mesmo lado.

— Eu sei que tá, caralho, mas é agora que a gente tem que ficar
juntos, senão do que vai ter adiantado tudo isso? Nada! Aí tu me abandona e
se isola. Me deixa sozinho sem saber das coisas. Isso é cruel comigo! —
falei indignado. Senti que meus olhos querendo vazar, mas me segurei o
máximo.

Ele respirou alto e colocou as duas mãos no quadril, olhou pra cima e
voltou a me encarar. E eu definitivamente não curtia esse olhar.
— Eu não sei se quero continuar com isso. — falou quebrando meu
coração em caquinhos. Quase não consegui ouvir, e as palavras ficaram
rodando na minha cabeça como um maldito moinho.

Ele não pode fazer isso...

— Porra, mano, ter a mãe e o pai falando aquelas coisas pra gente
doeu. Doeu demais. E se com quem deveria nos amar e acolher foi assim,
imagina como vai ser com os outros lá fora? Eu não quero isso pra mim,
Enzo. — os olhos dele estavam cheios de lágrimas e ele me olhou quase que
com pena. E eu me segurei pra não chorar na frente dele.

“Me recuso. Ele não vai me ver chorar.”

— Tu é um cuzão, filho da puta que só faz merda. — disse quase


espumando pela boca ao falar.

— Tu que é um arrombado mauricinho que se acha os pica. Vai te


foder! — ele não estava nenhum pouco diferente de mim e eu sabia que tava
se segurando pra não me esmurrar.

— Quem sabe eu não vá mesmo, já que você não tá aqui pra fazer
por mim. Acho que a gente deveria terminar então! — sugeri na hora da
raiva.

Primeiro ele se chocou, depois colocou aquela máscara de “tanto


faz”, e retrucou:

— É, eu também acho.

— Então, tá!

Me virei e entrei em casa batendo as portas, me arrependi por um


instante e olhei pela janela, consegui ver ele caminhando pesado até parar lá
no meio da rua como que decidindo o que ia fazer, mas depois continuou até
a casa dele como um foguete.

As coisas são assim, não é? Tudo é ciclo, começa e termina no final.


#ianzo parece que terminou.
E eu choro. Choro de raiva, choro de dor, de ressentimento. Ele não
poderia ter sido tão covarde. Eu não poderia ter sido tão covarde ao ponto de
sugerir o término, eu tinha que ter lutado mais pela gente.

Mas porra, como, se ele já tava todo decidido? Justo agora que minha
vida tava entrando nos trilhos. Foda!

E eu choro. Choro doído e sentido. Me sentindo no meio de uma


tempestade sem ter onde se abrigar. Me sentindo perdidasso.

É isso. Perdido.
—29—

Leiam ouvindo Preto E Branco, de Bruninho e Davi


Um mês se passou desde que Enzo e eu havíamos tido aquela última
conversa e, puta que pariu, quanta coisa aconteceu de lá pra cá...

Com o fim da nossa relação, Enzo achou melhor pegar as trouxas e ir


morar mais perto da empresa, de forma a dedicar-se mais ao novo trampo.
Sei que isso foi só a forma que ele encontrou para não me ver todos os dias e
ficar com vontade de socar a minha cara, e também de não ter que dar
desgosto para os coroas, e acima de tudo, dar uma guinada na vida.
Enquanto a minha? Desandou completamente!

Na faculdade eu tomei pau em algumas das sete matérias. Com tudo


isso acontecendo justamente próximo às provas do fim de semestre, quem é
que fica com cabeça pra estudar? O resultado não poderia ser diferente, justo
agora que eu tava garimpando um estágio. Porém o meu professor, que é o
mais parça deles, disse que ia me ajudar com o que fosse possível.

Uma nova entrevista tava agendada, eu só precisaria me esforçar


bastante.

Lá em casa então, a parada tava mais bizarra ainda. Não estava


falando com minha mãe, não do jeito certo, e Juliana e eu de repente nos
tornamos melhores amigos. Todas as noites durante as semanas seguintes à
briga e à mudança do Enzo, eu tive crises de choro quando lembrava das
palavras da minha mãe dizendo que sentia vergonha e que éramos um erro
da humanidade, isso sem contar a forma como tudo desandou, e quem vinha
me consolar era a pangaré fêmea viciada em animes. Ela passou a dormir
comigo desde então e foi o período em que mais me abri pra ela e descobri o
quão foda minha irmã era.

Não que eu já não soubesse disso, mas reconhecer esse fato já é outra
história. Juliana passou a ser uma grande defensora da causa LGBT e,
sempre que podia, dava lições de moral em algum desavisado que soltasse
alguma asneira perto dela.

A rapaziada também deu uma afastada após eu recusar todos os


convites que me fizeram pra me animar quando souberam do meu
rompimento com o Enzo. Acho que finalmente eles entenderam que eu só
queria um tempo pra encaixar as coisas aqui dentro da cachola. Não queria
apenas trepada, não queria baladinhas top, não queria uma felicidade falsa
que só durava enquanto a bebida fazia efeito. O dia seguinte era sempre o
pior, e eu percebi na primeira noitada em que me acabei na pista, deixei de
lado desde então.

Hoje foi só mais um dia como os outros dessas últimas semanas.


Cheguei em casa e fiquei alguns minutos observando aquela casa do outro
lado da rua que eu conhecia tão bem. E como sempre, fiquei torcendo para
que dela saísse um grande filho da puta loiro que tinha simplesmente me
tornado o avesso de tudo o que eu jamais tinha sonhado em ser.

Não que eu me arrependa disso. Talvez eu me arrependa, sim, de não


ter sido mais homem quando eu deveria, de fato, ter sido e não ter permitido
que o único cara que já amei na vida, tivesse simplesmente partido para
sabe-se lá Deus onde.

Como Pedro também parou de frequentar nossa casa depois desse


furacão todo que atingiu nossa família, eu não tinha mais contato com ele,
nem sei se ele e minha mãe ainda continuavam de rolo, e não fazia tanta
questão de saber. Com isso, acabou que eu não tinha como descobrir por
onde andava aquele meu molequinho gostoso pra caralho.

— Hey! Tudo bem?

Me assustei com Juliana que chegou por trás e parou do meu lado
olhando pra onde eu estava olhando segundos antes. Dei de ombros.

— Tô sim. — disse apenas.

— E essa lágrima aí no canto do olho? — perguntou. Instintivamente


levo a mão ao meu rosto pra perceber que não tem nada ali, essa cretina tava
tirando com minha cara, visto que tava vermelha de segurar uma risada.
Olhei pra ela com cara de brabo e puxei o cabelo cacheado vermelho que ela
havia pintado há alguns dias. Ela me bate e ficamos nisso até eu me cansar.
Nem brigar com ela tava tendo mais graça.

— Você deveria ir atrás dele. Depois de tudo que passaram se deixar


abater e morrer na praia é tão covarde que nem combina contigo. — ela
disse colocando todo aquele cabelo volumoso para o lado direito, parecia até
adulta falando assim e eu suspirei fundo antes de responder.

— Talvez você tenha razão, talvez eu devesse lutar por isso. Mas tá
tudo muito estranho ainda, e eu nem sei onde ele tá morando, nunca mais vi
o Pedro também. — dei de ombros e entrei em casa sendo acompanhado por
ela.

— Isso é muito fácil de descobrir. Se você quiser eu ajudo, mas eu


friso: Tem que querer.

— O que a mãe acharia disso? — perguntei vendo ela revirar os


olhos.

— Achei que você fosse adulto e tomasse as suas próprias decisões


sem se importar com opinião alheia, e a dela é uma opinião bem
desnecessária. O Pedro me disse que pediu perdão ao Enzo, sabia disso? —
neguei com a cabeça. — Pois foi. E pra mim foi bem sincero, ele passou isso
pra mim. Tudo bem que a mãe também pediu, mas ela ainda pensa igual, e
pelo menos o Pedro já comeu meninos na juventude, passei isso na cara dele
e ele ficou com vergonha.

Eu ri do jeito dela e beijando sua testa fui pro meu quarto me isolar
de novo. Trancado ali no meu cafofo, largado na cama, ouvindo música e
tentando arrumar uma forma de sair dessa fossa que eu me meti.

O teto branco com a luminária monótona nunca foram tão


interessantes pra mim como ultimamente têm sido. Levo minhas mãos aos
olhos e esfrego eles tentando acreditar que isso é só um pesadelo, mas abro
os olhos e lá está o mesmo cenário acompanhado pelos mesmos sentimentos
de segundos atrás.

Velho, é bizarro quando a gente para pra pensar na vida, né!?

Até que ponto tudo isso vale a pena? Até onde devemos colocar
nossa cara a tapa e passar por tudo que temos que passar até encontrarmos
esse tal lugar ao sol que todos lutam para encontrar?
Nunca na minha vida eu poderia imaginar que minha vida chegaria
ao ponto que chegou. Quando que eu sonharia em me envolver com um
brother meu a ponto de me apaixonar pelo cueca? E como se isso já não
fosse loucura suficiente, agora tenho que ficar ouvindo gracinha da coroa e
desses zé cuzões que um dia eu já chamei de amigo/irmão/brother/parceiro e
os caralho a quatro. Pelo menos os fiéis ficaram.

Me lembrei do dia que o Lucas chegou com o canto do lábio cortado


e disse que aquilo era culpa minha, mas eu nem lembrava de ter socado ele.

"— O Ronaldo, que se fazia de teu amiguinho, veio me falar que


você e o Enzo tinham terminado e ia tentar te comer porque viado é
tudo igual, adora rola no cu. Discutimos e trocamos uns socos, ele
ficou bem pior que eu. Por isso não uso aparelho, um tabefe e tá lá a
boca toda cortada."

Fiquei surpreso, feliz e irritado, monte de sentimentos misturados;


meu amigo tinha brigado pra me defender — feliz; o cara que se fazia de
amigo tinha aquele monte de pensamentos errados e ainda falava mal de
mim pelas costas — surpreso; e ele ainda relou a mão no Lucas? Ahh
mermão! Esse eu soco quando aparecer na minha frente.

Única coisa boa era ver quem eram os amigos de verdade, e esses eu
iria manter bem perto. Os moleques do futebol continuavam os mesmos,
mesmo sendo os machões são muito mais verdadeiros e amigos que os
babaquinhas da faculdade.

Cara, minha vida já deu tantas voltas que provavelmente meu cérebro
rolou ribanceira abaixo em uma dessas curvas, por que vou te contar, hein!?
É bizarro você imaginar tua própria mãe pedindo pra você segurar tua onda e
não ficar se expondo muito, simplesmente pelo fato de tu ter se apaixonado
por alguém que é do mesmo sexo que tu.

Dia desses cheguei do rolé e peguei ela no telefone falando de novo


com minha tia, que tá pensando até em se mudar por sentir vergonha de sair
na rua e esses vizinhos fofoqueiros ficarem falando dela ter um filho que
namorava outro cueca e que eles eram praticamente irmãos. Aí tu para e
pensa: "Aonde é que tá o dinheiro desse povo que paga minhas contas?
Sinceramente, não tô achando! Porque pra querer se meter no que rola aqui
em casa... no mínimo estão pagando nossas contas e eu não tô sabendo!".

Mas não posso deixar que todos pensem que ela é esse ser asqueroso.
Minha mãe também teve uma infância difícil, foi abandonada pelo pai dela e
foi criada pela mãe da minha avó, porque a mãe dela (minha véinha) teve
que ir trabalhar pra sustentar as três filhas (minha mãe e minhas 2 tias).

Então ela também tinha traumas e conflitos pra lidar. Não que isso
justifique tudo, mas não consigo contar a quantidade de vezes que ela já me
procurou nos últimos dias para me pedir perdão por tudo. Apesar dela
continuar pensando basicamente igual. Eu perdoei, né!? Vou fazer o quê?
Mas por mais que possamos perdoar, palavras muitas vezes deixam
cicatrizes mais profundas que qualquer golpe físico que possamos receber, e
por mais que tenhamos tentado ou nos esforçado, o clima dentro de casa
nunca mais voltou a ser o mesmo.

E ela percebeu que eu tava muito pra baixo, de certa forma tá


preocupada. Caguei!

Como se tudo isso já não fosse suficiente, ainda tem o Enzo!


Caralho, velho! No momento que eu mais precisava desse filho da puta, ele
simplesmente sumiu! Tá que tenho grande parcela de culpa (quase toda,
hehe) disso ter acontecido. Mas, puta que pariu! Eu tava perdido no meio
dessa reviravolta toda. Acho que não sei nem como que se mete mais.
Mentira, pelo menos isso eu ainda sei... Eu acho...

Procurei algum lugar pra descansar

Me cansei de amar sem ter a quem amar

Caminhei lugares sem te encontrar

Sei que errei, perdi, chorei

Mas você chegou e trouxe a paz pro coração, eu sei!


Transformou meu mundo

E me mostrou o amor que eu deixei.

Sorte a minha que a vida muda!

Muita coisa o tempo cura

E me fez viver

Vem amor e traz a cor pro que era preto e branco

Eu vou te desenhando

Vem amor e traz calor pro frio que vem chegando

Eu tô te esperando.

Foi então que prestei atenção na música que tava tocando no fone.
Antes que eu pudesse pensar em trocar ou tirar o fone, as lágrimas já
estavam rolando pelo rosto. Segurei essas malditas o dia inteiro pra agora
simplesmente por causa de uma música, elas rolarem a ponto de eu me
encolher todinho na cama.

Não tava chorando porque simplesmente virei uma mocinha


sentimental! Estava chorando porque foi com essa música que percebi o
quanto eu havia mudado desde que o Enzo havia entrado em minha vida
desse modo mais íntimo. Esse branquelo simplesmente chegou pra me dar
aquele sacode que todo mundo precisa até entrar nos trilhos da vida.

De repente uma lembrança me abateu tão vivida que parecia ter sido
ontem. Começou com uma mensagem dele pra mim.
“Mano, eu tô aqui tentando dormir. São três e meia da manhã e você
tá aí tão longe do seu maior fã. Tu não tem noção do quanto eu queria você
bem perto de mim agora. A distância dói e a saudade vem, mas de algum
jeito me faz bem saber que você também sente isso aí do outro lado do
sudeste. E eu sei que sente!

Então se liga, olha pro céu aí e manda um beijo porque eu posso


sentir daqui. Afinal, a mesma lua que eu vejo você vê, cabeção! Olha pra ela
e pensa em mim que eu tô pensando em você. Por favor, me espera, ainda
tamo junto!”.

Essa foi a mensagem que apitou e me fez despertar. Na mesma hora


eu olhei pela janela e a lua invadia meu quarto como se fosse meu
molequinho chegando junto com os braços abertos. Se eu chorei? Porra! E
foi um choro de saudade. O pior tipo de choro que o ser humano derrama.

Hoje, tanto tempo depois eu ainda lembro disso e meus olhos enchem
de lágrimas. Enzo já era meu e eu era dele antes mesmo de nos atentarmos a
isso. Engraçado como sempre fomos sonsos e pensamos que nosso carinho,
cuidado e companheirismo era só coisa de brother. Não que depois de tanto
não fossemos mais, só que nossa brotheragem evoluiu que nem Pokémon,
né?

Nessa época, Enzo ainda estava estudando em Sampa, eu tava na


casa da minha tia no Espírito Santo curtindo o feriado. Segundo ele, não tava
com ânimo pra ir curtir o feriado no Rio, e recentemente ele chegou até
confessar que não foi porque eu não estava lá. Depois que li a mensagem, eu
nem consegui mais dormir. Fiquei ali sentado no chão, próximo à janela,
observando a lua e imaginando aquele par de olhos azuis/verdes vidrados
nela também. Como esse moleque me fazia falta e como eu era amarradão
nele, mesmo sem saber!

No dia seguinte, minha prima perguntou por que eu tava parecendo


um guaxinim com as olheiras tão sinistras. Foi nesse momento que eu
entendi a definição de sorriso amarelo, aquela coisa sem graça, sem
entusiasmo, sem alegria. A verdade é que a mensagem do Enzo tinha mexido
comigo de uma forma que eu não esperava. Eu não estava preparado para
receber uma demonstração de afeto tão íntima como aquela. Sempre fomos
carinhosos um com o outro, mas tinha algo não dito naquela mensagem que
estava mexendo demais comigo. E o mais louco é que era um verbo não dito
que estava me deixando animado, feliz, empolgado e maluco de vontade de
materializar o que não fora dito.

