Você está na página 1de 66

Grécia An*ga

A Grécia Antiga
• A música da an+guidade grega segue um percurso
evolu+vo ao longo de quatro períodos:

• Período Micénico (do séc. XV ao séc. VIII a.C.) – poemas


homéricos, citarodia e aulodia;
Período Arcaico (séc. VII e VI a.C.) – lírica monódica
(citarodia e aulodia) e canto coral (hino e di+rambo);
Período Clássico (séc. V e IV a.C.) – tragédia (Orestes e
Ifigénia em Aulide de Eurípedes) e comédia á+ca;
Período Helenís4co (séc. III a.C.) – explora-se o ethos
musical.
Período Micénico
(do séc. XV ao séc. VIII a.C.)
• Não há documentos que atestem uma cultura
musical específica
• Período marcado pela realização da primeira
Olimpíada (776 a.C.) e pelo aparecimento dos:

• Poemas homéricos
– Arte onde a música surge estreitamente ligada à poesia
– Cantores-poetas profissionais (aedos) narram feitos
míticos e heroicos acompanhados pela forminx
– Entre eles sobressai Homero, o presumível autor de Ilíada
e Odisseia
Período Micénico

Phorminx
Período Micénico
• Lírica monódica

• Ainda neste período aparece o canto acompanhado


por instrumentos de corda: a citarodia

• Por volta de 750 a.C., relacionado com o culto a


Dionísio surge o canto acompanhado pelo aulos: a
aulodia
Período Micénico

Aulos
Período Arcaico (séc. VII e VI a.C.)
• A poesia cantada, que os gregos chamavam de
mousiké (a arte das musas), aparecia como um
único fenómeno e não como uma ligação
entre duas artes

• O poeta era também considerado músico

• Desenvolveu-se uma verdadeira prática


musical através da Lírica monódica (Citarodia
e aulodia) e do canto coral com
acompanhamento instrumental
Período Arcaico
• Canto coral (com cítara, aulos ou ambos)
– Hino – coro dedicado a qualquer dos deuses
– Pean – canto em honra de Apolo
– Di'rambo – canto em honra de Dionísio
– Parteneion – coro de raparigas
– Himeneu – canto nupcial
– Prosodion – coro para celebrar uma vitória despor<va
– Encómio – canto para o elogio de um cidadão
– Treno – canto fúnebre

• Di<rambo: este hino está provavelmente na origem do


teatro grego e, consequentemente, na origem das
tragédias da época clássica (próxima época)
Período Arcaico
• Paralelamente à práEca vocal solísEca com
acompanhamento instrumental, também se
culEva o solo instrumental na cítara (lira) e no
aulos:

• Citarís(ca e aulé(ca
Período Arcaico
• Existe o relato de um fesEval ou concurso de
música realizado em 586 a. C. em que Sacadas
tocou uma composição para aulos, ilustrando
as diversas fases do combate entre Apolo e o
dragão Píton.
• Estes concursos tornaram-se cada vez mais
populares a parEr do século V.
Período Arcaico
• É neste período que Pitágoras, importante
teórico para a história da música, desenvolve
um trabalho pioneiro

• Estabelece matematicamente as relações dos


diferentes intervalos através da medição do
monocórdio
Período Arcaico
• Exprime os intervalos por proporções:

• 2:1 = oitava perfeita

• 3:2 = quinta perfeita

• 4:3 = quarta perfeita


Período Clássico (séc. V e IV a.C.)
• O sistema educaEvo atribui grande
importância à arte dos sons, juntamente com
poesia, ginásEca e matemáEca

• Música aparece associada a todas as


manifestações da vida religiosa, civil, militar e
intelectual
Período Clássico
• Tragédia e Comédia á2ca - grandes
manifestações culturais

• Tragédia tem origem no diErambo


acompanhada pelo aulos ou barbiton. Desde o
século V a.C. [o diErambo] assumiu carácter
dramáEco ao ponto de se confundir
com a tragédia
Período Clássico
• A tragédia é o ponto mais alto da música grega

• Fazia parte dos festejos sagrados, inserida nas


Grandes Dionísias (celebrações de caráter cívico-
religioso)

• Durante 5 dias, após diversas cerimónias


religiosas, tínhamos representações dramáticas:
comédia precedida por uma tragédia ou
ditirambo

