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"Quando o mundo estiver
unido na busca do
conhecimento, e não mais
lutando por dinheiro e
poder, então nossa
sociedade poderá enfim
evoluir a um novo nível."
Copyright © 2021 Jussara Leal

ALÉM DO AZUL

1ªEdição

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá


ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meios
eletrônicos ou mecânico sem consentimento e autorização por
escrito do autor/editor.

Capa: Designer Tenório


Revisão: Gramaticalizando Assessoria
Diagramação: Veveta Miranda

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação do
autor(a). Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

TEXTO REVISADO SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO


DA LÍNGUA PORTUGUESA.
Queridos leitores, bem-vindos a mais uma história apaixonante.
Antes que inicie a leitura, devo alertá-los que pode conter alguns
gatilhos ao longo da história. Henrico foi abandonado pelo pai,
possui a Síndrome de Asperger, determinados acontecimentos
poderão mexer com alguns de vocês.

Este é um romance erótico, nele é narrado o desenvolvimento


sexual do personagem principal e foi escrita visando quebrar um
pouco do tabu que muitas pessoas possuem em relação ao
autismo.

É IMPORTANTE RESSALTAR QUE HÁ VEROSSIMILHANÇA[1]


NESTA HISTÓRIA.

Por favor, não se esqueçam de avaliar. <3

Síndrome de Asperger – Henrico Davi

A síndrome de Asperger está na extremidade leve


do espectro. Pessoas com Asperger são
consideradas de alto funcionamento, com
inteligência normal a acima da média.
Os sinais e sintomas incluem: prejuízo na
interação social; dificuldade em ler expressões
faciais, linguagem corporal e dicas sociais; não
compreender ironia, metáfora ou humor; falta de
contato visual e comportamentos repetitivos.
Sumário
Sinopse
Prólogo
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo bônus
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35 - Parte 1
Capítulo 35 - Parte 2
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Eu sou diferente.
Muitas pessoas dizem que está tudo bem em ser
"diferente".
Quando me dei conta de que não era "igual" a maior parte
das pessoas, decidi criar o meu próprio universo e me fechei
dentro dele. É confortável e seguro, solitário também. Desde que
me entendo por gente, o medo é meu fiel companheiro, assim
como a solidão. Ser diferente é estranho, mesmo que todas as
pessoas mais próximas tentem me encaixar. Quando você
percebe que não se encaixa, se sente um pouco perdido no
início. Até se esforça, mas, com o tempo, se dá conta de que
forçar um encaixe só faz com que você se sinta ainda mais
perdido, e isso aumenta significativamente a frustração. Na maior
parte do tempo, me sinto como um quebra-cabeça faltando
peças. Ou talvez eu apenas seja a peça que não se encaixa.
Eu não me encaixo a nada ou a qualquer pessoa, mas eu
queria me encaixar nela. Nunca me encaixei a qualquer garota,
porque no universo que construí só há espaço para ela. Nós
somos tão diferentes, ou talvez apenas eu seja diferente nessa
história. Ela é cheia de vida, energia, eletricidade. Ela mergulha
em oceanos, enquanto eu me afogo facilmente em um copo
d’água. Eu morro um pouco a cada dia imaginando que ela esteja
se encaixando em um alguém que não sou eu. Eu não quero que
ela se encaixe em outro garoto, mas não quero que se limite a
um universo que não a pertence.
Será que eu posso me encaixar no universo dela?
— Você sabia que o azul foi a cor escolhida para
representar o autismo devido o maior número de incidências do
caso ser no sexo masculino? Dados apontam que 80% dos
casos de autismo acontecem com meninos. Esse fato não exime
que meninas também possuam, porém, elas são a minoria.
Talvez isso seja bom, não?
— Eu sei disso, filho — meu pai responde. Pelo seu tom,
sei que está me analisando friamente.
— Você sabia que o Monte Everest é considerado o lugar
mais alto do mundo? Porém, há uma discrepância de ponto de
vista. Se considerarmos de acordo com o nível do mar, o Monte
Everest é sim o lugar mais alto, mas, se tivermos na mente que a
Terra não é uma esfera cem por cento perfeita, e que há alguns
pontos onde ela é mais larga, como na Linha do Equador, o
ponto mais próximo do céu acaba sendo o Monte Chimborazo,
no Equador, com 6.384,4km. O ponto mais baixo é o Mar Morto.
— Olhe para mim e me diga o motivo da sua inquietação
hoje.
— Não quero olhar para você, pai. Me desculpe. Eu sinto
muito, ok? — Sou sincero em minhas palavras. Não quero
encará-lo, uma vez que se eu fizer isso, ele saberá. Ele sempre
sabe e consegue ver tudo. E eu não quero que ele veja nada,
porque é desconfortável e eu tenho vergonha.
— É sobre Sophie? — Não precisei olhar para ele.
Entende como isso é desconcertante? Ele parece ter livre acesso
à minha mente. — É sobre a mudança?
— Um estudo realizado na Europa e nos Estados Unidos,
com milhares de entrevistados, determinou que 17,4 anos é a
idade média em que as pessoas perdem a virgindade. Sabia que
as garotas costumam perder a virgindade antes dos garotos?
Segundo essa pesquisa, os meninos costumam perder com
cerca de 17 anos e meio, e as garotas alguns meses antes.
Disseram que o Brasil é o país onde se perde a virgindade mais
cedo, com uma média de 17,3 anos.
— Filho, isso é apenas um estudo. Acredite, não é bem
assim que as coisas funcionam. De acordo com a minha
experiência de vida, na minha época de estudante, tudo que eu vi
é bem diferente dessa pesquisa. Mas, vamos lá, não acho que
tem uma idade ideal para isso acontecer, Henrico. Acontece
quando tem que acontecer. Não deve haver uma pressão sobre
isso. Há muitas pessoas que se guardam para o casamento,
sabia?
— Sabia. Há até mesmo questões religiosas. Algumas
religiões pregam que esse ato só deve acontecer na noite de
núpcias — comento.
— É. Não tem uma idade certa, entende?
— Entendo, pai. É interessante isso, não é mesmo? —
pergunto, pensando na temática.
— O sexo só deve acontecer quando se sentir confortável,
filho. Não aconteceu ainda porque nunca se sentiu confortável.
Em algum momento, isso vai acontecer.
— Pai, você sabe se Sophie já se sentiu confortável com
outro menino? — pergunto sem encará-lo nos olhos. Na verdade,
agora estou até cabisbaixo demais. Porém, eu precisava
perguntar.
— Não sei dizer. Por que não pergunta isso a ela? — Isso
é uma brincadeira?!
— O quê? Pai! É a Sophie! Eu não posso perguntar isso a
ela. É absurdo! É falta de educação perguntar isso a uma
menina. Eu a respeito. Como vou perguntar se ela já se sentiu
confortável? Meu Deus! Ela é uma garota normal, não é como
eu.
— Ah, então voltamos nisso? Você não é normal? — me
repreende.
— Sou. Sou normal, porém, diferente. Sou diferente de
Sophie, de Samuel, de todos.
— Nada disso, Henrico. Vou relevar suas palavras porque
está abalado. Há algo martelando em sua mente agora e estou
aqui para ouvi-lo e ajudá-lo. Anos atrás você disse que sempre
teria "conversas de menino" comigo, porque sua mãe não
saberia entender "essa coisa de menino" — ele diz, e pelo tom
de sua voz, sei que está sorrindo. — Sou o seu pai, estou aqui
para termos essas conversas.
— Pai, você sabe... Eu estou meio arrependido de ir morar
com Sophie, porque ela já deve ter se sentido confortável com
um menino e eu não quero saber e não quero ver. Eu não gosto
de outros garotos com ela. Ela é uma menina sem limites, pai. Eu
sou um menino limitado. Você acha que ela vai levar alguém para
ter algo confortável em nossa casa?
— Posso apostar que Sophie não fará isso — ele
responde, sorrindo. — Você quer ter algo confortável com
Sophie?
— Pai! Não fala isso! — digo, esfregando meu rosto. —
Sophie é minha melhor amiga e ela já beijou garotos. Eu não sei
nada de confortável, você entende... Você sabe, pai, você sabe
que eu não sei. Eu nunca estive com uma menina. Eu nunca
beijei e nunca fiquei confortável.
— Mas? Há um "mas" aí.
— E se ela ver meu corpo reagindo? — Abomino esse tipo
de conversa. Nunca fiz coisas confortáveis, mas isso não
significa que eu não saiba o que é e não reaja.
— Seu corpo reage à Sophie há anos, filho. Me lembro até
hoje de quando aconteceu pela primeira vez — comenta, rindo.
— É normal, cara! Você não é apenas a cor azul, Henrico. Você
não é só o seu autismo. É um homem normal, com um mundo de
possibilidades, um universo de coisas para serem descobertas.
Precisa tirar da sua mente as crenças que te limitam. Elas estão
fazendo com que você se mantenha sempre na zona de conforto.
Sei que essa zona de conforto é importante para você, mas há
um limite e talvez você esteja deixando de enxergar coisas
óbvias. Faz parte do seu crescimento pessoal conseguir
identificar algumas questões. Você vai morar com Sophie em São
Roque, será um rapaz totalmente independente. Sem dúvidas é
um dos maiores passos que está dando, tudo isso sozinho. Já
está no caminho para enxergar algumas coisas e eu espero que
consiga. Prometi que sempre iria te guiar, por isso vou te dar dois
conselhos: pare de pensar pouco de si e observe. — Finalmente
levanto minha cabeça para encará-lo.
— Observar o quê? — indago e ele fica de pé,
provavelmente para me deixar sozinho.
— Observe Sophie e observe que você é muito além do
azul.
Sophie...
Eu te amo ao infinito e além!
— Já faz um tempinho, filho. — Meu pai me consola pela
centésima vez. É apenas difícil me esquecer de Clarinha. Ela foi
minha noiva, mãe do meu filho, e eu os perdi. — É hora de
continuar com a sua caminhada. Se está doendo, é porque seu
coração ainda está batendo. Você está vivo para sentir e, se está
vivo para sentir, está vivo para superar. Se esforce. Dói pra
caralho vê-lo sofrer tanto. Sua dor também é a minha dor, é a dor
da sua mãe. Queremos vê-lo bem e feliz, seguindo com a sua
vida. Nós também amávamos a Clarinha, mas aceitamos, assim
como aceitamos que Miguelito tenha partido. Por mais que doa,
precisa aceitar. Prometa que vai se esforçar para ser mais forte?
— Prometo, pai.
— Até porque... há alguém chegando aí amanhã — diz.
— Ah, não... — Fodeu pra caralho!
— Ah, sim... Vai ser bom para vocês passarem um tempo
juntos.
— Ah, não, pai! Eu a amo muito, de verdade, mas... porra!
Sophie é diabólica!
— Viu como ela te faz bem? Sua voz até melhorou! —
Puta merda! Sophie vai colocar São Roque abaixo e eu estou
fodido!
— Eu não me responsabilizo por ela. O senhor sabe disso,
não sabe?
— Não se preocupe. Ela está bem instruída. Dei inúmeras
advertências. — Puta merda mesmo! Sophie enrola meu pai com
um profissionalismo surreal. Ele acredita que ela vai seguir
ordens. Ela é filha da minha mãe, neta da minha avó, bisneta da
minha bisavó. Mas... vou dar o braço a torcer. Ela é uma
irmãzona, por mais inconsequente que possa ser. — Seus primos
também irão.
— Ah, não!
— Ah, sim! Precisa de um pouco de diversão. Henrico e
Samuel também estão indo. — Ao menos Henrico salva. Pelo
menos alguém sensato e normal nessa merda.
Henrico é autista, sempre na dele. Ele tem hiperfoco em
desenvolver jogos; é poliglota, fala oito idiomas fluentemente; é
mega fera em computação; e um dos homens mais inteligentes
que já conheci. Porém, ele tem um universo só dele, e adentrá-lo
é um pouco difícil. A vinda dele simboliza uma Sophie fingindo
que é uma pessoa centrada, angelical, doce. Significa muitas
lágrimas também.
Eu preferia Théo e Eva, mesmo em meio a toda guerra
constante, com toda certeza.
— Pai, eu estou quase pegando o carro e indo para o Rio,
só para não ter que lidar com todo drama da Shophie.
— Fique de olho nela, ok? O que me tranquiliza é a
presença de Henrico. Ela vira outra pessoa quando ele está por
perto — suspira. — Henrico é a minha esperança nessa vida.
É a esperança de todos, mas, como o destino é cruel, eles
são seres completamente opostos.
— Cuidarei dela.
— Espero que sim. Fique com Deus, filho! — Ele encerra
a ligação e eu não sei se rio ou se choro.
A parte boa é que só de saber dessa chegada, já não me
sinto tão miserável. A tristeza é substituída pelo medo da
presença da minha irmã nessa cidade. Por um lado, é bom que
Eva não esteja aqui, porque as duas juntas não dariam algo bom.
Eva tende a ser louca e Sophie é louca por natureza.
Quando me deito para dormir, penso nas palavras do meu
pai, sobre olhar para os lados, para frente. Isso é tão enigmático,
como se ele soubesse que algo bom está por vir. Penso também
em Clarinha, e isso faz meu peito se comprimir. Desde que Théo
foi para a Ilha, essa é a primeira noite em que sinto um pouco de
pânico por estar sozinho; isso faz com que eu levante e tome um
remédio para conseguir pegar no sono. Foi o sexo. Eu estava
conseguindo alguns avanços, até fazer algo que remetia à
Clarinha. Éramos um casal muito ativo sexualmente e, querendo
ou não, acho que não estava preparado para colocar a fila para
andar. O mais louco é que eu queria muito sexo, mas na hora H
algo dentro de mim paralisou.
Volto para a cama e logo consigo dormir.
De manhã sou desperto por uma maldita música alta e o
som incansável de uma buzina. Não preciso olhar para saber de
quem se trata. Visto uma bermuda e vou até ela.
Sophie se joga em cima de seu jipe e começa com o
festival de sedução barata. Logo em seguida se senta e respira
fundo, como se estivesse sentindo o maravilhoso cheiro da
natureza.
— Você viajou com essa roupa? — pergunto, observando
seu micro short jeans preto, seu minúsculo top e um tênis de
salto. Ela salta do carro sorridente e corre para os meus braços,
mas, agora, exatamente nesse momento, não estou satisfeito. —
É sério, Sophie. Não sou chato em relação às roupas que veste,
mas, desde que veio do Rio de Janeiro pra cá, sozinha, de carro,
eu passo a ser. Você viajou sozinha usando essa roupa?!
Sozinha?! Se ao menos tivesse um dos garotos com você...
— Que garotos? — ela pergunta.
— Henrico ou Samuel. Pensei que viriam juntos.
— O QUÊ?????? — Seu grito escandaloso me faz afastar.
— Henrico está vindo?
— Você não sabia? — Pronto! Acho que meu pai armou
essa merda para tirar o meu sossego.
— Ai, meu Deus!!! Nossa Senhora das periguetes safadas,
me proteja! Eu preciso trocar de roupa!!! — anuncia, correndo
para o carro. Fico observando a tormenta começar.
Ela pega uma mala e sai correndo como uma
desesperada, rumo à casa.
— Misericórdia! Eu tô muito piranha! — grita.
— SOPHIE! — a repreendo, seguindo-a.
— Bel está no carro! Eu a esqueci! Meu Deus do céu, Luiz
Miguel! Meu cu caiu da bunda com essa notícia! Diga-me, há um
hospital aqui?
— Quem é Bel?
— Minha nova cachorrinha! Você precisa resgatá-la! —
pede, arrancando as roupas ainda na sala.
Me retiro, já que ela escolheu a sala para ser seu local de
privacidade.
Busco a tal Bel no carro e ela é a cara da Sophie. Sério,
nunca vi uma cachorrinha parecer tanto com a dona. Essa
cachorra deve ser mimada ao extremo. É um lulu da pomerânia
meio marrom/meio bege e Sophie trouxe até mesmo a casinha
dela.
Quando volto à sala, carregado de tralhas, me pergunto
onde está Sophie, porque essa, diante de mim, certamente não é
ela. O short foi substituído por uma calça jeans, o top por uma
camisa preta comportada e há até um lacinho encantador em sua
cabeça.
— Estou muito princesa da Disney!
— Você está mesmo parecida com a mamãe. — Sorrio.
— Bom, vou em busca de um quarto. Que horas Henrico
chega? — pergunta, empolgada. Eu disse que Samuel também
viria, mas ela só focou em uma pessoa.
— Não faço ideia. Tudo que sei é que ele e Samuca estão
vindo. — Eu já sei o que vem pela frente.
O amor de Sophie por Henrico é aquele tipo de amor que
carrega todo mundo junto. Ela sofre com isso desde muito jovem.
É como se não existisse qualquer outro homem no mundo além
dele, mesmo que ela saia com outros homens. Ela sofre, chora,
mas nunca revelou abertamente os sentimentos a Henrico. E por
falar nele, nunca o vimos com qualquer garota. É algo bem
complexo e de difícil compreensão. Ele trata Sophie como um
cristal precioso. A relação dos dois é algo louco.
Ela encontra um quarto e volta para a sala, pulando
diretamente em meus braços.
— Ok. Não vejo Henrico há muitos meses, muitos mesmo,
mas, não vim aqui por ele. Vim por você, rimão! — diz, me dando
um beijo na bochecha. — Eu te amo muito e não quero vê-lo
triste nunca mais na vida. Minha cuzinha virou um anjo e, onde
quer que ela esteja, deve estar triste vendo você sofrer. — As
lágrimas começam a cair dos meus olhos e Sophie me abraça. —
Não chora. Eu prometo te enlouquecer, rimãozinho. — Ela tem
essa mania de me chamar de RIMÃO, e isso me faz sorrir entre
lágrimas. — Anda! Vamos tomar café na padaria! Faz muitos
anos que não venho aqui. Preciso reconhecer o lugar.
Visto uma roupa decente e saio com Soso. Ela está
parecendo uma garotinha de 12 anos com esse estilo e isso me
faz lembrar bastante da minha mãe. As duas são altamente
parecidas, mas, quando criança, Sophie era a cópia perfeita do
meu pai, fisicamente. Ainda há alguns traços, mas esse narizinho
dela é totalmente idêntico ao da minha mãe.
Incrivelmente, ela sai cumprimentando todas as pessoas
que vê na rua. Até para pra conversar com algumas, como se as
conhecesse. Sophie é maluquinha, mas é bastante fofa também.
Sinto orgulho vendo-a tão educada.
Compramos lanche na padaria, mas decidimos comer na
pracinha, de frente para igreja, sentados em um banco.
— E aí, não pegou ninguém aqui ainda? — ela pergunta
de boca cheia.
— Fiquei com uma garota ontem, mas foi um desastre. Ela
é gata, bem gostosa, mas eu...
— Brochou? — pergunta, quase gritando.
— Não. Só não consegui obter prazer. — Ela balança a
cabeça em compreensão.
— Isso vai passar, ok? Eu tenho fé em Deus que vai,
rimão. Você vai foder igual britadeira.
— Sophie, quer controlar sua maldita boca?
— Boca foi feita pra falar, comer e...
— Sophie! — Ela está rindo quando um barulho alto de
motor de carro surge, juntamente com gritos. Por um momento
quero cavar um buraco no chão e me enterrar, só para não lidar
com esse manicômio.
O idiota do Samuel surge, dirigindo sua Lamborghini
Huracán, humilde pra caralho, com a cabeça pra fora da janela,
gritando:
— Aoooossss, menina!!!!!! Aoooo, trem xonado!!!!!! — Ele
nem mesmo nos viu, está apenas mexendo com quem quer que
passe pela rua.
— Isso não pode ser real! — digo enquanto Sophie parece
querer explodir de tanta felicidade.
A sorte da vida é que Henrico está ao lado dele, caso
contrário, eu realmente estaria fodido. Sophie e Samuel parecem
irmãos gêmeos. Quando se juntam, dá até processo. Por falar
em Henrico, ele está com um fone de ouvido, senão daria merda.
— Aooooo, caralho!!!! Vocês estão aí! — o louco diz,
estacionando o carro. Henrico só desperta para o pesadelo
quando Samuel retira o fone dele. E eu apenas fixo o olhar em
Sophie, para ver seus olhos brilhando, mas, antes mesmo que
Henrico possa descer para protagonizar a típica cena de
romance com Sophie, um carro diferente surge atrás e Théo e
Eva descem animados, indicando que mudaram seus planos de
ficar na Ilha.
Por que eu sinto que todos estão aqui por mim?

O mundo inteiro para de girar quando vejo Henrico. Até


cumprimento Samuca, mas meu foco está no homem que está
descendo do carro agora. Estou tremendo e há milhares de
borboletas em meu estômago. A velha sensação de sempre, com
acréscimo de uma saudade incontrolável. Eu odeio estereótipos,
mas todas as vezes que estou perto de Henrico, viro o próprio
clichê.
Faz muitos meses desde que o vi, e ele não é amante de
telefones e meios de comunicação. O foco de Henrico está
voltado a computadores e jogos; bate-papo, definitivamente, não
está lista de coisas que ele dedica um tempo.
Ele não parece disposto a socializar. Mas, ao me ver, se
esforça e vem em minha direção. Com seus passos lentos e
calculados, se aproxima e eu não consigo focar em nada além de
sua boca, que é absurdamente perfeita. Eu fico muda por um
tempo, enquanto o vejo me analisar. Quando meus olhos
encontram os dele, eu respiro fundo, levo minhas duas mãos em
seu rosto e ele traz as dele ao meu. É uma mania minha e dele,
desde pequenos.
— Olá! — digo baixinho, fazendo carinho em suas
bochechas, enquanto ele faz carinho nas minhas. — Eu estava
morrendo de saudades. Você está tão lindo, companheiro. Está
mais forte também. — Eu queria dizer gostoso, mas temo pela
reação dele.
— Você se parece com uma princesa. — Eu sempre quero
chorar quando o vejo e sempre tenho que travar uma batalha
para isso não acontecer. — Você é a menina mais linda que eu já
vi.
— E você é o menino mais lindo que eu já vi — falo,
beijando a ponta do seu nariz. — Está geladinho. — Sorrio.
— O ar-condicionado do carro — responde, sorrindo de
volta. — Vou cumprimentar seu irmão — avisa, me soltando, e eu
quase choro de vontade de agarrá-lo e mantê-lo comigo para
sempre.
Tudo parece tão romântico, não é mesmo?
Realmente romântico, mas...
Enquanto ele cumprimenta Miguelito, duas mulheres
escandalosas surgem e juro que sou capaz de ver Henrico
estremecer com o som.
— Luiz Miguel!!! Tem amigos novos!!! — uma loira diz,
escandalosa demais.
Não é que eu não seja escandalosa, mas elas gritam
demais.
— Eiiii, me chamo Vanderléia! — uma morena sem-noção
diz de forma gritante e quase se joga em Samuel. Ele é cafajeste,
então gosta da recepção calorosa. Com certeza não vai demorar
até que ele esteja atracado com ela em algum canto. A mulher é
bonita, tenho que confessar.
— E eu sou a Soninha — agora é uma loira dizendo. Tudo
vai bem, até elas se concentrarem em Henrico.
A maneira como a morena, a tal Vanderléia, se joga sobre
ele, me faz fechar as mãos em punhos. Dizem que todas as
pessoas possuem um ponto fraco, Henrico é o meu. Qualquer
coisa que esteja ligada a ele me leva ao limite, principalmente
tratando-se de mulheres. Não tenho direito algum sobre ele, mas
também não consigo controlar meus sentimentos, tampouco
meus pensamentos assassinos.
— Eiiiii, prazer — Vanderléia grita, o abraçando como se
fosse íntima. Quando vejo Henrico paralisado com a ação,
interfiro.
— Ok, Vanderléia, com certeza é um prazer conhecê-la —
digo, a afastando dele. — Pode, por favor, parar de gritar? A não
ser que queira ter um problema comigo, aconselho que faça isso.
Sinceramente, mulheres deveriam ser unidas, mas...
sempre tem um "mas". Há apenas algumas que pegamos birra
logo de cara, descartando qualquer possibilidade de união. Não
sou o tipo chata e problemática, faço amizades com muita
facilidade, porém, odeio pessoas dadas, que acham possuir
intimidade com quem elas nem mesmo conhecem.
— Credo! — ela exclama e eu sinto as mãos de Henrico
em minha cintura. Misericórdia! Arranca minhas roupas, pelo
amor de Deus!
— Vanderléia, ela está certa. Se você puder parar de
gritar, eu agradeceria muito — Samuel intervém, jogando seu
charme barato, até mesmo enrolando os cabelos dela em seu
dedo. Cafajeste! O que posso falar? Eu nem presto! — Não
gostamos de grito aqui. — Agora, o que é bonito, eu preciso
pontuar também. Sempre sinto um orgulho imenso pela forma
como ele defende Henrico, independentemente da situação.
— Está tudo bem — Henrico diz em meu ouvido. Nada
demais, eu sei, mas quase solto um gemido de prazer. — Você
pode me levar para casa ou me mostrar qual caminho devo
seguir? — me pede.
Basta descer as mãos um pouco mais. É o início do
caminho! Tesão do caralho!
— Claro que posso levá-lo — concordo, sorrindo como o
anjo que sou, e ele segura minha mão fortemente, como se fosse
uma criança querendo ser guiada para casa.
— Olá! — Théo surge e sou obrigada a me afastar de
Henrico, para conhecer a famosa Eva!
— Ei, que prazer enorme! — digo, a abraçando. — Você é
linda!
— Você tem um piercing no lábio inferior! — Eva exclama,
como se isso fosse algo fantástico.
— No clitóris também! — Todos me encaram e me dou
conta de que Henrico acabou de ouvir essa situação. — Puta
merda! Era brincadeira, eu juro!
— Você tem um piercing no clitóris? — meu irmão
questiona, muito sério. — É sério isso?
Henrico está atento, com um semblante impassível, mas
eu posso jurar que há muito fogo por trás dessa impassividade.
Será que se eu mostrar a ele que não sou um anjo, as coisas
podem vir a evoluir? Eu não sei, mas estou disposta a arriscar,
vai que ele liberta o monstro que certamente habita dentro de si
e...
Senhor da glória! Só vem com força!
Todos possuem um lado devasso, ele também deve
possuir.
— Ok, eu tenho um piercing no clitóris, mas e daí? O que
há demais nisso? — pergunto, encarando Luiz Miguel.
— Aiiii, meu clitóris! — Eva exclama, como se sentisse dor
só de imaginar.
— Nosso pai sabe disso?
— Ah, nem vem não, Luiz Miguel! Sou maior de idade!
Foda-se se furei meus lábios, não disse quais! — debocho e fico
séria em seguida. Henrico, caralho! — Digo... sou maior de
idade, irmãozinho. Não precisa se preocupar com esse simples
detalhe. Foi feito com uma mulher, relaxa, ninguém mais viu
minha xo... meu clitóris. — Sorrio educadamente. — Amo você,
pequeno príncipe.
— Doeu? — Eva pergunta.
— Coloca um que eu vou arrancar no dente, Evadia! —
Théo promete, rindo.
— Não sei dizer. Eu bebi o bastante para poder fazer essa
merda — explico, rindo. Novamente, volto a ficar séria, ao me
lembrar da presença de Henrico. — Água. Não bebo bebida
alcoólica.
— Ahhhh! — Eva exclama, piscando um olho para mim. —
Também não bebo bebida alcoólica.
— Não bebe não. Eva mergulha de cabeça. O álcool entra
até pelas narinas — Théo comenta.
Henrico coloca o fone de ouvido e percebo que preciso me
concentrar em minha santidade.
— Ok, vou ali levar Henrico para conhecer a casa, ver os
animais, o mato... — informo. Só então percebo Samuel
afastado, abraçado com as duas garotas. — Ele é rápido mesmo.
Meu orgulho esse menino! Beleza... Fui...
— Vamos todos! — Théo avisa, abraçando Luiz Miguel.
— Hei, quer ir andando ou de carro? — pergunto após
afastar o fone de Henrico.
— Andando. Samuel dirige como um insano.
Ele segura minha mão novamente e sai me puxando, sem
nem mesmo saber a direção. Eu quero rir, porém, quero chorar
também.
— Estou no caminho certo? — pergunta enquanto me
distraio.
— Quase.
— Me mostra?
— O quê?
— O caminho, Sophie — responde, me observando.
— Ah, sim. Irei conduzi-lo ao caminho correto, não se
preocupe. Com emoção ou sem emoção?
— Com emoção — responde, sorrindo pela primeira vez, e
saímos correndo.
Houve um tempo em que ele não podia sequer andar
sozinho. Agora ele corre comigo.
Apenas comigo.
Eu te amo ao infinito e além, Henrico!

Piercing no clitóris!
Piercing no clitóris!
Piercing no clitóris!
Clitóris!
“Lábios... não disse quais...”
Não, não e não! Eu preciso que a imaginação pare de fluir.
Preciso expulsar todas as imagens que estão brincando em
minha mente agora.
É Sophie! Minha, praticamente, prima! Venho tentando me
convencer disso desde que me entendo por gente. Não deveria
sentir por ela o que sinto, mas não consigo evitar. A cada vez que
a vejo, meu coração parece rasgar o peito e a dor que sinto é
sufocante. Sophie é a menina mais linda do mundo e o meu
maior sonho. Nós fomos muito unidos grande parte da vida, mas,
desde os 18 anos, optei por um afastamento e me fechei em meu
mundo.
Não é apenas por sermos praticamente primos. Nós
somos opostos completos. Eu tenho meu próprio universo, um
montante de limitações. Sophie é um espírito livre, cheia de
vitalidade e normalidade. Ela gosta de mergulhar em oceanos,
enquanto eu prefiro a segurança de um simples tanque de água.
Péssima hora em que ouvi meus pais e vim nessa viagem!
A ideia deles era que eu me "divertisse" um pouco e saísse do
meu quarto, onde passo meus dias. Possuo um monte de
limitações, coisas que não consigo vencer e que são
extremamente difíceis de lidar. Eles me entendem na maior parte
do tempo, por isso, às vezes, abro mão da minha zona de
conforto e socializo para fazê-los felizes. Mas, sempre que há
Sophie no meio da situação, a saída da zona de conforto torna-
se radical o bastante.
Sophie estuda em outro país, então nos distanciamos o
bastante, embora a conexão não tenha sido quebrada nem
mesmo com a distância. Não sei o que existe entre nós, mas sei
que existe algo desde criança. Essa confusão de sentimentos me
machuca. É extremamente difícil lidar com o que sinto por ela, e
extremamente difícil vê-la "viver" tão livremente, escutar histórias
que despertam sentimentos ruins e confusos em mim. Por isso,
considero essa distância tanto boa quanto ruim. Boa pelo fato de
eu não ter que acompanhar o desenvolvimento dela em relação a
outros garotos, ruim, porque, querendo ou não, eu gosto de ter
meus olhos sobre ela.
Nossa relação tornou-se muito complexa desde a
puberdade. A transição entre a infância e a adolescência foi
bastante complicada, principalmente quando percebi que tudo
em mim reagia a ela. A descoberta disso foi altamente
assustadora e precisei aprender a controlar o sentimento dentro
de mim, buscando conter as reações. Deixar de ver Sophie como
uma criança foi fodido. Mais fodido ainda foi acompanhar ela
tornando-se uma mulher. E que mulher...
É como se não houvesse no mundo qualquer outra mulher
em potencial. Sempre foi, sempre é ela. Não há escapatória ou
chance de fuga dos sentimentos, mas eu fujo sempre que
estamos perto, porque... porque eu não consigo não querer algo
que não posso ter.
Há um grande problema em relação à distância. A cada
vez que nos encontramos, parece ter aumentado o nível de
intensidade entre nós. É algo que dá para ser notado até mesmo
pelos olhares. Por ser fechado em meu próprio universo, tudo em
mim é intenso demais e, para complicar a minha vida, Sophie
possui uma intensidade natural, e eu apenas não consigo ocultar
muito o quanto isso me afeta. Quando éramos adolescentes,
parecia mais fácil, porém, quanto mais velhos vamos ficando,
pior fica. Parece que há uma tensão sendo construída entre nós
há anos e que a qualquer momento irá explodir. Há alguns
poucos momentos em que parece que ela sente o mesmo que
eu, porém, na maior parte do tempo, acho apenas que é um
amor entre "irmãos", já que fomos criados praticamente juntos e
não a imagino tendo pensamentos pervertidos comigo. Eu penso
assim, mas Samuel também sempre foi nosso fiel escudeiro e há
uma diferença gigante na maneira como ela o trata. Minha
inexperiência me deixa confuso quase sempre. Não entendo
absolutamente nada sobre esses assuntos do coração; eu
simplesmente sinto o amor, mas não o compreendo e tampouco
sei lidar com ele.
Conforme vamos nos aproximando do sítio, eu vou
relembrando a infância. Nunca fui o garoto de ficar correndo com
a turma, mas me recordo desse lugar. Eu era o que ficava quieto,
desenhando e observando os demais subirem em árvores,
fazendo saltos incríveis na piscina. Estar de volta é como obter
uma lembrança viva do passado.
— Chegamos! — Sophie diz, animada. — Se lembra de
quando você dizia que queria morar aqui?
— Sim. Bom, faz todo sentido, não acha? Olha o silêncio
desse lugar! Sons apenas dos pássaros, das quedas d’água, o
cheiro de mato, os animais. Talvez eu ainda tenha esse sonho. —
Sorrio. — Vamos ver se minha hospedagem aqui trará essa
vontade de volta.
— Venha! Pelo amor de Deus, retire esse casaco, está
calor! — Ela sai me puxando para entrar na casa e, assim que
entro, retiro meu casaco sob o olhar, no mínimo, estranho dela.
— A casa foi modificada.
— Sim, está mais moderna agora. Passou por obras,
principalmente antes de Théo vir pra cá — explica. — Você está
malhando?
— Um pouco. Nada excessivo. Por quê?
— Prefiro não responder — ela diz e se joga em meus
braços. — Eu senti tanto a sua falta! Estou tão feliz que esteja
aqui.
— Também senti a sua falta. Faz alguns meses que não
nos vemos.
— Ainda estou magoada por ignorar minhas chamadas de
vídeo e ser contra os meios de comunicação.
— Não sou contra os meios de comunicação — afirmo,
sorrindo. — Só não gosto.
— Você está tão go... lindo. Puta merda! — diz, com as
duas mãos em meu rosto. — Você é e sempre será o menino
mais lindo. — A abraço mais forte e beijo seu ombro. — Vamos
ficar muito tempo juntos. — Vai começar a tortura! Ficar muito
tempo junto com ela é uma tortura, parecia fantástico quando
criança...
Quando nos afastamos, eu fixo meus olhos em seus
lábios. Há um piercing no lábio inferior, há tatuagens novas, há
um combo destruição nessa menina. Lembrar de piercing me faz
pensar em clitóris, por isso me afasto ainda mais, dando dois
passos para trás.
— Chegamos, meu povo! Alô, galera de cowboy!!! Aoooo,
trem que pula!!! — Samuel surge com o restante do pessoal. —
Trouxemos coisas para um churrasco selvagem!
— O que seria um churrasco selvagem? — pergunto.
— Uma festinha doida, para aloprar, com direito a sexo
selvagem no final... — explica e eu balanço a cabeça em
negação.
— Passamos no bar do Tião e trouxemos pinga! — Eva
informa, radiante.
— O que eu estou fazendo aqui? Talvez Miguelito seja a
salvação, porque só há loucos.
— Eu não gosto de bebidas, mas quero experimentar a
pinga, com moderação, é claro. Detesto excessos. — Sophie vai
até Eva. A merda está formada e eu já vou logo em busca de um
refúgio.
— Théo, onde tem um quarto isolado nesse lugar? —
pergunto, o fazendo rir.
— Segue o corredor. Última porta à direita. Lá é o local
mais silencioso. Vou levá-lo! — Ele e Luiz Miguel me
acompanham e eu agradeço internamente por isso.
Preciso de um lugar para onde eu possa fugir quando
tornar-se difícil demais. Eu sei que isso vai acontecer por causa
do barulho excessivo e por Sophie... principalmente por Sophie.
A fuga faz parte de mim.
Piercing no clitóris!
A família do meu pai é extremamente unida. Se algo ruim
acontece com um membro, todos os demais se compadecem e
se unem para ajudar. Se algo bom acontece, se unem para
festejar, não importa o dia que seja.
Pesquisas feitas por psicólogos mostraram que o tempo
de duração de um luto é de oito meses a um ano, podendo se
estender a dois anos.
Um outro estudo diz que quando a perda é de um cônjuge,
as coisas pioram. Indivíduos que perderam seu cônjuge, têm
níveis mais altos de citocinas pró-inflamatórias (algo que indica
inflamação na corrente sanguínea), e passam a ter uma
diminuição da frequência cardíaca. Isso aumenta o risco de
problemas cardíacos. Nos primeiros seis meses, o risco de morte
aumenta para 41%.
Essa diminuição da frequência cardíaca está associada
também à falta de atividade sexual. Sempre ouvi meu pai dizer
que sexo é vida, e talvez faça sentido mesmo. Pelos estudos,
uma vez que você deixa de praticar o ato, sua frequência
cardíaca sofre uma diminuição considerável. É um pouco
absurdo para mim, mas há muitas pesquisas sobre o assunto.
Isso me faz pensar que talvez a minha frequência cardíaca esteja
muito baixa, já que tenho 22 anos de idade e não faço sexo. Será
que malhar ajuda? Eu preciso fazer pesquisas sobre isso. Estou
preocupado. Masturbação pode ser comparada ao sexo?
De qualquer forma, meus problemas agora não importam,
apenas não quero que Luiz Miguel, meu primo de consideração,
morra. Já faz um ano desde que Clarinha nos deixou e ele não
está bem. Estou preocupado que ele vá desenvolver um
processo depressivo. Porém, ver a animação em todos e
perceber que eles são os únicos que podem levar um pouco de
alegria para Luiz Miguel, faz com que eu me sinta um pouco
insuficiente. Samuel, meu irmão, pode fazê-lo rir; Théo, também
meu primo de consideração... Ainda estou conhecendo Théo,
mas ele também parece ser divertido. Soso...
Soso é filha do meu tio Victor e irmã de Luiz Miguel. Na
verdade, ela é mais que isso...
Eu não quero olhar ou pensar nela agora, mas faço e me
arrependo no mesmo instante. Há um elástico em minha mão.
Estou girando-o em meus dedos e os movimentos aumentam
consideravelmente enquanto a observo.
Estamos fazendo um churrasco para o almoço. Eu tentei
ficar no quarto, porém, me lembrei das palavras da minha mãe.
Ela pediu por favor. Pediu que eu me esforçasse um pouco para
socializar ao menos com os meus primos, e eu prometi a ela que
faria. Se eu prometo algo, não consigo deixar de cumprir. Na
minha primeira tentativa de não cumprir a minha promessa, a
cobrança mental surge, repetindo infinitas vezes o juramento que
fiz. Todas as vezes que prometo algo, tento voltar atrás, porém
minha mente não deixa. Eu acho que ela está certa. O mais
honesto é você sustentar suas próprias palavras. Mas, em alguns
casos, é apenas difícil.
Nesses casos difíceis sempre há Sophie envolvida.
Sinto uma enorme saudade de todos os momentos onde
ficávamos grudados um ao outro, mas já faz alguns anos que
deixou de ser o paraíso para tornar-se uma quase tormenta; é
por isso que a evito, por mais que doa. A proximidade excessiva
ultimamente faz com que eu tenha que ficar em uma batalha
mental exaustiva. E, a observando envolvida em um biquíni, com
os olhos devidamente fechados, enquanto a água forte da ducha
cai sobre seu corpo, percebo que insistir em ficar aqui, vendo as
mais várias cenas acontecendo bem diante dos meus olhos,
apenas para cumprir a minha promessa, será um erro.
Então por que não saio logo?
Você sabia que chamar uma mulher de gostosa pode ser
considerado um ato de violação? Bom, o que para muitos é visto
como um elogio, para outros é visto quase como um crime.
Esse lance de gostosa é algo que eu tento entender.
Sempre ouvi Samuel, filho do meu pai e meu irmão de
consideração, chamando as garotas de gostosas, mas como
funciona isso? Porque uma torta alemã é gostosa. Ela tem
aquele creme que derrete na boca, que deixa tudo incrível. Um
sorvete de creme com pedaços de doce de leite e caramelo é
extremamente gostoso. Uma lasanha de presunto e queijo é
absurdamente gostosa. Qual a comparação disso com uma
mulher? Seios, bunda... eles possuem um gosto? É meio
absurdo, mas acho que se pudesse colocar a minha boca em
Sophie, talvez eu me transformaria em um desses caras que
chamam as mulheres de gostosas. Ela deve ter um gosto
delicioso, eu gostaria de lambê-la por completo.
Sophie é gostosa aos meus olhos. Ela é a mais gostosa,
de acordo com eles.
Quando ela sai da ducha, sua atenção se volta a mim e
ela abre o sorriso mais lindo do mundo. Todas as vezes que ela
sorri para mim, um sorriso cresce em meu rosto. Parece
automático. Sophie sorri, eu sorrio.
— Ei, Sophie, vamos dançar essa música? — Eva, a noiva
de Théo, a chama.
Há uma música baixa tocando, e isso me coloca em um
misto de confusão. Me sinto grato a eles por terem cuidado com
coisas que testam os meus limites, mas, ao mesmo tempo, sinto
que atrapalho um pouco da diversão de todos.
De qualquer forma, parece bom para eles e Sophie se
junta à Eva para dançar. Quando Sophie se vira de costas para
mim, desvio meu olhar. O corpo dela é algo que me causa
reações. A única coisa que me convence a observar a cena é a
voz do amigo de Eva.
A diversão termina quando ele sai da piscina e toca a
cintura de Sophie. Os dois começam a dançar juntos e eu passo
a engolir em seco repetidas vezes. Sophie tem um gingado
natural desde criança. Ela é movida à música. A maneira como o
corpo dela se move de acordo com a melodia da canção é
incrível. Ela parece sentir o tom e se entrega a isso.
O amigo de Eva começa a ficar um pouco ousado nos
movimentos e sinto meus batimentos cardíacos atingirem um
novo nível de frequência. Começo a girar o elástico em minha
mão mais rápido, até que ele se arrebenta, sinalizando que atingi
o meu limite. Não sei explicar como me sinto quando vejo alguém
tocá-la. Me lembro de alguns episódios violentos que tive durante
a infância, e eles parecem voltar com força a cada vez que vejo
cenas como essa.
Não sou um menino violento. Não sou um menino violento.
Não sou um menino violento.
Porém, mesmo que não seja, sinto vontade de me
aproximar e jogar esse garoto a alguns metros de distância. Sinto
vontade de pegar Sophie e escondê-la dos olhos de todos. Sentir
todas essas coisas dói. Dói tanto que, antes que eu não possa
mais conter as minhas emoções, decido me recolher.
Estou caminhando rumo ao quarto quando uma garota
molhada vem correndo e entra na minha frente.
Ela prende meu rosto entre suas mãos, eu prendo o dela
entre as minhas.
— Aonde vai? — pergunta.
— Dormir. Estou cansado da viagem. Pode se divertir. Eu
vou ficar bem.
— Por que não fica mais perto de mim? — ela questiona,
como se sentisse dor. — Você não gosta mais de mim? Não sou
mais a sua melhor amiga? Você tem outra amiga?
— Não tenho outra amiga, Sophie. E nunca terei. Você
sempre será a minha melhor amiga. Só você — afirmo. — Estou
cansado da viagem. Foi longa e passei a madrugada
conversando com Samuel, para mantê-lo desperto enquanto
dirigia. Vou dormir e acordarei mais disposto.
— Promete que vai ficar comigo hoje à noite? Eu não me
importo se não quiser sair, nós podemos assistir um filme, eu
posso fazer pipoca. Eu te amo — ela diz, soltando meu rosto e
me abraçando.
Meu Deus do céu! Sophie está de biquíni e grudada ao
meu corpo! Meu corpo simplesmente precisa não responder a
isso, mas...
Uma ereção começa quando o cérebro envia um sinal
para a medula espinhal através dos nervos que chegam à pelve.
Alguns dos nervos que provocam uma ereção se situam dos dois
lados da glândula prostática. Quando este sinal é recebido, o
tecido esponjoso no interior do pênis relaxa e expande os vasos
sanguíneos, que levam o sangue para o pênis. Com as
expansões das paredes, o sangue no interior pode circular até 50
vezes mais rápido do que sua velocidade habitual. O sangue
preenche dois tubos esponjosos de tecido no interior do pênis. As
veias, que normalmente drenam o sangue do pênis, ficam
fechadas, para que mais sangue permaneça dentro. Isso faz com
que se produza um grande aumento da pressão dentro do pênis,
o que provoca uma ereção firme. E tudo isso significa que meu
cérebro agora está sendo um completo idiota irresponsável, por
estar enviando todos os sinais para que logo meu pênis fique
com uma ereção firme que, provavelmente, fará com que eu
queira abrir um buraco no chão para me enterrar dentro dele.
Começa a acontecer quando sou obrigado a tocá-la para
retribuir o abraço. Eu posso jurar que a sinto tremer quando
minhas mãos deslizam pela sua cintura. Todos os meus sentidos
são altamente aguçados, por isso, consigo sentir sua pele repleta
de bolinhas. Quanto mais deslizo as minhas mãos, mais reações
surgem no corpo dela. Essa é uma descoberta muito assustadora
para mim, mas que também não quer dizer nada. Eu só saberia
que Sophie está excitada se ela tivesse uma ereção firme, mas
ela é uma garota e possui uma vagina, o que contribui
diretamente para que minhas dúvidas sobre o tipo de reação que
ela está sentindo não sejam esclarecidas.
Me afasto quando a situação torna-se demais e a pego
com as bochechas ruborizadas, mordendo firmemente seu lábio
inferior. Faço uma anotação mental sobre isso e caminho rumo
ao quarto, fechando a porta com chave assim que entro.
Fico alguns minutos andando de um lado para o outro.
Tenho esse tipo de comportamento quando me sinto perdido ou
nervoso demais. Faço isso quando tenho dificuldade para
entender algumas coisas. E ligo para o meu pai quando preciso
de uma opinião menos científica.
— Filho, está tudo bem? — É a minha mãe quem atende.
— Mãe, está tudo bem. Por que não estaria?
— Só estou perguntando, filho — ela responde, rindo. —
Descansou da viagem?
— Ainda não, mãe. Mas fugi de Sophie e vou tentar
descansar agora. Meu pai está aí?
— Por que fugiu de Sophie?
— Mãe, isso é assunto de meninos. Eu ficaria feliz em
falar com o meu pai — explico a ela.
— Sabe, filho, mamãe entende sobre muitos assuntos de
meninos. E ainda tem o agravante de eu ser menina. Então,
entendo também das atitudes de meninas. Eu posso ajudá-lo
enquanto seu pai está saindo do banho para falar com você.
— Mãe, você tem reações físicas quando papai te abraça?
Você sente arrepios? Sophie me abraçou e eu tive uma ereção
firme, ela teve arrepios quando eu toquei em sua cintura.
— Oh, merda! Digo... LUCCA!!! — ela chama o meu pai.
— Henrico teve uma ereção firme. Se existe alguém que pode
falar com ele sobre ereção firme, esse alguém é você. Eu não
tenho pênis! — diz ao meu pai.
Ok. Por que ele é homem? Ou por que ele tem ereção
firme quando minha mãe o abraça? Não quero imaginar isso, de
forma alguma!
— Graças a Deus, Paula! — ele a responde. — Oi, filho.
— Pai, não é apenas porque estou com uma ereção firme.
— Ele fica em silêncio por um momento, até finalmente me
responder com uma pergunta. Eu odeio quando me respondem
fazendo uma pergunta, mas isso acontece constantemente. As
pessoas me respondem perguntas com perguntas, como se
quisessem se certificar de algo. Eu não entendo a necessidade
disso, mas lidar com pessoas é complexo demais. Eu sempre
vou preferir os animais. Eles são menos complexos e
compreendê-los é significativamente mais fácil.
— Anos atrás eu te ensinei como lidar com isso, não foi?
— Sim, mas não é sobre lidar com uma ereção. Eu toquei
a cintura nua de Sophie e ela se arrepiou.
— Ela teve uma reação ao seu toque. Talvez seu toque
tenha algum efeito sobre ela. Já imaginou isso? Seria legal, não?
Você gosta de Sophie.
— Pai, não tem como eu saber se a reação que ela sente
é ao menos parecida com a que eu sinto. A excitação em garotas
é diferente. Quando começa a excitação em garotas, a vagina
fica mais longa e mais larga. As células que revestem a vagina
secretam gotículas de líquido ou lubrificante, que fazem com que
fique escorregadia. Como eu poderei saber se isso está
acontecendo com Sophie? É assustador pensar em uma vagina
longa e larga.
— Puta merda! Bom, sim, quando uma garota está
excitada nós dizemos que ela fica "molhada". Sua... vagina fica
mesmo úmida e só é possível descobrirmos quando tocamos ou
caso ela decida dizer. Porém, não leve de forma tão literal esse
"longa e larga". Você já viu aqueles filmes educativos, sabe que o
órgão sexual da mulher não modifica durante a excitação, ao
menos não exteriormente. Na verdade, se expande apenas para
receber o nosso... Isso é difícil de ser conversado. — Essa
resposta me faz sentar na cama.
— Nosso pênis.
— Sim, filho. Ela se abre um pouquinho apenas para
receber o nosso pênis.
— Sophie tem um piercing no clitóris. Eu não pude
analisar — confesso.
— Você quer analisar?
— Estou curioso, mas sei que não posso pedir que ela me
mostre. Isso é muito íntimo, e não sou inocente o bastante.
Assisti filmes. Eu faria com ela tudo o que já vi. Tenho a
consciência de que pedir para ela me mostrar seria como um pré-
ato para me sentir confortável.
— Ah, sim, o confortável. Você não se sente confortável
ainda, então apenas relaxe, filho. Veja filmes educativos, você
sabe o que fazer. Acho que isso será o escape até se sentir
confortável o bastante para investir pesado.
— Investir pesado? — pergunto.
— Dar um passo em sua relação com Sophie.
— Ela é a minha melhor amiga, pai. Não vai acontecer.
Não quero perdê-la como amiga e ela tem uma rotina mais
dentro da normalidade que eu. De qualquer forma, o arrepio
significa que talvez ela tenha reagido a mim da forma como reajo
a ela?
— Tenho certeza que sim. Preste atenção nos mínimos
detalhes, ok?
— Ok. Só mais uma coisa, pai. Há um garoto em torno de
Sophie e eu não gosto dele. Ele disse que Sophie é gostosa. O
que eu devo fazer?
— Mantenha-se perto dela. Não dê chance dele se
aproximar. Quando queremos muito algo, devemos lutar, mesmo
que discretamente. — Ok, manter-se perto, eu posso fazer isso,
mesmo que seja necessário manter uma almofada entre nós.
— Tudo bem.
— Me ligue se precisar, filho. Eu amo você. Sua mãe quer
falar...
— Filho. — Minha mãe está chorando.
— Mãe?
— Eu só queria dizer que é a coisa mais fantástica do
mundo ver sua inocência em assuntos sexuais e assuntos
sentimentais. Você é tão maduro para outras questões, que ver
que ainda possui uma inocência e uma certa inexperiência torna-
se algo singelo e bonito — fala. — Sempre quando o vejo
conversando com seu pai, isso mexe muito comigo. Eu tive a
sorte de conhecer o seu pai. Sophie tem a sorte de ter um
homem como você apaixonado por ela. Estou sonhando com o
momento em que ela descobrirá sobre seus sentimentos. Eu
sinto que vocês vão descobrir muitas coisas juntos e, quando
isso acontecer, será o momento mais incrível da vida dos dois.
— Você acha que um dia ela será a minha namorada?
Você acha que eu sou capaz de namorar?
— Você é muito além de capaz. Só não fez, porque desde
que se entende por gente, só existe uma garota na vida para
você. E sabe o que é mais incrível? Essa garota é a sua melhor
amiga. Ela sabe tudo sobre você, sabe tudo sobre o seu
universo, suas limitações, sua inteligência... Há tanto para você
descobrir sobre tudo que ela sente e sabe.
— Obrigado, mãe.
— Eu quem o agradeço por ser o homem mais incrível do
mundo inteiro e o meu primeiro melhor presente da vida. Eu te
amo, filho. Fique com Deus.
— Você também, mãe.
Mantenha-se perto dela...
Ao invés de ir obter o mínimo de alívio e dormir, controlo o
ânimo, retiro minhas roupas, visto uma sunga boxer preta e volto
para a área externa da casa. Procuro Sophie com os olhos,
porém, assim que a encontro, ela fixa o olhar em mim, escorrega
e leva um tombo feio, o que me faz correr para socorrê-la.
A vida era muito mais fácil quando Henrico usava uma
bermuda para as atividades aquáticas. Ele usando uma sunga,
que mais se parece com uma cueca boxer, é impactante o
bastante. Faz um tempo desde que o vi sem camisa, então é
compreensível meu choque.
Henrico costumava ser magro, discreto. Esse homem que
me tem em seus braços agora, é tudo, menos magro e discreto.
Eu não sei dizer bem qual foi a transformação que o corpo dele
sofreu. O vi há mais ou menos uns seis meses, num dia chuvoso
e frio, onde ele estava usando um conjunto largo de moletom.
Fora de todas aquelas roupas se esconde algo que eu sempre
quis ver, mas não me sentia preparada o bastante. Ainda estou
em uma disputa interna entre agradecer a Samuel por incentivá-
lo a malhar ou chutá-lo. É uma bênção e uma tortura.
Coxas grossas, um volume generoso em sua sunga, seis
gomos perfeitos na barriga, pelinhos delicados por todo peitoral e
pelo famoso "caminho da felicidade", e braços fortes e com
algumas veias em evidência. Não ajuda que o rosto dele seja
perfeito. Eu não sei descrever o que são esses lábios, tão pouco
a barba adornando cada pedacinho e fazendo com que ele se
pareça ainda mais quente.
Mas...
O lado ruim da vida é quando surge o "MAS".
Henrico não é o garoto que vai me jogar contra a parede e
me consumir por completo. Não é o garoto que "do nada" vai
tornar-se um rompante de safadeza e atitude. Eu sei disso e, ao
contrário do que parece, não é decepcionante que ele não seja
como a maioria garotos. É angustiante, principalmente conforme
os dias, meses e anos vão se passando.
Tão angustiante que larguei a faculdade e retornei ao
Brasil há poucos dias, contra a vontade dos meus pais, contra
todos, apenas para estar mais perto dele. O simples fato de estar
perto já consegue preencher alguns dos espaços vazios dentro
do meu coração. Talvez, com cuidado e delicadeza, eu consiga
trabalhar e realizar o maior sonho da minha vida: tê-lo.
Já fui questionada sobre esse sonho, até mesmo julgada.
Enquanto a maioria das mulheres sonha com a independência,
com viagens, com riqueza, poder, eu sonho em possuir o coração
do meu melhor amigo e viver o resto dos meus dias ao lado dele.
Tão poético quanto parece ser, apenas para destoar da imagem
de garota sem limites que todos têm de mim.
Sempre foi Henrico. Sempre será. E nunca houve um só
dia em que eu pensei em desistir ou tentar substituí-lo. Não há
qualquer garoto à altura de tudo que ele é e significa para mim.
Eu choro. Eu choro porque amar em silêncio é doloroso o
bastante. Eu choro porque tenho pressa quando tudo que preciso
é ser paciente. Eu choro porque todas as vezes que digo que o
amo, ele entende como se eu estivesse dizendo que o amo como
meu melhor amigo. Eu choro porque queria estar para sempre
em seus braços e esse "para sempre" nunca chega. Eu choro
porque meu corpo grita por algo que ninguém é capaz de me dar.
Eu rezo pelos mesmos motivos; para que eu possa gritar o
meu amor, para que eu possa mergulhar nele, para que ele
entenda que eu o amo como uma mulher é capaz de amar um
homem, para que ele abra seus braços e me deixe ficar para
sempre, e para que ele me dê tudo.
Ele me coloca sobre a sua cama e eu consigo vê-lo por
completo, mais perto que nunca. Eu choro pelo desejo de tocá-lo.
— Sophie, eu vou cuidar de você — ele diz de um jeito
muito lindo.
— Ok. Você pode apenas fazer um favor antes de cuidar
de mim?
— Eu posso fazer — responde sério, esperando o meu
pedido.
— Você pode enrolar uma toalha em torno de si? Apenas
para eu não vê-lo de sunga?
— Oh! — exclama, envergonhado, cobrindo o volume em
sua cueca. Nunca quis tanto ser as mãos de alguém. — Me
desculpe por desrespeitá-la, Sophie.
— Não me desrespeitou. Na verdade, eu festejaria
bastante se me desse um "desrespeito" desse. Quer dizer,
esqueça o que estou falando. É apenas porque...
— Eu vou enrolar uma toalha — avisa, indo até ao
banheiro, e eu suspiro, transtornada. Ter o sangue quente é uma
maldição às vezes.
O abençoado surge na porta enrolado em uma toalha
branca. Poderia aliviar o que estou sentindo, mas não alivia
nada. Agora ele molhou os cabelos e há gotículas de água
escorrendo pelo seu peitoral.
— Pronto. Você está sentindo dor? — pergunta.
— Em lugares que você nem imagina. — Henrico se
superou na arte de se tornar gostoso. Eu queria arrancar essa
toalha no dente, abaixar essa sunga e... Santa Josefina, me
perdoe por pecar!
— Podemos ir em busca de um hospital.
— Não vai resolver — afirmo.
— Sophie, o que eu posso fazer? Não gosto de te ver
chorando. Meu peito dói. — Ele derruba toda a minha safadeza,
sempre! Até faz com que eu me sinta levemente culpada por
querer jogá-lo sobre essa cama e matar quem me mata um
pouco a cada dia.
— Desculpe. Estou tendo alucinações. — O observo
franzir a testa e me encarar sério. Começo a rir, porque ele
sempre leva tudo para o sentido literal.
— Você me enganou? Minutos atrás estava chorando e
agora está rindo, Sophie. Eu não estou entendendo.
— Machuquei apenas o meu bumbum e torci um pouco
meu pé direito — informo, ficando de pé e caminhando
mancando até um espelho, onde confiro minha bunda. Pelo
reflexo do espelho, o vejo com os olhos fixados em minha bunda.
Samuel disse que eu deveria observar mais algumas ações de
Henrico, e eu faço isso. Ele desvia o olhar da minha bunda assim
que o encaro através do espelho. — Não foi nada demais. Só há
uma dorzinha no meu pé — aviso e ando até ele. — Você pode
me abraçar muito forte? — peço, voltando a chorar, e ele faz. Ele
me abraça forte e eu deito minha cabeça em seu ombro direito.
— Não chora, Sophie, por favor.
— Eu te amo. — Ao infinito e além.
— Eu vou cuidar de você. Você quer brigadeiro?
— Quero — respondo, sorrindo entre lágrimas.
— Eu vou fazer para você, tudo bem? Pode apenas ir
tomar banho e vestir uma roupa decente? É desrespeitoso.
O tema da vez é desrespeito. Acabo de perceber.
Sorrindo, me afasto dele e vou até meu quarto tomar banho e
vestir uma roupa "respeitosa".
— Ei, senhorita, você está bem? — Samuel surge,
vestindo um roupão bem esquisito, quando estou prestes a entrar
no quarto.
— Sim, só torci um pouco o pé e meu bumbum está um
pouco dolorido — explico, o abraçando. — Eu te amo até o céu!
— Onde está Henrico?
— No quarto. Pediu que eu viesse tomar banho e vestisse
uma roupa decente para assistirmos filme — comento, sorrindo.
— Podemos conversar um pouco? Em particular.
— Claro que sim. Entre. — Ele entra e fecha a porta.
— Sente-se — pede, apontando para a cama, e eu me
sento, o analisando.
— Fiquei muito "tiporrei"[2] nesse roupão, né? — Reviro
meus olhos e sorrio.
— Extremamente.
— Tô me sentindo muito rei delas! Enfim, quero falar sobre
Henrico e você. — Franzo a testa. — Sophie, todos amam vocês
e sentem medo de vê-los sofrerem por conta dos sentimentos.
Eu sou um pouco protetor, você sabe.
— Perfeitamente.
— A questão agora é que Henrico está numa fase mais...
Como posso dizer? Ele tem estado mais curioso em relação a
algumas questões.
— Questões? — pergunto. — Quais os tipos de questões?
— Não vem ao caso. Eu só queria dizer que ele acordou
para algumas questões apenas agora e está meio perdido, com
dúvidas e curiosidades demais. Sei o que sente por ele, sei que
deve estar cada vez mais difícil lidar com isso, mas tenha um
pouco mais de paciência, ok? Está sendo extremamente difícil
para ele também. Ele se sente diferente, se sente atrasado, se
sente insuficiente, incapaz. Estamos tentando lidar com isso
juntos, inseri-lo cada vez mais em nossa rotina, para que ele
perceba que não há nada a temer. O tipo de abordagem dele é
diferente, por exemplo, do meu tipo de abordagem, e ele é literal
demais. Você vai atingir o seu propósito, posso quase apostar
nisso, mas precisa ir com cuidado, tudo bem?
— Eu sei. Tenho pressa, mas sei que preciso ir a passos
lentos.
— Henrico ainda não sabe que você voltou para o Brasil
definitivamente, não é mesmo?
— Ainda não falamos sobre isso. Mas vou comentar.
— Você é muito mais experiente que Henrico, mas não
quero que se machuque, Sophie. Quando ficar difícil ou se sentir
perdida, venha até mim. Seja firme, aguente firme, continue
sendo paciente. — Me levanto e ele abre os braços para me
receber. — Sei que esse amor dói.
— Eu o amo com todas as minhas forças.
— Observe.
— Estou fazendo isso, mas não encontrei nada ainda —
confesso.
— Siga observando. Só se encontraram há poucas horas.
Talvez você ainda não seja capaz de perceber, mas Henrico está
sofrendo mudanças consideráveis. A zona de conforto está
começando a incomodá-lo e o óbvio já não está o satisfazendo
mais. Apenas seja paciente e observadora. O amor dele é puro
pra caralho.
— Eu te amo também.
— Eu também te amo, Sininho. Não quero que sofra. Você
tá na velocidade cinco do créu, Henrico está entrando na
primeira.
— Isso significa que Henrico é virgem?
— Eu não disse isso — ele fala, me soltando. — Enfim, vá
tomar banho para assistir filme com ele. Não vá assediar meu
irmão!
— Talvez eu dê uma deslizada de mão para saber o que o
futuro me reserva, se é que meu futuro é Henrico — brinco.
— Eu acho que é, hein!
A cada vez que alguém diz isso, me sinto capaz de
conquistá-lo.

Théo me mostra a despensa da casa e eu pego todos os


ingredientes para fazer brigadeiro para Sophie.
Brigadeiro é o doce preferido de Sophie, por isso, aprendi
a fazer aos 13 anos de idade, numa madrugada chuvosa, onde
fiz minha mãe acordar para me ensinar. Na manhã seguinte a fiz
me levar na casa do tio Victor para entregar os doces para
Sophie e ela foi sorridente, sem nem mesmo me repreender por
ter perdido uma noite de sono. Eu me lembro até hoje do sorriso
que Sophie deu, foi o mais bonito do mundo.
Ela é a menina mais bonita do mundo. É verdade.
Assim que termino o brigadeiro, o coloco na geladeira,
para esfriar mais rápido, e volto ao quarto. Ela já está sentada na
cama, me esperando.
— Eu já sei o filme que vamos assistir! — anuncia.
— Eu não gosto de filme de terror.
— Não é de terror. É um lançamento da Netflix. É de máfia
— explica. — Venha! Sei que o brigadeiro vai demorar um
pouco...
— Ok. — Apago a luz e me junto a ela na cama, um pouco
distante. Ela parece mais animada que o normal para assistir ao
filme. Ela dá play e se aproxima de mim, puxando meu braço e o
fazendo de travesseiro.
— Você não parece confortável agora — diz.
— Você está confortável agora? — pergunto, apreensivo.
— Sim, muito confortável. Você não?
— Eu nunca fiquei confortável, mas... por que está
confortável? Você não parece confortável agora — argumento e
ela levanta a cabeça para me observar.
— Estou deitada, relaxada, confortável. Você também
está.
— Eu estava pensando em outra coisa, me desculpe. —
Ela sorri e dá play no filme. Se chama 365 Dias e eu não entendo
o motivo de Sophie querer assisti-lo. Logo no início arregalo
meus olhos e a encaro. Ela rola pela cama e começa a gargalhar.
— Merda, Henrico! Você é extremamente engraçado.
— Isso se parece com filmes educativos!
— Filmes educativos? — questiona, rindo. — Está falando
de filme pornô? — Esfrego meu rosto, mortificado pela vergonha.
A mulher do filme começa a gemer, como as mulheres dos filmes
educativos. Sophie volta o olhar para a TV e agora é o homem
gemendo, enquanto parece que há uma mulher fazendo sexo
oral nele. Isso é absurdo! — Socorro, Deus!
— Esse filme é educativo? Não podemos assistir isso
juntos.
— Não é filme pornográfico — ela responde, rindo.
— Você faz o que ela estava fazendo? — pergunto e
Sophie para de sorrir. Ela está me olhando de um jeito estranho,
não consigo compreender.
— Não faço. Você faz o que ele faz?
— Não — respondo timidamente.
— Nunca?
— Sophie, isso não é algo que devo conversar com você,
entende? Você é minha amiga — explico.
— Entendo. Mas você sabia que uma pesquisa feita pela
pesquisadora americana, Heidi Reeder, com 300 pessoas de
ambos os sexos, aponta que 20% dos entrevistados já haviam
transado com um amigo ou uma amiga pelo menos uma vez na
vida? Destes, 76% disseram que a amizade melhorou depois do
sexo. Dentre os 76%, metade começou um relacionamento
amoroso com o amigo, mesmo que essa não fosse sua intenção
original. A outra metade permaneceu apenas na amizade, muitas
vezes, colorida — ela explica. Eu amo muito que ela goste de
pesquisas!
— Eu vi uma pesquisa onde 76% dos entrevistados
afirmaram que a amizade ficou ainda melhor após o sexo e essa
pesquisa não foi da mesma pesquisadora. Talvez faça mesmo
sentido. Elas atingiram a mesma porcentagem sobre o assunto.
Porém, há algo muito ruim sobre essa situação de amizade
colorida. Ela pode levar a algo muito mais profundo e íntimo, ou
terminar abruptamente pelo aparecimento de uma terceira
pessoa que determine o fim desse relacionamento. Se surge uma
terceira pessoa, acaba o vínculo de amizade e o sexo. Meu
Deus, Sophie, eles estão nus!
— É normal, Henrico.
— Ele é bruto.
— É excitante — afirma.
— O quê? — pergunto, a encarando.
— Vamos assistir, você vai entender em algumas cenas.
— Faço o que ela sugere. — Ei, eu te amo muito. Você é o
menino mais lindo do mundo! — Sorrio e faço um carinho em seu
rosto.
— Você é muito princesinha.
Mas não consigo entender o tipo de relação entre o casal
do filme. Eu não gosto do filme ou da situação entre eles. Grande
parte já se passou e o cara parece um viciado em sexo oral.
Deve ser realmente bom. A mulher, eu nem quero falar sobre ela.
Eles estão em um barco agora e está começando uma cena após
ela ter caído no mar. Sophie nem pisca, e eu entendo o motivo.
Isso é sim um filme educativo, mas não sei que tipo de educação
ele quer passar. Os filmes que eu assisto são muito mais leves.
O cara cospe na mulher e...
— Senhor da glória!!! — Sophie exclama.
Meus olhos ficam fixados na tela, horrorizado o bastante
com a cena. Eu nem consigo respirar durante os próximos
minutos. Quando a cena termina, Sophie solta um gemido e eu
dou um salto da cama, rumo à fuga.
Calço meu chinelo e, assim que abro a porta do quarto
para desaparecer, Samuel cai diretamente no chão do quarto,
juntamente com Théo, Eva, Maicon e Luiz Miguel.
— Vocês estavam fazendo sexo? — eles perguntam
juntos.
Henrico está perdido e eu estou rindo.
Samuel tem o dom de ultrapassar os limites da cara de
pau.
— Vocês são malucos? — Henrico pergunta, encarando a
todos no chão. Aos poucos eles começam a se levantar. — Por
que estavam atrás da porta? Por que perguntaram se eu e
Sophie...
— Porra, Sophie! Eu pensei que você havia concordado
em ir devagar — Samuel diz, se levantando.
— Infelizmente, estou indo devagar. Eu queria ir bem
rápido e forte!
— Onde? — Henrico pergunta e eu fico de pé para
protegê-lo de toda loucura. Sei que agora ele está perdido e
assustado.
— Ok, pessoal! Nós só estávamos assistindo um filme,
365 Dias. É de máfia, mas parece pornô, porque tem muito sexo,
o tempo todo. Uma delícia! Digo, um absurdo! Uma falta de
respeito sem tamanho.
— Que tal assistirmos juntos na sala? — Théo convida. —
Será divertido. Topa, Henrico?
— Eu não sei... — Henrico diz, sem graça. — Não acho
que seja legal.
— Vamos lá, cara! Vamos dar algumas risadas juntos! —
Samuel convida, o abraçando. Henrico o acompanha nessa
loucura e eu pego o fone de ouvido dele por medida de
segurança, levando-o comigo até a sala.
Por algum motivo, estou percebendo que, dessa vez,
todos estão um pouco mais insistentes em manter Henrico
incluso nas atividades. Deve haver algum motivo e estou
sentindo que perdi algo, alguma informação. De repente, as
palavras de Samuel começam a fazer sentido. Ele disse que
Henrico está se sentindo desconfortável com a zona de conforto
e está se esforçando por alguma coisa. Eu realmente preciso
usar mais do meu poder de observação. Sinto-me em completa
desvantagem agora.
Quando chego na sala, pego Henrico pela mão e o faço se
sentar ao meu lado.
— Você está bem com essa loucura?
— Não sei. Acho que sim. Eu prometi à minha mãe que
me esforçaria — responde, fixado em meu lábio inferior. — Você
beija?
— Você beija? — Devolvo a pergunta apenas por temer a
reação.
— Você já se sentiu confortável? — Eu preciso decifrar o
que é esse confortável, porque parece que para ele essa palavra
é utilizada para se referir a algo que não é literal. Isso é bastante
estranho, visto que ele gosta de levar tudo ao pé da letra.
— Você poderia me explicar o que significa se sentir
confortável? Eu não estou compreendendo bem — peço,
apertando as bochechas dele. — Você é perfeito demais.
— Não posso explicar isso. Talvez um dia.
— Tudo bem, eu posso esperar. Sempre vou esperar por
você, ok?
— Ok. — Ele sorri e aperta minhas bochechas também. —
Sempre vou esperar por você.
— Estou aqui agora. Não precisa esperar por mim — digo,
observando seus olhos fixados aos meus.
— Aoooo! Quando eu crescer vou ser igual esse cara! —
Samuel diz, desviando nossa atenção, só então me dou conta de
que o filme já começou.
— Mafioso? — Luiz Miguel pergunta, rindo. Ele está no
mesmo sofá que eu e Henrico, e eu o puxo para um beijo na
bochecha. — Você me lambeu!
— Foi só um beijinho molhado, irmão! — explico, sorrindo.
— Misericórdia, esse filme! — Maicon exclama. — Esse
homem, certamente, jamais seria passivo em uma rodada de
sexo suado.
O que dizer desse ator que eu mal conheço e já considero
o bastante?
— Esse noivo dela é um idiota. A mulher chega pronta
para o ato, cheia de vontade, e o imbecil não dá nem uma
atençãozinha? — Théo comenta. — Evadia, você nunca vai
passar necessidade. Vem quente!
— Por que acha que vou me casar com você? — Eva diz,
sorridente. — Por sexo!
— Um casamento não deve acontecer por sexo — Henrico
comenta, sério. — Sabia que a proporção é de um divórcio a
cada três casamentos? É um número alto. Eu penso que talvez o
sexo não seja o suficiente para manter um relacionamento. Uma
vez que você se casa, você faz sexo. Se sexo fosse o
componente fundamental de uma relação, as pessoas não se
divorciavam.
— Você está certo. Eu estava apenas brincando, porque
gosto de irritar o Théo — Eva explica, sorrindo. — Para um
casamento, ou até mesmo um relacionamento dar certo, é
preciso um mix de coisas, a começar por uma amizade, para
ambos desbravarem um ao outro e buscarem o maior número de
coisas em comum, além da compatibilidade e atração. A atração
é um ingrediente importante. O sexo acaba sendo um ingrediente
importante também, porque mantém o casal conectado. Na
verdade, eu considero o sexo o maior ato de conexão entre duas
pessoas. Não é o principal, mas é importante.
— Esse cara é bom, hein?! — Samuel diz. — Me identifico
com ele na pegada.
— Não me julgue, mas essa mulher está feliz da vida com
esse sequestro. É compreensível. Quem não estaria? No filme
parece perfeito — comento e Henrico me encara. — Mentira,
acho abusivo.
— Na vida real não é assim — Luiz Miguel divaga.
A cena do sexo da lancha começa e o povo vai à loucura.
Eu começo a rir quando Samuel fica de pé e simula sexo com o
aparador abaixo da TV.
— Vaiiii, safada! — ele diz de uma maneira engraçada,
fingindo que o móvel é a bunda de uma mulher e distribuindo
tapas. — Foi só a cabecinha! Vou colocar tudo agora! É isso aí...
Me receba, potranca!
A cara de Henrico é impagável, e piora quando Maicon
decide ser a "Laura" de Samuel. Eu quase faço xixi nas calças
quando Samuel agarra os cabelos de Maicon e dá um tapa forte
na bunda dele. O pobrezinho até se assusta, mas segue rindo.
— Me dê o seu MASSIMO — Maicon pede. — Me chama
de Laura e me dá uma cuspida.
— Com cuspe e com jeito, invado o seu estreito! —
Samuel fala. — Aoooo, Laura, Jacinta o orgasmo chegando!
— Que merda! — Luiz Miguel diz, rindo.
— Me desculpem, mas Théo é mais potente que esse
Massimo.
No momento que Laura e Massimo atingem o pico do
prazer, Samuel e Maicon gemem alto, como se estivessem, de
fato, atingindo o orgasmo juntos. Eu estou chorando, mas
Henrico está realmente sério, olhando para a cena. Isso torna
tudo ainda mais engraçado do que realmente é.
— Foi bom para você? — Samuel pergunta a Maicon.
— Essa foi sua melhor performance? — Maicon pergunta,
o que faz com que todos comecem a rir de Samuel.
Os dois se sentam e voltam a assistir ao filme. Olho para o
lado e só assisto um rosto muito lindo, que está bastante corado
agora.
— Ei, há muitos ruídos, eu vou para o meu quarto. Você
quer vir comigo? — Henrico diz baixinho, e eu nem respondo.
Seguro a mão dele e nos levantamos para sair.
Nos acomodamos na cama dele. Ele virado para mim, eu
virada para ele. Ficamos perdidos um no outro por um tempo, até
eu quebrar o silêncio.
— Você gosta de São Roque? — pergunto a ele enquanto
mexo em seus cabelos negros.
— Eu gosto. Quando todos não estão reunidos é bem
silencioso, o ar é mais puro, há muito sons da natureza, não há
muitos carros...
— Abandonei a faculdade — confesso e o vejo franzir a
testa ao ouvir.
— Por que fez isso?
— Eu não estava feliz morando tão longe de todos, tão
longe de você. Voltei há poucos dias. Meu pai está um pouco
magoado comigo, mas compreendeu o motivo.
— Então você voltou para o Brasil definitivamente? —
pergunta.
— Sim.
— Eu quero me mudar para São Roque, então acho que
ficaremos um pouco longe. Estou arrependido por querer. Não
imaginei que tivesse voltado.
— Eu quero me mudar para São Roque também. Nós
podemos arrumar um sítio por perto, podemos morar juntos e ter
um monte de animais — sugiro, sorrindo. — Eu tenho uma nova
cachorrinha, mas ela é dorminhoca. Ela está no quarto de Luiz
Miguel.
— Você quer morar junto comigo? — Henrico está no
modo "analítico" agora. Eu posso ver.
Eu disse que iria devagar, mas sei que posso dar sinais a
ele do que sinto. Posso dar algo que o faça juntar as peças e
pensar. Confesso que é um pouco difícil ter que abrir mão de
alguns instintos naturais e ter que abordar todos os assuntos de
uma forma sutil. Se eu pudesse, simplesmente diria abertamente
agora todas as coisas que sinto.
Houve um período em que me revoltei por ninguém
interferir a meu favor. No auge dos meus 15 anos, quando tudo
em mim gritava por ele, eu queria me jogar, queria deixar meus
instintos conduzirem a situação. Foram diversas as vezes em
que chorei nos braços do meu pai, pedindo "pelo amor de Deus"
para que ele me ajudasse a ter o garoto da minha vida. Foram
madrugadas em claro chorando no colo da minha mãe. Houve
revolta por eu achar que ninguém estava me ajudando, mas, na
verdade, todos estavam. Se eu conduzisse a situação da minha
maneira impulsiva, eu afastaria Henrico de mim.
Foi difícil compreender o motivo pelo qual todos agiam
com total cautela, mas quando tia Paula e tio Lucca sentaram-se
comigo e explicaram a situação, mostrando um ponto de vista
sobre o psicológico de Henrico, toda a minha visão mudou. Os
estímulos em relação a ele devem ser feitos pouco a pouco, da
maneira que demonstre mais naturalidade possível. Tudo que
chega até ele de forma contrária, o faz retroceder ao invés de
fazê-lo avançar. O mais engraçado de tudo é que nunca qualquer
membro da família chegou até mim e pediu que eu desistisse.
Eles sempre disseram "tenha calma", sempre defenderam que
Henrico em algum momento iria despertar para os meus
sentimentos. Meus pais me viam sofrer e nunca pediram que eu
desistisse, ou me incentivaram a ir em busca de outro garoto. E,
neste exato momento, todos esses pequenos detalhes estão
surgindo em minha mente. Talvez eles tenham visto algo que eu
jamais tenha sido capaz de enxergar.
"Observe".
Eu observo pela primeira vez a maneira como ele me olha,
tentando enxergar por um ponto de vista que sempre foi
considerado uma área sensível e perigosa para mim. Percebo
que ele passa muito tempo olhando para os meus lábios, talvez
seja indicativo de algo, ou não.
— Eu quero morar com você — afirmo, tocando em seu
rosto. — Você quer morar comigo?
— Eu preciso pensar sobre isso. Nunca pensei na
possibilidade de morar com você. Não sei como vou me sentir. —
Sempre sincero. — Nós vamos dormir no mesmo quarto?
— Não necessariamente. Só se você quiser e se sentir
confortável. — Só depois de alguns segundos percebo que usei a
palavra "confortável" e que isso será interpretado de uma
maneira que ainda não decifrei.
— Somos amigos, praticamente primos. É errado eu
querer me sentir confortável com você?
— Não somos primos, somos amigos. Nada é errado. Seja
lá o que esteja pensando e o que signifique o confortável para
você, não é errado. — Ele engole em seco e se vira, para ficar
encarando o teto. Certamente sua mente está trabalhando muito
forte agora e eu sei que é o momento de ficar em silêncio e
deixar que ele processe o que quer que esteja pensando.
De repente, minha pele está queimando, meu coração
está disparado. Talvez eu precise processar toda a situação
também. Eu sinto que agora estamos indo para um novo nível de
amizade, porém questiono se a minha linha de raciocínio está me
conduzindo para o lugar certo. Sou aquela garota que se joga de
um penhasco muito facilmente, mas também posso ser a versão
que lida com Henrico portando toda a calmaria do mundo. Na
maioria das vezes, sinto como se existissem duas versões de
mim mesma, e nem sei se isso é possível e como pode ser
interpretado.
Confusa, acomodo minha cabeça em seu braço, coloco
minha mão sobre sua barriga e me aconchego em seu corpo.
Sou capaz de sentir a tensão, mas aos poucos ela vai se
dissipando, ao ponto de eu conseguir contar até mesmo todas as
suas respirações.
Já ouvi falarem muito sobre a sensação de "lar". Desde
pequena eu só sentia essa sensação quando estava perto dele.
É assim que me sinto agora. Estou em meu lar, no lugar que
mais amo estar.
— Não me sinto bem morando com os meus pais. Eu me
sentia muito bem até pouco tempo atrás, mas agora não mais.
Sinto que estou muito atrasado em relação aos meus primos, em
relação a você — Henrico confessa. — Quero me sentir como um
homem adulto, independente. Eu sei que você não é mais uma
menina, mesmo que eu sempre vá chamá-la de menina, e eu não
sou mais um menino. Eu sou homem, você é mulher. As coisas
mudaram. — Eu gostaria mesmo de compreender onde essas
palavras se encaixam. O raciocínio dele é bem mais rápido que o
meu. Ele estava falando sobre a necessidade de se sentir
independente e agora está dizendo que eu sou uma mulher e ele
é um homem. Deixo para tentar entender isso quando estiver
sozinha.
— Você é o homem mais lindo do mundo.
— Eu tenho regras. — Não compreendo.
— Regras?
— Se formos dividir a mesma casa, precisaremos ter
regras — explica. Eu tento controlar a vontade de gritar de
alegria pelo fato dele estar ponderando isso, mas demonstro
estar em completa plenitude e nem um pouco insana pela
ansiedade.
— Você pode me dizer?
— Preciso de mais tempo para pensar sobre as regras e
poder repassá-las a você, mas preciso que saiba que eu preciso
tê-las. É importante para mim. Você também pode ter suas
regras, tudo bem?
— Tudo bem. Você sabia que meus pais possuem um
caderninho de acordos? — pergunto, sorrindo com a lembrança.
— Um caderno de acordos?
— Sim, eles anotam tudo. Regras, contratos que inventam
sobre a relação deles, até mesmo assinam os acordos. Eles
fazem isso desde que se tornaram apenas amigos. Quer ter um
caderninho comigo?
— Eu tenho um caderno sobre você — confessa, o que
faz com que eu levante minha cabeça e o encare. — Esqueça
isso — pede, arrependido por ter falado. — Me desculpe, pode
esquecer isso?
— Temporariamente.
— Sophie, por favor.
— Temporariamente, Henrico. Eu vou esquecer sobre isso
temporariamente. — Ele parece contrariado, mas precisa
aprender a lidar com isso. Eu também me sinto contrariada
agora, principalmente porque sempre houve uma expectativa
muito grande em mim sobre ele. Saber que possui um caderno
onde escreve sobre mim desperta toda a curiosidade que
possuo. — Bom, por tudo que acabou de dizer, significa que já
tem uma decisão?
— Posso pensar um pouco mais?
— Claro que pode. Só não demore muito, tudo bem?
Assim que tiver uma decisão, seja a hora que for, você pode me
chamar e dizer? — peço.
— Mesmo se for durante a madrugada?
— Mesmo se for. — Sorrio, fazendo um carinho em seu
rosto. — Eu te amo.
— Ao infinito e além.
— É. Promete que vai me chamar a qualquer momento?
— Eu prometo, Sophie.
(***)
Ele cumpre a promessa de me chamar a qualquer
momento.
Estou dormindo em meu quarto quando desperto com a
sensação de ter alguém junto de mim na cama. Ele toca minha
bochecha delicadamente e eu sigo com os meus olhos fechados,
querendo descobrir quais serão as suas próximas ações.
— Sophie... você é a menina mais linda do mundo mesmo!
Pode acordar? Soso? — Sorrio e levo minha mão até a dele.
— Ei...
— Eu quero morar com você. — Meu coração dispara,
como se fosse capaz de pular para fora do meu peito. Eu quero
ficar de pé e pular na cama, mas preciso me policiar.
— Quer? Tem certeza?
— Tenho. Eu precisava te contar.
— Eu sou a menina mais feliz do mundo agora! —
confesso, beijando sua mão. — Que tal comemorarmos comendo
o que sobrou do brigadeiro?
— São quase cinco da manhã.
— Quem se importa? Vamos ver o sol nascer? — convido
e vejo a sombra de um sorriso em seu rosto.
— Está frio lá fora. Vou vestir roupas quentes e te
encontro na cozinha.
— Também vou vestir roupas quentes — informo, sorrindo.
— Ei, você está feliz?
— Eu sou o menino mais feliz do mundo agora! —
responde, deixando o quarto.
A primeira vez que corri na vida eu estava de mãos dadas
com Sophie, na nossa casa de praia em Búzios. Enquanto o
medo brincava em meus olhos, minha mãe parecia receosa e
meu pai dizia: "se você nunca tentar, então você nunca saberá se
é capaz".
Sophie? Ela só dizia: "eu estou com você, você vai
conseguir". E eu fiz. Sophie nunca soltou a minha mão. Ela
correu ao meu lado e comemorou quando a tentativa foi bem-
sucedida. Ela também disse que eu era o menino mais lindo do
mundo. Era como se ela pudesse contornar todos os meus
medos, abraçar as minhas inseguranças, transformar o meu
medo em riscos que sempre valiam a pena. Éramos novos
demais, mas essa memória se manterá eterna dentro de mim,
assim como muitas outras.
Enquanto a maioria das crianças pareciam se mover na
velocidade da luz, eu era aquele que lutava internamente para
conseguir dar um passo e me manter firme. Enquanto eles
subiam em árvores, eu me mantinha sentado, para evitar tombos
que resultariam em me machucar fisicamente. De machucados,
bastavam as feridas emocionais, todas as dores que eu sentia.
Não é fácil para uma criança perceber que é diferente dos
demais. É doloroso e, muitas das vezes, eu não aceitava, não
sabia como lidar e me revoltava. Durante a maior parte da vida,
eu me questionei: "por que eu?", e acho que nunca serei capaz
de aceitar completamente. Por falta de opção foi necessário que
eu aprendesse a lidar, que eu me tornasse um especialista em
mim mesmo. Acredite, é extremamente difícil saber tudo sobre si
mesmo, identificar fraquezas, testar seus próprios limites,
descobrir se possui pontos fortes.
Tive um atraso enorme na coordenação motora, mas, em
compensação, fui uma criança considerada superdotada em
muitas outras questões. Eu desafiava a compreensão até mesmo
dos terapeutas que lidavam comigo. Isso também não foi fácil.
Na escola, era estressante estudar com crianças da minha idade,
quando eu estava infinitamente à frente intelectualmente. Eu vivia
constantemente aborrecido, algumas vezes apresentava
episódios de agressividade; não batia nas pessoas, mas eu
destruía objetos em busca de descarregar todas as frustrações.
Enquanto todos os meus amigos da escola podiam correr, eu
podia responder a qualquer cálculo matemático com uma rapidez
assustadora. Inclusive, foram inúmeras as vezes em que corrigi
professores, e até mesmo minha psicóloga.
Bom, ao menos corrigir a minha psicóloga era engraçado.
Doutora Laura é a minha psicóloga até hoje. Ela é especialista
em autistas. Anos atrás, quando eu estava disposto a provar que
ninguém poderia lidar com a minha mente, ela se perdia em
todas as questões que eu levantava. Confesso, algumas vezes
eu fazia propositalmente, só para vê-la perdida em sua
argumentação.
Quanto mais o tempo passava, mais difícil ficava. Era
extremamente difícil lidar com olhares maldosos sobre mim, com
as piadinhas, pessoas me chamando pelos apelidos mais
absurdos, bullying gratuito apenas por eu ter um QI elevado e
não gostar de socializar com qualquer pessoa. Todos os dias eu
chegava em casa extremamente rebelde do colégio com tudo
isso, mas insistia em permanecer no colégio, porque eu teimava
que precisava ser como todos, mesmo carregando em mim a
certeza de que eu nunca seria capaz disso. Foi então que, após
uma das maiores crises da minha vida, meus pais decidiram,
contra a minha vontade, que investir em ensino à distância era a
melhor opção. Felizmente, eles tinham meios de pagar por isso,
mas sei que a maioria das pessoas não têm. Eles fizeram o
melhor por mim. Não são todas as pessoas que se dão bem com
a inclusão e acessibilidade em todos os sentidos.
Expert em milhares de coisas, inexperiente para outras. A
mania de me sentir sempre em desvantagem segue me
acompanhando, segue fazendo parte de quem sou. Mas há um
lado bom em sentir esse incômodo. Quanto mais incomodado eu
me sinto, mais aumenta a minha vontade de tentar vencer meus
bloqueios. É isso que estou pensando agora, enquanto Sophie
corre pelo gramado de braços abertos e fala pelos cotovelos.
Ela é a única pessoa no mundo que pode falar pelos
cotovelos sem que eu me incomode. A voz dela é como uma
suave melodia para os meus ouvidos (mesmo quando não está
sendo nada suave). Sophie costuma sempre ponderar suas
ações perto de mim, mas, ocasionalmente, quando está tomada
pela adrenalina, ela acaba perdendo o controle. Eu gosto quando
ela mostra quem de fato é, e gosto de como ela acredita
fortemente que eu a enxergo da maneira que ela tenta passar
para mim. Há duas versões de Sophie. Eu sou apaixonado por
qualquer uma delas, embora eu não goste de assumir isso em
voz alta em minha mente.
Parece que a cada vez que assumo isso internamente,
torna-se mais real. Somos tão diferentes em tantos aspectos,
mas tão parecidos em outros. Eu não foco nos prós, eu foco nos
contras. Talvez seja um erro, talvez não. A cada minuto em que o
ponteiro do relógio gira, mais medo eu tenho de perdê-la para
outro garoto. Ela nunca foi minha, eu não a possuo, mas sou
egoísta o bastante para não querer que nenhum outro a tenha. E
eu costumava estar bem com a possibilidade dela seguir a vida
de maneira normal. Qualquer coisa que a fizesse feliz costumava
me confortar. Agora não consigo mais e não sei como proceder.
Sophie é uma mulher, ela deve namorar, ela deve um monte de
coisas. E eu? Eu sou limitado o bastante para querer me manter
dentro de casa. Barulhos me irritam, não gosto muito das
pessoas, odeio festas, tenho pânico de lugares aglomerados,
nunca beijei, nunca toquei em uma garota, nunca... nunca me
senti confortável.
Eu não sei dizer a ela, principalmente por achar que ela
merece muito mais do que posso dar. Não posso dizer, porque
ela pode ir embora e eu posso perdê-la para sempre.
Mas só de pensar em perdê-la, eu me pego a puxando
para os meus braços e a envolvendo em um abraço apertado.
Eu te amo ao infinito e além...
Ela está em meus braços agora, sendo esmagada de uma
maneira que certamente deve estar sendo quase dolorosa. Mas
ela parece não se importar, porque retribui o abraço tão forte
quanto é capaz de retribuir. Isso faz com que meu coração bata
de forma mais apressada e traz lágrimas para meus olhos.
Quando Sophie está em meus braços, eu sinto que tudo
dentro de mim se encaixa. Mas, quando ela se afasta, eu volto a
me sentir em pedaços.
— O que há de errado? — ela pergunta e traz suas mãos
para meu rosto.
— Você tem um namorado? — Eu não penso antes de
perguntar. Esse é um defeito. Tenho mania de dizer tudo que
surge em minha mente, principalmente quando estou nervoso.
— Não tenho um namorado.
— Mas você já teve um namorado. — É uma afirmação.
— Eu nunca tive um namorado. — Ela nunca teve um
namorado? Isso soa estranho e eu acabo deixando a curiosidade
vencer.
— Por quê? Você é uma garota normal.
— Eu não gosto quando fala assim — me repreende,
soltando meu rosto. Ela segura minha mão e me puxa, até nos
sentarmos embaixo de uma árvore. — Não gosto quando suas
palavras dão a entender que você segue se achando diferente,
fora da normalidade. Você é um garoto normal, Henrico. Todos os
seres humanos têm limitações, e você, como eu, como todos os
demais, tem as suas. Nossas limitações são apenas diferentes.
Ela não compreenderá o que quero dizer.
— Por que não tem um namorado?
— Porque... — Ela desvia o olhar do meu. A observo
balançar a cabeça negativamente, antes de dizer: — Porque eu
nunca quis ter um namorado. E você?
— Eu quero ter uma namorada. — Ela parece não gostar
da minha resposta. Vejo lágrimas escorrerem pelo seu rosto. —
Sophie, não chora. Você não está feliz?
— Eu sempre ficarei feliz por você, mesmo que isso custe
a minha própria felicidade — ela fala, dando um sorriso triste. —
O amor é paciente. O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera,
tudo suporta. Se você estiver feliz, Henrico, eu também estarei,
porque eu te amo.
— Você quer ter um namorado?
— Sim — responde rapidamente, e eu não gosto disso.
Não gosto de pensar.
— Eu não vou ficar feliz se você tiver um namorado. — Ela
me encara e eu esfrego meu rosto. — Eu odeio o seu namorado.
— Não tenho um namorado.
— Mas eu o odeio antes mesmo dele existir. Eu não quero
que você tenha um namorado.
— Por quê? Não estou entendendo. — Fico de pé e tento
respirar, mas minha respiração agora está falhando, e Sophie
percebe. Eu odeio que ela me veja assim, odeio que ela veja que
eu... eu sou diferente, estranho e fraco... — Você está bem? Fale
comigo, Henrico — ela pede, trazendo suas mãos para meu
rosto.
As lágrimas estão simplesmente escorrendo em
rompantes furiosos através dos olhos de Henrico, fazendo com
que as minhas desçam junto. Ele está tremendo, sua respiração
está uma bagunça e nem mesmo a minha tática de segurar seu
rosto está funcionando.
— Eu estou com você, respire — peço e ele traz suas
mãos em meu rosto, tocando e fazendo um carinho que me faz
fechar os olhos. Com seus polegares, ele passeia pela minha
testa, meus olhos, minhas bochechas, meus lábios, como se
estivesse me lendo em braile ou tentando memorizar cada parte
do meu corpo.
Observe...
Enquanto absorvo o toque delicado de suas mãos,
começo a analisar todas as ações de Henrico desde ontem,
quando chegou a São Roque. Eu vou mais além.
No meu aniversário de 9 anos, Henrico me deu um quadro
feito de uma foto minha, desenhado e pintado por ele mesmo.
Aos 12 anos, ele empurrou um menino que disse que ia se
casar comigo e que eu era a garota mais bonita do mundo.
Aos 13 anos de idade, em uma manhã chuvosa de um
sábado, fui acordada pelo meu pai. Ele disse que havia um
alguém muito especial esperando por mim na sala. Eu soube
quem era antes mesmo dele precisar dizer o nome. Eu saltei da
cama e corri para a sala sem escovar os meus dentes. Henrico
estava lá, acompanhado de tia Paula, carregando um potinho em
suas mãos. Assim que me viu, ele estendeu as mãos e eu corri
para pegar o pote. Quando o abri, encontrei dezenas de
brigadeiros feitos por ele, apenas porque sabia que era meu doce
preferido. Tia Paula contou que ele passou a madrugada fazendo
brigadeiro para mim, e eu agradeci, dizendo que ele era o
menino mais bonito do mundo e o meu melhor amigo. Em todas
as festas de família que tinha brigadeiro, ele sempre arrumava
uma maneira de encontrar um pote e pegar vários para mim, e eu
nem precisava pedir.
Quando menstruei pela primeira vez, minha mãe contou a
ele que eu estava doente e ele não sossegou até tio Lucca levá-
lo para me ver. Ele chegou em minha casa com meia dúzia de
margaridas arrancadas do jardim de sua casa, chocolates e um
bilhete com um coração desenhado, que tinha escrito "você é a
menina mais bonita do mundo".
Aos 15 anos, escutei uma conversa entre Samuel e ele.
Ele disse a seguinte frase: "eu sempre vou esperar por ela".
Ontem ele disse: "eu sempre vou esperar por você".
Eu sempre declarei o meu amor a ele. Ele nunca disse
que me amava. Ele só respondia "ao infinito e além". Talvez seja
porque passou uma vida inteira tentando fazer com que eu
enxergasse através de todas as suas ações ou talvez eu apenas
esteja sonhando tanto com esse momento, que estou tendo
algum tipo de alucinação. Henrico nunca foi bom em expressar
sentimentos através de palavras, até mesmo com os próprios
pais. Já eu, desde que me entendo por gente, digo a ele o quanto
o amo, além da vida e além de todos os porquês. Ao infinito e
além dele.
Mas ele sempre me tocou, ele sempre permitiu que eu
estivesse próxima, mesmo em crises, quando ninguém mais
podia pensar em se aproximar.
Sinais. Observe...
E enquanto há uma revolução acontecendo em meu
interior, ele segue me tocando. Cada movimento dos seus dedos
causa mais confusão em mim. Se ele soubesse o que a
suavidade está despertando em mim agora... Enquanto ele me
toca, tento juntar um quebra-cabeça de mil peças. Quanto mais
eu me esforço, mais bagunçado tudo fica. Nada parece se
encaixar, mas, ainda assim, tudo parece fazer sentido.
Ele odeia o meu namorado que não existe.
Ele está chorando porque não quer que eu tenha um
namorado.
Eu odeio a namorada dele que não existe.
E eu vou morrer se um dia ele tiver uma namorada.
Nesse momento eu poderia implorar ao céu por sinais.
Mas talvez eu tenha tido todos e nunca tenha conseguido
enxergar. Eu abro meus olhos. E, mesmo sabendo que a única
pessoa que pode destruir meu coração está diante de mim,
mesmo sabendo quão difícil é para ele lidar com determinadas
questões, mesmo sabendo que ele se sente insuficiente e
diferente, percebo que não posso mais implorar por sinais
divinos. Estou sofrendo por amá-lo. Ele parece estar sofrendo
também, mas não sei o motivo.
— Você me ama como mulher? — pergunto, tocando suas
mãos sobre meu rosto. — Por favor, me responda isso.
— Eu tenho medo.
— Não tenha medo. Eu estou com você, você vai
conseguir. Diga para mim. Eu ainda estarei aqui segurando suas
mãos quando acabar de dizer. Você não precisa ter medo.
Somos eu e você, é o mundo que construímos só para nós dois.
Você está seguro. Nós estamos seguros.
— Você promete? — pede, tremendo.
— Eu prometo, do fundo do meu coração. Por favor. Por
favor. — Ele fica em silêncio pelo que parece uma eternidade e a
minha alma parece sangrar pela ansiedade. Por favor, apenas
me diga.
— Eu... eu não posso te dizer, Sophie. Me desculpe. Me
desculpe. Eu tenho medo de perdê-la para sempre — ele fala, se
afastando. Virando-se de costas, começa a caminhar. Eu
permaneço no mesmo lugar, incapaz de me mover, vendo o
menino mais bonito do mundo se afastar de mim. Estou
chorando, vulnerável, com medo. Mal sabe ele que estou
apavorada.
Seu choro me coloca de joelhos. Seu silêncio me faz
sangrar. Sua ida faz com que eu me sinta vazia.
Ele não é insuficiente. Talvez insuficiente seja eu.
Não importa. Eu nunca vou deixar de amá-lo. Nunca vou
deixar de rezar. Nunca vou deixar de esperar. Nunca vou deixar
de sonhar. Henrico é o encaixe de todas as peças e um dia tudo
isso fará algum sentido.
O vento frio, que bate em meu rosto, não é bem-vindo
quando há lágrimas descendo pelos meus olhos.
Expert em algumas questões, inexperiente em outras.
Essa sou eu, mesmo que as pessoas não percebam.
Compreendo Henrico tão bem, porque eu sei exatamente como é
se sentir "diferente" e tentar se encaixar. Não sou autista, mas
amo um desde sempre. Eu adentrei o universo dele e o
transformei em meu próprio mundo. Um mundo azul, um mundo
só nosso. E ele me recebeu em seu mundo e me deixou ficar. Fiz
de Henrico a minha morada.
Me encaixar em qualquer outro universo sempre foi
bastante difícil, embora eu sempre tenha me esforçado. Tenho
muitas amigas, já fui em muitas festas, estudei fora, mas nada
disso pareceu o suficiente. Eu vivo em constante busca pelo
encaixe. Sempre foi como se eu buscasse a mim mesma em
lugares onde nunca pertenci. Todas as minhas buscas sempre
acabavam em uma completa frustração, porque eu não
pertencia, não pertenço, eu nunca pertenci...
Quando fui estudar fora, tive a esperança de que o tempo
passaria mais rápido e que seria menos doloroso aguardar por
Henrico de longe. De perto, a luta é muito intensa, é preciso
abaixar todas as minhas armas e conter todos os meus instintos.
Tudo em mim quer se jogar sobre ele, mas o tempo dele é
diferente do meu, isso foi explicado a mim desde muito nova,
quando comecei a fazer terapia para lidar com as confusões da
minha mente pré-adolescente.
Acreditei que seria fácil manter-me distante, mas isso não
aconteceu de fato e comecei a ter crises de ansiedade. Não
relatei a ninguém, apenas à minha psicóloga. Nunca quis que
ninguém descobrisse, porque não queria que qualquer pessoa
tentasse mudar a minha mente. Quando tornou-se demais, optei
por voltar. Ter o mínimo de Henrico é infinitamente melhor do que
não ter nada. Mas não voltei apenas pensando no mínimo. Voltei
disposta a correr riscos, a revelar a ele tudo o que sempre senti e
a fazer tentativas. Já não somos mais adolescentes de 13 anos
de idade, e agora eu enxergo isso.
Acho que estive tão ocupada tentando ser tudo para ele,
fazendo tantas coisas para estar por perto, tão focada na espera,
que deixei de enxergar o óbvio. Talvez seja por isso que ainda
me encontro paralisada no meio do nada. Não quero sentir raiva
de mim mesma, mas creio que isso vá acontecer de qualquer
jeito, mesmo que eu saiba que não posso fazer isso comigo
mesma. Preciso pensar por outro lado, pelo lado do Henrico.
Samuel me disse que só agora ele estava acordando para
algumas questões, então não adianta eu me revoltar contra mim
mesma por nunca ter sido capaz de perceber. Mesmo que eu
tivesse me dado conta disso antes, teria sido em vão. Também
não quero me culpar caso eu esteja completamente enganada.
Eu não tenho culpa. Henrico não tem culpa. Não há
culpados nessa história. O destino parece ter moldado tudo, o
tempo correto para todas as coisas. Coincidentemente, ele está
acordando para algumas coisas agora, no mesmo período em
que acabo de acordar também. Porém, estamos acordando para
questões diferentes, que acabam tendo algum tipo de ligação.
Não é segredo algum que sempre o amei, mas nunca imaginei
que fosse recíproco, e agora estou seriamente desconfiada de
que a reciprocidade sempre existiu. Pensar nisso faz com que eu
consiga enxergar um certo tipo de pureza e inocência em mim.
Essas duas características são tudo que as pessoas acham que
não possuo, e eu gosto disso, gosto de possuí-las e gosto que as
pessoas não desconfiem.
Mesmo com todas as questões, agora eu tenho um grande
incentivo e meu peito está transbordando de esperança. Acabo
de ganhar um pouco mais de motivação para tentar e até mesmo
esperar, se necessário for. Preciso que ele saiba que não vou
desistir, por isso, decido agir e sigo para a casa. O encontro na
varanda, encostado em uma parede, olhando para o nada.
Não vou negar, meu primeiro pensamento é sobre a boca
dele. Eu queria simplesmente beijá-lo, e em seguida queria que
cada parte de mim fosse beijada por ele, porque desconheço
qualquer boca que seja mais perfeita que essa. Não é um
exagero de uma mulher apaixonada. Henrico é absurdamente
lindo, todos os seus traços são altamente marcantes e perfeitos.
Mas fodam-se todos esses pensamentos agora.
Me aproximo dele, primeiro precisando saber se ainda
estamos conectados. Levo minhas mãos até seu rosto e ele traz
suas mãos ao meu; isso faz com que eu consiga voltar a respirar
normalmente. Nós ainda estamos "aqui".
— Me desculpe se pressionei você — peço, fazendo
carinho em suas bochechas.
— Me desculpe por fugir.
— Está tudo bem. Eu ainda estou aqui, estarei esperando.
Nós teremos todo tempo do mundo para descobrirmos mais um
do outro. — Ele suspira com a minha resposta.
— Você ainda quer morar comigo?
— Não há nada nesse mundo que eu queira mais que
isso. — Ele sorri, desliza suas mãos do meu rosto e me abraça.
Tudo volta a fazer sentido. É sobre se encaixar. E eu só me
encaixo nele. — Eu sempre vou esperar por você.
— Eu sempre vou esperar por você.
— Estou aqui agora — respondo, sorrindo.
— Eu sei. — Não sei dizer se ele está dizendo no sentido
literal agora, mas, tudo bem.
— Não precisa esperar por mim. Eu só preciso que saiba
que estarei esperando por você.
— Obrigado por isso, Sophie. — Sorrio e o aperto mais
forte. Preciso deixá-lo um pouco só, sei que ele precisa disso.
Também preciso descansar um pouco o corpo e a mente.
— Vou voltar a dormir. Não teve sol, hein? O dia hoje está
um pouco feio.
— Vá. Eu vou resolver algumas questões.
— Tem certeza de que estamos bem? — pergunto,
receosa.
— Absoluta, Sophie.
— Eu te amo, menino mais bonito. — Beijo a ponta do seu
nariz e vou para o quarto.