Bem confuso.

Pra não enlouquecer de vez, vesti um short e uma camisa de malhar,


calcei meu tênis e fui fazer a trilha do morro do moreno. Quase duas horas
de subida íngreme e o cheiro da vegetação me deram uma boa revigorada. A
vista lá de cima é foda de boa. Da pra ver toda a baía de Vitória, a praia da
costa e a cidade de Vila Velha, o Convento da Penha, Camburi... Coisas para
serem vistas não faltam.

Na lateral do morro tem uma antena e uns para-raios, sentei no


cantinho escorado no muro da base da antena (único lugar que tinha uma
sombra) e de lá fiquei olhando o navio que entrava na baía e passava por
baixo da Terceira Ponte. Que vista maneira! Tirei uma foto e mandei pro
Enzo que visualizou na mesma hora, mas não tive uma resposta. Eu hein.
Devia estar arrependido de ter enviado aquela mensagem tão
comprometedora.

Fiquei lá mais algum tempo absorvendo todas as imagens e


possibilidades e histórias que estavam acontecendo ao mesmo tempo lá
embaixo e depois decidi voltar. Estava se aproximando da hora do almoço e
eu já tava ficando faminto. Como o sol estava quase a pino e o calor estava
sufocante, decidi voltar sem camisa mesmo.

Chegando na casa da tia, como eu tinha a chave, fui entrando sem


bater, mas paralisei ali na porta mesmo. Nosso olhar se conectou no mesmo
instante e eu me perdi completamente naquela imensidão azul que também
estava vidrada em mim. Eu só posso ter tomado muito sol na cabeça e devia
estar variando já! Enzo tava parado no meio da sala rindo de alguma coisa e
quando me viu, seu sorriso foi sumindo e seus olhos foram ficando
marejados enquanto continuavam grudados nos meus. Eu não sei quanto
tempo se passou, pareciam horas, respirei fundo tentando manter a sanidade
e fechei a porta com o pé. Eu estava disposto a não tirar os olhos dele. O
medo da ilusão passar era grande! Esperei mais um tempo e quando percebi
que ele não iria sumir, fui andando em sua direção. Ele se movimentou e
veio andando em minha direção também.

Quando nossos corpos se encontraram foi a melhor sensação do


mundo! Meu mano tava ali, cara! Eu perdi completamente a noção da força e
o abracei forte. A camisa dele ficou encharcada com meu suor, mas ele nem
se movimentou querendo se afastar, só me abraçou forte também e fez meu
corpo inteiro arrepiar quando sem querer seu nariz tocou meu pescoço. Devo
ter variado de novo, porque tive a impressão dele ter respirado fundo pra
sentir completamente o meu cheiro, mas nem zoei pra não quebrar o clima.
Que saudade que eu sentia dele! Tinha quase um ano que não o via desde a
sua última visita.

Lentamente nos soltamos e eu baguncei o cabelo dele sorrindo.

— Tu tá perdido, rapaz? Tá fazendo o que aqui? — perguntei


enquanto olhava ele todinho pra ter certeza que estava tudo bem e que ele
estava inteiro. Ele também sorriu e me deu um soquinho no ombro dizendo.

— Tava com saudade de tu, mulambo! E como o feriado começa


hoje, decidi vir te ver, já que tu não tava lá na casa dos coroas. — deu
ombro. Suspirei e revirei os olhos.

— E por que você não avisou que iria vir, Mano? Eu te buscava no
aeroporto, pô! — perguntei agora indo em direção ao quarto. Ele veio me
seguindo e disse:

— Se eu dissesse não seria surpresa, né sonso?

Olhei pra trás e fuzilei ele com o olhar.

— Sonso é teu cu! — ele gargalhou alto e eu acabei acompanhando


ele na risada. Que saudade que eu tava desse som!

Entramos no quarto e eu larguei minha camisa suada na cama. Ele foi


deitando e a cabeça dele ficou perto da camisa, ergui as sobrancelhas meio
assustado quando vi ele pegando a camisa e cheirando. Quando ele viu que
eu tava olhando, ele limpou a garganta e deu um sorrisinho sem graça.

— Véi, você tem que tomar banho! Tá um cheiro de podre aqui,


queria confirmar se era de tu. Pelo visto é! — ele riu.

Estreitei os olhos pra ele e mordi a língua pra não mandar ele se
foder, mas logo abri um sorrisinho e levei a mão até o pau, apertei gostoso e
falei: — Aqui, mané! Cheira aqui e vê se tá podre também! — o sorriso se
alargou e virou uma risada quando eu vi ele arregalar os olhos e ficar
vermelho. Larguei ele lá e saí do quarto indo pro banheiro tomar uma ducha
pra tirar o suor do corpo.

Depois do banho sentamos pra almoçar. A tia tinha saído com a Dani
pra ir resolver alguma coisa no centro. Então deu pra colocarmos todo o
papo em dia de boas. Ele me contou que a faculdade tava bem puxada e que
parecia que ele iria enlouquecer, principalmente nas semanas de provas. Me
disse que tava saindo bastante com os amigos da faculdade e com os
moleques da república. Percebi que ele ficou meio estranho quando falou
dos caras, mas decidi questionar sobre isso em outro momento. Resumindo,
meu molequimho tava ali de verdade e eu estava com o coração quase
explodindo de tanta alegria, mas tava segurando pra não parecer viadagem.

Na hora de dormir foi aquela coisa. Tia Rose queria que ele dormisse
no quarto de hospedes, mas acabei convencendo ela que o Enzo poderia
dormir lá no quarto pra gente continuar colocando o papo em dia. Ela acabou
ficando convencida e levou alguns travesseiros, colchão e cobertor lá pro
quarto. Quando deitamos, Enzo tava largado no colchão do lado da cama e
eu na cama, ambos olhando pro teto escuro enquanto conversávamos. Ele
suspirou e se calou por um momento. Eu olhei pra ele e vi q ele tava olhando
pela janela e com uma expressão pensativa. Sem que eu dissesse nada, ele
falou:

— Quase todo dia eu fico olhando pra lua e pensando no que tu tá


fazendo. Isso quando tem lua, claro. Ontem eu não tava aguentando de
saudade de tu, cabeça. Quando mandei aquela mensagem, a primeira coisa
que fiz depois, foi olhar as passagens. Mandei mensagem pra Dani e ela
disse que eu poderia vir, pois o quarto de hospedes tava livre. Não pensei
duas vezes e comprei a passagem.

As palavras dele fizeram meu coração acelerar e quando ele me


olhou, parecia que seus olhos estavam olhando meu interior. Me senti com a
alma completamente nua tamanha intensidade do olhar que ele me
direcionava. Cheguei pro lado na cama e abri espaço batendo nele. Enzo
entendeu o recado e deu uma última olhada pra lua, depois ele foi se
achegando e deitando na cama. Eu não estava preparado para falar e ele deve
ter entendido já que riu baixinho e levantou o dedo mindinho dizendo:

— Um dia vamos ficar juntos de novo. E aí será pra valer! Sem que
nada separe a gente de novo. Fechado? — olhei pro mindinho dele e agarrei
com o meu dizendo: Fechado, bro!

Continuamos conversando por mais algum tempo até que apagamos.


Acordei no outro dia com batidas na porta, me assustei quando percebi que
havia dormido de conchinha com o Enzo, não deu tempo de sair, porque a
porta se abriu e minha tia nos observou por alguns instantes.

Ela sorriu e disse: — Desculpa te acordar, querido. O café tá pronto.


Vou precisar sair para resolver umas coisas pro teu tio e a Dani foi pra Guriri
acampar com os amigos. Se precisar de algo, me liga.

E quando ela ia fechando a porta, ela abriu novamente e completou:


— Eu acho lindo esse carinho entre vocês. Não percam isso nunca! —
piscou pra mim e então se foi. Quando a porta fechou, eu voltei a olhar pro
Enzo e sorri, abracei ele de novo e voltei a dormir.

É, nunca foi só brotheragem... Hoje consigo dividir minha vida em


antes e após Enzo.

Antes dele, meu hobbie era brincar com as pessoas. Meu lance era
meter meu pau o mais fundo que eu conseguisse, dar uma trepada bem
gostosa, gozar e meter o pé. Nunca liguei pra sentimentos e muito menos
para os donos desses tais sentimentos. Cara, te falar, viu? Na verdade, o
grande lance é que eu tinha medo de me relacionar com alguém novamente.
Depois de duas traições e algumas desilusões, ficamos meio cabreiros com
essas paradas, né!? Tinha decidido que não deixaria ninguém me fazer de
trouxa novamente e aí, Iagão Galinha FDP da Silva nasceu :)

Depois que comecei a me relacionar com esse molequinho, a


primeira coisa que de cara destaco, foi a facilidade que ele teve pra demolir
essa muralha de proteção que eu havia construído ao redor do meu coração e
dos meus sentimentos. Depois que ele ultrapassou essa barreira, meus dias
ganharam uma cor a mais! Me abri pro mundo, para os sentimentos e para as
possibilidades. Meus dias estavam mais leves, eu me sentia mais centrado,
vivendo e aproveitando meus dias ao máximo, mas de forma criativa e
produtiva como que tem que ser. O medo que eu sentia de me apaixonar,
havia sumido, passei a ver o fato de crescer e ser adulto como algo bom.
Coisa que também me assustava. E não me julgue porque sei que o futuro e
as responsabilidades de adulto também te assustam!

Mas você chegou e trouxe a paz pro coração, eu sei!

Transformou meu mundo

E me mostrou o amor que eu deixei.

Não sei como será a minha vida daqui para frente. As coisas
mudaram e tomaram um rumo completamente inesperado. Talvez até seja
essa a Graça da vida! Ter que viver esses detalhes que jamais imaginaríamos
um dia termos que vivê-los. Até porque, que graça teria se planejássemos a
vida e ela seguisse a risca tudo aquilo que planejamos? Cadê aquela
adrenalina que sentimos quando o carrinho da montanha russa despenca na
primeira decida e tu grita até pela tua mãe? Cadê o frio na barriga ao olhar
fundo nos olhos de alguém que tu ama pra caralho? Cadê o cagaço que tu
sente quando se toca que tá ficando adulto e precisa tomar decisões que terão
consequências diretas no desfecho do teu futuro? Cadê a honra que eu
deveria estar sentindo por finalmente ter dito ao mundo quem eu era de fato?
Mas quer saber? Talvez seja esse o sentimento de honra! O sentimento de
viver de verdade! Sem ter que me esconder atrás de máscaras, sem ter que
fingir ser um personagem que tem todo um roteiro de vida para que consiga
agradar essa plateia que fica todo dia te assistindo e só esperando o momento
onde tu tropeça e cai para servir de entretenimento pra vida sem graça deles.

Procurei algum lugar pra descansar

Me cansei de amar sem ter a quem amar

Caminhei lugares sem te encontrar

Sei que errei, perdi, chorei.

Chega de viver dias vazios, chega de entregar meu coração pra


qualquer um, chega de brincar com as pessoas e por fim... Chega de deixar
qualquer coisa e qualquer um levar embora a paz de espírito que só eu posso
me permitir sentir.

Sorte a minha que a vida muda!

Muita coisa o tempo cura

E me fez viver.

“Amanhã será um novo dia! Novas possibilidades, novas


experiências e mais 24h para acertar, errar, chorar, corrigir, sorrir, rir,
abraçar, beijar, amar e reparar erros que cometi e que ainda são possíveis
de serem revertidos.” — pensei sorrindo.

E pra tu que está lendo isso, eu só tenho um recado, meu brother:


Não se rebaixe ou seja menos do que aquilo que tu pense ser! O mundo lá
fora é imenso e está repleto de possibilidades. Quem passou por tudo e
chegou aonde chegou, foi você! Ninguém tomou os teus tombos, ninguém
chorou por você, ninguém ouviu tuas lamentações ou dormiu com o
travesseiro cheio de lágrimas como tu dormiu! Então, não deixe, JAMAIS,
que te digam quem tu deve ser, ou aonde você deve ir. Um dia, você
encontrará alguém que te fará entender porque você nunca deu certo com
ninguém. Pode até parecer clichê ou uma mera frase de Orkut (o que de fato
é), mas essa é uma grande verdade pra tua vida. E também não se prenda a
alguém que esteja indo embora, caso contrário, você nunca encontrará a
pessoa fantástica que está vindo ao teu encontro.

"Quando a dor de não estar vivendo for maior do que o medo da


mudança, a pessoa muda. A felicidade é um problema individual. Aqui,
nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz"
(Sigmund Freud)

Bom, acho que já chorei demais! E se tô falando que temos que nos
erguer e seguir em frente pra sermos aquilo que somos, é exatamente isso
que vou fazer.

Chega de ficar pensando e pensando e pensando. Vou tirar um ronco


maneiro e amanhã vamos ver o que a vida tem reservado pra mim. Virei de
lado e pela primeira vez em muitos dias consegui dormir sem muita
dificuldade.
—30—

Eu estava em fase de teste na empresa em que havia iniciado há


menos de um mês... menos de um mês longe do cara que amo, é foda, mas
resolvi me meter de cabeça nesse universo da engenharia química, e é isso
que estou fazendo pra ocupar a mente que só sabe pensar num filho da puta
covarde do caralho.

Porém não serei hipócrita e dizer que não entendo ele, eu fugi uma
vez, mas voltei. Espero que ele volte também.

Mas como falei, não era hora de pensar nisso.

A engenharia química é um ramo da engenharia em que eu poderia


seguir pra todos os lados que quisesse e mais me identificasse, tais como:
plástico, combustível, alimentos, construção civil, medicamentos, limpeza,
bebidas e blá blá blá.

Além da indústria, a engenharia química me permite atuar em outros


setores da economia, ou seja, eu poderia estar atuando em vendas,
otimização de recursos, área ambiental, segurança, treinamento... Só pra
citar alguns exemplos. A Engenharia Química é uma área bastante
promissora no nosso país e mesmo em início de carreira eu posso receber um
ótimo salário. Então já deve saber por que eu escolhi essa faculdade. Isso
mesmo, porque sou apaixonado por soluções químicas, hehe.

Mas não quero falar muito sobre isso pra não ser chato, só quero
mostrar em como profissionalmente eu posso estar super realizado, porque
em outras áreas...

Enfim.

Precisei me mudar, e isso era uma coisa que com ou sem Iago teria
que rolar, eu ia ficar mais perto do meu trabalho, menos tempo no trânsito,
mas produtível no meu cargo... Nem tinha como contestar, e com aquele
término, resolvi agilizar o mais rápido possível minha mudança, que
aconteceu uma semana depois de toda a turbulência.

Com a ajuda do meu coroa eu consegui uma casa de dois quartos,


sala, cozinha e banheiro, além de quintal, por um preço bacana; não era A
Casa, mas pra mim tava ótimo e cômodo. Comprei cama, mesa e cadeiras
numa marcenaria em que eu tinha passado perto numa das minhas andanças
pelo bairro novo, e vi um rapaz fazendo uma cadeirinha de criança, ele me
fez um preço bacana. Colchão meu pai me deu, além da geladeira, só que
ainda faltava uma porrada de coisas pra comprar, mas isso com o tempo e
salário que eu ia ganhar, eu iria adquirindo aos poucos. Refeições eu fazia na
empresa, então tava tudo de boa.

Nos primeiros dias coloquei internet em casa e não fiquei avulso sem
ter nada pra fazer, então eu tava tranquilo, na medida do possível.

Apesar de tudo, os dias eram monótonos e sem muitas emoções,


mesmo aprendendo algo novo todo dia onde eu trabalhava, e era isso que
salvava os meus dias frios e escuros. Eu tava focado no emprego e me sairia
bem no final, isso era certo.

Fiquei sabendo pela Ju que Iago tomou bomba em algumas matérias


da faculdade, lamentei, apesar de tudo, queria sempre o melhor pro meu
molecão, mas não podia fazer nada além de torcer pacarai, vida que segue.

