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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN

Secretaria de Estado da Educação e da Cultura – SEEC


Campus Avançado de Pau dos Ferros - CAPF
DEPARTAMENTO DE LETRAS VERNÁCULAS – DLV

TALITA PREIRA DA SILVA

DA ARTE DE OUVIR PARA A ARTE DE NARRAR: AS


MEMÓRIAS A IDNTIDADE E AS ESTÓRIAS PRESENTES NA
HISTÓRIA DE VIDA DE UM MESTRE EM CULTURA POPULAR

Pau dos Ferros


2023
TALITA PEREIRA DA SILVA

DA ARTE DE OUVIR PARA A ARTE DE NARRA: AS MEMÓRIAS A


IDENTIDADE E AS ESTÓRIAS PRESENTES NA HITÓRIA DE VIDA DE UM
MESTRE EM CULTURA POPULAR

Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de


Letras - Língua Portuguesa e suas
respectivas Literaturas, do Departamento de
Letras Vernáculas (DLV) da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte (UERN),
Campus Avançado de Pau dos Ferros
(CAPF), como pré-requisito de avaliação da
disciplina Seminário de Monografia I.

ORIENTADOR DO PROJETO:
Profa. Dra. Crígina Cibelle Pereira
ORIENTADORA DA MONOGRAFIA:
Profa. Dra. Maria Edneide Ferreira de Carvalho

Pau dos Ferros


2023
SUMÁRIO

1. IDENTIFICAÇÃO ................................................................................................... 05
1.1 Título do Projeto ............................................................................................... 05
1.2 Autor(a)............................................................................................................... 05
1.3 Orientador(a) do Projeto................................................................................... 05
1.4 Orientador(a) da Monografia ........................................................................... 05
1.5 Unidade/Universidade ....................................................................................... 05
1.6 Linha de Pesquisa .............................................................................................. 05
1.7 Período de Duração ........................................................................................... 05
2. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 05
2.1 Delimitação do Tema ......................................................................................... 05
2.2 Justificativa ........................................................................................................ 11
3. OBJETIVOS ............................................................................................................ 11
3.1 Objetivo Geral ................................................................................................... 11
3.2 Específicos .......................................................................................................... 12
4. QUESTÕES DE PESQUISA ................................................................................... 12
5. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................. 15
6. METODOLOGIA .................................................................................................... 27
7. CRONOGRAMA ..................................................................................................... 31
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 32
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1. IDENTIFICAÇÃO

1.1 TÍTULO DO PROJETO – DA ARTE DE OUVIR PARA A ARTE DE NARRA:


AS MEMÓRIAS A IDENTIDADE E AS ESTÓRIAS PRESENTES NA HITÓRIA DE
VIDA DE UM MESTRE EM CULTURA POPULAR

1.2 AUTOR: Talita Pereira da Silva

1.3 ORIENTADORA DO PROJETO: Profa. Dra. Crígina Cibelle Pereira

1.4 ORIENTADORA DA MONOGRAFIA: Profa. Dra. Maria Edneide Ferreira de


Carvalho

1.5 UNIDADE/UNIVERSIDADE: Campus Avançado de Pau dos Ferros da


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

1.6 LINHA DE PESQUISA: Literatura

1.7 PERÍODO DE DURAÇÃO: 6 meses

2. INTRODUÇÃO

2.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA

Ao longo da nossa existência vivemos muitos momentos, momentos que


guardamos em nossa memória, que são lembrados. Momentos que de alguma forma
significou, marcou, ficou eternizado. Eternizado, por que aquilo que a memória ama
eterniza. Já dizia a poetisa Adélia Prado. Um grande amor eterniza. Um instante vivido
intensamente também eterniza. Quantas e quantas pessoas já não eternizaram um grande
amor em sua vida? E um momento com alguém especial? Quantas palavras, frases,
sentimentos, emoções já não eternizamos em nossas vidas?
Em algum momento de nossas vidas talvez já tenhamos ouvido alguém narrar
poeticamente sobre um amor verdadeiro, único e que eternizou, sobres os momentos
que passaram juntos, momentos vividos intensamente e que também ficou eternizado.
Algumas vezes durante nossa existência nos deparamos com momentos como esses,
sejam eles reais ou ficcionais, falados ou escritos por meio da literatura. Pois para que a
literatura se tornasse literatura foi preciso acontece algo, para se tornar literatura e assim
fica eternizado. Porém, foi, e ainda é através da literatura que vários poetas escritores
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de diferentes épocas, períodos e com suas peculiaridades também eternizaram em livros,


histórias, das mais diversas possíveis. Histórias tristes, alegres, que fazem rir, chorar,
histórias de heróis e até aquelas que assustam as que inspiram, ensinam dão conselhos e
ainda há aquelas que nos fazem refletir sobre a vida. Histórias com os mais diversos
cenários e personagem dos quais eternizamos em nossa vida.
Quantos instantes de Lisboa o poeta português, Fernando Pessoa não eternizou
em seus poemas? Quantos momentos, pensamentos, ilusões, desilusões, reflexões,
palavras ditas e não ditas a escritora Ucraniana, Clarice Lispector não eternizou em suas
obras? E o amor? Que o escritor William Shakespeare deixou eternizado em seu
clássico, Romeu e Julieta. Quantos e quantos leitores também já não eternizaram
momentos com alguns dos romances, poemas, textos, frases e até mesmo algumas
palavras desses e de outros escritores. Quantos momentos já não ficaram marcados em
suas vidas em suas memórias.
Isso também acontece com a literatura oral. Essa que surgiu á muito e muito
tempo atrás, numa era bem remota, muito antes mesmo de qualquer palavra ser escrita,
pois, seu veio oral ainda continua sendo a essência, daqueles que valorizam e souberam
preservá-la como também daqueles que não dão tanta importância. Pois, mesmo com os
avanços, transformações ocorridas nos últimos anos, á literatura oral persiste ainda hoje,
não com a mesma roupagem e com tanta frequência que á algum tempo atrás por
consequências das mudanças e dos avanços, mas ainda se encontra presente na nossa
região e por muitas outras regiões mundo afora, continua encantando, divertindo e
transmitindo muitos conhecimentos, saberes.
Através e por meio da literatura oral, senhores, senhoras, hoje, com mais de
cinquenta anos também eternizaram em suas memórias as histórias ouvidas em sua
infância na aurora de sua juventude e ao longo de seu trajeto de vida. Quantas dessas
histórias também não ficaram eternizadas em suas vidas, cantos, contos, casos, causos,
anedotas. Quantas e quantas bocas de noites várias pessoas não se reunião em circulo e
sentavam no terreiro, na causada, numa noite escura, ou no claro da lamparina, lampião
ou até mesmo no claro da lua cheia, quando era noite de lua cheia, para contar e ouvir
estórias, estórias sobre botijas, caçadores, almas, lobisomem e tantas outras do nosso
folclore. Quantas e quantas pessoas dessas que estavam ali presentes não eternizaram
essas noites e as estórias contadas em suas memórias. Quantas identidades não se
constituíram nesses momentos.
Quantas estórias, causos, no momento do trabalho também não se vaziam
presentes, e o quanto essas estórias significavam, espantando o cansaço e fazendo com
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que o trabalho se tornasse mais produtivo. Quantos desses trabalhadores também não
eternizaram em suas memórias esses momentos. Quantas estórias ali se teciam quantos
ensinamentos, aprendizados saberes sobre nossa cultura eram transmitidos, valores,
crenças, costumes. Desses momentos, hoje, apenas fazemos a leitura em livros dos
relatos ou ouvimos alguém falar sobre quem as contava, mas por aqueles senhores e/ou
senhoras que narram se dispõe á contar muito pouco são ouvidas, pouco por sinal, pois
por conta da correria, por falta de tempo muitas das vezes, demanda de trabalho ou
algumas circunstâncias e exigências que nos são postas acabam nos distanciando cada
vez mais daqueles que ainda praticam essa arte, pois já não paramos para ouvir as
estórias, memórias e histórias de vida desses que já viveram muito e tem uma vasta
experiência de vida.
Então, nos contentamos, muitas vezes apenas com os relatos presentes nas
leituras que realizamos ou com o que ouvimos por outros de forma bem superficial,
relatos de um tempo bom, do quanto era divertido e de como o tempo demorava passar
e ao mesmo tempo como passava tão rápido enquanto as estórias iam sendo tecidas,
narradas. Quanto tempo se passou daquela época para os dias atuais. Mas quantos
momentos ainda se fazem presentes na memória dessas pessoas, senhores, senhoras,
desses guardiões de saberes que de forma direta ou indireta apresentam algum
significado em nossa vida por deterem os sabres de um povo de nossa cultura, de nossa
história e ainda de nossa região. E o quanto perdemos muitas das vezes, por deixamos
em segundo plano esse habito de ouvir histórias por aqueles que detêm os mais diversos
saberes e conhecimentos.
Como sabemos, nossas vidas são feitas de histórias. Ao longo do tempo o que
passamos, vivenciamos as experiências que adquirimos os momentos marcantes ou não,
ficam guardados em nossa memória. Assim também são as estórias que ouvimos que
nos contam sejam elas contadas por nossos avós, pais, familiares, contadores de
histórias ou não, histórias orais que são passadas de geração para geração, histórias que
fazem parte do que somos de nossa cultura do nosso povo.
A contação de estórias por ser uma prática muito antiga apresenta grande
relevância para a história da humanidade, para a formação de todo e qualquer sujeito.
Pois desde a existência da humanidade, a contação de histórias orais se faz presente. O
conto da tradição oral é um dos instrumentos que há muito tempo é utilizado para
transmitir conhecimento. Segundo os estudos realizados, é através, e por meio da
tradição oral que muitas das sociedades conseguiram preservar sua cultura. O conto da
tradição oral, além de ser um entretenimento, considerado por muitos como um simples
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passa tempo após uma árdua jornada de trabalho em que as pessoas se reunião para
contar e ouvir histórias desempenhava também um importante papel durante as
atividades realizadas, pois os contos desenvolvidos nas atividades de mutirão
auxiliavam na manutenção do ritmo do trabalho coletivo, espantando dessa forma a
fadiga e o tédio (AYALA, 2011).
De acordo com os estudos realizados, a contação de histórias se configura
como um ato de resistência e ainda de preservação identitária. E mesmo com as
mudanças e transformações que surgiram com o passar do tempo, os avanças as novas
tecnologias, a arte de contar histórias permanece até os dias atuais (BUSSATTO, 2006),
não mais com tanta frequência como antes por consequência dos avanços ocorridos nos
últimos anos, mas continua sendo uma prática que ocorre em vários ambientes seja no
núcleo familiar ou em outros.
A arte de contar e ouvir histórias, antes de tudo, é uma troca de experiências
entre o narrador e o ouvinte. Através da arte de ouvir e contar, podemos compreender o
passado o presente e o futuro, e de alguma forma nossa vida, dos nossos antepassados
da comunidade, da cultura de um povo, enfim, nas estórias contadas e ouvidas
adquirimos conhecimento sobre as diversidades da sociedade em que estamos inseridos.
Segundo Rondelli (1993), “conta histórias pode ser uma ferramenta para o imaginário”.
Sobre as narrativas orais essa mesma autora, ressalta que mesmo com roupagens
diferentes, caras, jeitos, trajetos elas não deveriam jamais perder sua condição primaria.
Pois, tanto a narrativa oral como os contadores de histórias das tradições orais são
importantes, apresentam um grande significado para a sociedade em geral. Mesmo com
as transformações ocorridas.
Portanto o conto da tradição oral, essa arte que atravessa o tempo e que á
muitos encantou e encanta até hoje, trazendo contribuições positivas para a vida tanto
daqueles que se dedicam a contar como também para aqueles que de certa forma se
dispõe a ouvir, merece e deve ser valorizada, além de tudo deve ser guardadas para
depois ser transmitidas, narradas. Nesse sentido, com um olhar reflexivo sobre a
temática dissertamos nessa pesquisa alguns aspectos que consideramos relevantes e que
nos inquieta.
Como sabemos, vivemos hoje em um momento onde as pessoas estão cada vez
mais informadas, conectadas pelos diversos meios de comunicação, pois os avanços
tecnológicos que facilitam e muito nossa vida, as transformações ocorridas nos últimos
anos, o surgimento da industrialização e muitas outras mudanças ocorridas, essas,
precisas e inquestionáveis, fizeram e estão fazendo com que o homem adquira cada vez
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mais conhecimentos. Por consequência dessas mudanças dos avanços e transformações


