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HISTÓRIA DA MÚSICA (RESUMIDA)

Dança de Cogul. Imagem encontrada em Cogul, Espanha.

Mostra a dança das mulheres em torno de um homem nu.

A MÚSICA NA PRÉ-HISTÓRIA

As primeiras imitações sonoras do homem da pré-história foram unicamente através do som


dos movimentos corporais acompanhados de sons vocais, eles pretendiam completar a
possessão do animal na sua essência, a sua alma. Somente através do estudo de sítios
arqueológicos podemos ter uma ideia do desenvolvimento da música nos primeiros grupos
humanos. A arte rupestre encontrada em cavernas dá uma vaga ideia desse desenvolvimento
ao apresentar figuras que parecem cantar, dançar ou tocar instrumentos. Fragmentos do que
parecem ser instrumentos musicais oferecem novas pistas para completar esse cenário. No
entanto, toda a cronologia do desenvolvimento musical não pode ser definida com precisão. É
impossível, por exemplo, precisar se a música vocal surgiu antes ou depois das batidas com
bastões ou percussões corporais. Mas podemos especular, a partir dos desenvolvimentos
cognitivos ou da habilidade de manipular materiais, sobre algumas das possíveis evoluções na
música.

Na sua "História Universal da música", Roland de Candé (2001) nos propõe a seguinte
sequência aproximada de eventos: 1. Antropóides do terciário - Batidas com bastões,
percussão corporal e objetos entrechocados. 2. Hominídeos do paleolítico inferior - Gritos e
imitação de sons da natureza. 3. Paleolítico Médio - Desenvolvimento do controle da altura,
intensidade e timbre da voz à medida que as demais funções cognitivas se desenvolviam,
culminando com o surgimento do Homo sapiens por volta de 70.000 a 50.000 anos atrás. 4.
Cerca de 40.000 anos atrás - Criação dos primeiros instrumentos musicais para imitar os sons
da natureza. Desenvolvimento da linguagem falada e do canto. 5. Entre 40.000 anos a
aproximadamente 9.000 a.C - Criação de instrumentos mais controláveis, feitos de pedra,
madeira e ossos: xilofones, litofones, tambores de tronco e flautas. Um dos primeiros
testemunhos da arte musical foi encontrado na gruta de Trois Frères, em Ariège, França. Ela
mostra um tocador de flauta ou arco musical. A pintura foi datada como tendo sido produzida
em cerca de 10.000 a.C. 6. Neolítico (a partir de cerca de 9.000 a.C) - Criação de
membranofones e cordofones, após o desenvolvimento de ferramentas. Primeiros
instrumentos afináveis. 7. Cerca de 5.000 a.C - Desenvolvimento da metalurgia. Criação de
instrumentos de cobre e bronze permitem a execução mais sofisticada. O estabelecimento de
aldeias e o desenvolvimento de técnicas agrícolas mais produtivas e de uma economia baseada
na divisão do trabalho permitem que uma parcela da população possa se desligar da atividade
de produzir alimentos. Isso leva ao surgimento das primeiras civilizações musicais com
sistemas próprios (escalas e harmonia).

ANTIGUIDADE

Muitos historiadores apontam a música na antiguidade impregnada de sentido ritualístico e


como instrumento mais utilizado a voz, pois por meio dela se dava a comunicação e nessa
época o sentido da música era esse, comunicar-se com os deuses e com o povo. Observamos
que, na Grécia, a música funcionava como uma forma de estarem mais próximos das
divindades, um caminho para a perfeição – o termo "música", inclusive, teria origem nas
Musas, divindades que inspiravam as ciências e as artes. Nessa época, a música era
incorporada à dança e ao teatro, formando uma totalidade, e ao som da lira eram recitados
poemas. As tragédias gregas encenadas eram inteiramente cantadas acompanhadas da lira, da
cítara e de instrumentos de sopro denominados aulos. Um destaque importante na
antiguidade foi Pitágoras, um grande filósofo grego que descobriu as notas e os intervalos
musicais. Já em Roma a música foi influenciada pela música grega, pelos etruscos e pela
música ocidental. Os romanos utilizavam a música na guerra para sinalizar ações dos soldados
e tropas e também para cantar hinos as vitórias conquistadas, também possuía um papel
fundamental na religião e em rituais sagrados, assim como no Egito, onde os egípcios
acreditavam na "origem divina" da música, que estava relacionada a culto aos deuses.
Geralmente os instrumentos eram tocados por mulheres (chamadas sacerdotisas). Os
chineses, além de usarem a música em eventos religiosos e civis tiveram uma percepção mais
apurada da música e de como esse refletia sobre o povo chegando a usar a música como
"identidade" ou forma de "personalizar" momentos históricos e seus imperadores. Da idade
antiga em diante, os estilos musicais expandem-se tanto, que torna-se impossível definir a
música universal apenas observando-se uma localidade (como a Europa), sendo necessária,
portanto, uma subdivisão no estudo da história da música por continentes e nações.

IDADE MÉDIA

Canto Gregoriano: é um tipo de canto litúrgico utilizado pela Igreja Católica Apostólica
Romana, que surgiu na Europa ainda na Idade Média. Mas, embora faça parte de rituais
antigos da igreja, até hoje é cantado por diferentes grupos musicais, religiosos ou não, de
vários lugares do mundo. Também conhecido como canto sacro, a história do Canto
Gregoriano teve início no período medieval. Ele foi institucionalizado durante o século VI, na
liturgia católica comandada pelo Papa Gregório I e foi por isso que recebeu este nome. O Papa
Gregório I esteve à frente da Igreja Católica entre os anos 590 e 604. Ele ordenou aos seus
diáconos que cantassem apenas o Evangelho, sendo que outras passagens musicais das
celebrações, ficavam sob responsabilidade de padres que eram menos graduados. O principal
objetivo era transmitir os valores cristãos e as crenças por meio do Evangelho cantado, de
forma que as missas passassem a ficar mais interessantes e atraentes para os cristãos da
época. A estratégia era parecida com a utilizada quando a igreja fazia a instalação de vitrais
coloridos, esculturas e pinturas dentro das igrejas e catedrais, ou seja, era uma forma de fazer
os cristãos se aproximarem mais da igreja. No canto gregoriano, os músicos cantavam sem o
acompanhamento de instrumentos (a cappella). É um gênero musical com raízes judaicas de
recitação salmódica. O Papa Gregório era um grande admirador da música e chegou a apoiar a
criação da Escola de Cânticos Romana, com a intenção de formar cantores profissionais. No
século IX, já havia vários vocais especialistas em cantos gregorianos. Características do Canto
Gregoriano: O canto gregoriano consiste em uma monodia. Geralmente, ele é cantado por
uma única voz ou então por um coro, a capella. As temáticas dos cantos gregorianos são
exclusivamente cristãs; O canto gregoriano é sempre cantado no Latim, língua de sua origem;
Sua estrutura costuma acompanhar a liturgia da missa católica; A acústica do ambiente é
importante para ressaltar as vozes e criar os efeitos sonoros especiais do canto gregoriano; Até
hoje não se conhece a autoria da maioria dos cantos gregorianos escritos na idade média, mas
sabe-se que eles foram escritos por monges, que viviam nos mosteiros da Europa, durante a
Idade Média; O canto gregoriano ainda é preservado e cantado por monges nos mosteiros e
igrejas. O canto Gregoriano é muito importante para a compreensão da musicalidade
enquanto elemento artístico construído ao longo da história da humanidade. Na época de sua
criação, ele era obrigatório em todo o Império Romano e conseguia transmitir emoções,
sentimentos e a religiosidade fervorosa da época através de seus elementos. Conhecer o Canto
Gregoriano é importante para a preservação da história e da cultura.
Música no Egito Antigo