Percebo que perdi a hora quando o meu celular toca. São


quase três da tarde e o nome de tia Paula está piscando na tela.
— Oi, tia! — atendo, ainda um pouco aérea.
— Oi, meu amor. Está tudo bem? Estou com saudades!
— Está tudo bem sim, tia. Também estou com saudades.
Cheguei de viagem e vim praticamente direto para cá —
respondo, sorrindo.
— Sophie, eu preciso conversar algo sério com você e
preciso que seja com privacidade. Existe a possibilidade de
fazermos isso agora? — Pense em uma pessoa curiosa? Sou eu!
Mesmo que não houvesse possibilidade alguma, eu daria um
jeito.
— Claro, tia. Vou apenas me vestir e ir em busca de
privacidade. Te faço uma chamada de vídeo, pode ser?
— Perfeito! Estarei aguardando.
Saio correndo feito louca. Vou ao banheiro, faço minhas
necessidades, volto ao quarto e me visto em tempo recorde.
Todos estão na sala quando surjo, mas não deixo que meu
propósito seja desviado. Simplesmente pego a chave do meu
carro e saio em busca do local ideal.
— Sophie, aconteceu algo? — Samuel grita.
— Não! Eu já volto! Vou comprar chocolate! — grito de
volta e acelero, levantando poeira e arrancando mato. Eu amo
isso!
Estaciono o carro atrás da igrejinha e ligo para tia Paula.
Ela surge na tela, linda como sempre, mas seus olhos estão
vermelhos, denunciando que esteve chorando.
— Tia, está tudo bem?
— Samuel me ligou. Ele me disse sobre os planos de
Henrico de se mudar para São Roque e morar com você. —
Balanço a cabeça em compreensão. — Primeiramente, não fique
chateada com ele, ok? Samuel quis apenas me preparar, por
saber que seria difícil, e para eu saber como lidar com Henrico e
não parecer assustadora.
— Eu teria feito o mesmo que ele. Tia, eu imagino que
seja difícil para você lidar com isso.
— Você não imagina o quanto — confessa. — Desde o dia
em que Henrico nasceu, estive em torno dele, o protegendo do
mundo, acompanhando cada etapa. Não pense que estou triste,
meu amor. Muito pelo contrário, estou feliz demais. Mas, sou
mãe. Não sabe quanto é difícil ter que abrir as asas e deixar que
o filho voe. Foram tantas lutas com Henrico, que torna-se
impossível manter-me cem por cento segura. — Eu a
compreendo. — Estou ligando para você, porque sei que me
entende, Sophie. Há muitos anos você me entende. Acredito no
potencial de Henrico. Ele tornou-se um homem incrível,
inteligente, maduro para a maioria das coisas. Não quero que ele
pense que o trato como uma criança, que o vejo como uma
criança, principalmente quando ele está na fase da vida onde
está mais inclinado às mudanças. Se eu chorar, demonstrar
fraqueza ou o mínimo de receio, meu filho vai recuar, ele vai se
sentir insuficiente e incapaz, eu acabarei o prejudicando sem
querer.
— Então diga tudo a mim, tia. Estou aqui por você.
— Eu tenho medo, Sophie — diz, chorando. — Mas estou
tão feliz. Estou feliz porque é com você, e porque sei que com
você, seja aonde for, meu filho estará bem. — Agora sou eu
chorando. As palavras dela significam uma imensidão para mim.
— Henrico demorou a acordar para algumas questões que você
vai descobrir, se já não tiver descoberto. De repente, ele quer
uma independência, ele quer o canto dele, ele quer descobrir
coisas novas, ele quer viver o que sente, ele quer correr atrás do
que quer sem qualquer interferência, quer vencer o medo. Ele
quer viver o mundo dele sozinho agora e eu preciso deixá-lo ir.
Eu sabia que em algum momento da vida isso iria acontecer, mas
eu não esperava que ele iria decidir por um lugar tão longe, onde
não posso alcançá-lo com a rapidez que conseguiria se ele
ficasse no Rio.
— Ele está encantado com São Roque, tia Paula. Você
sabe que aqui é completamente diferente e que é um lugar ideal
para Henrico. É uma cidadezinha pacata, sem o trânsito caótico,
sem muita poluição, cercada por paisagens incríveis, pela
natureza, silenciosa comparada ao Rio. Há Théo, Luiz Miguel,
Eva, haverá eu.
— Samuel propôs a ele que morassem juntos, ele não
quis — fala. — Ele foi enfático em dizer que iria morar com você,
sozinho. Só você, Sophie, para variar um pouco. — Me pego
sorrindo entre lágrimas. — Sei que o ama.
— Imensamente.
— Não sei o que vai acontecer entre vocês, como vai
acontecer, se vai acontecer. Todos sabemos que tudo depende
dele. Mas estou torcendo, vibrando para que aconteça, porque se
existe alguém no mundo para o meu filho, esse alguém também
é você, Sophie. Você o compreende, você é paciente, trata
Henrico de igual para igual, entende as necessidades e as
limitações que ele possui, o vê como o homem em potencial que
ele é. Você é um exemplo de determinação que me choca. É
paciente, perseverante, tem uma esperança que nunca morre. E,
o mais importante, você nunca o enxergou como um garoto
inferior ou diferente.
— Porque ele não é, mesmo que insista em dizer que é,
mesmo que tenha suas limitações. Para mim, ele não é. Para
mim ele sempre foi e sempre será o garoto mais incrível do
mundo, tia.
— Eu só precisava ouvir essas palavras suas. Elas fazem
com que a aceitação seja mais fácil. Você tem a minha bênção
para o que quer que seja.
— Eu prometo ser tudo o que ele precisar e mais que isso,
tia. Fique tranquila, eu o amo, acho que isso diz muito. Te peço
desculpas por não ter informado nada ainda. Simplesmente tomei
a decisão com Henrico e não pensei em nada mais. Nem mesmo
tivemos um tempinho para lidar com isso da forma correta. Foi no
calor do momento.
— Eu sei como essas coisas são. Sei como é se jogar
sem medo da queda — ela diz. — Bom, vou deixá-la ir. Meu
coração está infinitamente mais leve agora.
Por incrível que pareça, assim que me despeço dela, o
meu coração está mais leve também.
Quando volto ao sítio é que me dou conta do motivo pelo
qual todos estavam reunidos na sala. Henrico está sentado no
chão, com seu notebook sobre a mesinha de centro, trabalhando
em alguma coisa.
— Ei, o que está havendo aí? — pergunto.
— Henrico é um gênio! Você não está entendendo! — Eva
exclama, sorrindo, e eu corro para ver o que é. Ele está
trabalhando em um projeto de uma casa e eu nem sei como.
— O que é isso?
— Esse terreno tem cerca de 2 mil hectares, de acordo
com a planta que meu avô Túlio nos enviou mais cedo — Théo
explica. — Todos querem morar aqui. Decidimos que, ao invés de
alugarmos algum lugar, vamos construir mais 2 casas aqui.
Henrico está fazendo uma simulação de como as casas poderão
ser distribuídas e como ficarão. Luiz Miguel e Samuel ficarão com
essa casa, você e Henrico ficarão com outra, e eu e Eva
ficaremos com uma mais próxima à cachoeira.
Eu e Henrico.
Acho que estou muito emotiva, porque estou chorando
apenas por parecer que é tudo tão real.
— Você também ficará em São Roque? — pergunto a
Samuel.
— Onde vocês forem, eu vou! — Sorrio, radiante com sua
resposta. Como posso ter me tornado a garota mais feliz do
mundo tão de repente?
Eu vou comer e, do balcão da cozinha, observo Henrico
trabalhar, enquanto milhares de perguntas dançam em minha
mente. Ele não é engenheiro, não é arquiteto, não é designer...
Como Henrico está montando o projeto de duas casas? Embora
eu saiba que o que ele está fazendo ainda será repassado aos
profissionais com formação na área, eu nunca saberei responder.
A inteligência dele desconhece limites e ele não se parece nada
com o Henrico inexperiente agora. Talvez não seja apenas eu
que me transformo em determinadas situações. Ele vai
facilmente de um garoto puro a um homem altamente profissional
e maduro, o que me encanta.
Ele não me deixa ver a nossa casa, alegando que precisa
de alguns detalhes, mas a da Eva e do Théo fica perfeita, como a
casa dos sonhos. Estou tão ansiosa sobre tantas coisas de uma
só vez, que chego a estar tonta e sem ação.
— Quanto tempo até essa casa ficar pronta? — pergunto
a Henrico quando ficamos sozinhos na sala.
— Não sei dizer ao certo, há um novo método de
construção chamado Wood Frame. Esse método já é antigo nos
Estados Unidos, porém tem sido utilizado há pouco tempo aqui.
Vou explicar de uma maneira que você consiga entender, muito
resumida. — Sorrio em agradecimento. — Esse modelo é
chamado de uma maneira mais popular de "construção a seco".
São montantes e travessas em madeira revestidos por chapas
igualmente feitas de madeira, é um modelo sustentável por
alguns fatores. Essa madeira utilizada é reproduzida a partir de
madeiras de reflorestamento. Além disso, associam à mão de
obra leve e rápida, o que causa menos impacto ambiental. A
utilização desse método reduz cerca de 80% a emissão de gás
carbônico. Porém, teremos que edificar a construção com
concreto armado, e então todo o restante poderá ser feito em
Wood Frame. Nesse sistema, nossa casa ficará devidamente
pronta em três meses.
— E há esse tipo de mão de obra no Brasil?
— Há profissionais capacitados sim. Eu vou cuidar de
tudo, não precisa se preocupar com nada, ok? — Há todo um
tesão em mim agora. Inteligência é afrodisíaca mesmo!
— Vamos ter que esperar quase quatro meses para
ficarmos juntos? — indago.
— Não.
— Não?
— Eva está se mudando aqui para o sítio. Nós podemos
ficar aqui ou podemos morar na casa dela por enquanto. O que
você quer?
— Eu acho que amo Eva! Eu escolho morar na casa dela,
sem dúvidas, eu e você... sozinhos. — Pelados, por favor! Meu
Deus! Eu pensei que teria que esperar ainda mais. — Estou
curiosa. Posso ao menos acompanhar tudo?
— Claro que pode, Sophie. É a nossa casa, eu só não te
mostrei ainda porque não terminei. Eu quero que seja perfeita
para você.
— Eu tenho certeza de que será perfeita. Você estará
comigo. Qualquer lugar do mundo fica perfeito com você. Quero
a simplicidade. Eu preciso só que esteja comigo — digo, tocando
em seu rosto e passando a ponta do meu nariz no dele.
— Sophie, você é a menina mais bonita do mundo. Você é
linda.
15 ANOS DE IDADE
Eu odeio o intervalo do colégio. É o momento onde me
sinto mais desconectado e diferente de todos. Com meu
abafador de ruídos, sempre me sento no canto do pátio, tomo
uma vitamina e fico lendo, aguardando o tempo passar. Em
alguns momentos, eu sempre levanto meus olhos para observar
como as pessoas normais agem e, muitas das vezes, eu penso
que sou muito mais normal do que qualquer um deles.
Há muitos garotos beijando garotas, há brigas, choros,
alguns jogam alimentos nos amigos, e isso tudo é estranho
demais para mim. Isso é ser normal? Eu não acho que seja, por
isso, volto a ler o livro em minhas mãos até uma garota aparecer.
Não sei se ela percebeu, mas estou de abafador, portanto, não
estou escutando qualquer uma das palavras que ela está
dizendo. Esse fone possui abafadores potentes, é o melhor do
mercado, bom o bastante para que seja necessário eu retirá-lo
para conseguir entender.
— ... ir comigo?
— Me desculpe, mas não viu que estou usando fone? —
pergunto.
— Eu estou nervosa. Sinceramente, não percebi.
— Por que está nervosa?
— Gosto de você — ela diz.
— Eu nem te conheço, você nem me conhece. Como
pode gostar de mim? — questiono, observando-a franzir a testa.
— Você é o garoto mais lindo do colégio — justifica.
— Isso é motivo para gostar de mim?
— Sim — responde.
— Se eu fosse feio você não gostaria de mim?
— Uow! Calma! Por que estamos discutindo isso? — ela
pergunta. — Haverá uma festa na casa da Ana Paula, eu vim
perguntar se você gostaria de ir comigo.
— Eu não quero ir. Não gosto de festas.
— Por que não gosta de festas?
— Música alta, muitas pessoas, luzes, tudo isso me
incomoda bastante — respondo.
— Então... que tal sairmos juntos para outro lugar? — Por
que eu sairia com ela?
— Eu não gosto de sair.
— Você quer ficar comigo?
— Não quero ficar com você. Gosto de ficar sozinho. — A
menina começa a chorar e sou obrigado a fechar meu livro. Não
entendo o motivo pelo qual ela está chorando. — Por que está
chorando?
— Você é grosso! Não poderia ser mais delicado? Eu só
queria beijar a sua boca!
— Eu não quero beijar a sua boca. Isso é nojento! — Ela
sai correndo e isso faz com que todos os olhares se voltem para
mim no momento exato em que o intervalo termina. Embora eu
coloque o abafador, ele não me protege de escutar alguns gritos:
— Ele é um retardado!
— É doente mental. Não tinha que estar no mesmo
colégio que a gente.
Ao invés de voltar para a sala de aula, caminho rumo à
saída do colégio, onde um porteiro me impede de sair.
— Aonde pensa que vai, garoto?
— Embora. Eu preciso passar. — Forço minha passagem
e ele segue impedindo. Meus pais dizem que não devo ser
violento, que devo tentar me controlar, mas não consigo. Não
quando a frase "ele é um retardado" está fixada repetitivamente
em minha mente.
Eu me rebato, perco a consciência, entro em uma espécie
de transe. Tudo que vejo é a escuridão e minhas ações passam a
ser em prol de me libertar, o que só acontece quando ouço a voz
da minha mãe. Ela parece brigar, enquanto meu pai me leva para
o carro.
— Filho, o que houve? — meu pai pergunta.
— Uma menina veio falar comigo.
— O que ela disse?
— Ela queria que eu fosse em uma festa, ela disse que
gosta de mim e que queria ficar comigo. Mas eu não gosto de
ficar com ninguém. Eu não a conheço. Gosto de ficar sozinho.
— Oh! Ok. Quando ela disse que queria ficar com você,
não foi no sentido literal da palavra.
— Não?
— Não. Ela disse no sentido de ter um pouco de
intimidade com você — ele me explica.
— Ela disse algo sobre me beijar, mas é nojento, não a
conheço. Eu disse que não queria, ela começou a chorar e...
— E?
— E todos começaram a rir de mim, disseram que eu era
retardado, que eu não deveria estudar nesse colégio.
— Desgraçados! — meu pai esbraveja, socando o volante.
— Ouça, Henrico, você não é um retardado. Não ouça o que eles
disseram. Você é um garoto incrível, inteligente.
— Mas sou diferente deles. Não sou normal.
— Você não é diferente. Eles é que são todos iguais. Você
não é anormal, você é atípico, Henrico. O que é ser atípico?
— É ser raro.
— É isso. Você não é retardado, filho. Você só vê o mundo
diferente, e isso é incrível, entende? Porque... Veja só esses
garotos... Sinceramente, você queria ser como eles?
— Não.
— Eles são uns idiotas! Que sua mãe não me ouça
agora... Eles não têm pais.
— Os pais deles morreram?
— Não. Mas ser pai não é estar vivo, filho. Ser pai é
educar os filhos de forma que eles consigam lidar e respeitar as
diferenças, é transformar os filhos em seres humanos bons.
Quando os pais não conseguem fazer isso, é porque eles não
são bons ou não estavam preparados para ter filhos — explica e
me puxa para um abraço. — Você é incrível e eu tenho muito
orgulho do garoto que está se tornando. Não absorva o que
aqueles garotos disseram, ok?
— Eu não quero mais frequentar o colégio, pai. Eu não
suporto mais.
— Você não vai. Sua mãe está lá dentro resolvendo tudo.
Você é incrível, filho! Incrível demais para conviver com aqueles
garotos.

Todos foram para o bar do Tião. Eu quis ficar para terminar


o projeto da casa que será minha e de Sophie, e eu termino. Eu
fiz tudo perfeito e preparei dois pontos onde poderemos ver o
nascer e o pôr do sol. Sophie ama o pôr do sol.
Satisfeito com o meu trabalho, fecho o laptop, tomo banho
e resolvo ir contar a ela que terminei. Porém, não gosto nada
quando chego no bar.
Há um homem estranho conversando com Sophie. Ele
está perto demais.
— Ei, camarada! — meu irmão diz, se aproximando, mas
não desvio o olhar de Sophie. — O que há de errado?
— Quem é aquele homem?
— É... Eu esqueci o nome dele. É um babaca que Théo já
bateu. Acho que Madson — explica.
— Sophie vai se sentir confortável com ele? — pergunto
sem mover meus olhos da cena.
— O quê? Lógico que não! — Samuel responde. — Você
quer se sentir confortável com ela, não é mesmo?
— Eu não sei fazer isso — confesso, movendo meu olhar
para ele. — O que tenho que fazer?
— Em primeiro lugar, não tem uma fórmula para ser
seguida. Parece que é da nossa natureza, que está em nós e só
falta descobrir, entende?
— É confuso.
— Na teoria. Na prática não é tão confuso — Samuel
explica. — Bom, mas não é apenas ir e fazer sexo, Henrico,
entende?
— Entendo.
— É como se houvesse fases a serem seguidas.
— Uma sequência? Eu gosto de sequências. — Ele sorri,
coloca um braço em meu ombro e sai me puxando para uma
praça que há em frente ao bar. Nos acomodamos em um banco e
ele segue com as explicações.
— Para você chegar ao sexo, primeiro deve haver uma
exploração para descobertas — diz. — Você já viu filmes
educativos, eles nunca chegam direto ao sexo. Tudo começa
com um beijo.
— É verdade.
— Sim. O beijo, o toque, explorar o corpo um do outro...
— Mas eu nunca vi uma mulher nua, apenas nos filmes,
eu quero dizer. Eu nunca vi os seios de Sophie e o piercing no
clitóris.
— Nunca viu, campeão. Mas, para chegar nessa etapa,
primeiro você precisa beijá-la.
— Mas a verdade é que não sei se Sophie quer me beijar
ou ficar confortável comigo — confesso, pegando um elástico em
meu bolso. — Eu não sei se ela sente o mesmo.
— Descubra isso.
— E se ela disser que não sente? Ainda poderemos morar
juntos? Eu tenho medo dela se afastar. Eu... não posso perdê-la
para sempre. — Quando uma lágrima escorre dos meus olhos,
Samuel me abraça.
— Sophie te ama, Henrico.
— Como?
— Apenas pergunte a ela, por favor. Pergunte a ela, ok? É
algo dos dois, eu não posso estragar tudo — fala. — Pergunte a
ela.
— Se ela disser que sim, o que eu faço?
— Comece com as descobertas. Primeiro o beijo. Não
tenha pressa para se sentir confortável com ela. É importante
que não tenha pressa, ok?
— O beijo.
— É. Vou ser bem sincero com você, um beijo já abre um
leque de oportunidades. Beijos podem ser quentes. Um beijo faz
com que nosso corpo reaja, e sei que vai parecer estranho o que
vou dizer, ganhe vida própria. As ações vão acontecer sem você
nem mesmo se dar conta. Parece que nascemos programados
para o prazer.
— Eu preciso pedir ao tio Victor para beijar Sophie?
— Nem fodendo! Digo, não pense nisso. Isso é algo entre
você e Sophie, não precisam da permissão de ninguém, Henrico.
Você só precisa que ela queira. O resto, deixa para depois. Há
muito para ser descoberto, irmão. Não tenha pressa. Aproveite a
fase das descobertas, ela é única.
— Que tipo de descobertas?
— Sobre seu corpo, sobre o corpo de Sophie. Lugares que
quando você toca são capazes de afetá-la positivamente, assim
como descobrir o que o toque dela causa a você. É fantástico e
só se vive uma vez. Por sorte, você não é um cafajeste como eu
— ele diz, balançando a cabeça e rindo. — Algo me diz que
Sophie será a única para você, isso torna tudo ainda mais
incrível.
— Eu quero que ela seja a única.
— Sei disso. E assim será, camarada. Agora, acho que é
o momento ideal para você mostrar que ela é sua. O que acha?
— Não sei. Tenho muito medo de perdê-la, de verdade.
— O medo está nublando a sua visão. Você não vai perdê-
la, confie em mim.
— Tem certeza?
— Absoluta.
— Uma vez, no colégio, uma garota me chamou para sair
e depois disse que só queria me beijar — comento. — Eu quero
beijar Sophie, então eu preciso chamá-la para sair?
— É uma boa opção, mas não precisa necessariamente
fazer isso. Porém, você decide como quer fazer. — Balanço a
cabeça em compreensão. — Henrico, você é incrível, cara!
Acredite mais no seu potencial e deixe de medo. O medo nos
paralisa. Você quer se manter parado?
— Não.
— Você disse a seguinte frase para mim "estou cansado
da zona de conforto porque ela não me leva a lugar algum". Acho
que precisa se lembrar dessa frase. Se não der o primeiro passo,
não saberá se Sophie responde aos seus sentimentos.
— Se você nunca tentar, então você nunca saberá se é
capaz — relembro. — Nosso pai disse isso.
— Nosso pai é um homem sábio. — Ele sorri e fica de pé.
— Vamos lá! Há um babaca em cima da sua garota. Vai deixar?
— Não! — exclamo, jogando o elástico fora.
— Mostre que é meu irmão! A possessividade faz parte de
nós!
— Sophie é minha garota.
— É isso!
— E se...
— Sophie é a sua garota, Henrico! Sophie é a sua garota!
— Balanço a cabeça positivamente, pego uma flor no jardim e
sigo para o bar.
Há uma música alta agora, o que me faz paralisar. Todas
as vezes em que entro em um ambiente com muito barulho,
meus pensamentos ficam extremamente confusos, bagunçados.
Meus ouvidos doem, minha cabeça começa a doer, e um
desespero forte começa a surgir dentro de mim. Estou prestes a
sair do ambiente quando vejo meu irmão pular o balcão e
desligar o som. Todas as pessoas olham para ele, enquanto ele
faz um sinal de positivo para que eu siga em frente. Então, logo
após ele fazer isso, eu viro o alvo de todos os olhares, e não
gosto disso, mas gosto menos ainda de ver aquele homem perto
de Sophie.
Eu preciso vencer os meus medos, preciso vencer as
minhas limitações. Sophie me faz vencer todas essas
dificuldades mesmo indiretamente. Ela está linda, com a mão no
queixo, apoiada no balcão, com cara de desinteresse.
Me aproximo dela e entro na frente do homem que estava
conversando com ela. Não me importo que ele não vá gostar.
Sophie é a minha garota. Samuel disse.
Vejo suas sobrancelhas se erguerem em surpresa e
entendo que preciso dizer algo.
— Sophie, eu não gosto desse homem, porque ele está
perto de você e isso me incomoda muito. Você aceita sair
comigo? — a convido, entregando a flor que peguei no jardim. —
Eu quero te beijar, para ficarmos confortáveis no futuro. Samuel
disse que preciso ir devagar para chegar no confortável, tenho
que seguir etapas e que devo começar pelo beijo. Por isso, quero
que saia comigo.
— Oh, merda! — Ouço meu irmão dizer. — Eu havia me
esquecido da sinceridade...
— O que é se sentir confortável? — Sophie questiona,
cheirando a flor.
— Não acho que seja prudente dizer aqui.
— É o que estou pensando? — ela pergunta com as
bochechas coradas, com lágrimas em seus olhos. Não fico triste
pelas lágrimas dessa vez, estou hipnotizado agora.
— Meu Deus, Sophie! Você é muito a menina mais bonita
do Universo. Você aceita sair comigo?
— Eu aceito qualquer coisa com você, menino mais bonito
— ela responde, me oferecendo sua mão, e eu a pego. — Onde
vai me levar?
— Não sei. Na igreja? — pergunto a ela.
— Henrico, 300 guindastes não serão o suficiente para
mim. Nem meus pais, nem os seus pais, Corpo de Bombeiros,
Samu, polícia... — Ela sorri e balança a cabeça negativamente.
— Definitivamente, na igreja não, meu amor. Eu preciso entender
o que está acontecendo, vamos para o sítio!
Por que ela precisa de guindastes?
Uma vez me peguei pesquisando sobre o AMOR. Eu
queria entender mais sobre esse sentimento e, por mais que
meus pais e a minha terapeuta sempre estivessem dispostos a
esclarecer minhas dúvidas, eu sempre gostei muito de pesquisar
e fazer descobertas sozinho. Em algumas situações, eles falando
me deixavam ainda mais confuso.
Eu descobri que esse sentimento é considerado um
fenômeno. Ele existe. Porém, na pesquisa que fiz, dizia que ele
pode ser um sentimento mensurável e eu não concordei com
isso. Não acredito na teoria de que esse sentimento possa ser
medido, que podemos determinar medidas, como se fosse um
terreno. Não acho que o amor seja necessariamente um estado
duradouro e imutável. Eu acredito que ele pode acabar, assim
como pode se transformar. Eu amei a Sophie de tantas maneiras,
e todas elas alimentam a tese. Primeiro a amei como prima
(mesmo tendo a consciência de não sermos primos legítimos),
então como melhor amiga e agora eu a amo de uma forma
diferente, que ainda estou tentando descobrir. A única certeza é
de que seremos eternos aprendizes.
O amor é algo que tento entender diariamente e não
consigo chegar a uma resposta específica, e isso me deixa um
pouco nervoso. Gosto de respostas específicas e não as obter
me tira um pouco do sério. Pesquisas costumam ser consistentes
e específicas, mas todas as pesquisas que li sobre o amor mais
parecem especulações que qualquer outra coisa. Isso deve
significar que não há respostas exatas. Você apenas tem que
viver e deixar que tudo vá fluindo naturalmente.
Eu decidi agir, mas percebo que não vai acontecer. Não
quando Sophie dá os primeiros passos rumo à saída do bar e eu
percebo que ela bebeu.
— Sophie, olhe para mim — peço, fazendo com que ela
pare quando está próxima do carro. — Você bebeu? — pergunto
e a olho fixamente nos olhos. Sei que ela pode mentir, mas os
olhos de Sophie nunca mentem, e ela sabe bem disso.
— Eu... Merda! Eu bebi, mas...
— Está tudo bem. Você pode beber, Sophie. Apenas não
pode dirigir alcoolizada. — Ela começa a chorar e me abraça.
— Nunca imaginei... Eu... estou tão arrependida por ter
bebido. Tão arrependida. Achei que você não viria... Você disse
mesmo que queria me beijar ou é tudo fruto da minha
imaginação?
— O que você bebeu?
— Um pouco de vodca e pinga de uva! É viciante aquela
merda, você simplesmente vai bebendo e nem percebe quando
fica bêbada — explica de uma maneira engraçada e traz as mãos
para meu rosto. — Eu sonhei? Responda, por favor, menino mais
bonito.
— Sophie, uma vez minha mãe bebeu com a tia Melinda.
Eu escutei meu pai dizendo a ela que nunca a tocaria estando
bêbada e guardei isso em minha mente. A bebida torna as
pessoas vulneráveis. Então não quero mais conversar sobre
esse assunto enquanto está alcoolizada. Você disse de manhã
que teríamos todo o tempo do mundo. Teremos. Agora você pode
ficar no bar e beber mais, ou pode vir embora comigo. Não
mando em você, porém não vou permitir que dirija alcoolizada,
independentemente da opção que escolher.
— Me leva para casa? — pede, me entregando a chave
do carro.
Tenho habilitação, mas não costumo dirigir. Meu pânico de
aglomerações e ruídos impede, principalmente no trânsito do Rio
de Janeiro. São Roque é uma boa escolha de moradia e
contribuirá positivamente para um avanço em minha qualidade
de vida. Eu até mesmo poderei dirigir por aqui.
Abro a porta e a ajudo a se acomodar. Em seguida entro
no veículo e levo Sophie para casa. Ela parece triste, tanto que
não reluta muito quando a coloco sobre a cama.
— Henrico... — me chama quando estou saindo.
— Oi?
— Foi um sonho? — pergunta e dou um sorriso.
— Foi. Durma, Sophie. Nós teremos tempo.
— Ao infinito e além? — Volto até ela e deposito um beijo
em sua testa.
— Sim. Ao infinito e além.
— Eu vou guardar essa flor para sempre, menino mais
bonito. — Beijo a ponta de seu nariz e sigo para o meu quarto.
Ao infinito e além!

Assim que abro os olhos, me deparo com o meu pai


sentado em um sofá do quarto. É um pouco assustador, mas o
susto passa rápido.
— Pai? O que está fazendo aqui?
— Vim com o Victor. Ele veio conversar com Sophie e eu
vim junto. Senti que deveria vir. Viemos de jatinho — explica e
esfrego meu rosto. — Você precisa de mim? — Abaixo a minha
cabeça. Ontem à noite eu iria dizer a ela... Estou confuso agora.
Ela se lembrará?
— Você sabia que o azul foi a cor escolhida para
representar o autismo devido o maior número de incidências do
caso ser no sexo masculino? Dados apontam que 80% dos
casos de autismo acontecem com meninos. Esse fato não exime
que meninas também possuam, porém, elas são a minoria.
Talvez isso seja bom, não?
— Eu sei disso, filho — meu pai responde. Pelo seu tom,
sei que está me analisando friamente.
— Você sabia que o Monte Everest é considerado o lugar
mais alto do mundo? Porém, há uma discrepância de ponto de
vista. Se considerarmos de acordo com o nível do mar, o Monte
Everest é sim o lugar mais alto, mas, se tivermos na mente que a
Terra não é uma esfera cem por cento perfeita, e que há alguns
pontos onde ela é mais larga, como na Linha do Equador, o
ponto mais próximo do céu acaba sendo o Monte Chimborazo,
no Equador, com 6.384,4km. O ponto mais baixo é o Mar Morto.
— Olhe para mim e me diga o motivo da sua inquietação
hoje.
— Não quero olhar para você, pai. Me desculpe. Eu sinto
muito, ok? — Sou sincero em minhas palavras. Não quero
encará-lo, uma vez que se eu fizer isso, ele saberá. Ele sempre
sabe e consegue ver tudo. E eu não quero que ele veja nada,
porque é desconfortável e eu tenho vergonha.
— É sobre Sophie? — Não precisei olhar para ele.
Entende como isso é desconcertante? Ele parece ter livre acesso
à minha mente. — É sobre a mudança?
— Um estudo realizado na Europa e nos Estados Unidos,
com milhares de entrevistados, determinou que 17,4 anos é a
idade média em que as pessoas perdem a virgindade. Sabia que
as garotas costumam perder a virgindade antes dos garotos?
Segundo essa pesquisa, os meninos costumam perder com
cerca de 17 anos e meio, e as garotas alguns meses antes.
Disseram que o Brasil é o país onde se perde a virgindade mais
cedo, com uma média de 17,3 anos.
— Filho, isso é apenas um estudo. Acredite, não é bem
assim que as coisas funcionam. De acordo com a minha
experiência de vida, na minha época de estudante, tudo que eu vi
é bem diferente dessa pesquisa. Mas, vamos lá, não acho que
tem uma idade ideal para isso acontecer, Henrico. Acontece
quando tem que acontecer. Não deve haver uma pressão sobre
isso. Há muitas pessoas que se guardam para o casamento,
sabia?
— Sabia. Há até mesmo questões religiosas. Algumas
religiões pregam que esse ato só deve acontecer na noite de
núpcias — comento.
— É. Não tem uma idade certa, entende?
— Entendo, pai. É interessante isso, não é mesmo? —
pergunto, pensando na temática.
— O sexo só deve acontecer quando se sentir confortável,
filho. Não aconteceu ainda porque nunca se sentiu confortável.
Em algum momento, isso vai acontecer.
— Pai, você sabe se Sophie já se sentiu confortável com
outro menino? — pergunto sem encará-lo nos olhos. Na verdade,
agora estou até cabisbaixo demais. Porém, eu precisava
perguntar.
— Não sei dizer. Por que não pergunta isso a ela? — Isso
é uma brincadeira?!
— O quê? Pai! É a Sophie! Eu não posso perguntar isso a
ela. É absurdo! É falta de educação perguntar isso a uma
menina. Eu a respeito. Como vou perguntar se ela já se sentiu
confortável? Meu Deus! Ela é uma garota normal, não é como
eu.
— Ah, então voltamos nisso? Você não é normal? — me
repreende.
— Sou. Sou normal, porém, diferente. Sou diferente de
Sophie, de Samuel, de todos.
— Nada disso, Henrico. Vou relevar suas palavras porque
está abalado. Há algo martelando em sua mente agora e estou
aqui para ouvi-lo e ajudá-lo. Anos atrás você disse que sempre
teria "conversas de menino" comigo, porque sua mãe não
saberia entender "essa coisa de menino" — ele diz, e pelo tom
de sua voz, sei que está sorrindo. — Sou o seu pai, estou aqui
para termos essas conversas.
— Pai, você sabe... Eu estou meio arrependido de ir morar
com Sophie, porque ela já deve ter se sentido confortável com
um menino e eu não quero saber e não quero ver. Eu não gosto
de outros garotos com ela. Ela é uma menina sem limites, pai. Eu
sou um menino limitado. Você acha que ela vai levar alguém para
ter algo confortável em nossa casa?
— Posso apostar que Sophie não fará isso — ele
responde, sorrindo. — Você quer ter algo confortável com
Sophie?
— Pai! Não fala isso! — digo, esfregando meu rosto. —
Sophie é minha melhor amiga e ela já beijou garotos. Eu não sei
nada de confortável, você entende... Você sabe, pai, você sabe
que eu não sei. Eu nunca estive com uma menina. Eu nunca
beijei e nunca fiquei confortável.
— Mas? Há um "mas" aí.
— E se ela ver meu corpo reagindo? — Abomino esse tipo
de conversa. Nunca fiz coisas confortáveis, mas isso não
significa que eu não saiba o que é e não reaja.
— Seu corpo reage à Sophie há anos, filho. Me lembro até
hoje de quando aconteceu pela primeira vez — comenta, rindo.
— É normal, cara! Você não é apenas a cor azul, Henrico. Você
não é só o seu autismo. É um homem normal, com um mundo de
possibilidades, um universo de coisas para serem descobertas.
Precisa tirar da sua mente as crenças que te limitam. Elas estão
fazendo com que você se mantenha sempre na zona de conforto.
Sei que essa zona de conforto é importante para você, mas há
um limite e talvez você esteja deixando de enxergar coisas
óbvias. Faz parte do seu crescimento pessoal conseguir
identificar algumas questões. Você vai morar com Sophie em São
Roque, será um rapaz totalmente independente. Sem dúvidas é
um dos maiores passos que está dando, tudo isso sozinho. Já
está no caminho para enxergar algumas coisas e eu espero que
consiga. Prometi que sempre iria te guiar, por isso vou te dar dois
conselhos: pare de pensar pouco de si e observe. — Finalmente
levanto minha cabeça para encará-lo.
— Observar o quê? — indago e ele fica de pé,
provavelmente para me deixar sozinho.
— Observe Sophie e observe que você é muito além do
azul.
Sophie...
Eu te amo ao infinito e além!
— Não vá, pai!
— Eu não posso dizer a você como Sophie se sente, mas
eu posso ouvi-lo, filho. — Ao invés de ir embora, ele se acomoda
ao meu lado na cama. — O que está te atormentando?
— Ontem à noite eu iria beijá-la. Samuel me disse que
esse deveria ser o primeiro passo. Eu falei para ela, porém, ela
estava alcoolizada e precisei recuar.
— Fez a coisa certa.
— Por um momento, quando não tinha me dado conta de
que ela estava alcoolizada, eu pensei que iria mesmo acontecer.
Mas ela disse coisas sobre guindastes. 300 não seriam
suficientes para ela. — Meu pai começa a rir.
— Ela é filha da Melinda. Eu deveria saber que seria
assim — comenta, se divertindo. — É uma coisa muito boa,
acredite em mim.
— O que significa?
— Significa que ela quer muito ficar com você —
responde.
— Ficar no sentido literal ou no sentido de obter um pouco
de intimidade?
— Provavelmente em todos os sentidos. Mas é algo que
somente ela pode responder, Henrico. — Fico em silêncio,
tentando processar as falas de Sophie e as falas do meu pai. —
Você precisa ficar sozinho para fazer aquela coisa de andar pelo
quarto enquanto pensa?
— Eu preciso disso agora, pai.
— Ok, campeão! Estarei lá fora com o pessoal. Aguardo
você lá. Se precisar de qualquer coisa, sabe onde me encontrar
— ele diz, se levantando e indo.
Ele sai, eu fico de pé e começo a andar pelo quarto, de um
lado para o outro. Pensar que Sophie quer se sentir confortável
comigo é assustador. Pensar que ela pode sentir o mesmo que
eu sou ainda mais assustador. 300 guindastes significam que ela
quer ficar comigo provavelmente em todos os sentidos, meu pai
disse.
Estou confuso. Há muitas informações em minha mente
para serem absorvidas.

— Pai??? — Já acordo gritando ao ver meu pai assim que


abro os olhos. Dou um salto rápido da cama e me jogo em seus
braços. — Minha coisinha mais fofinha do Universo! Você está
aqui! Eu te amo, te amo, te amo, te amo, te amo...
— Eu também te amo, mas acho que temos alguns
assuntos pendentes, então não venha me enrolar, porque sei que
é isso que está tentando fazer, filha da Melinda!
— Que ótima maneira de começar o dia!
— Em primeiro lugar, soube que andou bebendo ontem,
prova disso é a roupa que está em seu corpo. — Sim, eu dormi
com a roupa que saí. — Sophie, eu não quero a minha filha se
embriagando! Você quer beber? Beba! Mas beba socialmente. Já
tivemos problemas com bebida uma vez, eu não terei uma
segunda vez. Em segundo lugar, acho que me deve uma
satisfação sobre simplesmente se mudar para São Roque.
— Eu iria comunicar, mas, pelo visto, Luiz Miguel já fez o
serviço. Me desculpe, pai. Não era para ser descoberto assim, eu
iria até o Rio conversar com você e com a minha mãe.
— Só fiquei decepcionado, Sophie. Eu esperava uma
conversa, esperava a sua consideração. Você fez o mesmo
quando decidiu abandonar a universidade e voltou para o Brasil.
É como se eu e sua mãe não merecêssemos satisfações. — Ele
está certo. Mas eu tenho uma explicação. Por isso, seguro suas
mãos e o puxo até a cama. Nos sentamos e eu o encaro, sei que
ele vai compreender.
— Eu errei, pai. Já te pedi desculpas sobre a universidade
e te peço desculpas por ter decidido me mudar. Pai, você ama a
mamãe. Deve ter feito milhões de loucuras por ela. Acho que
todas as pessoas que amam fazem loucuras, e minhas duas
últimas ações foram por amor. Estou pedindo desculpas porque
você é o melhor pai, você e mamãe fazem tudo por mim, por Luiz
Miguel. Mas, preciso ser sincera, eu provavelmente faria tudo
outra vez. Esperei muito por Henrico, pai. Sempre fui paciente,
respeitei o tempo dele e me acostumei a isso. Nunca lutei
fortemente, mas agora eu estou disposta a lutar. Eu amo aquele
garoto, pai, e estou me agarrando a todas as oportunidades que
estão surgindo. Não posso simplesmente ficar sentada,
esperando o relógio girar e o momento ideal surgir. Você e
mamãe me ensinaram a lutar para alcançar os meus objetivos.
Preciso fazer isso acontecer e preciso que me dê sua bênção,
pai. Por favor, me dê sua bênção para que eu possa lutar pelo
amor da minha vida. Permita que eu faça isso.
— Você tem a minha bênção — ele diz, emocionado,
enquanto me puxa para um abraço apertado. — Fique e lute pelo
seu menino mais bonito do mundo.
— Obrigada! — o agradeço, chorando.
— Só não esqueça de si mesma e do seu futuro, filha.
Promete para mim?
— Prometo, papai. Eu só...
— Você só precisa conquistar aquele garoto para tudo,
finalmente, fazer sentido. Estarei na torcida. Todos estão.
— Todos? Por quê? — pergunto, limpando as minhas
lágrimas.
— Porque é épico, Sophie.
— O que é épico?
— É épico o cheiro de café. Está sentindo? — ele
desconversa, ficando de pé. — Não há nada que supere um bom
café mineiro, toda a culinária em geral. Tire essas roupas e
venha tomar café comigo. Estarei te esperando. Sophie, só uma
coisa, ligue para a sua mãe, filha, ok?
— Ligarei, papai.

Meu pai e tio Lucca passam parte do dia no sítio e depois


vão embora. Eu noto um distanciamento de Henrico, como se
estivesse pensando em muitas coisas, por isso, decido que não
irei sair com o pessoal. Opto por ficar respeitando o espaço dele,
obviamente.
Entediada, resolvo me arriscar na cozinha.
Definitivamente, cozinhar não é o meu forte, mas não há nada
que o Google não resolva. Seguindo receitas passo a passo,
arrisco fazer espaguete ao molho branco. Enquanto estou aqui,
Henrico está perdido lá fora, e decido invadir um pouquinho o
espaço dele, antes de botar a mão na massa.
Ele está sentado, perdido em pensamentos, observando o
céu estrelado. Por estarmos em um sítio isolado, parece até que
se esticarmos as mãos seremos capazes de tocar nas estrelas. É
um visual de tirar o fôlego.
Está frio, ele está vestindo calça de moletom preta e um
agasalho com touca.
— Ei, eu posso me sentar com você? — peço, atraindo o
seu olhar e, ao invés de permitir que eu me sente, ele fica de pé.
Não sou baixa, mas Henrico de pé faz com que eu me pareça um
pouco pequena. Ele se torna meu próprio céu estrelado quando
levanto minha cabeça para observá-lo.
— Você se lembra de ontem?
— Eu bebi.
— Apenas isso?
— Eu perdi algo? — pergunto. Ele me analisa por alguns
segundos e traz suas mãos para meu rosto. A maneira como ele
está me encarando faz com que os meus olhos se encham de
lágrimas. Henrico nunca me olhou assim e eu não consigo
decifrar o que se passa.
— Estou com medo — confessa, engolindo em seco.
— Não tenha medo. Eu estou aqui com você.
— Promete que será a minha melhor amiga para sempre?
— Entendo que ele precisa dessa promessa agora, para o que
quer que tenha a me dizer.
— Haja o que houver, eu sempre serei sua melhor amiga.
Ao infinito e além, para sempre!
— Você já beijou? — ele repete a pergunta que já me fez
anteriormente. Sentindo vergonha, tento abaixar a minha cabeça
para ocultar o choro, mas ele não permite. Lágrimas também
estão escorrendo de seus olhos agora. — Sophie, você já beijou?
— Lentamente, balanço a minha cabeça.
Eu a balanço negativamente e Henrico solta um soluço de
choro.
— Você nunca beijou?
— Nunca. — É vergonhoso? Eu tenho 21 anos e nunca
beijei.
— Por quê? Sophie, você é uma garota normal! — ele diz,
soltando meu rosto, e eu seguro seus braços. — Por que nunca
beijou?
— Pare de dizer que sou uma maldita garota normal,
Henrico! Pare de pensar que você é totalmente diferente, um
alienígena. Você não é. — Ele ignora as minhas palavras.
— Todos acham que você já beijou, eu já escutei. Acho
que nunca desmentiu isso. Por quê?
— Porque o que os outros pensam de mim nunca foi
importante. Eles podem pensar o que quiser, Henrico, eu não me
importo. Tudo que me importa é o que você pensa de mim, é a
maneira como você me vê.
— Eu te vejo como a menina mais bonita do mundo —
fala, fazendo com que meu coração quase salte para fora.
— Você é o menino mais bonito do mundo e eu sempre
vou esperar por você.
— Por que nunca beijou?
— Porque eu estava esperando por você e eu sempre irei
esperar. Não importa quanto tempo demore, eu seguirei te
esperando — confesso, desabando e o abraçando forte. — Eu
sempre vou esperar por você...
— Você... você esperou por mim? Para beijar? —
pergunta, voltando a segurar meu rosto. Balanço a cabeça
positivamente, ficando preocupada pela forma como ele está
respirando com dificuldade.
— É como se existisse um universo onde somente você e
eu habitamos. O nosso universo, desde pequenos, desde
sempre. Eu não me encaixo em qualquer outro garoto, não me
encaixo em qualquer outro universo que não seja o nosso. Nunca
me encaixei. Eu me encaixo em você, eu sonho com você, e eu
rezo por você. Eu imploro a Deus por você.
— Você me ama? Me ama como... como namorado?
— Eu te amo além da vida.
— Eu te amo muito também, Sophie. Eu te amo como a
minha garota — ele diz, tocando meus lábios com seus
polegares. — Você aceita ser a minha namorada?
O mundo inteiro parece girar diante dos meus olhos,
juntamente com um filme completo da minha vida. Eu quero levar
as duas mãos em minha boca e meu corpo parece prestes a
desmoronar no chão. Henrico percebe e sustenta meu corpo,
rodeando um de seus braços em torno da minha cintura. O choro
não permite que eu responda, mesmo querendo dizer que esse
pedido é a resposta de todas as minhas orações. Ele está
sofrendo a cada segundo em que me mantenho silenciosa.
— Sophie, por favor.
— Eu sempre fui a sua namorada, você só precisava
descobrir isso. Eu estive aqui o tempo todo. — Ele engole em
seco, toca meu rosto com sua mão livre e me olha uma última
vez antes de colar seus lábios aos meus.
Um beijo tão puro quanto o que eu imaginei que seria e,
ainda assim, o mais perfeito do Universo. Não existe nada na
vida que seja tão perfeito quanto a sensação de ter os lábios de
Henrico grudados aos meus. Nada. Nos perdemos num simples
grudar de lábios por longos minutos...
Quando ele se afasta, eu nem sei explicar o que acontece.
Ele simplesmente se afasta e sorri, antes de sair andando.
— Sophie, eu preciso só ligar para os meus pais e já volto
— avisa, entrando casa adentro, e eu saio correndo atrás dele.
— Não, senhor! Traz sua linguinha aqui! Foi o beijo mais
perfeito, mas certamente precisamos de mais alguns para
podermos selar a união! Quero a sua língua se envolvendo com
a minha, Henrico! Deus do céu, Henrico! Eu não esperei a vida
inteira para te beijar e você ir falar com tio Lucca! — Ele bate a
porta do quarto e a fecha com chave. — Caralho, Henrico! 600
guindastes não serão suficientes! Fique sabendo disso!
Merda, eu preciso ligar para a minha mãe e contar que
beijei!
Eu beijei o menino mais bonito do mundo!!!
Quando poderei cantar a versão proibidona de já sei
namorar?
"Já sei namorar, já sei beijar de língua, agora só me resta
transar..."
Eu preciso muito expulsar essa notícia de dentro de mim,
espalhá-la pelo mundo. Mas, embora eu precise disso, estou
andando como uma barata tonta pela sala, tomada por uma
adrenalina que nunca senti antes e que está se misturando com
a incredulidade do último acontecimento. Cozinhar? Já era! Não
tenho a menor condição de cozinhar quando estou tremendo. É
arriscado que eu acabe colocando fogo na casa. Se calma eu já
sou desastrada, imagine nervosa?!
Ainda estou rodando quando Samuel surge e paralisa ao
me ver.
— O que há? — pergunta.
— O que está fazendo aqui? Seja o que for, volte para a
rua!
— Só vim buscar preservativos.
— O quê?! — questiono, embasbacada.
— Um bom soldado sempre anda prevenido. Esqueci os
preservativos na mochila. Agora me diga o que aconteceu, por
favor. Parece desorientada.
— Henrico me beijou. — Samuel abre um sorriso enorme.
— Um selinho, mas me beijou.
— Esse é o meu garoto! — exclama, feliz. — E onde ele
está?
— Apenas me deixou e disse que iria ligar para os pais —
comento, rindo. — Não seria Henrico se não fizesse isso. Mas, já
que está aqui, posso perguntar algo?
— Claro.
— Por que todos sabiam e nunca me disseram nada? —
Ele para de sorrir e me puxa para a área externa. Nos
acomodamos em um banco próximo à piscina.
— Sophie, em relação aos sentimentos de Henrico, eu
nunca tive certeza. Havia especulações de todos, mas nenhuma
certeza definitiva. Os seus sentimentos sempre foram mais
abertos, você nunca fez muita questão de esconder isso. A
questão é que você, desde muito jovem, estava preparada para
se envolver com Henrico. Já ele... ele só se abriu há pouco
tempo, apenas para mim, tia Paula e meu pai, ninguém mais. Ah,
sim, a psicóloga também, inclusive ela deve estar louca já —
brinca. — Eu poderia ter te dito anos atrás sobre as minhas
desconfianças, mas isso te afetaria de uma maneira negativa.
Você iria viver buscando respostas que ele não estava pronto
para te dar, fora que iria viver em constante ansiedade. Sem
contar que perderia a magia de tê-lo se declarando e a
surpreendendo. Acredite, não foi por maldade, foi pelo bem da
sua saúde mental e pelo bem de Henrico. Ele é autista, tem
algumas dificuldades, estamos constantemente o impulsionando
a novas descobertas. Ele ter descoberto sozinho o que sente, ter
tomado atitude, é um passo enorme. Espero que não fique triste
comigo ou com qualquer outra pessoa da nossa família, Sophie.
Precisava ser como foi, para poder ser perfeito e vocês dois
guardarem na memória.
— Eu sou virgem — confesso ao meu primo, que abre a
boca, em completo choque. — Eu nunca beijei.
— Você está falando sério? Sophie, puta que pariu!
— Eu o amo. Que espécie de amor seria esse se eu não o
esperasse? — questiono. — Não entendo muito sobre esse
sentimento, mas acho que ele é puro, é paciente, como aquele
versículo bíblico. Eu esperei.
— Sophie, todos acham que você é a rainha de
experiência sexual. Tem ideia disso?
— Não me importo que pensem isso. Porém, o que acabei
de te dizer, é segredo, ok? — Ele me abraça forte e eu me sinto
extremamente feliz por tê-lo como meu porto seguro.
— Isso é fantástico, Sophie! Vai muito além de como eu
imaginei que seria. É um momento único na vida dos dois e é
muito incrível saber que vão fazer centenas de descobertas
juntos. Eu tinha certeza de que você passava o rodo — brinca.
— Nunca passei o rodo. Era baladeira, mas é só isso.
— Dois virgens. Puta que pariu! Me desculpe, mas estou
muito chocado com essa notícia. Podia apostar que você
ensinaria tudo a ele, o guiaria quando fossem fazer sexo, e agora
descubro isso. — Me pego sorrindo novamente.
— Enfim, agora eu preciso que ele saia do quarto para eu
pegá-lo de jeito.
— Sophie, sabe que não pode atropelá-lo, não sabe?
— Sei, mas posso fazê-lo querer mais. — Samuel está
fazendo as caras mais engraçadas do mundo. — Não me olhe
assim. Sou virgem, mas não sou tapada, Samuel. Na verdade,
tenho o sangue quente e me encontro como se estivesse prestes
a entrar em erupção. Agora que sei que ele me deseja, que ele
me ama, eu vou jogar com isso. Não se preocupe, não vou
ultrapassar os limites, mas também não ficarei no papel de
puritana cem por cento do tempo. Ele vai entender o quanto
quero, mesmo que eu tenha que esperar. Só vou tirá-lo da zona
de conforto ocasionalmente, tipo hoje. Preciso de mais beijos.
Entende o que quero dizer?
— Eu entendo que Henrico está fodido de todas as
maneiras. Eu sei o que é acordar para o sexo. Haja mão... —
Dou um soco no braço dele enquanto rio. — Acho que nem vou
sair mais. Henrico corre riscos.
— Você tem dois minutos, Samuel. Estou mesmo te
expulsando do sítio. Na verdade, Eva precisa se mudar logo,
para que eu possa viver sob o mesmo teto que Henrico com total
privacidade para jogar. Senhor da glória! Aquela boca dele...
— Adeus! — Ele nem busca os preservativos, foge como
se tivesse sido assombrado, e eu fico rindo. Olho para a piscina
e, de repente, quero ficar nua e me jogar nela.
É muito louco sentir vontade de ficar nua, não é mesmo?
É só pensar em Henrico que já quero arrancar as minhas roupas.
Não que eu seja atirada, ousada. Sei que na hora H muito
provavelmente sentirei receio, mas, por ora, quero continuar
agindo como a garota corajosa e quente. Meu sangue está
fervendo e estou prestes a tirar Henrico de onde quer que ele
esteja.
Entendo que não posso fazer nada do que gostaria. Está
tudo bem, de verdade. Sei que sou capaz de me controlar perto
dele, sempre fiz isso. A questão é que me sinto como uma garota
de 15 anos agora, entrando na fase de descobertas. Eu não tive
essa fase, a bloqueei por completo. Apenas escutava relatos das
minhas amigas e, mesmo que ficasse curiosa, eu dizia em minha
mente "um dia eu vou viver isso com Henrico". Escolhi esperar e
não me arrependo. Porém, quanto mais o tempo vai passando,
mais curiosa vou ficando. Sinto vontade de sentir todas as coisas
que já ouvi minhas amigas relatando, todas as reações que as
mulheres demonstram sentir nos filmes adultos. Sinto vontade de
ter Henrico tocando o meu corpo, descobrindo e fazendo com
que eu descubra meus pontos fracos. Sou sedenta por todas
essas sensações, não posso mentir, e sedenta para descobrir
tudo o que posso fazê-lo sentir, todas as reações que posso
causar no menino mais bonito do mundo.
Meu coração acelera significativamente quando ele surge
na porta, me procurando. Sinto até mesmo minhas bochechas
queimando agora. Talvez minhas reações sejam adolescentes
demais, mas não me importo se irei agir como uma garotinha
envergonhada. Na verdade, eu não sei como agir agora.
— Eu não liguei para os meus pais — ele confessa, se
aproximando.
— Não? Por quê?
— Porque eu tenho 22 anos de idade e... eu preciso
enfrentar as situações sozinho. — O compreendo, mesmo
achando que a ligação teria sido a coisa mais fofa do mundo.
Noto que ele está mexendo constantemente nos dedos, isso é
um sinal de nervosismo. Percebo que preciso ocultar meu próprio
nervosismo agora, para poder lidar com o dele.
— Me dê suas mãos — peço e ele me dá. Eu as seguro
fortemente e encaro os olhos mais lindos que já vi. — Sei que
está nervoso, que não sabe como agir, mas posso te revelar um
segredo? — pergunto, o fazendo se sentar ao meu lado.
— Sim.
— Eu também estou nervosa e não sei como agir —
confesso. — Eu quero um monte de coisas, mas não faço ideia
de como fazê-las. Tudo que sei é que quero.
— Eu me sinto assim.
— Viu? Nós somos muito iguais. — Sorrio. — Acho que
você não esperava que eu fosse tão inexperiente.
— Eu queria que fosse, mas é um pouco confuso. Ao
mesmo tempo que queria que fosse inexperiente, eu esperava
que você soubesse conduzir a situação — argumenta. — Acho
que seria mais fácil.
— Provavelmente seria — concordo. — Mas, acredite, é
muito mais interessante que eu simplesmente não saiba o que
fazer, como você. Nós dois agora temos a missão de
descobrirmos tudo juntos. Isso será incrível, consegue imaginar?
— Mas você tem um piercing no clitóris — diz, soltando
minhas mãos, e eu tento não rir da cara que ele faz. — Como
você tem um piercing no clitóris?
— Eu quis ter. Isso independe de ser virgem ou não. E não
foi um garoto quem colocou. Foi a minha tatuadora, uma pessoa
em quem confio — explico, virando-me, sentando de maneira
que o banco fique entre minhas pernas. Henrico repete o meu
feito e ficamos cara a cara. Um pouco mais à frente e eu poderia
montá-lo. Ele está olhando para os meus lábios e eu olho para os
dele. Nós sabemos o que queremos, mas não sabemos como
fazer. Agora estou ainda mais nervosa, e ele percebe.
— Precisamos de regras — anuncia.
— Aham...
— Sophie, é muito difícil ser seu namorado.
— Mas... nós mal começamos — o respondo, subindo
meu olhar para os seus olhos. — Por que é difícil?
— Eu não posso dizer. Seria desrespeitoso. — Ele sempre
tem a capacidade de me fazer sorrir e me encantar com esse
jeitinho único. — Eu posso te beijar novamente?
— Eu mataria por isso! Digo, é claro que você pode, meu
amor. Só vem aqui e me beija. — Ele se aproxima e eu me
preparo para um selinho. Mas não acontece.
Me surpreendo quando ele abre os lábios e os gruda aos
meus. Acompanho suas ações e cada parte de mim se arrepia
quando ele enfia lentamente sua língua em minha boca. Um beijo
menos inocente que o primeiro, embora ele esteja fazendo isso
numa lentidão agoniante. O nosso primeiro beijo de língua é
tímido, como se estivéssemos testando nossa capacidade de
beijar. O que mais me surpreende é a intensidade. É algo novo,
que nunca havia experimentado. Quando Henrico tem seus
lábios grudados aos meus, eu não escuto nada, não vejo nada,
nada mais existe, somente nós e a atmosfera carregada de
tensão. É inevitável e mágico. Tudo agora parece carregado por
uma energia sexual, mesmo sendo um beijo tão puro. Ele é
quente, e eu nem preciso ser pega de um jeito alucinante para
saber disso. Há uma onda de calor emanando de seu corpo,
assim como está emanando do meu. Eu sinto que nós dois juntos
seremos muito bons.
Quando se afasta, ele gruda a testa na minha. Sua
respiração ofegante me leva a um novo nível de excitação.
— Eu te amo muito — digo, levando minhas mãos em seu
rosto. — Muito.
— Eu te amo. Eu posso te beijar novamente? — Sorrio.
— Precisamos mesmo de regras, Henrico.
— Me desculpe por pedir mais.
— Não! Nada disso! Pelo amor de Deus! Você entendeu
errado... Eu falei sobre as regras porque elas são importantes —
argumento. — A primeira regra deve ser sobre beijos.
— Tudo bem.
— Somos namorados, você não precisa pedir para me
beijar. Basta vir e me beijar, eu vou amar todas as vezes. E eu
também tenho direito de te beijar quando quiser. De acordo? —
Ele balança a cabeça positivamente e me puxa para mais um
beijo. Agora ele me toca, trazendo suas mãos até meu pescoço.
Deixo seu rosto e me aproximo mais, quase ficando sobre suas
pernas. O nosso terceiro beijo atinge outro nível. Um que é mais
torturante que todos os outros, já não é tão lento, e eu fico
perdida entre gostar da lentidão e gostar desse novo modo mais
ousado. Qualquer uma das opções resulta em minha calcinha
úmida e a vontade de arrancar as roupas. Eu imaginava que
beijar era incrível, mas não sabia que poderia ser tanto. Bem que
eu sempre ouvi as pessoas dizendo que é como andar de
bicicleta. Parecemos beijadores profissionais, com anos de
prática. Eu mal cheguei e já quero sentar na "bicicleta" e sair
pedalando muito forte.
— Eu quero beijar você para sempre — ele diz, enquanto
afasta nossos lábios.
— Também quero beijá-lo para sempre. Muito. Seu beijo é
extremamente delicioso.
— Uma pesquisa da Universidade de Oxford, realizada
com 900 pessoas, mostrou que os indivíduos que relataram
beijar seus parceiros com maior frequência foram os que mais se
mostraram satisfeitos com o relacionamento. Eu estou satisfeito
com você, você está satisfeita comigo, então nosso
relacionamento será satisfatório — argumenta.
— Você sabia que a dopamina é um neurotransmissor que
tem sua liberação aumentada durante o beijo? Ela é responsável
por essa sensação forte de desejo que estamos sentindo agora
— digo, tocando seu pescoço.
— Sim. Ela estimula partes no cérebro que também são
estimuladas pelas drogas. Por isso, pode ser comparado a um
vício. Talvez eu tenha acabado de me tornar um viciado, porque
eu quero mais beijos e sei que não ficarei satisfeito.
— Nem mesmo eu ficarei satisfeita — sussurro em seu
ouvido, sentindo o corpo dele se retesar com o meu ato. — O
beijo eleva os batimentos cardíacos para aproximadamente 150
batimentos por minuto, e bagunça os hormônios todinhos. Sabia
que o beijo é o queridinho das pessoas nas preliminares?
— Preliminares sexuais?
— Sim — confirmo e ele me observa. — O que foi?
— Eu me sinto envergonhado.
— Regra número 2: não se sentir envergonhado com a
sua namorada, senhor Henrico. — Ele dá um sorriso tímido. —
Vamos combinar algo?
— Sim.
— Tudo o que fizermos será segredo nosso. Todas as
nossas intimidades serão apenas nossas. Não há espaço para
vergonha. Você pode me dizer o que quiser e nós podemos
descobrir tudo juntos. Eu sou sua para o que quiser fazer.
— Isso é perigoso — afirma, para a minha surpresa.
— Eu confio em você. — Ele pega as minhas duas mãos e
as beija delicadamente.
— Ainda não acredito que você sente o mesmo que eu
sinto. Eu te amo desde que me entendo por gente, Sophie, mas
antes... antes era mais fácil ocultar. Eu desejava você, mas de
uma maneira calma, suave, que conseguia controlar. Não tinha
pensamentos indecorosos, mesmo meu corpo reagindo a você.
— Uma confissão encantadora. — Há algum tempo a zona de
conforto que criei para me sentir seguro, de tudo e de todas as
emoções, começou a me incomodar o bastante para querer sair
dela. Você ficar preso em sua mente, em todas as limitações, não
é algo agradável, e demorou muito para eu compreender isso. Eu
não estava protegido como acreditava, eu estava preso, vendo
todas as pessoas viverem enquanto eu me mantinha isolado,
sofrendo em segredo e em silêncio por querer viver determinadas
situações.
"Sophie, eu me sinto diferente, mesmo que todos ao meu
redor tentem me mostrar diariamente que posso me encaixar. Eu
não me encaixo e, muitas das vezes, eu até acho que isso seja
algo bom. Mas, há apenas alguns momentos que não me
encaixar parece ruim o bastante. Por exemplo, agora. Sei do meu
potencial como homem em muitos sentidos, mas não no sentido
amoroso e sexual. Eu me sinto como um jovem de 13 anos,
curioso e inexperiente. Eu não entendo a maioria das coisas
sobre isso, mas eu quero vivê-las, quero descobri-las. Só não sei
dizer se isso é o suficiente para você, se namorar com um
homem como eu será o suficiente. Eu tenho limitações, não
gosto de festas, não gosto de luzes, não gosto de sons altos,
tenho pânico de aglomerações, muitas vezes eu preciso me
isolar de tudo e de todos, tenho crises que me fazem chorar e me
encolher, não sei falar abertamente sobre assuntos de
intimidade, sou diferente, Sophie... Provavelmente, nossa relação
não será fácil, mas eu te amo e quero estar com você. O que eu
devo fazer? — pergunta. "
— Eu conheço cada um dos seus tons, menino mais
bonito. Você deve continuar sendo exatamente a pessoa que é,
agindo do modo como age, nada deve mudar. Eu o amo
exatamente assim, com todas as perfeitas imperfeições, com
todas as limitações. Estou entrando nessa relação te conhecendo
melhor do que conheço a mim mesma, Henrico. Portanto, eu
respeito a maneira como você é, respeito suas crises e sempre
irei respeitar. Você é mais que suficiente para mim, porque você
é tudo o que eu sempre quis ter. Não se envergonhe nunca por
ser um homem autista. Você é o meu menino mais bonito atípico
e eu amo o seu mundo, amo o nosso mundo azul, o mundo que
criamos apenas para nós. Obrigada por estar se abrindo comigo.
Você nunca foi de se abrir tanto, estou surpresa e feliz por isso.
— Eu precisava te dizer tudo isso e, para isso, precisei
vencer algumas barreiras. Sei que posso ser mais forte que elas.
— Henrico, é mais fácil quando nos entregamos a alguém
que conhecemos uma vida toda. Também estou com medo, mas
estou tão disposta a enfrentar e sinto que você também está.
— Eu quero ficar confortável com você.
— O que significa isso? — pergunto, fazendo carinho em
seu rosto.
— Tem etapas, Samuel me disse. Começa com beijos,
então eu preciso te beijar muito.
— Então você pode me beijar até se sentir preparado para
a próxima etapa. — Ele sorri e eu sorrio de volta. — Ficar
confortável é sexo? Se for, vamos agora!
— Oh, Sophie! Eu não posso te dizer isso, ok?
— Ok. Eu sempre irei esperar por você. Vamos beijar, mas
podemos continuar com esses beijos lá dentro? Está frio.
— Você pode ir na frente. Eu já vou. Só preciso de um
minuto. — O encaro, não compreendendo.
— Por quê?
— Estou com reações.
— Reações?
— Os beijos. Reações. Por favor, Sophie, não me faça
falar. — Abro a boca em choque quando compreendo.
— Que tesão! Digo, que compreensível! Eu não ligo... Eu
quero... Meu Deus do céu, Henrico! Foda-se a inexperiência!
Todos os guindastes do mundo jamais conseguirão... Ok, eu
preciso esperar. — Sorrio, atordoada, e fico de pé.
— Às vezes parece que você fala outra língua, eu apenas
não consigo compreender.
— Você só precisa saber que muito em breve eu vou
encantar a sua serpente!
Minha vida era bem menos complicada quando eu lidava
apenas com ereções involuntárias; aquelas que ocorrem à noite
ou pela manhã, popularmente chamadas de "tesão de mijo", o
que é um tanto quanto estranho. Sempre passava rápido e a vida
seguia normal. Aos 13 anos de idade, eu tive um tipo de ereção
diferente. Ocorreu na casa da Ilha, enquanto eu observava
Sophie dançar uma música, usando um biquíni. Minha primeira
reação foi correr até o meu pai, principalmente porque não era
apenas uma ereção; meu corpo naquele momento parecia
estranho, eu estava sentindo coisas novas, diferentes, uma
necessidade de algo que eu não sabia o que era. Meu pai
também ficou perdido por não saber como abordar o assunto. Me
lembro que ele chamou a minha mãe, nos trancamos em um
quarto e, pacientemente, os dois conversaram comigo sobre
sexualidade, tesão, reações do corpo. Muita informação para um
garoto de 13 anos autista. Mas eles fizeram isso bem,
responderam muitas dúvidas, principalmente sobre masturbação.
Depois do ocorrido, me lembro de como passei a evitar
Sophie. Havia muito medo em mim. Eu odiava pensar que ela
poderia se assustar se visse meu pau duro.
Pau. Eu ainda acho terrível se referir ao meu órgão genital
dessa maneira, mas meu pai e Samuel falaram que essa é a
melhor palavra, principalmente em momentos de intimidade com
uma garota. Samuel contou que dizer pênis é um pouco
brochante, que as garotas preferem pau. Ele até disse outros
nomes, mas são bizarros o bastante para eu não querer repeti-
los.
Enfim. Lembro que passei dias pesquisando sobre tipos
de ereções, e descobri que existem 3 tipos: as ereções
psicogênicas, que acontecem quando vemos ou ouvimos algo
que nos atrai, como fotos de mulheres nuas ou uma linda menina
dançando de biquíni; as ereções noturnas, que ocorrem
naturalmente à noite e também podem ocorrer pela manhã (visto
que eu acordo diariamente com uma ereção assustadora); e as
ereções reflexogênicas, que acontecem quando surge um
contato real com o pênis.
Naquela fase, fiquei com o sexo infiltrado na mente. O
grande susto foi quando acordei com um líquido viscoso
marcando a minha cueca, após um sonho com Sophie.
Novamente, meu pai foi a pessoa escolhida por mim. Quando
acordei daquela maneira, entrei em crise. Me sentia ainda mais
estranho. Meu pai ficou sentado em minha cama enquanto eu
andava de um lado para o outro, tentando compreender porque
aquilo havia acontecido. Eu achava que era algo anormal, até ele
dizer que passou pelo mesmo e que Samuel também estava
passando. Embora ele, minha mãe e minha terapeuta tivessem
me explicado sobre a masturbação, eu nunca havia feito... Mas,
após outra longa conversa esclarecedora, eu me acalmei e, no
final do dia, quando todos dormiram, eu fui em busca de mais
informações na internet. Descobri os filmes educativos. As cenas
eram assustadoras, mas causavam uma reação em mim que eu
não estava capacitado para compreender. Passei a me
masturbar frequentemente, na verdade, eu queria me masturbar
o tempo inteiro, mesmo que guardasse esse segredo apenas
para mim. A sensação do orgasmo sempre foi intensa,
reconfortante no final, e foi suficiente até meses atrás, quando
percebi que precisava de algo mais.
Ocorreu na última vez que vi Sophie. Durante muitos anos
evitei qualquer assunto voltado ao sexo. Minha mente trabalhava
em torno de programações de computador, jogos, pesquisas. Eu
me masturbava ocasionalmente; posso dizer que bem menos do
que eu fazia quando passei pela fase de descobertas. Quando
passei a me masturbar imaginando Sophie, eu descobri que
gostava dela de uma maneira diferente, e perceber isso foi
traumático. Sophie era a garota livre, cheia de amigos, cheia de
vontade de viver, que socializava com todos; enquanto eu era o
garoto quieto, silencioso, que se mantinha isolado e que tinha
crises frequentes. Fixei em minha mente que ela nunca seria
minha, primeiro por sermos melhores amigos e quase primos,
segundo por sermos opostos. Se eu não podia tê-la, eu não
queria ter mais qualquer garota, por isso, tirei da mente o sexo e
todas as coisas relacionadas a namoro. Foram anos sem pensar
nisso e parecia confortável para mim.
Há alguns meses, ela veio da Califórnia para comemorar o
aniversário de casamento do tio Victor, na Ilha. Minha mente já
estava devidamente projetada a ignorar qualquer pensamento
ousado relacionado à Sophie, mas falhou quando a peguei em
um biquíni minúsculo, repleta de tatuagens que atiçam a
curiosidade, dançando uma música latina de uma forma que
atormentou a minha mente. A cena podia ser considerada
erótica. Eu não consegui evitar a ereção, mas foi diferente de
todas as outras vezes. Dessa vez parecia ter um monstro dentro
de mim, um ser estranhamente furioso, que precisava pegá-la e
fazer todas as cenas que via nos filmes educativos.
Eu não soube lidar com as reações. Entrei no meu quarto
e... não foi bonito. Eu me peguei repetindo atos que só cometia
quando criança. Quebrando coisas, socando meu pai enquanto
ele tentava me acalmar, e foi necessário receber medicação
intravenosa para conter o meu desespero. Foi uma crise de
ansiedade, talvez a pior. Sophie não sabe disso. Ninguém, além
dos meus pais, minha terapeuta e Samuel, sabe.
Foi Samuel quem me disse que eu poderia namorar com
Sophie, que não era errado, pois não éramos primos. Isso aliviou
um pouco, porque eu me sentia culpado por ter reações tão
fortes. E eu fiquei meses tentando pensar em uma maneira de
poder tê-la. Era torturante. Eu passei a malhar com mais afinco
apenas porque o esporte parecia me ajudar a descarregar um
pouco da adrenalina. Estava dando certo, até eu chegar em São
Roque e reencontrá-la. Ela voltou de vez, nós vamos morar
juntos e acabo de descobrir que ela me ama e me deseja da
mesma forma que a amo e a desejo. Há muitas questões em
minha mente agora. Eu me pergunto se lá no passado, ela
também teve essas reações físicas e precisou se masturbar. Me
pergunto se ela também está excitada agora, como eu estou.
Como vou lidar com isso? Como vou controlar minhas ações e
reações? Como vou lidar com todas as dúvidas?
Sophie é virgem. Ela esperou por mim, eu esperei por ela.
Mas como faremos isso? Eu não quero pensar em sexo, mas não
consigo evitar as reações. A boca de Sophie na minha causa um
efeito que não consigo descrever. Ela é quente, e sinto que tudo
nela responde a mim. Não foram apenas beijos, houve uma
intensidade que estou tentando entender. Gosto de ter respostas
específicas para tudo e preciso delas agora, para entender o
mínimo de todas as sensações novas que acabo de descobrir.
Agora, talvez seja necessário deixar de ser a pessoa que
se esconde, que teme, que age como um garoto. Não sou
apenas eu enfrentando descobertas. Há Sophie também. Muito
provavelmente, ela encontra-se tão receosa e repleta de
perguntas, como eu. Ela lida mais fácil por ser extremamente
extrovertida e maluquinha, mas a conheço. Sei que por trás de
todas as maluquices, há uma garota sonhadora e um pouco
medrosa. Sei também que vamos precisar um do outro agora,
como nunca. É por isso que ao perceber que minha ereção está
devidamente controlada, me pego criando coragem para entrar e
lidar com mais alguns beijos, e qualquer coisa que ela precise.

A virgindade de uma garota é um dos maiores tabus


impostos pela sociedade. Acho que nós, meninas, acabamos
contribuindo para que esse tabu vá sobrevivendo ao longo dos
anos. Fazemos isso indiretamente quando decidimos tornar esse
assunto um monstro de sete cabeças, sendo que é algo natural;
um processo que todas (ou quase todas) iremos passar. Não
ajuda que, além disso, ainda sejamos cobradas pela sociedade.
Há uma enorme diferença, uma enorme pressão e uma enorme
cobrança sobre nós, mulheres, se compararmos aos homens.
Enquanto eles podem tudo, nós temos que lutar duramente para
termos a mesma liberdade, e ainda somos julgadas mal.
Virgindade é aquele tipo de assunto que é repleto de
questões sobre moral, tradições, até mesmo políticas de gênero.
Isso acaba tornando-se um assunto tão complexo e complicado,
que muitas das vezes as garotas optam pelo silêncio, apenas
para não precisarem falar sobre sexo. Algo que faz parte da vida
de todos os seres humanos, acaba tornando-se um assunto
constrangedor. Se calar é um erro. Às vezes, por medo de todo
tabu em torno disso, por medo de julgamentos, as pessoas
acabam cometendo erros irreparáveis no início da vida sexual.
Erros capazes de marcar a própria história de uma maneira
negativa.
Meus pais me ensinaram que não há tabus e que não
deve haver. Eles são os principais responsáveis pela educação
sexual minha e de Luiz Miguel. A principal preocupação dos dois,
foi principalmente em relação a limites, principalmente com Luiz
Miguel. Durante toda a adolescência era comum estarmos
tomando café da manhã enquanto debatíamos sobre sexo. Todas
as minhas dúvidas sempre foram devidamente esclarecidas,
muitas das vezes pelo meu pai, que é mais experiente nesse
assunto que a minha mãe. É a coisa mais fantástica do mundo
poder falar abertamente sobre esse assunto com meu pai, afinal,
há um tabu também sobre isso. A maioria das minhas amigas, na
adolescência, só conversavam sobre sexo com as mães, e os
pais nem podiam sonhar com esse tipo de assunto. Lá em casa
sempre foi tão diferente. Meu pai, mesmo ciumento e possessivo,
conversava comigo como se fosse um amigo trocando ideias.
Minha mãe também, mas ela acaba sendo realmente uma
menina que nunca cresce. Somos best friends forever, como ela
tem o hábito de dizer. Tão bests, que costumo saber muitas
informações sobre a vida sexual dela e do meu pai. Acho que
sexual vida combinaria mais que vida sexual. É como se o sexo
fosse o principal componente do relacionamento dos dois, e isso
é extremamente cômico. Eles se amam tanto, que não são
capazes de manter as mãos longe um do outro.
Há muitos anos, eu prometi a ele que quando perdesse a
virgindade iria contar. Eu não sei se ele acredita que estou intacta
e por isso não contei, ou se ele pensa que perdi a virgindade e
não quis contar. Todas as vezes que vou para alguma festa, ele
faz questão de me dar preservativos, eu acho isso fofo e
engraçado. Meu pai não dá a mim um tratamento diferente do
tratamento que dá a Luiz Miguel. Ele nunca disse "você é
menina" ou nada do tipo. O mesmo acontece com a minha mãe,
porém, todas as vezes em que ela me pergunta se eu já transei,
sempre me esquivo. E estou pensando nela agora. Pensando se
ela e meu pai ficariam felizes em receber uma ligação onde
contarei sobre o meu primeiro beijo. Eu gostaria de fazer isso.
Enquanto Henrico está lá fora, meu coração vence. Eu me
pego fazendo uma chamada de vídeo para a minha mãe e logo
os dois surgem na tela.
— Minha princesinha da Disney versão Melinda hardcore!
— ele cumprimenta e leva um tapa diretamente na testa. Sorrio.
— Filha, diga que está com saudades da mamãe!
— Estou morrendo de saudades, mãe. — Sorrio. — Bom,
aconteceu algo.
— Puta merda, Melinda! — meu pai exclama. — O que
aconteceu, Sophie?
— Eu e Henrico nos beijamos. — Minha mãe dá um grito
estridente, enquanto meu pai a observa em choque. Ela ri, chora
e comemora, como se fosse o final do Campeonato Carioca,
onde o Flamengo acaba de tornar-se campeão. — Eu nunca
tinha beijado na boca. — Essas palavras fazem ela paralisar e
meu pai arregalar os olhos.
— O que você disse? — ele pergunta.
— Eu nunca tinha beijado na boca. Foi a primeira vez.
— Então isso significa que você nunca deu uma pimbada?
— minha mãe pergunta.
— Aoooo, Melinda, satânica! Não fale assim com a minha
princesinha! — Me pego gargalhando.
— Eu nunca desfrutei dos prazeres carnais, mamãe.
— Misericórdia! E eu achando que você era tímida para
contar que havia transado feito uma garota transante. — Ela está
boquiaberta. — Que isso! Eu com 21 anos...
— Quando sua mãe fez 21 anos, a levei para ser
exorcizada. Não resolveu — meu pai diz enquanto observo
Henrico de longe.
— Ok, eu preciso desligar, porque Henrico está vindo.
Amanhã ligo e nos falamos mais. Beijos, pai. Beijos, mãe. Adeus!
— Encerro a ligação e vejo Henrico puxar os cabelos e voltar a
se sentar.
Não é engraçado, mas é. Deve haver uma bagunça louca
na mente dele agora. A minha também está.
Enquanto muitas garotas possuem infinitos motivos para
temer a perda da virgindade, eu só temo a dor. Como decidi
esperar por Henrico e por conhecê-lo uma vida inteira, não há
aqueles pensamentos sobre ser trocada por outra, medo de
perdê-lo, receio de não está me entregando ao garoto certo ou
qualquer coisa do tipo. Acho que isso torna as coisas mais fáceis.
Sei que quando fizermos sexo, será com a segurança de um
amor forte e inabalável. Porém... eu temo a dor. Não deveria. Já
fiz tatuagens altamente dolorosas, tenho piercing no clitóris, no
lábio inferior, perder a virgindade não deve doer mais que uma
tatuagem no pé. Não é possível! Mas, ainda assim, há esse
receio. Algo grande invadindo algo tão pequeno é meio
assustador.
Eu quero!
Na verdade, acho que nunca quis tanto algo como quero
ter Henrico totalmente nu sobre o meu corpo, invadindo uma área
nunca invadida antes. Duvido que eu vá me importar com a dor.
Mas é absurdo que eu esteja fixada em sexo. Desde que
vi Henrico, tudo que tenho pensado é em sexo. Não é normal ou
correto, visto que relações não devem ser baseadas em sexo.
Estou levando isso de outra forma. Vamos lá, tudo é justificável e
estou justificando meu desejo sexual com base na minha idade e
em todos os anos em que espero para dar uma sentada nervosa
em Henrico.
Eu decido ajudá-lo. Deixo de ficar pensando caraminholas
e vou até ele dar uma ideia.
— Ei, que tal irmos na praça comer algo? Não tenho
condições emocionais de cozinhar — o convido. — Já resolveu
seu problema? — pergunto, segurando um sorriso.
— Sophie, você não vai se assustar quando isso
acontecer, não é mesmo?
— Não vou. Na verdade, acho que vou gostar bastante.
Isso é normal, Henrico. Não faça disso um problema, meu amor.
Quando ficamos excitados, o corpo reage.
— Namorar é complicado — confessa.
— Acho que nós dois estamos complicando tudo. Só
precisamos parar de pensar, parar de buscar respostas para
tudo. Precisamos apenas deixar fluir.
— Eu nunca toquei em seus seios. — Dou uma
gargalhada e ele me encara, sério.
— Você pode tocá-los. Meu Deus, não me olhe assim! Foi
engraçado. Me dê suas mãos...
— De forma alguma, Sophie. Não vou tocar os seus seios.
Vamos comer algo.
— Ok, senhor. Mas posso dizer algo em seu ouvido? —
Ele me olha desconfiado e balança a cabeça positivamente. O
puxo, grudando seu corpo ao meu. — Eu vou tocar em você.
— Onde?
— Você sabe. — Pisco um olho, observando-o abrir e
fechar a boca. — Agora vamos, antes que eu resolva ficar
confortável.
— Sophie Albuquerque!
— Henrico Davi!
— Depois que comermos eu posso te beijar? — pede,
segurando minha mão para caminharmos.
— Você pode fazer o que quiser comigo. Só espere que
vou pegar dinheiro.
— Eu tenho dinheiro aqui.
— Ótimo. Você vai pagar tudo para mim. — O abraço e
deposito um beijo demorado em sua bochecha. — Eu te amo,
melhor amigo namorado.
Quando chegamos na praça, todos estão sentados,
observando Samuel, que está de joelhos, segurando a mão de
uma mulher extremamente bonita. É a primeira vez que a vejo e
estou impressionada com a maneira sofisticada que ela está
vestida.
— O que está acontecendo? — pergunto a Théo, porque
Eva está rindo tanto, que é incapaz de responder.
— Essa é Hadassa, uma amiga de Eva que acaba de
chegar de Londres. Filha de um fazendeiro aqui de São Roque.
Samuel está há mais ou menos 40 minutos tentando convencê-la
a dar uma chance a ele.
— Por favor, Hadassa! Me arregaça, Hadassa! — Samuel
diz e torna-se impossível não rir. — Já sei. Você aceita se casar
comigo?
— Isso não pode ser real! — Théo exclama.
— Aoooooo, Hadassaaaaaaaaaa! Sorte é "meter" como
pretendente! Você está me desprezando, está jogando sua sorte
ao vento. Eu sou o melhor partido, acredite em mim. Pode me
pisar, mas te garanto, em três dias eu serei o amor da sua vida!
— Isso significa que essa moça diante de nós está fodida a partir
de agora. Samuel não vai sossegar até conseguir, pelo menos,
um beijo.
— Perfeito! — exclamo, batendo palmas. — Me digam,
aonde consigo um lanche bem gorduroso nesse lugar?
— Vá ali no Tião e peça a ele o lanche que ele faz para o
Théo. Ele saberá. É o melhor. Vocês vão amar! — Eva indica.
Eu e Henrico lanchamos sob olhares curiosos, voltamos
para casa e decidimos assistir filme. Sigo para o meu quarto,
onde escovo os dentes e visto um pijama de frio. Logo em
seguida bato na porta do quarto dele e nos acomodamos na
cama.
Não há beijos ou toda tensão sexual. E, por incrível que
pareça, eu fico extremamente satisfeita por conseguirmos
continuar sendo nós mesmos. Somos um pacote completo agora.
Quando o filme termina, estamos sonolentos e
preguiçosos. Não quero sair daqui e voltar para o meu quarto,
mas não sei se ele vai se sentir confortável (no sentido literal)
com a minha presença na cama. De qualquer forma, eu arrisco:
— Posso dormir com você? Está gostoso e quentinho
aqui.
— Uhum — ele responde, praticamente dormindo. — Boa
noite, Sophie. Você é a menina mais bonita do mundo.
— Boa noite, menino mais bonito do mundo. Hoje é o dia
mais feliz da minha vida.
— É o meu também.

A alegria vem pela manhã, quando acordo antes de


Henrico e descubro que ele é superdotado em mais de um
sentido.
Quando acordo e me dou conta de onde estou, o sorriso
se alarga em meu rosto. Me viro de lado cuidadosamente e
encontro Henrico deitado de barriga para cima. Ele é a coisa
mais perfeita desse mundo dormindo. Parece um anjo.
Um anjo em um corpo feito exclusivamente para o pecado.
Sorrateiramente, levanto a coberta, para fazer uma
exploração melhor do homem que me pertence. Isso é muito
possessivo, eu sei. Só não esperava encontrar algo duro,
marcando a calça da forma como está. Não consigo nem me
recordar do ditado, mas sei que há algo sobre a alegria vir pela
manhã. É verdade. Isso é alegria pura. Eu tirei a sorte grande na
vida. Com certeza, Deus está me recompensando por ter
esperado tanto.
Henrico é perfeito e bem-dotado. O que mais eu posso
querer nessa vida? Saúde e disposição, é claro.
A piranha que habita em mim, nesse momento está
mostrando o dedo do meio para o meu lado fada sensata e
gritando um CHUPAAAA! Sim, ela está fazendo isso porque
acabo de expulsar a sensatez e estou numa corrida forte contra a
paciência. Não há como se manter sensata diante dessa visão.
De repente, nem sou mais virgem.
Eu sofro de sonambulismo. Acabei de descobrir isso. Se
eu não posso dar o bote como quero, eu posso inventar um
modo novo para aproveitar da situação. Sonambulismo me
parece a desculpa perfeita.
Fecho meus olhos e jogo minha perna direita sobre as
pernas dele delicadamente. Minha mão esquerda ganha vida
sozinha, eu juro. Ela primeiro explora o abdome por cima da
camisa e depois simplesmente desce, sem que eu seja capaz de
contê-la. Acho desrespeitoso, mas não consigo impedi-la quando
ela decide se fechar em torno do pau do meu namorado e dar
uma apertada para explorar a grossura da situação.
Se antes eu tinha medo da dor, acho que agora estou
apavorada. Mas, quero! Quero tanto que estou quase chorando e
ignorando meu sonambulismo.
Enquanto exploro o magnânimo pau do meu namorado,
ele começa a se mexer, sentindo as reações do meu toque.
Paraliso minha mão e finjo estar dormindo quando percebo que
ele está despertando. E arrepio por completo quando ele solta
um som rouco, que faz minha vagina contrair automaticamente.
Quero sorrir quando ele coloca a mão sobre a minha, e
quero gargalhar quando ele simplesmente me joga para o lado e
dá um salto da cama. Por mais que eu tenha uma veia artística
natural, não sei se conseguirei atuar agora.
— Merda! Que susto, Henrico! Meu amor da vida inteira...
— Sophie Albuquerque! — ele exclama, pegando um
travesseiro e cobrindo sua ereção.
— Ei, Henrico Davi. Eu amo acordar com você!
— Sophie, sua mão estava no meu órg... meu pau?! —
Dou um gemido épico e rolo na cama assim que ouço a palavra
pau sair da boca dele.
— Eu sou sonâmbula. Me desculpe por isso.
— Você está mentindo — afirma. — Eu a conheço,
Sophie. Sei quando está mentindo. O seu nariz arrebitado
sempre entrega suas mentiras.
— Não é para tanto, Henrico. Parece que cometi um crime
— me defendo, ficando de joelhos e rastejando até a beirada da
cama. Arranco o travesseiro dele e ele leva as mãos rapidamente
para o local do "crime". O mais lindo é olhar para o rosto dele e
pegá-lo com as bochechas ruborizadas. Meu Henrico é um bebê,
tanto que acabo descendo da cama. — Isso não é um problema,
meu amor.
— Sophie, é muito difícil ser seu namorado.
— Está arrependido?
— Não — responde, trazendo as mãos para meu rosto. —
Eu te amo.
— Eu também te amo, menino bonito. Vou respeitar seu
tempo. Não sou mesmo sonâmbula. Só estava curiosa —
confesso. — Me desculpe por ser um pouco safadinha? Apenas
há muito desejo e muita curiosidade. Parabéns.
— Parabéns?
— É incrível! Inclusive, eu gostaria de ver ao vivo e a
cores. — Sorrio. notando-o altamente envergonhado. — Eu
avisei que iria tocá-lo.
— Sim, você avisou. Terei que me acostumar com isso,
mas, em minha defesa, nunca gostei muito de ser tocado. Só
aceito abraços seu, dos meus pais e de Samuel. O que significa
que só estou acostumado com abraços, nada além disso. Sei
que vai me tocar e que é algo normal.
— Muito normal — digo, deslizando minhas mãos por seu
peitoral e invadindo sua camisa. É tão gostoso sentir o calor de
sua pele, eu consigo até mesmo perceber que ele está arrepiado
com o meu toque, desconfortável também, mas tento ignorar
isso. — Vai se acostumar, não vai?
— Sim — responde, tenso, e eu deixo um beijo em seu
pescoço antes de me afastar.
— Te espero na cozinha para tomarmos o café da manhã
— falo, deslizando a mão de uma só vez e dando uma leve
apalpada no mais novo amor da minha vida. Não dou tempo dele
protestar, simplesmente saio correndo do quarto e trombo
diretamente em meu irmão.
— Você e Henrico... dormiram juntos?
— Sim. Só dormimos mesmo, senhor ciumento! — digo, o
abraçando. — Rimão, eu te amo muito nesse Universo!
— Também te amo.
— Você está bem? Está menos tristinho?
— Não tem como ficar triste perto de Samuel — responde,
sorrindo. — Estou feliz por estarem aqui, feliz por saber que irão
se mudar. Eu me apaixonei por esse lugar, mas faltava algo.
Descobri que não era algo, era vocês.
— Você é muito lindo, rimão! Eu vou te perturbar todos os
dias, tem ideia disso? Será incrível!
— Então troque de roupa, tome café e vamos dar uma
corrida, ok?
— Ok! Estou animada para passar a manhã com você!
Está calor hoje... finalmente. Poderei sensualizar! — O beijo e
saio correndo para o meu quarto. Tomo um banho rápido, visto
uma roupa de malhar e saio decidida a ter um dia fantástico.
Eu já sei que Henrico vai se manter no quarto até se sentir
"seguro" para sair, por isso, preparo um café da manhã para ele
e peço a Luiz Miguel para entregar. Como uma salada de frutas e
saio com meu irmão para correr.
Encontro Samuel malhando no lado de fora da casa,
bastante concentrado.
— Aooo, delícia! — grito para ele, rindo.
— Aoooo, Sophie diabólica! Onde vocês vão? — ele
pergunta.
— Vamos correr. Quer vir?
— Partiu! — exclama, se juntando a mim e a Luiz Miguel.

