Você está na página 1de 330

Copyright © 2024 Ray Freire

Capa: L.A. Designer


Revisão: Carla Santos
Diagramação: Katarina Sanchez
Ilustração: Carlos Miguel

Esta obra segue as regras do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados.

Nenhuma parte dessa obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meio eletrônico ou mecânico
sem autorização da autora.
SUMÁRIO

CAPA
CONTRACAPA
COPYRIGHT
SUMÁRIO
SINOPSE
DEDICATÓRIA
AVISO IMPORTANTE! (GATILHOS)
NOTA DA AUTORA
PLAYLIST
ILUSTRAÇÃO
GLOSSÁRIO
CAPÍTULO 1 - Connor Harrington
CAPÍTULO 2 - Ashley Moore
CAPÍTULO 3 - Connor Harrington
CAPÍTULO 4 - Ashley Moore
CAPÍTULO 5 - Connor Harrington
CAPÍTULO 6 - Ashley Moore
CAPÍTULO 7 - Connor Harrington
CAPÍTULO 8 - Ashley Moore
CAPÍTULO 9 - Connor Harrington
CAPÍTULO 10 - Ashley Moore
CAPÍTULO 11 - Connor Harrington
CAPÍTULO 12 - Ashley Moore
CAPÍTULO 13 - Connor Harrington
CAPÍTULO 14 - Ashley Moore
CAPÍTULO 15 - Connor Harrington
CAPÍTULO 16 - Ashley Moore
CAPÍTULO 17 - Connor Harrington
CAPÍTULO 18 - Ashley Moore
CAPÍTULO 19 - Connor Harrington
CAPÍTULO 20 - Ashley Moore
CAPÍTULO 21 - Connor Harrington
CAPÍTULO 22 - Ashley Moore
CAPÍTULO 23 - Connor Harrington
CAPÍTULO 24 - Connor Harrington
CAPÍTULO 25 - Ashley Moore
CAPÍTULO 26 - Connor Harrington
CAPÍTULO 27 - Ashley Moore
CAPÍTULO 28 - Connor Harrington
CAPÍTULO 29 - Ashley Moore
CAPÍTULO 30 - Connor Harrington
CAPÍTULO 31 - Ashley Moore
CAPÍTULO 32 - Ashley Moore
Connor Harrington
CAPÍTULO 33 - Ashley Moore
CAPÍTULO 34 - Connor Harrington
CAPÍTULO 35 - Ashley Moore
CAPÍTULO 36 - Ashley Moore
CAPÍTULO 37 - Connor Harrington
CAPÍTULO 38 - Ashley Moore
CAPÍTULO 39 - Ashley Moore
CAPÍTULO 40 - Connor Harrington
EPÍLOGO - Ashley Moore
AVALIAÇÃO NA AMAZON
PEÇA AJUDA!
AGRADECIMENTOS
LEIA TAMBÉM - Acordo Proibido
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
LEIA MEUS OUTROS LIVROS
BIOGRAFIA
SINOPSE

“Ela tem apenas uma regra: não se envolver com atletas. No entanto, ele fará de tudo para
quebrá-la.”

Ele é o capitão do time de hóquei da universidade.

Ela odeia atletas.

Ele ama festas e pega geral.


Ela agora as odeia e não quer se envolver com mais ninguém.

Ele não esconde que a quer.

Ela finge não o querer.

Ele ama mistérios.

Ela é cheia de segredos.

Ele tem um enorme grupo de amigos.


Ela não confia em mais ninguém.

Ele quer descobrir tudo sobre ela.

Ela vai dificultar e muito a vida dele.

Ele nunca desistiu do que quer.

Ela vai se tornar seu maior desafio.


Será que existe algum motivo que fará com que um coração partido volte a bater por
alguém que ela jurou nunca se envolver?

Hate to friends to lovers.


New Adult.

Mocinho jogador.

Mocinha que odeia atletas.


Ele se apaixona primeiro.

Romance universitário.

Slow Burn
Conteúdo adulto.
Leia o aviso importante!
DEDICATÓRIA

A você, que sonha com um taco de vinte e três centímetros igual ao do


Connor, mas, infelizmente, tem que se contentar com a média brasileira de
quatorze.
AVISO IMPORTANTE

MOTIVOS PARA NÃO TE AMAR é um romance new adult que vai te arrancar
suspiros e muitas gargalhadas, PORÉM ele possui cenas que podem gerar gatilhos
para quem é sensível a temas como: tentativa de estupro, relacionamento abusivo,
menção a aborto, ansiedade e violência.
Caso não se sinta confortável com os temas citados, recomendo não iniciar a
leitura. Sua saúde mental tem que vir sempre em primeiro lugar!
NOTA DA AUTORA

Olá, leitores!
Enquanto escrevo essa nota, estou com os olhos brilhando de lágrimas, não de
tristeza, mas sim de emoção porque durante mais de um ano eu acreditei fielmente que
nunca iria finalizar esse livro, inclusive, cheguei a abandoná-lo três vezes porque não
me sentia capaz de conduzir o enredo. E isso dói, sabe? Me senti tão incapaz em
diversos momentos por querer escrever e simplesmente não conseguir. Era horrível me
sentar na frente do notebook, abrir o Word e travar. A autossabotagem insistia em
afirmar que minha escrita não era boa o suficiente para eles e que minha mente jamais
conseguiria processar as informações do esporte.
No entanto, lá no fundo, o desejo de dar vida a eles continuava e, no início
desse ano, eu decidi tentar novamente, porém dessa vez com uma condição: se eu
travasse pela quarta vez, desistiria dessa série e arquivaria as vinte mil palavras
escritas. Autossabotagem é uma droga, mas, PORRA, eu consegui!
Ainda me encontro em êxtase, porque eu realmente acreditava que nunca
chegaria a tão sonhada palavra fim. É surreal a sensação de dever cumprido que estou
sentindo nesse momento, principalmente porque Ashley, Connor e todos esses
personagens mereciam estar presentes no RayVerso. Eles merecem ter suas histórias
contadas, pois são fodas, incríveis e literalmente apaixonantes!
Cada momento que passei com eles foi maravilhoso e me despeço já morrendo
de saudades, porém na esperança de que muito breve retornarei a esse universo, que
me ensinou tanto sobre acreditar em si próprio. Entrego eles a vocês, na esperança de
que, assim como aconteceu comigo, vocês também se apaixonem loucamente por
cada um deles. Desejo do fundo do meu coração que você chore de tanto dar risada,
que dê gritinhos empolgados, sinta o coração bater mais forte, que se emocione, que
cruze as pernas e que, ao finalizar, esteja com um sorriso bobo no rosto e o coração
quentinho.
Connor, Ashley e companhia, obrigada por me mostrarem que eu posso tudo!
Eu amo vocês pra caramba!
PLAYLIST

Para ouvir a playlist de

“Motivos para não te amar”,


é só apontar a câmera do seu celular no QR CODE abaixo ou clicar aqui. Caso não
consiga acessar pelos dois é só entrar no Spotify e digitar o nome do livro.
Ilustração feita por Carlos Miguel. O casal principal está patinando no rinque onde Connor treina. Ele usa o uniforme do time nas cores vermelho, preto e branco, e sorri enquanto segura nas mãos de Ashley. Ela, por sua
vez, mantém os olhos fechados enquanto é puxada por Connor, com uma expressão feliz. Ashley usa calça jeans e uma camiseta com o número 23 de Connor.
GLOSSÁRIO

A fim de evitar qualquer confusão ou dúvidas, optei por criar um pequeno


glossário que abrange informações sobre o time, a universidade e alguns aspectos
relacionados ao jogo.
BLACK WILDCATS:
Apelido do time (fazendo referência às velocidade e agilidade dos gatos).
BRISFOLK UNIVERSITY:
Universidade fictícia criada pela autora com inspiração em Harvard.
LEIFIELD UNIVERSITY:
Maior rival da Brisfolk na arena (universidade fictícia criada pela autora).
THE CROWS:
Apelido do time da Leifield (E a brincadeira na arena é que os gatos vão devorar os
pássaros).
LECROFT UNIVERSITY:
Universidade no Canadá e campeã na última temporada de hóquei (universidade
fictícia criada pela autora).
BOSTON:
Cidade onde se passa a maior parte da história.
PUCK:
É o disco que os atletas precisam conduzir no rinque de gelo para fazer os gols.
STICK:
É o taco que os atletas usam para conduzir o puck.
PERÍODOS:
Cada partida de hóquei no gelo tem três períodos de 20 minutos cada. A partida tem a
contagem interrompida sempre que o disco sai do jogo ou quando ocorrem as
infrações.
OVERTIME:
Após os três períodos normais de jogo, caso as equipes estejam empatadas em
pontos, um quarto período de cinco minutos, a overtime, é realizada. A equipe que
pontuar na mesma vence a partida.
PENALTY BOX:
O jogador que cometeu a falta é excluído do gelo e deve passar 2 minutos na Penalty
Box (espécie de “canto do castigo”).
CAPÍTULO 1 - Connor Harrington

— Você precisa comer uma boceta. — Ouço a voz de Liam assim que passo
pela porta da sala entrando na nossa casa.
— E você precisa cuidar da porra da sua vida — Ben retruca irritado voltando a
atenção para o videogame à sua frente.
Jogo minha mochila em cima do sofá e só então os dois marmanjos me notam.
Moro com meus amigos do time de hóquei desde o primeiro ano. Assim que cheguei a
Boston conheci Liam e ele já dividia uma casa fora do campus com o Ben, seu amigo
de infância. Ambos estavam procurando dois caras para dividir as despesas e foi dessa
forma que eu e o Kyle acabamos morando com eles. Kyle deve chegar hoje de viagem,
porque foi passar as férias de verão com a família em Nova York. Juntos formamos
uma equipe não só no gelo, mas também fora dele e desde o início nos tornamos
inseparáveis.
— Qual é a boa? — Me jogo no sofá encarando os dois.
— O Ben decidiu que vai se tornar um celibatário e está insuportável — Liam
resmunga. — E eu quero ir para a festa de volta às aulas que as meninas da Nu Zeta
vão realizar.
Liam e Ben são como unha e carne, vivem grudados e onde um está o outro
vai atrás. Liam quase nunca vai a uma festa sem o seu melhor amigo, então imagino o
quanto ele está enlouquecendo com a nova ideia.
— Eu preciso focar na porra do hóquei. É difícil entender? — Ben pergunta
irritado.
— Você pode focar sem parar de sair — Liam retruca passando a mão no rosto
irritado.
— Cara, eu sei que nos últimos jogos você não se saiu bem, mas você só
precisa maneirar na bebida e nas festas em época de jogo, não parar de transar —
declaro.
Esse será o meu primeiro ano como capitão do time e eu tenho total convicção
de que agora terei que ser um pouco mais pulso firme. Mesmo que eles sejam como
irmãos para mim, eu não posso e não vou passar a mão na cabeça deles caso
aprontem alguma merda ou se saiam mal nos jogos.
A Brisfolk é uma universidade conhecida mundialmente pela excelência no
ensino e, principalmente, pelo hóquei universitário. Eu a escolhi justamente pelo seu
mérito no esporte e desde o início soube que ela não perdoa erros, porque ou você é
excelente no que faz ou está fora em todos os sentidos, seja nas aulas ou na equipe.
O último capitão do time de hóquei deixou a faculdade para entrar no
profissional e o cargo foi passado para mim. Ele já está iniciando sua carreira
profissional pelo Bruins, mesmo time a qual eu fui escolhido no draft do ano passado.
Quando eu entrei na faculdade, pronto para jogar hóquei, sabia que faria o
impossível para que meus esforços e talentos fossem notados. Com muito esforço e
dedicação comecei a colher os frutos e agora com a certeza de que estarei na liga
profissional.
Eu amo a vida universitária e tudo que ela me proporciona, no entanto, estou
longe de ser como alguns dos meus amigos do time, que só querem saber do status e
das mulheres. Sim, eu amo foder, adoro uma boa festa, estou longe de ser considerado
santo, mas não vacilo no jogo e não deixo as minhas notas ficarem abaixo da média.
Fui draftado por um time foda quando ainda estava no segundo ano e agora
inicio o terceiro como capitão. Eu poderia largar a universidade e já me dedicar ao
hóquei profissional, porém decidi não seguir esse caminho, tanto pelo acordo que fiz
com o meu pai como pela questão da segurança. Não sei o que o destino me reserva e
espero nunca ser obrigado a abandonar o que amo fazer devido a uma lesão, no
entanto não posso contar com a sorte. Caso algo aconteça, eu tenho o plano B, mesmo
que esse plano não tenha sido escolhido por mim.
— Não vai rolar — Ben decreta arrancando-me dos pensamentos. — E você
como capitão deveria me apoiar — acusa apontando com o controle para mim.
— Eu dou total apoio para você focar nos jogos, porém não vou apoiar você se
tornar celibatário justo hoje para estragar a nossa primeira festa — defendo-me. — Os
treinos começam em breve e aí sim vamos ser obrigados a maneirar.
— Espera aí. — Liam, que estava sentado, dá um pulo e encara o amigo. —
Você não está apaixonado, né?
— O quê? — Os olhos de Ben quase saltam para fora. — Está maluco? — Sua
voz vacila e eu arqueio a sobrancelha.
— Você está com essa história de celibato do nada. Deve ser por causa de
alguma boceta — acusa escrutinando o amigo. — Pode ir contando.
— Apaixonado não. — Decreto em tom de desespero e Ben reversa o olhar
entre nós dois.
Se tem uma coisa que nós quatros temos em comum é isso: fugimos de
relacionamentos como o diabo foge da cruz. Por que vamos querer nos prender na
melhor época das nossas vidas? Somos jovens e nesse momento só queremos jogar
hóquei e aproveitar os prazeres que a faculdade proporciona. Levamos a série o nosso
lema de; foder sem se apegar.
— Não tem paixão nenhuma e vocês dois podem deixar eu terminar a porcaria
do jogo? — indaga nos fuzilando.
Escrutino seu rosto atrás da mentira, mas não consigo encontrá-la. Talvez ele
só queira se concentrar no jogo e eu como capitão deveria apoiá-lo, afinal, um dos
motivos pelo qual perdemos a temporada passada foi ele, mas porra, hoje tem a
primeira festa de volta as aulas e nós quatro deveríamos estar juntos, como todo
maldito ano!
— Só essa festa e depois você pode se isolar dentro de casa. — Tento
convencê-lo e Liam fecha o semblante.
— Não quero ir, porra! — ele resmunga. — Tem muita tentação naquela festa.
— Seu suspiro de frustração é audível e sei que tem mais nessa história, no entanto,
sei também que ele não vai contar, não agora.
Juntos, eu e Liam caímos na gargalhada porque sabemos que ele está coberto
de razão. Todas as festas que acontecem nas fraternidades ou nas casas dos
jogadores são regadas de muitas bebidas e sempre terminamos com alguma garota na
cama, às vezes até mais de uma. É justamente por isso que não vou perder a de hoje.
Não mesmo!
— Então, além de celibatário você vai se tornar um recluso? — pergunto
tentando controlar o riso.
— Ah, vá se foder. — Ele joga a almofada na minha cara se levantando em
seguida. Explodo em uma gargalhada enquanto ele sai pisando duro da sala deixando
o jogo de lado.
— Pode ter certeza de que irei, porém só mais tarde! — grito e ouço a porta
dele bater com força poucos segundos depois.
— Esse celibato não vai durar uma semana — Liam decreta. — Estamos
liberados para beber hoje, capitão? — pergunta indo em direção à cozinha e eu o sigo.
— Estamos. — Abro a geladeira e encho um copo com água. — Os treinos só
começam na próxima semana, então hoje podemos aproveitar.
— É disso que eu gosto — Liam comemora enquanto começa a preparar um
sanduíche.
— Mas está proibido de arrumar confusões — aviso lembrando da quantidade
de brigas que ele arrumou no ano passado.
— Confusão? — questiona cínico. — Eu sou o cara mais tranquilo de todo esse
campus — debocha.
— Não estou brincando, Liam — afirmo e meu tom de voz sai firme. — Vamos
manter nosso nome longe de brigas e já te falei para manter essa raiva controlada.
— Certo, general. — Ele bate continência e eu balanço a cabeça em negativa.
Ele é de longe o cara mais difícil da nossa turma.
— Vou tomar um banho — aviso saindo da cozinha. — Quando o Kyle chegar
mande ele infernar o juízo do Ben porque nós quatro vamos à festa.
— Pode deixar.
Liam é um cara legal e que se tornou um grande amigo, no entanto ele não
pensa muito antes de entrar em uma confusão e isso pode afetar a merda da carreira
dele no hóquei. Explosivo, ele não pensa muito antes de agir, principalmente se
acreditar que está protegendo quem ele ama. Já conversei com ele diversas vezes,
mas sempre leva na brincadeira.
Entro no meu quarto e penso em pegar meu violão para tentar distrair um
pouco a mente porque tocar é como uma terapia para mim, porém, no mesmo instante,
meu celular toca avisando sobre a chegada de uma nova mensagem e, quando o pego,
sinto a raiva querer me dominar.
PAI: Preciso de você em casa para as minhas bodas de esmeralda. Não é um
pedido, é uma ordem. Avisando com antecedência para você não encontrar desculpas
para não comparecer.
Jogo o celular na cama e tento controlar a raiva. Meu pai odeia que eu queira
ser jogador profissional e só aceitou a minha mudança para Boston e a integração no
time de hóquei com a condição de eu me formar em Arquitetura. Ele sente prazer em
afirmar que irei quebrar a cara como jogador e, quando isso acontecer, estarei com um
diploma para assumir a empresa da família, uma construtora renomada na Califórnia,
cidade onde nasci.
Me dá calafrios só de me imaginar trancado dentro de um escritório fazendo
algo que eu não amo e espero muito não precisar seguir esse plano. Desde quando
confrontei o meu pai e afirmei que iria correr atrás do meu sonho de ser jogador
profissional, nossa relação começou a definhar mesmo eu estudando para o curso que
ele escolheu.
Evito ao máximo ir em casa porque sempre que eu e ele estamos no mesmo
ambiente o clima fica hostil e na maioria das vezes acabamos discutindo. Só vou em
casa quando a saudade da minha mãe e minha irmã fica insuportável ou quando o
Bryan me leva praticamente à força.
Sou apaixonado pelo hóquei desde criança e lembro que minha paixão se
iniciou ainda na escola. Quando tive idade suficiente convenci a minha mãe a me
inscrever em aulas particulares e, mesmo contra a vontade do meu pai, ela me colocou.
Com o passar dos anos minha paixão só se intensificou, para o desespero do meu pai,
que odeia tudo que representa o hóquei e tem orgulho em dizer que isso não pode ser
considerado uma profissão.
Saio dos meus pensamentos não querendo deixar que a mensagem dele
estrague o meu dia. Entro no banheiro e tomo uma ducha, quando saio escuto a voz do
Kyle no andar de baixo:
— Cheguei, rapaziada! — ele grita e eu visto uma roupa, descendo em seguida
pronto para me juntar a ele e o Liam.
Vamos acabar hoje com o celibato do Ben.

— Hoje eu vou beber até cair! — Liam grita assim que paro o carro no
estacionamento da fraternidade. — E você vai comigo. — Ele puxa Ben pelo pescoço e
o amigo revira os olhos.
— Tem certeza de que eles dois não têm algo a mais? — Kyle pergunta do
banco da frente, tirando sarro dos meninos.
— Vai se foder. — Ben estira o dedo do meio e Kyle devolve o gesto com um
sorrisinho debochado.
— Vamos — chamo e todos nós descemos do veículo, mas assim que travo o
carro meu celular toca e, quando vejo que é minha mãe, decido atender ou ela não irá
parar de me ligar.
— Vão na frente. — Aponto para o celular. — Encontro vocês na entrada.
— Vamos comer bocetas! — Kyle grita se afastando com os caras.
— Oi, mãe — a cumprimento assim que atendo a chamada.
— Filho, como você está? — Sua voz sai contida, mas amorosa.
— Estou bem, mas um pouco ocupado agora. — Vou para a parte de trás do
carro porque daqui já dá para ouvir o som da festa e não quero um sermão ou a ligação
vai durar a noite inteira.
— Seu pai ligou para você hoje. — Noto o julgamento no seu tom de voz.
— Estava ocupado — minto. — Mas vi a mensagem dele.
— Você vem então?
— Mãe, tem meses pela frente. Vou tentar ir. — Aproveito que a vaga ao lado
da minha está vazia e me abaixo para amarrar o cadarço do tênis.
— Filho. — Noto a angústia na sua voz.
— Eu vou tentar, mas acredito que darei um pulo aí antes para ver a Colleen.
— Só ela? — indaga manhosa.
— E a senhora também. — Quase posso ver o seu sorriso.
Diferente da relação com o meu pai, eu e a minha mãe nos damos muito bem,
inclusive ela é uma apoiadora fiel dos meus sonhos. Desde criança me ensinou a correr
atrás daquilo que amo, mesmo sabendo que o meu pai não me queria na liga
profissional.
— Sua irmã vai adorar saber que pretende vir nos visitar.
— Onde ela está?
— Saiu para jantar com umas amigas. — Ouço uma porta batendo ao fundo. —
Seu pai acabou de chegar.
— Te amo, mãe, mas agora preciso ir. — Ela suspira porque sabe que tenho
zero vontade de falar com ele por telefone.
— Também te amo, querido. Quando decidir vir nos avise.
— Aviso sim.
Desligo a ligação, termino de ajustar o ténis e, quando vou me erguer, sinto
algo bater na parte inferior das costas. Ao me pegar desprevenido acabo me lançando
para a frente e instintivamente levo a mão ao rosto para me proteger do impacto com o
solo.
— Porra! — resmungo.
— Ai, meu Deus! — Ouço uma voz fina gritar seguida de uma batida da porta
de um carro. — Você se machucou? — A voz indaga e eu impulsiono o meu corpo para
me levantar sentindo a mão arder no processo.
— Mas que porra é essa? — Fuzilo a estranha, que parece apavorada na
minha frente e no mesmo instante noto que não a conheço.
Se a conhecesse, eu lembraria desses olhos verdes tão intensos que, nesse
momento, exalam preocupação. Seus cabelos loiros estão soltos e observo ela morder
a ponta dos lábios em um gesto claro de nervosismo.
— Eu não vi você aí quando estava estacionando. — Aponta para o carro e só
agora percebo que a maluca me atropelou enquanto estava dando ré.
— Retrovisor serve para isso — resmungo irritado apontando para o objeto.
— Olhei e não te vi — declara dando de ombros.
— Comprou a carteira? — Irrito ainda mais com sua desculpa. — Olha o meu
tamanho? Como diabos não me viu? — Aponto para mim mesmo.
— Você estava abaixado. — Aponta para o local, mas noto seu olhar passear
pelo meu corpo, porém não se demora. — E não precisa ser um babaca. — Desvia seu
olhar cruzando os braços e o movimento faz com que meus olhos desçam diretamente
para os seus peitos, e. nossa, que peitos. — Meus olhos estão aqui em cima —
resmunga.
— Sério? — Sorrio sem humor. — Então coloca a porcaria de um óculos neles
porque parece que você não está enxergando muito bem.
— Você é sempre tão idiota assim? — pergunta e seu semblante antes
preocupado agora se torna raivoso.
— E você é sempre tão assassina?
— Vá se f... — Ela corta a frase no meio e respira fundo procurando se
acalmar. Controlo a vontade de rir porque ela fica ainda mais linda com o semblante
irritado. Suas bochechas estão levemente coradas. — Quer saber? — pergunta
empinando o queixo. — Já perdi tempo demais com você.
Ela se vira furiosa e, no mesmo instante, meus olhos descem até a sua bunda
que está deliciosamente apertada em uma calça jeans e claro que, enquanto estou
babando nessa parte específica, ela vira novamente para mim, me pegando no flagra.
— Você realmente é um idiota. — Me fuzila quando percebe para onde eu
estava olhando.
— Não sou não — defendo-me. — Diferente de você eu tenho uma boa visão
— afirmo dando uma boa olhada em todo o seu corpo e já sinto meu pau querendo se
animar. — Está perdida? — Mudo meu tom de voz porque nesse momento estou pouco
me fodendo se ela me atropelou. Quero essa bunda de quatro enquanto eu entro
dentro dela.
— É sério isso? — ela gargalha alto. — Isso funciona?
— O quê? — pergunto confuso com seu sarcasmo.
— A mudança de voz, a olhada descarada e esse sorriso idiota.
— Funciona. — Inflo o peito e dou mais um sorrisinho de lado. O sorrisinho que
arrancou inúmeras calcinhas pelo campus e que com ela não será diferente.
— Então sinto muito em te informar. Sou imune a babaca.
— Você me atropela e eu sou o babaca? — Seus olhos praticamente saem
faísca enquanto me fuzila.
Seu rosto é pequeno assim como seu corpo, porém seus olhos são quase
como um imã. Sua boca rosada é tão beijável que sinto vontade de puxar contra mim.
— Tenha uma boa-noite. — Ela se vira novamente e vai para a frente do carro.
Observo ela pegar seu celular e ligar para alguém, mas não demora a desligar.
— Está procurando alguém? — Me aproximo tentando mais uma vez conversar
porque não desisto fácil de uma boa bunda, ops de uma garota.
— Não é da sua conta — responde grossa.
— É sério, eu posso te ajudar. — Encosto no meu carro e viro-me ficando de
frente para ela. — Conheço muita gente no campus.
O celular dela apita e seu sorriso se acende. Droga, estou enfeitiçado por ela e
tem apenas alguns minutos que a conheci.
— Não preciso da sua ajuda. — Ela desencosta do capô, mas antes de sair me
encara. — Se eu fosse você colocava gelo na sua mão porque ela não está muito legal
— diz e vai em direção à entrada da festa.
Eu fico feito um idiota a vendo sumir no meio das pessoas. Não sei por que,
mas quero saber quem diabos é essa garota.
CAPÍTULO 2 - Ashley Moore

— Eu vou matar a Brooke! — penso enquanto sigo em direção ao que acredito


que seja a entrada da festa porque ela me enviou uma mensagem avisando onde
estava.
Estou esgotada de tão cansada e ainda tive o desprazer de esbarrar em um
babaca assim que cheguei, um muito gostoso devo dizer, ainda assim um babaca. Bufo
irritada enquanto a procuro no meio da multidão e só solto um suspiro de alívio quando
a encontro acenando feito uma louca na entrada da festa. Apresso o passo me
desviando das pessoas que estão na parte da frente e, assim que me aproximo, ela se
joga nos meus braços.
— Ash! — grita e sinto meus tímpanos reclamarem. — Nem acredito que você
está de volta e vai estudar aqui.
A abraço e um sentimento de familiaridade me invade. Brooke é minha prima,
filha do meu tio, irmão do meu pai, e, desde que fui embora de Boston, mantivemos
contato pelas redes sociais, porém só nos vimos pouquíssimas vezes pessoalmente.
— Só você para fazer eu vir até uma festa no meu primeiro dia no campus,
Broo. — Suspiro quando me afasto e a encaro.
Seu sorriso é enorme enquanto me examina e eu faço o mesmo. Muitas
pessoas perguntam se somos irmãs porque, além de ambas sermos loiras, possuímos
os olhos claros e traços bem parecidos. Nossa diferença está no tamanho porque ela é
bem mais alta do que o meu um metro e sessenta e oito e no cabelo, porque, diferente
do dela que é bem cacheado, eu uso o meu liso.
— Desculpa não ter ido te buscar no aeroporto, mas eu confundi as datas e
acabei marcando para ajudar na organização da festa. — Faz biquinho enquanto
segura minhas mãos.
— Não tem problema — afirmo. — Tinha um carro me esperando a mando do
tio.
— Ele me contou. — Sorri e solta minhas mãos enganchando seu braço no
meu. — Deu tudo certo no dormitório?
— Deu sim, inclusive já até organizei metade das minhas coisas.
Assim que saí do aeroporto, vim direto para o campus e desfiz minhas malas.
Eu e a Brooke vamos dividir o mesmo dormitório e com certeza isso tem o dedo do
meu tio. Nessas horas é muito bom ser a sobrinha do técnico.
— Ótimo. Vamos nos divertir muito e ainda morar juntas. — Sorri animada. —
Agora deixa eu te apresentar meus amigos.
— Não começa — peço porque conheço o sorrisinho que ela me direciona. —
Estou querendo distância de problemas depois do Petter.
— Só amigos — avisa e juntas nos viramos e no mesmo instante solto um
suspiro.
Porra!
Três pedaços de mal caminho estão formando um paredão na minha frente e
eu tento não ficar embasbacada com a beleza deles, mas confesso que é difícil.
— Oi, meninos. — Minha prima cumprimenta toda sorridente.
— Oi, Brooke. — O mais alto dos três e de olhos escuros a puxa para um
abraço e posso estar enganada, mas noto que o gesto dura mais que o necessário.
Quando minha prima se afasta percebo sua respiração vacilar.
Olha, aí tem alguma coisa.
— Oi, Liam. — Ela se recompõe e me olha. — Essa é a Ashley, minha prima e
vai estudar conosco.
— Olá. — Ele sorri deixando à mostra todos os seus benditos dentes alinhados
e no mesmo instante me puxa para um abraço como se fôssemos melhores amigos. —
Bem-vinda, caloura — cumprimenta quando se afasta e eu sorrio embasbacada com a
sua beleza.
Ele é o mais alto dos três, moreno, com o cabelo no estilo militar e pintado de
loiro. Seus olhos travessos brilham enquanto me examinam.
— Obrigada, mas só para constar: não sou caloura — brinco enquanto ele volta
ao seu lugar. — Vim transferida da Leifield.
— Então temos uma inimiga na nossa área? — Arqueia a sobrancelha e eu
gargalho negando porque sabia que ele diria isso.
— Eu sou cem por cento os Black WildCats, juro — brinco citando o apelido do
nosso time de hóquei.
Leifield, universidade de Nova York, onde estudei por dois anos, assim como a
universidade de Brisfolk é conhecida pelo hóquei, no entanto, ela está bem atrás na
questão de vitorias. As duas são inimigas declaradas na arena e causam alvoroços
quando se enfrentam nas temporadas.
— Você sabe o que é bom, garota. — O outro moreno diz se aproximando.
Diferente de Liam que possui olhos escuros, esse tem os olhos da cor de uma floresta
e um sorriso com duas covinhas, uma de cada lado. Seus cabelos estão bagunçados e
algo me diz que isso é proposital. — Meu nome é Kyle e preciso te avisar que sou o
mais legal dessa turma.
— Prazer, Kyle. — Sorrio enquanto ele deposita um beijo na minha bochecha.
— Gatinha, prazer só na minha cama — rebate galanteador e recebe um tapa
do amigo que está ao seu lado.
Aposto que de todos ele é o mais cafajeste. Não o julgo porque, com uma
beleza dessa, não deve ser muito difícil se tornar um pegador nato e quebrar diversos
coração por onde passa.
— Você não perde uma, seu idiota. — O que estapeou declara se
aproximando. — Não escuta nada do que ele fala. — Ele sorri. — Eu sou o Benjamin,
mas pode me chamar de Ben. Seja bem-vinda. — Deposita um beijo na minha
bochecha e em seguida se afasta.
Diferente dos dois amigos, Ben é galego, com a pele clara, cabelo curto e um
maxilar bem-marcado. Ele parece ser o mais centrado e eu tento não prestar muita
atenção no quanto a sua camisa colada deixa visível seu corpo perfeitamente gostoso.
— Obrigada, meninos — agradeço revezando meu olhar entre os três e, se
todos os alunos de Brisfolk forem desse nível, eu estou simplesmente ferrada.
— Onde está o Connor? — Minha prima pergunta depois das apresentações.
— Ficou no estacionamento para atender uma ligação, mas deve estar
chegando — Liam responde e no mesmo instante meu alerta grita.
— Quem é Connor? — questiono.
— Um amigo nosso. Ele mora com os meninos — Brooke responde.
— Lá vem ele — Kyle avisa e, antes de me virar, sinto um arrepio na nuca.
Não, não pode ser!
— Vejo que já conheceram a Assassina. — Sua voz chega até os meus
ouvidos e eu reviro os olhos.
— Assassina? — Brooke pergunta confusa assim que ele para ao meu lado.
— Ela quase me matou no estacionamento — justifica.
— Mano, que merda é essa na tua mão? — Kyle pergunta.
— Ela me atropelou. — Aponta para mim quando vai para o lado dos amigos.
— Na queda, apoiei o corpo com as mãos e acabou machucando um pouco.
Cara, será que existe algum homem feio nessa universidade? No
estacionamento eu não consegui analisá-lo por completo porque estava nervosa pela
babaquice dele, no entanto, agora fica difícil não observar.
Noto que seu cabelo está perfeitamente arrumado e sinto vontade de passar
minhas mãos apenas para retirar essa sensação de perfeição. Seus olhos da cor de
avelã me examinam e observo um sorriso de lado despontar nos seus lábios mostrando
sua covinha do lado direito e diferente dos sorrisos que recebi a pouco esse consegue
me afetar. Ele possui um maxilar quadrado e uma boca carnuda, totalmente beijável.
Porra, eles quatro juntos são o sonho de consumo de toda mulher e tenho
certeza de que devem deixar diversos corações partidos por todo o campus. Quase
posso ver um alerta piscando em neon na cabeça deles; não se apaixone ou você está
ferrada!
— Eu não vi você. — Saio dos meus pensamentos idiotas e defendo-me.
— Você ainda é uma péssima motorista? — Brooke indaga e eu a fuzilo com o
olhar.
— Ele estava abaixado na droga da vaga vazia. Não tinha como eu vê-lo —
defendo-me.
Eu sei que não sou uma motorista profissional porque evito ao máximo dirigir,
principalmente depois do acidente, ainda assim, dessa vez, eu não tive culpa, pelo
menos, acredito que não.
— Um dia você consegue, Ash, um dia você ainda vai conseguir matar alguém
— ela zomba e eu dou de ombros.
No mesmo instante, todos se viram para o tal Connor e começam a rir. Eu tento
controlar, mas acabo indo na onda e ele reveza seu olhar irritado entre nós.
— Não vejo graça alguma — resmunga para ninguém em específico, mas seus
olhos voltam a ficar fixos em mim, cheios de curiosidade.
Tento não ficar mexida com sua avaliação, mas sinto como se ele estivesse
tentando me desvendar de dentro da fora e isso me deixa em alerta.
— Já que todos conheceram a Ash podemos entrar e aproveitar a festa? —
Brooke pergunta fazendo com que eu desvie o olhar dele.
— Então você se chama Ash — Connor diz e sua voz sai um pouco mais baixa
e quase me esqueço de que ele foi um babaca há pouco, quase.
— Ashley, Ash é só para os íntimos, coisa que você não é. — Ergo o queixo
atrevida.
— Porra, eu gostei dela! — Ben grita e no mesmo instante leva um tapa do
Connor.
— Aposto que ele deu em cima de você no estacionamento.
— Cale a boca, Liam — Connor pede irritado.
Dou de ombros e olho para a minha prima, que me encara atenta. Parecendo
gostar da interação, ela sorri, mas logo engancha seu braço novamente no meu e
começa a me puxar.
— Boa festa, garotos, e usem camisinha porque sou nova demais para ser titia
— diz gargalhando. — Vou apresentar a Ash para os outros.
— A gente se vê por aí, Assassina. — Ainda ouço a voz do Connor em meio ao
barulho da festa e suas palavras saem mais como uma promessa.

— Ei, essa é a última! — grito e me viro pronta para matar a mão atrevida que
pegou a última fatia de pizza da caixa, aquela que eu estava preste a pegar.
— Fui mais rápido. — Sua voz chega até mim antes que eu consiga me virar e
tento controlar a raiva, mas quando giro sobre os calcanhares e encaro Connor com um
sorriso descarado eu sinto vontade de esganá-lo.
— Eu cheguei primeiro — aviso fechando a caixa com força.
— E eu peguei primeiro. — Ele leva o pedaço até a boca e minha barriga
protesta.
— Se você comer essa pizza, você vai ter uma dor de barriga dos infernos —
ameaço.
— Praga não pega em mim, Assassina.
— Pode parar de me chamar com esse apelido idiota? Não tive intenção
nenhuma de te matar no estacionamento, mas agora... — Sorrio diabólica o
examinando e esse é o meu primeiro erro.
Connor está com uma calça jeans escura apertada, blusão vermelho com o
emblema do time de hóquei: um gato nos tons de preto e vermelho, cores do time. O
animal está segurando o stick e, na parte inferior, está gravado o apelido Black
WildCats. Mesmo que ele seja folgado, não me resta dúvidas de que o corpo dele está
bem próximo da perdição. Subo meu olhar e encontro seus olhos em chamas enquanto
me examina. Sua boca esbanja um sorriso convencido e odeio que ele tenha me pego
o analisando.
— Está vendo? — pergunta e dá uma mordida generosa na pizza me fazendo
arquejar de raiva. — O apelido cai perfeitamente.
— Essa era a última fatia. — Aponto furiosa sentindo minha barriga roncar, pois
passei a tarde inteira arrumando o dormitório e só parei na hora de vir para essa festa.
— Que nada. — Ele dá de ombros. — Acabou de chegar mais uma rodada.
— Como é? — Franzo as sobrancelhas confusa.
— Isso mesmo. — Ele sorri devorando o restante da pizza. — O Liam acabou
de ir para a área coberta da piscina com as caixas.
— E por que diabos você decidiu pegar justamente a que eu ia comer?
— Porque percebi que gosto quando você fica irritada. — Dá de ombros. —
Suas bochechas coram.
— E eu percebi que você é um babaca! — rebato.
— E você é linda pra cacete quando está nervosinha — solta de repente se
aproximando e me fazendo perder o raciocínio por alguns segundos.
Quando seu corpo se aproxima a poucos centímetros do meu, meus olhos
automaticamente se fixam em sua boca. Eu engulo em seco, consciente de que ele
está perigosamente próximo, desafiando a minha sanidade mental. Seu cheiro com
toda certeza faz algo com os meus neurônios, mas, antes que eu cometa o maior erro
da minha vida, somos interrompidos por uma voz estridente.
— Olha o capitão aí. — Desvio o olhar da sua boca, que parece ser uma
delícia, e vejo uma ruiva se aproximando. Se não estou enganada, ela é a anfitriã da
festa. A líder de torcida e presidente da fraternidade onde estamos.
— Oi, Raven. — Connor se afasta do meu corpo parecendo irritado.
— Capitão? — pergunto só então me lembrando do que ela o chamou.
— Você estava dando em cima da novata e sequer falou que você é o capitão
do time de hóquei? — Raven pergunta com uma falsa risada. — Pensei que usaria o
título para conquistar novas marias-patins — implica.
— Claro que ele é — bufo revirando os olhos e o encaro. — Fique longe de
mim.
— Assa... — não escuto o restante do apelido idiota porque saio da cozinha na
velocidade da luz, indo em direção à área da piscina.
Sorriso de arrancar calcinhas, bom de cantadas e um corpo de fazer a
mulherada delirar. Só podia ser um maldito atleta!
— Droga, Ashley, você quase caiu no mesmo erro pela segunda vez —
murmuro para mim mesma enquanto procuro Brooke no meio da multidão.
Necessito me manter longe do Connor porque tudo que eu não preciso nesse
momento e em nenhum da minha vida é me envolver com um maldito atleta que acha
que pode obter tudo que quer.
Eu aprendi a droga da lição!
CAPÍTULO 3 - Connor Harrington

A maldita praga pegou...


Depois da nossa discussão e quase pegação na cozinha, eu não vi mais a
Ashley e é vergonhoso dizer que eu a procurei, mais do que deveria durante o restante
da festa. Quando percebi que a Assassina decidiu fugir depois do nosso quase beijo,
eu aproveitei o restante da festa com a Raven e estava tudo perfeito, até não estar
mais. Já estava prestes a encerrar a noite e subir para o quarto com a ruiva gostosa
quando algo deu errado na minha barriga e eu não sei como, mas eu consegui chegar
em casa a tempo.
Cinco malditas vezes foi a quantidade exata que fui ao banheiro na madrugada
e hoje pela manhã.
— Quantas na cama hoje? — Kyle pergunta assim que entro na sala. Ele está
concentrado na tela à sua frente enquanto tenta matar seu adversário no jogo. Juro que
não sei quem é mais viciado nessa merda, ele ou Ben.
— Nenhuma — bufo irritado e me jogo na poltrona sentindo minha cabeça
latejar devido à bebida e à noite maldormida.
— Como assim? — Dá pause me olhando incrédulo. — Eu não vi você saindo
e, quando cheguei, sua porta estava fechada — diz confuso. — Pensei que estava com
alguém.
— Eu iria dormir com a Raven na fraternidade, mas passei mal e acabei
voltando correndo para casa.
— Que merda, cara. — Ele me examina. — Você parece destruído. Melhorou
um pouco ao menos?
— Estou melhor. — Olho para o desgraçado e ele parece que passou a noite
em um maldito spa e não em uma festa enchendo a cara. Confesso que sinto uma
pontada de inveja. — Um dia, eu ainda vou te ver de ressaca — resmungo e ele solta
uma gargalhada voltando a se concentrar no jogo.
— Quem sabe em outra vida — ri e o odeio um pouco mais por isso. Kyle é o
único que pode beber feito um opala, ainda assim vai acordar sem um mínimo de
ressaca na manhã seguinte.
— Onde estão o Liam e o Ben? — pergunto porque, em algum momento da
festa, os dois sumiram.
— O Liam ficou na fraternidade, porque subiu com as gêmeas para o quarto —
informa se referindo a Wendy e Whitney, duas integrantes da fraternidade que amam
um sexo a três, inclusive já fiquei com ambas. — E o Ben voltou comigo, mas, diferente
de mim que estava com a Bethany, ele voltou sozinho.
— Está mesmo firme no celibato. Quero só ver até onde isso vai durar —
zombo.
— Ele veio o caminho todo xingando todos nós por ter obrigado ele ir à festa
apenas para passar vontade.
— Ainda vou descobrir o real motivo por trás disso — digo porque esse papo
de ser apenas pelo hóquei não conseguiu me convencer.
Ouço o barulho de saltos na escada e, quando olho na direção, vejo Bethany
descendo toda sorridente e com o mesmo vestido de ontem à noite. Ela é uma das
garotas mais próximas da nossa turma, assim como a Brooke e a Destiny.
— Bom dia, garotos — cumprimenta quando se aproxima. — Estou indo, baby.
— Joga um beijinho no ar para Kyle e ele sorri safado.
— Bom dia, gatinha. Qualquer dia desses eu te ligo. — Lança uma piscadela.
— Liga nada. — ela responde, mas seu tom de voz não está com raiva porque
ela sabe da fama do Kyle, que não repete transa.
Não vejo problemas em repetir, não quando você é sincero sobre o que quer
desde o início. Eu e a Raven já transamos várias vezes, mas isso não impede de ela
ficar com outros caras e eu com outras garotas.
— Bom dia, Bet — cumprimento. — Quer uma carona? — Ofereço porque
preciso ir à farmácia comprar algo para a minha barriga.
— Obrigada, Connor, mas a Brooke já está me esperando lá fora.
Ao citar a nossa amiga, de imediato me lembro da Assassina e não sei por que,
mas sinto meu coração acelerar e meu pau acordar. Ainda não desisti de saber mais
dela, claro, de tê-la na minha cama também.
— Ah, beleza, a gente se vê por aí então. — Sorrio e ela retribui.
Bethany segue em direção à saída e assim que a porta bate eu corro até a
janela espionando a área da frente. O carro da Brooke está estacionado e de onde
estou consigo vê-la em frente ao volante e a Assassina ao seu lado. Elas estão rindo
de algo e não demora para a Bethany chegar e entrar no banco de trás. Observo o
carro ganhar velocidade e desaparecer.
— Virou stalker agora? — pulo assustado quando Ben sussurra no meu ouvido.
— Que susto, porra! — Levo a mão ao coração com medo de que ele saia
pulando para fora. Agradeço a dor na barriga ter aliviado ou era capaz de, nesse
momento, o estrago estar feito.
— Claro que se assustou. — Ele se afasta e se joga no sofá ao lado de Kyle.
— Estava distraído observando as meninas. — Me escrutina. — Ou será que era a
novata?
— Não viaja. — Olho para o relógio e vejo que já são quase meio-dia. Porra,
dormi quase nada. — Vou subir e tentar dormir mais um pouco. Assim que acordar vou
atrás de algum remédio.
— À noite, vamos para o Queens — Kyle avisa quando estou preste a subir. —
E a novata vai estar lá.
— Não estou interessado — minto na cara de pau ou eles vão infernizar o meu
juízo se perceberem que estou interessado na Ash, pior, que ela parece me odiar.
— Você não consegue nos enganar, capitão. — Ainda ouço Ben gritar.

Passo os olhos pelo salão do Queens, o point de encontro da maioria dos


universitários de Brisfolk, principalmente os jogadores. É aqui que comemoramos as
vitórias e passamos um bom tempo jogando conversa fora. O Queens fica próximo à
nossa casa e da arena, o que facilita a nossa vida.
— Fala aí, cara. — Owen, o proprietário, me cumprimenta no momento que
passo em frente ao balcão. — Os garotos estão na mesa de sempre. — Aponta mais à
frente e eu já consigo ver os marmanjos.
— Valeu, Owen — cumprimento-o e sigo em direção ao fundo onde já os vejo.
Dormi a tarde inteira e isso renovou minhas forças, porque, desde que acordei,
não senti nenhum incômodo no estômago. Quando levantei, tinha uma mensagem do
Ben no meu celular avisando que eles estavam reunidos aqui e, como não queria ficar
sozinho em casa, acabei decidindo vir.
Não tem nada a ver com a garota de olhos verdes que azucrinou meu sono
durante toda a tarde, a mesma que está gargalhando de algo que o idiota do Kyle está
falando.
— Boa noite — cumprimento todos assim que me aproximo e no mesmo
instante sua risada cessa.
Ash parece que comeu algo azedo enquanto me encara, mas logo desvia sua
atenção para o canudo à sua frente como se ele fosse mais atrativo do que a minha
presença.
— Demorou, hein! — Liam comenta.
— Se tivesse me acordado, eu não teria demorado — resmungo enquanto me
sento. — Oi, meninas — cumprimento Brooke, Ash e Bethany que estão sentadas uma
ao lado da outra.
— Ei, a gente tentou — Kyle se defende. — Mas como você estava doente
decidi não insistir.
— Oi, Connor. — Bethany sorri e eu retribuo.
— Está doente? — Brooke pergunta genuinamente preocupada. Quando penso
em dizer que não foi nada, o idiota do Kyle acaba falando:
— Passou a noite sendo o rei do trono — solta e todos gargalham, mas é nítido
o quanto a risada da Ash se sobressai.
— Eu te falei — ela zomba enquanto tenta controlar o riso.
— Além de assassina também é bruxa — murmuro a fitando.
— Do que vocês estão falando? — Ben questiona.
— Ela me jogou uma praga ontem na festa quando eu roubei a pizza dela.
— Cara, eu já estou apaixonado nessa mulher. — Kyle sorri sedutor para
Ashley e observo ela revirar os olhos.
— Não perca seu tempo — Beth declara. — Ela é imune a atletas.
— Isso aí — Ash concorda apontando com o canudo para a amiga.
— Assim você nos magoa. — Finjo estar magoado e levo minha mão ao peito.
— Somos homens bons também.
Ashley me encara e daria minha vida para saber o que se passa nesse
momento pelos seus olhos no mesmo tom de esmeralda. Diferente de ontem quando a
vi, hoje ela está com o cabelo loiro preso em um coque, com pouca maquiagem no
rosto e não sei como, mas ela está ainda mais linda. Sua blusa vermelha colada deixa
seu busto em evidência e eu tento não encarar essa parte específica.
É, talvez eu tenha um fascínio por peitos e bundas.
— Pobrezinho — desdenha. — Deve ser tão difícil para você uma mulher dizer
que não se envolve com jogadores.
— Isso é mesmo — Beth zomba e eu tiro os olhos da Ash. — Connor nunca
levou um fora, então aposto que foi difícil ter levado de você.
— Ei. Eu não levei um fora da Assassina — declaro.
— Connor.
— Que tal vocês pararem de falar de mim? — Ash corta o que a Brooke está
preste a falar.
— Quando começa os treinos? — Bethany pergunta mudando de assunto.
— Próxima semana — respondo e chamo o garçom. — Pode trazer um suco
de laranja para mim, Wendell? — peço assim que se aproxima e ele apenas assente
saindo em seguida.
— Temos que focar, porque o campeonato começa no início de outubro — Ben
comenta e todos concordam.
— Meu pai vai entrar no mood insuportável — Brooke diz. — O próximo mês
ele vai estar pilhado ao extremo!
— Sinto saudades desse mood — Ash comenta e noto seu semblante mudar.
— Eu não sinto — comento brincando. — O treinador Franklin fica insuportável
quando se aproxima dos jogos.
— Ela sente falta do pai — Brooke avisa e Ash a encara parecendo querer
esganá-la.
— Espera. — Olho entre as duas e só agora me toco que, se elas são primas,
a Ash é filha... — Porra, você é filha do Charles — constato não conseguindo esconder
a surpresa.
Assim que minhas palavras saem percebo ela me fuzilar, mas também noto
seus olhos perderem um pouco do brilho e todos à mesa a encaram.
— Descobriu o mundo. — Ela tenta revirar os olhos, mas percebo que assunto
é delicado porque a vejo engolir em seco e, no mesmo instante, me odeio porque
conheço a história e não deveria ter entrado no assunto.
Ótimo, agora que ela vai me odiar ainda mais!
— Cara, eu tinha esquecido que elas são primas — Kyle comenta me
encarando e depois as fita. — Eu não conheci o seu pai, mas ele é aclamado aqui.
— Verdade — Ben concorda. — Ele é tipo um superstar. Todo mundo que
treinou com ele fala bem.
— Eu adoro o Franklin e ele é foda, mas sempre quis conhecer o Charles —
Liam diz deslumbrado.
— Impossível isso acontecer — ela comenta e parece preste a fugir da mesa.
— Sinto muito — digo baixinho enquanto ela me encara e tento transmitir
através do olhar um pedido de desculpas por ter entrado nesse assunto. Ela dá de
ombros e desvia seu olhar do meu.
Assim que entrei em Brisfolk soube que o antigo treinador da equipe tinha
morrido em um acidente de carro há alguns anos quando estava voltando de um jogo e
que o novo técnico era o seu irmão. Já vi muitas histórias sobre o quão foda ele era e o
quanto trouxe vitórias na liga universitária.
— Os treinos das líderes também começam na próxima semana — Bethany
comenta tentando quebrar o clima triste que se apossou da mesa. — Juro que vou
arrancar os cabelos da Raven se ela continuar sendo insuportável e maldosa com as
meninas.
— Eu só fui ajudar na festa porque você me pediu — Brooke comenta olhando
para a amiga. — Não sei como você consegue fazer parte das líderes de torcida com
ela à frente.
— Às vezes, ela consegue ser legal — Beth defende. — Ela tem seu lado bom.
— O Connor que o diga — Kyle solta debochando e eu o fuzilo.
— Como assim? — Ash parece levemente interessada.
— Eles vivem se pegando — Ben diz e eu só queria socar a cara desses
imbecis para fazer com que eles calem a boca.
— Vocês falam como se nunca tivessem ficado com ela — rebato irritado e
eles apenas dão de ombros.
— Claro que sim — ela afirma e no mesmo instante seu celular começa a
tocar. — Vou lá fora atender. — Aponta para o aparelho e vai em direção à saída.
Controlo a vontade de seguir sua bunda com os olhos e só consigo porque o
Wendell se aproxima com o meu suco e eu foco em entrar na conversa que os meninos
iniciaram sobre o início das aulas.
Ash volta algum tempo depois e seu semblante reflete pura preocupação, mas
sequer tenho chance de perguntar se algo aconteceu porque ela me ignora
completamente durante todo o resto do tempo que fica no point. Quando vai embora
com as meninas, eu ainda fico um bom tempo com os meninos jogando conversa fora.
CAPÍTULO 4 - Ashley Moore

— O Connor está caidinho por você — Brooke comenta assim que passamos
pela porta do dormitório.
Suspiro tentando não pensar no atleta que conseguiu despertar o meu
interesse. Quando o notei se aproximando do point, eu quis embora, entretanto, não
consegui porque, curiosamente, queria descobrir mais dele. Saber que ele vive se
pegando com a Raven não foi um ponto positivo, mas confesso que fiquei mexida com
a admiração que ele tem com o meu pai e isso me ajudou a não querer socar a cara
dele por entrar no assunto.
Eu evito falar sobre o meu pai porque ainda dói, não como antes porque
aprendi a lidar com a dor, mas tem dias que simplesmente é mais difícil. Não tem
explicação para o luto e tampouco data para que a dor desapareça. No entanto, fiquei
feliz que, mesmo depois de não estar mais no campus, meu pai continua sendo
lembrado e amado.
— Não começa — peço jogando-me na minha cama.
— É sério, todo mundo percebeu. — Ela se joga na sua, que fica um pouco
mais à frente.
— Ele só está curioso porque sou novidade. Logo desencana — afirmo o óbvio.
Eu preciso que ele realmente desencane quando perceber que eu não irei cair
no seu papinho de conquistador. Eu não pretendia o evitar no Queens, mas quando vi o
nome do Petter na minha tela e fiz a burrice de atender sua ligação eu entendi que
precisava manter distância do Connor.
— Hum. — Ela vira de lado e eu a encaro.
— O quê? — pergunto curiosa com seu semblante risonho.
— Ele é conhecido por conseguir o que quer e ele quer você.
— Você sabe que quero distância de jogadores, Broo. — Suspiro e fito o teto.
— E uma hora ele vai cansar porque eu serei a exceção e não vou cair no papinho
dele.
— Você sabe que não é porque o Petter foi um idiota que todos os atletas vão
ser, né? — pergunta.
Brooke sabe que o Petter era um babaca tóxico, no entanto ela não sabe do
restante da história e eu não sei se tenho coragem de contar. Não é algo que me
orgulho, muito menos que quero reviver, então prefiro continuar fingindo que não
existiu.
— O Liam não é, então? — mudo o foco da conversa para ela.
— O que tem ele na história? — Sua voz vacila.
— Você pensa que eu não notei, não é? — Sorrio e seu semblante se fecha. —
Vocês exalam tensão sexual. — Jogo uma almofada em cima dela e ela a segura.
— Não venha mudar de assunto. Sou apenas amiga dos meninos. — Joga de
volta para mim e eu dou risada porque é nítido que tem algo aí.
— Se você está dizendo — zombo dando de ombros. — Mas é sério, quero
focar nos estudos, curtir um pouco e, se quiser pegar alguém, não pode ser atleta.
— Não sabe o que está perdendo — ela comenta. — Os jogadores são os mais
gostosos e os que mais têm pegadas.
— Qual deles você já pegou? — pergunto levemente curiosa.
— Você só precisa saber que não peguei o Connor.
— Ah, não pegou, mas quer jogar para mim? — Finjo estar ofendida.
— Não rolou química entre a gente, mas já com você dois... — A desgraçada
começa a se abanar.
— Idiota. — Sorrio. — Vamos dormir porque eu estou cansada.
— Vamos, mas pense no assunto.
— Que assunto? — Finjo-me de desentendida.
— Oras, Connor. Ele é gostoso e todo mundo fala que tem o pau grande. —
Abro a boca fingindo choque. — Dizem que a camisa dele tem o número vinte e três
por um motivo.
— Você está dizendo que...
— Que todo mundo comenta que ele tem um pau de vinte e três centímetros —
ela me interrompe. — Será bom para você começar as aulas renovada.
Minha boceta lateja com a informação, mas envio um comando para ela se
acalmar porque não deixarei o Connor procurar petróleo dentro dela.
Puta que pariu!
Quem diabos tem um pau de vinte e três centímetros? Pelo visto, o capitão
com o sorriso mais safado que já coloquei os meus olhos.
— Boa noite, Brooke — encerro o assunto e ela solta uma gargalhada notando
minha falha tentativa de não ficar pensando no pau alheio.
No pau de vinte e três centímetros!
— Boa noite, Ash. Estou feliz por você estar aqui.
— Também estou. — Apago a luz do abajur e ela faz o mesmo.
Encaro a escuridão do quarto e fico pensando no maldito sorriso do Connor,
além do que ele deve fazer com o seu pau monstro. Liam, Kyle, Ben e todos os outros
que conheci na festa são lindos, no entanto o único que conseguiu me deixar em
estado de alerta foi o idiota do Connor, mas eu sei me controlar e, assim que começar
as aulas, vou estar tão atolada nas matérias que o capitão será a última coisa que irá
passar na minha mente.
Isso mesmo.
Eu tenho uma única regra: não me envolver mais com atleta e não renuncio a
ela.

Observo o enorme prédio principal da universidade à minha frente e seguro a


alça da mochila um pouco mais forte. Desde menina, eu soube que queria me tornar
médica e minha decisão se tornou ainda mais forte quando eu perdi meu pai naquele
fatídico acidente. Minha mente volta àquela noite e, mais uma vez, eu me pergunto: se
eu fosse mais velha e formada, será que seria capaz de salvá-lo? Será que teria
conseguido fazer algo? Odeio esses “e se”, mas é inevitável não pensar toda vez que
me vejo perdida nas lembranças do acidente.
Tínhamos ido para mais um show da liga universitária e os Black WildCats
venceram com louvor os The Crows, time da Leifield. Era para voltarmos com o time no
ônibus, mas, naquela noite em específico, eu e ele tínhamos ido de carro para o jogo
porque era o aniversário de casamento dos meus pais. Minha mãe tinha ficado em
casa preparando uma surpresa e eu iria ficar na casa da Broo na volta e assim eles
poderiam comemorar. Estava tudo planejado, até não estar mais e eu ver o meu mundo
sendo girado de cabeça para baixo enquanto o carro capotava repetidas vezes.
Meus olhos pinicam com as lágrimas contidas, mas não deixo elas descerem.
Estou no lugar onde sempre deveria estar e isso é motivo de alegria. Não me resta
dúvida de que meu pai está orgulhoso e isso é o que importa. Até este momento não
consegui decidir qual área vou seguir, no entanto, ainda tenho um bom tempo para me
decidir sobre a especialização, pois estou entrando no terceiro ano do preparatório e
até a finalização do curso tenho um longo caminho para percorrer.
Sinto o frio castigar minha pele mesmo estando com um casaco, ainda assim
sorrio enquanto subo os degraus do prédio. Eu estudei dois anos na Leified, porque,
além de entrar na onda do meu ex-namorado, eu queria estar próxima a minha mãe.
Sei que ela ainda não superou a tragédia, eu também não, mas, diferente dela, estou
conseguindo seguir em frente.
Meu pai estudou em Brisfolk, minha mãe, meu tio, minha prima e era esperado
que eu também, entretanto quando saí daqui, há seis anos, depois da morte do meu
pai, não tinha certeza se queria voltar porque esse lugar tem muitas lembranças, mas
ao terminar com Petter eu percebi o meu grande erro. Lembranças sempre vão nos
acompanhar, independentemente do local que estamos. Não adianta fugir delas ou da
dor porque isso só vai tornar o processo ainda mais difícil. Aceitar a perda não é fácil e
nunca vai ser, ainda assim, precisamos aprender a conviver com ela e torná-la
suportável.
Eu amo o meu pai, sinto sua falta diariamente e, diferente do que pensei, estar
aqui não me traz dor, mas sim conforto. Estou no lugar onde cresci, no espaço onde ele
sempre estava presente e onde todos o admiram. Nesses últimos anos aprendi que me
agarrar às lembranças boas é mais aconchegante do que ficar presa na teia de
lembranças ruins.
Dona Amélia ainda não está preparada para retornar a Boston, mas eu tenho fé
de que ela ainda vai conseguir e eu estarei pronta para recebê-la. Respiro fundo
quando subo o último degrau e observo as enormes janelas cinzas, a porta de vidro
que já me dá uma bela visão da área interna.
Entro no prédio, pego minha grade curricular que imprimi ontem à noite e,
como não visitei o campus quando cheguei, acabo ficando um pouco perdida. Abro
minha bolsa enquanto ando sem direção e começo a retirar os livros procurando o meu
celular para dar uma olhada no mapa e assim localizar o caminho correto para o
auditório. Quando o encontro, depois de retirar quase tudo da bolsa, solto um suspiro
aliviado, porém é nesse momento que sinto meu corpo se chocar com outro e quase
como se fosse em câmera lenta eu observo todos os meus pertences saírem voando
para o chão.
— Merda. — Me abaixo instintivamente e o peito duro que se chocou contra o
meu também faz o mesmo e só então percebo quem é. — O destino só pode estar de
sacanagem com a minha cara — bufo irritada quando levanto meu rosto e vejo o
sorriso de Connor brilhando como se estivesse na merda de um comercial de creme
dental.
— Bom dia para você também, Assassina — cumprimenta sorrindo de lado e
eu tento fingir que meu estômago não parece ter mil borboletas e que o seu cheiro não
impregnou todos os meus sentidos com a aproximação. — Deixa eu te ajudar com isso.
— Ele começa a recolher todos os itens.
— Não precisa — resmungo, no entanto ele não me ouve e começa a recolher
as coisas, me entregando em seguida. Quando conseguimos juntar todos os materiais,
nos levantamos, e ele me encara.
— Acho que deveríamos sair — declara e eu solto um suspiro enquanto fecho
a mochila.
— E eu acho que você deveria desistir — declaro grossa. — Não vou sair com
você!
— O destino quer outra coisa — contrapõe.
— Não é porque nos encontramos três vezes que o destino nos quer juntos. —
Reviro os olhos. — Estamos na mesma universidade, então provavelmente isso irá
acontecer com mais frequência do que eu gostaria.
— O destino quer — afirma convicto e eu sinto vontade de bufar com sua
teimosia.
— Qual a parte do eu não saio com jogadores, você ainda não entendeu,
Connor? — pergunto tentando ficar séria, o que é uma tarefa muito difícil ao encará-lo.
Se eu o achei lindo nas últimas vezes que o vi, nada chegou perto do que é
fitá-lo à luz do dia. Seus olhos são ainda mais hipnotizantes do que eu me lembrava e
fica difícil não se perder neles enquanto ele me fita. Connor é do tipo que sorri com o
olhar e isso é muito perigoso para a minha calcinha e meu coração.
— Não sei o porquê da regra idiota, mas posso fazer você esquecê-la
rapidinho.
Solto uma gargalhada com suas palavras enquanto o observo e não posso
negar que o cara é insistente, lindo, gostoso e que, provavelmente, tem uma pegada
dos infernos, no entanto já caí nesse papinho e minha cota de atletas babacas já
esgotaram.
Eu aprendi bem a última lição e a conta da minha terapia não ficou nada
barata.
— Não perca seu tempo — aviso.
— Eu não sou de desistir — replica convicto.
— Deveria porque você não faz o meu tipo — digo cruzando os braços e
observo ele incrédulo.
— Eu faço o tipo de todas — informa orgulhoso.
— Não me inclua nesse todo. — Passo por ele, mas Connor segura meu braço
me fazendo parar.
— Então qual é o seu tipo? — Seu tom de voz sai firme e seu semblante se
fecha em curiosidade.
Sinto vontade de rir ao constatar que machuquei o seu ego. Tão bobinho!
— Quer mesmo saber? — pergunto tentando não deixar a aproximação me
afetar.
— Com toda certeza. — Seu corpo está tão próximo. Seus olhos atentos ao
meu.
— Gosto de homens mais velhos — digo e, quando ele solta meu braço, eu me
afasto um pouco para conseguir raciocinar. — De preferência que tenha cabelo grande.
— Connor cruza os braços atento. — Se possuir moto e usar jaqueta é o meu declínio
— minto dizendo a primeira coisa que me vem à mente. — Ah, e que seja do tipo
romântico, daqueles que preparam grandes gestos amorosos — finalizo sorrindo
sapeca.
Ele me olha desconfiado, quase como se pudesse sentir a mentira nas minhas
palavras.
— Se você está dizendo. — Dá de ombros me direcionando um dos seus
sorrisos safados.
Assinto e passo ao seu lado fingindo saber para onde estou indo, mas
confesso que estou completamente perdida porque no nosso esbarrão não consegui
olhar a droga do local onde fica o auditório.
— O auditório fica para o outro lado. — Sua voz me faz estacar no lugar. Viro
para encará-lo e noto ele apontando para o corredor à esquerda.
— Como você sabe que estou indo para o auditório? — pergunto o
escrutinando e ele balança a folha que imprimi meu horário. Folha que caiu no
momento que nos esbarramos.
Sinto vontade de continuar andando em frente para não dar o gostinho a ele,
mas, quando olho no meu relógio de pulso e vejo que estou preste a me atrasar respiro
fundo, engulo o meu orgulho e faço o caminho de volta passando ao seu lado para ir ao
corredor.
— Você ainda vai estar na minha cama — sussurra quando estou perto o
suficiente e me entrega a folha.
— Vai sonhando, capitão — debocho enquanto sigo pelo caminho que ele
falou.
Não viro para saber se ele continua no mesmo lugar, mas quase posso sentir
seus olhos cravados nas minhas costas. Assim que entro à direita no final do corredor e
vejo o auditório mais à frente solto um suspiro de alívio.
Entro no local observando que já tem vários alunos sentados nas cadeiras.
Subo pela escada lateral em direção à parte de cima e, quando me jogo sobre a
cadeira, noto que a área de baixo está vazia. Área onde provavelmente a equipe da liga
de segurança do campus vai aparecer em poucos minutos. Fiquei surpresa quando
soube sobre a palestra e ainda mais curiosa pelo motivo dela.
— Oi, você é nova, não é? — Ouço uma voz grave indagar e, quando olho para
o lado, vejo um cara se sentando ao meu lado, me encarando com um sorriso
gigantesco.
Seus olhos escuros parecem levemente familiar, no entanto não consigo me
lembrar se o conheci na festa.
— Oi, sou sim. Vim transferida — respondo.
— Bem-vinda. — Ele estende sua mão para mim e eu a aperto. — Me chamo
Bryan.
— Obrigada. — Solto sua mão. — Meu nome é Ashley.
— Você é prima da Brooke e filha do Charles, não é?
Fico surpresa por ele saber quem eu sou, afinal Brisfolk é gigantesca e possui
dois campus.
— Sim — confirmo. — E você é um stalker ou algo parecido? — pergunto e ele
joga a cabeça para trás rindo.
— Não. Sou muito amigo da sua prima e ela comentou que você estava
chegando e que estaria cursando medicina, assim como eu.
— Ah, deixa eu adivinhar: ela te intimou a fazer amizade comigo — brinco.
— Quase isso. — Sorri e gosto do seu jeito divertido. — Mas você não tem
dificuldade nesse quesito. Estamos aqui há menos de dois minutos e você já é minha
amiga.
— Sou? — pergunto rindo e já gosto dele. Bryan parece ser um cara legal e, se
é amigo da Brooke, então com certeza é gente boa.
“Connor também é”, o pensamento me atropela, mas o jogo para o fundo da
mente fingindo que não pensei nisso.
— Sim, mas agora vamos prestar atenção porque a equipe acabou de entrar —
avisa apontando para a entrada.
Volto minha atenção para a parte de baixo do auditório e vejo um rapaz
entrando no auditório junto com uma mulher. Ele pega o microfone em cima da mesa e
encara os alunos.
— Bom dia. — Assim que ele cumprimenta a todos, observo uma garota subir
apressada pela escada e se jogar do meu outro lado ofegante.
— Você nunca chega no horário, Cassey. — Ouço Bryan murmurar.
— Odeio essas baboseiras, esqueceu? — resmunga, mas tento focar no cara.
— Sejam bem-vindos a mais um ano letivo. — O auditório está no mais puro
silêncio. — Esse ano estamos adotando a tolerância zero para aqueles que
vandalizarem qualquer área da universidade. — Ouço um risinho vindo de Bryan. —
Ano passado tivemos alguns problemas nesse aspecto e as punições foram leves, mas
nesse ano não será. — Ele passa o microfone para a garota ao seu lado.
— O descumprimento das normas acarretará suspensão e até expulsão da
universidade — ela diz séria e eu me pergunto quem diabos é louco o suficiente para
aprontar uma dessas. — Não vamos permitir nenhum comportamento fora do que a
ética nos impõe.
— O Liam está fodido — Bryan resmunga e, quando sigo seu olhar, vejo o
quarteto mais à frente.
Connor e Ben parecem concentrados enquanto a equipe começa a narrar
todas as normas, mas Kyle e Liam estão mais interessados em flertar com as garotas
aos seu lado. Estava tão entretida conversando com o Bryan que sequer vi quando eles
entraram.
— Eles aprenderam a lição — Cassey resmunga para Bryan.
— O que aconteceu? — pergunto baixinho.
— Te conto quando encerrar essa tortura — ele responde e durante os
próximos minutos ficamos ouvindo sobre regras e comportamentos.
Ao finalizar o longo discurso, todos os alunos aplaudem e pouco a pouco eles
começam a se dissipar. Olho para o lado e encontro Bryan e a recém-chegada me
encarando.
— Essa é a Ashley, prima da Brooke — Bryan me apresenta a garota.
— Oi. — Ela sorri. — Eu sou a Cassey, melhor amiga desse bobão aqui. Bem-
vinda.
— Oi, Cassey. Obrigada — agradeço sorrindo. — Então, por que todo esse
sermão sobre ética? — pergunto confusa. — Não lembro de isso acontecer na Leifield.
— Ano passado aconteceu um episódio bem incomum — a garota sussurra e
desvia o olhar. A sigo e vejo Connor nos fitando. Ele me direciona aquele velho sorriso
de lado e eu viro o rosto fugindo dele.
— Que episódio? — pergunto tentando prestar atenção apenas na Cassey.
— Os idiotas do hóquei quebraram a estátua do Michael Brisfolk — responde
citando o monumento do homem que fundou a universidade e tenho certeza de que
meu queixo está quase no chão de tão surpresa. — Os quatro e mais alguns que foram
pegos tiveram que se tornar voluntários depois do acontecimento, o que para mim foi
uma punição muito leve.
— Como eles conseguiram essa proeza? — Olho de relance para o lado e vejo
os quatro descendo pela escada, seguindo em direção à saída.
Praticamente todas as garotas babam enquanto eles passam.
— Uma aposta idiota em uma festa ainda mais idiota — Bryan declara. — Eles
perderam e, como não queriam sair como fracos, fizeram essa cagada jurando que não
iam ser pegos.
— Quem em sã consciência faz uma idiotice dessa e acredita que não vai ser
pego? — Cassey pergunta incrédula.
— Eles estavam bêbados — Bryan defende. — E já passou. Aposto que
aprenderam a lição.
— Atletas são tão idiotas! — Cassey resmunga e eu sorrio.
— Gostei de você, garota — declaro e ela sorri de volta.
— Se você não for mais uma maria-patins, então seremos melhores amigas.
— Não joga essa praga para mim — digo rindo. — Sou vacinada contra eles.
— Vocês duas podem parar de falar besteira e me dizer qual aula vão fazer? —
Bryan pergunta. — Porque eu vou para o prédio de Humanas.
— Minha primeira aula é com a megera da Lope — Cassey responde e eu
pego o papel onde anotei todos as aulas. — Então vou junto com você.
— A minha também — digo animada por estar na mesma aula que eles já que
raramente consigo dividir matérias com a Brooke. — Ela é uma megera?
— Não perdoa nada — Casey revira os olhos. — Principalmente atrasos.
Junto com os meus dois novos amigos, sigo para a minha primeira aula e,
durante o restante da manhã, passo por mais três diferentes.
Primeiro dia e já estou atolada de coisas!
CAPÍTULO 5 - Connor Harrington

— Eu quero todos vocês longe de confusão — declaro firme encarando Liam e


Ben assim que nos sentamos à nossa habitual mesa no refeitório. — Esse ano é para
focar apenas no hóquei.
— Ei, você também estava na aposta — Liam acusa me fitando. — Você
também entrou na pilha do Black e fez merda.
Maldita hora que resolvemos ir para aquela festa e nos envolver nessa aposta.
Black é jogador do time de futebol americano e estávamos na festa da sua fraternidade.
Já passava das duas da manhã quando ele desafiou nosso time para jogar paintball.
Imagina diversos caras bêbados, com egos maiores do que ele mesmo em um local
só? Tinha tudo para dar merda e no final deu.
Eu lembro que todo mundo ficou encorajando e claro que aceitamos. Uma
galera se reuniu e foi para a frente do prédio principal porque é o único lugar onde
possui um gigantesco jardim e a maldita estátua.
A brincadeira era simples: o time que perdesse faria o que o outro quisesse e,
na minha mente bêbada, eu acreditei que venceríamos, mas estava redondamente
enganado porque, quando os idiotas venceram, nos desafiaram a pichar a estátua e,
para não sairmos como covardes, fizemos.
Já ouviu aquela frase “não tem nada ruim que não possa piorar”? Pois bem,
quando estávamos indo embora algum idiota atirou na porra da estátua, mas não com
tinta e sim com munição de verdade. A cabeça do pobre Michael foi para o espaço e
todos nós para a sala do reitor. As câmeras pegaram todos nós idiotas porque, na
embriaguez, esquecemos desse detalhe, mas no fim os mais prejudicados foram os
meus porque, na hora da bagunça, era nós que estávamos à frente.
— E me arrependo todo maldito dia — rebato saindo das lembranças e vejo
Kyle vindo ao nosso encontro.
— Esse ano estamos longe de confusão, principalmente de apostas — Liam
reforça firme. — A nossa sorte é que já tínhamos sido draftados e que essa merda não
saiu de dentro da faculdade ou estaríamos fodidos.
— Relaxa, Connor... — Kyle diz se sentando. — Quem nunca fez uma idiotice?
— Ele morde seu sanduíche e, ainda com a boca cheia, acrescenta: — Foi uma
burrice, mas até que foi legal e, no final, não nos ferramos tanto.
É, não nos fodemos porque os pais do Liam e do Ben são grandes doadores
de recursos da Brisfolk e devido a isso eles acabaram se safando e ainda livrou a
minha barra e a dos outros caras; ainda assim, fomos obrigados a fazer trabalho
voluntário. Quase todos odiaram, mas eu acabei gostando e faço até hoje.
— Agradeça a esses dois idiotas que têm pais patrocinadores. — Aponto para
Ben e Liam. — Ou era capaz de, a essa altura, não estarmos mais aqui, muito menos
no time.
— Esquece aquela aposta porque precisamos falar apenas de coisa boa —
Liam muda de assunto e esbanja um sorrisinho que deixa claro que ele vai aprontar. —
A sua festa de capitão está marcada para o final de semana.
— Não — nego de imediato. — Os treinos começam hoje, então sem festa
nesse início.
— Qual é, cara, a gente não precisa exagerar — Kyle rebate. — Vamos só
consagrar você, curtir um pouco, pegar uma gatinha e no outro dia estaremos novinhos
em folha.
— Eu conheço vocês. — Aponto para eles. — Não existe o nome da gente em
festa pequena.
— Eu também acho — Ben comenta sorrindo. — Mas você merece uma festa
— reforça.
— Depois dessa, a gente sossega um pouco. — Liam junta as mãos
prometendo e quase reviro os olhos.
— Podemos fazer reuniões mais tranquilas — Kyle contrapõe. — Poucas
pessoas, sem muita bebida e só nos finais de semana já que a semana inteira é de
treinos.
— Está certo — concordo e os três comemoram. — Na sexta, porque
conseguimos descansar sábado e domingo.
Eu não deveria estar aceitando essa festa porque nesse início dos treinos
estamos relaxados e precisamos estar focados em melhorar no gelo, porém eu mereço
uma festa de consagração depois de todos os meus esforços.
— Vou avisar a galera — Kyle diz já se levantando.
— Vou com você — Ben avisa e os dois saem do refeitório.
Observo Raven se aproximar com Allie e observo com deleite as duas
gostosas me olharem como se eu fosse um banquete. Meu pau pulsa com saudades
da última vez que estive na cama com ambas ao mesmo tempo, porque, além de
melhores amigas, elas também amam dividir a mesma cama com um cara.
Não vejo Raven desde a festa e Allie desde as férias de verão porque, assim
como o Kyle, ela sempre vai passar com a família. Allie é o braço direito da ruiva e as
duas vivem juntas em todos os locais da universidade, inclusive moram juntas na
fraternidade. Essa baboseira de geração em geração. As avós participaram, as mães e
agora elas. Destiny também faz parte da Nu Zeta, porém ela não é tão fã das duas.
— O que vamos fazer de bom no final de semana? — Allie pergunta parando
ao lado do Liam sentando-se em seu colo e Raven se aproxima de mim.
— Sexta à noite, festa na minha casa — respondo e ela bate palminhas, mas
viro minha atenção para Raven e para a saia minúscula que ela está usando.
Meu pau dá sinal de vida no mesmo instante que minha mão começa a
passear pela sua pele entrando dentro da sua coxa desnuda.
— Eu estava pensando da gente fazer uma prévia da festa — a loira comenta.
— Eu, Liam, você e Raven.
— Gosto dessa ideia — meu amigo responde malicioso passando a língua pelo
pescoço da Allie fazendo ela quase gemer ao seu lado.
— Eu adoraria, mas depois do treino temos uma reunião marcada com o
treinador e provavelmente demore bastante — digo e, no mesmo instante, o sorriso das
duas murcham.
— Merda, esqueci disso — Liam resmunga. — Ele vai trancar a gente dentro
daquela sala de vídeo, aposto.
“É, ele vai...”
— Falando em treinador... — falo me levantando. — Vamos ou chegaremos
atrasados no treino. — Viro para Raven e seguro seu queixo. — Vou conseguir uma
horinha depois para a gente fazer essa prévia. — Pisco para ela e juro que ela parece
se derreter.
É, ser atleta também tem os seus benefícios.
Depois de duas horas de academia e mais quatro horas no gelo entro no
vestiário junto com os caras completamente esgotado e coberto pelo suor.
— Cara, o Franklin estava com sangue nos olhos. — Tanker, o nosso melhor
reserva, se joga no banco, se encostando nos armários. — E eu pensando que seria
leve porque é o primeiro treino de volta às férias.
— Ele quer dedicação e foi por isso que nos levou ao limite hoje — declaro e
pego minha garrafa de água dando um gole generoso no líquido deixando a água
escorrer pelo uniforme de treino. — Ele sabia que estaríamos relaxados e por isso
pegou pesado.
Franklin não é um treinador ruim, pelo contrário, ele é muito foda, no entanto
tem como lema tolerância zero. Ele odeia preguiça, moleza e irresponsabilidade. Não
perdoa erros e não pensa duas vezes antes de colocar um jogador no banco.
Quando chegamos para o treino, ele nos recebeu com ordens e rapidinho nos
colocou para suar. Foi um treino insano, mas necessário porque é nítido que todos
estávamos relaxados demais e a temporada já está batendo na nossa porta.
— Eu estou fodido de tão cansado — Ben resmunga. — Só quero minha cama.
— No seu sonho. — Kyle passa do seu lado e dá um tapa em sua cabeça. — É
banho e depois todos na sala de reuniões — diz já seguindo para o chuveiro.
— As férias acabaram, então vamos mexer esses esqueletos porque a
temporada está chegando — aviso enquanto encaro meu time destruído. Deus, não
julgo o treinador ter pegado pesado porque todos estão fora do ritmo. — Vamos treinar
com garra porque não quero derrotas esse ano.
— É assim que se fala, capitão — Mike declara com um sorrisinho debochado.
— Não estou brincando. — Meu tom de voz sai firme e ele levanta os braços
em sinal de rendição. — Quero sangue nos olhos de todos e quero a gente vencendo
todas as partidas.
— E vamos vencer — Logan, nosso terceiro atacante, afirma e eu meneio a
cabeça.
— Agora banho porque não terminamos por hoje — declaro.
Os próximos minutos são recheados de chuveiros ligados, toalhas voando,
paus para todo lado e um alvoroço enquanto todos se organizam. Meia hora depois
estou entrando com eles na sala de vídeos onde já se encontra o treinador concentrado
no enorme telão à sua frente.
— Eu estava quase indo conferir se as mocinhas estavam fazendo as unhas —
debocha irritado quando nota nossa presença.
— Foi mal, treinador — desculpo-me já me aproximando. — Tomamos banho o
mais rápido possível.
— Da próxima vez faça o impossível — resmunga e no mesmo instante seu
celular começa a tocar. Noto ele praguejar baixinho, mas tenho amor a minha vida e
me mantenho calado. — Preciso atender, mas volto em alguns minutos. — declara e
sai da sala pisando duro.
No momento que a porta é fechada, noto Liam zoando com Tanker, dizendo
que ele foi enlaçado.
— Cara, mas ela é muito gata, e me deu um chá tão forte que foi difícil não me
apaixonar... — Tanker responde e todos os caras riem dele, principalmente porque o
time inteiro sabe que ele se apaixona por uma garota diferente a cada semestre.
— Eu aposto que esse chá vai esfriar com dois meses — Logan zomba.
— Eu aposto um mês no máximo — Kyle rebate.
— Dessa vez vai durar — Tanker promete fazendo eu balançar a cabeça em
negativa.
— Não atrasando seu desempenho no gelo você pode até se casar com ela —
zombo e no mesmo instante ele faz o sinal da cruz arrancando gargalhadas de todos.
— Não é para tanto capitão — diz rindo.
— Posso saber por que vocês ainda não começaram a assistir a porcaria da
partida? — Franklin irrompe a sala. — Deus, vou sofrer para colocar vocês na linha
novamente — resmunga.
— Pensei que deveríamos esperar o senhor — nos defendo e, se um olhar
pudesse matar, eu estaria caído no chão nesse exato momento.
— Quero que vocês prestem atenção nos últimos jogos dos The Crows e The
Red — diz olhando para todos. — Aposto minha carreira que são eles que estarão na
final e semifinal conosco — declara sério e todos nós assentimos.
The Red é um time de hóquei universitário do Canadá, que vem crescendo
bastante, inclusive foi o campeão do ano passado, no entanto, o nosso maior rival é os
The Crows, time de Nova York. Eles possuem jogadores sem escrúpulos, que usam da
violência na pista de gelo e tem como hobby provocar os jogadores rivais para
desconcentrá-los. Jogamos com eles e saímos ganhando, no entanto, Liam ficou no
banco e foi suspenso de um jogo porque caiu na provocação do capitão deles.
O hóquei já é um esporte de força e violência, mas, quando encontramos times
como o The Crows, as coisas se elevam a um nível ainda maior. A fama de violentos
que eles carregam já é grande e, como não gostamos de levar desaforo para fora do
rinque, sempre o colocamos no seu lugar e no final confrontos como os nossos sempre
saem com alguém no banco ou expulso.
— Vamos descobrir os pontos fracos de cada jogador — declaro me sentando
no enorme sofá e vejo todos os caras se acomodarem. — E vamos usar isso contra
eles na arena.
— É isso aí — Franklin declara. — Agora quero concentração — pede e aperta
o botão para reiniciar a partida que estava vendo quando entramos.
Passamos as próximas quatro horas examinando diversas partidas dos nossos
rivais, anotando cada falha que captamos e focando nos erros mais visíveis durante as
jogadas. Como eu esperava, os The Crows estão jogando pra caramba, ainda assim
não serão páreos para o nosso time.
— É nítido que Petter está com dificuldade no avanço e acredito que isso é
devido a lesão que ele teve nos últimos meses — digo retirando os olhos da tela. —
Então será esse ponto fraco dele que ficaremos em cima.
— Alguém sabe o que porra ele fez para ficar com o braço engessado? — Liam
indaga.
— Saiu que tinha sido uma queda — Logan responde. — Mas não falaram
mais disso.
— O Erick parece estar perdido nesse último jogo — Ben comenta sobre o
defensor principal do time.
— Sim e espero que continue dessa forma — Logan rebate.
— Connor, vamos precisar de toda sua atenção esse ano, como capitão você
precisará ser ainda mais disciplinado e manter seu time na linha — Franklin avisa
desligando o telão.
— É exatamente isso que serei, senhor — declaro sério. — Vou dar o meu
melhor para que o nosso time esse ano chegue até a final e vença a temporada.
— É assim que eu gosto. — Ele se levanta e olha para cada um dos jogadores.
— Um time não se faz apenas com um jogador, então quero união entre todos. — Os
caras assentem. — Quero vocês jogando em conjunto e detonando quem passar pela
frente. — Ele segue até a porta, mas para assim que segura a maçaneta. — E espero
todos amanhã, meia hora antes do horário combinado — avisa e sai em seguida sem
esperar resposta.
O murmúrio de lamentação vem em seguida.
— Daqui a pouco seremos obrigados a não almoçar — o idiota do Mike
reclama.
— Se não estiver aguentando é só pedir para sair. — Cruzo os braços
enquanto o fito. — Levamos isso a sério e precisamos vencer, então se o treinador
mandou, a gente faz e faz sem reclamar.
— Vamos vencer aqueles idiotas — Ben declara. — Mas agora a única coisa
que eu quero vencer é a distância até em casa para poder me jogar na cama.
— Estou no meu carro, quem vem comigo? — pergunto para os meus amigos.
— Eu estou no meu também — Kyle responde.
— Liam e Ben? — pergunto.
— Eu estou de moto — Liam responde.
— E eu vou com ele — Ben avisa pegando um capacete.
— Usem camisinha — Logan debocha e meu amigo joga uma almofada em
cima dele.
Todo o time sabe que Liam e Ben se conhecem desde a infância, ainda assim
nunca perdem uma oportunidade para zoar a proximidade deles.
— Encontro vocês em casa. — Aponto para os meus amigos. — E vocês,
amanhã — declaro para os demais.
CAPÍTULO 6 - Ashley Moore

Desabo na cama completamente exaurida e suspiro pegando meu celular.


