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ALÉM DO AZUL
1ªEdição
Piercing no clitóris!
Piercing no clitóris!
Piercing no clitóris!
Clitóris!
“Lábios... não disse quais...”
Não, não e não! Eu preciso que a imaginação pare de fluir.
Preciso expulsar todas as imagens que estão brincando em
minha mente agora.
É Sophie! Minha, praticamente, prima! Venho tentando me
convencer disso desde que me entendo por gente. Não deveria
sentir por ela o que sinto, mas não consigo evitar. A cada vez que
a vejo, meu coração parece rasgar o peito e a dor que sinto é
sufocante. Sophie é a menina mais linda do mundo e o meu
maior sonho. Nós fomos muito unidos grande parte da vida, mas,
desde os 18 anos, optei por um afastamento e me fechei em meu
mundo.
Não é apenas por sermos praticamente primos. Nós
somos opostos completos. Eu tenho meu próprio universo, um
montante de limitações. Sophie é um espírito livre, cheia de
vitalidade e normalidade. Ela gosta de mergulhar em oceanos,
enquanto eu prefiro a segurança de um simples tanque de água.
Péssima hora em que ouvi meus pais e vim nessa viagem!
A ideia deles era que eu me "divertisse" um pouco e saísse do
meu quarto, onde passo meus dias. Possuo um monte de
limitações, coisas que não consigo vencer e que são
extremamente difíceis de lidar. Eles me entendem na maior parte
do tempo, por isso, às vezes, abro mão da minha zona de
conforto e socializo para fazê-los felizes. Mas, sempre que há
Sophie no meio da situação, a saída da zona de conforto torna-
se radical o bastante.
Sophie estuda em outro país, então nos distanciamos o
bastante, embora a conexão não tenha sido quebrada nem
mesmo com a distância. Não sei o que existe entre nós, mas sei
que existe algo desde criança. Essa confusão de sentimentos me
machuca. É extremamente difícil lidar com o que sinto por ela, e
extremamente difícil vê-la "viver" tão livremente, escutar histórias
que despertam sentimentos ruins e confusos em mim. Por isso,
considero essa distância tanto boa quanto ruim. Boa pelo fato de
eu não ter que acompanhar o desenvolvimento dela em relação a
outros garotos, ruim, porque, querendo ou não, eu gosto de ter
meus olhos sobre ela.
Nossa relação tornou-se muito complexa desde a
puberdade. A transição entre a infância e a adolescência foi
bastante complicada, principalmente quando percebi que tudo
em mim reagia a ela. A descoberta disso foi altamente
assustadora e precisei aprender a controlar o sentimento dentro
de mim, buscando conter as reações. Deixar de ver Sophie como
uma criança foi fodido. Mais fodido ainda foi acompanhar ela
tornando-se uma mulher. E que mulher...
É como se não houvesse no mundo qualquer outra mulher
em potencial. Sempre foi, sempre é ela. Não há escapatória ou
chance de fuga dos sentimentos, mas eu fujo sempre que
estamos perto, porque... porque eu não consigo não querer algo
que não posso ter.
Há um grande problema em relação à distância. A cada
vez que nos encontramos, parece ter aumentado o nível de
intensidade entre nós. É algo que dá para ser notado até mesmo
pelos olhares. Por ser fechado em meu próprio universo, tudo em
mim é intenso demais e, para complicar a minha vida, Sophie
possui uma intensidade natural, e eu apenas não consigo ocultar
muito o quanto isso me afeta. Quando éramos adolescentes,
parecia mais fácil, porém, quanto mais velhos vamos ficando,
pior fica. Parece que há uma tensão sendo construída entre nós
há anos e que a qualquer momento irá explodir. Há alguns
poucos momentos em que parece que ela sente o mesmo que
eu, porém, na maior parte do tempo, acho apenas que é um
amor entre "irmãos", já que fomos criados praticamente juntos e
não a imagino tendo pensamentos pervertidos comigo. Eu penso
assim, mas Samuel também sempre foi nosso fiel escudeiro e há
uma diferença gigante na maneira como ela o trata. Minha
inexperiência me deixa confuso quase sempre. Não entendo
absolutamente nada sobre esses assuntos do coração; eu
simplesmente sinto o amor, mas não o compreendo e tampouco
sei lidar com ele.
Conforme vamos nos aproximando do sítio, eu vou
relembrando a infância. Nunca fui o garoto de ficar correndo com
a turma, mas me recordo desse lugar. Eu era o que ficava quieto,
desenhando e observando os demais subirem em árvores,
fazendo saltos incríveis na piscina. Estar de volta é como obter
uma lembrança viva do passado.
— Chegamos! — Sophie diz, animada. — Se lembra de
quando você dizia que queria morar aqui?
— Sim. Bom, faz todo sentido, não acha? Olha o silêncio
desse lugar! Sons apenas dos pássaros, das quedas d’água, o
cheiro de mato, os animais. Talvez eu ainda tenha esse sonho. —
Sorrio. — Vamos ver se minha hospedagem aqui trará essa
vontade de volta.
— Venha! Pelo amor de Deus, retire esse casaco, está
calor! — Ela sai me puxando para entrar na casa e, assim que
entro, retiro meu casaco sob o olhar, no mínimo, estranho dela.
— A casa foi modificada.
— Sim, está mais moderna agora. Passou por obras,
principalmente antes de Théo vir pra cá — explica. — Você está
malhando?
— Um pouco. Nada excessivo. Por quê?
— Prefiro não responder — ela diz e se joga em meus
braços. — Eu senti tanto a sua falta! Estou tão feliz que esteja
aqui.
— Também senti a sua falta. Faz alguns meses que não
nos vemos.
— Ainda estou magoada por ignorar minhas chamadas de
vídeo e ser contra os meios de comunicação.