No Egito Antigo, ainda em 4.000 a.C., a música era muito presente, configurando um
importante elemento religioso. Os egípcios consideravam que essa forma de arte era uma
invenção do deus Thoth e que outro deus, Osíris, a utilizou como uma maneira para civilizar o
mundo.

A música era empregada para complementar os rituais sagrados em torno da agricultura, que
era farta na região. Os instrumentos utilizados eram harpas, flautas, instrumentos de
percussão e cítara - que é um instrumento de cordas derivado da lira.
Música na Mesopotâmia

Na região da Mesopotâmia, localizada entre os rios Tigre e Eufrates, habitavam os povos


sumérios, assírios e babilônios. Foram encontradas harpas de 3 a 20 cordas na região onde os
sumérios viviam e estima-se que sejam objetos com mais de 5 mil anos. Também foram
descobertas cítaras que pertenceram ao povo assírio.

Música na China e na Índia

Existem representações, em pinturas, de pessoas tocando instrumentos semelhantes às flautas


chinesas encontradas por arqueólogos.

Na Ásia - em torno de 3.000 a.C. - a atividade musical prosperou na Índia e China. Nessas
regiões, ela também estava fortemente relacionada à espiritualidade.
O instrumento mais popular entre os chineses era a cítara e o sistema musical utilizado era a
escala de cinco tons - pentatônica.

Já na Índia, em 800 a.C., o método musical era o de "ragas", que não utilizava notas musicais e
era composto de tons e semitons.

Música na Grécia e em Roma

Sabe-se que a cultura musical na Grécia Antiga funcionava como uma espécie de elo entre os
seres humanos e as divindades. Tanto que a palavra "música" provém do termo grego
mousikē, que significa "a arte das musas". As musas eram as deusas que guiavam e inspiravam
as ciências e as artes.

É importante ressaltar que Pitágoras, grande filósofo grego, foi o responsável por estabelecer
relações entre a matemática e a música, descobrindo as notas e os intervalos musicais.

Sabe-se que na Roma Antiga, muitas manifestações artísticas foram heranças da cultura grega,
como a pintura e a escultura. Supõe-se, dessa forma, que o mesmo ocorreu com a música.
Entretanto, diferente dos gregos, os romanos usufruíam dessa arte de maneira mais ampla e
cotidiana.
Música na Idade Média

Durante a Idade Média a Igreja Católica esteve bastante presente na sociedade europeia e
ditava a conduta moral, social, política e artística.

Naquela época, a música teve uma presença marcante nos cultos católicos. O Papa Gregório I -
século VI - classificou e compilou as regras para o canto que deveria ser entoado nas
cerimônias da Igreja e intitulou-o como canto gregoriano.

Outra expressão musical do período que merece destaque são as chamadas Cantigas de Santa
Maria, que agregam 427 composições produzidas em galego-português e divididas em quatro
manuscritos.

Uma importante compositora medieval foi Hidelgard Von Bingen, também conhecida como
Sibila do Reino.
Música no Renascimento

Já na época renascentista - que compreende o século XIV até o século XVI - a cultura sofreu
transformações e os interesses estavam voltados para a razão, a ciência e o conhecimento do
próprio ser humano.

Tais preocupações se refletiram também na música, que apresentava características mais


universais e buscava se distanciar dos costumes da Igreja.

Uma característica significativa da música nesse período foi a polifonia, que compreende a
combinação simultânea de quatro ou mais sons.

Podemos citar como um grande compositor da Renascença, Thomas Weelkes.

Música no Barroco

O compositor italiano Antonio Vivaldi foi um grande expoente da música barroca


A partir do século XVII, o movimento barroco promove mudanças marcantes no cenário
musical.

Foi um período bastante fértil e importante para a música ocidental e apresentava novos
contornos tonais, com a utilização do modo jônico (modo “maior”) e modo eólio (modo
“menor”).

O surgimento das óperas e das orquestras de câmaras também acontece nessa fase, assim
como o virtuosismo dos músicos ao tocar os instrumentos. Os maiores representantes da
música barroca foram Antonio Vivaldi, Johann Sebastian Bach, Domenico Scarlatti, entre
outros.

Música no Classicismo

Os artistas que se sobressaíram são Haydn, Mozart e Beethoven.

No Classicismo, que corresponde ao período em torno de 1750 e 1830, a música adquire


objetividade, equilíbrio e clareza formal, conceitos já utilizados na Grécia Antiga.

Nessa época, a música instrumental e as orquestras ganham ainda mais destaque. O piano
toma o lugar do cravo e novas estruturas musicais são criadas, como a sonata, a sinfonia, o
concerto e o quarteto de cordas.
MÚSICA NO ROMANTISMO

Pintura retratando o compositor Fréderic Chopin.

No século XIX, o movimento cultural que surgiu na Europa foi o Romantismo. A música
predominante tinha como qualidades a liberdade e a fluidez, e primava também pela
intensidade e vigor emocional.

Esse período musical é inaugurado pelo compositor alemão Beethoven - com a Sinfonia nº3 - e
passa por nomes como Chopin, Schumann e sua esposa Clara Shumann, Wagner, Verdi,
Tchaikovsky, R. Strauss, entre outros.