Apenas uma semana que as aulas se iniciaram e eu já tenho tanto trabalho, que sinto
como se estivesse estudando há um mês.
Disco o número da minha mãe porque ela me ligou quando eu estava na
biblioteca, porém acabei perdendo a chamada já que meu celular estava no silencioso.
— Oi, mãe — cumprimento-a sorrindo assim que seu rosto aparece na
videochamada.
Seus olhos claros como os meus brilham quando me veem.
— Oi, querida, como você está? — pergunta sorrindo e meu coração aperta de
saudades.
Minha mãe é a minha melhor amiga e depois que meu pai faleceu
conseguimos ficar ainda mais próximas, algo que não imaginei ser possível porque
sempre fomos muito unidas. Combinamos em tudo e todos falam que eu sou a cópia
perfeita dela.
— Quase enlouquecendo — respondo tentando estralar meu pescoço dolorido
depois de passar horas na biblioteca com a cara enfiada nos livros.
Droga, eu quase não consegui finalizar o primeiro trabalho que me foi passado,
porque o professor colocou mil regras e uma delas era nada de copiar e colar da
internet. Passei um tempão enfiada naquela biblioteca e ganhei um torcicolo de
presente.
— Já? — ela gargalha. — Você mal chegou, querida.
— Mãe, por que eu não deixei a senhora me bancar mesmo? — brinco ao me
lembrar de que ainda tenho um longo caminho até me formar.
— Porque você é chata e sempre foi muito independente.
— Vou repensar sobre isso. É melhor eu voltar para casa, dormir até meio-dia
e viver da minha herança.
— Sua boba — zomba. — Mas me conta, já conheceu algum gatinho? —
Suspira sonhadora enquanto me fita.
— Mãe — a repreendo. Ela me liga todos os dias desde que cheguei e sempre
me pergunta a mesma coisa. Minha mãe é uma verdadeira romântica incurável, mas
também um cupido de mão cheia. — Já falei que não tenho tempo para namoro.
— E quem falou em namoro? — pergunta e eu abro a boca fingindo choque. —
Estou falando de uns pegas, filha. Você passou quase três anos com aquele idiota,
então agora tem que aproveitar.
— Não quero falar sobre ele — peço e ela percebe a mudança no meu tom de
voz.
Odeio lembrar que passei tanto tempo à mercê daquele infeliz. Ainda me culpo
por não ter visto todos os sinais mesmo quando eles estavam na frente do meu nariz. A
bile sobe como sempre acontece quando o nome dele é citado.
— Desculpa. Não está mais aqui quem falou.
— Quando eu estiver pegando alguém, a senhora será a primeira a saber —
digo para amenizar o clima pesado que a menção ao infeliz deixou. Tentando não
deixar ele continuar atrapalhando minha vida, fazendo como a minha psicóloga instruiu.
— É isso aí, eu gosto desse jeito — brinca, mas noto seu tom de voz mudar. —
Estou orgulhosa de você, filha, e muito feliz por ver você morando em Boston,
estudando na mesma universidade que eu e seu pai estudamos.
— Obrigada, mãe. — Forço-me a engolir o nó que se forma na minha garganta
e sorrio. — Estou esperando a sua visita.
— Eu irei, um dia eu consigo. — Sua voz sai baixa, mas vejo a força de
vontade nela.
— Eu sei que sim. Eu te amo muito, viu? — afirmo e seu sorriso preenche
minha alma.
— Eu também. — Ela manda um beijinho pela tela. — Agora vou deixar você
descansar porque está com uma cara tão acabadinha.
— Obrigada pelo elogio — zombo mostrando a língua. — Ligo para você
depois.
— Vamos ficar nos falando por semana mesmo, porque sei o quanto aí é
corrido com as aulas e quero que você se divirta também.
— Combinado — concordo desligando a chamada. Me acomodo de lado e
fecho os olhos deixando o sono me abraçar.

— Acorda, sua dorminhoca. — Sinto meu corpo sendo chacoalhado e, quando


abro os olhos, encontro uma Brooke só de toalha me fitando. — Meu Deus, até que
enfim! Cheguei a pensar que estava morta.
Um ponto sobre mim: eu amo dormir, sério, qualquer oportunidade que eu
tenha de cochilar eu sempre farei. Não sei por que diabos escolhi um curso onde
provavelmente eu raramente durma e que tem a chance de me deixar louca com tantos
trabalhos.
— Que horas são? — pergunto um pouco desnorteada, já me sentando na
cama. Pela janela, noto que já escureceu.
— Quase oito da noite — responde retirando o cobertor de cima de mim. —
Hora de você levantar e se arrumar.
— Arrumar para o quê exatamente? — Me espreguiço tentando fazer com que
minha alma volte para o corpo, no entanto, me jogo no colchão de novo.
— Vamos para uma festa — anuncia colocando a mão na cintura. — E
precisamos agilizar ou vamos chegar muito tarde.
— Não — nego puxando o cobertor de volta. — Eu só saio daqui para comer e
depois voltarei a dormir porque estou cansada.
— Não vai não. — Ela volta a puxar o cobertor e eu respiro fundo. — É sexta e
vamos curtir. Amanhã você descansa.
— Brooke, eu não quero ir. — Cruzo os braços. — Passei o maldito dia
estudando — resmungo.
— Você não tem escolha. — Ela começa a me puxar para fora da cama e eu
desisto porque sei que ela não vai me deixar em paz.
Brooke sempre consegue o que quer porque é uma teimosa.
— Onde é a festa? — pergunto levantando-me, seguindo até o banheiro.
— Connor — responde e no mesmo instante eu travo no lugar me virando para
encará-la. — A festa é na casa dele. É uma comemoração porque ele se tornou
capitão.
— Isso só aumentou a vontade de não ir — confesso.
— Deixa de ser boba. As melhores festas de todo o campus são organizadas
pelos meninos. E não vem com essa carinha porque sei que, se ele não fosse jogador,
você já estaria na cama dele.
— Você está delirando? — pergunto e ela gargalha.
— Vai tomar seu banho enquanto eu me visto. — Me empurra.
Reviro os olhos, mas sigo até o banheiro e depois de um banho demorado
volto para o quarto e encontro Brooke toda arrumada usando uma saia preta, com uma
meia-calça do mesmo tom, uma blusa bege e uma bota escura. Seus cabelos estão
soltos e seu rosto com uma make bem marcante.
— Você está um arraso — elogio e ela dá uma voltinha.
— Vamos arrumar você agora —declara e vai até a cama. — Vasculhei seu
armário e separei essa roupa para você. — Aponta para o look.
Jogo a toalha em cima da cama e me visto indo em direção ao espelho para
examinar a roupa. O vestido preto cai perfeitamente no meu corpo e, apesar de ser
com as mangas compridas e de gola alta, o comprimento dele só vai até a metade das
coxas, valorizando minhas pernas. Solto meus cabelos e faço uma make rapidinha.
— Estou pronta — aviso pegando meu celular.
— Então vamos. — Brooke segura minha mão e juntas saímos do dormitório.
— Vamos no seu carro porque o meu está quase sem gasolina.
Quando eu cheguei, meu tio tinha enviado um carro para me buscar no
aeroporto e, assim que cheguei no campus, ele me informou que era o meu presente
de boas-vindas. Eu odeio dirigir, entretanto, sei que é necessário para não ficar
dependendo dos outros, então aceitei o presente.
— Vamos. — Ela destrava o veículo, que fica na frente do dormitório e juntas
entramos. — Precisamos ir jantar com o papis porque ele está louco para te ver.
— Vamos marcar para os próximos dias ou ele vem nos buscar à força. —
Coloco o cinto de segurança. — Quem vai estar na festa?
— Provavelmente metade da faculdade — responde dando partida e eu
arregalo os olhos. — Ninguém perde uma festa dos Black WildCats — justifica.
— Por que vocês idolatram esses caras? — resmungo.
— Não é idolatrar, Ash — se defende. — Gostamos deles porque eles são
legais, gostosos, proporcionam as melhores festas e ainda são fodas no gelo trazendo
prestígio para o nosso campus.
— São é um bando de puxa-saco — rebato.
— Você ficou muito rancorosa depois do Petter — alfineta. — Até onde sei,
você era da turminha que também amava uma farra nas fraternidades e vivia com
aquele idiota em todas as festas.
— Sim, eu era, mas no final me ferrei — bufo.
— Não somos a sua antiga turma, Ash, então seria muito legal que você
parasse de nos julgar com base no que viveu na Leifield — diz e percebo que acabei
magoando-a. — Não quer se envolver com jogadores, eu entendo, mas não pode sair
odiando todo mundo porque aquele escroto te magoou.
— Broo, desculpa — peço e sou sincera porque percebo que estou sendo uma
vadia julgadora ao ficar julgando e apontando todos. — É só que estou calejada e o
Connor me irrita.
— Esse ódio aí ainda vai se transformar em tesão — implica voltando ao seu
tom de voz normal. — Pode dar bastante, mas jamais se apaixonar, viu?
— Não existe essa possibilidade — afirmo. — Quero distância, lembra?
— Veremos — avisa e, no mesmo instante, ouço o som de música alta.
Retiro minha atenção da Brooke e noto que chegamos à casa do Connor. Eu
vim aqui um dia depois que cheguei ao campus pegar a Bethany, mas na ocasião não
prestei tanta atenção, no entanto, agora consigo perceber cada detalhe.
É uma casa de primeiro andar, com janelas de vidros e um jardim enorme.
Brooke estaciona alguns metros depois porque a frente da casa está abarrotada de
carros, aliás, a rua inteira está.
Juntas descemos do carro e que Deus me ajude para não querer realmente
fazer jus ao apelido que o Connor me deu, porque tenho a sensação de que irei querer
esganá-lo durante toda sua festa.
CAPÍTULO 7 - Connor Harrington

Desço as escadas e observo a sala repleta de pessoas. Os caras do time


cuidaram de todos os detalhes da festa e, após uma semana intensa de treinos, sinto
que merecemos esse momento. Recuperamos nosso ritmo de jogo mais rápido do que
eu esperava, e sei que é devido a nossa ânsia para vencer a temporada. Gostei de ver
todos empenhados e até o imbecil do Mike pareceu disposto a realmente dar o sangue
no gelo durante os treinos.
— Olha o capitão aí! — Alguém grita enquanto eu passo entre as pessoas,
cumprimentando todo mundo, sendo parabenizado e amando cada segundo disso.
Vou direto para o freezer que está na varanda, pego uma cerveja e tomo um
gole generoso apreciando o sabor descer pela minha garganta.
— Está se achando, não é? — Ouço a voz grossa do Mike, o nosso goleiro, e
finjo um sorriso enquanto viro para encará-lo.
Minha mãe já dizia que, quando pensamos no diabo, ele aparece.
— Eu não estou me achando porque nunca estive perdido — respondo com um
sorriso debochado porque sei que isso o irrita.
— Mal se tornou capitão e já está cheio de marra — desdenha. — Mas estou
brincando, brother. — Ele dá um soquinho no meu ombro e eu me controlo para não
revidar só que com muito mais força.
Mike é o estereótipo de atleta: idiota, babaca e que se acha o dono do mundo.
Ele sequer gosta de hóquei e vive afirmando que só entrou no esporte porque seu pai é
um grande fã do jogo e porque, com o título de atleta, ele pega a mulher que quer.
Como eu disse: babaca!
— Beleza. — Sorrio falso porque ele sabe que não vou com a cara dele. —
Vou procurar os caras. — Aperto seu ombro.
— Acabei de ver o Liam na mesa de sinuca — avisa apontando para a área da
piscina e eu meneio com a cabeça me afastando da sua presença desagradável.
Mike só continua no time porque, mesmo sem gostar do esporte, o infeliz tem
talento, mas sei que o treinador odeia sua infantilidade e suas piadas escrotas. Um
vacilo e ele está fora. Ele está ciente desse detalhe e sinto que esse empenho no início
é para não ser excluído do time e perder tudo que isso traz para ele.
— Olha o capitão aí — Raven me cumprimenta assim que me aproximo.
Porra, pode me chamar de egomaníaco, mas eu amo quando alguém me
chama assim e ela sabe disso.
— Oi, Raven — a cumprimento quando me encosto na parede e ela vem para
a minha frente.
— Vamos jogar, cara? — Liam pergunta, porém está concentrado em colocar a
bola na caçapa e quando ele consegue soca o ar. — Cara, eu sou foda.
— Na próxima eu vou — digo sobre os ombros da Raven enquanto seguro sua
cintura.
— Deixa para se pegar depois — Kyle pede enquanto planeja sua tacada. —
Ela vai estar a noite toda aí. Vamos jogar.
— Mais tarde, gata — sussurro quando sua mão desce para o meu zíper.
— Você me deixou na mão outro dia. — Faz biquinho e eu tento não lembrar
daquela noite.
— Hoje não. — A puxo contra mim e vejo sua respiração acelerar. — Hoje você
vai ficar com os meus dedos, boca e pau.
— Ansiosa por isso, capitão. — Ela aperta meu pau, que já está acordando e
sai rebolando em direção a casa.
— Cara, essa garota ainda vai ser problema.
— Deixa de me jogar praga, Liam. Temos apenas sexo. — Desencosto da
parede e me aproximo da mesa. — Sai, que agora é minha vez.
Pego o taco da sua mão e concentro toda a minha atenção na bola branca para
fazer a laranja entrar no buraco, porém, na hora que vou fazer minha tacada, a voz do
Kyle me desconcentra e eu erro feio:
— Brooke trouxe a novata. — Sua voz sai risonha e estou pouco me fodendo
se a bola não entrou porque, assim que suas palavras chegam aos meus ouvidos, eu
olho para a sala e vejo a Assassina entrando junto com a sua prima.
Ashley está usando um vestido preto de gola alta, mangas compridas e
acredito que ela esqueceu a parte de baixo em casa porque, puta que pariu, ele é bem
curto. Seu sorriso simpático, enquanto atravessa a sala, me deixa fascinado. Seus
olhos cobertos por uma sombra escura estão atentos enquanto absorve o local. Seus
cabelos loiros estão soltos e tenho certeza de que ela não faz ideia, mas os caras ao
seu redor param o que estão fazendo para olhá-la enquanto ela vem em nossa direção.
— Porra, ela está gostosa! — Ben murmura tão fascinado quanto eu.
— Cale a boca — peço e minha voz sai mais irritada do que deveria.
— Ele está caidinho pela novata — Liam debocha. — Está ferrado porque ela
já deixou claro que não se envolve com atletas.
— Boa noite, meninos — Brooke nos cumprimenta me livrando de responder
ao idiota do meu amigo. — Bela festa, Connor.
— Obrigada, Broo. — Sorrio para as duas e Ash cumprimenta os meninos. —
Foi ideia dos caras e como não dispenso uma boa festa... — Dou de ombros.
— Você merece — ela afirma. — Ajudou muito nosso time e agora como
capitão não tenho dúvidas que levará nosso time a um novo patamar. Que esse ano
seja ainda melhor para os Black WildCats.
— Será — afirmo. — E você, Assassina, na festa de um capitão quando odeia
jogadores? — pergunto virando-me para ela assim que ela termina de falar com Kyle e
Liam.
— Não odeio atletas. Só me mantenho distante da cama deles.
— Não seja por isso. — Dou um gole da minha cerveja e a deposito em cima
da mesa de sinuca. — Tenho sofá, balcão, chão e até parede. — Lanço uma piscadela
e ela suspira.
Ash, Brooke e os meninos caem na gargalhada em seguida.
— Desiste, Connor. — Dessa vez fala em tom de brincadeira e não de asco. —
Tem algo para beber nessa festa ou seu ego é tão grande que ocupou o espaço dela
toda?
— Vou pegar uma cerveja para a senhorita. Alguém quer? — pergunto para
todos.
— Eu quero. — Os três respondem ao mesmo tempo.
— Então como serão cinco cervejas preciso de ajuda. Se importa, Assassina?
— indago e ela revira os olhos.
— Você é insistente, garoto — sibila, mas se aproxima de mim e logo passa ao
meu lado deixando o rastro do seu perfume.
“Baunilha, porra, a Assassina cheira a baunilha com toque de sândalo. Tem
algo nessa mulher que não seja perfeito?”, indago mentalmente.
— Só estou pedindo ajuda para pegar a cerveja, nada de mais. — A sigo e ela
dá risada.
Juntos caminhamos até o freezer e, enquanto eu pego três longs necks, ela
segura duas.
— Não conheço você. — A voz do Mike soa atrás de nós dois e ambos nos
viramos ao mesmo tempo.
— Oi, Mike. — Seguro a cerveja com mais força do que o normal. — Ela
chegou há pouco tempo — explico enquanto Ash o encara. — É prima da Brooke.
— Prazer em conhecer você. Prima da Brooke tem nome? — pergunta se
aproximando, ficando perto demais.
— Ashley. — Noto que ela não gosta da aproximação. — E você quem é? —
indaga se afastando.
— Mike, goleiro do time de hóquei e o atleta mais gostoso de todo o campus.
— Prazer, Mike, mas agora preciso ir porque estão me esperando. — Ela se
afasta um pouco não dando a atenção que ele está procurando.
— Já? Acabamos de nos conhecer, gatinha — insiste.
— Mike, estão nos esperando — reafirmo pegando a mão da Ash e ela aceita,
acredito eu que apenas para sair de perto do babaca.
— Você não perde tempo! — A voz dele sai carregada de ironia.
— A gente se vê nos treinos.
Me afasto dele com a Ash e tento controlar a raiva que me consome ao
imaginar esse idiota azucrinando a Assassina. Mike consegue ser bem insistente
quando se interessa em algo e não preciso dessa merda agora, porque só de imaginá-
lo a incomodando sinto vontade de socar a cara dele dez vezes mais do que sinto
diariamente.
— Se mantenha longe dele — peço enquanto voltamos à área da piscina.
— Meu sexto sentido apitou no momento que ele se aproximou — avisa. — Ele
é o tipo de cara que sequer tenho interesse em ficar próxima.
— Isso é muito bom, porque o Mike é o cara mais babaca do time, se não, o de
toda a universidade.
Ela não responde porque logo chegamos à mesa de sinuca e agora quem está
jogando é Liam e Brooke. Kyle está conversando com Ben e Allie que deve ter se
aproximado quando eu estava pegando as cervejas.
— Cheguei. — Bryan aparece alguns minutos depois todo sorridente.
— Pensei que não ia vir. — Me aproximo e seguro seu ombro o puxando para
um abraço.
Bryan é o meu primo materno e um dos meus melhores amigos também. Não
conseguimos passar tanto tempo juntos, porque estamos sempre atolados nos estudos
e agora, com o início dos treinos, fica ainda mais difícil, porém, sempre que nos
reunimos com a turma, ele está presente.
— Estava terminando um trabalho. — Ele me solta e cumprimenta o pessoal.
— Acabei cochilando e acordando há pouco.
— Você conseguiu terminar? — Ashley pergunta se aproximando e o abraça.
— Consegui na raça e você? — ele responde se afastando.
— Finalizei hoje à tarde na biblioteca — ela comenta. — Mas quase não
consegui, porque tinha informações que foram muito difíceis encontrar. — Suspira e
meu primo concorda.
— Vocês são dois nerds — Brooke debocha se aproximando. — Onde está a
Cassey?
— Em algum jantar importante com os pais. — Bryan revira os olhos e logo
cumprimenta os caras.
— Vamos jogar — o chamo e ele se aproxima.
— Minha mãe falou comigo hoje porque tia Audrey pediu para eu te levar para
as bodas dela — Bryan comenta quando começamos a jogar.
— Eu não vou conseguir fugir disso, não é? — questiono suspirando, enquanto
faço minha jogada e acerto.
— Não. — Sorri. — É o aniversário de casamento dos seus pais, Connor.
— Minha vez — Ash diz e segura o taco. Ela morde os lábios enquanto se
concentra e eu me perco alguns segundos a admirando. — Isso aí! — comemora
quando sua bola acerta a outra fazendo com que entre na caçapa.
— Você já está caidinho por ela? — meu primo pergunta baixinho.
— Mais ou menos isso. — Sorrio de lado e lanço uma piscadela.
— O que tanto vocês cochicham? — Ash pergunta. — E por que tenho a
sensação de que vocês se parecem?
— Não estamos cochichando — Bryan responde. — E talvez sejamos
parecidos porque somos primos.
— Impossível — ela rebate.
— Por quê? — pergunto curioso.
— Porque o Bryan é legal — declara sorrindo mostrando que está apenas
zombando.
Balanço a cabeça em negativa, sorrindo, e volto a atenção para o jogo, mas
sempre observando uma loira baixinha que está mexendo com a minha mente e me
deixando com as bolas doendo.

Observo a Assassina do outro lado do círculo e sinto uma cotovelada na minha


costela no mesmo instante. resmungo com a dor que me atravessa e fuzilo meu primo
que acabou de sentar-se ao meu lado.
— Quer um babador? — Bryan pergunta.
— Engraçadinho — revido a cotovelada, mas ele se esquiva, se livrando.
— Ashley, já brincou de “Eu nunca”? — Kyle pergunta e observo ela assentir.
— Então vamos começar a brincadeira.
A festa continua a todo vapor, no entanto, eu, Kyle, Liam, Ben, Brooke, Bryan,
Ash, Bethany, Allie e Raven decidimos nos juntar na área da piscina para jogar.
— Ei, tem espaço para mais um jogador? — Vejo o idiota do Mike se
aproximando e, no mesmo instante, Liam fecha o semblante.
Se eu já não suporto o goleiro, meu amigo é ainda pior, porque teve uma época
que o Mike cismou que queria a Destiny, irmã do Liam. Foi um inferno porque terminou
com nosso goleiro de olho roxo e meu melhor atacante suspenso de um jogo.
— Senta aí — Raven manda e não me olha porque sabe que não gostamos
dele.
— Eu começo — Ben avisa. — Eu nunca bebi até ser rebocado pelos amigos.
Observo quase todos virarem a dose de tequila, menos Ashley e Brooke.
— Então a novata é a que faz o tipo certinha? — Mike alfineta ao notar que ela
não virou o shot de bebida.
— O meu tipo não te interessa — ela devolve arrancando risada de todos.
— Gosto dessa marra — ele diz sem se incomodar e juro que minha vontade é
de arrancá-lo pela camisa e jogar para fora da minha casa.
— Eu nunca saí com jogador de hóquei — solto de uma vez para cortar o
imbecil e me surpreendo ao notar que, além da Brooke, Bethany, Raven e Allie, Ash
também vira sua bebida.
— Ei, pensei que não saía com atletas. — Liam aponta e ela apenas dá de
ombros.
Minha curiosidade aumenta em níveis estratosféricos enquanto ela me
direciona um sorriso convencido.
— Eu nunca peguei alguém assim que entrei na faculdade — Brooke dispara
antes que eu consiga raciocinar direito e todos viram a dose.
Caralho, ela já pegou alguém? Pior, um jogador? Meu sangue ferve com as mil
possibilidades que se passam pela minha mente e, enquanto o jogo continua, só
consigo pensar nela ter me dispensado dizendo que não se envolvia com atletas, mas
já pegou um sendo que chegou há poucos dias no campus.
Vasculho minha mente tentando me lembrar de algum maldito jogador que
tenha as características que ela falou quando me disse qual era o seu tipo. Passeio
meus olhos para dentro da casa e vejo Ramon, um jogador reserva que possui os
cabelos grandes e tem uma moto maneira, mas até onde o conheço ele é tímido e rola
até um boato de que é virgem. Sigo minha inspeção por todos os malditos caras do
time e vejo Logan vestido com sua habitual jaqueta. Ele é um cara legal, mas namora
com a Alessa desde o primeiro ano.
Merda, agora vou ser obrigado a descobrir quem ela já pegou, pior, descobrir
por que ela me rejeitou, mas antes eu irei aproveitar minha festa e só depois dou um
jeito de mostrar o que ela está perdendo.
CAPÍTULO 8 - Ashley Moore

Observo a distância, Connor derramar o líquido da bebida no vão dos seios de


uma garota para em seguida lamber. Sinto um latejar bem no meio das pernas, mas me
obrigo a não pensar muito porque não posso e não vou desejá-lo. Depois que
encerramos o jogo voltamos para a festa e ele ativa o modo capitão; gostoso, safado e
que pega geral.
Já pedi a conta de quantas vezes o peguei me examinando e em todas as
vezes que ele percebeu que foi pego no flagra apenas me direcionou um dos seus
sorrisos cafajestes, o mesmo que me lança nesse momento enquanto passa a língua
nos peitos de mais uma e algo me diz que ele está fazendo isso para me provocar.
As garotas fazem fila enquanto Connor vai passando a língua em cada busto,
lambendo a bebida direto da pele. Não as julgo porque se ele não fosse um maldito
atleta provavelmente eu também estaria esperando ansiosamente a minha vez.
Levo minha cerveja à boca tentando aliviar o calor que está me consumindo no
momento que noto ele se afastar das meninas e seguir caminho em minha direção.
Connor é gostoso, sabe disso e aproveita bem essa característica!
Ele me fita enquanto atravessa a sala e em nenhum momento eu desvio meu
olhar do seu. Pela primeira vez, seu cabelo está levemente bagunçado e gosto mais
dele assim, sua camisa preta sob o ombro deixa à mostra o paraíso que é o seu tórax,
cheios de gominhos e marcando o V que leva até o seu pau. Seus olhos brilham e seu
sorriso faz com que eu queira esquecer a maldita regra e me entregar logo, porque é
nítido que temos uma química do inferno. A curiosidade sobre o seu pau também não
saiu da minha mente, mas ficarei apenas com ela: a curiosidade, nada mais.
— Posso passar a tequila em você também. — Oferece assim que se aproxima
descendo seus olhos para os meus peitos, mesmo que eles estejam bem cobertos pelo
vestido.
— Obrigada, mas eu passo — desdenho e dou mais um gole generoso na
cerveja e, no mesmo instante, noto seus olhos se acenderem.
— Porra. Assim fica difícil, Assassina. — Se remexe inquieto.
— Não acredito que você está pensando sacanagens enquanto eu bebo uma
cerveja — digo incrédula.
— Ah, pode ter certeza de que estou e, merda, é melhor eu parar ou vou
ostentar uma bela ereção no meio da festa — decreta e tento focar no seu rosto e não
no seu tanquinho que é ainda mais tocável de perto.
— Elas vão amar — declaro apontando para onde ele estava.
— Mas não é elas que eu quero que ame — retruca no mesmo instante. — A
única garota que eu quero nessa festa é você.
— Desiste, capitão. — Sorrio falso e entrego a garrafa vazia a ele. — Bela
festa, mas chegou minha hora.
— Como você vai voltar para o dormitório? — pergunta.
— Andando.
— E a Brooke?
— Provavelmente só volte amanhã.
— Vou pegar a chave do carro no quarto e aí eu te deixo em casa.
— Você só pode estar ficando louco ao imaginar que vou entrar em um carro
com você depois do tanto que bebeu.
— Mas eu estou bonzinho — diz e eu semicerro os olhos porque ele pode não
estar bêbado, no entanto, bom ele também não está.
— Obrigada, mas passo sua carona também.
— Você é difícil, garota — bufa e eu apenas reviro os olhos indo em direção à
saída.
Preciso manter distância dele ou daqui a pouco vou estar sentando no seu pau,
coisa que deve ser muito gostoso, mas que eu não posso querer. Me desvencilho das
pessoas e, assim que passo pela porta, o frio da madrugada me acerta. Pego meu
celular e vejo que já são duas da manhã, ainda assim, a rua está movimentada e só
então percebo que um pouco à frente está acontecendo mais uma festa.
Retiro meu salto para caminhar melhor e volto a andar torcendo para chegar
logo. O dormitório fica a uns quinze minutos da casa do Connor, mas como sempre
gostei de caminhar não é algo ruim para mim.
Ouço um latido no instante que passo em frente a enorme casa onde está
rolando a outra festa e, quando fito o jardim, vejo um grupo de caras segurando um
filhote de cachorro no alto. Meus olhos se acendem de raiva quando observo que o
cara maior está insinuando jogar o animal na piscina.

Sem pensar muito, coloco a minha sandália de lado e atravesso a rua pisando
duro. Assim que me aproximo, o imbecil lança o cachorrinho para outro cara como se
ele fosse uma bola, fazendo meu sangue ferver com o mais puro ódio.
— Como vocês conseguem ser tão babacas? — pergunto furiosa e vou até o
cara que está segurando o filhote. O retiro da sua mão antes que ele tenha chance de
processar minhas palavras. — Vocês deveriam se envergonhar de estar torturando um
animal.
— E quem é você, bonitinha? — o que estava segurando o animal pergunta e
percebo que todos agora me encaram.
— Alguém que não vai deixar vocês continuarem maltratando esse pequeno.
— Aliso o cachorro notando que ele está assustado.
— Ninguém te chamou aqui, garota. — O moreno que estava segurando o
cachorro primeiro se aproxima. Ele é alto, bem alto e meio assustador. — Me devolve o
cachorro e cai fora da nossa festa.
— Não. — Empino o queixo. — Ele vai comigo.
— Garota, eu encontrei o cachorro, ele é nosso. Não me faça pegá-lo de você
— ameaça.
— Ah, isso eu quero ver — digo e estremeço um pouco quando o brutamontes
chega mais perto, porém não o deixo notar.
Seguro o cachorrinho assustado com força, evitando machucá-lo. O idiota
estica a mão, mas, antes que consiga pegá-lo, uma voz grossa soa atrás de mim:
— Black, Black, se eu fosse você não tocava nela. — Me arrepio inteira quando
o timbre do Connor chega até os meus ouvidos e não demoro a sentir seu tórax
encostar nas minhas escápulas.
— Olha, então você conhece a pequena enxerida — debocha. — Ela entrou na
nossa festa e interrompeu a brincadeira. — Seu tom de voz muda instintivamente, se
tornando irritado.
— Você desse tamanho brincando com um cachorro? Deveria se envergonhar,
porra! — Connor esbraveja raivoso.
— Eu não interfiro nas suas festas, então não venha interferir nas minhas. —
Cruza os braços.
— Vamos, Ashley — Connor chama colocando suas mãos na minha cintura e
eu me viro.
— O cachorro fica — Black declara e eu estremeço. Meus olhos vão direto para
os de Connor e imploro mentalmente para que ele me ajude.
— Black, o cachorro é meu — Connor mente alisando o animal.
— Eu o encontrei — o imbecil retruca.
— Porque ele fugiu hoje de manhã — Connor continua e percebo Black o olhar
desconfiado quando torno a olhá-lo. — Ashley o reconheceu quando viu você com ele.
— Vou fingir que acredito porque estou em uma noite boa, mas é bom você
avisar a sua garota para não se intrometer onde não é chamada.
— Não sou a garota dele — retruco e Black sorri maldoso.
Merda, eu e essa minha boca atrevida.
— Não? — Ele examina meu corpo e seu olhar desejoso me deixa
desconfortável. — Se deixar de ser intrometida pode até participar das nossas festas —
declara malicioso e percebo Connor soltar um rosnado irritado.
— Fica na sua que você ganha muito mais, Black — Connor avisa já
segurando minha mão e me puxando para longe do jardim.
Olho para o cachorrinho notando o quão assustado ele está e volto a acariciar
seu pelo tentando passar tranquilidade enquanto retorno a andar, agora com Connor do
meu lado.
— Você não pode invadir as festas dos outros dessa forma — ele reclama
depois de alguns minutos de caminhada.
— Eles estavam assustando e jogando o cachorrinho para o alto — defendo-
me.
— Você estava sozinha, Ash. — Ele para de andar e eu faço o mesmo. — O
Black é um babaca e os amigos dele são piores. Se eu não tivesse chegado, eles
teriam pegado o cachorro, por bem ou por mal.
— Não pensei muito. Agi no impulso e não me arrependo — digo baixo e ele
suspira. — Obrigada por ajudar.
— Não foi nada, mas tenta não se meter em nenhuma confusão,
principalmente com a turma do Black.
— Se eles não ficarem torturando animais na minha frente, eu prometo que não
chego perto deles — aviso.
— Onde você vai deixar esse pequeno? — Ele volta a andar e eu faço o
mesmo enquanto aliso a bolinha de pelos.
— Não sei ainda, mas acredito que ficarei com ele no dormitório até encontrar
um lar — digo porque é o único lugar que consigo pensar.
— A Brooke não é alérgica a pelo de animais? — Connor pergunta e arregalo
os meus olhos.
— Merda, merda! — praguejo. — Eu esqueci completamente desse detalhe.
— Ah, que ótimo! — zomba. — E vai fazer o quê agora? — questiona e minha
cabeça começa a ferver tamanho é o meu desespero.
Cheguei há poucos dias, não conheço ninguém além da minha prima e meu tio,
e ambos possuem alergia a animal. Fodeu tudo!
A não ser que...
Estaco no lugar e quando o Connor percebe que parei ele faz o mesmo. Sorrio
o olhando e no mesmo instante ele percebe.
— Não me olha com essa cara de maluca porque não vai rolar. — Nega com a
cabeça e eu meneio afirmando. — Não mesmo, Assassina.
— Só por um tempinho. — Faço biquinho. — Prometo que consigo um lar para
ele nos próximos dias.
— Os meninos iriam me matar — rebate. — A gente já voltou a treinar e
passamos o dia inteiro fora. É impossível.
— Você vai deixá-lo morar na rua? — pergunto com cara de choro enquanto
mostro o cachorro a ele.
— Ash, não vai rolar — declara firme, mas posso ver pena pelo animal nos
seus olhos, claro, me aproveito disso.
— Ele vai morrer de frio. — O aperto entre os meus braços. — Vai passar
sede, fome e tenho certeza de que vai encontrar mais humanos malvados para
machucá-lo — digo baixinho e ouço Connor suspirar. — Como podemos fazer isso com
ele?
— Você tem uma semana para encontrar um lar para ele — avisa e meu
sorriso se abre. — Nenhum dia a mais do que isso. — Meneio a cabeça freneticamente
e ele sorri. — E pare de me olhar desse jeito.
— Que jeito?
— Como se eu fosse o melhor cara do planeta.
— Nesse momento você é — digo sorrindo.
— Então você vai aceitar sair comigo? — pergunta esperançoso e eu reviro os
olhos.
— Não é para tanto. — O empurro com o ombro. — E já avisei para você
desencanar disso porque não vai rolar.
— Eu não desisto do que eu quero — repete o que me já me disse outras
vezes. — Mas até chegar o momento que você vai implorar para estar na minha cama
podemos ser amigos.
— No seu sonho isso vai acontecer — debocho e pego a patinha do cachorro.
— Diga oi para o papai — mudo de assunto e Connor parece sentir dor com as minhas
palavras.
— Não inventa moda, Assassina — pede e eu solto uma gargalhada. — Vamos
voltar para a minha casa — avisa e eu refaço o caminho de volta quase saltitando de
felicidade, esquecendo completamente que eu tinha decidido manter distância dele.
CAPÍTULO 9 - Connor Harrington

— Mas que porra é essa? — Ouço a voz de Liam sendo seguida por diversos
latidos. — Um cachorro invadiu a nossa casa e ainda comeu um dos meus chinelos. —
Olho sobre o ombro e vejo meu amigo vindo na minha direção com Marley no seu
encalço.
Ontem, quando voltamos para a minha casa, eu e a Assassina entramos pela
área externa e subimos para o meu quarto sem sermos notados. Depois que tranquei o
pequeno, a acompanhei até em casa e, quando voltei, a festa já estava encerrando.
Raven não ficou nada satisfeita com o meu sumiço, mas, como não devo satisfações a
ela, apenas disse que estava cansado e que ficaria sozinho. Não tinha clima de levá-la
para a cama quando minha mente estava cheia de pensamentos obscenos com a Ash.
Ashley apelidou o cão de Marley porque ele é a cópia idêntica do cachorro do
filme “Marley e Eu”. Pensei que ele fosse fazer um escândalo durante a madrugada,
mas no momento que deitei ele apagou ao meu lado. Quando saí do quarto há pouco
ele apenas se remexeu, mas eu com certeza devo ter deixado a porta aberta, fazendo
com que ele conseguisse escapar.
— Ele não invadiu — respondo quando Liam se joga no sofá irritado. — Eu o
trouxe.
— Você fez o quê?! — pergunta incrédulo.
— Cagaram na porra da minha cama! — Ben desce as escadas berrando. —
Eu vou matar o desgraçado — ameaça quando se aproxima e seus olhos vão direto
para o cachorro que agora se encontra bem aninhado nos meus pés.
— Vocês viram meu relógio? — Agora é o Kyle que se aproxima furioso e eu
sinto vontade de sair correndo.
— O Connor enlouqueceu e trouxe esse pulguento para a casa. — Liam aponta
para o cachorro e só então percebo um relógio entre suas patas.
Eles vão me matar!
E eu vou matar a Ashley!
— Então foi ele que fez aquela merda no meu colchão? — Ben pergunta
apontando para o cãozinho. — Que droga você usou para decidir trazer um animal para
a nossa casa?
— Eu posso explicar — digo e fito os três me encarando com semblantes
furiosos.
— Acho muito bom você começar mesmo — Kyle declara. — E pode ter
certeza de que você me deve um relógio novo.
— E você vai comprar outro chinelo para mim — Liam ameaça.
— E pode acrescentar na lista de compras um colchão novo porque nem
fodendo me deito mais naquele lá de cima — Ben avisa irritado e se senta no braço do
sofá, ao lado do Liam.
— É só uma semana — começo.
— Nem pensar — Kyle retruca me interrompendo. — Quero esse cachorro bem
longe daqui ainda hoje.
— Não vai rolar. — Encaro os três. — Prometi para a Ash que ele poderia ficar
aqui até ela conseguir um lugar para ele.
— Cara, você tem a garota que quiser na porra do campus, então por que
cismou com a novata? — Liam pergunta.
— Não é cisma — defendo-me. — Ela pegou o cachorro do Black porque
aquele imbecil estava torturando o animal.
— Não gostar de cachorro, tudo bem, mas machucar já é demais — Ben
retruca. — Mas por que ela não levou para o dormitório dela?
— Porque a Brooke tem alergia — Liam responde passando a mão pelo rosto.
— Merda. — Kyle me fita. — Uma semana, Connor, e tudo que esse
demoniozinho destruir você vai pagar e não conte com a gente para cuidar — declara
firme.
— É isso aí — Liam retruca e eu olho para o Ben.
— Não vou te ajudar dessa vez — diz e eu suspiro. De todos os meninos, ele é
o mais coração mole e jurei que poderia contar com ele.
— Eu preciso sair para comprar ração e umas coisas para ele. — Me levanto e,
no mesmo instante, o cachorrinho pula no sofá.
— Leve ele com você! — Liam ordena.
— Ele não tem coleira — justifico e vou em direção a porta. — Fiquem de olho
nele que eu já volto.
— Connor, não se atreva! — Ainda ouço a voz irritada do Kyle, mas já é tarde
porque, assim que passo pela porta, eu praticamente saio correndo e entro no carro
dando partida em seguida suspirando quando não vejo eles correndo atrás do veículo.
Sim, isso é algo que meus amigos fariam, caso não tivessem acabado de
acordar.
Dirijo durante alguns minutos e logo estou estacionando na primeira loja de pet
shop que encontro. Passeio entre os corredores e, com a ajuda de uma vendedora,
compro tudo que ela me diz ser essencial para um filhote, inclusive brinquedos para ele
morder e estraçalhar ao invés das nossas coisas.
Saio da loja cheio de sacolas, mas com tudo que eu preciso. Coloco tudo no
porta-malas e sigo até outro local porque necessito comprar outras coisas, mas dessa
vez para mim.
Uma hora e meia depois, estou estacionando em frente de casa, mas, antes de
descer, pego meu celular e digito o número do Ramon, que atende no segundo toque.
— Connor? — pergunta e noto sua voz sonolenta.
— Ei, cara, tudo bem? — indago criando coragem.
— Tudo em ordem. Aconteceu algo?
— Estou precisando de um favor seu — digo e encosto minha testa no volante
não querendo acreditar que estou mesmo pensando em fazer isso.
— Manda aí.
— Queria saber se tinha como você me emprestar sua moto hoje.
— Você sabe pilotar?
— Sei sim — respondo. — Tenho carteira de carro e moto e já pilotei uma
dessas quando viajei para a casa dos meus pais.
— Que horas você vai precisar?
— Umas sete e meia da noite.
— Eu a deixo aí então. — Suspiro aliviado.
— E eu peço para o Kyle te deixar em casa e depois eu levo a moto. — Sorrio
animado. — Fico te devendo essa.
— Até mais tarde. — Ele desliga e eu desço do carro.
Pego as sacolas no porta-malas e atravesso o jardim. Assim que abro a porta
encontro a sala vazia e no mais puro silêncio.
— Onde vocês estão, seus marmanjos?
— Na cozinha! — Kyle grita enquanto eu coloco tudo em cima do sofá.
Sigo até eles e, quando entro, encontro Liam cozinhando algo. Ele pode ser um
cafajeste assumido, teimoso como uma mula, mas cozinha bem pra caralho. Ele é o
maior responsável pela nossa alimentação.
— Onde está o cachorro? — pergunto e Kyle me olha furioso enquanto corta
uns legumes.
— O Ben levou para tomar banho, porque aquela peste decidiu que era legal
se jogar dentro da privada — Liam diz.
— Mentira. — Mordo os lábios tentando segurar o riso.
— Ah, pode apostar que é verdade. — Liam para de mexer na panela e me fita
furioso. — E ainda achou legal correr pela casa toda enquanto os três patetas aqui
tentavam pegar ele.
Não aguento, eu juro que tento, mas ao imaginar a cena dos meus três amigos
correndo a casa inteira atrás de um cachorro todo molhado a gargalhada explode.
Seguro minha barriga tamanha é a risada e noto Kyle e Liam não aguentarem e
começaram a gargalhar também.
— Cara, eu nunca imaginei que um cachorro daquele tamanho conseguiria
driblar três marmanjos tão bem — Kyle comenta secando as lágrimas do riso.
— Você nos paga, Connor — Liam ameaça rindo.
— Ele vai destruir nossa casa — digo quando consigo cessar o riso. — E eu
vou esganar a Ash.
— Falando nisso, onde está ela que ainda não veio olhar o cachorro?
— Ela vai passar aqui à noite — respondo e vou até a pia para lavar minhas
mãos. — E é por isso que preciso da ajuda de vocês.
— O que você está aprontando? — Liam pergunta quando me aproximo da
panela e noto que ele está preparando um molho para macarrão.
— Se vocês fizerem alguma piadinha sobre isso, eu vou esganar vocês. —
digo e os dois me fitam curioso. — Então...
Conto tudo que pensei em fazer e, assim que eu digo a última palavra, encaro
os dois idiotas que tenho como melhores amigos rirem feito hienas. Kyle e Liam choram
feito crianças enquanto tentam parar de gargalhar, mas falhando miseravelmente nas
primeiras tentativas.
— Cara... — Kyle tenta falar, mas fica difícil com a risada. — Isso é patético.
— Eu vivi para ver esse momento — Liam implica limpando as lágrimas dos
olhos.
— Eu falei para não zombarem, porra. — Cruzo os braços me sentindo o cara
mais idiota do planeta, ainda assim com a mesma vontade de fazer o que planejei.
— Zombarem de quê? — Ben entra na cozinha segurando o cachorro no
braço.
— Você não sabe o que o Connor vai fazer — Kyle diz.
— Vou porque vocês vão me contar — Ben declara. — Você me deve vinte
dólares do pet shop — avisa e me entrega o cachorro. — Então, o que esse idiota vai
fazer?
Os próximos minutos são os três tirando sarro da minha cara e me deixando
puto, ainda assim, no fim, eles decidem me ajudar.

— Então, como estou? — pergunto entrando na sala algumas horas depois.


— Patético — Ben declara enquanto solta o controle do videogame e me fita.
— Você sabe que provavelmente ela vai te achar um idiota, né?
— Não vai não — nego colocando a jaqueta preta sobre a regata. — Ela deixou
bem claro que gosta dessa vibe de bad boy com motoqueiro.
— Connor, eu preciso tirar uma foto sua assim — Liam diz apontando o celular
para mim, mas eu dou um tapa no aparelho. — Idiota! — resmunga pegando o celular
do chão.
— Vocês têm que me ajudar, caralho, e não ficarem sacaneando. — Suspiro
passando a mão pelo cabelo.
Ouço o ronco da moto do Ramon e alguns segundos depois Kyle passa pela
porta esbanjando um sorriso sem-vergonha.
— Toda sua. — Ele joga a chave da moto e eu a pego no ar. — Espero que
saiba mesmo andar naquele monstro. — Ele me entrega o capacete e se joga no sofá
entre os caras. — Você até que ficou gostosinho com essa aura de bad boy.
— Vai se foder. — Estiro o dedo e, no mesmo instante, ouço a campainha tocar
e vejo Marley aparecer correndo na sala. — Vou abrir e sair. Quando voltar, quero
saber tudo o que ela falou.
CAPÍTULO 10 - Ashley Moore

Toco a campainha e fecho o blusão que estou usando, porque a noite esfriou
ainda mais desde o momento que saí de casa e o frio está castigando minha pele.
Assopro as mãos tentando trazer alguma fonte de calor, mas de nada resolve. Alguns
segundos depois, a porta é aberta e Connor aparece nela com seu habitual sorriso de
lado.
— Você me deve um relógio, uma sandália, um colchão novo e uma despesa
no pet shop, porque o Marley é um filhote de satanás e destruiu metade da minha casa
— dispara, no entanto não consigo focar nas suas palavras.
— O que aconteceu com você? — Mordo os lábios tentando controlar o riso
enquanto o avalio dos pés à cabeça.
Connor está vestido de uma forma completamente diferente das últimas vezes
que o vi. Ele está usando uma regata preta com uma jaqueta de couro do mesmo tom
por cima. Sua calça jeans é rasgada e está colada ao corpo. Seu pescoço esbanja um
colar dourado e seu cabelo bagunçado traz uma aura de menino levado.
— Até onde sei nada. — Ele passa do meu lado fingindo desinteresse e noto
um capacete em suas mãos. — Vou sair e você fica de olho naquele demoniozinho. —
Aponta para a porta referindo-se ao cachorro.
— Por que você está vestido assim? — pergunto me virando e observo ele se
aproximar de uma moto vermelha que está estacionada em frente à sua casa.
— Não gostou da minha roupa? — pergunta se encostando no monstro e abre
os braços. — Pensei que seu tipo era um bad boy. — Suas palavras saem rápidas e no
mesmo instante um flashback me acerta fazendo com que eu perceba o porquê de toda
essa sua mudança.
— Você... — Aponto para ele e mordo os lábios tentando não rir, mas, quando
a constatação do que ele está fazendo me atinge, a gargalhada sai sem esforço. —
Você se vestiu assim para me impressionar, capitão? — indago entre risos e noto ele
fechar o semblante no mesmo instante.
— O mundo não gira ao seu redor, Assassina — responde subindo na moto e
ouço ele praguejar baixinho quando a calça apertada atrapalha o movimento
praticamente o desestabilizando.
— Meu Deus. — Me aproximo dele no momento que ele consegue se sentar e
coloca o capacete. — Eu me lembro que disse que também preferia caras com cabelo
grande — zombo não resistindo a alfinetada. — E mais velho.
— Eu tentei achar uma peruca, mas não encontrei — justifica suspirando
deixando visível que ele realmente procurou o objeto. Fico em choque com tamanha
loucura. — E falsidade ideológica infelizmente ainda é crime. — Dá uma piscadinha
para mim e meu estômago se revira porque ninguém nunca se esforçou tanto, não a
ponto de criar um personagem para tentar chamar minha atenção.
Ele é maluco, completamente maluco!
— Connor, isso é patético — debocho, mas no fundo acho fofo que ele tenha
feito toda uma produção para me agradar mesmo sabendo que é só para me levar para
a cama. — Eu não vou sair com você.
— Será que não mereço sequer uma voltinha depois dessa performance? —
apela e pega o capacete que estava preso a ignição estendendo em minha direção. —
É rapidinho — promete.
— Você acha que sou o quê? Uma maria-gasolina? — pergunto fingindo estar
ofendida.
— Eu preferia que fosse uma maria-patins porque seria muito mais fácil.
Deus, por que ele tem que ser tão sincero e direto?
— Não vou com você — afirmo e me viro, mas ele segura meu braço
delicadamente me fazendo fitá-lo novamente.
— Só uma volta — pede e eu cruzo os braços fitando seus olhos de menino
levado.
Connor aproveita a deixa para colocar o capacete na minha cabeça e fechar a
trava de segurança. Seu sorriso aumenta quando percebe que não retirei o acessório.
Eu sei que provavelmente irei me arrepender de estar deixando-o se aproximar demais,
ainda assim, não me afasto.
— Só porque você teve todo o trabalho de se produzir para me impressionar —
informo. — Mas não considere isso como um encontro porque não é.
— Sobe aí, Assassina. — Aponta para a moto no instante que a liga e eu faço
o que ele pede.
— Você sabe pilotar essa coisa? — indago já subindo, no entanto me recuso a
segurar na sua cintura mesmo querendo, então opto por colocar as mãos sobre minha
coxa.
— Diferente de você, eu não comprei a minha habilitação — debocha e eu
belisco sua cintura arrancando um “ai” dele.
— Se eu fosse você se segurava — avisa antes de dar partida.
De início Connor segue devagar com a moto enquanto vai passando pelas ruas
e eu observo que a maioria estão desertas mesmo sendo cedo. Olho para o seu
semblante através do retrovisor e, como se percebesse que está sendo observado, ele
me fita me direcionando um sorriso de lado, porém logo voltar a focar na estrada que
dá acesso à saída da cidade. Percebo ele aumentar a velocidade e sou obrigada a
segurar na sua cintura sentindo através do tecido da roupa os gominhos definidos do
seu abdômen.
O motor ruge alto na estrada deserta e eu fecho os olhos apreciando o frio
batendo no meu rosto e bagunçando meu cabelo. A sensação de paz que a noite traz é
bem-vinda e eu aproveito o máximo que consigo enquanto ele pilota durante longos
minutos. Obrigo-me a abrir os olhos quando percebo ele desacelerar parando em frente
ao que eu acredito seja um point.
Desço da moto e tento domar meus cabelos revoltos com o vento, mas acabo
desistindo quando percebo que é um caso perdido.
— Gostou de ficar agarradinha comigo, não é? — pergunta retirando o
capacete.
— Eu só segurei porque você estava indo rápido demais — desdenho. —
Minha segurança vem em primeiro lugar.
— Fale isso para você mesmo que saiba, assim consegue acreditar.
— Você e tão convencido. — Reviro os olhos. — Tenho certeza de que é do
tipo que fica se admirando na frente do espelho todos os dias.
— É claro que eu faço isso. — Ele aponta para si mesmo. — Preciso agradecer
por ter nascido quase como um deus grego.
Não aguento e gargalho com a sua fala porque eu tenho quase certeza de que
ele está falando a verdade.
— Então, deus grego. — Sorrio. — O que é esse lugar? — pergunto olhando
ao redor e noto que estamos fora da cidade.
— É só um bar no meio do nada para a gente cantar um karaokê. — Meus
olhos brilham quando ele responde. — Você gostou da ideia!
— Ah, eu sou a louca do karaokê — aviso já me animando. — Mas por que tão
longe?
— Os points perto da faculdade estão sempre cheios e eu nunca consigo ficar
em paz. — Dá de ombros.
— Pobrezinho — debocho. — Deve ser tão ruim ser popular.
— Você não acreditaria se eu dissesse que não é sempre que gosto de ser o
centro das atenções. — Noto sinceridade nas suas palavras, o que confesso me
surpreende.
— Então escolheu a profissão errada. — Aponto o óbvio.
— Sempre acreditei que tudo na vida tem dois lados: positivo e o negativo, mas
que sempre temos que escolher o que o primeiro ponto se sobressai e no hóquei não é
diferente. — Ele se vira. — Vamos. — Oferece sua mão, mas eu finjo que não a vejo e
sigo do seu lado e vejo ele balançar a cabeça em negativa.
Juntos subimos os três degraus da entrada e, assim que passamos pela porta,
sou presenteada com um ambiente praticamente vazio. Meus olhos percorrem o local
observando as mesas de madeira no salão e conto apenas três ocupadas, um bar ao
lado direito e mais à frente um palco onde tem uma ruiva cantando a plenos pulmões.
Connor segue na minha frente e juntos andamos até o balcão.
— Oi, Henry — Connor cumprimenta o cara barrigudo do outro lado do bar. —
Como você está?
— E aí, cara. Estou cansado, mas isso não é novidade — declara e Connor
sorri. — Trouxe companhia hoje? — pergunta se aproximando.
— Essa é a Ashley, ela é uma amiga.
— Prazer, mocinha. — O tal do Henry estende a mão e eu a aperto.
— O prazer é meu — digo.
— O que vão beber? — ele pergunta e Connor me olha.
— Um suco de laranja está ótimo — peço.
— Manda dois — Connor pede. — Estou pilotando hoje.
— Em instantes, já trago para vocês. — Henry se afasta.
— Como achou esse lugar? — pergunto curiosa.
— Eu estava precisando ficar um pouco sozinho e saí sem rumo. — Dá de
ombros enquanto se vira na banqueta ficando de frente para mim. — Encontrei por
acaso e desde então sempre venho.
— Não parece ser o tipo de coisa que você frequentaria.
— Você está me julgando só porque sou um jogador de hóquei — rebate.
— É, talvez esteja, mas não é por mal.
— Qual é o seu lance contra atleta? — Connor pergunta e um nó começa a se
formar na minha garganta.
— Não tem lance nenhum — desconverso.
— Você disse que tinha ficado com um jogador — solta e eu lembro do jogo eu
nunca que fizemos na festa. — Está contraditória.
— Isso foi no passado, Connor.
— Que alívio. — Suspira aliviado.
— Como assim? — indago confusa.
— Pensei que já tinha pegado algum cara do time. — Sorrio. — Ia ser um saco
fazer com que o idiota não chegasse mais perto de você.
— E quem disse que você tem esse poder? — Arqueio as sobrancelhas.
— Você não faz ideia do que uma palavrinha minha pode fazer no campus, Ash
— declara convencido.
— Não se atreva a se intrometer nos meus relacionamentos. — Levanto-me e
ele apenas dá de ombros. — Mas que tal a gente cantar agora?
— Vamos tomar logo o suco. — Aponta para Henry se aproximando e eu volto
a me sentar.
— Dois sucos saindo. — Henry coloca os copos na nossa frente se afastando
em seguida.
— Então, está gostando de Brisfolk? — pergunta enquanto toma seu suco.
— Estou sim — respondo. — Era para eu estar desde o início, mas acabei indo
para a Leifield.
— Ainda bem que você percebeu o erro que cometeu, porque lá não chega
nem perto da nossa universidade.
— Não é tão ruim — brinco. — Você só está falando isso porque os The Crows
são os maiores rivais de vocês no hóquei — Tento não deixar minha mente voltar para
o time em específico.
Connor dá de ombros, se levanta e eu agradeço por ele não aprofundar o
assunto ou talvez acabasse percebendo meu desconforto.
— Vamos ver o quão ruim você é cantando, Assassina — declara e eu o sigo
até a máquina mais à frente. — O que vai cantar?
— A melhor música do mundo! — aviso enquanto escolho Blanck Space.
— Ah, não, Taylor Swift, sério? — Faz uma careta.
— Melhor cantora — declaro enquanto pego o microfone e a melodia se inicia.
— Aí você já está forçando demais — rebate fazendo uma careta.
— Você não está ganhando ponto falando mal da minha loirinha. — O fuzilo e
ele levanta a mão em sinal de paz enquanto eu solto a voz.
“Nice to meet you, where you been?

I could show you incredible things

Magic, madness, heaven, sin

Saw you there and I thought

Oh, my God, look at that face!

You look like my next mistake

Love's a game, wanna play”


Ele me observa atentamente enquanto canto a plenos pulmões, movendo-me
ao ritmo da batida. Assim que termino, ele aplaude animadamente, e eu sorrio,
tentando controlar minha respiração.
— Eu não te prometo o para sempre, mas as chamas isso com certeza eu te
garanto — declara enquanto se aproxima da máquina. Fico confusa, mas quando ele
aponta para o microfone entendo a referência a música.
— Você não existe, Connor! — Bato no seu ombro e ele sorri colocando uma
nova ficha. — O que você irá cantar?
— The Script, oficialmente a melhor banda de todos os tempos.
Me surpreendo quando sua voz toma conta do ambiente. Diferente de mim, ele
é totalmente afinado e segue o ritmo perfeito da música.
“Yeah, you can be the greatest

You can be the best

You can be the King Kong banging on your chest

You can beat the world

You can beat the war

You can talk to God, go banging on his door”


Ele aumenta a voz no refrão, cantando maravilhosamente bem enquanto eu
aproveito para dançar ao seu lado. Chacoalho os ombros e ficamos os dois envolvidos
pela música como se fôssemos melhores amigos que amam fazer esse tipo de
programa juntos.
Connor canta, eu danço e observando ele tão leve e sem ninguém tentando
chamar sua atenção quase me esqueço de que ele é pegador nato idolatrado na
universidade.
— Caramba, devo admitir que você canta muito — elogio assim que paro de
dançar quando ele coloca o microfone no lugar.
— Eu tenho minhas qualidades. — Pisca para mim e eu tento não me derreter
como uma maria-patins.
— Não fique se achando, mas você não é tão babaca quanto eu pensei. — O
sorriso que ele abre já mostra o quanto o seu ego gostou do elogio.
Certeza de que é o seu sorriso o principal motivo de todas as calcinhas que ele
já derrubou.
— Então vai sair comigo? — indaga enquanto voltamos para o balcão.
— Estou saindo com você, seu idiota.
— Não é desse jeito que estou falando — declara assim que voltamos a nos
sentar. — Henry pode trazer água? — pede e alguns segundos depois dois copos
estão na nossa frente.
— Acho que podemos ser amigos, Connor — declaro porque realmente gostei
de passar esse tempo com ele e sei que não existe motivo para simplesmente mantê-lo
afastado.
O sorriso é um motivo, porém finjo que ele não me afeta em nada, muito menos
seu cheiro ou a forma como ele parece ficar mais gostoso a cada nova vez que eu o
vejo.
— Eu gosto dessa ideia. — Sorri de lado. — Mas eu ainda quero você na
minha cama.
— Você não tem vergonha na sua cara? — pergunto rindo com sua audácia.
— A única coisa que eu quero na minha cara é você, Assassina — solta no
instante que eu levo a água à boca e o líquido acaba entrando no buraco errado e uma
crise de tosse me acomete.
Connor se levanta apressado e vem para o meu lado depositando pequenas
tapinhas nas minhas costas. Ouço sua risada enquanto tento controlar o acesso de
tosse.
— Não é uma boa ideia a gente ser amigo. — Volto atrás da decisão quando
finalmente a tosse cessa.
— Pelo contrário; essa foi a melhor ideia que você já teve na vida. — Suas
palavras me deixam em alerta, ainda assim, apenas balanço a cabeça em negativa.
Poucos minutos depois, nos despedimos de Henry e voltamos para a estrada.
Fazemos o caminho em silêncio, aproveitando apenas a calmaria da noite e mais uma
vez eu passo meus braços ao redor da sua cintura com a desculpa de querer me
proteger de uma queda, mas no fundo sei que também estou me aproveitando, afinal
não sou uma santa.
CAPÍTULO 11 - Connor Harrington

Acordo sentindo algo molhado e pegajoso no meu rosto e, assim que abro os
olhos, a visão de um pelo caramelo cobre meus olhos.
— Ah não, camarada. — Viro-me rapidamente, sentando-me na cama e o
pequeno late em protesto enquanto se senta. — Você não pode me beijar — reclamo
levando a mão até o rosto, limpando-o.
— Au... — late como se estivesse reclamando da minha ordem.
— Só a sua dona pode me beijar. Pelo menos, eu quero que a sua dona me
beije. — Sorrio para o cachorro quando a imagem dela atravessa minha mente.
Quando eu inventei de criar todo o personagem foi apenas para que ela
entendesse que eu estava disposto a tudo para tê-la, inclusive fazer coisas idiotas,
porém não tinha pretensão de sair com ela ontem à noite. A ideia era ela me ver, ficar
babando no meu estilo novo e só depois insistir novamente. Porém, tudo saiu melhor
do que esperava quando ela aceitou passear um pouco comigo.
Levá-la ao karaokê foi incrível e confesso que há tempos eu não cantava e me
divertia tanto como aconteceu quando estávamos juntos.
Quando retornamos para casa, ela ainda ficou quase uma hora brincando com
Marley e, antes de ir embora, ainda jantou comigo e os meninos. Todos estão
encantados com ela e não é para menos!
Estico me até a mesa de cabeceira deixando os pensamentos de lado e,
quando pego o celular, constato que já são quase sete horas.
Merda, vou me atrasar!
Pulo da cama e corro até o banheiro com Marley no meu encalço. Tomo um
banho rápido, pego minhas coisas e, assim que desço as escadas, já encontro meus
colegas na sala.
— Você deixou de novo o cachorro com a gente — Liam bufa apontando para
Marley ao meu lado.
— As coisas não saíram como planejei. — Vou até a cozinha, abasteço a
vasilha de Marley com água e ração nova. — E, pelo que vi, ele não aprontou nada,
então deixem de ser reclamões. — Pego uma maçã retornando à sala.
— Saíram melhor, não é? — Ben pergunta pegando sua mochila.
— Então conseguiu o que queria, capitão? — Kyle questiona.
— Somos amigos — digo e os três me fitam. — Por enquanto. — Mordo a
maçã e sorrio.
— Você não vale nada. — Kyle joga a almofada na minha cara e eu a seguro a
tempo.
— Vamos porque estamos atrasados — declaro.
— Quem vai ficar com o cão? — Ben indaga e eu congelo no lugar.
— Droga, não pensei nisso. — Coço a cabeça nervoso já imaginando o estrago
que ele irá fazer ao ficar sozinho e trancado.
— Você é tão idiota. — Liam passa do meu lado. — A sua sorte é que já
falamos com Gorete e hoje ela vai ficar de olho na peste.
— Valeu, cara — agradeço saindo em seguida de casa com eles.
Gorete é a faxineira que vem duas vezes na semana para organizar a bagunça
que nós quatro fazemos. Na loucura, acabei me esquecendo completamente dela e
isso já me mostra que estou disperso demais.
Entro no carro junto com os caras e, como nossa casa fica apenas a alguns
quarteirões da universidade, logo estamos estacionando no campus.
— Nos encontramos no refeitório — Ben diz e se afasta indo para a sua aula.
— Vou para o prédio de Humanas — declaro travando o carro.
— Eu vou com você — Kyle avisa e eu assinto.
— Eu vejo vocês mais tarde — Liam diz já se afastando e noto mais à frente
ele se aproximar da Brooke e da Ashley.
— Então, você percebeu que o Logan estava distraído no último treino? — Kyle
pergunta enquanto andamos até o prédio da nossa aula. — Será que aconteceu algo?
— Fiquei sabendo que ele discutiu feio com a Alessa no Queens, mas vou
chamar ele para conversar mais tarde depois do treino.
— Não podemos perder nenhum jogo — meu amigo afirma sério. —
Precisamos de todos os jogadores centrados.
— E não vamos — asseguro convicto. — Se precisar coloco todos dentro de
uma casa sem mulheres durante toda a temporada, mas nem fodendo deixarei o título
de campeão escapar das nossas mãos.
O hóquei não é uma brincadeira para mim, muito menos para os meus amigos,
e estamos firmes para conseguir chegar até a final esse ano e levar o título de
campeão para a Brisfolk.
— Se precisar de algo, você me avisa. — Assinto. — Agora vou para a aula e a
gente se encontra mais tarde — declara quando paramos em frente à minha sala e logo
o vejo se afastar.
Eu entro na sala e percebo que o George já se encontra nela e, quando me vê
entrando, fecha o semblante rapidamente. Ele odeia atrasos!
— Pensei que não teria a honra da sua ilustre presença na minha aula —
debocha sério cruzando os braços.
— Eu jamais faria essa desfeita com o senhor — zombo e ouço risinhos dos
alunos.
— Na próxima, você não entra, Harrington — diz firme e eu reviro os olhos com
sua mania de chamar todos pelo segundo nome.
— Chegarei no horário porque a aula sem minha presença não tem graça,
professor. — Se um olhar me matasse, eu estaria caindo durinho nesse momento.
— Voltando ao que importa — ele diz e volta a discursar sobre urbanismos
enquanto eu me jogo na cadeira, no fundão.
— Deu tudo certo ontem? — Ramon pergunta ao meu lado.
— Sim. Valeu mesmo por emprestar aquela máquina — agradeço.
Assim que a Assassina saiu da minha casa, eu dei um pulo até a do Ramon
para entregar a moto. Eu voltaria andando, mas ele fez questão de me deixar em casa.
— Quando precisar é só falar. — Ele volta atenção para a aula e eu faço o
mesmo.
Levo a sério os meus estudos e, por mais que goste de brincar com os
professores, eu sempre fico atento as aulas. Minhas notas são boas e fora a confusão
com a estátua eu nunca tive nenhum problema com a reitoria.
Sei dividir meus estudos das farras e do hóquei. Acredito que o que mais me
ajuda nessa correria é justamente a disciplina em todos os quesitos da minha vida.
Não posso perder o foco!
— Droga, Ben, o que porcaria você tem hoje? — grito para o meu amigo, que
me encara com o semblante frustrado depois de não conseguir defender nenhum
ataque.
— Só estou cansado — responde, mas desvia o olhar acendendo o meu alerta.
— Se não consegue dar conta é só avisar que te ponho no banco! — Franklin
grita entrando na arena. — Não quero corpo mole, Benjamin.
— Vou melhorar — meu amigo afirma. — Não precisa me colocar na merda do
banco — resmunga e ganha o um olhar enviesado do treinador.
— Acho bom! — brada e leva a boca até o apito chamando a atenção de todos.
— Retirem os patins porque quero todos subindo e descendo os degraus da
arquibancada.
— Não seria melhor só amanhã? — Mike questiona passando a mão pelo suor
da testa. — Já passamos as últimas horas treinando.
— Quero trinta flexões e depois cem descida e subida na arquibancada, Mike.
— Controlo o riso já arrancando meus patins. — Você mal se mexeu durante todo o
treino, então não vejo o porquê está reclamando.
— Mas... — tenta argumentar.
— Agora! — Franklin brada e observo o goleiro se abaixar para retirar o
acessório e começar a fazer as flexões. — E se quiser ir para o banco é só avisar que
coloco outro goleiro no seu lugar.
Eu e o restante do time começamos a subida e descida da arquibancada sob a
supervisão do técnico.
— A Destiny chegou hoje — Liam diz quando chega ao meu lado enquanto
fazemos o que o técnico mandou. — Pensei da gente se reunir para pedir uma pizza.
— Pode ser — concordo. — Sua mãe melhorou?
— Graças a Deus sim!
Destiny está no segundo ano de Moda, mas a mãe deles adoeceu e ela teve
que ficar um tempo a mais na casa dos pais para cuidar dela depois das férias.
— Você deveria convidar a Brooke e a Ash — aviso e ele sorri.
— Já avisei as duas e elas toparam — afirma e eu assinto. — Já que você está
focado na novata, não tem problema eu ficar com a Raven, né? — indaga.
— Claro que não — nego sentindo o suor grudando minha camisa. — Você
sabe que não temos nada sério e que ela já ficou com o Ben e o Kyle.
— Ótimo então. — Ele dá um tapinha no meu ombro e acelera a descida, me
deixando para trás.
Não me importo que a Raven saia com meus amigos porque não temos nada e
ela é solteira, mas de imediato penso na Assassina e ela sim não estou disposto a
dividir com nenhum cara, pelo menos, não antes de mim.
— Oi, tio. — Estaco no lugar quando ouço a voz dela e, por alguns instantes,
penso estar tendo um delírio, mas, quando olho para a área do gelo, vejo Ash e Brooke
entrando na arena.
— Estão dispensados! — Franklin grita e logo todos os caras do time começam
a sair apressados.
Mike está puto e noto que ele é o primeiro a sair. Torço para que ele desista de
estar com a gente, mas sei que essa raivinha é só um chilique e que amanhã ele estará
conosco.
— Oi, meninas — cumprimento quando me aproximo deles e noto Franklin me
fitar.
— Oi, Connor — Brooke responde. — Espero que esteja pegando pesado nos
treinos.
— Acho que ele está — Ash responde apontando para a minha camisa coberta
de suor.
— Tenho que pegar. — Sorrio. — Como capitão preciso dar o exemplo —
informo e sinto a mão do treinador vir até o meu ombro fazendo com que eu seja
forçado a virar para ele.
— Mantenha seu pau longe delas se tiver algum amor por ele — ameaça e eu
forço um sorriso.
— Pai! — Brooke o repreende.
— Não se preocupe, treinador. — Lanço uma piscadela para ele, feliz por não
vacilar na resposta.
Imagina se ele sonha que o que eu mais quero nesse momento é justamente
enfiar meu digníssimo pau na boceta da sobrinha dele?
É, eu estou bem ferrado!
— Pode ir, Connor. — Me dispensa quando percebe que não saí do lugar.
— Estou indo. — Levanto as mãos e dou uma corridinha alcançando os caras.
— Soube que Destiny chegou? — pergunto me aproximando do Ben e esbarro nas
suas costas quando ele estaca no lugar.
— Soube sim — responde. — A mãe dela melhorou então?
— Sim. O Liam falou que está bem melhor. O que pretende fazer hoje?
— Pensei apenas em jogar um Play já que estou evitando sair.
— Vamos fazer a noite da pizza com a Destiny.
— Quem vai estar? — indaga cauteloso.
— Só nós quatro, Destiny, Brooke, Ash e vou ver se o Bryan quer ir também.
— Ótimo — concorda, mas sinto algo estranho no seu tom de voz.
— Está tudo bem mesmo com você? — pergunto baixinho deixando o time se
afastar. — Sabe que, se tiver com algum problema, pode contar comigo. — Ponho a
mão no seu ombro.
— Eu estou encren...
— Ei, vamos juntos para casa? — Liam, percebendo que ficamos para trás,
grita se aproximando cortando a frase do Ben e noto ele mudar totalmente a postura.
— Pode ser — responde, mas não fita o amigo.
— Então? — indago e Ben reveza seu olhar entre mim e Liam.
— Obrigado, cara, mas estou de boa. Eu só quero focar no hóquei para ver se
sou draftado esse ano — responde e, se não estou ficando louco, ele iria me falar algo,
mas cortou porque Liam se aproximou.
Estranho, afinal, até onde sei, os dois não têm segredos.
— Está certo, mas qualquer coisa é só me falar — decido não insistir e percebo
ele respirar aliviado.
Infelizmente, da nossa turma, o único que não passou no draft foi o Ben,
porque, mesmo sendo o mais centrado, ele acabou perdendo o draft. Até hoje não
entendi muito bem o que aconteceu, mas, justamente naquele dia, ele não compareceu
e, quando apareceu em casa, estava bêbado. Lembro que na época ele contou que
tinha passado do limite na bebida e esqueceu do draft e como não queríamos deixá-lo
constrangido por ser o único a não entrar optamos por não tocar mais no assunto.
Voltamos a caminhar e, assim que entro no vestiário, eu vou direto para o
banho porque estou completamente suado depois do treino insano que fizemos.
CAPÍTULO 12 - Ashley Moore

— Como você cresceu, Ashley — meu tio fala me puxando para um abraço
assim que o capitão se afasta. — Estou ficando muito velho mesmo, viu, porque até
ontem vocês eram duas bebês correndo dentro de casa — declara se afastando.
— Não exagera, tio — brinco e ele segura minhas mãos. — Senti sua falta. —
Meus olhos brilham enquanto eu o fito, porque ele é tão parecido com o meu pai.
Ambos possuem os olhos escuros, porte atlético, um sorriso acolhedor e a
careca, que é a marca dos integrantes da família Moore. Realmente senti falta dele,
porque ele sempre foi um tio presente. Sofri bastante quando me mudei, pois, além da
perda do meu pai, eu senti que tinha perdido o meu tio para a distância, mas, graças a
Deus, ele sempre se manteve perto através de ligações e toda vez que possuía um
tempo ele foi nos visitar.
— Também senti sua falta e estou muito feliz que tenha decidido voltar. — Ele
passa o braço ao redor do meu ombro e faz o mesmo com a Broo. — Como está sendo
esse início na Brisfolk? Precisando de algo? — indaga quando começamos a andar
saindo da arena.
— Está sendo melhor do que imaginei, mesmo que eu já esteja atolada de
trabalho. — Brooke dá risada e ele a acompanha. — Mas está tudo sob controle e, no
momento, não preciso de nada — aviso.
— Vamos comer? — Brooke pergunta. — Estou morrendo de fome.
— Que tal o Queens? — meu tio sugere.
— Prefiro o Ohashi porque quero comida japonesa — ela responde.
— Ah, eu também quero. Estou ansiando por sushi há dias.
— Então está decidido — diz e juntos seguimos até o estacionamento.
Como eu e a Broo sabíamos que iríamos sair com ele optamos por vir de Uber.
Chegamos até o carro do meu tio e, juntas, entramos no banco de trás.
— Ei, mocinhas, não sou motorista particular das duas, então pode vir para a
frente alguma de vocês.
Sorrio balançando a cabeça e abro a porta de trás entrando no banco da frente
em seguida.
— Isso. Agora está bem melhor. — Ele sorri.
O percurso até o restaurante é rápido e logo estamos entrando no Ohashi,
restaurante que eu não conhecia, mas que gosto do ambiente de imediato. Os
atendentes são acolhedores e logo estamos subindo para o segundo andar.
Caminhamos até a parte onde estão expostos os sushis, nos servimos e logo
nos sentamos à mesa.
— Agora me conta como está sua mãe — meu tio pergunta.
— Está bem. — Quase gemo ao colocar o salmão na boca. — Atolada nos
trabalhos na galeria.
— Quando ela pretende vir morar aqui? — pergunta Brooke.
— Não sei. — Dou um sorriso triste. — É difícil para ela voltar e ela meio que
criou uma nova vida em Nova York, mas estou na torcida para que ela decida vir.
— Tenho certeza de que é só questão de tempo. — Meu tio aponta com os
hashis para mim. — Ela não vai aguentar ficar muito longe de você.
— Estou torcendo por isso — confesso sincera. — Ah, deixa eu perguntar para
vocês. Queria saber se tem algum lar para crianças que eu possa ser voluntária.
— Já decidiu no que vai se especializar? — meu tio questiona.
— Meu coração está pedindo por pediatria — confesso e ele sorri orgulhoso. —
É por isso que queria ser voluntária, trabalhar com elas para ver se é realmente isso
que eu quero.
— Pai, tem o Institute Donna Farber Câncer — Brooke diz e seu pai assente.
— Onde seria esse lar e como funciona?
— É um lar específico para crianças em tratamento do câncer — responde e o
ouço atenta. — Eles sempre estão à procura de voluntários, inclusive tem alguns
alunos da Brisfolk que ajudam lá.
— Se eu não estou enganada é quatro horas por dia, dois dias na semana —
minha prima informa. — Podemos ir lá para você dar uma olhada e ver se te interessa.
— Eu adoraria — digo animada. — Será um prazer poder ajudar.
— E o melhor é que fica a dez minutos do campus — Franklin comenta. —
Você vai gostar.
Assinto e logo embarcamos em vários assuntos. Meu tio informa que o que eu
precisar posso comunicar a ele que ele estará ali para mim, acho fofo e agradeço.
— E quero você distante dos meus jogadores, assim como já falei para a
Brooke — comenta alguns minutos depois.
— Estou longe de querer algo com atleta — digo e ele sorri orgulhoso.
— Eu sinto muito pelo que passou com aquele idiota e pode ter certeza de que
ele não chegará mais perto de você.
Odeio que o escândalo que o Petter fez tenha chegado até aqui, mas era
inevitável que meu tio não soubesse porque precisei da discrição dele para que o
babaca não soubesse que voltei a morar em Boston.
— É passado e quero focar no presente, no agora. — Sorrio e ele assente.
— Concordo plenamente. — Ele se levanta. — Vou pegar mais sushi, vocês
querem?
— Estou satisfeita — respondo.
— Eu também — Brooke diz e fitamos ele se afastar. — Imagina se o papis
sonha que o capitão dele está doido para entrar no meio das suas pernas. — Ela me
empurra de leve sorrindo.
— Ah, e se ele souber que você está doida para pegar o atacante dele?
Ela abre a boca chocada e eu exibo o meu melhor semblante de vitória para
ela. Brooke pensa que me engana, mas em todas as situações que estávamos com os
meninos ficou nítido que ela e o Liam estão loucos para se pegar, se já não se
pegaram.
— É melhor a gente se manter longe da cama dos jogadores ou seremos
deserdadas — brinco.
— E quem disse que ele precisa saber?
— Você não tem um pingo de juízo. — Balanço a cabeça dando risada.
— Se fosse pelo meu pai, eu usaria um cinto de castidade na minha boceta. —
Mordo os lábios tentando controlar a risada. — Ele não precisa saber que a filhinha
dele adora sentar.
— Quando você se transformou nessa safada?
— Faz tanto tempo que já esqueci — rebate sorrindo safada.
— O que faz tanto tempo? — Meu tio retorna e nos fita curioso.
— Que eu quero ser jornalista esportiva — Brooke responde fingindo um
sorriso e eu fico impressionada com a facilidade com a qual ela inventou a mentira.
— Você é o meu orgulho. — Ele traz as mãos para cima da mesa. — Vocês
são. — Estico a minha e aperto a dele, assim como minha prima faz. — Tem certeza de
que não querem mais? — indaga apontando para o prato. — Isso está muito bom.
Negamos, mas voltamos a conversar e ele fala um pouco sobre a temporada e
confessa que está bem animado para esse ano. Ficamos entrando e saindo de
conversas triviais, colocando os assuntos em dia e depois de uma hora eles nos deixa
em frente ao dormitório.
— Juízo — diz quando descemos e apenas assentimos. — Qualquer coisa é só
me ligar.
— Está certo, pai — Brooke responde e acenamos enquanto ele se afasta. —
Vamos?
— Não vai nem trocar de roupa? — pergunto e ela nega.
Hoje pela manhã o Liam nos encontrou no intervalo da aula e nos convidou
para uma noite da pizza na casa dos meninos porque a irmã dele chegou. Pelo que
entendi, ela já é veterana, inclusive mora na Nu Zeta, mas esse ano precisou atrasar
um pouco porque a mãe estava doente.
— Já estamos em cima da hora — Brooke avisa e eu a sigo até o seu carro. —
Você já conseguiu um lugar para o Marley?

