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TAMBORES E TOCADORES

PARTE I – O TAMBOR

Dia de Festa Grande no Terreiro de Maria,


a festa de todos os santos; e lá estavam no
salão os três tambores, vestidos com seus
belíssimos Òjá (laços); não se importam se
o tecido é de algodão, chita, renda ou de um
rico tecido, o que importa mesmo é estar
bonito e vistoso. Estão à espera de seus
exímios tocadores para a festa começar.
Três irmãos que são apenas um, um que não
pode viver sem o outro. São tambores
ligeiramente cônicos, com uma das bocas
cobertas de couro animal, presos por aros
de ferros. São popularmente conhecidos por
atabaques; nome este de origem árabe: at-
tabaq que significa - prato.
O tambor grande chama-se Hum e possuí o
registro fônico grave; o médio recebe o
nome de Hum-pi e seu registro fônico é
médio e o pequeno denomina-se de Lê e seu
registro fônico é agudo. Dependendo do
ritmo são tocados com as mãos, com duas
baquetas (aqui denominadas de aquidavi –
originárias de vários arbustos), ou por vezes
com uma mão e uma baqueta, mas esta
última técnica de exclusividade
do Hum. O Hum, o maior entre os irmãos é
logicamente é o Tambor Mestre, aqui nesta
família o tamanho faz a diferença. São
descendentes da etnia Ewe-Fon (Hum –
Hum-pi - Le) conhecida no Brasil como a
nação Jeje e se orgulham de estarem
presentes em todos os terreiros,
independente da nação. Ao chegarem pela
primeira vez ao Terreiro, devem ser
consagrados e sacramentados e encourados
com pele de animais somente sacrificados a
Divindades, preferencialmente de bode ou
de boi. Nos Terreiros tradicionais,
o Hum está consagrado ao ÒrìsàÒgún,
O Hum-pi ao Òrìsà patrono da nação e
o Le ao Òrìsàpatrono da casa. Nestas
podemos facilmente notar que não utiliza
estrados e sim uma bancada feita em
alvenaria, que ali dentro guardam as
representações e o àse dos Òrìsà dos
tambores.
Ficam as maiores partes do tempo em pé,
deita-se apenas no momento de sua
consagração, como mencionei, ou quando
de alguma forma requerem oferendas e
sacrifícios ou mesmo quando estão de luto.
Fazem deste Terreiro sua eterna morada e
não gostam de atravessar a porta da rua,
preferem a segurança e o aconchego do
barracão. Para se ter uma noção existem
Terreiros que possuem atabaques
confeccionados em tronco de árvores que
foram extintas há décadas e quando de sua
necessidade em restaurá-lo eles negam-se
irem ao restaurador ao contrário o
restaurador é que vem até eles
Se analisarmos profundamente, veremos
que nos tamboresHum, Hum-pi e Le estão
presentes os três reinos da natureza: o reino
vegetal, na madeira em que foi
confeccionado seu corpo; o reino animal, na
pele que cobre uma de suas extremidades e
o reino mineral nos aros de ferro que
sustentam o couro.
Eles falam uma língua que nem todos
entendem ou compreendem, mas uma coisa
é certa, chamam a atenção, seja do profano
ou do religioso. São seres sagrados,
dotados de força vital e que somente os
“músicos habilitados” podem tocá-los. O
som por eles emitidos e as palavras contidas
nos cânticos, carregam àse e se transmitem
numa relação interpessoal e dinâmica, num
processo de comunicação direta, pleno de
ritmo vital, onde o som e a palavra,
compassada e rítmica, são básicos e
fundamentais. São elementos
mobilizadores, que conduzem a ação, que
propiciam àse, ambos se convertem em um
tipo de linguagem que tem o poder de
mobilizar o mundo sobrenatural e todas as
Divindades que nele habitam. O som é
considerado “o filho sagrado do tambor e
do tocador”. Existe outro instrumento de
percussão que acompanha esta magnífica
orquestra - o agogo, mas nos limitaremos
neste ensaio, se assim poderíamos chamar
aos sagrados tambores e seus tocadores.
Importante mencionar que estudos
arqueólogos mostram que a origem dos
tambores é milenar. Os tambores
começaram a aparecer pelas escavações
arqueológicas do período neolítico. Um
tambor encontrado na escavação na
Moravia foi datado de 6.000 anos a.C.
Tambores têm sido encontrados na antiga
Suméria com a idade de 3.000 a.C.
Tambores com peles esticadas foram
descobertos dentre os artefatos egípcios, a
4.000 a.C. Os primeiros tambores
consistiam em um pedaço de tronco de
árvore oco. Estes troncos eram cobertos nas
bordas com peles de alguns répteis, e eram
percutidos com as mãos, começou-se a usar
peles mais resistentes e apareceram as
primeiras baquetas. O tambor com duas
peles veio mais tarde, assim como a
variedade de tamanho.
Os tambores sempre foram adorados como
seres sagrados, tiveram seus dias de glórias,
mas no Novo Mundo foram alvos de
perseguições policiais, eram detidos, isto
quando não destruídos e queimados; estes
atos de racismo justificam um dos motivos
da perda do uso dos tambores de origem
Yorùbá, sobretudo o Bàtá o primogênito
entre os tambores Nagôs. Em 1835 foi
decretada a proibição da entrada de
qualquer tipo de tambor de origem africana
em nosso país e somente em 1976 eles
saíram da glandestinidade.
Esperamos a chegada dos tocadores...