BRASIL E O MUNDO

MÚSICA RENSACENTISTA – 1500 a 1650

(por: Clarindo Gonçalves de Oliveira)

O período da Renascença se caracterizou, na História da Europa Ocidental, sobretudo pelo


enorme interesse ao saber e à cultura, particularmente a muitas ideias dos antigos gregos e
romanos.

Foi também uma época de grandes descobertas e explorações, em que Vasco da Gama,
Colombo, Cabral e outros exploradores estavam fazendo suas viagens, enquanto notáveis
avanços se processavam na Ciência e Astronomia.

Os compositores passaram a ter um interesse muito mais vivo pela música profana (música
não religiosa), inclusive em escrever peças para instrumentos, já não usados somente para
acompanhar vozes. No entanto, os maiores tesouros musicais renascentistas foram compostos
para a igreja, num estilo descrito como polifonia coral ou policoral e cantados sem
acompanhamento de instrumentos, ou seja: a cappella.
A música renascentista é de estilo polifônico, ou seja, possui várias melodias tocadas ou
cantadas ao mesmo tempo. Na Basílica de São Marcos, em Veneza, havia dois grandes órgãos
e duas galerias para coro, situadas em ambos os lados do edifício. Isso deu aos compositores a
ideia de compor peças para mais de um coro, chamadas policorais. Assim, uma voz vinda da
esquerda é respondida pelo coro da direita e vice-versa. Algumas das peças mais
impressionantes são as de Giovani Gabrielli (1555 – 1612), que escreveu corais para dois, três
ou até mais grupos.

Os Motetos eram peças escritas para no mínimo quatro vozes, cantados geralmente nas
igrejas. Os Madrigais eram canções populares escritas para várias vozes e que se caracterizam-
se por não ter refrão. De grande sucesso nas Inglaterra do século XVI, passaram a ser cantados
nos lares de todas as famílias apaixonadas por música. Até o começo do século XVI, os
compositores usavam os instrumentos apenas para acompanhar o canto. Contudo, durante o
século XVI, os compositores passaram a ter cada vez mais interesse em escrever música
somente para instrumentos.

Em muitos lares, além de flautas, alaúdes e violas, havia também um instrumento de teclado,
que podia ser um pequeno órgão, virginal ou clavicórdio. No Renascimento surgiram os
primeiros álbuns de música, só para instrumentos de teclados. Muitos instrumentos, como as
charamelas, as flautas e alguns tipos de cornetos medievais e cromornes continuavam
populares, e outros, como o alaúde, passaram por aperfeiçoamentos.

Principais Compositores Renascentistas: William Byrd (1542 – 1623); Josquin des Préz (1440 –
1521); G. P. Palestrina (1525 – 1594); Giovanni Gabrieli (1555 – 1612); Cláudio Monteverdi
(1567 – 1643).

Brasil Colônia

Em 1500 a descoberta das nossas novas terras, mostraram aos portugueses e os outros
europeus, as muitas riquezas naturais, como vegetação variada, ouro, diamantes, entre outras
pedras e metais, além das vidas indígenas.

A extração, tanto do pau brasil, como de alguns minérios, fez a vegetação de parte do nosso
litoral, praticamente desaparecer em menos de 50 anos. Índios foram escravizados e outros se
tornaram “parceiros” daqueles que se sentiam donos de tudo. Foram enviados aos poucos
para o Brasil, os bandidos, os excluídos, os marginalizados. Mas também vieram pessoas
corajosas e aventureiras em busca de nova vida, novos registros, escritores e os enviados da
Igreja – os Catequizadores! Sabe-se, através de relatos escritos, pinturas e desenhos que a arte
era produzida tanto nos grupos religiosos, quanto nos grupos, nas comunidades variadas.

Principais compositores do Brasil Colonial

Chegando ao Brasil em 1944, o musicólogo alemão Francisco Curt Lange (1903-1997),


começou a pesquisar o interior de Minas Gerais à busca de partituras existentes entre as
famílias de músicos do passado. Assim, Lange percorreu cidades como Prados, Mariana, São
João d’El Rey e Tiradentes. No final dos anos 1950, ele já havia reunido milhares de partituras,
cujo provável destino seria a destruição. As partituras colecionadas por ele fazem parte hoje
do acervo do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, onde há obras dos principais
compositores mineiros do período colonial, entre eles José Joaquim Emerico Lobo de
Mesquita.

O padre José Maurício Nunes Garcia (Rio de Janeiro, 22 de setembro de 1767 – 18 de abril de
1830) viveu a transição entre o Brasil Colônia e o Brasil Império e é considerado um dos
maiores compositores das Américas de seu tempo. Trabalhou como “mestre de capela” de D.
João, que se encantou com seu talento quando chegou ao Brasil. Em visita ao Brasil nesta
época, o compositor austríaco Sigismund Neukomm, discípulo de Haydn, ficou impressionado
com a qualidade artística de José Mauricio escrevendo um artigo publicado na Europa onde
chamava a atenção para o Mestre brasileiro.

Arte no Brasil Colônia

Em meados do século XVIII, Minas Gerais viveu uma grande “corrida ao ouro”. Uma grande
quantidade de pessoas migrou para lá a fim de explorar as jazidas existentes na região de Vila
Rica (atual Ouro Preto). A riqueza gerada por essa produção de ouro acabou por criar uma
sociedade refinada nessa região, fato que propiciou o florescimento de uma arte colonial.
Artesãos como o escultor e arquiteto Antônio Francisco Lisboa, conhecido como “O
Aleijadinho”, e o pintor Manuel da Costa Ataíde produziram obras imortais: igrejas cobertas de
ouro, esculturas e pinturas no estilo maneirista então predominante em Portugal, que ficou
conhecido como “barroco mineiro”.

Assim como se produziu artes plásticas (escultura, pintura e arquitetura), produziu-se muita
música para as cerimônias religiosas e eventos especiais da corte portuguesa. A produção
musical circulava somente em manuscritos, porque o governo português proibia a impressão
de toda e qualquer obra no Brasil, fosse ela literária, didática ou artística. Essa censura fez com
que grande parte da produção musical colonial ficasse por muito tempo perdida em antigos
arquivos e baús das irmandades religiosas do interior de Minas Gerais. Já foram encontradas
partituras, pinturas e outros registros artísticos, nas regiões que estavam mais colonizadas,
naquele período, como Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte.
ROMANTISMO 1810 - 1910

A Revolução Francesa causou profundas transformações, não apenas políticas, mas abalou
todas as estruturas do pensamento espraiando sua influência no campo das artes, da cultura e
da filosofia, sob a forma de um surto de liberalismo que se traduzia na defesa dos Direitos do
Homem, da democracia e da liberdade de expressão. Alterando a mentalidade europeia e
modificando os seus critérios de valor. Assim a música e a arte de modo geral procuravam se
desligar da arte do passado deixando aos poucos os salões dos palácios e pondo-se mais ao
alcance da nova classe social em ascensão, a burguesia, e invadindo as salas de concerto,
conquistando um novo público ávido de uma nova estética.

