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SUMÁRIO
PRÓLOGO
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— Sobre o Autor —
— Outros Livros —
PRÓLOGO
Tu se lembra de quando era criança e ficava viajando imaginando e
sonhando o que você seria quando crescesse? Às vezes tem uma galera
graduada e pós-graduada em vivência, pronta para opinar e dar, aquilo que
julgam, serem os maiores conselhos das nossas vidas, e ainda alertam:
“escuta o que eu tô te falando!”. Mas a real é que eu vim aqui hoje para te
contar que na vida, por mais conselhos que possamos receber, nunca teremos
uma receita perfeita que servirá para todos. Se nem um bolo que tem receita
fica igual um do outro, imagina nossa vida que é perpassada por tantas e
tantas experiências. Vivências únicas e particulares.
Muitas vezes você será encurralado pela vida e ela exigirá que você
tome uma decisão e faça uma escolha que será determinante na sua
trajetória, por mais que você ouça todos os conselhos do mundo, apenas
você enfrentará as consequências desta escolha. Logo, a sua vida é o seu
bem mais precioso, e nunca deixe que alguém te diga o que deve ou não
fazer. Óbvio que devemos ouvir nossos pais, termos respeito e tudo mais,
mas essa linha tênue entre respeito, autonomia e amor próprio deve ser
percebida, e também precisa ser respeitada.
Sabe o natal? Aquela fase do ano deliciosa que tem aquele monte de
comida gostosa, com exceção do arroz com uvas passas, seu tio com a
piadinha do pavê e sua tia perguntando sobre as namoradinhas? Pois é! Eu
também te pergunto: E as namoradinhas?! Ouvi essa pergunta muitos e
muitos natais, mas eu por acaso queria saber de namorar? Eu só queria saber
de me divertir! Mas inconscientemente, essa pergunta sempre esteve
rondando em minha cabeça: “Cara, cadê essa pessoa que vai me deixar
arriado?” Isso é só comigo, ou com você também acontece isso?
Sim, pare e pense, tudo que te dá prazer você irá curtir, seja trabalho,
família, relacionamentos... Com prazer fica mais gostoso, logo, você é
movido a prazer, êhhhh!
Crescemos juntos até os meus dezessete anos. Quando ele fez dezoito
teve que se mudar de cidade pra fazer o curso que queria, engenharia
química. Ele terminou o ensino médio com dezessete anos, mas ficou um
ano se preparando pra ingressar nessa facul. Nessa época eu sofri um bocado
porque perdi meu parceiro de balada. Com a cara que tínhamos, entravamos
desde mais jovens em qualquer rave/noitada sem ninguém pedir
documentos, agradeço isso ao futebol e natação que ajudou a tonificar os
músculos naturalmente, mas que tal eu me apresentar? Já que estou aqui
falando e falando e você se perguntando, quem é esse maluco?
— Ih cara, sei não, diz aí! — depois de correr feito maluco atrás de
bola, tudo o que eu não iria fazer nesse momento era pensar. Enxuguei o
suor da testa e olhei pra ele com o cenho franzido pelo sol, esperei ele falar.
Primeiro deu um gole na água que trouxe em sua garrafinha de esportes,
estávamos sentados lado a lado na arquibancada descansando do jogo de fim
de tarde, o qual perdemos, fazer o quê?
Uma coisa sobre minha pessoa, odeio essas redes sociais, Facebook,
Twitter, Instagram... Pra mim é tudo nome de doença, e veja bem, não é
mesmo? Coisas que te deixam dependente e cativo tão facilmente, além de
deixar lerdo no raciocínio só pode ser doença, celular pra mim só pra receber
e fazer ligação, de quando em vez ouvir uma musiquinha.
Enzo voltando pra casa da frente, onde morava com o pai! Foram
quantos anos longes? Cinco anos! Quatro destes vendo ele esporadicamente,
apenas em datas comemorativas e quando isso ocorria a família tomava
conta. Por falar neles, eles são mó de boa, mas eu tinha um ódio quando isso
acontecia, putz! Porém o Enzo morava só com o pai que é mais porra louca
que eu e ele juntos.
A mãe do Enzo morreu quando ele tinha uns dois anos e com três
eles se mudaram pra nossa rua. Como eu era praticamente da idade dele e o
pai precisava sair pra trabalhar, ele fez um acordo com minha mãe pra ela
tomar conta do moleque, assim, ele se tornou meu maninho do coração.
Mas retomando...
— Mas tu ama ele, que eu sei. — dito isso corri corredor adentro
porque vi quando ela tirou o chinelo do pé, aquilo ia ser nas minhas costas se
eu não me esquivasse, haha.
Teve até um dia que nós dois comemos uma mina pra lá de puta.
Bom, foi estranho porque foi a primeira vez que fiz isso com ele e eu tenho
pra mim que ali algo mudou, olhar a cara dele de tesão enquanto mandava
ver naquela menina me deixava com tesão consequentemente. Ele mordia os
lábios vermelhos e franzia as sobrancelhas, seu olhar nublado era
direcionado a mim e eu tenho quase certeza que não imaginei coisas. Teve
um momento que segurei na coxa dele pra que entrasse mais fundo (se é que
era possível) na menina e, caralho, a pele dele era quente, macia e ficou com
as marcas dos meus dedos ali e eu gozei chupando o pescoço da menina
imaginando ser a pele dele.
Eu sabia que alguma coisa tava rolando com a minha cabeça e isso
muito antes dele ir embora, mas eu me recusava a pensar sobre, não sabia
como ia ser com ele ali de volta.
Pedi parada e dei tchau pra tia cobradora, desci no ponto próximo a
faculdade e lentamente caminhei pra dentro do prédio, meu celular tocou no
bolso e eu tirei pra ver quem ligava, era o Enzo e meu coração falhou até
uma batida, eu hein.
— Eae, mano! — Diz o Enzo, e pelo tom de voz, dá pra perceber que
ele também está sorrindo — Aí, meu pai te disse que tô voltando pra casa?
— Cuzão do teu pai só veio falar hoje, e por que você mesmo não
disse? — Respondo fingindo aborrecimento.
Sem falar mais nada, joguei a camisa no ombro e voltei pra rua, fui
andando em direção à praça. Como era fim de tarde, as ruas estavam cheias:
pessoas voltando do trabalho, da escola, saindo pra trabalhar, saindo para
estudar... Todos de certo modo em movimento e eu ali num estado letárgico,
posso dizer assim. Fiquei ali tentando organizar os pensamentos. Não
conseguia entender porque eu estava tão desesperado. Enzo sempre foi meu
melhor amigo, meu irmão! Havíamos crescido juntos, compartilhado muitas
histórias e momentos, talvez pudesse ser isso. É, talvez. Eu sabia que essa
ida dele, mudaria tudo. Eu não teria mais meu parceirinho comigo.
Sentei no outro sofá de frente pra ele e fiquei esperando que ele
dissesse algo. Demorou um pouco até que ele finalmente falou:
Ficamos assim por algum tempo, até que reparei que ele estava
chorando. Me afastei um pouco, sequei as lágrimas dos seus olhos e
forçando um sorriso eu disse:
— Ei, molequinho! Não fica assim não! Pensa que isso será bom pro
teu futuro e que tu vai ser um engenheiro, véi! Vai passar logo e quando tu
menos imaginar, tu já terá voltado pra gente.
— Nem eu, mano! São Paulo... Quem diria! Mas se liga, bora lá pra
casa. Tá todo mundo lá me esperando. — ele respondeu. Balancei a cabeça
concordando e voltei pro quarto pra trocar de roupa e ir curtir a festinha que
tinham organizado pra comemorar a aprovação dele.
— Eu vou sentir sua falta, manézão! — ele por fim disse baixinho.
Respirei fundo e tive que reprimir um soluço do choro forte que sufocou
minha garganta.
Ah mano, ele tinha que judiar, né? Ouvir ele dizer isso foi demais. As
palavras ficaram repetindo na minha cabeça igual um eco e, por fim, as
lágrimas que eu estava segurando, finalmente rolaram, mas rolaram bonito
mesmo! Igual minha dignidade rolando pelo nariz disfarçada de meleca.
Apertei ele mais forte e falei: — Eu vou sentir tua falta também, mano! Tu
não tem ideia do quanto!
Abri meus olhos e porra, é aquilo né? Algo tinha que acontecer.
Acabei olhando pra galera e meu rosto queimou na hora! Todo mundo tava
olhando pra nós dois, mas o que mais me chamou atenção foi a mini gangue
da Juliana. Todas estavam tirando foto minha e do Enzo e fazendo
comentários baixinhos entre risadinhas. Eita que meu cu trancou!
Mas quer saber? Foda-se! Dei alguns tapinhas nas costas dele e vi
que ele foi me soltando a muito custo. Ele sorriu pra mim enxugando as
lágrimas.
— ATUALMENTE —
Eu durmo feito uma pedra, na verdade dormir é um dos meus
esportes favoritos, ronco e tudo, isso quem diz é minha mãe, não tô acordado
pra ouvir mesmo, mas falando em dormir... Acordei com um lado da minha
cama sendo afundado, sinal de que alguém tinha sentado ali, mas quem?
Minha mãe não entra no meu quarto sem ser convidada e a Ju (minha irmã) é
que não entra mesmo, é zona proibida pra ela, então algo não estava certo...
Olhei pra ele que mantinha um sorriso safado nos lábios rosados e
falei — Cê também tem pau mermão, moleque acorda animado.
— Te dou três meses pra colocar essa bermuda, Iago! — ele brincou
em tom de repreensão e nós rimos. Era isso, meu parceirinho de volta.
— Não sei se você vai gostar de ouvir, mas posso tentar te contar,
mas só se me prometer que será mente aberta! — apontou o dedo pra mim.
Esfomeado como sou comi logo três daqueles e duas batatas grandes,
incluso dois copos de refri, pena que ali não servia sobremesa. Tô sendo
hipócrita por falar mal do lanche e comer vários? Que seja, não sou o
certinho da história, haha. Enzo é trincadinho, mas não tem uma alimentação
fit, logo, comeu parecido comigo, embora ele queimasse tudo em academia e
futebol assim como eu.
Eu tava tranquilo e na good vibe, (como sempre sou) mas uma coisa
me encafifava desde a manhã daquele dia, Enzo, (sim, sempre ele), ele tava
mais mudado, mais homem, mais decidido, o meu maninho tinha crescido,
talvez tenha apanhado lá fora porque, venhamos e convenhamos, só assim
crescemos inteiramente, ele ainda conservava aquela cara de moleque
sapeca, com sorriso maroto de covinhas e... "Eu hein, estou eu acá a pensar
num gajo, cujo vi crescer e desenvolver... PAROU!" me auto repreendo,
haha. Meu alter-ego é lusitano só pra constar.
Mas a coisa boa disso tudo era que eu poderia me atualizar acerca de
tudo sobre ele, saber o que havia mudado nele, o que ele viveu e aprendeu...
Eu tinha meu parceirinho de volta comigo!
—3—
De repente foi como se o Enzo nunca tivesse saído de perto da gente.
Nós marcamos várias coisas pra primeira semana dele, o que foi ótimo pra
colocar o papo em dia, deixando de lado aquele que ele falou que eu teria
que ser mente aberta pra entender. Ambos estávamos atrasando esse assunto,
nada demais.
Além disso tudo, eu senti minha conexão com ele mais forte que
antes e isso, de certo modo, me assustou um pouco. Eu imaginei que se
agora ele fosse embora não seria tão fácil suportar como da outra vez. Bom,
como ele havia passado tanto tempo longe, essa dependência era justificável,
né?
O primeiro episódio foi uma vez que a gente tava batendo uma
bolinha daquelas, nós dois no time sem camisa... puta que pariu, que
abdômen era aquele? O mais engraçado foi os caras passando a mão e
chamando ele de gostoso, claro que eu fui um deles, haha.
Depois a gente foi tomar uma ducha pra esfriar e como os boxers
eram sem divisória era impossível não ver os caras pelados e os moleques
sempre tiraram aquela onda comigo por ser digamos, acima da média, hehe.
A maior algazarra foi quando o Enzo fingiu deixar o sabonete cair no chão
só pra jogar a bunda em cima de mim. Caralho, foi um tanto difícil segurar a
ereção, o bicho até deu uma encorpada e aí a zorra foi maior. O que eu posso
fazer se a bunda dele tava tão linda como nunca foi? E os caras também
ficaram excitados porque macho não pode ver outro com tesão que quer ser
solidário, haha.
Sem neura, eu tenho que frisar. Mas você já deve ter notado que eu
tava pra lá de neurado, enfim.
Num desses dias rolou um aniversário do irmãozinho de um dos
nossos amigos, o Rafa, que morava em um bairro vizinho ao nosso, e como
sempre acontecia os moleques se juntaram pra farrear. E foi aí que a coisa
mais insana aconteceu.
Aquele papo fazia meu pau dar uns pinotes na cueca de tanto tesão e
eu nem entendia o porquê, só sentia. Vi os meninos tentando esconder suas
malas com a mão, porque é claro, também estavam igual a eu... Putz, macho
quando se junta não presta, tô falando, haha.
O que eu tenho pra falar acerca disso é que a ressaca do outro dia foi
a pior até então e a zoeira com a cara do Rafa durou pra mais dia.
—4—
Tava tudo muito bem, mas ainda pairava aquela sombra de uma
conversa não tida, e num desses dias eu o cobrei, aí ele logo arrumou um
jeito da gente ter aquela conversa. Conversa essa que mudaria os rumos da
minha e da vida dele.
Naquele dia nós tínhamos juntado a galera num barzinho ali da
esquina no fim de tarde (isso porque não havia tido o nosso habitual futebol),
ficamos um pouco altinhos pelas brejas e de lá passamos na minha casa,
jantamos uma comidinha da mamãe que foi feita especialmente pra ele e
quando terminamos partimos pra casa dele que era de frente pra minha, que
foi quando eu cobrei aquele bate-papo.
Sobre minha família fazer coisas pra ele, não sinto ciúmes, eu
inclusive sempre o mimei. Era até engraçado isso, mas, enfim, não vem ao
caso aqui.
Mas como sempre eu faço, que tal voltar ao tempo um pouquinho pra
explicar algumas coisas? Prometo não enrolar tanto, nem eu quero esperar.
— Meu pai vai namorar uma mulher aí e temos a casa toda pra nós.
Vou te por em dia da minha vida em Sampa. — ele disse com um levantar de
sobrancelha, característico dele. — Se joga aí!
— Beleza, tu sabe que eu não tenho neura, então vou tentar ser o
mais direto possível. — suspirou — Lá em Sampa eu conheci uma galera
descolada...
— Vai se fuder! Tu pode ser viado, mas eu ainda sou homem, porra!
— explodi. Vi a cara dele se fechar em vermelho, ele levantou e me jogou na
cama caindo por cima de mim e me deixando preso. Na verdade, me deixei
ser preso porque a reação dele de certa forma foi engraçada. Até tive vontade
de rir, mas queria ouvir o que o moleque queria dizer.
— Viado? Tu acha que sou viado? Sou não porra! — gritou na minha
cara e depois baixou o tom pra falar de forma sensual, próximo ao meu
ouvido esquerdo. — Mas é pra lá de excitante sentir uma pica no rabo. —
sorriu sacana.
— Si-sim, me ensina!
— Enzo, é... eu não sei, não sei se... bom... — gaguejei o fazendo rir
divertido.
— Quê isso? Assim não Enzo, vou ficar na frente não! — falei
tentando me soltar do abraço dele que se fechou no meu torso, uma mão foi
pro meu pescoço me fazendo colocar a cabeça pra trás apoiada no ombro
dele.
Como eu falei antes, eu sou bem peludo e minha virilha não deixa de
ser assim, é claro que ele já tinha visto em diversas oportunidades, inclusive
na outra semana onde ele me deu aquelas pegadas maneiras na piroca, mas
ali a situação era diferente, não tinha ninguém vendo, não tinha tom de
zoação ou brincadeira, era tudo para o nosso prazer. E antes eu não sabia
como eu o deixava então foi uma surpresa quando senti o pau dele dar uns
pulinhos alegres contra minhas costas, mas também não me atentei muito a
esse fato porque as mãos dele continuaram a trabalhar.
— Olha a sujeira que tu fez manézão! — ele disse rindo e eu tive que
rir junto, serviu pra desencanar do que tínhamos acabado de fazer, e ia dar
um trabalho do caralho tirar toda a gala dos pentelhos, mas tudo bem.
Uma cueca branca do Enzo me vestia, cueca que ele fez questão
escolher e me dar em mãos. Ele tirou a dele toda gozada deixando jogada no
chão enquanto desfilava aquela bunda durinha e redondinha pelo quarto me
fazendo salivar... Mas não, não naquele momento, talvez nunca, hehe,
pensei. Minha cabeça já estava bagunçada o bastante por uma noite.
Foi o álcool, né? Sim, vou por a culpa nas brejas como sempre.
Acredita que meu pau ainda tava meia bomba? Será que o Enzo
botou alguma parada na minha bebida pra me deixar tão excitado assim?
Porque, puta que pariu! Só de arregaçar o bicho pra lavar a cabeça ele
acordou pronto pra outra. Me ensaboei até fazer bastante espuma branca,
uma mão contornou minhas bolas e pau enquanto a outra subia por minha
barriga relando em meu mamilo duro, prendi um gemido que queria sair e
fraquejei das pernas, a mão lá em baixo começou a trabalhar e senti que não
ia me durar muito nesse ritmo.
“Caralho, tenho certeza que se ele vier do jeito certo, com um papo
mole de que não vai doer e só vai colocar a cabecinha eu libero e ele me
enraba gostoso...”.
— Aí depois voltei pra casa porque precisava estudar pras provas que
terão antes de entrarmos de férias. — até me assusto com minha própria
capacidade de mentir, mas eu já acostumei, hehe.
— Se o Iago puder nós vamos sair sim, tem uma balada GLS que tô
querendo ir lá na cidade alta. — Enzo disse.
Silêncio.
Ele falou isso mesmo? Caralho que porra louca sem noção!
Enfim, me levantei da mesa sem olhar o Enzo nos olhos e fui pra pia
que tinha poucos pratos graças ao bom Deus. Comecei ensaboando e
deixando de lado pra não desperdiçar água como minha mãe me ensinou,
sabia que o Enzo tava me olhando as costas. Não sei se falei, mas tenho uma
tattoo de lobo maori na escapula direita, minha mãe surtou quando viu, mas
como sempre faz nesses assuntos, deixou de mão, só deixou claro que não
queria que eu virasse um rabiscado por completo, pois isso afetaria meu
futuro profissional. Mães...