• Na tragédia participavam atores, coro e músicos


acompanhantes
Período Clássico
• Principais caracterísIcas:
– Três actores (quatro na comédia)
– U<lização de máscaras e trajes sacerdotais (túnica e
botas altas)
– Intervenções de três espécies: faladas, recitadas sobre
um fundo musical e cantadas (a solo ou dueto)
– Coro cons<tuído por 12 a 15 elementos (na comédia
24)
• Os coreutas não u,lizavam máscara e ficavam situados na
orquestra
– O instrumento mais u<lizado era o aulos: tocava no
prelúdio e interlúdios e acompanhava as partes
cantadas
Período Clássico
• Principais autores de tragédia:
– Ésquilo (525-456)
– Sófocles (496-406)
– Eurípedes (485-406)
Exemplos de música grega
• Grande parte dos exemplos que chegaram até
nós provêm de períodos tardios

• Eurípedes
– Coro de Orestes e um fragmento de Ifigénia em
Áulide
Fragmento de Orestes - Eurípedes
Fragmento de Orestes - Eurípedes
• Este fragmento chega até nós num papiro dos séculos III
ou II a.C.
• Este coro é um stasimon: ode cantada com o coro imóvel
• O papiro contém sete versos com notação musical, mas
só subsis<u a parte central dos versos
• O fragmento tem apenas 42 notas, mas faltam outras
• A transcrição torna-se complicada por alguns símbolos
serem vocais enquanto que outros são instrumentais
(enarmónicos, cromá<cos ou diatónicos)
• A harmonia ou escala é aparentemente frigía
Fragmento de Orestes - Eurípedes
• Este fragmento chega até nós num papiro dos séculos III
ou II a.C.
• Este coro é um stasimon: ode cantada com o coro imóvel
• O papiro contém sete versos com notação musical, mas
só subsis<u a parte central dos versos
• O fragmento tem apenas 42 notas, mas faltam outras
• A transcrição torna-se complicada por alguns símbolos
serem vocais enquanto que outros são instrumentais
(enarmónicos, cromá<cos ou diatónicos)
• A harmonia ou escala é aparentemente frigía
Período Helenístico
(séc. III a.C.)
• Neste período os grandes géneros entram em decadência

• Reação contra o excesso de complexidade técnica

• Procura-se explorar o ethos musical – capacidade


intrínseca da música em produzir no ouvinte efeitos de
ordem afe<va ou psicológica:

– qualidades morais que autores como Platão e Aristóteles


atribuíam aos diferentes modos
Período Helenístico
Grécia Antiga – ethos musical
– Para Platão, na República, somente os modos
dórico e frígio devem ser usados na educação
dos futuros governantes, pois só estes
promovem as virtudes de coragem e
temperança
Grécia Antiga – Mitologia
• A mitologia grega atribuía à música uma
origem divina e designava deuses e
semideuses (Apolo, Anfião e Orfeu) como seus
inventores e intérpretes.

• Domar a natureza, curar doenças, purificar o


corpo e o espírito e operar milagres
O Culto a Apolo e Dionísio
Principais deuses e semideus associados à música
• Apolo – filho predileto de Zeus, deus da música e
da poesia, da luz, da ordem e da verdade

• Dionísio – filho de Zeus, deus das forças da


natureza, da sensualidade, do vinho, da dança e
do teatro

• Orfeu – filho de Apolo e da musa Calíope,


simboliza o poder encantatório da música
O Culto a Apolo e Dionísio
• A convicção de que a música tem qualidades e
efeitos morais que afetavam o carácter levou à
divisão da música em duas categorias:

– Música Apolínea

– Música Dionisíaca
O Culto a Apolo e Dionísio
Música apolínea,
– Associada ao culto de Apolo
– Instrumento: a lira
– Formas poé<cas: a ode e a epopeia
– Efeitos: a calma e a elevação espiritual

Música dionisíaca,
– Associado ao culto de Dionísio,
– Instrumento: o aulos
– Formas poé<cas: o di<rambo e o teatro,
– Efeitos: tendia a suscitar a excitação e o entusiasmo
ciava-se ao canto de um certo tipo de poema (o ditirambo) no culto de Dioniso, culto
que se crê estar na origem do teatro grego. Consequentemente, nas grandes tragédias

O Culto a Apolo e Dionísio


da época clássica — obras de Esquilo, Sófocles, Eurípides — os coros e outras partes
musicais eram acompanhados pelo som do aulo ou alternavam com ele.
Pelo menos desde o século vi a. C. tanto a lira como o aulo eram tocados como
instrumentos independentes, a solo. Conhece-se um relato de um festival ou concurso
• Apoio segura uma cítara de sete cordas.
Mais elaborada e mais robusta do que a
lira