que ocorreram se não, dizer, ocorrem, os contadores de história de histórias da tradição
oral em específico, aqueles que têm depositado no baú de suas memórias os saberes
mais diversos possíveis de seu povo de sua cultura, valores, crenças, costumes e até
mesmo as suas próprias experiências, antes transmitidos de geração a geração, esses,
hoje, estão ficando em segundo plano, ou melhor, dizendo pouco cultivado, não por
todos, mas por boa parte das pessoas. Estão ali, no canto. Guardados como se
estivessem em um museu, mas em um museu que não é visitado, mas sim deixado de
lado, ignorado por alguns. Isso, nos inquieta, nos faz refletir, pois, o que era há algum
tempo atrás, segundo estudos realizados, uma prática exercida por muitos, uma forma
de espantar o cansaço, auxiliar no ritmo do trabalho coletivo tornando-o mais produtivo,
um simples passa tempo em momentos de folga, um momento de diversão,
entretenimento ao fim do dia (boca de noite), que despertava não só nos adultos como
também nas crianças o riso, medo, curiosidade além de transmitir inúmeros
conhecimentos, saberes está se esvaindo. Pois os velhos e as velhas, hoje, já não narram
mais suas memórias como há alguns anos atrás, ou seja, não contam mais histórias
como antes. Pois, boa parte dos jovens, hoje, já não se interessa por aqueles saberes,
conhecimentos que os mais velhos guardam em sua memória, ou seja, não se dispõem a
ouvir o que os senhores e senhoras estão dispostos á contar.
Tendo em vista, não resgata, uma vez que a prática de contar histórias orais
ainda hoje se encontra presente na sociedade em que estamos inseridos, não com a
mesma roupagem que antes e com tanta frequência, mas que a prática ainda existe em
alguns lugares pela nossa região e por outras regiões afora e ainda considerando a
relevância que a arte de contar e ouvir história apresenta para a formação dos sujeitos
inseridos na sociedade, e do quanto é importante á cultura popular para preservamos
nossas raízes e ainda, tendo conhecimento da importância que a memória exerce para
nossa vida, e de certa forma para as futuras gerações. Nesse sentido, o presente trabalho
é uma pesquisa sobre a história de vida de um contador de histórias orais do município
de Luís Gomes- RN. Um guardião de saberes, um mestre da cultura popular com uma
vasta experiência de vida e na arte de contar. Um senhor que guarda no baú de suas
memórias, histórias das mais diversas possíveis. Histórias que ao serem contadas por
ele, além de divertir, encantar, ensinar e até mesmo assustar, transmite informações
importantes das tradições da cultura popular.
A memória é parte constituinte do que somos. Ela é construída através das
experiências de vida, coletivamente por um grupo e está presente na sociedade onde os
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sujeitos estão inseridos. A memória é de fundamental importância, pois além de