PARTE II – O TOCADOR
É chegada a hora, então adentram o salão os
tocadores, alinhados em seus ternos
brancos, saúdam os tambores sagrados e
tomam suas devidas posições. Aquele que
se apossa do Rum chama-se Alagbe é o
mais alto dignitário entre os tocadores,
encarregados da orquestra do candomblé e
personagem da maior importância na
hierarquia da casa. Seu primeiro imediato
o Òtun Alagbe se apossa do Hum-pi e seu
segundo auxiliar o Osi Alagbe do Le este é
considerado o novato do grupo e só pode
tocar o tambor menor, e o médio, sendo-lhe
vedado tocar o tambor mestre, pois este que
lidera a orquestra e só um tocador
reconhecidamente competente poderá tocá-
lo. Teoricamente só o Alagbepoderá tocar
o Hum, mas o mais graduado de seus dois
assistentes o Òtun Alagbe este sendo o mais
preparado poderá substituí-lo por ocasião
de seus impedimentos. Este chefe tem a
obrigação de treinar o seu substituto
eventual, deixando o preparado para tocar
os ritmos mais complexos e difíceis.
O Alagbe considera-se uma figura
dominante no barracão e sua autoconfiança,
a certeza de que, muito do que ali esta se
passando, depende de sua técnica, de seu
saber em convidar os Òrìsà, com
propriedade, sobretudo com energia e
segurança. Suas funções não se limitam em
apenas tocar e cantar, ele é responsável
pelas cerimônias destinadas aos tambores,
conservação e preservação destes sagrados
instrumentos.
A etimologia da palavra Alagbe é
totalmente obscura. Sabemos apenas que
Alá é um substantivo e empregado como
prefixo de um verbo, equivalente a Oní =
aquele que tem. Não sabemos ao certo se a
palavra gbe seja a forma contraída de duas
ou mais palavras. Alguns estudiosos
citaram que a palavra Alagbe interpreta-se
como o “Pai da Comunidade, baseando-se
na palavra egbé (sociedade, associação,
corporação; fraternidade) o que esta fora do
consenso lógico, pois esta palavra trata-se
de um substantivo e sua fonética é
totalmente distinta e como sabemos no
idioma Yorùbá Pai é denominado de Baba.
O mesmo interpretação errônea ocorre para
a tradução ”Aquele que possui a cabaça”
sustentando-se na palavra agbè (vaso de
beber, cabaça perfurada no topo como um
cântaro) outro substantivo e não verso; e
quando esta se referindo ao Agbèem forma
de instrumentos musical utilizado no culto a
Divindade Òsún, não é o Alagbe que o faz
e sim um homem com posto na Casa-de-
Òsún.
Durante todo do decorrer da cerimônia
podemos notar crianças e jovens ao lado do
estrado dos atabaques, acompanhando os
ritmos do toques e das cantigas. Alguns
destes meninos se tornarão futuros
tocadores. A tradição reza que seu
treinamento deva ser desde muito cedo a
esta difícil arte de tocar os tambores.
Geralmente filhos de tocadores ou de
iniciadas no Terreiro, mostram-se
interessados na aprendizagem das cantigas
e da percussão. Muitos são incentivados e
orientados para um dia ocuparem um lugar
na hierarquia do grupo. Em tempos atuais
“os rapazes de hoje” não se sujeitam à
orientação, como os antigos tocadores se
submeteram quando jovem, a fim de se
tornarem tocadores à altura das tradições da
sua casa de culto. Hoje em dia, corrigir ou
se quer querer orientar um ritmo
inadequado é motivo de desavença, intrigas
e brigas. Procedente ou não, a queixa
confirma a observação de que o tocador não
se improvisa, só podendo distinguir os que
treinarem adequadamente.
Então esperamos a festa começar...

