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Resenha: Música e Iconografia entre os Assírios Matéria: História Antiga

Aluno: Thiago Pereira Camargo Comelli 1°ano de História


Professor: Ivan Esperança Rocha 06/04/2022

MÚSICA E ICONOGRAFIA ASSÍRIA

Resenha acerca do tema tratado pelos professores Katia Maria Paim Pozzer,
Simone Silva da Silva e Fábio Vergara Cerqueira, concernente à execução sonora, os
instrumentos musicais e a iconografia ricamente gravada nos tabletes cuneiformes pelo
povo assírio.

1 Introdução
Inicialmente, convém destacar que é vasta a fonte documentacional acerca da
cultura musical assíria, especialmente pelas descrições cuneiformes em acádio e
sumério, que trazem representações desde os instrumentos musicais até o valor
cultural e religioso da mesma para o povo Assírio.
Destarte, nesta toada religiosa, temos o mito do astuto deus Enki, datado do final
do século III, milênio a.C, com cerca de 800 versos, que além de trazer o surgimento da
civilização da cidade de Uruk, traz a origem mítica da música, sendo um dos talismãs
do deus, que o guardava na cidade mítica de Eridu.
De acordo com o artigo, haviam músicos de taberna (lugares de venda de
cerveja e prostituição, ressaltando assim o caráter festivo e orgiástico da música, que
veremos mais a frente) e músicos palacianos. Além disto, juntamente com a
literatura/linguagem e matemática, a música era uma disciplina básica no ensino
mesopotâmico.
2 Dos Instrumentos
De acordo com registros arqueológicos, iconográficos e documentais, tornou-se
possível que obtivéssemos uma tipologia para os instrumentos mesopotâmicos. Estes
se dividem em:

a) Instrumentos de corda: São estes a harpa triangular, a lira e o alaúde,


podendo estes serem tocados com ou sem plectrum (palheta). Grande parte da
documentação a respeito destes tipos de instrumentos remonta da cidade de Ur, do
século XXVII a.C

BALAG ou balaggu (harpa)

ZÀ-MÍ ou sammû (lira)


Gù-Di ou Inu (alaúde)

B) Instrumentos de Sopro: São eles a corneta e a flauta (podendo


esta ser de bronze, prata ouro ou de osso). Datando de períodos
pré-históricos, os instrumentos de sopro eram feitos em diversos
tamanhos e materiais (junco, madeira, pedra ou metal).

GI-GÍD ou, embûbu (corneta)


GI.DI.DA/malîlu,

C) Instrumentos de percussão (com e sem membrana): Inúmeros são os


relatos de tambores, de diferentes tamanhos e formatos, e quase que exclusivamente
tocados por mulheres nuas, havendo todo um conceito ritualístico (tanto para a guerra,
quanto para os festejos).
Descrições mostram tambores feitos de metal (ME.ZE), madeira (Á.LÁ) e os
menores (ÙB). Outro fato a se destacar é que os músicos que tocavam ataúde e tambor
não participavam da orquestra de templos, aludindo assim um caráter menos religioso e
mais popularesco e sensual, com os músicos muitas vezes mantendo relações sexuais
enquanto tocavam.
Quanto aos instrumentos de percussão sem membrana, consistem nos címbalos,
triângulos, pratos e castanholas, podendo serem confeccionados a partir de madeira,
argila, metal, e até conchas. No primeiro milênio a.C, era comum o uso de sinos na
ornamentação dos cavalos reais e nas vestes usadas em cultos, além de adorno para o
rei.
sinos assírios

3 Da Linguagem Musical
De acordo com a mitologia babilônica, o deus Enki é o criador do Homem,
além de protetor da magia, água e da música. Os mitos remontam que Enki criou o
GALA/kalû, o primeiro cantor cúltico, no intuito de aplacar a ira da deusa Inanna.
GALA é personificado utilizando dois instrumentos de percussão, um tambor de mão
e um címbalo.

