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B886j
Bromberg, K.
A jogada [recurso eletrônico] / K. Bromberg ; tradução Ana Carolina
Consolini. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Allbook, 2022.
22-75568
CDD: 813
CDU: 82-3(73)
CRÉDITOS
DEDICATÓRIA
01
SCOUT
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EASTON
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EPÍLOGO
5 ANOS DEPOIS
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ALLBOOK EDITORA
SCOUT
SCOUT DISSE A ELES QUE VOCÊ NÃO ESTAVA CEM POR CENTO.
As palavras de Finn ressoam em meus ouvidos. O mesmo
acontece com a risada que dei, que sumiu quando percebi que ele
estava falando sério.
Eu faço um movimento com o taco. Madeira encontra couro e
costuras vermelhas. Meu grunhido ecoa nas paredes de concreto, e
a vibração de bater na bola sobe pelos meus braços.
É por isso que ela tinha aquele olhar no rosto quando invadi a
sala de conferência. Chocada. Culpada. Para caralho.
Meu celular toca. Não para. Os repórteres são implacáveis. Mas
não tenho vontade de andar os seis metros para desligá-lo. Ou
despedaçá-lo.
Easton. A maneira como sua voz disse meu nome ecoa na minha
cabeça. Isso afoga a maneira como ela gemeu ontem de manhã.
Isso é que é jogar sal sobre a ferida.
Eu faço o movimento com o taco novamente. Outro acerto. Mas
não sinto nada além de raiva. Eu não sei de nada além da raiva.
Estou me sentindo magoado, ferido.
É tudo besteira.
Merda estúpida.
Nada disso faz sentido, exceto pela expressão dela quando fui
enfrentar Tillman. Agora isso? A culpa chocada e os olhos
arregalados.
Isso faz todo o sentido agora.
Eu dou a tacada e erro.
A TV está ligada. Os locutores discutem a velocidade da tacada
de Drew. Eu liguei a droga do aparelho, mas não consigo desligar. É
como se eu precisasse assistir Santiago atrás da minha base para
saber o que realmente está acontecendo.
É demais, porra.
Eu saio do boxe e pego a garrafa de Jameson que coloquei no
nicho atrás de mim. A ardência do uísque não tem nada a ver com o
buraco queimando meu estômago.
Eu olho para a garrafa: o pessimismo — está meio vazia. O lado
bom: pelo menos há mais anestesia líquida para me entorpecer; e
Deus, como eu preciso entorpecer a dor.
Como ela pôde?
A máquina arremessa a bola e acerta o fundo da gaiola com um
baque ao mesmo tempo em que meu celular começa a tocar
novamente. Ou talvez nunca tenha parado. Eu não consigo lembrar
porque tudo que eu fico pensando é em Scout assustada.
Eu disse a ela que estava me apaixonando — pedi a ela para
morar comigo, pelo amor de Deus, quando eu nunca ofereci isso a
ninguém antes — e ela está assustada e fugindo, caralho. Em vez
de ter a coragem de me dizer que não poderia fazer nada disso, ela
foi pelo caminho mais fácil.
Scout se livrou de mim de uma maneira diferente.
Meu peito dói para cacete. Outro gole na garrafa. Uma torção do
bastão em minhas mãos machuca e estoura as bolhas nas minhas
palmas. Eu aprecio a dor, então faço de novo enquanto volto para a
gaiola.
O lance vem. Desta vez, estou tão zangado, tão sem foco, que
erro completamente a bola. O som de bater no ar — aquele sopro —
é ensurdecedor, e me parabenizo com o alívio temporário do
barulho reverberando na cabeça.
Ela me vendeu para me afastar.
Longe da minha casa.
Longe da minha equipe.
Longe da minha família.
Longe dela.
Estou parado aqui, esperando para ver qual porra de casa nova
terei quando essa é a minha casa. Com minha gaiola de rebatidas
aqui e minha parede de janelas com vista para o estádio no andar
de cima.
Onde pensei que jogaria para sempre. Esta é a minha casa. Eu
não posso ir lá em cima, onde vou ver o que não quero. Onde o
perfume de Scout está nos lençóis da minha cama e seu batom
manchou a fronha que beijou anteontem à noite por causa de uma
piada. Agora é como um farol me fazendo questionar se isso foi
realmente um adeus.
Como se ela soubesse.
— Porra! — grito ao dar a próxima tacada, e, em seguida, ando
para longe da base com o bastão apoiado sobre os ombros, o cheiro
da máquina ainda lançando bolas a cada vinte segundos.
Como vou cuidar da minha mãe agora?
Eu tomo outro gole de Jameson. Minhas mãos doem, e o toque
do telefone é um lembrete constante de que Scout está em algum
lugar do outro lado da linha. Preciso de toda a força mental que
tenho para não pegar o bastão e destruir o telefone até que sobre
um milhão de pedaços. Não apenas para não ter que ouvir o toque
constante, mas também porque estou desesperadamente tentado a
pegá-lo e ouvir a voz dela.
Wif. Tump.
Agora eu preciso de alguém que me entenda, e porra, ela me
entende.
Quão fodido isso me torna? Minha risada salta pelas paredes de
concreto e minha própria histeria ecoa de volta para mim.
Wif. Tump.
O toque começa novamente, e eu faço a única coisa que sei
fazer para me afastar de tudo. Ignorando a pontada das bolhas nas
mãos, entro na gaiola e dou a tacada com tudo que tenho.
Grunhido. Rebatida. Na mosca.
Mais, e mais, até que meus braços pareçam de borracha e
estejam exaustos além do aceitável — mas eu ainda os sinto; então
eu bato novamente.
— Não é culpa da bola, você sabe.
Wif.
A porra do Finn.
— Me deixe em paz.
— Você já atendeu ao telefone?
— Se eu quisesse falar com você, teria atendido. Mas eu não
atendi. — Eu dou uma rebatida péssima e quase não acerto a bola.
— Vá embora.
— Era eu ou seu pai pedindo para o gerente do prédio nos deixar
entrar, e então eu percebi que você preferiria que fosse eu.
Wif. Tump. Rebatida certeira.
— Eu disse que não queria falar com você até que você tivesse
as respostas que preciso, então é melhor começar a falar ou pode
dar o fora — resmungo enquanto balanço o taco, desta vez estou
tão cansado, que poderia desmaiar aqui, mas o uísque é muito mais
tentador do que dormir.
— Estou em contato com a equipe.
Eu largo o taco e me viro para agarrar a garrafa.
— Estou em contato com a equipe — imito seu tom formal antes
de tomar outro gole. — É da minha vida que estamos falando, Finn,
não de uma droga de negociação. Então me diga, você sabe para
onde diabos eu fui mandado?
Wif. Tump. Bola no alvo.
— Nova York? Flórida? Minnesota? — Meu tom piora diante de
cada cidade. Meu humor também. — Hein, Finn? Você já tem
alguma resposta para mim? — Eu me viro para encará-lo.
Wif. Tump. Acerto.
— Você vai desligar essa merda para que eu possa me
concentrar? — ele grita.
Olhamos um para o outro através da rede da gaiola de rebatidas.
A memória de fazer amor com Scout contra essa gaiola é como
outra porra de faca nas minhas costas.
Então eu mudo o foco de volta para Finn. Ele parece exausto —
cabelos espetados, camisa amassada e desabotoada no colarinho,
olhos cansados — quando ele normalmente é sempre a imagem da
perfeição. Bom. Pelo menos eu não sou o único que parece estar no
inferno.
Wif. Tump. Acerto.
— Por que você não estava lá hoje? — pergunto a ele a mesma
coisa que já perguntei três outras vezes, precisando ver seu rosto
desta vez quando ele responder.
— Você não confia em mim? — Sua voz é fria, mas que se foda.
— Estou descobrindo que confiança e lealdade não têm muito
valor nos dias de hoje — digo com um balançar de ombros que
significa um “foda-se” bem grande.
Ele dá um passo e se aproxima, agarra a rede para deixar os
braços acima da cabeça enquanto me encara através da barreira.
— Me disseram que a reunião começaria duas horas depois do
horário normal. Eu verifiquei duas vezes todas as minhas
anotações. Minhas mensagens de voz. Disseram três da tarde. Você
tinha um jogo começando às duas, então por que a reunião seria
depois de o jogo ter começado? Eu deveria ter entendido que
estava acontecendo alguma coisa, porra. Tillman é um babaca muito
escorregadio. Eu deveria ter questionado o porquê — diz ele com
uma sacudida de cabeça, em seguida passa a mão pelo cabelo. —
E Wylder, se você me insultar novamente e questionar minha
lealdade, você pode encontrar a porra de um novo agente.
A agressividade em seu tom me surpreende e me diz
exatamente o que eu precisava saber: ele está do meu lado.
— Sim, bem, algo estava definitivamente acontecendo — digo,
ignorando sua ameaça, minha risada segue carregada de sarcasmo.
Wif. Tump. Acerto.
— Easton, por favor, desliga essa merda para que a gente possa
conversar.
Eu mantenho seus olhos nos meus por mais um segundo antes
de virar para desligar o interruptor atrás de mim. O giro suave da
máquina desacelerando preenche o espaço enquanto caminho para
silenciar o toque do celular.
A tela é preenchida por chamadas não atendidas conforme eu
passo os dedos por ela. Repórteres. Colegas de equipe. Finn. Meu
pai. Para cada ligação deles, parece haver cerca de cinco de Scout.
Caixa-postal. Mensagens de texto. A visão disso faz meu peito doer,
porque uma coisa ainda permanece viva: ela me entregou.
Eu pego a garrafa para aliviar a dor, mas deixo o celular quando
saio da gaiola de rebatidas pela primeira vez em mais de três horas.
Eu vou direto para o banheiro sem dizer uma palavra a Finn.
Quando saio, ele parece me olhar mais de perto.
— Você está um trapo.
— Sim, estou, e a culpa é minha? — Encolho os ombros,
olhando para a parede com minhas camisetas da liga infantil. É
muito mais fácil olhar para lá do que para ele. — Só estou tentando
dar sentido a uma merda que não tem sentido algum… Então
parece coerente que eu esteja dessa maneira.
— Tillman, aquele fodido.
— Isso é um elogio para ele.
— O idiota não vai falar comigo até amanhã de manhã. Eu tenho
uma reunião às nove. Uma porra de reunião às nove! — ele grita. —
Como se você fosse algum jogador medíocre em vez do jogador
que é a cara do time.
— Isso é o que eu não entendo — digo e tomo um gole. — É
como se eles não tivessem nada arranjado. Como se eles nem
esperassem me trocar.
— Isso é o que estou tendo dificuldade para compreender. Tem
que haver uma pegadinha aqui que estamos perdendo — diz
enquanto dobra os braços e inclina os quadris contra a parede. —
Em todos os meus anos, quando uma troca é feita, dizem
imediatamente para fazer as malas e seguir para a próxima equipe.
Tudo o que eles me disseram foi para você limpar seu armário por
volta das dez de amanhã.
— Antes que os caras entrem — bufo. — Que jogada de merda,
bando de covardes. Que Deus me impeça de estar lá quando a
equipe chegar para ver quão desleal a porra do seu clube é com
seus jogadores. E quanto ao Boseman? Onde diabos ele estava
nisso tudo? — pergunto sobre o dono da equipe. O homem que tem
sido como um tio para mim e não está presente quando eu mais
preciso dele.
— Ainda naquela viagem à Amazônia, se reinventando ou
alguma merda típica de bilionários. Eu deixei mais de uma dúzia de
mensagens quando soube que não vou conseguir ficar cara a cara
com aquele idiota do Tillman até amanhã.
— Merda de uruca, cara — digo enquanto arranco a garrafa de
seu alcance quando ele vai tirá-la de mim.
— Caso você não saiba, são apenas seis horas, East — diz ele,
apontando para a sala sem janelas. — Você já bebeu uma garrafa
inteira hoje. Eu preciso que você se controle. Diminua um pouco.
— Ah, é por isso que você está aqui… Para estragar toda a
minha diversão?
Eu reviro os olhos.
— Eu preciso de você um pouco sóbrio de manhã.
Eu fico olhando para sua mão estendida, depois, com meus
olhos nos dele, lentamente levanto a garrafa até os lábios num ato
de rebeldia e sorrio.
— Não é como se eu tivesse que ir trabalhar ou fazer alguma
coisa do tipo.
— Nunca se sabe. Eles poderiam fazer você entrar em um avião
logo de manhã e te mandar para Deus sabe onde…
— Essa é a porra da questão aqui, Finn. Deus. Sabe. Onde.
Você sabe? — grito com ele, os braços estendidos para os lados, a
paciência, e o que parece ser minha sanidade, se foi horas atrás. —
Porque eu não sei merda nenhuma. E você também não. Quer
dizer, isso é tão fodido de tantas maneiras, e…
— Olha, eu sei que você está chateado, mas temos que fazer o
melhor…
— Chateado? — grito com toda a força dos meus pulmões. A
tentação de jogar a garrafa é mais forte do que a vontade de beber.
— Eu dei a porra da minha alma e a porra do meu coração aos
Aces, e para quê? Para quê? — É como se um tornado de raiva
estivesse passando por mim. — Para ser negociado?
— Eu sei, cara. Eu sei. Também não faz sentido para mim. Eu
estou com seu pai colado na minha bunda, a imprensa respirando
no meu pescoço e Scout se recusando a falar com qualquer pessoa
além de você. E enquanto isso, a porra da administração do clube
está aproveitando esse tempo para soltar os detalhes de sua troca.
Nunca vi nada assim.
Meus pés param quando ouço seu nome. A traição ainda é
recente e confusa, e não sei o que diabos pensar sobre isso, então
eu me levanto, depois sento e fico em pé novamente, incapaz de
permanecer parado.
O sorriso e o beijo que me deu quando saiu da minha casa mais
cedo está queimado na mente. Por que ela mentiria?
Mudo de assunto, porque não consigo mais pensar nela.
— E quanto à minha mãe? Como vou cuidar dela se vou…
— Nós vamos descobrir uma forma.
— E encontrar um lugar para morar…
— A maioria das equipes tem um bairro onde os caras em
transição ficam…
— E tem a… — E tem a porra da Scout.
Ou melhor, tinha a Scout.
Eu preciso me mexer para tentar diminuir o tamanho da revolta
no peito, sabendo que, independentemente do que tenha acontecido
entre nós, acabou. Finn me deixa em paz até que eu paro, deixo a
cabeça cair para frente e tento controlar tudo.
Sua mão está no meu ombro, apertando-o num gesto de apoio.
— Vamos lá para cima. Vou pegar algo para você enquanto toma
banho. Então nós podemos conversar um pouco mais se quiser. Ou
não.
— Nah. Estou bem.
Não tenho estômago para subir nas próximas horas. As luzes do
estádio estarão acesas para a equipe de limpeza. A última coisa que
eu preciso ver é como iluminam o céu, me lembrando do jogo que
perdi. O jogo que deveria ser o do meu retorno ao campo. Some
isso ao fato de eu não estar nem perto da condição ideal para
enfrentar as muitas peças de roupa e outras coisas que Scout
espalhou pela minha casa.
Afastando sua mão, começo a me mexer novamente.
— Vamos, me deixa pedir comida para você. Eu vou pegar um
pouco de sushi do seu restaurante favo…
— Não! — Mais drogas de memórias vêm à mente.