PARTE III – O SIRE

Em comum acordo entre eles, inicia-se o


tocar dos atabaques. Começam a tocar um
ritmo típico, mais conhecido popularmente
por Arrebate que comporta três variações de
ritmos. Este tipo de toque anuncia o inicio
da festa e acompanha a entrada das
iniciadas no salão.
O Alagbe inicia o sire, agora ele esta no
domínio da percussão e do vocal. Ele é o
solo e os demais membros da comunidade o
coro, um coro afinado, sempre atento a
“tirada” das cantigas. Ele irá entoar um
numero específico de cânticos a todos
os Òrìsà com o intuito de “abrir um portal”
“fazer um caminho que ligará os dois
mundos” entre os dois mundos orun - aiye.
Estes cânticos não são considerados de
fundamentos, são cantigas mais leves que
não tem maiores compromissos com os
mistérios das Divindades, mas de suma
importância para um bom andamento da
festa. O som dos tambores agora age como
um fio condutor de movimento de “vai e
vem” de um mundo ao outro, incentivando
e limpando o caminho pelo qual as
Divindades deverão chegar ao nosso
mundo.
A ordem tradicional, não que esta seja
considerada de regra, pois cada rama,
família ou linhagem tem seus costumes e
tradições; mas exponho a seguinte ordem:
· Ògún
· Ode
· Obaluaye
· Osanyin
· Iroko
· Osumare
· Nana
· Òsún
· Oba
· Yewa
· Oya
· Yemoja
· Sàngó
Então ao término do sire, o Alagbe entoa
uma cantiga específica, convidando todos
os Òrìsà a manifestarem-se em suas
noviças. Há um certo numero expressivo de
“cânticos de fundamentos” que incitam o
transe nos iniciados. Estes são classificados
em duas categorias distintas: o coletivo e o
individual. A cantiga tem que ser
acompanhado pelo ritmo do atabaque, mas
a determinados toques que não necessitam
do vocal, somente da percussão, como o
caso do Adahun. Certo de que este pertença
a Nação Jeje, mas não há divindades que
não atendam ao chamado de um dos
maiores “toques de fundamento”. Raros são
os tocadores que dominam este ritmo, um
toque extremamente rápido, mas
compassado e se não o for, parecerá com
“uma locomotiva passando pelo salão”.
Esta na hora de todos os Òrìsà manifestados
entrarem em seus devidos quartos para
vestirem-se com suas roupas características,
seus adornos e instrumentos de mãos, neste
momento o Alagbe inicia um toque
denominado popularmente
de Hamunha, mas também conhecido por
alguns por Avania. Este ritmo também
pertence a nação Jeje e utiliza-o tanto para
as Divindades entrarem quanto saírem do
salão.
Poderia perguntar, “o porque dos porquês”
esta influência da nação Jeje nos Terreiros
de Ketu/Nago? Mas levaria tempo em
elaborar um trabalho justificável para tal
pergunta. Isto sem mencionar os
ritmos Bravum, Sató, Modobi eVivawe que
o Povo-do-Ketu “emprestaram” do Povo-
do-Jeje. Algumas cantigas em dialeto Nago
são entoadas neste ritmo, onde se percebe
facilmente uma mistura e isto ocorre até
mesmo nas Casas Grandes. Mas este
assunto sobre “miscigenação de nações”
deixará para um outro momento.
Então se houve a típica frase “um instante
para tomar uma água” “cinco minutos”
“não vão embora a festa continua”...

