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SUMÁRIO
CAPA
CONTRACAPA
COPYRIGHT
SUMÁRIO
SINOPSE
DEDICATÓRIA
AVISO IMPORTANTE! (GATILHOS)
NOTA DA AUTORA
PLAYLIST
ILUSTRAÇÃO
GLOSSÁRIO
CAPÍTULO 1 - Connor Harrington
CAPÍTULO 2 - Ashley Moore
CAPÍTULO 3 - Connor Harrington
CAPÍTULO 4 - Ashley Moore
CAPÍTULO 5 - Connor Harrington
CAPÍTULO 6 - Ashley Moore
CAPÍTULO 7 - Connor Harrington
CAPÍTULO 8 - Ashley Moore
CAPÍTULO 9 - Connor Harrington
CAPÍTULO 10 - Ashley Moore
CAPÍTULO 11 - Connor Harrington
CAPÍTULO 12 - Ashley Moore
CAPÍTULO 13 - Connor Harrington
CAPÍTULO 14 - Ashley Moore
CAPÍTULO 15 - Connor Harrington
CAPÍTULO 16 - Ashley Moore
CAPÍTULO 17 - Connor Harrington
CAPÍTULO 18 - Ashley Moore
CAPÍTULO 19 - Connor Harrington
CAPÍTULO 20 - Ashley Moore
CAPÍTULO 21 - Connor Harrington
CAPÍTULO 22 - Ashley Moore
CAPÍTULO 23 - Connor Harrington
CAPÍTULO 24 - Connor Harrington
CAPÍTULO 25 - Ashley Moore
CAPÍTULO 26 - Connor Harrington
CAPÍTULO 27 - Ashley Moore
CAPÍTULO 28 - Connor Harrington
CAPÍTULO 29 - Ashley Moore
CAPÍTULO 30 - Connor Harrington
CAPÍTULO 31 - Ashley Moore
CAPÍTULO 32 - Ashley Moore
Connor Harrington
CAPÍTULO 33 - Ashley Moore
CAPÍTULO 34 - Connor Harrington
CAPÍTULO 35 - Ashley Moore
CAPÍTULO 36 - Ashley Moore
CAPÍTULO 37 - Connor Harrington
CAPÍTULO 38 - Ashley Moore
CAPÍTULO 39 - Ashley Moore
CAPÍTULO 40 - Connor Harrington
EPÍLOGO - Ashley Moore
AVALIAÇÃO NA AMAZON
PEÇA AJUDA!
AGRADECIMENTOS
LEIA TAMBÉM - Acordo Proibido
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
LEIA MEUS OUTROS LIVROS
BIOGRAFIA
SINOPSE
“Ela tem apenas uma regra: não se envolver com atletas. No entanto, ele fará de tudo para
quebrá-la.”
Mocinho jogador.
Romance universitário.
Slow Burn
Conteúdo adulto.
Leia o aviso importante!
DEDICATÓRIA
MOTIVOS PARA NÃO TE AMAR é um romance new adult que vai te arrancar
suspiros e muitas gargalhadas, PORÉM ele possui cenas que podem gerar gatilhos
para quem é sensível a temas como: tentativa de estupro, relacionamento abusivo,
menção a aborto, ansiedade e violência.
Caso não se sinta confortável com os temas citados, recomendo não iniciar a
leitura. Sua saúde mental tem que vir sempre em primeiro lugar!
NOTA DA AUTORA
Olá, leitores!
Enquanto escrevo essa nota, estou com os olhos brilhando de lágrimas, não de
tristeza, mas sim de emoção porque durante mais de um ano eu acreditei fielmente que
nunca iria finalizar esse livro, inclusive, cheguei a abandoná-lo três vezes porque não
me sentia capaz de conduzir o enredo. E isso dói, sabe? Me senti tão incapaz em
diversos momentos por querer escrever e simplesmente não conseguir. Era horrível me
sentar na frente do notebook, abrir o Word e travar. A autossabotagem insistia em
afirmar que minha escrita não era boa o suficiente para eles e que minha mente jamais
conseguiria processar as informações do esporte.
No entanto, lá no fundo, o desejo de dar vida a eles continuava e, no início
desse ano, eu decidi tentar novamente, porém dessa vez com uma condição: se eu
travasse pela quarta vez, desistiria dessa série e arquivaria as vinte mil palavras
escritas. Autossabotagem é uma droga, mas, PORRA, eu consegui!
Ainda me encontro em êxtase, porque eu realmente acreditava que nunca
chegaria a tão sonhada palavra fim. É surreal a sensação de dever cumprido que estou
sentindo nesse momento, principalmente porque Ashley, Connor e todos esses
personagens mereciam estar presentes no RayVerso. Eles merecem ter suas histórias
contadas, pois são fodas, incríveis e literalmente apaixonantes!
Cada momento que passei com eles foi maravilhoso e me despeço já morrendo
de saudades, porém na esperança de que muito breve retornarei a esse universo, que
me ensinou tanto sobre acreditar em si próprio. Entrego eles a vocês, na esperança de
que, assim como aconteceu comigo, vocês também se apaixonem loucamente por
cada um deles. Desejo do fundo do meu coração que você chore de tanto dar risada,
que dê gritinhos empolgados, sinta o coração bater mais forte, que se emocione, que
cruze as pernas e que, ao finalizar, esteja com um sorriso bobo no rosto e o coração
quentinho.
Connor, Ashley e companhia, obrigada por me mostrarem que eu posso tudo!
Eu amo vocês pra caramba!
PLAYLIST
— Você precisa comer uma boceta. — Ouço a voz de Liam assim que passo
pela porta da sala entrando na nossa casa.
— E você precisa cuidar da porra da sua vida — Ben retruca irritado voltando a
atenção para o videogame à sua frente.
Jogo minha mochila em cima do sofá e só então os dois marmanjos me notam.
Moro com meus amigos do time de hóquei desde o primeiro ano. Assim que cheguei a
Boston conheci Liam e ele já dividia uma casa fora do campus com o Ben, seu amigo
de infância. Ambos estavam procurando dois caras para dividir as despesas e foi dessa
forma que eu e o Kyle acabamos morando com eles. Kyle deve chegar hoje de viagem,
porque foi passar as férias de verão com a família em Nova York. Juntos formamos
uma equipe não só no gelo, mas também fora dele e desde o início nos tornamos
inseparáveis.
— Qual é a boa? — Me jogo no sofá encarando os dois.
— O Ben decidiu que vai se tornar um celibatário e está insuportável — Liam
resmunga. — E eu quero ir para a festa de volta às aulas que as meninas da Nu Zeta
vão realizar.
Liam e Ben são como unha e carne, vivem grudados e onde um está o outro
vai atrás. Liam quase nunca vai a uma festa sem o seu melhor amigo, então imagino o
quanto ele está enlouquecendo com a nova ideia.
— Eu preciso focar na porra do hóquei. É difícil entender? — Ben pergunta
irritado.
— Você pode focar sem parar de sair — Liam retruca passando a mão no rosto
irritado.
— Cara, eu sei que nos últimos jogos você não se saiu bem, mas você só
precisa maneirar na bebida e nas festas em época de jogo, não parar de transar —
declaro.
Esse será o meu primeiro ano como capitão do time e eu tenho total convicção
de que agora terei que ser um pouco mais pulso firme. Mesmo que eles sejam como
irmãos para mim, eu não posso e não vou passar a mão na cabeça deles caso
aprontem alguma merda ou se saiam mal nos jogos.
A Brisfolk é uma universidade conhecida mundialmente pela excelência no
ensino e, principalmente, pelo hóquei universitário. Eu a escolhi justamente pelo seu
mérito no esporte e desde o início soube que ela não perdoa erros, porque ou você é
excelente no que faz ou está fora em todos os sentidos, seja nas aulas ou na equipe.
O último capitão do time de hóquei deixou a faculdade para entrar no
profissional e o cargo foi passado para mim. Ele já está iniciando sua carreira
profissional pelo Bruins, mesmo time a qual eu fui escolhido no draft do ano passado.
Quando eu entrei na faculdade, pronto para jogar hóquei, sabia que faria o
impossível para que meus esforços e talentos fossem notados. Com muito esforço e
dedicação comecei a colher os frutos e agora com a certeza de que estarei na liga
profissional.
Eu amo a vida universitária e tudo que ela me proporciona, no entanto, estou
longe de ser como alguns dos meus amigos do time, que só querem saber do status e
das mulheres. Sim, eu amo foder, adoro uma boa festa, estou longe de ser considerado
santo, mas não vacilo no jogo e não deixo as minhas notas ficarem abaixo da média.
Fui draftado por um time foda quando ainda estava no segundo ano e agora
inicio o terceiro como capitão. Eu poderia largar a universidade e já me dedicar ao
hóquei profissional, porém decidi não seguir esse caminho, tanto pelo acordo que fiz
com o meu pai como pela questão da segurança. Não sei o que o destino me reserva e
espero nunca ser obrigado a abandonar o que amo fazer devido a uma lesão, no
entanto não posso contar com a sorte. Caso algo aconteça, eu tenho o plano B, mesmo
que esse plano não tenha sido escolhido por mim.
— Não vai rolar — Ben decreta arrancando-me dos pensamentos. — E você
como capitão deveria me apoiar — acusa apontando com o controle para mim.
— Eu dou total apoio para você focar nos jogos, porém não vou apoiar você se
tornar celibatário justo hoje para estragar a nossa primeira festa — defendo-me. — Os
treinos começam em breve e aí sim vamos ser obrigados a maneirar.
— Espera aí. — Liam, que estava sentado, dá um pulo e encara o amigo. —
Você não está apaixonado, né?
— O quê? — Os olhos de Ben quase saltam para fora. — Está maluco? — Sua
voz vacila e eu arqueio a sobrancelha.
— Você está com essa história de celibato do nada. Deve ser por causa de
alguma boceta — acusa escrutinando o amigo. — Pode ir contando.
— Apaixonado não. — Decreto em tom de desespero e Ben reversa o olhar
entre nós dois.
Se tem uma coisa que nós quatros temos em comum é isso: fugimos de
relacionamentos como o diabo foge da cruz. Por que vamos querer nos prender na
melhor época das nossas vidas? Somos jovens e nesse momento só queremos jogar
hóquei e aproveitar os prazeres que a faculdade proporciona. Levamos a série o nosso
lema de; foder sem se apegar.
— Não tem paixão nenhuma e vocês dois podem deixar eu terminar a porcaria
do jogo? — indaga nos fuzilando.
Escrutino seu rosto atrás da mentira, mas não consigo encontrá-la. Talvez ele
só queira se concentrar no jogo e eu como capitão deveria apoiá-lo, afinal, um dos
motivos pelo qual perdemos a temporada passada foi ele, mas porra, hoje tem a
primeira festa de volta as aulas e nós quatro deveríamos estar juntos, como todo
maldito ano!
— Só essa festa e depois você pode se isolar dentro de casa. — Tento
convencê-lo e Liam fecha o semblante.
— Não quero ir, porra! — ele resmunga. — Tem muita tentação naquela festa.
— Seu suspiro de frustração é audível e sei que tem mais nessa história, no entanto,
sei também que ele não vai contar, não agora.
Juntos, eu e Liam caímos na gargalhada porque sabemos que ele está coberto
de razão. Todas as festas que acontecem nas fraternidades ou nas casas dos
jogadores são regadas de muitas bebidas e sempre terminamos com alguma garota na
cama, às vezes até mais de uma. É justamente por isso que não vou perder a de hoje.
Não mesmo!
— Então, além de celibatário você vai se tornar um recluso? — pergunto
tentando controlar o riso.
— Ah, vá se foder. — Ele joga a almofada na minha cara se levantando em
seguida. Explodo em uma gargalhada enquanto ele sai pisando duro da sala deixando
o jogo de lado.
— Pode ter certeza de que irei, porém só mais tarde! — grito e ouço a porta
dele bater com força poucos segundos depois.
— Esse celibato não vai durar uma semana — Liam decreta. — Estamos
liberados para beber hoje, capitão? — pergunta indo em direção à cozinha e eu o sigo.
— Estamos. — Abro a geladeira e encho um copo com água. — Os treinos só
começam na próxima semana, então hoje podemos aproveitar.
— É disso que eu gosto — Liam comemora enquanto começa a preparar um
sanduíche.
— Mas está proibido de arrumar confusões — aviso lembrando da quantidade
de brigas que ele arrumou no ano passado.
— Confusão? — questiona cínico. — Eu sou o cara mais tranquilo de todo esse
campus — debocha.
— Não estou brincando, Liam — afirmo e meu tom de voz sai firme. — Vamos
manter nosso nome longe de brigas e já te falei para manter essa raiva controlada.
— Certo, general. — Ele bate continência e eu balanço a cabeça em negativa.
Ele é de longe o cara mais difícil da nossa turma.
— Vou tomar um banho — aviso saindo da cozinha. — Quando o Kyle chegar
mande ele infernar o juízo do Ben porque nós quatro vamos à festa.
— Pode deixar.
Liam é um cara legal e que se tornou um grande amigo, no entanto ele não
pensa muito antes de entrar em uma confusão e isso pode afetar a merda da carreira
dele no hóquei. Explosivo, ele não pensa muito antes de agir, principalmente se
acreditar que está protegendo quem ele ama. Já conversei com ele diversas vezes,
mas sempre leva na brincadeira.
Entro no meu quarto e penso em pegar meu violão para tentar distrair um
pouco a mente porque tocar é como uma terapia para mim, porém, no mesmo instante,
meu celular toca avisando sobre a chegada de uma nova mensagem e, quando o pego,
sinto a raiva querer me dominar.
PAI: Preciso de você em casa para as minhas bodas de esmeralda. Não é um
pedido, é uma ordem. Avisando com antecedência para você não encontrar desculpas
para não comparecer.
Jogo o celular na cama e tento controlar a raiva. Meu pai odeia que eu queira
ser jogador profissional e só aceitou a minha mudança para Boston e a integração no
time de hóquei com a condição de eu me formar em Arquitetura. Ele sente prazer em
afirmar que irei quebrar a cara como jogador e, quando isso acontecer, estarei com um
diploma para assumir a empresa da família, uma construtora renomada na Califórnia,
cidade onde nasci.
Me dá calafrios só de me imaginar trancado dentro de um escritório fazendo
algo que eu não amo e espero muito não precisar seguir esse plano. Desde quando
confrontei o meu pai e afirmei que iria correr atrás do meu sonho de ser jogador
profissional, nossa relação começou a definhar mesmo eu estudando para o curso que
ele escolheu.
Evito ao máximo ir em casa porque sempre que eu e ele estamos no mesmo
ambiente o clima fica hostil e na maioria das vezes acabamos discutindo. Só vou em
casa quando a saudade da minha mãe e minha irmã fica insuportável ou quando o
Bryan me leva praticamente à força.
Sou apaixonado pelo hóquei desde criança e lembro que minha paixão se
iniciou ainda na escola. Quando tive idade suficiente convenci a minha mãe a me
inscrever em aulas particulares e, mesmo contra a vontade do meu pai, ela me colocou.
Com o passar dos anos minha paixão só se intensificou, para o desespero do meu pai,
que odeia tudo que representa o hóquei e tem orgulho em dizer que isso não pode ser
considerado uma profissão.
Saio dos meus pensamentos não querendo deixar que a mensagem dele
estrague o meu dia. Entro no banheiro e tomo uma ducha, quando saio escuto a voz do
Kyle no andar de baixo:
— Cheguei, rapaziada! — ele grita e eu visto uma roupa, descendo em seguida
pronto para me juntar a ele e o Liam.
Vamos acabar hoje com o celibato do Ben.
— Hoje eu vou beber até cair! — Liam grita assim que paro o carro no
estacionamento da fraternidade. — E você vai comigo. — Ele puxa Ben pelo pescoço e
o amigo revira os olhos.
— Tem certeza de que eles dois não têm algo a mais? — Kyle pergunta do
banco da frente, tirando sarro dos meninos.
— Vai se foder. — Ben estira o dedo do meio e Kyle devolve o gesto com um
sorrisinho debochado.
— Vamos — chamo e todos nós descemos do veículo, mas assim que travo o
carro meu celular toca e, quando vejo que é minha mãe, decido atender ou ela não irá
parar de me ligar.
— Vão na frente. — Aponto para o celular. — Encontro vocês na entrada.
— Vamos comer bocetas! — Kyle grita se afastando com os caras.
— Oi, mãe — a cumprimento assim que atendo a chamada.
— Filho, como você está? — Sua voz sai contida, mas amorosa.
— Estou bem, mas um pouco ocupado agora. — Vou para a parte de trás do
carro porque daqui já dá para ouvir o som da festa e não quero um sermão ou a ligação
vai durar a noite inteira.
— Seu pai ligou para você hoje. — Noto o julgamento no seu tom de voz.
— Estava ocupado — minto. — Mas vi a mensagem dele.
— Você vem então?
— Mãe, tem meses pela frente. Vou tentar ir. — Aproveito que a vaga ao lado
da minha está vazia e me abaixo para amarrar o cadarço do tênis.
— Filho. — Noto a angústia na sua voz.
— Eu vou tentar, mas acredito que darei um pulo aí antes para ver a Colleen.
— Só ela? — indaga manhosa.
— E a senhora também. — Quase posso ver o seu sorriso.
Diferente da relação com o meu pai, eu e a minha mãe nos damos muito bem,
inclusive ela é uma apoiadora fiel dos meus sonhos. Desde criança me ensinou a correr
atrás daquilo que amo, mesmo sabendo que o meu pai não me queria na liga
profissional.
— Sua irmã vai adorar saber que pretende vir nos visitar.
— Onde ela está?
— Saiu para jantar com umas amigas. — Ouço uma porta batendo ao fundo. —
Seu pai acabou de chegar.
— Te amo, mãe, mas agora preciso ir. — Ela suspira porque sabe que tenho
zero vontade de falar com ele por telefone.
— Também te amo, querido. Quando decidir vir nos avise.
— Aviso sim.
Desligo a ligação, termino de ajustar o ténis e, quando vou me erguer, sinto
algo bater na parte inferior das costas. Ao me pegar desprevenido acabo me lançando
para a frente e instintivamente levo a mão ao rosto para me proteger do impacto com o
solo.
— Porra! — resmungo.
— Ai, meu Deus! — Ouço uma voz fina gritar seguida de uma batida da porta
de um carro. — Você se machucou? — A voz indaga e eu impulsiono o meu corpo para
me levantar sentindo a mão arder no processo.
— Mas que porra é essa? — Fuzilo a estranha, que parece apavorada na
minha frente e no mesmo instante noto que não a conheço.
Se a conhecesse, eu lembraria desses olhos verdes tão intensos que, nesse
momento, exalam preocupação. Seus cabelos loiros estão soltos e observo ela morder
a ponta dos lábios em um gesto claro de nervosismo.
— Eu não vi você aí quando estava estacionando. — Aponta para o carro e só
agora percebo que a maluca me atropelou enquanto estava dando ré.
— Retrovisor serve para isso — resmungo irritado apontando para o objeto.
— Olhei e não te vi — declara dando de ombros.
— Comprou a carteira? — Irrito ainda mais com sua desculpa. — Olha o meu
tamanho? Como diabos não me viu? — Aponto para mim mesmo.
— Você estava abaixado. — Aponta para o local, mas noto seu olhar passear
pelo meu corpo, porém não se demora. — E não precisa ser um babaca. — Desvia seu
olhar cruzando os braços e o movimento faz com que meus olhos desçam diretamente
para os seus peitos, e. nossa, que peitos. — Meus olhos estão aqui em cima —
resmunga.
— Sério? — Sorrio sem humor. — Então coloca a porcaria de um óculos neles
porque parece que você não está enxergando muito bem.
— Você é sempre tão idiota assim? — pergunta e seu semblante antes
preocupado agora se torna raivoso.
— E você é sempre tão assassina?
— Vá se f... — Ela corta a frase no meio e respira fundo procurando se
acalmar. Controlo a vontade de rir porque ela fica ainda mais linda com o semblante
irritado. Suas bochechas estão levemente coradas. — Quer saber? — pergunta
empinando o queixo. — Já perdi tempo demais com você.
Ela se vira furiosa e, no mesmo instante, meus olhos descem até a sua bunda
que está deliciosamente apertada em uma calça jeans e claro que, enquanto estou
babando nessa parte específica, ela vira novamente para mim, me pegando no flagra.
— Você realmente é um idiota. — Me fuzila quando percebe para onde eu
estava olhando.
— Não sou não — defendo-me. — Diferente de você eu tenho uma boa visão
— afirmo dando uma boa olhada em todo o seu corpo e já sinto meu pau querendo se
animar. — Está perdida? — Mudo meu tom de voz porque nesse momento estou pouco
me fodendo se ela me atropelou. Quero essa bunda de quatro enquanto eu entro
dentro dela.
— É sério isso? — ela gargalha alto. — Isso funciona?
— O quê? — pergunto confuso com seu sarcasmo.
— A mudança de voz, a olhada descarada e esse sorriso idiota.
— Funciona. — Inflo o peito e dou mais um sorrisinho de lado. O sorrisinho que
arrancou inúmeras calcinhas pelo campus e que com ela não será diferente.
— Então sinto muito em te informar. Sou imune a babaca.
— Você me atropela e eu sou o babaca? — Seus olhos praticamente saem
faísca enquanto me fuzila.
Seu rosto é pequeno assim como seu corpo, porém seus olhos são quase
como um imã. Sua boca rosada é tão beijável que sinto vontade de puxar contra mim.
— Tenha uma boa-noite. — Ela se vira novamente e vai para a frente do carro.
Observo ela pegar seu celular e ligar para alguém, mas não demora a desligar.
— Está procurando alguém? — Me aproximo tentando mais uma vez conversar
porque não desisto fácil de uma boa bunda, ops de uma garota.
— Não é da sua conta — responde grossa.
— É sério, eu posso te ajudar. — Encosto no meu carro e viro-me ficando de
frente para ela. — Conheço muita gente no campus.
O celular dela apita e seu sorriso se acende. Droga, estou enfeitiçado por ela e
tem apenas alguns minutos que a conheci.
— Não preciso da sua ajuda. — Ela desencosta do capô, mas antes de sair me
encara. — Se eu fosse você colocava gelo na sua mão porque ela não está muito legal
— diz e vai em direção à entrada da festa.
Eu fico feito um idiota a vendo sumir no meio das pessoas. Não sei por que,
mas quero saber quem diabos é essa garota.
CAPÍTULO 2 - Ashley Moore
— Ei, essa é a última! — grito e me viro pronta para matar a mão atrevida que
pegou a última fatia de pizza da caixa, aquela que eu estava preste a pegar.
— Fui mais rápido. — Sua voz chega até mim antes que eu consiga me virar e
tento controlar a raiva, mas quando giro sobre os calcanhares e encaro Connor com um
sorriso descarado eu sinto vontade de esganá-lo.
— Eu cheguei primeiro — aviso fechando a caixa com força.
— E eu peguei primeiro. — Ele leva o pedaço até a boca e minha barriga
protesta.
— Se você comer essa pizza, você vai ter uma dor de barriga dos infernos —
ameaço.
— Praga não pega em mim, Assassina.
— Pode parar de me chamar com esse apelido idiota? Não tive intenção
nenhuma de te matar no estacionamento, mas agora... — Sorrio diabólica o
examinando e esse é o meu primeiro erro.
Connor está com uma calça jeans escura apertada, blusão vermelho com o
emblema do time de hóquei: um gato nos tons de preto e vermelho, cores do time. O
animal está segurando o stick e, na parte inferior, está gravado o apelido Black
WildCats. Mesmo que ele seja folgado, não me resta dúvidas de que o corpo dele está
bem próximo da perdição. Subo meu olhar e encontro seus olhos em chamas enquanto
me examina. Sua boca esbanja um sorriso convencido e odeio que ele tenha me pego
o analisando.
— Está vendo? — pergunta e dá uma mordida generosa na pizza me fazendo
arquejar de raiva. — O apelido cai perfeitamente.
— Essa era a última fatia. — Aponto furiosa sentindo minha barriga roncar, pois
passei a tarde inteira arrumando o dormitório e só parei na hora de vir para essa festa.
— Que nada. — Ele dá de ombros. — Acabou de chegar mais uma rodada.
— Como é? — Franzo as sobrancelhas confusa.
— Isso mesmo. — Ele sorri devorando o restante da pizza. — O Liam acabou
de ir para a área coberta da piscina com as caixas.
— E por que diabos você decidiu pegar justamente a que eu ia comer?
— Porque percebi que gosto quando você fica irritada. — Dá de ombros. —
Suas bochechas coram.
— E eu percebi que você é um babaca! — rebato.
— E você é linda pra cacete quando está nervosinha — solta de repente se
aproximando e me fazendo perder o raciocínio por alguns segundos.
Quando seu corpo se aproxima a poucos centímetros do meu, meus olhos
automaticamente se fixam em sua boca. Eu engulo em seco, consciente de que ele
está perigosamente próximo, desafiando a minha sanidade mental. Seu cheiro com
toda certeza faz algo com os meus neurônios, mas, antes que eu cometa o maior erro
da minha vida, somos interrompidos por uma voz estridente.
— Olha o capitão aí. — Desvio o olhar da sua boca, que parece ser uma
delícia, e vejo uma ruiva se aproximando. Se não estou enganada, ela é a anfitriã da
festa. A líder de torcida e presidente da fraternidade onde estamos.
— Oi, Raven. — Connor se afasta do meu corpo parecendo irritado.
— Capitão? — pergunto só então me lembrando do que ela o chamou.
— Você estava dando em cima da novata e sequer falou que você é o capitão
do time de hóquei? — Raven pergunta com uma falsa risada. — Pensei que usaria o
título para conquistar novas marias-patins — implica.
— Claro que ele é — bufo revirando os olhos e o encaro. — Fique longe de
mim.
— Assa... — não escuto o restante do apelido idiota porque saio da cozinha na
velocidade da luz, indo em direção à área da piscina.
Sorriso de arrancar calcinhas, bom de cantadas e um corpo de fazer a
mulherada delirar. Só podia ser um maldito atleta!
— Droga, Ashley, você quase caiu no mesmo erro pela segunda vez —
murmuro para mim mesma enquanto procuro Brooke no meio da multidão.
Necessito me manter longe do Connor porque tudo que eu não preciso nesse
momento e em nenhum da minha vida é me envolver com um maldito atleta que acha
que pode obter tudo que quer.
Eu aprendi a droga da lição!
CAPÍTULO 3 - Connor Harrington
— O Connor está caidinho por você — Brooke comenta assim que passamos
pela porta do dormitório.
Suspiro tentando não pensar no atleta que conseguiu despertar o meu
interesse. Quando o notei se aproximando do point, eu quis embora, entretanto, não
consegui porque, curiosamente, queria descobrir mais dele. Saber que ele vive se
pegando com a Raven não foi um ponto positivo, mas confesso que fiquei mexida com
a admiração que ele tem com o meu pai e isso me ajudou a não querer socar a cara
dele por entrar no assunto.
Eu evito falar sobre o meu pai porque ainda dói, não como antes porque
aprendi a lidar com a dor, mas tem dias que simplesmente é mais difícil. Não tem
explicação para o luto e tampouco data para que a dor desapareça. No entanto, fiquei
feliz que, mesmo depois de não estar mais no campus, meu pai continua sendo
lembrado e amado.
— Não começa — peço jogando-me na minha cama.
— É sério, todo mundo percebeu. — Ela se joga na sua, que fica um pouco
mais à frente.
— Ele só está curioso porque sou novidade. Logo desencana — afirmo o óbvio.
Eu preciso que ele realmente desencane quando perceber que eu não irei cair
no seu papinho de conquistador. Eu não pretendia o evitar no Queens, mas quando vi o
nome do Petter na minha tela e fiz a burrice de atender sua ligação eu entendi que
precisava manter distância do Connor.
— Hum. — Ela vira de lado e eu a encaro.
— O quê? — pergunto curiosa com seu semblante risonho.
— Ele é conhecido por conseguir o que quer e ele quer você.
— Você sabe que quero distância de jogadores, Broo. — Suspiro e fito o teto.
— E uma hora ele vai cansar porque eu serei a exceção e não vou cair no papinho
dele.
— Você sabe que não é porque o Petter foi um idiota que todos os atletas vão
ser, né? — pergunta.
Brooke sabe que o Petter era um babaca tóxico, no entanto ela não sabe do
restante da história e eu não sei se tenho coragem de contar. Não é algo que me
orgulho, muito menos que quero reviver, então prefiro continuar fingindo que não
existiu.
— O Liam não é, então? — mudo o foco da conversa para ela.
— O que tem ele na história? — Sua voz vacila.
— Você pensa que eu não notei, não é? — Sorrio e seu semblante se fecha. —
Vocês exalam tensão sexual. — Jogo uma almofada em cima dela e ela a segura.
— Não venha mudar de assunto. Sou apenas amiga dos meninos. — Joga de
volta para mim e eu dou risada porque é nítido que tem algo aí.
— Se você está dizendo — zombo dando de ombros. — Mas é sério, quero
focar nos estudos, curtir um pouco e, se quiser pegar alguém, não pode ser atleta.
— Não sabe o que está perdendo — ela comenta. — Os jogadores são os mais
gostosos e os que mais têm pegadas.
— Qual deles você já pegou? — pergunto levemente curiosa.
— Você só precisa saber que não peguei o Connor.
— Ah, não pegou, mas quer jogar para mim? — Finjo estar ofendida.
— Não rolou química entre a gente, mas já com você dois... — A desgraçada
começa a se abanar.
— Idiota. — Sorrio. — Vamos dormir porque eu estou cansada.
— Vamos, mas pense no assunto.
— Que assunto? — Finjo-me de desentendida.
— Oras, Connor. Ele é gostoso e todo mundo fala que tem o pau grande. —
Abro a boca fingindo choque. — Dizem que a camisa dele tem o número vinte e três
por um motivo.
— Você está dizendo que...
— Que todo mundo comenta que ele tem um pau de vinte e três centímetros —
ela me interrompe. — Será bom para você começar as aulas renovada.
Minha boceta lateja com a informação, mas envio um comando para ela se
acalmar porque não deixarei o Connor procurar petróleo dentro dela.
Puta que pariu!
Quem diabos tem um pau de vinte e três centímetros? Pelo visto, o capitão
com o sorriso mais safado que já coloquei os meus olhos.
— Boa noite, Brooke — encerro o assunto e ela solta uma gargalhada notando
minha falha tentativa de não ficar pensando no pau alheio.
No pau de vinte e três centímetros!
— Boa noite, Ash. Estou feliz por você estar aqui.
— Também estou. — Apago a luz do abajur e ela faz o mesmo.
Encaro a escuridão do quarto e fico pensando no maldito sorriso do Connor,
além do que ele deve fazer com o seu pau monstro. Liam, Kyle, Ben e todos os outros
que conheci na festa são lindos, no entanto o único que conseguiu me deixar em
estado de alerta foi o idiota do Connor, mas eu sei me controlar e, assim que começar
as aulas, vou estar tão atolada nas matérias que o capitão será a última coisa que irá
passar na minha mente.
Isso mesmo.
Eu tenho uma única regra: não me envolver mais com atleta e não renuncio a
ela.
Sem pensar muito, coloco a minha sandália de lado e atravesso a rua pisando
duro. Assim que me aproximo, o imbecil lança o cachorrinho para outro cara como se
ele fosse uma bola, fazendo meu sangue ferver com o mais puro ódio.
— Como vocês conseguem ser tão babacas? — pergunto furiosa e vou até o
cara que está segurando o filhote. O retiro da sua mão antes que ele tenha chance de
processar minhas palavras. — Vocês deveriam se envergonhar de estar torturando um
animal.
— E quem é você, bonitinha? — o que estava segurando o animal pergunta e
percebo que todos agora me encaram.
— Alguém que não vai deixar vocês continuarem maltratando esse pequeno.
— Aliso o cachorro notando que ele está assustado.
— Ninguém te chamou aqui, garota. — O moreno que estava segurando o
cachorro primeiro se aproxima. Ele é alto, bem alto e meio assustador. — Me devolve o
cachorro e cai fora da nossa festa.
— Não. — Empino o queixo. — Ele vai comigo.
— Garota, eu encontrei o cachorro, ele é nosso. Não me faça pegá-lo de você
— ameaça.
— Ah, isso eu quero ver — digo e estremeço um pouco quando o brutamontes
chega mais perto, porém não o deixo notar.
Seguro o cachorrinho assustado com força, evitando machucá-lo. O idiota
estica a mão, mas, antes que consiga pegá-lo, uma voz grossa soa atrás de mim:
— Black, Black, se eu fosse você não tocava nela. — Me arrepio inteira quando
o timbre do Connor chega até os meus ouvidos e não demoro a sentir seu tórax
encostar nas minhas escápulas.
— Olha, então você conhece a pequena enxerida — debocha. — Ela entrou na
nossa festa e interrompeu a brincadeira. — Seu tom de voz muda instintivamente, se
tornando irritado.
— Você desse tamanho brincando com um cachorro? Deveria se envergonhar,
porra! — Connor esbraveja raivoso.
— Eu não interfiro nas suas festas, então não venha interferir nas minhas. —
Cruza os braços.
— Vamos, Ashley — Connor chama colocando suas mãos na minha cintura e
eu me viro.
— O cachorro fica — Black declara e eu estremeço. Meus olhos vão direto para
os de Connor e imploro mentalmente para que ele me ajude.
— Black, o cachorro é meu — Connor mente alisando o animal.
— Eu o encontrei — o imbecil retruca.
— Porque ele fugiu hoje de manhã — Connor continua e percebo Black o olhar
desconfiado quando torno a olhá-lo. — Ashley o reconheceu quando viu você com ele.
— Vou fingir que acredito porque estou em uma noite boa, mas é bom você
avisar a sua garota para não se intrometer onde não é chamada.
— Não sou a garota dele — retruco e Black sorri maldoso.
Merda, eu e essa minha boca atrevida.
— Não? — Ele examina meu corpo e seu olhar desejoso me deixa
desconfortável. — Se deixar de ser intrometida pode até participar das nossas festas —
declara malicioso e percebo Connor soltar um rosnado irritado.
— Fica na sua que você ganha muito mais, Black — Connor avisa já
segurando minha mão e me puxando para longe do jardim.
Olho para o cachorrinho notando o quão assustado ele está e volto a acariciar
seu pelo tentando passar tranquilidade enquanto retorno a andar, agora com Connor do
meu lado.
— Você não pode invadir as festas dos outros dessa forma — ele reclama
depois de alguns minutos de caminhada.
— Eles estavam assustando e jogando o cachorrinho para o alto — defendo-
me.
— Você estava sozinha, Ash. — Ele para de andar e eu faço o mesmo. — O
Black é um babaca e os amigos dele são piores. Se eu não tivesse chegado, eles
teriam pegado o cachorro, por bem ou por mal.
— Não pensei muito. Agi no impulso e não me arrependo — digo baixo e ele
suspira. — Obrigada por ajudar.
— Não foi nada, mas tenta não se meter em nenhuma confusão,
principalmente com a turma do Black.
— Se eles não ficarem torturando animais na minha frente, eu prometo que não
chego perto deles — aviso.
— Onde você vai deixar esse pequeno? — Ele volta a andar e eu faço o
mesmo enquanto aliso a bolinha de pelos.
— Não sei ainda, mas acredito que ficarei com ele no dormitório até encontrar
um lar — digo porque é o único lugar que consigo pensar.
— A Brooke não é alérgica a pelo de animais? — Connor pergunta e arregalo
os meus olhos.
— Merda, merda! — praguejo. — Eu esqueci completamente desse detalhe.
— Ah, que ótimo! — zomba. — E vai fazer o quê agora? — questiona e minha
cabeça começa a ferver tamanho é o meu desespero.
Cheguei há poucos dias, não conheço ninguém além da minha prima e meu tio,
e ambos possuem alergia a animal. Fodeu tudo!
A não ser que...
Estaco no lugar e quando o Connor percebe que parei ele faz o mesmo. Sorrio
o olhando e no mesmo instante ele percebe.
— Não me olha com essa cara de maluca porque não vai rolar. — Nega com a
cabeça e eu meneio afirmando. — Não mesmo, Assassina.
— Só por um tempinho. — Faço biquinho. — Prometo que consigo um lar para
ele nos próximos dias.
— Os meninos iriam me matar — rebate. — A gente já voltou a treinar e
passamos o dia inteiro fora. É impossível.
— Você vai deixá-lo morar na rua? — pergunto com cara de choro enquanto
mostro o cachorro a ele.
— Ash, não vai rolar — declara firme, mas posso ver pena pelo animal nos
seus olhos, claro, me aproveito disso.
— Ele vai morrer de frio. — O aperto entre os meus braços. — Vai passar
sede, fome e tenho certeza de que vai encontrar mais humanos malvados para
machucá-lo — digo baixinho e ouço Connor suspirar. — Como podemos fazer isso com
ele?
— Você tem uma semana para encontrar um lar para ele — avisa e meu
sorriso se abre. — Nenhum dia a mais do que isso. — Meneio a cabeça freneticamente
e ele sorri. — E pare de me olhar desse jeito.
— Que jeito?
— Como se eu fosse o melhor cara do planeta.
— Nesse momento você é — digo sorrindo.
— Então você vai aceitar sair comigo? — pergunta esperançoso e eu reviro os
olhos.
— Não é para tanto. — O empurro com o ombro. — E já avisei para você
desencanar disso porque não vai rolar.
— Eu não desisto do que eu quero — repete o que me já me disse outras
vezes. — Mas até chegar o momento que você vai implorar para estar na minha cama
podemos ser amigos.
— No seu sonho isso vai acontecer — debocho e pego a patinha do cachorro.
— Diga oi para o papai — mudo de assunto e Connor parece sentir dor com as minhas
palavras.
— Não inventa moda, Assassina — pede e eu solto uma gargalhada. — Vamos
voltar para a minha casa — avisa e eu refaço o caminho de volta quase saltitando de
felicidade, esquecendo completamente que eu tinha decidido manter distância dele.
CAPÍTULO 9 - Connor Harrington
— Mas que porra é essa? — Ouço a voz de Liam sendo seguida por diversos
latidos. — Um cachorro invadiu a nossa casa e ainda comeu um dos meus chinelos. —
Olho sobre o ombro e vejo meu amigo vindo na minha direção com Marley no seu
encalço.
Ontem, quando voltamos para a minha casa, eu e a Assassina entramos pela
área externa e subimos para o meu quarto sem sermos notados. Depois que tranquei o
pequeno, a acompanhei até em casa e, quando voltei, a festa já estava encerrando.
Raven não ficou nada satisfeita com o meu sumiço, mas, como não devo satisfações a
ela, apenas disse que estava cansado e que ficaria sozinho. Não tinha clima de levá-la
para a cama quando minha mente estava cheia de pensamentos obscenos com a Ash.
Ashley apelidou o cão de Marley porque ele é a cópia idêntica do cachorro do
filme “Marley e Eu”. Pensei que ele fosse fazer um escândalo durante a madrugada,
mas no momento que deitei ele apagou ao meu lado. Quando saí do quarto há pouco
ele apenas se remexeu, mas eu com certeza devo ter deixado a porta aberta, fazendo
com que ele conseguisse escapar.
— Ele não invadiu — respondo quando Liam se joga no sofá irritado. — Eu o
trouxe.
— Você fez o quê?! — pergunta incrédulo.
— Cagaram na porra da minha cama! — Ben desce as escadas berrando. —
Eu vou matar o desgraçado — ameaça quando se aproxima e seus olhos vão direto
para o cachorro que agora se encontra bem aninhado nos meus pés.
— Vocês viram meu relógio? — Agora é o Kyle que se aproxima furioso e eu
sinto vontade de sair correndo.
— O Connor enlouqueceu e trouxe esse pulguento para a casa. — Liam aponta
para o cachorro e só então percebo um relógio entre suas patas.
Eles vão me matar!
E eu vou matar a Ashley!
— Então foi ele que fez aquela merda no meu colchão? — Ben pergunta
apontando para o cãozinho. — Que droga você usou para decidir trazer um animal para
a nossa casa?
— Eu posso explicar — digo e fito os três me encarando com semblantes
furiosos.
— Acho muito bom você começar mesmo — Kyle declara. — E pode ter
certeza de que você me deve um relógio novo.
— E você vai comprar outro chinelo para mim — Liam ameaça.
— E pode acrescentar na lista de compras um colchão novo porque nem
fodendo me deito mais naquele lá de cima — Ben avisa irritado e se senta no braço do
sofá, ao lado do Liam.
— É só uma semana — começo.
— Nem pensar — Kyle retruca me interrompendo. — Quero esse cachorro bem
longe daqui ainda hoje.
— Não vai rolar. — Encaro os três. — Prometi para a Ash que ele poderia ficar
aqui até ela conseguir um lugar para ele.
— Cara, você tem a garota que quiser na porra do campus, então por que
cismou com a novata? — Liam pergunta.
— Não é cisma — defendo-me. — Ela pegou o cachorro do Black porque
aquele imbecil estava torturando o animal.
— Não gostar de cachorro, tudo bem, mas machucar já é demais — Ben
retruca. — Mas por que ela não levou para o dormitório dela?
— Porque a Brooke tem alergia — Liam responde passando a mão pelo rosto.
