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ACHERON - Livros e afins

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Copyright © 2017 Amanda


Bittencourt
Todos os direitos reservados. É
vedada a produção, distribuição,
comercialização ou cessão não
autorizada da autora.
Esta é uma obra de ficção. Nomes,
personagens, lugares e incidentes são
produtos da imaginação da autora ou são
usados ficticiamente. Qualquer
semelhança com pessoas reais, vivas ou

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mortas, eventos ou lugares é mera
coincidência.

Bittencourt, Amanda
O Bilionário Vingativo| 1ª edição |
São Paulo – SP
Revisão e Diagramação: Érica
Damaceno
Design da Capa: Clay Arte Visual
Foto da Capa: Shutterstock
Publicação independente

1ª Edição
São Paulo - SP
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2017

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ACHERON - Livros e afins

Índice
Sinopse
Prólogo
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11

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13
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Patrick e Elena
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Patrick e Elena
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Patrick e Elena
19
20
Patrick e Elena
21
22
23
Patrick e Elena

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25
Patrick e Elena
26
27
Patrick e Elena
28
Epílogo
Cinco anos depois
Epílogo Extra
Dezesseis anos depois

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Sinopse
Marco Villa-Lobos, um espécime
raro de homem, lindo e sexy como o
pecado. Extremamente rico, brilhante,
formado em Harvard, e completamente
irresistível. Amado e adorado pelas
mulheres. Mas no fundo do seu coração,
ele tem uma ferida que não quer curar.
Ele foi quebrado por uma mulher. Uma
mulher que ele pretende ter em suas
mãos e destruir lentamente até que ela se

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arraste aos seus pés e implore por
misericórdia. Ele quer vingança.

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Prólogo

Todos na América conheciam


Charlotte McKeena. Ela era a única
filha do senador Bernard McKeena e da
ex-Miss América, Judith Linvstone. Eles
eram o exemplo perfeito de uma
poderosa e famosa família americana.
Charlotte McKeena sempre se
destacou em tudo o que fazia. Ela não só
foi oradora da sua turma na faculdade de

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Economia em Havard, mas também
seguiu os passos da mãe e tornou-se a
mais nova Miss América e,
eventualmente, também ganhou o título
de Miss Universo com apenas vinte e
dois anos de idade.
Seu rosto e sorriso lindos foram
estampados em todos os lugares. De
outdoors a revistas. Até mesmo na
Times Square. Ela era a inspiração de
toda garota americana e o sonho de
consumo de todos os homens que a
conheciam.
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Charlotte tinha treze anos de idade
quando seu irmão mais velho morreu
devido a um acidente de carro. Sua
família desmoronou com o acontecido.
Seu pai, o homem mais forte que ela
conhecia, entrou em negação. Foi
quando ele passou a dedicar-se apenas à
sua carreira política, viajando sempre e
ficando muito pouco em casa. Sua mãe
levou quase um ano para superar a
depressão. Ela se tornou uma alcoólatra
e começou a fazer uso exagerado de
medicamentos antidepressivos e
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ansiolíticos.
Apesar de tudo, Charlotte manteve-se
forte. Mesmo que tivesse sido doloroso
para ela. Apenas depois de um ano, foi
que sua família lentamente começou a se
normalizar e aprendeu a aceitar a perda.
Para garantir que seus pais ficassem
felizes e não caíssem nunca mais em um
estado emocional, remotamente parecido
com o de antes, Charlotte passou a fazer
a vontade dos pais a todo custo. E foi
por esse motivo que ela escolheu a
faculdade de Economia e a carreira de
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modelo ao mesmo tempo. Ela queria
deixar ambos os pais orgulhosos e
compensar o fato de que agora eles só
tinham um filho para exigir as coisas e
não dois.
Mas todo mundo tem suas próprias
falhas. Ela fez uma acusação
imperdoável para alguém havia quatro
anos. Ela arruinou a vida de uma pessoa
e lamentava todos os dias o que
acontecera. Todas as noites, sua
consciência não a deixava dormir. Ela
queria voltar no tempo, pois desejava
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nunca ter posto os olhos em Marco
Villa-Lobos.
Aconteceu quando Charlotte tinha
dezoito anos e começou sua graduação
em Economia na Universidade de
Harvard. Ela era uma caloura e ainda se
sentia estranha em um novo ambiente
com pessoas que ela não conhecia.
Ela se perdeu durante seu primeiro
dia de aulas em Harvard. Tinha certeza
de que pegou o caminho certo, mas não
conseguiu localizar sua sala.
— Você está perdida? — Um cara se
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aproximou dela.
— Ah sim. Eu estou procurando o
meu quarto. — Charlotte respondeu ao
cara nerd.
Ele usava uma camisa cinza de lã,
calças folgadas marrons, óculos com
armação preta e sapatos pretos. Seu
cabelo estava achatado na sua cabeça
com gel. Ela imediatamente lembrou-se
de Clark Kent.
— Estou procurando o quarto 201.
— Deixe-me ver o seu cartão de
ingresso.
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Charlotte mostrou o cartão ao cara
nerd.
— Você está no prédio errado. O
Departamento de Economia é do outro
lado. — O cara sorriu. — Se você
quiser, eu posso te mostrar onde fica. Eu
estou indo para lá também.
— Ok, se estiver tudo bem pra você.
Eles estavam descendo as escadas
quando ele disse.
— Á propósito, eu sou Marco Villa-
Lobos. — o cara estendeu a mão.
— Oi Marco. Muito prazer em
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conhecê-lo. Eu sou Charlotte McKeena.
— Eu sei.
— Você me conhece?
— É claro. Você é filha do senador
McKeena.
Charlotte ficou não ficou surpresa, já
que toda a mídia a conhecia.
— Você também é novo aqui?
Ele respondeu educadamente. —
Não. Eu estou no meu último ano.
— Uau! Então você está prestes a se
formar.
— Sim, eu estou ansioso. — Ele
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disse humildemente.
Charlotte e Marco instantaneamente
se tornaram amigos. Ele foi seu primeiro
amigo em Harvard. A todo tempo eles se
batiam pelo campus. Marco era sempre
muito simpático e acessível.
Charlotte soube por sua colega de
quarto, Johanna Chan, que Marco era
muito popular em Harvard. Ele era o
presidente do Conselho Estudantil,
editor chefe do Jornal Escolar,
presidente do Time de Xadrez, e foi o
último vencedor do Decágono
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Acadêmico. Era uma espécie de aluno
prodígio e com certeza se formaria com
honras em Administração de Empresas.
Charlotte ficou muito impressionada
com as realizações do amigo.
— Você sabia que a família de Marco
é dona da Villa-Lobos Internacional
Holdings, Inc? — Johanna informou
Charlotte. — Eles são muito ricos! Não
duvido que sejam donos da metade dos
prédios de Nova Iorque.
— Realmente? — Charlotte ficou
impressionada, pois Marco não parecia
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ser um riquinho besta.
— Sim. E olhe para ele. Um cara
simples.
— Sim, eu concordo. Eu gosto da sua
atitude, ele parece tão pé no chão.
— Ele pode ser um nerd, mas tem um
sex appeal que minha nossa... Pelo
menos é o que eu acho. Mesmo assim,
soube que ele nunca namorou, porque a
maioria das meninas preferem os bad
boys, não os caras bonzinhos. Mesmo
sendo bonito, seu modo de se vestir
afugenta todas.
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— Sério?
— Sim, é o que eu soube. Mas olha
só, se ele desse uma repaginada no
visual e tirasse aqueles óculos, ficaria
um gato muuuito gostoso, não acha?
Charlotte sorriu.
— Sim, você está certa. Mas eu não
acho que ele ficaria feliz com uma
reforma. Com todas as coisas que ele
tem em mente, tenho certeza de que é
muito ocupado para se preocupar com a
aparência.
Ambas as meninas riram.
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Uma manhã, enquanto Charlotte
estava à espera de sua próxima aula,
tomando cappuccino, Marco se
aproximou dela.
— Oi Charlotte.
— Oi Marco.
— Eu estou precisando de um favor.
Será se você pode me ajudar?
— Depende. Qual é o favor?
— Precisando de um editor para o
jornal. Você gostaria de se juntar à nossa
equipe?
— Seria ótimo. — ela respondeu
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entusiasmada, pois precisava de
créditos extras. — Mas eu não sou
muito boa em escrever artigos ou
colunas, eu não tenho experiência.
— Oh, Não se preocupe com isso. Eu
posso te ensinar.
— Não tenho certeza. — ela hesitou.
— É realmente muito fácil. Vamos lá,
diga que sim, eu tenho certeza de que
você vai se divertir. — Marco sorriu e
tirou os óculos para limpar as lentes
com a borda da sua camisa.
Charlotte prestou atenção no rosto
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dele e percebeu que sua colega de
quarto estava coberta de razão. Marco
era um cara bonitão. Sem os óculos e
com o cabelo voando ao vento, ela pôde
ver todas as nuances do seu rosto e
sorriu para si, pois sabia que se as
outras meninas do campus o vissem
desse jeito, ficariam loucas. Ele era
lindo.
— Ok, mas prometa que vai me
ensinar. — Ela disse, ainda hipnotizada
pelo homem à sua frente..
— Eu prometo. — Ele sorriu
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docemente e ela pensou que fosse
morrer.
Desde aquele dia, Charlotte e Marco
ficavam sempre juntos durante o tempo
livre. Ela saía com ele e com o resto da
equipe editorial. Marco fazia questão de
editar suas colunas pessoalmente e dava
sugestões para tornar suas histórias mais
interessantes para todos. Todas as
quartas-feiras à tarde, eles tinham uma
reunião no Gabinete Editorial do Jornal.
Marco sempre trazia comida para todos.
E nunca se esquecia de trazer uma caixa
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com os donuts favoritos de Charlotte.
Um dia, ela estava almoçando com
uma das editoras, Caroline.
— Marco está encantado por você.
— O que?
— É isso aí, Marco gosta muito de
você.
Charlotte corou. — Por que diz isso?
— Em primeiro lugar, ele nunca
trouxe comida para a gente durante as
reuniões, isso só começou quando você
chegou. E em segundo lugar, ele não
esquece seus donuts e seu Macchiato
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nunca.
— Ele é apenas gentil, Caroline.
— Não. Acredite em mim, Charlotte.
Eu acho que ele é apaixonado por você.
Ele não consegue tirar os olhos de você.
— Somos apenas amigos.
— Ah garota, cresça! Todo
relacionamento começa com a amizade.
— explicou Caroline.
O que Caroline disse era verdade.
Marco a paquerava. Ele sempre levava
flores, seu café e doces favoritos para
ela no dormitório. Sem contar que
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ficavam sempre juntos, mesmo quando
não tinham aulas ou coisas do jornal
para tratar.

O ano escolar estava quase no fim.


Marco estava animado para a sua
graduação, mas também estava agitado.
Ele sentiria falta de estar com Charlotte,
já que ela continuaria em Harvard e ele
teria que voltar para Nova Iorque para
assumir a empresa de seu pai. Embora
ele tivesse planos de visitá-la,
ocasionalmente, não seria suficiente. Ele

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queria vê-la e estar com ela todos os
dias.
Uma noite, eles estavam passeando
no parque, quando Marco parou e tocou
o rosto de Charlotte com ambas as mãos.
— Tenho que ser sincero, Charlotte.
Minha formatura está acabando comigo,
porque sei que assim que as aulas
acabarem, eu sentirei muito a sua falta.
— Vou sentir falta de você também,
Marco.
Os olhos Marco escureceram um
pouco. Ele não sabia se era hora de
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dizer, mas ele disse mesmo assim. — Eu
amo você, Charlotte. Eu não quero ficar
longe de você.
Em seguida, ele a beijou com avidez
e paixão. E ficou surpreso quando viu
que ela correspondia energicamente.
Seria possível que ela também o
amasse? Eles se conheciam havia
poucos meses, mas o que Marco sentia
parecia ser amor para a vida toda. Será
se Charlotte sentia o mesmo? Ele quis
perguntar, mas preferiu continuar
beijando-a, até que ela mesma quebrou o
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beijo, ofegante.
— Oh Marco, eu também amo você.
— Charlotte tirou os óculos dele e
penteou seus cabelos para trás. Ele era
lindo e nem notava. Ela, na verdade,
ficava impressionada que as outras
meninas da faculdade não notassem isso.
Debaixo dos óculos de armação grossa,
do cabelo de nerd e das roupas largas,
ele era um grande pedaço de mau
caminho.
Charlotte traçou o polegar pelo lábio
inferior dele, admirando sua boca bem
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feita. Marco beijou o polegar dela, em
seguida, a palma da mão e voltou para a
boca. Ele a beijava como se esse fosse
ser o último beijo entre os dois.
Charlotte nunca tinha experimentado
uma sensação tão eletrizante e por isso
estava em chamas. Oh Deus!
Marco parou de beijá-la e a abraçou
com força.
— Temos que parar, Charlotte,
estamos no parque. — Ele riu.
— Oh, eu esqueci. — Charlotte disse
e abraçou-o de volta.
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— Vamos lá, eu vou levá-la de volta
ao seu dormitório. Você terá aula
amanhã cedo.
— Sim, senhor. — Ela sorriu e os
dois andaram abraçados.

Depois do último dia de aula do ano,


a colega de quarto de Charlotte a
convidou para ir a um bar. A maioria
dos seus colegas de classe estaria lá.
Charlotte estava animada, pois nunca
tinha ido a um bar antes. Ela não
costumava frequentar esses ambientes,

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pois seus pais não eram a favor.
Mas quando Marco soube dos seus
planos para a noite, discordou deles.
— Eu não quero que você vá a
nenhum bar, Charlie. As pessoas nesses
bares perto do campus são muito
selvagens, ficam bêbados além da conta
e usam drogas. Não vão te fazer nenhum
bem.
— Mas Marco, meus colegas vão
estar lá.
— Isso não significa que você tem
que ir também.
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— Você está sendo muito protetor. Eu
não sou mais criança.
— Charlie, eu te amo. Só estou
cuidando de você.
Charlotte apenas deu de ombros.
— Por favor, me prometa que não vai
ao bar mais tarde.
— Eu não posso. Johanna vai estar lá
e nós não vamos nos ver até voltarmos
das férias.
Os ombros de Marco caíram.
— Só me prometa, Charlotte. Se você
me ama, por favor, não vá.
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— Isso é injusto.
— Por favor, querida.
— OK. Eu prometo.
Mas a promessa foi feita apenas para
ser quebrada. Charlotte foi com Johanna
ao bar, junto com seus colegas de aula.
Eles estavam se divertindo no início,
mas depois de algumas horas, o bar
ficou muito cheio. Os alunos estavam
muito bêbados, dançando loucamente e
alguns até usavam drogas. Drogas que,
de vez em quando, ofereciam quase à
força a ela.
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Marco estava certo, pensou
Charlotte. Era melhor sair dali. Seu
celular tocou na hora em que ela se
levantou da mesa onde estava. Oh Deus,
era Marco.
— Alô?
— Charlotte? Onde você está?
Charlotte não respondeu. Sentia-se
culpada por não cumprir a promessa.
— Você está no bar, não está? —
Perguntou Marco.
— Lamento, Marco. Eu realmente
não pude dizer não a eles.
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— Tudo bem, fique aí. Eu vou pegar
você. — Marco disse com raiva.
— OK.
Poucos minutos depois, o bar estava
um caos. Um grupo de estudantes
começou a gritar e xingar um ao outro e
não demorou muito para que
começassem a brigar. O lugar ficou
muito tumultuado.
Charlotte ficou contente quando
Marco chegou. Eles já estavam prestes a
sair quando um cara o socou e ele foi
derrubado sobre a mesa. Quando se
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levantou, Marco socou o mesmo homem
duas vezes entre a boca e o nariz e ele
caiu no chão como um saco de batatas.
— Vamos lá, vamos lá. — Marco
agarrou a mão de Charlotte e saiu com
ela antes que alguém mais procurasse
confusão com ele.
— Marco...
— Amanhã conversamos, Charlotte.
É tarde.
Marco estava chateado com ela. Ela
quebrou a promessa de não sair com os
amigos para o bar. Ele lhe contou sobre
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os perigos e as coisas que aconteciam
ali, mas ela não lhe deu ouvidos. Ou
seja, ela não confiou nele.
— Tudo bem. Eu te amo. — Charlotte
disse quando saiu do SUV.
Marco não respondeu apenas
balançou a cabeça e, em seguida, partiu.

Marco acordou cedo na manhã


seguinte. Ele iria para sua casa em Nova
Iorque dentro de algumas horas, mas não
queria ir sem falar com Charlotte e dizer
que sentia muito por ter bancado o

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possessivo ciumento. Sua intenção era
dizer para ela tomar cuidado, mas que
não queria mandar na sua vida.
Por volta das oito da manhã, ele
bateu na porta do quarto dela e esta foi
subitamente aberta por um homem mais
velho, vestido com um terno fino que o
fez lembrar seu pai. Os olhos de Marco
se arregalaram. Inferno!
— Bom dia, senador.
— Bom dia. Você deve ser Marco
Villa-Lobos. — Seus olhos diziam que
ele estava muito irritado.
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— Sim senhor. — Marco entrou.
Charlotte estava sentada em sua cama,
com a cabeça inclinada. Sua mãe estava
em pé ao lado dela e seus olhos
brilhavam de raiva em direção a ele.
— Então... você é o jovem
responsável por aquela algazarra na
noite passada. Como você ousa levar
minha filha para aquele bar lotado e
começar a brigar como um cachorro de
rua? Eu poderia processá-lo por isso!
— A Sra. McKeena disse, histérica.
— Eu... Eu não... olha... deixe-me
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explicar. — Marco gaguejou.
— Não negue. Olhe isso aqui. — A
Sra. McKeena empurrou um jornal para
ele. — Eu achei que você fosse um bom
rapaz. Mas você é uma má influência
para a nossa filha e eu não quero que
você a veja novamente. Você me dá
nojo, assim como esses seus amigos
drogados do bar em que estava.
Marco viu uma foto dele no jornal,
socando o cara na noite passada. Outra
foto mostrava-o arrastando Charlotte
para fora. A manchete não era nem de
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longe algo para se dar uma boa primeira
impressão aos pais de uma garota.
O notório filho de Eduardo Villa-
Lobos, Marco Villa-Lobos, começa
baderna em bar no campus e é
flagrado arrastando a princesinha do
senador McKeena.
Mas a manchete mentirosa não era
bastante. Na matéria, ele foi mencionado
como se estivesse bêbado e sob a
influência de drogas.
— Charlotte, por favor, explique aos
seus pais o que realmente aconteceu. —
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Marco pediu à garota, mas ela parecia
não estar ouvindo.
— Charlotte já nos contou tudo. Não
há nenhuma necessidade de você tentar
se explicar, meu jovem. Você a forçou a
ir àquele bar. — disse o senador.
— Isso não é verdade, senhor.
— Confirme o que disse, filha. — O
Sr. McKeena olhou para Charlotte.
Marco ficou irritado, mas forçou um
sorriso. Só podia haver um mal
entendido. Charlotte não tinha dito nada
disso. Não era possível que ela fosse
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tão dissimulada.
— Charlie, fale comigo. O que o seu
pai está dizendo não faz nenhum sentido.
Conte a eles a verdade.
— Meu pai já disse tudo, Marco. Eu
não quero mais ver você, você é uma má
influência para mim e para a minha
futura carreira.
Charlotte se virou de costas para ele
na cama e começou a chorar, mas sem
deixa ninguém perceber. Marco não
podia acreditar em seus próprios
ouvidos. Ele ficou chocado, magoado e
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principalmente, com muita raiva. Então
simplesmente se virou e bateu a porta.

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Marco Villa-Lobos era um


empresário que subiu na carreira
rapidamente. Ele se tornou um dos
empresários mais respeitados de Nova
Iorque quando assumiu a função de vice-
presidente da Villa-Lobos Internacional
Holdings, Inc. Não satisfeito, ele abriu a
própria empresa, a Villa-Lobos Land
Group Inc, no ramo imobiliário e ao

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lado de Eduardo Villa-Lobos, era o
mestre de Nova Iorque.
Ele deixou a paixão por esse tipo de
negócio aflorar depois de uma viagem a
Dubai, ainda como vice-presidente da
empresa do seu pai. Ele estava selando
um acordo com uma refinaria de
petróleo e ficou muito impressionado
com os edifícios impressionantes do
país. Ele queria levar para sua cidade
aqueles mesmo designs inovadores, o
estilo e a elegância daquele país árabe.
Um ano depois, as realizações Marco
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tornaram-se sensação. Ele adquiriu a
maioria das propriedades com
pendências em bancos e transformou
tudo em arranha-céus impressionantes e
inovadores, fossem prédios comerciais
ou hotéis cinco estrelas. Aos vinte e
cinco anos, Marco era frequentemente
citado como exemplo de poder e
juventude nas maiores revistas e jornais
do mundo.
Mas é claro que todo esse sucesso e
poder tinham um custo alto. Ele chegava
a trabalhar dezoito horas por dia e por
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isso, não tinha tempo para nada que não
fosse relacionado a trabalho. Seus pais,
muitas vezes, chegavam a implorar por
um pouco de atenção do filho. Eles
sabiam que ele não fazia por mal, mas
sim porque não queria ter tempo para
pensar na decepção amorosa da qual
nunca se recuperou. Eles sabiam que o
filho ainda tinha Charlotte McKeena
entranhada dentro da sua cabeça e do
seu coração.
Eduardo sempre lhe dizia que se ele
abrisse um pouco a mente e seu coração
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para outra mulher, ele poderia
facilmente esquecê-la. Mas Marco não
dava ouvidos. Na verdade, a única coisa
que ele acatava dos pais, era o pedido
de sua mãe de não sair de casa. Ele não
conseguia dizer não a ela, pois ela
sempre fazia o mesmo discurso de que
se ele morasse em outra casa, ela nunca
mais o veria por causa da sua obsessão
pelo trabalho. Mas Marco só ficava em
casa durante a semana, pois no restante
dos dias, ele ficava na cobertura do
Villa-Lobos Land Group Inc, o maior
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prédio de Nova Iorque.
Mas a vida de Marco não era só
trabalho, embora parecesse aos de fora.
Ele também tinha alguns momentos de
lazer, como quando voava em seu
helicóptero ou quando bancava o
copiloto no seu jatinho durante algumas
viagens de negócios. E era apenas
nessas viagens que ele se permitia ter
uma amante ou outra durante as poucas
horas que durasse o voo.

Marco estava em sua escrivaninha de

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mogno, estudando o relatório mensal de
contabilidade da Villa-Lobos Land
Group Inc e observou algumas
discrepâncias com os materiais e
relatórios de custos de produção. Por
isso, ele ligou para o chefe do
departamento de finanças, o Sr. Murphy,
e exigiu que ele controlasse melhor sua
equipe e mandasse novos relatórios com
números certos dessa vez, ou cabeças
iriam rolar.
Em seguida, ele desligou o telefone.
Concentrou-se nos relatórios dos outros
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departamentos e depois de algumas
horas, quando o novo relatório do
departamento de finanças chegou à sua
mesa, ele o estudou detalhadamente, não
encontrando os mesmo erros de antes.
Então, de repente, sua visão periférica
pegou uma coisa. Seus olhos subiram
das folhas de papel até a janela de vidro
na parede à sua frente. Alguns homens
trabalhavam em um outdoor no edifício
vizinho. Não precisou de uma visão
aguçada ou mais do que uma olhada
breve para reconhecer a mulher na foto.
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Era Charlotte McKeena em tamanho
gigante, sorrindo e acenando.
MISS UNIVERSO CHARLOTTE
MCKEENA
VOCÊ É O ORGULHO DA
AMÉRICA
E o que poderia acontecer depois? A
única coisa esperada. Marco arrastou
sua muito pesada mesa de mogno para o
mais longe possível das janelas de vidro
que davam para o outdoor. A última
coisa que ele precisava era ver a foto
daquela mulher todos os dias durante o
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trabalho. Quando terminou o árduo
trabalho de reorganizar seu escritório,
Marco suspirou e sorriu satisfeito. Em
seguida, sentou-se e voltou a analisar os
relatórios. Um e-mail chegou em seu
notebook e ele se apressou em verificar,
mas antes que pudesse abri-lo, uma
imagem aleatória do Google piscou em
anúncios. Era a mesma maldita foto do
outdoor. A mesma maldita Charlotte
McKeena.
Droga!
Marco instantaneamente ficou com
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raiva. Ela ainda o assombrava. Ela era
realmente uma cadela. Ela o fez se
apaixonar como nenhuma mulher fez, em
seguida, o traiu como se estivesse
apenas brincando com o seu pobre
coração juvenil. Ele se perguntou por
muito tempo por que ela teria feito
aquilo. Como ela pôde mentir na maior
cara de pau e ainda agir como se ele
fosse o vilão da história toda? Graças às
suas declarações, jornais de vários
lugares do país escreveram absurdos
sobre ele, custando-lhe a Summa Cum
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Laude na Universidade de Harvard. Não
que ele se importasse com isso, mas
seus pais sim.
Eduardo ficou muito irritado com as
calúnias dos jornais e com a entrega do
título ao segundo aluno da sala de
Marco apenas por causa de tais
difamações. Marco Villa-Lobos era um
ótimo filho e um estudante brilhante e de
caráter, nenhum jornaleco deveria
manchar o nome dele, então mesmo
quando o garoto disse que não precisava
dar muita importância ao que saía sobre
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ele na mídia, Eduardo moveu céus e
terra para fechar o jornal pioneiro das
manchetes mentirosas e processou de
forma impiedosa os demais que
espalharam tal infâmia.
Quando isso aconteceu, Marco voltou
a procurar Charlotte. Queria dizer aos
pais dela que tudo já estava esclarecido
e dizer a ela que entendia o fato de ela
ter mentido por ter medo do pai. Mas os
McKeena sequer se dignaram a recebê-
lo. O mordomo o mandou embora como
se ele fosse um reles vendedor
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enjoativo.
Diante de um tratamento tão frio por
parte do senador e sua esposa, e
principalmente por parte de Charlotte,
Marco não teve escolha a não ser aceitar
que o que tinha acontecido não foi por
medo dos pais ou por qualquer outro
motivo no mínimo digno, mas sim
porque Charlotte era uma vadia patética,
uma criança mimada. Então ele jurou
para si mesmo nunca mais colocar os
pés naquele lugar. E jurou também que
faria a garota pagar caro por ter
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quebrado seu coração.
Ele iria destruí-la até que ela
rastejasse e implorasse por
misericórdia.

Enquanto Marco se mantinha ocupado


em seu escritório em Nova Iorque, seus
pais tinham acabado de chegar da
Malásia, onde comemoravam o
aniversário de casamento. Vinte e cinco
maravilhosos anos juntos e era como se
tivessem se casado na noite anterior.
Cada dia com Camila e Eduardo parecia

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ser o primeiro e o último ao mesmo
tempo, pois todos os dias eles os viviam
intensamente.
— Marco, estamos na Califórnia. Seu
pai e eu decidimos visitar a Luciana.
Estamos indo para o apartamento dela.
— Camila disse ao filho por telefone.
Marco gemeu. — Você ligou para ela
primeiro? A Lu pode estar em outro país
no momento. Ela anda muito ocupada
com a carreira.
— Não, nós queríamos surpreendê-
la. E seu pai queria ver o que ela está
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aprontando.
— Ela não é mais uma criança, mãe.
Ela já tem vinte e um anos.
— Eu sei, Marco. Mas você o
conhece. Sabe como ele é protetor.
Camila e Marco conversaram por
mais alguns minutos, enquanto ela e
Eduardo se dirigiam ao apartamento de
Luciana, e quando desligou o celular,
Marco ficou inquieto. Sim, seu pai era
muito protetor, principalmente com sua
mãe e Luciana. Se ele soubesse sobre...
Marco ligou para a irmã.
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— Luciana, onde está você?
— Oi irmãozinho, estou na praia.
Tinha uma sessão de fotos hoje cedo.
Por quê?
— Por acaso você esteve com o
Roman ontem?
— Sim. Por quê? — Luciana fez uma
careta.
— Olha, eu sei que não é da minha
conta, mas mamãe e papai estão indo ao
seu apartamento agora mesmo.
— O quê? Meu Deus! Roman ainda
está lá dormindo. Apenas eu saí, e só saí
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porque tinha essa sessão de fotos.
— Então ligue para ele e avise sobre
o nosso pai, ou ele terá uma surpresa
bem furiosa. Sem contar que mamãe vai
surtar se souber que vocês estão
transando mesmo sendo primos.
Luciana deu um tapa na testa e ligou
para Roman, mas ele não atendeu. Então
lembrou que Roman tinha colocado o
celular em modo silencioso para que
eles não fossem incomodados e
provavelmente ainda estaria até agora.
Oh Deus, me ajude! Luciana
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pensava.

Eduardo Villa-Lobos apertou o botão


da campainha no apartamento da sua
filha. Demorou um pouco para que ela
atendesse, então Eduardo ficou um
pouco aborrecido. Ele já estava prestes
a abrir a porta com uma chave mestra –
já que o prédio era seu e ele a pedira na
recepção antes de subir –, mas um belo
homem, sexy e quase nu com apenas uma
toalha na cintura a abriu.
Eduardo e Camila ficaram muito

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chocados. Oh meu Deus!
— Roman! O que você está fazendo
aqui? — Eduardo rosnou.
Os olhos de Roman Valdez se
arregalaram. Inferno!
— Puta merda!
— É bom você ter uma boa
explicação para estar aqui, meu jovem.
E vestido desse jeito ainda por cima. —
Eduardo praticamente soltava fogo pelo
nariz.
— Onde está a Luciana? — Camila
perguntou a Roman. Mas ele ficou sem
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palavras, ainda em estado de choque.
Eduardo entrou como um furacão no
apartamento e abriu a porta do quarto da
filha, mas ela não estava lá. Ele gritou
com raiva.
— Porra! Luciana! Luciana! Onde
você está? — Então ele saiu do quarto e
abriu as outras portas como um homem
totalmente louco. — Luciana! Eu sei que
você está aqui se escondendo, saia!
— Querido, acalme-se. — Camila
pediu.
— Roman! Diga-me onde ela está. E
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escolha suas palavras para explicar
porque está aqui quase nu antes de eu
socar a sua cara! — Eduardo rosnou,
seus olhos escurecidos com uma raiva
intensa.

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— Tio, acalme-se. Ela não está aqui.


Os olhos de Eduardo o encararam
como duas bolas de fogo.
— Então, onde é que ela está?
— Ela saiu cedo, pois tinha uma
sessão de fotos na praia.
— Me explique porque você está
quase pelado no apartamento da minha
filha. Não é como se você não tivesse

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um lugar para passar a noite já que tem a
mansão dos seus pais e todos os hotéis
da família. É melhor me dizer a verdade,
garoto, ou vai pagar caro. Por que você
está aqui? — Eduardo exigiu.
— Querido... — Camila tocou o
braço do marido, mas ele só tinha olhos
para Roman.
Eduardo observava com atenção as
marcas vermelhas nos ombros, braços e
costas de Roman. Ele tinha certeza de
que Luciana tinha feito aquilo. Assim
como a mãe, ela podia ser uma tigresa
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na cama.
— Dormi aqui ontem à noite. —
Roman disse bravamente.
— Mesmo? Então você está
dormindo com ela? Pelo amor de Deus,
Roman, vocês dois são primos.
— Nós não somos primos. — Roman
disse com firmeza. — Você e o meu pai
não são primos de sangue.
— De sangue ou não, ainda somos
parentes! Vocês dois cresceram como
primos e nada pode mudar isso. —
Eduardo disse com raiva. — Mas eu
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ainda não recebi uma confirmação, você
está ou não dormindo com a minha filha?
— E se eu estiver? O que você vai
fazer? Nos separar?
Um duro golpe na mandíbula de
Roman lhe jogou no chão.
— Oh meu Deus! Eduardo, pare! —
Camila gritou.
Eduardo deu-lhe outro golpe e logo o
rapaz estava sangrando.
— Vamos, lute comigo! — Eduardo
gritou.
— Não, eu não vou tio, eu respeito
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você. — Roman respondeu, tocando sua
boca sangrando, e então se levantou.
— Hã! Você está falando sobre
respeito agora? Você não respeita a mim
nem a minha filha. Você não poderia
estar dormindo com ela. Seu pai sabe
disso?
— Não. Mas ele sabe como eu me
sinto sobre a Luciana.
— Foda-me! — rosnou Eduardo. —
Eu vou ter que quebra-lo também?

Luciana começou a lembrar da noite

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que tiveram enquanto voltava ao seu
apartamento. Ela e Roman tinham
começado a dormir juntos apenas na
noite passada, apesar de já se sentirem
atraídos um pelo outro havia muito
tempo. Eles guardaram o desejo que
sentiam a todo custo, apenas para não
magoar seus familiares por causa da
falsa ligação como primos. Mas é claro,
que chegou uma hora em que não
puderam mais se controlar. Se pelo
menos papai não fosse tão antiquado...
Tudo começou anos atrás quando
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Luciana perguntou se Roman gostaria de
acompanhá-la a uma festa de um dos
seus amigos de elite na Califórnia, onde
o escritório de negócios dele ficava. Ela
ficou sem graça de aparecer na festa
sozinha, pois, por mais bonita que fosse,
não tinha muito jeito com os rapazes,
graças a superproteção do seu pai. Ela
estudou em um internato para meninas
regido por freiras durante toda a vida
acadêmica e por isso, nunca havia
namorado ninguém.
Mas a verdadeira razão era também
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porque Luciana queria apenas um
homem, e esse homem era Roman. Era
inútil tentar algo com qualquer cara que
ela conhecesse, por exemplo, durante as
férias, porque toda vez que conhecia
alguém, acabava comparando-o com o
primo. Toda vez que estava com ele, ela
se sentia como uma princesa, pois ele a
tratava assim. Ele a fazia se sentir feliz e
especial.
Eles tinham acabado de sair da festa
e entrado na Lamborghini de Roman
quando ela lhe confessou que nunca
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tinha sido beijada.
— Isso é sério? — Roman perguntou,
rindo.
— Não ria de mim, Roman.
— Não, eu não estou. É que eu nunca
imaginaria isso. Você é tão bonita... é
simplesmente impossível de acreditar
que ninguém nunca te beijou.
— É ridículo, tendo em vista que eu
já tenho dezoito anos, mas é verdade. —
ela disse tristemente. — Afinal, você
conhece o papai.
Roman riu. Ela olhou para ele com a
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cara feia.
— Você está realmente rindo de mim,
Roman. Isso não é engraçado.
— Não é disso que eu estou rindo,
Lu. É que... será que o seu pai não
percebe que a sua boca foi feita para ser
beijada? Se eu não fosse seu primo, eu
mesmo te beijaria agora. Deixaria seus
lábios inchados, pois eles são tão
rosados e parecem tão deliciosos...
Roman calou a boca antes que
revelasse mais do que deveria. Ele tinha
que se lembrar de que ela era sua prima,
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e que seu tio era um homem difícil e
muito protetor. Ele a manteve em um
colégio de meninas apenas para deixá-la
protegida dos homens à sua volta.
Roman sorriu com o pensamento de que
seria uma boa lição para Eduardo Villa-
Lobos se sua querida Luciana se
revelasse lésbica. Mas descartou o
pensamento logo, pois não queria de
nenhuma forma no mundo, que ela não o
achasse atraente como homem. Ainda
que só em seus pensamentos.
— Está falando sério, Roman?
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— É claro que estou.
Luciana mordeu os lábios de uma
forma inocente que deixou Roman
vidrado.
— Você me acha atraente mesmo
sendo sua prima?
— Não se subestime, Luciana. Você é
uma mulher muito atraente. Qualquer
homem cairia de quatro por você.
— Então por que ninguém nunca fez
isso?
— Acho que todo mundo tem medo
do seu pai. Fico pensando o que ele
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faria se soubesse que eu gosto de você.
— Roman disse baixinho, na intenção de
não fazer Luciana ouvir, mas ela ouviu.
— Você gosta?
Roman sorriu, tímido. —
Infelizmente, sim.
Ele não tinha por que negar, afinal a
relação deles nunca sairia daquilo que
era.
— Oh Roman, eu gosto de você
também.
— O quê? Você não pode. Somos
primos. — ele deu a ela um olhar de
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advertência.
Luciana fez beicinho e,
posteriormente, sorriu perversamente
sem que ele visse. Quando chegaram à
suíte em que estava hospedada, ela
voltou a tocar no assunto.
— Roman, você acha correto termos
sido criados como se fôssemos primos,
se na verdade não somos? — Luciana
perguntou ao servir um pouco de uísque
a Roman.
— Não acho certo, de verdade. —
ele bebeu um gole com cuidado,
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sentindo o líquido esquentar seu interior.
— Mas foi assim que fomos criados a
vida toda, e agora não há nada que possa
ser feito.
— Mas você disse que gosta de mim.
— ela sentou-se perto dele.
— É , Luciana. — Respondeu Roman
com cautela. — Mas...
— Nada de mas. Eu também gosto de
você, então o que acha que podemos
fazer a respeito disso?
Roman sorriu. Ela tinha coragem por
perguntar isso. Se seu tio Eduardo ao
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menos sonhasse que eles estavam tendo
esse tipo de conversa, acabaria com a
sua raça.
— Nada. Um dia, você vai encontrar
alguém que amará verdadeiramente, e
então se esquecerá de mim.
— Eu não acredito nisso. Não acho
que possa esquecer você. Nem me
lembro quando comecei a gostar de
você, mas agora... acho impossível
deixar de gostar.
Roman ficou sério.
— Sabe Luciana, estou achando essa
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conversa muito estranha. Sim, eu disse e
admito que gosto de você, mas seu pai
nunca vai aceitar isso.
Luciana entristeceu-se. Ela sabia o
tamanho da cabeça dura do seu pai.
Sabia que ele era teimoso e até mesmo
nos melhores dias, jamais aceitaria sua
paixão por Roman. Mas então ela
pensou direito. Ela já tinha dezoito anos.
Era legalmente adulta para votar, ir
presa, sair da casa dos pais, beber...
então por que não era adulta para amar?
Se seu pai a amava como ela sabia que
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amava, teria que aceitar suas escolhas
mesmo que fossem contrárias às dele. Já
estava mais do que na hora de ela
começar a agir como adulta.
— Eu não estou me importando com
o meu pai, nesse momento, Roman. —
ela disse, tirando o copo de uísque das
mãos dele. — Eu nunca fui beijada
porque sempre quis que você fosse o
primeiro para mim.
— Luciana...
Ela colocou os dedos na boca dele
para conter seu protesto. Em seguida
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lançou-se contra ele e o beijou. Roman
ficou tão alarmado e surpreso que não
correspondeu de imediato, mas quando
tomou consciência de que era Luciana
quem o estava incitando, colocou as
mãos na sua cintura e a puxou para o seu
colo.
— Luciana, você está completamente
louca. — ele disse ao se afastar um
pouco para tomar fôlego. Depois sorriu.
— Que bom que eu não sou o mais são
de todos os homens.
Agora foi ele quem tomou o controle
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da situação, beijando de forma violenta
como sonhou tantas vezes desde que
tomou consciência do que era desejo por
uma mulher. Roman a beijava com amor
e com luxúria. Seus lábios não eram a
única coisa que ele queria provar, ele
queria provar seu corpo todo. Então
beijou o rosto dela, o pescoço, a curva
dos seios e sentiu tanto prazer com isso
que estava prestes a levá-la para a
cama.
Luciana não ficou atrás em seu
desejo. Tudo o que ela mais queria era
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deixar o dogma de filhinha do papai
para trás. Ela já tinha conseguido que
Roman a beijasse, agora queria ir para a
cama com ele.
— Luciana, por favor, me peça para
parar.
— Eu nunca poderia pedir isso.
Quero você, Roman.
Roman gemeu quando ela arranhou
seu peitoral e o incitou com os olhos a
fazer aquilo que ele queria fazer. Mas
então uma ligação inesperada acabou
com o momento. Luciana considerou
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deixar a ligação cair na caixa postal,
mas no último momento resolveu
atender, pois se fosse seu pai e ela não
atendesse, ele sairia da suíte onde
estava com sua mãe e viria até seu
quarto.
— Luciana, você já está no hotel? —
Era a sua mãe, graças a Deus.
— Sim, mamãe. — ela respondeu
ofegante.
— Que bom, meu amor. Roman ainda
está com você?
— Sim, ele ainda está aqui. Eu lhe
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ofereci uma bebida por ser tão gentil.
— Que ótimo, filha. Seu primo é um
rapaz de ouro. Um grande beijo para os
dois.
— Outro pra você, mãe. E para o
papai.
Luciana desligou o celular e olhou
para Roman. Ele tinha se levantado
durante a ligação e estava andando para
lá e para cá.
— Você está bem? — Perguntou
Luciana.
— Eu não estou bem. Nós não
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podemos mais fazer isso Luciana, é
errado. Ainda bem que sua mãe ligou ou
você estaria nua agora. Meu Deus, o que
meu pai diria? Pior, o que seu pai diria?
— Roman...
— Devemos esquecer o que
aconteceu aqui hoje.
— Eu acho que nunca poderei
esquecer esse beijo. Foi o meu primeiro.
— Luciana, eu não vou esquecê-lo
também. Seu sabor e seus sons vão me
assombrar para sempre. Mas isso não é
fácil para mim. — Roman sentou-se e
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esfregou o rosto com as duas mãos. —
Acho que não deveríamos nos ver por
um tempo.
Em seguida, ele se levantou e foi
embora. Roman sentia-se renovado e
destruído ao mesmo tempo por causa
daquele beijo. Por que fui tão burro?
Nossos pais nunca vão aceitar isso. Ele
tinha conseguido se controlar por tanto
tempo, poderia muito bem continuar
desse jeito. Mas por que ele foi cair em
tentação? Pensando nisso, Roman foi
para o seu apartamento e demorou muito
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a dormir, pois não tirava a lembrança de
Luciana da sua mente.
Ela também demorou. Mas não por
ficar pensando e sim porque não parou
de chorar desde que Roman saiu pela
porta. Ela sabia que tinha feito uma
besteira. Ela não poderia ter colocado o
primo naquela situação. Ele deveria
estar se sentido culpado agora quando
ela era a única culpada. Mas como ela
poderia resistir à proximidade dele? Ele
era tudo aquilo que ela queria para si e
agora ficaria longe por um bom tempo
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por causa da malfadada noite.
Como ela queria que as coisas entre
os dois fossem diferentes.
Luciana e Roman ficaram muito
tempo sem se ver, apenas em ocasiões
em que a família toda estava presente.
Mas sempre que ficavam um tempo
sozinhos, o desejo mútuo falava mais
forte que tudo. Foram quatro episódios
em que eles repetiram a noite do
primeiro beijo de Luciana. Apenas na
noite passada, três anos depois, é que
eles não puderam de fato resistir à
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proximidade um do outro. A distância só
fez com que o desejo e o amor
crescessem ainda mais. Luciana sabia
que estava pronta para se entregar
completamente a ele. Roman sabia que
não poderia dizer não a ela como tinha
feito todas as outras vezes. Eles só não
contavam que Eduardo Villa-Lobos
fosse descobrir tudo tão cedo.

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— Marco, você tem que vir à


Califórnia. Seu pai está em pânico. —
Camila disse ao filho pelo telefone. —
Eu liguei para Luciana, mas ela não está
atendendo. Pelo que parece, sua irmã
está muito ocupada hoje em uma sessão
de fotos.
Marco estava no meio de uma

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reunião de negócios durante o almoço
com um grupo de investidores japoneses
em um famoso restaurante japonês de
Nova Iorque, quando sua mãe ligou. Ele
havia saído da mesa para atender a
ligação, mas notava que os homens que
o aguardavam não estavam muito
satisfeitos.
— Eu não posso mãe. Eu tenho um
grupo de investidores japoneses aqui
comigo. Ainda estamos negociando
nossa expansão na Ásia no início do
próximo ano.
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— Esta é uma emergência familiar.
Eu quero você aqui para falar com
Luciana. Ela ouve você. Cancele sua
reunião, você pode ir ao Japão na
próxima semana para isso.
— Mãe, eu sou uma pessoa muito
ocupada. Tenho muitos compromissos.
— Não precisa me lembrar da sua
incapacidade de tirar umas férias. Eu sei
perfeitamente da sua obsessão. —
Camila repreendeu o filho como se ele
ainda tivesse cinco anos de idade e não
fosse um dos maiores empresários do
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país. — Mas você pode delegar algumas
tarefas a um assistente pessoal, Marco.
Nós estaremos esperando você. Caso
você não venha, seu pai vai ter um
ataque cardíaco. Por favor, filho, fale
com a sua irmã.
— Ora mamãe, por que não deixa que
ela e o papai se entendam?
— Porque o seu pai é o maior cabeça
dura que eu conheço. E você sabe o
quanto ele é antiquado em alguns
aspectos. Com o humor que ele está, vai
ser uma briga daquelas. Luciana é muito
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opiniosa e pode acabar ficando sem
falar com ele por um tempo e eu não
quero minha família dividida. — Camila
disse determinada e continuou, em tom
mais condescendente. — Na verdade,
isso é em parte culpa do seu pai
também. Ele acabou estragando a garota
com sua super proteção e cuidado
demasiado. Agora está ficando maluco.
Marco suspirou, ciente de que não
poderia negar o pedido da mãe por mais
tempo.
— Não se preocupe, eu vou ligar pra
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ela mais tarde. Não há necessidade de
falar pessoalmente.
— Não, você não está entendendo.
Eu queria que você falasse não só com
Luciana, mas com Roman também.
Explique a eles que essa relação não faz
sentido algum. Meu Deus, eles são
primos.
— Mãe, eles não são realmente
primos e você sabe. Como o papai pode
ser tão conservador em relação a isso
quando em relação a outras coisas...
Marco não continuou. Não fazia
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sentido algum ele dizer à mãe que já os
tinha flagrado várias vezes em
momentos muito íntimos desde que tinha
oito anos. Na verdade, talvez até antes,
pois lembrava-se vagamente de uma vez
ter visto sua mãe com pouquíssima
roupa no escritório do seu pai quando
não tinha nem cinco anos ainda.
— Olha filho, essa situação é um
pouco embaraçosa para o Eduardo. O
que nossos amigos e parentes vão
pensar?
Marco, em seguida, concordou.
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— Ok. Eu vou no primeiro voo de
amanhã.
— Não, nós queremos que você
venha agora, o mais rápido possível.
Quanto mais cedo este assunto for
resolvido, melhor.
Marco gemeu.
— Ok, ok... eu vou mandar
prepararem meu jato.
— Obrigada, filho. Me ligue quando
sair, não quero me preocupar.
— Certo, mamãe.
Marco voltou à mesa e terminou sua
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reunião de almoço. Em seguida, ligou
para o seu piloto e pediu que
providenciasse a viagem de emergência.
Eles sairiam de Nova Iorque em poucas
horas. Depois de falar com o piloto e
com sua assistente pessoal, Sra. Levine,
a quem pediu que preparasse sua mala
para uns três dias de viagem, ele ligou
para Luciana, mas assim como Camila
havia dito, ela não estava atendendo o
celular. Então Marco ligou para Roman.
— O que diabos vocês dois estavam
fazendo? — Marco gritou assim que
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ouviu a voz do primo do outro lado da
linha.
Roman apenas suspirou e respondeu:
— Acredite cara, eu estou
arrependido nesse exato momento de
não ter saído do apartamento dela logo
de manhã. Mas eu pensei que...
Na verdade, Roman achava que seria
muito bom se manter no quarto de
Luciana por mais algumas horas até que
ela voltasse da sua sessão de fotos. Ela
chegaria, provavelmente, cansada e ele
a ajudaria a aliviar o estresse de um dia
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de modelo com mais um pouco de sexo.
Mas ele não contava que Eduardo fosse
aparecer soltando vespas da boca e fogo
pelos olhos.
— Eu me apavorei quando vi seu pai.
— Roman continuou, com a voz aflita.
— Você sabe que Luciana e eu nos
controlamos esse tempo todo, durante
todos esses anos apenas para agradar a
família, mas a verdade é que somos
apaixonados um pelo outro.
— Apaixonados? — Marco quase
riu. — Droga! Eu tenho um monte de
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compromissos Roman, e meus pais
querem que eu vá até aí para tentar
colocar juízo na cabeça de vocês dois. E
você me diz que está apaixonado?
— Sabe o que dizem sobre o amor
doer bastante? Agora eu entendo. Meus
lábios ainda estão sangrando. Seu pai
tem um soco de ferro e ele me deu dois.
Dessa vez Marco não conseguiu
conter. Ele tinha que rir.
— Ei, — protestou Roman, — isso
não é engraçado. Não me diga que você
quer me bater também?
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— Bem, eu poderia. Afinal, ela é
minha irmã.
— Eu sou um homem morto então.
Você e o tio Eduardo? — Roman se
lamentou, mas depois sorriu. Ele sabia
que o primo não tocaria nele. — Quando
você vem?
— Estou saindo daqui esta tarde.
Estarei aí por volta das seis.
— Bem, isso é ótimo! Finalmente,
você terá um pouco de folga.
— Não há nada de bom nessa maldita
folga. Tenho investidores japoneses aqui
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para a nossa expansão na Ásia, e por
causa de você e da Lu, minha reunião foi
adiada. Eu estava muito ansioso para
assinar o contrato!
— Que droga! Me desculpa, Marc.
Eu vou te recompensar, prometo.
Primeiro, vamos passar um bom tempo
na praia. Posso até te dar meu jet ski de
estimação, se quiser. Vou ligar pra
Nicole e dizer que você está vindo.
— Faça isso. Eu senti falta dela e
estou ansioso para vê-la.
— Tenho certeza que ela sente sua
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falta também. Ela está trabalhando muito
ultimamente na gestão do hotel, até
parece você. — Roman soltou uma
risadinha e Marco rolou os olhos — Vou
pedir pra ela te reservar a suíte
presidencial.
— Oh, agora estamos conversando
direito. Vou fazer uma listinha das coisas
que eu quero de você durante a viagem.
Quero um tratamento de rei, ou vou
matá-lo quando chegar aí por me meter
nessa confusão.
— Por mais que eu não queira
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arriscar meu pescoço, sei que você está
feliz por mim e por Luciana. Vou fazê-la
feliz e você sabe.
— Espero que sim. Mas lembre-se
que eu estou indo ajudar meus pais,
então trate de pensar em algo. Diga isso
à Luciana também se a vir antes que eu
chegue.
— Não sei como você poderá ajudar
seus pais, pois só vou desistir da Lu se
ela me der um pé na bunda. — Roman
coçou a cabeça e reconsiderou sua
afirmativa. — Ou melhor, nem mesmo se
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isso acontecer.
— Roman... — Marco gemeu,
esfregando os cabelos e o rosto. Ele não
teria paciência para falar com sua mãe –
ou pior, com seu pai – que sua opinião
não mudaria em nada a decisão de
Roman e Luciana ficarem juntos. Eles
eram adultos.
— Tenha calma, Marc. Quem sabe
com você aqui, seus pais não nos dão
uma chance.
— Sonha.
— Bom, veremos quando você
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chegar. Quer que eu mande meu
motorista buscá-lo no aeroporto?
— Sim, eu agradeceria. Tratamento
de rei, lembra?
— Certo. Nesse caso, vou mandar
que ele coloque uma garrafa de
champanhe pra você no frigobar. Quer
uma mulher também?
Marco desligou o celular ante as
risadas do primo, revirando os olhos,
mas com um sorriso no rosto. Talvez a
viagem não fosse ser tão ruim. Ele sentia
falta de Roman e de Luciana. E de
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Nicole, é claro. Talvez eu mereça
mesmo uma folga afinal de contas,
Marco pensou consigo enquanto
embarcava.

Mais tarde naquela noite, Marco saiu


do seu avião particular carregando uma
mochila de couro depois de pousar na
pista de pouso privada dos Valdez.
Todos que o viam, pensavam nele único
e exclusivamente como um homem de
negócios influente e poderoso, mas a
jaqueta de couro preta e o jeans

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desbotado que ele usava davam a ele um
ar de bad boy. Ele ficou surpreso ao ver
Roman encostado em sua Lamborghini.
Achava que o motorista iria buscá-lo e
não o primo.
— Ora, ora, ora. Parece que você
levou muito à sério o tratamento de rei
que eu pedi. Afinal, não mandou seus
lacaios, veio pessoalmente.
Roman sorriu. Em seguida, eles se
abraçaram.
— Uau! Você está péssimo, Roo.
Papai deve ter te batido forte mesmo,
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hein. — Marco disse ao se afastar, em
seguida se aproximou e fingiu examinar
de perto o estado do rosto de Roman. —
Tem certeza que não precisa de pontos
na boca?
— Deixa de ser palhaço.
— Minha irmã já viu isso?
— Ainda não. Eu não disse a ela
ainda.
— Não se preocupe, ela conhece
muito de maquiagem. Com certeza pode
dar um jeito na sua cara feia.
— Hahaha. Engraçadinho.
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Marco parou de rir e juntou as
sobrancelhas ao ver Roman com uma
expressão séria. Será que tinha
acontecido alguma coisa?
— Por que você está aqui? Pensei
que seu motorista viria me buscar.
— Ele vinha, mas fiquei sabendo de
uma coisa que não podia esperar. Acho
que você não vai gostar.
— Sobre o que é?
Roman coçou a cabeça com um gesto
nervoso que fez Marco sorrir
novamente.
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— É sobre a Charlotte. Ela está aqui.
O rosto de Marco de repente ficou
pálido e seus olhos escureceram com
uma raiva intensa.

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— Liguei para a Nicole e disse que


você estava chegando. Ela ficou muito
animada para vê-lo e disse que era uma
coincidência que sua ex-namorada
estivesse no hotel ao mesmo tempo. A
Organização Miss Universo fará um
baile para angariar fundos amanhã.
Marco estava sério. Sua mente estava

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em algum lugar distante. Fazia tempo,
mas ele ainda estava muito magoado
pela vergonha e pela traição da garota
anos atrás. Essa era uma ferida que
parecia ter sido aberta ontem.
— E aí, o que acha de dar uns
amassos na sua ex? Que bela folga, hein.
— Não brinque com isso Roman, é
irritante. — Marco disse com raiva. —
Eu não estou aqui de folga. Você
esqueceu que meu objetivo é falar com
você e Luciana sobre seu
relacionamento proibido?
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— Isso é ridículo. — Roman bufou.
— Nosso relacionamento não é
proibido, só seu pai acha isso. Os meus
pais não ligam.
— Roman, somos parentes. Primos.
Marco tinha prometido à sua mãe que
tentaria. Bom... ele estava fazendo isso,
mesmo que não acreditasse nessa coisa
de primos que não eram de sangue.
— Não, não somos e você sabe.
Nossa família é louca por ter nos criado
assim. E apenas o tio Eduardo encana
com isso.
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— Seja como for, cara. Eu quero que
você dê um jeito, porque se não, vai
acabar virando um problema meu. Papai
está irredutível e mamãe quer evitar uma
briga dele com você ou seu pai.
— Tio Eduardo é um cabeça-dura. —
Roman balançou a cabeça. — De
qualquer forma, se for para haver briga
por causa disso, haverá, porque eu não
vou abrir mão da Lu.
Marco gemeu. Sua mãe cozinharia
sua cabeça com esse assunto. Ele era um
homem ocupado demais, não podia
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perder tempo com sua irmã maior de
idade.
— E então, como será esse baile? —
Marco mudou de assunto, esfregando a
testa com as pontas dos dedos. Ele
lidaria com isso depois. — O que é
esperado?
— Ah, o de sempre. Muito dinheiro e
bebida envolvida.
Marco não queria demonstrar, mas
estava nervoso em rever Charlotte
depois de tanto tempo. Porém, havia
uma coisa boa nisso tudo. Se ela falasse
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com ele, Marco tentaria se aproximar...
e então faria com ela exatamente o que
ela fez com ele. Conquistaria sua
confiança e em seguida destroçaria seu
coração. Cadela maldita, era exatamente
o que merecia.
— Você está com uma cara nada boa,
Marco. — Roman comentou, olhando
fixamente para o rosto do primo. — Por
acaso está planejando uma fuga só para
não vê-la?
— Não. Não sou um covarde.
Charlotte não é mais nada para mim.
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— Isso é bom. Nunca se sabe, talvez
ela tenha mudado, mas se não mudou,
não é bom confiar nela. Ela já te deixou
na merda uma vez.
— Você não tem que me lembrar, eu
sei disso.
O tom de voz de Marco deixou claro
que ele não queria falar disso. O assunto
“Charlotte” não era um assunto que
deveria ser mantido em pauta.
— Vamos para o hotel. — Roman
disse, olhando Marco de soslaio. — Eu
estou com saudade da Luciana, não nos
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vemos desde essa manhã.
Marco suspirou. Ele sabia que
Roman e Luciana iriam acabar na cama
novamente. Que Deus os ajudasse se seu
pai os flagrasse.
— Odeio você, seu idiota. De tantas
mulheres no mundo, tinha que trepar
logo com a minha irmã?

