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A MÚSICA NO EGITO ANTIGO

Introdução

• Embora os antigos egípcios não tivessem um termo


específico que correspondesse à nossa palavra música,
executavam e ouviam uma excepcional variedade dela.

• A música era elemento essencial da cultura e da religião


egípcias.

• Sobreviveram muitas representações de músicos e dos


próprios instrumentos musicais, mas (infelizmente) não
há anotação musical preservada.

• A música era importante nos templos, e os músicos


tinham presença de destaque nas festas: sua arte
pacificava e alegrava os corações de deuses e mortais.

• Nos túmulos eram frequentemente representadas cenas de


banquetes em casas de ricos, nas quais músicos, cantores
e bailarinos apareciam em destaque.

• É o caso, por exemplo, deste harpista cego de um túmulo


da XII dinastia (1991-1782 a.C.).

• Tais representações se intensificaram no Império Novo (c.


1550 a 1070 a.C.).
• Como nestas festas domésticas geralmente homens e
mulheres ficavam em ambientes separados, era usual que
as mulheres tivessem moças que tocavam para elas,
enquanto que os homens escutavam outro conjunto de
músicos masculinos.

• Grupos misto eram incomuns.


• Não existe nenhuma evidência para comprovar se os
nobres tocavam instrumentos em público; os músicos de
banquetes eram contratados especialmente para as
ocasiões.
• Contudo, é possível que a elite aprendesse a tocar algum
instrumento como passatempo.
• Numa mastaba da VI dinastia (2345-2173 a.C.), em
Saqqara, a esposa de MERERUKA, nada menos que uma
princesa, está sentada em sua cama tocando harpa para
entreter seu marido (que também aparece sentado na
cama).

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A estruturação da música

• Infelizmente não temos documentação sobre as


melodias, os ritmos e os passos das danças.

• Apesar disso, é possível reconstituir um pouco da


vida musical, dos instrumentos e dos músicos do
Egito antigo, graças ao que temos:
- as palavras das canções;
- as ilustrações mostrando músicos, cantores e
dançarinos;
- a denominação das pessoas que exerciam tais
profissões e
- os instrumentos depositados como objetos
funerários encontrados em tumbas de quase todas as
épocas da história egípcia.

• Nos relevos achados até hoje jamais aparecem


músicos tendo à sua frente um papiro como partitura.

• Isso levou os arqueólogos a suporem que os egípcios


não tinham um sistema musical escrito.

Instrumentos Musicais

• Alguns instrumentos musicais já eram conhecidos


desde os primeiros tempos e muitos deles foram
encontrados pelos arqueólogos.

• O Egito do Antigo Império esteve (com toda a


probabilidade) em contato com a civilização
mesopotâmica: confirmam-no achados provenientes
das escavações de necrópoles e templos sumérios.

• É igualmente provável que o contato entre sumérios e


egípcios se tenha extinto antes de 2700 a.C.
• Durante os dois primeiros períodos intermediários
(2181-2055 e 1650-1550 a.C.) o Egito sofreu mais
intensamente invasões de povos provenientes da Ásia
ocidental.

• Determinou-se assim uma influência também no


âmbito musical, atestada pelo aparecimento de não
poucos instrumentos asiáticos e pelo
desaparecimento de instrumentos tipicamente
egípcios (como a flauta direito e o clarinete duplo).

• Além disso, fontes filológicas e arqueológicas


apresentam (entre os instrumentos típicos) também os
primitivos clappers (castanholas ou pequenos paus
pulsados em conjunto), os sistros, a grande harpa em
arco (estritamente aparentada com a harpa suméria) e
harpas de dimensões inferiores (como a harpa com
apoio e a harpa de ombro).

• No termo do Reino Antigo, o Egito conheceu uma


música mais ruidosa e excitante, executada com
oboés de palheta dupla, trombetas em liga de
bronze, címbalos, e também com liras e alaúdes.

• Os principais instrumentos utilizados eram (sem


dúvida) flautas, clarinetes e harpas, empregados
principalmente por ocasião de festividades religiosas
ou da vida cotidiana para execução de uma música
circunstancial.
• Juntavam-se a eles o duplo oboé, a trombeta, o
alaúde e a lira.

Lira

• Outro instrumento musical que se originou no Oriente


Médio.

• Ele apareceu na Mesopotâmia a partir do III milênio


a.C. e chegou ao Egito antes do Novo Império.

• Esse instrumento podia ser ornamental (muitas vezes


esculpido em formas animais)

Flauta

• O instrumento mais antigo no Egito era a flauta de


tubo único.
• No Antigo Império, tocavam-se flautas de tubo único
ou de dois tubos.
• Feitas de caniço ou de madeira, eram tocadas
lateralmente, como a flauta transversa, ou na ponta,
como a flauta doce.

Percussão

• Os antigos egípcios tocavam vários instrumentos de


percussão.
• No Antigo Império, eles já tocavam tambores
retangulares e redondos percutidos com as mãos (não
com baquetas).