— Merda. — Kyle me fita. — Uma semana, Connor, e tudo que esse
demoniozinho destruir você vai pagar e não conte com a gente para cuidar — declara
firme.
— É isso aí — Liam retruca e eu olho para o Ben.
— Não vou te ajudar dessa vez — diz e eu suspiro. De todos os meninos, ele é
o mais coração mole e jurei que poderia contar com ele.
— Eu preciso sair para comprar ração e umas coisas para ele. — Me levanto e,
no mesmo instante, o cachorrinho pula no sofá.
— Leve ele com você! — Liam ordena.
— Ele não tem coleira — justifico e vou em direção a porta. — Fiquem de olho
nele que eu já volto.
— Connor, não se atreva! — Ainda ouço a voz irritada do Kyle, mas já é tarde
porque, assim que passo pela porta, eu praticamente saio correndo e entro no carro
dando partida em seguida suspirando quando não vejo eles correndo atrás do veículo.
Sim, isso é algo que meus amigos fariam, caso não tivessem acabado de
acordar.
Dirijo durante alguns minutos e logo estou estacionando na primeira loja de pet
shop que encontro. Passeio entre os corredores e, com a ajuda de uma vendedora,
compro tudo que ela me diz ser essencial para um filhote, inclusive brinquedos para ele
morder e estraçalhar ao invés das nossas coisas.
Saio da loja cheio de sacolas, mas com tudo que eu preciso. Coloco tudo no
porta-malas e sigo até outro local porque necessito comprar outras coisas, mas dessa
vez para mim.
Uma hora e meia depois, estou estacionando em frente de casa, mas, antes de
descer, pego meu celular e digito o número do Ramon, que atende no segundo toque.
— Connor? — pergunta e noto sua voz sonolenta.
— Ei, cara, tudo bem? — indago criando coragem.
— Tudo em ordem. Aconteceu algo?
— Estou precisando de um favor seu — digo e encosto minha testa no volante
não querendo acreditar que estou mesmo pensando em fazer isso.
— Manda aí.
— Queria saber se tinha como você me emprestar sua moto hoje.
— Você sabe pilotar?
— Sei sim — respondo. — Tenho carteira de carro e moto e já pilotei uma
dessas quando viajei para a casa dos meus pais.
— Que horas você vai precisar?
— Umas sete e meia da noite.
— Eu a deixo aí então. — Suspiro aliviado.
— E eu peço para o Kyle te deixar em casa e depois eu levo a moto. — Sorrio
animado. — Fico te devendo essa.
— Até mais tarde. — Ele desliga e eu desço do carro.
Pego as sacolas no porta-malas e atravesso o jardim. Assim que abro a porta
encontro a sala vazia e no mais puro silêncio.
— Onde vocês estão, seus marmanjos?
— Na cozinha! — Kyle grita enquanto eu coloco tudo em cima do sofá.
Sigo até eles e, quando entro, encontro Liam cozinhando algo. Ele pode ser um
cafajeste assumido, teimoso como uma mula, mas cozinha bem pra caralho. Ele é o
maior responsável pela nossa alimentação.
— Onde está o cachorro? — pergunto e Kyle me olha furioso enquanto corta
uns legumes.
— O Ben levou para tomar banho, porque aquela peste decidiu que era legal
se jogar dentro da privada — Liam diz.
— Mentira. — Mordo os lábios tentando segurar o riso.
— Ah, pode apostar que é verdade. — Liam para de mexer na panela e me fita
furioso. — E ainda achou legal correr pela casa toda enquanto os três patetas aqui
tentavam pegar ele.
Não aguento, eu juro que tento, mas ao imaginar a cena dos meus três amigos
correndo a casa inteira atrás de um cachorro todo molhado a gargalhada explode.
Seguro minha barriga tamanha é a risada e noto Kyle e Liam não aguentarem e
começaram a gargalhar também.
— Cara, eu nunca imaginei que um cachorro daquele tamanho conseguiria
driblar três marmanjos tão bem — Kyle comenta secando as lágrimas do riso.
— Você nos paga, Connor — Liam ameaça rindo.
— Ele vai destruir nossa casa — digo quando consigo cessar o riso. — E eu
vou esganar a Ash.
— Falando nisso, onde está ela que ainda não veio olhar o cachorro?
— Ela vai passar aqui à noite — respondo e vou até a pia para lavar minhas
mãos. — E é por isso que preciso da ajuda de vocês.
— O que você está aprontando? — Liam pergunta quando me aproximo da
panela e noto que ele está preparando um molho para macarrão.
— Se vocês fizerem alguma piadinha sobre isso, eu vou esganar vocês. —
digo e os dois me fitam curioso. — Então...
Conto tudo que pensei em fazer e, assim que eu digo a última palavra, encaro
os dois idiotas que tenho como melhores amigos rirem feito hienas. Kyle e Liam choram
feito crianças enquanto tentam parar de gargalhar, mas falhando miseravelmente nas
primeiras tentativas.
— Cara... — Kyle tenta falar, mas fica difícil com a risada. — Isso é patético.
— Eu vivi para ver esse momento — Liam implica limpando as lágrimas dos
olhos.
— Eu falei para não zombarem, porra. — Cruzo os braços me sentindo o cara
mais idiota do planeta, ainda assim com a mesma vontade de fazer o que planejei.
— Zombarem de quê? — Ben entra na cozinha segurando o cachorro no
braço.
— Você não sabe o que o Connor vai fazer — Kyle diz.
— Vou porque vocês vão me contar — Ben declara. — Você me deve vinte
dólares do pet shop — avisa e me entrega o cachorro. — Então, o que esse idiota vai
fazer?
Os próximos minutos são os três tirando sarro da minha cara e me deixando
puto, ainda assim, no fim, eles decidem me ajudar.
Toco a campainha e fecho o blusão que estou usando, porque a noite esfriou
ainda mais desde o momento que saí de casa e o frio está castigando minha pele.
Assopro as mãos tentando trazer alguma fonte de calor, mas de nada resolve. Alguns
segundos depois, a porta é aberta e Connor aparece nela com seu habitual sorriso de
lado.
— Você me deve um relógio, uma sandália, um colchão novo e uma despesa
no pet shop, porque o Marley é um filhote de satanás e destruiu metade da minha casa
— dispara, no entanto não consigo focar nas suas palavras.
— O que aconteceu com você? — Mordo os lábios tentando controlar o riso
enquanto o avalio dos pés à cabeça.
Connor está vestido de uma forma completamente diferente das últimas vezes
que o vi. Ele está usando uma regata preta com uma jaqueta de couro do mesmo tom
por cima. Sua calça jeans é rasgada e está colada ao corpo. Seu pescoço esbanja um
colar dourado e seu cabelo bagunçado traz uma aura de menino levado.
— Até onde sei nada. — Ele passa do meu lado fingindo desinteresse e noto
um capacete em suas mãos. — Vou sair e você fica de olho naquele demoniozinho. —
Aponta para a porta referindo-se ao cachorro.
— Por que você está vestido assim? — pergunto me virando e observo ele se
aproximar de uma moto vermelha que está estacionada em frente à sua casa.
— Não gostou da minha roupa? — pergunta se encostando no monstro e abre
os braços. — Pensei que seu tipo era um bad boy. — Suas palavras saem rápidas e no
mesmo instante um flashback me acerta fazendo com que eu perceba o porquê de toda
essa sua mudança.
— Você... — Aponto para ele e mordo os lábios tentando não rir, mas, quando
a constatação do que ele está fazendo me atinge, a gargalhada sai sem esforço. —
Você se vestiu assim para me impressionar, capitão? — indago entre risos e noto ele
fechar o semblante no mesmo instante.
— O mundo não gira ao seu redor, Assassina — responde subindo na moto e
ouço ele praguejar baixinho quando a calça apertada atrapalha o movimento
praticamente o desestabilizando.
— Meu Deus. — Me aproximo dele no momento que ele consegue se sentar e
coloca o capacete. — Eu me lembro que disse que também preferia caras com cabelo
grande — zombo não resistindo a alfinetada. — E mais velho.
— Eu tentei achar uma peruca, mas não encontrei — justifica suspirando
deixando visível que ele realmente procurou o objeto. Fico em choque com tamanha
loucura. — E falsidade ideológica infelizmente ainda é crime. — Dá uma piscadinha
para mim e meu estômago se revira porque ninguém nunca se esforçou tanto, não a
ponto de criar um personagem para tentar chamar minha atenção.
Ele é maluco, completamente maluco!
— Connor, isso é patético — debocho, mas no fundo acho fofo que ele tenha
feito toda uma produção para me agradar mesmo sabendo que é só para me levar para
a cama. — Eu não vou sair com você.
— Será que não mereço sequer uma voltinha depois dessa performance? —
apela e pega o capacete que estava preso a ignição estendendo em minha direção. —
É rapidinho — promete.
— Você acha que sou o quê? Uma maria-gasolina? — pergunto fingindo estar
ofendida.
— Eu preferia que fosse uma maria-patins porque seria muito mais fácil.
Deus, por que ele tem que ser tão sincero e direto?
— Não vou com você — afirmo e me viro, mas ele segura meu braço
delicadamente me fazendo fitá-lo novamente.
— Só uma volta — pede e eu cruzo os braços fitando seus olhos de menino
levado.
Connor aproveita a deixa para colocar o capacete na minha cabeça e fechar a
trava de segurança. Seu sorriso aumenta quando percebe que não retirei o acessório.
Eu sei que provavelmente irei me arrepender de estar deixando-o se aproximar demais,
ainda assim, não me afasto.
— Só porque você teve todo o trabalho de se produzir para me impressionar —
informo. — Mas não considere isso como um encontro porque não é.
— Sobe aí, Assassina. — Aponta para a moto no instante que a liga e eu faço
o que ele pede.
— Você sabe pilotar essa coisa? — indago já subindo, no entanto me recuso a
segurar na sua cintura mesmo querendo, então opto por colocar as mãos sobre minha
coxa.
— Diferente de você, eu não comprei a minha habilitação — debocha e eu
belisco sua cintura arrancando um “ai” dele.
— Se eu fosse você se segurava — avisa antes de dar partida.
De início Connor segue devagar com a moto enquanto vai passando pelas ruas
e eu observo que a maioria estão desertas mesmo sendo cedo. Olho para o seu
semblante através do retrovisor e, como se percebesse que está sendo observado, ele
me fita me direcionando um sorriso de lado, porém logo voltar a focar na estrada que
dá acesso à saída da cidade. Percebo ele aumentar a velocidade e sou obrigada a
segurar na sua cintura sentindo através do tecido da roupa os gominhos definidos do
seu abdômen.
O motor ruge alto na estrada deserta e eu fecho os olhos apreciando o frio
batendo no meu rosto e bagunçando meu cabelo. A sensação de paz que a noite traz é
bem-vinda e eu aproveito o máximo que consigo enquanto ele pilota durante longos
minutos. Obrigo-me a abrir os olhos quando percebo ele desacelerar parando em frente
ao que eu acredito seja um point.
Desço da moto e tento domar meus cabelos revoltos com o vento, mas acabo
desistindo quando percebo que é um caso perdido.
— Gostou de ficar agarradinha comigo, não é? — pergunta retirando o
capacete.
— Eu só segurei porque você estava indo rápido demais — desdenho. —
Minha segurança vem em primeiro lugar.
— Fale isso para você mesmo que saiba, assim consegue acreditar.
— Você e tão convencido. — Reviro os olhos. — Tenho certeza de que é do
tipo que fica se admirando na frente do espelho todos os dias.
— É claro que eu faço isso. — Ele aponta para si mesmo. — Preciso agradecer
por ter nascido quase como um deus grego.
Não aguento e gargalho com a sua fala porque eu tenho quase certeza de que
ele está falando a verdade.
— Então, deus grego. — Sorrio. — O que é esse lugar? — pergunto olhando
ao redor e noto que estamos fora da cidade.
— É só um bar no meio do nada para a gente cantar um karaokê. — Meus
olhos brilham quando ele responde. — Você gostou da ideia!
— Ah, eu sou a louca do karaokê — aviso já me animando. — Mas por que tão
longe?
— Os points perto da faculdade estão sempre cheios e eu nunca consigo ficar
em paz. — Dá de ombros.
— Pobrezinho — debocho. — Deve ser tão ruim ser popular.
— Você não acreditaria se eu dissesse que não é sempre que gosto de ser o
centro das atenções. — Noto sinceridade nas suas palavras, o que confesso me
surpreende.
— Então escolheu a profissão errada. — Aponto o óbvio.
— Sempre acreditei que tudo na vida tem dois lados: positivo e o negativo, mas
que sempre temos que escolher o que o primeiro ponto se sobressai e no hóquei não é
diferente. — Ele se vira. — Vamos. — Oferece sua mão, mas eu finjo que não a vejo e
sigo do seu lado e vejo ele balançar a cabeça em negativa.
Juntos subimos os três degraus da entrada e, assim que passamos pela porta,
sou presenteada com um ambiente praticamente vazio. Meus olhos percorrem o local
observando as mesas de madeira no salão e conto apenas três ocupadas, um bar ao
lado direito e mais à frente um palco onde tem uma ruiva cantando a plenos pulmões.
Connor segue na minha frente e juntos andamos até o balcão.
— Oi, Henry — Connor cumprimenta o cara barrigudo do outro lado do bar. —
Como você está?
— E aí, cara. Estou cansado, mas isso não é novidade — declara e Connor
sorri. — Trouxe companhia hoje? — pergunta se aproximando.
— Essa é a Ashley, ela é uma amiga.
— Prazer, mocinha. — O tal do Henry estende a mão e eu a aperto.
— O prazer é meu — digo.
— O que vão beber? — ele pergunta e Connor me olha.
— Um suco de laranja está ótimo — peço.
— Manda dois — Connor pede. — Estou pilotando hoje.
— Em instantes, já trago para vocês. — Henry se afasta.
— Como achou esse lugar? — pergunto curiosa.
— Eu estava precisando ficar um pouco sozinho e saí sem rumo. — Dá de
ombros enquanto se vira na banqueta ficando de frente para mim. — Encontrei por
acaso e desde então sempre venho.
— Não parece ser o tipo de coisa que você frequentaria.
— Você está me julgando só porque sou um jogador de hóquei — rebate.
— É, talvez esteja, mas não é por mal.
— Qual é o seu lance contra atleta? — Connor pergunta e um nó começa a se
formar na minha garganta.
— Não tem lance nenhum — desconverso.
— Você disse que tinha ficado com um jogador — solta e eu lembro do jogo eu
nunca que fizemos na festa. — Está contraditória.
— Isso foi no passado, Connor.
— Que alívio. — Suspira aliviado.
— Como assim? — indago confusa.
— Pensei que já tinha pegado algum cara do time. — Sorrio. — Ia ser um saco
fazer com que o idiota não chegasse mais perto de você.
— E quem disse que você tem esse poder? — Arqueio as sobrancelhas.
— Você não faz ideia do que uma palavrinha minha pode fazer no campus, Ash
— declara convencido.
— Não se atreva a se intrometer nos meus relacionamentos. — Levanto-me e
ele apenas dá de ombros. — Mas que tal a gente cantar agora?
— Vamos tomar logo o suco. — Aponta para Henry se aproximando e eu volto
a me sentar.
— Dois sucos saindo. — Henry coloca os copos na nossa frente se afastando
em seguida.
— Então, está gostando de Brisfolk? — pergunta enquanto toma seu suco.
— Estou sim — respondo. — Era para eu estar desde o início, mas acabei indo
para a Leifield.
— Ainda bem que você percebeu o erro que cometeu, porque lá não chega
nem perto da nossa universidade.
— Não é tão ruim — brinco. — Você só está falando isso porque os The Crows
são os maiores rivais de vocês no hóquei — Tento não deixar minha mente voltar para
o time em específico.
Connor dá de ombros, se levanta e eu agradeço por ele não aprofundar o
assunto ou talvez acabasse percebendo meu desconforto.
— Vamos ver o quão ruim você é cantando, Assassina — declara e eu o sigo
até a máquina mais à frente. — O que vai cantar?
— A melhor música do mundo! — aviso enquanto escolho Blanck Space.
— Ah, não, Taylor Swift, sério? — Faz uma careta.
— Melhor cantora — declaro enquanto pego o microfone e a melodia se inicia.
— Aí você já está forçando demais — rebate fazendo uma careta.
— Você não está ganhando ponto falando mal da minha loirinha. — O fuzilo e
ele levanta a mão em sinal de paz enquanto eu solto a voz.
“Nice to meet you, where you been?
Acordo sentindo algo molhado e pegajoso no meu rosto e, assim que abro os
olhos, a visão de um pelo caramelo cobre meus olhos.
— Ah não, camarada. — Viro-me rapidamente, sentando-me na cama e o
pequeno late em protesto enquanto se senta. — Você não pode me beijar — reclamo
levando a mão até o rosto, limpando-o.
— Au... — late como se estivesse reclamando da minha ordem.
— Só a sua dona pode me beijar. Pelo menos, eu quero que a sua dona me
beije. — Sorrio para o cachorro quando a imagem dela atravessa minha mente.
Quando eu inventei de criar todo o personagem foi apenas para que ela
entendesse que eu estava disposto a tudo para tê-la, inclusive fazer coisas idiotas,
porém não tinha pretensão de sair com ela ontem à noite. A ideia era ela me ver, ficar
babando no meu estilo novo e só depois insistir novamente. Porém, tudo saiu melhor
do que esperava quando ela aceitou passear um pouco comigo.
Levá-la ao karaokê foi incrível e confesso que há tempos eu não cantava e me
divertia tanto como aconteceu quando estávamos juntos.
Quando retornamos para casa, ela ainda ficou quase uma hora brincando com
Marley e, antes de ir embora, ainda jantou comigo e os meninos. Todos estão
encantados com ela e não é para menos!
Estico me até a mesa de cabeceira deixando os pensamentos de lado e,
quando pego o celular, constato que já são quase sete horas.
Merda, vou me atrasar!
Pulo da cama e corro até o banheiro com Marley no meu encalço. Tomo um
banho rápido, pego minhas coisas e, assim que desço as escadas, já encontro meus
colegas na sala.
— Você deixou de novo o cachorro com a gente — Liam bufa apontando para
Marley ao meu lado.
— As coisas não saíram como planejei. — Vou até a cozinha, abasteço a
vasilha de Marley com água e ração nova. — E, pelo que vi, ele não aprontou nada,
então deixem de ser reclamões. — Pego uma maçã retornando à sala.
— Saíram melhor, não é? — Ben pergunta pegando sua mochila.
— Então conseguiu o que queria, capitão? — Kyle questiona.
— Somos amigos — digo e os três me fitam. — Por enquanto. — Mordo a
maçã e sorrio.
— Você não vale nada. — Kyle joga a almofada na minha cara e eu a seguro a
tempo.
— Vamos porque estamos atrasados — declaro.
— Quem vai ficar com o cão? — Ben indaga e eu congelo no lugar.
— Droga, não pensei nisso. — Coço a cabeça nervoso já imaginando o estrago
que ele irá fazer ao ficar sozinho e trancado.
— Você é tão idiota. — Liam passa do meu lado. — A sua sorte é que já
falamos com Gorete e hoje ela vai ficar de olho na peste.
— Valeu, cara — agradeço saindo em seguida de casa com eles.
Gorete é a faxineira que vem duas vezes na semana para organizar a bagunça
que nós quatro fazemos. Na loucura, acabei me esquecendo completamente dela e
isso já me mostra que estou disperso demais.
Entro no carro junto com os caras e, como nossa casa fica apenas a alguns
quarteirões da universidade, logo estamos estacionando no campus.
— Nos encontramos no refeitório — Ben diz e se afasta indo para a sua aula.
— Vou para o prédio de Humanas — declaro travando o carro.
— Eu vou com você — Kyle avisa e eu assinto.
— Eu vejo vocês mais tarde — Liam diz já se afastando e noto mais à frente
ele se aproximar da Brooke e da Ashley.
— Então, você percebeu que o Logan estava distraído no último treino? — Kyle
pergunta enquanto andamos até o prédio da nossa aula. — Será que aconteceu algo?
— Fiquei sabendo que ele discutiu feio com a Alessa no Queens, mas vou
chamar ele para conversar mais tarde depois do treino.
— Não podemos perder nenhum jogo — meu amigo afirma sério. —
Precisamos de todos os jogadores centrados.
— E não vamos — asseguro convicto. — Se precisar coloco todos dentro de
uma casa sem mulheres durante toda a temporada, mas nem fodendo deixarei o título
de campeão escapar das nossas mãos.
O hóquei não é uma brincadeira para mim, muito menos para os meus amigos,
e estamos firmes para conseguir chegar até a final esse ano e levar o título de
campeão para a Brisfolk.
— Se precisar de algo, você me avisa. — Assinto. — Agora vou para a aula e a
gente se encontra mais tarde — declara quando paramos em frente à minha sala e logo
o vejo se afastar.
Eu entro na sala e percebo que o George já se encontra nela e, quando me vê
entrando, fecha o semblante rapidamente. Ele odeia atrasos!
— Pensei que não teria a honra da sua ilustre presença na minha aula —
debocha sério cruzando os braços.
— Eu jamais faria essa desfeita com o senhor — zombo e ouço risinhos dos
alunos.
— Na próxima, você não entra, Harrington — diz firme e eu reviro os olhos com
sua mania de chamar todos pelo segundo nome.
— Chegarei no horário porque a aula sem minha presença não tem graça,
professor. — Se um olhar me matasse, eu estaria caindo durinho nesse momento.
— Voltando ao que importa — ele diz e volta a discursar sobre urbanismos
enquanto eu me jogo na cadeira, no fundão.
— Deu tudo certo ontem? — Ramon pergunta ao meu lado.
— Sim. Valeu mesmo por emprestar aquela máquina — agradeço.
Assim que a Assassina saiu da minha casa, eu dei um pulo até a do Ramon
para entregar a moto. Eu voltaria andando, mas ele fez questão de me deixar em casa.
— Quando precisar é só falar. — Ele volta atenção para a aula e eu faço o
mesmo.
Levo a sério os meus estudos e, por mais que goste de brincar com os
professores, eu sempre fico atento as aulas. Minhas notas são boas e fora a confusão
com a estátua eu nunca tive nenhum problema com a reitoria.
Sei dividir meus estudos das farras e do hóquei. Acredito que o que mais me
ajuda nessa correria é justamente a disciplina em todos os quesitos da minha vida.
Não posso perder o foco!
— Droga, Ben, o que porcaria você tem hoje? — grito para o meu amigo, que
me encara com o semblante frustrado depois de não conseguir defender nenhum
ataque.
— Só estou cansado — responde, mas desvia o olhar acendendo o meu alerta.
— Se não consegue dar conta é só avisar que te ponho no banco! — Franklin
grita entrando na arena. — Não quero corpo mole, Benjamin.
— Vou melhorar — meu amigo afirma. — Não precisa me colocar na merda do
banco — resmunga e ganha o um olhar enviesado do treinador.
— Acho bom! — brada e leva a boca até o apito chamando a atenção de todos.
— Retirem os patins porque quero todos subindo e descendo os degraus da
arquibancada.
— Não seria melhor só amanhã? — Mike questiona passando a mão pelo suor
da testa. — Já passamos as últimas horas treinando.
— Quero trinta flexões e depois cem descida e subida na arquibancada, Mike.
— Controlo o riso já arrancando meus patins. — Você mal se mexeu durante todo o
treino, então não vejo o porquê está reclamando.
— Mas... — tenta argumentar.
— Agora! — Franklin brada e observo o goleiro se abaixar para retirar o
acessório e começar a fazer as flexões. — E se quiser ir para o banco é só avisar que
coloco outro goleiro no seu lugar.
Eu e o restante do time começamos a subida e descida da arquibancada sob a
supervisão do técnico.
— A Destiny chegou hoje — Liam diz quando chega ao meu lado enquanto
fazemos o que o técnico mandou. — Pensei da gente se reunir para pedir uma pizza.
— Pode ser — concordo. — Sua mãe melhorou?
— Graças a Deus sim!
Destiny está no segundo ano de Moda, mas a mãe deles adoeceu e ela teve
que ficar um tempo a mais na casa dos pais para cuidar dela depois das férias.
— Você deveria convidar a Brooke e a Ash — aviso e ele sorri.
— Já avisei as duas e elas toparam — afirma e eu assinto. — Já que você está
focado na novata, não tem problema eu ficar com a Raven, né? — indaga.
— Claro que não — nego sentindo o suor grudando minha camisa. — Você
sabe que não temos nada sério e que ela já ficou com o Ben e o Kyle.
— Ótimo então. — Ele dá um tapinha no meu ombro e acelera a descida, me
deixando para trás.
Não me importo que a Raven saia com meus amigos porque não temos nada e
ela é solteira, mas de imediato penso na Assassina e ela sim não estou disposto a
dividir com nenhum cara, pelo menos, não antes de mim.
— Oi, tio. — Estaco no lugar quando ouço a voz dela e, por alguns instantes,
penso estar tendo um delírio, mas, quando olho para a área do gelo, vejo Ash e Brooke
entrando na arena.
— Estão dispensados! — Franklin grita e logo todos os caras do time começam
a sair apressados.
Mike está puto e noto que ele é o primeiro a sair. Torço para que ele desista de
estar com a gente, mas sei que essa raivinha é só um chilique e que amanhã ele estará
conosco.
— Oi, meninas — cumprimento quando me aproximo deles e noto Franklin me
fitar.
— Oi, Connor — Brooke responde. — Espero que esteja pegando pesado nos
treinos.
— Acho que ele está — Ash responde apontando para a minha camisa coberta
de suor.
— Tenho que pegar. — Sorrio. — Como capitão preciso dar o exemplo —
informo e sinto a mão do treinador vir até o meu ombro fazendo com que eu seja
forçado a virar para ele.
— Mantenha seu pau longe delas se tiver algum amor por ele — ameaça e eu
forço um sorriso.
— Pai! — Brooke o repreende.
— Não se preocupe, treinador. — Lanço uma piscadela para ele, feliz por não
vacilar na resposta.
Imagina se ele sonha que o que eu mais quero nesse momento é justamente
enfiar meu digníssimo pau na boceta da sobrinha dele?
É, eu estou bem ferrado!
— Pode ir, Connor. — Me dispensa quando percebe que não saí do lugar.
— Estou indo. — Levanto as mãos e dou uma corridinha alcançando os caras.
— Soube que Destiny chegou? — pergunto me aproximando do Ben e esbarro nas
suas costas quando ele estaca no lugar.
— Soube sim — responde. — A mãe dela melhorou então?
— Sim. O Liam falou que está bem melhor. O que pretende fazer hoje?
— Pensei apenas em jogar um Play já que estou evitando sair.
— Vamos fazer a noite da pizza com a Destiny.
— Quem vai estar? — indaga cauteloso.
— Só nós quatro, Destiny, Brooke, Ash e vou ver se o Bryan quer ir também.
— Ótimo — concorda, mas sinto algo estranho no seu tom de voz.
— Está tudo bem mesmo com você? — pergunto baixinho deixando o time se
afastar. — Sabe que, se tiver com algum problema, pode contar comigo. — Ponho a
mão no seu ombro.
— Eu estou encren...
— Ei, vamos juntos para casa? — Liam, percebendo que ficamos para trás,
grita se aproximando cortando a frase do Ben e noto ele mudar totalmente a postura.
— Pode ser — responde, mas não fita o amigo.
— Então? — indago e Ben reveza seu olhar entre mim e Liam.
— Obrigado, cara, mas estou de boa. Eu só quero focar no hóquei para ver se
sou draftado esse ano — responde e, se não estou ficando louco, ele iria me falar algo,
mas cortou porque Liam se aproximou.
Estranho, afinal, até onde sei, os dois não têm segredos.
— Está certo, mas qualquer coisa é só me falar — decido não insistir e percebo
ele respirar aliviado.
Infelizmente, da nossa turma, o único que não passou no draft foi o Ben,
porque, mesmo sendo o mais centrado, ele acabou perdendo o draft. Até hoje não
entendi muito bem o que aconteceu, mas, justamente naquele dia, ele não compareceu
e, quando apareceu em casa, estava bêbado. Lembro que na época ele contou que
tinha passado do limite na bebida e esqueceu do draft e como não queríamos deixá-lo
constrangido por ser o único a não entrar optamos por não tocar mais no assunto.
Voltamos a caminhar e, assim que entro no vestiário, eu vou direto para o
banho porque estou completamente suado depois do treino insano que fizemos.
CAPÍTULO 12 - Ashley Moore
— Como você cresceu, Ashley — meu tio fala me puxando para um abraço
assim que o capitão se afasta. — Estou ficando muito velho mesmo, viu, porque até
ontem vocês eram duas bebês correndo dentro de casa — declara se afastando.
— Não exagera, tio — brinco e ele segura minhas mãos. — Senti sua falta. —
Meus olhos brilham enquanto eu o fito, porque ele é tão parecido com o meu pai.
Ambos possuem os olhos escuros, porte atlético, um sorriso acolhedor e a
careca, que é a marca dos integrantes da família Moore. Realmente senti falta dele,
porque ele sempre foi um tio presente. Sofri bastante quando me mudei, pois, além da
perda do meu pai, eu senti que tinha perdido o meu tio para a distância, mas, graças a
Deus, ele sempre se manteve perto através de ligações e toda vez que possuía um
tempo ele foi nos visitar.
— Também senti sua falta e estou muito feliz que tenha decidido voltar. — Ele
passa o braço ao redor do meu ombro e faz o mesmo com a Broo. — Como está sendo
esse início na Brisfolk? Precisando de algo? — indaga quando começamos a andar
saindo da arena.
— Está sendo melhor do que imaginei, mesmo que eu já esteja atolada de
trabalho. — Brooke dá risada e ele a acompanha. — Mas está tudo sob controle e, no
momento, não preciso de nada — aviso.
— Vamos comer? — Brooke pergunta. — Estou morrendo de fome.
— Que tal o Queens? — meu tio sugere.
— Prefiro o Ohashi porque quero comida japonesa — ela responde.
— Ah, eu também quero. Estou ansiando por sushi há dias.
— Então está decidido — diz e juntos seguimos até o estacionamento.
Como eu e a Broo sabíamos que iríamos sair com ele optamos por vir de Uber.
Chegamos até o carro do meu tio e, juntas, entramos no banco de trás.
— Ei, mocinhas, não sou motorista particular das duas, então pode vir para a
frente alguma de vocês.
Sorrio balançando a cabeça e abro a porta de trás entrando no banco da frente
em seguida.
— Isso. Agora está bem melhor. — Ele sorri.
O percurso até o restaurante é rápido e logo estamos entrando no Ohashi,
restaurante que eu não conhecia, mas que gosto do ambiente de imediato. Os
atendentes são acolhedores e logo estamos subindo para o segundo andar.
Caminhamos até a parte onde estão expostos os sushis, nos servimos e logo
nos sentamos à mesa.
— Agora me conta como está sua mãe — meu tio pergunta.
— Está bem. — Quase gemo ao colocar o salmão na boca. — Atolada nos
trabalhos na galeria.
— Quando ela pretende vir morar aqui? — pergunta Brooke.
— Não sei. — Dou um sorriso triste. — É difícil para ela voltar e ela meio que
criou uma nova vida em Nova York, mas estou na torcida para que ela decida vir.
— Tenho certeza de que é só questão de tempo. — Meu tio aponta com os
hashis para mim. — Ela não vai aguentar ficar muito longe de você.
— Estou torcendo por isso — confesso sincera. — Ah, deixa eu perguntar para
vocês. Queria saber se tem algum lar para crianças que eu possa ser voluntária.
— Já decidiu no que vai se especializar? — meu tio questiona.
— Meu coração está pedindo por pediatria — confesso e ele sorri orgulhoso. —
É por isso que queria ser voluntária, trabalhar com elas para ver se é realmente isso
que eu quero.
— Pai, tem o Institute Donna Farber Câncer — Brooke diz e seu pai assente.
— Onde seria esse lar e como funciona?
— É um lar específico para crianças em tratamento do câncer — responde e o
ouço atenta. — Eles sempre estão à procura de voluntários, inclusive tem alguns
alunos da Brisfolk que ajudam lá.
— Se eu não estou enganada é quatro horas por dia, dois dias na semana —
minha prima informa. — Podemos ir lá para você dar uma olhada e ver se te interessa.
— Eu adoraria — digo animada. — Será um prazer poder ajudar.
— E o melhor é que fica a dez minutos do campus — Franklin comenta. —
Você vai gostar.
Assinto e logo embarcamos em vários assuntos. Meu tio informa que o que eu
precisar posso comunicar a ele que ele estará ali para mim, acho fofo e agradeço.
— E quero você distante dos meus jogadores, assim como já falei para a
Brooke — comenta alguns minutos depois.
— Estou longe de querer algo com atleta — digo e ele sorri orgulhoso.
— Eu sinto muito pelo que passou com aquele idiota e pode ter certeza de que
ele não chegará mais perto de você.
Odeio que o escândalo que o Petter fez tenha chegado até aqui, mas era
inevitável que meu tio não soubesse porque precisei da discrição dele para que o
babaca não soubesse que voltei a morar em Boston.
— É passado e quero focar no presente, no agora. — Sorrio e ele assente.
— Concordo plenamente. — Ele se levanta. — Vou pegar mais sushi, vocês
querem?
— Estou satisfeita — respondo.
— Eu também — Brooke diz e fitamos ele se afastar. — Imagina se o papis
sonha que o capitão dele está doido para entrar no meio das suas pernas. — Ela me
empurra de leve sorrindo.
— Ah, e se ele souber que você está doida para pegar o atacante dele?
Ela abre a boca chocada e eu exibo o meu melhor semblante de vitória para
ela. Brooke pensa que me engana, mas em todas as situações que estávamos com os
meninos ficou nítido que ela e o Liam estão loucos para se pegar, se já não se
pegaram.
— É melhor a gente se manter longe da cama dos jogadores ou seremos
deserdadas — brinco.
— E quem disse que ele precisa saber?
— Você não tem um pingo de juízo. — Balanço a cabeça dando risada.
— Se fosse pelo meu pai, eu usaria um cinto de castidade na minha boceta. —
Mordo os lábios tentando controlar a risada. — Ele não precisa saber que a filhinha
dele adora sentar.
— Quando você se transformou nessa safada?
— Faz tanto tempo que já esqueci — rebate sorrindo safada.
— O que faz tanto tempo? — Meu tio retorna e nos fita curioso.
— Que eu quero ser jornalista esportiva — Brooke responde fingindo um
sorriso e eu fico impressionada com a facilidade com a qual ela inventou a mentira.
— Você é o meu orgulho. — Ele traz as mãos para cima da mesa. — Vocês
são. — Estico a minha e aperto a dele, assim como minha prima faz. — Tem certeza de
que não querem mais? — indaga apontando para o prato. — Isso está muito bom.
Negamos, mas voltamos a conversar e ele fala um pouco sobre a temporada e
confessa que está bem animado para esse ano. Ficamos entrando e saindo de
conversas triviais, colocando os assuntos em dia e depois de uma hora eles nos deixa
em frente ao dormitório.
— Juízo — diz quando descemos e apenas assentimos. — Qualquer coisa é só
me ligar.
— Está certo, pai — Brooke responde e acenamos enquanto ele se afasta. —
Vamos?
— Não vai nem trocar de roupa? — pergunto e ela nega.
Hoje pela manhã o Liam nos encontrou no intervalo da aula e nos convidou
para uma noite da pizza na casa dos meninos porque a irmã dele chegou. Pelo que
entendi, ela já é veterana, inclusive mora na Nu Zeta, mas esse ano precisou atrasar
um pouco porque a mãe estava doente.
— Já estamos em cima da hora — Brooke avisa e eu a sigo até o seu carro. —
Você já conseguiu um lugar para o Marley?
No dia seguinte, compartilhei com ela sobre o incidente com o cachorro, e sua
reação foi de indignação. Concordando com Connor, ela enfatizou que Black era
inconveniente e recomendou que eu evitasse tanto ele quanto os seus amigos.
— Ainda não. — Mordo os lábios. — Mas preciso, porque daqui a pouco
encerra o prazo que os meninos me deram.
— Odeio a minha alergia a pelos. — Ela dá partida no carro. — Eu amaria
adotar um cachorrinho.
— É, eu também. — Suspiro frustrada. — Mas, nesse momento da faculdade,
é impossível que eu consiga cuidar de um animal.
— Como não pensei nisso! — ela praticamente grita e eu viro de lado.
— No quê? — indago confusa.
— Podemos anunciar na rede social da Brisfolk. — Ela me olha de soslaio. —
É basicamente cheia de estudante, mas não são todos que moram em dormitórios,
então podemos encontrar alguém que mora fora que esteja disposto a adotar.
— A faculdade tem uma rede social? Isso não é do tempo do nunca? — brinco.
— Tem, e se quer saber é bem movimentada. Vou te mandar o link para você
baixar e criar o seu perfil.
— Já é uma esperança para o Marley. — Volto a ficar de frente para a pista. —
Uma pena que ele vai ficar trancado agora à noite.
— É isso ou eu vou passar a noite sufocando dentro do hospital.
— Você também bem que poderia procurar logo ajuda para tratar essa alergia
— revido.
— Mesmo que eu não possuísse alergia, não é permitido animais no campus.
— E ainda tem esse detalhe. — Suspiro já vendo a casa do Connor mais à
frente e agradeço por dessa vez ela não estar abarrotada de carros. — Hoje serão
poucas pessoas então? — indago.
— Isso. Só os mais íntimos. — Ela dá uma piscadela enquanto desliga o
veículo.
Descemos do carro e seguimos até a porta, mas, antes que a gente bata, ela é
aberta e um Connor todo sorridente aparece.
“Droga, ele não poderia ser feio e feder igual a um gambá?”, me questiono
mentalmente.
— Só faltava vocês. — Abre espaço indo para o lado. — Marley não gostou
nada de ficar preso na despensa.
— Vou fazer um carinho nele para tentar acalmá-lo — digo quando passo ao
seu lado.
— Destiny, sua vaca, pensei que tinha nos abandonado! — minha prima grita
assim que entra na sala e quando olho a vejo abraçando uma morena.
Caramba, a garota parece que saiu de uma revista de modelo. Ela é alta, bem
alta, com os cabelos castanhos e longos, olhos do mesmo tom e um corpo que, com
toda certeza, deve deixar muitos marmanjos babando.
— Que saudades de você, sua louca. — As duas se abraçam. — E quem é
essa loirinha parada aí? — pergunta assim que solta a minha prima.
— É a Ash, minha prima, falei dela para você — Brooke responde sorrindo.
— Ah, eu lembro. — Ela se aproxima. — Bem-vinda, querida, sou a Destiny,
irmã daquele C.A. ali. — Aponta para Liam. — E amiga dessa cambada toda. — Seu
sorriso é tão amigável, que sinto como se já a conhecesse.
— Obrigada. — A abraço e ela retribui. — Mas o que seria um C.A.? —
questiono curiosa quando ela se afasta.
— Criatura abominável — responde arrancando risada de todos.
— Por que você voltou mesmo? — Liam pergunta fingindo estar ofendido.
— Porque eu sou a melhor da turma e vocês não vivem sem mim. — Ela se
joga no sofá ao lado do irmão e ele passa os braços sobre o pescoço dela, a puxando
para si.
— Ashley, não dá ouvidos para ela, porque, na maioria do tempo, ela só fala
besteira — Liam diz. — Senta aí. — Aponta para o sofá.
— Vou dar uma olhadinha no Marley — aviso.
— Onde estão os outros? — Ouço Brooke perguntar.
— Kyle e Ben foram pegar as pizzas e Bryan deve estar chegando — Connor
responde enquanto sigo para a área de serviço que fica na parte de trás da casa.
Passo pela cozinha e assim que viro à direita encontro a porta e, quando a
abro, sou praticamente atacada pelo filhote. Entro depressa para que o pequeno não
fuja e me abaixo.
— Ei, garotão, como você está? — pergunto e a resposta que ganho são
lambidas. — Você é animado. — Aliso seu pelo e ele se deita, virando a barriga para
cima. — Vou tentar encontrar um lar para você, viu?
Sento-me no chão e fico vários minutos brincando com Marley sentindo meu
coração doer ao imaginar que, em breve, não irei mais vê-lo. Cheiro seu pelo, faço
cosquinha, jogo um prendedor no final da despensa e ele corre para pegar, voltando
em seguida para me entregar. Observo que a área tem saída de ar através de duas
janelas e também possui um espaço bem amplo para que ele possa correr e brincar à
vontade.
— A pizza chegou, Assassina. — Reviro os olhos quando ouço a voz do
capitão através da porta.
— Já estou indo. — Levanto-me do chão e dou mais um beijo no topo da
cabeça do filhote. — Se comporte, viu?
Jogo mais uma vez o prendedor e, quando ele corre para brincar com o objeto,
aproveito para sair da despensa.
— Quando você vai parar de me chamar assim? — pergunto quando saio e
encontro o Connor me esperando tão lindo e cheiroso como sempre.
— Não tenho pretensão nenhuma. — Ele coloca seus braços ao lado da minha
cabeça, me prendendo na porta. — Por que você cheira a baunilha?
— Porque é a essência do meu perfume — respondo tentando focar nos seus
olhos e não nos lábios que estão tão próximos do meu.
— É viciante. — Ele traz seu rosto até o meu pescoço e eu prendo a respiração
enquanto ele inala meu cheiro tentando controlar os pelos do meu corpo que se eriçam
com a proximidade. — Você é toda viciante e eu sequer a provei.