No dia seguinte, compartilhei com ela sobre o incidente com o cachorro, e sua
reação foi de indignação. Concordando com Connor, ela enfatizou que Black era
inconveniente e recomendou que eu evitasse tanto ele quanto os seus amigos.
— Ainda não. — Mordo os lábios. — Mas preciso, porque daqui a pouco
encerra o prazo que os meninos me deram.
— Odeio a minha alergia a pelos. — Ela dá partida no carro. — Eu amaria
adotar um cachorrinho.
— É, eu também. — Suspiro frustrada. — Mas, nesse momento da faculdade,
é impossível que eu consiga cuidar de um animal.
— Como não pensei nisso! — ela praticamente grita e eu viro de lado.
— No quê? — indago confusa.
— Podemos anunciar na rede social da Brisfolk. — Ela me olha de soslaio. —
É basicamente cheia de estudante, mas não são todos que moram em dormitórios,
então podemos encontrar alguém que mora fora que esteja disposto a adotar.
— A faculdade tem uma rede social? Isso não é do tempo do nunca? — brinco.
— Tem, e se quer saber é bem movimentada. Vou te mandar o link para você
baixar e criar o seu perfil.
— Já é uma esperança para o Marley. — Volto a ficar de frente para a pista. —
Uma pena que ele vai ficar trancado agora à noite.
— É isso ou eu vou passar a noite sufocando dentro do hospital.
— Você também bem que poderia procurar logo ajuda para tratar essa alergia
— revido.
— Mesmo que eu não possuísse alergia, não é permitido animais no campus.
— E ainda tem esse detalhe. — Suspiro já vendo a casa do Connor mais à
frente e agradeço por dessa vez ela não estar abarrotada de carros. — Hoje serão
poucas pessoas então? — indago.
— Isso. Só os mais íntimos. — Ela dá uma piscadela enquanto desliga o
veículo.
Descemos do carro e seguimos até a porta, mas, antes que a gente bata, ela é
aberta e um Connor todo sorridente aparece.
“Droga, ele não poderia ser feio e feder igual a um gambá?”, me questiono
mentalmente.
— Só faltava vocês. — Abre espaço indo para o lado. — Marley não gostou
nada de ficar preso na despensa.
— Vou fazer um carinho nele para tentar acalmá-lo — digo quando passo ao
seu lado.
— Destiny, sua vaca, pensei que tinha nos abandonado! — minha prima grita
assim que entra na sala e quando olho a vejo abraçando uma morena.
Caramba, a garota parece que saiu de uma revista de modelo. Ela é alta, bem
alta, com os cabelos castanhos e longos, olhos do mesmo tom e um corpo que, com
toda certeza, deve deixar muitos marmanjos babando.
— Que saudades de você, sua louca. — As duas se abraçam. — E quem é
essa loirinha parada aí? — pergunta assim que solta a minha prima.
— É a Ash, minha prima, falei dela para você — Brooke responde sorrindo.
— Ah, eu lembro. — Ela se aproxima. — Bem-vinda, querida, sou a Destiny,
irmã daquele C.A. ali. — Aponta para Liam. — E amiga dessa cambada toda. — Seu
sorriso é tão amigável, que sinto como se já a conhecesse.
— Obrigada. — A abraço e ela retribui. — Mas o que seria um C.A.? —
questiono curiosa quando ela se afasta.
— Criatura abominável — responde arrancando risada de todos.
— Por que você voltou mesmo? — Liam pergunta fingindo estar ofendido.
— Porque eu sou a melhor da turma e vocês não vivem sem mim. — Ela se
joga no sofá ao lado do irmão e ele passa os braços sobre o pescoço dela, a puxando
para si.
— Ashley, não dá ouvidos para ela, porque, na maioria do tempo, ela só fala
besteira — Liam diz. — Senta aí. — Aponta para o sofá.
— Vou dar uma olhadinha no Marley — aviso.
— Onde estão os outros? — Ouço Brooke perguntar.
— Kyle e Ben foram pegar as pizzas e Bryan deve estar chegando — Connor
responde enquanto sigo para a área de serviço que fica na parte de trás da casa.
Passo pela cozinha e assim que viro à direita encontro a porta e, quando a
abro, sou praticamente atacada pelo filhote. Entro depressa para que o pequeno não
fuja e me abaixo.
— Ei, garotão, como você está? — pergunto e a resposta que ganho são
lambidas. — Você é animado. — Aliso seu pelo e ele se deita, virando a barriga para
cima. — Vou tentar encontrar um lar para você, viu?
Sento-me no chão e fico vários minutos brincando com Marley sentindo meu
coração doer ao imaginar que, em breve, não irei mais vê-lo. Cheiro seu pelo, faço
cosquinha, jogo um prendedor no final da despensa e ele corre para pegar, voltando
em seguida para me entregar. Observo que a área tem saída de ar através de duas
janelas e também possui um espaço bem amplo para que ele possa correr e brincar à
vontade.
— A pizza chegou, Assassina. — Reviro os olhos quando ouço a voz do
capitão através da porta.
— Já estou indo. — Levanto-me do chão e dou mais um beijo no topo da
cabeça do filhote. — Se comporte, viu?
Jogo mais uma vez o prendedor e, quando ele corre para brincar com o objeto,
aproveito para sair da despensa.
— Quando você vai parar de me chamar assim? — pergunto quando saio e
encontro o Connor me esperando tão lindo e cheiroso como sempre.
— Não tenho pretensão nenhuma. — Ele coloca seus braços ao lado da minha
cabeça, me prendendo na porta. — Por que você cheira a baunilha?
— Porque é a essência do meu perfume — respondo tentando focar nos seus
olhos e não nos lábios que estão tão próximos do meu.
— É viciante. — Ele traz seu rosto até o meu pescoço e eu prendo a respiração
enquanto ele inala meu cheiro tentando controlar os pelos do meu corpo que se eriçam
com a proximidade. — Você é toda viciante e eu sequer a provei.
— Vamos para a sala. — Coloco a mão sobre seu tórax durinho e o empurro,
mas ele sequer se mexe.
— Está com medo de não resistir, Assassina? — Sorri com os olhos enquanto
examina minha reação.
— Resistir ao que exatamente? — Arqueio a sobrancelha fingindo que ele não
me afeta em nada. Tentando usar o desdém como arma, afinal, seus olhos percorrem
meu corpo e está nítido o quanto ele me afeta.
— Ora, ao meu charme. Sei que você também quer, mas está presa a essa
regra idiota. — Sua boca a centímetros da minha quase me faz vacilar alguns
segundos enquanto a fito, mas me recomponho.
— Primeiro: não é uma regra idiota; e segundo: sinto muito em machucar seu
ego, mas não vou para a cama com você, porque tenho zero interesse nesse charme
que você diz ter. — Me abaixo e passo por baixo dos seus braços porque já ficamos
próximos demais. — Se eu fosse você viria ou vai ficar sem pizza.
— Ash, quanto mais você me rejeita mais eu fico fascinado. — Gargalho com
suas palavras.
— Uma hora você cansa, capitão. — Dou uma piscadela para ele.
— Você vai entender que, quando eu quero algo, não desisto fácil — rebate
orgulhoso. — Sou um atleta, esqueceu?
— Ah, não, eu não esqueci. — Mostro a língua para ele. — É exatamente por
não esquecer que você deveria desistir.
Saio da cozinha e retorno a sala tentando controlar a respiração e balanço a
cabeça para espantar os pensamentos libidinosos que se passam pela minha mente.
Entro no ambiente e noto que a mesa de centro foi retirada e agora o chão está cheio
de caixa de pizzas espalhadas.
— Estava dando carinho no Marley ou no Connor? — minha prima brinca e eu
estiro o dedo do meio para ela.
— Para o Marley eu dou carinho e para o Connor eu machuco o ego. — Sento-
me ao chão arrancando risada dela.
— Me coloquem dentro das novidades — Destiny pede me olhando e logo fita
Connor se aproximando. — Vocês estão se pegando?
— Não mesmo. — Faço o sinal da cruz.
— Ainda não — ele responde por cima.
— Ela não pega jogadores — Kyle responde sorrindo cafajeste para mim. —
Uma pena porque eu mostraria a ela como seria incrível ela me chamar de asma.
— Ai, meu Deus, lá vem ele com essas cantadas ridículas — Ben bufa.
— Por que eu te chamaria de asma, Kyle? — indago sorrindo já esperando a
próxima cantada.
— Porque eu te deixaria sem ar — responde galanteador.
— Você não existe. — Dobro um pedaço de papel e jogo nele. — Sou vacinada
contra todos os flertes que vocês possuem.
— Meus pêsames — ele responde descarado e eu apenas balanço a cabeça
em negativa.
— Onde está o Bryan? — Liam questiona.
— Ele me mandou uma mensagem dizendo que não viria porque a Cassey
teve um problema familiar.
— Eu ainda não sei quem é essa garota que vocês tanto falam — Kyle avisa.
— Ela é muito legal, mas, assim como eu, não curte atletas.
— Isso até ela me conhecer, Ash — responde convicto. — E você pare de
passar sua regra pelo campus, viu? Ainda tenho muita gatinha para pegar — zomba.
— Então vamos comer ou ficar ouvindo o Kyle falar merda? — Connor
pergunta se jogando ao meu lado.
— Estamos apenas esperando você — Destiny avisa e logo atacamos as
pizzas. Mesmo cheia depois de comer sushi, me delicio com dois pedaços dessa
maravilha. — Ashley, qual curso está fazendo? — ela questiona alguns minutos depois.
— Medicina e você?
— Que legal. Eu estou cursando Moda e sou completamente apaixonada pela
área.
— Eu também, inclusive irei no lar para criança com câncer me voluntariar.
Estou pensando em seguir para a área pediátrica.
— Você vai gostar de lá — Connor comenta.
— Você já foi? — indago e o vejo assentir enquanto ele enfia mais uma fatia de
pizza na boca.
— Ele...
— Quem quer mais refrigerante? — Connor corta a frase do Ben e todos
aceitamos.
— Vou te ajudar a pegar — Liam diz se levantando e os dois seguem para a
cozinha.
Minutos depois, eles retornam e passamos as próximas horas jogando
conversa fora. Falo um pouco sobre como é a Leifield, minha antiga universidade, mas
deixo de fora o meu romance com o Petter. Descubro mais coisas sobre os meninos:
Liam está cursando Física, Kyle Ciência da Computação, e Ben Ciências Contábeis.
Assim como Connor, eles são completamente apaixonados pelo hóquei e todos
pretendem seguir carreira na liga profissional.
— O primeiro jogo vai acontecer em duas semanas e você precisa estar lá —
Connor decreta.
— E quem disse que eu quero ficar em uma arquibancada com um bando de
loucos gritando enquanto outros loucos se batem no gelo? — provoco.
— Deixa de charme, Ash, porque você vai comigo nem que seja amarrada —
Brooke diz.
— É assim que se fala, loirinha. — Liam sorri.
— Vou mandar fazer uma camiseta com o meu nome para você, Ash.
— Que eu saiba, quem usa camiseta com os nomes dos jogadores são
namoradas. — Arqueio as sobrancelhas. — Por acaso está me pedindo em namoro,
Connor? Porque, se for, estou pronta para te dar um belo e sonoro não.
Todos dão risada e eu observo o capitão levemente constrangido enquanto me
encara. No entanto, seu semblante não demora a mudar, e ele logo me lança um
sorriso malicioso.
— Não será um não que você me dará em breve, pode apostar — revida e eu o
fito incrédula.
— Continue sonhando porque é só em sonho que isso irá acontecer — implico
entendendo o duplo sentido da frase.
— Em sonho, já acontece há tempos. — Todos dão risada da nossa interação
ridícula. — Só falta você deixar tornar realidade.
— Cale a boca, Connor. — Desisto de provocá-lo ou passaremos a noite inteira
com resposta de cunho sexual.
Voltamos a falar sobre a temporada e o Connor explica que o primeiro jogo
será em casa contra a faculdade de Detroit. Eles estão confiantes porque já
enfrentaram o time e venceram. A partida sendo em “casa” traz mais ânimo para os
jogadores, porque a torcida vai estar em peso na arena gritando o nome deles.
Agradeço por ninguém perguntar quando foi a última vez que frequentei os
jogos de hóquei e sei que isso é porque eles não querem falar sobre o meu pai, afinal
eles não sabem que eu fui namorada do Petter, capitão do time de hóquei de Leifield,
maior rival da Brisfolk.
Como se pressentisse que estou falando dele, meu celular apita e, quando o
pego, percebo que há uma mensagem não lida.
DESORDEM EMOCIONAL: Você sabe que uma hora ou outra eu vou
descobrir onde está, não é?
Um calafrio percorre meu corpo ao ler sua mensagem. Desde que saí da
universidade e de Nova York, ele vem me ligando e enviando mensagens praticamente
todos os dias. A última vez que atendi foi quando estava no Queens com o pessoal e
acabamos entrando em uma discussão acalorada. Deixei claro para ele me esquecer,
mas o Petter é um babaca mimado que não sabe o que é a porra de um NÃO e ele não
vai sossegar enquanto não descobrir onde estou.
Decidida a acabar com essa merda de uma vez, clico no seu número e o
bloqueio tentando não deixar esse desgraçado estragar a minha noite.
— Ashley? — Ouço meu nome sendo chamado e, quando olho para cima,
percebo que é a Destiny, pois ela me fita.
— Desculpa. — Sorrio sem graça. — Precisei olhar o celular e não escutei o
que você falou.
— Eu disse que precisamos marcar uma noite de meninas.
— Eu iria adorar — digo guardando o celular voltando a atenção para eles.
As insistidas do Petter é um lembrete para eu não me deixar levar pelo sorriso
fácil do Connor, porque eu não o conheço de verdade e tudo que tenho de bagagem
com um atleta me faz querer correr para bem longe dessa casa.
CAPÍTULO 13 - Connor Harrington

— O que vocês vão querer para hoje: historinha ou música? — pergunto


sentando-me no tapete de borracha enquanto olho para os rostinhos pensativos das
crianças.
— Música, tio, na última vez foi histolinha — Katy, de cinco aninhos, diz e logo
vejo todas as cabeças se movimentarem concordando.
— Então vamos de música. — Pego o violão ao meu lado e eles esperam com
os olhos brilhando em expectativas enquanto dedilho meus dedos sobre as cordas
afinando o instrumento.
Conheci o Donna através da punição que eu e meus amigos recebemos depois
de quebrar a estátua do Michael, mas, diferente do que eu esperava, eu me encantei
pelo trabalho voluntário e, quando a nossa carga horária imposta pelo reitor encerrou,
eu resolvi ficar e continuar ajudando, pois acabei me envolvendo com cada criança que
conheci nesse lugar.
Não é um ambiente fácil de trabalhar, não no quesito braçal, mas sim no
emocional. É muito difícil acompanhar crianças, seres tão indefesos, com uma doença
tão cruel, principalmente aquelas que estão em estado terminal e sabemos que logo
irão partir.
No início foi difícil, pensei em desistir e confesso que chorei diversas vezes ao
presenciar o sofrimento de algumas, mas com o tempo aprendi que se eu posso trazer
um pouco de conforto e felicidade para essas crianças que já sofrem tanto, então assim
eu farei.
Meu coração se enche do mais puro amor enquanto estou aqui com eles e a
cada risada que recebo sinto-me renovado. Tem dias bons e dias ruins, porque todos
são muito unidos e quando uma das crianças não está legal as outras sentem. Nesses
dias, eu sempre escolho música porque é algo que não precisa de esforço e que, na
maioria das vezes, os animam. Hoje, mesmo sendo um dia em que eles estão
animados e brincalhões, a música prevalece porque é o que eles mais gostam.
Queria fazer mais pelas crianças e tento sempre encontrar patrocinadores para
eles. Depois de pesquisar sobre o instituto descobri que ele foi fundado em 1947 e
desde então tem se empenhado em trazer os melhores tratamentos para os pacientes,
sejam eles adultos ou crianças. No ano passado convenci a minha mãe a ser uma
patrocinadora e todo mês ela envia uma quantia generosa para ajudar nas despesas do
instituto.
— Vamos lá — digo saindo dos meus pensamentos depois de afinar as cordas.
“May God bless and keep you always

May your wishes all come true

May you always do for others

And let others do for you

May you build a ladder to the stars


(Que Deus te abençoe e te proteja sempre,

Que todos os seus desejos se realizem;

Que você possa ser sempre útil aos outros.

E permitir que os outros o sejam para você.

Que você consiga construir uma escada até as estrelas)


And climb on every rung

May you stay forever young

Forever young, forever young

May you stay forever young


(E suba cada degrau;

Que você possa permanecer para sempre jovem.

Jovem para sempre, jovem para sempre,

Que você possa permanecer para sempre jovem)”


Abro os olhos e observo todos as crianças me encarando com um sorriso
singelo enquanto balançam os corpinhos lentamente. Continuo dedilhando o violão
enquanto sorrio. Katy é a garotinha que eu mais tive contato desde a primeira vez que
estive no instituto. Ela vem lutando contra uma leucemia e fiquei tão feliz ao descobrir
que seu organismo está se adaptando bem ao novo tratamento, apesar de seu cabelo
estar quase todo caído. Ela se recusa a cortar, porém entende que ele em algum
momento vai cair por completo.
Ela está segurando a mão do Levi, um garotinho de sete anos que luta contra
um câncer no estômago, que vem crescendo mais rápido do que a família esperava,
inclusive a mãe dele está no canto do quarto com os olhos cheios de lágrimas
enquanto nos observa.
Elijah está deitado e, ao seu lado, seu irmão Noah. Apesar de Noah ser
saudável, sempre está no hospital quando Elijah precisa vir ser medicado ou ficar
internado. Eles são gêmeos e não se desgrudam por nem um momento. Tenho medo
de como o Noah irá ficar quando a missão do irmão se encerrar aqui, porque ele é um
dos meninos mais graves. Sua doença já entrou em metástase e ele quase não tem
forças para andar. É exatamente por isso que hoje estamos todos reunidos ao redor da
sua cama.
Sorrio mesmo sentindo as lágrimas quererem se acumular quando percebo
Elijah cansadinho. Sei que está chegando a hora do seu descanso e, quando ouço a
porta ser aberta atrás de mim, acredito ser a médica dizendo que acabou nosso tempo.
Fecho os olhos e finalizo a última parte da música pedindo a quem esteja lá em cima
que derrame chuva de bênçãos e saúde em cima desses anjos.
“May your heart always be joyful

May your song always be sung

May you stay forever young

Forever young, forever young

May you stay forever young


(Possa seu coração estar sempre contente,

Possa sua canção ser sempre cantada,

Que você possa permanecer para sempre jovem.

Jovem para sempre, jovem para sempre,

Que você possa permanecer para sempre jovem)”


— Eu amo essa música! — A voz de Sophia, mãe do Levi, diz assim que
dedilho a última nota. — Obrigada, Connor.
— É um prazer cantar para esses anjinhos, mas agora tenho que ir embora
porque o Elijah irá descansar.
— Você vai voltar? — ele indaga baixinho e eu me levanto, aproximando da
sua cama.
— E quem vai furar seus tímpanos com essa voz horrorosa senão eu? — Sua
risada fraca vem em seguida.
É difícil controlar as lágrimas, mas as seguro porque sei que ele não precisa
dela, muito menos de pena. Ele quer e necessita apenas de amor e carinho nesse
momento.
— Você não canta mal, bobo. — Noto sua mão se mexer e eu a seguro. — É
para voltar, viu?
— Estarei aqui em dois dias. — Levo minha mão até a sua cabeça e a aliso. —
Fique bem e descanse. Nada de ficar jogando com o Noah até tarde escondido.
— Xiii, ele nos pegou — seu irmão brinca.
Sorrio e me viro para me despedir, mas me surpreendo quando vejo a Ashley
observando tudo parada na porta ao lado da Evelyn, responsável pelo setor de
oncologia. Ela funga, leva a mão até os olhos que estão brilhando com lágrimas, me
direciona um meio sorriso e se vira, saindo do quarto.
— Vamos deixar nosso amiguinho descansar? — pergunto para todos e eles
assentem já se levantando.
O que sinto em seguida é uma das minhas partes favoritas das horas que
passo aqui porque vários bracinhos se agarram nas minhas pernas e eu tento retribuir
o de todos sentindo meu coração sendo preenchido.
— Vocês são os melhores amiguinhos que eu tenho — declaro quando eles
começam a me soltar.
— Se os meninos escutarem isso ficarão com ciúmes — Evelyn brinca
entrando na sala. — Vou levar eles para os quartos. — Assinto. — Obrigada, Connor.
— Até a próxima, Eve. — Sorrio. — Sabe dizer se aquela garota já foi embora?
— A Ashley? — Assinto. — Ela está na recepção preenchendo o formulário de
voluntário. Vocês se conhecem, não é?
— Sim. Ela é sobrinha do Franklin.
— Ela me contou quando veio na semana passada procurar informações —
Evelyn responde. — Estou feliz que ela tenha decidido se juntar a nós.
— Eu também. — Sorrio. — Bom, estou indo. — Me despeço das crianças e
saio do quarto.
Atravesso o corredor e, no final dele, encontro uma cabeleira loira sentada
concentrada na prancheta que está no seu colo. Sento-me na cadeira ao seu lado, mas
ela não fala nada até que termina de preencher tudo.
— Por que não me contou que também era voluntário? — indaga colocando a
caneta em cima da prancheta, finalmente me olhando.
— Fiquei com medo de você desistir de vir. — Sou sincero. — Essas crianças
precisam de toda ajuda necessária e não queria ser um empecilho.
— Eu não iria desistir, mas confesso que fiquei surpresa, inclusive tive um
choque ao vê-lo sentado no quarto cantando.
— A maioria das pessoas tem — brinco. — Se eu conheço bem o fofoqueiro do
meu primo, você já soube da história da estátua. — Ela assente e eu suspiro. — No
começo foi para ser uma punição, mas eu acabei me apaixonando por esses anjos e
decidi continuar ajudando.
— É admirável sua atitude.
Por que meu peito está apertando com o seu sorriso contido?
— É admirável porque não é algo comum. Seria tão bom que ajudar o próximo
não fosse algo raro. Que todos pensassem no próximo.
— O mundo não é justo, infelizmente. — Franze os lábios.
— Não, não é, mas ele ainda possui pessoas como nós que estamos dispostos
a ajudar. — Ela concorda com um menear de cabeça. — Não tenho dúvidas de que
você vai se apaixonar por eles.
— Sim. Eu já me encantei com a forma que eles olham e falam com você. Só
preciso controlar o choro porque não quero deixá-los tristes. — Sorri envergonhada.
— Olha, com o tempo a gente aprende a controlar, viu? — Assente. — É difícil
vê-los nessa situação, principalmente quando as coisas estão feias, mas no fim
entendemos que precisamos trazer alegrias e fazê-los esquecerem um pouco dessa
doença maldita.
— Pretendo ajudar na parte da medicina com o que eu estou aprendendo, mas
quero trazer um pouco de arte para eles também.
— Você desenha?
— Não. Eu sou mais do time de pintura, porque fiz umas aulas extras na
Leifield e minha mãe tem um ateliê, mas preciso ver a questão das tintas. Não sei se
eles podem ter contato com elas.
— Eu acredito que podem sim, mas vamos conversar com a Eve e, se quiser,
podemos vir no mesmo dia e assim planejar atividades para fazer com eles — solto
sem pensar.
— Isso seria perfeito. — Ashley se levanta. — Agora vou entregar isso e ver se
consigo ser voluntária nos mesmos dias que você. — Aponta para o formulário.
— Devido aos treinos, eu só consigo vir duas vezes e fico apenas duas horas.
A Evelyn sabe meus horários. — Levanto-me também. — Quer uma carona para
voltar?
— Estou de carro — responde e eu arregalo os olhos fingindo estar surpreso.
— Por favor, não tente mais matar ninguém, viu? — Ela sorri e, mais uma vez,
sinto algo estranho no peito.
Novo demais para infartar!
— Engraçadinho.
— Você já conseguiu alguém para adotar o Marley? — indago lembrando do
cachorro quando ela está preste a se virar.
Já se passou pouco mais de uma semana desde que ele chegou e nos últimos
dias acabamos nos adaptando bem a ele. Conversamos com a Gorete e ela topou ir à
casa enquanto estávamos fora para dar uma olhada no pequeno e desde então faz isso
todos os dias.
— Eu já anunciei na rede social da Brisfolk, mas até agora ninguém apareceu.
— Eu deveria ficar triste, porém sinto alívio ao ouvir suas palavras. — Me dá só mais
alguns dias? — pede fazendo biquinho, juntando as mãos como se estivesse em
oração.
— Quando encontrar, você me avisa. — Ela sorri assentindo. — Estamos nos
virando bem.
— Vou dar um pulo para ver ele porque os últimos dias foram um caos com as
matérias.
— Se precisar de ajuda... — Ofereço.
— Obrigada — agradece. — Agora deixa eu ir entregar isso. — Aponta para o
formulário e se vira. Eu a acompanho com olhar até a recepção.
Mesmo contra a vontade, faço o caminho de volta pelo corredor quando ela
começa a conversar com a enfermeira atrás do balcão. Saio do instituto e sigo até o
meu carro, pronto para mais um dia de treino insano.
CAPÍTULO 14 - Ashley Moore

Observo o professor Edward explicar pausadamente todos os detalhes que


precisaremos para entregar o trabalho de Biologia e controlo o gemido de desespero
que implora para sair, porque odeio tudo dessa matéria e só de pensar em passar
horas e mais horas pesquisando sobre ela sinto vontade de cancelar a faculdade.
Faço anotações de tudo que ele fala e estou tão distraída que só percebo que
alguém se sentou ao meu lado quando sinto a ponta de uma caneta encostar no meu
ombro assustando-me.
Viro-me para trás e surpreendo-me quando vejo um Connor todo sorridente.
— Como você aguenta essa tortura? — murmura e eu dou uma rápida olhada
para o professor notando que ele está virado de costas escrevendo algo na lousa.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto baixinho.
Edward pode ser um dos professores mais legais, ainda assim odeia que
interrompam suas aulas e tenho certeza de que o Connor só entrou na sala porque ele
não viu.
— Vim te buscar para irmos para o Donna juntos.
— Quem disse que quero ir com você? — sussurro.
Ele é louco!
Viro-me novamente para a frente quando noto que o professor voltou a falar
olhando para nós e tento me concentrar, mas logo sinto a ponta da caneta me cutucar
novamente.
— A Brooke me disse que hoje você veio com ela, então sei que não está de
carro.
— Eu irei caminhando — murmuro baixinho, mas tenho vontade de esbravejar
quando sinto a maldita ponta da caneta me cutucar novamente. — Pode parar com
isso? — indago trincando os dentes quando me viro para fitá-lo.
— Por que está tão nervosa? — pergunta se recostando na cadeira, cruzando
os braços e eu controlo a vontade de revirar os olhos quando ele sorri de lado.
Por que ele tinha que ser tão lindo? E por que mesmo com o blusão folgado do
time ele ainda consegue ficar tão gostoso? Deveria ser proibido alguém ser tão
atraente como Connor Harrington é!
— Deve ser porque estou tentando prestar atenção na aula e você fica me
cutucando com essa caneta. — Aponto para o objeto em suas mãos.
— Gosto de falar com as pessoas olhando para mim. — Dá de ombros. —
Então, vamos juntos? — indaga como se eu não estivesse acabado de dizer um belo
NÃO para o seu convite.
— Tá, pode ser — concordo porque sei que ele não vai desistir.
— Não está gostando da aula, Srta. Moore? — Trinco os dentes fuzilando o
Connor antes de me virar para o professor abrindo um falso sorriso.
— Estava só pegando uma caneta emprestada com o colega porque a minha
falhou — respondo e ele me escrutina.
— Errou a sala, Connor Harrington? — questiona olhando para trás de mim.
— Minhas aulas encerraram mais cedo e decidi vir aprender um pouco com o
senhor.
— Se eu não te conhecesse bem, até poderia acreditar — Edward diz levando
seu dedo até o meio do óculos e o empurrando levemente para cima. — Só tente não
atrapalhar a aula ou te colocarei para fora.
— Ficarei bem quietinho — Connor responde e Edward volta a escrever na
lousa. — Conheço ele desde que entrei na Brisfolk e durante todos esses anos ele
ainda não trocou esse óculos — Connor murmura e eu mordo os lábios tentando não
rir.
— Ele passa a aula inteira levantando a ponte dos óculos — respondo
baixinho. — Ele levanta, segundos depois os óculos escorrega um pouco pelo nariz. É
um círculo vicioso.
— Já ouvi dizer que ele não troca porque é da falecida esposa dele, mas
também já disseram que é porque ele é mão fechada.
— Nunca saberemos — sussurro e minutos depois somos dispensados.
Guardo todos os meus materiais dentro da mochila e saio da sala sendo
seguida por um capitão bastante insistente. Tento não notar que quase todas as
garotas da sala o cumprimentam enquanto saímos e até os caras falam com ele. Às
vezes, é como se o Connor fosse uma celebridade na universidade, na real, ele é
mesmo, principalmente pelo título de capitão do time.
— Connor... — A voz estridente surge no instante que passamos pela porta da
sala e, quando olho para trás, vejo duas loiras idênticas se aproximando.
— Espera... — ele pede e, mesmo sem querer, eu fico ao seu lado observando
as duas praticamente correrem.
— Vai rolar uma festa da Nu Zeta amanhã e queríamos que você fosse. —
Uma delas avisa com a voz manhosa assim que para à nossa frente.
— Oi, meninas, eu vou ver com os caras e qualquer coisa apareço por lá — diz
educadamente.
— Vamos esperar porque não tem graça festa sem vocês. — A segunda
completa levando sua mão até o tórax dele, se aproximando.
— Tentarei ir — diz tentando se virar, mas a outra se aproxima e alisa seu
braço o prendendo.
Elas sequer notaram que eu estou ao lado dele e eu aproveito a deixa para me
afastar. Conheci ambas na festa da fraternidade que fui ao primeiro dia do campus,
mas não conversei com elas e pretendo não fazer parte desse showzinho de horrores
enquanto as duas praticamente lambem o Connor.
Apresso meu passo, deixando-os para trás, saindo do corredor principal e
desço as escadas em direção à saída do prédio de Humanas. Ouço meu nome sendo
chamado e, quando não reconheço o tom de voz do capitão, paro e olho para trás
vendo um garoto ruivo vindo em minha direção.
Quando ele se aproxima totalmente, noto que é um dos alunos do professor
Edward, mas estranho ele me chamar porque nunca tivemos contato nenhum, apesar
de ambos nos sentarmos bem próximos.
— Oi... — diz tímido e abre sua mochila. — Você esqueceu isso na aula de
ontem, mas eu não consegui te entregar porque saiu apressada — avisa mostrando a
minha agenda que eu acreditei fielmente que tinha perdido.
— Ah, obrigada. — Pego-a soltando um suspiro de alívio. — Eu fiquei a noite
de ontem revirando meu quarto procurando-a e já tinha desistido de encontrá-la.
— Você deixou cair quando arrumava sua mochila e só não te entreguei na
aula de hoje porque o professor provavelmente daria um chilique.
Dou risada.
— Edward não é muito fã que atrapalhem a aula dele. — Concordo e ele sorri
ajeitando a alça da mochila. — Oliver, não é?
— Isso, mas confesso que pensei que você nem sabia que estávamos na
mesma aula — diz contido e acho fofo a forma como ele parece envergonhado.
É difícil não o notar, não só porque nos sentamos próximos, mas porque ele
tem uma beleza que chama atenção. Oliver é alto, não robusto como os outros caras,
mas é nítido que treina. Seus olhos verdes são lindos e seu cabelo avermelhado traz
um charme diferente. Seu sorriso, apesar de contido, é lindo e seu maxilar quadrado é
bem marcante. Eu com certeza o notei no momento que coloquei meus olhos nele.
— Impossível porque nos sentamos quase ao lado um do outro — respondo
deixando a parte da beleza de lado. — Muito obrigada por ter guardado a agenda —
agradeço a colocando dentro da minha mochila.
— Não foi nada, bom... — Ele olha para os dois lados parecendo
envergonhado, mas logo volta a me fitar. — Você pretende fazer o trabalho sozinha? —
indaga passando a mão no queixo.
— Era o que eu tinha em mente e você? — Fecho o zíper da bolsa.
— Bom, você parecia que estava comendo algo azedo quando o professor
começou a falar sobre o trabalho.
— Ficou tão óbvio assim? — Franzo o rosto e ele assente controlando o riso.
— É, eu odeio Biologia, principalmente a área de anatomia.
— Eu já sou do time que amo anatomia, então se precisar de ajuda é só avisar.
— Oferece e meus olhos brilham.
— Você me ajudaria? — questiono animada e ele concorda. — Eu super
adoraria porque fazer sozinha seria um martírio.
— Então, que tal nos encontramos amanhã na biblioteca? Claro, se você não
tiver compromissos.
— Não. Não tenho — respondo rapidamente porque nem fodendo irei perder
uma oportunidade dessa. — Pode ser no início da noite?
— Tenho um jantar com os meus pais — responde pensativo. — Às oito seria
perfeito para mim.
— Então nos encontraremos amanhã — digo e ele assente. — Deixa eu anotar
seu número. — Pego meu celular e rapidamente trocamos nossos contatos. — A gente
vai se falando então e, se acontecer algum imprevisto, avisamos um ao outro —
declaro depois de guardar o celular.
— Por mim está ótimo — diz sorrindo. — Até mais, Ashley.
— Até, Oliver, e mais uma vez obrigada pela agenda.
— Não foi nada.
Eu o observo se afastar voltando para o prédio no instante que vejo Connor
descendo as escadas correndo. Seus olhos acompanham Oliver enquanto ele passa ao
seu lado e depois volta a me fitar.
— Vocês estavam conversando? — indaga assim que para ao meu lado.
— Já terminou com suas amiguinhas?
— Eu perguntei primeiro — rebate.
— Esqueci minha agenda ontem na aula e o Oliver guardou.
— Prestativo ele. — Noto o deboche no seu tom de voz e aproveito para
alfinetar um pouco mais.
— Muito prestativo, inclusive se ofereceu para me ajudar no trabalho de
Biologia.
— É sério isso? — pergunta se postando à minha frente. — Você aceitou?
— Por que não aceitaria? — Cruzo os braços. — Não sou boa na matéria e ele
está disposto a me ajudar.
— Acho que ele está querendo mais do que te ajudar — retruca parecendo
irritado.
— Nem todo cara é como você, Connor. — Aponto o dedo no seu tórax duro
como pedra.
— Pode ter certeza de que ele não é mesmo como eu — gaba-se.
— Podemos ir para o instituto ou vamos ficar aqui com essa conversa que não
vai levar a lugar nenhum? — tento passar pela lateral, mas ele faz o mesmo voltando a
ficar na minha frente.
— Quando vocês vão fazer o trabalho? — indaga.
— Amanhã à noite na biblioteca. — Reviro os olhos.
— Droga. Eu ia te convidar para ir à festa da Nu Zeta comigo.
— Você acha mesmo que eu vou deixar de fazer um trabalho importantíssimo
para ir à festa das suas peguetes?
— Elas não são minhas peguetes — rebate.
— Connor... — Olho meu relógio de pulso. — Tenho dez minutos para chegar
no instituto e se você não for me dar a carona pode sair da minha frente?
— Vamos. — Ele abre passagem e juntos saímos do prédio indo em direção ao
estacionamento. — Eu acho que você não deveria ir — anuncia no instante que
paramos em frente ao seu carro.
— E eu acho que você deveria não se meter onde não foi chamado.
Ele destrava o veículo e eu entro.
— Não está mais aqui quem falou — diz quando se senta atrás do volante.
Noto ele apertar a direção com força, porém não comento e seguimos até o
instituto no mais puro silêncio.
CAPÍTULO 15 - Connor Harrington

Ela não é nada sua!


Você não pode impedi-la de fazer amizades ou sair com alguém.
Então por que diabos tenho vontade de sair daqui correndo e ir até o Oliver
parar proibi-lo de sair com ela?
Droga, essa atração já está ultrapassando todos os limites e eu deveria me
manter distante e desistir dessa teimosa, mas como fazer isso quando estou cada vez
mais fascinado nessa garota?
Observo Ashley jogar a cabeça para trás e sorrir abertamente quando Katy
termina a maquiagem. Sua risada passeia por cada célula do meu corpo enquanto ela
volta a examinar o meu rosto.
— Katy, você vai ser uma maquiadora profissional, princesa — elogia e se
aproxima entregando um espelho pequeno para que eu veja o que a menina aprontou.
Sorrio quando vejo as pálpebras pintadas de rosa até abaixo das sobrancelhas
e a linha preta toda torta acima dos cílios que a Katy afirmou que era para dar um
charme a mais. Minhas bochechas estão cobertas com batom rosa porque ela avisou
que o pozinho de usar tinha acabado. Minha boca esbanja um batom laranja vivo.
Estou horroroso e parecendo um palhaço, mas o sorriso no rosto de ambas faz
tudo valer a pena.
— Você se saiu muito bem — concordo e Katy sorri feliz.
— Obrigada, tio. — Ela vem até mim e me abraça. Sorrio para Ashley pelo
ombro de Katy. — Promete trazer a titia mais vezes? — pede se afastando.
— Irei vir todas as vezes com ele — Ash responde e Katy corre para os seus
braços. — E na próxima vamos brincar de pintar.
— Sério? — A pequena pergunta com os olhos animados.
— Evelyn liberou? — indago levantando-me e ela faz o mesmo assentindo.
— Ela me passou a lista com as tintas que podem ser usadas com a turminha e
eu mesma irei comprar. — Ela pega a Katy no colo e juntos saímos da sala de
recreação.
Chegamos já tem quase duas horas e, enquanto eu fui contar historinhas para
a turma, a Assassina ficou ajudando a Evelyn a preparar as medicações das crianças.
Depois nos juntamos na sala e ficamos brincando de desenhar com eles. Dessa vez,
Elijah não participou porque estava muito fraquinho com a sessão de quimioterapia que
realizou ontem.
— Olha como esse capitão está bonito — Evelyn brinca quando vem ao nosso
encontro. — Você que o maquiou? — pergunta para Katy e ela confirma orgulhosa
acenando freneticamente. — Parabéns, mas na próxima eu quero ser a felizarda que
ganhará uma make tão incrível.
— Ela vai adorar te deixar ainda mais linda — Ashley responde e passa Katy
para os braços da Eve. — Voltamos na segunda — se despede.
— Obrigada, querida, todos ficaram encantados com você — Evelyn elogia.
— E eu por eles. — Sorri.
— Bom, vamos indo — me despeço. — Até mais, Katy. — Deposito um beijo
na sua bochecha. — Volto na segunda também — aviso e Eve assente.
Eu e Ash saímos do instituto e seguimos até o carro. Observo seu celular tocar
e ela parar quando o pega na bolsa. Noto seu corpo ficar tenso rapidamente e seu
semblante se fechar, mas quando me aproximo, ela o desliga rapidamente e o joga
dentro da mochila como se estivesse pegando fogo.
— Está tudo bem? — pergunto curioso com sua reação.
— Hum, sim. — Força um sorriso.
— Tem certeza? — reforço porque ela não parece nada bem.
— Só uma mensagem chata — desconversa. — Pode me deixar no dormitório?
— muda de assunto.
— Claro. É caminho da arena — concordo decidindo não insistir no assunto.
Seguimos até o meu carro e logo estou estacionando em frente ao seu
dormitório. Ashley agradece, pega sua mochila e desce rapidamente não me dando
chance de falar nada. Espero ela entrar no prédio e depois sigo em direção à arena de
treinamento.
Vou direto para o vestiário e rapidamente troco o jeans e a camiseta pelo
uniforme de treino jogando uma água no rosto para limpar a maquiagem ou serei alvo
de piadas pelo resto do semestre. Vou para o rinque e coloco os patins já vendo meus
amigos treinando com tudo no gelo. As segundas e quintas, sempre chego duas horas
atrasado ao treino devido ao instituto, mas sempre fico mais tempo do que os meninos
no final porque não quero perder o ritmo.
— Quero Liam e Connor na frente com tudo! — Franklin brada e eu meneio a
cabeça para o meu amigo, que me lança uma piscadela — Logan, presta atenção no
jogo ou vou te proibir de usar o seu pau.
— Já estamos de boa, treinador — o defensor responde se referindo a Alessa.
— Bora que temos uma temporada para vencer! — grito segurando o stick
quando noto Liam jogar o puck para o meu lado.
Desvio do Ben e do Kyle e sigo rapidamente para a trave acertando-o com
precisão dentro do gol depois de desviar do Logan.
— É desse ataque que estou falando, porra! — Franklin grita e eu deixo a
adrenalina percorrer meu corpo.
Durante a próxima hora esqueço tudo que existe para fora da arena e me
dedico exclusivamente em melhorar ainda mais meu desempenho junto com o time. O
suor escorre pelo meu corpo, que reclama da intensidade do treino, ainda assim, não
paro e continuo acertando praticamente todos os gols que lanço o puck. Liam e Logan
também estão afiados, mas Ben e Kyle estão na defesa e dão trabalho para nós dois.
Não tenho dúvida alguma que nasci para ser jogador de hóquei, porque me
sinto vivo quando estou no gelo, seja treinando ou competindo. Cada puck que acerto
dentro da rede é como um prêmio que recebo e me sinto vitorioso.
Quando o treinador e os caras se despedem, eu ainda fico sozinho. Faço
corrida ao redor da arena, treino alguns passes e só quando a exaustão me domina por
completo que saio do gelo. Volto para o vestiário, retiro minha roupa e entro no banho
deixando a água levar um pouco do cansaço e do suor.
Ouço a porta se abrindo e penso ser o treinador, mas, quando me viro, vejo
Raven entrando.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto ainda me ensaboando.
— Ora, parece que não consigo mais te encontrar, então dei um jeitinho de te
pegar de surpresa — responde maliciosa.
— Se o treinador encontrar você aqui, a merda está feita — retruco desligando
o chuveiro, puxando a toalha que está em cima da porta.
— Ele já foi embora com os outros. — Observo ela começar a retirar a roupa e
arregalo os olhos. — Se eu fosse você, não desligaria o chuveiro, capitão. — Meu pau
começa a acordar quando observo seu corpo desnudo andar em minha direção.
— Raven, aqui não. — Tento deixar a razão falar mais alto, mas quando ela
abre a porta do chuveiro e entra meu pau já está completamente duro. — Você é uma
safada, sabia?
— Uma que está louca para foder com você — ronrona e leva sua mão até o
meu pau. Gemo e fecho os olhos, mas, quando uma loira aparece no meu pensamento,
abro-os assustado. — Que saudades eu estava de você, meu capitão.
— Raven, não tenho camisinha — digo a primeira coisa que me vem à mente.
— Eu tomo remédio, esqueceu? — rebate apertando meu pau, mas ele já está
murchando novamente e tento não praguejar porque o infeliz nunca foi de amarelar.
— Não vou arriscar. — Afasto-me dela e saio da área do banho me enrolando
na toalha.
— Você está de brincadeira, não é? — indaga furiosa enquanto eu pego suas
roupas do chão e volto até onde ela está as entregando.
— Não transo sem camisinha e você sabe disso — a lembro, porém sei que, na
minha carteira, tem uma cartela fechada, mas, droga, não estou a fim.
Ou talvez seja porque foi assustador fechar a droga dos olhos e encontrar a
Assassina no meu pensamento quando era a Raven que estava nua e me tocando.
Posso não ser um príncipe, mas, porra, jamais transaria com uma pensando em outra.
— Será que é só isso mesmo, Connor? — questiona me fitando com raiva
enquanto se veste.
— O que você está querendo dizer? — Começo a me vestir também.
— Desde que a novata chegou no campus, você não me procurou — acusa. —
Será que não é por causa dela que vem me evitando?
— Os jogos começam daqui a alguns dias, então estou atolado em treinos e
ainda tem os estudos e o instituto. — Pego minha mochila e a coloco nas costas. — E
até onde me lembro não temos nada sério, então não preciso te dar satisfações.
— É sério isso? — Me fita incrédula. — Pensei que tínhamos um lance.
Ah, não, eu não preciso dessa merda agora!
— Temos sexo, Raven, sexo casual, apenas isso e nunca fomos exclusivos. —
Sou direto porque nunca dei a entender que teríamos algo a mais.
— Não disse o contrário, mas senti sua falta e por isso vim até aqui. — Seu
tom de voz se torna mais brando e ela se aproxima. — Não sentiu a minha? —
questiona passando a mão no meu tórax quando se posta à minha frente.
— Estou atolado de coisas, mas irei à festa amanhã e, talvez, a gente se
encontra lá. — Me afasto e ela bufa. — Vamos ou irei arrumar confusão se alguém te
vir aqui dentro.
Saio do vestiário e ela me segue. Agradeço aos céus quando não vejo ninguém
pelo caminho e, quando me despeço dela no estacionamento, sigo direto para casa
completamente exausto e louco para me jogar na minha cama.
CAPÍTULO 16 - Ashley Moore

Aperto o botão para rejeitar a chamada no instante que sinto ele vibrar em
minhas mãos e tento não suspirar com a insistência daquele babaca. Não adiantou de
absolutamente nada eu bloquear o número do Petter porque, desde ontem, ele
começou a me ligar e enviar mensagens de um novo número pedindo para me
encontrar apenas para conversar e finalmente colocar um fim.
Não sou idiota a esse ponto porque qualquer fim que precisasse ser posto eu já
coloquei no dia que fui até a sua casa quando descobri tudo. Um calafrio percorre meu
corpo quando lembro daquela fatídica tarde e de tudo que descobri.
— Ashley, aqui. — Ouço meu nome ser chamado assim que passo pela porta
do refeitório e mais à frente vejo Brooke, Cassey e Destiny acenando.
Sigo até elas, mas, antes que eu me aproxime, Raven se posta à minha frente
junto com sua fiel escudeira, Allie.
— Oi, Ashley — cumprimenta sorrindo, mas é nítido o quanto o gesto é
forçado.
— Oi, Raven. Allie — cumprimento ambas. — Posso ajudar em algo?
— Então, vai rolar uma festa hoje na fraternidade e você está intimada a ir —
Raven responde.
— Eu adoraria — minto. — Mas tenho um trabalho para fazer e não posso
perder.
— Qual é, garota, a festa vai ser muito melhor e depois é só pedir para alguém
fazer o trabalho para você — Allie responde enrolando uma mecha no cabelo.
— Realmente não vai rolar. — Faço biquinho. — Mas na próxima eu tento ir.
— Você que sabe, mas agora deixa eu ir aproveitar um pouco o meu capitão
porque ele acabou de chegar — Raven diz maliciosa, me fitando e noto que ela frisou o
meu na frase e eu finalmente entendo o porquê dessa interceptação.
Raven não queria me convidar para festa alguma. Ela simplesmente queria
encontrar uma forma de marcar seu território para mostrar que ela está louca para
fisgar o capitão. Sinto uma pontada incômoda no peito, porém apenas abro um sorriso
enquanto observo as duas se afastarem.
Não me viro para constatar que ele realmente chegou e tampouco presenciar
mais uma cena patética de garotas se jogando em cima dele. Connor é apenas alguém
que está se tornando meu amigo e toda essa coisa louca dele querer me levar para a
cama daqui a pouco acaba, pois o que não falta é garota à disposição. Volto a andar e
vejo Oliver acenar para mim da sua mesa mais ao fundo e retribuo.
Talvez sair com ele seja uma boa ideia porque, além de fazer com que o
Connor desencane, eu consigo sair do celibato e esquecer esse desejo insano pelo
capitão. Vamos ver como será nossa aula de estudo hoje e, quem sabe, no final acabe
rolando até algo a mais.
— O que as duas queriam com você? — Brooke indaga assim que me sento ao
seu lado.
— Me convidar para a festa. — Meus olhos traiçoeiros vão direto para a mesa
próximo a entrada e vejo a ruiva sentada no colo do Connor. Ele está de costas para
mim e parece concentrado no que Ben está falando.
— Você vai, né? — Destiny indaga e arregala os olhos quando nego. — Por
quê?
— Ela vai estudar com o Oliver — Brooke responde olhando sobre o ombro
para ele. Ela acena e percebo ele ficar confuso, ainda assim retribui o gesto. — Nunca
tinha notado o quanto ele é gostoso.
— Não pode ser outro dia? — a irmã do Liam pergunta fazendo biquinho.
— Não — nego e olho para Cassey. — Você vai?
— Mas nem que isso fosse a última coisa que existisse no mundo. — Dou
risada da sua expressão de horror. — Estou atolada de trabalho também, inclusive o do
Edward.
— Você faltou no dia que ele passou, né? — Ela assente. — O Bryan também.
— Eu tive uma emergência familiar e ele foi me ajudar. — Noto sua voz vacilar.
— Está tudo bem? — Brooke questiona.
— Sim. Foi só um mal-estar da minha mãe, mas meu pai já falou com o
professor, então estou com os assuntos que perdi.
— Você não é do time de festa? — questiono.
— Não sou do time de atletas. — Sorri. — E quando tenho um tempo livre só
quero poder dormir.
— A Cassey nunca foi em uma festa dos meninos, o que eu particularmente
acho um absurdo — Destiny comenta. — Precisamos mudar isso.
— Não vai rolar — Cassey nega de imediato. — Odeio festas, bebidas, atletas
e meus pais infartariam se descobrissem que fui a uma festa de fraternidade.
— É um saco morar com os pais — Brooke responde. — Graças a Deus, moro
com a Ashley.
— Eu sou a melhor colega de quarto. — Empurro a levemente. — Vocês já
comeram? — As três assentem. — Então, deixa eu ir pegar o meu porque estou
desfalecendo de fome.
Levanto-me e sigo até o buffet preparando uma bandeja para mim voltando
rapidamente para onde elas estão, mas notando que agora temos um integrante a mais
na mesa.
— Acho que você errou de mesa — aviso assim que paro ao lado do Connor.
— Pode sair do meu lugar?
— Pode sentar no meu colo. — Bate na sua coxa e eu reviro os olhos o
fuzilando em seguida. — Está bom, mas você que perde, porque eu sou bem mais fofo
que esse banco.
— Obrigada, mas prefiro coisa dura. Fofo não me atrai — solto e ele abre a
boca chocado enquanto se levanta.
As meninas dão risada e eu me sento sorrindo feito uma idiota também.
— Não acredito que você fez uma piada sobre pau — Connor declara ficando
em pé ao meu lado. — Isso é efeito de estar andando demais comigo, Assassina.
— Realmente. — Levo a comida à boca sentindo meu estômago agradecer. —
Acho que deveríamos deixar de ser amigos.
— Então vocês não se odeiam mais? — Brooke brinca.
— Ela se apaixonou por mim quando andou na moto agarradinha comigo e
cantou no karaokê.
— Ainda não acredito que perdi essa performance — Destiny zomba, porque é
claro que os meninos já contaram para ela.
— Foi mais rápido do que imaginei — Cassey zomba me fitando.
— Ei, eu ainda sou do time que odeio atletas — minto e ela me escrutina com
os olhos semicerrados. — Bom, odiar é uma palavra muito forte.
Cassey joga um pedaço de alface que está no seu prato na minha direção.
— Eles são legais, claro, para conversar e sair, mas não para sentar.
— Isso é o que você pensa — Connor responde no instante que sinto suas
mãos segurarem meus ombros. Quase solto um gemido quando seus dedos ásperos
começam a massagear minha pele.
— Como odiar esse cara quando ele está fazendo massagem em mim? —
murmuro me contorcendo.
— Você é um caso perdido! — Brooke responde e, de soslaio, vejo ela lançar
uma piscadela para o Connor.
— Somos amigos, não é, Connor?
— Isso, apenas amigos — o infeliz concorda dando risada. — Apesar que é
difícil querer ser apenas amigos quando você está praticamente gemendo.
— Você é um sem-vergonha! — declaro dando risada. — É que a massagem
está muito gostosa — justifico.
— Assassina, eu sei fazer outro tipo de massagem e pode apostar que ela é
mil vezes mais gostosa que essa — revida com a voz rouca.
— E como seria essa massagem? — questiono sem pensar e, no mesmo
instante, sinto seu rosto se aproximar do meu ouvido.
— Você quer mesmo saber? — murmura no lóbulo da minha orelha fazendo
uma corrente elétrica passar por cada centímetro de pele. — Ela começa com meu p...
— Não... — Engulo o nó que se forma na minha garganta e travo as pernas. —
Acho melhor não — digo apressada e ouço o risinho dele se afastando.
O som de um celular tocando me arranca do transe e eu fito Cassey e Destiny.
As duas me olham com um semblante de: “você está tão ferrada”. Brooke me belisca
levemente e, quando a olho, ela fecha uma mão e bate com a outra em cima
arrancando risadas de todos, inclusive do capitão que voltou a massagear meus
ombros.
É, eu acho que estou ferrada mesmo!
— Os generais estão me convocando. — A olho confusa e ela percebe. —
Meus pais.
— Ah... A gente se vê na segunda — declaro porque as últimas duas aulas
foram canceladas.
— Se quiser aparecer na festa — Destiny tenta mais uma vez e ela nega
novamente.
Depois de se despedir, Cassey vai em direção ao refeitório e noto Ben e Liam a
cumprimentarem quando ela passa ao lado.
— Por que ela não vem todo dia comer com a gente? — pergunto para
ninguém em específico.
— Os pais a levam para comer em casa — Destiny responde. — Hoje foi uma
exceção, porque parece que teve um problema no carro e isso fez com que se
atrasasse.
— No intervalo? — A morena assente. — Mas são apenas trinta minutos.
— Eles são bem severos — Brooke diz pesarosa. — Ela não fala muito, mas é
nítido que se sente sufocada e presa.
— Que droga! — respondo começando a devorar meu sanduíche.
— Bom, eu vou indo porque ainda tenho aula, treino e mais tarde festa. —
Suspiro quando suas mãos saem da minha pele.
— A gente se encontra lá — Brooke diz animada. — Vou com a Destiny de
carro.
— Você não vai mesmo? — Connor pergunta.
— Não. Vou estudar que ganho muito mais — respondo levando o copo de
suco aos lábios.
— Beleza. — Seu semblante muda. — Vejo vocês depois. — Observo-o se
afastar voltando para onde os meninos estão e logo o quarteto sai do refeitório.
— Por que você não dá logo para ele? — Dou risada quando Destiny pergunta
me olhando.
— Porque não estou a fim. — Dou de ombros.
— Ah, para... — Ela sorri. — Vocês só faltam soltar faíscas quando estão
juntos.
— Isso é verdade — Brooke concorda. — Já falei para ela sentar.
— Obrigada, mas eu passo. — Ergo-me. — Vou dar um pulo para ver o Marley
e depois me jogarei na cama e irei dormir até a hora de encontrar o Oliver na biblioteca.
— Eu vou voltar para aula — minha prima informa. — Não sou sortuda como
você. — Faz careta.
— Eu também tenho aula. — Destiny se levanta e junto com as duas saio do
refeitório. Me despeço delas em frente ao prédio de Humanas e vou para o
estacionamento.
Minutos depois, estou agarrada com Marley sentindo o peito apertar ao
constatar que não vai demorar para ele encontrar um novo lar.
CAPÍTULO 17 - Connor Harrington

Entro na sala de vídeo junto com todos os caras do time e, sentado no enorme
sofá mais à frente, Franklin já está nos esperando. Finalizamos o último treino da
semana e não sei como ainda estamos conseguindo ficar em pé de tanto que nos
exaurimos no gelo. Cada osso do meu corpo está protestando devido a todo o esforço
que fizemos no rinque e na academia. É nítido a dedicação de todos, principalmente
nessa reta final e sei que, assim como eu, os caras estão almejando pelo título de
campeão.
A próxima semana será a última de treinos porque sábado vamos jogar a
primeira partida contra a universidade de Detroit dando início as regionais. Sei que é
um jogo tranquilo, principalmente por ser em casa, ainda assim não podemos vacilar
porque todos os jogos são eliminatórios. Hoje saiu oficialmente o nome dos times
universitários que passaram pela temporada e, quando as rodadas iniciais se
encerrarem, os quatros melhores se enfrentarão na Frozen Four com etapa de
semifinal e final. Não vai ser fácil porque, depois de tantos vídeos assistidos nessa
mesma sala, cheguei à conclusão de que, assim como nós, os outros times também se
prepararam bastante, porém daremos o melhor, o impossível para trazer o título para a
Brisfolk.
Nesse ano, desejo mais do que nunca trazer o melhor para o time, não pela
questão profissional porque essa já está garantida, mas quero que no futuro, quando
alguém lembrar do meu nome, que tenha em mente que eu ajudei o time da
universidade a crescer e se tornar cada vez mais conhecido. Quero que meus colegas
lembrem que eles possuíram um capitão que fez o impossível para o time. Eu amo o
hóquei e quero ser lembrado por tudo que fiz no esporte: da liga universitária até o
profissional.
Eu quero deixar um legado!
— A lista oficial já está disponível. — A voz do treinador arranca-me dos
pensamentos. — Assim como imaginei entrou as melhores universidades, inclusive
Leifield e Lecroft — refere-se às faculdades de Nova York e do Canadá. A última foi
campeã do ano passado. — Não podemos vacilar em nenhum jogo, mas
principalmente quando enfrentarmos elas duas.
— Ontem à noite fiquei revendo alguns jogos anteriores, mas tenho certeza de
que eles estão muito melhores — declaro me jogando no sofá e os caras fazem o
mesmo.
— Conversei com o Lincoln — Tanker diz se referindo ao seu amigo que
estuda na Leifield. — Ele me falou que os The Crows vão vir com tudo — refere-se ao
time de hóquei. — Eles estão com sangue nos olhos pelo título porque não aceitaram a
derrota do ano passado.
É, nós também não aceitamos!
Infelizmente tanto a Brisfolk quanto a Leifield foram eliminadas ainda na rodada
da regional e até hoje não consegui engolir aquele maldito jogo. Os The Crows
perderam feio e sei que isso foi devido às faltas dos jogadores. Petter precisou se
ausentar e parece que um efeito dominó se apossou do time. No jogo que perderam,
eles tinham um capitão e dois defensores a menos e, pelo que assisti, os reservas não
estavam preparados para a temporada.
Infelizmente, nós fomos eliminados pela universidade do Canadá, Lecroft já na
última partida. Foi horrível sentir o gosto da derrota, no entanto, sei que o erro foi todo
nosso. John, antigo capitão, decidiu desistir da liga universitária e se juntar logo ao
profissional pouco antes do início da temporada, o que acabou desestruturando o
nosso time. Para completar, o Ben também parecia a porra de um jogador novato.
Quando juntou tudo, a merda estava feita e voltamos para casa sem o título.
— Eles podem estar com o diabo no couro e, ainda assim, não vencerão. — A
voz grossa de Franklin afirma. — Aquele título é nosso!
— Precisamos focar ainda mais nessa última semana. — Olho para cada
integrante do time. — Quero zero distrações, zero álcool, zero problemas. — Todos
assentem. Até o idiota do Mike. — O último mês, a gente se esforçou pra caralho e eu
vi evolução em cada um de vocês — elogio e eles assentem orgulhosos. —
Precisamos continuar unidos e fazendo o que sabemos de melhor: arrasando no gelo.
— É exatamente isso que eu quero — Franklin completa. — Quero todos
focados assim como o Connor falou.
— Essa vitória é nossa, treinador — Ben afirma convicto.
— Vamos atropelar quem passar na nossa frente e eles sequer perceberão
quem os derrubou! — Kyle brada.
— Ah, eles vão saber sim. — Sorrio esperto. — Quero que, ao final da
temporada, todos saibam o porquê somos conhecidos pelo apelido de Black WildCats.
— Ágeis e velozes como um gato selvagem — Liam declara. — E se a final for
com os idiotas dos The Crows será ainda mais emocionante o gostinho da vitória. —
Meu amigo sorri diabólico e sei que ele ainda não superou a partida que ficou no banco
por causa daqueles imbecis.
— Eles são inescrupulosos — Logan comenta entrando na conversa. — Mas
vamos mostrar a eles que também sabemos jogar usando os métodos deles.
— Sem faltas e expulsões — Franklin pede. — Mas também não quero
ninguém apanhando na porra do meu time — ele completa sorrindo e só então percebo
o quanto o gesto se parece com o da Assassina.
“Droga, não vai para esse lado!”, me recrimino de imediato.
— Outra coisa... — digo e todos voltam a me olhar. — Hoje tem uma festa na
fraternidade. — Noto Franklin cruzar os braços. — Acredito que a maioria estará lá,
mas volto a reforçar que não quero problemas com nenhum de vocês. E essa é a
última festa até a temporada, ouviram? — Eles assentem.
— Próxima semana é zero álcool — o treinador reforça mais uma vez. — Estão
dispensados, menos você, Connor. — Assinto e, enquanto os caras se despedem,
aproveito para olhar meu celular notando que tem uma mensagem do meu primo.
BRYAN: Vou visitar a mãe amanhã e volto no domingo. Arrume suas malas.
EU: E quem disse que eu vou?
Envio e, no mesmo instante, ele visualiza.
BRYAN:Eu estou dizendo. É inegociável e sei que está morrendo de saudades
da velha e da Colleen.
É, eu realmente estou com saudades de ambas e por elas até vale a pena o
estresse de conviver com meu pai por mais de vinte e quatro horas.
EU: Nos encontramos hoje na festa e você dorme lá em casa.
BRYAN: Beleza.
— Connor — o treinador me chama e eu guardo o celular voltando para onde
estava. — Queria parabenizá-lo.
— Não precisa — digo um pouco sem jeito.
— Não sou de rasgar elogios, mas seu desempenho como capitão está
excelente. Não me resta dúvidas de que você tem uma carreira brilhante pelo Bruins.
— Obrigado, treinador. É uma honra para mim ouvir isso vindo do senhor.
— Continue com essa disciplina e dedicação. — Ele coloca a mão no meu
ombro. — Você é um garoto de ouro. Ficarei orgulhoso em poder dizer que eu o treinei
quando estourar no profissional.
— Seu nome será sempre dito em todos os lugares. — Ele assente.
— Vá aproveitar sua festa, mas lembre-se que é sem exageros — avisa dando
uma tapinha e logo se afasta.
— Até segunda! — Pego minha mochila e saio da sala o deixando para trás.
Eu tenho uma festa para ir e uma garota para esquecer!