Scout no sofá experimentando sushi pela primeira vez. Scout
sentada entre minhas pernas assistindo a um filme. Scout lendo os
papéis dos biscoitos da sorte com a real probabilidade da minha
troca ser um pesadelo.
— Eu não estou com fome.
— Vamos, me deixa ajudar com alguma coisa, East — ele
implora.
— Descubra o que está acontecendo.
— Estou tentando…
— Eu sei, eu sei. Eu simplesmente não entendo por que ela
mentiu e disse que eu não estava cem por cento quando ontem à
noite, Jesus Cristo, hoje de manhã, porra… — eu falo mais para
mim do que para qualquer outra pessoa, perdendo a noção do
tempo nesta tumba de concreto. — Ela me disse que mal podia
esperar para me ver em campo novamente.
— Você dormiu com ela? — Finn pergunta enquanto começa a
juntar as peças através das minhas palavras. Acho que acabei
dando mole. Eu paro de andar por um momento e ignoro sua
pergunta.
— E se eles mudaram os termos do contrato dela? — Desvio
quando alcanço a base de lançamento e me viro. — E se eles
contaram a ela que Doc Dalton não conseguiria o contrato da
equipe?
— Eu pensei que você a tolerava apenas. — Ele vai mais a
fundo, ignorando minhas perguntas. — Eu pensei que você fosse
colocar aqueles seus fones de ouvido e escutar um dos seus
malditos audiolivros para passar o tempo para que não tivesse que
lidar com ela. O que diabos aconteceu, Easton?
Finn bloqueia meu caminho, e eu passo ao seu redor, mas não
antes que estenda a mão para agarrar meu bíceps. Meu braço
oposto está inclinado para trás, em um segundo o punho está pronto
para um soco. Meu humor está cansado de ser posto à prova.
Finn não vacila, embora eu precise muito obter algum tipo de
reação dele. Em vez disso, ele apenas mantém seu olhar no meu
por um momento antes de olhar para o meu punho, e depois de
volta para os meus olhos, levantando as sobrancelhas.
— Por favor, me diga que você não foi regiamente sacaneado
por sua fisioterapeuta por causa de algum tipo de vingança de
amante desprezada.
Eu abaixo o braço lentamente e esfrego o rosto, mas não
respondo.
— Você está brincando comigo? — pergunta com uma risada
incrédula enquanto viro as costas para ele e olho para uma foto do
meu pai e eu, ambos em nossas camisas dos Aces, no último dia
em que dividimos o campo juntos antes de ele se aposentar. Finn
geme, e eu posso segui-lo através do som que faz. — O que
aconteceu? Você se divertiu e depois acabou com tudo enquanto
ela esperava ir para algum lugar além do arco-íris com você?
— Não exatamente. — A visão de Scout em pé no meu quarto,
empurrando uma chapinha de cabelo em sua bolsa, com aqueles
sapatos sensuais e aquele sorriso tímido nos lábios, que ficaram
chocados e formaram um perfeito “O” quando eu pedi que morasse
comigo, preenche minha mente.
— Então o quê? Me dá a porra de uma pista, East, para que eu
saiba com o que estou lidando.
— Deixe pra lá.
— Não. Eu não vou deixar pra lá — diz ele, chegando na minha
cara e arrancando a garrafa da minha mão. — Este é o meu
trabalho. Revirar toda essa merda, para que eu possa descobrir o
próximo passo enquanto você entra em campo onde diabos
mandarem você. É assim que funciona. Então que porra aconteceu
aqui, Easton? Porque eu preciso saber por onde começar.
Com a mandíbula cerrada, balanço a cabeça, não querendo
admitir a derrota em voz alta. Posso ver as engrenagens de sua
mente girando, imaginando, tomando partido das coisas.
Finn dá outro palpite.
— Ela disse que te amava, você disse “nem fodendo”, e então
essa é a maneira dela de se vingar por você não querer se
comprometer com ela?
Meu orgulho está em guerra com a necessidade de dizer a ele a
verdade que prefiro não admitir.
— Na verdade, foi o contrário. — Minha voz é um sussurro, mas
o arregalar de seus olhos e a surpresa em sua expressão me dizem
que ele me ouviu de maneira alta e clara.
— Ah, merda — diz ele com compaixão.
— Sim — eu digo enquanto encolho os ombros e me afasto dele.
— Perdi meu time e a minha garota me fodeu no mesmo dia, então
me deixa em paz e me devolve a garrafa, beleza?
— Sinto muito, cara. Isso é foda pra caralho. — Ele me entrega a
garrafa e fica quieto, pensando tanto, que eu juro que quase posso
ouvir. Mas pode ser a bebida falando. — Ainda não faz sentido. Se
você não está cem por cento e não pode ser reintegrado, então os
Dalton não conseguem o contrato… Ou seja, a menos que aqueles
termos tenham mudado, ela se fodeu também.
— Exatamente — digo em um rosnado frustrado. — É por isso
que estou perdido.
— Há uma maneira de descobrir. — Ele aponta para o celular.
— Eu não quero falar com ela agora. — Eu luto, tentando me
fazer acreditar nisso.
— Puxa de uma vez o Band-Aid. É mais fácil saber do que ficar
imaginando.
— Não. — Sou inflexível. Ou pelo menos meu tom é, porque com
certeza eu quero afastá-la e puxá-la para perto, tudo ao mesmo
tempo.
Isso tem de ser o álcool falando.
— Eu vou te dar esta noite, mas vamos precisar que alguém diga
alguma coisa, já que Deus sabe que não vou confiar em uma só
palavra vinda da boca de Tillman pela manhã.
Eu resmungo em resposta:
— Podemos conversar amanhã, antes que eu entre na reunião.
— Finn dá alguns passos. — Você vai ficar bem?
— Sim. Vou fazer mais algumas rodadas com a máquina. — E
mesmo isso não parece mais uma fuga.
— Ok. Vou mandar alguma comida para você em breve. — Ele
olha para o relógio e depois volta para mim. — Vou tentar ver que
horas as luzes do estádio vão ser apagadas.
Ele sabe. Entende. E não acha que sou estúpido por isso.
— Obrigado, Finn.
— Descanse um pouco.
Eu vejo as portas do elevador se fechando atrás dele quando
esvazio o restante da garrafa. Minhas mãos doem pra cacete, mas
caminho para a gaiola mesmo assim. Posso lidar com esse tipo de
dor.
Estou acostumado com isso.
— Deve ser a porra dos papéis — a voz de Finn me assusta
assim que pego um novo taco para verificar se há alguma farpa. —
Eles têm que ter alguma pegadinha.
— O quê?
— Eu sabia que Tillman estava aprontando alguma. Eu sabia
disso no fundo quando peguei aqueles papéis que você assinou. Eu
queria ir direto a Boseman, mas você me disse para deixar isso para
lá… Mas, East, acho que essa é a chave de tudo.
— O quê? — Fala na minha língua, por favor.
Ele atravessa o espaço uma ênfase que me diz que descobriu
alguma coisa, mas não há muito para ficar animado, mesmo que
Finn esteja. Eu ainda estou sendo trocado. Ainda estou sendo
removido da minha vida aqui.
— Eu preciso que você pense muito sobre isso — diz ele, a voz
séria, os olhos intensos, tudo o que dou a ele em resposta é uma
risada.
— A garrafa está vazia. — Jogo para cima, e ela cai com um
baque na grama sintética. — Você acha que eu consigo me lembrar
de alguma merda agora?
— Estou falando sério, E. Quando você se machucou, me disse
que assinou alguns papéis. O clube enviou cópias para mim. Era um
documento de duas páginas com sua assinatura concordando com
tudo na segunda página.
— Não vem com essa merda de novo — eu gemo. — Chega de
chutar cachorro morto, Finn. Eu estraguei tudo. Assinei na linha
pontilhada, e agora estou sofrendo as porras das consequências
disso.
— É exatamente isso. Você assinou na linha pontilhada. Mas
quantas delas você assinou? Você sempre chamou de papéis, no
plural, e presumi que você se referia às duas folhas que recebi…
Mas isso me bateu agora… A forma como Scout disse “os papéis”,
como se fossem o começo e o fim de tudo. Você se lembra quantas
vezes assinou seu nome?
Minha cabeça está girando — do álcool e do que ele acabou de
perguntar. Eu penso naquele momento mais uma vez, e tudo que
me lembro é da dor, de ter apagado e, em seguida, de voltar ao
vestiário com papéis na minha frente; depois uma caneta foi enfiada
na minha mão e vi pontos brancos dançando na minha visão.
— Dane-se, Finn…
— É importante, Easton.
As palavras nas páginas estavam borradas. Minha necessidade
de remédio para entorpecer a dor superava a necessidade de
compreensão.
— Duas… Talvez três… Mas duas com certeza.
— Puta merda! — Fin bate palma, e o som ecoa pela sala. — O
merda do Tillman está por trás disso. Ele armou alguma coisa pra
você. Eu sei disso. Aposto seu rabo que Scout descobriu.
— E você não estava lá. — As palavras são acusatórias, embora
ele já tenha explicado o motivo. Estou farto de desculpas quando
meu mundo está virado de cabeça para baixo, primeiro por uma
jogada suja e agora pelo que parece ser um negócio sujo.
— Vou consertar isso — diz ele, mas eu fico só olhando,
sabendo que Finn não tem esse poder. — Se você não vai falar com
Scout, eu vou.
— Faça como quiser. Não vai mudar nada — resmungo.
— Mas terei munição quando for lá amanhã. — Ele pega o
telefone. — Qual é o endereço dela?
— Você não pode simplesmente ir embora?
— Ok. Certo. Estou no caminho certo. Eu posso sentir. Vou
conversar com ela, East, e investigar a fundo isso. — Seu sorriso
desaparece quando percebe que eu não estou tão animado por ele
ter descoberto alguma pista.
Eu não estou.
Estou arrasado para caralho.
Lágrimas queimam meus olhos, todavia afasto essa merda para
longe o mais rápido que posso, não vale a pena chorar.
As mulheres vêm e vão.
Equipes são equipes em qualquer lugar. Eu posso jogar mesmo
em outro lugar.
Porém não é apenas uma mulher qualquer. É Scout. E ela me
fisgou.
E não é apenas uma equipe. São os Aces. Aqueles cujo sangue
eu tenho dado desde antes de nascer.
O que diabos está acontecendo?
SCOUT
EU DEVERIA PEGÁ-LOS.
Os pequenos cacos de vidro verde espalhados pelo chão.
Lembretes de Scout. Das explicações que ela deu. As palavras que
lancei. De tudo que está quebrado.
Eu deveria pegá-los.
Mas eu não faço.
Eu fico no mesmo lugar em que estive sentado a noite toda. E
agora acho que a manhã toda também. Cabeça latejando.
Estômago revirando. Olhos encarando.
O estádio vazio. Aquele que não aguentei ver iluminado na noite
passada está vazio agora. Um mausoléu de memórias da minha
carreira. Eu alcanço a nova garrafa de uísque, mas apenas passo
os dedos pela borda, sabendo que não preciso de mais nada.
Mesmo assim tomo um gole. Inclino a garrafa nos lábios para
afogar a voz na minha cabeça.
Opções de troca formalizadas. Correspondência com Dallas
sobre negociar seu passe.
Para bloquear a expressão em seu rosto e a esperança que
lentamente se desvaneceu de sua voz com cada acusação que eu
joguei contra ela.
Pedidos para trocarem você. Havia um e-mail para o gerente…
Você iria jogar para eles.
Posso culpá-la o quanto quiser, mas eu fiz isso. Eu soube que
isso aconteceria um dia. Que meu segredo arruinaria algo que eu
amava.
Mas não assim.
Não com esse tipo de consequência.
Eu só tive alguns segundos, Easton. Segundos.
O céu está cinza, sombrio e miserável.
Eu estou apaixonada por você.
Outro gole. Então mais um.
Há muito barulho. Em minha mente, no coração.
Por que você assinou os papéis? Por que Finn deixaria você
concordar com isso? Por que ele não estava lá hoje?
Não há sol para iluminar o céu como normalmente acontece. Os
tons de rosa e laranja que encheram o horizonte ontem enquanto
fazíamos amor lento e doce se foram.
Eu esfrego a mão no rosto. Tento apagar a memória, porque dói
pra cacete. Os suspiros suaves. Os gemidos guturais. O cheiro de
sua pele. A sensação de seus lábios.
Eu estou apaixonada por você.
— Puta que pariu, Wylder — digo a ninguém, sabendo que
deveria pensar no jogo.
Sobre para onde estou indo. Sobre o que vou sentir quando
limpar meu armário. Sobre o que vou dizer para minha mãe quando
vou dirigir até lá para vê-la e prepará-la para minha partida.
Mas estou sentado aqui pensando em Scout. Sobre a posição
em que a coloquei. Sobre a decisão que ela tomou. Sobre como eu
a culpei porque é muito mais fácil do que dizer a verdade.
A garrafa parece pesada em minha mão. É tão tentador, mas
opto por beber ao invés de jogá-la longe como fiz com a outra.
A luta em mim acabou.
Terminou quando Scout saiu.
Quando eu a mandei para longe.
Quando eu a forcei a assumir a culpa.
Eu estou apaixonada por você.
Ela realmente quis dizer isso
O que importa agora?
Scout ainda me traiu. Ela não lutou por mim.
Então por que devo lutar por ela?
Levante-se, Easton. Tome um banho. Vai se limpar. Comece a
empacotar suas coisas.
Pare de me machucar.
Meu celular toca novamente. É a terceira vez em uma hora.
Eu desisto. Cedo. Paro de lutar.
— Finn.
— Acabei de receber a papelada. O que ela disse a você ontem
à noite está certo. É Dallas. Os repórteres estão loucos por uma
explicação, então Tillman vai participar de uma entrevista coletiva às
oito e meia para anunciar a negociação. Eu estarei lá, e então vou
persegui-lo durante a porra da nossa reunião e exigir ver toda a
documentação. Eu quero ver o que aquele babaca mandou você
assinar e…
Ele continua divagando, mas tudo que ouço é Dallas. Eu deveria
sentir alívio.
Devo ser capaz de respirar um pouco mais tranquilo sabendo
para onde estou indo. Ela estava certa. É perto o suficiente para que
eu ainda possa cuidar da minha mãe. Está perto o suficiente para
que eu possa voltar para casa. É a segunda melhor opção para
estar em Austin… E ainda assim não serei mais um Ace.
A única certeza em minha vida não está mais lá.
— … e vou avisá-lo quando Boseman voltar, vou colocá-lo a par
de toda a merda obscura que ele jogou para cima de você. Eu quero
as bolas do Tillman pregadas numa parede por…
— Cancele a reunião, Finn.
— O quê?
— Não há necessidade de lutar contra isso. Quando e onde devo
me reportar aos Wranglers?
— Eu não estou entendendo. O que está acontecendo?
A mesma coisa que fiz durante toda a minha vida. Desviar.
Evitar. Distrair.
— Terminou. Acabou. Aceite os termos. Reserve um voo para
mim. Ou eu vou dirigindo até lá. Qualquer que seja a merda que
eles escolherem. Apenas me diga quando eu preciso me reportar ao
time, e eu estarei lá.