Mas porra, por que eu tô aqui falando e falando sem parar? Talvez
pra desviar minha atenção desse cara que tá me fazendo repensar quem eu
sou. “Que profundo, eu não sou assim, sou moleque zoeiro, caralho”.
“Argh! Melhor assim, muito melhor assim, não dá trela pra esse
cuzão!”. — e que cuzão — olhei pra bunda dele numa bermuda muito curta
pro meu gosto e percebi que o moleque é bem servido. Se Enzo quer brincar
de médico/casinha, tudo bem, nós brincamos, mas eu vou ser o
médico/papai.
—6—
A balada GLS, como ele chamou, era como qualquer outra, tinha os
manos, minas e monas, a diferença era olhar toda aquela diversidade e não
encontrar o olhar atravessado que se via nos outros lugares, que
convenhamos, ainda assim estão cada vez mais receptivos. Eu gosto de ir em
baladas e dançar pra mim, de olhos fechados e me deixar levar na batida da
música seja ela qual for, mas especialmente naquela noite eu não estava
conseguindo me soltar como queria, então sendo assim, vamos apelar pras
bebidas.
Deixei o Enzo na pista já envolto por meninas e fui pro bar pedir algo
pra descer queimando, pedi desse jeito mesmo e nem sei o que pensou o
barman de sorriso metalizado. Só sei que bebi numa única tacada, fazendo
uma careta que fez o carinha dar risada e eu rir por tabela.
A sensação da bunda dele no meu pau era nova e eu tenho que falar,
era ótima, meu pau tava muito feliz. Muito. Então a música mudou e nós nos
separamos, ele riu e arrumou a mala que tava marcada e isso me deu uma
água na boca que eu não sei explicar e nem quero entender o porquê.
Se meu pau tava bomba, agora ele tava no ponto, do meu lado Enzo
riu e deu dois tapinhas no meu ombro.
Entrar em uma cabine com o Enzo seria o mesmo que pedir pra rolar
uma sacanagem e mais ainda naquele lugar, mas eu não raciocinei, estava
com a cabeça cheia de cana e cheia de cenas pornográficas que acabara de
ver. Ele me conduziu até a cabine do meio e passou o trinco da mesma, tirou
a rola dura pra fora e deu um mijão com dificuldade se dobrando e
empurrando o pau pra baixo, prendi a respiração, que caralho, porra, cena
fodida gostosa de ver! Puta que o pariu!
Voltando.
Ele por sua vez pegou a barra da camisa dele com gola e tudo e
passou pra trás da cabeça como se fosse tirar, porém deixando presa nos
braços torneados dele e com o abdômen liso e trincado todo a vista. Eu arfei.
Ele se aproximou e segurando a base do pau dele, bateu na cabeça do meu,
estremeci.
— Ahh, caralho, Enzo! Como isso é bom. — era a primeira vez que
eu falava alto e abertamente que aquilo estava e matando de tesão. Porra, eu
tava babando horrores. Joguei a cabeça pra cima e ele começou a lamber
meu pescoço, pomo de adão, mandíbula e orelha, tudo que estava ao alcance,
isso sem parar o gingado que adquiriu segundos atrás, como se estivesse
fodendo alguém e estava, na verdade, estava fodendo meu pau, e minha
cabeça.
Meti minhas duas mãos na bunda durinha dele e trouxe mais pra
perto de mim, ele até parou de nos punhetar pra gemer na minha boca. Mordi
o lábio inferior dele e desci os beijos até o pescoço cheiroso, onde eu, numa
excitação sem precedentes lhe meti um chupão daqueles de deixar roxo na
hora. Ele parou o que fazia lá em baixo na hora e tirou minha cabeça do
pescoço dele com ambas as mãos, me encostando todo na parede do
banheiro, me olhou nos olhos.
— Se liga, mané! Olha pra mim! Tu não acha que foi tudo muito
rápido, não? Numa hora tava me contando que curtia garotos e na outra tava
me agarrando. — respondi contrariado. Ele deu aquele riso de incredulidade
e virou de costas pra mim, meus olhos foram pra bunda dele, lógico.
Nos encaramos como se fossemos nos bater, mas por fim acabamos
rindo até lágrimas sair dos olhos. No final disso tudo ele me abraçou,
daquele jeito que sempre fazíamos, éramos irmãos no fim de tudo.
— Tem razão, fui meio que no instinto. Vou te dar um espaço sem te
incomodar com isso. Relaxa, manézão! Mas — se aproximou e abaixou
perto de mim me fazendo inclinar para trás no sofá —, procura pensar na
nossa safadeza desses dias aí. — Meteu a mão cheia no meu pau bomba e
apartou me arrancando um suspiro. Ele riu de lado e de surpresa me deu um
beijo daqueles de sugar os miolos, mordeu meu queixo pra finalizar com o
papai aqui e saiu pela porta naquele gingado na cintura que só ele tem.
Talvez pegar uma bucetinha... e foi isso que fiz aquela noite, comi
uma mina que vez ou outra me dava sem compromisso e posso falar? Não
broxei nem nada do tipo não, eu ficava de pau duro pro Enzo, mas eu ficava
de pau duro pras minas também.
— Faz isso não que eu fico prontin pra gozar, caralho. — ele disse
dando um gemido baixo.
Virei ele de costas pra mim e senti na ponta do dedo médio o cuzinho
pregueado dele piscar desejoso, depois encaixei meu pau ali e sarrei gostoso
sentindo ele rebolar contra minha pélvis.
— Frottage que fala, é? É bom, mas prefiro te atolar a pica! Bora! —
falei rindo.
Ele gemeu e nós saímos da água feito dois moleques brincando e nos
agarrando, tirando o fato que estávamos pelados de rola dura e com um tesão
fora do comum.
— Vem cá, Iago, quero fazer uma parada com tu desde o dia que te vi
duro naquela cueca branca. — ele pediu me chamando com o dedo. Falei
nada, apenas me deixei levar, fomos pro quarto principal que tinha suíte e
voltamos a nos beijar com força e desejo, só senti quando a parte de trás dos
meus joelhos bateram na cama e eu caí pra trás, deitado, mas de pau em pé...
Até aqui o que nós fizemos? Nos sarramos, nos beijamos e gozamos
um sentindo o corpo do outro... Pouca coisa? Sim, mas pra mim era muiiita
coisa; demais.
— Hmmm, faz isso com a língua. Isso! Ahaha! Puta que tesão! Isso
caralho!
Puxei ele pra cima e nos atracamos num beijo com gosto de porra e
rola, minha rola, haha, e isso foi ainda mais excitante. Meu pau nem chegou
a baixar, o dele dava pinotes no ar e eu enlacei minha mão ali.
— Vai sim, dá espaço! — ele sorriu safado e eu dei o espaço que ele
pediu. Daí ele deitou de bruços, aquela bunda ali pertinho de mim só
pedindo pra ser montada! Mas não, a preparação.
— Faz tua parte aí! — ele riu e relaxou o corpo na cama. Abriu as
pernas e botou o queixo em cima do antebraço cruzado, eu suspirei.
OK, uma coisa eu aprendi com meninas e acho que serve pra geral:
carinho. Isso relaxa qualquer criatura, até animal, haha. Então de primeira
fui dar um beijinhos nas costas dele, ombros cheio de pintinhas discretas...
Sentei nas costas dele, acima da bunda, e meu pau pesado se acomodou bem
naquela fenda que tem no meio das costas, eu abaixei e beijei o pescoço
dele.
Enquanto isso comecei a esfregar meu pau ali, que babão como é já
deixou ele todo melado. Sussurrei umas besteiras no ouvido dele e ele
arrepiou sorrindo em seguida. Aí comecei a descer os beijos molhados pelas
costas, consequentemente tive que passar a língua na minha baba que ficou
ali, gostoso admito. Também, é minha mesmo. E a bunda dele a um palmo
de distância do meu rosto, putz! Segurei os dois montes com ambas as mãos
e apertei, ficou vermelho e com marcas de dedos, foi aí que descobri que
adoro essa cor na pele dele, avermelhada.
Salivei os dedos e levei até a fenda dele, o toque ficou mais gostoso
que antes, então de cima eu mirei e cuspi. A bola de cuspe bateu certinho ali.
Aí eu usei mais dedos e comecei a esfregar enquanto ouvia ele aumentar os
gemidos, roucos e sofridos.
Sabe qual é a sensação de ver um macho todo entregue pra você,
gemendo com tuas caricias? Isso é tão gay! E tão maravilhosamente bom.
Puta que pariu!
— Empina mais, vai! — pedi safado. Ele engoliu em seco pelo que
vi e empinou mais, deixando o cuzinho todo abeto pra eu brincar. Botei um
travesseiro em baixo pra ficar na posição certinha e me diverti. Primeiro
distribui vários chupões e mordidas pela bunda dele, negligenciando de
propósito o cuzinho que piscava a todo instante, onde eu só assoprava de
pertinho. Na arte do sexo o legal é provocar, e isso eu sempre soube fazer
muito bem, não seria diferente dessa vez.
— Iago, Iago, hmm. — ele chamou minha atenção olhando pra baixo,
só olhei de volta sem parar de lamber. — Mete logo a pica, mano. Mete vai,
tô doido pra sentir tua pica me fudendo ahhhh! — gemeu quando dei mais
uma mordida pra marcar.
Levantei e não perdi mais tempo, ele deitou na cama de barriga pra
cima, se punhetando, e rapidamente deslizei uma capa na minha pica e
besuntei de lubrificante, fui pra cima dele que me recebeu de sorriso e pernas
abertas. Me apoiei nos braços e desci uns beijos bem molhados naquela
boquinha tesuda. Deixei ele guiar meu pau pro buraco dele, e ele fez isso
passando a cabeça pra cima e pra baixo, meu pau sentia e lambia o cuzinho
dele, mas ele não socava pra dentro e eu sabia que não podia mergulhar pra
não machucar ele, esperei, afinal, eu o torturei. Nada mais justo, né!?
Porém não demorou muito, ele cedeu quando mordi a orelha dele e
sussurrei um pedido pra entrar, hahaha, moleque endoidou. Soltou a rola e
me puxou devagar pra ele, daí foi só correr pro abraço... abraço era o que o
cu dele fazia com minha rola, nunca em toda minha vida sexual (que nem é
longa) eu tinha sentido algo tão extasiante como isso.
— Quer mais? Quer? — perguntei depois que lhe dei uma lambida
na orelha. Ele só balançou a cabeça afirmando. Tirei rápido a pica do cu dele
só pra olhar e ver o esfíncter piscar e ir se fechando. Tava vermelhão,
arrombei o moleque, mas ainda parecia pouco.
Ele gemeu com dor e tesão e eu o virei de costa, pegando nos joelhos
e fazendo-o ficar de 4 pra mim. Abaixei a cabeça dele pro colchão, desse
jeito ele ia ficar todo lindo aberto e disponível pra mim, e me punhetei vendo
essa imagem. Se eu soubesse onde estava o celular teria tirado uma foto pra
guardar de lembrança, mas a real é que essa imagem ia ficar na minha mente
por diversos anos.
Desci um tapão pra ficar mais vermelho e ele reclamou dizendo que
não ia poder sentar no outro dia, concordei rindo, abri a bunda dele e lambi
pra sentir o gosto de cu na língua, tava mó quente e desse jeito ele até
relaxou o buraco pra mim, depois segurei na cintura dele e cutuquei com a
cabeça da rola pra daí entrar devagar dentro do meu molequin, tinha que ser
legal pra ele também, né!? E eu acho que estava sendo, pelo jeito que ele
tava arrepiado e com o pau duro e babando... só podia tá sendo bom.
— Isso é bom demais, porra!, ahhh. Vai Iago, mete! — ele pediu.
Meti, mas meti devagar, degustando cada centímetro de músculo que
apertava minha rola, ia até o fundo e voltava lento, só pra entrar de novo na
mesma velocidade, as costas dele estavam brilhando de suor e os cabelos
molhados, cabelos esses que eu peguei e fiz uma rédea, pra só então começar
uma sequência de pirocada fundas e rápidas, firmes.
Ele gemia no ritmo das bombadas até eu puxar ele pelo pescoço
fazendo-o ficar de joelhos ainda engatado e lamber a orelha dele dizendo que
aquilo era a trepada mais deliciosa da minha vida, que eu queria casar com o
cu dele e viver em lua de mel, ele riu e rebolou no meu pau ainda de joelhos,
gemi e pedi pra ele fazer de novo até ele parar e pedir pra eu deitar, foi o que
eu fiz.
— Vem cá, quem foi o cara que tirou teu cabaço? — perguntei depois
de uma gozada de faltar fôlego. Estávamos jogados no tapete do seu quarto
onde minutos atrás ele quicava em mim que nem uma bola. Ele alisou meu
peito com o pé e sorriu de lado antes de responder:
E era verdade, meu pau já começava a dar sinais disso. Ele olhou e
sorriu safado, o pau dele começou a acordar também.
— Meio que me senti assim quando tu chegou com esses lances, seu
cuzão! Com a cabeça fodida. — falei jogando uma almofada que ele
desviou.
— Isso, caralho! Me fode! Vai, estoura esse cu, seu filho da puta!
Ele fez uma cara de puro desejo e tesão e gozou primeiro nos
melando inteiros, segundos depois foi minha vez de gozar. Caí praticamente
morto em cima dele, respiramos com dificuldade.
— Então vai pra casa, vai! Passo lá umas 22, meu pai libera o carro.
— ele me empurrou pelo ombro, mas eu permaneci no mesmo lugar.
Fui pra cima dele e me deitei com a cabeça em cima daquele peito
largo e musculoso, ele sorriu, o que faz a minha cabeça subir e descer, por
fim alisou meus cabelos e ficamos ali apenas curtindo o momento. Sei lá,
acho que ali alguma coisa estava mudando...
—10—
— Caralho mano, eu pensei que ia ser na casa do Lipe. Demora da
porra!
A missão de avisar
— Verdade. — e ele fala apenas isso, pelo jeito não era o único a
pensar besteira ali naquele carro.
Nunca tinha ido naquele lado da cidade e digamos que as pessoas ali
são mais favorecidas, era um bairro de classe média alta com casas de
segundo piso e tudo mais, mas isso não vem ao caso, o que vem ao caso é:
Que porra o Lipe tá fazendo aqui? O moleque mais nóia que eu conheço, de
boa numa casa de abastados, hahaha. Foi meu pensamento quando o Enzo
estacionou na frente da “mansão”.
— Aí, vou ali pegar outra cerveja pra mim, tá afim? — Enzo
perguntou depois de algumas horas no meu ouvido e eu neguei com a cabeça
mostrando que ainda tinha metade da minha quarta (ou quinta?) cerveja. Não
queria beber até cair, mesmo já estando alegrinho, além do mais, alguém
tinha que levar o carro pra casa e do jeito que ele estava bebendo, esse seria
eu.
— Porra, ela é insaciável, gosta que pegue ela forte e puxe pelos
cabelos, as marcas nas minhas costas é de quando eu acerto no lugar certin,
fica toda mole debaixo de mim. — sorri safado e apertei meu pau que já
despertava.
A cerveja quis até voltar, mas eu segurei com força. Nem sei porque
estava me sentindo assim. Ele tava no direito, né? Sim, estava. Não temos
nada um com outro além de brotheragem. Ou temos?
Melhor do que ficar ali com minhas perguntas sem cabimento seria
voltar pra festa e beber alguma coisa mais forte, pegar alguém e esquecer
que Enzo tava lá se pegando com uma buceta; pelo menos por enquanto.
Tomei uma atrás da outra, peguei uma menina atrás da outra, umas
me batiam e saíam de perto bem bravas, outras se entregavam e me
deixavam de pau duro. E o Enzo? Queria que ele se fodesse!
Queria que ele fosse pro inferno! Esse filha da puta só me trouxe pra
essa merda de festa pra me deixar de lado? Toma no cu!
— Por que, cara? Por que ele fez isso comigo? Eu não mereço! Eu
sou um mano legal, não sou?
— Ele não tem o direito! Ele tá cagando na parada toda! Não tá? Ele
tem que ficar comigo, né?
Tranquei meu cu? Tranquei meu cu! Espera! Quando foi que eu disse
isso que não lembro? Puta que pariu! Estou fudidinho.
— Não iria brincar com isso, caralho. E sabe o que é pior? Tu vir me
enchendo os ouvidos dizendo que me amava e que eu não devia ter feito isso
contigo! Qual é a tua, Iago? O que tá pegando nessa tua cabeça, caralho?
Eu o olhei cético e não consegui enxergar quem era esse ser sem
coração na minha frente. Me levantei e o encarei de frente. Essa era a pior
coisa da noite? Eu, supostamente, dizer que o amava? Porra...
— Sim, meu irmão, mas isso não quer dizer que temos um
relacionamento. Lembra que foi você quem pediu isso? Que não queria
andar por aí de mãos dadas e o caralho a quatro?
— Tá legal, Enzo. Foi mal, ok? Mas você esperava que acontecesse o
quê? A gente se pega feito bicho há mais de um mês, toda hora... tô
começando a te curtir, porra! Normal! — me virei de costas pra não olhar na
cara dele porque senti vergonha de estar abrindo meus sentimentos assim.
Ele abriu aquele sorriso e eu entendi que toda a neura dele não era o
lance que aconteceu na festa, e sim o que ele descobriu; o que eu estava
sentindo em relação ao nosso envolvimento.
Depois de eu falar isso ele sorriu satisfeito e veio me abraçar, porém
eu o parei com uma mão estendia em seu peitoral, ele perguntou "o quê?"
com as mãos. Minha vez de sorrir.
— Se o lance é só foder, eu vou, mas isso não quer dizer que seja
com você.
Dessa vez era eu que tinha o sorriso cínico nos lábios enquanto via
ele tentando processar a informação. Não era assim que ele queria? Então
teria.
Ele até tentou falar alguma coisa, mas como eu não dei a mínima, e
deixei claro que não íamos discutir, ele saiu irritado do meu quarto.
Lembro muito bem de uma conversa entre nós, em que ele falou que
queria que eu expandisse meus horizontes. Que ser hétero era chato e
limitado e que homem é bem mais desencanado dessas coisas de
relacionamento e coração.
Mas como eu disse, tinha mais o que fazer, e isso começava por levar
o Léo pra passear. Nem sabia que horas eram, mas sabia que ainda era de
manhã. Fui na cozinha e comi qualquer coisa que encontrei ali. Minha mãe e
irmã estavam em seus devidos compromissos e eu gostava de ter a casa só
pra mim.
Mas logo fui tirado dos pensamentos quando alguém sentou do meu
lado no banco da praça.
— Pois é, rolou. Mas como te falei, isso morre aqui. — pedi lhe
apontando o dedo.