preservar nossas raízes é a chave fundamental para a construção da identidade, tanto
individual como coletiva. A memória assim como a identidade são valores disputados
em conflitos socais e intergrupais (POLLACK, 1992, p.205). A identidade por sua vez
é construída ao longo de nossas vidas, ela se constrói da maneira como vamos vivendo
no meio social no qual estamos inseridos. Conforme estudos realizados, é através da
identidade que se constrói a nossa cultura. A identidade é o que temos de valor. A
construção da identidade se produz em referência aos outros, em referência aos critérios
de aceitabilidade, de admissibilidade, e de credibilidade (POLLACK, 1992, p.204). A
identidade é uma representação, imagem que sujeitos desejam construir tanto de si
como do outro (CARVALHO, 2010). Pois a identidade se constrói a partir do sujeito e
através da relação social dentro de um grupo, assim construído a sua própria identidade.
Tendo em vista a relevância da contação de histórias das tradições orais para a
história da humanidade e formação dos sujeitos, e do quanto é importante á cultura
popular para preservamos nossas raízes e ainda, tendo conhecimento da importância que
a memória exerce para nossa vida, e de certa forma para as futuras gerações,
pretendemos apresentar nesse trabalho intitulado: Da arte de ouvir para a arte de narrar:
as memórias a identidade e as estórias presentes na história de vida de um mestre em
cultura popular através da análise da história de vida do contador de histórias orais, suas
memórias identidade e estórias.
2.2 JUSTVICATIVA
Muitas são as justificativas que causam interesse pela temática. Em primeiro
lugar, é ter em vista a importância das memórias para nossa formação enquanto sujeitos
inseridos na sociedade, o quanto é necessário resgatá-las antes que se percam. Em
segundo lugar é saber que as histórias orais, um habito milenar que acompanha o
homem desde sua existência não está sendo cultivado por algumas pessoas. Pois já não
se conta e ouvir histórias da tradição oral como antes, principalmente no que diz
respeito á cultura popular, em virtude das mudanças e transformações ocorridas nos
últimos anos, o surgimento da industrialização e o avanço das tecnologias as quais
exerce hoje um papel importantíssimo e facilita e muito a nossa vida. Os mais velhos já
não narram mais suas memórias, ou seja, não contam mais histórias como á algum
tempo atrás. E ainda, boa parte dos jovens hoje já não se interessa ou não se dispõem a
ouvir o que os senhores e senhoras estão dispostos á contar.
Outro aspecto que leva a se interessar pela temática é conhecer um pouco mais
sobre as experiências/vivencias do contador com a arte de contar histórias orais. Como
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também para que suas memórias fiquem registradas, desse modo fazendo com que
outras pessoas que não o conhecem adquiram conhecimento sobre ele, sobre suas
histórias, seu conhecimento cultural sua identidade, oficio e sobre a importância que ele
apresenta para a comunidade e para a nossa região. Um aspecto importante e que me
inquietou e fez nascer essa pesquisa foi, após ler artigos, dissertações e teses em que se
percebeu que os autores apresentavam contos históricos da tradição oral que o contador
conta. Os autores reconhecem que o contador é um grande mestre da tradição oral, ou
seja, da contação de histórias orais e da nossa cultura popular. Segundo Rodrigues
(2008), ele é um detentor de saberes, conhecido na comunidade, visitado por alunos,
professores da cidade e até por universitários, alunos de graduação, mestrado e
doutorado da região é ainda considerado o mais importante contador de histórias da
região, se não o mais.
Essa pesquisa se justifica também pelo fato de ter vivenciado experiências com
uma contadora de histórias da tradição oral, detentora de saberes que ao narrá-los
prendia a atenção dos ouvintes, despertava a curiosidade, o riso e transmitia valores,
costumes e vários conhecimentos. Além de tudo, esse trabalho se justifica pela
necessidade de valorizamos, preservamos as memórias e a identidade daqueles que
guardam no baú de suas memórias, os saberes e as raízes de seu povo. Como também
de ressaltar a importância e riqueza que tudo isso tem para a comunidade de um modo
geral e para nossa região, pois e necessário e de fundamental importância um estudo
sobre a temática na região.
Acreditamos que esse trabalho contribuirá de forma significativa para aqueles
que almejam se aprofundar no assunto, ou seja, se interessam pela temática. Esperamos
que essa pesquisa seja mais uma que possa contribuir para outras pesquisas na área. E
ainda que nos faça refletir sobre o quanto e de estrema relevância está arte milenar para
nossa formação enquanto sujeitos inseridos no mundo.
3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

● Analisar a história de vida de um mestre em cultura popular do município de


Luís Gomes-RN, considerando a relação entre memória e identidades
culturais.
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3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


● Identificar a relação entre as histórias ouvidas/contadas e as experiências
vividas;
● Compreender a relação entre memória individual e coletiva;
● Analisar nas memórias narrativas as possíveis significações que a
contação de histórias produz na/para a vida e para a constituição
identiaria;

4. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Diante do olhar reflexivo, a partir das leituras realizadas de trabalhos sobre


narrativas do contador de histórias orais do município de Luis Gomes-RN, suas
experiências vivenciam com a arte de contar, surge o interesse sobre a temática e assim,
as seguintes indagações:
a) Qual a importância e a relação entre as histórias ouvidas/contadas e as
experiências vividas?
b) Qual relação existente entre a memória individual e memória coletiva?
c) Qual significado a contação de histórias produz para sua vida e para a
constituição identitária?
Nas pesquisas realizadas em artigos, teses e dissertações de mestrado e
doutorado dos últimos anos, encontramos em alguns trabalhos abordagens sobre a
temática. Os autores apresentam a grande importância de trabalhar com memórias, com
histórias de vida e esses vem sendo nos últimos anos um assunto de grande interesse
para estudos e pesquisas. Pois resgata memórias através da história de vida e registrá-las
é de suma importância para que elas não se percam com o tempo, e antes que elas se
contaminem com os avanços da modernidade e ainda para que as futuras gerações
possam ter conhecimento sobre as histórias das tradições orais, culturais e acima de
tudo sobre as raízes de nossa terra da nossa região. Resgatar memórias é preservar o que
temos de mais precioso para nossa formação enquanto sujeitos inseridos na sociedade.
Além de proporcionar vários benefícios para aqueles que narram suas memórias, sua
história.
Existir uma gama de estudos relacionados á temática, trabalhos que ressaltam a
importância do tema, mas ainda se encontra escasso a história de vida do contador de
histórias, trabalhos que falem do/com ele. Como já enfatizado nesse trabalho, as
pesquisas que falam sobre o contador de histórias traz apenas um breve comentário
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sobre sua história de maneira bem superficial, como é o caso da tese de doutorado de
Maria Edneide Ferreira de Carvalho (2021) cujo título é, Quando (re) lembrar é (re)
existir: descortinando identidades étnico-raciais em memórias e narrativas de mulheres
negras no alto oeste potiguar, a autora reconhece o contador de histórias como um dos
grandes mestres em cultura popular da região, mas não se aprofunda. Apesar do
objetivo de sua pesquisa ser outro, ou seja, o foco de seu estudo é analisar a construção de
identidades étnico-raciais e culturais em narrativas de mulheres negras, do Alto Oeste
Potiguar, seu trabalho foi um dos que apresentou um pouco da vida do contador. Em
outro trabalho, dissertação intitulada, Pelas veredas do popular: um estudo sobre
memória, identidade e narrativa histórica no contexto escolar (2010) dessa mesma
autora, a cultura popular, memórias, identidade e histórias são temáticas que se
encontram presentes, a autora cita o contador de histórias. Mas, o objetivo do trabalho
conforme a autora é refletir sobre a inserção da cultura popular no contexto escolar e
ainda entender o papel da memória no resgate de determinadas manifestações culturais e
de fatos históricos, além de compreender a construção de identidades, através do
diálogo entre os executores dos projetos e os informantes considerando a relação
identidade e cultura popular. Nesse trabalho, a autora visibiliza a importância e
relevância da cultura popular no âmbito escolar.
Buscamos em outro trabalho, artigo de Lilian de Oliveira Rodrigues (2008)
intitulado, Memória, narrativa e identidade regional: um estudo sobre contadores de
histórias do Alto Oeste potiguar, o contador de histórias também é citado. A autora
reconhece como um dos grandes contadores de histórias orais da região, mas o foco
principal ou objetivo de estudo de seu trabalho centra em relacionar um dos contos do
contador com outro conto de outro contador de histórias orais da região. Em outro
trabalho, cujo titulo é Cacimba de histórias: vidas e saberes dos contadores de histórias
tradicionais de cidades da Bahia, autoria de Roberta da Costa Nazário e Francisco Fabio
Pinheiro de Vasconcelos, os referidos autores também se debruçam a estudar sobre a
temática, ressaltam a importância e relevância que tem os contadores orais e os saberes,
conhecimentos, que eles detêm. Porém o objetivo do trabalho é analisar a história de vida e
os contos da tradição oral dos mestres ou contadores de histórias do interior da Bahia. Já em
outro trabalho intitulado, A identidade social do idoso: memória e cultura popular de
Silvane Aparecida de Freitas e Maria Jacira da Costa em suas abordagens ressaltam a
importância de valorizar a cultura popular do idoso e resgatar através de suas memórias
histórias, causos, lendas, ditados, que eles contam como também sua cultura. Um dos
aspectos apresentados pelas autoras através da realização do estudo foi contribuir para
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construção de mecanismos de preservação da cultura popular. Tendo como objetivo trazer á


