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JOÃO PESSOA, PB
MAIO – 2006
FURTADO, Clécia Maria Nóbrega Marinho
JOÃO PESSOA, PB
MAIO – 2006
CLÉCIA MARIA NÓBREGA MARINHO FURTADO
léxico-semântica
Lingüística.
JOÃO PESSOA – PB
2006
TERMO DE APROVAÇÃO
léxico-semântica
Dissertação aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Língua
Portuguesa e Lingüística no Curso de Pós-Graduação em Letras, Área de Concentração
Lingüística e Língua Portuguesa, da Universidade Federal da Paraíba.
BANCA EXAMINADORA
• Ao meu pai, João Marinho de Araújo, e à minha mãe, Maria Daura N. Marinho, pela
minha existência.
• À Universidade Federal da Paraíba por nos permitir a oportunidade.
• À Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal
da Paraíba pelo apoio no decorrer do Curso.
• À professora Drª Maria das Neves Alcântara de Pontes pela segurança e precisão na
orientação.
• À professora Drª Mônica Nóbrega.
• À professora Drª Marianne Cavalcante.
• À professora Drª Evangelina Faria.
• À professora Drª Maria Cristina Assis P. Fonseca.
• Ao professor Raimundo Nonato O. Furtado (CCHT / CEFET-PB) o incentivo e a
presteza com que dirimiu as dúvidas no campo das Ciências Sociais.
• À professora Maria do Socorro Burity Dialectaquiz (CLCT / CEFET-PB) pelo
estímulo e o compartilhar de conhecimentos na área da Lexicologia / Etno-
Sociolingüística durante esta investigação.
• À professora Maria Salete F. de Carvalho (CLCT / CEFET-PB) que sempre se
mostrou disponível para colaborar durante o período de estudos.
• À professora Elida de Oliveira Barros Pessoa (CLC / CEFET-PB).
• A Beatriz Alves de Sousa, Coordenadora da Biblioteca do CEFET-PB.
• A Petter KrometseK Biblioteca / CEFET-PB.
• A todos os meus familiares que acreditaram em mim.
RESUMO
The present work tries a linguistic study in O Quinze, of Rachel de Queiroz, first work of its
authorship, published in 1930. It consists of a research of the expressions of contained speech
in the work in focus, backed us theoretical budgets come back for the Lexicology, to
Semantic, the Regional Culture, as well like for theories that they are combined around this
thematic, among them, the Hypothesis Sapir-Whorf, the Theory of the Lexical Fields, beyond
other, that were done necessary to the study lexicological, in special the culture with
consequence. His limits are definite in the records of speech, that, submitted to of the analysis
lexicon-semantic, under the perspective geo-etno-linguistic, it validate to inter-relation
language-culture-society. Being like this, the content of literary feature and the trials to him
inherent are not constituted object of study, barely, support to our analysis.
Introdução 01
1. Da Lexicologia 03
1.2 O Léxico 06
2. Da hipótese Sapir-Whorf 10
2.2 Caracterização 12
4. Da Autora e da Obra 22
5.3 Religiosidade/Misticismo 48
5. 4 Valores e costumes 66
Considerações finais 97
Referências bibliográficas 98
“A fala não se esgota na mensagem que engendra,
ela pode fazer ouvir muito além do que foi dito”.
(Barthes, 1978)
INTRODUÇÃO
1. DA LEXICOLOGIA
1. 2 O léxico
A língua, fora do uso, constitui um sistema autônomo e imanente, que se explica pela
descrição de um conjunto de elementos e de regras combinatórias, nos níveis fonológico,
morfológico e sintático; na dimensão do uso, compreende um conjunto de traços antropo-
sócio-cultural-ideológicos, que a caracterizam em face de outras. Assim, é no uso que a língua
se faz unidade lingüística, ou seja, “idioma” de uma nação, e expressa o pensar e o agir de um
grupo humano configurados no seu léxico.
Compreendendo o léxico um conjunto de todas as palavras de uma língua, Mário
Vilela (1994, p. 14) afirma ser “nele que se refletem mais clara e imediatamente todas as
mudanças ou inovações políticas, econômicas, sociais, culturais ou científicas.”
Desta forma, o léxico não encerra um todo de nomenclaturas, mas sim o espaço aberto
à efemeridade do mundo e das coisas, à história e ao devir, sendo, então, os membros de uma
sociedade os transformadores e/ou perpetuadores da semântica dos vocábulos que constituem
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1. 3 Os campos semânticos
A idéia de campo lexical tem raízes na Antigüidade. Pautados nessa idéia, nos séculos
XIX e XX, surgem trabalhos que orientariam a Semântica Estrutural. Neste último, na década
de 70, E. Coseriu destaca que nessa linha de pesquisa, até aquele momento, o precursor mais
antigo e, também, o mais moderno, graças ao conteúdo do seu trabalho, era K. W. L. Heyse
(1856), que em sua obra póstuma System der Sprachwissenschaft (Berlim, 1856) apresenta
uma análise do campo léxico alemão Schall. Na opinião de E. Coseriu, conforme registra
Horst Geckeler (1976, p. 101), trata-se de uma “análisis de contenido casi perfectamente
estrutural, se bien realizado com outros objetivos”.
Se a Heyse coube o início dos trabalhos nessa direção, a G. Ipsen (1924), a primeira
formulação explícita da idéia de campo, denominado por ele “campo semântico”. Em Ipsen,
evidencia-se a imagem do mosaico lingüístico. Essa imagem, amplamente discutida e
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criticada na doutrina do campo, foi utilizada por Jost Trier (1931), a quem devemos a
definição de campo, bem como todo o significativo progresso dos estudos léxicos.
Para Trier, o vocabulário de uma língua constitui uma totalidade semanticamente
estruturada em campos léxicos: campo da Arte, da Sabedoria, entre tantos, com possibilidades
de encontrarem-se numa relação de coordenação ou subordinação. Sobre as idéias de Trier, o
semanticista Stephen Ulmann (1964, p. 510 – 1) comenta:
2. DA HIPÓTESE SAPIR-WHORF
Assim, para ele, a linguagem é a faculdade natural, que permite ao homem construir
uma língua – social no sentido de ser um sistema convencional adquirido socialmente, e não
sugerindo interação social sob seus aspectos mais gerais.
De acordo, ainda, com as dicotomias saussurianas (1988, p. 22), a língua “é exterior ao
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indivíduo, que, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em
virtude duma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade”– o que
assinala a submissão do indivíduo à língua no processo comunicativo –; a fala é ação
individualizada “de vontade e inteligência”, que comporta os traços físico-psicológicos de
cada falante e os condicionamentos determinados pelo canal e pelo contexto real do ato de
comunicação, ou seja, a língua encerra um sistema estável com possibilidade de ser abstraído
das múltiplas variações verificáveis da fala.
Ao tratar dos elementos internos e externos da língua, entretanto, Saussure (1988, p.
29) infere: “Os costumes duma nação têm repercussão na língua e, por outro lado, é em
grande parte a língua que constitui a Nação”, apontando, já, para as relações socioculturais da
língua. Mas pesquisas dessa ordem desenvolveram-se somente a posteriori, uma vez que seu
interesse voltava-se para a autonomia da Lingüística em relação às demais Ciências Sociais.
Foi no seio da Lingüística norte-americana que tais pesquisas foram desenvolvidas,
cuja obra inaugural nesta área é A linguagem, de E. Sapir (1921), construto teórico para
numerosas investigações, principalmente, a partir dos anos cinqüenta.
Adotando o método etnográfico de Franz de Boas, alguns lingüistas, entre eles Sapir,
realizam pesquisas em tribos de línguas ameríndias, distinguindo, pois, o Estruturalismo
norte-americano do europeu, cujo objeto de investigação eram línguas de tradição escrita.
Acerca deste método, Valéria Chiavegatto (1999, p. 36) comenta:
2. 2 Caracterização
expressa: “Cada língua traduz o mundo e a realidade social segundo o seu próprio modelo,
refletindo uma cosmovisão que lhe é própria, expressa nas suas categorias gramaticais e
lexicais”.
Sendo assim, apesar de Sapir e de Whorf terem seguido correntes diferentes, no que
tange à inter-relação língua–sociedade–cultura, podemos observar que suas determinantes
proporcionaram à Hipótese uma visão abrangente e integradora que pode sustentar as
investigações direcionadas à inter-relação língua–sociedade–cultura, bem como contribuir
para os estudos sociolingüísticos, psicolingüísticos, além de outros.