Não é que eu não tenha um bom preparo físico, mas


Samuel e Luiz Miguel me humilham. Eu passo um aperto para
tentar acompanhá-los e, no final da corrida, volto fazendo Samuel
de cavalinho.
Quando estamos chegando, decido parar na casa de Eva
para trocar umas ideias sexuais. Acho que podemos ser amigas
e acredito que ela pode entender um pouco do momento que
estou vivendo. Théo e Eva perderam a virgindade juntos, quando
tinham 15 anos. Théo me contou. Então, acho que ela me
ajudará bastante. Bato na porta e aguardo ansiosa.
— Ei... entra! — ela me convida a entrar.
— Licença. Preciso tirar o tênis?
— Não, fique à vontade. Estava malhando? — pergunta,
simpática.
— Sim, saí para correr com Luiz Miguel e Samuel —
explico. — Eles voltaram para o sítio e eu quis passar aqui.
— Bom, estou no meu quarto arrumando minhas coisas,
se incomoda de ficar lá comigo?
— De forma alguma. Posso ajudar em algo? — me
ofereço, tentando ignorar o fato de que isso significa que muito
em breve eu estarei dividindo essa casa com Henrico.
PUTA MERDA!!! SÓ VEM COM TUDO!
— Não precisa. Só estou empacotando as roupas mesmo.
— Ela sorri. — Então... como estão os avanços com Henrico?
— Estão indo até que bem... Na verdade, eu queria
conversar com você sobre sexo — digo na cara e na coragem.
— O que há?
— Você e Théo perderam a virgindade juntos, não foi?
— Sim. Tínhamos 15 anos de idade.
— Pode me contar como foi? Se não for muito invasivo.
— Você é virgem? — Essa é a pergunta que mais tenho
escutado nos últimos dias. — Ok, isso não é um problema. É
incrível que seja virgem. Acho que estou mais apaixonada por
você e por Henrico agora. Quer dizer, suspeito que ele seja
virgem também. Ou estou errada?
— Ele é virgem também — respondo, envergonhada. —
Bom, eu já conversei sobre sexo com os meus pais e tudo mais,
mas eu queria o relato de alguém que perdeu a virgindade com o
namorado.
— Bom, não éramos exatamente namorados, mas éramos
apaixonados um pelo outro.
— Vocês planejaram?
— Não. Vivíamos nos pegando pelos cantos do sítio,
éramos bem quentes e fogosos — comenta, sorrindo. — Não
houve planejamento. Quando vimos, já estava acontecendo.
Embora não tivéssemos programado, Théo nunca saiu de casa
sem um preservativo. Era engraçado. Enfim. Estávamos voltando
da cachoeira mais distante, perto dos celeiros. Estávamos no
auge do desejo, sabe? Descobrindo os pontos fracos um do
outro, descobrindo toques. Lembro que começou a chuviscar e
decidimos nos esconder no celeiro. Uma coisa levou a outra.
Começamos a nos beijar e simplesmente fluiu. Começamos
tirando as peças de roupas e foi... sem planejar, sem nada.
— Parece ter sido mágico.
— Foi mágico. Me marcou para sempre. Théo foi perfeito
comigo. — Ela se junta a mim na cama, e tudo que vejo é uma
pessoa empenhada em responder minhas questões, em ajudar.
— Bom, você e Henrico estão querendo dar esse passo?
— Eu acho que isso vai acontecer. Lógico que não será
hoje, amanhã, mas quero estar preparada para o momento. Acha
que deve ser combinado?
— De forma alguma. Acho que a expectativa e a
ansiedade são as maiores vilãs desse momento. Quando você
combina algo, aquilo se infiltra na sua mente e você começa a
ficar ansiosa, tensa, com expectativas de que será O
MOMENTO. Mas a verdade, Sophie, é que a maioria das garotas
não têm uma primeira vez satisfatória e acabam decepcionadas
por depositarem expectativas demais. Eu considero-me uma
garota de sorte. Foi por acaso que aconteceu, mas foi perfeito,
mesmo que no início tenha sentido um pouco de dor. Se tivesse
combinado, eu estaria muito mais tensa, estaria programando na
minha mente "eu vou transar, preciso criar um clima e ficar
excitada" e, sinceramente, seria muito planejado, como um robô.
Vou te dar alguns conselhos, mas o maior deles é: NÃO
PROGRAME NADA. Deixe fluir. Quando vocês estiverem no
limite, vai acontecer naturalmente, como foi comigo e com Théo.
É legal chegar ao extremo do tesão, sentir que precisa daquilo
para sobreviver. Vocês precisam estar cem por cento excitados e
desesperados um pelo outro. Te juro, isso ajuda até no alívio da
dor. Você quer tanto aquilo, que a dor é jogada para escanteio. —
Sorrio ao ouvir tudo.
— Ok. Acho que gosto dessa coisa de desespero e
necessidade extrema.
— É a melhor coisa que pode acontecer. Bom, sobre dor,
você sabe que dói, não sabe? Vai doer, Sophie, é fato. Não é
nada de outro mundo, mas há uma dor, há uma ardência no
início. Por isso é extremamente importante esse nível de
excitação que eu disse antes. Você estará mais lubrificada, mais
desconectada da dor. Outra dica, relaxar ajuda. Começou a sentir
dor? Identifique quão tensa você está e tente relaxar, foque em
beijos, carícias e relaxe seu corpo, se entregue ao sexo.
— Melhores dicas! — Me empolgo, batendo palmas.
Realmente foi uma ótima escolha ter vindo aqui.
— Bom, na primeira vez você precisa saber que talvez
Henrico esteja muito no limite e não vá demorar muito para
atingir o orgasmo. E está tudo bem. É importante que esteja
ciente para que não faça disso uma decepção. Da mesma forma
que corre o risco dele atingir o orgasmo cedo, corre o risco de
você demorar a atingir o orgasmo. Há toda aquela questão da
dor, entende? Enquanto para o cara está sendo incrível no início,
para você está sendo um pouco infernal. A boa notícia é que fica
bom. Fica realmente bom. Tanto que você se torna uma viciada
em sexo. Meu Deus... você vai querer isso o tempo todo e vai
precisar se controlar. — Começo a rir, porque eu nem fiz e já me
sinto viciada na parada.
— Espero que Henrico fique viciado também.
— Ah, você é tão fofa, Sophie! Me faz lembrar a
adolescência, onde eu era uma garota sonhadora e tinha esse
espírito selvagem, como você. Sei que já tem 21 anos, mas se
parece com uma garota de 15, cheia de dúvidas e sonhos. Isso é
tão inspirador, tão bonito, que eu mal sou capaz de descrever.
— Eva, muito obrigada por me ajudar.
— Bom, você faz uso de algum método contraceptivo?
Quer ir na médica comigo? Eu tenho uma consulta marcada.
Você pode tirar dúvidas mais teóricas se quiser. Se preparar
melhor para esse momento. Vai que Henrico não seja tão
prevenido como Théo?! Você não vai querer desperdiçar a
oportunidade única com o amor da sua vida. — Nem fodendo eu
posso correr esse risco.
— Eu quero sim ir até a médica, mas já faço uso de
anticoncepcional desde os 16 anos, para regular o fluxo e tudo
mais.
— Ok, bom, não vou insistir no uso de preservativos,
porque você o conhece, ele é virgem, é de extrema confiança. Se
fosse em qualquer outra situação, eu aconselharia a andar com
um preservativo dentro do sutiã — ela diz, rindo.
Faz sentido. É tudo tão diferente entre nós dois. Eu o
conheço melhor do que conheço a mim, então sei que posso me
entregar com segurança. Isso é uma grande vantagem que eu
nem havia pensado. Mas, provavelmente, ficarei tensa sobre o
uso do preservativo. Meus pais fizeram uma lavagem na minha
cabeça e na de Luiz Miguel. Embora... em algum momento,
quero sentir Henrico sem nada. Quero sua pele queimando
contra a minha.
— Bom... posso fazer uma última pergunta?
— Quantas quiser.
— Você acha válido eu... provocar Henrico? Quer dizer, eu
não sei. Tenho medo, mas o desejo com toda a minha alma e
necessidade. Mal começamos e estou ansiosa para podermos ir
ao menos aos toques. Merda, não acredito que estou dizendo
isso! — Cubro meu rosto com as mãos, envergonhada pela
pergunta. Eva começa a rir.
— Não fique tímida. Você está com vergonha porque
ainda não viu como eu e Théo somos despudorados. Enfim, acho
que é válido provocar sim. Fazer com que ele sinta
necessidades. É um bom jogo. Só essa roupa de malhar que
você está, já pode ser provocativa o bastante. Jogue com ele. Só
não exagere, caso ele se sinta desconfortável. Vá com calma.
Sorrateiramente. Há desejo no olhar dele todas as vezes em que
olha para você. É algo explícito. Ele pode ser virgem, inocente,
mas não é tolo, Sophie.
— Eu sinto que ele não é nada tolo. Muito obrigada, Eva,
novamente — a agradeço e fico de pé para ir embora.
Essa visita ampliou minha visão. Eu serei eternamente
grata à Eva. É como se ela fosse especialista em algo que estou
prestes a viver: a primeira vez.
Assim que entro no sítio, vou direto para a casa. Encontro
Henrico treinando boxe com Théo e solto um gemido alto. Fico o
observando socar o saco de areia e, a cada soco, dou uma
contraída vaginal involuntária.
— Deu por hoje! — Théo anuncia, retirando as luvas, e
bate o braço no de Henrico, como um cumprimento. Em seguida,
ele caminha até mim, deposita um beijo em minha testa e se vai.
Henrico me analisa de cima a baixo e fecha o semblante
no mesmo instante.
— Só vem aqui me dar um beijinho — digo, sorridente,
mas ele não sorri de volta. Estou fixada nos gominhos da sua
barriga... Meu Deus! Ele me deixa e caminha até o banheiro. Eu
vou atrás, porque não estou conseguindo entender o motivo do
mau humor. — O que há de errado?
— Você foi correr com essa roupa?
— Sim, super confortável — respondo com a minha
carinha mais angelical.
— Ok. Ok. Mas...
— Deixe de ser ciumento. Só vem aqui me dar um
beijinho, senhor mal-humorado. — O puxo pela bermuda.
— Estou suado, Sophie.
— Isso não é nada comparado à maneira que ficará
quando...
— Quando?
— Nada. — Sorrio, o observando retirar as luvas. — Eu
lamberia você inteiro agora. Eu amo seu corpo, amo esses
gominhos e esses pelinhos tão delicados.
— Você me lamberia?
— Uhum... — falo, grudando meu corpo ao dele. — Eu
quero você.
— Sophie, eu posso te beijar?
— Temos uma regra que te impede de pedir — comento,
sorrindo, e ele me beija de uma só vez. Quando suas mãos
tocam a minha cintura, eu ofego e perco a noção dos meus atos.
Me esfrego no corpo dele, o puxo para ficar tão grudado a mim
quanto é possível e o sinto começar a reagir a isso. É uma
sensação nova, diferente. Me leva a um nível de excitação
desconhecido. Quando Henrico nota o que está acontecendo, se
afasta abruptamente.
— Me desculpe por desrespeitá-la.
— Eu entendo que você ache isso desrespeitoso, mas
definitivamente não é. Nós vamos conversar sobre isso, não
podemos ficar fugindo das reações. Não quero que fiquemos
afastados porque reagimos um ao outro. Precisamos aprender a
lidar com isso. Não precisamos transar agora, Henrico, mas
podemos namorar. — Ele esfrega o rosto, sinal de puro
nervosismo. Ele sempre faz isso.
— Você é muito direta.
— Como prefere que eu diga? Ficar confortável? —
pergunto, afastando suas mãos do rosto e o encarando. — Olhe
para mim, meu amor. Você se sentirá melhor se eu me referir ao
sexo como "ficar confortável" ou "se sentir confortável"? — Ele
balança a cabeça positivamente. — Está tudo bem. Eu entendo
você. — Sorrio. — Não há uma pressão sobre ficarmos
confortáveis, ok? Eu só quero namorar com você.
— Está bem. Eu te amo — diz, me puxando para um
abraço. — Ao infinito e além.
— Também te amo, menino mais bonito. Vamos tomar
banho? — o convido, me afastando.
— Juntos? — Resolvo ser um pouquinho maquiavélica e
testá-lo.
— Lógico. Nós dois. Nus. Juntos. O sabonete
escorregando entre nossos corpos. Vem forte com emoção...
— Sophie, é muito difícil ser seu namorado, ok? Muito
difícil! — protesta e sai andando apressado, gritando "muito
difícil". Eu fico rindo.
Nos EUA, as pessoas costumam usar termos de beisebol
para explicar as fases de uma relação. Temos a primeira base,
segunda base, terceira base e a quarta base, que é conhecida
como home run. Em uma partida de beisebol, o home run é o
ponto culminante. Pode ser comparado ao gol em uma partida de
futebol.
A primeira base é como se fosse uma preliminar ao
grande home run. O início da corrida para um fim. Em um
relacionamento, a primeira base é quando os beijos começam.
Inofensivos, repleto de descobertas, nada muito extremo. É como
se fosse um teste de compatibilidade, visto que é através de um
beijo que você consegue captar se há conexão ou não com a
pessoa.
Na segunda base é quando as coisas começam a
esquentar de fato. Os beijos tornam-se mais calientes, ousados,
é quando os toques e as explorações começam a acontecer, a
respiração começa a ficar mais ofegante. Onde, possivelmente,
eu poderei tocar os seios de Sophie e sentir seus mamilos. Tenho
curiosidades sobre os mamilos dela.
A terceira base é ainda mais extrema. É quando de fato as
coisas estão prestes a transbordar. O filme passando na TV
deixa de ser notado, a exploração aumenta, há estímulos por
todas as partes, só conseguimos focar nas ações e reações da
parceira, e quando começa uma exploração oral, como sentir o
piercing no clitóris de Sophie entre os meus dedos, sentir o sabor
que a vagina dela possui, ter meu pênis sendo explorado pela
boca de Sophie, masturbações. Mas, ainda assim, não fazemos
sexo. Eu não sei se posso suportar essa base. Pensar nisso me
faz ter crise de pânico.
A quarta base é a grande corrida. É quando você correu
bravamente por todo o caminho e é chegado o momento de
ganhar uma "medalha": o sexo. Quando eu atingir essa base,
significa que eu e Sophie não seremos mais virgens. E significa
que eu terei vencido todos os medos para esse momento
acontecer. Talvez signifique também que eu me torne um louco
obsessivo. Se estou viciado em beijos, eu imagino como será
assim que ficar realmente confortável com Sophie. Deve haver
alguma maneira de controlar e eu preciso pesquisar sobre esse
assunto.
Eu não sei se posso fazer isso. Não sei se posso passar
da primeira base. Estou com medo agora. Sophie tem um
erotismo natural. Ela está disposta a me estimular sexualmente o
tempo todo, de maneira implícita, e parece que todas as vezes
que ela faz a sua carinha de anjo, a minha situação piora. A acho
extremamente sexy quando quer passar a imagem de moça
comportada, isso é algo que me desestabiliza e me causa
sensações, as quais ainda não estou habituado. É por isso que é
difícil ser namorado dela. Ela parece muito mais preparada que
eu.
Eu realmente queria que uma frente fria chegasse em São
Roque com força total, apenas para que ela pudesse vestir
roupas mais comportadas, assim eu conseguiria manter meus
olhos e meus pensamentos seguros. Eu tenho enfrentado
pensamentos muito assustadores em todos os momentos que
olho para a minha namorada. Agora, por exemplo, o sol acaba de
se pôr, e ela está sentada em um banco de madeira, usando um
vestido completamente inapropriado para os meus olhos. Sei que
ela está dizendo coisas, mas o meu foco está completamente
dirigido à alça do vestido que está caída, deslizando pelo seu
braço. Se caísse um pouco mais, eu poderia ver os seios dela. O
pouco que estou vendo através do decote, é o bastante para me
deixar duro. Sem contar que ela está com as pernas levemente
abertas.
Meu Deus! Sophie com as pernas abertas me faz querer
ficar muito confortável. Eu nem sei para qual parte do corpo dela
eu devo focar a minha atenção. Sophie parece gostosa. Muito
mais gostosa que um pedaço de torta de chocolate recheada
com leite Ninho.
Estou muito vidrado nos seios dela, tanto que noto que há
algo apontado embaixo do tecido. Os mamilos dela estão
intumescidos. Uma pesquisa que li disse que, se soubermos
como estimular os seios de uma mulher, é provável que ela tenha
um orgasmo intenso durante a penetração ou masturbação.
Disse também que é possível fazer uma mulher atingir o orgasmo
se dedicarmos um tempo a eles. Além disso, aprendi que a área
de sensibilidade não está apenas no mamilo, em torno dele
também.
Observá-los, faz com que meu corpo fique quente. Tenho
certeza de que uma gota de suor acaba de escorrer pela minha
nuca.
O mais incrível é que, sem saber, Sophie faz com que eu
me sinta normal, como se eu pudesse ser como todos os demais
garotos, como se eu pudesse tê-la como um garoto normal.
Talvez eu seja normal — se sentir todas essas coisas significar
isso.
Ela fica de pé, de repente, e eu sinto meus batimentos
cardíacos acelerarem quando ela se vira de costas, deixando-me
frente a frente com sua bunda. Sim, muito mais gostosa que
qualquer comida que eu já tenha provado. Mas compará-la com
alimentos parece inapropriado. Eu não tenho com o quê
compará-la, isso é desconcertante.
Quando ela se vira para mim, praticamente sou pego em
flagrante. Noto isso através do sorriso que ela dá.
— Ei, namorado, todos vão sair essa noite. Que tal
assistirmos um filme?
— No meu quarto? — pergunto por pura curiosidade.
— Sim. Na sua cama.
— Deitados?
— Com certeza sim — ela responde, sorrindo.
— Eu acho melhor sairmos com a turma. Minha mãe pediu
que eu me esforçasse e sinto que é o mais seguro — explico.
— Seguro? Por que é mais seguro sair do que ficar em
casa? Não entendi a lógica.
— Rodeados de pessoas eu não poderei te desrespeitar.
Não poderei ficar excitado. — Ela arregala os olhos e eu não
compreendo. — O que foi?
— Depois você diz que eu quem sou muito direta.
— Sophie, você é muito direta — reafirmo.
— Nós nunca iremos namorar quando estivermos
sozinhos?
— Iremos. Vamos morar juntos. — Dizer isso faz com a
perspectiva caia fortemente sobre mim. Como vou morar sob o
mesmo teto que Sophie? — Como iremos morar juntos?
— Morando — ela responde, animada. — Será muito
incrível morar com você. Vamos dormir no mesmo quarto!
— O quê? Não! — digo e ela me puxa pela camisa,
fazendo com que eu fique de pé.
— Por favor?
— Por que você me pede assim? Eu não quero magoá-la,
mas não acho que isso será uma boa ideia. Eu preciso de
privacidade em alguns momentos.
— Para fazer o quê? — pergunta.
— Eu preciso me masturbar. Acontece à noite, na maioria
das vezes.
— Senhor da glória, Henrico! Você não pode falar essas
coisas! — adverte e me sinto completamente constrangido por ter
dito.
— Me desculpe, Sophie. Eu só pensei que se encaixava
na regra número 2, por isso disse.
— Não! Não... É apenas por ser tentador o bastante ouvi-
lo dizer. É claro que se encaixa na regra número 2, não pense
que estou podando suas palavras. Você pode falar isso comigo
sempre, apenas comigo, ok? Ninguém mais pode ouvir essas
revelações. Comigo você não precisa filtrar as palavras, apenas
com as demais pessoas. Somos um casal e isso faz parte da
nossa intimidade. — Balanço a cabeça em concordância. —
Casais que moram juntos costumam dormir juntos. Eu posso te
ajudar...
— Me ajudar em quê? — pergunto e ela aproxima sua
boca até o meu ouvido.
— Eu posso tocar você... você pode me tocar também —
sussurra.
— Essa é a terceira base. Nós nem entramos na segunda.
Eu preciso tocar seus seios.
— Eles estão aqui, esperando pelo seu toque — ela diz,
fechando as mãos em torno deles. Franzo minha testa e observo
como ela os aperta. Balanço a minha cabeça, repleto de
pensamentos conflitantes. — Vai, diga que é muito difícil namorar
comigo.
— É muito difícil namorar com você, Sophie. — Ela sorri e
traz as mãos para meu rosto. — Você é a menina mais gostosa
do mundo. Quer dizer, você é a menina mais bonita do mundo,
Sophie. Me desculpe por ser desres... — Me calo quando ela
rouba um beijo. Toco a cintura dela, mas não me parece o
suficiente.
Quando meus lábios estão nos de Sophie e nossas
línguas estão em contato, algo dentro de mim se agita. Os lábios
dela são suaves, e os meus estão dispostos a acabarem com a
suavidade. Meu coração richicoteia forte e eu percebo como um
beijo tem a capacidade de fazer com que eu me sinta vivo,
realmente vivo. É como se todo o meu passado deixasse de
existir, como se antes eu não tivesse vivido. Beijar Sophie me faz
renascer para as descobertas, para a vida. É uma das
experiências mais fantásticas da vida.
A intensidade me faz estacar, eu me pego afastando
nossos lábios quando noto que estamos indo atingir um novo
nível. Sophie gruda a testa na minha, com os olhos fechados, e
suspira como se sentisse dor pelo afastamento. Eu a entendo. Eu
sinto dor por desejá-la tanto, e ela parece sentir também.
— Vamos nos arrumar para sair com a turma, então? —
pergunta ainda com os olhos fechados.
— Sim, vamos.
E é o que fazemos.
Eu tomo um banho frio, visto uma roupa e encontro a
turma toda na sala.
Théo e Eva vão discutindo por todo trajeto até o bar do
Tião, e isso me faz ficar atento. Eu me pergunto se eu e Sophie
também iremos discutir.
— Você pode estar grávida, Eva. Está exagerando na
merda da bebida!
— Eu não estou grávida, Théo! Não sou irresponsável e
nem mesmo estou bêbada. Pelo amor de Deus! O que pensa que
eu sou?
— Você pode sim estar grávida! Temos feito sexo
excessivamente, sem proteção alguma. Enquanto estivermos
tentando um bebê, eu acho que você deveria se controlar um
pouco. Já tivemos essa conversa.
— Eu só estava comemorando a chegada de Hadassa,
não bebi mais de três doses pequenas de cachaça, se quer
mesmo saber. Pare de desconfiar de mim o tempo todo. — Eva
está nervosa e eu não quero mais prestar atenção na discussão.
É ruim.
— Você quer ter um bebê? — pergunto à Sophie.
— Sim, quero muito.
— Sophie, eu não sei se quero ter um bebê — confesso,
temeroso, e ela sorri enquanto aperta minha mão mais forte.
— Relaxe, menino mais bonito. Eu não quero ter um bebê
agora, sou muito novinha. Quero ser mãe por volta dos 29 anos.
Tenho muito tempo para tentar convencê-lo a me dar um bebê.
— Eu não sei se posso fazer isso, Sophie. É muito
confuso pensar sobre bebês. Preciso comprar preservativos para
quando... você sabe... — Sophie sorri, tira algo de seu bolso e
coloca sobre a minha mão. É um preservativo.
— Eu tenho um — justifica ao ver meu olhar questionador.
— Nunca sabemos quando irá acontecer, precisamos estar
sempre prevenidos. Quer usar?
— Oh, merda! — exclamo, aturdido e confuso.
— Esqueça isso, vamos nos divertir, namorado! — Ela
pega o preservativo da minha mão e o guarda novamente no
bolso.
Eu sempre escutei meu pai dizendo que minha mãe seria
o motivo da morte dele, acho que posso dizer que Sophie será o
motivo da minha morte.
Quando chegamos no bar, há algumas pessoas. Sophie já
parece familiarizada o bastante. Ela cumprimenta a todos, e eu
me mantenho calado. Não gosto de pessoas que não conheço.
Não me sinto à vontade perto delas. Nem sempre consigo forçar
ser sociável.
Sophie e Eva vão ficar juntas, enquanto fico com os
garotos. Eles pedem cerveja, eu peço um suco e nos
acomodamos. As duas garotas escandalosas que conheci
quando cheguei a São Roque, dias atrás, surgem e vêm em
nossa direção.
— Olá! Essa é uma mesa de responsa — a garota de
cabelos negros diz.
— Vanderléia, que bom revê-la! — Samuel a cumprimenta.
Elas vão dando beijos no rosto de todos, isso me deixa
tenso, principalmente quando vejo que serei o próximo. Quando
se aproximam de mim, apenas levanto minha mão, as impedindo.
— Não podemos te cumprimentar? — a loira pergunta.
— Não conheço você e não estou interessado em
conhecer. Não gosto de pessoas novas. Me desculpe.
— Credo! Que grosseiro! Você é um idiota?
— Você é uma idiota! — Sophie surge, sentando-se em
minhas pernas. — Ele já disse que não quer conhecê-la, isso não
faz dele um idiota. Talvez faça dele um homem muito esperto e
seletivo. Ninguém é obrigado a socializar com todos.
— Théo, seus novos amigos são muito mal-educados —
Vanderléia diz antes de se afastar com a amiga.
— Você está bem? — Sophie pergunta, segurando meu
rosto entre suas mãos. — Você não é um idiota.
— Eu sei. Estou bem. Eu saberia me defender —
comento, sorrindo.
— Ok, voltarei para Eva. — Ela beija a ponta do meu nariz
e se vai, então todos estão me observando.
— Sabe que está com sérios problemas, não sabe? —
Luiz Miguel pergunta.
— Por quê?
— Sophie é uma mistura muito louca da minha mãe e do
meu pai. Isso significa que há muito ciúme, doses cavalares de
possessividade, excesso de proteção. Ela está lá do outro lado,
mas está atenta a tudo — me explica, rindo. — De qualquer
forma, mesmo sabendo que você está fodido, eu estou feliz que
estejam juntos.
— Obrigado?
— Acho que sim — responde, sorrindo.
— Aoooo, Hadassa!!! Minha esposa!!! — Samuel grita e
olhamos para a mulher que acaba de surgir no bar. É a mesma
que ele estava pedindo em casamento ontem à noite, o que é
bastante estranho. Como ele pode pedir em casamento alguém
que ele não conhece? Eu não entendo algumas ações dos seres
humanos.
Hadassa é uma garota bonita, mas ela se veste como se
estivesse em um baile ou algo assim. De qualquer forma, minha
Sophie é muito mais linda nesse mundo.
— Vou te mostrar como as meninas gostam de ser pegas,
Henrico! — meu irmão anuncia, ficando de pé. — Preste atenção
e repita tudo com Sophie. Ela vai gostar.
— Que bosta! — Luiz Miguel parece não gostar da ideia
de Samuel, mas eu gosto. Eu preciso saber como as meninas
gostam de ser "pegas", por isso fico atento a ele.
Ele se aproxima de Hadassa, a puxa pela cintura, leva
uma mão por trás dos cabelos dela e a beija de uma maneira
inapropriada para o ambiente. Observo cada detalhe e como ela
reage a ele. Seus corpos agora se aproximam muito mais, ela
tem as mãos na cintura dele. Eu o vejo praticamente puxar os
cabelos dela e fico um pouco chocado com a ação,
principalmente porque ela parece não sentir dor, e sim gostar do
ato. Talvez Sophie vá gostar se eu puxar os cabelos dela assim,
eu preciso experimentar.
A mão livre dele está bem próxima à bunda de Hadassa, e
dá para ver que ela está enrolada em torno do vestido da garota,
com força. Quando ele, de repente, se afasta, ela parece em
choque completo. Eu penso que ele vá levar um tapa na cara,
mas não é o que acontece. A garota o empurra até a parede e
então é ela quem começa a "pegá-lo". Eu chego a cobrir meus
olhos quando vejo uma mão dela avançar para um lugar
inapropriado...
— Ok, alguém precisa detê-los. Já passaram dos limites
— Luiz Miguel anuncia, ficando de pé e indo até eles. Eu
finalmente posso abrir meus olhos.
— Uma boa aula, hein? — Théo comenta.
— As mulheres gostam de ser pegas assim? — pergunto,
deixando a vergonha de lado. A curiosidade está sobressaindo
agora. Eu preciso saber.
— Muito. Você não imagina o quanto. Nada mal para um
primeiro beijo deles.
— Esse foi o primeiro beijo deles? — Merda! Eu acho que
meu primeiro beijo foi muito ruim!
— Sim — Théo diz, rindo, mas não há graça. O meu
primeiro beijo não foi nem perto do primeiro beijo de Samuel e
Hadassa.
Preciso muito falar com Sophie, mas espero para falar
quando voltarmos para casa.
Ela vai até o quarto vestir um pijama e, quando volta ao
meu quarto, eu a pego pela cintura.
— Deus! — exclama.
— Sophie, você gostou do nosso primeiro beijo?
— Foi apenas o mais perfeito do mundo, menino mais
bonito. Eu nem saberia como descrevê-lo — responde.
— Ele foi diferente do beijo que Samuel deu em Hadassa.
Aquele foi o primeiro beijo deles.
— Foi diferente, mas eu não trocaria o nosso primeiro
beijo por aquele.
— Eu posso testar? — peço.
— O quê? Como? Você...
— Eu não preciso pedir, está nas regras. Me desculpe por
pedir.
Levo minha mão por entre os cabelos dela, a puxo mais
forte contra o meu corpo e a beijo. É intenso, quente, e Sophie
não reage como Hadassa. Ela é mais ousada e traz suas mãos
para dentro da minha camisa. Estou a beijando, mas atento a
todos os toques. Meu corpo todo responde quando as unhas dela
arranham minhas costas. Me faz ter calafrios e um som rouco
escapa da minha garganta. Ouço Sophie ofegar, e é gostoso.
Meu aperto nos cabelos dela aumenta, e ela afasta nossos lábios
para gemer. É muito louco como me arrepio por completo ao
ouvir o som. Quanto mais duro fico, mais Sophie se esfrega
contra o meu corpo, como se isso pudesse salvá-la de algo. Ter o
corpo dela roçando ao meu, quando estou duro, causa uma
sensação diferente. Sinto vontade de levá-la para a cama, sinto
vontade de fazer um monte de coisas que não me sinto
preparado. Me afasto tão ofegante quanto ela está.
— Meu Deus do céu! Santa Josefina! Estou
hiperventilando! Você disse algo sobre base... que base é essa
de agora?
— Acho que acabamos de entrar na segunda. É um pouco
mais quente que a primeira.
— Ok, o que podemos fazer nessa segunda base? — ela
questiona, puxando os cabelos com as mãos e andando de um
lado para o outro.
— Beijos mais ousados, alguns toques, mas apenas da
cintura para cima. Eu posso tocar seus seios — explico.
— Tudo bem. Bom, eu posso tocar em você da cintura
para cima, você pode me tocar da cintura para cima. Entendi. E
sobre tocarmos nosso próprio corpo? Não há nenhuma regra
sobre você tocar o próprio corpo e eu tocar o meu próprio corpo
da cintura para baixo, não é mesmo?
— Eu... eu não sei. Posso pesquisar. O que você quer
fazer?
— Merda, eu sou um rolo compressor prestes a te
atropelar — choraminga, se jogando na cama. — Eu te amo,
Henrico. E amo a sua inocência também. Me desculpe por ser
louca.
— Você não é louca, Sophie. Você é a menina mais bonita
do mundo.
— Oh, meu Deus! Eu te amo tanto!!! — ela grita, saltando
da cama e vindo me abraçar. — Eu te amo, muito, muito, muito
mesmo. Te amo demais. Você é o meu infinito e além dele.
— Você é muito linda.
— Vamos com calma, ok? Vamos procurar um filme? Eu
posso fazer pipoca — sugere.
— Tudo bem. Eu vou apenas tomar um banho.
Só saio do banheiro após conseguir conter a excitação,
mas a calmaria não dura o bastante. Ficar perto de Sophie
parece causar mais reações do que posso lidar.
Meu namorado está fugindo de mim. Me dou conta disso
assim que acordo e descubro que ele não está mais no quarto.
Não fico magoada. Simplesmente começo a rir, porque é a coisa
mais engraçada do Universo ver Henrico desconfortável e
fugindo das "reações", como ele mesmo diz.
Talvez eu seja diabólica demais.
Aliás, ele, o garoto que leva tudo ao "pé da letra" e vive a
vida no sentido literal, anda cheio de novos significados para
determinados termos. Ficar confortável, reagir... essas palavras
ganharam novos significados para mim.
Me levanto, arrumo a cama, faço minha higiene matinal e
vou em busca dos seres humanos que habitam esse sítio. Estão
todos reunidos do lado de fora, numa espécie de reunião.
— Eu preciso falar com Sophie antes de ir. — Ouço
Henrico dizer. Ele está no modo "sou um homem de negócios" e
isso é muito surpreendente. Ele vai de maduro à inocente, e eu
fico perdida em qual versão eu gosto mais.
Ele está vestindo uma camisa branca, calça jeans e tênis.
Está usando boné, óculos estilosos e há uma bandana amarrada
em seu pulso. Ele, o cara que odeia celular, tem um em sua mão
agora. Meu namorado é de longe o mais gostoso e mais bonito
do mundo.
Como ninguém me viu, corro para a cozinha e espero que
ele venha me procurar. Enquanto isso, pego um pouco de salada
de frutas e me acomodo em uma banqueta. Logo Henrico surge
e um sorriso se alarga em meu rosto.
— Ei, menino mais bonito.
— Ei — responde, se aproximando e me dando um
abraço. Eu vou mais longe. Retiro seu boné, seus óculos e o
puxo para um beijo na boca, porque não há nada mais tentador
que a boca desse homem. Enquanto suas mãos descansam em
meu pescoço, as minhas estão presas firmemente na camisa
dele. Nos beijamos até perder o fôlego. Quando nossos lábios se
afastam, nossas testas se encontram e tentamos lidar com a
intensidade que um único beijo é capaz de trazer. Não sabia que
beijar poderia ser algo tão arrebatador e intenso, há até lágrimas
em meus olhos agora. Ou talvez isso só aconteça conosco. Não
sei absolutamente nada sobre isso. — Você é muito linda — ele
diz, se afastando.
— Você sente a intensidade? — pergunto e ele balança a
cabeça positivamente. — Imaginou que seria assim?
— Não. Por que está chorando?
— Eu não sei — explico, limpando as lágrimas. — Eu te
amo.
— Também amo você. Não precisa chorar. — Ele é tão
fofo. — Te amo muito, Sophie. Não chora, tudo bem?
— Tudo bem, meu amor. — Respiro fundo. — Por que
está todo arrumado assim?
— Estava indo te acordar para contar. Eu, Luiz Miguel e
Samuel vamos para o Rio de Janeiro — fala, o que faz com que
meu coração falhe algumas batidas. — Preciso pegar algumas
coisas pessoais para trazer. Só trouxe meu laptop e preciso que
meu computador esteja aqui para eu trabalhar. Eva acabou de
trazer as coisas dela essa manhã. Samuel vai porque precisa
falar com a tia Dandara e também precisa pegar algumas coisas.
Você quer ir ou quer ficar para organizar tudo? — Solto todo o ar
que estava prendendo. Eu não sei se quero ir ou se quero ficar e
arrumar a casa que iremos morar. Agora estou com uma
tremenda dúvida.
— Vocês vão de carro?
— Vamos.
— Quantos dias pretendem ficar lá?
— No máximo, dois, ou um pouco mais, se for necessário.
— Eu penso, repenso e chego à conclusão que também preciso
pegar alguns itens pessoais. Além disso, estou com saudade da
minha mãe.
— Eu vou — digo e ele sorri, visivelmente satisfeito com a
notícia. — Podemos ir no meu carro? O carro de Samuel é de
playboy e certamente ficará apertado.
— Podemos. — Salto da banqueta e me jogo nos braços
dele.
— É a nossa primeira viagem assim. Estou animada! Vou
vestir uma roupa e já volto! A propósito, acho que deveria vestir
algo de frio. Só consigo viajar com ar-condicionado ligado — falo,
beijando as bochechas dele e saio correndo.
Nos encontramos meia hora depois, em frente ao meu
carro.
— Você quer dirigir? — pergunto a ele.
— Sophie, eu tenho habilitação, mas tenho medo. Você
sabe disso. Eu posso ter uma crise e, quando acontece, minha
visão fica embaralhada e eu fico muito nervoso...
— Geralmente você tem suas crises sozinho, em casa.
Aliás, elas diminuíram muito com o passar dos anos —
argumento. — A questão é que você não acredita em si mesmo e
eu entendo isso, acredito que deva ser extremamente difícil se
sentir incapaz, porém, você não é incapaz. Precisa acreditar mais
em si mesmo. Você é capaz de tudo, Henrico. Não há nada que
você não possa fazer. Que tal começarmos a treinar a sua
mente, que é a maior responsável por se limitar tanto? O que
acha de dirigir ao menos até a saída da cidade?
— Eu posso fazer isso. — Sorrio com a resposta e entrego
a chave para ele.
Sou incapaz de contabilizar quantos avanços Henrico tem
dado. Samuel disse que ele queria sair da zona de conforto, e vê-
lo se esforçando é a coisa mais fantástica. Tia Paula ficaria tão
orgulhosa de acompanhar essa evolução de perto. Sinto que
terei que fazer um resumo completo desses avanços para ela. É
algo lindo de se ver.
Durante muitos anos, Henrico foi um garoto muito fechado.
Vê-lo mais leve e disposto é inspirador. Eu queria saber o que
está o movendo. Mas deixo de pensar nos porquês e me
concentro nas ações. Quando ele começa a dirigir, me sinto
extremamente orgulhosa.
Samuel está no carro à nossa frente, mas ele encosta
quando vê a tal Hadassa. Eu sinto uma tremenda vontade de rir
ao ver a cara que ela faz ao ver o carro de Samuel. Não que eu
ache que ela seja interesseira ou algo do tipo. É que a garota é
altamente sofisticada e Samuel é altamente simples, de forma
que você nunca será capaz de imaginar que por trás dessa
simplicidade há um garoto extremamente rico. Acho que ela não
imaginava que ele poderia ter uma Lamborghini. Os carros aqui
não são tão sofisticados. A maioria dos moradores tem picapes,
caminhonetes, Jeeps. Uma Lamborghini é, no mínimo, exótica e
chamativa o bastante.
— Pode seguir, Henrico. Não vamos ficar parados vendo
Samuel namorar. Logo ele nos alcança.
Seguimos viagem e ele nem nota que já passamos da
saída da cidade há alguns minutos. Simplesmente deixarei que
ele leve até onde for capaz. Felizmente, sou boa em lê-lo,
saberei caso ele esteja chegando ao limite.
Henrico fica quente e gostoso dirigindo. Tudo bem que
isso é uma atividade "normal", mas ele faz parecer sexy. Me
pego vidrada nas mãos dele em torno do volante. É normal sentir
tesão observando mãos?
Que baboseira! Só de Henrico respirar minha calcinha vira
a própria cachoeira do sítio.
Ele dirige por incríveis 4 horas, até fazermos a primeira
parada.
— Uau, Sophie! — ele exclama ao estacionar o carro. —
Foi a vez que mais dirigi.
— Eu disse que você era capaz. Pode ser assustador
dirigir com aquele trânsito horrível do Rio de Janeiro, mas creio
que em São Roque e em estradas, será muito mais
descomplicado para você. Poderá dirigir com maior frequência.
— Sophie, é você — diz, olhando para frente, sem
coragem de me encarar.
— Eu?
— Eu... eu só consegui porque você estava comigo. —
Não vou chorar! — Quando você está comigo, sinto que não há
nada que eu não seja capaz de fazer. Você pode ficar comigo
para sempre?
— É tudo o que mais desejo nessa vida. E eu digo isso do
fundo do meu coração, do fundo da minha alma. Ficar ao seu
lado é tudo que eu mais desejo na vida, Henrico. Sempre foi.
Quando você está comigo, é quando me sinto mais viva.
— Sophie, eu não sei explicar todas as coisas que sinto
por você, ok? É muito complexo — fala, apertando o volante.
— Não preciso de qualquer explicação. Só fica comigo
para sempre, ok? Para sempre!
— Ok. — Sorrio e retiro as mãos dele do volante.
— Respire. Não fique tenso. Vamos comer algo bem
gostoso? Estou com fome. — Ele balança a cabeça
positivamente e descemos do carro.
Samuel e Luiz Miguel logo se juntam a nós. E sou eu
quem dirijo o resto do trajeto.

É noite quando chegamos na casa do tio Lucca, mas


Henrico não parece feliz com isso.
— Chegamos, companheiro de viagem! — digo, sorrindo e
retirando o meu cinto.
— Você não vai descer?
— Meus pais estão esperando por mim e por Luiz Miguel
— explico. — Mas amanhã eu venho roubar alguns beijos. Sou
uma viciada. — Ele segura meu rosto entre as mãos e me beija
delicadamente.
— Eu te amo, Sophie.
— Eu também te amo, menino mais bonito. Ao infinito e
além dele. — Sorrio quando vejo sua relutância em me deixar.
Mas ele faz. Ele desce, pega a mochila no banco de trás e se vai.

Quando chego em casa, saio correndo para os braços da


minha mãe.
— Minha princesinha! — ela diz, radiante, e meu pai se
junta ao abraço. Por obra do destino, Luiz Miguel surge logo em
seguida e damos um abraço de sanduíche, os quatro. — Meus
passarinhos voltaram para o ninho! Um dia vocês terão filhos e
entenderão o que significa um momento como esse, agora
apenas fiquem aqui, com a mamãe.
Depois de dias de pura agitação, esse abraço é
reconfortante. A calmaria de estar sob a proteção dos meus pais
e ao lado do meu irmão é bem-vinda!

— AHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!! — O grito da minha


mãe ao me ver é estridente. Faz com que eu cubra
automaticamente os ouvidos. — Me desculpa por gritar, estou tão
feliz! — ela diz, me puxando para um abraço e enchendo meu
rosto de beijos. Ela sempre faz isso, é um pouco estranho, mas
não consigo impedi-la.
— Meu parceiro de crime! — Meu pai surge, sorridente, e
me puxa dos braços dela.
Estou nervoso. Não sei se consigo ficar longe de Sophie
agora. Iria viajar sem ela, mas, provavelmente, teria desistido no
meio do caminho. Agora que ela se foi, me sinto claustrofóbico.
Ela não está ao meu alcance.
Meus pais se afastam e eu pego o elástico em meu bolso.
Não me importo com a maneira como eles estão me observando
agora.
— Está tudo bem, filho? — minha mãe pergunta.
— Acho que sim. — Ela sorri, mas sei que sabe que há
algo de errado comigo. Não tenho como dizer a ela. Eu preciso
me esforçar. Minha mãe está com saudades de mim.
— Ok. Que tal jantarmos?
— Olha quem chegou! — A voz da minha irmã preenche o
ambiente e eu quase reviro os meus olhos ao vê-la. Ela vem me
abraçar, mas não consigo retribuir. Ela é estranha. — Eu senti
sua falta, pequeno príncipe. Não quero que vá embora. Não há
qualquer pessoa para eu atormentar agora.
— Por que gosta de me atormentar? — pergunto.
— Porque é divertido — ela responde, rindo. — Não vai
me abraçar?
— Não.
— Mas você abraça Sophie e sei que agora ela é sua
namorada — minha irmã argumenta.
— Mas você é estranha. Sophie não é estranha.
— Ok, Henrico, peça desculpas a sua irmã, agora —
minha mãe ordena. — Não deve chamá-la de estranha!
— Yaya, me desculpe. Mas só estou pedindo desculpa
porque a nossa mãe ordenou. Não me sinto arrependido por
nada.
— Eu te desculpo. Sei que me ama — minha irmã fala,
sorrindo, e me dá um beijo molhado na bochecha.
— Isso é nojento! — esbravejo e vou ao banheiro lavar
meu rosto e minhas mãos.
Nós jantamos conversando sobre São Roque, mas,
quando estamos comendo a sobremesa, o assunto muda para
Sophie.
— E então, filho, como está sendo namorar? — minha
mãe indaga.
— Estranho — confesso.
— Por que estranho?
— Eu amo Sophie e ela é a minha melhor amiga. Eu me
mantinha um pouco distante porque sentia reações, agora não
tenho como me manter distante mais, porque ela é a minha
namorada. Eu tenho que sentir reações perto dela, é um pouco
desconcertante. — Minha mãe sorri com a resposta.
— Reações seria ficar excitado? — Yasmin pergunta, para
a minha surpresa.
— Eu não posso falar isso com você.
— Pode sim, sou sua irmã. — Yasmin é estranha. Ela é
mais nova, mas parece mais velha. Eu acho isso muito estranho,
ela é muito adulta. — Vamos lá!
— Acho que sim — digo baixo.
— Vocês já transaram? — pergunta, animada com a
temática do momento.
— Você sabe o que é transar? — questiono e minha irmã
começa a rir.
— Filho, Yasmin namora com Thomaz há quase quatro
anos. Ela e ele têm relações sexuais — minha mãe explica e
meu pai faz um som de desagrado.
— Para minha tristeza, é claro — ele comenta.
— Mas ela só tem 17 anos — argumento.
— Eu estou aqui — minha irmã diz. — E sim, eu tenho 17
anos e não faz muito tempo que tenho relações. Poucos meses
— me explica. — É normal, Henrico. Não tem uma idade certa
para isso.
— Faz sentido, porque em uma das pesquisas que fiz, diz
que as garotas costumam perder a virgindade aos 17 anos de
idade — argumento. — Menos Sophie.
— Você tem 22, Sophie 21. Hein? — minha irmã diz
sugestivamente.
— Eu ainda não me sinto confortável, principalmente para
falar sobre isso com você.
— Tudo bem. Eu sou sua irmã. Se quiser conversar sobre
isso, basta me chamar. Quero ser sua amiga. — A vejo limpar
lágrimas dos olhos antes de nos deixar.
— Por que ela está chorando?
— Filho, Yasmin é sua irmã e você a ignora bastante. Seu
namoro com Sophie foi o assunto que ela encontrou para se
aproximar. Se você está mesmo se esforçando para sair da zona
de conforto, acho que deveria deixá-la fazer mais parte da sua
vida. Você, melhor que todos nós, sabe como é ruim se sentir um
pouco excluído. Todos sempre fizeram o possível para te incluir
em tudo, por que não retribui ao menos à sua irmã? Yaya te ama.
Não vamos forçá-lo a nada, é só uma dica — minha mãe diz. —
Agora me diga, quais os seus planos? Vamos para Ilha amanhã!
— Mas... eu iria embora amanhã ou depois.
— Passe o final de semana na Ilha e depois vá, por favor!
Estou com saudades e nem conversamos direito sobre todas as
mudanças. Por telefone não tem graça — minha mãe suspira. —
Victor e Melinda também vão. Provavelmente, Sophie vai querer
ir. O que acha?
— Aí eu posso ir — respondo e meus pais riem.
— Vem, vamos para a sala. Quero saber tudo sobre você
e Sophie! — Ela sai me puxando para a sala e nos acomodamos
no sofá. Pareço estar sendo entrevistado pelos meus próprios
pais. — Me conte tudo!
— Eu disse a ela que eu a amo como namorada. Ela disse
que me ama também. Nos beijamos. No começo foi estranho.
Quer dizer, foi bom, mas estranho. O segundo beijo foi diferente,
teve língua. E então, apenas fica diferente cada vez mais. Parece
mais intenso e me sinto desesperado.
— Interessante — meu pai fala, sorrindo.
— Isso é normal, não é? — pergunto, receoso.
— É claro que é. O primeiro a gente vai com medo, mas
logo em seguida parecemos ter nascido para beijar e só vai
melhorando, vai ficando mais intenso. Está tudo certo — ele me
tranquiliza.
— Eu não posso dizer tudo. Sophie e eu temos regras.
Nossa intimidade é apenas nossa, ninguém pode saber —
explico para eles. — Mas tenho dúvidas.
— Oh, sim. Entendo o que Sophie quis dizer e ela está
certa. A intimidade de um casal deve ser mantida em segredo.
Não seria legal contar para as pessoas sobre a sua intimidade
com Sophie, apenas coisas bobas. Quando digo intimidade,
quero dizer sobre a relação sexual dos dois. Isso deve ser
mantido apenas para vocês, mesmo que talvez não tenha
acontecido ainda. Todo o processo até chegar a esse ponto deve
ser mantido apenas entre vocês — meu pai diz. — Mas, sobre
dúvidas, eu e sua mãe estamos sempre aqui. Você pode tirar
dúvidas sobre sexo, só deve resguardar Soso, porque precisa
protegê-la sempre. Sabe que pode nos procurar sempre, não
sabe?
— Eu sei. Eu protejo Sophie, pai. Sempre vou protegê-la.
Mas entendo que algumas descobertas serão apenas nossas e
que não há nada ou qualquer pessoa que possa nos ajudar.
— Sabe, é exatamente isso, filho — minha mãe comenta.
— Não temos um manual para seguir, tampouco as pesquisas
podem ajudar muito. De certa forma, até podem, mas apenas na
teoria. Na prática é tudo muito diferente, é uma descoberta sua e
de Soso, e vai acontecer naturalmente, mesmo que agora pareça
assustador para você. O mais difícil você já fez.
— O quê? Eu não fiz nada ainda.
— Dar o primeiro passo. Você fez isso. Deu o primeiro
passo — explica, sorrindo. — Ter atitude de dar o primeiro passo
é uma das coisas mais difíceis da vida, filho. Não apenas
tratando-se de namoro, mas em tudo na vida. O primeiro passo é
tanto o mais difícil, quanto o mais importante. Ele pode não te
levar diretamente aonde quer chegar, mas ao menos ele te
impulsiona a seguir adiante. No seu caso, ele te tirou da zona de
conforto, então tudo será mais fácil, por mais que não seja capaz
de enxergar agora. Você já se declarou para Sophie, já a beijou,
é só continuar caminhando, entende?
— Sobre base, nós estamos em qual? — meu pai
pergunta, sorrindo. É algo meu e dele, um assunto de garotos.
Minha mãe certamente não entende, porque está nos olhando de
uma maneira estranha.
— Segunda base.
— Ok. Estão indo muito bem em poucos dias, não?
Segunda base é excelente!
— Eu me sinto sofrendo um tipo de tortura nessa base —
confesso.
— Mas é uma tortura gostosa, não é mesmo? — Sorrio
timidamente. Não quero mesmo revelar que essa tortura é muito
gostosa e que em breve irei ver os seios de Sophie.
— Estou um pouco perdida nessa conversa agora. Devo
me manter perdida?
— Deve, mamãe. — Ela sorri com a minha resposta.
— Bom, tudo bem então. Estou muito feliz por você estar
aqui, filho. Muito feliz mesmo.
— Também estou, mãe. Mas eu quero voltar logo para
São Roque e morar com Sophie. Me desculpe. — Eu me sinto
mal por ser muito sincero às vezes. Mas, o que posso fazer? Não
consigo ser controlado ou mentir.
— O que você não sabe é que estou realmente feliz, filho.
Não importa que vá viver um pouco longe, o que importa é que
você está feliz e viverá com a garota dos seus sonhos. Isso me
deixa radiante, principalmente porque e eu e seu pai criamos um
garoto incrível, cheio de valores. Sabemos que você está pronto
para dar esse passo tão grande.
Ficamos conversando um pouco mais e depois
resolvemos dormir. Porém, não consigo dormir. Fico andando de
um lado para o outro, cheio de pensamentos fervilhando em
minha mente. De repente, todas as conversas íntimas que eu e
Sophie tivemos nos últimos dias começam a se embaralhar em
minha mente. Esfrego meu rosto, tentando acalmar a confusão,
mas não resolve o bastante. Dois dias dormindo com ela e eu me
tornei um dependente disso. Não pode ser assim. Sophie me
deixa duro o tempo inteiro e deveríamos dormir separados, mas
como fazer isso se só o fato de pensar em passar uma noite
longe dela já é extremamente ruim?
Uma hora da manhã desisto de ficar andando e resolvo ir
até a cozinha beber água. Parece que não sou o único acordado.
Yaya está sentada na sala, rindo, enquanto digita coisas no
celular e assiste série.
— Ei! — ela diz ao me ver. — Não consegue dormir?
— Não. Sinto falta de Sophie.
— Ownnnnn, isso é fofo, irmãozinho! Que tal mandar
mensagens para ela? Sei que não gosta de celular, mas você
pode fazer uma chamada de vídeo. Eu e Thomaz estamos
conversando pelo celular. Você pode fazer isso também. —
Balanço a cabeça em compreensão e fico dividido. Eu e Yaya
não temos muitos momentos juntos. Eu sou o irmão mais velho
e, na maioria das vezes, pareço infinitamente mais novo que ela.
— Acho que posso esperar até amanhã. Você quer ser
minha amiga? — pergunto a ela. — Nós podemos assistir um
filme, se você quiser. Isso iria me distrair. Acho que vou sentir
sua falta quando eu estiver morando em São Roque. Sei que não
sou um irmão legal, mas é que... você é muito diferente de mim e
eu me sinto um pouco perdido com isso. Me desculpe por ser
ruim. É só que você sempre foi tão espontânea, amorosa,
perfeita, e eu sempre fui o seu oposto. Me sentia envergonhado
com as crises, porque isso mostrava que, mesmo sendo irmãos,
éramos completamente opostos. Você e Samuel eram
compatíveis e eu sentia muito por não ser como vocês —
confesso. — Você não tinha crises, você podia estudar em
colégios normais, você tinha muitos amigos e podia fazer
programas normais. Eu sempre atrapalhei. Por minha culpa você
tinha que frequentar apenas os lugares onde havia o mínimo de
acessibilidade e onde eu poderia me sentir incluído. Sentia culpa,
medo e... acho que nunca falei tanto antes. Não gosto de falar
muito, mas estou falando agora. Você pode me perdoar?
— De tudo isso que acabou de falar, sabe o que é mais
bonito?
— Não há nada bonito, Yasmin.
— Há sim. Você disse SENTIA. Isso significa que talvez
você não sinta mais. Não há nada a ser perdoado e você NUNCA
ME ATRAPALHOU em nada. — Ela sorri e me puxa para o sofá.
— Eu quem deveria ficar cheia de paranoias. Você sempre foi
melhor que eu em tudo, Henrico. Mas isso nunca importou antes,
nem vai importar agora. Eu quero ser sua amiga, na verdade, eu
sempre fui, faltava apenas você se esforçar para enxergar isso.
Eu te amo, irmãozinho mais velho. Estou tão feliz que desliguei
na cara de Thomaz! Que série vamos assistir? Tenho uma em
mente.
— Qual?
— Sex Education.
— Educação sexual? É sério? — pergunto, achando
engraçado.
— Sim! Vamos, vamos, vamos!
— Tudo bem. Espero que seja boa, irmã mais nova. — Ela
me dá um beijo na bochecha e começamos a assistir. Não
demora muito para ela estar com a cabeça deitada em minhas
pernas. Eu tento me acostumar e ela sorri, percebendo meu
desconforto. Mas, ao invés de se afastar, ela simplesmente
segura minha mão e a beija carinhosamente.
— Ei, você é o melhor irmão do mundo e eu te amo!
— Nunca fui, mas posso tentar ser. Eu nunca disse, mas
te amo também, Yaya. Você é linda e eu não gosto do seu
namorado. — Ela franze a testa e, logo em seguida, começa a
gargalhar. Não entendo, por isso me mantenho quieto. Não há
graça. Eu não gosto dele. Mas, tudo bem...
Yaya foi para Búzios com o namorado logo de manhã. Eu
fiquei com meus pais, arrumando meu computador e algumas
coisas que levarei para São Roque.
Acho que eu nunca havia prestado atenção no namoro da
minha irmã, costumava ignorar tudo que dizia respeito a ela.
Agora há muita curiosidade sobre isso e, enquanto meu pai dirige
rumo a Búzios, eu decido perguntar.
— Mãe, pode me falar mais sobre o namoro de Yaya? —
peço.
— Claro, o que quer saber? Tudo?
— Acho que sim — respondo.
— É um pouco parecido com a sua relação com Sophie.
Thomaz e Yasmin estudaram na mesma escola a vida toda. Ele é
irmão de uma amiga dela. Ele foi o primeiro garoto que ela
gostou, e ela foi a primeira garota que ele gostou. Tornaram-se
muito amigos, foram se apaixonando, deram o primeiro beijo
juntos. Foi aos 13 anos, e eles decidiram que iriam namorar —
ela comenta, sorrindo. — Era fofo, ele sempre fazia cartinhas,
dava flores; na verdade, ele ainda faz isso. No início, achei que
seria só coisa de momento, mas, como você pode ver, eles
nunca se largaram. Eles têm feito todas as descobertas da vida
juntos, como você e Soso. São cheios de primeiras vezes.
Thomaz é um garoto incrível, com uma família ainda mais
incrível. Ele tem 18 anos, é divertido, espirituoso, carinhoso,
estudioso, determinado. Acho que deveria tentar ser amigo dele.
— Você gosta dele, pai?
— Como sua mãe disse, o garoto é incrível. Eu brinco que
não gosto, mas o tenho como um filho. Confio nele, tanto que
entrego minha filha aos cuidados dele. Sei que ele a respeita e
que ela está segura com ele. Os pais dele são advogados, como
eu e sua mãe, somos amigos. — Aceno em compreensão e
coloco meu fone.
Quando chegamos em Búzios, vamos de lancha até a Ilha.
Após deixar minha mochila no quarto, vou em busca de Sophie.
A encontro na área externa, cantando no karaokê e dançando
com tia Melinda e Yasmin, enquanto tio Victor e Thomaz estão na
área da churrasqueira.
Fico escondido, observando a cena. Sempre soube que
Sophie era louca, mas ainda consigo me surpreender. Ela cria
coreografias, joga os cabelos, canta como se estivesse dando
um show, até muda a voz na hora do refrão.
"Tá rocheda, tô nem vendo
Pode crê, você merece um prêmio
De mulher mais bandida do mundo
O coração que é vagabundo, vagabundo
De mulher mais bandida do mundo
O coração que é vagabundo, vagabundo"
— Estou muito bandida hoje! Só vem... — ela grita e tio
Victor a encara. — Desculpa, papai — diz no microfone. —
Vamos de funk agora! — Sophie deixa o microfone, coloca uma
música esquisita e começa a dançar.
"Se você fica cansada
Você desce e para um pouco
Kika uma vez
Kika de novo"
Ela cria os primeiros passos e tia Melinda a segue,
juntamente com a minha irmã. Mas eu não foco em tia Melinda
ou Yasmin. Meu foco é Sophie e eu não consigo desviar o olhar.
Ela está rebolando devagar, de uma maneira bastante erótica,
que remete a alguns filmes educativos que já vi. Eu faço um
esforço enorme para ignorar o que a visão me causa, mas é
inútil. Quanto mais ela dança, mais percebo que não há como
fugir das reações. Sophie parece gostar de provocar, de usar a
sensualidade natural que possui. Não é um problema, mas é.
Não sei namorar com Sophie. É extremamente difícil ser
namorado dela quando ela está dançando de biquíni.
— Bota com raiva, com emoção! — ela grita e tio Victor a
encara uma última vez antes de sair correndo atrás dela com um
chinelo na mão. É engraçado, principalmente porque em cinco
segundos ele estará de joelhos pela filha.
Sem me ver, ela vem correndo para o local onde estou e
acaba batendo em meu peitoral.
— Oh, meu Deus! Isso que eu chamo de um forte impacto!
— diz, gargalhando.
— Sophie! — A voz de tio Victor surge. Ela cobre minha
boca com a mão e sai me empurrando para dentro de um
banheiro. Ela nos tranca dentro do ambiente e faz sua carinha de
anjo.
— Ei, namorado.
— Ei.
— Acho que deveria ficar mais à vontade, sem essa
camisa. — Suas mãos fazem o trabalho de retirar a minha
camisa e deixar sobre a pia. A observo morder o lábio inferior
enquanto olha para o meu peitoral e apenas não compreendo
suas ações.
— Sophie, você bebeu?
— Suco de laranja e água de coco, apenas — explica. —
Por quê?
— Você está um pouco agitada. Estava te observando.
Por que está me olhando assim?
— Podemos dormir em um dos chalés essa noite? —
pede, sem responder a minha pergunta. Não sei se é uma boa
ideia, porém senti falta dela ontem à noite. Senti falta de acordar
com ela ao meu lado, mesmo que o processo até dormir seja um
pouco torturante.
— Acho que podemos sim, se o tio Victor deixar.
— Oh, nada disso, menino mais bonito. Nada de ir pedir
ao meu pai, ok? Embora eu ache que ele não vá se importar, não
quero ficar pedindo coisas sobre algo que diz respeito a nós dois.
Somos adultos, maiores de idade — explica, brincando com o
cordão em meu pescoço. — Quero te beijar, mas não confio em
mim mesma agora.
— Por quê?
— Porque... porque eu estou um pouco agitada hoje,
como pôde perceber. — Fico observando os olhos dela, tentando
decifrar o significado das palavras que acabou de dizer. Me sinto
agitado desde o momento em que a vi dançando, então é um
alívio saber que ela não vai me beijar agora.
— Eu vou dormir — aviso.
— O quê? Agora? Por que não fica na piscina comigo?
— Eu passei grande parte da noite assistindo TV com
Yasmin e depois não dormi bem. Preciso dormir algumas horas,
isso vai ajudar.
— Vai ajudar o quê?
— Não posso dizer, Sophie. Apenas preciso dormir —
argumento.
— Posso ir com você?
— NÃO! Quer dizer, acho melhor não. Acho que podemos
esperar até a noite para fazer isso. — Sophie começa a rir,
segura o meu rosto e me enche de beijos no nariz, na testa, nas
bochechas.
— Eu entendi tudo — diz, sorridente. — Quando acordar
estarei esperando por você. Aliás, Yaya está feliz por ter se
aproximado de você, e eu estou feliz também.
— Ainda é um pouco estranho. Mas prometi me esforçar,
Sophie.
— Ok, bom, então é isso... — fala, se afastando e abrindo
a porta. Eu quase respiro aliviado, mas ela simplesmente se vira
e me beija.
Minhas mãos deslizam pela cintura nua e as mãos dela
ficam fixadas em meu pescoço. Os beijos da segunda base são
realmente calorosos. Sinto vontade de abraçá-la e grudá-la mais
ao meu corpo, mas opto por manter minhas mãos na cintura dela
e ficar em uma distância segura. Quando nos afastamos, estou
atordoado o bastante, dividido entre deixá-la ir ou mantê-la aqui.
Dando um sorriso, ela se aproxima do meu ouvido e eu
fecho meus olhos ao sentir uma mordida em minha orelha. Isso
me deixa ainda mais excitado e eu não fazia ideia de que uma
mordida na orelha teria esse efeito.
— 1.200 guindastes não serão suficientes! — ela sussurra,
enquanto desliza uma mão pelo meu peitoral. — Até mais tarde,
bebecito.

Após tomar um banho frio e ligar o ar-condicionado, me


acomodo em minha cama.
A saída da zona de conforto é um pouco assustadora,
principalmente quando me pego pensando no futuro. Eu não
tenho me permitido viver muito o presente, porque estou
constantemente pensando no que vem a seguir, e isso não é algo
bom. Ativa gatilhos, principalmente relacionados à ansiedade.
Minha psicóloga — devido ao fato de eu viver me
autossabotando — me ensinou algumas práticas para controlar a
mente e evitar crises. Eu começo a exercitar isso por sentir
necessidade.
Quando eu era mais jovem e me encontrava em situações
que ativam diretamente a minha ansiedade, eu reagia a isso de
uma maneira muito ruim, destruindo tudo o que estava em minha
direção e ao meu alcance. Atualmente, tento controlar as minhas
emoções. Não é simples e nem sempre eu consigo, mas posso
dizer que é sempre a minha primeira opção.
A primeira coisa que faço é respirar fundo repetidas vezes,
focando toda a minha atenção na entrada e na saída de ar. Após
fazer esse exercício, começo a observar todos os meus
pensamentos para poder então chegar na origem do que está
causando tanta confusão. Inicialmente, é frustrante e dá vontade
de desistir, mas persisto. Conforme vou amadurecendo, vou
buscando informações e tudo vai deixando de ser pesado
demais.
Meus pensamentos giram em torno de Sophie. É óbvio.
Perceber isso é um avanço, embora pareça que não. A diferença
é a seguinte: antes eu estava apenas pensando, agora eu estou
percebendo meus pensamentos e isso ajuda a detectar se eles
estão me fazendo bem ou mal.
Grande parte de mim ainda duvida da minha capacidade
de dar um passo a mais com Sophie, e é nisso que preciso focar.
Preciso deixar de duvidar, preciso substituir os pensamentos
negativos por pensamentos mais otimistas. Está tudo certo. Sou
um homem jovem, saudável, que sente desejo e que tem uma
namorada extremamente bonita. Ela é tão inexperiente quanto
eu, então não há nada a temer, principalmente porque vamos
aprender tudo juntos. Eu preciso dela, ela precisa de mim. É aqui
que nos tornamos iguais. As diferenças deixaram de existir no
momento em que descobri que Sophie esteve esperando por
mim uma vida inteira, assim como eu estive esperando por ela.
Se somos iguais em nossa relação, eu preciso vencer o medo,
principalmente quando a minha namorada parece corajosa o
bastante. Não quero que sejamos diferentes e que eu deixe o
medo ser maior que a minha coragem.
Agora já sei que preciso expulsar o medo, e preciso
pensar que eu e ela estamos em uma fase de descobertas e que
é preciso deixar acontecer. Fugir da realidade torna tudo
fantasioso, e a fantasia não me serve mais. Ela foi boa durante
um longo período, mas, desde que dei um passo, beijei Sophie e
nos tornamos namorados, viver apenas em um universo
fantasioso não é válido.
Viu como é bom pensar e perceber os pensamentos? Eu
já consegui identificar o que quero, o que não quero e aonde
quero chegar; tudo isso em poucos minutos, o que mostra que o
exercício de controle mental é extremamente válido e eficaz. Em
questão de minutos, o peso que estava em minha mente
desapareceu e estou satisfeito por ter conseguido sem ajuda de
remédios ou sem crises que, provavelmente, assustariam a
minha namorada.
Uma vez que a mente está menos turbulenta, consigo
descansar. Não menti quando disse que não dormi bem, mas
esse fato serviu como desculpa para eu me isolar um pouco e
fugir da intensidade que Sophie possui. Ela parece um furacão,
mas decido que essa comparação não é algo divertido. Um
estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Illinois,
nos Estados Unidos, mostrou e afirmou que furacões com nomes
de mulheres matam mais pessoas que aqueles com nomes
masculinos, porque costumam ser levados menos "a sério" e,
consequentemente, há menos preparação para enfrentá-los. De
qualquer forma, eu levo Sophie muito a sério, e enfrentá-la
requer muita preparação. Talvez ela seja responsável pela minha
morte. Meu pai diz isso sobre a minha mãe e deve fazer sentido.

Quando acordo, vou direto comer algo e sigo em busca de


Sophie.
Ela está na área externa, conversando com Yasmin e
Thomaz, que estão deitados em uma rede. Apenas foco no
decote do top que ela está usando e todo o restante deixa de
existir.
— Ei, namorado! — ela diz, vindo até mim.
— Ei, Sophie. Seus seios parecem lindos, imagino que
seus mamilos sejam rosados — falo, sorrindo.
— Uma tarde inteira dormindo te fez bem. Estou animada
agora!
— Animada para? — pergunto.
— Dormir com você, bem entre aspas. Bom, venha,
vamos ficar com Yaya e Thomaz. Eles passaram na nossa frente
e já ficaram confortáveis. Talvez possamos entrevistá-los.
— Entrevistá-los?
— Sim, vem comigo. — A sigo e ela me joga na outra
rede. É preciso pensar rápido para acompanhar Sophie. Mal me
ajeitei na rede e ela está se acomodando em cima de mim. Isso
não é muito bom. Mas é. Ela pega minhas mãos e coloca pouco
acima de sua barriga, na parte desnuda. Eu tento focar em
qualquer outra coisa, já que ela está praticamente sentada sobre
o meu órgão, sobre o meu pau. — Então, Henrico chegou! Já
podem me contar tudo sobre a primeira vez de vocês. Sem
esconder nada.
— Não sei se quero ouvir isso. Não gosto de Thomaz, e
Yasmin é a minha irmã. Eu me sinto ciumento, mesmo achando
ela estranha.
— Pare de me chamar de estranha. Você prometeu —
Yasmin me repreende, rindo. — Por que não gosta de Thomaz?
Você sempre o evitou, nunca conversou com ele para saber que
ele é o garoto mais incrível do mundo.
— Eu não gosto dele porque não o conheço e não sentia
vontade de conhecê-lo.
— Mas agora sente? — Yasmin pergunta.
— Não sei dizer. Talvez seja interessante.
— Eu gosto de você, mesmo você não gostando de mim
— o namorado da minha irmã diz. — Bom, vou contar do início,
Sophie. Yasmin estudava na sala da minha irmã, eram melhores
amigas e estavam constantemente juntas, de forma que acabei
me tornando amigo dela. Ficamos amigos até o dia em que sofri
bullying na escola e ela me defendeu. Por eu ser negro, sempre
houve muito preconceito. Não aceitavam que meus pais tinham
condições de pagar o meu estudo e o estudo da minha irmã
naquele colégio. Havia um garoto que era apaixonado por
Yasmin e me odiava por ser amigo dela. Um dia, ele se revoltou e
jogou dezenas de xingamentos e palavras preconceituosas sobre
mim. Yasmin o chutou diretamente nas bolas e me roubou um
beijo diante da escola inteira.
— Que lindaaaa, minha menininha! — Sophie exclama,
enquanto observo Thomaz. Ele sofreu bullying, como eu sofri.
Por motivo diferente, mas é algo que temos em comum e eu não
sabia. — E como você ficou em meio ao bullying? Deve ter sido
doloroso.
— Meus pais sempre passaram muita segurança a mim e
a minha irmã, sempre nos fizeram sentir orgulho da nossa raça,
da nossa cor. Eu não me senti mal por mim, mas me senti mal
por aquele garoto. Eu tive um sentimento parecido com pena.
Não me senti ofendido. Teria me sentido se ele ofendesse a
minha irmã, mas ele não fez — Thomaz explica. — Enfim. Eu
nunca havia beijado, Yasmin também não. Nosso primeiro beijo
foi um pouco bizarro, com uma plateia gigante em torno de nós e
um garoto caído no chão, se contorcendo de dor — comenta,
rindo. — Desde esse dia começamos a nos beijar com
frequência, nos tornamos namorados e quero me casar com ela
assim que me formar na faculdade.
— Isso é tão romântico e fofo. E a foda?
— Sophie! — Yasmin exclama, gargalhando, enquanto eu
me encontro completamente em choque com a palavra escolhida
pela minha namorada.
— Me desculpe. Não foi isso que eu quis dizer — Sophie
se desculpa, mas sei que não está arrependida.
— Eu falo essa parte. — Yasmin toma frente. — Bom, no
início nosso namoro era muito bobinho, bem bonitinho também.
Mas, com o passar do tempo, as coisas começaram a esquentar.
Mesmo assim nos controlávamos por medo. Fomos nos
controlando até tornar-se bastante difícil, então decidimos que
iria acontecer. Thomaz morre de vergonha disso, mas eu
conversei sobre sexo com os meus pais, expliquei que me sentia
pronta e tudo mais. Meu pai dramatizou no primeiro momento,
óbvio. Minha mãe tomou frente da situação e foi a minha melhor
amiga e conselheira. Me levou até a médica dela, onde obtive
explicações mais detalhadas. Meu pai demorou uma semana
para aceitar que eu não era mais uma princesinha inocente, mas,
quando fez, foi emocionante. Ele foi ao meu quarto uma certa
noite e conversou tudo comigo sobre sexo, mesmo minha mãe já
tendo me dado o suporte. Mas ouvir por uma perspectiva
masculina foi bastante diferente, enriquecedor. Nossa conversa
foi bastante diferente, ele foi o meu melhor amigo e confidente.
Então... aconteceu. Foi romântico, não foi bem uma foda na
primeira vez.
— Espero que eu e Henrico tenhamos uma fo... — Cubro
a boca de Sophie com a minha mão, antes que ela diga algo que
me traumatize. Acho que ela irá exigir muito de mim, preciso me
preparar para dar o melhor.
— Então vocês programaram o acontecimento? —
pergunto.
— Sim, nós programamos e tivemos ajuda dos nossos
pais. Isso foi terrível, mas aconteceu — Thomaz responde,
divertido. — Eu também conversei com os meus pais, então eles
se uniram a Lucca e Paula. Eles nos deixaram passar um final de
semana sozinhos na casa de Ilha Grande. Não aconteceu no
primeiro dia porque estávamos tensos demais, mas aconteceu no
segundo. Pior eram as ligações.
— Oh, sim! Acordávamos diariamente com ligações dos
nossos pais. Quando eu revelei que aconteceu, meu pai
desmaiou — Yasmin conta e eu me pergunto aonde estava que
não vi absolutamente nada disso. Isso faz com que eu me sinta
triste por perceber que costumava ser bem mais limitado do que
sou agora.
— E então... — Sophie diz assim que a liberto.
— O quê? Você quer os detalhes sórdidos? — Yasmin
pergunta.
— Não! Por favor, não! — imploro.
— Eu preciso saber! — Sophie insiste.
— Eu só vou dizer que foi incrível, muito incrível mesmo.
Pronto — minha irmã comenta, divertida. — Será incrível,
Sophie, tenho certeza. Não há nada a temer, ok? — Sinto o
corpo de Sophie tremer, denunciando um choro.
— Obrigada — Sophie agradece a eles. — Foi lindo saber
de tudo isso. Vocês dois são muito lindos.
— Não vai dizer nada, irmão mais velho? — Yaya provoca.
— Melhor não. Já recebi todas as informações que não
queria ter recebido de vocês — respondo. — Esclareço minhas
dúvidas com pesquisas, é menos traumático para mim.
— Essa é mesmo uma boa ideia. Acho que podemos fazer
isso essa noite — Sophie comenta.
— O quê? Você está falando sobre pesquisar ou se sentir
confortável? — pergunto.
— Eu topo qualquer parada. Acredite, o que você quiser,
eu quero. Eu me sinto como Atena, a deusa da sabedoria e da
guerra, pronta para a batalha e para fazer justiça com as minhas
próprias mãos.
— Misericórdia, Sophie! Eu espero que Henrico não tenha
entendido! — Yasmin diz, gargalhando.
— Eu realmente não entendi — confesso, um pouco
perdido. — Sophie anda muito espertinha, usando termos que
sabe que só consigo compreender de maneira literal. Ao que
parece, há algo a mais por trás do que acabou de falar. Vai me
falar agora ou depois?
— Quer mesmo saber? Eu realmente tenho medo da sua
reação. Não quero que pense que não sou uma garota muito
angelical — Sophie argumenta.
— Quero saber.
— Ok, mas eu não posso explicar isso diante da minha
pricunhada e de Thomaz. É algo íntimo, sobre práticas manuais...
— Isso é sobre punheta? — pergunto, chocado.
— QUE DIABOS!!! — A voz de tio Victor surge e eu sinto a
extrema vontade de fugir.
Eu deveria correr, mas, ao invés de cuidar da minha
segurança, minha mente perdida decide que o melhor a ser feito
é rir. Uma gargalhada escapa de mim. Thomaz e Yasmin estão
praticamente chorando de rir, Henrico está sob tensão e eu
gargalhando na cara do perigo. Perfeito!
— Eu não ouvi essa merda! — meu pai esbraveja e,
quanto mais ele abre sua boca para dizer algo, mais gargalhadas
saem de mim. Talvez esteja aplicando aquela expressão "rindo
de nervoso".
Desço da rede e percebo que Henrico está prestes a dizer
algo. O impeço antes que sua sinceridade nos foda. Levo uma
mão sobre a boca dele e o puxo, fazendo com que fique de pé.
— Papai, não entendo sobre leis, nunca tive interesse,
como o senhor bem sabe. Não sei dizer se aqui no Brasil é
assim, mas sei que a Quinta Emenda da Constituição dos
Estados Unidos garante que nenhum cidadão pode ser obrigado
a testemunhar contra si mesmo, em qualquer caso criminal.
— O que você não sabe é que uma vez que opta pelo uso
da Quinta Emenda, o seu silêncio poderá ser usado contra si
mesma e esse direito atualmente é bastante relativo. Algumas
cortes anulam esse benefício, dependendo da situação — meu
pai me explica.
— Eu acabo de ter um pré-orgasmo observando o meu
marido todo no modo advogado. — Minha mãe surge, o
abraçando.
— Pré-orgasmo é a única coisa que terá essa noite,
Melinda. Você sabe que Sophie é sua filha, não sabe?
— Perfeitamente, por isso ela é tão maravilhosa e tem o
narizinho igual ao meu — ela responde, sorridente.
— Nada disso. Significa que é por esse motivo que
quando você me implorava por mais filhos, eu sempre mudava
sua mente, por medo de vir outra Melinda. Essa menina, logo
quando nasceu, já deu os primeiros sinais de que a minha vida
não seria fácil. Ainda no hospital eu soube que estava fodido,
porque ela era muito Melindinha e isso simbolizava
PROBLEMAS!
— Nem era. Sophie era uma cópia idêntica sua. Demorou
bastante para ela começar a ficar parecida comigo — minha mãe
argumenta.
— Fisicamente demorou mesmo, mas de resto? Quando
ela completou 2 anos comecei a rezar mais forte e tem sido
assim a vida inteira — meu pai fala. — Agora ela e o namorado
ficam falando de punheta na minha cara. — Henrico retira minha
mão de sua boca e eu começo a temer.
— Tio Victor, eu posso explicar.
— Não, não e não, Henrico! Não acho que deva explicar
— impeço meu namorado.
— E você, Yasmin, não pense que eu não estou te
observando. Sou seu tio dindo! — meu pai adverte e ele está
mesmo sério.
— Tio dindo, sou inocente de todas as acusações — a
cara de pau diz.
— Pai, fala sério, Yasmin tem 17 anos e já...
— Não termine a frase.
— Ela já... — Minha mãe é quem cobre a minha boca
agora. Acho que esse ato está virando um costume.
— Para a minha infelicidade, minha filha cravou um punhal
no meu peito meses atrás. — Tio Lucca se junta a nós. —
Deserdada, onde você vai dormir com esse moleque? — ele
pergunta à Yaya.
— Em um dos chalés, não decidimos ainda. Vamos deixar
você e mamãe namorar em paz — ela justifica.
— Nossa! — tio Lucca exclama. — Essa menina é muito
bem-intencionada. Vejam só, ela vai se isolar em um chalé com o
namorado apenas para deixar eu e Paula namorarmos em paz.
Que filha encantadora! Não é à toa que dizem que o inferno está
repleto de boas intenções. Eu devo agradecer aos dois? — Eu
quero rir da cara deles. Deus, estou com uma inveja
desesperadora da minha prima, que vai sentar no namorado a
noite inteira. — E você, Sophie Albuquerque, fique atenta. Se o
seu pai é padrinho da minha filha, eu sou o seu padrinho.
— Estou quieta, tio Lucca. Não está vendo? — me
defendo.
— Mas se for pensar de acordo com os interesses do meu
filho... acho que buguei. Fico perdido, devo incentivar ou tentar
boicotar essa noite? Há meu filho e minha afilhada nessa
situação — tio Lucca comenta.
— Meu Deus! Nunca vi duas pessoas mais dramáticas!
Ainda bem que meu sogro não está aqui para se juntar aos dois.
Chega de drama, Victor Albuquerque, e você também Lucca.
Vocês não faziam sexo quando eram mais jovens não, né? E
você, Victor, nem vou dar spoiler a Thomaz e a Henrico sobre o
início da nossa relação. — Eu amo muito a minha mãezinha! Até
a puxo para um abraço carinhoso.
— Vocês também passarão a noite em algum chalé,
Sophie e Henrico? — Yasmin pergunta, rindo. Ela é muito filha da
puta, mas estou morrendo de inveja.
— Uhum... — respondo, soltando minha mãe.
— O quê, Sophie? Eu entendi direito? — meu pai
pergunta.
— Eu tenho 21 anos de idade, Yasmin tem 17. Obrigada,
de nada! Eu e Henrico combinamos de fazer pesquisas essa
noite.
— Eu não vou pesquisar sobre sexo com você, Sophie!
Não combinamos nada disso. — Oh, merda! Isso deve ser uma
provação!
O que salva é que todos começam a gargalhar quando
meu pai cobre os ouvidos com as mãos.
— É sua culpa, Melinda! — ele exclama e sai andando.
Eu vou atrás dele, porque doutor Victor pode ser bastante
dramático às vezes. Sinto que ele precisa de um momento
comigo. Meu bebê é muito protetor e apegado.
— Eiiii, papai! — digo, saltando nas costas dele e
abraçando seu pescoço. Ele segura minhas pernas e me leva
para dentro de casa de cavalinho.
Quando chegamos na sala, ele me solta e eu
simplesmente o abraço o mais apertado que consigo.
— Te amo muito, amor da minha vida. — Quebro o
silêncio após alguns minutos. — Você é e sempre será o meu
super-herói, o homem que eu mais amo na vida. Tudo bem? —
Ele balança a cabeça em compreensão e sei que está chorando.
— Te amo, papai. Sei que deve ser difícil ver sua princesinha
crescer, mas sabia que tenho muito orgulho de mim? Fui
moldada por você e pela mamãe. Sou maluquinha, mas sou
incrível, rica de qualidades e caráter, sou amorosa, sou muito
você e sou a mamãe também. Luiz Miguel é a mesma coisa, e
tudo isso é mérito da educação que recebemos de vocês. Você e
mamãe são os melhores pais, os meus melhores amigos, a
minha base, o meu orgulho — declaro. — Mas entendo você ser
ciumento e sentir um pouco o impacto de ter uma filha
crescendo. Acho que é mais difícil quando se trata da sua
princesinha, não é mesmo? Talvez você sinta que está perdendo
o seu lugar, mas não está. Eu amo Henrico com toda a minha
alma, mas de uma maneira completamente diferente do amor
que sinto por você. Eu te amo, papai, te amo muito e para
sempre. Mesmo quando eu estiver velhinha, serei a sua
princesinha. Nunca vou abandoná-lo, nunca vou substituí-lo. E,
se quer saber, ainda não aconteceu nada entre Henrico e eu.
Quando acontecer, você será o primeiro a saber, mesmo que
talvez não faça questão.
— Eu faço — afirma, se afastando, e segura meu rosto
entre suas mãos. É por isso que peguei a mania de sempre fazer
isso com Henrico, desde pequenina. — Estou ciumento, mas
estou feliz. O drama faz parte de mim, está incluso no pacote de
fazer você rir. Confio em você, na criação que eu e sua mãe
maluca te demos. Não conte a ela, mas se você fosse apenas
10% do que Melinda é, já seria a garota mais incrível do mundo,
e você é muito mais que 10%. Você é um espelho da minha
esposa, e ela é fantástica, forte, determinada, inteligente,
generosa, linda pra caralho e tem o narizinho empinado como o
seu. Se você soubesse tudo o que ela passou e quão forte ela foi
para enfrentar... Melinda é uma princesinha da Disney que teve
que manter o castelo de pé sozinha por um período. E você é
filha dela.
— Eu realmente escutei isso. — Minha mãe nos abraça,
chorando. — Eu te amo tanto, sugar daddy.
— Aooo, Melinda, não diga esse apelido na frente da
nossa filha! — Sorrio, emocionada.
— Eu precisei manter o castelo, mas chegou um momento
em que não podia mais fazer isso sozinha, e eu contei com a
ajuda de um príncipe que jurava não ser um bom rapaz — ela
diz, sorrindo, enquanto lágrimas escorrem de seus olhos. —
Agora temos dois lindos filhos e eu sou a mulher mais feliz e
mais realizada do mundo. Acho que fizemos um bom trabalho,
sugar daddy. Nossa filha está bem encaminhada e vai dormir
com o namorado essa noite. Você sabe, dormimos juntos
também. Em minha casa e na casa da Ilha... A segunda noite lá
na Ilha foi sob tensão... Senhor da glória!
— Acabou com o momento, Melinda! Péssima
comparação! — meu pai diz e nós duas começamos a rir. — Tem
ideia das merdas que eu pensava dormindo com você? Agora
vou pagar os pecados todos da vida. Henrico deve ter os
mesmos pensamentos, merda! Não me lembre da segunda noite
na Ilha, por gentileza. Não ouça sua mãe, filha. Ela não sabe o
que diz nesse momento. E nem pergunte sobre o que aconteceu,
ok? Pelo amor da Santa Josefina!
— Pode deixar, papai. Não perguntarei nem sob tortura —
respondo, rindo. — Podemos jantar agora? Estou com fome!
— Acho ótimo!

Todos foram dormir, exceto eu, Sophie, minha irmã e


Thomaz.
Estamos deitados em espreguiçadeiras de frente para a
piscina. Apagamos todas as luzes da casa e estamos sendo
iluminados apenas pelas estrelas e pela lua. Sophie, eu e
Samuel sempre fizemos isso desde novinhos, na companhia dos
meus pais.
A vida inteira gostei de observar o céu, principalmente
durante a noite. Penso que há muitos mistérios escondidos nele
e, como sou um aficionado por descobertas, um dos meus
passatempos preferidos é pesquisar sobre o sistema solar.
Há algo sobre ficar olhando para o céu e para as estrelas
que me acalma. A cada vez que faço isso, é como se tivesse
uma força maior capaz de mudar meus pensamentos, acalmar
minhas confusões internas. Quando me perco olhando as
estrelas, sinto-me fechado dentro de uma bolha, onde só há eu e
elas, porém, hoje estou dividindo essa bolha com mais três
pessoas e não está ruim.
— Você acha que existem outras civilizações como a
nossa no Universo? — Sophie pergunta após um longo momento
de silêncio.
— Essa é uma pergunta que muitos pesquisadores fazem,
e uma das mais intrigantes também — respondo, mexendo nos
cabelos dela. — Existem milhares de pesquisas sobre isso, mas
nunca chegaram a uma conclusão. Porém, recentemente, uma
pesquisa elaborada por pesquisadores da Universidade de
Nottingham, sugeriu que mais de 30 civilizações com vida
inteligente podem existir. Eles usaram um método considerando
a teoria evolutiva, em escala cósmica.
— Isso é muito confuso para a minha mente — Sophie
comenta, sorrindo. — Mas é interessante pensar que, neste
mesmo momento, pode haver vida em outros planetas. Qual a
maior estrela existente no mundo?
— VY Canis Majoris. Ela fica a 5 mil anos-luz da Terra e
tem 2,9 bilhões de quilômetros de diâmetro, porte 1.800 a 2.100
vezes maior que o do Sol.
— Uau! Conseguimos vê-la?
— Infelizmente, não. Ela está morrendo e despejando
parte de sua massa em uma nebulosa[3] que encobre nossa
visão. Não podemos vê-la.
— Ei, pessoal, vamos dormir — Yasmin avisa, ligando
uma lanterna. — Nos vemos amanhã.
— Boa noite, Yaya. Boa noite, Thomaz. Tenham uma boa
noite de não sono — Sophie diz, rindo, e Yasmin vem, do nada,
me dar um beijo molhado no rosto.
— Que nojo! — falo, me limpando.
— Também te amo, irmão mais velho! — Yaya diz.
— Boa noite, pessoal. Foi bom estar com vocês hoje —
Thomaz se despede, pegando minha irmã nos braços.
— A noite é muito linda aqui, bem diferente da cidade,
mas em São Roque deve ser ainda mais bonito ficar na
escuridão. Aqui há muitas casas em outras ilhas. Lá em São
Roque é tudo mais isolado. Poderíamos acampar uma noite, o
que acha? — Sophie sugere.
— Eu gostei da ideia. O máximo que já acampei foi aqui
na Ilha. Sophie, você é mais bonita que todas essas estrelas e a
lua. — Minha garota sorri e beija a minha bochecha. Não é
nojento, como quando Yaya faz.
— Vamos para o chalé? Está esfriando um pouco. Eu amo
você, menino mais bonito do mundo. — Deixo um beijo delicado
em seus lábios e me levanto.
Sophie pega a mochila que separamos com nossas
roupas, coloca e se joga em minhas costas. Ela gosta que eu a
carregue e eu gosto de carregá-la. Suas pernas se envolvem em
torno de minha cintura e seus braços em torno do meu pescoço.
Ligo a lanterna e seguimos rumo ao chalé. É uma pequena
viagem, já que ele fica afastado da casa principal, mas não
demoramos muito a chegar.
Sophie desce das minhas costas e entra animada.
— Vou trocar de roupa e volto — aviso a ela.
— Ok, namorado. Também irei trocar. Você troca no
banheiro, eu troco no quarto.
Eu quero sorrir agora. Sophie é um pouco safadinha, mas
sempre fica um pouco tensa quando estamos apenas nós dois.
Ela é muito mais corajosa que eu, mas é bom perceber que
também sente receio. Não estou sozinho nessa. Minha namorada
diz palavras sujas, me toca quando estou dormindo, mas, quando
acordo, sua coragem vacila um pouco. É encantadora. Estou
sempre em estado de alerta, aguardando por uma ação louca.
Há uma enorme vantagem em conhecê-la tão bem. Sempre
tenho a certeza de que ela vai aprontar. E ela apronta.
Eu acabo de me trocar, volto ao quarto e ela está
encostada em uma parede, com os cabelos presos em um
coque, bebendo o que eu acredito ser água, vestindo uma
calcinha e uma camiseta curta. É possível ver nos olhos dela a
ousadia e o medo, caminhando juntos.
Se ela pudesse ler os meus olhos, eu nem sei... Eles
agora estão incontroláveis, deslizando por cada detalhe do corpo
da minha namorada. Todas essas tatuagens delicadas, todas as
curvas... Uau! Sophie é demais para mim, tanto que volto a me
sentir perdido. Não sei como agir. Porém, meu corpo parece
saber. Desde que reencontrei Sophie, tenho passado parte dos
dias excitado e duro. É horrível estar constantemente duro,
constantemente descontrolado. Sim, eu não consigo controlar
muito essas reações, isso me deixa um pouco frustrado e até
mesmo envergonhado. Agora mesmo estou ligeiramente
envergonhado e um pouco desesperado. Sophie irá dormir
comigo, ela vai me beijar, vai se aproximar e vai perceber que
estou duro. É louco que minutos atrás tudo parecia muito calmo e
meu pau estava sob controle. Em uma fração de segundo tudo
muda.
— Eu posso explicar. Não foi proposital — ela diz,
colocando a caneca em uma mesinha. — Eu juro por Deus! Sei
que sou provocadora, mas dessa vez não foi de caso pensado.
— É verdade. Ela não vestiu isso para me provocar, embora eu
saiba que ela deseja isso. Sei quando Sophie está mentindo. —
Esqueci o meu shortinho de dormir. Esqueci também a minha
escova de dente. Se você não se sentir confortável... quer dizer...
eu não posso usar essa expressão. Se você não...
— Sophie, está tudo bem. Você é a minha namorada — a
tranquilizo. — Você é muito gostosa.
— Oh, merda! Você acha?
— Eu não entendo muito quando chamam uma mulher de
gostosa, mas acho que você se encaixa nisso. Acho que é muito
mais gostosa que todos os meus doces preferidos, e eu sinto
vontade de lamber você.
— Puta merda! Filtro, hein?! — ela diz, rindo.
— Eu acho que deveria apenas me calar. Tenho
tendências a dizer tudo o que penso e talvez isso não seja bom
agora.
— Eu gosto de ouvir todas as verdades nuas e cruas que
saem da sua boca perfeita, namorado.
— Você gosta mesmo? — me certifico.
— Gostar é muito pouco. Eu amo de montão. Que tal
dormir de cueca? — sugere.
— Seria extremamente desrespeitoso, acredite em mim.
— Nossa, é um enorme desrespeito mesmo. Parabéns! —
ela fala, olhando para minha calça de moletom, e eu percebo o
motivo. Pego uma almofada na cama e tento esconder as
evidências. Isso faz Sophie gargalhar.
Ela pega o controle da TV, a liga e apaga as luzes.
Enquanto ela se deita, eu permaneço de pé, sentindo um maldito
nervosismo se instalar.
— Se eu for aí te buscar, irei tirar sua calça, bebecito.
Começo a pensar em Samuel, mesmo sabendo que isso é
um pouco estranho e ridículo. Samuel certamente tiraria a calça e
ficaria de cueca. Cueca é como sunga, Sophie já me viu de
sunga. É isso. Eu não sou uma criança, não sou uma criança,
não sou! Tenho 22 anos de idade. Não pode ser tão difícil vencer
esse medo. Sophie quer que eu fique de cueca, nós somos
namorados, namorados são íntimos.
Deixo a almofada de lado, retiro a minha calça e minha
namorada solta um som íntimo.
— Misericórdia!!! Henrico Davi! Nem se eu subir a
escadaria da Penha de joelhos poderei agradecer a bênção de
ter um namorado do seu porte. Você é gostoso num grauuuu!
Sério, já desisti dos guindastes a essa altura do campeonato.
Não há nada bebecito aí agora. Tira a cueca, por gentileza. Deve
ser lindo... Santa Josefina, eu nunca quis tanto ver algo. — Estou
rindo do quão rápido ela está falando todas as asneiras que eu
nem estou conseguindo entender. — Quer ver os meus seios?
Eu te mostro, você me mostra. Podemos fazer essa troca justa.
— Trocar o quê?
— Nada! Ok, venha para a cama, namorado. Tentarei
manter a nossa pureza. — Eu vou para a cama e Sophie fica
caladinha. Ela é uma princesa.
— Agora estou tímida.
— Não fique. Vamos fazer o quê? Quer assistir algo que
não seja filme de sexo?
— Pode ser qualquer coisa. Não vamos assistir direito
mesmo — comenta desinteressada.
— Por quê?
— Namorados só assistem uns 10 minutos de série,
depois começam os beijos e umas pegadas. Depois que a
pegação começa, a TV só serve para iluminar um pouco. Vi isso
em filmes — explica e percebo que é verdade.
Coloco uma série qualquer e em poucos minutos sou eu
quem a puxo para um beijo. Beijar deitado é ruim. Ficamos um
pouco sem posição e tentamos encontrar uma maneira de fazer
ficar bom. Deixo todo o medo de lado e me movo, ficando entre
as pernas de Sophie. Não é agradável. Tenho que me manter
distante para ela não sentir minha reação, não posso tocá-la,
porque é necessário ficar com os braços apoiados. Não é uma
posição satisfatória quando é voltada apenas para beijos. Sophie
percebe, me empurra e simplesmente me monta.
— Estou chorando por todos os lados agora! — ela
choraminga, mas estou assustado o bastante por ela estar
sentada diretamente em meu pau. Ela se move e sou obrigado a
contê-la. É extremamente bom, e é bem diferente de tudo que já
senti antes. — É normal, amor...
— Eu sei.
— Quer que eu saia?
— Não, Sophie. É bom... — confesso timidamente. — Mas
é uma sensação nova. Você tem um piercing, não vai machucá-
la?
— Acho que não. Ele é muito delicado e pequeno, está
escondidinho. — Eu preciso ver. — Se machucar, eu aviso. Ei,
menino mais bonito, não vamos ficar confortáveis agora. Só
estamos nos conhecendo. Também estou com medo.
— Não tenha medo. É idiota eu dizer isso quando estou
com medo, mas não quero que você sinta isso. Eu amo muito
você, saberei o que fazer, saberei cuidar de você no momento...
eu prometo. Sempre cuidei de você, a vida toda.
— Você é perfeito. — Ela dá um sorriso enquanto lágrimas
escorrem de seus olhos. — Eu confio em você, sou sua por
completo. Esperei a vida toda para ter o melhor garoto do mundo.
Deus, você está pulsando, hein?!
Necessitando calar a boca dela, a puxo para um beijo.
Tudo começa a fluir naturalmente. Como andar de bicicleta...
Meu pai disse que seria assim, ele não mentiu. Minhas mãos
relaxam e o corpo de Sophie começa a se mover sobre o meu,
fazendo nós dois ofegarmos e buscarmos o ar juntos. Minhas
mãos iniciam uma aventura arriscada. Toco a cintura de Sophie e
então arrisco a tocar a bunda. Ela gosta, os sons revelam isso.
Testo um aperto mais forte e o som de Sophie fica mais alto.
— Você gosta disso? — pergunto.
— Muito. Está difícil controlar agora...
— Está difícil para mim também. Mas não temos pressa,
não é mesmo?
— Não temos. Eu prefiro mais forte.
— Percebi. — Sorrio antes de voltar a beijá-la.
Deslizo minhas mãos pelas costas dela, por baixo da
blusa. Todo seu corpo se arrepia com meu toque.
— Preciso te preparar para algo... — ela diz, afastando
nossos lábios.
— O quê? — pergunto.
— Eu terei um orgasmo. — Engulo em seco ao ouvir as
palavras. — Apenas deixe acontecer... não se assuste ou pare,
tudo bem? — Balanço a cabeça em concordância. O impacto
agora foi grande. Sophie terá um orgasmo.
Porra! Sophie terá um orgasmo!
Uma pesquisa feita com 1.370 mulheres, disse que
apenas 35% das mulheres têm um orgasmo durante o sexo. 74%
delas alegaram que só têm orgasmos na masturbação. E isso
não importa agora. Sophie não está se masturbando e terá um
orgasmo. Ou esfregar o corpo no meu conta como masturbação?
Eu preciso pesquisar, mas agora não. Talvez eu goze ao vê-la
gozar. Não está muito fácil tê-la roçando em meu pau, por sorte
me masturbo o bastante para conseguir ter uma boa
durabilidade. Eu pondero parar, mas estou curioso o bastante.
Quero vê-la tendo um orgasmo.
Não posso ter todos esses pensamentos agora, por isso a
beijo, precisando expulsá-los da mente. Me afasto apenas para
colocar mais um travesseiro abaixo da minha cabeça e ficar um
pouco mais inclinado para frente, e volto a beijá-la. Beijar Sophie
é a melhor coisa que já fiz na vida, mas quero ver os seios dela.
Há pesquisas sobre orgasmos ao receber beijos nos seios. Eu
quero testar.
— Sophie, eu posso retirar sua camiseta? — peço e a
maluca arranca a camiseta de uma só vez. Minha boca se abre e
fecha inúmeras vezes e me sinto patético observando os seios
de Sophie. Se apenas com a claridade da TV eles já ficam
incríveis, com a luz acesa devem ser a perfeição. Me estico para
pegar o controle que liga a luz, mas minha namorada impede.
— Estou com vergonha.
— Por quê?
— Porque... porque eu nunca fiquei nua com um garoto.
— Eu compreendo.
— Tudo bem. Não se envergonhe, ok? Eu entendo você.
— Ela balança a cabeça positivamente, e agora sim sua carinha
de anjo está de volta. É verdadeira dessa vez. — Você é linda,
seus seios são lindos, seus mamilos são mesmo rosadinhos,
mesmo dando para ver muito pouco.
— Ok, Henrico, é agora que furo um buraco no chão e me
enterro dentro dele?
— Não. — Sorrio. — Me desculpe pela sinceridade. Você
envergonhada é inédito e engraçado. Cadê a garota provocadora
e corajosa?
— Não ria de mim e não conte a ninguém que sou uma
farsa — pede, me abraçando. — Era você quem deveria estar
assim, não eu. Por que está tão corajoso?
— Porque eu quero você e estou vencendo muitos medos
agora, mesmo que eu não esteja falando deles. Se lembra da
minha primeira viagem de avião?
— Sim.
— Quem estava ao meu lado, segurando a minha mão? —
pergunto.
— Eu.
— É em todos esses momentos que estou pensando.
Todas as vezes que foram necessárias, você estava de mãos
dadas comigo e eu consegui enfrentar todos os medos. Eu posso
enfrentar tudo. — Minha namorada começa a chorar de verdade
e eu apenas sorrio, enquanto sustento seu corpo. Adeus,
orgasmo!
No fundo, somos dois adolescentes em fase de
descobertas e temendo dar um passo diferente. Eu gosto muito
que esteja sendo assim. Me faz perceber que não sou tão
diferente. Eu e Sophie somos iguais. Um tentando impulsionar o
outro, quando os dois estão completamente receosos e
inseguros.
Eu consigo ligar essa situação ao passado. A única
diferença entre o nosso passado e o presente é que acabo de
descobrir que dessa vez terá que ser eu no controle.
Acordei e começo a não recomendar isso quando imagens
da noite passada invadem minha mente. Percebo que estou sem
camiseta, nua da cintura para cima, porém, coberta com o
edredom. Henrico não está na cama e, pela primeira vez,
agradeço por isso. A raiva que estou sentindo de mim faz com
que eu role na cama e deite de bruços, afogando a cabeça no
travesseiro. Não acredito que fiz o que fiz. Meu Deus! Eu sou a
garota dos guindastes e fugi na primeira oportunidade de ir além
com o meu namorado. A vida toda acreditei que seria Henrico a
recuar, que seria extremamente difícil receber ações dele, e o
oposto de tudo que acreditava simplesmente aconteceu e eu
recuei.
Nunca vou me perdoar. Santa Josefina, eu sou a garota
safadinha e pra frente. Ou talvez só acreditava ser. Agora estou
perdida. Eram só os seus seios, pelo amor de Deus, Sophie! Eu
queria vê-lo nu, queria que ele retirasse a cueca, mas não
suportei a ideia dele vendo e tocando os meus seios. Isso não
faz o menor sentido. O mais louco de tudo é que quero isso.
Quero Henrico me tocando, quero sexo com ele, muito mesmo. E
simplesmente deixei uma vergonha estúpida tomar conta de mim
e chorei por incontáveis minutos ontem à noite.
Agora minha única vergonha é de encarar o meu
namorado. Não me sinto confortável com essa situação, a
timidez não me deixa confortável. É por isso que pego toda a
coragem que possuo e me levanto em busca de Henrico. Sinto a
extrema necessidade de corrigir o que fiz ontem. Aquela não era
eu. Era uma menina assustada e medrosa.
O encontro na varandinha, observando o mar. Reúno toda
coragem, me aproximo e o abraço por trás. Sinto todo seu corpo
se retesar. Nunca posso esquecer que ele é o garoto "NÃO
GOSTO QUE ME TOQUE". Deixo um beijo em seu ombro e ele
logo relaxa.
— Ei, namorado.
— Ei, bebecita. — Esse apelido me faz rir. Era ele o meu
bebezinho e não o contrário. Há um motivo pelo qual ele está me
chamando assim essa manhã, mas não quero perguntar ou
descobrir. Certamente deve ser pelo mesmo motivo que eu o
chamo de bebecito. — São os seus mamilos em minhas costas?
— Começamos o dia com a sinceridade que só ele possui.
— Sim, são.
— E você se sente bem com isso? — pergunta, trazendo
as mãos sobre as minhas de uma forma protetora. Sei que ele
quer me passar segurança, e é bastante admirável.
— Sim. Estou bem.
— Se eu me virar de frente, você ficará bem? É dia, está
claro, eu poderei vê-la nitidamente. — Há algo bom nisso tudo.
Descobri ontem à noite que Henrico pode ser bastante safado em
situações "quentes". O que significa que "quem vê cara, não vê
fogo". Há um fogo natural nesse garoto, que se mantém
escondido. Aos poucos estou captando isso, e é realmente
incrível que ele seja assim.
Ele é mesmo uma caixinha de surpresas e engana tão
bem. Mergulhar no universo dele é a melhor coisa que já fiz na
vida. É como se somente eu tivesse o privilégio de poder saber
exatamente quem e como, ele é.
— Acho que ficarei bem. Na verdade, eu quero você,
mesmo que eu me perca na timidez em alguns momentos. Quero
você, tanto que sinto uma dor profunda por desejá-lo com tanta
intensidade. Só não sei como fazer isso, mas sei que vamos
descobrir juntos. — Me afasto dele e ele espera alguns longos
segundos antes de se virar de frente para mim.
Me surpreendo quando ele olha diretamente em meus
olhos. Há algo intenso na maneira como seu olhar se fixa ao
meu, é quase hipnótico, e por um momento me esqueço de estar
praticamente nua. Isso é muito mais quente do que jamais
imaginei que poderia ser.
Eu observo seus olhos descerem lentamente até os meus
seios. Observo também seu pomo de adão subir e descer uma
única vez assim que seus olhos se fixam em meus seios. É tão
intenso, que por um momento sinto vontade de levar as mãos
aos meus seios e cobri-los. Mas não faço. Eu venço isso.
— Você é a menina mais bonita do mundo, você é linda.
Seus seios são os mais bonitos do mundo, Sophie. Eu amo os
seus mamilos — ele diz, completamente sério, e isso me faz rir.
Ele acaba de quebrar a minha tensão sem nem mesmo perceber.
Não existe no mundo qualquer pessoa que seja mais fofa que
ele.
— Me desculpe por ontem à noite. — Seus olhos voltam
aos meus e ele quebra a distância entre nós. Fecho meus olhos
quando suas mãos tocam delicadamente o meu rosto.
— Uow, Sophie! Você não precisa me pedir desculpas por
nada. Sou o seu namorado. Você se envergonhou e está tudo
bem com isso. Eu respeito você.
— É por isso que eu estou me entregando a você. — Ele
desliza um polegar pelos meus lábios e solta um suspiro.
— Eu sei.
— Eu sou sua. Por completo. — Não consigo descrever o
impacto do beijo que Henrico me dá agora. Só sei que minhas
pernas vacilam por alguns segundos e que sou obrigada a
segurar nos braços dele. É diferente. Sempre tem sido diferente
e cada vez torna-se mais difícil explicar.
Deixando seus braços, levo minhas mãos às costas dele e
arranho lentamente. Seu corpo se retesa e um som rouco escapa
de sua garganta. Ele está duro. Eu estou excitada. Nem sei como
isso começou, mas eu quero que ele me leve para a cama e me
toque de todas as maneiras possíveis. Não menti quando disse
que o desejo que sinto por ele dói.
O incrível é que ele parece ler a minha mente e antes que
eu possa me dar conta, sinto a cama bater na parte posterior das
minhas pernas. Afastando meus lábios dos lábios dele, me deito
sob seu olhar atento. Henrico me olha com tanta intensidade, que
minha pele queima. A tensão surge quando ele se ajoelha na
cama e caminha para se encaixar entre minhas pernas. Um misto
de medo, com vontade e vergonha, diminui quando sua boca
volta à minha, num beijo mais lento agora.
Quando o beijo termina, agarro a coberta abaixo de mim.
Henrico beija meu pescoço pela primeira vez e eu jamais
imaginei que esse ato pudesse causar um efeito tão gostoso. Um
simples beijo no pescoço é... uau! Mas quando ele desce para o
meu ombro direito, eu começo a tremer. Mordo meu lábio inferior
enquanto espero pelo que está por vir. Ele beija acima dos meus
seios e eu abro a boca, em choque, quando sinto sua língua
deslizar no vão entre eles. Sinto uma imensa vontade de gritar e
perguntar aonde ele aprendeu essa bênção, mas não faço. Não
faço porque estou chocada com sua língua descendo até a beira
da minha calcinha. Até mesmo estou com a cabeça levantada
agora, apenas observando.
QUE PORRA É ESSA, HENRICO?!
CONTINUE...
— SENHOR DA GLÓRIA! — exclamo quando suas mãos
se fecham em meus seios e os aperta forte. Definitivamente,
gosto da pegada forte, porque sinto minha amiga vagina contrair
com essa ousadia do meu namorado.
— Sophie, eu não sei se estou fazendo isso certo. Pode
me ajudar?
— O quê? Te ajudar? Te ajudar em quê?
— Você está se sentindo bem com as minhas ações? —
Pior de tudo é conversarmos enquanto suas mãos permanecem
fechadas em meus seios. Eu gostaria de fazer um milhão de
piadinhas sexuais agora, mas sei que o assustarei com meus
pensamentos insanos.
— Nós estamos em qual base?
— Segunda.
— Como seria a terceira base mesmo? — pergunto.
— É um pouco mais selvagem, acontece o sexo oral e a
masturbação.
— Super topo! Já tirei a blusa, posso tirar a calcinha. —
Henrico arregala os olhos e eu começo a rir. — Você é além de
perfeito, Henrico. Faz com que eu me sinta segura, cuidada e
hoje você parece diferente de como estava ontem à noite. Algo
mudou, mas ainda é cedo para eu conseguir identificar. De
qualquer maneira, o que posso dizer? Você está mais ativo,
menos receoso, eu amo a maneira como suas mãos estão em
meus seios, isso mostra que por trás do garoto doce há um
homem mais selvagem, que gosta de pegar forte em mim. Seus
beijos estão parecendo calculados. Você me beija forte quando
quer me deixar excitada, e me beija delicadamente quando
percebe que estou tensa e que precisa me acalmar, me seduzir.
Talvez nem seja proposital e nem mesmo perceba isso. Eu acho
que é um dom natural. — Sorrio.
"Nessa manhã você está se aventurando em mim, sendo
corajoso, parece estar tomando as rédeas e está agindo como se
fosse experiente o bastante. Me encanta a maneira como está
vencendo todos os medos que sei que está sentindo, me encanta
como parece tão preocupado e tão disposto a me dar prazer, me
encanta a maneira como faz com que eu me entregue e me sinta
segura. Nunca tive qualquer experiência na vida para comparar,
mas eu juro por Deus, Henrico, que nem cabe em comparações.
Você precisa saber que eu nunca imaginei que esse
envolvimento poderia ser tão bom. Acreditava ser bom, com tudo
que via em filmes e todos os aprendizados teóricos. Porém, isso
que você me faz sentir vai muito além de todas as expectativas.
A cada beijo, a cada toque, eu percebo o quanto valeu a pena
esperar todos esses anos para ser amada por você. Eu te amo
além da vida, além do azul, além de todas as coisas. Você é o
meu menino mais bonito do mundo e o homem mais incrível."
— Sophie, eu quero ficar com você para sempre e quero
te dar muito prazer. Eu estudei e sei muitas coisas teóricas. Eu
farei com você. — Como ele pode ser tão fofo? Eu me apaixono
um pouco mais a cada segundo.
— O melhor pesquisador sobre sexo do mundo? Eu tenho!
— Ele sorri e olha para os meus seios com uma cara de
safadinho. É pra me matar mesmo! Quando pegarmos o embalo,
ninguém mais vai nos segurar, tenho certeza. Eu preciso
preparar a minha vida para uma quantidade louca de sexo, é
isso!
Ele está vindo fazer novas descobertas quando o filho de
uma boa mãe, chamado Samuel, começa a gritar:
— Aoooooo, meu povo! A família está esperando para a
cerimônia do lençol! — Samuel grita.
— Ele não está fazendo isso! — exclamo, enquanto
Henrico corre para pegar uma roupa para mim. É fofo.
Tudo é fofo!
Eu me visto e abro a porta, revoltada.
— Me dê um motivo para não chutar a sua bunda nesse
momento! — esbravejo.
— Tenho alguns. Sou um pobre garoto abandonado pelos
amigos, minha mãe brigou comigo e vocês estão transando como
canibais ao invés de me dar apoio moral.
— Por que está comparando sexo com canibalismo? —
Henrico pergunta.
— Canibal é um ser humano comer o outro — Samuel
argumenta. — Costumamos chamar sexo de "comer", o que é
um pouco feio, dependendo do contexto. Não podemos falar isso
para qualquer garota, mas é legal quando você tem uma
namorada e uma certa intimidade. Você simplesmente pode
chegar para ela e dizer "quero te comer todinha hoje", ela
certamente vai amar. Assim como uma garota chegar e dizer "me
come" é algo excelente. Sucesso garantido. A maioria das
garotas ficam excitadas. É doido na hora do sexo "me come,
desgraçado", você tem até que dar uma segurada no amigão,
porque senão ele faz besteirinha antes da hora. — Deus do céu,
perdoe Samuel, ele não sabe o que diz.
Ou talvez saiba.
— Eu não vou falar que quero comer Sophie. Eu como
alimentos, não a minha namorada.
— Só vem... — digo baixo. Se Henrico solta uma dessas,
a cachoeira de São Roque não vai chegar nem perto do estrago
na minha calcinha.
— Companheiro, companheiro, vem com o pai que vou te
dar umas dicas! — Samuel diz, o puxando.
— Olha, sinceramente? Não acho que Henrico precise de
mais dicas. Só a falta de filtro dele já faz um estrago que você
não tem ideia. É preciso muito controle psicológico para lidar com
meu namorado no modo falante e sincero. Agora, querido
namorado, lembre-se do filtro quando descermos. Lembre-se da
nossa regra sobre intimidade, tudo bem?
— Ok, Sophie. Você é linda demais — Henrico diz, me
oferecendo a mão e saindo do abraço de Samuel.
— As garotas gostam de umas palavras sujas na hora do
sexo — Samuel comenta enquanto andamos rumo à casa.
— Eu imagino seu repertório — comento, rindo.
— Palavras sujas. — Meu garoto "literal" deve estar
perdido nessa.
— Vou te ensinar, namorado. Não ouça Samuel agora.
Bom dia, família! — digo a todos os nossos familiares, que estão
sentados, tomando café da manhã.
Cumprimentamos a todos e nos acomodamos à mesa.
Preparo sanduíches para mim, para Henrico e para Samuel, e
começamos a comer.
— Sophie... — Henrico fala baixinho, quase sussurrando.
— Oi?
— Pode me dar um exemplo de palavra suja? — pede e
eu pressiono os lábios para não rir.
— Agora?
— Sim. Estou curioso e fico nervoso — explica. — Pode?
— Tudo bem. Vem aqui — digo, o puxando para mais
perto e me aproximo de seu ouvido. — Vou chupar seu pau
todinho e sentar nele até gozar. Quero que me foda forte... muito
forte... Vou te dar bem gostoso... — Henrico derruba um copo de
iogurte em mim e sai correndo da mesa.
— Que merda aconteceu?! — tia Paula pergunta,
visivelmente preocupada, e eu só consigo rir. — Ele está bem?
— Provavelmente — respondo, ficando de pé, coberta de
iogurte de morango. — Eu resolvo com ele. É algo... íntimo.
— Ah, puta que pariu mesmo! — meu pai esbraveja.
— Viram em que direção ele foi? — pergunto.
— Ele foi para o quarto, no segundo andar — tia Paula
responde e eu saio apressada. Preciso salvar meu príncipe de
todos os pensamentos loucos que devem estar rondando a
mente dele agora.

"Vou chupar seu pau todinho e sentar nele até gozar.


Quero que me foda forte... muito forte... Vou te dar bem
gostoso..."
Essas palavras não saem da minha mente, não saem.
Palavras sujas. Sophie me disse como exemplos ou disse
porque... porque quis dizê-las? Isso é inapropriado e
desrespeitoso, mas será que ela gosta? Samuel diz que as
garotas gostam, mas Sophie não é "as garotas". Sophie é minha
garota, e eu não sei se ela gosta disso.
Não sou um canibal para dizer que vou comê-la. Usar
essa expressão parece repugnante. Eu não sei namorar, é isso.
Não sei ser como Samuel. Eu não posso falar essas palavras.
— Henrico? — A voz da minha namorada surge, mas eu
não quero que ela entre agora. Ela não pode me ver assim, tão
desorientado. Sophie disse que vai chupar o meu pau!
— Sophie, você disse aquelas coisas porque quer fazê-las
ou apenas para dar os exemplos que pedi? — pergunto para ela
do outro lado da porta.
— As duas coisas. Você queria exemplos, eu dei
exemplos do que eu diria a você em um momento de intimidade.
O que há demais nisso? Faz parte da intimidade e acredito que
também vá acontecer naturalmente. Você vê vídeos educativos,
não vê?
— Sim.
— Nunca viu nenhum vídeo onde o casal fala esse tipo de
coisa?
— Eu nunca prestei muita atenção nas palavras —
confesso. — Na verdade, eu nunca ouço o som, porque uma vez
coloquei em um vídeo com muitos ruídos e não gostei.
— Ok, ouça, abra a porta. Nós podemos conversar sobre
isso, posso procurar um vídeo que não tenha muitos ruídos e te
mostrar. Podemos descobrir isso juntos. Não se isole ou tenha
uma crise por conta de palavras e de todas as descobertas.
Pense que é tudo novo para mim também e que estamos juntos
na fase de descobertas. Sou eu, Henrico, a sua Sophie. Não
precisa ficar nervoso, envergonhado. Não é desrespeitoso nem
nada do tipo.
— Sophie, você vai continuar me amando se eu não disser
essas palavras?
— Eu vou seguir te amando não importa o que aconteça,
Henrico. Mas, se quer mesmo saber, você já disse algumas
palavras sujas, como "quero te lamber".
— Mas você quer que eu diga outras palavras sujas?
— Não faço questão. — Caminho até a porta e abro.
Sophie entra toda suja de iogurte e com um sorriso no rosto. Ela
é completamente louca, mas absurdamente linda. — Ei,
namorado. Bom, sabe o que percebi? Temos passado muito
tempo em meio a uma tensão sexual. Acho que estamos
precisando descansar a mente um pouco. Podemos deixar a
tensão sexual para os momentos antes de dormir, ao menos por
enquanto. Quer dizer, óbvio que é APENAS POR ENQUANTO
mesmo. Enfim, vamos tentar distrair a mente durante o dia, fazer
alguns programas diferenciados.
— Talvez.
— Vou tomar banho, vestir um biquíni e vamos nos
aventurar pela praia, ok?
— Você de biquíni me faz querer ficar confortável —
confesso, me jogando na cama e cobrindo meu rosto com as
mãos. — Sophie, não sei se posso deixar de pensar em sexo.
Ser o seu namorado é extremamente difícil. É a coisa mais difícil
da minha vida. Eu amo seus seios e sua bunda. Agora que vi os
seus mamilos, eu realmente quero vê-los o tempo todo. Você de
biquíni... vou ficar imaginando seus mamilos e ficarei excitado.
Todos vão notar. Eu acho melhor ficar aqui, quieto.
— E assim disse o garoto que tem pavor de palavras
sujas! — Sophie geme e se joga ao meu lado. — Nós estamos
com problemas, menino mais bonito.
— Quais problemas?
— Estamos com excesso de desejo sexual — responde e
eu viro meu rosto para encontrar o dela.
— O que vamos fazer? — pergunto, atento.
— Só consigo pensar em uma coisa — ela declara,
suspirando.
— O quê?
— Pularmos para a terceira base.
Hiperfoco em sexo. Não preciso da minha terapeuta para
identificar essa questão.
Pessoas como eu, com síndrome de Asperger, tendem a
se concentrar em determinados tópicos quando se tornam um
interesse específico. Isso acaba fazendo com que o tema central
acabe sendo discutido dia e noite (mesmo que internamente,
como está acontecendo comigo). Durante toda a vida tive vários
momentos onde apenas um determinado assunto obtinha toda a
minha atenção e o meu interesse, e sempre foi um pouco difícil
para as pessoas que têm que conviver diretamente comigo.
Acabo me tornando irritante e, sem querer, comprometo minhas
relações sociais por sentir a extrema necessidade de debater
sobre as questões.
O hiperfoco da vez é o sexo, e o que me impede de falar
24 horas desse assunto é a regra que Sophie criou sobre a
nossa intimidade. Eu não estou debatendo sobre sexo, mas
estou pensando. O tempo todo. Isso me deixa nervoso, porque
eu gostaria de debater um pouco mais e gostaria de poder expor
todas as novas sensações que estou conhecendo.
Antes mesmo de iniciar uma relação com Sophie, esse
tema já vinha tomando parte da minha mente e houve muitos
debates com a minha terapeuta, com os meus pais. Demorei um
longo período para nutrir um interesse por relações sexuais,
porém, desde quando comecei, não consigo parar. Muitas das
vezes sei que os deixei constrangidos. Quando algo domina o
meu interesse, costumo debater de forma aberta, muitas das
vezes imprópria e inadequada. Não sou como a maioria das
pessoas, que conseguem tratar os assuntos escolhendo as
palavras certas e uma maneira menos agressiva. Falo o que
surge em minha mente, sem andar em círculos (como costumam
dizer sobre pessoas que encobrem determinados assuntos).
Pessoas como eu são consideradas notórias pelo fato de serem
extremamente verdadeiras, isso parece ser o certo. Ser
verdadeiro é considerado uma característica admirável, porém a
minha tendência a ser franco demais muitas das vezes pode
deixar as pessoas chocadas, principalmente quando envolve
temas que são considerados tabus e não podem ser debatidos
tão abertamente. É difícil manter os limites adequados e
controlados.
Desde que comecei com essa curiosidade, já debati sobre
os métodos contraceptivos, gravidez, uso de preservativo,
orgasmo, ejaculação, ejaculação involuntária (conhecida como
polução noturna), já debati sobre doenças sexualmente
transmissíveis, violência sexual, estupro... Eu me tornei um
estudioso sobre as regras sexuais, sobre o que um homem pode
ou não fazer com uma mulher. Mas viver isso é completamente
diferente da teoria.
O mais difícil tem sido lidar com os impulsos sexuais. Eles
têm surgido muito ao longo do dia, frequentemente e em
momentos inapropriados. Estou tendo que me esforçar pelo
autocontrole quando sou impulsivo e hipersensível.
Minha terapeuta me deu dicas de como eu poderia
abordar o assunto sexo com Sophie, quando eu criasse coragem
para dizer a ela que a amo e caso ela aceitasse ser a minha
namorada. Nós já fizemos isso. Nos amamos e já somos
namorados. Porém, tudo tem sido diferente da maneira como
imaginei que seria. Sophie não é autista, mas ela parece estar
"hiperfocada" em sexo tanto quanto eu. Ela é quente; em alguns
momentos se envergonha, mas em outros ela parece ousada o
bastante. Meus pais conversaram muito comigo sobre respeitar
uma garota, sobre não trazer tanto o assunto sexual para uma
possível relação amorosa, conversaram sobre eu precisar ser
mais delicado em minhas palavras. Mas... minha namorada,
talvez, não seja o tipo de garota que eles estavam pensando que
ela era. Com Sophie, sinto que posso simplesmente ser eu
mesmo, posso falar muito abertamente sem precisar ser tão
delicado em minhas palavras.
E, nas conversas com a minha terapeuta, os debates
seguiam como se ela estivesse falando para qualquer garoto
autista. As dicas foram preciosas, mas não me encaixo em nada
daquilo. Ela falava muito sobre consentimento, sobre limites
emocionais e mais uma série de fatores que eu precisava saber
para lidar com uma garota. Mas Sophie é uma garota sem limites
e ela está consentindo em tudo, e não há limites emocionais para
nós, porque eu sou dela e ela é completamente minha, ela confia
em mim tanto quanto eu confio nela, somos cúmplices e
melhores amigos. Isso é tão confuso. Eu sinto a necessidade de
ter um tipo de tratamento diferenciado para lidar com isso,
porque agora eu não sou um garoto autista querendo perder a
virgindade com uma garota que acabei de conhecer. É Sophie, a
minha garota, a menina que eu conheço desde a infância. Então
tudo deve ser tratado com uma outra perspectiva.
Nós decidimos ir para a terceira base quando chegarmos
em São Roque. É o nosso último dia aqui na Ilha e queremos um
tempo para poder explorar as possibilidades com calma.
Decidimos juntos. Eu gostaria de não debater com ela, mas é um
pouco difícil não debater e parece importante. Já descobri sobre
possíveis palavras sujas, e sinto a necessidade de descobrir
mais coisas sobre os pensamentos e expectativas da minha
namorada. Algo como me preparar para o futuro. Isso faz parte
da minha necessidade de regras e sequências, onde posso estar
completamente infiltrado dentro de uma zona de conforto que me
passe segurança. Mas deixa de fazer sentido quando coloquei
em minha mente que deveria me arriscar e fugir de tudo que me
protege de viver.
Eu não sei o que estou fazendo, não sei o que dizer, não
sei o que de fato fazer. Mas sei que vou aprender. Vou aprender
porque eu quero Sophie de uma maneira que eu também não
consigo entender. Complexo, como sempre fui. Talvez eu precise
pela primeira vez parar de buscar respostas, focar em sentir e em
deixar acontecer.
Há muitas confusões. Mas, quando vejo Sophie correndo
na areia da praia, a minha mente parece se acalmar. Apenas a
mente. O meu corpo inteiro começa a queimar com a visão,
pareço febril apenas por vê-la. As temidas reações involuntárias.
— Perdido em Sophie? — Minha mãe surge, sorrindo.
— Ela é... eu não posso dizer.
— Sei o que quer dizer. Bom, você é um garoto de muita
sorte, filho. Você tem uma das garotas mais lindas que já vi. Ela
te ama desde que se entende por gente, te entende melhor que
você mesmo se entende, esperou por você todos esses anos.
— Ela tem um corpo muito bonito — comento, analisando.
— Ela é...
— Gostosa — minha mãe conclui e meu rosto queima de
vergonha. — Sophie é linda e toda sua. Veja só que incrível!
Como vocês estão? Está sendo legal namorar com Sophie?
— Está sendo muito bom, porém, difícil. É muito difícil
namorar com Sophie, mãe. Às vezes acho que não posso fazer
isso, porque é muito difícil mesmo.
— Difícil? — Minha mãe não compreende. — Você sabe
que pode se abrir comigo. Sou sua mãe e temos todos os
segredos do mundo.
— Estou com hiperfoco.
— Hiperfoco em Sophie?
— Não, mãe... — Ela fica pensando e então compreende.
— Oh! Eita! Ok! — Sorrio por vê-la sem palavras. — Ok.
É... bom... mas estão se entendendo ou você precisa de ajuda?
— Estamos nos entendendo, mãe. Até o momento
estamos indo bem. Bom, eu preciso ir conversar com o meu pai
sobre os construtores, ok?
— Vá! Vou para a praia com Melinda. Vamos nos juntar à
sua garota.