O movimento romântico constitui uma reação contra o racionalismo e o classicismo, opondo à


universalidade dos clássicos o individualismo e o subjetivismo

Enquanto no Classicismo havia uma grande preocupação pelo equilíbrio entre a estrutura
formal e a expressividade, no romantismo os compositores buscavam uma maior liberdade da
forma e uma expressão mais intensa e vigorosa das emoções, frequentemente revelando seus
sentimentos mais profundos, inclusive seus sofrimentos.

Além da forte expressividade outra característica marcante no período musical romântico é a


chamada música programática ou música descritiva. Não que em outros momentos da história
da música não houvesse esse tipo de produção, mas no período romântico, essa é uma
tendência bastante acentuada. Neste aspecto, muitas vezes, o romantismo literário se
confunde com o musical. Muitos compositores românticos eram ávidos leitores e tinham
grande interesse pelas outras artes, relacionando-se estreitamente com escritores e pintores.
Não raro uma composição romântica tinha como fonte de inspiração um quadro visto ou um
livro lido pelo compositor. Mas aqui mais uma vez a necessidade de expressar, a música aliás,
tem no romantismo a função essencial de expressar, e a alma é o objeto que se deve
primordialmente retratar. Muitas das composições pintam quadros, contam histórias; o
individualismo romântico incitará o músico a “pintar” suas próprias experiências. Entretanto,
apesar do individualismo, da subjetividade e do desejo de expressar emoções, o músico
romântico ainda respeita a forma e muitas das regras de composição herdadas do classismo.

O Romantismo surge sobre bases tonais sólidas, o período romântico é o derradeiro momento
da música tonal. Entre os traços comuns aos compositores do período podemos ressaltar a
maior liberdade de modulação e o cromatismo cada vez mais progressivo que levou os
músicos até a fronteira do sistema tonal de Bach. E é esse cromatismo que vai garantir uma
maior liberdade e expressividade a essa música “individualista” e “subjetiva”. As formas livres,
lieds, prelúdios, rapsódias, sinfonias, o virtuosismo instrumental e os movimentos nacionais
incorporam elementos alheios à tonalidade estrita do classicismo e esta lentamente se desfaz,
até chegar à beira da atonalidade com a música de Wagner (1813-1883).

Outro aspecto de destaque do período romântico está na própria concepção de artista da


época. A concepção do homem genial incita a buscar na biografia do artista os sinais de um
destino excepcional. Os reveses da vida tendem a satisfazer a sanha do público, pois o artista
genial é o eterno sofredor, em volta do mito estão a pobreza, a humilhação, as desventuras
amorosas (Beethoven), a incompreensão dos contemporâneos, a doença (Beethoven) ou a
loucura (Berlioz e Schumann) contribuem para a admiração sobre o caráter singular do artista.
Na verdade, os artistas românticos eram eles mesmos bastante atentos à publicidade da sua
imagem. Ou como diria Flaubert “O artista deve dar um jeito para fazer a posteridade acreditar
que ele não viveu”.

O músico romântico procurou se firmar como um artista autônomo, deixando de se submeter


a patronos ricos, como ocorria no período barroco e clássico. Isso evidentemente garantia uma
maior liberdade de criação aos músicos

Durante o Romantismo houve um rico florescimento da canção, principalmente do lied


(‘canção’ em alemão) para piano e canto. O primeiro grande compositor de lieder (plural de
lied) foi Schubert (1797-1828). Essa forma é também desenvolvida mais tarde por Robert
Schumann (1810-1856) e mais posteriormente por Johannes Brahms (1833-1897). Inicialmente
os textos são retirados da poesia romântica alemã de Goethe (1749-1832) e Heine (1799-
1856). Também são características da época as formas livres como os prelúdios, rapsódias,
noturnos, estudos, improvisos etc., presentes na obra de Frederic Chopin (1810-1849) e Franz
Liszt. Essas peças são geralmente para piano solo e realçam o virtuosismo instrumental,
dividindo a importância do concerto entre a obra e a presença do intérprete.

A ópera

As óperas mais famosas hoje em dia são as românticas. Os grandes compositores de óperas do
Romantismo foram os italianos Verdi e Rossini e na Alemanha, Wagner. No Brasil, destaca-se
Antônio Carlos Gomes com suas óperas O Guarani, Fosca, O Escravo, etc. A orquestra cresceu
não só em tamanho, mas como em abrangência. A seção dos metais ganhou maior
importância. Na seção das madeiras adicionou-se o flautim, o clarone, o corne inglês e o
contrafagote. Os instrumentos de percussão ficaram mais variados.

O concerto romântico usava grandes orquestras; e os compositores, agora sob o desafio da


habilidade técnica dos virtuosos, tornavam a parte do solo cada vez mais difíceis. Compreende
obras para grandes orquestras e privilegia o virtuosismo. Destaca-se a obra de Johannes
Brahms, com suas quatro sinfonias, dos franceses César Franc (1822-1890) e Hector Berlioz
(1803-1869), que revoluciona a concepção da orquestra clássica ao acrescentar mais
instrumentos em sua Sinfonia fantástica, op.14, de 1830, reformulando os modos de
instrumentação vigentes em sua época.

Outro aspecto de destaque no período romântico é o nacionalismo. A música do final do


século XIX, embora imbuída do individualismo, reflete as preocupações coletivas relacionadas
aos movimentos de unificação que marcam a Europa. Até a metade do século XIX, toda a
música fora dominada pelas influências alemãs. Foi quando compositores de outros países,
principalmente os russos, passaram a ter a necessidade de criar a sua música, enaltecendo as
suas raízes e a sua pátria. Inspiravam-se em ritmos, danças, canções, lendas e harmonias
folclóricas de seus países. É o chamado Nacionalismo Musical. Músicos como Bedrich Smetana
(1824-1884) e Antonin Dvorák (1841-1904), Edvard Grieg (1843-1907), Modest Musorgsky
(1839-1881) e Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1893) empregaram com freqüência temas
nacionalistas em suas óperas, enquanto suas obras sinfônicas adquiriam intensidade e
identidade própria ao combinar coloridos nacionalistas com os procedimentos estruturais
estabelecidos pela corrente principal alemã.