Considerando a natureza desta investigação, neste ponto, urge uma melhor
compreensão de cultura e léxico regional, ao que nos dedicaremos no próximo capítulo.
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Partindo desse conceito, Franz Boas buscou o estudo das “culturas” em contraponto a
Tylor, que valorava a singularidade: “Cultura”. Boas recusa-se a adotar o princípio de que
poderia haver leis universais que explicassem o funcionamento das sociedades e das culturas
humanas, bem como a evolução destas culturas. Para realização de suas pesquisas construiu o
modelo metodológico indutivo e intensivo de campo, passando pelo aprendizado da língua da
comunidade objeto de estudo, visto ser nas conversas “espontâneas” que estão elementos de
valor cultural.
Essa concepção boasiana de cultura motivou uma série de pesquisas sob perspectivas
diversas – os “culturalismos” –, de forma que ela é vista como um conjunto organizado de
elementos interdependentes – linguagem, costumes, crenças intuições, entre outros ─; e tanto
sua organização quanto seu conteúdo são importantes.
são sempre marcadas pela desigualdade; são relações de dominação e subordinação, tanto em
termos político-econômicos, quanto intelectuais e morais.
Essa estrutura hierarquizada da sociedade, por sua vez, produz a hierarquia cultural,
em cuja ordenação encontram-se inseridas a cultura erudita – das classes dominantes, dos
intelectuais – e a cultura popular – das classes subalternas, dos não-intelectuais –,
mantenedoras das tipologias culturais.
Nesse sentido, A. Gramsci, citado por Schelling (1990, p. 36), entende que a
dinamicidade das relações entre os dois estratos sociais – dominantes e subordinados – altera
não só a natureza destes, mas também dos indivíduos em si mesmos e da própria estrutura
social objetiva. Desta forma, a fusão cultura erudita e práticas sociais gera uma parte
importante dos aspectos da vida social, que constitui objeto de estudo da Antropologia: a
“filosofia espontânea” do povo, que, segundo ele, é permeada pela composição de elementos
oriundos de três importantes “áreas” da vida social: “da linguagem, da religião popular e do
folclore.”
É válido ressaltar que esta visão de cultura não é única, bem como não nos autoriza a
ver uma alienação, necessária, da cultura popular em relação à cultura erudita; em seus
processos evolutivos, mesmo que em diferentes graus, uma e outra não se devem
desconsiderar. Ao contrário, essa concepção de cultura, aparentemente polarizante, consolida
o conceito de práxis como elemento transformador das condições e ações coletivas.
Na verdade, a noção de cultura popular, graças ao caráter polissêmico dos termos que
a compõem, carrega originalmente uma ambigüidade semântica, que dificulta sensivelmente
as discussões em torno dela. Não há unanimidade, por parte dos autores que a usam, na
definição de “cultura” e / ou “popular”. Por vezes, a noção de cultura popular é assimilada à
noção de folclore, portanto, significa “tradição”; em outras, são noções distintas, e a cultura
adquire a conotação de elemento transformador. Estão, ainda, comportados na cultura popular
o teatro, enquanto manifestação de valor positivo da história de um povo, e as tradições
regionais – no nosso caso, brasileiros.
(2002, p. 149): “as culturas populares são por definição culturas de grupos sociais
subalternos”.
3. 2 Léxico regional
4. DA AUTORA E DA OBRA
Fortaleza, aos 17 de novembro de 1910, torna-se a cidade natal de Rachel, que nascia
no seio da família Queiroz, tendo como filiação o Juiz de Direito da cidade Quixadá Dr.
Daniel de Queiroz e Dona Clotilde Franklin de Queiroz.
Com uma vida marcada por idas e vindas, a família transfere-se para Fortaleza, onde o
pai assume o cargo de promotor. De lá, em 1917, seguem para o Rio de Janeiro, em fuga às
conseqüências da seca de 1915, que, posteriormente, em 1930, faz-se presente na obra de
estréia e consagração de Rachel de Queiroz como escritora no mundo literário.
Este evento, todavia, antecede-se a uma história que registra a inserção de Rachel, aos
16 anos de idade, época em que já havia concluído o Curso Normal, na página literária
Jazzband do jornal anticlerical O Ceará. Sob o pseudônimo de Rita Queluz, escrevia crônicas,
poemas, artigos. Era, ainda, responsável pela seleção dos colaboradores. No ano de vinte e
sete, publica, neste jornal, sob forma de folhetim, os sete capítulos da narrativa “A história de
um nome”.
Logo após, com dezoito anos, escreve O Quinze, que no Rio de Janeiro é analisado por
Tristão de Athayde e Agripino Guedes, e destes recebe críticas positivas. Pouco depois, o
romance é premiado pela Fundação Graça Aranha.
Este legado literário, de fundo social e econômico, chega ao público leitor por meio de
uma linguagem com a qual este se identifica, graças a sua natureza simples, objetiva e direta,
permeada por um vocabulário que, em grande parte, é de uso do povo. Isso, porém, longe de
revelar desconhecimento, por parte da aurora, do uso padrão da língua portuguesa, denota a
sua habilidade para usar recursos que a torna mais expressiva. São exatamente essa
habilidade, bem como o convívio com a realidade sertaneja os responsáveis pelo fato de a
escritora conseguir representar uma realidade que, embora subjetivada, não se distancia da
realidade concreta ao longo de quase todo o século XX.
Assim, esta narrativa de Rachel – além de outras – sintoniza-se com o espírito da
produção de 30: valorização do universo regional, a linguagem, conforme já dissemos,
simples e objetiva, e a visão paternalista de sociedade, inseparável de uma pré-consciência do
desenvolvimento.
Em O Quinze, dois planos estruturam a narrativa: o social, em que os efeitos da seca
sobre os sertanejos são explicitados; e o individual, baseado nas experiências da jovem
normalista, Conceição, que vivendo em Fortaleza, sociedade patriarcal conservadora, procura
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definir uma identidade, e, por isso, rejeita o amor de Vicente, proprietário rural, compassivo
em relação à miséria que o cerca, porém, sem poderes para extingui-la.
Quando dos 70 anos de lançamento da obra, em entrevista cedida ao Jornal O Povo,
Rachel de Queiroz expõe seu ponto de vista sobre alguns aspectos de O Quinze e o fazer
literário. Dela retiramos trechos, que neste espaço estão assim considerados:
Quanto à personagem Conceição, Rachel, alegando não saber, na época, dar um trato
pessoal às personagens, compara as condições de mocinha de interior criada pela avó, amiga
dos caboclos e madrinha dos filhos dos moradores a sua condição pessoal. E diz que, em dias
atuais, Conceição teria mais complexidade psicológica, seria menos linear.
Quando indagada sobre a adoção, por parte da escritora, da corrente regionalista, a
partir de O Quinze, assim responde:
Eu acho que o gênero não tem importância. O que tem importância é o autor.
Os bons escritores regionais, que foram poucos, deram força e dignidade ao
estilo. Mas eu creio que o tema e até a forma literária, tudo depende de
talento. Quando comecei não tinha idéia de romance social não. As
temáticas deliberadas nunca me interessaram. Sempre fugi disso.
Rachel revela-se, ainda, inimiga dos textos que escreve, uma eterna insatisfeita, que
sempre está pronta para modificá-los, para fazer tudo diferente, especialmente, quanto à forma
literária: “Ainda mexi em O Quinze, mas da 3ª edição em diante não me deixaram mais
mexer. Acho que os diálogos foram melhorados, cortei as excrescências, troquei uma palavra
por outra, melhorei um verbo...”
Independentemente de tais palavras, a sensibilidade e expressividade lingüística
singularizam a obra de Rachel de Queiroz, que se tornou referência nacional, e, extrapolando
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Toda língua apresenta duas faces, uma intelectiva e outra afetiva. Nesta, manifesta-se a
subjetividade: a expressividade da língua, que consiste nos mecanismos disponibilizados por
esta aos seus usuários, mediante os quais estes expressam – escrita ou verbalmente – estados
emotivos e julgamentos de valor, estimulando, assim, em seus leitores ou ouvintes uma reação
de natureza semelhantemente afetiva.