Eu e Samuel estamos há um tempo conversando sobre


banalidades. Só então me dou conta de que ele disse que estava
com problemas. Como ele acabou zoando o plantão, logo após
ter dito isso, acabei deixando passar.
— Ei, você sabe que essa sua tatuagem faz parecer que
tem um mamilo gigante? — pergunto, referindo-me a uma
tatuagem que ele tem em volta do mamilo direito. É engraçado.
— Você já me falou isso ao menos 50 vezes desde que a
viu — responde, rindo.
— Me conte sobre sua briga com a tia Dandara. — O
sorriso dele desaparece no mesmo instante.
— Ela não quer que eu me mude para São Roque. Ela
quer que eu permaneça no Rio, cursando a faculdade de forma
presencial, disse que a qualidade de ensino cai quando optamos
pelo ensino à distancia e que vou absorver muito mais
frequentando as aulas presenciais. Mas não concordo com ela.
Tenho maior facilidade em aprender estudando sozinho do que
com as aulas dadas pelos professores. Sempre foi assim.
— Eu a entendo. Ela está com a razão, por mais que seja
difícil para você. Digo razão no sentido de se importar, entende?
É sua mãe, ela quer o melhor para você. Tia Dandara é super
apegada a você. Foi difícil lidar com o meu pai também, mas ele
só foi maleável por entender a minha situação com Henrico e por
eu prometer retomar os estudos em breve.
— Acontece que eu vou mudar para São Roque. Nunca
fiquei mais de duas semanas sem ver o meu irmão. Não vou
morar longe de Henrico. — Sorrio, porque Samuel é a coisa mais
lindinha desse mundo. — Não ria, Sophie. Fomos criados juntos,
eu não vou ficar no Rio sem vocês e eu sei que posso ser bem-
sucedido estudando à distância. Tenho comprometimento, tenho
maturidade quando preciso ter. Acabei de conversar com o meu
pai e ele confia em mim, ele confia em minhas promessas e em
minha vontade de ser um advogado bem-sucedido.
— Não acho justo comparar seu pai com a sua mãe. Fica
parecendo que ela é a bruxa má e ele o super-herói.
— Não é isso. Minha mãe é a mulher mais foda do mundo,
Sophie. Eu a amo incondicionalmente, tenho orgulho dela, me
inspiro nela, mas eu preciso voar. Preciso poder fazer o que
quero, só que ela quer me manter presa sob o braço.
— Eu acho que todas as mães são assim e acho também
que deve ser imensamente difícil ter que abrir as asas e deixar os
filhos voarem. Enfim, minha mãe me ensinou desde pequena um
jeito especial de lidar com o meu pai. Sua mãe é extremamente
parecida com o meu pai. Enquanto ele é o Harvey Specter, sua
mãe é a Jessica Pearson. A diferença é que ela é juíza e a
Jéssica advogada — comento, rindo. — O que quero dizer é que
é necessário ter tato e táticas para lidar com os dois. Eles são
muito imponentes, impenetráveis, rigorosos, acho que a profissão
deles exige isso e algumas vezes acabam não conseguindo
separar as coisas. Eles podem ser maleáveis quando nos
abrimos e quando dialogamos. Para lidar com o meu pai ou sua
mãe, requer muito diálogo. Você precisa chegar para ela e se
abrir, como se abriu comigo, expor seus pensamentos, expor
como se sente quando ela tenta estar no controle de sua vida,
precisa passar segurança a ela de que suas ações estão sendo
bem calculadas. Se você chegar e só dizer: "mãe, quero mudar
para São Roque e vou estudar à distância", não vai resolver,
Samuel. Temos que pensar que essas mudanças não são novas
apenas para nós, mas para eles também, entende? Requer
adaptação de ambas as partes.
— Ok, Sophie, quando foi que resolveu ser tão madura e
tratar as situações quase como uma psicóloga de pais?
— Eu não sei. — Sorrio. — É que todas essas mudanças
que estou passando estão me fazendo analisar mais as pessoas,
comportamentos e tudo mais. Eu consigo ver a relutância do meu
pai e o esforço absurdo que ele está fazendo para aceitar que eu
cresci e que preciso caminhar mais sozinha agora. Eu sinto um
pouco de tristeza por vê-lo assim, mas sinto orgulho também, ele
está se esforçando. Minha mãe também está sentida, mas ela é
bem mais leve que o meu pai, então ela está conduzindo mais de
maneira "lúdica", entende? Para ela, eu estou vivendo o meu
sonho, um conto de fadas. Ela não é o tipo de mulher que planeja
o futuro, ela é o tipo de mulher que vive intensamente o presente.
O meu pai já é mais categórico, mais analítico, metódico,
calculista. De alguma forma, os dois se encaixam muito bem e dá
certo. Tudo o que posso te dizer é que acaba não sendo muito
fácil para eles lidarem com o fato de que estamos indo voar.
Precisamos ter paciência para compreendermos eles e para
argumentarmos sobre nossas vontades. Converse com ela
novamente, ao invés de bater os pés como um garoto mimado,
ok? Você quer a independência e quer voar, então precisa
mostrar a ela que está pronto para isso. Batendo seus pés e
teimando, só mostra que é um garoto despreparado, e sabemos
que não é. Passe segurança a ela, Samuca.
— Uau, Sophie! Que porra te deu? De qualquer forma,
obrigado. Eu precisava ouvir isso. Agora eu já sei como agir com
a minha meritíssima maravilhosíssima mãe. Agora me fale sobre
você e meu irmão. Estou curioso.
— O que quer saber? Não transamos ainda. Estamos nos
conhecendo melhor. — Pressiono meus lábios para não entregar
sobre os avanços do meu namorado. — Henrico está diferente.
— Diferente como?
— Ele parece disposto a arriscar, parece disposto a
enfrentar situações onde não há nada sob controle. É curioso,
visto que ele sempre foi fechado dentro do próprio universo, onde
todas as coisas sempre foram devidamente calculadas e ele se
mantinha seguro de mudanças. Eu gosto dessa versão e ele tem
me surpreendido bastante quando se mostra muito mais
preparado que eu. Nunca imaginei que Henrico estaria preparado
para um passo tão grandioso, entende? Quando nos
imaginávamos juntos, eu acabava só pensando em como seria
difícil e em como todos os passos teriam que ser lentos. Se eu te
contar que é ele quem está tendo que ser um pouco paciente
agora, você acreditaria?
— Não.
— Pois é exatamente o que está acontecendo. — Samuel
está me olhando um pouco chocado. É chocante mesmo,
principalmente para nós, que sabemos exatamente como Henrico
sempre conduziu as coisas. Estou feliz que esteja sendo
exatamente dessa maneira. Meu bebecito é o meu maior orgulho
da vida.
Ele se junta a nós, acompanhado de toda a família.
Passamos um dia incrível!

Quando chega a noite, repetimos o ritual de apagar as


luzes e observar as estrelas. Dessa vez, Samuel se junta a nós,
mas não cala a boca nem por um segundo.
— Aoooo, saudade da cremosa!
— Quem é a cremosa? — Yasmin questiona, rindo.
— Hadassa? — pergunto.
— Não. Hadassa arregaça demais. A mulher consegue ser
mais louca que eu. Estou assustado — ele responde.
— Quem é Hadassa? Nome diferente — Thomaz é quem
pergunta agora.
— Uma garota muito louca que foi mandada para São
Roque como castigo — Samuel explica, rindo. — Ela é bonita pra
caralho mesmo. É mais velha que eu, mais louca também. Eu a
pedi em casamento, ela relutou num primeiro momento, mas está
na minha.
— Como assim ela foi mandada para São Roque? — Yaya
pergunta.
— O pai dela é fazendeiro e ela morava em Londres,
estava estudando. Parece que ela aloprou o bastante e o pai dela
a enviou de volta para São Roque. Ela odeia — Samuel conta,
rindo. — O pior é que ele acha que seria um castigo, mas a
garota está sendo muito vida louca made in roça. Ela derruba um
cabra bebedor na cachaça muito fácil. Além disso, ela está
esperando eu voltar para pegar meu carro emprestado. Ela tem a
mesma paixão que eu, também tem uma Lamborghini em
Londres e está revoltada por estar sem carro em São Roque.
Enfim, é uma história muito louca.
— O pai dela não está em São Roque?
— Não. Ficou em Londres e a deixou sob os cuidados dos
caseiros. Eles devem ter em torno de uns 70 anos de idade, e a
maluca está dando uma rasteira nos dois. — Quanto mais
Samuel fala, mais eu percebo que fodeu. Se ele voltar a São
Roque e se juntar com essa garota, o caos vai se formar.
— Você precisa ver como ela se veste — comento com
Yaya, sorrindo. — Extremamente chique, parece aquelas
patricinhas de filme, tem um glamour até para ir na padaria.
Prada, Gucci, Armani, Louboutin... são tantas coisas de grife, que
eu fico um pouco perdida. Mas, realmente, a mulher é linda.
— Thomazito, vamos passar uns dias em São Roque? Por
favor! Eu preciso ver meu irmão e essa garota juntos! — Yaya
pede a Thomaz e ele começa a rir.
— Nem fodendo! Eu tenho medo dela, é sério — Samuel
diz, rindo. — Thomaz, você não vai querer ir. Já estou louco para
te dar um tapa na orelha por fazer coisas inapropriadas com a
minha irmã! Ei, cara, não vai falar nada?! — pergunta a Henrico.
É preciso ter raciocínio rápido para lidar com Samuel. Ele é
ligado no 220.
— Não estou com vontade de conversar agora — meu
namorado sincero responde e eu decido salvá-lo da loucura.
— Ei, vamos pro chalé? Amanhã viajaremos cedo —
sugiro.
— Sim, Sophie.
— Aooo, trem que pula! — Dou um beliscão em Samuel e
todos começam a rir.
O que ninguém sabe é que eu e Henrico decidimos
retomar as coisas apenas quando chegarmos em São Roque.
Então, no quarto, apenas nos deitamos, assistimos um filme,
trocamos alguns beijos e dormimos abraçados.

A parte ruim acontece no dia seguinte, no momento de


voltarmos a São Roque.
Agora sim tudo parece real. Antes parecia que estava
vivendo um sonho, do qual iria acordar a qualquer momento.
Mas, por mais que estejamos indo viver a nossa felicidade, há
um pouco de tristeza por deixar as pessoas que amamos. Há
meus pais e meus tios, porém, de longe, a pessoa que mais está
precisando ser forte é tia Paula. Para ela, essa "despedida" tem
um peso maior, e eu estou surpresa com o quanto ela está
lutando para que Henrico não perceba que há uma devastação
em seu interior agora. Tio Lucca parece segurar a mão dela tão
forte quanto é capaz, e isso é tão bonito. Sei que assim que
virarmos as costas, ela vai desabar com força, e ele será
fundamental para mantê-la de pé.
Ela está feliz por nós, mas está dilacerada por saber que
agora o filho não estará mais ao seu alcance. Foram tantos anos
ao redor de Henrico, anos de preocupação, companheirismo,
acompanhando todas as fases e todas as dificuldades. Há um nó
em minha garganta enquanto a observo. Acho que não quero ser
mãe tão cedo. Requer um preparo emocional absurdo.
Querendo ou não, morei fora e os meus pais já estão um
pouco acostumados com a distância. Mesmo assim, há pesar
neles, em especial no meu pai. Ele sabe o que estou indo viver
agora, sabe que é diferente de uma breve mudança para os
estudos.
— Amanhã o jatinho vai levar na cidade vizinha todas as
coisas de vocês. Já está tudo organizado. Luiz Miguel e Samuel
vão amanhã também. Contratamos um transporte que deve
chegar por volta das três da tarde na casa de Eva. — Ele é lindo
tentando ignorar o sofrimento e mostrando-se totalmente
controlado.
— Ok, papai — digo, o encarando, e vejo as lágrimas
descerem livremente pelo seu rosto. Eu sabia que ele não
conseguiria ser tão inabalável. — Meu princeso! — falo e o
abraço forte.
— Eu te amo, princesinha da Disney dois. Seja feliz,
minha filha.
— Também te amo. Eu já sou a garota mais feliz do
mundo. Não chore, ok? Vamos nos falar todos os dias! Nada vai
mudar. — Ele balança a cabeça em compreensão e eu vou
abraçar minha mãe. — Mamãe, eu te amo do tamanho do
Universo.
— Eu também te amo. Não se esqueça de me ligar todos
os dias e me contar todos os mínimos detalhes da pegação, ok?
— Isso me faz rir. — Prometa para mim que será a menina mais
feliz do mundo?
— Eu já sou. Te amo, princesona da Disney. Você é linda
demais, mamãe. Cuide do nosso bebezão.
— Farei isso. — Ela sorri e me dá um beijo demorado na
testa.
Tio Lucca se afasta um pouco com Henrico, para ter
alguma conversa. Aproveito e me aproximo de tia Paula.
— Não me faça chorar... — ela pede. — Eu não posso
chorar ou Henrico ficará extremamente abalado. Ele não aceita
me ver chorar, entende? Henrico vê o meu choro como um
gatilho, e ele está feliz o bastante.
— Entendo. — Por conta do pai biológico, Henrico
desenvolveu alguns gatilhos muito ruins. — Então eu não a farei
chorar, tia. Só vim dizer para ficar tranquila. Henrico está indo
viver comigo, a pessoa que o conhece extremamente bem e que
sabe lidar com todas as questões sobre ele. Eu cuidarei dele com
todo o amor que possuo dentro de mim. Ele estará seguro e bem
amparado. Ele é o amor da minha vida, tia Paula.
— Eu disse para não me fazer chorar.
— Como corrigir isso? Seu filho é um gostoso que tem
uma pegada destruidora e 3.000 guindastes não conseguirão me
tirar de cima dele. Estou ansiosa para chegar logo em São
Roque e ficar confortável com ele. Fica melhor assim? —
pergunto e ela realmente ri. Minha tática dá certo.
— Fica melhor olhando por essa perspectiva. Sophie, eu
te amo demais e jamais serei capaz de agradecer por amar tanto
o meu garoto. Você faz com que a partida seja mais fácil, mais
aceitável. Sejam felizes, descubram um ao outro, desbravem a
sexualidade e o amor. Me deem netos no futuro. Daqui uns dez
anos parece bom para mim.
— Para mim também — falo, rindo. — Fique tranquila,
faço uso de anticoncepcional e tenho um estoque de
preservativos. Nada de bebês tão cedo.
— Cuide dele por mim, ok?
— Por você e por mim, eu prometo. Para sempre! —
Sorrio, me despedindo dela, e volto o olhar para Henrico. Pense
em uma pessoa radiante e empolgada? É o meu namorado.
Nunca o vi dessa maneira, mas é lindo. — Ei, menino mais
bonito, vamos? Quero parar na Casa do Alemão!
— Vamos.
É com um enorme sorriso no rosto que, após se despedir
de todos, Henrico caminha até o carro. E é com um enorme
pesar que, através do retrovisor, eu vejo tio Paula cair de joelhos
e chorar.
— Eu te amo, menino mais bonito do mundo.
— Ao infinito e além, Sophie.
— Com emoção ou sem emoção, Henrico Davi?
— Com emoção! — ele exclama e eu acelero rumo aos
dias mais quentes das nossas vidas.
Sei que é inevitável que os filhos cresçam e acabem
abandonando o ninho, mas a partida é dolorosa.
Não importa tudo o que estão me dizendo agora. Por mais
que tenha tentado me preparar para esse momento, não consigo
me manter plena. Minhas forças estão vacilando, porque Henrico
sempre foi o meu ponto mais fraco e todos sabem disso. É a
maior de todas as dores que já senti, mesmo sabendo que meu
filho está feliz.
Enquanto o carro se distancia, eu vejo todo um filme da
minha vida desde o nascimento do meu filho. Agora há uma dor
aguda em meu peito e um mar de dúvidas em minha mente.
Tantas lutas, tantos momentos incríveis. Eu queria mantê-lo para
sempre sob os meus cuidados, só para ter a certeza de que ele
jamais será ferido, jamais sentirá medo, jamais se sentirá
desprotegido. A única coisa que me conforta é saber que ele está
com a garota mais incrível que já tive o privilégio de conhecer:
Sophie. São tantas qualidades que ela possui, que eu ficaria
facilmente por horas enumerando-as.
Certa vez, em uma conversa com a terapeuta de Henrico,
ela me disse que um garoto autista precisa ter a sorte de
encontrar uma parceira na vida que consiga compreender toda a
sua adversidade, seus limites, seu "modus operandi", ela disse
também que é quase como uma questão de sorte encontrar
alguém assim e que a maioria dos garotos sofrem pela
dificuldade de se relacionar. Eu entendo que Henrico é um garoto
altamente privilegiado por poder viver o amor com a garota que
parece ser sua alma gêmea. Sempre foi Sophie, e isso é visível
desde quando eles ainda eram apenas crianças. Sophie mostrou
sua grandeza desde o primeiro contato com o meu filho e tem
sido incrível por toda uma vida.
Deveria me confortar, mas não acontece agora.
Dentro de casa, após a partida de Victor e Melinda, Lucca
me entrega um copo de água com açúcar e eu bebo. Do outro
lado do sofá há minha Yaya, com os olhos vermelhos de tanto
chorar. Ela ama o irmão, mesmo que ele nunca tenha permitido
que ela se aproximasse muito. Minha filha é a outra garota mais
incrível do mundo, que sempre compreendeu o irmão, mesmo
quando era extremamente difícil. Ela respeitava até mesmo o
afastamento e agora está desolada. Yaya sempre disse que
nunca vai nos deixar, que vai se casar e morar comigo, com o pai
e com o irmão. Certamente, ela acaba de perceber que não
teremos um integrante em nosso time de loucuras familiar.
Lucca é o homem que está tentando passar forças neste
momento, mas sei que até mesmo ele está sofrendo. Henrico
também é o mundo dele. Ele fez de Henrico o seu próprio filho,
sem distinção. Meu marido adaptou toda a nossa vida de acordo
com as necessidades do nosso filho, esteve ao lado dele nos
momentos mais difíceis e em todas as conquistas. Ele é a
referência masculina do meu filho. E vai além. Ai de quem dizer
que Henrico não tem o sangue dele correndo nas veias...
O máximo que já fiquei longe do meu filho foram dez dias
e, mesmo assim, ligando o tempo todo para saber notícias. Antes
de Lucca, éramos eu e ele contra o mundo. Contava com a ajuda
dos meus pais, mas eu estava em torno do meu filho o tempo
inteiro, com a preocupação de mãe amplificada por todas as
dificuldades que já enfrentamos e pelo fato do pai biológico dele
ser um grande pedaço de merda. Nunca larguei o meu menino,
principalmente depois que casei. Durante cinco anos, fomos
apenas eu e ele, eu fui o pai e a mãe do meu garotinho, nós
enfrentamos tantas batalhas...
Eu só queria que o tempo tivesse passado devagar e que
eu ainda pudesse fazê-lo dormir no aconchego dos meus braços,
protegê-lo do mundo. Acho que esse desejo passa pelo coração
de todas as mães ao ver que o momento do voo está se
aproximando ou chegou. São tantas fases desde o nascimento
de um filho, tantas descobertas, evoluções, batalhas diárias.
Houve períodos onde tudo o que fazia era impulsioná-lo, e outros
períodos onde eu precisava simplesmente resguardá-lo da
maldade humana. Eu nem me dei conta e o meu filho cresceu,
tornou-se um homem, deixou de ser dependente, começou a
sentir a necessidade de tomar as rédeas de sua própria vida.
Agora não sou mais eu quem ocuparei o lugar de destaque em
sua vida, é Sophie. É ela quem estará de frente para Henrico e
eu terei que fazer um outro papel que a maternidade exige: abrir
as minhas asas, deixá-lo voar e rezar para Deus protegê-lo em
todos os momentos em que eu não puder estar perto.
Preciso libertá-lo, permitir que ele busque respostas, que
ele faça descobertas, que ele conheça a independência tão
almejada e desbrave todo o amor que carrega dentro de si.
Porque o amor materno é assim, o verdadeiro amor deve ser
alado, mesmo que seja extremamente difícil deixar um filho voar.
E talvez essa seja a fase da vida onde eu terei que mostrar toda
a minha coragem e toda a minha fé. De repente, parece que
todas as batalhas foram pequenas diante dessa. Essa é uma
batalha minha comigo mesma. Quando digo fé, não é apenas em
Deus, é também em mim e em Lucca, na criação que demos ao
nosso garoto. Eu preciso ter fé de que fizemos a coisa certa e de
que não importa aonde Henrico esteja, nossos ensinamentos
sempre estarão com ele.
— Está mais calma, diabinha?
— Eu compreendo que ele tem que ir, que ele está feliz,
que ele precisa voar. Compreendo todas as coisas, Lucca, mas é
extremamente difícil vê-lo ir. Nesse exato momento estou me
perguntando como será a minha vida a partir de agora, porque
não faço ideia. Projetamos nossa rotina de acordo com as
necessidades de Henrico, e então ele se foi... Ele se foi e o que
faremos? Ele estará seguro? — Yaya quebra a distância e me
abraça forte. — Minha princesa, daqui a pouco é você indo... —
digo, voltando a chorar. — Meus filhos... Queria vocês para
sempre perto de mim.
— Não vou embora, mãe. Já disse. Vou morar aqui, no
mesmo terreno, na casa da piscina — ela diz, me fazendo sorrir
entre lágrimas. — Mãe, Henrico está tão bonitinho com Sophie.
Ele estava tão ansioso para ir e não estava disfarçando. Ele está
extremamente feliz e você deve ficar feliz também. Temos um
jatinho à disposição para chegarmos até ele em poucos minutos,
caso seja necessário ou quando a saudade ficar forte demais.
Não é o fim, mamãe. É o início de uma nova fase e ele sempre
estará conosco, sempre. Você e meu pai são os alicerces de
Henrico, ele não vai esquecer isso, mesmo que agora esteja
hiperfocado em Sophie. São amores diferentes.
— É isso, diabinha. Eu nem precisei dizer, porque criamos
uma filha tão incrível e tão inteligente quanto a mãe. E Henrico foi
criado da mesma forma, Paula. Vamos sorrir, brindar à felicidade
do nosso garoto e fazer amor de comemoração? Jacinta a minha
necessidade de te fazer ver estrelas. — Isso me faz rir,
principalmente quando Yasmin faz um som de nojo.
— Ecaaaa!
— Eca é você e aquele moleque. Até deixo ele dormir aqui
essa noite, se quiser — ele diz à nossa filha.
— Não. Eu vou dormir na casa dele e deixar vocês dois a
sós. Acho que hoje o senhor vai concordar que mamãe precisa
do seu "hiperfoco", papai. — Ela está certa. Eu preciso de Lucca.
Eu sempre preciso de Lucca. Na verdade, é meio louco a forma
como eu não sei não precisar de Lucca.
— Você concorda com a deserdada, Paula?
— Acho que sim, bebê Lucca. Podem me abraçar e dizer
que tudo ficará bem com o meu garoto? — Os dois me abraçam
e por um momento eu volto a me sentir confortável, enquanto
faço uma prece silenciosa.
"Senhor, quando meu filho não estiver sob meus olhos,
que ele esteja em Suas mãos. Quando não for possível que ele
me escute, que o Senhor seja, em sua mente, a voz que o
aconselha. Quando eu não estiver presente para apontar-lhe o
caminho, que o Senhor guie suas pernas. Quando não for
possível dar-lhe um colo de mãe, que o Senhor acalme o coração
do meu filho. Quando eu não puder dizer "leve o casaco", que o
Senhor seja o manto que aquece a sua alma. Quando eu não
puder fazer o curativo, que o Senhor cure suas feridas. Quando
não for ao meu alcance enxugar suas lágrimas, que o Senhor
evite que elas caiam. Quando ele se sentir sozinho, que o Senhor
seja a sua companhia, trazendo luz à sua solidão. E, quando ele
estiver feliz, que o Senhor sopre uma suave brisa sobre seu rosto
para que meu filho se lembre do meu carinho e que, onde ele
estiver, eu sempre o amarei. Amém."
— Fizemos um bom trabalho, Paula. Nosso garoto estará
seguro. Tivemos muitas conversas nos últimos dias e posso te
dizer, com garantia, que ele está preparado e é um homem feito
agora. Precisamos deixá-lo viver a vida adulta e precisamos
apoiá-lo, mostrar que confiamos e torcemos por ele. É o que ele
quer, o que ele precisa e o que ele espera de nós.
— Estou feliz, mas estou triste.
— Essa frase não costuma fazer muito sentido, mas se
encaixa bem. — Meu marido sorri. — Não quero minhas meninas
chorando. Quero que as duas se arrumem, para eu levá-las para
almoçar e distrair um pouco a mente. De acordo?
— Eu quero apenas me trancar no quarto, só por hoje.
Preciso de comida, um pote de sorvete de sobremesa e...
— Eu realmente estou indo pedir para Thomaz me buscar
antes que você termine a frase, mamãe — Yasmin diz.
— Yasmin, não pense que não estou percebendo você se
aproveitar da situação — Lucca fala para ela. — Só por hoje te
darei essa brecha, deserdada.
— Ok, papai!

Ela se vai, mas volta na parte da noite, com Thomaz ao


seu lado. É engraçado. Enquanto um filho quer sair voando, a
outra não consegue ficar muito tempo longe.
— Ahhhh, a deserdada voltou para o jantar!
— Olá, sogrão! Eu vim junto! — Thomaz diz e Lucca taca
um pano de prato na cara do garoto.
É agora que a loucura começa entre os dois e sei que isso
ocupará a minha mente por um tempo. Por que eu acho que isso
foi combinado? De qualquer forma, eu os amo, mesmo que eu
me sinta um pouco incompleta agora...
Como dizia Madre Tereza de Calcutá: “Os filhos são como
as águias, ensinarás a voar, mas não voarão o teu voo.
Ensinarás a sonhar, mas não sonharão os teus sonhos.
Ensinarás a viver, mas não viverão a tua vida. Mas, em cada voo,
em cada sonho e em cada vida permanecerá para sempre a
marca dos ensinamentos recebidos.”
Viajar com Henrico é engraçado, principalmente quando
ele parece ansioso a viagem inteira.
— Ei, estou cansada de dirigir. Estou há cinco horas nessa
missão. Temos duas opções: você assume a direção ou paramos
em algum lugar para descansar. O que escolhe, bebecito?
— Eu assumo a direção. Quero chegar em casa. — Ele
faz a escolha e eu logo encosto no acostamento, para
invertermos os papéis.
Sou a primeira a descer e dar a volta. Ele desce logo em
seguida. Sorrio maquiavelicamente antes de puxá-lo pela camisa
e beijá-lo de uma forma nada educada. O garoto parece ter um
conector no pau. Encosto no fio de cabelo dele e seu pau
endurece muito rápido, é fantástico isso! Só grudo meu corpo ao
dele e experimento a sensação de ter algo rijo bem grudado em
minha intimidade.
Suas mãos deslizam pelas minhas costas enquanto agarro
sua camisa fortemente. É então que um carro passa buzinando e
nos afastamos rapidamente.
— Senhor da Glória! Ser sua namorada é bem difícil! —
comento, suspirando e entrando no carro.
— Você é um pouco safada, Sophie. Literalmente —
Henrico diz quando começa a dirigir.
— Vamos lá, sinônimo de safada... — Pesquiso no
Google. — Indecorosa, impudica, obscena, depravada, libertina,
corrompida, impura, licenciosa, sórdida, mesquinha, indigna,
velhaca, abjeta, desonrosa, chula, escrota, fúfia, brejeira... Eita!
Em qual desses sentidos, namorado?
— Obscena, impudica, depravada — responde.
— Você acha isso ruim ou bom?
— Eu acho bom, porém é difícil de lidar, devido às reações
— explica, centrado na estrada.
— Você tem muitas reações, acontece rapidamente. Eu
amo isso. Ia complementar a frase, mas acho melhor podar as
palavras para não assustá-lo.
— É sobre sexo? — pergunta, curioso.
— É quase isso.
— Eu tenho algumas curiosidades, podemos conversar?
— pede. — Você é minha namorada, íntima, então eu realmente
ficaria feliz em poder conversar sobre sexo com você.
— Podemos conversar. Eu acho que vou amar e me
divertir com isso — confesso, animada.
— Você se masturba? — Minha boca quase vai ao chão
com a pergunta. Ele é muito direto, nem mesmo chega com
cuidado ao ponto. Mas se ele pode ser direto, significa que eu
também posso, e isso é realmente incrível.
— Sim. Às vezes — respondo, envergonhada.
— Como você faz isso?
— Quer que eu te mostre? — pergunto, horrorizada
demais com a situação, porém, quero...
— Não, Sophie, você é maluca? Eu só estou perguntando
teoricamente. — Deus! Eu amo muito o quanto ele pode ser
engraçado.
— Bom, é... Eu toco meu clitóris, faço alguns movimentos
realmente gostosos e uso da imaginação.
— Então é uma masturbação rasa. Nunca penetrou nada.
— Gente... meu ânus acaba de cair da bunda.
— Não mesmo. Só você vai me penetrar.
— Não fale assim, Sophie. É horrível dirigir de pau duro e
imaginando situações.
— Você se masturba? — É a minha vez de perguntar.
— Sim.
— Com que frequência?
— Constantemente. — Sorrio, imaginando, e decido ir
além, já que ele resolveu ser aberto.
— Quando foi a última vez que se masturbou? —
pergunto.
— Ontem.
— O quê??? — grito. — Como? Quando? Onde? Por
quê?
— No banho, assim que voltamos da praia. Você estava
muito gostosa, sua bunda é perfeita e eu estava imaginando os
seus mamilos. Eu ainda não beijei eles.
— Santa Josefina! E ele não diz palavras sujas... —
divago. Quem precisa de palavras sujas? — Você tem se
masturbado diariamente?
— Sophie, não quero assustá-la, por isso não irei
responder. Quando foi a última vez que se masturbou?
— Já faz um tempo. Eu tenho acumulado tesão, tenho
evitado fazer isso — confesso.
— Com qual finalidade?
— Apenas cansei de fazer isso sozinha, não me sinto tão
bem. Entende?
— Você deve saber que se masturbar é saudável e
indicado, tanto biologicamente quanto psicologicamente. Libera
endorfinas e catecolaminas, diminui os níveis de stress e melhora
o humor, melhora o sono, fortalece o sistema imunológico e até
mesmo alivia um pouco as dores menstruais. Além disso, é uma
forma de conhecer o próprio corpo, descobrir a potencialidade
dele. — Estou chocada, e, amanhã, nesse mesmo horário, ainda
estarei chocada. — Você sente libido normalmente?
— É claro que sim.
— Então sente vergonha de se masturbar com
frequência?
— Na verdade, sinto um pouco de vergonha sim, não
apenas com a frequência. Não me sinto tão confortável fazendo
isso e me sinto frustrada quando termino. Nem todas as garotas
conseguem ser autossuficientes sexualmente. Acho que espero
muito pelo contato físico e acredito muito que será dessa forma
que chegarei ao topo do prazer. Eu quero ter um orgasmo e
poder sentir o seu toque, ganhar os seus beijos antes, durante e
depois. Gozar sozinha é... solitário demais, já que é sozinha...
dã... acho que você entendeu — digo, nervosa.
— Entendi. Você é linda, Sophie. Obrigado por conversar
sobre sexo comigo.
— Não tem que me agradecer. Estou gostando, mesmo
que seja embaraçoso. — Sorrio.
— Eu li que a maioria das mulheres que sentem maior
prazer na masturbação, não conseguem muito ter orgasmos
durante o sexo. Acho que há uma deficiência em alguns homens
em relação a conhecer o corpo da mulher e descobrir o que pode
causar prazer nela, como levá-la ao orgasmo. Você não sente
muito prazer na automasturbação, então eu terei que fazer com
que sinta prazer no sexo. Você acha que pode gostar de
masturbação se for eu fazendo em você? — Eu nunca quis tanto
chegar em casa. Juro por Deus! Talvez na hora H eu vá amarelar
um pouco, mas, agora, tudo o que consigo pensar é em ficar nua
e pedir para que Henrico me toque. Eu poderia facilmente
implorar por isso. — Está tudo bem se não quiser responder,
Sophie. Me desculpe. É que estou muito curioso sobre você.
— Está tudo bem. Tenho certeza que vou amar a
masturbação se for você fazendo em mim. Me desculpe, apenas
estou um pouco excitada com essa conversa.
— Agora? Você está excitada agora? — O garoto vai bater
o carro!
— Você não?
— Um pouco. Acho que ficarei mais excitado sabendo que
você está excitada. Seu piercing atrapalha a masturbação?
— Não! Você está sempre falando sobre meu piercing,
parece curioso — comento, sorrindo.
— Eu tenho curiosidade sobre seu piercing e sobre você
nua — confessa. — Eu sonho com você nua, mas nunca parece
o suficiente nos sonhos e acabo ficando frustrado por tentar
imaginar. Estou feliz por iniciarmos a terceira base, eu poderei
fazer as duas coisas de uma só vez. Estou muito ansioso.
— Até o final da semana eu perco o meu lacre. — Era um
pensamento, mas acabei de dizer em voz alta e Henrico até
diminui a velocidade.
— Você tem um lacre?
— Não! — exclamo, rindo. — Me referia à virgindade.
— Então, nesse caso, lacre seria o seu hímen?
— É... — Estou começando a delirar nessa conversa,
porque Henrico parece saber a teoria de todas as coisas
relacionadas a sexo. Ele se cala e parece pensativo o bastante
enquanto dirige. Encosto minha cabeça na janela e vou sorrindo
até São Roque.
Há um frio em minha barriga quando entramos na cidade.
Henrico parece sentir o mesmo. Noto pela maneira como ele
fecha as mãos em torno do volante com mais força. Esse simples
gesto é uma revelação involuntária do que está por vir e isso faz
um leve frio na barriga surgir.
— Chegamos, Sophie.
— Aham.
— Você está bem? Está com medo? — Não respondo. —
Não fique com medo, Sophie. Vou cuidar de você, prometo. Eu te
amo para sempre. Você é a menina mais bonita do mundo. Pode
confiar em mim?
— Eu confio. — Henrico segura minhas mãos, as beija e a
ansiedade sufocante se dissipa diante de toda a doçura. Ele beija
a minha boca e toda a coragem volta com força.
Confio nele.
Não confio em nós dois juntos.
Apertem os cintos e sejam bem-vindos à terceira base!
Assim que descemos do carro, Maicon surge, apressado.
Noto que Henrico não gosta dele, porque muda o semblante no
mesmo instante.
— Olha a garota mais gostosa! — Maicon diz, me puxando
para um abraço.
— Olá, você! — o cumprimento, sorrindo.
— Eva e Théo acabaram fazendo uma viagem romântica.
Fiquei responsável por entregar as chaves a vocês. Eva pensou
que vocês chegariam sentindo fome e por isso a geladeira está
um pouco abastecida para essa noite — explica. — Oi, Henrico.
Foi bem de viagem?
— Não gosto de você e não gosto que chame Sophie de
gostosa. — Meu namorado... misericórdia! Ele é sincero demais!
Como amigos era um pouco mais fácil... ou talvez nunca tenha
sido fácil.
— Oh, é por isso que sempre me olha de cara feia? —
Maicon pergunta, rindo. — É mais fácil Sophie ter que sentir
ciúmes. Você é extremamente gostoso. — Pressiono meus lábios
para não rir ao notar a cara que Henrico está fazendo para ele
agora. — Se eu deixar de chamá-la de gostosa, nós poderemos
ser amigos?
— Não me sinto disposto a fazer amizades. Gosto de não
ter amigos.
— Ah, eu realmente entendo isso, camarada. Bom, eu sei
que você tem autismo e que as relações podem ser um pouco
complicadas. Eu nem tenho e às vezes sinto vontade de mandar
pessoas para o inferno, tudo para não ter que socializar. De
qualquer forma, eu não tenho interesse em sua garota. Sou gay e
espero um dia ser seu amigo, ou ao menos colega. Quem sabe?
— Henrico foi tapeado. Ele agora está analisando as palavras de
Maicon. Quase dá para ver as engrenagens na mente dele.
— Maicon, meu amor, muito obrigada por vir nos receber.
— A casa está pronta para vocês darem o toque pessoal.
Ajudei Eva a retirar toda a personalidade dela. Esperamos que
sejam felizes nessa nova etapa. Conversamos aquele dia e sei
que esperou uma vida inteira para isso. — Meus olhos se
enchem de lágrimas com as palavras dele.
— Uma vida inteira. Muito obrigada pelo carinho. Você é
bem-vindo a nos visitar. Não é mesmo, Henrico? — pergunto ao
meu namorado.
— Não gosto muito de visitas. — Maicon ri com a resposta
dele.
— Deus! Eu acho que amo o Henrico! Ele é muito sincero.
Queria ser como ele. Às vezes surgem umas assombrações na
casa da minha mãe. Dá vontade de expulsá-las dizendo: "não
gosto de visitas, vão embora". Queria poder ser sincerão assim.
"Não gosto de você. Não sinto verdade em você. Acho você, sim,
incoerente, você está onde te convém. Em todos os seus jeitos,
falas, posicionamento e etc.". Muito vibes ser assim. — Fico feliz
por Maicon entender e levar na diversão o jeito do meu
emburradinho sincero. — Bom, vou deixá-los. Se precisar de
qualquer coisa, você tem o meu número, Sophie. Não hesite em
me ligar, a qualquer hora. Vizinhos são o chá da horta. A
propósito, estou cuidando da Bel e só a devolverei amanhã. —
Sorrio.
— Obrigada, de coração! — O abraço.
Enquanto vou abrir a porta, Henrico pega nossas malas no
carro. Quando entro, noto tudo diferente. Eva deixou mesmo a
casa preparada para nós e eu nunca serei capaz de agradecê-la
o suficiente. Estou feliz por notar que eu e Henrico teremos que
dar o nosso toque pessoal na casa.
Após deixar as malas na sala, Henrico sai para conhecer a
casa e parece gostar muito.
— Eva não tem vontade de vender essa casa? —
pergunta. — Veja só, há um enorme terreno atrás, a casa é
incrível, só um pouco mal aproveitada.
— Não perguntei isso a ela, mas podemos perguntar.
Bom, há dois quartos e um escritório. Agora precisamos decidir
algo importante...
— O quê?
— Vamos dormir juntos? — Ele volta o olhar para mim e
olha para o quarto principal. Faz isso repetida vezes e parece
ponderar. É tão fofo.
— Eu quero dormir com você, Sophie. Mas...
— Eu sei que às vezes precisa de espaço e está tudo
bem. Nós podemos ficar no mesmo quarto, meu amor. Quando
precisar de espaço, eu saberei respeitar e você poderá ir para o
quarto de hóspedes. O que acha?
— Obrigado por entender e respeitar.
— Eu te conheço, menino mais bonito. Eu te entendo
também. E, acima de tudo, eu te respeito. Sempre irei te
respeitar — digo, o abraçando. — Eu te amo tanto.
— Também te amo. Somos namorados.
— Somos mais que namorados. Bom, vou pegar algumas
roupas na mala, tomar um banho e preparar algo para
comermos. Estou um pouco cansada da viagem, mas é a nossa
primeira noite aqui e precisamos comemorar.
Ele permanece no quarto enquanto estou ligada no 220 da
animação.
Pense em um lugar frio? São Roque! E pense em uma
pessoa que ama frio? Eu! Tudo bem que eu também amo o calor,
mas o frio é diferente, me inspira e me deixa animada. Nesse
momento sou extremamente grata por ter uma lareira ecológica
na sala e nos quartos. Eu as acendo mais que depressa após
pegar minhas roupas.
Há dois banheiros: o social e o da suíte. Eu decido tomar
banho no social hoje, porque sei que Henrico precisa se
acostumar com esse novo nível de intimidade, e o banheiro da
suíte não tem porta.
Quando saio do banho percebo que eu sou uma idiota e
que Henrico está bem à frente de mim. Eu não tomei banho na
suíte, mas ele está tomando, mesmo sabendo que posso entrar a
qualquer momento. Confesso estar curiosa, mas decido respeitar
a privacidade dele apenas por hoje. Ao invés de atacá-lo, ligo
para os meus pais, para avisar que chegamos, e ligo para tio
Lucca, que me fala que Henrico enviou uma mensagem
avisando.
Minha segunda tentativa de cozinhar é fracassada.
Encontro na geladeira uma travessa de canelone com um bilhete
em cima:
"Leve ao forno por 30 minutinhos e bom apetite. Há um vinho na
adega, fica excelente como acompanhamento. Com amor, Théo
e Eva."
Eles são incríveis e eu os agradeço. Levo a travessa ao
forno e vou em busca do vinho. Henrico não tem o costume de
beber, mas, talvez aceite uma taça em comemoração. Estou
distraída quando sinto o cheiro do perfume dele. Juro que até
arrepio. O homem tem que ser gostoso até no perfume? É muita
pressão ser namorada dele.
Ele está vestindo uma calça de moletom preta, uma blusa
de linho bege clarinha, seus cabelos ainda estão levemente
molhados do banho e ele está calçando meias apenas. Eu amo
esse modo "ficar em casa".
— Ei, menino mais bonito.
— Sophie, é muito difícil morar com você — ele fala, se
acomodando em uma banqueta.
— Mas acabamos de chegar. Como pode ser difícil?
— Eu apenas estava pensando no banho. Será difícil de
qualquer forma. É diferente, porque verei as suas calcinhas e
você verá as minhas cuecas. Não sei como faremos a divisão de
atividades domésticas. É estranho pensar em viver uma vida a
dois com você.
— Entendo. — Sorrio. — Mas você quer isso, não quer?
— É lógico que quero, Sophie. É apenas difícil. Agora
parece real, antes parecia um sonho.
— Eu penso da mesma forma. Agora está muito real. —
Sorrio. — Mas eu sou a menina mais feliz do mundo inteiro. Que
tal um pouco de vinho?
— Você sabe que não gosto de bebidas.
— Eu sei que não, nem quero te levar para esse caminho,
mas achei que poderia tomar apenas um pouquinho, para
comemorarmos a nossa primeira noite morando juntos. — Ele faz
um aceno positivo e sorri.
Sirvo vinho em duas taças e, antes de beber, retiro a
massa do forno.
— Isso está cheirando bem — Henrico comenta.
— Muito bem. Estou faminta.
— Você sabe cozinhar? — pergunta.
— Você sabe que com a ajuda do Google eu cozinho
qualquer coisa.
— É verdade. Por esse motivo gosto de seguir sequências
e receitas. O passo a passo ajuda com que nos tornemos
capazes de tudo. — Sorrio do seu jeitinho metódico e sirvo o
canelone em dois pratos.
— Ou quase tudo. É um pouco ruim que não exista um
passo a passo para todas as coisas da vida. Um manual de
instruções — comento, me juntando a ele. — Vamos brindar? Eu
proponho um brinde à nossa primeira noite morando juntos e a
todas as coisas que não precisam de um manual de instruções.
— Você é linda. — Ele brinda e faz uma cara
extremamente engraçada ao provar o vinho. — Isso é horrível!
— Não é. É apenas questão de costume — explico, rindo.
— Há Coca-Cola na geladeira, quer?
— Qualquer coisa, menos isso. — Ele vai pegar a Coca e
se junta a mim novamente.
Começamos a comer, mas a cada vez que bebo um pouco
de vinho, vejo seu olhar um pouco reprovador.
— Você sabia que uma caneca de 665 ml de cerveja e
uma taça média com 175 ml de vinho possuem praticamente o
mesmo teor alcoólico?
— Não sabia. Nunca tive curiosidade de pesquisar sobre
isso — comento.
— Não me importo que beba. Sei que tenta mentir para
mim sobre bebidas, mas eu sempre fui capaz de perceber
quando estava alcoolizada. Não quero controlar você de forma
alguma e nem estou falando que já está alcoolizada. Acho que é
uma garota livre e que deve fazer o que quer. Assim como você
respeita o meu universo, eu respeito o seu. Só há uma questão
que preciso pontuar, apenas para que fique sabendo, visto que é
a nossa primeira noite morando juntos e que somos um casal
agora. — Ele está sério enquanto fala. Henrico e suas nuances...
— Qual questão?
— Eu nunca vou tocá-la quando estiver alcoolizada. Nem
mesmo um único beijo. — Há uma firmeza em seu tom de voz. —
Então é você quem decide se vai seguir bebendo ou se tem
outros planos para essa noite. — O impacto pela maneira como
ele acabou de falar me deixa sem palavras.
Eu deixo o restante de vinho e passo a beber a Coca-Cola
do copo dele. Eu juro notar um vestígio de sorriso em seu rosto,
mas ele disfarça bem dessa vez.
— Desde que nos encontramos, eu só foquei em seduzi-
lo. — Um sorriso tímido escapa do meu namorado. Acabamos de
jantar, escovamos os dentes e agora estamos na sala assistindo
um filme que eu nem sei dizer sobre o que é. — Eu acho que fui
uma péssima amiga, então eu gostaria de saber como tem sido a
faculdade e todas as coisas. Conversamos pouco sobre tudo
isso.
— Não foi uma péssima amiga, Sophie. Tudo segue do
mesmo jeito. A faculdade é a parte que mais me deixa frustrado,
porque meus pais e minha terapeuta insistiram que eu deveria
assistir as aulas regularmente, de acordo com o cronograma,
como o garoto normal que eu sou. Mas acontece que não me
vejo muito como um garoto normal e as aulas são um pouco
tediosas, porque estou à frente das matérias. Porém, me esforço,
porque estudo on-line e isso já é algo valioso para mim. Não
conseguiria frequentar uma universidade. — Acho engraçado
quando ele diz coisas assim, me mostra uma outra perspectiva
da vida. Nota-se que até mesmo o excesso de inteligência pode
causar alguns pequenos problemas e insatisfação. Ninguém está
imune às frustrações; nem os inteligentes, nem os bilionários,
nem as pessoas excessivamente belas...
— A sua inteligência é um pouco assustadora. Eu aposto
que corrige os professores nas aulas on-line também.
— Já aconteceu — confessa. — Bom, em algumas aulas
eu simplesmente abaixo o som e vou trabalhar.
— Tem criado muitos jogos?
— Eu cansei um pouco de jogos. Desde que criei um
software para o escritório dos nossos pais, eles têm insistido
nisso. Acabei desenvolvendo algo similar para algumas
empresas clientes do escritório. De qualquer forma, eu decidi dar
um tempo de tudo isso agora. Fiz um bom dinheiro ao longo dos
anos e quero você. — Não consigo acompanhar bem o raciocínio
dele agora.
— O quê? Ok, eu só não acompanhei o raciocínio...
— Sophie, eu sei que você largou a faculdade por um
tempo e imagino que isso tenha algum tipo de ligação comigo.
Antes eu mergulhava de cabeça em estudos e trabalho porque
costumavam ser o meu foco, a minha distração. Agora deixou de
ser. Não significa que eu vá abandonar tudo para viver o nosso
relacionamento. Em alguns momentos meu trabalho será
solicitado e seguirei com a faculdade, porque quero que acabe
logo. Porém, eu quero que a maior parte do meu tempo seja
gasto com você. A parte boa é que estou de férias da faculdade
por mais algumas semanas. — O meu silêncio parece incomodá-
lo um pouco, mas estou em choque. — Há algo errado?
— Não. Não há nada errado. Só estou pensando. — Ele
segue me analisando, como se estivesse esperando por uma
explicação melhorada. Nem sei explicar direito o que de fato
estou pensando agora. Ele está sendo apenas diferente de tudo
que eu imaginava. — Eu sou apenas uma menina. Enxerguei
isso agora. Quer dizer... É que... sabe quando você é
surpreendido?
— Sei.
— Aconteceu agora. Eu fui surpreendida ao perceber que
você parece muito mais preparado que eu. Digo... você está no
controle. E eu achei que seria eu no controle. — Dou um sorriso.
— Não é uma reclamação, são apenas pensamentos loucos.
Acho que pelo fato de nunca ter tido um namorado, um
relacionamento, ver que é realmente sério e real me causa um
certo impacto. Estou vendo a realização dos meus sonhos bem
diante dos meus olhos, como se fosse em câmera lenta, só que
em uma perspectiva diferente, porque não esperava você ser a
cabeça da relação. Acreditava que cada passo teria que ser dado
de maneira calculada e lenta, como quando eu te dei a mão e te
incentivei lá na infância. Pensei que seria assim novamente.
— Eu não entendi absolutamente nada — meu namorado
declara. — Só me diga se é algo bom ou ruim, por favor?
— É algo bom. É só que é você me dando a mão dessa
vez, por isso parece diferente para mim. Esqueça todas as
merdas que estou falando — peço, sorrindo, e remexo meus
ombros. Eles estão tensos, doloridos pela viagem e pela
ansiedade.
— Está sentindo dor?
— Sim, um pouco. Dirigi por muitas horas e não tem
qualquer relaxante muscular aqui.
— Se você tiver algum creme, talvez eu possa massagear
seus ombros — ele oferece e eu sorrio. — Ajudaria?
— Sim, ajudaria. Vou pegar um creme. — Corro até o
quarto, pego o primeiro creme que encontro e volto para a sala.
Estávamos sentados no tapete, lado a lado, mas agora ele abre
as pernas e eu me sento entre elas, de costas para ele.
Prendo meus cabelos em um coque frouxo e retiro meu
casaco. Por baixo dele estou vestindo uma camiseta de dormir,
com alça fina. A ideia da massagem me deixa ainda mais tensa,
presa em uma expectativa absurda.
Aguardo o toque de Henrico e, quando acontece, mordo
meu lábio com força. Sua respiração no lado direito do meu
pescoço faz com que eu tombe levemente a cabeça. O aperto
das mãos dele em meus ombros é quase uma tortura; não tão
forte, nem tão fraco. Uma pressão que parece ter sido
devidamente calculada.
As alças da minha camiseta escorregam no processo e
Henrico massageia meu pescoço, fazendo com que um gemido
escape do fundo da minha garganta. Eu já nem posso afirmar
que ele não nota o que me causa. Já não sei dizer se há ainda
tanta inocência em seus atos, porque ele simplesmente decide
fazer uma trilha de beijos pela minha nuca, até sua boca pairar
do outro lado do meu pescoço. Vejo que há um pouco de
insegurança em suas ações, mas vejo também que ele se
arrisca, e tudo o que posso dizer é que ele está no caminho
certo.
O calor de seu hálito faz com que todo meu corpo se
arrepie. É tão gostoso, que não consigo conter os sons que
escapam involuntariamente. E, sem querer, eles acabam
servindo de combustível para incentivar Henrico a continuar. De
repente, não há mais massagem em meus ombros. As mãos dele
deslizam pelos meus seios, por cima da camiseta, e ele os aperta
fortemente enquanto segue beijando meu pescoço. Minhas mãos
se juntam as dele e ele ofega em meu ouvido. A coragem dele
acaba tornando-se uma motivação. É lindo de ver ele vencendo
medos e barreiras, isso faz com que eu queira vencer também, e
é pensando nisso que fico de pé.
— Me desculpe, Sophie.
— Não — digo, oferecendo minha mão a ele.
Por alguns segundos ele fica apenas olhando, mas depois
a pega e fica de pé.
— Eu não deveria ter...
— Shiu! — o calo. — Eu só quero ir para o quarto, para a
cama, com você. — Henrico parece surpreso, mas me
acompanha até o quarto. É legal ver um pouco da coragem
vacilar. Acho que oscilamos bem entre a coragem e o medo.
A primeira coisa que faço ao chegar no quarto é beijá-lo
delicadamente, a segunda é retirar o agasalho e a camisa dele.
Feito isso, me afasto para observá-lo e noto a maneira como ele
fica ligeiramente tímido com a minha avaliação. Meu bebecito
levemente inocente.
Ele é EXTREMAMENTE GOSTOSO, MALDIÇÃO!
Me aproximo novamente, vendo a tensão crua. Henrico
não gosta de toques e todo seu corpo se retesa quando levo
minhas mãos em seu peitoral e começo a traçar todas as
ondulações de seu abdome.
Deslizo meu dedo indicador pela linha fina de pelinhos
abaixo de seu umbigo e ele segura minha mão antes que eu
possa avançar.
— Sou eu...
— Eu sei. Eu só preciso me acostumar — responde.
— Posso retirar sua calça? — Ele não responde,
simplesmente desliza a peça pelas pernas e fica de cueca. É
uma morte lenta vê-lo de cueca boxer branca. Eu consigo ver
muito bem o pacote duro dentro dela e mal consigo desviar os
olhos. Sinto um misto de tesão, admiração, sorte e receio.
Senhor da glória! Eu sou louca por esse homem e não
penso duas vezes antes de retirar minha camiseta e jogá-la
longe. Os olhos dele também se entregam, fixados em meus
seios. É como se tudo deixasse de existir e só existissem os
meus seios.
Eu retiro minha calça e isso faz com que ele desvie o olhar
e foque mais abaixo.
Sophie está ficando nua!
Eu sonhei com isso a vida inteira e agora está se
realizando.
Por um segundo quero simplesmente pegar a minha calça
e sair correndo para qualquer lugar dessa cidade. Porém, me
mantenho de pé, analisando toda a cena e atento a todos os
movimentos da minha namorada. Eu gostaria de ligar para o meu
pai e dizer a ele que vou ver a minha namorada nua, mas não
posso fazer isso. Faz parte da nossa regra de intimidade.
Felizmente, há a lareira acesa, iluminando o corpo da
minha garota e permitindo que eu seja capaz de ver tudo. E é
graças a essa luminosidade que eu vejo o momento exato em
que ela leva as mãos nas laterais da calcinha e começa a
deslizar a peça. Me perco entre olhar para o rosto dela e
questionar o que ela está fazendo, ou simplesmente deixar que
meu olhar acompanhe os movimentos.
Acompanho sua mão e vejo a calcinha voar para o canto
do quarto, só então crio coragem para encarar Sophie. Primeiro
observo seu rosto. Suas bochechas estão levemente
avermelhadas e ela está mordendo fortemente o lábio inferior.
— Oh, merda! Eu estou mortificada agora!
— Por quê? — pergunto.
— Você deveria ver a maneira como está me olhando —
ela responde e eu sorrio, descendo meu olhar diretamente para
os seios dela.
Olhar os seios de Sophie faz com que eu sinta uma
agitação interna, mas nada se compara com o que eu sinto assim
que desço meu olhar e vejo a... Vagina é brochante, Samuel
disse. De qualquer forma, meu corpo inteiro queima ao ver a
parte íntima de Sophie. Na verdade, eu nem sou capaz de vê-la
direito, porque é extremamente delicada, e nessa posição eu
nem mesmo posso enxergar o clitóris e o piercing. É muito
diferente das vaginas que eu via nos vídeos e fotos. Não é
assustadora e é muito linda.
Eu preciso de um tempo sozinho para pensar em todas as
coisas, mas sei que agora não será possível. Ela é muito mais
linda do que imaginei e eu não sei lidar com isso. É
extremamente difícil ser namorado de uma Sophie nua.
Quando subo o olhar, vejo que ela está se abraçando,
cobrindo os seios, demonstrando estar completamente
envergonhada pela nudez.
— Sophie, você é a menina nua mais bonita do mundo.
Não fique com vergonha. Sou eu aqui, o seu namorado para
sempre. — Tento passar para ela o mínimo de incentivo. Eu
queria que ela se olhasse no espelho e conseguisse enxergar o
que eu enxergo. Não existe nada mais bonito no mundo.
— Eu quis surpreendê-lo, porque disse que estava curioso
para me ver nua, mas estou envergonhada agora, embora eu
queira — minha namorada responde timidamente.
— Você é muito bonita nua. A mais bonita. E sua vagina
não é assustadora. — Ela começa a rir e eu acabo rindo também.
Eu deveria me manter calado. Estou nervoso e talvez vá dizer
coisas inapropriadas.
Sophie foi corajosa e talvez eu precise ser também. Não
sei como é namorar estando nu com a minha namorada nua e
não chegar ao confortável, mas deve haver uma maneira, e eu
preciso descobrir. Só preciso que ela saiba que não está sozinha.
Confesso que estou com medo agora e que há uma
grande parte de mim querendo recuar. Porém, olhar para Sophie
e pensar na grandiosidade do que ela acabou de fazer, me
incentiva a ter a coragem de ir adiante.
— Meu Deus... você não vai fazer isso... vai? Eu não
tenho roupa para esse evento. Ai, minha Santa Josefina...
— Se você não quiser, eu não farei. — Ela está tremendo
e eu não quero que seja assim. Me acomodo na cama, sentado,
e decido que precisamos conversar. — Venha aqui — a chamo e
ela vem temerosa. Mexo em seus cabelos e deposito um beijo
em seu nariz. É agora que preciso estar no controle, como foi
desde a primeira vez em que ela se mostrou receosa com as
descobertas. É novo para mim também, mas é a minha garota e
eu devo cuidar dela. Ela precisa que eu seja paciente e que
segure sua mão para corrermos juntos. Estou no controle quando
nunca achei que seria capaz de fazer algo assim. Não sou tão
insuficiente quanto acreditava ser. — Não vai acontecer, tudo
bem?
— Mas...
— Eu sei que você quer, de verdade. Mas está com medo
e talvez estejamos indo rápido demais. O peso que uma garota
sente ao ficar nua é maior do que o peso que um garoto sente ao
ficar nu. Me sentiria envergonhado nos primeiros segundos, mas
isso passaria muito rapidamente. Já você... você é diferente,
minha princesa. Você não é a garota safada do carro. Acho que
muitas safadezas passam pela sua cabeça, tem facilidade de
expor isso, mas quando está envolvida na situação que poderá
nos levar ao confortável, se sente envergonhada e despreparada.
— Como sabe?
— Eu conheço você, analiso você. Não vamos mais fazer
as coisas devidamente calculadas, tudo bem? Acho que isso está
atrapalhando e acaba criando uma autocobrança em nós. Não
tenho pressa para conhecer o seu piercing, mesmo que esteja
curioso. Não tenho pressa de nada. Mesmo que nossos corpos
gritem por isso, acho que não estamos preparados. Sabe quando
estaremos preparados?
— Não...
— Quando fluir naturalmente. Não vamos banalizar algo
tão importante para nós. Não é banal ou simples — argumento.
— Eu te amo.
— Eu te amo — digo a ela.
— Estou com vergonha por parecer uma criança
assustada.
— Eu sei. Mas você não é uma criança assustada. É uma
mulher descobrindo coisas novas e vivendo situações que não
está acostumada. — Sorrio. — Você é gostosa, Sophie! Como
não consegui enxergar o seu piercing e seu clitóris? — Ela rola
pela cama, fica de bruços e cobre a cabeça com um travesseiro.
— Me mata de uma vez! — protesta, chorando.
Enquanto isso, observo a imagem perfeita de sua bunda e
decido que preciso de um banho frio. Quarenta minutos embaixo
da água fria vai resolver. Eu não aguento mais lidar com o meu
pau duro! Ela tem uma marquinha de biquíni muito sensual, que
me causa reações.

Eu só não contava com um encontro, não programado e


bastante tórrido, na cozinha, durante a madrugada. Um encontro
que faz com que Sophie arranque uma quantia generosa dos
meus cabelos.
Nunca imaginei que um dia eu fingiria estar dormindo para
não ter que enfrentar o meu namorado. Mas é isso que faço até
ver que Henrico já adormeceu.
Ele certamente se masturbou. Já eu...
Ainda estou tentando entender como funciona esse
negócio de sentir um fogo abrasador nas partes íntimas e fugir na
hora do famoso "vamo vê". Meu bom santinho! Henrico iria ficar
nu, a cobra de um olho só ia saltar livre e provavelmente me
metralhar... Eu quero chorar. Eu chorei, na verdade. É muito
difícil ser virgem, de verdade. Todas as garotas deveriam nascer
prontas para o momento. Eu queria ter nascido pronta, como
uma lutadora de Muay Thai, que enfrenta cinco rounds a cada
combate. Mas, ao contrário disso, estou aqui, lutando para
vencer meu medo e partir para o rolamento na aula de judô
infantil.
De qualquer forma, a minha vida não é um combate e
nada aqui se trata de luta.
Eu até cochilo um pouco, mas minha mente turbulenta
impede que eu tenha um sono pesado. São três da manhã
quando me canso de ficar na cama e resolvo ir até a cozinha
atacar a geladeira. Há muitas coisas que Eva e Théo deixaram,
mas acabo pegando apenas uma garrafinha de água, uma trufa
de leite condensado, e me sento sobre a mesa para comer.
Clarões iluminam o ambiente e só então me dou conta de que há
uma tempestade caindo lá fora. Eu, como uma amante da
natureza, me encanto com sua força e com os raios. Alguns
deles fazem um barulho assustador.
Estou na segunda mordida da trufa quando meu
namorado sonolento surge. Ele vai direto beber água e então me
encontra sentada na mesa.
— Sophie, por que está acordada?
— Não consigo dormir. E você, bebecito? — pergunto, o
analisando.
— Acordei com o barulho da chuva e estou com sede —
responde, pegando água e bebendo enquanto mantém os olhos
em mim. Eu entendo o motivo.
Depois do ocorrido, tomei banho e vesti apenas uma
camisola. As lareiras esquentam bem o quarto, fazendo com que
dê para dormir mais confortável. E, para acrescentar, estou
sentada com as pernas levemente abertas, as alças da camisola
estão caídas pelos meus braços e estou mostrando quase
demais.
É apenas louco que o olhar dele seja capaz de me deixar
com tesão.
— É realmente sério quando digo que é difícil namorar
com você. E apenas parece ficar mais difícil a cada momento —
ele diz sério, sem retirar os olhos de mim. — Sophie, você me
provoca o tempo todo e testa todos os meus limites. Sou
paciente, principalmente porque não tenho confiança total no
Universo que estamos habitando, porém tenho receio de não
conseguir me segurar por muito tempo. Estou ficando...
— Louco? — pergunto.
— Talvez.
Dou um sorriso tímido.
A presença dele, os olhares, tudo tem me deixado muito à
flor da pele, sensível de maneiras que eu desconhecia. Eu me
sinto profana, mas logo em seguida me sinto covarde. O
observando sou capaz de perceber centenas de coisas, dentre
elas eu compreendo que não é apenas meu corpo gritando por
ele; minha alma ruge com ferocidade, implora por todas as coisas
— ainda desconhecidas — que somente o menino mais bonito do
mundo poderá dar. Só ele poderá acalmar todas as minhas
confusões. Só ele poderá saciar meu corpo e a minha alma. Eu
queimo de desejo por ele.
— Você pode me beijar? — peço. Ele deixa o copo no
balcão e se aproxima de maneira decidida. Deixo a trufa de lado
e me concentro em puxá-lo para ficar entre as minhas pernas.
Eu percebo que o grande segredo talvez possa estar no
beijo. Enquanto sua boca está na minha, não há espaço para
medo, receios, timidez; e é quando as coisas mais fluem entre
nós. Os beijos do meu namorado estão cada dia melhores e mais
ousados. Tem um efeito tão forte, que eu poderia facilmente
gozar apenas com a boca dele na minha.
Suas mãos deslizam pelas minhas coxas e eu solto um
gemido quando percebo que seus polegares estão perto de uma
área quase perigosa. Isso faz com que Henrico afaste nossos
lábios e me encare.
— O som... — Me dou conta de que é esse o motivo.
Ruídos, sons diferentes, tudo isso o leva ao limite. — Me
desculpe.
— Não tem problema — afirma. — Eu odeio muitos sons,
mas os seus eu amo.
— Ama? Então eu posso... gemer assim? — pergunto,
envergonhada.
— Você pode, deve gemer assim — responde, sorrindo. —
Seus gemidos me deixam com tesão. — Ai... essa sinceridade...
Eu simplesmente o puxo mais e o beijo, mas agora consegue ser
ainda mais quente.
Deixo as alças da minha camisola caírem mais e as afasto
das minhas mãos, deixando que meus seios saltem livres e nus.
Henrico novamente afasta nossos lábios e lança seu olhar sobre
os meus seios. Quando seu olhar volta ao meu, percebo que é
para obter a permissão de um pedido silencioso. Balanço
lentamente a minha cabeça, em um sinal para que ele apenas
faça o que quer, e ele entende exatamente. Agora uma de suas
mãos está entre meus cabelos, a outra está em meu seio e sua
boca está devorando a minha. É um desejo que dói e que faz
com que meus olhos se encham de lágrimas. E, quando os lábios
de Henrico deixam os meus, eu percebo que estou indo conhecer
outras sensações.
Ele beija meu pescoço como se estivesse beijando a
minha boca, traça beijos até estar próximo ao meu peitoral e
então desce de uma só vez ao meu seio direito. O contato de sua
língua em meu mamilo quase me faz cair para trás,
principalmente porque pensei que ele faria isso lento e com
timidez, e não há nada lento ou tímido aqui. Por um segundo fico
puta por ele não parecer virgem, mas então ele vai até meu seio
esquerdo repetir o ato e eu perco a noção até mesmo dos meus
gemidos.
Eu perco a força do meu corpo e, quando estou prestes a
cair sobre a mesa, meu namorado me sustenta enquanto ri.
— Eu estou fazendo isso bem? — ele pergunta e eu
começo a rir com força, enquanto lágrimas escorrem dos meus
olhos. Rindo e chorando por beijos em meus seios. Patética! —
Sophie, você está chorando ou rindo?
— Não saberia dizer.
— E o que significa? Algo bom ou ruim?
— Continue.
— Talvez seja interessante levá-la para a cama — sugere,
sorrindo, e sou pega em seus braços.
A maneira como ele me deita na cama é a mais perfeita.
Há tanto cuidado, que fico encantada. Ele até mesmo ajeita um
travesseiro embaixo da minha cabeça.
Após retirar a minha camisola, ele se encaixa entre
minhas pernas. Noto um cuidado em não encostar nossas partes
íntimas, ele volta a beijar meus seios e me contorço embaixo
dele. Minhas mãos deslizam por suas costas nuas, e eu desço
até a bunda dele, forçando que ele se abaixe e que seu corpo
friccione o meu. Com relutância, ele se abaixa, e eu sou obrigada
a agarrar as cobertas embaixo de mim quando seu pau esmaga
a minha intimidade.
— ISSO É INCRÍVEL! — Praticamente grito e piora
quando Henrico tenta fazer seus testes e meio que rebola. —
Aiiiiiii... pelo amor de Deus! — Volto a agarrar a bunda dele e
agora sou eu quem rebolo.
— Você pode não fazer isso?
— Por quê? É a melhor coisa da vida. Você não tem
ideia!!! Não tem mesmo!!!
— Eu não quero gozar — justifica.
— Mas eu quero! Eu quero gozar e quero que você goze.
Você é extremamente gostoso, Henrico Davi! Se for da sua
vontade, sua filha está pronta!
— O quê? — pergunta, perdido.
— Nada! Apenas continue, amor — choramingo.
— Como você estava cheia de medo horas atrás e agora
está assim... fogosa?
— Não saberia dizer. Nem Freud explica. — Sorrio.
— Então eu posso ver seu piercing, você está safada! —
Há uma animação nele agora, que quase me faz rir. É fofo.
Gente, como ele pode ser fofo no sexo que não é sexo? —
Sophie, posso ver o seu piercing? Por favor? Eu deixo você se
esfregar em mim.
— Sério? Essa é a coisa mais fofa do mundo! Você está
muito negociador e até um pouco chantagista.
— Você deixa eu ver o seu piercing? — pede novamente e
eu aceno positivamente. Como negar? Ele parece uma criança
pedindo: "posso comer o último brigadeiro que sobrou?".
Só que ele é sagaz. Há algo em Henrico que estou
tentando descobrir o que é e não consigo. Ele sabe envolver,
seduzir, sabe fazer com que eu me sinta confortável com a
situação. Ao invés de arrancar a minha calcinha fora, ele vem me
beijar de um jeito que sabe que me afeta. Ele é muito mais
esperto do que todos pensam. Estou admirada com isso. Fico
mais admirada ainda quando sorrateiramente ele estica o braço e
liga a luminária ao lado da cama. É agora que eu deveria ficar
mortificada, mas não fico. Ele espertinho é engraçado e
surpreendente o bastante.
Ele segue me beijando, mas chega um momento em que
deixa meus lábios e começa a beijar o vão entre os meus seios
lentamente, sem pressa alguma, o que é suficiente para minha
mente viajar longe. Seus lábios deslizam pela minha barriga e
chegam ao topo da minha calcinha, então ele levanta a cabeça e
me dá um último olhar antes de ficar de joelhos, enganchar os
dedos nas laterais da minha calcinha e retirá-la do meu corpo.
Engulo em seco enquanto sinto meu corpo tremer. Estou
envergonhada e tento me manter o máximo fechada. Parece bom
e seguro até o momento que Henrico volta a se ajustar na cama,
levanta as minhas pernas e joga minhas coxas em seus ombros,
me abrindo por completa.
— Estou chocada!
— UAU!!!!! — ele diz. — UAU, SOPHIE!
UAUUUUUUUUUU! — Eu não consigo não rir. — Seu piercing
ainda está um pouco escondido, sua vagina é linda!
— Vagina não, por favor.
— Sophie, eu não gosto de dizer boceta, me perdoe por
isso.
— Invente um nome, menos vagina, ok?
— Ok. Por enquanto eu posso dizer boceta, está tudo bem
— ele fala. Nós estamos mesmo conversando enquanto ele
analisa a minha intimidade? Nunca imaginei. — Posso tocar?
Não consigo ver seu piercing direito. Seu clitóris é muito
pequenininho.
— Que espécie de vagina você via?
— Assustadoras. Ok, algumas eram mais delicadas, mas
outras eram mesmo assustadoras. Porém, a sua é a mais bonita
que já vi e mais delicada também. Eu estou apaixonado por sua
vagina. Eu a amo. — Estou rindo agora. Rindo para não chorar,
rindo de nervoso. Sua boca está bem próxima, eu posso sentir a
respiração. Quando seus dedos deslizam pelas laterais do meu
clitóris, é preciso que eu lute contra meu impulso para não gritar.
— É lindo, Sophie. Seu piercing é muito pequeno e ficou lindo —
comenta, tocando acima do clitóris, no ponto crucial da situação,
o ponto capaz de me fazer gozar. — Uau... — Ele parece
deslumbrado. Acho que minha vagina é mesmo bonita, nunca
imaginei ser tão exaltada dessa forma. — Eu te amo, Sophie.
Desculpe por parecer idiota agora. É que é novo para mim e você
está molhada, isso significa que está sentindo tesão.
— Eu te amo, e amo ainda mais que tudo isso seja novo
para você e para mim. E sim, eu estou sentindo muito tesão
agora.
— Posso te beijar aqui?
— Eu acho que agora me sinto pronta para isso, menino
mais bonito e safado. — Ele sorri e volta a abaixar a cabeça. É
uma morte rápida dessa vez!
Primeiro ele lambe toda a minha intimidade e em seguida
seus lábios se fecham em meu clitóris e eu vou em uma descida
de tobogã diretamente para o inferno! Minhas mãos voam
diretamente para os cabelos de Henrico e eu perco o controle de
mim mesma enquanto os puxo. Minha pélvis ganha vida própria,
e eu impulsiono para a boca dele cada vez mais desesperada.
Ele contorna minhas coxas com os braços, de forma que eu fique
mais aberta, e me devora com beijos e lambidas enérgicas, feitas
para destruírem a sanidade de uma mulher.
Eu sinto algo novo. Um tremor em minha barriga, uma
bambeza diferente em minhas pernas, uma sensação quase
impossível de descrever e que faz com que eu solte os cabelos
de Henrico. De repente, sou transportada para a aventura mais
intensa de toda a minha vida, um orgasmo completamente
diferente dos poucos que eu já tive na vida. Arrebatador, intenso
e inesquecível! A melhor sensação amplificada, causada pelo
namorado mais incrível e talentoso do mundo.
Não sou capaz de conter os tremores, eu mal posso
respirar normalmente agora.
— Sophie... — Ele nem precisa dizer mais palavras para
eu saber que está receoso e com medo pelas reações que
acabei de ter.
— Você é além de perfeito. Eu nunca senti nada parecido
com o que acabou de acontecer. Nada se compara a isso. Nada.
— Mas você está tremendo — diz, preocupado.
— Não há como explicar, namorado. Acho que é apenas o
meu corpo desperto, respondendo a sensação mais incrível que
ele já sentiu.
— Sophie, você deixaria eu beijar a sua boca após ter
beijado você lá embaixo? Li que algumas garotas não gostam.
— Eu li sobre isso e você pode me beijar. Eu não tenho
nojo de mim, do meu corpo ou de você. Você pode me beijar.
Mas... só me responda algo antes, você gostou dessa
experiência nova? Há homens que não gostam e sentem nojinho.
— Eu quero fazer todos os dias, se você deixar. Mas é
extremamente difícil ser seu namorado, Sophie. As reações
estão piores agora, eu não consigo evitar.
— Você cuidou de mim, talvez eu possa cuidar de você. O
que acha? — sugiro.
— Não entendi.
— Eu posso beijar você... lá embaixo. Seria mais como
chupar um pirulito... Após esse orgasmo eu me sinto pronta para
vê-lo nu, menino mais bonito.
— Não, Sophie. É tudo sobre você essa madrugada. Eu
vou beijá-la e nós vamos dormir abraçados. — Sorrio e ele segue
cuidando de mim.
Me veste com a sua camisa, me beija, me mantém em
seus braços.
— Obrigado, Sophie — ele sussurra quando estamos
quase dormindo.
— Eu quem deveria agradecer.
— Você não entende. Não é sobre ter deixado eu fazer
sexo oral em você — fala.
— É sobre o quê, então?
— Sempre fui inferiorizado pela maioria das pessoas. Os
anos em que estive no colégio foram cruciais para que eu me
sentisse inferior, doente, retardado, como me chamavam.
Sempre me senti incapaz, insuficiente, sem lugar. Por mais que a
minha família insistisse em dizer que eu era um garoto normal,
eu sentia que não era. — Já estou chorando antes dele terminar.
— Havia muitas pessoas dizendo que eu não era, e parecia mais
fácil acreditar em todas elas. Familiares são programados para
nos apoiar, nos elogiar, já aquelas pessoas não, então eu
costumava achar que a minha família mentia só para que eu não
me sentisse mal e que eram aquelas pessoas que estavam
dizendo a verdade sobre mim. Só que chegou uma fase em que
o que eles pensavam de mim parou de ter importância, porque
me concentrei em me importar apenas com o que você achava
de mim. E você me achava genial, o seu melhor amigo, isso me
acalmou por um tempo. Eu amava você, mas a minha mente
insistia em dizer que eu não era o suficiente, que não poderia ser
o namorado que você precisa, principalmente se tratando de
sexo. Eu pensava que jamais poderia fazer sexo na vida, tudo
parecia tão assustador. Sophie, eu tive muitas crises por você,
porque doía muito pensar que um garoto normal poderia namorar
você, poderia beijar você, poderia te dar tudo o que eu jamais
poderia. Nos últimos anos, todas as vezes que nos encontramos
terminou em crises horríveis. Em uma delas minha mãe precisou
me dar uma injeção de calmante e eu caí desmaiado no chão da
sala. — Pressiono meus olhos fortemente, imaginando o que ele
passou.
— Eu sinto muito...
— Foi difícil criar coragem. Foram necessárias muitas
conversas com a terapeuta, com os meus pais e, principalmente,
com Samuel. Ele foi crucial, de verdade. Mesmo assim eu não
fazia ideia de que você gostava de mim como namorado, então
tive muito medo. Tinha medo de tentar algo e perder a sua
amizade. Eu preferia você sendo minha amiga, do que não tê-la
de forma alguma. Foi então que eu decidi vencer o medo e
observá-la. Todos me mandavam observá-la o tempo todo e,
embora eu não conseguisse entender o motivo, eu observava. Eu
percebi que você era como eu; não se importava muito com o
que todos pensavam de você, importava a maneira como eu te
via. Suas mudanças de comportamento quando eu estava perto
mostravam isso. Você nunca me enganou muito bem, mas eu
ficava feliz por você se importar com o que eu pensava sobre
você. E sou feliz por você me amar como eu te amo. O obrigado
é por você mostrar que eu me encaixo, que eu não sou
insuficiente, que as minhas diferenças se encaixam em você e
que eu posso te dar prazer. Obrigado por ter segurado a minha
mão quando eu era criança e ter corrido ao meu lado. Obrigado
por ter esperado por mim. Obrigado pelo primeiro beijo. Obrigado
por fazer com que eu me sinta capaz. Obrigado por estar
descobrindo o sexo junto comigo e por confiar em mim. Obrigado
por todas as descobertas que fizemos nos últimos dias. Obrigado
por ter se entregue a mim. E, principalmente, obrigado por me
amar.
ANOS ATRÁS
Eu odeio festas! Em ocasiões assim as pessoas passam a
manifestar um padrão comportamental que é irritante para mim.
Não há diálogos em um tom baixo, há música alta, gargalhadas,
toques o tempo todo. Me pergunto sempre o motivo pelo qual as
pessoas gostam de conversar tocando umas nas outras.
Não gosto de nada disso, mas é aniversário da minha
irmã, ela está completando 12 anos e me sinto obrigado a
enfrentar essa situação. Tenho 17 anos e sei que não sou um
bom irmão para ela, por isso, ao menos nos aniversários eu tento
vencer algumas barreiras para marcar presença. No início tudo
vai bem. Porém, quanto mais o tempo vai passando, mais a
tentativa de me encaixar e socializar vai tornando-se sufocante.
Yaya é como uma adolescente. Ela não se parece com
uma garota de 12 anos, e seus amigos também não. A
decoração da festa mostra o encerramento de um ciclo, um
adeus à infância e aos temas de princesa. Agora há luzes de led,
decorações neon, é tudo muito estranho.
Piora muito quando apagam as luzes e deixam uma
iluminação que deixa o ambiente parecido com as boates que
vejo em filmes. Eu fico completamente tonto e em pânico quando
as luzes começam a fazer a espécie de um jogo. Meus pés ficam
imóveis e o abafador deixa de fazer efeito. Adolescentes correm
por todos os lados, esbarram em mim, luzes coloridas invadem
meus olhos e eu começo a lutar para conseguir respirar. Está
tudo amplificado agora, de forma que eu consigo contar quantos
segundos uma gota de suor demora para descer pela minha
nuca.
Enquanto todo o ambiente parece girar diante dos meus
olhos e as pessoas parecem rodar em círculos, percebo que o
esforço para me encaixar é completamente em vão e tomo a
decisão de nunca mais participar de qualquer evento festivo.
Enquanto todos os meus primos e primas se divertem, eu sou o
garoto que tem crise de pânico no meio da festa.
— Ei, irmão, você está bem? — Samuel surge, me
perguntando, e eu não consigo respondê-lo. Ele percebe o que
está acontecendo. — Ok. Vamos subir para o seu quarto,
beleza? Tudo ficará bem.
Ele segura minha mão e eu aperto a mão dele com tanta
força que fico envergonhado. O acompanho até o meu quarto,
lutando para conseguir ignorar todas as vozes e toda
aglomeração. Há em mim alívio e vergonha, e só consigo voltar a
respirar quando estou dentro do meu quarto.
— Respire, irmão. Vamos lá, faça os exercícios — ele
incentiva e me acompanha nos exercícios. Eu os faço repetidas
vezes, lutando em busca de encontrar o controle. Demora algum
tempo até que eu consiga encontrar o ritmo certo da respiração.
— Obrigado por me ajudar.
— Não tem que me agradecer, sou seu irmão. Fique aqui,
vou buscar um pouco de água. Mantenha-se calmo, cara. Eu já
volto, tudo bem? — Samuel diz, me deixando sozinho, mas dura
pouco. Minha mãe entra no quarto um pouco desesperada.
— Você está bem? — ela pergunta, segurando meu rosto
entre as mãos. — Me desculpe, filho. A mãe de uma amiguinha
da Yaya me chamou para conversar e simplesmente não parava
de falar.
— Me desculpe por não ser como todos, mãe. Eu não
posso ficar lá. Yaya acha que eu não a amo. Mas ela é estranha,
os amigos dela são estranhos, barulhentos e irritantes.
— Não chame sua irmã de estranha, Henrico! Ela sabe
que você a ama e respeita seu espaço, filho. Eu sou muito feliz
que não seja como todos. Você pode achar que isso é um
castigo, mas é uma dádiva. Você é verdadeiro, sincero,
carinhoso, especial demais, filho. Não queira ser como todos os
outros. Siga sendo quem você é — minha mãe diz.
— Ei, posso entrar? — Ouço a voz de Sophie e enxugo as
lágrimas dos meus olhos. Minha mãe abre um sorriso enorme e
vejo seus olhos brilharem em alegria.
— Olha quem chegou!
— Tia, me desculpe, mas eu trouxe uma caixa de comida,
obrigada, de nada! — Sophie responde e há mesmo uma caixa
nas mãos dela. — Ei, menino mais bonito do mundo, podemos
ficar juntos? Eu não gosto daqueles pirralhos, não que eu não
seja uma pirralha, vocês me entendem, não é mesmo? Eu quis
dar algumas voadoras em um garoto, por isso resolvi roubar
comida e subir antes de cometer um ato de violência — ela
comenta, já se acomodando em minha cama.
Às vezes eu queria ser como ela. Espontânea e normal.
— Vou deixá-los fazer uma festa no quarto, então. —
Minha mãe sorri. — Vou mandar mais guloseimas também.
Fiquem bem, meus amores. Eu amo você, Sophie!

ATUALMENTE
— Glória Deuxxxxx! Henrico Davi! Que diabo é isso na sua
mão? — minha namorada pergunta ao me ver com uma foto dela
em mãos. Foi tirada no dia do aniversário de 12 anos da minha
irmã, em meu quarto.
— Você tinha 16 anos — comento, observando a foto. Ela
estava com uma camisa vermelha, tinha os cabelos mais curtos,
usava uma maquiagem estranha e estava sorrindo. Eu a achava
muito linda, mesmo com as bochechas vermelhas de
maquiagem.
— E você tem essa aberração? Credo! Olhe para mim...
Os anos fizeram um milagre e tanto! — fala, pegando outras
fotos que ela nem imaginava que eu tivesse. — Oh! Nessa eu
estou muito sexy sem ser vulgar — diz, rindo.
É uma das fotos que eu mais acho bonita. É preta e
branca, Sophie tinha 18 anos. Os cabelos dela estavam jogados
para o lado, sua mão estava próxima à boca e ela já tinha uma
tatuagem delicada de estrela no ombro. Me recordo que a blusa
que ela está usando na foto era bastante decotada e não tinha
alças.
— Linda.
— Nessa aqui eu estou menos feia, menino mais bonito.
Porém, na primeira, definitivamente estou muito mais feia que a
noiva do Chucky.
— Não acho, mas tudo bem. Sempre ouvi meu pai dizer
que as mulheres são complexas, agora vejo que faz muito
sentido — comento, recebendo um olhar estranho da minha
namorada.
— Está falando que sou complexa?
— É exatamente isso, Sophie! Você é linda, perfeita, é a
menina mais bonita do mundo e cisma que é feia. Não é possível
você se achar feia nessa foto preto e branco. Porém, não vou
obrigá-la a se achar bonita. — Ela sorri e me dá um beijinho na
bochecha. Sophie é muito linda.
— Estou cansada — confessa, fazendo um enorme bico.
Nossas coisas chegaram à tarde e passamos o resto do
dia tentando organizar tudo. Ainda sobrará serviço para amanhã,
mas é o momento de parar.
— Vamos descansar e continuamos amanhã.
— Sabe, eu também tenho fotos sua, só que estão em
meu celular — comenta, me puxando para o sofá. Fico a
observando enquanto busca as imagens no telefone. — Aqui!
Tudo o que vejo é uma foto da minha boca.
— Por que tem uma foto da minha boca? — pergunto a
ela, rindo.
— Oh, querido, você já viu a sua boca? Já! Você a vê
todos os dias. Mas... sua boca tem toda a minha admiração.
Aumentou um pouco depois dessa madrugada. — Fico
envergonhado ao lembrar da madrugada. — Enfim, sua boca é a
boca mais perfeita que eu já vi e precisei registrar isso. Foi no
Natal do ano passado, enquanto você estava distraído. Dei zoom
e fiz essa obra de arte. Essa outra também. — Ela me mostra
uma outra e eu sorrio da carinha que ela faz.
— O que foi?
— Você é um absurdo de tão bonito, e tem covinhas
encantadoras — diz, pegando o celular da minha mão. — Todas
as coisas que me disse durante a madrugada mexeram comigo.
No momento não consegui dizer nada, apenas chorei. Mas,
menino mais bonito do mundo, eu nunca duvidei do seu
potencial, sempre soube que era capaz de tudo, até mais capaz
que a maioria dos meros mortais. Eu sempre esperei por você,
sempre acreditei em você, sempre vi muito além de todas as
coisas que você era capaz de ver em si mesmo. E eu sinto muito
que sua juventude tenha sido tão difícil, com tantas confusões
internas. Sinto por não ter estado perto todas as vezes em que
passou por determinadas situações. Sinto muito por ter lidado
com pessoas ruins tentando te diminuir. Saiba que o problema
nunca esteve em você, e sim em cada um deles. Você é incrível,
garoto mais bonito. E, sobre sexo... acabamos de começar, mas
o que me fez sentir ontem... — fala timidamente. — Eu quero
sentir aquilo pelo resto da minha vida e eu vou me lembrar dessa
madrugada para sempre. Você é muito melhor que o meu melhor
sonho e é capaz de me dar prazer desde um simples beijo até
um magnífico sexo oral.
— Oh, Sophie! Não diga essas coisas! — peço,
envergonhado.
— Eu precisava dizer. E precisava deixar pontuado que
você é extremamente incrível e que eu quero sua boca em meu
corpo uma, duas, infinitas vezes. Eu não imaginava que poderia
sentir tanto prazer na vida, então sou eu quem devo agradecê-lo.
Obrigada por estar fazendo de mim a garota mais feliz do mundo!

Eu sou muito apaixonada! Acho que posso até vir a morrer


de tanto amor que eu sinto por esse garoto. Os olhinhos dele
estão brilhando, com lágrimas que ele não quer derramar, e eu
simplesmente beijo a ponta do seu nariz.
— Eu te amo, Sophie. Você pode se casar comigo sem
convidados?
— O quê? — Por que ele tem o dom de me chocar assim,
do nada?
— Não gosto de festas, mas quero me casar com você um
dia. Não quero convidados — explica.
— Nem mesmo os nossos pais?
— Somente eles. Minha mãe choraria se não fosse ao
nosso casamento, e eu não gosto de vê-la chorar — explica. —
Mas, se você quiser festa, talvez eu possa me preparar para isso
— argumenta, pegando minhas mãos. — Você vai ficar feliz com
festa, não é?
— Não. Não me importo com festa. Importo com a lua de
mel.
— Uau! Você é bem safadinha, não é mesmo, Sophie? —
Uma gargalhada escapa de mim devido ao tom de voz que ele
usou. Ele falou como se estivesse surpreso.
— Eu sempre idealizei como seria a lua de mel perfeita.
Eu penso em um lugar que faça frio, tenha neve e que possamos
ficar bem grudados para nos aquecer. Você é a minha festa,
Henrico, toda a minha diversão.
— Não entendo como posso ser a sua festa, mas tudo
bem. Combinamos de nos encontrar com Luiz Miguel e Samuel
no bar do Tião, às 20 hrs. Faltam apenas vinte minutos.
Precisamos nos arrumar.
— Então vamos logo. Eu fico com o banheiro social. — Ele
sorri e corremos para o quarto.
Felizmente, não há música alta no bar. Talvez pelo fato de
ser terça-feira e o tempo estar chuvoso e frio. Na verdade, a
cidade está assustadoramente deserta.
Luiz Miguel, Samuel e Hadassa estão sentados em uma
mesa, conversando e tomando algo que parece ser algum tipo de
vitamina. No balcão do bar há Vanderléia, Soninha e Maicon;
eles estão sentados em banquetas, rindo de algo.
Henrico se junta aos garotos, enquanto eu decido pegar
bebidas para nós. Assim que me aproximo, ouço a tal Vanderléia
falando do meu namorado.
— O que ele tem de gostoso e bonito, tem de idiota. Ele é
estranho e grosseiro, mas olha aquele rosto! Olha aquela boca!
— ela diz baixinho, mas não o suficiente para eu não escutar. Eu
disse que a boca de Henrico é um caso à parte... um atrativo e
tanto. Mas é MINHA!
Na verdade, de todas as coisas que ela disse, o que mais
me incomodou foi o fato dela chamar Henrico de idiota. Ele não
precisa mais passar por esse tipo de situação, não após ter
passado por coisas assim durante grande parte da vida, e por
isso intervenho.
— Vanderléia, não é mesmo? — pergunto a ela, que me
encara de cima a baixo. — Já nos encontramos, mas não nos
apresentamos formalmente. Sou Sophie, irmã de Luiz Miguel,
prima de Théo e Samuel, namorada do homem que você acabou
de chamar de idiota.
— Ele é grosseiro.
— Ele não é grosseiro. Olha, eu não sou o tipo de garota
que gosta de brigar ou de estar envolvida em confusões. Fui
criada em meio a muito amor, de forma que não estou
acostumada com esse tipo de coisa, até me sinto perdida em
meio a uma briga. Estou aqui para conversar amigavelmente com
você e sua amiga — informo. — Aquele homem, que você
também chamou de gostoso, possui um grau leve de autismo.
Mesmo sendo considerado leve, não é nada "leve" para ele ou
para as pessoas que o cercam. E, muitas das vezes, por falta de
informação e conhecimento, as pessoas acabam julgando mal.
Você sabe o que é autismo?
— Já ouvi falar.
— É complexo. Não posso falar por todos, cada pessoa
reage de uma forma, mas posso falar por Henrico. Ele não gosta
de aglomerações, isso causa pânico nele. Ele não pode ouvir
sons altos ou ruídos fortes, não pode lidar com luzes piscando,
ele não tem facilidade em fazer amigos e nem mesmo gosta de
tentar. Não gosta de se arriscar em situações que o tire da zona
de conforto, não gosta que toquem nele, nem mesmo pessoas
que ele tem convivência. Além disso, ele tem um excesso de
sinceridade que é difícil acompanhar e compreender. Às vezes
achamos que ele está sendo grosseiro, mas, na verdade, ele só
está sendo sincero e não faz isso por mal, não faz isso para
causar dor nas pessoas. É apenas o jeito dele ser. Acho que
vocês queriam ter sido bem recebidas por ele, mas talvez isso
não vá acontecer. Henrico só se sente confortável perto de
pessoas que conhece. Vocês podem se esforçar para se
aproximar se quiserem, talvez consigam. Sou ciumenta, mas não
me importo se quiserem tentar ser amigas dele. Meu namorado
não é mal-educado, embora tenham pensado isso. Ele só tem
dificuldade em socializar. Então eu peço desculpas se as
palavras dele magoaram vocês e peço que compreendam que
não foram ditas por mal. É o jeitinho especial dele ser, entende?
— Me desculpe por isso, Sophie. Eu não sabia de todas
essas dificuldades. Eu sinto muito que tenha o chamado de idiota
— ela diz com sinceridade. — Não tinha conhecimento.
— Eu sei. É por isso que quis vir falar e explicar o que de
fato acontece. Vocês podem se aproximar, só não sejam tão
barulhentas como da primeira vez e tudo ficará bem.
— Você é muito simpática. Nos desculpe, viu? — A loira,
Soninha, é quem diz agora.
— Está tudo bem, de verdade. Se quiserem se juntar a
nós, sejam bem-vindas. — Sorrio.
— Eva morreria nesse momento — Maicon fala, me
puxando para ficar ao seu lado.
— Por quê?
— Ela vive brigando feio com Vanderléia e Soninha. Na
última briga, elas saíram no tapa. Théo e Luiz Miguel tiveram que
separar — explica, rindo. — Mas elas caçam. Elas não gostam
de Eva pelo fato da minha menina ser querida e mimada por
todos da cidade. Vanderléia dá em cima de Théo
descaradamente todas as vezes que surge uma oportunidade.
— Nossa! Estou um pouco chocada — confesso.
— Você é muito linda, Sophie. Que Henrico não me ouça!
Se parece com uma princesa — ele diz, sorrindo. — Vamos!
Eu nem pego as bebidas, mas Tião logo vem à mesa e
pergunta o que queremos. Pedimos pizzas e refrigerante, e
começamos a conversar.
Hadassa é mesmo um luxo! Ela parece vestida para um
evento chique e é totalmente sofisticada. Enquanto Henrico
conversa com Samuel e Hadassa briga com Maicon por algum
motivo, eu noto meu irmão digitando incansavelmente no celular.
Algo de errado não está certo, principalmente quando ele se
assusta assim que falo.
— Posso saber com quem está conversando? — Me
aproximo e ele tenta esconder o celular. Não é bem-sucedido.
Antes que ele desligue a tela, vejo um nome que faz minha boca
abrir em choque. — É sério?
— Sophie, eu preciso que mantenha a discrição. Não é
nada disso que você está pensando.
— Eu detesto essa frase clichê de quem está fazendo
merda, principalmente porque é sempre o que estamos
pensando. Ela é menor de idade e isso pode dá uma treta louca,
Luiz Miguel. Foi por causa dela que não foi para a Ilha? — Ele
não responde minha pergunta, simplesmente solta um suspiro
frustrado. — Só me diga uma coisa, você transou com ela?
— Sophie!
— Ela tem 17 anos.
— Fará 18 em poucos meses. E, me desculpe, Sophie,
isso não é da sua conta. Só quero que mantenha o que viu
guardado para si mesma, por favor — pede.
— Vocês estão se pegando? Você transou com ela? Eu
preciso saber, estou curiosa!
— Ficamos, quase transamos, mas consegui parar a
tempo. — Eu quase jogo minha cabeça sobre a mesa. — Não me
faça me sentir mais culpado, ok?
— Por que ela?
— Eu tenho me perguntado isso desde o dia em que
cheguei no Rio e a encontrei — ele desabafa. — Rolou um clima.
Entre tantas mulheres no mundo, ela é a única que me interessei
de verdade desde que Clarinha morreu. E sei que não deveria.
Eu juro que estou fazendo algo estúpido, como rever vídeos da
Clarinha, para tirar isso da mente. Não está dando certo. Há uma
atração física forte.
— Puta merda, Luiz Miguel! Você ultrapassou Samuel no
quesito fazer merda!
— Ela vai passar duas semanas das férias aqui. — Ele
joga a notícia sobre mim e eu juro que quase caio da cadeira.
— PUTA QUE PARIU, LUIZ MIGUEL!
— Eu sei, Sophie!
— O que está acontecendo? — Henrico percebe e me
pergunta.
— Nada, menino mais bonito. Luiz Miguel me contou um
caso e fiquei chocada o bastante. — Sorrio e volto a olhar para o
meu irmão. — Parabéns! Você se superou nessa, rimãozinho!
Nós ainda vamos continuar essa conversa. Eu te amo, mas...
Porra! Tudo bem, ok, eu vou te ajudar, caso seja necessário. Mas
farei isso com a consciência de quem sabe que dará merda em
algum momento.
— Não conte a ninguém, em especial ao Henrico — pede
baixinho. — Se ele decide ser sincerão, fodeu!
— Ok, mas se isso for mesmo progredir, você terá que
contar a todos.
— Eu sei. — Meu irmão é louco! Logo ele... Era eu a
pessoa considerada a perdida da família, não ele!

— Hadassa vai assistir Metflix lá no sítio. — Ouço Samuel


dizer quando terminamos de comer a pizza.
— Netflix — Henrico o corrige. — Ela é a sua namorada?
— É minha noiva, não é, Hadassa?
— O dia que eu ficar noiva cairá um dilúvio e um raio
atingirá o Big Ben, transformando-o em milhares de partículas —
Hadassa responde, rindo. — Agora, se quiser um pouco de
diversão, talvez devesse dormir na fazenda do meu pai essa
noite. O que acha? Lá tem um ofurô enorme.
— Gente! — exclamo, aplaudindo internamente a ousadia
da garota. Ela é direta.
— Hadassa tinha que se chamar Devassa — Maicon
comenta. — Espero que após uma noite de sexo com Samuel,
você apareça aqui amanhã usando as sandálias da humildade.
Nada de salto alto, lantejoulas, isso aqui não é um desfile de
moda, querida. É São Roque, é espora, bota de montaria, calça
jeans marcando as bolas e berrante... não, berrante não. Estou
traumatizado. Sonhei que Serjão berranteiro tocava o berrante a
cada arremetida... acordei suando frio.
— Eu não tenho bolas, querido — Hadassa o responde.
— Eu tenho, meu amor. Te dou as minhas. — Samuel é
tão engraçadinho.
— Sophie, podemos ir embora? Está frio. Frio é romântico.
Nós podemos acender a lareira, assistir filme, beber Coca-Cola e
comer chocolate.
— Melhor programação! — concordo, empolgada, e já fico
de pé. — Vocês pagam a conta. Obrigada, de nada! Na verdade,
meu irmão vai pagar essa noite, não é mesmo, rimão?
— Não pense que eu também não terei uma conversa
com você amanhã — Luiz Miguel diz e eu mostro o dedo do meio
para ele.
— Te amo, rimão! Adeus para todos!
— Henrico, estamos em qual base? — Samuel pergunta,
para o meu horror completo.
— Terceira — Henrico responde rápido e logo se dá conta
de que fez merda. — Ok, desculpe, Sophie! Foi muito natural
responder isso. Está nas regras, me desculpe, de verdade.
— Se for o que estou pensando, eu não quero ouvir mais!
— meu irmão esbraveja e eu saio puxando Henrico, fugindo da
loucura familiar.
— Sophie, você está brava comigo? Eu não queria
magoá-la, simplesmente respondi automaticamente, ele mal
havia acabado de perguntar e saiu.
— Não estou brava, bebecito. Está tudo bem — respondo,
rindo. — Merda! Isso será um pouco complicado. Apenas não dê
detalhes, tudo bem?
— Tudo bem.