tona a cultura dos mesmos e assim criar condições que sejam favoráveis para a socialização
do idoso.
Em todos os trabalhos, artigos teses, dissertações que buscamos, sobre a
temática, em nenhum deles foi encontrado um estudo que teve como foco analisar a
história de vida do contador. Então, por não termos encontrado nenhum trabalho que se
propões ou tem como objetivo analisar a história de vida do contador surge aqui esse
trabalho. Diante de todos esses aspectos ou talvez da falta de muitos, o interesse e
desejo de conhecer um pouco mais sobre sua história de vida, suas memórias, sua
identidade enquanto contador, o como ele se constituiu contador de histórias com sua
própria visão aumenta cada vez mais. Acreditamos que essa pesquisa por um lado seja
inovadora, por não termos trabalhos que se propôs ainda analisar a história de vida do
contador, suas memórias como ponto central.
Poderíamos apresentar, aqui, as memórias mais bonitas da aurora da juventude,
os momentos mais marcantes e inesquecíveis que foram vividos com as pessoas mais
preciosas de nossa vida, amigos, familiares, professores, colegas, momentos que
guardamos para sempre nas nossas memórias e nos acompanha por toda a vida. Não que
isso não venha a transparecer em alguns momentos nesse trabalho, pois o idoso de hoje
já foi o jovem de ontem e em suas memórias, lembranças além de guardar
conhecimentos e saberes de um povo, de um grupo sabres e conhecimentos esses mais
diversos possíveis que transmitem para os mais jovens, também guarda os momentos
mais bonitos de sua história. Mas deixo claro aqui que esse não será o foco desse
trabalho.
Poderíamos narrar, aqui, as memórias de uma pessoa que não precisou se
esforçar muito para ter sucesso e vencer na vida, ou ainda daqueles que ocupam os
lugares mais bonitos da sociedade. Gostaríamos de narrar poeticamente sobre as
memórias de pessoas que contam com entusiasmo como foi sua infância, das aventuras,
sonhos, desejos emoções, alegrias, tristezas, dificuldades passadas e o quanto era bom
tudo aquilo mesmo com as adversidades, não que isso também não se faça presente em
algum momento nesse trabalho. Mas, tudo isso são possibilidades que poderiam ser
narradas. Como queríamos narra-las. Mas nossas inquietações, curiosidades, eloquência,
e acima de tudo, com um olhar reflexivo sobre a temática em foco e sabendo de sua
total importância para todos os sujeitos inseridos no mundo e ainda tendo em vista que
essa arte tão encantadora assim como seus transmissores esta se esvaindo acabam nos
desviando desse caminho e fazendo com que sigamos outro trajeto, com outros
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objetivos e um novo olhar. Que não esse. Um olhar que nos faz enxergar outros
conceitos, teorias que são fundamentais e precisamos nos apoiar para o
desenvolvimento dessa pesquisa.
Portanto centradas nos pressupostos teóricos dos autores: Bosi (1994) com suas
teorias centradas nas memórias de pessoas idosas e nas histórias de vida desses sujeitos;
em Montenegro (2007); Portelli (2016); sobre história oral e memória; Ayala (2005) e
Canclini (1983) que disserta sobre cultura popular; sobre identidades buscamos em
Bauman (2005); Hall (2011; 2014); Silva (2013); sobre a arte de contar histórias em
Bussatto (2006); narrativas orais em Rondelli (1993); conto popular em Lima (1984);
entre outros autores que apresentam grande relevância para o desenvolvimento do
trabalho. Apresentamos nessa pesquisa a história de vida do contador de histórias orais.

5. REFERENCIAL TEÓRICO

5.1 CULTURA POPULAR

A seção a seguir tem como principal objetivo apresentar alguns conceitos e


definições sobre cultura popular, ou melhor, culturas populares, termo esse mais
adequado, conforme Canclini (1983) e que utilizamos em alguns momentos nessa
pesquisa. Portanto com base nas teorias de alguns estudiosos que se debruçam a estudar
a cultura popular, procuramos disserta nesse trabalho alguns conceitos e abordagens que
consideramos relevantes sobre o termo culturas populares.
5.2 Cultura Popular: o que pensam? O que é?
Quando ouvimos o termo cultura popular, o primeiro pensamento que nos vem
a mente é: manifestações, tradições, crenças, valores, costumes de um povo de
determinada região ou comunidade, em outras palavras um conjunto de conhecimentos,
saberes praticados por pessoas e que são transmitidas de geração para geração de forma
oral. Por um lado não estamos totalmente equivocados se pensamos dessa maneira. A
lógica é essa, todos esses pensamentos, ideias surgidas em nossa mente no primeiro
momento sobre o termo cultura popular de alguma forma são validas. Porém, não é só
isso, pois a cultura popular abrange muitos aspectos não só esses que alcançaram nosso
pensamento quando ouvimos falar em cultura popular.
Portanto para apresentamos tais conceitos e definições sobre cultura popular, e
assim chegamos ao objetivo esperado nesse trabalho, nos apoiamos em alguns
estudiosos que trabalham com questões referentes a cultura popular, seus diversos
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conceitos e definições, ao cita, Ayala (2005); Canclini (1983), entre outros. Recorremos
a esses autores por apresentarem em suas teorias questões relevantes sobre a temática,
das quais nos deu suporte para desenvolvemos essa seção.
Propor um trabalho sobre cultura popular, em primeira instância não é nada
fácil. Mais desafiador ainda é conceituá-la, defini-la. Pois, a controvérsias em relação ao
termo culturas populares. No entanto, não há apenas um único conceito, uma única
definição para o termo cultura popular, existem vários e muitos são os estudiosos que se
propõem a conceituar, define. Para esses estudiosos também não é fácil tal definição,
que caminho seguir? Qual conceito utilizar? Muitas são as divergências entre esses
estudiosos e várias são as questões que abrangem o campo da cultura popular como
também várias são as problemáticas que surgem a respeito das culturas populares.
Para adentramos de forma mais clara e precisa nas discussões sobre cultura
popular, primeiramente apresentaremos o que alguns autores apresentam em seus
trabalhos sobre cultura popular, ou seja, o seu significado. Segundo os estudos
realizados, o termo cultura popular esta relacionado a “um conjunto de elementos
culturais cultivados por um individuo ou grupo em uma região ou na sociedade”. Em
outras palavras é um conjunto de elementos pertencentes, praticados por um grupo de
pessoas em uma determinada região ou ainda na sociedade. Entre esses elementos estão
ás várias manifestações intelectuais, artísticas, danças, arte, literatura, cantos, contos,
lendas, cantigas, fabulas, valores, crenças, costumes e muitos outros saberes. Partindo
dessa perspectiva e nos baseando em autores que discutem sobre a cultura popular,
desertaremos no tópico a seguir alguns conceitos e abordagens relacionados á cultura
popular.
5.3 Cultura popular: alguns conceitos e abordagens
A cultura popular sempre esteve presente na sociedade, no entanto, sem vias de
dúvidas a cultura popular foi a algum tempo atrás essencial na vida de muitas pessoas e
ainda hoje de forma direta ou mesmo de forma indireta continua sendo essencial em
nossas vidas. Por ser composta de um conjunto de crenças, valores de um povo, é de
grande importância para a sociedade, como também para a formação pessoal,
intelectual, moral do sujeito sendo relevante para o seu desenvolvimento da capacidade
de se relacionar com o outro.
Conforme os estudos realizados, múltiplas são suas origens e cada região
possui a sua. A cultura popular surge através da interação entre pessoas de diferentes
regiões e ainda da “necessidade do ser humano se enquadrar ao ambiente envolvente”.
Por tanto, a cultura popular surge por meio das tradições, costumes, sendo ela
17

transmitida oralmente de geração para geração, tendo como principais transmissores


indivíduos mais velhos da sociedade para aqueles mais novos, ou seja, daqueles
sujeitos, mestres das tradições orais guardiões da memória com uma vasta experiência
de vida.
Por sua multiplicidade, heterogeneidade, define ou conceituar cultura popular
como já enfatizado anteriormente não é tarefa fácil. Múltiplos são os conceitos como
também diversas são as teorias e divergências em torna da cultura popular. Então,
tentaremos trazer nesse trabalho alguns conceitos e possíveis definições sobre o termo
cultura populares. Surgida no século XIX de acordo com alguns autores, o termo cultura
popular, está “associada á educação precária e ás classes populares”, ou melhor, “de
grupos subalternos da sociedade”, conforme caracteriza Ayala (2005, p.9), ou seja, de
pessoas simples, ou ainda é algo que está associado, ou que é considerado aquilo que é
inferior, que é “produzido pelo povo para o povo” diferentemente da cultura erudita que
é superior, sofisticada a qual é formada por valores econômicos e sociais, ou seja,
aqueles que representam a classe dominante. Essa mesma autora nos apresenta que
segundo alguns autores, “[...] a cultura popular é mais presente no meio rural e em
cidades do interior. [...]” (AYALA, 2005, p. 14). Como enfatizado pela autora a cultura
popular é uma prática exclusiva do meio rural e das cidades do interior, ou seja, a
cultura popular se encontra com mais frequência nesses ambitos.
Por meio dessa perspectiva, Ayala (2005, p.18) nos apresenta que por ser
considerado privilégio do meio rural se tem a ideia de que “[...] o homem do campo
seria mais conservador, tradicional, ingênuo, rude e inculto [...]”.
Segundo a mesma autora, a índices de estudos que insistem em dizer serem “as
manifestações culturais populares tratadas como algo pitoresco, arcaico, anacrônico,
inculto.” (AYALA, 2005, p. 10). A referida autora ressalta também que existem
trabalhos em que as manifestações da cultura popular são vistas como uma
sobrevivência do passado no presente, vistas como práticas isoladas, cristalizadas e
imutáveis. Uma vez que não as são. Mais adiante em seu trabalho a autora criticamente
nos apresenta que:
Este tipo de enfoque é que pode ser considerado “atrasado”, pois
desconhece estudos que veem as práticas culturais populares da
mesma maneira que qualquer outra manifestação de cultura, como
parte de um contexto sociocultural historicamente determinado. Este
contexto as explica, torna possível sua existência e ao se modificar,
faz com que também aquelas práticas culturais se transformem.
(AYALA, 2005, p. 9)

Conforme Carvalho (2010, p.30) a:


18

cultura popular é um termo, cuja criação e expli-cação não emanam de


seus produtores/consumidores. O povo constrói, ao longo dos tempos,
formas culturais de representação que consideram “legítimas”, mas,
aos olhos dos estudiosos, essas formas podem ser apenas uma “cultura
de pobre” ou “cultura pobre”.