— Não sou contra os meios de comunicação — afirmo,
sorrindo. — Só não gosto.
— Você está tão go... lindo. Puta merda! — diz, com as
duas mãos em meu rosto. — Você é e sempre será o menino
mais lindo. — A abraço mais forte e beijo seu ombro. — Vamos
ficar muito tempo juntos. — Vai começar a tortura! Ficar muito
tempo junto com ela é uma tortura, parecia fantástico quando
criança...
Quando nos afastamos, eu fixo meus olhos em seus
lábios. Há um piercing no lábio inferior, há tatuagens novas, há
um combo destruição nessa menina. Lembrar de piercing me faz
pensar em clitóris, por isso me afasto ainda mais, dando dois
passos para trás.
— Chegamos, meu povo! Alô, galera de cowboy!!! Aoooo,
trem que pula!!! — Samuel surge com o restante do pessoal. —
Trouxemos coisas para um churrasco selvagem!
— O que seria um churrasco selvagem? — pergunto.
— Uma festinha doida, para aloprar, com direito a sexo
selvagem no final... — explica e eu balanço a cabeça em
negação.
— Passamos no bar do Tião e trouxemos pinga! — Eva
informa, radiante.
— O que eu estou fazendo aqui? Talvez Miguelito seja a
salvação, porque só há loucos.
— Eu não gosto de bebidas, mas quero experimentar a
pinga, com moderação, é claro. Detesto excessos. — Sophie vai
até Eva. A merda está formada e eu já vou logo em busca de um
refúgio.
— Théo, onde tem um quarto isolado nesse lugar? —
pergunto, o fazendo rir.
— Segue o corredor. Última porta à direita. Lá é o local
mais silencioso. Vou levá-lo! — Ele e Luiz Miguel me
acompanham e eu agradeço internamente por isso.
Preciso de um lugar para onde eu possa fugir quando
tornar-se difícil demais. Eu sei que isso vai acontecer por causa
do barulho excessivo e por Sophie... principalmente por Sophie.
A fuga faz parte de mim.
Piercing no clitóris!
A família do meu pai é extremamente unida. Se algo ruim
acontece com um membro, todos os demais se compadecem e
se unem para ajudar. Se algo bom acontece, se unem para
festejar, não importa o dia que seja.
Pesquisas feitas por psicólogos mostraram que o tempo
de duração de um luto é de oito meses a um ano, podendo se
estender a dois anos.
Um outro estudo diz que quando a perda é de um cônjuge,
as coisas pioram. Indivíduos que perderam seu cônjuge, têm
níveis mais altos de citocinas pró-inflamatórias (algo que indica
inflamação na corrente sanguínea), e passam a ter uma
diminuição da frequência cardíaca. Isso aumenta o risco de
problemas cardíacos. Nos primeiros seis meses, o risco de morte
aumenta para 41%.
Essa diminuição da frequência cardíaca está associada
também à falta de atividade sexual. Sempre ouvi meu pai dizer
que sexo é vida, e talvez faça sentido mesmo. Pelos estudos,
uma vez que você deixa de praticar o ato, sua frequência
cardíaca sofre uma diminuição considerável. É um pouco
absurdo para mim, mas há muitas pesquisas sobre o assunto.
Isso me faz pensar que talvez a minha frequência cardíaca esteja
muito baixa, já que tenho 22 anos de idade e não faço sexo. Será
que malhar ajuda? Eu preciso fazer pesquisas sobre isso. Estou
preocupado. Masturbação pode ser comparada ao sexo?
De qualquer forma, meus problemas agora não importam,
apenas não quero que Luiz Miguel, meu primo de consideração,
morra. Já faz um ano desde que Clarinha nos deixou e ele não
está bem. Estou preocupado que ele vá desenvolver um
processo depressivo. Porém, ver a animação em todos e
perceber que eles são os únicos que podem levar um pouco de
alegria para Luiz Miguel, faz com que eu me sinta um pouco
insuficiente. Samuel, meu irmão, pode fazê-lo rir; Théo, também
meu primo de consideração... Ainda estou conhecendo Théo,
mas ele também parece ser divertido. Soso...
Soso é filha do meu tio Victor e irmã de Luiz Miguel. Na
verdade, ela é mais que isso...
Eu não quero olhar ou pensar nela agora, mas faço e me
arrependo no mesmo instante. Há um elástico em minha mão.
Estou girando-o em meus dedos e os movimentos aumentam
consideravelmente enquanto a observo.
Estamos fazendo um churrasco para o almoço. Eu tentei
ficar no quarto, porém, me lembrei das palavras da minha mãe.
Ela pediu por favor. Pediu que eu me esforçasse um pouco para
socializar ao menos com os meus primos, e eu prometi a ela que
faria. Se eu prometo algo, não consigo deixar de cumprir. Na
minha primeira tentativa de não cumprir a minha promessa, a
cobrança mental surge, repetindo infinitas vezes o juramento que
fiz. Todas as vezes que prometo algo, tento voltar atrás, porém
minha mente não deixa. Eu acho que ela está certa. O mais
honesto é você sustentar suas próprias palavras. Mas, em alguns
casos, é apenas difícil.
Nesses casos difíceis sempre há Sophie envolvida.
Sinto uma enorme saudade de todos os momentos onde
ficávamos grudados um ao outro, mas já faz alguns anos que
deixou de ser o paraíso para tornar-se uma quase tormenta; é
por isso que a evito, por mais que doa. A proximidade excessiva
ultimamente faz com que eu tenha que ficar em uma batalha
mental exaustiva. E, a observando envolvida em um biquíni, com
os olhos devidamente fechados, enquanto a água forte da ducha
cai sobre seu corpo, percebo que insistir em ficar aqui, vendo as
mais várias cenas acontecendo bem diante dos meus olhos,
apenas para cumprir a minha promessa, será um erro.