Nicole Valdez era a irmã mais nova


de Roman de vinte e quatro anos. Era
muito bonita, embora se escondesse do
mundo. Tinha um rosto angelical,

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surpreendentes olhos verdes que
escondia com óculos de armação grossa,
e seus cabelos loiros sempre estavam
presos em um coque. Era uma mulher
deslumbrante, com um corpo lindo que
ela mantinha escondido embaixo das
suas roupas conservadoras de negócios.
Nicole era um ano mais nova que
Marco. Sempre foram muito unidos e
tinham uma relação agradável. Marco
até mesmo ensinou a garota a dançar
quando eram adolescentes. Mas já fazia
dois anos desde que os dois se viram.
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Toda vez que ela participava de alguma
reunião familiar, Marco não estava
presente, ou vice-versa. Era como se
eles brincassem de esconde-esconde um
com o outro, nunca se vendo
pessoalmente, apenas falando por
telefone, às vezes.
Nicole administrava o Royal Garden
Hotel & Resort, na Califórnia. Era um
dos hotéis cinco estrelas de propriedade
da família Valdez no estado e era
famoso por seu luxo, designs inovadores
– desenvolvido pela empresa de Marco
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– e uma vista incrível.
Roman subiu diretamente para o
quarto dele, onde Luciana agora estava
ficando, enquanto Marco saiu à procura
da prima. Ele a encontrou ocupada na
cozinha, fazendo mousse de chocolate.
Ela adorava experimentar coisas novas,
e andava fazendo aulas de culinária.
Quando a cozinha do hotel fechava, ela
colocava as mãos na massa.
— Por que está se escondendo aqui
na cozinha? — Marco perguntou e a
abraçou, mantendo-a contra ele com
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firmeza.
Ela ficou não ficou surpresa, pois já
sabia que ele chegaria e fazia o mousse
especialmente para ele, mas teve um
susto por sua chegada furtiva.
— Marc! Meu Deus, você me
assustou, seu louco.
Marco riu.
— Por que você está aqui? Você
deveria estar em seu escritório. — ele
virou seu corpo de frente para si. Então
pegou uma toalha de papel e limpou
algumas manchas de chocolates das suas
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bochechas.
Nicole corou um pouco.
— Me apaixonei pela culinária
recentemente. Comecei a fazer um curso.
— Ela disse sorrindo.
— Por que você ainda está usando
óculos? Achei que faria a cirurgia
LASIK mês passado. — Marco, tirou os
óculos dela e os colocou em cima da
mesa suja de chocolate.
— No sei se devo. E se eu não me
sair tão bem como você?
Marco tinha feito uma cirurgia
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LASIK havia alguns anos para corrigir
seu problema de visão. Ele decidiu fazer
depois do que aconteceu com Charlotte
e talvez aquilo tivesse sido a melhor
coisa que resultou daquele
relacionamento.
— Sei que está nervosa, mas já
conversamos sobre isso. — Ele sorriu.
— Vai dar tudo certo. É um
procedimento bastante seguro.
Nicole fez que sim, mas não
respondeu. Pensaria depois nisso mais
um pouco. Agora ela só queria curtir ter
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seu primo de volta. Luciana era ótima, e
ela adorava poder conversar com uma
garota, mas Marco era seu primo
favorito.
— Eu senti muito a sua falta. — ela
disse, abraçando-o de novo.
— Eu também senti sua falta.
Marco beijou sua testa e acariciou
seu cabelo.
— Até que enfim um pouco de folga
do trabalho, seu maníaco.
— Sim, mas apenas graças ao idiota
do seu irmão. Mamãe pediu para falar
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com ele e Luciana. Papai está soltando
fogo pelas ventas.
— Eu sei, Roman me disse. Oh,
deixe-me dizer que Charlotte está aqui.
Marco revirou os olhos com a
mudança repentina de assunto.
— O que você vai fazer quando a
encontrar?
— Quebrar seu pescoço, mandá-la ao
inferno, ou talvez empurrá-la escada a
baixo.
Nicole soltou uma gargalhada. Marco
não pôde deixar de notar como ela era
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linda fazendo aquilo.
— Isso é muito bom. Você tem todos
os motivos para odiá-la.
— Eu não a odeio, só não gosto do
jeito como ela me tratou. — ele disse
com um pouco de amargura.
— Hmm, sei...
Marco pensou no que tinha dito e
sorriu. Ele não a jogaria por uma escada
ou a estrangularia, claro ele não era um
criminoso, mas sabia ser um canalha.
Anos atrás, seu pai lhe ensinou a arte de
seduzir. Marco não era muito bom
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naquilo e teve o melhor professor que
alguém desejaria. Ele sabia que se
quisesse, deixaria Charlotte de joelhos.
E quando ela estivesse desse jeito, ele
partiria seu coração assim como teve o
seu partido, ou até pior.
— Você quer vingança. — Nicole,
que observava a expressão dele, disse
com um sorriso torto. — Você ainda a
ama.
A cor sumiu do rosto de Marco.
— Não. Eu já superei isso, Nicole.
Ele não precisava deixar ninguém
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saber que tinha um plano.
— Marc, por que não admite? Sou
eu, a Nicole. Você ainda a ama, admite
pra mim vai.
— Eu não a amo mais. Ela é uma
vadia, ok.
Nicole estalou a língua e franziu os
lábios.
— Diga isso mais um milhão de
vezes e quem sabe você se convence.
— Droga, Nicole. Pare com isso. —
Marco disse, frustrado. Ele não queria
se irritar com a prima. — Vamos lá, me
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mostre meu quarto. Estou muito cansado.
— Ok, espere. Eu só vou lavar as
mãos.
Nicole tirou o avental e lavou as
mãos. Ela pediu a um dos assistentes
que terminasse de preparar o mousse e
que fosse levar ao quarto do Sr. Villa-
Lobos quando estivesse pronto. Então
acompanhou Marco até a suíte
presidencial, assim como Roman havia
prometido.
Ele assobiou, tirando a jaqueta e os
sapatos.
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— Onde é o seu quarto?
— Eu fico com metade do andar de
cima. Roman com a outra.
— Estou certo em presumir que
Luciana está no quarto do Roman?
— Sim. Eles estão apaixonados,
Marco. É tão lindo.
Lindo, sei. Sempre é lindo no
começo. Marco quis dizer isso em voz
alta, mas se resguardou, afinal, queria
que sua irmã fosse feliz e odiaria cortar
as bolas do seu primo se ele a
magoasse.
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— E você? Tem namorado?
— Você está brincando comigo? Eu
não levo o menor jeito pra isso.
— Porque você escolheu assim. Você
é linda, Nicole. Inteligente. — Marco a
examinou de cima a baixo e ergue uma
sobrancelha. — Gostosa.
Nicole corou e deu um tapa no braço
dele.
— Você pode ser tudo que quiser.
Com sua voz, beleza e corpo, poderia
ser tantas coisas.
— Não estou interessada em ser alvo
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dos paparazzi. Quero uma vida calma.
Mas se quiser, pode me ajudar a arrumar
um namorado. Não é possível que com
vinte e quatro anos eu ainda seja virgem.
Marco começou a rir.
— Pare com isso, seu idiota. Te
contei porque é meu primo favorito e
meu melhor amigo, mas não é pra você
rir.
Nicole fez cara feia e se virou para ir
embora, mas Marco pegou sua mão e a
impediu.
— Desculpe, eu não estou rindo de
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você. É que você soltou isso do nada,
como esperava que eu agisse?
— De qualquer jeito, menos assim.
— Vem cá. — Marco a levou até o
espelho. — Olhe pra você. Você é linda,
não precisa da minha ajuda. Qualquer
cara seria sortudo em ser seu namorado.
Nicole, no fundo, sabia que Marco
tinha razão quanto aos seus atributos
físicos, mas não sabia como lidar com
aquilo. Eles eram os nerds da família, e
quando ele mudou, ela não teve mais
ninguém que levasse a vida assim como
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ela levava, então se fechou. Agora, em
parte, ela se arrependia disso.
— Vá para o seu quarto e vista algo
sexy. — Marco disse, observando as
expressões dela. — Tenho certeza que
você dará um nocaute em alguém. Hoje à
noite, você será minha acompanhante. E
eu serei invejado por todos os homens.
— Achei que fosse dormir.
— Por você, querida prima, eu faço
qualquer coisa.
— E isso não tem nada a ver com
fazer ciúme para a sua ex? — Nicole
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perguntou com um sorriso não tão
inocente.
— Não. Hoje minha mente estará
pensando apenas em você.

Charlotte estava estonteantemente


bonita em um vestido apertado de
veludo preto, com as costas nuas até a
cintura e gola alta. Seu cabelo estava
amarrado em um coque francês elegante
e ela bebia vinho no bar enquanto
esperava seu agente, Craig Cooper,
descer e se juntar a ela. Eles iriam jantar

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no restaurante do hotel e em seguida,
passariam um tempo em uma boate
próxima.
Charlotte e Craig estavam no Royal
Garden Hotel & Resort para um evento
de caridade de angariação de fundos.
Mas não era só isso, Charlotte achava a
Califórnia um dos melhores lugares para
descansar. Ela tinha tido um ano
estressante, passando por inúmeros
eventos como Miss Universo e no fim,
estava feliz por seu tempo com a coroa e
a faixa estarem acabando. Ficaria muito
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satisfeita em ceder tais coisas a outra
mulher, afinal, já tinha feito a vontade de
sua mãe. Agora, ela só queria relaxar um
pouco e com certeza, seu agente cuidaria
disso. Ele adorava uma boa farra.
Depois que todo o glamour acabasse,
Charlotte pretendia por em ação o que
tinha aprendido na faculdade. Desejava
abrir seu próprio negócio e então seria
completamente livre. Como sempre
quis.
Ela olhou no relógio por cima do
ombro de um dos barmen e suspirou por
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Craig estar demorando tanto. Ao seu
lado, um homem sentou-se em um dos
banquinhos do bar e pediu um Martini.
O coração de Charlotte começou a bater
muito rápido, pois ela achou a voz muito
familiar, embora que um pouco mais
grave e rouca do que ela costumava ter
em sua cabeça.
Ela olhou para o lado devagar e sua
garganta secou com a visão que seus
olhos tiveram. Meu Deus, é ele. Marco
virou-se para ela e arregalou os olhos,
momentaneamente surpreso. Mas logo
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cobriu seu rosto com uma máscara e a
encarou friamente.
— Olá, Charlotte. — Marco deu um
sorrisinho que fez as entranhas de
Charlotte se contrair. — Há quanto
tempo.

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— Marco. — Charlotte disse


suavemente.
Marco sorriu.
— Você parece diferente. Sabe, não
parece ser mesma Charlotte que eu
costumava conhecer.
Charlotte tossiu e balbuciou.
— Ah... ah... eu ainda sou a mesma

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pessoa. — Ela estava com vergonha, era
ridículo estar gaguejando diante de
Marco depois de tantos anos. — Eu... eu
tenho que projetar a imagem perfeita de
uma Miss Universo.
Marco assentiu. Depois acrescentou
em tom mais sério.
— Não... não foi uma crítica fútil...
quero dizer, você está parecendo mais
cheinha, sabe. Um pouco mais gordinha.
Mas não se preocupe, isso combina com
você. — Ele pontuou a frase com um
sorriso arrogante.
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Charlotte sentiu-se insultada. Ela
mantinha uma dieta rigorosa e praticava
exercícios como uma condenada apenas
para manter a forma. Era um absurdo
que ele tivesse dito que ela estava
gorda. Mas mesmo assim Charlotte não
pôde deixar de olhar para a sua barriga,
apenas para conferir se tinha
gordurinhas a mais aparecendo sob o
vestido. Mas notou o sorriso de
satisfação de Marco ao fazer isso e
voltou os olhos para seu rosto com uma
velocidade impressionante.
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— Obrigada, de qualquer forma.
Você está diferente também. Parece mais
velho. Se eu não te conhecesse há anos,
poderia pensar que é um cara de meia
idade e cá entre nós, eu não gosto muito
de ser vista com esse tipo. — Charlotte
disse, dando-lhe o sorriso que a fez
ganhar o concurso de Miss Universo.
Nenhum homem era forte o bastante
para resistir àquele sorriso e Marco
sentiu um frio na barriga. Ele
imediatamente fechou a cara e essa foi a
vez de Charlotte rir com arrogância.
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Bom, ele havia começado, agora tinha
que aguentar.
Esta mulher ainda é uma vadia!
Marco pensou. Ele não poderia se
deixar ser afetado por ela.
— Bom, isso é o que acontece
quando você trabalha o suficiente para
entrar na lista dos dez bilionários mais
jovens do mundo da revista Forbes. —
Ele sorriu largamente, mostrando todos
seus dentes brancos.
Charlotte bufou. Ele não se parecia
em nada com o cara meigo que ela havia
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conhecido. Aquele cara era um nerd no
modo de vestir, falar e agir, mas era um
amor e por isso tinha sido tão fácil se
apaixonar por ele. Esse parecia um galã
de cinema frio e arrogante. Mas talvez,
pensou Charlotte com um toque de
culpa, isso fosse culpa dela. É verdade
que quatro anos tinham se passado, mas
será que existia a chance de ele ter
mudado tanto apenas por causa dela? Ou
era tolice pensar que ele mudaria
completamente seu modo de se vestir e
agir apenas por causa dela? De
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qualquer forma, ela sentiu-se na
obrigação de se desculpar.
— Sinto muito pelo que aconteceu na
última vez que nos vimos. Eu era uma
menina ainda e não tive força o bastante
para defendê-lo.
Vadia! Seu pedido de desculpas veio
tarde demais. Marco sorriu para si.
— Não precisa se desculpar. As
coisas dão certo quando têm que dar.
Meses depois de tudo aquilo, eu nem
lembrava mais do que tinha acontecido,
então relaxa. — Ele sorriu e continuou.
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— Pelo menos a experiência com você
me deixou alerta em relação a alguns
tipos de mulheres.
— Que tipo de mulheres?
Marco não respondeu de imediato e
isso incomodou Charlotte. Ele estava
insultando-a novamente?
— Dessas que a gente vive uma
aventura. É até bom de vez em quando.
O coração de Charlotte cairia no
chão se ela estivesse com ele em suas
mãos. Felizmente ele estava seguro
dentro de sua caixa torácica, então
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apenas deu uma guinada dolorosa.
Marco realmente tinha mudado, mas não
fora por sua causa. Ele a tinha
esquecido, o que a fez pensar que talvez
o amor que ele dizia sentir, não fosse
assim tão grande.
Claro, porque se não tivesse
esquecido, estaria furioso. Ela sabia que
mereceria cada pedaço de ira que ele
quisesse derramar sobre ela. Assim,
pelo menos, ela saberia que tinha estado
em seus pensamentos por todo esse
tempo, assim como ele esteve nos dela,
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impedindo-a de dormir muitas e muitas
noites por causa da culpa e do coração
partido por si própria. Mas se ele nem
se dava ao trabalho de fingir uma
chateação, queria dizer que ele não se
importava com ela nem um pouco, e que
ela tinha sido exatamente o que ele
falara há pouco, uma aventura e nada
mais.
Charlotte ficou calada por muito
tempo, considerando se deveria contar-
lhe a verdade sobre o que tinha
acontecido naquele dia, mas eles
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estavam em um jantar formal e para que
ele entendesse, ela teria que contar tudo.
Mas Charlotte queria pelo menos
perguntar se ele tinha uma esposa ou
namorada no momento. Se ele
respondesse que sim, ela deixaria toda
essa história para trás, afinal, não havia
motivo para ressuscitar o passado se
nem ele mesmo lembrava como tinha
sido, segundo suas palavras. Mas se ele
dissesse que não, bom... ela queria
marcar um encontro e explicar-lhe cada
passo que a levou a fazer o que fez
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naquela manhã. O pior erro de sua vida,
pensou amarga, já que ainda o amava.
— Marco, você tem... — Charlotte
estava prestes a perguntar, mas os olhos
de Marco se concentraram em outro
ponto e ela percebeu que ele estava
sorrindo para alguém.
Charlotte olhou para a mulher que
chamou a atenção dele e viu o motivo.
Era uma loira absolutamente linda.
Usando um vestido vermelho e com o
cabelo solto, ela parecia realmente
poderosa, o tipo de mulher com quem
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Marco, provavelmente, se envolvia
agora. Charlotte de repente sentiu
ciúmes.
— Ah... desculpe-me. Foi um prazer
enorme vê-la novamente. — Marco a
dispensou sem nem ao menos olhar em
seu rosto. Os olhos dele estavam
voltados para a mulher de vermelho.
Charlotte se sentiu rejeitada como
nunca tinha sido antes.

Marco sorriu quando viu Nicole


entrar. Ela parecia absolutamente

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estonteante, um nocaute para qualquer
homem. Mal podia acreditar que a
garota mal arrumada e com óculos
gigantes que ele vira havia poucos
minutos estava tão deslumbrante agora
usando um vestido vermelho marcante,
cabelos soltos indo até a cintura e sem
óculos. Devia estar usando lentes de
contato. Suas pernas pareciam não ter
mais fim e a sutil curva do seu decote
dava a ela uma aparência sexy e
recatada ao mesmo tempo.
Marco se aproximou, quase
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atropelando as pessoas pelo caminho,
mas franziu a testa quando viu um
homem alto atrás dela. Eles estavam
sorrindo um para o outro, como se
compartilhassem uma piada ou algo
mais interessante. Marco não pensou
duas vezes e foi diretamente para o lado
de Nicole, em seguida, a beijou nos
lábios, deixando-a momentaneamente
desnorteada.
Nicole não quis ser rude, mas
empurrou de leve o peito dele.
— Acho que isso é um pouco demais,
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Marco.
— Depende. Quem é aquele cara?
— Oh, o nome dele é Carlos. Ele é
um príncipe.
— Um príncipe? — Marco
perguntou, franzindo a testa e olhando
para trás dela, onde o homem ainda
estava de pé.
— Sim. Príncipe da Espanha! Eu o
conheci no elevador. Nós estávamos
conversando e eu disse que estava indo
me encontrar com meu primo. Mas você
me beijou na frente dele e agora ele
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deve estar pensando que eu sou uma
cadela mentirosa. — Nicole o censurou,
apertando os dentes.
Marco quase rolou os olhos, mas não
queria irritá-la. Também não estava
confortável em deixá-la com aquele
cara, que poderia muito bem ser apenas
um cara a fim de se dar bem. Ele olhou
para onde estava minutos antes e viu
Charlotte bebericando sua bebida com
um homem sentado ao seu lado.
— Preciso de um favor.
— Jura que ainda vai me pedir
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favor? Achei que era pra vir porque
queria ver os homens babando por mim.
— Isso foi antes de eu vê-la.
— Quem? — Nicole perguntou com
interesse.
— Charlote.
— Oh! Sério? Onde?
— No bar.
— E você quer fazer ciúme pra ela.
— Nicole afirmou com um sorriso
diabólico.
— Eu só... — Marco bufou, pois não
queria que Nicole pensasse isso, mas
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não é que não fosse inteiramente
verdade.
— Tudo bem, Marc. Seremos o par
um do outro hoje, mas vê se pega leve
nesses beijos ou vou ficar tonta.
Após a breve conversa, Nicole ficou
muito cooperativa. Ela abraçava Marco
o tempo todo e fazia questão de rir sobre
tudo que ele dizia. Em alguns momentos,
olhava de soslaio para o bar e via que
Charlotte observava tudo. Sua expressão
lembrava a de alguém que comeu algo
desagradável. Engole essa, vadia.
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Marco parecia satisfeito consigo
mesmo. Charlotte estava com uma cara
péssima e Nicole não estava dando mole
para o tal príncipe. Ele estava tendo as
duas coisas que queria. De mãos dadas
como um casal apaixonado, eles foram
até a área do jantar, para a mesa de
Roman e Luciana.
— Santa mãe de Deus! O que
aconteceu com você pra se vestir assim?
— Roman perguntou a Nicole.
— Bem, já era hora de uma mudança.
— Respondeu Nicole.
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— E você? — ele perguntou a
Marco. — Eu vi quando você a beijou.
Por que fez isso, seu sem-vergonha?
Marco fez uma careta. Como
exatamente ele poderia fazer uma
pergunta dessa?
Luciana olhou diretamente para
Marco e sorriu com sarcasmo. Ela
estava consciente do plano dos seus pais
de chamarem-no para colocar “juízo” na
cabeça dela. Ela fez um gesto para que
ele limpasse o batom da sua boca.
— Diga isso a si mesmo, seu escroto.
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Era apenas fingimento. — Marco disse
enquanto limpava os lábios com o
guardanapo. — Você fode a minha irmã.
É bem diferente.
Luciana corou carmesim com as
palavras do irmão.
— Marco. — ralhou ela.
— Charlotte estava no bar. — Marco
disse a contragosto. — Eu só queria...
— Fazer ciúmes à sua ex? — Roman
riu. — Deveria ter escolhido então uma
mulher que não fosse sua prima.
— Vai pra merda, Roo. — Nicole
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disse um tanto enfezada. O próprio
irmão estava tirando sarro da sua cara?
— Irmãzinha, por que deixou ele te
usar? — Roman perguntou a Nicole com
falso interesse.
Ela não quis responder que ela
também o estava usando, pois assim, ao
lado de um homem como Marco, ela viu
vários outros olhando em sua direção
com muito interesse, além do príncipe.
Ora, homens querem o que outros
homens querem. Não é esse o ideal
masculino?
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— Por que não? — ela respondeu
simplesmente. — Nós somos uma
família. E família ajuda um ao outro. De
qualquer forma, eu conheci alguém esta
noite. Ele é príncipe da Espanha. Seu
nome é Carlos.
— Sério? Isso sim é uma boa notícia.
— Luciana deu uma risadinha. Ela não
queria nem pensar em Charlotte logo ali
no bar. Aquela cachorra tinha feito seu
irmão comer o pão que o diabo amassou
por anos. Imaginava que ainda fazia,
mesmo que ele negasse até a morte. E
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por mais que ela gostasse de importuná-
lo e tornar sua vida um pesadelo, como
qualquer irmã caçula, ela amava Marco
da mesma forma como amava seus pais
e não gostaria de vê-lo enlaçado com
aquela mulher outra vez.
— Sim, quem sabe, finalmente, eu
não arrumo um cara pra mim?
— Não se iluda tanto. — disse
Marco com uma cara nada bonita. —
Ele pode muito bem ser o príncipe dos
ladrões.
— Ah, não seja mau... Ele não é. —
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retrucou Nicole.
Luciana riu novamente. Parece que
seu irmão estava com ciúmes.
— Vou resolver isso já. Amor, me dá
o celular, eu não trouxe o meu. — ela
pediu a Roman. — Vou procurar no
Google. Se ele for príncipe da Espanha,
deve aparecer na pesquisa.
Roman deu o celular à Luciana e
todos aguardaram enquanto ela fazia a
busca. Depois de um tempo, ela virou o
celular para a prima.
— Este é ele? Príncipe Carlos da
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Espanha?
Nicole olhou de perto e confirmou:
— Sim, é ele.
— Ele é tão lindo! — Luciana deu o
celular a Nicole para que ela visse as
outras fotos.
— Ei! Mais lindo do que eu? —
Roman perguntou a Luciana, fazendo
beicinho.
— Claro que não, amor. Você é o
homem mais lindo do mundo. — disse
Luciana, beijando os lábios de Roman.
— Só perde para o meu pai. Aquele ali
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ninguém supera, nem meu irmãozinho ou
você.
Marco e Roman fizeram menção de
resmungar, mas desistiram. Talvez a
maioria das mulheres concordasse com
ela.
— Sim, este é o Carlos. — Nicole
disse, como se não tivesse ouvido nada
do que Luciana falou. — Veja Marco,
ele é mesmo um príncipe.
— Tudo bem, mas não se anime. Ele
pode ser um playboy. — Marco
respondeu.
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— Acho que não. Ele é de uma
família real, não poderia ser um
playboy.
— Só estou avisando. Talvez seja
bom você ficar com um olho esperto.
— Marco, eu não sou criança.
— Roman, quer, por favor, cuidar da
sua irmã?
— Prefiro cuidar da sua irmã. —
Roman disse com uma piscadela para
Luciana e um sorriso tão sacana que
Luciana sentiu um calor imediato. —
Nicole é adulta. Além do mais, ela tem
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você, não tem?
— Podem calar a boa, os dois. —
Nicole disse áspera. — Eu não preciso
do meu irmão cuidando de mim. Nem do
meu primo. Agora podemos ir logo para
a clube, já que ninguém aqui tem a
intenção de jantar?
Ela levantou-se de supetão, o que
gerou um frenesi nos outros, que logo a
acompanharam.

Marco viu Charlotte no momento em


que entrou no clube. Ela estava com

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alguém, um homem. O mesmo de antes.
Ele se perguntou se era seu namorado.
Eles pareciam muito confortáveis um
com o outro.
Ele agarrou a mão de Nicole e a
abraçou com força.
— O que foi? — Nicole perguntou
surpresa.
— Ela está aqui.
— Oh! Ok. — disse ela e abraçou-o
de volta. A raiva momentânea já tinha
passado.
— Ei, não exagerem as coisas. Você
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são primos. — Roman disse atrás deles.
Luciana deu uma cotovelada no
namorado e o mandou ficar quieto.
Marco deu a Roman um olhar
irritado.
— Vai se foder.
— Só mais tarde. — disse Roman.
Luciana jogou as mãos para cima e foi
sentar-se em um sofá em um dos cantos
do clube.
— Vamos lá, vamos dançar. —
Marco arrastou Nicole na pista de
dança.
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Eles dançaram até seus pés
começarem a doer. Nicole pediu um
tempo para descansar, mas quando a
música ficou lenta, Marco pediu que ela
continuasse a dançar com ele pelo
menos aquela música, e seu sorriso foi
tão lindo e galante que ela não teve
como negar.
Então alguém tocou o ombro de
Marco.
— Você se importa se eu dançar com
Nicole?
Marco ficou sem palavras. Ele estava
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prestes a dizer que se importava, quando
Nicole respondeu.
— Claro que ele não se importa.
Certo, primo? — Marco olhou para ela
com a cara feia, então ela apenas mexeu
os lábios. — Por favor...
— Ok, mas só uma dança. — Marco
disse, encarando o príncipe.
— Sim, senhor.
Marco estava indo para o sofá onde
Roman e Luciana praticamente
começavam uma preliminar quando viu
Charlotte olhando para ele. Ele olhou
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para ela e os dois ficaram assim por
vários tensos segundos, até que ela se
levantou e saiu do clube. Ele a seguiu.
Charlotte andava em direção à
varanda da casa noturna e sentia que
Marco a seguia um pouco de longe.
Então parou e esperou por ele perto do
jardim. Não podia vê-lo, mas sentia sua
presença, bem ali há alguns metros de
distância. Ela passou a mão pelo
pescoço, deixando exposto ao ar da
noite e Marco sentiu sua boca salivar.
Ele queria colocar os lábios ali e beijá-
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la por horas até perder os sentidos.
Vadia. Ela ainda sabia como deixá-lo
louco.
Marco respirou fundo e se aproximou
mais, deixando-a perceber que já estava
a menos de meio metro dela. Ela virou-
se com um sorriso sedutor.
— Marco.
Inferno, ela era muito linda. Seu
corpo inteiro sentiu uma espécie de
tremor, seu pau endureceu na hora. Sua
pulsação acelerou. Charlotte não tinha
muita experiência com homens na época
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em que eles namoraram, mas a essa
altura já tinha alguma. E não deixou de
notar a sutil mudança no comportamento
dele. Então, apenas para provocar mais,
ela lambeu os lábios e teve a satisfação
de vê-lo murmurar um palavrão.
De repente, eles se beijaram
violentamente. Pareciam famintos. Como
se não houvesse amanhã. Suas línguas
duelaram o tempo todo, querendo cada
uma assumir o controle sobre o beijo.
No fim, Marco venceu e não tinha como
ser diferente. O rapaz antes tímido, tinha
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se tornado um predador e Charlotte, por
mais mulher que tivesse se tornado, não
tinha resistência o suficiente para ele.
Marco beliscou e chupou os lábios
dela de forma cada vez mais frenética.
Depois a escorou em um poste que
estava convenientemente próximo a eles
no meio do jardim e segurou um dos seis
dela por cima do vestido negro. Ela
gemeu quando ele pressionou sua ereção
contra o meio das suas pernas. Nunca
eles tinham transado.
Charlotte não era virgem quando eles
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namoraram, tampouco Marco, mas
ambos quiseram esperar um pouco mais,
e acabaram nunca tendo a chance. Não
que eles não tivessem tido algumas
provas de como era o corpo um do
outro. Charlotte sabia que um pouco
abaixo do umbigo, no meio do V que
levava ao que Marco guardava com
muito orgulho, pois realmente era
motivo de orgulho ter um monumento tão
grande e grosso, ele tinha uma pinta de
nascença do tamanho do seu polegar.
Marco, por sua vez, sabia que se
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mordesse embaixo dos seios de
Charlotte, ela teria um espasmo de
prazer. E por Deus, era exatamente isso
que ele queria fazer. Talvez ele devesse
esquecer tudo e apenas aproveitar o
momento, quem sabe recomeçar. Talvez
ele...
— Eu quero você de volta. —
Charlotte disse com a voz rouca e
necessitada.
Ou talvez não... Puta merda! Marco
de repente ficou muito irritado. Então
era assim? Um pouquinho de charme,
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uns amassos, estalar os dedos e ela o
teria quando bem quisesse? Não mesmo.
Ela ainda era a mesma menina egoísta e
mimada que ele conheceu.
— Sei que faz tempo que não nos
vemos. — Charlotte disse com cautela
ao perceber que Marco tinha parado de
beijá-la e a olhava com curiosa
expressão. — Mas talvez...
— E você quer isso agora? — Marco
perguntou, interrompendo-a.
— Bom... — Seria besteira negar.
Ela o desejava. Já não era uma menina
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com pouco conhecimento das coisas.
Era uma mulher que ardia de desejo por
ele.
— Eu... não tenho camisinhas comigo
aqui.
— Eu não estava pensando em ser
aqui. — Charlotte sorriu, inocentemente.
— Vamos para um lugar mais
reservado?
— O banheiro? — Charlotte
perguntou, lembrando-se da vez em que
ele propôs isso anos atrás. Ela quase
aceitou, só não transou com ele naquele
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banheiro porque queria que sua primeira
vez com ele fosse especial.
— Não. Pensando melhor, é bom não
ser por aqui. Por que não me espera no
seu quarto? Eu prometo que será
inesquecível.
Charlotte se aproximou dele
novamente e o beijou mais uma vez.
Marco apalpou sua bunda e a trouxe
para mais perto de si.
— Vai ser uma delícia tirar esse
vestido de você, Charlie.
Charlotte se emocionou ao ouvi-lo
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chamá-la assim novamente.
— Então estarei esperando no quarto.
Nua.
— Uau. — ele deu um sorriso
diabólico. — Sim e por que não vai se
aquecendo por enquanto? Mas nada de
gozar, tá. Eu vou fazer isso quando me
enfiar em você.
Charlotte sentiu o corpo tremer em
antecipação. Sorriu, beijou-o mais uma
vez e começou a andar em direção ao
hotel, digitando uma mensagem para
Craig, dizendo que estava encerrando a
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noite.
Marco a observou com o olhar
atento, queria ter certeza de que ela
estava mesmo indo para o quarto.
Quando confirmou, sorriu para si mesmo
e sentiu-se poderoso, pois sua vingança
tinha acabado de começar.

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Marco voltou para o clube e começou


a procurar por Nicole. Logo a
encontrou, dançando ainda com o tal
príncipe. Caramba, ele tinha saído havia
um bom tempo e pelo menos três
músicas já tinham tocado, então por que
ela ainda estava dançando com ele? E
pior, rindo em seus braços. Marco não

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confiava nele e ficou irritado,
caminhando em direção a eles.
— Acho que é o bastante. — Marco
disse firmemente ao príncipe. — Eu
disse apenas uma dança.
O príncipe ficou surpreso quando viu
Marco ao seu lado.
— Sí, sí, está bien. — Ele recuou,
mas piscou para Nicole. — Eu te ligo.
Marco perfurou a parte de trás da
cabeça do príncipe com o olhar
enquanto ele se afastava e Nicole deu-
lhe um tapa forte no braço, claramente
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irritada.
— Marc, o que você está fazendo? —
ela reclamou com a voz ácida.
— Você está flertando com ele. —
Ele cerrou os dentes.
— E o que você tem a ver com isso?
Você está agindo muito estranho hoje.
Ela deu outro tapa nele, dessa vez, na
nuca.
— Isso machuca, sabia? — Marco
disse esfregando o local acertado. —
Por que você deu a ele o seu número?
Tá louca? Eu não confio nesse cara.
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Nicole colocou as mãos nos quadris
e o olhou com fogo nos olhos.
— E por que não? Quer saber, deixa
pra lá, eu não ligo para o que você diz.
Ele é muuuito gostoso.
Marco fez uma careta e Nicole se
afastou deixando-o boquiaberto. Quem
ele pensava que era para agir daquela
forma? Tudo bem que eles tinham um
“pacto” para a noite, ser o par um do
outro para fazer ciúmes à Charlotte e
para que os homens olhassem para ela,
mas ele não tinha que levar tão a sério.
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E agora que um cara realmente estava se
interessando por ela, por que diabos ele
estava agindo tão estranho? Não era
esse o plano?
Nicole se dirigiu à mesa em que o
irmão e a prima estavam e Marco a
seguiu.
— Ei, o que há de errado? Por que
você está fazendo beicinho? — Roman
perguntou a ela.
— É o Marco, está agindo como um
lobo mau, e implicou por eu dançar com
o Carlos.
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— Vocês não estavam apenas
dançando. — Marco disse atrás dela. —
Estavam flertando.
— Eu não estava flertando. Nem ele.
Ele estava apenas me ensinando
espanhol.
— Oh, é mesmo? — Marco
debochou.
— Sim. Ele me ensinou algumas
frases. Como estás? Como se llamas?
Dónde eres? Qué haces aqui?
— Isso é legal, útil caso um dia você
vá à Espanha. O que mais? — Luciana
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perguntou.
Nicole riu e continuou.
— Eres muy hermosa... ahm... Quiero
llevarte a la cama.
— O quê? — Roman e Marco
disseram juntos.
— Você sabe o que isso significa? —
Marco disse, vermelho de raiva. — Que
ele quer te levar pra cama.
— Você é muito inocente, irmãzinha.
Eu quebro a cara dele se te tocar.
Nicole acenou com a mão,
desdenhando deles.
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— Ele não faria isso assim. Ele é
muito cavalheiro. Sabe Luciana, — ela
ignorou completamente os dois homens
ao seu lado — ele tem um rancho e disse
que adoraria me ensinar a cavalgar.
Roman abriu a boca, pasmo pelas
palavras da irmã, que claramente não
tinha entendido o duplo sentido da oferta
do príncipe. Marco ficou totalmente
transtornado com a imagem de Nicole
cavalgando o idiota na cama.
Então ele esfregou o rosto. Oh Deus!
O que estava acontecendo com ele? Por
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que estava tão preocupado com Nicole?
Ele mesmo pensou que era estranho que
em sua idade ela ainda fosse virgem e
pediu que fosse seu acompanhante essa
noite para provar a ela que era muito
atraente e capaz de deixar um homem de
quatro. Agora parecia estar morrendo de
ciúmes desse imbecil?
Que porra havia com sua cabeça essa
noite? Ele nunca tinha agido dessa forma
com Nicole. Ela era sua prima, porra.
Bom, não exatamente, mas era como se
fosse.
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— Cá entre nós irmãozinho, —
Luciana cochichou no ouvido de Marco
— acho que você está mais fodido do
que eu, digamos assim. Sua cara não
está nada boa.
— Não seja ridícula.
Luciana riu alto, chamando a atenção
de Roman e a irmã, mas não falou nada
quando questionada.
— Vamos beber. — Nicole disse. —
Faz tempo que eu não faço isso e hoje
quero aproveitar o fato de ter sido tirada
do trabalho.
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— Eu concordo. — Marco
complementou. — Eu também estou de
folga e quero aproveitar.
Luciana chamou uma garçonete e
pediu uma bandeja de tequila. Se era pra
beber, que bebessem até cair.
— Não quero isso. — Nicole disse,
olhando para a garçonete prestes a ir
embora. — Vou querer um orgasmo
estridente.
— Isso aí, garota. — Luciana falou
com entusiasmo. Roman, por sua vez, fez
uma careta horrenda.
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— Isso lá é nome bebida. — ele
resmungou.
— E eu vou querer um boquete. Ou
melhor, vários. Traga vários orgasmos
pra ela e vários boquetes para mim.
Marco balançou a cabeça com
desgosto. Será se só ele e Roman
beberiam algo de verdade?
— Ok, traga a bebida delas e para
mim e meu primo, traga uísque.
A garçonete concordou, anotou o
pedido em um bloquinho e saiu sorrindo.
Minutos depois, cada um com sua
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bebida, eles fizeram um brinde.
Beberam até quase de madrugada e
quando começou a fase de karaokê no
clube, Marco arrastou Nicole até o
palco, mesmo com seus protestos.
A música era conhecida por eles. A
cantavam desde garotos, mas mesmo
assim, Nicole estava nervosa. Ela nunca
era o centro das atenções e agora,
definitivamente, ela estava sendo. Mas
Marco monopolizou um pouco a
atenção, tocando guitarra divinamente e
isso fez com que ela se acalmasse mais
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e soltasse a voz. E que voz! Era
simplesmente linda.
O público aplaudiu quando eles
terminaram. Marco abraçou Nicole e
sem se conter, beijou-a levemente. Ela,
dessa vez, não reclamou. Talvez fosse o
efeito do álcool, mas ela não achou tão
errado como antes. Eles voltaram para a
mesa depois.
— Isso foi incrível! — Luciana
vibrou. — Vocês arrasaram.
Roman estava franzindo a testa. Ele
estava dando a Marco um olhar de
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“você beijou sua prima de novo, idiota”.
Mas Marco não ligou. Quem era ele
para falar sobre isso? Ele transou com
sua irmã.
Às duas da manhã, Marco
acompanhou Nicole para seu quarto no
andar de cima. Eles riam e contavam
piadas maldosas um ao outro. Ele
adorava provocar Nicole porque ela se
irritava facilmente. Era assim desde
menina.
Quando chegaram ao quarto dela,
Nicole disse:
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— Marc, eu estou cansada. Adoraria
que me irritasse mais um pouco, mas
estou morrendo de sono. Pega o rumo do
seu quarto.
— Não, eu vou dormir aqui. Sua
cama parece tão grande e acolhedora. —
Ele já estava tirando os sapatos e o
terno.
Era estranho, mas ele não queria ficar
sozinho, sabendo que Charlotte estava
tão perto dele. Ele preferia ter uma noite
tranquila com Nicole do que dar voltas e
mais voltas na cama, pensando na outra.
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— Tá louco? Não podemos dormir
na mesma cama.
— Por que não? Fazemos isso desde
crianças.
— Mas não somos mais crianças. —
Nicole observou sabiamente.
— Em algumas coisas, talvez. — ele
riu. Por favor, que ela não o mandasse
embora.
Nicole revirou os olhos.
— Que seja. — Ela tirou os sapatos
de salto alto. Em seguida, sem qualquer
malícia, virou as costas para Marco e
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começou a despir-se. Ela tirou o vestido
vermelho, revelando a combinação de
calcinha e sutiã de renda preta. Em
seguida, foi para o banheiro.
Os olhos de Marco escureceram ao
ver Nicole quase nua. Seu corpo todo
tremeu. Ele teve um súbito desejo de
beijar toda aquela brancura e fazer amor
com ela descontroladamente,
imaginando seus sons, mas logo
reprimiu seus pensamentos. Aquilo não
era certo. Claro, ela não era sua prima
de sangue, assim como Roman e
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Luciana, mas ele sempre a tratou de tal
forma, diferente de Roman e Luciana
que sempre foram loucos um pelo outro.
Mas, Deus, ela era muito sexy.
Ele ainda vivia um dilema se dormia
ali ou voltava para o seu quarto quando
Nicole voltou do banheiro e se deitou,
dando tapinhas no colchão para que ele
deitasse ao seu lado.
Ela estava usando um top e um short
de algodão fino. Droga! Ela era muito
gostosa. Perfeita. Ele observou seus
mamilos pontudos sob o tecido e quase
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gemeu diante da visão, mas Nicole
parecia alegrinha demais por causa do
álcool, por isso não percebeu a fome
com a qual Marco a encarava. Ele
estava praticamente salivando.
— Nicole, eu acho sensato voltar pra
o meu quarto. Não acho que vá
conseguir dormir aqui.
— Por quê?
— Eu... ahmm...
— Vem logo, seu bobo.
Marco tirou a calça, ficando apenas
de cueca e camisa e deitou-se, ainda
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hesitante. Ela se inclinou contra seu
peito, pronta para dormir e por sorte fez
isso logo, assim, não podia ouvir ou
sentir a aceleração do seu coração. De
certa forma era reconfortante tê-la em
seus braços. Fazia tempo que ele não
dormia com uma mulher. Ele tinha
alguns casos aqui e ali, mas não
costumava dormir com ninguém. Estava
feliz por estar com alguém que ele
gostava.
O problema é que quando Marco
fechou os olhos e dormiu, não foi com a
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mulher que estava em seus braços que
ele sonhou. Foi com outra loira. Uma
loira que ele se esforçava para odiar e
de quem queria se vingar a todo custo.

Em seu quarto, Charlotte ainda estava


acordada e esperando por Marco. Ela
tinha tomado um banho, colocado um
robe sexy e nada mais. A maquiagem e o
perfume que usava eram tão sutis que
apenas um amante podia notar. Marco.
Hoje ela iria seduzi-lo. Seria dele e ele
seria dela, por fim.

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Mas onde ele estaria agora? Talvez
tivesse voltado para o clube bebido um
pouco. Talvez tivesse se envolvido em
uma briga. Ou talvez tivesse encontrado
outra mulher com quem ter prazer. Ok,
ele não faria isso, ela estava ficando
paranoica. Mas o que poderia ter
acontecido? Porra, já eram três da
manhã.
Charlotte decidiu ir até o clube e
procurar por ele. Então vestiu uma
camiseta e jeans, mas o lugar já estava
fechado. Ela resolveu ir até a recepção e
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perguntou em que quarto ele estava, não
se surpreendendo quando disseram que
era na suíte presidencial. Talvez ele
tivesse mudado de ideia quanto ao lugar
e quisesse lhe fazer uma surpresa,
sabendo que ela o procuraria. Mas
quando ela bateu na porta, ninguém
atendeu. Ela ficou uns minutos ali,
agitada. Onde diabos ele tinha se
metido?
Charlotte voltou para o quarto e
olhou para o relógio. Eram três e meia
da manhã. Meu Deus! Ela teria um
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evento super importante ás oito e não
tinha dormido nem um pingo.

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Marco acordou às nove horas da


manhã seguinte. Sentia-se bem e cheio
de energia. Foi a primeira vez em tantos
anos que ele dormiu durante oito horas
seguidas. Ele costumava dormir apenas
cinco ou seis horas por dia.
Marco saiu do quarto, esfregando os
olhos e foi direto para a cozinha anexa,

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esperando encontrar Nicole preparando
alguma das delícias que ela mencionara
ter aprendido. Porém, ele não a
encontrou de imediato, pois sua vista foi
totalmente tomada por um enorme buquê
de lírios, alguns balões em formato de
coração e um bicho de pelúcia gigante.
— Mas que galante! — Ele disse
com sarcasmo para si mesmo enquanto
lia o bilhete anexado ao urso.

Nicole,
Janta comigo esta noite?
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Eres tan bela. Quiero conocerte
mejor.
Eu vou ficar muito triste se você
disser não.
Carlos.

Depois de um tempo Marco foi até a


cozinha do hotel, já de banho tomado,
vestido com camisa e calças pretas. Ele
encontrou Nicole fazendo alguns
biscoitos. Ela estava usando novamente
suas roupas de negócios e os óculos de
armação larga.
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— Oi! Eu chamei a camareira e
mandei jogar toda aquela porcaria no
lixo. — Marco cumprimentou.
Os olhos de Nicole se arregalaram e
ela sacudiu a cabeça em advertência.
— Oh não, me diga que você não fez
isso.
— Eu fiz. — Marco disse olhando
diretamente para os olhos, com um
sorriso típico de um Villa-Lobos metido
e arrogante.
— Marco! — Nicole gritou e jogou
uma colherada de Nutella em seu rosto.
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— Calma, eu só estou brincando.
Ela o encarou por alguns segundos,
decidindo-se se deveria jogar, dessa vez
a colher, em sua cabeça. Por fim, apenas
concluiu que seu primo era um grande
bobão e deixou para lá.
— Vou jantar com ele esta noite. —
Nicole riu.
Marco revirou os olhos.
— Ele é um playboy. Ele só quer te
comer e te dar adeus na manhã seguinte.
— Marco, eu não acho que seja
assim. Ele não fez nada que me
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desrespeitasse. Além disso, ele é
conhecido por ser cara pé no chão.
Claro, ele era um príncipe. Quem
falaria mal de um príncipe?
— Esse é o seu conceito. Eu não
concordo.
— Você não tem que concordar ou
discordar com nada. Sou eu quem vai
sair com ele e não você.
Marco esfregou as mãos com força
no rosto. Ele não gostava da ideia de
saber que sua prima – tão inocentemente
encantadora – sairia com um cara que
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claramente só estava interessado em seu
corpo virgem e no prazer que poderia
extrair dele.
— O que foi? — Perguntou Nicole
com a cara fechada.
—Nada. — Marco deixou os ombros
caírem em derrota. Ele já tinha usado os
argumentos que podia para impedir seu
destino, a partir de agora não podia
fazer mais nada. Apenas torcer para que
Nicole tivesse um pouco de juízo e não
se rendesse ao primeiro galanteio do tal
príncipe. — O que você está fazendo
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mesmo?
— Biscoitos e alguns cupcakes para
o Carlos. Ele disse que adoraria comer
o que eu tenho a oferecer.
Marco gemeu e balançou a cabeça.
Oh Deus, onde eu fui arrumar uma
prima assim?

Charlotte acordou às seis da manhã,


totalmente exausta. Mal tinha dormido e
seu corpo parecia que tinha sido
atropelado por um trator. Geralmente,
ela não ficava cansada depois de um dia

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inteiro de fotos e entrevistas, mas os
eventos do dia seriam desgastantes
demais com ela nesse estado. E para
piorar, sua cabeça estava prestes a
explodir. Ela perguntou-se, com
desânimo, se aguentaria todas as
atividades programadas sem ter uma
epifania.
E tudo isso era culpa de Marco. Ou
dela, pois, provavelmente, ele estava se
vingando pelos acontecimentos de
quatro anos atrás, ela não tinha dúvida.
Por que mais ele diria que queria ir para
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cama com ela e depois lhe daria um
bolo? Ela tinha que dar um jeito de
esclarecer as coisas de uma vez. Tempo
demais já havia se passado e tinha
chegado a hora de contar a verdade a
ele.
Quando Craig bateu na porta do seu
quarto, minutos depois, ela já estava
vestida, porém ostentava uma cara
péssima. Ele ajudou-lhe com a
maquiagem, perguntou o que tinha
acontecido para que ela estivesse
naquele estado, já que tinha mandado
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uma mensagem para ele dizendo que
encerraria a noite ainda cedo, mas
quando Charlotte recusou-se a
responder, seu agente apenas sugeriu que
ela tomasse um pouco mais de café do
que costumava. E como não tinha muita
escolha, abasteceu-se de dois copos
seguidos de café puro, fazendo careta,
mas engolindo bravamente, pois ela
tinha muitas pessoas a quem
impressionar.
O evento de angariação de fundos
começou exatamente às oito da manhã e,
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graças ao seu combustível quente,
Charlotte conseguiu acenar e sorrir para
os convidados o tempo todo. Perto do
meio dia, ela teve uma folga e ao ver
que Marco estava em uma mesa no
restaurante, pediu licença e dirigiu-se a
ele.
Ele estava com o mesmo grupo com o
qual ela o vira na noite passada. Craig
disse-lhe que a gerente desse hotel era
Nicole Valdez, a loira com quem Marco
estava agarrado a maior parte da noite.
Seu irmão Roman a ajudava, mas era ela
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quem mandava e desmandava em tudo.
Marco gosta de mulheres fortes e
decididas, então? Ela sorriu ao ouvir
isso. A outra mulher ao lado dele era sua
irmã caçula, a aspirante a modelo,
Luciana. Ela equivocou-se a imaginar
que Marco tinha um harém. Na verdade,
ele estava apenas em família.
E ao aproximar-se mais da mesa
onde eles estavam, Charlotte ficou
nervosa. Ela deveria se aproximar e
falar apenas com ele ou deveria falar
com todos? Será se ele tinha falado dela
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para eles? E se tivesse falado, eles
iriam querer falar com ela? Charlotte
não tinha ideia do que pensavam dela se
realmente sabiam quem era.
Corajosamente, ela se aproximou e
sorriu ao cumprimentá-los.
— Oi.
Quatro pares de olhos olharam para
ela.
— Oh, oi! — Disse Nicole surpresa.
Marco franziu a testa.
— Olá, senhorita McKeena. O que
podemos fazer por você?
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Charlotte sentiu o sangue ser drenado
do seu corpo. Ela ficou triste e surpresa
ao ouvir Marco dirigir-se a ela apenas
como “Srta. McKeena”.
Mesmo assim, Charlotte se forçou a
sorrir.
— Eu gostaria de falar com você,
Marco, se não se importa.
— Sobre o quê, senhorita McKeena?
Como você pode ver, nós estamos
almoçando.
— Garanto que não irá demorar. —
ela disse com um sorriso adocicado.
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— Se não pode mesmo esperar, pode
falar na frente deles. São minha família.
Charlotte não soube o que dizer. Ela
queria perguntar o que realmente tinha
acontecido na noite passada, já que sua
mente dizia uma coisa a cada minuto,
mas ele estava tão frio que ela sentiu-se
enjoada.
— Eu gostaria de convidá-los para o
evento principal da Organização Miss
Universo essa noite. — ela improvisou.
— Será um baile para angariar fundos
para infectados com HIV.
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— Isso é nobre. — Disse Luciana
com um sorriso tímido e em seguida,
voltou-se para Roman. — Vamos,
querido?
— Eu não tenho certeza. Tenho que
voltar para o escritório depois do
almoço. — Roman respondeu.
— Eu também não posso garantir. —
Nicole disse olhando diretamente nos
olhos dela. — Mas farei o possível.
Marco olhou para Charlotte com um
sorriso maligno. Ele sabia muito bem o
motivo de ela estar ali. Com certeza ela
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ainda queria o mesmo que a noite
passada e ele desta vez estava muito
disposto a dar. Ele iria provar-lhe que
era ele quem decidia quando e como. E
quando ela estivesse gemendo em seu
ouvido, ele riria com o triunfo de mais
uma parte bem sucedida da sua
vingança.
— Muito bem senhorita McKeena.
Não sei sobre eles, mas nós dois nos
vemos hoje à noite. — Marco disse com
um sorriso zombateiro.
— Obrigada. — Charlotte sorriu
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timidamente para Marco e em seguida
virou-se para os outros ocupantes da
mesa. — Desculpem incomodar. Eu vou
deixar vocês terminarem seu almoço em
paz.
Ela foi embora o mais rápido
possível, com o rosto queimando de
vergonha.

Mais tarde, Charlotte viu Marco


entrar no salão do baile enquanto
discursava. Ele não estava com sua
família como antes. Dessa vez, estava

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sozinho. Ela ficou nervosa e chegou a
gaguejar em alguns momentos graças ao
olhar pecaminoso e ardente que Marco
lhe lançava.
Após o fim do discurso, Craig disse a
ela que o Sr. Marco Villa-Lobos tinha
doado um cheque de meio milhão de
dólares e todos da fundação tinham
ficado pasmos e extremamente
agradecidos por tamanha demonstração
de generosidade. Charlotte também ficou
muito contente e gostaria de agradecer
pessoalmente a Marco pelo cheque,
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então logo o encontrou no bar com
alguns outros homens, com certeza do
mundo dos negócios, bebendo e rindo
como se não tivesse preocupações em
sua vida. Com seu dinheiro e família,
não deveria ter mesmo.
— Marco... — ela chamou hesitante.
Marco viu Charlotte e ergue as
sobrancelhas. Ela abriu a boca para
falar, mas ele levantou a mão e fez sinal
para que esperasse.
Charlotte aguardou um momento e
quando notou que ele estava muito
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engatado em sua conversa, o chamou
novamente. Dessa vez com um pouco
mais de ânimo.
— Marco!
Marco semicerrou os olhos na
direção dela e pediu licença aos
homens, indo em sua direção.
— Senhorita McKeena, quando eu
digo para alguém esperar isso significa
que a pessoa tem que esperar. Não
pareça tão carente. Você entende o que
eu estou dizendo?
Charlotte ficou irritada pelas
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palavras e tom de voz de Marco. Mas
suprimiu a vontade de mandá-lo para a
puta que pariu. Havia muitos convidados
na sala e ela, decerto, não deveria
parecer tão furiosa.
— Claro, eu só gostaria de agradecer
pelo cheque. — Ela disse ácida,
fazendo-o entender que ela estava
apenas sendo meiga, e não lhe dando
mole. — Em nome da fundação, é claro.
— ela completou rapidamente, rindo um
pouco em seguida.
— Não foi nada. Agora se me der
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licença. — Marco disse sem se afetar
pelas palavras dela e virou as costas
para continuar falando com o grupo de
homens. Charlotte trincou os dentes por
sua farpa não ter feito o efeito desejado
e virou-se para cumprimentar o restante
dos doadores. Não com tanta emoção
como fora com Marco, é claro.

Já eram onze horas da noite, quando


o baile terminou. Baile que de baile não
teve nada para ela, Charlotte pensou
com pesar, pois fora Craig, ela não

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dançou com ninguém. Não por falta de
convites é claro, mas porque a única
pessoa com quem ela queria dançar não
parecia estar interessada.
Casada, ela foi para o seu quarto e se
preparou para ir dormir após tomar um
banho quente. Ela ainda estava nua
quando alguém bateu na porta.
— Quem é? — Perguntou Charlotte,
vestindo um robe fino de seda preto.
— Abra a porta. — Marco gritou do
lado de fora.
Charlotte pensou por cinco segundos
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e em seguida abriu a porta, desconfiada.
O que ele poderia estar fazendo ali
depois de como a havia tratado?
— Marco, o que você...
Ele a olhou com desejo intenso. Não
se passou nem um segundo e ele já a
estava beijando, faminto, carnalmente,
selvagem e violentamente,
interrompendo o que quer que Charlotte
fosse perguntar. Ele pegou um tufo de
cabelo dela com força e o puxou,
inclinando sua cabeça para trás para
beijá-la com mais fervor.
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Marco acariciou a língua de
Charlotte com a sua, desfrutando seu
sabor e gemendo ao notar que ela ainda
tinha o mesmo gosto. O gosto que o
deixara louco anos atrás. Seu sangue
estava fervendo, o dela estava em
chamas. Ela gemia e passava as mãos
por seus braços e costas, arranhando e
apalpando. A mulher ainda sabia
direitinho como deixá-lo louco.
Á medida que o desejo crescia,
Marco começou a explorar mais lugares
do corpo de Charlotte com a boca. O
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queixo, as orelhas, o pescoço, o topo
dos seios... Ele mordeu sua garganta e
ela gritou, sentindo a dor repentina. Mas
ao tentar empurrá-lo para longe, e falhar
nisso graças ao corpanzil e força de
Marco, ela apenas o atiçou mais. Ele
lambeu e chupou o lugar onde tinha
mordido, deixando uma grande mancha
roxa em sua pele. Ela quase desmaiou
de prazer com a suavidade dos seus
lábios e língua no lugar onde seus dentes
estiveram pouco antes.
— Me diz Charlie, você quer mesmo
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isso?
O que mais ela poderia responder?
— Sim, Marco. — sua voz saiu
entrecortada de desejo.
— E o que você sente por mim? — a
mente de Marco dizia apenas para
provocá-la, saber se teria êxito em sua
vingança, pois com sentimentos
favoráveis a ele, era certo de que
tivesse mais sucesso. Mas em seu
coração, ele realmente queria saber sua
resposta. E torcia para que o agradasse.
Charlotte respirou fundo antes de
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confessar.
— Nunca deixei de te amar.
Marco sorriu e passou as mãos pela
sua coluna, descendo até a bunda,
acariciando todo o caminho até apoiá-
las em cada lado do robe que ela vestia.
Ele desfez o nó frouxo e o jogou no
chão. Sabia que ela estava nua, notou no
momento em que a viu na porta, mas
queria sentir sua pele na dele.
Marco já tinha visto Charlotte nua
uma vez, na ocasião eles apenas
trocaram de roupa no mesmo lugar antes
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de um jantar, mas não puderam
aproveitar o momento. Na época,
tímido, ele a olhou discretamente, não
querendo parecer abusado. Agora a
história era diferente. Ele a olhou com
fogo nos olhos e da maneira mais
descarada possível. O corpo dela havia
mudado durante esses quatro anos. Seus
seios estavam maiores, sua cintura mais
fina, suas coxas mais firmes e sua bunda
com certeza mais redonda. Ela estava
muita mais gostosa do que ele se
lembrava.
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Marco quis beijar cada parte daquele
corpo. E fez exatamente isso ao encostá-
la à parede mais próxima, prendendo
seus braços para que ela não o tocasse.
Ele ainda não queria. Claro, gostaria de
sair daquele quarto todo arranhado, mas
queria desfrutar do seu corpo antes de
tudo.
Charlotte engasgou quando os lábios
de Marco envolveram um dos seus
mamilos pontudos. Com uma mão ele
segurava os punhos dela acima da
cabeça e com a outra rolava seu outro
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mamilo entre os dedos indicador e
polegar.
— Marco, por favor. — Charlotte
implorou, gemendo. Havia muito tempo
que ela não transava e com certeza
Marco estava se mostrando o melhor
dos amantes. Nenhum homem a tinha
deixado tão louca de tesão antes de
realmente chegar ao ápice do meio das
suas pernas. E ele ainda estava nos
seios.
Com a voz necessitada dela, ele
tornou-se mais faminto, porém, com um
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toque de malícia, se afastou e apenas a
encarou. Endireitou-se e limpou a boca
com o polegar, sorrindo. Charlotte olhou
para ele completamente chocada.
— Mas que droga Marco, por que
você parou?
— Implore.
Charlotte semicerrou os olhos,
colocando as mãos nos quadris.
— Vai se foder.
Ele riu e balançou a cabeça devagar.
— Não. — disse ele com a voz baixa
e rouca. — Quero foder você. E, —
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acrescentou com um tom mais baixo —
quero que implore.
Charlotte apressou-se em pegar o
robe do chão, estava nua e ele,
totalmente vestido. Não parecia justo.
Ela nunca havia implorado nada na vida,
nem mesmo aos pais, não imploraria por
sexo. Ela sabia que ele a desejava,
sentiu isso enquanto seus quadris
roçavam um no outro. Então pensou
consigo mesma, com o que ela tinha
mente, era ele quem imploraria.
Ao virar-se de costas, Charlotte
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sorriu diabolicamente e inclinou-se
sobre a cama, de quatro, como se fosse
pegar a lingerie que tinha escolhido para
dormir, e dessa forma, sua bunda ficou
totalmente exposta a Marco. Ela ouviu
com satisfação ele inspirar
profundamente. Então virou o rosto por
cima do ombro e olhou para ele. Deu-
lhe um sorriso sedutor e ergueu uma
sobrancelha ao notar que ele estava com
os olhos semicerrados e uma expressão
de sofrimento, mordendo o lábio inferior
com força para suprimir seu desejo por
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ela.
— Se não está disposto a terminar o
que começou, sugiro que vá embora. Eu
tenho um voo amanhã cedo.
Marco encarou o chão, derrotado.
Ele a desejava com todas as forças do
seu corpo e não sairia dali sem sentir
como era estar dentro dela. Então
caminhou com passos determinados e
parou bem atrás de onde ela se exibia
tão desavergonhadamente para ele.
Desabotoou a calça e a baixou junto com
a cueca até os tornozelos, saindo delas
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logo em seguida.
— Você sabe levar um homem ao
limite, garota. — disse ele ao se
posicionar contra ela, acariciando sua
coluna com uma mão.
— Sei como levar você ao limite. —
ela respondeu com uma piscada sexy.
Marco rosnou e a invadiu de uma vez
só, forçando Charlotte a conter o grito
que quis escapar da sua garganta. Ele
está tão duro, pensou ela. O ritmo dele
não era suave, não era tímido, não era
dócil... Ele estava sendo bruto, rude e
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intenso. E ela estava adorando cada
momento das suas investidas, afinal, foi
ela quem escolheu tal posição, que a
fazia senti-lo profundamente.
— Porra, Charlie.
As bolas obscenamente grandes de
Marco batiam violentamente contra o
clitóris dela, suas mãos acariciavam a
bunda de Charlotte o tempo todo e em
um momento de luxúria completa, ela
pediu que ele introduzisse um dedo lá.
Ele quase não acreditou no seu pedido,
mas não podia negar. Então levou o
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polegar à boca dela para o chupasse e o
lubrificasse, e depois o inseriu na
abertura pequena e virgem.
Charlotte enlouqueceu de vez.
— Isso... assim... — ela gemia,
enquanto o dedo de Marco pressionava
aquele lugar tão íntimo.
— Merda. — Marco gemeu,
frustrado, querendo retirar-se de dentro
dela, mas não conseguindo. — Eu estou
perto de gozar, Charlotte, mas não estou
usando camisinha.
— Não tem problema. — Charlotte
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fechou os olhos com força e gemeu ao
senti-lo alcançar o ponto exato para
levá-la ao orgasmo. — Eu tomo a pílula.
Marco cerrou a mandíbula. Seu lado
racional estava feliz, ele iria sentir sua
umidade e calor até o fim sem se
preocupar em sair dela para não gozar
dentro. Mas o lado irracional estava
puto de raiva. O fato de ela estar
tomando a pílula queria dizer que ela,
frequentemente, transava com alguém,
quem quer que fosse. Só a imagem de
outro homem fazendo com ela o que ele
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fazia agora foi suficiente para fazê-lo
estocar com mais força e pressionar
ainda mais o dedo em sua bunda,
forçando-a a gritar e procurar um apoio
na cama para não ser levada colchão
acima.
Quando Charlotte gemeu pela última
vez, indicando que tinha chegado ao
orgasmo, Marco segurou sua cintura com
força, virou-a na cama e voltou a
penetrá-la, dessa vez, observando seus
seios saltarem tamanha a força que ele
usava. Ele jogou a cabeça para trás e em
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seguida, caiu sobre ela, ainda tremendo
por causa do intenso clímax.