— Mas Cory precisa ser…
— Sem reunião, Finn — eu digo com firmeza enquanto os dedos
de uma mão apertam o gargalo da garrafa e os da outra encerram a
ligação.
O céu ainda está cinza.
Tenho a sensação de que vai ficar assim por um tempo.
Mas isso é por minha conta.
Não por Cory.
Não por Finn.
Não por Scout.
Tudo por minha conta.
A culpa é pior do que o medo.
Mas não há necessidade de discutir mais.
Eu posso lidar com isso.
Afinal, eu mesmo provoquei essa situação.
SCOUT
— AH, VAMOS LÁ. VOCÊ PODE FAZER MELHOR DO QUE ISSO — ENCORAJ
pressiono a perna de Dillinger, sua panturrilha repousando no meu
ombro.
Ele faz uma careta e sibila um longo suspiro baixo enquanto
estico os tendões contraídos que ele trabalhou demais na semana
passada.
Eu ouço os comentários sussurrados de alguns dos rapazes. Eu
precisaria ser surda para não os ouvir. Estou mais do que ciente do
que parece para eles a posição do meu corpo com Dillinger — como
se eu estivesse tentando montá-lo —, mas ainda assim não me
importo. Este é o meu trabalho. Fazer com que ele melhore antes de
ir lançar nesta noite. Cada vitória conta para os Aces manterem a
posição, e com a temporada lentamente terminando…
— Posso ser o próximo? — Eu olho para onde Santiago está, e
então volto minha atenção para Dillinger, enquanto eu alivio a
pressão e desço sua perna.
Movendo-me da minha posição entre suas coxas, eu olho para
trás para Santiago.
— Eu não sabia que você estava machucado.
— Eu não estou, mas se você está distribuindo um alongamento
de graça como esse, pode me colocar na fila. — Ele sorri, e tudo
nesse comentário faz minha pele arrepiar.
— Há uma fila muito longa e bem distinta à sua frente, Santiago.
Caras que realmente precisam de mim. Então sugiro que você vá
para o final da fila. Se eu tiver tempo, veremos como resolver seus
problemas, mas tenho certeza de que dar um jeito nisso aí está
acima do meu nível salarial. — Eu levanto as sobrancelhas e
apenas olho para ele, para que saiba que não vou levar desaforo de
ninguém.
Dillinger assobia baixo e suave enquanto Santiago estreita os
olhos, até que se vira e vai embora.
— Nem todo mundo aqui é idiota — diz ele, chamando minha
atenção. — Mas parece que muitos deles estão agindo como tal
ultimamente.
— Já estou acostumada — eu digo e dou um aceno de cabeça,
tentando manter a fachada profissional de garota durona. Ao mesmo
tempo, estou aliviada por saber que não estou vendo coisas que
não existem. A superabundância de toalhas sendo acidentalmente
deixadas cair quando entro no vestiário. Os comentários sugestivos
e sarcásticos aqui e ali. As ofertas para encontros, apesar das
minhas recusas constantes. Coisas que nunca aconteceram quando
Easton estava aqui, com seu compromisso comigo claro, embora
pensássemos que estávamos sendo discretos. — Você está bem e
totalmente alongado? Pronto para rebater esta noite?
Arregaçar o jogo. Eu sorrio e penso em Easton.
— Sempre. — Ele me oferece um grande sorriso antes de ir para
a parte principal do vestiário.
— Você está bem? — Drew pergunta ao mesmo tempo em que
encosta no batente da porta.
— Sim — digo enquanto solto um suspiro, mas o olhar em seu
rosto diz que não está acreditando.
— Tem certeza?
— Sim. Obrigada. Posso te ajudar com alguma coisa? —
pergunto, esta pequena visita é fora do comum para ele.
— Easton está com boa aparência. Forte. Só aquele filho da puta
sortudo voltaria a campo em um novo time após tanto tempo
ferrado, acertaria três homers e chutaria todas as pessoas que
tentaram sacanear ele em sua primeira semana de retorno. É como
se ele fosse um super-herói ou algo assim. — Ele ri com um aceno
de cabeça.
— Não diga isso a ele, ou nunca conseguiremos que seu ego
passe pela porta.
— Não é? Você está acompanhando os jogos dele?
— Claro. — Ofereço um sorriso malicioso. — Vocês jogam lá
fora, e eu sento aqui e o vejo pelo telefone.
— Traidora. — Desta vez sua risada é alta e chama mais a
atenção dos caras.
— O mesmo pode ser dito da gestão desta equipe e o que
fizeram com ele.
— Sim. O pessoal ainda não aceitou isso. Todo mundo está
nervoso. Se eles podem fazer isso com Easton, o próprio sr. Ace,
então podem e vão fazer isso com qualquer pessoa. Isso não
contribui para o moral da equipe.
— Como poderia?
— Há rumores de que Cory está na mira. Acho que Finn
finalmente conseguiu falar com Boseman, e ele está chateado com
o que Cory fez a East. Parece que ele nunca aprovou a troca. A
porra da mão esquerda não sabe o que a mão direita está fazendo,
e ainda assim alguém foi punido.
— Tão eloquente — digo revirando os olhos, mas estou mais
intrigada do que nunca. Finn está tentando tirar o seu da reta? Ao
aconselhar Easton a assinar aquele adendo, ele foi o único
responsável por permitir que o clube tomasse uma decisão como
essa. E o fato de que ele ainda representa Easton faz meu
estômago doer.
Mas não é por isso que Drew está aqui para falar comigo. Dá
para notar que há mais coisas, e estou curiosa para saber sobre o
que se trata, então converso um pouco até que ele solte.
— Eu sei que tem sido difícil para você. Os caras estão sendo
idiotas, fazendo merda constantemente e andando igual pavões nus
por aí.
— Não é nada que eu não possa suportar — digo. — Vou fazer
algumas piadas sobre quão pequenos são seus paus, e antes que
você perceba, as toalhas vão ficar no lugar e tudo vai parar.
— Sim, mas você não deveria ter que lidar com isso. Você está
sendo profissional, e eles estão agindo como babacas sexistas.
Pelo menos Drew é preciso em sua descrição.
— Vamos torcer para aqueles babacas sexistas nunca se
machucarem, porque eu não serei tão gentil com eles como eu serei
com você.
Mas eu preciso controlar isso. E o mais rápido possível. Ou então
Cory vai pensar que sou incapaz de realizar o programa de
fisioterapia.
— Eu gosto do jeito que você pensa. — Drew me encara e
morde o lábio inferior por um momento antes de chegar ao seu
ponto. — Eles sabiam que você estava dormindo com East, então
simplesmente presumiram que você tem uma queda por jogadores
de beisebol. Eu acho que eles estão pensando que podem ter uma
chance com você também.
Eu bufo diante de quão ridícula essa ideia é, mas então percebo
que ele não está brincando.
— Não há nenhuma chance disso. Eu ainda estou com Easton.
— Hum. — É tudo o que ele diz.
A desgraça do som faz meu estômago bater na ponta dos pés e
permite que a dúvida surja, quando não houve nenhuma desde que
ele saiu.
Claro, eu sinto falta dele. Claro que odeio saber que Easton pode
estar em um bar com seus novos companheiros de equipe e que
uma mulher pode estar dando em cima dele… Mas isso pode
acontecer aqui também. Aquele pequeno “hum” na garganta de
Drew faz cócegas na minha e traz à tona as inseguranças
adormecidas.
— Há algo que você não me contou? — Eu me odeio por
perguntar isso, e estou bem ciente de que esse movimento
prejudica meu profissionalismo; ainda assim, mantenho o silêncio e
aguardo sua resposta.
— Nah. Easton é um cara legal. É que nunca o vi assim por uma
mulher.
— Então… O quê? Você queria sondar um pouco e ver se eu
aceitaria alguma oferta de um dos caras? Para se certificar de que
sou fiel a Easton? Eu aprecio sua lealdade, mas as coisas entre nós
estão bem resolvidas.
O toque do meu telefone interrompe a conversa. Eu não faria
nada além de silenciar e enviar a chamada para o correio de voz,
mas quando vejo o número de Sally no telefone, sinto medo e
respondo o mais rápido possível.
SCOUT
— VOCÊ ESTÁ BEM? EU NÃO CONSEGUI FALAR COM VOCÊ O DIA TODO. —
me afundar no som de sua voz e fingir que são seus braços me
envolvendo. E saber que ele está presente faz as lágrimas que
ameaçaram cair o dia todo queimarem meus olhos novamente.
— Sim. — É tudo que consigo dizer além de balançar a cabeça
sem entregar o quanto eu preciso de Easton agora.
Seus olhos castanhos se estreitam e se enchem de preocupação
através da chamada pelo FaceTime.
— Scout?
— Foi apenas um dia difícil. — Coloco um sorriso no rosto e
limpo a garganta. — Meu pai foi levado para o hospital, então passei
a maior parte do dia lá, sentada e olhando para ele enquanto
dormia… — Eu continuo a explicação de tudo que aconteceu.
— Lamento não poder estar aí com você. — Seu sorriso é suave
e sincero, e eu sinto falta de tudo nesses lábios. — Mas ele vai ficar
bem? Quer dizer… Por enquanto.
— Sim. Meu pai vai voltar para casa em um ou dois dias. Assim
que os pulmões estiverem um pouco mais limpos… Mas o médico
disse que provavelmente acontecerá novamente. E então mais uma
vez. Cada vez será pior, até que…
Easton apenas balança a cabeça para me mostrar que entende.
— Eu sinto muito.
— Tudo bem. Foi apenas um dia daqueles.
Ele me encara através do silêncio da conexão, vendo quão
cansada me sinto, sem saber que está me oferecendo tudo que eu
preciso bem agora. Easton. Só Easton. Parece que é tudo que
preciso hoje em dia.
— Ai, meu Deus — eu digo com um aceno de cabeça e me
afasto do meu estado de tristeza. — Você fez outro home run esta
noite. Você está indo muito bem.
— Shh — diz ele rapidamente, de forma quase infantil, os olhos
mostrando um aviso que me faz rir mais do que eu deveria.
Eu levanto as mãos em sinal de rendição.
— Desculpa. Como eu pude esquecer das superstições do
beisebol? Se você falar sobre isso pode azarar.
— Tipo isso. — Seu sorriso é contagiante.
Eu sinto falta da sensação dele contra meus lábios.
Sinto falta da fricção de sua barba por fazer contra minha pele.
Sinto falta dele.
— Você assistiu ao jogo?
— É claro. Eu assisti a todos os jogos. Este assisti com meu pai.
Contra todas as ordens da enfermeira, fiquei ao lado dele em sua
cama e nós assistimos juntos. Ele criticou tudo que você fez, você
sabe, né?
— Claro que criticou. — Easton ri. — Como me saí na Escala
Dalton?
— Ele acha que você está bem. A rotação do braço. A força nos
lançamentos. Tudo. Quer dizer, como ele pode não achar isso
quando você tirou Jenkins tentando roubar…?
— Venha me visitar neste fim de semana. — O jeito que Easton
fala interrompe toda a minha linha de pensamento.
— Mas eu pensei que o plano era…
— Mudança de planos. E eu sinto sua falta.
Fique calmo, meu coração saltitante.
— Eu vou estar em Nova York. Os Aces têm uma pausa de dois
dias, e sua próxima parada é Nova York, então você chegará mais
cedo. Passe o fim de semana comigo. Eu preciso ver você.
Meu coração dispara, e minha resposta é automática.
— Sim.
Sua risada é sonolenta.
— Melhor trazer aqueles brownies de pontos junto.
Eu rio pelo que parece ser a primeira vez em todo o dia.
— Você ganhou tantos deles, Wylder, que pode começar a me
chamar de Betty Crocker, a personagem cozinheira.
Melhor ainda, Betty Paucker.
EASTON
DROGA!
É realmente tão patético que no minuto em que Scout entra no
saguão do hotel cada parte de mim ganha vida? Meu coração. Meu
pau. A droga da minha respiração.
A saia e as botas de caubói que está usando apenas encorajam
todas as fantasias que já tive. As mesmas que estão se repetindo na
cabeça desde que saí de casa.
Já se passaram dez longos dias. Alguns, cheios pela emoção de
retornar a campo em minha melhor forma e outros, de decepção por
dormir em uma cama vazia todas as noites.
Olhando em volta, ela ajusta sua bolsa no ombro. Um homem
passa e vira a cabeça para dar uma segunda olhada.
Cai fora, babaca. Ela é minha.
Pego meu telefone e digito: Ei, Betty Crocker, vire para a direita.
Estou na cabine dos fundos.
Ela sorri quando a mensagem chega em seu telefone antes de
seguir em direção ao bar chique. Leva um segundo para seus olhos
se ajustarem à iluminação mais escura, mas assim que me vê, seus
lábios se curvam naquele sorriso tímido antes de seguir em minha
direção.
Eu vejo seus quadris balançarem. O formato das suas pernas. O
movimento de seus peitos. E cada parte de mim exige que eu me
levante e não perca tempo para tirar vantagem disso e muito mais,
mas, puta merda, eu quero saboreá-la também.
— Este assento está ocupado? — ela pergunta, os olhos me
devorando, apesar do tímido sorriso em seus lábios.
Então é assim que vai ser? Manda ver, Kitty.
— Depende. Está? — Meus olhos percorrem todo o comprimento
de seu corpo, meu pau endurece com a dimensão de quão viciante
é tudo aquilo que está coberto pelas roupas.
Scout inclina a cabeça para o lado e me encara por um instante.
Seus olhos cinza me dizem muito mais do que seus lábios.
— Depende do que você tem em mente.
Minha risada é rica, mas tensa.
— Ah, eu tenho um monte de coisas na cabeça, querida, mas
sou um homem de ação. Prefiro fazer em vez de simplesmente falar
sobre elas.
— E que tipo de coisas você… gosta de fazer? — A voz sai
entrecortada, sem fôlego. Seus mamilos endureceram contra o
tecido da camisa.
— Por que você não se senta e descobre?
Ela olha para onde eu dou um tapinha, no assento ao meu lado,
e depois volta o olhar para o meu rosto.
— Meu pai me ensinou a nunca falar com estranhos.
Eu rio enquanto levanto o conhaque até os lábios, os olhos fixos
nos dela através da borda do copo.
— E o meu sempre me disse quão importante é fazer novos
amigos.
Ela sai do personagem por um momento — o sorriso cada vez
maior, a cabeça balançando — antes de estender a mão e continuar
a farsa.
— Kitty. Prazer em conhecê-lo.
— Easton. Acredite em mim, Kitty, o prazer é todo meu.
Ela desliza para a poltrona ao meu lado, e nós nos encaramos
por alguns segundos, os olhos dizendo o que nossos corpos
imploram.
— Oi — ela finalmente diz.
— Oi.
— O que o traz à cidade?
— Eu jogo beisebol.
— Com os grandes tacos e bolas, esse tipo de beisebol? —
Finge inocência, e é adorável para caralho.
— Algo assim. — Mordo a bochecha, gostando desse jogo.
— Você sempre bebe antes de jogar? — Ela aponta para o meu
copo.
— Só quando estou comemorando.
— E o que exatamente você está comemorando, Easton?
Juro por Deus, o tom sem fôlego em sua voz se assemelha a
unhas arranhando levemente minhas bolas. É tão sexy.