PARTE IV – O RUM

Voltamos ao barracão, onde as Divindades


estão prontas esperando a chamada para a
entrada no salão, mas lá estão em uma sala
reunidos os Alagbe, os Huntó (nação Jeje) e
osXicarangoma (nação angola/congo)
enfim, todos os tocadores de atabaque,
“jogando conversa fora”. Nesta sala
realmente só ficam eles, não se misturam,
não por questões de seu “status”, mas existe
um tipo de regra dentro das comunidades
Nagô, onde geralmente vemos grupos
distintos de Ekedi, de Egbon-mi, de Baba
e Iyalòrìsà e mesmo asìyáwòrìsà, as regras
são claras “cada qual no seu cada qual, cada
um no seu devido lugar”. Os mais
tradicionais reprimem as noviças que não
costumam seguir esta regra, pois
consideram uma falta de comportamento.
Aos seus postos o Alagbe então se entoa a
cantiga para que todos os Òrìsà se
apresentem no barracão. Estas são
geralmente em ritmos Bàtá, mas existem
várias outras nas quais os ritmos
diferenciam dependendo do Òrìsà. Então no
momento em que este aparece na porta do
salão, todos se levantam em sinal de
respeito.
Cada Terreiro tem suas normas e regras,
quanto à questão de quem dançará primeiro;
alguns seguem a ordem cronológica
do sire e outras, mesmo estranho a muitos
adeptos, a ordem de idade de iniciação
daquele que ali esta manifestada, ou seja,
primeiro os mais velhos e depois os mais
novos. Muitos se têm perguntado: Mas
quem vai dançar? O inciado ou oÒrìsà? E
o Òrìsà tem idade? Claro que teria que
realizar um estudo mais profundo de quem
foi os primeiros a serem emanados e ou
nascidos e ainda, analisar vários outros
fatores, principalmente o porque da
conhecida ordem cronológica do sire.
Esta etapa do Candomblé é determinada de
“Rum aosÒrìsà”; São cantigas específicas
que não se ouve no sire, mas poderia ouvir
as do sire neste momento. Isto geralmente
não ocorre, por existirem um numero
infinito de cantigas para osÒrìsà. São as
cantigas mais pesadas, que relatam, mitos e
histórias e revelam a fundo sua essência
mística. As frases rítmicas das cantigas
constituem uma espécie de onomatopéia e
são verdadeiras locuções que reproduzem
versos onde se exprime a natureza
dos Òrìsà ali manifestados. Esta linguagem
tem o poder de mobilizar o mundo
sobrenatural. Este som melódico
carrega àse, e o ritmo tem uma natureza
idêntica a natureza do Òrìsà. A mesma frase
rítmica, assim como os mesmos versos, são
repetidos, por várias vezes,
incansavelmente, entre a “pergunta – solo”
e a “resposta – coro”. Não tem sentido, não
há razão daquele que pergunta não ser
respondido; este o motivo da maioria dos
Terreiros terem um grupo, uma bancada,
principalmente de mulheres, destinadas ao
aprendizado das cantigas e a técnica do
falsete. Esta repetição rítmica reproduz a
duplicação generativa primordial. A
repetição supõe a identidade do elemento
ou do processo repetido. Repetir a mesma
freqüência rítmica o mesmo verso é renovar
a criação; daí o poder atribuído à
“linguagem dos tambores”. Lembramos
ainda que, as cantigas
do Asa Òsányìn ou Sasáyìn, devem
obrigatoriamente, serem repetidas por três
vezes, para o encantamento agirem sobre as
folhas ali presentes.
Cada grupo de cantiga esta inserida em um
determinado ritmo. Cada ritmo tem seu
nome característico originário do próprio
culto, como por exemplo, o
ritmo Opanije, do qual pertencente
exclusivamente à Obaluaiye; o Lagun-
lo toque guerreiro
para Ògún; o Ajagun, toque guerreiro
de Òsàgìyán;o Kitipo, ritmo para as
cantigas de NãNã; o Adaro, ritmo típico
de Oya; o Alujá, ritmo
de Sàngó, o Ogele,característico
de Oba e Yewa;
Alguns derivam do nome de tipos de
tambores africanos, são eles: o Àgèrè, ritmo
de Ode; o Ìgbín, ritmo dos Òrìsà
Funfun;o Bàtá, ritmo da maioria dos Òrìsà;
o Kìrìbótó, ritmo deNãnã e o Ìlù, ritmo
de Oya;
O ritmo Ijesa deriva de uma etnia Yorùbá,
este ritmo típico de Òsún e Logunede, mas
também utilizadas por inúmeras outras
Divindades pertencentes ou que marcaram
sua presença sobre esta região; assim como
o ritmo Tedo, originário do Nago Tedo ou
“Nago da Lama”, uma etnia extinta ainda
na época da escravidão e muitas são as
cantigas entoadas neste ritmo.