Essa afetividade, por vezes, é inerente ao próprio significado do vocábulo empregado,
em outras, é produto do uso particular deste, e só é verificável dentro do enunciado, levando-
se em conta o contexto. Neste sentido, certas palavras evocam formas de vida, de atividade,
sentimentos, emoções, idéias, pensamentos, meios socioculturais, em suma, todos os
fenômenos da vida, revelando a incomensurável variabilidade semântica dos vocábulos. Aqui,
é preciso destacarem-se as associações, incessantemente, estimuladas pela não separação
absoluta entre as idéias, e entre os pensamentos, das quais procedem as chamadas figuras de
linguagem, cujo emprego é a fonte mais relevante de expressividade da língua,
independentemente, de serem figuras de palavras, de pensamento ou de construção.
É importante lembrar que, em se tratando de figuras de linguagem, em alguns casos,
embora a força expressiva esteja adensada em um vocábulo, especificamente, sua apreensão
está condicionada à relação sintático-semântica desse vocábulo com outros.
Considerando tais aspectos de expressividade lingüística, além de outros que se nos
apresentem necessários, analisaremos as metáforas e comparações contextualizadas em O
Quinze, observando, principalmente, o efeito evocativo destas no que concerne ao cenário da
seca nelas configurado.
26
Exemplo 01:
“O céu transparente que doía, vibrava, tremendo feito gaze repuxada.” (p. 13, linha
20)
Essa imagem suscitada, cujos pontos análogos são a transparência, por excelência, e a
maleabilidade expressa em VIBRAVA, acentua a agressividade do ambiente / situação, à
medida que orienta para outras considerações do cenário da seca: o clima é semi-árido, seco; a
temperatura elevadíssima é, também, absorvida pelo vento; a chuva não cai – o céu
transparente, sem nuvens densas, “carregadas”, enquanto prenúncio de chuva –; e o ambiente
torna-se inóspito a todas as criaturas. Neste caso, podemos, ainda, estender o sentido de
transparente a toda a paisagem que, por conta da seca, se torna sem cor e sem vida.
Exemplo 02:
“O cavalo parou debaixo do pau-branco seco que fazia as vezes de sombra.”(p. 23,
linha 26)
Exemplo 03:
EMBRIAGUEZ DA FOME
Exemplo 04:
30
Exemplo 05:
“[...] na terra desolada não havia sequer uma folha seca; e as árvores negras e
agressivas eram como arestas de pedra, enristadas contra o céu.” (p. 65, linha 1)
Existem espécies de ÁRVORES que, pelo impacto da luz solar e a carência de água no
seu habitat, se desfolham, se desgalham, por isso, seus caules apresentam-se mais
pontiagudos, daí mostrarem-se AGRESSIVAS; suas cascas, de tão queimadas, ficam
escurecidas ─ NEGRAS; de tão ressecadas, tornam-se duras e ásperas, como pedras; mas, a
constituição genética destas permite-lhes a renovação, logo, esta fragilidade é aparente, em
essência, são resistentes a essa modalidade de agressão.
Semelhantemente, há pedras que, graças à erosão, se transformam em verdadeiras
ARESTAS ângulos exteriores formados por dois planos que se cortam; quina , portanto,
pontiagudas, sem, contudo, se degenerarem totalmente. A sua relação com o termo
ENRISTADAS denota-lhe a feição agressiva. Sua cor é definida pela especificação do termo
comparado NEGRAS.
Tal construção remete à noção de reação da natureza contra a própria natureza: se às
árvores faltaram água, temperatura amena, ventos refrescantes, às pedras, excederam. De uma
forma e de outra faltou-lhes o viço da natureza, o que justifica esta comparação enquanto
representação daquele cenário.
Exemplo 06:
OCORRÊNCIAS
COMO FOGO
“[...] o peito entreaberto na blusa, todo vermelho e tostado do sol, que lá no céu,
sozinho, rutilante, espalhava sobre a terra cinzenta e seca uma luz que era quase como fogo.”
(p.12, linha 30)
“Lagartixas davam carreirinhas intermitentes por cima das folhas secas do chão que
estalavam como papel queimado.” (p. 13, linha 20 )
“[...] na terra desolada não havia sequer uma folha seca; e as árvores negras e
agressivas eram como arestas de pedra, enristadas contra o céu.” (p. 65, linha 1 )
COMO UM AFOGADO
“Na primeira noite, arrancharam-se numa tapera que apareceu junto da estrada, como
um pouso que uma alma caridosa houvesse armado ali para os retirantes.” (p. 37, linha 2)
“E a morna correnteza que ventava passava silenciosa como um sopro de morte [...]”
(p. 64, linha 30)
COMO UM AGOURO
“Chico Bento entrou, no mesmo passo lento, a modo que curvado sob a cruz de
remendos que ressaltava vivamente, como um agouro, nas costas desbotadas da velha blusa de
mescla.” (p. 21, linha 1)
“Saída a última rês, Chico Bento [...] atrás do lento caminhar do gado, que marchava à
toa, parando às vezes, e pondo no pasto seco os olhos tristes, como numa agudeza de
desesperança.” (p. 20, linha 1)
COMO A MORTE
“Depois sua pobre cabeça dolorida entrou a tresvariar; [...] confundiu as duas imagens,
a real e a evocada, e seus olhos visionaram uma Cordulina fantástica, magra como a morte...”
(p. 64, linha 12)
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“As reses secavam como se um parasita interior lhes absorvesse o sangue e lhes
devorasse os músculos, deixando apenas a dura armação dos ossos sob o disfarce miserável
do couro puído e sujo.” (p.118, linha 1)
“O céu transparente que doía, vibrava, tremendo feito uma gaze repuxada.” (p. 13,
linha 22)
“[...] abria os lábios ressequidos, tentando respirar um pouco de ar fresco. Mas na boca
entreaberta entravam apenas lufadas de vento pesado e quente, que era feito um bafo de
forno.” (p. 116, linha 20)
35
FEITO ANIMAL
“─ Que passagens! Tem de ir é por terra, feito animal! Nesta desgraça quem é que
arranja nada! Deus só nasceu pros ricos!” (p. 31, linha 16)
“O cavalo parou debaixo do pau-branco seco que fazia as vezes de sombra.” (p. 23,
linha 26)
FOLHAS EMPAPELADAS
“O próprio leito das lagoas vidrara-se em torrões de lama ressequida, cortada aqui e
além por alguma pacavira defunta que retorcia as folhas empapeladas. (p.20, linha 14)
“Chegou a desolação da primeira fome. Vinha seca e trágica, surgindo no fundo sujo
dos sacos vazios, na descarnada nudez das latas raspadas.” (p.46, linha 21)
“Toda descarnada, formando um grande bloco sangrento, era uma festa para os urubus
vê-la, lá de cima, lá da frieza mesquinha das nuvens.” (p. 40, linha 19)
“E o chão, que em outro tempo a sombra cobria, era uma confusão desolada de galhos
secos, cuja agressividade ainda mais se acentuava pelos espinhos.” (p. 14, linha 2)
36
─ Ô sorte, meu Deus! Comer cinza até cair morto de fome!” (p. 20, linha 22)
“Chico Bento [...] à toa, diante das bodegas, à frente das casas enganando a fome e
enganando a lembrança que lhe vinha, constante e impertinente, da meninada chorando [...].”
(p. 48, linha 25)
OLHAR FAMINTO
“Chico Bento estendeu o olhar faminto para a lata onde o leite subia, branco e fofo
como um capucho...” (p. 49, linha 2 )
“Chico Bento ainda esteve uns momentos na mesma postura, ajoelhado. E antes de se
erguer, chupou os dedos sujos de sangue, que lhe deixaram na boca um gosto amargo de
vida.” (p. 67, linha 19)
EMBRIAGUEZ DA FOME
“Sombras vencidas pela miséria e pelo desespero que arrastavam passos inconscientes,
na derradeira embriaguez da fome.” (p. 70, linha 7)
37
DE SECA
“Deixar tudo assim, morrendo de fome e de seca!” (p. 33, linha 23)
MÚSCULOS VADIOS
“E novembro entrou, mais seco e mais miserável, afiando mais fina, talvez por ser o
mês de finados, a imensa foice da morte.” (p. 123, linha 10)
38
Nas Ciências Sociais, de acordo com o DCS (1987, p. 421), a estratificação “indica o
processo ou a estrutura pelos quais as famílias se tornam diferenciadas umas das outras e são
dispostas em estratos graduados segundo os vários graus de prestígio e / ou propriedade e / ou
poder”.
Para o estudo da estratificação, um dos conceitos mais relevantes é o de classe, que, na
visão de Max Weber, citado por Allan G. Johnson (1997, p. 38), encerra “oportunidade de
vida”, ou a capacidade de as pessoas conseguirem a satisfação de seus desejos e necessidades
no mercado, a exemplo da compra de bens e serviços, da proteção de uns em relação aos
demais.