Apoio segura uma cítara de sete cordas. Mais elabo-


rada e mais robusta do que a lira, a cítara era um
■ instrumento usado pelos músicos profissionais.
Apoio tem na mão direita um plectro, que servia
para tocar as cordas; os dedos da mão direita pare-
cem estar a amortecer as cordas do instrumento.
Ânfora grega, meados dos século v a. C. (Metropo-
litan Museum of Ari, doação do Sr. e da Sr." Leon
Pomerance, 1953)
Outros aspetos de ordem filosófica
• A palavra música Enha para os Gregos um
senEdo mais lato do que aquele que hoje lhe
damos
• Mousiké era uma forma adjeEvada de musa
(qualquer das nove deusas irmãs que
presidiam a determinadas artes e ciências)
• A música era concebida como algum comum a
todas as aEvidades que diziam respeito à
busca da beleza e da verdade.
Outros aspetos de ordem filosófica

• Música e poesia eram sinónimos


• Poesia lírica significava poesia cantada ao som
da lira
• O termo tragédia inclui o substantivo ode: a
arte do canto
Outros aspetos de ordem filosófica
Pitágoras (571-496 a.C.)
– A música e a aritmé+ca não seriam disciplinas
dis+ntas
– os números eram considerados a chave de todo o
universo espiritual e Zsico
– Sistema de sons e ritmos musicais, sendo regidos
pelo número, exemplificava a harmonia dos
cosmos e correspondia a essa harmonia
Outros aspetos de ordem filosófica

• Para alguns pensadores gregos: música estava


ligada à astronomia.

• Acreditava-se que certos modos e até certas


notas correspondiam a certos planetas

• As leis matemáEcas estavam na base do


sistema dos intervalos musicais como dos
corpos celestes.
Outros aspetos de ordem filosófica

• Platão deu a essa ideia uma forma poéEca no


belo mito da “música das esferas”, a música
produzida pelos planetas, mas que os homens
não conseguiam ouvir.
Outros aspetos de ordem filosófica
• Para Platão os dois principais elementos na
educação pública, numa proporção
equilibrada, deveriam ser a ginástica e a
música

• Àquele que combina a música com a ginástica


na proporção certa e que melhor as afeiçoa à
sua alma bem poderá chamar-se verdadeiro
músico
Outros aspetos de ordem filosófica
• A mulEplicidade das notas, as escalas
complexas, a combinação de formas e ritmos
incongruentes, os conjuntos de instrumentos
diferentes entre si, «os instrumentos de
muitas cordas e afinação bizarra», até mesmo
os fabricantes e tocadores de aulo, deverão
ser banidos do estado.
Outros aspetos de ordem filosófica
• Para Aristóteles (384-322 a.C.) a música
representa as paixões ou estados de alma e
quem escuta música fica imbuído dessa
mesma paixão – doutrina da imitação

• Para Aristóteles se ouvirmos música


inadequada tornar-nos-emos pessoas más e
vice-versa
Outros aspetos de ordem filosófica

• Aristóteles foi menos restriEvo que Platão

• Música podia ser usada como fonte de


diverEmento e prazer intelectual, e não
apenas na educação
Outros aspetos de ordem filosófica

• Esta limitação de tipos de música poderão


estar associadas a certas tendências da vida
musical: musica instrumental independente,
popularidade dos virtuosos profissionais, etc.
Outros aspetos de ordem filosófica

• Ao longo da história da música o estado ou


outras enEdades proibiram determinados
Epos de música:

• Escritos dos Padres da Igreja, ditaduras


fascistas e comunistas do séc. XX, etc.
Outros aspetos de ordem filosófica

Mas ritmos e melodias contêm representações de


raiva e de calma, e também de coragem e temperança e
de todos os seus opostos e das outras qualidades
morais, que melhor correspondem às verdadeiras
naturezas destas qualidades – e isto torna-se evidente,
já que quando ouvimos tais representações, produz-se
uma mudança na nossa alma; e o hábito de senBr dor e
prazer através de representações da realidade é
semelhante a senB-las na própria realidade.