Então por que não saio logo?
Você sabia que chamar uma mulher de gostosa pode ser
considerado um ato de violação? Bom, o que para muitos é visto
como um elogio, para outros é visto quase como um crime.
Esse lance de gostosa é algo que eu tento entender.
Sempre ouvi Samuel, filho do meu pai e meu irmão de
consideração, chamando as garotas de gostosas, mas como
funciona isso? Porque uma torta alemã é gostosa. Ela tem
aquele creme que derrete na boca, que deixa tudo incrível. Um
sorvete de creme com pedaços de doce de leite e caramelo é
extremamente gostoso. Uma lasanha de presunto e queijo é
absurdamente gostosa. Qual a comparação disso com uma
mulher? Seios, bunda... eles possuem um gosto? É meio
absurdo, mas acho que se pudesse colocar a minha boca em
Sophie, talvez eu me transformaria em um desses caras que
chamam as mulheres de gostosas. Ela deve ter um gosto
delicioso, eu gostaria de lambê-la por completo.
Sophie é gostosa aos meus olhos. Ela é a mais gostosa,
de acordo com eles.
Quando ela sai da ducha, sua atenção se volta a mim e
ela abre o sorriso mais lindo do mundo. Todas as vezes que ela
sorri para mim, um sorriso cresce em meu rosto. Parece
automático. Sophie sorri, eu sorrio.
— Ei, Sophie, vamos dançar essa música? — Eva, a noiva
de Théo, a chama.
Há uma música baixa tocando, e isso me coloca em um
misto de confusão. Me sinto grato a eles por terem cuidado com
coisas que testam os meus limites, mas, ao mesmo tempo, sinto
que atrapalho um pouco da diversão de todos.
De qualquer forma, parece bom para eles e Sophie se
junta à Eva para dançar. Quando Sophie se vira de costas para
mim, desvio meu olhar. O corpo dela é algo que me causa
reações. A única coisa que me convence a observar a cena é a
voz do amigo de Eva.
A diversão termina quando ele sai da piscina e toca a
cintura de Sophie. Os dois começam a dançar juntos e eu passo
a engolir em seco repetidas vezes. Sophie tem um gingado
natural desde criança. Ela é movida à música. A maneira como o
corpo dela se move de acordo com a melodia da canção é
incrível. Ela parece sentir o tom e se entrega a isso.
O amigo de Eva começa a ficar um pouco ousado nos
movimentos e sinto meus batimentos cardíacos atingirem um
novo nível de frequência. Começo a girar o elástico em minha
mão mais rápido, até que ele se arrebenta, sinalizando que atingi
o meu limite. Não sei explicar como me sinto quando vejo alguém
tocá-la. Me lembro de alguns episódios violentos que tive durante
a infância, e eles parecem voltar com força a cada vez que vejo
cenas como essa.
Não sou um menino violento. Não sou um menino violento.
Não sou um menino violento.
Porém, mesmo que não seja, sinto vontade de me
aproximar e jogar esse garoto a alguns metros de distância. Sinto
vontade de pegar Sophie e escondê-la dos olhos de todos. Sentir
todas essas coisas dói. Dói tanto que, antes que eu não possa
mais conter as minhas emoções, decido me recolher.
Estou caminhando rumo ao quarto quando uma garota
molhada vem correndo e entra na minha frente.
Ela prende meu rosto entre suas mãos, eu prendo o dela
entre as minhas.
— Aonde vai? — pergunta.
— Dormir. Estou cansado da viagem. Pode se divertir. Eu
vou ficar bem.
— Por que não fica mais perto de mim? — ela questiona,
como se sentisse dor. — Você não gosta mais de mim? Não sou
mais a sua melhor amiga? Você tem outra amiga?
— Não tenho outra amiga, Sophie. E nunca terei. Você
sempre será a minha melhor amiga. Só você — afirmo. — Estou
cansado da viagem. Foi longa e passei a madrugada
conversando com Samuel, para mantê-lo desperto enquanto
dirigia. Vou dormir e acordarei mais disposto.
— Promete que vai ficar comigo hoje à noite? Eu não me
importo se não quiser sair, nós podemos assistir um filme, eu
posso fazer pipoca. Eu te amo — ela diz, soltando meu rosto e
me abraçando.
Meu Deus do céu! Sophie está de biquíni e grudada ao
meu corpo! Meu corpo simplesmente precisa não responder a
isso, mas...
Uma ereção começa quando o cérebro envia um sinal
para a medula espinhal através dos nervos que chegam à pelve.
Alguns dos nervos que provocam uma ereção se situam dos dois
lados da glândula prostática. Quando este sinal é recebido, o
tecido esponjoso no interior do pênis relaxa e expande os vasos
sanguíneos, que levam o sangue para o pênis. Com as
expansões das paredes, o sangue no interior pode circular até 50
vezes mais rápido do que sua velocidade habitual. O sangue
preenche dois tubos esponjosos de tecido no interior do pênis. As
veias, que normalmente drenam o sangue do pênis, ficam
fechadas, para que mais sangue permaneça dentro. Isso faz com
que se produza um grande aumento da pressão dentro do pênis,
o que provoca uma ereção firme. E tudo isso significa que meu
cérebro agora está sendo um completo idiota irresponsável, por
estar enviando todos os sinais para que logo meu pênis fique
com uma ereção firme que, provavelmente, fará com que eu
queira abrir um buraco no chão para me enterrar dentro dele.