Passo pela porta da fraternidade algumas horas depois notando que a sala já
está completamente lotada de garotos e garotas. O jogo de luz que instalou mais cedo
traz a sensação de boate para o ambiente e noto que todos os móveis foram afastados
para o canto das paredes formando assim uma enorme pista de dança ao meio. As
pessoas dançam, conversam e se pegam por todo lugar.
Caminho me desvencilhando das pessoas reconhecendo a maioria delas.
Cumprimento alguns caras enquanto atravesso a sala indo em direção à área externa
onde instalei mais cedo com o Kyle três barris grandes recheado com cerveja. Assim
que passo pela porta dos fundos percebo que a área externa está menos
movimentada.
Procuro a turma e os encontro próximo a churrasqueira. Sigo até eles e,
quando me aproximo, Brooke é a primeira a me notar.
— Pensei que não viria — brinca me entregando um copo de chope.
— Estava arrumando minha mochila porque amanhã viajo.
— Eu passei por lá antes de vir e deixei a minha bolsa — Bryan comenta.
— Eu a vi jogada no meio da sala. — Dou um leve tapa na sua cabeça.
— Estava apressado — se justifica e eu semicerro os olhos para que entenda
que sei que está mentindo.
Bryan é a bagunça em forma de pessoa!
— Liam e Kyle, aproveitem, mas sem exageros — aviso e os dois batem
continência.
— O primeiro jogo acontece no sábado, não é? — Beth questiona e eu assinto.
— Meu Deus, estou tão animada para essa temporada.
— Ah, não me fala porque eu estou em êxtase também — declaro me
recostando à mesa de sinuca. — Estamos treinando feito loucos e estou vendo uma
evolução foda no time. A esperança do título brilha na minha mente vinte e quatro
horas por dia.
— Cara, é nosso, esse campeonato é nosso e ninguém tira — Kyle declara
firme.
— Esse ano teremos até danças novas nas líderes de torcidas — Beth bate
palminhas. — A Raven pode ser chata, mas ela como capitã das meninas fez sucesso.
— Os Black WildCats serão a sensação do momento — Liam declara
orgulhoso. — Quero todo mundo gritando a porra do nosso nome.
— Precisamos vencer todas as partidas e chegar no Frozen Four — digo
levando a cerveja aos lábios. — A maior aposta é que os The Crows peguem a
semifinal contra Denver e vença.
— O que nos levará a disputar a final com aqueles ogros — Logan comenta se
aproximando.
— De todos os times que foram escalados, eles são a nossa maior
preocupação — aviso. — Somos fodas, mas ouvi vários boatos de que eles estão muito
melhor que ano passado.
— Não se esqueçam de que a Lecroft venceu ano passado — Bethany declara.
— Eles também são perigosos.
— Isso e verdade. Não podemos bobear — Brooke concorda.
— Não tenho dúvidas de que o gato vai engolir os pássaros — Liam decreta
firme fazendo referência ao apelido do nosso time e o da Leifeid.
— É nosso! — digo e todos assentem. — Mas agora vamos jogar porque eu
preciso distrair a cabeça.
— Relaxa, capitão, e vá buscar alguma gatinha para desestressar — Bethany
diz. — Falando em gatinha, a Ash não vem mesmo? — bufo quando ela pergunta
trazendo justamente para a conversa quem eu preciso esquecer.
— Não, e quer saber eu não a julgo — Brooke responde levando a cerveja até
os lábios e observo ela me fitar. — O Oliver é um gostoso e, provavelmente, eles irão é
se pegar no meio daquelas prateleiras.
Um nó se forma na minha garganta e eu seguro o taco com mais força que o
necessário sentindo os ossos da mão doer, porém tento não demonstrar.
— Eu também não negaria ajuda daquele espécime maravilhoso. — Beth se
abana.
— Me coloquem dentro do assunto — Kyle pede curioso.
— A Ashley não vem à festa porque foi para um encontro com Oliver.
— Não é um encontro. — Noto meu tom de voz sair ríspido. No mesmo
instante. todos eles me fitam. — Ela disse que era apenas uma ajuda no trabalho de
Biologia. — Tento suavizar a voz.
— E você acreditou? — Liam indaga e percebo ele segurar o riso. — Nesse
momento, ela já deve estar é analisando outra biologia.
Cenas da Assassina se agarrando com aquele idiota começam a cruzar minha
mente e sinto um novo sentimento se apossando do meu corpo. Um que eu não quero
analisar porque não é nada bom.
— Podem começar a rodada. — Praticamente jogo o taco em cima da mesa de
sinuca. — Vou ver se encontro a Raven, porque falei que a iria procurar quando
chegasse.
— Sabe, eu acredito que ainda não chegou na parte de ela examinar a
anatomia do Oliver. — Fuzilo a Brooke. — Se você correr, ainda dá tempo de
atrapalhar.
— Hã, até parece que eu vou fazer isso. Ela não é nada minha! — resmungo.
Me afasto deles sentindo meu sangue borbulhar de raiva e volto para dentro da
casa tentando encontrar alguma garota que arranque aquela Assassina da minha
mente. Assim que saí da arena, eu fui para casa e, durante todo o maldito tempo que
me arrumava para vir à festa, eu fazia o impossível para não me lembrar da droga
desse trabalho em dupla. Desviei a porcaria do caminho para não cair em tentação e
acabar indo até o dormitório dela. Eu fiz de tudo e jurava que estava tranquilo até
chegar aqui e escutar essas merdas!
Não é um encontro!
E se for, eu não tenho nada a ver com isso, caralho!
Passo meus olhos pela sala lotada e vejo Allie se agarrando com um cara do
time de futebol próximo a escada e mais à frente Raven conversa animadamente com o
Tanker. Decido não atrapalhar e, quando olho para a direita, vejo uma garota que
participa de algumas aulas de designer comigo, inclusive transamos no início do ano
passado no beco ao lado do Queens. Não me orgulho desse feito, porém eu estava
totalmente alcoolizado e energizado pela vitória do jogo que vencemos naquela noite.
Me aproximo tentando lembrar o seu nome: Hanna, Ana... Droga, sequer sei o
nome dela, mas foda-se.
— Oi... — a cumprimento assim que me aproximo e ela arqueia as
sobrancelhas parecendo surpresa.
— Oi, Connor. — Sua atenção, que antes estava no celular, agora se
concentra exclusivamente em mim.
— Não está gostando da festa? — indago tentando iniciar uma conversa.
— Para mim está maravilhosa. — Ela sorri. — E para você?
— Acabou de ficar muito melhor. — Aproximo-me, porém ela coloca a mão no
meu tórax impedindo-me de me aproximar.
— Não vai rolar — responde e eu me afasto um pouco.
— Ana...
— Meu nome não é Ana. — Cruza os braços.
— Hanna.
— Meu Deus, você ao menos se lembra de alguma coisa naquela noite? — Ela
parece realmente ofendida.
— Desculpa. — Sou sincero. — Eu estava bêbado e já tem um tempo.
— E por que veio falar comigo? — Abro a boca, mas ela me interrompe. —
Deixa eu adivinhar: você quer trepar e me viu fácil aqui parada, então pensou que seria
rápido para eu me jogar nos seus braços.
— Não é bem isso — digo, porém o olhar dela já deixa claro que ela sabe que
é exatamente isso.
— Connor, estou acompanhada. — Ela olha sobre o meu ombro e vejo um cara
se aproximando segurando dois copos de cerveja.
Mas que porra de universo filha da puta! O acompanhante dela é ninguém
menos que Patrick, irmão do idiota do Oliver.
— E aí, cara — ele me cumprimenta e eu retribuo. — Vocês se conhecem? —
Ele entrega a bebida para a namorada.
— Só de vista — ela responde e eu entendo que essa é a minha deixa de não
comentar que a vista é ela de costa para mim enquanto eu entrava dentro dela em um
beco mal iluminado.
— Eu só vim perguntar a ela sobre o Oliver — minto com a primeira desculpa
que vem à mente.
— Ah, ele foi fazer um trabalho com uma colega. — Sorri animado. — Estava
todo animado e passou umas duas horas se arrumando.
— Acho que ele mentiu para a gente. — A garota sorri enquanto beberica a
cerveja. — Pela forma ansiosa que estava e o tanto de perfume que passou, tenho
certeza de que é um encontro.
“Caralho, não é um encontro!”, grito mentalmente, porém, dessa vez, me
controlo para não explodir.
— Bom, eu vou indo! — aviso já me afastando, porém a voz dela me para:
— Connor... — Eu volto a fitá-la. — Meu nome é Savannah.
— Até mais, Savannah. — Giro nos calcanhares e atravesso a sala em questão
de segundos, pouco me importando nas pessoas que acabo esbarrando no caminho.
Saio da fraternidade como um vulcão deixando o monstrinho que está no meu
ombro vencer. Entro no carro no automático e sigo em direção à biblioteca preste a
fazer a maior burrice da minha vida ou seria a melhor decisão?
CAPÍTULO 18 - Ashley Moore

Ele tem um cheiro adocicado que está atacando uma sinusite que eu sequer
sabia que tinha, porém, nos últimos três espirros, eu dei como desculpa a poeira da
biblioteca, mas sei que é o excesso de perfume que trouxe à tona a alergia porque eu
cheguei meia hora antes dele e não senti nenhuma coceirinha enquanto separava
alguns dos livros que iríamos precisar.
Observo Oliver concentrado no material à sua frente enquanto pesquisa mais
um tópico para o nosso trabalho e confesso que, tirando o excesso da colônia, ele é
uma ótima companhia e olha que estamos envolvidos em uma matéria que eu odeio.
Chegamos já tem pouco mais de uma hora e de início ficamos conversando um pouco
enquanto nos organizávamos. Descobri que ele sonha em ser cirurgião assim como
sua mãe e que seu pai é médico ortopedista. Seu irmão, diferente da família, está
cursando música e sonha em trabalhar no ramo, porque é apaixonado por tudo que
envolve o universo musical. Ele também tem uma irmã de cinco anos, que é a coisa
mais fofa do mundo com as sardas por todo o rosto. Ele me mostrou diversas fotos e
eu fiquei encantada. Além de lindo, gostoso, educado e gentil, Oliver parece vir de uma
família maravilhosa e acolhedora.
Sério, se eu falar dele para a minha mãe ela aparece no campus em dois
segundos para marcar o nosso casamento. No entanto, apesar de todas essas
qualidades, eu não consigo sentir aquele comichão na pele quando nossas mãos se
tocaram na hora que fui pegar a caneta e muito menos o frio na barriga quando ele
sorriu de lado e ajeitou os óculos.
— O professor está tentando nos punir. — Ele suspira voltando a me fitar. —
Não encontro a informação em lugar nenhum nesse livro e no Google só aparece
matérias rasas.
— Vou dar mais uma olhada nas prateleiras enquanto você procura nesse
vermelho aqui. — Estendo o livro e ele o segura.
Sinto como se alguém estivesse me olhando, mas, quando olho ao redor, só
vejo as duas garotas que chegaram pouco tempo depois de nós na mesa mais à frente.
Estranho, porém decido não começar com paranoia e volto a olhar para Oliver.
— Você quer ajuda? — Ele segura o livro, nossas mãos se encontram e seu
polegar vem para a minha pele. É fofo notar que ele acaricia ao mesmo tempo que fica
vermelho.
— Você já está me ajudando demais. — Não afasto minha mão, pelo contrário,
a viro e ele coloca a sua em cima. — Obrigada mesmo por essa força. — Aperto a sua
mão e ele sorri.
— Não é nada de mais. — Tenho a mesma impressão de há pouco, mas,
quando olho ao redor, dessa vez tenho quase certeza de que vejo alguém entrando no
meio das prateleiras. — Bom, vou procurar o volume dois dessa belezura. — Indico o
livro vermelho.
— E eu vou pesquisar nele — diz já abrindo-o e eu me levanto da cadeira
sentindo a coluna protestar depois de tanto tempo sentada.
Sigo até as altas prateleiras marrons procurando novamente a seção onde
ficam os livros de anatomia. O cheiro de livro invade minhas narinas, no entanto, não
espirro e agradeço aos céus por isso. O ambiente está iluminado e no mais puro
silêncio enquanto passeio no vão entre as estantes. Encontro a seção que procuro,
entretanto, percebo que os livros ficam na parte de cima e que quem pegou os
primeiros foi o Oliver.
Suspiro frustrada, mas, como não quero incomodá-lo mais do que já fiz, me
estico um pouco ficando na ponta do pé para ver se consigo alcançar, mas fica nítido
que sou baixinha demais para tal ação. Estou prestes a desistir quando um corpo
encosta no meu e, no mesmo instante, meu corpo retesa sentindo o pânico começar a
me dominar.
— Deixa eu pegar para você, Assassina. — O tom de voz conhecida traz o
alívio imediato e observo o braço se esticar e pegar o exemplar sem esforços. — Todo
seu!
Viro-me de frente fitando um Connor ofegante e me olhando de volta. Nossos
corpos estão tão próximos que consigo sentir o perfume amadeirado misturado ao
cheiro de cerveja. Perco alguns segundos tentando entender por que diabos o meu
corpo reage de imediato a ele. Nesse momento, parece que meu coração vai saltar
para fora do peito, e minhas pernas ameaçam perder as forças.
— O que você está fazendo aqui? — sussurro pegando o livro que ele estende
em minha direção.
— Não sei. — Semicerro os olhos confusa com suas palavras. Ele olha para os
lados parecendo procurar as palavras certas, porém logo volta a me fitar. — Eu não
consigo tirar você da porra da minha cabeça, Ash. — Sua sinceridade me pega
desprevenida.
Olho ao redor notando que estamos apenas nós dois no corredor. Porra, como
que resiste a esse homem tão próximo e exalando desejo?
— Connor... — começo, mas ele traz seus dedos até os meus lábios.
Minha respiração falha quando ele chega ainda mais próximo quase fundindo
nossos corpos. Ele sabe o efeito que causa em mim porque suas pupilas se dilatam.
— Eu não consigo mais... — murmura e seu polegar começa a passear pelos
meus lábios. — Eu estou ansiando para sentir o seu gosto, Assassina, desde a noite
que você me atropelou. Desde o instante que meus olhos pousaram em você!
— E... eu não saio com atletas — o lembro e seu polegar agora sobe pela
minha bochecha. É um carinho tão desnorteante e que grita com o seu olhar predador.
— Uma vez... Me deixa provar você uma vez e, então, a gente finge que não
aconteceu. — Meu coração acelera. — Ou me diz que não sente nenhuma vontade e
eu desisto de você de uma vez por todas, mas se existir algum desejo aí deixa isso
acontecer.
— O Oliver está me esperando. — Deixo a razão falar mais alto e noto ele
trincar o maxilar.
— Me diz que sentiu pelo menos uma faísca quando ele tocou sua mão.
— Você estava me vigiando. — Não é uma pergunta e ele sabe disso. Foi a
presença dele que senti. — Não sou nada sua, Connor, então pare de tentar marcar
território.
— Ele não tem chance alguma com você — murmura convencido baixando seu
rosto até o vão do meu pescoço. — Ele não faz sua pele arrepiar. — Odeio que ele
saiba o quanto me afeta. — Ele não faz seu coração bater descompassado. — Minha
boca fica seca quando sua língua toca minha pele desnuda. — Ele não faz você ansiar
por um beijo, Ash.
— V... você... — Droga de respiração. — Você precisa ir embora.
— Preciso? — Seguro seus braços quando ele lambe da minha clavícula até o
lóbulo da minha orelha. — Então por que você está me segurando? — murmura rouco
e traz seu rosto para o meu. O livro cai no chão no mesmo instante e um arrepio sobe
pela minha coluna. — Eu vou te beijar.
Não tenho tempo de negar e, se possuísse esse tempo, eu jamais negaria,
porque o que vejo nas suas íris escuras é o suficiente para entender que ele não vai
desistir, pior, que eu anseio desde o primeiro dia que o vi. Ansiei para que ele não
desistisse porque eu quero o Connor tanto quanto ele me quer. Porque meu corpo
reage a ele como nunca reagiu a ninguém e se eu pensei que ele seria um problema
antes de tê-lo só agora eu tenho proporção do problema a qual estou me enfiando até o
pescoço.
O ambiente está impregnado de tensão e antecipação quando ele aproxima
lentamente seu rosto do meu. Seus olhos faiscando em chamas se misturam aos meus
que ardem em desejo. Connor não tem pressa e se aproxima como se estivesse
calculando cada movimento para aumentar a intensidade do momento.
Quando, enfim, sua boca gruda na minha tudo ao redor desaparece. O beijo
começa lentamente, os lábios explorando um ao outro, explorando a textura e o sabor.
Um gemido involuntário escapa quando sua língua procura a minha e isso parece ser o
combustível para que tudo se intensifique. Connor segura minha nuca e me puxa pela
cintura com a mão livre enquanto aprofunda o beijo. Nossas línguas agora famintas
duelam em um beijo ardente, entrelaçando-se em algo volátil e carregado de desejo.
Minha mão afoita e curiosa entra na sua camisa enquanto ele explora minha
lombar e a lateral das minhas coxas passeando por minhas curvas. Cada toque é como
uma corrente elétrica que passeia pelo meu corpo indo em direção da minha boceta
que lateja implorando por um toque, uma carícia.
Sinto a respiração implorar para ser concluída e só então desgrudo minha boca
da sua notando o quanto ambos estamos ofegantes e com os olhos faiscando. Connor
me fita fascinado enquanto eu tento raciocinar direito depois dele roubar
completamente meu fôlego e minha sanidade com apenas um beijo.
— Eu estou fodido! — Três palavrinhas que refletem exatamente o que eu
estou pensando.
Não, Connor, você não está fodido, mas eu sim!
— É... — Engulo o gosto amargo que se alojou na minha garganta. — Isso não
deveria ter acontecido.
— Isso foi a melhor coisa que aconteceu. — Ele traz sua mão até o meu
queixo, o segurando lentamente. — Estou viciado em você.
— Ashley? — A voz de Oliver faz com que eu arregale os olhos percebendo
que esqueci completamente dele.
— Droga, você precisa ir! — Empurro Connor para o final do corredor sentindo
o pânico querer me dominar.
— Assassina... — começa, mas eu o corto.
— É, sério, não quero responder perguntas e se ele vir você aqui pode pensar
besteira.
— Você falou que não era um encontro. — Seu semblante antes desejoso
agora está duro.
— Não é, mas...
— Beleza, já entendi. — Sinto uma pontada no peito ao ver sua expressão
magoada. — Eu ganho o beijo escondido, mas quem ganha o encontro para todos
verem é ele?
— Não é um en... — Não tenho tempo de finalizar a frase porque ele me deixa
sozinha e sai pisando duro.
Ele vira para a direita no momento que Oliver entra na seção que estávamos.
— Aí está você. Se perdeu? — Ouço a voz do Oliver segundos depois e,
quando me viro, o vejo se abaixar para pegar o livro. — Está tudo bem?
— Sim... — Forço um sorriso e tento engolir o bolo que se formou na minha
garganta devido a forma que o Connor saiu. — Eu pensei ter escutado alguém me
chamando e vim olhar, mas foi só impressão.
— Por que o livro estava no chão?
“Porque eu estava me agarrando loucamente com o único cara que eu prometi
não pegar”, penso, mas claro que não digo em voz alta.
— Eu estava tentando pegar e acabei derrubando na hora que pensei que
alguém me chamou.
— Ah, vamos voltar? — indaga e eu assinto. Faço o caminho de volta até a
mesa e nos sentamos de frente um para o outro. — Olha, acho que encontrei a
resposta. — Ele aponta para o início do texto e eu tento prestar atenção enquanto ele
lê o parágrafo, no entanto minha mente traiçoeira não deixa.
Controlo a vontade de passar o dedo sobre os lábios e ainda posso sentir a
textura dos lábios do capitão colado aos meus. Seu beijo tinha gosto de cerveja e
nunca imaginei que aprovaria tanto um sabor. Sinto minha pele formigar só com a
lembrança e sei que estou completamente ferrada, porque agora será ainda mais difícil
de resistir a ele. Seu toque no meu corpo, seu cheiro, seus lábios no meu. As
sensações ficam indo e vindo me deixando desnorteada.
— Ashley, está me ouvindo? — Saio do transe quando ouço Oliver me chamar.
— Desculpa. — Tenho a decência de ficar envergonhada. — Me dá cinco
minutos? Vou no banheiro jogar uma água no rosto porque o sono está chegando.
— Quer parar?
— Só se você quiser.
— Acho melhor terminarmos logo e aí ficamos livres.
Concordo já me levantando.
— Volto rapidinho.
Ele assente pegando o celular e eu saio praticamente correndo em direção ao
banheiro.
Assim que passo pela porta vou em direção à cuba, abro a torneira fazendo
uma concha com as mãos jogando a água no rosto três vezes. Não para acordar do
sono, mas sim das lembranças de agora há pouco que voltam a me invadir.
Não sei como o Oliver não percebeu porque meus lábios estão levemente
inchados e rosados. Fecho os olhos deixando as sensações me dominarem, porém me
forço a abrir e pego o celular no bolso da calça jeans.
EU: Eu pensei que já tinha feito merda na minha vida, mas entendi que acabei
de fazer a maior delas. Uma única regra eu tinha e, na primeira oportunidade, eu a
joguei para a puta que pariu!
BROOKE: Vou precisar levar uma pá e um saco preto?
A resposta da minha prima vem poucos segundos depois e eu dou risada.
EU: Não matei ninguém!
BROOKE: Então deixa eu adivinhar: um certo capitão apareceu na sua aula de
estudos e você não resistiu?
Arregalo os olhos!
Meu Deus, ele já contou para todo mundo? Meu peito dói enquanto eu digito
furiosamente.
EU: Que ele é um galinha eu já sabia, mas contador de vantagem? Que ódio!
Não acredito que ele já está espalhando.
BROOKE: Eiii, calma!
A mensagem chega e, quando vejo que ela segue digitando, recosto me no
mármore e espero, porém não é uma mensagem que chega e sim uma ligação.
— Ele não falou nada. Na verdade, não o vejo já tem um tempo. Só “adivinhei’’
porque, quando ele estava na festa, eu posso ter provocado ele — dispara apressada e
ouço o som alto ao fundo deixando claro que ela ainda está na festa.
— Não estou entendendo porra nenhuma.
— Connor chegou na festa e eu falei que você estava com Oliver. Os meninos
entraram na onda. Resumindo: ele saiu puto de perto da gente.
Droga, frio na barriga!
— Sério?
— Sim... — ela grita. — Ele não é de sair falando com quem sai. — Solto o
suspiro que sequer percebi que estava preso. — Te encontro amanhã e quero
detalhes.
— Onde você vai dormir?
— Na fraternidade mesmo.
— Está certo. Beijos e não fala para ninguém.
— Sou um túmulo! — grita e desliga a chamada.
Volto a me fitar, forço um sorriso e volto para a mesa, porém estaco no lugar
quando encontro ela vazia. Os livros estão arrumados e, quando me aproximo, vejo um
bilhete.
Aconteceu um imprevisto e eu tive que sair, mas consegui fechar o último
tópico e deixei dentro da sua agenda.
Oliver.
Estranho o porquê de ele não ter ao menos me esperado e começo a me
culpar por ter passado tanto tempo no banheiro, porém pego minha mochila e levo os
dois livros para a menina que fica na entrada porque não consigo guardá-los. Depois
de entregar, saio da biblioteca e vou direto para o dormitório andando porque vim sem
carro e, nesse momento, preciso do ar puro para colocar as ideias no lugar.
CAPÍTULO 19 - Connor Harrington

O quarto está imerso em uma penumbra suave com apenas feixes de luz
entrando pelas cortinas entreabertas. O silêncio da noite me abraça junto com o
ronrono de Marley, ainda assim, ambos não são suficientes para me fazer dormir e
conseguir tirar as últimas horas da mente.
Fito o teto tentando a todo custo dormir, porém minha mente teima em ficar
voltando para o beijo.
O maldito beijo que não saiu um segundo sequer de dentro da minha cabeça.
O beijo que está enraizado dentro de cada célula do meu corpo.
O beijo que me deixou ansiando por mais e mais.
Cada toque, cheiro, gemido está se repetindo dentro da minha cabeça e me
considero um verdadeiro guerreiro por ter conseguido sair daquela biblioteca quando
tudo o que eu queria era imprensar a Ash entre as prateleiras e fodê-la até que juntos
esquecêssemos os nossos próprios nomes. No fim, eu sei que só consegui sair porque
dei o meu jeito para que ela voltasse sozinha para o dormitório.
Talvez ela me odeie um pouco pelo que fiz, mas nesse momento estou pouco
me fodendo, porque eu não suportaria voltar para casa sabendo que ela estaria com
aquele idiota.
Era para ser apenas um beijo. Algo rápido para colocar um fim nesse desejo
latente, mas tudo o que aconteceu foi piorar a ânsia que tenho por ela e nem fodendo
eu ficarei sem prová-la novamente. Suspiro profundamente, fechando os olhos na vazia
esperança de acalmar os pensamentos. No entanto, a imagem dela completamente
entregue, com os lábios vermelhos e inchados após o beijo me acertam precisamente.
Não sei o que está acontecendo comigo, porque nunca fiquei dessa forma só
por causa de um beijo e não deveria estar dando tanta importância, afinal não preciso
de distrações preste a iniciar os jogos. Decidido a não me torturar mais e esquecer
isso, volto a fechar os olhos com força, virando-me de lado, abraçando o cachorro
folgado que, desde que chegou, se impregnou no meu colchão. Marley se remexe e eu
o aperto um pouco mais percebendo o quanto ele cresceu nas últimas semanas e que
muito em breve seu espaço na cama voltará a ficar vazio.
— Por que eu deixei você ficar aqui mesmo? — indago para ele baixinho. —
Ah, porque eu queria levar sua dona para a cama. — Sorrio feito um idiota. — Mas não
é que você não é tão endemoniado e eu até comecei a gostar de você?
Ele se remexe mais uma vez e com medo de acordá-lo me obrigo a parar com
a loucura de ficar conversando com um cachorro na madrugada. Aconchego-me nele e
fecho os olhos pela milésima vez decidido a, dessa vez, não deixar os pensamentos
me atropelarem porque, em algumas horas, precisarei estar no aeroporto.
Assim que cheguei em casa e peguei o celular, notei que tinha uma mensagem
do Bryan perguntando onde eu estava e eu respondi avisando que já tinha chegado em
casa. Meia hora depois, ele passou pela porta, entretanto, fingi que já estava dormindo
porque não queria responder um questionário da minha súbita explosão na festa,
principalmente do porquê eu sumir logo em seguida.
Estico o braço pegando o aparelho celular e, depois de ativar os alarmes,
respiro fundo me forçando a dormir. Não sei quanto tempo demoro para apagar, mas a
última imagem que vem à minha mente é a Assassina completamente ofegante depois
do nosso beijo.

O avião corta o céu e o alaranjado do sol nascendo me presenteia com uma


visão de tirar o fôlego. Bocejo sentindo um leve latejar na cabeça devido as poucas
horas de sono e olho para além da janela da aeronave.
— Cara, essa vista é simplesmente sensacional! — digo e percebo Bryan se
inclinar para o meu lado, olhando para a janela.
— Um verdadeiro espetáculo! — concorda e logo volta a se acomodar na sua
poltrona. — Então, vai me fazer perguntar novamente?
Reviro os olhos suspirando pesadamente porque sei que ele não vai largar o
osso enquanto eu não abrir a boca. Quando o relógio marcou quatro da manhã, o
Bryan estava na minha porta e depois de alguns minutos me zoando por estar
dormindo abraçado ao Marley. Nos arrumamos e praticamente corremos para o
aeroporto.
— Eu estava cansado e, como não podia exagerar na bebida, decidi voltar para
casa — minto não querendo entrar em detalhes.
— Qual é, Connor, eu não sou nenhum otário. — Suspiro. — Você
praticamente surtou quando a Brooke falou da Ash e algo me diz que foi atrás dela. —
Viro o rosto para encará-lo. — Qual é o lance de vocês?
— Não tem lance nenhum. — Seu semblante de incredulidade me fita. — Ela
não se envolve com jogadores.
— Mas até onde conheço você, e olha que eu conheço bem — ele me empurra
com o ombro —, você vai dar um jeito de mudar isso, porque é nítido que quer a
garota.
— Eu fui atrás dela ontem na biblioteca — confesso de uma vez.
— Eu sabia! — ele comemora. — Então?
— Jesus, quando foi que você se tornou tão curioso assim? — questiono e ele
sorri.
— Só quando percebi que você levou um fora e está caidinho por uma garota
que não quer você — debocha.
— Idiota. — Volto a fitar a janela. — Enfim, a encontrei entre as prateleiras e
acabamos nos beijando.
— Puta que pariu! — ele diz alto o suficiente para que as outras pessoas
escutem e eu o fuzilo com olhar. — Foi mal. — Levanta a mão em rendição. — O que
aconteceu depois?
— Nada. Ela me mandou embora porque o idiota do Oliver quase nos viu se
pegando. — Sinto a raiva borbulhar só de lembrar daquele imbecil tocando a sua mão
sobre a mesa.
Imaginar ele a beijando quase me faz entrar em combustão e explodir de ódio.
Agora virei a droga de um possessivo, pior, por uma garota que eu dei apenas um
beijo.
— Que droga. — Meu primo morde os lábios pesaroso.
— É, uma verdadeira droga, mas não quero mais falar sobre isso. — Sou firme
nas palavras. — Foi apenas um beijo e agora posso seguir em frente e voltar a pegar
quem eu quiser.
— Então não ficou com desejo de quero mais? — rebate.
— Não — minto e sua risada chega até os meus ouvidos. — O que é tão
engraçado, Bryan? — Meu tom de voz sai mais ríspido do que pretendia.
— Você tentando mentir para si mesmo. — Dá de ombros. — Você está
caidinho pela Ashley e algo me diz que muitas águas ainda vão rolar.
— Era só curiosidade. — Sei que estou sendo um babaca, mas eu preciso
acreditar que foi apenas isso. — Já provei e agora não quero mais.
— Se eu não te conhecesse, até acreditaria nessas suas palavras de macho
alfa. — Percebo ele pegar um fone de ouvido e o colocar. — Bom, vou dormir porque
temos longas horas pela frente.
— Eu também vou descansar, porque não dormi praticamente nada.
— E ainda diz que não ficou com gosto de quero mais — zomba, mas não
revido sua provocação porque ele fecha os olhos e eu tento descansar.

O carro passa pelo caminho de pedra e para em frente à mansão dos meus
pais. Olho pelo vidro notando que nada mudou desde a última vez que vim até aqui. Ela
ainda parece perfeitamente intocável com seus imponentes dois andares, janelas de
vidros e portas tão altas, que é impossível que algum ser humano consiga tocar o topo
dela.
— Obrigado, Russel — agradeço o novo motorista da família e ele apenas
assente contido nos fitando pelo retrovisor.
— Nossa volta ficou para amanhã à noite — Bryan avisa abrindo a porta do
carro.
— Dona Audrey me comunicou e estarei aqui às oito para levá-los ao aeroporto
— informa e juntos descemos do veículo.
Pego a única mochila que decidi trazer e meu primo faz o mesmo.
— Bom, primeiro eu vou ver minha mãe e o pai — avisa quando Russel se
afasta e eu assinto. — Provavelmente, à noite estaremos todos reunidos.
— É, com toda certeza sim. — Dou um tapa no seu ombro. — Manda um beijo
para a tia e diz que mais tarde a vejo.
— Mando sim. — Ele começa a se afastar, mas logo volta a me fitar. — Tenta
não cair nas provocações do todo-poderoso — pede se referindo ao meu pai.
Bryan colocou esse apelido quando ainda éramos crianças e víamos meu pai
todo autoritário gritando e delegando ordens pelo telefone. Desde então, ele sempre
opta por chamá-lo assim, claro, sem que o mesmo ouça.
Meu pai se tornou referência na arquitetura da Califórnia e sei que o único que
está acima dele é o escritório dos Coleman, inclusive um dos seus maiores rivais no
meio empresarial. Sinto um calafrio me percorrer ao sequer cogitar a possibilidade de
trabalhar com o meu pai. Preciso crescer cada vez mais no hóquei e continuar me
dedicando é a chave do sucesso.
— Eu vou tentar — aviso e observo ele se afastar indo em direção à mansão
ao lado.
Bryan é filho único e seu pai é incrível e o oposto do meu. Minha tia, assim
como a minha mãe, é uma mulher amável e carinhosa. Meu primo é um cara sortudo
pra caralho! Respiro fundo e subo os degraus que leva até a porta e, assim que coloco
a mão no trinco, ela é aberta de prontidão.
— Olha, ele lembrou que tem família. — Sorrio sentindo meu coração acelerar
quando minha irmã me fita toda sorridente.
Seus cabelos loiros estão mais curtos do que a última vez que a vi. Os olhos
claros, herança de nossa mãe, continuam com o mesmo brilho. O sorriso acolhedor
mostrando a covinha no canto esquerdo da boca são sua marca registrada.
— Também estava com saudades de você, Leen. — Ela geme com o apelido,
porém me puxa para um abraço.
O apelido é a forma como eu a chamava quando éramos crianças, porque
demorei a aprender a pronúncia correta do seu nome e, desde então, sempre que
posso, gosto de chamá-la assim porque ela finge ficar brava quando na verdade sei
que acha fofo.
Colleen é quatro anos mais velha do que os meus vinte e dois e arquiteta
formada, inclusive trabalha na empresa da família e se tornou o orgulho do nosso pai.
Sempre fomos muito apegados um ao outro e, desde que tenho lembranças, ela esteve
do meu lado, inclusive quando eu decidi que não iria me juntar a ela na empresa e,
principalmente, na minha carreira. No meu primeiro jogo, ela estava na arquibancada
gritando meu nome e sempre que está livre do trabalho ela marca presença para torcer
por mim.
— Vamos entrar porque a mamãe está louca de saudades — diz abrindo
espaço para que eu entre.
— Ela sabe que eu cheguei? — questiono.
— Não — nega e juntos adentramos a sala gigantesca. Os tons claros
predominando o ambiente trazem uma sensação de tranquilidade e até sinto um pouco
de falta daqui. Só um pouco. — Ela está no banho — avisa.
— Vou colocar minha mochila no meu quarto.
— Eu vou com você. — Ela engancha seu braço no meu e juntos seguimos em
direção a escada. — Então, quais são as novidades? — questiona curiosa.
— Treino, estudos, treino, estudos — respondo enquanto subimos os degraus.
— O primeiro jogo da temporada será no sábado, então estamos treinando feito loucos.
— Queria tanto conseguir ir. — Olho de lado e vejo seu semblante pesaroso. —
Mas tenho uma viagem de negócios em New Orleans porque preciso fechar um
contrato importantíssimo.
— Não se preocupa — a tranquilizo assim que seguro a maçaneta da porta. —
Esse é apenas o primeiro jogo. Você tenta ir nos próximos.
— Queria poder ir em todos — ela diz se jogando na minha cama assim que
adentramos o quarto. — Amo ver você jogar.
— Você deve gostar é de me ver apanhando — caçoo.
— Também. — Finjo incredulidade enquanto olho ao redor observando que
meu quarto continua da mesma forma. — É bom, porque meio que me sinto vingada
pelas vezes que você me deu trabalho.
— Ei, eu sou o irmão mais quieto de todo o universo. — Volto a olhá-la. — Mas
sério. — Me aproximo dela. — Também queria que você estivesse em todos, mas
entendo que a vida adulta chegou e você está aí cheia de responsabilidades.
— Está me chamando de velha? — Franze as sobrancelhas.
— Você que está dizendo. — Dou de ombros sorrindo.
— Pode ficar zombando de mim, mas daqui a menos de dois anos será você
atolado de trabalhos e compromissos.
— Estou ansiando por isso. — Jogo a mochila em cima da poltrona e pulo na
cama deixando a maciez do colchão me abraçar.
— Acho que o papai finalmente está começando a aceitar que você não vai
para a empresa. — Suas palavras me surpreendem e eu me inclino a fitando.
— Como assim?
— Escutei ele conversando com a mamãe que vai morrer e não vai te ver
cuidando do escritório.
— Não estava com ódio? — indago confuso.
— Não. Era mais como resignado, sabe? — Assinto. — Ele seria muito burro
em não ver o seu amor pelo esporte, Connor.
— Torço para que isso aconteça e a gente consiga parar de se estranhar toda
vez que nos encontramos. — Sou sincero em cada palavra.
— Eu também, porque é um saco ficar entre vocês dois.
Eu a entendo, porque diferente da minha relação com nosso pai a dela com ele
é muito boa. Não sei se porque ela foi a primeira filha ou porque sempre gostou e deu
indícios de que seguiria os caminhos do velho. Apesar disso, ela sempre foi muito justa
e, antes mesmo da nossa mãe ficar ao meu lado, ela deixou claro que me apoiaria em
qualquer decisão. Foi justamente ela que me ajudou com tudo para a mudança e na
entrada da Brisfolk.
— Ele está trabalhando hoje? — pergunto e ela nega.
— Infelizmente precisou viajar ontem à noite. — Odeio sentir alívio ao escutar
suas palavras, principalmente depois do que ela me disse há pouco. — Só volta na
terça, então vocês não vão se encontrar.
— Colleen... — A voz da minha mãe me impede de responder e eu apenas
meneio a cabeça assentindo. Ergo-me rapidamente da cama e corro para me esconder
atrás da porta. — O que está fazendo no quarto do Connor? — Sua voz está tão
próxima, que sei que ela está parada na porta. Seu perfume de rosas a entrega na
mesma hora.
— Ora, porque ela estava matando as saudades do melhor irmão. — Saio de
trás da porta e observo dona Audrey arregalar os olhos quando me nota parado a sua
frente.
— Você chegou! — Os próximos segundos sou eu sendo apertado por ela.
Quando ela cansa de me arroxar se afasta, mas segura minhas mãos me examinando
de cima a baixo. — Você está mais magro — resmunga fazendo um movimento de
desgosto com os lábios.
— Estou treinando feito louco, mãe — justifico. — Não estou magro. Estou
mais forte, parecendo um deus grego isso sim.
— Seu ego aumentou ainda mais? — brinca, seu sorriso acolhedor preenche
minha alma e só então entendo o quanto estava com saudade dela. Delas. — Estava
com saudades de você, seu ingrato.
— Eu também, mãe, eu também. — Puxo seu corpo novamente e a abraço
depositando um beijo no topo de sua cabeça.
— Vamos descer para almoçar e você me conta todas as novidades — ela diz
se afastando e minha irmã se levanta.
Juntos saímos do quarto e depois de lavar as mãos nos reunimos à mesa para
almoçarmos.
— Como andam as coisas? — ela pergunta quando começamos a comer.
— Continuo sendo um aluno exemplar e o melhor jogador da Brisfolk.
— Quero tentar ir em algum jogo nessa temporada.
— Sério? — pergunto surpreso, porque minha mãe só foi em um jogo durante
os quase três anos que estou no time de hóquei.
— Sim. E tentarei levar o seu pai. — Agora sim fico mais surpreso porque ele
nunca pisou na arena e ela percebe meu espanto, claro. — Ele só é difícil, filho, mas
ama você.
— O jeito dele de mostrar isso é bem complicado — alfineto.
— O papai é muito cabeça-dura e difícil de desistir de algo quando quer —
minha irmã comenta.
— O que é algo que você puxou a ele — minha mãe completa e não posso
negar, inclusive uma certa teimosa passa rapidamente pelos meus pensamentos.
É, eu realmente não sou de desistir de algo e sempre fui assim, em todos os
quesitos da minha vida. Desde quando coloquei na cabeça que queria aprender música
até o momento que bati de frente com o meu pai e o confrontei avisando que não
trabalharia no escritório.
— Ele só achou que essa fase do hóquei iria passar, mas, desde que você foi
draftado, percebi que ele começou a entender que não é só um hobby e sim sua paixão
— minha irmã finaliza e eu assinto pensativo.
Não sou o tipo de cara carente por afeto do pai, porque nossa relação só
definhou depois da minha ida para Boston, porém estaria sendo hipócrita ao afirmar
que não sinto falta de vê-lo torcendo e vibrando para mim, principalmente na arena,
assim como o pai do Liam, que nunca perdeu um jogo do filho. Saber que, talvez, ele
realmente esteja mudando seu pensamento sobre o hóquei traz uma centelha de
esperança para a nossa relação.
— Enfim, com fé em Deus ele vai deixar de ser tão teimoso. — Sorrio
concordando enquanto minha mãe leva o suco aos lábios. — E no amor? — ela indaga
colocando o copo sobre a mesa e eu controlo a vontade de revirar os olhos. Se o fizer,
ela me dá uns tapas. — Alguém especial já surgiu nesse tempo?
O sorriso contagiante da Assassina passa pela minha mente no mesmo
instante. Seus olhos claros tão reveladores e cheios de desejo quando nos beijamos
me atropela sem pedir licença e instintivamente sinto meu estômago revirar.
— Eu conheço essa cara. — Balanço a cabeça jogando os pensamentos para
longe e fito as duas curiosas à minha frente. — Pode contar logo quem é — Colleen
decreta.
— Não tem ninguém — respondo rapidamente. Rápido demais para não
levantar suspeitas.
— Ai, meu Deus, você está namorando? — minha mãe pergunta animada.
— Não... — nego veementemente. — Eu só estava pensando em outra coisa
— desconverso.
— Vamos fingir que acreditamos. — Fuzilo a Colleen quando ela responde me
lançando um riso debochado.
Mudo de assunto perguntando como andam as coisas em casa e, depois de
almoçarmos, subo para descansar. A tarde passa depressa e à noite nos reunimos
para tomar um vinho com Bryan e os meus tios. Ficamos longas horas conversando e
jogando pôquer.
O final de semana passa tão rápido que, quando menos espero, já estou dentro
do avião voltando para casa.
CAPÍTULO 20 - Ashley Moore

“Tem alguma coisa muito errada acontecendo!”, penso quando olho pela
terceira vez para o Oliver e ele simplesmente me ignora. Quando cheguei em casa na
sexta, eu enviei uma mensagem para ele agradecendo a ajuda, porém ele apenas
visualizou e acreditei que ele devia estar exausto demais para me responder.
No sábado enviei mais uma e no domingo duas e todas elas foram apenas
visualizadas e ignoradas. Ao chegar na sala, ele não estava, mas, quando chegou, ele
simplesmente se sentou do outro lado da sala e passou a me ignorar.
Eu já cogitei mil possibilidades, porém não consigo me lembrar de ter feito
nada de errado, exceto a pegação com o Connor, porém tenho certeza de que o Oliver
não presenciou. Suspiro frustrada tentando voltar a prestar atenção no que o professor
está explicando.
— O que diabos você tanto olha para o ruivinho? — Cassey indaga atrás de
mim e eu aproveito que Edward está concentrado na lousa e me viro para ela.
— Ele está me evitando. — Suspiro nervosa.
— Vocês discutiram na sexta? — Nego. — Talvez ele só esteja com algum
problema em casa. — Dá de ombros e não sei o porquê, mas sinto que ela entende
muito bem sobre isso. — Vai por mim. Tem dias que a gente simplesmente só quer
ficar sozinho.
— Deve ser isso. — Forço um sorriso. — Eu não fiz nada de errado, então não
tem o porquê esta paranoia. — Tento me convencer disso.
— Ele viu você beijando o Connor? — Assusto-me com a voz do Bryan à
minha frente e, quando o fuzilo, noto que ele se virou para ouvir nossa conversa.
— Você ficou com o Connor? — Cassey pergunta com a boca aberta. —
Pensei que você tinha dito que não saía com atletas, Ashley.
— Foi um erro. — Revezo meu olhar entre os dois. — E foi apenas um beijo.
Nada de mais.
— Eu desisto de todas vocês — Cassey bufa se recostando a sua cadeira. —
Acredito que sou a única que não sente vontade de tirar a calcinha toda vez que esses
jogadores aparecem.
— Isso eu concordo. — Ela me fita incrédula. — Eu disse que não saía com
atletas, mas não os desejar já é demais. Os caras são a performance da gostosura.
— Não exagera — Bryan declara. — Sou muito mais eu e os alunos normais.
— Ha-ha-ha. — Seguro sua bochecha. — Você é um gostoso também, não é,
Cassey? — indago e ela assente.
— Não sei por que ele não sai pegando geral — nossa amiga responde e eu
solto seu rosto.
— Porque eu faço a burrice de me tornar amigo delas. — Suspira resignado.
Sorrio, porque isso é muito o Bryan, sério, ele é amigo de todas as turmas da
universidade: nerds, os que só vem fumar um baseado, os músicos, jogadores, líderes
de torcidas. Todo mundo gosta dele, porém, desde que cheguei, nunca vi ele agarrado
com nenhuma mulher.
— Você é gay? — solto de uma vez e ele nega sorrindo.
— Não. Sou totalmente hetero, mas, diferente da maioria dos homens, não
gosto de sair com qualquer uma.
— Ele é seletivo — Cassey zomba.
— Com certeza. — Lança uma piscadela. — Enfim, o Oliver deve só estar com
outras coisas na cabeça e por isso não te respondeu — responde voltando a questão
inicial.
— Ah, sim, e foi por isso que ele se sentou do outro lado da sala. — Olho em
sua direção e noto ele totalmente concentrado no que Edward segue escrevendo. —
Enfim, vamos estudar. — Volto minha atenção para a aula e os dois fazem o mesmo.
Minutos depois, quando o sinal toca, espero todo mundo sair da sala e, quando
percebo Oliver caminhar em direção a saída, eu vou atrás. Como a porta está cheia de
alunos acabo o perdendo de vista, mas, quando me desvencilho, noto ele descendo as
escadas para o primeiro andar.
— Oliver... — o chamo correndo e noto ele parar cauteloso, porém não volta a
andar e eu corro o alcançando em seguida. — Ei, você está me evitando? — indago
quando paro a sua frente.
— Não — nega, porém não me encara e eu estranho.
— Oliver — o chamo e ele respira fundo voltando a me olhar. — Pode me dizer
o que diabos eu fiz, porque, desde sexta, você simplesmente sumiu.
— Você não fez nada, Ashley — responde passando a mão no cabelo. — Eu
só não quero te atrapalhar, é só isso.
— Mas você não faz isso. — Seguro a alça da minha mochila. — Pelo
contrário, você me ajudou pra caramba.
— Não estou falando das aulas.
— Pode ser mais direto, porque estou confusa — peço.
— Não quero atrapalhar seu lance com o Connor. — Demoro alguns segundos
para raciocinar suas palavras. Abro a boca, fecho e ele arqueia as sobrancelhas. —
Olha, você é uma garota legal, porém não quero ficar no meio e o Connor deixou claro
que o melhor para mim é me manter distante.
— O Connor fez o quê? — Minha voz sai esganiçada, mas nesse momento eu
estou pouco me fodendo para isso.
— Quando você foi no banheiro na sexta, ele apareceu e me comunicou que
eu estava proibido de sair com a garota dele.
A garota dele!
Puta que pariu!
— Oliver... — Respiro fundo tentando não explodir. Porém não consigo negar,
porque tem alguma droga rolando entre mim e o capitão idiota. — Eu e o Connor
somos amigos. — Ele me fita desacreditado. — Droga, tem algo rolando, mas...
— Não precisa me explicar, Ashley — ele me corta. — Eu e você somos
amigos, mas, como não queria confusão, achei melhor me afastar.
— Não precisa disso, sério, Connor não é o meu dono, muito menos namorado
e, mesmo que fosse, eu jamais deixaria minhas amizades por causa de um ciúme idiota
— declaro firme.
— Está certo. — Ele me direciona um meio sorriso. — Se precisar de mais
alguma ajuda é só me avisar, tá?
— Obrigada. — O puxo para um abraço e mesmo sem jeito ele retribui. — Se
precisar, eu estou aqui também, mas agora eu preciso ir gritar com um certo capitão.
— Ah, eu gostaria de ver isso, mas eu preciso ir para casa porque tenho muita
coisa para resolver.
— Até mais, Oliver, e não ouse mais me evitar.
— Não farei. — Sorri. — Você é baixinha, mas com raiva fica bem intimidante.
Dou risada e desço as escadas praticamente correndo decidida a encontrar o
Connor, porém, quando olho no meu relógio, noto que tenho dez minutos para chegar
no instituto.
Bom, lá não é um lugar para se brigar, mas eu posso muito bem o esperar no
estacionamento quando sairmos.

Saio do quarto do Elijah com o coração apertado porque hoje ele está bem
fraquinho e, infelizmente, não conseguiu participar da primeira aula de pinturas que
realizei, porém eu vim até o seu quarto e trouxe todos os desenhos que a turminha fez
para ele. Sua mãe está inconsolável e me pego pensando novamente na dor de perder
quem amamos.
Muitos falam sobre superar, mas só quem realmente passou pelo luto entende
que ele não é sobre superação, mas sim sobre aprender a lidar com a dor e conviver
com a ausência de tal maneira que nos permita seguir em frente.
A dor da perda é uma experiência única e profundamente pessoal que não
existe uma fórmula mágica para fazê-la desaparecer. Só precisamos aceitar que ela
fará parte da nossa vida assim como uma cicatriz que deixou sua marca. Isso não quer
dizer que deixamos de amar, mas sim que entendemos que, apesar de não estar mais
conosco, fomos privilegiados de viver com a pessoa que tanto amamos.
— Você foi incrível hoje, Ashley. — A voz de Eve me faz perceber que acabei
me perdendo em pensamentos parada na frente da porta do Elijah.
— Eles que são — refiro-me às crianças. — Foi maravilhoso ver os sorrisos
naqueles rostos fofos.
— Não sei como eu ainda não tinha pensado nas tintas — diz pesarosa.
— Você já pensa em tanta coisa, mulher. — Ela volta a sorrir. — Sem você isso
não andaria.
— Eu faço o que posso. — Assinto. — Já está indo embora?
— Sim. Já limpei toda a área de pintura, organizei a farmácia que você tinha
falado mais cedo.
— Ash do céu, eu não falei para você arrumar. — Cruza os braços cortando
minha frase. — Disse que eu organizaria essa semana.
— Eu estava sem fazer nada. — Dou de ombros. — Então aproveitei e
organizei ela e o armário com documentos da sua sala.
— Você não consegue ficar quieta? Já basta a loucura com a aula de pintura
— indaga.
— Eu amo fazer as coisas aqui, sério — declaro sincera.
— Obrigada, de verdade, você está sendo um anjo para o Donna.
— Eu que agradeço por me deixar ajuda — revido sincera e crio coragem para
fazer a pergunta que quero desde que cheguei. — O Connor trocou os dias dele? —
indago porque até o momento ele não apareceu no instituto e já tem quatro horas que
cheguei.
— Não. Ele só não vai poder vir essa semana porque a temporada está se
aproximando e com isso ele precisa focar nos treinos.
— Verdade. — Tinha esquecido completamente que sábado já tem o primeiro
jogo.
— Todo ano é assim, mas na próxima ele volta.
— Está certo. Vou pegar minha mochila e ir embora, mas quinta estou aqui de
novo.
Eve assente, me abraça e, depois de pegar minha mochila na sala de
descanso, saio do Donna. Apresso o passo pelo estacionamento e logo estou dentro do
meu carro. Jogo a mochila no banco de trás, conecto meu celular ao som, disco o
número da minha prima e dou partida.
— Melhor prima do mundo falando. — Sua voz risonha soa do outro lado da
linha.
— Onde você está? — indago pegando o caminho para a universidade.
— No dormitório, mas vou sair com o papis para pegar umas camisas em
Newton.
— Ele não está na arena? — indago.
— Saiu há pouco tempo e já está vindo me buscar, por quê?
— Droga, então o Connor não deve estar mais lá.
— Ah, ele está sim — rebate animada. — Ele sempre fica treinando depois do
horário nas segundas e quintas.
— Obrigada.
— Ei, obrigada nada! — Praticamente grita quando estou prestes a desligar. —
Vai pedir bis, sua safada?
Reviro os olhos quase me arrependendo de ter contado para ela do beijo.
Quando cheguei em casa, a Brooke não estava porque ela decidiu dormir na
fraternidade, porém, no sábado pela manhã, fui acordada por ela e depois de nos
arrumarmos fomos direto para o Queens. Ela me fez contar detalhe por detalhe do beijo
e praticamente surtou quando eu confirmei que tinha sido o melhor beijo da minha vida.
Passamos horas no point conversando e ela listou uns dez motivos do porquê
eu deveria me sentar no Connor, claro, eu fingi que não ouvi essa parte.
— Ashley? — me chama.
— Não tem nada de bis, Broo. Estou indo brigar com ele porque descobri que
ele proibiu o Oliver de sair comigo.
— Mentiraaaaa! — grita fazendo meu ouvido protestar em resposta.
— Verdade.
— Estou chocada!
— Imagina como fiquei? Enfim, deixa eu desligar que cheguei no campus.
— Quero detalhes à noite! — diz e quase posso ver seu sorriso sapeca.
Desligo a chamada, estaciono o carro e desço o travando em seguida. Sigo
pela lateral em direção à arena e percebo ela no mais puro silêncio. Pego o crachá e,
quando o aproximo da roleta na entrada, meu acesso é liberado de imediato. Meu tio
me entregou esse acesso no dia que vim visitá-lo com a Brooke, para que ele não
precisasse ficar vindo me buscar na entrada toda vez que eu decidisse vir falar com
ele.
Espero de verdade que ele não tenha como ver que estou aqui porque, com
toda certeza do mundo, ele iria querer saber o que estou fazendo. Sigo pelo corredor
mal iluminado e quando viro à direita dele noto que o gelo está vazio, porém tem um
celular no banco.
Aproximo-me e, quando o seguro, a tela se acende mostrando uma foto do
capitão na arena. Olho ao redor, mas não o vejo, então ele deve estar trocando de
roupa. Eu deveria esperar um pouco para ver se ele aparece, mas se ele já estiver em
casa e acabou esquecendo o celular aqui? Vou acabar perdendo tempo. Decidida a
procurá-lo guardo o celular no bolso da minha calça jeans e faço o percurso de volta
pelo corredor entrando na primeira porta à direita que exibe uma placa mostrando que
estou no lugar certo.
Adentro o vestiário notando que ele está vazio e meus olhos percorrem o
ambiente me surpreendendo em ver tudo organizado. Os armários ao lado direito estão
todos fechados e os equipamentos na esquerda completamente organizados. As
paredes esbanjam fotos de jogos, pôsteres sobre a liga universitária, fotografias de
alguns dos inúmeros jogadores famosos e acredito que isso é uma tática para motivar
os jogadores. Os bancos compridos estão dispersos pelo meio do salão sem nenhum
objeto jogado em cima.
Um calafrio percorre meu corpo quando ouço o som de um chuveiro sendo
ligado e, quando meus olhos pousam no fundo do ambiente, percebo Connor virado de
costas tomando banho. Minha respiração acelera quando percebo que atrás da porta
que cobre do seu joelho até a suas escápulas ele está completamente nu, porém tento
não deixar isso se sobrepor ao que eu realmente vim fazer aqui.
— Precisamos conversar — digo alto anunciando minha presença e percebo
ele se assustar, mas, quando vira de frente e me fita, Connor esbanja um sorriso para
lá de safado.
O sorriso que mexe comigo desde o maldito primeiro momento que o vi.
CAPÍTULO 21 - Connor Harrington

Ashley está puta!


Acho que se existe uma palavra que defina a ira que ela me direciona nesse
momento é: puta pra caralho! No entanto, eu só consigo notar o quanto ela parece
ainda mais linda com os olhos brilhando de raiva, com a mão na cintura e as
bochechas vermelhas. Meu pau, que antes estava adormecido, lateja só de vê-la em
minha frente. Tento controlá-lo porque esbanjar uma ereção nesse momento não vai
me ajudar.
— Oi, Assassina. — Desligo o chuveiro, pego a toalha que está em cima da
porta e enrolo-a na cintura saindo da área de banho.
— O que merda você estava pensando quando falou com o Oliver? —
questiona furiosa com as mãos na cintura.
Inferno de mulher linda!
— Não fiz nada de mais — defendo-me. — Só o poupei de perder tempo.
— Você é louco. Não pode escolher com quem eu ando ou fico, Connor.
— Nós dois sabemos que você não tem interesse nele — declaro me
aproximando e percebo ela dar um passo para trás.
— Se tem tanta certeza, por que se deu ao trabalho de intimidá-lo? — Se
afasta, eu me aproximo.
— Porque ele tem interesse em você. — Suas pernas batem no banco
obrigando-a a parar e eu me posto à sua frente. — Porque sinto vontade de socar o
rostinho bonito dele só de pensar nele te tocando.
— I... isso já f-foi longe d-demais — gagueja quando minha mão ainda molhada
começa a subir pela lateral do seu braço. — Você não vai mais se intrometer onde não
é chamado.
— Passei o final de semana inteiro pensando na sua boca — confesso
querendo esquecer o idiota e noto sua respiração falhar. Suas pupilas se dilatam
quando meus dedos chegam até os seus lábios, da mesma forma que fiz na biblioteca.
Ela não me responde, mas ofega quando percebe meu rosto se aproximar do
seu. Há um pequeno momento de hesitação, entretanto, Ash não se afasta, tampouco
me empurra. Ela deixa o suspense no ar aumentando ainda mais o meu desejo de
beijá-la e, como se fôssemos impulsionados por uma força invisível, nossos lábios se
encontram.
Suas mãos vêm para os meus braços quase como se precisasse de algum
ponto de equilíbrio para se manter em pé e eu a puxo contra mim fundindo nossos
corpos. O beijo se inicia lento, mas basta minha língua encontrar a sua para que tudo
se intensifique. Nossos lábios se misturam de uma forma erótica e os gemidos
involuntários se encontram no processo. A seguro com força enquanto sugo seus
lábios e a beijo com um desejo latente. Meu pau implora para ser tocado, pulsando
através da toalha e sei que ela consegue senti-lo dolorosamente duro.
— Seu gosto é viciante — murmuro rouco quando solto seus lábios e desço
minha língua pela sua clavícula fazendo caminho até a pele do seu pescoço. — Tão
gostosa! — sussurro e ela geme.
— Connor... — Meu nome sai sôfrego.
— Você quer que eu pare, Ash? — pergunto e ela nega no mesmo instante.
— Não. — Controlo o riso ao ver a urgência em seu tom de voz.
Volto meu rosto para o seu e levo minhas mãos até sua cintura. Como se
esperasse o movimento, Ash se impulsiona para cima e eu passo suas pernas ao redor
da minha cintura, andando com ela dessa forma até encostar sua lombar nos armários.
— Me diz o que faço para tirar você da minha cabeça? — pergunto, mas não
dou tempo de resposta porque logo volto a beijá-la com vivacidade.
Nossos lábios se chocam com força e suas mãos curiosas passeiam pelos
meus braços, costas e tórax. Ashley explora minha pele enquanto eu aperto sua bunda
e percorro seu corpo. Quero poder arrancar sua roupa e fodê-la aqui mesmo, mas não
tenho dúvidas de que, se eu tentar algo dessa proporção, ela irá chutar meu saco,
então apenas aproveito sua boca deliciosa.
Beijo-a com vigor, dou mordidinhas nos seus lábios puxando a pele
delicadamente e, quando o ar nos falta, eu distribuo beijo por todo seu pescoço e
orelha. Caralho, como é difícil interromper o contato, mas, se eu continuar, vou querer
transar e, quando isso acontecer entre nós, não quero estar em um local onde ela
sequer possa gritar meu nome enlouquecidamente.
— Eu vim aqui para brigar com você — praticamente ronrona. — Não para
você me devorar com a língua e seu amigo de baixo ficar me cutucando.
Dou risada das suas palavras e a fito, encostando minha testa na sua. Seus
olhos brilhando, seu rosto levemente rosado, seus lábios vermelhos e inchados são a
visão do paraíso para mim.
— Eu gosto mais dessa segunda opção. — Ela sorri e sinto uma coisa estranha
no peito. — Que tal você parar de lutar contra isso e aproveitarmos?
— Tenho uma regra... — ela me lembra.
— Que já foi para o espaço desde a biblioteca.
Ela balança a cabeça em descrença, mas sorri.
— Connor, não precisamos disso agora e eu não quero virar mais um nome na
sua lista enorme de peguetes.
— Não precisamos de problemas e você não é uma peguete — a corrijo. — E
eu não vejo problema algum da gente sair, se curtir.
— Bom, eu vejo.
— Quais?
— Primeiro tem a Raven...
— Não tenho nada com ela, Assassina — a interrompo. — A gente só transou
algumas vezes. Nunca foi um namoro.
— Não pareceu quando ela se materializou na minha frente no refeitório e
disse que ia ficar com o capitão dela.
— Garanto para você que ela não será um empecilho. Ela só estava com
ciúmes, mas já conversei com ela outro dia — aviso lembrando que há alguns dias
Raven estava nua dentro desse vestiário e eu a mandei embora não querendo arrumar
problemas, mas agora estou eu pelado me agarrando com a Ash pouco me importando
se vai entrar alguém.
— É melhor você me descer porque fica melhor para conversarmos — declara
com os braços ao redor na minha nuca.
— Não — nego de imediato. — Para mim, conversar com você agarrada ao
meu pescoço, com as pernas na minha cintura e se esfregando no meu pau é muito
melhor do que conversar com você sentada no banco.
— Você é maluco. — Não posso discordar. — Enfim, tem o campeonato, meus
estudos.
— Minha rotina vai ficar ainda pior do que já está essa semana e no próximo
mês devido ao jogo, mas não estou te pedindo em namoro. É só sexo!
— E não peça mesmo, porque você não vai gostar da resposta — ela rebate.
— Só estou falando para a gente deixar rolar. — Ela me fita cautelosa. — É
nítido que desejamos um ao outro, então por que não aproveitar até que essa atração
passe?
— Isso é bem perigoso.
— Não mesmo — nego rapidamente. — Você não quer nada sério, muito
menos eu. É perfeito!
— Vamos dizer que eu aceite isso aí. — Tento não deixar o contentamento me
preencher antes dela finalmente aceitar. — Acho melhor não contarmos a ninguém.
— Você que sabe, mas eu não sou de dividir, então se algum cara encostar em
você todos vão descobrir da gente porque eu vou socar a cara dele.
— Isso serve para você também?
— Sim — concordo de imediato. Nunca fui exclusivo, mas odeio a mera
possibilidade de imaginá-la indo para a cama com algum imbecil dessa faculdade, na
verdade, do mundo. — Somos exclusivos, mas, quando surgir interesse em outra
pessoa, o que vai acontecer a gente só comunica um ao outro.
— Simples assim? — Arqueia a sobrancelha.
— Muito simples. Fechado, Assassina?
— Você poderia parar de me chamar assim?! — resmunga.
— Não paro porque sei que você gosta. — Ela não nega. — Vou voltar a beijar
sua boca.
Ash não me responde já que, dessa vez, é ela quem choca nossos lábios. Nos
beijamos e só a solto longos minutos depois quando sinto meu braço dormente.
— Que tal eu te ensinar a patinar? — pergunto quando a deposito em pé. Eu
esperava um não ou nem fodendo, menos a risada que explode de dentro da sua boca.
— Qual a graça? — indago confuso.
— Você jura que eu, filha de Charles Moore, não sei patinar? — zomba. —
Connor, na verdade eu que vou te ensinar como se faz sucesso no gelo.
— Isso é um desafio, Assassina? — Arqueio as sobrancelhas cruzando os
braços.
— Isso é um fato! — declara firme e eu me afasto indo até a área onde ficam
as roupas e equipamentos.
— Você vai congelar com essa blusa minúscula. — Aponto para a sua
camiseta branca que deixa do umbigo para baixo mostrando a pele. — Esqueceu a
metade em casa? — brinco.
— Não vim com a intenção de patinar — resmunga. — E minúsculo é o seu
pau — revida sorrindo e acredito que o meu digníssimo pau não gosta do termo
pejorativo ao qual ela se refere, porque, assim que estico a mão para pegar minha
roupa, a toalha se solta da minha cintura e em menos de um segundo ela vai ao chão.
Os olhos da Assassina arregalam quando me fita da mesma forma que vim ao
mundo. Sua boca se abre, fecha, abre e o desejo explícito no seu olhar faz com que ele
volte a acordar no mesmo instante.
— Minúsculo? — questiono convencido.
— Sim, muito pequeno — implica desconcertada, porém tenta disfarçar.
— Assassina, eu sei que você tem problemas de visão. — Ela não tira os olhos
do meu pau mesmo quando eu falo e controlo a vontade de puxá-la novamente contra
mim. — Mas nós estamos vendo o mesmo monumento e ele pode ser tudo, menos
minúsculo.
— Porra, esquece o que falei. Ele é muito grande! — solta rapidamente.
— Ainda bem que a toalha caiu porque assim não precisei me defender. —
Abaixo-me e pego a toalha, mas quando a fito e vejo que ela continua olhando não me
enrolo. — Se você ficar olhando dessa forma, eu vou te foder em cima desses bancos
— declaro rouco.
— É... — Noto o movimento na sua garganta e meu pau pulsa. — É impossível
eu deixar essa coisa entrar em mim. — Ela traz o seu olhar para o meu. — Você
deveria usar ele para procurar petróleo. — Seu semblante chocado é impagável. —
Ficaria rico no ramo.
Agora sou que explodo em uma gargalhada enquanto visto uma cueca. Vou até
o meu armário e pego o meu blusão ou Ashley vai congelar na arena. Volto para onde
a deixei parada e entrego o blusão a ela enquanto começo a vestir o meu uniforme de
treino.
— Só vou aceitar porque sei que iria congelar lá fora — murmura já vestindo-o
por cima da blusa.
— Você é inacreditável. — Balanço a cabeça sorrindo.
— Então o boato é verdade — diz de supetão voltando a olhar para o meu pau
agora coberto pela cueca e eu a fito confusa. — Que sua camisa é o número vinte e
três por causa do tamanho do seu pau — explica.
Sorrio assentindo porque já sabia dessa fama que meu pau tem pelo campus.
Ele surgiu depois que transei com uma garota que fazia parte da Nu Zeta assim que
entrei no time de hóquei. Ela gostou tanto do tamanho que saiu espalhando para as
amigas e, quando menos esperei, todas as garotas começaram a falar que ele tinha
vinte e três centímetros, número da minha camisa no jogo. Não achei ruim porque essa
fama me ajudou e muito a levar muitas delas para cama, inclusive a que falou pela
primeira vez. Ela estava no último ano e, quando encerrou, voltou a morar no Texas
com a família.
— Bom, não posso negar — respondo pretensioso.
— Vamos só nos beijar, ouviu? — Dou risada. — Você não vai usar esse
monstro em mim. — Aponta para a parte específica.
— Se foi feito desse tamanho é porque cabe, Assassina, não se preocupe.
— Não mesmo. — Balança a cabeça em negativa. — Ah, seu celular — diz de
repente e noto ela retirar o aparelho do seu bolso.
— Como ele foi parar aí?
— Quando cheguei fui até o gelo e o encontrei no banco.
— Ah, eu esqueci quando saí do treino. — O seguro. — Vou guardá-lo na bolsa
— aviso.
— E eu vou esperar você na saída. — Ela sai praticamente correndo em
direção a entrada e eu aproveito para terminar de me vestir.

Não tenho dúvidas de que a surpresa estampa cada centímetro do meu rosto
depois de apenas alguns minutos dentro da arena com a Ash. Ela desliza pelo gelo
com uma maestria que poucas pessoas que não são jogadores conseguem.
— Vai ficar só olhando ou pretende tentar pegar o puck? — Ela tem a audácia
de debochar enquanto desliza o disco pela arena com o stick.
— Assassina, você não perde por esperar.
Deslizo facilmente enquanto calculo sua próxima jogada e, pela forma como ela
está inclinada, não me resta dúvidas de que pretende me driblar pela direita e assim
poder passar para o outro lado e tentar fazer o gol. Quando estou próximo o suficiente,
arrasto o taco para a direita pronto para roubar o stick dela, entretanto acabo acertando
o vento porque indo contra toda lógica que criei Ashley puxa o stick para o lado oposto
me dando um baita drible.
— Olha se não é o capitão fodástico levando drible de uma mulher.
— Sorte, pura sorte. — Avanço para cima deixando meu lado competidor falar
mais alto e conseguindo roubar o disco dela. — Quem está levando drible agora,
Assassina? — zombo e ela faz uma careta engraçada. — E olha que estou pegando
leve, viu? Se eu te atacar como faço nos jogos, você sairia voando pelos vidros de
proteção.
Caçoo e disparo como um raio em direção à rede acertando o stick com
precisão bem ao meio dela. Dou um soco no ar e me viro para comemorar.
— Isso que foi sorte. — Ela mostra a língua e eu pego novamente o disco. —
Vem para o papai, vem — chamo me abaixando, ficando com as mãos no joelho me
exibindo enquanto ela se aproxima.
Ashley está com o semblante fechado, parece realmente concentrada e
determinada a me vencer, ainda assim ela ainda consegue ser a garota mais linda que
já pousei meus olhos. Ela me direciona um sorriso safado e me lança uma piscadela
enquanto passa a língua nos lábios fazendo com que o movimento acerte em cheio o
meu pau e praticamente faça meu cérebro derreter. É justamente esse deslize na
atenção que me faz perder o reflexo e, sem ao menos esperar, ela se aproxima o
suficiente para conseguir roubar o stick.
— Você trapaceou! — grito quando ela corre deslizando pelo gelo acertando o
disco dentro do gol.
— Eu? Jamais! — Dá risada fazendo uma dancinha da vitória. — Você que
perdeu o foco, capitão.
— Você quer guerra, não é? — Avanço em sua direção e juntos ficamos um
bom tempo no gelo apenas disputando um contra o outro.
Ela é boa, muito boa, ainda assim não tem prática e eu consigo driblar muito
mais vezes quando paro de ficar a admirando, o que confesso ser bastante difícil. É
impossível não ficar fascinado na dancinha que ela faz quando acerta cada gol, no seu
cabelo querendo fugir do capacete de proteção ou, principalmente, no som da sua
risada enquanto deslizamos pelo gelo.
— Segura minha mão — peço quando soltamos os sticks.
— O que você vai fazer? — pergunta cautelosa, entretanto faz o que eu peço.
— Nos divertir. — Impulsiono o corpo. Ela faz o mesmo e juntos começamos a
circular a arena deslizando.
— Obrigada por isso — agradece assim que começamos a fazer a volta.
— Pelo quê? — replico confuso deslizando devagar para conseguirmos
conversar.
— Estava morrendo de saudades do gelo, mas não tinha coragem de vir
sozinha. — Sua voz sai mais baixa.
— Eu sinto muito. — Aperto de leve sua mão. — Sei como deve ter sido difícil
perdê-lo.
— Foi a maior dor que já senti na minha vida. — Seu timbre de voz falha. —
Estar aqui me faz sentir mais próxima dele. — Ela olha ao redor.
— Ele deve estar muito orgulhoso que a filha dele é uma fera no gelo e ainda
deu altos dribles em um capitão do time — brinco para quebrar um pouco a aura triste.
— Ele com certeza estaria te dando uns carões por estar perdendo para mim.
— Ela entra na onda. — Meu pai era incrível, Connor.
— Não tenho dúvidas disso. Agora fecha os olhos.
— Tá louco? — pergunta negando. — Eu vou meter a cara no vidro de
proteção.
— Eu não vou deixar você se machucar. Confia em mim — aviso retirando seu
capacete e o colocando no canto da arena.
— Está certo. — Mesmo receosa, ela fecha os olhos e eu vou para a sua frente
segurando as suas mãos.
— No que você está pensando?
— Na primeira vez que meu pai me trouxe até aqui e eu calcei os patins.
— Então só finge que ele está aqui e aproveita a lembrança. — Ela assente e
eu a puxo voltando a deslizar com ela.
Ash sorri de olhos fechados e está tão leve que sinto como se ela estivesse
precisando disso, desse momento. É quase como se ela estivesse mesmo revivendo a
cena e me sinto um sortudo do caralho em ser eu a estar aqui ao seu lado.
Quando Ashley volta a abrir os olhos e eu vejo a gratidão explícita em seu
olhar, entendo que talvez ela esteja se tornando muito mais do que uma atração
qualquer, desafio ou sexo casual e isso me assusta ao ponto de puxá-la contra mim e
beijá-la para não pensar demais e acabar surtando.
Deus, eu não posso estar me apaixonando pela Assassina, posso?
CAPÍTULO 22 - Ashley Moore

— Você deu para ele! — A voz alta da Brooke quase faz meu coração saltar
para fora e eu levo a mão até o peito quando entro no dormitório.
— O que diabos você está fazendo sentada na porra do escuro como um
maldito fantasma? — exclamo fitando minha prima.
— Cheguei tão cansada que só tive coragem de me jogar na cama e ficar
mexendo nas redes sociais — responde suspirando.
— Deu certo com o tio? — questiono colocando minha mochila ao pé da cama
me lançando no colchão em seguida.
— Sim, mas, quando ele me deixou no dormitório, eu sequer entrei porque o
Liam me chamou para ajudar ele em uma matéria.
— Hum... — Faço uma voz melodiosa cheia de insinuações e acendo a luz do
abajur.
— Dois — retruca cobrindo os olhos para fugir da claridade. — Não mude de
assunto: você deu ou não para o Connor?
— Não. — Ela me fita instantaneamente.
— E por quê? — Incredulidade cobre seu rosto.
— Eu fui brigar com ele, Brooke — a lembro.
— Aposto minha vida que não deu em briga — desdenha.
— E como sabe? — Arqueio a sobrancelha.
— Você está com um sorriso bobo. — Fecho o semblante na mesma hora e
isso arranca uma risada dela. — Pode contar tudo nos mínimos detalhes.
— Talvez a gente tenha se pegado no vestiário.
— Sua safada. — Ela joga o travesseiro na minha direção, porém eu o seguro
antes de bater no rosto. — Imagina se meu pai descobre que a sobrinha linda estava
se pegando com o jogador dele.
— Deus me livre! — Faço o sinal da cruz e juntas damos risadas.
— Quando você ver o pau dele, favor confirmar os boatos.
— Então... — Fito o teto lembrando daquele monstro delicioso.
— Ashley Moore, você já viu o pau dele? — Abre a boca incrédula.
— Quando cheguei no vestiário, ele estava no banho e, quando saiu enrolado
na toalha, o tecido caiu.
Em menos de dois segundos, minha prima se joga na minha cama.
— É grande mesmo? — pergunta se inclinando nos cotovelos, me fitando.
— Você é tão pervertida! — Inclino-me também. — Sim, o pau dele é tudo isso
que falam. Um verdadeiro pau monstro.
— Garota de sorte. — Se joga ao meu lado e eu volto a deitar, agora fitando o
teto.
— Sorte? Eu estou é muito ferrada porque sequer deveria beijá-lo quanto mais
estar pensando naquele espécime gostoso de pau.
— Aproveita, boba, que ele está na sua e, quando enjoarem, você parte para
outra.
— É, vou tentar, mas não fala para ninguém.
— Como assim?
— Não quero ser o assunto do momento, então prefiro deixar nossos pegas no
off.
— Prometo que por mim ninguém vai ficar sabendo — afirma e assinto. — Viu
que comentaram no post do Marley?
— Não. — Ergo-me rapidamente pegando o celular na mochila. — Esqueci
completamente de olhar o post que fiz sobre a adoção.
Abro o aplicativo da universidade e percebo que realmente uma garota
comentou no post. Abro seu perfil e vejo que ela é estudante de música e tem vinte
anos. Rolo pelo feed e constato que a maioria das postagens dela é com um casal mais
velho e um buldogue francês.
Abro a área de mensagens e envio um boa-noite sentindo meu peito doer ao
constatar que, em breve, o Marley terá que ir embora. Mesmo sabendo que é o
necessário, afinal os meninos já estão cuidando deles há mais tempo do que
comuniquei, inclusive começar a pagar uma pessoa para olhá-lo.
— O que vai fazer hoje à noite? — Retiro a atenção do celular quando Brooke
indaga.
— Vou dar um pulo para ver o Marley e depois estou pensando em comer algo
no Queens.
— Eu vou com você então. — Ela se levanta. — Vou tomar banho e depois é a
sua vez.
Meu celular toca avisando a chegada de uma mensagem e, quando o pego,
vejo que é a garota da adoção.
— Certo. Vou conversar com a menina. É o tempo que você finaliza.
Ela assente indo em direção ao banheiro e eu aproveito para conversar com a
tal da Olívia, que acabou de responder o meu boa noite.

— Oiii, tem alguém nessa casa? — questiono quando coloco a cabeça pela
fresta da porta com a Brooke.
— Oi, meninas — Liam nos cumprimenta e, quando sigo sua voz, sorrio com a
cena que se desenrola mais à frente.
Liam está jogado no tapete enquanto brinca com o Marley. Kyle está
concentrado no videogame a sua frente, porém para o jogo e joga uma bola colorida
para o cachorro, que rapidamente a pega e leva até o outro sofá onde Ben está deitado
com as pernas para cima e a cabeça no assento. Os três estão se revezando para
brincar com o filhote e isso consegue me deixar toda boba.
A cauda de Marley balança freneticamente enquanto ele espera que Ben jogue
o brinquedo e, quando assim faz, Marley salta no ar conseguindo pegar o objeto de
primeira.
— É isso, garoto! — Adentro a sala com a Brooke, aproximo e me ajoelho no
chão. Marley pula nos meus braços começando a me lamber freneticamente. — Eu
também estava com saudades de você. — Afago seu pelo enquanto ele pula
entusiasmado.
— Broo, quer subir e assistir algo? — Liam pergunta e minha prima confirma.
— Se ficar aqui na sala pode começar com a alergia.
— Realmente. — Ela me olha. — Quando você estiver saindo me avisa, tá?
— Eu vou te chamar daqui a pouco. — Pisco para ela.
— É uma pena você não poder brincar com ele — Kyle diz e Ben assente
confirmando.
— Fazer o quê, né? Eu queria, mas realmente não posso. — Ela dá de ombros
pesarosa e vai em direção a escada. — E você pode tomar banho e trocar de roupa,
viu? — avisa para Liam quando ele se levanta em um pulo e a segue.
— Você que manda! — responde e eu fito os dois desaparecerem no primeiro
andar.
— Onde está o Connor? — questiono.
— Saiu para jantar com o Bryan. Ele sabia que você vinha ver o Marley?
— Não comentei — respondo deitando no chão e, como esperado, Marley vem
para cima de mim se deitando com a cabeça no meu peito. — Acho que consegui
alguém para cuidar dele — aviso.
Marquei com a tal Olívia por mensagens para domingo ela vir ver o Marley e,
se tudo caminhar como desejamos, ela já irá levar o filhote. Não a conheço, mas pelas
mensagens parece ser alguém que realmente ama animais, porque ela falou várias
vezes com carinho do Davi, seu buldogue. Também deixou claro que tinha condições
de alimentar e cuidar do Marley, porque tinha uma condição financeira estável.
— O quê? — O grito esganiçado me arranca dos pensamentos e, quando olho
para cima, vejo Ben e Kyle me fitando perplexos.
— Eu falei para vocês que iria encontrar um lar para ele. — Aponto para o cão
não entendendo a reação de ambos. — Fiz um post na rede social da Brisfolk e hoje
uma aluna do curso de música falou comigo.
— Mas... — Ben se levanta e reveza o olhar entre mim, Marley e Kyle. — Será
que é uma boa pessoa? E se ela maltratar ele?
— Pela conversa, ela parece ser apaixonada por animais — aviso sorrindo.
— Mas e se ele não conseguir se adaptar a uma casa nova? — É a vez do
Kyle indagar.
— Eu não estou entendendo vocês. — Sento-me, porém continuo acariciando
o animal. — Esse era o combinado.
— Sim. — Ben volta a se sentar. — Quando ela vem vê-lo?
— No domingo.
— Já? — Kyle exclama.
— A vida de vocês está muito corrida e só vai piorar — os lembro. — Não têm
como cuidar do Marley.
— É, o cachorro é seu, então decida aí — Kyle diz emburrado e eu os fito
confusa.
— Eu vou tomar um banho — Ben avisa saindo da sala rapidamente.
— Bom, eu vou chamar a Brooke porque estou com fome. — Levanto-me e
sigo em direção ao primeiro andar porque o Kyle decidiu me ignorar completamente.
Quando bato a porta e ouço um “pode entrar” baixinho do Liam adentro o seu
quarto. Noto que a única luz do ambiente é a que vem da televisão. Brooke está
completamente apagada no peito desnudo do jogador e fico meio chocada de ver o
quanto eles parecem íntimos.
— Ela apagou. — Aponta para a minha prima.
— É, eu estou vendo. — Percebo sua mão acariciar o cabelo dela e acredito
que ele sequer nota o que está fazendo.
— Tem problema você voltar sozinha? — questiona e eu volto a fitá-lo.
— Não. Eu estou de carro, mas ela me pediu para avisar quando estivesse
indo embora.
— Ela está muito cansada, então é melhor dormir aqui mesmo — contrapõe. —
Amanhã a deixo bem cedo no dormitório para ela se trocar e ir para a aula.
— Está certo — concordo e me viro, porém não resisto e volto a fitar o moreno.
— Qual é o lance de vocês?
Sei que minhas palavras o pegam desprevenido, porque, por alguns segundos,
ele fica desconcertado, porém esconde rapidamente e sorri.
— Ela é minha amiga. A garota que eu mais confio. Só isso, Ashley.
— Se você está dizendo. — Seguro a maçaneta da porta. — Só não a
machuque — aviso e ouço seu suspiro, mas não volto a olhá-lo.
Desço as escadas notando que o Kyle não está mais na sala e o Marley
também não. Decidida a não incomodar, apenas giro nos calcanhares e vou para a
porta. Quando saio e me aproximo do meu carro percebo um veículo preto com
insulfilmes escuros passar lentamente em frente à casa. Um sentimento ruim se apossa
do meu peito enquanto o fito, no entanto, balanço a cabeça e aliso o local tentando
afastar a sensação ruim.
Abro a porta, entro e dou ré saindo da casa do Connor seguindo direto para o
Queens porque estou morrendo de fome.
CAPÍTULO 23 - Connor Harrington

Paro o carro em frente ao dormitório e, depois de desligar, pego a caixa de


bombons no banco ao lado. Desço do veículo fechando o casaco porque, nos últimos
dias, o tempo esfriou consideravelmente. Atravesso a rua correndo e entro no prédio
agradecendo pelo quarto das meninas ser no térreo.
Respiro fundo tentando criar coragem porque sequer avisei para a Ashley que
estava vindo, mas sei que ela está em casa. Encontrei a Brooke saindo do Queens e
ela me disse que a Ash estava atolada de trabalhos da faculdade, inclusive esse foi o
motivo dela não acompanhar a prima e Bethany na festa que vai rolar na fraternidade
dos meninos. Bryan, Logan, Tanker moram na Beta Ômega Phi e sempre rola festas
por lá, porém evito ir nelas porque, além deles três, o idiota do Black e sua turma
moram lá.
Não queria admitir, mas estou morrendo de saudades da Assassina, já que a
última vez que a vi foi na segunda no vestiário e durante todos os últimos dias ela não
saiu da minha mente. Estamos a dois dias do primeiro jogo e durante essa semana eu
só fiz estudar, treinar, pensar nela e dormir de exaustão. Meu corpo, mesmo
acostumado com a pressão pré-temporada, está protestando devido ao nível de
esforço que foi obrigado a se submeter nas últimas quase cem horas.
Deixo os pensamentos de lado, bato na porta e escondo a caixa de bombom
atrás das costas. Pouco tempo depois, ela é aberta e uma Ash toda descabelada surge
bocejando.
— Connor? — Estreita os olhos surpresa ao me ver plantado na sua frente.
Deus, ela ficou ainda mais linda? — O que você está fazendo aqui?
— Soube que estava cheia de atividades, então trouxe algo para adoçar um
pouco a sua noite. — Trago minhas mãos a frente e seus olhos brilham assim que
pousam na caixa de bombom.
— Ai, que maravilha! — exclama animada. — Tudo o que eu estava
precisando. — Ela pega a caixa e olha para o corredor. — Venha, pode entrar. — Abre
espaço e eu adentro o local.
A primeira coisa que vejo é a cama abarrotada de livros, mas é quando ela
fecha a porta e eu me viro que percebo a roupa que ela está usando, que me esqueço
completamente de ver qualquer outra coisa no ambiente. Arquejo quando meus olhos
sobem por suas pernas desnudas e esbarram em um short de minúsculo preto com
uma camiseta colada no mesmo tom. Seus seios fartos estão quase pulando do tecido
para fora e minha boca saliva com a visão.
— Você está precisando de um professor? — pergunto.
— Hã? — questiona abrindo a caixa. — Eu já tenho vários, inclusive eles estão
na missão de me enlouquecer e devo avisar que estão quase conseguindo.
— Digo professor particular. — Volto a me aproximar dela. — Se você prometer
estudar com essa roupa, eu faço todos os seus trabalhos. — Sorrio malicioso.
— Por que você é tão safado?
— Como não ser, com você sendo uma grande gostosa na minha frente? —
Roubo um bombom da caixa, retiro a embalagem e coloco metade na minha boca me
aproximando do seu rosto.
Entendendo o que quero, ela abre a boca e morde o pedaço que sobrou, mas
quando tenta se afastar, eu a seguro e colo nossos lábios. Gemo involuntariamente
quando sinto o gosto de baunilha do bombom e a textura dos seus lábios contra os
meus. Viciante, ela é totalmente viciante!
— Saudades do caralho eu estava de você, Assassina — murmuro
depositando um beijo no seu pescoço.
— Hum, estava? — sussurra se derretendo com meu toque na sua pele.
— Pra caralho! — reforço e volto a fitá-la segurando seu rosto. — Fiquei louco
querendo vir aqui todos os dias, porém eu chegava tão cansado dos treinos que
simplesmente apagava.
— O Bryan comentou que estava insano quando o vi no refeitório ontem —
confessa.
— É, ele passou lá em casa para jogar com os caras, mas estávamos tão
acabados que não rolou. Ele só jantou com a gente e depois voltou para o dormitório.
— Fora o cansaço, estão animados para o jogo? — indaga e eu a solto mesmo
a contragosto.
— Sim — afirmo e me aproximo da cama quando percebo ela começar a juntar
os livros que estão em cima. A ajudo. — Estamos bastante empolgados e torcendo
para vencer.
— Vocês vão. — Ela pega os livros que eu juntei e leva até a escrivaninha. —
Tem algum plano para agora à noite?
— Só ficar com você. — Sou sincero e ela sorri.
— Então que tal a gente assistir um filme? Assim nós dois conseguimos
desestressar dessa semana caótica.
— Acho a ideia perfeita. — Retiro minha sandália, casaco e volto a me
aproximar da cama. — Posso tirar a calça?
— Connor...
— Não por safadeza. — Seu semblante entrega que ela não confia nas minhas
palavras. — É sério. Só é desconfortável ficar deitado com jeans, mas se não se sentir
à vontade está tudo bem para mim.
— Fique à vontade, afinal não tem nada aí que eu não tenha visto — responde
pegando o controle da televisão se sentando ao meu lado. — O que você gosta?
— Deixo a sua escolha — declaro retirando a peça e a colocando junto com o
casaco. Sigo até a cama e recosto-me na cabeceira notando que ela lança uma boa
olhada para a minha cueca. — Deita sua cabeça aqui. — Bato no meu colo e, mesmo
desconfiada, ela se aproxima deitando a cabeça na minha coxa.
Ashley passeia pelos canais do streaming e, quando para em um filme de
fantasia, aperta o play. Gosto da sua escolha e ainda mais de vê-la se aconchegar um
pouco mais no meu colo. Levo meus dedos até o seu cabelo e começo a acariciar seu
couro cabeludo ganhando um ronronado dela.
— Amanhã vamos sair em turma para jogar boliche e distrair um pouco a
mente — digo minutos depois de começar o filme. — Quer vir conosco?
— Não tem treino? — indaga concentrada na tela.
— Temos, porém é mais leve. O treinador tem como técnica tentar nos matar
na semana que antecede o jogo, porém um dia antes é só para aquecer. Ele diz que
não adianta cansar tão em cima do jogo.
— Prefere usar toda a força e resistência para o grande dia. É uma boa
técnica.
— Eu também acho. Então você vem conosco?
— Eu topo. Que horas vocês vão sair?
— As sete da noite. Posso passar aqui para buscar você e a Brooke.
— Por mim está ótimo — concorda e eu sorrio mesmo sem ela conseguir ver.
— Agora vamos voltar a atenção no filme ou não entenderemos nada — pede
bocejando.
— Vamos — concordo fitando a tela à frente tentando prestar atenção aos
atores, mas confesso que é difícil, principalmente quando percebo que ela acaba
dormindo.
É nítido o quanto Ashley está cansada com toda a loucura do curso e devido a
isso eu decido não a acordar. Acomodo-me melhor descendo meu corpo com cuidado
e ela se remexe, no entanto não desperta.
Fito o teto tentando me lembrar da última vez que eu estive na cama com uma
garota e não estava dentro dela, mas nenhuma memoria me vem à mente. Estar com a
Ashley está indo muito além do desejo e essa noite é uma prova disso. Continuo
acariciando seu cabelo e não demoro a relaxar. Apago no mundo dos sonhos pouco
tempo depois.