O cenário instituído em O Quinze é notadamente marcado pela distinção de classes
sociais, o que pode ser constatado, a título de exemplificação, no fragmento “Conceição [...]
voltou com um grosso volume encadernado que tinha na lombada, em letras de ouro, o nome
de seu finado avô, livre-pensador, maçom e herói do Paraguai” (p. 9, linha 6), em que a
expressão letras de ouro já anuncia o poder aquisitivo da família da personagem.
O referido poder, por conseguinte, garante-lhes a condição de latifundiários, bem
como o acesso a várias esferas sociais, ao que se incluem o conhecimento institucionalizado,
conforme atestam os termos destacados em “Todos os anos, nas férias da escola, Conceição
vinha passar uns meses com a avó [...] no Logradouro, a velha fazenda da família, perto do
Quixadá”. A posse desse bem remete para outra realidade: a das famílias dos moradores da
Fazenda ─ também estratificadas ─, que inseridas nesse continuum ─ estrutura social ─ não
desfrutam de iguais possibilidades e nem exercem poder sobre aquelas.
É nesse continuum instituído na obra em análise que desfilam as figuras do
latifundiário, do morador, do comerciante, do funcionário público, do profissional liberal, do
clérigo, entre outras.
Nosso propósito é analisar os aspectos léxico-semânticos do universo lingüístico desta
obra em que se configurem traços dessa estratificação social. Para tanto, partiremos dos
exemplos abaixo sumarizados.
Exemplo 01:
“Na grande mesa de jantar onde se esticava, engomada, uma toalha de xadrez
vermelho, duas xícaras e um bule, sob o abafador bordado, anunciavam a ceia.
─ Você não vem tomar o seu café de leite, Conceição?” ( p. 7, linha 15 )
Exemplo 02:
“Em casa do Major, o vaqueiro do Logradouro e mais os moradores que a seca não
escorraçara esperavam a patroa.” (p. 142, linha 6)
40
Exemplo 03:
“[...] outubro chegou, com São Francisco e sua procissão sem fim, composta quase
toda de retirantes, que arrastavam as pernas descarnadas, atrás do pálio rico do bispo e da
Assim, os vocábulos, mais uma vez, traduzem uma situação de estratificação social,
que se contextualiza em O QUINZE.
Exemplo 04:
É comum ouvirem-se frases como Deus te pague (ou ajude)!, Deus há de conceder-me
esta graça!, Se Deus quiser... Em todas elas, Deus é protetor. Contrariando esta noção, nesta
fala conclusiva de Chico Bento “DEUS SÓ NASCEU PROS RICOS!”, Deus é alvo de uma
espécie de censura, pelo fato de proteger, apenas, uma parcela da humanidade ─ por sinal,
bem pequena ─, os RICOS.
Esta frase, no entanto, extrapola o sentido de censura e, principalmente, de desabafo
de um “deserdado da sorte”, passando, em verdade, a revelar, no contexto geral da obra,
estratos sociais diferenciados, isentos da ação divina e perceptíveis na materialização do
episódio configurado nos fragmentos “No trem, na estação de Quixadá, Conceição, auxiliada
por Vicente, ia acomodando Dona Inácia.” (p. 32, linha 1) e “À janela, a moça com a mão,
depois com o lenço, que vibrava como uma asa fugitiva, voando para longe” (p. 33, linha 1).
Enquanto Chico Bento e a família, a procura do sustento, tinham de se retirar em
marcha, como de fato acontece, por não disporem de dinheiro para as passagens e não
poderem mais ficar, Dona Inácia, convencida pela neta, em condições privilegiadas, viaja de
trem para Fortaleza, onde no seu conforto espera o fim da seca para voltar.
Desse modo, essa sentença conduz, ainda, à compreensão de que a seca, fenômeno
natural, portanto, não segmentário, verificado nos limites de um determinado espaço geo-
físico, é vivenciada em conformidade com cada um dos estratos da sociedade ali constituída.
Exemplo 05:
A jóia é de uso universal e milenar. Embora não se tenha justificativa para a sua
utilidade nos diversos planos de sua valoração, esta atravessou séculos sem ter seu prestígio
abalado pelas diferentes interpretações.
Quando começou a ser usada, a jóia era defesa contra um ente malevolente, invisível e
perseguidor; era, assim, um amuleto. Essa interpretação, que resistiu a milênios,
progressivamente, vai-se modificando e à jóia passam-se a atribuir significações religiosas,
rituais, mágicas, políticas, sexuais. Destas, conservamos a dos anéis de grau, correspondentes
aos cursos universitários, que Bolonha impôs no século XIII. Tinham o valor de aliança: era o
símbolo do “casamento” do titulado com um papel social fundamentado em princípios
científicos. Nesse sentido, a palavra GRAU ─ do latim grădus, us ‘passo, posição, degrau (de
escala), ordem ─ , em si, traz a noção de nivelamento diferencial.
No contexto de O Quinze, ao significado de ANEL DE GRAU soma-se a noção de
valor material econômica contida no próprio termo e ratificada pelo elemento caracterizador
AMARELO, que figurativamente representa o metal mais precioso: ouro. Assim, as palavras
ANEL DE GRAU e AMARELO são representações da fragmentação social.
Exemplo 06:
“─ Para que esses luxos? Por que você não bota o menino no quarto de criada, com
Maria?” (p. 103, linha 18)
A fala de Dona Inácia questiona o comportamento da neta, que pusera o filho adotivo
para dormir junto a si, e, ao mesmo tempo, sugere a permanência de uma estrutura social
fragmentada em camadas diferenciais, isenta da influência de gestos e atitudes pautados na
solidariedade.
44
OCORRÊNCIAS
UM CURRAL DE ARAME
“E, sem saber como, [...] foram jogados a um curral de arame onde uma infinidade de
gente se mexia, falando, gritando, acendendo fogo.” (p. 86, linha 7)
“Dona Inácia se dirigiu afetuosamente a cada um dos seus homens [...]” (p. 142, linha
12)
EM LETRAS DE OURO
“Conceição [...] voltou com um grosso volume encadernado que tinha na lombada, em
letras de ouro, o nome de seu finado avô, livre-pensador, maçom e herói do Paraguai.” (p. 9,
linha 6)
“Chico Bento [...] olhou em redor, a casa caiada, a mesa envernizada, uma arca de
couro, um relógio de parede:
─ É, compadre, você está bem...” (p. 84, linha 15)
45
“Na grande mesa de jantar onde se esticava, engomada, uma toalha de xadrez
vermelho, duas xícaras e um bule, sob o abafador bordado, anunciavam a ceia.
─ Você não vem tomar o seu café de leite, Conceição?” ( p. 7, linha 15 )
“─ Para que esses luxos? Por que você não bota o menino no quarto de criada, com
Maria?” (p. 103, linha 18)
“Em casa do Major, o vaqueiro do Logradouro e mais os moradores que a seca não
escorraçara esperavam a patroa.” (p. 142, linha 6)
DOUTOR / DENTISTA
“─ Sei lá, doutor! Os antigos diziam tolices como todo o mundo... Mas até logo; [...]
O dentista se descobriu e dobrou-se numa reverência [ a Conceição]” (p. 148, p. 15 –
16)
“[...] outubro chegou, com São Francisco e sua procissão sem fim, composta quase
toda de retirantes, que arrastavam as pernas descarnadas, atrás do pálio rico do bispo e da
VICENTE / MORADORES
“─ E a Chiquinha? Vicente não dava serviço a todos os moradores? Por que ela veio?
─ Sei lá! Diz que só ouvia falar no que o governo dava... Veio com os filhos.” (p. 59,
linha 18)
“Recordava sua obscura irritação ao ouvir Paulo fazer referência a certas mulheres que
ele nunca vira, a meios em que nunca se aventurara, receando que sua grossa casca de matuto
destoasse demais, ou rudemente se chocasse com a delicada sofisticação do ambiente do
outro...” (p. 43, linha 14 – 15)
47
AUDITÓRIO ESMOLAMBADO
“Perto deles, o cego da viola cantava para seu auditório esmolambado; e a toada
dolorida chegava de mistura com o hálito doentio do Campo [...]” ( p. 107, linha 8)
SEUS CABOCLOS
5. 3 Religiosidade/ Misticismo
Desta percepção devocional depende a variedade dos atributos divinos. Esta, fruto da
inteligência pessoal, é uma tradução do geral coletivo.