A imagem que temos hoje da chamada música erudita é notadamente romântica. Não é à toa,
portanto, que nas salas de concerto, o piano seja visto como instrumento de destaque, ao lado
do violino, que também ganhou fama como instrumento solo e orquestral. No século XIX o
piano passou por diversos melhoramentos. Quase todos os compositores românticos
escreveram para este instrumento, os mais importantes foram: Schubert, Mendelssohn,
Chopin, Schumann, Liszt e Brahms. Embora em meio às obras destes compositores se
encontrem sonatas, a preferência era para peças curtas e de forma mais livre. Havia uma
grande variedade, entre elas, as danças como as valsas, as polonaises e as mazurcas, peças
breves como o romance, a canção sem palavras, o prelúdio, o noturno, a balada e o improviso.
Outro tipo de composição foi o étude (Estudo), cujo objetivo era o aprimoramento técnico do
instrumentista (aqui destaca-se mais uma vez os “estudos para piano”).

Com efeito, durante esta época houve um grande avanço nesse sentido, favorecendo a figura
do virtuose: músico de concerto, dotado de uma extraordinária técnica. Virtuoses como o
violinista Paganini e o pianista Liszt eram admirados por plateias assombradas.

O século XIX apresenta um novo público formado pela classe social burguesa que se interessa
pela arte intimista: obras para solista, música de câmara e representações vocais, com
acompanhamento instrumental, e a poesia de diferentes países. O canto acompanhado quer
com cravo, piano ou guitarra, possui as qualidades específicas nacionais, as que encontramos
no lied alemão, na mélodie francesa ou na canção espanhola ou inglesa. Ainda que antigo na
forma, e talvez até por isso, é imediata a identificação do público graças aos temas que essas
canções “românticas”, evocam, tão próximas aos anseios do homem burguês. Como foi
definido por Heinrich Heine, o lied é o “coração que canta, o peito que se agita”. A canção é a
expressão musical de um “estado de espírito”, impõe a primazia da paixão e dos sentimentos
sobre a razão, junto a idéia de liberdade e exaltação da natureza. Entre os lieder mais famosos
estão evidentemente os de Schubert, a exemplo de “Nacht und Träume”, considerado um dos
mais belos do autor. Schubert fez cerca de seiscentos e cinqüenta leader, nas formas mais
diversas, desde a simples canção estrófica até a cena dramática ou a cantata.

No que se refere à música coral, as mais importantes realizações dos compositores românticos
estão na forma do oratório e do réquiem (missa fúnebre). Dentre os mais belos oratórios se
incluem o “Elias”, de Mendelssohn (1809-1847), composto nos moldes de Haendel; “L´Enfance
du Christ” (A infância de Cristo) de Berlioz (1803-1869); e “The Dream of Gerontius” (O sonho
de Gerôncio) de Elgar (1857-1934), que em vez de se basear em algum texto bíblico, constitui o
arranjo de um poema religioso.

Certas Missas de Réquiem são importantíssimas e algumas mais apropriadas para serem
apresentadas em casas de concerto do que em uma igreja. O réquiem de Berlioz por exemplo,
exige uma imensa orquestra com oito pares de tímpanos e quatro grupos extras de metais,
posicionados nos quatro cantos do coro e da orquestra. O Réquiem de Verdi embora de estilo
dramático, é sincero em seu sentimento religioso. Em nítido contraste com estas obras de
caráter grande e eloquente está o calmo e sereno réquiem do compositor francês Gabriel
Fauré (1845-1924). Não podemos deixar de citar o réquiem de Brahms, considerado por alguns
como a mais bela obra coral do romantismo, composto por ocasião da morte de sua mãe. Para
essa obra, em vez de musicar o usual texto latino, Brahms (1833-1897) selecionou passagens
significativas da Bíblia.

Ainda no que se refere ao canto não se pode falar sobre romantismo sem citar a importância
da ópera, é na verdade nessa forma musical ampla e complexa, que une o canto e a
interpretação, música e teatro que está o verdadeiro destaque da mÚsica vocal no período.
Surge uma nova ópera italiana em que às artes do bel canto somam-se um forte
elemento histriônico: os cantores também têm que emocionar ou divertir o público com artes
de ator. O enredo acaba crescendo em importância. A grande ária ainda é o ingrediente
essencial, mas como centro da cena dramática. Essa nova importância do elemento teatral é a
contrribuição italiana à ópera romântica. Destacam-se autores como Rossini (1792-1868),
Bellini (1801-1835) e Donizette (1797-1848). Outras mudanças significativas: os adornos não
podem ficar à decisão do intérprete que tende a abusar deles (o que era comum no barroco);
todos devem figurar na partitura porque o brilhantismo das vozes não será desde essa altura o
único interesse das representações; a missão da orquestra vai além de simples
acompanhamento das vozes, tendo um papel bastante relevante.

A primeira reação à música lírica italiana partiu de Weber (1786-1826) que deu características
germânicas à opera inspirando-se na época medieval e na mitologia alemã. A forma vocal
oscila entre o canto propriamente dito e o Singspiel, alternando o diálogo falado com árias.
Entretanto é inovador por introduzir na ópera a essência musical popular alemã. Seu herdeiro
seria Richard Wagner (1813-1883), que em busca de uma “obra de arte integral”, criou o
Drama Musical. Este reunia a pintura, a poesia e a arquitetura, além da música. Mas, não
contente com o drama isolado Wagner compôs uma tetralogia (conjunto de quatro dramas).
As suas experiências no canto tonal deram a obra wagneriana uma tal originalidade que criou
para os demais compositores românticos um dilema, ou uniam-se à Wagner ou lutavam contra
ele. A estrutura do cromatismo wagneriano e a figura do leitmotiv levavam a música para a
beira da atonalidade, era na realidade um caminho difícil de ser seguido, um caminho sem
volta. A renovação na ópera completou-se com a ideia wagneriana de estrutura continua da
ação, de maneira que o conjunto não seja dividido apenas por uma sucessão de árias,
interlúdios, coros, duos, etc., que surgem como consequência da ação dramática, mas que não
devem partir a obra em seções prejudicando a ideia geral de unidade. Wagner é quem leva a
termo essa ideia que será acolhida não só pelos compositores de língua alemã, mas também
pelo italiano Giuseppe Verdi (1813-1901), um dos maiores autores de óperas do período
romântico, que criou as célebres “Nabuco”, “Aida”., “Rigolleto” e tantas outras que saíram da
pena do prolixo e popular compositor, que se celebrizou em pouco tempo estendendo a sua
influência a românticos de todo o mundo, incluindo Carlos Gomes (1836-1896)