Abro os olhos, piscando lentamente para me adaptar à claridade que se infiltra


pelas cortinas semiabertas do dormitório. Noto rapidamente que não estou sozinho na
cama e um flash de ontem à noite me vem à memória. Sorrio ao notar Ashley em um
sono profundo agarrada ao meu corpo.
Meu pau dolorosamente duro está perto demais do seu joelho e apenas uma
mexida fará com que ela o sinta, já que sua perna está jogada em cima da minha coxa.
Tento pensar em bruxas, senhorinhas atravessando a rua, acidentes trágicos, mortes
dolorosas, porém nada faz a minha ereção matinal baixar a não ser a boa e velha
mijada.
Mesmo a contragosto tento me mover suavemente, porém no mesmo instante
Ash se remexe, aconchegando-se ainda mais ao meu corpo. Tento mais uma vez
deslizando cuidadosamente para o lado, no entanto, a mínima mudança de posição faz
com que ela puxe meu corpo ainda mais para perto.
Suspiro tentando mais uma vez, mas quando ela volta a me apertar uma risada
sincera desperta de meus lábios porque é nítido que, mesmo dormindo, ela não está
disposta a me deixar sair facilmente.
Levo meus dedos até o seu rosto afastando uma mecha de cabelo que está em
cima da sua bochecha e aliso a pele macia.
— Bom dia, dorminhoca — digo baixinho e ela apenas murmura algo inelegível.
— Precisamos acordar ou iremos perder a aula. — Dessa vez, ela sequer responde. —
Assassina, o dormitório está pegando fogo. — Uso meu tom de voz mais firme e
aumento um pouco o tom.
— Não sou bombeira — murmura, mas logo abre os olhos rapidamente os
arregalando.
— Ei, estou brincando — aviso quando ela faz menção de se levantar. A puxo
novamente para mim e sinto um leve beliscão.
— Eu vou te esganar — rosna afundando a cabeça no meu peito. — Dormimos
juntos? — questiona com a cabeça enfiada nas minhas costelas.
— Dormimos — respondo e afasto um pouco sua perna que estava subindo.
— Não transamos, né?
— Não. Não transamos. Se tivesse acontecido, com toda certeza do mundo
você lembraria. — Ash levanta o rosto e semicerra os olhos.
— Convencido. — Mostra a língua.
— Só digo verdades. — Ela dá risada. — Sei que meu corpo é um ótimo
colchão, mas precisamos realmente nos apressar e eu preciso de um banheiro
urgentemente.
Seus olhos descem para a minha cueca e quando vê a protuberância dá um
pulo da cama.
— Isso não é desconfortável? — Aponta para o meu pau.
— Não, Ash, ele é perfeito desse jeito. Uma verdadeira obra de arte.
— Meu Deus, quem elogia o pau dessa forma? — Cruza os braços sorrindo e
eu dou de ombros. — O banheiro fica naquela porta. — Aponta para trás.
— Tem algum problema eu tomar banho? Se eu for em casa vou acabar
perdendo as primeiras aulas.
— Trouxe roupa?
— Tenho uma reserva no carro — digo, porém me aproximo do banheiro. —
Deixa só eu me aliviar que saio para pegar as coisas.
— Onde está a chave do seu carro? — questiona e eu aponto para a mesa de
estudos indicando o objeto próximo a carteira. — Vai tomando banho que eu busco
para você e assim não perdemos tanto tempo.
— Obrigado — agradeço e saio praticamente correndo em direção ao banheiro.
Suspiro aliviado quando finalmente consigo urinar. Retiro minha cueca por
completo e abro o boxe do banheiro entrando na água. Praguejo quando percebo ela
fria e logo troco a temperatura fazendo com que o vapor se instaure por todo o
ambiente. Olho para o dispenser na lateral e sorrio ao ver diversos produtos para
cabelo e banho. Pego o primeiro que vejo e ensaboo o meu cabelo e corpo sentindo a
fragrância de morango no mesmo instante.
— Connor, suas roupas. — A voz da Ashley diz atrás da porta. — Vou entrar e
deixar na bancada.
— Fique à vontade! — grito sob o barulho da água e logo observo ela adentrar
o banheiro, porém de costas para mim.
— Você está usando meu xampu? — Há incredulidade no seu tom de voz.
— Tem algum problema? — Finjo-me de sonso.
— Não se você usar pouco.
— Eita, eu acabei virando-o de uma vez sem querer quando fui passar —
minto.
— Você fez o quê?! — Sua voz sai esganiçada e ela se vira para mim
rapidamente.
Seus olhos passeiam pelo meu corpo ensaboado e noto um lampejo de desejo
refletir em suas íris esverdeadas. Ash murmura algo que eu não consigo ouvir e passa
a língua pelos lábios enquanto observa meu corpo desnudo.
— Se quiser entrar aqui e aproveitar, eu não me importo de forma alguma. —
Lanço o meu melhor sorriso descarado em sua direção.
— P-Por que... — gagueja e fita meus olhos travessos. — Por que toda vez
que eu tento brigar, você acaba nu na minha frente? — Estreita os olhos em minha
direção.
— Deve ser o destino avisando que foder é muito melhor do que discutir.
— Ha-ha-ha, engraçadinho. — Ela se vira novamente. — Termine logo ou
vamos nos atrasar.
Noto ela sair mais depressa do que o normal do banheiro e sorrio sabendo o
quanto eu a afeto. Meu pau pede para ser tocado, porém não vou me masturbar com
ela do outro lado da porta, não mesmo.
Meia hora depois estamos os dois saindo do meu carro no estacionamento da
universidade. Assim que eu terminei meu banho, Ash foi tomar o dela e eu fiquei
pensando novamente em cenas tenebrosas para não deixar o tesão falar mais alto
porque só de saber que ela estava nua e molhada tão perto de mim meu pau acordou.
— A Brooke me enviou uma mensagem avisando que vai perder a primeira
aula porque passou da hora — Ash avisa guardando seu celular na bolsa.
— Ela dormiu na fraternidade? — questiono enquanto começamos a andar em
direção ao prédio de Humanas.
— Não. Tinha uma mensagem dela de madrugada avisando que voltou com o
Liam e dormiu na sua casa com ele.
— Espero que ele não tenha bebido nada ou vou esganar aquele infeliz —
declaro porque não fazia ideia de que ele tinha ido à festa.
— Não é estranho?
— O quê? — questiono confuso.
— Ela dormir com o Liam sendo que eles não se pegam.
— Bom, eu achei no começo, inclusive jurava que eles se pegavam às
escondidas, mas depois vi que não — respondo e passo meus braços por seu ombro.
— Apesar de que eu acho que tem alguma coisa ali, mas eles fingem que não
percebem.
— Eu não entendo! — resmunga. — Os dois são solteiros e está nítido que tem
mesmo algo. Então por que não se pegar logo?
— O Liam é complicado — aviso cauteloso porque não quero entrar em algo
que não é meu. — Tem alguns problemas e algo me diz que são eles os culpados pela
falta de relacionamento sério.
— Quais?
— A história não é minha. — Ela assente e olha ao redor voltando a me fitar
em seguida.
— Está todo mundo nos olhando — declara baixinho.
— Qual é o problema? — Passo meus olhos pelo campus e percebo que
realmente algumas pessoas nos fitam.
— Combinamos de não contar para ninguém disso que está rolando.
— Não estamos fazendo nada de mais, Ash — aviso despretensioso. — Só
estamos chegando juntos na aula.
— Abraçados — ela contrapõe, mas não se afasta, tampouco retira meu braço.
— Ninguém vai falar nada porque se falarem faço engolir cada palavrinha —
aviso sério.
— Não começa com suas loucuras — pede e dou risada. — Pode me deixar
aqui. — Ela para em frente ao prédio. — Sua aula fica para o outro lado. — Aponta
para a direita.
— Não. Eu vou te deixar na sala.
— Connor, não precisa! — Cruza os braços teimosa.
— Não estou disposto a negociação. — Volto a passar os braços ao redor do
seu pescoço.
— Teimoso — bufa e juntos entramos no prédio. Assim que subimos as
escadas, noto Oliver e seu irmão na frente da sala.
— E aí, caras — os cumprimento com um sorriso e aceno de cabeça.
— Oi, Connor — Patrick responde, mas Oliver apenas acena enquanto seus
olhos fitam eu e ela abraçados.
— Oi, Oliver — ela o cumprimenta sorrindo. — Hoje é o dia de entregar o
trabalho. Mais uma vez, obrigada — agradece.
— Não foi nada de mais — diz cauteloso e se vira para o irmão. — Te vejo no
intervalo. — Entra na sala.
— Boa aula, Ash. — Retiro meus braços do seu pescoço. — Queria te dar um
beijo, mas sei que você vai me matar se eu fizer isso na frente de todo mundo —
sussurro quando aproximo minha boca do seu ouvido.
— Garoto esperto — zomba entrando em seguida na sala e eu saio do prédio
indo para a minha primeira aula.
CAPÍTULO 24 - Connor Harrington

Ashley está linda, não, linda ainda é um elogio muito banal. Ela está
deslumbrante e pode até parecer exagero, afinal ela não está vestida para uma festa
de gala e sim de forma casual com seu vestido de alças finas, soltinho e florido, no
entanto, para mim, ela está perfeita e tenho certeza de que, se vestisse trapos, ainda
assim eu iria continuar achando-a maravilhosa.
— Eu nunca pensei que diria isso, mas aposto minha carreira no hóquei que
você será o primeiro a ser laçado — Liam comenta despretensiosamente se jogando ao
meu lado.
Chegamos ao boliche já tem quase uma hora e desde então nos reunimos para
ver quem era o melhor no jogo. Brooke e ele estão na frente, o que eu já esperava,
afinal ambos são apaixonados pelo boliche e sempre que podem estão aqui.
— Não sei do que você está falando — respondo, porém não viro para encará-
lo porque meus olhos estão fixos na Ash se inclinando para a frente pronta para
arremessar a bola.
Ela é de longe a pior jogadora da turma e até o momento não conseguiu fazer
nenhum strike. O maior problema disso é que ela é muito teimosa e, quando eu e o
Liam oferecemos ajuda, ela nos direcionou um olhar mortal avisando que conseguiria
sozinha.
Noto ela morder a ponta dos lábios e já percebi que esse é um claro gesto de
quando está nervosa ou tentando se concentrar. Sei que ela vai errar porque ela está
fazendo tudo errado: da pegada da bola até como se inclina para o arremesso.
— Cara, só você não percebeu ainda que está caidinho pela Ashley — Liam
torna a falar.
— Eu só estou a fim dela — rebato.
— Você é a fim da Raven, Ollie, Wendy e de qualquer garota que seja bonita e
tenha uma boceta no meio das pernas. — Viro-me para ele e o encontro me encarando
com um sorriso debochado. — E ainda assim, nunca fez para as outras metade do que
faz para ela. — Meneia a cabeça em direção a Assassina.
— E o que eu fiz para ela, vidente amoroso? — Cruzo os braços me
recostando no estofado.
— Você trouxe um cachorro para a nossa casa — responde levantando um
dedo. — Leva bombom para ela. — O fito com a explícita pergunta de como ele soube
disso. — A Brooke disse que viu a caixa quando foi em casa trocar de roupa. — Reviro
os olhos porque ela é uma fofoqueira de plantão. — Algo me diz que naquela noite
você foi atrás dela na biblioteca. — Finjo naturalidade e ele continua: — E hoje andou
abraçadinho pelo campus e ainda foi deixá-la na porta da sala.
— Isso não é nada de mais! — desconverso querendo mudar de assunto.
Sim, eu gosto da Assassina.
Sim, ela me atrai desde o primeiro momento.
Sim, eu quero levá-la para a cama.
Mas é só isso: desejo e talvez uma futura amizade porque aprendi a curtir a
companhia dela.
Nada a mais que isso porque eu não tenho tempo, muito menos pretensão de
me amarrar a ninguém.
E eu continuo fingindo que isso é verdade! Quase posso ver uma tatuagem de
palhaço estampando o meu rosto.
— Ah, e não vamos esquecer que você só falta babar quando está perto dela
— finaliza.
— O que posso fazer se ela é linda pra caralho? — justifico-me.
— Cara, qual foi a última vez que você transou?
— Acho que antes da volta às aulas... — Percebo aonde ele quer chegar
quando o desgraçado sorri e eu fecho o semblante imediatamente.
— Você nunca parou de transar com uma para conquistar outra — constata se
levantando.
— Desisto. — A palavra frustrada da Ashley me salva de responder ao meu
amigo e, quando olho para a frente, observo ela caminhar em nossa direção bufando.
— Vocês fazem essa merda parecer fácil quando na verdade não é. — Se joga ao meu
lado irritada.
— A ajuda ainda está de pé — meu amigo comenta, porém sai praticamente
correndo quando ela o fuzila.
— Vem, vou te ensinar. — Levanto-me e estendo a mão. Ela olha receosa,
porém se dá por vencida e a segura se erguendo.
— Só porque estou cansada de ser a única a não fazer ponto — resmunga.
— Não tem nada a ver com você ficar mais pertinho de mim — zombo e recebo
um tapa como resposta.
Me aproximo do pessoal e agora quem está prestes a fazer a jogada é a
Destiny. Ela está concentrada, porém na hora que se inclina para a frente o Ben dá um
toque na sua cintura fazendo com que ela perca a concentração e erre a jogada.
— Eu vou esganar você, Benjamin! — Destiny praticamente rosna e vai em
direção ao galego atrevido. Ele que não é bobo corre e os dois ficam parecendo duas
crianças enquanto ela tenta alcançá-lo.
— Minha vez! — Kyle grita e vai até a bola, pegando-a. Ele se inclina e
rapidamente a joga, porém só consegue derrubar quatro dos dez pinos. — É, foi melhor
que a Ashley — zomba e a loira estira o dedo do meio para ele.
— Agora ela vai acertar. — Vou até onde fica as bolas e retorno com uma
parando pouco atrás da pista. Ashley se aproxima ficando ao meu lado. — A primeira
coisa que você precisa saber é que o ideal é usar o polegar no furo maior e os dedos
médio e anelar nos menores — instruo e ela faz o que peço. — Agora segure a bola
com as duas mãos e a deixe próximo ao peito.
— Assim? — pergunta e assinto quando vejo que ela segura da forma correta.
— Ande até mais próximo da pista e, enquanto faz isso, estique o braço em
movimento de pêndulo — oriento e ela segue o comando. — Agora use apenas o pé
direito como apoio, se incline e lance a bola no meio da pista deixando o braço
completar o movimento.
Ashley faz o que digo e consegue acertar dois pinos. Quando ela se vira
fazendo biquinho triste, eu já estou com uma nova bola na mão. Repetimos o processo
e é só na quinta vez que ela consegue fazer o strike.
— É isso aí, garota! — Destiny comemora.
— Com ajuda fica muito mais fácil — Kyle zomba.
— Você também precisou ser ensinado pelo Liam — Ben debocha.
— E por mim — Brooke completa arrancando risadas.
— Eu consegui e só isso importa. — Ashley se vira para mim com os olhos
brilhando.
— Não foi tão difícil, né? — pergunto retribuindo o seu sorriso e ela corre em
minha direção. Seguro seu corpo no ar e a rodopio lentamente para que seu vestido
não suba demais.
— Agora já pode dizer que sabe jogar boliche — digo me afastando dela para
controlar a vontade insana que me acomete de beijá-la.
As próximas horas ficamos jogando e entrando em conversas triviais. Quando
encerramos, eu e Brooke somos os que mais pontuaram com Liam atrás. Destiny, Kyle
e Ashley também fazem pontos, porém bem menos que nós três.
Saímos do boliche e vamos direto para o Queens e, ao chegar lá, nos reunimos
na nossa mesa de sempre.
— O que vão querer hoje? — Wendell pergunta assim que se aproxima.
— Pode ser sanduíche para todos? — indago e, quando eles concordam, o
garoto anota o pedido. — E refrigerante estupidamente gelado para acompanhar. —
Wendel assente e depois se afasta para preparar nosso pedido.
— Ashley vai nos ver jogar, né? — Kyle questiona.
— Não tive escolha — brinca e noto ela me olhar, mas desvia rapidamente. —
Amanhã irei, mas não sei se consigo ir em todos porque preciso estudar.
— É difícil conseguir ir em todos — Brooke comenta. — Tem muitos jogos
distante.
— Inclusive só esse primeiro e o quarto jogo que serão aqui em Boston — Ben
avisa. — O restante são todos fora.
— Já sabem onde será a final? — Destiny indaga.
— Em Cambridge — Kyle responde.
— Nesse iremos todos, porque precisamos prestigiar nossa universidade
levantando a taça de campeão! — Brooke declara animada.
— Ela vai ser nossa! — afirmo animado.
— Meu Deus, o Jackson está aqui!! — Destiny diz animada já se levantando.
— E quem seria esse? — Ashley pergunta.
— O ex-namorado dela — Ben responde e noto seu tom de voz sair um pouco
irritado.
— Cuidado, mocinha — seu irmão alerta e vejo ela revirar os olhos.
— Sou bem grandinha, C.A.. — Dou risada do apelido junto com todos, aliás,
exceto o Ben que acompanha Destiny com os olhos até o balcão do Queens, onde ela
já está abraçando o Jackson.
Eles dois namoraram assim que a Destiny entrou na Brisfolk, porém era o
último ano do Jackson na faculdade e eles decidiram não seguir com namoro a
distância, porque ele recebeu uma proposta para trabalhar em Toronto. Parece que ele
está de volta e que os dois ainda mantêm contato.
— Não sabia que ele tinha voltado a morar aqui. — É justamente o Ben que
declara quando retira os olhos da irmã do melhor amigo.
— Também não, mas ficarei de olho — Liam afirma.
— Bethany! — Brooke grita animada e logo a morena se aproxima.
— Oi, galera — Beth nos cumprimenta se sentando.
Bethany é filha do Owen e ajuda o pai no Queens desde que a mãe decidiu
que não aguentava mais ser esposa e dona de casa. Ela não fala muito sobre o
assunto, pelo menos não comigo e os caras, mas lembro que na época foi um fuzuê,
inclusive, o point ficou fechado durante quase um mês.
— O lanche de vocês. — Wendell se aproxima ao lado de um garoto com
nossa comida e acredito que ele seja novo porque nunca o tinha vista no point.
— Destiny, vem comer! — Brooke grita para a amiga, que já está vindo ao
nosso encontro.
— Oi, pessoal — Jackson cumprimenta assim que se aproxima.
— Ashley, esse é o Jackson, meu ex-namorado — Destiny o apresenta, porque
Ash é a única da mesa que não o conhece.
— Prazer, Jackson. — Ela sorri apertando a mão que ele coloca à sua frente.
— Torcendo para que ela me perdoe e esse ex vire atual — o moreno brinca
enquanto se senta ao meu lado.
— Vai sonhando — Liam resmunga na sua frente.
— Vou ao banheiro — Ben avisa se levantando de repente, porém sai sem
esperar resposta.
— O que deu nele? — Bethany pergunta estranhando a reação abrupta do
nosso amigo e vejo todos olharem para o Ben a caminho dos banheiros.
— Ele me disse no caminho que estava com um dor incômoda na barriga —
minto e percebo Ash me fitar porque ela veio no carro conosco e sabe que isso não
aconteceu, porém se mantém calada talvez percebendo o mesmo que eu. — O
incômodo deve ter voltado e por isso ele saiu às pressas — justifico.
Todos dão risada parecendo acreditar nas minhas palavras, entretanto uma
pulga se instala atrás da minha orelha. Ninguém percebeu, mas eu que estou na frente
dele notei os olhares furtivos que ele direcionou para o ex-casal. Benjamin não estava
gostando nada da interação entre Destiny e Jackson e isso começa a acender um
alerta dentro de mim. Minha mente rapidamente se lembra do dia que ele ia me contar
algo, na tarde que estava com a mente longe do treino, porém desistiu quando o Liam
se aproximou.
Merda, eu espero estar errado porque, se tem algo rolando entre Ben e
Destiny, a Brisfolk vai pegar fogo, afinal Liam jamais aceitaria que seu melhor amigo
comesse a irmãzinha dele.
CAPÍTULO 25 - Ashley Moore

Assim que passo pelo portão principal da arena, meus olhos arregalam
surpresos com a quantidade de pessoas que estão aqui. O ambiente já está
praticamente lotado e do lado direito todos estão vestidos com a cor do nosso time:
preto com vermelho, inclusive nós quatro.
— Caralho, já começamos muito bem! — Brooke diz animada.
— Eu sabia que estaria lotado — Destiny comenta.
— É claro que estaria — Bryan declara se aproximando com dois baldes de
pipoca. — É o primeiro jogo dos Black na temporada.
Meu peito aperta com saudades do meu pai e, por alguns segundos, eu fecho
os olhos pensando nele, no quanto ele amava essa multidão, a euforia. Entretanto, logo
torno a abri-los decidida a aproveitar porque é isso que ele iria querer.
Confesso que eu também estava morrendo de saudades dessa loucura.
Minha mente retorna ao passado lembrando do quanto fui burra e cega ao
fazer todas as vontades do Petter e uma delas era não ficar na multidão, porque, para
ele, eu chamava atenção demais e isso poderia atrapalhar seu desempenho no jogo.
No início achei estranho, mas depois ele me fez acreditar que era apenas preocupação.
Que não conseguiria jogar direito pensando que alguém poderia me machucar.
Droga, como eu fui burra! Se eu estivesse com ele, ainda era capaz de o
imbecil me trancar dentro de casa apenas para eu não sair e outros homens me
olharem.
— Vamos ou daqui a pouco vai ficar impossível ir mais para a frente — Brooke
nos chama arrancando-me das lembranças ruins e mentalmente agradeço por isso
enquanto começamos a caminhar pela área de baixo da arquibancada em direção aos
nossos assentos.
Meu tio liberou ingressos exclusivos, que nos dão direito a assistir à partida na
área que os alunos consideram VIPS por serem próximos à arena e por onde os
jogadores passam quando entram no gelo. Como era de esperar encontramos os
quatro assentos vazios e rapidamente nos sentamos.
— Falta quanto tempo para iniciar? — pergunto.
— Dez minutos — Brooke responde olhando seu celular. — Deus, até terminar
o jogo você não vai ficar com nenhum dedo. — Ela dá um tapa na mão da Destiny, que
só falta comer as unhas.
— Tá bom, parei — a morena garante nervosa retirando os dedos da boca.
Passamos os próximos minutos falando sobre os meninos e o adversário. A
universidade de Detroit é bem conhecida e joga muito bem, pelo que Bryan comenta.
Quando menos espero, a multidão se levanta entoando o apelido do time e percebo as
líderes de torcida nas escadas dançando com roupas e pompons nos tons do time
animando ainda mais a torcida.
Meus olhos correm em direção à entrada e logo vejo os jogadores saindo por
ela, vindo em minha direção. Meu peito aperta de uma forma diferente ao ver Connor
na frente e, quando ele percebe que estou na cadeira do corredor, me direciona um
sorriso seguido de uma piscadela.
Connor já é bastante alto e forte, mas com toda a roupa e equipamentos do
hóquei ele parece ficar duas vezes maior. Quase posso sentir as borboletas fazerem a
festa quando, ao passar ao meu lado, sua mão encosta na minha.
A torcida vai à loucura quando eles entram no gelo e eu me viro disposta a não
perder um segundo sequer. Percebo o time rival entrar pelo outro lado e, antes que eu
tenha tempo de processar qualquer coisa, a partida se inicia.
A arquibancada ecoa com os gritos quando os jogadores começam a deslizar
pelo gelo. Foco minha atenção no camisa vinte e três notando o quanto ele é rápido.
Connor desliza com uma maestria impressionante, driblando o adversário e cortando o
ar com o puck. Sinto meu peito acelerar com o decorrer dos primeiros minutos, mas é
quando o Connor avança contra um cara ainda maior do que ele e consegue
ultrapassá-lo acertando o puck no gol que eu fico com medo de infartar durante o jogo.
Todos vão à loucura gritando “Black WildCats” e tanto eu como Bryan e as
meninas nos levantamos empolgados, comemorando o gol. A partida segue, porém
logo se encerra o primeiro tempo, eles voltam para o vestiário e, mais uma vez, sinto
sua mão encostar na minha.
Quando o segundo tempo começa estamos eufóricos, porém nesse os
meninos não marcam nenhum aumentando a chance de Detroit virar. De longe, vejo o
meu tio sério enquanto conversa com eles próximo a outra entrada porque, dessa vez,
eles não foram para o vestiário.
O terceiro e último tempo se inicia e está nítido que Detroit está em cima,
inclusive um dos caras que o Bryan comentou ser atacante vai com tudo para cima do
Ben e o derruba feio no gelo. A plateia geme enquanto Destiny solta todos os tipos de
palavrões existentes ao perceber que o galego vai para o banco mancando. Observo
Liam se aproximar do babaca que derrubou o Ben e algo me diz que ele está pronto
para brigar, mas Connor entra no meio e, depois de dizer algo, o amigo se afasta
desistindo de ir até o rival. Um dos reservas entra no lugar dele e a partida reinicia.
— Quem é esse? — praticamente grito apontando para o cara que acabou de
entrar.
— Tanker, ele é o melhor reserva do time, então estamos bem com ele —
Brooke responde vidrada no jogo e eu faço o mesmo.
Mesmo vencendo é angustiante cada segundo que se passa sem os Black
marcar, porque o rival está afiado nesse último tempo, porém eles não conseguem ser
páreos para os Black e, depois de se chocar com força contra o capitão do outro time,
Connor passar o puck para o Liam que acerta em cheio dentro da rede. Pulamos
animados e, mais uma vez, a arena vai à loucura.
O barulho é ensurdecedor, no entanto, é justamente ele que traz a
empolgação. A euforia dos torcedores, os gritos entoando o apelido do time. Tenho
certeza de que tudo isso contribui para os meninos na arena. Meus olhos não desviam
do Connor que desliza pelo gelo, driblando os oponentes, se chocando com força com
os outros jogadores e não me resta dúvidas de que ele ficará com alguns hematomas
depois da partida. Ele passa na velocidade da luz pela defesa de Detroit e quase posso
ver o sorriso presunçoso em seu rosto quando acerta em cheio dentro do gol marcando
o terceiro ponto para Brisfolk.
— Porra, ele é uma máquina! — Bryan grita empolgado enquanto, mais uma
vez, todos se levantam para comemorar.
O relógio marca menos de um minuto para encerrar e o time de Detroit está
desesperado. Os Black não dão sossego e finalizam o jogo com a vitória de três a zero.
É surreal a energia dentro da arena quando o apito final soa e levamos a vitória. Vejo
eles comemorarem e sinto uma vontade absurda de ir até Connor e parabenizá-lo,
porém me controlo.
— É isso, porra, somos os melhores! — minha prima grita animada e me puxa
para um abraço.
— Caralho, estou toda arrepiada — declaro quando ela se afasta.
— Vamos para o Queens que eles vão comemorar lá — Destiny comenta
enquanto saímos dos nossos lugares.
Eu, ela, Brooke e Bryan nos embrenhamos em meio ao pessoal que também
está saindo. Nos desvencilhamos da galera e logo estamos passando pela saída.
— Você dirige. — Minha prima joga a chave para o nosso amigo quando
chegamos ao estacionamento.
— Você está muito boca de álcool — Bryan implica, porém pega a chave no ar
e logo estamos entrando no carro seguindo caminho até o Queens.

O point está lotado!


Sério, nunca vi esse lugar tão cheio quanto essa noite e sei que é devido a
vitória dos meninos. A música pulsante ecoa pelo Queens se misturando aos risos
animados e os brindes entusiasmados. Os meninos chegaram há pouco tempo e foram
recebidos com assovios, abraços e felicitações.
Tento não demonstrar o quanto estou empolgada quando percebo os quatro se
aproximarem. Eles já retiraram todo o equipamento, porém os quatro estão vestindo
blusões vermelhos com o emblema do time e o número gravado neles, inclusive o do
Connor é o mesmo que eu vesti quando patinamos juntos na arena.
Eles são um espetáculo, cada um deles, mas é apenas o capitão que me fita
safado fazendo com que meu coração acelere como se tivesse acabado de sair de uma
maratona de corrida.
— Você está bem? — Destiny é a primeira a falar olhando para o Benjamin
quando eles chegam até a nossa mesa.
— Só um hematoma na costela. — Ele levanta o tecido e já é nítido uma
mancha levemente arroxeada na pele.
— Droga, um senhor hematoma — comento.
— Vou sobreviver. — Ele se senta ao lado da morena, que o fita preocupada.
— Isso não é nada comparado ao que ainda vem pela frente — Kyle declara
sentando-se do outro lado da Destiny.
— Parece que a Assassina nos deu sorte — Connor comenta se jogando ao
meu lado. — Quero você tocando na minha mão em todos os jogos.
— Como se eu fosse em todos. — Sorrio. — Mas sério, parabéns, vocês foram
fodas.
— É, fomos sim — Liam rebate convencido e se senta na ponta do banco, bem
ao lado da Brooke.
— Então, beber para comemorar? — Kyle pergunta.
— Só duas rodadas no máximo — Connor alerta.
— Owen! — Ben grita. — Manda uma rodada de chope.
— Saindo em instantes! — o proprietário grita de volta.
Durante a próxima hora ficamos conversando animados sobre a vitória e os
meninos informam que, no próximo final de semana, vai acontecer mais dois jogos e
ambos serão fora de casa. Eles estão empolgados e com a certeza de que esse ano
trarão a vitória para casa. Diversos alunos passam por nossa mesa cumprimentando os
meninos e só nessa noite realmente entendo o quanto eles são amados dentro da
Brisfolk. Eles são as celebridades do campus e, quando percebo a quarta garota se
aproximar, praticamente se jogando em cima deles, eu puxo a Brooke para ir ao
banheiro comigo.
Faço minhas necessidades e a espero do lado de fora quando é a vez dela.
— Você vai dormir no alojamento? — pergunto assim que ela sai.
— A Raven me mandou uma mensagem agora avisando que vai rolar uma
festa na Nu Zeta em comemoração à vitória.
Um relâmpago clareia o Queens e, quando olho para fora, percebo que o
tempo está se fechando.
— Ah, se divirta então, mas com cuidado, viu, mocinha?
— Você não vem com a gente? — pergunta enquanto nos desvencilhamos do
pessoal voltando para a mesa.
— Estou cansada e o tempo está fechando. — Ela olha lá para fora e suspira.
— Não estou a fim de voltar de madrugada com o temporal que está preste a cair,
tampouco dormir na festa.
— Eu entendo. — Brooke franze os lábios sabendo os meus motivos.
Olho para a nossa mesa e sinto uma fisgada no peito quando vejo Allie ao lado
do Connor, apoiada em seu ombro. Ele está falando algo e a risada dela é tão alta, que
chega até onde estamos. Estaco no lugar notando o quanto eles estão íntimos e odeio
o amargo que se apossa do meu estômago.
— Eu vou indo daqui, tá? — Brooke segue meu olhar vendo a cena à frente.
— Não, não vai mesmo. — Vem para a minha frente. — Ela só está se jogando
para cima dele como sempre faz, mas ele não está nem aí.
— Não é por isso. — Forço um sorriso deixando a mentira fluir. — É só que
estou cansada mesmo.
— Ashley Moore...
— Prometo. — Deus, quando me tornei essa mentirosa? — Avisa para eles,
tá?
— Você é teimosa — murmura e eu dou uma última olhada notando que agora
o Connor me fita e que Allie sentou onde eu estava.
— Se cuida — digo para a minha prima fugindo do olhar do capitão e viro-me
indo em direção à saída.
Meu peito está apertado e odeio o sentimento que se apossa dentro dele. Eu e
o Connor estamos apenas nos pegando, nada de mais. Combinamos a exclusividade,
mas minha regra de não contar a ninguém o deixa livre para que as garotas continuem
caindo em cima dele.
Droga, eu não deveria ter beijado ele, sequer aceitado essa ideia idiota de
continuar nos pegando até essa atração idiota sumir. Agora estou puta da vida pelo
simples fato de outra garota estar perto dele.
Como não tem nada ruim que não possa piorar leva apenas em torno de cinco
minutos de caminhada para uma garoa fina começar a cair sobre a minha cabeça e
menos de dois para ela se transformar em uma tempestade.
CAPÍTULO 26 - Connor Harrington

A chuva torrencial dificulta minha visão e dá um trabalho danado para os


limpadores do para-brisa. Não sei o que diabos ela tinha na mente quando decidiu sair
a pé sozinha no meio desse temporal. Estranhei quando a vi se afastando, mas foi só
quando a Brooke chegou à mesa que realmente entendi que ela tinha ido embora.
Saí rapidamente do Queens, mas só lembrei que estava sem carro quando
cheguei ao estacionamento. Como estava chovendo bastante e eu não consegui
avistá-la na rua, voltei para pegar o do Kyle emprestado. Estreito os olhos quando vejo
uma silhueta baixinha mais à frente andando.
— Entra no carro! — grito quando baixo os vidros me aproximando de onde ela
está.
Ashley dá um pulo assustada, mas, quando se vira e percebe que sou eu atrás
do volante, relaxa um pouco.
— Não! — exclama gritando e voltando a andar.
Dou partida no carro me aproximando novamente e noto ela abraçar a si
própria, provavelmente se protegendo do frio.
— Ashley, está tentando se matar? — brado e ela para, virando-se nos
calcanhares para me fitar novamente. — Entra na droga do carro e eu te deixo em
casa.
— Connor, eu não vou entrar — avisa com o queixo tremendo. — Pode ir
embora.
— Caramba, garota, para de ser teimosa uma vez na vida.
— Não é teimosia! — rebate.
— O que eu fiz para você não querer aceitar sequer minha carona? — indago,
mas algo me diz que tem a ver com a Allie praticamente se jogando em cima de mim
no Queens.
Assim que ela se aproximou quando a Ashley foi no banheiro, eu cortei
qualquer intenção que ela pudesse pensar que eu tinha, porém a garota consegue ser
insistente e, mesmo eu focando em conversar com os meninos, ela se sentou no lugar
da Assassina e engatou na conversa da gente.
— Já estou perto. Pode ir embora. — Me dispensa retornando a caminhada.
Perto um caralho!
De onde estamos até o dormitório das meninas são quase dois quilômetros e
uns quase vinte minutos de caminhada. Fecho o vidro do carro quando percebo que o
banco está todo molhado e que ela está fingindo que não estou aqui, como uma boa
teimosa que é.
Seguro o volante com força tentando pensar em algo, mas a conheço o
suficiente para saber que ela não vai entrar na droga do carro enquanto estiver puta
comigo, mesmo sem eu ter feito absolutamente nada de errado.
Eu deveria fazer o contorno e ir embora para aproveitar a festa da Nu Zeta,
porque todos estarão lá comemorando a vitória do time. Deveria esquecer essa coisa
louca dentro de mim e foder a primeira garota que aparecer para esquecer a Ash, esse
é o correto a se fazer, afinal a temporada começou e eu não posso sequer pensar na
possibilidade de pegar um resfriado, mas, caralho, só de pensar em deixá-la caminhar
isso tudo sozinha debaixo da chuva sinto meu peito queimar.
Respiro fundo, estaciono o carro no acostamento e saio de dentro dele
sentindo a chuva me ensopar em menos de cinco segundos.
— Ashley! — grito seu nome já correndo em sua direção. — Espera.
— Volta para o carro, Connor — pede parando de andar, apontando para o
veículo atrás de mim.
— Só quando você for comigo. — Cruzo os braços para aplacar o frio enquanto
chego a sua frente.
— Você vai pegar um resfriado — avisa. — Só vai embora, por favor.
— O que eu fiz, caramba?! — grito frustrado sentindo o frio me castigando
mesmo sobre o blusão grosso e a calça jeans.
Deus, se eu estou sentindo tanto a chuva ela deve estar congelando só com o
jeans e a blusa fina de mangas compridas.
— Nada. Você não fez nada! — brada irritada. — O mundo não gira ao seu
redor, capitão. — Odeio o escárnio em sua voz.
Ashley volta a se virar, porém eu seguro seu braço delicadamente fazendo com
que ela volte a me fitar e sinto meu coração errar uma batida quando constato seus
olhos vermelhos e, mesmo debaixo da chuva, é nítido que ela está chorando.
— Droga, não quer ir comigo, beleza? Mas vai dirigindo — apelo e ela nega
com um movimento de cabeça. — Eu volto correndo, mas só entra no carro — peço por
um fio de voz, porém ela volta a negar.
— Não... não consigo. — Sua voz sai derrotada. — O acidente...
— Hã? — Solto seu braço levando meu dedo até o seu queixo quando ela
abaixa o rosto. — Não estou entendendo — Abrando minha voz porque é nítido que
algo a está machucando.
— O acidente que levou meu pai — murmura me olhando e vejo as lágrimas
silenciosas descerem. — Naquela noite estava chovendo muito. Não consigo entrar em
um carro quando está com temporal.
Meu coração erra uma batida ao notar a dor nua e crua nas suas palavras e
rapidamente a puxo para os meus braços. Um soluço irrompe de dentro dela no
instante que seus braços me apertam com força. Sinto como se alguém estivesse
perfurando meu peito enquanto ela libera toda a sua dor através do choro.
A chuva para mim não importa mais, o frio castigando minha pele se torna
irrelevante enquanto ela está agarrada ao meu corpo tão vulnerável, porém seu corpo
molhado e seu queixo tremendo no meu tórax ligam o alerta que ela já está a tempo
demais no frio. A afasto e rapidamente retiro meu blusão mesmo estando encharcado.
— O... o que você está fazendo? — indaga, mas eu já estou passando ele por
sua cabeça. — Não... você vai congelar.
— Vamos sair dessa chuva e, já que você não vai entrar no carro, a gente vai
correr.
— Connor, você pode ficar doente. Tem a temporada — rebate.
— Foda-se os jogos — digo sério e ela termina de vestir o blusão. — Não vou
deixar você sozinha na droga dessa tempestade.
— Não precisa! — revida, mas suas palavras saem tristes. — Me desculpa por
não conseguir ir nele.
— Aceito suas desculpas se você correr — brinco tentando aliviar o clima e
seguro sua mão. — No três: um, dois, três! — grito quando termino a contagem, ela
aperta minha mão e juntos saímos em disparada pela rua deserta como dois loucos.
No final talvez eu realmente esteja louco porque só isso explica eu estar
correndo no meio da rua, sem camisa, debaixo da chuva e com uma garota que eu
conheci há apenas alguns meses.
É, estou maluco, mas é justamente pela garota que está me fazendo cometer
essa loucura e arriscar os próximos jogos.

— Isso deve servir. — A voz contida da Ash retira minha atenção da foto que
está na sua cabeceira e vejo ela esticar uma roupa masculina em minha direção.
Estreito os olhos. — É do meu pai. Fiquei com ela depois que ele se foi.
— Obrigado. — Pego as peças de roupa e volto a olhar para o quadro. — Sua
mãe? — indago vendo que Ash é a cópia mais nova da mulher no retrato.
— Sim. Essa foto foi no meu aniversário do ano passado — responde sorrindo.
— A Torre Eiffel é isso tudo mesmo que falam? — pergunto porque a fotografia
foi tirada em frente ao monumento.
— Sim. Um espetáculo, inclusive pretendo voltar.
— Quando é o seu aniversário?
— Dia primeiro de março e o seu?
— Vinte de novembro.
— Daqui a vinte dias. — Seus olhos brilham de empolgação. — Perto do Dia
de Ação de Graças.
— É, mas cairá em dia de jogo — aviso e seus ombros caem desanimados. —
Se vencermos comemoro os dois, se perdermos...
— Vocês não vão perder — me interrompe. — Agora vá tirar essa roupa
molhada.
— Quer me ajudar? — Seu olhar assassino me faz levantar as mãos em
rendição.
— Volto já. — Corro até o banheiro retirando a calça jeans e a cueca.
Espremo os dois e os estendo no boxe do banheiro aproveitando para tomar
uma ducha rápida e quente. Meu corpo está gritando pelo frio, mas também pelo
esforço da corrida depois do jogo insano que fiz. Volto em minutos para o quarto
percebendo que ela apagou as luzes, ligou a televisão e está embaixo das cobertas.
— Obrigada por hoje à noite e mais uma vez desculpa.
— Só não faz isso mais, ok? — Ela assente. — Da próxima vez, espera a
chuva passar. — Assim que minhas palavras saem, o clarão de um relâmpago
atravessa a janela.
— Como você vai para a festa? — pergunta olhando de soslaio para o temporal
lá fora.
— E quem disse que eu vou a festa? — Me aproximo da cama.
— Não? — pergunta cautelosa.
— Só se for me expulsar, mas caso isso não acontecer tenho pretensão de
ficar a noite inteira agarrado ao seu corpo para nos esquentar.
— Minha pessoa não tem nada contra essa sua ideia. — Ela sorri, meu
estômago revira.
Entro embaixo das cobertas e puxo seu corpo para o meu. Ambos já estamos
mais quentes por causa da ducha, ainda assim, o frio está presente. Ashley fica de
costas para mim e sua bunda pressiona diretamente o meu pau e eu tento me controlar
para não ostentar uma ereção.
— Você fez terapia depois que seu pai se foi? — indago começando a acariciar
sua barriga por baixo do tecido.
— Sim — responde baixinho. — Mas nunca falei sobre a questão do carro.
— Por quê?
— Parecia algo irrelevante diante de todo o sofrimento que eu tinha na época.
Eu pensei que sequer conseguiria entrar mais em um carro, mas a terapia ajudou
nisso.
— Você estava no veículo no dia do capotamento, né?
— Estava — confirma. — Meu pai sempre voltava no ônibus do time, mas
naquela noite era seu aniversário de casamento, então ele queria chegar mais rápido.
— É notável a dor nas suas palavras. — Estava tudo perfeito até começar a chover
muito e, em uma curva, o carro que vinha na pista contrária perder o controle e colidir
no da gente.
— Deve ter sido um pesadelo — constato baixo.
— Foi horrível, Connor. — Um soluço baixinho irrompe e eu a aperto mais. —
Não lembro de muita coisa, mas quando retornei já estava na ambulância. Em seguida
veio a notícia de que ele não tinha resistido.
— Deus, eu sinto tanto! — Beijo sua cabeça tentando passar algum conforto.
— Meu pai era super-responsável no trânsito, mas tínhamos acabado de
abastecer e ele esqueceu de colocar o cinto de segurança quando saímos do posto —
continua. — Quando o carro capotou, ele foi arremessado para fora dele.
— Você estava de cinto?
— Sim e foi justamente essa minha sorte — completa e vejo ela levar a mão
até o rosto para enxugar as lágrimas. — Mas podemos falar de outra coisa? — pede se
aconchegando ainda mais ao meu corpo. — Já deu a cota de tristeza por hoje.
— Acho que tenho uma ideia melhor — aviso virando-a para mim.
— Qual?
— Essa — respondo já colando nossos lábios.
CAPÍTULO 27 - Ashley Moore

Os lábios do Connor encostam nos meus assim que suas palavras evaporam e
um gemido baixinho escapa dos meus lábios quando nossas línguas se encontram em
uma dança sensual. Ele me puxa para mais perto, colocando minha perna em cima da
sua cintura, encaixando perfeitamente nossos corpos e cada toque provoca uma
sensação calorosa enviando arrepios por todo o meu corpo fazendo com que os pelos
se ericem.
Enquanto aprofundamos o beijo, sinto sua ereção tocar minha barriga fazendo
minha boceta latejar com o desejo pulsante, ansiando por ele. Suas mãos curiosas
começam a passear pela lateral do meu corpo e enquanto uma vai para minha nuca a
outra estaciona na minha bunda a apalpando com força.
Connor solta meus lábios apenas para descer sua língua pelo meu pescoço e
aproveito para tentar controlar a respiração descompassada, mas falho no processo.
Sua língua sedenta caminhando por meu pescoço desnudo e o lóbulo da orelha
aumenta ainda mais o meu desejo.
Ouço o som da chuva bater na janela e ela se mistura aos nossos murmúrios
compartilhados. Aperto seu braço e desço minha mão pela camisa sentindo nos meus
dedos os gominhos do seu peitoral.
Nossos corpos há pouco tão gelados estão praticamente entrando em
combustão nesse momento.
— Connor... — murmuro seu nome sem saber exatamente o que estou
pedindo.
— Se quiser que que eu pare é só avisar — declara rouco antes de deixar uma
mordida suavemente na minha pele.
— Não — aviso e ele geme trazendo seu rosto de frente para o meu.
Suas íris escuras estão exalando desejo enquanto me encaram intensamente.
Me esfrego descaradamente em sua ereção procurando algum atrito.
— Você é a minha perdição — declara rouco. — E eu preciso urgentemente
provar você, Assassina.
Há um pedido mudo no seu olhar e eu sei que não vou conseguir voltar atrás
porque meu corpo está em chamas, clamando pelo dele. Assinto e o meu sorriso
favorito brota em seu rosto. Connor se afasta, levanta se livrando das roupas e volta a
sentar na cama retirando a coberta de cima de mim. Suas mãos vêm para a minha
cintura e, mais uma vez, ele me pede permissão e basta uma mordida nos lábios para
que a calça do meu pijama seja puxada para baixo.
— Porra! — praticamente rosna quando vê o tecido da minha calcinha
minúscula. — Alguma intenção de me matar? — brinca jogando a calça no meio do
quarto.
— Não ouse morrer agora porque eu preciso gozar — respondo rapidamente.
— E você vai, como vai — declara passando a língua pelos lábios e tremo de
expectativa quando ele se inclina para baixo, levando o rosto até a minha boceta.
Connor inala meu cheiro antes do seu dedo tocar a minha calcinha. — Caralho, você
está toda molhada, Ash.
— Desde que você deitou comigo — aviso e seus olhos em chamas procuram
os meus, mas rapidamente voltam a fitar minha amiga de baixo retirando a renda
vermelha.
— Caralho, que boceta mais linda. — Praticamente rosna erguendo minhas
duas pernas, se enfiando no meio delas.
Agarro o lençol com força quando sua boca beija a parte interna das minhas
coxas me provocando. Connor não tem pressa enquanto sobe lentamente sua língua
por minha pele e, quando ela finalmente encosta no meu clitóris, eu arquejo sentindo
uma eletricidade me atropelar.
Sua língua afoita lambe cada centímetro de pele da minha boceta, revezando
com mordidinhas nos pequenos e grandes lábios. Eu me remexo inquieta, ele me
tortura ainda mais.
— Porra, isso é muito bom! — murmuro.
Connor volta a segurar meu clitóris já sensível e inchado. Ele suga irradiando
prazer para todas as minhas terminações nervosas aproximando ainda mais o
orgasmo. Gemo seu nome, seguro seu cabelo implorando por mais, ansiando por mais
e, como se soubesse exatamente o que fazer, insere dois dedos começando a me
foder com eles.
É a minha ruína!
As paredes internas da minha boceta apertam seus dedos, minhas mãos
bagunçam seu cabelo e eu me inclino levemente para cima sentindo tudo em mim
desmoronando, quando uma onda de prazer avassaladora se apossa do meu corpo.
— Caralho... — gemo, não, grito ensandecida. — Porra, Connor.
Ele continua me lambendo, tomando cada mísera gota do meu prazer
enquanto eu praticamente convulsiono abaixo do seu rosto.
Meu corpo inteiro treme, minha respiração falha e eu solto seu cabelo levando
as mãos até a cabeça tentando controlar essas coisas loucas dentro de mim. Esse
prazer insano!
— Você é deliciosa, Ash.
Olho para ele e o vejo lambendo os dois dedos que há pouco estavam dentro
de mim.
Seu pau em toda sua glória está duro e minha boca saliva com a visão das
veias saltando, da cabeça rosada e mesmo daqui posso ver um líquido brilhando na
glande. Porra, ele conseguiu ficar ainda maior do que a última vez que o vi.
— Ele está implorando para te foder, mas eu não tenho camisinha — murmura
desanimado.
— Segunda gaveta da minha escrivaninha — aviso e seus olhos brilham
enquanto ele praticamente sai correndo até onde instruí.
— Eu poderia te pedir em casamento agora só por você ser uma garota
prevenida — murmura voltando à cama.
Connor fica de joelhos, porém não abre o preservativo. Ele se inclina e, quando
entendo o que vai fazer, me inclino o ajudando a retirar minha camiseta fazendo com
que meus peitos saltem para fora.
— Você é perfeita, completamente perfeita! — declara enquanto traz suas
mãos para a minha pele.
— Connor... — murmuro seu nome quando sinto seus dedos apertarem o bico
intumescido.
Ele não responde porque se abaixa os abocanhando faminto. Sua boca suga
um enquanto seus dedos apertam o outro. Sinto uma leve dor com o beliscão, mas ela
não é nada comparada ao prazer que me cerca. Connor passa um bom tempo se
deliciando, mamando com gosto e deixando-os ainda mais sensíveis.
— Preciso entrar em você — declara soltando meus seios, mas antes de vestir
o preservativo ele deposita beijos pela minha barriga. — Gostosa dos infernos.
Sorrio enquanto observo ele vestir rapidamente a camisinha no seu pau, mas
noto que ela não o cobre completamente.
— Não lembrei que deveria ser uma camisinha monstro para você — brinco e
ele me fita convencido.
— Essa vai ter que servir — avisa colocando um braço de cada lado da minha
cabeça. — Caralho... — rosna quando encosta seu pau na minha entrada. — Mesmo
com o preservativo posso sentir sua boceta pegando fogo.
— Ahhhh... — gemo quando ele desliza pela entrada escorregadia.
Minha boceta protesta de início enquanto tenta se acostumar com algo que ela
não tem há meses, principalmente algo tão grande.
— Você é virgem? — Sua pergunta sai alarmada.
— Não — nego rapidamente. — Só faz bastante tempo e você é grande pra
caralho.
— Se ele fez é porque cabe — zomba deslizando ainda mais. — Estou fodido!
“Estamos, capitão, estamos!”, penso, mas não digo em voz alta porque ele
começa a se movimentar arrancando completamente minhas palavras e meu fôlego.
— Gostosa... — geme enquanto traz sua boca a minha chocando nossos lábios
com força.
O barulho da chuva se intensifica, os nossos corpos se fundindo preenchem o
ambiente. Nossos gemidos se misturam enquanto ele me fode com força me
mostrando o que realmente é foder de verdade.
— Deus, isso é muito bom — digo com a respiração ofegante e os lábios em
chamas quando ele desgruda sua boca da minha.
— Já me chamaram de muita coisa, Ash, mas Deus é a primeira vez — brinca
malicioso e rapidamente bloqueio a mera ideia de que ele já esteve com outras
mulheres.
Empurro seu tórax e ele me olha confuso, mas rapidamente seu semblante
muda quando percebe o que estou fazendo. Passo minhas pernas por seu corpo,
colocando uma de cada lado da sua cintura. Seguro seu pau e o encaixo na minha
boceta molhada.
— Puta que pariu! — rosna jogando a cabeça para trás quando começo a
deslizar. — Porra! — pragueja, mas volta a me fitar enquanto traz suas mãos para a
minha cintura.
— Ahhh... — Connor movimenta meu quadril, talvez entendendo que não
consigo suportar todo o seu pau nessa posição.
— Linda, tão linda — geme enquanto nos encaramos. — Nunca vou cansar de
dizer o quanto você é linda, principalmente engolindo o meu pau com essa sua boceta
gulosa.
Suas palavras sujas me excitam ainda mais despertando um lado que eu
sequer sabia que gostava.
— Gosta da visão? — Mordo os lábios enquanto ele assente.
— A melhor do mundo!
Sorrio sentindo meu coração bater descompassado compreendendo que nunca
foi tão bom e intenso dessa forma. Jamais senti tanto desejo e ânsia por alguém.
Nunca transei olhando dentro dos olhos da forma que estamos agora.
É como se um fio invisível estivesse nos ligando através do olhar nos
mostrando o quanto isso é intenso e surreal. O quanto a nossa química é única e
constatar que talvez essa única vez não seja suficiente me assusta.
Abaixo-me e deixo ele assumir o controle fugindo da força de seu olhar.
Quando minhas pernas pedem socorro, Connor me coloca de quatro e volta a entrar
em mim.
Ele vai cada vez mais fundo.
Eu grito mais alto esquecendo que, provavelmente, as outras garotas que
moram no prédio podem nos escutar.
Ele geme e sinto seu corpo retesar anunciando a chegada do orgasmo.
Quando Connor estoca uma última vez, eu gozo pela segunda vez no mesmo
momento que ele. Jogo meu corpo exausto no colchão e sinto um vazio me preencher
rapidamente quando Connor sai de dentro de mim caindo ao meu lado.
Viro meu rosto encontrando seu olhar fixo em mim enquanto tentamos a todo
custo controlar a respiração errática. A certeza de que estou entrando em uma furada
me acerta precisamente e o medo começa a se instalar pelos meus poros porque é
nítido que, se isso continuar, meu coração vai sair machucado.
Só me resta saber se ele irá aguentar ser quebrado mais uma vez.
CAPÍTULO 28 - Connor Harrington

— Você precisa ir embora. — Ouço a voz da Ash distante e forço-me a abrir os


olhos notando que a chuva deu lugar à claridade do dia.
— Que horas são? — questiono ainda grogue voltando a fechar os olhos.
— Seis e meia. — Jogo meu braço para o seu lado, mas ele encontra o vazio e
só então volto a passar meus olhos pelo quarto notando que ela está sentada na cama
da Brooke me encarando. — Está cedo. Volta para cama — chamo, porém ela nega.
— Daqui a pouco, a Brooke chega e não quero que veja você aqui. — Sento-
me rapidamente tentando acordar porque é nítido que algo mudou.
— Ela não sabe da gente? — indago confuso.
— Sabe, mas...
— Mas o quê, Ashley? — Ela vira o rosto examinando o quarto fugindo de me
mim. — Olha para mim — peço. — O que aconteceu do momento que dormimos
depois de transar pela terceira vez consecutiva até agora?
Depois que gozamos juntos, fomos tomar um banho e foi justamente onde
aconteceu a segunda rodada. Quando retornamos ao quarto, nos agarramos e sem
sequer perceber eu já estava deslizando para dentro da sua boceta quente e molhada.
Eu e a Ash estávamos insaciáveis e só dormimos porque a exaustão nos abraçou no
início da madrugada.
Foi a melhor noite da porra da minha vida e eu esperava repetir tudo assim que
acordasse. Na verdade, pretendia acordá-la com a cabeça no meio das pernas e um
café da manhã na cama, mas parece que ela tinha outros planos e esse não inclui
passarmos o domingo inteiro nos agarrando.
— Nada — responde, porém continua sem me olhar e isso me irrita pra
caralho. — Só não quero dizer para ela que transei com você, só isso. — Um leve
balançar de ombros.
— Está com vergonha? — Por que meu peito está doendo?
— Connor...
— Quer saber? Esquece! — a corto e levanto abruptamente percebendo que
ainda estou como vim ao mundo.
Sigo até o banheiro e, quando pego as roupas, vejo que elas ainda estão
úmidas, porém não encharcadas. Visto minha calça e o blusão que coloquei na Ash
voltando para o quarto em seguida.
Ela não fala nada.
Uma maldita palavra sequer enquanto eu passo à sua frente e vou para a
porta. Minha vontade é de gritar ou tentar entender o porquê da mudança, mas eu não
vou me prestar a esse papel ridículo.
Não vou me humilhar para ficar quando é nítido que ela não me quer aqui. Saio
do dormitório e percebo duas garotas sorrindo quando me veem passar furioso.
Foda-se!
Começo a caminhar e estou tão irritado que o caminho que geralmente eu faria
em vinte minutos até a minha casa sinto como se fosse feito em cinco. Irrompo pela
porta estranhando encontrar o Ben acordado a essa hora.
— Deus, o que você está fazendo aqui? — ele pergunta quando me vê entrar
na sala.
— Até onde eu me lembro a casa ainda é minha — revido grosso.
— Ei, calma aí. Só fiquei preocupado porque pensei que não ia te ver tão cedo,
já que não voltou depois de ir atrás da Ashley — Ela me fita da cabeça aos pés. — Por
que está com a roupa molhada e onde está seu sapato?
Me jogo no sofá e olho para baixo só percebendo agora que, na hora da raiva,
saí descalço. Deus, aquela garota me deixa completamente bagunçado!!
— História longa e pouca paciência para contar. — Levo minhas mãos até a
nuca e me inclino no sofá fitando o teto. — Não foi para a festa ontem?
— Não — responde sucinto e eu o encaro arqueando as sobrancelhas. —
Quero focar no hóquei e não estou a fim de perder tempo com fodas que podem
esquentar minha cabeça.
— Você ainda está com essa história de celibatário?
— Não enche, Connor. — Suspira voltando a olhar para o jogo. — Sua carreira
já está garantida, a minha não.
— Ei, mas a culpa foi sua — rebato. — Inclusive até hoje você não contou o
porquê chegou bêbado naquela noite.
— Não quero falar sobre isso — resmunga.
— Então vamos falar do porquê você estava prestes a socar a cara do
Jackson. — É notável que minhas palavras o pegam de surpresa, porque, tão rápido
como a gente no gelo, sua cabeça se vira para mim. — Cara, não me diz que tem algo
rolando entre você e a Destiny.
— Está maluco? — Sua voz vacila aumentando ainda mais as minhas
desconfianças.
— O Liam vai te matar, pode apostar — aviso e seu rosto fica vermelho. — E
vocês dois vão foder com nosso time, porque, se conheço bem o nosso amigo, ele vai
querer socar sua carinha bonita toda vez que te encontrar. — Ben se joga no encosto
do sofá. — Essa casa vai virar um inferno, porra!
— Ela é como uma irmã para mim — diz, mas não vejo firmeza na sua voz. —
Não está rolando nada. Só fiquei puto porque vi que ela sofreu quando ele foi embora.
Só isso!
— Au... Au... Au...
Ouço o latido de Marley segundos antes dele irromper a sala e pular nos meus
braços. Claro que a Assassina invade meus pensamentos no mesmo instante, porém a
jogo para o fundo da mente enquanto recebo diversas lambidas.
— Cara, só presta atenção... — aviso. — Vocês são amigos de infância, ele é
superprotetor com a irmã. Destiny não quer nada sério e você já pegou metade dessa
faculdade. Isso tem tudo para dar uma merda colossal.
— Já falei que não temos nada, mas vamos mudar de assunto. — Ele me
encara e aponta para o cachorro com o queixo. — Precisamos dar um jeito do Marley
não ir embora hoje.
— E para onde ele iria hoje? — indago confuso.
— Droga, não te contamos! — Percebendo minha confusão, ele continua: — A
Ashley veio aqui em casa esses dias e comentou que encontrou uma pessoa para
adotá-lo.
— Sério? — Assente. — Acho que ela esqueceu de me contar. — Aliso o pelo
do cachorro e meu peito dói ao imaginar a ideia dele indo embora. — Mas esse era o
combinado, né?
— Foda-se o combinado! — explode se levantando e Marley late. — Ele se
tornou parte da nossa casa e tanto eu quanto o Kyle e o Liam estamos dispostos a ficar
com ele. E você?
Olho de um para o outro e seguro o focinho de Marley encostando meu rosto
no seu o cheirando. Porra, não é que a gente se apegou a ele mesmo!
— Eu jamais a deixaria levá-lo — aviso e Ben sorri.
— Então temos que bolar algo porque ela marcou com a pessoa de vir
conhecê-lo hoje à noite.
— Eu acabei de ter uma ideia.
— Espero que não envolva a gente se fantasiar como você fez para conquistar
a sua garota.
Minha garota!
— Ela não é minha garota! — revido. — Enfim, a ideia é o seguinte...
Conto tudo para ele e depois que acertamos todos os detalhes subo para o
meu quarto. Retiro a roupa molhada, tomo um banho e me jogo na cama querendo
voltar a dormir, mas a noite de ontem recheia meus pensamentos e eu fico repassando
cada olhar, toque, beijo, carícia que aconteceu entre nós dois.
Frustrado, pego meu violão e decido passar um tempo fazendo algo que amo
tanto quanto o hóquei: tocar.

Às oito e meia, a campainha toca e eu olho para os meus três amigos lançando
uma piscadela. Kyle se joga no sofá fingindo estar jogando com o Ben e Liam está
mexendo no celular despretensiosamente enquanto o caos reina ao redor.
Corro até a porta e, quando a abro, meu coração parece querer saltar para fora
da caixa torácica enquanto a fito. Noto que, pela primeira vez, ela usa um gorro na
cabeça e Ash está tão fofa que é difícil controlar a vontade de puxá-la para os meus
braços. Seus cabelos estão jogados para a frente em cima do suéter bege e suas
pernas estão abraçadas pela calça jeans. O tempo voltou a esfriar e há alguns minutos
uma garoa fina caía do lado de fora.
— Oi, Connor. — Havia uma razão para a frieza em seu olhar e, depois de
passar o dia inteiro pensando, eu cheguei à conclusão de que realmente não fiz nada
de errado enquanto estávamos juntos.
Ashley está com medo de deixar isso que está acontecendo entre nós evoluir
para algo a mais e eu não a julgo, porque também estou assustado pra caralho da
forma como ela conseguiu impregnar meus pensamentos e fazer morada dentro da
minha cabeça desde o instante que a conheci e tudo piorou absurdamente depois da
noite incrível que compartilhamos ontem. Entretanto, eu estou disposto a mostrar que
podemos continuar com nosso acordo sem ninguém precisar sair magoado.
Caramba, somos dois adultos que se gostam e têm uma química do caralho. O
que custa continuar e depois cada um seguir para o seu lado? Finjo que a mera ideia
de a deixar não faz meu peito querer sufocar.
Com certeza, eu poderia ganhar o prêmio de maior mentiroso do ano!
— Oi... — murmuro, tentando esconder a ansiedade que borbulha dentro de
mim em conjunto com a vontade de beijá-la. — Você não me contou que tinha
encontrado uma pessoa para adoção.
— Com a loucura do jogo, eu esqueci completamente — se defende. — Ah,
essa é Olívia e ela veio conhecer o pequeno, que não está mais tão pequeno —
apresenta parecendo só agora perceber que não estamos apenas nós dois parados a
porta.
Olho para o seu lado e estreito meus olhos reconhecendo a morena ao seu
lado.
— Já nos conhecemos. — Sorrio e a garota retribui.
— Se conhecem? — Ela olha de mim para a garota e vejo Olívia concordar
com um menear de cabeça.
— Fizemos um curso de música juntos no verão do ano retrasado — explica.
— Interessante — Ashley murmura.
— Então, acho que não é uma boa hora para você conhecer o cachorro — digo
e sinto meu nariz coçar avisando a vinda de um espirro.
Droga, essa porcaria começou hoje mais cedo, logo após o banho quando
cheguei em casa e sei que foi devido ao temporal de ontem.
— E por que não? — pergunta, porém eu estendo minha mão pedindo para
esperar. Inclino-me para o lado e espirro três vezes consecutivas fungando em seguida
para não sujar as mãos.
— Droga, você vai resfriar. — Sei que ela não está imune a mim, porque a
preocupação é visível quando volto a olhá-la.
— Não é nada — desconverso. — Já tomei um antigripal e daqui a pouco os
espirros cessam.
— Então podemos entrar? — Olívia pergunta e eu olho para trás notando que
meus amigos continuam no mesmo lugar.
Dou o sinal lançando uma piscadela para eles.
— Eu ainda acho que não é uma boa hora — declaro voltando a atenção para
as meninas.
— Connor, aqui fora está muito frio e eu só tenho tempo no final de semana —
Olívia fala e agradeço a insistência mentalmente.
— Depois não digam que eu não avisei. — Abro passagem para ambas e
rapidamente ouço um arquejo em uníssono.
— Meu Deus, o que aconteceu aqui? — É a voz da Assassina que se
sobressai e eu passo por elas indo em direção ao Marley, que, quase como se
soubesse o que estamos fazendo, adentra a sala com um chinelo na boca.
Ou talvez tenha sido a essência de carne que passamos nela!
— Saímos e, quando chegamos, a casa estava dessa forma — respondo
pegando o Marley no colo, retirando o calçado da sua boca e vejo ambas passarem os
olhos pela sala destruída.
Os únicos dois jarros de plantas que temos na sala próxima a janela estão
espatifados e toda a areia espalhada ao redor. O sofá onde Liam está sentado tem as
marcas de patas pretas na cor da areia dos jarros porque fizemos questão de colocar o
Marley para brincar nele, mas é no sofá que o Ben se encontra que a coisa está feia: as
almofadas estão espalhadas pelo tapete e o estofado está metade rasgado.
Confesso que doeu um pouco fazer isso, porque ele foi caro, mas já estávamos
precisando trocar mesmo, então juntei o útil ao agradável. Próximo a escada tem vários
objetos da cozinha jogados aletoriamente: alguns por mim e os meninos, outros pelo
próprio cão que adorou morder os plásticos.
Ah, e não vamos esquecer da cortina pendurada pela metade dando a
impressão de que o cachorro a puxou tanto que ela arrebentou.
Cara, se não dermos certo no hóquei com certeza podemos apostar na
atuação porque, enquanto elas olham horrorizadas para tudo, eu e os meninos
permanecemos neutros.
— Você tinha colocado no anúncio que ele era calmo — Olívia acusa e, no
mesmo instante, o semblante neutro dá lugar a uma risada sincera.
Sim, toda essa bagunça foi feita por mim e os meninos, mas o Marley não tem
nada de calmo! Ele apenas aprendeu a não destruir as coisas depois que veio morar
conosco, porque começamos a adestrá-lo, mas ainda lembro muito bem dos estragos
que ele fez assim que chegou à casa e da hiperatividade até hoje.
— Bom, calmo e Marley na mesma frase não combina — Liam responde
tentando controlar o riso e percebo Ash nos fuzilar desconfiada.
— Ele é muito fofo — Olívia declara apontando para o quinto ator nos meus
braços já dormentes, porque ele está muito pesado. — Porém, meus pais são bem
chatos em questão de organização e se ele faz isso dentro de casa eu sou expulsa
junto com ele. — Dá uma risada nervosa.
— Eu sinto muito — Ash responde sem insistir e eu estranho porque esperava
que ela listasse mil motivos do porquê Marley é o cão ideal.
— Não tem problema — Olívia responde. — Mas já que não vai rolar eu estou
indo.
— Precisa de carona? — Ofereço querendo que ela suma da minha casa antes
que mude de ideia.
— Não precisa. Eu vim de carro e encontrei a Ashley aqui na frente. — Assinto
tentando esconder o alívio. — Bom, vou indo.
— Vou levar você até a porta. — A Assassina diz já indo em direção à saída.
Coloco Marley no chão e, quando Ash fecha a porta, eu dou um soco no ar
comemorando silenciosamente junto com os caras. Claro que ela se vira para nós na
mesma hora.
— O que eu faço com vocês? — questiona colocando as mãos na cintura com
o semblante sério. — Não precisava dessa armação toda se não queria que ele fosse
embora. — A olho chocado enquanto um sorriso começa a brotar em seu rosto.
— Como você soube? — Ben pergunta perplexo.
— Ah, eu posso não vir todo dia o ver, mas o conheço bem para saber que ele
se acalmou mais com o tempo. — Ela se abaixa e rapidamente Marley pula nos seus
braços latindo. — Parece que você conquistou quatro corações de pedra, meu amigão
— declara acariciando seu pelo.
— Au, au, au... — Marley late quase como se estivesse confirmando.
— Isso quer dizer que ele é oficialmente nosso? — Kyle indaga.
— Sim, seus bobos, de vocês e meu!
— Aeeeee! — comemoro me aproximando e, com um olhar, meus amigos
entendem que preciso ficar sozinho com ela.
Observo eles começarem a se levantar, porém Ash também nota.
— Bom, eu preciso ir — ela avisa apressada, já se virando sem esconder que
está fugindo. — Vejo vocês amanhã na universidade.
Não digo nada enquanto a vejo saindo, batendo a porta em seguida.
Não consigo, porque um bolo se forma na minha garganta.
— É impressão minha ou ela acabou de fugir de você? — Ben pergunta.
— Vamos limpar essa bagunça, porque a Gorete não tem nada a ver com as
nossas loucuras — digo e eles entendem que não estou a fim de conversar.
CAPÍTULO 29 - Ashley Moore

Quatro dias que não o vejo.


Quatro dias que luto contra a vontade de mandar a razão para a puta que
pariu, porque estou com saudades dele: saudades do seu cheiro amadeirado, das suas
insistências, dos seus sorrisos, do seu beijo, do seu corpo colado ao meu e até do
apelido idiota.
Arrependi-me no instante que o Connor saiu do meu quarto furioso depois de
eu praticamente expulsá-lo, mas entendi que era melhor assim. Acordar abraçada ao
seu corpo depois de ter passado a noite inteira transando me deixou mais feliz do que
imaginei e isso me assustou pra caralho.
Como não tem nada ruim que não possa piorar não levou mais do que um
minuto para uma mensagem chegar no meu celular depois que acordei. Era o Petter
me desejando bom dia e dizendo que estava louco para me ver como se ainda
fôssemos namorados. Arrepiei me toda ao ler suas palavras e o carro que passou em
frente ao Connor no outro dia me veio à mente.
Sinto que, em algum momento, aquele babaca vai chegar de surpresa no
campus e eu não posso deixá-lo saber sobre o Connor, porque a chance deles se
enfrentarem no gelo é gigante e não quero ser algo que vá atrapalhar o capitão.
Ontem, enquanto eu fazia a chamada semanal com a minha mãe, quase contei
tudo para ela, mas ela estava tão cansada depois de passar o dia na galeria que decidi
não prolongar a conversa. A Brooke me perguntou o que aconteceu depois que o
capitão saiu do Queens e eu apenas contei que ele me deixou em casa e depois foi
embora.
Respiro fundo adentrando o instituto porque não posso continuar deixando a
situação com o Connor me afetar dessa forma. Faltei segunda no Donna com a
desculpa de que estava muito atolada nos trabalhos da faculdade e realmente estava,
porém não a ponto de me impedir de vir para o lar. Sei que não vim porque não estava
preparada para esbarrar com o capitão, o mesmo que está conversando na recepção
com a Eve enquanto me aproximo.
— Boa tarde! — os cumprimento e ambos me olham.
— Boa tarde, querida — Eve diz carinhosa. — Conseguiu adiantar as
atividades?
— Sim — minto. — Vou guardar minha bolsa e depois preparar a sala da
pintura. — Ela assente. — Oi, Connor.
— Oi, Ashley — responde e se vira para Eve novamente.
Saio da recepção e sigo em direção aos fundos do instituto, só então
percebendo o quanto meu coração está frenético. Ao chegar na sala de descanso,
entro e fecho a porta me recostando nela.
— Para com isso, Ashley Moore! — repreendo-me. — Foi só uma transa como
qualquer outra — murmuro e me afasto seguindo até a porta mais à frente onde
guardamos os itens pessoais.
Entro, abro minha bolsa e pego meu celular. Aproveito para pegar um elástico
e prendo meu cabelo. Coloco a bolsa no armário de ferro e viro-me pronta para sair,
porém a porta é aberta e um Connor sério adentra sem me dar a chance de fugir.
Seu corpo grande ocupa uma boa parte do espaço minúsculo e eu arquejo
sentindo seu cheiro impregnar minhas narinas. Seus olhos se encontram com os meus
e, por um tempo, o ar parece congelar.
— Até quando você pretende fugir e fingir que nada aconteceu? — pergunta
colocando os dois braços ao redor da minha cabeça, os apoiando no armário.
A proximidade faz o meu coração bater descompassado incapaz de negar o
quanto ele me afeta.
— Não... não s-sei do que v-você está f-falando — gaguejo, porém a falha no
meu tom de voz entrega que estou mentindo.
Tento fugir do seu olhar, mas é inevitável porque algo me puxa para ele e a
sala já tão pequena parece encolher consideravelmente enquanto nos encaramos.
— Não mente para mim, Assassina. — Inclino o rosto quando seu dedo
encontra a minha pele. — Tem noção da tortura que foi esses dias?
— Você deveria estar ocupado com os treinos, aliás, melhorou dos espirros?
— Na segunda e terça foi difícil porque fiquei um pouco mole, mas na quarta
estava zerado. — A culpa me acomete porque o mínimo que eu deveria ter feito era ter
perguntado como ele estava.
— Estou feliz que não tenha evoluído para algo mais sério, afinal você precisa
estar cem por cento para o final de semana.
— E eu estou, mas, durante todos esses dias, você não saiu um momento
sequer da minha mente. — A sinceridade na sua voz me choca.
— O que isso quer dizer?
— Que eu estou morrendo de saudades de você. — Ele se aproxima. — Que
quero continuar te vendo.
— Você quer dizer me fodendo?
— Também. — Quase sorrio da sua sinceridade. — Mas não é só pelo sexo,
porque se fosse eu teria desistido no primeiro não.
— E por que não fez?
— Não sei... — responde. — Só sei que gosto de você e quero continuar com
isso. — Alguém pode, por favor, afogar essas borboletas desgraçadas do meu
estômago? — Senti sua falta, Ashley.
A verdade nos seus olhos quebra todas as minhas barreiras e eu finjo que isso
entre a gente não tem tudo para dar errado. Que não existem mil motivos para que eu
não continue, para que eu não o ame, mas esqueço tudo e tento focar que eu sou
adulta e vou saber separar as coisas.
É só sexo e tenho certeza de que não vai demorar para que ele enjoe e acabe
indo para a próxima. Quando isso acontecer, eu estarei muito bem saciada e pronta
para me sentar no próximo cara.
— Me beija, capitão. — Suas pupilas se dilatam com as minhas palavras e ele
não perde tempo.
Nossas bocas encostam-se e rapidamente nos beijamos. Não existe calma,
pelo contrário, nos entregamos com ânsia no beijo. Ele encosta seu corpo ao meu e
segura minha nuca com força enquanto praticamente esmaga meus lábios. Gemo
sentindo meu corpo acender e ele engole meus gemidos.
“Porra, como eu senti falta dele!”, penso me afastando porque respirar se torna
difícil e ele segura meu queixo enquanto me fita atentamente.
— Não foge mais de mim — pede e eu sinto sua ereção me cutucando. —
Você sai primeiro e, quando meu amigo se acalmar, eu vou.
— Posso fazê-lo se acalmar. — O habitual sorriso safado brota em seu rosto.
— Onde está a Eve?
— Foi passar a medicação — responde com a voz rouca. — E nessa hora
ninguém vem tirar descanso, então, se formos rápidos, ninguém vai perceber.
Dizem que o proibido é mais gostoso e só agora percebo que é a mais pura
realidade, porque só o mero pensamento de alguém nos flagrar traz um arrepio gostoso
na minha boceta. Sem pensar muito, desabotoo o botão do meu jeans e rapidamente
Connor faz o mesmo com o dele abaixando a cueca no processo.
Seu pau salta para fora e eu passo a língua pelos lábios doida para senti-lo na
minha boca.
— Depois... — Connor diz percebendo o que quero. — Agora preciso me
afundar dentro da sua boceta.
— Camisinha?
— Aqui. — Pega sua carteira no bolso do jeans e retira uma embalagem a
rasgando rapidamente.
Observo com luxúria ele enrolar o látex no seu pau e anseio pelo contato.
Abaixo minha calça e a calcinha ao mesmo tempo. Connor se aproxima, encostando
sua boca na minha, puxando meus lábios antes de segurar os meus braços e me virar
de costas.
— Empina essa bunda gostosa para mim e fica caladinha — murmura rouco
próximo ao meu ouvido e logo sinto seu pau se aproximar da minha entrada. — Me diz
que também estava ansiando por isso — pede rouco quando começa a deslizar.
— Não teve um minuto desses dias que eu não senti saudades do seu pau me
fodendo, Connor — revelo e sinto um aperto nas minhas nádegas.
— Caralho, sua boceta é o meu inferno particular. — Ele começa a se
movimentar, entrando e saindo. — Sou fascinado no quanto você está sempre tão
molhada para mim.
— Tão gostoso — sussurro e sua mão se embrenha no meu cabelo o puxando
para trás.
— Essa boceta é minha, Ash, até o momento que eu quiser, ouviu? — declara
autoritário e todos os pelos do meu corpo se eriçam.
— Sim, toda sua — concordo encostando a mão na boca para conter os
gemidos que querem sair enquanto ele me fode.
É insano o que estamos fazendo, mas nesse momento, enquanto ele me fode
e segura meu cabelo com força, estou pouco me importando se alguém vai aparecer.
Eu só preciso dele!
— Quero que goze primeiro — pede e logo sinto sua mão descer para a minha
boceta. Seus dedos encontram meu clitóris e ele começa a circundá-lo aumentando
ainda mais o desejo que lateja dentro de mim.
— Como, caralho, vou ficar calada? — indago praticamente revirando os olhos
com o desejo possuindo cada célula do meu corpo. — Não para... — aviso e ele
aumenta a intensidade dos dedos enquanto não perde o ritmo dentro da minha boceta.
Jogo a cabeça para trás completamente perdida em prazer e ele passa a
língua por minha orelha. Ouço um porra baixinho e sei que ele está tão perto quanto eu
estou.
— Goza comigo porque não consigo mais segurar — pede rouco e ao notar o
quanto ele está entregue é o estopim.
Trememos em uníssono, murmurando coisas incoerentes enquanto somos
invadidos por um orgasmo alucinante ao mesmo tempo. É surreal, único e, quando
terminamos, eu estou decidida a não fugir mais dele.
— Porra, acabamos de transar em uma sala minúscula dentro de um hospital
— declaro depois que ele me solta.
— É, parece que não conseguimos desgrudar um do outro quando estamos
próximos.
— Somos dois loucos isso sim — rebato tentando controlar a respiração e
domar meus cabelos.
— Eu amo essa nossa loucura! — Sorri se vestindo e eu faço o mesmo.
CAPÍTULO 30 - Connor Harrington

Entro no ônibus completamente exausto e fecho os olhos tentando dormir para


tentar aliviar a dor que lateja dentro da minha cabeça, mas é impossível com o caos
que se instaura dentro do veículo enquanto os caras começam a falar da partida e de
como fomos fodas no gelo.
Queria comemorar, mas não tenho força sequer para falar. Ontem vencemos
os Manchester e foi bastante tranquilo, porém hoje, contra a universidade de Portland,
foi mais puxado, pelo menos para mim que estava sentindo meu corpo inteiro sem
forças e dolorido. Tomei bronca em todos os intervalos, mas fiz o impossível para
vencermos e, mesmo que os dois gols tenham sido feitos pelo Liam e pelo Logan, sei
que fiz parte da vitória.
— O que você tinha hoje? — A voz do treinador surge ao meu lado e eu forço-
me a abrir os olhos.
— Acho que estou doente. — Seus olhos só faltam sair para fora ao ouvir
minhas palavras.
— Droga, Connor, você está ardendo em febre — diz diminuindo a raiva depois
de encostar sua mão na minha testa.
— É por isso que você estava tão diferente na arena — Ben, que se joga na
cadeira ao meu lado, comenta. — Foi a chuva, né?
Se um olhar matasse, com certeza ele estaria desfalecendo nesse exato
momento. Ele percebe a falha porque pede desculpas com o olhar, mas já é tarde
demais.
— O que diabos você estava fazendo na chuva? — o treinador pergunta.
— Foi só o tempo de eu sair do Queens e entrar no carro — minto. — Tive uns
espirros no começo da semana, mas na quarta já estava bem. Não sei por que diabos
piorei.
Ou talvez eu saiba!
Na quinta, quando saí do instituto, fui direto para a arena treinar, porém,
quando eu estava saindo do treino, começou a chover e eu peguei novamente chuva
ao voltar para o estacionamento. Eu deveria ter esperado ela amenizar, mas a Ashley
estava me esperando no dormitório para que assistíssemos a um filme, então, não
querendo deixá-la aguardando muito tempo, fui embaixo da água.
— Ouça bem — Franklin começa. — Assim que chegarmos em Boston, você
vai para casa descansar e está proibido de pisar os pés fora de casa até terça.
— Mas temos treino amanhã — o lembro.
— Você não — rebate. — É melhor perder um dia de treino do que se esforçar
e acabar piorando. — Assinto concordando. — Vou pegar um antitérmico na bolsa de
primeiros socorros — avisa. — E parem com a baderna — brada para os meus colegas
e o silêncio reina dentro do veículo.
Franklin se afasta no momento que meu celular toca avisando a chegada de
uma mensagem:
ASSASSINA: Você está bem? Não entendo muito, mas algo parecia estranho
hoje e a Brooke também comentou sobre.
EU: Não muito, mas vencemos. Isso que importa.
ASSASSINA: Vocês são fodas, sério, meus parabéns! O Queens estava em
polvorosa enquanto assistíamos a partida pela rede social da Brisfolk.
EU: Imagino. O pessoal sempre se reúne quando não consegue viajar para
assistir presencialmente.
ASSASSINA: O que você tem?
EU: Sinto como estivesse sido esmagado por um time inteiro de hóquei e estou
com febre, mas o ônibus está saindo e em duas horas estarei em casa. Só preciso de
comida e descanso. Amanhã estarei zerado.
ASSASSINA: Vixe, melhoras ☹ e boa volta para casa.
EU: Obrigado, Ash!
Fecho o aplicativo de mensagens porque a luz incomoda os meus olhos e
percebo Ben se afastando.
— Você estava lendo minhas mensagens? — O fuzilo.
— Vocês acreditam mesmo que ninguém sabe que vocês dois estão se
pegando? — O idiota dá risada. — Cara, você está fodido!
— Toma e tenta dormir para ver se baixa a febre, porque senão você não vai
para casa e sim para o hospital. — Franklin se aproxima novamente me entregando
uma cápsula e uma garrafa de água e eu finjo que não escutei o meu amigo.
— Obrigado — agradeço quando a coloco para dentro e ele se afasta.
Com o silêncio no ônibus e as luzes sendo apagadas em seguida, eu me
recosto e rapidamente me entrego ao cansaço.