Tava no vestiário da empresa me arrumando pra ir embora porque


meu turno já tinha findado, outros caras tomavam banho e se vestiam por ali.
É aquela algazarra, como sempre quando os machos se juntam. Em outros
tempos eu estaria no meio, zoando e secando uma bunda ou um pau, mas no
momento eu tava perdido nos pensamentos, mais uma vez.

Depois disso me despedi dos demais ali que combinavam um happy


hour e fui embora. Um ônibus fretado pela empresa me deixou no ponto
mais perto da minha casa e eu armei um guarda-chuvas que havia levado,
pois desde cedo tava chovendo insistentemente, além de estar fazendo um
frio do caralho. “Nem parece que moro numa cidade litorânea, eu hein? Esse
clima do BR.” — ri comigo mesmo.

Caminhei absorto, olhando pros meus pés, as lâmpadas amarelas


refletindo em cada poça da rua, com a mochila nas costas e segurando o
guarda-chuvas um pouco inclinado pra frente pra fugir da chuva que vem
junto ao vento. Um cachorrinho tentava se abrigar numa marquise ali perto,
tadinho. Lembrei do Léo, suspiro saudoso.

No fone de ouvido Kell Smith canta a música Era Uma Vez, e ela
parece retratar o que vêm me acontecendo, principalmente esse trecho aqui:
É que a gente quer crescer

E quando cresce quer voltar do início

Porque um joelho ralado dói bem menos que um coração partido.

“Deus! Essas músicas só te destroem, cê louco. Abstrai! Pensa em


outra coisa!” Aí mais alguns passos e cheguei em frente de casa e, porra!
Tinha um sem teto se protegendo da chuva na minha porta, todo encolhido e
de cabeça baixa.

“O que eu faço? Peço pra ele sair? Seria crueldade, visto o frio
danado que tá fazendo, mas também não posso deixar ele ficar aí!
Caralho!” Eu tava naquele impasse.

Fiquei algum tempo olhando pra ele e resolvi me aproximar.

— Ei, amigo, cê não tem pra onde ir? Não pode ficar aqui não, cara.
— falei. E quando ele levantou o rosto e eu tomei o maior susto do mundo.

Iago. Não pode ser! Alá meu cu na mão.


— Ju, me arruma a porra do endereço do Enzo. Vou atrás dele hoje
mesmo. — entrei no quarto da minha irmã feito um doido, ela tava
concentrada escrevendo algo no caderno cor-de-rosa dela e se assustou,
depois fez cara de brava e me xingou.

— Cuzão! Não sabe bater? Porra! Se eu morrer do coração eu vou


querer você vestido de drag no meu enterro. — ela disse arrumando aquele
cabelo que vivia armado (segundo ela é o charme). Me olhou impassível me
fazendo revirar os olhos, reforcei meu pedido com a mão estendida.

— Só vou te dar porque fui a primeira a shippar esse casal, mesmo


antes dele existir, e quero a felicidade dos dois. E eu sei que só vão ser
felizes depois de se comerem de novo. — ela caçou numa gaveta dela que
tava super bagunçada e me estendeu um papel dobrado. — Aqui, vê se não
perde!

— Então você já tinha o endereço dele? — perguntei confuso.

— É logico! Só tava esperando você pedir mesmo. O Pedro me disse


que ele trabalha até às 6 da tarde, então já sabe o horário que ele vai tá em
casa. Vai lá e pega o que é teu e seja feliz. — disse sorrindo e eu abracei
aquela desmiolada até ela ficar sem ar. Depois fui pro meu quarto escolher
uma roupa bonita pra poder ir atrás do cara que eu amo.

“Chega de protelar minha felicidade e a dele por bobagem.


Demorou, mas eu caí em mim e percebi que estamos ligados, minha
felicidade depende dele e eu acho que ele se sente assim, se não se sente,
farei sentir. Enzo é meu e eu vou tê-lo pra mim novamente.

Chega de me esconder — de mim mesmo até — e chega de querer


ser quem não sou e nunca mais vou ser. Eu amo aquele loiro e eu preciso
dele pra ser feliz. Ponto.”

Tomei um banho demorado, aparei a barba que tava um nojo, vesti


minha melhor calça e camisa, calcei o coturno e peguei um casaco grande de
capuz que tava no fundo do guarda roupas, afinal tava fazendo frio e é
melhor prevenir do que remediar, e se Enzo não me aceitasse, não ficaria
passando frio na rua de noite. Catei minha carteira e tals e borrifei o perfume
que eu sabia que ele gostava que eu usasse.

Minha mãe tava na sala e eu passe feito um raio sem falar nada, mas
ela me parou antes de eu sair pela porta.

— Tá indo aonde nessa pressa? — perguntou se levantando.

— Tô indo atrás da minha felicidade. — respondi sorrindo. Aí sim


fui pra rua com a maior cara de bobo/idiota apaixonado que eu sei que tenho.
Tava indo atrás do meu galego, que é meu. E eu sou todo dele.

Começou a chover fininho, mas eu nem liguei pra isso. Peguei meu
celular e vi um contato de um taxista brother meu pra ver se ele poderia me
levar lá na puta que pariu, que é onde o Enzo morava.

Era meio longe; de ônibus, nessas condições, eu ia chegar só no outro


dia.

E eu tava com muita sorte mesmo, o filho da mãe tava no bairro ali
perto. Combinamos um local pra ele me pegar e me levar até meu parceiro.
Nem tive que esperar muito.

Mas a sorte acabou quando eu cheguei lá, hehe. Ele ainda não havia
chegado do trampo. Nem sabia que horas eram e não queria tirar o celular do
bolso, pra variar a chuva apertou daquele jeito. Molhei minha calça todinha,
porque a casa do Enzo não tinha uma marquise na frente e quando a chuva
vinha de vento me pegava todo. Fazer o quê além de esperar? Nada!

Pra não morrer de hipotermia eu fechei meu casaco, coloquei o capuz


e me agachei lá na frente da porta esperando ele chegar. E eu torcia pra que
fosse logo e ele me deixasse entrar, porque, olha... Não tava fácil.

“Talvez eu mereça. Isso! É castigo! Castigo por eu ter feito o que fiz
com a gente. Isso, apenas aceite.” — pensei comigo.

“Ele tá demorando muito, ahhhh! Mas foda-se, só saio daqui quando


ele chegar. Porra, e se ele esticou a noite com outro cara? Será que o meu
mano tá pegando outro? Não!” — Chacoalhei a cabeça pra tirar as imagens
do Enzo se agarrando com outro cara, enquanto eu tava ali chupando dedo.
Que angustiante.

Mas no instante seguinte ouço aquela voz forte, máscula, porém


macia e aveludada dizendo que eu não podia ficar ali.

Me confundiu com sem-teto? Tudo bem! Sou um carente mesmo,


preciso de um teto, gato, e de comida...

Levantei a cabeça e olhei pra ele, meus olhos quase vazando, mesmo
que ele não conseguisse ver. Ele ficou chocado, a chuva aumentou e eu me
levantei arrumando a minha roupa no corpo pra parecer "melhor". Com
passos vacilantes me aproximei dele devagar e ele deu um passo pra trás,
movimento que trinca meu coração um pouquinho. Mas não desistiria agora.

— O que cê tá fazendo aqui? — perguntou enquanto o guarda-chuva


vacilava na mão dele e ele quase o deixa cair. Eu por outro lado não falo
nada, e todo molhado acabo com a distância que nos separa, ele tenta ir mais
pra trás, mas não consegue pelo motivo de eu criar oito pernas, como um
polvo, e prendê-lo nos meus braços.

Aí sim ele deixa o guarda-chuva cair no chão, a chuva pesando e ele


me esmurrando e se sacudindo pra se tirar dos meus braços — porra, ele bate
forte quando tá com raiva —, mas sou insistente e aguardo ele se acalmar,
parando de me socar devagar e respirando de forma pesada. Eu tava
chorando e minhas lágrimas se misturavam com as gotas geladas da chuva,
percebo que ele também chora.

Porra, como eu pude ser tão estupido e deixar o Enzo sozinho quando
o mundo tava caindo na nossa cabeça? Se eu pudesse, eu me bateria, mas
tudo que eu posso fazer agora é apertá-lo nos meus braços até ele se acalmar
por completo. E ele termina me apertando igual e com o rosto enterrado no
meu pescoço. As lágrimas dele, ao contrário da chuva, são quentes e me
molham ali, eu enterro meus dedos nos cabelos molhados dele fazendo um
cafuné que eu sei que vai acalmá-lo e beijo o pedaço de pele descoberto do
seu pescoço.
— Eu acho melhor a gente entrar ou vamos pegar uma gripe de
deixar o corpo moído. — sussurrei no ouvido dele antes de afastar seu rosto
do meu pescoço, olhar nos seus olhos claros, agora avermelhados, e lhe
ceder um beijo molhado na sua testa. Ele suspira.

— Vem! — chamou se afastando de mim e me causando frio, não sei


se por estar molhado ou pela "separação". Tirou as chaves do bolso da calça
e começou a abrir a porta. Catei o guarda-chuva caído dele e desarmei
seguindo pra porta que me espera aberta, entrei e a fechei atrás de mim com
chave, vai que...

Na sala que é pequena e só tem dois sofás com uma mesinha de


centro, ele começa a tirar as roupas molhadas, sem me olhar. Eu faço o
mesmo, mesmo que não tenha sido convidado a fazer isso. Cada um perdido
em seus pensamentos.

Quando me dou conta estou de cueca, as roupas jogadas em qualquer


lugar ali no chão, minha respiração irregular. Olho pra frente e Enzo está do
mesmo jeito, me olhando de longe, eu sou incapaz de tirar meus olhos dos
dele. Tem muita coisa não dita que, nesse momento, não precisamos falar.

Devagar e sem nunca parar de olhá-lo eu tiro minha cueca, a única


peça de roupa que me resta, do mesmo modo ele o faz. O ar fica pesado e
ambos sentimos o desejo de nos fundir ficar quase incontrolável. Dou o
primeiro passo e ele como que tomando coragem faz o mesmo. Quando nos
tocamos é como se correntes elétricas corressem por nosso corpo.

Parece aquelas histórias que a Ju insistiu em ler pra mim antes de


dormir, nas muitas noites em que eu tive crise de choro.

Nos abraçamos, despidos de roupas, de mágoas; vestidos de


sentimentos e de toda coisa boa que pudesse existir entre nós dois. Eu
respiro aliviado e é como se um enorme peso fosse tirado dos meus ombros.
Sinto sua pele na minha, seu calor se misturando ao meu. As mesmas mãos
que antes me batiam agora me acariciam de forma leve e preguiçosa.

— Eu te amo. Me deixa voltar pra você. — sussurrei em meio ao


meu choro incontido. Ele me aperta nos braços e beija atrás da minha orelha.
— Pra onde mais você iria? Te amo muito, seu idiota. — ele sorri e
cola a testa na minha, segurando minha cabeça com as duas mãos, enquanto
eu seguro de forma possessiva sua cintura o prendendo a mim. Só sabemos
nos olhar e eu sei que não sou muito bonito enquanto choro, mas esse filho
da puta consegue ser lindo até cagando.

— Me desculpa por... — ele me cala colocando um dedo nos meus


lábios e balançando a cabeça pros lados.

— Nada de desculpas agora, mano. Só quero te amar e ser amado da


forma que merecemos. Vem, vamos ser um do outro. — meu coração erra
uma batida e eu suspiro ainda mais apaixonado.

Sem nenhuma resistência ele conseguiu me levar pra onde, penso eu,
ser o seu quarto. Na verdade, não tava prestando atenção aos detalhes da
casa, só conseguia enxergar ele, e ansiar pelo beijo que ainda não demos.

— Eu te amo — selinho —, te amo — selinho —, amo muito, seu


filho da puta. E se você fizer esse tipo de palhaçada novamente, eu arranco
isso aqui fora, tá ouvindo? — disse segurando meu pau que tava duro há
tempos e eu crispo os dentes de dor e tesão. Balancei a cabeça
afirmativamente de forma nervosa e só então ele me solta. Aí inverto as
posições, me coloco em cima dele, encaixado entre suas pernas e lhe dou um
beijo do jeito que queria fazer desde o momento que nos vimos.

Nos perdemos um no outro. De forma languida e pausada. Dando


tempo para nos olharmos e matar a saudade que há minutos atrás nos corroía
o peito de forma torturante.

Deus do céu! Como eu amo esse cara!

Última coisa que eu me lembro antes de cair no sono é de estar


deitado, Enzo em cima de mim, me cavalgando sem tirar os olhos dos meus.
Uma mão minha segura seu rosto, com um polegar dentro da boca dele,
enquanto a outra o ajuda nos movimentos frenéticos de subir e descer que
ele faz. Aí ele goza em cima de mim fazendo uma carinha linda de tesão e
desaba sobre meu peito, flexiono as pernas e com alguns movimentos gozo
dentro dele como nunca antes havia gozado.
O sono vem depressa e falando "eu te amo", enquanto beijo suas
bochechas e testa durmo sem sonhos e interrupções.

— Jesus, oncotô? Que horas são? — olhei o celular e eram quase 4


da manhã. — É madrugada! Hmmm! — me esfreguei no que quer que seja
que estivesse na minha frente, é quentinho, macio e durinho.

— Enzo!

Caralho, lembrei de tudo que rolou até o momento. Foi lindo que
chega até parecer irreal, apertei o mano nos braços só pra tirar essa dúvida
da minha cabeça e ele deu uma gemidinha ainda em sono.

— É verdade.

Tava sorrindo no escuro, haha. Cheirei os cabelos dele, que me fazem


cocegas no nariz e rebolo contra a bunda dele, já que meu pau tava duro e
ele ali todo descoberto só pra mim.

— Enzo? Enzooo. — chamei no ouvido dele, mas quem disse que se


mexeu? Tudo bem, depois não fala que não acordei.

Cuspi na mão e passei no meu pau já prontinho, achei o cuzinho dele


com os dedos e devagar coloco um dedo pra dentro, tava todo melado na
transa de mais cedo. Fizemos sem camisinha e na hora não pareceu nada de
errado, nem agora parece, sabemos que por muito tempo ambos fomos
parceiros únicos e isso não ia nunca matar o clima.

Com ele já preparadinho eu substituo os dedos pelo meu pau, que


com um pouco de dificuldade rompe as barreiras dele. Coloco devagar pra
não acordá-lo, já que fazer com ele dormindo se tornou meio que um fetiche
minutos atrás. Com o pau todo socado dentro dele eu abraço sua cintura e
começo a beijar de língua seu pescoço e ombro e toda essa parte que está ao
meu alcance e quando ele começa a acordar o cuzinho empalado pela minha
pica dá umas contraídas maneiras, gemo no ouvido dele e ele geme
rebolando a bunda e olhando pra trás.

— Cê tá me comendo dormindo, seu filho da puta? — parece bravo,


mas com essa carinha de tesão de quem tá gostando de tomar no cu, certeza
que tava é amando. Eu sorrio e dou a primeira estocada, que faz ele piscar
gostoso no meu pau.

— Tô sim, e você tá amando. Fode a pica do teu mano, vai. — pedi


cochichando enquanto rebolava devagar. Ele suspira e aperta o meu pau no
cuzinho. Aí deixei o trabalho todo pra ele. Enquanto ele me "fode" eu meto a
mão naquela pirocona babada e fico punhetando. Menino ia amanhecer
parecendo um dálmata de tão pintado que tava esse pescocinho.

— Que saudades eu tava de você, eu te amo tanto. — falei gemendo


e perdendo o controle da minha pélvis, que maltrata ele de todo o jeito. Gozo
primeiro e continuo socando pra fazer uma espuminha, hahaha. Logo depois
ele goza na minha mão e eu lambo tudinho pra dar um beijo bem melecado.

Tava sendo muito piranho? Claro que tava, sempre fui, mas com ele
eu me solto mais, hehe.

— Tu é muito cuzão, sabia? — falou todo o mole e rebolando na


minha pica bomba. Beijei a bochecha dele antes de responder.