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Charlotte afagava o cabelo de Marco


calmamente enquanto ele tentava
controlar a respiração. Não imaginava
que sua primeira vez com ele seria tão
intensa. Imaginara muitas vezes que
seria uma noite romântica, afinal Marco
era romântico pelo que ela se lembrava.

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Este Marco de agora parecia ser
qualquer coisa, menos amante do
romance. Mas não tinha sido ruim, ao
contrário, foi delicioso e por mais que
ela tivesse sonhado com uma coisa
diferente, não trocaria pelo que
realmente aconteceu.
Marco, com a cabeça apoiada entre
os seios de Charlotte, pensava em como
deveria agir agora que tinha transado
com ela. A coisa toda tinha sido muito
boa, mas uma frase dela não saía da sua
mente. Eu tomo a pílula. Ele sabia que
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não tinha o direito de exigir nada dela,
afinal eles não eram namorados, mas
isso não o deixava menos furioso. Ele
queria perguntar se ela tomava
regularmente por algum motivo médico
ou se era porque tinha uma vida sexual
muito ativa, mas não sabia como fazer
isso. Então apenas se levantou, deixando
a mão dela, tão confortavelmente em seu
cabelo, cair sob seus peitos.
— Aonde vai? — ela perguntou ao
ver que ele procurava a cueca em meio
às roupas no chão.
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— Meu quarto. — ele respondeu sem
olhá-la.
Ela ficou em silêncio, chocada, e ao
notar, Marco finalmente olhou na sua
direção e a viu com uma sobrancelha
erguida em uma pergunta silenciosa.
— Assim do nada?
— É o que geralmente eu faço depois
de uma transa. — ele respondeu, dando
de ombros.
Claro, por que ela esperaria que ele
tivesse uma atitude diferente?
— Pelo visto, você age como um
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idiota frequentemente então.
Marco ficou boquiaberto. Como ela
ousa?
— Olha só quem fala. A senhorita
“eu tomo pílula”.
Charlotte franziu a testa, sem
entender absolutamente nada. Ele estava
louco ou o quê? Qual o problema de
tomar pílula? Não era o que toda mulher
com vida sexual fazia para evitar
inconvenientes? Não que ela tivesse uma
vida sexual ativa, – depois que perdeu a
virgindade aos quinze anos com seu
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primeiro namorado, só transou umas
cinco vezes, e apenas duas dessas vezes
foi depois de romper com Marco – mas
era sempre melhor prevenir do que
remediar.
— Do que está falando, seu idiota?
Você disse que não tinha camisinha. Eu
deveria, aos vinte e dois anos, ser
descuidada a ponto de engravidar?
Marco riu, mas não de diversão, e
sim de raiva. Ela não negou. Ela tem
quantos amantes afinal de contas para
precisar se preocupar em tomar pílula
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para não engravidar? Ela deveria ter
dito a ele que não continuasse até o fim,
que tinham sido descuidados por
começarem a transar sem camisinha, que
queria que ele gozasse dentro dela, mas
que não queria arriscar uma gravidez...
Não que ela tomava pílula diariamente.
Aquilo só serviu para que ele ficasse
com a cabeça um pouco mais fodida do
que já estava. Ela era uma devassa, sem
dúvida, saindo com os mais diferentes
homens que faziam parte do seu mundo
glamoroso.
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Marco, de repente, viu uma mão
acenando na sua frente e se deu conta de
que era Charlotte, agora vestida com o
mesmo robe de antes. Ela devia estar
falando alguma coisa, mas ele não
prestou atenção. Então lembrou-se de
que ela havia feito uma pergunta.
— Engravidar, não, mas você... —
Marco parou, sem saber como formular
em palavras os seus pensamentos. —
Você é mesmo uma vadia. — ele disse
sem emoção alguma, não tinha por que
ser amável com ela.
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Charlotte arregalou os olhos, não de
surpresa, mas de fúria. Vadia? Ele a
tinha chamado de vadia? Quem aquele
idiota pensava que era?
— Vadia? — ela praticamente gritou.
— Vadia? Repita isso.
Ele se afastou e se viu colocando as
mãos em seus bens para protegê-los,
pois sentia que levaria um chute
daqueles. Nunca a tinha visto tão irada.
— Vamos, Marco. — ela o incitou,
com a cabeça rodando por causa da
tontura momentânea. Ele a estava tirando
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do sério. — Quero ver se tem coragem.
Repita.
— Eu... ahm... eu...
Charlotte bufou. Ele achava que ela
vivia por aí, transando com qualquer um
apenas porque tomava anticoncepcional.
Poderia ser mais machista? Ou mais
idiota? Aquilo era o cúmulo.
— Escuta aqui. — ela disse
aproximando-se mais dele.
Ele deu um ou dois passos para trás,
olhando freneticamente em volta como
se procurasse uma rota de fuga. Até fez
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menção em ir em direção à porta só de
cueca, mas ela se interpôs em sua frente.
— Oh, não tão depressa Sr. Villa-
Lobos. Você me chamou de vadia e eu
quero saber o motivo. Fala.
Ele respirou fundo e resolveu encará-
la bravamente.
— Por que você teria a necessidade
de tomar anticoncepcional, Charlotte?
Está na cara a vida que você tem e me
desculpe, mas não vejo descrição
melhor.
— Eu sou uma mulher desejada por
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homens do mundo todo e às vezes saio
com alguns em eventos. — Tudo isso era
verdade, mas ela queria por mais fogo
na lenha, então contou uma inverdade.
— E quando um desses homens me
agrada, eu realmente vou para a cama
com ele. Por isso tomo
anticoncepcional.
Marco trincou os dentes e fechou a
cara. Ele era apenas mais um que ela
levava para a cama depois de um
evento...
— E você ainda me pergunta por que
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te chamei de vadia? — ele não gritou,
mas sua voz subiu alguns oitavos.
— Em que mundo você vive, Marco?
— ela deu um passo para perto dele e
ele recuou. Ela deu outro e ele fez o
mesmo de antes, até que estava
encurralado na parede. — Você, por
acaso, esperava que com essa idade eu
ainda fosse virgem?
Marco não precisou responder, pois
ambos sabiam que ela não era desde
antes de eles começarem a namorar.
— E para futura referência, até onde
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sei eu sou solteira. Tenho tanto direito
de sentir prazer como qualquer homem.
O fato de eu ser mulher e procurar me
divertir quando me der na telha não faz
de mim uma vadia, faz de mim uma
mulher completamente normal e livre.
Eu posso estar com um homem hoje e
outro amanhã se quiser. E nem você,
nem qualquer outro cara têm o direito de
falar nada, pois eu sou dona de mim e
faço o quiser com a porra do meu corpo.
Marco abaixou a cabeça, ainda
furioso, mas com um sentimento terrível
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de culpa que ele não queria que
estivesse ali. Ela não era sua namorada,
porra. Era solteira, como ressaltou, e
tinha todo o direito de sair e transar com
quem quisesse. O que tinha lhe dado
para dizer tamanha besteira? Ele quis se
desculpar, mas seu orgulho não o
permitiu.
— Não sou como você, que
claramente usa quem quer e na hora que
quer.
Marco levantou a cabeça na mesma
hora, olhando-a com a testa franzida.
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— O que disse?
— Exatamente o que ouviu. É sério,
Marco? Sua prima? Não tinha uma atriz,
uma modelo ou até mesmo uma
camareira do hotel para usar para tentar
me fazer ciúmes? Tinha que usar
justamente a sua prima? Me pergunto o
que não faz com outras mulheres... —
ela deixou a frase morrer no ar.
Marco estava pronto para responder
que não estava tentando fazer ciúmes a
ela, que o que ele sentia por Nicole era
verdadeiro e que quis beijá-la todas as
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vezes que fez isso, mas não teve
coragem, pois sabia lá no fundo que não
era de todo verdade.
— Agora, se me der licença, eu
preciso dormir. Tenho um voo amanhã e
um evento que se eu der sorte, — ela
sorriu ao provocá-lo — terá um fim de
noite e uma companhia infinitamente
melhor que essa.
Ela virou em seus calcanhares e
entrou no banheiro, batendo a porta com
força. Marco, com as narinas abertas
como as de um touro, vestiu o resto da
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sua roupa e saiu do quarto dela batendo
a porta com mais força ainda.

Ao ouvir a porta do quarto bater com


força, Charlotte teve certeza de que
Marco tinha ido embora, talvez para
sempre agora. E ela não lhe falou a
verdade sobre o passado. Mas como
podia? Ele tinha agido como um idiota.
— Deus, por que você simplesmente
não sai da minha cabeça? — ela
perguntou, olhando para seu reflexo no
espelho. Ela sentia como Marco

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estivesse, frequentemente atrás dela
como uma sombra.
Depois de tomar mais um banho e
vestir uma fina blusinha de algodão e
nada mais, Charlotte se deitou para
dormir. Mas não conseguiu. As
lembranças não permitiram. A noite em
que seu irmão morreu voltou para
assombrá-la.
— Eu não quero nem acreditar que
você ainda está de namorico com aquele
garoto, Charlotte Linvstone McKeena.
— Charlotte odiava quando sua mãe a
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chamava pelo nome inteiro era sinal de
que ela não venceria a batalha. — Seu
pai e eu já dissemos a você. Esse
menino não serve para namorar a filha
de um senador.
— Não acredito que você e papai
não gostam do Ken. Só porque ele é
pobre, mãe? Sério que você não tem um
argumento melhor?
Sua mãe apenas colocou as mãos nos
quadris e a encarou. Charlotte murchou
diante do olhar frio dela.
— Acredite em mim, Charlotte. Farei
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com que se arrependa se continuar a ver
esse rapaz. Sabe que eu posso fazer isso
e seu pai ficará mais do que satisfeito.
A maioria das mães não daria muita
importância a um namorico de
adolescente. Charlotte tinha quinze anos
e Ken tinha dezesseis. Eram apenas
crianças brincando de faz de conta. Mas
era um faz de conta que Judith McKeena
não aceitava em hipótese alguma. Para
ela, o envolvimento da filha caçula com
alguém de nível inferior era uma
vergonha e ela, ex-Miss América, não
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aceitaria tamanho desaforo.
— De qualquer forma, eu não estava
saindo para encontrá-lo. É aniversário
da Cassie e se eu não for, ela ficará
chateada. — Charlotte mentiu.
— Sinto muito, mas não tem como ir.
Eu e seu pai sairemos hoje à noite e Bob
não está em casa.
Bob nunca está em casa, ela teve
vontade de dizer. Desde que completara
dezoito anos, seu irmão não parava no
quarto, mas seus pais não pareciam se
importar.
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— Você vai pra cama, ok. Seu pai e
eu não devemos chegar muito tarde,
talvez às duas da manhã. E quero
encontrá-la dormindo.
— Tudo bem. — com um resmungo,
Charlotte foi para o seu quarto e em
vinte minutos estava arrumada. Enfiou-
se embaixo do edredom e esperou que
sua mãe viesse conferir se ela estava
mesmo dormindo antes de sair. Como
sempre, ela acreditou que sim, afinal,
Charlotte já tinha ficado craque na arte
de fingir o sono.
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Meia hora depois de ouvir o carro
dos pais sair, ela pulou da cama e foi
para a casa de Ken a pé. Ele morava a
uns quinze quarteirões, mas ela não se
importou de andar. Era aniversário dele
e ela queria lhe dar um presente. Já tinha
decidido ter sua primeira vez e seria
essa noite.
Logo que chegou perto da garagem da
casa dele, ela ouviu uma melodia muito
bonita sendo tocada em um violão e
sorriu ao notar que as palavras da
música que Ken ensaiava falavam dela.
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Charlotte aproximou-se devagar e
colocou as mãos nos olhos dele.
— Feliz aniversário.
Ele sorriu e a puxou para o seu colo,
beijando seus lábios com amor. Depois
de uma breve conversa, ela deixou clara
a sua intenção e ele a levou para o seu
quarto. Seu pai havia saído e sua mãe
dormia no sofá, nada era capaz de
acordá-la depois de pegar no sono.
— Tem certeza? — ele perguntou.
— Tenho. Amo você.
Charlotte estava nervosa, mas não
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com medo. Não havia motivo para ter
medo do Ken. Ele era o garoto mais
doce que ela tinha conhecido na escola e
era uma pena que seus pais só vissem
sua condição financeira, pois, com
certeza, não existia garoto mais adorável
do que ele.
Ken foi cuidadoso e amoroso com
Charlotte o tempo todo. Ele era
corpulento, atlético e seus olhos verdes
pareciam dançar toda vez que ele sorria.
Charlotte, ainda muito menina, não tinha
muitas curvas, mas era atraente a seu
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modo e ele nunca a pressionou para
fazer sexo. E foi exatamente por isso que
ela resolveu fazer e sabia que não se
arrependeria.
Depois do momento mágico, um
pouco doloroso, mas excepcionalmente
romântico que eles tiveram, Charlotte
entregou a ele mais um presente. Era
uma pulseira de ouro branco, linda e
muito cara. Ela esperava que pelo
menos esse presente ele aceitasse. Ken
nunca aceitava nada dela, pois dizia que
não queria saber do seu dinheiro, mesmo
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ela dizendo que dava a ele com todo
amor.
— Charlotte, eu não posso...
— Por favor, Ken. O que eu dei a
você hoje vale mais do que qualquer
presente que eu poderia dar, e você
aceitou. Por que não pode aceitar uma
pulseira?
Ken não soube como responder. Era
verdade. A virgindade de Charlotte era
tudo de mais valioso que ela poderia dar
a ele, exceto é claro, seu coração, que
ele já sabia que lhe pertencia.
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— Tudo bem. — ele deixou que ela
colocasse a peça em seu braço. — Mas
prometo que um dia serei eu a te cobrir
de ouro dos pés à cabeça.
— Não quero coisas materiais, só
quero você.
Ken sorriu, sentindo o coração inchar
dentro do peito. Ele gostava muito dela
e se conhecesse um pouco mais da vida,
poderia dizer que a amava, mas como
podia saber com apenas dezesseis anos?
Um barulho na janela chamou a
atenção dos dois. Era um galho que batia
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com força contra o vidro. Droga, estava
chovendo.
— Eu tenho que ir. — Charlotte
disse. Seus pais chegariam às duas, ou
talvez antes, e ela não podia estar na
rua, tinha que estar na sua cama
dormindo.
— Eu te levo.
— Na sua moto? Teremos sorte se
não pegarmos uma pneumonia. — ela
riu, vestindo a roupa. — Está chovendo
à beça.
— Vou chamar um táxi pra te levar,
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então.
— Não precisa. — ela o impediu
quando ele ia pegar o celular. O
dinheiro que ele ganhava já era muito
pouco para a sua família, ela não
precisava que ele gastasse com ela.
— Não vou deixar você ir a pé.
— Eu vou ligar para o Bob.
Charlotte pegou o celular e discou o
número do irmão. Chamou duas vezes e
então ele atendeu, soltando um palavrão,
pois pelos barulhos que ela ouviu, ele
estava “ocupado”.
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— Não posso ir buscá-la agora,
Charlotte.
— Por favor, Bob. — ela implorou.
— Já é uma hora. Papai e mamãe vão
chegar a qualquer momento e se eu não
estiver na cama, vão me matar. E sei lá o
que farão com o Ken.
O irmão dela respirou fundo umas
duas vezes e concordou em buscá-la,
mas prometendo ter uma conversa bem
séria no outro dia para saber o que
diabos ela estava fazendo àquela hora na
casa de um cara que os pais não
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aprovavam. Porém, depois de quarenta
minutos, Bob ainda não tinha chegado.
Charlotte não pôde mais esperar. Bob
devia ter se ocupado com alguma outra
coisa, ou talvez, tivesse esperado
terminar o que estava fazendo antes de ir
pegá-la. De qualquer forma, estava
atrasado. Seria sorte se os pais já não
tivessem chegado em casa. Então ela
aceitou a primeira oferta de Ken e foram
de moto para casa.
Chegaram devagar, ensopados, mas
sorriram um para o outro enquanto
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Charlotte entrava de mansinho e
constatava com um grande suspiro que
seus pais ainda não tinham chegado.
— Graças a Deus.
Ela foi para o quarto e com apenas
alguns minutos, adormeceu.
Na manhã seguinte, barulhos
frenéticos e estridentes vindos do lado
de fora da casa a acordaram. Pareciam
sirenes de polícia. O que poderia estar
causando tamanho escarcéu? Ela
levantou-se, esfregou os olhos e olhou
da janela para baixo. Os carros da
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polícia estavam em frente à sua casa,
sua mãe estava em prantos no meio da
rua e seu pai a abraçava com força. O
semblante dos policiais era desolador.
Ela desceu apressada, sem nem
mesmo se preocupar em vestir um
roupão por cima do baby-doll de
ursinhos que usava, e foi para o lado dos
pais.
— O que aconteceu?
Ninguém lhe respondeu, então ela
perguntou novamente. Sua mãe apenas se
aninhou no peito do pai.
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— O que aconteceu?
Bernard lhe olhou e ela viu seus
olhos vermelhos, cheios de dor.

— O Robert, filha. Ele... ele...


— Ele o quê?
— Ele sofreu um acidente de carro
ontem à noite. Ele estava vindo do... não
sei o que ele fazia naquele bairro, ele
nunca ia para aqueles lados...
Charlotte sentiu o sangue gelar. Não.
— Pai, pelo amor de Deus, o que
aconteceu?
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— Ele morreu, Charlie.
Não. Bob estava a caminho da casa
do Kent. Ele tinha ido buscá-la porque
ela desobedeceu à mãe. Seu irmão
estava morto por sua culpa. Charlotte
caiu de joelhos e chorou, jurando a si
mesma que nunca faria qualquer coisa
que não agradasse os pais, pois claro, se
soubessem do que ela tinha feito essa
noite, nunca a perdoariam.

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Charlotte acordou sentindo-se


extremamente cansada. As lembranças
do passado não a deixaram dormir
direito. Tudo voltou como um pesadelo.
A morte do seu irmão, seu rompimento
com Ken e a sua traição ao Marco.
Ela não conseguia esquecer o rosto

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de raiva e decepção de Marco quando
saiu do seu quarto na manhã em que ela
não foi forte o bastante para encarar os
pais e impor sua vontade. Ele tinha se
tornado um homem amargo e ela nem ao
menos podia culpá-lo. Fora uma idiota,
achando que talvez ele tivesse
esquecido tudo, ou que se conversassem
ou tivessem uma noite de amor, tudo
seria perdoado. Mas estava claro no
comportamento dele da noite anterior
que tudo o que ele queria era magoá-la.
Olhando sem ânimo para o relógio da
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cabeceira da cama, ela pegou o celular e
ligou para Craig, bocejando alto
enquanto esperava que ele atendesse.
— Bom dia, Charlotte meu amor.
— Preciso da sua ajuda. — ela disse
quase gemendo, ao notar que sua voz
ainda saía fraca e que ela estava à beira
das lágrimas novamente. — Eu não
posso mais ficar nesse hotel, por favor,
arrume uma vaga em outro.
— Por que, querida? O que
aconteceu? — o agente perguntou com
carinho.
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— Te digo mais tarde. Por favor... só
me ajude a sair daqui, agora. —
Charlotte não conseguiu conter a onda
súbita de lágrimas e chorou antes de
desligar, o que ela não queria que
tivesse acontecido. Odiava chorar na
frente dos outros, mesmo que por
telefone.
— Oh meu Deus, você está
chorando? — Craig preocupou-se. —
Está tudo bem, Charlotte?
— Sim. — ela mentiu e fungou. — Só
me tire daqui.
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— OK. Arrume suas coisas. — ele
disse, sem acreditar nas palavras dela.
— Eu vou pagar a conta e buscá-la no
quarto, ok?
— Ok. Obrigada.
Depois de trinta minutos, Charlotte e
Craig deixaram o hotel.

Marco acordou tarde. Ele continuou a


pensar em Charlotte depois que foi para
o seu quarto. Não teve como tirá-la da
mente. Droga, não conseguiu fazer isso
por quatro anos sem nem ao menos vê-

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la, como poderia em uma noite depois
de transar com ela? Parte dele estava
furioso por saber tudo o que ela contou a
ele, que ela tinha amantes e que
costumava dormir com eles quando
sentia vontade. Mas outra parte estava
chateado consigo mesmo. Ele a usou e a
feriu, porque é claro, não tinha como
não ter ficado ferida com o que ele disse
a ela. Ele a chamou de vadia, pelo amor
de Deus.
Sim, ele sonhava em se vingar, e
ainda queria isso, mas ao voltar para o
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quarto e imaginá-la, talvez chorando, ele
sentiu-se muito mal. Será se tinha ido
longe demais? Essa mulher é a mesma
que mentiu na maior cara dura e partiu
seu coração, seu idiota, ele pensou.
Claro que não tinha ido longe demais.
Mas, por mais que sua mente lhe
dissesse uma coisa, seu maldito coração
dizia outra. E talvez esse órgão inútil o
fizesse ter pesadelos com as coisas que
sua mente lhe mandava fazer.
— Ah Charlie, Charlie... Por que
diabos você não sai da minha cabeça?
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Seria tão mais fácil se ele não se
importasse mais com ela. Não tivesse
mais o desejo de vingança ou não
sentisse mais o que quer que seu
coração sentia. Se ele pudesse apenas
deixar tudo para lá e viver sua vida...
Marco suspirou. Esse era um sonho que
ele sabia que não podia se dar ao luxo
de ter. Para o bem ou para o mal,
Charlotte estava atrelada a ele.
Esfregando o rosto, ele se levantou,
tomou banho e depois de se vestir,
desceu para a cozinha do hotel. Com
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sorte, Nicole estaria lá fazendo alguma
delícia e ele poderia curar seu mau-
humor com ela.
Ele a procurou pela recepção e
pensou em chamá-la para surfar depois
do café como nos velhos tempos. Ela
estava conversando com um dos chefs na
entrada da cozinha, desculpou-se quando
o viu e foi em direção a ele.
— Bom dia. — ela o beijou no rosto,
cumprimentando-o. — Dormiu bem?
— Não muito. — Ele a abraçou.
— Por que não? — Ela perguntou,
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franzindo a testa ao se afastar.
— Eu... eu falo depois. Mas e você?
Como foi o encontro com o príncipe?
— Foi interessante. — Nicole disse,
desviando o olhar dele. Marco ficou de
orelha em pé.
— Você dormiu com ele?
— O que? Claro que não. — ela
respondeu imediatamente.
Marco ficou um pouco aliviado, mas
não muito convencido. Interessante? Por
que teria sido interessante?
— Nicole, o que aconteceu?
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— Você tinha razão. Você e o Roman.
Ele queria dizer que sempre tinha
razão, mas se segurou.
— Como assim? — perguntou
apenas. Nicole corou.
— Eu queria testá-lo. Sabe, para
esfregar na sua cara que você estava
errado. Então coloquei uma roupa mais
provocante e...
— E?
— O beijei.
— O quê? — Marco não gritou, mas
sua voz não foi menos intimidante por
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causa disso.
— Eu precisava saber. E ainda bem
que agi assim, pois logo ficou provado
que ele é mesmo um playboy patife.
— Ele te forçou a alguma coisa? — a
forma como os ombros de Marco
cresceram diante de Nicole fez com que
ela engolisse em seco antes de balançar
a cabeça freneticamente.
— Não. Mas quando eu deixei claro
que não iria transar com ele, pelo menos
não no primeiro encontro, ele
simplesmente se levantou da mesa em
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que jantávamos e foi embora.
Marco trincou os dentes de raiva.
Nicole merecia mais consideração do
que isso.
— O que há de errado comigo,
Marc? — de repente ela parecia prestes
a chorar e Marco sentiu sua raiva pelo
príncipe aumentar a níveis
inimagináveis quando a abraçou.
— Não há nada de errado com você.
O problema é que a maioria dos homens
é tola demais para não apreciarem a sua
perfeição. O problema é deles e não seu.
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— Mas eu já tenho vinte e quatro a...
— Eu sei, vinte e quatro anos. Isso
não quer dizer nada. Você é mais madura
do que a maioria das mulheres e nem
por um segundo deve se sentir inferior a
qualquer uma delas. Nunca.
Marco levantou o queixo dela com
um dedo e Nicole confirmou com um
aceno. Depois sorriu e afastou as poucas
lágrimas com as costas das mãos.
— Um dia você vai conhecer alguém
que fará todos os outros parecerem pó.
E esse alguém vai amá-la como você
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nunca achou que fosse capaz. Eu
prometo.
— Obrigada.
Marco beijou-a na testa e depois a
soltou. Ele queria ter uma conversinha
com o príncipe – pouco se importava
que ele fosse herdeiro do trono espanhol
–, pois a pessoa a quem ele magoou era
uma das pessoas mais importantes da
sua vida. Mas não queria se estressar
logo cedo da manhã, e queria mudar o
ânimo dela, que estava mais sombrio
depois dessa conversa, então mudou de
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assunto.
— Que tal ir à praia? Nós
poderíamos surfar um pouco.
— Eu não posso. — Nicole espantou
os últimos resquícios de tristeza do
rosto e sorriu como se nada tivesse
acontecido, como já tinha feito tantas
outras vezes e por tantos outros motivos.
Era uma das coisas mais lindas dela,
gostava de estar sempre sorrindo por
mais que por dentro estivesse sentindo-
se totalmente diferente. — Papai e
mamãe estão chegando.
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— Sério? Isso é ótimo. — Marco
sorriu, satisfeito. Fazia algum tempo que
não via seus tios. — Quero falar com tio
Denis sobre essa coisa da Lu e do
Roman.
Nicole sorriu e balançou a cabeça.
— Você não vai conseguir nada com
eles, Marc. Papai e mamãe não são
contra o relacionamento da sua irmã
com o meu.
— Oh. — Marco torceu os lábios. —
É verdade, Roo já tinha me falado.
Parece que o problema é apenas o meu
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pai.
Nicole riu, pois sabia que sua tia
Camila compartilhava a mesma opinião
dos seus pais.
— Espere um momento. — Marco
franziu a testa com uma coisa que só lhe
ocorreu nesse momento. — Onde estão
meus pais? Eles deveriam estar aqui.
Nicole soltou uma gargalhada que
chamou um pouco mais de atenção do
que ela gostaria, mas que não teve como
se conter.
— Marco, faz quase três dias que
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você está aqui e só agora se deu conta
de que seus pais não estão na
Califórnia?
Marco deu um meio sorriso. Esteve
tão absorto com tudo o que aconteceu
com a Charlotte, Roman e Luciana,
Nicole e o tal príncipe, que nem
estranhou a ausência audaciosa do seu
pai e o carinho exagerado da mãe. Que
ela não o ouvisse ou soubesse disso
jamais, pois ficaria triste. Camila
Cavalcanti tinha ficado meio molenga
com o passar dos anos.
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— Sua mãe conseguiu convencer o
tio Edu a voltar para Nova Iorque. Ele
teria quebrado todos os dentes do meu
irmão se passasse mais um minuto no
hotel.
— Ele simplesmente aceitou deixar a
Luciana para trás com o Roman? —
Marco pareceu incrédulo.
— Acho que ele não teve muita
escolha. Não ouvi muito, mas presenciei
uma conversa dele com a sua mãe e... —
Nicole corou. — Bom, é ótimo saber
que existe alguém que pode segurar seu
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pai pelas bolas.
Marco riu. Sim, sua mãe era a única
capaz de tal proeza. Quanto à
“conversa”, ele nem queria saber a
respeito. Não gostava de imaginar sua
doce mãe nas garras de um homem bruto
como Eduardo, mesmo que ele fosse seu
pai.
— Mas mudando de um assunto ruim
para um pior, Charlotte deixou o hotel
hoje cedo com o agente. Me pergunto
por quê.
Eu sei por quê. Marco pensou.
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Nicole sorriu maliciosamente para a
expressão culpada do primo, mas este
não viu tal sorriso, pois uma voz
agradável e familiar ressoou atrás dele,
fazendo-o virar a cabeça.
— Olá crianças. — Era Denis. —
Como estão meus brinquedos?
— Papai. — Nicole deu-lhe um
sorriso gigante e correu para abraçá-lo
como uma menina de dez anos. — Que
saudade.
— E de mim? — Caroline perguntou,
fazendo um beicinho que parecia
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incrivelmente inusitado para uma mulher
da sua idade.
Nicole largou o pai e abraçou a mãe.
Os tios se aproximaram de Marco e lhe
cumprimentaram.
— Olá Marco, que bom vê-lo, jovem.
— Denis o abraçou e tocou seu ombro.
— Olá tio Denis, tia Caroline. —
Marco beijou o rosto de sua tia.
— Estivemos em Nova Iorque ontem.
Passamos o dia com seus pais. —
Caroline disse. Nicole fez um gesto para
que eles fossem até um dos sofás da
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recepção.
— Isso é ótimo. — Marco respondeu,
parecendo curioso. — Por favor, digam
que esse problema não é mais meu.
Denis e Caroline franziram a testa,
sem entender. Nicole explicou.
— Tia Camila pediu ao Marc para
vir falar com Roman e Luciana.
Praticamente implorou, pelo que eu
soube.
— Ah. — Denis riu, balançando a
cabeça. — Me desculpe Marco, mas seu
pai é...
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— Um ogro? — ele completou.
— Basicamente. Mas eu entendo, ele
estava preocupado com a filha, mas já
resolvemos tudo.
— Como assim? — Nicole
perguntou, curiosa.
— Eu o lembrei de que nossa relação
não é sanguínea e que quando nos
apaixonamos, não controlamos por
quem. Sua mãe parece ter tido um ponto
a favor dela em algum momento. —
Denis sorriu, olhando enviesado para o
sobrinho, dando-lhe a entender qual era
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o ponto. — Eu acho que ele não vai
querer vê-los aos beijos por algum
tempo, mas pelo menos Roman não
precisará se preocupar com uma plástica
no rosto.
Nicole riu. Caroline e Denis
suspiraram aliviados, não queriam ter
que cortar ligações com Eduardo por
causa da relação entre seus filhos caso
ele se mantivesse como uma mula
empacada em sua opinião, então foi bom
ele finalmente ter aberto os olhos.
Os pais de Nicole beijaram a filha e
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abraçaram Marco mais uma vez,
pediram licença, e foram para o quarto
que era reservado para eles sempre que
estavam no hotel. Marco e Nicole
tomaram o café da manhã logo depois.
Ele, sentindo-se infinitamente aliviado
por não ter mais que se preocupar com
isso e ela, parecendo distraída e até
mesmo, calada.
Se Marco percebeu a estranheza dela
não comentou nada. Eles foram à praia e
surfaram por um tempo, mas foram
embora cedo e passaram a tarde com
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Roman e Luciana – que estavam mais
satisfeitos que políticos em época de
eleição – em seu quarto assistindo
filmes.
— Só tenha cuidado para não
engravidá-la, Roman. — Marco
provocou. — Aí sim papai corta suas
bolas e acho que até mamãe ajudará.
Roman mostrou-lhe o dedo do meio.
Luciana jogou um punhado de pipocas
nele e Nicole apenas revirou os olhos
enquanto ele ria sem parar.

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Naquela noite, depois de um jantar na
Mansão Valdez, Marco levou Nicole de
volta ao hotel. Mas antes que ela
entrasse no elevador privativo que
levava à cobertura que ela dividia com
irmão, Marco a segurou pela mão e
tomou coragem para falar o que queria
dizer desde que transou com Charlotte
na noite anterior.
— Marc? — Nicole perguntou
surpresa, olhando sua mão na dela.
— Eu queria... queria falar com você.
— Sobre?
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Marco soltou a mão dela e respirou
fundo, como se tivesse tomando
coragem.
— Eu queria me desculpar.
Nicole ergueu as sobrancelhas,
totalmente surpresa.
— Exatamente pelo quê você acha
que tem que se desculpar?
Marco escorou-se à parede perto do
elevador e encarou o chão por alguns
segundos. Era constrangedor falar isso
com a prima. Ela era tão doce e ingênua.
Talvez não o visse mais da mesma
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forma, mas ela merecia a consideração
de um pedido de desculpa.
— Eu fiz algumas coisas e pensei
coisas a seu respeito que eu... eu não
deveria. — ele disse finalmente.
— Que tipo de coisas?
— Acredite, é melhor você nem
saber. — Por mais que quisesse se
desculpar, não tinha coragem de dizer
que desejou transar com ela na noite em
que dormiram juntos. Isso era um pouco
demais. — Mas eu te devo isso. Acho
que não fui o exemplo de melhor tipo de
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primo. Não sei qual é o meu problema.
— Oh Marc, — Nicole sorriu de
forma meiga, — você é o melhor primo
que eu poderia ter. É mais do que isso. É
como meu irmão, além de melhor amigo.
Eu amo o Roman, é claro, e amo a Lu,
mas você... você é a pessoa com quem
eu me sinto mais à vontade no mundo.
Ela aproximou-se dele e o abraçou.
— Mas acho que você sabe
exatamente qual é o problema. Esse
problema tem nome e sobrenome.
Marco afundou no chão. Sentou-se e
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agarrou os joelhos, encolhendo-se.
Nicole abaixou-se e sentou ao lado dele.
— O que aconteceu ontem entre
vocês? — ela perguntou suavemente.
— O que acha? — Marco perguntou
com um ar triste.
— Acho que você fez alguma coisa
da qual está se arrependendo agora.
Nicole o conhecia até os ossos, então
é claro que sabia exatamente a luta
interna que ele travava com a mente e o
coração.
— Por que não deixa tudo pra lá,
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Marc? Olha, eu admito que odiei a
Charlotte quando soube o que ela tinha
feito com você e a parte perversa de
mim...
— Não sabia que você tinha uma
parte perversa.
—... gostou de ajudar você a fazer
ciúmes pra ela. — ela continuou,
ignorando sua interrupção. — Mas agora
que ela partiu e você está aqui desse
jeito, eu me pergunto se não deveria ter
feito o contrário. Talvez ajudado vocês
dois a se entenderem.
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— Não tem como a gente se entender,
Nicole.
A voz de Marco saía suave. Nicole já
o vira chorar, já o vira sorrir de forma
diabólica, já o vira falar de forma
arrogante, sexy e até irado. Mas nunca o
vira desse jeito. Não parecia ser ele
mesmo. Sua voz não era suave. Mesmo
quando ele falava baixo, existia uma
rouquidão brutal que traía sua meiguice.
Isso a assustou, pois sabia que o primo
estava apaixonado, mas assim como seu
tio Eduardo, Marco era fechado como
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uma porta quando queria ser. E teimoso
como uma mula.
— Por que não tenta? Eu sei que
você a ama. Qualquer um pode ver.
Marco a encarou de forma
inexpressiva. Ele não negou, pois ouvir
isso da boca de Nicole fez com que ele,
finalmente admitisse para si, mas talvez
não fosse tão claro assim para outras
pessoas.
— Tá bom, talvez não seja qualquer
um, mas eu sei e você também.
— Não posso.
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— Por quê?
— Ela acabou comigo, Nicole. Eu
não consigo perdoar. Como ela poderia
me amar e fazer o que fez?
— Por que não pergunta a ela?
A pergunta de Nicole parecia
simples, e na verdade era simples, mas
Marco tinha medo da resposta. Achava
que talvez Charlotte fosse dizer que na
época ela não ao amava tanto – o que
seria terrível, pois ele a amava
desesperadamente e isso lhe partiria o
coração mais uma vez –, ou poderia
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dizer que tinha outros planos em mente –
que talvez envolvesse outros homens –,
ou que sua ambição pela fama e o
glamour era tão grande que ela não
achava que valia a pena namorar
alguém. De qualquer forma, Marco não
conseguia ver uma resposta onde ela
dizia que existia algum motivo cabível
para ter feito o que fez.
— Eu não posso. Talvez um dia...
mas não agora.
— E que diferença fará hoje ou
amanhã?
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— Ela tem que saber o que é ter o
coração partido por alguém que ama.
Ela tem que saber o que é sofrer por
amor. Eu não consigo deixar tudo pra
trás, Nicole.
— Acho que você está fazendo o
jogo errado. — Nicole disse, triste por
ele. — Está jogando contra o seu
próprio time.
— Ela me ama. — Marco disse ao
lembrar-se das palavras dela na noite
anterior. — Eu sei que sim. E se esse
amor sobreviver a tudo... depois
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veremos como ficam as coisas, mas até
lá, ela vai saber o que é amar alguém
que te faz sofrer.
Marco tinha algumas lágrimas nos
olhos quando disse a última sentença.
Nicole o abraçou e acalentou,
segurando-se para não chorar também.
Era triste que uma pessoa tão
incrivelmente inteligente como Marco
Villa-Lobos não visse a burrada que
estava fazendo. Era triste que não
percebesse que o amor não usava os
caminhos por ele estava andando e que a
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mágoa nunca era uma boa conselheira.

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10

Finalmente, o avião pousou.


Charlotte estava completamente exausta
depois de dezesseis horas de viagem.
Então demorou um pouco para sair do
avião com Craig, pois quis retocar a
maquiagem antes de ser vista pelo
público que, com certeza, a aguardava
no aeroporto. Não demorou muito e

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logo, ela estava pronta para ir.
— Bem-vinda às Filipinas, senhorita
McKeena. Mabuhay! — Disse a
comissária de bordo.
— Salamat. Salamat. — Disse
Charlotte. Craig ensinou-lhe algumas
palavras no idioma do país que ela
talvez fosse usar com frequência:
obrigado, por favor, até logo... E
algumas saudações básicas: bom dia,
boa tarde e boa noite.
O Concurso de Miss Universo seria
realizado em Manila, e tanto Charlotte
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como as 126 candidatas deste ano
chegaram duas semanas antes. Havia
uma lista de itinerários que elas tinham
que seguir antes do concurso e isso com
certeza manteria a mente de Charlotte
ocupada. Dessa forma, ela não
precisaria pensar no seu último encontro
com Marco, embora ainda se sentisse
deliciosamente dolorida nos músculos
certos. Seu coração, por outro lado,
estava dolorido também, mas não de
uma forma legal.
Charlotte pisou na área de
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desembarque e logo sentiu-se bem. A
vida de glamour que ela levava como
atual Miss Universo era agradável,
muito mais do que ela imaginava que
seria. Então, acenando para a multidão,
caramba, quanta gente!, ela dispôs-se a
sorrir e percebeu que não era tão difícil.
Havia vários cartazes, alguns ela não
entendia, pois estavam na língua nativa,
mas alguns eram claros como água,
como um grande com seu nome cercado
de coraçõezinhos. Também tinha uma
multidão de fotógrafos e repórteres
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aguardando uma palavra que fosse. Ela
sorriu e acenou para todos enquanto
passava no meio deles, cercada por
seguranças.
Então um pouco mais à frente, uma
garotinha gordinha de não que cinco
anos de idade, correu até ela com uma
guirlanda colorida. Charlotte se abaixou
e a pegou no colo – sentindo um pouco
de falta de ar por causa do peso
gorducho daquela coisinha deliciosa,
mas com um sorriso no rosto. A menina
colocou a guirlanda em volta do
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pescoço de Charlotte e em seguida,
beijou sua bochecha, saudando-a com
algo que ela achou que fosse um "Bem-
vinda às Filipinas".
— Oh! — ela sorriu e beijou a
bochecha gordinha da garota. —
Obrigada, linda.
A garotinha não entendeu uma
palavra dela, mas abriu um sorriso
genuíno e Charlotte sentiu uma emoção
enorme com todo aquele carinho.
Quando ela colocou a menina no chão
e observou enquanto ela desaparecia
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junto com a mãe no meio da multidão,
um grupo de repórteres a cercou,
fazendo perguntas sobre a viagem e suas
expectativas em relação ao concurso
desse ano. Ela respondeu a todos
agradavelmente com um sorriso no
rosto.
Ela despediu-se de todos em língua
nativa, meia hora depois, e foi
ovacionada.
Quando fez check-in no hotel, tudo o
que Charlotte queria era um banho bem
longo e uma cama macia onde ela
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poderia se perder pelo resto da noite.
Sentia-se como se um trem de carga
tivesse passado por cima dela e
desejava descanso para o seu corpo,
para a sua mente... e para o seu coração.
Assim, pediu a Craig que fosse
rápido no relatório das atividades do
dia seguinte, e quando ele finalmente
deixou seu quarto, Charlotte não
demorou mais do que vinte minutos para
estar na cama, quietinha e pronta para
dormir.

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Na manhã seguinte, às dez da manhã,
Charlotte participou de uma conferência
de imprensa juntamente com os
organizadores da Organização Miss
Universo. As perguntas começaram
fáceis – como ela se sentia após uma
vigência tão maravilhosa como Miss,
como foi a viagem até as Filipinas, do
quê ela mais sentiria falta depois que
entregasse a coroa a outra mulher... –,
mas foram ficando difíceis à medida que
o tempo passava, como por exemplo,
quando um repórter lhe perguntou o que
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ela pretendia fazer após a carreira de
Miss. Mas a pergunta que mais mexeu
com ela foi a que lhe fizeram sobre o
estado do seu coração. Uma repórter
americana lhe perguntou como uma
mulher tão jovem e bonita como ela
podia se manter solteira, já que, com
certeza, deveria viver partindo corações
ao redor do mundo. Essa foi cruel.
Ela sabia que tinha partido o coração
de pelo menos duas pessoas e uma
delas, ela tinha certeza que talvez nunca
a perdoasse. Claro que Ken tinha
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entendido o término deles após a morte
do seu irmão, e embora tenha ficado
chateado no início, disse-lhe que não
poderia sequer imaginar pelo quê ela
estava passando e assim, a deixou livre
para voltar para ele, se esse fosse o
destino dos dois.
Já Marco... ele não conhecia a
história. Ela não teve coragem de contar
assim que o viu na Califórnia após
tantos anos. E ele não lhe deu a chance
quando tiveram finalmente um momento
a sós. É claro, ela pensou, ele estava
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ocupado agindo como um idiota. Mas
Charlotte, lá no fundo, acreditava que
não deveria culpá-lo muito. O que ela
faria se alguém mentisse, traísse e
partisse seu coração sem nenhuma
explicação? Provavelmente criaria um
ódio mortal de tal pessoa.
— E então, senhorita McKeena? — a
repórter insistiu, ante a falta de resposta
de Charlotte.
Ela lembrou-se de sorrir antes de
responder.
— Bom, não me vejo partindo
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corações a todo lugar que vou, mas se
isso acontece, de fato, eu gostaria de
saber quem são todos esses homens. —
Charlotte soltou uma risada, escolhendo
o bom humor para lidar com a pergunta.
O que mais poderia dizer? Que estava
arrasada por causa de um
relacionamento antigo que teve um fim
trágico provocado pelos seus pais e sua
falta de maturidade? Não na frente das
câmeras. — Eu me mantive solteira até
hoje porque aguardo o homem que irar
virar minha cabeça de ponta cabeça,
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assim como meu coração.
Houve um "awn" coletivo e Charlotte
teve certeza de que mandou bem na sua
resposta. Outra série de perguntas se
sucedeu, mas ela lidou melhor com
todas elas, já que a maioria focava na
sua vida profissional e realizações como
Miss, não na sua vida amorosa e
coração partido.
Os organizadores da Organização
Miss Universo tomaram a palavra por
mais um longo tempo e no fim de tudo,
todos foram aplaudidos. O almoço foi
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público e por mais enervada que
Charlotte estivesse por ser vista
comendo por tantas pessoas, ela
conseguiu manter a calma.
Mais tarde, ela e algumas das novas
candidatas a Miss foram a uma
comunidade carente na cidade,
participar da Missão de Equipe Médica.
Charlotte ficou chocada com a pobreza
do lugar, em comparação ao lugar onde
ela estava, cercada de luxo, e sentiu-se
um pouco mal por presenciar o
sofrimento de tanta gente que não tinha
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cuidados adequados – não porque os
médicos voluntários não fizessem um
bom trabalho, mas porque eram poucos
– e comida suficiente para si e seus
entes.
O lugar estava lotado. Principalmente
com crianças e idosos. Contendo a
agonia que sentia em seu interior,
Charlotte pôs-se a sorrir e apertou com
carinho as mãos de quem lhe estendia.
Ela e as outras foram levadas a uma
espécie de ginásio, onde aguardariam
um pouco para falarem com os médicos
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residentes e os voluntários de várias
nações.
Pouco mais de cinco minutos depois,
um lindo médico loiro, que parecia mais
um ator de Hollywood do que qualquer
outra coisa, apareceu. Charlotte mal
pôde acreditar nos seus olhos. Mas olha
só...
— Ken?
O médico sorriu, mostrando todos os
dentes brancos.
— Olá, Charlotte.
— Meu Deus! — ela levantou-se da
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cadeira e foi até ele. — Eu não posso
acreditar que está aqui! — então o
abraçou firmemente.
— Acredite. Sou eu. — Ken a
abraçou de volta, em seguida, a soltou.
Seu sorriso deveria ser um crime, pois
com certeza era matador.
— Oh, este é o meu agente Craig
Cooper. Craig, este é Ken Reynolds,
quero dizer... Dr? Dr. Ken Reynolds.
O sorriso de Ken se abriu ainda mais
ao apertar a mão de Craig.
— Prazer em conhecê-lo, Sr. Cooper.
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— É bom conhecer você também, Dr.
Reynolds. — Disse Craig, amável.
Era difícil de acreditar que de todos
os lugares que Charlotte já tinha
percorrido, ela tivesse encontrado Ken,
seu primeiro namorado e amor, nas
Filipinas. Tão distante de casa.
— Como... — ela pigarreou. —
Como é que você veio parar aqui, Ken?
— Eu estou com o grupo de médicos
voluntários dos Estados Unidos. Eles
têm um acordo com a Organização Miss
Universo, então... — Ele sorriu para ela.
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— Quando eu soube que você viria,
estava contando os dias para que
chegasse. Senti sua falta.
Charlotte sentiu as bochechas
esquentarem. Ficou meio sem jeito, mas
não falou nada. Ela e Ken com certeza
tinham muito o que conversar.
— Você está trabalhando onde? Sabe,
lá nos Estados Unidos.
Ken entendeu a mudança sutil da ex-
namorada e sorriu. O que eles tinham
para conversar não poderia ser dito ali
na frente de tanta gente, pois, por mais
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que agora Craig tivesse se distanciado
um pouco, eles ainda estavam muito
próximos de todos.
— No Columbia University Medical
Center. Eu sou cardiologista.
— Uau, impressionante. Eu sempre
soube que você venceria. Tenho orgulho
de você.
— Obrigado, Charlotte. Significa
muito, vindo de você.
Ken não contaria nunca isso à
Charlotte, mas o motivo de ter escolhido
uma carreira de médico e de ter se
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empenhado tanto em ser extraordinário,
era que ele queria que o senador e a Sra.
McKeena enxergassem o homem que ele
era e que seria capaz de fazer sua filha
feliz, não só no âmbito emocional, mas
no financeiro também.
Ken não ficou magoado com
Charlotte quando ela lhe disse, anos
atrás, que o namoro deles não poderia ir
para frente. Ele entendeu que como uma
adolescente de quinze anos que acabara
de perder o irmão, ela seria agora mais
facilmente manipulada pelos pais
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controladores, mas ficou triste por se
dar conta de que se sua condição
financeira e seu nome fossem melhores,
ele poderia consolá-la para sempre,
pois seus pais o aceitariam. Charlotte,
no entanto, sofreu sozinha apenas porque
o Sr. e a Sra. MacKeena não admitiam
uma pessoa de classe inferior ao lado da
filha. Devem ter sido difíceis para ela
os últimos anos, com a pressão dos pais
e o peso dá culpa...
Charlotte olhava admirada para o
homem que Ken havia se tornado. Ele
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sempre foi bonito, mas os anos,
claramente, tinham sido ótimos amigos
para ele. O rapaz que ele era não se
comparava ao homem que tinha se
tornado. Então ela riu ao pensar em uma
coisa e Ken, curioso, curvou a cabeça
para um lado e perguntou qual o motivo
de tanta graça.
— É que eu estava pensando...
— Em quê, Charlotte? — Ken
perguntou, seu sorriso se ampliando.
— Você tá parecendo o Jonny Bravo.
Ken franziu a testa, quase
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perguntando: Quem? Mas então
lembrou-se do desenho favorito dela
quando era criança.
— Ora, mas que honra. Eu sei que
era apaixonada por ele.
Os dois riram, até não terem mais do
que rir. Um silêncio incômodo
prevaleceu entre eles é Charlotte
pigarreou antes de dizer que precisava
voltar para junto das outras meninas.
— Tudo bem. Mas podemos jantar
hoje?
Charlotte não teve como negar. E
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então, após observar a tarde toda o amor
com o qual Ken tratava seus pacientes, e
ajudar em algumas ocasiões, junto com
as candidatas a Miss Universo,
Charlotte e Ken saíram para jantar. Ela
não teve muito tempo para pensar em
sua tristeza por causa de Marco. Estava
feliz por encontrar Ken após tantos anos
e mais, por saber que ele não guardava
nenhum rancor.
Ele ainda era o mesmo cara que tanto
conhecia. Não só na aparência. Ele
ainda era atencioso, engraçado é
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esperto. Não guardava rancor e a tratava
cm carinho. Um carinho que ela
precisava, que queria, mas que queria
que viesse de outra pessoa. No momento
em que pensou nisso, Charlotte balançou
a cabeça e forçou-se a sorrir. Não
queria pensar em Marco. Não era justo
com ela... nem com o Ken.
— O que está incomodando você?
Ela foi puxada de seus pensamentos
pela voz melodiosa e doce de Ken. Ele
segurava sua taça de vinho na mão e a
observava com o queixo apoiado na
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outra.
— Não é nada. — ela respondeu
suavemente.
— Ah, qual é... Eu conheço você.
Fala pra mim.
Charlotte suspirou. Se ela contasse
ao Ken sobre Marco, teria que contar
tudo desde o início, quando ela partiu o
seu coração. Mas Charlotte tinha
vergonha, pois, quem poderia perdoar o
que ela fez com ele? E talvez, se Ken
ainda não a via como uma garota
superficial e controlada pelos pais, com
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certeza pensaria assim após saber que
ela tinha agido de forma muito parecida
com outro homem, tantos anos após a
morte do seu irmão.
— É um cara, não é?
A voz de Ken saiu ansiosa. Ele
queria poder enchê-la de perguntas, mas
entendia que não tinha mais esse direito.
Ela não era sua namorada.
— Ken, eu... cometi alguns erros no
passado e...
— Espero que não considere que
nosso relacionamento foi um erro.
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— Não. — ela apressou-se em negar
ao notar a melancolia na voz dele. —
Não estou falando da gente. Foi outra
coisa e eu... eu não estou pronta pra
contar pra você ainda.
Ken sorriu. Não foi um sorriso
alegre, mas ele não a estava julgando ou
triste por ela não dividir o que quer que
a estivesse afligindo com ele. Apenas
sabia que algumas coisas na vida dela
eram difíceis de serem ditas e com
certeza entenderia se ela precisasse de
um tempo.
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— Tudo bem, Charlotte. Quando
estiver pronta, eu estarei aqui pra ouvir.
Você sempre poderá contar comigo.

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11

Charlotte respirou profundamente. A


conversa que tivera com Ken dois dias
antes durante um jantar ainda ia e vinha
em sua mente. Ele não ficou chateado
quando ela lhe contou sobre Marco, mas
deixou claro que ainda tinha sentimentos
por ela e esperaria.
— Eu estou machucada, Ken. E não

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quero machucar você também.
— Esse tal Marco deve ser um
imbecil, não é? Quem faz uma coisa
dessas com uma garota como você?
— Ele não sabe do meu passado. Eu
nunca lhe contei.
— Mesmo assim. Não se trata uma
mulher dessa forma. Me desculpe dizer,
mas ele te tratou como se fosse uma
prostituta. Eu gostaria de arrancar
sangue dele para lhe dar uma lição.
Charlotte riu um pouco. Ken era forte
e atlético, mas claramente não era páreo
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para Marco. Os anos lhe fizeram muito
bem e agora o garoto um pouco franzino
que ela um dia conheceu, era um
verdadeiro brutamontes. Se houvesse,
por alguma razão do destino, uma briga
entre eles, era claro que Ken seria
nocauteado. Mas ela não teve coragem
de dizer isso em voz alta e acabar com a
confiança do bom médico, então apenas
continuou a sorrir.
— Mas me fala uma coisa... olha, não
me leva a mal, eu não estou dizendo que
estou do lado dele nem nada, mas... por
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que não contou a ele?
— Por que não tive chance, ou
coragem, para dizer a ele o que
aconteceu no dia em que terminamos.
Charlotte abaixou a cabeça e
lembrou-se do dia em que seus pais
foram ao seu quarto com um jornal nas
mãos e ódio nos olhos por causa da
manchete, mesmo que fosse mais
favorável para ela do que para Marco.
— Eu não consigo acreditar que você
foi tão burra a ponto de ir a um lugar
desses, minha filha. — sua mãe gritou.
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Charlotte apenas chorava, segurando
o lado do rosto que estava vermelho
depois do tapa que levou do pai.
— Você sabe o que isso pode me
custar? — a voz do senador era baixa,
mas fria, mortal. — Isso pode custar
minha candidatura à reeleição. A filha
de um senador não pode andar com esse
tipo de gente, não pode fazer esse tipo
de coisa. O que você tem na cabeça,
pelo amor de Deus!
Charlotte encolheu-se fisicamente,
preparando-se para um novo tapa, mas
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ele não veio, pois o homem se controlou
no último minuto. Era provável que mais
uma agressão deixasse marcas e isso
levantaria suspeitas, foi o que Charlotte
deduziu como empecilho para não ser
agredida de novo, não porque o pai
tivesse mudado de ideia.
— Ainda bem que sua mãe conhece
pessoas importantes naquele jornal e
convenceu o editor a mudar a manchete.
Já pensou se tivesse mais de um
fotógrafo lá? O que poderiam ter dito de
você?
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— Você não vai mais ver esse rapaz,
Charlotte. Eu a proíbo. — disse Judith
com a voz ácida.
— Não foi o Marco que me levou lá.
— Charlotte disse baixinho. — Eu fui
sozinha. Ele só foi me buscar.
— Não interessa. — o senador gritou
e ela se encolheu mais uma vez. — Por
que nunca nos falou sobre seu
envolvimento com esse moleque? Sabe
quem o pai dele é?
— Sei. — Charlotte fungou. Não
entendia o motivo da pergunta. Seus pais
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não aceitaram o Ken alguns anos atrás
porque ele era pobre. Mas Marco era
herdeiro de uma multinacional, não que
fosse esse o motivo de ela o amá-lo,
mas não entendia a revolta dos pais. —
Um empresário importante.
— Ele é a porra do meu maior
concorrente ao senado.
— O quê? — Charlotte perguntou
chocada. Não se lembrava de Marco ter
mencionado que seu pai tinha aspirações
políticas.
— Ele está investindo na campanha
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do meu maior adversário. — o senador
explicou, revirando os olhos, ante à
confusão da filha. — Eu não a quero
com ele.
— Então foi só por isso que vocês
mudaram a manchete? Para prejudicá-lo
e ao seu pai? — Charlotte perguntou
irritada. Sua voz subiu alguns decibéis.
E isso lhe rendeu mais um tapa.
Dessa vez, da sua mãe.
— Escute aqui. — o senador sentou-
se na cama e fez Charlotte encará-lo,
segurando seu queixo com força para
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manter sua cabeça erguida. — Você vai
confirmar tudo o que esse jornal diz.
Qualquer coisa fora disso aqui é
mentira, entendeu? É o que você vai
dizer para qualquer um que perguntar.
Você foi obrigada a ir a esse bar e
Marco, drogado e bêbado como estava,
é o único culpado pelo que aconteceu
ontem à noite.
— Eu não vou fazer isso. —
Charlotte respondeu entre os dentes. —
Podem bater em mim de novo se
quiserem, mas não direi isso. Ele vai se
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formar com honras e seu nome ficará
manchado com esse tipo de acusação.
O senador riu friamente.
— Não basta ter matado seu irmão,
ainda tem que ser um desgosto tão
grande para seu pai e para mim? — sua
mãe chorou falsamente, destilando
veneno.
Charlotte sabia que seria um erro
confessar que Bob estava a caminho da
casa do Ken para buscá-la quando um
caminhão desgovernado bateu nele,
tirando sua vida, mas fez isso porque
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queria consolar os pais diante de
tamanho sofrimento. Agora, ela tinha
plena certeza de que realmente tinha
sido idiota, pois só bastava se negar a
fazer qualquer coisa para agradá-los que
eles jogavam a culpa nas suas costas.
Sem dó nem piedade. Como se a culpa
que sentia já não fosse suficiente.
— Oh minha filha, nós não vamos
bater em você. — o senador disse,
ignorando o que a esposa disse
momentos antes. — Se não confirmar o
que estamos vendendo, seu castigo será
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muito pior. Você será obrigada a ver seu
casinho romântico pagar por você.
Charlotte quis dizer que ele não tinha
poder para prejudicar os Villa-Lobos a
ponto de fazê-la temer por Marco, mas
reconsiderou. Afinal, seu pai era um
homem com conexões importantes no
meio político e em alguns meios mais
obscuros, segundo tinha descoberto
recentemente.
Assim, Charlotte não teve escolha a
não ser seguir o que os pais e o jornal
disseram sobre seu amado, e quando
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Marco apareceu alguns minutos depois
em seu quarto, e ela mentiu na maior
cara de pau para ele, ela soube que o
tinha perdido para sempre, pois jamais
seria perdoada.