— Nós chegaremos a isso em um momento — murmuro,
apoiando o cotovelo no encosto. Eu passo meu dedo sobre o lábio
inferior. Preciso de algo para ocupar as mãos, pois tudo o que elas
querem fazer é tocá-la. — E você? O que te traz à cidade?
— Eu sou confeiteira.
Minha risada é alta, mas ela mantém o personagem.
— O que você cozinha, Kitty?
— Brownies.
— Brownies?
— Aham.
— Você sabia que, por acaso, eu amo brownies? — digo
enquanto me rendo à tentação de tocá-la. Minha mão em sua coxa,
e caralho, tocá-la me faz querer acelerar este jogo, apesar de ter
prometido para mim mesmo que iria devagar.
— Mesmo? O que exatamente você ama neles? — Eu fico
olhando para seus lábios enquanto ela fala e os imagino em volta do
meu pau.
O batom vermelho deixando sua marca.
— Eu gosto da massa — digo e olho ao redor do restaurante
para ter certeza de que estamos fora das vistas de alguém, porque
não posso mais me conter. Scout está aqui, ao meu lado, bancando
a tímida, e caramba, é claro vou fazer algo sobre isso.
Que homem não faria?
— A massa? — Ela se mexe um pouco, assim como fez na
cabine da minha caminhonete, com o joelho dobrado no assento, o
corpo inclinado para o meu.
E é claro que olho para baixo. Preciso. As coxas bronzeadas e
tonificadas me cumprimentam. Minha boca enche d’água. Meu pau
endurece. Meu controle está sendo testado.
— Aham — murmuro enquanto coloco a mão exatamente onde
quero passar a língua, subindo pela parte interna de sua coxa e
deslizando para cima, a saia se amontoando enquanto eu movo a
mão.
Seu corpo fica tenso, e eu adoro que Scout me quer tanto quanto
eu a quero. Sexo pelo Skype é divertido. Me masturbar vendo-a
gozar é quente. Mas não é a mesma coisa. Não é como isso. O
toque. O perfume. A reação. Não chega nem perto.
— Eu gosto de enfiar meu dedo nela.
Puta. Merda. Meus dedos passam muito suavemente sobre sua
boceta, e tudo que sinto é o calor de sua pele.
Scout não está usando calcinha. Sua respiração fica presa. Seus
dedos apertam a toalha da mesa. Suas pernas se abrem um pouco
mais.
— Então passo o dedo nas bordas da tigela para que fiquem
cobertos de massa. — Deslizo o dedo entre os lábios e gemo
quando a encontro molhada. Sua boca se abre. Suas coxas se
apertam quando mergulho o dedo mais profundamente. — E então
eu gosto de colocar na boca. Chupar tudo. — Eu levo o dedo para
cima de novo, para acertar o clitóris. Suas mãos se fecham agora.
Os quadris se levantam levemente, as coxas batem na parte de
baixo da mesa e imploram por mais, pois faço exatamente o que
disse. Afasto a mão e coloco o dedo na boca.
Puta que pariu.
Seu sabor. É o suficiente para levar um homem são à loucura.
Adicione a isso o olhar em seu rosto — sexo puro —, e eu sei
que nossa farsa acabou.
Eu me inclino para frente e pressiono meus lábios nos dela. Uma
provocação em forma de beijo, que me dá uma dica do que estou
perdendo e reafirma que preciso do restante. Agora mesmo.
— Eu acredito que quero mais dessa massa, linda Kitty —
murmuro contra seus lábios.
— Sendo você um homem de ação, sugiro que faça o que quiser.
— Não aqui — eu digo, amando como seus cílios se agitam. —
Esse lugar é muito respeitável para as coisas que pretendo fazer
com você.
— Oh.
— Você perguntou o que eu estava comemorando, agora é a
hora de mostrar a você.
Eu jogo algumas notas sobre a mesa, pego sua bagagem de
mão do assento, e com sua mão na minha, tento andar tão
discretamente quanto possível com uma ereção do tamanho do
Texas.
Entramos em um elevador, e no minuto em que as portas se
fecham, estou em cima dela. Lábios, língua, mãos e corpo. Somos
uma massa de desejos e necessidade misturados com puro querer.
Pressionando-a contra a parede, é como se eu não pudesse me
aproximar o suficiente. Minha mão está sob sua saia. Minha língua
está entre seus lábios. Sua mão está segurando meu pau. O
elevador diminui a velocidade no meu andar. Soa o apito. Nós nos
separamos como se alguém fosse nos flagrar. Felizmente, quando
as portas se abrem, não há ninguém por perto. Com a sua mão na
minha, vamos para o meu quarto. Não falamos nada. Movimentos
rotineiros parecem difíceis quando estou nas alturas com a
sensação do seu gosto na minha boca.
Eu penso em ações. Uma por vez.
Um pé na frente do outro.
Cartão-chave. Luz verde.
Maçaneta. Girar.
E no minuto em que a porta se fecha atrás de nós, continuamos
o que começamos. Estamos em um frenesi de roupas saindo e
lábios tentando se encontrar.
Somos uma ladainha de frases quebradas. Meu Deus. Senti
saudade. Depressa. Eu não posso esperar mais. Isso é bom. Oh,
Deus. Agora. Já.
Foda-se essa merda lenta.
Não estou nem aí mais.
Meus dedos estão em sua boceta. Suas unhas, cravadas em
meus ombros.
Seu orgasmo é meu objetivo final.
Minha língua desliza sobre ela. Provocando o clitóris. Indo ao seu
centro de prazer. Então deslizando para dentro dela. O gosto dela é
minha própria dose.
As marcas de arranhões nas minhas costas são o único troféu
que preciso.
Meu pau deslizando entre seus seios. Em seguida, seus lábios o
envolvendo. Chupando. Para cima e para baixo. Suas unhas
provocando minhas bolas.
Um vale-tudo.
Empurrando suas coxas para trás. Enterrando meu pau. Até seus
músculos ficarem tensos. Sua boceta pulsando. O gemido
preenchendo o quarto.
Uma corrida até o final.
A onda de prazer. A onda que vai das minhas bolas até o pau.
Minha visão fica turva. A cabeça fica tonta.
Seu nome em meus lábios.
E então, quando nos recuperarmos, começamos tudo de novo.
Talvez aí eu possa ir devagar. Talvez eu não me sinta tão fora de
controle. Talvez eu fique saciado de Scout.
Então, quem sabe, talvez não.
Afinal, é a Scout.
SCOUT
A DOR.
É brutal para caralho.
Eu tomo um comprimido de oxicodona.
Isso a afasta temporariamente.
A cirurgia foi um sucesso.
A voz do doutor Kimble ressoa em meus ouvidos. O olhar de
esperança no rosto de Scout fresco em minha mente. Mas já passou
uma semana, e a dor ainda é perversamente grande.
Os aplausos do estádio do lado de fora do meu apartamento são
uma porra de um tapa na cara toda vez que os ouço. As notas de
abertura de “Welcome to the Jungle” ecoando até onde estou
sentado. Os fogos de artifício do campo depois de uma vitória.
Todos são lembretes do que estou perdendo. Daquilo que posso
estar perdendo.
— Tem certeza de que está bem?
Olho para o meu pai, que está agindo como uma babá. Como se
não fosse humilhante. Mas Scout está trabalhando — com os Aces
—, e eu estou aqui.
Quebrado.
Ferido.
Completamente fodido e sentindo pena de mim mesmo.
— Tenho algumas notícias que podem animá-lo — diz ele,
tentando soar otimista.
— Nada vai me animar a menos que você me diga que Santiago
foi atropelado por um ônibus. Ele é a razão de tudo isso. Ele iniciou
essa reação em cadeia. O filho da puta. — Sua cabeça gira com
minha honestidade, mas eu não me importo.
Não estou bem. Eu vim para o fundo do poço, e se eu continuar
tomando oxicodona como estou, posso querer ficar lá.
— Não foi assim que te criei. — O aviso é dado, e eu preciso me
conter para não dizer que não foi ele que me criou, mamãe, sim.
Mas estou lúcido o suficiente para saber que é estúpido, então
mordo a língua e resisto ao desejo de descontar minha infelicidade
nele.
Quando não digo mais nada, ele continua:
— Eu acho que Boseman vai demitir Tillman.
Eu deveria estar feliz com esse anúncio, me sentir vingado, mas
tudo que sinto é despeito.
— Um pouco tarde demais para mim. Não vai ajudar de qualquer
maneira. Além disso, ele é outra pessoa que precisa ser atropelada
por um ônibus — digo sem remorso, as pílulas começaram a fazer
efeito, começaram a me relaxar, embora tudo o que eu sinta seja
raiva.
— Filho.
— Não venha com essa de “filho” pra cima de mim. Não fode
comigo. Você está me ouvindo? Sua vida estava girando tanto em
torno do seu próprio umbigo, que estou surpreso que você não
esteja enxergando somente as coisas que te interessam. Você não
tem o direito de me julgar.
— Eu vou te dar uma colher de chá. Só desta vez — ele retruca.
— E atribuir isso às drogas e à dor. Mas você precisa se lembrar de
com quem está falando, seja você um homem adulto ou não.
Nós nos encaramos, meu pai com aquela expressão calma e
passiva, e isso é tudo menos a discussão que estou buscando.
— Desculpe, não consigo ser tão perfeito como você.
Sua risada é tingida de um sarcasmo que não entendo.
— Eu sou tudo menos perfeito, Easton. Quanto mais velho fico,
mais aparente isso se torna.
Um rugido abafado de gritos atravessa a janela vindo da direção
do estádio. Eu cerro os dentes e aperto os olhos por um momento
enquanto tento encontrar uma dose de civilidade.
Não tem sido uma tarefa fácil nesses últimos dias.
— Pai, estou bem. Scout estará de volta em breve. Você pode ir.
— Eu não acho…
— Eu só vou dormir. Por favor.
Todo mundo precisa me deixar sozinho, caralho.
— Tem certeza?
— Sim.
Ele enrola um pouco, tenta protelar, mas finalmente o elevador
fecha as portas.
Silêncio. Finalmente.
Eu tomo outro comprimido de oxicodona. Fecho os olhos e
espero que a calma chegue até mim.
O lado bom é que estou de volta a Austin. Estou com Scout.
Consigo dormir em minha própria cama.
O lado ruim é que não consigo nem a abraçar. Eu a vejo sair
para trabalhar todo dia para o filho da puta que me ferrou. E eu não
vou poder jogar o jogo que adoro até a próxima temporada.
Frustrado. Temperamental. Puto. Eu mudo para a cadeira perto
da janela e vejo o que não posso ter.
A única boa notícia do dia é que o carma acordou.
Espero que ele encontre Tillman com força total.
E talvez faça um pequeno desvio e acerte as contas com
Santiago no processo.
SCOUT
— EI, SCOUT.
Minhas costas enrijecem imediatamente ao som de sua voz.
— O que posso fazer por você, Santiago? — pergunto enquanto
me viro para encará-lo, nunca ficando de costas para ele mais do
que alguns segundos.
— Ouvi dizer que é uma grande noite para aquele seu namorado.
Ele vai tentar se tornar útil.
Pela visão periférica, vejo alguns dos outros caras parando o que
estão fazendo em seus armários e virando em nossa direção.
— Você não precisa de nada? — pergunto, de forma inocente.
Não vou dar a esse babaca o que ele quer — a chance de me
irritar.
— Aposto que papai armou isso para ele. Não é? Com todas
essas conexões, aposto que ele armou para que seu filho
maravilhoso mantenha o precioso nome Wylder no centro das
atenções.
— Tenha uma boa noite. — Eu dou a ele um doce e enjoativo
sorriso enquanto me viro e sigo em direção ao meu escritório.
Quando paro na minha mesa, Tino aparece e fica parado na porta.
— Você está bem?
— Por Deus, não sei como você consegue compartilhar o mesmo
uniforme com ele todas as noites, ainda mais na mesma porra de
campo — digo.
— É um trabalho. — Ele encolhe os ombros. — Sempre haverá
colegas de trabalho que você odeia, apenas temos que lidar com
isso. Não há mais nada que se possa fazer.
— Isso é que é levantar o moral da equipe. Vai, Aces! — Com
sarcasmo em meu tom, levanto o punho em um gesto de zombaria.
— Acredite em mim, a maioria sente o mesmo. Nossa única
esperança é que Boseman expulse Tillman e, em seguida, jogue
Santiago para fora junto com ele.
— Dedos cruzados esperando que ele realmente faça isso,
porque com certeza isso deixaria o meu trabalho muito mais fácil.
Tino olha por cima do ombro quando um dos caras ri alto antes
de olhar para mim.
— Como ele está? — ele pergunta, a voz baixa.
— Não vai admitir, mas acho que está nervoso.
— Por quê? Ele já fez isso centenas de vezes antes com o canal
local.
— Eu sei. — Eu me lembro das palavras murmuradas de
encorajamento que dei a Easton quando ele me deu um beijo de
despedida antes de ele ir pegar seu voo esta manhã. — Mas,
mesmo assim, ele está nervoso.
— Muitos de nós estamos indo para o Slugger’s para assistir a
transmissão e beber um pouco em apoio silencioso a Easton antes
de irmos esta noite. Você é bem-vinda se quiser vir.
Meu sorriso é automático.
— Obrigada, mas tenho trabalho a fazer aqui, então
provavelmente vou ver de casa.
— Não consegue lidar com toda essa testosterona, hein? —
provoca.
— Em alguns dias, não.
Meu joelho sobe e desce quando ouço as notas familiares do jingle
da Fox Sports. Não é sempre que realmente assisto a um jogo na
televisão. Normalmente, estou estudando um jogador que estou
reabilitando para ver como ele está se saindo e o que preciso fazer
no tratamento. Eu nunca ligo a televisão apenas para assistir aos
canais e programas esportivos.
Mas hoje é diferente.
Hoje Easton está dando um grande passo para fora de sua zona
de conforto, e como disse na mensagem que enviei há uma hora,
estou muito orgulhosa por ele fazer isso.
A câmera faz uma panorâmica pelo campo — a grama verde, as
linhas brancas e os jogadores circulando — antes que o âncora
principal comece a falar.
— Bem-vindo a mais uma noite de verão com beisebol aqui na
Fox, senhoras e senhores. O céu está claro, a pipoca está
estourando, e os bastões estão balançando aqui no Amco Park para
o passatempo nacional favorito dos Estados Unidos — diz ele
enquanto a câmera muda para os dois sentados em uma cabine de
transmissão. Eu grito como uma colegial quando vejo Easton.
Eu sei que sou tendenciosa, mas ele está tão bonito com o fone
de ouvido e um sorriso que apenas as pessoas mais próximas a ele
podem perceber que contém traços de seu nervosismo.
— Obrigado por sintonizar com a gente. Eu sou Bud Richman e
esta noite tenho um convidado especial, Easton Wylder, dos Austin
Aces e, mais recentemente, dos Dallas Wranglers, para conversar
conosco durante o show antes do jogo. Obrigado por se juntar a
nós. Como está o ombro?
— Bom. Sarando — diz ele, os olhos indo e voltando da câmera
para Bud.
— Você está pronto para uma boa batalha de tacos esta noite?
Easton sorri.
— Isso é, com certeza, o que se esperaria do confronto de hoje à
noite.