— Sabia sim, mas com você eu me esforço um pouquinho mais. —


respondi. Nós rimos e logo depois eu saio de dentro dele, me deito de barriga
pra cima e o trago pros meus braços. Ambos perdidos em pensamentos,
curtindo apenas o momento. Faço um cafuné na cabeleira loira dele,
enquanto recebo carinhos no meu peito que tava mais peludo que antes.

— Quer conversar agora? — perguntou depois de alguns minutos


calados. Suspirei.

— Não queria conversar agora — senti ele enrijecer e apertei o


abraço em torno dele —, vamos ficar mais um tempinho nessa nossa bolha.
Mas eu só quero que você saiba uma coisa, mozão, — ele riu do mozão e eu
por tabela rio junto — agora é pra valer. Não que das outras vezes não fosse,
mas o quero dizer é que dessa vez eu vou enfrentar tudo e todos pra fiar do
seu lado. Me desculpa por ter sido tão covarde. Percebi que minha felicidade
depende de você e, posso tá sendo egoísta, eu vou lutar pela minha
felicidade...
Ele ficou alguns minutos calado, enquanto não cesso os carinhos no
couro cabeludo dele, e depois levanta a cabeça pra falar olhando nos meus
olhos.

— Isso era tudo que eu queria ter ouvido antes — olhos perto de
transbordar. — Pra sua sorte eu ainda te amo e te quero de volta.

Aí eu sorrio sem querer.

— Eu amo seus defeitos. Amo a forma com que você protege os seus
queridos. Amo quando fica com vergonha e coça atrás da nuca. Amo você
ser assim todo tonto e molecão. Te amo por completo, mano, e eu sei que só
vou ser completo se eu te tiver do lado, ou seja, também é um sentimento
egoísta, e sabe do que mais? Tô me fodendo pra isso. Só te quero hoje,
amanhã, depois de amanhã e depois e depois e depois e depois... — e eu o
calo com um beijo apaixonado e por ali ficamos, a nos perder incontáveis
vezes um no corpo do outro, matando quem estava nos matando.

“Saudades é um trocinho horrível de se sentir, mas agora, agora...


eu tenho ele aqui nos meus braços e, porra, nada nesse mundo vai tirá-lo
daqui!”
—31—

— Iago... Iagooo, acorda, porra. Jesus, que sono pesado. Vou comer
o cu dele pra ver se ele acorda.

Escutei ao longe e despertei rapidamente, hehe.


— Já acordei, ó! — levantei num pulo esfregando meus olhos, Enzo
se matando de rir do outro lado da cama. Ó os papos do mano, cê é louco?

— Bundão, bora tomar café da manhã. Já são dez horas. — ele


chegou perto e me deu um selinho. Caralho, como eu tinha sentido falta
disso. Abracei a cintura dele e me deitei de volta na cama, com ele por cima,
que apenas riu.

— Vamos ficar mais um pouquinho aqui. — beijei diversas vezes as


bochechas dele que se entregou e ficou molinho nos meus braços. Lá fora o
sol reinava, porém continuava friozinho, resquícios da noite de chuva.

— Eu não vou te deixar. — falou de forma doce e pausada e meu


coração errou uma batida.

— Não falei nada. — dei de ombros e ele sorriu, se apoiou nos


braços e me olhou nos olhos.

— Eu sei que você tá com medo de eu te largar — engoli em seco —


, e desde já eu te falo que isso não vai rolar. Eu já te abandonei uma vez; e
você fez isso comigo. Meio que estamos quites. E agora nem que você me dê
de paulada eu saio da tua vida, sacou? — aquele sorrisinho de lado, aii
(suspiro). — Mais uma coisa eu posso e vou fazer: Te deixar alguns dias de
castigo. Vai voltar? Será sob minhas condições.

Medo da cara de psicopata que fez, mas eu apenas balanço a cabeça


afirmando que aceito qualquer condição que ele impor. Porém eu precisava
falar, precisava me expressar pra não ficar nada faltando.

— Molequinho, eu tô com medo sim. Mas é disso não passar de um


sonho bom; de você só estar tirando com minha cara e me mandar vazar...
porra, eu vacilei muito feio contigo. Me perdoa, gato? — meus olhos
estavam até vazando, suor masculino. Isso aí, tava suando pelos olhos.

— Chora não, molecão — ele beija o caminho que minha lágrima fez
pela bochecha —, eu sofri muito também, mas eu entendi teus medos. Não
querendo me gabar, mas essa é uma das minhas qualidades, eu consigo me
colocar no lugar do outro e ver a coisa de outra perspectiva. A gente saiu do
armário, mas ainda tem um monte de bugiganga dentro dele que a gente
precisa limpar pra conseguir seguir em frente com isso. A aceitação dos
coroas era um ponto primordial pra você. Sei bem como tu valoriza a família
e ficou mal com aquelas reações. Mas agora eu não vou te deixar sair de
perto de mim nunca mais, nós vamos crescer juntos e mostrar pra quem quer
que seja que somos capazes de construir uma vida juntos como qualquer
outro casal por aí, seja ele hetero ou homo. Temos amor um pelo outro e isso
é o que importa.

O abracei com todo meu corpo e solucei algumas lágrimas. Na boa?


É esse o cara que eu escolhi pra ser o pai dos meus molequinhos.

— Quando eu crescer, eu quero ser igual você. — falei o fazendo


gargalhar, senti falta desses momentos também, mas chega de viadagem.
Nos levantamos, tomamos um banho gelado, porque ele ainda não tinha
colocado chuveiro elétrico, e fomos na padoca que tinha ali na rua.

A guria que vende pão o paquerou e sutilmente eu arrumei uma mexa


de cabelo dele, fazendo um carinho ali pra mostrar que ele tinha macho.
Funcionou, hahaha. Voltamos pra casa comentando e rindo, mas tomei uma
bronca dele. Tudo bem, eu aguento.

Aí comemos e ficamos de love no sofá matando a saudade mais um


pouco. Tirei uma foto nossa e mandei pra Juliana, que mandou um áudio
gritando.

Não vimos o tempo passar, quando percebi, já era noite e eu não


queria ir pra casa, nem ele queria que eu fosse, portanto, acabei de fincar
acampamento por aquele final de semana. Na segunda ele iria pro trampo
dele e eu voltaria pra casa. Também não precisava de roupas, o que temos
que fazer, fazemos pelados mesmo.

Tínhamos jantado pizza e o negócio tava esquentando de novo, aí ele


lembrou de um detalhe: camisinhas. A falta delas na verdade.

— Mano, a gente não usou capa. — ele disse ofegante. Eu já tava


com dois dedos dentro dele e ele com a mão no meu pau, a minha cara de
tonto era perceptível e eu podia ver no reflexo dos olhos dele.
— Verdade, mas foi bem gostoso assim, né? Senti cada centímetro
dentro de você me abraçando de forma possessiva. O molhadinho do teu
cuzinho e o calor gostoso que sai daqui. — cutucada na próstata dele, ficou
molinho de novo.

— Hmm. Também senti cada veia saltada tua, e quando teu pau pulsa
assim querendo mais. — o caralho deu aquela contraída marota com o agarre
dele que riu. — Mas camisinha é um item essencial na vida de um casal,
saca?

Fiz cara de dúvida. Ele continua.

— Tipo, eu sei que você é de boa, rola confiança entre a gente e eu


sei que tu é bicho limpinho — gargalhei —, mas temos que usar essa parada,
hein.

— Se você tá com receio de eu ter transado sem camisinha com


alguém, pode ficar relaxado que você foi meu último parceiro. Esse tempo
separado eu sobrevivi na bronha. E te comer sem capa é tão gostoso. Sentir
meu leite batendo lá no fundo do teu cuzinho e depois ficar socando pra
fazer espuminha, e depois meter o dedo lá dentro pra ele ficar melado e te
dar pra chupar é a melhor coisa que...

— Me fode logo, seu filho da puta. — pediu pulando em cima de


mim. Num guentou, haha, nem eu! Pau pra dentro! Quicadas e gemidos,
mordidas no bico do peito e minhas costas toda arranhadas.

Ahhh eu amo fuder!

Fodemos no sofá e terminamos de fuder na cama dele, mas eu queria


mais, queria fazer em todos os cantos daquela casa. Porém ele disse que
iríamos continuar usando a camisa de vênus, chato!

— Hey, mozão, pega mais um lençol, tá frio. — pedi. Ele levantou e


pegou no guarda roupas novo dele, abriu e estende sobre mim. Levanto a
parte da frente deixando um espaço pra ele entrar e ele deitou de frente,
conversamos com as testas coladas e quando o sono bateu, ele virou de
costas e se aconchegou em mim. Sei que ele dormiu primeiro e eu fico ali
lhe cedendo carinhos enquanto agradecia a Deus pelo cara que ele colocou
em minha vida. Dormi um sono como há dias não conseguia dormir.

Acordei com um toque de celular, que não era o meu que tava
sempre no silencioso, então só podia ser do meu molequinho. Olhei pelas
frestas da cortina e percebi que já havia amanhecido, Enzo dormia roncando
baixinho no meu ouvido...

“Pera, no meu ouvido? Pequepê! Conchinha invertida. Ui, é bom


até, esse negócio relando na bunda.” — gemi.

O toque no celular parou, mas como ele não acordou, eu também não
iria acordá-lo. Eu ia ficar ali me perdendo nas sensações que o corpo dele me
proporcionava.

Sobre tomar no cu: Já quis. E só rolava esse "querer" com ele, mas
algo me travava sempre que esquentava mais.

Sim, tomei dedada no rabo, sarrada da pica dele e umas mãozadas


que deixaram minha raba ardendo. Mas sentir aquele pau retinho e grande no
fundo do buraco é mais complicado.

Tem uma coisa que me aconteceu antigamente que não me deixava


seguir em frente com esse lances e eu sentia que pra que tudo isso evoluísse
como queríamos eu precisava superar esse fato. E como faria isso? Contando
pro Enzo.

Até aqui você já deve saber mais ou menos do que se trata.

Mas o celular despertou novamente e dessa vez ele acordou. Se


espreguiça, para, se apoia num braço e olha meu rosto — finjo dormir —, aí
ele ri e beija minha bochecha de forma carinhosa, eu quase rio, mas me
seguro. Aí ele senta na cama e quando vai levantar eu o agarro e fico por
cima dele. E o gritinho que ele soltou de medo? Coisa linda, mô Deus.

— Bom dia, galego. — falei cheirando o pescoço dele. Galego é


como uma tia minha do nordeste chamava ele.
— Bom dia, moreno. Dormiu bem? — me abraçou pelo pescoço e
me puxou pra um beijo.

— Ahan, e você? — meus beijos descem pelo pescoço, ombros,


peito... e ele suspirando.

— Ótimo. Agora me deixa levantar porque eu tenho hora pra entrar


no trampo. Vai comigo até o ponto de ônibus? — perguntou. Balancei a
cabeça que sim.

Nos levantamos e separadamente tomamos um banho, depois se


arrumou, catou uma mochila que tinha o uniforme e nós fomos pra parada
onde ele disse passar um ônibus fretado pela empresa onde agora trabalhava.
Não demora muito e ele se vai, apenas nos abraçamos de despedida e eu
fiquei ali até o busão dele sumir de vista. Hora de voltar pra casa.

Enzo me ensinou como pegar o ônibus que passava pelo meu bairro e
eu só precisei caminhar algumas quadras pra chegar no ponto, esperei por
mais ou menos meia hora e finalmente peguei a lotação... nome mais certo
que se pode dar pra um ônibus: lotação. Tinha gente até no teto! E o
motorista que acha estar dirigido um carro de corrida? Só não xinguei a mãe
dele porque ela não merecia.

O resto do trajeto eu fiz a pé. Sou pobre, uai.

“Finalmente em casa! Acho que vou ter que enfrentar a coroa.” —


pensei comigo mesmo.

Nossa relação estava desgastada, não por falta de esforço dela, que
tentava aproximação todo santo dia, era por minha causa mesmo. Acho eu
que aquela cumplicidade de mãe e filho que tínhamos morreu e nem a porra
de um desfibrilador iria fazer ressuscitar.

Achei maneiro o Pedro ter ido atrás do Enzo pra conversar, mas se eu
falar que não fiquei com ciúmes por ele não ter feito o mesmo comigo eu
vou estar mentindo. Tudo bem que o Enzo é filho dele, mas, porra, eu
também sou! Ou pelo menos me considerava assim, agora eu não sei de mais
nada.
Entrei pela porta sem fazer muito barulho e pretendia ir para o meu
quarto, mas ouvi vozes na cozinha que durante algum tempo deixaram de ser
costumeiras.

Eu sou muito sortudo, né? Pedro e mamãe querida. Quê mais eu


posso querer?

Na verdade, essa era uma oportunidade muita boa de pegar os dois


juntos e contar sobre o Enzo e eu de uma vez, sem precisar ficar repetindo.
Não iria ouvir a conversa deles, como o Enzo um dia fez, e me aborrecer,
como ele um dia ficou.

Faço barulho ao andar e quando chego à cozinha eles me olham meio


esquisito. Pedro ainda mais. Tinha um pouco de vergonha no olhar e minha
mãe aquela cara de séria, acho que vou dar de ombros. Melhor movimento
corporal.

— Bom dia. — me resumi e abro a geladeira pegando uma jarra de


um suco que eu acho ser de maracujá.

— Bom dia, Iago. — eles respondem. Tomei meu suco e estava


pronto pra sair novamente porque a bile na garganta era grande, meio
impossível falar ou ficar no mesmo ambiente que eles, mas fui interrompido.

— Senta aqui com a gente, filho. — Pedro pediu.

Porra, não gosto quando ele me chama de filho, fico todo emotivo,
por razões óbvias. Mas faço aquele esforço, limpei a garganta e me sentei à
mesa junto deles.

— Tudo bem? — ele perguntou me estudando.

— Uhun. — me limito a falar. Olhei pra minha mãe que


desinteressadamente analisava as cutículas das unhas, voltei meu olhar pro
Pedro que, ao contrário da minha mãe, não tirava os olhos de mim.

— Ér... sua mãe me falou que você foi com o Enzo esse final de
semana? — perguntou. Inflei o peito e aquela veia marota na minha testa
salta.
— Fui sim, algum problema com isso? — a melhor defesa é o
ataque. Ele suspirou e meio que revirou os olhos.

— Pode desarmar, e fala direito comigo porque eu sou teu pai!

Eita, reivindicou o direito. Senta lá, Cláudia! Quase rio, mas, né, me
seguro.

— Não tem agido como um há muito tempo. — soltei da forma mais


contida possível, aí vejo ele ficar com vergonha e abaixar a cabeça. Depois
suspira e pega minha mão por cima da mesa. Tava tremendo.

— Me desculpa, Iago? — pediu. Nossa, eu não posso ver pessoas


emocionadas que eu também me emociono. Facilita, homem!

— Pelo quê? — perguntei abaixando o olhar. Se não vai facilitar, eu


também não vou.

— Por tudo! Por não ter aceitado vocês, por não ter te procurado
depois pra pedir desculpas, por não ter agido feito pai.

Para, porra, tô vazando de novo.

— Posso dizer que fiquei muito magoado com aquela reação de


vocês dois, mas te digo que o que mais me magoou foi você não ter me
procurado depois. Até minha mãe tentou. Eu fiquei sentindo que eu não
passava de um moleque que você um dia conheceu.

Tá, vou despejar tudo, como quando eu tinha 10 anos e me sentia


carente, aguente se puder.

Aí ele levantou e arrodeou a mesa pra chegar perto de mim e me


levantar pra um abraço. E a criança chorando? Desse tamanho. Nossa, que
vergonha.

— Não se sinta assim. Me perdoa, filho. Eu te amo tanto quanto amo


o Enzo, você é o meu moleque que eu ensinei a andar de bicicleta e se
segurou pra não chorar pro seu irmão não ficar com medo, mesmo sendo
menor. Foi comigo que você tirou as primeiras dúvidas a respeito do seu
corpo. Sua mãe e eu te ensinamos juntos que se deve respeito com os mais
velhos acima de tudo, e isso não tem preço. Saber que fizemos certo, que
acertamos na sua criação e na do Enzo. É só olhar pra vocês pra ver que são
homens de bem e têm o direito de decidir como levar a vida a partir daqui.
Amo você e seu irmão como são e tô torcendo pra felicidade de vocês.