Estava agora a caminho de Nova


Iorque. Ela havia entregado, duas noites
atrás, sua coroa à Miss Itália, que agora
era detentora do título de Miss
Universo. Ao pensar nisso, Charlotte
sorriu consigo mesma, pois tinha
cumprido seu dever com o país, com o

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mundo... e com seus pais. Agora sua
vida era apenas sua para seguir o que
queria da vida. Não devia nada aos seus
pais e nem a ninguém. Tinha estudado
muito e queria aplicar o que aprendeu
em Harvard, tornando-se a
empreendedora que sabia que tinha
chance de ser.
Com todos os anos em que se
dedicou tanto à sua vida acadêmica
como à sua vida de modelo, Charlotte
tinha certeza que a boutique que
pretendia abrir em Nova Iorque iria para
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frente. Afinal, talento não lhe faltava e
nem conexões, tanto com o mundo
empresarial como com o mundo fashion.
Dessa forma, não foi difícil para ela
conseguir patrocinadores para dar início
ao seu projeto, já que não pretendia
pedir nenhum centavo ao senador ou à
ex-Miss América, ou seja, papai e
mamãe. Não, Charlotte queria vencer
por seu próprio suor, por seu próprio
mérito e esforço. Não cortou relações
com os pais, quando entregou a coroa de
Miss Universo, para pedir um favor que
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seja a eles.
Com dois meses, a Glitz Fashion
Company já era um sucesso entre os
nova-iorquinos e com três, o armazém
no Queens que era usado como QG da
empresa não era mais suficientemente
grande. A quantidade de encomendas
tinha crescido muito e ela precisava se
mudar para um lugar maior para
acomodar mais máquinas e empregados.
Charlotte sabia que tinha apoio, mas não
imaginava que o sucesso da sua marca
seria tão grande em tão pouco tempo.
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Aparentemente, ser ex-Miss Universo
abria muitas portas, pois as amizades
que fez durante esse tempo tinham vindo
bastante a calhar. Mas para mudar-se
para outro lugar, Charlotte precisaria de
mais dinheiro. Seu capital de giro ainda
não era suficiente para um investimento
maior. O problema é que ela ainda não
sabia como conseguiria isso, pois
apesar de boas conexões no mundo
empresarial, parece que algumas portas
simplesmente não estavam abertas para
ela recentemente.
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— Não consigo entender porque o
banco não quis ceder o empréstimo,
senhorita McKeena. — disse Fiona, a
assistente pessoal de Charlotte. — Pelo
que eu soube, o Sr. Redfield da outra rua
conseguiu um bom empréstimo no
mesmo banco para ampliar sua padaria.
— Simplesmente não entendo. —
Charlotte concordou. — Levamos tudo o
que o banco pediu, todos os relatórios...
Como puderam mudar de opinião de
última hora? Até parece que tem alguém
querendo ferrar comigo. — ralhou ela,
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abaixando o rosto nas mãos em sua
mesa.
— Não sei, mas se não cuidarmos
disso logo, a coisa vai ficar feia. A
Fashion Week está quase aí e nós temos
muitas encomendas. Os estilistas já
criaram muito, mas sem o maquinário e
o pessoal necessário, as coisas estão
bastante atrasadas.
Charlotte meneou a cabeça e gemeu
baixinho. Aquilo estava acabando com o
seu sono nos últimos vinte dias. Como
iria gerir um negócio daquele jeito por
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vários anos se não estava aguentando
nem dois meses? As coisas foram tão
bem nos primeiros três meses, como
poderia estar se mal encaminhando no
último?
— Pensou no que eu propus? Sobre
os empregados. — acrescentou Fiona ao
notar a confusão na expressão da chefe.
— Eu não posso pagar mais hora
extra para eles. — respondeu Charlotte,
odiando o som fraco da sua voz — Eles
já estão trabalhando praticamente
dobrado e se eu aumentar as horas
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extras, não sei se terei dinheiro para
pagá-los.
— E o que pretende fazer? Os dias
estão se esgotando.
— Nem me fale. — Charlotte
lamentou. — Acho que a única maneira
de conseguir algo, é atirar para todo
lado. Alguém há de ser acertado.
Quem quer que fosse que estivesse
querendo ferrar com seu sonho, não teria
sucesso. Ela não aceitaria a derrota tão
fácil.

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Não bastasse ter de vê-la em
outdoors e anúncios de jornais como
Miss Universo pelo ano inteiro, agora
Marco tinha que ver tais anúncios de
Charlotte como a mais recente
empresária bem sucedida. Ela não era
mais Miss, mas com certeza ainda era a
queridinha da América.
Marco estava irritado. Suas tentativas
de frustrar o negócio recém-aberto de
Charlotte não pareceram ter muito
efeito. Mesmo pedindo pessoalmente
aos gerentes dos principais bancos da
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cidade – como amigo e um dos
principais clientes – que negassem
qualquer pedido de empréstimo que ela
fizesse, a empresa dela estava indo de
vento em popa. Suas roupas vendiam
como pão quente e suas conexões se
mostraram ter um pouco mais de firmeza
do que as dele. Aquilo era inaceitável.
Ele era Marco Villa-Lobos, e conseguia
sempre o que queria no mundo
empresarial.
Havia quase quatro meses que vira
Charlotte pela última vez e desde essa
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época, ela não era mais Miss, tinha
virado empresária e, por Deus, estava
namorando um médico? Os boatos não
eram claros, mas alguns paparazzi os
flagraram nas Filipinas juntos logo
depois da coroação da nova Miss
Universo. E de maneira um tanto...
íntima.
Mas quem poderia ser o tal cara? E o
que diabos James Hardy, seu
investigador particular, estava fazendo
que não lhe trazia as respostas que ele
buscava? Pelo amor de Deus, o cara era
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apenas um fodido médico do inferno,
não o presidente dos Estados Unidos,
deveria ser fácil conseguir informações.
Fazia quase um mês que ele e Charlotte
eram fotografados juntos em restaurantes
e outros lugares públicos, o que queria
dizer que qualquer que fosse o
relacionamento que tivessem, estava em
um nível mais sério. E, por todos os
santos, Marco queria saber tintim por
tintim.
Ela disse que ainda o amava havia
pouco tempo, como poderia estar com
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outro? E agora? Como ele poderia se
vingar dela, se claramente não existia
mais nenhuma brecha por onde ele
pudesse entrar em sua vida? A menos
que...
Marco, de repente, teve uma ideia
brilhante. Ele estava usando o caminho
errado, para chegar à Charlotte, ele
precisava caminhar por outras trilhas.
— Sim, Charlotte. — Marco disse,
sorrindo para o novo outdoor em frente
ao seu prédio. — Me aguarde.

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12

— Charlotte, há um monte de rosas


para você lá fora. — informou Fiona. —
O entregador perguntou onde deve
colocá-las.
— O que? De quem?
— Do Sr... — Fiona examinou o
bilhete — Marco Villa-Lobos.
Charlotte ficou instantaneamente com

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raiva.
— Diga ao entregador para levar
tudo de volta. Eu não vou aceitar isso.
— Charlotte sorriu com arrogância e um
tantinho de humor — Ou melhor ainda,
mande levar para o cemitério. Com
certeza as pessoas lá precisam mais do
que eu.
— Que desperdício. As rosas são
lindas e parecem bem caras.
É claro que são caras, pensou
Charlotte. Ele era Marco Dono Do
Mundo Villa-Lobos, poderia comprar
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todas as malditas flores que quisesse,
mas ela não aceitaria. Não daria a ele o
gostinho.
— Tudo bem, então. Vou dizer ao
entregador que você não vai aceitar.
Charlotte se apoiar em sua cadeira e
encarou Fiona tempo suficiente para ela
saber que deveria mandar as flores
exatamente para o lugar onde ela havia
dito. Sua assistente corou um pouco e
confirmou com um aceno que tinha
entendido a encarada da patroa.
Quando Fiona saiu, Charlotte
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esfregou o rosto com as duas mãos. Por
que Marco estava fazendo isso? O que
ele poderia querer dela depois do que
tinha feito no seu último encontro? Será
se praticamente chama-la de prostituta já
não era bastante? Ele tinha mesmo que
continuar a feri-la? Ele só podia ser um
sádico... Não, eu não vou deixá-lo me
machucar novamente, não mesmo.
Ela continuou fazendo seu trabalho,
fingindo para si mesma que não estava
tremendo como vara verde ou que sua
ansiedade não a estava corroendo por
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dentro. Só Marco Villa-Lobos mesmo
para tirar sua concentração mais rápido
que um tem bala, e olha que ela não
tinha pouca coisa com o quê se
preocupar não. Ao contrário, seus dias
estavam cada vez mais desgastantes,
pensando sempre em como e onde
encontrar uma pessoa disposta a investir
em sua empresa.
Deus, ela não achava que seria tão
difícil. E quando achou que seus
pensamentos a respeito de Marco e sua
capacidade de lhe tirar totalmente do
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sério já eram o bastante para deixá-la
fora de foco o resto do dia inteiro, seu
telefone tocou.
— Alô. — Charlotte atendeu.
— Charlotte. — disse a pessoa do
outro lado.
A voz era tão familiar. Charlotte
sabia instantaneamente que era Marco.
— O que você quer? — perguntou
ela com firmeza.
— Eu queria saber por que não
aceitou as flores. — a voz dele estava
melosa.
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— Eu ainda estou viva, Sr. Villa-
Lobos. Se você me quer morta, envie
uma bomba da próxima vez, então terá
efeito desejado.
— Aquilo era uma oferta de paz,
Charlotte, pelo amor de Deus. — Marco
ignorou a alfinetada dela. — E por que
diabos você está me chamando de Sr.
Villa-Lobos?
— E como exatamente eu deveria
chamá-lo?
— Pelo meu nome.
— E esse não é seu nome?
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Charlotte jamais admitiria, mas
estava adorando provocar Marco, por
que é claro, ele parecia estar irritado e
fosse qual fosse o motivo, pouco lhe
importava.
— Escuta, eu liguei porque...
— Por que queria saber das flores?
— Charlotte perguntou de uma forma
falsamente inocente.
— Também. — ele rosnou, o que ela
achou muito sexy, mas também não
admitira isso. — Mas foi para perguntar
se você gostaria de jantar comigo.
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Charlotte fez um silêncio enorme e
proposital, mordendo o lábio para não
deixar escapar um riso antes de
responder.
— Eu posso me dar ao luxo de
comprar meu próprio jantar, Sr. Villa-
Lobos. Você não precisa falar doce
comigo. Não vai funcionar.
— Eu não estou falando doce. Só
quero uma chance para mostrar que...
— Não. Você não terá mais chances.
Você teve uma e pelo que me lembro, me
tratou como uma puta.
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— Pelo que eu me lembro, você bem
que gostou. — Marco disse com um ar
sedutor que até por telefone era capaz de
enviar arrepios pela espinha de
Charlotte.
— Adeus, Sr. Villa-Lobos. Fique.
Longe. De. Mim.
Charlotte desligou o celular, pois não
poderia continuar aquela conversa com
Marco e sair ilesa. Droga, seu coração a
traía. Seu maldito corpo a traía. O que
havia de tão gostoso naquela voz que a
fazia ficar toda molhada? Ela não sabia
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exatamente por que Marco tinha ligado,
mas sabia que tinha sido para torturá-la.
Ela estava com raiva e precisava aliviar
aquilo de alguma, então olhou por uns
minutos para a tela apagada do celular e
depois discou o número do Ken.

Marco sabia que Charlotte devia


estar soltando fogo pelas orelhas e
estaria ainda pior se tivesse visto seu
riso de satisfação quando ela desligou
na cara dele. Deus, ele gostava de
provocá-la. Quando namoravam, ele

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fazia isso uma vez ou outra, de forma
inocente, e gostava muito quando ela
descontava, dando-lhe tapas fortes até
que os dois acabavam aos beijos. Se
fosse hoje em dia, eles acabariam na
cama e não havia nada que ele quisesse
mais talvez apenas vê-la ajoelhada
implorando seu perdão pelo que tinha
feito, mas isso poderia esperar uma
oportunidade melhor do que transar
violentamente com ela. Não que a
primeira vez dos dois tivesse sido muito
gentil, mas ele precisava de mais.
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— Ah, Charlie, Charlie. — ele
estava parado em frente à enorme janela
do seu escritório que dava para um
outdoor com Charlotte estampada. — O
que eu vou fazer com você?
Nos últimos meses, com a ausência
de Charlotte da mídia fashion, por assim
dizer, Marco sentiu falta da sua dose
diária de tortura ao ter que ver uma
entrevista ou a reprise de algum
programa que ela havia participado. As
fotos nos jornais e revistas não eram
mais as mesmas. Ela havia entregado a
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coroa de Miss Universo e saído um
pouco dos holofotes e, por mais que, de
alguma forma, ainda fosse a queridinha
dos ricos e famosos, agora por causa da
sua boutique, ela não aparecia tanto
quanto antes.
Marco então se pegou pensando se
estava perdendo a razão. Talvez devesse
estar ficando louco ao querer ver
novamente seu rosto estampado em todo
lugar, pois a alternativa era admitir em
alto e bom som que ainda a amava
loucamente e que talvez, apenas talvez,
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sua vingança contra ela não estivesse
mais fazendo muito sentido.
O problema é que ele não estava
louco. Se estivesse, não estaria
pensando, pois loucos não pensam sobre
sua sanidade. Mas também não se sentia
pronto para abrir mão de uma coisa que
ele cultivou por tantos anos apenas para
manter aflorado o sentimento visceral
que ele tinha por ela. Fosse amor, fosse
ódio, os dois estavam interligados e
agora Marco não sabia como separá-los.
Sem contar que ele também estava
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com medo. Medo das palavras de
Nicole, que lhe dissera apenas um mês
atrás – quando lhe mostrou uma
manchete de revista que mostrava
Charlotte e o tal médico, com quem ele
ainda teria uma conversinha, muito
agradavelmente juntos em um iate – que
se ele não abrisse o olho, outro poderia
dar a ela o que ele se negava a fazer
apenas por ser incapaz de deixar o
passado para trás.
Bom, se Marco ainda não estava
louco, era provável que ficasse e ele
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não poderia culpar ninguém a não ser
Charlotte McKeena.
— Você ainda vai acabar com o
pouco juízo que me resta.
Alguém tossiu atrás dele. Marco se
virou assustado e viu seu pai, Eduardo,
de pé a poucos passos de distância da
porta.
— O que foi isso? — perguntou
Eduardo, com um meio sorriso.
Marco ficou um pouco envergonhado.
Seu rosto até ficou vermelho.
— Você está falando com o outdoor?
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— Eduardo se aproximou e olhou para
foto gigante de Charlotte e sua marca
recém-nascida. — Eu não te criei para
ser um covarde, filho. Converse com a
garota pessoalmente.
Marco gemeu e foi até sua mesa,
onde sentou, fingindo ser ele o dono do
mundo e não o Villa-Lobos mais velho à
sua frente.
— O que veio fazer aqui, pai?
— Um pai não pode mais visitar seu
filho? — Eduardo perguntou com um
sorriso torto que Marco achou irritante.
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Fechou os olhos e concordou
silenciosamente com sua mãe sobre o
assunto.
— Claro que pode, mas não só para
isso que você veio e sabe disso.
Eduardo se sentou na cadeira em
frente à do filho e brincou com um fiapo
invisível em sua calça por alguns
segundos – uma coisa mais irritante do
que o sorriso torto – antes de começar a
falar.
— Filho, você está vendo Charlotte
McKeena de novo?
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— Por que está perguntando? —
Marco não tinha a intenção de parecer
irritado, mas não teve como evitar que
sua voz saísse dessa forma. Eduardo, no
entanto, ignorou o tom do garoto.
— Sabe que o senador e eu tivemos
alguns... problemas ao longo dos últimos
anos.
— Sei.
Como poderia esquecer? Seu pai e o
senador quase chegaram aos finalmente
depois de um jantar beneficente que
Eduardo havia planejado para seu
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candidato ao senado, principal
concorrente de Bernard. A briga foi feia,
um bate-boca dos infernos, que só não
teve repercussão maior porque os
jornalistas presentes foram todos
comprados para não divulgarem as
imagens e vídeos.
— Não ajuda em nada o fato de
Thomas ter morrido por "causas
naturais" — disse Eduardo, fazendo
aspas no ar, — dias depois de assumir o
senado, fazendo do cachorro do Bernard
o sucessor legal ao cargo.
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— Pai...
— Sei que não há provas, Marco, e é
provável que nunca tenha, mas não quer
dizer que não tenha sido ele.
Marco também não duvidava disso,
mas não queria acusar o pai de
Charlotte, por mais que soubesse que ele
provavelmente merecia.
— Por que está falando do Thomas?
— Não estou falando do Thomas.
Estou falando do Bernard.
— E?
— Quero saber se você ainda sente
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alguma coisa pela filha dele?
Marco apenas abriu a boca, sem ter o
que dizer, ou sem saber o que dizer. Ele
poderia dizer ao pai que planejava se
vingar de Charlotte pelo que ela tinha
feito quatro anos atrás? Será se deveria
dizer que agora estava se perguntando se
isso valeria a pena? Ou deveria dizer
que estava mais confuso do que quando
ouviu falar de aritmética pela primeira
vez?
— Sim. Não, eu não sei. Ficamos
juntos na Califórnia. Mas não deu certo.
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Ela me disse pra ficar longe dela.
— E eu, com certeza, concordo.
Marco não disse nada. Então
Eduardo continuou.
— Não gosto daquela família e tenho
motivos para isso, mas acima de tudo
aquela menina brincou com o seu
coração.
Menina. Charlotte não parecia mais
uma menina, no entanto, era uma quando
eles namoraram. Ela só tinha dezoito
anos. Nem mesmo ele era maduro o
suficiente na época.
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— Acho que, — Eduardo pigarreou
antes de continuar, — você nunca deixou
de gostar dela. É admirável que depois
do que você passou, e eu sei que não foi
pouca coisa, você ainda nutra
sentimentos bons por ela.
Era, de alguma forma, reconfortante
falar sobre isso com seu pai. O único
homem que poderia chutar sua bunda e
ele nunca ergueria um dedo para revidar,
mas também o único homem que o
tratava tanto como um garoto quanto
como um homem ao dizer apenas uma
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única frase.
— Não sei como agir, pai. Minha
mente quer uma coisa, mas acho que meu
coração quer outra. E não sei quem
ouvir.
— Se eu fosse sentimental diria para
você ouvir seu coração. Mas você sabe
que seu velho não entende de coisas do
coração.
Marco sorriu, sabendo que o pai
estava sendo sarcástico, pois sabia
perfeitamente que ele entendia muito
bem das coisas do coração. Não tinha
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como ter se casado com sua mãe, uma
mulher geniosa e temperamental, sem ser
loucamente apaixonado por ela, mas não
o desmentiu.
— Eu sugiro que use os dois. Um
cara esperto não é aquele que segue a
razão ou a emoção separadamente, um
cara esperto de verdade é aquele que
flerta com os dois e sai de cara limpa
depois de foder com os dois.
Marco se perguntou se essa era a
hora em que ele deveria dizer ao pai que
não tinha entendido porra nenhuma do
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que ele tinha falado, mas não se deu ao
trabalho, pois Eduardo já estava se
levantando.
— Namore com a razão, case com o
coração. — Eduardo completou com
uma piscadela.
Marco sorriu enquanto Eduardo se
dirigia até a porta, mas por experiência,
ele sabia que o pai não sairia sem dizer
mais uma coisa.
— Odeio o McKeena, filho. Mas
esqueço tudo se for pela sua felicidade,
então me mantenha informado se eu
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precisarei ou não continuar minhas
investigações a respeito dos seus...
contatos mais obscuros.
Marco balançou a cabeça e
acompanhou o pai com olhar pelos
vidros foscos do seu escritório enquanto
ele se afastava até o elevador. Por falar
em contatos, Marco ainda não tinha
recebido a resposta de dois dos seus e
estava ansioso, por isso pegou o
telefone e ligou para o primeiro. Seu
investigador.

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Na manhã seguinte, Marco, ainda na
cama, lia as manchetes de um jornal, que
mostrava no canto inferior uma coluna
sobre Charlotte e o Dr. Ken Reynolds
em um jantar íntimo na noite anterior.
Ele ficou zangado na mesma hora,
amassou o pedaço de papel com toda a
força que tinha e com a destreza de um
jogador de basquete, lançou-o até a lata
de lixo do outro lado do seu quarto.
Pareceria ser muito fácil para
Charlotte encontrar alguém com quem
sair. E é claro que o fato de seu
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investigador, James Hardy, ter pedido
mais um dia para levar a ele suas
descobertas, não estava ajudando em
nada na sua ansiedade e humor negro.
Então como se fosse uma deixa, seu
celular tocou. Era James.
— Bom dia, chefe. Já tenho os
resultados.
Marco caminhou até a cozinha e pôs
grãos na cafeteira para uma xícara de
café.
— Ok, isso é bom. Fale.
— Dr. Reynolds foi o primeiro
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namorado da Srta. McKeena. Descobri
que...
— Espera aí, o quê?
— Sim, minha pesquisa revelou que
ele é um garoto com quem ela teve seu
primeiro envolvimento amoroso ainda
durante o colegial.
Marco então sabia quem era ele. Ken.
É claro. Como não tinha lembrado
antes? O cara que tirou a virgindade
dela. Ela o mencionara quando eles
namoraram, mas nunca contou porque
terminaram. E se estavam juntos agora,
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talvez tivessem resolvido os problemas
de antes.
Porra.
— Continue, James.
— Ahm... Ele é médico na Columbia
e eles se encontraram durante o
concurso de Miss Universo nas
Filipinas. O Dr. Reynolds estava lá
como chefe da missão médica que
colaborou com a Organização Miss
Universo.
— Qual a especialidade dele?
— Ele é cardiologista, senhor.
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— Sei. — Marco respondeu, sem
humor. Sua mente estava divagando por
um lugar não muito agradável. Não
gostava nada do tal médico. Não gostava
nada de ele estar se jogando todo pra
cima da sua Charlotte.
Sim, sua Charlotte. Seus sentimentos
por ela podiam até ser ambíguos, mas
ela era dele.
— Dr. Ken Reynolds ganhou o
prêmio...
— Não... pule essa parte. Não estou
interessado em suas conquistas. Mais
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alguma coisa sobre ele?
— Bom, tenho informações
detalhadas sobre ele e seus pais, número
de identidade, da previdência, até
mesmo o número que calçam.
Não era o que Marco queria.
— Algo sobre seu passado, fora ser o
namorado da Charlotte, que precise de
menção honrosa?
— Ainda não. Ele parece ser o
menino de ouro. Mas posso continuar
investigando.
— Ótimo, faça isso. E me ligue assim
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que conseguir alguma coisa.
— Certo, senhor. Tenha um bom dia.
Marco desligou, seu humor ainda
pior do que quando acordou. Menino de
ouro? Não, Marco não acreditava nisso.
Ninguém é perfeito, e por tudo que é
mais sagrado, aquele doutorzinho
também não era. Não podia ser.
Marco tomou café e foi para o
escritório. Seus empregados sabiam
quando ele estava de mau humor e não o
incomodavam a menos que fosse algo
importante, então quando perto do meio
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dia, a sua secretária lhe passou uma
ligação, ele sabia que só podia ser seu
amigo de faculdade, o único que
conhecia seu sentimento de vingança, o
cara que lhe ajudaria a colocar em
prática o plano que tinha contra
Charlotte. Patrick Matarazzo.

Charlotte havia sido convidada para


um almoço com um jovem empresário
benfeitor, o CEO da Matarazzo
Corporation, e aguardava ansiosamente
por ele no restaurante marcado.

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Aparentemente, o homem queria ser o
investidor que ela tanto precisava e
tinha ligado de manhã para sua
assistente Fiona, marcando um almoço
às pressas, pois tinha um compromisso
em outro continente no final do dia.
— Senhorita McKeena, que prazer
vê-la. Fico feliz que tenha se
disponibilizado a comparecer mesmo
em cima da hora. — cumprimentou
Patrick, ao sentar-se à mesa em que ela
já o aguardava.
— O prazer é meu, Sr. Matarazzo. Eu
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que agradeço sua disposição.
Um garçom chegou para anotar seus
pedidos, trazendo também a carta de
vinhos, e alguns minutos de silêncio
agradável se passou até que o vinho
escolhido fosse trazido e servido.
— Mas devo dizer que estou um
pouco surpresa com o seu convite, Sr.
Matarazzo. — Charlotte disse depois de
tomar um gole do seu Chardonnay.
— Bom, eu ouvi seu apelo. —
Patrick disse, e completou com um
pequeno sorriso. — Nada sutil, devo
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dizer.
Charlotte corou um pouco. Não
queria ser derrotada e diante dos vários
"Não" que recebeu de gerentes de
bancos, negando-se a lhe concederem
um empréstimo, se viu obrigada a
apelar, atirando para todos os lados,
enviando e-mails, discretos e diretos ao
mesmo tempo, para vários empresários
de Nova Iorque. No entanto, não se
lembrava de ter mandado algum para o
Sr. Matarazzo.
— E decidiu que quer investir na
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minha empresa? — perguntou Charlotte,
não querendo parecer mal agradecida.
Na verdade a oferta do Sr. Matarazzo
era sua salvação, já que fecharia a
empresa, mas não pediria ajuda aos seus
pais.
— Bom, sim. Eu gosto de investir em
gente que está começando. Gosto de ver
algo com o qual tive participação
crescer.
Meio arrogante da sua parte,
Charlotte quis dizer, mas segurou a
língua.
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— Certo. E então? Qual sua oferta?
O garçom voltou com a comida dos
dois e Charlotte contou os segundos até
que estivessem a sós, pois estava
ansiosa demais com a resposta de
Patrick.
— De quanto precisa? — Patrick
perguntou sem preâmbulos.
— Oh, isso é um pouco embaraçoso.
Mas... eu preciso comprar mais
maquinário e aumentar a mão de obra, é
claro. Os meus fornecedores precisam
de um pagamento adiantado, devido ao
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número crescente de pedidos devido à
Fashion Week.
— Humm. — Patrick gemeu em
apreciação à comida. — Então quanto?
— Patrick falava de dinheiro como se
estivesse falando da entrada do seu
almoço e como por coincidência... —
Está uma delícia isso, não?
— Ah, sim. — Charlotte respondeu
mais por educação do que por qualquer
coisa, pois a comida estava com gosto
de palha seca em sua boca devido o seu
nervosismo. — Bom, acho que cerca de
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dois milhões de dólares.
— OK. — ele respondeu
simplesmente.
Charlotte precisou tomar um gole de
vinho para não engasgar e jurou ter visto
um discreto sorriso nos lábios dele, mas
fingiu não notar.
— Faremos o seguinte, senhorita
McKeena, investirei cinco milhões, acho
que isso é suficiente para colocar a
empresa nos eixos, mas quero participar
ativamente dela.
— O que quer dizer? Tipo uma
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porcentagem nas ações?
— Sim. Digamos que eu fique com...
quarenta por cento da empresa?
Charlotte não sabia muito bem como
reagir, mas achou que a oferta dele
estava boa demais. Cinco milhões era
mais do que necessário para sustentar a
empresa por alguns anos e ele apenas
pedir quarenta por cento das ações...
Bom, ela não tinha checado a Bolsa
recentemente, mas sabia que sua
empresa, tão nova, não valia tanto
assim. Logo, parecia um negócio
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injustamente justo.
— O que me diz, Srta. McKeena? Se
precisar de um tempo...
— Ah, não. Não é necessário.
Charlotte não queria perder a
oportunidade. E se ele se arrependesse?
Não. Tinha que decidir já, afinal, não
via nenhum mal no que ele estava
propondo.
— Que ótimo. Vou pedir que meu
advogado redija um contrato e lhe
entregue para que possa analisar e então
fechamos o negócio.
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— Bom, obrigada.
— Não agradeça, é um prazer.
E pronto, estava resolvido. As coisas
são muito fáceis no mundo de quem tem
dinheiro de sobra. Ela sorriu e continuou
a comer, sentindo como se uma grande
pedra tivesse sido tirada dos seus
ombros. Quando terminaram, ele pagou
o almoço e apertou sua mão, beijando-a
logo em seguida, num gesto
cavalheiresco.
— Espero que como minha nova
sócia, aceite participar do baile
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beneficente que darei no fim de semana.
É para uma causa nobre e eu garanto que
não irá se arrepender.
— É claro. Será uma honra.
Dois dias depois, o contrato foi
assinado. O dinheiro foi depositado na
conta da Glitz Fashion Company. O Sr.
Patrick Matarazzo tinha direito a uma
quota de quarenta por cento da empresa
de Charlotte e ela tinha verba suficiente
para fazer o negócio crescer. Sim, ela
venceria.
No final da mesma tarde, outro
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contrato estava sendo assinado, com
quatro pessoas sentadas em uma mesa
redonda. Dois homens e dois
advogados.
— Parabéns, Marco. Você agora é
dono de quarenta por cento das ações da
Glitz Fashion Company. — disse Patrick
ao amigo.
— Obrigado pela ajuda, amigo. Te
devo uma. — Marco respondeu.

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13

— E aí, Pat? Sobre o quê tanto vocês


falaram no almoço? — Após o contrato
assinado, Marco e Patrick foram até o
bar do St. Regis para tomar um drinque
e comemorar o acordo firmado entre os
dois. Ou melhor, os três, mesmo que uma
das partes ainda estivesse no escuro.

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— Sobre nada em especial, apenas
de negócios. — Patrick respondeu
enquanto bebericava. Mas tinha um
sorriso no rosto e isso deixou Marco
com uma pulga atrás da orelha.
A verdade é que Patrick estava
curioso sobre a tal garota. Sabia tudo
sobre ela, claro, tudo o que Marco havia
lhe contado, mas depois de conversar
com ela por quase uma hora enquanto
almoçavam, Patrick não achava que ela
era o monstro que o amigo pintava.
— Achei que não era para haver
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segredos entre nós. Pelo menos não em
relação à minha Charlotte.
Minha Charlote? Patrick pensou,
satisfeito. O amigo estava em apuros. O
tipo de apuros que pode deixar um
homem louco. Deus sabe que ele mesmo
estava passando por uma situação
parecida com sua Elena. A diferença é
que era o pai de Elena que Patrick
queria machucar, Marco queria
machucar a mulher que amava.
— Não há necessidade de me mostrar
a quem a loirinha pertence, meu amigo.
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Jamais ultrapassaria os limites da nossa
amizade e você sabe disso. — Patrick
disse com um sorriso açucarado. Marco
não melhorou sua cara, no entanto.
— Fala de uma vez.
Patrick respirou fundo e contou que
convidou Charlotte para o baile
beneficente da Fundação Matarazzo
contra o Câncer Infantil no fim de
semana, e que ela, muito alegremente,
aceitou comparecer.
— E o que eu devo esperar desse
baile?
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— O de sempre. Mas eu tenho um
programa para o evento e acho que você
vai gostar muito. — Patrick sorriu
diabolicamente e Marco o acompanhou.
Conhecia bem aquele homem, era seu
melhor amigo, então sabia que seja lá o
que fosse, seria realmente bom.
— Mal posso esperar.
— Ela é muito interessante, sabe. A
sua Charlotte.
— O que quer dizer com isso? —
Marco perguntou, fazendo um gesto para
o garçom servi-lo novamente.
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— Ela me contou algumas coisas
sobre sua empresa. Sabia que os pais
dela não aprovam?
Marco não sabia disso, é claro. Por
que saberia? Para ele, todos os
McKeena viviam sua vida tranquila e
um sempre fazia o que o outro queria.
— Ela disse que estava aliviada por
não precisar mais fechar a empresa.
Claro, porque preferia fechá-la a pedir
ajuda aos pais.
Marco continuou calado. Seu amigo
estava sabendo de mais coisas sobre
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Charlotte do que ele. Essa foi uma
sensação que não o agradou nem um
pouco. Não por que achasse que Patrick
ousaria se aproximar dela – Marco
sabia que Patrick amava Elena e tinha
planos para ela, apesar da vingança
contra seu pai –, mas porque outra
pessoa parecia saber coisas mais
importantes do que ele.
— Sabe amigo, acho que você
deveria tomar cuidado com o que vai
fazer. Você, em todos esses anos, já
parou para se perguntar por que ela fez
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aquilo? Já considerou ouvir a história
toda?
Patrick deu um tapinha amigável no
ombro de Marco, bebeu o resto do seu
drinque e se levantou do bar. Tinha
muitas outras coisas que fazer.

— Nossa décima e última solteira é


ex-detentora do título de Miss Universo,
proprietária da Glitz Fashion Company e
filha do proeminente senador do Estado
de Nova Iorque. — O MC do leilão de
caridade do baile da Fundação fez uma

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pequena pausa dramática. — Vamos
todos dar boas vindas à senhorita
Charlotte McKeena!
Charlotte saiu de trás das cortinas e
foi para o centro do palco, ovacionado
pelos presentes, que não podiam ver
como ela estava tremendo. Pai celestial!
A situação em si não era nada
diferente das diversas vezes em que
Charlotte ficou na frente de uma
multidão, sendo o centro das atenções,
mas o que ela estava fazendo ali era o
que a estava deixando nervosa. Ser
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leiloada. Ser comprada por algum
magnata rico, provavelmente careca e
barrigudo, que a levaria para jantar, e
sabe-se lá o que mais tentaria, na noite
seguinte.
Mas ela não teve como dizer não
para o seu novo sócio. Patrick
Matarazzo tinha salvado sua pele ao
investir na sua empresa, e os ganhos do
leilão iriam para uma excelente causa.
Portanto, tudo o que Charlotte podia
fazer era ser o centro das atenções mais
uma vez, o evento principal do leilão. O
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prêmio.
O maior lance tinha saído para a
quarta garota, uma modelo da Victoria
Secrets. O interessado senhor de idade
que a levou, comprou-a por uma
bagatela de 150 mil dólares. E esse era
o lance mínimo para ela agora. Por mais
que não gostasse da ideia de ser
vendida, Charlotte também sentia um
frio na barriga por ser colocada em tão
alta taxa. E se ninguém achasse que
valia a pena gastar tanto dinheiro por um
jantar com ela? E se ninguém desse um
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lance tão alto? Ela seria humilhada.
Charlotte precisava de alguém em
quem focar. Alguma pessoa que a fizesse
manter a calma, e desejou ter convidado
Ken para ir com ela, mas entendia que
seu plantão no hospital era uma coisa
muito mais importante. Além do mais,
não seria justo com o pobre homem
continuar a sair com ele, sem dar-lhe a
chance real de conquistá-la novamente,
e sem dizer definitivamente que os dois
não tinham como engatar um novo
namoro.
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Eu estou usando ele. Ela pensava,
toda vez que ligava e o chamava para
sair. Assim como quando Marco
mandou-lhe flores e em seguida ligou
para ela dizendo que aquilo era uma
oferta de paz. Ela ligou para Ken e o
convidou para ir a uma pizzaria, pois
precisava tirar o ex da cabeça. Não era
prudente, não era justo, mas sofrer por
Marco também não era.
O leilão começou e Charlotte
balançou a cabeça para desanuviar a
mente. Alguns poucos minutos depois,
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os lances já estavam na casa de 230 mil
dólares. Sua preocupação em pagar o
maior mico tinha sido uma tremenda
bobagem, mas agora ela estava
enervada. O que aqueles homens
poderiam querer com ela para pagarem
um preço tão alto?
— Duzentos e cinquenta mil dólares.
— disse um senhor baixinho, gorducho e
careca, assim como ela imaginava.
Talvez ele fosse uma companhia
agradável, mas Charlotte não seria
hipócrita e dizer que não preferia ser
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comprada por alguém que tivesse todos
os dentes e pelo menos o dobro da sua
idade. Um homem que parecesse seu avô
ou mais era um pouco demais para
suportar.
Calma, Charlotte. É só um jantar,
aqui não é uma casa de prostituição.
Ela teve que lembrar a si mesma.
— Trezentos mil dólares. — disse
outra voz. Charlotte se arrepiou.
Conhecia aquela voz. Mas estava vendo
seu dono, por mais que procurasse o
rosto entre os muitos ali.
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— Trezentos e vinte mil dólares. —
irritou-se o senhor baixinho e careca.
Ele não conseguia imaginar que outra
pessoa iria querer colocar as mãos em
sua preciosidade loira.
— Quatrocentos mil dólares. —
aumentou a outra voz.
A multidão estava barulhenta agora.
Eles se divertiam e ovacionavam cada
vez que o lance subia.
— Ora, ora, ora. — disse o MC. —
Que jogadores excepcionais. Quem quer
aumentar a oferta?
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As pessoas ficaram de pé. O senhor
baixinho e careca olhou de um lado para
o outro, querendo achar seu concorrente,
mas onde quer que ele estivesse, não
estava às vistas.
— Ora, mas que droga, quatrocentos
e cinquenta mil dólares. — sorriu o
velho, pois não tinha como alguém dar
um lance maior que o seu. Quem se
atreveria?
Houve uma pausa. Ninguém falou
nada, nem mesmo o MC, todos
esperando que aquele fosse mesmo o
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último lance. Mas do fundo do salão,
Marco veio andando com um sorriso
convencido e os braços abertos em uma
pose arrogante, vestindo um smoking
azul escuro, então anunciou.
— Um milhão de dólares. À vista.
A boca de Charlotte caiu. A de todo
mundo, por assim dizer. Até o MC
pareceu perder a voz por um minuto
inteiro antes de voltar ao falatório.
— Um milhão de dólares para o
senhor de azul. Dou-lhe uma.
Marco encarou o velho.
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— Dou-lhe duas.
E sorriu. O MC olhou na direção do
senhor e pediu uma confirmação... que
não veio. Ele abaixou a cabeça e fez um
gesto desdenhoso com a mão.
— Vendida!
Todos bateram aplaudiram,
entusiasmados. Marco sorriu ainda mais
diante da expressão taciturna de
Charlotte.
— Parabéns ao nosso maior lance. O
cavalheiro pode vir ao palco buscar seu
prêmio. Um jantar com a senhorita
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McKeena.
A multidão aplaudiu de novo
enquanto Marco se encaminhava para o
palco e pegava Charlotte pela mão,
sorrindo sempre, como o bom bastardo
que era. Eles desceram e após serem
cumprimentados por algumas pessoas,
Charlotte e Marco foram para trás das
cortinas, onde ela tirou o sorriso falso
que ostentava.
— Como você pôde?
— O quê? Doar um milhão de
dólares para crianças com câncer?
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Acredite, não foi sacrifício algum.
— Você não fez isso por ser um
filantropo e sabe disso. Eu não vou sair
para jantar com você.
— É claro que vai. Não quer que eu
diga a todos que a senhorita McKeena
não tem palavra, quer?
Charlotte fez cara feia. Isso seria
péssimo, não só para a sua imagem, mas
para a da Fundação. E ela tinha certeza
de que seu novo sócio não iria gostar
nem um pouco se ela tomasse a atitude,
digamos, de mandar Marco para o
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inferno e não sair com ele.
— Eu vou buscar você amanhã às
sete no seu apartamento. Vou levá-la a
um lugar que você não vai esquecer
nunca.

Exatamente às sete horas da noite, o


telefone tocou no apartamento de
Charlotte. Era da recepção, perguntando
se podiam deixar Marco Villa-Lobos
subir? Charlotte estava pronta, então
disse que não. Ela iria descer. Assim,
entrou no elevador e aguardou alguns

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tensos minutos até descer os dez
andares.
Ao sair das portas duplas, Charlotte
imediatamente atraiu a atenção dos
estavam por ali. Ela vestia um Valentino
vermelho tubinho e um par de Jimmy
Choo altíssimo. As argolas de ouro
branco nas orelhas eram uma visão à
parte. Ela estava deslumbrante.
Um jovenzinho quase torceu o
pescoço enquanto ela passava. O
porteiro olhou embasbacado para ela,
antes de bater na aba do quepe e abrir as
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portas de vidro do prédio. Ela sentia-se
linda e poderosa, mas ao chegar à
calçada e dar de cara com Marco –
vestido com uma jaqueta de couro preta,
calças jeans, botas – encostado em uma
Ducati preta e com dois capacetes no
colo, ela fechou os olhos frustrada e
sentiu um frio na barriga.
Filho da mãe. Ele tinha feito isso de
propósito. Disse que iriam jantar e vem
buscá-la vestido assim? Ele não iria a
um restaurante respeitável vestido como
um roqueiro do submundo.
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— Charlotte, você está maravilhosa.
Espero que seu vestido não impeça você
de subir na moto ou então teremos que ir
a pé.
Ela olhou para os saltos que usava e
lançou um olhar mortal para Marco. Só
se ela quisesse chegar ao lugar com os
pés quebrados ou apenas de madrugada.
— Não se preocupe. — ela
respondeu, tentando fingir que não
estava queimando de raiva por dentro.
— O vestido tem uma fenda que não irá
atrapalhar.
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Ela se recusava a deixá-lo saber que
estava com raiva. Recusava-se a pedir
para trocar de roupa. Recusava-se a dar
o gostinho a ele. Então apenas apoiou-se
no ombro dele e subiu na moto,
colocando o capacete em seguida.
Seria uma longa noite.

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14

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Patrick e Elena

Patrick estava a caminho de casa


após um longo de dia de trabalho. Se
tudo desse certo essa noite, ele e Elena
poderiam tentar progredir na relação
estranha que estavam tendo. Ela ainda
sentia-se mal por estar na casa dele
contra sua vontade, mas não tinha como
dizer não. Essa foi a condição que
Patrick impôs para não liquidar de vez a
empresa do pai dela pela dívida que
tinha com ele.
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Patrick passou as mãos pelo rosto e
apertou com força o volante. Tudo o que
ele queria era poder amar uma mulher
que não fosse filha do seu pior inimigo.
Do homem que tinha lhe ferido tanto. Do
homem que tinha tentado matá-lo e que
tinha conseguido matar sua amada mãe.
Enquanto estava parado em um
semáforo, lembrou-se de quando morava
no Brasil, quando seu nome ainda era
Felipe Martins, o filho pobre de uma
vendedora de cosméticos, não Patrick
Matarazzo, herdeiro bilionário de um
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grande minerador italiano.
A vida para ele tinha mudado muito
desde que seu avô, havia mais de dez
anos, após quase esse mesmo tempo,
conseguiu encontrá-lo, quase morto
devido ao incêndio criminoso ao qual
foi sujeitado pelo pai da garota que ele
amava. O garoto antes pobre agora era
dono de uma fortuna de dar inveja a
empresários renomados, nascidos em
berço de ouro.
Giorgio Matarazzo, dono da
Matarazzo Corporation, perdera o filho
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havia alguns meses quando finalmente
encontrou o neto que ele sabia que
existia, mas de quem não tinha
permissão para se aproximar. O garoto
de dezesseis anos estava embaixo se
uma grande viga de madeira com parte
do corpo esfaqueada e queimada,
disseram os investigadores particulares
quando o encontraram e o levaram para
o hospital. Foi um verdadeiro milagre
ter sobrevivido.
Quando acordou no hospital de Nova
Iorque, Felipe deu de cara com o homem
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que mudaria sua vida para sempre. Ele
lhe contou quem era, o que acontecera
com ele e quem era a pessoa
responsável por isso. O pai da sua
namorada Elena Pacheco.
Diante da raiva, da mágoa e da dor, o
garoto não quis mais voltar ao Brasil
sendo quem era e decidiu ficar nos
Estados Unidos com o avô, onde passou
por inúmeras cirurgias reconstrutivas e
decidiu mudar seu nome para nunca mais
ter que se lembrar de quando era um zé
ninguém.
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Quando fez vinte e três anos, seu avô
se afastou da presidência da Matarazzo
Corporation e deixou Felipe – agora
Patrick – em seu lugar como CEO. Foi
quando ele começou a colocar em
prática a vingança que vinha
alimentando em sua mente por anos.
Tiraria tudo do homem que tinha
destruído sua vida, inclusive sua filha. E
para isso, ele seria advogado e juiz, juiz
e carrasco.
Por sorte, a empresa de
telecomunicações de Luís Fernando
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Pacheco passava por algumas
dificuldades financeiras e Patrick
resolveu ajudá-lo, concedendo-lhe um
empréstimo, com o intuito de tê-lo em
suas mãos quando chegasse a hora. E
assim aconteceu. Três anos depois,
Patrick investiu em outra empresa de
telecomunicações, que se tornou a pior
rival de Luís Fernando, tirando-lhe a
maioria de seus clientes, e isso fez com
que o homem praticamente declarasse
falência à Receita Federal do Brasil.
A segunda parte da sua vingança
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estava prestes a começar. Voltar ao
Brasil e pedir o dinheiro que tinha
emprestado ao seu inimigo, sabendo que
ele não teria como pagar. Assim, ele
poderia tirar tudo dele e deixá-lo na
miséria. Essa parte tinha sido a mais
satisfatória de todas. Ver o desespero no
rosto do homem quando foi anunciado
em sua reunião de acionistas que tinha
chegado a hora de pagar sua dívida, nem
que ele tivesse que liquidar todos os
seus bens para isso.
Patrick humilhou Luís Fernando
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diante de todos da diretoria da sua
maldita empresa. Praticamente fez com
que ele implorasse por misericórdia e
pedisse mais tempo para tentar pagar a
dívida. Patrick não podia provar que ele
havia tentado matá-lo, mas podia
mandá-lo para a cadeia por outros
motivos, entre eles, a dívida milionária
que tinha.
Foi quando ele viu Elena. Ela entrou
na sala de reuniões e sentou-se ao lado
do pai, claramente preocupada com a
situação financeira que enfrentavam.
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Patrick não conseguiu tirar os olhos dela
e foi quando teve a melhor ideia da sua
vida. Ele daria mais tempo a Luís
Fernando para pagar a dívida se em
troca Elena aceitasse ser sua...
acompanhante.
É claro que essa proposta não foi
feita na sala de reuniões, e sim em um
jantar, horas mais tarde. Por mais que
odiasse Luís Fernando, ele amava Elena,
e não a colocaria em uma situação tão
desconfortável na frente de todos
aqueles homens da diretoria da empresa
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da sua família.
— Isso é um disparate. — Luís
Fernando disse depois de ouvir a
proposta de Patrick. — Não basta
cobrar sua dívida toda de uma vez,
colocar o bem estar da minha família em
risco por causa disso e criar uma
situação em que eu terei que decretar
falência mais cedo ou mais tarde, você
ainda quer a minha filha?
— Eu sou um homem de negócios, Sr.
Pacheco. E como um homem de
negócios, não tenho tempo para namoro
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e essas bobagens. Mas preciso estar
cercado das melhores companhias.
Acredite, sua filha é exatamente o que eu
preciso. — Patrick respondeu sem se
alterar pela voz firme do homem à sua
frente.
— Elena não é uma prostituta.
— E eu não estou dizendo que é. Ela
apenas deverá ficar comigo para me
acompanhar quando eu for a algum
evento. Eu disse que quero uma
acompanhante, não uma puta.
— Eu posso opinar ou só uma mera
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expectadora? — Elena perguntou,
pronunciando-se pela primeira vez
desde que o jantar havia começado.
— Claro, minha filha, você pode
dizer a esse sem vergonha que não
aceitará uma proposta tão indecente.
Mas antes que Elena pudesse falar
qualquer coisa, Patrick fez questão de
esclarecer as coisas.
— Eu estou voltando para Nova
Iorque em dois dias, Sr. Pacheco. Se sua
filha não vier comigo, eu executarei
cada parte da sua dívida. Levarei você a
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juízo, seja aqui no Brasil, seja nos
Estados Unidos. Então pensem com
cuidado na decisão que vão tomar. Você
ainda pode me pagar se tiver tempo, mas
se eu resolver cobrar agora, você está
arruinado.
Patrick não deu chance para Luís
Fernando resmungar seus impropérios. E
Elena não teve opção a não ser se
sujeitar a um homem que ela não
conhecia, mas com quem teve uma forte
ligação desde a primeira vez que o viu,
sentindo que de alguma forma o
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conhecia. Dessa forma, ela foi para
Nova Iorque com Patrick para dar uma
chance ao se pai de pagar a dívida,
porém não estava feliz.
Agora, tudo o que Patrick mais queria
era poder dizer a ela que ele era Felipe,
o amor da sua vida que ela pensava
estar morto, mas sabia que não podia,
pois implicaria em duas coisas: perdoar
Luís Fernando pelo seu crime se
quisesse ficar com ela ou perdê-la para
sempre por ser o homem que mandaria
para a cadeia o seu pai. E nenhuma das
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duas coisas parecia ser boa para
Patrick.
Durante dez anos ele maquinou sua
vingança contra o Sr. Pacheco. Durante
dez anos ele sabia o que tinha que fazer
para deixá-lo na ruína. Mas só bastou
um segundo para foder com tudo. Só
bastou olhar para Elena mais uma vez e
deixar tudo se complicar.
Ele a amava. Ele a queria. Mas não
sabia como amá-la e odiar seu maldito
pai ao mesmo tempo. E sabia que mais
cedo ou mais tarde as coisas se
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complicariam de um jeito que ele teria
que tomar uma decisão drástica. Só
esperava que essa decisão não fosse
partir seu coração ou quebrar sua alma
mais uma vez.

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15

Marco estacionou a moto na frente de


um bar no Bronx.
Um lugar horrível para os padrões
que tanto ele como Charlotte estavam
acostumados. E é claro que isso era
proposital.
Charlotte desceu da moto e após uma
pausa, tirou o capacete e olhou para o

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lugar para onde o filho da mãe a havia
levado. Marco estava claramente se
divertindo, esperando que ela falasse
alguma coisa.
— Você me trouxe para um maldito
bar? — ela não queria reclamar, mas
não conseguiu se conter. Porra, o que era
aquilo?
Ele sorriu antes de responder.
— Qual o problema? Não é como se
você nunca tivesse ido a um, não é?
Charlotte fechou a cara. Ele
claramente estava se referindo ao bar
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em que ela foi quatro anos atrás. O bar,
cuja visita, fez com que ela cometesse o
maior erro de sua vida no dia seguinte.
— Tudo bem, Marco. Se é assim que
você jogar, então vamos jogar. — ela
disse com um falso sorriso depois de
respirar fundo.
Charlotte jogou o capacete para ele e
pelo menos teve a satisfação de vê-lo
xingar quando não conseguiu pegá-lo
antes que caísse no chão. Em seguida, os
dois entraram no bar de lona vermelha e
placa de neon verde.
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Lá dentro, rolava um som
underground. Um rock pesado ou o som
de cachorros latindo... Charlotte não
soube diferenciar. Não era um bar de
motoqueiros, aliás, eles nem sabiam se
existia algum em Nova Iorque, mas se
parecia bastante com um. Todo mundo lá
dentro parecia ser do tipo de pessoa que
frequentava a noite perigosa da cidade.
As mulheres tinham maquiagem pesada e
se vestiam de couro praticamente dos
pés à cabeça e os homens, basicamente
o mesmo, só que de uma forma bem
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menos sexy e provocante.
— Você é mesmo um bastardo filho
da mãe.
— Olha a boquinha. — ele disse com
um sorrisinho safado.
— Estou sendo bem educada,
acredite. — ela disse, dando a ele um
olhar mortal.
E estava mesmo. As palavras que
rondavam a cabeça de Charlotte naquele
momento não eram mais bonitas do que
as que ela tinha falado. Ela estava
irritada e tinha todos os motivos para
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isso. Não via problema em estar ali, na
verdade, mas a forma como ela estava
vestida não era apropriada. Ela estava
com um vestido que normalmente seria
usado para um jantar em um restaurante
chique, ou para ir a um show na
Broadway, ou qualquer outra porcaria
do mundo glamoroso de Nova Iorque.
Não estava vestida para estar num bar
do subúrbio. E os risinhos das garotas
por quem ela passava, obviamente se
divertindo às suas custas, a estavam
deixando ainda mais irada.
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Marco puxou uma cadeira no balcão
do bar para ela e sentou-se ao seu lado,
totalmente satisfeito. Sua escolha para a
noite não poderia ter sido melhor.
Assim, ele poderia se dar ao luxo de
tomar uma boa cerveja – pois sabia que
apesar da aparência, aquele era um dos
melhores bares do bairro – e assistir
Charlotte irritada do jeito que ele
queria.
— Eu vou querer uma Guinness. —
Marco pediu ao barman assim que este
veio tomar notas do pedido deles. — E
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você Charlotte? Talvez um coquetel?
Os olhos de Marco brilhavam
diabolicamente e Charlotte recusou-se a
fazer cara feia novamente. Tinha
entendido a intenção de Marco e o faria
pagar por isso.
— Na verdade, eu também quero uma
cerveja. Stella Artois.
O barman anotou o pedido dos dois,
sorrindo.
— Traga também um cheeseburger
duplo e uma porção gigante de batata
frita.
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Marco arregalou os olhos, surpreso
pelo pedido dela. Mas depois sorriu e
pediu o mesmo para si. Ele iria curtir
muito essa noite.
Houve um minuto ou dois de silêncio
e então ela resolveu quebrá-lo.
— E então? Por que me comprou no
leilão?
— Eu queria doar dinheiro para uma
boa causa.
— Jura? Mas não havia outras
mulheres lá? Por que eu?
— Eu queria doar uma boa quantia,
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Charlotte e Deus sabe que você era a
única naquele palco com quem valia a
pena gastar tanto dinheiro.
Charlotte ficou calada.
Completamente em choque. Marco só
podia ser louco. Como poderia ser um
sádico insensível uma hora e um amor
de pessoa na outra?
— Olha, eu acho que sem querer
você me fez um elogio. — Charlotte
provocou. Ele sorriu.
— Foi totalmente intencional,
acredite.
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— Bom, obrigada por gastar tanto
dinheiro por minha causa.
— Você ficaria surpresa. — ele
murmurou.
— O que disse?
— Esquece.
O barman voltou com os pedidos
deles e após abrirem as cervejas,
brindaram batendo uma garrafa na outra,
tomando um gole logo depois.
— Eu não entendo você. — Charlotte
riu. — Você pode ser um cara legal
quando quer, mas faz coisas que me
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deixam sem palavras.
Marco jogou uma batata frita na boca
e a engoliu antes de perguntar.
— O que quer dizer?
— Por que me trouxe a esse bar,
Marco? Você poderia pelo menos ter me
avisado.
— E qual seria a graça? — ele
piscou um olho para ela e a fez se virar
para ver algumas meninas atrás deles
que não paravam de olhar na direção
dos dois. — Está vendo aquelas
meninas? Não tem uma delas que não
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queira ser você.
— Vai dizer que é porque eu estou
deslumbrante? — Charlotte bateu os
cílios, fazendo charme.
— Na verdade, eu ia dizer que é
porque você está comigo e elas estão
com inveja, então...
Charlotte deu um tapa no braço dele,
que por sua vez, começou a rir.
— Vai lamber sabão antes que eu
esqueça. — ela atirou.
Charlotte começou a comer e não
olhou para Marco – que tentava com
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muito empenho não sorrir – até chegar à
metade do cheeseburger. Foi quando ela
viu um bilhete ser colocado na frente
dele pelo barman, mas fingiu que não
estava prestando atenção. Porém, pelo
canto do olho, viu quando Marco franziu
a testa e ignorou o papel. Ela conseguiu
ler, não tudo, mas o suficiente para fazer
sua cabeça ferver.

Quando a patricinha for embora, me


liga.