— Diga-nos, Easton, como jogador, como você avaliaria qualquer
equipe se fosse jogar com eles?
Easton fala por alguns minutos sobre o arremesso e o campo, e
posso vê-lo começar a relaxar fisicamente. Há camaradagem entre
ele e Bud, e isso é agradável e não exagerado.
Easton soa carismático e experiente, e tenho certeza de que
seus comentários são bons para os espectadores masculinos,
enquanto sua aparência é mais do que agradável para as
espectadoras do sexo feminino.
— Estamos a poucos minutos do primeiro arremesso, senhoras e
senhores, então, sem mais delongas, vou deixar Easton ter a honra
de anunciar as escalações iniciais.
A câmera gira de Bud para Easton, e há um silêncio total
enquanto o rosto de Easton parece congelado como um animal no
meio da rua. Seus olhos se arregalam e entram em pânico quando
ele diz “ahn” algumas vezes antes de olhar para Bud em busca de
ajuda.
São apenas alguns segundos, mas meu coração pula na
garganta com o olhar no rosto de Easton.
— Opa, desculpe por isso, Easton. Parece que esquecemos de
mostrar ao novato como operar os controles aqui na cabine. Eu
odeio quando fazemos isso. — Ele ri como um profissional
experiente enquanto eu grito para a TV sobre como eles puderam
colocar Easton na cabine de imprensa sem mostrar os malditos
controles. — Nesse ínterim, começando para os Colorados Rockies
esta noite, rebatendo primeiro e jogando no campo central…
Bud continua passando por ambas as escalações, enquanto eu
vou para a sala de estar. Tenho certeza de que Easton está lívido e
envergonhado, e tudo que eu quero fazer é consertar isso para ele.
Isso é uma grande confusão da parte da Fox, e eu tenho certeza de
que Finn vai dar a eles suas opiniões sobre isso se ele já não estiver
no telefone fazendo isso.
A transmissão vai para um intervalo comercial sem a câmera
focar em Easton novamente, e uso todo o autocontrole que tenho
para não pegar o telefone e ligar para ele, para tranquilizá-lo e lhe
dar apoio.
Quando o intervalo acaba, a câmera passa a maior parte do
tempo no campo antes de finalmente se concentrar no lugar de
Easton, ali ao lado de Bud, sua postura um pouco mais rígida do
que antes, as feições um pouco mais estoicas. Bud continua a falar,
e desta vez quando Easton responde, suas falas não têm a energia
de antes. É quase como se ele estivesse se segurando ou com
medo de elaborar suas respostas. O desconforto dele chega em alto
e bom som até o espectador.
Eles falam sobre os arremessadores e o que esperar de cada
equipe para a noite, e então Bud encerra o bloco.
— Quando voltarmos, fãs de beisebol, veremos o primeiro
arremesso com os dois times que pode acabar sendo uma prévia
para os playoffs da Liga Nacional. Easton, por que você não puxa
uma pausa e conta para a galera de casa tudo sobre os nossos
patrocinadores?
E quando a atenção volta para Easton, ele está congelado
novamente.
Quase como se uma vez que a câmera focasse nele, não
pudesse falar. Bud olha em sua direção e ri baixinho.
— Sinto muito, Easton. Parece que a cabine não quer funcionar
para você hoje. Estou dando instruções a Easton aqui para ele ler o
teleprompter e não está funcionando. Nós vamos fazer esta pausa,
e eu farei o contato com nossos patrocinadores quando voltarmos.
Fiquem ligados para uma noite emocionante de beisebol, pessoal.
E quando eles passam para o comercial, eu me forço a respirar.
Isso não é bom.
Não é bom mesmo.
Eu espero ansiosamente que eles voltem do intervalo, e quando
eles voltam, o jogo começa.
Bud começa a narração. Ele fala sem parar, e qualquer
comentário adicional de Easton só é adicionado quando Bud
pergunta a ele.
Sua personalidade não aparece. Sua participação é forçada.
É um desastre.
Quando o nono inning chega ao fim, e esse desastre acaba, tudo
que eu continuo a pensar é: eu o forcei a fazer isso.
Eu deveria ter recuado? Eu não deveria ter falado com Easton
sobre isso quando ele já não estava confortável antes?
PUTA MERDA!
Boseman realmente fez isso. Esse é o pensamento recorrente
enquanto me inclino contra a parede do lado de fora do vestiário
para organizar a cabeça após o telefonema que recebi. Claro que
preciso ligar para Easton — contar para ele, caso Boseman não
tenha dito pessoalmente —, mas primeiro preciso de alguns
segundos para processar as ramificações disso.
O que isso pode significar para mim e o que significa para
Easton.
Um vestiário lotado não é exatamente o lugar onde posso fazer
isso. E só de pensar nisso, assovios e gritos soam através da porta
fechada enquanto ela faz um movimento de vai e vem. O som me
coloca em ação. Eu preciso pegar minhas coisas e ir para casa,
para que eu possa comemorar com Easton este momento que foi
um presente do carma.
Bem quando pego a maçaneta para abrir a porta do vestiário, me
surpreendo ao ver dois pares de ombros curvados conversando
sobre algo em tons baixos. Cal e Santiago. Que merda é essa? Cal
me vê primeiro — olhos arregalados e boca aberta em um perfeito
O. Antes que ele possa dizer alguma coisa, eu saio para o vestiário,
desconfortável e confusa sobre o que estão falando. Novamente.
Não é da sua conta. Basta pegar sua bolsa e telefone e ir para
casa.
Mas não consigo parar de pensar nos dois e no que poderiam
estar discutindo. Mas, até aí, Cal trabalha para os Aces. Ele poderia
estar dando a Santiago a mesma notícia que acabei de receber.
Tillman se foi, e é melhor ele se cuidar.
Mas o pensamento não me cai bem.
Cal não iria esperar e deixar Santiago descobrir sozinho quando
Boseman fizesse o anúncio oficial?
— Rapazes, vamos torcer para que a pontuação de Tampa
permaneça onde está, porque aí é um negócio fechado — J.P.
comemora, tirando sarro dos caras e assustando, me fazendo sair
de uma espiral de pensamentos sobre algo que provavelmente não
é nada. Querer saber dos hábitos sociais de Santiago não merece
ocupar um segundo do meu tempo.
— Playoffs, aqui vamos nós — grita Riddell em um conjunto
estridente de comemorações.
— Grande jogo esta noite, pessoal — acrescento à conversa
quando entro em meu escritório, pego minha mochila e saio tão
rapidamente quanto entrei.
— Você vai assistir ao restante do jogo de Tampa com a gente no
Slugger’s? Vamos ligar para East para nos encontrar lá, e podemos
comemorar.
— Eu não tenho certeza de quais são os planos dele — eu digo,
embora saiba muito bem que Easton não está pronto para enfrentar
o público, ainda mais depois do desastre da Fox. Mas talvez ele
queira comemorar com seus ex-companheiros de equipe depois que
eu contar a ele as boas notícias. — Vou ver quando chegar em
casa.
— Você sabe que quando ela fala assim — brinca Drew —
significa que vai rolar um pouco de mambo horizontal.
— Ah, pelo amor de Deus — Eu rolo os olhos e rio.
— Nah. Eu duvido. — A voz de Santiago soa alta e clara. Ele
deve ter entrado no vestiário quando eu estava na minha sala. Eu
continuo caminhando para a saída, determinada a não o deixar
estragar meu bom humor. — Easton está muito ocupado lambendo
as feridas depois de fazer papel de idiota na TV na outra noite. Uh.
Uh. Duh. Uh — ele gagueja, zombando de Easton.
Que escroto. Meus pés vacilam. Minha raiva cresce.
— Vaza, Santiago. — Acho que é Tino ou talvez J.P quem diz.
Não tenho certeza porque estou muito ocupada vendo tudo em tons
de vermelho.
— Você não pode esconder a burrice. — Ele segue o comentário
sarcástico com uma risada que irrita todos os meus nervos. — Isso
diz muito sobre seus padrões, Scout.
— Não faça isso! — grito para Drew e seus punhos cerrados. A
última coisa que ele precisa, com os playoffs ali na esquina, é de
uma suspensão da equipe por bater a merda fora de Santiago.
Mas eu cansei disso. Estou farta desses comentários de merda
de Santiago. Ainda bem que a advertência de suspensão não se
aplica a mim.
— Ei, Santiago — eu digo alto o suficiente para chamar a
atenção e chocar os caras todos. As toalhas param de secar, e as
camisas são arrancadas sobre as cabeças enquanto subo no banco.
— Esse truque realmente funciona para você? Essa forma sua de
ficar falando mal do cara que esteve aqui antes para distrair os
outros do fato de que suas estatísticas nunca serão iguais às dele?
Você só pode sonhar em atingir números como aqueles. Quer dizer,
tem uma razão pela qual seu contrato vale a metade do valor do que
Easton tinha. Isso te consome por dentro? Você e seu ego enorme?
Quanto tempo mais você acha que isso vai durar? Você acha que
quando Boseman encontrar um novo gerente geral ele vai tolerar
isso? — Eu amei o olhar chocado em seu rosto. Os olhares
assustados dos caras ao meu redor. Eu acho que acabei de fazer o
anúncio eu mesma. — Ah, você não sabia disso? Foi mal. Pensei
que era sobre isso que Cal estava conversando com você no
corredor. Sim. Seu tempo é limitado aqui. Boseman demitiu Tillman.
Isso mesmo. Apenas a única pessoa do seu lado nessa organização
se foi. — Meu sorriso é presunçoso enquanto balanço a cabeça em
desgosto. — Então se você quiser falar sobre estupidez, você pode
querer se olhar no espelho, considerando que se esforçou para não
fazer um amigo aqui. E, opa, o único amigo que você tinha se foi.
Ele dá alguns passos em minha direção, os ombros orgulhosos,
o corpo mostrando uma linguagem defensiva; seu rosto é uma
máscara de indiferença. Eu sei muito bem, eu atingi Santiago e seu
ego sensível.
— Você é uma vadia, sabia?
Os caras vieram para perto, ao meu redor, com os punhos
cerrados. Eu não preciso de uma distribuição gratuita de socos por
aqui quando os repórteres estão do lado de fora. Não no meu turno.
Eu pulo do banco e me aproximo dele. Claro que Santiago é
mais alto que eu e pesa uns vinte quilos a mais, mas estou tão farta
de sua babaquice, que eu não me importo.
— Eu posso ser uma vadia, mas você é invejoso — digo. —
Deve ser de foder querer ser igual ao homem que você nunca vai
ser. Você tentou afastá-lo, você tentou tomar seu lugar, e eis que ele
ainda é melhor do que você. Isso realmente deve te deixar puto. O
talento de Easton supera sua mediocridade todo dia.
O músculo em sua mandíbula estala, e cada parte dele se eriça
com minhas palavras que atingem um pouco perto demais a
verdade. Ele dá um passo em minha direção, me ameaçando com
seu tamanho. Os caras dão um passo para mais perto, mas eu não
me movo. Apenas fico olhando para Santiago, me recusando a
recuar.
Existem vantagens em ser criada entre um monte de homens, no
final das contas.
— Encosta um dedo em mim. Por favor, estou implorando. Eu te
desafio a tentar, porque aposto que Boseman vai perdoar cada um
deles por arrebentar você inteiro caso você coloque a mão em mim.
Ele é cavalheiro nesse nível.
Santiago apenas fica olhando, o pomo-de-adão balançando
enquanto ele tenta se controlar apesar das feridas que eu cutuquei
propositalmente.
— Covarde — murmuro. Uma última ferida. O idiota merece.
Ele arruinou meu bom humor.
— DESCULPA NOVAMENTE.
— Não precisa se desculpar.
Eu desvio o olhar de meu iPad, na cama, e encaro Easton. Ele
acabou de sair do banho, calças de pijama muito baixas em seus
quadris — tão baixas, que deveria ser ilegal — e o cabelo ainda
molhado.
Definitivamente não se desculpe se esta é a visão que recebo
como um prêmio de consolação.
— Sou eu que devo pedir desculpas. Eu sei que isso tem sido
difícil para você, tudo isso, mas até eu ouvir vocês três conversando
esta noite, não acho que tenha entendido exatamente quão difícil. —
Franzo o rosto porque sei que parece estúpido. — Quer dizer, é
claro que entendi, mas depois de ouvir Derek descrever as lesões e
a recuperação, continuei pensando em você e em como deve se
sentir passando por isso uma segunda vez em menos de um ano.
Deve ser enlouquecedor.
— Isso é pouco — Easton diz e torce os lábios enquanto pensa.
— Mas desta vez é diferente. Não me sinto tão isolado como da
primeira vez.
— Por quê? — Eu achei que seria exatamente o oposto. A
temporada mudou. As equipes seguiram em frente. A pós-
temporada está logo ali.
E Easton basicamente perdeu tudo isso.
— É claro que me sinto deixado de lado. É como se eu estivesse
com as crianças populares e então, de repente, fosse deixado de
fora de tudo, olhando para uma vida que costumava viver.
— Mas você estará de volta na próxima temporada.
Easton encolhe os ombros.
— Esperançosamente. Mas, como eu disse, é diferente desta
vez.
— Por quê?
— Porque eu tenho você. — As palavras fazem meu coração
perder uma batida, a naturalidade com que Easton diz me faz
derreter de uma forma que nunca imaginei ser possível.
Eu fico olhando para Easton, nossos olhos se fixam um nos
outros, e eu gaguejo quando tento responder corretamente a um
comentário como esse, tentando não soar como uma idiota, porque
é assim que me sinto agora. Ele já tinha dito que me ama — e nada
pode tirar o que essas palavras significam — e ainda assim, por
algum motivo, essas palavras simbolizam mais para mim. Talvez
seja a situação, talvez o momento, mas independentemente de
tudo, não acho que já o amei mais do que agora.
— Obrigada — eu finalmente respondo, tocada além das
palavras.
— Não precisa me agradecer se é verdade. — Esse sorriso
presunçoso está de volta. — Me conta, o que mais você descobriu
esta noite?
— O quanto você realmente ama esse jogo.
Easton franze as sobrancelhas e ri.
— Eu pensei que você já soubesse disso.
— Eu sabia… Mas esta noite. Eu não sei, ouvindo você falar…
Eu podia ouvir na sua voz. Na sua risada. Seu amor por todas as
coisas do beisebol estava mais do que óbvio.
— Nós conversamos sobre beisebol o tempo todo. — Easton
encolhe os ombros.
— Verdade, mas não desse jeito. — Eu balanço a cabeça e olho
para fora da janela por um momento antes de olhar de volta para
ele. — Sua voz, nessa noite, a paixão pelo jogo estava presente…
Você demonstrou o mesmo carinho naquela noite na cabine de
transmissão antes de tudo mais acontecer.
— Hum. — Ele dá alguns passos e para na minha frente, com as
mãos nos quadris e olhos nos meus. — Não me lembro da última
vez que meu pai parou apenas para conversar. Não houve crítica.
Questionamentos. E, bem, Derek. Há muito o que aprender com a
experiência dele. Então muito que posso aprender com ele.
Eu sorrio.
— Só você para pegar uma conversa simples e transformá-la em
uma chance de se tornar um jogador melhor.
— O minuto em que você se contenta é o minuto em que perde a
vantagem.