— Porra, mulher, você quer me matar do coração? — Levo a mão ao peito


quando entro no quarto e vejo Ashley próxima a janela.
— Desculpa — pede se aproximando. — Por aparecer sem avisar e invadir seu
quarto. — Sorrio balançando a cabeça. — A Brooke tinha uma chave reserva e eu
aproveitei para fazer uma surpresa.
— Não precisa se desculpar. — Jogo minha mochila no chão. — Estou feliz
que esteja aqui. — Ela se inclina e eu me afasto. — Por mais que eu esteja ansiando
para te beijar, estou gripado e não quero passar para você.
— Não me importo — resmunga e acho fofo.
— Mas eu sim. — Retiro a camisa sentindo tudo doer no processo. — Vou
tomar uma ducha e volto, tá?
— Caralho, olha isso! — exclama examinando os dois hematomas nas minhas
costelas.
— É, eles perceberam que eu não estava bem e se aproveitaram. — Me retraio
quando seu dedo toca a minha pele.
— Sua febre baixou? — questiona preocupada se afastando quando percebe
que sinto dor no local.
— Sim. O seu tio me deu um remédio quando estávamos saindo. — Ela
assente. — Volto daqui a pouco — aviso porque preciso de um banho urgentemente.
— Vou esquentar a sopa. — A encaro confuso e ela sorri. — Eu aproveitei que
estava no Queens e comprei porque é bom para resfriado.
Deus, ela não poderia ser menos perfeita? Menos linda? Porque está cada vez
mais difícil não pensar demais e encarar o fato de que eu quero que ela seja mais
minha!
Eu realmente estou muito fodido.
— Obrigado. — É a única coisa que consigo dizer antes dela ir em direção à
porta e sumir pelo corredor.
Vou até o banheiro e quase gemo quando entro debaixo da água sentindo
meus músculos protestarem ao mesmo tempo que relaxam. Ensaboo, lavo os cabelos
e saio em seguida vestindo uma calça de moletom me deitando na cama.
— Prontinho. — Ash retorna ao quarto com uma bandeja de madeira e uma
tigela fumegante em cima. — Consegue tomar sozinho? — pergunta de forma gentil.
— Não — minto e ela une as sobrancelhas. — Meus braços doem muito. —
Faço um drama enquanto me sento.
O remédio que o Franklin me deu é muito bom, porque, além de baixar a febre,
diminuiu consideravelmente a dor na cabeça. Meu corpo ainda está dolorido e cansado,
porém nada que impeça eu segurar um talher que deve pesar menos de dez gramas.
— Abre a boca — pede assim que deposita a bandeja em cima das minhas
pernas e se senta ao meu lado. — Isso, capitão — elogia como se estivesse falando
com uma criança quando engulo o líquido no ponto certo da temperatura.
O sabor de carne explode na minha boca e só então percebo o quão faminto
estou. Ashley continua me dando a sopa na boca e, enquanto eu saboreio cada
colherada, ela me fita atenta.
A cena talvez pareça patética se alguém nos encontrasse assim agora, porém
para mim é incrível. A constatação de que nenhuma garota se importou dessa forma
comigo me acerta precisamente. Ashley se importou ao ponto de vir até aqui para
saber como estou, trouxe comida e sequer pestanejou quando pedi para que me
alimentasse.
Todas as garotas que passaram por esse quarto foram apenas com um motivo:
foder e depois sair se gabando sobre ter ido para a cama com o capitão do time. Não
que eu esteja reclamando, afinal aproveitei tanto quanto elas, mas agora com essa
garota na minha vida me pergunto por que nunca parei para pensar sobre isso antes.
É triste perceber que eu nunca tive uma ligação sincera com nenhuma outra
garota, porém é incrível entender que, talvez, nada tenha acontecido antes porque eu
estava esperando por ela.
Assim que abro os olhos e constato que estou sozinho no meu quarto, sinto um
pavor me dominar ao perceber que mais uma vez ela fugiu, mas ele não dura muito,
porque, ao me virar para o lado que ela dormiu, vejo um bilhete escrito à mão.
Precisei ir para o dormitório porque minha mãe chegou de surpresa.
Me liga quando acordar para avisar se melhorou.
Beijos.
Suspiro aliviado e pego meu celular notando que já são quase nove horas da
manhã. Quando estou preste a pular para me arrumar, me lembro de que hoje não irei
à aula e ao treino, então apenas abro o aplicativo de mensagens e envio uma
mensagem para ela avisando que acordei muito melhor e agradecendo o cuidado de
ontem.
Fito o teto lembrando que depois que terminei de comer ela desceu para levar
a bandeja e, quando retornou, se deitou ao meu lado. Liguei a televisão para tentar
assistir algo, mas acredito que não durei meia hora antes de dormir e só acordar agora.
Eu estava destruído ontem, porém hoje me sinto muito melhor.
Vejo a porta que está entreaberta se abrir e logo um Marley todo saliente pula
em cima da cama.
— Ei, garotão, sua dona te trancou do lado de fora, né? — pergunto
acariciando seu pelo. Ele late. — É, eu não estava muito legal, então tive que dormir
mais cedo.
Levanto-me e vou para a cozinha com Marley no meu encalço. Percebo que
suas tigelas estão abastecidas, então foco em preparar um sanduíche e, quando
termino, sigo para a sala. Ligo a televisão, pego meu celular e disco o número do
instituto.
— Bom dia! — Sorrio ao reconhecer a voz.
— Oi, Eve, é o Connor.
— Oi, querido, está se cuidando? — Franzo as sobrancelhas.
— Como sabe que estou doente?
— A Ashley ligou mais cedo avisando que você não viria hoje. — É, está difícil
dessa forma. — Se recupere e depois você retorna — continua.
— Obrigado, Eve — agradeço, me despeço e desligo a ligação.
Tento focar minha atenção no filme que está passando enquanto devoro o
lanche, porém é impossível porque ela não sai do meu pensamento e, quase como se
pressentisse a tela, se acende mostrando seu apelido.
— Por um momento pensei que você tinha fugido quando acordei — digo
brincando quando atendo.
— Imaginei que pensaria isso então deixei o bilhete. — Posso sentir o riso na
sua voz. — Está melhor mesmo?
— Quase pronto para outro jogo porque tive a melhor médica cuidando de mim.
— Sorrio. — Então sua mãe apareceu de surpresa?
— Sim... Ela está no banheiro, então só liguei para perguntar como você
estava mesmo.
— Vá aproveitar para matar as saudades. E obrigado mais uma vez.
— Não foi nada. Beijos.
Ela desliga a chamada e eu tento a todo custo prestar atenção na tela à minha
frente.
CAPÍTULO 31 - Ashley Moore

Ao girar a maçaneta do quarto, meu coração acelera ao me deparar com a


presença da mulher sentada em minha cama. Lágrimas começam a pinicar meus olhos
enquanto a encaro, percebendo que os dela também estão marejados.
— Mãe!
Corro em sua direção, e ela se ergue, estendendo os braços para mim. Seu
abraço envolve meu corpo pequeno, e é como adentrar um sonho. O calor familiar que
me acolhe mostra que seus braços ainda continuam sendo o meu refúgio mais seguro.
— Como eu senti sua falta, meu amor. — Sua voz embargada faz com que eu
a aperte um pouco mais para obter a certeza de que não é um sonho.
— Não acredito que a senhora está aqui — murmuro embargada.
— Para falar a verdade, eu também não. — Obrigo-me a afastar e noto ela
sorrir em meio às lágrimas silenciosas. — Mas eu não estava aguentando de saudades
— afirma limpando o rosto e eu faço o mesmo.
— Eu tenho um orgulho tão grande da senhora. — Ela segura minhas mãos.
— Ele estaria feliz em ver que conseguimos voltar — declara e eu concordo
com um menear de cabeça.
— Sim. Ele estaria. — Nos sentamos na cama. — Por que não me contou que
estava vindo? Eu teria ido te buscar no aeroporto.
— Então... — Seu sorriso sapeca me faz abrir a boca, porque algo me diz que
sei o que ela vai falar. — Eu vim de carro. — Bingo!
— Meu Deus! — Cruzo as pernas. — De onde saiu essa ideia? — questiono
perplexa.
— Senti que na nossa última ligação você queria falar algo. — Meu queixo
despenca. — Mãe sente, querida, e, pelo seu semblante, eu não estou enganada, não
é mesmo?
— Mais ou menos. — Mordo os lábios nervosa. — Talvez eu tenha conhecido
alguém e só talvez eu esteja gostando dele.
— Deus, cada quilometro até aqui valeu a pena. — Gargalho diante das suas
palavras, me jogando no colchão. — É na casa dele que você estava quando eu
cheguei?
— Sim — confirmo. — Ele estava doente e eu fui ajudá-lo, mas acabei
dormindo lá mesmo.
Ontem, quando recebi a mensagem do capitão avisando que estava doente, eu
me senti na obrigação de ir cuidar dele, porque sei que a virose veio decorrente da
chuva que ele pegou por minha culpa, mas além disso eu queria vê-lo porque já estava
morrendo de saudade. Estava no Queens com as meninas e, quando comentei, a
Brooke me avisou que tinha uma chave da casa e que poderia me emprestar.
A ideia era apenas levar a sopa, passar um tempo e depois voltar, porém,
quando ele dormiu, eu me aconcheguei no seu peito e sem sequer perceber apaguei.
Acordei às oito com meu celular tocando e minha mãe avisando que estava no
dormitório me esperando.
— Ashley Moore me conte tudo e não esqueça nada. — Ela se deita ao meu
lado.
Sorrio amando estar com ela aqui do meu lado, só então percebendo o quanto
eu senti falta dessa nossa cumplicidade. Minha mãe, sem sombra de dúvidas, sempre
foi e será a minha melhor amiga.
— Ele é capitão do time de hóquei. — Ouço ela exclamar surpresa. — É, eu fiz
de tudo para não me envolver com atletas, mas ele é diferente.
— Diferente como? — questiona e eu passo os próximos minutos falando
sobre o Connor: do momento que nos conhecemos até a noite de ontem.
Minha mãe me ouve atentamente enquanto falo que no começo implicávamos
um com o outro igual cão e gato, porém digo que, com o passar do tempo, ele foi me
mostrando um novo lado e que mesmo com medo eu acabei me deixando levar. Ela dá
gritinhos quando conto do Marley, da performance e da crise de ciúmes na biblioteca.
Fica encantada quando informo que ele é voluntário comigo no lar e que, mesmo sem
poder, ele pegou um baita temporal por minha culpa.
Quando finalizo, ela fica no mais puro silêncio e eu baixo a Destiny querendo
roer as unhas, porém me controlo.
— Por tudo que você me falou, ele parece ser um garoto muito bom. — Suspiro
aliviada com suas palavras. — Mas, por precaução, tome cuidado e proteja seu
coração.
— É para ser apenas curtição.
— O para ser é diferente do ser — diz se virando de lado para me olhar. —Algo
me diz que você gosta mais desse garoto do que quer admitir.
— Gosto do corpito delicioso dele — zombo.
— Seu pai deve estar se revirando no túmulo ao saber que a filhota dele está
pegando um jogador, aliás, seu tio sabe?
— Não! — praticamente grito. — Ele arrancaria o pau do Connor.
— Não duvido nada. — Dá risada. — Eu vi a Brooke quando estava chegando.
Meu Deus, quando ela cresceu tanto?
— O tio fez a mesma pergunta quando me viu.
— Enfim, aproveite esse lance, mas, pelo amor de Deus, não engravide agora.
— Mãe, não existe essa possibilidade.
— Se você transa, então existe — declara firme. — E eu já tive a sua idade,
conheci seu pai justamente aqui na universidade e a gente transava muitoooo.
— Mae, não quero saber desses detalhes sórdidos — repreendo-a arrancando
uma risada sincera.
— É, sério, aproveite bastante e deixe a vida os levar, mas cuidado e a
qualquer sinal você me avisa que eu dou um jeito de colocá-lo para correr.
— Não se preocupe que agora estou blindada contra machos babacas, que
acham que são donos das namoradas.
— É assim que eu gosto, mas agora que tal você me levar para tomar café e
me explicar por que está perdendo aula? — Finge estar brava.
— Em minha defesa, eu perdi a hora, mas iria para a aula quando a senhorita
resolveu aparecer de surpresa.
— Eu espero que sim porque, por mais que seja uma maravilha ficar
agarradinha com um tempo frio desse, você ainda precisa estudar.
— Não se preocupe que ainda continuo sendo a melhor aluna da turma. —
Levanto-me.
— Assim espero — rebate firme. — Vou só ao banheiro e já saímos.
Assinto e, quando ela fecha a porta, eu aproveito e ligo para o Connor, mas
conversamos pouco porque logo minha mãe retorna e juntas saímos do dormitório.
Observo com os olhos brilhando enquanto minha mãe e Franklin se abraçam
por longos minutos. Quando se afastam, a pose de durão dele desaparece
instantaneamente, sendo substituída por um olhar carinhoso. A carranca que
normalmente domina seu semblante é trocada por um sorriso gentil, revelando uma
ternura que poucos têm a oportunidade de testemunhar.
— Ainda não acredito que ela está mesmo aqui — Brooke comenta encostando
sua cabeça em meu ombro.
— Eu também não, mas estou radiante porque pensei que ela não conseguiria
— respondo.
— Ela é incrível e você tem muita sorte de tê-la — diz.
— Nós temos muita sorte em ter aqueles dois ali. — Aponto para onde eles
estão. — Você sente falta da Hellen? — questiono e ela levanta a cabeça.
— Não — responde rapidamente. — Não tem como sentir falta de algo que eu
nunca tive. — Dá de ombros e juntas nos afastamos, entrando na casa do meu tio.
Hellen foi a primeira e única esposa do meu tio, porém ela faleceu no parto da
minha prima. Só a conhecemos por fotos e, pelas histórias que meu tio já nos contou,
ela parecia ser uma mulher incrível, inclusive minha mãe e ela foram amigas na
adolescência e ambas estudaram juntas aqui na faculdade.
Na verdade, meus pais e meus tios formavam uma espécie de quarteto em
Brisfolk. Quando Amélia engravidou de mim, poucos meses depois, tia Hellen
descobriu que também estava grávida. Eu e Brooke temos apenas um ano e um mês
de diferença na idade. Enquanto estou com vinte e um anos, minha prima completou
vinte.
— Que cheiro delicioso! — Inspiro o ar sentindo o aroma de chocolate se
instalar nas minhas narinas.
— Eu fiz um bolo para a gente comer — Brooke avisa e juntas adentramos a
cozinha.
— Olha ela toda cozinheira — brinco.
— Sendo filha de um chef como meu pai, não tinha como eu não saber fazer
um bolo — declara se abaixando, retirando o bolo do forno.
O dia passou mais depressa do que eu imaginei e depois de tomar café da
manhã no Queens, passear pelo campus, almoçar no Ohashi voltei para o dormitório
com minha mãe. Assistimos uns três episódios da sua série favorita Grey's Anatomy e,
quando o relógio marcou três da tarde, Brooke chegou nos convocando para vir à casa
do meu tio para surpreendê-lo com a visita da minha mãe. Não sei como ela conseguiu
arrancá-lo da arena, mas assim o fez e ele ficou em choque quando chegou há pouco e
encontrou minha mãe o esperando.
— Queria que ela ficasse mais tempo. — Faço biquinho me sentando na
banqueta alta que está à frente da bancada de mármore separando a cozinha da sala.
— Eu também, mas preciso trabalhar e já foi loucura demais vir. — A voz doce
responde e, quando olho, vejo minha mãe entrando na casa sendo seguida pelo meu
tio.
— Não gosto da ideia de você viajar à noite sozinha, Amélia — Franklin declara
indo até a geladeira.
— Já sou grandinha, viu?! — minha mãe exclama sentando-se ao meu lado. —
Saindo no final da tarde, estarei em casa antes das nove da noite.
— Ainda assim deveria esperar até amanhã porque descansaria — Brooke
retruca.
— Eu adoraria, mas amanhã cedo tenho uma viagem a trabalho — justifica.
— Ah... — respondo triste porque ainda tinha esperança dela desistir de voltar
hoje.
— Ei, é para ficarem felizes porque eu vim e não tristes — ela comenta
sorrindo. — Vamos, Franklin, me atualize do que essas duas andam aprontando.
— Nada. — Meu tio sorri nos servindo com suco enquanto Brooke corta o bolo.
— Elas são duas garotas muito centradas e comportadas. Meu orgulho!
Sinto um beliscão na minha coxa e, quando olho de soslaio, vejo minha mãe
levando o copo até os lábios para esconder o sorriso. Jesus, ela parece que ainda tem
o ensino médio dentro dela.
— Somos duas anjinhas! — Brooke declara e me lança uma piscadela.
Enquanto comemos, minha mãe conta um pouco sobre como andam as coisas
na sua galeria de artes e meu tio aproveita para falar sobre o time estar indo muito bem
na temporada. Entramos e saímos de conversas triviais e confesso que estava
morrendo de saudades de compartilhar momentos como esses.
Meu pai pode não estar mais presente, porém tenho uma sorte danada de
ainda ter esses três para chamar de família.
CAPÍTULO 32 - Ashley Moore

— Cuidado na estrada e vai me avisando quando fizer paradas — peço assim


que solto a minha mãe depois de ficar um bom tempo agarrada a ela.
Saímos da casa do meu tio há apenas meia hora e viemos direto para o
dormitório para que ela buscasse seu carro para voltar a Nova York.
— Não se preocupe, que rapidinho estarei em casa — me garante sorrindo.
— Obrigada por ter vindo — agradeço já sentindo sua falta. — Estava
morrendo de saudades.
— Eu também e, se eu conseguir resolver os problemas da galeria, virei passar
o Dia de Ação de Graças com você.
— Eu posso ir para casa também, caso não consiga vir — aviso e ela assente.
— Mas sei que quer vir por causa da Brooke e do Franklin.
— Isso — confirma. — Agora deixa eu ir, porque senão vai escurecer. — Ela
me dá um último abraço e vejo por cima do seu ombro o carro do Connor estacionando
em frente ao dormitório.
— Se a senhora não sair agora, vai conhecer o Connor — murmuro no seu
ouvido.
— O seu Connor? — sussurra de volta.
— Ele acabou de estacionar e está vindo em nossa direção — respondo a
soltando no instante que ele para à nossa frente.
Minha mãe se vira e sei que passam apenas alguns segundos, mas ela o
examina de cima a baixo. Eu faço o mesmo notando que, diferente de ontem, seu rosto
já não está mais abatido e que seu corpo continua tão gostoso como da última vez que
o vi.
— Boa noite, Assa.... — Ele torce cortando o apelido. — Ashley. — Ele se vira
para a minha mãe. — A senhorita deve ser a Amélia. — Fico surpresa que ele se
lembra do nome dela, afinal comentei por cima quando assistimos um filme na quinta.
— Isso. Muito prazer. — Ela estende a mão e ele a aperta.
— Eu sou o Connor e o prazer é todo meu. — Certeza de que minha mãe se
derrete com o sorriso que ele direciona a ela. — Peço desculpa por interrompê-la, mas
eu precisava agradecer pessoalmente por sua filha ter cuidado de mim ontem —
declara voltando a me encarar.
— Ela me contou que foi sua médica, aliás me falou bastante sobre você
enquanto conversávamos hoje. — Abro a boca chocada e Connor me fita com os olhos
brilhando.
— Mãe! — a repreendo. — Não escuta o que ela fala — brinco.
— Bom, foi um prazer te conhecer, mas eu preciso pegar a estrada ou chegarei
muito tarde em casa — avisa.
— Vai dirigindo até Nova York? — pergunta preocupado.
— Vou sim — ela confirma. — Gosto bastante de dirigir.
— É bom tomar cuidado porque as estradas estão escorregadias devido aos
últimos dias de chuva — ele alerta.
— Muito gentil da sua parte se preocupar, Connor — diz sorrindo e se vira para
mim. — Se cuide e qualquer coisa me ligue — pede me olhando.
— Está certo. — A abraço. — Eu te amo!
— Eu também, meu amor. — Se afasta e para em frente ao capitão o pegando
desprevenido quando o puxa para um abraço. — Espero revê-lo em breve — murmura,
mas eu consigo ouvir.
— Eu também — digo me afastando para o lado para que ela passe. — Tenha
uma boa viagem.
— Obrigada. — Observo minha mãe entrar no carro e fico parada ao lado do
Connor vendo o carro dela se afastar e sumir pouco tempo depois quando vira à direita.
— Ela parece ser incrível — ele elogia se aproximando, me puxando para
perto. — E você deve ter amado a surpresa.
— Ah, e como. — Encosto minha cabeça no seu peito enquanto ele passa os
braços pelo meu corpo. — Estava morrendo de saudades dela.
— Eu imagino. — Seu queixo pousa em cima da minha cabeça. — O que
pretende fazer agora à noite?
— Eu iria estudar porque estou com alguns trabalhos pendentes — respondo
lembrando da pilha de resumos que tenho para fazer.
— Então vou deixar você estudar e amanhã a gente se vê na aula — declara,
entretanto, é notável a tristeza na sua voz.
— Ou você pode ficar, me fazer companhia e juntos estudamos a anatomia um
do outro.
— Isso foi um convite para foder, Ashley Moore? — pergunta chocado.
— Estou com saudades do seu pau monstro — confesso arrancando uma
risada estrondosa dele.
— Cristo, eu criei uma monstrinha do sexo — brinca quando para de rir. — Mas
eu não vou te julgar porque também estou morrendo de saudades de estar dentro de
você, inclusive bati uma punheta à tarde pensando no seu rostinho lindo enquanto
goza.
— Você fala de mim, mas consegue ser ainda mais safado — brinco inalando o
seu perfume que está impregnado na camisa. — Então, vai ficar? — pergunto e sua
mão vem para o meu queixo, o erguendo.
— Não existe a possibilidade de eu recusar um convite seu, tampouco se ele
envolver nós dois completamente nus — responde selando nossos lábios em um beijo
rápido.
Agradeço aos céus pela Brooke ter decidido ficar na casa do pai para dormir,
porque assim tenho o quarto todo para mim. Connor segura minha mão e juntos
adentramos o dormitório. Ofego quando ouço o clique da chave indicando que estamos
trancados e, quando me viro, o semblante tranquilo do capitão dá lugar a luxúria.

Connor Harrington
Meu pau está tão duro quanto pedra e bastou apenas algumas palavras e um
sorriso safado da garota para fazê-lo ficar dessa forma. Ashley me olha tão faminta
enquanto estou me aproximando, que controlo a vontade de colocá-la de quatro e me
enterrar de uma só vez na sua boceta.
Sua língua passa vagarosamente pelos lábios rosadas e imagino o mesmo
movimento em outro lugar.
— Meu pau está implorando por você — aviso e sua mão desce até a minha
bermuda no mesmo instante.
Fecho os olhos quando ela o aperta e mesmo sob o tecido sinto o desejo se
intensificar. Abro os olhos quando a vejo abrindo os botões e rapidamente a ajudo me
livrando da peça indesejada. Seus olhos parecem dobrar de tamanho quando vê o meu
pau marcando a cueca boxer.
— Tira essa roupa para mim — peço apontando para o conjunto que veste e
ela se afasta.
Não desvio meu olhar enquanto ela retira a blusa de alcinhas e o short jeans
ficando apenas com um conjunto de lingerie rosa à minha frente. Ele também não se
demora no seu corpo, pois rapidamente ela o retira ficando completamente nua à
minha frente.
Controlo a vontade de avançar contra ela e para isso ocupo minhas mãos
retirando minha camisa e, em seguida, desço a cueca jogando ambos em algum lugar
do quarto. Suas pupilas se dilatam com a visão do meu pau em sua mais perfeita
glória.
— O que você quer, Ashley? — indago com a voz rouca voltando a me
aproximar.
— Você — responde. — Na minha boca — completa arrancando o restante da
minha sanidade.
— Ajoelha — ordeno com a voz rouca e sei que ela gosta porque morde os
lábios maliciosa fazendo exatamente o que eu peço. — Sabe o quanto eu quero foder
essa sua boquinha? — Me inclino, seguro seu queixo, o erguendo para que seus olhos
encontrem os meus.
— Essa é a sua chance, capitão. — Solta seu rosto do meu toque e me
direciona um olhar safado.
Estremeço ao sentir sua mão circundar meu pau, porém é quando sinto seu
hálito quente encostar na minha pele que quase enlouqueço. Olho para baixo
encontrando sua língua percorrendo todo o comprimento do meu membro, parando na
glande. Ashley lambe a cabeça rosada, como se estivesse faminta, e o que fode tudo é
que em nenhum momento ela desvia seu olhar do meu.
Ela tem uma única intenção: me deixar completamente louco e devo dizer que
já conseguiu essa proeza há tempos.
— Caralho, Ash! — rosno no momento que ela o abocanha, levando até o
máximo que consegue na sua boca e me fazendo delirar no processo.
Ash me chupa com vigor, descendo e subindo sua cabeça em um movimento
delicioso. Seguro seu cabelo com força e, mesmo com meu pau entalado em sua boca,
ela dá uma risada safada.
— Hum... — geme enquanto me suga. Minhas bolas contraem e, como se
soubesse do que preciso, ela leva sua mão até elas, as apertando de leve.
Começo a impulsionar meu pau dentro da sua boca, fodendo-a do jeitinho que
já imaginei diversas vezes. Ela não reclama, pelo contrário, sinto sua língua rodar no
meu comprimento ao mesmo tempo que meu pau fode sua boca.
É a porra do paraíso na Terra!
Ninguém nunca fez isso. Ninguém nunca conseguiu me dar tanto prazer como
ela consegue.
— Eu não vou aguentar muito — aviso com a voz quase falhando, porém ela
segura minha coxa deixando claro que não é para parar. — Posso encher essa
boquinha de porra, é isso?
Seus olhos parecem triplicar enquanto ela assente ainda com a porra do meu
pau entalado. Volto a foder sua boca e sinto o orgasmo se aproximando com força,
mas é quando a vejo levar sua mão até sua boceta, enquanto me engole com gosto,
que desisto de segurar. Estoco mais uma vez e deixo o prazer vir com força. Despejo
toda a minha porra dentro da sua garganta enquanto sinto o tesão surreal me invadir
com força.
— Ashley... — rosno seu nome enquanto me derramo e ela engole cada
maldita gota, lambendo meu pau assim que solto sua cabeça. — Caralho, mulher! —
ofego tentando controlar os batimentos erráticos e a respiração.
— Gostou? — indaga se levantando e eu a puxo para mim grudando nossos
lábios em um beijo bruto.
— Nunca vou me esquecer do seu olhar enquanto se engasgava com meu pau
— murmuro quando a solto. — Agora é a minha vez de te provar.
Olho ao redor do quarto e, quando vejo o espelho, uma ideia se apossa da
minha mente. A solto, puxo a cadeira, colocando-a de frente para o espelho.
— Vem aqui — a chamo sorrindo safado e ela vem sem pestanejar. — Quero
que coloque uma perna no assento e empine essa bunda para mim. — A safada faz
exatamente o que peço. — Agora olhe para o espelho e veja meu rosto enfiado dentro
do seu rabo gostoso.
Ela ofega e meu pau já está ficando duro novamente com a visão da sua bunda
empinada.
Eu o seguro, me masturbando enquanto me abaixo. Distribuo beijos nas polpas
de sua bunda e só então solto meu membro para abrir suas nádegas.
— Connor... — me chama e, quando a fito através do espelho, vejo suas
bochechas corarem.
— Não precisa ficar com vergonha. — Ela morde os lábios, mas dessa vez
acanhada. — Você é linda e sua bunda arreganhada na minha cara é minha mais nova
visão favorita. — Ela arfa e sei que, mesmo envergonhada, gosta do palavreado sujo.
— Isso é novo. — Meu peito praticamente estufa como um homem das
cavernas ao compreender suas palavras.
— Ninguém nunca tocou aqui? — indago e ela nega. — Então se segura,
Assassina, porque vou lamber você por inteiro.
— Ahhh... — geme no instante que minha língua encontra seu cu.
Começo apenas lambendo, mas logo faço um movimento que se assemelha a
foder. Finjo que é o meu pau e tento socar seu cu, porém sem inserir minha língua.
Ashley se remexe inquieta, gemendo meu nome, enquanto me delicio com meu rosto
enterrado dentro da sua bunda.
Afasto-me apenas para molhar meu dedo e fazê-lo trocar de lugar com minha
língua. Procuro seu olhar através do espelho e o encontro ardendo em desejo. Ela abre
a boca quando insiro o polegar no seu cu e vejo suas mãos apertarem com força o
encosto da cadeira.
— Gosta disso? — Assente ofegante e eu sorrio. — Empina mais esse rabo
para mim. — Ela faz o que peço e desço meu rosto para a sua boceta.
O seu sabor explode na minha língua quando me delicio com sua carne úmida
e exalando a sexo. Meu dedo continua fodendo sua bunda enquanto seguro seu clitóris
com força.
— Ahhh... Iss... Isso é muito bom, porra. — Aumento a intensidade do dedo e
da língua. — Eu vou go... — A frase não se completa, porque ela começa a tremer na
minha boca e no meu dedo. — Porraaaaa... — pragueja quando é dominada pelo
prazer. Quase gozo só de vê-la se derreter dessa forma e só a solto quando seu corpo
se acalma. — Isso foi surreal! — diz em meio à respiração entrecortada ficando de
joelhos na cadeira.
— Estou tão viciado em você que não sei se consigo algum dia parar de te
foder — declaro já pegando a bermuda. Retiro o preservativo e ela dá risada quando vê
minha pressa em rasgá-lo.
— Quer ir para cama? — pergunta olhando sobre o ombro enquanto visto meu
pau.
— Quero fodê-la dessa forma — aviso me aproximando. — Só empina mais
essa bunda para mim.
— Assim? — pergunta de joelhos enquanto procura apoio no estofado da
cadeira. Assinto me aproximando.
Seguro meu pau, encaixando na sua entrada e jogo a cabeça para trás com o
prazer que me acomete ao deslizar por sua entrada quente e apertada.
— Isso é insanamente gostoso! — murmuro enquanto as paredes da sua
boceta me engolem.
Inclino meu quadril iniciando o movimento de vai e vem. Seguro seu cabelo
com uma mão e a outra passeia por sua coluna desnuda arrancando arrepios pelo
caminho.
Minhas bolas se chocam com sua pele enquanto meu pau vai cada vez mais
fundo. Nossos corpos suados vão se encaixando como se fossem feitos um para o
outro.
O quarto cheira a devassidão, nossos gemidos se misturam em uma melodia
erótica e, enquanto gozamos juntos, nossos olhares não se desgrudam.
Eu finalmente compreendo que jamais deixarei essa garota sair da minha vida!

ATENÇÃO
Essa cena possui uma ilustração +18 e ela se encontra no Twitter da autora. Bastar
clicar aqui.
CAPÍTULO 33 - Ashley Moore

Sei que tem algo de errado quando adentro o instituto com o Connor e noto
que a recepção está vazia, mas é quando pegamos o corredor e escutamos um choro
agonizante vindo da ala infantil que meu coração se aperta.
— Deus, não! — Connor pede já começando a correr e eu faço o mesmo,
porém estaco no lugar quando passo pela porta de vai e vem e vejo Eve abraçada a
mãe do Elijah.
Ela não precisa verbalizar, porque seu olhar por sobre o ombro de Quênia já
nos diz tudo. Meus olhos ardem quando as lágrimas começam a descer
silenciosamente. Viro-me para Connor, que parece estar em choque ao fitar as duas
mais à frente e o puxo para um abraço o despertando do transe.
Choramos copiosamente enquanto a perda vai se instalando por nossos poros.
Meu peito dói, minha cabeça lateja e sinto como se estivesse perdendo um familiar, na
verdade é exatamente isso que está acontecendo porque, nos últimos meses, essas
crianças se tornaram minha família.
Como Connor estava se recuperando da virose e minha mãe veio me visitar,
não conseguimos vir para o instituto na segunda. No entanto, Eve nos avisou na terça
que o Elijah tinha sido internado, mas, como ela não falou mais nada, eu acreditei que
ele tinha melhorado e retornado para casa.
— Não acredito que ele se foi — Connor diz fungando, tentando controlar o
choro. — O Noah, Deus, ele vai ficar desolado.
— Ele vai precisar de todo suporte necessário para ajudar no luto — digo e ele
assente se afastando, limpando as lágrimas. — Mas estaremos aqui por ele.
— Será que ele já saiu do quarto? — pergunta fitando o corredor e percebo
que Eve e Quênia sumiram.
— Quer ver? — questiono e ele assente.
Seguro sua mão e juntos caminhamos até a penúltima porta à direita. O choro
volta com força quando vejo a cama vazia, as paredes antes cobertas por desenhos
agora sem nada. Uma sensação pesada e dolorosa preenche o ambiente que antes era
o quarto dele.
Connor aperta minha mão e juntos nos despedimos silenciosamente do
ambiente onde, durante diversas vezes, compartilhamos momentos de diversão e
sorrisos sinceros do Elijah mesmo enquanto ele lutava contra uma doença tão severa.
O que consegue amenizar um pouco minha dor é saber que, apesar de tudo, a gente
conseguiu trazer alegria para uma fase tão difícil e dolorosa que ele enfrentou.
Nos viramos e seguimos até a sala da Eve e, depois de prestar nossas
condolências, seguimos para completar nossas tarefas porque é nítido que Eve
também precisa de um pouco mais de tempo para processar tudo. Sigo com a
enfermeira, que está de plantão, e a ajudo fazer as medicações de todas as crianças e,
quando terminamos, reúno-as na sala de recreação e, ao lado do Connor, tento trazer
um pouco de conforto para elas através da música e da pintura.
A tarde vai embora, porém a dor continua presente no meu peito e, quando
Connor me deixa em frente ao dormitório e vai treinar, eu estou ansiando por um banho
e minha cama, mas, ao passar pela porta do dormitório, descubro que esse dia horrível
está longe de acabar porque um Petter sorridente me espera sentado na minha cama.
— O... o que você está fazendo aqui? — Odeio a falha na minha voz.
— Eu também senti sua falta, docinho — zomba enquanto se recosta na
cabeceira, colocando as mãos atrás da nuca e esticando as pernas no colchão como
se estivesse em casa.
— Como você entrou aqui? — questiono sem sair de perto da porta. — Eu
quero que você desapareça daqui, Petter.
— Quem gosta de desaparecer é você, não eu — revida e odeio que ele
pareça tão centrado enquanto eu estou tentando ao máximo não surtar. — É sério que
você resolveu voltar para essa universidade de bosta? — Olha ao redor.
— Estou onde eu jamais deveria ter saído. — Cruzo os braços e ele gargalha.
— Já se passaram meses, Ashley, ainda não cansou desse seu chilique
infantil?
— Chilique? Você foi um escroto e nós terminamos! — grito. — O que caralho
você ainda está fazendo ao vir atrás de mim?
— Não. Não terminamos. — Na velocidade da luz, ele se levanta e vem na
minha direção. — Você que decidiu terminar, mas comigo as coisas não funcionam
assim! — Meu corpo retesa com a proximidade. — Achou que poderia simplesmente
me dar um pé na bunda e ficar por isso mesmo?
— A culpa foi sua... — Viro meu rosto e saio de perto dele quando ele tenta me
tocar. — Você destruiu nosso relacionamento! — grito tentando não o deixar me
intimidar.
— Eu não fiz caralho nenhum com você. — O fito incrédula porque ele
realmente acredita nisso.
— Você me machucou, Petter, e só não fez pior porque eu fugi!
As lágrimas teimam em descer quando lembro daquela tarde.
Eu estava no pátio da universidade fazendo um trabalho em dupla com Sean e
Martina, dois alunos do curso de medicina quando Petter apareceu totalmente
transtornado querendo bater no Sean me acusando de estar traindo-o. Foi um inferno
e, para evitar algo pior, eu praticamente saí o arrastando do pátio até o
estacionamento.
Brigamos feio e ele me mandou entrar no carro. Eu estava exausta demais
para negar e não queria continuar sendo o centro de atenção da faculdade, então entrei
e fui com ele.
As lembranças me atropelam sem eu sequer conseguir fazer algo.
— Petter, vai mais devagar! — pedi com medo porque o painel estava
marcando cento e vinte e ele estava completamente transtornado.
— Eu não acredito que você estava me traindo bem embaixo do meu nariz. —
Sua voz continha o mais puro ódio e eu me assustei porque nunca vi esse seu lado. —
Como eu sou idiota!
Seus dedos seguravam o volante com força e eu respirei aliviada quando vi a
mansão mais à frente. Quando ele estacionou em frente, desceu batendo a sua porta e,
rapidamente, deu a volta no carro abrindo a minha, me puxando para fora com rispidez.
— Você está me machucando! — gritei puxando meu braço de suas mãos e
ele me fitou com ódio.
— Vamos entrar e conversar! — informou respirando fundo, buscando controle,
e acreditando que ele ia se acalmar o segui para dentro da mansão.
Passei pela sala e juntos subimos as escadas que levavam ao primeiro andar.
Assim que entramos no seu quarto, ele começou a andar de um lado para o outro.
— Por que você fez isso? — questionou se aproximando e eu dei um passo
para trás assustada, porém logo minha lombar encontrou a parede. — Não estava
satisfeita com um pau e foi atrás de outro? — gritou com ódio.
— Eu não estava traindo você — respondi sentindo o pavor me dominar
quando seu corpo alto e esguio me encurralou na parede. — Eu só estava fazendo um
trabalho — murmurei.
— Os caras disseram que viram você e o Sean juntos na frente da sua casa
ontem à noite. — Sua mão apertou meu braço com tanta força que senti a ardência no
local. — E que pareciam muito íntimos.
— Você está me machucando, Petter! — Lágrimas começaram a rolar pelo
meu rosto.
— O que você estava fazendo com ele ontem à noite, caralho? — gritou
segurando meu queixo com a mão livre e, pela primeira vez, senti medo dele. Medo do
que ele poderia fazer comigo.
— N... nada — gaguejei sob o aperto de sua mão. — Ele foi apenas pegar uma
bolsa para a Martina.
Ele gargalhou apertando ainda mais o meu maxilar.
— Eu faço tudo por você, caralho! — Seus olhos brilhavam de fúria. — Eu
trouxe você para Leifield e te coloquei embaixo das minhas asas.
— Eu não fiz nada, juro — revidei e trouxe a minha mão até a sua a afastando
porque a dor estava forte e só então ele soltou o meu maxilar. — Juro que não transei
com o Sean e nem com ninguém.
— Você é minha, Ashley, e eu vou te dar essa confiança, mas, se eu descobrir
que você me traiu, você vai se arrepender — decretou se afastando.
— Não, eu não sou sua — neguei enxugando as lágrimas. — Você me
machucou, Petter. — Estiquei o braço em sua direção mostrando a mancha roxa que
começou a aparecer. — Nunca mais encoste em mim! — gritei sentindo o medo dar
lugar ao ódio.
— Eu não quis te machucar! — disse arregalando os olhos. — Você que me
deixou fora de mim! — acusou.
— Acabou. — Agora o pavor percorreu seu semblante. — Não chegue nunca
mais perto de mim! — gritei e me virei saindo do seu quarto. Corri pelo corredor
querendo desaparecer daqui, mas logo ouvi seus passos atrás de mim.
— Aonde você está indo? — gritou furioso e eu acelerei o passo. — Volta aqui,
Ashley! — bradou no momento que comecei a descer as escadas correndo.
Senti meu coração praticamente saltar para fora com medo dele me alcançar,
mas quando desci o último degrau e corri em direção a entrada um grito me parou. Ao
olhar para trás vi o Petter literalmente despencar escada abaixo.
— Caralho, eu vou matar você, garota! — gritou segurando o braço com força e
eu vi Angelina, a governanta da casa, entrar na sala.
— Jesus, o que aconteceu? — exclamou assustada.
— Liga para o doutor Andreas. Acho que fraturei meu braço! — Petter gritou
tentando se sentar.
Senti vontade de voltar até ele e ajudá-lo, mas olhei para o meu próprio braço
e, quando fitei a marca que ele deixou há pouco, virei as costas e saí da mansão sem
olhar para trás.
— Eu perdi a cabeça naquela tarde e já me arrependi. — Sou arrancada das
lembranças quando percebo sua voz próxima novamente. — Você não pode me deixar
só por causa de um erro!
— Um erro? — rebato. — Você me agrediu, pior ainda foi o que eu descobri
depois. — Arrepio-me só de lembrar.
— Eu só queria um filho nosso! — tenta justificar o injustificável.
— Você furou todas as camisinhas sem eu saber e eu só descobri quando
perdi a criança! — Um soluço escapa da minha garganta. — Você tem noção do quanto
foi um filho da puta?
Me sento na cama da Brooke completamente exausta ao me lembrar de tudo.
Quando saí da casa do Petter naquela tarde, eu fui direto para a minha e me tranquei
no quarto me sentindo pequena e vulnerável, porém sem coragem de ligar para a
minha mãe porque ela estava viajando a trabalho e só voltaria no dia seguinte.
Estava tão esgotada que acabei dormindo, mas acordei no início da noite com
dores insuportáveis na barriga e com os lençóis da cama sujos de sangue. No primeiro
momento, pensei que fosse minha menstruação, no entanto, quanto mais o tempo
passava, mais a dor se intensificava. Com medo, eu liguei para a Martina e ela me
levou até o hospital mais próximo e, naquela noite, eu descobri que estava sofrendo um
aborto espontâneo.
— Se eu pedisse um filho, você não me daria, então dei o meu jeitinho.
— Não encosta em mim! — grito quando sinto sua mão segurar meu braço. —
Eu odeio você, Petter! — brado e ele me levanta com força me encostando na parede.
— Para com essa loucura, porra! — esbraveja — Estou cansado das suas
frescuras.
— V... você está me machucando de novo — aviso sentindo minha respiração
falhar com o medo se embrenhando por cada partícula do meu corpo.
— E estou pouco me fodendo para isso! — Praticamente cospe as palavras.
— Eu vou matar você, seu desgraçado! — Uma voz irrompe feito um trovão
dentro do dormitório e, segundos depois, Petter é arrancado de cima de mim.
CAPÍTULO 34 - Connor Harrington

O sangue corre nas minhas veias no instante que retiro o desgraçado de cima
da Ashley sentindo o mais puro ódio me dominar. Viro-o de frente para mim e assusto-
me quando percebo que é Petter London que está à minha frente, porém a surpresa
não é párea para o ódio que me consome ao constatar que ele a estava machucando.
Meu punho acerta seu queixo antes que ele consiga processar que estou à sua
frente. O infeliz cambaleia para trás levando a mão até a boca e noto um filete de
sangue escorrer pelo local.
— Ah, está explicado por que ela estava na sua casa. — Ele limpa o sangue
com um sorriso de escárnio. — A vagabunda já encontrou outro pau para foder.
— Seu desgraçado! — rosno e parto para cima dele sentindo tudo arder dentro
de mim e uma névoa de ódio cobrir meus olhos. — Você quer brigar? Então briga com
alguém do seu tamanho, filho da puta. — Desfiro o segundo soco e ele cambaleia
caindo em cima da escrivaninha.
Ouço alguém gritar meu nome e um choro ao fundo, porém não consigo
raciocinar enquanto me lanço sobre Petter desferindo mais um soco. Uma dor forte
atravessa meu maxilar quando ele consegue me acertar ao se defender, porém revido
na mesma intensidade.
Minhas mãos estão sujas de sangue e cada fibra do meu corpo está focada em
derramar toda a fúria em cima dele.
— Connor... — alguém me chama, porém estou concentrado em socar outra
vez e outra vez. — Você vai matá-lo. — Sinto braços fortes me segurarem, arrancando-
me de cima de Petter, puxando me para trás.
— Me solta, caralho! — brado.
— Você precisa parar, porra! — Reconheço a voz do Liam, porém meus olhos
estão fixos no Petter, que se levanta com dificuldade e é arrastado para fora por um
cara que não conheço.
— Se chegar perto dela novamente, eu vou te matar! — grito antes dele sumir
da minha vista.
— Você precisa se acalmar — Liam pede, porém não consigo responder
porque meus olhos passeiam pelo quarto encontrando-a encolhida no chão abraçada à
prima.
— Ashley. — Seu nome sai quase como uma súplica, mas ela escuta porque
levanta o rosto e me fita.
Seus olhos, normalmente tão radiantes, agora estão opacos, vermelhos e
inchados. Uma faca cravada em meu peito doeria menos do que ver tanto sofrimento
em suas íris enquanto lágrimas rolam livremente por seu rosto.
Aproximo-me do seu corpo, me abaixando à sua frente quando ela assente
para a Brooke, que se afasta.
— Ele não vai mais te machucar! — digo a puxando para os meus braços
sentindo a fúria se transformando em uma determinação insana de protegê-la. — Eu
prometo que ele nunca mais vai tocar em você.
— Obrigada... — agradece em meio aos soluços e tantas perguntas rondam
minha cabeça, entretanto todas podem esperar.
Ouço a porta bater e sei que estamos sozinhos no quarto. Passo meus braços
pelo seu corpo sentindo os ossos da minha mão protestarem enquanto a levanto. Ando
com ela até a sua cama e a deposito gentilmente no colchão.
— Você está machucado — diz trazendo sua mão para o meu rosto e sinto a
ardência no maxilar.
— Não é nada! — a tranquilizo e ela fecha os olhos. — Como você está?
— Cansada, com medo... — A fragilidade na sua voz me quebra.
— Descanse. Vou apenas lavar minha mão e volto — aviso, mas ela abre os
olhos negando.
— Fica aqui, por favor — pede indo um pouco para o meio da cama e eu
assinto me deitando ao seu lado, encostando minha barriga na sua lombar. — Você
deve estar cheio de perguntas.
— Sim, mas elas podem esperar até você ficar bem. — Passo a mão esquerda,
a que não está com sangue, em seu cabelo, o acariciando.
— Eu namorei o Petter por pouco mais de dois anos. — Suas palavras me
pegam desprevenido. — É por causa dele que eu tinha a regra de não me envolver
com atletas.
— Como eu não sabia? Como ninguém sabia? — pergunto o óbvio, porque
nunca ouvi falar que o capitão dos The Crows tivesse uma namorada.
— Você deve saber que o pai dele é o reitor da Leifield. — Se vira, ficando de
frente para mim, e eu assinto. — Ele é bem rígido e dizia que um namoro tiraria o foco
do hóquei.
— Vocês passaram esse tempo todo namorando escondido?
— Não... — nega rapidamente. — O pai dele sabia sobre a gente e todas as
pessoas da faculdade também, porém não fazíamos demonstrações de carinhos
quando ele estava jogando, então fora da Leifield quase ninguém sabia da gente.
— O que ele veio fazer aqui hoje?
— É uma longa história... — Suspira.
— Eu tenho a noite inteira, se você quiser falar.
Ashley fecha os olhos e eu acredito que ela não irá me contar, mas, quando os
abre, desata a falar. Ouço atentamente enquanto ela começa a narrar sobre o início do
relacionamento revelando que ele já dava indícios de que seria abusivo, porém, na
época, ela não conseguiu ler nas entrelinhas as brigas por coisas simples, os surtos por
causa de uma roupa ou os ciúmes excessivos ao vê-la conversar com alguém do sexo
oposto.
Sinto ódio quando ela fala sobre o dia que ele finalmente surtou e foi agressivo,
porque acreditou que ela o estava traindo. Fico chocado ao descobrir que a lesão que
soubemos do Petter foi decorrente da briga que eles tiveram nesse dia, porque o
desgraçado caiu da escada.
Quando eu penso que não pode piorar, ela revela entre soluços sobre o aborto
que sofreu depois que ele a agrediu. Cada palavra que sai dos seus lábios é como um
golpe dentro do meu coração e me sinto impotente de não poder ter feito nada, mesmo
sabendo que era algo impossível porque sequer nos conhecíamos.
— Eu sinto muito por tudo que você passou com aquele infeliz, mas eu
prometo que não vou deixá-lo chegar perto de você — digo firme.
— Ele vinha me mandando mensagens e algumas vezes senti que estava
sendo observada, mas não acreditei que ele seria capaz de vir até aqui — soluça em
meio ao choro. — Estou com medo, Connor.
— Eu farei com que ele seja proibido de pisar na Brisfolk, se preciso até em
Boston, mas ele não vai mais te machucar.
Ela não responde, mas encosta seu rosto no meu tórax e eu volto a acariciar
seus cabelos. Quando Ashley pega no sono, eu me arrasto para fora da cama e sigo
até o banheiro.
Lavo as mãos me lembrando do desespero que fiquei quando Emily, uma
garota que também cursa Arquitetura, me ligou dizendo que estava escutando gritos
vindo do quarto da Ashley. Eu não fazia ideia, mas ela estava no quarto do primeiro
andar e, como já me viu diversas vezes no dormitório, decidiu me ligar e agora
agradeço aos céus por ter feito um trabalho em dupla com ela no semestre passado.
Sequer consegui agradecer porque, no momento que ela citou a briga, eu voltei
para o carro, desliguei o telefone e mandei uma mensagem para o meu grupo com os
meninos. Foi exatamente por isso que o Liam chegou pouco tempo depois de mim.
Seguro o mármore da pia com força quando desligo a torneira e fito meu
reflexo no espelho vendo uma mancha roxa próximo ao maxilar. Respiro fundo
tentando a todo custo controlar a vontade de ir atrás daquele infeliz e descontar o resto
da ira que ainda me consome.
Pego meu celular no bolso, abro o grupo dos meninos e digito furiosamente.
EU: Petter London é ex-namorado da Ashley e eu quero que esse desgraçado
nunca mais coloque os pés na Brisfolk.
Guardo o celular, jogo uma água no rosto e retorno para a cama, porque
preciso ter a certeza de que ela está bem.

A luz fraca do abajur ilumina seu semblante sereno e eu traço o contorno de


sua bochecha levemente com o polegar sentindo tudo dentro de mim se revirar. Ash já
está adormecida há algumas horas, entretanto, eu sequer consegui tirar um cochilo
devido ao caos que se encontra dentro de mim.
Sinto um aperto no peito, um nó na garganta, ao constatar que o que era para
ser uma conexão física evoluiu para algo muito mais profundo. Nunca senti essa
avalanche de sentimentos dentro de mim e sei que a responsável por isso é ela. A
garota que chegou me derrubando, literalmente, e virando meu mundo do avesso com
suas respostas afiadas.
Ashley se embrenhou dentro de mim e, sem que eu sequer percebesse, ela
começou a se tornar alguém essencial na minha vida. As palavras que trocamos, os
beijos, toques, risadas sinceras e todos os momentos ecoam dentro da minha mente
fazendo a ficha cair e me mostrando que isso dentro de mim é muito mais do que
apenas desejo.
É inegável e meu coração palpita quando a constatação me acerta
precisamente.
Eu estou completamente apaixonado por essa garota e não sei o que fazer
com essa nova informação, principalmente agora que tenho noção do quanto ela ainda
está machucada devido ao seu relacionamento anterior. Entretanto, estou mais do que
disposto a mostrar que eu sou diferente e que posso fazê-la feliz.
Ashley se remexe e seus olhos se abrem lentamente revelando as íris mais
lindas. Um pequeno sorriso desponta e meu coração erra uma batida.
— Ei, como você está? — pergunto suavemente e ela se aconchega um pouco
mais.
— Estou bem, pelo menos preciso ficar bem. — A abraço tentando passar
algum conforto. — Não vou dar o poder dele me adoecer.
— Que tal a gente sair um pouco? — Ela se afasta, sentando-se na cama. —
Ainda são apenas oito da noite e você deve estar faminta. — Vejo uma leve hesitação,
porém ela anui. — Você vai se arrumar e, quando terminar, a gente dá um pulo na
minha casa para eu me trocar e depois saímos para comer algo.
— Está certo. — Ela se levanta e eu faço o mesmo. — Como você está? Eu
imagino que perder o Elijah tenha sido muito difícil. — Só a menção a ele faz meu
coração doer. — E ainda teve toda a briga com aquele infeliz.
— Está doendo pra caralho, porém eu prefiro pensar que ele descansou e
agora está iluminando o céu. — Sorrio para tranquilizá-la optando por não falar mais
sobre o Petter.
— Soube algo sobre o velório e enterro?
— Ambos irão acontecer na cidade natal deles — aviso com pesar porque
queria me despedir do pequeno, porém, a essa altura, seu corpo já foi transportado. —
Fica a quase dez horas daqui.
— É uma pena — diz pesarosa. — Mas o que importa é que convivemos com
ele. — Sorrio concordando. — Vou tomar um banho e rapidinho me troco. — Assinto
pegando meu celular com uma ideia se formando na mente.
Uma hora depois estou estacionando em frente ao bar do Henry e sei que
acertei na escolha quando um sorriso gigantesco desponta nos lábios da Ashley.
— Existe remédio melhor para dias ruins do que a música? — pergunto
desligando o veículo.
— Não! Você acertou em cheio, capitão. — Gosto de ouvi-la me chamar assim,
principalmente porque não vejo mais nenhum asco no tom de voz como no início.
Saio do carro, dou a volta pela frente abrindo a sua porta. Estendo minha mão
e, quando ela a segura, a puxo contra o meu tórax sentindo o cheiro da sua loção de
baunilha. Deposito um beijo casto em seus lábios e fecho a porta.
— Então vamos cantar para afastar as lembranças e dores desse dia.
Ela anui e eu seguro sua mão.
Juntos seguimos até a entrada e, quando passamos pela porta, olho de soslaio
notando os olhos da Ashley quase saltarem para fora quando percebe que, além de
nós dois, praticamente todos os nossos amigos estão aqui: Brooke, Ben Liam, Kyle,
Bethany, Destiny e Bryan no esperam próximo as máquinas do karaokê.
Enquanto Ashley estava tomando banho, eu os convoquei e rapidamente todos
aceitaram fazer essa surpresa para ela.
— Não acredito que você os trouxe até aqui. — Ela se vira para mim com
aquele sorriso que consegue fazer tudo dentro de mim se revirar.
Já decidi que serei honesto comigo mesmo e que não irei fugir dessa nossa
conexão. Estou decidido a enfrentar esses sentimentos, não como uma fraqueza ou
algo que vá atrapalhar minha carreira no hóquei, mas sim como algo precioso que
chegou no momento ideal.
Estou decidido a conquistar o coração da Ashley mesmo sabendo que é um
caminho incerto e que, no final, posso me machucar. Mas eu prefiro arriscar. Na
verdade, eu preciso porque a ideia de perdê-la é dolorosa demais.
— Vamos nos divertir, Assassina! — Aperto sua mão com medo dela afastar
nossos dedos porque estamos em público, entretanto, ela apenas olha para as mãos
entrelaçadas, sorri e volta a caminhar.
— Você é incrível! — sussurra enquanto nos aproximamos. — Obrigada por
não me deixar cair.
— O que eu puder fazer para colocar um sorriso em seu rosto eu farei, pode
apostar — afirmo e logo chegamos até a turma.
— Como eu não conhecia esse lugar? — Liam pergunta me fitando e noto as
meninas abraçarem a Ash.
— Como você está? — Brooke pergunta.
— Pronta para cantar muito e estourar os tímpanos de vocês. — Sabemos que
a pergunta da Broo não foi referente a isso, mas confesso que gosto da fugida do
assunto porque não tenho intenção de fazer a Ashley ficar lembrando da situação com
o Petter.
— Se você acha que canta mal é porque não viu o Kyle com um microfone na
boca — Ben debocha.
— Deve ser porque o que tem costume de estar com algo na boca é você e
não eu — nosso amigo revida a provocação arrancando risadas de todos.
— Então, vamos cantar ou só ficar com piadinhas de duplo sentido? — Beth
reclama.
— Connor está proibido de participar, porque a voz dele é a única bonita e será
injusto conosco meros mortais desafinados — Ash brinca.
— Isso é bullying — revido fingindo estar ofendido. — Mas vou deixar vocês
irem cantando enquanto cumprimento o meu amigo.
— Vou com você — Ashley avisa quando nota Henry no balcão.
— Não demorem! — Destiny pede já indo em direção a máquina.
Rapidamente cumprimentamos Henry e depois de pedir uma rodada de drinks
sem álcool e batata frita retornamos para onde a turma está. Durante algumas horas
esquecemos sobre morte, ex babaca, problemas e apenas nos divertimos ao lado dos
nossos amigos.
CAPÍTULO 35 - Ashley Moore

— Estamos na final, porra! — A voz do Connor irrompe a sala, porém noto ele
se calar quando recebe de volta o silêncio e a escuridão.
— Onde está todo mundo? — Liam, como um bom ator que é, indaga pouco
antes de alguém acender as luzes.
— Surpresa! — gritamos em uníssono e observo o capitão nos fitar abismado
enquanto seus três amigos estão sorrindo como patetas ao seu lado porque todos nos
ajudaram a preparar a surpresa.
Brisfolk venceu mais dois jogos no último final de semana e hoje, em plena
quarta-feira, venceram com louvor a campeã do ano passado, Lecroft, os levando
direto para a final da temporada. Eles estão a um passo para receber o título de
campeão e uma grande festa na Nu Zeta está sendo preparada para comemorar a
vitória de hoje. No entanto, eu quis fazer algo mais íntimo para comemorar o
aniversário do cara que está vindo em minha direção com um sorriso gigantesco e os
olhos brilhando.
— Feliz aniversário, capitão — felicito pegando a embalagem pequena no
bolso da calça o entregando. — É só uma lembrancinha.
— Obrigado — agradece e traz seu rosto até o meu depositando um beijo
rápido em meus lábios. — Mas não precisava se incomodar comigo.
— Abre... — peço ansiosa para saber o que ele vai achar e, quando ele vê a
palheta e o minipuck em forma de pingentes, seu sorriso se alarga.
— Isso... Isso é perfeito — agradece colocando ambos na palma da mão. —
Muito obrigado. — Torna a guardar os pingentes na embalagem.
— Parabéns pelo jogo também. — Aproximo-me depositando minhas mãos
atrás da sua nuca. — Você foi incrível, capitão.
— Então eu mereço mais um prêmio. — Segura minha cintura.
— E qual seria? — indago fitando seu sorriso malicioso.
— Um beijo de verdade — responde já chocando nossos lábios.
Seu beijo tem gosto de hortelã e minha língua rapidamente encontra a sua em
uma carícia faminta. Nos beijamos e sinto a corrente elétrica passear pelo meu corpo o
acendendo como acontece toda vez que o Connor me toca.
— O que acham de deixar para se pegarem mais tarde para a gente comer e
depois ir para a Nu Zeta? — Desgrudo nossas bocas quando ouço a voz do Kyle.
— Não gosto dessa ideia — Connor resmunga, mas se afasta do meu corpo e
segue até a mesa onde estão dispostos o bolo, docinhos e salgados que
encomendamos. — Vocês sabiam disso? — questiona e os meninos assentem.
— A ideia inicial foi da sua garota — Destiny declara.
Sua garota!
Porra, eu gosto de como isso soa!
Desde a noite no karaokê que a turma inteira ficou sabendo sobre nós, eu amei
que nenhum deles ficou nos enchendo de perguntas, pelo contrário, é como se eles já
soubessem, pois não houve surpresa alguma quando nos viram de mãos dadas. Eles
quase me deixaram surda quando viram eu e o Connor nos beijando depois do capitão
alcançar a nota máxima na máquina do karaokê.
— Obrigado a todos vocês — agradece e rapidamente todos se juntam para
abraçá-lo.
Eu, Destiny, Bryan, Liam, Brooke, Ben, Kyle e Bethany. Assim como na noite
do karaokê, a Cassey não conseguiu vir comemorar conosco.
— Agora está bom de sentimentalismo porque eu vou tomar um banho e correr
para a Nu Zeta. — Kyle se afasta. — Preciso descarregar toda essa adrenalina pós-
jogo em uma gostosa.
— Eca! — Vejo Brooke jogar uma almofada no moreno safado.
— Posso mostrar que não tem nada de nojento nisso, loirinha. — Lança uma
piscadela para a Brooke e agora é o Liam que joga uma almofada nele.
— Obrigada, mas passo — minha prima responde. — Vamos comer.
Nos reunimos no tapete da sala e ficamos conversando enquanto devoramos
as comidas que compramos. Quando terminamos, eu e as meninas vamos para o
dormitório para nos vestir e ir para a festa em comemoração à vitória dos meninos.

O som ensurdecedor da música corta o ar enquanto eu remexo meu corpo de


acordo com a batida. Brooke joga as mãos para o alto rebolando na minha frente e
Destiny se aproxima entrando na nossa bolha de dança. Luzes coloridas piscam
freneticamente no ar criando uma aura de boate, trazendo ainda mais energia para o
local. As paredes parecem vibrar com o som alto enquanto rebolamos.
A sala está recheada de alunos dançando, bebendo e se pegando sem pudor
algum, inclusive fiquei levemente chocada quando cheguei e esbarrei com Raven, Allie
e outro cara se agarrando em cima do sofá, como se não tivesse uma multidão ao
redor deles.
Um burburinho se forma próximo a porta e sorrio ao vê-los entrarem na sala.
Connor, Liam, Ben e Kyle são recebidos com assovios, gritos empolgados e
felicitações. A energia, antes caótica, parece se triplicar enquanto acompanho eles
serem parados por diversas pessoas e fico vidrada na cena porque é nítido que, para
todos aqui, eles são uma celebridade e estar na final da temporada aumenta ainda
mais a popularidade deles.
— E eles chegaram! — É minha prima que comenta. — E em três, dois... —
Antes que ela chegue ao final da contagem, já vejo várias garotas se aproximando
deles. — Um... — finaliza. — Vamos dançar porque estou cansada de vê-los pegando
as marias-patins. — É nítido o rancor na voz dela.
— Como assim? — Viro-me para ela tentando não ficar secando o capitão.
— As garotas parecem surtar quando os meninos ganham e praticamente os
comem no meio das festas — Destiny responde. — E se eu fosse você, não olhava
mais para eles.
Nunca peça para uma pessoa não olhar para determinado local, porque ela vai
fazer justamente o contrário. É exatamente por isso que viro o meu rosto e, quando
volto a fitá-los, meu coração aperta ao ver a Raven pendurada no pescoço do Connor.
“Droga, ele não vai fazer essa merda. Não depois de tudo!”, penso, mas,
quando a vejo se aproximando do seu rosto, não consigo mais olhar e rapidamente
retiro meus olhos de cima dos dois.
— Vou pegar mais cerveja! — grito para ser ouvida sobre o som que aumentou
consideravelmente.
— Ashley... — minha prima me chama, entretanto, eu já estou me afastando,
me embrenhando na multidão e me desvencilhando dela seguindo caminho até a
cozinha.
Meu coração parece estar preso a garganta junto com o nó que se formou, no
entanto, me forço a engolir todo o amargo e não permito que lágrimas traiçoeiras se
acumulem em meus olhos.
Assim que passo pela porta da cozinha noto que o ambiente está relativamente
tranquilo, porém, próximo ao barril de cerveja, está Black agarrado a uma garota.
— Oi, Ashley — me cumprimenta e não lembro se, na única vez que o vi,
comentei o meu nome.
Não respondo e ouço sua risada debochada enquanto encho uma caneca com
cerveja.
— Gostou da visita do Parker? — Agora sim ele tem a atenção que quer.
— Como assim? — O fito.
— Olha, ela tem voz — debocha falando para a garota que está no meio das
suas pernas. — Fiquei bem surpreso ao descobrir que você era namorada do meu
brother.
— Ex-namorada — o corrijo começando a entender como aquele imbecil entrou
na universidade.
— Detalhes... — responde levando seu copo à boca. — Aliás, um detalhe
importante porque parece que você já está em outra, né?
— Eu não te conheço, então não tenho que te dar satisfações com quem saio
ou deixo de sair.
— Já pensou o caos que vai ser na final? — Meu semblante deve exalar
confusão porque ele balança a cabeça sorrindo. — A final será Brisfolk contra a
Leifield.
Meu peito aperta porque eu não sabia dessa informação.
— Droga!
— É, bonitinha, aqueles dois vão se matar na arena. — Só percebo que
praguejei alto quando o idiota do Black responde. — O Petter está com ódio e vai
querer revidar a surra que levou.
— Isso é bom, porque vai gerar entretenimento para nós. — A garota fala pela
primeira vez e eu giro sob os calcanhares não suportando mais ficar ao lado desses
dois.
Connor e Petter vão se enfrentar na final.
Droga, Ashley, onde você se meteu?
Saio tão atordoada do local que acabo esbarrando em alguém assim que
adentro a sala. Quando estou preste a pedir desculpas percebo que não é qualquer
pessoa, mas sim o Oliver.
— Oi... — Ele olha ao redor conferindo quem está ao nosso lado e tenho
vontade de revirar os olhos. — Aconteceu algo?
— Não. — Balanço a cabeça em negativa. — Só estava com os pensamentos
longe.
— Ah... — Ele parece querer dizer algo, porém desiste. — A gente se vê por aí.
— Oliver... — o chamo, segurando seu braço quando ele começa a se afastar.
— Somos amigos, né?
— Somos. — Ele sorri assentindo e eu solto sua pele o vendo sumir no meio
das pessoas indo em direção à área externa.
Viro-me novamente para procurar as meninas, porém meu rosto encontra um
tórax impenetrável. O cheiro amadeirado me impregna no mesmo instante trazendo o
reconhecimento.
— Estava procurando você — diz alto e, quando olho para cima, percebo seu
olhar irritado acompanhando o ruivo. — Mas acho que estava ocupada. — A acusação
na sua voz é nítida.
Quase dou risada da audácia em suas palavras. Quase, porque ao me lembrar
de que ele estava com a Raven há pouco o ódio volta a me consumir.
— Não estou com paciência, Connor — aviso tentando passar pelo lado, porém
ele se posta na minha frente novamente.
— Droga, Ashley, o que eu fiz? — pergunta frustrado. — Eu só quero curtir a
vitória do time e meu aniversário com você.
— Não parece. — Cruzo os braços. — Porque até poucos minutos estava se
agarrando com sua peguete premium. — Seus olhos arregalam. — Eu fui muito idiota
em acreditar que você estava saindo só comigo, não é? — Meus olhos ardem com as
lágrimas querendo sair.
— Eu não tenho ninguém além de você, Ashley — começa, porém eu o
interrompo.
— Eu vi, Connor, ninguém me contou — acuso.
— O que porra você viu? — Se exalta para ser ouvido através do barulho. — A
Raven me abraçando para parabenizar pela vitória e depois eu a afastando?
— Não foi isso que pareceu de onde eu estava — revido.
— Eu não fico com ela desde que você me atropelou naquele estacionamento.
— Abro a boca chocada com sua confissão. — Aliás, eu não toco em nenhuma garota
desde o início das aulas. Desde o instante que meus olhos pousaram em você.
Meu coração erra uma batida com suas palavras e minha respiração fica presa
na garganta por alguns segundos.
— É sério isso? — pergunto com medo de ter escutado errado.
— Muito sério, Ash, e se as garotas ainda se jogam em cima de mim a culpa
não é minha, é toda sua! — acusa cruzando os braços.
— Minha? — indago incrédula.
Pronto, agora eu sou culpada por ele ser um gostoso do caralho e ainda
safado!
— Sim. Porque foi você quem quis manter a gente em segredo. — Dou risada
e ele me fita com raiva.
— Ah, para — desdenho com as mãos. — Como se você fosse querer espalhar
que está sendo exclusivo, não é, capitão? — Uso o apelido de propósito para lembrar
que ele é o pegador aqui, não eu, e vejo seus olhos fumegarem.
— É isso que você pensa? — Assinto. — Você acha mesmo que eu prefiro
esconder você?
— Até onde eu sei, você não namora e só fode sem se apegar. — O maldito
lema que descobri recentemente através de uma conversa com as meninas me vem à
mente. — Então por que você iria querer que descobrissem que está saindo só
comigo? Se é que isso é verdade!
— Então deixa eu te mostrar que sou apenas seu, Ashley, e que você é toda
minha, só não percebeu ainda.
Connor responde e se vira, se afastando em seguida. Acompanho seu corpo
alto ir até o outro lado da sala e, como um passe de mágica, todo o som some quando
ele desliga o cabo que liga todas as caixas de som.
O burburinho de reclamação vem em seguida, entretanto, ele pede atenção de
todos enquanto sobe na mesa de sinuca.
— Já devolvo o som de vocês — avisa, com seus olhos percorrendo o salão
até pararem em mim.
— O que ele está fazendo? — Reconheço a voz da Destiny enquanto ela e
minha prima chegam ao meu lado.
— Mas antes preciso fazer um comunicado importante. — Percebo todos
atentos ao Connor, e meu coração acelera misturando nervosismo e curiosidade. —
Estão vendo aquela garota ali? — Ele aponta para mim e diversos rostos se viram em
minha direção. — Ela uma vez me disse que o tipo dela é caras que fazem grandes
gestos.
— Ai, meu Deus! — Brooke grita animada.
— Connor... — murmuro seu nome sentindo uma lágrima sorrateira deslizar por
minha bochecha.
— Então quero avisar aqui para todos que ela é a minha garota! — Meu
coração parece prestes a explodir de emoção. — E eu sou exclusivamente dela!
— Não acredito no que eu estou vendo e ouvindo! — Destiny exclama.
— Sinto muito informar a vocês, meninas, mas eu estou oficialmente fora de
campo, porque meu coração e corpo são totalmente dela.
— Meu Deus, ela fisgou o coração do capitão! — Brooke grita e me dá um leve
empurrão para a frente.
Ouço burburinhos por todos os lados, no entanto, estou concentrada em
caminhar na direção dele no instante que ele dá um pulo, saindo da mesa.
— Pronto, Ash, agora todo mundo sabe que eu tenho uma dona! — declara
convencido quando para na minha frente.
— Você é maluco! — comento e seu polegar vem até a minha pele, secando a
lágrima traiçoeira que teima em descer.
— Sou, mas é por você. — Seus lábios se aproximam dos meus. Nossas
respirações se encontram no processo. — Então aceita ser só minha também?
Percebo que o silêncio ainda reina na sala e, quando olho de soslaio, vejo todo
mundo nos fitando, esperando minha resposta.
— Sim. Eu também sou toda sua! — respondo e sua boca se encontra
finalmente com a minha bloqueando todo o barulho que inicia ao nosso redor.
CAPÍTULO 36 - Ashley Moore

— Isso aqui está divino! — Connor elogia praticamente gemendo à mesa e


minha mãe sorri orgulhosa.
— Eu já tinha me esquecido de como você cozinha bem, Amélia — meu tio
concorda depois de experimentar o molho de cranberries que ela preparou.
O dia de Ação de Graças chegou e, como combinado, minha mãe conseguiu
vir passar conosco e aproveitei para contar sobre o pedido de namoro do Connor.
Depois de uma longa conversa com o capitão, ela abençoou o nosso
relacionamento e o convidou para jantar com a gente já que Ben, Destiny, Kyle e Liam
viajaram para passar o feriado com a família.
— Por que você não foi para casa mesmo, Connor? — meu tio pergunta
levemente desconfiado enquanto fita o capitão ao meu lado.
Estamos a menos de vinte dias para o último jogo e com medo da reação do
meu tio optamos por não falar sobre o namoro, pelo menos até acabar a temporada.
Meu receio é de que meu tio não aceite tão bem esse relacionamento, porque ele
conhece muito bem a fama dos meninos, inclusive deixou muito claro que éramos para
manter distância deles.
— Meus pais viajaram para passar o feriado na casa da minha tia, no Texas —
responde com sinceridade. — É muito distante para passar pouco tempo, então decidi
ficar por aqui mesmo e aproveitar os dias livres para treinar um pouco mais. — Franklin
assente. — Obrigado, mais uma vez, por me deixar passar com vocês.
Nessa última semana, eu e o Connor praticamente não desgrudamos um do
outro e na noite passada ele me contou um pouco sobre sua família, inclusive me
convidou para ir à festa em comemoração ao casamento dos pais, o que eu aceitei de
imediato, mesmo depois dele me contar um pouco sobre o William, seu pai.
É nítido que o assunto o incomoda, porém também vi esperanças em seus
olhos quando falou que, na última visita, sua irmã confessou que o pai estava
começando a se acostumar com a ideia de que Connor realmente não iria para a
empresa e sim seguir carreira profissional no hóquei.
— Você já é praticamente de casa — minha prima comenta arrancando-me dos
pensamentos e sinto sua perna bater na minha embaixo da mesa.
— Você pretende seguir mesmo para o profissional, Connor? — É minha mãe
quem indaga.
— Sim. — Sinto sua mão segurar a minha por baixo da mesa e eu a aperto. —
Já fui draftado por um time e, assim que finalizar a faculdade, já dou início no
profissional.
— Eu admiro muito isso em você, garoto — meu tio diz o fitando. — O antigo
capitão pulou fora assim que assinou o contrato com o Bruins.
— Eu não sei o que o destino me reserva, então gosto da opção de ter um
plano B caso algo saia errado no hóquei.
— O que não irá acontecer, porque você tem uma carreira brilhante pela frente
— Brooke elogia. — E eu ainda vou te entrevistar no profissional.
— Não tenho dúvidas disso! — Ele sorri cúmplice.
— Então, você quer mesmo ser jornalista esportiva? — minha mãe indaga para
a Brooke e ela assente com os olhos brilhando.
— Até ela se formar preciso amadurecer a ideia de que ela vai estar rodeada
de homens, que provavelmente irão fazer da vida dela um inferno — Franklin suspira.
— Pai, eu sei colocar qualquer machista em seu devido lugar — Brooke
declara firme.
— Isso eu concordo. — Aponto com o garfo para ela. — Eu tenho pena é de
quem tentar fazer essa garota se sentir menos por estar em um esporte dominado por
homens.
Meu tio sorri orgulhoso, porque conhece muito bem a personalidade que a filha
tem e, mesmo receoso, sabe que ela não é do tipo que, se acontecer algo, vai para
casa chorar, pelo contrário, é mais fácil ela fazer o babaca desistir da profissão.
— Bom, deixa eu buscar a torta para vocês provarem. — Minha mãe se levanta
e, quando retorna, devoramos a sobremesa de maçã que ela preparou.
Quando finalizamos o jantar, nos reunimos na sala e, enquanto eu, Brooke e
minha mãe jogamos conversa fora, meu tio e o Connor se concentram na televisão
para assistir ao último jogo dos The Crows a fim de estudar as falhas que eles
cometeram e assim cair em cima deles na final.
Minha mãe está comentando algo sobre a galeria, porém estou completamente
distraída, fixando meu olhar no maxilar tenso e nos punhos cerrados do meu namorado
ao assistir o Petter jogar. Meu tio parece não perceber, mas seu capitão está
claramente desconfortável.
No dia seguinte à festa de comemoração, perguntei ao Connor sobre quem
estaria na final contra eles, esperando que o Black estivesse apenas blefando a fim de
me azucrinar. Infelizmente, para o meu desespero, meu namorado confirmou o que o
idiota tinha me falado na festa. Sinto uma pontada de culpa me dominar quando os
olhos do Connor se fixam por alguns segundos aos meus, porque sei o quanto ele está
tentando controlar a raiva do meu ex babaca para colocar o hóquei à frente e não
estragar a final.
O grande problema é que conheço o Petter suficiente para saber que ele não
deixará a surra barata e que só não voltou para procurar problemas porque sabe que
irá enfrentar o Connor na arena. Não me resta dúvidas que ele vai provocar o meu
namorado ao limite e, mesmo depois do Connor me confirmar que não vai entrar nas
provocações, não consigo ficar tranquila.
— Se vocês continuarem com essa troca de olhares, o pai vai descobrir
rapidinho. — Desvio meu olhar quando minha prima sussurra próximo ao meu ouvido.
Sorrio e tento voltar a atenção para elas, tentando não me deixar surtar!