— Mas agora tô curioso, por que tu tava lá chorando que nem uma
margarida? Cês acabaram?
— Nossa. — ele apenas falou e ficamos assim por não sei quantos
minutos, até o Léo vir pra perto de mim todo sujo de terra, ia precisar de um
banho quando chegasse em casa. Nos levantamos e caminhamos de volta pra
casa, o Lucas junto, afinal, a conversa ainda não tinha acabado.
— Sei não, hein? Eu queria dizer que tudo ok, mas a gente sabe que
algo sempre muda. Aquele lance de "vamos ser só amigos" nunca funciona
na real.
— Pode crer.
“Porra, onde esse moleque se meteu? Ele deve ter ficado chateado
com a forma que eu o tratei. Mas porra, e como ele me tratou? Não conta
não? Droga, só não quero pensar. Não quero e não vou, me proíbo.”
— Entra aí, mano, vou trocar de roupa pra dar um banho nele, já
volto.
Lucas entrou e se jogou no sofá, nenhum dos meus amigos tinha
pudores quando ia a minha casa, e vice-versa. Até abro a geladeira porque
sou desses. Me dê de tudo, menos liberdade.
Passei pela cozinha e catei uma maçã do cesto dando uma mordida,
segui pra sala e Lucas estava entretido com uma revistinha de quadrinhos
japoneses que era da minha irmã, assobiei chamando sua atenção e ele
rapidamente mirou os olhos em mim. Cara toda vermelha, estranhei.
— Teu cu! Vai dar banho no teu cachorro logo, carai. — ele largou a
revistinha ali na mesinha de centro e me empurrou pelos ombros pra ir pros
fundos da casa, que era onde ficava o Léo. Peguei o shampoo e uma esponja
pra auxiliar e deixei por perto, Lucas se sentou ali no degrau da porta da
cozinha e ficou olhando. Prendi o cachorro numa armação que tinha ali e
liguei a mangueira que já estava no registro.
Olhei indignado pra ele que tinha a mão na barriga de tanto rir, aí tive
uma ideia, liguei a mangueira e mirei nele, bem na cara. Ele fez uma "ahhh"
puxando o ar pra dentro, aí foi minha vez de rir, ele se olhou e sorriu de lado,
se levantou e tirou a camisa molhada, aí foi minha vez de fazer um "ahhh" só
que mais baixo... puta corpinho gostoso.
Sério que ele vai querer entrar nesse assunto? Tudo bem.
Ele engoliu em seco com minha proposta e eu quis rir da cara dele,
mas controlei; vai que ele aceitasse, hehe.
— Tudo bem, tudo bem. Foi mal. Não fica bolado. — pedi. Ele riu e
balançou a cabeça pros lados.
Era verdade, não era? Eu não tava apaixonado pelo Enzo (acho eu)?
Querendo namorar aquele corpinho até o dia amanhecer?
— Não viaja! O que rolou com o Enzo foi coisa de pele. Como ele
mesmo disse, foi trepação. E vai rolar com outros, com ele mais não.
— Se tu não tivesse tão na dele, essa taca aí ainda tava dura querendo
me passar. — ele apontou pro meu calção e eu olhei pra minha pélvis
automaticamente. Bom, verdade, colocou Enzo no papo, moleque logo
broxou. Não pelo fato de ser o Enzo, porque vamos combinar, ele é tipo um
viagra pra mim, mas sim pelo fato do que aconteceu esses meses passados;
no dia anterior e pela manhã precisamente.
— Nada a ver! Ainda te como moleque. — fui pro lado dele com
braços abertos e ele se armou como se fosse lutar, eu ri porque foi
engraçado. Lembro que ele fez algumas artes marciais quando mais novo e
mesmo eu sendo maior ele tinha mais técnica, logo, eu estava em
desvantagem. E brincando, porque ser sério o tempo todo é chato.
— Mas cara, ele disse que não me amava nem nada do tipo, o quê
que eu vou conversar com ele? Não tô afim de me humilhar pra cueca não.
— bufei irritado.
Viajei nas palavras e no fundo sabia que ele tinha razão. Eu podia
fazer isso, ter uma conversa amigável e definitiva com o Enzo. Embora ele
tenha deixado claro que não queria nada comigo além de sexo. Mas ele é
meu amigo, não é? Meu irmãozinho (que eu comi gostoso).
— Você não sabe de nada insensível, ele pode muito bem retribuir.
— Porra nenhuma. Ele quer transar e a gente pode fazer isso porque
é bom e porque sim!
Olhei pra ele e ri. Se ele soubesse como minha cabeça estava uma
confusão, daria razão a mim por ficar assim fazendo cara de idiota.
— Nada, esquece.
Depois disso ele falou que tinha que ir embora porque tava com uma
atividade pra fazer. Ele fazia curso de Engenharia Civil. Nos despedimos e
ele disse que manteria contato pra eu não sair por aí dando a louca. Como se
eu fosse disso. Né?!
Fiquei moscando por um tempo até minha irmã entrar pela porta com
aquela amiga de óculos que fica vermelha ao me ver, acho essa guria mó
engraçada.
— Sempre soube que tu curtia. Você deve ser Seme. O Enzo que é o
Uke? Ou vocês trocam? Drica, a gente precisa desenhar eles dois! Vamos
fazer um Yaoi bem fofinho, eu já tenho a história bolada na minha cabeça.
Me ajuda? Nossa, vai ficar muito bom.
Me atirei, precipitei
Agora eu quero ir
Porra manoooo! Essa guria tá cantando minha vida? Não tão sofrida
porque eu não sou disso, mas caralho. Olha isso! Não, me deixa! Sai de
mim! — agitei meu corpo para tirar as mazelas e no final da rua vi o carro
do Pedro apontar.
Essa cara fechadinha me dá tesão, não posso negar, e ver ele abaixar
a cabeça como que mostrando arrependimento me enche o peito de coisa
boa. Ele se arrependeu de ter me falado aquelas coisas né?
Sorri incrédulo e balancei a cabeça pros lados. Ele me viu e fez como
se fosse vir pro meu lado. Provavelmente iria pedir desculpas por eu ver
aquilo (será?) ou tentar dar alguma explicação (deve ser a prima né?), mas
antes que ele pensasse em algo a menina contornou o carro e toda sorrisos
abraçou ele pelos ombros e deu um selinho nos lábios que só eu deveria
beijar.
E eu não precisei ver mais nada, senão colocaria todo almoço pra
fora. Virei nos calcanhares e entrei em casa. Acho que vou ouvir mais
músicas como esta. Se tá na fossa se lambuza!
—14—
Há exatos 5 dias que não dou chance de Enzo se aproximar, lógico
que ele tenta e atenta. E eu me atento... confuso, como tudo na minha vida.
Mas o que quero dizer é que não dei chance, mesmo querendo muito.
Gosto dele ainda? Claro. Não se deixa de gostar da noite pro dia, mas
a gente se esforça, né? Como? Catando meio mundo de pessoas.
Resolvi levar o Léo pra ele marcar uns postes e saí falando que
voltava logo. Cumprimentei uns conhecidos, recebi uns assobios de meninas
e me achei, adoro me exibir, haha. Chegando perto da farmácia um cara
baixinho ia saindo de lá e o Léo latiu pra ele o fazendo dar um pulo.
— Ahh... Er... Não foi nada. — ele olhou pro Léo e deu um passo pra
trás, embora eu o mantivesse bem preso. — Tu mora aqui? — ele perguntou.
— Ah sim. E essa fofura? — ele olhou pro Léo que balançou o rabo.
— Morde?
Expliquei por onde era bom ir, apontando no mapa e disse também
que, por aquele caminho e seguindo as sinalizações, logo estariam na
rodovia que levaria pro Sul, que era pra onde eles iriam.
Pelo jeito que ele falava do namorado, mesmo com raiva, ele parecia
o amar. Deveriam ser bem parceiros. Lembrei do Enzo.
— Namoro? — sondou.
Nesse momento o Léo latiu animado pra alguém do outro lado da rua
e olhamos pra ver quem era. Enzo. Andando que nem modelo, todo lindo e
despreocupado. Ele certamente notou que era meu cachorro e olhou pra
confirmar, nisso nos viu. Ele nos fitou e pareceu pensar se continuava a
andar ou não, mas dois segundos depois, apressou o passo e se foi. O
acompanhei com o olhar até ele dobrar a esquina e só parei de olhar naquela
direção quando Fernando pigarreou para chamar minha atenção.
— Tu conhece ele?
— Você falou que é gay de forma tão simples... É até surreal ouvir
isso. Eu achei que nunca conheceria um cara com pinta de homem falando
isso com tanta facilidade.
— Pra quem conhece esses lances como eu, sim. — ele riu.
— A tia da padaria não tem troco pra cem. Vim ver se tu tem.
Ele deu o dinheiro pra ele e esse voltou até a padaria. Daí voltamos
ao assunto.
— Eu sinto algo muito forte por ele, mas meio que foi isso que nos
afastou. Não vejo futuro. Não como estou vendo o teu e teu namorado, que
aliás é muito parrudo. Como você aguenta?
— Todo mundo pergunta isso. É muito amor e K.Y, cara. — ele falou
rindo.
— Se você achar que tem de fazer algo, faça. Se você acha que teu
amor por ele está acima de tudo, vai fundo sem ligar pros outros. Mas se
você acha que, ao decorrer desse tempo que ambos estão dando um do outro,
tu deva repensar e aproveitar, faça-o. Nunca duvide ou pare no tempo. Viva
e aproveite. Se for pra acontecer, se for pra vocês dois ficarem juntos, vai
acontecer. Se não, segue o baile.
— Sim.
— Pois pratique. O amanhã é consequência do hoje, se você se priva
agora, não vai obter nada depois.
— Cara, valeu mesmo. Sei até o que fazer. Muito bom ouvir essas
coisas de alguém desconhecido, mas que conhece meu problema tão bem.
Foi muito bom ter aquele papo com ele que mesmo não me
conhecendo deu conselhos pra lá de proveitosos. Ele era um carinha bem
bacana e se até o Léo gostou dele isso era um fato incontestável.
Sim, eu saberia o que fazer depois de ter conversado com ele. Eu iria
pra pegação! Lógico, Enzo tinha seguido em frente e, como Fernando disse:
Viva e aproveite. Eu iria aproveitar demais, haha.
— Ué, povo só fala nisso, quero ficar de fora não. Fala aí vai. — pedi
aflito.
Aí eu fiz uma cara de "ahhhh entendi" e ele riu. Pedi pra ele baixar
no meu celular porque nem isso eu sabia, ele me explicou por alto como se
baixava e eu entendi (fingi). Baixou outro lá que é um verdinho e disse que é
ótimo pra trocar mensagem, que geral tinha e bla bla bla, até minha mãe
tinha e vivia me cobrando pra colocar no celular, que era mais fácil se
comunicar assim e tals. Tava cedendo a mudança naquele momento.
Então era melhor tentar só com mina por enquanto. Embora eu nunca
tivesse tido problemas em arrumar um lancinho no cara-a-cara. Mas se esse
app era assim tão bom e maneiro eu agradeceria ao Lucas por me ensinar a
mexer.
Ele escolheu umas fotos minha e colocou no perfil, disse que ajudava
a pessoa te curtir e tal. Devo falar que sou fotogênico, e adoro tirar foto sem
camisa, então devia ser um prato cheio pras gurias de plantão. Depois me
ensinou todas as funções e deixou na minha mão, se despediu e foi com a
turminha dele. Fiquei mexendo no app e dando like em todas que via, recebi
também, inclusive de garotas da faculdade que conhecia de vista, mas não
troquei mensagem com ninguém.
Guilherme, haha.
Bonito. Na verdade, muito bonito pro meu gosto. O que ele viu em
mim? Devolvi o match pra ele não se sentir rejeitado, e nem foi. Segundos
depois recebi uma mensagem dele e essa foi a primeira noite em que eu
fiquei até altas da madrugada conversando com um mano que queria
claramente me dar. Se pá, eu foderia com ele? Por que não? hahaha.
—15—
— Então, Guilherme...
— Pow Iago, me chama de Gui. Parece meu pai quando fala comigo,
haha.
Nós rimos antes de eu falar: — Beleza. Então, Gui, faz o quê da
vida?
Abri a mensagem, que era do Gui, e meu pau deu aquela fisgada
ficando duro no próximo segundo. Ele tinha me enviado uma foto deitado
em sua cama, aquela cara com sorriso fechado, consequentemente seus olhos
também, peito desnudo e a barra da cueca aparecendo, os pelinhos
aparecendo também, bem na minha cara! Maluuuco, pirei!
Apertei meu pau que já estava no ponto. Esses lances eram novos pra
mim e eu tinha que dizer que era um prazer diferente. Diferente, mas
gostoso.
Agora não vou contar o que aconteceu depois disso. No básico, sexo
por telefone. Novidade pra mim.
Aí você me pergunta:
— Sim, lógico!
Tava vendo com meus contatinhos e pelo jeito o primeiro a ir pro real
seria o Guilherme, esse tesudinho do caralho. Meter a pica!
Essa troca de nudes aconteceu pela manhã, saí do quarto quase perto
do almoço.
— Ah, mas aconteceu sim! Pedro até veio me perguntar por que
vocês tinham brigado. Falei até que foi por casa de xoxota, mas eu tenho
certeza que o buraco é mais em baixo. Anda. Fala!
— Encana não, hunf, não sou encanador. Não vou encanar mesmo!
— ela resmungou saindo da cozinha e eu ri. Conhecendo minha mãe como
conheço, ela não deixaria esse assunto passar, e como ela já tinha me
interrogado (tentado, sou liso) era vez do Enzo entrar na reta. Só esperava
que a desculpa dele fosse tão convincente, e parecida, como a minha. Vamos
rezar!
O quê eu respondo?
Que não; E ficamos nisso de virtual que nunca foi minha praia?
Que sim; E levamos esse lancinho pra outro patamar? Porque, tipo,
se a gente ia sair, ia rolar safadeza, certeza.
Mas eu tô preparado pra isso? Pode ser que sim. Pode ser que eu
precise exatamente disto...
Frente a frente pra um primeiro encontro com um cueca, que não era
o Enzo, tremendo as pernas de leves, mãos suando e o coração martelando
no peito, me sentindo uma princesa! Enxuguei as palmas das mãos na minha
calça e sorri sem graça.
— Curtiu?
Com um mão em sua nuca eu o puxei pra mim, não teve resistência
nem relutância, ele veio bonitinho e colou os lábios no meu. O beijo
começou forte, senti um gosto metálico na boca, só não sei se foi meu ou
dele. Rodeei sua cintura fina com meus braços e o trouxe pra mais perto
possível enquanto ele enlaçava os braços nos meus ombros. Beijava gostoso
o moleque, mas faltava uma coisa a mais que não soube identificar o que era.
Não disse nada, só continuei.
Nos beijamos e nos pegamos por não sei quanto tempo. Tempo é
relativo na verdade, já assistiram Lucy? Filme foda que deveria ter sido mais
aprofundado em suas teorias... Mas por que caralho eu estou aqui falando de
algo que não tem nada a ver? Porque o moleque tá de taca dura relando na
minha. Tá gostoso? Tá! Mas eu tô nervoso, parece a primeira vez que eu fui
transar.
Maluco!! Nunca fui com mano pra um motel! Na verdade, até pouco
tempo atrás, eu nunca havia pegado um mano. Eu tava nervoso e pilhado,
mais isso foi revertido para tesão.
Entramos aos trancos no quarto e só senti quando caí por cima dele
em cima da cama redonda (negócio brega) ele riu em meio a um gemido e eu
desci lambendo o pescoço moreno dele, deixei algumas marcas ali e ele não
reclamou, ou seja, curtiu.
Não chupei, mas bati uma punheta nele pra ficar mais gostoso. Ele só
gemia e falava coisas safadas que me atiçavam, aí achei certo ele me
retribuir o carinho, me deitei na cama e balancei o pau babado pra ele se
divertir. Sorriu de lado e se deitou entre minhas pernas, segurou meu pau e
deu uma lambida na cabeça sentindo o gosto, depois engoliu até onde deu e
me pagou um boquete pra lá de satisfatório, quase gozei umas duas vezes.
Voltou pra onde eu estava e fez algo que nunca ninguém fez comigo,
colocou a camisinha com a boca, achei maior viagem e acho que o pau ficou
ainda mais duro.
— Se liga! — ele falou se posicionando em cima de mim e
segurando o saco com uma mão e meu pau com outra, se encaixou no meu
caralho e foi descendo devagar, porém cadenciadamente. Talentoso, devo
dizer.
— Ahhhhh, piroca boa da porra. Soca vai! — ele fez uma cara de
tesão e se apoiou nos joelhos e mãos pra me dar liberdade. Tomou rola de
baixo pra cima, revirava os olhos e o pau melado batia na minha barriga.
Cansei da posição e virei com ele ainda engatado pra ficar de frango,
aí ele tomou rola de cima pra baixo, haha.
Senti meu gozo chegando e pelo visto o dele não iria demorar muito,
pelo jeito que ele delirava e apertava os mamilos... eu mesmo parecia um
cachorro em cima dele.
Caí pro lado e mirei nosso reflexo no espelho acima de nós. Ele tinha
um sorriso de satisfação no rosto e respirava com dificuldade, as vezes fazia
um "ixxx" puxando o ar pra dentro, haha. Devo ter estourado algumas pregas
dele, deveras, machucou até cabeça do meu pau, tava até ardido.
Suspirei.
Por que mesmo cansado e saciado eu sentia que faltava algo? Queria
paz, mas não sabia como consegui-la, ai ai, foda isso. Mas um pensamento
me abateu naquela hora: Eu continuaria tentando esse feito.
Aí me deixei dormir e minha última lembrança foi de um rosto
infantil e risonho, com boca pequena e vermelha e olhos claros, verdes/azuis
pela luz do sol que o ofuscava. Ahhhh — suspiro.
—16—
"O que é a filosofia, senão a (in)certeza de que toda sabedoria é fruto das
nossas dúvidas?" — Alex Verly.
Dessa vez eu tinha ficado no time com camisa, porque afinal, Enzo
tinha ficado nos sem camisa. Acho que pra me provocar com aquele corpo
sensual molhado de suor.
— É que cês são tipo irmão, é chato ver vocês brigados. Os moleques
também comentaram. — ele falou realmente preocupado e eu achei fofo
(oi?) o jeito e intenção do moleque. Sorri.
Quando fui mandar mensagem pro cara, senti meu celular sendo
arrancado da minha mão, já me armei pra esmurrar o ladrão, que de ladrão
não tinha nada. Era o Enzo olhando meu celular com a testa franzida.