— Vamos para a sala. — Coloco a mão sobre seu tórax durinho e o empurro,
mas ele sequer se mexe.
— Está com medo de não resistir, Assassina? — Sorri com os olhos enquanto
examina minha reação.
— Resistir ao que exatamente? — Arqueio a sobrancelha fingindo que ele não
me afeta em nada. Tentando usar o desdém como arma, afinal, seus olhos percorrem
meu corpo e está nítido o quanto ele me afeta.
— Ora, ao meu charme. Sei que você também quer, mas está presa a essa
regra idiota. — Sua boca a centímetros da minha quase me faz vacilar alguns
segundos enquanto a fito, mas me recomponho.
— Primeiro: não é uma regra idiota; e segundo: sinto muito em machucar seu
ego, mas não vou para a cama com você, porque tenho zero interesse nesse charme
que você diz ter. — Me abaixo e passo por baixo dos seus braços porque já ficamos
próximos demais. — Se eu fosse você viria ou vai ficar sem pizza.
— Ash, quanto mais você me rejeita mais eu fico fascinado. — Gargalho com
suas palavras.
— Uma hora você cansa, capitão. — Dou uma piscadela para ele.
— Você vai entender que, quando eu quero algo, não desisto fácil — rebate
orgulhoso. — Sou um atleta, esqueceu?
— Ah, não, eu não esqueci. — Mostro a língua para ele. — É exatamente por
não esquecer que você deveria desistir.
Saio da cozinha e retorno a sala tentando controlar a respiração e balanço a
cabeça para espantar os pensamentos libidinosos que se passam pela minha mente.
Entro no ambiente e noto que a mesa de centro foi retirada e agora o chão está cheio
de caixa de pizzas espalhadas.
— Estava dando carinho no Marley ou no Connor? — minha prima brinca e eu
estiro o dedo do meio para ela.
— Para o Marley eu dou carinho e para o Connor eu machuco o ego. — Sento-
me ao chão arrancando risada dela.
— Me coloquem dentro das novidades — Destiny pede me olhando e logo fita
Connor se aproximando. — Vocês estão se pegando?
— Não mesmo. — Faço o sinal da cruz.
— Ainda não — ele responde por cima.
— Ela não pega jogadores — Kyle responde sorrindo cafajeste para mim. —
Uma pena porque eu mostraria a ela como seria incrível ela me chamar de asma.
— Ai, meu Deus, lá vem ele com essas cantadas ridículas — Ben bufa.
— Por que eu te chamaria de asma, Kyle? — indago sorrindo já esperando a
próxima cantada.
— Porque eu te deixaria sem ar — responde galanteador.
— Você não existe. — Dobro um pedaço de papel e jogo nele. — Sou vacinada
contra todos os flertes que vocês possuem.
— Meus pêsames — ele responde descarado e eu apenas balanço a cabeça
em negativa.
— Onde está o Bryan? — Liam questiona.
— Ele me mandou uma mensagem dizendo que não viria porque a Cassey
teve um problema familiar.
— Eu ainda não sei quem é essa garota que vocês tanto falam — Kyle avisa.
— Ela é muito legal, mas, assim como eu, não curte atletas.
— Isso até ela me conhecer, Ash — responde convicto. — E você pare de
passar sua regra pelo campus, viu? Ainda tenho muita gatinha para pegar — zomba.
— Então vamos comer ou ficar ouvindo o Kyle falar merda? — Connor
pergunta se jogando ao meu lado.
— Estamos apenas esperando você — Destiny avisa e logo atacamos as
pizzas. Mesmo cheia depois de comer sushi, me delicio com dois pedaços dessa
maravilha. — Ashley, qual curso está fazendo? — ela questiona alguns minutos depois.
— Medicina e você?
— Que legal. Eu estou cursando Moda e sou completamente apaixonada pela
área.
— Eu também, inclusive irei no lar para criança com câncer me voluntariar.
Estou pensando em seguir para a área pediátrica.
— Você vai gostar de lá — Connor comenta.
— Você já foi? — indago e o vejo assentir enquanto ele enfia mais uma fatia de
pizza na boca.
— Ele...
— Quem quer mais refrigerante? — Connor corta a frase do Ben e todos
aceitamos.
— Vou te ajudar a pegar — Liam diz se levantando e os dois seguem para a
cozinha.
Minutos depois, eles retornam e passamos as próximas horas jogando
conversa fora. Falo um pouco sobre como é a Leifield, minha antiga universidade, mas
deixo de fora o meu romance com o Petter. Descubro mais coisas sobre os meninos:
Liam está cursando Física, Kyle Ciência da Computação, e Ben Ciências Contábeis.
Assim como Connor, eles são completamente apaixonados pelo hóquei e todos
pretendem seguir carreira na liga profissional.
— O primeiro jogo vai acontecer em duas semanas e você precisa estar lá —
Connor decreta.
— E quem disse que eu quero ficar em uma arquibancada com um bando de
loucos gritando enquanto outros loucos se batem no gelo? — provoco.
— Deixa de charme, Ash, porque você vai comigo nem que seja amarrada —
Brooke diz.
— É assim que se fala, loirinha. — Liam sorri.
— Vou mandar fazer uma camiseta com o meu nome para você, Ash.
— Que eu saiba, quem usa camiseta com os nomes dos jogadores são
namoradas. — Arqueio as sobrancelhas. — Por acaso está me pedindo em namoro,
Connor? Porque, se for, estou pronta para te dar um belo e sonoro não.
Todos dão risada e eu observo o capitão levemente constrangido enquanto me
encara. No entanto, seu semblante não demora a mudar, e ele logo me lança um
sorriso malicioso.
— Não será um não que você me dará em breve, pode apostar — revida e eu o
fito incrédula.
— Continue sonhando porque é só em sonho que isso irá acontecer — implico
entendendo o duplo sentido da frase.
— Em sonho, já acontece há tempos. — Todos dão risada da nossa interação
ridícula. — Só falta você deixar tornar realidade.
— Cale a boca, Connor. — Desisto de provocá-lo ou passaremos a noite inteira
com resposta de cunho sexual.
Voltamos a falar sobre a temporada e o Connor explica que o primeiro jogo
será em casa contra a faculdade de Detroit. Eles estão confiantes porque já
enfrentaram o time e venceram. A partida sendo em “casa” traz mais ânimo para os
jogadores, porque a torcida vai estar em peso na arena gritando o nome deles.
Agradeço por ninguém perguntar quando foi a última vez que frequentei os
jogos de hóquei e sei que isso é porque eles não querem falar sobre o meu pai, afinal
eles não sabem que eu fui namorada do Petter, capitão do time de hóquei de Leifield,
maior rival da Brisfolk.
Como se pressentisse que estou falando dele, meu celular apita e, quando o
pego, percebo que há uma mensagem não lida.
DESORDEM EMOCIONAL: Você sabe que uma hora ou outra eu vou
descobrir onde está, não é?
Um calafrio percorre meu corpo ao ler sua mensagem. Desde que saí da
universidade e de Nova York, ele vem me ligando e enviando mensagens praticamente
todos os dias. A última vez que atendi foi quando estava no Queens com o pessoal e
acabamos entrando em uma discussão acalorada. Deixei claro para ele me esquecer,
mas o Petter é um babaca mimado que não sabe o que é a porra de um NÃO e ele não
vai sossegar enquanto não descobrir onde estou.
Decidida a acabar com essa merda de uma vez, clico no seu número e o
bloqueio tentando não deixar esse desgraçado estragar a minha noite.
— Ashley? — Ouço meu nome sendo chamado e, quando olho para cima,
percebo que é a Destiny, pois ela me fita.
— Desculpa. — Sorrio sem graça. — Precisei olhar o celular e não escutei o
que você falou.
— Eu disse que precisamos marcar uma noite de meninas.
— Eu iria adorar — digo guardando o celular voltando a atenção para eles.
As insistidas do Petter é um lembrete para eu não me deixar levar pelo sorriso
fácil do Connor, porque eu não o conheço de verdade e tudo que tenho de bagagem
com um atleta me faz querer correr para bem longe dessa casa.
CAPÍTULO 13 - Connor Harrington
Aperto o botão para rejeitar a chamada no instante que sinto ele vibrar em
minhas mãos e tento não suspirar com a insistência daquele babaca. Não adiantou de
absolutamente nada eu bloquear o número do Petter porque, desde ontem, ele
começou a me ligar e enviar mensagens de um novo número pedindo para me
encontrar apenas para conversar e finalmente colocar um fim.
Não sou idiota a esse ponto porque qualquer fim que precisasse ser posto eu já
coloquei no dia que fui até a sua casa quando descobri tudo. Um calafrio percorre meu
corpo quando lembro daquela fatídica tarde e de tudo que descobri.
— Ashley, aqui. — Ouço meu nome ser chamado assim que passo pela porta
do refeitório e mais à frente vejo Brooke, Cassey e Destiny acenando.
Sigo até elas, mas, antes que eu me aproxime, Raven se posta à minha frente
junto com sua fiel escudeira, Allie.
— Oi, Ashley — cumprimenta sorrindo, mas é nítido o quanto o gesto é
forçado.
— Oi, Raven. Allie — cumprimento ambas. — Posso ajudar em algo?
— Então, vai rolar uma festa hoje na fraternidade e você está intimada a ir —
Raven responde.
— Eu adoraria — minto. — Mas tenho um trabalho para fazer e não posso
perder.
— Qual é, garota, a festa vai ser muito melhor e depois é só pedir para alguém
fazer o trabalho para você — Allie responde enrolando uma mecha no cabelo.
— Realmente não vai rolar. — Faço biquinho. — Mas na próxima eu tento ir.
— Você que sabe, mas agora deixa eu ir aproveitar um pouco o meu capitão
porque ele acabou de chegar — Raven diz maliciosa, me fitando e noto que ela frisou o
meu na frase e eu finalmente entendo o porquê dessa interceptação.
Raven não queria me convidar para festa alguma. Ela simplesmente queria
encontrar uma forma de marcar seu território para mostrar que ela está louca para
fisgar o capitão. Sinto uma pontada incômoda no peito, porém apenas abro um sorriso
enquanto observo as duas se afastarem.
Não me viro para constatar que ele realmente chegou e tampouco presenciar
mais uma cena patética de garotas se jogando em cima dele. Connor é apenas alguém
que está se tornando meu amigo e toda essa coisa louca dele querer me levar para a
cama daqui a pouco acaba, pois o que não falta é garota à disposição. Volto a andar e
vejo Oliver acenar para mim da sua mesa mais ao fundo e retribuo.
Talvez sair com ele seja uma boa ideia porque, além de fazer com que o
Connor desencane, eu consigo sair do celibato e esquecer esse desejo insano pelo
capitão. Vamos ver como será nossa aula de estudo hoje e, quem sabe, no final acabe
rolando até algo a mais.
— O que as duas queriam com você? — Brooke indaga assim que me sento ao
seu lado.
— Me convidar para a festa. — Meus olhos traiçoeiros vão direto para a mesa
próximo a entrada e vejo a ruiva sentada no colo do Connor. Ele está de costas para
mim e parece concentrado no que Ben está falando.
— Você vai, né? — Destiny indaga e arregala os olhos quando nego. — Por
quê?
— Ela vai estudar com o Oliver — Brooke responde olhando sobre o ombro
para ele. Ela acena e percebo ele ficar confuso, ainda assim retribui o gesto. — Nunca
tinha notado o quanto ele é gostoso.
— Não pode ser outro dia? — a irmã do Liam pergunta fazendo biquinho.
— Não — nego e olho para Cassey. — Você vai?
— Mas nem que isso fosse a última coisa que existisse no mundo. — Dou
risada da sua expressão de horror. — Estou atolada de trabalho também, inclusive o do
Edward.
— Você faltou no dia que ele passou, né? — Ela assente. — O Bryan também.
— Eu tive uma emergência familiar e ele foi me ajudar. — Noto sua voz vacilar.
— Está tudo bem? — Brooke questiona.
— Sim. Foi só um mal-estar da minha mãe, mas meu pai já falou com o
professor, então estou com os assuntos que perdi.
— Você não é do time de festa? — questiono.
— Não sou do time de atletas. — Sorri. — E quando tenho um tempo livre só
quero poder dormir.
— A Cassey nunca foi em uma festa dos meninos, o que eu particularmente
acho um absurdo — Destiny comenta. — Precisamos mudar isso.
— Não vai rolar — Cassey nega de imediato. — Odeio festas, bebidas, atletas
e meus pais infartariam se descobrissem que fui a uma festa de fraternidade.
— É um saco morar com os pais — Brooke responde. — Graças a Deus, moro
com a Ashley.
— Eu sou a melhor colega de quarto. — Empurro a levemente. — Vocês já
comeram? — As três assentem. — Então, deixa eu ir pegar o meu porque estou
desfalecendo de fome.
Levanto-me e sigo até o buffet preparando uma bandeja para mim voltando
rapidamente para onde elas estão, mas notando que agora temos um integrante a mais
na mesa.
— Acho que você errou de mesa — aviso assim que paro ao lado do Connor.
— Pode sair do meu lugar?
— Pode sentar no meu colo. — Bate na sua coxa e eu reviro os olhos o
fuzilando em seguida. — Está bom, mas você que perde, porque eu sou bem mais fofo
que esse banco.
— Obrigada, mas prefiro coisa dura. Fofo não me atrai — solto e ele abre a
boca chocado enquanto se levanta.
As meninas dão risada e eu me sento sorrindo feito uma idiota também.
— Não acredito que você fez uma piada sobre pau — Connor declara ficando
em pé ao meu lado. — Isso é efeito de estar andando demais comigo, Assassina.
— Realmente. — Levo a comida à boca sentindo meu estômago agradecer. —
Acho que deveríamos deixar de ser amigos.
— Então vocês não se odeiam mais? — Brooke brinca.
— Ela se apaixonou por mim quando andou na moto agarradinha comigo e
cantou no karaokê.
— Ainda não acredito que perdi essa performance — Destiny zomba, porque é
claro que os meninos já contaram para ela.
— Foi mais rápido do que imaginei — Cassey zomba me fitando.
— Ei, eu ainda sou do time que odeio atletas — minto e ela me escrutina com
os olhos semicerrados. — Bom, odiar é uma palavra muito forte.
Cassey joga um pedaço de alface que está no seu prato na minha direção.
— Eles são legais, claro, para conversar e sair, mas não para sentar.
— Isso é o que você pensa — Connor responde no instante que sinto suas
mãos segurarem meus ombros. Quase solto um gemido quando seus dedos ásperos
começam a massagear minha pele.
— Como odiar esse cara quando ele está fazendo massagem em mim? —
murmuro me contorcendo.
— Você é um caso perdido! — Brooke responde e, de soslaio, vejo ela lançar
uma piscadela para o Connor.
— Somos amigos, não é, Connor?
— Isso, apenas amigos — o infeliz concorda dando risada. — Apesar que é
difícil querer ser apenas amigos quando você está praticamente gemendo.
— Você é um sem-vergonha! — declaro dando risada. — É que a massagem
está muito gostosa — justifico.
— Assassina, eu sei fazer outro tipo de massagem e pode apostar que ela é
mil vezes mais gostosa que essa — revida com a voz rouca.
— E como seria essa massagem? — questiono sem pensar e, no mesmo
instante, sinto seu rosto se aproximar do meu ouvido.
— Você quer mesmo saber? — murmura no lóbulo da minha orelha fazendo
uma corrente elétrica passar por cada centímetro de pele. — Ela começa com meu p...
— Não... — Engulo o nó que se forma na minha garganta e travo as pernas. —
Acho melhor não — digo apressada e ouço o risinho dele se afastando.
O som de um celular tocando me arranca do transe e eu fito Cassey e Destiny.
As duas me olham com um semblante de: “você está tão ferrada”. Brooke me belisca
levemente e, quando a olho, ela fecha uma mão e bate com a outra em cima
arrancando risadas de todos, inclusive do capitão que voltou a massagear meus
ombros.
É, eu acho que estou ferrada mesmo!
— Os generais estão me convocando. — A olho confusa e ela percebe. —
Meus pais.
— Ah... A gente se vê na segunda — declaro porque as últimas duas aulas
foram canceladas.
— Se quiser aparecer na festa — Destiny tenta mais uma vez e ela nega
novamente.
Depois de se despedir, Cassey vai em direção ao refeitório e noto Ben e Liam a
cumprimentarem quando ela passa ao lado.
— Por que ela não vem todo dia comer com a gente? — pergunto para
ninguém em específico.
— Os pais a levam para comer em casa — Destiny responde. — Hoje foi uma
exceção, porque parece que teve um problema no carro e isso fez com que se
atrasasse.
— No intervalo? — A morena assente. — Mas são apenas trinta minutos.
— Eles são bem severos — Brooke diz pesarosa. — Ela não fala muito, mas é
nítido que se sente sufocada e presa.
— Que droga! — respondo começando a devorar meu sanduíche.
— Bom, eu vou indo porque ainda tenho aula, treino e mais tarde festa. —
Suspiro quando suas mãos saem da minha pele.
— A gente se encontra lá — Brooke diz animada. — Vou com a Destiny de
carro.
— Você não vai mesmo? — Connor pergunta.
— Não. Vou estudar que ganho muito mais — respondo levando o copo de
suco aos lábios.
— Beleza. — Seu semblante muda. — Vejo vocês depois. — Observo-o se
afastar voltando para onde os meninos estão e logo o quarteto sai do refeitório.
— Por que você não dá logo para ele? — Dou risada quando Destiny pergunta
me olhando.
— Porque não estou a fim. — Dou de ombros.
— Ah, para... — Ela sorri. — Vocês só faltam soltar faíscas quando estão
juntos.
— Isso é verdade — Brooke concorda. — Já falei para ela sentar.
— Obrigada, mas eu passo. — Ergo-me. — Vou dar um pulo para ver o Marley
e depois me jogarei na cama e irei dormir até a hora de encontrar o Oliver na biblioteca.
— Eu vou voltar para aula — minha prima informa. — Não sou sortuda como
você. — Faz careta.
— Eu também tenho aula. — Destiny se levanta e junto com as duas saio do
refeitório. Me despeço delas em frente ao prédio de Humanas e vou para o
estacionamento.
Minutos depois, estou agarrada com Marley sentindo o peito apertar ao
constatar que não vai demorar para ele encontrar um novo lar.
CAPÍTULO 17 - Connor Harrington
Entro na sala de vídeo junto com todos os caras do time e, sentado no enorme
sofá mais à frente, Franklin já está nos esperando. Finalizamos o último treino da
semana e não sei como ainda estamos conseguindo ficar em pé de tanto que nos
exaurimos no gelo. Cada osso do meu corpo está protestando devido a todo o esforço
que fizemos no rinque e na academia. É nítido a dedicação de todos, principalmente
nessa reta final e sei que, assim como eu, os caras estão almejando pelo título de
campeão.
A próxima semana será a última de treinos porque sábado vamos jogar a
primeira partida contra a universidade de Detroit dando início as regionais. Sei que é
um jogo tranquilo, principalmente por ser em casa, ainda assim não podemos vacilar
porque todos os jogos são eliminatórios. Hoje saiu oficialmente o nome dos times
universitários que passaram pela temporada e, quando as rodadas iniciais se
encerrarem, os quatros melhores se enfrentarão na Frozen Four com etapa de
semifinal e final. Não vai ser fácil porque, depois de tantos vídeos assistidos nessa
mesma sala, cheguei à conclusão de que, assim como nós, os outros times também se
prepararam bastante, porém daremos o melhor, o impossível para trazer o título para a
Brisfolk.
Nesse ano, desejo mais do que nunca trazer o melhor para o time, não pela
questão profissional porque essa já está garantida, mas quero que no futuro, quando
alguém lembrar do meu nome, que tenha em mente que eu ajudei o time da
universidade a crescer e se tornar cada vez mais conhecido. Quero que meus colegas
lembrem que eles possuíram um capitão que fez o impossível para o time. Eu amo o
hóquei e quero ser lembrado por tudo que fiz no esporte: da liga universitária até o
profissional.
Eu quero deixar um legado!
— A lista oficial já está disponível. — A voz do treinador arranca-me dos
pensamentos. — Assim como imaginei entrou as melhores universidades, inclusive
Leifield e Lecroft — refere-se às faculdades de Nova York e do Canadá. A última foi
campeã do ano passado. — Não podemos vacilar em nenhum jogo, mas
principalmente quando enfrentarmos elas duas.
— Ontem à noite fiquei revendo alguns jogos anteriores, mas tenho certeza de
que eles estão muito melhores — declaro me jogando no sofá e os caras fazem o
mesmo.
— Conversei com o Lincoln — Tanker diz se referindo ao seu amigo que
estuda na Leifield. — Ele me falou que os The Crows vão vir com tudo — refere-se ao
time de hóquei. — Eles estão com sangue nos olhos pelo título porque não aceitaram a
derrota do ano passado.
É, nós também não aceitamos!
Infelizmente tanto a Brisfolk quanto a Leifield foram eliminadas ainda na rodada
da regional e até hoje não consegui engolir aquele maldito jogo. Os The Crows
perderam feio e sei que isso foi devido às faltas dos jogadores. Petter precisou se
ausentar e parece que um efeito dominó se apossou do time. No jogo que perderam,
eles tinham um capitão e dois defensores a menos e, pelo que assisti, os reservas não
estavam preparados para a temporada.
Infelizmente, nós fomos eliminados pela universidade do Canadá, Lecroft já na
última partida. Foi horrível sentir o gosto da derrota, no entanto, sei que o erro foi todo
nosso. John, antigo capitão, decidiu desistir da liga universitária e se juntar logo ao
profissional pouco antes do início da temporada, o que acabou desestruturando o
nosso time. Para completar, o Ben também parecia a porra de um jogador novato.
Quando juntou tudo, a merda estava feita e voltamos para casa sem o título.
— Eles podem estar com o diabo no couro e, ainda assim, não vencerão. — A
voz grossa de Franklin afirma. — Aquele título é nosso!
— Precisamos focar ainda mais nessa última semana. — Olho para cada
integrante do time. — Quero zero distrações, zero álcool, zero problemas. — Todos
assentem. Até o idiota do Mike. — O último mês, a gente se esforçou pra caralho e eu
vi evolução em cada um de vocês — elogio e eles assentem orgulhosos. —
Precisamos continuar unidos e fazendo o que sabemos de melhor: arrasando no gelo.
— É exatamente isso que eu quero — Franklin completa. — Quero todos
focados assim como o Connor falou.
— Essa vitória é nossa, treinador — Ben afirma convicto.
— Vamos atropelar quem passar na nossa frente e eles sequer perceberão
quem os derrubou! — Kyle brada.
— Ah, eles vão saber sim. — Sorrio esperto. — Quero que, ao final da
temporada, todos saibam o porquê somos conhecidos pelo apelido de Black WildCats.
— Ágeis e velozes como um gato selvagem — Liam declara. — E se a final for
com os idiotas dos The Crows será ainda mais emocionante o gostinho da vitória. —
Meu amigo sorri diabólico e sei que ele ainda não superou a partida que ficou no banco
por causa daqueles imbecis.
— Eles são inescrupulosos — Logan comenta entrando na conversa. — Mas
vamos mostrar a eles que também sabemos jogar usando os métodos deles.
— Sem faltas e expulsões — Franklin pede. — Mas também não quero
ninguém apanhando na porra do meu time — ele completa sorrindo e só então percebo
o quanto o gesto se parece com o da Assassina.
“Droga, não vai para esse lado!”, me recrimino de imediato.
— Outra coisa... — digo e todos voltam a me olhar. — Hoje tem uma festa na
fraternidade. — Noto Franklin cruzar os braços. — Acredito que a maioria estará lá,
mas volto a reforçar que não quero problemas com nenhum de vocês. E essa é a
última festa até a temporada, ouviram? — Eles assentem.
— Próxima semana é zero álcool — o treinador reforça mais uma vez. — Estão
dispensados, menos você, Connor. — Assinto e, enquanto os caras se despedem,
aproveito para olhar meu celular notando que tem uma mensagem do meu primo.
BRYAN: Vou visitar a mãe amanhã e volto no domingo. Arrume suas malas.
EU: E quem disse que eu vou?
Envio e, no mesmo instante, ele visualiza.
BRYAN:Eu estou dizendo. É inegociável e sei que está morrendo de saudades
da velha e da Colleen.
É, eu realmente estou com saudades de ambas e por elas até vale a pena o
estresse de conviver com meu pai por mais de vinte e quatro horas.
EU: Nos encontramos hoje na festa e você dorme lá em casa.
BRYAN: Beleza.
— Connor — o treinador me chama e eu guardo o celular voltando para onde
estava. — Queria parabenizá-lo.
— Não precisa — digo um pouco sem jeito.
— Não sou de rasgar elogios, mas seu desempenho como capitão está
excelente. Não me resta dúvidas de que você tem uma carreira brilhante pelo Bruins.
— Obrigado, treinador. É uma honra para mim ouvir isso vindo do senhor.
— Continue com essa disciplina e dedicação. — Ele coloca a mão no meu
ombro. — Você é um garoto de ouro. Ficarei orgulhoso em poder dizer que eu o treinei
quando estourar no profissional.
— Seu nome será sempre dito em todos os lugares. — Ele assente.
— Vá aproveitar sua festa, mas lembre-se que é sem exageros — avisa dando
uma tapinha e logo se afasta.
— Até segunda! — Pego minha mochila e saio da sala o deixando para trás.
Eu tenho uma festa para ir e uma garota para esquecer!
Passo pela porta da fraternidade algumas horas depois notando que a sala já
está completamente lotada de garotos e garotas. O jogo de luz que instalou mais cedo
traz a sensação de boate para o ambiente e noto que todos os móveis foram afastados
para o canto das paredes formando assim uma enorme pista de dança ao meio. As
pessoas dançam, conversam e se pegam por todo lugar.
Caminho me desvencilhando das pessoas reconhecendo a maioria delas.
Cumprimento alguns caras enquanto atravesso a sala indo em direção à área externa
onde instalei mais cedo com o Kyle três barris grandes recheado com cerveja. Assim
que passo pela porta dos fundos percebo que a área externa está menos
movimentada.
Procuro a turma e os encontro próximo a churrasqueira. Sigo até eles e,
quando me aproximo, Brooke é a primeira a me notar.
— Pensei que não viria — brinca me entregando um copo de chope.
— Estava arrumando minha mochila porque amanhã viajo.
— Eu passei por lá antes de vir e deixei a minha bolsa — Bryan comenta.
— Eu a vi jogada no meio da sala. — Dou um leve tapa na sua cabeça.
— Estava apressado — se justifica e eu semicerro os olhos para que entenda
que sei que está mentindo.
Bryan é a bagunça em forma de pessoa!
— Liam e Kyle, aproveitem, mas sem exageros — aviso e os dois batem
continência.
— O primeiro jogo acontece no sábado, não é? — Beth questiona e eu assinto.
— Meu Deus, estou tão animada para essa temporada.
— Ah, não me fala porque eu estou em êxtase também — declaro me
recostando à mesa de sinuca. — Estamos treinando feito loucos e estou vendo uma
evolução foda no time. A esperança do título brilha na minha mente vinte e quatro
horas por dia.
— Cara, é nosso, esse campeonato é nosso e ninguém tira — Kyle declara
firme.
— Esse ano teremos até danças novas nas líderes de torcidas — Beth bate
palminhas. — A Raven pode ser chata, mas ela como capitã das meninas fez sucesso.
— Os Black WildCats serão a sensação do momento — Liam declara
orgulhoso. — Quero todo mundo gritando a porra do nosso nome.
— Precisamos vencer todas as partidas e chegar no Frozen Four — digo
levando a cerveja aos lábios. — A maior aposta é que os The Crows peguem a
semifinal contra Denver e vença.
— O que nos levará a disputar a final com aqueles ogros — Logan comenta se
aproximando.
— De todos os times que foram escalados, eles são a nossa maior
preocupação — aviso. — Somos fodas, mas ouvi vários boatos de que eles estão muito
melhor que ano passado.
— Não se esqueçam de que a Lecroft venceu ano passado — Bethany declara.
— Eles também são perigosos.
— Isso e verdade. Não podemos bobear — Brooke concorda.
— Não tenho dúvidas de que o gato vai engolir os pássaros — Liam decreta
firme fazendo referência ao apelido do nosso time e o da Leifeid.
— É nosso! — digo e todos assentem. — Mas agora vamos jogar porque eu
preciso distrair a cabeça.
— Relaxa, capitão, e vá buscar alguma gatinha para desestressar — Bethany
diz. — Falando em gatinha, a Ash não vem mesmo? — bufo quando ela pergunta
trazendo justamente para a conversa quem eu preciso esquecer.
— Não, e quer saber eu não a julgo — Brooke responde levando a cerveja até
os lábios e observo ela me fitar. — O Oliver é um gostoso e, provavelmente, eles irão é
se pegar no meio daquelas prateleiras.
Um nó se forma na minha garganta e eu seguro o taco com mais força que o
necessário sentindo os ossos da mão doer, porém tento não demonstrar.
— Eu também não negaria ajuda daquele espécime maravilhoso. — Beth se
abana.
— Me coloquem dentro do assunto — Kyle pede curioso.
— A Ashley não vem à festa porque foi para um encontro com Oliver.
— Não é um encontro. — Noto meu tom de voz sair ríspido. No mesmo
instante. todos eles me fitam. — Ela disse que era apenas uma ajuda no trabalho de
Biologia. — Tento suavizar a voz.
— E você acreditou? — Liam indaga e percebo ele segurar o riso. — Nesse
momento, ela já deve estar é analisando outra biologia.
Cenas da Assassina se agarrando com aquele idiota começam a cruzar minha
mente e sinto um novo sentimento se apossando do meu corpo. Um que eu não quero
analisar porque não é nada bom.
— Podem começar a rodada. — Praticamente jogo o taco em cima da mesa de
sinuca. — Vou ver se encontro a Raven, porque falei que a iria procurar quando
chegasse.
— Sabe, eu acredito que ainda não chegou na parte de ela examinar a
anatomia do Oliver. — Fuzilo a Brooke. — Se você correr, ainda dá tempo de
atrapalhar.
— Hã, até parece que eu vou fazer isso. Ela não é nada minha! — resmungo.
Me afasto deles sentindo meu sangue borbulhar de raiva e volto para dentro da
casa tentando encontrar alguma garota que arranque aquela Assassina da minha
mente. Assim que saí da arena, eu fui para casa e, durante todo o maldito tempo que
me arrumava para vir à festa, eu fazia o impossível para não me lembrar da droga
desse trabalho em dupla. Desviei a porcaria do caminho para não cair em tentação e
acabar indo até o dormitório dela. Eu fiz de tudo e jurava que estava tranquilo até
chegar aqui e escutar essas merdas!
Não é um encontro!
E se for, eu não tenho nada a ver com isso, caralho!
Passo meus olhos pela sala lotada e vejo Allie se agarrando com um cara do
time de futebol próximo a escada e mais à frente Raven conversa animadamente com o
Tanker. Decido não atrapalhar e, quando olho para a direita, vejo uma garota que
participa de algumas aulas de designer comigo, inclusive transamos no início do ano
passado no beco ao lado do Queens. Não me orgulho desse feito, porém eu estava
totalmente alcoolizado e energizado pela vitória do jogo que vencemos naquela noite.
Me aproximo tentando lembrar o seu nome: Hanna, Ana... Droga, sequer sei o
nome dela, mas foda-se.
— Oi... — a cumprimento assim que me aproximo e ela arqueia as
sobrancelhas parecendo surpresa.
— Oi, Connor. — Sua atenção, que antes estava no celular, agora se
concentra exclusivamente em mim.
— Não está gostando da festa? — indago tentando iniciar uma conversa.
— Para mim está maravilhosa. — Ela sorri. — E para você?
— Acabou de ficar muito melhor. — Aproximo-me, porém ela coloca a mão no
meu tórax impedindo-me de me aproximar.
— Não vai rolar — responde e eu me afasto um pouco.
— Ana...
— Meu nome não é Ana. — Cruza os braços.
— Hanna.
— Meu Deus, você ao menos se lembra de alguma coisa naquela noite? — Ela
parece realmente ofendida.
— Desculpa. — Sou sincero. — Eu estava bêbado e já tem um tempo.
— E por que veio falar comigo? — Abro a boca, mas ela me interrompe. —
Deixa eu adivinhar: você quer trepar e me viu fácil aqui parada, então pensou que seria
rápido para eu me jogar nos seus braços.
— Não é bem isso — digo, porém o olhar dela já deixa claro que ela sabe que
é exatamente isso.
— Connor, estou acompanhada. — Ela olha sobre o meu ombro e vejo um cara
se aproximando segurando dois copos de cerveja.
Mas que porra de universo filha da puta! O acompanhante dela é ninguém
menos que Patrick, irmão do idiota do Oliver.
— E aí, cara — ele me cumprimenta e eu retribuo. — Vocês se conhecem? —
Ele entrega a bebida para a namorada.
— Só de vista — ela responde e eu entendo que essa é a minha deixa de não
comentar que a vista é ela de costa para mim enquanto eu entrava dentro dela em um
beco mal iluminado.
— Eu só vim perguntar a ela sobre o Oliver — minto com a primeira desculpa
que vem à mente.
— Ah, ele foi fazer um trabalho com uma colega. — Sorri animado. — Estava
todo animado e passou umas duas horas se arrumando.
— Acho que ele mentiu para a gente. — A garota sorri enquanto beberica a
cerveja. — Pela forma ansiosa que estava e o tanto de perfume que passou, tenho
certeza de que é um encontro.
“Caralho, não é um encontro!”, grito mentalmente, porém, dessa vez, me
controlo para não explodir.
— Bom, eu vou indo! — aviso já me afastando, porém a voz dela me para:
— Connor... — Eu volto a fitá-la. — Meu nome é Savannah.
— Até mais, Savannah. — Giro nos calcanhares e atravesso a sala em questão
de segundos, pouco me importando nas pessoas que acabo esbarrando no caminho.
Saio da fraternidade como um vulcão deixando o monstrinho que está no meu
ombro vencer. Entro no carro no automático e sigo em direção à biblioteca preste a
fazer a maior burrice da minha vida ou seria a melhor decisão?
CAPÍTULO 18 - Ashley Moore
Ele tem um cheiro adocicado que está atacando uma sinusite que eu sequer
sabia que tinha, porém, nos últimos três espirros, eu dei como desculpa a poeira da
biblioteca, mas sei que é o excesso de perfume que trouxe à tona a alergia porque eu
cheguei meia hora antes dele e não senti nenhuma coceirinha enquanto separava
alguns dos livros que iríamos precisar.
Observo Oliver concentrado no material à sua frente enquanto pesquisa mais
um tópico para o nosso trabalho e confesso que, tirando o excesso da colônia, ele é
uma ótima companhia e olha que estamos envolvidos em uma matéria que eu odeio.
Chegamos já tem pouco mais de uma hora e de início ficamos conversando um pouco
enquanto nos organizávamos. Descobri que ele sonha em ser cirurgião assim como
sua mãe e que seu pai é médico ortopedista. Seu irmão, diferente da família, está
cursando música e sonha em trabalhar no ramo, porque é apaixonado por tudo que
envolve o universo musical. Ele também tem uma irmã de cinco anos, que é a coisa
mais fofa do mundo com as sardas por todo o rosto. Ele me mostrou diversas fotos e
eu fiquei encantada. Além de lindo, gostoso, educado e gentil, Oliver parece vir de uma
família maravilhosa e acolhedora.
Sério, se eu falar dele para a minha mãe ela aparece no campus em dois
segundos para marcar o nosso casamento. No entanto, apesar de todas essas
qualidades, eu não consigo sentir aquele comichão na pele quando nossas mãos se
tocaram na hora que fui pegar a caneta e muito menos o frio na barriga quando ele
sorriu de lado e ajeitou os óculos.
— O professor está tentando nos punir. — Ele suspira voltando a me fitar. —
Não encontro a informação em lugar nenhum nesse livro e no Google só aparece
matérias rasas.
— Vou dar mais uma olhada nas prateleiras enquanto você procura nesse
vermelho aqui. — Estendo o livro e ele o segura.
Sinto como se alguém estivesse me olhando, mas, quando olho ao redor, só
vejo as duas garotas que chegaram pouco tempo depois de nós na mesa mais à frente.
Estranho, porém decido não começar com paranoia e volto a olhar para Oliver.
— Você quer ajuda? — Ele segura o livro, nossas mãos se encontram e seu
polegar vem para a minha pele. É fofo notar que ele acaricia ao mesmo tempo que fica
vermelho.
— Você já está me ajudando demais. — Não afasto minha mão, pelo contrário,
a viro e ele coloca a sua em cima. — Obrigada mesmo por essa força. — Aperto a sua
mão e ele sorri.
— Não é nada de mais. — Tenho a mesma impressão de há pouco, mas,
quando olho ao redor, dessa vez tenho quase certeza de que vejo alguém entrando no
meio das prateleiras. — Bom, vou procurar o volume dois dessa belezura. — Indico o
livro vermelho.
— E eu vou pesquisar nele — diz já abrindo-o e eu me levanto da cadeira
sentindo a coluna protestar depois de tanto tempo sentada.
Sigo até as altas prateleiras marrons procurando novamente a seção onde
ficam os livros de anatomia. O cheiro de livro invade minhas narinas, no entanto, não
espirro e agradeço aos céus por isso. O ambiente está iluminado e no mais puro
silêncio enquanto passeio no vão entre as estantes. Encontro a seção que procuro,
entretanto, percebo que os livros ficam na parte de cima e que quem pegou os
primeiros foi o Oliver.
Suspiro frustrada, mas, como não quero incomodá-lo mais do que já fiz, me
estico um pouco ficando na ponta do pé para ver se consigo alcançar, mas fica nítido
que sou baixinha demais para tal ação. Estou prestes a desistir quando um corpo
encosta no meu e, no mesmo instante, meu corpo retesa sentindo o pânico começar a
me dominar.
— Deixa eu pegar para você, Assassina. — O tom de voz conhecida traz o
alívio imediato e observo o braço se esticar e pegar o exemplar sem esforços. — Todo
seu!
Viro-me de frente fitando um Connor ofegante e me olhando de volta. Nossos
corpos estão tão próximos que consigo sentir o perfume amadeirado misturado ao
cheiro de cerveja. Perco alguns segundos tentando entender por que diabos o meu
corpo reage de imediato a ele. Nesse momento, parece que meu coração vai saltar
para fora do peito, e minhas pernas ameaçam perder as forças.
— O que você está fazendo aqui? — sussurro pegando o livro que ele estende
em minha direção.
— Não sei. — Semicerro os olhos confusa com suas palavras. Ele olha para os
lados parecendo procurar as palavras certas, porém logo volta a me fitar. — Eu não
consigo tirar você da porra da minha cabeça, Ash. — Sua sinceridade me pega
desprevenida.
Olho ao redor notando que estamos apenas nós dois no corredor. Porra, como
que resiste a esse homem tão próximo e exalando desejo?
— Connor... — começo, mas ele traz seus dedos até os meus lábios.
Minha respiração falha quando ele chega ainda mais próximo quase fundindo
nossos corpos. Ele sabe o efeito que causa em mim porque suas pupilas se dilatam.
— Eu não consigo mais... — murmura e seu polegar começa a passear pelos
meus lábios. — Eu estou ansiando para sentir o seu gosto, Assassina, desde a noite
que você me atropelou. Desde o instante que meus olhos pousaram em você!
— E... eu não saio com atletas — o lembro e seu polegar agora sobe pela
minha bochecha. É um carinho tão desnorteante e que grita com o seu olhar predador.
— Uma vez... Me deixa provar você uma vez e, então, a gente finge que não
aconteceu. — Meu coração acelera. — Ou me diz que não sente nenhuma vontade e
eu desisto de você de uma vez por todas, mas se existir algum desejo aí deixa isso
acontecer.
— O Oliver está me esperando. — Deixo a razão falar mais alto e noto ele
trincar o maxilar.
— Me diz que sentiu pelo menos uma faísca quando ele tocou sua mão.
— Você estava me vigiando. — Não é uma pergunta e ele sabe disso. Foi a
presença dele que senti. — Não sou nada sua, Connor, então pare de tentar marcar
território.
— Ele não tem chance alguma com você — murmura convencido baixando seu
rosto até o vão do meu pescoço. — Ele não faz sua pele arrepiar. — Odeio que ele
saiba o quanto me afeta. — Ele não faz seu coração bater descompassado. — Minha
boca fica seca quando sua língua toca minha pele desnuda. — Ele não faz você ansiar
por um beijo, Ash.
— V... você... — Droga de respiração. — Você precisa ir embora.
— Preciso? — Seguro seus braços quando ele lambe da minha clavícula até o
lóbulo da minha orelha. — Então por que você está me segurando? — murmura rouco
e traz seu rosto para o meu. O livro cai no chão no mesmo instante e um arrepio sobe
pela minha coluna. — Eu vou te beijar.
Não tenho tempo de negar e, se possuísse esse tempo, eu jamais negaria,
porque o que vejo nas suas íris escuras é o suficiente para entender que ele não vai
desistir, pior, que eu anseio desde o primeiro dia que o vi. Ansiei para que ele não
desistisse porque eu quero o Connor tanto quanto ele me quer. Porque meu corpo
reage a ele como nunca reagiu a ninguém e se eu pensei que ele seria um problema
antes de tê-lo só agora eu tenho proporção do problema a qual estou me enfiando até o
pescoço.