As últimas duas semanas foram incríveis ao lado do meu namorado e da nossa


turma, inclusive voltamos ao boliche e eu, finalmente, parei de passar vergonha.
No final de semana, nos reunimos todo mundo na casa do Connor e fizemos
uma maratona de filmes com pizza e praticamente todos esses dias eu dormi agarrada
ao meu capitão e ao Marley, porque o cão só quer estar no nosso meio. Por alguns
momentos, eu consegui esquecer completamente do idiota do meu ex, porém o grande
dia oficialmente chegou e, enquanto me arrumo, sinto que a qualquer momento irei ter
uma síncope de nervosismo e baixar no hospital.
— Ashley, você precisa se acalmar. — É a voz da Cassey que ouço e eu me
viro para ela, que está sentada na minha cama com o semblante firme. — O Connor é
responsável demais para cair nas provocações daquele imbecil.
Estou tentando me convencer disso nas últimas semanas e fiquei tão
estressada com o assunto que acabei contando sobre o meu relacionamento com o
Petter para elas. Eu sequer sabia que precisava desabafar até me ver vomitando tudo
que passei, inclusive a gravidez. Me senti acolhida quando elas o xingaram de todos os
palavrões que existe e até uns novos. As três me ofereceram uma viagem até Nova
York para, pelo menos, quebrar o carro queridinho do Petter e, mesmo tentada, eu
recusei porque quero distância daquele desgraçado.
— Exatamente. — Destiny sai do banheiro enquanto tenta colocar um brinco.
— Ele não vai cair nas infantilidades do idiota máster.
— Estou com medo de ter estragado tudo! — confesso e me jogo na cama
suspirando.
— Ei, pode parar — Brooke pede colocando as mãos na cintura. — Vai ser
apena um jogo normal que fará aquele idiota voltar para Nova York com o rabo entre as
pernas. — Sorrio torcendo para que seja dessa forma. — E o Connor não vai sequer
olhar para o Petter quando ver você vestida dessa forma.
Eu e as meninas mandamos fazer camisas personalizadas com o emblema do
time, porém a minha tem um diferencial porque carrega o número vinte e três e o nome
do meu namorado.
— O ego dele, que já não é nada pequeno, vai aumentar a ponto de não caber
na arena — Destiny caçoa. — Então vamos? — questiona nos fitando.
— Eu não vou mais — Cassey responde e nós três a fitamos.
— Ah, você vai sim — afirmo.
— Isso aí. — Brooke se aproxima e segura as mãos dela. — Seus pais estão
na Flórida, então, pelo amor de Deus, aproveita!
— Verdade. — Ela se levanta e tenta sorrir. — Eles não têm como descobrir
que eu saí de casa, não é? — Odeio ver o medo na sua voz.
— Não mesmo porque você subornou a governanta — brinco para tentar
animá-la e consigo porque recebo uma risada de volta. — Agora vamos, porque o
Bryan já está nos esperando na entrada.
Minutos depois estamos as quatro entrando no carro seguindo em direção à
arena de Cambridge e, durante todo o percurso, me pego com o coração praticamente
saltando para fora.
CAPÍTULO 37 - Connor Harrington

— Fizemos uma caminhada brilhante até aqui e precisamos de todo esforço


para levar aquela taça para casa — declaro firme enquanto encaro meus amigos do
time. — Quero o máximo de cada um para massacrar os The Crows — aviso e vejo
eles assentirem. — Lembrem-se de que eles jogam sujo e usam bastante da violência.
— Não vamos entrar na pilha deles — Liam diz firme me fitando e sei que isso
é um alerta porque ele sabe o quanto esse jogo é mais difícil para mim do que para os
vinte jogadores que se encontram nesse vestiário.
Eu prometi a Ashley que não cairia na provocação do imbecil do Petter e
tentarei me manter fiel à palavra, entretanto, algo me diz que não vai ser nada fácil.
— Não, não vamos — o tranquilizo. — Porém, não quero corpo mole. — Olho
para todos. — Quero todo mundo caindo em cima — digo firme abrindo um sorriso
debochado. — Eu quero os gatos engolindo aqueles pássaros podres — declaro
fazendo referência aos apelidos de ambos os times.
— Entramos em dois minutos. — Franklin irrompe o vestiário e olha para cada
um de nós. — Todos os ingressos foram vendidos e lá fora está um caos de tanta
gente. — Ele sorri. — Vamos mostrar quem manda nessa porra!
— Nós, nós mandamos! — grito e meus colegas fazem o mesmo enquanto nos
posicionamos já saindo do vestiário entrando no túnel que foi colocado para nos levar
direto a arena.
Assim que o locutor anuncia a nossa entrada, a arquibancada vai à loucura
entoando o apelido do nosso time. Observo Raven e as outras meninas dançarem
animadas entre as escadas com a cor do nosso time e ela acena freneticamente
quando me vê olhando. Conversamos depois que eu anunciei meu namoro com a
Ashley e ela fez questão de me dizer que sentia muito por eu ter sido fisgado, mas que
torcia por nós e falou isso na frente da minha namorada, graças a Deus!
Ashley pode ser baixinha, mas a garota com ciúmes e raivosa é um furacão
pronto para passar em cima de mim.
O ar está elétrico, as luzes da arena pulsam e o gelo parece nos chamar
freneticamente. Olho ao redor procurando-a e rapidamente meus olhos encontram os
da garota que faz meu coração bater tão rápido quanto a adrenalina no jogo.
Ashley levanta, se vira, e meu sorriso se amplia ao notar meu nome gravado
em sua camisa. Ela acena freneticamente, me envia um beijo e consigo ler em seus
lábios o desejo de boa sorte. Retribuo com uma piscadela e, quando olho para o seu
lado, preciso piscar algumas vezes para processar que não estou vendo uma miragem.
Ao lado de Bryan, estão meus pais e minha irmã fazendo com que meu peito se encha
de alegria ao vê-los acenarem animados em minha direção. Sou obrigado a
desvencilhar o olhar quando ouço a torcida rival entoar o apelido dos The Crows e,
quando fito a outra entrada, vejo o time entrando com Petter à frente. Meu sangue ferve
na mesma hora, porém tento respirar fundo porque preciso focar em apenas uma coisa:
vencer.
Os reservas partem para o banco e nós deslizamos pelo gelo quando a partida
se inicia.
Liam rouba o disco de Erick, defensor da Leifield e parte em direção ao gol,
entretanto, como está sozinho, ele é interceptado por Petter, que praticamente o
esmaga na grade de proteção. Vou em sua direção, mas antes que chegue até eles o
idiota já se afastou com o disco.
— Você está bem? — grito e, quando ele confirma retornando ao jogo, eu
praticamente voo em direção ao puck.
Observo Ben e Kyle praticamente voarem em cima do segundo atacante,
conseguindo roubar o disco. Eu, Liam e Logan ficamos na linha da frente e, quando
Kyle consegue passar o disco para mim, eu disparo em direção a rede.
Sinto a adrenalina percorrer cada fibra do meu ser e, quando noto Petter
avançar na minha direção, lanço um sorriso convencido para ele pouco antes de
conseguir driblá-lo e passar pela atenção do goleiro acertando em cheio o disco na
rede.
A multidão vai à loucura e eu deslizo no gelo sentindo o sabor da conquista,
porém, como estou de costas, só consigo saber que ele está vindo na minha direção
quando sinto o impacto nas minhas costas. Petter praticamente me amassa no vidro de
proteção e sinto meus ossos protestarem quando vou ao chão. O apito soa e
rapidamente os meninos aparecem na minha frente, ajudando-me a levantar.
O ódio sobe nublando minha visão, porém não consigo revidar porque a
pancada é marcada com falta e o imbecil é colocado no banco de castigo. Ele pragueja,
porém eu volto a atenção para o jogo e poucos minutos depois o primeiro período
encerra conosco à frente.
— Vou acabar com você — Petter sibila quando passo ao seu lado indo em
direção à área destinada aos jogadores.
— Isso é o que você acredita? — Dou risada e sinto Kyle me empurrar.
— Não entra na pilha dele — pede e colocamos a proteção nos patins saindo
da arena.
Franklin aparece assim que entramos e começa a dar instruções para
melhorar, mesmo que tenhamos finalizado o primeiro período na frente. Ele informa
que irá colocar Tanker para substituir Liam durante alguns minutos e acrescentar
Caleb, um garoto que entrou esse ano para revezar com o Logan. Escutamos todas as
suas instruções e logo retornamos ao gelo.
O segundo período é mais intenso e os The Corws estão em cima dificultando
nosso ataque. Mason, atacante central do time, parte com tudo para cima de mim
quando o disco vem em minha direção, porém, quando ele se aproxima, eu passo o
puck para Logan, que desliza com habilidade, entretanto, o goleiro consegue segurar
sua jogada impedindo de marcar o gol.
Petter consegue ficar de posse do puck e eu disparo em sua direção na
velocidade da luz sentindo o rugido da arquibancada ressoar dentro do meu peito. Seus
olhos fumegantes me fitam e um sorriso debochado cruza seus lábios segundos antes
do meu corpo se chocar ao seu com força. Roubo o disco e disparo pela arena, porém,
como vejo a linha de frente da Leifield vindo em minha direção, eu passo o disco para o
Kyle, que está mais próximo a rede, e segundos depois a multidão vai à loucura
quando ele marca o segundo ponto.
Franklin está em êxtase quando voltamos para o vestiário e depois do último
intervalo retornamos. O terceiro período se inicia e os jogadores rivais partem para
cima com tudo. Em menos de cinco minutos de jogo, Liam, que tinha acabado de
retornar, volta ao banco porque praticamente saiu no soco com Mason.
Os The Crows estão desesperados e isso está fodendo com eles, porque
percebo Ben roubar sem dificuldade o disco de um dos atacantes que parece muito
nervoso.
— Me diz uma coisa: aquela vadia aprendeu pelo menos a foder? — A voz
cheia de escárnio faz meu sangue ferver ao se aproximar de mim.
— Vai para o inferno, Petter! — praticamente rosno tentando focar no disco,
porém o desgraçado patina ao meu lado, empurrando meu ombro.
— Ficou revoltado ao saber que ela é uma vadia desgraçada? — Continua a
provocação e eu tento, mas não consigo, não quando lembro de tudo que a Ashley me
contou sobre esse infeliz.
Explodo para cima dele o empurrando e sendo pego desprevenido Petter vai
direto para o chão. Ouço a arena gritando no momento que parto para cima dele,
pronto para terminar o que comecei no dormitório, entretanto alguém me puxa para
longe e vejo que é o Logan.
Segundos depois, estou sentado no banco do castigo sentindo o mais puro
ódio me dominar porque fiz exatamente o que o imbecil queria e isso dá uma vantagem
para eles, porque, com um cara a mais, eles acabam marcando um gol minutos após
minha saída.
— Está tentando voltar derrotado para casa? — Franklin sibila furioso.
— Ele provocou — defendo-me.
— Que se dane, Harrington. — Ele só usa o apelido quando está muito puto. —
Mais um ponto e eles empatam. Você quer mesmo perder essa porra?
— Isso não vai acontecer! — revido tentando controlar a ira.
— Então volta para lá e mostra porque, caralho, você é o capitão! — Aponta e
suspiro aliviado ao sair do banco. — E não deixa essa merda ir para os overtime.
Deslizo novamente para dentro da arena sentindo a tensão me consumindo ao
ver o sorriso do Petter, porém desvio o olhar e parto com tudo ao lado da minha linha
de frente quando um jogador reserva lança o disco em minha direção.
O relógio marca menos de um minuto para o encerramento e meu coração
pulsa dentro da caixa torácica, o suor escorre por meu corpo enquanto passo como um
raio pela defesa da Leifield sentindo tudo dentro de mim gritar para fazer o gol.
Petter vem em minha direção, porém já notei que seu melhor lançamento é
para a esquerda, então finjo ir para esse lado a fim de enganá-lo e, mesmo sendo
arriscado, faço um desvio para a direita quando já estou praticamente em cima dele e
isso leva o disco diretamente para dentro da rede.
Ele pragueja, eu comemoro e, quando seu goleiro lança o disco, ele vai direto
para o nosso time. Fico atento esperando uma oportunidade, mas Kyle o segura
deslizando rapidamente e, quando o Petter se aproxima, ele passa o disco para o
Logan. Fico com medo do nosso atacante tentar fazer o gol com outro defensor se
aproximando porque seria impossível na posição que eles estão, no entanto, Logan é
esperto e, quando está quase colado ao de Brandon, ele passa o disco para Tanker e o
nosso atacante reserva acerta precisamente dentro da rede faltando apenas dois
segundos para finalizar.
O apito final ecoa e a arquibancada explode em gritos e aplausos enquanto
nosso time comemora a vitória. Meus olhos correm a multidão sentindo a adrenalina
deles percorrerem meu corpo, trazendo o delicioso sabor da vitória. Busco as íris
verdes e, quando a encontro praticamente jogada em cima do vidro de proteção
comemorando, retiro meu capacete pronto para dizer as três palavras que anseiam
para escapar. No entanto, sou impedido devido a um empurrão que me faz cambalear
para a frente e, quando me viro, vejo Petter retirar as luvas, as jogando com força na
arena.
— Você está se achando, não é, seu filho da puta? — grita e não tenho tempo
de processar nada antes que seu punho acerte o meu queixo.
Uma névoa de dor me atinge, no entanto consigo me equilibrar e com todo o
ódio que me consome eu voo em sua direção e acerto seu rosto. Uma confusão se
inicia, gritos ecoam na minha cabeça, porém só paro quando sou arrancado de cima do
idiota e arrastado para fora da arena.
CAPÍTULO 38 - Ashley Moore

Assim que recebo permissão para entrar na área dos jogadores, apresso-me
em direção ao vestiário. Ao empurrar a porta, deparo-me com uma sala cheia de
homens e, ao notarem minha presença, eles exalam surpresa, no entanto não dou
atenção a ninguém. Meus olhos preocupados logo localizam o meu namorado sentado
em um banco enquanto aplica gelo.
Corro em sua direção me ajoelhando à sua frente sentindo meu coração doer
ao ver seu rosto machucado. A culpa, mais uma vez, volta a me dominar.
— Ei, o que aconteceu? — Seguro seu rosto encostando minha testa na sua e
ele coloca a compressa de lado. — Você me prometeu... — murmuro triste.
— Eu tentei, juro que tentei, mas ele partiu para cima de mim. — Sinto seus
lábios encostarem de leve na minha testa. — Mas não precisa se preocupar porque
estou bem — afirma.
— Não me preocupar? Como não? — indago aflita e percebo ele segurar o
riso. — O que é engraçado?
— Você fica ainda mais linda preocupada comigo, Ash — responde deixando o
sorriso brotar em seu rosto e até machucado ele consegue continuar lindo.
— E você acha isso engraçado? — Dou um tapa no seu braço e ele se
encolhe. — Droga, me desculpe. — Arrependo-me ao me lembrar de que ele acabou
de sair de um jogo e de uma briga, que quase me fez ter um ataque cardíaco.
Quando o apito soou anunciando o final do jogo e, consequentemente, a nossa
vitória, eu, Bryan, as meninas e os pais do Connor entramos em êxtase, entretanto, a
alegria deu lugar rapidamente a preocupação quando percebemos a briga que
começou a se criar no gelo. Foi um inferno não poder pular aquela grade de proteção,
ainda pior, passar pela multidão e conseguir chegar até ele sem ter um ataque cardíaco
de preocupação.
— É fofo... — responde arrancando-me das lembranças ruins e eu sorrio.
— Filho... — A voz aflita de Audrey soa dentro do vestiário e, quando fito a
entrada, a vejo entrar no local com William e Colleen. — Você está bem?
Sorrio ao constatar que não só a mãe, mas todos eles parecem preocupados
com o capitão. Assim que cheguei no local, onde foi reservado os nossos assentos, me
surpreendi ao me deparar com eles três. No início, não soube o que falar, mas logo
Bryan nos apresentou e com a boca grande que tem acabou soltando que eu era a
namorada do Connor. Fiquei receosa, porém dona Audrey e Colleen me
cumprimentaram e passaram um bom tempo conversando e, claro, me fazendo
perguntas. Não demorou para que estivéssemos entrosadas ao ponto de parecer que
já nos conhecíamos há bastante tempo.
William de início pareceu mais reservado e confesso que achei curiosa a forma
como ele não retirava os olhos do filho na arena, porque até onde sei ele não apoia o
Connor no esporte. Ele só realmente conversou conosco quando aconteceu o primeiro
intervalo. Meu peito se preencheu ao vê-lo comentar com a Colleen que o Connor
realmente era um fenômeno e que estava orgulhoso e ali entendi qual era o propósito
da sua presença na arena.
— Estou, mãe. — Só percebo que eles se aproximaram quando meu namorado
responde. Levanto-me e tento me afastar, no entanto Connor segura minha mão
impedindo. — Foi só uma briga boba.
— Cara, estamos indo para o ônibus — Ben declara se aproximando.
— Vão na frente — meu namorado pede. — Alcanço vocês em alguns minutos.
— Fica tranquilo que ainda temos meia-hora antes da saída — Liam responde
e rapidamente todos eles começam a se retirar do vestiário.
— Eu sabia que o hóquei era um jogo violento, mas não imaginei que chegava
ao ponto de trocar socos — William comenta quando estamos a sós e o vejo com as
mãos dentro do bolso da bermuda fitando o filho.
— É raro, mas acontece com frequência — Connor brinca, entretanto percebo
seu nervosismo ao notar sua mão suada. — Estou surpreso de vê-lo aqui.
— Sua irmã conseguiu me arrastar. — Aponta para Colleen, que sorri
confirmando. — Eu precisava ver você jogando — confessa.
— Por quê? — Connor indaga fitando o pai.
— Queria ter a certeza de que você realmente amava isso aqui. — Olha ao
redor fitando as roupas, equipamentos e os pôsteres colados à parede. — Acho que
precisava da certeza de que é isso que você quer para a sua vida.
— E chegou a ela?
— Sim. — O suspiro resignado vem em seguida. — É o que eu queria para
você? Não — declara sério. — Mas estou cansado dessa briga idiota, Connor.
— O que isso quer dizer, pai? — A esperança brilha na voz do meu namorado.
— Que prometo não menosprezar mais sua paixão pelo hóquei e que, se
precisar de mim, estarei aqui. — Meu namorado sorri, solta minha mão e se aproxima
do pai. — Me desculpa por ter sido tão cabeça-dura. — William parece realmente
envergonhado.
— Obrigado por ter vindo hoje — Connor responde enquanto o abraça. —
Significou muito para mim — sussurra, porém alto o bastante para que eu consiga
escutar.
— Então, quando você pretendia nos contar que agora temos uma nora? — É
a Audrey que indaga me fitando.
— No seu aniversário de casamento — Connor responde.
— Ah, sobre isso... — Colleen interrompe. — Eles não irão mais fazer a festa.
— Não? — Connor questiona confuso.
— Decidimos fazer uma viagem a dois para comemorar — William responde.
— Quem é você e o que fez com meu pai? — meu namorado zomba.
— Olha que eu ainda te dou umas palmadas — William rebate. — Enfim, vou
deixar você aproveitar sua garota, porque temos uma longa viagem para enfrentar.
— Não querem dormir essa noite lá em casa?
— Adoraríamos, filho, mas amanhã sua irmã e o William precisam viajar a
trabalho — Audrey responde.
— Para você ver o quanto o amamos. — Colleen se aproxima o abraçando. —
Mesmo cheio de compromissos conseguimos vir te ver jogar.
— Obrigado — agradece depositando um beijo em sua bochecha. — Estou
muito feliz que tenham conseguido vir. — Sorri para a família.
— Tirando a parte que eu pensei que você fosse morrer, o jogo foi maravilhoso
— Audrey responde e me fita sorrindo. — Adorei te conhecer, Ashley.
— Eu também. — Sou surpreendida quando ela me abraça e por seu ombro
vejo meu namorado me lançar uma piscadela.
— Depois a leve para passar o final de semana conosco — minha cunhada
pede e meu namorado concorda.
Nos despedimos dos três e, quando eles saem do vestiário, eu me viro para o
meu capitão.
— Precisamos nos despedir. — Faço biquinho e ele me puxa para os seus
braços fazendo meu corpo reagir de imediato a proximidade.
— Eu tenho uma ideia melhor. — O sorriso travesso que me direciona faz com
que um arrepio suba por minha coluna.
— Não é o que estou pensando, né? — indago.
— Se sua mente estiver imaginando que eu quero te comer aqui dentro, então
ela está correta! — declara enquanto aperta minha bunda.
— Meu tio ou qualquer jogador pode entrar por aquela porta — o lembro.
— Franklin está recebendo elogios e resolvendo tudo sobre a vitória — informa
já com a voz rouca. — Então somos apenas nós dois, Assassina. — Deposita um beijo
na minha boca e segue até a porta do vestiário a trancando. — Já falei o quão sexy
você está vestindo meu nome?
— Não. — Mordo os lábios sentindo a adrenalina percorrer meu organismo
quando ele vem até o meu encontro com um olhar predador.
— Você está sexy pra caralho usando meu nome e meu número. — Seus
dedos curiosos entram dentro da minha camisa. — Mas nesse momento prefiro você
sem nada.
Ergo os braços quando ele faz menção de retirar a minha blusa e rapidamente
ela vai ao chão. Connor passa sua mão pelo sutiã vermelho de renda e solta um
murmúrio quando libera meus seios dele.
— Tão linda — diz os segurando, me empurrando levemente para trás, até que
minha lombar encoste nos armários dos jogadores. — Ver você torcendo por mim me
deixou com um tesão do caralho — murmura rouco.
— Ah... — gemo assim que sinto sua língua quente encostar nos meus seios já
sensíveis. — Isso é tão bom — sussurro enquanto ele se delicia chupando e sugando
ambo os bicos intumescidos.
— Tira a roupa para mim, Assassina — pede se afastando e eu me livro da
calça e da calcinha sobre seu olhar feroz.
— Estou em desvantagem. — Aponto para o seu corpo coberto e tão rápido
quanto eu fiz Connor se livra de cada peça de roupa.
— Vem aqui. — Segura minha mão e juntos caminhamos até o final do
vestiário, entrando na área dos chuveiros.
— Aiii... — Dou um gritinho assim que ele liga o chuveiro e a água fria toca
nossa pele, porém é rápido, pois a água não demora a esquentar.
— Vira essa bunda gostosa para mim — ordena e assim eu faço. Sinto um tapa
estalado nas minhas nádegas em seguida. — Porra, Ash, quero me enterrar tão fundo
dentro de você.
— E está esperando o quê? — Olho por sobre o ombro e o vejo segurando seu
pau enquanto se masturba vigorosamente.
Minha boceta lateja com a ânsia de tê-lo enterrado dentro dela.
— Não tenho camisinha. — Seu semblante pesaroso me acerta em cheio e por
alguns segundos o medo me trava, entretanto, o jogo para o fundo da mente porque é
o Connor que está na minha frente e com meu anticoncepcional em dia não corremos
perigo.
— Isso não é um problema para mim.
Suas pupilas se dilatam.
— Tem certeza disso?
— Só me fode logo, porque minha boceta está latejando por seu pau! —
praticamente imploro.
— Porra, você é a minha perdição! — geme e se aproxima desligando a água
no instante que sinto seu pau encostar na minha entrada. — Sua boceta é a minha
ruína. — Praticamente rosna quando desliza facilmente dentro de mim. — Tão
molhada. Você sempre está tão pronta para o meu pau.
— Sempre! — Mordo os lábios tentando controlar os gemidos para que
ninguém nos ouça. — Connor... — chio seu nome quando ele alcança um ritmo
alucinante nas estocadas.
— Gostosa dos infernos! — geme e traz uma mão para o meu pescoço. O
gesto é novo, entretanto, não é ruim, pelo contrário, o aperto faz com que o desejo se
intensifique. — Gosta disso, não é, sua safada?
— Muito — confirmo enquanto desço a mão até minha boceta precisando de
algum atrito em meu clitóris.
— Ei, você vai gozar comigo! — declara rouco afastando minha mão,
colocando a sua no lugar. Seu polegar pressiona meu clitóris antes de começá-lo a
circundar e eu inclino a cabeça para trás sentindo tudo dentro de mim vibrar. — É
assim que você quer?
— Isso... Porra, não para! — imploro com a respiração entrecortada.
— Esfrega essa bocetinha nos meus dedos enquanto eu te fodo! — Sua voz
autoritária intensifica ainda mais a avalanche de sensações que começa a dominar
cada partícula do meu corpo e eu rebolo como uma boa safada que sou. — Gostosa do
caralho!
— Eu vou gozar... — aviso e ele aumenta a intensidade das estocadas e o
ambiente é preenchido com o barulho dos nossos corpos se chocando. — Ahhh... —
Mordo os lábios tentando conter os gritos quando o aperto na minha garganta se
intensifica na mesma intensidade que seu dedo açoita meu clitóris.
Sinto como se estivesse caindo de um precipício quando o orgasmo me
atropela com força, arrancando meu fôlego e todas as minhas forças. Em meio à nevoa
de prazer, ouço Connor gemer meu nome e estocar uma última vez derramando toda a
sua porra dentro de mim.
— Eu nunca vou cansar de estar dentro de você! — sibila rouco retirando seu
pau e sinto o líquido quente escorrer pelas minhas pernas. — Isso foi incrível! — elogia
depositando um beijo no meu ombro e eu me viro pronta para me afastar, no entanto,
sou fisgada por sua íris me fitando de uma forma que nunca vi antes. Há tanta
intensidade, devoção e paixão enquanto Connor me encara, que prendo a respiração.
— Eu te amo! — Meu coração para por alguns segundos. — Eu te amo pra caralho,
Ashley. — Três palavras que conseguem fazer meu coração praticamente entrar em
colapso. — Acho que te amei no momento que coloquei meus olhos em você naquele
estacionamento. — Segura meu rosto delicadamente. — Eu quero fazer isso entre a
gente dar certo. Quero muito, porque não consigo imaginar meus dias sem você —
finaliza fazendo meus olhos se encherem de lágrimas.
— Connor... — começo tentando encontrar as palavras certas, porém ele me
interrompe.
— Eu sei que você tem seus medos e que eles são válidos, mas eu juro que
jamais irei te magoar. — O medo na sua voz me faz sorrir, porque ele deve ser um
bobo mesmo se acredita que o sentimento não é recíproco. — Eu prometo cuidar deles
e de você. Prometo ser o melhor cara para você.
— Eu também amo você. — Passo meus braços por sua nuca, acariciando-a e,
como imaginei, ele parece surpreso com minha resposta. — Sim, eu estou com medo,
mas eu não pretendo deixá-lo me guiar. — Seus olhos brilham e percebo lágrimas se
acumularem. — Não quando você já me mostrou de todas as formas que é diferente de
qualquer outro cara que já conheci — completo levanto meu polegar até uma lágrima
solitária.
— Você é a garota mais incrível que eu já conheci, Ash, e me sinto um sortudo
do caralho por ter você. — Sua testa encosta na minha e juntos compartilhamos de um
momento único. — Obrigada por ter me deixado entrar na sua vida e te prometo que
não tenho pretensão alguma de sair dela, muito menos te machucar.
— Assim espero, capitão! — Ele sorri ao escutar minhas palavras. — Meu
capitão, só meu!
— Gosto de como isso soa — diz com a voz baixa trazendo seus lábios
novamente aos meus, porém o som de alguém batendo a porta faz nosso corpo se
retesar.
— Connor? — A voz do meu tio irrompe atrás da porta e sinto o pavor me
consumir. — Você está aí?
— Sim! — Meu namorado grita já me puxando para fora voltando para onde
deixamos as nossas roupas.
— Por que a porta está fechada? — brada batendo na madeira.
— Já vou abrir! — grita. — Droga! — pragueja enquanto nos vestimos na
velocidade da luz. — Não tem como ele não saber que você está aqui, então esse é o
momento que iremos contar — avisa assim que fecho minha calça e passo a mão
tentando domar o cabelo.
Porra, o cabelo molhado!
Meu tio vai nos matar!
— Que Deus nos ajude. — declaro e com o olhar aflito acompanho meu
namorado abrir a porta e meu tio irromper dentro do vestiário.
— Por que trancou a por... — Sua frase é cortada quando ele percebe que eu
estou dentro do vestiário. — Posso saber o que está acontecendo aqui? — brada
revezando o olhar entre nós dois e imploro a todos os deuses para que ele não ligue os
pontos e descubra que estávamos transando. — A briga tem algo a ver com você,
Ashley Moore?
— Treinador... — Connor tenta, mas o meu tio o interrompe.
— Ashley, a briga na arena tem algo a ver com você? — Assinto envergonhada
baixando a cabeça não querendo ver o desgosto em seu semblante. — O Petter voltou
a te incomodar?
— Sim — Connor responde por mim. — Ele tentou machucá-la há alguns dias
e eu quebrei a cara dele. — Volto a fitar meu tio e o vejo nos olhar incrédulo. — E ele
quis revidar hoje. — Connor dá de ombros.
— E você não achou que seria o ideal me contar sobre isso? — sibila irritado.
— Não queria deixá-lo preocupado e pensei que conseguiria resolver sem ser
na arena — Connor justifica se aproximando de mim.
— Olha, eu juro que estou próximo de pedir a aposentadoria e a culpa é toda
desse time — declara e controlo a vontade de rir. — Mas se foi para defender a Ashley,
então vou fingir que, por pouco, você não estragou tudo — finaliza me arrancando um
suspiro de alívio.
— Ah, tem outra coisa — Connor diz e coça a cabeça. — Eu e a Ash estamos
namorando — solta de uma vez.
— Vocês estão namorando? — refaz a pergunta, talvez não acreditando e
juntos concordamos com um menear de cabeça. — Que Deus te ajude, Connor,
porque, se você a machucar, eu acabo com a sua carreira e com a sua vida.
— Não tenho pretensão nenhuma de fazer isso — Connor declara firme. —
Estou completamente apaixonado por ela.
— Uma única chance você tem e, caso faça merda, vai se resolver comigo —
ameaça. — E da próxima vez que se trancar com ela no vestiário, eu retiro você do
posto de capitão! — brada se virando, mas logo volta a nos fitar. — Estão esperando o
quê para virem comigo?
Olho para o meu namorado e, depois de trocarmos um sorriso cúmplice,
saímos do vestiário.
CAPÍTULO 39 - Ashley Moore

Já ouviu falar que, quando tudo está indo muito bem, algo ruim acontece para
tentar nos desestabilizar e sou a prova viva de que isso é a mais pura realidade. Depois
da final, tudo começou a sair como planejávamos: a festa em comemoração à vitória foi
memorável e, durante os próximos dias, só se falou nela pelo campus.
Meu tio aceitou de boa meu relacionamento com o Connor e até almoçamos
com ele no outro dia ao jogo. Entramos em recesso para festas de fim de ano e minha
mãe me deu a melhor notícia do mundo ao avisar que repassou a galeria e voltaria a
morar em Boston, porém, no meio de todas essas coisas boas, existia um problema:
Petter London.
Meu ex-namorado parece disposto a dificultar minha vida e continua a enviar
mensagens escrotas com ameaças disfarçadas de alertas e eu decidi que colocaria um
fim nessa merda.
Cheguei hoje cedo com o Connor em Nova York para ajudar a minha mãe na
organização da mudança e, no momento que pisei em casa, uma mensagem nova
chegou. Frustrada e com ódio decidi vir conversar com Albert, o reitor da Leifield e pai
do Petter.
Seguro o volante com força tentando criar coragem para descer do carro e,
quando me sinto preparada, desço do veículo e encaro o campus que estudei durante
quase dois anos.
— Você consegue fazer isso! — repito as palavras que se tornaram meu
mantra.
Caminho pelo campus seguindo em direção ao prédio onde fica a sala do reitor
e minutos depois estou batendo na sua porta. O ambiente está praticamente vazio
porque já estamos no recesso, entretanto, sei que ele está aí porque consegui entrar
em contato com Angelina, a governanta da cada dos London.
— Pode entrar. — A voz rouca me autoriza e eu passo pela porta de madeira
ouvindo o velho rangido dela.
É nítido a surpresa de Albert ao me ver parada à sua frente.
— Boa tarde! — o cumprimento e ele se desencosta da cadeira, colocando os
braços em sua mesa.
— Posso saber o que você está fazendo aqui? — Não há nada cortês em suas
palavras.
— Precisamos conversar! — declaro, porém não me sento à sua frente. —
Sobre o Petter.
— E seria sobre o quê exatamente? — Seu olhar duro me fuzila. — Sobre a
sua culpa por aquele idiota ter perdido a temporada?
— Não tenho nada a ver com o comportamento infantil do seu filho — revido
irritada. — E estou aqui justamente para pedir que mantenha seu filho na linha, porque
ele vem me enviando mensagens ofensivas.
Odeio a gargalhada de escárnio que ele solta diante das minhas palavras.
— Ashley, você acha mesmo que irei perder o meu valioso tempo me metendo
em briga de adolescentes?
— Somos adultos, pelo menos eu sou, já o seu filho... — Arqueio as
sobrancelhas. — Se ele não parar, eu v...
— Vai fazer o quê? — interrompe-me se inclinando na mesa tentando me
intimidar. — Você nos conhece, garota, então acho melhor você voltar para aquela
universidade de bosta e não pisar mais os pés aqui.
— Está me ameaçando, Albert?
— Estou mostrando que não vou tolerar suas afrontas! — revida furioso. —
Você não tem nada que possa complicar o meu filho e, se tivesse, eu daria um jeito
nisso.
— Você é igualzinho a ele! — brado sentindo o asco me dominar.
— Se cansou de dar o seu chilique, pode se retirar porque eu tenho mais o que
fazer.
— Mantenha seu filho na linha! — digo firme e saio da sua sala sentindo o ódio
pulsar nas minhas veias.
Não olho para trás, e ignoro o calafrio que sinto me percorrer quando entro no
carro e dou partida. Não há razão para temer, já que Petter não está aqui. O caminho
até a casa da minha mãe passa como um vulto e sequer processo qualquer coisa até
entrar e me jogar no sofá.
Pego meu celular discando o número do meu namorado quando percebo a
casa no mais puro silêncio.
— Onde vocês estão? — pergunto sentindo o choro entalado na garganta.
— Acabamos de sair para comprar algo para comer — meu namorado
responde. — Já voltou?
— S... sim — gaguejo.
— Você está chorando? — pergunta e eu aceno mesmo sabendo que ele não
pode me ver. — Eu sabia que não deveria ter deixado você ir sozinha.
— Ele não fez nada comigo — fungo em meio às palavras. — Só tentou me
intimidar e não deu atenção para o que falei.
— Estou voltando — avisa.
— Não precisa, sério, eu espero vocês — digo, mas ele já desligou.
Ouço o barulho do carro sendo desligado e, segundos depois, a porta é aberta
de prontidão, porém, quando me viro, sinto o meu sangue gelar ao fitar Petter
adentrando a sala. Meu corpo todo arrepia e meus pensamentos disparam. O que ele
está fazendo aqui? Esse desgraçado me seguiu? E como eu posso ter esquecido a
porra da porta aberta?
— O... que você está fazendo aqui? — questiono limpando as lágrimas
enquanto me levanto.
— Voltou para a Leifield, docinho? — Seus olhos estão vermelhos e algo me
diz que não é de choro. — Fiquei surpreso ao vê-la saindo da sala do meu pai —
declara sorrindo enquanto se aproxima.
— Petter, vai embora — peço apontando para a porta. — Não quero você aqui.
— Mas por quê? — Sorri e está nítido que ele não está sóbrio. — Você está
sozinha e eu estou com saudades. — Sorri.
— O Connor está lá em cima — minto dando um passo para trás, depois mais
um.
— Não precisa mentir, docinho, porque eu vi que na entrada da casa só tinha o
carro que você estava. — Meu coração acelera de medo quando ele para à minha
frente, me prendendo na bancada de mármore que separa a sala da cozinha. — Aposto
que ele sequer veio com você, afinal você deve ter sido só mais uma putinha.
— É isso que você acha? — grito o empurrando. — Agora eu sou puta porque
não quero mais você, seu desgraçado? — Esmurro seu peito. — Sabe o quanto eu te
odeio, Petter? — Seus olhos arregalam com fúria. — Odeio você mais do que tudo!
— Cale a boca! — grita segurando meus braços. — Cale a porra da sua boca!
— Eu tenho nojo de você. Nojo ao me lembrar de que deixei você me tocar! —
brado deixando tudo vir à tona. — Nenhuma mulher merece ter um escroto como você
do lado.
Minhas palavras parecem despertar o pior dele e, quando o vejo avançar em
minha direção, sinto despertando dentro de mim um ódio tão grande que, sem pensar,
levo minha mão até o seu rosto o esbofeteando.
— Sua puta desgraçada! — esbraveja levando a mão até a pele vermelha e
tento correr, porém seu corpo é duas vezes maior do que o meu e ele não me dá
chance de fugir. — Quer brincar de bater?
Arregalo os olhos e ele sorri diante meu pânico.
— Vai para o inferno! — grito com todo o ódio que me consome enquanto ele
segura meu braço com força, me puxando, jogando meu corpo no sofá.
— Talvez eu vá depois de matar a minha saudade.
Se, em algum momento, eu acreditei que tive medo dele, eu estava
redondamente enganada, porque só quando o seu corpo cobre o meu e eu noto sua
ereção me cutucar, que sinto o pavor preenchendo cada célula do meu corpo.
— Me solta... — Mantenho minha voz firme enquanto me remexo tentando o
empurrar, porém ele segura os meus braços com as mãos e encosta suas pernas nas
minhas as prendendo com força.
— Saudade do caralho de você, docinho. — Fecho os olhos tentando fugir
desse momento, implorando mentalmente para que ele pare. Assim que sinto sua
língua percorrer minha pele, o nojo me acerta trazendo-me à realidade.
— Eu prefiro morrer a deixar você tocar em mim, seu desgraçado! — grito não
deixando o medo me dominar.
Me debato contra a pressão do seu corpo, que me empurra firmemente contra
o sofá. Seu rosto está contorcido por uma mistura de raiva e possessividade, e eu sinto
seu hálito quente contra o meu rosto. Os olhos, antes tão familiares, agora parecem
estranhamente hostis.
Tento desesperadamente afastá-lo, minhas mãos tremem quando consigo
soltá-las do seu aperto. Empurro seu peito sentindo meu coração bater desenfreado e
lágrimas descerem em enxurradas. Não consigo processar as palavras que saem de
sua boca, porque o medo volta a crescer dentro de mim, formando um nó apertado no
meu estômago quando ele consegue me prender novamente.
Meus olhos procuram uma saída, mas tudo ao meu redor parece turvar-se. A
sala que costumava ser segura agora parece um labirinto claustrofóbico. Meu corpo
está tenso, paralisado pelo choque e pela ansiedade. Cada batida do meu coração
ressoa como um tambor ensurdecedor.
Ele continua a me pressionar, ignorando meus apelos desesperados para que
pare. O desespero se mistura ao pânico, e começo a sentir uma sensação de asfixia. A
realidade parece distante, como se eu estivesse assistindo a tudo de fora do meu
próprio corpo.
À medida que Petter continua a me pressionar, uma mistura de lágrimas e suor
borbulha em meu rosto. Eu tento encontrar coragem para continuar lutando, para gritar,
mas minhas cordas vocais parecem congeladas ao mesmo tempo que sinto minhas
forças se esvaírem. Estou presa em um pesadelo silencioso, meu corpo frágil contra a
força avassaladora dele, entretanto, uma voz dentro da minha mente continua a gritar
para defesa e eu dou ouvido a elas tentando a todo custo jogar o medo para o segundo
plano.
Olho para cima notando-o segurar meus braços e, no mesmo instante, percebo
umas das minhas pernas se soltarem. Aproveito esse vacilo e a impulsiono para cima
com toda força que existe dentro de mim arfando com o alívio me dominando ao
perceber ele sair de cima de mim enquanto urra de dor porque acertei suas bolas.
Quando me vejo livre do seu corpo, olho ao redor e pego o jarro que encontro
na mesa ao lado. Sem pensar duas vezes, avanço em sua direção acertando o vidro
em sua cabeça.
Um choro de alívio me invade quando ouço a porta ser aberta. Connor entra
como um temporal e a única coisa que consigo processar é seu corpo indo em direção
ao do Petter e minha mãe correndo em minha direção.
Como uma criança assustada, eu me agarro aos seus braços deixando toda a
dor e o medo saírem em soluços dolorosos. Não consigo processar tudo, porém ainda
ouço gritos, objetos se quebrando e, antes de ver tudo escurecer, consigo ouvir sirenes
ao fundo.

Abro os olhos sentindo o colchão macio e, quando fito ao redor, constato que
estou deitada no meu antigo quarto. As lembranças me invadem e solto um grito de
pavor colocando a cabeça no meio das pernas.
— Ei, estou aqui. — A porta é aberta de prontidão e um Connor ofegante passa
por ela praticamente pulando na cama. — Estou aqui, Ash, estou aqui. — Agarro-me a
sua camisa e deixo o choro retornar com força quando a cena do Petter sobre mim
invade a minha mente. — Vai ficar tudo bem, meu amor, eu prometo. — Sua voz
embargada aumenta ainda mais o meu choro.
— O... onde ele está? — pergunto com medo da resposta.
— No hospital e de lá irá direto para a cadeia. — Retiro meu rosto do seu
peitoral no instante que ele seca as lágrimas que rolam por seu rosto. — Me perdoa,
por favor. — A angústia nubla seu semblante.
— Você não fez nada! — digo firme.
— Eu não deveria ter deixado você ir sozinha. Não devia! — afirma e posso ver
a dor em suas palavras, a culpa se entranhando dentro dele. — Eu consegui fazer com
que ele não entrasse mais na Brisfolk, mas aqui, Deus, ele poderia...
— Amor, não tínhamos como saber — o interrompo odiando vê-lo se culpando.
— Ele nunca mais vai encostar em você, porque eu moverei o mundo, mas
farei com que ele não saia da prisão — afirma sério. — E dessa vez não vou falhar com
você.
— Amor, você não falhou comigo, pelo amor de Deus! — declaro tentando
fazê-lo entender. — O que aconteceu depois que você chegou? — pergunto porque
uma nuvem preta está em minha cabeça após esse momento.
— Você não lembra, né? — Assinto. — É porque você entrou em choque.
— Nunca senti tanto medo na minha vida! — confesso encostando meu rosto
no seu peito e sinto suas mãos virem ao meu cabelo. — Não sei como consegui lutar,
mas algo dentro de mim pedia para eu não desistir.
— Quando cheguei, escutei seus gritos, então corri desesperado e, quando o vi
na sala, Deus, eu soube que o mataria. — Connor me aperta e eu o seguro com força.
— Eu só não o matei na porrada, porque os seus vizinhos nos separaram.
— Kennedy e Sebastian? — pergunto me lembrando do casal que mora na
casa ao lado.
— Não tenho certeza, mas acredito que sejam eles. — Com certeza é porque
eles são os vizinhos mais próximos. — Depois que nos separamos, o moreno mais alto
segurou o Petter enquanto seu companheiro chamou a polícia.
— Foi nesse momento que eu apaguei? — pergunto e ele concorda.
— O que chamou a polícia é médico, então te examinou e avisou que o
desmaio era devido ao trauma.
— Sebastian — respondo agora tendo a certeza de que foram eles mesmos
que ajudaram. — Ele é médico.
— Sim. O Petter saiu algemado e sua mãe levou seu celular e o acesso as
câmeras para a delegacia, mas você vai precisar depor. — Volto a fitá-lo. — Não
podemos deixar aquele desgraçado sair impune.
— Não, não iremos — confirmo e ele me abraça. — Pretendo fazer de tudo
para deixá-lo preso para que ninguém tenha que passar por tudo que vivenciei. —
Connor assente orgulhoso quando se afasta.
— Meu amor... — A voz embargada da minha mãe aparece na porta e odeio
ver seu rosto inchado e vermelho. — Me desculpa — pede se arrastando para a cama,
me puxando para o seu abraço.
— Vocês dois não têm culpa e agora com ele preso esse inferno vai acabar —
respondo e sinto Connor se juntar ao nosso abraço. — Eu amo vocês! — declaro
tentando deixar o medo de lado para conseguir seguir em frente. — Amo vocês mais do
que tudo!
CAPÍTULO 40 - Connor Harrington

Sorrio ao sair do corredor e ver minha namorada dançando no meio da sala ao


som da Taylor Swift. Me recosto na parede admirando sua performance e meu coração
acelera como toda vez que a vê assim tão leve e sorridente. Acredito que ele jamais vai
se cansar de bater tão depressa por essa garota! Minha garota!
Já se passaram dez dias desde o episódio com o desgraçado e, nos primeiros,
minha namorada ficou visivelmente abalada, inclusive chegou a ter alguns pesadelos,
porém, com a distância, o retorno à terapia e muito amor, ela foi voltando a ser a nossa
Ash. A certeza de que mesmo possuindo dinheiro e poder, o Petter continua detido
também trouxe bastante alívio para as nossas preocupações e, de acordo com a
advogada, ele não responderá em liberdade.
Amélia se mudou no outro dia ao ocorrido e, quando chegamos aqui,
descobrimos que o Franklin sabia da mudança desde o Dia de Ação de Graças e que
foi ele que encontrou essa casa para elas. As duas ficaram encantadas porque é no
estilo que ambas gostam e eu amei porque fica apenas a dois quarteirões de onde
moro.
— Sua segunda sessão foi muito boa, né? — anuncio minha presença e minha
namorada se assusta, ainda assim se vira sorrindo.
— Os primeiros vinte minutos, eu só chorei — responde enquanto me
aproximo. — E nos últimos vinte a escutei. — Sorrio. — Estou me sentindo mais
aliviada, então obrigada por ter insistido na terapia. — Ela passa os braços ao redor do
meu pescoço, como sempre faz quando estamos próximos.
— Estou feliz em te ver feliz — informo e um sorriso doce brota em seus lábios.
— Inclusive, adorei a dancinha.
— Se você me zoar, eu vou te deixar de castigo e quinze dias sem sexo.
Arregalo os olhos e abro a boca fingindo choque.
— Não estou zoando — apresso-me em me defender. — Você estava um
espetáculo toda leve enquanto remexia essa bunda gostosa — elogio travesso.
— Safado. — Dá um tapinha no meu ombro, se afastando do meu corpo.
— Todo seu! — Me jogo no sofá e ela faz o mesmo, entretanto, se deita
colocando a cabeça no meu colo. — Então a casa é toda nossa durante o dia? — Ela
assente. — Sua mãe começou mesmo a trabalhar no Queens?
— Sim. — Ashley dá risada. — O Owen estava precisando de alguém na
administração e minha mãe topou.
— Ela não vai sentir falta da galeria? — indago.
— Talvez, mas eu acredito que ela não era mais realizada, sabe? — Concordo.
— O que importa é ela estar feliz.
— Falando em felicidade, quem não está nada feliz é a Brooke — comento e
Ash da risada. — Ela passou lá em casa ontem e resmungou com os meninos que
estava acostumada a dividir o dormitório com você.
— Ela vai se acostumar novamente, principalmente porque agora vai poder
levar os peguetes dela escondido para lá.
Dou risada e sinto meu celular vibrar. O pego estranhando o número do
treinador, porque entramos em recesso dos treinos, ainda assim aperto a tela,
atendendo a chamada.
— Onde você está? — questiona.
— Na casa da Ashley. — Quase dou risada do suspiro que ouço do outro lado
da linha.
— Me encontre na arena em dez minutos.
— Aconteceu algo?
— Sim, mas precisamos conversar pessoalmente.
— Está certo — concordo sentindo a fagulha da curiosidade se embrenhar.
— E, Connor, quero você sozinho — avisa desligando a chamada.
— Quem era? — Ash pergunta.
— Seu tio — aviso já me erguendo. — Preciso encontrar com ele. — Suas
sobrancelhas arqueiam. — Algum problema ficar sozinha?
— Não — nega. — Vou tentar descansar um pouco. Nos encontramos à noite?
— Ou até antes. — Inclino-me sobre ela e deposito um beijo rápido na sua
têmpora. — Amo você e qualquer coisa me liga.
— Também te amo. E não se preocupa que ligo sim.
Pego minha carteira e as chaves do carro em cima do aparador e saio da casa
não demorando a estar dentro do meu carro indo em direção à arena. O percurso leva
em torno de quinze minutos e, quando adentro, já vejo Franklin sentado na
arquibancada. Caminho até ele.
— Cheguei — informo minha presença e Franklin sorri. — Aconteceu algo?
Porque estou realmente preocupado com esse mistério.
— Connor, o quanto você ama a Ashley? — Estranho sua pergunta e me sento
ao seu lado fixando os olhos na arena vazia.
— Não consigo medir o tamanho porque é grande demais para tal feito. —
Observo de soslaio ele sorrir. — Eu realmente quero fazer isso durar e não tenho
pretensão alguma de deixá-la escapar da minha vida.
— E o hóquei?
— É minha paixão desde que aprendi a calçar os patins. — A resposta sai tão
rápida quanto a anterior.
— Está satisfeito com o time a qual foi draftado?
— Sim. — Sou sincero e não entendo aonde ele quer chegar com tantas
perguntas. — Sei que existem times mais fodas, porém estou feliz em ter sido
convocado pelos Bruins.
— O Montreal Canadiens quer você com eles! — Levo alguns segundos para
que suas palavras penetrem nos meus ouvidos, mas, quando a constatação delas me
acerta, eu viro a minha cabeça em sua direção na velocidade da luz. — Eles entraram
em contato comigo, mas farão nos próximos dias um convite oficial.
Abro a foca, porém a fecho em seguida sem saber o que falar. Porra, o
Montreal é oficialmente o time mais foda da NHL e o sonho de qualquer cara que
queira entrar no profissional. O choque percorre meu corpo e parece que minha mente
entrou em colapso, entretanto, logo isso se transforma em alegria e meu peito vibra
enquanto um sorriso expande em meu rosto, espelho do qual o treinador me direciona.
— Isso não é uma pegadinha, né? — questiono tentando não começar a pular
feito um louco na arquibancada.
— Não, não é — responde. — Eles ficaram encantados com o jogo da final,
Connor.
— Mesmo com a briga?
— Hóquei é um jogo violento — confirma. — Brigas são de se esperar e você
foi profissional o suficiente para revidar só ao final da partida.
— Eu estou em choque, porra! — comemoro. — Isso é um sonho, treinador!
— Sim! Qualquer um dos seus amigos daria a vida para estar em seu lugar.
— Meu Deus, os caras vão surtar! — Levanto-me, não consigo mais ficar
parado enquanto tudo começa a se desenrolar na minha mente e quase posso me ver
entrando no profissional com o time mais foda da liga.
Isso vai muito além do que sonhei!
— Tem alguns detalhes, capitão, para você entrar no time.
— Quais? — questiono já pronto para passar por cima deles.
— Eles não estão dispostos a esperar você finalizar a faculdade. — Meu peito
retumba com suas palavras. — Você precisaria se mudar para o Canadá ao fim das
férias de inverno, ou seja, em menos de um mês.
Toda a felicidade que senti há pouco se esvai do meu corpo com a mesma
velocidade que entrou. Sento-me novamente, colocando as mãos na cabeça sentindo o
peso dessa condição pairar como uma nuvem negra.
— Sei que seu pai finalmente entendeu sua paixão pelo hóquei e que largar o
curso não seria um problema — continua e sei exatamente qual é a sua próxima
pergunta. — Mas e a Ashley, Connor? Ela ainda tem longos anos aqui em Boston
estudando.
Meu coração dói ao entender o fogo cruzado a qual me encontro.
— Preciso pensar — respondo e o fito vendo-o assentir.
— O comunicado oficial deve chegar em dois dias. É o tempo que você tem. —
Levanto-me. — Connor, é a chance da sua vida.
Não consigo responder porque um bolo se apossou da minha garganta, então
apenas assinto e desço a arquibancada saindo da arena em minutos. Meu peito se
comprime quando entro no carro.
Encosto a testa no volante tentando colocar as ideias no lugar para encontrar
alguma solução, no entanto, sei que dessa vez eu realmente precisarei fazer uma
escolha.
Ingressar no maior time da liga nacional de hóquei ou ficar com a mulher que
revirou meu mundo e tomou cada espaço do meu coração? Não posso pedir para a
Ashley largar tudo e me acompanhar. Não seria justo, principalmente porque a Brisfolk
é conhecida como o melhor preparatório de medicina. Sem contar que é aqui que está
sua família, inclusive Amélia acabou de retornar a Boston apenas para ficar ao lado da
filha.
Dou partida no carro indo direto para a minha casa porque preciso
urgentemente de um tempo sozinho.
Meus olhos brilham com as lágrimas quando aceno para o carro todo enfeitado
com os dizeres: “Hoje foi minha última quimioterapia”. Eu, Ashley e Eve acenamos
enquanto observamos Katy e sua família se afastarem no veículo.
Nossa garotinha finalmente entrou em remissão do câncer e hoje foi seu último
dia de tratamento.
— Os dias mais felizes da minha vida são quando eles conseguem se livrar
dessa doença.
— É uma sensação indescritível — concordo com meu peito preenchendo de
alegria.
— Nunca vou esquecer a felicidade no rosto da Katy quando soube que seria
sua última medicação — Ashley comenta enxugando as lágrimas.
— Eu também não — Eve diz sorrindo em meio às lágrimas. — Enfim, agora
deixa eu entrar porque preciso finalizar o prontuário dela.
— Nos vemos após as festas de fim de ano — Ashley avisa a abraçando. Em
seguida faço o mesmo.
— Se cuidem! — Assentimos e a fitamos desaparecer dentro do instituto.
— Pronto, agora você pode me dizer por que passou os últimos três dias me
evitando. — Minha namorada cruza os braços me fitando séria.
— Eu não estava te... — Seu olhar descrente faz com que eu engula as
palavras. — Certo, eu estava te evitando — confesso. — Eu fui convocado para jogar
pelo Montreal — solto a bomba de uma vez porque não sou de rodeios.
Suas pupilas se dilatam e sua boca se abre no mais puro espanto.
— O Montreal Canadiens? — Assinto. — Ai, meu Deus! — Pula animada nos
meus braços. — Parabéns, meu amor! — Sua empolgação é tão sincera que faz o meu
peito doer. — Ele é considerado o melhor time do mundo!
— Não vou aceitar. — Ela me solta rapidamente me fitando incrédula. — Eles
me querem ao final do recesso. — Suas sobrancelhas arqueiam. — Eu precisaria me
mudar para o Canadá em breve.
Seu sorriso murcha e finalmente ela compreende as consequências de eu
aceitar o convite.
— Você não pode recusar! — declara com um fio de voz. — É a sua grande
chance, amor, e provavelmente outra dessa não virá.
— Não, não virá, mas eu não irei aceitar.
— Por quê? Pela faculdade?
— Por você! — Seus olhos se arregalam e rapidamente ela nega. — Seria
impossível que a gente continuasse juntos eu morando a quase três mil quilômetros,
principalmente com a loucura do início no profissional — justifico.
— Não. Você não pode fazer isso! — nega. — A gente dá um jeito, amor, mas
você não pode perder essa chance.
— Eu já recusei o convite! — aviso e seus olhos brilham.
Ontem chegou oficialmente o convite para ingressar no Montreal, porém hoje,
pela manhã, eu enviei o agradecimento, porém junto a ele foi a minha recusa. Não foi
fácil, talvez essa tenha sido a decisão mais difícil da minha vida, ainda assim não
consigo me arrepender porque sei que foi a decisão certa.
Eu amo essa garota que neste momento me fita incrédula e com os olhos
brilhando. Não consigo imaginar minha vida sem ela e olha que eu tentei enquanto
decidia o que fazer com o convite, mas cheguei à clara constatação de que eu não
conseguiria ser feliz e realizado sem ela.
Comuniquei aos meus pais e eles me apoiaram. Os meninos ficaram
balanceados, entretanto entenderam e apoiaram minha decisão. Franklin achou que eu
estava maluco, mas sorriu ao entender a proporção do meu amor por sua sobrinha.
Vou ingressar no Bruins assim que finalizar a faculdade e não me resta dúvida
alguma de que serei integralmente realizado porque, além de não sair de perto da
minha garota já que o Bruins também é de Boston, ainda irei dividir minha carreira com
o Liam porque ele também está no time.
— Você tem certeza disso? — Sua voz baixa me retira dos pensamentos. —
Não quero que lá na frente eu me transforme no seu maior arrependimento.
— Meu amor, arrependimento maior seria te perder. — Seguro seu rosto
secando a lágrima sorrateira que escapa. — Eu amo você, Ashley Moore, e pretendo te
amar enquanto eu ainda respirar — afirmo com toda sinceridade que existe dentro de
mim. — Não existe uma vida feliz e realizada onde você não esteja.
— Eu também amo você. — Encosto meus lábios nos seus. — De uma forma
que nunca imaginei ser capaz de amar alguém.
Selo nossos lábios sentindo que ela é o meu para sempre e que nada nessa
vida é mais importante do que nossa vida juntos.
EPÍLOGO - Ashley Moore. Alguns anos depois...

Meu namorado é um fenômeno!


Connor nasceu para brilhar na arena, e testemunhá-lo jogando com o Bruins é
algo que sempre será emocionante. Seu sorriso ao entrar na arena, a vibração quando
lança o puck para a rede e a maneira como seus olhos brilham ao ouvir a multidão
entoar seu nome, quase como uma oração, serão para sempre as minhas lembranças
favoritas.
Hoje foi a grande final da temporada e com muito suor e dedicação o Bruins
leva para casa a tão sonhada taça da Stanley Cup. Chorei de emoção ao ver todos os
integrantes do time praticamente urrarem ao segurá-la, inclusive o meu namorado. É a
sua primeira taça no profissional, inclusive muito merecida porque dos cinco pontos
marcados, quatro veio dele.
— Então, como me saí? — A porta do camarote se abre, revelando meu
namorado já de banho tomado e roupa trocada minutos depois do encerramento da
partida.
— Incrível, perfeito, maravilhoso, foda, extraordinário, magnífico, admirável e
fenomenal — declaro segundos antes de colar meus lábios aos seus. — Estou tão
orgulhosa de você!
— Obrigado, meu amor — ele responde, desgrudando nossos lábios, no
entanto, seu rosto continua próximo ao meu. — Isso é surreal demais. — Sorrio,
assentindo. — É quase como um sonho, porque ainda não acredito que estou aqui.
— Ah, você está e mostrou isso para todo mundo — afirmo, e ele retribui meu
sorriso. — Você é incrível, meu amor! — elogio, depositando um beijo casto em seus
lábios.
— Eu te falei que eles me dão sorte. — Meu coração acelera quando o vejo
puxar a correntinha de seu pescoço mostrando os dois pingentes que eu o presenteei
anos atrás. — Nunca perdi um jogo depois que eles foram colocados no meu pescoço.
— Então jamais os retire daí. — Ele assente guardando novamente o cordão
embaixo da camisa. — Agora, deixa eu te dividir, porque tem uma turma querendo te
parabenizar.
Afasto-me para o lado e meu namorado brilha com os olhos animados ao ver
seus pais, seus tios, Bryan, Brooke, Cassey, Destiny, Bryan, os meninos, minha mãe e
meu tio mais à frente. Colleen, infelizmente, não conseguiu vir porque teve um bebê
recentemente. Observo Connor ir até eles enquanto reveza entre abraços e felicitações
pela temporada incrível que ele passou. É nítido o carinho que todos têm por ele, e só
depois da entrada no Bruins que eu consegui finalmente entender o porquê meu
namorado recusou o convite do Montreal.
No Canadá, tudo teria sido mais difícil, principalmente no início, e acredito que
nosso relacionamento, infelizmente, não teria resistido. Já foi bastante desafiador com
ambos morando aqui em Boston devido aos jogos fora de casa. Agora, imagina ele
morando permanentemente em outro país? Se a situação fosse ao contrário, eu
também escolheria ficar por ele e pelas pessoas que amo. Do que adianta estar no
topo sozinha? Não, não mesmo! Preferimos manter o equilíbrio entre a ambição
profissional e a riqueza de poder compartilhar momentos com as pessoas que
amamos.
— Eu adoraria sair para comemorar, mas tenho outros planos — meu
namorado responde arrancando-me dos pensamentos.
— E quais seriam esses planos? — indago confusa percebendo que os
meninos nos convidaram para o Mistral, melhor restaurante de Boston e o nosso
favorito nos últimos meses.
— Você descobrirá em breve. — Enlaça seu braço ao meu quando me posto
ao seu lado. — Vejo vocês amanhã, porque agora preciso sair com a minha namorada
— avisa olhando para a nossa turma.
— Já que os pombinhos irão comemorar a sós, nós iremos para jantar — Kyle
avisa e logo todos nós começamos a sair do camarote.
Ao chegar no estacionamento, nos despedimos e não demoro a estar dentro do
carro com meu namorado e a voz dos The Script saindo pelo alto-falante.
— É agora que você conta aonde está me levando? — questiono, porém ele
nega sorrindo enquanto dá partida.
Decido não insistir, pois está claro que ele pretende me deixar curiosa.
Observo a noite através da janela e, como já passamos da meia-noite, a rua está
relativamente calma. Estreito os olhos ao perceber que estamos entrando na rua onde
moramos, e estranho, pois imaginei que ele comemoraria em algum lugar público.
Quando Connor se formou, ele comprou uma nova casa porque queria ter mais
privacidade comigo e, pouco tempo depois, me mudei. Meu tio não gostou nada da
ideia, porém, com nossos horários caóticos e os jogos fora de casa, eu e Connor
queríamos aproveitar ao máximo os momentos livres. Foi assim que, no meio de uma
tarde, enquanto ele se arrumava para viajar, decidimos que eu ficaria de vez. Me mudei
enquanto ele estava jogando na Flórida e não me arrependo porque é sempre incrível
dormir e acordar ao lado dele. Confesso que ter alguém enquanto surto com os
inúmeros trabalhos da universidade também pesou bastante, principalmente porque
sempre terminamos fodendo em cima da mesa de estudos depois do Connor me ajudar
com as atividades.
— Chegamos. — Arranca-me dos pensamentos.
— Em casa? — Estreito os olhos.
— No nosso lar. Meu lugar favorito. — Retira o cinto e rapidamente sai do
carro, fazendo a volta pela frente — Eu já te disse o quanto você fica linda com meu
nome? — indaga estendendo sua mão e eu a seguro me apoiando em seu ombro para
descer da caminhonete.
— Só umas milhões de vezes antes de entrar na arena. — Ele sorri travesso.
Connor seguiu com o número vinte e três no profissional, mas eu ameacei
arrancar seu delicioso pau se a fama da universidade se espalhasse para fora do
campus. Não quero nenhuma maria-patins desejando o meu monstro.
— Vamos. — Aperta minha mão e juntos passamos pelo jardim subindo os três
degraus que nos leva até a porta de entrada.
Ele insere as chaves na fechadura e, ao abrir a porta, percebo que o ambiente
está na penumbra. Retiro meus saltos, sentindo o alívio percorrer meus pés, e dou um
pequeno grito quando as mãos do meu namorado deslizam pelas minhas pernas, me
erguendo em seus braços como se eu pesasse tão leve quanto uma pena.
— Ei, o que você está fazendo? — questiono e ele me fita com seu sorrisso
travesso.
Deus, eu ainda sou completamente apaixonada por ele. Mesmo depois de
anos, sinto como se tivesse conhecido ele ontem porque as borboletas ainda
continuam vivíssimas e toda vez que ele me direciona um sorriso elas fazem a festa.
— Vamos comemorar! — declara, afastando-se comigo em seu colo, e percebo
que estamos indo em direção à cozinha. — Fecha os olhos e não abre antes de eu
avisar. — Assinto, sentindo meu corpo ser colocado ao chão segundos depois. Mesmo
com medo, mantenho-os fechados enquanto Connor me ajuda a equilibrar. Sinto sua
mão voltar para mim enquanto andamos alguns metros e sei que adentramos a
cozinha. — Pode abrir.
Pisco surpresa quando vejo a cozinha completamente decorada, e rapidamente
as lágrimas se apossam da minha visão. Percebo que a mesa está posta para dois, e o
aroma delicioso da comida paira no ar. No centro, velas vermelhas tremulam, trazendo
uma meia-luz romântica para o ambiente. O chão está coberto por pétalas de rosas e
balões em formato de coração completam o ambiente.
— Amor... Que lindo! — declaro com a voz embargada voltando minha atenção
para o melhor namorado do mundo.
É nesse momento que sinto meu corpo vibrar ao presenciar Connor se ajoelhar
à minha frente com seus olhos refletindo emoção e uma expressão carinhosa tomando
conta do seu rosto.
— Ashley... Eu pensei em diversos lugares para fazer isso, mas cheguei à
conclusão de que o melhor seria aqui, porque é nessa casa que quero viver para
sempre ao seu lado. — Levo as mãos à boca, totalmente surpresa, com meu coração
batendo desenfreado. — Quando você me atropelou, naquela noite, anos atrás, eu não
fazia ideia de que minha vida mudaria por completo. Que você chegaria para ficar. —
As lembranças me atingem, e lembro da minha falsa ilusão em acreditar que não me
apaixonaria por esse cara. — Tínhamos tantos motivos para não ficarmos juntos, mas o
meu coração te escolheu no instante que meus olhos pousaram em você. — Assinto
emocionada. — Sei que nossa vida ainda está caótica, mas não consigo mais esperar.
— Ele retira uma caixinha de veludo do bolso e já não consigo mais controlar as
lágrimas. — Ashley Moore, você aceita se casar comigo e assim me tornar o homem
mais feliz deste mundo? — questiona revelando um lindo anel com pedrinhas de
brilhante no topo.
— Sim! Mil vezes sim! — Seu sorriso se expande quando uma lágrima
sorrateira escorre por seu rosto. Ele coloca o anel no meu dedo anelar e se levanta. —
Eu te amo muito, meu eterno capitão — declaro em meio às lágrimas quando ele
segura delicadamente meu rosto, aproximando-o do seu.
— Eu te amo ainda mais, minha eterna Assassina. — Sela nossos lábios em
um beijo apaixonado e carregado de emoção. — Agora vamos aproveitar nosso jantar
de noivado — diz afastando nossos lábios.
— Onde está o Marley? — pergunto pelo nosso cachorro porque não escutei
nenhum barulho desde que chegamos.
— Ficou na casa da sua mãe porque, se ele entrasse nessa cozinha, destruiria
tudo. — Dou risada ao me aproximar da mesa.
— Não exagera. — Connor estreita os olhos em minha direção. — É, ele odeia
balões e acabaria com tudo isso em segundos. — Concordo quando ele afasta a
cadeira, e eu me sento.
— Minha futura esposa. — É nítida a emoção em sua voz quando se senta à
minha frente e segura minha mão. — Você é toda minha, Ashley.
Surpreendentemente, essas palavras não me assustam!
— Sim, quase marido, eu sou inteiramente sua! — Olho para o anel brilhando
em meu dedo, com a certeza vibrando dentro de mim de que a melhor decisão que fiz
na minha vida foi voltar para este lugar, pois foi aqui que encontrei todos os motivos
para amar.

Fim
AVALIAÇÃO NA AMAZON

Deixa eu te pedir um favorzinho?