Rapidamente tomei da mão dele e enfiei no bolso.
— Pelo jeito que você falou, conhece bem o app né? — perguntei ao
que ele hesitou.
— Não muda o foco, caralho! Que porra é essa, Iago? — apontou pro
meu bolso.
— ... aí quando ele veio pra cima, eu meti o joelho no meio das
pernas dele. Ele caiu sem ar e eu enchi ele de chutes e socos. Parece que
quebrou uma costela.
Pedro contava mais uma de suas histórias educativas pra minha irmã.
Nem ligávamos mais, ela é pior que nós todos juntos mesmo.
— Vai ter que vir aqui me tirar. — alisou o abdômen trincado que eu
tanto lambi outrora.
— Vai se foder, tá bom? Vai ser foder! — peguei minha toalha e
deixei ele lá. Fui pro banheiro e tirei a bermuda ficando de cueca, a porta
abriu e fechou. Enzo. Puta que pariu!
Ele não ligou e foi tirando a roupa devagar e eu fui ficando estático, e
de pau duro. Não sou de ferro, talvez meu pau sim...
— Sai você. Ou fica aí. A tia disse pra irmos pro banheiro, ou seja,
os dois. Como nos velhos tempos, lembra? — tirou a cueca e eu engoli em
seco, ele já tava duro e eu salivei. “Autocontrole, Iago, autocontrole!”
Mentalizei meu mantra.
Devo dizer que me doeu ter que colocá-lo contra a parede desse
modo, mas era necessário. Moleque precisava crescer, ele precisava sair do
segundo armário. Esse de revelar os sentimentos. Cabou que nem tomei
banho direito, e fiquei de pau duro, foi por uma boa causa, né?
Sorri ao atender: Fala man! ... Quando você quiser uai ... Então
fechou! ...
Só não esfreguei as mãos uma na outra porque estavam ocupadas.
Vai rolar de novo. Uhuu!
—17—
Renan, como disse em outra ocasião, era um cara mais velho que eu,
32 anos pra ser exato. Mais experiente, mais relaxado, mas de boa com a
vida e com quem ele era; sem neuras com a sexualidade. Tudo que eu estava
precisando, tranquilidade. Como dizem por aí? Ele era do tipo amorzinho.
Pele naturalmente bronzeada, cabelos normais, com duas entradas na
testa, o que evidenciava a idade mais madura, corpo magro definido. Ele
praticava alguns esportes além de fazer musculação. Posso falar? O mano
era gostoso. Demais.
O Beijo dele era muito gostoso, chupava uma língua como ninguém,
haha, além de ter uma bunda super durinha que encheu minha mão. Falar em
mão, ele me deu umas patoladas que voltei pra casa cobrindo a parte da
frente da minha calça com a camisa, tava tudo manchado de baba de pica.
Safado.
— Tu tá ligado que ele pode estar com medo, como você no começo
desse lance de vocês aí? — disse me olhando atentamente. Fiz cara de
dúvida e ele continuou.
— Sim. Pelo que você me contou, tu levou algum tempo pra digerir o
que tava rolando entre vocês. Ele pode estar do mesmo jeito, só que o lance
agora é o coração, e não apenas tesão. Dá um tempo pra ele.
Olhando por esse lado, ele tinha total razão. Naquele tempo o Enzo
me esperou botar as ideias nos lugar, eu poderia fazer isso também. Mas eu
ia continuar pegando, hehe.
Jogamos mais conversa fora e ele se foi tempo depois com a camisa
no ombro.
“Podemos trocar sabedoria, hmmm é uma ótima ideia, haha. Sei até
como isso poderia acontecer.”
Me peguei com sorriso idiota na cara quando ouvi uma voz perto de
mim: — Sorrindo atoa? Tem mulher na parada.
Todo mundo tem um vizinho que não gosta nem a pau, ele era o do
Enzo. Nunca nos aproximamos por, basicamente, eu sempre ficar do lado do
Enzo.
Fiquei alguns minutos até ouvir um "fiu fiu" vindo de longe. Era o
Rodolfo com um saquinho de papel em mãos. Rimos e ele se aproximou,
sentou do meu lado e de dentro do saquinho tirou uma bomba de chocolate
me oferecendo. Porra! Queria me dar? Era só pedir! Amo bomba de
chocolate! Nossa!
— Caralho, gosto muito!
Numa mordida foi metade do doce, ele riu negando com a cabeça e
comeu o sonho dele. Conversamos algumas banalidades, ele tinha um papo
super divertido e descontraído, mas isso até ele ficar calado olhando pra
frente. Segui o olhar e tinha um Enzo visivelmente irritado nos encarando.
Balancei a cabeça pros lados pedindo silenciosamente pra ele não fazer nada.
Adiantou? Lógico que não!
— Vou dar mole não. Se ele quiser vai ser bem dura mesmo. — falei
sugestivo e ele arregalou os olhos de um jeito engraçado.
Ou não...
Os dias se passaram e nas vezes que seu Pedro foi comer lá em casa,
Enzo não havia ido mais, pena. Estava tudo a mesma loucura de antes na
faculdade, no Tinder e no Whatsapp, mas eu me recusava a pegar vício nesse
último.
Vou revelar aqui que beijei uns dois meninos da nossa turma, claro,
na zueira, hehe.
O carro dele era um corola prata do ano de 2015, foi fácil identificar,
mesmo assim liguei pra ele que respondeu onde estava e piscou os faróis, me
despedi da galera e fui até ele, entrei e coloquei a mochila no banco de trás.
Ele riu e colocou o carro pra andar.
— Jaé!
A casa dele era bastante arrumadinha e ele disse que isso era obra da
diarista dele. Tinha jeito e aura masculina, gostei muito. Depois se dirigiu
para cozinha e como ela era aberta (estilo americana) eu pude ver tudo o que
ele fazia. Abriu a geladeira e pegou uma garrafa de água.
Dei meu polegar pra ele chupar, o que ele fez me olhando nos olhos e
esse dedo melado de saliva usei pra relar o mamilo tugido dele, que gemeu e
rebolou no meu colo, o que só me deixou mais duro.
Aí devagar ele puxou a cueca pra baixo e meu pau duro bateu na
minha barriga peluda. Ele pegou na mão e punhetou, cobrindo e descobrindo
a cabeça com o prepúcio e sorriu me olhando nos olhos. O próximo passo foi
socar até a garganta pra só então, devagar, ir tirando até ficar só a cabeça na
boca molhadinha. O movimento foi repetido até eu estar perto de gozar.
Voltei pra cama e dei mais umas linguadas e taquei gel no rabo dele.
Me deitei por cima e beijando o pescoço dele coloquei a pica pra dentro. Ele
gemia de dor no processo mas foi guerreiro, hehe.
Quando quase gozei pela quarta vez saí de cima dele e deitei de lado,
respirando fundo. Ele ficou gemendo e se esfregando na cama, todo tesudo,
era uma cena maneira de se ver, mas ainda não tinha acabado.
Mas o lance não era o jeito dele. O Renan e o Gui mesmo, dois fala
mansa, trejeitos delicados e tudo mais, porém que me atraíam muito e seus
jeitos em nada diminuíram meu tesão. Já esse carinha aí, todo atirado,
gostava de passar a mão no meu peitoral e vivia suspirando quando fazia
isso, parecia uma boneca inflável furada, vazando "aiii", "isssh", gostei não,
não vou mentir.
— Que ele arrume dez nega por aí, mas fale pra ele não sumir das
minhas vistas. Eu criei aquele sem coração, tenho direito de saber com quem
anda e tudo mais. Onde já se viu. — minha mãe falou colocando salada no
prato dela.
A tarde fui pro futebol com os manos e o Enzo não apareceu, não
sabia se ria ou se chorava. Sentia falta daquele filho da mãe.
— Mas eu acho que você deveria tirar a prova. O que você vai falar
pras suas amigas? Tem que falar e levar a prova, gata. — beijei a bochecha
dela e depois um selinho nos lábios com gloss de cereja, se entregou e eu
peguei aquela noite. Bom variar às vezes, né?
— Peguei sim, mas eu vou com quem? — cocei a nuca. Sim, deixei
pra perguntar de última hora.
— Moleque sonso, meu Deus. Tu vai com quem tá mais perto, Enzo.
Teu vizinho, teu "brodinho", teu amorzinho... Tchaaaau! — ele falou e
desligou em seguida. E eu fiquei viajando nas palavras, claro. Quando caí
em mim e tentei tirar a história a limpo só tive como retorno o "tu tu tu" do
telefone.
Saí do quarto na ponta dos pés e fui pro banheiro. Escovei os dentes
umas duas vezes e passei enxaguante bucal pra ficar com o hálito maneiro,
fiz uma série de flexões e uma de marinheiro pra definir os músculos, baixei
a bermuda pra mostrar a barra da cueca preta e as duas entradas nas laterais
da cintura que ficaram bem acentuadas.
— Gostoso! — falei pro meu reflexo e arrumei meu cabelo que tava
precisando de um corte. Sorri malicioso e saí do banheiro me achando,
depois fui pra cozinha e lá encontrei Enzo batendo algumas frutas no
liquidificador. Ele ficou até abobalhado me olhando e eu fiz a minha maior
cara de sonso que conseguia; não é difícil, hehe.
Ele tava lindo. Bermuda cinza estilo moletom, camisa preta com um
triângulo de cabeça pra baixo, bem estilosa, e uma touca vermelha cobrindo
os fios loiros dele. Cheiroso também, senti quando cheguei na cozinha, e
todo nervosinho, o que só me deixou querendo mais.
— Vai lavar essa cara, vai Ju. Fica dormindo em pé! — ele a
empurrou de leve que nem falou nada e sumiu pelo corredor que levava ao
banheiro.
— Estranha. — cochichei.
— Ahhh, mas não vai mesmo! Vai de carro com o Enzo e quero os
dois na quarta pela tarde. E meu carro sem nenhum arranhão. — Pedro falou
de forma autoritária e eu não tive como rebater. Ele falou tá falado. Minha
mãe apenas afirmou com a cabeça.
Pelo resto da manhã e tarde não fiz quase nada: dei um passeio com o
Léo, malhei uma hora na academia do outro bairro, arrumei minha bagagem
que se resumia a bermudas, camisetas e sungas e fiquei esperando o meu...
O que o Enzo era meu? Poderia ser um monte de coisas, mas agora
era apenas meu "irmão" e se ele não fazia nada pra mudar essa situação eu
também não faria, pois já fiz demais eu acho.
— Bom, lugares mostrados, falta vocês dois. Bora! — Lipe falou nos
empurrando pelas costas. Dei um tchau e disse que falava com o Lucas
depois, ele apenas acenou com a cabeça e entrou num papo com os irmãos,
saímos dali com o Mateus me olhando nos olhos.
— Viu como ele encarou o Iago não? Faltei dar um soco nele. — fiz
cara de surpresa por ele externar os ciúmes assim e o Lipe riu até lacrimejar.
— Teu cu! Mostra onde vou ficar logo! — pedi impaciente e parti na
frente, nem sei pra onde ir. Só ouvi os dois rirem atrás de mim.
— Hey, putão! Por aqui. — virei pra trás e ele me chamou com a
mão, Enzo tinha um sorriso contido e bonito nos lábios. Derrotado os segui.
Tinha uma cama de casal no centro, no canto esquerdo uma pia com
fogão e geladeira e no outro lado uma porta que dava pro banheiro. Era um
grande cômodo que foi feito uma casinha simpática. Gostei. Menos de saber
que eu e o Enzo ficaríamos ali.
Não podendo fazer mais nada, vesti uma sunga e fui pra piscina.
Mateus colou e eu dei trela, Enzo ficou emburrado o tempo todo
conversando com o Lucas e a Sofia que parecia se dar muito bem com o
molequinho e eu tava um pouco feliz de ver o Enzo sofrer por mim. É,
prevejo agitação!
Aquele sorriso...
— Uhun. Bora logo. — saí na frente e aproveitei pra ajeitar meu pau
que cresceu na cueca e puxou meus pentelhos. Isso dói. Ele logo me
acompanhou.
Como usar o carro para ir pra concentração seria roubada, e nem era
tão longe, resolvemos ir a pé mesmo. Só as meninas reclamaram, mas
acabaram sendo vencidas pelos cuecas. Estava bastante animado, riamos,
bebíamos (de forma moderada no meu caso) e zuávamos com todo mundo.
Apesar dos pesares eu senti que aquele carnaval ia ficar marcado pra geral,
só esperava que de forma boa.
Desde o outro dia o Mateus tinha grudado em mim. Ele deveria ter
uns 20 anos, era alto, esguio e tinha o corpo de um nadador, o sorriso era
aberto e bonito e ele tinha mãos enormes, imaginei ele as usando em mim,
porém eu não tava afim dele. Na verdade eu não tava afim de ninguém. Enzo
me inibia totalmente e se não fosse ele me olhando acusatoriamente todo
minuto, eu já teria beijado algumas bocas.
Ele segurou o abadá do menino e puxou pra trás e se ele não fosse
rápido em se equilibrar teria caído de bunda no chão. A galera abriu uma
rodinha e fizeram "uhhhh", pessoal adora confusão... Eu mesmo tava
letárgico esperando os próximos movimentos.
— Eu não fiz nada, ele que fez. — dei de ombros. — Não sei porque
tu se meteu. — Olhei ao redor e nossos amigos estavam esperando o
desenrolar das coisas. Engoli em seco.
— Ah não? Vou te explicar melhor. Tu. É. Meu! Só meu! — ele
agarrou minha cintura e colou nossos corpos. Ouvimos gritos, palmas e
assobios, mas quando ele uniu nossos lábios eu não consegui ouvir mais
nada, só o som do coração dele batendo junto ao meu. Ele tinha o mesmo
gosto que eu me lembrava, ou até melhor, o abracei e dessa vez eu não tinha
a menor pretensão de soltar. Perdeu playboy!
—19—
Sim, eu tentei mostrar isso pra ele, que esse tipo de envolvimento não
poderia acontecer, mas ele me repeliu totalmente e isso quebrou minhas
pernas. Passei o dia pensando nisso até que resolvi sair pra pegar uma
menina que me dava mole sempre que me via.
Até tentei ir de encontro a ele, mas quando ele negou de leve com a
cabeça eu travei no lugar. Soube ali que qualquer chance de conversa que
tínhamos havia sido desperdiçada. Até a vontade de ficar com a Cíntia havia
passado e ela notou isso logo depois do segundo beijo, no sofá da minha
sala.
— Então de algum modo você sente algo por ele, né? — ela
perguntou.
Bom, ela tinha um ponto. Primeiro eu tinha que dar um espaço pro
Iago, e até pra mim mesmo, depois eu tentaria conversar numa boa com ele
novamente e aí quem sabe a gente poderia voltar ao que sempre foi... Mas
como ele sabiamente disse uma vez, isso nunca iria acontecer. Impossível ser
como antes.
E os dias se passaram assim, comigo pensando sobre a gente tendo
algo a mais e com ele ignorando minhas investidas. E olha que eu sou bem
insistente. Mas o pior dia mesmo foi quando, no banheiro, ele me deixou na
mão — literalmente — e me colocou na parede dizendo que eu também
sentia algo a mais em relação a ele, além de tesão.
Desde esse dia que eu não tenho vivido direito. Na verdade, isso
aconteceu muito antes, no dia da festa, onde ele veio se declarando o
caminho todo no carro do papai, e quando eu segurei a cabeça dele pra ele
vomitar e eu senti que deveria cuidá-lo pra sempre. Mas eu sou bem
orgulhoso e mostrar meus sentimentos não é nem um pouco fácil.
“Mano, desculpa por aquele dia da menina que tu viu comigo aqui
em frente de casa. Ela é foda, na verdade. Mas calma! Não pare de escutar
antes de saber o que tenho pra falar. Só quero dizer que ela não tem culpa
dos nossos rolos. E sabe o que é o mais foda disso tudo? Ela percebeu que
eu sou seu antes mesmo de eu ter percebido isso...
Desculpa não ter coragem de te falar pessoalmente nem
corresponder seus sentimentos da maneira que tu merece, eu nem deveria
estar te ligando a essa hora da noite, né? Enfim, como tá o pessoal aí em
casa? Nem fui aí hoje né? Faz um tempinho que não apareço por aí na
verdade...
Ah, mano, eu sinto tanto tua falta! Eu só queria conversar com você
e ouvir qualquer palavra apaixonada. Daria qualquer coisa pra uma
declaração bêbada tua agora. Essa saudade não passa, saco!
Foi a coisa mais românica que eu fiz na minha vida, eca. Dizer que
não dormi aquela noite é desnecessário, mas de uma coisa eu tinha certeza,
agora o que iria acontecer era Enzo lutando por Iago. Só precisava descobrir
o que fazer para pegar o que é meu de volta. Quem poderia me ajudar? E
nem me venha com piadas de Chapolim. Quem nos conhecia que poderia dar
uma força, e umas dicas para mim?
— Lucas? LUCAS! — gritei pelo cara que era nosso amigo. Mais do
Iago. E dele eu não tinha ciúmes, embora devesse ter, pois ele e o Iago se
davam super bem, mas esse não é o foco.
Será que Iago comeu? Sim, porque fiquei sabendo que ele beijou uns
caras do nosso grupinho... Talvez eu também possa...
— Hmm, você teria uns minutinhos pra falar comigo. Prometo que é
jogo rápido. — quase supliquei e aliviei quando o vi dar de ombros. Ele me
chamou e nós caminhamos em direção à casa dele, que eu já tinha ido outras
vezes quando mais novo, quando tínhamos mais intimidade.
Foram apenas alguns minutos até chegar lá e tivemos que atravessar
um pequeno jardim muito bem cuidado, que deveria ser da mãe dele, pra
chegar na porta de entrada de madeira, que parecia pesada. Ele abriu com as
chaves e me convidou a entrar, nem me fiz de rogado, só pedi licença.
— Ele deve ter te contado, depois daquela vez lá na festa, que a gente
tinha... mmmm... — tentei achar as palavras, mas ele foi mais rápido.
— Você foi, e sabe disso. Iago é todo tongo, mas ele é muito coração
também. Nunca vi o moleque apaixonado e você conseguiu esse feito. E pra
quê? Pra meter uma bicuda na bunda dele? Por favor, né?! — ele levantou e
andou de um lado pro outro continuando a falar. — Sabe o que eu acho mais
engraçado? É que tu sente o mesmo que ele. E nem adianta dizer o contrário.
Você sente e capaz de ser até mais forte, mas não sei por que tem esse medo
irracional de se entregar. Porra, o que custa dar uma chance pro teu coração?