Na França aporta a estrutura da grande ópera que já havia estado presente na tradição
espetacular da ópera-ballet de Lully. A mesma variedade musical do lied romântico manifesta-
se também na ópera, na complexidade dos arranjos orquestrais e na dificuldade do traçado
das linhas melódicas. Destacam-se os óperas de Meyerbeer (1791-1901) e a leveza da opereta
cômica de Offenbach (1919-1880) mais próxima do music hall.
História da música brasileira

A música brasileira, com suas raízes profundamente enraizadas na mistura de influências


indígenas, africanas e europeias, oferece um rico tapeçário de sons e estilos que refletem a
diversidade cultural do país. Desde o período pré-colonial, os povos indígenas do Brasil já
possuíam uma rica tradição musical, caracterizada pelo uso de instrumentos como o maracá, o
berimbau e a flauta. Esses instrumentos acompanhavam danças e rituais que expressavam sua
cosmovisão e interação com a natureza.

Panorama geral até o século XVIII

Com a chegada dos portugueses e a subsequente introdução de elementos europeus, a música


brasileira começou a sofrer uma metamorfose. A catequese dos povos indígenas, liderada por
figuras como o Padre José de Anchieta, desempenhou um papel crucial na fusão de tradições
musicais. Anchieta, em particular, foi pioneiro na adaptação de cantos gregorianos e hinos
cristãos com versos em tupi-guarani, criando uma forma única de expressão musical que serviu
tanto para educar quanto para converter. O Padre José de Anchieta, além de adaptar cantos
gregorianos, também compôs autos e dramas litúrgicos, como o famoso “Auto de São
Lourenço”, onde se mesclavam elementos teatrais europeus com a música indígena. Essa
prática não só facilitava a compreensão dos ensinamentos cristãos, mas também criava um
espaço para a interação cultural.

Padre José de Anchieta catequizando índios e ensinando música aos nativos no Brasil. Recomendamos a
leitura de “Música e Religião na Colônia“, de Carlos Alberto Figueiredo, que detalha como a música sacra
era utilizada na evangelização. Além disso, filmes como “Anchieta, José do Brasil” (1977) retratam a vida
e a obra desse importante personagem da história brasileira, proporcionando um contexto visual e
emocional.
Este período também viu um declínio na influência indígena na música, à medida que as
tradições europeias começaram a dominar. A música sacra e a polifonia importada de Portugal
tornaram-se predominantes, especialmente nas áreas urbanas. No entanto, nas zonas rurais e
nas regiões de fronteira, as tradições indígenas ainda mantinham um papel significativo,
embora em constante transformação.

O domínio português trouxe consigo não apenas a música europeia, mas também abriu as
portas para o intercâmbio cultural. A chegada de africanos escravizados introduziu novos
ritmos, instrumentos e formas de expressão musical, que se entrelaçaram de maneira
complexa com as tradições já existentes. A música brasileira começou a adquirir uma
identidade mais diversificada, refletindo a mistura de povos e culturas.

Esta diversificação foi particularmente evidente no surgimento de estilos musicais que


combinavam elementos indígenas, africanos e europeus. Gêneros como o lundu e o modinha,
que se originaram durante este período, são exemplos dessa fusão. Eles representam não
apenas um estilo musical, mas também uma forma de resistência cultural e expressão da
identidade brasileira emergente. O lundu, de origem africana, é considerado um precursor do
samba e era caracterizado por seu ritmo sensual e letras provocativas, que inicialmente foi
censurado na metrópole, mas depois adaptado e reincorporado. A modinha, influenciada pela
música europeia, destacava-se por suas melodias líricas e expressivas.

Referências importantes para explorar esses gêneros incluem “A Modinha e o Lundu no Século
XVIII” de Mário de Andrade, que oferece uma análise profunda dessas formas musicais. Filmes
como “Xica da Silva” (1976) apresentam aspectos da música e da cultura afro-brasileira no
período colonial, contextualizando artisticamente o ambiente em que o lundu florescia.

Com o avançar do século XVIII, a música no Brasil continuou a evoluir, preparando o terreno
para o que eventualmente se tornaria a Música Popular Brasileira (MPB). Este gênero, embora
só venha a se consolidar plenamente séculos depois, tem suas raízes nesse caldeirão cultural
que mesclava influências de três continentes.

A evolução da música brasileira até o início do século XVIII reflete, portanto, um processo de
transformação e adaptação contínua. Cada influência cultural – indígena, africana, europeia –
contribuiu de maneira significativa para a criação de um patrimônio musical único. A história
da música brasileira é um espelho da própria história do Brasil: uma narrativa de encontros,
conflitos e sincretismos, onde a música atua como um registro vivo das transformações sociais
e culturais do país.

Para uma compreensão mais aprofundada, obras como “A Música no Brasil Colonial” de Vasco
Mariz e filmes como “O Descobrimento do Brasil“, que retrata a chegada dos portugueses e a
interação cultural subsequente, oferecem perspectivas valiosas. Peças de teatro como
“Anchieta, Padre Anchieta“, de Paulo César Pinheiro, também ilustram vividamente a
complexidade e a riqueza da história musical brasileira.

Era do Classicismo no Brasil

O Classicismo musical desembarcou no Brasil em 1808, com a transferência da corte


portuguesa para o Rio de Janeiro. Esse movimento foi um divisor de águas para a música
brasileira, trazendo consigo a rica biblioteca musical dos Bragança, uma das mais sofisticadas
da Europa. Dom João VI, um patrono das artes, revitalizou a Capela Real, atraindo músicos de
Lisboa e da Itália, elevando o padrão musical no país.

Nesse período, destacam-se figuras como o Padre José Maurício Nunes Garcia, cujas
composições refletem a fusão do Classicismo com elementos locais, além de Gabriel
Fernandes da Trindade e João de Deus de Castro Lobo, que contribuíram significativamente
para a expansão do repertório musical brasileiro.