Então, como ressaltado pela autora a cultura popular se constrói ao longo dos
tempos, pois cada indivíduo ou um grupo de pessoas inseridos no meio social
constroem a suas próprias formas culturais que consideram legítimas, de acordo com a
referida autora. Por outro lado a autora enfatiza que na visão dos estudiosos, essas
formas culturais podem ser consideradas “uma cultura pobre.”
No próximo tópico trataremos do conto popular, esse que se encontra enraizado
na cultura popular. De acordo com alguns autores, o conto é uma narrativa oral cuja
origem até então é desconhecida por alguns estudiosos. Mas isso não o impede de
exercer seu papel no meio em que nos encontramos inseridos. Pois, desde muito e muito
tempo atrás o conto se faz presente na sociedade, para melhor dizer, desde os tempos
mais remotos que podemos imaginar ele existe. Encantou muitos, e sem sombra de
dúvidas ainda continua a encantar, seja quem for não importa, sejam crianças, adultas,
pessoas mais velhas que já viveram um pouco mais, que detém uma riqueza depositada
em sua memória, ou seja, traz uma bagagem cultural inquestionável, o conto está ali,
fazendo rir, chorar, ensinando, transmitindo conhecimentos, saberes, valores, crenças e
muito mais.
5.4 Conto popular: é lazer é arte que se faz dentro da vida
O conto popular é uma narrativa oral, contada por várias pessoas e em várias
comunidades do nordeste brasileiro como também em outras regiões. De acordo com
estudos realizados, não existe especificamente um único autor, ou seja, narrador para o
conto sendo ele contado por qualquer indivíduo. Criado á muito tempo atrás, passado de
geração a geração, o conto popular pode ser recontado, por esse motivo vai sofrendo
“modificações ao longo do tempo”.
Surgido de forma bem espontânea, o conto é um gênero mais antigo da tradição
oral do qual temos informação, é uma manifestação cultural e apresenta uma linguagem
informal ou ainda típica da região em que se propaga, é uma narrativa que possui uma
riqueza inquestionável por conter em seu repertorio uma variedade temática recheada de
conhecimentos e saberes, sejam eles de um povo, sejam eles de uma região ou ainda de
uma comunidade em específico. É ainda admirado por boa parte das pessoas, sejam elas
alfabetizadas ou não-alfabetizadas, ou seja, pessoas letradas e iletradas, adultos,
19

crianças, qualquer que seja, não importa, Ayala, (2011). Portanto, o conto popular tem o
poder de encantar, divertir, entreter, faz refletir, imaginar.
Nascido do imaginário do homem simples, conforme alguns autores, o conto
popular não possui regras, normas, mas sim particularidades em sua forma
composicional. Pois, nos contos, narrativas geralmente as personagens são pessoas
simples, que depois de tantas aventuras vence na vida além de apresentarem enigmas e
desafios que exige dos personagens esperteza e inteligência. Tais afirmações
encontramos em Conto popular e comunidade narrativa sobre autoria de Francisco de
Sousa Lima (1984) e em O narrado e o vivido Beth Rondelli (1993), em que os
referidos autores trazem em seus estudos um repertorio de contos com personagens com
características semelhantes as que foram descritas acima. Lima (1984) nos apresenta em
sua pesquisa textos recolhidos na região do cariri cearense, já Rondelli (1993) nos traz
textos que foram recolhidos no Maranhão em um povoado cujo nome é Raposo. Ambos
trazem em seus estudos importantes discussões sobre a temática, ou seja, sobre conto
popular, narradores tradicionais, contemporâneos, contação de histórias, tempo e espaço
em que os contos se propagam, além de ressaltar a relevância o significado que eles
representam para os que contam como também para os que ouvem os da comunidade e
na maioria das vezes daqueles que veem de fora e se depõe a ouvir.
O conto popular é considerado a arte do sertão nordestino e mesmo com o
passar do tempo, as mudanças e transformações ocorridas, ainda hoje, se encontra
presente, ou seja, muitas pessoas hoje exercem a prática tanto no nordeste como em
outras regiões. Seja aqui, seja ali, o conto sempre vai está presente no meio em que
estamos inseridos. Assim como o conto, também estará sempre presente os contadores
de causos, casos, contos, anedotas que até hoje fazem dessa arte tão encantadora seu
oficio. Por hora, vamos encontrar poucos que se dispõe a ouvi-los. E é nesse sentido que
devemos ter uma nova visão, parar para refletimos o quanto é importante á temática e o
quanto contribuir para nossa vida de forma significativa. Pois é por meio das narrativas
orais, dos contos surgidos desde muito tempo atrás que o homem adquiriu e adquire
conhecimento, preserva a memória, compartilha a cultura, transmitir diversos saberes,
expressar suas emoções, suas experiências de vida, ensina aprende, além do mais
promove entretenimento e diversão, conforme nos aponta Ayala (2011 p.44). No tópico
a segue apresentaremos algumas considerações sobre a contação de história da tradição
oral.

5.5 Contação de histórias orais: uma arte que atravessou milênios


20

Nesta seção dissertaremos um pouco sobre a contação de histórias orais


apresentando desde os tempos mais remotos aos dias atuais, assim traçando comentários
sobre as mudanças e transformações ocorridas ao longo do tempo. Para fundamentar a
seção procuramos nos apoiar as abordagens de Busatto (2006) que discorre sobre a arte
de contar histórias como também em outros autores.
5.6 Das noites ao redor da fogueira para as noites em frente á tela de um
computador
Como sabemos, a contação de histórias é, sempre foi importante para a
formação de todo e qualquer sujeito inserido no mundo desde sua existência. Foi por
meio e através dessa prática que várias ideias, conhecimentos, saberes foram e ainda são
transmitidos por aqueles detentores de saberes de uma determinada comunidade que
guardam em suas memórias os mais diversos conhecimentos e saberes e partilham,
compartilham com outros da mesma comunidade ou ainda de outra suas experiências
vivencias. Nesse viés tendo em vista a relevância da contação de histórias seja ela de
forma oral ou não para a humanidade em geral, sentimos a necessidade de apresentamos
nesse tópico, uma breve discussão sobre a contação de histórias orais, essa arte que há
muitos encantou e ainda hoje encanta. Para tal discussão tomemos como base as teorias
de Bussato (2006), que discorre de forma abrangente sobre contadores de historias orais
tradicionais como também dos contadores contemporâneos sobre a contação de histórias
ou narrativas orais desde a época mais remota até os dias atuais, as mudanças ocorridas,
suas transformações seu contexto de propagação no espaço e tempo.
Desde que o homem sentiu a necessidade de se comunicar, procurou dentre as
muitas práticas existentes uma para se expressar. Uma dessas práticas que foi adquirida
e o acompanhou desde sua existência por toda sua vida, sua história até os dias atuais
foi a arte de contar histórias. Surgida a muitos e muitos anos atrás, nas tribos,
civilizações, a contação de histórias orais é uma prática milenar, exercida por muitas
pessoas, passada de geração para geração, pelo pai, pelo avô que conta para os netos ou
qualquer outra pessoa transmitindo e preservando seus valores, crenças, saberes,
costumes, raízes de um povo de uma região. A prática da contação de histórias orais foi
se expandindo e ganhando espaço na sociedade.
De acordo Oliveira (2017, p.14),
[...] o ato de contar e ouvir histórias é considerada a arte mais antiga
de que se tem notícia, oriunda de um momento em que não se tinha
registro escrito, essa arte seria uma forma de preservar a memória de
um povo, os fatos e atos eram contados de geração em geração, o que
permitia a propagação das memórias, lendas, mitos e todo um
contexto cultural de um povo.
21

Por ser uma prática surgida a milhares de anos atrás, muito antes mesmo do
surgimento da escrita como apresenta o autor, a contação de histórias é essencial em
nossa vida. Portanto em alguns momentos da vida dos contadores, muitas das histórias
que são contadas se relacionam de alguma forma com a sua própria história de vida,
assim, da mesma forma que essas histórias têm relação com a vida dos contadores,
muitas das vezes também se relacionam com as histórias de vidas dos seus ouvintes.
Muitos são as contribuições que a contação de história apresenta para a
humanidade, além de transmitir conhecimentos, significar, preservar a cultura de um
povo de determinada comunidade de uma coletividade, traz vários benefícios para a
vida de todo e qualquer cidadão.
Para Bussato (2006, p. 12), a contação de histórias é vista:
como um instrumental capaz de servir de ponte para ligar as diferentes
dimensões e conspirar para a recuperação dos significados que tornam
as pessoas mais humanas, íntegras, solidárias, tolerantes, dotadas de
compaixão e capazes de “estar com”[...]