Começa a acontecer quando sou obrigado a tocá-la para
retribuir o abraço. Eu posso jurar que a sinto tremer quando
minhas mãos deslizam pela sua cintura. Todos os meus sentidos
são altamente aguçados, por isso, consigo sentir sua pele repleta
de bolinhas. Quanto mais deslizo as minhas mãos, mais reações
surgem no corpo dela. Essa é uma descoberta muito assustadora
para mim, mas que também não quer dizer nada. Eu só saberia
que Sophie está excitada se ela tivesse uma ereção firme, mas
ela é uma garota e possui uma vagina, o que contribui
diretamente para que minhas dúvidas sobre o tipo de reação que
ela está sentindo não sejam esclarecidas.
Me afasto quando a situação torna-se demais e a pego
com as bochechas ruborizadas, mordendo firmemente seu lábio
inferior. Faço uma anotação mental sobre isso e caminho rumo
ao quarto, fechando a porta com chave assim que entro.
Fico alguns minutos andando de um lado para o outro.
Tenho esse tipo de comportamento quando me sinto perdido ou
nervoso demais. Faço isso quando tenho dificuldade para
entender algumas coisas. E ligo para o meu pai quando preciso
de uma opinião menos científica.
— Filho, está tudo bem? — É a minha mãe quem atende.
— Mãe, está tudo bem. Por que não estaria?
— Só estou perguntando, filho — ela responde, rindo. —
Descansou da viagem?
— Ainda não, mãe. Mas fugi de Sophie e vou tentar
descansar agora. Meu pai está aí?
— Por que fugiu de Sophie?
— Mãe, isso é assunto de meninos. Eu ficaria feliz em
falar com o meu pai — explico a ela.
— Sabe, filho, mamãe entende sobre muitos assuntos de
meninos. E ainda tem o agravante de eu ser menina. Então,
entendo também das atitudes de meninas. Eu posso ajudá-lo
enquanto seu pai está saindo do banho para falar com você.
— Mãe, você tem reações físicas quando papai te abraça?
Você sente arrepios? Sophie me abraçou e eu tive uma ereção
firme, ela teve arrepios quando eu toquei em sua cintura.
— Oh, merda! Digo... LUCCA!!! — ela chama o meu pai.
— Henrico teve uma ereção firme. Se existe alguém que pode
falar com ele sobre ereção firme, esse alguém é você. Eu não
tenho pênis! — diz ao meu pai.
Ok. Por que ele é homem? Ou por que ele tem ereção
firme quando minha mãe o abraça? Não quero imaginar isso, de
forma alguma!
— Graças a Deus, Paula! — ele a responde. — Oi, filho.
— Pai, não é apenas porque estou com uma ereção firme.
— Ele fica em silêncio por um momento, até finalmente me
responder com uma pergunta. Eu odeio quando me respondem
fazendo uma pergunta, mas isso acontece constantemente. As
pessoas me respondem perguntas com perguntas, como se
quisessem se certificar de algo. Eu não entendo a necessidade
disso, mas lidar com pessoas é complexo demais. Eu sempre
vou preferir os animais. Eles são menos complexos e
compreendê-los é significativamente mais fácil.
— Anos atrás eu te ensinei como lidar com isso, não foi?
— Sim, mas não é sobre lidar com uma ereção. Eu toquei
a cintura nua de Sophie e ela se arrepiou.
— Ela teve uma reação ao seu toque. Talvez seu toque
tenha algum efeito sobre ela. Já imaginou isso? Seria legal, não?
Você gosta de Sophie.
— Pai, não tem como eu saber se a reação que ela sente
é ao menos parecida com a que eu sinto. A excitação em garotas
é diferente. Quando começa a excitação em garotas, a vagina
fica mais longa e mais larga. As células que revestem a vagina
secretam gotículas de líquido ou lubrificante, que fazem com que
fique escorregadia. Como eu poderei saber se isso está
acontecendo com Sophie? É assustador pensar em uma vagina
longa e larga.
— Puta merda! Bom, sim, quando uma garota está
excitada nós dizemos que ela fica "molhada". Sua... vagina fica
mesmo úmida e só é possível descobrirmos quando tocamos ou
caso ela decida dizer. Porém, não leve de forma tão literal esse
"longa e larga". Você já viu aqueles filmes educativos, sabe que o
órgão sexual da mulher não modifica durante a excitação, ao
menos não exteriormente. Na verdade, se expande apenas para
receber o nosso... Isso é difícil de ser conversado. — Essa
resposta me faz sentar na cama.
— Nosso pênis.
— Sim, filho. Ela se abre um pouquinho apenas para
receber o nosso pênis.
— Sophie tem um piercing no clitóris. Eu não pude
analisar — confesso.
— Você quer analisar?
— Estou curioso, mas sei que não posso pedir que ela me
mostre. Isso é muito íntimo, e não sou inocente o bastante.
Assisti filmes. Eu faria com ela tudo o que já vi. Tenho a
consciência de que pedir para ela me mostrar seria como um pré-
ato para me sentir confortável.
— Ah, sim, o confortável. Você não se sente confortável
ainda, então apenas relaxe, filho. Veja filmes educativos, você
sabe o que fazer. Acho que isso será o escape até se sentir
confortável o bastante para investir pesado.
— Investir pesado? — pergunto.
— Dar um passo em sua relação com Sophie.
— Ela é a minha melhor amiga, pai. Não vai acontecer.
Não quero perdê-la como amiga e ela tem uma rotina mais
dentro da normalidade que eu. De qualquer forma, o arrepio
significa que talvez ela tenha reagido a mim da forma como reajo
a ela?
— Tenho certeza que sim. Preste atenção nos mínimos
detalhes, ok?
— Ok. Só mais uma coisa, pai. Há um garoto em torno de
Sophie e eu não gosto dele. Ele disse que Sophie é gostosa. O
que eu devo fazer?