O ambiente está impregnado de tensão e antecipação quando ele aproxima
lentamente seu rosto do meu. Seus olhos faiscando em chamas se misturam aos meus
que ardem em desejo. Connor não tem pressa e se aproxima como se estivesse
calculando cada movimento para aumentar a intensidade do momento.
Quando, enfim, sua boca gruda na minha tudo ao redor desaparece. O beijo
começa lentamente, os lábios explorando um ao outro, explorando a textura e o sabor.
Um gemido involuntário escapa quando sua língua procura a minha e isso parece ser o
combustível para que tudo se intensifique. Connor segura minha nuca e me puxa pela
cintura com a mão livre enquanto aprofunda o beijo. Nossas línguas agora famintas
duelam em um beijo ardente, entrelaçando-se em algo volátil e carregado de desejo.
Minha mão afoita e curiosa entra na sua camisa enquanto ele explora minha
lombar e a lateral das minhas coxas passeando por minhas curvas. Cada toque é como
uma corrente elétrica que passeia pelo meu corpo indo em direção da minha boceta
que lateja implorando por um toque, uma carícia.
Sinto a respiração implorar para ser concluída e só então desgrudo minha boca
da sua notando o quanto ambos estamos ofegantes e com os olhos faiscando. Connor
me fita fascinado enquanto eu tento raciocinar direito depois dele roubar
completamente meu fôlego e minha sanidade com apenas um beijo.
— Eu estou fodido! — Três palavrinhas que refletem exatamente o que eu
estou pensando.
Não, Connor, você não está fodido, mas eu sim!
— É... — Engulo o gosto amargo que se alojou na minha garganta. — Isso não
deveria ter acontecido.
— Isso foi a melhor coisa que aconteceu. — Ele traz sua mão até o meu
queixo, o segurando lentamente. — Estou viciado em você.
— Ashley? — A voz de Oliver faz com que eu arregale os olhos percebendo
que esqueci completamente dele.
— Droga, você precisa ir! — Empurro Connor para o final do corredor sentindo
o pânico querer me dominar.
— Assassina... — começa, mas eu o corto.
— É, sério, não quero responder perguntas e se ele vir você aqui pode pensar
besteira.
— Você falou que não era um encontro. — Seu semblante antes desejoso
agora está duro.
— Não é, mas...
— Beleza, já entendi. — Sinto uma pontada no peito ao ver sua expressão
magoada. — Eu ganho o beijo escondido, mas quem ganha o encontro para todos
verem é ele?
— Não é um en... — Não tenho tempo de finalizar a frase porque ele me deixa
sozinha e sai pisando duro.
Ele vira para a direita no momento que Oliver entra na seção que estávamos.
— Aí está você. Se perdeu? — Ouço a voz do Oliver segundos depois e,
quando me viro, o vejo se abaixar para pegar o livro. — Está tudo bem?
— Sim... — Forço um sorriso e tento engolir o bolo que se formou na minha
garganta devido a forma que o Connor saiu. — Eu pensei ter escutado alguém me
chamando e vim olhar, mas foi só impressão.
— Por que o livro estava no chão?
“Porque eu estava me agarrando loucamente com o único cara que eu prometi
não pegar”, penso, mas claro que não digo em voz alta.
— Eu estava tentando pegar e acabei derrubando na hora que pensei que
alguém me chamou.
— Ah, vamos voltar? — indaga e eu assinto. Faço o caminho de volta até a
mesa e nos sentamos de frente um para o outro. — Olha, acho que encontrei a
resposta. — Ele aponta para o início do texto e eu tento prestar atenção enquanto ele
lê o parágrafo, no entanto minha mente traiçoeira não deixa.
Controlo a vontade de passar o dedo sobre os lábios e ainda posso sentir a
textura dos lábios do capitão colado aos meus. Seu beijo tinha gosto de cerveja e
nunca imaginei que aprovaria tanto um sabor. Sinto minha pele formigar só com a
lembrança e sei que estou completamente ferrada, porque agora será ainda mais difícil
de resistir a ele. Seu toque no meu corpo, seu cheiro, seus lábios no meu. As
sensações ficam indo e vindo me deixando desnorteada.
— Ashley, está me ouvindo? — Saio do transe quando ouço Oliver me chamar.
— Desculpa. — Tenho a decência de ficar envergonhada. — Me dá cinco
minutos? Vou no banheiro jogar uma água no rosto porque o sono está chegando.
— Quer parar?
— Só se você quiser.
— Acho melhor terminarmos logo e aí ficamos livres.
Concordo já me levantando.
— Volto rapidinho.
Ele assente pegando o celular e eu saio praticamente correndo em direção ao
banheiro.
Assim que passo pela porta vou em direção à cuba, abro a torneira fazendo
uma concha com as mãos jogando a água no rosto três vezes. Não para acordar do
sono, mas sim das lembranças de agora há pouco que voltam a me invadir.
Não sei como o Oliver não percebeu porque meus lábios estão levemente
inchados e rosados. Fecho os olhos deixando as sensações me dominarem, porém me
forço a abrir e pego o celular no bolso da calça jeans.
EU: Eu pensei que já tinha feito merda na minha vida, mas entendi que acabei
de fazer a maior delas. Uma única regra eu tinha e, na primeira oportunidade, eu a
joguei para a puta que pariu!
BROOKE: Vou precisar levar uma pá e um saco preto?
A resposta da minha prima vem poucos segundos depois e eu dou risada.
EU: Não matei ninguém!
BROOKE: Então deixa eu adivinhar: um certo capitão apareceu na sua aula de
estudos e você não resistiu?
Arregalo os olhos!
Meu Deus, ele já contou para todo mundo? Meu peito dói enquanto eu digito
furiosamente.
EU: Que ele é um galinha eu já sabia, mas contador de vantagem? Que ódio!
Não acredito que ele já está espalhando.
BROOKE: Eiii, calma!
A mensagem chega e, quando vejo que ela segue digitando, recosto me no
mármore e espero, porém não é uma mensagem que chega e sim uma ligação.
— Ele não falou nada. Na verdade, não o vejo já tem um tempo. Só “adivinhei’’
porque, quando ele estava na festa, eu posso ter provocado ele — dispara apressada e
ouço o som alto ao fundo deixando claro que ela ainda está na festa.
— Não estou entendendo porra nenhuma.
— Connor chegou na festa e eu falei que você estava com Oliver. Os meninos
entraram na onda. Resumindo: ele saiu puto de perto da gente.
Droga, frio na barriga!
— Sério?
— Sim... — ela grita. — Ele não é de sair falando com quem sai. — Solto o
suspiro que sequer percebi que estava preso. — Te encontro amanhã e quero
detalhes.
— Onde você vai dormir?
— Na fraternidade mesmo.
— Está certo. Beijos e não fala para ninguém.
— Sou um túmulo! — grita e desliga a chamada.
Volto a me fitar, forço um sorriso e volto para a mesa, porém estaco no lugar
quando encontro ela vazia. Os livros estão arrumados e, quando me aproximo, vejo um
bilhete.
Aconteceu um imprevisto e eu tive que sair, mas consegui fechar o último
tópico e deixei dentro da sua agenda.
Oliver.
Estranho o porquê de ele não ter ao menos me esperado e começo a me
culpar por ter passado tanto tempo no banheiro, porém pego minha mochila e levo os
dois livros para a menina que fica na entrada porque não consigo guardá-los. Depois
de entregar, saio da biblioteca e vou direto para o dormitório andando porque vim sem
carro e, nesse momento, preciso do ar puro para colocar as ideias no lugar.
CAPÍTULO 19 - Connor Harrington
O quarto está imerso em uma penumbra suave com apenas feixes de luz
entrando pelas cortinas entreabertas. O silêncio da noite me abraça junto com o
ronrono de Marley, ainda assim, ambos não são suficientes para me fazer dormir e
conseguir tirar as últimas horas da mente.
Fito o teto tentando a todo custo dormir, porém minha mente teima em ficar
voltando para o beijo.
O maldito beijo que não saiu um segundo sequer de dentro da minha cabeça.
O beijo que está enraizado dentro de cada célula do meu corpo.
O beijo que me deixou ansiando por mais e mais.
Cada toque, cheiro, gemido está se repetindo dentro da minha cabeça e me
considero um verdadeiro guerreiro por ter conseguido sair daquela biblioteca quando
tudo o que eu queria era imprensar a Ash entre as prateleiras e fodê-la até que juntos
esquecêssemos os nossos próprios nomes. No fim, eu sei que só consegui sair porque
dei o meu jeito para que ela voltasse sozinha para o dormitório.
Talvez ela me odeie um pouco pelo que fiz, mas nesse momento estou pouco
me fodendo, porque eu não suportaria voltar para casa sabendo que ela estaria com
aquele idiota.
Era para ser apenas um beijo. Algo rápido para colocar um fim nesse desejo
latente, mas tudo o que aconteceu foi piorar a ânsia que tenho por ela e nem fodendo
eu ficarei sem prová-la novamente. Suspiro profundamente, fechando os olhos na vazia
esperança de acalmar os pensamentos. No entanto, a imagem dela completamente
entregue, com os lábios vermelhos e inchados após o beijo me acertam precisamente.
Não sei o que está acontecendo comigo, porque nunca fiquei dessa forma só
por causa de um beijo e não deveria estar dando tanta importância, afinal não preciso
de distrações preste a iniciar os jogos. Decidido a não me torturar mais e esquecer
isso, volto a fechar os olhos com força, virando-me de lado, abraçando o cachorro
folgado que, desde que chegou, se impregnou no meu colchão. Marley se remexe e eu
o aperto um pouco mais percebendo o quanto ele cresceu nas últimas semanas e que
muito em breve seu espaço na cama voltará a ficar vazio.
— Por que eu deixei você ficar aqui mesmo? — indago para ele baixinho. —
Ah, porque eu queria levar sua dona para a cama. — Sorrio feito um idiota. — Mas não
é que você não é tão endemoniado e eu até comecei a gostar de você?
Ele se remexe mais uma vez e com medo de acordá-lo me obrigo a parar com
a loucura de ficar conversando com um cachorro na madrugada. Aconchego-me nele e
fecho os olhos pela milésima vez decidido a, dessa vez, não deixar os pensamentos
me atropelarem porque, em algumas horas, precisarei estar no aeroporto.
Assim que cheguei em casa e peguei o celular, notei que tinha uma mensagem
do Bryan perguntando onde eu estava e eu respondi avisando que já tinha chegado em
casa. Meia hora depois, ele passou pela porta, entretanto, fingi que já estava dormindo
porque não queria responder um questionário da minha súbita explosão na festa,
principalmente do porquê eu sumir logo em seguida.
Estico o braço pegando o aparelho celular e, depois de ativar os alarmes,
respiro fundo me forçando a dormir. Não sei quanto tempo demoro para apagar, mas a
última imagem que vem à minha mente é a Assassina completamente ofegante depois
do nosso beijo.
O carro passa pelo caminho de pedra e para em frente à mansão dos meus
pais. Olho pelo vidro notando que nada mudou desde a última vez que vim até aqui. Ela
ainda parece perfeitamente intocável com seus imponentes dois andares, janelas de
vidros e portas tão altas, que é impossível que algum ser humano consiga tocar o topo
dela.
— Obrigado, Russel — agradeço o novo motorista da família e ele apenas
assente contido nos fitando pelo retrovisor.
— Nossa volta ficou para amanhã à noite — Bryan avisa abrindo a porta do
carro.
— Dona Audrey me comunicou e estarei aqui às oito para levá-los ao aeroporto
— informa e juntos descemos do veículo.
Pego a única mochila que decidi trazer e meu primo faz o mesmo.
— Bom, primeiro eu vou ver minha mãe e o pai — avisa quando Russel se
afasta e eu assinto. — Provavelmente, à noite estaremos todos reunidos.
— É, com toda certeza sim. — Dou um tapa no seu ombro. — Manda um beijo
para a tia e diz que mais tarde a vejo.
— Mando sim. — Ele começa a se afastar, mas logo volta a me fitar. — Tenta
não cair nas provocações do todo-poderoso — pede se referindo ao meu pai.
Bryan colocou esse apelido quando ainda éramos crianças e víamos meu pai
todo autoritário gritando e delegando ordens pelo telefone. Desde então, ele sempre
opta por chamá-lo assim, claro, sem que o mesmo ouça.
Meu pai se tornou referência na arquitetura da Califórnia e sei que o único que
está acima dele é o escritório dos Coleman, inclusive um dos seus maiores rivais no
meio empresarial. Sinto um calafrio me percorrer ao sequer cogitar a possibilidade de
trabalhar com o meu pai. Preciso crescer cada vez mais no hóquei e continuar me
dedicando é a chave do sucesso.
— Eu vou tentar — aviso e observo ele se afastar indo em direção à mansão
ao lado.
Bryan é filho único e seu pai é incrível e o oposto do meu. Minha tia, assim
como a minha mãe, é uma mulher amável e carinhosa. Meu primo é um cara sortudo
pra caralho! Respiro fundo e subo os degraus que leva até a porta e, assim que coloco
a mão no trinco, ela é aberta de prontidão.
— Olha, ele lembrou que tem família. — Sorrio sentindo meu coração acelerar
quando minha irmã me fita toda sorridente.
Seus cabelos loiros estão mais curtos do que a última vez que a vi. Os olhos
claros, herança de nossa mãe, continuam com o mesmo brilho. O sorriso acolhedor
mostrando a covinha no canto esquerdo da boca são sua marca registrada.
— Também estava com saudades de você, Leen. — Ela geme com o apelido,
porém me puxa para um abraço.
O apelido é a forma como eu a chamava quando éramos crianças, porque
demorei a aprender a pronúncia correta do seu nome e, desde então, sempre que
posso, gosto de chamá-la assim porque ela finge ficar brava quando na verdade sei
que acha fofo.
Colleen é quatro anos mais velha do que os meus vinte e dois e arquiteta
formada, inclusive trabalha na empresa da família e se tornou o orgulho do nosso pai.
Sempre fomos muito apegados um ao outro e, desde que tenho lembranças, ela esteve
do meu lado, inclusive quando eu decidi que não iria me juntar a ela na empresa e,
principalmente, na minha carreira. No meu primeiro jogo, ela estava na arquibancada
gritando meu nome e sempre que está livre do trabalho ela marca presença para torcer
por mim.
— Vamos entrar porque a mamãe está louca de saudades — diz abrindo
espaço para que eu entre.
— Ela sabe que eu cheguei? — questiono.
— Não — nega e juntos adentramos a sala gigantesca. Os tons claros
predominando o ambiente trazem uma sensação de tranquilidade e até sinto um pouco
de falta daqui. Só um pouco. — Ela está no banho — avisa.
— Vou colocar minha mochila no meu quarto.
— Eu vou com você. — Ela engancha seu braço no meu e juntos seguimos em
direção a escada. — Então, quais são as novidades? — questiona curiosa.
— Treino, estudos, treino, estudos — respondo enquanto subimos os degraus.
— O primeiro jogo da temporada será no sábado, então estamos treinando feito loucos.
— Queria tanto conseguir ir. — Olho de lado e vejo seu semblante pesaroso. —
Mas tenho uma viagem de negócios em New Orleans porque preciso fechar um
contrato importantíssimo.
— Não se preocupa — a tranquilizo assim que seguro a maçaneta da porta. —
Esse é apenas o primeiro jogo. Você tenta ir nos próximos.
— Queria poder ir em todos — ela diz se jogando na minha cama assim que
adentramos o quarto. — Amo ver você jogar.
— Você deve gostar é de me ver apanhando — caçoo.
— Também. — Finjo incredulidade enquanto olho ao redor observando que
meu quarto continua da mesma forma. — É bom, porque meio que me sinto vingada
pelas vezes que você me deu trabalho.
— Ei, eu sou o irmão mais quieto de todo o universo. — Volto a olhá-la. — Mas
sério. — Me aproximo dela. — Também queria que você estivesse em todos, mas
entendo que a vida adulta chegou e você está aí cheia de responsabilidades.
— Está me chamando de velha? — Franze as sobrancelhas.
— Você que está dizendo. — Dou de ombros sorrindo.
— Pode ficar zombando de mim, mas daqui a menos de dois anos será você
atolado de trabalhos e compromissos.
— Estou ansiando por isso. — Jogo a mochila em cima da poltrona e pulo na
cama deixando a maciez do colchão me abraçar.
— Acho que o papai finalmente está começando a aceitar que você não vai
para a empresa. — Suas palavras me surpreendem e eu me inclino a fitando.
— Como assim?
— Escutei ele conversando com a mamãe que vai morrer e não vai te ver
cuidando do escritório.
— Não estava com ódio? — indago confuso.
— Não. Era mais como resignado, sabe? — Assinto. — Ele seria muito burro
em não ver o seu amor pelo esporte, Connor.
— Torço para que isso aconteça e a gente consiga parar de se estranhar toda
vez que nos encontramos. — Sou sincero em cada palavra.
— Eu também, porque é um saco ficar entre vocês dois.
Eu a entendo, porque diferente da minha relação com nosso pai a dela com ele
é muito boa. Não sei se porque ela foi a primeira filha ou porque sempre gostou e deu
indícios de que seguiria os caminhos do velho. Apesar disso, ela sempre foi muito justa
e, antes mesmo da nossa mãe ficar ao meu lado, ela deixou claro que me apoiaria em
qualquer decisão. Foi justamente ela que me ajudou com tudo para a mudança e na
entrada da Brisfolk.
— Ele está trabalhando hoje? — pergunto e ela nega.
— Infelizmente precisou viajar ontem à noite. — Odeio sentir alívio ao escutar
suas palavras, principalmente depois do que ela me disse há pouco. — Só volta na
terça, então vocês não vão se encontrar.
— Colleen... — A voz da minha mãe me impede de responder e eu apenas
meneio a cabeça assentindo. Ergo-me rapidamente da cama e corro para me esconder
atrás da porta. — O que está fazendo no quarto do Connor? — Sua voz está tão
próxima, que sei que ela está parada na porta. Seu perfume de rosas a entrega na
mesma hora.
— Ora, porque ela estava matando as saudades do melhor irmão. — Saio de
trás da porta e observo dona Audrey arregalar os olhos quando me nota parado a sua
frente.
— Você chegou! — Os próximos segundos sou eu sendo apertado por ela.
Quando ela cansa de me arroxar se afasta, mas segura minhas mãos me examinando
de cima a baixo. — Você está mais magro — resmunga fazendo um movimento de
desgosto com os lábios.
— Estou treinando feito louco, mãe — justifico. — Não estou magro. Estou
mais forte, parecendo um deus grego isso sim.
— Seu ego aumentou ainda mais? — brinca, seu sorriso acolhedor preenche
minha alma e só então entendo o quanto estava com saudade dela. Delas. — Estava
com saudades de você, seu ingrato.
— Eu também, mãe, eu também. — Puxo seu corpo novamente e a abraço
depositando um beijo no topo de sua cabeça.
— Vamos descer para almoçar e você me conta todas as novidades — ela diz
se afastando e minha irmã se levanta.
Juntos saímos do quarto e depois de lavar as mãos nos reunimos à mesa para
almoçarmos.
— Como andam as coisas? — ela pergunta quando começamos a comer.
— Continuo sendo um aluno exemplar e o melhor jogador da Brisfolk.
— Quero tentar ir em algum jogo nessa temporada.
— Sério? — pergunto surpreso, porque minha mãe só foi em um jogo durante
os quase três anos que estou no time de hóquei.
— Sim. E tentarei levar o seu pai. — Agora sim fico mais surpreso porque ele
nunca pisou na arena e ela percebe meu espanto, claro. — Ele só é difícil, filho, mas
ama você.
— O jeito dele de mostrar isso é bem complicado — alfineto.
— O papai é muito cabeça-dura e difícil de desistir de algo quando quer —
minha irmã comenta.
— O que é algo que você puxou a ele — minha mãe completa e não posso
negar, inclusive uma certa teimosa passa rapidamente pelos meus pensamentos.
É, eu realmente não sou de desistir de algo e sempre fui assim, em todos os
quesitos da minha vida. Desde quando coloquei na cabeça que queria aprender música
até o momento que bati de frente com o meu pai e o confrontei avisando que não
trabalharia no escritório.
— Ele só achou que essa fase do hóquei iria passar, mas, desde que você foi
draftado, percebi que ele começou a entender que não é só um hobby e sim sua paixão
— minha irmã finaliza e eu assinto pensativo.
Não sou o tipo de cara carente por afeto do pai, porque nossa relação só
definhou depois da minha ida para Boston, porém estaria sendo hipócrita ao afirmar
que não sinto falta de vê-lo torcendo e vibrando para mim, principalmente na arena,
assim como o pai do Liam, que nunca perdeu um jogo do filho. Saber que, talvez, ele
realmente esteja mudando seu pensamento sobre o hóquei traz uma centelha de
esperança para a nossa relação.
— Enfim, com fé em Deus ele vai deixar de ser tão teimoso. — Sorrio
concordando enquanto minha mãe leva o suco aos lábios. — E no amor? — ela indaga
colocando o copo sobre a mesa e eu controlo a vontade de revirar os olhos. Se o fizer,
ela me dá uns tapas. — Alguém especial já surgiu nesse tempo?
O sorriso contagiante da Assassina passa pela minha mente no mesmo
instante. Seus olhos claros tão reveladores e cheios de desejo quando nos beijamos
me atropela sem pedir licença e instintivamente sinto meu estômago revirar.
— Eu conheço essa cara. — Balanço a cabeça jogando os pensamentos para
longe e fito as duas curiosas à minha frente. — Pode contar logo quem é — Colleen
decreta.
— Não tem ninguém — respondo rapidamente. Rápido demais para não
levantar suspeitas.
— Ai, meu Deus, você está namorando? — minha mãe pergunta animada.
— Não... — nego veementemente. — Eu só estava pensando em outra coisa
— desconverso.
— Vamos fingir que acreditamos. — Fuzilo a Colleen quando ela responde me
lançando um riso debochado.
Mudo de assunto perguntando como andam as coisas em casa e, depois de
almoçarmos, subo para descansar. A tarde passa depressa e à noite nos reunimos
para tomar um vinho com Bryan e os meus tios. Ficamos longas horas conversando e
jogando pôquer.
O final de semana passa tão rápido que, quando menos espero, já estou dentro
do avião voltando para casa.
CAPÍTULO 20 - Ashley Moore
“Tem alguma coisa muito errada acontecendo!”, penso quando olho pela
terceira vez para o Oliver e ele simplesmente me ignora. Quando cheguei em casa na
sexta, eu enviei uma mensagem para ele agradecendo a ajuda, porém ele apenas
visualizou e acreditei que ele devia estar exausto demais para me responder.
No sábado enviei mais uma e no domingo duas e todas elas foram apenas
visualizadas e ignoradas. Ao chegar na sala, ele não estava, mas, quando chegou, ele
simplesmente se sentou do outro lado da sala e passou a me ignorar.
Eu já cogitei mil possibilidades, porém não consigo me lembrar de ter feito
nada de errado, exceto a pegação com o Connor, porém tenho certeza de que o Oliver
não presenciou. Suspiro frustrada tentando voltar a prestar atenção no que o professor
está explicando.
— O que diabos você tanto olha para o ruivinho? — Cassey indaga atrás de
mim e eu aproveito que Edward está concentrado na lousa e me viro para ela.
— Ele está me evitando. — Suspiro nervosa.
— Vocês discutiram na sexta? — Nego. — Talvez ele só esteja com algum
problema em casa. — Dá de ombros e não sei o porquê, mas sinto que ela entende
muito bem sobre isso. — Vai por mim. Tem dias que a gente simplesmente só quer
ficar sozinho.
— Deve ser isso. — Forço um sorriso. — Eu não fiz nada de errado, então não
tem o porquê esta paranoia. — Tento me convencer disso.
— Ele viu você beijando o Connor? — Assusto-me com a voz do Bryan à
minha frente e, quando o fuzilo, noto que ele se virou para ouvir nossa conversa.
— Você ficou com o Connor? — Cassey pergunta com a boca aberta. —
Pensei que você tinha dito que não saía com atletas, Ashley.
— Foi um erro. — Revezo meu olhar entre os dois. — E foi apenas um beijo.
Nada de mais.
— Eu desisto de todas vocês — Cassey bufa se recostando a sua cadeira. —
Acredito que sou a única que não sente vontade de tirar a calcinha toda vez que esses
jogadores aparecem.
— Isso eu concordo. — Ela me fita incrédula. — Eu disse que não saía com
atletas, mas não os desejar já é demais. Os caras são a performance da gostosura.
— Não exagera — Bryan declara. — Sou muito mais eu e os alunos normais.
— Ha-ha-ha. — Seguro sua bochecha. — Você é um gostoso também, não é,
Cassey? — indago e ela assente.
— Não sei por que ele não sai pegando geral — nossa amiga responde e eu
solto seu rosto.
— Porque eu faço a burrice de me tornar amigo delas. — Suspira resignado.
Sorrio, porque isso é muito o Bryan, sério, ele é amigo de todas as turmas da
universidade: nerds, os que só vem fumar um baseado, os músicos, jogadores, líderes
de torcidas. Todo mundo gosta dele, porém, desde que cheguei, nunca vi ele agarrado
com nenhuma mulher.
— Você é gay? — solto de uma vez e ele nega sorrindo.
— Não. Sou totalmente hetero, mas, diferente da maioria dos homens, não
gosto de sair com qualquer uma.
— Ele é seletivo — Cassey zomba.
— Com certeza. — Lança uma piscadela. — Enfim, o Oliver deve só estar com
outras coisas na cabeça e por isso não te respondeu — responde voltando a questão
inicial.
— Ah, sim, e foi por isso que ele se sentou do outro lado da sala. — Olho em
sua direção e noto ele totalmente concentrado no que Edward segue escrevendo. —
Enfim, vamos estudar. — Volto minha atenção para a aula e os dois fazem o mesmo.
Minutos depois, quando o sinal toca, espero todo mundo sair da sala e, quando
percebo Oliver caminhar em direção a saída, eu vou atrás. Como a porta está cheia de
alunos acabo o perdendo de vista, mas, quando me desvencilho, noto ele descendo as
escadas para o primeiro andar.
— Oliver... — o chamo correndo e noto ele parar cauteloso, porém não volta a
andar e eu corro o alcançando em seguida. — Ei, você está me evitando? — indago
quando paro a sua frente.
— Não — nega, porém não me encara e eu estranho.
— Oliver — o chamo e ele respira fundo voltando a me olhar. — Pode me dizer
o que diabos eu fiz, porque, desde sexta, você simplesmente sumiu.
— Você não fez nada, Ashley — responde passando a mão no cabelo. — Eu
só não quero te atrapalhar, é só isso.
— Mas você não faz isso. — Seguro a alça da minha mochila. — Pelo
contrário, você me ajudou pra caramba.
— Não estou falando das aulas.
— Pode ser mais direto, porque estou confusa — peço.
— Não quero atrapalhar seu lance com o Connor. — Demoro alguns segundos
para raciocinar suas palavras. Abro a boca, fecho e ele arqueia as sobrancelhas. —
Olha, você é uma garota legal, porém não quero ficar no meio e o Connor deixou claro
que o melhor para mim é me manter distante.
— O Connor fez o quê? — Minha voz sai esganiçada, mas nesse momento eu
estou pouco me fodendo para isso.
— Quando você foi no banheiro na sexta, ele apareceu e me comunicou que
eu estava proibido de sair com a garota dele.
A garota dele!
Puta que pariu!
— Oliver... — Respiro fundo tentando não explodir. Porém não consigo negar,
porque tem alguma droga rolando entre mim e o capitão idiota. — Eu e o Connor
somos amigos. — Ele me fita desacreditado. — Droga, tem algo rolando, mas...
— Não precisa me explicar, Ashley — ele me corta. — Eu e você somos
amigos, mas, como não queria confusão, achei melhor me afastar.
— Não precisa disso, sério, Connor não é o meu dono, muito menos namorado
e, mesmo que fosse, eu jamais deixaria minhas amizades por causa de um ciúme idiota
— declaro firme.
— Está certo. — Ele me direciona um meio sorriso. — Se precisar de mais
alguma ajuda é só me avisar, tá?
— Obrigada. — O puxo para um abraço e mesmo sem jeito ele retribui. — Se
precisar, eu estou aqui também, mas agora eu preciso ir gritar com um certo capitão.
— Ah, eu gostaria de ver isso, mas eu preciso ir para casa porque tenho muita
coisa para resolver.
— Até mais, Oliver, e não ouse mais me evitar.
— Não farei. — Sorri. — Você é baixinha, mas com raiva fica bem intimidante.
Dou risada e desço as escadas praticamente correndo decidida a encontrar o
Connor, porém, quando olho no meu relógio, noto que tenho dez minutos para chegar
no instituto.
Bom, lá não é um lugar para se brigar, mas eu posso muito bem o esperar no
estacionamento quando sairmos.
Saio do quarto do Elijah com o coração apertado porque hoje ele está bem
fraquinho e, infelizmente, não conseguiu participar da primeira aula de pinturas que
realizei, porém eu vim até o seu quarto e trouxe todos os desenhos que a turminha fez
para ele. Sua mãe está inconsolável e me pego pensando novamente na dor de perder
quem amamos.
Muitos falam sobre superar, mas só quem realmente passou pelo luto entende
que ele não é sobre superação, mas sim sobre aprender a lidar com a dor e conviver
com a ausência de tal maneira que nos permita seguir em frente.
A dor da perda é uma experiência única e profundamente pessoal que não
existe uma fórmula mágica para fazê-la desaparecer. Só precisamos aceitar que ela
fará parte da nossa vida assim como uma cicatriz que deixou sua marca. Isso não quer
dizer que deixamos de amar, mas sim que entendemos que, apesar de não estar mais
conosco, fomos privilegiados de viver com a pessoa que tanto amamos.
— Você foi incrível hoje, Ashley. — A voz de Eve me faz perceber que acabei
me perdendo em pensamentos parada na frente da porta do Elijah.
— Eles que são — refiro-me às crianças. — Foi maravilhoso ver os sorrisos
naqueles rostos fofos.
— Não sei como eu ainda não tinha pensado nas tintas — diz pesarosa.
— Você já pensa em tanta coisa, mulher. — Ela volta a sorrir. — Sem você isso
não andaria.
— Eu faço o que posso. — Assinto. — Já está indo embora?
— Sim. Já limpei toda a área de pintura, organizei a farmácia que você tinha
falado mais cedo.
— Ash do céu, eu não falei para você arrumar. — Cruza os braços cortando
minha frase. — Disse que eu organizaria essa semana.
— Eu estava sem fazer nada. — Dou de ombros. — Então aproveitei e
organizei ela e o armário com documentos da sua sala.
— Você não consegue ficar quieta? Já basta a loucura com a aula de pintura
— indaga.
— Eu amo fazer as coisas aqui, sério — declaro sincera.
— Obrigada, de verdade, você está sendo um anjo para o Donna.
— Eu que agradeço por me deixar ajuda — revido sincera e crio coragem para
fazer a pergunta que quero desde que cheguei. — O Connor trocou os dias dele? —
indago porque até o momento ele não apareceu no instituto e já tem quatro horas que
cheguei.
— Não. Ele só não vai poder vir essa semana porque a temporada está se
aproximando e com isso ele precisa focar nos treinos.
— Verdade. — Tinha esquecido completamente que sábado já tem o primeiro
jogo.
— Todo ano é assim, mas na próxima ele volta.
— Está certo. Vou pegar minha mochila e ir embora, mas quinta estou aqui de
novo.
Eve assente, me abraça e, depois de pegar minha mochila na sala de
descanso, saio do Donna. Apresso o passo pelo estacionamento e logo estou dentro do
meu carro. Jogo a mochila no banco de trás, conecto meu celular ao som, disco o
número da minha prima e dou partida.
— Melhor prima do mundo falando. — Sua voz risonha soa do outro lado da
linha.
— Onde você está? — indago pegando o caminho para a universidade.
— No dormitório, mas vou sair com o papis para pegar umas camisas em
Newton.
— Ele não está na arena? — indago.
— Saiu há pouco tempo e já está vindo me buscar, por quê?
— Droga, então o Connor não deve estar mais lá.
— Ah, ele está sim — rebate animada. — Ele sempre fica treinando depois do
horário nas segundas e quintas.
— Obrigada.
— Ei, obrigada nada! — Praticamente grita quando estou prestes a desligar. —
Vai pedir bis, sua safada?
Reviro os olhos quase me arrependendo de ter contado para ela do beijo.
Quando cheguei em casa, a Brooke não estava porque ela decidiu dormir na
fraternidade, porém, no sábado pela manhã, fui acordada por ela e depois de nos
arrumarmos fomos direto para o Queens. Ela me fez contar detalhe por detalhe do beijo
e praticamente surtou quando eu confirmei que tinha sido o melhor beijo da minha vida.
Passamos horas no point conversando e ela listou uns dez motivos do porquê
eu deveria me sentar no Connor, claro, eu fingi que não ouvi essa parte.
— Ashley? — me chama.
— Não tem nada de bis, Broo. Estou indo brigar com ele porque descobri que
ele proibiu o Oliver de sair comigo.
— Mentiraaaaa! — grita fazendo meu ouvido protestar em resposta.
— Verdade.
— Estou chocada!
— Imagina como fiquei? Enfim, deixa eu desligar que cheguei no campus.
— Quero detalhes à noite! — diz e quase posso ver seu sorriso sapeca.
Desligo a chamada, estaciono o carro e desço o travando em seguida. Sigo
pela lateral em direção à arena e percebo ela no mais puro silêncio. Pego o crachá e,
quando o aproximo da roleta na entrada, meu acesso é liberado de imediato. Meu tio
me entregou esse acesso no dia que vim visitá-lo com a Brooke, para que ele não
precisasse ficar vindo me buscar na entrada toda vez que eu decidisse vir falar com
ele.
Espero de verdade que ele não tenha como ver que estou aqui porque, com
toda certeza do mundo, ele iria querer saber o que estou fazendo. Sigo pelo corredor
mal iluminado e quando viro à direita dele noto que o gelo está vazio, porém tem um
celular no banco.
Aproximo-me e, quando o seguro, a tela se acende mostrando uma foto do
capitão na arena. Olho ao redor, mas não o vejo, então ele deve estar trocando de
roupa. Eu deveria esperar um pouco para ver se ele aparece, mas se ele já estiver em
casa e acabou esquecendo o celular aqui? Vou acabar perdendo tempo. Decidida a
procurá-lo guardo o celular no bolso da minha calça jeans e faço o percurso de volta
pelo corredor entrando na primeira porta à direita que exibe uma placa mostrando que
estou no lugar certo.
Adentro o vestiário notando que ele está vazio e meus olhos percorrem o
ambiente me surpreendendo em ver tudo organizado. Os armários ao lado direito estão
todos fechados e os equipamentos na esquerda completamente organizados. As
paredes esbanjam fotos de jogos, pôsteres sobre a liga universitária, fotografias de
alguns dos inúmeros jogadores famosos e acredito que isso é uma tática para motivar
os jogadores. Os bancos compridos estão dispersos pelo meio do salão sem nenhum
objeto jogado em cima.
Um calafrio percorre meu corpo quando ouço o som de um chuveiro sendo
ligado e, quando meus olhos pousam no fundo do ambiente, percebo Connor virado de
costas tomando banho. Minha respiração acelera quando percebo que atrás da porta
que cobre do seu joelho até a suas escápulas ele está completamente nu, porém tento
não deixar isso se sobrepor ao que eu realmente vim fazer aqui.
— Precisamos conversar — digo alto anunciando minha presença e percebo
ele se assustar, mas, quando vira de frente e me fita, Connor esbanja um sorriso para
lá de safado.
O sorriso que mexe comigo desde o maldito primeiro momento que o vi.
CAPÍTULO 21 - Connor Harrington
Não tenho dúvidas de que a surpresa estampa cada centímetro do meu rosto
depois de apenas alguns minutos dentro da arena com a Ash. Ela desliza pelo gelo
com uma maestria que poucas pessoas que não são jogadores conseguem.
— Vai ficar só olhando ou pretende tentar pegar o puck? — Ela tem a audácia
de debochar enquanto desliza o disco pela arena com o stick.
— Assassina, você não perde por esperar.
Deslizo facilmente enquanto calculo sua próxima jogada e, pela forma como ela
está inclinada, não me resta dúvidas de que pretende me driblar pela direita e assim
poder passar para o outro lado e tentar fazer o gol. Quando estou próximo o suficiente,
arrasto o taco para a direita pronto para roubar o stick dela, entretanto acabo acertando
o vento porque indo contra toda lógica que criei Ashley puxa o stick para o lado oposto
me dando um baita drible.
— Olha se não é o capitão fodástico levando drible de uma mulher.
— Sorte, pura sorte. — Avanço para cima deixando meu lado competidor falar
mais alto e conseguindo roubar o disco dela. — Quem está levando drible agora,
Assassina? — zombo e ela faz uma careta engraçada. — E olha que estou pegando
leve, viu? Se eu te atacar como faço nos jogos, você sairia voando pelos vidros de
proteção.
Caçoo e disparo como um raio em direção à rede acertando o stick com
precisão bem ao meio dela. Dou um soco no ar e me viro para comemorar.
— Isso que foi sorte. — Ela mostra a língua e eu pego novamente o disco. —
Vem para o papai, vem — chamo me abaixando, ficando com as mãos no joelho me
exibindo enquanto ela se aproxima.
Ashley está com o semblante fechado, parece realmente concentrada e
determinada a me vencer, ainda assim ela ainda consegue ser a garota mais linda que
já pousei meus olhos. Ela me direciona um sorriso safado e me lança uma piscadela
enquanto passa a língua nos lábios fazendo com que o movimento acerte em cheio o
meu pau e praticamente faça meu cérebro derreter. É justamente esse deslize na
atenção que me faz perder o reflexo e, sem ao menos esperar, ela se aproxima o
suficiente para conseguir roubar o stick.
— Você trapaceou! — grito quando ela corre deslizando pelo gelo acertando o
disco dentro do gol.
— Eu? Jamais! — Dá risada fazendo uma dancinha da vitória. — Você que
perdeu o foco, capitão.
— Você quer guerra, não é? — Avanço em sua direção e juntos ficamos um
bom tempo no gelo apenas disputando um contra o outro.
Ela é boa, muito boa, ainda assim não tem prática e eu consigo driblar muito
mais vezes quando paro de ficar a admirando, o que confesso ser bastante difícil. É
impossível não ficar fascinado na dancinha que ela faz quando acerta cada gol, no seu
cabelo querendo fugir do capacete de proteção ou, principalmente, no som da sua
risada enquanto deslizamos pelo gelo.
— Segura minha mão — peço quando soltamos os sticks.
— O que você vai fazer? — pergunta cautelosa, entretanto faz o que eu peço.
— Nos divertir. — Impulsiono o corpo. Ela faz o mesmo e juntos começamos a
circular a arena deslizando.
— Obrigada por isso — agradece assim que começamos a fazer a volta.
— Pelo quê? — replico confuso deslizando devagar para conseguirmos
conversar.
— Estava morrendo de saudades do gelo, mas não tinha coragem de vir
sozinha. — Sua voz sai mais baixa.
— Eu sinto muito. — Aperto de leve sua mão. — Sei como deve ter sido difícil
perdê-lo.
— Foi a maior dor que já senti na minha vida. — Seu timbre de voz falha. —
Estar aqui me faz sentir mais próxima dele. — Ela olha ao redor.
— Ele deve estar muito orgulhoso que a filha dele é uma fera no gelo e ainda
deu altos dribles em um capitão do time — brinco para quebrar um pouco a aura triste.
— Ele com certeza estaria te dando uns carões por estar perdendo para mim.
— Ela entra na onda. — Meu pai era incrível, Connor.
— Não tenho dúvidas disso. Agora fecha os olhos.
— Tá louco? — pergunta negando. — Eu vou meter a cara no vidro de
proteção.
— Eu não vou deixar você se machucar. Confia em mim — aviso retirando seu
capacete e o colocando no canto da arena.
— Está certo. — Mesmo receosa, ela fecha os olhos e eu vou para a sua frente
segurando as suas mãos.
— No que você está pensando?
— Na primeira vez que meu pai me trouxe até aqui e eu calcei os patins.
— Então só finge que ele está aqui e aproveita a lembrança. — Ela assente e
eu a puxo voltando a deslizar com ela.
Ash sorri de olhos fechados e está tão leve que sinto como se ela estivesse
precisando disso, desse momento. É quase como se ela estivesse mesmo revivendo a
cena e me sinto um sortudo do caralho em ser eu a estar aqui ao seu lado.
Quando Ashley volta a abrir os olhos e eu vejo a gratidão explícita em seu
olhar, entendo que talvez ela esteja se tornando muito mais do que uma atração
qualquer, desafio ou sexo casual e isso me assusta ao ponto de puxá-la contra mim e
beijá-la para não pensar demais e acabar surtando.
Deus, eu não posso estar me apaixonando pela Assassina, posso?
CAPÍTULO 22 - Ashley Moore
— Você deu para ele! — A voz alta da Brooke quase faz meu coração saltar
para fora e eu levo a mão até o peito quando entro no dormitório.