Nessa perspectiva, a referida autora ver a contação de histórias como uma


prática capaz de tornar pessoas melhores, mais humanas capazes de serem solidários,
íntegros, tolerantes e dotadas de compaixão, pessoas que por meio e através da contação
de histórias possa fazer reflexões. Essa mesma autora ver “o contar histórias como um
ato social e coletivo, que se materializa por meio de uma escuta afetiva e efetiva.”
(BUSATTO, 2006, p.13). Então, contar histórias não é um ato que se desenvolve
individualmente, é preciso sempre que exista outro ou outros ali presente exercendo
dessa forma uma troca de experiências, pois aquele que conta, conta para alguém
alguma coisa, ou melhor, uma história que se tece naquele momento. Por isso a
importância e necessidade da existência daquele que conta no caso o narrador, da
história, essa que o contador se apropria no momento em que esta narrando, e
principalmente a existência do ouvinte, esses três são imprescindíveis para o desenlace
de toda e qualquer história.
É nos momentos em que as histórias estão sendo narradas que as experiências
são adquiridas como também os mais diversos conhecimentos, somos expostos ás
diversidades, apreendemos e aprendemos com os outros, ao mesmo tempo em que
aprendemos também ensinamos na medida em que expomos algo que sabemos. Ao
longo de nossa vida todos os aprendizados, ensinamentos, sejam os aprendidos e
ensinados carregaremos em nossa bagagem, seja ela cultural ou não. Pois, todas as
experiências vivenciadas as impressões sentidas levaremos por toda a nossa vida essas
jamais ninguém arrancará de nossa memória.
22

Foi por meio das experiências vivencias com os outros que desde muitos anos
atrás as pessoas foram adquirindo conhecimentos, saberes em conjunto em uma
comunidade. Porém, o habito de ouvir e contar histórias orais foi imprescindível para
que esses saberes e conhecimentos fossem adquiridos e ficassem guardados na
memória, não apenas de um indivíduo, mas sim da coletividade. Com o passa do tempo,
esses saberes, conhecimentos até então adquiridos com habito de contar e ouvir
histórias, experiências adquiridas no contato direto com o narrador, frente a frente, olho
no olho foi se modificando. Então o que era uma prática vivenciada, atividade exercida
há algum tempo atrás a noite ao pé da fogueira onde pessoas se reunião, ou de dia as
margens do rio enquanto um grupo de pessoas trabalhavam ou ainda a noite ao pé da
cama para crianças, hoje não existe mais, ou melhor, existe mais tudo se modificou. Em
vez da reunião á noite ao pé do fogo, dos dias as margens do rio enquanto um grupo
trabalhava ou ao pé da cama, conforme Busatto (2006). Ouvir mudanças, pois com os
avanços tecnológicos esses necessários e imprescindíveis em nossa vida vez com que as
histórias que eram contadas e ouvidas da forma como foi descrita acima e de acordo
com Busatto (2006), se transformassem, pois o que temos hoje é um ser enfrente a tela
de um computador. As histórias hoje saltam aos olhos, imagens são criadas,
transformadas, as vozes soam de formas diversificadas, o cenário já não é o mesmo,
pois em instantes se transforma em outro, despertando nos indivíduos a curiosidade,
entretendo, encantando isso é inegável, mas ali, já não se encontrar mais um narrador
humano olho no olho presente no momento, mas sim um ser virtual. Já não temos mais
a experiência que tiveram muitas pessoas á algum tempo atrás. Nossos avós, nossos
pais, por exemplo, quantas dessas histórias que hoje nos são expostas, que ouvimos por
meio digital não foram ouvidas por eles na presença imediata de um narrador ou de
vários narradores frente a frente numa troca dialética de experiências. Quantos
momentos daqueles hoje não se fazem presentes em suas lembranças e quantas das
histórias narradas, ouvidas não ficaram guardadas em suas memórias, o quanto elas
significam para essas pessoas.
Na próxima seção discutiremos algumas questões relacionadas a memória, no
qual vamos discutir um pouco sobre a relação entre memória individual e memória
coletiva, ambas essenciais em nossa vida, uma interligada a outra.
5.7 Lapsos de memórias: entre o coletivo e o individual
Memórias, são o que nos constitui, de acordo com Bosi (1994), é algo pessoal,
individual, mas também é coletiva. As memórias são fundamentais em nossa vida, são
23

construídas através das nossas experiências de vida, por meio do contato com um grupo
de pessoas presentes na sociedade em que estamos inseridos.
As memórias são essenciais, pois quando construímos memórias deixamos
nossas marcas, nossas lembranças e ainda nossas narrativas, sejam elas nossas próprias
narrativas ou ainda de outros. Ao construímos memórias temos a oportunidade de voltar
ás muitas histórias que fizeram parte e marcaram a nossa trajetória. Além do mais
damos a oportunidade para que outros possam nos conhecer ou adquirirem
conhecimento de algo que narramos. Por meio de nossas memórias narramos nossas
histórias de vida, nossas experiências e vivencias seja ela profissional seja ela pessoal.
Através de nossa narrativa, história de vida, deixamos transparecer quem somos, ou
seja, nossa identidade. Nesse sentido através de nossas memórias contribuímos de
alguma forma para a sociedade, para outras pessoas. De acordo com os estudos
realizados, desde a antiguidade a memória humana é que conservar as histórias, as
crenças, os costumes e os valores de um povo.
Conforme Ecléa Bosi, em Memórias e sociedade: Lembranças de velhos, é
através da memória que várias lembranças são evocadas, podemos, por exemplo,
recordar algum acontecimento histórico, o lugar onde vivemos ou algo que vivenciamos
com outros no meio social ou ainda algo do que ouvimos falar. A memória é um baú em
que guardamos nossas lembranças, em outras palavras, a memória é o museu que têm
capacidade de guarda peças valiosíssimas.
Nas palavras de Chauí, semelhantes ás ideias de Bosi, diz que a, “Memória é
uma evocação do passado. É a capacidade humana para reter e guardar o tempo que se
foi, salvando-o da perda total. A lembrança conserva aquilo que se foi e não retornará
jamais [...]” (CHAUÍ, 2005, p.138). Nesse sentido a memória através da lembrança traz
de volta algo que aconteceu no passado, momentos vividos, esses únicos e que jamais
serão vividos da mesma forma, mas que ficou guardado, eternizado na memória.
Para conceituar o termo memória, Le Goff, 2003, p. nos apresenta que:
O termo memória apresenta suas raízes na língua grega,
especificamente na palavra mnemis, referindo-se a deusa Mnemosyne,
a mãe das musas e a protetora das Artes e da História. É possível
também destacar sua raiz latina, oriunda da palavra memorare, cujo
significado faz referência ao ato de trazer a memória, lembrar,
recordar (LE GOFF, 2003).
Como destacado acima o termo memória terá suas raízes originadas em duas
línguas, na língua grega, que segundo o autor se refere “a deusa Mnemosyne, mãe das
musas e protetora das artes e da história” e na língua latina, originaria da palavra
Memorare, que conforme o autor seu significado estará fazendo “referência ao ato de
24

trazer a memória, lembrar, recordar.” Portanto, A memória esta presente na sociedade,