Das palavras de Cristina Pompa, podemos deduzir que qualquer santo poderia, pois,
ser referenciado, mas, culturalmente, o eleito pelos povos daquelas terras foi São José.
Analisaremos, então, observando os aspectos léxico-semânticos, as expressões
lingüísticas componentes da oralidade, em que se configuram traços de religiosidade /
misticismo, no contexto de O Quinze, a partir dos exemplos que se seguem.
Exemplo 01:
50
SÃO JOSÉ
São José, o carpinteiro, São José, o esposo de Maria, São José, o pai de Jesus.
Tais aspectos parecem explicar a crença em São José obreiro de bons casamentos, para
quem a ele recorre em súplicas com esse fim. Popularmente, o título de “santo casamenteiro”
foi proferido a Santo Antônio, mas é sabido, também, que a este importa atender ao pedido, e
não, a qualidade da união por ele promovida, ao passo que São José só promove uniões
matrimoniais perfeitas, de harmonia, de tranqüilidade, de fartura, de prosperidade, sob a
proteção divina.
Como autor e inspirador de todo conhecimento útil, a São José foi incumbida a tarefa
de proteger, defender e amparar, benevolentemente, os que a ele recorressem, em todas as
necessidades.
1
Este cômputo deve ser considerado até o ano de 1947, segundo Câmara Cascudo
2
Chama-se de solstício às posições em que a Terra se encontra em 22 de dezembro e 22 de junho. Por exemplo,
dizemos que dia 22 de dezembro é solstício de verão no hemisfério sul e solstício de inverno no hemisfério
norte. Em 21 de março e 23 de setembro a Terra se encontra em posições tais que ambos os hemisférios são
igualmente iluminados, marcando assim o início das 'meias estações', outono e primavera.
51
regional ─ pela água condensada que comporta e, movida pela força da esperança daqueles
olhares, não resista ao seu peso, dissolvendo-se em águas abençoadas e enviadas por São José
para molhar aquele solo seco, garantindo, assim, o sustento do homem e do animal. Se chove
pelo SÃO JOSÉ, é praticamente certo que o inverno virá. SÃO JOSÉ seco, nublado,
chuviscando ou molhado oferece ao agricultor subsídio, pela sua experiência, para uma
avaliação meteorológica e, conseqüentemente, das condições de sobrevivência naquela região.
Exemplo 02:
MEDALHINHA
“Depois de se benzer e de beijar duas vezes a medalhinha de São José, Dona Inácia
concluiu: Dignai-vos ouvir nossas súplica, ó castíssimo esposo da Virgem Maria [...]. Amém.”
( p.7, linha 1 )
Na nossa língua, identificamos medalha como uma peça produzida em metal de tipo
vário, geralmente, de forma circular ou ovalada, criada para celebrar um grande evento, nela
impresso, ou, ainda, honorificar alguma ilustre personagem, cuja imagem nela vem gravada.
No contexto da obra em estudo, de maneira análoga, a peça representa um objeto de
fé, de devoção religiosa, cuja efígie personifica-se quando dos atos de reverência cristã ─
benzer e beijar – praticados por D. Inácia.
Católica fervorosa, temente a Deus, D. Inácia nutre por São José um sentimento de
esperança, de confiança, identificados em suas preces, e de carinho, de afeto, simbolizados no
vocábulo MEDALHINHA, por meio do emprego do sufixo -INHO (A), que, na dinamicidade
da língua falada, se reveste, neste contexto, não somente da noção primeira de grau, de
pequenez, definida pela gramática tradicional, mas também de uma carga semântica que
transmite a nós leitores uma visão imaginativa da afetividade daquela senhora proprietária
rural em relação a São José. Nestes termos, a MEDALHINHA é relíquia, em que se
configuram devoção, fé, ser devotado, respeito, zelo e afeto.
Exemplo 03:
NOVENA
52
Nesta fala de Conceição ─ neta que D. Inácia criara desde quando, por morte, àquela
lhe faltara a mãe ─, encontramos refletidas, mais uma vez, a confissão e as práticas religiosas
de sua avó-mãe. Desta feita, no vocábulo NOVENA.
A religião, enquanto realidade psíquica, tem tradução relativizada pelo ambiente
cultural. No Nordeste, as novenas “tiradas” coletivamente encontram sentido nas festas do
santo padroeiro, ocasião em que as orações são acompanhadas de cânticos e foguetes, que
explodem em louvor ao patrono, nas reverências aos santos, cujo dia votivo deve coincidir
com o último dia da novena. Já as “tiradas” individualmente ganham sentido na oblação em
contrapartida a uma graça alcançada ─ o popular ato de “pagar promessa” ─ nas preces ao
santo devotado, para que se seja agraciado e, ainda, como penitência.
Em articulação com o signo lingüístico tanta, elemento semanticamente quantificador,
o vocábulo NOVENA, em termos temporais, norteia-nos para a imensurabilidade das súplicas
de D. Inácia para a chuva cair. No entanto, o enunciado como um todo revela muito mais,
visto que Conceição questiona não apenas o valor positivo do excesso de oração, mas
também, a eficácia desta em si. Vale ressaltar, ainda, que este questionamento parece não
traduzir repulsa tácita, por parte dela, aos princípios dogmáticos do catolicismo, conforme
pode atestar a carga semântica do termo “domingo”em “- E você sem largar esse livro! Até
em hora de missa! A moça fechou o livro, rindo: - Lá vem Mãe Nácia com Briga! Não é
domingo? Estou descansando.” (p. 123, linha 26), por meio do qual Conceição, tendo
negligenciado um mandamento da Igreja, reafirma-os ao concebê-lo como o Sétimo dia, o dia
em Deus descansou da sua tarefa de Criador do universo, e que todo católico, a sua
semelhança, deve guardá-lo.
Exemplo 04:
REZADEIRA
“Quando o pai chegou trazendo consigo uma negra rezadeira, Josias [...] sibilava, mal
podendo com a respiração estertorosa.” (p. 54, linha 31)
53
Exemplo 05:
ROSÁRIO
perfil mariano, no entanto, o Rosário é uma oração cristológica, já que seus elementos
condensam a profundidade dos mistérios de Cristo3 ─ gozosos, dolorosos, gloriosos. Cada um
corresponde a um terço da totalidade do Rosário de Maria. Em cada um, medita-se e / ou
contempla-se uma etapa da vida de Jesus Cristo.
Nos mistérios gozosos ─ da anunciação à presença de Jesus no Templo, junto com os
doutores ─, cada mistério é introduzido pela oração que o próprio Cristo prescreveu, o pai-
nosso, ao que se seguem dez ave-marias, que se intercalam com um episódio da vida do Rei
de Nazaré, culminando com o glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, que, em si, é toda a
expressão dos mistérios de Cristo.
Os demais mistérios são recitados com essa mesma metodologia : nos dolorosos,
medita-se e / ou contempla-se a agonia de Jesus no Horto das Oliveiras a Sua morte na cruz;
nos gloriosos, da ressurreição de Jesus à coroação de Maria no Céu.
Assim, em cada rosa- configura-se a presença do Filho na vida Maria, e desta na vida
do Filho, cujos mistérios fluem à entoação da oração em louvor da Mãe: Ave-Maria.
O momento de recitação do Rosário é volitivo de acordo com cada orante, entretanto,
parece superior o critério do tempo litúrgico: no advento, os gozosos; na quaresma, os
dolorosos; no tempo pascal, os gloriosos.
No contexto da obra em foco, o vocábulo ROSÁRIO é objeto místico
instrumentalizador da oração em louvor à Virgem Maria ─ o Rosário de Maria. Compõe-se da
sucessão de cinco dezenas de contas (rosas), de proporções variadas, representantes da oração
ave-maria, com a intercalação de uma unidade de conta, correspondente ao padre-nosso, cuja
totalidade, em termos de oração, corresponde à terça parte do Rosário de Maria. Ao usá-lo, D.
Inácia, na verdade, orienta materialmente suas preces pela inquietação espiritual que a ela
aflige. Nesse sentido, o médico e Pe. João Mohana (1994, p.25), ao falar da psicologia do
terço, argumenta:
3
Em outubro de 2002, o Papa João Paulo II acrescentou ao Rosário os mistérios luminosos, que relembram os
momentos, particularmente luminosos da vida pública de Jesus: O Batismo de Jesus no Jordão, As bodas de
Caná, O anúncio do Reino de Deus, A transfiguração e A instituição da Eucaristia. (Cf. Revista oficial da
Associação Milícia da Imaculada, nºs 281 – janeiro / fevereiro, 2003 – e 282 – março, 2003).