— O que diabos você está fazendo sentada na porra do escuro como um
maldito fantasma? — exclamo fitando minha prima.
— Cheguei tão cansada que só tive coragem de me jogar na cama e ficar
mexendo nas redes sociais — responde suspirando.
— Deu certo com o tio? — questiono colocando minha mochila ao pé da cama
me lançando no colchão em seguida.
— Sim, mas, quando ele me deixou no dormitório, eu sequer entrei porque o
Liam me chamou para ajudar ele em uma matéria.
— Hum... — Faço uma voz melodiosa cheia de insinuações e acendo a luz do
abajur.
— Dois — retruca cobrindo os olhos para fugir da claridade. — Não mude de
assunto: você deu ou não para o Connor?
— Não. — Ela me fita instantaneamente.
— E por quê? — Incredulidade cobre seu rosto.
— Eu fui brigar com ele, Brooke — a lembro.
— Aposto minha vida que não deu em briga — desdenha.
— E como sabe? — Arqueio a sobrancelha.
— Você está com um sorriso bobo. — Fecho o semblante na mesma hora e
isso arranca uma risada dela. — Pode contar tudo nos mínimos detalhes.
— Talvez a gente tenha se pegado no vestiário.
— Sua safada. — Ela joga o travesseiro na minha direção, porém eu o seguro
antes de bater no rosto. — Imagina se meu pai descobre que a sobrinha linda estava
se pegando com o jogador dele.
— Deus me livre! — Faço o sinal da cruz e juntas damos risadas.
— Quando você ver o pau dele, favor confirmar os boatos.
— Então... — Fito o teto lembrando daquele monstro delicioso.
— Ashley Moore, você já viu o pau dele? — Abre a boca incrédula.
— Quando cheguei no vestiário, ele estava no banho e, quando saiu enrolado
na toalha, o tecido caiu.
Em menos de dois segundos, minha prima se joga na minha cama.
— É grande mesmo? — pergunta se inclinando nos cotovelos, me fitando.
— Você é tão pervertida! — Inclino-me também. — Sim, o pau dele é tudo isso
que falam. Um verdadeiro pau monstro.
— Garota de sorte. — Se joga ao meu lado e eu volto a deitar, agora fitando o
teto.
— Sorte? Eu estou é muito ferrada porque sequer deveria beijá-lo quanto mais
estar pensando naquele espécime gostoso de pau.
— Aproveita, boba, que ele está na sua e, quando enjoarem, você parte para
outra.
— É, vou tentar, mas não fala para ninguém.
— Como assim?
— Não quero ser o assunto do momento, então prefiro deixar nossos pegas no
off.
— Prometo que por mim ninguém vai ficar sabendo — afirma e assinto. — Viu
que comentaram no post do Marley?
— Não. — Ergo-me rapidamente pegando o celular na mochila. — Esqueci
completamente de olhar o post que fiz sobre a adoção.
Abro o aplicativo da universidade e percebo que realmente uma garota
comentou no post. Abro seu perfil e vejo que ela é estudante de música e tem vinte
anos. Rolo pelo feed e constato que a maioria das postagens dela é com um casal mais
velho e um buldogue francês.
Abro a área de mensagens e envio um boa-noite sentindo meu peito doer ao
constatar que, em breve, o Marley terá que ir embora. Mesmo sabendo que é o
necessário, afinal os meninos já estão cuidando deles há mais tempo do que
comuniquei, inclusive começar a pagar uma pessoa para olhá-lo.
— O que vai fazer hoje à noite? — Retiro a atenção do celular quando Brooke
indaga.
— Vou dar um pulo para ver o Marley e depois estou pensando em comer algo
no Queens.
— Eu vou com você então. — Ela se levanta. — Vou tomar banho e depois é a
sua vez.
Meu celular toca avisando a chegada de uma mensagem e, quando o pego,
vejo que é a garota da adoção.
— Certo. Vou conversar com a menina. É o tempo que você finaliza.
Ela assente indo em direção ao banheiro e eu aproveito para conversar com a
tal da Olívia, que acabou de responder o meu boa noite.
— Oiii, tem alguém nessa casa? — questiono quando coloco a cabeça pela
fresta da porta com a Brooke.
— Oi, meninas — Liam nos cumprimenta e, quando sigo sua voz, sorrio com a
cena que se desenrola mais à frente.
Liam está jogado no tapete enquanto brinca com o Marley. Kyle está
concentrado no videogame a sua frente, porém para o jogo e joga uma bola colorida
para o cachorro, que rapidamente a pega e leva até o outro sofá onde Ben está deitado
com as pernas para cima e a cabeça no assento. Os três estão se revezando para
brincar com o filhote e isso consegue me deixar toda boba.
A cauda de Marley balança freneticamente enquanto ele espera que Ben jogue
o brinquedo e, quando assim faz, Marley salta no ar conseguindo pegar o objeto de
primeira.
— É isso, garoto! — Adentro a sala com a Brooke, aproximo e me ajoelho no
chão. Marley pula nos meus braços começando a me lamber freneticamente. — Eu
também estava com saudades de você. — Afago seu pelo enquanto ele pula
entusiasmado.
— Broo, quer subir e assistir algo? — Liam pergunta e minha prima confirma.
— Se ficar aqui na sala pode começar com a alergia.
— Realmente. — Ela me olha. — Quando você estiver saindo me avisa, tá?
— Eu vou te chamar daqui a pouco. — Pisco para ela.
— É uma pena você não poder brincar com ele — Kyle diz e Ben assente
confirmando.
— Fazer o quê, né? Eu queria, mas realmente não posso. — Ela dá de ombros
pesarosa e vai em direção a escada. — E você pode tomar banho e trocar de roupa,
viu? — avisa para Liam quando ele se levanta em um pulo e a segue.
— Você que manda! — responde e eu fito os dois desaparecerem no primeiro
andar.
— Onde está o Connor? — questiono.
— Saiu para jantar com o Bryan. Ele sabia que você vinha ver o Marley?
— Não comentei — respondo deitando no chão e, como esperado, Marley vem
para cima de mim se deitando com a cabeça no meu peito. — Acho que consegui
alguém para cuidar dele — aviso.
Marquei com a tal Olívia por mensagens para domingo ela vir ver o Marley e,
se tudo caminhar como desejamos, ela já irá levar o filhote. Não a conheço, mas pelas
mensagens parece ser alguém que realmente ama animais, porque ela falou várias
vezes com carinho do Davi, seu buldogue. Também deixou claro que tinha condições
de alimentar e cuidar do Marley, porque tinha uma condição financeira estável.
— O quê? — O grito esganiçado me arranca dos pensamentos e, quando olho
para cima, vejo Ben e Kyle me fitando perplexos.
— Eu falei para vocês que iria encontrar um lar para ele. — Aponto para o cão
não entendendo a reação de ambos. — Fiz um post na rede social da Brisfolk e hoje
uma aluna do curso de música falou comigo.
— Mas... — Ben se levanta e reveza o olhar entre mim, Marley e Kyle. — Será
que é uma boa pessoa? E se ela maltratar ele?
— Pela conversa, ela parece ser apaixonada por animais — aviso sorrindo.
— Mas e se ele não conseguir se adaptar a uma casa nova? — É a vez do
Kyle indagar.
— Eu não estou entendendo vocês. — Sento-me, porém continuo acariciando
o animal. — Esse era o combinado.
— Sim. — Ben volta a se sentar. — Quando ela vem vê-lo?
— No domingo.
— Já? — Kyle exclama.
— A vida de vocês está muito corrida e só vai piorar — os lembro. — Não têm
como cuidar do Marley.
— É, o cachorro é seu, então decida aí — Kyle diz emburrado e eu os fito
confusa.
— Eu vou tomar um banho — Ben avisa saindo da sala rapidamente.
— Bom, eu vou chamar a Brooke porque estou com fome. — Levanto-me e
sigo em direção ao primeiro andar porque o Kyle decidiu me ignorar completamente.
Quando bato a porta e ouço um “pode entrar” baixinho do Liam adentro o seu
quarto. Noto que a única luz do ambiente é a que vem da televisão. Brooke está
completamente apagada no peito desnudo do jogador e fico meio chocada de ver o
quanto eles parecem íntimos.
— Ela apagou. — Aponta para a minha prima.
— É, eu estou vendo. — Percebo sua mão acariciar o cabelo dela e acredito
que ele sequer nota o que está fazendo.
— Tem problema você voltar sozinha? — questiona e eu volto a fitá-lo.
— Não. Eu estou de carro, mas ela me pediu para avisar quando estivesse
indo embora.
— Ela está muito cansada, então é melhor dormir aqui mesmo — contrapõe. —
Amanhã a deixo bem cedo no dormitório para ela se trocar e ir para a aula.
— Está certo — concordo e me viro, porém não resisto e volto a fitar o moreno.
— Qual é o lance de vocês?
Sei que minhas palavras o pegam desprevenido, porque, por alguns segundos,
ele fica desconcertado, porém esconde rapidamente e sorri.
— Ela é minha amiga. A garota que eu mais confio. Só isso, Ashley.
— Se você está dizendo. — Seguro a maçaneta da porta. — Só não a
machuque — aviso e ouço seu suspiro, mas não volto a olhá-lo.
Desço as escadas notando que o Kyle não está mais na sala e o Marley
também não. Decidida a não incomodar, apenas giro nos calcanhares e vou para a
porta. Quando saio e me aproximo do meu carro percebo um veículo preto com
insulfilmes escuros passar lentamente em frente à casa. Um sentimento ruim se apossa
do meu peito enquanto o fito, no entanto, balanço a cabeça e aliso o local tentando
afastar a sensação ruim.
Abro a porta, entro e dou ré saindo da casa do Connor seguindo direto para o
Queens porque estou morrendo de fome.
CAPÍTULO 23 - Connor Harrington
Ashley está linda, não, linda ainda é um elogio muito banal. Ela está
deslumbrante e pode até parecer exagero, afinal ela não está vestida para uma festa
de gala e sim de forma casual com seu vestido de alças finas, soltinho e florido, no
entanto, para mim, ela está perfeita e tenho certeza de que, se vestisse trapos, ainda
assim eu iria continuar achando-a maravilhosa.
— Eu nunca pensei que diria isso, mas aposto minha carreira no hóquei que
você será o primeiro a ser laçado — Liam comenta despretensiosamente se jogando ao
meu lado.
Chegamos ao boliche já tem quase uma hora e desde então nos reunimos para
ver quem era o melhor no jogo. Brooke e ele estão na frente, o que eu já esperava,
afinal ambos são apaixonados pelo boliche e sempre que podem estão aqui.
— Não sei do que você está falando — respondo, porém não viro para encará-
lo porque meus olhos estão fixos na Ash se inclinando para a frente pronta para
arremessar a bola.
Ela é de longe a pior jogadora da turma e até o momento não conseguiu fazer
nenhum strike. O maior problema disso é que ela é muito teimosa e, quando eu e o
Liam oferecemos ajuda, ela nos direcionou um olhar mortal avisando que conseguiria
sozinha.
Noto ela morder a ponta dos lábios e já percebi que esse é um claro gesto de
quando está nervosa ou tentando se concentrar. Sei que ela vai errar porque ela está
fazendo tudo errado: da pegada da bola até como se inclina para o arremesso.
— Cara, só você não percebeu ainda que está caidinho pela Ashley — Liam
torna a falar.
— Eu só estou a fim dela — rebato.
— Você é a fim da Raven, Ollie, Wendy e de qualquer garota que seja bonita e
tenha uma boceta no meio das pernas. — Viro-me para ele e o encontro me encarando
com um sorriso debochado. — E ainda assim, nunca fez para as outras metade do que
faz para ela. — Meneia a cabeça em direção a Assassina.
— E o que eu fiz para ela, vidente amoroso? — Cruzo os braços me
recostando no estofado.
— Você trouxe um cachorro para a nossa casa — responde levantando um
dedo. — Leva bombom para ela. — O fito com a explícita pergunta de como ele soube
disso. — A Brooke disse que viu a caixa quando foi em casa trocar de roupa. — Reviro
os olhos porque ela é uma fofoqueira de plantão. — Algo me diz que naquela noite
você foi atrás dela na biblioteca. — Finjo naturalidade e ele continua: — E hoje andou
abraçadinho pelo campus e ainda foi deixá-la na porta da sala.
— Isso não é nada de mais! — desconverso querendo mudar de assunto.
Sim, eu gosto da Assassina.
Sim, ela me atrai desde o primeiro momento.
Sim, eu quero levá-la para a cama.
Mas é só isso: desejo e talvez uma futura amizade porque aprendi a curtir a
companhia dela.
Nada a mais que isso porque eu não tenho tempo, muito menos pretensão de
me amarrar a ninguém.
E eu continuo fingindo que isso é verdade! Quase posso ver uma tatuagem de
palhaço estampando o meu rosto.
— Ah, e não vamos esquecer que você só falta babar quando está perto dela
— finaliza.
— O que posso fazer se ela é linda pra caralho? — justifico-me.
— Cara, qual foi a última vez que você transou?
— Acho que antes da volta às aulas... — Percebo aonde ele quer chegar
quando o desgraçado sorri e eu fecho o semblante imediatamente.
— Você nunca parou de transar com uma para conquistar outra — constata se
levantando.
— Desisto. — A palavra frustrada da Ashley me salva de responder ao meu
amigo e, quando olho para a frente, observo ela caminhar em nossa direção bufando.
— Vocês fazem essa merda parecer fácil quando na verdade não é. — Se joga ao meu
lado irritada.
— A ajuda ainda está de pé — meu amigo comenta, porém sai praticamente
correndo quando ela o fuzila.
— Vem, vou te ensinar. — Levanto-me e estendo a mão. Ela olha receosa,
porém se dá por vencida e a segura se erguendo.
— Só porque estou cansada de ser a única a não fazer ponto — resmunga.
— Não tem nada a ver com você ficar mais pertinho de mim — zombo e recebo
um tapa como resposta.
Me aproximo do pessoal e agora quem está prestes a fazer a jogada é a
Destiny. Ela está concentrada, porém na hora que se inclina para a frente o Ben dá um
toque na sua cintura fazendo com que ela perca a concentração e erre a jogada.
— Eu vou esganar você, Benjamin! — Destiny praticamente rosna e vai em
direção ao galego atrevido. Ele que não é bobo corre e os dois ficam parecendo duas
crianças enquanto ela tenta alcançá-lo.
— Minha vez! — Kyle grita e vai até a bola, pegando-a. Ele se inclina e
rapidamente a joga, porém só consegue derrubar quatro dos dez pinos. — É, foi melhor
que a Ashley — zomba e a loira estira o dedo do meio para ele.
— Agora ela vai acertar. — Vou até onde fica as bolas e retorno com uma
parando pouco atrás da pista. Ashley se aproxima ficando ao meu lado. — A primeira
coisa que você precisa saber é que o ideal é usar o polegar no furo maior e os dedos
médio e anelar nos menores — instruo e ela faz o que peço. — Agora segure a bola
com as duas mãos e a deixe próximo ao peito.
— Assim? — pergunta e assinto quando vejo que ela segura da forma correta.
— Ande até mais próximo da pista e, enquanto faz isso, estique o braço em
movimento de pêndulo — oriento e ela segue o comando. — Agora use apenas o pé
direito como apoio, se incline e lance a bola no meio da pista deixando o braço
completar o movimento.
Ashley faz o que digo e consegue acertar dois pinos. Quando ela se vira
fazendo biquinho triste, eu já estou com uma nova bola na mão. Repetimos o processo
e é só na quinta vez que ela consegue fazer o strike.
— É isso aí, garota! — Destiny comemora.
— Com ajuda fica muito mais fácil — Kyle zomba.
— Você também precisou ser ensinado pelo Liam — Ben debocha.
— E por mim — Brooke completa arrancando risadas.
— Eu consegui e só isso importa. — Ashley se vira para mim com os olhos
brilhando.
— Não foi tão difícil, né? — pergunto retribuindo o seu sorriso e ela corre em
minha direção. Seguro seu corpo no ar e a rodopio lentamente para que seu vestido
não suba demais.
— Agora já pode dizer que sabe jogar boliche — digo me afastando dela para
controlar a vontade insana que me acomete de beijá-la.
As próximas horas ficamos jogando e entrando em conversas triviais. Quando
encerramos, eu e Brooke somos os que mais pontuaram com Liam atrás. Destiny, Kyle
e Ashley também fazem pontos, porém bem menos que nós três.
Saímos do boliche e vamos direto para o Queens e, ao chegar lá, nos reunimos
na nossa mesa de sempre.
— O que vão querer hoje? — Wendell pergunta assim que se aproxima.
— Pode ser sanduíche para todos? — indago e, quando eles concordam, o
garoto anota o pedido. — E refrigerante estupidamente gelado para acompanhar. —
Wendel assente e depois se afasta para preparar nosso pedido.
— Ashley vai nos ver jogar, né? — Kyle questiona.
— Não tive escolha — brinca e noto ela me olhar, mas desvia rapidamente. —
Amanhã irei, mas não sei se consigo ir em todos porque preciso estudar.
— É difícil conseguir ir em todos — Brooke comenta. — Tem muitos jogos
distante.
— Inclusive só esse primeiro e o quarto jogo que serão aqui em Boston — Ben
avisa. — O restante são todos fora.
— Já sabem onde será a final? — Destiny indaga.
— Em Cambridge — Kyle responde.
— Nesse iremos todos, porque precisamos prestigiar nossa universidade
levantando a taça de campeão! — Brooke declara animada.
— Ela vai ser nossa! — afirmo animado.
— Meu Deus, o Jackson está aqui!! — Destiny diz animada já se levantando.
— E quem seria esse? — Ashley pergunta.
— O ex-namorado dela — Ben responde e noto seu tom de voz sair um pouco
irritado.
— Cuidado, mocinha — seu irmão alerta e vejo ela revirar os olhos.
— Sou bem grandinha, C.A.. — Dou risada do apelido junto com todos, aliás,
exceto o Ben que acompanha Destiny com os olhos até o balcão do Queens, onde ela
já está abraçando o Jackson.
Eles dois namoraram assim que a Destiny entrou na Brisfolk, porém era o
último ano do Jackson na faculdade e eles decidiram não seguir com namoro a
distância, porque ele recebeu uma proposta para trabalhar em Toronto. Parece que ele
está de volta e que os dois ainda mantêm contato.
— Não sabia que ele tinha voltado a morar aqui. — É justamente o Ben que
declara quando retira os olhos da irmã do melhor amigo.
— Também não, mas ficarei de olho — Liam afirma.
— Bethany! — Brooke grita animada e logo a morena se aproxima.
— Oi, galera — Beth nos cumprimenta se sentando.
Bethany é filha do Owen e ajuda o pai no Queens desde que a mãe decidiu
que não aguentava mais ser esposa e dona de casa. Ela não fala muito sobre o
assunto, pelo menos não comigo e os caras, mas lembro que na época foi um fuzuê,
inclusive, o point ficou fechado durante quase um mês.
— O lanche de vocês. — Wendell se aproxima ao lado de um garoto com
nossa comida e acredito que ele seja novo porque nunca o tinha vista no point.
— Destiny, vem comer! — Brooke grita para a amiga, que já está vindo ao
nosso encontro.
— Oi, pessoal — Jackson cumprimenta assim que se aproxima.
— Ashley, esse é o Jackson, meu ex-namorado — Destiny o apresenta, porque
Ash é a única da mesa que não o conhece.
— Prazer, Jackson. — Ela sorri apertando a mão que ele coloca à sua frente.
— Torcendo para que ela me perdoe e esse ex vire atual — o moreno brinca
enquanto se senta ao meu lado.
— Vai sonhando — Liam resmunga na sua frente.
— Vou ao banheiro — Ben avisa se levantando de repente, porém sai sem
esperar resposta.
— O que deu nele? — Bethany pergunta estranhando a reação abrupta do
nosso amigo e vejo todos olharem para o Ben a caminho dos banheiros.
— Ele me disse no caminho que estava com um dor incômoda na barriga —
minto e percebo Ash me fitar porque ela veio no carro conosco e sabe que isso não
aconteceu, porém se mantém calada talvez percebendo o mesmo que eu. — O
incômodo deve ter voltado e por isso ele saiu às pressas — justifico.
Todos dão risada parecendo acreditar nas minhas palavras, entretanto uma
pulga se instala atrás da minha orelha. Ninguém percebeu, mas eu que estou na frente
dele notei os olhares furtivos que ele direcionou para o ex-casal. Benjamin não estava
gostando nada da interação entre Destiny e Jackson e isso começa a acender um
alerta dentro de mim. Minha mente rapidamente se lembra do dia que ele ia me contar
algo, na tarde que estava com a mente longe do treino, porém desistiu quando o Liam
se aproximou.
Merda, eu espero estar errado porque, se tem algo rolando entre Ben e
Destiny, a Brisfolk vai pegar fogo, afinal Liam jamais aceitaria que seu melhor amigo
comesse a irmãzinha dele.
CAPÍTULO 25 - Ashley Moore
Assim que passo pelo portão principal da arena, meus olhos arregalam
surpresos com a quantidade de pessoas que estão aqui. O ambiente já está
praticamente lotado e do lado direito todos estão vestidos com a cor do nosso time:
preto com vermelho, inclusive nós quatro.
— Caralho, já começamos muito bem! — Brooke diz animada.
— Eu sabia que estaria lotado — Destiny comenta.
— É claro que estaria — Bryan declara se aproximando com dois baldes de
pipoca. — É o primeiro jogo dos Black na temporada.
Meu peito aperta com saudades do meu pai e, por alguns segundos, eu fecho
os olhos pensando nele, no quanto ele amava essa multidão, a euforia. Entretanto, logo
torno a abri-los decidida a aproveitar porque é isso que ele iria querer.
Confesso que eu também estava morrendo de saudades dessa loucura.
Minha mente retorna ao passado lembrando do quanto fui burra e cega ao
fazer todas as vontades do Petter e uma delas era não ficar na multidão, porque, para
ele, eu chamava atenção demais e isso poderia atrapalhar seu desempenho no jogo.
No início achei estranho, mas depois ele me fez acreditar que era apenas preocupação.
Que não conseguiria jogar direito pensando que alguém poderia me machucar.
Droga, como eu fui burra! Se eu estivesse com ele, ainda era capaz de o
imbecil me trancar dentro de casa apenas para eu não sair e outros homens me
olharem.
— Vamos ou daqui a pouco vai ficar impossível ir mais para a frente — Brooke
nos chama arrancando-me das lembranças ruins e mentalmente agradeço por isso
enquanto começamos a caminhar pela área de baixo da arquibancada em direção aos
nossos assentos.
Meu tio liberou ingressos exclusivos, que nos dão direito a assistir à partida na
área que os alunos consideram VIPS por serem próximos à arena e por onde os
jogadores passam quando entram no gelo. Como era de esperar encontramos os
quatro assentos vazios e rapidamente nos sentamos.
— Falta quanto tempo para iniciar? — pergunto.
— Dez minutos — Brooke responde olhando seu celular. — Deus, até terminar
o jogo você não vai ficar com nenhum dedo. — Ela dá um tapa na mão da Destiny, que
só falta comer as unhas.
— Tá bom, parei — a morena garante nervosa retirando os dedos da boca.
Passamos os próximos minutos falando sobre os meninos e o adversário. A
universidade de Detroit é bem conhecida e joga muito bem, pelo que Bryan comenta.
Quando menos espero, a multidão se levanta entoando o apelido do time e percebo as
líderes de torcida nas escadas dançando com roupas e pompons nos tons do time
animando ainda mais a torcida.
Meus olhos correm em direção à entrada e logo vejo os jogadores saindo por
ela, vindo em minha direção. Meu peito aperta de uma forma diferente ao ver Connor
na frente e, quando ele percebe que estou na cadeira do corredor, me direciona um
sorriso seguido de uma piscadela.
Connor já é bastante alto e forte, mas com toda a roupa e equipamentos do
hóquei ele parece ficar duas vezes maior. Quase posso sentir as borboletas fazerem a
festa quando, ao passar ao meu lado, sua mão encosta na minha.
A torcida vai à loucura quando eles entram no gelo e eu me viro disposta a não
perder um segundo sequer. Percebo o time rival entrar pelo outro lado e, antes que eu
tenha tempo de processar qualquer coisa, a partida se inicia.
A arquibancada ecoa com os gritos quando os jogadores começam a deslizar
pelo gelo. Foco minha atenção no camisa vinte e três notando o quanto ele é rápido.
Connor desliza com uma maestria impressionante, driblando o adversário e cortando o
ar com o puck. Sinto meu peito acelerar com o decorrer dos primeiros minutos, mas é
quando o Connor avança contra um cara ainda maior do que ele e consegue
ultrapassá-lo acertando o puck no gol que eu fico com medo de infartar durante o jogo.
Todos vão à loucura gritando “Black WildCats” e tanto eu como Bryan e as
meninas nos levantamos empolgados, comemorando o gol. A partida segue, porém
logo se encerra o primeiro tempo, eles voltam para o vestiário e, mais uma vez, sinto
sua mão encostar na minha.
Quando o segundo tempo começa estamos eufóricos, porém nesse os
meninos não marcam nenhum aumentando a chance de Detroit virar. De longe, vejo o
meu tio sério enquanto conversa com eles próximo a outra entrada porque, dessa vez,
eles não foram para o vestiário.
O terceiro e último tempo se inicia e está nítido que Detroit está em cima,
inclusive um dos caras que o Bryan comentou ser atacante vai com tudo para cima do
Ben e o derruba feio no gelo. A plateia geme enquanto Destiny solta todos os tipos de
palavrões existentes ao perceber que o galego vai para o banco mancando. Observo
Liam se aproximar do babaca que derrubou o Ben e algo me diz que ele está pronto
para brigar, mas Connor entra no meio e, depois de dizer algo, o amigo se afasta
desistindo de ir até o rival. Um dos reservas entra no lugar dele e a partida reinicia.
— Quem é esse? — praticamente grito apontando para o cara que acabou de
entrar.
— Tanker, ele é o melhor reserva do time, então estamos bem com ele —
Brooke responde vidrada no jogo e eu faço o mesmo.
Mesmo vencendo é angustiante cada segundo que se passa sem os Black
marcar, porque o rival está afiado nesse último tempo, porém eles não conseguem ser
páreos para os Black e, depois de se chocar com força contra o capitão do outro time,
Connor passar o puck para o Liam que acerta em cheio dentro da rede. Pulamos
animados e, mais uma vez, a arena vai à loucura.
O barulho é ensurdecedor, no entanto, é justamente ele que traz a
empolgação. A euforia dos torcedores, os gritos entoando o apelido do time. Tenho
certeza de que tudo isso contribui para os meninos na arena. Meus olhos não desviam
do Connor que desliza pelo gelo, driblando os oponentes, se chocando com força com
os outros jogadores e não me resta dúvidas de que ele ficará com alguns hematomas
depois da partida. Ele passa na velocidade da luz pela defesa de Detroit e quase posso
ver o sorriso presunçoso em seu rosto quando acerta em cheio dentro do gol marcando
o terceiro ponto para Brisfolk.
— Porra, ele é uma máquina! — Bryan grita empolgado enquanto, mais uma
vez, todos se levantam para comemorar.
O relógio marca menos de um minuto para encerrar e o time de Detroit está
desesperado. Os Black não dão sossego e finalizam o jogo com a vitória de três a zero.
É surreal a energia dentro da arena quando o apito final soa e levamos a vitória. Vejo
eles comemorarem e sinto uma vontade absurda de ir até Connor e parabenizá-lo,
porém me controlo.
— É isso, porra, somos os melhores! — minha prima grita animada e me puxa
para um abraço.
— Caralho, estou toda arrepiada — declaro quando ela se afasta.
— Vamos para o Queens que eles vão comemorar lá — Destiny comenta
enquanto saímos dos nossos lugares.
Eu, ela, Brooke e Bryan nos embrenhamos em meio ao pessoal que também
está saindo. Nos desvencilhamos da galera e logo estamos passando pela saída.
— Você dirige. — Minha prima joga a chave para o nosso amigo quando
chegamos ao estacionamento.
— Você está muito boca de álcool — Bryan implica, porém pega a chave no ar
e logo estamos entrando no carro seguindo caminho até o Queens.
— Isso deve servir. — A voz contida da Ash retira minha atenção da foto que
está na sua cabeceira e vejo ela esticar uma roupa masculina em minha direção.
Estreito os olhos. — É do meu pai. Fiquei com ela depois que ele se foi.
— Obrigado. — Pego as peças de roupa e volto a olhar para o quadro. — Sua
mãe? — indago vendo que Ash é a cópia mais nova da mulher no retrato.
— Sim. Essa foto foi no meu aniversário do ano passado — responde sorrindo.
— A Torre Eiffel é isso tudo mesmo que falam? — pergunto porque a fotografia
foi tirada em frente ao monumento.
— Sim. Um espetáculo, inclusive pretendo voltar.
— Quando é o seu aniversário?
— Dia primeiro de março e o seu?
— Vinte de novembro.
— Daqui a vinte dias. — Seus olhos brilham de empolgação. — Perto do Dia
de Ação de Graças.
— É, mas cairá em dia de jogo — aviso e seus ombros caem desanimados. —
Se vencermos comemoro os dois, se perdermos...
— Vocês não vão perder — me interrompe. — Agora vá tirar essa roupa
molhada.
— Quer me ajudar? — Seu olhar assassino me faz levantar as mãos em
rendição.
— Volto já. — Corro até o banheiro retirando a calça jeans e a cueca.
Espremo os dois e os estendo no boxe do banheiro aproveitando para tomar
uma ducha rápida e quente. Meu corpo está gritando pelo frio, mas também pelo
esforço da corrida depois do jogo insano que fiz. Volto em minutos para o quarto
percebendo que ela apagou as luzes, ligou a televisão e está embaixo das cobertas.
— Obrigada por hoje à noite e mais uma vez desculpa.
— Só não faz isso mais, ok? — Ela assente. — Da próxima vez, espera a
chuva passar. — Assim que minhas palavras saem, o clarão de um relâmpago
atravessa a janela.
— Como você vai para a festa? — pergunta olhando de soslaio para o temporal
lá fora.
— E quem disse que eu vou a festa? — Me aproximo da cama.
— Não? — pergunta cautelosa.
— Só se for me expulsar, mas caso isso não acontecer tenho pretensão de
ficar a noite inteira agarrado ao seu corpo para nos esquentar.
— Minha pessoa não tem nada contra essa sua ideia. — Ela sorri, meu
estômago revira.
Entro embaixo das cobertas e puxo seu corpo para o meu. Ambos já estamos
mais quentes por causa da ducha, ainda assim, o frio está presente. Ashley fica de
costas para mim e sua bunda pressiona diretamente o meu pau e eu tento me controlar
para não ostentar uma ereção.
— Você fez terapia depois que seu pai se foi? — indago começando a acariciar
sua barriga por baixo do tecido.
— Sim — responde baixinho. — Mas nunca falei sobre a questão do carro.
— Por quê?
— Parecia algo irrelevante diante de todo o sofrimento que eu tinha na época.
Eu pensei que sequer conseguiria entrar mais em um carro, mas a terapia ajudou
nisso.
— Você estava no veículo no dia do capotamento, né?
— Estava — confirma. — Meu pai sempre voltava no ônibus do time, mas
naquela noite era seu aniversário de casamento, então ele queria chegar mais rápido.
— É notável a dor nas suas palavras. — Estava tudo perfeito até começar a chover
muito e, em uma curva, o carro que vinha na pista contrária perder o controle e colidir
no da gente.
— Deve ter sido um pesadelo — constato baixo.
— Foi horrível, Connor. — Um soluço baixinho irrompe e eu a aperto mais. —
Não lembro de muita coisa, mas quando retornei já estava na ambulância. Em seguida
veio a notícia de que ele não tinha resistido.
— Deus, eu sinto tanto! — Beijo sua cabeça tentando passar algum conforto.
— Meu pai era super-responsável no trânsito, mas tínhamos acabado de
abastecer e ele esqueceu de colocar o cinto de segurança quando saímos do posto —
continua. — Quando o carro capotou, ele foi arremessado para fora dele.
— Você estava de cinto?
— Sim e foi justamente essa minha sorte — completa e vejo ela levar a mão
até o rosto para enxugar as lágrimas. — Mas podemos falar de outra coisa? — pede se
aconchegando ainda mais ao meu corpo. — Já deu a cota de tristeza por hoje.
— Acho que tenho uma ideia melhor — aviso virando-a para mim.
— Qual?
— Essa — respondo já colando nossos lábios.
CAPÍTULO 27 - Ashley Moore
Os lábios do Connor encostam nos meus assim que suas palavras evaporam e
um gemido baixinho escapa dos meus lábios quando nossas línguas se encontram em
uma dança sensual. Ele me puxa para mais perto, colocando minha perna em cima da
sua cintura, encaixando perfeitamente nossos corpos e cada toque provoca uma
sensação calorosa enviando arrepios por todo o meu corpo fazendo com que os pelos
se ericem.
Enquanto aprofundamos o beijo, sinto sua ereção tocar minha barriga fazendo
minha boceta latejar com o desejo pulsante, ansiando por ele. Suas mãos curiosas
começam a passear pela lateral do meu corpo e enquanto uma vai para minha nuca a
outra estaciona na minha bunda a apalpando com força.
Connor solta meus lábios apenas para descer sua língua pelo meu pescoço e
aproveito para tentar controlar a respiração descompassada, mas falho no processo.
Sua língua sedenta caminhando por meu pescoço desnudo e o lóbulo da orelha
aumenta ainda mais o meu desejo.
Ouço o som da chuva bater na janela e ela se mistura aos nossos murmúrios
compartilhados. Aperto seu braço e desço minha mão pela camisa sentindo nos meus
dedos os gominhos do seu peitoral.
Nossos corpos há pouco tão gelados estão praticamente entrando em
combustão nesse momento.
— Connor... — murmuro seu nome sem saber exatamente o que estou
pedindo.
— Se quiser que que eu pare é só avisar — declara rouco antes de deixar uma
mordida suavemente na minha pele.
— Não — aviso e ele geme trazendo seu rosto de frente para o meu.
Suas íris escuras estão exalando desejo enquanto me encaram intensamente.
Me esfrego descaradamente em sua ereção procurando algum atrito.
— Você é a minha perdição — declara rouco. — E eu preciso urgentemente
provar você, Assassina.
Há um pedido mudo no seu olhar e eu sei que não vou conseguir voltar atrás
porque meu corpo está em chamas, clamando pelo dele. Assinto e o meu sorriso
favorito brota em seu rosto. Connor se afasta, levanta se livrando das roupas e volta a
sentar na cama retirando a coberta de cima de mim. Suas mãos vêm para a minha
cintura e, mais uma vez, ele me pede permissão e basta uma mordida nos lábios para
que a calça do meu pijama seja puxada para baixo.
— Porra! — praticamente rosna quando vê o tecido da minha calcinha
minúscula. — Alguma intenção de me matar? — brinca jogando a calça no meio do
quarto.
— Não ouse morrer agora porque eu preciso gozar — respondo rapidamente.
— E você vai, como vai — declara passando a língua pelos lábios e tremo de
expectativa quando ele se inclina para baixo, levando o rosto até a minha boceta.
Connor inala meu cheiro antes do seu dedo tocar a minha calcinha. — Caralho, você
está toda molhada, Ash.
— Desde que você deitou comigo — aviso e seus olhos em chamas procuram
os meus, mas rapidamente voltam a fitar minha amiga de baixo retirando a renda
vermelha.
— Caralho, que boceta mais linda. — Praticamente rosna erguendo minhas
duas pernas, se enfiando no meio delas.
Agarro o lençol com força quando sua boca beija a parte interna das minhas
coxas me provocando. Connor não tem pressa enquanto sobe lentamente sua língua
por minha pele e, quando ela finalmente encosta no meu clitóris, eu arquejo sentindo
uma eletricidade me atropelar.
Sua língua afoita lambe cada centímetro de pele da minha boceta, revezando
com mordidinhas nos pequenos e grandes lábios. Eu me remexo inquieta, ele me
tortura ainda mais.
— Porra, isso é muito bom! — murmuro.
Connor volta a segurar meu clitóris já sensível e inchado. Ele suga irradiando
prazer para todas as minhas terminações nervosas aproximando ainda mais o
orgasmo. Gemo seu nome, seguro seu cabelo implorando por mais, ansiando por mais
e, como se soubesse exatamente o que fazer, insere dois dedos começando a me
foder com eles.
É a minha ruína!
As paredes internas da minha boceta apertam seus dedos, minhas mãos
bagunçam seu cabelo e eu me inclino levemente para cima sentindo tudo em mim
desmoronando, quando uma onda de prazer avassaladora se apossa do meu corpo.
— Caralho... — gemo, não, grito ensandecida. — Porra, Connor.
Ele continua me lambendo, tomando cada mísera gota do meu prazer
enquanto eu praticamente convulsiono abaixo do seu rosto.
Meu corpo inteiro treme, minha respiração falha e eu solto seu cabelo levando
as mãos até a cabeça tentando controlar essas coisas loucas dentro de mim. Esse
prazer insano!
— Você é deliciosa, Ash.
Olho para ele e o vejo lambendo os dois dedos que há pouco estavam dentro
de mim.
Seu pau em toda sua glória está duro e minha boca saliva com a visão das
veias saltando, da cabeça rosada e mesmo daqui posso ver um líquido brilhando na
glande. Porra, ele conseguiu ficar ainda maior do que a última vez que o vi.
— Ele está implorando para te foder, mas eu não tenho camisinha — murmura
desanimado.
— Segunda gaveta da minha escrivaninha — aviso e seus olhos brilham
enquanto ele praticamente sai correndo até onde instruí.
— Eu poderia te pedir em casamento agora só por você ser uma garota
prevenida — murmura voltando à cama.
Connor fica de joelhos, porém não abre o preservativo. Ele se inclina e, quando
entendo o que vai fazer, me inclino o ajudando a retirar minha camiseta fazendo com
que meus peitos saltem para fora.
— Você é perfeita, completamente perfeita! — declara enquanto traz suas
mãos para a minha pele.
— Connor... — murmuro seu nome quando sinto seus dedos apertarem o bico
intumescido.
Ele não responde porque se abaixa os abocanhando faminto. Sua boca suga
um enquanto seus dedos apertam o outro. Sinto uma leve dor com o beliscão, mas ela
não é nada comparada ao prazer que me cerca. Connor passa um bom tempo se
deliciando, mamando com gosto e deixando-os ainda mais sensíveis.
— Preciso entrar em você — declara soltando meus seios, mas antes de vestir
o preservativo ele deposita beijos pela minha barriga. — Gostosa dos infernos.
Sorrio enquanto observo ele vestir rapidamente a camisinha no seu pau, mas
noto que ela não o cobre completamente.
— Não lembrei que deveria ser uma camisinha monstro para você — brinco e
ele me fita convencido.
— Essa vai ter que servir — avisa colocando um braço de cada lado da minha
cabeça. — Caralho... — rosna quando encosta seu pau na minha entrada. — Mesmo
com o preservativo posso sentir sua boceta pegando fogo.
— Ahhhh... — gemo quando ele desliza pela entrada escorregadia.
Minha boceta protesta de início enquanto tenta se acostumar com algo que ela
não tem há meses, principalmente algo tão grande.
— Você é virgem? — Sua pergunta sai alarmada.
— Não — nego rapidamente. — Só faz bastante tempo e você é grande pra
caralho.
— Se ele fez é porque cabe — zomba deslizando ainda mais. — Estou fodido!
“Estamos, capitão, estamos!”, penso, mas não digo em voz alta porque ele
começa a se movimentar arrancando completamente minhas palavras e meu fôlego.
— Gostosa... — geme enquanto traz sua boca a minha chocando nossos lábios
com força.
O barulho da chuva se intensifica, os nossos corpos se fundindo preenchem o
ambiente. Nossos gemidos se misturam enquanto ele me fode com força me
mostrando o que realmente é foder de verdade.
— Deus, isso é muito bom — digo com a respiração ofegante e os lábios em
chamas quando ele desgruda sua boca da minha.
— Já me chamaram de muita coisa, Ash, mas Deus é a primeira vez — brinca
malicioso e rapidamente bloqueio a mera ideia de que ele já esteve com outras
mulheres.
Empurro seu tórax e ele me olha confuso, mas rapidamente seu semblante
muda quando percebe o que estou fazendo. Passo minhas pernas por seu corpo,
colocando uma de cada lado da sua cintura. Seguro seu pau e o encaixo na minha
boceta molhada.
— Puta que pariu! — rosna jogando a cabeça para trás quando começo a
deslizar. — Porra! — pragueja, mas volta a me fitar enquanto traz suas mãos para a
minha cintura.
— Ahhh... — Connor movimenta meu quadril, talvez entendendo que não
consigo suportar todo o seu pau nessa posição.
— Linda, tão linda — geme enquanto nos encaramos. — Nunca vou cansar de
dizer o quanto você é linda, principalmente engolindo o meu pau com essa sua boceta
gulosa.
Suas palavras sujas me excitam ainda mais despertando um lado que eu
sequer sabia que gostava.
— Gosta da visão? — Mordo os lábios enquanto ele assente.
— A melhor do mundo!
Sorrio sentindo meu coração bater descompassado compreendendo que nunca
foi tão bom e intenso dessa forma. Jamais senti tanto desejo e ânsia por alguém.