— Isso se aplica a todas as coisas, sr. Wylder? — Meu tom é
sugestivo, meu sorriso, tímido. Easton observa meu dedo trilhando o
interior da minha coxa.
Sua língua escapa para molhar o lábio inferior.
— Você está me dizendo que estou perdendo minha vantagem,
Kitty?
— Mmm. — Eu olho para baixo, para onde seu pau está
endurecendo contra o tecido solto da calça antes de passar os olhos
por seu corpo de dar água na boca. A vista nunca me cansa.
Quando encontro a diversão em seus olhos, preciso de todo meu
esforço para bancar a sedutora quando minha paciência é quase
inexistente. — Não tenho certeza. Eu posso precisar que você
demonstre seu conjunto de habilidades para que eu possa julgar por
mim mesma.
— Eu tenho um conjunto de habilidades muito bom.
— Isso ainda precisa ser analisado, sr. Wylder.
Sua risada desliza sobre minha pele e me faz pensar em como
sua língua me faz sentir quando faz exatamente a mesma coisa. Ele
dá outro passo para frente e sem aviso deixa cair as calças no chão.
O pau dele ganha vida, e vê-lo — e ter o conhecimento do que ele
pode fazer em mim — causa arrepios na minha pele.
— Mostre seus seios, Kitty. — Sua voz é como um afrodisíaco.
Eu propositadamente faço um show ao morder meu lábio inferior
enquanto alcanço a bainha da camisa e a tirar por cima. O gemido
dele é tudo que preciso ouvir para saber que ele aprecia o fato de
eu estar sem sutiã e minha calcinha não ser nada além de tiras
segurando um pedaço de renda no lugar.
— Isso aí deveria ser ilegal — diz ele.
— Eu? — eu pergunto, fingindo inocência enquanto abro mais as
pernas. — Ou minha calcinha?
— Tudo isso — ele murmura enquanto caminha entre elas e
passa um dedo muito suavemente sobre o calor do meu sexo.
Meu suspiro é audível, a sensação de seu toque viciante quando
olho para ele.
— Você está querendo ser preso, então?
— Qualquer homem que se preze não hesitaria em ser preso se
significa que ele poderia provar você.
— Devo levar isso como um aviso, então? — Eu gemo quando
ele desliza um dedo por baixo da minha calcinha e para cima e para
baixo na minha fenda antes de entrar.
— Você pode levar da maneira que quiser, desde que você
entenda que quando digo qualquer homem, quero dizer eu. — Ele
adiciona outro dedo e os usa em mim, movendo-os e, em seguida,
deslizando-os novamente para fora. Ele pega minha excitação e a
esfrega ao longo de todo o comprimento do seu pênis antes de se
acariciar. — Só eu.
Deus, ele é sexy. Sua cabeça está jogada para trás, seu bíceps
saliente enquanto ele bombeia sua mão sobre seu eixo e geme de
prazer.
— Ei, Easton. Você precisa me foder para me mostrar seu
conjunto de habilidades. Não sua mão.
E tão rápido quanto digo, ele agarra meus tornozelos, me puxa
em direção a ele, e então faz algum movimento complicado onde ele
me vira de barriga para baixo na beira da cama antes que eu possa
gritar de surpresa. É só quando a palma da sua mão pousa
firmemente na minha bunda que faço um som. E desta vez é um
grito quando a emoção de prazer versus dor corre pelo meu sangue
e incendeia cada parte de mim.
Sua mão se fecha em meu cabelo enquanto a barba por fazer
em seu queixo passa por cima do meu ombro.
— Você quer ser fodida?
— Deus, sim. — Minha resposta é um apelo sem fôlego. Este
lado dominante dele é tão diferente do que estou acostumada. É tão
quente.
Ele esfrega a cabeça de seu pênis para cima e para baixo em
minha fenda e eu me aperto para que ele saiba o quanto eu o quero.
E oh, como eu quero.
Sua risada é profunda e ressoa pelo quarto antes de se
transformar num gemido de contenção enquanto ele lentamente
entra em mim.
— Tudo bem? — ele murmura, calor na minha orelha, uma vez
que ele está todo dentro de mim.
— Aham.
Essa risada novamente.
— Bom, porque é a última vez que vou perguntar. Não estou no
clima para uma noite suave e lenta, Scout. Eu quero você. Simples
assim. E eu vou pegar você. Você entendeu?
Eu esfrego minha bunda contra ele em resposta e
conscientemente acendo um fogo que queima todo seu controle.
E quando ele se move, não há nada de gentil nisso. Ele define
um ritmo acelerado que eu não consigo acompanhar, mesmo se eu
quisesse. Estou tão perdida na felicidade de ter seu pênis e sentir o
que ele faz comigo, que é preciso todo o meu esforço para evitar
que minhas pernas se transformem em gelatina.
Graças a Deus estou deitada, ou eu entraria em colapso.
Ele me leva ao meu clímax e, em vez de se retirar —
desacelerando para que eu possa surfar nas ondas suaves —,
continua, mantém o movimento, então antes que eu perceba, já
estou preparada para outro orgasmo.
Eu deslizo meus dedos entre minhas pernas e esfrego o clitóris
para me ajudar a gozar. Eu sei que ele está perto também. Ele tira a
mão do meu cabelo e a leva ao meu ombro para me segurar no
lugar enquanto mete por trás.
Ele promove um ataque total aos meus sentidos.
O som de seu gemido. O barulho da pele contra pele. Meus
choramingos de prazer. É tão bom, que beira a dor.
A sensação de seu pênis. Sua cabeça desliza sobre todos os
pontos certos dentro de mim. O aperto possessivo de sua mão. O
cheiro de seu shampoo. O cheiro de sexo. Isso me cerca.
Me consome.
Meu nome é repetido a cada investida sua. Cada vez soando
mais tenso, mais como se seu controle estivesse prestes a se
romper.
E quando isso acontecer, estarei pronta. Pronta para ele. Ele
move os quadris, e seus dedos marcam minha pele com seu aperto.
— Jesus Cristo — diz ele enquanto se inclina para frente e deita
o peito em cima das minhas costas, seu queixo no meu ombro, sua
boca perto da minha orelha. — Scout… Você… Droga… — Ele
ofega e dá um beijo na minha nuca.
— Mmm. — Eu me deleito com o calor de seu corpo e a
sensação de sua pele na minha.
— Viu? Mesmo com apenas um braço bom, eu não perdi minha
vantagem — ele diz com uma risada, uma vez que recupera o
fôlego.
— Um conjunto de habilidades como esse tem que ser ilegal —
provoco.
— Bem, se vamos para a cadeia, podemos muito bem infringir a
lei de novo e de novo, para que possamos garantir nosso lugar.
— Isso significa que da próxima vez usaremos algemas?
— Gosto da maneira como você pensa, Kitty. — Eu grito quando
ele se endireita e bate na minha bunda. — Trabalho em equipe na
sua melhor forma.
SCOUT
Foda-se isso.
Foda-se o médico.
Vou jogar. Nenhum médico vai me dizer como meu braço deve
ficar quando fui eu quem jogou com ele durante toda a minha vida.
Eu conheço meu corpo melhor do que ninguém. Eu sou o melhor
juiz para saber se posso ou não continuar jogando.
Mas a cada passo, cada esquina que viro enquanto caminho pela
cidade para clarear minha cabeça, a raiva se transforma em
descrença.
Chego ao complexo esportivo, os campos da liga infantil ao meu
redor.
Equipes de todas as idades estão treinando no calor da tarde.
Ouve-se o tilintar do bastão de alumínio. O riso das crianças. As
instruções e reprimendas dos treinadores.
A descrença começa a se transformar em compreensão.
E eu não quero isso.
Meus pés diminuem a velocidade, e começo a observar os
arredores. Eu tenho estado aqui dezenas de vezes. Eu me sentei na
minha colina gramada no campo esquerdo e assisti a jogos e treinos
enquanto limpava a cabeça, mas, pela primeira vez, eu realmente
presto atenção.
À minha esquerda, um pai faz algum tipo de dança boba para
fazer sua filha rir antes de jogar a bola para ela. Ela erra a rebatida,
se confunde um pouco depois e então, quando joga a bola de volta,
a envia para longe dele. Mas enquanto ele corre atrás da bola, diz
um monte de elogios. Quão forte está o braço dela. Como ela será
uma grande jogadora da terceira base algum dia com esse tipo de
força.
Não há pressão. Sem expectativas para cumprir. Apenas um pai
e uma filha jogando bola. Criando um vínculo. Passando tempo
juntos.
À minha direita está um time de meninos mais velhos, do ensino
fundamental. Três pais estão coordenando a prática. Suas
instruções são um pouco mais duras do que as do pai com sua filha,
mas cada palavra é positiva. Eu continuo a observá-los enquanto
eles praticam as jogadas em duplas. De novo e de novo.
Meus pés pararam de se mover. Eu não quero sentar no campo
externo hoje. Eu quero sentar bem aqui, no meio disso. Coisas que
não lembro de ter experimentado com meu pai, mas sei que quero
experimentar com meus filhos algum dia.
Meus filhos?
O que diabos estou pensando? Eu nunca quis filhos.
Você nunca quis Scout também.
Mas quanto mais eu fico no ponto central dos quatro campos ao
meu redor, mais eu percebo que há vida depois do beisebol.
Há coisas que quero ser capaz de fazer.
É o começo do último tempo.
— Você tem uma grande decisão a tomar nos próximos meses,
sr. Wylder.
Contagem cheia.
Eu quero arriscar?
Bases com seus jogadores prontos.
Ou quero um futuro em que possa participar plenamente? Jogar
meus filhos para o ar. Fazer amor com minha esposa em qualquer
posição que eu quiser, com dois braços saudáveis. Trabalhar no
jardim. Jogar bola com meu filho. Ou filha.
O arremesso é feito.
Eu olho para tudo ao meu redor. Tantas coisas fora de foco antes
e que agora estão ficando claras para caralho.
O que você vai fazer, Easton?
Estou me cagando de medo. Tenho meses para decidir. Nada é
concreto. O amor da minha vida pode ter mudado de um esporte
para uma possibilidade.
Strikeout?
Estou sendo medroso?
Ou jogar para a grade?
Então, novamente, eu posso não ser nada disso.
E acertar um home run.
Eu puxo meu boné para baixo e olho em volta novamente.
Absorvo tudo. A amargura que senti antes no consultório do dr.
Kimble ainda está aqui. A sensação de pânico fazendo cócegas
constantemente na parte de trás do meu pescoço.
Pego meu telefone e fico olhando para ele por alguns minutos,
morrendo de medo de fazer essa ligação.
Eu clico no botão para fazer a chamada.
SCOUT
O céu fica roxo e laranja quando o sol se põe, e meu pai e Easton
falam sobre todas as coisas imagináveis — minha infância, seu
ombro, beisebol —, até sobre o cofre de armas na garagem. Sally e
eu conversamos pela primeira vez, desde muito tempo, sobre
tópicos que não tem nada a ver com a doença do meu pai, e isso é
tão bom. Atrevo-me a dizer quase normal.
— Tem certeza que precisa ir? — Sally pergunta.
— Infelizmente. Tenho um voo cedo para Los Angeles amanhã
— eu digo olhando para meu pai novamente e vendo as olheiras de
exaustão.
— O primeiro jogo da World Series — murmura meu pai, e eu
adorei saber que ainda há esse olhar nostálgico em seus olhos
quando se trata dos jogos. Estou grata por sua doença não ter tirado
isso dele.
— Sim — eu concordo. — A única coisa que faria ser melhor é
se Easton estivesse jogando. — Olho para ele e sorrio, sabendo que
ele sente a mesma coisa.
— Lembre-se do que eu disse, Easton — meu pai diz com um
aceno de cabeça. — Seu corpo conhece suas limitações. Ouça o
que ele diz e você tomará a decisão certa.
— Sim, senhor — diz Easton, e me pergunto sobre o que
exatamente conversaram enquanto Sally e eu tínhamos entrado
para pegar mais bebidas.
Meu pai estava dando conselhos a Easton sobre seu ombro?
— Foi um prazer conhecer vocês dois. — Ele dá um passo à
frente e dá um grande abraço em Sally e então aperta a mão do
meu pai. Meu pai se inclina para frente e diz algo no ouvido de
Easton que não consigo ouvir. Easton encontra seus olhos em uma
troca de palavras não ditas. Ele o segura um pouco mais do que o
normal e sorri com um aceno de cabeça como se ele estivesse
agradecendo por coisas que só eles entendem.
— Talvez possamos fazer isso de novo em breve. Nos encontrar
novamente. Agora que a temporada acabou e vocês dois estarão
por perto.
— Eu adoraria — eu digo, meu coração esperando ter muito
mais desses momentos com eles agora que tudo está esclarecido.
— Vocês podem me dar um minuto com Scout? — meu pai
pergunta.
— Vou acompanhá-lo até o carro, Easton. Você pode ter
esquecido o caminho, considerando que o carro está bem à sua
frente — Sally brinca quando me viro para meu pai.
— Eu só queria lembrá-la de que você pode aceitar ou recusar o
contrato. Esse contrato era o meu sonho e meu objetivo, e quero
que você tenha os seus próprios. — Ele aperta minha mão.
— E se os meus forem iguais aos seus? E se eu quiser continuar
o seu legado?
— Eu adoraria isso — diz ele com um sorriso suave enquanto
seus olhos se fecham momentaneamente. Quando ele os abre, há
uma clareza que não espero. — Obrigado pelos meus presentes.
— Presentes? Mas eu só tinha um.
— Nah, você me deu dois dos maiores presentes que eu poderia
ter pedido: saber que você vai ficar bem… E ver você apaixonada.
Eu o abraço o mais forte que posso para que ele saiba que essas
palavras foram o maior presente que ele poderia ter me dado em
troca. Saber que ele tem a certeza de que vou ficar bem.
— Amo você, papai.
— Mente limpa. Coração completo, menina Scouty. Nunca
esqueça isso.
— Nunca.
SCOUT
ESTÁ TARDE.
O estacionamento é uma cidade fantasma.
Não tenho certeza de quanto tempo fico sentado na caminhonete
olhando para as paredes de concreto cinza da garagem do meu
prédio, mas eu não posso subir para o apartamento ainda.
São tantas porras de mentiras, que não consigo entender todas
elas.
No que acreditar. No que não acreditar. Como minha mãe pode
ser tão fodida, que ela ainda acha que meu pai vai voltar para
buscá-la. Como eu compartilho o mesmo sangue com Santiago
quando eu o desprezo.
Eu saio do carro. Os olhares nos rostos do meu pai e de
Santiago gravados em minha mente. E então minha mãe. Seu amor
lamentável por um homem que nunca vai voltar por ela. E minha
esperança patética de que isso tudo seja um sonho.
— Easton.
Estou a meio caminho do elevador. Eu estou aqui, na terra de
ninguém — tão perto de casa —, e cerro os dentes.
Eu não quero fazer isso agora.
Eu não quero vê-lo.
Eu não quero enfrentar isso.
— Easton.
Eu perco o controle.
— Você não conseguiu manter o pau dentro da calça, não é? O
grande, malvado, o melhor jogador de beisebol do mundo tinha que
foder qualquer coisa com duas tetas, um buraco e um batimento
cardíaco para manter seu complexo de deus a toda velocidade.