Desidratei. Molhei a camisa dele e fiquei ali no abraço por vários


minutos, soluçando, até a Ju entrar na cozinha toda descabelada e perguntar
se tinha pão, alheia a tudo que tava acontecendo, haha.

Rimos e mais uma vez ele pediu perdão por não ter agido como pai,
me dando um beijo na cabeça. Minha mãe tava limpando as lágrimas, eu
esperava que um dia ela também percebesse que o melhor pra eu e o Enzo
era ficarmos juntos.

Voltamos a nos sentar e eu contei pra eles que Enzo e eu tínhamos


feito às pazes. Pedro realmente ficou feliz, minha mãe tinha no rosto uma
máscara de conformada, mas eu percebi que ela também ficou contente.

— Bom dia, irmão. — Juliana depois de comer dois pães com


mortadela. Eu ri disso.

— Bom dia, gata.

Depois ela perguntou do Enzo e eu respondi com um sorriso no


rosto. É, as coisas estavam entrando no eixo novamente e eu tava muito
contente por isso.

— E vocês? Voltaram mesmo? — Ju perguntou tomando


achocolatado de encher as bochechas. Olhei de relance pra minha mãe e seu
Pedro que me olhavam atentamente e balancei a cabeça afirmando. Não iria
atacar agora.

— Demorou! Idiotice terminar o que vocês construíram pra ter só por


causa de intriga da oposição. — falou revirando os olhos. Minha mãe e seu
Pedro olhando mortalmente pra Juliana, que desinteressadamente tira a casca
do terceiro pão. E ela continua.
— Tipo, quem tá na tua pele é você, quem dá o cu é você. — Dei de
ombros. — Se te faz feliz namorar com outro menino, meu amor, vai fundo!
Agora o que eu nunca vou fazer é impor alguma coisa pra um filho meu, não
que um dia eu vá ter um catarrentinho, mas se o moleque quiser usar
maquiagem quando tiver 5 anos, eu dou as minhas pra ele e compro outra
pra mim.

Todo mundo calado olhando pra ela que nem liga pra situação.
Minha mãe vermelha de vergonha, assim como Pedro e eu me segurando pra
não rir e dar margens pra mais brigas, mas posso falar? Amo essa menina.
Ponto.

Eu limpando a garganta: — É... vou passear com o Léo, aproveitar o


que tá meio frio, hehe. — levantei da mesa sem olhar pros lados e fui pro
quintal, onde meu amigo me recebe balançando o rabo. Enzo também é meu
amigo e me recebe balançando o rabo, own.

— Bora passear, parceiro? — brinquei com ele e fazendo carinho.


Ganhei lambidas na cara e depois peguei a corrente prendendo na coleira
dele. Passei pela cozinha onde Ju conversa com meus pais sobre algo da
escola, dei um tchalzinho e fui pra rua com o dog.

Na rua cumprimentei algumas pessoas que me cumprimentavam,


outras nem me olhavam na cara, motivos de eu estar fora do armário.
Caguei! Falando em cagar, Léo escolhe fazer as necessidades na frente da
casa da dona Boca Maldita... lógico que eu deixei, haha. Aí fui pra pracinha
e lá soltei o cachorro que parecia doido, fiquei de olho achando graça.

Percebo Rodolfo vir ao longe, o Léo corre até ele e ganha carinho,
depois sai correndo de novo e o carinha vem chegando perto. Ele estende a
mão e a gente toca nos cumprimentando, aí ele senta no banco perto de mim
e puxa assunto.

— Mal te vi esses dias. Por causa da chuva tu ficou em casa? — ele


perguntou rindo.

— Nada. Ficou sabendo não das conversas na vizinhança? — ele fez


cara de dúvida e eu ri.
— Dos filhos da Luciana e do Pedro serem viados e estarem se
pegando no meio da rua. — ele me olhou espantado e eu dei de ombros.

— Caraca, maluco. E tu fala assim nessa tranquilidade? Como ficou


lá na tua casa? — perguntou. Gosto dessa preocupação sem julgamentos.

— Ahh, tão se resolvendo agora, era de se esperar o terremoto, né?


Mas os coroas parecem estar se situando e aceitando, na medida do possível.
Tô ligado que é uma estrada longa até chegar lá.

— Pode crer. Minha mãe sofreu um bocado quando falei pra ela que
era gay, mas o maior medo dela era eu sofrer preconceito na rua. Tá ligado
que esse é o terror dos pais de homossexuais, né? Não tô falando de todos já
que alguns não tem nem coração e saem expulsando os filhos de casa, tô
falando desses que têm amor de verdade. O bom é que o amor sempre
prevalece. Que legal que os pais de vocês tão aceitando, isso é muito
importante pra gente, né?

Concordei com ele e ficamos ali batendo um papo até o tempo fechar
e ameaçar chover de novo. Com um assobio eu chamei o dog e com ele
preso na coleira caminhei com o Rodolfo até nossa rua. Nos despedimos e eu
fui pra casa, soltei o Léo que foi tomar água e fui pro meu quarto dar aquela
estudada de todos os dias porque as provas de recuperação tavam bem em
cima de mim.

O legal é que agora eu tinha uma puta motivação, e vendo o Enzo se


dando bem no trampo e na vida me faz querer ser melhor. Ser melhor pra ele
futuramente.
—32—

Como o curso de Recursos Humanos é rápido, o ideal é que já no


primeiro período o aluno comece um estágio. Logicamente eu fiz um estágio
no primeiro período. Não falei? Tanto faz, porque não durou muito tempo,
só acrescentou no meu currículo, porque criar experiência em diversas áreas
de RH pode ser enriquecedor para mim, além de colaborar para a definição
de que rumo eu posso tomar na minha carreira. Mas eu precisava de outro
estágio, ou um emprego.

Após eu estagiar eu posso pensar em ser analista, mas tenho que


estudar mais, estagiar mais... teria que ver as várias opções de pós, que dura
de um à quatro anos, dependendo da área... bom, tenho que querer, não é? E
estou começando a pensar nisso agora, posso investir em graduação
tradicional em uma das áreas disponíveis, mas isso depende do meu projeto
de carreira, que, todo mundo sabe, eu não sei pra onde vai, hehe.

Meu TCC tava paradão, mas com a recuperação das matérias que fiz
— e me saí bem — eu poderia retomar o meu trabalho de conclusão de
curso, e eu tava fazendo isso enlouquecidamente.

Nas últimas semanas eu tava indo à faculdade só pra poder analisar e


estudar meu trabalho com professor que ficou responsável por me ajudar,
faltava apenas os últimos retoques e correções, que o professor me mostrou.
Eu só precisava ver com a banca pra saber que dia eu poderia defendê-lo.

Ansiedade me definia.

O professor inclusive me elogiou e eu fiquei todo bestão, lógico, né?

— Caraca, tô surpreso, mas muito feliz. Ainda vai rolar aquela


indicação? — perguntei com cara de dog que caiu da mudança, ele riu.

— Vai sim, já até marquei pra você não ter como fugir. Emprego aqui
é quase certo, você só precisa arrasar na sua apresentação. O dono dessa
empresa é um grande amigo meu e eu vi seu esforço em se sair bem nessa
reta final, quero o melhor pra você.

— Poxa, professor. Nem sei como agradecer.

“Quer um quete?” Quase perguntei pra ele.

— Me agradeça se dando bem na vida e não esquecendo os seus. —


ele disse divertido e eu de um abraço no coroa que foi de grande ajuda pra
mim. Me despedi dele e peguei o endereço de onde iria fazer entrevista e
emprego. Me cagando de medo, mas feliz pra porra.

Parece que tudo iria dar certo agora, mas nem tenho como ter certeza,
só aguardando os episódios da próxima temporada, haha. Como se isso fosse
uma série.

— Como foi? — Murilão perguntou quando cheguei no RU que tava


vazio de fazer eco, em outros tempos estaria aquela barulheira, mas só os
burros ficaram. Que o diga o Murilo, quase 100 quilos de músculos e quase
nada de cérebro. Tadinho, era inteligente, pelo menos pra pegar meninas.

— Graças à Deus. O professor me deu as últimas orientações e agora


é me concentrar em me sair bem em defender bem meu TCC. — passei
minhas anotações pra ele, que olha atento balançando a cabeça.

— Agora tá mais simples pra você. Já tem alguma empresa em vista


pra te contratar? — ele me devolve as anotações.

— Tem sim, tô com uma entrevista marcada, inclusive. O professor


Marciel tá me ajudando bastante. — roubei um salgadinho do pacote dele.
Que delícia, ele não liga que roubem a comida dele. Gosto muito.

— Eu só tenho que defender o meu TCC, também. A Paulinha me


ajudou bastante. — ele sorri e vejo um brilho nos olhos dele.

— Paulinha é aquela menina que você fazia bullying quando iniciou


teu curso de Educação Física? — perguntei vendo o monstrão ficar vermelho
e baixar a cabeça.

— Pow, não lembra disso, fico morto de vergonha. — respondeu.


Dou de ombros e pego mais salgadinho.

— Eu também ficaria. Mas diz aí, tá afim dela? — perguntei


cochichando em tom de segredo. Ele ficou mais vermelho e desviou o olhar,
eu ri.

— Hmm, talvez eu esteja. — ele dá de ombros.


— Então, meu caro, faça por merecer a menina, não é agindo feito
um idiota que tu vai conquistar ela. Eu sempre achei ela lindinha, não
entendia a zoação de vocês com ela.

— Ah mano, eu pegava a Tamires, lembra? E ela tinha aquela coisa


de rebaixar os outros pra se sentir melhor. Sabe como é mano apaixonado, só
pensa com a cabeça de baixo. Aí fazia de tudo pra comer a Tamires.

— Escravoceta nome disso. Ela é aquela mesma que pegou teu


primo na tua frente? — eu piso mesmo, hahaha.

— Tu não facilita, Iago, te sentar o pau, filho da puta! — ficou


constrangido e eu me matando de rir.

— Pau pra mim só presta o do Enzo. Se liga, mané.

Rimos e conversamos mais uma caralhada de coisas e logo depois eu


me despeço dele, não sem antes marcar aquela peladinha de final de tarde.
Os manos não vão deixar esse costume morrer, mesmo cada um sendo de um
curso, mesmo a facul acabando.

Fui pro ponto de ônibus e fiquei ali esperando o busu e conversando


com quem chega no ponto. O vento bate e junto com ele vem o cheiro de um
perfume adocicado, olho em direção e quem eu vejo? Rodriguinho, todo
pintoso. Ele me nota e de forma bem espalhafatosa vem pra perto, nos
cumprimentamos com dois beijinhos. Sim, ele me acostumou com esse
gesto, e na primeira vez que o fez eu quase morri de vergonha.

— Vindo da faculdade, gato? — perguntou tirando uma sujeirinha da


camisa que tinha um japonês loiro na frente como estampa.

— Isso mesmo, e você?

— Eu tô indo lá no centro resolver alguns papéis pra minha mãe.


Affs, ela deixa tudo na minha mão, os embuste dos meus irmãos tão nem aí.
Você tem irmãos? Pior escoria do universo. — ele joga os cabelos pra trás e
eu rio.
— Tenho sim, dois. Uma mina e um mano. — não iria dar a
informação de que o mano é meu namorado, já imaginou? Seria como
assinar atestado de incesto, mesmo a gente não tendo nenhum vínculo
sanguíneo.

— E você parece gostar deles, grazadeus. E o teu boy, gato, tão


juntos ainda? — perguntou com um sorriso nos lábios e o meu sorriso se
abre instantaneamente, falar do Enzo me deixa assim, todo bobo.

— Mais fortes que nunca. Passamos por uma barra aí, mas tá tudo
bem agora, espero que continue assim.

— Você fala dele com um brilho no olhar, ain. Que lindos. — ele
bate os cílios que tenho certeza ele passou aquele troço pra alongar.

— Amo meu molequinho, haha.

— Nossa, essa nova raça de bee's que se tratam como héteros. Sai de
retro. — ele faz o sinal da cruz umas três vezes e algumas pessoas do ponto
riem, todos ali curtem essa figura. O ônibus dele passou primeiro e ele sai
rebolando enquanto dá tchauzinho pra geral. Logo depois é o meu e vou
direitinho pra casa tirar um ronco.

— ALGUNS DIAS DEPOIS —

— Tô bonito? — perguntei chegando na sala. Todo arrumado e


penteadinho. Era o dia de defender meu TCC e pra variar eu tava mega
pilhado. É possível a família da pessoa que irá defender o TCC assistir a essa
apresentação, sendo assim, aquilo virou um acontecimento, minha mãe, seu
Pedro, a Ju e, claro, Enzo iriam me ver passar por essa, só não sabia se a
presença deles me deixaria calmo ou mais nervoso do que eu já tava.
— Tá muito gato. Podemos ir? Quero ver tu vomitando na frente de
todo mundo lá. — Juliana, como sempre, me fazendo ficar calminho. Eu
teria amassado os cabelos dela se o Enzo não tivesse me segurado e se o
Pedro não a tivesse escondido atrás dele.

— Calma, mano, ela tá brincando só. Relaxa. — Enzo segura meu


rosto com as duas mãos e olhando nos olhos dele eu sinto meus batimentos
cardíacos desacelerarem, ele ri e me dá um selinho bem casto. Olho pro
pessoal na sala e eles tão atentos a nós dois, aí meu rosto queima, Juliana faz
coração com as mãos e eu rio encabulado.

— Para de irritar seu irmão, se não você fica em casa sozinha, e


vamos logo que eu também tô ansiosa. — minha mãe sai na frente indo em
direção ao carro do Pedro e nós nos olhamos cada um se perguntando o que
a coroa pensou. Pelo menos ela não deu nenhum ataque e nos últimos dias
eu tenho permitido a aproximação dela, lenta e gradativamente. Também
respeitamos ela e o Pedro ao máximo, nos contemos muito na frente deles e
isso ajuda a manter a harmonia familiar. Enzo e eu estávamos felizes e eu
percebo que eles também estavam.

Eu sabia que tinha todo um processo, e pra ver minha família unida e
em paz novamente eu me controlava pra que isso acontecesse.

Ju e Pedro saem logo depois, o que nos dá algum tempo sozinhos.

— Boa sorte, mozão. Eu sei que tu vai se sair bem, quebra essa
banca! — ele me abraça e me beija, eu rio.

— Isso não é um cassino, doido. — escondo meu rosto no pescoço


dele e respiro profundo pra sentir aquele cheirinho gostoso do meu boy.

— Que seja, arrebenta do mesmo jeito. Bora. — ele chama. Nos


beijamos uma última vez e ele me arrasta pra fora, eu vou no carona e ele vai
atrás com as meninas.

Chegamos relativamente rápido à faculdade e eu desço do veículo


todo hesitante e trêmulo, Enzo me acalma com palavras e lá vou eu
arrebentar essa banca.
— Parabéns, mano! Tu foi foda! — eu não sabia, mas alguns dos
meus amigos mais próximos estariam ali assistindo a minha apresentação,
isso sim foi constrangedor, os professores na banca fizeram cara feia
inclusive, e eu lá, todo mongol tentando me concentrar, mas depois que as
palavras começaram a sair da minha boca, o negócio fluiu e verdadeiramente
eu me saí bem em minha apresentação de trabalho de conclusão de curso.

Agora Iago Pessôa Falcão era um cara dos Recursos Humanos...


Aonde ele trabalharia? Sei disso ainda não, bora ver mais pra frente, haha.

— A gente precisa comemorar. — Lipe falou animado, os outros


concordaram.

— Podemos ir numa pizzaria e depois a gente vê. — Enzo opinou e


todos nós concordamos, todos me deram os parabéns e por último foi a dona
Luciana, ela tava emocionada, me abraçou e me marcou na bochecha de
batom.