Quando chegamos em casa seguimos o script que


Henrico tinha dito no bar. Assistimos filme, comemos gordices e
damos alguns beijos mais inocentes.
Porém, nós temos algum problema com as madrugadas...
Adormeço no sofá, assistindo série, mas acordo. E quando
isso acontece, ouço o som forte da ducha do quarto. Ontem foi
ele quem cuidou de mim. Hoje é o dia de retribuir o "favor", por
isso uma ideia surge em minha mente pura. Conforme caminho
pelo corredor, vou retirando todas as minhas roupas. Estou
completamente nua quando entro no banheiro para surpreendê-
lo, mas acabo sendo a surpreendida...
Pareceu uma boa ideia fazer isso até eu ver meu
namorado completamente nu pela primeira vez.
O choque é tão grande, que me atrapalho e escorrego no
tapete do banheiro. Porém, antes que eu caia de cara no chão,
estou nos braços do meu namorado, grudada em seu corpo
completamente nu pela primeira vez.
Eu nunca imaginei que ficar nua com meu namorado se
transformaria em uma cena tão sublime. Não imaginei que seria
como se todo o mundo parasse apenas para nós dois vivermos
esse momento e que seria algo doce, sem toda aquela energia
louca que a adrenalina causa. Épico talvez não defina bem o
momento. Emocionante? Também. Diferente de todas as cenas
de filmes que já vi, e diferente de todas as cenas que construí em
minha própria mente, tendo nós dois como protagonistas, tudo
que há agora é uma delicadeza extrema, mais uma descoberta
de um jovem casal completamente apaixonado.
Acho que tudo o que vi e imaginei até hoje, nada mais foi
que uma banalização de um momento incrivelmente mágico. Ou
talvez seja mágico apenas para mim — para nós dois. Tudo na
vida possui dois pesos e duas medidas, não é o que dizem? Para
mim, o peso desse momento é incalculável e quase indescritível.
Li muito sobre momentos que são capazes de arrancar o nosso
fôlego, percebo que agora me encontro mergulhada em um
desses momentos.
Me falta fôlego, mas me sobra amor. O que era para ser
uma travessura de uma garota curiosa e safadinha, mudou de
rumo assim que olhei nos olhos do meu namorado e compreendi
o significado de estar nua, sendo protegida pelos seus braços
fortes e aconchegada em seu corpo nu.
Nós dois. Nus.
Há muitas palavras não ditas sendo expressas através de
olhares medrosos e curiosos — meu e dele. Além disso, parece
que estamos presos no momento e que nem mesmo somos
capazes de respirar normalmente. Mesmo assim eu sinto as
batidas ritmadas do coração dele contra as minhas mãos, que
estão paralisadas em seu peitoral rijo e banhado por centenas de
gotículas.
Não me reconheço agora. Porém, quero acreditar que
essa parte minha esteve guardada para Henrico. A minha parte
mais bonita é dele, assim como sei que a parte mais bonita dele
é minha. E é tão perfeito quando nossas partes mais bonitas se
unem, parece tão certo, como um encaixe de peças que foram
criadas exclusivamente umas para as outras.
Henrico me faz pensar em poesia e em todas as coisas
mais puras que existem. Penso em todas as teorias que já ouvi
sobre alma gêmea e percebo que acreditar nelas foi uma aposta
certa. Me sinto segura assim, quando estou completamente
entregue para ele. Mas a segurança não é apenas a única coisa
que sinto; sinto-me honrada, feliz por estarmos descobrindo
todas as melhores partes um do outro, encantada com a visão
dele nu e chocada com o fato de que está muito acima de todas
as minhas expectativas.
E, para dar um charme ao momento, meu namorado
resolve usar o seu jeitinho atípico de ser e me encanta assim que
profere as palavras:
— Sophie, você sabia que o quebra-cabeça representa a
complexidade dos transtornos do espectro autista? As peças em
diferentes cores representam a diversidade de pessoas e famílias
que convivem com esse transtorno. — Sorrio, sabendo que agora
ele está nervoso e que esse diálogo é meio que um mecanismo
de defesa. — Minha cor preferida é o azul e essa cor estimula o
equilíbrio e a calma nas pessoas, além de representar as
crianças que possuem sobrecarga sensorial.
— Eu não sabia disso. Na verdade, eu achava que era
algo ligado à inteligência, ao QI mais elevado, pelo fato do
quebra-cabeça possuir muitas peças e precisarmos encontrar o
encaixe correto.
— Apenas alguns autistas apresentam um coeficiente de
inteligência mais elevado — me explica.
— Então você faz parte desse grupo seleto, hein?
— Acho que sim.
— Não é só seu QI que é elevado — digo, sorrindo. — Há
outras coisas bem elevadas.
— Não entendo quando você se expressa dessa maneira,
Sophie. Eu gostaria de entender, mas é um pouco difícil, minha
mente fica perdida. Pode ser mais direta em suas palavras? Eu
prefiro que seja.
— Ok. As pessoas costumam dizer que quem possui o QI
elevado é superdotado, certo?
— Certo.
— Sexualmente falando, quando um homem tem um pênis
avantajado, dizemos que ele é superdotado. — Ele arregala os
olhos ao ouvir as minhas palavras. — É isso que eu quis dizer.
Você é superdotado em mais de um sentido. Na inteligência e no
pênis, que eu prefiro chamar de pau. E eu nem o vi no auge da
glória.
— Glória? Você quis dizer que não viu meu pau em um ato
heroico ou que não o viu sendo extraordinário? — Puta merda! É
um pouco difícil.
— Apesar de acreditar que ele estará em um ato heroico
mais cedo ou mais tarde, e ter a certeza de que é extraordinário,
não foi isso que eu quis dizer. Eu quis dizer sobre não ter visto
seu pau devidamente ereto — explico, sorrindo.
— Sobre isso, é um pouco difícil. Você está nua em meus
braços e meu pau está começando a ter reações agora que
estamos conversando. Estou tentando controlar isso, mas não
acredito que irei conseguir. Você vai se assustar?
— Essa é uma pergunta complexa — falo, rindo. — Acho
que no primeiro momento talvez eu vá me assustar, porém sei
que morrerei de amores logo em seguida, pelo resto da minha
vida.
— Eu entendo você agora. Eu amo a sua vagina. Posso
beijá-la novamente? É gostosa.
— Aqui? — pergunto, curiosa.
— Não! Na cama, Sophie! — Eu amo quando ele
responde meio bravinho, como se não tivesse muita paciência
para principiantes. Até dessa forma há muita fofura na forma
como ele se comunica.
— Eu também quero conhecer você — confesso.
— Você quer beijar o meu pau?
— Sim, pode ter certeza de que é exatamente isso que
quero — respondo com toda firmeza que possuo.
— Sophie, mas... eu me sinto envergonhado.
— Estamos na terceira base, namorado. Combinamos de
explorar essa base para seguirmos a tão esperada quarta base.
Você já me conheceu na última madrugada, já fez explorações
significativas. Agora é a minha vez, quero conhecer você
também. Não é só você fazendo descobertas. Direitos iguais.
— Eu quero a quarta base e me sentir confortável —
afirma. — Quero transar com você, Sophie.
— Só vem, então...
— Sophie, precisamos nos afastar agora. É realmente
sério — informa, me soltando, e se afasta como se tivesse levado
um choque. Enfim chega o momento de ver ao vivo e a cores, de
perto, o segundo amor da minha vida.
Henrico tem sido delicado sobre as descobertas que tem
feito em mim. Ele sempre faz o possível para que eu me sinta
confortável com suas ações. Podemos dizer que ele prepara o
terreno antes de "invadir", ou talvez esse não seja o termo mais
apropriado para o que ele faz, já que não rola uma invasão de
fato. De qualquer forma, neste exato momento invejo o fato dele
ser um gentleman. Parte de mim quer voltar no início, quando
tudo estava sendo poético e fofo. Mas há uma outra parte que
simplesmente quer descer o olhar de uma só vez e agarrar o
troféu. Sabe qual das duas partes eu ouço? A primeira. Meu lado
angelical e doce tem vencido constantemente.
Antes que eu possa fazer qualquer coisa, Henrico se vira
de costas, realmente envergonhado. Seria cômico se não fosse...
cômico. Cansei de dizer que ele é fofo!
Mas, PUTA MERDA! A bunda do meu namorado merecia
uma foto, certamente. Ele precisa ter algum defeito... Esse
homem nu, de costas... chega a doer meu peito de tanta
admiração.
Sorrindo, repleta de amor e devidamente deslumbrada
com a espécime diante de mim, me aproximo. Seu corpo se
retesa quando delicadamente o abraço por trás.
— Olá, menino mais bonito do mundo.
— Olá, Sophie. — Sorrio e deixo um beijinho abaixo do
seu ombro esquerdo.
— Eu te amo de montão. Ao infinito e além. —
Delicadamente vou passando as mãos pelo seu peitoral e ele
segue ficando tenso a cada movimento. Imagino a luta interna
para ceder aos toques e o esforço é algo bonito de presenciar.
Vou descendo as mãos aos poucos e quanto mais avanço, mais
pesada torna sua respiração. — Sou eu, meu amor. Tudo bem?
— Ele balança a cabeça positivamente. — Eu desejo você da
mesma forma que você me deseja. Eu quero muito isso, muito.
Não vou machucá-lo, vou amá-lo incondicionalmente, de todas
as formas. Esse é um passo para ficarmos confortáveis.
— Eu sei.
— Posso tocá-lo mais embaixo?
— É difícil para mim — confessa.
— Pode me explicar? Havíamos conversado sobre esse
passo lá na Ilha. Mudou algo?
— Eu sei que conversamos sobre isso, porém eu nunca
pensei em obter meu próprio prazer, você me entende? Desde
que começamos com isso, por mais desejo que eu sinta, só me
preocupo com o seu prazer, em conhecê-la, entende? Nunca foi
com a intenção de você me conhecer e me dar prazer. Mas é
confuso, eu sinto muito prazer te dando prazer, indiretamente.
— Eu entendo você. — Terei um amante nada egoísta, um
amante que pensa em meu prazer acima de todas as coisas. A
recompensa divina por eu ter sido uma garota fiel quando nem
mesmo tinha a esperança de um relacionamento com esse
garoto mais bonito do mundo.
— Acho que me preparei para conhecê-la, mas não me
preparei para você me conhecer. Meu pai e Samuel disseram
que temos que pensar no prazer das garotas primeiro. Porém,
mesmo que eles não tivessem dito, eu ainda teria pensado
apenas no seu prazer, porque eu te amo e te ver sentindo prazer
é muito bonito. Você fica ainda mais bonita. — Sorrio, o
apertando mais.
— Eu te amo muito. Mas, preciso dizer algo, o seu prazer
também é importante para mim, menino mais bonito. Eu quero
descobrir você por completo, tocar você da mesma forma que me
toca. Quero que possamos sentir prazer juntos, sei que é
possível. Não quero apenas sentir, quero fazê-lo sentir, quero
que sinta prazer comigo. Deixa?

Estou tremendo, pressionando meus olhos fortemente e


tentando não demonstrar à Sophie que estou sentindo um leve
pânico. Há muitos pensamentos em minha mente agora, e minha
atenção está dividida entre eles, sentir as mãos de Sophie
percorrendo meu peitoral e minha barriga, e os mamilos rijos
tocando minhas costas. De algum modo que não consigo
entender agora, as sensações físicas sobressaem aos
pensamentos que querem me prender na zona de conforto.
Disseram-me que ficar confortável é como andar de
bicicleta, mas para mim é uma perspectiva diferente disso,
principalmente quando nada na minha vida foi muito fácil. Não foi
fácil sustentar minhas pernas de pé e dar os primeiros passos
sozinho, não foi fácil segurar a mão de Sophie e sair correndo,
não foi fácil andar de bicicleta, porque me deixava em pânico. O
difícil faz parte da minha vida desde as minhas primeiras
memórias e sinto que me acompanhará pelo resto dos meus
dias.
Não é algo tão fácil e banal como a maioria das pessoas
acham. É um percurso perigoso, principalmente quando você
está em busca de que o momento se transforme em uma
memória de um encaixe perfeito e inesquecível de forma positiva.
Não apenas ter uma ereção, retirar a calcinha de Sophie e enfiar
parte do meu corpo dentro dela. Não é apenas ela ser ousada,
tocar uma punheta e fim. Tudo para mim tem uma intensidade
diferente, amplificada, e tenho que lidar com muitas questões,
dentre elas me acostumar a um novo tipo de toque. Sophie está
prestes a se familiarizar com uma parte de mim que nunca foi
tocada por qualquer garota e é preciso trabalhar o meu
psicológico para aceitar isso, mesmo que eu anseie pela ação.
Todas as vezes em que beijo Sophie, a tensão dissipa por
completo da minha mente. É por isso que volto a me virar de
frente e a pego de uma só vez, ignorando o fato de meu pau
estar duro e pressionado contra ela. É um pouco chocante sentir
meu pau praticamente entre as pernas dela, tocando diretamente
sua intimidade, mas é mais chocante ainda a maneira como
minha mente relaxa e se permite viver o que meu corpo está
implorando. Até tento me afastar um pouco, mas Sophie
simplesmente traz as mãos em meu pescoço e faz com que eu
continue a beijando de forma intensa.
Minhas mãos descem para a cintura dela e vejo seu corpo
tremer. Quando enfim me afasto, o rosto de Sophie está tomado
por algo diferente. Ela parece desesperada por mais... tão
desesperada quanto eu.
— Eu amo você. Você me ama. Não há nada que não
possamos fazer entre quatro paredes. Por favor, eu te quero com
a minha alma, Henrico. É sobre mais do que apenas querer. É
sobre precisar de você para acalmar tudo em mim.
Sophie precisa de mim.
Eu deixo que ela tome o controle da situação, porque
somos feitos de medos e vontades, somos feitos de impulsionar
e recuar. Quando um recua, o outro impulsiona.
Nesse exato momento o meu recuo significa também o
consentimento. Dois passos para trás e minhas costas se
chocam contra a parede. A boca dela volta à minha e eu me
permito apenas sentir. Seus beijos estão desesperados e não
ficam apenas em meus lábios. Ela beija o meu pescoço, meu
peitoral, e vai descendo até cair de joelhos aos meus pés. Penso
em desviar meus olhos dela, apenas para fugir da intensidade
desse nível de intimidade. Porém, sou vencido pela curiosidade e
permaneço a encarando, ofegante, ansioso, medroso.
Ela dá um sorriso antes de fechar as mãos em torno do
meu pau. A sensação é intensa e faz meus batimentos
acelerarem de uma forma quase insuportável. É muito diferente
de quando sou eu me masturbando. A cada movimento que ela
faz com as mãos, a necessidade de mais aumenta. Por fim,
percebo que fugir disso seria um atestado de idiota. É bom, é
avassalador, é selvagem e me faz imaginar uma outra situação
que parece prestes a acontecer.
Quando ela coloca a língua para fora e lambe meu pau, eu
sou obrigado a segurar em seus cabelos.
— Porra, Sophie!
— Eu gosto quando você diz alguns palavrões — ela fala,
sorridente. — Eu vou chupá-lo agora, mas não sei se farei direito.
É a primeira vez. Se for ruim ou machucá-lo, me diga. — Balanço
a cabeça em concordância e ofego quando ela leva parte de mim
em sua boca.
Há uma espécie de revolução em meu interior. Por alguns
segundos me sinto como um animal selvagem querendo sair da
jaula e sons insanos saem da profundeza da minha garganta,
como um rugido feroz. A boca de Sophie parece pequena demais
agora, apertada, quente, e eu sinto sua língua passeando por
toda a minha extensão enquanto me chupa. Não conseguirei me
manter firme por muito tempo, mas luto por ter um desempenho
digno. Meu corpo dá espasmos involuntários conforme Sophie
aumenta a intensidade. Minhas mãos se perdem por entre os
cabelos dela e eu me pego impulsionando meu pau para a boca
dela, perdendo a noção da delicadeza. Quando percebo que
estou prestes a gozar, a afasto rapidamente.
— Não...
— Sophie...
— Não! — Ela volta a me chupar e vence a batalha
quando gozo em sua boca.
— Pelo amor de Deus... — Ofego, quase perdendo as
forças das minhas pernas. Até chegarmos à quarta base eu
desenvolverei algum problema cardíaco.
— Eu te amo do modo mais louco desse mundo, mas... eu
nunca mais vou engolir isso. Achei que seria interessante avisar.
— Ela fica de pé e corre molhada pelo banheiro, indo direto
escovar os dentes.
— Pesquisas revelam... — Tento conversar enquanto ela
escova os dentes, mas nem consigo ter um raciocínio lógico para
terminar a explicação sobre as pesquisas. — Eu te amo, Sophie.
— Eu também te amo.
— Você chupando o meu pau é a menina mais bonita do
mundo. Você entende? Sem chupar você também é. Você é, de
todas as maneiras, a menina mais bonita do mundo. Puta merda!
Você pode fazer isso de novo? — peço a ela.
— Agora?
— Sim, por favor. Eu me sinto pronto. — Ela começa a
gargalhar e eu a puxo de volta para mim. — Eu quero você de
joelhos, Sophie.
— Pelo amor da Santa Josefina! Eu acabo de ter uma
parada cardíaca!
— Seu coração está batendo, Sophie! Não teve uma
parada cardíaca. Só está respirando com dificuldade devido à
excitação. Ou está passando mal? Nós precisamos ir ao
hospital?
— Shiuuu! Garoto literal, vamos ao segundo round! — Ela
pensa que estamos em uma luta?
Tudo deixa de fazer sentido quando ela volta a fazer
aquelas coisas com a língua...

— Vamos, companheiro! — Henrico ri das minhas


palavras enquanto se esforça para descascar batatas. Ele quer
comer arroz, feijão, bife e batatas fritas, e estamos nos
arriscando na cozinha. O arroz está quase pronto, o feijão está
devidamente feito, falta apenas a carne e as batatas.
Fomos ao mercado pela manhã e foi uma experiência
engraçada por alguns motivos. Primeiro, parecíamos duas
crianças fazendo compras; segundo, Henrico não gosta de
socializar; terceiro, discutimos no caixa para pagar a conta e a
mulher não entendeu absolutamente nada quando Henrico
resolveu ser super sincero.
— Sophie, eu devo pagar a conta. Estou cuidando de
você! — argumenta.
— Eu tenho dinheiro e posso pagar a conta, Henrico Davi.
— Não importa. Eu faço questão, Sophie. Temo me sentir
desconfortável se você pagar. Você vai se casar comigo.
— Eu adoraria ter um homem para pagar as minhas
contas — a caixa se intromete.
— Viu? Ela adoraria, eu não — rebato.
— A opinião dela não me interessa, Sophie, mesmo tendo
me favorecido. E eu nem a conheço, nem quero conhecê-la.
Estou falando com você.
— Credo! Que falta de... — corto a caixa antes que ela
termine a frase.
— Você paga! — Me dou por vencida e ele sorri.
Ele venceu a guerra, pagou a conta, e agora estamos com
um estoque de besteiras que faria a alegria de qualquer criança.
Temos até aqueles iogurtes que vêm com bolinhas para jogarmos
dentro.
— Isso é muito difícil, Sophie. Você quer que eu tire uma
casca quase invisível da batata e eu não sei fazer assim. Todas
saem com alguns pedaços, não é tão ruim quanto você faz
parecer.
— Ok, quer trocar? Eu descasco a batata e você fica
responsável pela carne. Na verdade, é melhor não! Deixe a
comida comigo, ou ficaremos cinco horas aqui, de tanto rir.
— Eu acho que posso fazer a carne. Sinto que posso fazer
isso. — Volto a rir, porque ele pode ser extremamente engraçado
na cozinha. — Você vai parar de rir?
— Tentarei. Eu juro.
— Sophie, você é uma gostosa na cozinha. Então vamos
fazer isso logo. — Não vejo sentido no gostosa, mas ignoro a
loucura. Acho que o boquete fez um efeito louco nesse homem.
Desde que acordamos ele já me chamou de gostosa ao menos
umas sete vezes, e está extremamente safado.
— Ei, estava pensando aqui, que tal acampar na sexta-
feira ou sábado? Acho que será uma experiência legal. Podemos
ir até a cidade vizinha comprar tudo que é necessário para uma
expedição — sugiro.
— Eu acho que será muito legal, Sophie. Precisamos
verificar a previsão do tempo e achar o local ideal para
passarmos o final de semana, de preferência perto de alguma
cachoeira. Nós vamos poder fazer sexo oral no acampamento?
— Olha o seu foco, Henrico Davi! — repreendo-o, rindo
enquanto descasco as batatas. — Nós podemos fazer sexo oral
em qualquer lugar que haja o mínimo de privacidade. Estou tão
felizzzz! Acho que será incrível, bebecito!
— Eu te amo. Tenho certeza de que será incrível.
— Não ligou para os seus pais hoje — comento.
— Não posso ligar para eles — ele diz, concentrado em
fatiar a carne em pedaços menores, tipo iscas.
— Por que não pode ligar para eles?
— Há muitas coisas novas acontecendo entre nós e tenho
receio de jogar todas as informações da nossa intimidade para
eles. Preciso deixar que essa fase passe um pouco, antes de
ligar.
— Ok, eu entendi. Você pode conversar sobre nós com
eles, Henrico. Eu também direi sobre nós aos meus pais, quer
dizer, ao menos para a minha mãe. Não vou contar ao meu pai
que fizemos sexo oral e que não existe nada mais perfeito que
sua boca em meu corpo. — Sorrio. — Acho que podemos falar
sobre nossa intimidade, só não podemos expor os detalhes mais
íntimos. Não acredito que vamos superar ou esquecer tão
facilmente todos esses acontecimentos, por isso acho que
deveria ligar para os seus pais, como ligarei para os meus. O que
eu não posso fazer é chegar no bar do Tião e dizer que seu pau
é grande e gostoso.
— Meu Deus, Sophie!
— Só um exemplo do que não pode — digo, segurando a
vontade de rir. — Mas não é uma mentira. O melhor a ser feito
agora é nos concentrarmos no almoço, menino mais bonito.
Quando começamos a falar de sexo, acabamos nos excedendo.
Vamos acabar na cama, ou talvez eu acabe de joelhos —
provoco e recebo um olhar, no mínimo, curioso.
— É muito difícil ser seu namorado. Agora estou
imaginando você de joelhos, Sophie.
Eu também estou. Puta merda! A madrugada foi no
mínimo louca. Henrico perdeu a compostura todinha e juro que
meu couro cabeludo ainda está doendo pela maneira como ele
puxou os meus cabelos. Ele simplesmente gostou bastante de
toda ação e a segunda vez foi ainda mais intensa que a primeira.
Ele arremetia para dentro da minha boca como se estivesse
fodendo outra parte do meu corpo. Em alguns momentos eu
quase vomitei, foi chocante ver lágrimas descendo dos meus
olhos e mais chocante ainda a maneira como ele estava um tanto
quanto impiedoso. Quando eu quase vomitava, ele parava por
alguns segundos, esperava eu respirar e voltava a fazer tudo
novamente. Foi excelente, mas chocante. E ainda teve o
agravante dele conseguir ficar sem gozar por muito tempo na
segunda vez. Juntando todas essas informações, podemos ver
que meu namorado é bem parecido com uma bomba-relógio.
Sei que futuramente serei uma sortuda do caralho, mas
agora apenas tenho um pouco de medo da primeira vez. Se ele
for nesse impulso em outra parte do meu corpo, estarei fodida,
literalmente, e uma cadeira de rodas será pouco. Porém, tenho
descoberto que o prazer pode ser como um vício. Eu sinto prazer
quando Henrico me dá prazer, e sinto prazer quando dou prazer
a ele. Estar de joelhos essa madrugada me deixou tão
desesperada, como se fosse ele com sua cabeça enterrada entre
as minhas pernas. Eu quero fazer isso novamente e quero ir
além. Me sinto pronta para o próximo passo, mesmo com medo.
Na verdade, estou ansiando por isso. Creio que só quando de
fato acontecer, iremos nos acalmar um pouco. Toda essa
expectativa pelo sexo está fazendo com que nossas mentes só
trabalhem em torno disso.
Quando idealizava um namoro com Henrico, jamais
imaginei que poderia ser tão arrebatador e voraz, tão quente. Eu
imaginava algo em torno da pureza, da paciência, dos passos
lentos. Nos últimos dois dias temos nos devorados, como
famintos e desesperados. Até pisamos um pouco na parte da
pureza, mas logo pulamos fora e deixamos a voracidade assumir.
É além do perfeito estar no mundo além do azul com
Henrico!
Só por hoje decidimos nos fechar dentro de casa, eu e ele.
Sem visitas, sem idas ao bar, sem lembrar que existe vida do
lado de fora dessa casa.
— Já fez a lista? — pergunto a Henrico, enquanto dirijo
rumo às compras.
— Acho que está tudo aqui, Sophie. Barraca de camping,
saco de dormir, isolante térmico, cobertores, lanternas,
repelentes, protetor solar, pilhas reserva, álcool em gel, saco de
lixo, papel higiênico, sabonete, canivete, fita adesiva em caso de
necessidade, lençóis, fronhas, travesseiros, itens para cozinhar,
fogareiro, fósforo... — Ele segue falando e eu sigo me
perguntando como levaremos tudo isso. Henrico não esquece um
único detalhe. — Talvez um colchão inflável seja aconselhável, o
que acha?
— Como carregaremos tudo isso?
— Iremos de carro, Sophie. Eu não vou correr o risco de
levá-la para um local qualquer, entende? Vamos procurar um
local adequado, onde possamos ir de carro. Você tem um Jeep, é
excelente para aventuras.
— Ok, mas isso está me saindo muito patricinha e playboy
acampando. Somos melhores que isso, bebecito. Somos radicais
e aventureiros!
— O seu pai vai me matar se qualquer coisa ruim
acontecer. Vamos ser aventureiros, Sophie, mas temos um limite.
— Me pego sorrindo diante de toda seriedade.

Quando chegamos na loja, Henrico toma frente da


situação. Eu fico apenas rindo, enquanto ele dá aula sobre
acampamentos para o atendente. O homem oferece determinada
coisa, Henrico o corrige e pega algo que acha que é melhor do
que o que o cara ofereceu.
Enquanto ele se encarrega das compras, eu vou atender
meu celular. É Samuel.
— Olá, priminho!
— Ei, onde vocês estão? — pergunta.
— Comprando coisas necessárias para irmos acampar. E
você?
— No sítio. Vocês estão indo acampar?
— Vamos daqui dois dias. Não decidimos o local ainda,
primeiro estamos comprando tudo o que precisaremos — explico.
— Minha irmã está chegando. Se não fosse isso, iria com
vocês. Chamaria a Hadassa, mesmo sabendo que ela iria de
salto agulha e que não é uma garota do mato. — Eu nem foco na
segunda coisa que ele disse. A primeira é um tremendo alerta de
perigo se aproximando. Fico até sem palavras. Eu vou matar Luiz
Miguel! — Sophie?
— Oieee... foi mal, acabei me distraindo. Seria incrível se
vocês fossem, iríamos adorar, mesmo correndo o risco de
escutarmos gemidos uns dos outros.
— Que merda! — ele diz, rindo. — Vamos nos encontrar à
noite?
— Vamos sim! Às oito, no bar do Tião, só para variar um
pouco. — Sorrio. Assim que nos despedimos, volto ao meu
bebecito.
Enfim, não foi tão assustador. A maioria das coisas são
pequenas, dobráveis, fáceis de carregar. Acho que será um
programa romântico, com direito a fogueira, frio e céu estrelado.
Estou ansiosa!

— Você está linda, Sophie! — meu namorado diz assim


que surjo na sala, pronta para irmos ao bar do Tião.
— Você está mais lindo ainda, namorado! — digo, o
abraçando.
— Eu te amo muito. Não consigo descrever o quanto. Eu
te amo ao infinito e além, te amo para sempre. — Ele segura
meu rosto entre suas mãos e eu seguro o rosto dele.
— Também te amo além do infinito.

Eu não costumava sair muito de casa. Os últimos dias têm


sido bastante diferentes, fogem completamente da rotina a qual
eu estava acostumado. Não sei até quando poderei fazer isso.
Mesmo que eu esteja entre meus familiares, me sinto um pouco
nervoso, desconfortável.
Sophie está sentada de frente para o balcão do bar,
conversando com o famoso Tião. Já eu estou sentado em uma
mesa com Luiz Miguel, Samuel, Maicon e Hadassa. Não sei se
gosto de Maicon. Ele diz que é gay, mas não confio muito nisso.
Ele chama a minha namorada de gostosa e gosta de tocar,
abraçar, sem contar que ele é muito animado, barulhento. Não
gosto disso.
— Ei, companheiro! — Samuel se senta ao meu lado. —
Não temos conversado muito.
— Eu sei, estou evitando conversar — confesso, vendo-o
franzir a testa.
— Por quê?
— Porque eu e Sophie temos uma regra sobre não falar
da nossa intimidade. Porém, nos últimos dias, os acontecimentos
têm girado em torno da nossa intimidade e não tenho outro
assunto para conversar. — Samuel sorri.
— Ouça, Sophie certamente não quis dizer sobre você
nunca falar sobre os acontecimentos entre vocês. Ela deve ter
dito isso no sentido de dar detalhes íntimos. Por exemplo, você
sabe que eu já transei com várias garotas, mas eu nunca dei
detalhes íntimos do que fizemos entre quatro paredes.
— Você transou com Hadassa?
— Ainda não, mas irei — ele responde, sorrindo. — Estou
enrolando um pouquinho, fugindo disso.
— Por quê?
— Ela combina comigo em muitos sentidos, não quero ser
pego pelas bolas. Preciso ter controle emocional para lidar com
ela. — Eu não entendo bem a resposta dele.
— Vocês, seres humanos, são muito estranhos.
— Ei, você é um ser humano, irmão — me repreende,
rindo.
— Mas sou diferente. Não sou tão complicado quando
quero algo. Ou talvez seja.
— Oh, com certeza você é. Pode acreditar em mim —
afirma. — Você e Sophie já transaram?
— Ainda não. Estamos nos conhecendo intimamente. É
normal pensar em sexo o tempo todo?
— Wow! — Samuel ri. — O tempo todo, hein?! É normal
sim, irmão. Acho que você esperou tempo demais e agora
descobriu uma das grandes maravilhas do mundo.
— Sexo não se encaixa nas maravilhas do mundo antigo
ou moderno.
— É apenas modo de dizer. Falamos assim quando algo é
muito maravilhoso. Se tiver perguntas, não fique envergonhado,
ok? Sou seu irmão e melhor amigo.
— Não tenho perguntas. Acho que estou tendo um bom
desempenho. Não há um manual de instruções a ser seguido.
Antes eu achava que deveria haver, agora não mais. Minha mãe
me disse que o primeiro passo era o mais difícil e que depois
dele as coisas iriam se ajustar. Ela estava certa. Depois do
primeiro passo ficou mais fácil dar outros passos. Há alguns
momentos em que travo; quando isso acontece, Sophie pega o
controle. Há outros momentos onde é ela a travar, e aí sou eu
quem preciso estar no controle. É uma dinâmica curiosa, mas
está dando certo. — Meu irmão me abraça.
— Eu estou muito feliz em ouvir tudo isso, muito feliz
mesmo! — Sorrio e busco Sophie com os olhos. Não gosto do
que vejo e Samuel percebe.
O mesmo homem que estava flertando com ela outro dia,
está perto demais. Sophie está conversando com Tião, distraída,
mas noto o homem a observar por completo, de uma maneira
que não gosto.
— Sophie vai saber se defender. Respire. Madson é o
idiota da cidade — Samuel diz, mas não dou importância às
palavras dele agora.
Durante parte da adolescência, evitei Sophie por medo de
como reagiria se a encontrasse com algum garoto ou se a
escutasse falando sobre garotos. Havia o medo da dor, o medo
de perder a cabeça, o medo de surtar diante dela. Todos esses
conflitos foram responsáveis por muitas das crises que eu tinha.
Agora é diferente. Os sentimentos estão intensificados e ela é a
minha garota, minha mulher. Qualquer coisa que ameace isso me
tira da nova zona de conforto que estou construindo, uma onde
só há espaço para nós dois. Eu posso sentir a adrenalina
percorrer meu corpo, até mesmo fecho as minhas mãos em
punhos.
Sophie é minha e eu não gosto de qualquer homem perto
dela.
Ela fica de pé, demonstrando um leve incômodo, mas
segue conversando com Tião. Sophie é educada, delicada e
sempre tenta resolver as situações de maneira calma, madura.
Sei que é isso que ela está fazendo. Ainda assim, me incomoda
e me coloca em estado de alerta.
O homem também fica de pé, se aproxima mais, quase a
prendendo sobre o balcão. Ele toca nos cabelos dela. Ela recua.
Ele toca na cintura dela. Ela recua. Ele a puxa contra o corpo
dele e eu fico de pé, tremendo e temendo. Sophie luta para se
afastar. Somente eu, Samuel e Tião estamos cientes do que está
acontecendo. Sei que Tião tenta intervir, mas não consegue.
Nem mesmo Sophie consegue se desvencilhar do aperto e a
cena parece acontecer em câmera lenta. Quando o homem
segue mantendo-a presa, ela pede socorro a Samuel e a mim
através de um olhar, e eu deixo de controlar os meus atos.
A última coisa que ouço é o grito de Sophie.
A última coisa que vejo é sangue.
PASSADO (CONTÉM GATILHOS)
8 ANOS DE IDADE
— Saia daqui, Pablo! — Os gritos da minha mãe ecoam
pela casa. Ela está chorando; um choro forte, desesperado,
repleto de medo. — Ele não quer ir com você. Isso está errado!
— ELE É MEU FILHO E VAI COMIGO! É O MEU
DIREITO! FODA-SE A LEI! EU QUERO E VOU PEGAR O MEU
FILHO!
— Ele não quer ir, Pablo! Você é um idiota?! Não percebe
que Henrico não pode passar por situações assim?
Levo minhas mãos aos ouvidos, mas não ajuda o
suficiente. Há gritos dos dois e isso faz a minha cabeça doer. Eu
não gosto de ver a minha mãe chorando. E eu odeio Pablo. Ele
não é o meu pai! Ele nunca será o meu pai! Eu o odeio! O odeio
muito!
Estou embaixo da mesa, escondido. Daqui eu o vejo
segurar os braços da minha mãe. Eu acho que ele vai bater nela,
por isso pego o telefone e aperto uma tecla que liga para o meu
pai. Ele atende, diz coisas e eu não consigo responder. Meninos
não batem em garotas, meu pai me disse isso. Mesmo assim,
Pablo empurra a minha mãe e ela cai em cima de uma mesa de
vidro, que quebra por completo. Eu sei que ele quer me pegar e
que está me procurando. Eu fico quieto debaixo da mesa, mas,
após um tempo, ele me encontra e me puxa.
— Solte-o! — minha mãe grita, tentando se levantar. Ela
está desesperada.
— Sua mãe é uma vadia! — ele diz a mim e tenta me
pegar em seus braços. Eu não deixo. Um forte choro escapa de
mim, acompanhado de um grito. Eu luto com Pablo, o arranho,
dou chutes, e ele grita. Minha cabeça vai explodir.
Ele está me levando para fora de casa quando um monte
de homens surgem. Há armas. Elas são perigosas, meu pai me
disse. De repente, não estou mais nos braços do Pablo, há um
homem estranho e eu o arranho também, não consigo parar.
Minha visão agora está ruim, mas vejo meu pai correr. Ele me
pega dos braços do homem e me leva para dentro de casa.
Minha mãe está se levantando, chorando e suja de
sangue. Ela não se importa com o meu pai agora. Ela me pega
em seus braços e me abraça forte, mas eu não quero. Eu não
quero ser tocado e me debato. Não quero ouvir sons, não quero
ver pessoas, não quero ser tocado. Minha irmãzinha está
chorando e eu odeio o som dela.
— Vai ficar tudo bem, meu amor — minha mãe sussurra,
andando comigo para o banheiro. Ela é forte e me mantém firme
em seu corpo enquanto abre o chuveiro. Retira minhas roupas,
entra no boxe, se senta no chão e me abraça forte enquanto a
água quentinha cai sobre meu corpo. Eu a empurro, me debato,
mas minha mãe é mágica. Ela se mantém abraçada a mim,
mesmo eu a arranhando, e faz carinho em meus cabelos, além
de ficar caladinha, em silêncio. Aos poucos vou me acalmando.
Tento me desvencilhar mais uma vez, mas estou cansado, por
isso me concentro no som da água.
Eu gosto do som da água caindo. Me acalma. O abraço
apertado da minha mãe também me acalma, mas ela está
chorando e tremendo. Eu odeio o Pablo.
— Fique comigo, filho, por favor... — Ela volta a chorar
quando meu corpo fica mole, mas não respondo.

— Eu não sou agressivo — digo ao meu irmão, enquanto


ele lava as minhas mãos no banheiro do bar.
— Você não é. Não é. Eu teria feito o mesmo. Théo já fez.
Apenas respire.
— Não sou agressivo. Não quero que Sophie me veja.
Não quero que ninguém me veja. Ninguém pode me entender —
peço.
— Eu entendo você. E Sophie? Ela é a sua garota, irmão.
Ela te entende e te ama.
— Mas eu fui agressivo. Eu não sou agressivo. Ela me viu
sendo agressivo e está assustada — argumento, sentindo um
desespero crescer.
— Você estava apenas a protegendo. Ela entende isso.
Onde está o seu elástico? Vamos lá, você precisa se acalmar.
Acha que o elástico vai resolver? — Nego com a cabeça. Ele
entende o que significa. — Me diga onde está e faremos isso.
Apenas respire, irmão.
— Sophie...
— Ela vai entender. Sophie ama você, Henrico. Você
estava a protegendo. Todos estão orgulhosos. Luiz Miguel teria
arrebentado Madson, só não fez porque Maicon o segurou. —
Não acredito em meu irmão agora. Eu fui agressivo, violento.
— Ele vai morrer?
— Não vai morrer — Samuel responde, rindo. — Ele está
vivo e estão cuidando dele ali fora. Deve ter perdido uns dentes,
quebrado o nariz, o que é merecido para um cara abusivo. Eu
teria feito o mesmo, Henrico, independentemente de ser com
Sophie ou não. Eu iria fazer se você não tivesse visto. Você só
protegeu a sua namorada. Um homem não deve tocar em uma
mulher quando ela diz não, não é isso que nosso pai nos
ensinou?
— Não quero que Sophie me veja assim.
— Vou levá-lo para casa e vamos resolver isso. Amanhã
você estará melhor, tudo bem?
— Eu não posso namorar com ela. — Dizer isso faz com
que lágrimas desçam dos meus olhos. A realidade que eu tento
ignorar é cruel. — Ela não precisa de um garoto como eu... Não
posso dar a ela um relacionamento normal. Sophie é uma garota
normal, eu sou diferente.
— Não diga isso, cara. Você está indo bem, Henrico.
Nunca vi Sophie tão feliz como agora. Todos nós somos
diferentes, você sabe disso. Você só defendeu uma garota. Théo
também deu uma porrada naquele cara e vai se casar com Eva.
— Ele não teve que tomar uma injeção para ficar
controlado. — Samuel enxuga as minhas mãos e suspira, sem
argumento.
Algumas verdades são mais difíceis que outras.
— Vamos lá, Henrico. Vamos para casa.
— Não acho que eu posso ir.
— Você vai enfrentar todos os seus medos, vai sair da
zona de conforto e vai sair desse banheiro comigo agora. Nós
iremos para a sua casa e tudo ficará bem — Samuel diz,
segurando meu rosto entre as mãos. — Não se envergonhe de
proteger uma garota. Segure a minha mão e vamos sair daqui,
tudo bem? — Balanço a cabeça positivamente e o sigo sem olhar
para qualquer pessoa.

— Eu deveria ter agido antes! Mas o idiota estava me


apertando forte — choramingo com o meu irmão, após
presenciar quase um massacre. Henrico parecia transtornado
quando arremessou Madson a metros de distância. Descobri da
pior maneira a força do meu namorado. Ele é extremamente
forte, assustadoramente forte.
— Pare com isso, Sophie. A culpa nunca é de uma mulher
que diz não — Hadassa fala, segurando as minhas mãos,
enquanto vejo meu irmão querendo a morte de Madson. — Esse
homem sempre foi um idiota, desde muito jovem. Pensei que ele
mudaria com os anos. Imagine a minha surpresa ao voltar de
Londres e perceber que nada mudou? Você disse não, ele te
tocou sem consentimento!
— Mas agora Henrico ficará fodido psicologicamente.
— Não os conheço, nem sei como é a relação de vocês,
mas, por tudo que Samuel já disse, vocês saberão lidar com Isso,
Sophie. — Ela se esforça em me ajudar, mas, infelizmente, há
algo em mim que não consegue se acalmar. Piora quando vejo
Samuel sair do banheiro com meu namorado. Me levanto, mas
ele faz um aceno para que eu fique na minha. Eu não sei se
posso fazer isso.
Na verdade, eu sei, não posso fazer isso!
Deixo Hadassa e sigo atrás dos dois. No fundo, estou
temendo o que irá acontecer, por isso tenho cautela até mesmo
em meus passos. Eles entram em casa primeiro e, após um
tempinho, entro. Henrico está dizendo coisas, enquanto Samuel
tenta acalmá-lo.
— Não saberei lidar com Sophie depois que acordar. Você
não entende. Como vou olhar para ela?
— Você está levando sua mente para um caminho errado,
Henrico. Não está conseguindo raciocinar neste momento. Assim
que se acalmar conseguirá perceber que não há nada de errado.
Não é legal brigar, agredir, mas algumas situações simplesmente
saem do controle. Já disse, se você não tivesse agido, eu teria,
talvez até mesmo Tião. Onde está? — Não entendo.
— Em um nécessaire na gaveta do banheiro.
— Faremos isso e você irá se acalmar. Amanhã vai
acordar melhor. — O choque me invade, porque agora consigo
entender do que se trata. Não estou disposta a deixar isso
acontecer.
Chego no quarto em velocidade recorde. Henrico abaixa a
cabeça ao me ver e Samuel faz uma cara de pura repreensão.
— Sophie...
— Eu vou lidar com o meu namorado — digo baixo,
tentando demonstrar uma calma que não existe agora. — Por
favor. — Samuel, que estava agachado, fica de pé, segura a
minha mão e me puxa para fora do quarto.
— Ele precisa disso, Sophie. Eu prometi para tia Paula
que faria isso, caso fosse necessário.
— Não. Ele não precisa disso agora. Eu vou lidar com a
situação sem que ele precise tomar algo que o fará desmaiar.
Confie em mim, eu vou cuidar dele, Samuel. Tomando ou não,
ele terá que lidar comigo. Somos um casal, não há para onde ele
fugir, entende? Ele pode não lidar comigo agora, mas amanhã ou
depois, quando acordar, eu estarei ao lado dele e de nada terá
adiantado fugir.
— É o que ele quer, Sophie. Ele pediu. Ele nunca pede,
mas pediu hoje. A maneira dele enfrentar as situações é
diferente, principalmente quando há a maior fraqueza dele no
meio de tudo — meu primo argumenta, me abraçando. — Você
só precisa entender isso.
— Eu tentarei do meu modo. Me desculpe, mas não estou
disposta a deixar isso acontecer, entende? Já o vi sob efeito da
medicação e Henrico deixa de ser ele, é um pouco assustador a
maneira como ele se desintegra. Prometo te ligar se algo der
errado. Só me deixa cuidar dele, por favor. Eu preciso saber lidar
com o meu namorado. Não quero que ele se submeta a algo tão
forte. — Samuel balança a cabeça em concordância.
— Ele provavelmente não vai me perdoar por isso. Me
ligue se precisar de qualquer coisa. — Ele se vai e eu corro para
o quarto.
Henrico agora está no banheiro e, para meu choque
completo, há uma seringa em sua mão.
— Não faça isso — peço com todo cuidado que possuo.
— Não faça isso, por favor. Por mim. Não faça isso. — Me
aproximo, seguro sua mão e retiro a seringa da mão dele. Ele
não me olha. Está fazendo aquela coisa de nunca olhar nos
olhos da maioria das pessoas. Eu seguro seu rosto entre minhas
mãos e roço meu nariz no dele. — Sou eu, sua Sophie, meu
amor. Estou aqui e te amo muito. Posso cuidar de você? — Num
movimento suave, ele acena positivamente, para o meu alívio.
Nós podemos fazer isso. Sei que podemos.
Em algumas vagas memórias da infância, me recordo de
quando Henrico tinha crises. Tia Paula retirava as roupas dele, o
abraçava e ficava por longos minutos embaixo do chuveiro,
deixando a água cair sobre o corpinho dele. Isso costumava
acalmá-lo.
Ao invés de ir para o chuveiro, decido colocar a banheira
para encher. Enquanto a água cai com força na mesma, retiro
todas as minhas roupas. Completamente nua, me aproximo de
Henrico e começo a despi-lo. Minha nudez dessa vez parece não
afetá-lo tanto, como tem ocorrido nos últimos dias. Mas a dele
me afeta. Sempre me afeta.
A cada peça de roupa que eu retiro do meu namorado, eu
sinto a chama se acender. É como se eu pudesse enxergar o
fogo dentro de mim e, se pudesse mesmo fazer isso, diria que as
chamas estão dançando através de todas as minhas terminações
nervosas. Quando Henrico está completamente nu, eu não
consigo evitar de olhá-lo por completo. Seu pau não está duro,
mas, ainda assim, é incrível e chamativo o bastante. Nunca
pensei que um dia poderia amar outra pessoa...
Foco, Sophie!
Ele me acompanha até a banheira e eu entro logo em
seguida. Meu namorado ainda não consegue olhar para o meu
rosto, é uma cena de partir o coração. É tão ruim vê-lo com todas
as vulnerabilidades expostas, sentindo-se inferior ou insuficiente.
Tudo para ele tem um peso e uma perspectiva diferente. "Alguns
infinitos são maiores que outros". É exatamente isso. O infinito de
Henrico é maior que muitos outros infinitos, e é por isso que eu
coloco minhas pernas sobre as dele e o puxo para os meus
braços. Eu posso lidar com o infinito dele.
No primeiro instante há um pouco de relutância, mas ele
acaba cedendo, deitando sua cabeça em meu ombro e
retribuindo o abraço. Eu acho que não precisamos de palavras
agora, apenas silêncio e conexão. Quero que ele perceba que
sempre estarei aqui, haja o que houver.
Não sei quantos minutos se passam, mas percebo o corpo
dele devidamente relaxado sobre o meu e isso me deixa um
pouco assustada.
— Henrico?
— Sophie... — Ele está aqui!
— Você está aqui comigo e eu estou aqui com você... —
digo algo que nem eu consigo entender.
— É o que parece. Não tem como eu estar aqui com você
e você não estar comigo, Sophie. — Sorrio.
— Você se sente melhor?
— Não. Eu queria esquecer, o remédio ajudaria. Estou
envergonhado — confessa.
— Você ainda quer o remédio? Os efeitos colaterais dele
demoram a passar. Não gosto da maneira como você fica
quando utiliza aquilo...
— É para casos de urgência. Infelizmente, não tenho
como me desfazer da medicação, Sophie. Evita coisas piores e
alivia a minha mente, me deixa controlado.
— Eu entendo que alguns dos efeitos sejam positivos,
mas há muitos efeitos negativos. Você fica dopado, praticamente
desmaiado por um longo período. Entendo que talvez surja mais
algum momento tenso, onde a medicação seja necessária, mas o
que aconteceu agora... Eu acho que podemos lidar com isso,
Henrico. Podemos conversar, eu posso ser o seu remédio essa
noite. — Finalmente ele levanta a cabeça e me encara, olhos nos
olhos.
— Entendo o que acabou de dizer, Sophie, mas não
romantize uma crise. Eu já destruí um quarto, já quebrei coisas,
já machuquei a minha mãe quando era criança — fala, voltando a
ficar cabisbaixo. — Não quero causar danos emocionais a você.
Não quero que minhas ações te afetem.
— Não estou romantizando, estou tentando fazer com que
você escolha uma maneira menos agressiva para lidar com os
acontecimentos. Uma medicação forte servirá apenas de fuga
momentânea, porque quando você acordar eu ainda estarei aqui
e você terá que enfrentar isso de um jeito ou de outro, entende?
Não tem como fugir de mim, Henrico. Somos namorados,
moramos juntos e talvez um dia seremos marido e mulher. Se
você quiser tomar a medicação, eu mesma irei aplicar. Eu farei
qualquer coisa que seja o melhor para você, mas não vou te
deixar nem por um segundo, e se medicar agora será apenas
uma fuga, você estará evitando o inevitável. Eu sempre vou estar
aqui, porque é o que eu quero e é o que eu escolhi. E, se quer
saber, não estou arrependida e nem irei ficar. Eu não sou uma
garota fraca, Henrico. Suportei ficar longe de você uma vida toda,
determinação faz parte de quem sou. Eu te aplico a injeção,
porém, quando você acordar, eu estarei ao seu lado e não vou
deixar que fuja novamente. Somos um casal.
— Eu acabei de agredir um homem — justifica. — Me
perdoe, Sophie. Não sou um garoto violento, agressivo, abusivo.
Eu não sou assim e, muitas das vezes, não sei lidar com os
meus sentimentos... Fica tudo bagunçado dentro de mim e não
consigo encaixar as peças.
— Sei quem você é, Henrico. É justamente por isso, por
saber quem você é, que eu te amo. Não tive medo de você, não
o achei agressivo. Sei que brigar não é a maneira para resolver
uma situação, mas há alguns casos em que é preciso. Não vou
julgá-lo por ter me defendido, eu estava sendo agarrada e não
conseguia me desvencilhar. Você me protegeu, obrigada por
cuidar de mim.
— Você merecia um garoto melhor, mas a simples ideia...
— Ele não consegue terminar de falar. Um som estrangulado
escapa de sua garganta.
— Eu não mereço ou quero qualquer garoto. Eu mereço
você, eu te amo desde que me entendo por gente e não há
ninguém nesse mundo que se encaixa tão bem em mim como
você — digo, tocando seu rosto. — Eu sou sua. Só você pode
me tocar, só você pode me amar, só você pode ficar confortável
comigo... — Sorrio.
— Você quer isso?
— Sim. Muito. Tanto que dói.
— Você está preparada?
— Estou.
— Não posso fazer sexo agora, Sophie. Minha mente está
muito bagunçada e eu preciso ficar no escuro por um tempo,
minha cabeça está doendo muito. — Uma tristeza me invade ao
entender que ele está querendo a injeção. Eu não o quero no
escuro...
— Eu sinto muito, Henrico.
— Você pode apagar todas as luzes e ficar abraçada
comigo na cama? — A esperança renasce de uma só vez. Meu
Deus! Agora é a minha mente que está uma bagunça.
— Sem injeção? — pergunto.
— Sem injeção.
— Eu te amo! Muito obrigada por isso! Eu prometo ficar
caladinha, prometo ser a mulher que precisa que eu seja. Só
fique comigo, tudo bem? — Ele balança a cabeça positivamente
e me afasta para sair da banheira.
Passo o restante da noite na escuridão, com o meu
namorado. Às vezes é necessário sair do azul, mas sei que
amanhã estaremos mais fortes como casal. Eu lido com Henrico
desde a infância, fui eu quem o incentivei a correr... Agora nós
faremos toda e qualquer corrida juntos.
Algo mudou.
Pensei que tivéssemos atingido o limite da intensidade,
mas estava completamente enganada. Agora mudei minha
convicção, passei a acreditar que determinadas situações
dispensam limites, nem mesmo podem ser delimitadas.
Ontem, o dia seguinte ao ocorrido, foi estranho. Henrico se
manteve silencioso e isolado grande parte do dia. Porém, todas
as vezes em que deu o ar da graça, eu recebi os olhares mais
intensos de toda a minha vida.
Cada olhar que foi dirigido a mim tinha o poder de fazer
com que o meu corpo queimasse e se contraísse
involuntariamente. Alimentei uma grande expectativa sobre a
madrugada. Achei que seria tórrida como ocorreu em outras, mas
Henrico simplesmente dormiu a noite inteira. Ele precisava desse
descanso mental, por isso nem arrisquei dar uma provocada.
Hoje também estamos tendo um dia diferente, ele parece
que acordou mais disposto a me deixar louca. Se ontem ele
esteve isolado, hoje ele decidiu marcar presença. E que
presença... Parece que estou em uma espécie de jogo, mas só
ele sabe jogar e manipular a situação.
Estou me sentindo em meio a uma preparação para um
acontecimento maior. Poderia comparar um pouco com a fase
onde eu tinha 17 anos e estava me preparando para a prova que
garantiria minha vaga em uma universidade na Califórnia. A
questão é que agora pareço estar indo garantir uma foda sinistra.
— Sophie, precisamos conversar — meu namorado
anuncia, entrando na cozinha, onde estou conferindo se o
brigadeiro que fiz mais cedo esfriou.
— Sobre?
— Sexo. — Já sei que vou rir. Ou talvez eu chore por
todos os lados. Com Henrico nunca dá para saber se iremos rir
ou "chorar" quando se trata de sexo.
— Claro, vamos conversar. — Pego o prato com o
brigadeiro, duas colheres e carrego para a sala. Ele me
acompanha, se acomoda ao meu lado e rouba uma das colheres
da minha mão.
— Quero te comer! — anuncia de uma só vez, fazendo
com que o brigadeiro entre pelo lugar errado e eu engasgue. Ele
tenta me socorrer, dando tapas nas minhas costas, mas estou
impactada o bastante e custo a recuperar a compostura. Puta
merda!
— Como assim? — pergunto, tossindo, rindo e chorando
de uma só vez. Chorando por ter me engasgado.
— Me desculpe por ter dito dessa forma, mas desde que
Samuel falou sobre comer, pesquisei e estive pensando que faz
sentido utilizar essa expressão. Se você quiser, eu nunca mais
digo isso. Apenas vi que pode ser excitante para algumas
garotas e resolvi testar com você.
— Você pode dizer, é extremamente excitante. Meu Deus!
Só diz assim, por favor. Eu amei. Só não estava esperando.
Foda-me. Que horas?
— O quê?
— Você disse que quer me comer. Prossiga — digo, me
abanando em busca de ar. Senhor da glória! Eu vou pedir esse
homem em casamento, juro por Deus!
— Então... eu quero te comer. Mas tenho algumas
questões.
— Quais questões?
— Você faz uso de anticoncepcional? Estive pesquisando
e sei que algumas garotas, mesmo sendo virgens, acabam
utilizando para regular o ciclo menstrual e os hormônios. Você
utiliza? — Gente, ele me deixa tímida sendo tão direto. Logo eu,
a garota que ri da palavra timidez.
— Faço sim, há alguns anos já. Por quê?
— Sophie, eu tenho problemas — diz, sério. — E não
quero ser pai. Na verdade, somos muito jovens e seu pai me
mataria se eu a engravidasse agora.
— Não vou engravidar tão cedo. Quero ser mãe um dia,
mas espero que seja daqui uns oito anos, talvez nove, quero que
seja algo planejado — explico. — É esse o seu problema?
— Não. Preservativo me deixa desesperado. Aperta muito,
me incomoda. — Lá vamos nós!
— Existem tamanhos especiais.
— Eu sei. Tenho alguns. Mesmo assim me deixa
desesperado, porque aperta, parece um estrangulamento. Se
você quiser, eu posso usar, mas se disser que está tudo bem não
utilizarmos, ficarei aliviado. — Senhor da glória! Só sei sentir
esse impacto violento das palavras dele. — Estava pensando se
poderia te comer sem preservativo. — Santa Josefina, dai-me
equilíbrio!
Estou muito perdida entre Senhor da glória e Santa
Josefina agora.
— Pode me comer, querido. Só vem com força! Na força
do ódio! Sua filha está pronta neste exato momento! Com
emoção, por favor.
— Não tenho uma filha, Sophie. Não quero ser pai. Você
se sente pronta para ficar confortável? — pergunta.
— Você oscila muito, né? Em um minuto joga na minha
cara que quer me comer, no outro está tímido e me pergunta se
eu estou pronta para ficar confortável.
— Sophie, me desculpa. É que fico confuso em como lidar
com você — argumenta. É tão bonitinho! Ele fica mesmo
envergonhado e sério quando me pede desculpas. — Você é
muito delicada e amorosa.
— Deus! Eu te amo um pouco mais a cada segundo,
bebecito. Você é muito perfeito. Sobre a sua pergunta, eu
realmente acho que me sinto pronta para esse grande passo e
não me importo com o uso de preservativo, porque me cuido
direitinho. Acho que podemos fazer isso.
— Sophie, eu prometo cuidar de você, tudo bem? Prometo
do fundo do meu coração.
— Eu sei que você vai cuidar de mim. Você não sabe,
bebecito, mas nasceu para ser meu e para cuidar de mim. —
Sorrio. — Podemos ir agora?
— Ir para onde?
— Transar. — Decido ser direta e ele começa a rir. Henrico
gargalhando é a coisa mais gostosa desse Universo, mas não
entendo a gargalhada agora.
— Você é extremamente engraçada, Sophie. — Sua
gargalhada me faz rir.
— Ok, mas o que eu disse de tão engraçado?
— Fala sério, Soso. Você diz toda corajosa, mas na hora
que de fato for acontecer, você estará morrendo de medo e de
vergonha. A conheço melhor que qualquer pessoa. Eu estou
preparado, você se sente preparada, então já sabemos que
podemos ir para a quarta base. Mas não será assim. Eu quero
que seja especial e romântico. Só precisava saber se você está
pronta. — Sorrio, lambuzo meu dedo de brigadeiro e passo na
ponta do nariz dele. — Isso é nojento!
— Eu não me importo. Pode ficar nu? Eu gostaria de
passar pelo seu corpo e lamber.
— Eu preciso fazer alguns trabalhos no computador. É
para o escritório e é sigiloso — explica.
— Ok, mas... por que eu estou sentindo que você está
fugindo de mim desde ontem? — pergunto, curiosa, e ele dá um
sorriso.
— Eu disse que irei cuidar de você, menina mais bonita do
mundo. Vamos acampar amanhã e estou adiantando um trabalho
para ficar livre e poder fazer todas as coisas que planejei para o
acampamento. — Faço minha melhor carinha de drama e ele
sorri.
— Estou carente de você — falo, o puxando pela camisa e
passando a língua delicadamente pelos lábios mais incríveis do
mundo. — Eu amo sua boca.
— Eu amo você — declara antes de segurar meus cabelos
e beijar a minha boca. Adeus, brigadeiro. Adeus, trabalho.
Ou não.
Quando as coisas esquentam rapidamente, Henrico se
afasta, fica de pé e me deixa ofegante no sofá. Ele dá um sorriso
de quem sabe o que causa em mim e se vai. Eu me jogo no sofá,
frustrada, porém, feliz. Eu amo cada avanço que ele dá. E ele
pode ser rápido nisso. Acho que há tanto desejo reprimido, que
ele está atropelando os próprios medos para ir em frente.
Ele vai trabalhar e eu decido assistir uma série. Não ajuda
a quantidade de sexo em um único episódio. Mas há algo que
preciso dizer: a atriz interpreta tão bem, que parece real, e deixa
os espectadores com uma vontade louca de transar. Estou me
contorcendo no sofá, lutando contra a vontade de gozar apenas
por ver algo quente. É sério, acho que acabo de decretar o fim da
minha sanidade. Eu não fazia ideia que a frustração sexual
poderia afetar tão fortemente uma pessoa. Antes de beijar
Henrico eu costumava ser muito tranquila em relação ao desejo.
Agora? Eu me sinto o tempo inteiro à flor da pele, sensível para o
sexo, desejando (mesmo que tenha receios e medos).
Quando obtenho o suficiente, resolvo tomar um banho e
tentar cuidar de mim. De repente, a conversa de Henrico sobre
masturbação faz todo sentido. Eu deveria fazer isso.
Me tranco no banheiro social, entro embaixo da ducha e
tento. Eu me esforço, juro que me esforço, mas não consigo
sentir nada quando sou eu tocando meu próprio corpo. Não me
sinto relaxada. Talvez seja algum tipo de problema. Minhas
amigas sempre falaram sobre masturbação, até se divertiam com
esse tema, exceto eu. Me pego chorando por isso, e acho um
tremendo absurdo chorar por conta de uma masturbação
malsucedida. Há tantas coisas graves nesse mundo, e eu estou
chorando por conta de algo estúpido e bobo. Saio do banheiro
diretamente para o escritório.
— Ei, o que foi? — meu namorado pergunta.
— Você é um estudioso em sexo, não é mesmo? Parece
ter feito muitas pesquisas.
— Fiz pesquisas, não significa que eu saiba tudo —
explica.
— Acha que há algo errado comigo? Não consigo me
masturbar.
— Você estava tentando se masturbar? — pergunta,
curioso, e eu balanço a cabeça positivamente. — Agora?
— Sim.
— Uau!!! — Faz o “uau” exagerado, que só ele sabe fazer.
— Por que não conseguiu? Bom, acho que não há nada de
errado em não gostar de se masturbar, mas talvez seja
importante pensar no motivo. Você gosta do seu corpo?
— Eu amo meu corpo. Não que eu seja convencida, mas
acho meu corpo realmente incrível e me acho gostosa. Gostosa e
sexy.
— Você está certa em tudo o que disse — fala, sorrindo.
— Você não tem uma autoestima baixa, gosta do seu corpo, mas
será que você tem paciência para se autodescobrir?
— Como assim?
— Acho que requer paciência e vontade, Sophie. Você
precisa usar a imaginação também. Eu imagino muitas coisas, e
são elas que me fazem atingir o prazer — explica. — Não é
simplesmente "vou me masturbar", é querer, precisar, ser
paciente, usar a imaginação.
— Eu não quero isso — digo. — Quer dizer, eu quero
gozar, mas não quero fazer sozinha. Penso que há algo errado
comigo.
— Acho que não há algo errado. Você só quer mais do
que suas próprias mãos. Não acho que há mal nisso.
— Não sinto tesão tocando os meus próprios seios, isso
me desanima logo no início.
— Não os toque, então. Deixe-os para mim e foque
apenas lá embaixo... Não é obrigatório tocar os seios na
masturbação. Eu não acredito que estou tendo essa conversa
com você — comenta, rindo.
— Nem eu. Me desculpe atrapalhar o trabalho. Não sei o
que há de errado comigo hoje — confesso.
— Está carente, mais que o normal. — Ele fecha o laptop
e vem até mim. — Acho que sei o que fazer, Sophie — diz, me
conduzindo para fora do escritório.
Henrico parece decidido o bastante enquanto andamos
pelo corredor, rumo ao quarto. A expectativa passa a me dominar
a cada passo. Talvez seja sexo, talvez seja algo que me deixará
mais frustrada, não sei dizer. Só sei que ele fecha a porta do
quarto assim que entramos e me conduz até um enorme espelho
que há em um dos cantos. Sou surpreendida quando ele me vira
de costas para ele. Consigo ver um vislumbre de um sorriso
perfeito atrás de mim.
— Por que estamos aqui? Quer dizer, sei lá...
— Pensei que poderia ser interessante eu te ajudar na
masturbação. Você quer gozar, e eu, como seu namorado,
preciso garantir o seu prazer. Meu pai me disse que um homem
deve sempre se preocupar com o prazer da mulher. Eu me
preocupo com o seu prazer, muito. — Hoje é o dia que ele
escolheu para me chocar. Eu fico sem palavras. — Vamos
descobrir se você pode se dar prazer com a minha ajuda?
— Eu acho que essa é a coisa mais quente que já propôs,
porém, ainda assim, acho que sua tentativa será fracassada. Não
estou disposta a me dar prazer. Tentei e não obtive sucesso.
— Pode prender seus cabelos daquela forma? Tipo
coque? — pede, ignorando meus argumentos.
Eu faço. Enrolo meus cabelos e os prendo em um coque
frouxo, deixando meu pescoço e minha nuca expostos. Minha
pele inteira se arrepia quando ele desliza lentamente seu
indicador pela minha nuca. Por que ele parece tão experiente?
Suas mãos deslizam pelos meus ombros e ele desce as alças da
minha camisola lentamente por todo meu braço, enquanto
acompanho tudo através do espelho. Eu fico dividida entre olhar
os movimentos das mãos dele e olhar seu rosto. Esse homem é
uma bomba atômica e eu nunca imaginei isso. Me pergunto se os
autistas são diferentes no sexo, tipo, mais intensos. Talvez faça
algum sentido. Negam e lutam contra o toque, mas quando se
entregam deve haver uma intensidade maior, acho que só isso
justificaria as ações do meu namorado. Henrico é muito intenso,
de uma maneira que nem sei descrever. Ele sempre disse que vê
o mundo diferente, talvez veja o sexo de forma diferente também.
Eu não posso acreditar que todas as relações sejam assim, tão
intensas. Me recuso, na verdade.
A camisola cai aos meus pés e eu fico nua da cintura para
cima. Eu sou capaz de notar uma mudança brusca no olhar dele.
Agora está mais quente, mais sombrio, parece que o castanho
transformou-se em negro. É tão poderoso que sinto minha
respiração ficar mais difícil.
— Toque seus seios — ele pede, simples e direto.
Henrico estava certo quando disse que na hora H eu
começo a morrer de medo e vergonha. Não estou com medo
agora, mas a vergonha está aqui, exposta da maneira mais
verdadeira possível, e ele percebe isso. Suas mãos voltam a
deslizar pelos meus braços e capturam as minhas mãos; ele as
conduz até os meus seios, mantendo as próprias mãos sobre as
minhas.
— Aperte-os.
— Tem ideia do que está fazendo? Eu não sei lidar com
esse tipo de situação, tampouco sei lidar com você todo
dominador. Não esperava por isso — argumento, nervosa.
— Ei, estamos aprendendo juntos. Eu já te vi nua, já
fizemos sexo oral, agora estamos indo para outro nível. Não
precisa se envergonhar ou ficar nervosa, sou eu, seu namorado.
Vamos transar em breve, Sophie. Se você se sente
desconfortável em se tocar diante de mim, como se sentirá
confortável com sexo? E estou falando confortável no sentido
literal agora. — Ele está muito adulto agora.
— Ok. Você tem muitos pontos. Mas não sinto prazer
tocando os meus seios. Se eu retirar as minhas mãos e deixar as
suas, tudo vai mudar — digo timidamente, quase como uma
sugestão.
— É muito difícil ser seu namorado, Sophie — fala antes
de soltar as minhas mãos e segurar fortemente em meus seios. É
surreal, quase mágico, como tudo muda. O toque dele traz uma
onda de calor que me deixa desesperada e fraca. É forte sob
medida e parece queimar a minha pele. — Isso é como uma
tortura lenta para mim.
— Eu amo suas mãos.
— Acho que foi uma má ideia.
— Estou achando excelente agora — confesso, sorrindo.
— Tente lá embaixo. Você pode afastar a calcinha para o
lado ou tirá-la.
— Por que simplesmente não me leva para a cama e
acaba com o nosso sofrimento? Estamos sofrendo de desejo,
Henrico. Minutos atrás eu estava chorando no banheiro.
— Porque eu planejei algo e eu quero que seja perfeito —
responde. — Aliás, acho que se parece com tio Victor em relação
ao drama. Meu pai também é dramático, mas tio Victor supera.
— Eu não... não posso aguentar mais. Quero você.
— Sophie, não pode simplesmente relaxar e deixar que eu
continue com o que estou fazendo? — me repreende.
— O dia que transarmos, Henrico Davi, você estará
assinando a sentença da sua morte. Eu vou viciar tanto em sexo,
tanto, que vou depender da sua rola para respirar. Vou viciar
tanto, que 1.999 guindastes jamais conseguirão me tirar de cima
de você. Vou viciar tanto, que eu farei com que você emagreça
de tanto foder e...
— Isso está se tornando assustador. Rola? Eu não gosto
desse nome. Poderia substituí-lo por pau? — Solto um gemido
de insatisfação. Ele é muito argumentativo. — Todas as vezes
em que falou sobre guindastes, você estava se referindo a sexo?
— Sim.
— Uau, o número de guindastes tem aumentado, hein?
Essa expressão é um pouco sem nexo, mas fico feliz por ter
compreendido. Agora, por favor, vamos voltar ao que de fato
interessa? É esquisito ficar conversando durante momentos de
intimidade. Aliás, teremos que começar novamente. Não há mais
clima.
— O que faremos?
— Eu tenho uma ideia. — Sorrio amplamente. As ideias
dele são sempre incríveis e insanas, embora ele pareça não
perceber isso. — Quer continuar ou parar?
Qualquer opção será um caminho sem volta...
— Só continue, por gentileza, obrigada. — Ele sorri como
se eu tivesse acabado de cantar a canção perfeita para seus
ouvidos.
O observo caminhar confiante pelo quarto, indo na direção
da lareira. Ele a acende, apaga as luzes e a iluminação fica por
conta do fogo. Sob o meu olhar, ele retira a camisa e a calça de
moletom. Automaticamente, passo a língua em meus lábios,
sorvendo a imagem de algo bem duro dentro de uma cueca
boxer cinza, tão indecente quanto se fosse branca.
Me sinto uma tola sem ação, apenas observando e
aguardando que ele decida agir por nós dois. É apenas por ser
inesperado e surpreendente esse tipo de situação, que eu não
estava esperando e jamais imaginei que poderia ocorrer. A
surpresa tem o dom de paralisar as pessoas, e é assim que me
sinto agora, paralisada diante de um homem repleto de fogo.
Algo na maneira como ele me olha me faz querer sair
correndo. Não sei dizer quantas vezes eu já disse essa frase e
tive essa mesma vontade, tornou-se algo rotineiro. Henrico
parece um predador, algo assim. O papel de Chapeuzinho nunca
combinou comigo, mas agora parece que combina. Me sinto
prestes a ser devorada por um garoto que escondeu seu
potencial muito bem escondido. Não me canso de dizer o quanto
tenho sido surpreendida e o quanto todas as ações dele têm sido
inesperadas.
Ele traz uma mão ao lado do meu pescoço e me puxa de
uma só vez para um beijo, o que me faz ter que agarrar seus
braços. Minhas costas e minha bunda são pressionadas contra o
espelho frio e eu arfo, inebriada pelo poder controlador natural
que meu namorado possui. De repente, o corpo dele está
grudado ao meu e minhas pernas estão contornando sua cintura.
Mais uma primeira vez inesquecível. Em meus sonhos me
imaginava sendo jogada contra a parede, mas desconhecia o
quão bom isso pode ser — embora não seja uma parede, e sim
um espelho neste momento. Se era clima que ele queria criar,
preciso dizer que é um maestro em fazer isso. É incrível o
bastante para tudo em mim implorar por algo que só ele pode me
dar.
Não sei o que gosto mais, se são as mãos fortes em
minha bunda ou se é sua boca esperta reivindicando a minha.
Enquanto fico nesse duelo de preferências, tento me esfregar ao
máximo no pacote rijo grudado em minha intimidade, buscando o
mínimo de fricção para ter o que tanto anseio. Nunca estive tão
desesperada por prazer, por uma libertação. Torna-se mais
urgente a cada dia, como se nada mais pudesse suprir a
necessidade de ter mais do que apenas algumas esfregadas.
Estou quase enlouquecendo quando ele me coloca de
volta ao chão e me vira de costas abruptamente.
— Misericórdia, Henrico Davi!
— Retire sua calcinha — pede. Ele tá cheio das ordens
hoje, e o pior de tudo é que não faz ideia do que isso é capaz de
causar em uma pobre sofredora como eu. — Sophie?
— Tá... tudo bem... é só que... você está... — Ele toca
meus seios e eu quase arranco meus cabelos da cabeça. — Oh,
Deus do céu... Henrico... — Uma de suas mãos desce até minha
intimidade e adentra pela minha calcinha. Engulo em seco,
sentindo todo meu corpo se retesar com o toque.
— Eu amo seu piercing. Você está tão molhada — fala,
escorregando os dedos pelas minhas dobras e prendendo meu
clitóris entre eles. Quase perco a capacidade de falar. — Estou
fazendo isso bem? Preciso que me guie.
— Eu quem preciso ser guiada... apenas continue. — Isso
o motiva a ir em frente.
— Sabia que o clitóris possui cerca de 8 mil terminações
nervosas? — pergunta. — É o principal gatilho da excitação
feminina. — Aham... eu nunca estudei tão profundamente sobre
um clitóris e suas terminações nervosas. — Há um pequeno
ponto que provavelmente te colocará de joelhos.
— Há? — Ele não responde, simplesmente leva seus
dedos pouco acima do meu piercing e toca um pontinho que
realmente quase me coloca de joelhos. — Deus, Josefina,
glória...
— Existem outros pontos além do ponto G. — É uma
aula... uma aula muito quente. — Existe o ponto A, o ponto U...
— PORRA! — Ele traz sua mão livre até o meu pescoço,
para me manter de pé. — Mais... por favor...
— O ponto A fica localizado bem no fundo do canal
vaginal, onde ele encontra o colo do útero. É uma área muito
irrigada, com muitos vasos e nervos. Para eu atingi-lo, terei que ir
bem fundo dentro de você, segundo pesquisas. Mas nem todos
os pesquisadores acreditam nisso. — Esse homem é um
FODEDOR!
— Deus abençoe todas as suas pesquisas, Henrico Davi.
— O ponto U fica em volta da uretra, entre o clitóris e o
canal vaginal, é feito de um tecido erétil bastante sensível. Para
você conhecê-lo, precisa explorar com os seus dedos, precisa
pesquisar para descobrir, Sophie. Há detalhes importantes para
você seguir e conseguir reconhecê-los em seu próprio corpo.
Precisa acariciá-lo com o dedo bem molhadinho com a sua
excitação...
— Deus do céu, Henrico! De onde você saiu? Você não é
essa pessoa!
— Estou te falando sobre pesquisas, estava tudo escrito
detalhadamente — fala com a voz levemente rouca. — Eu posso
fazer isso por você. Posso descobrir esse ponto, se deixar,
porém não será agora. Você está perto de gozar. — Como ele
pode saber?
Misericórdia!
Ele aplica mais pressão e faz movimentos bem calculados
com seus dedos, até eu estar gozando. Meu corpo inteiro treme e
torna-se difícil ficar de pé. Henrico me sustenta enquanto vejo o
mundo rodar bem diante dos meus olhos. Ele está rindo, e não
acho que tenha graça. Acaba tendo quando ele me leva para a
cama.
— Uau, hein, Sophie? — exclama, rindo. Acho que a
convivência comigo está o transformando em um grande
engraçadinho. — Me desculpe por rir.
— Por que está rindo?
— Porque é engraçado vê-la bamba — confessa. —
Sophie, eu jamais imaginei que poderia dar prazer a você,
entende? Estou feliz e acho engraçado conseguir deixá-la
bamba. Nunca tive contato com qualquer garota, você é a
primeira e única. Não tinha experiência, então eu me sinto um
pouco feliz por estar conseguindo fazê-la gozar. Não sei fazer
essas coisas... — Imagina se soubesse?
— Você nasceu com esse dom. De verdade. Nunca fui
tocada, nunca tive contato com outro garoto, não tenho
referências, mas... puta merda, Henrico! Você é extremamente
quente e excelente em fazer todas as coisas sexuais. Eu me
sinto bem mais calma agora, bebecito. Suspenda as pesquisas,
se não quiser a minha morte.
— Eu preciso voltar ao trabalho, Sophie.
— Há um grande problema dentro da sua cueca, que
precisa ser solucionado.
— É só uma ereção, não é um problema ficar ereto — fala,
ficando de pé. Ele se veste e vem me dar um beijo delicado na
testa. — Eu te amo, Sophie. Você é a menina mais bonita do
mundo!
— Também te amo, você sabe, eu poderia muito bem ficar
de joelhos agora e te dar um orgasmo.
— Estou bem, Soso. Está tudo bem. — Que diabos! Eu
odeio o Henrico misterioso. Na verdade, eu detesto esse lance
de surpresa, planos, mistérios, quando se trata de algo
relacionado a mim. Porém, não quero bancar a mimada agora. Já
basta eu quase ter surtado por um orgasmo. Apenas sorrio, com
a docilidade forçada.
— Você está planejando ficar confortável no
acampamento? — pergunto timidamente. Henrico apenas sorri e
se vai, deixando-me sem resposta.
Após um banho para limpar a safadeza, me deito e acabo
adormecendo.

Já é tarde quando saio do escritório e encontro Sophie


dormindo. Fico alguns minutos apenas a admirando. Em algumas
das pesquisas que fiz, li que orgasmos possuem o poder de
acalmar as pessoas. Sophie está me provando que é real. Ela
estava muito ansiosa, um pouco agitada, e se acalmou bastante
após ter um orgasmo. Foi algo novo o que fizemos.
Estou um pouco ansioso sobre o acampamento, por isso
sei que não conseguirei dormir agora, principalmente quando não
estou com sono. Desde que Sophie sugeriu essa aventura,
passei a imaginar como esses dias serão. Na minha imaginação,
nossa primeira vez irá acontecer no acampamento e isso tem
martelado em minha mente.
Acho que todas as garotas merecem que esse momento
seja mágico, inesquecível e romântico. Minha Sophie merece e
há todo um cenário sendo construído em minha mente. Imagino
apenas uma fogueira, a lua e o céu estrelado nos iluminando.
Imagino eu contando para ela a história de algumas estrelas, a
beijando, explorando cada parte de seu corpo e então surgindo o
momento ideal para ficarmos confortáveis um com o outro. Talvez
eu esteja errado em estar decidindo isso, não sei dizer. Não sei
se é errado querer surpreender, mas é o que o meu coração está
pedindo.
Tenho feito muitas autocobranças sobre esse momento.
Sophie esperou por mim a vida toda e eu quero que seja perfeito,
inesquecível e que ela sinta prazer. Sei que o meu prazer será
garantido, mas o dela é algo que terei que buscar, devido ao fato
de haver um rompimento de hímen, que poderá causar dor e
incômodo na primeira relação. Temo que o hímen dela seja
complacente...
Eu me sinto surtado e exausto psicologicamente por
pensar e estudar sobre todas essas coisas. Acho que já obtive o
suficiente de informações sobre sexo e sobre o corpo feminino.
Ao mesmo tempo em que sinto-me saturado, sinto-me
incrivelmente satisfeito por saber muito da parte teórica e por
estar conhecendo o corpo da minha namorada um pouco mais a
cada dia, colocando em prática a teoria e até mesmo testando a
veracidade do que aprendi. Até o momento estou obtendo êxito
nos testes e tenho conseguido dar prazer à minha garota.
Horas atrás nós tivemos um momento bastante
memorável e eu descobri como fazê-la gozar em meus dedos,
assim como descobri outros pontos sensíveis em seu corpo. Um
bom pesquisador gosta de explorar e fazer descobertas. Mas,
além de pesquisar e descobrir, eu tenho focado muito em
analisar as reações de Sophie. Ela gosta das famosas palavras
sujas e, todas as vezes que estou a tocando e digo algo sobre
pesquisas que faço, ela solta sons incríveis e torna-se mais
desesperada. Tenho percebido que minha namorada é uma
admiradora da minha inteligência e que todas as minhas teorias,
quando ditas, servem para deixá-la excitada e são recebidas
como um afrodisíaco por ela. Enquanto eu explicava sobre os
pontos A e U, eu pude sentir o orgasmo dela se aproximando,
mesmo sem ter meus dedos enfiados na parte interna de sua
vagina. O corpo dela estava respondendo com total obediência
aos meus comandos e ao meu toque. Ela gosta quando digo
coisas perto do ouvido, e gosta quando minha voz sai em um tom
mais baixo, quase como um sussurro. Sophie não será uma
amante silenciosa quando ficarmos confortáveis, e tenho certeza
que espera o mesmo de mim, minhas palavras e meus sons
também são capazes de afetá-la. Acho que seremos bons
parceiros sexuais e penso que, provavelmente, o sexo se
transformará em um vício para nós — ao menos no início, onde
tudo é novidade.
Eu já não sei dizer qual é meu hiperfoco: Sophie ou sexo.
As duas possibilidades têm dominado minha mente
constantemente. O melhor de tudo é poder unir as duas coisas
em uma. Sophie e sexo, a combinação mais perfeita que eu
jamais imaginei que teria.
Tentando dissipar a tensão e ansiedade, decido pegar um
livro e me acomodo no quarto de hóspedes, para não acordá-la.

Eu planejei tudo para o nosso final de semana ser perfeito,


mas, de um minuto para o outro, algo aconteceu e tudo mudou
drasticamente...
A vida é assim, se vivemos apenas esperando e
planejando o momento perfeito, corremos o risco de nunca
conseguir de fato alcançá-lo. Planejamentos falham e a
esperança nem sempre nos leva a algum lugar.
Estou indo para o mato com o meu namorado,
provavelmente fará um frio do caralho à noite, e estou em uma
luta para escolher as melhores lingeries. Eu já as coloquei e
retirei da mochila ao menos três vezes, e ainda não me decidi.
Além disso, há uma bastante bonita em meu corpo, porque
nunca se sabe quando precisará ficar seminua.
Por falar em lingeries, eu nunca reparei se Henrico é o tipo
de garoto que faz questão disso. Tem tudo acontecido de
maneiras inesperadas e geralmente sou pega desprevenida. É
algo que preciso saber, talvez seja interessante perguntar.
Pensar nisso me faz sorrir. Nunca imaginei que eu e Henrico
permaneceríamos tendo a amizade forte. Eu penso que somos
muito amigos, o bastante para debatermos sobre sexo e todas as
coisas relacionadas à intimidade. A diferença é que antes de nos
tornarmos namorados, nossos debates nunca eram sexuais.
É isso. Temos esse nível de amizade, onde sei que posso
chegar e simplesmente perguntar todas as coisas sobre as quais
tenho dúvida a ele. Assim como ele também parece se sentir
confortável de vir até mim e dizer todas as coisas que se passam
em sua mente esperta.
Pensando em esclarecer algo que está me incomodando,
vou até a sala. Ele está sentado no sofá, acabando de conferir a
lista de coisas que separamos para a expedição no mato.
— Ei, posso te perguntar algo? — Ele levanta a cabeça e
acena positivamente.
— Sobre masturbação?
— Não — respondo, rindo. — Sobre lingerie.
— Sophie, eu não entendo muito de lingeries. Mas você
pode perguntar. Se eu puder ajudá-la, ficarei feliz.
— Você gosta de lingeries? Quer dizer... você repara nas
lingeries que uso? — pergunto envergonhada.
— Não reparo. Eu só penso em você nua. — Direto! Sem
enrolação! Esse é o meu menino mais bonito do mundo. —
Mesmo quando não éramos namorados e eu te via de biquíni,
não reparava muito em cores, detalhes, tamanhos, só imaginava
você nua. Eu prefiro você sem lingerie.
— Ok. — Eu não deveria ser tímida, algo de errado não
está certo comigo. Mas, todas as vezes que ele me dá respostas
retas, sinceras e objetivas, eu me envergonho rapidamente.
— Por quê? Você gostaria que eu reparasse? Estou
fazendo isso errado? — indaga.
— Não. Claro que não está fazendo errado. Só perguntei
porque tinha essa dúvida mesmo — explico, sorrindo. — Se quer
saber, eu reparo em suas cuecas. Você fica uma delícia de cueca
branca. Enfim, era só isso, namorado. — Volto ao quarto e
decido não mudar mais as lingeries que havia escolhido. As
coloco na mochila e fecho.
Estou um pouco ansiosa sobre esse acampamento. Algo
me diz que estou vivendo as minhas últimas horas de virgindade.
Henrico não precisa dizer que está preparando algo para essa
noite, está bastante explícito em suas últimas ações. É um pouco
engraçado pensar nisso. Nosso relacionamento é um pouco
diferente. Por exemplo: ele só me toca em momentos de
intimidade, em todos os outros momentos sou eu a estar sempre
o tocando. Ele se declara para mim em algumas ocasiões, mas
em outras não demonstra tanto romantismo. Faz parte de quem
ele é, e ver que ele está se preocupando com alguma questão
romântica me toca bastante. Há tanto esforço sendo feito por ele
nos últimos dias, que me encanta. E, por mais que sejam em
momentos de intimidade, eu sempre sinto aquela leve vontade de
ligar para tia Paula e contar como o filho dela é o garoto mais
forte e determinado que já conheci, fruto de uma criação
impecável e de uma base de apoio fundamental.
A vida do meu namorado não foi muito fácil. Henrico tem
um tipo de autismo que é considerado de grau leve. Síndrome de
Asperger. Durante toda a vida, na infância foi onde ele teve os
maiores desafios e onde esse transtorno ficava mais em
evidência. Ele tinha muita dificuldade na coordenação motora,
não conseguia segurar objetos, não conseguia andar, vivia
cercado de profissionais capacitados para ajudá-lo no
desenvolvimento. Atividades que pareciam tão banais para a
maioria das crianças, para ele eram extremamente complexas,
complicadas. E muitas das coisas que pareciam difíceis para
muitas crianças, para ele eram extremamente fáceis. Eu sabia
pular corda muito bem e era péssima em matemática, já Henrico
fazia cálculos sem calculadora em segundos. Eu falava algumas
palavras erradas, ele falava tudo com muita fluência e facilidade.
Com o passar dos anos, algumas questões foram
mudando, porém, outras se mantiveram e provavelmente não
mudarão. Ele sempre recebeu bem o meu toque, mas nunca deu
o primeiro passo para me tocar, apenas retribuía minhas ações.
Henrico não é o tipo de homem que simplesmente vai chegar do
nada e me dar carinho, mas ele está se esforçando pela
perfeição e está conseguindo ultrapassar os limites que construí
em minha imaginação. E por que estou dizendo isso? Porque
comparo com situações que presenciei durante a infância e que
marcaram a minha memória. São situações diferentes, mas o
esforço dele parece o mesmo e não há nada mais lindo que vê-lo
tão empenhado em se superar, em vencer obstáculos que a sua
própria mente impõe.
Quando termino de arrumar todas as minhas coisas, volto
à sala.
— Está tudo pronto aqui — informo a ele.
— Aqui também. Já falei com meus pais, já falou com os
seus?
— Já sim, mais cedo — respondo, sentindo o frio na
barriga aumentar.
— Acho que devemos ir, para conseguirmos aproveitar ao
menos um pouco do dia — sugere.
— Sim, podemos parar para almoçar em algum lugar
bonito. Sei que não gosta...
— Está tudo bem, Sophie. Nós podemos parar para
almoçar sim. Eu posso fazer isso. — Sorrio amplamente.
— Eu vou amar passar o final de semana com você em
uma aventura. É nossa primeira aventura como um casal. Vamos
logo!

Henrico coloca todas as nossas coisas dentro do porta-


malas e ri quando pego mais dois edredons por garantia — os
deixarei no carro, caso esfrie muito poderemos pegá-los.
Conseguimos reduzir bastante tudo o que estamos levando,
porque teremos que fazer uma pequena trilha de 300 metros até
perto da cachoeira que iremos acampar.
Não passamos no sítio para nos despedir. Todos sabem
da nossa aventura, por isso não perdemos mais tempo. Eu vou
dirigindo, enquanto meu copiloto vai acompanhando um mapa, e
vamos obtendo ajuda do GPS.
— Eu acho que amo morar aqui — comento, observando a
estrada. Há muito verde por todos os lados, isso traz uma
sensação tão gostosa.
— Podemos conhecer um lugar diferente por final de
semana, o que acha? Há muitas atrações turísticas, muitas
cachoeiras. Quero que nossa segunda expedição seja em
Capitólio, uma cidade que fica a 87 km de São Roque, mais ou
menos 1h40 de carro — explica.
— Já ouvi falar e já vi fotos, é incrível! Nem começamos a
primeira e já estou animada para a segunda expedição, bebecito.
— Eu ainda não acredito que você é a minha namorada —
Henrico diz em tom de confissão. — Em alguns momentos acho
que estou sonhando com tudo e sinto medo de acordar. —
Queria poder olhar para ele, mas estamos na estrada e estou
atenta à direção. — Sophie, acha que um dia iremos nos casar e
ter filhos? — Me pego sorrindo com a pergunta.
— Tudo isso depende apenas de você, Henrico. Eu quero
muito ter filhos algum dia, lá no futuro. E casar? Eu casaria com
você hoje. Você é único para mim e é a maior certeza da minha
vida. Você é tudo o que eu quero, tudo que eu sempre quis, e ser
sua namorada é a realização do meu maior sonho. Vou amar ser
sua esposa, vou amar carregar os seus bebês.
— Eu preciso pensar sobre filhos. Tenho receio que meus
filhos herdem o autismo. As chances de se ter um filho autista
são muito grandes, devido ao fato de eu possuir. Eu não quero
que você passe pelo que minha mãe passou — comenta.
— As chances são grandes, mas não significa que vá
acontecer. E, se acontecer, nosso bebê terá muita sorte na vida
de ter os melhores pais. Sim, nós seremos os melhores pais, eu
tenho certeza disso. Vamos amá-lo, sendo autista ou não, porque
o amor entre nós é imenso o bastante, é paciente, é zeloso...
Não tenha medo, meu amor. Teremos muito tempo para nos
preparar para esse momento.
— E se eu nunca quiser?
— Não quero pensar nisso agora. Somos muito jovens
ainda. No momento, só penso em ficar confortável o máximo de
vezes que conseguirmos, viajar pelo mundo, te encher de beijos,
estudar, ser imensamente feliz. Relaxe e curta o momento,
Henrico Davi, meu namorado e garoto mais bonito do mundo.
— Sophie, eu te amo muito e sinto dor por isso. — Sorrio
novamente.
— Então somos mesmo almas gêmeas, bebecito. Eu sinto
dor por amá-lo e desejá-lo tanto. Eu pararia o carro agora só para
te dar um beijo.
— Não faça isso. Quero chegar logo e ficar confortável. —
Ele quer que um acidente aconteça, no mínimo. — Quer dizer,
não foi bem isso que eu quis dizer. Foi no sentido literal da
palavra, armar a barraca.
— Armar a barraca no sentido literal não parece tão
emocionante quanto em outro sentido — brinco. — Mas eu
entendi o que quis dizer. Vamos comer na próxima parada e
então seguiremos viagem.
(***)
Após almoçarmos em um restaurante pequeno e com uma
comida caseira deliciosa, seguimos rumo à cachoeira. Vamos de
carro até onde é possível e fazemos o restante do trajeto
andando. É extremamente perto, nem mesmo dez minutos de
caminhada.
Quando chegamos no local, um UAU escapa de nós dois
no mesmo momento.
— Puta merda, esse lugar é lindo! — exclamo, deixando a
mochila no chão.
É uma cachoeira pequena, com água cristalina, que dá
para ver as pedrinhas na parte mais rasa. Onde é fundo, a água
tem um tom verde fantástico. A queda d'água é linda, é tudo
muito perfeito, regado de pedras e muito verde.
— Não sei você, mas eu estou indo batizar essa
cachoeira, bebecito! — aviso, tirando minhas roupas sob o olhar
surpreso do meu namorado. Quando fico apenas de calcinha e
sutiã, noto o olhar dele correndo por todo meu corpo e me
aproximo. — Vem?
— Eu acho que reparo em lingeries — comenta e dou um
sorriso maquiavélico.
— Vemmmmm, namorado! Depois arrumamos tudo!
— De cueca?
— Com certeza. — Sorrio, virando-me e caminhando para
a água.
— Sua bunda é perfeita! Estou indo! — Tudo a ver o que
ele acabou de dizer.
A água está extremamente fria, e causa um contraste e
tanto com o calor do meu corpo. É preciso ir molhando aos
poucos, para que eu consiga me acostumar.
Quando Henrico entra, me jogo nas costas dele e deixo
que nos conduza até a queda d'água. Eu grito com a força da
água em minha cabeça, enquanto ele ri e deixa que caia
somente em suas costas.
— Isso é muito gostoso. É a primeira vez que tenho
coragem de entrar em uma cachoeira — comenta.
— Bom, lá no sítio tem uma. Nem precisamos sair do
quintal de casa para nos refrescarmos na cachoeira. Poderemos
fazer isso com frequência.
— A única coisa ruim é a temperatura da água. É muito
mais fria do que eu imaginei que seria. Talvez seja o horário.
Fizemos tudo tarde hoje, Sophie. São mais ou menos cinco horas
da tarde. Da próxima vez, sairemos mais cedo. — Sorrio e o
abraço, enrolando minhas pernas em torno de sua cintura.
Henrico afasta os meus cabelos, jogando-os em minhas
costas, e toca meu rosto carinhosamente. Não sei dizer por
quanto tempo ficamos apenas observando um ao outro, mas sei
que apenas esse ato me deixa emocionada, devido à
intensidade. Sorrio timidamente quando se torna demais, mas
Henrico não sorri de volta. Ele segue me encarando de uma
maneira intimidante, que me faz recuar.
Solto sua cintura, me viro de costas e mergulho. Às vezes,
em alguns poucos momentos, eu me sinto muito patética por não
aguentar a intensidade e fugir. Porém, parece que dessa vez isso
não será tão fácil. Henrico segura meus pés e me puxa,
impedindo por completo a minha fuga.
— Por que você foge todas as vezes em que fico te
observando? — pergunta antes mesmo que eu possa me virar de
frente para ele.
— Não fugi — minto.
— Fugiu. Conheço seu narizinho, Sophie. Nunca
conseguirá mentir para mim — afirma. — Está com medo?
— Não. Só fico um pouco tímida quando você fica apenas
me observando de uma maneira intensa. Nada demais —
confesso e ele captura meus lábios em um beijo delicioso.
Minhas mãos descansam em seus ombros, enquanto as
mãos dele estão em minha cintura. Ele não vai muito além.
Assim que percebe as coisas esquentando, é ele quem se afasta
e nada até a queda d'água.
Acampar é um programa romântico para um casal
apaixonado...
Só que não!
Ficamos mais um tempo na água e saímos quando nossos
dedos começam a ficar enrugados. Montamos nossa barraca e
tomamos banho na cachoeira. Quando está quase anoitecendo,
vestimos roupas quentes. Henrico prepara uma fogueira,
fazemos um lanche e escovamos os dentes.
Perfeito demais...
Estamos sentados de frente para a fogueira, ouvindo
música baixinha e conversando. Estou contando para Henrico
sobre a minha estadia na Califórnia, quando ouvimos um barulho
estranhamente forte e alto. Ele faz um sinal para que eu fique
calada e passa a prestar atenção a algo. Como boa medrosa, me
encolho, mas logo entro em estado de alerta. Parece que há algo
na cachoeira, a pressão da água parece mais forte, e vai
aumentando um pouco a cada segundo. Isso me causa medo.
— Ok. Temos um problema — Henrico fala, ficando de pé
e mirando a lanterna em direção à cachoeira. — Um grande
problema, Sophie.
— Você está falando sério?
— Provavelmente uma tromba d'água está se
aproximando — avisa. — Vamos deixar a barraca e levar apenas
nossas mochilas.
— O quê? — pergunto, ainda perdida.
— Não sei onde a água pode alcançar e se a chuva está
vindo para cá. Cachoeiras são muito perigosas. Não há tempo
para eu te explicar sobre isso, mas não podemos ficar aqui. Se a
água conseguir nos alcançar, corremos o risco da correnteza nos
levar... Apenas precisamos ser rápidos, ok? Sem pânico, mas
rápido, Sophie. — Balanço a cabeça em concordância e me
apresso em juntar todas as coisas importantes. Eu não posso
acreditar que isso está acontecendo conosco! Eu quero chorar de
frustração, mas percebo que não há tempo para isso quando
sinto algumas gotas de chuva dando o ar da graça.
PERFEITO PRA CARALHO!
Coloco minha mochila nas costas, Henrico pega a outra
mochila, o cooler pequeno e deixamos todo o restante para trás.
Ele segura minha mão esquerda e com a direita eu vou
segurando a lanterna e iluminando o caminho. É então que um
temporal forte começa, do nada mesmo, como se fosse um
carma maldito. Nós somos obrigados a soltar as mãos para
correr.
— Está tudo bem? — Henrico grita para mim.
— Sim, apenas corra! — respondo.
A distância parece muito maior do que quando viemos,
mas, quando achamos o carro, eu finalmente volto a respirar.
Henrico pega a chave em minha mochila, abre e jogamos
todas as coisas no porta-malas. Quando entramos no carro,
estamos devidamente ensopados.
— Puta merda!
— Eu conferi a previsão do tempo infinitas vezes — ele
suspira, com uma tristeza estampada em seu rosto. — Sinto
muito, Sophie.
— Não é sua culpa, está doido?
— Eu planejei tudo para essa noite ser perfeita, mas não
consegui. — Ele parece desolado. — Nem podemos dirigir. Está
impossível enxergar qualquer coisa.
— Não fique magoado. Às vezes não acontecer conforme
planejamos pode ser infinitamente melhor do que seria se
seguisse de acordo com os nossos planos. Confuso? Talvez seja,
mas é isso, bebecito. Se a vida te dá limões, faça uma limonada.
— Eu não entendi absolutamente nada — confessa. —
Mas eu sonhei com essa noite. — Começo a pensar em
maneiras de fazer com que esse imprevisto não acabe com a
nossa noite. Lá fora o mundo está acabando em água, mas
estamos mais seguros dentro do carro do que estaríamos se
estivéssemos na barraca, mesmo tendo comprado a mais segura
e resistente. Nós podemos salvar essa noite. Sem fogueira, sem
céu estrelado, mas quem disse que precisamos disso para fazer
acontecer?
Retiro minhas botas, deixo-as no chão e pulo para a parte
de trás. Pego nossas mochilas no porta-malas e coloco no banco
do motorista. O cooler eu entrego para meu namorado, que está
apenas observando e tentando entender o que estou fazendo.
Quando eu disse que traria cobertas a mais, Henrico riu. Mas, o
que ele não sabe é que essa foi uma das decisões mais sábias
que tomei no dia de hoje. Praticamente a nossa salvação.
Jogo todas as coisas extras que trouxe para frente, aperto
um botão e levo os encostos do banco traseiro para trás,
deitando-os por completo e transformando em uma quase cama.
— Nem tudo está perdido, Henrico Davi! — digo, sorrindo
e arrumando as cobertas na nossa cama improvisada. Sei que
em uma das mochilas há fronhas. Nós poderemos enchê-las com
roupas, para criarmos travesseiros. Perfeito! — Vem! Precisamos
tirar essas roupas molhadas — o convido, jogando meu corpo
para frente e abrindo as mochilas, em busca de roupas secas e
tudo mais que preciso.
É apertado e tenho que fazer quase um contorcionismo
para pegar tudo.
— Não vai vir?
— Você é muito louca, Sophie!
— Vamos fazer a nossa aventura ser especial, Henrico
Davi! Temos comida, música, um lugar quentinho e confortável,
mesmo que você tenha 1,85m de altura. Podemos fazer isso
funcionar. Somos abençoados, meu amor. Tudo isso poderia
estar sendo pior — argumento e ele se dá por vencido. Retira os
tênis, as roupas molhadas e vem para trás usando apenas
cueca.
Ligo a música em nossa caixinha pequena de som, a
coloco na frente e agora sou eu quem me dispo, ficando apenas
de lingerie. Encho com roupas as fronhas que encontro,
formando travesseiros, e os levo para o final da "cama". Perfeito!
Henrico se ajeita, é engraçado ver um homão desse
buscando seu lugar dentro de um carro apertado. Eu sou mais
pequenina e adaptável. Pego o outro edredom que sobrou e logo
me junto a ele.
— Minha mãe me ensinou a sempre procurar o lado bom
das coisas. Como eu disse antes, poderia estar sendo pior. Nós
estamos seguros, protegidos da chuva, há comida, roupa
quentinha, música, o barulhinho da chuva, eu e você. Nem
mesmo um hotel cinco estrelas seria tão perfeito quanto isso
aqui. Esqueça o que planejou e viva esse momento comigo —
falo, o observando.
— O que tudo isso significa?
— Sei que havia planejado a nossa primeira vez. — Ele
engole em seco. — Não existe um lugar ideal, não importa que
as coisas não saiam completamente iguais ao seu planejamento,
só precisamos um do outro.
— Está sugerindo que isso aconteça no carro? Você
merece mais que ter sua primeira vez dentro de um carro,
Sophie.
— Serei sincera agora, mesmo que talvez minha
sinceridade vá contra tudo o que planejou, ok? — Ele balança a
cabeça positivamente. — Não quero flores, bombons, luz de
velas, nada disso. Seria bonito? Seria, mas a minha ansiedade
ainda seria sobre transar com você. Uma vez que sua boca
estiver na minha e seu corpo pressionado ao meu, todos esses
detalhes desapareceriam da minha mente. Suas intenções são
incríveis, admiráveis. Acho que todos os garotos deveriam ser
exatamente como você é. Porém, você diz que é diferente, eu
também sou. Não me importa que não tenhamos as estrelas para
testemunhar nossa primeira vez, não importa que eu não esteja
deitada em lençóis de fios de ouro e travesseiros de pena de
ganso. Não estarei comendo bombons quando você estiver
deslizando dentro de mim, tampouco estarei segurando flores ou
envolvida em uma névoa de romantismo. Eu só me importo em
tê-lo, não importa o lugar, o horário, a ocasião. Só quero tê-lo
dentro de mim. Estou pronta, Henrico. Só existe você, só existe
esse momento, só existe nós. Eu sou sua. E, se isso puder
acontecer agora, você estará fazendo de mim a garota mais feliz
do mundo. Não quero que faça amor lento e suave comigo.
Quero que faça sexo e que me pegue da maneira como me
pegou ontem à noite. Só que dessa vez eu quero que vá até o
fim.
Se não fosse pelo barulho da chuva torrente caindo lá
fora, tenho certeza de que conseguiria ouvir o som dos meus
batimentos cardíacos. Em minha mente louca, ouço o barulho
constante do ponteiro de um relógio, que nem existe,
contabilizando os segundos. Quase começo uma contagem
interna, mas não estou disposta e me perderia no ato.
Não sei o que Henrico está pensando agora. Temo que
minhas palavras tenham demonstrado algo que eu não queria.
Só estou pedindo pela praticidade, não precisamos dar tantas
voltas para chegarmos às vias de fato. Uma parte importante já
ocorreu; nos familiarizamos com o corpo um do outro nos últimos
dias. Agora sinto que podemos avançar e ter o que nós dois
queremos.
Porém, pensando como uma garota madura, não é
apenas a minha vontade que importa. Talvez Henrico queira
mesmo um cenário romântico, pode ser que isso seja importante
para ele. Há pessoas que são ligadas a essas coisas e outras
pessoas que são como eu, ligadas apenas a parte da intimidade,
do ato. Estou sendo corajosa neste momento. Não há muito
medo e não consigo entender porque esse sentimento foi
substituído tão rapidamente. Talvez na hora H mesmo eu vá
temer um pouco. Mas, neste momento, não há, nem mesmo
relutância ou timidez.
— Sophie, você ficará muito decepcionada se eu disser
que não?
— Ficarei apenas um pouco triste, mas nada demais. Eu
posso esperar. Esperei todos esses anos. Posso esperar um
pouco mais. — Sorrio, tocando seu rosto. — Está tudo bem,
menino mais bonito.
— Eu não quero que seja assim, mesmo que os planos
tenham falhado, sei que posso fazer melhor. Eu sou alto, está
desconfortável e é a nossa primeira vez. Não há uma posição
agradável nem mesmo para o sexo oral aqui e eu preciso fazer
isso, preciso deixá-la devidamente preparada. — Abençoado é
ele. — Iremos embora quando a chuva passar e eu farei com que
seja melhor do que meu plano anterior. Amanhã à noite, Sophie.
Amanhã à noite você será minha de uma maneira diferente.
— Eu mal posso esperar por isso. Já que não faremos
sexo e que nossos planos foram por água abaixo, literalmente,
acho que devemos tentar dormir para chegar logo amanhã. —
Henrico sorri e me puxa para os seus braços.
— Eu te amo além da vida, Sophie. Você é a menina mais
bonita do mundo, e a mais maluca também.

Quando chegamos em São Roque, nos assustamos ao


encontrar Samuel, meu irmão, Hadassa, Théo, Eva e Maicon na
porta da casa, parecendo preocupados. Henrico desce do carro e
Samuel voa sobre ele, como um desesperado, o abraçando
apertado. Samuel até mesmo está chorando agora.
Meu irmão também me puxa para um abraço apertado,
esmagador o bastante.
— O que aconteceu? — pergunto, receosa.
— Puta merda, Sophie! Nós realmente achamos que algo
tinha dado muito errado. Teve uma tempestade horrível, a água
da cachoeira do sítio atingiu um lugar assustador. Seu celular e o
celular do Henrico só davam fora de área. Foi a pior noite da
minha vida! Piorou com Samuel tendo uma crise de choro e
querendo ir atrás de vocês — ele explica, me apertando. — Eu te
amo muito, princesinha da Disney 2. Não posso perdê-la nunca,
ok?
— Nunquinha, rimão! — Sorrio. — Não havia sinal. Assim
que vimos que iria começar uma tempestade, pegamos nossas
mochilas e saímos correndo para o carro. Deixamos a barraca,
nossas cobertas... só pegamos mesmo as coisas mais
importantes. Perdemos tudo. Hoje, antes de pegarmos a estrada,
fomos conferir. Não havia nada nosso no local onde decidimos
acampar. Se não tivéssemos sido rápidos, provavelmente algo
ruim teria acontecido. Estamos bem. Improvisamos uma cama no
carro e passamos a noite seguros.
— Graças a Deus! — Eva e Théo dizem juntos.
— Eu te amo, Sophie. Eu morreria se algo tivesse
acontecido. — Abraço meu irmão e o encho de beijos.
— Está tudo bem. Estamos bem — o tranquilizo. —
Henrico foi muito esperto. Ele soube reconhecer que era uma
tromba d’água e isso nos salvou. Kiara não veio?
— Não. O voo foi cancelado devido à instabilidade do
tempo. Ela virá amanhã. Bom, vocês devem estar com fome.
Vamos para o sítio — Théo diz.
— Sophie, posso falar com você? — Henrico pede e eu
vou até ele. — Pode passar o dia inteiro no sítio?
— Por quê?
— Eu quero fazer algo e você não pode estar em casa. É
uma surpresa. — Sorrio. Henrico é mesmo determinado. Quando
ele quer algo, vai até o fim para conseguir que saia como
idealizou.
— Ok. Como eu saberei o momento de voltar para casa?
— Eu irei até você. — Ele falando isso é bastante quente.
Há muitas promessas não ditas nessa frase.
Antes de ir, o puxo mais para perto e sussurro em seu
ouvido:
— Quero você dentro de mim, bem fundo, e quero montá-
lo bem forte.
— Por Deus, Sophie! Não diga essas coisas, ok? Não diga
nada disso! — avisa, fugindo como um raio.
— Vamos embora, que eu tenho ótimas ideias! —
Hadassa o acompanha, juntamente com Samuel. Que diabos?!
Henrico mal trocou uma palavra com ela antes e está deixando
que ela participe do que quer que ele esteja planejando? Ok. É
apenas chocante.
Sigo de carro para o sítio e vou direto dormir. Henrico
estava certo em dizer que seria desconfortável. Agora que ele
está preparando algo, sinto que preciso descansar para ter
energia suficiente.