• O tambor mais antigo tem forma de barril.

• Os instrumentos de percussão normais eram o


pandeiro e o tambor, enquanto que os sistros
(chocalhos cerimoniais) e crótalos (címbalos de osso,
marfim ou bronze) eram utilizados como instrumentos
de percussão em rituais (e para marcação de ritmo).

• Embora o ritmo musical fosse marcado pelos


percussionistas, essa função era às vezes substituída
pelas palmas.

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A música na vida religiosa

• Ainda que houvesse manifestações musicais nos lares,


eram os músicos dos cultos e dos templos que
realizavam a maior parte dos eventos nos quais a
música tivesse importância.

• As pessoas acreditavam que os deuses apreciavam e


eram pacificados pelas manifestações musicais.

• Papel de destaque tiveram, a partir do Império Novo,


as cantoras desta ou daquela divindade, cuja função
consistia justamente em oficiar como executantes do
respectivo templo nas cerimônias de culto.

• É sabido que apenas o faraó e os sumo sacerdotes


podiam ver as estátuas de culto das divindades que
ficavam nos santuários dos templos.

• Portanto, se músicos tocavam diante dessas estátuas,


presume-se que teriam que ser cegos.

• De fato, harpistas masculinos cegos são mostrados em


algumas paredes das tumbas, como o que vemos no
alto desta página, o que leva a concluir, também, que
não havia discriminação social com relação aos
deficientes físicos.

• Em síntese, as atividades musicais faziam parte dos


rituais diários dos templos, apareciam com grande
destaque nos festivais dedicados aos deuses e ainda
faziam parte dos ritos religiosos mais pessoais como
era o caso, por exemplo, dos nascimentos e
falecimentos.

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O canto e a dança

• Canto e dança também faziam parte integrante da vida


musical egípcia.
• Em um papiro do Império Novo, conhecido como Os
Ensinamentos de Ani, está dito que o canto, a dança e o
incenso são o alimento dos deuses.

• Pelo menos um instrumento acompanhava quase todas


as canções entoadas.

• O desenvolvimento melódico e a estrutura rítmica da


música e do canto eram indicados pelos movimentos
das mãos e por gestos transmitidos aos respectivos
músicos através da mímica por uma espécie de líderes
(denominados atualmente de quirônomos ou
quironomistas).

• A realidade é que em vários relevos do Império Antigo


(c. 2575 a 2134 a.C.), ao lado dos instrumentistas,
vemos um personagem que faz sinais com as mãos
havendo uma relação entre a posição das mãos do
instrumentista e os sinais deste personagem.

• Ao que parece, tais sinais foram a mais antiga forma de


notação musical.

• Considerando que nos desenhos podem aparecer até


três quironomistas na mesma cena, parece claro que
eles não dirigiam o conjunto como se fossem maestros,
mas realmente indicavam as notas que deveriam ser
tocadas.

• Os quirônomos desapareceram a partir do Império


Novo.
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Sobre o canto

• Os cantos assim estruturados comportavam diferentes


gêneros melódicos.

• Podemos muito bem distinguir os cantos do trabalho de


camponeses, de pastores, de pescadores, das mulheres
ceifeiras e dos artífices e (ainda) as canções de amor,
de entretenimento e (por último mas não menos
importante) os cantos fúnebres.

• Cantar era um elemento fundamental (por exemplo)


dos ritos associados com a agricultura.

• As ceifeiras poderiam cantar um lamento


(acompanhado por uma flauta) para expressar sua
tristeza pelo primeiro corte da colheita, ato que se
pensava simbolizar um ferimento em Osíris (o deus da
vegetação).

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Cantores e cantoras

• Também dispomos de informações referentes à


formação dos cantores e cantoras.
• Eles eram instruídos em verdadeiras escolas de canto e
tinham uma importante posição dentro da corte
faraônica.

• É egípcio o primeiro músico da história universal cujo


nome chegou até nós: chamava-se Khoufouankh,
tocava no palácio do rei Userkaf (c. 2465-2458 a.C.),
da V dinastia, ocupava o posto de cantor, diretor dos
cantores e flautista da corte.

• Por seu prestígio teve permissão de erigir seu túmulo


(primorosamente decorado) nas proximidades das
pirâmides de Gizé.

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Os gêneros da dança

Estamos também bem informados — esclarece o professor


de egiptologia da Universidade de Constança, Wilfried
Seipel — sobre os diferentes gêneros coreográficos em uso
desde o Império Antigo graças às numerosas
representações conservadas nas tumbas. Do Império Antigo
ao Império Novo, e ainda no Período Tardio (c. 712 a 332
a.C.), havia diferentes danças, algumas calmas, sérias,
outras, ao contrário, cheias de vida, exuberantes, para não
dizer orgiásticas. A maior parte era executada por moças
jovens ou mulheres, mas encontramos excepcionalmente
algumas danças complicadas executadas por homens.
As dançarinas representadas nas tumbas do Império Novo,
com seus longos penteados ou suas grandes perucas,
enfeitadas com colares e brincos, estão frequentemente
vestidas com longas vestes de linho transparente, que mais
revelam o corpo do que o escondem, mas às vezes não
trazem mais do que um simples cinto estreito apertado ao
redor dos quadris. Crótalos nas mãos, essas jovens moças,
alegremente, rodopiavam sobre si mesmas e mantinham
toda a audiência sob o encantamento de sua graça e de
seus atrativos.