— Tô muito orgulhosa de você, viu? Por essa conquista e por você


ter se tornado o homem que é hoje. Sei que já falei isso milhares de vezes,
mas me perdoe. Me perdoe por minha ignorância e por pensar mais no que
os outros vão pensar do que na sua integridade e bem estar. Eu te amo muito
e eu tô extremamente orgulhosa de você. Parabéns filhote.

Chorando estava, não é?

Abracei ela apertado e senti que ali estávamos começando a escrever


o novo capítulo no nosso livro, mãe e filho. Eu tava muito feliz mesmo.

— Vamo gente, quero pizza de calabresa com coca gelada. Será que
lá eles vendem aquela que tem borda de coxinha? Seria meu sonho? —
Juliana nos chamou e nós finalmente a seguimos, rindo das loucuras dela.

A pizzaria que escolhemos não era muito longe dali e rapidamente


chegamos. Comemos, bebemos, conversamos e nos divertimos até certa
hora, aí resolvemos esticar em uma boate qualquer e os nossos pais foram
embora levando Juliana, porque ela achava que balada era coisa de gente
bitolada e sem ter nada pra fazer. Eu agradeci porque não queria ficar de
olho na minha irmã a noite toda, com os marmanjos cercando ela e tals...
Eca.

— TOCA DEMI!! — Sofia gritou arrancando gargalhadas da galera


e Demetria Lovato começou a cantar "Sorry, Not Sorry". A galera se jogou
na pista, fazia tempo que não nos divertíamos assim, alguns ficaram pileque
rapidinho, enquanto eu me controlava junto ao Enzo.

— Vou ali no banheiro, bora? —Enzo perguntou no meu ouvido. Fiz


que não com a cabeça e ele acenou com a dele, saindo logo em seguida.
Fiquei curtindo com os caras e as garotas e quando menos espero um mano
chega junto, oh vida.

— Tá sozinho, mano? — perguntou. Era bonito? Até que sim, mas


podia ser o Chris Evans que eu não ia dar moral... Mentira! Que me desculpe
Enzo, mas naquele ali eu ia sem pestanejar, e tenho certeza que Enzo iria
entender e querer participar, haha. Não me julguem.

— Tô sozinho não brother, meu namorado tá por aí. — falei pra ele e
tomei um gole da minha cerveja.

— E ele te deixa solto pela pista? — perguntou me fazendo revirar os


olhos e quando ia responder, Enzo chegou por trás e eu abri um sorriso,
passei pelo garoto e abracei a cintura do meu moleque o beijando em
seguida. Ele foi pego de surpresa, mas se entregou sem nem contestar,
ouvimos gritos e assovios em volta e quando nos desgrudamos rindo o
garoto que tava me paquerando já havia sumido. Pelo menos não era sem
noção.

No geral a noite foi muito bacana, mas certa hora tínhamos que ir
embora né.

Pedimos um Uber, nos despedimos da galera e ficamos em frente a


boate esperando Honda Civic que viria nos pegar, chegou bem rápido.
Demos o endereço do Enzo e em menos de meia hora já tínhamos chegado
lá. Eu paguei o motorista que era bem bacana e tinha um papo legal (merecia
5 estrelas) e Enzo abriu a porta pra entrarmos, fomos espalhando roupa pela
casa até chegarmos ao banheiro, onde a gente se pegou gostoso.

Mas como sabemos nem tudo são flores, nem tudo é mar de rosas.
Não, não brigamos nem nos separamos de novo, hehe, a questão era agora o
meu trauma.

Todos os ciclos nas nossas vidas estavam se fechando e eu sentia que


agora era a hora contar pra ele, pra eu poder expurgar isso da minha vida de
uma vez por todas. Mas estávamos um bagaço da noite então assim que
deitamos na cama adormecemos, ficaria pro dia seguinte, e não ia passar.

Eu acordei primeiro, com um pé gelado na minha coxa. O filho da


puta gela o pé e vem esquentar em mim, toma no cu! Já mencionei que era
um docinho quando acordo? Pois então... Só não xinguei ele porque tava
dormindo muito gostoso, mas levantei, catei outro lençol do guarda roupas
dele e fui pra sala ver desenhos. Sim, ainda vejo desenhos, haha, mesmo que
os canais de desenhos não passe mais os clássicos e só aqueles que têm a
mesma cara em todos os personagens.

Os que se salvam, na minha opinião, eram Steve Universo, Hora de


Aventura, Ursos Sem Curso — me identifico — e Clarêncio, O Otimista.
Tinha outros muito bons, mas o resto? Lixo televisivo.

Enquanto assistia inventava diálogos na cabeça e uma forma de


abordar o assunto que eu queria tratar com meu namorado, todos ficaram
uma merda como todo mundo deve imaginar, então eu resolvi ir no susto,
pá, puf, chega e conta. Comigo também não tem essa de rodeios e enrolação,
eu vou direto ao ponto... na maioria das vezes pelo menos, hehe.

— Acordou cedo? — mini-infarto com a voz do Enzo atrás de mim,


mas disfarço bem. Todo enrolado no cobertor e com o cabelo assanhado e a
cara inchada ele senta em cima de mim e se aconchega, beijo a bochecha
dele e o aparto nos meus braços.

— Você me acordou com esse pé gelado. — resmungo e ele ri.


Ficamos ali vendo os desenhos e rindo de alguma bobagem que o
personagem em questão faz. Mas chegou a hora.
— Hum, queria te contar umas paradas. — falo. Ele se ajeita e me
olha nos olhos, sem falar nada, o que é sinal pra eu continuar.

— Não é nada conosco não. É comigo. Eu sinto que tenho que te


contar, pra gente poder seguir juntos e firme, só escuta beleza?

Ele afirma com a cabeça e cata o controle desligando a TV da sala


dele, que agora, assim como todo o resto da casa, parece estar mais cheia de
móveis que aos poucos ele vai adquirindo, alguns até compramos juntos...

Eu suspiro alto antes de falar e encosto minha cabeça no encosto do


sofá pra não olhar pra ele enquanto falo.

— Eu fui abusado quando criança.

Silêncio. Tudo que consigo ouvir é o som do meu coração e da


respiração alta do Enzo.

— O quê, como assim? Cê tá me zoando? — ele sai do meu colo e


senta de frente pra mim, me permito olhar nos olhos dele e vejo
preocupação, eu nego com a cabeça e continuo a falar.

— Por volta dos nove anos. Lembra quando uma irmã da mãe veio
passar uns dias lá na nossa casa? E ela veio com o marido? — enfatizo o
marido pra ele perceber quem foi o ser. Ele pensa um pouco depois me olha
assustado, aí ele me puxa pra um abraço e eu vou sem resistir.

— Ele... ele, conseguiu...? — perguntou receoso, ao que eu nego com


a cabeça.

— Quase, mas eu consegui escapar e nos outros dias me mantive


bem longe, acho que até dormi na sua casa. — falo um tanto ofegante. Ele
concorda lembrando que a gente dormiu de madrugada nesses dias porque
eu insisti em ficar acordado até tarde... era medo de dormir e o nojento lá, vir
atrás de mim.

— E você passou todos esses anos sem falar com ninguém, mano?
Como aguentou? — perguntou suave alisando meus cabelos, senti tristeza na
voz dele, esfreguei meus olhos que queriam vazar.
— Não sei, cara. Vergonha. Medo de alguém não acreditar em mim.
Medo de ele tentar de novo...

— Mas passou, passou e agora tu sabe que pode dividir todos os teus
segredos comigo. Sou teu brother, teu namorado, teu homem, eu sempre vou
estar do teu lado, não tenha medo de se abrir comigo, porque eu não vou ter
medo de me abrir com você. Te amo, molecão. — ele se inclina e nós damos
um beijo estilo homem aranha. Só ele sabe como me acalmar e me deixar
nas nuvens, eu sinto meu peito bem mais leve depois de contar essas paradas
e sinto também que agora eu posso me entregar sem medos e ressalvas.
—33—

Como é pra você ouvir da boca de alguém muito querido algo que o
fere desde muito tempo? Acho que muitas pessoas não sabem responder,
mas te digo, a sensação é horrível, de todas as formas. Você se sente incapaz,
de mãos atadas, você acha que de algum modo poderia ter evitado aquilo,
mas porra, como eu poderia evitar se eu era tão criança quanto ele?
Irracional eu sei, mas foi como me senti quando Iago me contou que foi
molestado quando criança.

Eu queria de algum modo tirar esses sentimentos dele.

Caralho, eu não consigo nem imaginar sem sentir asco que um


homem como aquele tentou fazer alguma coisa com o meu mano. É nojento.

Mas eu sabia também que não poderia ficar me atendo a esse fato,
embora Iago sofresse consequências desse abuso (como não se permitir
sentir tudo... saca?) ele não ficava se lamentando e se culpando por algo que
ele definitivamente não tinha culpa, então, euzinho aqui, não iria ficar
tocando no assunto que eu sei que deixa ele mal.

Num futuro bem próximo a gente podia pagar um terapeuta pra ele,
ou algo do tipo, pra ele poder expurgar e superar tudo, de fato.

Também o que passou, passou, e não poderíamos fazer nada. Só se a


tia dele, que hoje não sei nem onde vive, ainda fosse casada com aquele
homem que, graças a Deus, eu não lembro nem as feições.

O que eu poderia fazer agora era tentar ajudar o meu molecão a


superar os medos dele.

Não é só sobre dar o cu pra mim. Isso é bem irrelevante, na verdade.


É sobre entrega, sobre confiança, e eu sei que mesmo ele não me cedendo,
ele confia cegamente em mim. Eu sabia disso agora mais do que nunca, visto
que isso que aconteceu com ele nunca foi revelado a ninguém.

Eu ajudaria Iago a superar qualquer obstáculo que surgisse, e fazendo


isso eu estaria me ajudando, afinal, agora éramos um. Eu já encarava esse
fato como uma realidade. Enfim.

Os dias se passaram, Iago fez a tal entrevista lá e na outra semana já


tinha começado a trabalhar. A gente até começava a planejar a morar juntos,
visto que o trampo dele era mais perto da minha casa do que da dele lá no
outro bairro.
É, eu acho que a gente tava crescendo. Mas eu já falei isso e não
quero me tornar repetitivo.

Falando em confiança, fizemos o tal teste de HIV. Ambos limpos,


partiu trepar sem camisinha, haha, mas nem era requisito, de qualquer jeito a
gente pegava fogo, as vezes ficava só na punheta mútua, nos boquetes e tals.

Sempre funcionamos bem juntos, antes apenas como amigos/irmãos,


hoje como companheiros. É, acho que já posso dar esse adjetivo pra ele.
Meu companheiro. Em pensar que isso tudo começou com a tal da
brotheragem.

Salve os manos da república!

— Enzo, tu viu onde tá aquela camisa preta da CK que eu ganhei do


Lucas? — Iago aparece na cozinha só de bermuda azul marinho, daquelas de
jogar bola, e o pau molão balançando livre ali. Salivei.

— Tá junto das minhas camisas. Cê deixou aí outro dia e eu lavei


tudo junto, procura lá depois. Pra quê cê quer ela agora? — questiono
voltando a mexer o brigadeiro na panela que começava a soltar do fundo.

Era noite, fazia calor, ambos tínhamos chegado dos nossos empregos
há algumas horas e agora íamos comer umas besteiras vendo alguma série na
TV. Assim como Iago, eu tava em roupas bem mínimas, só de cueca boxer
preta, e avental pra não queimar minha barriga.

Senti ele se aproximar e abraçar minha cintura, fazendo meus


músculos ali se retesarem. Sobre minha barriga: Os gominhos que eu antes
ostentava, tavam começando a sumir, a falta de exercício tava realmente me
fazendo falta e eu não queria descuidar do meu corpo, mas Iago disse que eu
tava bem gostosinho assim. Sei não, tenho pra mim que o amor é um bicho
cego.

— Só procurando mesmo. Não tinha certeza se tinha deixado aqui ou


lá em casa. Acabou de fazer isso aí, não? A pipoca já tá pronta. — ele me
deu uma encoxada daquelas.
— Pensei que era a pipoca, e não a piroca. — ri e me remexi contra
ele. Desliguei o fogo. Ele riu e beijou meu pescoço.

— A piroca tá sempre pronta. — me virei e nos beijamos daquele


jeitinho que só a gente gosta, hehe.

— Tu já escolheu a série? — perguntei dando beijos pelo ombro dele


enquanto ele me balançava pra lá e pra cá, haha.

— American Gods. Mas nem me importo muito, se a gente ficar se


pegando não vamo nem ver a história. — ele disse me fazendo rir e
concordar. Depois saí do abraço dele e peguei colheres na gaveta.

— Se mexe aí, pega os copos e o refri na geladeira. — ele bufou e foi


pegar as coisas enquanto eu levava o resto pra sala, onde a gente já tinha
colocado o colchão e um monte de travesseiros pra ver a série
confortavelmente.

— Li a sinopse, achei top. — falou vindo com dois copos e um litro


do refrigerante. Reviro os olhos porque das gírias hetero que ele usa, essa é a
pior. Mas não se pode mudar tudo né, paciência.

— Vem logo. — bati no colchão do meu lado e ele se sentou me


dando um beijo na bochecha.

Sabe, quando eu via em filmes ou até mesmo em público essas


demonstrações de carinhos de outros casais eu ficava muito enjoado, haha.
Pensava: Que pessoal meloso, Deus me livre de uma coisa dessas. Mas cá
estou eu, de chamego com um mano. Bem verdade aquele ditado que fala
"nunca diga nunca", e "dessa água não beberei" e aquele outro sobre não
cuspir pra cima, haha.

— Pensando em quê? — pergunta com as bochechas estufadas de


pipoca.

— Na gente, em como é massa ficar assim com você e em como eu


pensava que nunca iria querer essas coisas com ninguém. Ninguém. — eu
friso, aí ele engole o que tem na boca e passa o braço por cima do meu
ombro me puxando pra dar um selinho salgado da pipoca que ele tá
comendo.

— Também não pensava nessas coisas, no entanto, tô aqui curtindo


cada segundo. Te amo, sabia? — ele diz mansinho e meu peito aquece.
Balanço a cabeça e dou outro beijo nele.

— Sabia. Também te amo, cabeção. — então finalmente a gente


resolve prestar atenção na série que, ó, é bacanuda.

Aí o sono bate, mas amanhã é feriado nacional, então sem aquela


neura de despertador pra acordar. Tomo meu banho primeiro porque Iago
ficou arrumando o quarto pra gente dormir. Quando eu saio ele entra e eu
fico ali deitado esperando ele pra gente poder dormir agarrados, mas ele
demora, o que me faz ferrar no sono.

Não sei quantos minutos — ou horas — depois ele saiu, só sei que
acordei com ele na minha frente balançando meu ombro e chamando meu
nome baixinho.

— Dormi! Que demora da porra, tava fazendo a chuca? — pergunto


rindo e me espreguiçando, mas logo fico sério quando percebo ele não me
acompanhar na risada, além de fazer aquela cara de vergonha, e coçar a
nuca.

— Eu tava. — ele dá de ombros e o vermelhão se espalha pelos


ombros e orelhas, eu me sento na cama um pouco chocado e pergunto o
porquê.

Ele revirando os olhos: — Quando cê faz a chuca, não é pra dar o cu?
Então, porra. Quero tentar hoje. Tu sempre me deda e fica relando o pau no
meu rabo. Bora tentar pra valer hoje. — disse ansioso. Meu pau deu aquela
contraída ansioso e eu engulo em seco.

— Tem certeza, mano?

— Enzo, eu não fiz essa parada tão chata e escrota atoa, se você não
comer meu rabo eu saio e compro uma piroca daquelas de plástico. — pelo
tom da ameaça, seria melhor ceder. E ele nem precisava ir tão longe, eu
guardo um consolo em uma das minhas gavetas, hehe.

— Beleza, mas sem forçar nada. A gente vai fazendo até tu se sentir
confortável o bastante. — aliso o rosto dele e ele consente, sentando no meu
colo de frente pra mim. Nos beijamos primeiro de levinho, sentindo o gosto
tão característico da boca um do outro, mas esses beijos calmos logo perdem
o compasso e aquilo vira "engolição de boca alheia". Tenho que falar: adoro.