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Alguma das vadias que riam dela
estava claramente se jogando em cima
de Marco como se ele fosse um pedaço
de carne em um açougue e o fato de se
referirem a ela como uma patricinha que
não se encaixava ali, a deixou mais
incomodada do que antes. Ela tinha que
fazer alguma coisa.
— Com licença. — Charlotte
levantou-se, não dando chance a Marco
de perguntar aonde ela ia.
Ela andou até o banheiro feminino e
lá, esperou até que a garota – que ela
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sabia ser a dona do bilhetinho – entrar.
Charlotte estava se arrumando o cabelo
no espelho quando a garota cruzou a
porta acompanhada de uma amiga.
— Ele é lindo, não é? — Charlotte
perguntou alto e claro, deixando ambas
as meninas boquiabertas. — O cara que
tá comigo. Ele é gostoso demais, não é?
A Senhorita Bilhetinho Anônimo deu
um sorrisinho convencido. A garota só
podia estar louca se achava que Marco
lhe daria bola só porque estava vestindo
couro preto, distribuído entre calça,
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jaqueta e botas. Charlotte estava em um
Valentino exclusivo e seu Jimmy Choo
era uma preciosidade rara.
— É sim. E pra falar a verdade, acho
que ele poderia estar melhor
acompanhado.
— Quer dizer com você? —
Charlotte tirou a tampa do seu batom e
aplicou um pouco enquanto elas a
olhavam através do espelho.
— Você claramente não pertence a
esse lugar.
Charlotte sorriu.
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— Nem ele, sabia? Eu perdi uma
aposta, só isso. Na verdade aquele
gostosão lá fora come na palma da
minha mão e se você acha que pode
fazê-lo olhar pra você com um
bilhetinho, coitadinha, não faz ideia de
como eu sei domá-lo.
A garota fechou a cara, mas tomou as
palavras como um desafio.
— Acho que até o fim da noite nós
veremos se isso é mesmo verdade. —
ela disse, preparando-se para sair do
banheiro.
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— Acho que seria melhor você
procurar algo para se distrair, meu bem,
pois o fim dessa noite já é certo e é na
minha cama que ele vai dormir. Ops, ou
melhor, onde não vai dormir.
A garota saiu soltando fogo pelas
ventas e Charlotte, satisfeita, esperou
uns minutinhos antes de sair também. Ao
olhar na direção de Marco, viu que
outras mulheres estavam por perto,
azarando-o. Ora, pelo amor de Deus, ele
não podia ficar um minuto sozinho sem
que esse bando de galinhas fosse
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cacarejar no seu terreiro?
— Caiam fora agora. — Charlotte
disse ao sentar no seu banquinho,
olhando incisivamente para cada uma
daquelas mulheres. Elas piscaram e se
afastaram.
Marco deu uma olhadinha rápida de
lado para Charlotte e sorriu ao notar que
ela estava com ciúmes.
— Elas só estavam me oferecendo o
número do celular.
— Qual? Zero oitocentos vadia?
— Não precisa ficar emburradinha.
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Eu nem toquei nelas. — Marco disse,
levantando as mãos.
Charlotte estreitou os olhos. Ele
estava se achando demais, mas ela não
queria que a garota do bilhete pensasse
que ela não podia dar conta da situação,
então sorriu para Marco e chamou para
jogar sinuca.
— Você nem acabou de comer. — ele
disse, apontando para a metade do
cheesburger e a porção quase intacta de
bata frita ainda no prato dela.
— Está com medo de perder para
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uma mulher, Marco?
— Medo? Eu? De uma garotinha
como você? Faça-me o favor. — ele
desdenhou.
— Ora, então vamos. Deixa a comida
aí, já está fria mesmo. Quando eu acabar
com você, pode comprar outro
cheesburger para mim.
— Você não vai ganhar de mim,
Charlie.
— Quer apostar? — Charlotte
perguntou, tentando não se afetar pela
forma como ele a chamou.
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— Tudo bem. Se você ganhar, pode
pedir qualquer coisa de mim. — ele
disse e ela sorriu. — Mas se eu ganhar,
eu vou pedir qualquer coisa de você.
— Ok.
— É qualquer coisa, hein.
— Qualquer coisa.
Marco soltou uma gargalhada e se
levantou, estendendo a mão para ela.
Eles foram para uma mesa que estava
vazia e pegaram dois tacos.
— Prepare-se para perder, querido.
— Charlotte disse, sorrindo e mostrando
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todos os dentes no processo.
— Na verdade...
— Se importam se mais duas
jogadoras se juntarem a vocês?
Charlotte olhou para o lado e viu a
senhorita vadia bilheteira com um
sorriso afetado e a amiguinha sem graça
dela, ambas olhando para Marco com
olhos pidões.
— Sinto muito, querida, estamos
apostando. — Charlotte disse,
colocando o triângulo no centro da
mesa.
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— Nós também. — ela respondeu.
Charlotte se empertigou e se
aproximou da garota, ficando cara a cara
com ela. A garota, por sua vez, não se
intimidou. A encarou de volta. Marco
pigarreou.
— Seria maravilhoso formarmos
duas duplas. Acho que as coisas
acabaram de ficar muito mais
interessantes.
Charlotte não queria que as duas
vadiazinhas soubessem que ela estava
uma pilha de nervos no momento, muito
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menos que Marco visse que ela estava
com ciúmes, então deu um sorriso falso
às duas intrometidas e concordou com
um aceno de cabeça.
— Muito bem, Marco e eu...
— Oh não, eu e você apostamos um
contra o outro lembra? O que quer dizer
que você vai escolher uma delas para
ser sua dupla enquanto eu fico com a
outra.
— Por que não faz dupla comigo,
gato? — a oferecida praticamente se
jogou em cima de Marco, sorrindo
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descaradamente.
— Você se opõe, Charlotte? —
Marco perguntou com um sorriso de
lado e Charlotte percebeu que ele estava
jogando. Ele sabia exatamente qual era a
situação ali e nem morta ela faria uma
ceninha.
— Claro que não.
— Então, quais são as apostas? — a
amiga da oferecida perguntou.
— Entre eu ela? Quem ganhar pode
pedir o que quiser ao outro. — Marco
respondeu, com o queixo apoiado na
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mão sobre o seu taco. — O que vocês
propõem?
As garotas se entreolharam e
concordaram com alguma coisa entre si.
— Se eu e ela ganharmos, vocês
pagam as bebidas até o fim da noite. —
a amiga disse e Charlotte achou o
pedido razoável. Marco concordou.
— Mas se você e eu ganharmos, — a
oferecida falou, — além de você cobrar
sua dívida a ela, eu também quero uma
coisa.
— Claro. — Marco respondeu com
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seu melhor sorriso sedutor. — E o que
seria?
— Você.
Charlotte sentiu os pelos do pescoço
se arrepiarem. De repente, ela tinha que
ganhar a qualquer custo, pois de maneira
alguma ela deixaria Marco ir embora
com aquela vadia bem debaixo do seu
nariz.
Marco tinha razão, a aposta tinha
acabado de ficar muito mais
interessante.

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16

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Patrick e Elena

Patrick estacionou o carro na


garagem da sua casa, mas não saiu
imediatamente, pois estava nervoso. Até
parece que tenho quinze anos
novamente. Ele tinha comprado uma boa
garrafa de Bollinger Rose e pedido para
sua governanta, Sra. Philips, preparar
um jantar especial. Fazia três semanas
que Elena morava com ele e não tinha
aceitado nenhum dos seus pedidos para
sair. Ele só poderia tentar fazer com que
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o “encontro” fosse em casa mesmo.
Quando finalmente tomou coragem,
Patrick saiu do carro com a garrafa na
mão e foi direto para a cozinha, onde a
colocou na geladeira. Depois subiu a
grande escada e virou à direita, indo em
direção ao quarto de Elena. Ele bateu na
porta duas vezes e esperou
pacientemente que ela abrisse, minutos
depois.
— Boa noite, Elena. — ele
cumprimentou, parecendo um pouco
envergonhado.
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— Ora, se não é meu raptor. — ela
respondeu, com um sorriso agridoce. —
O que posso fazer por você hoje, meu
senhor?
Patrick ficou desconfortável, mas não
demonstrou.
— Eu gostaria de convidá-la para
jantar...
— Eu já disse que não sairei com
você, a menos que seja realmente um
evento em que você precise de uma
acompanhante. Foi esse o trato.
— Na verdade, eu queria convidá-la
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para jantar aqui mesmo. Em casa.
— Já que eu estou morando aqui
contra minha vontade, o mais normal é
que pelo menos você me alimente. —
ela disse com sarcasmo.
— Eu quis dizer comigo, Elena. Jante
comigo.
— Eu janto com você todas as noites.
Patrick bufou, irritando-se um pouco.
Ele sabia que ela estava agindo dessa
forma de propósito e que não tinha
nenhuma intenção de facilitar as coisas
para ele e foi só por isso que continuou
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com sua expressão controlada, embora,
estivesse bem perto de perder o
controle.
— Quero dizer só eu e você. E antes
que diga que você janta apenas comigo
toda noite, eu quero dizer em outro
lugar, longe da vista dos empregados.
Elena ficou calada. Poderia dizer que
era porque diante das palavras dele, ela
não poderia falar nenhuma outra
gracinha. Mas a verdade é que a ideia
de ficar sozinha, realmente sozinha, com
Patrick a deixou sem palavras. Ela tinha
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aquela estranha sensação de já tê-lo
visto antes, embora fosse impossível, já
que a última vez que tinha vindo aos
Estados Unidos foi quando tinha sete
anos de idade. Ainda assim...
— Tudo bem. Vou troca de roupa. —
ela disse, olhando para o pijama que já
estava vestindo e as pantufas nos seus
pés.
Patrick sorriu timidamente, acenou
com a cabeça e voltou pelo longo
corredor cheio de quartos até chegar ao
dele. A suíte principal da enorme casa.
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Lá, ele começou a se despir e entrou no
banheiro, parando na beira da banheira
apenas para tirar a prótese que usava na
perna esquerda a partir do joelho. Uma
dolorosa lembrança de uma das coisas
que ele perdeu no incêndio que matou
sua mãe.
Claro, sua pele era quase toda
coberta por tatuagens, com exceção do
rosto, algumas partes do pescoço e das
mãos, mas o restante tentava encobrir as
marcas deixadas pelas queimaduras. A
tinta escondia as cicatrizes, mas não
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escondia a dor. Ás vezes ele ainda podia
sentir o cheiro de pele queimada que
vinha dele mesmo enquanto tentava
escapar do inferno em que ele quase
morreu.
Patrick apoiou a prótese perto da pia
e se olhou no espelho. Seu rosto tinha
mudado muito, seis cirurgias
reconstrutivas tinham feito um bom
trabalho em não deixá-lo desfigurado,
mas ele não se parecia em nada com o
garoto que enfrentou uma barra tão dura.
Não era de se admirar que Elena não o
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tivesse reconhecido. Ele mesmo não se
reconhecia às vezes.
— Só espero que você não se assuste
se um dia me vir por completo, Elena.
— disse ele para o espelho, não
conseguindo tirar a imagem dela da
cabeça.

Elena não entendia o motivo de estar


tão nervosa. Era só o Patrick. O cara
que a estava mantendo contra vontade na
sua casa por puro capricho. Mas então...
por que ela sentia que não podia se

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afastar por completo? Desde que tinha
chegado, foi insensível, arrogante,
irritante e até mesmo odiosa com ele,
apenas para fazê-lo cair na real e
mandá-la embora. Mas por que todas as
noites ela sonhava com ele? Por que
sentia o corpo formigar toda vez que ele
a olhava? E por que diabos suas pernas
ficavam bambas quando ela ouvia
aquela voz rouca?
O mais natural era que ela sentisse
uma repulsa enorme por aquele homem,
mas por mais que tentasse, não
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conseguia.
Determinada a não demonstrar nada a
ele durante o jantar, Elena se vestiu.
Nada muito extravagante, mas sensual e
bonito. Um vestido branco na altura dos
joelhos, com amarrações no pescoço,
apertado até a cintura e solto para baixo.
Colocou só um pouco de maquiagem –
um pouco de blush, gloss e rímel – e
calçou uma sandália de salto meio alto,
dando-lhe pelo menos cinco centímetros
a mais de altura.
Houve uma batida suave na porta e
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ela soube que era Patrick. Seu coração
acelerou um pouco e ela foi forçada a
respirar fundo e contar até vinte antes de
abrir. E ficou boquiaberta. Deus Todo-
Poderoso, que homem!
— Você está linda, Elena.
— Você está... — Lindo? Gostoso?
Delicioso? — Você não fica atrás.
Ele sorriu e ofereceu o braço. Elena
não sabia dizer se seus braços estavam
tensos ou se ele era forte assim mesmo,
pois cada músculo era duro como pedra.
Ela esperou que ele a levasse para a
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mesa principal e depois mandasse os
empregados fazerem algo de mais útil
com seu tempo, mas ele se encaminhou
para a área externa. E foi quando ela viu
uma mesa para dois, montada à beira da
piscina. Toda iluminação tinha sido
apagada e apenas algumas velas não os
deixavam no completo escuro. Além da
lua, é claro.
— Uau. — ela não conseguiu manter-
se calada.
— Vou tomar isso como um ponto a
meu favor. — ele disse docemente.
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— Tudo está muito lindo. — ela
sorriu e agradeceu quando ele puxou a
cadeira para que ela se sentasse. —
Pediu à Mary que preparasse tudo?
— Sim. A Sra. Philips tem muito bom
gosto e eu achei que ela teria mais
sucesso do que eu em fazer algo.
— Acertou na mosca.
Os empregados apareceram apenas
para servir os dois, mas em seguida
sumiram. Elena e Patrick conversaram
sobre muitas coisas, suas vidas, suas
carreiras e seus sonhos para o futuro.
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Mas quando ela perguntou a ele sobre
seu passado e como ele tinha se tornado
um dos empresários mais implacáveis
que a cidade já tinha conhecido, ele
retesou o queixo e levantou-se
abruptamente da mesa.
Não tinha a intenção de parecer frio a
ela, mas não pôde olhar em seus olhos
quando aquela pergunta o feria tanto. Ele
queria dizer que tinha passado por um
pesadelo e que o responsável era seu
maldito pai, mas sabia que se fizesse
isso, corria o risco de não vê-la nunca
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mais. E Patrick a amava muito para
arriscar.
— Desculpe. — Elena sussurrou,
com a cabeça baixa. — Não queria ser
intrometida. Não é da minha conta.
Patrick suspirou e olhou para ela.
Depois colocou um joelho no chão ao
seu lado e ergueu sua cabeça para olhar
em seus olhos.
— Você não estava sendo
intrometida. É que... eu não gosto de
falar sobre o meu passado. É
...doloroso.
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— Tudo bem. Sinto muito.
Elena sorriu e Patrick achou que teria
um infarto. Já tinha visto muitas coisas
lindas no mundo, mas nada se
comparava ao sorriso dela. Seus
cabelos negros emoldurando seu rosto
de forma sensual e meiga ao mesmo
tempo fizeram o estômago dele cair em
queda livre.
Ele levantou-se e a colocou de pé
também, envolvendo uma mão na sua
cintura esguia e pressionando o corpo
contra o dela.
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— Eu vou te beijar, Elena. Me
desculpe, mas não consigo mais resistir.
Ela abriu a boca para respirar, em
seguida lambeu o lábio inferior.
— Acho que não poderei impedi-lo.
Então ele a beijou.

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17

O que Marco não sabia era que


Charlotte era uma verdadeira craque na
sinuca. É claro que ela não tinha contado
seu trunfo a Marco quando o convidou
para uma partida e fez uma aposta. E é
claro que ela não ficou nem um pouco
preocupada quando ele, apenas para
irritá-la, aceitou que duas estranhas
participassem do seu joguinho privado.

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Seu nervosismo inicial foi apenas pela
situação em si, não porque achasse que
fosse perder.
— Confiante? — Marco sussurrou
quando passou por trás dela para
preparar sua tacada.
Charlotte mantinha um sorriso
discreto, mas convencido durante toda a
partida. Ela e Heather – a piranha amiga
da parceira de Marco – estavam
ganhando com folga. Mérito puro de
Charlotte, pois a outra claramente não
estava jogando, chegou até mesmo a
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afundar a bola branca em uma
oportunidade. Coisa que Charlotte sabia
que tinha sido proposital. Ela queria
garantir que a amiga ganhasse seu
prêmio.
— Apenas o suficiente para saber
que você não vai ganhar de mim. O que
quer dizer que além de pagar as bebidas
pelo resto da noite, vai ter que me dar o
que eu quiser.
Marco gargalhou e se inclinou ao seu
lado para dar sua tacada. Ela não pôde
evitar e deu uma olhadinha na direção
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da sua bela bunda. Bela mesmo. Marco
era aquele tipo de homem que era
completo em tudo. Aparência do rosto,
músculos e excessos em todos os
lugares legais.
Ok, não é muito saudável lembrar
dos “excessos” dele nesse momento,
Charlotte pensou. A última coisa da qual
ela precisava era lembrar-se de como
algumas partes do corpo de Marco eram
deliciosas.
A bola de Marco caiu na caçapa e ele
conseguiu diminuir um pouco a
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diferença em mais duas jogadas até errar
e ceder a vez a Charlotte novamente. Ela
não precisaria se esforçar muito, havia
poucas bolas na mesa e se ela se
concentrasse, conseguiria afundar todas.
Foi uma tacada certeira atrás da
outra, mas quando faltavam apenas três
bolas, ela viu a vadia Reyna passar a
mão pelo peito de Marco e o ordinário
sorrir com todos os dentes, coisa que
faria qualquer mulher se derreter e
entender aonde aquilo ia dar mais tarde.
Sem conseguir se conter, ela se preparou
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para fazer sua jogada e alinhou o taco
em um ângulo que fez a bola correr pela
mesa e ir de encontro diretamente com a
mão da garota que estava repousando
tranquilamente na borda.
— Ai!
Charlotte levou a mão à boca.
— Opa, desculpa querida. Foi sem
querer, acho que minha visão embaçou
um pouco.
— Eu não acredito em você. —
Reyna reclamou, fazendo uma cara de
poucos amigos.
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— Então eu não posso fazer nada. Já
pedi desculpas.
Marco estreitou os olhos na direção
dela, mas Charlotte já tinha virado de
costas e por isso ele não pôde ver o
sorriso travesso que ela tinha no rosto.
A garota pegou seu taco e se preparou
para jogar, mas errou feio, afundando a
bola branca. E por isso, a diferença de
pontos entre as duas equipes ficou
insuperável. Charlotte e Heather
ganharam a partida e para pagar a
aposta, Marco pediu uma rodada de
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bebidas para a mesa onde as duas
estavam e que ele não perdeu tempo em
se instalar.
Charlotte achou que ele só podia
estar de brincadeira. A tinha levado até
ali para dar mole para uma mulherzinha
qualquer? Ora, mas aquilo não ficaria
assim. Ela pediu licença mais uma vez
para ir ao banheiro, onde retocou a
maquiagem, deu um jeitinho no cabelo –
não que precisasse – e respirou fundo
várias vezes. Se era assim que ele
queria jogar, então ela jogaria pesado.
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Durante o jogo de sinuca, ela vira
alguns carinhas que eram bastante
atraentes. Um deles, um loiro alto e
forte, estava vestido bem parecido com
Marco, calça jeans surrada, jaqueta de
couro e botas. Mas o loiro tinha uma
vantagem. Ele estava o tempo todo de
olho nela, diferente do seu
acompanhante que claramente estava
mais interessado em transar com uma
daquelas oferecidas, ou as duas.
Então, ao sair do banheiro, ela jogou
uma olhada sensual para o loiro e foi
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para o balcão do bar. Não se passou
nem dois segundos e o cara já estava ao
seu lado, sorrindo e pedindo uma bebida
para ela.
— Não sei se deveria aceitar. — ela
fez charme — Nem te conheço.
— Bom, podemos nos conhecer
enquanto bebemos um pouco. Ou se
quiser, podemos dançar.
Charlotte apurou os ouvidos para
prestar atenção na música – não que
precisasse, já que ela estava estourando
nas caixas de som – e fez careta.
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— Certamente não com essa música.
— Isso é uma coisa que eu posso
mudar. Conheço o cara do som e posso
pedir pra ele colocar algo mais...
sensual.
— Ótima ideia.
Charlotte observou o loiro ir até um
homem que operava o equipamento de
som do bar e conversar com ele por
alguns minutos. Instantes depois, uma
música pop famosa começou a tocar.
Charlotte já estava na pista de dança
improvisada quando o loiro voltou,
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sorridente.
— Está melhor assim?
— Muito. — respondeu ela,
dançando no ritmo do som.
Charlotte fechou os olhos e se deixou
levar. O loiro colocou as mãos no
quadril dela e acompanhou seu ritmo,
não avançando o sinal ou sendo
desrespeitoso, embora ela sentisse que
tudo o que ele mais queria era ter sinal
verde para cair dentro.
Ela esticou os braços para trás e
tocou as costas dele, aproveitando a
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proximidade para colocar a cabeça
contra seu ombro e deixá-la cair para
trás. Em seguida, rebolou um pouco
mais e se virou, enlaçando os braços no
pescoço dele. Quando abriu os olhos,
Charlotte viu que o loiro estava sorrindo
abertamente, ainda com as mãos
firmemente apoiadas em seus quadris.
— Você dança muito bem. — ela
elogiou.
— Talvez seja a companhia. Nunca
tinha dançado pop.
— Não, você não tem mesmo cara de
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quem curte esse tipo de música.
Ela estava se divertindo. Talvez pela
primeira vez na noite, estava se
divertindo de verdade. Tanto que nem
percebeu quando Marco parou ao lado
deles, com os olhos escuros de raiva e a
boca pressionada em uma linha fina.
— Acho melhor você se afastar, cara.
— ele disse, lançando um olhar mortal
ao loiro que se mexia com Charlotte.
— Foi mal, cara. Mas o olhar dela é
mais penetrante do que o seu. — o loiro
disse sem se abalar. Charlotte jogou a
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cabeça para trás, dando uma gargalhada.
— Talvez. — Marco respondeu,
fechando as mãos com força. — Mas
garanto que meu punho é mais forte do
que o dela.
Charlotte ficou de costas para o loiro
novamente, ainda rebolando ao som da
música , e encarou Marco.
— Que porra você pensa que está
fazendo? Cai fora.
— Com todo prazer, mas você vem
comigo. — Marco disse, puxando-a pelo
braço.
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— Ei cara, pode soltá-la agora
mesmo. — o loiro interferiu, seguindo
os passos deles.
— Ninguém te chamou na conversa,
intrometido. — Marco disse sem nem
mesmo olhar para trás. — Ela está
comigo.
— Jura? Pois não parece, já que o
tempo todo em que te vi você estava
com aquelas duas ali.
Marco parou e o encarou. O cara era
uns bons sete centímetros mais alto que
ele, mas Marco não se intimidou. Com
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todo o seu treino de kickboxing, poderia
facilmente lutar com alguém
aparentemente mais forte que ele.
— Escuta cara, desculpa estragar sua
conquista da noite, mas essa garota aqui
já está acompanhada. Por que não volta
ao que estava fazendo antes de se jogar
em cima dela?
— Marco pelo amor de Deus, quer
parar com isso? — Charlotte puxou o
braço das mãos de Marco com um
sopapo. — Quem você pensa que é?
Ela começou a andar para fora do bar
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e ele a seguiu. Mas o olhar gélido e
irado que ela lhe lançou fez com que ele
ficasse parado onde estava. Ao chegar
lá fora, Charlotte soltou um gritinho de
frustração. Marco Villa-Lobos tinha
passado de todos os limites essa noite e
ela não pretendia deixar as coisas como
estavam. É claro que ela tinha pensado
em fazer charme com o tal loiro para
deixar Marco com ciúme, mas ele não
tinha o direito de tratá-la daquela forma.
Ele estava dando mole para duas vadias
ao mesmo tempo sem sequer se importar
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com ela e no minuto em que ela resolveu
dar o troco ele vai escorraçar sua
paquera da pior forma?
— Marco, seu filho da...
— Nada disso, nada de xingar a
minha mãe. Ela não te fez nada.
Charlotte olhou para trás e o viu com
uma mancha vermelha de sangue nos
lábios, o que só significava que ele se
meteu em briga lá dentro durante os dois
minutos em que ficou sozinho. E se era
ele quem estava ali, quer dizer que o
loiro deveria estar apagado no chão ou
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no banheiro tentando conter o
sangramento do nariz ou da boca.
— Você não tinha o direito. — ela
acusou, com raiva.
— Não tinha o direito? Eu te trouxe
aqui. E te trouxe pra ficar comigo, não
pra ficar dando mole pra um babaca
qualquer.
— Babaca aqui só você. Ele me
tratou muito bem, melhor do que você a
noite toda.
— Que porra há de errado com você?
— Marco gritou.
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— O que há de errado comigo? —
ela perguntou incrédula. — Você me
compra em um leilão por um milhão de
dólares. Eu acho que você vai me levar
pra jantar, mas me traz pra porra de um
bar. Passa metade da noite flertando com
duas vadias. E pergunta se há algo de
errado comigo? O que há de errado com
você, seu idiota?
— Eu não estava flertando...
— Me poupe, Marco. — Charlotte
fez um gesto de desdém dramático. —
Agora se me der licença, vou chamar um
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táxi e ir pra casa. Você pode ir se foder.
Ela deu alguns passos para se
distanciar dele e começou a discar o
número do taxista com quem ela sempre
contava.
— Eu levo você, Charlie. — a voz de
Marco saiu baixinha e ela percebeu que
talvez, apenas talvez, ele estivesse
reconsiderando os atos da noite.
— Não, obrigada. Você bebeu demais
e eu não quero acabar no hospital.
Tampouco queria que ele acabasse no
hospital, mas não queria dividir o táxi.
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— Você deveria ligar pra alguém e
pedir pra vir buscar sua moto. — ela
disse sem olhar para ele. — Não é bom
você sair ziguezagueando por aí com
todo o álcool no seu organismo.
Vinte minutos depois, o taxista dela
chegou e ela entrou no banco de trás,
deixando empoleirado na moto um
Marco totalmente diferente do início da
noite.

Na manhã seguinte, Marco encarava


uma dor de cabeça dos infernos. Ele não

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tinha bebido tanto assim, mas lidar com
Charlotte tinha derrubado todas as suas
defesas. Ele queria provocá-la. Queria
chateá-la um pouco. Mas não queria que
ela ficasse envergonhada ou fosse
humilhada. Só queria que ela sentisse
um pouco da vergonha que ele sentiu
quando foi injustamente acusado de se
embriagar e se drogar até começar uma
briga, fazendo-o perder, entre muitas
coisas, o Summa Cum Laude da
Harvard.
Hoje em dia Marco não se
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preocupava muito com isso e não se
importava com o que as pessoas falavam
dele, mas na época, foi algo muito
difícil. O nerd bom moço teve que lidar
com a vergonha de ter seus falsos
podres expostos a garotos que ele não
suportava e professores que admirava.
Fazer Charlotte sentir um pouco
disso, mesmo que só por uma noite, por
causa de uma roupa inapropriada, ou por
ser deixada de lado alguns minutos não
pareceu tão mal. Mas a forma como ela
falou com ele antes de ir embora e a
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raiva no olhar que ela lhe dirigiu, fez
Marco se sentir como um garotinho de
quinze anos que tinha sido pego fazendo
algo errado e escondido dos pais.
Com um gosto desagradável na boca,
Marco se levantou da cama, tomou
banho, se vestiu e foi para o escritório.
Antes de se trancar na sua sala, pediu ao
seu assistente que lhe levasse um café
bem amargo e alguns Donuts.
No meio da manhã, James Hardy foi
anunciado para entrar em sua sala e
Marco preparou uma dose de Sngle Malt
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para ambos. Se seu investigador estava
ali, é porque tinha alguma nova
informação sobre Charlotte.
— E então, James?
James colocou uma pasta marrom
sobre a mesa de Marco e começou a
explicar as recentes descobertas.
Algumas sobre seus pais, que ele não
dava a mínima importância, algumas
sobre o tal Ken, que ao parece estava
mais para um amigo do que para
namorado ou amante, e uma coisa sobre
seu passado. Uma coisa que deixou
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Marco de orelha em pé.
— Pelos registros, Sr. Villa-Lobos,
Charlotte McKeena perdeu um irmão
quando tinha quinze anos. Ele tinha
dezoito anos na época.
— Como aconteceu?
— Acidente de carro. Um caminhão
bateu no carro dele.
Marco perguntou-se como isso tinha
modificado a vida dela. E o mais
importante, por que ela nunca tinha lhe
falado sobre isso. Ela lhe contou sobre
Ken, droga, o cara que tirou sua
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virgindade. Como não lhe contou sobre
um irmão morto?
— Alguma coisa mais?
— Eu averiguei algumas informações
com a polícia e jornais da época, em
que o acidente aconteceu, conhecidos da
família e amigos, tentando ligar a morte
do irmão à senhorita McKeena e
descobri uma coisa que talvez o senhor
queira saber.
— Então fala. — Marco o encorajou,
levantando-se da sua poltrona e indo
para frente da mesa, onde se sentou na
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beirada.
— Charlotte McKeena estava na casa
de Ken Reynolds na hora do acidente.
Na verdade, ela esperava o irmão na
casa dele.
— Ele estava indo buscá-la?
— Foi o que a mãe do Dr. Reynolds
contou.
Marco se perguntou como James
tinha conseguido tais informações, mas
deixou para lá, pois sabia que além de
muito bem pago para, aquele homem era
brilhante na arte de espionar. Marco
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suspeitava que ele tivesse trabalhado
para o FBI, mas isso era uma coisa que
James jamais admitiu, nem mesmo para
seu pai Eduardo.
— O que mais essa senhora contou?
— Pelo que o filho dela lhe disse,
Charlotte McKeena terminou o namoro
com ele logo em seguida, pois seus pais
nunca aprovaram o relacionamento deles
e ela sentia-se culpada pela morte do
irmão.
— Isso é besteira. Não foi culpa
dela.
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— Bom, Sr. Villa-Lobos, isso é algo
que eu não posso opinar.
Marco ficou calado, pensando em
tudo o que James tinha lhe dito. Era
possível que tudo o que Charlotte havia
feito na manhã em que partira seu
coração fosse apenas por causa dos seus
pais? Para fazer com que eles não a
vissem com outros olhos por ir a um bar
como aquele? Para ser a filha perfeita
deles? E se sim, isso justificava o que
ela fizera com ele?

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Charlotte não sabia mais como tirar
Marco da sua cabeça. Desde a noite no
bar ela pensava nele o tempo todo. Ele
estava com ciúmes, claramente. E era
duro admitir, mas ela também. Vê-lo
deixar aquelas mulheres se jogarem em
cima dele com certeza fez com que
sentimentos que ela preferia que não
existissem mais subissem à superfície
com força máxima.
Agora, quase uma semana após
deixá-lo parecendo confuso na calçada
do bar, talvez ela fosse encontrá-lo
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novamente. Estava em um jantar formal
com alguns empresários, entre eles, seu
sócio Patrick, e não duvidava que
Marco fosse aparecer. Ainda era cedo,
portanto, ele tinha pelo menos mais
quatro horas para dar o ar de sua graça,
e era exatamente isso que a deixava
nervosa.
— Não está se divertindo? —
perguntou Elena, acompanhante de
Patrick. Elas haviam se conhecido uma
hora antes enquanto ele fazia um breve
discurso.
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— Só estou um pouco apreensiva.
Sabe, todos esse engravatados
poderosos me fazem parecer uma
ovelhinha.
Elena lançou um olhar para seu par,
metros à frente conversando com alguns
homens, e sorriu. — Até ele?
— Não. Acho que o Sr. Matarazzo é
um dos poucos homens aqui que não me
intimida. Na verdade, eu acho que é o
único.
— Quando o conheci, — Elena
sussurrou, — achei que ele fosse filho
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do capeta ou algo assim. Ele tinha uma
cara de mau e seu porte... — ela
estremeceu. — Nossa, me dá arrepios só
de lembrar.
Patrick havia tirado a barba que
cobria parte do seu rosto e a juventude
em seus olhos ficou mais evidente. Ele
também sorria um pouco mais e sua
feição era a de um homem feliz. Muito
diferente da que ele exibia quando
estivera no Brasil.
— Me pergunto o que o fez mudar. —
Charlotte sussurrou de volta, com um ar
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de insinuação. Elena corou um pouco.
— Bom, digamos que ele e eu temos
nos conhecido um pouco melhor.
— Então vocês...
— Somos amigos. Eu o acompanho
nos eventos que ele tem que ir, mas não
é nada demais. — Elena respondeu
sinceramente, não vendo motivo para se
envergonhar. Elas tinham se conhecido
havia pouco tempo, mas Charlotte se
mostrara uma ótima companhia.
— Talvez uma relação platônica. —
Charlotte jogou.
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— Mais ou menos isso. — Elena
respondeu. Também não tinha
necessidade de dizer a ela logo de início
que Patrick a beijava de uma forma que
a fazia ver estrelas.
Um pouco mais de meia hora depois,
o anúncio de que o jantar começaria a
ser servido fez com que Elena e
Charlotte sentassem-se perto uma da
outra na mesa. Elas estavam
conversando alegremente quando
Charlotte viu Marco se juntar ao grupo
de homens que falava com Patrick. Ela
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ficou pálida e calou-se na mesma hora.
Ele estava mesmo ali.
— O que foi? — Elena perguntou,
notando a mudança na postura dela.
— Eu... ahm... não é nada.
Elena olhou na direção em que os
olhos de Charlotte estavam e viu um
homem que conhecera semanas atrás.
Lembrava-se de algumas reuniões entre
ele e Patrick e de advogados ao redor
dos dois por pelo menos um dia e meio.
— Por acaso você não está assim por
causa de Marco Villa-Lobos, está?
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Charlotte chicoteou a cabeça na
direção dela, totalmente surpresa. —
Você o conhece?
— Não tanto quanto você, pelo que
parece. — Elena disse sorrindo — Mas
sim. Ele e Patrick são grandes amigos e
eu o conheci há algumas semanas. Eles
fecharam um negócio junto.
Os pelos da nuca de Charlotte se
arrepiaram todos. — Que tipo de
negócio?
— Uma fusão de empresas pelo que
pude ver. Marco comprou uma
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porcentagem de ações que pertencia a
Patrick.
Charlotte ficou imediatamente
nauseada. Ela não queria acreditar que
as ações em questão fossem da Glitz
Fashion Company, mas conhecendo
Marco como ela conhecia, achava que
torcer por algo contrário era um desejo
difícil de ser alcançado.
— Por acaso você sabe que empresa
era? — Charlotte perguntou com a voz
fraca, suando de nervosismo, apenas
para confirmar.
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— Não lembro o nome, mas parece
que era de uma nova boutique.
Charlotte levantou-se imediatamente,
deixando Elena confusa com sua
mudança e foi ao bar do salão, onde
ignorou o jantar e pediu algumas taças
de vinho. Ela não tinha condições
nenhuma de engatar uma conversa
razoável com qualquer pessoa. Tudo o
que mais queria na vida era ser livre e
independente e agora estava atada a
Marco de uma forma que ela não
gostava nem um pouco. Simplesmente
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não conseguia acreditar que ele fora
baixo a ponto de se envolver em um
negócio dela apenas para lhe dar uma
lição sobre algo que acontecera havia
quatro anos.
Quase duas horas se passaram até
que todos estivessem satisfeitos e
começassem a circular novamente pelo
local. Foi quando Marco notou que
Charlotte estava ali, mas não se
lembrava de tê-la visto durante o jantar.
Patrick não lhe dissera nada sobre a
presença dela. Querendo falar com ela
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sobre o que seu investigador havia
descoberto e temendo ter cometido um
grande erro ao julgá-la sem saber a
história toda, Marco se encaminhou para
o bar.
— Charlotte? — ele a chamou
suavemente.
— Ora, ora, ora. — ela disse,
virando-se. — O que quer de mim hoje,
Sr. Villa-Lobos?
Sr. Villa-Lobos? Será se ela ainda
estava chateada sobre a noite no bar?
— Eu gostaria de falar com você.
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Fazer algumas perguntas, se não se
importa.
— Sobre seu rendimento?
— O que disse?
— Sobre o rendimento das ações que
você comprou da minha empresa. — ela
disse, rolando os olhos e tomando o
último gole da taça de vinho que tinha
nas mãos.
Merda. Como ela tinha ficado
sabendo disso? Ele precisava explicar.
— Olha, Charlie...
— Não. — ela colocou uma mão na
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boca dela, calando-o. — Você não vai
falar nada hoje. Apenas eu falo.
Marco engoliu em seco.
— Eu não quero nada que venha de
você. Eu não acredito que você tenha
feito isso apenas para me prejudicar, seu
egocêntrico. Isso não é uma coisa boba,
é minha vida. Minha empresa. Minha
chance de liberdade e nem você, nem
ninguém, vai tirar isso de mim. Então
acredite, eu vou devolver cada maldito
dólar que você investiu. Vou comprar os
quarenta por cento de volta porque não
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quero nenhum tipo de parceria com
você.
Marco sentiu vergonha do que tinha
feito. Ele podia nunca ter admitido, mas
comprara as ações para tê-la em suas
mãos. Para o bem ou para o mal,
Charlotte seria sujeita a ele. Mas desde
que ficou sabendo das coisas que seu
investigador disse, tudo o que mais
queria era nunca ter feito nenhuma
idiotice.
— Charlie...
— Não me chame de Charlie. — ela
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pegou sua bolsa no balcão e começou a
andar, assim como tinha feito na semana
anterior, indo embora, mas parou antes
de sair do hall do prédio e encarou
Marco, que a seguia. — Eu ganhei uma
aposta de você. Você me disse que eu
poderia pedir qualquer coisa. Bom, o
que eu quero é que você fique o mais
longe possível de mim. Eu nunca mais
quero ver você na minha frente.
Em seguida, ela virou-se e foi
embora sem olhar para trás.

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18

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Patrick e Elena

— Eu fiz algo de errado? — Elena


perguntou no caminho de volta para
casa.
Patrick manteve-se calado depois do
jantar, esperando a melhor oportunidade
para falar com ela sobre Charlotte.
Marco o procurou pouco antes de ir
embora, com uma cara de poucos
amigos, acusando-o de contar à
Charlotte sobre os negócios dos dois em
relação à Glitz Fashion Company.
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Porém, ele não tinha dado com a língua
nos dentes, então apenas Elena poderia
ter contado.
— Não. — ele respondeu sério, mas
não rude.
— É que você está com uma cara
nada boa. E já faz um tempinho.
— Eu prefiro não conversar no carro.
— Patrick continuou sério, mas com uma
olhada na direção dela e ao ver a
preocupação em seus olhos, ele lhe deu
um pequeno sorriso.
— Tá.
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Elena concordou, mas não parecia
tranquila. Não entendia o motivo de
Patrick estar tão distante. Não se
lembrava de ter feito nada de errado, ou
de ter sido rude com ninguém, ou de ter
se comportado de maneira inadequada
em nenhum momento na última semana.
A verdade é que depois do beijo
arrebatador no dia do jantar na piscina,
eles estavam se dando muito melhor.
Felizmente, Elena não precisou se
corroer por muito tempo. Em poucos
minutos Patrick estacionou na garagem e
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a acompanhou até o quarto. Ao chegar
lá, Elena o pegou pela mão e o levou
para dentro, fechando a porta logo
depois.
— Tudo bem, o que foi? — ela
perguntou, franzindo as sobrancelhas.
— Eu não quero que você me
interprete mal, nem nada, mas preciso
fazer algumas perguntas.
Ela ergueu as sobrancelhas e soltou
uma risadinha.
— Fique à vontade.
— Certo. Eu vi que você passou boa
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parte da noite conversando com uma
mulher...
— Charlotte.
— Isso. Vocês conversaram sobre o
quê?
Elena não entendeu o motivo da
pergunta, mas vasculhou o cérebro
mesmo assim, tentando lembrar se tinha
feito algo impróprio para ela, porém não
se lembrou de nada de mais.
— Nós apenas conversamos um
pouco. Ela é bastante divertida.
— Não é exatamente isso que eu
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quero saber. — ele passou as mãos
pelos cabelos, parecendo um pouco
exasperado.
— Então o que é?
Elena sentiu um frio na barriga.
Talvez Charlotte tivesse despertado o
interesse de Patrick e ele quisesse se
certificar de que ela não tinha falado
nada sobre a última semana e os...
carinhos que ele vinha lhe fazendo.
Nada muito escandaloso, mas com
certeza excitante.
— Você gosta dela? — a voz de
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Elena era apenas um sussurro.
— O quê? Não!
A negação enfática dele enviou uma
onda de alívio tão grande para Elena
que ela não conseguia acreditar ou
entender como tinha chegado naquele
ponto. Ela não deveria se sentir assim
em relação a ele, mas se sentia.
Patrick não sabia de onde ela tinha
tirado que ele gostava da garota do seu
melhor amigo, mas achou que teria mais
chance de saber sobre o que as duas
conversaram se fosse direto ao ponto,
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mesmo que para isso, precisasse expor
um pouco do segredo de Marco.
— Na verdade, Elena, eu quero saber
se você falou com ela sobre aquele meu
amigo, o Marco.
— Aquele que comprou uma ações
de uma tal empresa que você tinha
investido?
— Esse mesmo. — ele sorriu,
sabendo que ela estava brincando, pois
não havia motivo para perguntar a qual
Marco ele estava se referindo, já que só
tinha conhecido ele desde que chegara a
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Nova Iorque. — Alto, forte, cabelo
preto, feio à beça.
Elena gargalhou, em seguida falou a
verdade.
— Ah, ela estava olhando muito pra
ele e eu perguntei se eles se conheciam.
— E?
— E... ela perguntou de onde eu o
conhecia. Disse que ele era seu amigo.
— Só isso?
Patrick sabia que Charlotte era uma
garota esperta, se Elena tinha dito que
ele e Marco eram amigos, ela poderia
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muito bem ter ligado os pontos sozinha.
— Bom, talvez eu tenha dado um
informação ou duas.
Patrick engoliu em seco. Ou não...
— Que tipo de informação? — ele
perguntou, sentindo que talvez tivesse
que dar um belo pedido de desculpa ao
amigo por sua acompanhante ter dado
com a língua nos dentes.
— Ah, sabe, sobre o negócio de
vocês. A compra das ações. — ao ver a
expressão petrificada de Patrick, Elena
se aproximou e perguntou baixinho. —
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Dei mancada? Era segredo?
Patrick colocou as duas mãos no
rosto e virou de costas. Elena esperava
que ele gritasse com ela e dissesse que
ela deveria manter a língua segura na
boca, mas ficou surpresa com sua real
reação. Ele simplesmente começou a rir.
Histericamente.
— Patrick?
Ele sentou-se na beirada da cama,
mas em seguida deitou-se e colocou os
braços sobre os olhos, ainda rindo.
Elena não sabia o que fazer, então
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apenas encarou aquela cena, com um
pequeno sorriso nos lábios ao ver uma
criatura tão intimidante como o seu
anfitrião, bolando de rir por algo que,
aparentemente, não tinha a menor graça.
Quando conseguiu se controlar,
Patrick se apoiou nos cotovelos e
respirou fundo. Elena tinha jogado seu
melhor amigo na fogueira ao contar
sobre o negócio deles à Charlotte, mas
por algum motivo isso o divertia muito.
Talvez esse fosse o gancho necessário
para Marco deixar de lado a obsessão
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de se vingar daquela garota. E também,
serviria para tirar a consciência dele da
lama, já que se Marco resolvesse levar
aquilo até o fim, até levar a Glitz
Fashion Company à falência, ele teria
uma bela parcela de culpa com
Charlotte, que pelo que ele pôde ver,
não era nada além de uma doce garota
com problemas com os pais.
— Acho que você me livrou de um
problema, Elena. — ele disse, secando
algumas lágrimas nos cantos dos olhos.
Ela ajoelhou-se em frente a ele e
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mordeu os lábios. A expressão de
surpresa de Patrick não passou
despercebida, mas Elena não recuou.
— Fico feliz por ter ajudado.
A verdade é que desde que ele a
beijou naquele dia na piscina e todas as
outras vezes durante a semana, Elena
tinha uma constante sensação de
inquietação. Não se lembrava de ter
dado uns amassos em um cara sem
chegar aos finalmente. Não que ela
vivesse fazendo isso, mas teve seus
momentos na faculdade e claro... teve
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Felipe.
Patrick sentou-se e ela aproveitou
para sentar no seu colo, enroscando as
mãos em seus cabelos sedosos. O
gemido rouco dele quando ela enfiou a
língua na sua boca foi tão estimulante
que ela sentiu sua calcinha ficar
molhada no ato.
Ele não perdeu muito tempo e levou
as mãos até a bunda de Elena,
massageando um pouco antes de
espalmá-las nas suas costas e trazê-la
mais para perto. O sinal evidente da
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excitação dele roçava contra as coxas
dela, deixando-a ofegante.
Com as mãos um pouco trêmulas,
Elena levantou mais a barra do seu
vestido e se acomodou melhor no colo
de Patrick. Em seguida, tirou a primeira
peça do terno dele, logo depois o colete
e então os botões da camisa branca que
ele usava começaram a ser abertos um
por um.
— Elena, eu não acho...
— Shh. — ela o calou com um beijo
poderoso que serviu para que ele
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cravasse os dedos na bunda dela.
— Você não deveria estar no meu
colo.
Ele tinha plena consciência de onde
aquilo ia dar, e não sabia se seria capaz
de ver os olhos dela examinando seu
corpo queimado e sua perna amputada.
— Vou ficar no seu colo sim. — ela
mordeu a orelha dele, fazendo-o grunhir.
— E se reclamar muito, vou começar a
rebolar em cima de você.
Com um pouco de esforço, Elena
conseguiu tirar a camisa dele e ficou
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impressionada com a quantidade de
tatuagens que ele tinha. O quarto estava
apenas com meia luz – um abajur estava
ligado no canto esquerdo da cama – e
por isso ela não podia ver muito bem,
mas dava para notar a forma de algumas.
Seu ombro esquerdo tinha uma espécie
de tatuagem tribal, muito detalhada,
cheia de formas e sem deixar muita pele
exposta. O resto do braço tinha uma
serpente de fogo que ia até o punho, por
isso ela nunca tinha visto, pois só o tinha
visto com camisa de manga comprida e
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elas ficavam escondidas o tempo todo.
O braço esquerdo tinha um conjunto
de mandalas interligadas, também até o
punho. No centro do peito, havia uma
grande fênix flamejante, com as asas
cobrindo os dois peitorais e a cauda
chegando até o umbigo. Elena perdeu o
fôlego ao vê-la e sentiu uma pontada no
coração ao imaginar o que aquilo
significava.
— Parece que você foi um grande
bad boy quando era mais novo. — ela
jogou, traçando as asas da fênix com a
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ponta dos dedos.
— É. — ele confirmou, de olhos
fechados.
— Tem mais alguma?
— Um filtro dos sonhos na nuca. Um
anjo da morte nas costas e engrenagens
nas pernas.
Elena não soube o que dizer sobre
isso. Elas eram lindas e o fato de serem
todas em 3D era o mais fascinante. Mas
seria mentira se dissesse que não ficou
chocada com o anjo da morte. Ela queria
perguntar sobre isso, mas achou melhor
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deixar para outra hora. Então apenas
voltou a beijá-lo.
— Elena...
— Transa comigo. — ela pediu,
necessitada. E sem esperar que ele
absorvesse suas palavras, Elena se
levantou do colo dele, desfez o botão
que prendia seu vestido no pescoço e
deixou que ele escorregasse pelo seu
corpo até a cintura, onde enfiou os
polegares e o fez cair no chão, ficando
apenas de calcinha na frente de Patrick,
pois não usava sutiã.
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Ouviu com prazer o som sibilante da
respiração dele sair pelos lábios
semicerrados. Ele a queria demais. Não
que ela duvidasse, pois sentiu o quanto
ele estava excitado enquanto estava no
seu colo.
— Sua vez. — Elena disse, voltando
para a cama e fazendo um gesto para que
ele se levantasse e tirasse o resto da
roupa.
— Eu não sei se devemos. — ele se
levantou e ficou de costas para ela,
dando-lhe a chance de ver o anjo negro
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que ele carregava atrás de si. Era
enorme, tomando conta de cada
centímetro daquelas costas musculosas,
e pavoroso também.
— Do que está falando? Eu quero
você e sei que você me quer.
Apenas para provar, Elena levantou-
se novamente e encostou os seios
naquele desenho quase realístico que o
seguia. Em seguida, espalmou as mãos
na barriga de Patrick e deixou que elas
descessem até entrar na cueca dele, onde
seu pau estava duro e quente.
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— Por que não fazer com que isso
aqui seja domado? — ela perguntou
acariciando-o, ao mesmo tempo em que
lambia o meio das suas costas.
Quando viu que ele não moveria um
dedo – mesmo sem entender o motivo de
tamanho recato –, ela o virou
abruptamente, abriu a braguilha da calça
e puxou-a junto com a cueca até chão.
Foi quando viu as engrenagens da qual
Patrick havia falado. Mas elas estavam
em apenas uma perna, pois na outra, ele
usava uma prótese de fibra de carbono.
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Elena caiu de bunda no chão, olhando
embasbacada para aquilo. Mas quando
olhou para cima, preferia não ter feito
isso. O rosto de Patrick, na penumbra do
quarto, parecia ainda mais sombrio do
que a primeira vez que ela o viu.
— Satisfeita? — ele perguntou com a
voz dura.
— É por isso? Por isso não fez
nenhum avanço durante a semana? Por
isso ficou aí parado enquanto eu me
esfregava em você?
— Acredite, eu queria lhe dizer. Mas
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não é fácil para mim e eu sei que todos...
Elena viu dor nos olhos dele, mas
Patrick imediatamente virou-se. Ela
levantou-se do chão, pouco se
importando se estava quase nua. Queria
saber o que ele ia dizer.
— Sabe que todos, o quê?
Patrick abaixou os ombros,
derrotado. Não queria abrir a ferida e
deixá-la sangrar na frente de Elena.
— Você tem vergonha disso?
— Eu só... eu... — ele sussurrou.
— Porque, me desculpa, mas se você
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acha que ser desse jeito te diminui
diante das outras pessoas, então você é
muito preconceituoso. E se pensa isso
de você mesmo, não quero nem imaginar
o que pensa dos outros na mesma
situação que a sua.
— Eu não tenho vergonha de mim. O
problema é...
— Então você achou que eu não iria
querer você por causa disso? Acha que
eu sou preconceituosa ao ponto de negar
meus desejos por causa de uma simples
deficiência física? Valeu a
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consideração.
Elena estava furiosa. Ela o conhecia
havia pouco tempo, tudo bem, mas na
última semana, sempre que eles
chegavam a um ponto mais quente no
amasso, ele dava um jeito de fugir, fosse
por uma dor de cabeça que aparecia
magicamente ou por um telefonema
importante do escritório. Enfim, sempre
havia um motivo. Mas o tempo todo ele
estava com medo da reação dela,
achando que sentiria nojo dele?
Elena pegou a camisa dele do chão e
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a vestiu, sentindo-se nua de uma forma
ruim.
— Não é isso.
Patrick arriscou uma olhada para trás
e então se virou para encará-la. Ela
estava entendendo as coisas de forma
errada. Ele não sentia vergonha de si
mesmo, mas também não achava que ela
o rejeitaria se o visse de verdade, só
não estava pronto para contar o motivo
de ele ser assim, porque, é claro, ela
iria querer saber mais cedo ou mais
tarde.
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— Então o que é? — ela gritou, mais
de exasperação do que de raiva. — Você
tem o corpo coberto de tatuagens,
algumas até bizarras, mas achou que eu
iria recusar você por causa da sua
perna?
A dor, a mágoa, a raiva e a paixão
explodiram dentro de Patrick como um 4
de julho. Alguma coisa tinha que sair ou
ele poderia simplesmente ter uma
epifania e desmaiar ali naquela hora.
— Eu não sou coberto de tatuagens
porque fui um bad boy no colégio. Sou
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coberto de tatuagens porque metade do
meu corpo foi queimado em um incêndio
criminoso.
Elena colocou a mão na boca, mas
não impediu que um suspiro surpreso
saísse por ela.
— E eu não tenho vergonha de ser
amputado. Não tenho preconceito e
francamente não ligo se outras pessoas
tiverem. Não gosto da minha perna
porque não era para eu ser assim.
As lágrimas queimavam nos olhos
dele, mas Patrick se recusou a deixá-las
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cair, se abaixando para vestir a cueca e
a calça que ainda estavam aos seus pés.
— Eu nasci perfeito, Elena. E não
falo de beleza física como se fosse um
metrossexual qualquer, falo de ter
nascido com tudo o que uma pessoa tem
o direito de nascer. Agora meu corpo
parece uma tela macabra para esconder
as queimaduras, eu mal me reconheço no
espelho porque tive que fazer inúmeras
cirurgias reconstrutivas para não ficar
desfigurado e tenho que usar um aparato
qualquer para poder andar, então me
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desculpe se eu estava nervoso em
compartilhar isso com a garota que tem
a porra do meu coração nas mãos.
Elena sentou na cama, pois não
confiava nas suas pernas para mantê-la
em pé. Mordeu os lábios e abaixou a
cabeça antes de sussurrar.
— Felipe.