56
Exemplo 06:
PROCISSÃO
“[...] outubro chegou, com São Francisco e sua procissão sem fim, composta
quase toda de retirantes, que arrastavam as pernas descarnadas, atrás do pálio rico do
bispo e da longa teoria de frades a entoarem em belas vozes a canção em louvor do
santo:”
Cheio de amor, cheio de amor!
as chagas trazes
do Redentor!” (p. 122, linha 16)
criação de todas as criaturas. Homem de grande fervor, São Francisco, também, nutria afeto
pelas criaturas inferiores e irracionais, que, no vale de Espoleto, na Itália, ouviram dele, entre
muitas, as seguintes palavras: “Passarinhos, meus irmãos, vocês devem sempre louvar o seu
Criador e amá-lo, porque lhes deu penas para vestir, asas para voar e tudo que vocês
precisam”, conforme o Novenário da Festa da Paróquia de São Francisco das Chagas, de
Canindé-Ceará (2002, p. 24).
Pela vida de pobreza e peregrinação, São Francisco é alvo de reverência e modelo a
ser seguido em terras sertanejas, onde a pobreza, a abstinência, a penitência e a migração
estabelecem identidade entre os flagelados da seca e ele.
Etimologicamente, o termo PROCISSÃO é marcado, dentre outras, pelas noções de
movimento, desprendimento, renúncia, abnegação, contidas em -ceder (do verbo latino cēdo,
cedis, cessi, cessum, cedĕre = vir , caminho, produzir seu efeito, ir-se embora, retirar-se, fazer
cessão de bens, renunciar à posse, diminuir, abrandar, cessar, perder a resistência).
Assim, em O Quinze, a noção de PROCISSÃO confunde-se com a prática religiosa de
São Francisco e dos flagelados, que a ele suplicam, em cânticos e orações, o abrandamento de
suas dores de pobreza e retiradas.
58
OCORRÊNCIAS
SÃO JOSÉ = na cultura regional, é o santo que atende às súplicas do nordestino pela
carência de chuva
“─ [...] O compadre já soube que a Dona Maroca das Aroeiras deu ordem pra, se não
chover até o dia de São José, abrir as porteiras do curral?” (p.11, linha 27)
“Minha tia resolveu que não chovendo até o dia de São José, você abra as porteiras e
solte o gado.” (p. 21, linha 10)
“─ E, pelo que ouvi dizer, você ainda esperou uma semana... Hoje é 25...
─ Me esperancei que inda chovesse depois do São José... Mas qual!” (p. 24, linha 16)
“Só a Maria, a preta velha da cozinha, irrompeu pelo corredor, acocorou-se a um canto
e engulhando lágrimas e mastigando rezas, resmungava:
─ O inverno! Senhor São José, o inverno! Benza-o Deus!” (p. 132, linha 15)
“Depois de se benzer e de beijar duas vezes a medalhinha de São José, Dona Inácia
concluiu:Dignai-vos ouvir nossas súplica, ó castíssimo esposo da Virgem Maria [...].
Amém.”( p.7, linha 1 )
LAGOA = na cultura regional, círculo luminoso ao redor da lua ou do sol, considerado pelo
sertanejo prenúncio de chuva, caracterizando uma profecia.
“Enfim caiu a primeira chuva de dezembro. Dona Inácia, agarrada ao rosário, de mãos
postas, suplicava a todos os santos que aquilo fosse ‘um bom começo’”. (p. 132, linha 2)
MEXIA AS CONTAS DO ROSÁRIO = rezava com o rosário, passando cada conta deste
objeto místico, em busca da contrição com Maria, Mãe de Jesus
“[...] no quarto vizinho a avó, insone como sempre, mexia as contas do rosário, [...]”
(p.9, linha 12)
SANTOS = imagens de pessoas que, pelo mérito dos pensamentos e práticas cristãs, foram
canonizados pela Igreja Católica, produzidas, especialmente em vulto, de materiais diversos.
“Dona Inácia fazia questão de trazer os santos junto a si, com medo de que no carro de
bagagens algum irreverente se sentasse em cima.” (p. 32, linha 5 )
60
“[...] e outubro chegou, com São Francisco [imagem] e sua procissão sem fim [...]” (p.
122, linha 7)
“Vicente ergueu-se [...] reparando num retrato de Conceição, com ar pensativo, que
pendia da parede, junto ao quadro do Coração de Jesus [...]”. (p. 73, linha 10)
“A velha [...] foi ao quarto do Coração de Jesus, tirou do jarrinho que o enfeitava uma
rosa vermelha e mirrada ─ triste flor de verão ─ e meteu-a entre os dedos do menino, [...]” (p.
131, linha 21)
REZADEIRA = mulher que cura diversos tipos de males, doenças, feitiços etc., por meio de
“orações fortes”; benzedeira; curandeira
“Quando o pai chegou trazendo consigo uma negra rezadeira, Josias [...] sibilava,
mal podendo com a respiração estertorosa.” (p. 54, linha 31)
DEUS = ente infinito, eterno, sobrenatural e existente por si; causa necessária e fim último de
tudo que existe
• Sei lá! Deus ajuda! = modo de expressar confiança no amparo divino, quando
não se tem controle da situação material de eventos futuros
─ Sei lá! Deus ajuda! Eu é que não havera de deixar esses desgraçados
roerem osso podre...” (p. 40, linha 26)
“O comer era quando Deus fosse servido.” (p. 62, linha 13)
• Deus lhe pague! = rogo de recompensa divina para uma pessoa que realizou
uma benevolência a outrem, como forma de agradecimento, geralmente
proferida por um desprotegido, um mendigo
62
“─ Deus lhe pague, minha Madrinha, Deus lhe Pague! Nossa Senhora
lhe dê tudo quanto deseja!” (p. 141, linha 6)
BENZEU-O = fez o sinal da cruz, acompanhado de oração com fórmula específica, sobre a
cabeça da criança
MILAGRE = evento extraordinário não explicável pela racionalidade das leis naturais
“Só talvez por um milagre iam agüentando tanta fome, tanta sede, tanto sol.” (p. 62,
linha 11)
“Conceição perguntou:
─ Morre, Doutor?
─ Não sei... [...] tenha esperança... Pode ser... Há tanto milagre no mundo! (p. 104,
linha 27)
IGREJA = edifício sede-oficial onde os fiéis católicos se reúnem para cultuar Deus; templo;
casa de Deus
“─ [...] Mas é que no Quixadá eu estava mais perto do meu canto, de minha igreja...”
(p. 60, linha 9 )
MADRINHA = nas práticas religiosas, mulher que conduz uma pessoa para receber o
primeiro sacramento instituído pela da Igreja Católica, o batismo, ou ainda, o segundo, a
crisma, que consiste na ratificação da graça do primeiro, com o compromisso implícito de, na
ausência dos pais, provê-la do necessário.
64
“[...] outubro chegou, com São Francisco e sua procissão sem fim, composta quase
toda de retirantes, que arrastavam as pernas descarnadas, atrás do pálio rico do bispo e da
longa teoria de frades a entoarem em belas vozes a canção em louvor do santo:
“E no andor, hirto,... São Francisco passeou por toda a cidade, com os olhos de louça
fitos no céu, sem parecer cuidar da infinita miséria que o cercava e implorava sua graça, sem
nem ao menos ensaiar um gesto de bênção, porque suas mãos, onde os pregos de Nosso
Senhor deixaram a marca, ocupavam-se em segurar um crucifixo preto e um grande ramo de
rosas.” (p. 123, linha 1)
“─ E esses livros prestam para moça ler, Conceição? No meu tempo, moça só lia
romance que o padre mandava...” (p. 124, linha 4)
TERÇO = o mesmo que rosário, enquanto instrumento material de recitação da terça parte da
oração Rosário de Maria
“Dona Inácia foi saindo da sala, para guardar o manual e o terço: [...]” (p. 125, linha 2)
CARIDADE = ato por meio do qual se beneficia o próximo, por isso, dotado de virtude
teologal que conduz ao amor a Deus e ao nosso semelhante
É MAIS UM ANJO NO CÉU = é mais uma criança morta, cujo batismo apagou a marca do
pecado original, por isso, na sua inocência angelical, vai morar no céu, concebido como
morada de Deus, dos anjos e bem-aventurados, recompensa divina para os que nele acreditam
e vivem segundo seus mandamentos e sua Igreja
“─ Pobrezinho! deixou de sofrer! E é mais um anjo no céu...” (p. 131, linha 25)
66
5. 4 Valores e costumes
A palavra valor transita por vários campos do conhecimento e, de acordo com seus
respectivos objetos, atribuem-lhe conceitos diferenciados.