É a tua felicidade e do teu mano que tão em jogo e eu vou te falar, se tu não
se decidir, ele vai partir pra outra e aí, meu amigo, cê vai ficar chupando
dedo.
Ele sentou no sofá e ficou cutucando as unhas desinteressadamente, e
eu estava como? Bestificado, nunca levei tantos tiros de uma única vez. Tava
bem metralhado na verdade.
— Tem carnaval.
Ótimo, agora precisaríamos esconder esse fato dele, ou ele não iria,
mas conhecendo como o conheço era só não comentar sobre o assunto da
onde ficaríamos, que ele nem iria se tocar de colher informações.
Deixei meu pai de sobreaviso que pegaria o carro pedi pra ele não
comentar nada com a tia ou o Iago. Ele não questionou, apenas fez o que eu
pedi e eu o amo por isso.
No dia da viagem ele quase desistiu de ir comigo, mas meu pai deu
uma força junto a tia Lu. E colocamos o plano em ação. Eu só não esperava
que um parasita ia colar no Iago logo no primeiro dia! Moleque folgado,
achando que podia competir comigo. Conversei com Lucas e o Lipe acerca
disso e eles pediram pra eu relaxar e marcar logo em cima ou o Iago ia
acabar ficando com o maluco.
A hora de dormir era a mais divertida, relei nele a noite toda e senti
aquele troço duro na minha bunda. Tinha que deixar ele na vontade de me
pegar e quando ele viesse forte eu iria aguentar tudo sem reclamar e ainda
pediria mais. Saudades da porra desse mano dentro de mim...
— Olha lá, caralho. Aquele mané não sai de perto dele, como eu vou
chegar? — perguntei ao Lipe, irritado. Estávamos em uma rodinha, ele, a
namorada e eu. Eles riram.
Meus!
Segurei o abadá dele e puxei com força pra trás, senti o tecido se
rasgar na costura e ele quase caiu no chão. Com cara bastante irada ele
perguntou qual era a minha e eu respondi que aquele macho tinha dono e ele
era eu.
Não sou de brigar por qualquer coisa, mas se ele viesse, iria tomar
umas porradas bem no nariz arrebitado dele. Por sorte a irmã dele e o Lucas
tiraram ele da minha frente.
Me virei pro Iago bastante ofegante e ele tinha uma cara de surpresa
engraçada.
— Eu não fiz nada. Ele que fez. — falou presunçoso. Sorri de lado e
tive a impressão de uma veia saltar na minha testa.
— Vai caralho! Fode com vontade! Isso, porra!! — ele pediu todo
tarado. E como sempre falei, não se nega um pedido desse tipo, muito menos
ao meu molequinho. Soquei rola até o talo.
— Quer mais forte? Quer? Então pede, pede gemendo na rola, vai!
— falei rebolando e chupando a orelha dele. Senti minhas costas arderem,
consequência das unhas dele sobre minha pele. Gritamos e a partir daí, me
perdi na sensação de torpor e relaxamento que me apetece — tô falando
muito difícil porque tenho que exercitar meu curso de RH, haha.
— Agora, agoora, não. Mas tem que ser o mais breve possível. A
não ser que você não esteja querendo algo real pra valer. — olhos claros
semicerrados. Sorri.
— Não, caralho. Tá mais que na cara que quero algo sério contigo,
senão nem estaríamos namorando, — rimos — mas eu preciso dizer que
tenho um medo cagado do que nossos pais vão falar. — me deitei ao lado
dele mirando o teto.
Doeu! Esse filho da puta tava batendo mais forte depois que entrou
na academia. “Vou dá-lhe!”
— Corre não, porra! Espera eu te devolver. Aii, filho de quenga, vou
pedir massagem ao Enzo quando chegar em casa. — falei alisando o local
onde ele acertou. Garoto correu mais que The Flash, resmunguei sozinho e
alisei minha perna.
Agora que deu, esse povo só vem atrás quando a gente tá namorando,
quando estamos solteiros nem uma alma viva. Vai entender. E o pior é que
tem umas minas que adoram converter os viado, eu acho muito mais fácil
converter um hétero, só acho...
Os moleques que jogam futebol comigo se aproximaram. São gatos?
Até que sim, mas aprendi a ser seletivo, e agora só tenho pic... olhos para
um.
— Não desanima, filho. Tem outros lugares pra ir, você consegue! —
Pedro disse.
— Isso aí. Falar nisso preciso caçar estágio também. Já tenho alguns
lugares em vista.
— Tem que cortar esse cabelo e aparar essa barba, né? Chegar lá com
cara de mendigo, ninguém vai te dar trabalho. — minha mãe disse como
dona da verdade. E é sempre melhor deixar ela pensar que é. Não contraria
que faz bem pra saúde!
— Pow mãe, mas tem gente que gosta muito dessa barba assim. —
alisei meu rosto com um sorriso sugestivo nos lábios. Percebi Enzo ficar
vermelho do meu lado, mas engoli meu sorriso ao ver Juliana olhar do Enzo
pra mim, com uma cara de "Sei tudo que vocês fazem no quarto".
— Desmiolada essa daí. Homem pra mim tem que tá com rosto
lisinho, é muito mais gostoso. — ela falou fazendo uma cara engraçada e eu
fiz cara de nojo.
Acho que tem coisa pior. O Rodriguinho (guri do ônibus que sofreu
preconceito) me disse que quando estava no armário e saía com a mãe e
algum amigo, claramente gay, vinha cumprimentá-lo, ele faltava cavar um
buraco na terra e se esconder, haha. Então vamos agradecer, negada!
— Não te interessa, pirralha! Vai ver anime! — ela fez uma cara
emburrada e jogou os cabelos pra trás.
“Porra, esse mano me deixa no ponto, que gosto bom tem a pele
dele, ahhhhh quero morrer trepando nele!”
— Comida!
"Ô mãe! Cê viu minha meia?" "Na gaveta de meias, procura que
acha!" "Tá não!" "Se eu for aí e encontrar, te enfio goela abaixo!" — coisas
de mãe...
— Converter eu não sei, mas que tem gente que vai tirar o atraso de
comer cuzinho, isso vai! — nós rimos e ficamos conversando até a hora que
os meninos e meninas chegaram, é aquela algazarra.
Ficamos ali até dar umas 23h30min, já deveria estar cheio de gente lá
na boate. O lugar era bem agitado, tocava diversos estilos musicais, com
foco nos remix eletrônicos e dava pra rebolar legal com as luzes que eram
jogadas em cima da gente. Já agarrei a cintura do meu mano pra nenhum
marmanjo com tara de cu chegar perto.
“Se é amor eu não sei, mas que eu sou tarado nele, ah isso pode ter
certeza!”
—22—
— Tu pegou a mochila com as besteiras? — Enzo me perguntou e eu
levantei a mochila, que tava abarrotada de lanches, pra ele ver.
— Será que dá? — perguntei meio aflito e ele revirou os olhos antes
de responder.
— Tu tem um medo de passar fome, né? Se liga, dá e sobra.
Cheguei por trás e o abracei. Beijei a nuca dele que riu. Covardia ele
ficar rebolando aquela bunda durinha numa cueca preta pra lá e pra cá pelo
quarto. Se bem que eu tava só de shorts de malha que fica entrando no meu
rego e que ele dizia ficar tarado quando me via com ele...
— Tão apertado que acho que vou ter que dormir com o pau
enterrado em tu. — falei. A gente riu e se amassou no quarto dele, primeiro
lugar onde ele me pegou e me fodeu... pelo menos com meus neurônios,
hehe.
— Eu não disse nada, mas dia desses ela disse que tem gaydar. Quê
isso? — cocei a nuca embaraçado.
— Então eu não tenho isso, não. A não ser com os viadinhos que
andam rebolando. — dei de ombros.
— Empresta mesmo, Sofia. Ele vai ficar muito tesudo. — mordi meu
lábio ao imaginar a cena de Enzo de legging na minha frente. Se bem que
tem aquelas calças de ginástica que os caras usam e dá o mesmo efeito, meu
caralho deu até uma fisgada no calção. O que não podia acontecer, já que eu
tava usando uma bermuda própria pra caminhada que ficava no meio das
minhas coxas. Calçava tênis de amortecedores e uma camisa cinza de
algodão que não me deixava sentir muito calor, usava um boné vermelho e
carregava uma mochila super pesada nas costas, com minhas coisas e do
Enzo, ele tinha outra parecida.
— Fecha esse cu que falta pouco. E guarda fôlego pra subir a parte
mais alta, hahaha. — Lipe falou e nós rimos do som de desgosto que o Gus
fez. Até o Lucas que é molequim não reclamou, nem as meninas, mas no
caso delas eu explico: agachamento dá muita força nas pernas! Essas
marombeiras, haha.
— Frescura. Nem sei se a gente ainda tá junto. Ela ficou muito puta
porque eu fui na boate gay com vocês, mandei um foda-se e deixei ela
falando sozinha. — respondeu um tanto irritado. Travei ao ouvir que
provavelmente a mina era uma preconceituosa, tomei fôlego, mas antes de
abrir a boca o Enzo segurou minha perna e fez que não com a cabeça.
Mas agora era minha vez de mostrar meus dotes... não é minha pica
que vive meia bomba não, meus dotes ao violão mesmo.
Ficamos só eu e você
Fazemos a festa
Somos do mundo
— Cata a camisinha aí, quero foder esse pau até te deixar seco. —
pediu mordendo meu queixo. Engoli um gemido e procurei na minha bolsa
uma cartela de camisinhas que seriam muito bem usadas, obrigado.
— Deita aqui, vem! — deitei de lado e fiz com que ele se deitasse na
minha frente. Iríamos fazer a famosa posição de ladinho. Adorávamos essa
posição porque dava pra se beijar e explorar o corpo sem muito malabares.
Ele deitou a cabeça no meu braço e eu levantei sua perna definida, logo
depois enterrei minha rola no buraquinho dele sem estresse, ambos
gememos.
Daí ficamos nisso até eu envolver minha mão na pica durona dele e
aumentar o ritmo. Esse macho sempre dava de pau duro, exibindo o prazer
que sentia em me ter lhe fodendo, o que só aumentava o meu prazer. Ele
gemia rouco e falava pra fazer mais forte, no mesmo ritmo eu aumentei a
punheta dele, que não se demorou e espirrou porra longe, chegando a bater
no tecido na barraca, hahaha. O cuzinho dele apertou minha rola e com mais
algumas estocadas eu gozei tudo dentro, embora na camisinha, mordi seu
ombro pra não gemer muito alto e rebolei devagar pra prolongar as
sensações que estávamos sentindo.
Eu não sabia bem o que queria do futuro, nunca pensei muito nele.
Costumo viver mais o hoje. O passado também nunca me pareceu muito
atraente; alguns momentos inclusive, eu queria deletar da mente, porém, isso
não é possível, então eu prefiro viver o aqui e agora. O Enzo era o meu
agora.
Também nunca fui de pedir coisas para Deus, ou seja lá como você
chama, mas depois que o Enzo voltou pros meus braços eu sempre pedia pra
ele ficar ao meu lado por diversos anos. E isso é pensar no futuro, sem se
importar muito com o que eu ia encontrar lá na frente. Se o Enzo estivesse
nele, tenho certeza de que ele seria perfeito.
— Que bom que está, eu tenho certeza que vai dar certo. Vou falar
com meu professor amanhã, ele disse que ia me dar uma força quando o
curso tivesse acabando. Vou cobrar, né não? — sorri pra ele, que diminuiu a
velocidade num cruzamento.
— Com certeza, joga teu charme. Só não demais, vai que o professor
curte umas brotheragem?!
Teve uma época em que ele trabalhava durante toda a noite e dormia
o dia todo, logo não sobrava tempo pra gente. Coitado do Enzo foi o que
mais sofreu, logicamente.
— Se até a gente pode, por que eles não? Se liga, cabeção! — deu
um peteleco na minha orelha. Parei pra pensar na lógica e, tá, pode ser que
sim... pooode ser que sim...
— Ela vai te dar uma surra, e vai sobrar pra mim. Deixa eles, porra!
— Oi, mãe! Sim, foi muito dahora! Obrigado por perguntar. Tamo
bem sim! — falei sarcástico a vendo revirar os olhos.
— Não sou nem banco, ouviu? E vai logo que eu odeio ver essas
coisas espalhadas pela sala.
A tarde Enzo foi dormir na casa dele e eu na minha cama, só sei que
apaguei legal. Tudo bem que eu já estava acostumado a dormir com ele, seja
na minha cama ou a dele, mas a gente tinha que dar uma disfarçada básica,
pelo menos em casa. O legal de termos sidos criados juntos é que desde
sempre rolou essa cumplicidade, de tomar banho juntos, dormir juntos,
comer no mesmo prato, usar as mesmas roupas, tals... hoje a gente troca
muito mais coisas, muitos fluidos, hehe. Menos o cu, pra isso ainda não tô
preparado.
— Sim. Lembra quando a gente era moleque e uma vez a gente fugiu
pra lá? A tia ficou doida sem saber onde a gente tava, hahaha. — ele
respondeu.
— Eu sei meus limites, né carai? E correr risco assim é bom que só.
— ele sorriu de lado e nos beijamos, mas não muito porque estávamos na
sala da casa dele e corria o risco do Pedro entrar a qualquer momento,
mesmo eu achando que isso era impossível já que ele mal saía da minha
casa, hunf.
— Mas então, bora lá? Passar o dia por lá, aloprar um pouco.
Visitamos o palácio, vamos no pedalinho se for dia e depois a gente vê. —
pedi fazendo carinho na orelha dele.
— Bora sim. Vamo ali no quarto que vou colocar uma roupa. Hey, a
gente pode passar lá na Marli pra cortar meu cabelo? Tô precisando. — ele
se levantou e passou a mãos pelos fios rebeldes que estavam realmente
grandes. E que eu amava segurar e puxar enquanto metia nele de quatro.
Putz, lá tava eu de pau duro. Abracei ele por trás e desse jeito a gente chegou
no quarto.
— Por isso que eu só vou cortar nas laterais. Sou burro não, mano.
Também me amarro quando tu me pega assim. — virou de frente e me deu
um amasso daquele que me deixou de quatro. Mas não ficamos muito nisso
senão não íamos aproveitar o dia.
Ele colocou uma bermuda branca de tecido mole e dobrou nas barras,
vestiu uma camiseta cinza e calçou um allstar branco. Colocou a corrente
que gostava no pescoço, pegou os óculos escuros e um boné branco e me
chamou pra ir. Eu tava vestido com uma bermuda verde militar um tanto
curta, uma camiseta branca e tênis também brancos. Não tava de boné, mas
tava de óculos escuro também.
— Que você acha de pintar, Iago? — ela mexeu no meu cabelo pra lá
e pra cá, tava enorme também. Dei de ombros.
— Ah, platinaria! Fica lindo combinado com teu tom de pele, essa
cor morena, bronzeada do sol. As meninas vão cair matando. — ela sorriu.
Sutilmente olhei pro Enzo que riu minimamente e fez que sim com a cabeça.
Dei de ombros mais uma vez e concordei. Ela nem deu tempo de eu me
arrepender, quando dei por mim já tava lá com o cabelo cor de bagaço de
laranja. Quase choro.
— Não, pow. Ela vai passar a parada que dá a cor de platinado aí.
Né, Marli? — Enzo falou. Ele já tinha terminado o corte dele e tava me
esperando. Suspirei aliviado com a informação.
Daí foram mais alguns minutos até a cor certinha, mais alguns pro
corte degradê, outros pra aparar a barba... foi quase a manhã toda, aff odeio
isso. Mas no final ficou fodinha, eu curti, Enzo ainda mais. Percebi pelo
brilho do olhar dele, haha.
— Pior que não. Nossa cidade é tão legal, né? Mas mesmo assim a
gente prefere sair pra outros lugares?
Fazia muito tempo mesmo que não íamos ali, eu não lembrava que a
construção era tão imponente, apesar de achar que precisava de uma
pinturinha. O lago era outra atração à parte, de perto você não percebe, mas
ele tem o formato do mapa do Brasil. O cara que fez o projeto almejava que
o palácio fosse na verdade o maior cassino da América Latina então você
deve ter uma ideia do tamanho/imponência do prédio and entorno.
Devo dizer que ele relutou um monte, mas por fim acabou cedendo.
O palácio com todas as luzes acesas ficava ainda mais bonito e nós
namoramos um bocado ali antes de colocar meu plano em ação. Eram quase
8 da noite quando enfim conseguimos fugir pro ponto do lago onde ficavam
os pedalinhos. Os dois tentando segurar a risada feito idiotas.
— Acho melhor a gente ir, não? Tamo dando mole aqui, cuzão. —
ele disse me trazendo sanidade. Concordei e depois de nadarmos mais um
pouco nós subimos no pedalinho e pelados, pra não molhar, as roupas
levamos ele até o lugar de onde o pegamos. Aí ficamos um tempo nos
secando e ao vento onde não nos notariam de longe. Os dois tremendo de
frio com os mamilos tudo apontando, acabamos nos abraçando e sarrando
pra chegar um calorzinho mais rápido. Deu certo. Nos vestimos e pedimos
um uber que rapidamente chegou. O motorista olhando desconfiado os dois
de cabelos molhados e a gente trocando risos. Deve ter pensado que
estávamos bêbados.
A gente tava tão entrosado, tão na nossa bolha que nem vimos
quando o carro parou em frente à casa do Enzo. Pagamos o motorista e
entramos as gargalhadas comentando sobre a loucura que havíamos feito.
Enzo deu aquela olhada pra ver se o pai estava em casa e como obteve
apenas o silêncio em resposta ele me agarrou e jogou no sofá sentando no
meu colo em seguida.
Se eu soubesse o que aconteceria dali uns dias eu nem iria querer ter
acordado na manhã seguinte.
Passaram dois dias depois do meu passeio com o Enzo e nada muito
interessante aconteceu nesse intervalo, mas naquela sexta-feira eu tinha
acordado no susto. Porém o pior susto mesmo viria depois.
E é nessa hora que a gente encerra um capítulo pra não passar mal do
coração.
—24—
— Mãe, Pedro. Nada vai mudar, ainda somos filhos de vocês, ainda
somos garotos de bem, ainda somos amigos e parceiros, com o adendo de
que a gente agora se... — cotovelada no meu braço — Se namora. — sorri
sem graça, já ia falar besteira mesmo.
— Por favor, só... — fez gestos com as mãos que deu pra entender
que ela não queria ver nós dois se agarrando na frente dela, ou pelas ruas.
Mas ainda faltava o Pedro. Ele levantou e veio pra perto da gente,
Enzo tremeu um pouco e eu apertei a cintura dele passando força.
— Pai, que tipo de pergunta! Cê nunca vai saber. — Enzo riu de lado
e Pedro apenas balançou a cabeça de leve.