— Mantenha-se perto dela. Não dê chance dele se
aproximar. Quando queremos muito algo, devemos lutar, mesmo
que discretamente. — Ok, manter-se perto, eu posso fazer isso,
mesmo que seja necessário manter uma almofada entre nós.
— Tudo bem.
— Me ligue se precisar, filho. Eu amo você. Sua mãe quer
falar...
— Filho. — Minha mãe está chorando.
— Mãe?
— Eu só queria dizer que é a coisa mais fantástica do
mundo ver sua inocência em assuntos sexuais e assuntos
sentimentais. Você é tão maduro para outras questões, que ver
que ainda possui uma inocência e uma certa inexperiência torna-
se algo singelo e bonito — fala. — Sempre quando o vejo
conversando com seu pai, isso mexe muito comigo. Eu tive a
sorte de conhecer o seu pai. Sophie tem a sorte de ter um
homem como você apaixonado por ela. Estou sonhando com o
momento em que ela descobrirá sobre seus sentimentos. Eu
sinto que vocês vão descobrir muitas coisas juntos e, quando
isso acontecer, será o momento mais incrível da vida dos dois.
— Você acha que um dia ela será a minha namorada?
Você acha que eu sou capaz de namorar?
— Você é muito além de capaz. Só não fez, porque desde
que se entende por gente, só existe uma garota na vida para
você. E sabe o que é mais incrível? Essa garota é a sua melhor
amiga. Ela sabe tudo sobre você, sabe tudo sobre o seu
universo, suas limitações, sua inteligência... Há tanto para você
descobrir sobre tudo que ela sente e sabe.
— Obrigado, mãe.
— Eu quem o agradeço por ser o homem mais incrível do
mundo inteiro e o meu primeiro melhor presente da vida. Eu te
amo, filho. Fique com Deus.
— Você também, mãe.
Mantenha-se perto dela...
Ao invés de ir obter o mínimo de alívio e dormir, controlo o
ânimo, retiro minhas roupas, visto uma sunga boxer preta e volto
para a área externa da casa. Procuro Sophie com os olhos,
porém, assim que a encontro, ela fixa o olhar em mim, escorrega
e leva um tombo feio, o que me faz correr para socorrê-la.
A vida era muito mais fácil quando Henrico usava uma
bermuda para as atividades aquáticas. Ele usando uma sunga,
que mais se parece com uma cueca boxer, é impactante o
bastante. Faz um tempo desde que o vi sem camisa, então é
compreensível meu choque.
Henrico costumava ser magro, discreto. Esse homem que
me tem em seus braços agora, é tudo, menos magro e discreto.
Eu não sei dizer bem qual foi a transformação que o corpo dele
sofreu. O vi há mais ou menos uns seis meses, num dia chuvoso
e frio, onde ele estava usando um conjunto largo de moletom.
Fora de todas aquelas roupas se esconde algo que eu sempre
quis ver, mas não me sentia preparada o bastante. Ainda estou
em uma disputa interna entre agradecer a Samuel por incentivá-
lo a malhar ou chutá-lo. É uma bênção e uma tortura.
Coxas grossas, um volume generoso em sua sunga, seis
gomos perfeitos na barriga, pelinhos delicados por todo peitoral e
pelo famoso "caminho da felicidade", e braços fortes e com
algumas veias em evidência. Não ajuda que o rosto dele seja
perfeito. Eu não sei descrever o que são esses lábios, tão pouco
a barba adornando cada pedacinho e fazendo com que ele se
pareça ainda mais quente.
Mas...
O lado ruim da vida é quando surge o "MAS".
Henrico não é o garoto que vai me jogar contra a parede e
me consumir por completo. Não é o garoto que "do nada" vai
tornar-se um rompante de safadeza e atitude. Eu sei disso e, ao
contrário do que parece, não é decepcionante que ele não seja
como a maioria garotos. É angustiante, principalmente conforme
os dias, meses e anos vão se passando.
Tão angustiante que larguei a faculdade e retornei ao
Brasil há poucos dias, contra a vontade dos meus pais, contra
todos, apenas para estar mais perto dele. O simples fato de estar
perto já consegue preencher alguns dos espaços vazios dentro
do meu coração. Talvez, com cuidado e delicadeza, eu consiga
trabalhar e realizar o maior sonho da minha vida: tê-lo.
Já fui questionada sobre esse sonho, até mesmo julgada.
Enquanto a maioria das mulheres sonha com a independência,
com viagens, com riqueza, poder, eu sonho em possuir o coração
do meu melhor amigo e viver o resto dos meus dias ao lado dele.
Tão poético quanto parece ser, apenas para destoar da imagem
de garota sem limites que todos têm de mim.
Sempre foi Henrico. Sempre será. E nunca houve um só
dia em que eu pensei em desistir ou tentar substituí-lo. Não há
qualquer garoto à altura de tudo que ele é e significa para mim.
Eu choro. Eu choro porque amar em silêncio é doloroso o
bastante. Eu choro porque tenho pressa quando tudo que preciso
é ser paciente. Eu choro porque todas as vezes que digo que o
amo, ele entende como se eu estivesse dizendo que o amo como
meu melhor amigo. Eu choro porque queria estar para sempre
em seus braços e esse "para sempre" nunca chega. Eu choro
porque meu corpo grita por algo que ninguém é capaz de me dar.
Eu rezo pelos mesmos motivos; para que eu possa gritar o
meu amor, para que eu possa mergulhar nele, para que ele
entenda que eu o amo como uma mulher é capaz de amar um
homem, para que ele abra seus braços e me deixe ficar para
sempre, e para que ele me dê tudo.
Ele me coloca sobre a sua cama e eu consigo vê-lo por
completo, mais perto que nunca. Eu choro pelo desejo de tocá-lo.