onde o sujeito se encontra inserido.
Centrado nas teorias de Bergson, Bosi (1994), nos apresenta duas memórias, a
primeira é considerada segundo a autora, “memória-habito”, essa estaria ligada aos
mecanismos motores de acordo com a autora. A memória-habito seria então, adquirida
pelo esforço da atenção, pela repetição de gestos ou ainda de palavras. Por esse viés a
referida autora ressalta que, a memória-habito é, “[...] um processo que se dá pelas
exigências da socialização. Trata-se de um exercício que, retomado até a
fixação,transforma-se em habito [...]” BOSI (1994, p.49). Nesse sentido, entendemos
então, que a memória-habito são nossas palavras, nossos gestos práticas exercidas na
medida em que vamos vivendo cotidianamente. O habito consiste a algo que fazemos
diariamente, seja comer, escrever, estudar ou qualquer que seja a atividades. De acordo
com a autora, “[...] A memória-habito faz parte de todo o nosso adestramento cultural.”
(BOSI, 1994, p.49).
Já no que concernir a “imagem-lembrança”, a referida autora apresenta uma
ideia totalmente divergente da memória-habito, pois o caráter da imagem-lembrança é
evocativo e não mecânico. Nessa perspectiva conforme Bosi (1994) a imagem-lebrança
tem uma data determinada, um momento único, algo definido que ocorre de forma
individualizada. Portanto essa se aproxima do sonho e da poesia, segundo a autora.
Como já enfatizado anteriormente, a memória vai se formulando ao longo de
nossas vidas, sendo ela tecida pelo convívio e a troca de experiência entre indivíduos,
conforme nos aponta Rodrigues (2008). Portanto a memória é individual e ao mesmo
tempo coletiva. Apoiada as abordagens de Halbwachs (2004), a referida autora diserta
que “[...] a memória individual existe a partir de uma coletiva, posto que todas as
lembranças são constituídas no interior de um grupo.[...]” (RODRIGUES, 2008, p.6).
Como afirma a autora é por meio e através da memória coletiva, ou seja, de uma
coletividade da relação do sujeito com outros em sociedade que a memória individual
vai existir. Pautada nessa mesma visão, Ecléa Bosi (1994), apresenta que as lembranças
são construídas no coletivo se tratando de uma memória individual existente através de
uma memória coletiva, dessa forma sendo lembrada a partir de um grupo de indivíduos.
Segundo Bosi (1994, p.54), “[...] A memória do indivíduo depende do seu
relacionamento com a família, com a classe social, com a escola, com a igreja, com a
profissão [...] com os grupos de convívio e os grupos de referência peculiares a esses
indivíduos.” Portanto, para que a memória seja adquirida o sujeito deve estar em
constante relacionamento com outros, como enfatizado pela autora. A família, a escola,
25

a igreja, o meio social e os diversos grupos de referência ao mesmo, ou seja, é preciso


manter laços de convivência com esses membros na sociedade em que se encontrar
inseridos.
Conforme Halbawachs (2006, p.78-79) “[...] nossa memória não se apoia a
história apreendida, mas na história vivida [...]”. Pois são os acontecimentos as histórias
vividas não ás apreendidas que nossa memória se apoia. De acordo com os estudos
realizados, a memória também é seletiva, pois muitas vezes ela seleciona algo. Para
Pollak (1992, p.203), “[...] Nem tudo fica gravado. Nem tudo fica registrado.” Segundo
o mesmo autor, a memória é um elemento que constituir o sentimento de identidade seja
ela coletiva, seja ela individual. Sobre a questão de identidade nos aprofundaremos na
seção a seguir, para tanto nos baseamos em autores que apresentam em seus estudos
teorias e algumas questões sobre a temática em questão.
5.8 Identidade
Nos últimos anos muitas discussões sobre a questão da identidade veem sendo
discutidas “na teoria social”, segundo alguns estudiosos que se dedicam a estudar sobre
o assunto. No entanto, fala sobre identidade, nos dias atuais além de ser um tema
relevante é antes de tudo um grande desafio para pesquisadores que propõem disserta
questões que envolvem identidades.
Para tratamos da identidade nesse trabalho, de antemão dissertaremos
brevemente o que entendemos de imediato a respeito do termo identidade. O termo
identidade está relacionado, aquilo que nos é idêntico, ou seja, qualidades do idêntico,
semelhante, caracteres particulares dos quais nos identificamos, ou melhor, que
identificam um sujeito, pessoa, instituição ou ainda grupo de pessoas. É basicamente
aquilo que você é. Como por exemplo, sou negro, brasileiro, sou jovem. Para Hall
(2011, p.13) a identidade “é definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito
assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são
unificadas”.
Dessa forma, nossas identidades se constroem ao longo de nossas vidas da
forma como vamos vivendo, nas experiências diárias na relação social no contato com o
outro na sociedade em que estamos inseridos. É essa a ideia apresentada por Hall (2011,
p.11-12), que a identidade é construída nas relações, pois,
[...] é formada entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um núcleo
ou essência interior que é o eu real, mas é formado e modificado num
diálogo com mundos culturais exteriores e as identidades que esses
mundos oferecem.
Nesse ponto o referido autor ressalta que é por meio da relação com o outro na
sociedade que a identidade do sujeito se constitui. Da mesma forma que a identidade é
26

construída ela também vai se modificando e assim o sujeito vai constituindo novas
identidades. Por tanto com as influências do meio social as identidades vão sendo
modificadas e os sujeitos adquirem diferentes identidades conforme os diferentes
momentos que vivencia.
Nessa perspectiva, ao passo que as mudanças e transformações ocorrem,
surgem novas identidades. Nas palavras de Bauman (2005), as identidades não são
fixas, elas se constituem por meio das relações sociais e culturais.
As “identidades” flutuam no ar, algumas de nossa própria escolha,
mas outras infladas ou lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é
preciso estar em alerta constante para defender as primeiras em
relação às últimas. Há uma ampla probabilidade de desentendimento,
e o resultado da negociação permanece eternamente pendente.
Como ressaltado pelo autor as identidades são muitas, por essa variedade de
identidades existentes, cada sujeito apresenta não apenas uma única identidade, mas
várias, essas sendo constituídas não de forma individual, mais sim em confronto com
outros na sociedade e através das transformações e mudanças que ocorrem.
Por ser construída no contexto de nossas relações sociais e culturais a identidade
nunca esta pronta, acabada, para tal questionamento nos apresenta Silva (2013, p.96-97)
sobre a identidade afirmando que:
A identidade não é fixa, estável, coerente, unificada, permanente. A
identidade tampouco é homogênea, definitiva, acabada, idêntica,
transcendental. Por outro lado, podemos dizer que a identidade é uma
construção, um efeito, um processo de produção, uma relação, um ato
performativo. A identidade é instável, contraditória, fragmentada,
inconsciente, inacabada. A identidade está ligada a estruturas
discursivas e narrativas. A identidade está ligada a sistemas de
representação.
Pois, por ser um processo em construção, construído através das relações
sociais e culturais, por não ser fixa e estável fazem parte do sistema de significação que
de alguma forma acabam adquirindo sentido em nossa vida. Conforme o mesmo autor,
“é por meio dos significados produzidos pelas representações que damos sentido à
nossa experiência e aquilo que somos”. (SILVA, 2013, p.18). No entanto, as identidades
que construímos ao longo do nosso trajeto de vida seja ele pessoal ou profissional vão
se transformando diariamente conforme os momentos vivenciados, e estas nunca estarão
conclusas.
Bauman (2005, p.54) compara a identidade a um quebra- cabeça, segundo o
sociólogo, a identidade seria formada por pedaços, peças. Mas ele enfatiza que ao
contrário do quebra- cabeça do jogo, o quebra- cabeça da identidade só pode ser
compreendido se for entendido como incompleto, “ao qual faltem muitas peças (e
jamais se saberá quantas)”. Portanto, a identidade é um processo que estará sempre em
27

constante mudança e transformação e dependendo do momento e âmbito em que o


sujeito esteja inserido na sociedade ele vai adquirir diferentes identidades.

6. METODOLOGIA

6.1 TRAÇANDO OS METODOS E ABORDAGEMS DA PESQUISA

Para alcançarmos os objetivos planejados e assim realizar uma pesquisa


satisfatória, a abordagem aqui utilizada é a abordagem qualitativa. Optamos por uma
abordagem qualitativa por que a abordagem qualitativa nos permite compreender nossa
realidade, assim, acreditamos que essa abordagem se enquadra perfeitamente em nossa
pesquisa e terá grande relevância conforme nossos objetivos.
Nas palavras de (PAIVA, 2019, p.13),
A pesquisa qualitativa acontece no mundo real com o propósito de
“compreender, descrever e, algumas vezes, explicar fenômenos
sociais, a partir de seu interior, de diferentes formas”. Tais formas
incluem análise de experiências individuais ou coletivas, de
interações, de documentos (textos,imagens, filmes ou música), etc.
[...]
Ainda, sobre pesquisa qualitativa, DESLANDES e MINAYO (2013), afirmam
que: “[...] A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa,
nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ou deve ser quantificado
[...]” (DESLANDES e MINAYO, 2013, p.21). Dessa forma, a pesquisa qualitativa
nesse trabalho, nos permite, ou seja, nos dá a oportunidade de compreendermos melhor
a realidade e as práticas do contador de histórias diante de suas experiências/vivencias
por ele mesmo, assim poderemos entender melhor o que almejamos conhecer.
6.2 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS
Para realização dessa pesquisa fizemos o uso da história oral/ história de vida,
técnica essa que vem sendo muito utilizado nos últimos anos nas pesquisas
antropológicas, históricas, sociológicas e em outras áreas de estudo. Optamos por essa
técnica por considerá-la eficaz, pois através dessa técnica o entrevistador e
entrevistando ou pesquisador e colaborador tem uma relação mais próxima.
A História Oral, segundo estudos realizados é uma técnica/método em que o
historiador ou pesquisador se serve para o estudo do indivíduo na sua singularidade,
particularidade, ou seja, é uma metodologia que muitos historiadores se apropriam a fim
de registrar relatos. Através do uso da técnica da História Oral, o pesquisador,
historiador tem uma aproximação e assim, uma relação mais direta com o pesquisado
28