Nunca transei olhando dentro dos olhos da forma que estamos agora.
É como se um fio invisível estivesse nos ligando através do olhar nos
mostrando o quanto isso é intenso e surreal. O quanto a nossa química é única e
constatar que talvez essa única vez não seja suficiente me assusta.
Abaixo-me e deixo ele assumir o controle fugindo da força de seu olhar.
Quando minhas pernas pedem socorro, Connor me coloca de quatro e volta a entrar
em mim.
Ele vai cada vez mais fundo.
Eu grito mais alto esquecendo que, provavelmente, as outras garotas que
moram no prédio podem nos escutar.
Ele geme e sinto seu corpo retesar anunciando a chegada do orgasmo.
Quando Connor estoca uma última vez, eu gozo pela segunda vez no mesmo
momento que ele. Jogo meu corpo exausto no colchão e sinto um vazio me preencher
rapidamente quando Connor sai de dentro de mim caindo ao meu lado.
Viro meu rosto encontrando seu olhar fixo em mim enquanto tentamos a todo
custo controlar a respiração errática. A certeza de que estou entrando em uma furada
me acerta precisamente e o medo começa a se instalar pelos meus poros porque é
nítido que, se isso continuar, meu coração vai sair machucado.
Só me resta saber se ele irá aguentar ser quebrado mais uma vez.
CAPÍTULO 28 - Connor Harrington
Às oito e meia, a campainha toca e eu olho para os meus três amigos lançando
uma piscadela. Kyle se joga no sofá fingindo estar jogando com o Ben e Liam está
mexendo no celular despretensiosamente enquanto o caos reina ao redor.
Corro até a porta e, quando a abro, meu coração parece querer saltar para fora
da caixa torácica enquanto a fito. Noto que, pela primeira vez, ela usa um gorro na
cabeça e Ash está tão fofa que é difícil controlar a vontade de puxá-la para os meus
braços. Seus cabelos estão jogados para a frente em cima do suéter bege e suas
pernas estão abraçadas pela calça jeans. O tempo voltou a esfriar e há alguns minutos
uma garoa fina caía do lado de fora.
— Oi, Connor. — Havia uma razão para a frieza em seu olhar e, depois de
passar o dia inteiro pensando, eu cheguei à conclusão de que realmente não fiz nada
de errado enquanto estávamos juntos.
Ashley está com medo de deixar isso que está acontecendo entre nós evoluir
para algo a mais e eu não a julgo, porque também estou assustado pra caralho da
forma como ela conseguiu impregnar meus pensamentos e fazer morada dentro da
minha cabeça desde o instante que a conheci e tudo piorou absurdamente depois da
noite incrível que compartilhamos ontem. Entretanto, eu estou disposto a mostrar que
podemos continuar com nosso acordo sem ninguém precisar sair magoado.
Caramba, somos dois adultos que se gostam e têm uma química do caralho. O
que custa continuar e depois cada um seguir para o seu lado? Finjo que a mera ideia
de a deixar não faz meu peito querer sufocar.
Com certeza, eu poderia ganhar o prêmio de maior mentiroso do ano!
— Oi... — murmuro, tentando esconder a ansiedade que borbulha dentro de
mim em conjunto com a vontade de beijá-la. — Você não me contou que tinha
encontrado uma pessoa para adoção.
— Com a loucura do jogo, eu esqueci completamente — se defende. — Ah,
essa é Olívia e ela veio conhecer o pequeno, que não está mais tão pequeno —
apresenta parecendo só agora perceber que não estamos apenas nós dois parados a
porta.
Olho para o seu lado e estreito meus olhos reconhecendo a morena ao seu
lado.
— Já nos conhecemos. — Sorrio e a garota retribui.
— Se conhecem? — Ela olha de mim para a garota e vejo Olívia concordar
com um menear de cabeça.
— Fizemos um curso de música juntos no verão do ano retrasado — explica.
— Interessante — Ashley murmura.
— Então, acho que não é uma boa hora para você conhecer o cachorro — digo
e sinto meu nariz coçar avisando a vinda de um espirro.
Droga, essa porcaria começou hoje mais cedo, logo após o banho quando
cheguei em casa e sei que foi devido ao temporal de ontem.
— E por que não? — pergunta, porém eu estendo minha mão pedindo para
esperar. Inclino-me para o lado e espirro três vezes consecutivas fungando em seguida
para não sujar as mãos.
— Droga, você vai resfriar. — Sei que ela não está imune a mim, porque a
preocupação é visível quando volto a olhá-la.
— Não é nada — desconverso. — Já tomei um antigripal e daqui a pouco os
espirros cessam.
— Então podemos entrar? — Olívia pergunta e eu olho para trás notando que
meus amigos continuam no mesmo lugar.
Dou o sinal lançando uma piscadela para eles.
— Eu ainda acho que não é uma boa hora — declaro voltando a atenção para
as meninas.
— Connor, aqui fora está muito frio e eu só tenho tempo no final de semana —
Olívia fala e agradeço a insistência mentalmente.
— Depois não digam que eu não avisei. — Abro passagem para ambas e
rapidamente ouço um arquejo em uníssono.
— Meu Deus, o que aconteceu aqui? — É a voz da Assassina que se
sobressai e eu passo por elas indo em direção ao Marley, que, quase como se
soubesse o que estamos fazendo, adentra a sala com um chinelo na boca.
Ou talvez tenha sido a essência de carne que passamos nela!
— Saímos e, quando chegamos, a casa estava dessa forma — respondo
pegando o Marley no colo, retirando o calçado da sua boca e vejo ambas passarem os
olhos pela sala destruída.
Os únicos dois jarros de plantas que temos na sala próxima a janela estão
espatifados e toda a areia espalhada ao redor. O sofá onde Liam está sentado tem as
marcas de patas pretas na cor da areia dos jarros porque fizemos questão de colocar o
Marley para brincar nele, mas é no sofá que o Ben se encontra que a coisa está feia: as
almofadas estão espalhadas pelo tapete e o estofado está metade rasgado.
Confesso que doeu um pouco fazer isso, porque ele foi caro, mas já estávamos
precisando trocar mesmo, então juntei o útil ao agradável. Próximo a escada tem vários
objetos da cozinha jogados aletoriamente: alguns por mim e os meninos, outros pelo
próprio cão que adorou morder os plásticos.
Ah, e não vamos esquecer da cortina pendurada pela metade dando a
impressão de que o cachorro a puxou tanto que ela arrebentou.
Cara, se não dermos certo no hóquei com certeza podemos apostar na
atuação porque, enquanto elas olham horrorizadas para tudo, eu e os meninos
permanecemos neutros.
— Você tinha colocado no anúncio que ele era calmo — Olívia acusa e, no
mesmo instante, o semblante neutro dá lugar a uma risada sincera.
Sim, toda essa bagunça foi feita por mim e os meninos, mas o Marley não tem
nada de calmo! Ele apenas aprendeu a não destruir as coisas depois que veio morar
conosco, porque começamos a adestrá-lo, mas ainda lembro muito bem dos estragos
que ele fez assim que chegou à casa e da hiperatividade até hoje.
— Bom, calmo e Marley na mesma frase não combina — Liam responde
tentando controlar o riso e percebo Ash nos fuzilar desconfiada.
— Ele é muito fofo — Olívia declara apontando para o quinto ator nos meus
braços já dormentes, porque ele está muito pesado. — Porém, meus pais são bem
chatos em questão de organização e se ele faz isso dentro de casa eu sou expulsa
junto com ele. — Dá uma risada nervosa.
— Eu sinto muito — Ash responde sem insistir e eu estranho porque esperava
que ela listasse mil motivos do porquê Marley é o cão ideal.
— Não tem problema — Olívia responde. — Mas já que não vai rolar eu estou
indo.
— Precisa de carona? — Ofereço querendo que ela suma da minha casa antes
que mude de ideia.
— Não precisa. Eu vim de carro e encontrei a Ashley aqui na frente. — Assinto
tentando esconder o alívio. — Bom, vou indo.
— Vou levar você até a porta. — A Assassina diz já indo em direção à saída.
Coloco Marley no chão e, quando Ash fecha a porta, eu dou um soco no ar
comemorando silenciosamente junto com os caras. Claro que ela se vira para nós na
mesma hora.
— O que eu faço com vocês? — questiona colocando as mãos na cintura com
o semblante sério. — Não precisava dessa armação toda se não queria que ele fosse
embora. — A olho chocado enquanto um sorriso começa a brotar em seu rosto.
— Como você soube? — Ben pergunta perplexo.
— Ah, eu posso não vir todo dia o ver, mas o conheço bem para saber que ele
se acalmou mais com o tempo. — Ela se abaixa e rapidamente Marley pula nos seus
braços latindo. — Parece que você conquistou quatro corações de pedra, meu amigão
— declara acariciando seu pelo.
— Au, au, au... — Marley late quase como se estivesse confirmando.
— Isso quer dizer que ele é oficialmente nosso? — Kyle indaga.
— Sim, seus bobos, de vocês e meu!
— Aeeeee! — comemoro me aproximando e, com um olhar, meus amigos
entendem que preciso ficar sozinho com ela.
Observo eles começarem a se levantar, porém Ash também nota.
— Bom, eu preciso ir — ela avisa apressada, já se virando sem esconder que
está fugindo. — Vejo vocês amanhã na universidade.
Não digo nada enquanto a vejo saindo, batendo a porta em seguida.
Não consigo, porque um bolo se forma na minha garganta.
— É impressão minha ou ela acabou de fugir de você? — Ben pergunta.
— Vamos limpar essa bagunça, porque a Gorete não tem nada a ver com as
nossas loucuras — digo e eles entendem que não estou a fim de conversar.
CAPÍTULO 29 - Ashley Moore
Connor Harrington
Meu pau está tão duro quanto pedra e bastou apenas algumas palavras e um
sorriso safado da garota para fazê-lo ficar dessa forma. Ashley me olha tão faminta
enquanto estou me aproximando, que controlo a vontade de colocá-la de quatro e me
enterrar de uma só vez na sua boceta.
Sua língua passa vagarosamente pelos lábios rosadas e imagino o mesmo
movimento em outro lugar.
— Meu pau está implorando por você — aviso e sua mão desce até a minha
bermuda no mesmo instante.
Fecho os olhos quando ela o aperta e mesmo sob o tecido sinto o desejo se
intensificar. Abro os olhos quando a vejo abrindo os botões e rapidamente a ajudo me
livrando da peça indesejada. Seus olhos parecem dobrar de tamanho quando vê o meu
pau marcando a cueca boxer.
— Tira essa roupa para mim — peço apontando para o conjunto que veste e
ela se afasta.
Não desvio meu olhar enquanto ela retira a blusa de alcinhas e o short jeans
ficando apenas com um conjunto de lingerie rosa à minha frente. Ele também não se
demora no seu corpo, pois rapidamente ela o retira ficando completamente nua à
minha frente.
Controlo a vontade de avançar contra ela e para isso ocupo minhas mãos
retirando minha camisa e, em seguida, desço a cueca jogando ambos em algum lugar
do quarto. Suas pupilas se dilatam com a visão do meu pau em sua mais perfeita
glória.
— O que você quer, Ashley? — indago com a voz rouca voltando a me
aproximar.
— Você — responde. — Na minha boca — completa arrancando o restante da
minha sanidade.
— Ajoelha — ordeno com a voz rouca e sei que ela gosta porque morde os
lábios maliciosa fazendo exatamente o que eu peço. — Sabe o quanto eu quero foder
essa sua boquinha? — Me inclino, seguro seu queixo, o erguendo para que seus olhos
encontrem os meus.
— Essa é a sua chance, capitão. — Solta seu rosto do meu toque e me
direciona um olhar safado.
Estremeço ao sentir sua mão circundar meu pau, porém é quando sinto seu
hálito quente encostar na minha pele que quase enlouqueço. Olho para baixo
encontrando sua língua percorrendo todo o comprimento do meu membro, parando na
glande. Ashley lambe a cabeça rosada, como se estivesse faminta, e o que fode tudo é
que em nenhum momento ela desvia seu olhar do meu.
Ela tem uma única intenção: me deixar completamente louco e devo dizer que
já conseguiu essa proeza há tempos.
— Caralho, Ash! — rosno no momento que ela o abocanha, levando até o
máximo que consegue na sua boca e me fazendo delirar no processo.
Ash me chupa com vigor, descendo e subindo sua cabeça em um movimento
delicioso. Seguro seu cabelo com força e, mesmo com meu pau entalado em sua boca,
ela dá uma risada safada.
— Hum... — geme enquanto me suga. Minhas bolas contraem e, como se
soubesse do que preciso, ela leva sua mão até elas, as apertando de leve.
Começo a impulsionar meu pau dentro da sua boca, fodendo-a do jeitinho que
já imaginei diversas vezes. Ela não reclama, pelo contrário, sinto sua língua rodar no
meu comprimento ao mesmo tempo que meu pau fode sua boca.
É a porra do paraíso na Terra!
Ninguém nunca fez isso. Ninguém nunca conseguiu me dar tanto prazer como
ela consegue.
— Eu não vou aguentar muito — aviso com a voz quase falhando, porém ela
segura minha coxa deixando claro que não é para parar. — Posso encher essa
boquinha de porra, é isso?
Seus olhos parecem triplicar enquanto ela assente ainda com a porra do meu
pau entalado. Volto a foder sua boca e sinto o orgasmo se aproximando com força,
mas é quando a vejo levar sua mão até sua boceta, enquanto me engole com gosto,
que desisto de segurar. Estoco mais uma vez e deixo o prazer vir com força. Despejo
toda a minha porra dentro da sua garganta enquanto sinto o tesão surreal me invadir
com força.
— Ashley... — rosno seu nome enquanto me derramo e ela engole cada
maldita gota, lambendo meu pau assim que solto sua cabeça. — Caralho, mulher! —
ofego tentando controlar os batimentos erráticos e a respiração.
— Gostou? — indaga se levantando e eu a puxo para mim grudando nossos
lábios em um beijo bruto.
— Nunca vou me esquecer do seu olhar enquanto se engasgava com meu pau
— murmuro quando a solto. — Agora é a minha vez de te provar.
Olho ao redor do quarto e, quando vejo o espelho, uma ideia se apossa da
minha mente. A solto, puxo a cadeira, colocando-a de frente para o espelho.
— Vem aqui — a chamo sorrindo safado e ela vem sem pestanejar. — Quero
que coloque uma perna no assento e empine essa bunda para mim. — A safada faz
exatamente o que peço. — Agora olhe para o espelho e veja meu rosto enfiado dentro
do seu rabo gostoso.
Ela ofega e meu pau já está ficando duro novamente com a visão da sua bunda
empinada.
Eu o seguro, me masturbando enquanto me abaixo. Distribuo beijos nas polpas
de sua bunda e só então solto meu membro para abrir suas nádegas.
— Connor... — me chama e, quando a fito através do espelho, vejo suas
bochechas corarem.
— Não precisa ficar com vergonha. — Ela morde os lábios, mas dessa vez
acanhada. — Você é linda e sua bunda arreganhada na minha cara é minha mais nova
visão favorita. — Ela arfa e sei que, mesmo envergonhada, gosta do palavreado sujo.
— Isso é novo. — Meu peito praticamente estufa como um homem das
cavernas ao compreender suas palavras.
— Ninguém nunca tocou aqui? — indago e ela nega. — Então se segura,
Assassina, porque vou lamber você por inteiro.
— Ahhh... — geme no instante que minha língua encontra seu cu.
Começo apenas lambendo, mas logo faço um movimento que se assemelha a
foder. Finjo que é o meu pau e tento socar seu cu, porém sem inserir minha língua.
Ashley se remexe inquieta, gemendo meu nome, enquanto me delicio com meu rosto
enterrado dentro da sua bunda.
Afasto-me apenas para molhar meu dedo e fazê-lo trocar de lugar com minha
língua. Procuro seu olhar através do espelho e o encontro ardendo em desejo. Ela abre
a boca quando insiro o polegar no seu cu e vejo suas mãos apertarem com força o
encosto da cadeira.
— Gosta disso? — Assente ofegante e eu sorrio. — Empina mais esse rabo
para mim. — Ela faz o que peço e desço meu rosto para a sua boceta.
O seu sabor explode na minha língua quando me delicio com sua carne úmida
e exalando a sexo. Meu dedo continua fodendo sua bunda enquanto seguro seu clitóris
com força.
— Ahhh... Iss... Isso é muito bom, porra. — Aumento a intensidade do dedo e
da língua. — Eu vou go... — A frase não se completa, porque ela começa a tremer na
minha boca e no meu dedo. — Porraaaaa... — pragueja quando é dominada pelo
prazer. Quase gozo só de vê-la se derreter dessa forma e só a solto quando seu corpo
se acalma. — Isso foi surreal! — diz em meio à respiração entrecortada ficando de
joelhos na cadeira.
— Estou tão viciado em você que não sei se consigo algum dia parar de te
foder — declaro já pegando a bermuda. Retiro o preservativo e ela dá risada quando vê
minha pressa em rasgá-lo.
— Quer ir para cama? — pergunta olhando sobre o ombro enquanto visto meu
pau.
— Quero fodê-la dessa forma — aviso me aproximando. — Só empina mais
essa bunda para mim.
— Assim? — pergunta de joelhos enquanto procura apoio no estofado da
cadeira. Assinto me aproximando.
Seguro meu pau, encaixando na sua entrada e jogo a cabeça para trás com o
prazer que me acomete ao deslizar por sua entrada quente e apertada.
— Isso é insanamente gostoso! — murmuro enquanto as paredes da sua
boceta me engolem.
Inclino meu quadril iniciando o movimento de vai e vem. Seguro seu cabelo
com uma mão e a outra passeia por sua coluna desnuda arrancando arrepios pelo
caminho.
Minhas bolas se chocam com sua pele enquanto meu pau vai cada vez mais
fundo. Nossos corpos suados vão se encaixando como se fossem feitos um para o
outro.
O quarto cheira a devassidão, nossos gemidos se misturam em uma melodia
erótica e, enquanto gozamos juntos, nossos olhares não se desgrudam.
Eu finalmente compreendo que jamais deixarei essa garota sair da minha vida!
ATENÇÃO
Essa cena possui uma ilustração +18 e ela se encontra no Twitter da autora. Bastar
clicar aqui.
CAPÍTULO 33 - Ashley Moore
Sei que tem algo de errado quando adentro o instituto com o Connor e noto
que a recepção está vazia, mas é quando pegamos o corredor e escutamos um choro
agonizante vindo da ala infantil que meu coração se aperta.
— Deus, não! — Connor pede já começando a correr e eu faço o mesmo,
porém estaco no lugar quando passo pela porta de vai e vem e vejo Eve abraçada a
mãe do Elijah.
Ela não precisa verbalizar, porque seu olhar por sobre o ombro de Quênia já
nos diz tudo. Meus olhos ardem quando as lágrimas começam a descer
silenciosamente. Viro-me para Connor, que parece estar em choque ao fitar as duas
mais à frente e o puxo para um abraço o despertando do transe.
Choramos copiosamente enquanto a perda vai se instalando por nossos poros.
Meu peito dói, minha cabeça lateja e sinto como se estivesse perdendo um familiar, na
verdade é exatamente isso que está acontecendo porque, nos últimos meses, essas
crianças se tornaram minha família.
Como Connor estava se recuperando da virose e minha mãe veio me visitar,
não conseguimos vir para o instituto na segunda. No entanto, Eve nos avisou na terça
que o Elijah tinha sido internado, mas, como ela não falou mais nada, eu acreditei que
ele tinha melhorado e retornado para casa.
— Não acredito que ele se foi — Connor diz fungando, tentando controlar o
choro. — O Noah, Deus, ele vai ficar desolado.
— Ele vai precisar de todo suporte necessário para ajudar no luto — digo e ele
assente se afastando, limpando as lágrimas. — Mas estaremos aqui por ele.
— Será que ele já saiu do quarto? — pergunta fitando o corredor e percebo
que Eve e Quênia sumiram.
— Quer ver? — questiono e ele assente.
Seguro sua mão e juntos caminhamos até a penúltima porta à direita. O choro
volta com força quando vejo a cama vazia, as paredes antes cobertas por desenhos
agora sem nada. Uma sensação pesada e dolorosa preenche o ambiente que antes era
o quarto dele.
Connor aperta minha mão e juntos nos despedimos silenciosamente do
ambiente onde, durante diversas vezes, compartilhamos momentos de diversão e
sorrisos sinceros do Elijah mesmo enquanto ele lutava contra uma doença tão severa.
O que consegue amenizar um pouco minha dor é saber que, apesar de tudo, a gente
conseguiu trazer alegria para uma fase tão difícil e dolorosa que ele enfrentou.
Nos viramos e seguimos até a sala da Eve e, depois de prestar nossas
condolências, seguimos para completar nossas tarefas porque é nítido que Eve
também precisa de um pouco mais de tempo para processar tudo. Sigo com a
enfermeira, que está de plantão, e a ajudo fazer as medicações de todas as crianças e,
quando terminamos, reúno-as na sala de recreação e, ao lado do Connor, tento trazer
um pouco de conforto para elas através da música e da pintura.
A tarde vai embora, porém a dor continua presente no meu peito e, quando
Connor me deixa em frente ao dormitório e vai treinar, eu estou ansiando por um banho
e minha cama, mas, ao passar pela porta do dormitório, descubro que esse dia horrível
está longe de acabar porque um Petter sorridente me espera sentado na minha cama.
— O... o que você está fazendo aqui? — Odeio a falha na minha voz.
— Eu também senti sua falta, docinho — zomba enquanto se recosta na
cabeceira, colocando as mãos atrás da nuca e esticando as pernas no colchão como
se estivesse em casa.
— Como você entrou aqui? — questiono sem sair de perto da porta. — Eu
quero que você desapareça daqui, Petter.
— Quem gosta de desaparecer é você, não eu — revida e odeio que ele
pareça tão centrado enquanto eu estou tentando ao máximo não surtar. — É sério que
você resolveu voltar para essa universidade de bosta? — Olha ao redor.
— Estou onde eu jamais deveria ter saído. — Cruzo os braços e ele gargalha.
— Já se passaram meses, Ashley, ainda não cansou desse seu chilique
infantil?
— Chilique? Você foi um escroto e nós terminamos! — grito. — O que caralho
você ainda está fazendo ao vir atrás de mim?
— Não. Não terminamos. — Na velocidade da luz, ele se levanta e vem na
minha direção. — Você que decidiu terminar, mas comigo as coisas não funcionam
assim! — Meu corpo retesa com a proximidade. — Achou que poderia simplesmente
me dar um pé na bunda e ficar por isso mesmo?
— A culpa foi sua... — Viro meu rosto e saio de perto dele quando ele tenta me
tocar. — Você destruiu nosso relacionamento! — grito tentando não o deixar me
intimidar.
— Eu não fiz caralho nenhum com você. — O fito incrédula porque ele
realmente acredita nisso.
— Você me machucou, Petter, e só não fez pior porque eu fugi!
As lágrimas teimam em descer quando lembro daquela tarde.
Eu estava no pátio da universidade fazendo um trabalho em dupla com Sean e
Martina, dois alunos do curso de medicina quando Petter apareceu totalmente
transtornado querendo bater no Sean me acusando de estar traindo-o. Foi um inferno
e, para evitar algo pior, eu praticamente saí o arrastando do pátio até o
estacionamento.
Brigamos feio e ele me mandou entrar no carro. Eu estava exausta demais
para negar e não queria continuar sendo o centro de atenção da faculdade, então entrei
e fui com ele.
As lembranças me atropelam sem eu sequer conseguir fazer algo.
— Petter, vai mais devagar! — pedi com medo porque o painel estava
marcando cento e vinte e ele estava completamente transtornado.
— Eu não acredito que você estava me traindo bem embaixo do meu nariz. —
Sua voz continha o mais puro ódio e eu me assustei porque nunca vi esse seu lado. —
Como eu sou idiota!
Seus dedos seguravam o volante com força e eu respirei aliviada quando vi a
mansão mais à frente. Quando ele estacionou em frente, desceu batendo a sua porta e,
rapidamente, deu a volta no carro abrindo a minha, me puxando para fora com rispidez.
— Você está me machucando! — gritei puxando meu braço de suas mãos e
ele me fitou com ódio.
— Vamos entrar e conversar! — informou respirando fundo, buscando controle,
e acreditando que ele ia se acalmar o segui para dentro da mansão.
Passei pela sala e juntos subimos as escadas que levavam ao primeiro andar.
Assim que entramos no seu quarto, ele começou a andar de um lado para o outro.
— Por que você fez isso? — questionou se aproximando e eu dei um passo
para trás assustada, porém logo minha lombar encontrou a parede. — Não estava
satisfeita com um pau e foi atrás de outro? — gritou com ódio.
— Eu não estava traindo você — respondi sentindo o pavor me dominar
quando seu corpo alto e esguio me encurralou na parede. — Eu só estava fazendo um
trabalho — murmurei.
— Os caras disseram que viram você e o Sean juntos na frente da sua casa
ontem à noite. — Sua mão apertou meu braço com tanta força que senti a ardência no
local. — E que pareciam muito íntimos.
— Você está me machucando, Petter! — Lágrimas começaram a rolar pelo
meu rosto.
— O que você estava fazendo com ele ontem à noite, caralho? — gritou
segurando meu queixo com a mão livre e, pela primeira vez, senti medo dele. Medo do
que ele poderia fazer comigo.
— N... nada — gaguejei sob o aperto de sua mão. — Ele foi apenas pegar uma
bolsa para a Martina.
Ele gargalhou apertando ainda mais o meu maxilar.
— Eu faço tudo por você, caralho! — Seus olhos brilhavam de fúria. — Eu
trouxe você para Leifield e te coloquei embaixo das minhas asas.
— Eu não fiz nada, juro — revidei e trouxe a minha mão até a sua a afastando
porque a dor estava forte e só então ele soltou o meu maxilar. — Juro que não transei
com o Sean e nem com ninguém.
— Você é minha, Ashley, e eu vou te dar essa confiança, mas, se eu descobrir
que você me traiu, você vai se arrepender — decretou se afastando.
— Não, eu não sou sua — neguei enxugando as lágrimas. — Você me
machucou, Petter. — Estiquei o braço em sua direção mostrando a mancha roxa que
começou a aparecer. — Nunca mais encoste em mim! — gritei sentindo o medo dar
lugar ao ódio.
— Eu não quis te machucar! — disse arregalando os olhos. — Você que me
deixou fora de mim! — acusou.
— Acabou. — Agora o pavor percorreu seu semblante. — Não chegue nunca
mais perto de mim! — gritei e me virei saindo do seu quarto. Corri pelo corredor
querendo desaparecer daqui, mas logo ouvi seus passos atrás de mim.
— Aonde você está indo? — gritou furioso e eu acelerei o passo. — Volta aqui,
Ashley! — bradou no momento que comecei a descer as escadas correndo.
Senti meu coração praticamente saltar para fora com medo dele me alcançar,
mas quando desci o último degrau e corri em direção a entrada um grito me parou. Ao
olhar para trás vi o Petter literalmente despencar escada abaixo.
— Caralho, eu vou matar você, garota! — gritou segurando o braço com força e
eu vi Angelina, a governanta da casa, entrar na sala.
— Jesus, o que aconteceu? — exclamou assustada.
— Liga para o doutor Andreas. Acho que fraturei meu braço! — Petter gritou
tentando se sentar.
Senti vontade de voltar até ele e ajudá-lo, mas olhei para o meu próprio braço
e, quando fitei a marca que ele deixou há pouco, virei as costas e saí da mansão sem
olhar para trás.
— Eu perdi a cabeça naquela tarde e já me arrependi. — Sou arrancada das
lembranças quando percebo sua voz próxima novamente. — Você não pode me deixar
só por causa de um erro!
— Um erro? — rebato. — Você me agrediu, pior ainda foi o que eu descobri
depois. — Arrepio-me só de lembrar.
— Eu só queria um filho nosso! — tenta justificar o injustificável.
— Você furou todas as camisinhas sem eu saber e eu só descobri quando
perdi a criança! — Um soluço escapa da minha garganta. — Você tem noção do quanto
foi um filho da puta?
Me sento na cama da Brooke completamente exausta ao me lembrar de tudo.
Quando saí da casa do Petter naquela tarde, eu fui direto para a minha e me tranquei
no quarto me sentindo pequena e vulnerável, porém sem coragem de ligar para a
minha mãe porque ela estava viajando a trabalho e só voltaria no dia seguinte.
Estava tão esgotada que acabei dormindo, mas acordei no início da noite com
dores insuportáveis na barriga e com os lençóis da cama sujos de sangue. No primeiro
momento, pensei que fosse minha menstruação, no entanto, quanto mais o tempo
passava, mais a dor se intensificava. Com medo, eu liguei para a Martina e ela me
levou até o hospital mais próximo e, naquela noite, eu descobri que estava sofrendo um
aborto espontâneo.
— Se eu pedisse um filho, você não me daria, então dei o meu jeitinho.
— Não encosta em mim! — grito quando sinto sua mão segurar meu braço. —
Eu odeio você, Petter! — brado e ele me levanta com força me encostando na parede.
— Para com essa loucura, porra! — esbraveja — Estou cansado das suas
frescuras.
— V... você está me machucando de novo — aviso sentindo minha respiração
falhar com o medo se embrenhando por cada partícula do meu corpo.
— E estou pouco me fodendo para isso! — Praticamente cospe as palavras.
— Eu vou matar você, seu desgraçado! — Uma voz irrompe feito um trovão
dentro do dormitório e, segundos depois, Petter é arrancado de cima de mim.
CAPÍTULO 34 - Connor Harrington
O sangue corre nas minhas veias no instante que retiro o desgraçado de cima
da Ashley sentindo o mais puro ódio me dominar. Viro-o de frente para mim e assusto-
me quando percebo que é Petter London que está à minha frente, porém a surpresa
não é párea para o ódio que me consome ao constatar que ele a estava machucando.
Meu punho acerta seu queixo antes que ele consiga processar que estou à sua
frente. O infeliz cambaleia para trás levando a mão até a boca e noto um filete de
sangue escorrer pelo local.
— Ah, está explicado por que ela estava na sua casa. — Ele limpa o sangue
com um sorriso de escárnio. — A vagabunda já encontrou outro pau para foder.
— Seu desgraçado! — rosno e parto para cima dele sentindo tudo arder dentro
de mim e uma névoa de ódio cobrir meus olhos. — Você quer brigar? Então briga com
alguém do seu tamanho, filho da puta. — Desfiro o segundo soco e ele cambaleia
caindo em cima da escrivaninha.
Ouço alguém gritar meu nome e um choro ao fundo, porém não consigo
raciocinar enquanto me lanço sobre Petter desferindo mais um soco. Uma dor forte
atravessa meu maxilar quando ele consegue me acertar ao se defender, porém revido
na mesma intensidade.
Minhas mãos estão sujas de sangue e cada fibra do meu corpo está focada em
derramar toda a fúria em cima dele.
— Connor... — alguém me chama, porém estou concentrado em socar outra
vez e outra vez. — Você vai matá-lo. — Sinto braços fortes me segurarem, arrancando-
me de cima de Petter, puxando me para trás.
— Me solta, caralho! — brado.
— Você precisa parar, porra! — Reconheço a voz do Liam, porém meus olhos
estão fixos no Petter, que se levanta com dificuldade e é arrastado para fora por um
cara que não conheço.
— Se chegar perto dela novamente, eu vou te matar! — grito antes dele sumir
da minha vista.
— Você precisa se acalmar — Liam pede, porém não consigo responder
porque meus olhos passeiam pelo quarto encontrando-a encolhida no chão abraçada à
prima.
— Ashley. — Seu nome sai quase como uma súplica, mas ela escuta porque
levanta o rosto e me fita.
Seus olhos, normalmente tão radiantes, agora estão opacos, vermelhos e
inchados. Uma faca cravada em meu peito doeria menos do que ver tanto sofrimento
em suas íris enquanto lágrimas rolam livremente por seu rosto.
Aproximo-me do seu corpo, me abaixando à sua frente quando ela assente
para a Brooke, que se afasta.
— Ele não vai mais te machucar! — digo a puxando para os meus braços
sentindo a fúria se transformando em uma determinação insana de protegê-la. — Eu
prometo que ele nunca mais vai tocar em você.
— Obrigada... — agradece em meio aos soluços e tantas perguntas rondam
minha cabeça, entretanto todas podem esperar.
Ouço a porta bater e sei que estamos sozinhos no quarto. Passo meus braços
pelo seu corpo sentindo os ossos da minha mão protestarem enquanto a levanto. Ando
com ela até a sua cama e a deposito gentilmente no colchão.
— Você está machucado — diz trazendo sua mão para o meu rosto e sinto a
ardência no maxilar.
— Não é nada! — a tranquilizo e ela fecha os olhos. — Como você está?
— Cansada, com medo... — A fragilidade na sua voz me quebra.
— Descanse. Vou apenas lavar minha mão e volto — aviso, mas ela abre os
olhos negando.
— Fica aqui, por favor — pede indo um pouco para o meio da cama e eu
assinto me deitando ao seu lado, encostando minha barriga na sua lombar. — Você
deve estar cheio de perguntas.
— Sim, mas elas podem esperar até você ficar bem. — Passo a mão esquerda,
a que não está com sangue, em seu cabelo, o acariciando.
— Eu namorei o Petter por pouco mais de dois anos. — Suas palavras me
pegam desprevenido. — É por causa dele que eu tinha a regra de não me envolver
com atletas.
— Como eu não sabia? Como ninguém sabia? — pergunto o óbvio, porque
nunca ouvi falar que o capitão dos The Crows tivesse uma namorada.
— Você deve saber que o pai dele é o reitor da Leifield. — Se vira, ficando de
frente para mim, e eu assinto. — Ele é bem rígido e dizia que um namoro tiraria o foco
do hóquei.
— Vocês passaram esse tempo todo namorando escondido?
— Não... — nega rapidamente. — O pai dele sabia sobre a gente e todas as
pessoas da faculdade também, porém não fazíamos demonstrações de carinhos
quando ele estava jogando, então fora da Leifield quase ninguém sabia da gente.
— O que ele veio fazer aqui hoje?
— É uma longa história... — Suspira.
— Eu tenho a noite inteira, se você quiser falar.
Ashley fecha os olhos e eu acredito que ela não irá me contar, mas, quando os
abre, desata a falar. Ouço atentamente enquanto ela começa a narrar sobre o início do
relacionamento revelando que ele já dava indícios de que seria abusivo, porém, na
época, ela não conseguiu ler nas entrelinhas as brigas por coisas simples, os surtos por
causa de uma roupa ou os ciúmes excessivos ao vê-la conversar com alguém do sexo
oposto.
Sinto ódio quando ela fala sobre o dia que ele finalmente surtou e foi agressivo,
porque acreditou que ela o estava traindo. Fico chocado ao descobrir que a lesão que
soubemos do Petter foi decorrente da briga que eles tiveram nesse dia, porque o
desgraçado caiu da escada.
Quando eu penso que não pode piorar, ela revela entre soluços sobre o aborto
que sofreu depois que ele a agrediu. Cada palavra que sai dos seus lábios é como um
golpe dentro do meu coração e me sinto impotente de não poder ter feito nada, mesmo
sabendo que era algo impossível porque sequer nos conhecíamos.
— Eu sinto muito por tudo que você passou com aquele infeliz, mas eu
prometo que não vou deixá-lo chegar perto de você — digo firme.
— Ele vinha me mandando mensagens e algumas vezes senti que estava
sendo observada, mas não acreditei que ele seria capaz de vir até aqui — soluça em
meio ao choro. — Estou com medo, Connor.
— Eu farei com que ele seja proibido de pisar na Brisfolk, se preciso até em
Boston, mas ele não vai mais te machucar.
Ela não responde, mas encosta seu rosto no meu tórax e eu volto a acariciar
seus cabelos. Quando Ashley pega no sono, eu me arrasto para fora da cama e sigo
até o banheiro.
Lavo as mãos me lembrando do desespero que fiquei quando Emily, uma
garota que também cursa Arquitetura, me ligou dizendo que estava escutando gritos
vindo do quarto da Ashley. Eu não fazia ideia, mas ela estava no quarto do primeiro
andar e, como já me viu diversas vezes no dormitório, decidiu me ligar e agora
agradeço aos céus por ter feito um trabalho em dupla com ela no semestre passado.
Sequer consegui agradecer porque, no momento que ela citou a briga, eu voltei
para o carro, desliguei o telefone e mandei uma mensagem para o meu grupo com os
meninos. Foi exatamente por isso que o Liam chegou pouco tempo depois de mim.
Seguro o mármore da pia com força quando desligo a torneira e fito meu
reflexo no espelho vendo uma mancha roxa próximo ao maxilar. Respiro fundo
tentando a todo custo controlar a vontade de ir atrás daquele infeliz e descontar o resto
da ira que ainda me consome.
Pego meu celular no bolso, abro o grupo dos meninos e digito furiosamente.
EU: Petter London é ex-namorado da Ashley e eu quero que esse desgraçado
nunca mais coloque os pés na Brisfolk.
Guardo o celular, jogo uma água no rosto e retorno para a cama, porque
preciso ter a certeza de que ela está bem.
— Estamos na final, porra! — A voz do Connor irrompe a sala, porém noto ele
se calar quando recebe de volta o silêncio e a escuridão.
— Onde está todo mundo? — Liam, como um bom ator que é, indaga pouco
antes de alguém acender as luzes.
— Surpresa! — gritamos em uníssono e observo o capitão nos fitar abismado
enquanto seus três amigos estão sorrindo como patetas ao seu lado porque todos nos
ajudaram a preparar a surpresa.
Brisfolk venceu mais dois jogos no último final de semana e hoje, em plena
quarta-feira, venceram com louvor a campeã do ano passado, Lecroft, os levando
direto para a final da temporada. Eles estão a um passo para receber o título de
campeão e uma grande festa na Nu Zeta está sendo preparada para comemorar a
vitória de hoje. No entanto, eu quis fazer algo mais íntimo para comemorar o
aniversário do cara que está vindo em minha direção com um sorriso gigantesco e os
olhos brilhando.
— Feliz aniversário, capitão — felicito pegando a embalagem pequena no
bolso da calça o entregando. — É só uma lembrancinha.
— Obrigado — agradece e traz seu rosto até o meu depositando um beijo
rápido em meus lábios. — Mas não precisava se incomodar comigo.
— Abre... — peço ansiosa para saber o que ele vai achar e, quando ele vê a
palheta e o minipuck em forma de pingentes, seu sorriso se alarga.
— Isso... Isso é perfeito — agradece colocando ambos na palma da mão. —
Muito obrigado. — Torna a guardar os pingentes na embalagem.
— Parabéns pelo jogo também. — Aproximo-me depositando minhas mãos
atrás da sua nuca. — Você foi incrível, capitão.
— Então eu mereço mais um prêmio. — Segura minha cintura.
— E qual seria? — indago fitando seu sorriso malicioso.
— Um beijo de verdade — responde já chocando nossos lábios.
Seu beijo tem gosto de hortelã e minha língua rapidamente encontra a sua em
uma carícia faminta. Nos beijamos e sinto a corrente elétrica passear pelo meu corpo o
acendendo como acontece toda vez que o Connor me toca.
— O que acham de deixar para se pegarem mais tarde para a gente comer e
depois ir para a Nu Zeta? — Desgrudo nossas bocas quando ouço a voz do Kyle.
— Não gosto dessa ideia — Connor resmunga, mas se afasta do meu corpo e
segue até a mesa onde estão dispostos o bolo, docinhos e salgados que
encomendamos. — Vocês sabiam disso? — questiona e os meninos assentem.
— A ideia inicial foi da sua garota — Destiny declara.
Sua garota!
Porra, eu gosto de como isso soa!
Desde a noite no karaokê que a turma inteira ficou sabendo sobre nós, eu amei
que nenhum deles ficou nos enchendo de perguntas, pelo contrário, é como se eles já
soubessem, pois não houve surpresa alguma quando nos viram de mãos dadas. Eles
quase me deixaram surda quando viram eu e o Connor nos beijando depois do capitão
alcançar a nota máxima na máquina do karaokê.
— Obrigado a todos vocês — agradece e rapidamente todos se juntam para
abraçá-lo.
Eu, Destiny, Bryan, Liam, Brooke, Ben, Kyle e Bethany. Assim como na noite
do karaokê, a Cassey não conseguiu vir comemorar conosco.
— Agora está bom de sentimentalismo porque eu vou tomar um banho e correr
para a Nu Zeta. — Kyle se afasta. — Preciso descarregar toda essa adrenalina pós-
jogo em uma gostosa.
— Eca! — Vejo Brooke jogar uma almofada no moreno safado.
— Posso mostrar que não tem nada de nojento nisso, loirinha. — Lança uma
piscadela para a Brooke e agora é o Liam que joga uma almofada nele.
— Obrigada, mas passo — minha prima responde. — Vamos comer.
Nos reunimos no tapete da sala e ficamos conversando enquanto devoramos
as comidas que compramos. Quando terminamos, eu e as meninas vamos para o
dormitório para nos vestir e ir para a festa em comemoração à vitória dos meninos.