— Sophie, eu vou cuidar de você — ele diz de um jeito
muito lindo.
— Ok. Você pode apenas fazer um favor antes de cuidar
de mim?
— Eu posso fazer — responde sério, esperando o meu
pedido.
— Você pode enrolar uma toalha em torno de si? Apenas
para eu não vê-lo de sunga?
— Oh! — exclama, envergonhado, cobrindo o volume em
sua cueca. Nunca quis tanto ser as mãos de alguém. — Me
desculpe por desrespeitá-la, Sophie.
— Não me desrespeitou. Na verdade, eu festejaria
bastante se me desse um "desrespeito" desse. Quer dizer,
esqueça o que estou falando. É apenas porque...
— Eu vou enrolar uma toalha — avisa, indo até ao
banheiro, e eu suspiro, transtornada. Ter o sangue quente é uma
maldição às vezes.
O abençoado surge na porta enrolado em uma toalha
branca. Poderia aliviar o que estou sentindo, mas não alivia
nada. Agora ele molhou os cabelos e há gotículas de água
escorrendo pelo seu peitoral.
— Pronto. Você está sentindo dor? — pergunta.
— Em lugares que você nem imagina. — Henrico se
superou na arte de se tornar gostoso. Eu queria arrancar essa
toalha no dente, abaixar essa sunga e... Santa Josefina, me
perdoe por pecar!
— Podemos ir em busca de um hospital.
— Não vai resolver — afirmo.
— Sophie, o que eu posso fazer? Não gosto de te ver
chorando. Meu peito dói. — Ele derruba toda a minha safadeza,
sempre! Até faz com que eu me sinta levemente culpada por
querer jogá-lo sobre essa cama e matar quem me mata um
pouco a cada dia.
— Desculpe. Estou tendo alucinações. — O observo
franzir a testa e me encarar sério. Começo a rir, porque ele
sempre leva tudo para o sentido literal.
— Você me enganou? Minutos atrás estava chorando e
agora está rindo, Sophie. Eu não estou entendendo.
— Machuquei apenas o meu bumbum e torci um pouco
meu pé direito — informo, ficando de pé e caminhando
mancando até um espelho, onde confiro minha bunda. Pelo
reflexo do espelho, o vejo com os olhos fixados em minha bunda.
Samuel disse que eu deveria observar mais algumas ações de
Henrico, e eu faço isso. Ele desvia o olhar da minha bunda assim
que o encaro através do espelho. — Não foi nada demais. Só há
uma dorzinha no meu pé — aviso e ando até ele. — Você pode
me abraçar muito forte? — peço, voltando a chorar, e ele faz. Ele
me abraça forte e eu deito minha cabeça em seu ombro direito.
— Não chora, Sophie, por favor.
— Eu te amo. — Ao infinito e além.
— Eu vou cuidar de você. Você quer brigadeiro?
— Quero — respondo, sorrindo entre lágrimas.
— Eu vou fazer para você, tudo bem? Pode apenas ir
tomar banho e vestir uma roupa decente? É desrespeitoso.
O tema da vez é desrespeito. Acabo de perceber.
Sorrindo, me afasto dele e vou até meu quarto tomar banho e
vestir uma roupa "respeitosa".
— Ei, senhorita, você está bem? — Samuel surge,
vestindo um roupão bem esquisito, quando estou prestes a entrar
no quarto.
— Sim, só torci um pouco o pé e meu bumbum está um
pouco dolorido — explico, o abraçando. — Eu te amo até o céu!
— Onde está Henrico?
— No quarto. Pediu que eu viesse tomar banho e vestisse
uma roupa decente para assistirmos filme — comento, sorrindo.
— Podemos conversar um pouco? Em particular.
— Claro que sim. Entre. — Ele entra e fecha a porta.
— Sente-se — pede, apontando para a cama, e eu me
sento, o analisando.
— Fiquei muito "tiporrei"[2] nesse roupão, né? — Reviro
meus olhos e sorrio.
— Extremamente.
— Tô me sentindo muito rei delas! Enfim, quero falar sobre
Henrico e você. — Franzo a testa. — Sophie, todos amam vocês
e sentem medo de vê-los sofrerem por conta dos sentimentos.
Eu sou um pouco protetor, você sabe.
— Perfeitamente.
— A questão agora é que Henrico está numa fase mais...
Como posso dizer? Ele tem estado mais curioso em relação a
algumas questões.
— Questões? — pergunto. — Quais os tipos de questões?
— Não vem ao caso. Eu só queria dizer que ele acordou
para algumas questões apenas agora e está meio perdido, com
dúvidas e curiosidades demais. Sei o que sente por ele, sei que
deve estar cada vez mais difícil lidar com isso, mas tenha um
pouco mais de paciência, ok? Está sendo extremamente difícil
para ele também. Ele se sente diferente, se sente atrasado, se
sente insuficiente, incapaz. Estamos tentando lidar com isso
juntos, inseri-lo cada vez mais em nossa rotina, para que ele
perceba que não há nada a temer. O tipo de abordagem dele é
diferente, por exemplo, do meu tipo de abordagem, e ele é literal
demais. Você vai atingir o seu propósito, posso quase apostar
nisso, mas precisa ir com cuidado, tudo bem?
— Eu sei. Tenho pressa, mas sei que preciso ir a passos
lentos.
— Henrico ainda não sabe que você voltou para o Brasil
definitivamente, não é mesmo?
— Ainda não falamos sobre isso. Mas vou comentar.
— Você é muito mais experiente que Henrico, mas não
quero que se machuque, Sophie. Quando ficar difícil ou se sentir
perdida, venha até mim. Seja firme, aguente firme, continue
sendo paciente. — Me levanto e ele abre os braços para me
receber. — Sei que esse amor dói.