Não esquece de deixar sua avaliação no site da Amazon.
Parece pouco, mas um tempinho que você tira para deixar sua opinião ajuda
bastante o livro a chegar a mais leitores. Agradeço de montão se puder fazer isso!
Se quiser ficar por dentro das novidades e tudo sobre os próximos lançamentos
é só me seguir nas redes sociais:
Instagram:
@autorarayfreire

Twitter(X):
@autorarayfreire

Grupo de leitoras:
Entre aqui
PEÇA AJUDA!
A violência contra a mulher começa com atos sutis, porém a tendência é se
agravar. Por isso, fique atenta e, se perceber que está vivenciando um relacionamento
abusivo, PEÇA AJUDA. Não se cale diante dessa situação e acredite: você não está
sozinha. E não merece passar por isso!
Ligue 180
O Ligue 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à
violência contra a mulher. Além de receber denúncias de violações contra as mulheres,
a central encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o
andamento dos processos.
O serviço também tem a atribuição de orientar mulheres em situação de
violência, direcionando-as para os serviços especializados da rede de atendimento. No
Ligue 180, ainda é possível se informar sobre os direitos da mulher, a legislação
vigente sobre o tema e a rede de atendimento e acolhimento de mulheres em situação
de vulnerabilidade.
Além do telefone, em quais canais é possível realizar denúncias?
Além do número de telefone 180, é possível realizar denúncias de violência
contra a mulher pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil e na página da Ouvidoria
Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos (MMFDH), responsável pelo serviço. No site está disponível o
atendimento por chat e com acessibilidade para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Também é possível receber atendimento pelo Telegram. Basta acessar o
aplicativo, digitar na busca “DireitosHumanosBrasil” e mandar mensagem para a equipe
da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180.
AGRADECIMENTOS

Meu primeiro obrigada sempre vai para Deus, porque é Ele quem me dá forças
diariamente para enfrentar os obstáculos e assim continuar fazendo aquilo que eu tanto
amo: criar histórias.
Ah, eu sempre falo do meu trio e dessa vez, se eu pudesse, escreveria um livro
apenas agradecendo essas três maravilhosas! Aline, Berta e Ju, o que seria de mim
sem vocês? O que seria dos meus livros sem tanto apoio e ajuda? Eu nunca vou
cansar de agradecer por tudo que fazem por mim. Obrigada por acolherem e
acreditarem nessa história assim que ela brotou na minha mente maluca. Obrigada por
não terem me deixado desistir deles e por terem escutado meus surtos repetidas vezes
até que eles passassem. Eu amo vocês demais!
Obrigada, amor, por todo apoio e carinho com meus livros e comigo! Obrigada
por me deixar chorar quando acreditei que não conseguiria, mas principalmente, muito
obrigada por ter enxurgado minhas lágrimas e me feito acreditar que sim, eu
conseguiria e que seria lindo. Nunca vou esquecer de cada palavra de incentivo e do
quanto segura minha mão diariamente. Eu te amo um tantão assim e tenho uma sorte
da porra em poder dividir a vida com você!
Dani, Flávia e Paty, meu segundo trio que sempre está comigo! Obrigada por
todo apoio que me direcionam e por vibrarem com minhas conquistas. Eu amo vocês!
Charlene do céu, como eu poderia conseguir descrever em palavras o quanto
sou grata por ter encontrado você? Obrigada por tanto! Por ouvir meus surtos, pelos
conselhos, as dicas, os puxões de orelhas, sério, sem você esse livro jamais estaria no
mundo. Eu amo você, viu? Saiba que não te largo nunca mais!
Fabi, Karolynne e Maieli, as melhores betas desse universo literário! Muito
obrigada pelo carinho, surtos e, principalmente, pelas dicas valiosas para que o enredo
melhorasse. Vocês são incriveis!
Obrigada a minha assessora maravilhosa! Vavah, você é incrivel e se não
fosse sua ajuda com toda certeza do mundo eu já estaria louca (mais do que já sou).
Obrigada as minhas Raynhas que estão sempre surtando por mais histórias e
me ajudando a levar esse sonho a um novo patamar. Vocês são as melhores leitoras
do mundo!
Obrigada Carla por, mais uma vez, deixar meu texto impecavel com essa
revisão maravilhosa!
Obrigada Katarina Sanchez por essa diagramação maravilinda!
Obrigada L.A. Designer por essa capa perfeita!
E MEU MUITO OBRIGADA a você que disponibilizou o seu tempo para se
aventurar no meu livro. Sou grata demais pela oportunidade e estou aqui na torcida
para que essa turma tenha te conquistado. Se quiser surtar, meu Direct está aberto.
Sou doidinha, mas legal, viu? Amo demais conversar com minhas leitoras!
Até a próxima aventura!
LEIA TAMBÉM

ACORDO PROIBIDO
“Ela era tudo que ele não deveria querer!”
Melissa Alencar passou por uma infância e adolescência difícil, no entanto, a
vida começou a sorrir para ela na fase adulta, pois ela já conquistou seu carro, um
apartamento, sua própria empresa de decoração e ainda está noiva. Só que tudo
desaba quando descobre que seu noivo é um traidor e que seu apartamento se
transformou em cinzas.
Romeu LeBlanc, aos quarenta e três anos, é um advogado renomado em
Chicago, onde ele mora há cinco anos. Uma vez ao ano, ele vem passar as férias, na
sua casa, no Brasil, para visitar sua família, no entanto, nada o prepara para a
surpresa que essas férias se encarrega de entregar a ele: dividir a casa com a ex-
noiva do seu filho.
Melissa está perdendo tudo.
Romeu sente obrigação de ajudá-la, afinal seu filho foi um crápula.
Eles vão dividir o mesmo teto.
Uma atração vai surgir e, mesmo lutando com todas as forças, será impossível
resistir.
Um acordo de apenas uma vez para saciar esse desejo latente.
Eles não deveriam se apaixonar, porque o que sentem um pelo outro é errado
de todas as formas, mas, como segurar o amor, quando ele vem sem pedir licença?
Romance proibido (ex-sogro e ex-nora).
Age Gap.
Dividem o mesmo teto.
Romance com prazo de validade.
Acordo de sexo sem compromisso.
CONTEÚDO ADULTO!
PRÓLOGO - Melissa Alencar

“Se ele não perceber o quanto você é


incrível, ele não é o cara certo para
você.”
CAPÍTULO 1 - Melissa Alencar. "Se ele não perceber o quanto você é incrível, ele não é o cara certo para você." A barraca do beijo

Eu costumo dizer que sou uma pessoa tranquila e que, mesmo com toda a
dificuldade que passei na infância e adolescência, a vida começou a sorrir para mim na
fase adulta. Estou próxima de completar vinte e nove anos e já tenho tudo que uma
pessoa nessa idade gostaria: um apartamento, um carro seminovo, um relacionamento
estável e ainda sou dona de uma empresa de decoração, porque, mesmo sem cursar a
faculdade, eu consegui abrir meu próprio negócio. Meus dias são, na maioria das
vezes, tranquilos, porém, justamente hoje, tudo resolveu dar errado!
Primeiro, acordei atrasada; segundo, meu celular caiu dentro de um balde de
água, então tudo que eu tinha nele foi para o espaço junto com a minha paciência.
Quando pensei que não podia piorar, a bateria do meu carro descarregou, porque
deixei os faróis ligados durante toda a noite. Sem celular e sem carro, eu deveria voltar
para a minha cama e dormir o dia inteiro, ainda assim respirei fundo e perguntei para a
minha vizinha se eu podia ligar para o meu noivo, Arthur, e ela assentiu.
— Oi, Melissa. — Sua voz soa irritada.
— Parabéns, amor — felicito e lembro da quantidade de coisas que tenho para
fazer durante o dia devido a surpresa que irei preparar para ele. Esse é o único motivo
que não me fez voltar para cama. — Estou ansiosa para comemorar mais um ano com
você.
— Eu também — ele fala com alguém ao seu lado, mas logo retorna. — Vou
precisar desligar.
— Espera — o chamo antes que ele encerre a chamada. — Meu celular
quebrou e estou sem carro. Tenho mil coisas para resolver hoje. Pode acionar o seguro
para mim?
— Estou entrando em uma reunião agora, Melissa. — Seu tom de voz sai duro.
Eu bufo. Sempre uma maldita reunião. — E assim que sair tenho que correr ao
aeroporto, porque tenho outra reunião em São Paulo.
— Está certo — suspiro. — Não se preocupe que eu vou dar um jeito.
— Até a noite. — Ele desliga sem ao menos eu me despedir.
Entrego o telefone a minha vizinha e desço as escadas, porque estou tão
irritada que não tenho paciência para esperar o elevador. Saio do prédio com a minha
bolsa e começo a andar em direção ao ponto de táxi mais próximo. Chego até ele dez
minutos depois de caminhar no sol escaldante e não sei explicar o tamanho da minha
irritação.
Digo o endereço da casa da mãe do Arthur ao motorista e ele dá partida no
carro chegando rapidinho até a mansão, porque não moramos tão longe uma da outra.
Graças a Deus, sou uma mulher prevenida e, além do dinheiro no banco, eu sempre
mantenho alguma quantia na carteira. Pago o motorista e subo os degraus da casa.
É difícil engolir o meu orgulho e vim até aqui pedir ajuda justamente para ela.
Eu e a Lorena não possuímos uma relação muito amigável e sei que isso é devido ao
fato de eu não vir da alta sociedade. Desde o início, ela deixou visível o quanto não me
achava apropriada para o filho. Nos suportamos apenas pelo Arthur, nada mais.
Bato na porta esperando ser recebida pela governanta, no entanto, quem
aparece na porta é Romeu, meu sogro, que deveria estar em Chicago.
— Olá, Melissa. — Ele sorri e abre espaço. — Tudo bem?
— Oi, Romeu. — Entro na sala encontrando-a vazia. — Estou bem e você?
Não sabia que estava no Brasil.
Romeu é dono do escritório onde Arthur é sócio, mas ele mora em Chicago há
cinco anos porque abriu uma filial da LeBlanc Advocacia junto com um amigo. Arthur e
Romero comandam o escritório aqui da cidade e ele está à frente do de Chicago.
Durante todos esses anos vi apenas o Romeu cinco vezes contando com essa, porque
ele se mudou um mês após eu começar a namorar com o Arthur. Meu sogro só vem ao
Brasil uma vez ao ano para passar as férias. Lembro-me de que, na época, o convite
para o escritório fora do Brasil foi estendido ao Arthur, no entanto, meu noivo recusou e
disse que preferia ficar à frente do escritório da família junto com o avô.
— Cheguei ontem à noite. — Ele se senta no sofá. — Como você está?
— Estou bem e você?
— Agora melhor, porque finalmente vou poder descansar um pouco.
Não sei muito sobre a vida pessoal do Romeu, porque o Arthur nunca falou
sobre a separação dos pais, no entanto, já ouvi falar muito sobre a carreira que ele
consolidou fora do Brasil. Aos quarenta e três anos, Romeu é um advogado renomado
e possui aquela pose de homem poderoso. Já vi algumas matérias sobre o seu
escritório e em todas ele sempre foi aclamado sobre seu profissionalismo e educação.
Ele me fita enquanto eu me sento na sua frente.
— Eu imagino como seu trabalho deve ser bem corrido — declaro e ele
assente. — Mas fico feliz que esteja aqui. Tenho certeza de que o Arthur vai gostar de
te ver. — Ele sorri e meneia a cabeça. — Sabe onde está a Lorena? — pergunto sobre
a mãe do Arthur mesmo a contragosto.
— Acabou de sair para fazer compras, porque, como ela mesmo disse,
acordou entediada. — Noto ele revirar os olhos e não o julgo. A sua ex-mulher
consegue ser bem superficial e dinheiro é a única coisa que enche seus olhos.
— Sério? — suspiro derrotada porque ela era minha última opção.
— Aconteceu algo? — pergunta.
— Meu celular caiu na água, a bateria do meu carro descarregou e eu tenho
mil coisas para resolver porque estou montando uma surpresa para o aniversário do
Arthur.
— O dia mal começou e já está assim para você? — pergunta e eu assinto. —
O que você queria com a Lorena?
— Ia pegar o carro dela emprestado porque assim consigo ir ao shopping
comprar um novo celular e organizar as coisas para a surpresa que vou fazer à noite
para o Arthur.
— Vamos. — Ele se levanta. — Ela saiu no carro dela, mas eu estou com o dia
livre então posso te ajudar.
— Não quero incomodar, Romeu — nego. — Você deve estar cansado da
viagem.
— Melissa, é o aniversário do meu filho, não é incômodo algum.
— Está certo. — Levanto-me porque não estou em condições de negar ajuda a
essa altura do campeonato. E porque Lorena é a última pessoa no mundo a qual eu
gosto de pedir ajuda e só engoli o meu orgulho vindo até aqui por causa do Arthur. —
Você poderia me emprestar seu celular para eu acionar o seguro?
— Ele é todo seu. — Me entrega o aparelho e, juntos, saímos da mansão em
direção ao seu veículo. — Vim até aqui para ver se encontrava o Arthur, mas a Lorena
me disse que ele tinha dormido em casa e que não o viu nos últimos dias.
— É... — suspiro quando entro no seu carro. — Ele disse que tinha reuniões
hoje e o dia estava bem cheio.
— Você não parece muito feliz com isso — comenta enquanto liga o carro e sai
da mansão.
— Não. Não é isso. É só que o Arthur está cada vez mais ocupado e está
sobrando pouco tempo para outras coisas.
— Sei como é.
— Vida adulta — desconverso e digito o número do seguro. — Podemos parar
no shopping?
— Claro. — Ele segue em direção ao shopping e eu entro em contato com o
seguro do carro. Eles me garantem que irão buscar o carro hoje e que será entregue o
mais rápido possível. A parada na loja de celular é rápida porque eu já sabia qual
aparelho iria querer.
Ótimo, mais uma dívida parcelada em todas as vezes possíveis, mas é como
sempre digo; o valor não importa, mas sim a quantidade de parcelas que está
disponível.
Junto com o Romeu, sigo até o supermercado mais próximo para comprar tudo
o que preciso.
***
Saio do elevador com Romeu quase três horas depois com as mãos cheias de
sacolas. Depois que saímos do supermercado, eu tive que voltar ao meu apartamento
para liberar a saída do carro e acabou demorando mais do que o esperado.
— Tenho certeza de que meu filho vai amar essa surpresa — Romeu comenta
assim que abro a porta me tirando dos meus pensamentos e juntos adentramos a sala.
— Eu confesso que pensava que você já estava morando aqui com o Arthur. — Olha
ao redor.
Romeu nos presenteou com esse apartamento quando o Arthur me pediu em
casamento, há dois anos, no entanto apenas o Arthur passou a morar aqui, porque eu
escolhi só vir quando a gente realmente se casasse. Quando eu vir morar com ele
pretendo deixar o meu apartamento para a minha irmã mais nova, porque, assim que
ela finalizar a faculdade, irá voltar a morar no Rio de Janeiro.
Ao me lembrar dela, meu coração aperta de saudades, porque já tem alguns
meses que não conseguimos nos ver. Sempre fomos eu e ela contra tudo, então é
sempre difícil ficar longe. Alícia é mais do que uma irmã mais nova e doidinha, ela é
como uma filha. Anoto mentalmente de ligar para ela o mais rápido possível.
— Decidimos que eu só viria quando nos casássemos — respondo saindo dos
meus pensamentos. Coloco as compras em cima da bancada da cozinha e o Romeu
também deposita as que está segurando.
— Vocês já marcaram a data do casamento? — pergunta enquanto eu começo
a guardar os itens.
Decidi fazer um jantar surpresa para o Arthur, porque, além de comemorar seu
aniversário, também quero tentar esquentar as coisas entre nós. Três meses que não
transamos e, se continuar assim, logo seremos amigos com status de noivos.
— Ainda não — nego e coloco o vinho na geladeira. — Estamos esperando um
pouco porque o escritório está em polvorosa. Seria impossível o Arthur viajar para uma
lua de mel neste momento.
— Lorena me contou que quase não consegue vê-lo... — De onde estou
consigo ver o seu semblante pensativo enquanto se senta no sofá. — Me pergunto se
não foi um erro deixá-lo à frente de tudo. Arthur ainda estava na faculdade.
— Ei... — o chamo e ele me encara. — Você deu escolhas ao Arthur. Foi ele
quem quis se jogar de cabeça no escritório e ficar à frente de tudo junto com seu
Romero.
— Você tem razão — suspira. — O Arthur já é um homem e sabe o que faz da
vida. Meu pai também o ajudou muito no início. — Ele se levanta e se aproxima. —
Estou indo, mas, se precisar de algo, pode me avisar.
— Obrigada — agradeço. — Você foi um anjo.
— Não precisa agradecer. — Ele se vira, mas volta a me olhar. — Só não se
esqueça do nosso acordo — brinca.
— Não se preocupe. Quando terminarmos aqui iremos até sua casa e assim
você também vai poder comemorar o aniversário do seu filho — digo porque durante o
caminho ele me pediu para levar o filho até a sua casa. Juntos vamos fazer uma noite
do vinho.
— Até mais, Melissa.
Ele sai do apartamento e termino de guardar todas as compras. Vou fazer uma
massa italiana favorita do Arthur, comprei vinho e alguns itens do sex shop porque
preciso esquentar nossa relação urgente.
Conheci o Arthur quando ele contratou a minha empresa para fazer toda a
decoração do seu escritório. A química foi instantânea e, quando ele me convidou para
sair, eu aceitei. Fomos nos conhecendo e, alguns meses depois, assumimos um
relacionamento. Desde então estamos juntos. Não somos um casal que estamparia
aqueles comerciais de margarina, mas gosto do que temos na maioria das vezes.
Depois que guardo todas as compras, decido tomar um banho e só depois
voltar a cozinha para começar a preparar o jantar, porque ainda tenho um bom tempo.
Só vou avisá-lo de que estou aqui no início da noite quando tudo estiver pronto. Entro
no quarto, que será o meu assim que nos casarmos e sorrio porque, mesmo ainda
tendo algumas dúvidas, sei que é assim que vai acontecer.
Nenhuma vida é perfeita e a felicidade nunca está completamente presente em
nossas vidas. Arthur está distante, porém sei que é só uma fase no escritório e que,
assim que as coisas acalmarem, ele vai voltar a ser como antes. Não posso deixar a
insegurança falar mais alto só porque estamos enfrentando uma fase difícil.
Entro no banho e deixo a água fria aliviar um pouco do estresse e da
enxaqueca que apareceu assim que acordei pela manhã. As coisas na empresa andam
muito bem, no entanto, para isso acontecer, estamos trabalhando bastante. A semana
foi puxada e o dia não começou nada bem, porém agora tudo está resolvido e eu só
preciso relaxar depois que organizar todas as coisas do jantar surpresa.
Saio do banho, coloco um vestido de alcinha e penteio meus cabelos fazendo
um coque para não cair fios na comida, mas, quando estou saindo do quarto, ouço o
som da porta abrindo e volto rapidamente para dentro.
— Ai, merda. Ela não tinha uma reunião em São Paulo? — murmuro para mim
mesma, mas, ao ouvir o som de risadas, meu corpo inteiro gela quando percebo que
duas pessoas entraram no apartamento.
Aproximo-me da porta e tento ouvir a conversa.
— Você deveria criar alguma reunião e passar a noite comigo. — A voz
melodiosa chega até o meu ouvido e a bile sobe de imediato.
— Princesa, seria impossível uma reunião na noite do meu aniversário. —
Ouço Arthur justificar e meus olhos se enchem de lágrimas. — Vamos comemorar
agora e depois teremos o final de semana completo sozinhos em Búzios.
Filho da puta!
Meu corpo inteiro treme de ódio ao constatar que o imbecil está me traindo.
Deus, a viagem que ele me disse que era apenas para os advogados no final de
semana era tudo mentira. As inúmeras reuniões eram só desculpas para se encontrar
com outra mulher.
— Então que tal você me levar para o seu quarto. — Sinto vontade de me bater
ao escutar a voz manhosa. — Dessa vez, embalei minha boceta em uma calcinha com
lacinho vermelho.
— Você sabe como me deixar louco — ele rosna. O filho da puta rosnou!
Saio como um foguete do quarto e, assim que entro na sala, encontro o cara
que deveria ser o homem que eu passaria todos os dias da minha vida se agarrando
com uma mulher. Eles não percebem minha presença de imediato e aproveito disso
para secar as lágrimas.
— O aniversário é seu, mas quem ganhou um par de chifres de presente fui eu
— digo e, no mesmo instante, os dois se afastam. Arthur me fita e toda a cor do seu
rosto some.
— Melissa, o que você está fazendo aqui? — pergunta se afastando da loira.
— O que eu estou fazendo aqui?! — grito. — A pergunta certa seria: “O que
diabos você está fazendo no nosso apartamento se agarrando com uma mulher?”.
— Eu posso explicar — solto uma gargalhada alta. — Não é o que você está
pensando.
— Vá para o inferno, Arthur, você e suas malditas desculpas porque estou farta
delas! — Vou até a cozinha e ele me segue. — Não toque em mim! — grito quando ele
segura meu braço. Ele se afasta.
— Vamos conversar.
— Eu deveria ter desconfiado: as inúmeras reuniões tarde da noite, a falta de
interesse no sexo, a frieza comigo. — O encaro raivosa. — Mas não, eu preferi
acreditar que era só o trabalho que estava te consumindo. Eu sou tão idiota!
— Ela não significa nada para mim.
— Como é? — A mulher entra na cozinha furiosa. — Você me disse hoje que
iria deixar ela para ficar comigo — acusa apontando para mim.
— E você acreditou, querida? — debocho e ela me fuzila. — Mas não se
preocupe. — Pego minha bolsa que deixei em cima da mesa. — Esse pacote de merda
é todo seu.
Meu sangue está borbulhando de raiva enquanto passo por eles e no percurso
faço questão de empurrar o imbecil para que saia da minha frente. Saio do
apartamento tremendo de ódio, mas, quando a porta do elevador se abre, eu entro e
desabo. Uma mistura de sentimentos se apossa de mim, no entanto, o que mais
predomina é a raiva, pior, raiva de mim mesma por me deixar ser enganada tão
facilmente, porque todas as pistas estavam na minha cara, mas eu não quis enxergar.
— Melissa, o que houve? — Penso estar delirando, mas, quando olho para
trás, Romeu me fita preocupado.
— O que você está fazendo aqui? — indago.
— Eu acho que minha carteira caiu no sofá quando me sentei, então voltei para
buscar. — Ele se aproxima e eu seco as lágrimas. — O que aconteceu?
— Aconteceu que seu filho é um filho da puta traidor — respondo furiosa e
acabo descontando minha ira em cima dele. — A idiota aqui estava preparando uma
surpresa, mas quem foi surpreendida fui eu quando o Arthur entrou com a amante no
apartamento.
— Puta merda! — diz surpreso, mas noto seu semblante ficando sombrio. —
Não acredito que ele se tornou esse tipo de homem.
— Ah, acredite porque eu vi com os meus próprios olhos e, pelo que ouvi da
conversa, não é um caso de hoje. — As portas do elevador se abrem. — Preciso ir —
aviso e vou em direção à saída.
— Espera! — ele grita quando estou quase na porta. — Você está sem carro.
— Vou pedir um Uber.
— Vamos, eu te levo até em casa — Romeu diz passando por mim.
— Não precisa, Romeu. — Pego o celular novo, mas, assim que tento ligá-lo,
percebo que o resto de bateria que veio com ele foi para os ares. Suspiro.
— É o mínimo que eu posso fazer depois do que você acabou de passar. —
Penso em dizer que ele não tem culpa pelas atitudes do filho, entretanto, estou
cansada demais. Assinto e sigo até o estacionamento.
Entramos no carro e o silêncio predomina enquanto Romeu dá partida e segue
em direção até o meu apartamento. Me recosto no banco e fico olhando a cidade
passando sobre os meus olhos. Cinco anos jogados no lixo e, enquanto reflito, entendo
que nosso relacionamento não estava mais funcionando, que estávamos segurando
essa relação apenas pela comodidade. Mas, porra, era só terminar, porque nada nesse
mundo justifica uma traição.
Talvez eu devesse seguir o conselho da Alícia, minha irmã, porque ela vive me
atormentando dizendo que sou certinha demais, regrada demais. Que a vida é apenas
uma e que eu deveria me divertir mais. No fundo, ela sempre teve razão e sei que
muito desse meu jeito vem da responsabilidade que tive desde pequena. É difícil você
se jogar sem pensar nas consequências quando desde cedo você aprendeu que, se
você não seguir as regras e focar em realizar seus sonhos, você vai sempre viver na
merda.
Se eu fosse para a faculdade, teria que deixar minha irmã sem estudos.
Se eu optasse pela diversão, não conseguiria sustentar nós duas.
Se eu gastasse dinheiro com coisas supérfluas, não estaria com o meu
apartamento próprio.
São escolhas e eu escolhi cuidar de nós duas, mesmo que para isso eu tenha
perdido um pouco da Melissa sonhadora e divertida ao longo dos anos. Deixo os
pensamentos tristes no fundo da minha mente, porque me proíbo de ficar mal por
causa daquele embuste.
A cada minuto que se passa, meu ódio só aumenta pelo Arthur e só quero que
esse maldito dia acabe, apesar de saber que ele não tem como ficar pior do que já
está.
— Chegamos. — A voz de Romeu me tira dos meus devaneios. — E acho que
tem algo errado.
— Como assim? — O encaro confusa e ele aponta para o meu prédio.
Puta que pariu!
Por que fui pensar que não tinha como piorar?
Na frente do prédio está estacionado um caminhão dos bombeiros e, quando
olho para cima, percebo que é da minha janela que a fumaça está saindo.
Deus, por favor, não!
CAPÍTULO 2 - Romeu LeBlanc “Por que tenho o pressentimento de que vai bagunçar minha vida?" "Uma baguncinha não faz mal a ninguém.” E se eu ficar?

Saio do carro assim que Melissa desce e junto seguimos até o caminhão de
bombeiros.
— Bom dia. — Observo sua voz trêmula. — O que aconteceu?
— A senhorita é a proprietária? — o homem fardado pergunta e Melissa
assente. — Fomos chamados porque seu apartamento estava em chamas. Ainda não
conseguimos descobrir a causa.
— Meu Deus. — Observo Melissa começar a pender para o lado. — Acho que
vou desm...
Ela não completa a frase porque apaga, mas, antes que chegue ao chão, eu a
seguro colocando nos meus braços.
— Venha com ela — o bombeiro pede. Ando com ela nos meus braços até o
carro de bombeiros. Ele puxa uma maca e eu a deito sobre ela.
— Melissa... — a chamo, no entanto, ela não me responde e começo a me
apavorar. — O que está acontecendo? — pergunto enquanto uma mulher se aproxima
e começa a examiná-la.
— Calma. Tudo indica que foi apenas uma queda de pressão. — Ela continua
examinando. — Ela voltará em breve — afirma levantando um pouco as pernas da
Melissa.
Aos poucos, observo ela voltando e solto um suspiro de alívio. Melissa parece
perdida, mas, quando percebe onde está, tenta se levantar depressa, mas ao mesmo
tempo segura a cabeça.
— Calma aí. — A mulher, que acredito ser enfermeira, a deita de volta. —
Vamos esperar um tempo até você se levantar.
— O que aconteceu? — pergunta e olha para mim.
— Você desmaiou.
— O meu apartamento. — Noto seus olhos se encherem de lágrimas.
— Primeiro você. — Aponto para os bombeiros. — Eles estão cuidando de
tudo.
A enfermeira abre sua bolsa e entrega um medicamento a Melissa, ela o toma
e fica alguns minutos deitada, mas, em seguida, parece que sequer desmaiou. Seu
semblante reflete pura preocupação quando ela se senta e olha para a fachada do
prédio.
— Romeu, pode ver se já descobriram algo? — pede.
— Volto já. — digo e ela assente.
O local está abarrotado de pessoas e acredito que, além dos moradores,
também tem vários curiosos aqui. Desvio das pessoas e me aproximo do mesmo cara
que nos atendeu antes dela desmaiar.
— Olá, já descobriram o que aconteceu? — pergunto.
— Aparentemente houve uma sobrecarga dos circuitos elétricos, o que gerou
um curto-circuito. O fogo se alastrou pelo apartamento e, quando notaram, infelizmente
os danos já eram irreparáveis. O apartamento está completamente queimado e até se
alastrou para outros, mas não temos nenhum ferido e conseguimos salvar os outros
apartamentos.
Meu peito aperta com a notícia porque não é justo. Não tenho um contato
direto com a Melissa porque moro longe, entretanto, sei que ela é uma mulher que luta
todos os dias para conseguir suas coisas. Lorena, mãe do Arthur, e minha primeira
mulher, não é muito fã da nora porque Melissa não vem de uma família rica, mas o meu
pai Romero sempre me fala do quanto Melissa é esforçada.
Respiro fundo e agradeço. Volto até onde Melissa está, mas agora a encontro
em pé vindo em minha direção. Ela reveza o olhar entre mim e a janela do seu
apartamento.
— Então? — pergunta receosa.
— Eles falaram que foi uma sobrecarga de energia que levou a ocorrer um
curto. Sinto muito, Melissa, mas o fogo consumiu todo o seu apartamento.
O choro vem assim que as minhas palavras saem e meu peito dói. Nessas
horas, nada do que eu disser vai amenizar, então faço a única coisa que acho que
pode ajudar: eu a abraço e, no mesmo instante, ela desaba. Acaricio suas costas
tentando encontrar uma solução para ajudá-la.
— Você pode ficar na casa da Lorena enquanto resolve tudo. — Ofereço
mesmo sem saber se Lorena permitiria.
— Obrigada, mas acredito que você saiba que não possuímos um vínculo tão
forte. Na verdade, ela apenas me suporta e jamais aceitaria que eu ficasse na casa
dela, não sem me deixar louca no processo.
— Merda. A Lorena realmente é muito complicada. — Tenho vontade de me
socar com o erro, porque acabei me esquecendo de que elas não se dão muito bem...
— Então, você fica na minha casa.
— Não precisa, Romeu, eu fico em um hotel, mas agradeço a oferta.
— Não — nego. — Devido a situação acredito que economizar é a sua melhor
opção — constato.
— Eu vou dar um jeito. Não se preocupa.
— Melissa, é o mínimo que posso fazer depois de tudo que você passou —
declaro.
— Romeu...
— Não aceito não como resposta — digo e ela me fita. — Meu filho foi um
imbecil, mas eu não sou e jamais deixaria você ficar sozinha agora. Em breve, volto
para Chicago e você pode ficar o tempo que quiser na minha casa.
— Tem certeza? — pergunta receosa. — Eu não quero causar um atrito entre
você e o Arthur.
— Absoluta. Se ele ficar com raiva, porque estou te ajudando depois de tudo
que ele aprontou, então eu realmente não conheço a pessoa que ele se tornou — digo
sério e ela assente tentando forçar um sorriso. — Agora vamos resolver tudo que tem
que ser feito aqui e depois vamos para casa.
Juntos seguimos até a equipe de bombeiros e ele passa todas as informações
necessárias. Infelizmente, o apartamento não possuía um seguro e, como o prédio não
tem um síndico, todo o prejuízo cai em cima da Melissa. Esperamos até tudo ser
resolvido e só depois entramos no carro. Como o incêndio teve uma proporção grande,
os bombeiros nos aconselharam a não subir até o apartamento para não inalar os
resíduos do fogo.
— Vamos dar um jeito — murmuro assim que paro em um sinal e Melissa tira
seu olhar do trânsito.
— Obrigada, Romeu, não sei o que seria de mim hoje sem você. — Ela força
um sorriso.
— Não tem o que agradecer. Independentemente de qualquer coisa, você é
como se fosse da família.
— Ainda assim, obrigada.
Volto a atenção para o trânsito assim que o sinal abre e o restante do percurso
fazemos em silêncio. Meu celular toca e o nome de Arthur aparece na tela, no entanto,
eu deixo a chamada cair na caixa postal.
— Chegamos. — Desço do carro e Melissa faz o mesmo. — Vamos. — Aponto
para a entrada e ela me segue.
Comprei essa casa assim que me separei, há quase onze anos, e mesmo
quando passei a morar em Chicago decidi mantê-la porque sempre gostei de ficar no
meu canto. Não sou fã de hotéis e pousadas, porque prezo muito a minha privacidade.
A casa fica localizada em um condomínio fechado e possui dois andares. Ela é
enorme, tem uma arquitetura moderna e uma decoração masculina. Gosto do conforto
que ela proporciona e ainda mais da segurança. Como só venho uma vez ao ano no
Brasil, preciso que ela seja segura para não acabar sendo invadida. Tem uma senhora
que a mantém limpa e organizada enquanto estou fora.
Passamos pela porta de entrada e adentramos na sala. Melissa parece um
pouco perdida e não a julgo, afinal, ela veio aqui apenas uma vez para um jantar em
família.
— Tenho quartos disponíveis no primeiro e segundo andar. Vou te mostrar
todos e você escolhe qual vai ficar — digo para quebrar o silêncio.
— Pode escolher qualquer um e para mim estará ótimo.
— Não — nego e começo a subir as escadas. — Venha — a chamo e ela me
segue. — Você escolhe.
A casa possui três quartos no primeiro andar e mais dois no último andar. O
meu fica na segunda opção, o que sobra apenas um quarto disponível no mesmo andar
que o meu. Mostro todos a ela.
— Posso ficar com o primeiro que me mostrou — comenta quando voltamos ao
primeiro andar e algo me diz que esse é o jeito dela de diminuir o incômodo a qual
pensa que está sendo para mim. Ela fica em um andar e eu em outro, assim não
invade a minha privacidade.
— Ótimo. Vou preparar algo para a gente comer enquanto você toma banho.
— Merda. — Ela suspira. — Preciso ir comprar roupas. — Seus olhos se
enchem de lágrimas.
— Acho que tenho algo que caiba em você. Volto já. — Me afasto e vou em
direção ao meu quarto.
Pego uma calça de moletom, uma camisa social e uma camisa normal. Como
eu tenho um metro e oitenta e seis e quase noventa quilos, sei que provavelmente irá
ficar folgado, porque, comparado a mim, Melissa é baixinha, mas acredito que por hoje
sirva. Volto até o seu quarto e a encontro deitada fitando o teto.
— Aqui, veja se alguma peça dessas serve.
— Obrigada — agradece pegando as roupas. — Vou tomar um banho e já
desço.
Apenas assinto e vou em direção ao meu quarto. Tomo um banho rápido e em
seguida desço para a cozinha a fim de preparar algo para comer. Cozinhar sempre foi
como uma terapia, então vai me ajudar a colocar os pensamentos em ordem para
decidir os próximos passos.
Abro os armários e encontro tudo o que preciso para fazer uma carne ao forno
e um arroz à grega. Começo a preparar o jantar e, algum tempo depois, ouço o som da
Melissa se aproximando e, quando ela entra na cozinha, eu me viro.
— Vejo que conseguiu fazer com que desse certo a roupa — declaro, mas
confesso que sinto uma leve vontade de sorrir ao perceber que ela fez vários arranjos
para que a roupa ficasse boa. Tenho certeza de que, se ela correr, todo o seu esforço
vai para os ares, ou melhor, para o chão.
Mas por que diabos estou pensando nisso?
— A calça ficou caindo, mas consegui fazer um nó nas laterais e até que não
ficou ruim. — Ela sorri olhando para a peça e eu balanço a cabeça. — A camisa social
não deu certo, mas essa normal ficou até boa. — Noto que ela também amarrou a
camisa um pouco acima da cintura. — Amanhã vou comprar algumas peças e devolvo
as suas. Precisa de ajuda?
— Não. Já está quase tudo pronto. Pode se sentar e ficar à vontade. — Volto
minha atenção para as panelas.
— Vou ligar para a minha irmã então, mas se precisar de algo pode me avisar.
— Está certo.
Ouço ela se afastando e foco minha atenção em finalizar tudo para que
possamos comer e eu ir direto para o meu quarto porque preciso encontrar uma forma
de conversar com o Arthur. Não sei o que diabos ele tinha na cabeça quando decidiu
jogar fora um relacionamento de anos por causa de desejo passageiro. Eu passei
exatamente pela mesma situação, porque me separei da Lorena justamente porque ela
me traiu com o meu colega de trabalho. Sei bem como a Melissa está se sentindo e
talvez seja por isso que eu não tenha pensado duas vezes antes de ajudá-la.
Respiro fundo, tentando controlar a raiva, porque uma das coisas que eu mais
abomino é a infidelidade, e o Arthur sabe disso. Quando cheguei ao Brasil, eu queria
apenas uma coisa: descanso, mas vejo que, diferente das outras férias, estas serão
bem agitadas. Preciso entender como diabos o Arthur se tornou esse tipo de homem e,
mesmo que eu goste da minha privacidade, não posso deixar a Melissa desamparada
depois de tudo que o Arthur aprontou. No entanto, eu só não fazia ideia de que trazer a
Melissa para passar uns dias na minha casa mudaria minha vida por completo e que o
caos seria instalado de todas as formas possíveis.
CAPÍTULO 3 - Melissa Alencar. “Se for pra chorar pelo leite derramado, que seja leite condensado!” — Comer, rezar, amar

Sento-me no sofá e disco o número da minha irmã, chama quatro vezes,


acredito que ela não vai atender e, no momento que estou prestes a desligar, sua voz
animada soa do outro lado da linha.
— Melhor irmã do mundo falando — diz e eu sorrio sincera pela primeira vez
ao dia.
— Oi, maninha. Como você está? — Me encosto no sofá e o estofado
confortável traz um alívio para o meu corpo cansado.
— Fora os inúmeros trabalhos acumulados, as matérias que odeio, está tudo
uma beleza. E você?
— Então... — suspiro sem saber como contar a ela. — Vamos dizer que
aconteceram algumas coisas hoje.
— Sou toda sua para conversar. — Ouço o som de uma porta batendo. —
Acabei de entrar no apartamento e a Luka ainda não chegou — refere-se à amiga a
qual ela divide a moradia.
— Primeiro, meu telefone resolveu nadar, depois meu carro quebrou — suspiro
me recordando do dia caótico. ― No entanto, decidi fazer um jantar para o aniversário
do Arthur, mas fui surpreendida quando o meu noivo e sua amante chegaram no
apartamento que ele mora, aquele que o Romeu nos presenteou.
— Como é? — Sua voz sai alta e com raiva. — Aquele imbecil estava traindo
você?
— Sim — sussurro enquanto ela pragueja do outro lado. — Mas sinceramente?
Isso é o menor dos meus problemas agora.
— Eu sempre soube que ele não valia nada. Deus, eu queria esmurrar a cara
daquele imbecil agora! — esbraveja enraivecida. — Mas como assim menor dos
problemas?
— Houve um incêndio no meu apartamento e eu perdi tudo, Alícia. — Tento
controlar as lágrimas, mas é em vão. A cena de ver ele em fogo fica se repetindo
diversas vezes na minha mente. Eu perdi tudo que lutei tanto para construir nos últimos
anos e isso é devastador.
— Meu Deus, você está bem? — pergunta preocupada. — Estou indo para aí
hoje.
— Não — a interrompo. — Eu não estava na hora do incêndio. Estava
preparando o jantar do Arthur e só descobri algum tempo depois.
— Ainda assim, vou até você.
— Alícia, não precisa, você acabou de falar que está atolada de trabalhos na
faculdade.
— Mel... — Meu apelido sai como um sussurro.
— Estou bem, prometo — afirmo. — O Romeu estava comigo na hora e me
ofereceu um tempo na sua casa.
— O pai do babaca?
— Sim. Ele vai voltar para Chicago em breve e disponibilizou sua casa para
mim.
— Me conta tudo ou pego o meu carro e chego aí em algumas horas.
Faço o que ela pede e narro tudo: do momento que acordei até a minha
chegada à casa do Romeu. Alícia me ouve atentamente, me interrompendo apenas
para jogar mais alguns xingamentos para o meu ex.
— Então, como preciso economizar para reconstruir tudo aceitei a oferta dele.
O hotel ia me custar um rim e não posso arcar com essas despesas agora — finalizo.
— Eu tenho algumas economias guardadas, vou te enviar, não são muitas,
mas acredito que ajude.
— Não — nego de imediato. — Eu tenho dinheiro guardado e a empresa está
com lucros bons. Vou conseguir.
— Deixa eu te ajudar, Mel — pede. — Somos eu e você contra o mundo,
lembra?
— Eu sei, mas no momento não é necessário. Prometo que peço se precisar.
— Promete?
— Prometo sim. Só em saber que tenho você já me ajuda bastante.
— Assim que acalmar um pouco aqui, eu vou te ver, mas se precisar de mim
antes estou a uma ligação de distância.
— Eu sei. — Limpo as lágrimas silenciosas. — Eu te amo muito.
— Eu te amo ainda mais.
— Te ligo depois, certo?
— Como você está me ligando se seu celular foi para o oceano brincar de
golfinho?
— Eu comprei outro e consegui recuperar o meu chip.
— O jantar está pronto, Melissa. — Romeu entra na sala e, quando me vê ao
telefone, para. — Ah, desculpe, pensei que já tinha encerrado a ligação.
— Alícia, vou desligar, mas ligo em breve, certo?
— Ok. Se cuida e qualquer coisa me liga.
— Está certo.
Quando desligo a chamada, olho para o Romeu e ele me encara. Sei que é
nítido que eu estava chorando, mas, como um bom cavalheiro, ele decide fingir que
não viu e não me enche de perguntas. Agradeço por isso, porque, se eu começar a
conversar sobre o dia de hoje, tenho medo de abrir a comporta do choro e não
conseguir mais fechá-la.
— Vamos comer — chama e vai em direção à cozinha. Eu o sigo e logo
estamos à mesa. O cheiro invade minhas narinas, meu estômago ronca e só então
percebo o quão faminta estou.
— Isso está uma delícia — elogio quando levo a carne até a boca. — Eu sabia
que você cozinhava, mas não imaginei que tão bem.
— É uma terapia para mim e cozinho há muitos anos, então sei fazer algumas
coisas — declara entre uma garfada e outra. — Então, já sabe por onde vai começar?
— Vou começar a ver como faço para reformar o apartamento, porque vendê-lo
no estado que se encontra será impossível.
— Tenho alguns contatos que podem ajudar. Vou te passar quando
terminarmos aqui.
— Obrigada — agradeço e finalizo a comida. — Se a reforma demorar muito,
eu fico em um hotel.
— Não vamos discutir sobre isso. — Romeu se levanta e leva o seu prato até a
pia. Ele se recosta nela me encarando. — Volto para Chicago no final do mês e essa
casa ficará vazia até eu voltar no próximo ano. Você fica o tempo que for necessário.
— Tem certeza de que não estou incomodando? — pergunto receosa porque
odeio ser um fardo para as pessoas. — Pensei em ficar em um hotel e quando você
viajar eu ficaria aqui.
— Melissa, acho que você não precisa desse gasto agora — pontua. — Mas se
ficar aqui te deixa desconfortável, eu vou entender.
— Não, não é isso — nego de imediato. — Eu só não quero ser um fardo.
— Você não é! — afirma. É nítido que suas palavras são sinceras. — Já disse,
mas vou repetir: fique o tempo que quiser.
— Obrigada.
— E para de me agradecer por tudo. — Ele sorri e se vira para lavar os pratos.
Eu me levanto rápido, pego meu prato e me aproximo.
— Ei, nem pensar. Você fez a janta, eu lavo os pratos.
— Você está cansada, vai deitar-se um pouco.
— Não. Eu vou lavar os pratos — digo tomando a louça da sua mão que ele
pegou para começar a lavar. — Depois eu me deito.
— Está certo. — Ele se afasta. — Se precisar de algo pode me chamar. Tenho
uma reunião on-line em meia hora, mas acredito que ela não irá se estender por muito
tempo.
— Obrigada.
Ele sai da cozinha e eu começo a lavar a louça tentando assimilar esse dia
caótico que passei. Preciso fazer uma lista com tudo que vou precisar para a reforma
do apartamento e ainda montar o orçamento. Termino de organizar a cozinha e subo
para o quarto. Minha mente não para, entretanto, sou vencida pelo cansaço e, depois
de rolar de um lado para o outro na cama, acabo apagando.
***
— Bom dia! — cumprimento a todos assim que entro na empresa.
— Bom dia, Mel — Ikaro, meu assistente pessoal, me cumprimenta entrando
na sala comigo. — Deus, você está acabada!
— Ah, sério? — debocho me jogando sobre a cadeira e o encaro. Ikaro está
comigo desde quando abri a Alencar Decorações.
— Muito sério. — Ele abre sua agenda porque odeia tecnologia e até hoje não
consegui entender o porquê. — O quilo de maquiagem na sua cara ainda não foi
suficiente.
— Foi um final de semana difícil — digo ligando meu notebook.
— Você saiu daqui toda animada na sexta, porque domingo iria comemorar o
aniversário do Arthur.
— Eu saí mesmo, né? — Apoio o cotovelo na mesa e o encaro. — Inclusive, eu
ganhei um presente no aniversário dele. — Sorrio tentando não deixar transparecer
nada.
— O quê? — pergunta curioso.
— Um par de chifres. — Observo o queixo dele praticamente ir ao chão e nos
próximos minutos conto tudo o que aconteceu. Eu não sou uma pessoa muito aberta e
que confia fácil, porém Ikaro é um dos poucos na empresa a qual eu tenho plena
confiança.
— Já pensou em se benzer? — pergunta. — Se precisar de alguma coisa é só
falar, viu?
— Obrigada, mas agora vamos trabalhar, porque eu tenho uma reforma
gigantesca para começar. O que tenho para hoje?
— Duas visitas externas: uma, às dez, na casa do seu Arnaldo para fechar os
últimos detalhes da decoração e uma no escritório do Fernando, às treze horas, para
iniciar o trabalho no escritório dele.
— A equipe já está pronta? — pergunto e ele assente. — Ótimo, avise que
quero todos no escritório meia hora antes do combinado. Vou apresentá-los ao
Fernando e depois volto para a empresa.
— Fechado. Às duas e meia temos uma cliente nova vindo para uma reunião.
— Ela falou qual seria o trabalho?
— Uma decoração para um salão de beleza.
— Está certo. Vou começar a trabalhar e você pode ir.
— Qualquer coisa, estou na minha mesa.
Ele se afasta e eu foco minha atenção nos e-mails que tenho para responder.
Quando decidi criar a minha própria empresa, eu tinha em mente sempre estar
presente em cada etapa e, desde então, faço dessa forma. Faz quase seis anos que a
inaugurei e, a cada cliente que fecha contrato conosco, nosso nome vai ficando ainda
mais reconhecido porque sempre prezamos para entregar o melhor.
Tenho alguns funcionários e parceria com várias empresas que ficam à frente
dos itens de decoração. Na maioria das vezes, eu que monto todo o projeto da
decoração e só repasso para a equipe começar a planejar e executar. Sempre soube
que era isso que eu queria fazer da vida porque desde pequena foi como um refúgio
para mim.
Pisco saindo dos meus devaneios não deixando minha mente se arrastar para
um lugar onde não sairá nada de bom de lá. Respondo diversos e-mails, faço alguns
orçamentos e só paro quando noto meu celular tocando. A foto de Arthur aparece na
tela e eu bufo. Aperto o botão de desligar e pouco tempo depois ela volta a acender
com ele ligando novamente. Deixo no silencioso e volto a trabalhar, mas agora me
lembro do Romeu.
Romeu sempre foi um homem muito reservado e esse era justamente o meu
receio de estar incomodando ao invadir sua privacidade. Tivemos pouco contato ao
longo dos anos, ainda assim é nítido que ele é um homem gentil, diferente do babaca
do filho. Eu estava arrasada, mas foi notável que ele ficou puto ao descobrir das
traições e isso de alguma forma me confortou.
Hoje acordei bem cedo e não o vi, mas acredito que ele ainda estava dormindo.
Desci para a cozinha, tomei um café rápido e peguei um Uber para a oficina porque
meu carro estava pronto. Foi um pouco embaraçoso sair de casa com as roupas do
Romeu, mas era isso ou abusar ainda mais da boa vontade dele. Para minha sorte, no
meu carro, sempre fica um conjunto de roupas para emergência e é justamente com
essas peças que eu vim trabalhar.
***
Volto ao escritório depois de realizar as visitas externas e me sento no
pequeno sofá que possuo na minha sala. Abro a caixinha de comida chinesa e
aproveito os minutos que tenho antes da nova cliente chegar para almoçar.
Meu celular começa a tocar e, como sei que ele não vai parar de ligar até eu
atender, decido acabar logo com tudo.
— Pensei que não ia me atender mais. — Arthur tem a audácia de parecer
ofendido.
— A meta é justamente essa — digo. — Espero não precisar olhar na sua cara
nunca mais, então faça-me o favor e pare de me ligar.
— Você vai jogar cinco anos de um relacionamento fora por causa de um
deslize?
— Um deslize? — Sinto o ódio dominando cada parte do meu corpo. — Então
eu vou deslizar diversas vezes no pau do Gabriel e depois a gente vê se continua o
relacionamento — alfineto tocando no seu ponto fraco. Gabriel é um colega de trabalho
do Arthur, colega esse que ele morre de inveja.
— Você não está louca! — vocifera.
— Arthur, vou dizer pela última vez: para de me ligar ou vou expor seu casinho
para todo mundo.
— Então é assim? — pergunta bufando.
— Eu estou fazendo o que deveria ter feito há muito tempo.
— Está certo. Não vou ficar mendigando para você voltar porque opção não me
falta.
Como eu pude me enganar tanto com esse homem?
— Também acho — zombo. — Faça o favor de apagar meu número.
— E o nosso apartamento?
— Só vou pegar minhas coisas, mas vou demorar um pouco — me refiro a
algumas roupas, itens de higiene e acessórios que deixei no apartamento porque eu
sempre ficava um bom tempo com ele lá. — O apartamento você pode enfiar no seu
rabo. — Desligo o telefone.
— Ah, eu daria tudo para ver a cara dele depois dessa. — Ikaro entra na sala
sorrindo. — Sua cliente chegou.
— Me dê cinco minutos para jogar fora essas coisas. — Aponto para a caixa de
comida. — E depois você pode mandá-la entrar.
Ele assente e sai da sala. Limpo tudo e vou até o banheiro que possuo na sala.
Escovo os dentes e retoco o batom em seguida não deixando a conversa com o Arthur
estragar o meu dia. No momento que me sento na minha poltrona, a porta é aberta.
Juro que por alguns segundos penso que estou alucinando, porque a minha frente está
a amante do Arthur.
— O que você está fazendo aqui?
— Posso me sentar?
Tenho vontade de dizer que ela já se sentou até onde não podia, mas me
controlo porque até onde sei ela está aqui como cliente. Aponto para a poltrona, que
fica à frente da minha mesa, e ela se senta. A vontade de jogar o meu jarro na cara
dela é grande, mas tento colocar na mente que a única pessoa que deveria me
respeitar era o meu noivo e não uma desconhecida.
— Então? — Encosto-me na minha cadeira e a fito.
— Primeiro, eu queria dizer que tinha marcado essa reunião para te contar
tudo, mas aí você descobriu primeiro. — Ela olha para as unhas e parece estar
verdadeiramente envergonhada. — Segundo, quando o conheci eu não fazia ideia de
que ele era noivo.
— Não me interessa mais — corto-a.
— Me deixa terminar — pede e seus olhos cheios de lágrimas fazem minha
raiva diminuir e a curiosidade aumentar. — Descobri alguns meses depois, porque vi
suas mensagens no celular dele e as inúmeras fotos na galeria, mas aí já era tarde
demais.
— Há quanto tempo vocês estão juntos?
— Quase um ano. — Meu queixo cai. Filho da puta!
— Você se apaixonou? — pergunto e ela nega.
— Minha mãe está internada com rins paralisados e o tratamento é bem caro,
porque não é tudo que consigo pelo governo. — Uma lágrima desce sorrateira. — O
Arthur me ajuda financeiramente e foi ele que comprou as coisas para montar o meu
salão. — Ela enxuga a lágrima e me encara. — Eu sei que você deve me achar uma
vagabunda interesseira, mas prefiro ser isso do que ver a minha mãe morta.
— Você está me dizendo que está com ele apenas pelo dinheiro?
— Eu gosto dele, sabe? Apesar do jeito frio e grotesco, eu gosto dele, mas só
me coloquei nesse papel porque preciso da ajuda dele e porque no início eu acreditei
que ele gostava de mim de verdade.
Eu deveria odiá-la, mandá-la embora, mas meu coração mole não permite. Ela
poderia estar mentindo, mas está nítido no seu rosto que esse não é o caso.
— Eu sinto muito pela sua mãe e desejo melhoras — digo quando algo começa
a se formar na minha mente. — Ele sabe que você procurou a minha empresa para
decorar o seu salão? — pergunto e ela nega. — Se você não pode perder a ajuda que
ele disponibiliza, por que iria me contar?
— Porque isso estava me consumindo e porque, como já tenho praticamente
todo o salão montado, eu estava disposta a sair dessa situação.
— Como você se chama?
— Carla.
— Então, Carla, vamos fazer assim: vou decorar todo o seu salão junto com a
minha equipe e, como será o idiota que irá pagar, o valor vai aumentar trinta por cento
do que o normal.
— Como assim?
— Monto seu salão e os trinta por cento dividimos para nós duas: você fica
com uma quantia para ajudar a sua mãe e eu fico com a outra, porque mereço, afinal
fui feita de trouxa pelo babaca — respondo e ela arregala os olhos. Carla é uma mulher
bonita e é visível que está nessa situação por pura necessidade. — Se você quiser
continuar com ele depois disso, aí o problema já é seu, mas não ache que ele não fará
o mesmo com você.
— Não irei continuar — afirma. — Não é isso que quero para a minha vida.
— Então encerramos por aqui. — Pego um cartão de visitas e a entrego. —
Envie seus dados e tudo sobre o salão por e-mail. Faça com que ele deposite o
dinheiro na sua conta e depois você passa para mim, porque assim ele não vai
desconfiar de nada.
— Obrigada, Melissa. — Ela se levanta. — Você tem todos os motivos para me
odiar e ferrar com a minha vida e, ainda assim, está me ajudando.
— Cada um dá aquilo que tem.
Ela sai da sala me deixando perdida em pensamentos.
CAPÍTULO 4 - Romeu LeBlanc. “Onde foi parar o cavalheirismo? Só existe nos filmes dos anos 80?”

Chego ao restaurante com alguns minutos de atraso e, assim que entro, já vejo
o Arthur sentado a uma mesa mais à frente.
— Bom dia — cumprimento quando me aproximo e ele tira os olhos do celular.
— Oi, pai. — Não deixo de notar a cerveja ao seu lado e são apenas onze da
manhã.
— Eu cheguei a pensar que iria embora e não conseguiria te ver. Você não
atendeu ao meu telefone ontem e nem respondeu minha mensagem de aniversário.
— O escritório está cheio de trabalhos, então estou atarefado. — Sinto vontade
de dizer que ele está ocupado com as suas amantes, mas, como acredito que ele não
sabe que eu estava com a Melissa ontem, decido ficar calado. — E ontem eu saí com
uns amigos para comemorar, então só vi sua mensagem quando cheguei em casa.
— Como você está? — Me sento à sua frente.
— Muito bem. O escritório está cada vez mais conhecido, dinheiro não falta na
conta e agora estou oficialmente solteiro.
— Eu fiquei sabendo sobre a parte do solteiro. — Fecho o semblante. — E
você não deveria sentir orgulho disso.
— A relação com a Melissa estava desgastada, então optamos por seguir
nossas vidas separadas — mente na maior cara de pau. — E convenhamos que a
Melissa anda um porre nos últimos tempos. Eu não estava mais suportando.
— Arthur, você não precisa mentir porque eu sei que a Melissa pegou você a
traindo.
— Como? — pergunta surpreso.
— Eu estava na sua casa quando a Melissa chegou perguntando pela Lorena
e, como sua mãe não estava, eu a ajudei. Você ao menos sabia que ela estava sem
celular e sem carro?
— É, ela me contou, mas eu estava ocupado.
— Meu Deus. — Passo a mão no cabelo irritado. — Mesmo estando cheia de
problemas, ela passou o dia rodando comigo para comprar as coisas para fazer sua
surpresa e você ainda tem coragem de dizer que não a estava suportando.
— Eu não sabia que ela ia fazer uma surpresa.
— Ah, porque, se soubesse, não levaria sua amante para o apartamento de
vocês e sim para um motel — acuso.
— Você está do lado dela? — Tem a ousadia de parecer ofendido.
— Você pensou que eu ficaria do seu lado depois da merda que fez?
— Pai, você a viu poucas vezes, eu convivo diariamente. Nosso
relacionamento estava fadado ao fracasso, mas estava adiando o término porque
preciso de uma esposa para a mídia. — Ele se aproxima. — Mas descobri que sou um
cara que não vou gostar de ficar apenas com uma mulher — confidencia rindo.
— Arthur, não foi assim que eu te criei. — Ele fecha o semblante no mesmo
instante. — Eu sempre conversei com você sobre relacionamentos.
— Você pode opinar sobre isso? Porque, até onde sei, viveu um casamento
fracassado com a mamãe — alfineta com raiva.
— E você jamais deve se espelhar no nosso relacionamento — retruco sério.
— Eu e a sua mãe não demos certo, mas somos amigos até hoje.
— Porque você é um trouxa.
— Olha o respeito. — Meu tom de voz sai duro. — Não vou admitir que você
fale comigo dessa forma e ainda desrespeite a sua mãe.
— Ela colocou um par de chifres na sua cabeça e você ainda a defende. Como
não te achar um trouxa?
— Você está deixando o dinheiro subir a sua cabeça, Arthur, e tenho medo do
que isso possa torná-lo.
— Sermão a essa hora? — pergunta levando a cerveja ao lábio. Ele percebe o
meu olhar. — Ah, também não posso beber? — solta uma risada debochada.
— Nunca pensei que eu fosse dizer isso: mas estou decepcionado com você.
— Daqui a pouco, quando você voltar para Chicago, passa — desdenha e não
reconheço o homem à minha frente.
Eu e o Arthur nunca possuímos uma relação no estilo pai e filho de verdade e
sei que isso é devido a separação. Quando eu saí de casa, ele tinha apenas quinze
anos, justamente a pior fase de um homem: a adolescência. Ele sempre soube que a
mãe tinha me traído porque ficou escondido enquanto eu e ela brigávamos, ainda
assim ele me culpou por sair de casa; e na fase adulta me culpou ainda mais.
Lembro que eu fiz de tudo para que nossa relação não fosse afetada. Pegava
ele nos dias certinhos para que pudéssemos passar um tempo juntos, mas ele sempre
inventava uma desculpa. Arthur não passava mais do que algumas horas na minha
casa, porque em seguida ele saía com os seus amigos. Quando me mudei para
Chicago, eu o deixei à frente do escritório e sei que fiz isso para que ele amadurecesse
e imaginei que tinha dado certo, mas acho que me enganei.
— Espero que você não se arrependa das suas atitudes. — Ele dá de ombros.
— A Melissa vai ficar um tempo na minha casa — solto de uma vez e ele arregala os
olhos.
— Por quê?
— Porque, enquanto ela estava montando a sua surpresa, o apartamento dela
estava pegando fogo.
— Merda.
— É, uma merda. — O encaro. — Ela não tem para onde ir, porque a casa da
Lorena não é uma opção, já que a sua mãe não gosta dela e o apartamento que eu
presenteei está ocupado por você e ainda se tornou motel.
— Mais um sermão. — Revira os olhos.
— No final do mês irei voltar para Chicago, mas deixei a casa livre para ela até
quando precisar. — Levanto-me.
— Você já vai embora?
— Não temos mais nada para conversar — afirmo e ele me encara incrédulo.
Saio do restaurante sentindo meu sangue ferver de raiva e de decepção. A
culpa se instala em cada poro ao constatar que eu deveria estar perto e talvez assim
ele não tivesse se transformado nesse babaca. Arthur passou a dar trabalho depois da
separação, mas eu acreditei que era apenas uma fase de adolescente e não desvio de
caráter.
O escritório está renomado e o nome dele em alta, o que gera mais poder e
dinheiro. Infelizmente, não é todo mundo que sabe lidar com essas duas coisas e isso
acaba ferrando com muita gente no meio corporativo.
Entro no carro e decido ir até o supermercado mais próximo porque, quando fui
fazer o jantar ontem, percebi que a despensa estava praticamente vazia. Ligo o som e
deixo a música se instalar no meu corpo, para tentar aliviar a tensão que a conversa
com o Arthur trouxe.
O caminho do restaurante até o supermercado é um pouco demorado devido
ao trânsito, no entanto uso esse tempo para refletir se está na hora de eu voltar a morar
no Brasil. Mesmo amando minha vida em Chicago acredito que, talvez, eu devesse
voltar porque de perto eu consigo ajudar o Arthur. Minha mente insiste em dizer que ele
já é adulto, ainda assim, como pai, me preocupo.
Deixo os pensamentos de lado quando estaciono no supermercado e saio do
carro. Suspiro de alívio quando noto que o ambiente não está abarrotado. Ando de
seção em seção, olhando as prateleiras, pegando todos os itens básicos e essenciais.
— Romeu? — A voz me tira da inspeção dos vinhos e, quando me viro,
encontro uma velha amiga e transa casual.
— Maitê. — Me aproximo e ela me abraça. — Como você está?
— Agora que te reencontrei, muito melhor. — Sorri. — Não sabia que estava
no Brasil.
— Cheguei essa semana — explico enquanto saio do abraço — Volto para
casa só no final do mês.
— E iria me ligar? — pergunta mexendo no cabelo.
— Pensei sim em te ligar, mas estou resolvendo tanta coisa que ainda não
consegui — justifico-me porque realmente quando cheguei lembrei de marcar algo com
ela, entretanto acabei esquecendo.
— Vamos marcar então. Que tal um jantar na sua casa? — pergunta e, na
mesma hora, me lembro da Melissa.
— Eu te ligo e a gente vê algo direitinho, certo?
— Ficarei aguardando ansiosamente. — Ela se aproxima e deposita um beijo
rápido nos meus lábios. — Foi bom te ver, Romeu.
— Em breve nos veremos de novo — aviso vendo-a se afastar.
Maitê é advogada assim como eu e nos conhecemos em um congresso. Desde
então, sempre que estamos livres, saímos para transar e jogar conversa fora. Ela é
uma mulher madura e que, assim como eu, também não está aberta a relacionamentos
sérios.
Sorrio anotando mentalmente de chamá-la para sair nos próximos dias. Volto
minha atenção para as prateleiras e finalizo as compras algum tempo depois. Assim
que saio do supermercado penso em ligar para a Melissa e perguntar se ela precisa de
carona para buscá-la no trabalho, mas desisto da ideia e sigo para casa.
***
— Oi... — A voz da Melissa chega até os meus ouvidos quando estou retirando
a comida do forno. — Que cheiro delicioso.
— Oi, Melissa, como você está? — pergunto e ela se aproxima da mesa
colocando sua bolsa em cima. — Estou finalizando nosso jantar.
— Estou bem na medida do possível. Precisa de ajuda?
— Não — nego colocando a travessa em cima da bancada de mármore. — Já
finalizei as batatas, a carne está pronta e, em dois minutos, o arroz finaliza também.
— Então vou tomar um banho e desço — diz sorrindo e me pergunto como
diabos o Arthur traiu essa mulher. — Passei em algumas lojas depois do trabalho e
comprei algumas roupas, então vou entregar as suas.
— Você foi trabalhar com as minhas? — pergunto incrédulo e ela abre um
sorriso.
— Não. Eu fui à oficina buscar o carro com elas e confesso que foi um pouco
constrangedor, mas no final deu certo porque eu sempre guardo uma roupa de
emergência no porta-malas. — Ela aponta para si mesma. — Quando cheguei lá
troquei de roupa e assim consegui ir trabalhar.
— Você deveria ter me chamado porque eu te ajudaria.
— Você estava dormindo. Jamais iria te acordar.
— Você saiu que horas?
— Saí às sete.
— Eu acordo às cinco, Melissa — informo e ela arregala os olhos. — Nesse
horário, eu estava terminando minha corrida matinal.
— Quem acorda às cinco da manhã?
— Eu. — Sorrio com sua surpresa. Desde muito novo sou adepto da corrida
matinal e isso me ajuda bastante no físico e a espairecer os pensamentos.
— Você não tem salvação! — zomba e começa a rir. Eu faço o mesmo. — Já
volto — avisa e eu apenas assinto.
Observo-a sair da cozinha e volto a preparar a comida. Quando tudo está
pronto subo para o meu quarto e tomo um banho rápido. Quando desço e entro na
cozinha vejo Melissa colocando a mesa.
— Já podemos comer — avisa quando nota minha presença. — Você vai me
engordar uns dez quilos se continuar cozinhando tão bem.
— Que nada. — Penso em dizer que ela está ótima, porém engulo as palavras
porque tenho certeza de que esse não seria um comentário apropriado.
Nos sentamos à mesa e começamos a comer em um silêncio confortável.
— Então, o que fez hoje? — Melissa puxa conversa.
— Fiz algumas reuniões e encontrei com o Arthur — solto de uma vez e ela
para o garfo próximo à boca. Seu semblante fecha e ela para de comer.
— Ele sabe que estou aqui? — Assinto. — O que ele disse?
— Não deu muita atenção — digo a verdade.
— Ele está pouco se importando comigo — declara. — Estava tudo na minha
frente, Romeu, eu que fui burra de não ver.
— Não jogue a culpa dele em cima de você — digo sério. — Ele errou nessa
história, não você.
— Não sei como me enganei tanto. — Seus olhos brilham com as lágrimas
contidas.
— O Arthur está mudado e me doeu perceber isso hoje. Tenho certeza de que
ele não virá aqui porque tivemos uma pequena discussão.
— Ai, meu Deus, por minha culpa!
— Ei, não. Discutimos porque ele foi um babaca e me desrespeitou.
— Você sabe que não tem culpa por ele ser assim, não é? — ela pergunta,
mas não consigo acreditar.
— Será que não tenho? — questiono em dúvidas. — Fui embora e o deixei
aqui.
— Com a mãe dele, e o Arthur já era bem grandinho — afirma. — O problema
é que a Lorena sempre o mimou demais.
— Isso não posso discordar, mas vamos parar de falar do Arthur. — Ela sorri
concordando. — O que você fez de bom hoje?
Melissa me conta um pouco sobre o seu dia no trabalho e, quando ela cita
sobre a amante do Arthur, eu fico boquiaberto. São poucas pessoas que fariam o que a
Melissa está fazendo. Que possuem a maturidade dessa mulher. Admiro um pouco
mais a garra dela e, mesmo sabendo que ela vai arrancar uma boa quantia do Arthur,
eu não consigo culpá-la, não quando ela foi enganada durante um ano.
Eu cresci ao redor de um amor verdadeiro, porque os meus pais se amaram e
sempre deixaram claro que era isso que queriam para a minha vida. Me apaixonei pela
Lorena no ensino médio e não demoramos a nos casar, porque ela logo engravidou do
Arthur. Fui pai aos dezessete anos e não me arrependo dele, mas não posso dizer que
escolhi certo a mulher a qual é a mãe dele. Quando descobri sobre a traição foi um
choque para mim e tudo aquilo que eu acreditava sobre o amor tinha rompido.
Decidi que só me casaria novamente se encontrasse alguém que valesse a
pena o risco e até hoje não encontrei. Me sinto solitário algumas vezes, mas, na
maioria delas, eu sou feliz com a minha vida. Tenho uma estabilidade financeira e boas
transas casuais.
— Amanhã vou contatar a equipe para iniciar os orçamentos da reforma. — Ela
me tira dos meus pensamentos.
— Tenho certeza de que vai dar tudo certo.
Ela sorri e volta a comer, eu faço o mesmo. Ficamos conversando sobre coisas
triviais durante todo o jantar e depois limpamos a cozinha. Me surpreendo com a
facilidade com a qual conversamos, entrando e saindo de assuntos sem precisar forçar.
Quando me deito na cama, o último pensamento que se passa pela mente é: o
Arthur perdeu uma pessoa maravilhosa.
CAPÍTULO 5- Melissa Alencar. "Tenho certeza que já me imaginou pelado, né?" "Está tão na cara assim?” — 10 coisas que eu odeio em você

A semana passou em um piscar de olhos e, quando me jogo no sofá, me sinto


exausta. Iniciei a produção do salão da Carla e deixei minha equipe à frente de tudo
porque quero distância daqueles dois. Contratei a empresa necessária para iniciar a
reforma do meu apartamento e estou trabalhando em dobro para conseguir arcar com
as despesas. Vi o Romeu apenas três vezes na semana mesmo morando na mesma
casa, porque, quando eu saía, ele não estava em casa; e quando chegava, na maioria
das vezes ele já estava no seu quarto.
Alícia me ligou todos os dias para saber como estão as coisas e eu acabei de
ver um depósito na minha conta bancária no nome dela. Disco seu número e ela
atende rápido.
— Falei que não precisa, Alícia — afirmo.
— Oi para você também, maninha — zomba. — Você não iria me pedir nunca,
então já adiantei.
— Você precisa mais do que eu.
— Não. Eu ainda tenho mais guardado aqui, porque as gorjetas que ganho são
bem generosas e tem o lance da música — explica. — Deixe de ser teimosa e aceite.
Alícia, assim como eu, é uma mulher batalhadora e que corre atrás dos seus
sonhos. Ela está cursando Educação Física e divide seu tempo entre estudar e
trabalhar como cantora no mesmo barzinho onde também é garçonete. Sei que ela se
vira de todas as formas para não me preocupar financeiramente. Admiro demais a
mulher que ela vem se tornando.
— Está certo. Se você diz que não vai fazer falta, então vou aceitar porque
toda ajuda nesse momento é bem-vinda — suspiro. — Como estão as coisas aí?
— Está tudo na mais perfeita paz — diz risonha. — Eu estou bem e, em breve,
irei fazer uma visita. Estou com saudades de você.
— Eu também, mas só venha quando estiver de férias.
— Está certo, mamãe — brinca.
Alícia é quatro anos mais nova que os meus vinte e oito anos e, desde
pequena, eu precisei cuidar não só de mim, mas também dela. Me tornei além de irmã,
sua mãe, porque a nossa estava perdida demais nas drogas para se lembrar de que
tinha duas filhas pequenas dentro de casa.
Não tivemos uma infância fácil e sequer uma adolescência, ainda assim
conseguimos sair de casa. Ela para a faculdade e eu para fazer cursos e abrir minha
empresa. Não tínhamos dinheiro para manter as duas na universidade, então ela foi e
eu fiquei. Foi a melhor decisão que tomamos, porque Alícia está construindo o futuro
dela e eu o meu, mesmo sem cursar a universidade de Arquitetura que eu sempre quis.
— Ainda está aí? — Sua voz me tira do passado.
— Estou, mas vou desligar porque estou morta de cansada.
— Vou deixar você descansar, aliás, assistir seus filmes melosos.
— Acertou em cheio. — Ela gargalha do outro lado da linha. — Se cuida e
qualquer coisa me liga.
— Digo o mesmo. Beijos. Te amo!
— Eu te amo mais. — Desligo a chamada e pego o controle zapeando na
Netflix procurando uma comédia romântica para assistir. Quando aperto o play em
“Esposa de aluguel”, ouço o barulho do carro de Romeu ao lado de fora e me ajeito no
sofá porque estava esparramada.
Foco minha atenção na tela, ainda assim estou ciente do motor sendo
desligado, da porta se abrindo e dos seus passos se aproximando.
— Oi, Melissa. — Sua voz chega até mim e eu viro o rosto encontrando-o
parado próximo a escada. — Tudo bem?
Acho que essa é a primeira vez que eu realmente noto o Romeu e começo a
me recriminar por isso: ele veste uma bermuda fina e uma regata cinza, que deixa
todas as suas tatuagens à vista e pouco para a imaginação, porque, como o tecido é
transparente, os gominhos da sua barriga ficam à mostra. Observo seus braços e cada
parte da pele é coberta por diversos desenhos. A curiosidade me cerca querendo saber
qual o significado de cada uma delas.
Subo meu olhar e encontro seus olhos de avelã me fitando enquanto eu ainda
consigo assimilar seu maxilar quadrado, sua barba aparada e seus lábios carnudos.
Ninguém nesse planeta diria que esse homem está com quarenta e três anos e só
então percebo que estou o encarando mais do que deveria.
— Oi, Romeu. — Finjo um sorriso. — Fora o cansaço, estou ótima. Preparei o
almoço hoje.
— Descanse esse final de semana. — Me encara enquanto bebe água da sua
garrafa e noto uma maldita gota descer pela lateral dos seus lábios e fazer um caminho
proibido pelo pescoço. Engulo em seco. — Não precisava fazer o almoço. Pode deixar
essa parte comigo. — Me arranca da minha inspeção. — Você está bem? — pergunta
e eu o fito.
— Estou sim — balbucio. — Eu posso não ser uma cozinheira chefe, mas
ainda sei fazer umas coisinhas — zombo mudando de assunto.
— Não é sobre isso, mas sim porque você já tem coisas demais para fazer.
— Não custa nada ajudar. Vai tomar banho?
— Vou sim. — Ele me fita. — Volto já — avisa e começa a subir as escadas
apressado.
Dou um leve tapa na minha cabeça me proibindo de ficar secando o Romeu em
qualquer ocasião que a gente estiver juntos. Volto a atenção para o filme e vejo o
gostoso do Caio Castro contracenar com a maravilhosa da Thati Lopes e indo contra
tudo o que pensei, eles realmente possuem uma química e tanto. Fico assim durante
os próximos minutos até o Romeu voltar à sala impregnando o ambiente com a sua
loção amadeirada.
— Vamos almoçar? — pergunto mesmo sem estar com tanta fome.
— Eu fiz um lanche antes de treinar, então vou esperar um pouco.
— Eu também não estou com fome. Vou esperar o filme terminar. Quer
assistir?
Ele olha para a tela e depois para mim. Parece indeciso, porém se joga no
outro sofá e aponta para a tela.
— Está no começo?
— Sim, mas vou voltar do início para você não perder nada e acabar ficando
confuso. — Ele assente e juntos começamos a assistir.
Dou várias risadas, principalmente quando a irmã do Luís começa a segui-lo
porque sabe que tem algo de errado na história do romance dele. O filme é uma
comédia romântica gostosinha, ótimo para distrair e passar o tempo. Olho de relance
algumas vezes para o Romeu e percebo ele também se diverte com o filme.
— Por que diabos na melhor parte do filme eles se separam? — Romeu
pergunta inconformado quando, no baile, o Luiz descobre que foi enganado.
— É o plot twist da história — constato o óbvio. — Não acha que ficaria sem
graça se eles só ficassem juntos?
— Eu sei que quando gostamos de uma pessoa temos que ficar com ela. Não
vejo graça nessas quebras no relacionamento — retruca.
— Seria bom se fosse fácil, mas relacionamento é tudo, menos fácil. — Aponto
e ele me encara.
— Isso é verdade — concorda.
Voltamos a prestar atenção à tela e o silêncio entre nós predomina deixando só
o filme ocupar o som do ambiente. Quando o filme encerra, eu me espreguiço e olho
para o Romeu.
— Gostou? — pergunto e ele assente.
— Muito. — Romeu se espreguiça e eu tento não notar que seus músculos
ficam ainda mais visíveis com o movimento. A camisa sobe mais do que deveria e eu
tento não encarar sua pele desnuda... — Fazia anos que eu não assistia a um filme.
Deus, eu preciso parar de ficar olhando para o corpo do homem que era meu
sogro até semana passada.
— Sério? — Foco minha atenção no seu rosto.
— Eu não tenho muito tempo livre, Melissa, e quando tenho sempre prefiro
dormir ou ler um livro.
— Ler me dá sono — admito enquanto me levanto e ele gargalha.
— Tudo é prática — afirma e juntos vamos à cozinha. — No começo é difícil,
mas, quando você pega o gosto pela leitura, vai ser o contrário. Você não vai querer
dormir, de tão envolvida na leitura.
— O que você gosta de ler? — pergunto indo até o forno e tirando o
escondidinho de carne que fiz. — Não me diga que é romances.
— Algum problema se for? — indaga pegando a jarra de suco na geladeira.
— Não. — Sorrio.
— Eu até já li romances e gosto, porém sou mais do time de suspense. Gosto
bastante dos livros do Charlie Donlea. Ele é um autor bem renomado.
— Não conheço. — Sorrio. — Mas já ouvi falar muito do Harlan Coben,
inclusive já assisti alguns filmes dele.
— Um dos meus favoritos também. Já li todos os livros dele — diz e eu o fito
chocada.
— Estou impressionada — comento.
— Não a julgo porque são poucos os homens que gostam de ler.
— Exatamente — concordo e decido mudar de assunto, querendo saber mais
um pouco sobre ele. — Você gosta de Chicago?
— Gosto sim — responde enquanto nos sentamos. — É um lugar tranquilo de
se viver, um ótimo local para a minha profissão. A filial da LeBlanc cresceu muito nos
últimos anos.
— Não sente falta do Brasil?
— Às vezes sim e outras não — explica. — Eu sou sozinho, então meio que
não tem nada que me prenda em algum lugar. Sinto falta de conviver mais com o
Arthur, mas tenho certeza de que, mesmo morando aqui, não estaríamos tão presentes
um na vida do outro.
— Por quê? Ai, estou perguntando demais. Desculpa.
— Não. Não me importo de falar. — Ele prova o escondidinho e eu fico atenta a
sua reação. Romeu fecha os olhos rapidamente e aponta para mim com o talher. —
Isso é não saber cozinhar?
— Vou logo avisando que esse é o único prato mais saboroso que sei fazer
direito — pontuo e ele gargalha. — O resto só sei fazer o básico.
Escondo a informação de que só sei cozinhar o básico, porque era só isso que
tinha para fazer ao longo da minha adolescência.
— Está maravilhoso, Melissa — elogia e não sei por que fico tão feliz com isso.
— Mas voltando a sua pergunta: o Arthur se ressente da separação mesmo sabendo
que eu não tenho culpa.
Arthur nunca comentou o porquê de seus pais se separarem quando ele ainda
era um adolescente, mas confesso que agora bateu a curiosidade, no entanto sei que
isso não me convém.
— O casamento é complicado — murmuro.
— É muito, mas ainda acredito que existem casamentos felizes por aí.
— Tem certeza de que você não é viciado em romances? — zombo.
— Quem sabe? — brinca enquanto almoçamos.
Quando finalizamos, ele insiste em organizar a cozinha, então eu subo para
descansar um pouco. Entro no quarto e, em seguida, no banheiro. Tomo um banho
rápido e, como percebo que o ar-condicionado não está funcionando, opto por colocar
um pijama de algodão curtinho.
Me jogo na cama e fito o teto pensando em tudo que me aconteceu nos últimos
dias, mas sou interrompida quando ouço batidas à porta. Levanto-me e vou até ela,
abrindo-a, e encontro Romeu em pé.
— Você esqueceu seu celular na sala — ele diz e percebo seus olhos
descerem pelo meu corpo, mas rapidamente ele volta a focar no meu rosto, mas já é
tarde demais porque, de alguma forma, meu corpo gostou da inspeção. — Pensei... —
Ele tosse parecendo nervoso. — Pensei que poderia precisar.
— O-Obrigada, Romeu. — Pego o aparelho e, quando ele me entrega, nossas
mãos se tocam. Finjo que não senti nada quando minha pele tocou a sua. Que a
eletricidade não estava ali bem presente. E que, de alguma forma, há algo se revirando
no meu estômago enquanto nos encaramos.
Ele não diz mais nada, apenas assente e se vira saindo apressado. Fecho a
porta do quarto e me escoro nela.
— Eu preciso urgentemente sair com alguém, porque não posso sequer pensar
na possibilidade de estar atraída pelo único homem no mundo que eu não posso
desejar.
Me jogo na cama e minha mente fica um caos. Talvez a forma como ele me
ajudou no dia do incêndio, o carinho ao falar comigo, a preocupação, as conversas
bobas e o filme de hoje estejam criando coisas na minha mente que não deveria. Não
posso e não estou atraída pelo Romeu. É apenas uma alucinação boba porque estou
carente.
Isso, só algo bobo que não pode e não vai evoluir!

Quer ler o restante? Clique aqui!


LEIA MEUS OUTROS LIVROS:

Adquira outras obras da autora abaixo, que estão à venda na Amazon e pelo
Kindle Unlimited, e boa leitura!

NICHOLAS: UMA TENTAÇÃO DE VIZINHO


“Um viúvo e sua filha poderiam se tornar a família que ela nem sabia que
precisava?”
Nicholas Pinheiros tinha a vida perfeita: uma mulher que ama, uma filha
incrível, o trabalho dos sonhos. Até o dia que a vida mostra que a perfeição não
existe. Desde então, Nicholas se fecha para todos e, quando surge a oportunidade
para mudar de cidade, ele decide deixar tudo para trás e recomeçar com a sua filha
pequena.
Clara Alves, vinte e seis anos, trabalha como secretária executiva, mora sozinha
e ama a sua vida de solteira. Ela é adepta ao “pegar e não se apegar” e pretende
continuar assim, só que tudo muda quando o apartamento ao lado do seu é
alugado.
Ele é fechado;
Ela é a alegria em pessoa.
Ele ama pontualidade;
Ela odeia acordar cedo.
Ele ama chá;
Ela é viciada em café.
Dizem que os opostos se atraem, será mesmo?
Romance entre vizinhos.
Viúvo ranzinza.
Pai solo.
Comédia romântica.
Conteúdo adulto.

GAEL: A PROPOSTA DO CEO


Volume 2 da “Trilogia Pinheiros”, porém, pode ser lido fora de ordem porque são
histórias independentes.
“O que acontece quando um casamento por contrato não sai como o planejado?”
Gael Pinheiros está a frente da empresa de sua família há cinco anos e, desde
então, vem crescendo o império que é passado de geração em geração. Cafajeste
assumido, ele corre de relacionamentos sérios. No entanto, para conseguir fechar
um grande acordo financeiro, ele terá que mostrar que é um homem responsável e
de família.
Rayla Santana tem vinte e quatro anos e trabalha como garçonete, mas sonha
com o dia que irá conseguir abrir a sua doceria, pois é apaixonada pelo mundo da
confeitaria desde pequena. Ela estava próxima de realizar esse sonho, mas viu tudo
ruir quando todas as suas economias foram roubadas.
Ele precisa de uma esposa;
Ela precisa de dinheiro.
Um casamento por contrato junto com sexo sem compromisso deveria ser o
plano perfeito. Mas... e se o destino tiver outras ideias?
Age Gap.
Casamento por contrato.
Fast Burn.
Strangers to lovers.
Conteúdo adulto.

LÉO: A REDENÇÃO DO CEO CAFAJESTE


Volume 3 da “Trilogia Pinheiros”, porém, pode ser lido fora de ordem porque são
histórias independentes.
“Ela o odeia. Ele nunca deixou de amá-la. O que falará mais forte neste
reencontro?’’
Sophie Mascarenhas, trinta e um anos, está de volta ao Brasil depois de nove
anos estudando nos Estados Unidos. Ela está pronta para rever seus amigos,
familiares, e realizar seu sonho de abrir sua própria galeria de arte.
Leonardo Medeiros, herdeiro da Fragrance Perfumaria cresceu tentando ser o
melhor em tudo que se propôs a fazer, para assim conseguir ocupar a presidência
do império da família. Ele é adepto do sexo casual e pretende continuar assim até
reencontrar seu inferno particular.
Eles foram namorados na universidade.
Ele quebrou o coração dela.
Ela o odeia e anseia por distância.
Ele nunca conseguiu esquecê-la.
Segredos virão à tona, o passado vai colidir com o presente e só resta descobrir
se são capazes de se perdoar para recomeçar.
Reencontro.
Enemies to lovers.
Mocinho cadelinha.
Uma cama só.
Conteúdo adulto!
APENAS UMA NOITE
Lara Fernandes perdeu praticamente tudo e hoje, aos vinte e quatro anos,
dedica todo seu tempo a faculdade de medicina veterinária e aos cuidados de sua
avó. Para completar o caos em sua vida, ela acaba de sair de um relacionamento
abusivo.
Miguel Carvalho, aos trinta anos, divide seu tempo entre a família, o trabalho e
seu filho de seis anos, que cria sozinho. Por isso, relacionamentos amorosos
ficaram em segundo plano.
Um encontro inesperado.
Uma atração avassaladora.
Uma noite intensa e inesquecível.
O que o destino reserva para esses dois?
Será que realmente uma noite será o bastante?
Esse é um conto leve, envolvente e que no final, vai deixar o seu coração
quentinho.
Contém cenas adultas!
DOMANDO A FERA NO NATAL
"Uma releitura natalina de A BELA E A FERA, que traz uma história sobre perdão,
recomeços e a magia do Natal."
James Viturino se isolou do mundo, na sua mansão, no meio das montanhas,
há três anos, quando perdeu aqueles que mais amava e vivenciou os piores
horrores no Afeganistão. Ele pretendia envelhecer tendo o mínimo de contato com
os empregados e com o seu pai, mas tudo muda quando uma certa brasileira chega
bagunçando tudo.
Aurora Mendes, aos vinte anos, é uma mulher divertida, engraçada, leitora
voraz e apaixonada pelo Natal. Quando passa por uma grande decepção, ela se
oferece para trabalhar um tempo na casa do filho do melhor amigo do seu pai e,
assim, poder respirar novos ares.
Ele está quebrado;
Ela sente que precisa ajudá-lo.
Ele odeia o Natal e todas as lembranças que a data traz;
Ela é o Natal em forma de pessoa.
Será que o Natal trará magia suficiente para quebrar as barreiras que James
construiu ao seu redor?
Romance com prazo de validade.
Age Gap (dezoito anos)
Grumpy X Sunshine
Mocinho quebrado

DESTINO INEVITÁVEL
“Dica de ouro: não saia por aí reclamando para desconhecidos sobre o seu novo
chefe. Você pode acabar numa enrascada.”
Ava Foster só tem um propósito: crescer financeiramente para conseguir arcar
com os gastos do tratamento de diabetes que sua irmã mais nova necessita.
Arquiteta no maior escritório da Califórnia, ela estava prestes a ser promovida, no
entanto, a troca de chefes na presidência mandou sua promoção para o espaço.
Asher Coleman é um arquiteto de sucesso e está à frente do escritório da
família em Nova York há mais de uma década. No entanto, quando seu pai precisa
se afastar da presidência, ele não hesita em se mudar para San Diego e ocupar o
cargo. Aos trinta e oito anos, as únicas coisas importantes na vida dele são seu
trabalho, família e seu buldogue inglês. Ele foge de relacionamentos sérios, porque
o passado mostrou que nada de bom pode sair do amor.
Um primeiro encontro inusitado.
Um reencontro embaraçoso.
Ela não o suporta.
Ele a quer desde o momento que a vê.
E o destino parece determinado a fazer esses dois conviverem, mesmo que seja
por meio de um namoro falso.
Age Gap.
Fake Dating.
Haters to lovers.
Uma cama só.
Chefe X Funcionária.
Slow Burn.
CONTEÚDO ADULTO!

GRÁVIDA E REJEITADA PELO VÍUVO


Ele vai ter que lutar para conquistar a mãe da sua filha!
Aos 18 anos, Hanna Fox viu todos os seus sonhos serem guardados em uma
caixinha quando descobriu que sua mãe estava com leucemia. Desesperada para
arcar com os custos do tratamento, ela aceita o emprego como garçonete na Hot
Night, uma boate de stripper renomada em Nova York.
Aos 38 anos, Aidan Jewel, dono da maior rede de joalherias dos Estados
Unidos, é um workaholic assumido e dedica todo o seu tempo para a sua empresa.
Depois de uma grande perda no passado, ele se isolou de todos e não deixa
ninguém se aproximar demais. Sua única regra é: jamais repetir a mesma mulher
na cama.
Ela será stripper por algumas horas. Ele vai desejá-la desde o momento que a
ver dançando. Uma noite quente e inesquecível. Uma gravidez inesperada. E uma
rejeição dolorosa.
Anos depois, o caminho de ambos irá se cruzar novamente e isso fará Aidan
perceber o grande erro que cometeu. Resta saber se o que foi construído em
apenas uma noite será suficiente para superar as mágoas e traumas do passado.
AGE GAP + REENCONTRO + AMOR DO PASSADO
BIOGRAFIA

Ray Freire, paraibana, mãe de um príncipe chamado Victor.


Apaixonada por livros, músicas, chocolates e viagens.
Uma pisciana cheia de sonhos e uma verdadeira romântica incurável.
Doidinha que ama abraços e conversar com os leitores.
Viveu tanto nos romances que decidiu deixar sua imaginação à solta para criar
seus próprios finais felizes.
Nos seus livros, você sempre vai encontrar mocinhos perfeitos, mocinhas
fortes, comédia, uma pitada de drama e hot de milhões.

Você também pode gostar