Passam das três da tarde quando acordo. Fiquei feliz


quando Eva disse que guardou comida para mim. Eu devoro um
enorme prato de lasanha, pego minha filha canina e me junto ao
pessoal na sala.
Está frio, chovendo, e todos estão unidos assistindo série.
Eu gosto disso. Eva e Théo são as melhores pessoas,
definitivamente. Eles não têm esse negócio de ficarem fechados
apenas no relacionamento. Eles incluem todos na relação, e isso
é algo bonito e raro de se ver.
Quando está anoitecendo, Eva faz pães de queijo, broa de
fubá com goiabada e eu percebo que nasci para morar em Minas
Gerais. Nem ligo se vou engordar, é impossível não repetir todas
as comidas.
São sete e meia da noite quando Samuel surge com um
sorrisinho estranho no rosto.
— Sophie, eu acho que você vai querer se arrumar.
Henrico virá buscá-la em mais ou menos uma hora.
— Eu odeio imaginar o que está indo acontecer — meu
irmão confessa, suspirando. — Mas pelo menos é com Henrico.
Isso ajuda a aliviar a dor.
— Há um excesso de drama nos homens dessa família! —
falo, rindo. — Eu não tenho nada muito bonito para vestir, apenas
as roupas que levei para o acampamento.
— Vem! Eu vou ajudá-la! — Eva diz e sai me arrastando
até o quarto dela e de Théo. — Bom, você é mais voluptuosa que
eu, mas tenho algo que vai servir. Posso perguntar algo?
— Claro que pode.
— Toda essa preparação... Será a primeira de vez de
vocês ou já fizeram sexo desde que conversamos?
— Eu acho que será a nossa primeira e agora estou
extremamente nervosa e ansiosa — confesso. — Vai doer muito?
— Não é assim, Sophie — Eva diz, rindo. — É apenas um
leve incômodo, um beliscão no início e um pouco desconfortável
nos primeiros movimentos. Você precisa estar relaxada,
esquecer esse negócio louco de dor e estar excitada. Ponto final.
Não fique com esses pensamentos na mente. Talvez você nem
sinta dor. Não é igual para todas as pessoas. Na hora que for
acontecer, concentre-se no tanto que você quer e na excitação.
Esqueça todo o restante.
— Tudo bem. Obrigada por mais dicas de sexo — a
agradeço, sorrindo. — Vou tomar banho.
— Vá e volte aqui depois. Qual número você calça?
— 36.
— Perfeito. Vista esse vestido, escolha uma lingerie e
volte aqui para os retoques finais. — Eu faço exatamente o que
Eva mandou.
Tomo banho, me visto e volto ao quarto minutos depois.
— Você deve ficar com esse vestido de presente. Ficou
perfeito em você, Sophie! — ela diz e eu faço uma pose para
sensualizar, que a faz rir. — Henrico surtará se você mantiver
tantos botões abertos. Ficou realmente sexy, Sophie.
— Sou muito sexy sem ser vulgar — brinco.
— Tome, experimente isso! — Eu nunca usei vestido com
bota, mas Eva me faz experimentar e eu amo. Ela me emprestou
uma bota de montaria estilosa, que vai até os joelhos. É marrom
e combinou perfeitamente com o vestido que ela também me
emprestou. Estou pronta e ansiosa agora. E tudo aumenta
quando ouço a voz de Henrico.
— Ai, meu Deus!
— Respire. É só o seu namorado, está tudo bem, não há
nada demais...
— Há... provavelmente faremos sexo. Minha coragem
oscila muito. Por exemplo, agora estou aqui me cagando, daqui a
meia hora, provavelmente, estarei o provocando, até conseguir ir
além... Ai, meu Deus! Eu vou desmaiar! — digo, rodando pelo
quarto. — Deveria ter acontecido no carro, assim eu não iria ficar
toda ansiosa... simplesmente ia escorregar e créu na velocidade
máxima... — Eva está rindo e talvez seja mesmo engraçado.
— Vamos lá! Quanto tempo esperou por esse momento?
— Há muitos anos espero por isso. Muitos.
— Você o ama, ele a ama, será perfeito, Sophie. Esqueça
o possível sexo e relaxe. Saia daqui como se fosse apenas a um
jantar romântico. Deixe acontecer naturalmente. Essas coisas
fluem... — aconselha, segurando minhas mãos. — Vá, Sophie, e
volte aqui amanhã com o semblante de quem foi bem fo...
amada.
— Fodida, eu entendi — brinco.
— Sophie, Henrico está te esperando. — Ouço Samuel
dizer do outro lado da porta e respiro fundo antes de sair do
quarto. — Uau! Você está linda pra caralho! — meu primo fala e
eu o abraço.
— Te amo, princeso.
— Sophie, se acontecer o que acho que vai acontecer, eu
espero que seja inesquecível. — Fico emocionada e apenas
aceno positivamente com a cabeça. — Vocês são os meus
melhores.
— Você é o nosso melhor, Samuca. Obrigada por tudo e
por todas as coisas.
Sigo para a sala e Henrico está todo sério na varanda,
conversando com Théo e Luiz Miguel. Quando ele vira o rosto e
me encontra, eu juro que quase volto para o quarto, tamanha
intensidade.
Primeiro ele foca em meus olhos por longos segundos,
logo em seguida começa a descer seu olhar e eu sinto meu
corpo incendiar. Ele é muito intenso, muito, excessivamente.
Agora eu me sinto como a Chapeuzinho de verdade, porque seu
olhar é de um lobo predador, prestes a me atacar.
Ele fica de pé e me oferece sua mão. Tremendo, a pego e
sorrio.
— Nos falamos amanhã. — Ele se despede antes de sair
me puxando, e eu apenas dou um aceno rápido.
Puta merda, eu vou mesmo desmaiar! Até mesmo sinto
minhas pernas falharem quando paramos na porteira e ele retira
uma venda do bolso.
— Você vai me vendar? — pergunto.
— Sim. É uma surpresa, Sophie. Precisa estar vendada ou
perderá a graça — explica, trazendo a faixa até meus olhos. —
Você está linda, Sophie.
— Você também está lindo, namorado. — Ele venda meus
olhos e isso acaba aumentando meu nível de ansiedade.
Ao invés de me conduzir andando, sou pega em seus
braços e carregada até a casa, como se eu nada pesasse. Não é
mentira quando digo que Henrico é extremamente forte. Ele
possui uma força diferenciada. Eu vou rindo até ouvi-lo abrir a
porta, então o frio na barriga volta mais forte que antes quando
sou colocada ao chão.
— Sophie, eu espero que goste. Eu te amo muito.
— Nem vi e sei que vou amar cada detalhe, bebecito.
Você é apenas o garoto mais incrível do mundo — digo.
— Estou nervoso, mas sei que posso fazer isso.
— Você pode fazer tudo, Henrico Davi. Tudo! — Ele beija
minha testa e se posiciona atrás de mim. Sinto um arrepio frio
com a proximidade de seu corpo. Cuidadosamente, ele retira
minha venda e eu levo minha mão à boca ao ver a cena mais
linda da minha vida.
Parte da sala foi transformada em um acampamento,
porém é tudo muito mais confortável e bonito. Repleto de luzes
de pisca-pisca, almofadas, colchão. Além disso, fora da barraca
há milhares de estrelas no teto, feitas por alguma luminária que
não consigo encontrar. A iluminação está por conta da lareira,
das luzes de pisca-pisca e de algumas velas. De frente para a
lareira está a nossa mesa de jantar, impecavelmente linda.
— Você pode me dizer se gostou?
— Não tenho palavras — falo, tentando conter o choro de
emoção. — Eu nunca imaginei que um dia teria algo tão lindo!
— Eu cozinhei para você. Fiz fondue doce e salgado. Eu
também trouxe as estrelas... Não sei ser romântico, Sophie, mas
sei que posso tentar. Eu te amo ao infinito e além e você é a
menina mais bonita do mundo. Você pode se casar comigo?
Merda! Não era mesmo para ser assim! Era para ser no jantar...
— Oh, meu Deus! — Levo minhas duas mãos à boca
quando ele coloca uma caixinha de veludo diante dos meus
olhos. Novamente sinto que irei desmaiar.
— Sophie, por favor, seja minha noiva? Eu estou nervoso,
ensaiei muitas coisas, mas não consigo dizê-las. Eu fiz isso
errado?
— Não fez... é perfeito pra caralho, Henrico! Eu devo estar
sonhando.
— Somos jovens, mas podemos nos casar. Eu não quero
outra garota, só quero você para sempre. — Ele está mesmo
nervoso, eu também estou.
— É claro que eu aceito. Sou sua noiva antes mesmo de
você pedir. — Sorrio, limpando minhas lágrimas, e ele suspira,
aliviado.
— Achei que diria não.
— Eu não sou maluca de dizer não — falo, me jogando
nos braços dele. — Te amo, te amo, te amo, te amo demais, meu
bebecito, meu menino mais bonito do mundo! Não sabemos
seguir muito bem regras ou respeitar o tempo. Em uma semana
alcançamos todas as bases e estou noiva! Isso é muito perfeito e
eu realmente sou a garota mais feliz do mundo agora. — Encho
as bochechas dele de beijos e ele sorri. Eu amo as covinhas
mais incríveis!
Quando me afasto, ele coloca o anel delicado em meu
dedo e eu me pergunto qual artimanha ele usou para descobrir
meu tamanho. Porém, nada mais importa agora. Eu só quero
apreciar o momento incrível que ele criou para nós dois, por isso,
retiro minhas botas e seguimos para o jantar.
Acabamos de comer o fondue salgado e, puta merda,
Henrico arrasou! É um dos melhores fondues que já comi e nem
consegui comer o doce. Agora estamos sentados no tapete, de
frente para a lareira, conversando e trocando carícias gostosas.
Henrico tem suas costas encostadas no sofá e eu estou entre
suas pernas. É muito romântico e, mesmo que eu não fizesse
questão de tanto romantismo ontem à noite, hoje eu percebo que
não ter acontecido foi a melhor coisa. O romantismo nunca
pareceu tão necessário antes.
— Vou ao banheiro, bebecito — aviso a ele, ficando de pé,
e sigo para o banheiro da nossa suíte. Mais uma vez sou
surpreendida ao ver que ele pensou nos mínimos detalhes. A
banheira está cheia de pétalas de rosa, iluminada pela luz de
velas. Há pétalas também espalhadas pelo chão. Isso tudo é
porque ele não sabe ser romântico. Imagina se soubesse? Ao
invés de estar nervosa, agora me encontro ainda mais
apaixonada, como se isso fosse mesmo possível.
Estou noiva dele!
Noiva!
Eu gostaria de correr São Roque inteira gritando. Mas, ao
invés disso, apenas saio do banheiro mais decidida.
Só que parece que não é apenas eu a decidida neste
momento. Henrico está de pé quando volto à sala, e mal tenho
tempo de respirar quando suas mãos envolvem minha cintura e
ele me rouba um beijo avassalador, que decreta o fim do
romantismo.
Só nos afastamos para Henrico retirar o casaco. Ele fica
com uma camisa, mas eu decido retirá-la para adiantar a
situação. Dá para ver o receio que ele está sentindo, então
precisarei mostrar a ele que estou de fato pronta e ansiosa para
o sexo.
Volto a beijá-lo e deslizo minha mão em sua
protuberância, por cima da calça. Ele ofega em minha boca e me
empurra até uma das paredes, prendendo-me com seu corpo.
Sua testa se gruda à minha quando ele afasta nossos lábios, e
suas mãos deslizam pelos botões do vestido, abrindo cada um
deles e arrancando a peça do meu corpo. O mais chocante é que
ele faz isso como se tivesse feito sexo mais de 900 vezes nessa
vida.
Sorrio quando ele geme ao me ver sem sutiã.
— Gostou?
— Você é gostosa, Sophie! Eu quero mesmo te comer. —
Puta merda!
Enquanto volto a beijá-lo, abro sua calça e a deslizo para
baixo, juntamente com a cueca. Eu sou capaz de sentir toda a
pele do meu noivo coberta de arrepios, isso me faz sorrir.
Quando beijo seu pescoço, ele apoia as mãos na parede e solta
um som rouco capaz de provocar orgasmos. Vou deslizando
minha língua por todo peitoral, lentamente, e beijo cada um dos
gominhos salientes. Dou leve mordidas em sua barriga e me
agacho para chupá-lo, enquanto termino de retirar a calça e a
cueca.
Ele chuta as peças e eu passo minha língua por todo seu
comprimento rijo.
— Eu amo chupar seu pau! — confesso e a resposta dele
vem rapidamente. Suas mãos deslizam pelos meus cabelos,
porém, ao invés de apenas impulsionar seu membro para dentro
da minha boca, ele me puxa, fazendo com que eu fique de pé.
— Não hoje — avisa, me pegando em seus braços e me
levando para a cabana improvisada. Sorrio quando ele me deita
delicadamente e retira minha calcinha sem delicadeza. Eu amo
que não esteja sendo tão cuidadoso, acho que ficaria nervosa se
ele fosse tão lento em suas ações.
Deixo meus braços jogados para o alto e fico observando
a maneira como ele está me olhando agora. É tão quente, tão
íntima, mas não sinto vergonha. Talvez seja a taça de vinho que
tomamos. Sim, ele se esforçou para conseguir beber uma taça
inteira de vinho, e isso foi realmente engraçado. Só sei que agora
me sinto corajosa o bastante para abrir as minhas pernas e vê-lo
surpreso. Seus olhos sobem da minha intimidade para o meu
rosto. Dou o meu sorriso mais safado e me remexo
sensualmente.
— Você é safada.
— Você também é. Acho que somos o par perfeito na
safadeza. Me sinto corajosa agora, bebecito — digo. — Você
não?
Ele se abaixa de uma só vez, diretamente em minha
intimidade. Não há delicadeza na maneira como ele rodeia
minhas pernas com os braços, me abrindo mais e enterrando seu
rosto em minha intimidade. Estou chocada e amanhã eu
continuarei chocada. Eu não sei se arranco meus próprios
cabelos ou se arranco os cabelos dele. Na dúvida, eu escolho os
cabelos dele.
Sua língua é devidamente esperta. Ele a pressiona contra
meu clitóris e logo em seguida o chupa. Seus lábios beijam
minha intimidade como se tivessem beijando minha boca. Ele
brinca alguns segundos com meu piercing e volta a fazer
maravilhas com sua boca e seus lábios. Eu entro em um nível de
excitação maior do que todos que já vivi. Nunca me imaginei
rebolando no rosto de Henrico, mas é o que faço enquanto digo
todos os tipos de palavras indecifráveis. Quando meu orgasmo
está se aproximando, ele simplesmente se afasta e eu penso
seriamente em matá-lo.
— Volte!
— Não estou com vontade, Sophie. Já tive o suficiente. —
Super sincero, ele captura meus seios agora. Eu vou
enlouquecer, eu quero gritar alto, quero algo que não consigo
explicar. Na verdade, eu só quero descarregar todas as coisas
novas que estou sentindo agora. Sou um fantoche nas mãos de
Henrico, e nem me importo em ser. Eu sou incapaz de tocá-lo,
porque estou muito concentrada em absorver o que ele está
fazendo comigo. O aperto das mãos dele em meus seios é tão
malditamente bom! Enquanto ele faz isso, impulsiono a parte
inferior do meu corpo para cima, tentando buscar algo que
certamente me dará a saciedade que tanto preciso.
Quando ele deixa os meus seios e captura meus lábios,
eu simplesmente enrolo minhas pernas em torno dele e o puxo
para baixo, causando a melhor de todas as fricções.
— Sophie...
— Nem vem... Quer dizer, só vem... Não quero
conversar... Deus...
— Sophie, é sério — fala, segurando meu rosto entre suas
mãos. Automaticamente, as minhas mãos também vão para o
rosto dele. Ofegante, tento entender o que de tão sério pode ser.
— Estou aqui...
— Você se sente mesmo pronta? Eu posso esperar. Estou
com medo de machucá-la. Promete não chorar? — Só essas
palavras já arrancam minhas lágrimas.
— Não posso prometer isso, porque é muito provável que
eu vá chorar. Como poderia ser diferente? Eu esperei por você a
vida inteira e esse talvez é o momento mais mágico da nossa
história — digo, esfregando lentamente minha intimidade em sua
ereção. Isso é tão bom, que eu nem sou capaz de descrever. —
Faça acontecer. Eu preciso que me guie, preciso que seja você a
fazer isso para ser perfeito. Estou pronta. — Lágrimas escorrem
dos olhos dele também e o vejo engolir em seco.
— Você é o amor da minha vida, Sophie. Me desculpe por
ter que machucá-la agora, tudo bem? Eu prometo te dar carinho
— ele fala, pressionando seu membro em minha intimidade. Meu
coração passa a bater mais acelerado, e eu me sinto tensa
agora. — Preciso que fique mais relaxada. Pense no futuro. —
Sorrio. — Pense nos guindastes.
— Eu acho que faltará guindastes no mundo para me tirar
de cima de você quando finalmente eu estiver livre para o ato. —
Ele sorri também, mas o sinto pressionando mais forte. Pense
nos guindastes...
— Continue falando comigo.
— Você é expert em sexo? Fala sério! Estou ficando
mesmo indignada com o fato de você saber todas as coisas
sobre isso. Você está calmo e agindo como um profissional em
tirar virgindades.
— Não estou calmo, só estou no controle. Não sou um
profissional e temo gozar em dez segundos. — Volto a sorrir. —
Sophie, se lembra de quando segurou minha mão para eu
correr?
— Sim — respondo e ele pega uma das minhas mãos. Eu
quero voltar a chorar quando ele entrelaça nossos dedos. Tão
doce e incrível.
— Eu apertei muito forte a sua mão aquele dia —
relembra.
— Você fez.
— Aperte a minha agora, tudo bem?
— Ok. — Ele empurra de uma só vez para dentro de mim
e eu simplesmente o aperto o mais forte que já apertei algum dia.
PUTA MERDA!
Não posso conter as lágrimas, elas agora são por conta de
uma mistura de dor e emoção. Dói, não vou mentir. Mas
certamente seria pior se ele não tivesse me distraído. Ele fica
paradinho, enquanto meu corpo se acostuma com a invasão. Eu
me sinto sendo alargada por ele.
— Me desculpe... Porra... estou fodido! — Nunca o vi dizer
"estou fodido". — Você está bem, Sophie? Porque eu estou
sofrendo.
— Estou bem... Dói um pouco, mas você está parado,
esperando eu me ajustar. Você é o melhor noivo do mundo e o
menino mais bonito também. — O beijo e a tensão em seu corpo
se acalma.
Tudo muda quando o beijo esquenta e Henrico se move
pela primeira vez. Os primeiros movimentos são dolorosos, mas
depois, simplesmente vai se tornando a melhor sensação que já
experimentei.
Minhas mãos ganham vida, arranhando as costas de
Henrico. Eu surto um pouco quando ele apoia as próprias mãos
acima dos meus ombros, afasta nossos lábios e começa a
arremeter forte para dentro de mim, enquanto solta os sons mais
gostosos. É sexy, quente, selvagem, um misto de coisas
alucinantes. Sem contar a expressão de seriedade e prazer no
rosto dele...
E ele disse que duraria só dez segundos...
Levo minhas mãos até a bunda dele e o pressiono ainda
mais contra o meu corpo. O orgasmo que eu nunca imaginei que
teria na primeira vez aparece, trazendo ondas de calor e
explodindo minha mente.
— Oh... meu Deus... Henrico... — choramingo, chamando
seu nome.
— Você está apertando meu pau! — exclama. — Goze
comigo, Sophie — pede como uma súplica desesperada e a
magia acontece. Eu gozo agarrada ao amor da minha vida e
sinto-o me preencher com seu próprio prazer. Quando volto ao
planeta Terra, estou agarrada a ele, como se dependesse disso
para viver, e ele está tão agarrado a mim quanto é possível,
porém, chorando. Um choro baixo, daqueles que os suspiros
parecem mais fortes e os sentimentos mais profundos.
Ele não sai de dentro de mim, mas rola para o lado, me
levando junto.
Eu o entendo...
Ele acaba de fazer a coisa que mais se sentia incapaz de
fazer na vida.
E eu acabo de conquistar algo que sempre sonhei, algo
que só podia ser com ele... sempre ele. Apenas com ele.
— Obrigado, Sophie.
— Não diga isso...
— Você me salvou de mim mesmo, desde criança. Eu te
amo além da vida, além do azul e ao infinito. Podemos fazer isso
de novo? Eu me sinto pronto! — Ele ainda está chorando quando
pede e eu começo a rir. Ele está mesmo pronto dentro de mim.
Não é só Henrico quem está fodido! Alguém, por gentileza,
pode me dizer uma maneira de eu não viciar em sexo? Nada,
absolutamente NADA nessa vida é melhor que sexo! É a minha
opinião e ninguém no mundo conseguirá mudá-la.
HORAS ANTES
Há poucos meses a visão que eu possuía sobre mim era
completamente diferente. Costumava me achar incapacitado,
devido ao fato de ver o mundo de outra maneira, receber
novidades de uma forma diferente e preferir a segurança que a
zona de conforto me proporcionava. Fisicamente, estava tudo
certo, mas psicologicamente não. Havia um grande bloqueio
mental em relação a determinados assuntos. Eu sentia muito,
mas acreditava que jamais poderia conquistar Sophie. Carregava
comigo a certeza absoluta de que ela só me via como primo e
melhor amigo, que éramos diferentes o bastante, até que passei
a observar e fui corajoso para tentar algo. Foi uma grande
surpresa saber que ela se sentia da mesma forma por mim, um
risco me aventurar em uma relação quando me sentia tão
incapacitado.
Ainda me sinto assim em alguns momentos. Às vezes, a
ideia de que Sophie precisa de algo que eu não posso oferecer
surge e esse pensamento tanto me deixa com medo quanto
desperta uma coragem recém-descoberta.
Nas duas últimas semanas a minha vida mudou mais do
que mudou em 22 anos. Eu mudei. Sinto como se estivesse
sofrendo um aceleramento. Parece que todos os anos em que
estive quase que em estado vegetativo, em relação aos demais
jovens da minha idade, estão sendo vividos de uma só vez.
Agora chegamos ao estágio de sofrimento físico. Pode parecer
exagero para todas as pessoas que estão de fora da situação,
mas para mim e para Sophie é a realidade. Nós sentimos muito
um pelo outro, nos desejamos muito, e eu estou descobrindo que
desejar demais faz doer. Parece que ela também. Ela se sente
pronta, eu me sinto desesperado. Nós podemos fazer isso. Eu
posso fazer isso. Talvez assim a dor se acalme.
Acho que a partir do momento em que ficarmos
confortáveis, nossa relação passará por mudanças. Geralmente,
não me dou bem com mudanças, porém, dessa vez, estou
disposto a lidar com elas. Tudo por Sophie. Eu a quero tanto e a
amo tanto, que parece mais fácil e motivador lidar com bloqueios.
Se para tê-la eu terei que enfrentar a mim mesmo, farei isso.
Minha mãe sempre disse que não existe nada no mundo que eu
não seja capaz de fazer. Costumava não concordar com isso,
mas eu descobri que tudo depende do que te motiva. Durante
muitos anos não tive algo que me motivasse tanto, agora eu
tenho, e talvez seja exatamente o que minha mãe sempre disse.
Eu sou capaz, ou posso ser capaz.
É por isso que estou preparando uma surpresa para a
Sophie. Ela queria ficar confortável no carro, mas eu nunca faria
aquilo. Nada contra sexo no carro, mas uma primeira vez
significa muito para mim, talvez mais do que signifique para ela,
não saberia dizer. Não se trata apenas de sexo. Trata-se de algo
que eu tinha certeza de que jamais faria na vida. Nunca me
interessei por qualquer outra garota. Sempre foi Sophie. E, caso
ela não sentisse o mesmo por mim, eu jamais tentaria algo com
outra. Iria casar com a imaginação e ser amante dos sonhos. Eu
a beijei, a toquei, fiz coisas que jamais imaginei que pudesse
fazer, agora podemos dar outro passo.
Na verdade, precisamos dar outro passo. Virou questão de
necessidade. É por isso que pedi ajuda a Samuel para dar um
dos maiores passos que já dei na vida. O plano era fazer
acontecer no acampamento, mas não ter ocorrido foi algo bom.
Eu não acho que seria tão incrível se acontecesse no meio do
mato, no desconforto de uma cabana, e eu nem mesmo teria
tempo para preparar o que de fato Sophie merece ter em sua
primeira vez. Há em mim muita preocupação em relação ao bem-
estar dela. Devido às centenas de pesquisas que fiz, sei que
pode ser ruim para as garotas, inclusive sei que os relatos sobre
ter sido satisfatório são mínimos, comparados aos relatos
negativos. Eu quero que Sophie faça parte do grupo mínimo de
garotas que tiveram sua primeira vez satisfatória e, para fazer
com que isso aconteça, preciso que ela se sinta bem desde o
momento em que entrar em casa, nas preliminares e no ato.
Eu não faço ideia se estou fazendo a coisa certa, mas é o
que acredito ser o melhor. Hadassa me ensinou sobre coisas
românticas que as garotas gostam. Geralmente não gosto de
pessoas novas, mas ela é legal e meu irmão gosta dela.
Samuel me ajudou a construir todo o cenário na sala,
Hadassa me ajudou a decorar a mesa e a banheira, e eu
cozinhei para Sophie.
Quando todo o serviço está pronto, eles se vão e eu fico.
Está perto de acontecer e isso me deixa nervoso. Fico alguns
minutos sentado no sofá da sala, olhando para a barraca
iluminada por pequenas luzes. Eu sinto vontade de desistir
quando imagino Sophie nua, deitada ali, esperando por mim.
Tenho medo de não ser bom ou de machucá-la. Porém, ao
mesmo tempo em que estou passando por vários receios, eu
penso no quanto quero me sentir confortável com ela.
Nervoso o bastante, faço uma chamada de vídeo para os
meus pais. Minha mãe é a primeira a atender.
— Meu filho!
— Mãe, eu vou me sentir confortável com Sophie hoje e
estou nervoso. — Ela faz uma cara estranha, como se estivesse
um pouco chocada com o que eu disse.
— Onde Sophie está? — pergunta.
— No sítio. Eu fiz uma surpresa com ajuda do meu irmão
e da Hadassa.
— Quem é Hadassa?
— É uma garota que Samuel está beijando. Eu acho que
ele não ficou confortável com ela ainda — explico.
— E você fez amizade com ela?
— Acho que sim. Ela me ensinou coisas românticas.
Gostei dela. Samuel gosta, então eu também gosto. — Minha
mãe sorri.
— É normal ficar nervoso, filho, mas estou um pouco
chocada. Talvez surpresa seja a melhor palavra para expressar.
É isso, estou surpresa. Será incrível, certamente. Você e Sophie
se amam muito, a vida toda. Não tem como ser ruim ou dar
errado. Confio em você e em seu potencial. Sophie é uma garota
de sorte. Seja delicado e amoroso.
— Serei. Eu amo muito Sophie, mãe. Eu não consigo
explicar.
— Não existem explicações para o amor. Somos capazes
de senti-lo, mas nunca de explicá-lo — minha mãe diz. — Bom,
seu pai está na academia. Direi a ele que você ligou. Me ligue
amanhã, ok? Eu quero saber como foi. Estou imensamente feliz,
tanto que estou praticamente sem palavras para dizer a você.
Apenas siga seus instintos, seja delicado, carinhoso, e tudo dará
certo. Acho que seu pai te guiou de uma maneira diferente nesse
assunto, algo mais de homem para homem. — Ela sorri. — É um
grande passo, Henrico. Não foi só você quem esperou por esse
momento. Sophie também, seu pai, eu, todos que sempre
torceram por vocês.
— Tudo bem, mãe. Obrigado.
— Eu te amo muito, meu pequeno gigante. Você é capaz!
Quando vou buscar Sophie no sítio, sinto-me mais
corajoso que nunca. Assim que a vejo, eu sinto vontade de estar
sozinho com ela, apenas para ficar confortável. Sophie é a
menina mais bonita do mundo, mas não apenas isso. Sophie é
gostosa e eu quero comê-la, mesmo que seja errado dizer essas
coisas. Olhar para ela faz com que eu fique extremamente
ansioso e excitado. Não consigo controlar as reações.
— Você vai me vendar? — ela pergunta assim que
paramos na porta do sítio e eu pego uma venda do meu bolso.
— Sim. É uma surpresa, Sophie. Precisa estar vendada ou
perderá a graça — explico. — Você está linda, Sophie.
— Você também está lindo, namorado. — Sorrio,
observando-a vendada, e a pego em meus braços. Sophie vai
rindo por todo caminho e eu não consigo entender o que há de
tão divertido. Ela para automaticamente de rir assim que abro a
porta de casa e a coloco no chão. Acho que agora há um pouco
de tensão e eu preciso deixá-la relaxada.
— Sophie, eu espero que goste. Eu te amo muito — me
declaro.
— Nem vi e sei que vou amar cada detalhe, bebecito.
Você é apenas o garoto mais incrível do mundo.
— Estou nervoso, mas sei que posso fazer isso. — Sei
que não deveria fazer essa confissão, mas sai de mim com muita
naturalidade.
— Você pode fazer tudo, Henrico Davi. Tudo! — Me
posiciono atrás dela e retiro a venda. Gosto da reação. Ela leva
as mãos à boca e penso que talvez meu plano de surpreendê-la
deva ter mesmo dado certo.
— Você pode me dizer se gostou? — peço, precisando de
uma confirmação.
— Não tenho palavras. Eu nunca imaginei que um dia teria
algo tão lindo! — Sua reposta me faz feliz.
— Eu cozinhei para você. Fiz fondue doce e salgado. Eu
também trouxe as estrelas... Não sei ser romântico, Sophie, mas
sei que posso tentar. Eu te amo ao infinito e além e você é a
menina mais bonita do mundo. Você pode se casar comigo?
Merda! Não era mesmo para ser assim! Era para ser no jantar...
— Durante a semana enviei uma mensagem para tia Melinda,
pedindo o número de um anel de Sophie. Acho que ela soube
para o que era e me ajudou sem contar nada a ninguém. Hoje
mais cedo, eu, Samuel e Hadassa fomos a uma joalheria em
uma cidade vizinha e eu comprei um anel. Quero me casar com
ela e pensei que fazer o pedido hoje seria importante, para ela se
sentir segura das minhas intenções.
— Oh, meu Deus! — Ela parece muito surpresa, mas
tenho medo de que ela diga não pelo fato de sermos muito
jovens.
— Sophie, por favor, seja minha noiva? Eu estou nervoso,
ensaiei muitas coisas, mas não consigo dizê-las. Eu fiz isso
errado?
— Não fez... é perfeito pra caralho, Henrico! Eu devo estar
sonhando.
— Somos jovens, mas podemos nos casar. Eu não quero
outra garota, só quero você para sempre — digo, mas sei que
preciso me acalmar. Preciso estar no controle.
— É claro que eu aceito. Sou sua noiva antes mesmo de
você pedir. — Volto a respirar aliviado.
— Achei que diria não.
— Eu não sou maluca de dizer não. — Ela se joga em
meus braços e começa a me encher de beijos. Isso me faz sorrir.
Sophie me ama mesmo. — Te amo, te amo, te amo, te amo
demais, meu bebecito, meu menino mais bonito do mundo! Não
sabemos seguir muito bem regras ou respeitar o tempo. Em uma
semana alcançamos todas as bases e estou noiva! Isso é muito
perfeito e eu realmente sou a garota mais feliz do mundo agora.
— Coloco o anel em seu dedo e deposito um beijo casto em sua
mão. Minha garota sorri.

Quando acabamos de jantar, ficamos um longo tempo em


frente à lareira. Estou muito satisfeito, porque Sophie gostou do
fondue que preparei. Como sou observador, percebo que ela está
ficando tão impaciente quanto eu.
— Vou ao banheiro, bebecito — informa, ficando de pé, e
meus olhos seguem diretamente para sua bunda. Isso é muito
safado e desrespeitoso, mas eu preciso mesmo ficar confortável
agora. Decido que não há mais motivos para ficar mais tempo em
frente à lareira, é o momento de agir. Fico de pé e decido pegá-la
para mim agora.
É o que faço quando ela volta à sala. Acho que sou um
pouco rude na maneira como a pego, mas não consigo conter. A
beijo de uma maneira inapropriada para um momento que
deveria ser romântico. Só me afasto para retirar meu casaco,
porém, antes que eu a beije novamente, ela retira minha camisa
também. Ofego quando ela pega em meu pau por cima da calça.
Isso me faz jogá-la na parede com um pouco de brutalidade. A
beijo, mas logo decido que preciso dela nua. Com a testa
grudada na dela, abro os botões de seu vestido e a pego sem
sutiã. Eu me sinto desesperado ao ver os seios nus saltando
livremente. E Sophie me provoca:
— Gostou?
— Você é gostosa, Sophie! Eu quero mesmo te comer —
digo, sem pensar em minhas palavras. Penso que isso vai
assustá-la, mas parece fazer o efeito contrário. Sophie gosta
desse tipo de palavra. Ela me agarra, abre minha calça e a puxa
para baixo juntamente com a minha cueca. Meu pau está rijo,
pulsando de necessidade, e parece aumentar quando ela beija
meu pescoço e vem distribuindo beijos pela minha barriga.
Chuto minha calça para longe e agarro os cabelos dela
quando sua boca desliza pelo meu pau duro. Eu gosto disso,
mas não estou com vontade agora.
— Eu amo chupar o seu pau! — Acho que também gosto
desse tipo de palavra, porque sinto coisas estranhas ao ouvir
Sophie falar.
A pego em meus braços e a levo para nossa cabana,
deitando-a delicadamente. Minhas mãos deslizam pelas pernas
dela e eu retiro sua calcinha lentamente. Fico de joelhos e a
observo completamente nua e preparada para mim. Ela está
sorrindo agora, muito provocadora. Meu olhar desce quando ela
abre as pernas para mim. Isso me faz querer soltar sons.
— Você é safada — afirmo, observando ela se remexer e
se abrir mais.
— Você também é. Acho que somos o par perfeito na
safadeza. Me sinto corajosa agora, bebecito. Você não? — Eu
não penso mais, tampouco a observo. Desço minha cabeça,
seguro suas pernas e chupo o clitóris delicado. Sophie é mesmo
gostosa, e está molhada de excitação. Não vou precisar fazer
com que ela goze para poder ficar lubrificada o bastante. Por
isso, quando percebo que ela começa a tremer e que seu
orgasmo está perto, me afasto. Não quero que Sophie goze
assim. Quero que ela goze quando eu estiver dentro.
— Volte! — Ela parece frustrada, mas eu não vou mesmo
voltar. Já tive o suficiente de sexo oral e estou sendo egoísta por
um bom motivo.
— Não estou com vontade, Sophie. Já tive o suficiente —
informo, capturando seus seios. Eu sou apaixonado pelos seios
de Sophie. Sou apaixonado por cada parte dela. Ela parece tão
desesperada, que está impulsionando seu corpo para cima. Eu
beijo sua boca, tentando acalmá-la, mas não resolve. Ela enrola
as pernas em torno de mim e me puxa para baixo, fazendo com
que meu pau pressione sua vagina.
Boceta.
Ok.
Boceta!
— Sophie... — Preciso saber se ela está bem, porque eu
não estou aguentando mais me segurar. É errado?
— Nem vem... Quer dizer, só vem... Não quero
conversar... Deus... — Ela é maluca.
— Sophie, é sério. — Seguro o rosto dela entre as minhas
mãos, olhando fixamente em seus olhos.
— Estou aqui...
— Você se sente mesmo pronta? Eu posso esperar. Estou
com medo de machucá-la. Promete não chorar? — Por que ela
começa a chorar ao ouvir a minha pergunta? É algo bom ou
ruim?
— Não posso prometer isso, porque é muito provável que
eu vá chorar. Como poderia ser diferente? Eu esperei por você a
vida inteira e esse talvez é o momento mais mágico da nossa
história. — Ela está se esfregando em mim e estou prestes a
perder o controle. É gostoso. — Faça acontecer. Eu preciso que
me guie, preciso que seja você a fazer isso para ser perfeito.
Estou pronta. — Não quero chorar, mas me emociono. Ela está
preparada e isso irá mesmo acontecer. Eu sempre sonhei em tê-
la dessa maneira. Me perguntava como seria, se um dia
aconteceria, e chorava quando acreditava que não iria acontecer.
Mas agora vai. A realização de um grande sonho que carrego
comigo desde que comecei a reagir a ela de uma maneira
diferente.
— Você é o amor da minha vida, Sophie. Me desculpe por
ter que machucá-la agora, tudo bem? Eu prometo te dar carinho.
— Começo a pressionar mais em sua entrada. — Preciso que
fique mais relaxada. Pense no futuro. — Ela sorri docilmente,
mas sei que está tensa e eu preciso distraí-la. Conversar nesse
momento talvez não seja indicado, mas aposto nisso para fazer
com que ela relaxe para eu conseguir entrar. — Pense nos
guindastes.
— Eu acho que faltará guindastes no mundo para me tirar
de cima de você quando finalmente eu estiver livre para o ato. —
Sorrio.
— Continue falando comigo — peço, tremendo de medo e
lutando para ignorar o receio de ir além e feri-la. Não quero
machucá-la, mas acho que isso é um pouco inevitável.
— Você é expert em sexo? Fala sério! Estou ficando
mesmo indignada com o fato de você saber todas as coisas
sobre isso. Você está calmo e agindo como um profissional em
tirar virgindades.
— Não estou calmo, só estou no controle. Não sou um
profissional e temo gozar em dez segundos — confesso, a
fazendo sorrir. — Sophie, se lembra de quando segurou minha
mão para eu correr?
— Sim — responde. Pego uma das mãos dela e entrelaço
os nossos dedos. Quero que ela confie em mim e que seja
perfeito.
— Eu apertei muito forte a sua mão aquele dia.
— Você fez. — Ela também se lembra. Eu a amo além da
minha vida.
— Aperte a minha agora, tudo bem? — Será agora, sem
que ela esteja esperando. Sophie está relaxada e pronta.
— Ok. — Sua mão aperta a minha fortemente quando a
invado.
Eu nunca senti nada parecido, nem mesmo sabia que
poderia ser assim. É preciso que eu fique parado por dois
motivos: para ela se acostumar e para eu não gozar. A boceta de
Sophie está me apertando muito forte. É quente, causa uma
sensação que jamais imaginei sentir. Eu quero fazer isso rápido,
com força, mas também quero ir devagar.
Agora eu entendo os filmes educativos. Me assustava a
maneira como os homens agiam quando estavam dentro das
mulheres, mas... puta merda! É extremamente difícil ser
namorado de Sophie agora.
Noivo.
É isso. Somos noivos e é extremamente difícil ser noivo.
Eu sinto tudo com uma intensidade diferente. Antes eu me
achava estranho por "sentir demais", agora eu acho normal e
bom. A palavra intensidade ultimamente tem tido um peso
diferente, remete ao fogo, ao encaixe, a se sentir completo e vivo
como nunca. É assim que eu me sinto dentro de Sophie. Há um
fogo diferente, uma adrenalina tão forte que chega a tremer meu
corpo. Eu me sinto vivo de uma maneira diferente, parece que
estou nascendo para algo novo e arrebatador, algo que dispensa
explicações e que me faz sentir como nunca me senti antes.
Nada que tenhamos feito se compara a isso, tampouco as
sensações. Parece que atingi um novo nível; um que ao invés de
me fazer recuar de medo, me faz querer ir mais longe do que
jamais fui.
— Me desculpe... Porra... estou fodido! — Porra! Eu vou
assustá-la, caralho! — Você está bem, Sophie? Porque eu estou
sofrendo.
— Estou bem... Dói um pouco, mas você está parado,
esperando eu me ajustar. Você é o melhor noivo do mundo e o
menino mais bonito também. — Ela está bem! Ela está mesmo
bem! Isso me causa um alívio absurdo. Minha Sophie está bem!
Isso significa que eu posso me mover.
E eu faço isso enquanto ela me beija. É de longe a maior
tortura da minha vida e a situação que mais exige autocontrole.
Não quero gozar, mas quanto mais me movo, mais próximo eu
me sinto disso.
As mãos de Sophie deslizam pelas minhas costas
enquanto ela geme. Isso mostra que está gostando e me
encoraja a seguir em frente. Levo minhas mãos acima de seus
ombros e passo a arremeter mais forte, precisando sentir mais da
boceta da minha namorada. É gostoso, é bom ir tão fundo, me
faz querer gozar dentro dela e continuar metendo. Não há nada
mais gostoso na vida, tenho certeza. Eu fico atento às reações
do corpo dela e sua boceta parece contrair mais a cada segundo.
A cada vez que ela contrai, eu penso que irei morrer e me sinto
um pouco fraco. Sophie até mesmo traz as mãos em minha
bunda, em busca de mais fricção. Meu coração está tão
acelerado agora, que temo passar mal. Ela está alucinando
embaixo do meu corpo, quando eu pensei que isso jamais iria
acontecer em nossa primeira vez. Estou desesperado de tesão,
querendo comê-la mais forte e torcendo para que isso nunca
acabe.
— Oh... meu Deus... Henrico... — Eu gosto de como ela
está chamando o meu nome. Eu vou gozar. Porra... eu não quero
isso, mas não posso mais esperar.
— Você está apertando meu pau! — digo. — Goze
comigo, Sophie. — Meu corpo explode violentamente dentro dela
e sou surpreendido quando ela me acompanha, tendo um
orgasmo.
De repente, um choro forte escapa de mim. Me sinto
envergonhado, mas não consigo nem mesmo controlar o choro
mais. Eu sinto um misto de prazer, gratidão, amor e desejo.
Todas essas coisas caíram sobre mim logo neste momento, sem
chance de fuga. Estou chorando após a minha primeira vez,
agarrado à minha namorada e tomado pela vergonha de perder o
controle dos meus sentimentos.
A puxo para o lado e assim ficamos deitados. Ainda estou
dentro dela, sentindo a melhor sensação da vida. Eu poderia
dormir assim, tenho certeza disso. Não consigo parar de chorar,
mas sei que quero mais.
— Obrigado, Sophie. — O meu agradecimento é por todas
as coisas que ela fez nos últimos dias e por ter mudado a minha
vida por completo. Ela me tornou capaz, me salvou quando eu
precisava correr, me salvou quando eu precisava de alguém para
segurar a minha mão, me salvou quando eu me achava diferente
e insuficiente. Ela é tudo e acaba de mostrar que eu sou melhor
do que acreditava ser.
— Não diga isso...
— Você me salvou de mim mesmo, desde criança. Eu te
amo além da vida, além do azul e ao infinito. Podemos fazer isso
de novo? Eu me sinto pronto! — peço, chorando, e ela começa a
rir. — Você está dolorida? Me desculpe por isso, Sophie. É só
que... você é gostosa.
— Estou um pouco dolorida — ela responde enquanto
tento parar de chorar. — Mas posso fazer isso. Eu quero mais de
você, bebecito. — O "dolorida" me faz recuar.
— Não.
— Sim.
— Não, Sophie. Vamos tomar um banho morno, que irá
ajudar um pouco. Se eu machucá-la mais, teremos que ficar
muitos dias sem... — Ela começa a rir antes que eu termine a
frase. Acho que sou muito pervertido por pensar a longo prazo.
— Você é safado.
— Me desculpe?
— Nem fodendo, Henrico Davi! Foda-me agora! — Porra...
eu me sinto pulsando dentro dela. — Estou viciada já...
— Não diga isso, Sophie — imploro.
— Vou montá-lo.
— Não vai não — falo, fugindo. Sair de dentro dela me faz
arrepiar por completo. Pelo amor de Deus! Eu estou viciado! Mas
preciso pensar no bem-estar de Sophie. — Caralho, Sophie!
— Pare de falar palavrões, Henrico Davi! Isso fode meu
psicológico.
Há um pouco de sangue em meu pau, em Sophie e no
lençol. Ela fica tímida ao ver.
— Está tudo bem. É assim mesmo — digo, a puxando
para os meus braços. — Sophie, eu te amo. Vamos tomar um
banho gostoso.
— Estou com vergonha agora.
— É a única vez que isso vai acontecer. Da próxima não
terá mais sangue. Eu acho, né. Posso pesquisar. — Ela ri. —
Vamos.
Tomamos banho na banheira, vestimos uma roupa e nos
deitamos na cama. Estou exausto por não ter dormido na noite
anterior, mas estou feliz e ficaria por horas acordado, apenas a
observando. Sophie está mesmo dolorida, ela choramingou no
banho algumas vezes. Por isso, estou sendo mais cuidadoso.
Fico fazendo carinho em seu rosto. Sophie é mesmo a
garota mais bonita do Universo inteiro. Ela é um pouco maluca,
mas é muito sensível, doce e carinhosa, precisa do meu carinho.
— Te amo, minha princesa.
— Também amo você. Ao infinito e além. Foi a melhor
noite da minha vida. Obrigada por ser tão cuidadoso e especial.
— Deposito um beijo em sua testa. — Amanhã nem trator me tira
de cima de você! — 1.500 guindastes não vão me tirar de Sophie
amanhã! Eu gostaria de pegá-la de quatro... parece interessante
e eu amo a bunda dela.

Quando Sophie dorme, eu decido que não posso esperar


até amanhecer para ligar para os meus pais.
— Filho? Está tudo bem? — Meu pai fica ligeiramente
apreensivo por receber uma chamada de vídeo no meio da
madrugada. Ligações durante a madrugada costumam girar em
torno de notícias ruins, é compreensível a apreensão na voz
dele.
— Eu e Sophi... nós ficamos confortáveis. Muito
confortáveis — digo timidamente e vejo seu semblante
tranquilizar. — É íntimo, não poderia falar, mas não iria conseguir
dormir sem contar, pai.
— Uau, Henrico! — exclama, sorrindo. — Estou muito feliz
que tenha ficado confortável com Sophie. Essa é uma grande e
ótima notícia!
— Sophie teve um orgasmo.
— Sério? Isso é ainda mais incrível. Sabe, a primeira
garota que eu fiz sexo não teve um orgasmo. Ela também era
virgem e não foi satisfatório. É uma grande coisa proporcionar
um orgasmo para uma garota logo na primeira vez dela, viu?
Quando te aconselhei a ver vídeos e fazer pesquisas, foi
acreditando que isso o ajudaria. No meu caso, faltou pesquisas,
mesmo eu vendo pornografia. — Ele ri. — Enfim, foi bom? —
pergunta.
É estranho, só de relembrar fico arrepiado. É a melhor
sensação que já senti em toda a minha vida. Eu não gostava
muito da expressão “frio na barriga”, mas ela parece se encaixar
de alguma forma na atual situação.
— Eu quero fazer mais vezes. Todos os dias — respondo
com seriedade e sinceridade, mesmo assim, meu pai ri.
— É claro que quer. Está no top 3 das melhores coisas da
vida, além disso, é saudável fazer sexo. Nos ajuda em muitas
questões. — Eu sei. — E Sophie, como está? Ela está bem?
— Sim. — Eu iria dizer que ela está dolorida, mas é muito
íntimo. Porém, meu pai parece entender que estou evitando
detalhes.
— É íntimo, não é mesmo? Mas, o "sim" já diz muito. Você
é muito incrível, meu filho. Não vou acordar a sua mãe, direi a ela
amanhã. Estou muito feliz. Sei que havia muito receio, muitas
dúvidas, medos e incertezas sobre isso. Você superou cada uma
das barreiras e foi até o fim; não estava acostumado a lutar muito
para vencer as limitações da sua mente. Parecia confortável para
você se manter isolado. Vê-lo se esforçar foi e é imensamente
satisfatório para mim, como seu pai. Eu acho que o segredo
sempre foi Sophie, mesmo que durante alguns anos você tenha
se mantido mais fechado em seu próprio mundo. Aceitar o
sentimento que nutre por Sophie foi o primeiro passo para sair da
zona de conforto. E você foi veloz, filho. Foi há poucos dias que
resolveu se abrir com ela e olha quão longe já foram?! É
surpreendente, Henrico! Você é bom no que faz, você é capaz,
você é extremamente foda e vai muito além ainda. O amor que
sente por Sophie é algo que te leva longe, que te impulsiona, te
motiva. Eu costumo dizer que sua mãe é o meu motivo; Sophie é
o seu motivo. Ela é o motivo para todas as coisas boas.
— Ela é o meu motivo. Eu sou apaixonado por Sophie,
pai. Ela é a menina mais bonita do mundo.
— Sophie é linda por fora e por dentro. Victor e Melinda
fizeram um ótimo trabalho na educação e na formação dela como
ser humano. Ela teve os melhores exemplos para seguir —
argumenta.
— Pai, vou dormir. Sophie quer se sentir confortável
quando acordarmos. — Meu pai dá uma gargalhada alta e acabo
rindo também. Estou feliz.
— Eu realmente imagino como será a rotina de vocês a
partir de agora. Só não sejam presos por atentado ao pudor. De
resto, aproveitem. Se você soubesse como a vida passa rápido...
Não desperdice um só segundo, filho.
— Não irei.
Após me despedir do meu pai, vou para o escritório.
Durante toda a infância, fui uma criança não verbal. Eu
conversava com meus pais e meus avós, mas era apenas o
básico, respostas curtas e objetivas. A melhor maneira que
encontrei para me expressar foi através da pintura. Eu vivia
pintando e desenhando pessoas, lugares, sonhos. Com o passar
dos anos, diminuí a frequência de pinturas e desenhos, mas
ainda as faço com a mesma facilidade de antes.
Durante as próximas horas deixo que a minha mente
comande minhas ações e, quando termino, há um quadro com a
silhueta da minha namorada nua, de costas...
Eu me tornei um pervertido, provavelmente. Me sinto
envergonhado ao ver a imagem, mesmo que o trabalho tenha
ficado bonito. Isso não é muito romântico, na verdade, é
desrespeitoso. Mas Sophie é gostosa pra caralho!
Após esconder a tela atrás de um armário, vou para o
quarto e me junto a ela.

Há o menino mais bonito do mundo desmaiado na cama.


Mais bonito e mais gostoso. Eu não deveria ter dito a ele que
amo cueca branca. Embora ele esteja todo vestido de branco,
podendo parecer com um anjo, posso dizer que não há nada
muito angelical na forma que eu o vejo.
Camisa branca, cueca boxer branca...
Misericórdia! Ter perdido a virgindade me fez um mal do
caralho! Ou não! Ainda sinto que ele esteve dentro de mim, mas
não é algo que posso qualificar como dor. Henrico soube me
deixar bem lubrificada e acho que isso foi uma jogada de mestre.
Há apenas a sensação de ter sofrido uma invasão de algo
grande em uma parte tão delicada.
Se possível, estou com mais tesão do que o normal nessa
linda manhã. Acordei assim, com cada parte de mim desejando
meu namorado.
Noivo.
Que noivo!
Me levanto, faço um alongamento e vou até o banheiro
fazer minha higiene matinal e conferir se está tudo certo. Estou
bem, inteira, com a libido em alta, pronta para a segunda vez. Eu
só irei contar até a segunda mesmo, porque depois dela creio
que será um caminho sem volta. Espero que Henrico esteja na
mesma linha de fome sexual que eu estou, não quero parecer
ninfomaníaca.
Tudo bem! Eu entendo que mal comecei a minha vida
sexual, que talvez esteja indo com muita sede ao pote, mas que
Deus me perdoe por isso! Eu sinto desejo sexual por Henrico há
muitos anos, desde que me despertei para a safadeza... Dessa
água eu beberei sim, mergulharei sim, me afogarei COM
CERTEZA! E é por isso que volto para a cama ao invés de fazer
um café da manhã especial para o meu bebecito em forma de
agradecimento. Acho que posso agradecer de outra maneira,
talvez dando meu corpo a ele.
Me ajeito na cama, mais perto dele que antes, e deslizo
minha mão por dentro da camisa dele, deixando leves arranhões
em suas costas, enquanto beijo seu pescoço. Desço a mão até a
bunda gostosa e dou um aperto firme.
— Sophie. — Meu noivo solta um som que é uma mistura
de gemido com fala e rouquidão.
— Ei, Henrico Davi...
— Você está apertando minha bunda — diz, virando seu
rosto para mim. — Preciso dormir um pouco mais. Deitei há
pouco tempo. — Franzo a testa.
— Por quê?
— Não conseguia dormir. Há praticamente dois dias que
não durmo. Só preciso de mais algumas horas de sono. —
Poderia ser como um balde de água fria, mas não é. Ele está
com uma carinha que demonstra puro cansaço. Prefiro que ele
durma mais e que possamos aproveitar a noite.
— Quer comer algo? Eu posso fazer um café da manhã
especial e você pode voltar a dormir depois de comer.
— Não precisa. Só quero dormir — responde com os
olhos fechados. — Te amo, Sophie.
— Também amo você. Vou arrumar algumas coisas e irei
para o sítio, ok?
— Hummm... — Meu neném volta a adormecer e eu fico
sorrindo.

Quando chego ao sítio, todos estão sentados à mesa,


para o almoço. Eu vejo todas as cabeças virarem para mim. É
quase cômico a maneira como os olhares estão completamente
avaliativos. Talvez estejam aguardando que eu mostre o lençol
ensanguentado para confirmar a consumação da perda do meu
lacre, como Samuel disse na Ilha.
Por falar em lençol, colocá-lo na máquina foi a primeira
coisa que fiz assim que saí do quarto. Também arrumei um
pouco a casa, deixei apenas a barraca armada e os itens
decorativos.
— Ok, por que estão me olhando dessa maneira? —
pergunto, tentando me manter séria.
— O que fez com Henrico? Onde ele está? — Samuel...
Em alguns momentos sinto vontade de socá-lo.
— Ele está dormindo. Estava virado há praticamente dois
dias. O que diabos eu poderia fazer com Henrico?!
— Ele é puro — Samuel responde, rindo.
— Só na sua mente. Aquele homem está longe de ser
puro. Na verdade, pense num garoto fodedor? É Henrico Davi,
meu noivo!
— MERDA! — meu irmão fala, cobrindo os ouvidos com
as mãos.
— Rimão, que tal falarmos de pureza? — o provoco.
— Acredite, Sophie, eu sou muito mais puro que... a sua
insinuação — Luiz Miguel responde. — Você deveria ficar
caladinha, rimã.
— Acho que estamos em desvantagem — Théo comenta.
— Eva, sua comida cheira maravilhosamente bem! —
exclamo, me juntando a eles e enchendo um prato com comida.
Eu deveria voltar para o Rio, pois morar em Minas será algo
difícil. Eu amo comida mineira e não consigo resistir. — Estou
faminta!
— Foi Théo quem cozinhou hoje. Estou um pouco enjoada
da minha comida — Eva responde, radiante. — Me diga sobre
esse anel em seu dedo, estou curiosa.
— Eu e Henrico estamos noivos. Ele me pediu ontem à
noite — explico, comendo.
— Nosso pai, certamente, terá um ataque cardíaco. Ou
talvez seja necessário que nossa mãe o leve para uma viagem
com duração de 30 dias para Maldivas.
— Rimão, eu acho que meu caso é bem leve... — Luiz
Miguel fica visivelmente puto e eu enfim dou uma gargalhada.
— Aí vocês ficaram noivos e... — Samuel está se
corroendo de curiosidade.
— Não vou contar os detalhes na frente do meu irmão,
melhor amigo. Assim que eu terminar de comer, nós podemos ir
lá fora e eu matarei sua curiosidade.
— Graças a Deus! — Samuca exclama, rindo.
— Não sou idiota, Sophie. Sei o que aconteceu — Luiz
Miguel diz, suspirando. — Você está feliz?
— Sim.
— Então eu estou feliz também. Sabe o que mais? Não
desperdice tempo. Viva tudo com Henrico. A vida passa muito
rápido. Um dia a pessoa que você ama está aqui e logo depois
não está mais. — Sei que ele está se referindo à Clarinha. — E é
horrível perceber que poderia ter aproveitado mais. É horrível
querer voltar no tempo só para fazer aquele programa que ela
queria e você se recusou, ou adiou aquela viagem a dois, deixou
de comprar o sapatinho de bebê que ela queria, com a desculpa
de não saber o sexo... É horrível. — Pronto, agora todos estão
praticamente chorando. Théo o puxa para um abraço. — Está
tudo bem. É só que... Clarinha foi a minha primeira garota, assim
como eu fui o primeiro dela, namoramos muitos anos. É muito
parecido com Sophie e Henrico. Não pude deixar de lembrar.
— Eu oro todos os dias para que você consiga superar e
que encontre alguém que preencha o vazio que ela deixou —
digo, pegando a mão dele por cima da mesa.
— Está tudo bem. — Ele volta a falar, sorrindo.

Por volta das 16h, Henrico surge. Hadassa e Maicon se


juntaram a nós mais cedo. A maneira como Henrico olha para
Maicon ainda é bastante engraçada, mas deixa de ser importante
quando ele faz de mim o seu foco principal. Deveria ser proibido
ele me dar esse tipo de olhar em público. Eu posso sentir minhas
bochechas queimando.
Samuel nem o deixa respirar direito, o abraça e sai
puxando-o rumo a uma das espreguiçadeiras do outro lado da
piscina. Eu não quero nem imaginar o que Henrico dirá a ele.
— Agora que temos mais privacidade, pode contar como
foi a noite de ontem? — Eva pede.
Estamos eu, ela, Hadassa e Maicon. Théo e Luiz Miguel
estão afastados o bastante.
— Por favor, diga que deu tudo certo?! Eu teria me
apaixonado por Henrico ontem, se não soubesse que ele tem
namorada e que o irmão dele é um gostoso — Hadassa
comenta. — Ele foi incrível, Sophie. E engraçado também. Ele é
muito sincero, eu não estava acostumada com alguém tão
sincero dessa maneira.
— Deu tudo certo. Eu não sou mais uma garota virgem —
informo, sorrindo, mas um pouco envergonhada. — Querem
detalhes?
— O básico, pelo menos — Eva pede.
— Bom... Jantamos, tomamos uma taça de vinho, ficamos
em frente à lareira, conversando, tudo em um clima muito
romântico e fofo. Durou até o momento em que fui ao banheiro.
Quando voltei, Henrico já estava de pé, esperando por mim,
devidamente decidido. Ele me beijou e eu fui parar numa
parede... Não foi algo muito delicado ou romântico. Estávamos
afoitos, necessitados demais. Não houve muita delicadeza,
mesmo assim, foi perfeito. Acho que Henrico é intenso demais
para conseguir fazer sexo lento. Quer dizer, no primeiro momento
ele até aguardou que eu me acostumasse, mas depois... nós
fomos um pouco selvagens, embora eu ache que a segunda vez
será mais. Ele é muito intenso, eu sou muito fogosa... Eu não sei
dizer como será essa relação após termos rompido a barreira.
— Por Deus! A maneira como ele te olha chega a me dar
calafrios. Ele parece prestes a te devorar e te dar uma surra...
não disse de quê — Maicon diz, se abanando, e eu volto a olhar
para Henrico.
Por Deus, digo eu! É muito difícil ser namorada de
Henrico. Eu sempre fui a espoleta da família, a garota que faz
amizade com todas as pessoas que encontra pela rua. Meus
familiares e amigos nem mesmo acreditavam que eu pudesse ser
virgem. Henrico parece o único ser humano no Universo que tem
o dom de me intimidar. Por mais que essa timidez passe com o
poder mágico de um beijo, o período que antecede o beijo é
confuso o bastante para mim. Eu fico oscilando entre querer fugir
e querer me jogar. Viro uma bagunça de tremor, coração
acelerado, ansiedade. Nem mesmo consigo mais dar atenção ao
assunto rolando diante de mim. Fico presa nele e ele preso em
mim, como uma conexão extremamente poderosa.
Em questão de segundos, Henrico está diante de mim,
como se só existisse no mundo nós dois.
— Ei, Sophie. — É uma graça como ele me cumprimenta
de forma casual, como se fôssemos conhecidos que se
encontraram em uma loja em mais um dia de compras. Meu
menino mais bonito ainda não consegue demonstrar muito afeto
em público, e eu terei paciência de esperar, porque sei que
valerá a pena.
— Ei, Henrico Davi.
— Você é minha noiva — fala, sorrindo.
— E você é meu noivo. Eu amo ser sua noiva.
— Podemos ir para casa assistir um filme? — Alguém está
aprendendo a ser espertinho demais.
— Estou louca para ficar confortável em casa — o
provoco.
— Eu estou louco para te... — Cubro a boca dele, antes
que ele fale demais.
— Ninguém entendeu. Está tudo bem. Continuem! — Eva
diz, rindo, enquanto puxa Hadassa e Maicon para longe.
— Me desculpe, Sophie. Eu me esqueci da presença
deles. — Meu bebecito se desculpa, morrendo de vergonha. —
Você está bem?
— Estou bem.
— Sophie, você está dolorida? — Oh, meu Deus! Eu
quero gargalhar pela seriedade dele. É impossível descrever.
— Não estou.
— Eu quero muito ficar confortável, da mesma intensidade
que eu sempre quis você. Só consigo pensar nisso, Sophie. Eu
quero você nua debaixo do meu corpo, como ontem. Quero você
por cima, para eu poder ver seus seios balançando, acho que
deve ser legal. Quero você de quatro, porque quero ver a sua
bunda. Estou ansioso para fazer essas posições. Podemos
transar três vezes?
Pelo amor da Santa Josefina! Qual é o santo que protege
as namoradas de homens super sinceros?
Aiiii, sei lá, o jeito de Henrico é realmente diferente. Aliás,
ser diferente nunca fez tanto sentido como está fazendo agora.
Esse modo sincero de dizer exatamente o que quer e o que
surge em sua mente é recebido por mim como um afrodisíaco
poderoso. Henrico, definitivamente, não precisa dizer palavras
tão sujas. Basta abrir a boca e despejar sua sinceridade.
Acredite, é impossível não sentir a calcinha umedecer ao ouvir
uma série de pensamentos safados saírem de sua boca.
Ele ainda especificou o número de vezes que quer transar.
Isso mistura o fofo com o safado e me deixa perdida entre
apertar as bochechas dele ou apertar uma outra parte do seu
corpo. 8 ou 80. Não há meio termo. Eu, que costumava me achar
safada, descobri que posso ser uma santa perto dele. Isso é, no
mínimo, curioso.
— Sophie, estou esperando uma resposta — ele diz após
um longo momento de puro silêncio. Ele quer a resposta sobre as
três rodadas de sexo, é isso! Eu não sou maluca de dizer que
não. Ele é realmente quente e gostoso, eu jamais negaria fogo a
esse homem.
— Vamos fazer diferente. Não vamos colocar uma meta.
Vamos deixar a meta aberta, mas, quando atingirmos a meta,
vamos dobrar a meta.
— O quê? Isso que você disse não faz o menor sentido,
Sophie. Se não vamos colocar uma meta, como atingiremos a
meta e a dobraremos? Você não fez o menor sentido agora. Você
sabe que eu fico confuso. — Oh, meu Deus! Eu o abraço forte,
bem apertado. Não queria fazer com que ele se sentisse confuso.
— Não foi a minha intenção. Só estava usando as frases
da antiga presidente do Brasil. Mas não vamos falar disso.
Vamos falar de ir embora para casa e transar três vezes ou
quantas vezes conseguirmos.
— Podemos ir? — pergunta.
— Nem mesmo irei me despedir de qualquer pessoa,
bebecito. — Sorrio maquiavelicamente, antes de segurar a mão
dele e sair puxando-o rumo à felicidade!
Henrico é mesmo uma caixinha de surpresas. Você o vê
caminhando timidamente, sem encarar as pessoas nos olhos,
parecendo um anjo de candura. Quem o vê sendo tão angelical,
não faz ideia da transformação que ocorre entre quatro paredes.
Ele pode não olhar nos olhos das demais pessoas, mas nos
meus ele olha e, todas as vezes que faz esse ato, promessas
promíscuas são ditas silenciosamente.
Essa magia acontece assim que entramos dentro de casa.
Eu juro que posso sentir a atmosfera carregada, uma mudança
abrupta. Henrico fecha a porta com chave e eu quase caio de
joelhos quando ele volta o olhar para mim. Nervosa, mordo meu
lábio inferior e fico paralisada.
Eu nunca me cansarei de dizer o quanto eu jamais
imaginei que seria assim. Não faz sentido na minha mente que
Henrico seja como um predador sexual. E eu não consigo
explicar a mim mesma esse tipo de comportamento intenso do
meu namorado. Talvez eu deva falar com a terapeuta dele, eu
sinto que preciso disso.
Henrico Davi agia de maneira completamente diferente.
Ele ainda pode ser diferente fora dessa casa. Aliás, ele era
diferente até dias atrás, antes de aumentarmos o nível de
intimidade. O Henrico da terceira base é muito diferente do
Henrico da primeira e segunda. O da quarta base... eu nem sei
descrever...
Ele se aproxima, passa o polegar em meus lábios, para
que eu solte o que estava pressionado em meus dentes, e traz
suas mãos em meus quadris. Quando avança para dentro da
minha blusa, sinto meu corpo incendiar de uma só vez. Eu solto
um ofego alto, me dando conta do quão sensível estou aos
toques do meu homem.
— Você está com tesão, Sophie? — ele pergunta, me
analisando.
— Sim...
— Eu só toquei em sua cintura.
— Não precisava me tocar. Eu ainda sentiria tesão sem
precisar fazer esforço algum — respondo. — Não é só o seu
toque. É você. Tudo de você. Sua presença. Eu me sinto
envergonhada por me afetar tanto — confesso. — Eu não sabia
que seria assim. No fundo, eu sou só uma menina arrebatada por
um homem decidido. Cuida de mim? Me ensina?
— Eu te amo, Sophie. Nós estamos aprendendo juntos. —
Então por que me sinto em desvantagem? A pergunta
desaparece quando ele me beija delicadamente.
As coisas estão esquentando quando a merda da
campainha toca.
— Puta merda! — exclamo, passando as mãos pelo rosto.
— Não vamos atender.
— É isso! Foda-se! — concordo e agora começamos de
fato a nos agarrar como canibais perfeitos. Henrico parece amar
paredes, porque novamente ele me empurra contra uma e faz
com que eu enrole as pernas em torno dele. Ele está muito duro,
e eu gostaria de estar nua para sentir o roçar delicioso dos
nossos corpos. A pegada dele faz meu lado devassa surgir numa
rapidez surpreendente. Talvez haja uma bipolaridade em minhas
ações. — Você vai me foder aqui?
— Porra, Sophie! Você pode não falar assim?
— Você diz que quer me comer e eu não posso falar sobre
foder? — pergunto, rindo, e novamente a campainha toca.
— Sophieee! — É a voz da minha mãe e ela não está
sozinha. Isso faz Henrico congelar.
— Oh, merda! — exclamo. — O que a minha mãe está
fazendo aqui?
— Meu pau está muito duro.
— Estou sentindo, abençoado. — Começo a rir de nervoso
e ele me coloca no chão.
— Eles não saberão que você está molhada para mim,
mas saberão que eu estou duro para você. Então, atenda. Irei
tentar controlar isso e volto. — Até isso me excita... "Molhada
para mim", "duro para você". Ai, meu Deus...
Tento me recompor e atendo a porta. Ela e meu pai. Eu os
amo, mas eles empataram uma foda que, provavelmente, seria
sinistra. Mesmo assim, fico feliz por vê-los.
— Mãeee! Paiiii! — Os abraço junto. — Coisas mais
lindas! Entrem! — Eles entram e já são surpreendidos pela
barraca na sala. É engraçada a maneira como meu pai olha para
mim agora. Eles sorriem, como se tivessem acabado de ter
alguma lembrança. — O que houve?
— Sua mãe gostava de cabaninha. Ela fazia eu criar
cabanas sempre — meu pai responde, sorrindo, até mesmo
emocionado. — Acho que isso passou de mãe para filha, hein?
— Na verdade, foi ideia do Henrico. Fomos acampar, deu
errado, eu fiquei triste e ele fez tudo isso para mim — explico, me
acomodando no sofá, e eles se acomodam também.
— O que deu errado?
— Uma tromba d’água. Tivemos que correr e passar a
noite no carro. Estávamos de frente para uma cachoeira. Henrico
percebeu rápido que, provavelmente, aconteceria algo ruim, e
nos salvou.
— Puta merda, Sophie! — meu pai exclama. — Eu odeio
que não seja uma eterna criança e que não esteja sempre sob o
meu olhar. Se algo tivesse acontecido...
— Não aconteceu. Eu tenho um noivo muito inteligente,
papai.
— Você tem o quê? — ele pergunta e minha mãe finge
mexer no celular. Ela sabe. Henrico precisou da ajuda dela.
— É... eu acho que tenho algo para contar. Esperava fazer
pelo telefone. Acho que seria mais fácil... — Respiro fundo, mas
não consigo conter as lágrimas. Não são de medo ou tristeza, e
sim pela grandeza de ter pais incríveis, em quem posso confiar e
contar todas as coisas. — Papai, mamãe, ontem à noite...
ontem... eu tive a minha primeira vez. — Meu pai engole em
seco, enquanto lágrimas também escorrem de seus olhos. Ele
tenta limpá-las de um jeito fofo, mas eu já as vi de qualquer
maneira. — Papai, Henrico é o menino mais perfeito do mundo, e
ele foi muito perfeito para mim em todos os momentos. Ele
cuidou de mim, me amou, foi delicado, amoroso. Foi a melhor
noite da minha vida e valeu a pena ter esperado todos esses
anos. Eu o amo, papai. Ele me faz feliz todos os dias e cuida de
mim. Ficamos noivos, e talvez você ache muito cedo, mas não há
no mundo qualquer outro menino para mim, assim como não há
outra menina para Henrico. Nosso amor é muito forte, como o
seu e o da mamãe, como o do tio Lucca e da tia Paula. Eu sou
dele, ele é meu. E eu quero muito me casar com ele. O quero
para sempre, papai. Henrico é o amor da minha vida. Eu o amo
além da vida.
Eu não esperava que Henrico estivesse ouvindo, mas
percebo isso quando o olhar do meu pai se volta para trás de
mim.
Henrico não demonstra sentimentos com facilidade,
principalmente com plateia, porém, quando o olho, percebo que
ele está chorando. Não sou eu quem o abraço, é o meu pai. E é
a primeira vez que isso acontece. Ninguém pode tocá-lo, ele
sempre recua, mas ele permite que meu pai o toque hoje. Os
dois grandes homens da minha vida se abraçando é muito para o
meu coração.
E aqui, ao meu lado agora, está a minha inspiração
todinha, a mulher mais incrível do Universo e mais princesinha
também.
— Estou tão feliz! — ela diz, me abraçando. — Quero
detalhes sórdidos! — Ela ri entre lágrimas. — Eu nunca senti
aquela sensação de dever cumprido, mas estou a sentindo
agora. É gratificante olhar para você e ver a garota que eu e seu
pai criamos, educamos, fizemos de tudo, tornando-se uma
mulher tão incrível, com um coração tão puro. O seu amor por
Henrico, Sophie, é a coisa mais linda que eu já vi em toda a
minha existência. Vocês têm minha bênção para tudo, filha.
Vocês merecem a felicidade, porque foram capazes de esperar,
capazes de vencer algumas barreiras, enfim, eu acredito em
alma gêmeas e vocês são.
— Eu sei que somos — afirmo, sorrindo. — Obrigada,
mamãe, por tudo e por todas as coisas!
— Eu quem agradeço, filha. Você é perfeita, princesa,
tenho muito orgulho de você, muito!
Eu gostaria de saber o que meu pai está dizendo a
Henrico, mas é baixo o bastante para eu não ouvir. Só vejo meu
noivo balançar a cabeça positivamente e chorar, junto com o filho
do rei do drama. Eu amo meu avô por ser dramático!
— Estou feliz que estejam aqui, mas por que vieram?
— Viemos trazer Kiara. Na verdade, foi uma desculpa
muito boa para eu matar a saudade dos meus filhotes. —
FODEU!
"— Papai, Henrico é o menino mais perfeito do mundo, e
ele foi muito perfeito para mim em todos os momentos. Ele
cuidou de mim, me amou, foi delicado, amoroso. Foi a melhor
noite da minha vida e valeu a pena ter esperado todos esses
anos. Eu o amo, papai. Ele me faz feliz todos os dias e cuida de
mim. Ficamos noivos e talvez você ache muito cedo, mas não há
no mundo qualquer outro menino para mim, assim como não há
outra menina para Henrico. Nosso amor é muito forte, como o
seu e o da mamãe, como o do tio Lucca e da tia Paula. Eu sou
dele, ele é meu. E eu quero muito me casar com ele. O quero
para sempre, papai. Henrico é o amor da minha vida. Eu o amo
além da vida."
Sophie trouxe a possibilidade de eu me sentir um homem
capaz. Cresci ouvindo pessoas falarem sobre lutar para
conquistar os ideais, se esforçar, mas eu absorvia tudo de
maneira diferente, devido ao fato de não me sentir capacitado.
Enquanto meus familiares insistiam em dizer que eu era
"normal", capacitado, vinham outras pessoas no colégio que
diziam o oposto. Era estranho ser chamado de aberração por ser
inteligente, por não conseguir socializar, por não olhar nos olhos
das pessoas, por odiar ser tocado, por ter crises por conta de
barulho. Para mim, as palavras daquelas crianças pesavam mais,
porque elas sempre podiam fazer muito mais coisas que eu. Elas
eram capacitadas para atividades que eu não era, então os
argumentos delas pareciam verdadeiros e faziam sentido. Eu
acreditava que meus familiares diziam todas as coisas bonitas
apenas por serem... meus familiares. Não que eu não
acreditasse nas palavras deles, mas elas não faziam muito
sentido, devido ao fato de eu possuir dezenas de limitações e de
não poder agir como a maioria das crianças, com as quais eu
convivia.
Acho que a infância é um fator determinante na vida de
uma pessoa. Traumas que sofremos quando crianças marcam a
nossa juventude, a nossa vida adulta, a nossa vida em geral. A
palavra INCAPACIDADE fazia parte de mim, devido a todas as
coisas que vivia e costumava guardar em segredo. Porém, desde
que me arrisquei com Sophie, essa palavra tem se distanciado
cada dia mais do meu vocabulário. Ela ainda me assombra,
assim como muitas outras questões, mas a cada vez que Sophie
me diz coisas bonitas e que vejo que tudo em mim afeta ela de
maneira positiva, eu me sinto o homem mais capacitado do
mundo.
A partir de agora comemorarei dois aniversários: o oficial e
o dia do meu renascimento como pessoa. Não que eu tenha
comemorado antes. Não gosto de aniversários, porque são
barulhentos, por isso, sempre me isolei. Mas, na minha mente,
sempre houve uma comemoração, e agora haverá mais uma.
Sophie me fez renascer e segue me fazendo renascer todos os
dias. Eu não vivia antes de me envolver com ela, apenas existia.
É um pouco pesado dizer isso, quando meus pais passaram
grande parte da vida se esforçando por mim, mas sou grato e
tenho reconhecimento. Sei que as ações deles também foram
fatores determinantes, e que eu poderia ter passado por
centenas de dificuldades que não passei, graças a eles, mas foi
Sophie quem radicalizou a minha vida e a minha existência, e
acredito que meus pais tenham por ela a mesma gratidão que eu
tenho.
Eu a amo. Eu respiro Sophie. Ela é o motivo e acaba de
me tocar com suas palavras, mesmo que elas não tenham sido
dirigidas diretamente a mim. Nosso amor é muito forte, ela está
certa. Eu vivo Sophie.
Tio Victor me abraça e eu não consigo fugir, não consigo
recuar. Eu estava perdido antes dele me abraçar e, de alguma
forma, seu abraço parece me salvar. Ele é meu sogro. Pai da
mulher que eu amo. E parece bem com o fato de estarmos
noivos e de... termos feito sexo. Na verdade, ele parece grato, e
eu não saberia responder o motivo pelo qual ele já disse em meu
ouvido dezenas de OBRIGADO. Talvez, se um dia eu for pai, eu
vá ser capaz de compreender.
— Você é o garoto mais fantástico do mundo! — ele fala.
— Eu dei uma tremenda sorte na vida, por você amar a minha
filha e por ela te amar de volta. Sophie é o meu coração, e
entregar o meu coração a qualquer outra pessoa seria difícil pra
caralho. Você faz isso ser mais fácil. Você a merece, Henrico, e
ela o merece também. Eu te dou o meu coração, porque sei que
a fará feliz, sei que cuidará da minha princesa. — Balanço a
cabeça positivamente. — Sei como sua vida foi difícil, mas,
mesmo quando não acreditava em si mesmo, todas as pessoas
acreditavam, todas as pessoas viam o seu potencial e quem você
é. — Meu coração está batendo muito forte. — Estou realizado,
porque você, finalmente, se enxergou, finalmente está vencendo
barreiras, e porque o esforço do meu irmão e da minha cunhada
valeram muito a pena. Você é a grande realização dos dois, é a
grande realização da minha filha, que esperou por esse momento
desde quando ainda era apenas uma criança. Não vou pedir que
a faça feliz, porque você já faz isso. Apenas siga fazendo, e que
ela o faça tão feliz quanto sei que você está a fazendo. Eu a
entrego a você, do fundo do meu coração. Tem a minha bênção
para se casar com ela.
— Obrigado, tio Victor. Eu... — Tenho dificuldade em
expressar meus sentimentos, mas ele precisa saber. — Eu amo
Sophie.
— Eu sei que ama. Não precisa dizer mais nada. — O
agradeço, acenando a cabeça positivamente. Ele me entende.
— Obrigado, tio Victor.
RIO DE JANEIRO
Assim que olho para Kiara — afilhada do meu pai, irmã do
meu primo —, me sinto um belo de um filho da puta por achá-la
gostosa. Eu estava quieto em casa, até Samuel me aterrorizar
para sair. Agora estou em um pub agitado, de frente para o mar
do Recreio, escutando as lamentações da garota, que acabou de
terminar um "relacionamento". Enquanto me sujeito a esse tipo
de situação, Samuel desapareceu com uma garota e me deixou
responsável pela diabólica irmã dele.
Eu não a via há muitos meses. Kiara não costuma andar
com Samuel e está na fase rebeldia. A cada frase que ela diz, eu
sinto vontade de deitá-la de bruços em minhas pernas e
esbofetear sua bunda com toda a minha força. Ela é muito
ditadora, exigente e quer que os garotos se prestem a atender
suas ordens.
— Ok, Kiara. Que tal irmos embora? Seria interessante
levá-la para casa.
— Eu não esperava que você fosse tão careta!
Sinceramente, eu sempre achei que por trás do rosto de anjo
havia um devasso ou um cara ao menos um pouco descolado —
ela diz, tomando meu drinque alcoólico.
— O que tem a devassidão? Não consegui entender o seu
raciocínio sobre eu ser um devasso ou não.
— Você é muito caladinho, perfeitinho, Miguelitinho, inho...
Pensei que seria mais divertido — explica.
— Você quer a sinceridade?
— Não espero menos que isso.
— Esse é um grande programa de merda e eu deveria ter
ficado em casa! Você é chata, mimada, se acha adulta, ditadora
e está enchendo a porra do meu saco essa noite! Você só tem
malditos 17 anos de idade e cisma em agir como uma garota de
25 anos. Entenda uma coisa, nem todas as pessoas no mundo
ficam pelo resto da vida com o primeiro amor. Quem você acha
que é o amor da sua vida, pode morrer ou pode te causar uma
decepção. Não há uma segurança completa em relação às
pessoas e ao tempo de duração delas em nossa vida. Você é
jovem, ainda passará por muita merda até dar sorte de encontrar
a pessoa que foi feita sob medida para você. Pelo amor de Deus!
Pare de ficar falando asneiras, choramingando por conta de um
babaca, idiota! É irritante ver uma mulher se diminuindo por conta
de um bosta! Vou levá-la para casa.
— Não vai não.
— Eu vou sim — afirmo, chamando o garçom e pedindo a
conta.
— Você não manda em mim e eu não sou uma criança.
Não vim com você e não vou embora. Agora posso ser sincera
com você?
— Se é o que você quer... — Me arrependo quando ela
começa a praticamente gritar comigo.
— Você É CHATO, MIMADO, SE ACHA UM MEGA
ADULTO SÓ PORQUE É ALGUNS ANOS MAIS VELHO QUE
EU, AGE COMO UM VELHOTE TIRANO E DITADOR, ESTÁ
VIVENDO A VIDA POR VIVER, DESDE QUE SUA NOIVA
FALECEU. É FRACO POR NEM AO MENOS TENTAR
SUPERAR, É EGOÍSTA POR NÃO PENSAR NA DOR QUE
SEUS PAIS SENTEM POR VÊ-LO FODIDO HÁ MAIS DE UM
ANO. QUEM VOCÊ ACHAVA QUE ERA O AMOR DA SUA VIDA,
INFELIZMENTE, FALECEU, MAS VOCÊ SEGUE VIVO E TEM A
OBRIGAÇÃO DE VIVER. ENQUANTO VOCÊ ESTÁ
ENCHENDO O SACO, PORQUE QUER VOLTAR PARA CASA E
SE INFILTRAR NA MERDA DE UMA BOLHA, POR ESTAR
INSATISFEITO COM A VIDA, HÁ FILAS DE PESSOAS
AGUARDANDO POR TRANSPLANTES, PARA TEREM A
CHANCE DE SOBREVIVER. HÁ HOSPITAIS LOTADOS, HÁ
FAMÍLIAS SOFRENDO E REZANDO POR SEUS ENTES
ADOENTADOS, HÁ UMA CARALHADA DE GENTE LUTANDO
PELA VIDA, ENQUANTO VOCÊ ESTÁ A IGNORANDO E
SENDO UM PÉ NO SACO! E QUER SABER MAIS? VOCÊ É
LINDO PRA CARALHO QUANDO ESTÁ COM ESSA CARINHA
DE INSATISFAÇÃO. DEIXE DE SER UM IDIOTA COMPLETO,
LUIZ MIGUEL, VIVA A MERDA DA SUA VIDA! PARE DE
VEGETAR. ATÉ HENRICO, COM TODAS AS LIMITAÇÕES,
ESTÁ SE PERMITINDO. VOCÊ TEM TUDO, MERDA! É RICO, É
BONITO, É SAUDÁVEL, VOCÊ TEM MUITO MAIS QUE A
MAIORIA DAS PESSOAS. E CUIDADO AO ME CHAMAR DE
CRIANÇA NOVAMENTE. EU SOU MIMADA APENAS QUANDO
QUERO. NA MAIORIA DAS VEZES, EU ATROPELO PESSOAS
IMPIEDOSAMENTE. E NÃO PRECISA SE PREOCUPAR, QUE
NÃO VOU FALAR DE QUALQUER OUTRO GAROTO COM
VOCÊ, IMBECIL! VOCÊ ACHA QUE EU NÃO TENHO
CORAGEM DE TE DAR TRÊS TAPAS NA CARA AGORA, NÉ?
MEÇA SUAS PALAVRAS... — Eu faço a maior merda da minha
vida quando calo a boca dela com um maldito beijo.
Suas mãos pairam sobre meu peito e eu simplesmente
não consigo parar de beijá-la. Ninguém nunca me disse tanta
merda em um curto intervalo de tempo. É claro, eu estou
acostumado com mulheres muito bem-educadas e meigas. Kiara
é até um pouco educada, mas meiga, certamente, não faz parte
de suas características. Meu pai costuma chamá-la de mini
Dandara, eu temo o significado disso.
Quando me dou conta de que estou duro e de que ela é
irmã do meu primo, me afasto. A merda que pode dar se Samuel
descobrir, não é pouca. Ele é superprotetor pra caralho com
Kiara.
Eu não digo nada, ela tampouco. Enquanto tento ignorar,
ela parece afetada de todas as maneiras, e eu simplesmente
foco no garçom, que vem caminhando com a conta. Eu pago, fico
de pé e Kiara fixa o olhar em minha virilha
desavergonhadamente. Um maldito sorriso safado surge em seu
rosto e eu respiro fundo.
— Podemos ir?
— Claro! Você já está devidamente pronto — ela
responde, ficando de pé. — Para a sua casa, por favor.
— O quê?
— Você não me beija e finge que nada aconteceu, senhor
maturidade. Você vai me levar para a sua casa e nós vamos
conversar sobre isso. Sei que meu dindo está em Búzios e que
está sozinho em casa. Não sou descartável, meu amor. Talvez eu
nem mesmo seja o tipo de garota perfeita que está acostumado.
Aliás, parando para pensar, acho que precisa de uma dose de
Kiara na sua vida sem graça... — Começo a rir, enquanto ando
rumo ao carro. Essa garota é engraçada. Eu iria dizer algo muito
pesado a ela, mas decido não fazer, porque aos 17 anos,
Clarinha transava muito comigo. — O seu padrão de exigência é
muito alto?
— A minha paciência é muito baixa, Kiara. Não há um
padrão de exigência. Não fale de mim como se me conhecesse.
— Acho que conheço — ela diz, sorridente, se
acomodando no banco do carona. Respiro fundo antes de dar a
volta e tomar frente da direção.
Ela fica realmente puta quando vê que estou indo em
direção à casa dela.
— Decepcionante.
— O que diabos você quer fazer na minha casa, garota?
— É necessário ser muito idiota para não saber o que
quero fazer na sua casa — responde. — Se você não fizer o
contorno e ir para a sua casa, nós vamos discutir em frente à
minha própria casa, correndo o risco de meus pais ou meus
irmãos pegarem. Discutir comigo pode ser muito quente... O que
acha que eles vão pensar?
— Não temos nada a discutir.
— Então você é mais moleque do que eu imaginava, além
de ser frouxo. Meu irmão vai amar saber que me beijou. — Subo
o canteiro de uma avenida, a deixando em choque. Nem mesmo
penso antes de seguir o caminho da minha casa. Pra merda me
chamar de frouxo! Além disso, ela está me ameaçando!
Kiara é a primeira garota que me tira do sério. Nem
mesmo Soninha e Vanderléia conseguiram! Eu até mesmo dirijo
acima da velocidade e, quando chego em casa, soco a porta do
carro sem dó.
— Pronto! Estamos em casa! — digo, fechando a porta
atrás de nós. — Pode começar a discussão.
— Você me beijou — fala, tamborilando os dedos no
balcão da cozinha.
— Eu fiz.
— Por que me beijou? — questiona.
— Para calar a sua boca. Próximo tópico.
— Você beijaria qualquer garota apenas para privá-la do
direito de falar? — pergunta, se aproximando. Novamente, eu
quero rir, até mesmo fecho as mãos em punhos, de tanta raiva.
— O que quer saber, Kiara?
— A verdade. Você sente atração por mim e me beijou
porque não conseguia tirar os olhos da minha boca a noite
inteira. Simples e indolor ser verdadeiro. Não sou idiota, como
pensa.
— Você é extremamente bonita, Kiara. Antes eu
costumava vê-la como uma criança, agora você se transformou
em uma mulher e me impactou vê-la. Só se eu fosse gay para
não sentir atração por você, mas fica apenas nisso, ok? Me
desculpe por tê-la beijado e por ter sido grosseiro. Só estava
sendo irritante ficar ouvindo você falar asneiras. Eu tenho um
pouco de excesso de maturidade às vezes. Me tornei modelo
muito cedo, estive em vários países sem a companhia dos meus
pais, apenas eu e Clara rodando o mundo desde os 16 anos.
Acabei tendo que me tornar maduro, então não tenho muita
paciência para drama adolescente. Não é culpa sua. É de forma
geral, e não é pessoal.
— Gostei de ouvir essas palavras — ela fala, sorridente.
— Eu disse uma série de coisas. Seja mais específica.
— Eu não ouvi metade do que você disse. Só foquei no
que de fato me interessa. Sentiu impacto ao me ver e se sente
atraído por mim. Sabe, é bem recíproco. Eu o via com Clarinha e
ficava imaginando como seria tê-lo.
— O quê? Você não pode estar falando sério.
— Apenas verdades — afirma. — Eu também me sinto
atraída por você. Nós podemos unir o útil ao agradável.
— Kiara, Samuel é muito importante para mim. Ficar com
você não seria apropriado. Ele é um grande amigo, somos
família, você é afilhada dos meus pais e há uma diferença de
idade. Quer dizer, a diferença não importaria se você fosse maior
de idade. Só tem 17 anos, isso torna a situação ainda pior. E... —
Agora é ela quem me beija, e fica difícil fugir. O beijo dela é
realmente bom. Kiara é uma garota quente. Eu vou deixando me
levar, porque gosto da sensação que estou sentindo. Acho que o
fato de ser algo proibido faz com que seja mais gostoso.
Por sorte, meu celular vibra, me trazendo de volta à minha
sanidade. Eu estava prestes a ultrapassar o limite, e sei que isso
me deixaria fodido.
— Vou levá-la embora — aviso de uma maneira que não
deixe possibilidade dela argumentar.
Recuo e caminho rumo à saída. Felizmente, ela parece
entender que não vai acontecer, porém, ainda assim, a filha da
mãe vai sorrindo por todo o caminho até a casa dela.
— Até amanhã, Miguelinhooo... — ela diz ao sair do carro.
— Não haverá... — A batida da porta impede que eu siga
dizendo que não haverá um amanhã.
Mas há!

São três da tarde quando o interfone toca. Eu vejo, pela


câmera, Dandara e Kiara. Começo a me perguntar o que diabos
as duas estão fazendo aqui.
— Ei, tia! — cumprimento Dandara com um abraço,
enquanto Kiara está sorrindo de uma maneira que não gosto. —
Oi, Kiki!
— Oi, MigueLINHO. — Quero estrangulá-la.
— Meu amor, vim apenas deixar Kiara. Muito obrigada por
se oferecer a ajudá-la — Dandara fala, sorridente, e eu olho para
Kiara, completamente perdido. Ela faz uma carinha de súplica e
acabo sorrindo. Que ótimo!
— Ajudá-la. Claro. Vou ajudá-la sim.
— A prova é amanhã, e se ela não conseguir a pontuação,
passará as férias de castigo. — Prova... Ok. Eu não acredito que
essa merda está acontecendo, mas está!
— Esses adolescentes são complicados — comento,
rindo. — Vou ajudá-la, tia. Pode ficar tranquila. Ela vai tirar um 10
enorme. — Kiara me abraça e me dá um beijo no rosto.
— Você é o melhor primo emprestado do mundo! Se
oferecer para me ajudar quando há um dia lindo e ensolarado lá
fora... Poucos abririam mão da diversão para estudar com uma
pirralha inconsequente. — Pior é ter que ficar sorrindo. Isso é
uma maldição! Não consigo pensar em pecados que cometi, mas
estou pagando.
— Fique esperta, Kiara Farai! E preste atenção nas
explicações de Luiz Miguel — Dandara a avisa, muito séria. Dá
até medo. — E você, Luiz Miguel, fique à vontade para
repreendê-la.
— Ficarei — afirmo.
Tia Dandara se vai. Enquanto fecho a porta, a louca da
garota retira os sapatos e sai saltitando pela casa.
— Eu amo essa vista!
— Que diabos você está fazendo aqui?! Kiara, sua mãe
confia em mim pra caralho! Tem ideia da merda que está
arrumando?!
— Posso ficar reprovada em química e não terei férias.
Mas não se preocupe, já decorei a matéria, podemos apenas
aproveitar. O dia está lindo! — exclama, vindo até mim e
deslizando um dedo pelo meu peitoral. Eu prendo suas duas
mãos em meu peito e a encaro sério.
— Você não vale nada, não é mesmo?
— Depende muito. Hoje eu não quero valer quase nada.
— Esse jeito dela me deixa duro. Eu não sabia que poderia me
sentir atraído por uma garota maluca e quase vulgar em suas
ações. — Não sou assim, mas quero ser com você.
— Não é uma ninfeta safada?
— Não. Acredite, se eu fosse, não teria problemas em
dizer. Só estou agarrando a oportunidade, jogando de um jeito
que acredito fazer efeito. Está acostumado com meninas
boazinhas, delicadas, florzinhas. Eu sou um cacto que te tira da
zona de conforto. Acho que precisa de uma menina má, e eu
estou no personagem agora. Acho que é uma fantasia erótica,
principalmente ficar com um garoto alguns anos mais velho. Você
deve saber fo...
— Não vou foder você.
— Em três meses você irá — afirma com uma segurança
invejável.
— Você deveria ir embora — digo, observando seu
sorriso.
— Você não quer que eu vá. Só tem medo das
consequências. Sabe que não conseguirá se controlar. Eu leio
muitas coisas por trás dos seus olhos azuis. Estou lendo agora
que você está quase no limite...
— Pegue sua bolsa. Nós vamos sair — aviso, indo para o
meu quarto vestir uma roupa decente.
Não vou ficar com essa garota em casa, ou os três meses
se anteciparão para três minutos.
Eu tento fazer os mais diversos programas infantis com
ela, e em todos eles ela tenta me levar ao limite. Fomos na
sorveteria e ela chupou o sorvete como se estivesse fazendo um
sexo oral. Fomos no Hot Zone e ela montou em alguns
brinquedos como se estivesse montando em um homem. Fomos
na praia e eu descobri que por baixo da roupa dela havia um
biquíni praticamente indecente, com a calcinha enfiada com força
em sua bunda perfeita.
De qualquer forma, nem tudo é tão ruim. Kiara é divertida.
Passar o dia com ela me fez esquecer da vida. Ela é leve,
aventureira, sabe conversar como adulto quando necessário, tem
opiniões firmes, é engenhosa, hiperativa, e por trás de todo
rompante de loucura há uma garota com um coração puro, que
pode ser até mesmo afetuosa e emotiva em alguns momentos.
— Está entregue, senhorita — falo ao estacionar na frente
da casa dela.
— Ei, me desculpe por todas as coisas que eu disse
ontem sobre você. Acho que alguém precisava ter coragem.
Nossos pais são muito próximos e já acompanhei situações onde
seus pais estavam realmente péssimos por vê-lo sofrer tanto. Eu
gosto de você. É um garoto inteligente, amoroso, doce... só
queria vê-lo sorrir com mais frequência, como hoje. Às vezes é
bom enlouquecer...
— É? — A boca dela me atrai e eu a pego para mim.
ERRADO PRA CARALHO! Ela é irmã de Samuel! Tem 17 anos!
— Ei, estamos na frente da minha casa. — Por sorte, ela
recua dessa vez.
— Me desculpe.
— Será divertido passar as férias com você — anuncia,
descendo do carro. — Muito divertido.
— Você não pode estar falando sério, Kiara!
— Vou fazer valer cada segundo... Adeus, Luiz Miguel!
Nos vemos em São Roque na próxima semana! Vou tirar um 10
enorme... — Ela entra e a partir daqui começa um inferno na
minha vida.
Eu perco as contas de quantas mensagens envio, pedindo
que ela desista; perco as contas de quantas fotos ousadas
recebo, perco as contas de quantas vezes eu me masturbo
pensando nessa praga... eu perco o controle da minha sanidade!
Essa garota é o diabo em forma de gente, e ela está vindo
para acabar com a minha vida de vez!
Assim que minha mãe se afasta, Henrico se junta a mim,
após limpar as lágrimas. O garoto que não gosta de
demonstrações públicas de afeto, se acomoda ao meu lado no
sofá, pega uma de minhas mãos, entrelaça seus dedos aos meus
e coloca sua outra mão por cima da minha, fazendo um
sanduíche da minha mão. O aperto de sua mão na minha é forte,
demonstra um pouco de possessividade misturada com proteção.
Talvez ele queira demonstrar para o meu pai que estou segura,
não saberia dizer.
— Então vocês vão se casar? — meu pai pergunta, se
juntando à minha mãe.
— Sim, iremos — respondo, sorrindo.
— Quando pensam em fazer isso?
— Na verdade, ainda não conversamos bem sobre isso.
Não discutimos sobre o casamento. De qualquer forma, acho que
deveríamos esperar o casamento de Eva e Théo. Não quero tirar
o foco do momento mágico deles — explico.
— E se casassem juntos? — minha mãe sugere.
— Não. Théo e Eva merecem ter um casamento só deles.
Eles passaram por muitas coisas, muitos momentos difíceis. E eu
e Henrico queremos algo discreto, apenas com a presença de
vocês e dos meus tios.
— Sophie, precisamos conversar sobre isso — Henrico
diz. — Se você quiser um evento com mais pessoas, uma festa,
eu posso fazer isso.
— Eu quero que seja perfeito, e sei que não será se
fizermos um evento grande. Quero seguir a linha do intimista,
mais discreto, apenas com os nossos pais e irmãos. As demais
pessoas podem ver fotos, ou talvez possamos fazer uma
transmissão ao vivo. Teremos tempo para decidir — falo,
depositando um beijo em sua bochecha.
— Estaremos felizes com qualquer decisão. Conte
conosco, filha. — Meu pai... Ele é meu herói! — Filha, iremos
para o sítio. Ficaremos até amanhã e faremos um churrasco
hoje. Vocês vão?
— Iremos em alguns minutos, tio Victor — Henrico
anuncia. Eu amo quando ele toma as rédeas.
Levamos meus pais até a porta e meu pai me puxa para
um abraço apertado.
— Obrigado por ter confiado em mim. Significa muito! —
ele sussurra em meu ouvido.
— Você é o melhor amigo do mundo, papai. Obrigada por
todo apoio.
— Só prometa para mim que, em algum momento, vai
retomar os estudos. Por favor — pede.
— Eu vou, e não vai demorar, pai. Fique tranquilo. — Ele
deposita um beijo em minha testa e se vai, com a minha mãe
montada em suas costas. É engraçado como eles parecem
adolescentes apaixonados.
Quando fecho a porta, Henrico me pega em um abraço
quase capaz de esmagar meus ossos. Ele me aperta contra o
seu corpo, tão forte, que eu começo a rir.
— Está me esmagando!
— Sophie, você é muito perfeita para mim. Agora
podemos ir — avisa, me colocando no chão.
— O quê? Como assim? Eu pensei que iríamos transar. —
Henrico começa a rir. — Por favor, eu nunca te pedi nada.
— Sophie, seus pais estão de passagem em São Roque,
e haverá uma comemoração no sítio. Teremos tempo para
transar mais tarde, porém, acho que devemos ir para o sítio. Seu
pai foi extremamente legal conosco minutos atrás. Ele poderia
me matar. Samuel disse.
— Ele não te mataria. Samuel disse isso brincando, não
literalmente — falo, rindo. — Mas você está certo. Vamos nos
arrumar. Sempre temos a noite e a madrugada. Inclusive, eu amo
nossas madrugadas. Elas costumam ser quentes.
— Ainda vamos transar três vezes?
— Eu disse sobre não colocar metas. Somos jovens,
saudáveis, cheios de energia para o sexo, bebecito. — Ele sorri
com a resposta.
— Eu quero muitas vezes, e todos os dias.
— Haverá dias que estarei interditada, Henrico Davi. Meu
período menstrual dura de três a quatro dias, e eu fico um pouco
mal. Sinto muitas dores nas pernas, seios, no corpo em geral. A
parte triste é que está se aproximando. Será nos próximos dias.
— Não tem problema, Soso. Eu vou cuidar de você, tudo
bem? Vou fazer massagem e brigadeiro. Eu já fiz brigadeiro pra
você algumas vezes. — Ah, meu coração se derrete demais...
— E se eu ficar muito chata, chorona ou estressada?
— Vou respeitar o seu momento. Pode ficar tranquila. Eu
te amo muito, vou te dar amor. Pesquisei sobre isso.
— Você pesquisou sobre período menstrual? — pergunto,
quase boquiaberta.
— Claro que pesquisei, Sophie. Eu precisava saber como
lidar com isso — explica. Toco seu rosto e deixo um beijo na
pontinha do seu nariz, só porque ele é muito perfeito. Pesquisar
sobre período menstrual foi o auge. — Sophie... sobre as coisas
que eu ouvi você dizendo ao seu pai... Obrigado por me amar e
por todas as coisas que tem feito por mim, por nós. Não sou bom
com declarações, como você é, mas...
— Mas não precisa ser. Não precisa dizer nada. Só a
maneira como me trata diz tudo o que você não consegue
expressar com palavras. — Sorrio carinhosamente para ele. —
Sabe, há tantas pessoas que fazem declarações enormes nas
redes sociais, até mesmo pessoalmente, mas maltratam, traem,
magoam, não dão carinho ou o suporte necessário à relação.
Você é o oposto. Você não se declara tanto com palavras, mas
está o tempo todo se declarando com suas atitudes. Eu sei o que
sente por mim, sei a grandeza do sentimento, a grandeza do
nosso amor. Eu sou a garota mais sortuda e mais feliz do mundo
há alguns bons dias, desde que me beijou pela primeira vez.
Agora vamos nos arrumar, bebecito!
Henrico já está praticamente pronto. Só coloca um casaco.
Já eu, visto uma saia de moletom, um tênis, uma regata e pego o
casaquinho de moletom combinando. Faço tranças no cabelo,
passo apenas um rímel e estou devidamente pronta.
— Uau, Sophie!
— Uau, Henrico Davi! — o imito.
— Você fica muito gostosa com essa saia. Você é muito
gostosa, Sophie, com todo respeito, ok? Não quero te
desrespeitar.
— Fala sério... Eu sou sua noiva, bebecito. Não é
desrespeito me chamar de gostosa. Gosto quando fala o que
pensa. Seus elogios fazem com que eu me sinta sexy. Você sabe
como fazer com que eu me sinta desejada o tempo todo. Eu
gosto disso. É tudo recíproco. Eu sinto o mesmo por você, te
acho gostoso, cada pedacinho... Eu amo seu corpo, amo tudo em
você.
— Qual parte do meu corpo você gosta mais? — pergunta
enquanto caminhamos para sair. Eu paro antes de chegar na
porta e tento pensar.
— Essa é uma pergunta muito difícil. Não acho que posso
citar apenas uma. Eu amo muito sua boca, amo seu peitoral e o
V em sua barriga, amo seu pau. Seu pau é realmente lindo,
perfeito... — Henrico ri. — Acho que amo primeiramente o seu
pau.
— Eu amo a sua vagina.
— Sem vagina, caro noivo.
— Eu acho boceta algo muito chulo, Sophie. Não consegui
pensar ainda em outra palavra para substituir vagina — explica
com seu jeitinho sério de ser. — Pensarei em algo.
— Eu aceito vagina, por enquanto. Você dizendo vagina é
sexy sem ser vulgar — comento, rindo. — Qual parte do meu
corpo mais gosta?
— Suas mãos.
— Sério?
— Sim. Desde pequeno. — Eu jurava que vinha algo
safado. — Além da minha mãe, minha avó e meu pai Lucca, seu
toque era o único que me fazia bem. Eu gostava de sentir suas
mãos em mim e gostava de como eu me tornava corajoso
quando você estava de mãos dadas comigo. — Perfeito. —
Sexualmente falando, eu gosto dos seus seios, do seu clitóris
com piercing, gosto da sua bunda, gosto de segurar a sua
cintura, beijar a sua boca e de você fazendo sexo oral em mim...
Gosto de você inteira. Não tenho como escolher. Pensei que
pudesse fazer uma escolha, mas não posso.
— Meu clitóris com piercing. — Sorrio. — Você gosta
mesmo, não é?
— Muito.
— Eu desistiria de ir para o sítio...
— Eu não. Seu pai está nos esperando. Ele sabe que
ficamos confortáveis. Vão imaginar que ficamos para transar. —
Henrico sempre pensa à frente.
Seguimos para o sítio, e quando chegamos, encontro uma
discussão acalorada entre Samuel, Hadassa e meu pai.
— Eu acho que você é gay e ponto final! — Hadassa diz a
Samuca. Henrico e eu nos aproximamos, porque isso parece
imperdível.
— Eu poderia discutir, usar os mais diversos tipos de
argumentos, mas apenas vou deixar que siga dizendo e
acreditando que sou gay. Não me importo — Samuel a responde,
rindo.
— Samuel, te aceitaremos se for gay. Não há preconceitos
em nossa família — meu pai afirma, se divertindo com a
situação.
— Ele foge de sexo como o diabo foge da cruz! —
Hadassa o entrega.
— Eu só não quero transar com você, simples assim. Mas
não fique achando que há algo errado. É só que sexo é muito
íntimo, e a possibilidade de eu me apegar a você é grande — ele
explica a ela e se volta para o meu pai. — Tio Victor, essa garota
é tipo minha versão feminina, e ela mora na porra de Londres. Eu
não conseguirei ser casual com ela e curtir apenas alguns dias
de sexo. Só prefiro me resguardar. Pode não parecer, mas tenho
um coração. Sei que sou galinha, mas não quando encontro a
minha versão feminina.
— Excesso de sentimentalismo! Eu não sou assim! —
Hadassa rebate. — Você é o único solteiro nessa cidade que me
interessa.
— Por que não fazem uma aposta ou algo parecido? —
Meu pai vem com alguma ideia maléfica. — Se Samuel conseguir
fazer com que você se apaixone por ele, você ficará em São
Roque, talvez no Rio de Janeiro, já que é uma garota sofisticada
demais para viver em uma cidadezinha do interior. Caso ele não
consiga, você volta para Londres. É uma boa, hein?
— São Roque, não. Rio de Janeiro, eu amo! — Hadassa
exclama, quase empolgada, enquanto Samuel olha de uma
maneira curiosa para o meu pai, como se tivesse tentando
entendê-lo. — Tenho Louboutins que precisam ser usados...
— Eu não posso abandonar Henrico.
— Podemos nos ver aos finais de semana. — Henrico
entra na conversa. — Sophie vai cuidar de mim.
— Espera aí... Eu sou lerda ou vocês já estão contando
com a vitória de Samuel? — Hadassa pergunta.
— Se eu me propor a isso, você já pode começar a
arrumar as malas, Hadassa — Samuel informa, todo seguro de
si. Pior que ele está certo. Se ele se propor a fazê-la se
apaixonar, isso vai acontecer. Acho que é quase humanamente
impossível não se apaixonar por Samuel quando ele está
empenhado a fazer isso acontecer.
— Não sei se é uma boa ideia. Preciso pensar. A ideia do
Rio de Janeiro me anima bastante. Festas, praias, diversão...
— Quase não é fútil — Samuel debocha.
— Não sou fútil, imbecil! Acha que não posso ser
profissional? Sou formada, estou à sua frente, inclusive, pequeno
estudante de Direito. Sou fútil apenas quando quero ser. Aliás,
você nem me conhece direito. Eu posso ser mil e uma em um só
corpo e uma só mente. Posso te surpreender! — Esse foi um
tapa na cara sem usar as mãos. — Acha que se eu namorar com
você, deixarei de aproveitar a vida? Espero, de verdade, que não
pense dessa forma. Somos jovens e eu não ficarei em casa aos
sábados, assistindo série e comendo chocolate. Se eu aceitar a
proposta agora, faremos sexo?
— Não confio muito. Precisamos fazer isso no papel, com
termos e tudo mais.
— Essa família gosta mesmo de contratos e formalidades
— meu pai diz, rindo.
— Preciso da garantia de que ela não está fazendo isso só
para transar.
— Essa juventude é muito perdida — meu pai comenta.
— Estou muito confuso — meu noivo fala, apreensivo. —
Não quero nem explicação sobre o que está acontecendo. Vou
ver Théo — avisa, depositando um beijo em minha testa, e se
vai. Ele gosta mesmo de Théo. Nunca foram próximos, mas
parece que agora isso está acontecendo.
Decido ir atrás do meu irmão e de Kiara. Não encontro ele,
mas encontro-a sentada no chão, conversando com Eva.
— Fui golpeada com essa surra de beleza! — digo,
atraindo o olhar dela.
— Sophie! — Kiara fica de pé e me abraça. — Você está
linda!
— Não tanto quanto você, filhote de Dandara — brinco. —
Já disse que deveria ser modelo. — Vou cumprimentar Eva. —
Sabem do meu irmão? — Kiara dá um sorriso maquiavélico, que
indica que FODEU PRA CARALHO mesmo!
— Foi correr — ela responde. — Ele disse que precisava
se exercitar, gastar energia. Parecia tenso, coitadinho. Está tudo
bem com ele?
— Acho que sim... — respondo, percebendo que essa
garota é foda e que vai bagunçar um pouco a vida do meu irmão.
Não sei dizer se é bom ou ruim. Prefiro pensar que é bom.
— Perfeito, agora me contem sobre o que esperar de São
Roque, por favor! Preciso de um pouco de diversão, e meu irmão
vai pegar no meu pé...