— Olhem garotos, eu não vou ser hipócrita de dizer que estou feliz
com isso, porque não tô. Mas como a mãe de vocês disse, desejo a felicidade
dos dois. Apesar de eu ter medo do que vocês possam ouvir lá fora e tudo
mais, a gente sabe que não é fácil manter um relacionamento assim. Então
mantenham o respeito e se apoiem um no outro pra que dê tudo certo
futuramente. A gente ama os dois. — nos abraçou e foi atrás da minha mãe.
— O pai foi me acordar agora de manhã e disse que tinha algo sério
pra conversar comigo. Lógico que eu fiquei muito tenso, como você diria:
tranquei o cu. Aí tua mãe tava lá na sala me esperando e disse que veio falar
comigo primeiro porque você é muito sonso.
Abri a boca pra protestar e ele sustentou o olhar em mim, por fim dei
de ombros. Né verdade mesmo que sou sonso? Deixe estar. Ele continuou.
— Aí ela disse que a vizinha parou ela no meio da rua pra falar que
acha uma pouca vergonha dois meninos que foram criados juntos ficarem se
agarrando na frente de casa. Tu acha que foi a boca maldita? — perguntou
curioso e eu dei de ombros. Tava sendo capaz de opinar no momento não.
— Tamo junto ainda, né? — perguntou e eu pude ver o medo que ele
tinha ao perguntar isso.
Porra, como não estar junto dele? Como ficar longe desse mano
assim, todo meigo e com medinho? Sorri de lado e passei meu dedo de leve
sobre a bochecha dele; a barba meio crescida, sobrancelhas franzidas de um
jeito tenso, boquinha vermelha e os olhos claros me fitando a alma.
— Não precisa nem perguntar. Juntos até que acabe. E nem quero
que acabe. — dei de ombros e virei de lado pra dar um selinho nele, que se
aconchegou no meu peito e eu o abracei. Um sentindo o respirar do outro, o
coração batendo no mesmo compasso.
— Dá pra notar que não rolou essas paradas, né? Tipo, eu não fiquei
com medo de isso acontecer, não. Não faz o estilo dos coroa agir desse
modo. Agora o que me deixou com medo, e ainda tô, foi de decepcionar
eles, de perder a confiança, saca?
— Vai dizer que a gente botou ele pra mamar e depois fez DP? —
falei. E gargalhamos que nem dois idiotas imaginando o seu Osvaldo
aguentando duas rolas, tadinho.
Ficamos cada um com seu pensamento. Sabia que ele não tava
dormindo porque eu também não estava, muita coisa na cabeça, muita
informação, muitos “e se”.
“Mano, se eu tivesse que enfrentar essas paradas sozinho,
certamente eu iria enlouquecer. E ainda tem o fim de curso, o trampo pra
caçar, as pessoas na rua, o resto dos parentes...”
— Valeu, mano. Essa é pra nós, vou trazer esse caneco pra casa!
Mas tudo o que eu queria agora era não pensar na família e em todos
os problemas que isso traz. Não tava tendo essa capacidade. Tinha que me
concentrar apenas na conquista do meu emprego, ponto!
Vamos orar.
Aí pedi uma tigela que veio com uma porrada de coisas dentro e
sentei numa mesa, catei o celular e liguei pro Iago, já tava com saudades.
Ele demorou um pouco pra atender e eu já tava acostumado com
isso, nem me estressava mais.
— Isso aí, lindão! Tá esperto hoje, hein? — tirou uma com a minha
cara e nós acabamos rindo. Falei que na entrevista foi tudo legal e que
contaria os detalhes quando chegasse em casa, depois desligamos.
Deixei o carro parado em frente de casa e segui pra casa do Iago, que
é onde mais passamos o tempo, só alguns metros de distância. Inclusive meu
pai tava passando muito mais tempo lá e eu tenho quase certeza que ele tava
pegando a mãe do Iago, minha sogra... Que embolação do caralho, mas dava
certo, isso que importa.
“Vamos nos mudar. Ninguém precisa saber deles, mas pra isso eles
têm que se manter no respeito. Aí você vende sua casa, eu vendo a minha, e
a gente compra uma melhor em outro lugar.”
“Luciana, eu não sei, mas a ideia é boa. Tenho certeza que a família
da Antônia vai falar merda no meu ouvido, dizendo que não criei o menino
direito. Parece que é verdade, né?”
“Não, a culpa não é nossa. Ou talvez seja, sei lá. Mas o melhor agora
é se afastar. Vai ser bom mudar de lugar, a gente pode ir pra outro bairro, ou
outra cidade, você pode arrumar um emprego melhor... vamos amadurecer
essa ideia.”
“Não fui nem na padaria, a Ju que foi e ela disse que tinha duas
senhoras cochichando e olhando pra ela, mas aquela ali tu sabe como é,
mandou as velha tomar no cu. Briguei com ela por isso, mas não achei
errado não.”
“Por isso eu gosto dela, não leva desaforo pra casa. A gente não
podia ser assim? Mandar tomar no cu e se foderem, além de tomar conta
cada um do seu rabo?”
“É, eu também penso assim... Mas vamos pensar nisso com calma”
Não ouvi mais, não quis, não tinha estômago, simplesmente virei nos
calcanhares e fui pra minha casa, meu quarto.
Vou conversar com meu parceiro e a gente vai dar um jeito nisso, só
sei que agora eu não tô com cabeça pra mais nada, até a felicidade em ter me
saído bem na entrevista foi ofuscada por esse episódio. Temo muito pelo
Iago também, por isso, pra ele, eu tento sempre parecer forte, afinal, eu que
arrastei ele pra esse mundo, então é por minha causa que todas essas paradas
estavam acontecendo. Esperava que um dia ele pudesse me perdoar por isso.
O que eu não gosto mesmo é de gente metida a sabe tudo e que quer
rebaixar as outras por ela ser como é. Odeio, e infelizmente lá tinha esse
grupinho mandando por tio Luci.
Dessa vez quem eles escolheram pra mexer? O gostosin aqui mesmo!
E o pior é que foram zoar justamente com minha sexualidade, coisa que tava
me deixado pra lá de doente esses tempos.
— Elton, valeu, mas eu quero mexer com essas coisas não. Só não
queria topar com eles de novo, posso não me segurar, e olha que tô aqui me
controlando pra não voltar lá e fazer eles engolir os alteres pelo rabo. —
rimos e ele reforçou que os manos iam ser expulsos, ele agradeceu eu não ter
feito nada que fosse prejudicar a mim (porque certeza eu seria indiciado por
assassinato, hue) nem a academia e reforçou o pedido de desculpas. Nem era
ele que me devia desculpas, eram os babaquinhas, mas deles eu não queria
ver nem rastro, e aposto que nem eles de mim. Enfim.
“Eu hein? Que mensagem estranha, toda certinha, ele não é assim.
Porra, vai ver a entrevista foi uma merda.”
Caminhei até mais rápido depois disso, queria chegar lá e pôr ele no
colo, embora eu também estivesse precisando, a prioridade sempre foi ele.
Por que, sei lá, eu amo esse cara? Que seja. Dei de ombros.
—26—
Paudureceu.
— Longe disso. Lá foi bem foda, acho que tenho chances. Mas não é
isso. Então, manja que a gente tava achando os coroas muito de boa com
nosso lance? — perguntou. Afirmei com a cabeça — Então, descobri que
eles não tão de boa não.
Certa vez fomos em um velório de uma tia que era velhinha já,
maquiaram a coitada e ela ficou parecendo aquelas meninas que vão com um
quilo de maquiagem pro colégio pela manhã. Meu riso contagiou todo
mundo, então, rimos e depois eu apanhei.
— Com esse emprego em vista? Nem fudendo. — ele riu sem humor
e se virou de frente pra mim.
— Nem tanto. Quer dizer, o treino foi bacana, a Luana passou uns
exercícios legais, mas rolou uma parada chata lá... — ele me solta e me olha
com os olhos em fenda, eu reviro os olhos percebendo que ele tá com
ciúmes.
Ele segurou meu braço e me virou de frente pra ele muito cauteloso,
aquele olhar de medo (medo por mim) me dá um nó na garganta. Respirei
fundo de novo e me sentei na cama, dessa vez eu muito interessado nas
minhas mãos.
— Eu sei, mas eu não queria ficar mais exposto do que já tô, e todo
mundo ia ficar olhando e apontando o viadinho. Ah mano, sirvo pra isso não.
— certeza que fiquei com a cara vermelha.
— Porque esse é um direito teu, e se você não exercer ele, pra quê
que vai servir? — ele pergunta como se fosse óbvio.
— Mas isso é pros caras que são afeminados, eu não sou assim. Não
preciso porra nenhuma.
— Sabe o que eu acho? Que se não fosse esses gays tão afeminados e
atirados, a nossa classe não seria tão julgada como é. — disse dando de
ombros. Ele revirou os olhos e passou a mão nos cabelos.
— E se não fossem esses mesmos gays que dão a cara à tapa, que se
mostram como são, a gente não teria todos os direitos que temos hoje,
teríamos que viver escondidos em cavernas com medo do que iriam pensar
da gente lá fora. Já tá na hora de você mudar seus conceitos, porque o
mundo não vai ser nada fácil pra você desse modo. Amor, entenda que não é
errado ser quem você é. — ele se aproxima de mim e segura meu rosto com
as duas mãos. Ainda tava sentado e ele em pé, tinha que olhar pra cima pra
vê-lo direito e, caralho, como ele é lindo e entendido das coisas. E ele me
chamou de amor... Porra.
— Tu sabe que eu sou novo nisso, Enzo, e eu tento, eu juro que tento.
Mas até ontem eu era hetero, mano, pra mim ainda é difícil entender todas
essas paradas e ainda assimilar que eu tô namorando um cara. Segura essa
barra junto comigo. — pedi suplicante abraçando a cintura dele. Ele suspirou
e fechou os olhos, depois encostou a testa na minha e afirma em silêncio.
Bom, eu não acho, mas quem sou eu pra falar, né? Além do mais ele
sentou no meu colo de frente pra mim. Esse porra sabe como me convencer
das coisas.
— E você é o quê?
“Certo, entendi... mas deu né? Por hoje tá bom de lição LGBT,
melhor ele me ensinar coisas mais educativas.”
— Deixa eu trancar essa porta, se meu pai pega a gente assim ele vai
me deserdar. — bundinha caminhando pro outro lado do quarto. Eu me
levanto e o abraço por trás quando ele gira a chave nos trancando. Daí eu
canto enquanto tento tirar a roupa dele.
Tramas do sucesso
Mundo particular
Solos de guitarra
— Ahh, Enzo. Morde assim, isso... porra, mano! — pedi vendo ele
pagar o melhor boquete que já recebi na vida. Ele adorava brincar com meu
prepúcio e eu adorava deixar ele brincar, hehe.
Dessas linguadas calmas ele parte pra garganta profunda. Meu Deus!
Quero morrer com a rola entalada na garganta dele! Já falei isso?
Depois de quase me fazer gozar duas vezes, ele chega pra cima e
coloca o pau em cima do meu, quentura gostosa, agarro a bunda dele com
uma mão e nossas picas com a outra e ele fode minha mão muito bem
enquanto chupa meu pescoço. Tá que não é meu cu que ele tá fodendo, mas
ficar nessa posição e desse jeito, já dá um gostinho do que ele pode ter se
esperar mais um tempo (talvez um ano, ou dois...).
Porra mano, “eu te amo”. Qual significado dessas palavras pra gente?
— Eu acho melhor. Temos que deixar algumas coisas claras pra eles.
Chegou a hora de crescer pra valer, mano. Mas não hoje. — ele me beija na
bochecha e eu engulo em seco, e seja o que Deus quiser.
—27—
Ele fechou a porta e de mãos dadas seguimos até minha casa, são
poucos metros, que pra mim pareceram quilômetros, haha.
Saca aquele horário que todos os seus vizinhos decidem ir pra porta
de casa? Então, esse era o horário. Mas nós andamos de cabeça erguida, não
temendo ninguém. A gente não tava trepando no meio da rua. E se
resolvermos trepar, olha se quiser! Né foda?!
— Você vai conseguir, tenho certeza. Tinha muita gente pra fazer
entrevista também? — ela perguntou pra ele e eu me sentei no espaço livre
perto do Pedro.
— Isso mãe, fala mais. Por que Enzo e eu não somos normais, né?
Duas aberrações que vocês tiveram o desprazer de pôr no mundo. — disse
injetado de raiva. Pedro se levantou coçando a garganta e foi pra perto da
minha mãe.
— Não foi? Então por favor, expliquem pra mim porque eu sou tonto
demais pra entender. — coloquei os cotovelos nos joelhos e apoiei o queixo
nas mãos esperando.
Todo mundo olhando com cara de espanto pra mim, mas eu não
aguentei ficar nenhum mais um minuto ali. Levantei e saí pela porta da sala
escutando Juliana brigar com eles enquanto Enzo me chamava pra voltar, pra
tentar resolver isso de forma adulta. Mas eu sentia muito, isso não iria
acontecer.
— Depois, Enzo!
Por que o ser humano tem que complicar tudo? Por que cuidar da
vida alheia quando se tem a própria vida pra se preocupar? Por que atacar
quando e é bem mais fácil estender a mão e oferecer ajuda? Tantos porquês e
nenhuma resposta. Que triste isso.
Mas tudo bem, eu sei que estamos no mundo justamente para isso:
descobrir as respostas. E eu espero imensamente descobrir as respostas para
as minhas angustias e dores. Na verdade, eu preciso.
Caminhei até chegar numa praça mais afastada do nosso bairro. Não
havia levado celular, nem dinheiro... trouxe apenas minhas dores.
Lana Del Rey, por favor, gata, faz uma música sobre a minha vida,
vai ser sucesso!
Sentei num banquinho de madeira que tinha ali, e que tava mole, e
fiquei vendo a vida passar. Uma garota fala ao celular com a amiga (isso eu
sei por ela gritar um “miiiiga”), um menino pede dinheiro para o avô pra
comprar sorvete, dois rapazes comentam sobre o último jogo do time deles...
Cada um com seus assuntos, sem interferir na vida do coleguinha. Olha
como é lindo! Não poderia ser sempre assim?
— Vai sim, senti nos ossos. — uma voz rouca e cansada falou do
meu lado. Olhei automaticamente pro senhor de boina preta que se sentou no
mesmo banco que eu, e que eu nem fui capaz de notar.
— Ah, meu filho, eu sou velho, tô aqui há muito tempo pra saber das
coisas. E eu sei que você tá bem atordoado com alguma coisa que aconteceu.
Namorada? — ele me olhou com interesse e eu consegui ver sabedoria e paz
de espírito nas rugas pouco profundas que adornavam o rosto dele.
— Ser pai não é fácil, um dia você se lembrará dessa conversa e vai
entender do que eu tô falando. Sabe, a gente não acerta sempre. O que eu sei
sobre ser pai é que a gente sempre erra tentando acertar. Tudo que fazemos
nunca está bom para os filhos e por aí vai...
— Mas e quando você sabe que seus pais não estão certos? Quando
se tem convicção disto? — perguntei e ele sorriu pra mim.
— Moro ali naquela casa. Quando quiser jogar conversa fora pode
chamar na porta. Até mais meu jovem. E vai chover, viu? — avisou antes de
seguir pra casinha dele, e eu fiquei ali remoendo a fala dele e rindo comigo
mesmo.
Eles até podiam estar na mesma que eu, querendo aprender e errando
no processo. Havia feito isso com o Enzo mais cedo, quando soltei uns close
errado sobre preconceito, então não seria muito improvável... Mas mesmo
assim o que eu nunca aceitei é falsidade e falso moralismo. Isso eu podia, e
iria, cobrar deles.
Voltei pra casa ensaiando discursos que eu nem sabia mais como
fazer. Mas deixar o coração falar é sempre uma boa.
— Você não tá ajudando, Ju. — meu pai disse pra ela que saiu
irritada pro quarto. Eu fiquei ali olhando os dois estranhos na minha frente.
Estranhos mesmo. Estava sendo incapaz de entender o jeito deles. Na
verdade, podia tentar, mas não conseguia engolir.
— Pode ser nossa casa, tia, mas a gente não reconhece mais como
lar. Tô falando por mim e pelo Iago. Tudo que a gente busca é aceitação,
respeito. Se vocês não podem aceitar, tudo bem, eu juro que entendo, mas
vocês tão desrespeitando o Iago e a mim. Vocês tão magoando nós dois e eu
vou falar: algumas feridas nunca se fecham. Cuidado pra onde vocês estão
levando esse barco.
Esperar pelo que nos aguardava, esperar pelo futuro, esperar que Iago
continuasse comigo apesar de tudo isso. Esperar que tudo melhorasse.
Esperar pela chuva...
Ele não voltou... Pelo menos não para mim, não totalmente; inteiro.
O clima entre as duas casas estava pesadíssimo, não tinha papo com
a tia, com o pai, nem com a Ju que tentava de toda a forma amenizar toda a
tensão existente. Meu pai até tentou falar comigo algumas vezes, porém
desistiu quando viu que eu, definitivamente, não ia dar abertura pra
aproximação, não naquele momento; eu precisava de um tempo. E foi
pensando nesse tempo que eu precisava que resolvi deixar o Iago na dele.
Mas quem eu tava querendo enganar mesmo? Tava sendo barra não
conversar com ele sobre todos os assuntos que normalmente falávamos, de
não beijar aquela boquinha gostosa sentindo a barba me arranhar o rosto
quando ele aprofunda o beijo.
“Se bem que é isso que ele tá fazendo agora.” — respirei fundo,
frustrado.
E é ser muito cuzão me fazer entrar nessa — e geral viu que foi ele
que arrastou pra esse mundo, não o contrário como ele gosta de falar — e
simplesmente cair fora na primeira balançada que o barco dá.
“Iago! Ele precisa sabe disso, eu preciso dividir com ele minha
felicidade, ele..”.
Porra, nem sabia por onde ele andava. Cheguei a murchar. Mas não
era hora... A verdade é que era hora de trazê-lo de volta. Isso! A gente iria
conversar e tudo iria voltar a ser como antes, ou melhor. Mas a gente
precisava, real, conversar sobre tudo isso que tava acontecendo.
— Por que isso agora, pai? Relaxa. — tentei sair do abraço, mas ele
não deixou.
Talvez o Lucas soubesse por onde ele andava. Liguei pra ele e
perguntei onde ele estava no momento, sorte ele estar em casa. O trajeto não
era tão longo. Quando cheguei lá o chamei pelo nome e ele saiu fechando a
porta atrás de si.