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19

Sempre que Marco tinha algum medo


quando pequeno, ele procurava seu pai.
Fosse por algum inseto que o deixasse
apavorado, por um suposto monstro
embaixo da cama, criaturas noturnas que
o visitavam durante a noite ou o medo
irracional que muitas crianças têm de
perder os pais por algum motivo.
Sentado no banco de trás de uma

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limusine alugada, ele voltou a ser uma
criança. Estava com medo. Na verdade,
estava apavorado. Queria, com todas as
suas forças, que não tivesse cometido
um erro tão grande. E novamente ele
precisava do seu pai para lhe dizer que
tudo ficaria bem, que não existia nada a
temer e que quando ele acordasse na
manhã seguinte, o medo da noite anterior
não seria nada além de uma lembrança.
Quando ele entrou na mansão dos
seus pais, viu James Hardy e Eduardo
sentados na sala, cada um com uma dose
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de uísque na mão, parecendo muito
compenetrados em uma conversa. O que
James está fazendo aqui a essa hora?
— Marco. — Eduardo sorriu ao ver
o filho parado nas portas duplas da sala
da sua casa. — Que bom vê-lo, mas não
estava esperando sua visita a essa hora.
— ele completou, olhando com a testa
franzida para o relógio. Passava da meia
noite.
— Eu estava em um jantar no
Waldorf-Astoria. Aquele que o senhor
faltou. — Marco respondeu com um
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sorriso sarcástico. — Estava maçante e
resolvi sair mais cedo.
Marco sabia que seu pai não cairia
nessa, mas não queria falar o real
motivo de estar ali, na frente do seu
investigador, embora suspeitasse que
talvez ele soubesse por alto.
Eduardo fez que sim com a cabeça e
olhou para o investigador, colocando um
fim na conversa.
— Tudo bem James, terminamos
amanhã. — Eduardo sorriu e o
acompanhou até a porta.
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Quando James foi embora, Eduardo
olhou para o filho e cruzou os braços
sobre o peito.
— Ok Marco, pode falar.
Marco coçou a cabeça e sentou no
lugar em que James estava. O que ele
diria ao pai? E, pela primeira vez em
sua vida, se perguntou se Eduardo o
ajudaria dessa vez, afinal seu pai é o
senador não se davam e Marco sabia
que Eduardo não era muito a favor do
seu envolvimento com Charlotte.
— É a Charlotte. — ele disse mesmo
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assim.
— É claro que é. — Eduardo
retorceu a boca com um sorriso cansado.
Já devia esperar por isso. Em seguida,
foi até o bar – apropriadamente
instalado no canto esquerdo da sala – e
preparou mais duas doses da mesma
bebida que ele e James tomavam.
— Aqui. — entregou um copo com o
líquido âmbar ao filho. — Eu me lembro
de você querendo conversar comigo
quando era pequeno. Só que tomávamos
chocolate quente com marshmallows na
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época.
Marco sorriu, tomando quase a dose
toda antes de criar coragem para falar.
— Acho que perdi quatro anos da
minha vida com uma bobagem, pai.
— Explique isso melhor.
— Acho que Charlotte me esconde
alguma coisa... grande.
— Marco, meu filho, isso não
deveria ser novidade para você. —
Eduardo disse com um pequeno sorriso
tenso.
— Não, o senhor não está
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entendendo. Eu descobri que ela tinha
um irmão e que ele morreu há uns anos,
antes da gente se conhecer.
Eduardo já sabia disso.
— Foi o James quem descobriu isso?
— Foi.
— E aí? O que tem isso de mais?
Marco contou a ele o que James
havia lhe falado, sobre a noite do
acidente, sobre Charlotte estar com Ken
Reynolds e a questão de se sentir
culpada pelo que aconteceu.
— Acho que ela mentiu naquele dia
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para os pais porque não queria ser uma
decepção pra eles. Pelo que James
descobriu com a Sra. Reynolds, ela
terminou com Ken por causa disso,
então é provável que tenha agido assim
comigo pelo mesmo motivo.
— Mesmo que seja verdade é que o
motivo de ela ter agido assim foi a
culpa, acha que isso justifica o que fez
com você?
Marco não sabia o que era perder um
parente. Nunca tinha lidado com a morte
e esperava não lidar com isso tão cedo.
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Mas achou que se tivesse no lugar de
Charlotte, com a idade que ela é tinha
na época, talvez tivesse agido da mesma
forma. Durante quatro anos a mágoa e a
raiva o cegaram, tudo o que queria era
fazê-la sofrer como ele tinha sofrido, e
pela primeira vez, ele se forçou a
enxergar que talvez existisse outro lado
da história, um motivo por trás, afinal
quando perguntou sobre seus
sentimentos, Charlotte disse que nunca
tinha deixado de amá-lo.
— Eu não sei se isso é inteiramente
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verdade, Marco. Não estou nem falando
de Harvard, afinal você se saiu muito
bem sem as honras. Estou falando do seu
coração.
— Eu não sei bem o que pensar,
papai. Eu amava Charlie e tudo o que vi
foi ela dizendo que não me queria na sua
vida porque eu era uma influência má
para sua futura carreira. — Marco deu
de ombros, desanimado. — Eu estava
com tanta raiva... Mas me lembro de vê-
la com lágrimas nos olhos naquele dia.
Não sei, estive pensando que talvez
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fosse por mim.
Eduardo virou o resto da sua bebida
e olhou com o rosto sério para o filho.
Havia muitas coisas que Marco não
sabia e ele achava que talvez não fosse
prudente contar, uma vez que o coração
do filho parecia ter sido amolecido pela
"cachinhos dourados". Mas se o filho
tivesse realmente superado o que
aconteceu, talvez merecesse o benefício
da dúvida.
— Marco, me diga a verdade, filho.
Isso significa que quer dar uma chance a
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ela? — Eduardo perguntou.
— Eu a amo. — Marco disse com
sinceridade. — Mas acho que a perdi. E
eu estou apavorado com essa
possibilidade.
Desde que seu amigo Thomas
morreu, Eduardo tinha feito de tudo para
desencavar algum podre do senador, a
fim de mandá-lo para a prisão, pois
nada, nem ninguém lhe tirava da cabeça
que Bernard era o responsável pela
morte do homem. O fato de Marco
parecer odiar a filha dele era um ponto a
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seu favor, pois quando esmagasse aquele
imprestável, seu filho não ficaria
ressentido com ele.
Mas agora a coisa tinha mudado de
figura. Marco não só se dera conta de
que ainda amava Charlotte como
também achava que o motivo da atitude
dela anos atrás era totalmente
compreensível. Eduardo estava em
dúvida entre levar Bernard McKeena à
justiça sem se importar com os
sentimentos do filho, e contar tudo o que
havia descoberto com o intuito de trazê-
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lo para o seu lado.
Assim, o Villa-Lobos mais velho
soltou um longo suspiro. No final, não
havia o que pensar, pois a felicidade dos
seus filhos era tudo para ele e Camila.
— Filho, poderia trazer Charlotte
aqui?
Marco enrugou a testa e encarou o
pai.
— Pra quê? — perguntou
desconfiado com o pedido. — Pai, eu te
amo, mas eu juro por Deus que se o
senhor acha que eu vou deixá-lo dizer
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poucas e boas pra ela...
Eduardo sorriu.
— Eu tenho muita coisa pra falar pra
ela, sim. Mas, acredite, ela vai querer
ouvir.
— Do que está falando?
— De algumas coisas que James
descobriu pra mim.
Marco deixou o copo no console
central da sala e se inclinou para frente,
colocando os cotovelos nos joelhos.
— Pode me contar. — ele exigiu.
— Acho melhor esperar até que ela
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esteja aqui. Não quero me repetir.
Marco se entristeceu. Talvez ela
nunca mais queira me ver, pensou.
— Eu não acho que ela queira vir
aqui, pai. Ela me pediu pra ficar longe.
— E você pretende fazer isso?
— Não! Mas não sei como me
aproximar depois das merdas que fiz
com ela. — Marco não resistiu e voltou
a pegar o copo, virando o resto do
líquido que havia deixado. — A última
vez que nos falamos, ela parecia tão...
magoada... e triste.
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— Deixe-me ver, ela descobriu sobre
seu negócio com o Patrick?
Marco empertigou-se.
— Como sabe disso?
— Eu sou seu pai. — Eduardo
respondeu calmamente. — É meu dever
saber tudo sobre meus filhos. Me diga,
foi isso?
Marco fez que sim. Agora ele se
envergonhava disso.
— Não sei como, Patrick disse que
não falou nada, mas ela descobriu e
dizer que ficou chateada seria um
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eufemismo.
— O que você esperava?
— Eu sei que pisei na bola. Não
preciso de um sermão do meu pai.
— Talvez a única coisa que precise
seja de um sermão do seu pai. —
Eduardo disse com a voz mais dura, mas
suavizou com um pequeno sorriso no
final.
Houve um silêncio de alguns minutos.
Marco esperou que Eduardo falasse
mais alguma coisa, mas não fez isso. Seu
pai devia saber o merda que ele já
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estava se sentindo. Então Marco
resolveu voltar ao assunto anterior.
— O que quer com Charlotte?
Eduardo se levantou, pegou o copo
de Marco e foi novamente ao bar, o de o
encheu juntamente com o seu. Depois se
sentou ao lado do filho mais uma vez.
— Existe muito mais coisa na morte
de Robert McKeena do que você
imagina.
Ele entregou o uísque a Marco e
tomou um gole do seu próprio.
— Há anos James vem investigando
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o senador. Ele descobriu muitas coisas,
mas nada que eu pudesse usar. Porém,
ultimamente, coisas mais podres têm
sido desenterradas.
— Que tipo de coisas? E o que tem a
ver com o irmão da Charlie?
— Ele não era o garoto perfeito.
Tinha envolvimento com drogas.
— Caramba. Por essa eu não
esperava. — Marco murmurou surpreso.
— É. E não era como usuário. Ele
tinha um fornecedor e revendia tanto na
Columbia como em bairros próximos.
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Especialmente na região mais pobre do
Harlem.
Marco lembrou-se do relatório de
James, falando sobre Ken Reynolds. Era
onde ele morava quando namorava a
Charlotte.
— Acontece que Robert teve alguns
problemas com um chefão de gangue de
lá, pois estava roubando muitos dos seus
clientes. Na noite em que morreu,
Robert não estava a caminho da casa de
Ken Reynolds para buscar a irmã, ele já
estava naquele bairro. Pelo que James
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descobriu, ele tinha um caso com a filha
do chefão da gangue, talvez pra ter
alguma vantagem, não sei... Enfim, ele
foi surpreendido pelo cara e teve que
fugir. Houve uma perseguição de carro e
depois de ultrapassar um sinal, um
caminhão bateu no carro do Robert,
matando-o.
Isso é inacreditável, Marco pensou.
Durante anos Charlotte se culpou pela
morte do irmão, acabando com seu
relacionamento primeiramente com Ken
e em seguida com ele por causa dessa
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culpa. Mas na verdade, seu irmão tinha
morrido por algo que estava além do seu
conhecimento, provavelmente. Isso era
muito fodido.
— Porra. — Marco gritou, dando um
soco no braço da poltrona. — Porra.
Porra. Porra.
— Silêncio, Marco. Sua mãe já está
dormindo. — Eduardo o repreendeu
com veemência. — Se for pra perder o
controle assim, vou encerrar a história
por aqui.
Marco estava nervoso e com certeza
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seu controle tinha ido para o espaço,
mas ele forçou-se a respirar fundo e
pediu que o pai continuasse. Ele
precisava saber de tudo para poder falar
com Charlotte.
— Muito bem, onde estávamos?
Marco pressionou as unhas no
estofado da poltrona e trincou os dentes.
— Na noite da morte do Robert. O
que mais James descobriu?
— Fora essa história das drogas,
algumas coisas sobre o senador.
— É isso que eu não entendo. Eu não
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sabia da existência desse cara até o
James mencioná-lo. Ele era filho de um
senador federal, porra, como não há
nada sobre ele?
— Como você mesmo disse, ele era
filho de um senador. E ordinário como o
Bernard é, não quis seu nome envolvido
com toda essa merda, então praticamente
comprou todos os meios de mídia. A
morte do filho foi mencionada
pouquíssimas vezes e atribuída a outra
causa. Além do mais, na época em que
isso aconteceu, estávamos em
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Olimpíadas. Então quem iria se
preocupar com a morte do filho de um
senador quando o país estava ganhando
medalhas de ouro, uma atrás da outra?
Eduardo sentiu o estômago
embrulhar. Em que mundo um homem
poderia se importar mais com sua
carreira política do que com um filho?
— Tenho certeza de que o McKeena
usou isso a seu favor, aproveitando a
distração do país com os jogos.
— Com certeza. Até onde James
pôde apurar, a influência da Sra.
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McKeena com a mídia ajudou a encobrir
tudo.
— Não acho que a Charlie saiba
disso.
— Duvido muito. Se é verdade essa
história de culpa e tal, com certeza os
pais dela a manteriam na linha usando
isso.
— Eu tenho que contar a ela, pai. Ela
merece saber.
— Concordo.
Eduardo notou que Marco dedilhava
o celular e não precisava ser um gênio
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para saber qual contato ele buscava.
— Mas não hoje, filho. — ele
colocou uma mão sobre a mão em que
Marco segurava o celular. — Já é tarde.
Espere até amanhã.
Na verdade era um ótimo conselho.
Por mais que achasse que Charlotte o
agradeceria por tirar esse peso dos seus
ombros, Marco sabia que era pouco
provável que ela atendesse a uma
ligação a essa hora. Honestamente, ele
não achava que ela fosse atender a
qualquer ligação dele, logo teria que
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procurá-la, até porque esse com certeza
era um assunto para ser tratado
pessoalmente.
Marco foi até a porta e Eduardo o
acompanhou. Antes de sair, ele se virou
e abraçou o pai com força.
— Obrigado, velho.
— Sempre que precisar, garoto.
— Não vai me falar sobre os podres
do senador?
— Se não se importa, não. Fale com
a Charlotte, conte isso a ela e depois
que vocês se resolverem, ou não, eu
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vejo se devo contar... ou não.
Eduardo sorriu e Marco o imitou.
— Diga à mamãe que mandei um
beijo. Eu volto depois para vê-la.
— É melhor mesmo. Você mal vem
aqui e se Camila souber que você veio a
essa hora e não esperou até de manhã
para vê-la, eu é que vou ser mandado
pra fora do quarto.
— Ok, pai, isso é muita informação.
Marco tirou as chaves do carro do
bolso e abraçou novamente o pai, se
encaminhando para onde sua Ferrari
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estava estacionada.
— E se falar com a Luciana, diga que
quero vê-la. Parece que faz séculos que
não falo com ela. — Eduardo gritou
atrás dele.
— Tudo bem. Vou ver se Roman dá a
ela alguma folga. — Marco piscou para
o pai, abrindo a porta. — Você sabe, ele
a mantém muito ocupada.
— Marco! — Eduardo rosnou diante
da provocação do filho, em seguida
entrou em casa.
Marco sorriu sozinho, entrou no carro
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e deu partida. Conversar com seu pai
sempre era a melhor coisa a fazer. E
essa última conversa lhe deu munição
para lidar com Charlotte, afinal, ele
precisaria de toda artilharia possível
para ser perdoado.

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20

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Patrick e Elena

— O que você disse?


Elena tinha os olhos no chão. Sua
mente voava de volta há dez anos, ao
garoto que ela tanto amou, e que partiu
seu coração ao ir embora desse mundo
sem dizer adeus. É claro que não tinha
sido culpa dele, mas isso não a impedia
de se sentir traída pela vida por lhe tirar
algo que ela conhecia havia pouco
tempo, mas que amava como se
estivesse com ela há séculos.
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— Sua história... — Elena pigarreou.
— Ela meio que me lembrou de um cara
que eu conheci.
Patrick suspirou com alívio. Por um
minuto, achou que seu segredo tivesse
sido descoberto. Era aterrorizante, mas
reconfortante ao mesmo tempo. Talvez
tudo desse errado se Elena soubesse
quem ele era de verdade, mas talvez
houvesse a chance de tudo ficar bem. O
sentimento inquietante que ele sentiu lhe
deixou tonto.
— Gostaria de compartilhar? — ele
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perguntou quase com um sussurro.
Elena olhou surpresa para ele. Por
que aquele homem estava interessado
em qualquer coisa sobre o seu passado?
Não era como se fosse um crime ou algo
assim, mas era algo realmente íntimo.
Talvez até mais do que sexo. Porém,
sentindo que – de alguma forma – podia
confiar nele e que não tinha motivo para
se negar, Elena resolveu contar um
pouco sobre Felipe.
— Foi um cara que eu namorei
quando era adolescente.
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— Imagino que tenham terminado.
Ela mordeu o lábio inferior,
relembrando o ocorrido.
— Na verdade, ele morreu.
— Oh. — Patrick pigarreou, tentou
falar, mas acabou pigarreando de novo.
— Sinto muito. — sussurrou quando sua
voz estava apenas meio limpa.
— Acho que o amava.
— Você acha?
— Bom, tanto quanto uma garota de
quinze sabe sobre amor.
Uma lágrima desceu pelo rosto triste
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de Elena. Parecia que ela estava
novamente no Morro da Mangueira, na
pequena casa em cima de um amontoado
de outras residências, olhando para os
restos em chamas daquele lugar. Felipe
e sua mãe não tinham conseguido sair
antes que um balão junino caísse ali,
causando um incêndio trágico em
questão de minutos.
Ela estava em sua casa, no Alto
Jardim Botânico, sem conseguir dormir,
quando viu as notícias que passavam em
um jornal de madrugada. A verdade é
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que Elena não era muito de assistir
jornais, mas por algum motivo, enquanto
zapeava os canais, parou em um
específico e acompanhou o que o
repórter dizia...
E tomou o maior choque da sua vida
quando viu que a notícia – que falava
sobre a morte de duas pessoas – se
passava no morro em que Felipe
morava. As chances de ser a casa dele
eram mínimas, considerando a
quantidade de casas daquele morro, mas
algo dentro dela estalou. Com um pulo
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da cama, Elena correu ao quarto dos
pais e chamou sua mãe, implorando que
a levasse lá.
E ao chegar lá, chorou amargamente
com a constatação de que seu amado
estava morto. Felipe era pobre e seus
pais, principalmente seu pai, não
aceitavam seu namoro com ele. Para
Luís Fernando, qualquer morador de
morro era bandido ou vagabundo,
mesmo Felipe sendo um aluno exemplar
– ela sabia disso porque ele estudava na
mesma sala que ela, como aluno
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bolsista, é claro – e trabalhar em dois
lugares diferentes para não ser obrigado
a se envolver com o mundo do crime.
Mas naquele momento de dor e
angústia de alguém que sofria pela
primeira vez uma perda tão grande,
Elena contava com sua mãe ao seu lado,
que pelo menos parecia estar realmente
triste pelo rapaz. Ela tentou consolá-la,
dizendo-lhe que acidentes acontecem;
que doía, mas que não iria matá-la; que
essa era apenas sua primeira desilusão
amorosa e que isso acontecia com todas
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as adolescentes.
O problema é que não era uma
desilusão amorosa. Felipe não tinha
terminado com ela. Ele estava morto. E
naquela hora, Elena sentiu que parte sua
morrera também. Não fazia sentido
voltar à escola no dia seguinte se Felipe
não estaria lá. Tudo o que ela faria seria
olhar para a cadeira vazia ao seu lado,
desejando que a noite anterior tivesse
sido apenas um terrível pesadelo. Não
fazia sentido olhar para o futuro e ter a
plena certeza de que a pessoa que ela
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via ao seu lado não estaria lá de fato. E,
com certeza, não fazia sentido continuar
vivendo uma vida de dor, sabendo que
os dias não ficariam mais fáceis com
passar do tempo, como sua mãe dissera.
Assim, ao voltar para casa e se
trancar no quarto, para dar a Felipe o
luto que ele merecia, chorando até
amanhecer, Elena pegou sua mochila e
esvaziou o conteúdo em cima da cama.
Só bastou uma olhada rápida para
conseguir achar o que procurava.
Quando amanheceu, ela estava
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consciente do que queria fazer e com um
último “eu te amo” para a foto polaroid
de Felipe que mantinha escondida dentro
da fronha do seu travesseiro, ela
deslizou o estilete pela pele, rasgando
sua dor e deixando-a vazar para os
lençóis brancos e imaculadamente ricos
que a cercava, dando a eles a cor rubra
que tanto amava.
Agora, diante de Patrick, Elena
lembrava-se de um momento de paz,
onde a dor não existia, onde seu
namorado estava com ela. Mas ao ser
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reanimada, ela soube que a breve
felicidade não passara de uma espécie
de sonho que a envolvera enquanto seu
corpo aguardava que a transfusão fizesse
seu efeito. Seus pais a tinham
encontrado quase morta em seu quarto e
a levaram para o hospital às pressas. O
estado era grave – os cortes eram fundos
e feitos verticalmente, a hemorragia fora
enorme – e se tivessem demorado um
pouco mais, Elena não teria conseguido
sobreviver. Mas felizmente – ou
infelizmente para ela – os ricos no
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Brasil tinham atendimento a qualquer
hora.
A mulher de vinte e cinco anos hoje,
passou os dedos pelas cicatrizes nos
pulsos e sentiu um arrepio passar pelo
seu corpo, como acontecia toda vez que
fazia isso. Era um lembrete do quão
perto ela esteve do seu amado e do
quanto sua dor ainda estava viva dentro
de si.
— Na verdade, — ela levantou-se da
cama e deu as costas a Patrick — eu
tenho certeza de que o amava. E que
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ainda amo.
O peito de Patrick se encheu de
sentimentos ambíguos. Em parte, estava
feliz por saber que ela não tinha se
esquecido do garoto que ele fora um dia.
Mas por outro lado, sabia que se isso
era realmente verdade, as chances de
que ele, como Patrick, conseguisse sua
afeição verdadeira eram inexistentes.
— Sinto muito, Elena. Não queria lhe
trazer lembranças desagradáveis.
— Não se desculpe. Você não tinha
como saber.
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Virando-se para olhar nos olhos dele,
Elena sorriu um pouco.
— Felipe sempre será o amor da
minha vida. Eu era jovem e talvez não
soubesse nada sobre esse sentimento
ainda, mas tudo o que sei é que nunca
senti isso por ninguém.
Ela mordeu os lábios novamente.
Patrick apareceu na sua vida como uma
besta fera, um homem ganancioso, cruel
e implacável. E isso fez com que ela
sentisse algo parecido com ódio por ele.
Mas ao conhecê-lo melhor e depois das
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suas revelações, ela viu que não poderia
estar mais errada. Patrick Matarazzo,
empresário, era sim um homem
implacável, mas Patrick Matarazzo,
amigo e amante, era doce, gentil e tinha
um coração gigante.
— Você tem muita sorte, Patrick. Eu
não sei se tem mesmo alguém especial
na sua vida, mas o fato de ter
sobrevivido ao que contou, me diz que
você é um guerreiro e com certeza seria
uma honra para qualquer mulher
conhecer o homem que você realmente
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é.
Com isso, Elena pediu que ele saísse
do seu quarto e, em seguida, deitou-se
para dormir. Ou pelo menos, para tentar.

Patrick não conseguiu pregar o olho o


resto da noite. Não conseguia parar de
pensar na expressão de Elena enquanto
conversavam no quarto dela, parecendo
imersa em pensamentos dolorosos. Ela
confessara que ainda amava o garoto
que um dia ele tinha sido e pela primeira
vez desde o incêndio, Patrick se pegou

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pensando em como fora a sua vida após
sua morte ter sido confirmada. Como
reagira? Será se acreditara que o motivo
fora mesmo um balão junino?
Todos esses anos, ele imaginou que
ela tivesse superado em apenas alguns
meses o que aconteceu. Ele sabia que
Elena o amava, mas como tinha dito
apenas algumas horas atrás, ela era
apenas uma adolescente e o que os
adolescentes sabem a respeito desse
sentimento tão complexo? Porém, a
mulher madura que ela tinha se tornado
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lhe garantiu que aquele garoto sempre
seria o amor da sua vida.
E era exatamente aí que morava o
problema. Patrick não era mais aquele
garoto. Aquele garoto morreu naquele
incêndio. O homem que ele era hoje,
talvez não merecesse a inocência, a
pureza e o amor de Elena. Esse homem
não media esforços para conseguir o que
queria, e quando queria destruir alguém,
com certeza conseguia. O fato de seu
alvo ser o pai da sua amada parecia ser
uma tremenda piada de mau gosto.
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— Ah Elena, se você soubesse o
quanto eu te amo. — disse Patrick para a
escuridão do seu quarto. — Se soubesse
o quanto eu gostaria que nossa vida
tivesse sido desenhada de outra forma.
Com traços menos sombrios.
Ele daria tudo para tê-la em seus
braços. Inclusive seu desejo de
vingança.
Claro, se não tivesse prometido à
única outra mulher que amou que não
iria embora desse mundo sem fazer Luís
Fernando pagar pelo seu crime.
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Era impossível esquecer.
O calor estava tão intenso naquele
dia. Parecia que ele estava na padaria
em que trabalhava, mais precisamente
dentro do forno. Patrick olhou ao redor,
ao abrir os olhos, e viu sua mãe
dormindo profundamente na cama ao
lado no pequeno barraco que ele
chamava de casa. A fumaça negra que
vinha de uma pilha de pneus – que ele
pretendia vender no dia seguinte para
conseguir algum dinheiro extra – não o
deixava respirar direito, além disso,
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seus olhos ardiam como se tivesse sido
jogado pimenta neles.
Felipe não sabia como aquele
incêndio tinha começado, mas sabia
quem tinha provocado, pois mais cedo
naquela noite, o pai de Elena o tinha
visitado com um presente vermelho
brilhante.
— Eu não quero a porra de uma
moto, tio.
— Não sou seu tio, seu porra, e veja
lá como fala comigo. Eu poderia
simplesmente mandar você para a
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cadeia por qualquer merda, mas estou
oferecendo uma oferta mil vezes melhor,
não acha?
— Não pode comprar meu amor por
Elena.
O coroa riu com deboche. Seus
seguranças também.
— Escute aqui, seu delinquente do
caralho, você vai deixar minha filha em
paz. Eu não quero que ela acabe grávida
de um zé ninguém como você ou que
acabe pegando uma doença. Elena não é
para o seu bico, então aceite o que estou
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dando e se afaste dela.
Felipe não era de responder os mais
velhos, sua mãe sempre lhe ensinou a
respeitar as pessoas, mas o simples fato
de Luís Fernando colocar um preço na
garota que ele amava tanto, era
suficiente para fazê-lo esquecer da
educação que tivera.
— Pegue a porra dessa moto e enfie
no cu. Eu gosto de Elena pra caralho e
só vou ficar longe dela no dia em que eu
morrer.
— Não brinque com fogo, moleque.
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Ou vai se queimar.
Diante do fogo que se expandia aos
poucos, Felipe não teve dúvidas de que
a ameaça não fora vazia. Principalmente
ao ver um homem passar pela porta que
dava para a cozinha com um balde de
gasolina na mão.
— Ei! — Felipe gritou. O homem
olhou para trás. Era um dos seguranças
de Luís Fernando.
— Merda. — ele xingou. — Não era
pra você já ter acordado. Eu ainda não
terminei com você.
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Com um canivete nas mãos, o homem
de quase dois metros entrou no pequeno
quarto e o apunhalou, mas não antes que
Felipe conseguisse se virar, assim,
sendo acertado nas costas. Ele sentiu
três golpes antes que seu corpo caísse
inutilmente no chão.
A fumaça aumentou e, xingando, o
homem foi embora, deixando-o ali caído
perto da cama da mãe. Pouco tempo
depois, houve uma explosão na cozinha
e o calor começou a aumentar. A fumaça
queimava seus pulmões e mesmo com a
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vista embaçada, ele via que sua mãe não
se movia.
— Mamãe! — Felipe tossiu. — Mãe,
acorda.
A mulher parecia ter sido pega pelo
sono da morte. Ou estava embriagada,
ou drogada, mesmo nunca tendo
colocado uma gota de álcool na boca ou
usado nada mais forte que comprimidos
para dor de cabeça.
Felipe olhou para trás de si e viu o
fogo se alastrar rapidamente para o
quarto, seguindo um rastro específico,
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molhado, e indo diretamente para a
cama da sua mãe.
— Não! Mamãe. Mamãe.
A mulher não se movia e após alguns
segundos de agonia, ele sabia que ela
nunca mais se moveria.
— Não, mamãe.
Lágrimas quentes como todo aquele
inferno inundaram seus olhos. E foi
nessa hora que uma viga em chamas caiu
do teto nas costas de Felipe, fazendo o
fogo logo se espalhar pelo seu corpo.
Ele gritou e chorou, sentindo uma dor
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tão intensa que foi um alívio quando
tudo ao seu redor se apagou.
Patrick lembrava-se de ter acordado
em um espaço clínico e estéril, rodeado
de médicos e com um senhor de cabelos
brancos ao seu lado, segurando sua mão
enfaixada. Lembrava-se de chorar ao ter
certeza de que o que tinha vivido não
fora um sonho. Lembrava-se da dolorosa
recuperação. Lembrava-se dos detalhes
policiais contados pelo homem que se
revelou seu avô. Lembrava-se das noites
em que não conseguia dormir.
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Lembrava-se da promessa que fez à
memória da mãe de que faria Luís
Fernando pagar caro pelo seu crime.
Lembrava-se do exato momento em que
seu ódio e sua vingança o cegaram para
qualquer outro sentimento.
Lembrava-se do exato momento em
que sabia que tinha perdido Elena para
sempre.

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21

— Charlotte, tem uma ligação na


linha 2 pra você. — Fiona disse pelo
interfone.
Finalmente depois de duas semanas,
Charlotte tinha conseguido concretizar a
mudança do depósito no Brooklin para
um andar alugado em um prédio. Não
era um dos arranha-céus mais

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imponentes da cidade, mas era na Quinta
Avenida e com certeza ali ela tinha
muito mais espaço para si e seu pessoal.
Com a ajuda de uma nova amiga,
Elena Pacheco, foi muito mais fácil
dividir a empresa por departamentos.
Cada um dos seus novos empregados
cuidaria de um setor e ela poderia ter
um pouco mais de tranquilidade. Elena
só não aceitou o cargo de diretora
financeira porque disse que sua estadia
em Nova Iorque não era permanente e
que em breve voltaria ao Brasil.
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Charlotte não acreditava muito nisso.
Desde a noite do jantar em que soube
que Marco era seu sócio e não Patrick,
ela já os tinha visto juntos algumas
vezes e o sentimento que ela via entre os
dois não era coisa da sua cabeça. Para
Charlotte, estava mais do que na cara de
que Patrick e Elena eram completamente
loucos um pelo outro, mesmo que não
mostrassem um ao outro. E era quando
se lembrava da forma como eles
interagiam, que ela sentia um pouco de
inveja, pois gostaria de ter alguém em
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sua vida que lhe olhasse com Patrick
olhava para a sua amiga.
— Ok, vou atender.
Charlotte apertou um botão e logo
uma voz masculina preencheu sua sala,
rouca e forte.
— Bom dia, Charlotte.
Era Marco. De novo.
— Achei que tivesse deixado claro
que não queria mais saber de você. —
ela respondeu fria.
— Charlie, por favor, tenho uma
coisa muito importante pra te falar, estou
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tentado entrar em contato com você nas
últimas duas semanas, mas você não me
atende.
— Então você é realmente um
bastardo muito burro. Não sacou a dica?
Ela o ouviu praguejar longe do
telefone. E sorriu por isso.
— Olha, eu sei que me odeia agora,
mas...
— Adeus, Sr. Villa-Lobos.
Charlotte desligou o telefone sem
deixá-lo terminar. Em seguida, chamou
sua assistente.
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— Da próxima vez que o Sr. Villa-
Lobos me ligar você não vai passar a
ligação pra mim, entendeu? Na verdade,
eu quero que você saiba exatamente a
identidade de quem está me ligando para
evitar perdas de tempo.
— Sinto muito, Charlotte. Ele disse
que era importante e eu...
— Tenho certeza que ele disse. Mas
faça o que eu estou dizendo, sim?
— Com certeza. Não se preocupe.
Charlotte a mandou de volta à sua
mesa, e para puni-la, a chamou logo em
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seguida para pedir que lhe trouxesse um
Macchiato e alguns Donuts. Em seguida,
voltou ao trabalho.
***
Marco bateu o telefone com força na
mesa. Ele não sabia mais o que fazer.
Charlotte tinha lhe bloqueado nas redes
sociais. Não atendia suas ligações. Não
respondia suas mensagens privadas. E
não aceitou nenhum dos seus mimos
como ofertas de paz, inclusive um lindo
colar da Cartier que lhe foi enviado
juntamente com um bilhete
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especialmente longo, redigido a punho
por ele mesmo. Marco não se lembrava
da última vez que tinha escrito algo
pessoalmente.
— Porra. — ele resmungou, jogando
os papéis da sua mesa no chão. Como
achou pouco, pegou seu copo de
conhaque e o arremessou contra a
parede do outro lado da sua sala.
E foi exatamente com essa cena que
Nicole se deparou ao entrar.
— Nossa Marc, o que o pobre copo
fez a você? — ela ergueu uma
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sobrancelha. — Deixe-me adivinhar,
Charlotte?
Ele apenas bufou em resposta, se
jogando na sua poltrona em seguida.
Nicole soltou uma risadinha, mas parou
quando ele lhe lançou um olhar no
mínimo mortal.
— Desculpa. — ela sorriu, sentando-
se em uma cadeira em frente à mesa
dele.
— Tudo bem. Eu só... precisava
descontar em alguma coisa.
— Então por que não liga para o Igor
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e pede uma sessão especial. Ele me
ajudou outro dia.
Igor Hernades era seu treinador de
MMA e kickboxing. Na verdade, ele
atendia toda a família, com exceção da
sua irmã Luciana, que praticava com o
personal do Roman. Coisa que Marco
desconfiava que servisse apenas para
deixá-los mais tempo juntos.
— Acho que vou marcar algo com
ele hoje à noite. — Marco enrugou a
testa. — Preciso aliviar toda essa
tensão.
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— Por que não me conta o que
aconteceu? Não sou boa de briga, nem
psicóloga, mas ainda sou sua melhor
amiga.
Marco não hesitou. Nicole era de
longe a melhor pessoa que ele conhecia
e pedir um conselho ou dois a ela era um
luxo ao qual a maioria das pessoas não
poderia se dar. Então contou tudo. Sobre
seu negócio com Patrick, a reação de
Charlotte e as descobertas de Eduardo
sobre o senador.
— Uau. — Nicole assobiou. — Se eu
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fosse você, chutaria pessoalmente a
bunda desse homem. E se eu fosse ela,
nunca mais olharia na cara de um pai
desses. Credo.
— Ela não sabe. Não quer falar
comigo desde que descobriu sobre a
parceira forçada.
— E você pode culpá-la?
— Eu sei que não. Mas isso é tão
importante...
— Marc, eu te amo, você é uma das
pessoas mais importantes da minha vida,
juro, mas às vezes eu tenho vontade de
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bater na sua cabeça com um porrete.
Porra, ela está coberta de razão.
Marco se sentiu com oito anos de
novo, quando fazia algo errado e seus
pais lhe davam um sermão daqueles... E
tal como aquela criança, ele não disse
nada, pois sabia que estava errado, e
apenas acompanhou as palavras de
Nicole com um aceno.
— Vai, me conta, quais os seus
esforços pra tentar se redimir?
— Eu já tentei de tudo. Já liguei,
mandei mensagens, mandei flores,
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mandei joias... Caralho, eu não sei o que
fazer.
— Lamento dizer, priminho, mas
você está no caminho errado.
— O quê? — Marco perguntou com
descrença.
— Você pode enviar uma floricultura
ou uma joalheria inteira pra ela e não
vai servir para nada. Não lembra o que
te colocou nessa situação? A única coisa
que você vai mostrar pra ela é que é um
cara de vinte e cinco anos podre de rico
e nada mais. E ligar, mandar mensagens?
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Quantos anos você tem, pelo amor de
Deus? Doze?
— Não precisa exagerar. — Marco
sorriu um pouco envergonhado.
— Olha, pode usar todos os meios
eletrônicos pra tentar falar com ela, mas
vou te aconselhar a usar outra coisa. Um
equipamento de alta tecnologia chamado
campainha. Vai falar com ela
pessoalmente, não fica com a bunda aqui
nessa cadeira como se fosse um
deficiente físico.
Marco passou as mãos pelo rosto,
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considerando as palavras da prima. Ele
sabia que quando precisava de um
abraço, ela fazia isso. Quando precisava
de palavras de consolo e encorajamento,
ela também era a pessoa indicada.
Assim como quando precisava de um
pé-na-bunda verbal.
— Quando foi que ficou tão madura?
— ele riu.
— Eu sempre fui, Marc. — ela deu-
lhe um sorriso enviesado. — Por isso
sempre fui melhor que você na escola.
E com uma piscadela, Nicole se
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levantou. Com certeza o primo tinha
muita coisa para fazer e ela não deveria
incomodá-lo com suas preocupações.
— Você já vai? — Marco perguntou
quando viu que ela ajeitava a bolsa no
ombro.
— Pois é, tenho algumas coisas para
resolver.
— Mas você não veio aqui para
nada. Muito menos pra me ouvir falar
dos meus problemas. Então por que
veio?
— Deixa pra lá, eu sei que você está
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ocupado...
— Nicole! — ele a repreendeu. —
Vamos lá, você nunca incomoda. E se
veio até aqui deve ser importante.
— Tudo bem. Eu fui ver o Dr. Culkin
hoje de manhã.
— Mesmo? — ele sorriu e foi para o
lado dela, pois parecia preocupada. —
Qual o problema? Ele não pode fazer
sua LASIK?
— Pode. Na verdade, ele disse que
tem uma vaga disponível para daqui a
duas semanas.
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— Isso é bom, Nicole. Qual o
problema? Não me diga que ainda está
com medo?
— Não da cirurgia. Mas é que... ele
me disse que eu precisarei procurar um
cardiologista. Você sabe que a minha
bisavó teve problemas cardíacos e, pelo
que parece, é hereditário. Meu pai
herdou, mas Roman está limpo, então...
— Relaxa. Você não tem nada. Não
tem como um babaca como o Roman não
ter problemas com o coração e você
sim.
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Marco sorriu para aliviar a tensão
dela, mas Nicole apenas olhou para ele
com o rosto preocupado. Ela cresceu
com isso, sabendo que mais cedo ou
mais tarde, alguém da sua família
sofreria da mesma doença que sua
bisavó sofreu. Seu pai tinha a doença,
mas ela era contida, pois começou seu
tratamento muito jovem. Roman nunca
apresentou os sintomas e mesmo sendo
jovem, Nicole tinha medo de que ou um
ou outro acabasse tendo o mesmo
problema. Porém, havia três meses que
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seu irmão fizera os exames e o médico
lhe disse que seu coração não poderia
estar em melhor estado. O que a deixava
na berlinda.
— Olha, se quiser eu vou com você.
— Não, tudo bem. Vá fazer suas
coisas, eu vou ficar numa boa.
— Tem certeza?
— Tenho. O Dr. Culkin me indicou
um cardiologista ótimo. Disse que eu
ficarei em ótimas mãos.

Passava um pouco das três da tarde

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quando Marco chegou ao prédio onde
Charlotte tinha alugado uma área para a
Glitz Fashion Company. Ele achava que
ela merecia estar em um lugar melhor,
talvez em algum dos seus prédios, mas
ficou receoso de se meter nisso e acabar
de uma vez por todas com as poucas
chances que ainda tinha de se entender
com ela.
Ele adotou sua melhor postura de
homens de negócios e passou pelo hall
como se mandasse ali. Pegou um
elevador vazio e apertou o botão do
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décimo quinto andar. Contou exatamente
um minuto e meio antes que as portas
duplas se abrissem e revelassem um
lugar que mostrava moda em toda parte.
— Boa tarde, senhorita... Louise. —
ele disse, inspecionando o crachá da
bela morena à sua frente na recepção.
Por sorte a assistente de Charlotte,
Fiona, não estava. Ela o reconheceria.
— Estou aqui para ver Charlotte
McKeena.
— Seu nome, por favor, senhor?
Preciso anunciá-lo.
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— Patrick Matarazzo.
— Só um minuto.
Marco aguardou apenas vinte
segundos, antes de ser concedida
passagem para a sala da presidência.
Ele sorriu ao ver a escrita
CHARLOTTE MCKEENA, CEO na cor
rosa na porta de vidro preto fosco. Ao
entrar, viu que ela estava de costas,
arrumando uma pilha de papéis em um
arquivo atrás da sua mesa. Aproveitou
para trancar a porta.
— Um instante, Patrick, eu já falo
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com você.
Marco manteve-se em silêncio,
esperando estar cara a cara com ela para
poder falar. Mas ficou completamente
sem voz, quando ela se virou e sua
expressão mudou ao ver que era ele e
não seu amigo.
— O que porra você...
— Não quero brigar. — Marco disse
erguendo as mãos. — Só quero
conversar.
— Eu não tenho nada pra falar com
você.
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— Então apenas ouça.
— É alguma piada?
— Charlie...
— Não me chame de Charlie.
Caramba, ela estava fervendo de
raiva.
— Tudo bem. Charlotte. Melhorou?
— Vai melhorar mais ainda quando
você der meia volta e for embora.
Só por conveniência, ele sentou-se
em uma cadeira em frente à mesa dela e
sorriu. Tinha ido até ali para conversar
com ela e não sairia sem conseguir.
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Charlotte estreitou os olhos e foi até a
porta.
— Boa sorte para abrir a porta sem a
chave.
Ele não viu, mas ouviu o gritinho
frustrado que ela soltou, provavelmente
ao sentir que não valeria a pena
esmurrar a porta de vidro grosso e à
prova de som. Também ouviu o som dos
seus saltos andando de volta até ele e
parando perto o suficiente para que ele
pudesse sentir sua respiração nas suas
costas, antes de ela se mover novamente
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e se jogar na sua cadeira.
— Fale de uma vez e vá embora.
— O que tenho pra falar com você é
importante demais para ser dito com
esse seu estado de humor.
— Você é o único responsável pelo
meu estado de humor. — ela soltou,
ácida.
— Eu sei. E não sei mais como tentar
me desculpar.
— Poupe-me da hipocrisia, Marco.
— Charlotte, é realmente importante
o que tenho a dizer. Acredite em mim,
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você vai querer ouvir. E eu não vou
desistir até que você me escute.
— Fale de uma vez então.
— Eu vou, mas não aqui. Você não
gostaria de ir...
— Você só pode estar brincando se
acha que vou com você a qualquer lugar.
— Eu posso ir até o seu apartamento.
— Não. Não quero você na minha
casa.
— Tudo bem, então venha ao meu
apartamento essa noite.
Charlotte ficou calada e Marco achou
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que estivesse considerando a
possibilidade, mas então ela explodiu
em uma gargalhada. Uma gargalhada que
vinha do fundo da barriga, fazendo sair
lágrimas dos seus olhos e seu rosto se
contorcer.
— Você é um ótimo piadista. — ela
disse, secando os olhos.
Marco bufou, mas não fez cara feia.
Sabia que merecia cada palavra ruim ou
descaso por parte de Charlotte. Ele tinha
agido como um imbecil com ela.
— Olha, eu juro que não é um plano
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elaborado pra te levar pra cama ou te
envergonhar. Droga, eu só quero
conversar...
— Fale aqui.
—... em um lugar tranquilo. — ele
terminou, pressionando os lábios numa
linha fina.
Charlotte colocou a cabeça nas mãos
e demorou alguns tensos segundos antes
de voltar a falar.
— Você não vai mesmo me deixar em
paz até que me dizer seja lá o que tem
pra dizer, não é? — perguntou com
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desgosto.
— Não. — ele respondeu orgulhoso.
— Então nem adianta tentar me fazer
desistir.
— Tudo bem então. Eu vou ao seu
apartamento hoje, mas vai ser jogo
rápido, hein. Não tenho tempo pra ficar
de papo furado.
— Ok. Ás sete? — ele perguntou
ansioso.
— Ás sete e meia. — ela sorriu,
mostrando quem era que mandava.

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Exatamente às sete e meia, Charlotte
despontava no elevador que levava à
cobertura de Marco. Ela esperava todos
os cenários possíveis e de certa forma
estava preparada para qualquer um
deles. Mas definitivamente não estava
preparada para o que realmente estava à
sua frente.
Um Marco usando apenas calça jeans
folgada, sem camisa e descalço, com um
avental no peito e uma colher de pau na
mão lhe recebeu. Meu Deus.
— Você é um maldito trapaceiro. —
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ela passou por ele, colidindo contra seu
ombro e jogando sua bolsa nele com
força.
— Eu não fiz nada. — ele respondeu,
pegando a bolsa antes que ela caísse no
chão. Em seguida a colocou em um
aparador no corredor perto da porta do
elevador e seguiu Charlotte apartamento
adentro.
— Como pode me receber vestido
desse jeito? Você sabia exatamente a
hora que eu viria, então por que ainda
está sem camisa?
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— Por quê? O fato de eu estar sem
camisa incomoda você? — ele sussurrou
ao passar perto dela, indo novamente
para a cozinha. Ela o seguiu.

— Na verdade, sim.
— O fato em si ou o que provoca em
você? — ele piscou um olho e foi para
perto do fogão, terminar de mexer o
ensopado de frutos do mar.
— Seu... seu... seu...
— Com certeza “seu”, Charlotte. —
ele não olhou para trás, mas sentiu o
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olhar dela nas suas costas. — Tem vinho
na geladeira ou cerveja, se quiser.
Sirva-se.
Charlotte não queria admitir, mas a
visão das costas de Marco, musculosa e
escultural, fez com que ela precisasse
mesmo de algo gelado. E não era vinho.
Talvez um banho, um banho bem frio.
Mas mesmo assim, ela abriu a geladeira
e pegou uma garrafa de Stella Artois, se
perguntando se ele costumava beber
aquilo ou comprara apenas porque sabia
que ela estaria ali naquela noite.
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— O que você está preparando? —
perguntou, sem querer parecer mal-
educada. Afinal, ele estava cozinhando
para ela.
— Ensopado de frutos do mar.
Lembro que você gostava. — ele apoiou
a colher na panela e se virou. — Acertei
no menu?
Não havia motivo para negar. Então
Charlotte sorriu e fez que sim.
Enquanto ela dava um gole na
cerveja, Marco se permitiu observá-la.
A forma como sua garganta se movia
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para engolir. A cabeça levemente para
trás. Os olhos fechados por causa do
álcool. Sem poder controlar, seu corpo
reagiu na hora. Seu pau endureceu em
um minuto e começou a pressionar o
tecido da calça jeans.
Porra, ela só pode estar querendo
me matar, ele pensou ao vê-la se
levantar para jogar a garrafa vazia na
lixeira. Charlotte usava um short jeans
curtinho preto, uma camiseta branca um
pouco cavada demais e sandálias, que
mesmo não sendo muito altas,
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pareciam... perigosas demais para um
mulher como ela.
Marco deu um passo em sua direção,
mas um momento antes de tocá-la,
recolheu a mão e pegou uma taça na
prateleira ali perto, fingindo que era
isso que ele queria o tempo todo. Em
seguida encheu de vinho e o bebeu
inteiro.
E durante todo o processo de
cozinhar, Marco suava e respirava quase
ofegante. Charlotte pediu para ajudá-lo e
parecia estar fazendo de tudo para
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deixá-lo louco. Tudo o que ele queria
era prensá-la contra a geladeira ou
colocá-la em cima da ilha da cozinha e
transar com ela até perder os sentidos.
Mas temia ser isso um jogo dela para
testá-lo.
Meia hora depois, finalmente o jantar
estava pronto. Enquanto Marco tinha
cuidado do ensopado e do arroz,
Charlotte fez uma salada bem elaborada
para acompanhar.
— Anda, fala logo o que queria dizer.
— Charlotte disse ao sentar no
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banquinho da ilha. Ela serviu-se e
fechou os olhos, apreciando o sabor
delicioso da comida que Marco tinha
feito.
— Primeiro me diz se eu fiz gostoso.
Charlotte, é claro, percebeu o duplo
sentido na pergunta dele, mas não queria
lhe dar o gostinho de rir ou ficar sem
graça com isso.
— Com certeza é o melhor polvo que
eu já comi. — ela gemeu. — Humm, a
lula e o camarão também estão ótimos.
— Que bom.
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Sim, ela quer me deixar louco. Onde
já se viu gemer desse jeito como se
estivesse trepando?
— Então agora, abre o bico. A
comida tá boa, mas não é incentivo o
bastante para me fazer ficar.
— Ok. Só me promete que vai ficar
calma e que não vai surtar.
— Eu não prometo nada. Fala logo.
Marco respirou fundo. Tinha treinado
isso várias vezes durante a semana,
sempre imaginando que em uma ocasião
ela iria falar com ele, mas estava
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nervoso agora que realmente estava com
ela.
Quando tomou coragem, começou.
Contou sobre James e a investigação que
fez para ele. Em seguida sobre a que fez
para Eduardo. Contou o que descobriu
sobre Ken e ela – dizendo que agora
entendia o motivo de ela ter agido
daquela forma no dia em que os dois
romperam – e por fim contou sobre as
descobertas de James sobre seu irmão
Robert e a relação dos seus pais na
omissão dos motivos reais da morte
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para a imprensa.
A essa altura, Charlotte não
conseguia engolir mais nada. A comida
de Marco estava deliciosa, mas ela
sentia que jogaria tudo para fora. Porra,
ela queria gritar. Queria quebrar as
coisas e acima de tudo, queria bater em
alguém. Marco era a pessoa mais
próxima, mas não queria descontar nele
sua raiva. Dessa vez, ele não era o alvo.
Não era culpado de nada. Seus pais,
seus malditos pais, a tinham manipulado
por anos, a tinham deixado sofrer uma
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culpa que sabiam que não era dela.
Porra, eles eram seus pais, deveriam ser
aqueles que garantiriam sempre a sua
felicidade.
Mas a verdade é que Judith e Bernard
McKeena só se preocupavam com suas
carreiras e com suas imagens na mídia.
Lágrimas começaram a queimar em seus
olhos, mas ela não queria derramá-las.
Não queria chorar por causa dos seus
pais, eles não mereciam. Mas no fim,
não conseguiu aguentar. Colocou o rosto
nas mãos e saiu correndo da cozinha.
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Mas não foi muito longe, Marco logo
estava atrás dela, segurando-a pelos
ombros e trazendo-a de encontro ao seu
peito largo e firme. E quando se alocou
ali, Charlotte sentiu uma paz tão grande
que gostaria de nunca mais sair daquele
lugar. Ele tinha cheiro de sabonete,
colônia pós-barba e algo único que era
só dele.
— Sinto muito, Charlie. Droga, sinto
muito.
Marco a embalava de um lado para o
outro, sentindo na alma a dor que ela
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sentia. Como tinha sido idiota ao ponto
de, algum dia, achar que ficaria feliz
com sua dor? Como achava que
sobreviveria a ver Charlotte arruinada e
sofrendo? Apenas suas lágrimas quentes
agora eram capazes de parecer agulhas
enfiadas em seu coração. Ele agradeceu
a Deus por ter aberto os olhos a tempo
de não fazer uma coisa da qual se
arrependeria para sempre e prometeu
que a partir daquele momento, faria todo
o possível para compensá-la e fazê-la
feliz.
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— Me beija. — era a voz fraca e
rouca de Charlotte. Marco piscou e
olhou para ela, corada e com os olhos
inchados, com a boca a meros
centímetros da sua. — Por favor, Marco.
Me beija.
— Não quero que se arrependa disso
amanhã, Charlie. Deus, eu te amo e não
aguentaria saber que você me odeia
ainda mais por causa disso.
— Nem em um milhão de anos eu
poderia te odiar. — ela sussurrou. — E
agora mesmo preciso que você tire isso
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de mim. Tire essa dor de mim. Por
favor, me faça esquecer.
Ao ouvir essas palavras, Marco
esmagou a boca dela com a sua. O gosto
do seu beijo era salgado pelas lágrimas,
mas incrivelmente revigorante. Ele a
sentiu criar vida junto ao seu corpo e
precisou procurar um apoio quando
Charlotte enfiou as unhas no seu couro
cabeludo.
Ele sentou-se no sofá e Charlotte não
perdeu tempo para montá-lo, beijando
com fome e desespero. Ela precisava
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daquilo. Precisava como nunca tinha
precisado de nada antes.
A calça de Marco, única peça de
roupa que ele vestia, pois nem mesmo
cueca ele usava, saiu do seu corpo como
mágica. As roupas de Charlotte sumiram
com a mesma rapidez, e logo, ele estava
entrando nela, profundamente,
lentamente, deliciosamente.
— Oh Deus. — ela gemeu quando ele
impulsionou os quadris para cima,
chegando ao exato lugar que ela o
queria.
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— Assuma o controle, Charlie. —
Marco rosnou, recostando-se no encosto
do sofá. — Você me fode.
Charlotte apoiou as mãos no peito
dele e começou a subir e descer.
Descendo sempre com mais força do
que antes, sentindo cada centímetro
daquele pau, fazendo Marco sibilar e
apertar suas coxas e bunda com força o
bastante para deixá-la marcada.
Quando sentiu o orgasmo se
aproximar, Charlotte colou a boca na
dele, entregando seus gemidos a ele e
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largando-o apenas para gritar seu nome.
Marco a seguiu, estocando rápido e
forte, esvaziando-se completamente
dentro dela.
O resto da noite parece ter passado
como um borrão sexual. Após o sexo na
sala, Marco e Charlotte foram para o
banheiro, onde transaram novamente, e
em seguida para o quarto, completando
uma terceira rodada. Marco adormeceu
após o quarto orgasmo, mas Charlotte
apenas fingiu. O sexo tinha sido
maravilhoso e tudo o que ela mais
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queria era ficar ali ao lado do seu
amante enérgico até de manhã, mas
precisava ser a mulher forte e decidida
que sabia que era.
Então se levantou com cuidado para
não acordá-lo, vestiu as roupas e foi
embora. Era hora de visitar a casa onde
cresceu. Era hora de falar com papai e
mamãe.

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22

— Desculpe por acordar você,


Loretta. — Charlotte disse quando a
governanta da casa dos seus pais abriu a
porta para que ela entrasse. — Sei que é
tarde, ou cedo, dependendo do ponto de
vista, mas eu preciso ver meus pais.
A mulher sorriu. Ela tinha ouvido a

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discussão que Charlotte tivera com os
pais, onde a garota decretou que nunca
mais colocaria os pés nessa casa e que
não queria mais ouvir falar deles. Tinha
cortado ligações por motivos fortes,
supôs a governanta, e se agora estava de
volta, algo muito grave deveria ter
acontecido.
— Não se preocupe, senhorita
Charlotte. Estou aqui para isso.
Charlotte sorriu de volta para a
mulher e entrou. Loretta perguntou se ela
precisava de alguma coisa, e quando
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negou, a governanta voltou aos seus
aposentos. Era estranho estar ali
novamente, fazia algum tempo que tinha
cortado ligações com os pais, mas
Charlotte sabia que era necessário um
último enfrentamento. Nem que fosse
apenas para dizer na cara deles a
espécie nojenta de pais que eram.
Lá fora, os primeiros tons de laranja
começavam a pintar o céu e ela
imaginou que logo seu pai acordaria.
Acordar depois das seis da manhã era
completamente inadmissível para
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Bernard McKeena. Isso seria bom, pois
por mais que sua mãe tivesse tido
participação para encobrir a morte do
irmão para a imprensa, ela não tinha
dúvidas de que fora do seu pai a ideia
de mantê-la no escuro.
Eles podiam lidar com a morte de
Robert do jeito que quisessem com a
imprensa, mas deveriam ter lhe contado
a verdade. Ele era seu irmão, droga.
Com certeza ambos mereciam um pouco
mais de consideração.
— Minha filha. — Charlotte ouviu a
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voz espantada do pai atrás dela, minutos
depois. — Que prazer...
— Economize. — ela o cortou.
Então a fachada de bom pai se foi.
Bernard fechou a cara, serviu-se do seu
habitual três dedos de puro scotch e
sentou em sua poltrona. Charlotte rolou
os olhos e riu baixinho. Aquilo poderia
muito bem ser chamado de trono, já que
apenas ele se sentava ali, achando que
era o rei do universo.
— O que veio fazer aqui? Achei que
tivesse deixado claro quando foi embora
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que só voltasse quando crescesse. Para
pedir desculpas pelos absurdos que
disse a mim e à sua mãe.
— Eu cresci há muito tempo. Voltei
aqui porque queria olhar nos seus olhos
quando me dissesse por que você e a
mamãe mentiram para mim por tanto
tempo sobre a morte do Bob.
O homem nem sequer pestanejou.
Deu um gole na sua bebida e olhou para
a filha com frieza.
— Não faço ideia do que está
falando. — disse o senador.
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— Puta que pariu. — Charlotte
rosnou. — Vai mesmo dizer que a morte
dele foi exatamente como saiu na mídia?
Exatamente como vocês me contaram?
— Sinceramente, Charlotte, não sei
por que você está tão interessada nisso.
Faz anos que aconteceu, esqueça.
Alguém poderia pensar que o senador
estava se referindo a uma viagem ruim, a
um empreendimento fracassado ou a
qualquer merda superficial que da qual
vida dos McKeena era repleta. Mas ele
estava se referindo à morte de um filho e
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Charlotte sentiu enjoo ao ver essa
reação do pai.
Era difícil acreditar que poucos anos
atrás, ela ficava acordada à noite,
esperando que ele voltasse para casa
apenas para colocá-la na cama e
verificar se haviam monstros debaixo
dela. Nessa época, ela achava que
beijos, abraços e sorrisos eram tudo o
que qualquer pessoa poderia querer da
vida.
— Vocês não tinham o direito. —
disse Charlotte com a voz embargada.
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— Como puderam me enganar desse
jeito? Me deixando acreditar que eu era
a culpada pelo meu próprio irmão ter
morrido.
Bernard não falou nada. Bebeu todo o
líquido de uma vez no seu copo e ficou
encarando o chão, mas não como se
sentisse culpado. Sua expressão estava
mais para enfadonha. Então ele se
levantou e se aproximou da filha.
— Eu fiz o que considerei melhor
para você.
Aquilo teve o efeito de um chute no
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estômago. Por um minuto ou dois,
Charlotte ficou como se tivesse perdido
o ar, juntamente com a capacidade de
falar.
— Todos esses anos eu sofri com a
culpa...
— Você precisava de limites. —
Bernard levantou a voz pela primeira
vez, mostrando sinais de descontrole na
postura. — Você era uma garota rebelde
e sabe disso. Se eu não tivesse feito
isso, você teria desgraçado a sua vida
com aquele moleque com quem saía. Por
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que mesmo eu estou me explicando pra
você?
— Por que foi com a minha vida que
você brincou. — foi a vez dela de gritar.
— Você só se importou com seu nome,
sua carreira, nunca com o meu futuro ou
meu sofrimento. Nunca comigo.
— Não diga absurdos, Charlotte. —
Bernard desdenhou da filha, fazendo um
gesto no ar. Em seguida ficou de costas
para ela, claramente dando um ponto
final naquela conversa. — Ainda bem
que sua mãe está dormindo. Ela ficaria
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histérica.
A raiva se apossou do corpo de
Charlotte e transbordou pela sua boca.
— Então você poderia dar a ela
algumas pílulas e o Martini de costume e
tudo ficaria bem no mundo McKeena. —
ironizou.
O tapa atingiu seu rosto, sem aviso, o
som ecoando pelas paredes da casa.
Doeu tanto que seus olhos lacrimejaram.
Charlotte se encolheu no chão com as
mãos na face.
E foi com essa cena que Marco se
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deparou ao entrar na casa. Mais cedo,
quando chegou, Charlotte não tinha
trancado a porta após Loretta abri-la,
então ao chegar agora, Marco não
encontrou resistência.
— O que está havendo aqui? — ele
gritou, correndo para ficar ao lado da
sua amada. Ele viu as lágrimas nos
olhos dela e se virou furioso para
Bernard. — O que fez com ela?
— Nada que seja da sua conta,
moleque. — o senador rugiu e teria
assustado qualquer homem, mas Marco
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não era qualquer homem e sua amada
estava ferida e chorando no chão. —
Saia da minha casa antes que eu chame
meus homens para tirá-lo à força. E
você, — disse olhando para a filha —
deixe de ser dramática.
Marco agarrou Bernard pelo
colarinho e o sacudiu. Estava irado com
aquele homem pelo que provavelmente
tinha feito à Charlotte, porque é claro,
mesmo não tendo visto, sabia
perfeitamente que ela tinha sido
agredida.
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— Eu deveria encher você de
porrada, seu grande pedaço de merda.
Como pôde bater na sua própria filha?
— Me solte agora mesmo. —
Bernard disse com veemência. — Você
não sabe com quem está lidando.
— Marco, por favor. — Charlotte
chorou aos seus pés, agarrando sua
perna para chamar atenção. — Solte ele.
Ele olhou para baixo, dentro dos
olhos dela, e viu... medo. Não era
normal que uma filha tivesse tanto medo
do pai. Por que ela estava daquele jeito?
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Como se suas mãos estivessem pegando
fogo, ele soltou o senador e se ajoelhou
ao lado dela para consolá-la.
— Amor, você está bem?
— Você é uma vergonha para mim,
Charlotte. Deus, onde eu fui errar com
você? Vá embora. — Bernard gritou
com a filha a plenos pulmões. — Eu não
quero ver você nunca mais na minha
frente. Suma daqui.
— Irei com todo prazer. — Charlotte
secou as lágrimas e respondeu ao
levantar com a ajuda de Marco. — E
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você é que é uma vergonha para mim.
Sempre foi, seu doente.
Bernard levantou o braço para
estapeá-la novamente, mas Marco
segurou seu braço e deu-lhe um soco
forte no nariz, tirando sangue quase que
instantaneamente. O senador gemeu,
colocando a mão para estancar e olhou
com ódio para os dois.
— Você não deveria ter feito isso,
filho da puta. Você vai se arrepender.
— Vamos Marco. — Charlotte
pegou-o pelo braço e juntos saíram dali.
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— Tem certeza de que não precisa de


gelo? — Charlotte perguntou a Marco
depois de subirem para o seu
apartamento no Upper West Side, do
outro lado do Central Park, no extremo
oposto de onde seus pais moravam, o
Upper East Side.
— Tenho. — Marco flexionou os
dedos um pouco, se encostando mais no
sofá. — Está doendo, mas não muito.
Você por outro lado...
Ele tocou o olho dela, ao seu lado,

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que mostrava uma pequena mancha roxa.
Os tapas do senador sempre deixavam
marcas. Aquela desapareceria em alguns
dias.
— Esquece. Não é nada que um
pouco de maquiagem não esconda.
— Me corrija se eu estiver errado,
mas essa não é a primeira vez que ele te
bate, não é? — Marco perguntou,
cauteloso.
Charlotte mordeu os lábios, um
pouco envergonhada.
— Na verdade, não. Depois que Bob
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morreu, ele ficou violento. Sempre
reagia dessa forma quando eu “passava
dos limites” por qualquer coisa. — ela
respondeu, fazendo aspas no ar.
— Eu gostaria de bater nele. —
Marco explodiu de raiva. — Queria
bater nele até matá-lo. Aquele monte de
merda não tinha o direito de fazer isso
com você.
— Já passou, Marco. É só nunca
mais chegarmos perto dele. — ela se
aninhou no peito dele e respirou seu
cheiro. — Por falar nisso, como sabia
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que eu estava lá?
— Eu acordei e você tinha sumido.
Não deixou bilhetes, nem nada. Fiquei
nervoso e preocupado, mas daí lembrei
da noite maravilhosa que tivemos e
sabia que não tinha como eu ter te
perdido de novo.
— Convencido. — ela deu uma
cotovelada de brincadeira na barriga
dele.
— Na verdade, eu estava falando
sobre nosso amor. — Marco riu. —
Acho que está mais forte agora do que
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antes e não tinha como eu permitir que
essa história acabasse sem ser com você
sendo minha.
Charlotte ergue a cabeça e olhou nos
olhos de Marco.
— É verdade o que eu falei, ouviu?
Eu te amo, Charlie. Quero você na
minha vida de agora em diante.
— Oh, Marco. — ela suspirou. —
Ouvir isso me faz... faz tão feliz. — em
seguida o beijou com ardor. — Eu te
amo. Te amo.
O rosto de Marco quase parecia uma
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caricatura por causa do sorriso de
orelha a orelha.
— Então por que ainda não está nua?
— ele disse, ajeitando-a no sofá para
tirar sua roupa.