Sem entrar no “campo da coreografia”


podemos notar que as Divindades
manifestadas em suas noviças dançam
frente aos atabaques e obedecem às
chamadas “passagens” determinadas
pelo Alagbe para que realizem com
perfeição suas danças ritualísticas.
Para toda esta explanação acima, o
conhecimento doAlagbe, deve ser amplo,
deve conhecer, entender e saber todas as
“cantigas de nação” do Terreiro, seus
“toques especiais”; a adequação das
cantigas, assim como a seqüência das
mesmas e em que momento cantá-las; ter
uma forte personalidade, além de ser
excelente músico e cantor. Sabemos que
existem determinados cânticos que somente
devem ser entoados em festas específicas,
por exemplo: quando da Festa de Osoosi,
o Alagbe cantará um número maior de
cantigas para esta Divindade do que para
os Òrìsàque foram convidados. O número
de cantigas para cadaÒrìsà é tão
expressivos que não teria como cantá-las
em um único dia, além de tornar-se por
demais cansativo e tedioso.
Dificilmente o Alagbe, conduz a festa
sozinha, além de seu substituto o Otun
Alagbe, este contará com a ajuda de outros
tocadores convidados, dos quais são amigos
do àse; para a tirada das cantigas contará
com as egbon-mi da casa e ou convidadas.
Este fato somente acorre quando em dias de
festa pública, diferente em dias de “saída-
de-iaô” onde somente o Alagbe do Terreiro
têm o direito de tocar e entoar as “cantigas
de fundamento”. Um bom Alagbe dá
notoriedade e aumento o prestígio do
Terreiro e são conhecidos e convidados
pelas casas menores, ou filiadas aos grandes
Terreiros. Assim sendo, a rivalidade entre
osAlagbe e outros tocadores é notória e
naturalmente, cada casa-de-santo se
vangloria de possuir o melhor Alagbe, de
que contam curiosas histórias de desafios
de memória e de cantigas de sotaque. Estas
cantigas de sotaque, que são verdadeiros
insultos...

PARTE IV – A DESPIDIDA

Voltando ao barracão, onde os Òrìsà após


dançarem e serem homenageados aguardam
o momento de se despedirem de seus
adoradores. O Alagbe agora inicia um
grupo de cantigas em ritmo de Ijika,
denominadas popularmente de “cantigas
de Oye”, mas que na verdade nem todas são
de Oye. São cantigas das quais se refere a
uma divindade em particular e ou
coletivamente; referem-se também a vários
postos, cargos e grau hierárquicos, inclusive
aos tocadores; aos vários fenômenos da
natureza, como por exemplo, a chuva e ao
poder do àse. Neste grupo de cantigas todos
dançam seguindo uma regra hierárquica
juntamente com todas as Divindades
presentes.
Então ao término da grande Festa
dos Òrìsà, entoam-se as cantigas de
despedidas que em sua essência dizem a
todas as Divindades: “que estão indo
embora, mas não se esqueçam de voltar”.
Neste momento o Alagbe poderá optar
mandar todos os Òrìsà todos de uma vez
um a um ou em grupo, como, por exemplo,
cantará uma única cantiga solicitara a todas
as divindades femininas que deixem o salão
e retornem ao orun.

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