Assim que recebo permissão para entrar na área dos jogadores, apresso-me
em direção ao vestiário. Ao empurrar a porta, deparo-me com uma sala cheia de
homens e, ao notarem minha presença, eles exalam surpresa, no entanto não dou
atenção a ninguém. Meus olhos preocupados logo localizam o meu namorado sentado
em um banco enquanto aplica gelo.
Corro em sua direção me ajoelhando à sua frente sentindo meu coração doer
ao ver seu rosto machucado. A culpa, mais uma vez, volta a me dominar.
— Ei, o que aconteceu? — Seguro seu rosto encostando minha testa na sua e
ele coloca a compressa de lado. — Você me prometeu... — murmuro triste.
— Eu tentei, juro que tentei, mas ele partiu para cima de mim. — Sinto seus
lábios encostarem de leve na minha testa. — Mas não precisa se preocupar porque
estou bem — afirma.
— Não me preocupar? Como não? — indago aflita e percebo ele segurar o
riso. — O que é engraçado?
— Você fica ainda mais linda preocupada comigo, Ash — responde deixando o
sorriso brotar em seu rosto e até machucado ele consegue continuar lindo.
— E você acha isso engraçado? — Dou um tapa no seu braço e ele se
encolhe. — Droga, me desculpe. — Arrependo-me ao me lembrar de que ele acabou
de sair de um jogo e de uma briga, que quase me fez ter um ataque cardíaco.
Quando o apito soou anunciando o final do jogo e, consequentemente, a nossa
vitória, eu, Bryan, as meninas e os pais do Connor entramos em êxtase, entretanto, a
alegria deu lugar rapidamente a preocupação quando percebemos a briga que
começou a se criar no gelo. Foi um inferno não poder pular aquela grade de proteção,
ainda pior, passar pela multidão e conseguir chegar até ele sem ter um ataque cardíaco
de preocupação.
— É fofo... — responde arrancando-me das lembranças ruins e eu sorrio.
— Filho... — A voz aflita de Audrey soa dentro do vestiário e, quando fito a
entrada, a vejo entrar no local com William e Colleen. — Você está bem?
Sorrio ao constatar que não só a mãe, mas todos eles parecem preocupados
com o capitão. Assim que cheguei no local, onde foi reservado os nossos assentos, me
surpreendi ao me deparar com eles três. No início, não soube o que falar, mas logo
Bryan nos apresentou e com a boca grande que tem acabou soltando que eu era a
namorada do Connor. Fiquei receosa, porém dona Audrey e Colleen me
cumprimentaram e passaram um bom tempo conversando e, claro, me fazendo
perguntas. Não demorou para que estivéssemos entrosadas ao ponto de parecer que
já nos conhecíamos há bastante tempo.
William de início pareceu mais reservado e confesso que achei curiosa a forma
como ele não retirava os olhos do filho na arena, porque até onde sei ele não apoia o
Connor no esporte. Ele só realmente conversou conosco quando aconteceu o primeiro
intervalo. Meu peito se preencheu ao vê-lo comentar com a Colleen que o Connor
realmente era um fenômeno e que estava orgulhoso e ali entendi qual era o propósito
da sua presença na arena.
— Estou, mãe. — Só percebo que eles se aproximaram quando meu namorado
responde. Levanto-me e tento me afastar, no entanto Connor segura minha mão
impedindo. — Foi só uma briga boba.
— Cara, estamos indo para o ônibus — Ben declara se aproximando.
— Vão na frente — meu namorado pede. — Alcanço vocês em alguns minutos.
— Fica tranquilo que ainda temos meia-hora antes da saída — Liam responde
e rapidamente todos eles começam a se retirar do vestiário.
— Eu sabia que o hóquei era um jogo violento, mas não imaginei que chegava
ao ponto de trocar socos — William comenta quando estamos a sós e o vejo com as
mãos dentro do bolso da bermuda fitando o filho.
— É raro, mas acontece com frequência — Connor brinca, entretanto percebo
seu nervosismo ao notar sua mão suada. — Estou surpreso de vê-lo aqui.
— Sua irmã conseguiu me arrastar. — Aponta para Colleen, que sorri
confirmando. — Eu precisava ver você jogando — confessa.
— Por quê? — Connor indaga fitando o pai.
— Queria ter a certeza de que você realmente amava isso aqui. — Olha ao
redor fitando as roupas, equipamentos e os pôsteres colados à parede. — Acho que
precisava da certeza de que é isso que você quer para a sua vida.
— E chegou a ela?
— Sim. — O suspiro resignado vem em seguida. — É o que eu queria para
você? Não — declara sério. — Mas estou cansado dessa briga idiota, Connor.
— O que isso quer dizer, pai? — A esperança brilha na voz do meu namorado.
— Que prometo não menosprezar mais sua paixão pelo hóquei e que, se
precisar de mim, estarei aqui. — Meu namorado sorri, solta minha mão e se aproxima
do pai. — Me desculpa por ter sido tão cabeça-dura. — William parece realmente
envergonhado.
— Obrigado por ter vindo hoje — Connor responde enquanto o abraça. —
Significou muito para mim — sussurra, porém alto o bastante para que eu consiga
escutar.
— Então, quando você pretendia nos contar que agora temos uma nora? — É
a Audrey que indaga me fitando.
— No seu aniversário de casamento — Connor responde.
— Ah, sobre isso... — Colleen interrompe. — Eles não irão mais fazer a festa.
— Não? — Connor questiona confuso.
— Decidimos fazer uma viagem a dois para comemorar — William responde.
— Quem é você e o que fez com meu pai? — meu namorado zomba.
— Olha que eu ainda te dou umas palmadas — William rebate. — Enfim, vou
deixar você aproveitar sua garota, porque temos uma longa viagem para enfrentar.
— Não querem dormir essa noite lá em casa?
— Adoraríamos, filho, mas amanhã sua irmã e o William precisam viajar a
trabalho — Audrey responde.
— Para você ver o quanto o amamos. — Colleen se aproxima o abraçando. —
Mesmo cheio de compromissos conseguimos vir te ver jogar.
— Obrigado — agradece depositando um beijo em sua bochecha. — Estou
muito feliz que tenham conseguido vir. — Sorri para a família.
— Tirando a parte que eu pensei que você fosse morrer, o jogo foi maravilhoso
— Audrey responde e me fita sorrindo. — Adorei te conhecer, Ashley.
— Eu também. — Sou surpreendida quando ela me abraça e por seu ombro
vejo meu namorado me lançar uma piscadela.
— Depois a leve para passar o final de semana conosco — minha cunhada
pede e meu namorado concorda.
Nos despedimos dos três e, quando eles saem do vestiário, eu me viro para o
meu capitão.
— Precisamos nos despedir. — Faço biquinho e ele me puxa para os seus
braços fazendo meu corpo reagir de imediato a proximidade.
— Eu tenho uma ideia melhor. — O sorriso travesso que me direciona faz com
que um arrepio suba por minha coluna.
— Não é o que estou pensando, né? — indago.
— Se sua mente estiver imaginando que eu quero te comer aqui dentro, então
ela está correta! — declara enquanto aperta minha bunda.
— Meu tio ou qualquer jogador pode entrar por aquela porta — o lembro.
— Franklin está recebendo elogios e resolvendo tudo sobre a vitória — informa
já com a voz rouca. — Então somos apenas nós dois, Assassina. — Deposita um beijo
na minha boca e segue até a porta do vestiário a trancando. — Já falei o quão sexy
você está vestindo meu nome?
— Não. — Mordo os lábios sentindo a adrenalina percorrer meu organismo
quando ele vem até o meu encontro com um olhar predador.
— Você está sexy pra caralho usando meu nome e meu número. — Seus
dedos curiosos entram dentro da minha camisa. — Mas nesse momento prefiro você
sem nada.
Ergo os braços quando ele faz menção de retirar a minha blusa e rapidamente
ela vai ao chão. Connor passa sua mão pelo sutiã vermelho de renda e solta um
murmúrio quando libera meus seios dele.
— Tão linda — diz os segurando, me empurrando levemente para trás, até que
minha lombar encoste nos armários dos jogadores. — Ver você torcendo por mim me
deixou com um tesão do caralho — murmura rouco.
— Ah... — gemo assim que sinto sua língua quente encostar nos meus seios já
sensíveis. — Isso é tão bom — sussurro enquanto ele se delicia chupando e sugando
ambo os bicos intumescidos.
— Tira a roupa para mim, Assassina — pede se afastando e eu me livro da
calça e da calcinha sobre seu olhar feroz.
— Estou em desvantagem. — Aponto para o seu corpo coberto e tão rápido
quanto eu fiz Connor se livra de cada peça de roupa.
— Vem aqui. — Segura minha mão e juntos caminhamos até o final do
vestiário, entrando na área dos chuveiros.
— Aiii... — Dou um gritinho assim que ele liga o chuveiro e a água fria toca
nossa pele, porém é rápido, pois a água não demora a esquentar.
— Vira essa bunda gostosa para mim — ordena e assim eu faço. Sinto um tapa
estalado nas minhas nádegas em seguida. — Porra, Ash, quero me enterrar tão fundo
dentro de você.
— E está esperando o quê? — Olho por sobre o ombro e o vejo segurando seu
pau enquanto se masturba vigorosamente.
Minha boceta lateja com a ânsia de tê-lo enterrado dentro dela.
— Não tenho camisinha. — Seu semblante pesaroso me acerta em cheio e por
alguns segundos o medo me trava, entretanto, o jogo para o fundo da mente porque é
o Connor que está na minha frente e com meu anticoncepcional em dia não corremos
perigo.
— Isso não é um problema para mim.
Suas pupilas se dilatam.
— Tem certeza disso?
— Só me fode logo, porque minha boceta está latejando por seu pau! —
praticamente imploro.
— Porra, você é a minha perdição! — geme e se aproxima desligando a água
no instante que sinto seu pau encostar na minha entrada. — Sua boceta é a minha
ruína. — Praticamente rosna quando desliza facilmente dentro de mim. — Tão
molhada. Você sempre está tão pronta para o meu pau.
— Sempre! — Mordo os lábios tentando controlar os gemidos para que
ninguém nos ouça. — Connor... — chio seu nome quando ele alcança um ritmo
alucinante nas estocadas.
— Gostosa dos infernos! — geme e traz uma mão para o meu pescoço. O
gesto é novo, entretanto, não é ruim, pelo contrário, o aperto faz com que o desejo se
intensifique. — Gosta disso, não é, sua safada?
— Muito — confirmo enquanto desço a mão até minha boceta precisando de
algum atrito em meu clitóris.
— Ei, você vai gozar comigo! — declara rouco afastando minha mão,
colocando a sua no lugar. Seu polegar pressiona meu clitóris antes de começá-lo a
circundar e eu inclino a cabeça para trás sentindo tudo dentro de mim vibrar. — É
assim que você quer?
— Isso... Porra, não para! — imploro com a respiração entrecortada.
— Esfrega essa bocetinha nos meus dedos enquanto eu te fodo! — Sua voz
autoritária intensifica ainda mais a avalanche de sensações que começa a dominar
cada partícula do meu corpo e eu rebolo como uma boa safada que sou. — Gostosa do
caralho!
— Eu vou gozar... — aviso e ele aumenta a intensidade das estocadas e o
ambiente é preenchido com o barulho dos nossos corpos se chocando. — Ahhh... —
Mordo os lábios tentando conter os gritos quando o aperto na minha garganta se
intensifica na mesma intensidade que seu dedo açoita meu clitóris.
Sinto como se estivesse caindo de um precipício quando o orgasmo me
atropela com força, arrancando meu fôlego e todas as minhas forças. Em meio à nevoa
de prazer, ouço Connor gemer meu nome e estocar uma última vez derramando toda a
sua porra dentro de mim.
— Eu nunca vou cansar de estar dentro de você! — sibila rouco retirando seu
pau e sinto o líquido quente escorrer pelas minhas pernas. — Isso foi incrível! — elogia
depositando um beijo no meu ombro e eu me viro pronta para me afastar, no entanto,
sou fisgada por sua íris me fitando de uma forma que nunca vi antes. Há tanta
intensidade, devoção e paixão enquanto Connor me encara, que prendo a respiração.
— Eu te amo! — Meu coração para por alguns segundos. — Eu te amo pra caralho,
Ashley. — Três palavras que conseguem fazer meu coração praticamente entrar em
colapso. — Acho que te amei no momento que coloquei meus olhos em você naquele
estacionamento. — Segura meu rosto delicadamente. — Eu quero fazer isso entre a
gente dar certo. Quero muito, porque não consigo imaginar meus dias sem você —
finaliza fazendo meus olhos se encherem de lágrimas.
— Connor... — começo tentando encontrar as palavras certas, porém ele me
interrompe.
— Eu sei que você tem seus medos e que eles são válidos, mas eu juro que
jamais irei te magoar. — O medo na sua voz me faz sorrir, porque ele deve ser um
bobo mesmo se acredita que o sentimento não é recíproco. — Eu prometo cuidar deles
e de você. Prometo ser o melhor cara para você.
— Eu também amo você. — Passo meus braços por sua nuca, acariciando-a e,
como imaginei, ele parece surpreso com minha resposta. — Sim, eu estou com medo,
mas eu não pretendo deixá-lo me guiar. — Seus olhos brilham e percebo lágrimas se
acumularem. — Não quando você já me mostrou de todas as formas que é diferente de
qualquer outro cara que já conheci — completo levanto meu polegar até uma lágrima
solitária.
— Você é a garota mais incrível que eu já conheci, Ash, e me sinto um sortudo
do caralho por ter você. — Sua testa encosta na minha e juntos compartilhamos de um
momento único. — Obrigada por ter me deixado entrar na sua vida e te prometo que
não tenho pretensão alguma de sair dela, muito menos te machucar.
— Assim espero, capitão! — Ele sorri ao escutar minhas palavras. — Meu
capitão, só meu!
— Gosto de como isso soa — diz com a voz baixa trazendo seus lábios
novamente aos meus, porém o som de alguém batendo a porta faz nosso corpo se
retesar.
— Connor? — A voz do meu tio irrompe atrás da porta e sinto o pavor me
consumir. — Você está aí?
— Sim! — Meu namorado grita já me puxando para fora voltando para onde
deixamos as nossas roupas.
— Por que a porta está fechada? — brada batendo na madeira.
— Já vou abrir! — grita. — Droga! — pragueja enquanto nos vestimos na
velocidade da luz. — Não tem como ele não saber que você está aqui, então esse é o
momento que iremos contar — avisa assim que fecho minha calça e passo a mão
tentando domar o cabelo.
Porra, o cabelo molhado!
Meu tio vai nos matar!
— Que Deus nos ajude. — declaro e com o olhar aflito acompanho meu
namorado abrir a porta e meu tio irromper dentro do vestiário.
— Por que trancou a por... — Sua frase é cortada quando ele percebe que eu
estou dentro do vestiário. — Posso saber o que está acontecendo aqui? — brada
revezando o olhar entre nós dois e imploro a todos os deuses para que ele não ligue os
pontos e descubra que estávamos transando. — A briga tem algo a ver com você,
Ashley Moore?
— Treinador... — Connor tenta, mas o meu tio o interrompe.
— Ashley, a briga na arena tem algo a ver com você? — Assinto envergonhada
baixando a cabeça não querendo ver o desgosto em seu semblante. — O Petter voltou
a te incomodar?
— Sim — Connor responde por mim. — Ele tentou machucá-la há alguns dias
e eu quebrei a cara dele. — Volto a fitar meu tio e o vejo nos olhar incrédulo. — E ele
quis revidar hoje. — Connor dá de ombros.
— E você não achou que seria o ideal me contar sobre isso? — sibila irritado.
— Não queria deixá-lo preocupado e pensei que conseguiria resolver sem ser
na arena — Connor justifica se aproximando de mim.
— Olha, eu juro que estou próximo de pedir a aposentadoria e a culpa é toda
desse time — declara e controlo a vontade de rir. — Mas se foi para defender a Ashley,
então vou fingir que, por pouco, você não estragou tudo — finaliza me arrancando um
suspiro de alívio.
— Ah, tem outra coisa — Connor diz e coça a cabeça. — Eu e a Ash estamos
namorando — solta de uma vez.
— Vocês estão namorando? — refaz a pergunta, talvez não acreditando e
juntos concordamos com um menear de cabeça. — Que Deus te ajude, Connor,
porque, se você a machucar, eu acabo com a sua carreira e com a sua vida.
— Não tenho pretensão nenhuma de fazer isso — Connor declara firme. —
Estou completamente apaixonado por ela.
— Uma única chance você tem e, caso faça merda, vai se resolver comigo —
ameaça. — E da próxima vez que se trancar com ela no vestiário, eu retiro você do
posto de capitão! — brada se virando, mas logo volta a nos fitar. — Estão esperando o
quê para virem comigo?
Olho para o meu namorado e, depois de trocarmos um sorriso cúmplice,
saímos do vestiário.
CAPÍTULO 39 - Ashley Moore
Já ouviu falar que, quando tudo está indo muito bem, algo ruim acontece para
tentar nos desestabilizar e sou a prova viva de que isso é a mais pura realidade. Depois
da final, tudo começou a sair como planejávamos: a festa em comemoração à vitória foi
memorável e, durante os próximos dias, só se falou nela pelo campus.
Meu tio aceitou de boa meu relacionamento com o Connor e até almoçamos
com ele no outro dia ao jogo. Entramos em recesso para festas de fim de ano e minha
mãe me deu a melhor notícia do mundo ao avisar que repassou a galeria e voltaria a
morar em Boston, porém, no meio de todas essas coisas boas, existia um problema:
Petter London.
Meu ex-namorado parece disposto a dificultar minha vida e continua a enviar
mensagens escrotas com ameaças disfarçadas de alertas e eu decidi que colocaria um
fim nessa merda.
Cheguei hoje cedo com o Connor em Nova York para ajudar a minha mãe na
organização da mudança e, no momento que pisei em casa, uma mensagem nova
chegou. Frustrada e com ódio decidi vir conversar com Albert, o reitor da Leifield e pai
do Petter.
Seguro o volante com força tentando criar coragem para descer do carro e,
quando me sinto preparada, desço do veículo e encaro o campus que estudei durante
quase dois anos.
— Você consegue fazer isso! — repito as palavras que se tornaram meu
mantra.
Caminho pelo campus seguindo em direção ao prédio onde fica a sala do reitor
e minutos depois estou batendo na sua porta. O ambiente está praticamente vazio
porque já estamos no recesso, entretanto, sei que ele está aí porque consegui entrar
em contato com Angelina, a governanta da cada dos London.
— Pode entrar. — A voz rouca me autoriza e eu passo pela porta de madeira
ouvindo o velho rangido dela.
É nítido a surpresa de Albert ao me ver parada à sua frente.
— Boa tarde! — o cumprimento e ele se desencosta da cadeira, colocando os
braços em sua mesa.
— Posso saber o que você está fazendo aqui? — Não há nada cortês em suas
palavras.
— Precisamos conversar! — declaro, porém não me sento à sua frente. —
Sobre o Petter.
— E seria sobre o quê exatamente? — Seu olhar duro me fuzila. — Sobre a
sua culpa por aquele idiota ter perdido a temporada?
— Não tenho nada a ver com o comportamento infantil do seu filho — revido
irritada. — E estou aqui justamente para pedir que mantenha seu filho na linha, porque
ele vem me enviando mensagens ofensivas.
Odeio a gargalhada de escárnio que ele solta diante das minhas palavras.
— Ashley, você acha mesmo que irei perder o meu valioso tempo me metendo
em briga de adolescentes?
— Somos adultos, pelo menos eu sou, já o seu filho... — Arqueio as
sobrancelhas. — Se ele não parar, eu v...
— Vai fazer o quê? — interrompe-me se inclinando na mesa tentando me
intimidar. — Você nos conhece, garota, então acho melhor você voltar para aquela
universidade de bosta e não pisar mais os pés aqui.
— Está me ameaçando, Albert?
— Estou mostrando que não vou tolerar suas afrontas! — revida furioso. —
Você não tem nada que possa complicar o meu filho e, se tivesse, eu daria um jeito
nisso.
— Você é igualzinho a ele! — brado sentindo o asco me dominar.
— Se cansou de dar o seu chilique, pode se retirar porque eu tenho mais o que
fazer.
— Mantenha seu filho na linha! — digo firme e saio da sua sala sentindo o ódio
pulsar nas minhas veias.
Não olho para trás, e ignoro o calafrio que sinto me percorrer quando entro no
carro e dou partida. Não há razão para temer, já que Petter não está aqui. O caminho
até a casa da minha mãe passa como um vulto e sequer processo qualquer coisa até
entrar e me jogar no sofá.
Pego meu celular discando o número do meu namorado quando percebo a
casa no mais puro silêncio.
— Onde vocês estão? — pergunto sentindo o choro entalado na garganta.
— Acabamos de sair para comprar algo para comer — meu namorado
responde. — Já voltou?
— S... sim — gaguejo.
— Você está chorando? — pergunta e eu aceno mesmo sabendo que ele não
pode me ver. — Eu sabia que não deveria ter deixado você ir sozinha.
— Ele não fez nada comigo — fungo em meio às palavras. — Só tentou me
intimidar e não deu atenção para o que falei.
— Estou voltando — avisa.
— Não precisa, sério, eu espero vocês — digo, mas ele já desligou.
Ouço o barulho do carro sendo desligado e, segundos depois, a porta é aberta
de prontidão, porém, quando me viro, sinto o meu sangue gelar ao fitar Petter
adentrando a sala. Meu corpo todo arrepia e meus pensamentos disparam. O que ele
está fazendo aqui? Esse desgraçado me seguiu? E como eu posso ter esquecido a
porra da porta aberta?
— O... que você está fazendo aqui? — questiono limpando as lágrimas
enquanto me levanto.
— Voltou para a Leifield, docinho? — Seus olhos estão vermelhos e algo me
diz que não é de choro. — Fiquei surpreso ao vê-la saindo da sala do meu pai —
declara sorrindo enquanto se aproxima.
— Petter, vai embora — peço apontando para a porta. — Não quero você aqui.
— Mas por quê? — Sorri e está nítido que ele não está sóbrio. — Você está
sozinha e eu estou com saudades. — Sorri.
— O Connor está lá em cima — minto dando um passo para trás, depois mais
um.
— Não precisa mentir, docinho, porque eu vi que na entrada da casa só tinha o
carro que você estava. — Meu coração acelera de medo quando ele para à minha
frente, me prendendo na bancada de mármore que separa a sala da cozinha. — Aposto
que ele sequer veio com você, afinal você deve ter sido só mais uma putinha.
— É isso que você acha? — grito o empurrando. — Agora eu sou puta porque
não quero mais você, seu desgraçado? — Esmurro seu peito. — Sabe o quanto eu te
odeio, Petter? — Seus olhos arregalam com fúria. — Odeio você mais do que tudo!
— Cale a boca! — grita segurando meus braços. — Cale a porra da sua boca!
— Eu tenho nojo de você. Nojo ao me lembrar de que deixei você me tocar! —
brado deixando tudo vir à tona. — Nenhuma mulher merece ter um escroto como você
do lado.
Minhas palavras parecem despertar o pior dele e, quando o vejo avançar em
minha direção, sinto despertando dentro de mim um ódio tão grande que, sem pensar,
levo minha mão até o seu rosto o esbofeteando.
— Sua puta desgraçada! — esbraveja levando a mão até a pele vermelha e
tento correr, porém seu corpo é duas vezes maior do que o meu e ele não me dá
chance de fugir. — Quer brincar de bater?
Arregalo os olhos e ele sorri diante meu pânico.
— Vai para o inferno! — grito com todo o ódio que me consome enquanto ele
segura meu braço com força, me puxando, jogando meu corpo no sofá.
— Talvez eu vá depois de matar a minha saudade.
Se, em algum momento, eu acreditei que tive medo dele, eu estava
redondamente enganada, porque só quando o seu corpo cobre o meu e eu noto sua
ereção me cutucar, que sinto o pavor preenchendo cada célula do meu corpo.
— Me solta... — Mantenho minha voz firme enquanto me remexo tentando o
empurrar, porém ele segura os meus braços com as mãos e encosta suas pernas nas
minhas as prendendo com força.
— Saudade do caralho de você, docinho. — Fecho os olhos tentando fugir
desse momento, implorando mentalmente para que ele pare. Assim que sinto sua
língua percorrer minha pele, o nojo me acerta trazendo-me à realidade.
— Eu prefiro morrer a deixar você tocar em mim, seu desgraçado! — grito não
deixando o medo me dominar.
Me debato contra a pressão do seu corpo, que me empurra firmemente contra
o sofá. Seu rosto está contorcido por uma mistura de raiva e possessividade, e eu sinto
seu hálito quente contra o meu rosto. Os olhos, antes tão familiares, agora parecem
estranhamente hostis.
Tento desesperadamente afastá-lo, minhas mãos tremem quando consigo
soltá-las do seu aperto. Empurro seu peito sentindo meu coração bater desenfreado e
lágrimas descerem em enxurradas. Não consigo processar as palavras que saem de
sua boca, porque o medo volta a crescer dentro de mim, formando um nó apertado no
meu estômago quando ele consegue me prender novamente.
Meus olhos procuram uma saída, mas tudo ao meu redor parece turvar-se. A
sala que costumava ser segura agora parece um labirinto claustrofóbico. Meu corpo
está tenso, paralisado pelo choque e pela ansiedade. Cada batida do meu coração
ressoa como um tambor ensurdecedor.
Ele continua a me pressionar, ignorando meus apelos desesperados para que
pare. O desespero se mistura ao pânico, e começo a sentir uma sensação de asfixia. A
realidade parece distante, como se eu estivesse assistindo a tudo de fora do meu
próprio corpo.
À medida que Petter continua a me pressionar, uma mistura de lágrimas e suor
borbulha em meu rosto. Eu tento encontrar coragem para continuar lutando, para gritar,
mas minhas cordas vocais parecem congeladas ao mesmo tempo que sinto minhas
forças se esvaírem. Estou presa em um pesadelo silencioso, meu corpo frágil contra a
força avassaladora dele, entretanto, uma voz dentro da minha mente continua a gritar
para defesa e eu dou ouvido a elas tentando a todo custo jogar o medo para o segundo
plano.
Olho para cima notando-o segurar meus braços e, no mesmo instante, percebo
umas das minhas pernas se soltarem. Aproveito esse vacilo e a impulsiono para cima
com toda força que existe dentro de mim arfando com o alívio me dominando ao
perceber ele sair de cima de mim enquanto urra de dor porque acertei suas bolas.
Quando me vejo livre do seu corpo, olho ao redor e pego o jarro que encontro
na mesa ao lado. Sem pensar duas vezes, avanço em sua direção acertando o vidro
em sua cabeça.
Um choro de alívio me invade quando ouço a porta ser aberta. Connor entra
como um temporal e a única coisa que consigo processar é seu corpo indo em direção
ao do Petter e minha mãe correndo em minha direção.
Como uma criança assustada, eu me agarro aos seus braços deixando toda a
dor e o medo saírem em soluços dolorosos. Não consigo processar tudo, porém ainda
ouço gritos, objetos se quebrando e, antes de ver tudo escurecer, consigo ouvir sirenes
ao fundo.
Abro os olhos sentindo o colchão macio e, quando fito ao redor, constato que
estou deitada no meu antigo quarto. As lembranças me invadem e solto um grito de
pavor colocando a cabeça no meio das pernas.
— Ei, estou aqui. — A porta é aberta de prontidão e um Connor ofegante passa
por ela praticamente pulando na cama. — Estou aqui, Ash, estou aqui. — Agarro-me a
sua camisa e deixo o choro retornar com força quando a cena do Petter sobre mim
invade a minha mente. — Vai ficar tudo bem, meu amor, eu prometo. — Sua voz
embargada aumenta ainda mais o meu choro.
— O... onde ele está? — pergunto com medo da resposta.
— No hospital e de lá irá direto para a cadeia. — Retiro meu rosto do seu
peitoral no instante que ele seca as lágrimas que rolam por seu rosto. — Me perdoa,
por favor. — A angústia nubla seu semblante.
— Você não fez nada! — digo firme.
— Eu não deveria ter deixado você ir sozinha. Não devia! — afirma e posso ver
a dor em suas palavras, a culpa se entranhando dentro dele. — Eu consegui fazer com
que ele não entrasse mais na Brisfolk, mas aqui, Deus, ele poderia...
— Amor, não tínhamos como saber — o interrompo odiando vê-lo se culpando.
— Ele nunca mais vai encostar em você, porque eu moverei o mundo, mas
farei com que ele não saia da prisão — afirma sério. — E dessa vez não vou falhar com
você.
— Amor, você não falhou comigo, pelo amor de Deus! — declaro tentando
fazê-lo entender. — O que aconteceu depois que você chegou? — pergunto porque
uma nuvem preta está em minha cabeça após esse momento.
— Você não lembra, né? — Assinto. — É porque você entrou em choque.
— Nunca senti tanto medo na minha vida! — confesso encostando meu rosto
no seu peito e sinto suas mãos virem ao meu cabelo. — Não sei como consegui lutar,
mas algo dentro de mim pedia para eu não desistir.
— Quando cheguei, escutei seus gritos, então corri desesperado e, quando o vi
na sala, Deus, eu soube que o mataria. — Connor me aperta e eu o seguro com força.
— Eu só não o matei na porrada, porque os seus vizinhos nos separaram.
— Kennedy e Sebastian? — pergunto me lembrando do casal que mora na
casa ao lado.
— Não tenho certeza, mas acredito que sejam eles. — Com certeza é porque
eles são os vizinhos mais próximos. — Depois que nos separamos, o moreno mais alto
segurou o Petter enquanto seu companheiro chamou a polícia.
— Foi nesse momento que eu apaguei? — pergunto e ele concorda.
— O que chamou a polícia é médico, então te examinou e avisou que o
desmaio era devido ao trauma.
— Sebastian — respondo agora tendo a certeza de que foram eles mesmos
que ajudaram. — Ele é médico.
— Sim. O Petter saiu algemado e sua mãe levou seu celular e o acesso as
câmeras para a delegacia, mas você vai precisar depor. — Volto a fitá-lo. — Não
podemos deixar aquele desgraçado sair impune.
— Não, não iremos — confirmo e ele me abraça. — Pretendo fazer de tudo
para deixá-lo preso para que ninguém tenha que passar por tudo que vivenciei. —
Connor assente orgulhoso quando se afasta.
— Meu amor... — A voz embargada da minha mãe aparece na porta e odeio
ver seu rosto inchado e vermelho. — Me desculpa — pede se arrastando para a cama,
me puxando para o seu abraço.
— Vocês dois não têm culpa e agora com ele preso esse inferno vai acabar —
respondo e sinto Connor se juntar ao nosso abraço. — Eu amo vocês! — declaro
tentando deixar o medo de lado para conseguir seguir em frente. — Amo vocês mais do
que tudo!
CAPÍTULO 40 - Connor Harrington
Fim
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PEÇA AJUDA!
A violência contra a mulher começa com atos sutis, porém a tendência é se
agravar. Por isso, fique atenta e, se perceber que está vivenciando um relacionamento
abusivo, PEÇA AJUDA. Não se cale diante dessa situação e acredite: você não está
sozinha. E não merece passar por isso!
Ligue 180
O Ligue 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à
violência contra a mulher. Além de receber denúncias de violações contra as mulheres,
a central encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o
andamento dos processos.
O serviço também tem a atribuição de orientar mulheres em situação de
violência, direcionando-as para os serviços especializados da rede de atendimento. No
Ligue 180, ainda é possível se informar sobre os direitos da mulher, a legislação
vigente sobre o tema e a rede de atendimento e acolhimento de mulheres em situação
de vulnerabilidade.
Além do telefone, em quais canais é possível realizar denúncias?
Além do número de telefone 180, é possível realizar denúncias de violência
contra a mulher pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil e na página da Ouvidoria
Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos (MMFDH), responsável pelo serviço. No site está disponível o
atendimento por chat e com acessibilidade para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Também é possível receber atendimento pelo Telegram. Basta acessar o
aplicativo, digitar na busca “DireitosHumanosBrasil” e mandar mensagem para a equipe
da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180.
AGRADECIMENTOS
Meu primeiro obrigada sempre vai para Deus, porque é Ele quem me dá forças
diariamente para enfrentar os obstáculos e assim continuar fazendo aquilo que eu tanto
amo: criar histórias.
Ah, eu sempre falo do meu trio e dessa vez, se eu pudesse, escreveria um livro
apenas agradecendo essas três maravilhosas! Aline, Berta e Ju, o que seria de mim
sem vocês? O que seria dos meus livros sem tanto apoio e ajuda? Eu nunca vou
cansar de agradecer por tudo que fazem por mim. Obrigada por acolherem e
acreditarem nessa história assim que ela brotou na minha mente maluca. Obrigada por
não terem me deixado desistir deles e por terem escutado meus surtos repetidas vezes
até que eles passassem. Eu amo vocês demais!
Obrigada, amor, por todo apoio e carinho com meus livros e comigo! Obrigada
por me deixar chorar quando acreditei que não conseguiria, mas principalmente, muito
obrigada por ter enxurgado minhas lágrimas e me feito acreditar que sim, eu
conseguiria e que seria lindo. Nunca vou esquecer de cada palavra de incentivo e do
quanto segura minha mão diariamente. Eu te amo um tantão assim e tenho uma sorte
da porra em poder dividir a vida com você!
Dani, Flávia e Paty, meu segundo trio que sempre está comigo! Obrigada por
todo apoio que me direcionam e por vibrarem com minhas conquistas. Eu amo vocês!
Charlene do céu, como eu poderia conseguir descrever em palavras o quanto
sou grata por ter encontrado você? Obrigada por tanto! Por ouvir meus surtos, pelos
conselhos, as dicas, os puxões de orelhas, sério, sem você esse livro jamais estaria no
mundo. Eu amo você, viu? Saiba que não te largo nunca mais!
Fabi, Karolynne e Maieli, as melhores betas desse universo literário! Muito
obrigada pelo carinho, surtos e, principalmente, pelas dicas valiosas para que o enredo
melhorasse. Vocês são incriveis!
Obrigada a minha assessora maravilhosa! Vavah, você é incrivel e se não
fosse sua ajuda com toda certeza do mundo eu já estaria louca (mais do que já sou).
Obrigada as minhas Raynhas que estão sempre surtando por mais histórias e
me ajudando a levar esse sonho a um novo patamar. Vocês são as melhores leitoras
do mundo!
Obrigada Carla por, mais uma vez, deixar meu texto impecavel com essa
revisão maravilhosa!
Obrigada Katarina Sanchez por essa diagramação maravilinda!
Obrigada L.A. Designer por essa capa perfeita!
E MEU MUITO OBRIGADA a você que disponibilizou o seu tempo para se
aventurar no meu livro. Sou grata demais pela oportunidade e estou aqui na torcida
para que essa turma tenha te conquistado. Se quiser surtar, meu Direct está aberto.
Sou doidinha, mas legal, viu? Amo demais conversar com minhas leitoras!
Até a próxima aventura!
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ACORDO PROIBIDO
“Ela era tudo que ele não deveria querer!”
Melissa Alencar passou por uma infância e adolescência difícil, no entanto, a
vida começou a sorrir para ela na fase adulta, pois ela já conquistou seu carro, um
apartamento, sua própria empresa de decoração e ainda está noiva. Só que tudo
desaba quando descobre que seu noivo é um traidor e que seu apartamento se
transformou em cinzas.
Romeu LeBlanc, aos quarenta e três anos, é um advogado renomado em
Chicago, onde ele mora há cinco anos. Uma vez ao ano, ele vem passar as férias, na
sua casa, no Brasil, para visitar sua família, no entanto, nada o prepara para a
surpresa que essas férias se encarrega de entregar a ele: dividir a casa com a ex-
noiva do seu filho.
Melissa está perdendo tudo.
Romeu sente obrigação de ajudá-la, afinal seu filho foi um crápula.
Eles vão dividir o mesmo teto.
Uma atração vai surgir e, mesmo lutando com todas as forças, será impossível
resistir.
Um acordo de apenas uma vez para saciar esse desejo latente.
Eles não deveriam se apaixonar, porque o que sentem um pelo outro é errado
de todas as formas, mas, como segurar o amor, quando ele vem sem pedir licença?
Romance proibido (ex-sogro e ex-nora).
Age Gap.
Dividem o mesmo teto.
Romance com prazo de validade.
Acordo de sexo sem compromisso.
CONTEÚDO ADULTO!
PRÓLOGO - Melissa Alencar
Eu costumo dizer que sou uma pessoa tranquila e que, mesmo com toda a
dificuldade que passei na infância e adolescência, a vida começou a sorrir para mim na
fase adulta. Estou próxima de completar vinte e nove anos e já tenho tudo que uma
pessoa nessa idade gostaria: um apartamento, um carro seminovo, um relacionamento
estável e ainda sou dona de uma empresa de decoração, porque, mesmo sem cursar a
faculdade, eu consegui abrir meu próprio negócio. Meus dias são, na maioria das
vezes, tranquilos, porém, justamente hoje, tudo resolveu dar errado!
Primeiro, acordei atrasada; segundo, meu celular caiu dentro de um balde de
água, então tudo que eu tinha nele foi para o espaço junto com a minha paciência.
Quando pensei que não podia piorar, a bateria do meu carro descarregou, porque
deixei os faróis ligados durante toda a noite. Sem celular e sem carro, eu deveria voltar
para a minha cama e dormir o dia inteiro, ainda assim respirei fundo e perguntei para a
minha vizinha se eu podia ligar para o meu noivo, Arthur, e ela assentiu.
— Oi, Melissa. — Sua voz soa irritada.
— Parabéns, amor — felicito e lembro da quantidade de coisas que tenho para
fazer durante o dia devido a surpresa que irei preparar para ele. Esse é o único motivo
que não me fez voltar para cama. — Estou ansiosa para comemorar mais um ano com
você.
— Eu também — ele fala com alguém ao seu lado, mas logo retorna. — Vou
precisar desligar.
— Espera — o chamo antes que ele encerre a chamada. — Meu celular
quebrou e estou sem carro. Tenho mil coisas para resolver hoje. Pode acionar o seguro
para mim?
— Estou entrando em uma reunião agora, Melissa. — Seu tom de voz sai duro.
Eu bufo. Sempre uma maldita reunião. — E assim que sair tenho que correr ao
aeroporto, porque tenho outra reunião em São Paulo.
— Está certo — suspiro. — Não se preocupe que eu vou dar um jeito.
— Até a noite. — Ele desliga sem ao menos eu me despedir.
Entrego o telefone a minha vizinha e desço as escadas, porque estou tão
irritada que não tenho paciência para esperar o elevador. Saio do prédio com a minha
bolsa e começo a andar em direção ao ponto de táxi mais próximo. Chego até ele dez
minutos depois de caminhar no sol escaldante e não sei explicar o tamanho da minha
irritação.
Digo o endereço da casa da mãe do Arthur ao motorista e ele dá partida no
carro chegando rapidinho até a mansão, porque não moramos tão longe uma da outra.
Graças a Deus, sou uma mulher prevenida e, além do dinheiro no banco, eu sempre
mantenho alguma quantia na carteira. Pago o motorista e subo os degraus da casa.
É difícil engolir o meu orgulho e vim até aqui pedir ajuda justamente para ela.
Eu e a Lorena não possuímos uma relação muito amigável e sei que isso é devido ao
fato de eu não vir da alta sociedade. Desde o início, ela deixou visível o quanto não me
achava apropriada para o filho. Nos suportamos apenas pelo Arthur, nada mais.
Bato na porta esperando ser recebida pela governanta, no entanto, quem
aparece na porta é Romeu, meu sogro, que deveria estar em Chicago.
— Olá, Melissa. — Ele sorri e abre espaço. — Tudo bem?
— Oi, Romeu. — Entro na sala encontrando-a vazia. — Estou bem e você?
Não sabia que estava no Brasil.
Romeu é dono do escritório onde Arthur é sócio, mas ele mora em Chicago há
cinco anos porque abriu uma filial da LeBlanc Advocacia junto com um amigo. Arthur e
Romero comandam o escritório aqui da cidade e ele está à frente do de Chicago.
Durante todos esses anos vi apenas o Romeu cinco vezes contando com essa, porque
ele se mudou um mês após eu começar a namorar com o Arthur. Meu sogro só vem ao
Brasil uma vez ao ano para passar as férias. Lembro-me de que, na época, o convite
para o escritório fora do Brasil foi estendido ao Arthur, no entanto, meu noivo recusou e
disse que preferia ficar à frente do escritório da família junto com o avô.
— Cheguei ontem à noite. — Ele se senta no sofá. — Como você está?
— Estou bem e você?
— Agora melhor, porque finalmente vou poder descansar um pouco.
Não sei muito sobre a vida pessoal do Romeu, porque o Arthur nunca falou
sobre a separação dos pais, no entanto, já ouvi falar muito sobre a carreira que ele
consolidou fora do Brasil. Aos quarenta e três anos, Romeu é um advogado renomado
e possui aquela pose de homem poderoso. Já vi algumas matérias sobre o seu
escritório e em todas ele sempre foi aclamado sobre seu profissionalismo e educação.
Ele me fita enquanto eu me sento na sua frente.
— Eu imagino como seu trabalho deve ser bem corrido — declaro e ele
assente. — Mas fico feliz que esteja aqui. Tenho certeza de que o Arthur vai gostar de
te ver. — Ele sorri e meneia a cabeça. — Sabe onde está a Lorena? — pergunto sobre
a mãe do Arthur mesmo a contragosto.