Posso ficar bem em festas, desde que esteja com


abafadores de ruídos ou fone. Hoje estou com fone, escutando
uma música tranquila, que destoa completamente da música
louca que as garotas estão dançando. O som não está alto, mas
mesmo assim me incomoda um pouco, e por isso eu fico mais
afastado, apenas observando.
Observar às vezes é uma missão difícil. Não consigo
observar Sophie dançando sem que meu corpo sofra reações. É
complicado. Ela dança muito bem e parece ter o quadril solto,
algo assim. A maneira como ela se mexe me faz pensar em
coisas que não deveria e, consequentemente, meu corpo reage à
visão e aos pensamentos inapropriados. A sorte é que meu
telefone toca e me distrai. É a minha terapeuta por chamada de
vídeo.
— Olá, senhor sumido — ela me cumprimenta, sorridente.
— Oi, tia Ana.
— Encontrei com sua mãe hoje e ela me contou que há
muitas novidades. Há duas semanas não nos falamos bem,
Henrico. — Ela está me repreendendo.
— Eu sei. É que muitas coisas aconteceram e eu não tive
muito tempo para lidar com outras questões.
— Mas sabe que é importante arrumar um tempo, não
sabe?
— Sei. Não vou abandonar a terapia — afirmo.
— Então, finalmente se declarou para a sua menina mais
bonita do mundo?
— É. — Sorrio. — Ela é minha noiva. — Tia Ana abre e
fecha a boca repetidas vezes. — Quer que eu explique, não é?
— Por favor.
— Eu disse a ela que a amo, ela disse que me ama, nos
beijamos e foi muito intenso. Eu precisava de regras, e então eu
pesquisei. Meu pai me ensinou sobre bases do baseball e eu fui
seguindo a sequência de coisas que deveriam ser feitas até
transarmos. Eu pedi ela em casamento e ela disse sim.
— Uow! Sexo? Calma, sinto que está atropelando
informações.
— Não estou. Sophie é muito safadinha e intensa, eu acho
que sou também. Nos beijamos, mas queríamos ficar
confortáveis. Então a primeira base era beijo, a segunda beijos
mais intensos e alguns leves toques, terceira base toques mais
intensos e sexo oral, e a quarta base foi o sexo.
— Foi? Então você fez sexo?
— É, fiz ontem. E quero fazer agora, porém Sophie está
ocupada. Iríamos passar a tarde fazendo sexo, mas o pai dela
chegou e só faremos mais tarde.
— Oh, meu Deus! — Ela está rindo muito agora. — Eu
amo você, Henrico Davi!
— Por que eu fiz sexo?
— Porque você é extremamente engraçado e sincero.
Tenho outros pacientes autistas, mas você é o mais sincero de
todos. Deve estar divertida a relação de vocês com toda essa
sinceridade. Me conte, como Sophie é sendo sua namorada?
Continuam amigos?
— Sim, ela é a minha melhor amiga. A diferença é que
agora eu posso beijá-la na boca e fazer sexo. — Volto o olhar
para Sophie e percebo que ela está dando uma espécie de show
particular para mim. Ela está olhando diretamente para mim,
enquanto remexe seu corpo de uma maneira sensual.
— Ei, conte-me como ela é como namorada.
— Sophie é intensa, carinhosa, em alguns momentos
sente medo, como eu sinto. Em um momento ela está muito
delicada, em outro está mais como uma mulher ousada; oscila
entre ser muito corajosa e tremer de medo, mas a coragem
sempre vence. Ela entende tudo sobre mim, até os meus olhares,
e respeita minhas limitações. Gosta de quando eu roubo o
controle para mim, em todas as situações. Além disso, ela me faz
ir além. Sophie me motiva, me incentiva, me provoca, me
desafia... ela é a menina mais bonita do mundo e a mulher mais
gostosa.
— Uow! — Ana exclama, com lágrimas nos olhos.
— Desculpa. Eu estava olhando para ela e saiu. Isso é
íntimo, eu não deveria ter dito.
— Você está muito bem, Henrico! Estou tão orgulhosa!
Estamos juntos desde que era apenas um menino, são muitos
anos acompanhando sua evolução, mas a de agora é, sem
dúvidas, a maior de todas. Para um garoto que tinha certeza de
que nunca iria namorar, que era repleto de inseguranças e
curiosidades, você foi longe demais, e agora eu entendo o motivo
pelo qual Paula está tão radiante. Conversar com você me
deixou mais tranquila. Estava preocupada com o afastamento.
Não se esqueça, precisamos ter ao menos dois encontros
semanais, mesmo que virtualmente, ok?
— Tudo bem. Vou reorganizar a rotina e acrescentar os
dias para a terapia. Agora vou desligar, porque quero ir pra casa.
Até logo, tia Ana.
— Até logo, meu amor. Estou muito feliz por ter falado com
você. — Encerro a chamada de vídeo e respiro fundo, vendo
Sophie visivelmente me provocar.
Estamos aqui por um bom período. Acho que podemos ir
embora.
Fico de pé e caminho até ela. Enquanto vou me
aproximando, o sorriso vai crescendo em seu rosto. Ela é muito
bonita.
— Bebecito!
— Sophie, podemos ir embora, para transar? — Samuel
cospe a bebida longe e Hadassa começa a rir. — Me desculpe
por isso, Sophie. Foi sem querer.
— Ok. É só Samuel e Hadassa, felizmente. Vamos
embora transar, Henrico Davi! Só não faça esse convite na frente
do meu pai, e nos manteremos a salvo! — Sophie fala, se
jogando em meus braços.
— Chamar para assistir um filme seria uma boa — Samuel
aconselha, rindo.
— Eu não quero assistir um filme. Chamei Sophie para
fazer isso e não para assistir algo. Não gosto de mentir. Não
quero ligar a TV. Eu só disse transar, porque... não sei explicar.
Saiu quando olhei para Sophie. Foi inapropriado e desrespeitoso.
— Só vamos! — Sophie exclama, empolgada. — Vamos
nos despedir dos meus pais. Diga que está com dor de cabeça,
ok?
— Eu não estou.
— Mas finja que está, só dessa vez. Não podemos dizer
que estamos indo transar — ela explica.
— Ok. Estou com dor de cabeça. Vamos nos despedir. Eu
posso mentir uma vez, para transar.
— Sophie, na verdade, eu não sei como transar com você
na segunda vez. Há questões em minha mente agora — Henrico
confessa, enquanto caminhamos para casa. Por sorte, ele mentiu
bem para o meu pai, não vacilou em qualquer palavra.
— Me explique.
— Nós vamos entrar arrancando as roupas? Acho isso um
pouco estranho, estamos no início da nossa relação sexual e não
tivemos preliminares hoje. Foi um erro chamá-la especificamente
para transar. Eu não sei se vou conseguir chegar em casa já
tendo uma atitude sexual. Acho que precisamos criar um clima,
como ontem. Seria diferente se já estivéssemos tendo beijos
quentes na rua. Aí chegaríamos em casa um pouco mais
desesperados, afoitos. — Ele pensa nos mínimos detalhes
sempre.
— Ei, sei o que fazer... — digo, sorridente, e apresso o
passo para chegar logo em casa.
Henrico me segue, completamente apreensivo até
chegarmos. Eu juro que queria ter o poder de ler pensamentos,
só para saber o que se passa em sua mente agora. Certamente,
a imaginação está fluindo com força total. Meu garoto além do
azul possui uma imaginação bastante fértil.
Ele fica visivelmente preocupado quando puxo uma
cadeira e o faço se sentar.
— O que é isso? — pergunta.
— Eu reparei que você gosta de me ver dançar —
comento, pegando meu celular, para escolher uma música.
— Você dança muito bem, Sophie. Porém, me incomoda
vê-la dançar, porque tenho reações em locais inapropriados.
— Bom, ao menos agora você está seguro, em um lugar
muito apropriado. — Sorrio. — Você cuidou de mim na noite
passada, agora irei retribuir todos os cuidados, bebecito.
— Sophie, sinceramente, acho que estamos no clima já.
— Quero rir, mas não faço. Por algum motivo que desconheço,
estou corajosa para seguir em frente com o meu plano. Acho que
tornou-se um fetiche dançar para Henrico, desde que o vi me
olhando de uma maneira faminta mais cedo. O olhar dele remetia
à luxúria e muitos outros pecados carnais. É extremamente
quente ver o desejo brilhando através de seus olhos expressivos.
Henrico sempre faz com que eu me sinta a mulher mais sexy e
quente do mundo. Quero ver como será entre quatro paredes,
quando estamos apenas nós dois. Com plateia, ele apenas podia
olhar, e agora? Será que ele vai reagir ou ficará apenas sendo
um espectador até o final da dança?
Deixando de lado a timidez que, de repente, quer surgir,
tomo um gole de coragem e aperto o play. Logo nos primeiros
segundos da música, penso que serei eu a desistir dessa dança.
Era mais seguro dançar com plateia, definitivamente. O olhar
dele... chega a intimidar. É muito intenso e avaliativo, cru.
Henrico é sincero até no olhar, e uma pobre mortal como eu fica
desconcertada diante disso.
Retiro meu tênis, minhas meias e deixo meu corpo seguir
o ritmo da música. Sempre fui muito apaixonada por dança, por
isso, desde pequena estive nos mais diversos tipos de aulas de
dança possíveis. Desde jazz à dança do ventre. Minha cintura é
muito soltinha, meu corpo inteiro possui uma leveza natural para
a dança. Meu pai costumava dizer que flutuo quando estou
dançando, e isso parece fazer sentido.
Retiro minha camisa, ficando apenas de sutiã e com a saia
de moletom. Os olhos de Henrico se fixam em meus seios. Ele
parece idolatrá-los.
— Sophie, é muito difícil ser seu namorado. — Ele não me
olha nos olhos enquanto diz sua típica frase. Quase posso
afirmar que ele está salivando para ter seus lábios em meus
seios, e isso me faz ir além. Deslizo minha saia, deixando que ela
caia ao chão, e novamente o olhar dele segue meus atos. É tão
incrível vê-lo afetado, que mal sou capaz de respirar agora. —
Uau, Sophie!!!!!
— Gosta do que vê?
— Você é a menina mais bonita e mais gostosa do mundo.
— E se eu tirar todo o restante? — pergunto, levando as
mãos até meu sutiã e o abrindo.
— UAU!!! — Isso é quase infantil, porém, fofo de uma
maneira que não consigo explicar. Eu sou muito louca nesse
jeitinho especial que só ele tem. — Você vai dançar nua?
— Quer?
— Quero — confirma.
Retiro minha calcinha, um pouco desajeitada pelo
nervosismo, mas tudo vale a pena quando o olhar dele corre por
todo meu corpo, incendiando o que já estava em chamas. Não há
mais dança. Me aproximo, sentando-me sobre ele, e o puxo para
um beijo faminto.
Dois insanos, desesperados, loucos... como se fôssemos
o casal sexo selvagem, com anos de prática. Perfeito, até a
cadeira tombar para trás e cairmos juntos com ela. Não nos
machucamos, e tampouco nos importamos com qualquer merda
que não seja relacionado a sexo. Simplesmente nos
desvencilhamos da cadeira e pairamos sobre o tapete.
Desesperada, retiro a camisa de Henrico, enquanto ele
chuta o tênis e as meias para longe. É engraçado nosso
desespero para deixá-lo nu e, quando a magia acontece, sou eu
quem digo UAU bem exageradamente ao vê-lo completamente
duro...
— Senhor da glória!
— Sophie, eu não acho que essa posição seja apropriada
para a nossa segunda vez. Eu preciso estar no controle agora,
até você... até seu corpo ter se acostumado mais com o meu...
— Ai, meu Deus! Tem ideia do quanto eu amo você e o
quanto amo o seu jeitinho? Nada, ninguém, se compara a você!
É perfeito de todas as maneiras, bebecito. Você é mesmo
diferente, porque... porque você é tudo de melhor que existe no
mundo.
— Sophie, você é mesmo apaixonada por mim — ele fala,
sorrindo.
— Muito, do tamanho do Universo e além dele.
— Eu também sou apaixonado por você, Sophie. Eu te
amo com todas as forças que possuo. — Aqui estou eu,
chorando mais uma vez repentinamente. — Eu acho que posso
ser pai um dia.
— Quê?
— Eu acho que posso fazer tudo, se for com você. Eu
posso tudo, Sophie.
— Sim, você pode tudo! Tudo! — Sorrio entre lágrimas,
enquanto seguro seu rosto entre as minhas mãos. — Você é a
coisa mais linda do mundo!
— Não agora, tudo bem?
— Não mesmo. Há muito a ser explorado antes de
pensarmos em filhos. Mas, só o fato de você dizer que pode
fazer isso, já significa muito, mesmo que eu nem estivesse
pensando nisso neste momento.
— É porque eu olho para você e me dá vontade de viver
todos os seus sonhos, e sei que um dia quer ter os meus filhos
— explica, olhando em meus olhos. — Eu quero dar tudo a você.
Quero ficar para sempre ao seu lado e quero que seja cem por
cento feliz, realizada.
— Você, por si só, já é a realização do maior sonho da
minha vida. Poder beijá-lo, tocá-lo, acordar ao seu lado todas as
manhãs, sentir uma parte do seu corpo dentro de mim, sentir sua
reciprocidade, a nossa conexão... Você é o meu maior sonho, a
resposta de todas as minhas orações, a realidade mais linda que
estou vivendo. Parece um clichê com excesso de romantismo,
mas que seja clichê... quem se importa? Eu respiro você, Henrico
Davi. Eu vivo você. Eu amo você.
— Sophie, posso levá-la para a cama? — pergunta e eu
balanço a cabeça positivamente.
Meu bebecito é forte e se levanta com muita facilidade, me
carregando junto, grudada ao seu corpo. É incrível a capacidade
que temos de mudar algo que está indo ser feroz, para algo doce
e delicado. Em questão de segundos, tudo fica tão romântico
quanto é possível. O mais lindo é que sei que parte dessa
mudança é apenas pensada no meu bem-estar. Ele tem medo de
me machucar, tem o cuidado incrível de pensar em todos os
mínimos detalhes. Será assim ao menos no início. Sei que há
uma fera escondida por trás das ações de bom rapaz, e sei
também que ela virá à tona em algum momento no futuro. A
intensidade dele revela um pouco do que está por vir. Mas é
nobre que ele esteja sendo um gentleman. Henrico é o meu
garoto repleto de atitudes nobres... Receber o melhor de Henrico
sempre me causará essa sensação gostosa, de ter tirado a sorte
grande na vida.
Ele me deita cuidadosamente em nossa cama e cobre
meu corpo com o seu. Eu ofego, não por ter sua ereção grudada
contra a minha intimidade, mas pela maneira como ele está me
olhando. Ele me faz perder o fôlego e me emociona, quando tudo
que não quero é ficar emocionada. Quando eu iria imaginar que
poderia existir algo tão forte como isso? Nem em meus melhores
sonhos. Imaginava algo bonito, mas não imaginava algo tão
arrebatador e profundo. Insuperável.
Sua boca desliza para a minha e poderosamente apaga
todos os pensamentos. Eu só me concentro agora nos toques, no
sabor, nos movimentos perfeitos que causam as mais loucas
sensações em mim. Essa coisa louca de sentir a alma sendo
preenchida tanto quanto meu corpo é algo que jamais serei
capaz de descrever.
Não há preliminares além dos beijos gostosos. Ele
simplesmente vai movendo seu corpo, e pouco a pouco vai me
invadindo. Suas mãos novamente se prendem às minhas e eu as
aperto forte, como se pudessem ser a minha salvação. A cada
centímetro de invasão, sinto-me alargando lentamente para
recebê-lo. Há um pouco de dor, porém, bem menos que ontem, e
bem mais suportável.
Pouco a pouco, até estar por completo em mim...
— Você está bem, Sophie?
— Estou ótima, bebecito. "Bem" não seria o termo
adequado para definir como me sinto agora. — Sorrio para
tranquilizá-lo.
— Posso me mover? Estou desesperado, porque é muito
gostoso estar dentro de você.
— Faça isso por nós. Mova-se como e quanto quiser. Eu
sou sua.
Eu queria ser safada... mas Henrico tem o dom de me
transformar em uma garota doce, e eu simplesmente me perco
na forma como ele faz amor comigo. Isso é amor. Não é sexo. É
amor, do mais puro que existe. Inclusive, ele está mais delicado
hoje do que estava ontem, e a percepção que tenho é de que ele
está querendo memorizar ou apreciar melhor o ato, talvez captar
com mais calma as sensações que sente e que causa.
Isso é tão Henrico! E ser tão Henrico me excita tanto, me
encoraja...
— Eu quero experimentar ir por cima... — digo
timidamente, sabendo que provavelmente ficarei mortificada no
início.
— Você quer?
— Sim. Eu quero muito. Me sinto pronta para fazer isso. —
Ele balança a cabeça positivamente e sorri. Do nada, ele nos gira
e eu pairo por cima dele, sem desconectar nossos corpos por
nem mesmo um segundo.
Minhas mãos se apoiam no peitoral de Henrico e eu tento
me adaptar à mudança de posição.
— Eu... eu sinto que você pode tocar meu útero —
confesso, rindo de nervoso. Não há nem espaço para timidez
diante do choque. Se na posição anterior eu me sentia completa,
eu não sei dizer como me sinto o montando. Além de completa...
puta merda! Estou nervosa. — Pelo amor da Santa Josefina! Eu
nem me movi e sinto que é a melhor posição de toda a vida! Ai,
meu Deus... — Henrico só me observa, completamente
silencioso. Ele parece perdido em seus próprios pensamentos,
tanto que nem se move. Suas mãos estão fixadas em minha
cintura, quentes, firmes, sem movimento algum. O trabalho sujo
será por completo meu, é notável isso. Henrico parece ter
perdido a capacidade de agir. — Você está bem?
— Uhum.
— Uhum? — questiono.
— Sim.
— Não está bom? Quer que...
— Eu não quero conversar agora, Sophie. É estranho
conversar transando. — Dito isso, ele faz suas mãos se moverem
quando me puxa para um beijo selvagem. Um beijo que faz o
fogo acender de uma só vez e espanta o choque para o inferno.
Meu corpo, repleto de necessidade, se move no ritmo do
beijo. Eu não levanto e desço. Simplesmente me esfrego para
frente e para trás, deslizando pelo pau do meu namorado. Há
uma fricção que eleva meu nível de excitação e me faz querer
chorar de tanto prazer. Eu senti prazer ontem, senti prazer
minutos atrás na outra posição, mas nada se compara a isso. É
como se só agora eu estivesse sendo capaz de perceber as
maravilhas do sexo e descobrindo que não há NADA mesmo
melhor que isso. Melhora muito quando Henrico desliza as mãos
pela minha bunda e passa a forçar os movimentos enquanto a
aperta forte. Por um segundo, quero que ele me encha de tapas,
mas acho que seria muito assustador pedir por isso logo agora.
Ele precisa estar mais confortável sobre a coisa de me causar
dor. Não ter tapas não diminui a maravilhosa sensação.
Me encorajo e afasto os nossos lábios. Apoio minhas
mãos em seu peitoral e, o observando, faço uma espécie de
dança sobre meu noivo. Remexo meu quadril, como se estivesse
dançando uma melodia sensual, e isso nos faz gemer juntos.
Meu orgasmo se constrói e eu esqueço do pudor, solto sons
desesperados, enquanto deixo o tesão falar por mim. Quanto
mais gemidos dou, mais forte Henrico aperta minha bunda.
— Porra, Sophie! — exclama com um tom diferente,
trazendo uma das suas mãos até meu pescoço, na tentativa de
conter meus movimentos. Isso apenas faz meu corpo explodir em
milhares de partículas, e é sem dúvidas a sensação mais intensa
que já tive até agora. Parece que encontrei a minha posição na
vida, mesmo que eu só tenha experimentado duas. Até perco as
forças dos meus braços e caio sobre meu noivo. — Uau, Sophie!
— Uauuuu... — sussurro, querendo chorar,
completamente mole. — Eu quero fazer isso todos os dias.
— Eu também quero! Podemos continuar? — Uauuuu,
digo eu mesma!!! Tudo bem que ele não gozou, mas eu me sinto
morta. Porém, foda-se! Eu vou tirar forças das profundezas e vou
satisfazer o meu noivo gostosão. Não é sacrifício algum ter esse
homem enterrado em mim!
— Como você quer agora?
— Quero você de quatro. Por favor, Sophie. Eu preciso de
você de quatro. — Ele precisa... ele não quer. Ele PRECISA.
Me pego saindo de cima dele e deitando de bruços.
Respiro fundo e me movo, posicionando-me da forma como ele
quer.
— Puta merda, Sophie! — Eu o amo falando palavrões,
mesmo que sejam leves, como o "puta merda". — Você é muito
gostosa nessa posição.
— Só vem, então... Bem forte... ok?
— Ok. Eu preciso aprender, porque é outro ângulo para
encaixar... — Eu vou do céu ao inferno enquanto ele desliza seu
membro por toda minha intimidade, tentando se encaixar em
mim. As cobertas embaixo de mim sofrem com o meu aperto
desesperado, e eu praticamente grito quando Henrico me
penetra de uma só vez. — Uau!
— Nossa Senhora da Josefina!!!!!! — choramingo quando
ele começa a se mover forte, levando a sério o que eu disse
sobre vir bem forte.
Bem forte mesmo.
— Meu Deus, Henrico Davi!!!!!!
— Sophie... eu vou gozar muito rápido nessa posição. Eu
gosto e não gosto dela.
— Ok, se quiser me dar uns tapas, fique à vontade. — Eu
vou gozar... e ele nada... isso é injusto! Essa posição é... Ok, eu
ainda prefiro estar por cima, mas essa está em segundo lugar.
— Não vou te bater.
— Tapa de amor, na minha bunda... Pode puxar meus
cabelos, pode... Ai, meu Deus... só faz tudo! — Ele não faz o que
eu pedi, mas, em compensação, toma um ritmo muito violento, e
eu me sinto na minha primeira grande foda. Certamente, minha
cintura ficará marcada. As mãos dele estão me apertando tão
fortemente agora... Mordo o travesseiro diante de mim e sinto
lágrimas dançando em meus olhos, num misto de dor, prazer e
gratidão. O mais incrível é sentir o pau de Henrico em toda sua
glória, anunciando que está prestes a explodir. É como se ele
crescesse e pulsasse mais forte dentro de mim. Meu corpo se
desfaz segundos antes e eu não consigo me manter de quatro.
Caio de bruços, fazendo com que Henrico solte a minha cintura,
e recebo as arremetidas desesperadas até ele gozar.
Insano!
Alucinante!
Épico!
Como se tivesse me agradecendo, recebo dezenas de
beijos em minhas costas, que me fazem chorar e sorrir.
Quando Henrico se afasta, deitando-se ao meu lado, eu
me viro de lado, para encará-lo.
— Você está bem?
— Eu estou muito bem, e você? — pergunto.
— Não tenho palavras. Obrigado, Sophie — fala, me
puxando para os seus braços. Ele me agradece por fazer sexo
com ele... Eu não entendo o sentido dele fazer isso, mas sou eu
quem deveria agradecer, de joelhos.
Não digo nada. Se ele quer me agradecer, está tudo bem.
Eu só quero ficar assim, nos braços dele, ouvindo as batidas
fortes de seu coração, recebendo carinho em meus cabelos, pelo
resto dos meus dias.
— As pessoas normais pensam que autistas não podem
fazer sexo. A minha terapeuta sabia que eu poderia fazer, mas
acho que ela tinha uma outra perspectiva. Meus pais sabiam e
me incentivavam a fazer, mas eu também acho que eles tinham
uma outra perspectiva. Acho que todos eles imaginavam que eu
fazendo sexo seria muito diferente, que talvez não seria ativo
demais, teria dificuldades em me conectar intimamente ou... não
sei explicar, Sophie. Mas sinto que todos acreditavam que seria
diferente, porque eu também acreditava nisso.
— Você é uma pessoa normal.
— Odeio toques, odeio sons, ruídos, não consigo olhar
nos olhos das pessoas, não consigo me abrir com muita
facilidade. Sei que o sexo exige todas essas ações que são
consideradas simples e comuns para as demais pessoas. Eu
faço parte de um grupo de pessoas que são diferentes, que
possuem suas particularidades, sou atípico. Sempre foi muito
difícil lidar com o fato de que eu era diferente, que eu me
afastava da normalidade da maioria das pessoas. Sempre vi isso
como algo muito ruim.
— Eu vou completar o que você quer dizer. — Sorrio. —
Você descobriu que ser diferente é incrível, principalmente
durante o sexo.
— Eu sempre senti muito mais que as demais pessoas,
sempre tive um nível de intensidade elevado, incomum. Descobri
que no sexo todas as minhas diferenças parecem ser muito boas.
Porém... — Ele fica silencioso.
— Porém?
— Porém, tudo seria completamente diferente se não
fosse com você. Eu sempre aceitei seus toques, sempre te olhei
nos olhos, sempre gostei de ouvir sua voz, suas gargalhadas,
sempre pude ser sincero. Por mais que eu guardasse dentro de
mim que sentia amor por você, sempre fui aberto... apenas com
você. Só você. Eu seria um fracassado se não tivesse você,
Sophie.
— Você nunca seria um fracassado, Henrico. Nunca.
— Seria — afirma. — Eu posso dizer isso com toda a
certeza que tenho dentro de mim. Eu seria um fracassado. Mas
você fez de mim um homem em potencial. Você descobriu um
Henrico que eu nem mesmo sabia que poderia existir, mesmo
com todas as diferenças.
— Apesar de todas as diferenças — corrijo meu garoto
falador. Henrico nunca foi tão falante como tem sido nos últimos
dias. Incomum o bastante, como se quisesse pôr para fora tudo o
que sempre guardou dentro de si.
— Você é a garota mais bonita do mundo, Sophie, e é a
mais importante também. Você é o motivo!
— O motivo? — Sorrio. — Isso foi muito tio Lucca. Eu amo
ser o seu motivo.
— Eu amo que seja. Agora preciso tomar banho e ficar
sozinho — fala, se afastando e ficando de pé. Eu sou uma idiota
apaixonada, que ama até esses rompantes que ele dá.
— Oi? Isso é sério?
— Sophie, eu preciso pensar em muitas questões.
— Nada disso...
— Sophie, é sério — avisa, entrando no banheiro.
— Ah, caralho, Henrico Davi! Nem fodendo! — Me levanto
e vou atrás dele. Uma ova que ele vai pensar depois de ter me
tirado do sítio para fazer sexo.
Entro embaixo da ducha com ele e o ouço dar a
gargalhada mais espetacular que já o vi dar.
— Eu peguei você, Sophie!
— Você está muito pegador, Henrico Davi! — brinco,
enquanto ele traz suas mãos em meu rosto e esfrega o nariz no
meu. — Eu te amo além da vida! Espero que um dia você
consiga se ver como eu te vejo!
— Eu te amo ao infinito e além!
Seria abusivo e desrespeitoso tocar em Sophie enquanto
ela está dormindo, inconsciente, mas eu gostaria de tocá-la
agora, porque nunca vi nada mais perfeito que ela dormindo,
completamente nua. Sinto uma vontade momentânea de pegar
uma tela e desenhá-la em todos os mínimos detalhes, porém,
também seria desrespeitoso fazer isso sem ter um
consentimento.
Sou privilegiado, talvez mais do que a maioria dos
homens. Sophie é um peso forte, uma mulher com um potencial
imenso e parece ter roubado toda a beleza do mundo para si. Ela
é perfeita fisicamente, não que exista um padrão de perfeição.
Ela é perfeita para mim. Em todas as curvas, todos os detalhes,
cada parte de si.
Ela tem pés lindos, pernas incríveis com coxas grossas,
uma bunda generosa de tamanho, quadril levemente largo,
contrastando com a cintura fina, seios levemente fartos e
totalmente proporcionais ao corpo, uma boca perfeita, olhos
grandes e expressivos, o nariz arrebitado como o da minha tia
Melinda, as mãos delicadas... Eu amo quando ela pinta as unhas
de vermelho. E há também todas as tatuagens. Eu não saberia
dizer quantas ela tem, mas todas elas são muito bonitas e
ficaram perfeitas no corpo da minha garota. A que eu mais gosto
é uma que ela tem acima do quadril, do lado direito. Ela é
sensual, porque é bem baixa, bem próxima ao caminho que me
leva até a vagina de Sophie. Está escrito em espanhol É só uma
questão de tempo. Eu gostaria de saber o significado dessa e de
todas as demais tatuagens. Sempre apreciei, mas nunca
questionei sobre significados. De repente, quero desvendar
Sophie por completo. Essa vontade surge do nada, mas com um
desejo forte. Me pergunto se é possível desvendar uma pessoa
por completo...
Observá-la nua na cama me deixa duro, como se eu não
tivesse feito sexo duas vezes na noite passada. Pensar dessa
forma quase me faz rir. Não acho que a quantidade de sexo seja
capaz de interferir na intensidade do desejo que sinto.
Poderíamos ter passado a noite transando e, ainda assim, eu
sentiria desejo ao acordar e vê-la desprovida de roupas.
Nua, sem maquiagem, com os cabelos bagunçados, os
lábios levemente avermelhados devido à quantidade de beijos
e...
— Merda! — Há marcas dos meus dedos em sua cintura,
eu a machuquei. Talvez tenha sido rude demais. Não sei explicar
a transformação que sofro quando estou dentro de Sophie. Me
dá uma vontade absurda de ser rude, de pegá-la forte, de ser
impiedoso. Isso deve ser errado, preciso conversar com o meu
pai. É como se eu possuísse um instinto selvagem ou algo
parecido com isso.
Acho que Sophie possui a mesma coisa. Eu perdi as
contas de quantas vezes ela pediu que eu batesse nela e não sei
se seria correto, embora eu já tenha visto cenas assim em filmes
educativos. Ela queria que eu batesse em sua bunda, que eu
puxasse os seus cabelos, que a fodesse com descontrole.
Porém, se com autocontrole eu fui capaz de marcá-la, não quero
imaginar como seria se eu deixasse o tesão guiar minhas ações.
Sou forte, teria que saber dosar a minha força para dar o que ela
pediu, e temo não conseguir.
Respiro fundo e me levanto. Sigo diretamente para o
banheiro e tento conter as reações, tento mudar meus
pensamentos de direção, mas eles sempre acabam na cama,
onde Sophie está. Após longos minutos, me enxugo, visto uma
roupa e decido que preciso tentar ir até a padaria, comprar
algumas coisas para o café da manhã de Sophie.
Um erro.
Coisas que parecem ser simples para a maioria das
pessoas, são complicadas para mim, extremamente. Tenho
conseguido me comunicar melhor, mas apenas com pessoas que
conheço. Por algum motivo, a rua está um pouco movimentada, e
eu não estava esperando por isso. Eu travo a cada “bom dia” que
recebo dos vizinhos. Não consigo respondê-los, mesmo que eles
pareçam receptivos e acolhedores o bastante. É um bloqueio que
não consigo vencer. No mínimo, serei conhecido como o vizinho
mal-educado.
Pensar em Sophie me motiva a seguir rumo à padaria,
mas, quando paro diante dela, meus pés travam e eu começo a
ficar altamente nervoso. Parece que recebo de uma só vez toda
sobrecarga sensorial que me afeta. De repente, há muitas
pessoas na rua, muitos ruídos, risadas... Minha cabeça começa a
doer, minha visão começa a ficar turva e eu esfrego meus olhos.
Situações como essa me fazem pensar sempre no pior, sempre
na incapacidade. Estou entrando em pânico quando duas mãos
tocam meu rosto.
— Estou aqui. Respire — Sophie diz. Eu volto a respirar
ao ouvir sua voz e sentir seu toque. — Você veio comprar coisas
para o café da manhã? — ela pergunta em um tom baixo e
repleto de docilidade.
— Sim.
— Vamos comprar! Sabe, estou faminta depois de todas
as atividades da noite passada — comenta, sorridente, soltando
meu rosto e pegando a minha mão. — Eu comeria dois pães de
sal com mortadela defumada e tomaria um big copo de café com
leite. E você? — Fico um tempo fazendo um exercício de
respiração, antes de conseguir respondê-la. Sophie me salvou
mais uma vez. Eu não sei dizer como os próximos minutos
seriam se ela não surgisse diante de mim.
— Isso parece bom — respondo e ela começa a caminhar
para dentro da padaria, me levando junto.
Diferente de mim, Sophie sorri para todos e pede uma
série de coisas que quer comer. Eu me sinto um idiota e,
infelizmente, esse sentimento é mais comum do que todos
imaginam.
— Ei, amor, eu esqueci o dinheiro. Pode ir no caixa pagar?
— pede, piscando os cílios, e eu pego o papel em suas mãos
para pagar. Eu só me dou conta de que fui até o caixa sozinho e
paguei, quando saímos da padaria e Sophie começa a rir.
— O que foi?
— Nada, bebecito.
— Não estou feliz, Sophie. Eu queria surpreendê-la no
café da manhã e entrei em pânico — confesso.
— Eu vi isso claramente, Henrico Davi, mas você venceu
algo sem perceber. Quando eu pedi para ir pagar, você
simplesmente foi, pagou, sem pânico, sem medo. Eu não quero
que foque nas dificuldades, quero que foque nos avanços. Está
visível em seu rosto que chegará em casa e ficará isolado por um
tempo, até conseguir assimilar que teve uma pequena crise na
rua. Mas não vale a pena, Henrico. É um desperdício de tempo
retroceder. O que aconteceu é uma limitação sua e você não
deve se culpar ou se sentir mal por não conseguir vencê-la. Faz
parte de quem você é e isso não o inferioriza. É normal ter
limitações, não apenas para autistas, mas para todos os seres
humanos. Todo mundo tem ao menos uma coisa que sente medo
pra caralho, que aterroriza. Por exemplo, há muitas pessoas que
não entram em um elevador, outras que não suportam qualquer
tipo de altura, outras que têm medo de entrar no mar ou até
mesmo em piscinas, pessoas que odeiam escadas rolantes.
Você as julgaria mal?
— Não, Sophie... — respondo, a seguindo para dentro de
casa.
— Então não se julgue mal por ter dificuldade em
socializar. Isso te acompanha há anos e, me desculpe dizer isso,
talvez nem sua terapeuta ou os seus pais apoiariam o que vou
dizer, mas você não é obrigado a enfrentar tudo e a vencer todas
as suas limitações. Ninguém é. Não é obrigado a ir para uma
boate cheia de luzes de led e música alta, não é obrigado a olhar
nos olhos das pessoas, não é obrigado a se sentir bem em meio
a uma multidão. Acho importante essa coisa de enfrentar os
medos, mas nem tudo é necessário, Henrico. Você precisa
aprender a aceitar suas limitações, a respeitá-las e a ficar bem
com isso, sem fazer comparações com as demais pessoas. Por
exemplo, você ama mergulhar, mas tem pessoas que sentem
pânico só de imaginar. Determinadas questões dispensam
comparações.
— Você tem medo de algo?
— Tenho medo de tempestades quando estou sozinha,
tenho medo de mergulhar em lugares muito profundos, por isso
sempre pulo da lancha agarrada a um "macarrão", quando
vamos para ilhas diversas, tenho um pouco de pânico de altura.
Quando vou ao escritório dos nossos pais, sinto um pouco de
nervoso de chegar na janela e olhar lá para baixo. Como a minha
mãe, eu tenho medo de dirigir sozinha à noite, em estradas.
Consigo enfrentar agulhas para fazer tatuagens, mas tenho
pânico de pensar em fazer cirurgias. Morro de medo de dentista.
Eu ficaria muitas horas te dizendo todos os meus medos. —
Sophie sorri. — E eu tenho um medo que nunca contei a
ninguém, mas que combina com algo seu...
— O quê?
— Eu me sinto claustrofóbica em lugares fechados e com
aglomeração de pessoas. Os sons e as luzes não me
incomodam, mas ver uma grande quantidade de pessoas me
deixa sem ar, minha pressão até mesmo cai. Confesso que tentei
vencer isso algumas vezes, porque eu me sentia diferente das
minhas amigas, e muita das vezes me esforçava para me
encaixar. Mas não era bem-sucedida. Minhas aventuras por
boates não duravam tempo o bastante. Meu pai ficava puto
algumas vezes, porque ele me deixava na boate, voltava para
casa, e antes mesmo de estacionar, tinha que voltar para me
buscar.
— Mas você enfrenta seus medos — argumento, a
observando.
— Nem todos, Henrico. É como eu te disse, alguns medos
são mais fáceis de ser enfrentados, outros não. E não entendo o
meu medo de altura. É difícil chegar na janela do escritório, mas
é fácil voar em um jatinho. Eu amo voar. Enfim, Henrico Davi,
espero que tenha conseguido te distrair um pouco com todas as
minhas baboseiras e espero que tenha entendido que está tudo
bem você sentir pânico de enfrentar determinadas situações.
Você é um homão do caralho, e ter limitações não diminui isso.
Ok... eu falei muito e muito rápido... — ela diz, bebendo um copo
de água muito rapidamente. — Eu só... só tenho medo.
— Medo?
— Medo que você volte a se sentir inferior. Essa
perspectiva me deixa um pouco desesperada — confessa. — E
aí eu começo uma luta louca para tentar fazer com que você
consiga enxergar que é dono de um potencial absurdo e... — Ela
está quase chorando e eu odeio isso. — Me desculpe por,
provavelmente, tê-lo deixado tonto de tanto falar. Só quis impedir
que se isolasse. Por mais que eu compreenda que precisa de
espaço, não estou pronta para me afastar após o que tivemos
nas duas últimas noites. Eu quero você, preciso de você. Você é
incrível pra caralho, e meu corpo precisa do seu. — Uau!
— O que tudo isso significa? Pode ser mais direta?
— Significa que precisamos comer logo e voltar para a
cama. Eu quero transar com você a manhã inteira. — Uau! Não
tenho uma resposta para dar à Sophie. Ela realmente foi direta.
— Estou um pouco viciada em sexo. Espero que não seja um
problema.
— Eu acredito que não é um problema, mas talvez seja.
Não sei. Estou um pouco confuso agora — confesso, ganhando
um lindo sorriso dela. — Isso é muito difícil, Sophie.
— Sexo?
— Ser seu namorado. Não está sentindo dor? — pergunto,
receoso.
— Você é meu noivo e não estou sentindo nem mesmo
um pouco de dor — responde, se aproximando e enfiando as
mãos por dentro da minha camisa. Sinto meu corpo inteiro se
arrepiar quando ela passa as unhas pelo meu peitoral. — Aliás,
eu amaria sentir um pouco de dor.
— Como assim? Pode explicar?
— Uns tapas, algo mais bruto, eu quero experimentar
isso... — Engulo em seco, sem saber como responder isso.
Sophie torna tudo mais difícil, de verdade. Acabamos de iniciar
nossa vida sexual e ela está me pedindo para ser bruto.
— Sophie, não sei se é correto isso que está me pedindo.
Preciso pensar, ok?
— Ok. Você já é um pouco selvagem, bebecito. Só está se
controlando. Mas eu sempre vou esperar por você. Sempre vale
a pena esperar. Quando resolver ser bruto comigo, eu serei uma
devassa com você. — Abro a boca para respondê-la e fecho logo
em seguida. Sophie está falando coisas sujas e meu corpo inteiro
está reagindo.
O telefone vibrando em meu bolso me faz afastá-la. O
nome do meu pai está piscando na tela, em uma chamada de
vídeo, e eu o atendo prontamente.
— Oi, pai.
— Oi, meu garoto! Como está?
— Confuso — confesso, me afastando ainda mais de
Sophie, seguindo rumo ao escritório.
— O que há?
— Eu temo que Sophie vá ouvir. Depois eu falo. — Ele
sorri e aceita minha resposta.
— Como quiser. Bom, tenho notícias que talvez não sejam
tão boas. Mathew e Joseph indicaram os melhores profissionais
aqui do Brasil, que fazem construções com a técnica Wood
Frame. São profissionais muito bons, renomados. Mathew me
enviou vários projetos executados por eles. A questão é que,
para se reunir com eles, você terá que vir ao Rio. Eles fazem
questão de uma reunião presencial, para captarem o que de fato
você quer. A agenda deles é concorrida, e só conseguimos a
reunião porque deviam favores aos Vincenzos. Não estão se
importando com o fato da obra ser em São Roque, mas se
importam o bastante com a primeira reunião, antes de aceitar de
vez trabalhar no projeto.
— Tudo bem. Quando será a reunião?
— Aí que está o X da questão. A reunião será em dois
dias. Victor e Melinda estão vindo para o Rio no final da tarde.
Seria perfeito se pudesse vir com eles de uma vez. Estamos com
saudades. Sua mãe ficará radiante com essa surpresa.
— Eu posso levar Sophie?
— Que pergunta é essa? É lógico que pode. Fiz a ligação
já contando com a presença de Sophie — responde.
— Ok, pai. Vou falar com ela. Podemos conversar quando
eu chegar?
— Outra pergunta descabida, filho. É claro que podemos
conversar, muito, o quanto quiser e sobre o que quiser. — Isso
me causa um alívio. O teor da conversa me deixa receoso. É
sobre Sophie pedindo um pouco de ação bruta no sexo. É íntimo,
mas eu preciso do meu pai, preciso ouvir o que ele tem a me
ensinar sobre isso.
Encerro a ligação mais tranquilo. Vou até o quarto pegar
um medicamento para a dor de cabeça e retorno para a cozinha,
juntando-me à Sophie para o café da manhã.
— Sophie, a equipe de engenharia, que será responsável
pelas obras, quer se reunir comigo no Rio em dois dias. Como
seus pais estão indo embora hoje, pensei que poderíamos ir com
eles de jatinho e ficar esses dias com os meus pais. O que acha?
— Incrível!!! Vou aproveitar para fazer compras! Estou
com poucas roupas de frio. Podemos transar no seu quarto? É
um fetiche desde que fiquei molhada por você pela primeira vez.
— Você resolveu ter excesso de sinceridade, como eu? —
questiono, quase envergonhado.
— A convivência está me modificando, bebecito. É melhor
ser direta, não acha? Você sempre disse isso. Assim que
chegarmos lá, irei te contar todos os sonhos eróticos que tive
com você tendo seu quarto como cenário.
Concentro-me em comer o lanche, antes que eu coma
Sophie. É muito difícil ser namorado dela, mas é mais difícil ainda
controlar meus instintos quando ela está fazendo de tudo para
me provocar. Não sou muito bom em captar insinuações ou fazer
adivinhações, mas está evidente que Sophie está tentando testar
os meus limites. Nossa relação tem girado em torno de tensão
sexual. Talvez essa viagem tenha vindo em um bom momento.
Se ela quer me testar, precisa saber que desejo testá-la também.
Na verdade, quero testar nós dois. Quero saber até onde toda a
tensão sexual irá nos levar e o que somos capazes de fazer.
Embora eu ache que um relacionamento não deva girar em torno
de sexo, somos jovens e esperamos muito tempo para nos
entregar ao prazer. Há muito desejo reprimido, muitas
curiosidades, muito fogo, muitas descobertas. As descobertas
sempre foram muito importantes para mim e estou descobrindo o
sexo com Sophie. Desrespeitoso ou não, eu tenho fome e sede
de conhecimento.
Dessa vez não é sobre as estrelas ou sobre cálculos
matemáticos...
Silencioso e pensativo, esse é o meu noivo neste
momento. Sinto um enorme desejo de poder ter a chance de
descobrir tudo o que está se passando em sua mente agora. Um
milhão de dólares pelos pensamentos do meu garoto mais bonito
do mundo.
Por mais sério que ele esteja, apreensivo, algo me diz que
seus pensamentos são sobre sexo, e isso me faz pensar que
talvez eu esteja indo longe demais em um curto intervalo de
tempo. Acho que estou testando os limites de Henrico de um jeito
que não deveria.
O conheço tão bem, que sei que deveria ser paciente,
como fui uma vida toda. Mas acho que eu não conhecia tão bem
a mim mesma. Eu descobri que sou muito mais quente do que
imaginava ser, e descobri um desejo sexual quase absurdo, um
fogo que arde dentro de mim. Aquela expressão "cio constante"
talvez caiba a mim desde duas noites atrás. Ter perdido a
virgindade me afetou. É como se eu tivesse rompido a única
coisa que me separasse da devassidão completa. É, eu me sinto
como uma devassa, querendo sexo como uma ninfomaníaca, e
isso só começou mesmo ontem à noite, em nossa segunda vez,
quando descobri que o incômodo diminuiu significativamente e
quando tive um prazer insano. Acho que essa coisa de prazer
vicia. Estou comparando como acontece quando estou comendo
um chocolate, pois é, sou chocólatra assumida.
Quando eu como um chocolate, na primeira mordida até
fecho os meus olhos, sentindo intensamente a saciedade que o
doce me proporciona. É assim desde a primeira vez que
experimentei. O chocolate altera meu humor de uma maneira
poderosa e inexplicável. O mesmo está acontecendo com o sexo,
mas em um nível diferente. O sexo me proporciona um prazer
completamente diferente do prazer que sinto ao comer um
chocolate. Ele desperta uma fome, uma vontade louca e
inexplicável, e nada parece o suficiente. Quando a relação sexual
acaba, não há tanta saciedade, devido ao fato de Henrico ser tão
incrivelmente bom e se encaixar tão bem em mim, a ponto de eu
sentir como se não tivesse obtido o suficiente e querer mais. E eu
não sei dizer se é comum ou se acontece com todas as pessoas,
mas está acontecendo comigo. Eu gostaria de ficar um dia inteiro
com Henrico dentro de mim, e me sinto carente disso, como se
não tivesse há dias, e o fato dele ser reservado e fechado não
me ajuda muito.
Há essa coisa na nossa relação que precisa ser
trabalhada. Eu sabia que ele não seria o garoto cem por cento
grude, repleto de demonstrações afetivas. Então, quando não
estamos em um momento de intimidade, ele fica mais afastado,
fechado dentro de si. É o jeito dele ser, e eu o vejo se esforçando
para mudar isso. Eu sou a garota coração, que quer enchê-lo de
beijos, de carinho, sufocá-lo um pouco com o amor que guardei
por tanto tempo dentro de mim.
Esse afastamento comum está acontecendo agora, dentro
do jatinho, enquanto voamos para o Rio. Meus pais estão
sentados nas cadeiras da frente, enquanto eu e ele estamos nas
cadeiras de trás. Henrico está olhando pela janela, com o olhar
distante, e eu, como uma boa maníaca sexual, estou fissurada
em uma de suas mãos, que está sobre a coxa esquerda. Eu amo
as mãos dele. Os dedos compridos, as veias saltadas, tudo tão
masculino... Uma louca completa, sei disso... Mas quem se
importa? Estou basicamente descontrolada, tanto que pego a
mão dele e trago até a minha coxa.
A maneira como seu rosto vira e seu olhar se fixa em sua
própria mão depositada sobre a minha coxa, me faz morder o
lábio inferior de nervoso. Ele perde um tempo avaliando, antes de
subir o olhar e encontrar o meu.
— Sophie, seus pais estão ali na frente — ele diz baixo,
em um tom que somente eu posso ouvi-lo.
— Eles não estão vendo. Você pode me tocar, me beijar.
— Hoje você está me levando ao limite — confessa. —
Desde quando acordou está me provocando. Por que está
fazendo isso?
— Porque eu quero.
— Sophie, eu não sei como agir em situações assim.
Tenho medo de ultrapassar o limite com você. O que quer que eu
faça?
— Não me peça para dizer agora. — Sorrio
maquiavelicamente. — Você não sabe ser o meu namorado, não
é mesmo?
— É um pouco difícil.
— Me deixa ensiná-lo?
— Quer a minha sinceridade? — pergunta, me fazendo
sorrir e balançar a cabeça positivamente. Eu amo a sinceridade
dele e é tudo que eu quero. — Não confio muito, você é safada e
acho que vai me ensinar coisas desrespeitosas demais. — Ele
diz tudo isso bastante sério, com a sinceridade estampada
claramente em seu rosto. — Você parece um pouco despudorada
desde que transamos ontem à noite. No primeiro dia você
parecia uma princesa, agora estou com medo.
— O quê? Você está com medo?
— Não é bem medo, mas você tem me provocado
constantemente e não sei até onde meu autocontrole é capaz de
ir. — Interessante.
— Qual o seu medo em relação a perder o controle? —
pergunto, avaliando a situação. Não sou boba, queridos!
— Machucá-la ou parecer abusivo em algum momento.
Meu pai me ensinou a respeitar uma mulher, a tratá-la da melhor
forma, porque mulheres são princesas. — Eu não tenho estrutura
para Henrico. — Mas, desde que começamos com as bases,
algo em mim mudou, Sophie. Descobri sensações novas,
desejos novos, um tipo de adrenalina que não estava
acostumado. Eu tinha familiaridade com meu próprio corpo, me
masturbava constantemente, porém, quando há você por perto,
me tocando, é completamente diferente, parece habitar um outro
Henrico bastante irracional em mim. Um que é descontrolado,
que se excede, que provavelmente ultrapassa limites. Tenho
medo disso. Gosto de regras, de estar no controle, de me sentir
seguro, e esse outro Henrico me traz toda a insegurança que
odeio. O sexo mexeu muito comigo e não decidi se o fato de
você ser quente e safada será bom ou ruim.
— Se sentiria mais seguro se eu fosse um pouco frígida?
É só uma pergunta para eu conseguir compreendê-lo.
— Não. Eu gosto que seja receptiva e quente, mesmo que
isso me desperte alguns medos. É melhor ser muito quente a ser
fria. Sempre fui muito frio, e essa característica sempre assustou
as pessoas, as distanciava. E, mesmo que eu não goste da
proximidade das pessoas, gosto da sua proximidade e não
consigo imaginar receber sua frieza ou vê-la em uma posição
ruim, em que sempre estive. Só preciso aprender a lidar com o
seu fogo e descobrir até onde posso ir, até onde é correto ir. Você
é delicada e preciosa para mim, e o sexo é uma zona ainda
desconhecida, recém-habitada por mim. Já descobri tudo sobre o
seu corpo, mas preciso descobrir sobre os limites agora, e não
acho que pesquisas vão me ajudar.
É a coisa mais sexy do mundo debater com Henrico sobre
a nossa relação sexual. Eu acho incrível quando ele se abre
comigo, incrível poder estar por dentro dos pensamentos, das
dificuldades, dos medos, das pesquisas. É surreal acompanhá-lo
em pleno desenvolvimento. Henrico está constantemente
alimentando sua mente com informações, e isso significa que as
descobertas estão longe de acabar. Eu sinto que ele fará todos
os testes comigo, e adoro imaginar que serei sua cobaia para
testar os limites sexuais.
A questão é: os limites sexuais existem?
Talvez toda essa análise dele não seja necessária.
Henrico está acostumado com regras, mas não acho que existam
regras para o sexo entre nós dois. Eu sou o tipo de garota que
quer tudo dele entre quatro paredes, e que está disposta a dar
tudo. Na minha mente, é bem simples e descomplicado, mas na
dele isso é algo completamente complexo, porque ele enxerga as
coisas de uma maneira diferente da minha. Isso até me deixaria
frustrada se eu não fosse apaixonada pela maneira como ele
enxerga o mundo e todas as coisas. Eu acho fascinante esse
universo azul e todas as complexidades que rondam a mente de
Henrico. Acho fascinante seu modo de pensar em todos os
mínimos detalhes, avaliar tudo, sentir fome de conhecimento e
descobertas, querer sempre fazer tudo da forma correta, criar
suas próprias regras, fazer anotações. Estou curiosa para saber
como ele vai conduzir tudo isso no sexo. Mas, por enquanto,
ficarei apenas aqui, fascinada, analisando os avanços e a luta
interna sendo travada por ele.
O único problema é que tornarei as coisas um pouco
difíceis. Se é para sair da zona de conforto, Henrico precisa
saber que não é apenas a vontade dele prevalecendo e, com
todo amor que possuo, serei um pouco da pedrinha em seu
sapato. Afinal, não é apenas ele que quer e deve testar os
limites. Eu também quero e posso, mereço isso.
— Serei sua cobaia nesse teste? — pergunto, o
analisando.
— Cobaia? Essa expressão é um pouco grosseira. — Ele
é um cavalheiro. Só se transforma mesmo quando estamos nus.
— Sei que, provavelmente, conversará com tio Lucca —
comento. — Mas posso te dizer algo que quero na nossa
relação?
— Por favor, Sophie. Eu preciso saber o que quer.
— Eu quero que não haja pudor, nem mesmo um pouco.
Pode ser esse gentleman em locais públicos, irei aceitar, é quase
como um fetiche. Quem o vê todo educado, respeitoso, jamais
saberá o que você faz comigo entre quatro paredes. Isso é
instigante. — Sorrio. — Tem meu consentimento para fazer de
mim o que quiser na cama.
— Eu acho que posso fazer isso.
— Eu tenho certeza que pode. Eu disse mais cedo e direi
outra vez: queria que você se enxergasse como eu o enxergo,
Henrico Davi. Eu vejo muitas coisas em você — afirmo. — Já que
estamos discutindo sobre vontades, eu tenho algumas coisas
bem pervertidas em mente.
— Sophie, essa conversa está me dando reações
inapropriadas.
— O perigo me excita. Descobri isso hoje. Desde que me
sentei nesta poltrona, estou imaginando ter seus dedos dentro de
mim, com os meus pais bem ali na frente, podendo olhar para
trás a qualquer momento. Eu iria mascarar o tesão e sorriria para
eles, como um anjo. — Henrico engole em seco, filtrando todas
as minhas palavras. — Queria receber seus toques em público,
discretamente. Desde um toque singelo na coxa a ter sua mão
enfiada por dentro do meu vestido...
— Sophie, pare, por favor.
— Queria que me beijasse em público, porque todos os
seus beijos são intensos e me fazem pensar em sexo. — Ele
finalmente aperta minha coxa, e isso traz uma descarga de
adrenalina no mesmo instante. Meu bebecito é quente e sensível.
— Isso tudo é muito pervertido, realmente. Podemos não
falar de sexo? — pede.
— Eu quero sexo.
— Eu não sei como agir ainda, Sophie. Preciso pensar.
Você está jogando todas essas informações sobre mim quando
seus pais estão ali, na frente, e estou duro. Não sei como vou
sair desse avião sem que seus pais não notem a marca em
minha calça. Sophie, acho que essa é a vez que mais estou
falando sério, é muito difícil ser seu namorado. Você é
excessivamente safada.
— Só pra você. Deveria agradecer, bebecito.
— Eu deveria? Você está me deixando nervoso, Sophie.
Está me fazendo ter um milhão de pensamentos inapropriados e
desrespeitosos, está testando muito forte os limites que nem eu
mesmo conheço, se esqueceu que sou diferente... — Ele quase
fala alto. De repente, se levanta abruptamente e desaparece pelo
corredor, rumo ao banheiro. É a primeira vez que o vejo nervoso
comigo. Dou um sorriso em satisfação.
Ele é realmente diferente... Muito diferente mesmo.
Só sai do banheiro quando aterrissamos no Rio, e vai todo
o trajeto até a casa de tio Lucca em completo silêncio. A parte
mais engraçada fica para quando meus pais vão embora e tio
Lucca abre a porta. Henrico nem mesmo o cumprimenta,
simplesmente sai andando para dentro de casa e sobe as
escadas rumo ao quarto, deixando tia Paula boquiaberta, tio
Lucca chocado e a terapeuta dele intrigada.
— O que houve? — tia Paula pergunta enquanto tento
conter o riso.
— Sou inocente, tia Paula. Eu juro!
— Se eu não te conhecesse tão bem... — tio Lucca diz,
me abraçando.
— Eu só testei alguns limites, e Henrico está revoltado
com isso. Disse que eu esqueci que ele é diferente — explico
vagamente, indo cumprimentar a doutora Ana, que está sentada
em uma cadeira. — Quanto tempo!
— Você está ainda mais linda, Sophie. É um prazer revê-
la. — Ela sorri, radiante. — Quando soube que viriam, Lucca me
convidou para jantar com vocês, espero que não se incomode.
— De forma alguma. A senhora lida apenas com autistas
ou lida com as namoradas de autistas também? Porque, preciso
confessar, é muito difícil ser namorada de Henrico. Estou viciada
nele! Trata de vícios?

— Filho? — A voz do meu pai surge do outro lado da


porta, assim que saio do banho.
Visto uma bermuda rapidamente e a abro para recebê-lo.
Finalmente o abraço, sentindo um pouco de culpa por ter entrado
de maneira abrupta em casa.
— Me desculpe por ter entrado rápido, pai.
— Quer me contar o que aconteceu? — pergunta e eu
balanço a cabeça positivamente, fechando a porta com a chave.
Meu pai se acomoda em minha cama e eu me sento ao
lado dele. Não sei por onde começar.
— É íntimo — declaro, para que ele saiba o teor da
conversa.
— Imaginei que seria.
— Sophie... Eu... Não sei como namorar. Talvez eu saiba,
porém, sexualmente é difícil. Sophie tem me provocado, e isso
me causa reações. Agora que ficamos confortáveis, eu quero
isso o tempo todo, e Sophie também parece querer, mas ela é
ousada e quer agressão. — Meu pai abre e fecha a boca
repetidas vezes, então esfrega os olhos, demonstrando
nervosismo.
— Eu pensei que já tínhamos chegado no limite, que após
o sexo tudo ficaria mais tranquilo... — divaga, sorrindo. — Vamos
lá! Sophie quer agressão. Defina isso.
— Ela quer tapas e quer que eu seja bruto.
— Você pode dar isso a ela. Filho, algumas garotas
gostam do sexo com uma pegada mais bruta, é normal. Há
mulheres que querem ser... Bom, serei claro aqui... Costumamos
dizer "fodidas", sem muito carinho, sem muito cuidado. É normal
e bom. Você pode dar isso a ela, só precisa dosar a sua força.
Tapas de amor, como costumamos chamar, não ferem. Podem
deixar algumas marcas vermelhas, mas não machucam, causam
adrenalina. Algumas garotas sentem tanto prazer, que até
atingem o orgasmo com tapas na bunda. É tudo questão de
controlar a sua força para não machucá-la. Não é agressão, filho.
É sexo um pouco selvagem. — Enquanto ele explica, vou
memorizando as palavras.
— Sophie disse que o perigo a excita. Ela quer um pouco
de demonstrações públicas de afeto e que eu a seduza sem que
as pessoas possam perceber — digo de uma só vez. É, meu pai,
preciso de ajuda.
— Isso é interessante e comum entre os casais. Esquenta
a relação. A sensação de querer e não poder, causa sofrimento,
uma vontade de antecipar situações. Isso é válido, saudável,
comum. Só deve controlar quando, onde e como fazer isso. Todo
cuidado para não expor Sophie é pouco. Tomando cuidado, você
deve sim fazer isso, se é o que ela quer. Faz parte do pacote de
satisfação.
— Isso conta para satisfazê-la? Conta para o prazer dela?
Pai, não sei se satisfaço Sophie.
— Henrico, vocês começaram a vida sexual há 48 horas,
filho. Não acha que é cedo para achar isso? Vocês têm muito o
que descobrir ainda. Estão apenas no início. — Meu pai está
certo. É cedo para ter esse tipo de pensamento. Eu a faço gozar,
mas não sei se é o suficiente.
— Ok.
— Filho, sei que regras, pesquisas, controle, são coisas
importantes para você, mas no sexo isso é meio difícil de existir,
exceto em tipos de relacionamentos entre praticantes do BDSM.
Antes que sua curiosidade ative, essa prática não é para você,
tenho certeza absoluta em relação a isso. No seu relacionamento
com Sophie, vale tudo. Só precisa lidar com isso, deixando de
lado o que te limita. Você está pensando, calculando, e não há
necessidade. Sexo é entrega, é uma dança que aos poucos você
pega o ritmo. Só deixe fluir, sem pensar muito. Se gosta de
controle, use-o apenas para controlar sua força e esqueça-o para
todo o resto. Sophie é a sua garota e ela o quer na mesma
intensidade. Não há porque recuar ou temer, apenas deixe seus
instintos te guiarem, juntamente com o prazer.
— Ok, eu entendi, pai. Muito obrigado por isso. Me sinto
mais leve e mais confiante agora. Eu posso fazer isso.
— Claro que pode. — Ele sorri. — Agora vamos descer,
porque Sophie está torturando doutora Ana com um assunto de
vício.
— Vício?
— É, ela disse que precisa de tratamento para controlar o
vício em você. — Sorrio ao ouvir isso. Sophie é a menina mais
bonita do mundo todo!!!
E safada também.
Visto uma camisa e desço com o meu pai. Pegamos uma
conversa bizarra em andamento:
— Ele tem uma veia fodedora, com todo respeito, tia
Paula. Henrico é... Uau! Vocês jamais imaginariam, não é
mesmo? Nem eu!
— Sophie!!! Isso é íntimo! — a repreendo e ela sorri.
Muito, muito a menina mais bonita do mundo todo.
— Acho que precisamos conversar sobre algumas
tendências, fugitivo — doutora Ana diz.
Estou realmente fodido!
Eu me sento para jantar ao lado de Sophie, no mesmo
instante em que minha irmã surge com o namorado. Eles beijam
todos, mas paralisam quando chegam perto de mim. Eu não sei
como agir, então ofereço a minha mão para Thomaz e recebo um
beijo molhado de Yaya. Não me sinto confortável, embora esteja
me esforçando.
— Sophie, é realmente triste te olhar com outros olhos —
meu pai comenta, sentando-se. — É difícil ser seu tio, dindo e
sogro ao mesmo tempo. 3 em 1.
— Por que é difícil? — Sophie pergunta, rindo, e meu pai
balança a cabeça negativamente.
— Prefiro guardar essa informação para mim. Só precisa
saber que é realmente difícil pra caralho! Padrinhos são tipo um
segundo pai, é foda... — Não consigo decifrar a resposta dele
bem, talvez ele queira se referir ao fato de saber coisas íntimas
sobre ela. Ao menos ele entende que é muito difícil ser qualquer
coisa de Sophie.
— Henrico, sabe que não fugirá de uma boa conversa,
não é mesmo? — minha terapeuta pergunta e eu a encaro.
— Doutora Ana, me desculpe, não estou com vontade de
conversar agora.
— É claro que desculpo. Mas tem que me prometer que
antes de voltar a São Roque, irá tirar alguns minutos para ir até o
consultório. Ao menos uma última consulta presencial antes de
voltarmos a era da tecnologia — argumenta, sorrindo.
— Vou prometer, mas talvez eu não vá.
— Perfeito! — exclama, animada, enquanto Sophie sorri e
deposita um beijo em minha bochecha.
— Você é único, bebecito.
Minha mãe se aproxima e me entrega um prato com
comida.
— Quando soube que viria, preparei seu prato especial.
Filé mignon à parmegiana, com arroz branco e fritas — anuncia.
Eu amo mesmo essa refeição. Não é a minha preferida do
mundo, mas é a melhor comida que minha mãe faz. Só o cheiro
já basta para que a fome surja.
Abraço minha mãe e ela deixa um beijo carinhoso em
minha testa, antes de voltar ao seu lugar. Todos começam a
comer, porém, além de comer, me pego analisando os dois
casais que estão à mesa. Meu pai e minha mãe, Thomaz e Yaya.
Preciso ver como eles se portam como namorados.
Enquanto eu e Sophie estamos distantes, os dois casais
estão muito próximos, e isso me deixa intrigado. Talvez eu esteja
fazendo algo errado. Pensar nisso faz com que eu puxe a cadeira
de Sophie e a traga para mais perto de mim.
— O que foi isso? — ela pergunta baixinho.
— Estávamos distantes, eu acho.
— Se quiser, eu posso me acomodar em cima das suas
pernas, sentando sobre determinada coisa... — cochicha,
piscando os olhos e com um sorriso de anjo.
— Você é muito safada, Sophie! — Meu pai se engasga,
cuspindo toda a bebida que estava em sua boca no chão. Só
então percebo que eu disse alto demais. Enquanto minha mãe
bate repetidas vezes nas costas dele, as demais pessoas estão
rindo. — Me desculpe por isso, Sophie.
— Está tudo bem. Não disse uma mentira, bebecito. Só
nunca diga isso na frente do meu pai ou do meu irmão, por favor.
Preciso garantir minha sobrevivência.
— Você não pode ficar falando coisas sujas no jantar — a
repreendo.
— Foi mais forte que eu, bebecito, me desculpe por isso.
— Vou te desculpar dessa vez, Sophie. — Ela dá um
sorriso e eu penso em afastar sua cadeira.
— Puta merda! Ao invés de ser Yasmin, a razão do meu
infarto será Sophie — meu pai diz.
— Vocês agem como se Henrico fosse um verdadeiro
santo, não é mesmo? Eu sou a safada e ele o anjo — Sophie
comenta, rindo. — Eu gostaria de dizer o quanto estão
enganados, mas me manterei silenciosa. E você, Henrico Davi...
é melhor eu ficar calada neste momento.
Sophie é muito confusa em alguns momentos.
Minha família também. De um minuto para o outro, eu e
Sophie viramos a atração principal do jantar.
— Nos conte como tem sido morar juntos — minha mãe
pede, demonstrando estar bastante curiosa sobre a minha nova
rotina.
Sophie responde "ótimo" ao mesmo tempo em que eu
respondo "difícil". Isso atiça a curiosidade de todos, infelizmente.
— Ótimo ou difícil? — doutora Ana pergunta, se divertindo
com a situação.
— Ótimo, porém difícil — respondo.
— E como isso se encaixa? — Yaya é quem pergunta
agora. A conversa virou um interrogatório.
— Eu tenho um pouco de dificuldade em fazer atividades
que são comuns, como ir à padaria, comprar pão sozinho, entre
outras. Por isso, Sophie tem que ir comigo em todos os lugares e
isso me deixa incomodado. Além disso, morar com Sophie é
muito difícil, porque ela usa roupas curtas e coladas. Ela não é
muito bagunceira, estamos aprendendo a cozinhar juntos, e ela é
muito bonita quando acorda nua. Vestida também, mas prefiro
nua. É difícil passar o dia todo com ela vestindo roupas curtas e
coladas, que marcam o corpo. Todo o restante é muito bom.
Ótimo.
— Oh, meu Deus! Isso é a coisa mais fofa do mundo! —
minha mãe exclama, sorridente.
— Isso foi safado, porém doce, bebecito — Soso diz,
passando o nariz no meu. — Eu te amo.
— Sophie, eu adoraria ouvir a sua versão agora — meu
pai pede.
— É ótimo. Henrico está se esforçando para superar
algumas limitações. Às vezes ele tem iniciativas grandiosas e
nem mesmo se dá conta sobre isso. Ele tem se esforçado para
ficar comigo bastante tempo, conversamos o tempo todo. — Ela
sorri. — Ele tornou-se bastante tagarela nos últimos dias e eu
amo isso. Porém, aprecio também quando ele fica em silêncio,
fechado e pensativo, porque acho realmente sexy a expressão
dele tomado pela seriedade. É um pouco difícil, Henrico
descobriu que eu amo cuecas brancas e vive de cueca branca. É
difícil também porque fico alucinada quando ele veste bermuda
ou calça de moletom. Sem contar que, em alguns momentos, ele
anda sem camisa pela casa, e não ajuda que ele seja o garoto
mais bonito do mundo e mais gostoso também. Em geral, a
experiência está sendo perfeita de todas as maneiras possíveis,
tio dindo. E Henrico também é lindo quando acorda,
principalmente pela ereção matinal. Obrigada, de nada!
— Lindos detalhes! — Yaya fala, fazendo uma cara
engraçada. — Sophie resolveu ser sincera demais, não?
— Parece que sim, e isso é mesmo muito complicado para
mim — respondo. — Eu bati em um homem por Sophie ser a
menina mais bonita e gostosa do mundo.
— O quê? — meus pais perguntam juntos.
— Estávamos em um bar, um homem tocou em Sophie
sem o consentimento dela. Sophie é a minha garota, minha e só
minha. Eu perdi a cabeça e bati no homem, mas tudo ficou bem e
Sophie ficou protegida — explico.
— Puta merda, filho! Você não deve brigar — minha mãe
repreende.
— Mãe, eu não sou agressivo. Não sou como o Pablo.
Mas eu estava defendendo uma menina. Meu pai me ensinou
que devemos proteger as meninas, e o homem tocou em Sophie.
Ela é menina e é minha namorada. Eu ia tomar injeção, porque
estava muito nervoso e com medo, mas Sophie me salvou.
— Todos estavam no bar, tia. O idiota do homem chegou a
passar a mão na minha bunda. Henrico me defendeu, ficou muito
nervoso, mas consegui lidar com ele, sem que precisasse aplicar
a injeção. Não falamos antes porque conseguimos resolver tudo,
eu, ele e Samuel. Não queríamos preocupar vocês.
— Nós tomamos banho juntos, como você fazia comigo,
mãe — digo, sorrindo. — Mas tive reações com Sophie.
— Teve — Sophie confirma, rindo. — Oh, meu Deus! Isso
é muito engraçado!
— Sinceramente? Vocês dois se superaram na loucura! É
muito para a minha mente conseguir compreender. Disparado
mesmo, de todos os casais, vocês são o mais louco! O tipo de
loucura de vocês é diferente. Todos que ficam perto acabam
sendo contagiados com esse negócio. É um tipo de loucura que
carrega as pessoas. Vocês misturam inocência com safadeza,
transformam momentos conflituosos em momentos
completamente fofos. Quem está de fora fica escandalizado e
morrendo de amores. Eu não consigo entender essa relação —
Yasmin solta um monte de coisas que tento assimilar. Me assusto
quando ela começa a chorar. — Me desculpe! É só... Eu e
Henrico sempre fomos muito distantes. Eu tinha que ficar o
acompanhando de longe, enquanto ele era melhor amigo do
nosso irmão. E agora está tudo tão diferente e eu queria estar tão
perto... e ele simplesmente se mudou para longe. Queria tanto
poder acompanhar o relacionamento de vocês de perto, todos os
avanços do meu irmão. Queria poder ficar com ele em alguns
momentos, já que finalmente permitiu me abraçar, me acolher
como irmã. O respeitei e o compreendi a vida toda, mas agora a
distância parece injusta, sinto que estou perdendo algo e que
nossos pais também estão. Estou imensamente feliz por vocês,
por vê-los tão lindos e tendo algo tão puro, mas estou triste por
mim e por nossos pais. Agora Henrico me deixa abraçá-lo e eu
não posso fazer isso com frequência. Não posso ser amiga dele.
— Todos na mesa estão chorando junto com ela, até mesmo
Thomaz. Não sei como reagir, mas estou triste agora. Não gosto
de vê-la chorando.
— Me desculpe, Yaya — peço, ressentido por vê-la sofrer.
— Por que não fica aqui? Eu não posso ir para lá, porque
estudo, nossos pais não podem ir devido ao trabalho. Eu entendo
que lá seja silencioso e tenha uma maior qualidade de vida para
você, mas... Vivemos por você, Rico. Mamãe fica louca para
saber de novidades, todos ficam loucos querendo acompanhá-lo
de perto. Ligamos para Samuel, Théo e Luiz Miguel todos os
dias, em busca do mínimo de novidade. Sabe, rezávamos tanto
para que conseguisse ir adiante, e você foi longe, porém não
estamos podendo acompanhar isso de perto.
— Filha...
— Não, mãe. Me perdoe, ok? Mas eu guardei isso a vida
inteira. Eu sonhava com os abraços do meu irmão, pedia a Deus
para que ele me enxergasse e me deixasse entrar. No fundo,
vocês se sentem da mesma forma, porém não dizem porque têm
medo de que Henrico sofra um retrocesso. Mas não acho que ele
vá sofrer. Henrico se transformou em outra pessoa desde que
começou a se relacionar com Sophie, e ele é um homem feito,
que pode lidar com algumas verdades — Yasmin desabafa,
chorando, e se vira para mim. — Henrico, você não é diferente.
Você é como nós, faz parte de quem somos. Somos uma família
e todos estão imensamente tristes desde que você se foi. E eu
não deveria jogar isso sobre você, mas também não consigo
mais guardar dentro de mim. Espero, de coração, que não te
afete negativamente, mas espero, principalmente, que consiga
compreender com o seu coração o que acabei de dizer. Você é
importante, você faz parte de nós, e faz uma falta imensa. Eu
seria a menina mais feliz do mundo se o tivesse por perto.
Poderia ir morar em outro lugar com Soso, mas seria incrível tê-lo
ao nosso alcance a qualquer momento. Eu queria fazer coisas de
irmãos com você. Eu sempre fiz com Samuel, mas ele não
substitui a falta que você faz, tampouco a importância que você
tem para mim. Eu te amo demais e agora vou sair daqui, porque
preciso chorar sozinha no meu quarto. Falei demais. Me perdoe,
papai. Me perdoe, mamãe. Me perdoe, Rico. — Ela sai da mesa,
deixando todos levemente abalados.
— Bom, eu vou falar com ela — Thomaz anuncia, mas
decido que sou eu quem preciso ir.
— Eu vou — aviso, surpreendendo a todos. — Sophie,
você... — Ela não deixa que eu termine a frase. É como se
soubesse exatamente o que eu iria dizer.
— Você tem a minha permissão para tomar qualquer
decisão que quiser. Eu sempre estarei com você — afirma,
segurando a minha mão. — Você é o meu encaixe, menino mais
bonito do mundo.
— Você é mesmo doce e delicada. Uma princesa — falo,
beijando sua testa, e fico de pé. Minha mãe está quase
chorando, mas não faz enquanto me mantenho presente.
Não sei o que vou falar com a minha irmã, porém, mesmo
assim, me pego subindo as escadas, rumo ao quarto dela. Nunca
conversamos muito, então estou um pouco envergonhado de
invadir o espaço dela. Posso contar nos dedos de uma só mão
quantas vezes entrei no quarto de Yaya, mas agora analiso
melhor. É lilás e branco, cheio de coisas de meninas e, em uma
das paredes, há um painel gigante de fotos que possui fotos
minhas. Ela me ama e eu sou importante, mesmo tendo sido um
irmão ruim.
Ela está encolhida na cama, abraçada a uma almofada, e
chorando de verdade. Não gosto de toques, mesmo assim faço
um carinho em seu rosto quando me sento ao seu lado.
— Me desculpe por não ter sido um bom irmão. Eu nunca
soube como desempenhar esse papel com você. Sempre foi
imensamente difícil ver como todos eram iguais e como eu era
diferente. Com Samuel foi fácil, apenas porque o conheci quando
era uma criança. Ele e Sophie eram pacientes comigo e eu me
encaixava neles de alguma forma, mesmo em meio às minhas
diferenças. Samuel não morava conosco, então eu não
acompanhava muito o desenvolvimento dele e não captava com
facilidade o quão diferente éramos. Já você, eu a vi nascer, e
você sempre foi tão perfeita e normal... Será que você entende o
que estou dizendo? Não sou bom em conversar muito e,
principalmente, não sou bom em explicar como me sinto. De
qualquer forma, Yaya, fui distante de você a vida toda, mas
sempre a amei e iria protegê-la se algum menino te tocasse sem
consentimento, igual fiz com Soso. Eu te amo, mesmo nunca
tendo dito e mesmo nunca tendo deixado você se aproximar
muito.
"Sempre achei que todas as pessoas novas que surgiam
em minha vida jamais seriam capazes de compreender que eu
era diferente, que via e absorvia as coisas de uma maneira
diferente. Por isso sempre me mantive dentro da zona de
conforto, onde havia lugar para uma quantidade pequena de
pessoas. Infelizmente, a excluí disso, e agora enxergo que foi um
erro. Porém, por favor, me entenda. Não foi por maldade ou por
não gostar de você, foi porque eu mesmo não aceitava ser
diferente de você e não sabia como introduzi-la em meu mundo.
Se parar para observar, estou no mesmo círculo de confiança
uma vida inteira: meus pais, doutora Ana, Sophie e Samuel. Nem
mesmo nossas avós e nossos avôs estão inclusos nisso. Por
mais que tivesse facilidade em conversar com eles e receber
carinho, nunca os permiti ir longe comigo. Você chegou depois de
todos eles. Enfim, Yaya, minha mente é muito complexa e
bastante diferente da sua, por isso acreditava que jamais
poderíamos ter uma convivência mais próxima."
— Obrigada por conversar comigo, por se abrir, mesmo
depois de anos — ela fala, sentando-se e me dando um abraço
esmagador. Tento me sentir calmo com a proximidade. Sophie
me abraça e eu me sinto bem. Posso fazer isso com Yaya. Ela é
minha irmãzinha, por isso, a aceito e retribuo o abraço.
— Eu posso tentar ser seu amigo — afirmo. — Sabe,
descobri que, aonde quer que eu vá, sempre continuarei sendo o
garoto atípico, repleto de limitações. Descobri que nunca será
fácil, como imaginei que poderia ser. Descobri também que não é
uma mudança para um lugar sossegado que vai me transformar,
e sim a motivação. São Roque é silencioso e apenas isso. Todo o
restante continua aqui dentro de mim, me limitando, me
incomodando, sendo parte do meu universo azul. E, sobre
motivação, descobri que Sophie é a minha motivação. Sinto que
se ela estiver ao meu lado, eu posso fazer qualquer coisa. Ela
me capacita, me motiva, me impulsiona. E com tudo isso que
acabei de te dizer sobre Soso, ainda tenho muitas dificuldades,
como ficar abraçado com ela em locais públicos, tocá-la
livremente, entre outras questões. É tudo muito difícil para mim,
Yaya, embora eu esteja tentando de todas as formas vencer. —
Dou um sorriso fraco. — Quero ser o seu irmão, e Sophie disse
que posso tomar qualquer decisão. O que preciso fazer para isso
acontecer? O que te faria feliz? Não fui seu irmão antes, mas
sinto que posso fazer isso agora. Eu posso fazer isso.
— Eu não sei se posso pedir algo — minha irmã diz em
um tom de desabafo. — Não seria justo e, talvez, eu pareceria
egoísta o bastante. Só estou dizendo que queria você perto.
Todos querem o mesmo que eu, mas ninguém tem a coragem de
dizer. E há algo mais, só de você estar me permitindo falar, já
significa muito. Estamos tendo a nossa primeira verdadeira
conversa, e isso é extremamente incrível para mim. Há uma
imensidão de gratidão dentro do meu peito agora. Esperei 17
anos para isso. Você pode me entender ou devo parar de falar?
— Posso te entender. Prossiga. Não precisa ser cautelosa
em suas palavras.
— É só que... a distância agora parece injusta, mesmo
que justa. — Aí complica meu entendimento, porém não tenho
coragem de dizer isso a ela, por isso, apenas ouço. — Todos
queremos que seja feliz e estamos vibrando com cada um dos
seus avanços, muito. Porém, ao mesmo tempo que estamos
felizes, estamos tristes por não estarmos acompanhando tudo de
perto. Acho que principalmente a mamãe. Ela sonhava dia e
noite com todas essas maravilhas que estão acontecendo com
você, e simplesmente está tendo que se adaptar a uma realidade
que ela jamais imaginou, e ao fato de que não estará tão perto
para viver essa sua nova fase. Não me entenda errado, irmão.
Por favor. Eu me sinto perdida nisso, porque é a primeira vez que
está deixando eu me aproximar e não poderei ter um convívio
contínuo com você.
Eu entendo o que ela está dizendo. É como se todos
tivessem lutado uma vida toda pelos meus avanços e, agora que
eles finalmente aconteceram, eu resolvi ficar longe, sem que eles
possam acompanhar, como me acompanhavam na fase difícil.
Tudo é questão de ponto de vista, e há vários em todas as coisas
que Yaya está dizendo.
Pensando friamente, não parece justo com os meus pais,
em especial com a minha mãe. Ao que parece, ela está sentindo
bastante o meu distanciamento. Meu pai está mais empolgado
por todas as conquistas, ele sempre foi mais prático. Já a minha
mãe é a mulher do coração, emocional. Todos estão felizes por
mim, pelo meu crescimento, por estar dando passos
desafiadores, mas há uma certa melancolia devido à distância, já
que não estão tendo a oportunidade de conviver com uma nova
realidade, que foi extremamente difícil para eu conquistar (e que
ainda estou tentando diariamente vencer).
Sobre ser irmão da Yasmin, ainda é difícil dar tudo o que
ela quer, mas a compreendo agora. Eu poderia tentar, mas como
faremos isso se estou a muitos quilômetros de distância?
Há muitos pensamentos em minha mente agora. Sei que
Samuel vai retornar ao Rio e, por mais que eu tenha o
encorajado, não sei dizer como será a vida distante dele. Morar
em São Roque pareceu agradável quando acreditei que, ao
menos, meu irmão estaria por lá.
Há agora uma lista de prós e contras em minha mente, e
sinto a súbita necessidade de pegar um bloco de anotações e
pontuar cada item dessa lista. Preciso disso quando minha mente
fica muito confusa e repleta de informações.
Em São Roque não há muito barulho, não há
aglomerações e não há minha base familiar, que foi de extrema
importância em cada etapa da minha vida. Não sei tomar uma
decisão agora. Porém, sei que preciso de um tempo sozinho para
pensar, escrever e absorver as questões.
— Me desculpe se disse coisas demais. Para completar,
estou de TPM. Acho que tudo está me levando ao limite. —
Minha irmã se desculpa, trazendo mais um item para
questionamento interno: a TPM de Sophie.
— Ainda não acompanhei a TPM de Sophie, não sei como
lidar com isso de perto — confesso. — Será que ela ficará como
você? Sensível assim? — Yaya ri, mas estou pensativo agora.
— Provavelmente, ficará mais dengosa. Eu gostaria de vê-
lo lidando com Sophie de TPM.
— Eu não sei se gostarei disso, mas não tenho escolha.
Ela é minha noiva e moramos juntos, então terei que lidar com
isso. Talvez brigadeiro ajude. Eu me lembro de quando éramos
mais jovens. Sophie tinha TPM e ficava deitada por quase dois
dias, então eu fazia brigadeiro e levava na casa dela. Porém, não
ficava perto. Só entregava e ia embora.
— Eu sei, e isso sempre foi muito encantador, Henrico —
Yaya diz. — Entende porque estou tão sensível? Vocês dois já
eram tão lindos antes de "ser".
— Eu não entendo o que quis dizer, mas tudo bem, Yaya.
Entendi um pouco sobre as questões anteriores e preciso ficar
um pouco só, para pensar e obter um entendimento ainda mais
amplo. Há mais alguma coisa que queira dizer?
— Sim! Você acabou de agir como um irmão, e estou
muito feliz por isso. Valeu a pena a espera. Estou orgulhosa do
homem que se tornou e feliz pela nossa proximidade. Eu amo
seu jeitinho, amo que tenha que se isolar para pensar em todas
as questões. É algo que sempre admirei. Você pode ser
impulsivo em momentos de crise, mas em outros momentos você
é apenas sensato, racional. É tão legal ver que conhece os
próprios limites e que respeita a si mesmo, a ponto de saber
quando precisa se afastar. Sempre se achou tão diferente e
achava que isso era altamente errado. Rico, você não sabe de
nada. Eu penso que talvez seja você o correto, e todas as
demais pessoas erradas. Você faz as coisas tão certas, e acho
que todos deveriam segui-lo. Com certeza o mundo seria melhor
e mais prático, repleto de verdade, sinceridade, racionalidade,
entre muitas outras coisas. Sempre ouvi nossos familiares
dizendo uns para os outros "você é grande". Hoje sou eu quem
digo a você, irmão, "você é grande" e a maneira como vê e
enfrenta o mundo é perfeita! — Yaya me abraça e eu não sei
bem o que dizer a ela agora. Simplesmente me esforço para
retribuir, mas dura pouco. Me afasto e balanço a cabeça
positivamente, antes de deixá-la no quarto.
Ao invés de voltar para o jantar, sigo para o meu quarto e
me acomodo em minha cama. Completamente imerso na
escuridão, tento refletir sobre todas as coisas e encontrar as
respostas que preciso. É bem difícil tomar decisões. Há muito por
trás de todas as coisas, e isso me deixa muito perdido.

Tia Paula parece prestes a ter um surto. Acho que estou


bastante parecida com Henrico, peguei a mania de observar as
pessoas e tentar desvendá-las, e é isso que estou fazendo neste
momento.
Não sou apta a julgar as pessoas, mas sou apta para
tentar entendê-las, buscar respostas. E, de repente, estou tendo
algumas. Tia Paula tenta proteger Henrico do mundo e isso
parece fazer sentido. Eu, provavelmente, faria o mesmo ou até
mesmo farei, se tiver um filho com autismo e tenha que enfrentar
todas as dificuldades que ela enfrentou.
Ela parece acreditar que Henrico deve ser privado de tudo
e está absurdamente desesperada por Yasmin ter dito tudo o que
disse. Sinceramente, eu sou capaz de compreender a todos aqui,
em especial Yasmin. Eu ficaria muito desesperada se Luiz Miguel
agisse comigo da forma como Henrico agiu com ela a vida toda.
Não é que ele não goste dela, mas, levando em conta que ele
sempre se achou diferente e insuficiente, sempre foi mais fácil
ignorá-la, manter a distância. Henrico sempre achou que ela
jamais o compreenderia.
Tia Paula tenta privá-lo de ouvir algumas verdades e não
sei dizer até onde isso é saudável para Henrico. Acho que por
todas as lutas contra bullying, entre outras questões, ela acabou
adquirindo um mecanismo de defesa do filho e isso certamente
deve ser muito comum entre as mães. Acontece que Yaya soube
escolher uma boa fase para se abrir com o irmão. Henrico está
mais calmo, confiante, maduro, e certamente saberá ouvi-la e
lidar com todas questões, por mais que eu saiba que certamente
haverá um distanciamento dele para pensar e colocar as ideias
em ordem.
Não vou julgar a ação de Yasmin. Eu faria o mesmo. E a
entendi muito claramente. O que ela quis dizer é que
acompanhou todas as lutas dos pais e a própria luta, e não acha
justo que agora, finalmente quando Henrico deu o maior passo
da vida, nossa família tenha que acompanhar isso de longe.
É algo que também faz sentido, embora possa ser difícil
para algumas pessoas compreenderem. Henrico merece a
liberdade de ir e viver como quiser, mas talvez tenha se
apressado muito nesta questão e não tenha dado um tempo de
sua família absorver suas mudanças, conviver com essas
mudanças e se acostumar a elas. Isso é complexo, não é
mesmo? Divide opiniões e talvez nem haja a coisa certa a ser
feita. Acho que dessa vez Henrico terá que seguir o coração e
isso será mais um desafio para o meu garoto racional. E eu,
como boa noiva e amiga, serei a base de apoio, aquela que fará
qualquer coisa que ele decida por nós. Não posso deixar de
pensar em quanto meus pais ficarão felizes se Henrico optar por
passar uma temporada aqui no Rio, ao menos até nossa casa
ficar pronta em São Roque. Essa é uma opção, não? Vou deixar
com que ele decida, mas se ele escolher ficar, a felicidade irá se
apossar de toda a família, com certeza.
— Tia Paula, me permite dizer algo? — peço, enquanto tio
Lucca tenta acalmá-la.
— Por favor.
— Acho que está sendo pessimista demais agora.
Desculpe-me dizer — falo com a sinceridade que herdei do
convívio com Henrico. — Entendo você, tia. Entendo as
dificuldades. Mas, sendo noiva de Henrico, posso te dizer que ele
está preparado para sair da zona de conforto, tanto que ele subiu
para conversar com a irmã, para tentar compreender o que está
de fato acontecendo. Não convém repreender Yasmin por ter se
aberto após tantos anos, e não convém temer a reação de
Henrico. Ouça o que estou dizendo, ele está preparado para lidar
com situações assim, ele não é mais um garoto tão limitado,
muito pelo contrário. Henrico tornou-se um homem que possui,
sim, limitações, mas que está altamente disposto a enfrentar
todas elas. Ele se sairá bem com Yasmin. Eles mereciam esse
momento, por mais que tenha parecido dramático, tia Paula, não
é dramático. É uma conexão que Yaya esperou e merece ter. É o
grande primeiro ato de irmandade entre os dois e deveria ver isso
com olhos positivos.
— Pronto. Não preciso dizer mais nada, Paula — tio Lucca
diz, sorridente. — Sophie expôs todos os meus pensamentos.
— Sophie, que mulher linda você se tornou — tia Paula
elogia, emocionada. — Obrigada pelo entendimento e pelas
palavras. Realmente tem sido difícil me desfazer de velhos
costumes que não cabem mais. Henrico mudou e isso requer que
eu mude minha postura em relação a ele também. Talvez tenha
parecido que não acredito no potencial do meu filho, mas eu
acredito. Porém, com todas as coisas que ele passou na
adolescência, passei a tentar protegê-lo do mundo, a mantê-lo
em uma redoma ou algo assim. Não tenho vergonha de dizer
isso. Sou mãe. Uma mãe que lutou com o filho por 22 anos. Eu
sei que estou pecando pelo excesso, mas tenho tanto medo de
que meu filho tenha uma crise, é como se eu tivesse ficado
levemente traumatizada pelo passado e esteja temendo tudo no
presente. — Está aqui um desabafo de uma das mães mais
incríveis que já tive o prazer de conhecer. Não sei se eu teria a
força, a determinação e a garra de tia Paula. É invejável.
— Determinadas situações pedem para que eu deixe a
ética de lado — doutora Ana diz. — Sempre jantamos juntas e
nunca entramos em méritos da psicologia fora do consultório.
Mas, há perdão para mim, para nós. Acompanho Henrico desde
o diagnóstico, tornamo-nos uma família. E eu só vou dizer algo,
Paula, algo que já disse em nossas últimas conversas. Deixe
Henrico voar e confie que ensinou a ele o caminho certo a ser
percorrido. Ele teve uma base que 80% dos meus pacientes não
tiveram, então confie e relaxe. É como Sophie disse, é uma
conexão que tanto Yasmin quanto ele precisam e merecem ter.
Vai ser lindo, embora possa ser confuso no início. Ela disse o que
estava guardado em seu coração, deu ao Henrico a mesma
sinceridade que ele dá a todos. Foi bonito vê-la se abrir e bonito
vê-lo se levantar desta mesa disposto a compreendê-la melhor.
Há aqui só avanços e motivo algum para temer. E, Sophie, eu
sempre torci muito. Em anos de consulta, tentei entender o que a
fazia tão diferente para Henrico, e agora estou tendo a resposta.
Um ser humano lindo por dentro e por fora, repleta de
compreensão e amor. Pense em uma terapeuta feliz? — Ela
sorri. — Sou eu!
— Obrigada — a agradeço timidamente. — Talvez a
senhora não saiba, mas eu sou grata a tudo o que fez e faz pelo
meu menino mais bonito do mundo. Muito dos avanços dele são
méritos seu e de todos que sempre confiaram e o impulsionaram.
Obrigada, doutora Ana.

Na tentativa de dar todo o espaço para Henrico pensar,


acabo ficando na sala, dando a desculpa de que estou sem sono
e de que quero ver filme. Todos vão dormir e estou receosa se há
um momento certo para voltar ao quarto ou se devo apenas
dormir por aqui. É confortável, não seria ruim.
"Confortável". Essa palavra mudou de significado para
mim, definitivamente. Ela me faz pensar em todas as coisas
incríveis que Henrico me faz sentir desde que resolveu ficar
"confortável". Eu me pego mordendo meu lábio e contendo um
sorriso de pura satisfação. Quase morro quando meu celular
vibra, informando uma nova mensagem. O nome de Henrico
surge na tela, para a minha surpresa.
"Oi, Sophie! Boa noite! Posso te perguntar algo? Já que sei que a
resposta é sim, então vou direto à pergunta: com todo respeito,
você já enviou fotos ousadas?"
Começo a gargalhar sozinha, tentando entender o
questionamento e a maneira formal.
"Oi, Henrico Davi. Boa noite! Não. Eu nunca enviei fotos ousadas
para qualquer pessoa, mas ficaria feliz em receber uma foto
ousada sua e retribuí-la com uma foto ousada minha.
Atenciosamente, Sophie Albuquerque."
Fico imaginando os neurônios dele queimando agora.
Meu riso termina por completo quando ele envia uma
mensagem com uma foto e uma legenda que mal leio. Senhor da
glória, Santa Josefina e todos os santos! Ele está enrolando em
uma toalha branca, sem camisa, com todos os músculos
expostos. Abençoado é esse homem e a genética da tia Paula (e
do Pablo, que nasceu pelo cu. Aliás, ele pode até ter nascido
pelo cu, mas ele fez um homão da porra do caralho, que
certamente não saiu pelo orifício anal da tia Paula).
"É a sua vez, Sophie."
Talvez eu nem esteja tão sexy quanto ele, estou
descabelada e com cara de sono, mesmo assim vou até o
banheiro e tiro uma foto qualquer para enviar.
"Uau, Sophie! Você é sexy e muito gostosa. Parabéns. Se me
permite ser sincero, quero comer você. Estou indo buscá-la."
Tudo em mim se desespera ao ler a mensagem.
É incrível como uma frase tem o poder devastador. "Estou
indo buscá-la" abalou meu psicológico e me pego digitando:
"Terá que me encontrar, bebecito."
"É um desafio?"
"Gosto de desafiá-lo."
"É bom ser esperta e se esconder bem, Sophie. Você tem
poucos segundos para fazer isso. Estou indo buscá-la!"
Sorrio amplamente e começo a correr. Brincar de pique-
esconde com Henrico Davi certamente será divertido o
bastante... Estou ansiosa para ser encontrada.
Há uma quantia louca de adrenalina sobre a brincadeira
que acabei de inventar. Eu me sinto como uma mocinha em
perigo, como a Chapeuzinho sob os olhos do Lobo Mau ou algo
assim. Talvez tenha sido uma péssima ideia, mas saiu de mim
antes que eu pudesse processá-la.
Até passa pela minha cabeça ficar no topo da escada,
para mostrar o quanto quero ser pega. Porém, decido que será
mais divertido se eu me esconder. Quero ver a reação de Henrico
ao me pegar. Pensando nisso, saio para a enorme área externa
da casa. Não é à toa que Yaya diz que construirá uma casa aqui.
Há espaço de sobra, e isso significa que há muitos lugares
propícios para um esconde-esconde.
Passo pela academia, pelo salão de festas e decido me
esconder atrás do balcão da área de churrasqueira. O único
problema é que tenho um pouco de medo do escuro quando
estou sozinha e todos estão dormindo. Pondero ligar a lanterna
do meu celular, porém, obviamente, serei descoberta com muita
facilidade.
Meu coração agora está acelerado por dois motivos:
adrenalina e medo. Não demora segundos até que uma lanterna
é mirada diretamente em meu rosto.
— Sophie, você é muito bobinha e inocente de se
esconder levando seu celular. Eu sei rastreá-la. Não teve graça
— Henrico diz, rindo, e eu saio correndo para fugir dele.
— Agora tem graça? — pergunto, eufórica, enquanto ele
corre atrás de mim. De repente, temos 10 anos de idade outra
vez. Eu posso relembrar perfeitamente de uma cena exatamente
como essa. A diferença é que, quando ele me pegou, me fez
cócegas e me jogou água. Certamente, não é isso que ele fará
desta vez.
Olhando para trás, vejo o momento exato em que ele joga
a lanterna longe e corre mais rápido. Eu corro para dentro do
salão de festas e saio esbarrando em diversas mesas, fazendo
um barulho que não é muito bem-vindo.
Quando ele finalmente está prestes a me pegar, coloco
uma mesa entre nós e fico sorrindo.
— E agora, bebecito?
— Por que tentar fugir? Não há a menor chance de
escapar agora, Soso. — Ele salta a mesa e eu abro a boca em
choque. Não é possível enxergá-lo muito bem, mas sobre sentir...
eu sinto tão bem quando suas mãos deslizam pelo meu rosto.
Sinto tão bem quando sua boca reivindica a minha. Sinto tão bem
quando, de repente, meu corpo se torna uma bagunça de
necessidade.
A minha alma grita por Henrico, juntamente com meu
coração e meu corpo.
Ele leva uma de suas mãos até a minha nuca e usa a
outra para apertar meu seio. Eu afasto nossos lábios e gemo de
prazer, esquecendo onde estamos e a chance de sermos pegos.
Nada mais importa, apenas tudo o que ele me faz sentir.
É tão louco sentir o calor surgindo dos meus pés e indo
até a cabeça, varrendo lentamente meu corpo, banhando-o como
chamas. Começa tão lento e em questão de segundos me sinto
queimando por dentro. O calor se mistura com o leve friozinho na
barriga. É quase a mesma sensação de estar em queda livre,
porém, mais intensificada, por haver um homem querendo
exatamente me deixar louca de tesão.
Estou inebriada quando ele me pega em seus braços,
fazendo com que eu rodeie minhas pernas em sua cintura. Nem
digo qualquer palavra, deixo que ele me leve para onde quer que
queira, desde que apague o fogo que acendeu e acalme meu
desejo desesperador.
Ele entra no interior da casa e sobe as escadas rumo ao
quarto dele, então me dou conta de que iremos transar em sua
cama pela primeira vez. A cama onde costumávamos brincar
quando crianças, assistir filmes na adolescência. Quantas vezes
eu me imaginei esparramada por ela, aguardando por ele para
me foder? É quase como um fetiche da adolescência sendo
realizado, e isso me faz sorrir.
Uma vez que ele fecha a porta com chave, eu volto a
esquecer da vida e o beijo como uma desesperada.
Quando Henrico me coloca no chão, levo minhas mãos à
sua camiseta e a retiro rapidamente. Há um sorriso em seu rosto
e seus olhos estão bastante avaliativos. O encarando, levo
minhas mãos na cordinha que prende sua bermuda e desfaço o
nó, logo em seguida a deslizo até o chão, caindo de joelhos.
— Oh, não, Sophie! — ele diz, agarrando meus cabelos. A
ação me surpreende, não por ele não querer, mas por estar
sendo levemente rude. Isso me deixa com mais tesão e eu não
obedeço a sua ordem.
Levo minhas mãos à barra de elástico da cueca boxer e a
deslizo para baixo, deixando seu pau devidamente livre.
Agarrando meus cabelos, Henrico tenta impedir que eu o leve em
minha boca, mas eu forço e logo seu aperto fraqueja. É tão
quente fazer isso o olhando de baixo e encontrando seu olhar
fixado em minha boca. Deve ser uma visão ruim, ele mal se
encaixa em minha boca e é necessário que eu fique o lambendo,
levando apenas uma parte dentro dos meus lábios. Quando
fecho minhas mãos em torno de sua ereção, Henrico solta um
som alto, que faz parte do meu corpo contrair.
— Sophie, quero você nua em minha cama. Agora! —
ordena, voltando a puxar meus cabelos, e sei que agora não há
mais conversa. Terei que ser uma garota obediente para o meu
bebecito.
Fico de pé e ele não perde tempo em me deixar nua. Me
pergunto se um dia ele irá rasgar minhas calcinhas, mas deixo
esse tópico para um outro momento. Henrico de joelhos,
deslizando a calcinha pelas minhas pernas, é muito mais quente
do que se ele tivesse simplesmente a rasgado. Não satisfeito,
quando a retira, ele se aproxima da minha intimidade e passa a
língua lentamente, fazendo com que eu quase caia para trás.
— Santa glória, Henrico Davi!
— Eu amo o cheiro da sua vagina e o sabor também. —
Aooo, ressentimento! Essa sinceridade e a maneira como ele
diz... isso mata uma menina indefesa como eu. — Hum, Sophie...
— Amo quando ele fala meu nome em um tom de pura
apreciação.
Em um segundo estou de pé e logo no outro estou deitada
em sua cama, ofegante, tentando entender como ele me jogou
aqui tão rápido. Antes que eu processe, mãos fortes agarram
minhas pernas e sou puxada para a beirada da cama,
completamente aberta, exposta. Henrico traz sua boca em minha
intimidade de forma voraz, me devorando com a sua boca como
um animal faminto. Levo minhas mãos em seus cabelos e os
puxo com força, completamente intoxicada de prazer, indo ao
delírio completo a cada vez que ele circula sua língua em meu
clitóris.
Minhas pernas vão ficando fracas, minha barriga dá
tremores involuntários e eu me perco entre puxar os cabelos dele
ou puxar os meus. É desesperador, porém, um desespero bom.
Eu consigo sentir a todo momento meu orgasmo se construindo
e, para me enlouquecer, Henrico se afasta quando estou prestes
a gozar. Estou indo reclamar quando seu pau desliza por entre
minhas dobras e me invade fortemente.
— Nossa! — ele exclama, paralisando. — Que gostosa!
— Meu Deus!
— Vou gozar em você, Sophie. — Eu posso senti-lo pulsar
dentro de mim e eu solto um som quase doloroso, tentando me
mover lentamente, me contorcendo de prazer.
A abordagem diferente dele não passa despercebido.
Estava sendo tratada como um cristal precioso e delicado, agora
estou sendo tratada como uma devassa, da forma como eu,
provavelmente, pedi. Minha vontade de ser consumida com
voracidade está além de qualquer coisa. Henrico está me
encarando de uma maneira tão intensa que eu poderia facilmente
gozar só de senti-lo enterrado em mim e me olhando como um
predador.
— Mova-se — peço, choramingando, mas ele não faz. Ao
invés de se mover, ele traz sua boca em meu seio direito. Sua
língua rodeia a aréola e seus lábios se fecham em meu mamilo, o
sugando avidamente. — Ai, mais... mais... — imploro, gemendo
como uma descontrolada, e ele repete o mesmo ato em meu seio
esquerdo. Eu vou do céu ao inferno e ele parece gostar. Quando
ele começa a se mover, meu corpo explode em milhares de
partículas e eu perco a noção dos sons que solto. Piora quando
Henrico começa a derramar suas palavras sujas sobre mim e
soltar sons indecifráveis.
Ficamos insanos quando ele traz uma de suas mãos em
meu pescoço, como se estivesse prestes a me sufocar. Suas
arremetidas são tão fortes, que a cama range sob meu corpo.
Ele mergulha profundamente dentro de mim e logo em
seguida se afasta, deixando-me vazia. Volta a repetir esse ato
algumas vezes, gemendo a cada vez que faz, rosnando. Suas
mãos agora descem ao meu quadril e apertam fortemente,
cravando os dedos em minha carne. Ele arremete e eu
impulsiono para ele, pedindo mais sem ter que usar as palavras.
— Sophie, você é gostosa pra caralho! Vou gozar e
continuar te comendo, você quer? Me deixa fazer isso? Eu
preciso. Estou com muita vontade.
— Eu sou sua, quero você, o tempo todo.
— Quero bater em você, Sophie — ele rosna. — Você faz
com que eu me sinta como um animal incontrolável.
— Não se controle comigo. Eu quero seus tapas, pedi por
eles.
— Eu te amo além da vida! Eu te amo mais do que amo a
mim mesmo, Sophie.
— É recíproco, meu amor. Você é tudo na minha vida. —
De safadeza ao romance, quem aguenta? Eu choro de prazer e
pela imensidão do amor que sinto. Henrico chora também.
Mesmo em meio a arremetidas desesperadas, algumas lágrimas
escorrem em seu rosto perfeito. É imenso demais o que existe
entre nós, transborda.
E nosso prazer também transborda junto. Henrico me
preenche com o seu gozo e meu corpo traiçoeiro se junta ao
dele. Então sua boca está na minha, tentando acalmar a nós
dois. Ficamos um pouco carinhosos por um tempo, mas muda
quando ele me pega em seus braços sem desconectar nossos
corpos e se deita na cama, deixando-me por cima. Ele traz as
mãos em minha bunda e começa a impulsionar os meus
movimentos. Pouco a pouco eu vou me entregando, movendo-
me mais forte, mais confiante. É então que ele começa a testar
os tapas. Inicialmente de maneira suave, mas os meus gemidos
a cada tapa parecem incentivá-lo, encorajá-lo a ir mais forte. É
perfeito e tenho a completa certeza de que minha bunda ficará
devidamente marcada. A cada tapa me movo mais forte, quase
pulando sobre meu noivo. O orgasmo vem mais uma vez e é
Henrico quem se junta a mim ao ver meu corpo estremecer e
contrair sobre o seu.
Suas mãos avançam pela minha nuca e sou beijada com
todo amor que o menino mais bonito do mundo possui.
— Você está bem? Eu a machuquei?
— Você é perfeito, Henrico. Jamais me machucaria.
Confio a minha vida a você.
— Eu posso fazer o que você quiser, Sophie. Você é a
minha motivação. Quando está perto de mim sinto que posso
fazer tudo. Você é minha princesa. — Sorrio, traçando círculos
em seu peitoral.
— Você é além do azul e eu sou além de feliz por tê-lo!
— Vamos tomar banho juntos? Eu posso fazer massagem
em você na banheira.
— Eu quero muito, bebecito. Na verdade, preciso das suas
mãos em mim para sempre.
— Para sempre. Ao infinito e além. — Sorrio novamente e
beijo seus lábios castamente. Estou em um momento romance,
mas, no fundo da minha mente, meu lado vadia está vibrando e
gritando: "Henrico fode pra caralho!".
Senhor da glória! Que espécie de relacionamento estamos
construindo? Que Santa Josefina nos abençoe, amém!
Estou relaxando em minha cama quando Paula dá um
salto mortal. Apenas viro a minha cabeça e fico observando suas
ações insanas. A mulher anda rapidamente até a gaveta de uma
cômoda e pega a arma que possui como proteção. Isso faz com
que eu sente e tente compreender. Maldita hora que deram porte
de arma para Paula!
— Que diabos está acontecendo?!
— Ouvi sons! É melhor ser precavida, bebê Lucca. Eu
protejo você! — avisa, abrindo a porta do quarto e saindo. Parece
que sou o único a não ouvir nada, porque Paula abre a porta já
dando de cara com Yasmin e Thomaz. Agora sim eu fico de pé e
começo a pensar seriamente em uma maneira de tirar a arma da
minha mulher. Paula já é um perigo sem arma...
— O que diabos está havendo? — pergunto e noto as
bochechas da minha filha ruborizadas.
— Então... parece que Henrico tem uma abordagem um
pouco selvagem na cama. Estou um pouco chocada com o nível
das palavras que ele está dizendo à Sophie. Não que sejam
incomuns, mas... ele é sincero sexualmente — Yasmin explica e
Paula deixa a arma no chão, antes de sair correndo para a porta
do quarto do nosso filho. É ridículo e inadequado, mas acabo a
seguindo, e isso faz com que Thomaz e Yasmin também
venham.
— OH, MEU DEUS! MEU HENRICO! MEU BEBÊ! —
Paula exclama, levando as mãos até a boca.
— Quer que eu te coma mais forte? — Meu filho... nunca
mais o olharei com bons olhos, embora eu esteja orgulhoso. Um
orgulho ridículo, eu sei. Mas... foda-se! Ele seguiu meus
ensinamentos e agora a cama está batendo contra a parede
enquanto o moleque...
Merda! Ele está com Sophie, minha sobrinha e afilhada!
Eu limpei a bunda daquela menina! Está muito difícil ser sogro de
Sophie. Ela era uma princesinha, sou seu segundo pai, e agora
ela está ali, no quarto, com meu filho, fazendo sexo selvagem.
Tento tirar isso da mente e resolvo perturbar a mais interessada
nisso.
— Aoooo, Paula, Jacinta seu filho em ação! — provoco
minha esposa, que parece em transe ouvindo a transa.
— Eu juro que jamais imaginei que meu filho seria um
fodedor do caralho! Não que eu pensasse pouco dele, mas achei
que ele seria do tipo mais calmo entre quatro paredes, calado,
que manda vê em silêncio, qualquer merda... menos isso! Ouça...
ele está batendo nela! Batendo! Meu filho está esbofeteando
Sophie! Eu estou muito chocada! Muito! Acho que nem em mil
anos terei esquecido isso. — Paula está mesmo chocada,
tagarelando feito louca.
— Santa Josefina, Henrico Davi! Já transamos três vezes
e você parece insaciável.
— Quer que eu pare?
— Não! Só vem mais forte!
— Sophie, eu amo que goste de me dar! Sua boceta
está... — Cubro meus ouvidos com as mãos, enquanto vejo
Yasmin rindo pra caralho. Não quero ouvir sobre as partes da
minha sobrinha.
Simplesmente os deixo ouvindo o pornô e desço para
encher a cara de cachaça, para esquecer tudo o que ouvi nessa
madrugada picante.
Três vezes! Eles transaram três vezes já...
Aoooo, ressentimento!!!!!!
Logo Paula se junta a mim, coloca um copo em frente ao
meu, enchendo-o com a famosa pinga de Minas Gerais.
— Só bebendo mesmo, Lucca Albuquerque. Eu gosto de
pornô, mas não quando é protagonizado pelo meu filho. Estou
feliz e mortificada. Realmente, ele está preparado para a vida.
Não que fazer sexo selvagem seja sinônimo de preparo, mas...
você me entende? Acho que só agora consegui enxergar que ele
cresceu de vez e que é um homão da porra, pronto para lidar
com todas as situações.
— É isso, diabinha. Mas você está muito falante e estou
tentando esquecer tudo o que acabei de ouvir lá em cima. —
Paula ri e deposita um beijo em minha bochecha.
— Eles são selvagens, como nós.
— Não nos compare com eles, pelo amor de Deus, Paula!
Jacinta minha indignação.
— Você está com ciúmes de Sophie, porque essa raça
Albuquerque é extremamente ciumenta e possessiva. Entendo
você, mas Sophie cresceu e é uma mulher incrível, que está
radicalizando a vida do nosso filho. Não é nada anormal o que
acabamos de ouvir, Lucca. Nossa filha também já tem vida
sexual ativa.
— Mas, graças a Deus, eu nunca a ouvi — comento. —
Deus me livre de ouvir Yasmin transando, Paula. Não tenho
estrutura.
— Vamo beber e foder, porque... acho que não durmo
essa noite não.
— Aoooo, Paula, te como do avesso! Vamos brincar de
eutrepsemia, safada! — Ela começa a rir e ficamos ao menos
uns quarenta minutos bebendo e falando merda.
Quando subimos para o quarto...
— Puta merda, Henrico Davi! Me mata de foder!
— Misericórdia, Lucca! Você se esqueceu de ensiná-lo a
ser mais silencioso em casa. Imagina se fosse na Ilha e se Victor
escutasse? Faltou essa dica na aula de sexo selvagem. Victor
iria invadir o quarto e cortar o pênis do nosso filho!
— O ensinarei a lidar com mordaça — brinco, para chocar
Paula, mas consigo o efeito contrário: ela concorda comigo.
— Mas ele também precisa ser amordaçado, porque o
menino é falante... — Paula parece pensativa enquanto fecha a
porta do nosso quarto. — Olha, amanhã, neste mesmo horário,
eu ainda estarei chocada! Nem quero mais fazer sexo hoje, de
verdade.
— Acho que traumatizamos, Paula Jacinta. Vamos assistir
um filme e tentar dormir. Quero apagar essa porra da mente.
— É isso! Vamos, bebê Lucca! Já pensou no café da
manhã? Vou morrer entalada com pão quando Henrico e Sophie
se juntarem a nós — ela diz, gargalhando, e uma ideia surge em
minha mente. — Ah, merda! Fodeu pra caralho! O que está
fazendo?
— Convidando Victor para tomar café da manhã em
família.
— O quê?!
— Eu perco a sanidade, perco o irmão, mas não perco a
piada! Aooooo, Jacinta a diversão! Só vem, Vitão!
Só tenho paz quando estou dormindo. Uma vez que
acordo e abro os meus olhos, toda tensão volta a surgir. Começo
a ganhar consciência sobre a vida e sobre todas as coisas ao
meu redor, isso inclui a consciência de ter a bunda de Sophie
pressionada fortemente em meu pau duro.
É extremamente difícil ser namorado dela. Extremamente
difícil ser eu.
Transamos algumas vezes durante a madrugada e meu
corpo tem a capacidade de reagir a ela como se não tivesse
obtido o suficiente. É confuso, estranho, de difícil entendimento.
As reações simplesmente seguem surgindo e parecem
intensificar a cada dia. Uma vez que meu corpo experimentou a
melhor sensação da vida, sinto-me como um completo viciado
em sexo e sei que talvez isso não seja muito saudável.
Os pensamentos inundam a minha mente enquanto tento
pensar em uma maneira de ter o mínimo de controle sobre as
reações. Tenho medo de exigir muito de Sophie, medo de
machucá-la. O tipo de sexo que fizemos durante a madrugada é
um pouco insano e não fui delicado com ela. Na minha mente,
tenho a consciência de que talvez ela precise de uns dias para se
recuperar, mas na mente dela... acho que passa muitas coisas
pervertidas e nada de uma pausa. Dá para notar neste momento,
quando ela está acordando e ganhando a consciência do meu
corpo pressionado no seu. Sophie solta um daqueles sons que
me deixa em estado de alerta e rebola lentamente.
— Isso é incrível, bebecito! — fala com uma voz
completamente rouca.
Isso me faz pensar que, provavelmente, sou inocente em
relação a ela. É provável que ela tenha tanto desejo quanto eu,
ou talvez mais. Ela parece incansável e insaciável, mais safada
do que costumo dizer. Não imaginava que ela seria assim, mas
estou surpreso. Um surpreso bom, não vou negar isso. Mas há
um limite para a quantidade de sexo? Minhas dúvidas agora
giram em torno dos limites que Sophie parece não possuir.
Parece que ela esteve mesmo esperando uma vida toda
por sexo comigo. Ela experimentou uma vez e agora quer isso o
tanto quanto é possível ter. Há um fogo em Sophie que não
consigo compreender ou descrever. Eu não sei dizer se todas as
mulheres são assim, não há como comparar. Ela realmente gosta
das coisas um pouco brutas e em grande quantidade.
Sigo mudo e quieto, então ela se vira de frente para mim e
dá o seu sorriso lindo.
— Você é absurdamente bonita — digo assim que ela me
rouba o fôlego. Todas as vezes em que olho para seu rosto
perfeito e seu sorriso, eu sinto um impacto forte, como se nada
fosse capaz de superar essa visão.
— Você é o menino mais bonito do mundo, então somos
um bom casal, não? — Ela sorri, trazendo uma de suas mãos em
meu rosto. — Bom dia, amor da minha vida.
— Bom dia, Sophie. Você está bem?
— Muito bem — responde, com um sorriso de satisfação.
— Eu me sinto tão bem, como nunca me senti antes. Eu amei a
nossa madrugada quente. — Sorrio para ela enquanto levo
minha mão em seu rosto, como ela fez.
— Eu dou prazer a você. — Não é uma pergunta. Eu me
sinto seguro sobre as minhas palavras e a sensação de
segurança é incrível para quem nunca foi tão seguro antes.
— Talvez você imagine o quanto, mas, qualquer quantia
de prazer que imaginar será pouca.
— Você também me dá muito prazer, Sophie. Não sei
explicar como meu corpo se sente quando estou dentro de você.
— Ela traz seus lábios aos meus. Meu autocontrole oscila
quando a beijo e eu me pego querendo mais do que tivemos
durante a madrugada. O que impede é o barulho do lado de fora
do quarto, anunciando que todos já estão devidamente
acordados.
Nos afastamos e Sophie fica de pé. Ela está linda vestindo
apenas uma camiseta minha.
— Vamos, bebecito! Não sei você, mas eu estou faminta.
Os esforços da noite passada abriram meu apetite.