O que me deixa muito feliz também é a forma que o pau dele espeta
minha barriga, com a cabeça molhada saindo pela parte de cima da cueca, e
o jeito que ele rebola no meu cacete que tá querendo se enfiar pela cueca
dele.

— Tu é muito gostoso, mano! — digo quando nos separamos do


beijo e eu lambo a pele do pescoço e o peitoral peludinho dele, os mamilos
durinhos pedem uma mamada/mordida e eu não me privo disso.

— ahhh... Isso... Porra, isso é bom. Vai me comer, filho da puta? —


ele puxa meus cabelos pra trás me fazendo largar o mamilo dele com um
barulho alto de sucção e eu olho pra carinha de tarado dele. Esse cara ainda
vai me matar de tesão.

Me inclino sobre ele, o fazendo cair de costas no colchão e fico entre


as pernas dele, na famosa posição de frango assado. Beijo mais aquela
boquinha que é só minha e enquanto tiro a cueca dele, falo:

— Vou te comer tão gostoso que tu vai querer todo dia. — ele ri e
nega com a cabeça, cheiro a cueca dele o olhando nos olhos.

— Não vou, não. Eu sei que é bom, mas todo dia deve doer que só a
porra. — nós rimos.

— Tu se acostuma. — eu abaixo engolindo aquele pau que tá todo


melado de baba de pica, ele geme grosso e eu me masturbo enquanto dou
prazer pro meu molecão.

— Melhor chupada que eu ganhei, cê é muito bom, mano.


E o que umas palavras de incentivo não fazem, né? Engulo mais
ainda depois de ele me elogiar, haha.

— Se eu gozar só num boquete tu não vai meter em mim nem cá


porra. — ele ameaça e eu rio largando o pau dele.

— Relaxa, vou te preparar. Tá ligado, né? — pergunto beijando a


parte interna da coxa dele. Eu amo os pelos que ele tem no corpo. Ele treme
embaixo de mim e eu sei que é de excitação.

— Faz. — ele pede baixinho.

Levanto as duas pernas dele o deixando exposto só pro meu prazer.


Caralho, essa bunda máscula e durinha, peludinha com esse cuzinho assim
todo contraído de medo me dá um tesão da porra. Dou nem tempo dele
pensar, só meto a língua e no mesmo instante ele geme alto segurando minha
cabeça. Endureço a ponta da língua e tento entrar máximo que posso,
enquanto isso lhe bato uma punheta lenta o fazendo relaxar, o que funciona.

Me ajoelho e passo a cabeça do meu pau na entrada melada de saliva


do Iago, ele geme com o carinho mais íntimo e me olha curioso.

— Te passando baba de pica pra escorregar mais gostoso. — falo


dando umas bombadinhas. Ele ri e se punheta olhando pra baixo, pra poder
ver minha pica relar no buraquinho dele.

— Tu é muito safado. — ele fala enquanto aperta os próprios


mamilos e isso me faz abaixar pra dar uma mordidinha ali.

— Eu que sou, né? Maior putão que você respeita. Você! — nós
rimos, aí eu volto pra pica dele e enquanto chupo só a cabeça meto um dedo
salivado, logo depois dois, e ele gemendo todo entregue. Relo na próstata
dele que tá bem saliente e ele contrai os dedos dos pés, tá quase pronto pra
tomar pica, só mais algumas linguadas.

— Enzo, e se doer? — ele pergunta receoso e isso é tudo que não


pode acontecer, hesitação, medo, assim ele vai brochar no processo e não vai
ser bom nem pra ele nem pra mim, por isso, eu deito sobre ele e o beijo até
ele relaxar de novo.
— Se doer a gente para, não precisa fazer tudo hoje, temos muito
tempo pela frente. Te amo, molecão.

Ele acena e dá um sorriso gostoso, pega na minha bunda e aperta,


relamos os paus um no outro enquanto nos beijamos e depois de um tempo,
marotamente, eu deixo meu pau escorregar pra baixo, bem no meio da bunda
dele. Aquele calorzinho gostoso que vem dali, nossa, tô muito tarado nesse
cu.

— Pega lubrificante aí. — ele pede gemendo, e eu tô ocupado


sarrando a bunda dele e chupando o lóbulo da orelha pequena que ele tem.

Não falo nada, apenas afirmo com a cabeça, dou um selinho nele e
me levanto, a pica balançando de um lado pro outro, muito dura. Na minha
gaveta eu pego o lubrificante que tanto conheço, e ele também. Usamos no
meu rabo. Sorrindo volto pra cama e me deito ao lado dele.

— Passa em mim? — ele morde o lábio inferior e pega o pote da


minha mão, joga um monte na palma e me masturba enquanto chupa meu
pescoço, os dedos dele tão escorregadios e isso é pra lá de gostoso.

— Isso tudo vai caber no meu cu? — ele pergunta receoso e eu acabo
rindo, o que também o faz rir. Dou um beijo nele.

— Cabe sim. O teu que é maior cabe em mim, por que o meu não
caberia em você? Se Deus fez é porque cabe!— ri, ele pensa um pouco e dá
de ombros.

Aí é chegada a hora, peço pra ele virar de ladinho e o faço dobrar


uma das pernas. Lambendo o pescoço dele e ao mesmo tempo mexendo com
seu mamilo eu soco dois dedos, que recebe bem e ele rebolando de leve.

Aí substituo pelo meu pau, que eu soco devagar e com cuidado,


primeiro a cabeça, ele faz um "ixxx" e eu tiro. Repito esse processo até eu
perceber ele ficar relaxado e aceitar de boas a cabeça do meu pau.

A cada metida — que é de leve — eu coloco um pouco mais do meu


pau e enquanto isso eu o masturbo, mesmo que o seu pau não esteja
totalmente duro, mas isso é questão de tempo.
Vou até o fundo e ele geme sofrido, enquanto o cuzinho apertado
dele me mastiga o pau. Eu gemo e seguro pra não gozar naquele instante.

— Relaxa. Fica tranquilo, agora vai ficar bom. — falo várias


palavras de incentivo pra ele que aos poucos vai cedendo e relaxando. Na
minha mão, o pau dele vai ganhando forma e quando percebo já tá em toda
sua potência, prontinho pra eu brincar de sentar. Mas não agora.

— Sente como é gostoso, sente. — sussurro no ouvido dele e o vejo


arrepiar, aí ele dá uma reboladinha marota.

— Quando quiser que eu mova só é falar. — mordo o ombro dele e


me seguro, mesmo que tudo que eu queira é socar nesse cuzinho apertado até
minhas bolas esvaziarem.

— Vai. Mete. — ele pede manhoso e eu nem conheço aquele ativo


que só falta me quebrar no meio enquanto tá socando em mim, haha. Chorei,
e não foi pelo olho.

Não disse nada, só tirei o pau até metade e tornei a socar, tudo bem
devagar, e não parando com os toques no corpo dele, afinal, tudo que fosse
deixa-lo distraído da dor seria válido pra gente.

— AHHH... arde, isso, mas é gostoso, vai. — eita, tá se soltando.


Tome pica!

Aumento a velocidade aos poucos e cada vez mais ele vai curtindo
mais, até a gente ficar naquele bate coxa bem massa, com meu pau entrando
e saindo do cuzinho dele.

Arrisco algumas vezes até tirar tudo só pra meter no susto, e ele
curte. Meu putão.

— Fica de quatro pra mim, vai. — me ajoelho na cama e ele sorrindo


que nem vadia empina o rabão na minha direção, as bandas separadas e o
cuzinho vermelho piscando. Precisei segurar na base do meu pau pra não
gozar só com aquela visão.
— Rabão gostoso do caralho, mano. — tabefe na raba dele. Me
olhou com cara de mal, mas ficou esperando, sorri de lado e afastei ainda
mais as bandas dele só pra poder sentir o gostinho do cuzinho recém aberto
na minha língua.

Gemeu e rebolou na minha cara.

— Você tá me comendo com a língua, seu filho da puta. Soca essa


rola, vai! Mete no meu cu, seu cadelo.

Quanto mais ele se soltava, mais eu curtia. Passei mais lubrificante e


devagar coloquei tudo dentro, só pra tirar bem rápido e fazer aquele barulho
de "ploc".

— Ai, Enzo! Isso dói, caralho. — disse colocando a mão pra trás e
dois dedos entraram fácil, ele fez um som de surpresa. — Pooorra, tu me
arrombou! Espera só na minha vez. Agora termina esse lance aí.

— Desculpa, mano. Eu precisava fazer isso, haha. — nem deixei ele


protestar mais, meti tudo e fui aumentando a velocidade na medida que ele ia
curtindo mais. Me abracei ao corpo dele e chupei sua nuca enquanto ele
gemia de olhos fechados, desci minhas mãos do peitoral peludinho de bicos
durinhos e lá embaixo encontrei o pau duro babando, apertei e ele gemeu,
dando uma travada que quase me arrancava leite.

— AHHH, mano, eu vou gozar, vou gozar com tua pica atolada no
meu rabo, haha. — ele riu meio incrédulo e eu saí de dentro dele novamente.
O fiz deitar de frango.

— Bora gozar juntos, quero esporrar olhando no teu olho. —


brinquei com o pau na entradinha dele e ele gemeu com o rosto todo
contraído de tesão, aí ele me puxou pela nuca e nos atracamos num beijo
bem desesperado.

Iago sozinho pegou no meu pau e foi me conduzindo pra dentro,


gememos quando tudo estava lá no fundo e ele deu aquela risadinha de puto
que eu amo.
— Vai, mete! Me faz gozar assim. — nem falei nada, só apoiei as
mãos no colchão e olhando nos olhos dele desci rola até minha pélvis doer,
ele gemia fazendo cara de bravo e me pedindo mais a medida que eu lhe
dava mais.

— Haaa, como é bom dar o cu! Mete nessa porra, mete! — puxei ele
pra um beijão cheio de língua e senti ele contrair o cuzinho precedendo o
gozo, o que me fez querer gozar também. Os movimentos ficaram curtos e
erráticos, além de fortes, e ambos gozamos gritando o nome um do outro. Eu
desabei em cima dele, ofegante, e nos sujamos da meleca que ele fez. Ele
alisou das minhas costas até minha bunda, que tava pra lá de suadas e depois
solta uma risada.

Olho pra ele com cara de lesado: — Que foi? — suspiro e ele olha
pro teto enquanto fala.

— É que essa parada é muito maneira. Se eu soubesse, teria liberado


antes pra tu. — ele me da um selinho. — Mas tô ligado que só foi maneiro
porque foi contigo. Por causa da nossa cumplicidade. Te amo, cabecinha.

— Também te amo, cabeção. E quero repetir mais vezes. — com o


pau já mole eu saio de dentro dele o vendo fazer careta.

— Cê vai passar uns dois meses longe do meu cu. Que vontade de
cagar. — todo espremido ele corre pro banheiro. E eu me racho de rir
sozinho na cama.

Não seria especial se não fosse com ele, esse ser todo desbocado e
atrapalhado que eu tanto amo.

— Eu vou parir um filho teu? — ele grita do banheiro e eu rio mais


alto ainda. É, a vida parece estar melhorando. Espero que seja assim por
muitos anos.
—34—

30 anos se passaram e posso afirmar, sem dúvidas, que Enzo foi uma
parte extremamente importante e significativa da minha vida. Em um
momento de molecagem e falta de direção na vida, ele veio para desconstruir
e dar toda a direção que eu precisava rumo ao homem que hoje eu sou, e me
fez viver tudo de bom que vivi ao seu lado.

Sentado aqui nesse parque e observando a copa das árvores sendo


balançadas pelo vento, só consigo lembrar daquele meu moleque que hoje
seria um homem maduro e vivido como eu me tornei. Ele adorava dias
nublados e com brisas frias como este. Lembranças invadem a minha
cabeça, como quando ele acordava todo preguiçoso e vinha pra sala em
minha direção enrolado no edredom e com aquele sorriso preguiçoso e
dengoso que eu tanto adorava.

A vida infelizmente não é fácil e nem doce. Talvez em poucos


momentos até seja, mas no geral...

Depois que tudo ficou mais calmo e a vida enfim seguiu seu rumo, eu
e Enzo vivemos momentos maravilhosos. Nós mudamos para um
apartamento onde pudemos arrumar e fazer se tornar o nosso lar, viajamos
boa parte do mundo, trabalhávamos pra caralho e eu sempre o buscava no
trampo quando saía do meu. Graças a muito esforço e trabalho conseguimos
adquirir um carrinho que era só nosso.

Lembro dos dias que ele saía puto do laboratório e ia do trampo até
em casa reclamando de tudo, e eu? Ficava quietinho pra não tomar um murro
enquanto ele falava. Tivemos um cachorro que insistia em ficar latindo na
porta do quarto sempre que estávamos nos amando, mas tadinho, posso nem
julga-lo, porque ele tava fazendo o papel dele, achando que estávamos
brigando e ficava querendo manter a ordem dentro de casa (risos)! Ah se ele
soubesse que nossa briga era para não separarmos nossos corpos! Até
arriscamos ter algumas plantas, mas dois marmanjos com plantas não foi
uma combinação que deu muito certo, haha.

O Léo tinha morrido há alguns anos e esse novo dog foi um sufoco
pra colocar dentro de casa e eu aceitá-lo. Na minha cabeça só existia um
cachorro e esse era o meu parceirinho de todas as horas, mas tudo bem, o
Guto também me ganhou (Guto era o dog, hehe).
Vivemos dias difíceis como quando perdemos nossos coroas para o
trânsito do BR que nunca mudou, ou como os dias em que um ou o outro
ficava doente e nossos corações ficavam apertados de agonia e preocupação.

Nos amamos, nos entregamos e conseguimos alcançar e tocar muitas


pessoas com o nosso amor. Vimos a sociedade ao nosso redor ser
gradativamente alterada ao ter convívio conosco. Conseguimos mostrar que
ser gay não é ser depravado, um pecado ou uma aberração como muitos
chegaram nos chamar. Conseguimos mostrar que, no fim das contas, o que
vale e o que deve prevalecer é o amor, afinal, não é assim que diz um
versículo deste livro que tanto usam para nos condenar?

"Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas


o maior destes é o amor." (1 Coríntios 13:13)

Tá aí algo que nós tínhamos demais: Amor! Se não fosse esse


sentimento tão mal falado e apedrejado por escritores e compositores de
épocas passadas e atuais, nunca teríamos tido tantas felicidades e alegrias
nas nossas vidas. Foi esse sentimento que me fez mudar, ser mais corajoso,
encarar mais o mundo aqui fora do armário, foi esse sentimento que me fez
lutar todos os dias e dar o meu melhor para sempre arrancar um sorriso
daquele galego incrível que tive a honra de chamar de meu amor.

Meu Enzo partiu há dois anos e, até hoje, não consegui superar essa
sua partida. Ainda é muito doloroso deitar naquela cama todas as noites e
não ter o calor e os braços do meu moleque me envolvendo e me enchendo
de amor antes de dormir. Após sua partida, parece que uma parte minha foi
tirada e todos os dias me pergunto se não tem algo mais que poderíamos ter
feito ou tentado.

Guerreiro como sempre foi, ele lutou durante 3 anos contra um


câncer no sistema digestório. Foram dias bem difíceis e de muita dor e
agonia. Cada crise que meu moleque tinha me deixava em pânico e era foda
pra segurar as lágrimas pra não deixa-lo pior, longe dele eu me entregava a
essa dor e posso te dizer, ela também estava me matando aos poucos. É
extremamente assustador você saber que irá perder a pessoa que mais ama
no mundo a qualquer momento por causa dessa doença maldita. Quando ele
pode enfim descansar sem sentir mais dor e sem acordar muitas vezes
chorando assustado achando que já era seu momento, eu pensei que seria
menor das minhas tormentas, mas com sua partida, a saudade e a tristeza se
mudaram de mala e cuia para o nosso lar. Todas as noites o abraço do meu
molequinho foi substituído pelo abraço da saudade e então, me entregava às
lágrimas até que o sono me levasse para mais algumas horas de silêncio e
tranquilidade nos pensamentos.