A Influência do Barroco na Música Colonial Brasileira

Um aspecto crucial, ainda pouco explorado na música brasileira colonial, é a influência do


Barroco, particularmente nas regiões mineradoras como Minas Gerais. Durante o século XVIII,
o ciclo do ouro propiciou um cenário de riqueza e exuberância que se refletiu nas artes,
inclusive na música. Compositores como Lobo de Mesquita, um mestre da música sacra
barroca em Minas Gerais, criaram obras que mesclavam a polifonia europeia com elementos
locais, refletindo a riqueza cultural e artística da época. Essa fase é magistralmente retratada
no livro “O Aleijadinho e o Aeroplano” de Affonso Ávila, que contextualiza a música no cenário
mais amplo das artes barrocas mineiras. Além disso, a série de documentários “Brasil Barroco“,
dirigida por Lucia Murat, oferece uma visão audiovisual da riqueza cultural deste período,
incluindo sua música.

Era do Romantismo

O Romantismo trouxe consigo Francisco Manuel da Silva, aluno de José Maurício e seu
sucessor na Capela Real. Apesar de limitações de recursos, Silva foi fundamental para o
desenvolvimento musical do Brasil, estabelecendo o Conservatório de Música do Rio de
Janeiro, conduzindo o Teatro Lírico Fluminense e a Ópera Nacional, e compondo o Hino
Nacional Brasileiro. Seu legado marca a transição para o Romantismo, um período em que a
ópera nacional floresceu.

Antônio Carlos Gomes é a figura mais emblemática dessa era. Suas óperas, como “O Guarani”
e “O Escravo”, combinavam temas nacionalistas com uma estética europeia, alcançando
aclamação em prestigiados teatros europeus, como o La Scala de Milão.
O Nacionalismo Musical

O Nacionalismo musical brasileiro teve como precursores Brasilio Itiberê da Cunha e Luciano
Gallet. Antonio Francisco Braga e Alberto Nepomuceno foram fundamentais nessa corrente,
infundindo a música nacional com ritmos e melodias folclóricas, criando uma síntese única
com estruturas europeias.

Heitor Villa-Lobos emergiu como a figura central deste movimento. Ele habilmente entrelaçou
elementos do folclore brasileiro com influências eruditas e populares, criando um estilo
distintamente brasileiro. Sua obra variada inclui desde peças para instrumentos solo, como o
violão, até composições orquestrais grandiosas. Villa-Lobos também teve um papel crucial na
educação musical brasileira, promovendo o canto orfeônico nas escolas.

Vanguardas e Sínteses Contemporâneas

A partir de 1939, novas sínteses musicais surgiram, destacando a importância da criatividade


individual e da livre expressão. Essa época viu o florescimento da música popular brasileira
instrumental, enraizada em regionalismos. Hoje, a música erudita no Brasil reflete uma
tendência global de fusão de elementos experimentais e tradicionais.

Embora a música erudita receba limitado apoio oficial, o Brasil possui várias orquestras
sinfônicas e escolas de música de alto nível. Grupos de câmara e solistas têm alcançado
renome internacional, complementados por temporadas regulares de ópera em centros
culturais como São Paulo e Rio de Janeiro.

Influência Africana na Música Popular

A contribuição africana para a música brasileira é indiscutível, especialmente na música


popular. Desde o século 16, a diáspora africana trouxe uma rica diversidade de ritmos, danças
e instrumentos. Inicialmente marginalizados, os negros e mulatos gradualmente foram
reconhecidos por sua musicalidade, formando orquestras e bandas de alta qualidade.

No século 17, irmandades de músicos negros e mulatos começaram a dominar a cena musical
em muitas regiões do Brasil. A influência africana na música brasileira é mais evidente na
diversidade de ritmos e estilos que fundamentaram a música popular e folclórica do século 20.

Lundu e Cateretê: As Raízes Africanas e Indígenas

Como já comentamos, o lundu emergiu como uma das primeiras expressões significativas no
século XVII. Essa dança, trazida pelos escravos de Angola, mesclava sensualidade e humor,
embora tenha sido suavizada em Portugal. No Brasil, o lundu floresceu em sua forma original
e, eventualmente, evoluiu para uma canção urbana e uma dança de salão refinada,
incorporando instrumentos como o bandolim. Paralelamente, o cateretê, com raízes indígenas
e influências africanas, representa outra faceta antiga da dança brasileira.

A Modinha: Lirismo e Influência Europeia

Entre os séculos XVIII e XIX, a modinha, um legado português enriquecido pela ópera italiana,
assumiu protagonismo. Esta canção lírica, frequentemente estrófica e acompanhada de viola
ou guitarra, cativava por sua simplicidade e apelo emocional. Nos saraus aristocráticos, a
modinha se apresentava em versões mais elaboradas, com flautas e letras de poetas
renomados, evidenciando um cruzamento cultural entre a elite e a expressão popular.

O Choro: Fusão e Improvisação

O choro, nascido no final do século XIX, sintetiza a herança da modinha com influências de
valsas, polcas, schotischs e tangos estrangeiros. Caracterizado por sua melodia expressiva e
improvisação, o choro consolidou uma formação típica com flauta, cavaquinho e violão,
enriquecida posteriormente por outros instrumentos. Figuras como Joaquim Antonio da Silva
Calado, Anacleto de Medeiros, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Pixinguinha são pilares
desse gênero vibrante.

O Samba: Da Umbigada ao Ícone Cultural

O samba, surgido em 1838 e derivado do ritmo africano da umbigada, amalgamou influências


da modinha, do maxixe e do lundu. Inicialmente uma expressão das camadas populares, o
samba variava regionalmente, refletindo a diversidade cultural dos escravos e peculiaridades
locais. Em 1917, emergiu das rodas de improvisação cariocas para se tornar um emblema da
música popular brasileira. O samba urbano moderno, com seus versos declamatórios e
acompanhamento de palmas, cavaquinho, violão e percussões, desdobrou-se em subgêneros
como samba de breque, samba-canção, bossa nova, samba-rock e pagode.