Para efeito de elucidação, aqui, consideraremos valor à semelhança de F. Znaniecki,
citado no DCS (1987, p. 1288), que diz
Por valor social entendemos qualquer dado que tenha conteúdo empírico
acessível aos membros de algum grupo social e um significado em relação
ao qual é ou pode vir a ser objeto de atividade... Por atitude entendemos um
processo de consciência que determina a atividade real no mundo social ... A
atitude é, assim, o equivalente individual do valor social; a atividade, seja lá
em que forma, é o vínculo entre eles... A causa de um valor ou de uma
atitude nunca é uma atitude ou valor isolado, mas sempre uma combinação
de uma atitude e um valor.
Exemplo 01:
“─ [...] Então Mãe Nácia acha uma tolice um moço branco andar se sujando com
negra?” (p. 60, linha 24)
Exemplo 02:
“─ E se a rama faltar, então, se pensa noutra coisa. Também não vou abandonar
meus cabras numa desgraça dessas... Quem comeu a carne tem de roer os ossos...” (p. 12,
linha 10)
A carne é a parte macia, musculosa, mais suculenta, portanto, mais digerível do corpo
do homem e do animal; o osso, ao contrário, é a mais dura, menos digerível.
Neste adágio proferido por Vicente, em censura a “Dona Maroca da Aroeiras”, que,
considerando vãos os gastos excedentes com o gado, em razão da seca, ordenou que os
soltassem , a palavra CARNE, ao tempo em que é metonímia de todas as substâncias
imprescindíveis à manutenção da vida, metaforiza o trabalho, o esforço e a dedicação
necessários à conservação e ao funcionamento da fazenda e, por conseguinte, a garantia do
alimento para o corpo e para a alma de seu proprietário.
O vocábulo OSSOS, por sua vez, representa as dificuldades, as agruras, os obstáculos
que Vicente tem de enfrentar, em face da seca, para garantir àqueles a permanência da vida.
Considerando-se a obrigatoriedade do fato expresso em ROER triturar vagarosa e
continuadamente indicada pelo elemento lingüístico DE, o adágio em questão, bastante
freqüente na linguagem popular, é expressão de valor cultural, com teor moral-religioso e
aponta para a responsabilidade e a fidelidade que devem marcar as relações sociais e pessoais;
enquanto valor cultural, influenciou no posicionamento de Vicente.
Exemplo 03:
“[...] E a conversa continuou a correr animada, enquanto a velha, que mandara trazer
a almofada para o alpendre, trabalhava, trocando bilros.” (p. 16, linha 19)
Tal como foi empregada, neste contexto, a palavra ALMOFADA significa um tipo de
saco de tecido de algodão, de dimensões variadas, que, após ser enchido com capuchos de
algodão, capim ou palha, tem suas extremidades fechadas e presta-se ao fabrico de rendas e
bicos, cujos modelos se definem a partir do cartão ou pique, furado ou desenhado, colocado
em cima da almofada, com a função de guia.
Cada modelo é denominado de acordo com a sugestão marcada no próprio cartão:
69
Exemplo 04:
“─ E para que você [Conceição] torceu a sua natureza? Porque não se casa?” (p.
124, linha 29)
A Mãe Natureza é feminina! Todo dia, num processo contínuo, renova-se, recicla-se,
no seu papel procriador.
Ao empregar o termo TORCEU, significando alterar, modificar, e complementar-lhe o
sentido com A SUA NATUREZA, enquanto constituição orgânica, a locutora Dona Inácia,
avó de Conceição questiona a neta, estabelecendo um paralelismo entre as duas naturezas,
apontando o que deve ser feito pela natureza humana nos moldes da MÃE NATUREZA, e,
assim, deixando situar-se na sua linguagem um valor ético de cunho místico, baseado na
gênese e na funcionalidade do Universo.
Esse dever fazer da natureza humana feminina, em seu papel procriador, reflete-se na
imediata indagação em que ele aparece condicionado a uma atitude ético-sociocultural: de
casar-se.
Assim, nesta fala de Dona Inácia, estão circunscritos valores socioculturais que
orientam para a compressão de que à mulher cabe casar para depois procriar e, socialmente,
70
cumprir o seu papel de mãe, esposa e dona de casa, em suma, formar uma outra instituição
social da qual ela é o esteio emocional.
Exemplo 05:
‘SER GENTE’
“[...] a pobre senhora [...] ficou chorando pelo filho tão bonito, tão forte, que não se
envergonha da diferença que fazia do irmão doutor e teimava em não querer ‘ser gente’...” (p. 17,
linha 27 )
Exemplo 06:
“[...] achando a vida do sertão uma ‘ignomínia’, um ‘degredo’, e tendo como única
ambição um emprego público na Capital” (p. 18, linha 9)
OCORRÊNCIAS
“─ E se a rama faltar, então, se pensa noutra coisa. Também não vou abandonar meus
cabras numa desgraça dessas... Quem comeu a carne tem de roer os ossos...” (p. 12, linha 10)
“─ A gente viúva... Sem homem que me sustentasse... Diziam que aqui o governo
andava dando comida aos pobres... Vim experimentar...” (p. 56, linha 13)
“─ Mas, minha filha, isso acontece com todos... Homem branco, no sertão ─ sempre
saem essas histórias... Além disso não é uma negra; é uma caboclinha clara...” (p. 60, linha
27)
‘SER GENTE’
“[...] a pobre senhora [...] ficou chorando pelo filho tão bonito, tão forte, que não se
envergonha da diferença que fazia do irmão doutor e teimava em não querer ‘ser
gente’...” (p. 17, linha 27 )
“[...] achando a vida do sertão uma ‘ignomínia’, um ‘degredo’, e tendo como única
ambição um emprego público na Capital” (p. 18, linha 9)
“A velha interveio:
─ [...] Branco leva sol, fica corado; preto fica cinzento...” (p. 15, linha 5)
73
DOUTOR PROMOTOR
“─ É o seu doutor promotor de Santa Ana... Almoça e janta libelo... Que o ordenado
só dá pro fraque da sessão...” (p. 18, linha 22)
“[...] Conceição, sempre considerada superior no meio das outras, e que se destacava
entre elas como um lustro de seda dentro de um confuso montão de trapos de chita.” (p. 44,
linha 19)
“─ O povo ignora muito... Se tiver, pior para ela... Que moço branco não é pra bico
de cabra que nem nós...” (p. 57, linha 15)
“─ [...] Então Mãe Nácia acha uma tolice um moço branco andar se sujando com
negra?” (p. 60, linha 24)
ANDAR DE CADEIRINHA
“─ Que é dos jumentos? Vocês não sabem que eu só gosto de andar de cadeirinha
levada por jumento?” (p. 142, linha 28)
74
“─ Pois eu acho uma falta de vergonha! E o Vicente, todo santinho, é pior do que os
outros! A gente é morrendo e aprendendo!” (p. 61, linha 2)
“─ E esses livros prestam para moça ler, Conceição? No meu tempo, moça só lia
romance que o padre mandava...” (p. 124, linha 4)
“─ E para que você [Conceição] torceu a sua natureza? Porque não se casa?” (p. 124,
linha 29)
“─ [...] Mas, criatura de Deus, [...] Acha pouco o que está no trato?
─ Ora, mamãe, o pobre morrendo de precisão!” (p. 26, linha 6)
MUNGUNZÁ
NÃO TEM PENA DE DAR TEUS FILHOS, QUE NEM GATO OU CACHORRO
“─ E tu não tem pena de dar teus filhos, que nem gato ou cachorro?” (p.101, linha 9)
“─ Tem gente pra tudo, neste mundo! Uma moça branca, tão bem pronta, chorar mode
retirante!...” (p.114, linha 10)
“[...] E a conversa continuou a correr animada, enquanto a velha, que mandara trazer a
almofada para o alpendre, trabalhava, trocando bilros.” (p. 16, linha 19)
“─ A natureza da gente é que nem borracha... Havendo precisão, que jeito? Dá pra
tudo... ” (p. 96, linha 29)
QUERMESSE
“Já fazia tempo que não havia em Quixadá, quermesse de Natal tão animada.” (p. 146
linha 4)
VIVER SÉRIA
“─ Pense bem, Mocinha. Cuide em viver séria, volte par a sua terra. Tenho uma pena
de ver uma afilhada minha feita mulher da vida!” (p. 141, linha 8)
76
ABÊNÇÃO
AFILHADO
“─ Então é como um defuntinho que minha mulher recebeu, também porque era
afilhado. [...].” (p. 104, linha 21)
RAPADURA
“Voltou mais tarde, sem a rede, trazendo uma rapadura e um litro de farinha [...]” (p.