Vivi anos recluso, basicamente isolado de tudo e de todos, mas eu


tinha pessoas que me fizeram enxergar que eu deveria mirar apenas nos
momentos bons que ele me proporcionou e não o contrário. Em outro caso,
eu nem estaria te contando isso. Nos sonhos ele sempre me aparecia com
aquele sorrisinho de lado que tantas vezes me irritou e fez ama-lo.

Mas sou arrancado de todas essas lembranças e pensamentos quando


escuto a voz de Mel me chamando ao longe. Viro e vejo ela e Bernardo
vindo em minha direção com sorrisos nos rostos. Algo que me deixa muito
contente.

Mel e Bernardo são as heranças que eu e meu galego deixamos para


este mundo.

Alguns anos depois de endireitarmos e estabilizarmos nossas vidas,


sentimos a necessidade de encher a casa com a bagunça que só crianças
poderiam trazer. Adotamos os dois ainda pequenos, e esse foi um processo
super lento, mas que não me abalou, nem ao Enzo. Nós demos todo nosso
amor e nosso melhor para que se tornassem os seres humanos que se
tornaram hoje.

Mel, assim como Enzo, tinha os cabelos claros e os olhos azulados,


enquanto Bernardo era moreno e tinha um porte físico mais sobressaltado,
assim como eu. Nós não os escolhemos por essas características, eles nos
escolheram. Ter características que poderia lembrar a mim e ao meu parceiro
foi, digamos, coisa do destino.

Bernardo tem uma leve deficiência auditiva e por esse motivo,


apenas por esse motivo, era rejeitado pelos casais que queriam adotar. Já
Melissa tem diabetes do tipo 1 e, assim como o irmão, foi rejeitada por todos
que se encantavam com ela, mas ao saberem da sua condição médica logo
desistiam de adotar. Não por Enzo e eu. Como falei, eles nos escolheram.

Eles se adaptaram muito bem, já se conheciam no orfanato e


conviviam, então essa adaptação deles foi conosco, dois marmanjos
completamente estranhos, haha. Conseguimos ensina-los e com o passar dos
anos percebemos que eles se tornaram um espelho de quem éramos
fisicamente, dois lindos e não é porque se pareciam conosco, não, hehe.

Mel estava estudando e morando no exterior com Francine, filha da


pangaré fêmea e agora velha (Juliana para os menos íntimos). Bernardo
havia saído de casa quase na mesma época em que Mel saiu, segundo ele,
para também lutar pela independência. Se sofremos? Orra!

E já que mencionei a pangaré, ela também se casou e nos deu 3


sobrinhos, justo ela que não queria ter filhos, hehe, e como disse ali em
cima, a mais velha está morando com a Mel em Nova Iorque. Juliana se
tornou uma publicitária renomada e até os dias atuais segue firme como
defensora da causa LGBTQI+. Como hoje ela é alguém influente, devido aos
seus inúmeros trabalhos bem sucedidos, acabou tendo muita voz ativa e
ganhando muitas causas ao nosso favor.

— Oi, Daddy! — Mel fala ao se aproximar e eu levanto de onde


estava para abraçar e beijar a minha pequena. Bernardo revira os olhos.

— Ela acha que é gringa, só porque mora nos states há 4 anos. Tua
regalia tá acabando, galega! Como tá, meu coroa? — meu menino crescido
me abraça apertado e me dá um beijo na bochecha. Melissa dá um tapa na
cabeça dele e eles começam a brigar me divertindo, sinto falta disso.

— Eu estou na medida do possível. E vocês, como estão? Mal me


dão notícias, fico no escuro sem saber da vida de vocês.

Eles se olham e riem.

— O velho drama de sempre. Eu tô ótima, pai. O Bê trocou de


namorada.
— Porra menina, essas coisas eu que conto. Nossa, ela não aprende
nunca. — ele fala irritado. A caçula desinteressadamente tira uma sujeirinha
da blusa preta dela. Conversamos sobre algumas coisas que não falamos pela
internet. Bernardo trabalha como gerente numas das muitas filiais de uma
empresa alimentícia, ele tem residência fixa no estado vizinho, mas isso não
quer dizer que ele para em casa, seu trabalho consiste, também, em fazer
viagens para treinar novos funcionários, o que o deixa bastante tempo longe
de mim. Mas não tanto quanto Mel que mora em outro país.

— E como você tá se sentindo, hoje? — o tom das palavras dela me


faz entender sobre o quê exatamente ela está perguntando. Dou de ombros e
suspiro. Bernardo então me abraça de um lado e Mel do outro, eu me sinto
acolhido e meu peito se enche de saudades, mas também de amor. Saber que
meu molequinho e eu educamos e criamos esses dois seres humanos, me
deixa orgulhoso do trabalho que meu esposo e eu tivemos, hehe, e isso não
tem preço.

— Tô vivendo um dia de cada vez. Ele me faz muita falta, mas eu sei
que ele tá num lugar bem melhor que a gente... Vamos lá? Já começaram a
chegar. Onde está sua tia e seus primos, Mel?

Nos levantamos e percebo minha caçula limpar uma lágrima do


rosto, ela suspira e fala que a Ju tava apressando o marido para poderem vir
para a igreja onde será celebrada a missa de dois anos da partida do meu
amor.

A rapaziada também seguiu com a vida. Com o passar dos tempos,


geral foi se casando e seguindo seus rumos e o contato foi ficando cada vez
mais escasso. Tirando o Lipe e o Lucas, que nunca se mudou dali com a
esposa. Nós só nos reuníamos apenas quando alguém nos deixava. Afinal,
Velho é assim, né!? Só encontra velhos amigos quando é para se despedir de
alguém. E assim foi feito. A última vez que todo mundo se reuniu, foi para
nos despedirmos do meu Enzo. Lembro até hoje daquele dia nublado e frio,
acho que foi um último presente que a vida lhe deu, já que ele amava tanto
os dias frios. Naquele dia eu estava inconsolável e entre a rapaziada, eu não
sabia quem chorava mais.
Meus meninos haviam voltado porque essa foi a época do ano em
que Enzo havia nos deixado e combinamos que sempre nos encontraríamos
neste período para que pudéssemos passar por ele juntos, independente de
trabalho ou o que quer que fosse capaz de atrapalhar, prometemos sempre
estar lá...

A vida ao meu redor tem seguido seu rumo, e eu, dia após dia, vou
tentando seguir em frente até o momento em que minha hora também será
anunciada.

Enzo foi e sempre será o grande amor da minha vida. Nunca terei
olhos para outras pessoas e jamais permitirei que a história que vivemos caia
no esquecimento. Enquanto eu ainda estiver aqui, lutarei para que jovens
apaixonados deem valor ao amor e lutem por ele com tudo o que tem. Uma
vez eu desisti do meu Enzo por falta de coragem, mas foi esse amor que me
fez voltar atrás e ter forças para viver ao lado dele e enfrentarmos tudo que
enfrentamos até aqui.

"Eu sei que não somos

O que dissemos que seríamos

Quando tínhamos 17

Mas eu me sinto seguro aqui

Deite-se comigo

As estrelas nos observam esta noite."

Então você que hoje tem um grande amor, nunca, jamais abra mão
disso. O mundo tem sofrido por falta de amor, as pessoas estão deixando o
medo ganhar a luta e a insegurança dominar o território. Mas ei, não faça o
que eu fiz uma vez e por causa disso, quase perdi toda a história que tive a
chance de viver com esse cara incrível. A saudade, infelizmente, é o
imposto que a vida cobra de quem já foi muito feliz. E se sinto tantas
saudades, é porque a felicidade esteve comigo de forma demasiada.
Brotheragem nunca foi e nunca será um livro de sacanagem ou de putaria.
Talvez até possa ter tido início de umas sacanagens de brothers, mas se não
fosse essa brotheragem, nada disso do que lemos até aqui poderia ter rolado.
Também nunca será um livro sobre mim, mas sim sobre o Enzo.

— O que você tá escrevendo? — tomo um susto daqueles de deixar o


cu na mão e olho assustado pro Enzo que tem uma cara de preocupado.

— Cê tá chorando, mano? O que tá rolando? — ele pergunta


assustado e me abraça. Ele em pé e eu ainda sentado na cadeira de frente ao
computador. Abraço a cintura dele e ele afaga meus cabelos enquanto eu
molho peito desnudo dele, sentindo aquele cheiro tão bom que eu tanto amo.

— Vai me contar agora? — ele pergunta depois de eu me acalmar.


Respiro fundo e o puxo pra sentar no meu colo.

— Lembra quando você disse que escrever sobre a gente ia ser uma
parada legal de se fazer e poderia até ajudar outros caras? Então, esses dias
que tô me sentando aqui pra escrever é basicamente isso. Tô finalizando
agora e eu te matei no livro. — faço um bico com vontade de chorar de novo
e ele me olha confuso, olha pro PC e rola as páginas para cima, aí ele lê a
parte onde eu falo que ele não está mais entre a gente.

Caladinho ele vai descendo e lendo o que eu coloquei ali com tanto
sentimento, se eu tô assustado pelo julgamento dele? Muito!

— Beleza — ele fala depois de ler da onde eu parei —, mas porque


me matar se eu tô aqui, vivinho da silva? — carinha de emburrado, e eu me
segurando pra não beijá-lo.

— Tá, eu explico isso. Sabe, gato, eu não queria terminar essa


história como mais um clichê que a Juliana lê, eu queria que as pessoas que
fossem ler, parassem e refletissem que tem que dar valor aquilo que elas têm.
Que elas tem que lutar até o fim pela felicidade delas e de quem elas amam.
Te coloquei morrendo ali, mas não foi como um "morrer na praia", foi como
um "porra, valeu muito a pena", e se eu pudesse viver tudo de novo com
você, eu iria viver, porque, caralho, você é o cara que eu amo.

Ele me olha com os olhos brilhando.

— Eu quero que as pessoas deem o devido valor aos sentimentos que


sentem e que não se entreguem na primeira batalha que enfrentarem. Aqui
eu mostrei que eles viveram felizes, mas que esse feliz, como muitos livros
mostram erroneamente, não é pra sempre. Nada é. Queria que entendessem
que o amor está sob todo e qualquer tipo de julgamento. Mostrei lá no final
que o amor é isso, imortal, nem a morte é capaz de matá-lo e mesmo com os
anos que se passaram da morte do Enzo, o Iago segue o amando com todo o
ser e coração. — sorrio. Ele limpa uma lágrima minha e eu continuo.

— Esse livro é pra te mostrar que eu vou continuar te amando


mesmo depois do fim, e depois, e depois, e depois... — e ele me cala com
um beijo carregado de sentimentos e ali a gente se entrega ao que temos e ao
que ainda vamos ter, mesmo depois da morte.

— Paaai, o Bernardo pegou minha boneca! — Mel chega na porta do


quarto gritando e com aquela voz eu sei que ela tá de bracinhos cruzados e
aquele bico adorável no rosto. Rio e escondo meu rosto do peito do meu
marido.

— Vai que é tua, manda o Bernardo estudar que eu vou finalizar aqui
e depois a gente sai. — dou um selinho nele que suspira e se levanta indo
falar com a filha. Ele se abaixa e pergunta pelo irmão dela, que ela dedura
sem piscar, eu rio com isso. Leio novamente meu texto, corrijo alguns erros
e salvo. Depois eu finalizo, agora vou curtir minha família.

Passo pela sala onde as crianças usam como brinquedoteca e local de


estudo e vejo Bernardo escrevendo no caderno cheio de orelhas dele
enquanto Mel brinca com bonecas e Enzo penteia o cabelo dela, isso eu
nunca aprendi a fazer, ela sempre reclama que tá torto.
Eles nem me notam, então vou logo pro banho, faço a barba e lavo
até as orelhas afinal, hoje é um dia bem especial, aniversário de casamento
dos coroas, haha. Isso mesmo, depois de muitos anos enrolando, eles
finalmente resolveram se juntar. Casamento foi algo mais difícil, e só depois
de ter meus filhos comigo é que ela aceitou dizer sim a um dos diversos
pedidos que o Pedro fez, haha. Hoje eles faziam um ano de casados e ia ter
um almoço para os amigos e familiares.

A Juliana merece um parágrafo a parte; pois bem, um dia ela disse


que faria de tudo pra defender os oprimidos e todo aquele papo que muitos
julgam ser de militante, mas ela conseguiu e consegue até hoje. Ela usou o
talento que tem pra fazer diferença e falar com os jovens, que sempre foi o
público alvo dela.

Junto com aquela amiga dela, a Drica, elas conseguiram emplacar


vários sucessos do universo mangá/yaoi. Viajaram até pro Japão pra se
especializar, haha. Tenho que dizer que eu não dava nada praqueles livrinhos
pornográficos, que hoje eu sei ser muito mais que isso, mas que tenho maior
orgulho dela e de tudo que ela representa pra nós; principalmente pros que
tão se descobrindo.

Aquele yaoi que um dia ela disse ir criar sobre Enzo e eu, realmente
existe. Mas ele só tem uma unidade, em folha A4, e tá muito bem guardado
numa gaveta no meu escritório. Quando ela estiver mundialmente famosa eu
posso até leiloar pra conseguir uma grana com a venda dele, hehe... tô
zoando (ou não).

E a vida tem seguido como tem que ser. Tem brigas, tem
desentendimentos, tem superação, mas acima de tudo, tem muito amor.
Como deve ser. Perdemos alguns amigos nesse processo que se chama vida.
Mas como falei, superamos tudo e todas as provações que nos foram
impostas. Hoje trabalhamos, temos dois filhos lindos, uma vida
financeiramente estável e amigos que nos entendem e estão com a gente pro
que der e vier. Temos um ao outro, é isso.

“A vida, no que tem de melhor, é um processo que flui, que se altera


e onde nada está paralisado." — Carl Rogers
Se tua vida não tem ido pelo caminho que anos atrás você traçou, não
se preocupe! Assim como o caminho que você está seguindo, não é o mesmo
que você traçou, você também já não é a mesma pessoa que traçou esse
caminho. Siga sempre em frente, busque a todo momento ser feliz e acima
de tudo, ame! Se entregue! Salte e mergulhe de cabeça, porque hoje é o dia
certo para fazer isso. Não pense muito no amanhã, não pense muito no que
passou, o dia certo para viver, é o hoje. Essa é a maior certeza que você pode
ter. Se o amanhã chegar, ótimo, viva-o também, senão, pelo menos você
poderá dizer que conseguiu viver tudo que tinha pra viver.

E assim eu me despeço de vocês, meus amigos e futuros guerreiros.


A mensagem que deixo para vocês? Jamais desistam do amor. Sem ele, não
existirá mais nada em sua vida!

“Em última análise, precisamos amar para não adoecer." — Sigmund


Freud
—35—
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O Seu Assistente

Bruno é um rapaz com convicções e ideias próprias; jovem, divertido


e skatista em horas vagas. Começa a trabalhar num consultório odontológico
quase que por acaso, onde desenvolve uma "quedinha" pelo dentista
atencioso e bonito, André.
Nesse meio tempo Bruno começa a namorar com Maurício, o que o
faz esquecer por um momento o que está passando a sentir por André. Isto
até que ambos, Bruno e André, sofrem decepções em seus relacionamentos.
Apesar de serem diferentes, existem afinidades que os aproxima. O
que, no primeiro momento, pode parecer prosaico, mostrará que o amor pode
nascer não só dos pontos em comum, mas também dos opostos.
O Seu Assistente é um romance gay, do tipo clichê, que fará você se
apaixonar pelas particularidades dos personagens e da maneira divertida de
levar a vida, principalmente a forma como o amor nasce em meio à
adversidade.
Quando Em Vênus

Duda é um homem que foi largado pela mulher por não preencher os
pré-requisitos básicos para ser seu marido.
Com quase quarenta, grandes entradas nos cabelos e sedentário, tudo
que ele não queria era ter que correr atrás do corpo perfeito para agradar os
outros. Porém ele resolve fazê-lo; se não pela ex, que seja por ele próprio.
O que Duda não esperava, era que entrar na academia Vênus, não só
mudaria sua aparência/corpo, como também quem ele era em essência.

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