— Não era assim. Podemos subir? Ir a algum lugar privado?
— Ah, claro. Você quer manter isso em segredo, então nós não
estragaremos a imagem que você tem de ser o sr. Perfeito… Bem,
parece que você não é tão perfeito assim, não é mesmo?
Ele dá um passo em minha direção.
— Precisamos conversar, filho.
— Não venha com essa de filho pra cima de mim! — Eu me viro
para encará-lo pela primeira vez, e, assim como minha mãe, ele
parece ter envelhecido cem anos esta noite. Ele parece velho.
Cansado. Quebrado. E o fato de eu me importar só me irrita ainda
mais e alimenta meu fogo. — Quantos outros irmãos eu tenho, pai?
Talvez eu tenha uma irmã em Dallas. E outro irmão em Nova York.
Porra, talvez haja um em cada cidade em que você já jogou. Que
sorte a minha.
— Não foi assim, Easton. A mãe dele nunca me disse nada além
do fato de estar grávida. Eu nem sabia que era um menino, para
começo de conversa.
— Deixa que eu adivinho. Ela disse que estava grávida, e você
queria se livrar do “pequeno problema”, então você desembolsou
algum dinheiro para que ela pudesse fazer um aborto. Qualquer
coisa para evitar arruinar sua reputação. E, vejam só, ela não fez o
que lhe disse que ia fazer.
— Easton. — Seus olhos se estreitam enquanto ele dá um passo
em minha direção. — Quem diabos você pensa que eu sou?
— Eu não sei mais. — As palavras são as mais calmas que
pronuncio, mas por sua careta, eu sei que elas machucam mais do
que qualquer outra coisa.
— Não foi desse jeito. Eu juro que não foi. — Ele passa a mão
pelo cabelo e olha em volta para se certificar de que ainda estamos
sozinhos. — Ela me disse que estava grávida, mas não queria que
eu tivesse qualquer participação na vida do bebê. Que não era justo
com minha família e não era justo com ela e com o bebê. Oferecer
apenas metade de mim para cada um de vocês.
— Quão conveniente.
— Estou falando sério. Eu nem sabia sobre ele até que ele me
procurou no início deste ano. — Ele sabe há meses e não me
contou, porra?
— E daí? Você disse à mamãe que tinha uma outra feliz mamãe
esperando por você e aí arruinou nossa família de qualquer
maneira?
— Não foi assim — ele repete pelo que parece ser a centésima
vez.
— Então como foi? Me esclareça. Por que você não me diz como
foi jogar fora uma vida normal ao lado do seu filho porque você foi
egoísta demais para o colocar na frente de tudo?
— Não estou orgulhoso do que fiz, mas…
— Muito nobre de sua parte assumir alguma responsabilidade,
Cal.
— Eu tentei esconder de você que sua mãe estava bebendo —
diz ele, falando por cima do meu sarcasmo.
— Ela não começou a beber até depois que você nos deixou.
— Você não sabia que ela bebia até então porque eu te poupei
disso. Escondi de você.
— Isso é uma porra de uma mentira, e você sabe disso! — grito
no topo dos meus pulmões.
Ele vai culpar minha mãe? Foda-se ele.
— Pense nisso, Easton. Lembre-se de quando você era criança,
mas olhe a cena com os olhos de um adulto.
Eu fico olhando para ele e rejeito as palavras que ele está
dizendo, apesar das memórias aleatórias que elas desencadeiam e
que nunca fizeram sentido. Ele ir me buscar na escola de surpresa
para que pudéssemos passar a noite em um hotel mesmo que fosse
dia de semana e eu tivesse aula. A lata de lixo que tilintava como se
estivesse cheia de garrafas de vidro e eu tinha de ajudar a arrastá-la
até a entrada da garagem. Sua única explicação era que eram
garrafas de cerveja dos caras que vinham jogar pôquer, só que
nunca me lembrava de ter visto ninguém vindo. Viagens de carro de
última hora com o time quando eu deveria ficar em casa porque já
tinha perdido muita aula.
Eu não quero acreditar em nenhuma das memórias porque isso
significa que ele está dizendo a verdade, e agora a verdade dele
não é algo que eu confie.
— Sua mãe tinha dois amores. Você e o álcool. Ela se casou
com a garrafa e não tinha lugar para mim. — Há dor em seus olhos
que me recuso a reconhecer. — Talvez eu seja o responsável por
isso. Talvez minhas viagens e deixá-la com um menino cheio de
energia eram demais para ela aguentar. Eu nunca vou saber,
Easton. Mas em um período de seis anos, passamos de uma família
amorosa a uma onde ela me excluiu. Eu não estou querendo
desculpar o que diz, mas eu estava sozinho. Meu caso teve a ver
com outras coisas além do sexo. Tinha a ver com companheirismo.
Era sobre ter alguém com quem conversar no final do dia. Era
errado? Sim. Havia maneiras melhores de lidar com isso? Com
certeza. Mas eu mantive nossa família unida o máximo de tempo
possível, e então Maria engravidou.
Então ela tem um nome.
— Maria — eu sussurro, odiando o jeito que soa na minha
cabeça.
— Sim — ele balança a cabeça. — Sua mãe encontrou a carta
que Maria havia escrito, me dizendo adeus e que ela não queria que
eu a procurasse mais ou o bebê depois que nascesse. Sua mãe e
eu brigamos por isso. Eu disse a ela que eu faria a coisa certa e
ganharia sua confiança novamente, e ela concordou em ficar sóbria.
Nós concordamos em passar algum tempo separados, mas eu
prometi que voltaria para ela. Lutaria por ela. Quando fiz isso, era
óbvio que nossa separação serviu apenas para fortalecer seu amor
pelo álcool.
— Mas ela te amava. Ela ainda ama.
— E eu sempre amarei a mulher que ela foi. A que eu escolhi ver
quando ia buscá-lo nas visitas agendadas. A sóbria que estaria toda
arrumada com seu batom vermelho para me avisar que ainda
estava interessada. Eu voltei algumas noites depois que você tinha
ido para a cama. Implorei para que ela fosse para a reabilitação.
Fizesse um tratamento. E ela tentou naquele verão que você viajou
comigo e com a equipe por dois meses, mas no fim o vício dela
venceu.
Tento digerir tudo o que ele está me dizendo.
— E quanto à Maria? Você apenas a deixou ir embora sem lutar?
— Não. Tentei encontrá-la, mas ela havia sumido. Arrumou suas
coisas e se mudou sem deixar um endereço.
Estou sem saber o que fazer aqui. Meu estômago se revira, e
meu peito dói pela raiva me comendo por inteiro. Preciso saber
muito mais, mas tenho muito medo de perguntar. Durante o trajeto
de uma hora até o trailer da minha mãe, muitas coisas passaram
pela minha cabeça.
— Eu tenho uma tonelada de perguntas. Tantas, que minha
cabeça está fodida, mas eu preciso de respostas. Você pode me dar
essas respostas? Você pode ser o homem que todo mundo pensa
que é e me responder tudo?
Ele se encolhe com minhas palavras, mas foda-se se vou me
conter.
— Sim. — A voz dele é apenas um sussurro, e sei que ele teme
o que vou perguntar a seguir.
— Você sabia que Santiago era seu filho antes de ele ter me
machucado? — Eu cerro minha mandíbula e espero pela resposta.
— Não.
Ele começa a dizer algo, e eu levanto a mão para detê-lo. Eu
preciso passar por isso para manter a calma e lutar contra a raiva.
— Ele está chantageando você?
Seus olhos piscam para os meus, a pergunta o assustando.
— Não exatamente.
— Sim ou não, Cal. Você não pode meio que chantagear alguém.
— Ele estava perturbado com a morte da mãe. Com raiva do
mundo porque ele viveu uma vida tentando sobreviver sem um pai.
Tudo foi uma luta para ele, e então ele descobriu que é meu filho. E
enquanto ele lutava diariamente, você, o cara cujas estatísticas ele
perseguiu por anos, tinha tudo. Ele se sentiu roubado. Ele
questionou por que você levou uma vida de privilégios quando ele
viveu uma vida na pobreza… Mesmo que os dois compartilhem meu
sangue.
— Isso não é culpa minha, porra.
— Você tem razão. Não é. E eu tentei dizer isso a ele, mas o
ressentimento é uma coisa difícil de abandonar.
Não é desculpa. Isso é tudo que penso continuamente enquanto
meu pai fala. Nada disso é uma desculpa válida para estragar minha
carreira.
— Chantagem, pai. Sim ou não?
— Tudo que ele queria eram os mesmos privilégios e
oportunidades que você teve.
— E tudo que você queria era manter o seu pequeno segredo
sórdido, não era? — O sarcasmo perde para a descrença quando
ele abaixa a cabeça momentaneamente, olhos fixos em seus pés.
Quem é esse homem? Eu nem o conheço mais. Quantas outras
mentiras existem?
— O que eu deveria fazer, Easton? O que? Negar a ele algo que
não tive nenhum controle durante toda a sua vida? Você não
pensaria menos de mim se eu me afastasse dele? Estou lutando
para descobrir como nós vamos seguir a partir daqui.
— Nós? Não há um nós aqui.
Ele balança a cabeça.
— Eu quis dizer eu e Mateo.
Mateo? Eu não quero pensar nele chamando aquele cara pelo
primeiro nome. E foda-se se essa correção não era o que eu queria,
mas ao mesmo tempo, só torna a dor um pouco mais forte.
— Você teve alguma influência, desempenhou algum papel em
trazê-lo para os Aces?
A queda repentina de seus ombros me faz dar um passo para
longe dele.
— Não era para ser assim.
Cada parte de mim implora para ele dizer não.
Mas ele não fala.
— Sim ou não? — eu grito.
— Sim. — Eu mal consigo ouvir a palavra. Ressoa em meus
ouvidos.
Ele sabia.
Ele organizou para que o idiota que arruinou minha carreira fosse
jogar pelos Aces. Com a porra do filho dele. Seu primeiro filho,
porra.
— Você nunca deveria ter sido negociado. Eu não tinha ideia do
que Tillman estava tramando. Nem uma porra de pista.
— Conveniente. — Eu bufo. — Você sentiu que os Aces
poderiam dar a ele a mesma coisa que eu tive? O que ele queria?
Apenas aliviar sua culpa? — E quanto a mim?
— Eu sei que você não tem nenhuma razão para acreditar em
mim agora, mas por favor, acredite, não foi intencional. Tillman
estava procurando um apanhador reserva, pelo menos foi o que ele
disse a todos. Ele disse que queria trazer alguém a bordo para
ajudar a facilitar sua transição de volta. De todos os apanhadores
disponíveis, Santiago tinha as melhores estatísticas do lote.
— Você pode adoçar a pílula da maneira que quiser para tornar
mais fácil para você engolir, mas vamos encarar a questão: você
convenceu o idiota do gerente geral a trazer o cara que fodeu o
braço do seu filho para o clube que ele joga para que você se isente
de culpa.
— Sim. Não. Eu estava desesperado, Easton.
Minha risada é tudo menos bem-humorada enquanto tento
absorver tudo o que foi dito. Enquanto tento me colocar no lugar do
meu pai, mas sei que isso é pura besteira.
— Tudo que ele queria era minha atenção, Easton. A chance de
conhecer o pai que ele nunca teve…
— Ele conseguiu um contrato que dobrou a droga do salário
dele. Você não pode me dizer que dinheiro não era um fator
motivador aqui, papai.
— Ele só quer…
— Poupe-me de suas desculpas, pai.
Nós nos encaramos. A fúria em mim, torna impossível ouvir mais.
— Quando você foi negociado — ele diz depois de um momento
—, eu fui até o Boseman e disse a ele o que Tillman fez. Eu contei a
ele sobre os rumores que circulavam sobre o que ele fazia a outros
jogadores. Fui eu quem ajudou a fazer com que ele fosse
demitido…
— Você espera que eu te agradeça por isso? — Puta que pariu.
— Ele é um Ace. E eu não sou. Ele assumiu minha posição. Meu
time. Então que se foda, pai. Você que se foda. Que se foda toda
essa situação de merda.
— Foi um monte de coincidências, do Tillman ao Santiago…
— Foi ele que fodeu meu ombro! — grito com a plena
capacidade dos meus pulmões para romper a névoa sob a qual ele
parece estar operando. A dor da traição é real, crua e indesejável.
— Por que você não assume isso? Santiago me tirou de propósito e
sozinho arruinou a porra da minha carreira.
— Está longe de estar arruinada, Easton.
— Não ouse defendê-lo! — Meu grito troveja pelo espaço de
concreto e ecoa de volta. — Ele queria o que eu tinha e você deu a
ele as chaves e abriu a porra da porta para ele pegar. — Eu rio
condescendentemente. Ele pode ter parado de jogar beisebol há
anos, mas ele ainda está jogando, só que agora é com a vida das
pessoas. — Vocês dois se merecem.
— Easton… — Ele dá um passo em minha direção.
— Não faça isso. Não. — Seus olhos me imploram para entendê-
lo, enquanto meu coração e minha cabeça se revoltam com a raiva
de sua traição.
Por que eu sempre quis ser como ele?
Foda-se isso.
Foda-se tudo.
Eu preciso ir para casa.
Eu preciso de Scout.
SCOUT
— EASTON? É VOCÊ?
Está tarde. O quarto está escuro.
— Shh.
Os lençóis levantam.
A cama afunda.
Ele desliza atrás de mim e me puxa para junto de seu corpo.
— Você está bem?
— Só me deixe abraçar você um pouco, ok?
Eu odeio a dor que posso ouvir em sua voz. A mágoa. Parte meu
coração.
— Serei o que você precisar — sussurro e deslizo as mãos por
cima das dele, descansando-as no meu abdômen.
— Você já é.
SCOUT
FICO ASSUSTADA QUANDO ACORDO NUMA CAMA VAZIA. O CÉU ESTÁ CIN
comecinho do amanhecer, ainda um pouco escuro.
Eu ouço o barulho das chaves. Sinto o cheiro de café. E eu me
pergunto como ele está.
— Easton?
— Aqui.
Encontro-o na cozinha, de tênis, short de corrida escurecido pelo
suor e pele ruborizada pelo exercício. Ele está ao fogão fazendo
ovos mexidos.
— Ei. — Minha voz está cautelosa, incerta sobre o que ele está
pensando depois de ontem e o que eu tenho certeza de que foram
fungadas silenciosas enquanto ele me abraçava com força noite
passada.
— Bom dia. — Sua voz é alegre, aparentemente inalterada, o
corpo ainda voltado para o fogão. — Acabei de descobrir que este
edifício tem um canil lá embaixo. Um lugar onde, se você tiver um
cachorro, você pode deixá-lo lá como uma creche, chamam de
creche de cães, para que quem desejar um cachorro possa ter um.
— Eu não sabia.
— Eu estava pensando, já que estou machucado e estamos
prestes a terminar a temporada… Pode ser uma boa hora para
adotar aquele vira-lata que você queria. O que você acha? — Ele se
vira para mim pela primeira vez desde que entrei na cozinha.
Eu estudo seu rosto antes que ele volte para os ovos. Não há
nada lá que sugere o drama da noite passada.
— Easton…
— Podemos ir no próximo final de semana, se você quiser.