— Eu o amo com todas as minhas forças.
— Observe.
— Estou fazendo isso, mas não encontrei nada ainda —
confesso.
— Siga observando. Só se encontraram há poucas horas.
Talvez você ainda não seja capaz de perceber, mas Henrico está
sofrendo mudanças consideráveis. A zona de conforto está
começando a incomodá-lo e o óbvio já não está o satisfazendo
mais. Apenas seja paciente e observadora. O amor dele é puro
pra caralho.
— Eu te amo também.
— Eu também te amo, Sininho. Não quero que sofra. Você
tá na velocidade cinco do créu, Henrico está entrando na
primeira.
— Isso significa que Henrico é virgem?
— Eu não disse isso — ele fala, me soltando. — Enfim, vá
tomar banho para assistir filme com ele. Não vá assediar meu
irmão!
— Talvez eu dê uma deslizada de mão para saber o que o
futuro me reserva, se é que meu futuro é Henrico — brinco.
— Eu acho que é, hein!
A cada vez que alguém diz isso, me sinto capaz de
conquistá-lo.
ATUALMENTE
— Glória Deuxxxxx! Henrico Davi! Que diabo é isso na sua
mão? — minha namorada pergunta ao me ver com uma foto dela
em mãos. Foi tirada no dia do aniversário de 12 anos da minha
irmã, em meu quarto.
— Você tinha 16 anos — comento, observando a foto. Ela
estava com uma camisa vermelha, tinha os cabelos mais curtos,
usava uma maquiagem estranha e estava sorrindo. Eu a achava
muito linda, mesmo com as bochechas vermelhas de
maquiagem.
— E você tem essa aberração? Credo! Olhe para mim...
Os anos fizeram um milagre e tanto! — fala, pegando outras
fotos que ela nem imaginava que eu tivesse. — Oh! Nessa eu
estou muito sexy sem ser vulgar — diz, rindo.
É uma das fotos que eu mais acho bonita. É preta e
branca, Sophie tinha 18 anos. Os cabelos dela estavam jogados
para o lado, sua mão estava próxima à boca e ela já tinha uma
tatuagem delicada de estrela no ombro. Me recordo que a blusa
que ela está usando na foto era bastante decotada e não tinha
alças.
— Linda.
— Nessa aqui eu estou menos feia, menino mais bonito.
Porém, na primeira, definitivamente estou muito mais feia que a
noiva do Chucky.
— Não acho, mas tudo bem. Sempre ouvi meu pai dizer
que as mulheres são complexas, agora vejo que faz muito
sentido — comento, recebendo um olhar estranho da minha
namorada.
— Está falando que sou complexa?
— É exatamente isso, Sophie! Você é linda, perfeita, é a
menina mais bonita do mundo e cisma que é feia. Não é possível
você se achar feia nessa foto preto e branco. Porém, não vou
obrigá-la a se achar bonita. — Ela sorri e me dá um beijinho na
bochecha. Sophie é muito linda.
— Estou cansada — confessa, fazendo um enorme bico.
Nossas coisas chegaram à tarde e passamos o resto do
dia tentando organizar tudo. Ainda sobrará serviço para amanhã,
mas é o momento de parar.
— Vamos descansar e continuamos amanhã.
— Sabe, eu também tenho fotos sua, só que estão em
meu celular — comenta, me puxando para o sofá. Fico a
observando enquanto busca as imagens no telefone. — Aqui!
Tudo o que vejo é uma foto da minha boca.
— Por que tem uma foto da minha boca? — pergunto a
ela, rindo.
— Oh, querido, você já viu a sua boca? Já! Você a vê
todos os dias. Mas... sua boca tem toda a minha admiração.
Aumentou um pouco depois dessa madrugada. — Fico
envergonhado ao lembrar da madrugada. — Enfim, sua boca é a
boca mais perfeita que eu já vi e precisei registrar isso. Foi no
Natal do ano passado, enquanto você estava distraído. Dei zoom
e fiz essa obra de arte. Essa outra também. — Ela me mostra
uma outra e eu sorrio da carinha que ela faz.
— O que foi?
— Você é um absurdo de tão bonito, e tem covinhas
encantadoras — diz, pegando o celular da minha mão. — Todas
as coisas que me disse durante a madrugada mexeram comigo.
No momento não consegui dizer nada, apenas chorei. Mas,
menino mais bonito do mundo, eu nunca duvidei do seu
potencial, sempre soube que era capaz de tudo, até mais capaz
que a maioria dos meros mortais. Eu sempre esperei por você,
sempre acreditei em você, sempre vi muito além de todas as
coisas que você era capaz de ver em si mesmo. E eu sinto muito
que sua juventude tenha sido tão difícil, com tantas confusões
internas. Sinto por não ter estado perto todas as vezes em que
passou por determinadas situações. Sinto muito por ter lidado
com pessoas ruins tentando te diminuir. Saiba que o problema
nunca esteve em você, e sim em cada um deles. Você é incrível,
garoto mais bonito. E, sobre sexo... acabamos de começar, mas
o que me fez sentir ontem... — fala timidamente. — Eu quero
sentir aquilo pelo resto da minha vida e eu vou me lembrar dessa
madrugada para sempre. Você é muito melhor que o meu melhor
sonho e é capaz de me dar prazer desde um simples beijo até
um magnífico sexo oral.
— Oh, Sophie! Não diga essas coisas! — peço,
envergonhado.
— Eu precisava dizer. E precisava deixar pontuado que
você é extremamente incrível e que eu quero sua boca em meu
corpo uma, duas, infinitas vezes. Eu não imaginava que poderia
sentir tanto prazer na vida, então sou eu quem devo agradecê-lo.