— Espero que tenha uma boa razão


para praticamente ter dormido a reunião
inteira, Marco. — Eduardo repreendeu o
filho, horas mais tarde, depois de uma
reunião com a minoria acionária da
Villa-Lobos Internacional Holdings, Inc.
Marco era CEO da sua própria empresa,

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mas ainda fazia parte do Conselho da
empresa do pai por causa das ações que
mantinha.
— Na verdade, eu tenho. Não dormi
muito ontem à noite. — ele apertou o
botão do elevador. Quando as portas se
abriram, os dois entraram.
— Mulher? Não quero que esteja
com insônia por outro motivo.
Eduardo apertou o botão do térreo.
— Sim. A melhor de todas elas.
Eduardo sorriu. Sabia exatamente a
quem o filho se referia.
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— Então as coisas se resolveram
entre vocês ou foi só um momento?
— Não foi só um momento.
Demorou, mas ela me ouviu. Estamos
juntos.
— Bom, acho que essa garota ainda
vai ter que provar que é boa para você
depois do que aprontou, mas fico feliz
por vocês estarem bem. Deus sabe que
você estava parecendo um mendigo nas
últimas duas semanas.
Marco soltou uma gargalhada. A falta
de resposta de Charlotte em relação às
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suas tentativas de falar com ela o
deixara com um humor péssimo e no dia
em que seu pai o visitou, ele não tinha
tomado banho havia três dias, não tinha
trocado de roupa ou feito a barba e
estava meio bêbado.
— Para onde você vai agora? —
Eduardo perguntou quando saíram do
elevador.
— Vou me encontrar com o Patrick no
St. Regis. Ele disse que tem um assunto
importante para me contar. E o senhor?
— Sua mãe quer que eu a leve para
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fazer compras. Por sorte Luciana
desgrudou do Roman e vai junto.
— Roman também está na cidade? —
Marco abriu a porta do hall de entrada e
esperou o pai sair primeiro antes de por
o pé fora do prédio.
— Está. Acho que Nicole também,
mas não tenho certeza.
— Está sim. Falei com ela ontem. Foi
ela quem ajudou com a Charlie.
— Estou muito feliz, filho. Espero
que as coisas finalmente deem certo.
— Vão dar, papai.
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O motorista de Eduardo abriu a porta
do seu Bentley e aguardou que o patrão
se despedisse do filho. Mas isso não
aconteceu, porque no momento em que
Marco abraçou o pai para dar tchau, um
motoqueiro todo vestido de preto passou
lentamente na rua, por trás do carro, e
apontou uma submetralhadora Uzi na
direção deles.
Eduardo estava de costas, então não
o viu, mas Marco arregalou os olhos e
se virou, tomando o lugar do pai. Houve
uma sucessão de tiros e então ele caiu
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no chão, vendo tudo à sua volta
escurecer.
Eduardo foi atingido de raspão no
ombro e no peito, mas seu filho tinha
recebido duas balas nas costas. E estava
desfalecido nos seus braços.
— Trenton, ligue para a polícia.
Descreva aquele filho da puta pra eles.
— ele disse ao motorista, com lágrimas
nos olhos. — Filho, acorde. Marco, é o
papai, acorde.
Mas Marco não reagiu. Eduardo
pediu ajuda a Trenton e juntos o
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colocaram no carro, seguindo para o
hospital mais próximo. Marco mal
respirava e seu pulso era fraco. Eduardo
nunca sentiu tanto medo na vida.

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23

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Patrick e Elena

Patrick entrou no St. Regis pouco


antes das três da tarde. Tinha um
encontro social com seu amigo Marco,
precisava contar a alguém, a ele, as
coisas recém-descobertas sobre Luís
Fernando, o pai de Elena.
Ele tinha acabado de almoçar com
seu investigador, e saíra do restaurante
totalmente abalado. Agora aguardava o
amigo, mas não conseguia tirar as
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palavras do homem da cabeça.
— Encontramos o Betão vivendo
confortavelmente em Cancun, Sr.
Matarazzo. — o investigador disse,
satisfeito.
— Filho da puta. Com certeza Luís
Fernando deve ter lhe pagado uma bela
quantia pelos serviços prestados. —
Patrick disse com os dentes cerrados de
raiva. — E então ele abriu o bico?
— Conseguimos ser bastante...
persuasivos, senhor.
Patrick sorriu. Conhecia a reputação
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da equipe que tinha contratado para
encontrar o homem que botou fogo na
sua casa. Encontrá-lo seria o primeiro
passo para levar Luís Fernando Pacheco
à justiça, logo depois de arruiná-lo.
— E então? Ele entregou o chefe?
— Sim. Mas receio dizer que o
mandante, ou seja, o chefe real dele, não
era o Sr. Pacheco.
Patrick quase cuspiu o vinho que
bebia.
— Repita, por favor.
— Ele disse que o trabalho para o Sr.
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Pacheco era apenas uma fachada. Seu
chefe era Pedro Alemão.
— O dono do morro na época? —
Patrick não poderia estar mais surpreso.
— Ele mesmo. Segundo o Betão,
Pedro Alemão estava planejando um
sequestro à filha do Sr. Pacheco há
algum tempo, então o infiltrou na equipe
dele para obter informações.
— Como? — Patrick perguntou,
pasmo. Luís Fernando era um homem
cuidadoso, não contrataria qualquer um
para sua equipe de segurança. Como um
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traficante poderia ter conseguido
infiltrar um dos seus homens no pessoal
dele?
— Betão não contou os detalhes, mas
disse que Pedro Alemão tinha contatos
na PM e foi fácil conseguir uma
identidade falsa e credenciais como
segurança para ele.
— E o que os planos do Alemão têm
a ver comigo e minha mãe assassinada?
— Betão nos informou que quando o
Alemão descobriu que você, morador do
morro, namorava Elena, aguardou que
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você a levasse para lá algum dia, já que
facilitaria para sequestrá-la, então
mantiveram vigilância constante na sua
casa.
— Eu nunca levei Elena lá.
Patrick sabia o buraco em que
morava e mesmo que ela não fosse uma
riquinha, que poderia ser assaltada a
qualquer momento, não achava seguro
levá-la àquele lugar.
— Exato. — o investigador
continuou. — E quando se deu conta de
que ela nunca apareceria, Alemão tentou
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dissuadir sua mãe a ajudar. O plano era
fazer com que ela convencesse você a
entregar Elena e em troca, seriam
recompensados financeiramente,
ganhariam uma bolada.
— Minha mãe jamais concordaria
com isso. — Patrick disse convicto.
— E não concordou mesmo. E foi
exatamente por isso que Pedro Alemão
mandou que Betão incendiasse sua casa.
Era arriscado ela saber daquilo, poderia
te contar e você alertar à família da
Elena, então...
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— Então o Luís Fernando ter me
visitado na noite do incêndio foi
apenas...
— Coincidência.
— Meu Deus. — Patrick colocou as
mãos na cabeça. — Então todos esses
anos, eu... Jesus, eu culpei o homem
errado.
— O Sr. Pacheco com certeza é um
grandessíssimo babaca, mas isso não é
crime nenhum.
— Elena nunca vai me perdoar.
Como poderia? Ele havia arruinado a
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empresa da sua família, quase levado
seu pai à falência e humilhado seu nome
publicamente. Apenas por vingança...
— O que deseja, senhor? — Patrick
piscou para o garçom à sua frente,
reconhecendo que estava no St. Regis,
não mais no Daniel’s.
— Hendricks com pepino e limão,
por favor.
— Sim, senhor.
Patrick olhou a hora no celular e
enrugou a testa. Já passava das três e
meia e Marco ainda não tinha aparecido.
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Então fez uma nota mental de lhe dar um
belo chute no traseiro por se atrasar. Ele
precisava muito falar com o amigo, tinha
que se aconselhar sobre como lidar com
Elena a partir de agora. Não que Marco
fosse um grande exemplo de
conselheiro, principalmente no que se
tratava de vingança, mas antes ele que
ninguém.
O garçom voltou com sua bebida e
Patrick começou a bebericar, trazendo à
tona todas as conversas que teve com
Elena desde que falou sobre o incêndio
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e seu corpo queimado, desde que ela
mencionou que nunca deixaria de amar
Felipe. Foram tantas as chances de dizer
“Eu sou Felipe”, mas ele recuava
sempre no momento antes de abrir a
boca. E por que não recuaria? Tinha
tanto medo de dizer a ela e perdê-la
para sempre ao revelar que pretendia
deixar seu pai na ruína. Agora que não
precisava mais, que sabia que o pecado
de Luís Fernando foi apenas ter sido
arrogante, ele tinha medo de que ela não
pudesse perdoá-lo.
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Quando deu quatro horas, Patrick
desistiu de esperar por Marco. Talvez
ele tivesse ficado preso no escritório e
não pôde avisar, mas de qualquer forma,
mandou uma mensagem malcriada para
ele.
Porém, antes de entrar em seu carro
para voltar para casa, viu uma
mensagem de Elena no visor, anunciando
algo terrível, algo que lhe abalou
profundamente. Ligou para ela
imediatamente.
— Patrick, onde você está? — ela
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perguntou logo que atendeu.
— É verdade isso? Como ele está?
— Patrick perguntou, nervoso e com
medo.
— Ainda não temos certeza, mas
acho que você deveria vir para cá agora
mesmo.
— Estou à caminho. — ele disse,
entrando no carro e saindo em disparada
rumo ao Columbia University Medical
Center.
— Rápido, por favor. Patrick, os
médicos não sabem se ele vai resistir.
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Porra.
Marco estava entre a vida e a morte.
Seus problemas tinham que esperar.

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24

Charlotte tinha acabado de sair do


banho quando seu celular tocou. Era um
número desconhecido, mas era de Nova
Iorque, então ela resolveu atender.
— Alô. — disse enquanto secava os
cabelos.
— Srta. McKeena, é Eduardo Villa-

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Lobos.
O pai de Marco? Mas o que ele
poderia querer com ela?
— Ahm... olá, Sr. Villa-Lobos. Tudo
bem? — ela perguntou, um pouco
desconfortável.
— Na verdade, não está. — Eduardo
respondeu e Charlotte notou o desespero
na sua voz, ficando imediatamente
alerta. — Marco foi baleado agora a
pouco em frente o nosso prédio. Eu...
desculpe não ter ligado antes, mas...
— Tudo bem, Sr. Villa-Lobos. —
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Charlotte disse, com lágrimas nos olhos.
Papai, ela pensou na mesma hora. —
Estou indo para o hospital.
— Sim, venha... e... eu... — o homem
parecia completamente desconcertado.
— Tudo bem, Sr. Villa-Lobos, Marco
ficará bem. Nada pode com ele.
— Sim, sim. Até daqui a pouco.
Assim desligou o celular, Charlotte
caiu de joelhos em frente à penteadeira
do seu quarto. E chorou. Não tinha
dúvidas de que o responsável pelo
ataque a Marco tinha sido seu pai. Ela
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queria ir vê-lo, queria confortar sua
família e ajudá-los a passar por esse
momento difícil, mas... como
conseguiria olhar nos olhos deles
sabendo que sua família era responsável
por aquele momento de dor?
— Por que ele, papai? Por quê? —
ela perguntou ao quarto vazio, ainda
com o cheiro do seu amado impregnado.
Mesmo com as pernas bambas,
Charlotte levantou-se do chão e se
trocou. Sua preocupação com a família
de Marco e sua decepção com o pai
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podiam ser problemas a serem
resolvidos depois, Marco precisava
dela ao seu lado. E era exatamente para
lá que ela iria, tomar seu lugar de
direito.

Camila Villa-Lobos estava em


prantos nos braços do marido, cercada
pela filha e o restante dos parentes em
uma sala de espera no Columbia
University Medical Center. A mulher
estava completamente desconsolada por
seu filho mais velho estar passando

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nesse momento por uma cirurgia de alto
risco devido às duas balas alojadas em
seu corpo.
— Meu bebê, meu bebê. — ela
repetia enquanto era ninada por
Eduardo. — Por que fizeram isso com o
meu bebê?
— Calma, tia. Marco é forte. —
Nicole lhe dizia, mesmo que tivesse
mais lágrimas nos olhos do que a
própria Camila. — Ele vai ficar bem, a
senhora vai ver.
— Isso, meu amor. — Eduardo
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concordou, querendo fazer qualquer
coisa para tirar a esposa daquele estado
de desespero. Ele já tinha tido o seu
momento, no carro enquanto o trazia e
pouco antes de ligar para Charlotte.
Agora precisava ser forte por ele e por
todos ali, principalmente sua mulher e
filha, que choravam como se Marco já
tivesse morrido.
Roman tentava consolar a namorada,
Denis e Caroline passavam todo apoio
que podiam e juntos eles aguardavam
notícias dos médicos. A cada vez que os
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altos falantes chamavam um médico,
indicavam uma emergência ou uma
enfermeira passava correndo pelo
corredor, todos eles ficavam em alerta,
esperando e temendo ser algo com
Marco. Já fazia um bom tempo que a
cirurgia tinha começado e a espera era a
pior parte de tudo.
Em um dado momento, Charlotte
irrompeu pelas portas duplas da sala de
espera, com os olhos inchados e os
cabelos amontoados em um coque
malfeito. Ela parou diante da família de
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Marco e rezou para que ninguém a
mandasse embora. Tecnicamente ela não
poderia ficar ali se a família não
deixasse e se qualquer um deles tivesse
algo contra ela pelo que aconteceu no
passado e a mandasse embora, não havia
dúvidas de que sua dor chegaria a níveis
insuportáveis.
— O que você faz aqui? — Camila
olhou para ela com olhos acusatórios.
— Você não tem motivo para estar aqui.
— Querida, Marco não tinha lhe
contado ainda porque iria fazer isso com
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Charlotte presente, mas eles dois estão
juntos novamente. — Eduardo disse,
temendo que sua esposa mandasse
embora a garota dali. Claro, se Camila
quisesse Charlotte longe, ele não ficaria
contra ela, mas torcia para que as coisas
não chegassem nesse ponto, pois sabia
que a menina não tinha culpa de nada e
se Marco fora capaz de perdoá-la pelo
passado, quem eram eles para não fazer
o mesmo?
— Senhora Villa-Lobos, — Charlotte
falou, com a voz suplicante — por favor,
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acredite em mim. Eu amo seu filho. Sei
que a senhora tem motivos para não
gostar de mim, mas... — ela começou a
chorar. — Marco sempre foi tudo para
mim.
— Então como pôde partir seu
coração daquele jeito? — Camila
desvencilhou-se dos braços do marido e
andou em direção a Charlotte, fazendo-a
recuar um pouco, engolindo em seco. —
Sabe o quanto meu filho sofreu por sua
culpa?
— Eu... eu... — Como ela poderia se
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defender pelo que tinha feito? — Marco
deixou tudo no passado. — Foi tudo o
que conseguiu dizer.
— Porque ele é homem, e homens
são muito fáceis de agradar. — Camila
disse, cheia de insinuação, com os olhos
piscando lágrimas. — Mas eu sou mãe e
cada noite em que ele chegava bêbado
em casa por causa do coração partido
era uma noite que eu não dormia,
preocupada, e acredite, foram muitas
noites. Cada hora extra de trabalho que
ele fazia na semana para tentar tirar
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você da cabeça foi um tempo com meu
filho que eu não vou recuperar.
Eduardo tocou os ombros de Camila,
tentando acalmá-la.
— Meu amor...
— Não me venha com “meu amor”,
Eduardo. Essa menina fez meu filho
sofrer como um condenado. Você pode
não se lembrar mais, mas eu lembro
muito bem. Não quero ter que olhar para
ela enquanto espero notícias para saber
se meu filho vai viver ou morrer.
Camila não precisou falar mais nada,
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pois no momento seguinte, Charlotte saía
às pressas com as mãos no rosto,
escondendo as lágrimas e com o coração
em pedaços. Ela bateu de frente na porta
do hospital com Elena – que tinha
recebido uma mensagem de Eduardo
Villa-Lobos, e informado Patrick
minutos depois sobre o estado do amigo
–, e só então parou de correr. Seu estado
era lastimável.
— Charlotte, o que aconteceu?
Charlotte sequer conseguia dizer. As
palavras não saíam pela sua garganta,
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sua voz estava embargada.
— Venha comigo até a cafeteria. Se
acalme um pouco.
Chegando à cafeteria do hospital,
Elena pediu um Macchiato para
Charlotte – lembrava-se de ela ter dito
que era seu preferido, em uma de suas
conversas – e um Capuccino para si.
Quando as duas deram alguns goles em
suas bebidas e Elena percebeu que
Charlotte parecia um pouco mais calma,
resolveu tentar saber o que estava
acontecendo, além do fato de Marco
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estar passando por cirurgia, porque é
claro que havia mais alguma coisa.
— Me conta o que houve, Charlotte.
— Elena pediu, segurando as mãos da
amiga com força. — Por que estava
saindo correndo daqui daquele jeito?
— Ela me odeia. — Charlotte
respondeu, com a voz fraca.
— Quem odeia você?
— A Sra. Villa-Lobos. Ela nunca vai
me perdoar pelo que fiz com Marco no
passado.
Elena soltou um suspiro tenso. Não
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sabia – e nem era da sua conta saber – o
que Charlotte tinha feito no tal passado,
mas podia ver como a amiga amava o
homem que agora lutava pela vida e
tinha certeza de que a Sra. Villa-Lobos
também via, só que, com certeza, estava
apenas nervosa pela situação no geral.
Elena tentou dizer isso a Charlotte,
mas a garota apenas repetia que Marco
estava ali por sua culpa e que a família
dele tinha todos os motivos para odiá-la.
Se caso o homem que amava chegasse a
morrer, ela nunca se perdoaria.
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— Não tem como ser culpa sua,
Charlotte. Provavelmente era algum
bandido atrás de grana ou um rival.
Homens poderosos tendem a atrair gente
ruim querendo sua ruína.
— Não foi esse o caso, Elena. Estou
te dizendo...
Então Charlotte se calou, se dando
conta do que deveria fazer para não ser
odiada pela família de Marco. E o que
era certo, diga-se de passagem. Ela
precisava colocar na cadeia o
responsável por ele estar ali. Ou seja,
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seu pai. E sabia exatamente como fazer
isso.
Elena continuava matraqueando sobre
alguma coisa, mas Charlotte a cortou,
colocando a mão na boca dela.
Precisava falar com Eduardo Villa-
Lobos e contar a ele o que achava sobre
o atirador. E o mandante. Pelo menos
ele a defendeu, ligou para ela para
avisar sobre Marco, então talvez
estivesse mesmo do seu lado. Não podia
se dar ao luxo de ter o restante da
família com ela agora.
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— Elena, poderia me fazer um favor
enorme? — Charlotte perguntou com a
voz decidida.
— Claro. — Elena respondeu
surpresa, ao ver como ela já estava
recuperada do seu momento de pânico e
desespero. — O que quer?
— Pode chamar o Sr. Villa-Lobos
aqui? Apenas ele... e talvez o Patrick.
Sim, Patrick poderia ajudar, afinal
era melhor amigo de Marco. E alguém
poderoso.
— Tudo bem, vou chamá-los.
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— Discretamente, por favor. Não
quero causar alarde na família.
— Certo.
Elena saiu rapidamente e foi até a
sala de espera onde a família Villa-
Lobos estava, falou discretamente com
os dois homens com quem Charlotte
havia pedido e em poucos minutos,
ambos já estavam na cafeteria.
— Devo me desculpar por minha
esposa, Srta. McKeena. — Eduardo se
sentou na cadeira ao lado da de
Charlotte, dando-lhe um sorriso de
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desculpas. — Ela está nervosa e...
— Não se preocupe, Sr. Villa-Lobos.
— Charlotte sorriu de volta para ele. —
Eu entendo perfeitamente.
— Olá, Charlotte. — Patrick a
cumprimentou, sentando-se também.
— Patrick. E Elena?
— Ficou lá com minha mulher. —
Eduardo informou. — Mas diga-me, por
que queria falar conosco?
Charlotte se ajeitou na cadeira para
que pudesse olhar os dois homens nos
olhos – mesmo que para isso tivesse que
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levantar muito a cabeça.
— Posso ajudá-lo a achar o
motoqueiro que atirou no Marco e
colocar o responsável na cadeia.
— E como você pode ajudar?
Desculpe-me, não quero ser cético, mas
não vejo como você pode ajudar.
— Eu sei quem é o responsável por
mandar o Marco para o hospital, senhor
Villa-Lobos.
— Como? Quem é? — Eduardo fez
uma carranca, já se preparando para o
que achava que iria ouvir.
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— Foi meu pai. Depois que o Marco
me contou a verdade sobre a morte do
meu irmão, eu fui falar com meu pai.
Prefiro não entrar em detalhes sobre
como a coisa ficou feia, mas Marco
apareceu lá. E agrediu o meu pai, não
que ele não merecesse.
Eduardo sorriu orgulhoso.
— Só que ele não deveria ter feito
aquilo. — Charlotte balançou a cabeça,
triste. — Meu pai, ele... não deixa as
coisas impunes. Ele ameaçou o Marco.
Não foi uma ameaça nítida, mas conheço
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o meu pai e sei do que ele é capaz.
— Está dizendo que por uma pequena
surra, seu pai mandou matar meu filho?
— Eduardo levantou a voz, com as
narinas abertas, ele parecia um touro
bravo. Charlotte piscou algumas
lágrimas para fora dos olhos e
confirmou.
— Porra. — Eduardo gritou, em
seguida, tentou se recompor por se dar
conta de onde estava. Patrick colocou a
mão no seu ombro, dando dois tapinhas
tranquilizadores.
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— Sei que tem seu próprio
investigador, mas posso ceder minha
equipe se quiser, Eduardo. Pode tentar
cavar provas para mandar o senador pra
cadeia.
— Obrigado, Patrick. Toda ajuda é
bem-vinda.
— Não é necessário cavar provas.
Acredito que tenho tudo o que possamos
precisar.
Os dois homens olharam para
Charlotte, chicoteando a cabeça com
violência.
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— O que quer dizer?
— Há muito tempo, quando tinha
quinze anos, eu namorava um cara que
meus pais não aprovavam. Então pra
conseguir sair de casa sem que eles me
vissem, pedi a um amigo nerd do
colégio que instalasse uma câmera no
escritório do meu pai.
— E? — Eduardo perguntou,
ansioso.
— Eu podia contornar minha mãe,
mas precisava saber exatamente onde
meu pai estava o tempo todo, e ele
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passava a maior parte do dia ali. A
câmera gravava vinte e quatro horas e
enviava tudo ao vivo para uma
livestream em meu nome, assim quando
eu queria sair ou checar se era seguro
voltar pra casa, só bastava acessar a
conta e eu sabia se meu pai estava no
escritório ou não.
— E o que tudo isso tem a ver com
meu filho, Srta. Charlotte?
— Eu nunca desativei a conta. Na
verdade, depois que meu pai me fez
terminar com o Marco, quatro anos
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atrás, eu recebi um e-mail me pedindo
para atualizar a senha e foi quando eu
vi... uma das piores coisas que meu pai
já fez. Até onde eu sei, meu pai nunca
fez nenhuma reforma no escritório, então
é provável que a câmera ainda esteja lá
e ainda esteja filmando.
— Isso só seria uma prova se seu pai
tivesse encomendado a morte do meu
filho no escritório dele.
— E é aí que tudo dá certo, porque
nenhuma decisão do meu pai, legal ou
ilegal, é feita em outro lugar. Se ele
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encomendou a morte do Marco, com
certeza a conversa com os envolvidos
foi feita ali.
— Espere aí. — Patrick interrompeu.
— Como assim você viu uma das piores
coisas que seu pai já fez?
Charlotte engoliu em seco. Tinha
vergonha daquilo. Tinha vergonha de
saber que seu pai era o mandante do
assassinato de um senador federal. E
tinha mais vergonha ainda de nunca ter
tido coragem de contatar a polícia e
contar seus podres.
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— Eu... — ela gaguejou.
— Charlotte? — Eduardo insistiu,
agora muito interessado nisso. Ele
queria saber onde estava se metendo,
com quem estava lidando, afinal, era a
vida do seu filho que estava em jogo.
— Era Natal quando eu voltei para
casa para as festas. Estava arrasada por
causa do término com o Marco por
causa dos meus pais, é claro. Então,
navegando um pouco para me distrair,
recebi esse e-mail. Eu nem lembrava
mais que tinha essa conta, então entrei
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novamente apenas para apagá-la.
Ela fechou os olhos com a lembrança.
A prova definitiva de que seu pai era
muito pior do que pensava. Charlotte
tinha crescido ouvindo ligações
estranhas na calada da noite e com
visitas de homens... assustadores. Por
isso temeu quando o senador lhe disse
que faria mal a Marco se ela não o
obedecesse. Mas o que viu na noite de
Natal foi a prova ao vivo e a cores de
que Bernard McKeena era um tremendo
bandido.
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— Assim que liguei a livestream, vi
meu pai no escritório dele com dois
homens. Eles falavam sobre o recém-
eleito senador Thomas. Falavam sobre
como iriam matá-lo sem que ele
parecesse suspeito. Nossa, aquilo
acabou comigo. Eu sempre soube que
meu pai era um homem sombrio, com
conexões sombrias, mas aquilo... eu não
estava preparada para aquilo. Então fiz
minhas malas, voltei para Havard e
cortei ligações com meus pais.
É claro que mesmo assim, ela se
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certificou de concluir a faculdade, – até
porque, na verdade, amava aquilo – e se
candidatar a Miss. Não por que devesse
alguma coisa a eles, mas por temer que
se não o fizesse, Marco acabasse
pagando. Porque, é claro que o senador
e sua esposa pensariam que a culpa era
dele e que provavelmente, estavam se
encontrando às escondidas.
— Por que não o entregou à polícia,
Charlotte? — Eduardo parecia
decepcionado, não que Charlotte
pudesse ter certeza, mas a cara dele não
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era nada boa.
— Eu tive medo, Sr. Villa-Lobos.
Não terminei com Marco porque queria
agradar meus pais, terminei com Marco
porque meu pai o ameaçou, caso eu não
fizesse isso.
Eduardo passou as mãos pelo rosto,
exasperado. Ele tinha vontade de socar
o senador, na verdade, de matá-lo. Seu
filho estava em uma mesa cirúrgica
agora por causa daquele homem, mas
saber que antes mesmo que ele se
tornasse um homem maduro, já tinha
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sido ameaçado também, era a gota
d’água.
— Sinto muito. Minha família... ela
é...
— Não se desculpe por sua família,
Charlotte. Ninguém escolhe o pai, ou
mãe, ou filhos... Você não é culpada
pelos erros dele.
— É verdade que durante muitos
anos, a culpa foi a motivação para
seguir o que eles mandavam, mas eu só
deixei Marco naquele dia porque não
queria que meu pai fizesse algum mal a
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ele.
— Eu entendo. — Eduardo colocou a
mão sobre a dela, consolando-a. — O
que importa é que agora podemos fazer
justiça.
Se a história da livestream fosse
mesmo verdade – levando em
consideração que a câmera não tivesse
dado nenhum defeito ao longo dos anos
ou que o senador não a tivesse
encontrado em algum momento nesse
meio tempo –, ele poderia finalmente
fazer Bernard McKeena pagar por seus
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crimes. Com certeza o senador tinha
escolhido o filho do homem errado para
mexer.
— Você pode me dar as informações
necessárias para o login na livestream?
— Claro. Eu as tenho salvo no meu
e-mail.
— Minha empresa tem um ótimo
técnico de TI. Pode ser necessário,
então se precisar... — Patrick ofereceu a
Eduardo.
— Obrigado, Patrick. Escutem, eu
tenho que voltar pra ficar com Camila,
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mas se não se incomodam, podem cuidar
disso para mim? — Eduardo perguntou
aos dois. — Verifiquem com o técnico
se a prova existe mesmo e então
encaminhem tudo para os
investigadores.
— Claro, Eduardo. Fique com sua
esposa, ela precisa de você. Nós vamos
cuidar disso, não é Charlotte?
— É claro. — Charlotte sentiu um
bolo na garganta. Queria ver Marco,
queria estar com ele quando saísse da
cirurgia, mas também queria ajudar com
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a prova contra seu pai.
Eduardo se levantou e começou a se
encaminhar para o corredor de volta à
sala de espera. Mas parou antes de
passar pela porta da cafeteria, olhando
para Charlotte.
— Obrigado por isso, Charlotte. —
ele sorriu. — Vou falar com Camila,
tenho certeza de que quando ela estiver
mais calma, vai reconsiderar suas
palavras.
— Obrigada, senhor. Por favor,
apenas... me avise se ele sair da cirurgia
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antes de voltarmos.
— Aviso sim. Mantenham-me
informado sobre os avanços.

O técnico de TI da Matarazzo
Corporation estava analisando as
imagens capturadas pela câmera, que
graças a Deus, continuava em gravando
em boa performance. Patrick e Charlotte
estavam com ele havia mais de uma
hora, e por mais que ela estivesse
cooperando bastante, sua mente não
tinha saído do hospital. Ela só queria

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saber do homem que amava.
— Charlotte? Charlotte?
— Hã, o quê? — ela piscou, olhando
para Patrick que parecia
compreensivelmente divertido.
— Ele quer saber se existe quaisquer
momentos que possam ser, humm,
íntimos nessas filmagens? Sabe,
relacionado a você.
— Não. — Charlotte respondeu
corada. — Eu não costumava visitar o
escritório do meu pai, muito menos para
isso.
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— Então tenho total liberdade para
checar todas as imagens? — o técnico
arrumou os óculos de armação grossa
em cima do nariz.
— Claro, fique à vontade.
Eduardo tinha instruído Patrick a
procurar primeiro a prova que o ligava
ao atentado a Marco e, agora que já
estavam com a prova separada, apenas
sendo trabalhada para melhorar o áudio
e a imagem, as ordens eram cavar
quaisquer podres sobre o senador.
Desde corrupção até – quem sabe –
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imagens mais antigas que o ligassem à
morte do senador Thomas.
— Não sei se a livestream guarda
arquivos tão antigos. — Charlotte
comentou. — Lembro do meu amigo
dizer que ela só armazena no máximo
três anos.
— Nada é realmente apagado no
mundo digital, Srta. McKeena. Sempre
ficam vestígios e se eu os encontrar,
conseguirei o que o Sr. Villa-Lobos
quer.
— Ótimo. — Patrick comemorou. —
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Quanto tempo até que essa prova possa
ser entregue aos investigadores?
— Mais algumas horas e todos os
ruídos terão sido retirados. — o técnico
disse, orgulhoso, dedilhando o teclado
do computador. — A imagem ficará
muito mais nítida. Mas recomendo que
fiquem com uma cópia do vídeo
original, caso queiram comprovar a
autenticidade.
— Concordo. — Patrick disse e
estendeu a mão para o técnico chefe da
sua equipe de TI. — Nós temos que
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voltar para o hospital, mas me mande
uma mensagem ou ligue para mim assim
que isso estiver pronto, certo?
— Sim, senhor. — respondeu o
homem, com os olhos pregados no
monitor.
Patrick e Charlotte deixaram a sede
de tecnologia da Matarazzo Corporation
e voltaram para o hospital o mais
depressa possível. Ela estava receosa
de entrar novamente na sala de espera,
pois não sabia se Eduardo tinha
convencido a esposa a aceitá-la ali, mas
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decidiu que Marco valia a pena. E se
surpreendeu ao ver Camila com a
expressão bem melhor do que antes, até
mesmo sorrindo para ela quando entrou
com Patrick à sua frente.
Charlotte se encolheu defensivamente
quando a Sra. Villa-Lobos caminhou na
sua direção, mas diferente da outra vez,
não caiu logo em prantos.
— Srta. Mckeena, acho que lhe devo
um pedido de desculpas. — Camila
disse, com um sorriso fraco e uma
expressão culpada.
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— Imagina, Sra. Villa-Lobos, eu...
— Não. — Camila ergueu uma mão,
fazendo-a se calar. — Eu fui uma
megera com você mais cedo, mas peço
que compreenda, por favor. Eu estava
nervosa demais, meu filho estava
passando por cirurgia e eu apenas... pfff,
queria culpar alguém ou alguma coisa
por aquele desespero.
Charlotte permaneceu calada, sabia
que Camila tinha mais alguma coisa para
falar e aguardou que a mulher fizesse
isso.
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— Eduardo me contou o que você fez
pelo meu Marco. — Camila agora tinha
lágrimas nos olhos. — E não estou
falando de hoje, mas de quatro anos
atrás. Acho que só posso respeitar a
mulher que abriu mão do homem que
amava para salvar a vida dele. E saber
que você está disposta a colocar na
cadeia o próprio pai para fazer justiça
pelo meu filho, só me faz respeitar você
ainda mais. E por isso, espero que me
perdoe pelo que eu disse.
Charlotte secou os olhos com um
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lencinho que tirou da bolsa e sorriu.
Talvez Camilla Villa-Lobos ainda
ficasse com ela atravessada em sua
garganta por um tempo, mas pelo menos
agora que as coisas tinham se
esclarecido, talvez ela não a odiasse
mais.
— A senhora não precisa se
desculpar. Eu mesma não consegui me
perdoar pelo que fiz até Marco fazer
isso. Mas tudo o que posso dizer é que
ele foi a melhor coisa que já aconteceu
na minha vida. Eu amo, sempre amei e
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amarei até o dia em que eu morrer.
— Oh querida. — Camila abriu os
braços e instintivamente Charlotte se
encaminhou até ela, abraçando-a,
sentindo um conforto e carinho de mãe
que nunca sentiu com a sua própria.
— Será se eu posso vê-lo? —
Camila perguntou, enxugando as
lágrimas novamente quando se afastou.
— Desculpe perguntar assim, mas eu
estou ansiosa demais.
— Ele saiu da cirurgia há dez
minutos. Estamos esperando o médico,
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mas é claro que quando entrarmos você
pode vir também.
— Obrigada.
Apenas mais alguns minutos depois,
o médico chefe da equipe de cirurgia
entrou na sala de espera e Eduardo
imediatamente se colocou em alerta.
— Como está meu filho, doutor?
O restante da filha se levantou em um
pulo das cadeiras onde estavam.
Charlotte seguiu Camila e ficou ao lado
de Eduardo enquanto o médico
respirava fundo.
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— A cirurgia foi um sucesso.
Conseguimos extrair o projétil sem
maiores dificuldades, então dificilmente
ele terá sequelas. Porém houve uma
pequena complicação.
— Como assim? Que complicação?
Como está meu filho? — Camila se
desesperou novamente.
— Ele entrou em choque logo após a
cirurgia, o que ocasionou uma Síndrome
da Angústia Respiratória Aguda. Ele
está em coma no momento.
Houve um murmúrio geral na sala por
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parte de todos ali presentes.
— Coma? — Charlotte levou a mão à
boca, aturdida. O rosto de Camila era
uma verdadeira máscara de horror.
— Quanto tempo ele vai ficar assim?
— Eduardo perguntou.
— Algumas horas, alguns dias, não
posso ser preciso quanto ao tempo. Tudo
o que posso dizer é que Marco agora
está por conta própria, não podemos
fazer nada.

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25

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Patrick e Elena

Depois de dar uma olhada em Marco


após ele ser transferido para um quarto,
dar força à sua família e dizer que
estaria disponível a qualquer hora,
Patrick chamou Elena e foi para casa.
Durante todo o caminho, ele pensou
no que estava fazendo da sua vida. O
acontecimento trágico com Marco o fez
pensar em como a vida é curta e pior,
como ela pode ser encurtada ainda mais
por algum motivo fora do seu controle.
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Elena estava ao seu lado, serena e
pacífica, olhando pela janela. Tudo o
que Patrick conseguia pensar, é que
queria se acertar com ela. Não sabia
qual seria sua reação ao saber a verdade
sobre ele, mas sabia que ela tinha, pelo
menos, o direito de saber.
— Ele vai ficar bem. — Elena
quebrou o silêncio, ainda focando a
estrada. — Não o conheço muito, mas
dá pra ver que é um cara durão.
— Eu não tenho dúvidas disso. O
idiota quase não tira férias, só desse
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jeito mesmo pra descansar um pouco. —
Patrick respondeu, esperando que seu
humor negro não fosse inconveniente.
Elena sorriu. Felizmente, ela entendia
que as palavras de Patrick eram
carregadas, além de sarcasmo, muito
carinho.
— Mas com certeza essa situação nos
faz repensar a vida, não acha? — ele
jogou, dando-lhe um olhar de soslaio.
— Claro. Ele é tão jovem e ao ver o
desespero da Charlotte quando o viu
inerte naquela cama... — ela fechou os
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olhos com pesar. — Nossa, dá pra
imaginar o que ela estava sentindo.
— Se refere ao seu namorado?
— Bom, pelo menos no caso dela,
ainda há esperança.
Patrick mordeu os lábios. Apertou as
mãos no volante e a encarou quando
parou em um sinal vermelho.
— O que você faria, hipoteticamente
falando, se descobrisse que ele não
morreu?
Elena sorriu e levantou os olhos para
o teto do carro.
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— Falando de uma coisa impossível,
de forma hipotética, bom... não sei dizer.
Na verdade, eu passei muito tempo
fantasiando que ele apareceria do nada
um dia. Nos meus pensamentos ou
sonhos, ele dizia que tinha conseguido
escapar, ou que não estava lá na hora do
incêndio... Em todas as ocasiões, eu o
enchia de beijos e caía na cama com ele.
Elena terminou a última parte com
uma grande gargalhada. Patrick sorriu
também e voltou ao trânsito quando o
sinal abriu. Em poucos minutos, os dois
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estavam em casa. Ele a acompanhou até
seu quarto, mas quando ela estava
prestes a fechar a porta após dar boa
noite, Patrick, em um surto de desejo e
desprovimento de bom senso, talvez, se
lançou sobre ela e colou suas bocas.
A maior satisfação que sentiu foi
ouvir seu gemido contido. Eles não se
beijavam mais, não tinham qualquer
contato mais íntimo, desde que Patrick
confessara seu “acidente” e ela lhe
contou sobre Felipe. Mas todos esses
dias sem contato com o seu corpo, com
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o alívio de saber que não amava a filha
de um inimigo e a convicção de que
Elena ainda o amava, deixaram Patrick
em um estado de excitação difícil de
controlar.
Entre algumas reuniões em que ele
pediu que ela lhe acompanhasse, ou
jantares informais e eventos durante as
últimas duas semanas, Patrick não
precisou se preocupar muito com seu
tesão, pois fazia o possível para não
passar tempo suficiente com ela para
ficar tentado a tirar-lhe as roupas.
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Porém agora, a meros centímetros de
distância de Elena, diante do decote do
seu vestido de verão e com os
pensamentos voltados apenas para ela e
nada mais, ele não teve como se
controlar.
— Meu Deus, eu quero você. — ele
disse, entre beijos. — Como eu quero
você.
— Patrick... — ela sussurrou,
sentindo o corpo em chamas. — Eu não
deveria, não deveria te querer, mas não
consigo evitar.
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Estar com Patrick a deixava febril.
Era um sentimento avassalador que
Elena não conseguia entender e não tinha
forças para controlar. Ele voltou a beijá-
la e sua boca não hesitou, sua língua
sequer pediu permissão. Forçando os
lábios dela a se separarem, Patrick fez
suas línguas dançarem em um ritmo
perversamente erótico. Um calor intenso
percorreu o corpo dela, enviando ondas
de prazer para todos os lugares que
precisava.
A boca dele era áspera e exigente.
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Sua língua, ávida pela dela. Os dentes e
lábios de Patrick roçavam a garganta e
clavícula de Elena, e ela arqueava o
corpo, agarrando seus cabelos e
empurrando os quadris contra ele com
força, gemendo enquanto pressionava
contra sua dureza.
— Seu gosto é doce demais. —
Patrick murmurou, deslizando a mão até
a cintura dela e depois acariciando seu
seio. Elena gemeu quando o polegar
dele roçou seu mamilo. — Eu quero
você fora desse vestido. Agora.
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— Você primeiro. — uma das mãos
de Elena começou a desabotoar os
botões da camisa dele, enquanto a outra
lutava contra o cinto.
Estavam muito entrelaçados para se
despir com facilidade, e com
impaciência, Elena deslizou os dedos
sob a camisa para sentir a pele nua e
quente dele. A suavidade da sua pele era
um forte contraste com os cumes duros
daquele abdômen, e o contato lhe causou
um formigamento. Patrick era tão...
gostoso.
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Com um puxão forte, a camisa se
rasgou, lançando os botões para todos
os lados. Elena encarou o homem com
cicatrizes cobertas por tatuagens e
mordeu os lábios. Ela queria prová-lo.
E fez isso ao por a língua para fora e
lamber o corpo de Patrick desde o
umbigo – onde terminava a cauda da
fênix – até o oco do pescoço – onde
começava o pássaro flamejante.
Patrick sibilou e pegou-lhe um tufo
de cabelo, rosnando, totalmente
excitado. Ele reivindicou a boca de
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Elena com tanta intensidade que ela viu
explosões de luz atrás dos olhos.
O mundo ao redor dos dois tornou-se
um borrão. Nada existia além deles.
Patrick e Elena. Suas respirações eram
pesadas e as batidas sincronizadas dos
seus corações combinavam com a trilha
sonora de grunhidos e gemidos.
Abastecidos pela luxúria, Patrick tomou
o caminho da cama.
Desnecessário.
As peças de roupa foram caindo no
chão a cada passo. Um sapato de Elena
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tinha ficado perto da porta e o outro, ela
chutou para longe com força. No
momento em que colidiram com a cama,
Patrick vestia apenas jeans e ela estava
só de calcinha.
Violentamente, ele a jogou na cama e
abriu suas pernas para se meter entre
elas. Abriu seus joelhos e então suas
mãos deslizaram sobre as coxas macias
até enganchar um dedo na calcinha de
renda rosa que ela usava,
despedaçando-a com um puxão firme.
— Oh Deus... — Elena gemeu
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quando Patrick lhe roçou o clitóris com
o polegar. Segurando um gemido
assustado, ela pressionou o quadril
contra seu dedo e deslizou até a borda
da cama para dar-lhe mais acesso. —
Mais, por favor.
Ele enfiou dois dedos dentro dela e
gemeu.
— Caralho, você está encharcada.
Inclinando a cabeça para trás, Elena
gemeu alto, mas Patrick engoliu seus
sons com um beijo tórrido, enquanto
seus dedos começaram a se mover para
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dentro e para fora. Primeiro lentamente
e tortuosamente, depois com velocidade
e intensidade até que ela mordesse seu
ombro, pedindo por mais. Patrick
empurrou mais forte e as pernas de
Elena começaram a tremer. Seus dedos
se curvaram em uma deliciosa agonia,
enquanto todos os nervos do seu corpo
enrolavam em preparação para o alívio
que tão severamente desejava.
Ondas de prazer lhe bateram quando
Elena gozou com um grito gutural. Seu
corpo quase flutuou da cama, ficando
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amassado contra a parede de músculos
que era ele. Havia algo... extremamente
doce... sobre entrar em colapso nos
braços de Patrick.
Ele levantou-se e tirou a calça. Em
seguida, suspirou e tirou a prótese da
perna, colocando-a ao lado da mesa de
cabeceira antes de se ajoelhar no
colchão entre as pernas ainda aberta de
Elena.
— Você é linda demais. — ele disse,
rolando um preservativo que pegara no
bolso da calça antes de tirá-la.
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Os mamilos dela estavam duros, mas
quando ele rolou-os nos dedos hábeis,
eles ficaram tensos e apertados. As
mãos de Patrick viajaram mais para o
sul, deslizando sobre as costelas, como
se estivesse memorizando cada osso.
Suas pupilas estavam tão dilatadas que
Elena enxergou piscinas tempestuosas
de luxúria. Todos os movimentos dele
eram cuidadosamente calculados e
dolorosamente lentos. Ela queria gritar.
Implorar que ele acabasse com aquela
agonia e a penetrasse, mas desconfiava
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que isso só o faria ir mais devagar.
Elena engoliu em seco quando
Patrick finalmente a penetrou, com seu
comprimento enterrado até o fundo, sua
espessura a esticou tanto que ela teve
que morder os lábios com bastante força
para não gritar. Quando olhou para o
rosto de Patrick, viu que ele estava com
olhos fechados, o maxilar tenso e a
expressão compenetrada. As mãos dele
seguravam seu quadril com tanta força
que com certeza teria marcas ali no dia
seguinte.
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— Porra. — ele gemeu, quase
desmoronando. Fato que apenas a
enlouqueceu.
— Me fode, Patrick. Agora.
O que havia com aquele homem que a
deixava tão devassa? Normalmente ela
não era uma criatura tão desbocada.
Esteve com pouquíssimos homens desde
Felipe e em nenhuma das vezes, fez algo
tão quente quanto o que fez com Patrick
essa noite. A última vez que alguém lhe
fez sexo oral... bom, foi Felipe. Ela
nunca deixava que os caras chegassem a
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esse ponto, pois era algo que ela
considerava íntimo demais, mas quando
Patrick abriu suas pernas, tudo o que ela
pensou foi que queria sua língua ali mais
do que qualquer coisa.
O desconcerto de Patrick ao penetrá-
la a deixou eufórica. Talvez ele não
tivesse muitas mulheres por causa do
preconceito das pessoas e por medo de
rejeição. Talvez fizesse muito tempo que
ele não transava e estava se controlando
para não terminar aquilo antes da hora.
Talvez estivesse querendo prolongar o
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momento por causa do que disse antes,
que ela tinha seu coração nas mãos...
Agora mesmo, tudo que Elena queria
era fazê-lo gozar. Uma, duas, três
vezes... quantas a noite permitisse. Sem
conseguir se controlar, ela forçou-se
para cima e o fez virar de costas.
Ele piscou, parecendo acordar de um
sonho, mas Elena apenas o beijou,
montando-o. Sem perder tempo, guiou
aquele comprimento duro e latejante até
sua abertura novamente, gemendo com a
fricção.
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— Tudo bem. — ela disse depois de
tê-lo completamente dentro de sim outra
vez. — Pode deixar que eu assumo o
comando.
Patrick queria dizer que tinha toda
capacidade de comandar aquilo, mas
seus argumentos perderam o sentido
quando ela começou a subir e descer,
lentamente. Centímetro por centímetro.
Gemido por gemido.
— Oh Deus. — a cabeça de Elena
caiu para trás e ela praticamente
cantarolou seu nome enquanto seus
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músculos se contraíam em torno dele.
Patrick deslizou as mãos sobre a
bunda dela antes de estabelecê-las nos
quadris, direcionando o ritmo que
ambos precisavam, rendendo-se ao
controle, adorando a forma como Elena
o cavalgava.
— Porra, eu te amo, Elena. — ele
gemeu, levando as mãos aos seios dela.
— Eu te amo demais.
Elena queria dar prazer a ele.
E com sua nova confissão, ela queria
fazer-lhe perder o controle
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completamente. E mostrar que sim, por
mais que tivesse tentado evitar, também
tinha sentimentos fortes por ele.
Então pulava para cima e para baixo,
primeiro devagar, depois mais rápido,
quebrando o ritmo às vezes até que
ambos estavam totalmente ofegantes. As
pernas dele tremeram, os olhos
reviravam e ao sentir que Patrick estava
prestes a gozar, Elena deixou-se levar
pelo prazer, alcançando o clímax pouco
antes dele, sentindo suas estocadas
profundas quando ele finalmente se
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rendeu ao prazer.

Acordar com Patrick ao seu lado


após uma noite deliciosa de sexo
ininterrupto era tudo o que Elena
precisava para se sentir energizada para
um novo dia. Porém, teve que deixar seu
ninho de luxúria para procurar um
banheiro. Precisava checar sua
aparência, que apesar de ser de uma
mulher completamente satisfeita,
também deveria estar um caos.
Seu corpo doía em todas as partes

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certas e ela se sentia como se tivesse
corrido uma maratona. Durante a
segunda rodada da noite, Patrick tomou
completamente o controle, colocando-se
atrás dela e penetrando-a mais
profundamente do que nunca. Elena
ainda podia sentir a cadência dos
quadris dele contra seu corpo e os sons
dos corpos se chocando. Ela estava
dolorida, mas extremamente feliz.
Com um beijo demorado nos lábios
dele, ela se levantou e se encaminhou
para a porta que achava ser o banheiro.
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Mas surpreendeu-se a notar que era
qualquer coisa menos o que procurava.
Havia fotos enormes dela em todas as
paredes. Um grande mural de colagens
de reportagens sobre um incêndio no
Brasil. E um porta-retratos com uma foto
antiga. Uma foto que a fez perder o
fôlego. Era Felipe e sua mãe.
Elena era uma mulher inteligente e
não precisou de mais de dois segundos
para entender a situação por completo.
O homem com quem ela passou a noite
era o mesmo homem por quem ela
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chorou por dez anos, o mesmo homem
por quem ela quis abandonar a vida, o
mesmo homem que ela sempre amou.
E agora, o homem que partiu seu
coração de uma forma da qual ela temeu
nunca se recuperar.

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26

Marco foi levado para um quarto com


monitoramento especial. Seu quadro não
era realmente grave, os médicos haviam
dito que quando seu corpo estivesse
pronto ele acordaria, mas era bom estar
sempre de olho nele para qualquer
alteração no quadro.
Não era permitido que muitas

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pessoas ficassem ali por muito tempo,
então após cada um dos familiares vê-
lo, apenas Camila, sua mãe, pôde passar
a noite com ele. Charlotte gostaria de ter
tido essa honra, mas entendia que a
pobre mulher estava desesperada para
ficar perto do filho e além do mais, ela
tinha que ajudar Eduardo a pegar seu
pai.
Por volta das duas da madrugada, os
investigadores do Patrick e do próprio
Eduardo se comunicaram com ele. Já
tinham as provas que precisavam para
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entregar Bernard à polícia. Não só as
que o ligavam ao atentado a Marco, mas
também um vídeo recuperado de anos
atrás em que o senador tramava com
dois mafiosos a morte de Thomas.
Sim, mafiosos. James Hardy os
identificou na gravação. Eram homens
do mafioso procurado pelo FBI, Yohan
Jenks, responsável pela entrada da
maior parte do carregamento de drogas
em Nova Iorque. Em todos os anos em
que trabalhou para Eduardo Villa-
Lobos, investigando o senador, tentando
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cavar seus podres, James nunca
conseguiu uma ligação clara entre ele e
a máfia, mas agora... tinha recebido tudo
de bandeja pelas mãos da própria filha
do cretino. O material era suficiente
para colocar McKeena atrás das grades
até a morte, pois além das encomendas
das mortes principais que Eduardo havia
mandado investigar, havia horas e mais
horas de outras tramas, tão sujas e
maquiavélicas como tais.
Mas uma coisa com a qual tanto
James como Eduardo estavam
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preocupados, é que Charlotte deixasse o
lado familiar falar mais alto e que de
alguma forma, avisasse ao pai o que
estava acontecendo. E, é claro que se
Bernard McKeena soubesse que tinha
alguém no seu encalço, sumiria no
mundo e dificilmente seria encontrado
novamente. O ideal seria esperar alguns
dias, criar uma fundamentação bem
elaborada antes de comunicar a polícia
e entregar as provas que tinham, mas
para não dar ao senador nenhuma chance
de fuga, Eduardo resolveu agir rápido. E
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ficou feliz ao saber que Bernard já
estava sendo investigado pelo FBI por
outros crimes, ligados à assassinato,
lavagem de dinheiro e desvio de verbas
públicas.
Assim, antes do sol nascer de
verdade atrás dos prédios de Nova
Iorque, uma equipe do FBI já tinha sido
formada e invadia a casa do senador,
praticamente tirando-o da cama para
levá-lo preso.
— Eu exijo saber por qual motivo
estou sendo levado. — o senador rugiu,
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enquanto um dos agentes colocava-lhe
um par de algemas.
— Bernard! Bernard! Por que estão
levando meu marido? — Judith
McKeena perguntava, atrás da equipe,
enrolada em um roupão.
O detetive Chase, chefe da equipe,
estava com um mandado de prisão
expedido pela promotoria em nome do
senador e lhe recitava seus direitos.
— O senhor tem o direito de
permanecer calado. Tudo o que disser
será usado contra o senhor em tribunal.
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O senhor tem direito a um advogado, se
não puder pagar por um advogado, o
estado resignará um para lhe
acompanhar.
Bernard McKeena praticamente
fuzilava cada um dos agentes com os
olhos, sua esposa foi deixada para trás
aos prantos, e em poucos minutos, o
senador estava a caminho da agência
residente em Nova Jersey.
Os agentes estavam distribuídos em
dois carros, que andavam um atrás do
outro durante todo o percurso. Porém, ao
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chegarem à metade da I-95 S, um Dodge
preto muito ameaçador entrou no campo
de visão do agente que dirigia o carro
em que o senador estava.
— Tem alguma coisa errada, senhor.
— ele avisou ao detetive.
— O que? Por que diz isso?
— Tem um carro vindo muito rápido
atrás de nós.
O detetive olhou para trás e viu o
Dodge. Em seguida, olhou para o
senador que soltava um risinho de
deboche.
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— O que está acontecendo aqui? — o
detetive perguntou com a voz fria.
— Chegou seu fim, filho da puta.
Nessa hora, o carro da frente
desacelerou, não em uma estratégia
contra a possível ameaça vinda de trás,
mas para bloquear o caminho do carro
em que estavam o detetive, alguns dos
seus agentes e o senador. Então em uma
manobra arriscada, o carro da frente
parou, ficando atravessado na rodovia,
forçando o carro de trás a parar também.
— Droga. — o motorista quase não
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conseguiu frear a tempo.
— Todos alertas. — o detetive gritou
a todos. — É uma emboscada.
Os agentes empunharam suas armas,
mas na verdade, não tinham muita
chance, pois quando o Dodge parou
atrás deles, cinco homem encapuzados
portando metralhadoras de calibre 40
mm saíram. Os agentes do carro da
frente saíram também, mas pareciam
estar do lado dos encapuzados do
Dodge. Logo, era possível dizer que
eles eram falsos agentes. Homens
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infiltrados. Juntos, eles formaram uma
força armada impossível de ser
superada pelo detetive e seus homens.
Ordens para sair do carro foram
dadas pelo que parecia ser o chefe ali,
um homem alto com capuz vermelho, e
sem ter o que fazer, os agentes saíram,
largando as armas e sendo brutalmente
assassinados pelo esquadrão de homens
armados. O detetive ainda tentou revidar
após ser atingido de raspão e rolar para
baixo do carro, mas foi inútil. O
encapuzado de vermelho disparou uma
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sucessão de tiros na direção dele,
parecendo muito satisfeito em vê-lo
morrer.
— Tudo bem, senhor? — um dos
encapuzados perguntou a Bernard,
enquanto ele saía do carro.
— Não, nada bem. Essas algemas
estão apertadas.
— Desculpe, senhor. Vou soltá-lo. —
disse o mesmo homem que o tinha
algemado em casa, tirando a chave do
bolso e libertando suas mãos. —
Tínhamos que parecer autênticos até o
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reforço aparecer.
— Por que demoraram tanto, porra?
Jenks? Jenks? — Bernard gritou.
O encapuzado de vermelho ficou na
sua frente e mostrou o rosto.
— Livrar sua barra está me saindo
caro demais, meu amigo. Perdi o
disfarce na agência de Nova Jersey pra
poder te livrar da cadeia.
— E é exatamente para isso que eu
pago você.
— É melhor irmos, não podemos
chamar atenção aqui.
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Eles entraram nos carros e partiram,
deixando para trás toda a bagunça.
Todos os mortos.
— Quer me dizer que merda foi essa
que aconteceu? — Bernard estava
irritado, tanto que deu um tapa forte na
nuca do encapuzado à sua frente no
banco do passageiro. — Por acaso eu
não pago você pra evitar esse tipo de
coisa? Achei que a operação do FBI
estivesse empacada.
— E estava. — Jenks respondeu. —
Mas foi apressada essa madrugada. Eu
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não posso fazer nada se um dos seus
inimigos envia provas para a
promotoria. Meus homens infiltrados
quase não descobriram a tempo.
— O quê? — Bernard gritou. —
Como assim provas? Que tipo de
provas?
— Parece ter sido uma espécie de
gravação de vídeo. Uma câmera de
segurança pelo que pude apurar. Mostra
você falando sobre o ataque ao Villa-
Lobos júnior e sobre a trama na morte
do senador Thomas, anos atrás.
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— Não há câmeras de segurança no
meu escritório, por motivos óbvios,
Jenks, então como isso foi acontecer?
— Não sei como conseguiram, mas
foi isso que a promotoria relatou ao
detetive Chase. Era tudo o que aquele
filho da puta precisava pra te prender.
Ele recebeu as provas ainda de
madrugada e resolveu agir de imediato.
Eu tive que ser rápido, mas não deu pra
ser tão rápido a ponto de avisar. Tudo o
que pude fazer foi arrumar uns homens
extras pra acabar com os agentes antes
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que você fosse realmente preso. Pelo
menos eu pude matar aquele rato com
minhas próprias mãos.
— Como assim inimigo? — Bernard
parecia frio agora, calculista.
— Você deve saber, afinal não
acabou de mandar o filho dele para o
hospital?
— Um puro jogo de azar. Se seu
homem tivesse feito o trabalho direito,
ele estaria numa cova, não numa cama.
— Acredite, Conner já pagou caro
por ter errado aquele tiro. Mas acho que
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você tem problemas maiores agora.
Depois de hoje, você é praticamente um
inimigo público. E você deve tudo isso
a Eduardo Villa-Lobos e James Hardy.
Foram eles quem enviaram todas as
provas à promotoria.
— Filhos da puta. — Bernard bateu
no banco do carro, repetidas vezes. —
Eles me pagam. Eu juro que eles
pagarão caro.
— Você tem que sumir, Bernard. Eu
tenho um helicóptero esperando você em
Downtown.
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— Obrigado, mas eu tenho meu
próprio método de sair do país.

— Porra. Porra. Porra. — Eduardo


urrava de raiva.
Havia alguns minutos que James
Hardy ligara para ele, contando sobre a
malfadada operação do FBI na casa do
senador Bernard McKeena.
Aparentemente, ele tinha espiões
infiltrados na agência e já sabia sobre
parte da operação, assim, seus homens
conseguiram dar um jeito de livrá-lo da

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prisão, matando quatro agentes federais
e um detetive no processo.
Era óbvio que nesse momento ele se
preparava para sair do país.
E talvez nunca mais voltar. Algo que
arrepiava todos os pelos do corpo de
Eduardo.
— Querido, acalme-se. — Camila
pediu, temendo que o marido acabasse
tendo um problema de saúde.
— Como eu vou me acalmar? Aquele
verme colocou meu filho em coma só
porque levou uns sopapos. O que acha
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que ele vai fazer com o resto de nós
quando descobrir que fui eu quem o
entregou à polícia definitivamente? Isso
se ele já não souber.
— Marco vai ficar bem.
— Sim, vai. Mas eu não quero passar
o resto da vida temendo que a qualquer
momento ele, você ou a Luciana acabem
aqui também ou pior. Por que é claro
que McKeena não vai deixar isso pra lá.
Ele vai querer se vingar de mim.
Um arrepio correu o corpo de
Camila. Ela não podia sequer pensar em
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perder qualquer um dos seus filhos ou
seu amado marido. Mas o que eles
podiam fazer? Bernard tinha fugido e já
tinha mostrado o quão longe iria para
evitar a prisão. James tinha dito que não
fazia ideia de para onde ele poderia ter
ido. Todas as suas propriedades assim
como Judith McKeena, estavam sendo
vigiadas, mas o senador poderia querer
ir embora sozinho. Com certeza ele tinha
uma conta bem gorda em algum paraíso
fiscal para não se preocupar em levar
alguma coisa.
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— Eu nem sei se prendê-lo seria
suficiente, Camila. — Eduardo falou, em
um tom mais comedido, porém, um tanto
sinistro. — Você viu o tamanho da
influência dele? Viu a bagunça que
aprontou na interestadual? Ele poderia
ser preso e mesmo assim nos fazer mal.
— Amor, não pense assim. E... por
favor, não fale assim. Você está me
assustando.
— Eu não vou deixá-lo fazer mal a
vocês.
— Ele não vai. — Charlotte, que
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tinha acabado de ficar sabendo da fuga
do pai pelo jornal, apareceu na sala de
espera, ouvindo a última parte da
conversa dos pais de Marco. Ela estava
a caminho hospital quando ouviu no
rádio do táxi sobre a prisão e a fuga do
senador McKeena naquela manhã.
— Charlotte? Desde quando está
aqui? — Camila perguntou com a voz
trêmula.
— Acabei de chegar. Vim rendê-la.
Achei que poderia querer descansar um
pouco enquanto eu ficava com o Marco.
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— Oh, querida, que atencioso da sua
parte.
— E gostaria de vê-lo. — ela sorriu.
— Mas com a fuga do meu pai, acho que
serei mais útil fora daqui.
— Do que está falando? — Eduardo
perguntou.
— Eu sei onde achá-lo. Ele é meu
pai, afinal de contas, sei exatamente
para onde está indo.