Depois que a World Series acabar. Podemos adotar um daquele
local ou podemos ir a outro. Você deve começar a pensar sobre que
tipo de cachorro você quer.
— Você quer conversar sobre a noite passada?
Pela primeira vez, vejo uma rachadura em seu comportamento
alegre, mas é apenas um enrijecimento momentâneo de seus
ombros.
— E eu acho que devemos fazer uma viagem. Algum lugar
tropical. Ou Europa. Eu coloquei minha vida em suspensão por
muito tempo pelo beisebol, eu preciso parar de ser um escravo do
jogo e começar a viver, não acha? Eu estava conversando com seu
pai esta manhã e…
— Meu pai? Esta manhã? Não são nem sete horas.
Eu sinto que entrei em um universo alternativo.
— Eu mandei uma mensagem para ele, precisava de uma
opinião do que ele viu ao longo dos anos, e ele respondeu. Então
liguei e… — Ele encolhe os ombros. — Nós conversamos.
— Ok — eu digo, incerta. — Tem alguma coisa a ver com o que
ele sussurrou para você antes de sairmos naquela noite?
— Não.
Como estamos falantes hoje.
Eu o vejo servir os ovos em dois pratos e colocar um deles na
minha frente.
— Obrigada.
— Imagina — diz ele, andando ao meu redor e me dando um
beijo na cabeça antes de se sentar ao meu lado com seu prato.
— Easton — eu repito. — Você quer conversar sobre o que
aconteceu na noite passada?
Ele fica quieto enquanto mastiga a comida, e eu me pergunto se
ele vai dizer algo profundo.
— Não.
— Não? — Eu pergunto. — Mas…
— A que horas você vai para o estádio hoje? Eu não tenho que
me reportar até às cinco, mas provavelmente chegarei lá às quatro e
meia para mais um treino rápido na cabine. Podemos ir juntos se
você quiser.
Meu garfo fica parado no ar, os ovos precariamente presos nele,
mas tudo que posso fazer é olhar para Easton e me perguntar se ele
está em estado de negação.
A técnica clássica de evitar um assunto.
— Acho que devemos resolver tudo…
Seus ombros caem, e ele fecha os olhos momentaneamente. Ele
respira fundo como se fosse eu quem estivesse o frustrando.
— Eu não quero. Agora não. Só consigo lidar com uma coisa de
cada vez, Scout. E hoje eu estou lidando com a transmissão. Depois
disso, vou levar você para adotarmos um cachorro. Você se mudou
para minha casa, e ela continua tendo a mesma aparência… Então
se nós adotarmos um cachorro juntos será tipo criar algo nosso.
Talvez faça o apartamento parecer um pouco mais como seu
também.
Não tenho certeza se concordar com sua evasão é saudável ou
se forçá-lo a falar sobre tudo é melhor.
Mas pelo menos a cabeça dele está onde precisa estar, na
transmissão desta noite. Essa é metade da batalha.
E depois que a batalha estiver ganha, parece que vamos adotar
um cachorro.
Juntos.
Dando o próximo passo.
EASTON
É DIA DE JOGO.
Eu posso sentir isso no meu sangue, embora eu não vá tocar o
campo hoje.
Há empolgação, energia e magia.
Scout está ao meu lado conversando sobre quem ela precisa
alongar primeiro e sobre como ela está preocupada com o cotovelo
de Dungey.
— Tudo bem, Easy E?
— Manny-Man. — Eu me viro para encontrar o rosto que eu vi
mais vezes na minha carreira, além do meu pai, e pego o velho
safado e dou nele um abraço.
— Você ainda é bonito. — Ele sorri.
— E você ainda é feio — eu respondo, levantando as
sobrancelhas.
E assim, o pouco de nervosismo que tive ao atravessar esses
túneis hoje à noite desaparece.
— Alguém tem que ser. — Ele dá um passo para trás e olha para
mim. — Estou orgulhoso de você por tentar outra vez esta noite.
Tenho certeza de que os teleprompters vão estar em perfeitas
condições hoje. — Ele olha para Scout e sorri com um aceno de
cabeça antes de olhar para mim.
Eu engulo o nó na garganta, odiando o fato de estar mentindo
para Manny, o único cara que provavelmente não iria me julgar, mas
não é a hora nem lugar para explicar.
— Tenho certeza que sim. — Eu seguro minha pasta cheia de
anotações. — E se não estivessem, eu pediria folhas com as colas
com antecedência para saber o que dizer.
— Eu sempre soube que você era inteligente.
— É, é. — Eu rio. — Você vai ficar por aqui para assistir ao jogo?
Ele me olha por um segundo.
— Sim, acho que sim.
— Mesmo? Quais dos grandes você espera assistir esta noite?
— Você.
Eu fico olhando para ele por um momento, muitas emoções
girando ao redor depois de toda a merda da noite passada. Eu não
confio na minha voz para responder, então eu apenas balanço a
cabeça.
Scout se aproxima e lhe dá um abraço. Ele fica surpreso com
isso, mas quando ela diz algo em seu ouvido, seu sorriso se alarga
e ele ri enquanto ela volta para o meu lado.
— Nos vemos depois do jogo, Manny-Man.
— Nos vemos — ele diz enquanto caminhamos pelo corredor em
direção ao vestiário.
— Você não tem que me levar até lá — Scout me diz.
Eu sei que ela está nervosa porque eu vou ver Santiago.
— Que bobagem. Ele não existe para mim, Scout.
Entramos no vestiário, e eles estão todos lá, falando merda e
relaxando para que possam entrar na zona. A calmaria antes da
tempestade.
Eu dou um soco em alguns dos caras, desejo-lhes boa sorte e
brinco um pouco enquanto Scout vai para seu escritório.
E eu posso até ter escorregado alguns pacotes de chicletes de
pegadinha nas coisas de Drew.
Eu sinto falta disso.
E quanto mais fico aqui, mais difícil é saber que posso nunca
mais ter isso novamente.
Muita merda de uma vez.
— Ei — eu digo a Scout da porta de seu escritório. — Vou subir.
Seu sorriso é largo enquanto seus olhos passam por cima do
meu ombro para onde tenho certeza de que todos os filhos da puta
intrometidos estão nos observando, pensando se devem fazer
barulhos de beijo como crianças de oito anos, antes de voltar seu
olhar para mim.
— Arregaça, Wylder. — Seu sorriso diz tudo o que seu beijo
faria.
— Você também, Kitty.
Quando eu me viro, ele está bem ali. Parado na minha frente.
Sem sorrisos. Sem arrogância. Só ele. Uma dúzia de pares de olhos
esperam por um confronto. Eles não têm a menor ideia do quanto
tudo mudou.
Vá embora, Wylder.
Eles sabem que ele me fodeu, mas não tem ideia de quão ruim
foi tudo.
Você tem um jogo para transmitir.
Eu fico olhando para o filho da puta, de pé no meu vestiário, com
meu uniforme.
Não o deixe tomar mais de você do que ele já conseguiu.
Ele merece o que está vindo. Cada. Coisa. Fodida.
Vá. Embora.
E eu vou. Dou dois passos.
Isso é tudo que eu consigo.
Foda-se isso de o ignorar.
Foda-se. Ele.
Eu faço tudo que disse a mim mesmo que não faria. Meu punho
está para trás, e então voa para frente antes mesmo que eu possa
ter a chance de pensar nisso.
Ouço o grito de Scout. Eu ouço um dos caras dizendo para nos
deixar ter nosso momento.
— Seu idiota de merda! — eu digo, a mão ainda em punho
enquanto ele tropeça contra a parede atrás dele. — Você conseguiu
exatamente o que queria, não foi? Meu trabalho? Minha cidade? A
porra toda. O que eu fiz para você? Porra nenhuma. Se você quer
ficar puto com o mundo, foder com a vida de alguém, então faça
isso com ele. Ele é a razão de tudo isso ter acontecido, não eu.
Santiago me encara com um olhar muito diferente do que eu já vi
antes. Suas mãos estão cerradas, e seu sorriso me provoca.
— Por que você deveria ter tudo?
Meu sangue ruge na minha cabeça e bloqueia toda a razão.
Estamos em uma sala cheia de caras ouvindo tudo agora.
Adivinhando. Concluindo.
E eu não me importo.
Meu punho voa novamente e quase acerta sua bochecha. Sua
risada preenche meus ouvidos e acende uma raiva que nunca senti
antes.
— Você é um merda de um covarde! — grito.
— Como se eu me importasse com o que você pensa de mim.
— Você deveria, seu filho da puta. — Minhas mãos estão em
punhos em sua camisa, e eu o jogo contra a parede. — O quê? Não
vai lutar agora? — Eu torço as mãos com mais força em sua camisa
e o empurro novamente. Os caras se aproximam de nós. Minhas
mãos coçam para socá-lo mais uma vez.
Minha fúria bate dentro de mim.
— Não preciso. Eu consegui o que queria.
— Sim. Você conseguiu. Nosso papai com certeza notou você.
Primeiro me acertando e fodendo meu ombro. Que estratégia mais
escrota. E em seguida, pela besteira que você fez quando veio aqui.
— Eu me inclino mais perto. — Eu não deveria esperar menos de
um bastardo, não é?
— Seu filho da puta! — ele ruge enquanto seu punho vem em
minha direção.
Mal me atinge porque os caras vão para cima dele, segurando-o
antes que ele possa causar algum dano.
Eu fico olhando para ele, as mãos tremendo e o corpo tenso
como se cada parte de mim implorasse para socá-lo novamente.
Idiota.
— Você não vale a pena.
Ele não vale.
Eu preciso sair daqui.
Eu olho para Scout no caminho, mas não paro.
Os caras acenam com a cabeça enquanto eu passo por eles.
Mais do que chocados.
O segredo foi revelado.
Não ligo a mínima.
SCOUT
Easton enfia uma flor atrás da minha orelha para adicionar à dúzia
de outras que ele enfiado irritantemente no meu cabelo.
— Eu acho que Sally sabe como mimar você — ele diz.
— Acho que sim. — Eu rio enquanto olho para a cesta de
piquenique que ela nos entregou, cheia de mais comida do que
seríamos capazes de comer. — Ela está tão acostumada a
alimentar meu pai, que não come quase nada hoje em dia, que é
gratificante ter um homem grande e robusto como você para
alimentar.
— Homem grande e robusto? — ele pergunta enquanto se
inclina para frente e beija minha testa.
— Sim, não tenho certeza de quando ele vai chegar, mas
podemos sentar aqui por um tempo e esperar por ele. Tenho certeza
de que Margarida não vai se importar.
E antes que eu possa terminar as últimas palavras, Easton me
puxa para ele, então eu sento entre suas pernas, seus braços em
volta do meu corpo, me segurando contra ele.
— Vamos esperar por ele? — Ele rosna de brincadeira.
— Sim. — Tento me afastar.
— Você tem todo o homem que precisa bem aqui.
— Ah, pelo amor de Deus. — Eu reviro meus olhos.
— Você está discordando?
Eu paro de lutar.
— Não. Eu tenho tudo que preciso bem aqui.
Seus braços afrouxam um pouco, e ele me abraça
carinhosamente.
— É lindo aqui — ele murmura. — Quase como um cenário de
livro de romance.
— Cenário de livro de romance? — Reviro os olhos e balanço a
cabeça.
— Não me culpe por tentar. — Ele ri. — Sério, eu entendo por
que você gosta tanto daqui.
— É um dos meus lugares favoritos em todo o mundo. Eu ainda
posso ver Ford correndo até ali, pensando que poderia ser um
espantalho humano, mas falhando miseravelmente, já que não
conseguia ficar parado por mais de um minuto. Ou meu pai me
ensinando a rebater uma bola de beisebol do lado de lá. — Eu
aponto para a nossa esquerda, onde Margarida está perseguindo
uma borboleta que parece estar brincando com ela. — Tantas
memórias aqui. Tanta coisa boa aconteceu aqui.
— Eu fico feliz que você tenha isso tudo.
— Eu também.
A grama alta se mexe enquanto a brisa sopra pelo campo e as
memórias repletas de felicidade continuam a surgir em minha
mente.
E então eu me lembro de algo.
— Você vai me contar o que meu pai disse para você na varanda
quando viemos aqui há um tempo?
— Que curiosidade. Dois caras não podem guardar um segredo?
— ele provoca enquanto vira para que possa ver meu rosto.
— Não. Não de mim.
— Veremos — ele murmura enquanto eu o toco. Ele pega minha
mão em um movimento inesperado e me beija na palma. Quando
ele olha para mim, há uma intensidade em seus olhos que faz com
que as palavras brincalhonas morram em meus lábios. — Seu pai
me disse para cuidar de sua garotinha. Para deixá-la ser teimosa,
mas saber como dobrar sua vontade. Para deixá-la ser feminina,
mas me certificar de que ela coloque os dedos na lama de vez em
quando. Para deixá-la correr através de um campo com flores no
cabelo com tanta paixão quanto ela coloca na cura de seus
pacientes. E o mais importante, deixá-la amar com uma mente clara
e um coração completo.
Eu sou uma maçaroca de lágrimas. Eu nem consigo soluçar
enquanto Easton se inclina para frente e beija as lágrimas do meu
rosto. Cada emoção em mim é uma confusão de contradições.
— Eu prometi a ele que faria isso, SCOUT. Eu quero todas essas
coisas para você. As flores nos seus cabelos, a lama nos seus
dedos, a teimosia que me coloca no meu lugar, o doce, o sexy e
tudo que houver no meio. A primeira vez que fomos à minha casa,
você colocou uma marca no meu coração e então fugiu. E eu acho
que é o momento perfeito para passar para o próximo capítulo e
começar uma vida juntos. Eu te amo, Scout Dalton. Eu amo suas
partes que ninguém mais sabia como amar, assim como você faz
comigo. Então tem uma pergunta que eu quero fazer.
Meu coração está batendo forte, e as lágrimas estão caindo, e as
mãos estão tremendo, mas posso ouvir suas palavras. Eu posso ver
a caixa que ele abre, onde dentro repousa um anel de diamante
simples, que é o meu anel perfeito.
— Você quer se casar comigo?
— Sim — eu sussurro enquanto coloco minhas mãos em suas
bochechas e pressiono meus lábios nos dele repetidamente
enquanto digo sim várias vezes.
Ele passa os braços ao meu redor e me segura com força antes
de gritar:
— Ela disse sim!
Eu me assusto com o som de aplausos vindos da casa. Eu olho
para Easton e depois para onde papai e Sally estão olhando
ansiosamente em nossa direção.
— Eu não tinha certeza se ele ainda estaria aqui até o
casamento, então queria que ele estivesse para a segunda melhor
coisa, o pedido. Era importante para ele saber que eu cuidaria de
você já que ele não vai poder.
E então a ficha cai.
Ele planejou isso.
Meu pai não estava dormindo.
A cesta de piquenique estava pronta, nos esperando.
Eu olho para ele enquanto as lágrimas caem novamente.
— Obrigada. — Ele não tem ideia do quanto esse gesto simples
significa para mim. Eu acho que ele nunca saberá.
Mas estou de pé e correndo em direção à casa.
Com a Margarida latindo atrás de mim.
Através de um campo.
Com o coração completo.
E flores no meu cabelo.
Para abraçar meu pai.
5 anos depois
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