Obrigada por estar fazendo de mim a garota mais feliz do mundo!
— Paiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!!!!!!!!
Eu me sinto como se estivesse dando um passeio em
plena alameda dos sonhos despedaçados; exagero ou não.
Ainda estou tentando processar e digerir os acontecimentos da
noite passada. É difícil. Mas não por ser uma crise, que já era
algo esperado, e sim pela atitude de Henrico durante ela. O fato
de eu estar presente, vivenciando aquilo ao lado dele, não lhe
caiu bem. Não sei dizer ao certo como ele se sentiu; talvez um
pouco envergonhado ou inferior. Houve uma insistência para que
eu me afastasse e não o presenciasse tão quebrado, e, embora
eu quisesse permanecer ao seu lado com todo meu amor e
compreensão, não tive opção a não ser acatar seu pedido. A
ideia de relutar e insistir até passou pela minha cabeça, mas
estava bastante evidente que a minha presença estava
contribuindo para deixá-lo ainda mais nervoso.
Agora estou na casa dos meus pais, curtindo a minha
TPM e um enorme aperto no peito, recebendo notícias de
Henrico através da tia Paula e tentando bravamente não surtar.
Até o momento, decidi me manter isolada, sem falar muito
e sem me sentir disposta o bastante para ouvir os conselhos dos
meus pais ou de quem quer que seja. Eu me fechei um pouco na
dor, nos acontecimentos e estou tentando lidar com a confusão
interna.
Torna-se impossível não pensar no futuro. Estaremos em
São Roque, distante da maior parte dos nossos familiares, e
tenho me perguntado se Henrico optará por um afastamento com
frequência. Agora é tudo diferente. Não somos mais apenas
amigos. Somos noivos, estamos caminhando para construir um
relacionamento sólido, e não consigo cogitar a hipótese de ter
que me afastar sempre que ele estiver com crises.
Quando combinamos de morar juntos, surgiram as regras
e ele me disse que precisava ter um lugar onde pudesse ficar
recluso quando necessário. Isso foi super aceitável e
compreensível para mim. Mas a ideia de eu ter que sair de casa
ou ele, não é tão aceitável assim para mim. A questão é que
nossa relação ainda está no início e Henrico não está tão seguro
ainda. Essa insegurança pode vir a complicar as coisas, por mais
que eu sempre tente conduzir tudo pelo lado da compreensão.
É o mar diante dos meus olhos que está fazendo com que
eu não entre em paranoia. Ter o mar diante dos meus olhos,
através da parede de vidro do meu quarto, é uma das coisas que
mais sinto falta. É surreal como ficar observando as ondas indo e
vindo faz um bem danado para a mente e para o coração.
Por fim, meu coração acaba ficando mais leve após um
longo tempo perdida na natureza magnífica. Eu consigo
compreender que é necessário aceitar que alguns ciclos são
mais lentos, que nada nessa vida é igual, nem mesmo os dias.
Entendo que minha frustração vem do fato de eu ter sido
paciente uma vida toda e esperado para viver esse amor. Agora
que eu o tenho, é como se a paciência tivesse sido extinta do
meu vocabulário e da minha vida. Mesmo sabendo que a lentidão
é necessária, eu tenho a sede de atropelar o mundo e a vontade
louca de não perder uma única batida do coração do meu menino
mais bonito do mundo. Mas, esse novo ciclo também é de
aprendizado e a vida está me mostrando que tudo acontece
como deve acontecer, que não adianta sentir qualquer frustração
ou querer agir como um furacão. Sempre soube que seria assim,
vencendo uma batalha por dia, me preparei para isso, então por
que agora tudo parece tão difícil? Não gosto de ser inconstante
em meus pensamentos e sentimentos.
Sinto-me em uma confusa felicidade; radiante por ter
conseguido ir tão longe com Henrico, triste por ele me afastar em
um momento de vulnerabilidade. Acho que o amor é o
sentimento mais desafiador, e se não estivermos preparados
para lidar com as provações com paciência, respeito, resignação
e confiança, é porque não sabemos amar. Amar exige muito e
nem todos estão preparados para vivenciar essa experiência.
Agora eu só preciso acreditar que o fluxo do Universo é
perfeito e que o destino não falha. Não quero acreditar que
Henrico se afastará de mim por completo. Quero me apegar ao
fato de que ele só precisa de um pequeno intervalo para colocar
a mente no lugar e então retomar de onde paramos.
Em geral, sempre fui uma garota muito positivista,
confiante, não quero perder essa essência que me acompanha
desde o meu nascimento. Não é o momento para fraquejar. É o
momento onde devo encontrar toda a minha força e demonstrá-
la. Talvez assim Henrico seja capaz de compreender que sou
forte por mim, por nós, e que seu jeito atípico de ser não me
assusta, me encanta.
Há um ditado popular que diz: “Mar calmo nunca fez bom marinheiro.
Até nas mais lindas e mais puras histórias de amor há tempestades.
Elas surgem do nada, colocam à prova o amor e a disposição.
“— Sophie, eu tenho problemas — diz, sério. — E não quero ser
pai.”
É uma pena que nem sempre nossa vontade pode ser atendida.
PARTE 2 – LANÇAMENTO PREVISTO PARA
DEZEMBRO/2021 OU JANEIRO/2022
https://www.instagram.com/autorajussaraleal/
[1]
ligação, nexo ou harmonia entre fatos, ideias etc. numa obra literária, ainda
que os elementos imaginosos ou fantásticos sejam determinantes no texto;
coerência.
[2]
Uma brincadeira com a frase TIPO REI.
[3]
Nebulosas são grandes nuvens encontradas no espaço interestelar, formadas,
majoritariamente, de poeira cósmica e gases, como hélio e hidrogênio.