— O que mais me choca é ver que a tia pode ser duas pessoas em
uma. Tão defensora quando é com os outros e quando o lance acontece em
casa ela age assim. Teu pai eu não posso falar porque não conheço tão bem.
Mas e aí, como vocês ficaram depois disso? — perguntou raspando o fundo
do recipiente com a colher, que até pouco tempo estava transbordando. O
meu ao contrário tava quase derretido.
Como era bom conversar com esse mano, tão novinho e tão cabeça
aberta e coração grande, conselhos ótimos e um excelente amigo. Fiquei até
mais animado depois de conversar com ele e no final da tarde fui embora pra
casa.
“De amanhã não passa! Só mais essa noite e você volta a ser meu
Iago.” — pensei convicto.
Mas nem precisei esperar mais uma noite, ele apareceu lá no final da
rua; sem camisa, de chinelo de dedos, boné virado pra trás, mesmo fazendo
sol na cara, e andando meio despreocupado, embora os ombros estivessem
um tanto caídos.
“Vai ser agora! ele querendo ou não vai ter que ouvir. Já fugiu por
tempo demais, já dei o tempo que devia dar. É isso!”.
— Oi? Oi?! Oi, o caralho! O teu cu! Cadê você esses dias? Soltou
aquela bomba e me deixou sozinho pra apagar o incêndio! Cê tá sendo
covarde, mano. Qual é? Se arrependeu já? — falei nervoso. Estávamos em
frente a minha casa, a sorte era não ter ninguém na rua. Final de tarde e tem
dois machos brigando em tom alto que nem duas cadelas? Hunf!, ia ser
assunto pro mês inteiro.
Bom, eu tava latindo sozinho por enquanto, mas ele iria falar, a veia
na testa até dilatou; tava brabo memo.
— Eu sei que tá, caralho, mas é agora que a gente tem que ficar
juntos, senão do que vai ter adiantado tudo isso? Nada! Aí tu me abandona e
se isola. Me deixa sozinho sem saber das coisas. Isso é cruel comigo! —
falei indignado. Senti que meus olhos querendo vazar, mas me segurei o
máximo.
Ele respirou alto e colocou as duas mãos no quadril, olhou pra cima e
voltou a me encarar. E eu definitivamente não curtia esse olhar.
— Eu não sei se quero continuar com isso. — falou quebrando meu
coração em caquinhos. Quase não consegui ouvir, e as palavras ficaram
rodando na minha cabeça como um maldito moinho.
— Porra, mano, ter a mãe e o pai falando aquelas coisas pra gente
doeu. Doeu demais. E se com quem deveria nos amar e acolher foi assim,
imagina como vai ser com os outros lá fora? Eu não quero isso pra mim,
Enzo. — os olhos dele estavam cheios de lágrimas e ele me olhou quase que
com pena. E eu me segurei pra não chorar na frente dele.
— Quem sabe eu não vá mesmo, já que você não tá aqui pra fazer
por mim. Acho que a gente deveria terminar então! — sugeri na hora da
raiva.
— É, eu também acho.
— Então, tá!
Mas porra, como, se ele já tava todo decidido? Justo agora que minha
vida tava entrando nos trilhos. Foda!
É isso. Perdido.
—29—
Não que eu já não soubesse disso, mas reconhecer esse fato já é outra
história. Juliana passou a ser uma grande defensora da causa LGBT e,
sempre que podia, dava lições de moral em algum desavisado que soltasse
alguma asneira perto dela.
Me assustei com Juliana que chegou por trás e parou do meu lado
olhando pra onde eu estava olhando segundos antes. Dei de ombros.
— Talvez você tenha razão, talvez eu devesse lutar por isso. Mas tá
tudo muito estranho ainda, e eu nem sei onde ele tá morando, nunca mais vi
o Pedro também. — dei de ombros e entrei em casa sendo acompanhado por
ela.
Eu ri do jeito dela e beijando sua testa fui pro meu quarto me isolar
de novo. Trancado ali no meu cafofo, largado na cama, ouvindo música e
tentando arrumar uma forma de sair dessa fossa que eu me meti.
Até que ponto tudo isso vale a pena? Até onde devemos colocar
nossa cara a tapa e passar por tudo que temos que passar até encontrarmos
esse tal lugar ao sol que todos lutam para encontrar?
Nunca na minha vida eu poderia imaginar que minha vida chegaria
ao ponto que chegou. Quando que eu sonharia em me envolver com um
brother meu a ponto de me apaixonar pelo cueca? E como se isso já não
fosse loucura suficiente, agora tenho que ficar ouvindo gracinha da coroa e
desses zé cuzões que um dia eu já chamei de amigo/irmão/brother/parceiro e
os caralho a quatro. Pelo menos os fiéis ficaram.
Única coisa boa era ver quem eram os amigos de verdade, e esses eu
iria manter bem perto. Os moleques do futebol continuavam os mesmos,
mesmo sendo os machões são muito mais verdadeiros e amigos que os
babaquinhas da faculdade.
Cara, minha vida já deu tantas voltas que provavelmente meu cérebro
rolou ribanceira abaixo em uma dessas curvas, por que vou te contar, hein!?
É bizarro você imaginar tua própria mãe pedindo pra você segurar tua onda e
não ficar se expondo muito, simplesmente pelo fato de tu ter se apaixonado
por alguém que é do mesmo sexo que tu.
Mas não posso deixar que todos pensem que ela é esse ser asqueroso.
Minha mãe também teve uma infância difícil, foi abandonada pelo pai dela e
foi criada pela mãe da minha avó, porque a mãe dela (minha véinha) teve
que ir trabalhar pra sustentar as três filhas (minha mãe e minhas 2 tias).
Então ela também tinha traumas e conflitos pra lidar. Não que isso
justifique tudo, mas não consigo contar a quantidade de vezes que ela já me
procurou nos últimos dias para me pedir perdão por tudo. Apesar dela
continuar pensando basicamente igual. Eu perdoei, né!? Vou fazer o quê?
Mas por mais que possamos perdoar, palavras muitas vezes deixam
cicatrizes mais profundas que qualquer golpe físico que possamos receber, e
por mais que tenhamos tentado ou nos esforçado, o clima dentro de casa
nunca mais voltou a ser o mesmo.
E me fez viver
Eu vou te desenhando
Eu tô te esperando.
Foi então que prestei atenção na música que tava tocando no fone.
Antes que eu pudesse pensar em trocar ou tirar o fone, as lágrimas já
estavam rolando pelo rosto. Segurei essas malditas o dia inteiro pra agora
simplesmente por causa de uma música, elas rolarem a ponto de eu me
encolher todinho na cama.
De repente uma lembrança me abateu tão vivida que parecia ter sido
ontem. Começou com uma mensagem dele pra mim.
“Mano, eu tô aqui tentando dormir. São três e meia da manhã e você
tá aí tão longe do seu maior fã. Tu não tem noção do quanto eu queria você
bem perto de mim agora. A distância dói e a saudade vem, mas de algum
jeito me faz bem saber que você também sente isso aí do outro lado do
sudeste. E eu sei que sente!
Hoje, tanto tempo depois eu ainda lembro disso e meus olhos enchem
de lágrimas. Enzo já era meu e eu era dele antes mesmo de nos atentarmos a
isso. Engraçado como sempre fomos sonsos e pensamos que nosso carinho,
cuidado e companheirismo era só coisa de brother. Não que depois de tanto
não fossemos mais, só que nossa brotheragem evoluiu que nem Pokémon,
né?
Bem confuso.
— E por que você não avisou que iria vir, Mano? Eu te buscava no
aeroporto, pô! — perguntei agora indo em direção ao quarto. Ele veio me
seguindo e disse:
Estreitei os olhos pra ele e mordi a língua pra não mandar ele se
foder, mas logo abri um sorrisinho e levei a mão até o pau, apertei gostoso e
falei: — Aqui, mané! Cheira aqui e vê se tá podre também! — o sorriso se
alargou e virou uma risada quando eu vi ele arregalar os olhos e ficar
vermelho. Larguei ele lá e saí do quarto indo pro banheiro tomar uma ducha
pra tirar o suor do corpo.
Depois do banho sentamos pra almoçar. A tia tinha saído com a Dani
pra ir resolver alguma coisa no centro. Então deu pra colocarmos todo o
papo em dia de boas. Ele me contou que a faculdade tava bem puxada e que
parecia que ele iria enlouquecer, principalmente nas semanas de provas. Me
disse que tava saindo bastante com os amigos da faculdade e com os
moleques da república. Percebi que ele ficou meio estranho quando falou
dos caras, mas decidi questionar sobre isso em outro momento. Resumindo,
meu molequimho tava ali de verdade e eu estava com o coração quase
explodindo de tanta alegria, mas tava segurando pra não parecer viadagem.
Na hora de dormir foi aquela coisa. Tia Rose queria que ele dormisse
no quarto de hospedes, mas acabei convencendo ela que o Enzo poderia
dormir lá no quarto pra gente continuar colocando o papo em dia. Ela acabou
ficando convencida e levou alguns travesseiros, colchão e cobertor lá pro
quarto. Quando deitamos, Enzo tava largado no colchão do lado da cama e
eu na cama, ambos olhando pro teto escuro enquanto conversávamos. Ele
suspirou e se calou por um momento. Eu olhei pra ele e vi q ele tava olhando
pela janela e com uma expressão pensativa. Sem que eu dissesse nada, ele
falou:
— Um dia vamos ficar juntos de novo. E aí será pra valer! Sem que
nada separe a gente de novo. Fechado? — olhei pro mindinho dele e agarrei
com o meu dizendo: Fechado, bro!
Antes dele, meu hobbie era brincar com as pessoas. Meu lance era
meter meu pau o mais fundo que eu conseguisse, dar uma trepada bem
gostosa, gozar e meter o pé. Nunca liguei pra sentimentos e muito menos
para os donos desses tais sentimentos. Cara, te falar, viu? Na verdade, o
grande lance é que eu tinha medo de me relacionar com alguém novamente.
Depois de duas traições e algumas desilusões, ficamos meio cabreiros com
essas paradas, né!? Tinha decidido que não deixaria ninguém me fazer de
trouxa novamente e aí, Iagão Galinha FDP da Silva nasceu :)
Não sei como será a minha vida daqui para frente. As coisas
mudaram e tomaram um rumo completamente inesperado. Talvez até seja
essa a Graça da vida! Ter que viver esses detalhes que jamais imaginaríamos
um dia termos que vivê-los. Até porque, que graça teria se planejássemos a
vida e ela seguisse a risca tudo aquilo que planejamos? Cadê aquela
adrenalina que sentimos quando o carrinho da montanha russa despenca na
primeira decida e tu grita até pela tua mãe? Cadê o frio na barriga ao olhar
fundo nos olhos de alguém que tu ama pra caralho? Cadê o cagaço que tu
sente quando se toca que tá ficando adulto e precisa tomar decisões que terão
consequências diretas no desfecho do teu futuro? Cadê a honra que eu
deveria estar sentindo por finalmente ter dito ao mundo quem eu era de fato?
Mas quer saber? Talvez seja esse o sentimento de honra! O sentimento de
viver de verdade! Sem ter que me esconder atrás de máscaras, sem ter que
fingir ser um personagem que tem todo um roteiro de vida para que consiga
agradar essa plateia que fica todo dia te assistindo e só esperando o momento
onde tu tropeça e cai para servir de entretenimento pra vida sem graça deles.
E me fez viver.
Bom, acho que já chorei demais! E se tô falando que temos que nos
erguer e seguir em frente pra sermos aquilo que somos, é exatamente isso
que vou fazer.
Porém não serei hipócrita e dizer que não entendo ele, eu fugi uma
vez, mas voltei. Espero que ele volte também.
Mas não quero falar muito sobre isso pra não ser chato, só quero
mostrar em como profissionalmente eu posso estar super realizado, porque
em outras áreas...
Enfim.
Precisei me mudar, e isso era uma coisa que com ou sem Iago teria
que rolar, eu ia ficar mais perto do meu trabalho, menos tempo no trânsito,
mas produtível no meu cargo... Nem tinha como contestar, e com aquele
término, resolvi agilizar o mais rápido possível minha mudança, que
aconteceu uma semana depois de toda a turbulência.
Nos primeiros dias coloquei internet em casa e não fiquei avulso sem
ter nada pra fazer, então eu tava tranquilo, na medida do possível.
No fone de ouvido Kell Smith canta a música Era Uma Vez, e ela
parece retratar o que vêm me acontecendo, principalmente esse trecho aqui:
É que a gente quer crescer
“O que eu faço? Peço pra ele sair? Seria crueldade, visto o frio
danado que tá fazendo, mas também não posso deixar ele ficar aí!
Caralho!” Eu tava naquele impasse.
— Ei, amigo, cê não tem pra onde ir? Não pode ficar aqui não, cara.
— falei. E quando ele levantou o rosto e eu tomei o maior susto do mundo.
Minha mãe tava na sala e eu passe feito um raio sem falar nada, mas
ela me parou antes de eu sair pela porta.
Começou a chover fininho, mas eu nem liguei pra isso. Peguei meu
celular e vi um contato de um taxista brother meu pra ver se ele poderia me
levar lá na puta que pariu, que é onde o Enzo morava.
E eu tava com muita sorte mesmo, o filho da mãe tava no bairro ali
perto. Combinamos um local pra ele me pegar e me levar até meu parceiro.
Nem tive que esperar muito.
Mas a sorte acabou quando eu cheguei lá, hehe. Ele ainda não havia
chegado do trampo. Nem sabia que horas eram e não queria tirar o celular do
bolso, pra variar a chuva apertou daquele jeito. Molhei minha calça todinha,
porque a casa do Enzo não tinha uma marquise na frente e quando a chuva
vinha de vento me pegava todo. Fazer o quê além de esperar? Nada!
“Talvez eu mereça. Isso! É castigo! Castigo por eu ter feito o que fiz
com a gente. Isso, apenas aceite.” — pensei comigo.
Levantei a cabeça e olhei pra ele, meus olhos quase vazando, mesmo
que ele não conseguisse ver. Ele ficou chocado, a chuva aumentou e eu me
levantei arrumando a minha roupa no corpo pra parecer "melhor". Com
passos vacilantes me aproximei dele devagar e ele deu um passo pra trás,
movimento que trinca meu coração um pouquinho. Mas não desistiria agora.
Porra, como eu pude ser tão estupido e deixar o Enzo sozinho quando
o mundo tava caindo na nossa cabeça? Se eu pudesse, eu me bateria, mas
tudo que eu posso fazer agora é apertá-lo nos meus braços até ele se acalmar
por completo. E ele termina me apertando igual e com o rosto enterrado no
meu pescoço. As lágrimas dele, ao contrário da chuva, são quentes e me
molham ali, eu enterro meus dedos nos cabelos molhados dele fazendo um
cafuné que eu sei que vai acalmá-lo e beijo o pedaço de pele descoberto do
seu pescoço.
— Eu acho melhor a gente entrar ou vamos pegar uma gripe de
deixar o corpo moído. — sussurrei no ouvido dele antes de afastar seu rosto
do meu pescoço, olhar nos seus olhos claros, agora avermelhados, e lhe
ceder um beijo molhado na sua testa. Ele suspira.
Sem nenhuma resistência ele conseguiu me levar pra onde, penso eu,
ser o seu quarto. Na verdade, não tava prestando atenção aos detalhes da
casa, só conseguia enxergar ele, e ansiar pelo beijo que ainda não demos.
— Enzo!
Caralho, lembrei de tudo que rolou até o momento. Foi lindo que
chega até parecer irreal, apertei o mano nos braços só pra tirar essa dúvida
da minha cabeça e ele deu uma gemidinha ainda em sono.
— É verdade.
Tava sendo muito piranho? Claro que tava, sempre fui, mas com ele
eu me solto mais, hehe.
— Isso era tudo que eu queria ter ouvido antes — olhos perto de
transbordar. — Pra sua sorte eu ainda te amo e te quero de volta.
— Eu amo seus defeitos. Amo a forma com que você protege os seus
queridos. Amo quando fica com vergonha e coça atrás da nuca. Amo você
ser assim todo tonto e molecão. Te amo por completo, mano, e eu sei que só
vou ser completo se eu te tiver do lado, ou seja, também é um sentimento
egoísta, e sabe do que mais? Tô me fodendo pra isso. Só te quero hoje,
amanhã, depois de amanhã e depois e depois e depois e depois... — e eu o
calo com um beijo apaixonado e por ali ficamos, a nos perder incontáveis
vezes um no corpo do outro, matando quem estava nos matando.
— Iago... Iagooo, acorda, porra. Jesus, que sono pesado. Vou comer
o cu dele pra ver se ele acorda.
— Chora não, molecão — ele beija o caminho que minha lágrima fez
pela bochecha —, eu sofri muito também, mas eu entendi teus medos. Não
querendo me gabar, mas essa é uma das minhas qualidades, eu consigo me
colocar no lugar do outro e ver a coisa de outra perspectiva. A gente saiu do
armário, mas ainda tem um monte de bugiganga dentro dele que a gente
precisa limpar pra conseguir seguir em frente com isso. A aceitação dos
coroas era um ponto primordial pra você. Sei bem como tu valoriza a família
e ficou mal com aquelas reações. Mas agora eu não vou te deixar sair de
perto de mim nunca mais, nós vamos crescer juntos e mostrar pra quem quer
que seja que somos capazes de construir uma vida juntos como qualquer
outro casal por aí, seja ele hetero ou homo. Temos amor um pelo outro e isso
é o que importa.
— Hmm. Também senti cada veia saltada tua, e quando teu pau pulsa
assim querendo mais. — o caralho deu aquela contraída marota com o agarre
dele que riu. — Mas camisinha é um item essencial na vida de um casal,
saca?
Acordei com um toque de celular, que não era o meu que tava
sempre no silencioso, então só podia ser do meu molequinho. Olhei pelas
frestas da cortina e percebi que já havia amanhecido, Enzo dormia roncando
baixinho no meu ouvido...
O toque no celular parou, mas como ele não acordou, eu também não
iria acordá-lo. Eu ia ficar ali me perdendo nas sensações que o corpo dele me
proporcionava.
Sobre tomar no cu: Já quis. E só rolava esse "querer" com ele, mas
algo me travava sempre que esquentava mais.
Enzo me ensinou como pegar o ônibus que passava pelo meu bairro e
eu só precisei caminhar algumas quadras pra chegar no ponto, esperei por
mais ou menos meia hora e finalmente peguei a lotação... nome mais certo
que se pode dar pra um ônibus: lotação. Tinha gente até no teto! E o
motorista que acha estar dirigido um carro de corrida? Só não xinguei a mãe
dele porque ela não merecia.