Aristóteles – PolíBca
Teoria Musical

• A música grega assemelhava-se à da Igreja dos


primeiros séculos da era cristã

• Era monofónica, com a possibilidade de vários


instrumentos embelezarem a melodia, criando
heterofonia

• Quase inteiramente improvisada


Teoria Musical

• A música estava quase sempre associada à


palavra e à dança ou ambas
• A melodia e o seu ritmo ligavam-se ao ritmo da
palavra
• A música dos cultos religiosos, do teatro e dos
grandes concursos públicos era interpretada por
cantores que executavam movimentos de dança
predeterminados.
Teoria Musical – sistema diatónico
teleion
Teoria Musical
A base do sistema musical grego é o tetracorde
descendente que encontramos na forminx:
– Hypate (a corda superior, mais grave)
– Mese (a central)
– Trite (a terceira)
– Nete (a inferior, mais aguda)
Teoria Musical
• Oito notas formam a escala clássica - dois
tretacordes (Meson e Diezeugmenon)
• 1 - 1 - 1/2
• Sistema expande-se por duas oitavas, através
do Proslambanomenos, o lá “acrescentado”
• Para interligar o Meson e o Diezeugmenon,
usa-se o Synemmenon.
Géneros tonais
• Pensamento melódico horizontal em vez do
harmónico vertical.
• Três géneros tonais descrevem o que era
concretizado de forma diferente segundo o
tempo, o lugar e o indivíduo.
• Estas nuances serviam a expressão subjetiva.
Notação alfabética
• Dois sistemas: para a música instrumental
(mais antigo) e para a música vocal (mais
recente);
• Notação vocal: utilizava o alfabeto jónico de
forma sistemática - cada letra designava uma
altura de som;
• Notação instrumental: o mesmo sinal é
apresentado em três posições diferentes:
posição inicial - oitava central, oitava superior
com apóstrofo e oitava inferior com os
símbolos de cabeça para baixo.
Notação alfabéFca
Sistema rítmico
• Dependia da métrica da palavra (quanEdade
de sílabas e palavras ditavam a duração do
som);

• Ritmo quan2ta2vo - combinação de sílabas


longas e breves: pés métricos.
Sistema rítmico

Troqueu __ U
Jambo U __
Dác@lo __ U U
Anapesto U U __
Espondeu __ __
Tribráquio UUU
Epitáfio de Seikilos
Epitáfio de Seikilos

Enquanto viveres, brilha


E de todo não te aflijas
A vida é curta
E o tempo cobra as suas
dívidas
Epitáfio de Seikilos
• Texto e música estão escritos numa estela ou pedra
funerária e data do séc. I d.C. (?)

• A escala é frígia (modo dórico medieval)

• Tem especial interesse para os historiadores pela


clareza da notação rítmica
Epitáfio de Seikilos
• Notas sem sinais por cima das letras do alfabeto
equivalem a uma unidade duração

• O traço horizontal indica dois tempos

• O sinal horizontal com prolongamento vertical


equivale a três tempos

• Cada verso tem doze tempos


Instrumentos de corda

phorminx
Mais antiga lira grega. A sua caixa de ressonância
semicircular tem dois braços suportando a trave que tem 4
ou cinco cordas (7 a partir do século VII a.C.)

cítara

desenvolveu-se no século VII a partir da phorminx.


A sua grande caixa de ressonância é plana à frente
e abaulada na parte posterior. Tem 7 cordas (mais
tarde 12) que passam sobre um cavalete até à barra
transversal. É tocada com mão ou plectro com a
mão direita.
cítara de berço
Possui caixa de ressonância arredondada, como a
phorminx e tem frequentemente pintados olhos de
deuses; é um instrumento feminino e doméstico.

lira

Constituída por uma carapaça de tartaruga com


cifres de cabra, barra transversal e sete cordas.
Invenção atribuída a Hermes.
harpa
Apenas se difunde a partir de meados do século V,
principalmente no Sul de Itália, sob a forma de harpa angular
ou com coluna frontal de apoio, como trigonon. Era
sobretudo instrumento feminino.

barbiton

tem braços mais longos que a lira e é mais estreito.


Usado para acompanhar o canto nos bacanais. Único
instrumento de cordas do culto dionisíaco.
aulos

também denominado bombyx ou kalamos (cana), de


madeira, marfim ou metal, possuía uma palheta dupla.
Normalmente tocava-se simultaneamente em 2 auloi
como aulos duplo seguros apenas por fitas. A sua
sonoridade era considerada doce e apaixonada.

syrinx ou siringe

também denominada flauta de Pã, em homenagem ao


deus pastor da Arcádia. É feita de 5 ou 7 (até 14 no séc.
III) tubos de comprimentos e altura de som diferentes
atadas uns nos outros
salpinx

trompete em metal com uma embocadura de


chifre, era um instrumento de sinais.

Instrumentos de percussão

crótalos

espécie de castanholas do culto de Dionísio do


período antigo
tympanon

tambor com caixilho

címbalos
par de pratos
krupezion

matraca ativada pelo pé (dança e poesia coral)

xylophon
aparece desde o século IV em
reproduções em vasos da
Apúlia
Antiguidade Clássica - Grécia
Monumentos musicais

Antes de Cristo Depois de Cristo

Fragmento de Eurípedes - séc. III Três hinos de Mesomedes de Creta - séc. I

Fragmento de Ifigénia em Áulide - séc. II Fragmento de Meleagros - séc. I-II

5 pequenos fragmentos de drama - séc. II 2 fragmentos de tragédia - sec. II

2 hinos a Apolo - séc. II 2 fragmentos de drama - séc. II

Canção de Seikilos - séc II ou I d.C 5 fragmentos - séc. II

5 peças instrumentais - antigo método de


ensino musical.

Redescobrir a música grega

Você também pode gostar