Quando Henrico se levanta da cama, meus olhos


sonolentos se abrem por completo, de uma só vez. Há algo tão
duro preso dentro de sua cueca, que dá para ver o elástico se
esticando. Ficamos parados: ele olhando para mim e eu olhando
para sua cueca. O desejo que surge, me faz pensar que talvez
eu esteja doente.
Subo o olhar até seu rosto e encontro bochechas
lindamente ruborizadas, GAME OVER. Com a mesma rapidez
que ele levantou, está na cama, sendo atacado por sua noiva
ninfomaníaca. É muito bom descobrir as maravilhas do sexo
matinal e muito bom ter um noivo que simplesmente permite que
eu faça tudo o que quiser, como arrastá-lo até a cama e saciar o
leve desejo que surgiu. Sei que hoje ou amanhã minha
menstruação dará o ar da graça, e ficaremos ao menos três dias
sem sexo, então nem penso muito antes de montar Henrico
como se fosse o último dia das nossas vidas, provando que
rapidinhas podem ser excelentes.

Assim que descemos as escadas, todos os olhares se


voltam para nós e eu sinto a vontade de voltar correndo para o
quarto. De alguma forma, parece que todos sabem o que
estávamos fazendo. Todos, incluindo meus pais, que estão
sentados à mesa. O sorriso no rosto de tia Paula entrega as
minhas suspeitas.
— Papai! — Solto a mão de Henrico e vou abraçá-lo.
— Deus do céu, Sophie! Como eu queria que você fosse
aquela menininha de 12 anos que acordava gritando “papai”
todas as manhãs. Agora você acorda gritando “Henrico”...
Misericórdia, não tenho estrutura para ser pai de menina não! —
meu pai diz, me livrando do seu aperto, e vou abraçar minha
mãe. Talvez eu esteja sendo lerda, mas... não entendi nada.
Me acomodo ao lado de Henrico e o noto observando a
todos. A risadinha de Yaya está suspeita, assim como o brilho
nos olhos de tia Paula e o rosto vermelho de tio Lucca, que
simboliza que está segurando o riso.
— Por que estão nos olhando assim? — pergunto e
ninguém parece ter a coragem de responder.
— Henrico, estive pensando aqui sobre nossa conversa,
não precisa mais pensar em morar no Rio, irmão — Yaya diz,
rindo. — Revi meus conceitos e acho que São Roque é o lugar
ideal mesmo para você e Sophie. Nosso pai disse que a casa de
Eva não é geminada ou tão próxima de qualquer outra, disse que
possui bastante privacidade. A não ser que encontremos um
lugar isolado aqui no Rio de Janeiro para vocês.
— Oh, merda! — Yasmin nem precisa dizer mais nada.
Acabei de compreender e, neste momento, estou escondendo
meu rosto no braço do meu namorado, que certamente não
compreendeu. Eu quero cavar um buraco no chão e me enterrar,
principalmente pelo fato dos meus pais estarem à mesa conosco.
— Eu não compreendi. Há algo subliminar no que acabou
de dizer? Eu não gosto disso. Gosto de frases diretas — Henrico
argumenta.
— Oh, parem! Não vamos deixá-los sem graça — tia
Paula pede enquanto sorri.
— Bom que já consegui conter o drama de Victor antes
deles descerem. Vamos lá, não sejamos hipócritas, quem nunca
se exaltou em um algum momento sexual? — minha mãe
questiona, se divertindo, enquanto meu pai soca a cabeça na
mesa.
— Sophie, você pode me explicar? — Henrico sussurra
em meu ouvido.
— Fomos um pouco barulhentos no sexo e parece que
todos ouviram, durante a madrugada e agora pela manhã. —
Sinto o corpo de Henrico se retesar por alguns segundos.
— Esse filho da puta chamado Lucca nos chamou para vir
aqui de propósito! Já não basta eu saber que minha filha transa,
agora tenho que escutar também! — meu pai esbraveja.
— Papai, com todo respeito, mas você e mamãe estão
muito longe de serem silenciosos. Não vou dizer que os ouço
transar com frequência, mas, obviamente, já escutei algumas
poucas vezes. Em alguns momentos é normal o casal se exaltar.
— Estava muito bom — Henrico comenta com toda
sinceridade que possui. — Desculpa, tio Victor. Eu não queria
que tivesse ouvido Sophie transando comigo. Peço desculpas a
todos. Tentaremos ser silenciosos essa noite. — Tio Lucca está
morrendo de rir ao lado de tia Paula.
— Olha que merda! — meu pai diz, socando a mesa. —
Não sei porque está rindo, idiota! Olhe para sua filha!
— Pelo menos Yaya é silenciosa — tio Lucca rebate e
parece que eles têm cinco anos de idade. — Aoooo,
ressentimento, não é não?!
— Yaya não é muito silenciosa. Eu que quase a sufoco no
travesseiro — Thomaz comenta e se arrepende logo em seguida.
— Estava só brincando, sogrão. Relaxa. Yasmin é muito
silenciosa e quieta. Um anjo, eu diria.
— Aposto que é um anjo sim, tipo Lúcifer. Yasmin deve ser
pior que eu três vezes! — falo, rindo. — Oh, me diga quem
consegue ficar quieto no sexo? Não é possível que exista um
único ser humano que não faça o mínimo de barulho! Henrico é
muito comunicativo no sexo e... Senhor da glória!
— Comunicativo? — minha mãe pergunta, sorrindo. —
Conheço alguém comunicativo no sexo.
— É? — meu pai indaga, sorrindo de volta.
— Uhum...
— Hummm... — Ele para de sorrir quando percebe que
está entre pessoas. — Não tem graça alguma, Melinda. É culpa
sua essa menina ser escandalosa. E você, Sophie Albuquerque...
fui acordá-la carinhosamente com flores e ouvi um "Henrico Davi"
de uma maneira que me deixou traumatizado.
— Ok, pessoal! Quando estamos em ação, o nosso lado
racional fica nublado e não há pensamentos que façam muito
sentido. Não imaginei que tivéssemos dando um show para
todos, de verdade. Na hora H pareceu normal, baixo, não dava
para ter uma dimensão real dos sons que estávamos fazendo.
Sei que isso é desrespeitoso e que vocês não precisam ouvir as
trocas sexuais de um casal, principalmente quando abriram as
portas da casa para nos receber. Peço desculpas por mim e por
Henrico. Não faremos mais sexo...
— O quê? Sophie, você está falando sério? Eu espero que
não esteja. Por favor, Sophie, eu esperei anos por sexo com
você... — Todos estão boquiabertos e eu tapo a boca de Henrico
com a minha mão.
— Não faremos mais sexo barulhento. — Termino a frase,
rindo. — Bebecito, fica caladinho um pouquinho só, meu
amorzinho? Meu pai vai arrancar nossos órgãos.
— Eu estou pagando todos os pecados que já cometi na
vida! — meu pai choraminga.
— Bem feito! Ainda me lembro daquela Isabela e daquela
outra piranha na Ilha, como se fosse ontem! Bando de puta! Aqui
se faz, aqui se paga, Victor arrombador! — minha mãe rebate.
— Bom, se você se lembra delas na Ilha é porque estava
comigo.
— Você é um safado! Não tinha controle no pau e ficava
de mimimi, que não era um bom rapaz! Foda-se! Pague e pague
caro! Sophie tá é certa! Nem 500 guindastes devem tirá-la de
Henrico. — Começo a rir.
— Sua mãe sabe dos guindastes — meu noivo cochicha.
— Isso é desrespeitoso e íntimo, Sophie.
— Deixamos esse negócio de íntimo para trás depois da
madrugada, bebecito. Todos já sabem que você é um safado.
— Sophie, você que me provoca! Você é uma safada! —
Coloco um biscoito na boca dele antes que ele diga isso alto.
— Sophie, minha linda, está tudo bem. Não fique
constrangida. Vocês são jovens, acabaram de conhecer uma das
maravilhas da vida, estão empolgados, são saudáveis, cheios de
disposição — tia Paula argumenta. — Não vou negar que não é
muito agradável ouvir o filho em ação, mas, sabe de uma coisa?
Ouvi-los mudou algo em mim, ampliou a minha visão sobre o
meu filho. Tudo tem o lado bom e o lado ruim. Eu foquei no lado
bom. Estou feliz que estejam se descobrindo sexualmente, tendo
diversão, tendo uma troca tão íntima, que só o sexo proporciona.
Lucca chamou seu pai aqui para zoar, mas todos estamos
imensamente felizes com a união de vocês. Todos aqui torceram
muito para que um dia os dois ficassem juntos. Não existe no
mundo outra mulher para Henrico, assim como não existe outro
homem para você. — Olho para o meu bebecito e vejo a
personificação de todos os meus melhores sonhos.
Pela primeira vez, ele parece confortável para mostrar
gestos de carinho diante de todos. Ele toca meu rosto e traz seu
nariz ao meu, fazendo uma brincadeira, e deposita um beijo em
minha testa. Isso me emociona mais que as palavras de tia
Paula. Meu menino mais bonito e mais reservado do mundo está
se permitindo mostrar afeto diante de todos.
— Henrico e Sophie, o casal que mistura romance com
safadeza — minha mãe fala, rindo.
— Continue, Melinda! — meu pai diz ameaçadoramente e
ela sorri em desafio.
O que era para ser um caos, em poucos minutos
transforma-se em algo bonito. De um minuto para o outro todos
se esquecem do sexo barulhento e começam a conversar
loucuras, enquanto eu e Henrico tomamos nosso café da manhã
no mais absoluto silêncio.
Estou pronto para ir para a reunião, porém, nervoso o
bastante. Estou trancado em meu quarto, sozinho, andando de
um lado para o outro, mexendo incansavelmente um elástico em
meus dedos.
Quando meu pai me ligou, falando sobre o encontro com a
equipe de engenharia, acho que estava com a mente tão
ocupada com Sophie, que ignorei o fato de não conseguir lidar
muito bem com pessoas que não fazem parte do meu círculo
social. Eles são pessoas estranhas e eu não sou bom em lidar
com situações onde tenho que estar no controle diante de
desconhecidos. A grande verdade é que eu gostaria que todas as
pessoas no mundo soubessem exatamente como lidar com
autistas, tivessem consciência das limitações, do jeito diferente
de ser e agir. No fundo, temo que eles me achem mal-educado
ou algo pior. Todas as críticas que ouvi no passado se mantém
vivas em minha mente e surgem sempre quando estou prestes a
entrar em uma situação embaraçosa. Decido descer e falar com
meu pai sobre isso. Por mais que ele vá me acompanhar, me
sinto inseguro.
O encontro na sala de estar, conversando com tio Victor.
— Pai, podemos conversar?
— Claro! Em particular? — pergunta e eu olho para tio
Victor. Acho que ele pode ouvir. Ele é meu sogro e sinto que
preciso me esforçar para ser mais próximo.
— Não precisa — respondo, me acomodando no sofá, de
frente para eles. — Estou inseguro. Não sei se posso ir à reunião
com os engenheiros — confesso. — Não sei se posso fazer isso.
— Vamos lá, sua insegurança é referente a quê?
— Não os conheço, a maioria das pessoas têm dificuldade
em compreender o meu raciocínio, eu não sei me expressar tão
bem, não sei colocar meus pensamentos de forma ordenada
para que as demais pessoas entendam, sempre tenho a
sensação de pensar muito além do que as pessoas estão
acostumadas. Eu não conseguirei olhar nos olhos dele, não
gosto de toques, eles pensarão que sou mal-educado.
— Ei, sei que quer conselhos do seu pai, mas posso entrar
no assunto? — tio Victor pergunta e eu aceno positivamente com
a cabeça. — É extremamente difícil conduzir reuniões, enfrentar
pessoas desconhecidas. Isso é mais normal do que você
imagina, Henrico. Sabe, quando eu estava na faculdade de
Direito, o que me salvou foram as aulas de teatro. Na época de
colégio eu mal conseguia apresentar um trabalho na frente da
turma, imagina defender um cliente em um tribunal lotado? Não é
fácil e eu sentia muito medo. Porém, era enfrentar o medo ou ser
um péssimo advogado. Eu o enfrentei.
— Eu não enfrentei isso, filho. Sempre fui muito aberto,
muito... talvez insano se encaixe. — Meu pai sorri. — Porém, a
maior parte da minha turma teve que enfrentar essa dificuldade
de lidar com pessoas, conduzir situações. É comum demais e
não precisa ser autista para se submeter a esse medo.
— Eu não sei se posso fazer isso, pai. Nas últimas
semanas já enfrentei coisas demais e eu me sinto um pouco
saturado de enfrentar coisas novas. O que eles pensarão de mim
assim que eu abrir a boca?
— Que você é um homem extremamente inteligente, que
mesmo sem formação fez quatro projetos de arquitetura e
engenharia de casas impecáveis — responde, sorridente. — Não
é você quem tem que temê-los, são eles. Aqueles homens não
sabem o que espera por eles. Terão que mostrar que são
profissionais mesmo, ou no primeiro erro conhecerão o cara mais
inteligente que eu conheço na vida.
— Me desculpe, acabei escutando sem querer. — Sophie
surge. — Todos os dias ouço você me dizer "eu posso fazer isso,
Sophie". Sabe por que me diz isso? Porque, no fundo, você sabe
que pode fazer tudo. No fundo, a sua vontade de se autossuperar
é grande o bastante. Você vai naquela reunião, vai lidar com eles
como o homem incrível que é e, se tudo correr bem, em breve
estaremos vivendo na casa que você projetou para nós. Como tio
Lucca disse, você é o garoto mais inteligente e mais incrível do
mundo, e pode sim fazer isso e tudo mais que for preciso ser
feito. E, assim que sair da reunião, estarei te esperando na praia.
Estamos precisando de um bronze, bebecito. Enfim, era só isso.
Fui! — Ela sai correndo e eu me pego sorrindo enquanto a
observo.
— Agora você teve incentivo o bastante? — tio Victor
pergunta, rindo. — Minha garota é como a mãe, Henrico Davi.
Ela parece inofensiva, mas é como um trator. Ela disse tudo o
que precisava ouvir. Você pode enfrentar uma reunião.
— Pai, eles sabem que sou autista?
— Não. Eles sabem que você é Henrico Davi. É você
quem precisa saber que o autismo não define quem você é. É
uma diversidade, mas você pode ir além. Estarei com você, filho,
e sei que se sairá bem. — Me sinto mais confiante após ouvir
meu pai, tio Victor e Soso.
Eu posso fazer isso!
Nada nunca foi fácil ou tão simples para mim. Isso não
mudaria do dia para a noite só porque resolvi me arriscar com
Sophie.
Os velhos hábitos de sempre seguem comigo, e hoje,
mais que nunca, estou me dando conta de que há muitas
informações em minha mente precisando ser devidamente
processadas.
Desde que fui para São Roque, decidi que atropelar as
minhas limitações era a coisa certa a ser feita. E foi. Mas não
posso deixar de me repreender por não ter me dado o tempo de
me isolar e colocar a mente em ordem. Eu odeio que isso esteja
tornando-se um peso logo hoje. Odeio que minha vontade de
autossuperação esteja caindo sobre mim como um peso ruim.
Há uma reunião importante, há um encontro com Sophie
na praia, há as questões que Yaya me disse ontem, há todos os
acontecimentos das últimas semanas... Há muito em minha
mente para ser processado e estou adiando na tentativa de
vencer as minhas próprias necessidades.
Não adianta. Alguns esforços são recompensados, outros
não. Alguns só servem para pontuar a mim mesmo que a minha
maneira de lidar com as situações é diferente, o meu tempo para
processar acontecimentos é diferente. E, embora eu esteja ciente
de que a minha mente está necessitando de um descanso, me
pego devidamente pronto para encarar o primeiro desafio do dia:
a reunião.
Em alguns momentos me sinto mal por não ser capaz de
conduzir um veículo sozinho pelo Rio de Janeiro. Me causa a
sensação de inferioridade depender das pessoas para ir e vir, ao
mesmo tempo em que me causa também um pouco de alívio ter
o meu pai ao meu lado.
Estou silencioso enquanto subimos até a sala dos
engenheiros. Meu pai respeita isso. Mas, uma vez que
chegamos, percebo que o silêncio não poderá permanecer.
— É um prazer recebê-los. Sou Mauro Muller e esse é
meu irmão, Ricardo Muller — um homem simpático me
cumprimenta, estendendo a mão para um aperto. Demoro a
retribuir, na verdade, me forço a fazer isso e, quando a mão dele
toca a minha, é como se eu tivesse acabado de ser eletrocutado.
O mesmo acontece quando preciso cumprimentar o irmão dele.
Como pode ser tão fácil tocar Sophie de todas as maneiras e tão
difícil dar um aperto de mão em um desconhecido?
É incrível como meu pai faz isso com tanta facilidade. Ele
brinca, sorri, dá a reciprocidade aos engenheiros, enquanto eu
permaneço sério, quieto em meu universo, apenas fazendo o que
faço de melhor: observar e ouvir.
Eles são inteligentes. Me passam segurança e elogiam os
projetos que criei. Como esperado, os projetos não precisarão
passar por modificações, elogiam até mesmo os meus cálculos.
Eles falam sobre prazos, mão de obra, equipe, e eu só falo
quando é extremamente necessário. Simpatizo com os dois, eles
não se importam com o meu silêncio e respeitam que eu seja
fechado. Por fim, percebo que Mathew Vincenzo fez um bem
enorme ao indicá-los. Eles me passam a segurança que eu
precisava e todas as garantias.
Saio da reunião sentindo-me mal por toda tensão que
estar perto de pessoas desconhecidas me causa. Já meu pai,
está orgulhoso o bastante.
— Você foi incrível, filho! Estou feliz por ter vencido essa
barreira! Tem ideia da dimensão do orgulho que sinto por você?
Você possui uma genialidade surreal, filho! — Não o respondo.
Quero ficar calado por um tempo, sem precisar agradecer,
debater ou dizer qualquer palavra que seja. Por sorte, ele me
entende e não se magoa por eu me manter quieto. Meus pais
sempre sabem quando estou no meu limite.
Como combinado, seguimos de carro pela orla da Barra,
para encontrarmos Sophie, e isso acontece, mas não da maneira
como previ. Sophie está rodeada de amigos, conversando
animadamente.
Meu pai estaciona o carro e solta um suspiro que atrai a
minha atenção.
— O que está acontecendo com você hoje? Pensei que
seria um dia incrível, visto que teve uma madrugada bastante
ativa. Há algo de errado.
— Todos escutaram de verdade? — pergunto, o
observando, e ele sorri.
— É. Você e Sophie deixaram o pudor de lado. Mas não é
esse o ponto agora. Embora seja curioso ver que não está
envergonhado.
— Não estou — confirmo. — Eu não fazia ideia de que
escutariam, não percebi que perdemos o controle. Não posso me
envergonhar de algo que aconteceu naturalmente.
— Você está certo. Mas é bom se atentar a isso quando
não estiverem em casa. Por exemplo, em viagens ou na casa do
seu sogro, é necessário controlar os sons. De resto, está tudo
bem, filho. Ter escutado vocês acabou sendo algo bom para a
sua mãe. Acho que ela precisava entender que você é um
homem feito agora e os sons serviram para deixar bem claro.
— Vocês querem que eu volte para o Rio? — pergunto.
— Nós queremos que seja feliz, Henrico. Aqui, em São
Roque, aonde quer que seja. Não vou mentir, amaríamos você e
Soso por perto. Seria perfeito acompanhá-los, estarmos juntos
com frequência. Mas, sendo bastante sincero, acho que visando
a qualidade de vida, São Roque é o melhor lugar para você.
Acho que você se sentirá mais livre, mais leve, mais capaz, longe
de todas as coisas que te causam pânico. Yaya tem motivos para
estar emotiva em torno de você, ela esperou durante anos por
uma abertura da sua parte e acredito que seja um pouco
frustrante para ela conseguir isso quando você decide morar em
outro estado. Ela está um pouco sensível no que diz respeito a
você, mas quer sua felicidade como todos os demais.
— Eu nunca fui capaz de perceber que a fazia sofrer com
a minha indiferença. Apenas não sabia como lidar com ela, pai.
Por isso, preferia não lidar, entende?
— Entendo e sei que, no fundo, ela entende também,
tanto que o respeitou a vida toda.
— Sinto muito. Tentarei recuperar o tempo que perdemos
— afirmo. — Acredito que vocês merecem acompanhar meu
desenvolvimento, pai. Mas... eu gosto do sossego que São
Roque me oferece. Eu consigo dirigir, não há muito trânsito,
excesso de pessoas, é uma cidade pacata, em meio à natureza,
e consigo ver um futuro para Sophie como veterinária lá, consigo
ver o meu futuro longe de tudo que me causa mal. Eu amo
vocês, muito. Sinto muito ter escolhido ir para longe. Não fui por
vocês, fui por mim. Fui para fugir do caos que me incomoda. Está
sendo uma experiência engrandecedora.
— Eu sei que está. — Ele sorri e segura a minha mão. —
É visível. E, se quer mesmo um conselho, permaneça em São
Roque, priorize a sua saúde mental e a qualidade de vida que
aquele lugarejo vai te oferecer. Temos um jatinho aqui, à
disposição. Poderemos estar sempre com vocês. Yaya também.
— Obrigado, pai. Essa conversa tirou um peso enorme de
mim.
— Agora me diga, por que está tão estranho hoje? Por
favor — pede e volto a olhar para frente.
— Há muitas questões em minha mente. Desde que viajei
para São Roque e encontrei com Sophie, deixei de ter meu
espaço. Sophie não é culpada, eu sou. A vontade de estar com
ela em todos os momentos me fez ignorar as necessidades da
minha mente. Eu sou o garoto que precisa de um tempo diário
para colocar os acontecimentos em ordem na minha mente. E
quis me tornar o garoto desordenado para não perder um único
segundo com a garota que amo. De repente, eu me dei conta de
que algumas necessidades são maiores que outras, mas, ainda
assim, não são dispensáveis. Está tudo certo, estou feliz, mas
está pesando o fato de não ter cuidado do meu psicológico nas
últimas semanas. Reconheço que estou errando nisso, ignorando
a doutora Ana, mesmo sabendo que não posso abandonar a
terapia. Além disso... — falo, olhando Sophie à distância. — Olhe
como ela é livre, pai. Como ela socializa facilmente, tem uma
enorme facilidade em lidar com todos, é alegre, divertida, maluca.
Não consigo imaginar a minha vida sem Sophie, mas em alguns
momentos me pego pensando que o nosso relacionamento pode
acabar limitando uma garota que nasceu para a liberdade. Ela é
tão jovem e tão cheia de vida, deve possuir milhares de sonhos,
deve querer agir como os demais jovens da nossa idade e,
embora eu tenha dito com frequência que posso fazer muitas
coisas, sabemos que algumas atividades que são comuns jamais
poderão ser desempenhadas por mim. Por exemplo, eu não
posso levá-la em uma boate. As luzes, os sons, as pessoas...
não posso lidar com isso nem mesmo se eu me esforçar, pai.
— Sophie sabe disso, Henrico. E ela é mais parecida com
você do que imagina. Sophie não é a garota balada. Embora ela
seja muito maluquinha, não é arruaceira, baladeira. Ela o
conhece tanto, que às vezes parece saber lidar com você melhor
do que eu ou sua mãe. Acredite, ela está nesse relacionamento
sabendo suas limitações, sabendo quem realmente você é. Não
acho que esteja limitando Sophie. Na verdade, filho, eu acho que
você deu asas a ela. Sophie está voando desde que se declarou.
Você a libertou para algo novo e não deve ficar pensando em
coisas negativas. Vocês dois sempre tiveram muito diálogo.
Tenho certeza de que Sophie dirá sempre quando algo a
incomodá-la ou quando ela quiser alguma coisa diferente. Como
foi no caso da tal agressão... — Ele ri e eu o acompanho.
— Eu a agredi.
— Não, não, filho. Não fale dessa maneira. Você não a
agrediu, ok? Vocês fizeram sexo selvagem — argumenta, rindo.
— Foi estranho. Sophie gostou muito. Era esperado ela
gostar. Porém, não era esperado que eu iria gostar dessa quase
agressão, e eu gostei. Gostei mais por vê-la insana, me causou
muitas sensações vê-la tão entregue e amando cada segundo.
Mas isso é íntimo demais e eu não devo contar, pai. Me desculpe
por isso. — Ele aperta a minha mão e só então relembro que
estamos de mãos dadas. Receber o toque do meu pai me
acalma e me distrai.
— Ainda há todo um universo a ser explorado. Vocês
estão apenas começando e não há um manual de instruções. É
incrível como nosso próprio corpo vai mostrando necessidades e
como vamos naturalmente fazendo descobertas. Uma coisa vai
levando a outra. Foque nas descobertas e nas coisas
maravilhosas que estão vivendo juntos. Não deixe que o
pessimismo faça parte dessa nova fase da sua vida. Isso não
combina com você ou com Soso.
— Tentarei ser confiante, pai.
— Agora, se me permite dizer, há alguns garotos em torno
da sua garota. Um deles está bem saidinho, por sinal. Requer a
ação de um noivo. — Olho para Sophie e percebo que meu pai
está certo. Só há uma questão, não conheço ninguém ali e não
sei como agir.
— Não gosto daquele garoto.
— Imaginei que não gostaria. — Meu pai sorri. — Ei, cara,
voltando ao assunto, apenas relaxe. O bom da vida são as
diferenças. Você é diferente de Sophie, eu sou diferente de sua
mãe, ninguém é igual e é exatamente isso que torna a jornada
fantástica. Se todos fôssemos iguais não haveria nada a ser
descoberto, seria chato, morno. São as diferenças que fazem
com que Sophie se encaixe tão bem em você, e vice-versa.
Agora vá e mergulhe em quem faz seu coração errar todas as
batidas.
Novamente, digo internamente que posso fazer isso.
Ainda dentro do carro, me desfaço das roupas sociais e
decido pegar a minha garota, ignorando a dificuldade que é ser
noivo dela...

— Sophie!!! — Estou quase dormindo na areia quando


ouço uma voz me chamar. Retiro o chapéu que estava cobrindo
meu rosto e me viro para encontrar alguns antigos amigos do
colégio.
Sorrio, fico de pé e vou cumprimentá-los.
— Olá, vocês!
— Cada dia mais, hein? — Pedro Henrique diz, me
abraçando apertado até demais. Desconfortável, me desvencilho
dele e vou cumprimentar os demais. Há Aline, Raíssa, Marcos,
Suelen e PH. Todos estudaram comigo no terceiro ano.
— Você sumiu! — Raíssa diz.
— Sim, fui estudar medicina veterinária na Califórnia.
Voltei recentemente e estou morando em Minas.
— Não vai me dizer que abandonou a universidade?
Sempre foi o seu sonho ser veterinária — agora é Aline quem
diz.
— Não abandonei, porém dei uma pausa. Digamos que
sou uma garota sonhadora e que possuía mais de um sonho na
vida. E, em meio a tantos sonhos, um está no topo. Posso dizer
que um sonho depende do outro para fazer sentido. Agora está
sendo o momento onde estou realizando um outro grande sonho
que tinha e tem sido a minha prioridade viver isso. Logo volto à
universidade. Somos jovens, temos muito tempo.
— Vamos sair hoje? Colocar o papo em dia — Pedro
sugere.
— Seria divertido sair com vocês para papear, porém, vim
com meu namorado a negócios e visitar nossos familiares, então
eles são prioridades. Quando eu voltar com mais calma,
marcamos algo, sim? Faz muito tempo que não vejo vocês. E por
onde anda Daiane? — pergunto.
— Daiane está morando na Flórida — Marcos responde
cabisbaixo e eu acabo sorrindo. Ele sempre nutriu uma paixão
por Daiane.
— Ah, vamos lá, Sophie! Não vem com essa de
namorado. Você sempre disse que tinha namorado para me
afastar, mas esse namorado nunca apareceu. Você pode dar
uma desculpa melhor. Qual é, eu era considerado o garoto mais
bonito do colégio... — Pedro brinca e então eu vejo o menino
mais bonito do mundo distante, caminhando pela areia.
— Ele realmente existe. — Sorrio, hipnotizada, como se
tivesse passado meses sem ver Henrico. Ele é tão lindo e
impactante, que me rouba o fôlego. Henrico está de bermuda,
havaianas, uma camisa floral e um boné vermelho, todo
menininho estiloso. Lindo de viver! — Na verdade, me acostumei
a chamá-lo de namorado, mas somos noivos agora. — Mostro a
minha aliança.
— Uau, Sophie! Mas você é tão novinha... sério que vai se
casar? — Aline pergunta com toda sua curiosidade e doçura.
— Eu esperei por ele a vida toda. Acredite, é o momento
certo. Não há nenhum outro homem no mundo para mim —
afirmo, sorridente. — Bom, pessoal, vou ali encontrá-lo. Espero
revê-los em breve — me despeço de todos e corro para os
braços de Henrico, que agora está mais próximo. — Meu
bebecito! — Sorrio, o enchendo de beijos, e volto ao chão,
distanciando para analisá-lo melhor. Ele não está sorridente.
— Não gosto dos seus amigos. — Curto e direto. Ele tanto
me surpreende quanto me deixa curiosa ao dizer as palavras.
— Por quê?
— Porque eles estavam olhando para a sua bunda quando
você veio até mim. Não gosto deles — justifica.
— Ok, mas a minha bunda é propriedade sua, não é
mesmo? — Volto a me aproximar e brinco com o cordão em seu
pescoço. — Não há motivos para ficar bravo. Eu sou do menino
mais bonito do mundo, que tem os braços mais fortinhos e o
corpo mais gostoso.
— É desrespeitoso olhar daquela maneira uma mulher
comprometida.
— Infelizmente, recebo olhares, assim como sua mãe, sua
irmã, minha mãe e as demais mulheres do Universo. E me
lembro bem de receber alguns olhares seu. Antes eu ficava
curiosa, tentando decifrá-los, agora sei que eram pervertidos —
brinco.
— Você era solteira e... Sophie, você, desde pequena,
sempre foi a minha menina mais bonita do mundo. Eu nunca
olhei para qualquer garota antes. Sempre foi você. Não sou um
pervertido completo. Era curioso antes, agora um pervertido
sobre você. — Finalmente um resquício de um sorriso bem
safadinho.
— Entendo você, Henrico Davi. A razão está do seu lado.
Porém, nem todos os homens possuem os valores que você
possui. Na verdade, acho que a maioria não presta mesmo.
Olhares, piadinhas, alguns até se excedem. Infelizmente, nós,
mulheres, estamos suscetíveis a esse tipo de comportamento
escroto da parte dos homens. Mas vamos esquecer isso agora?
A praia está devidamente vazia, como você gosta. Que tal
aproveitarmos o restante da tarde? Quero que me conte tudo
sobre a reunião, senhor pervertido!
Ele joga uma mochila ao lado das minhas coisas, retira o
boné, a camisa, o chinelo e vem correndo atrás de mim.
Parecemos duas crianças correndo e brincando de jogar água
um no outro. Tudo o que não fazemos é conversar sobre a
reunião. Por um momento, decidimos nos desconectar de tudo e
todos, apenas aproveitamos o mar, a vida, o nosso
relacionamento, como se houvesse apenas nós dois no mundo.

O programa perfeito para um casal apaixonado se


transforma em algo muito ruim quando estamos caminhando
rumo ao carro, para ir embora.
— Olha quem está aqui! — Assim que ouço a voz,
aumento meu aperto na mão de Henrico. É o próprio gatilho
andando em nossa direção. — Não vá me dizer que tem uma
namorada! Logo você? Eu jamais imaginei! — Tento puxar
Henrico, mas ele parece incapaz de se mover. Eu nunca o vi
olhar tão fixamente para alguém dessa maneira. É um gesto
incomum. — Não vai cumprimentar seu pai?
— O que você quer de mim? — Henrico pergunta,
enquanto encontro-me em plena tensão, prevendo crises,
agressão, qualquer merda bastante negativa. Não há como ser
diferente. Henrico tem pânico de Pablo e o cara parece mesmo
ter nascido pelo cu, como tia Paula costuma dizer.
— Quero conversar com você. Sou seu pai, embora não
considere. Você nunca me deu uma chance de poder falar. Eu só
quero conversar. — Sinto uma vontade repentina de socar esse
homem. É surreal ele dizer que Henrico nunca deu chance a ele.
— Sophie, você pode me esperar no carro? — O pedido
de Henrico me pega completamente desprevenida. Juro, jamais
imaginei que ele me pediria algo assim, jamais imaginei que um
dia ele falaria com Pablo. Não sei o que está passando na mente
de Henrico. Especialmente hoje ele parece estranho e a prova
disso é querer conversar com Pablo o que quer que seja.
— Você está mesmo falando sério? — pergunto a ele. —
Vai mesmo falar com esse homem?
— Eu preciso encerrar isso, Sophie. Enquanto não houver
um encerramento, ele não me deixará em paz. Estou pensando
no futuro. Não quero que ele seja uma assombração constante
em nossas vidas. Além disso, tudo que sei sobre ele foi dito pelos
meus pais. Gostaria de ouvi-lo por conta própria.
— Isso não vai te afetar? — pergunto, receosa. — Por
favor, eu sei de todas as crises que teve por conta desse homem.
Estou receosa.
— Não há garantias, Sophie. Porém, sou adulto e quero
enfrentar essa situação. Me espere no carro, ok? Estou pedindo.
Confie em mim.
— Eu confio em você. Não confio nele. Se ele te fizer mal,
irei até o inferno se preciso for.
— Você não pode ir até o inferno, Sophie. Não seja boba.
— Henrico dá um sorriso leve. — Ficarei bem. Em alguns
minutos estarei com você.
— Por favor... não acho que seja uma boa ideia.
— Preciso que confie em mim — insiste e percebo que ele
está realmente decidido. Não há como eu ir contra essa decisão.
Solto um suspiro frustrado e me afasto contra a minha
vontade, caminhando em direção ao carro de tia Paula. Me
acomodo e então torno-me apenas uma espectadora à distância,
triste por não saber absolutamente nada sobre leitura labial.

Estar diante desse homem me causa repulsa. Não possuo


uma única lembrança boa em relação a ele, embora minha mãe
tenha dito que houve uma época em que ele pareceu querer se
esforçar. O esforço durou pouco, algumas semanas apenas.
Nunca quis confrontá-lo. Ele é responsável pelas piores
crises que já tive na vida e as piores lembranças. Porém, sempre
possuí uma curiosidade sobre o motivo dele ser tão indiferente a
mim e nunca obtive uma resposta concreta. Não quero ser
privado da verdade pelo resto da vida. Quero expulsar todas as
dúvidas da minha mente em relação a Pablo.
Não estou no meu melhor dia. Meu psicológico está
devidamente sobrecarregado e creio que essa conversa apenas
vá piorar as coisas. Mas sinto como se precisasse disso para
colocar um ponto final nessa relação que nunca existiu. Tenho
esperança de que possa compreender os motivos dele e
esperança que depois dessa conversa ele nunca mais apareça
diante de mim.
Meu pai é o Lucca, porém, saber que Pablo tem um laço
sanguíneo comigo me faz querer entender algumas questões.
Ele nunca me fez falta, mas sempre foi como uma sombra em
minha vida. Saber que fui rejeitado por ele desde o início sempre
me afetou. Quem rejeita o próprio filho?
— O que quer tanto falar comigo? — pergunto, tentando
me manter firme. Sei que possuo inúmeras fraquezas, mas não
estou preparado para mostrar isso a ele.
— Você é o meu filho. É a primeira vez que permite que eu
fale com você.
— Eu não sou seu filho. Você nunca foi meu pai. Estou
aceitando sua conversa agora apenas porque preciso entender,
para encerrar de vez essa situação em minha mente — confesso.
— Você nunca me fez falta, porém, ocasionalmente, eu me
questionava sobre o motivo pelo qual você nunca me tratou como
filho e me questionava sobre sua abordagem grosseira e
agressiva com a minha mãe.
— Você é um garoto normal agora? Não é mais autista?
— Autista não é um adjetivo, é uma condição. E eu sou
autista. Autismo não é uma doença para ser curada. Apenas
aprendi a conviver com essa condição dia após dia, com a ajuda
da minha mãe, do meu pai e de todos os profissionais que
sempre tiveram em torno de mim. — Pablo fica calado, me
observando. De algum modo, estou conseguindo encará-lo, e é
horrível perceber que me pareço um pouco com ele fisicamente.
— Você tem uma linda namorada. Nunca imaginei que um
dia veria meu filho namorar.
— Você não sabe nada sobre mim e nada sobre autismo.
Parece ter uma visão bastante deturpada em relação à minha
condição. — Ele suspira, por um momento até parece com pesar.
— Pode me explicar por que sempre agiu como se eu não fosse
seu filho?
— Eu me perdi no passado. Sabe, quando sua mãe disse
que estava grávida de um menino, fiz inúmeros planos. Confesso
para você, sempre fui um homem machista. Ao saber que teria
um menino, me vangloriei para todos os meus amigos, inclusive
para a turma que eu jogava futebol. Eu queria vê-lo em campo
comigo, mesmo com pouco tamanho. Queria fazer aventuras
radicais com você, ter uma vida normal de garotos. Ter um
menino era um sonho, mas eu queria ter um menino totalmente
saudável e normal. Então você nasceu e com o tempo percebi
que havia algo errado, logo você foi diagnosticado com autismo.
Você não conseguia segurar uma pena em sua mão, não
conseguia falar, não conseguia nem mesmo engatinhar. Teve
toda a questão de atraso da coordenação motora. Os médicos
disseram que a partir daquele diagnóstico toda nossa vida teria
que mudar em sua função e eu não levei isso muito bem. Não me
orgulho disso. Eu era um babaca. Sua mãe ficou com toda a
responsabilidade sozinha, ela tentava fazer com que eu me
encaixasse e nunca era bem-sucedida. Eu era louco por ela,
Henrico, e detestava a quantidade de atenção que você exigia
dela. Começamos a ter brigas constantes, até que a pedi em
casamento. Foi nítido que ela aceitou o pedido na esperança de
nos transformar em uma família. Por alguns momentos tive a
mesma esperança e tentei me encaixar, mas não era para mim.
Eu não imaginava a minha vida cheia de limitações. A deixei no
altar no dia do casamento.
— Foi sua primeira ação sensata.
— Sua mãe sempre foi a favor da família, então achei que
seria perdoado, mas ela foi firme naquela vez. Ela foi para a lua
de mel sozinha e lá conheceu o Lucca. Quando vi que estava
perdendo Paula, eu usei você para tentar reconquistá-la. Tentei
ser um bom pai e até fui durante um curto período. Mas, quando
vi que não estava tendo sucesso e que havia a perdido de vez,
não soube lidar bem com a perda e surtei. Foram anos difíceis,
fui obrigado a me afastar dela e de você judicialmente, não
aceitava nenhuma das duas coisas, perdia a razão sempre que
tentava mudar a situação. Quando me dei conta do que havia
feito em todos aqueles anos, já era tarde demais. Eu me
arrependi, Henrico. Todas as vezes em que via você, Paula,
Lucca e a filha deles, eu sentia meu peito rasgar. Todas as vezes
que tentava falar com você e era ignorado, eu sangrava. — Ele
está chorando agora e eu estou com um nó atravessado em
minha garganta, por ouvir toda a verdade. — A verdade é que
nunca soube ser seu pai, nunca soube lidar bem quando as
minhas expectativas eram frustradas, nunca soube perder e me
vi perdendo sua mãe juntamente com você. Eu tenho consciência
de que me transformei em um monstro perverso, mas não sabia
como mudar aquilo. Me perdoe, filho. Me perdoe por não ter sido
seu pai, por não ter sido um bom homem para a sua mãe, por
não ter sido...
— Homem — concluo. — Sinto muito que a minha
condição tenha frustrado as suas expectativas, sinto muito por
não ter sido considerado normal para você, sinto muito que tenha
sentido vergonha por ter um filho portador de autismo. E eu te
agradeço imensamente por ter sido um monstro e não um
homem. Minha mãe é uma mulher feliz e realizada na vida, ela
tem um marido que a ama e a honra, e eu tenho o pai que
sempre mereci ter. Eu nunca vi meu pai gritar com a minha mãe,
nunca o vi empurrá-la e jogá-la em superfícies, nunca o vi agredi-
la. Ele a faz rir todos os dias e a ama com devoção. O meu pai
esteve comigo nos momentos mais difíceis, me consolou em
todas as crises que tive por sua culpa. O meu pai sempre foi o
meu super-herói e é o meu melhor amigo. Ele vibrou quando dei
os primeiros passos, participou de todo o meu desenvolvimento,
ele pintava quadros comigo, me defendia de todas as pessoas
que me achavam anormal, como você acha. Ele percebeu que
minha inteligência era avançada, foi meu confidente em relação à
garota que eu amo, me ensinou sobre sexo, me encaixou em sua
vida sem ter qualquer obrigação e me ama com toda sinceridade
que possui. O meu pai sempre acreditou em mim e fez com que
eu acreditasse também.
"Eu não sou anormal, Pablo, ou uma aberração. Sou um
homem feito, que vê o mundo de uma forma diferente. Não posso
e não vou perdoá-lo pelo que fez, mas não pense que é pelo que
fez comigo. Eu nunca vou perdoá-lo pelo que fez com a minha
mãe, nunca vou perdoá-lo por tê-la feito chorar inúmeras vezes e
por tê-la feito sangrar. Sobre o que fez comigo, nunca fez
diferença. O meu pai nunca deixou espaço vazio para eu sentir
falta do meu progenitor. Ele chegou e preencheu a minha vida
com amor, paciência, alegria, compreensão e sempre me amou
como qualquer pai deveria amar um filho. Um dia eu serei pai dos
filhos da minha noiva e é meu pai Lucca quem será a minha
inspiração para que eu desenvolva meu papel como um homem
de caráter deve desenvolver. Sinto muito que esteja te
decepcionando agora, mas parece que não nasci mesmo para
suprir suas expectativas, então está tudo bem. Agora que
conversamos, por favor, desista de mim definitivamente. Na
minha vida não há espaço para você, da mesma forma que não
houve espaço na sua quando descobriu que o seu filho é autista.
Sua deficiência é superior à deficiência que acha que possuo."
O deixo sem olhar para trás, certo de que fechei todas as
lacunas que estavam abertas dentro de mim e de que fiz o que
precisava ser feito.
— Está tudo bem? — Sophie questiona quando entro no
carro e eu aceno positivamente com a cabeça.
Não está tudo bem comigo. A minha condição fez o
homem que deveria ser meu pai se afastar de mim, fez com que
ele se envergonhasse, fez minha mãe ser agredida, fez... uma
infinidade de coisas. E, por mais que eu lute para me manter
firme, quando Sophie me abraça eu desmorono como uma
criança perdida, derramando toda a minha dor sobre a garota
que eu amo com toda a minha alma.
Eu nunca serei para os meus filhos o que Pablo foi para
mim. Nunca farei com que eles se sintam deixados de lado, que
se sintam insuficientes ou anormais, caso possuam alguma
condição especial.
— Eu vou encontrá-lo e destruí-lo! Eu juro por Deus,
Henrico! Vou falar com tio Lucca, com meu pai, com o diabo...
Ele vai pagar por cada lágrima que está escorrendo dos seus
olhos agora! — Sophie ameaça.
Ele já paga. O arrependimento irá consumi-lo pelo resto da
vida. Ele perdeu a mulher mais incrível do mundo e nunca a
conseguirá de volta. Os pecados dele jamais serão perdoados.
Eu só paro de chorar quando o choro de Sophie torna-se
mais forte que o meu.
— Eu te amo com a minha alma, bebecito. A sua dor
sempre será a minha dor. Você é o garoto mais incrível e mais
bonito do mundo! Você é o meu infinito e além dele! Juntos
vamos combater as forças malignas! — Isso me faz sorrir. Sophie
é mesmo a garota mais bonita do mundo, de corpo, alma e
coração.
Agora entendo o motivo pelo qual minha mãe diz que
Pablo nasceu pelo cu...

Eu me sinto vendo todas as coisas acontecendo em


câmera lenta. Por alguns instantes parece que perdi a
capacidade de falar e agir. Tudo que faço é observar, em estado
de choque total.
No fundo, eu sabia que seria exatamente assim. Pablo
tem o forte poder de desestruturar Henrico. Mas ver meu noivo
devastado é mais do que posso suportar. O pior de tudo é que tio
Lucca e tia Paula não sabem o que aconteceu horas atrás. Tio
Lucca parece compreender melhor a necessidade do filho, como
se tivesse tido alguma espécie de conversa particular com ele.
Porém, ainda assim, é visível que até mesmo o homem que
conhece tão bem o filho parece levemente perdido.
Eu vejo o meu menino mais bonito do mundo implorar
para receber a medicação intravenosa tão temida por mim e o
vejo ameaçar se autoaplicar. O mais assustador é que ele parece
devidamente calmo, mas sei que há uma tempestade em seu
interior. Ele está argumentando de forma clara, objetiva e segura.
Não está tendo nenhuma crise assustadora e acho que isso é o
que mais está assustando tia Paula. É incomum Henrico lidar
com uma crise dessa maneira.
Tio Lucca cede, mostrando-nos que é exatamente o que
deve ser feito. Uma vez que tio Lucca aplica a injeção, Henrico
pede para que todos saiam do quarto, exceto eu. Não faço ideia
de como irei lidar com ele agora, tendo em vista que meu nível
de abalo está altíssimo.
— Sophie, eu só quero pedir desculpas por precisar disso
— fala com a cabeça baixa. — Sei que é difícil para você lidar
com essa situação, mas não imploraria pela medicação se não
tivesse realmente precisando. Estou tentando privá-la de ver o
lado feio de ter um namorado como eu.
— Não há um lado feio...
— Há, Sophie. Você sabe, todos sabem, eu sei que há.
Minha mente está muito turbulenta e estou evitando uma crise
maior. Só preciso me acalmar, colocar todos os acontecimentos
em ordem em minha mente. Preciso que entenda isso. Sei que
me ama, então vai entender que é para o meu próprio bem.
Estou cansado, Soso. Minha mente está bagunçada — explica
com a voz baixa, prova de que a medicação está começando a
fazer efeito. — Não precisa ficar aqui comigo, tudo bem? Eu acho
que deveria ficar um pouco com os seus pais, ao menos até eu
estar bem novamente. Vamos voltar para São Roque em breve.
Aproveite a companhia dos seus pais.
— Não sei se vou conseguir ir — confesso, lutando contra
as lágrimas e me ajoelhando diante dele, que está sentado sobre
a cama. — Eu amo você, mesmo quando insiste no lado feio. Se
esse lado existe mesmo, eu também o amo. Amo tudo sobre
você.
— Eu também amo tudo sobre você, Soso. Você pode me
deixar dormir agora? — Balanço a cabeça positivamente e ele se
deita. É de partir a porra do meu coração em milhares de
pedacinhos. Odeio vê-lo fragilizado, odeio.
Ele tem um apagão rápido diante dos meus olhos. É
assustador e triste. É como ver um gigante sendo derrubado.
Fico de pé e o cubro, tendo a certeza de que ele só acordará
amanhã e ainda estará levemente entorpecido pelo calmante.
Fico sentada ao lado dele, tentando buscar meios de
tornar a vida dele mais fácil. Deve haver algo que eu possa fazer
para que seus dias sejam mais iluminados do que imersos na
escuridão.
Quando resolvo deixá-lo, encontro tia Paula e tio Lucca na
sala, conversando sobre o filho. Eu me sinto na obrigação de
explicar a eles o que aconteceu. Eles merecem saber, embora eu
não tenha a mínima ideia do teor da conversa que Henrico teve
com o pai. A única coisa que Henrico disse é que pediu verdades
e que Pablo deu exatamente verdades a ele, sem privá-lo de
nada.
— Eu sei o que o levou a implorar por isso — digo, me
acomodando em um sofá diante deles. — Não sei se eu deveria
ter ligado para vocês, se fiz certo em confiar que Henrico
suportaria.
— O que houve? — tia Paula pergunta, apreensiva.
— Henrico já estava levemente estranho na praia. Parecia
exausto, não sei bem explicar. Não consegui decifrá-lo tão bem.
Então, quando estávamos indo embora, Pablo surgiu.
— Desgraçado! — tio Lucca esbraveja.
— Ele é um imbecil, insistiu em conversar com Henrico e
eu me surpreendi quando Henrico aceitou conversar com ele.
— Henrico aceitou conversar com Pablo? — tia Paula
pergunta, com a incredulidade estampada em seu rosto.
— Ele quis enfrentá-lo. Disse que precisava disso para
fechar algumas lacunas e seguir em paz — explico. — Eu insisti
para Henrico não fazer, tia Paula, mas ele estava decidido e me
pediu que eu confiasse nele. Confiei, não tinha alternativa. Se eu
o impedisse, ele se sentiria inferior ou qualquer merda do tipo,
iria contra todo o poder que o fizemos enxergar que possui.
Fiquei dentro do carro observando. Eles ficaram cerca de uns 20
minutos conversando. Pablo falou muito, mas Henrico parece ter
falado mais. Ele voltou para o carro muito abalado, teve uma
crise de choro que nunca o vi ter, mas não quis me dizer o que
conversaram. Ele só disse que pediu verdades a Pablo e que
recebeu todas as verdades, sem cortes. Quando saímos de lá,
Pablo ainda estava sentado no mesmo banco, parecia
desestabilizado o bastante.
— Eu vou matá-lo! — tio Lucca diz, ficando de pé. —
Aquele desgraçado só surge para foder tudo!
— Tio, eu entendo sua raiva, mas talvez Henrico
precisasse mesmo ouvir para seguir a vida sem dúvidas sobre o
passado. Por mais triste que seja e por mais que tenha afetado
ele, acho que era o que precisava. Ele sabe que vocês contaram
apenas o básico, que sempre houve muito mais por trás da
história e que sempre foi privado da verdade absoluta. Vocês
fizeram o certo, mas ele cresceu, tornou-se um homem, está em
uma nova fase da vida, cheio de atitudes e desejos. Ele quis
saber a fundo e vocês jamais dariam isso a ele, com razão. Eu
faria o mesmo se tivesse no lugar de vocês. E não creio que
tenha sido só essa conversa com Pablo que o abalou. Ele
parecia abalado antes de encontrar com Pablo. Não sei o que se
passa, mas espero obter respostas quando ele acordar.
— Eu não sei o que dizer ou o que pensar — tia Paula
confessa. Ela parece devastada.
— Vocês devem se acalmar. Temos que esperar Henrico
acordar e esperar que ele queira nos dar mais informações. Não
acho que seja prudente ir atrás de Pablo. Temos que confiar em
Henrico.
— Vamos aguardar. Obrigada por nos contar, Sophie.
Obrigada, do fundo do meu coração — tia Paula diz, fica de pé e
vem até mim, me dar um abraço apertado. — Ainda bem que
meu filho tem você.
— Ainda bem que tem vocês! — exclamo, sorrindo. —
Bom, eu vou me deitar. Estou com uma cólica desgraçada...
— Vai dormir com Henrico?
— Não sou capaz de deixá-lo. Preciso saber que ele está
bem, tio Lucca. Ele sugeriu que eu fosse para a casa dos meus
pais, mas não ficarei em paz — confesso.
— Já tomou algum medicamento? — tia Paula pergunta.
— Sim — respondo e sinto meu telefone vibrar. É o meu
irmão. — Vou atender, é Miguelito.
— Ok, meu amor. Vamos nos deitar. Qualquer coisa nos
chame. Obrigado por tudo, Sophie — tio Lucca agradece e sobe
com tia Paula.
— Oi, rimãozinho!
— Pelo amor de Deus, Sophie! Por favor, volte a São
Roque — pede, quase chorando.
— O quê? Por quê? Alguém morreu?
— Ainda não. Porém, mais dois dias sob o mesmo teto
que Kiara e um de nós sairá morto. Preciso que volte e distraia
essa garota endiabrada que tem pacto com o coisa ruim. Estou
implorando. Por favor, volte, Sophie. — Isso me faz gargalhar
alto. — Não ria, filha da mãe! Ela acaba de expulsar Soninha do
bar do Tião e Samuel está vivendo no mundo da imaginação com
Hadassa, nem vê o que a irmã está aprontando. Théo e Eva
estão achando o auge da diversão, porque os dois são insanos.
Não tenho ninguém para me ajudar. Acordei essa manhã com a
menina em cima de mim, eu quase fiz merda... Samuel vai me
matar!
— Meu Deus! É pior do que imaginei, então — comento,
rindo.
— Sophie, estou pedindo pelo amor de Deus! — Senhor
da glória! O que diabos Kiara é?! Ele está pedindo pelo amor de
Deus. Isso é tão engraçado quanto curioso. Estou rindo, mas
sentindo uma leve pitada de preocupação.
— Ouça, as coisas saíram um pouco dos trilhos hoje.
Pablo surgiu, Henrico e ele conversaram... eu não sei como será
amanhã. Iríamos voltar, mas preciso ver como Henrico estará ao
acordar.
— Pablo que nasceu pelo cu? É sério?
— Sim. Foi muito difícil, Henrico precisou se medicar,
enfim... — suspiro. — Se ele acordar bem, iremos. Sinto muito
que esteja sendo testado. Quero logo estar aí para acompanhar
de perto.
— Não se preocupe mais. Seus problemas são maiores
agora, Sophie. Se precisar de qualquer coisa, me diga. Sou seu
irmão — Luiz Miguel fala, fazendo com que eu sorria.
— Meu rimão mais lindo do mundo! O manterei informado
sobre as coisas aqui. Tranque a porta com chave na hora de
dormir. Não posso acreditar que uma garota de 17 anos está te
botando medo, Luiz Miguel Albuquerque!
— Ela é extremamente louca e bonita na mesma
proporção. Está sendo um inferno, Sophie. Ela finge de santa tão
bem... beira ao absurdo. Em alguns momentos me lembra você
no passado, fingindo para Henrico que era a garota exemplar. —
Me pego sorrindo novamente.
— Rimão, preciso dormir. Minha menstruação desceu
agora à noite e estou fodida. Me mantenha informada, ok? Te
manterei também.
— Ok, espero que fique tudo bem por aí, Sophie. Eu amo
você demais, ok? Me ligue a qualquer hora.
Subo ao quarto, me aconchego ao lado de Henrico e
penso que terei uma boa noite de sono, porém, isso é tudo o que
não acontece...
Os terrores noturnos estão de volta!
— Saia daqui, Pablo! — Os gritos da minha mãe ecoam
pela casa. Ela está chorando; um choro forte, desesperado,
repleto de medo. — Ele não quer ir com você. Isso está errado!
— ELE É MEU FILHO E VAI COMIGO! É O MEU
DIREITO! FODA-SE A LEI! EU QUERO E VOU PEGAR O MEU
FILHO.
— Ele não quer ir, Pablo! Você é um idiota?! Não percebe
que Henrico não pode passar por situações assim?
Levo minhas mãos aos ouvidos, mas não ajuda o
suficiente. Há gritos dos dois e isso faz a minha cabeça doer. Eu
não gosto de ver a minha mãe chorando. E eu odeio Pablo. Ele
não é o meu pai! Ele nunca será o meu pai! Eu o odeio! O odeio
muito!
Estou embaixo da mesa, escondido. Daqui o vejo segurar
os braços da minha mãe. Eu acho que ele vai bater nela, por
isso, pego o telefone e aperto uma tecla que liga para o meu pai.
Ele atende, diz coisas e eu não consigo responder. Meninos não
batem em garotas, meu pai me disse isso. Mesmo assim, Pablo
empurra a minha mãe e ela cai em cima de uma mesa de vidro,
que quebra por completo. Eu sei que ele quer me pegar e que
está me procurando. Eu fico quieto debaixo da mesa, mas, após
um tempo, ele me encontra e me puxa.
— Solte-o! — minha mãe grita, tentando se levantar. Ela
está desesperada.
— Sua mãe é uma vadia! — ele diz a mim e tenta me
pegar em seus braços. Eu não deixo. Um forte choro escapa de
mim, acompanhado de um grito. Eu luto com Pablo, o arranho,
dou chutes, e ele grita. Minha cabeça vai explodir.
Ele está me levando para fora de casa quando um monte
de homens surgem. Há armas. Elas são perigosas, meu pai me
disse. De repente, eu não estou mais nos braços do Pablo, há
um homem estranho e eu o arranho também, não consigo parar.
Minha visão agora está ruim, mas vejo meu pai correr. Ele me
pega dos braços do homem e me leva para dentro de casa.

— Paiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!!!!!!!!
Eu me sinto como se estivesse dando um passeio em
plena alameda dos sonhos despedaçados; exagero ou não.
Ainda estou tentando processar e digerir os acontecimentos da
noite passada. É difícil. Mas não por ser uma crise, que já era
algo esperado, e sim pela atitude de Henrico durante ela. O fato
de eu estar presente, vivenciando aquilo ao lado dele, não lhe
caiu bem. Não sei dizer ao certo como ele se sentiu; talvez um
pouco envergonhado ou inferior. Houve uma insistência para que
eu me afastasse e não o presenciasse tão quebrado, e, embora
eu quisesse permanecer ao seu lado com todo meu amor e
compreensão, não tive opção a não ser acatar seu pedido. A
ideia de relutar e insistir até passou pela minha cabeça, mas
estava bastante evidente que a minha presença estava
contribuindo para deixá-lo ainda mais nervoso.
Agora estou na casa dos meus pais, curtindo a minha
TPM e um enorme aperto no peito, recebendo notícias de
Henrico através da tia Paula e tentando bravamente não surtar.
Até o momento, decidi me manter isolada, sem falar muito
e sem me sentir disposta o bastante para ouvir os conselhos dos
meus pais ou de quem quer que seja. Eu me fechei um pouco na
dor, nos acontecimentos e estou tentando lidar com a confusão
interna.
Torna-se impossível não pensar no futuro. Estaremos em
São Roque, distante da maior parte dos nossos familiares, e
tenho me perguntado se Henrico optará por um afastamento com
frequência. Agora é tudo diferente. Não somos mais apenas
amigos. Somos noivos, estamos caminhando para construir um
relacionamento sólido, e não consigo cogitar a hipótese de ter
que me afastar sempre que ele estiver com crises.
Quando combinamos de morar juntos, surgiram as regras
e ele me disse que precisava ter um lugar onde pudesse ficar
recluso quando necessário. Isso foi super aceitável e
compreensível para mim. Mas a ideia de eu ter que sair de casa
ou ele, não é tão aceitável assim para mim. A questão é que
nossa relação ainda está no início e Henrico não está tão seguro
ainda. Essa insegurança pode vir a complicar as coisas, por mais
que eu sempre tente conduzir tudo pelo lado da compreensão.
É o mar diante dos meus olhos que está fazendo com que
eu não entre em paranoia. Ter o mar diante dos meus olhos,
através da parede de vidro do meu quarto, é uma das coisas que
mais sinto falta. É surreal como ficar observando as ondas indo e
vindo faz um bem danado para a mente e para o coração.
Por fim, meu coração acaba ficando mais leve após um
longo tempo perdida na natureza magnífica. Eu consigo
compreender que é necessário aceitar que alguns ciclos são
mais lentos, que nada nessa vida é igual, nem mesmo os dias.
Entendo que minha frustração vem do fato de eu ter sido
paciente uma vida toda e esperado para viver esse amor. Agora
que eu o tenho, é como se a paciência tivesse sido extinta do
meu vocabulário e da minha vida. Mesmo sabendo que a lentidão
é necessária, eu tenho a sede de atropelar o mundo e a vontade
louca de não perder uma única batida do coração do meu menino
mais bonito do mundo. Mas, esse novo ciclo também é de
aprendizado e a vida está me mostrando que tudo acontece
como deve acontecer, que não adianta sentir qualquer frustração
ou querer agir como um furacão. Sempre soube que seria assim,
vencendo uma batalha por dia, me preparei para isso, então por
que agora tudo parece tão difícil? Não gosto de ser inconstante
em meus pensamentos e sentimentos.
Sinto-me em uma confusa felicidade; radiante por ter
conseguido ir tão longe com Henrico, triste por ele me afastar em
um momento de vulnerabilidade. Acho que o amor é o
sentimento mais desafiador, e se não estivermos preparados
para lidar com as provações com paciência, respeito, resignação
e confiança, é porque não sabemos amar. Amar exige muito e
nem todos estão preparados para vivenciar essa experiência.
Agora eu só preciso acreditar que o fluxo do Universo é
perfeito e que o destino não falha. Não quero acreditar que
Henrico se afastará de mim por completo. Quero me apegar ao
fato de que ele só precisa de um pequeno intervalo para colocar
a mente no lugar e então retomar de onde paramos.
Em geral, sempre fui uma garota muito positivista,
confiante, não quero perder essa essência que me acompanha
desde o meu nascimento. Não é o momento para fraquejar. É o
momento onde devo encontrar toda a minha força e demonstrá-
la. Talvez assim Henrico seja capaz de compreender que sou
forte por mim, por nós, e que seu jeito atípico de ser não me
assusta, me encanta.

As teorias e a fé vacilam no quinto dia de afastamento. É


como se minha mente fosse capaz de contabilizar cada segundo
do dia e não desligasse nem por um momento. A ansiedade e o
medo me fazem comer mais do que suporto. E é exatamente
quando estou devorando uma caixa de bombom no meu quarto,
que a porta se abre e Henrico surge, tão misterioso e sério
quanto é possível.
Eu devo ser uma espécie de devassa mesmo. Com todos
os problemas que temos a enfrentar, meu foco vai para as veias
saltadas no braço e no estilo despojado que mexe com todos os
meus chacras. Por um momento quero jogar os bombons longe e
atacá-lo como uma maníaca louca por sexo, mas, por ora, decido
aguardar as ações dele. Não sei como ele está após esses dias,
após a crise. Não sei o que esperar.
— Oi, Sophie — ele me cumprimenta, visivelmente sem
graça.
— Oi, Henrico Davi. Entre — o convido e ele dá alguns
passos até estar dentro do meu quarto. Tomada por um
nervosismo repentino, o observo fechar a porta e se virar de volta
para mim.
— Eu não sei como fazer isso. Não sei por onde devo
começar. É tudo novo para mim, confuso. Nunca imaginei que
faria mal a você algum dia e acabei fazendo. Pensar nisso me
deixa um pouco nervoso, me tira da zona de conforto que sempre
tive em nossa relação de amigos. Agora temos outro tipo de
vínculo, então é diferente.
— Comece por onde quiser começar. Estou aqui para
ouvir o que quer que seja, Henrico. Não precisa ficar nervoso.
Ainda que sejamos noivos, a amizade de sempre prevalece. Sou
sua amiga antes de ser sua mulher — argumento, nervosa. —
Por que não se senta? — convido e ele se acomoda em um sofá
próximo à minha cama. De cabeça baixa, mexendo com um
elástico nos dedos, ele simplesmente começa a falar:
— Minha mente estava turbulenta, eu precisava processar
tudo. Porém, errei quando acreditei que era uma espécie de
super-homem capaz de enfrentar todas as situações de uma só
vez. Na tentativa de me encaixar, de querer mostrar que eu
poderia ser como os demais homens, falhei.
— Por que queria mostrar isso? — pergunto. — O seu
maior diferencial é não ser como os demais homens. Embora eu
tenha uma leve impressão do motivo, não consigo entender
porque sente essa necessidade de querer mostrar que pode ser
igual quando você possui um nível de superioridade. Você nunca
será como todos os homens, Henrico, por dois motivos: primeiro,
ninguém é igual a ninguém; segundo, você está acima das
expectativas e isso te torna insuperável.
— Da mesma forma que ninguém é igual, nenhuma
pessoa é insuperável — responde. — Talvez pense que sou um
idiota a partir de agora, repetitivo, mas é difícil ser seu namorado,
Sophie. Não apenas sexualmente falando. Eu venho tentando
superar os meus limites, venho forçando uma superação que não
sou capaz, venho tentando lidar com as questões de uma
maneira que nunca lidei antes, tudo para provar que eu sou
capaz e para chegar um pouco mais perto do homem que eu
acho que você merece ter. Com isso, tenho ignorado os alertas
da minha mente e não suportei a pressão de duelar com um
passado doloroso. Eu tenho cometido erros desde que resolvi me
autoatropelar.
— Não percebe que nada disso é necessário? —
pergunto. — Não percebe que entrei nessa relação sabendo das
suas limitações, respeitando-o? Eu sei cada um dos seus pontos
fracos, Henrico. Conheço seu jeito, seus trejeitos, suas nuances.
Me preparei uma vida toda para lidar com isso e me encaixo em
você da forma como é. Eu não quero que seja o homem que
acha que eu mereço. Quero que seja o homem que eu sei que
mereço, do jeitinho especial que é. Não quero que seja como
todos os outros, porque eles estão longe de ser o que e quem
você é, estão longe de possuir todas as qualidades que você
possui.
— Estive pensando bastante nos últimos dias, tive ajuda
da minha terapeuta para conseguir entender alguns pontos,
principalmente sobre Pablo. Mas... Sophie... eu não posso trazê-
la para a minha confusão. — Ele segue de cabeça baixa, como
se fosse incapaz de conseguir me olhar nos olhos. — Você se
preparou para um relacionamento comigo, mas eu não me
preparei para um relacionamento com você. Embora seja tudo o
que mais quero na vida, ainda sinto-me incapacitado de...
— Não! — exclamo, cedendo ao choro, tentando evitar a
todo custo que ele diga o que penso que vai dizer. — Não
termine de dizer, ok? — peço, jogando a caixa de bombom longe
e me ajoelhando diante dele. — Não faça isso comigo. Não faça
isso com você. Eu fui paciente a vida toda, esperei por você
desde criança, mas agora eu não serei paciente — falo, tentando
olhar em seus olhos. — Não vou deixar você boicotar sua própria
felicidade. Não depois de vê-lo avançar tanto, dentro dos seus
limites. Não vou permitir. Você verá uma nova versão de mim se
continuar insistindo com isso. Podemos diminuir o ritmo, mas não
colocar um ponto final. Não existe tempo, Henrico. O nosso
amor... — Solto um soluço desesperado. — O nosso amor é a
coisa mais fantástica do Universo. Você é o garoto mais perfeito
do Universo para mim. Não quero que seja diferente... eu quero
que seja quem é, quem sempre foi. Se você me largar... tudo o
que vivemos, tudo o que disse a mim, deixará de fazer sentido.
— Eu nunca menti sobre tudo o que disse a você, o que
quero dizer é que...
— Então fique. Nunca me deixe. Eu sempre darei espaço
para lidar com as suas questões, respeitarei seus limites, serei a
mulher que precisa que eu seja. Mas, se você me deixar,
Henrico, serei miserável de todas as maneiras, porque desde que
me entendo por gente você é o garoto da minha vida e nunca
imaginei... nunca imaginei ser abandonada por você. Podemos ir
devagar, não importa a velocidade. Tudo o que importa é a
direção.
— Sophie, ouça...
— Não quero ouvi-lo agora. Ouça você, Henrico. Como
pode parecer tão fácil assim? Como consegue fazer isso? Eu
fiquei cinco dias distante e foi devastador, como se a vida
deixasse de fazer sentido. Eu pensava em tudo, desde os
olhares intensos aos toques carinhosos. Não pode ser fácil abrir
mão das coisas que vivemos. Não é justo que seja. Eu não posso
me imaginar sem os seus beijos, sem o carinho, sem as
conversas, sem acordar com você enroscado em meu corpo,
sem os encontros dentro de casa durante a madrugada, sem o
sexo que me dá. E nem sei que diabos estou fazendo. Não
implorar clemência a um homem fez parte da educação que eu
recebi... mas como não fazer isso quando o homem é você?
Ninguém no mundo entenderia...
— Sophie, pare de falar! Minha cabeça está latejando! —
pede, ficando de pé e me encarando. — Não sei o que entendeu,
mas definitivamente não estava falando sobre abandoná-la. —
Essas palavras me fazem ficar de pé e limpar o rosto. — Por que
é tão difícil esperar que eu termine de falar?
— Não sei dizer. Acho que...
— O medo. O mesmo medo que me manteve em inércia
por anos — responde. — Como pode pensar que eu a
abandonaria?
— Medo... — falo, voltando a chorar.
— Como pode a garota que sempre me encheu de
coragem se mostrar medrosa?
— Não sei dizer.
— Você me cortou três vezes, Sophie — pontua. — Eu iria
dizer que ainda me sinto incapacitado, ainda me sinto inferior. Iria
reafirmar que acho que merece muito mais do que um garoto
fodido como eu, mas que descobri nos últimos dias que estou
muito além do egoísmo quando trata-se de você. Iria dizer que os
dias ruins vão surgir, talvez não com muita frequência, mas,
ainda assim, eles vão acontecer. Porém, eu tentarei ao máximo
não te afetar, porque não quero mesmo trazê-la para a minha
confusão. Prestarei mais atenção aos avisos da minha mente,
seguirei com a terapia na frequência correta, não me afastarei,
como foi necessário fazer nos últimos dias. E, o mais importante,
iria dizer que precisamos voltar para São Roque, para a nossa
casa, e que quero que sejamos só nós por alguns dias. Eu senti
a sua falta, Sophie. Senti falta da nossa rotina, senti falta de fazer
amor com você e não dormi bem sem tê-la ao meu lado, grudada
em meu corpo. Senti falta das reações do meu corpo, porque ele
pareceu morto durante os últimos cinco dias e isso nunca
aconteceu antes. Você faz tudo em mim reagir.
— Vamos embora, menino mais bonito do mundo. Vamos
para a nossa casa — falo, me jogando em seus braços e
sentindo todas as peças voltarem a se encaixar. Um abraço e a
vida volta a fazer sentido. Um beijo e meu corpo se aquece, vibra
com a intensidade.
O medo...
Ele sempre será o grande vilão da vida de uma pessoa.
Ele nos paralisa, nos faz enxergar coisas que não existem,
compreender as situações de uma forma negativa, faz nossa fé
vacilar. O medo é, de fato, o maior inimigo do ser humano. E,
cada vez mais, mesmo que cometendo erros por permitir que o
medo seja maior que a minha fé, eu entendo Henrico e o motivo
pelo qual esse sentimento sempre esteve em sua vida.
O mais incrível é vê-lo reviver junto comigo. Sentir seu
corpo voltando a reagir, seu beijo atingindo um nível maior de
intensidade, as sensações afloradas mostrando que precisamos
um do outro para fazer sentido. Que loucura é amar. Quem disse
que o amor é uma revolução está completamente coberto de
razão.
— Me desculpe por fazê-la sofrer. Eu só não queria que
visse o pior de mim — sussurra de um jeito que faz meu ventre
se contorcer.
— Não existe o pior de você.
— Sophie, vamos embora? — pergunta, mostrando-se
devidamente afetado e prestes a perder o controle. — Por favor.
— Vamos!
Quando Sophie surge na sala, completamente pronta para ir,
minha respiração vacila ao analisá-la ao meu modo. Já não sei
distinguir quando é apenas o estilo dela ou quando ela está tentando
me provocar com roupas. A provocação vence, mesmo se não for
intencional.
Ela está com um vestidinho preto que possui um decote
extremamente generoso. Deixa visível a tatuagem entre os seios
quase que por completo e isso atrai a minha atenção muito mais do
que a prudência permite. De repente, meus olhos, tão sinceros
quanto todo o restante de mim, não conseguem olhar para nada além
do contorno dos seios de Sophie. É incrível e interessante como meu
corpo reage a um decote de Sophie.
Eu só desvio o olhar quando ouço tio Victor fazer um barulho
com a garganta, demonstrando que fui pego em flagrante e que
deveria não fazer isso diante de seus olhos.
— Me desculpe, tio Victor. Sophie é muito bonita. — Ouço uma
risadinha de meu pai enquanto tio Victor começa a dizer suas
baboseiras que não são tão baboseiras assim.
— Ele ainda tem a capacidade de assumir que estava olhando
para o decote da minha filha!
— Oh, fala sério, sugar daddy, nossa menina é a coisinha mais
perfeita do Universo e é óbvio que atrai olhares. Felizmente, estamos
lidando com o noivo, o que torna tudo compreensível — tia Melinda
diz, massageando os ombros dele.
— Sophie é mesmo a menina mais perfeita do Universo. É a
menina mais bonita do mundo — concordo com tia Melinda. — Estou
ansioso para ir embora, Sophie. Já está tudo certo? — pergunto à
minha noiva, que dá um sorriso que passei a conhecer bem nas
últimas semanas.
— Está tudo certo. Podemos ir. Também estou ansiosa — ela
responde e eu fico de pé.
Confesso estar um pouco envergonhado perante tio Victor; não
por ter sido flagrado admirando os seios da minha noiva, mas por tê-
la feito sofrer ao precisar de um distanciamento. Sophie até
compreende, mesmo se chateando, mas não sei dizer se tio Victor
está feliz. Qual pai ficaria feliz ao ver a filha sofrer? Por mais que ele
e tia Melinda estejam me tratando muito bem, sinto o peso das
minhas ações.
É muito complicado ter necessidades de afastamento social
em determinadas crises. Porém, não tinha opção. Havia muitas
questões em minha mente e, após o encontro com Pablo, eu precisei
preencher algumas lacunas de dúvidas que carreguei comigo uma
vida inteira. O meu balanço final é que aquele encontro serviu para eu
aprender que precisamos estar preparados até mesmo para exigir a
verdade das pessoas. Lidar com verdades nem sempre é algo
positivo, principalmente quando não estamos de fato preparados para
receber a carga que a verdade traz consigo.
Minha terapeuta me aconselhou a parar de buscar por
verdades. Ela disse uma frase da Martha Medeiros que me fez passar
dois dias inteiros pensando: "Não quero ter a terrível limitação de
quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero
uma verdade inventada". Por fim, eu compreendi o que ela quis dizer.
O autismo fez de mim um garoto que vive a vida lidando com todas as
questões no sentido literal; desde as mais simples até as mais
complexas. Estou sempre procurando o sentido de todas as coisas.
E, a verdade, é que essa busca em achar sentido, nem sempre faz
sentido. É muito confuso, eu sei. Imagine quão confuso foi para mim
entender isso? Sou muito inteligente para muitas questões, mas
tenho dificuldade de compreender as pessoas e alguns
acontecimentos da minha vida. Chegar à conclusão que preciso ser
mais leve em minhas buscas e menos literal, foi desafiador e nem sei
se conseguirei fazer isso tão fácil.
Quero ser menos literal, especialmente com Sophie. Doutora
Ana disse que nem tudo tem que ter respostas específicas, que
algumas coisas devemos apenas nos entregar e viver, sem precisar
fazer sentido. Ela me disse que o simples fato de eu sentir, já é a
resposta para todas as minhas dúvidas. E eu sinto. Eu sinto e quero
seguir sentindo.
Eu quero sentir Sophie e mergulhar em nosso relacionamento
sem me achar inferior e meu autodepreciar. Também foi difícil chegar
a essa decisão, principalmente quando uma parte de mim insistia em
apenas deixá-la seguir sua vida sem toda a complexidade de se
envolver com um garoto como eu. Mas, como eu disse a ela minutos
atrás, a cada dia que passa me descubro mais egoísta e menos
disposto a deixá-la livre. Sophie desperta em mim uma imensa
possessividade. Por todo histórico que vivemos, não merecemos
perder um ao outro após tanta espera.
Após despedirmo-nos dos meus sogros, entrelaço meus dedos
aos dela e caminhamos rumo ao aeroporto. Meu pai nos levará até o
aeroporto, onde pegaremos o jatinho. Estive receoso em relação a
magoar minha irmã por decidir fazer o que é melhor para mim, por
isso, horas antes de tomar a decisão de voltar a São Roque, precisei
conversar com ela. Felizmente, ela foi compreensiva e eu descobri o
quão doce Yaya pode ser. É quase vergonhoso perceber isso tão
tarde.

— Estão entregues! — meu pai anuncia assim que descemos


do carro no aeroporto.
— Obrigado, pai. Não apenas por nos trazer, mas pelo apoio
nos últimos dias — falo baixo em seu ouvido assim que o abraço.
— O seu presente é lindo, filho. Foque nele e seja feliz. — Meu
pai sorri e vai abraçar Sophie.
Poucos minutos depois, estamos sobrevoando o Rio de
Janeiro e indo rumo a São Roque. Há em mim um certo frio na
barriga e definitivamente não é por estar voando. Há um pouco de
medo de ter quebrado parte da conexão que eu e Sophie
construímos. É algo que não sei explicar e que provavelmente está
surgindo em minha mente por conta da parcela de culpa que estou
sentindo pelo afastamento, mesmo ciente de que foi o melhor.
Meus pensamentos desviam-se por completo quando Sophie
torna-se inquieta. Fico parado, sentado em meu lugar, apenas a
observando se mexer. A encaro e ela me encara de volta. Um sorriso
angelical surge em seu rosto e logo em seguida ela suspira, mexendo
em uma mecha de cabelo. Do nada, ela se põe de pé e vai atrás de
água. Porém, ela faz isso quase esfregando a bunda em meu rosto,
visivelmente querendo me provocar.
Uma pesquisa feita pelo site de relacionamentos britânico,
Saucy Dates, ouviu 11.179 pessoas de todo o mundo, a maior parte
no Reino Unido e nos EUA, e chegou à conclusão que apenas 5% de
todos os entrevistados admitiu já ter feito sexo durante uma viagem
de avião. Mas, 78% das pessoas ouvidas revelaram que gostariam de
já ter tido esta experiência. E os demais 17% disseram que não
possuem interesse. A maioria das pessoas escolheu o banheiro como
lugar ideal para o sexo, 59% fizeram sexo sobre o lavatório. 31% dos
entrevistados fizeram sexo na própria poltrona e outros 9% fizeram
sexo no corredor da aeronave, o que é para mim muito bizarro. 37%
dos entrevistados disseram que escolheram o parceiro/parceira para
fazer sexo no avião. Já 30% sucumbiram à tentação na hora e
transaram com estranhos.
Acho que deve ser interessante, até mesmo deve possuir um
nível de adrenalina diferente transar em uma aeronave, nas alturas.
Porém, após passar dias longe de Sophie, eu não quero que nossa
reconexão sexual seja feita em um avião apertado e de forma rápida,
visto que o voo possui uma curta duração e que estamos quase
chegando. É por isso que ignoro a tentação, mesmo achando
extremamente difícil lidar com a sua bunda passando pelo meu rosto
uma segunda vez. Opto pelo silêncio e pelo autocontrole.
Em nossa casa, o autocontrole deixará de existir. Eu preciso
comer Sophie mais do que preciso de oxigênio para respirar. Cansei
de reprimir os meus instintos.

Quanto mais sério Henrico se mantém, mais louca eu fico. Ele


não faz ideia do quanto esse modo sério e fechado me afeta. Se
fizesse, nesse minuto ele estaria conversando e tentando me distrair.
Ele não é tolo, sabe exatamente o que quero e está achando que
ignorar minhas ações fará com que eu fique calma ou sei lá... Como
entender o que se passa na mente dele?
Eu posso não conseguir ler a mente do meu noivo, mas eu leio
muito bem o volume em sua calça, que deixa em evidência que ele
está ligado em tudo e quer o mesmo que eu quero.
— Precisa de ajuda? — pergunto e ele me encara sem
entender. Dou o meu melhor sorriso e aponto para o volume em sua
calça. Seguro a vontade de rir assim que ele solta um som de
frustração, de quem foi pego em flagrante.
— Estou bem, Sophie. Obrigado.
— Eu posso resolver isso ficando de joelhos, como você gosta.
Eu sempre quero ficar de joelhos para você — provoco, passando
meu dedo indicador em seu peitoral, por cima da camisa.
— Em dez minutos estaremos no aeroporto, em meia hora
estaremos em casa. — É a sua resposta.
— Pensei que entraríamos para o Miles High Club — brinco.
— Qual a graça de fazer isso em um voo onde só há nós dois?
Não há muita adrenalina. — Oh, ele entendeu sobre o sexo nas
alturas! Isso me faz sorrir. Bebecito... É incrível como algumas
pessoas já pensaram pouco desse garoto. Ele engana tão bem...
ninguém sabe que ele é tão safado comigo.
— Então, suponhamos que estivéssemos em um voo
comercial, você me levaria até o banheiro e me foderia? — Henrico
solta um som rouco no mesmo instante.
— Não diga essas coisas agora, Sophie... — pede em tom de
sofrimento.
— Mas você faria isso?
— Se você estivesse de acordo, sim. Seria uma nova
experiência. Mas teríamos que ser silenciosos, e isso é um pouco
difícil para nós — argumenta.
— É extremamente difícil, porque quando você está dentro de
mim sinto uma vontade gigante de gemer e chamar seu nome. Não
consigo me controlar sentindo tanto prazer. Eu não vejo a hora de
chegar em casa, bebecito... — Ele engole em seco e balança a
cabeça em concordância. Sem respostas para mim agora... é
engraçado.
Quando enfim aterrissamos na cidade vizinha, somos tomados
por uma mudança drástica de temperatura. Estou batendo o queixo
de frio e agradecida por Samuel estar nos aguardando, acompanhado
de Hadassa. Esses dois simplesmente se aproximaram e tornaram-se
inseparáveis.
Enquanto Henrico carrega nossas malas, saio correndo e
interrompo o casal que parece em outro planeta.
— Ok, casal, apenas me levem para o carro com urgência! —
imploro, choramingando, e fico emocionada quando meu primo retira
seu casaco e deposita em minhas costas. — Eu te amooooo! Muito
obrigada!
Ele vai cumprimentar Henrico e os dois ficam abraçados, como
se não se vissem há anos. Enquanto isso, cumprimento Hadassa.
— Você sempre está extremamente estilosa! — elogio.
— Samuel está tentando me tirar do salto, mas estou sendo
relutante — explica, sorrindo.
Dentro do carro, não consigo conter a curiosidade.
— Vocês estão namorando? — pergunto.
— Não — os dois respondem ao mesmo tempo.
— Não? Vocês já transaram ao menos?
— Não, graças a Samuel, que resolveu abolir o sexo da vida
dele. Eu não vou implorar mais. Ele já está avisado. Sou sexualmente
ativa e necessito de sexo. Samuel já está ciente disso e ciente de que
não esperarei por muito tempo. Estou atingindo o limite — Hadassa
responde, enquanto meu primo ri.
— Fala sério, Samuel! — exclamo. — É verdade isso? — Logo
Samuel? É surreal acreditar que meu primo, o galinha MOR, está
negando sexo a uma mulher. Samuel é pegador nato, às vezes sem
critério. Preciso de uma explicação lógica para compreender o motivo
dele estar fazendo isso. Nada contra, mas é incomum.
Henrico segue silencioso, apenas atento à conversa.
— Vocês não estão namorando e não fazem sexo, mas ficam
abraçados o dia todo e se beijando. O que significa isso que estão
tendo? — Faço mais uma pergunta e Samuel segue rindo.
Estressada, dou um tapa na cabeça dele.
— Ai, porra!
— Pare de rir, idiota! Eu só estou tentando entender, palhaço
do circo Vitória! — esbravejo e Hadassa é quem ri agora.
— Amei o palhaço! — ela diz.
— Vou começar a perguntar da sua vida sexual com Henrico
— Samuel retruca e eu reviro os olhos.
— Como se não perguntasse ou não soubesse — rebato. —
Como estão todos?
— Tudo parece bem. Eva e Théo estão organizando algo,
estavam apenas esperando vocês voltarem. Parece que eles querem
comunicar alguma coisa — Samuel explica. — Minha irmã se juntou
com Maicon e está aterrorizando São Roque. As mesmas loucuras
que sempre acontecem quando todos se juntam. Nenhuma novidade.
Chegamos, pessoal! — avisa e só então me dou conta de que
estamos em frente à casa. Agora tudo em mim se agita.
Descemos e Samuel pega as nossas malas. Na hora de se
despedir, Henrico me surpreende.
— Eu tive alguns problemas nos últimos dias e acabei ficando
afastado de Sophie. Eu e ela estamos precisando de um tempo. Você
pode dizer ao pessoal que ficaremos ausente por um tempo? — pede
a Samuel, que me olha, pedindo por respostas. Apenas balanço a
cabeça negativamente e ele entende que agora não é o momento
para conversarmos sobre o ocorrido.
— Está tudo bem. Tenham o tempo que precisarem. Se
precisarem de qualquer coisa, me liguem. — Retiro o casaco dele e
entro correndo em casa após me despedir.
É estranho estar de volta aqui, por algum motivo que não sei
explicar. Acho que os cinco dias fizeram seu efeito, há muita tensão
entre nós dois, e não apenas sexual.
— Estamos em casa, bebecito — digo, colocando minha mala
na sala e virando-me para ele.
— Senti falta daqui. Por um breve momento pensei em propor
para continuarmos no Rio, mas não seríamos felizes, Sophie. Eu
seria assombrado pelo passado pelo resto dos meus dias e não teria
a qualidade de vida que esse lugar oferece. Sinto muito por deixar
meus pais, Yaya, por saber que eles se sentem um pouco magoados
por não acompanharem de perto o desenvolver da nossa relação,
mas tenho certeza de que eles ficarão mais felizes sabendo que o
lugar onde me sinto realmente feliz é aqui, nessa cidade, com você;
podendo fazer coisas que me sinto incapacitado de fazer no Rio de
Janeiro, como passear, dirigir, conviver um pouco mais em sociedade.
Não quero viver olhando para trás ou para os lados, para ver se Pablo
não vai surgir, como de costume. Quero a liberdade e tranquilidade.
— Você merece ter tudo o que deseja, bebecito.
— Eu quero você — fala com toda a intensidade que possui.
— Sou sua. Amo você, respeito você e desde sempre estou
esperando por você. Sua para fazer o que quiser, desde que o
resultado das suas ações seja a felicidade mútua.
— Vou recompensar os nossos dias de afastamento —
promete.
— Eu sei que vai e estou ansiosa por isso.
Henrico se aproxima para me beijar e, quando ele está a
poucos centímetros dos meus lábios, a maldita campainha toca...
adiando um pouco mais nossos desejos e contrariando por completo
a nossa necessidade de privacidade.
— Que PORRA!
Não fui eu quem disse isso...
Eu amo que Henrico esteja começando a ser rebelde!
— Me desculpe, Sophie. Não sou assim. — Enquanto Henrico
se desculpa pela forma como acabou de falar, eu vibro internamente,
pedindo "vai, continua". Sei que é errado desejar que o garoto tão
perfeito se torne um perdido, mas o que posso fazer? Eu gosto e
acho muito adulto!
Eu o quero insanamente, mas estou diabolicamente querendo
adiar a diversão só para ver como ele irá reagir. Em minha mente
maquiavélica, decido criar meu próprio jogo, mesmo que seja um jogo
sujo.
Fazendo minha carinha mais inocente, me aproximo dele,
enquanto a campainha toca incansavelmente.
— Bebecito, parece que teremos que esperar um pouco mais
para dizermos "enfim, sós". — Faço um bico enorme e deixo um beijo
delicado em sua bochecha, sentindo todo seu corpo sob tensão.
Acho que meu bebecito, o menino mais bonito do mundo,
resolveu agir um pouco na maldade no dia de hoje. Ele parece mais
que ansioso para ficar devidamente confortável comigo. Mesmo com
a minha quase nula experiência, acho que posso dizer que não existe
nada mais quente e empolgante do que ter o meu parceiro ansiando
por mim, demonstrando o quanto me quer, desde o olhar às ações. É
de um prazer imenso se sentir desejada dessa maneira. Eu mal
consigo descrever, sabendo que sou o objeto de desejo de Henrico e
que ele me quer tão loucamente quanto eu o quero. Há muitas
maneiras de uma mulher se sentir poderosa, essa certamente é uma
delas. Eu posso sentir o poder vibrando dentro de mim e sou grata a
Henrico por estar me proporcionando essa sensação deliciosa. É algo
que desejo a todas as mulheres, independentemente da orientação
sexual.
Me afasto dele para abrir a porta, porém, antes que eu possa
alcançar a maçaneta, ele me puxa pelo braço. Sua ação faz com que
eu engula em seco e seja inundada por um mix de incredulidade,
surpresa e satisfação. Nada mais gostoso que ter um Henrico cheio
de atitude e regido de coragem.
Não há palavras, tampouco justificativas. Uma vez que nossos
olhos se conectam, encontro a resposta para a sua ação.
Delicadamente, ele traz uma mão em meu rosto e me toca,
fazendo um carinho gostoso com seu polegar em minha bochecha.
Fecho meus olhos e absorvo a mistura de suavidade com o forte calor
que está emanando de sua mão. Um toque em minha bochecha e eu
estou arrepiada da cabeça aos pés.
Seu polegar agora passeia pelos meus lábios, e é insano o frio
na barriga que esse gesto me causa. Eu quero abri-los e pedir por
favor, mas nem mesmo sei qual favor é esse. Quero tantas coisas e
sei que nada vai parecer o suficiente até que eu tenha tudo. A
respiração ofegante de Henrico decreta o fim precoce do meu jogo
sujo. Não há uma única parcela de resistência em mim e,
sinceramente, seja o que for ou quem for, tudo agora pode esperar.
Temos necessidades um do outro e essas necessidades merecem ser
saciadas após dias de dor.
Como se soubesse cada um dos meus pensamentos, Henrico
cola seus lábios aos meus e não de uma forma delicada. Ele rouba a
minha sanidade e meu fôlego com um beijo repleto de vontade e
desejo reprimido, um beijo inesperado por mim. Nem mesmo noto a
expertise de Henrico em retirar meu vestido. Quando dou por mim,
ele simplesmente está caindo sobre meus pés e há mãos incríveis
cobrindo meus seios.
— Sophie...
— Deus!
— Sophie, eu sou completamente apaixonado pelos seus
mamilos. — Sorrio e me distancio. — Você é a menina mais perfeita
do mundo. — A maneira como ele olha para os meus seios é
diferente.
— Feitos para você, bebecito. — A campainha volta a tocar e
Henrico perde o restante da paciência. De uma só vez, ele me pega
como um saco de batatas e me carrega diretamente para o quarto,
dando um chute certeiro na porta assim que entramos. Não é Henrico
Davi este cidadão, mas de alguma maneira eu o amo da mesma
forma. Alguma coisa boa tinha que sair dos cinco dias de
afastamento. O aumento de desejo é visível, não que precisasse ser
aumentado. Estávamos como ninfomaníacos antes, então nada a
reclamar. Mas agora está diferente... e eu vou descobrir como...
Sou colocada ao chão, e movida pela adrenalina, avanço sobre
ele como uma desesperada, jogando seu boné longe e arrancando
sua camisa, enquanto o vejo chutar os tênis para longe. É insano, e
eu simplesmente me entrego à insanidade, caindo de joelhos aos pés
dele.
— Você me queria de joelhos, bebecito... — sussurro,
alcançando o fecho de sua calça e abrindo, enquanto expressivos
olhos castanhos me observam. Deslizo a calça por suas pernas, as
retiro e sigo para a cueca, onde há um pacote rijo e uma mancha
denunciando o nível elevado de excitação do meu noivo. Não sei se é
assim para todas as mulheres, mas uma vez que abaixo a cueca de
Henrico, toda minha boca se enche de água, como se estivesse
prestes a devorar o doce dos sonhos. É incrível em todas as
dimensões!
Jogo a cueca longe e dou um sorriso angelical antes de dar
uma lambida marota na glande inchada e molhada. Embora o gosto
de esperma não seja nada agradável, o chupo com necessidade e
fome, vendo Henrico devidamente afetado a cada movimento. Meu
delicioso noivo traz suas mãos em meus cabelos e deixa tudo ainda
mais excitante conforme os puxa.
Levo tudo o que consigo em minha boca. Em alguns
momentos simplesmente o masturbo com as minhas mãos,
deliciando-me com os sons roucos que saem de Henrico. Não tenho
pressa, mesmo que meu corpo esteja implorando por um alívio. Nada
supera a imagem de Henrico delirando de tesão.
Ele agarra mais forte os meus cabelos e começa a impulsionar
para a minha boca sem reservas. Palavras desconexas surgem e
meus olhos brilham em lágrimas quando torna-se quase mais do que
sou capaz de suportar. Eu sinto seu membro pulsando e crescendo,
então ele me afasta de uma só vez e começa a se tocar sozinho, sob
meu olhar de idolatria. Eu fico boquiaberta, vendo a familiaridade dele
com seu próprio pau, e é a coisa mais perfeita do mundo vê-lo dando
prazer a si mesmo, tocando punheta. Jatos de esperma caem ao
chão e eu sou incapaz de ficar de pé diante da cena mais linda que
meus olhos já presenciaram. Por algum motivo, por estarmos na
situação que estamos, isso ganha uma proporção gigantesca dentro
de mim. Eu vibro com cada movimento das mãos dele e os
acompanho como se fossem em câmera lenta.
Quando os movimentos diminuem, parece que Henrico volta
ao planeta Terra. Ele abre os olhos e nem mesmo parece capaz de
acreditar que fez isso diante dos meus olhos. É diferente mesmo, de
toda a intimidade que já tivemos. É tão lindo ver as bochechas dele
corando em vergonha e vê-lo tentando encontrar palavras para
justificar o que não precisa ser justificado. Eu quem preciso agir
agora, deixando toda a sujeira para ser limpa depois.
Fico de pé e o empurro para a cama. Ele cai deitado de costas
e se surpreende ao me ver montá-lo. Ainda estou de calcinha, mas
agora eu só preciso beijá-lo e dizer o quanto foi linda a cena que ele
acabou de protagonizar. E eu faço.
Desço até seus lábios e o beijo com ternura, admiração e
amor, me dando conta de que mesmo que tentemos levar tudo para o
lado da safadeza, o amor sempre vai sobressair de alguma maneira.
Aos poucos vou sentindo seu pau voltar à vida sob meu corpo.
A sensação é deliciosa, principalmente quando Henrico leva as mãos
em minha bunda e força ainda mais o contato. Meu corpo passa a se
mover por conta própria e começamos uma pegação deliciosa, que
nos faz rolar na cama. É ainda mais gostoso ficar se pegando dessa
forma, evitando o inevitável por um tempo. Nossos corpos se
impulsionam um para o outro, conforme nossos lábios permanecem
grudados. Somos mãos, corpos, suor, ofegos...
Perco a sanidade por completo quando Henrico afasta minha
calcinha para o lado e minha intimidade entra em contato com o que
mais anseio. Eu deslizo sobre o membro duro e rolo até estar por
cima do meu noivo novamente. Com as mãos apoiadas em seu
peitoral, deslizo e provoco uma quase penetração.
— Por favor, Sophie! — ele implora, impulsionando sua pélvis
para cima enquanto o provoco. — Por favor... por favor...
— Você quer muito isso?
— Por favor, Sophie. Eu preciso muito. — Eu dou o que
queremos. Lentamente permito deslizá-lo para dentro de mim,
sentindo cada parte da minha intimidade se abrir para recebê-lo. A
sensação de preenchimento surge e só consigo pensar no quão
agraciada sou por ter um alguém que preenche cada parte de mim
nos mais diversos sentidos.
Dessa vez somos mais ação e mais silêncio, ambos matando a
saudade um do outro. É perfeito, prazeroso e nos mostra que nossa
conexão é impossível de ser destruída, mesmo que às vezes os
problemas batam à porta.
Nos entregamos ao vai e vem, em alguns momentos com toda
calmaria, em outros com todo desespero e tesão. Henrico brinca de
dar prazer ao meu corpo algumas vezes e eu dou o prazer que ele
busca em mim. E assim passamos o resto do dia, namorando,
esquecendo que existe vida do lado de fora do quarto e esquecendo
até mesmo de nos alimentar. Perfeitos em nossas imperfeições.
Perfeitos um para o outro.
Ele é mesmo diferente...
Tudo que ele se dispõe a fazer, faz com maestria, com a
sagacidade que só um gênio possui!
Eu amo meu menino mais bonito do mundo e idolatro o seu
mundo azul!

Há um ditado popular que diz: “Mar calmo nunca fez bom marinheiro.
Até nas mais lindas e mais puras histórias de amor há tempestades.
Elas surgem do nada, colocam à prova o amor e a disposição.
“— Sophie, eu tenho problemas — diz, sério. — E não quero ser
pai.”
É uma pena que nem sempre nossa vontade pode ser atendida.
PARTE 2 – LANÇAMENTO PREVISTO PARA
DEZEMBRO/2021 OU JANEIRO/2022
https://www.instagram.com/autorajussaraleal/

[1]
ligação, nexo ou harmonia entre fatos, ideias etc. numa obra literária, ainda
que os elementos imaginosos ou fantásticos sejam determinantes no texto;
coerência.

[2]
Uma brincadeira com a frase TIPO REI.
[3]
Nebulosas são grandes nuvens encontradas no espaço interestelar, formadas,
majoritariamente, de poeira cósmica e gases, como hélio e hidrogênio.

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