Nossa relação estava desgastada, não por falta de esforço dela, que
tentava aproximação todo santo dia, era por minha causa mesmo. Acho eu
que aquela cumplicidade de mãe e filho que tínhamos morreu e nem a porra
de um desfibrilador iria fazer ressuscitar.
Achei maneiro o Pedro ter ido atrás do Enzo pra conversar, mas se eu
falar que não fiquei com ciúmes por ele não ter feito o mesmo comigo eu
vou estar mentindo. Tudo bem que o Enzo é filho dele, mas, porra, eu
também sou! Ou pelo menos me considerava assim, agora eu não sei de mais
nada.
Entrei pela porta sem fazer muito barulho e pretendia ir para o meu
quarto, mas ouvi vozes na cozinha que durante algum tempo deixaram de ser
costumeiras.
Porra, não gosto quando ele me chama de filho, fico todo emotivo,
por razões óbvias. Mas faço aquele esforço, limpei a garganta e me sentei à
mesa junto deles.
— Ér... sua mãe me falou que você foi com o Enzo esse final de
semana? — perguntou. Inflei o peito e aquela veia marota na minha testa
salta.
— Fui sim, algum problema com isso? — a melhor defesa é o
ataque. Ele suspirou e meio que revirou os olhos.
Eita, reivindicou o direito. Senta lá, Cláudia! Quase rio, mas, né, me
seguro.
— Por tudo! Por não ter aceitado vocês, por não ter te procurado
depois pra pedir desculpas, por não ter agido feito pai.
Rimos e mais uma vez ele pediu perdão por não ter agido como pai,
me dando um beijo na cabeça. Minha mãe tava limpando as lágrimas, eu
esperava que um dia ela também percebesse que o melhor pra eu e o Enzo
era ficarmos juntos.
Todo mundo calado olhando pra ela que nem liga pra situação.
Minha mãe vermelha de vergonha, assim como Pedro e eu me segurando pra
não rir e dar margens pra mais brigas, mas posso falar? Amo essa menina.
Ponto.
Percebo Rodolfo vir ao longe, o Léo corre até ele e ganha carinho,
depois sai correndo de novo e o carinha vem chegando perto. Ele estende a
mão e a gente toca nos cumprimentando, aí ele senta no banco perto de mim
e puxa assunto.
— Pode crer. Minha mãe sofreu um bocado quando falei pra ela que
era gay, mas o maior medo dela era eu sofrer preconceito na rua. Tá ligado
que esse é o terror dos pais de homossexuais, né? Não tô falando de todos já
que alguns não tem nem coração e saem expulsando os filhos de casa, tô
falando desses que têm amor de verdade. O bom é que o amor sempre
prevalece. Que legal que os pais de vocês tão aceitando, isso é muito
importante pra gente, né?
Concordei com ele e ficamos ali batendo um papo até o tempo fechar
e ameaçar chover de novo. Com um assobio eu chamei o dog e com ele
preso na coleira caminhei com o Rodolfo até nossa rua. Nos despedimos e eu
fui pra casa, soltei o Léo que foi tomar água e fui pro meu quarto dar aquela
estudada de todos os dias porque as provas de recuperação tavam bem em
cima de mim.
Meu TCC tava paradão, mas com a recuperação das matérias que fiz
— e me saí bem — eu poderia retomar o meu trabalho de conclusão de
curso, e eu tava fazendo isso enlouquecidamente.
Ansiedade me definia.
— Vai sim, já até marquei pra você não ter como fugir. Emprego aqui
é quase certo, você só precisa arrasar na sua apresentação. O dono dessa
empresa é um grande amigo meu e eu vi seu esforço em se sair bem nessa
reta final, quero o melhor pra você.
Parece que tudo iria dar certo agora, mas nem tenho como ter certeza,
só aguardando os episódios da próxima temporada, haha. Como se isso fosse
uma série.
— Mais fortes que nunca. Passamos por uma barra aí, mas tá tudo
bem agora, espero que continue assim.
— Você fala dele com um brilho no olhar, ain. Que lindos. — ele
bate os cílios que tenho certeza ele passou aquele troço pra alongar.
— Nossa, essa nova raça de bee's que se tratam como héteros. Sai de
retro. — ele faz o sinal da cruz umas três vezes e algumas pessoas do ponto
riem, todos ali curtem essa figura. O ônibus dele passou primeiro e ele sai
rebolando enquanto dá tchauzinho pra geral. Logo depois é o meu e vou
direitinho pra casa tirar um ronco.
Eu sabia que tinha todo um processo, e pra ver minha família unida e
em paz novamente eu me controlava pra que isso acontecesse.
— Boa sorte, mozão. Eu sei que tu vai se sair bem, quebra essa
banca! — ele me abraça e me beija, eu rio.
— Vamo gente, quero pizza de calabresa com coca gelada. Será que
lá eles vendem aquela que tem borda de coxinha? Seria meu sonho? —
Juliana nos chamou e nós finalmente a seguimos, rindo das loucuras dela.
— Tô sozinho não brother, meu namorado tá por aí. — falei pra ele e
tomei um gole da minha cerveja.
No geral a noite foi muito bacana, mas certa hora tínhamos que ir
embora né.
Mas como sabemos nem tudo são flores, nem tudo é mar de rosas.
Não, não brigamos nem nos separamos de novo, hehe, a questão era agora o
meu trauma.
— Por volta dos nove anos. Lembra quando uma irmã da mãe veio
passar uns dias lá na nossa casa? E ela veio com o marido? — enfatizo o
marido pra ele perceber quem foi o ser. Ele pensa um pouco depois me olha
assustado, aí ele me puxa pra um abraço e eu vou sem resistir.
— E você passou todos esses anos sem falar com ninguém, mano?
Como aguentou? — perguntou suave alisando meus cabelos, senti tristeza na
voz dele, esfreguei meus olhos que queriam vazar.
— Não sei, cara. Vergonha. Medo de alguém não acreditar em mim.
Medo de ele tentar de novo...
— Mas passou, passou e agora tu sabe que pode dividir todos os teus
segredos comigo. Sou teu brother, teu namorado, teu homem, eu sempre vou
estar do teu lado, não tenha medo de se abrir comigo, porque eu não vou ter
medo de me abrir com você. Te amo, molecão. — ele se inclina e nós damos
um beijo estilo homem aranha. Só ele sabe como me acalmar e me deixar
nas nuvens, eu sinto meu peito bem mais leve depois de contar essas paradas
e sinto também que agora eu posso me entregar sem medos e ressalvas.
—33—
Como é pra você ouvir da boca de alguém muito querido algo que o
fere desde muito tempo? Acho que muitas pessoas não sabem responder,
mas te digo, a sensação é horrível, de todas as formas. Você se sente incapaz,
de mãos atadas, você acha que de algum modo poderia ter evitado aquilo,
mas porra, como eu poderia evitar se eu era tão criança quanto ele?
Irracional eu sei, mas foi como me senti quando Iago me contou que foi
molestado quando criança.
Mas eu sabia também que não poderia ficar me atendo a esse fato,
embora Iago sofresse consequências desse abuso (como não se permitir
sentir tudo... saca?) ele não ficava se lamentando e se culpando por algo que
ele definitivamente não tinha culpa, então, euzinho aqui, não iria ficar
tocando no assunto que eu sei que deixa ele mal.
Num futuro bem próximo a gente podia pagar um terapeuta pra ele,
ou algo do tipo, pra ele poder expurgar e superar tudo, de fato.
Era noite, fazia calor, ambos tínhamos chegado dos nossos empregos
há algumas horas e agora íamos comer umas besteiras vendo alguma série na
TV. Assim como Iago, eu tava em roupas bem mínimas, só de cueca boxer
preta, e avental pra não queimar minha barriga.
Não sei quantos minutos — ou horas — depois ele saiu, só sei que
acordei com ele na minha frente balançando meu ombro e chamando meu
nome baixinho.
Ele revirando os olhos: — Quando cê faz a chuca, não é pra dar o cu?
Então, porra. Quero tentar hoje. Tu sempre me deda e fica relando o pau no
meu rabo. Bora tentar pra valer hoje. — disse ansioso. Meu pau deu aquela
contraída ansioso e eu engulo em seco.
— Enzo, eu não fiz essa parada tão chata e escrota atoa, se você não
comer meu rabo eu saio e compro uma piroca daquelas de plástico. — pelo
tom da ameaça, seria melhor ceder. E ele nem precisava ir tão longe, eu
guardo um consolo em uma das minhas gavetas, hehe.
— Beleza, mas sem forçar nada. A gente vai fazendo até tu se sentir
confortável o bastante. — aliso o rosto dele e ele consente, sentando no meu
colo de frente pra mim. Nos beijamos primeiro de levinho, sentindo o gosto
tão característico da boca um do outro, mas esses beijos calmos logo perdem
o compasso e aquilo vira "engolição de boca alheia". Tenho que falar: adoro.
O que me deixa muito feliz também é a forma que o pau dele espeta
minha barriga, com a cabeça molhada saindo pela parte de cima da cueca, e
o jeito que ele rebola no meu cacete que tá querendo se enfiar pela cueca
dele.
— Vou te comer tão gostoso que tu vai querer todo dia. — ele ri e
nega com a cabeça, cheiro a cueca dele o olhando nos olhos.
— Não vou, não. Eu sei que é bom, mas todo dia deve doer que só a
porra. — nós rimos.
— Eu que sou, né? Maior putão que você respeita. Você! — nós
rimos, aí eu volto pra pica dele e enquanto chupo só a cabeça meto um dedo
salivado, logo depois dois, e ele gemendo todo entregue. Relo na próstata
dele que tá bem saliente e ele contrai os dedos dos pés, tá quase pronto pra
tomar pica, só mais algumas linguadas.
Não falo nada, apenas afirmo com a cabeça, dou um selinho nele e
me levanto, a pica balançando de um lado pro outro, muito dura. Na minha
gaveta eu pego o lubrificante que tanto conheço, e ele também. Usamos no
meu rabo. Sorrindo volto pra cama e me deito ao lado dele.
— Isso tudo vai caber no meu cu? — ele pergunta receoso e eu acabo
rindo, o que também o faz rir. Dou um beijo nele.
— Cabe sim. O teu que é maior cabe em mim, por que o meu não
caberia em você? Se Deus fez é porque cabe!— ri, ele pensa um pouco e dá
de ombros.
Não disse nada, só tirei o pau até metade e tornei a socar, tudo bem
devagar, e não parando com os toques no corpo dele, afinal, tudo que fosse
deixa-lo distraído da dor seria válido pra gente.
Aumento a velocidade aos poucos e cada vez mais ele vai curtindo
mais, até a gente ficar naquele bate coxa bem massa, com meu pau entrando
e saindo do cuzinho dele.
Arrisco algumas vezes até tirar tudo só pra meter no susto, e ele
curte. Meu putão.
— Ai, Enzo! Isso dói, caralho. — disse colocando a mão pra trás e
dois dedos entraram fácil, ele fez um som de surpresa. — Pooorra, tu me
arrombou! Espera só na minha vez. Agora termina esse lance aí.
— AHHH, mano, eu vou gozar, vou gozar com tua pica atolada no
meu rabo, haha. — ele riu meio incrédulo e eu saí de dentro dele novamente.
O fiz deitar de frango.
— Haaa, como é bom dar o cu! Mete nessa porra, mete! — puxei ele
pra um beijão cheio de língua e senti ele contrair o cuzinho precedendo o
gozo, o que me fez querer gozar também. Os movimentos ficaram curtos e
erráticos, além de fortes, e ambos gozamos gritando o nome um do outro. Eu
desabei em cima dele, ofegante, e nos sujamos da meleca que ele fez. Ele
alisou das minhas costas até minha bunda, que tava pra lá de suadas e depois
solta uma risada.
Olho pra ele com cara de lesado: — Que foi? — suspiro e ele olha
pro teto enquanto fala.
— Cê vai passar uns dois meses longe do meu cu. Que vontade de
cagar. — todo espremido ele corre pro banheiro. E eu me racho de rir
sozinho na cama.
Não seria especial se não fosse com ele, esse ser todo desbocado e
atrapalhado que eu tanto amo.
30 anos se passaram e posso afirmar, sem dúvidas, que Enzo foi uma
parte extremamente importante e significativa da minha vida. Em um
momento de molecagem e falta de direção na vida, ele veio para desconstruir
e dar toda a direção que eu precisava rumo ao homem que hoje eu sou, e me
fez viver tudo de bom que vivi ao seu lado.
Depois que tudo ficou mais calmo e a vida enfim seguiu seu rumo, eu
e Enzo vivemos momentos maravilhosos. Nós mudamos para um
apartamento onde pudemos arrumar e fazer se tornar o nosso lar, viajamos
boa parte do mundo, trabalhávamos pra caralho e eu sempre o buscava no
trampo quando saía do meu. Graças a muito esforço e trabalho conseguimos
adquirir um carrinho que era só nosso.
Lembro dos dias que ele saía puto do laboratório e ia do trampo até
em casa reclamando de tudo, e eu? Ficava quietinho pra não tomar um murro
enquanto ele falava. Tivemos um cachorro que insistia em ficar latindo na
porta do quarto sempre que estávamos nos amando, mas tadinho, posso nem
julga-lo, porque ele tava fazendo o papel dele, achando que estávamos
brigando e ficava querendo manter a ordem dentro de casa (risos)! Ah se ele
soubesse que nossa briga era para não separarmos nossos corpos! Até
arriscamos ter algumas plantas, mas dois marmanjos com plantas não foi
uma combinação que deu muito certo, haha.
O Léo tinha morrido há alguns anos e esse novo dog foi um sufoco
pra colocar dentro de casa e eu aceitá-lo. Na minha cabeça só existia um
cachorro e esse era o meu parceirinho de todas as horas, mas tudo bem, o
Guto também me ganhou (Guto era o dog, hehe).
Vivemos dias difíceis como quando perdemos nossos coroas para o
trânsito do BR que nunca mudou, ou como os dias em que um ou o outro
ficava doente e nossos corações ficavam apertados de agonia e preocupação.
Meu Enzo partiu há dois anos e, até hoje, não consegui superar essa
sua partida. Ainda é muito doloroso deitar naquela cama todas as noites e
não ter o calor e os braços do meu moleque me envolvendo e me enchendo
de amor antes de dormir. Após sua partida, parece que uma parte minha foi
tirada e todos os dias me pergunto se não tem algo mais que poderíamos ter
feito ou tentado.
— Ela acha que é gringa, só porque mora nos states há 4 anos. Tua
regalia tá acabando, galega! Como tá, meu coroa? — meu menino crescido
me abraça apertado e me dá um beijo na bochecha. Melissa dá um tapa na
cabeça dele e eles começam a brigar me divertindo, sinto falta disso.
— Tô vivendo um dia de cada vez. Ele me faz muita falta, mas eu sei
que ele tá num lugar bem melhor que a gente... Vamos lá? Já começaram a
chegar. Onde está sua tia e seus primos, Mel?
A vida ao meu redor tem seguido seu rumo, e eu, dia após dia, vou
tentando seguir em frente até o momento em que minha hora também será
anunciada.
Enzo foi e sempre será o grande amor da minha vida. Nunca terei
olhos para outras pessoas e jamais permitirei que a história que vivemos caia
no esquecimento. Enquanto eu ainda estiver aqui, lutarei para que jovens
apaixonados deem valor ao amor e lutem por ele com tudo o que tem. Uma
vez eu desisti do meu Enzo por falta de coragem, mas foi esse amor que me
fez voltar atrás e ter forças para viver ao lado dele e enfrentarmos tudo que
enfrentamos até aqui.
Quando tínhamos 17
Deite-se comigo
Então você que hoje tem um grande amor, nunca, jamais abra mão
disso. O mundo tem sofrido por falta de amor, as pessoas estão deixando o
medo ganhar a luta e a insegurança dominar o território. Mas ei, não faça o
que eu fiz uma vez e por causa disso, quase perdi toda a história que tive a
chance de viver com esse cara incrível. A saudade, infelizmente, é o
imposto que a vida cobra de quem já foi muito feliz. E se sinto tantas
saudades, é porque a felicidade esteve comigo de forma demasiada.
Brotheragem nunca foi e nunca será um livro de sacanagem ou de putaria.
Talvez até possa ter tido início de umas sacanagens de brothers, mas se não
fosse essa brotheragem, nada disso do que lemos até aqui poderia ter rolado.
Também nunca será um livro sobre mim, mas sim sobre o Enzo.
— Lembra quando você disse que escrever sobre a gente ia ser uma
parada legal de se fazer e poderia até ajudar outros caras? Então, esses dias
que tô me sentando aqui pra escrever é basicamente isso. Tô finalizando
agora e eu te matei no livro. — faço um bico com vontade de chorar de novo
e ele me olha confuso, olha pro PC e rola as páginas para cima, aí ele lê a
parte onde eu falo que ele não está mais entre a gente.
Caladinho ele vai descendo e lendo o que eu coloquei ali com tanto
sentimento, se eu tô assustado pelo julgamento dele? Muito!
— Vai que é tua, manda o Bernardo estudar que eu vou finalizar aqui
e depois a gente sai. — dou um selinho nele que suspira e se levanta indo
falar com a filha. Ele se abaixa e pergunta pelo irmão dela, que ela dedura
sem piscar, eu rio com isso. Leio novamente meu texto, corrijo alguns erros
e salvo. Depois eu finalizo, agora vou curtir minha família.
Aquele yaoi que um dia ela disse ir criar sobre Enzo e eu, realmente
existe. Mas ele só tem uma unidade, em folha A4, e tá muito bem guardado
numa gaveta no meu escritório. Quando ela estiver mundialmente famosa eu
posso até leiloar pra conseguir uma grana com a venda dele, hehe... tô
zoando (ou não).
E a vida tem seguido como tem que ser. Tem brigas, tem
desentendimentos, tem superação, mas acima de tudo, tem muito amor.
Como deve ser. Perdemos alguns amigos nesse processo que se chama vida.
Mas como falei, superamos tudo e todas as provações que nos foram
impostas. Hoje trabalhamos, temos dois filhos lindos, uma vida
financeiramente estável e amigos que nos entendem e estão com a gente pro
que der e vier. Temos um ao outro, é isso.
Duda é um homem que foi largado pela mulher por não preencher os
pré-requisitos básicos para ser seu marido.
Com quase quarenta, grandes entradas nos cabelos e sedentário, tudo
que ele não queria era ter que correr atrás do corpo perfeito para agradar os
outros. Porém ele resolve fazê-lo; se não pela ex, que seja por ele próprio.
O que Duda não esperava, era que entrar na academia Vênus, não só
mudaria sua aparência/corpo, como também quem ele era em essência.