— Acabou de sair para fazer compras, porque, como ela mesmo disse,
acordou entediada. — Noto ele revirar os olhos e não o julgo. A sua ex-mulher
consegue ser bem superficial e dinheiro é a única coisa que enche seus olhos.
— Sério? — suspiro derrotada porque ela era minha última opção.
— Aconteceu algo? — pergunta.
— Meu celular caiu na água, a bateria do meu carro descarregou e eu tenho
mil coisas para resolver porque estou montando uma surpresa para o aniversário do
Arthur.
— O dia mal começou e já está assim para você? — pergunta e eu assinto. —
O que você queria com a Lorena?
— Ia pegar o carro dela emprestado porque assim consigo ir ao shopping
comprar um novo celular e organizar as coisas para a surpresa que vou fazer à noite
para o Arthur.
— Vamos. — Ele se levanta. — Ela saiu no carro dela, mas eu estou com o dia
livre então posso te ajudar.
— Não quero incomodar, Romeu — nego. — Você deve estar cansado da
viagem.
— Melissa, é o aniversário do meu filho, não é incômodo algum.
— Está certo. — Levanto-me porque não estou em condições de negar ajuda a
essa altura do campeonato. E porque Lorena é a última pessoa no mundo a qual eu
gosto de pedir ajuda e só engoli o meu orgulho vindo até aqui por causa do Arthur. —
Você poderia me emprestar seu celular para eu acionar o seguro?
— Ele é todo seu. — Me entrega o aparelho e, juntos, saímos da mansão em
direção ao seu veículo. — Vim até aqui para ver se encontrava o Arthur, mas a Lorena
me disse que ele tinha dormido em casa e que não o viu nos últimos dias.
— É... — suspiro quando entro no seu carro. — Ele disse que tinha reuniões
hoje e o dia estava bem cheio.
— Você não parece muito feliz com isso — comenta enquanto liga o carro e sai
da mansão.
— Não. Não é isso. É só que o Arthur está cada vez mais ocupado e está
sobrando pouco tempo para outras coisas.
— Sei como é.
— Vida adulta — desconverso e digito o número do seguro. — Podemos parar
no shopping?
— Claro. — Ele segue em direção ao shopping e eu entro em contato com o
seguro do carro. Eles me garantem que irão buscar o carro hoje e que será entregue o
mais rápido possível. A parada na loja de celular é rápida porque eu já sabia qual
aparelho iria querer.
Ótimo, mais uma dívida parcelada em todas as vezes possíveis, mas é como
sempre digo; o valor não importa, mas sim a quantidade de parcelas que está
disponível.
Junto com o Romeu, sigo até o supermercado mais próximo para comprar tudo
o que preciso.
***
Saio do elevador com Romeu quase três horas depois com as mãos cheias de
sacolas. Depois que saímos do supermercado, eu tive que voltar ao meu apartamento
para liberar a saída do carro e acabou demorando mais do que o esperado.
— Tenho certeza de que meu filho vai amar essa surpresa — Romeu comenta
assim que abro a porta me tirando dos meus pensamentos e juntos adentramos a sala.
— Eu confesso que pensava que você já estava morando aqui com o Arthur. — Olha
ao redor.
Romeu nos presenteou com esse apartamento quando o Arthur me pediu em
casamento, há dois anos, no entanto apenas o Arthur passou a morar aqui, porque eu
escolhi só vir quando a gente realmente se casasse. Quando eu vir morar com ele
pretendo deixar o meu apartamento para a minha irmã mais nova, porque, assim que
ela finalizar a faculdade, irá voltar a morar no Rio de Janeiro.
Ao me lembrar dela, meu coração aperta de saudades, porque já tem alguns
meses que não conseguimos nos ver. Sempre fomos eu e ela contra tudo, então é
sempre difícil ficar longe. Alícia é mais do que uma irmã mais nova e doidinha, ela é
como uma filha. Anoto mentalmente de ligar para ela o mais rápido possível.
— Decidimos que eu só viria quando nos casássemos — respondo saindo dos
meus pensamentos. Coloco as compras em cima da bancada da cozinha e o Romeu
também deposita as que está segurando.
— Vocês já marcaram a data do casamento? — pergunta enquanto eu começo
a guardar os itens.
Decidi fazer um jantar surpresa para o Arthur, porque, além de comemorar seu
aniversário, também quero tentar esquentar as coisas entre nós. Três meses que não
transamos e, se continuar assim, logo seremos amigos com status de noivos.
— Ainda não — nego e coloco o vinho na geladeira. — Estamos esperando um
pouco porque o escritório está em polvorosa. Seria impossível o Arthur viajar para uma
lua de mel neste momento.
— Lorena me contou que quase não consegue vê-lo... — De onde estou
consigo ver o seu semblante pensativo enquanto se senta no sofá. — Me pergunto se
não foi um erro deixá-lo à frente de tudo. Arthur ainda estava na faculdade.
— Ei... — o chamo e ele me encara. — Você deu escolhas ao Arthur. Foi ele
quem quis se jogar de cabeça no escritório e ficar à frente de tudo junto com seu
Romero.
— Você tem razão — suspira. — O Arthur já é um homem e sabe o que faz da
vida. Meu pai também o ajudou muito no início. — Ele se levanta e se aproxima. —
Estou indo, mas, se precisar de algo, pode me avisar.
— Obrigada — agradeço. — Você foi um anjo.
— Não precisa agradecer. — Ele se vira, mas volta a me olhar. — Só não se
esqueça do nosso acordo — brinca.
— Não se preocupe. Quando terminarmos aqui iremos até sua casa e assim
você também vai poder comemorar o aniversário do seu filho — digo porque durante o
caminho ele me pediu para levar o filho até a sua casa. Juntos vamos fazer uma noite
do vinho.
— Até mais, Melissa.
Ele sai do apartamento e termino de guardar todas as compras. Vou fazer uma
massa italiana favorita do Arthur, comprei vinho e alguns itens do sex shop porque
preciso esquentar nossa relação urgente.
Conheci o Arthur quando ele contratou a minha empresa para fazer toda a
decoração do seu escritório. A química foi instantânea e, quando ele me convidou para
sair, eu aceitei. Fomos nos conhecendo e, alguns meses depois, assumimos um
relacionamento. Desde então estamos juntos. Não somos um casal que estamparia
aqueles comerciais de margarina, mas gosto do que temos na maioria das vezes.
Depois que guardo todas as compras, decido tomar um banho e só depois
voltar a cozinha para começar a preparar o jantar, porque ainda tenho um bom tempo.
Só vou avisá-lo de que estou aqui no início da noite quando tudo estiver pronto. Entro
no quarto, que será o meu assim que nos casarmos e sorrio porque, mesmo ainda
tendo algumas dúvidas, sei que é assim que vai acontecer.
Nenhuma vida é perfeita e a felicidade nunca está completamente presente em
nossas vidas. Arthur está distante, porém sei que é só uma fase no escritório e que,
assim que as coisas acalmarem, ele vai voltar a ser como antes. Não posso deixar a
insegurança falar mais alto só porque estamos enfrentando uma fase difícil.
Entro no banho e deixo a água fria aliviar um pouco do estresse e da
enxaqueca que apareceu assim que acordei pela manhã. As coisas na empresa andam
muito bem, no entanto, para isso acontecer, estamos trabalhando bastante. A semana
foi puxada e o dia não começou nada bem, porém agora tudo está resolvido e eu só
preciso relaxar depois que organizar todas as coisas do jantar surpresa.
Saio do banho, coloco um vestido de alcinha e penteio meus cabelos fazendo
um coque para não cair fios na comida, mas, quando estou saindo do quarto, ouço o
som da porta abrindo e volto rapidamente para dentro.
— Ai, merda. Ela não tinha uma reunião em São Paulo? — murmuro para mim
mesma, mas, ao ouvir o som de risadas, meu corpo inteiro gela quando percebo que
duas pessoas entraram no apartamento.
Aproximo-me da porta e tento ouvir a conversa.
— Você deveria criar alguma reunião e passar a noite comigo. — A voz
melodiosa chega até o meu ouvido e a bile sobe de imediato.
— Princesa, seria impossível uma reunião na noite do meu aniversário. —
Ouço Arthur justificar e meus olhos se enchem de lágrimas. — Vamos comemorar
agora e depois teremos o final de semana completo sozinhos em Búzios.
Filho da puta!
Meu corpo inteiro treme de ódio ao constatar que o imbecil está me traindo.
Deus, a viagem que ele me disse que era apenas para os advogados no final de
semana era tudo mentira. As inúmeras reuniões eram só desculpas para se encontrar
com outra mulher.
— Então que tal você me levar para o seu quarto. — Sinto vontade de me bater
ao escutar a voz manhosa. — Dessa vez, embalei minha boceta em uma calcinha com
lacinho vermelho.
— Você sabe como me deixar louco — ele rosna. O filho da puta rosnou!
Saio como um foguete do quarto e, assim que entro na sala, encontro o cara
que deveria ser o homem que eu passaria todos os dias da minha vida se agarrando
com uma mulher. Eles não percebem minha presença de imediato e aproveito disso
para secar as lágrimas.
— O aniversário é seu, mas quem ganhou um par de chifres de presente fui eu
— digo e, no mesmo instante, os dois se afastam. Arthur me fita e toda a cor do seu
rosto some.
— Melissa, o que você está fazendo aqui? — pergunta se afastando da loira.
— O que eu estou fazendo aqui?! — grito. — A pergunta certa seria: “O que
diabos você está fazendo no nosso apartamento se agarrando com uma mulher?”.
— Eu posso explicar — solto uma gargalhada alta. — Não é o que você está
pensando.
— Vá para o inferno, Arthur, você e suas malditas desculpas porque estou farta
delas! — Vou até a cozinha e ele me segue. — Não toque em mim! — grito quando ele
segura meu braço. Ele se afasta.
— Vamos conversar.
— Eu deveria ter desconfiado: as inúmeras reuniões tarde da noite, a falta de
interesse no sexo, a frieza comigo. — O encaro raivosa. — Mas não, eu preferi
acreditar que era só o trabalho que estava te consumindo. Eu sou tão idiota!
— Ela não significa nada para mim.
— Como é? — A mulher entra na cozinha furiosa. — Você me disse hoje que
iria deixar ela para ficar comigo — acusa apontando para mim.
— E você acreditou, querida? — debocho e ela me fuzila. — Mas não se
preocupe. — Pego minha bolsa que deixei em cima da mesa. — Esse pacote de merda
é todo seu.
Meu sangue está borbulhando de raiva enquanto passo por eles e no percurso
faço questão de empurrar o imbecil para que saia da minha frente. Saio do
apartamento tremendo de ódio, mas, quando a porta do elevador se abre, eu entro e
desabo. Uma mistura de sentimentos se apossa de mim, no entanto, o que mais
predomina é a raiva, pior, raiva de mim mesma por me deixar ser enganada tão
facilmente, porque todas as pistas estavam na minha cara, mas eu não quis enxergar.
— Melissa, o que houve? — Penso estar delirando, mas, quando olho para
trás, Romeu me fita preocupado.
— O que você está fazendo aqui? — indago.
— Eu acho que minha carteira caiu no sofá quando me sentei, então voltei para
buscar. — Ele se aproxima e eu seco as lágrimas. — O que aconteceu?
— Aconteceu que seu filho é um filho da puta traidor — respondo furiosa e
acabo descontando minha ira em cima dele. — A idiota aqui estava preparando uma
surpresa, mas quem foi surpreendida fui eu quando o Arthur entrou com a amante no
apartamento.
— Puta merda! — diz surpreso, mas noto seu semblante ficando sombrio. —
Não acredito que ele se tornou esse tipo de homem.
— Ah, acredite porque eu vi com os meus próprios olhos e, pelo que ouvi da
conversa, não é um caso de hoje. — As portas do elevador se abrem. — Preciso ir —
aviso e vou em direção à saída.
— Espera! — ele grita quando estou quase na porta. — Você está sem carro.
— Vou pedir um Uber.
— Vamos, eu te levo até em casa — Romeu diz passando por mim.
— Não precisa, Romeu. — Pego o celular novo, mas, assim que tento ligá-lo,
percebo que o resto de bateria que veio com ele foi para os ares. Suspiro.
— É o mínimo que eu posso fazer depois do que você acabou de passar. —
Penso em dizer que ele não tem culpa pelas atitudes do filho, entretanto, estou
cansada demais. Assinto e sigo até o estacionamento.
Entramos no carro e o silêncio predomina enquanto Romeu dá partida e segue
em direção até o meu apartamento. Me recosto no banco e fico olhando a cidade
passando sobre os meus olhos. Cinco anos jogados no lixo e, enquanto reflito, entendo
que nosso relacionamento não estava mais funcionando, que estávamos segurando
essa relação apenas pela comodidade. Mas, porra, era só terminar, porque nada nesse
mundo justifica uma traição.
Talvez eu devesse seguir o conselho da Alícia, minha irmã, porque ela vive me
atormentando dizendo que sou certinha demais, regrada demais. Que a vida é apenas
uma e que eu deveria me divertir mais. No fundo, ela sempre teve razão e sei que
muito desse meu jeito vem da responsabilidade que tive desde pequena. É difícil você
se jogar sem pensar nas consequências quando desde cedo você aprendeu que, se
você não seguir as regras e focar em realizar seus sonhos, você vai sempre viver na
merda.
Se eu fosse para a faculdade, teria que deixar minha irmã sem estudos.
Se eu optasse pela diversão, não conseguiria sustentar nós duas.
Se eu gastasse dinheiro com coisas supérfluas, não estaria com o meu
apartamento próprio.
São escolhas e eu escolhi cuidar de nós duas, mesmo que para isso eu tenha
perdido um pouco da Melissa sonhadora e divertida ao longo dos anos. Deixo os
pensamentos tristes no fundo da minha mente, porque me proíbo de ficar mal por
causa daquele embuste.
A cada minuto que se passa, meu ódio só aumenta pelo Arthur e só quero que
esse maldito dia acabe, apesar de saber que ele não tem como ficar pior do que já
está.
— Chegamos. — A voz de Romeu me tira dos meus devaneios. — E acho que
tem algo errado.
— Como assim? — O encaro confusa e ele aponta para o meu prédio.
Puta que pariu!
Por que fui pensar que não tinha como piorar?
Na frente do prédio está estacionado um caminhão dos bombeiros e, quando
olho para cima, percebo que é da minha janela que a fumaça está saindo.
Deus, por favor, não!
CAPÍTULO 2 - Romeu LeBlanc “Por que tenho o pressentimento de que vai bagunçar minha vida?" "Uma baguncinha não faz mal a ninguém.” E se eu ficar?
Saio do carro assim que Melissa desce e junto seguimos até o caminhão de
bombeiros.
— Bom dia. — Observo sua voz trêmula. — O que aconteceu?
— A senhorita é a proprietária? — o homem fardado pergunta e Melissa
assente. — Fomos chamados porque seu apartamento estava em chamas. Ainda não
conseguimos descobrir a causa.
— Meu Deus. — Observo Melissa começar a pender para o lado. — Acho que
vou desm...
Ela não completa a frase porque apaga, mas, antes que chegue ao chão, eu a
seguro colocando nos meus braços.
— Venha com ela — o bombeiro pede. Ando com ela nos meus braços até o
carro de bombeiros. Ele puxa uma maca e eu a deito sobre ela.
— Melissa... — a chamo, no entanto, ela não me responde e começo a me
apavorar. — O que está acontecendo? — pergunto enquanto uma mulher se aproxima
e começa a examiná-la.
— Calma. Tudo indica que foi apenas uma queda de pressão. — Ela continua
examinando. — Ela voltará em breve — afirma levantando um pouco as pernas da
Melissa.
Aos poucos, observo ela voltando e solto um suspiro de alívio. Melissa parece
perdida, mas, quando percebe onde está, tenta se levantar depressa, mas ao mesmo
tempo segura a cabeça.
— Calma aí. — A mulher, que acredito ser enfermeira, a deita de volta. —
Vamos esperar um tempo até você se levantar.
— O que aconteceu? — pergunta e olha para mim.
— Você desmaiou.
— O meu apartamento. — Noto seus olhos se encherem de lágrimas.
— Primeiro você. — Aponto para os bombeiros. — Eles estão cuidando de
tudo.
A enfermeira abre sua bolsa e entrega um medicamento a Melissa, ela o toma
e fica alguns minutos deitada, mas, em seguida, parece que sequer desmaiou. Seu
semblante reflete pura preocupação quando ela se senta e olha para a fachada do
prédio.
— Romeu, pode ver se já descobriram algo? — pede.
— Volto já. — digo e ela assente.
O local está abarrotado de pessoas e acredito que, além dos moradores,
também tem vários curiosos aqui. Desvio das pessoas e me aproximo do mesmo cara
que nos atendeu antes dela desmaiar.
— Olá, já descobriram o que aconteceu? — pergunto.
— Aparentemente houve uma sobrecarga dos circuitos elétricos, o que gerou
um curto-circuito. O fogo se alastrou pelo apartamento e, quando notaram, infelizmente
os danos já eram irreparáveis. O apartamento está completamente queimado e até se
alastrou para outros, mas não temos nenhum ferido e conseguimos salvar os outros
apartamentos.
Meu peito aperta com a notícia porque não é justo. Não tenho um contato
direto com a Melissa porque moro longe, entretanto, sei que ela é uma mulher que luta
todos os dias para conseguir suas coisas. Lorena, mãe do Arthur, e minha primeira
mulher, não é muito fã da nora porque Melissa não vem de uma família rica, mas o meu
pai Romero sempre me fala do quanto Melissa é esforçada.
Respiro fundo e agradeço. Volto até onde Melissa está, mas agora a encontro
em pé vindo em minha direção. Ela reveza o olhar entre mim e a janela do seu
apartamento.
— Então? — pergunta receosa.
— Eles falaram que foi uma sobrecarga de energia que levou a ocorrer um
curto. Sinto muito, Melissa, mas o fogo consumiu todo o seu apartamento.
O choro vem assim que as minhas palavras saem e meu peito dói. Nessas
horas, nada do que eu disser vai amenizar, então faço a única coisa que acho que
pode ajudar: eu a abraço e, no mesmo instante, ela desaba. Acaricio suas costas
tentando encontrar uma solução para ajudá-la.
— Você pode ficar na casa da Lorena enquanto resolve tudo. — Ofereço
mesmo sem saber se Lorena permitiria.
— Obrigada, mas acredito que você saiba que não possuímos um vínculo tão
forte. Na verdade, ela apenas me suporta e jamais aceitaria que eu ficasse na casa
dela, não sem me deixar louca no processo.
— Merda. A Lorena realmente é muito complicada. — Tenho vontade de me
socar com o erro, porque acabei me esquecendo de que elas não se dão muito bem...
— Então, você fica na minha casa.
— Não precisa, Romeu, eu fico em um hotel, mas agradeço a oferta.
— Não — nego. — Devido a situação acredito que economizar é a sua melhor
opção — constato.
— Eu vou dar um jeito. Não se preocupa.
— Melissa, é o mínimo que posso fazer depois de tudo que você passou —
declaro.
— Romeu...
— Não aceito não como resposta — digo e ela me fita. — Meu filho foi um
imbecil, mas eu não sou e jamais deixaria você ficar sozinha agora. Em breve, volto
para Chicago e você pode ficar o tempo que quiser na minha casa.
— Tem certeza? — pergunta receosa. — Eu não quero causar um atrito entre
você e o Arthur.
— Absoluta. Se ele ficar com raiva, porque estou te ajudando depois de tudo
que ele aprontou, então eu realmente não conheço a pessoa que ele se tornou — digo
sério e ela assente tentando forçar um sorriso. — Agora vamos resolver tudo que tem
que ser feito aqui e depois vamos para casa.
Juntos seguimos até a equipe de bombeiros e ele passa todas as informações
necessárias. Infelizmente, o apartamento não possuía um seguro e, como o prédio não
tem um síndico, todo o prejuízo cai em cima da Melissa. Esperamos até tudo ser
resolvido e só depois entramos no carro. Como o incêndio teve uma proporção grande,
os bombeiros nos aconselharam a não subir até o apartamento para não inalar os
resíduos do fogo.
— Vamos dar um jeito — murmuro assim que paro em um sinal e Melissa tira
seu olhar do trânsito.
— Obrigada, Romeu, não sei o que seria de mim hoje sem você. — Ela força
um sorriso.
— Não tem o que agradecer. Independentemente de qualquer coisa, você é
como se fosse da família.
— Ainda assim, obrigada.
Volto a atenção para o trânsito assim que o sinal abre e o restante do percurso
fazemos em silêncio. Meu celular toca e o nome de Arthur aparece na tela, no entanto,
eu deixo a chamada cair na caixa postal.
— Chegamos. — Desço do carro e Melissa faz o mesmo. — Vamos. — Aponto
para a entrada e ela me segue.
Comprei essa casa assim que me separei, há quase onze anos, e mesmo
quando passei a morar em Chicago decidi mantê-la porque sempre gostei de ficar no
meu canto. Não sou fã de hotéis e pousadas, porque prezo muito a minha privacidade.
A casa fica localizada em um condomínio fechado e possui dois andares. Ela é
enorme, tem uma arquitetura moderna e uma decoração masculina. Gosto do conforto
que ela proporciona e ainda mais da segurança. Como só venho uma vez ao ano no
Brasil, preciso que ela seja segura para não acabar sendo invadida. Tem uma senhora
que a mantém limpa e organizada enquanto estou fora.
Passamos pela porta de entrada e adentramos na sala. Melissa parece um
pouco perdida e não a julgo, afinal, ela veio aqui apenas uma vez para um jantar em
família.
— Tenho quartos disponíveis no primeiro e segundo andar. Vou te mostrar
todos e você escolhe qual vai ficar — digo para quebrar o silêncio.
— Pode escolher qualquer um e para mim estará ótimo.
— Não — nego e começo a subir as escadas. — Venha — a chamo e ela me
segue. — Você escolhe.
A casa possui três quartos no primeiro andar e mais dois no último andar. O
meu fica na segunda opção, o que sobra apenas um quarto disponível no mesmo andar
que o meu. Mostro todos a ela.
— Posso ficar com o primeiro que me mostrou — comenta quando voltamos ao
primeiro andar e algo me diz que esse é o jeito dela de diminuir o incômodo a qual
pensa que está sendo para mim. Ela fica em um andar e eu em outro, assim não
invade a minha privacidade.
— Ótimo. Vou preparar algo para a gente comer enquanto você toma banho.
— Merda. — Ela suspira. — Preciso ir comprar roupas. — Seus olhos se
enchem de lágrimas.
— Acho que tenho algo que caiba em você. Volto já. — Me afasto e vou em
direção ao meu quarto.
Pego uma calça de moletom, uma camisa social e uma camisa normal. Como
eu tenho um metro e oitenta e seis e quase noventa quilos, sei que provavelmente irá
ficar folgado, porque, comparado a mim, Melissa é baixinha, mas acredito que por hoje
sirva. Volto até o seu quarto e a encontro deitada fitando o teto.
— Aqui, veja se alguma peça dessas serve.
— Obrigada — agradece pegando as roupas. — Vou tomar um banho e já
desço.
Apenas assinto e vou em direção ao meu quarto. Tomo um banho rápido e em
seguida desço para a cozinha a fim de preparar algo para comer. Cozinhar sempre foi
como uma terapia, então vai me ajudar a colocar os pensamentos em ordem para
decidir os próximos passos.
Abro os armários e encontro tudo o que preciso para fazer uma carne ao forno
e um arroz à grega. Começo a preparar o jantar e, algum tempo depois, ouço o som da
Melissa se aproximando e, quando ela entra na cozinha, eu me viro.
— Vejo que conseguiu fazer com que desse certo a roupa — declaro, mas
confesso que sinto uma leve vontade de sorrir ao perceber que ela fez vários arranjos
para que a roupa ficasse boa. Tenho certeza de que, se ela correr, todo o seu esforço
vai para os ares, ou melhor, para o chão.
Mas por que diabos estou pensando nisso?
— A calça ficou caindo, mas consegui fazer um nó nas laterais e até que não
ficou ruim. — Ela sorri olhando para a peça e eu balanço a cabeça. — A camisa social
não deu certo, mas essa normal ficou até boa. — Noto que ela também amarrou a
camisa um pouco acima da cintura. — Amanhã vou comprar algumas peças e devolvo
as suas. Precisa de ajuda?
— Não. Já está quase tudo pronto. Pode se sentar e ficar à vontade. — Volto
minha atenção para as panelas.
— Vou ligar para a minha irmã então, mas se precisar de algo pode me avisar.
— Está certo.
Ouço ela se afastando e foco minha atenção em finalizar tudo para que
possamos comer e eu ir direto para o meu quarto porque preciso encontrar uma forma
de conversar com o Arthur. Não sei o que diabos ele tinha na cabeça quando decidiu
jogar fora um relacionamento de anos por causa de desejo passageiro. Eu passei
exatamente pela mesma situação, porque me separei da Lorena justamente porque ela
me traiu com o meu colega de trabalho. Sei bem como a Melissa está se sentindo e
talvez seja por isso que eu não tenha pensado duas vezes antes de ajudá-la.
Respiro fundo, tentando controlar a raiva, porque uma das coisas que eu mais
abomino é a infidelidade, e o Arthur sabe disso. Quando cheguei ao Brasil, eu queria
apenas uma coisa: descanso, mas vejo que, diferente das outras férias, estas serão
bem agitadas. Preciso entender como diabos o Arthur se tornou esse tipo de homem e,
mesmo que eu goste da minha privacidade, não posso deixar a Melissa desamparada
depois de tudo que o Arthur aprontou. No entanto, eu só não fazia ideia de que trazer a
Melissa para passar uns dias na minha casa mudaria minha vida por completo e que o
caos seria instalado de todas as formas possíveis.
CAPÍTULO 3 - Melissa Alencar. “Se for pra chorar pelo leite derramado, que seja leite condensado!” — Comer, rezar, amar
Chego ao restaurante com alguns minutos de atraso e, assim que entro, já vejo
o Arthur sentado a uma mesa mais à frente.
— Bom dia — cumprimento quando me aproximo e ele tira os olhos do celular.
— Oi, pai. — Não deixo de notar a cerveja ao seu lado e são apenas onze da
manhã.
— Eu cheguei a pensar que iria embora e não conseguiria te ver. Você não
atendeu ao meu telefone ontem e nem respondeu minha mensagem de aniversário.
— O escritório está cheio de trabalhos, então estou atarefado. — Sinto vontade
de dizer que ele está ocupado com as suas amantes, mas, como acredito que ele não
sabe que eu estava com a Melissa ontem, decido ficar calado. — E ontem eu saí com
uns amigos para comemorar, então só vi sua mensagem quando cheguei em casa.
— Como você está? — Me sento à sua frente.
— Muito bem. O escritório está cada vez mais conhecido, dinheiro não falta na
conta e agora estou oficialmente solteiro.
— Eu fiquei sabendo sobre a parte do solteiro. — Fecho o semblante. — E
você não deveria sentir orgulho disso.
— A relação com a Melissa estava desgastada, então optamos por seguir
nossas vidas separadas — mente na maior cara de pau. — E convenhamos que a
Melissa anda um porre nos últimos tempos. Eu não estava mais suportando.
— Arthur, você não precisa mentir porque eu sei que a Melissa pegou você a
traindo.
— Como? — pergunta surpreso.
— Eu estava na sua casa quando a Melissa chegou perguntando pela Lorena
e, como sua mãe não estava, eu a ajudei. Você ao menos sabia que ela estava sem
celular e sem carro?
— É, ela me contou, mas eu estava ocupado.
— Meu Deus. — Passo a mão no cabelo irritado. — Mesmo estando cheia de
problemas, ela passou o dia rodando comigo para comprar as coisas para fazer sua
surpresa e você ainda tem coragem de dizer que não a estava suportando.
— Eu não sabia que ela ia fazer uma surpresa.
— Ah, porque, se soubesse, não levaria sua amante para o apartamento de
vocês e sim para um motel — acuso.
— Você está do lado dela? — Tem a ousadia de parecer ofendido.
— Você pensou que eu ficaria do seu lado depois da merda que fez?
— Pai, você a viu poucas vezes, eu convivo diariamente. Nosso
relacionamento estava fadado ao fracasso, mas estava adiando o término porque
preciso de uma esposa para a mídia. — Ele se aproxima. — Mas descobri que sou um
cara que não vou gostar de ficar apenas com uma mulher — confidencia rindo.
— Arthur, não foi assim que eu te criei. — Ele fecha o semblante no mesmo
instante. — Eu sempre conversei com você sobre relacionamentos.
— Você pode opinar sobre isso? Porque, até onde sei, viveu um casamento
fracassado com a mamãe — alfineta com raiva.
— E você jamais deve se espelhar no nosso relacionamento — retruco sério.
— Eu e a sua mãe não demos certo, mas somos amigos até hoje.
— Porque você é um trouxa.
— Olha o respeito. — Meu tom de voz sai duro. — Não vou admitir que você
fale comigo dessa forma e ainda desrespeite a sua mãe.
— Ela colocou um par de chifres na sua cabeça e você ainda a defende. Como
não te achar um trouxa?
— Você está deixando o dinheiro subir a sua cabeça, Arthur, e tenho medo do
que isso possa torná-lo.
— Sermão a essa hora? — pergunta levando a cerveja ao lábio. Ele percebe o
meu olhar. — Ah, também não posso beber? — solta uma risada debochada.
— Nunca pensei que eu fosse dizer isso: mas estou decepcionado com você.
— Daqui a pouco, quando você voltar para Chicago, passa — desdenha e não
reconheço o homem à minha frente.
Eu e o Arthur nunca possuímos uma relação no estilo pai e filho de verdade e
sei que isso é devido a separação. Quando eu saí de casa, ele tinha apenas quinze
anos, justamente a pior fase de um homem: a adolescência. Ele sempre soube que a
mãe tinha me traído porque ficou escondido enquanto eu e ela brigávamos, ainda
assim ele me culpou por sair de casa; e na fase adulta me culpou ainda mais.
Lembro que eu fiz de tudo para que nossa relação não fosse afetada. Pegava
ele nos dias certinhos para que pudéssemos passar um tempo juntos, mas ele sempre
inventava uma desculpa. Arthur não passava mais do que algumas horas na minha
casa, porque em seguida ele saía com os seus amigos. Quando me mudei para
Chicago, eu o deixei à frente do escritório e sei que fiz isso para que ele amadurecesse
e imaginei que tinha dado certo, mas acho que me enganei.
— Espero que você não se arrependa das suas atitudes. — Ele dá de ombros.
— A Melissa vai ficar um tempo na minha casa — solto de uma vez e ele arregala os
olhos.
— Por quê?
— Porque, enquanto ela estava montando a sua surpresa, o apartamento dela
estava pegando fogo.
— Merda.
— É, uma merda. — O encaro. — Ela não tem para onde ir, porque a casa da
Lorena não é uma opção, já que a sua mãe não gosta dela e o apartamento que eu
presenteei está ocupado por você e ainda se tornou motel.
— Mais um sermão. — Revira os olhos.
— No final do mês irei voltar para Chicago, mas deixei a casa livre para ela até
quando precisar. — Levanto-me.
— Você já vai embora?
— Não temos mais nada para conversar — afirmo e ele me encara incrédulo.
Saio do restaurante sentindo meu sangue ferver de raiva e de decepção. A
culpa se instala em cada poro ao constatar que eu deveria estar perto e talvez assim
ele não tivesse se transformado nesse babaca. Arthur passou a dar trabalho depois da
separação, mas eu acreditei que era apenas uma fase de adolescente e não desvio de
caráter.
O escritório está renomado e o nome dele em alta, o que gera mais poder e
dinheiro. Infelizmente, não é todo mundo que sabe lidar com essas duas coisas e isso
acaba ferrando com muita gente no meio corporativo.
Entro no carro e decido ir até o supermercado mais próximo porque, quando fui
fazer o jantar ontem, percebi que a despensa estava praticamente vazia. Ligo o som e
deixo a música se instalar no meu corpo, para tentar aliviar a tensão que a conversa
com o Arthur trouxe.
O caminho do restaurante até o supermercado é um pouco demorado devido
ao trânsito, no entanto uso esse tempo para refletir se está na hora de eu voltar a morar
no Brasil. Mesmo amando minha vida em Chicago acredito que, talvez, eu devesse
voltar porque de perto eu consigo ajudar o Arthur. Minha mente insiste em dizer que ele
já é adulto, ainda assim, como pai, me preocupo.
Deixo os pensamentos de lado quando estaciono no supermercado e saio do
carro. Suspiro de alívio quando noto que o ambiente não está abarrotado. Ando de
seção em seção, olhando as prateleiras, pegando todos os itens básicos e essenciais.
— Romeu? — A voz me tira da inspeção dos vinhos e, quando me viro,
encontro uma velha amiga e transa casual.
— Maitê. — Me aproximo e ela me abraça. — Como você está?
— Agora que te reencontrei, muito melhor. — Sorri. — Não sabia que estava
no Brasil.
— Cheguei essa semana — explico enquanto saio do abraço — Volto para
casa só no final do mês.
— E iria me ligar? — pergunta mexendo no cabelo.
— Pensei sim em te ligar, mas estou resolvendo tanta coisa que ainda não
consegui — justifico-me porque realmente quando cheguei lembrei de marcar algo com
ela, entretanto acabei esquecendo.
— Vamos marcar então. Que tal um jantar na sua casa? — pergunta e, na
mesma hora, me lembro da Melissa.
— Eu te ligo e a gente vê algo direitinho, certo?
— Ficarei aguardando ansiosamente. — Ela se aproxima e deposita um beijo
rápido nos meus lábios. — Foi bom te ver, Romeu.
— Em breve nos veremos de novo — aviso vendo-a se afastar.
Maitê é advogada assim como eu e nos conhecemos em um congresso. Desde
então, sempre que estamos livres, saímos para transar e jogar conversa fora. Ela é
uma mulher madura e que, assim como eu, também não está aberta a relacionamentos
sérios.
Sorrio anotando mentalmente de chamá-la para sair nos próximos dias. Volto
minha atenção para as prateleiras e finalizo as compras algum tempo depois. Assim
que saio do supermercado penso em ligar para a Melissa e perguntar se ela precisa de
carona para buscá-la no trabalho, mas desisto da ideia e sigo para casa.
***
— Oi... — A voz da Melissa chega até os meus ouvidos quando estou retirando
a comida do forno. — Que cheiro delicioso.
— Oi, Melissa, como você está? — pergunto e ela se aproxima da mesa
colocando sua bolsa em cima. — Estou finalizando nosso jantar.
— Estou bem na medida do possível. Precisa de ajuda?
— Não — nego colocando a travessa em cima da bancada de mármore. — Já
finalizei as batatas, a carne está pronta e, em dois minutos, o arroz finaliza também.
— Então vou tomar um banho e desço — diz sorrindo e me pergunto como
diabos o Arthur traiu essa mulher. — Passei em algumas lojas depois do trabalho e
comprei algumas roupas, então vou entregar as suas.
— Você foi trabalhar com as minhas? — pergunto incrédulo e ela abre um
sorriso.
— Não. Eu fui à oficina buscar o carro com elas e confesso que foi um pouco
constrangedor, mas no final deu certo porque eu sempre guardo uma roupa de
emergência no porta-malas. — Ela aponta para si mesma. — Quando cheguei lá
troquei de roupa e assim consegui ir trabalhar.
— Você deveria ter me chamado porque eu te ajudaria.
— Você estava dormindo. Jamais iria te acordar.
— Você saiu que horas?
— Saí às sete.
— Eu acordo às cinco, Melissa — informo e ela arregala os olhos. — Nesse
horário, eu estava terminando minha corrida matinal.
— Quem acorda às cinco da manhã?
— Eu. — Sorrio com sua surpresa. Desde muito novo sou adepto da corrida
matinal e isso me ajuda bastante no físico e a espairecer os pensamentos.
— Você não tem salvação! — zomba e começa a rir. Eu faço o mesmo. — Já
volto — avisa e eu apenas assinto.
Observo-a sair da cozinha e volto a preparar a comida. Quando tudo está
pronto subo para o meu quarto e tomo um banho rápido. Quando desço e entro na
cozinha vejo Melissa colocando a mesa.
— Já podemos comer — avisa quando nota minha presença. — Você vai me
engordar uns dez quilos se continuar cozinhando tão bem.
— Que nada. — Penso em dizer que ela está ótima, porém engulo as palavras
porque tenho certeza de que esse não seria um comentário apropriado.
Nos sentamos à mesa e começamos a comer em um silêncio confortável.
— Então, o que fez hoje? — Melissa puxa conversa.
— Fiz algumas reuniões e encontrei com o Arthur — solto de uma vez e ela
para o garfo próximo à boca. Seu semblante fecha e ela para de comer.
— Ele sabe que estou aqui? — Assinto. — O que ele disse?
— Não deu muita atenção — digo a verdade.
— Ele está pouco se importando comigo — declara. — Estava tudo na minha
frente, Romeu, eu que fui burra de não ver.
— Não jogue a culpa dele em cima de você — digo sério. — Ele errou nessa
história, não você.
— Não sei como me enganei tanto. — Seus olhos brilham com as lágrimas
contidas.
— O Arthur está mudado e me doeu perceber isso hoje. Tenho certeza de que
ele não virá aqui porque tivemos uma pequena discussão.
— Ai, meu Deus, por minha culpa!
— Ei, não. Discutimos porque ele foi um babaca e me desrespeitou.
— Você sabe que não tem culpa por ele ser assim, não é? — ela pergunta,
mas não consigo acreditar.
— Será que não tenho? — questiono em dúvidas. — Fui embora e o deixei
aqui.
— Com a mãe dele, e o Arthur já era bem grandinho — afirma. — O problema
é que a Lorena sempre o mimou demais.
— Isso não posso discordar, mas vamos parar de falar do Arthur. — Ela sorri
concordando. — O que você fez de bom hoje?
Melissa me conta um pouco sobre o seu dia no trabalho e, quando ela cita
sobre a amante do Arthur, eu fico boquiaberto. São poucas pessoas que fariam o que a
Melissa está fazendo. Que possuem a maturidade dessa mulher. Admiro um pouco
mais a garra dela e, mesmo sabendo que ela vai arrancar uma boa quantia do Arthur,
eu não consigo culpá-la, não quando ela foi enganada durante um ano.
Eu cresci ao redor de um amor verdadeiro, porque os meus pais se amaram e
sempre deixaram claro que era isso que queriam para a minha vida. Me apaixonei pela
Lorena no ensino médio e não demoramos a nos casar, porque ela logo engravidou do
Arthur. Fui pai aos dezessete anos e não me arrependo dele, mas não posso dizer que
escolhi certo a mulher a qual é a mãe dele. Quando descobri sobre a traição foi um
choque para mim e tudo aquilo que eu acreditava sobre o amor tinha rompido.
Decidi que só me casaria novamente se encontrasse alguém que valesse a
pena o risco e até hoje não encontrei. Me sinto solitário algumas vezes, mas, na
maioria delas, eu sou feliz com a minha vida. Tenho uma estabilidade financeira e boas
transas casuais.
— Amanhã vou contatar a equipe para iniciar os orçamentos da reforma. — Ela
me tira dos meus pensamentos.
— Tenho certeza de que vai dar tudo certo.
Ela sorri e volta a comer, eu faço o mesmo. Ficamos conversando sobre coisas
triviais durante todo o jantar e depois limpamos a cozinha. Me surpreendo com a
facilidade com a qual conversamos, entrando e saindo de assuntos sem precisar forçar.
Quando me deito na cama, o último pensamento que se passa pela mente é: o
Arthur perdeu uma pessoa maravilhosa.
CAPÍTULO 5- Melissa Alencar. "Tenho certeza que já me imaginou pelado, né?" "Está tão na cara assim?” — 10 coisas que eu odeio em você
Adquira outras obras da autora abaixo, que estão à venda na Amazon e pelo
Kindle Unlimited, e boa leitura!
DESTINO INEVITÁVEL
“Dica de ouro: não saia por aí reclamando para desconhecidos sobre o seu novo
chefe. Você pode acabar numa enrascada.”
Ava Foster só tem um propósito: crescer financeiramente para conseguir arcar
com os gastos do tratamento de diabetes que sua irmã mais nova necessita.
Arquiteta no maior escritório da Califórnia, ela estava prestes a ser promovida, no
entanto, a troca de chefes na presidência mandou sua promoção para o espaço.
Asher Coleman é um arquiteto de sucesso e está à frente do escritório da
família em Nova York há mais de uma década. No entanto, quando seu pai precisa
se afastar da presidência, ele não hesita em se mudar para San Diego e ocupar o
cargo. Aos trinta e oito anos, as únicas coisas importantes na vida dele são seu
trabalho, família e seu buldogue inglês. Ele foge de relacionamentos sérios, porque
o passado mostrou que nada de bom pode sair do amor.
Um primeiro encontro inusitado.
Um reencontro embaraçoso.
Ela não o suporta.
Ele a quer desde o momento que a vê.
E o destino parece determinado a fazer esses dois conviverem, mesmo que seja
por meio de um namoro falso.
Age Gap.
Fake Dating.
Haters to lovers.
Uma cama só.
Chefe X Funcionária.
Slow Burn.
CONTEÚDO ADULTO!