Deus Enki

Fator interessante reside na semântica do vocábulo sumério e acádio a


respeito da música, sendo indistinto músico, musicista, júbilo e orgia/divertimento.
Tal qual em relação a linguagem, com o fenômeno do bilinguismo acádio e sumério
dos povos mesopotâmicos, também coexistiram dois sistemas musicais:
a) Sumério: Utilizava-se de acordes fixos e modelos prescritivos,
similar a lógica modal grega (ethos dos modos);
b) Acádio: Utilizava-se de 7 escalas musicais e nove acordes. O
termo básico para o acorde musical, de acordo com textos cuneiformes, é o
SA/pitnu, que pode ser compreendido para intervalo/acorde e escala/afinação.
Quanto a nomenclatura:

1. acorde anterior

2. próximo acorde

3. terceiro acorde

4. quarto acorde

5. quinto acorde

6. quarto a partir da extremidade

7. terceiro a partir da extremidade

8. segundo a partir da extremidade

9. o último acorde

3 Da Iconografia Musical Assíria

Formado em duas etapas (do século XVII a.C até o ano Mil a.C e do ano
1.000 até a queda de Nínive em 612 a.C), podemos observar uma ascensão que
vai de uma emancipação local e regional, fora do território mesopotâmico até
uma hegemonia política profunda no Mediterrâneo, resultado de inúmeras
campanhas militares realizadas por Assurbanipal I e II, sendo muito bem
destacadas em baixos-relevos em seus respectivos palácios.
relevo de músicos assírios

Diretamente ligado com o apogeu artístico e civilizatório dos assírios,


caminhou a guerra e o desejo de conquista do povo. Tema constante nos
baixos-relevos assírios, cenas de guerra acabaram por criar a visão
estereotipada de um povo sobremaneira cruel e belicoso para com seus
inimigos. Junto com a iconografia, temos inscrições textuais reais, documentando
fartamente as empresas bélicas e conquistadoras do povo, junto com as famosas
cenas de tortura e decapitação, demonstração macabra da hegemonia militar do
povo.

Ao mesmo tempo que a guerra era a ação principal da expansão assíria,


também a música se encontrava contextualizada nas narrativas bélicas,
especialmente nas comemorações triunfais e nos grandes banquetes e na caça
de animais selvagens. Muito mais que um meio de expressão, como bem elenca
o historiador André Parrot, a música tinha uma carga social e primordialmente
religiosa no contexto assírio. Escavações no território do Iraque (no sítio
arqueológico da outrora Nínive) inúmeras escavações trouxeram à tona
dimensões ricas, ainda que incompletas pelo tempo, de batalhas contra os
elamitas, oferecendo um vislumbre da campanha militar (datada hipoteticamente
entre 663 e 653 a.C).

Evidencias também demonstram a importância de músicos estrangeiros


na corte assíria, sendo estes considerados como espólios de guerra ou como
tributo pago pelos reinos vassalos, representados pela iconografia portando
instrumentos similares aos de origem assíria, tocando harpas verticais e
horizontais, liras, flautas duplas, tambores e címbalos. Outros, ainda, batendo
palmas, cantando e dançando.

Lajes decorativas do palácio de Senaqueribe, em Nínive trazem cenas do


contexto militar assírio, demonstrando cenas de rendição acompanhadas por um
cortejo de músicos elamitas vencidos, além de descrições atestando a “derrota e
humilhação dos inimigos elamitas pelo rei Assurbanipal”. Um verdadeiro
cerimonial de recepção musical ao novo governante.

De acordo com as descobertas arqueológicas, pode-se notar que as


harpas verticais são uma constante na iconografia musical, demostrando assim
que eram instrumentos populares no Antigo Oriente Próximo. Com seu formato
de arco, e aproximadamente 18 cordas, seguem um padrão que figura há 20
séculos dentro da cultura artístico-musical mesopotâmica.

4 Conclusão

Por fim, devemos ressaltar a importância da música e sua constituição na


assíria (e no Antigo Oriente Próximo de maneira geral) desde os cenários
bélicos, até o celebrativo religioso e até pelo “vulgo”, presente nos banquetes e
nas cenas mais cotidianos do povo. Vocabulários musicais específicos oferecem
uma visão ainda mais específica da dimensão harmônica, além de composições
temáticas (em sua maioria de autoria anônima), versando sobre o amor, guerra,
trabalho e de louvores religiosos.

Presente em coros, orquestras ou até executadas por cantores, a música


era executada nos mais diversos contextos, desde os eclipses lunares,
nascimentos de crianças, até os já citados pós-guerras, como uma elegia a
vitória, contexto este que os assírios se destacam, por terem sintetizado os
instrumentos e a tradição melódica mesopotâmica e criando assim os “músicos
militares”, reconfortando e animando os soldados após a batalha, ou até mesmo
se apresentando em pleno campo de guerra, ato este de subserviência macabra
e simbólica ao poderio do rei assírio vitorioso.

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