O Papel das Bandas de Música no Desenvolvimento Musical Brasileiro

No final do século XIX e início do XX, as bandas de música tiveram um papel fundamental na
difusão musical nas cidades e interior do Brasil. Estas bandas, compostas por instrumentos de
sopro e percussão, eram frequentemente conduzidas por músicos formados em instituições
como o Instituto Nacional de Música, desempenhando um papel crucial na formação musical
das comunidades locais. Elas introduziram o público a uma variedade de gêneros musicais,
desde dobrados militares a valsas, polcas, e arranjos de óperas europeias. Um exemplo notável
é a banda de música da cidade de Sousa, na Paraíba, fundada em 1902, que se tornou um
símbolo cultural local. Este fenômeno é analisado em detalhes na obra “Música nas Esferas
Públicas: As Bandas de Música no Brasil” de Martha Tupinambá de Ulhôa, que oferece uma
perspectiva histórica e sociológica sobre o impacto dessas bandas na cultura musical brasileira.
Para um retrato cinematográfico, o filme “O Maestro” de Mauro Lima, baseado na vida de
Antônio Carlos Gomes, apresenta a importância das bandas de música no cenário cultural da
época.
Projeção Internacional e Era do Rádio

O samba ganhou reconhecimento internacional com “Aquarela do Brasil” de Ary Barroso e a


influência de Carmen Miranda, que popularizou o gênero nos EUA e consagrou a Bossa Nova.
Este ritmo brasileiro, independente da língua, conquistou fãs globais. Paralelamente, a Era do
Rádio, iniciada nos anos 30, foi crucial para divulgar a música popular, com artistas como
Dolores Duran, Nora Ney, Vicente Celestino e Angela Maria alcançando fama nacional.

A Bossa Nova, surgida no final da década de 1950, é um exemplo emblemático. Nascida nos
encontros de estudantes universitários e músicos da classe média urbana, esse movimento
inicialmente representava uma nova maneira de interpretar o samba. Com o tempo, absorveu
elementos do Jazz e do Impressionismo musical, característico de compositores como Debussy
e Ravel. Essa fusão resultou em um estilo musical intimista e sofisticado, marcado pela
suavidade vocal e pelo acompanhamento delicado de piano ou violão, com harmonias
complexas e ritmos sutis. Personalidades como Nara Leão, Carlos Lyra, João Gilberto,
Toquinho, Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Maysa Matarazzo foram pilares dessa época.

Seguindo essa trajetória, os anos 60 presenciaram o samba dialogando com gêneros como o
rock e o funk. Este período foi crucial para a modernização da música popular brasileira, dando
origem a novos estilos de composição e interpretação. Surgiram movimentos significativos
como o Tropicalismo e o Iê Iê Iê, e artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso, Geraldo
Vandré, Edu Lobo, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Tim Maia e Wanderléia
ganharam destaque.

A década de 70 testemunhou mais transformações. Novos músicos, com um enfoque em


canções românticas e melodiosas, emergiram e foram muitas vezes rotulados como ‘bregas’.
Paralelamente, outros artistas se empenharam em preservar as tradições do samba clássico.

Os anos 80 foram marcados pelo surgimento e explosão do rock brasileiro, com uma
diversidade impressionante de estilos e bandas que se tornaram icônicas, como Blitz,
Paralamas do Sucesso, Titãs, Ultraje a Rigor e Legião Urbana. Estes grupos conquistaram fãs de
diversas gerações e ainda mantêm uma presença forte na cultura musical do país.

Evolução até os dias atuais

Com a abertura cultural dos anos 90, o Brasil testemunhou a ascensão de uma variedade ainda
maior de gêneros e subgêneros musicais, refletindo a rica diversidade do país. Pagode, axé,
sertanejo, forró, lambada são apenas alguns exemplos. Essa época foi caracterizada por uma
constante inovação e surgimento de novos ritmos e estilos musicais, refletindo a efervescência
cultural das várias regiões do Brasil.
Além desses movimentos mais modernos, a música tradicional ou folclórica do Brasil merece
uma menção especial. Essa categoria abrange expressões musicais que são transmitidas de
geração em geração, mantendo-se imunes às influências dos meios de comunicação modernos
e do mercado de consumo. Ligadas a festividades, lendas e mitos regionais, essas expressões
preservam traços culturais europeus medievais, indígenas e afro-brasileiros, além de
elementos de comunidades imigrantes, como italianos, açorianos e alemães no Rio Grande do
Sul. A música praticada pelos povos indígenas, especialmente nas regiões amazônica e do
centro-oeste, onde o impacto do colonizador foi menos intenso, também é parte integrante
dessa rica tradição musical.

Música brasileira como instrumento de movimentos sociais

Um aspecto crucial, muitas vezes subestimado na história da música brasileira, é a intersecção


entre música e movimentos políticos e sociais do século XX, particularmente durante a
ditadura militar (1964-1985). Este período viu o surgimento de uma música de protesto
vibrante, que se tornou um veículo para a resistência e a expressão de descontentamento
social. Artistas como Geraldo Vandré, com sua canção emblemática ‘Pra Não Dizer que Não
Falei das Flores‘, e Chico Buarque, cujas letras codificadas em ‘Cálice‘ e ‘Apesar de Você‘
desafiavam a censura, se destacaram como vozes da resistência. Essas músicas não apenas
expressavam o descontentamento popular, mas também ajudavam a moldar a consciência
coletiva em um período de repressão.

Além disso, o Tropicalismo, encabeçado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, trouxe uma
abordagem revolucionária, mesclando influências culturais diversas com uma crítica social
mordaz, como visto na icônica ‘Tropicália‘ e ‘Domingo no Parque‘. Esta era é magistralmente
explorada no documentário ‘Uma Noite em 67‘, que apresenta o emblemático festival de
música popular daquele ano, e no livro ‘Brasil: Uma Biografia‘, de Lilia Moritz Schwarcz e
Heloisa M. Starling, que fornece um contexto histórico e cultural profundo. Este período da
música brasileira não apenas reflete a turbulência política e social, mas também ilustra a
capacidade da música de atuar como um poderoso instrumento de resistência e mudança
social.
BIBLIOGRAFIA

CANDÉ, Roland. História Universal da Música. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

CANDÉ. Roland de. História Universal da Música. Vol. 1. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

CARPEAUX, Oto Maria. O Livro de Ouro da História da Música: da Idade Média ao Século XX.

SITES CONSULTADOS:

https://www.revistas.usp.br/revistamusica/article/view/173069

http://tiny.cc/8dvqmz/

https://www.sabra.org.br/site/canto-
gregoriano/#:~:text=Tamb%C3%A9m%20conhecido%20como%20canto%20sacro,os%20anos%
20590%20e%20604

https://www.beatrix.pro.br/index.php/o-romantismo-na-musica-1810-1910/

https://www.descomplicandoamusica.com/historia-da-musica-brasileira/

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