com suas experiências. Montenegro (2007) ressalta que “A história oral, no trabalho
com a população, tem possibilitado o resgate de experiências, visões de mundo,
representações passadas e presentes. [...]” (MONTENEGRO, 2007, p. 26-27).
Nesse sentido por demanda um contato mais direto com o sujeito pesquisado,
utilizamos no nosso trabalho essa técnica. Pois, vemos nesse método uma possibilidade
de nos inteiramos e compreendemos da melhor forma possível o que desejamos saber
sobre as experiências/vivencias do pesquisado. Nas palavras de Carvalho (2021, p.77), a
história oral é “um método de análise e compreensão da experiência humana.”
Conforme Portelli (2016, p. 10), a história oral é “uma arte da escuta”. Para
esse autor, cabe ao historiador ouvir o que o narrador, entrevistado tem a dizer. Nas
palavras desse mesmo autor “a arte de ouvir envolve respeito”, o historiador deve
respeitar o que o entrevistado tem a contar. Nesta mesma visão, Thompson (1998, p.
254) apud Carvalho (2021), nos apresenta uma das características essenciais do
historiador oral, vejamos:
“Disposição para ficar calado e escutar”. É assim que Paul Thompson
define uma das características essenciais de um historiador oral: ouvir
o que o outro tem a dizer; escutar o que o outro deseja contar; ter
paciência para lidar com as falhas da memória. E mesmo que, em
algum momento, o pesquisador deseje interromper o fluxo narrativo
do narrador, precisa estar ciente de que isso pode inibir e/ou prejudicar
na construção narrativa. (CARVALHO, 2021, p. 77-78)

A autora ressalta ainda, que a postura esperada de um historiador oral é a de


“fica calado.” Porém, é uma das mais difíceis, conforme a autora. Ficar calado, para
Carvalho (2021), vai muito além do fica em silêncio enquanto ouvir o que o narrador
está contando, pois para essa autora,

[...] Ficar calado é uma postura de respeito à fala e ao fluxo narrativo


construído pela memória do colaborar e, ao mesmo tempo, um ato que
demonstra a destreza daquele ao apresentar a pesquisa e ao elaborar
suas perguntas. Ficar calado é, assim, mais do que passividade, uma
ação significativa no momento das entrevistas. (CARVALHO, 2021,
p.78)

Utilizamos também, nesse trabalho, a pesquisa bibliográfica que ajudará e


dará suporte para a realização da pesquisa. A pesquisa bibliográfica é o tipo de pesquisa
que têm como base materiais já publicados. De acordo com (Gil 2010, p. 29), a
pesquisa bibliográfica inclui os materiais impressos como, livros, revistas, jornais, teses,
dissertações entre outros materiais. Em outras palavras são matérias já prontos que
apresentam aspectos sobre determinadas temáticas das quais podemos nos apoiar para
fazer outras pesquisas. A pesquisa bibliográfica ou método bibliográfico tem grande
contribuição teórica para os trabalhos científicos, pois nos mostra meios e ainda
caminhos para percorremos.
29

O corpus da pesquisa é construído através da história de vida, utilizaremos as


experiências/vivencias de um senhor, contador de histórias da tradição oral (mestre da
cultura popular), residente na cidade de Luís Gomes-RN. Posteriormente analisaremos
como se constituiu contador de histórias. A escolha por esse contador se deu por ele ser
um dos grandes contadores de histórias orais da comunidade se não dizer da região, por
ele ser reconhecido por muitas pessoas como um dos grandes detentores de saberes, por
ser um senhor/velho que já viveu muito, têm experiência tanto na vida como na arte de
contar histórias. Pois, ele tem depositado em sua memória um tesouro, um saber que
para muitos pode não interessar ou não ter tanta importância, mas que para muitos é de
estrema valia, interessa, e muito, é importante e apresenta grande relevância para os que
se dispõe a ouvir os sabres que ele detém como também para estudiosos e pesquisadores
que estudam e tem interesse pelo assunto. Optamos nessa pesquisa por esse contador
por acreditar que ele, sua narrativa, história de vida atenderá com o objetivo esperado,
pelo perfil de contador de histórias que têm.
6.3 INSTRUMENTOS DA PESQUISA
Para a realização de nossa pesquisa, e assim alcançar os objetivos esperados e
encontrar respostas para as inquietações, nessa pesquisa faremos uma visita à casa do
contador de histórias a fim de ouvir sua história de vida, narrativa contada por ele
mesmo que será ouvida, registrada em áudio e transcrita posteriormente de sua forma
oral para o texto escrito. Para coleta de dados faremos uma entrevista, “técnica de coleta
de dados na qual o pesquisador tem o contato mais direto com a pessoa, no sentido de se
inteirar de suas opiniões acerca de um determinado assunto.” (DUARTE, 2017, p.02). A
entrevista é antes de tudo, um instrumento em que torna possível um diálogo entre o
entrevistador e o colaborado é uma troca de conhecimento, de interação uma
possibilidade de adquirir novos aprendizados.
Conforme Montenegro (2007, p. 24), “A entrevista livre, tendo como ponto de
partida a história oral, foi o instrumento privilegiado para se resgatar essa outra história
que tem, na tradição oral, o elemento fundador de seu registro e reprodução.”
(MONTENEGRO, 2007, p.24). Mesmo indo a fim de ouvir a história de vida do sujeito
pesquisado, suas experiências e vivencias de forma fluida conforme ele queira contar.
Utilizaremos um roteiro de entrevista, mas deixaremos claro que não ficaremos restritos
ao roteiro, pois toda informação que surgir no desenrolar da narrativa e que
consideramos relevantes para a pesquisa faremos anotações.
Portanto essa pesquisa abordará sobre a contação de histórias orais, dando
ênfase ao contador de histórias orais do Município de Luis Gomes-RN. Como aporte
30

teórico para a realização dessa pesquisa foi necessário e de estrema importância


recorremos aos seguintes autores: Bosi (1994) sobre memória; sobre história oral e
memória, em Montenegro (2007); Portelli (2016); sobre cultura popular em Ayala
(2005); sobre identidades buscamos em Bauman (2005); Hall (2011, 2014); sobre a arte
de contar histórias em Bussatto (2006); narrativas orais em Rondelli (1993); conto
popular em Lima (1984); entre outros autores que apresentam grande relevância para o
desenvolvimento do trabalho.
Com o intuito de atingir os objetivos presentes nesse trabalho, a pesquisa se
encontra dividida em seis capítulos. No primeiro capítulo dissertaremos sobre a
temática em foco, ou seja, a importância e relevância que tem os contos da tradição oral
ainda hoje, mesmo que em pequenas doces por conta dos avanços e transformações
ocorridas. Apresentaremos ainda, os objetivos, o estado da arte, justificativa, o que nos
levou a buscar respostas para as nossas inquietações entre outros aspectos.
O segundo capítulo, está dividido em três subseções, nessas tentaremos discutir
alguns aspectos que consideramos relevantes sobre a cultura popular, em que
apresentamos alguns conceitos, definições sobre o termo cultura popular como também
algumas considerações importantes relacionadas ao conto popular, conceitos e a
importância do mesmo para a comunidade em que se propaga, tanto para os sujeitos que
contam, narram, contadores, como também para os que ouvem, ou seja, se dispõem a
ouvir. Nessa dissertamos também, brevemente, sobre a contação de histórias orais,
desde os tempos mais remotos aos dias atuais além de trazemos algumas considerações
sobre a sua importância para a vida de todo e qualquer sujeito inserido na sociedade.
No terceiro capítulo, apresentemos algumas discussões teóricas sobre memória,
alguns conceitos como também a relação existente entre a memória individual e a
memória coletiva. No quarto capítulo, trataremos da questão da identidade, ou seja,
apresentamos algumas abordagens sobre a identidade. Já no quinto capítulo
apresentamos como se deu a pesquisa, ou seja, a metodologia aqui adotada.
Dissertaremos nesse capítulo, um pouco sobre o método da história oral, do qual nos
servimos para a realização desse trabalho e ainda a história de vida do contador de
histórias. O sexto e último capítulo, para finalizar, apresentamos uma síntese geral do
que foi dissertado no transcorre da pesquisa. Nesse sentido, ressaltamos a relevância do
trabalho para outros estudos na área e as conclusões á que chegamos ao final dessa
pesquisa.
31

7. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

Atividades Nov Dez Jan Fev Mar Abr


Pesquisa do tema X
Pesquisa bibliográfica X X

Coleta do corpus de X
análise
Apresentação e X
discursão dos dados

Elaboração do X X X
trabalho monográfico
Entrega do trabalho X
monográfico
32

REFERÊNCIAS

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33

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