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Dançarinas

• Estatuetas femininas com os braços levantados ou


pinturas em cerâmica sobre o tema da dança, datadas
do período pré-dinástico, ou seja, muito anteriores a
3000 a.C., demonstram que esta é uma manifestação
artística bem antiga para os egípcios.

• Danças podiam ocorrer durante cerimônias religiosas e


(ainda) em banquetes e festas populares.

• Ao término das colheitas (por exemplo) os camponeses


dançavam em sinal de alegria.

• As danças relacionadas aos ritos agrícolas tinham dois


objetivos principais:

1) estimular o crescimento da vegetação


2) e agradecer aos deuses os bons resultados.
• Em um conto intitulado O Nascimento das Crianças
Reais, datado do Império Médio, as parteiras que
chegam à casa de uma mulher que está em trabalho de
parto aparecem disfarçadas como dançarinas, quando
na realidade são deusas.

• Pode muito bem ter sido comum que as dançarinas


tenham tido um papel relevante na hora dos
nascimentos.

• Havia também danças guerreiras (simbolicamente


representando a vitória almejada).

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• Entretanto, de modo geral, bailarinos e bailarinas eram


profissionais do ofício e costumavam fazer parte do
pessoal adjunto aos templos.

• Embora alguns passos pudessem ser comedidos,


delicados e graciosos, havia também verdadeiras
danças acrobáticas, como bem retratam vários relevos
antigos.

• Em alguns deles se percebe, perfeitamente, a


musculosidade das pernas das bailarinas, atestando que
faziam dessa atividade a sua profissão.

• A figura ao lado, uma ostraca de calcário com 16,8 cm


de largura da XIX dinastia (c. 1307 a 1196 a.C.),
proveniente de Deir el-Medina, a aldeia situada a oeste
de Tebas que abrigava construtores de túmulos, mostra
o esboço de uma dançarina acrobática.

• Observe a curiosa posição do brinco que "cai para


cima".

• A dança era uma forma de entretenimento muito


erótica.

• Os artistas normalmente estavam nus (exceto por


elaborados colares e cintos decorativos ou tangas).

• Alguns dançarinos são mostrados nos desenhos em


tumbas com cones de perfume em suas cabeças,
indicando que eles também eram cheirosos e dava à
plateia um pouco de seu odor quando passavam por
perto.

• Algumas dançarinas usavam seus cabelos como


ferramenta, os jogando de um lado para outro; algumas
imagens de tumbas mostram (inclusive) pesos que
eram presos ao cabelo para assegurar que eles se
mexessem na direção certa.

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• A coreografia podia reunir grupos ou pares, mas


sempre do mesmo sexo, e na maioria das vezes eram as
mulheres que se exibiam, sobretudo nas danças
funerárias das quais só elas participavam.
• Aqui o objetivo era o de alegrar o espírito do morto e
espantar os maus espíritos.

• Nas principais cerimônias em que o faraó comparecia


como, por exemplo, quando se erigia o pilar djed, um
rito cujo objetivo era dar vida ao deus Osíris; na festa
do Heb Sed, um festival no qual o rei passava por um
sacrifício simbólico de morte e ressurreição; ou na
festa de Opet, a maior festividade do ano, na qual
Amon era carregado em barcos dourados nos ombros
dos sacerdotes, a dança também estava presente.

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Os deuses, a música e a dança

• A deusa Háthor e o deus Bes eram divindades


protetoras da música e da dança.

• Algumas bailarinas costumavam tatuar a perna com


imagens do deus Bes.

• A deusa Háthor era (entre outras coisas) a deusa da


música e da felicidade (provedora de alegria e de
prazer nos quais a música tinha participação
importante).

• Era também a Senhora da Embriaguez e da Canção.


• As musicistas eram personagens importantes em seu
culto (e também nos templos de outras divindades).

• Nas festividades oferecidas não apenas à deusa Hátor,


mas também à deusa Bastet, a coreografia assumia
grande destaque.

• Em festividades religiosas podia haver a presença de


bailarinos estrangeiros, tais como núbios e líbios, o que
ocorreu principalmente no decorrer do Império Novo.

• Desde os tempos da V dinastia (c. 2465 a.C.) que anões


com máscaras leoninas parecem ter sido reunidos aos
grupos de mulheres que cantavam e dançavam em
ocasiões religiosas.

• Em alguns casos em que as danças tinham caráter


cômico (era muito apreciada a presença de pigmeus).

A Música, o Canto e a Dança


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