Meia hora depois, Charlotte, Eduardo


e James estavam no Porto Newark,

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mesmo com os insistentes pedidos de
Camila pelo contrário. Ela pedira, pelo
amor de Deus, que Eduardo não fosse ao
encontro do senador. Ela não sabia, na
verdade, quais eram as intenções do
marido, mas tinha certeza de que nada
de bom poderia sair daquele encontro.
Mas, aproveitando um momento de
distração da esposa com sua filha que
lhe ligou na hora exata, Eduardo pegou
Charlotte pela mão e ambos saíram
apressados do hospital. Em outras
circunstâncias, ele jamais agiria de
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forma tão imprudente – ligando apenas
para seu investigador e não para a
polícia –, mas era a paz e possivelmente
a vida da sua família que estava em
jogo.
Se ligasse para a polícia, talvez eles
o obrigassem a ficar fora do caminho. E
ele não poderia deixar Bernard fugir.
Não tinha certeza sobre o que faria ao
senador quando estivesse cara a cara
com ele, mas se precisasse chegar às
vias de fato e matá-lo, não queria a
polícia como testemunha.
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Só que Eduardo tinha se esquecido
de uma peça crucial.
Charlotte.
Na pressa em se livrar da esposa, ele
não pensou em como seria ter a filha do
seu inimigo ao seu lado. Ele deveria ter
perguntado o lugar para onde ela o
levaria e dizer que ela deveria ficar no
hospital com Camila por motivos de
segurança. Ao invés disso, estava agora
com ela ao seu lado, na espreita atrás de
um grande container, observando
Bernard negociar com um homem que
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parecia ser o capitão de um dos navios
ancorados.
Ela é filha dele, porra.
— Como sabia que ele viria para cá?
— James perguntou a Charlotte.
— Eu apenas sabia. — ela
respondeu, lembrando-se de quando era
ingênua a ponto de achar que toda vez
que seu pai viajava de navio – navio de
carga, mais precisamente – quando ela
era criança, era apenas porque ele
gostava do mar. A verdade era bem mais
feia. Pelo mar, ele tinha menos
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problemas para ir e vir com suas
mercadorias... de origem duvidosa. E
agora, facilitaria sua fuga, pois ninguém
imaginava que ele fosse meter no meio
de um monte de mercadorias em um
navio de quinta.
Era difícil para ela saber que seu pai
era um criminoso de marca maior. Sem
ter conseguido dormir muito na noite
anterior, ela resolveu assistir alguns
vídeos na livestream que tinha
repassado a Eduardo e James. E chorou
o tempo todo, a coisa nova que
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descobria. Seu pai era uma decepção. E
sua mãe também, pois não tinha dúvida
de que ela fosse uma criminosa passiva.
— Olhe ali. — Eduardo alertou. —
Aquele cara ali vai começar a carregar
o navio. Aposto que é agora que o
Bernard vai entrar.
— Temos que rendê-lo antes disso.
— James murmurou, engatilhando sua
arma. — Será difícil depois que ele
entrar.
— Charlotte, James e eu vamos até
lá. — Eduardo olhou nos olhos dela. —
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Fique aqui, tudo bem? Eu preciso que
fique segura.
Ela apenas concordou com a cabeça,
incapaz de falar qualquer coisa.
Soltando um suspiro trêmulo, ela
observou os dois homens se
aproximarem mais de onde estava seu
pai. O porto estava calmo do lado em
que eles estavam, apenas alguns homens
podiam ser vistos conversando e
jogando cartas. E mesmo esses, estavam
a mais de cem metros de distância.
Charlotte fechou os olhos e virou de
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costas. Não queria ver aquilo. Mas não
significava que não ouvia. O porto
estava razoavelmente silencioso, apenas
as gaivotas faziam um pouco de barulho,
então as vozes de Eduardo e James
podiam ser ouvidas, mesmo à distância.
Ela não entendia o que diziam, mas
ouvia o timbre mal contido do pai de
Marco.
Então, de repente, houve um silêncio,
e depois ela ouviu um tiro ressoar.
Charlotte saiu de trás do container e
viu a cena. James estava no chão,
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aparentemente ferido e Eduardo
mantinha as mão no alto. O homem com
quem Bernard conversava antes, o
capitão do navio, estava com uma arma
em punho, mirando para a cabeça de
James, de costas para ela.
O senador andou até ele e pegou sua
arma do chão, depois voltou para onde
Eduardo estava, na beira do cais, com
um misto de raiva e medo nos olhos. Ela
quase podia ouvir seus pensamentos.
Minha família. Meus filhos.
Sem pensar direito no que fazia,
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Charlotte pegou um pedaço de ferro
perto do container e andou
cuidadosamente na direção deles. A voz
do seu pai ficava mais clara a cada
passo.
— Você não devia mesmo ter se
metido comigo. Se tivesse deixado o
assunto Thomas descansar junto com seu
corpo, não estaria nessa situação agora.
Bernard soltou uma gargalhada.
— Adoraria ver sua cara quando
meus homens fizerem uma visitinha à
Sra. Villa-Lobos e seus filhos.
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— Você não...
— O quê? — Bernard cortou o
protesto de Eduardo, divertindo-se com
a situação. — Você tirou tudo de mim ao
me entregar à polícia e eu vou tirar tudo
de você. Começando pela sua vida.
Bem atrás do capitão do navio, que
aguardava ordens para finalizar James,
Charlotte ergueu a barra de ferro e o
acertou bem na nuca com toda força. O
homem caiu no chão na mesma hora.
Felizmente, seu pai estava ocupado
demais para prestar atenção no
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acontecia atrás de si e não viu quando
ela pegou a arma do capitão e andou em
sua direção.
— Papai. — ela disse, mirando a
arma, com os olhos cheios de lágrimas.
Bernard se virou parcialmente,
apenas o suficiente para ver Charlotte
lhe apontando uma arma e o capitão do
seu navio desmaiado no chão logo atrás.
— Que porra você faz aqui?
— Deixe ele... deixe ele ir. — ela
disse, apontando com o queixo para
Eduardo.
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— Sabe o que esse maldito fez a
mim? Ao seu pai?
— Não foi ele. Fui eu. E não foi nada
que o senhor não merecesse.
— Você? — os olhos de Bernard
brilharam de raiva. — Minha própria
filha?
— Charlotte, vá embora daqui. —
Eduardo ordenou, dando um passo à
frente. Bernard viu sua intenção de se
jogar em cima dele e atirou, acertando
seu ombro.
— Não, papai. — Charlotte gritou.
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— Por favor.
Ela destravou a arma e voltou a
apontá-la para o pai.
— Você não seria capaz. — o homem
riu. — Ou seria? Mataria seu próprio
pai?
— Eu não quero. — ela respondeu,
chorando tanto que as lágrimas
embaçavam sua visão.
— Eu vou matar esse desgraçado e
depois eu e você teremos uma
conversinha, filha.
— Por favor, papai. Por favor, não
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me obrigue.
Mas Bernard não acreditava que sua
filha tivesse coragem de disparar uma
arma, muito menos contra ele. Então
mirou a cabeça de Eduardo e sorriu,
saboreando sua vingança.
— Vá para o inferno seu filho da
puta. — Eduardo cuspiu.
— Você primeiro. — o senador
respondeu.
— Deus me perdoe. — Charlotte
rezou, erguendo os olhos para o céu
antes de voltar a olhar para as costas do
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pai.
Em seguida ela atirou.

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27

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Patrick e Elena

Elena não conseguia acreditar. Sua


respiração falhou enquanto ela tentava
absorver o que tinha acabado de
descobrir. Como Felipe tinha escapado
do incêndio no morro? E por que usava
o nome Patrick Matarazzo agora?
— Como não liguei os pontos antes?
— Elena perguntou-se ao lembrar de
tudo o que aquele homem tinha lhe dito.
Um incêndio criminoso, não foi isso que
ele contou? Como poderia não ter
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imaginado? Droga, ela nem sequer
cogitou.
Mas não podia se culpar. Nunca
cogitou que Patrick pudesse ser Felipe
porque no fundo imaginava que se ele
tivesse sobrevivido àquela noite
infernal, a teria procurado de imediato.
Essa era a imagem que ela tinha do cara
que conhecia e amava. Não se passou
pela sua cabeça nem por um mísero
momento que ele um dia se tornaria um
homem tão calculista.
Mas onde seu pai entrava nessa
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história? Por que Patrick fez o que fez
com a empresa da sua família? Por que
levou seu pai quase à ruína? Ou melhor,
por que o odiava tanto? Mesmo que não
quisesse se dar conta, seria impossível
não supor que era porque, de alguma
forma, Patrick achava que seu pai era o
responsável por aquilo.
A percepção de que talvez tudo o que
ele dizia sentir fosse mentira, que sua
estadia naquele lugar fosse apenas uma
vingança cruel, fez com que Elena
perdesse o equilíbrio, tendo que se
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apoiar em uma mesinha ali.
Felipe a amou, ela não duvidava.
Mas Patrick... era um homem
totalmente diferente.
— Eu posso explicar. — disse uma
voz vinda da porta. Elena olhou para
trás e viu Patrick em pé ali, segurando o
batente superior da porta com força.
Estava usando a prótese, mas não tinha
se dado ao trabalho de por roupas,
vestia apenas a cueca de antes. Sua
expressão era indecifrável.
— Pode explicar por que não está
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morto como eu achei que estivesse
durante dez anos? — sua voz saiu
ríspida, furiosa mesmo.
— Uma pessoa me tirou do incêndio
antes do meu corpo ser totalmente
consumido. Ele me trouxe pra cá, onde
fiz toda a recuperação.
Patrick deu um passo para dentro do
quartinho em direção a ela, mas Elena
ergueu as mãos, avisando-o com os
olhos que mantivesse distância.
— E em nenhum maldito momento
você achou que eu merecia saber que
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você estava vivo?
Patrick abaixou os olhos e os fechou
com força.
Elena não conseguiu segurar as
lágrimas. Ela não sabia bem por qual
motivo chorava. Com certeza estava
magoada e com raiva. Mas existia algo
mais além disso. Um tipo de emoção que
era um misto de tudo que já tinha
sentido.
— Não houve um dia que eu não
quisesse voltar ao Brasil e te contar. —
Patrick respondeu, a voz trêmula. —
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Mas eu... eu não suportava a ideia de
voltar lá e ver...
— Ver o quê? — ela incitou. — A
pessoa responsável por tudo?
Patrick levantou o olhar e Elena não
precisou perguntar para ter certeza. A
resposta estava em seus olhos. Todos
esses anos, ele achara que seu pai tinha
sido o responsável.
— Meu pai não é um assassino,
Patrick. Ele não era a favor do nosso
namoro e Deus sabe quantas vezes
brigamos por isso, mas ele nunca faria
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mal a você.
Agora ele sabia disso, mas na
época...
— Ele me visitou na mesma noite do
incêndio. Foi lá com alguns seguranças e
uma moto para me comprar. Disse pra
ficar longe de você e quando me recusei,
ele disse que eu estava brincando com
fogo. O que queria que eu pensasse
quando acordei de madrugada com
minha casa em chamas e um dos
seguranças dele lá?
Elena não tinha resposta para sua
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pergunta. Não sabia da visita do pai a
Felipe. Desde que Luís Fernando
descobrira sobre o envolvimento dos
dois, ele apenas ameaçava tirá-la da
escola e mandá-la para um colégio
interno, mas não sabia que seu pai tinha
chegado a tentar comprar seu namorado.
Mas isso não justificava Patrick ter ido
embora depois do incêndio e deixá-la
sofrer por tanto tempo. No fundo, sabia
que seu lado racional deveria pelo
menos tentar entender os motivos dele,
mas ela estava magoada de mais para
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ouvir a razão.
— E isso prova tudo? Isso prova que
ele foi o culpado? Podem existir
dezenas de razões para aquele homem
ter ido lá. Você julgou e condenou meu
pai sozinho.
— Eu queria justiça. — a voz dele
aumentou, seu peito subia e descia com
rapidez. — Minha mãe morreu naquele
inferno e as provas... elas apontavam...
— Que provas Patrick? — Elena
gritou. — Você não queria justiça. Você
queria vingança. Em toda a sua busca
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pela verdade, ao menos procurou saber
se estava certo antes de destruir um
homem inocente? Se você quisesse
mesmo justiça, teria lidado com as
coisas de outra forma.
Patrick não sabia como explicar pra
ela que ficara cego depois do incêndio,
que tudo o que via na sua frente era sua
mãe morrendo e o rosto do homem que
ele achava ser culpado. Mas sabia que
ela tinha razão em estar triste, magoada
e com raiva. Afinal, Luís Fernando
acabou sendo inocente e dez anos
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apenas sentindo ódio foram perdidos.
Um tempo que ele não poderia mais
recuperar.
Elena saiu pisando duro do quartinho,
passando por Patrick com uma trombada
que quase o derrubou e voltou para o
quarto principal, onde começou a
recolher suas roupas para vesti-las.
Ficar só de lingerie no meio de uma
briga nunca era uma boa opção.
— Você agiu como um carrasco
cruel, sem o menor senso de justiça.
Você destruiu a minha família e sequer
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pensou no que me aconteceria no
processo. — ela falou depois de colocar
o vestido da noite anterior. Patrick
apenas a observava, sentado na cama,
ainda de cueca. — Achei que me
amasse, mas acho mesmo que o cara me
amava morreu naquele barraco.
— Elena, não houve um só dia que eu
não tenha pensado em você.
— Então enquanto você elaborava
seu plano de vingança contra meu pai,
era em mim que estava pensando?
Enquanto tentava destruir a empresa da
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minha família, era em mim que estava
pensando?
Havia fogo nos olhos de Elena e por
mais que Patrick não pudesse sentir
fisicamente o calor que emanavam, teve
medo de ser queimado assim como dez
anos atrás. Ele entrou em pânico.
— Por favor, por favor, por favor,
Elena. — ele se ajoelhou aos pés dela.
— Tente enxergar meu lado. Olha, eu sei
que errei, eu vejo isso agora, mas eu
estava destruído. — em seguida,
começou a chorar. — Eu estava com
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medo, envergonhado, cheio de dor... eu
não sabia como me guiar.
Fechando os olhos com força e
virando-se de costas, Elena tentou fugir
da dor que transparecia nos olhos de
Felipe. Ela riu tristemente e balançou a
cabeça. Não sabia se deveria se referir
desse jeito ao homem com ela naquele
quarto. Felipe era doce, gentil e nunca,
nunca nem em mil anos, a magoaria. Mas
Patrick era rude, egoísta, cruel,
calculista... Pensar nele como sendo
Felipe, mancharia a memória do garoto
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que ela tanto amou.
Porém, talvez, agora ambos fossem a
mesma pessoa.
— Eu quase tirei minha vida porque
não suportava a ideia de viver sem
você. Mas você me deixou para trás,
abrindo mão do nosso amor tendo como
combustível apenas uma vingança. Você
escolheu sua vida, Felipe. Você escolheu
se vingar a me amar. Agora eu escolho
partir a deixar você me magoar mais um
segundo que seja.
— Eu errei. — Patrick admitiu com
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um sussurro afogado. — Sei que não
mereço seu perdão, mas estou
implorando. Por favor, Elena. Por favor,
não me deixe.
Ela não conseguia olhar para ele.
Droga, ela o amava. Sabia que se
olhasse em seus olhos, não conseguiria
ir embora. Mas precisava ir. Precisava
pensar.
Precisava se curar.
Então apenas caminhou até a porta,
deixando para trás um homem arruinado,
chorando desconsoladamente.
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Por quê? Por que não contei quando


tive a maldita chance? Patrick pensava.
Fazia pouco mais de um mês que Elena
estava em sua casa e ele teve várias
chances para se abrir. Por que então
tinha se deixado levar pelo medo? Se
tivesse contado antes, talvez agora ela
não estivesse fazendo as malas para ir
embora definitivamente da sua vida.
Suas lágrimas se misturavam à agua
quente que batia nas suas costas
enquanto Patrick tomava banho. De

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repente, ele tinha dezesseis anos de
novo. De repente, ele estava se
queimando de novo. De repente, estava
morrendo de novo.
Elena iria embora e não havia forma
no mundo de suportar a dor de perdê-la
outra vez. Se fosse para abrir mão dela
novamente, era preferível tirar a própria
vida.
Ele não iria desistir. Não iria perdê-
la nunca mais. Ele lutaria por ela.
Patrick terminou seu banho, fez uma
ligação e pegou a pequena caixinha que
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mantinha guardada desde o dia em que
Elena voltou para a sua vida.

Elena não quis aceitar a oferta do


motorista de Patrick de levá-la ao JFK.
Então, a última visão que teria de Nova
Iorque, seria o taxista pedindo o
pagamento. Isso e os casais felizes que
se despediam com um beijo demorado.
De qualquer forma, isso era o que menos
importava, pois não tinha como sua dor
se ampliar mais.
Seu coração estava em pedaços.

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Parte dela queria que Patrick aparecesse
como nos filmes e a impedisse de ir, e
parte queria que ele nunca mais voltasse
a ficar na sua frente. Era doloroso
demais. Ele havia ido embora, depois
mentido sobre sua identidade. E apenas
isso era suficiente para fazê-la sangrar.
Não precisava nem mesmo acrescentar o
que ele fizera a seu pai.
Por sorte, não foi difícil conseguir
uma passagem de última hora para o
Brasil. E ao passar para a sala de
embarque, os minutos que faltavam para
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o voo pareceram horas. Ela só queria
voltar para casa e pedir conforto à sua
mãe. Incrivelmente, ela não era o tipo de
pessoa que procurava a mãe por
qualquer problema, nunca tinha sido,
mas assim como precisou dela quando
soube do incêndio na casa de Felipe,
precisava agora.
Enfim, seu voo foi anunciado e o
embarque começou. Mais dez horas e
ela estaria em casa, apenas um pouco
mais que isso se o trânsito estivesse
bom no Rio. Elena sentou em sua
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poltrona na área econômica – única com
vaga de imediato para o voo – e
respirou fundo.
Ela sabia que indo embora agora, as
chances de nunca mais ver Patrick, ou
Felipe, eram gigantes. E isso a levou a
um pânico momentâneo. A quem ela
queria enganar? Amava aquele homem
com toda sua alma. O amava como
Felipe, e por Deus, tinha aprendido a
amá-lo como Patrick.
Elena lembrou-se das palavras dele
sobre a noite do incêndio. Se fosse ela
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em seu lugar, teria agido diferente?
Lembrava-se de ter ficado quase seis
meses sem falar com o pai apenas por
saber que ele não aprovava seu namoro
com Felipe, nem mesmo depois que ele
tinha morrido. Sua mãe lhe deu os
pêsames, mas seu pai não mostrou
nenhuma emoção. Não foi desagradável,
mas também não pareceu triste. Nada.
Era como se Felipe nunca tivesse
existido.
Isso a magoou na época. Seu pai era
totalmente indiferente ao homem que ela
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amava.
Por que Felipe não teria o direito de
pensar que ele teria mandado matá-lo?
Na verdade, qualquer pessoa poderia
pensar isso. E talvez, seu pai até mesmo
pudesse entrar para lista de suspeitos da
polícia se alguém testemunhasse seu
encontro com Felipe naquela noite.
Ela sabia que seu pai não faria mal a
uma mosca, mesmo que passasse a todos
a fachada de durão. Mas isso não
significava que outras pessoas não
pensassem isso. A desculpa de Felipe
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para seu ódio e seu desejo de vingança
era plausível. Porém, não apagava a dor.
Se ele tivesse deixado tudo para lá e a
procurado, teriam evitado tanto
sofrimento... para ambos.
Elena não era cega. Sabia que tinha
deixado um homem que a amava para
trás. Sabia que ele sofreria por ela.
Sabia que tinha sido sempre assim.
— Mas que demora. — um homem
reclamou ao seu lado.
— Já deveríamos estar no ar.
— Eu não posso me atrasar. Por que
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está demorando tanto?
Elena tentou ignorar o murmúrio ao
seu redor. Voar lhe deixava um pouco
nervosa e a última coisa que precisava
era pensar em algum problema com o
avião.
Então, uma voz começou a cantar...
Elena se arrepiou.

Don't wanna close my eyes. I don't


wanna fall asleep. 'Cause I'd miss you,
babe
And I don't wanna miss a thing.
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'Cause even when I dream of you. The
sweetest dream will never do.
I'd still miss you, babe. And I don't
wanna miss a thing

Caramba, ele era muito desafinado.


Ela riu enquanto a figura surgia por trás
da cortina que separava a área
econômica da área VIP. Felipe sempre
foi um péssimo cantor, mas também
sempre foi muito romântico e apesar da
desafinação, ninguém cantava I Don’t
Want To Miss a Thing como ele.
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As pessoas que reclamavam do
atraso no voo, pareciam fascinadas com
o péssimo cantor e o lindo gesto dele
para tentar convencer a mulher que
amava a não abandoná-lo. Quando a
música terminou, todos aplaudiram.
— Eu sou um idiota. — Patrick disse,
diante de Elena. — Sou estúpido. E sim,
sou egoísta. Sou egoísta demais pra
deixar você ir embora mesmo sabendo
que era isso o que eu deveria fazer.
Então ele se ajoelhou, assim como no
quarto. Elena levou a mão à boca.
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— Eu sou tudo isso, Elena. Mas sou
um idiota, estúpido e egoísta que te ama
mais do que qualquer coisa na vida.
Nunca vou desistir de você. Por favor,
não desista de mim. Casa comigo.
Não houve aquele silêncio tenso onde
todo mundo espera a resposta da moça
pedida em casamento. Não houve
porque no momento em que Patrick
terminou suas palavras, Elena colou sua
boca na dele.
— É um sim? — ele perguntou sem
fôlego.
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— Se não acredita, podemos sair
daqui, ir para o seu quarto e eu te
mostro.
As portas foram seladas e o capitão
deu ordem para por os cintos de
segurança.
— Acho que vou ter que acreditar no
beijo. — Patrick murmurou junto aos
lábios dela. Então se pôs de pé e sentou
na cadeira vazia ao seu lado.
Elena sequer tinha notado que as
cadeiras do seu lado direito e esquerdo
estavam vazias, mas não poderia ter
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ficado mais feliz por isso. Apenas um
olhar para Patrick e ela sabia que ele
tinha comprado os dois assentos.
— Se você planejava fazer isso tudo,
— disse ela, olhando de forma travessa
para ele — poderia ter feito lá no hall
do aeroporto ou mesmo na sala de
embarque. Agora estamos a caminho do
Brasil.
— Que bom. — ele sorriu, em
seguida franziu a testa — Tenho muitos
assuntos a tratar no Rio. Milhões de
desculpas para pedir.
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Patrick parecia pensativo, distante
por um momento, mas em seguida estava
de volta.
— Preciso bolar um plano para ter a
aprovação do seu pai.
— Boa sorte com isso. — ela deu um
tapinha no peito dele.
— Meu Deus, vou ver meu futuro
sogro e estou com a imagem totalmente
fodida.
— Não precisa se preocupar com
meu pai. Duvido que sua imagem possa
piorar.
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— Que belo incentivo.
Elena sorriu com todos os dentes.
Não podia acreditar. Estava voltando
para casa com o homem que amava ao
seu lado. Estava tudo perfeito. Ele tinha
feito tudo perfeito.
Na verdade, perfeito até de mais.
O avião tinha atrasado de propósito
por ele. E o piloto ou os comissários em
nenhum momento tentaram pará-lo
durante seu showzinho. Oh, oh...
— Como você sabia em que voo eu
estava? — ela estreitou os olhos para
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ele.
Mas Patrick não teve nenhum
problema em admitir.
— A companhia aérea é minha. À
propósito, está faltando uma coisa no
meu pedido. — ele disse, como se
tivesse ouvido os pensamentos dela.
Ele chamou a aeromoça e cochichou
algo em seu ouvido. Ela sorriu e saiu,
voltando poucos minutos depois com um
carrinho. Nele havia uma caixinha
aberta com um anel de diamantes e uma
garrafa de Bollinger Rosé.
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— Ah, agora sim está tudo perfeito.
— disse ele, enchendo uma taça.
— Continue fazendo isso, — Elena
disse, tirando a taça da mão dele, — e
eu até posso ajudar você com o meu pai.
Ele sorriu.
— A você. O amor da minha vida
inteira. — ele ergueu a sua nova taça.
— A nós. E ao nosso futuro juntos. —
ela respondeu, tocando na taça dele.
O futuro prometia ser mais brilhante
para os dois. O felizes para sempre
estava apenas no início.
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28

As semanas que se seguiram não


foram nada fáceis para Charlotte.
Na primeira, imediatamente após a
morte do seu pai sair nos jornais e a
causa, ou seja, a própria filha, ela teve
que enfrentar sua mãe – que a renegou
publicamente, dizendo que nunca a
perdoaria por tirar-lhe seu marido,

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pouco antes de ser presa pelo FBI por
corrupção passiva –, a polícia – a quem
teve que dar várias explicações e
descrever passo a passo o que tinha
acontecido no Porto, tendo que provar
que agira em legítima defesa – e a
imprensa, sendo essa a pior de todas.
Depois das notícias se espalharem,
ela não podia dar um passo a qualquer
lugar sem ser cercada por repórteres de
todos os meios de comunicação. A ficha
criminal do seu pai foi quase toda
revelada e era extremamente extensa.
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Além disso, ele tinha alguns projetos
que acabaram vindo à tona. Sendo um
deles, uma grande ação no Harlem e
parte do Brooklin que tiraria a moradia
de centenas de pessoas, pois incluía
demolir alguns prédios antigos, que
segundo o senador, apenas ocupava
espaço que poderia ser aproveitado em
outras coisas.
É claro que as famílias que seriam
atingidas por tal projeto, não ficaram
satisfeitas, e cada vez que Charlotte ia a
algum lugar, sempre avistava pessoas
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com cartazes ofensivos com o nome
McKeena. Eles não pareciam se
importar com o fato de ela não ter nada
a ver com os negócios sujos do pai.
O nome da sua família não podia
estar em pior situação. Tanto que na
segunda semana, a Fashion Week, com a
qual ela contava para alavancar sua
empresa, veio e se foi, sendo um
fracasso doloroso. Os estilistas e lojas
não queriam ter seu nome associado a
qualquer coisa referente à McKeena,
não importava o quanto suas
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propagandas tentassem desvinculá-la do
nome dos pais.
Mas o pior de tudo não era nem
mesmo seu nome, seus pais, ou sua
empresa. O pior de tudo é que depois de
três semanas em coma, Marco ainda não
tinha acordado. Os médicos estavam
ficando um pouco preocupados, pois não
imaginavam que fosse demorar tanto. O
quadro de SARA já tinha melhorado, ele
respirava sem ajuda de aparelhos
invasivos, mas não voltava à
consciência.
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Em uma manhã, após dormir apenas
três horas à noite, Charlotte foi ao
hospital, render Camila e ficar em seu
lugar por um tempo, quando foi cercada
por uma porção de repórteres. Era de se
esperar que depois de algum tempo, eles
fossem largar o osso, mas os urubus
pareciam pior que cachorro.
— Senhorita McKeena! Senhorita
McKeena! Como se sente por ter matado
seu pai?
— Senhorita McKeena, o FBI
revelou que seu pai tinha conexão com
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fornecedores de drogas vindos da
Colômbia e também com o famoso
mafioso Yohan Jenks, o que tem a
declarar a esse respeito?
— Você tinha conhecimento, assim
como sua mãe, dos negócios sujos do
senador?
— É verdade que Marco Villa-Lobos
está nesse hospital por culpa do seu pai?
— Como se sente em ser uma
McKeena nesse momento?
Charlotte ficou sem ar diante de
tantas perguntas. Os repórteres vieram
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de todos os lados. Algumas pessoas que
estavam do lado de fora, ao ver o
alvoroço da mídia, se aproximaram e ao
constatarem ser ela o centro das
atenções, começaram uma série de
protestos.
— Eu não consigo respirar. — ela
sussurrou. Tinha que sair dali, mas não
via nenhuma brecha.
Então um braço gigante a puxou pela
cintura. Ela olhou para cima e viu
Eduardo Villa-Lobos com os olhos
fumegantes, direcionados para cada uma
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das pessoas que a importunavam.
— Charlotte não é uma McKenna. —
disse ele em alto e bom tom. — Pelo
menos não mais. Meu filho e ela se
casaram algumas semanas atrás, mas não
tiveram a oportunidade de sair em lua de
mel antes do terrível atentado a ele. Ela
é uma Villa-Lobos, é da minha família, e
ninguém se mete com a minha família.
As últimas palavras de Eduardo eram
de causar calafrios em qualquer pessoa
de bom-senso. Os repórteres piscaram,
meio incrédulos, mas em seguida,
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começaram suas perguntas, agora bem
mais amigáveis. Eduardo não se
incomodou em responder, mas tentou ser
o mais breve possível, notando o
desconforto de Charlotte sob sua
proteção.
— Obrigada. — Charlotte sussurrou,
depois de entrarem. Eduardo a levou
para a cafeteria do hospital e pediu um
chá para ela.
— Não precisa agradecer. Cheguei
agora também e vi o movimento.
Gostaria de ter chegado antes.
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— Tudo bem, é só que... nunca foram
tantos. — Seu corpo todo tremia. —
Sempre eram dois ou três, apenas
tirando fotos e especulando através das
fotos. Nunca foram tão agressivos.
— Eu odeio que tenham feito isso a
você. Se você tivesse me deixado fazer
alguma coisa...
— Era minha família, Sr. Villa-
Lobos. Deus, eram meus pais. Eu
precisava passar por isso. — Então ela
sorriu. — Mas obrigada por dizer que
sou da sua família. Foi muito gentil.
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— É a verdade.
— Eu nem sei se Marco vai querer
ficar comigo depois que souber que meu
pai o colocou ali.
— Olha, eu sei que meu filho é meio
idiota, à vezes, mas ele deixar você
escapar, eu juro que vou castrá-lo. Dei
aquelas bolas a ele e posso muito bem
cortá-las fora.
Charlotte sorriu, sentindo-se muito
melhor. Era incrível como apenas
algumas semanas com a família de
Marco a faziam rir e se sentir melhor do
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que anos e anos com a sua própria.
— Além do mais, se ele não quiser
ter você como esposa, terá que ter como
irmã. Porque faço questão de adotá-la.
Lágrimas se formaram nos olhos
dela, mas ela tinha um sorriso feliz no
rosto.
— Se bem que prefiro tê-la como
nora.
— Eu também prefiro.

Camila estava dormindo na poltrona


ao lado da cama de Marco quando

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Eduardo e Charlotte entraram no quarto.
Luciana mexia no celular, sentada no
sofá do canto. Eduardo tinha pedido
permissão para que mais de uma pessoa
ficasse com o filho, afinal, ele tinha
várias mulheres preocupadas com seu
bem-estar e cada uma delas era relutante
na hora de ceder o tempo para a outra.
Noite passada tinha sido a vez de
Camila e Luciana, essa noite seriam
Charlotte e Nicole, que tinham ficado
muito amigas nas últimas semanas.
— Parece que alguém precisa de uma
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cama. — Eduardo murmurou no ouvido
da esposa, despertando-a com um pulo.
— Por Deus, Eduardo. Quase me
mata de susto.
— Charlotte está aqui. Por que não
vem pra casa um pouco? Nicole deve
chegar em pouco tempo e Luciana
poderá ir também.
— Tudo bem. — Camila levantou-se
e se esticou toda, deleitando seu marido.
Em seguida, piscou para ele.
— Charlotte, querida, se alguma
coisa...
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— Sim, senhora. Eu ligo.
Todos os dias Camila pedia a mesma
coisa. Que se houvesse mudança, ligasse
para ela imediatamente.
— Obrigada. — ela beijou o rosto da
Charlotte. E viu quando a garota fechou
os olhos e pôs a mão na testa,
desequilibrando um pouco.
— Tudo bem?
— Está. Foi uma tontura. —
Charlotte sorriu e se sentou.
— Outra? — Luciana levantou os
olhos do celular. — Aliás, bom dia.
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— Bom dia. — Charlotte riu. — Mas
é sério, eu estou bem.
— Você disse a mesma coisa ontem.
E em seguida, saiu correndo para o
banheiro.
— Deve ser porque não estou
comendo ou dormindo direito.
Camila olhou para Eduardo e ambos
sorriram, cúmplices. Quando Nicole
chegou, ainda com óculos escuros por
causa da cirurgia LASIK que tinha feito
na semana anterior, a mulher pediu que
Luciana ficasse um pouco mais, pois
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levariam Charlotte à ala obstétrica.
— Eu não acho que eu esteja grávida.
— ela disse a Camila, levemente
corada, enquanto aguardava que a
médica voltasse com o resultado do
exame.
Mas, pensando bem, era bastante
possível. Ela e Marco tinham transado
antes de ele ser baleado e devido à
ocupação com a mudança da empresa do
depósito no Brooklin para o prédio na
Quinta Avenida, não seria difícil de
acreditar que ela tivesse se esquecido
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de tomar sua pílula um ou dois dias.
— Conheço uma mulher nesse estado.
Passei por isso duas vezes, Charlotte.
Suas tonturas e enjoos estão cada vez
mais frequentes e são quase sempre na
parte da manhã.
— Meu Deus, eu vou ser avô. —
Eduardo não podia se conter.
— Ainda nem temos o resultado. —
Charlotte sorriu, incapaz de conter a
ansiedade.
Ele desdenhou dela com uma mão.
— Ah eu não preciso. Eu sinto. Tem
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um Villa-Lobos aqui dentro. — ele
disse, colocando a sua mão grande em
cima da barriga dela.
— E ele sente mesmo. — Camila
concordou. — Também não acreditei
quando fiquei grávida de Marco, mas
esse bobo soube na hora.
Charlotte ficou emocionada com o
amor que via nos olhos dos dois. Vinte e
cinco anos tinha se passado e eles ainda
se amavam como se tivessem se casado
ontem. Ela queria isso também. Depois
de uma vida esquisita e sem amor, fazer
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parte da família de Marco era a maior
bênção que poderia ter.
A médica voltou ao consultório com
um enorme sorriso no rosto. Eduardo
piscou para as duas mulheres ao seu
lado, cheio de si, como dono da razão.
— Vou mandar prepararem o
enxoval. — ele disse, com um sorriso
gigante. — Agora só resta saber a cor.

Nicole e Luciana não paravam de


tagarelar quando os três voltaram ao
quarto com a novidade. Charlotte

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parecia uma boneca nas mãos de todas
elas e principalmente de Eduardo.
— Já que o senhor ficou tão alegre
com a gravidez da Charlotte, essa seria
uma boa hora para contar sobre a
minha? — Luciana perguntou.
Eduardo sorria muito e seu rosto
congelou quando a filha perguntou isso.
— O que disse? — ele se virou para
a filha com o rosto branco de pavor.
— Filha? — Camila imitava o
marido.
Então Luciana gargalhou, rindo tão
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alto que qualquer pessoa poderia do
lado de fora do quarto poderia ouvir.
Camila relaxou, provavelmente a filha
estava apenas brincando, mas Eduardo
estava tenso e suave frio.
— Calma, papai, não tenha um
infarto, tá bem. Era só uma
brincadeirinha. — ela se levantou do
sofá e beijou a bochecha do pai, que
após alguns minutos, conseguiu respirar
com mais tranquilidade.
Camila revirou os olhos.
— Você é tão hipócrita. Me lembro
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de querer que eu engravidasse de
propósito pra me forçar a subir no altar.
— Sim, eu podia fazer isso. Aquele
moleque não tem permissão. Se ele
engravidar minha filha antes de casar
com ela, eu vou literalmente cortar a
bolas dele, fazer um colar e usar no meu
pescoço.
— Obrigada pela visão
desnecessária das bolas do meu irmão,
tio. — Nicole disse, fazendo careta.
— Então é melhor eu não cometer o
mesmo descuido da Charlie aqui, pois
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gosto muito do lugar onde as bolas dele
estão.
Eduardo deu um olhar severo à filha,
que apenas sorriu em resposta.
— Na verdade, acho que vou ter uma
conversinha de homem pra homem com
esse garoto.
— Quer minha ajuda? — disse uma
voz fraca e rouca.
Os olhos de todos se voltaram para
Marco. Ele estava com os olhos abertos
e fazia certa força para tentar se sentar.
— Meu Deus, Marco. — Camila
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levou as mãos à boca, tentando – e
falhando miseravelmente – conter o
choro. — Meu bebê.
Ela se sentou com cuidado na beira
da cama e abraçou Marco, deixando
transbordar toda a angústia que sentira
nas últimas semanas e o alívio de ouvir
sua voz novamente.
Eduardo e as garotas cercaram a
cama. Charlotte chorava
desesperadamente, segurando uma das
mãos dele, enquanto Camila segurava a
outra. Marco sorriu para ela e fez um
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gesto para que se aproximasse. Quando
Charlotte se deitou ao seu lado, tomando
cuidado com a IV em sua mão, pôde
ouvir seu coração bater forte.
— Então eu vou ser papai? — a voz
de Marco era fraca, mas agora de
emoção.
— Você ouviu? — ela perguntou,
com a voz embargada de lágrimas.
— Era impossível não ouvir. Vocês
estavam gritando.
Todos riram. Charlotte o olhou nos
olhos, beijou seus lábios
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demoradamente e então confirmou com
um aceno de cabeça.
— Sim, Marco. Você vai ser papai.
— Oh meu Deus. — ele começou a
chorar, parando um pouco por conta
dores que sentia nos lugares onde tinha
sido atingido pelos tiros, mas manteve
as lágrimas saindo dos seus olhos.
— Parabéns, filho. — Eduardo disse,
emocionado. — E bem-vindo de volta.

A semana foi cheia. Marco passou


por uma série de exames antes de ser

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liberado do hospital. Charlotte também
teve algumas consultas, todas para saber
sobre o bebê. A mesma ginecologista
que cuidou de Camila durante suas duas
gestações também cuidaria de Charlotte.
E nesse exato momento, enquanto ela
falava com a boa médica sobre os
cuidados pré-natais que precisaria
tomar, Marco estava na sede da sua
empresa, em uma reunião com os
conselheiros.
Todos estavam felizes por ele ter
finalmente acordado e por já ter voltado
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ao trabalho. Ele também havia chamado
seu pai para ouvir o que ele tinha a
dizer. Depois que Eduardo anunciou que
ele tinha se casado com Charlotte em
segredo, a mídia e a sociedade num
geral estavam curiosos sobre os detalhes
da cerimônia. Marco não queria que isso
fosse uma mentira, então a primeira
coisa que fez ao sair do hospital foi
pedir-lhe em casamento de verdade. A
cerimônia ficou marcada para a semana
seguinte.
Agora, faltavam dois dias e ele
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estava resolvendo as coisas para uma
lua de mel longa e proveitosa. Seus
conselheiros não ficaram chocados
quando ele disse que se afastaria da
empresa por no mínimo três meses, mais
ainda, fizeram questão de pedir um
herdeiro para seu império. Nessa hora,
Marco e seu pai trocaram um olhar
cúmplice, mantendo o segredo que
guardariam até não ser mais possível.
Charlotte apareceu na empresa com
Camila e Luciana à tiracolo. Agora que
sabiam que ela estava grávida, ambas
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não lhe davam sossego nem um minuto.
Não que Charlotte reclamasse, teve mais
atenção em algumas semanas do que a
vida inteira. Mas às vezes...
— Só acho que eu poderia ter vindo
sozinha, afinal depois daqui, Marco e eu
vamos ver o reverendo e só. Não temos
planos para sair. — Charlotte disse
quando subiram o elevador. — Olhem
só, não é tão longe. A Nicole nem quis
vir.
Nicole era outra que não desgrudava
dela, exceto quando tinha coisas mais...
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interessantes a fazer com um certo
médico loiro.
— Isso porque ficar com o Ken é
bem melhor hoje, já que ele só tem
plantão amanhã, os dois têm que
aproveitar. — Luciana disse, fuçando o
celular, com certeza verificando se
Roman tinha lhe mandado algo. Os dois
pareciam adolescentes.
— Eu vim porque não vou tirar os
olhos de você e nem adianta pedir o
contrário. — Camila falou com
descaramento. — É meu netinho que
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você carrega aqui, mocinha, então se
prepare para ser mimada.
Charlotte apenas sorriu e balançou a
cabeça. Olhou no relógio e murmurou
baixinho. Eles se atrasariam para a
reunião com o reverendo. Ela tinha que
apressar seu noivo, pois apesar de ser
um casamento praticamente às pressas, e
pequeno, contando apenas com a família
de Marco e alguns amigos, Charlotte não
queria que nada desse errado. Queria o
casamento perfeito.
As três chegaram à sala de reuniões e
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avisaram à secretária de Marco que
estavam ali. Ela imediatamente repassou
a informação a ele, que chamou
Charlotte para um escritório anexo.
— Aconteceu alguma coisa? Você
está bem? — ele perguntou preocupado.
— Estou bem. — ela pôs a mão na
barriga instintivamente. — Nós estamos.
— Que bom. — Marco suspirou
aliviado. — Fiquei assustado. Você
nunca veio aqui.
— Vim te apressar, não vou mentir.
Temos que ir falar com o reverendo
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sobre nossos votos e o ensaio hoje à
noite.
— Eu sei, meus votos estão prontos.
Ela estreitou os olhos e sorriu em
seguida.
— Que bom, odiaria te dar um pé na
bunda por não ter escrito ainda.
Marco soltou uma gargalhada e a
abraçou, beijando sua testa.
— Ainda falta muito lá dentro? —
ela perguntou, apontando com o queixo
para a porta atrás dos dois, onde os
conselheiros estavam.
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— Não, já estávamos terminando.
Estava contando o motivo de eu ficar
tanto tempo afastado depois do
casamento.
— Huum, e qual seria?
— Bom, eu quero uma lua de mel
bem longa. Quero que me leve para
conhecer o mundo.
Charlotte sorriu, dando um tapinha no
ombro dele.
— Você já não conhece o mundo
inteiro?
— Que nada. Meu mundo era
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totalmente diferente sem você na minha
vida. Eu quero conhecê-lo direito a
partir de agora.
Charlotte se derreteu, e mordendo os
lábios, sussurrou perto do seu ouvido.
— Sabe, quando você diz coisas
como essa, a garota malvada em mim
fica com vontade de fazer coisas
perversas com você.
O sorriso de Marco foi tão malicioso
que Charlotte corou um pouco.
— E por acaso a garota malvada em
você está usando calcinha agora? Hum?
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Os lábios dele escovaram os dela e
sua língua saiu para prová-lo.
— Por coincidência, ela se esqueceu
de colocar hoje de manhã quando saiu.
— Sabe, eu adoro a garota malvada
que há em você. — Marco disse,
segurando as coxas de Charlotte e a
erguendo para colocá-la na mesa. — E
acho que ela vai gostar do que eu vou
fazer agora...
— Marco. — era a voz de Eduardo
pelo alto falante da sala.
— Ouviu isso? — Charlotte
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perguntou, pulando da mesa e arrumando
o vestido. Marco gemeu. — Marco, a
sua lapela... não me diga que se
esqueceu de desligar o microfone antes
de vir falar comigo?
Ele sorriu, culpado.
— Foi exatamente isso que
aconteceu, querida. — a voz de Eduardo
soou novamente pelo alto falante. — Por
que vocês dois não saem?
Quando voltaram para a sala de
reuniões, Marco tinha um sorriso
presunçoso no rosto, Charlotte sorria
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envergonhada. Eduardo tinha um sorriso
orgulhoso e Camila um de quem sabia
das coisas.
— Meu Deus, eu quero morrer. —
Charlotte murmurou.
— Ah, meu amor se você soubesse...
— Camila murmurou, olhando de
relance para o marido. Ele lhe deu uma
piscadela.
Os homens do conselho arrumavam
os papéis em suas pastas, fingindo não
terem ouvido nada, mas o mais velho
deles, um homem que havia trabalhado
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para Eduardo antes de ir trabalhar para
Marco, parou na porta antes de sair e
deu dois tapinhas nas costas de Marco.
— Conhece aquele ditado? Filho de
peixe, peixinho é.
O homem olhou para Eduardo, que
continha o riso, e para Marco, que
estava sabiamente calado, em seguida
foi embora.

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Epílogo

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Cinco anos depois

Marco entrou em casa com um


enorme sorriso no rosto. Essa noite, ele
e Charlotte comemoravam cinco anos de
casamento abençoado com filhos e muito
amor. Parecia que a cada dia que
passava, ele amava mais a esposa e o
contrário também era verdadeiro.
Charlotte tinha ficado ainda mais linda
com o avançar da idade e mesmo depois
de duas gestações, uma de gêmeas, ela
ainda era considerada uma das mulheres
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mais bonitas do mundo, perdendo o
páreo para a cunhada Luciana, que tinha
alavancado na carreira de modelo
internacional.
Marco estacionou o carro na garagem
e no momento em que abriu a porta, duas
meninas loirinhas, com rostos idênticos
correram em sua direção.
— Papa! Papa! Papa! — Beatriz e
Juliana gritaram alegremente. Tinham
apenas três anos de idade, mas seus
pulmões pareciam maiores do que eram.
— Olá anjos da minha vida. Eu senti
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saudade das minhas princesinhas. —
Marco beijou profundamente cada uma
delas, fazendo-as rirem.
— Papa, você tá me fazendo cócega.
— disse Beatriz, empurrando os lábios
de Marco para longe dela.
— Papai, a Beatiz quebô o baço da
minha Bábi! — Juliana disse, abraçando
Marco.
— Eu não quebei. Foi o Tistian. —
Beatriz negou tão veementemente quanto
uma garotinha poderia fazer.
— O que?! Eu ouvi meu nome de
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novo. — Um menino de cabelos escuros,
com cinco anos, apareceu. Ele estava
horrivelmente sujo, com as mãos e as
pernas totalmente enlameadas. Um
cãozinho branco, mas sujo também,
estava atrás dele.
Marco levantou as sobrancelhas.
— Por que está tão porquinho assim,
carinha? Onde esteve?
— Fazendo uma casa para Shaggy. —
Christian respondeu, apontando o cão.
Marco levantou-se e andou até seu
filho. Ele sorriu e beijou seu rosto.
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— Vamos lá, você precisa de um
banho.
— Papa, ele quebô o baço da minha
Bábi. — Juliana puxou as calças Marco,
tentando chamar a atenção do pai.
— Meu anjo, eu vou comprar uma
dúzia inteirinha pra você, tá bem? —
Marco prometeu, pegando Juliana nos
braços.
— Pa mim também, papa. — Beatriz
fez a mesma coisa que a irmãzinha,
tentando ter a atenção do pai para si.
— Claro meu amor, vamos lá. —
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Marco pegou a outra menina no outro
braço e gemeu. — Oh Deus, vocês estão
ficando pesadas. — Ele riu. — E você,
rapazinho, siga-me. — Ele disse a
Christian.

Charlotte estava na cozinha, fazendo


um jantar especial para comemorar o
aniversário de casamento. Ela não
costumava cozinhar, mas, às vezes, nos
fins de semana, ou quando era uma data
especial, ela pedia que a empregada a
deixasse à vontade.

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— Meu amor, eu já cheguei. —
Marco gritou, levando as meninas.
— Eu sei, eu ouvi o carro, querido.
— Charlotte gritou de volta e foi
correndo para Marco. Ela o abraçou, em
seguida, o beijou profundamente.
— Feliz quinto aniversário de
casamento, meu amor. — disse Marco.
— Pra você também. — disse
Charlotte entre beijos.
— Vamos lá, querida, vamos para...
você sabe... — Marco moveu a palavra
“quarto” nos lábios, silenciosamente.
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— Pa onde? — Perguntou Beatriz.
— Papa, eu vou com você. — Juliana
disse com firmeza.
— Espere por mim! Vou tomar um
banho primeiro! — Christian gritou.
Marco revirou os olhos.
— Eu já disse que deveríamos ter
uma babá. Assim, nós poderíamos... —
ele sorriu, mexendo as sobrancelhas.
— Já disse que não. Não vou abrir
mão de cuidar deles apenas para... você
sabe pra quê...
Marco riu. Em seguida, beijou a
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esposa novamente. Mais profundamente
que antes.
— Ecaaa! — Beatriz e Juliana
disseram juntas.
Marco e Charlotte apenas riram das
suas filhas.

Mais tarde naquela noite, Marco


estava deitado na cama. O jantar que ela
tinha preparado estava uma delícia, mas
ele estava ansioso mesmo era para estar
no quarto com ela. Charlotte dissera que
tinha comprado uma lingerie especial e

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o deixaria louco a noite a toda. Mas por
que estava demorando tanto no
banheiro?
Então as luzes foram desligadas e
somente o abajur da mesinha de
cabeceira ficou aceso. Charlotte saiu do
banheiro e Marco ficou chocado quando
a viu vestida de coelhinha da playboy.
— Porra, Charlie...
Seus olhos se acenderam com desejo
desenfreado. Ela estava linda, sexy e
gostosa demais vestida com aquela
pequeniníssima fantasia.
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— Se lembra da festa da playboy que
eu te falei que participei logo que ganhei
o título de Miss?
— Lembro, mas você não falou dos
acessórios...
— E aí? O que acha? — ela
perguntou, andando até ele bem devagar.
— Acho que se demorar um pouco
mais para eu entrar em você, terei um
espasmo muscular na região da cintura e
mais para baixo.
Charlotte mordeu os lábios e
caminhou lentamente até a cama. Quando
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chegou lá, subiu devagar e engatinhou
sobre os lençóis, montando Marco e
beijando seus lábios furiosamente. Ele
não era o único excitado ali.
— Nossa, Charlie, você é gostosa
demais. — Marco gemeu quando ela
mordeu seu pescoço, lambendo em
seguida. Ele segurou a bunda dela com
força e passou as mãos pelas suas
costas, trazendo-a ainda mais para cima
do seu peito.
— Quero que você faça o que quiser
comigo hoje à noite. — Charlotte disse,
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passando as mãos pelo peito esculpido
do marido, se esfregando nele como se
sua vida dependesse disso. — Eu quero
que você...
— Mama, eu não consigo dumí. Eu tô
com medo. — Juliana gritou.
Charlotte imediatamente saltou do
colo de Marco e se cobriu com o
cobertor. Oh meu Deus, ele tinha
esquecido de trancar a porta novamente.
Oh droga, eles estavam tão entretidos no
corpo um do outro que nem ouviram a
porta se abrir.
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Marco ficou chocado também.
Inferno! Ele olhou para Charlotte, com
um pedido de desculpas. Ambos
estavam excitados e loucos de desejo,
mas os filhos vinham primeiro.
— Papa, eu posso dumí aqui no seu
quarto? Tô com medo. — Juliana
perguntou, quase chorando.
Marco suspirou.
— Claro, meu anjo. Venha aqui. —
Marco abraçou a filha e colocou-a entre
ele e Charlotte.
— Mama, por que você está com
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olhelhas de tuelho na cama? Posso usar
também?
— É claro. Mamãe compra para você
amanhã, está bem. — Charlotte tirou as
orelhas da fantasia e as colocou na
mesinha de cabeceira. Aquelas eram
dela. — Vá dormir agora, meu amor.
Marco e Charlotte esperaram que
Juliana dormisse, eles fizeram sinais,
apontando para o banheiro. Não seria o
sexo quente que planejaram, mas era
melhor do que passar a noite toda
frustrados. Só que então, a porta se abriu
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de novo. Beatriz entrou chorando
também e pediu pra dormir na cama
deles.
Marco olhou para Charlotte. Ela
apenas sorriu e moveu a boca: “Amanhã
de manhã”.

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Epílogo Extra

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Dezesseis anos depois

Felipe a viu no momento em que


entrou na sua casa em Nova Iorque e
ficou sorridente na hora, pois teria um
momento a sós com sua princesinha.
Depois que tinham crescido, seus filhos
quase não tinham mais tempo para o
velho pai. Nada que ele não entendesse,
agora tanto Eric como Carla tinham sua
própria vida.
Carla estava sozinha no pátio em uma
cadeira de vime almofadada. Seu cabelo
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castanho escuro ondulado cobria seu
rosto e ela tinha os olhos fixos nas mãos,
parecendo perdida no seu mundinho.
Estava tão distraída que sequer notara a
presença do pai.
Ele lentamente subiu os degraus que
levam à porta principal e virou-se para
o pátio. Ao chegar perto, Felipe notou
que que Carla estava chorando e
segurando um lenço. Seu cérebro ficou
alerta, esperando que alguma coisa
tivesse acontecido.
— Carla? Qual é o problema? — Ele
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disse e rapidamente se ajoelhou ao pés
da filha de catorze anos. — Por que está
chorando, princesa?
— Pai... — Carla chorou tanto e o
abraçou com tanta força que Felipe
temeu o pior. Alguém tinha morrido ou
sofrido um acidente?
— O que aconteceu? Onde está sua
mãe? Alguma coisa aconteceu com Eric?
— Felipe levantou-se, atordoado. —
Elena! Eric! — ele gritou com todo o ar
dos pulmões.
— Pai! Nada aconteceu com eles.
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Por que está pirando? — Ela parou de
chorar e franziu a testa para ele.
Felipe se acalmou um pouco, mas
ficou confuso.
— Então por que você está
chorando?
— Por causa do Eric.
— O que aconteceu com Eric? — seu
coração bateu rápido, mais uma vez.
— Ele bateu no Christian. Deixou o
nariz dele sangrando. — e então a garota
estava chorando de novo. — Papai
mande o Eric cuidar da própria vida. Eu
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não sou mais um bebê. Agora o
Christian vai ficar com raiva de mim.
— Shh... me conte essa história
direito, princesa. Por que o Eric bateu
no Christian?
Felipe não podia acreditar que o seu
filho de dezesseis anos tinha agredido
um amigo de infância. Eles brigavam às
vezes como qualquer adolescente, mas
nunca tinham se agredido. Felipe
conhecia o filho e sabia que ele jamais
agrediria alguém sem ser provocado,
então alguma coisa grave devia ter
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acontecido para incitá-lo a fazer isso.
— Ele... ele viu Christian e eu...
ahm...
— Viu Christian e você, o quê,
princesa? — Felipe ficou de orelha em
pé.
Então os dois ouviram a voz de Eric
atrás deles.
— Ele estava quase comendo ela,
pai. Lá no porão.
— O que! — Felipe exclamou.
Ele estava completamente chocado
com a revelação. Não sabia que sua
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filha já beijava alguém, muito menos que
conhecia... outros tipos de coisas. Felipe
desviou os olhos da filha e encarou Eric,
parecendo muito imponente com tão
pouca idade.
— Eu fui buscar meu taco de
beisebol e vi os dois se agarrando. —
Eric continuou.
— A gente não estava se agarrando,
seu fofoqueiro! Ele está mentindo papai,
estávamos apenas nos beijando. —
Carla disse com raiva e jogou seu lenço
no rosto de Eric.
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— Você não me engana, Carla. A mão
dele estava embaixo da sua blusa, eu sei
muito bem o que ele estava fazendo ali.
— Isso não é verdade! — Carla se
defendeu. — Não era nada demais. Você
não tinha que ter batido nele daquele
jeito. Nem deu chance de ele se
defender.
— Ele mereceu. Ele vinha até minha
casa, mexia nas minhas coisas, ouvia
meus cd’s, jogava meus games, mas
estava pegando você... eu deveria ter
batido mais. — Eric parecia furioso.
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Felipe botou as mãos na cabeça.
Aquilo era um caos. Estava feliz em
saber que tinha um filho que defenderia
a irmã de qualquer um, até mesmo do
melhor amigo, mas não queria que ele
perdesse uma amizade tão boa por um
motivo que eles ainda teriam que
discutir.
— Olha, eu vou falar com a mãe de
vocês. Até lá, tentem não brigar, tudo
bem?
Elena estava na adega, escolhendo o
vinho para o jantar quando sentiu as
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mãos quentes do marido na sua bunda.
— Oi, minha linda. — Felipe mordeu
a orelha dela. — Sentiu minha falta?
Elena ronronou.
— Com certeza. — ela virou-se e o
beijou profundamente. — Já está
sabendo da briga do Eric e do
Christian?
— Eles acabaram de me contar. —
Felipe franziu a testa em desgosto. —
Não acredito que aquele moleque estava
bolinando minha filha.
— Ah Felipe, não foi nada demais.
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— Elena desdenhou. — Carla me contou
e eu acredito nela. Eric deve estar
exagerando, você sabe como ele é
ciumento.
— Eu sei, mas... não gosto da ideia
dela beijando garotos por aí. Nem que
seja o filho do Marco.
— Ela não é mais uma criança e se
nós dois impedirmos que eles se vejam
e namorem, será pior. Deixe que ela
cresça e aprenda sobre o amor sozinha.
— Farei o possível, mas não prometo
nada quanto ao Eric. Ele está possesso.
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Elena sorriu. Tinha o filho mais
ciumento do mundo, fosse com ela ou
com a irmã, aquele garoto parecia ser o
dono das mulheres ao seu redor. Ele
abaixou a cabeça e beijou-a avidamente.
Então perguntou.
— Querida, ainda vai demorar a
escolha do vinho?
— Hmm... não sei. Estou escolhendo
um legal, já que convidei Marco e
Charlotte para falar sobre o que
aconteceu.
— Será se eu poderia convencê-la a
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deixar a escolha para mais tarde?
Felipe sussurrou algo no ouvido da
esposa que a fez sorri travessamente.
— Oh Deus, você é inacreditável, Sr.
Matarazzo!
Então imediatamente deixou a garrafa
que tinha nas mãos na adega e correu
para o quarto com ele.

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FIM

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