47, linha 17)
“O vaqueiro foi aos alforjes e veio com uma manta de carne de bode, seca, e um saco
cheio de farinha, [...]” (p. 37, linha 4)
“─ Moça que pega a escolher muito acaba na peça...” (p. 125, linha 3)
“─ Ah! Esse é meu, não dou mais. Vou fazer dele um homem!” (p. 108, linha 12)
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Exemplo 01:
MANDACARU
sertanejos, cuja fome não têm como saciar. E, assim, este símbolo lingüístico evoca aspectos
da realidade nordestina.
Ademais, destaque-se do MANDACARU sua propriedade medicinal: a polpa do caule
é cárdio-tônica e ajuda no combate, entre outros males, à bronquite, ao reumatismo, a úlceras
e tumores ganglionários; é cicatrizante e vermífugo; combinado com outras plantas, combate
cálculos renais.
Exemplo 02:
BOCA DE ...
Exemplo 03:
GANHAR O MUNDO
“Se chovesse, quer de noite, quer de dia, tinha carecido se ganhar o mundo atrás de um
gancho?” (p. 27, linha 24)
A expressão, que tem como equivalentes “ganhar o oco do mundo” e “ganhar a lapa
do mundo”, significa ir embora sem destino certo.
79
Exemplo 04:
EM TEMPO DE
"─ Ô Mocinha! vê se tu dás um pirão de peixe a este menino que anda em tempo de
me comer os peitos!” (p. 31, linha 10)
A expressão constitui uma locução de uso freqüente no Nordeste, com mais de uma
ocorrência no decorrer da obra, significando “em risco de”, “a ponto de”. Neste contexto,
remete à noção de insaciabilidade da fome da criança, cuja mãe parece entender que saciar a
fome implica encher o estômago, deixá-lo “pesado”, e não satisfazer às necessidades
orgânicas de natureza alimentar pela qualidade dos nutrientes ingeridos, que, em se
considerando o contexto geral da narrativa, parecem bem reduzidos em seu leite.
Exemplo 05:
DAR DADO
Analogamente, DAR DADO relaciona-se com a ação de vender algo por um preço que
não gera lucro. Essa prática justifica-se, no contexto, pela noção avaliativa de teor
compensatório contida em ALTO E MAL: elevado, em se considerando a escassez de
dinheiro conseqüente da seca; e mal, pelo fato de os animais valerem mais, levando-se em
conta a relação mercado – produto – qualidade = valor. Desta forma, vender as rezes pelo
preço proposto encerra uma atitude de doação, reiterada pela expressão DADO DADO,
elemento constituinte do membro comparativo.
Esta forma de reiteração encontra equivalente na expressão dicionarizada “de mão
beijada”, significando gratuitamente.
Exemplo 06:
ESPRITADO
OCORRÊNCIAS
“Vicente lastimou-se:
─ Inda por cima do verãozão, diabo de tanto carrapato... Dá vontade é de deixar
morrer logo!” (p. 11, linha 25)
JUAZEIRO = é uma árvore alta e copada, característica da caatinga nordestina; sua casca
rica em saponina, serve de sabão e dentifrício. Garante ao gado alimento e sombra, não
perdendo as folhas no período de seca.
RAMA = a babugem que brota com as primeiras chuvas, ficando como pastagem que, depois
destas, continua alimentando o gado
“A rama já faltava de todo e o jeito era recorrer ao trato comprado. “ (p. 72, linha 19)
“Reses magras [...] devoravam confiadamente os rebentões que a ponta dos terçados
espalhava pelo chão.” (p. 11, linha 2)
TURINO = bovino de raça holandesa; pode ainda ser o bovino gordo e bem desenvolvido
“─ A vaca e o boiote são filhos do turino velho.” (p. 25, linha 12)”
“─Tem mais a minha roupa [...]. É toda de couro de capoeiro, sem um rasgo que seja...
“ (p. 24, linha 25)
83
BABAU = jumento
“Pensava na troca. Umas reses tão famosas! Por um babau velho e cinqüenta mil-
réis de volta! O que é a gente estar na desgraça...” (p.25, linha 29)
CABRESTO = corda com que se prendem e conduzem a cavalgadura, pela cabeça e sem
freio
“O dono apeou, com a mesma indolência desajeitada, tirou o cabresto debaixo da capa
da sela e amarrou o animal no tronco. (p. 24, linha 1)
COICEIRA = que costuma dar coice (pancada para trás com os pés)
“Chico Bento recebeu-a, examinou-lhe as manchas do pêlo, para ver se era sinal ou
pisadura mal sarada.” (p. 29, linha 10)
“─ Gadão bom... famoso... Conheço muito. Fez bem, meu filho . Escapa!” (p. 26, linha
11)
“Quando Vicente foi chegando em casa,... a família toda cercava uma ovelha... que
toda entanguida, tremia, com as pernas duras e os olhos vidrados:
─ Salsa, não foi?” (p. 22, linha 7)
MOURÃO = pau grosso, que colocados nas laterais das porteiras do curral, servr de esteio
à cancela ou aos varões
“Saída a última rês, Chico Bento bateu os paus na porteira [...].” (p. 19, linha 20)
“Na latada, coberta de folhas secas, o cachorro cochilava no mormaço.” (p. 20, linha
26)
CARITÓ = prateleira pequena, embutida na parede da sala ou dos quartos de dormir das
casas sertanejas, servindo para guardar pequenos objetos
“Foi direto ao caritó da sala da frente, e tirou [...] uma carta dobrada.” (p. 21, linha 3)
PISCA! [...] PISCA! = interjeição com a qual se açula cães; o mesmo que “Isca! Isca!”
“Lá fora, um menino fazia o cachorro ganir, cutucando-o com uma varinha. E gritava
entre risadas:
─ Diabo ruim! Pisca! Limpa-Trilho! Pisca!” (p. 21, linha 26)
85
“Depois olhou um garrotinho magro que, bem pertinho, mastigava sem ânimo uma
vergôntea estorricada.” (p. 20, linha 16)
“─ Pois vamos ver os burros. Você não há de querer fazer o negócio no escuro...” (p.
25, linha 13 – 14)
“E com umas noites assim limpas até dá vontade de se dormir no tempo...” (p. 27,
linha 22)
“─ [...] veja que ir por terra, com esse magote de meninos, é uma morte!” (p. 30, linha
2)
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“─ Ele já está fazendo a trouxa. Diz que vai pro Ceará e de lá embora pro Norte...” (
p. 12, linha 17)
“Se chovesse, quer de noite, quer de dia, tinha carecido se ganhar o mundo atrás de um
gancho?” (p. 27, linha 23 )
“Sem legume, sem serviço, sem meios de nenhuma espécie, não havia de ficar
morrendo de fome, enquanto a seca durasse.” (p.26, linha 15)
MUNGUZÁ = espécie de comida feita de milho seco cozido em grãos, com leite de gado ou
de coco. Além deste tipo de preparo, no Ceará, há mais dois: no caldo de carne de gado ou de
criação; em todos eles pode-se incluir o feijão
“O vaqueiro foi aos alforjes e veio com uma manta de carne de bode, seca, e um
saco cheio de farinha, com quartos de rapadura dentro.” (p. 37, linha 4)
“Lá na loja do Zacarias, enquanto matava o bicho, o vaqueiro desabafou a raiva [...] ”
(p. 30, linha 13)
“Vicente que talvez por não ter estudado não perdia ocasião de troçar dos doutores,
[...]” (p. 18, linha 21)
“─ Não sei se posso nem ir ver vocês, de carreira....” (p. 32, linha)
“─ Boca de ceder! Cedeu, mas foi mão pra lá, mão pra cá... “ (p. 30, linha 25)
"─ Ô Mocinha! vê se tu dás um pirão de peixe a este menino que anda em tempo de
me comer os peitos!” (p. 31, linha 11)
“─ Mas, Chico, pra que é que você toma, quando vai no Quixadá? Toda vez que
vem de lá é nesse jeito! (p.31, linha 22)
“Conceição [...] lembrou até a perspectiva alarmante de um assalto, ali, naquele fim
de mundo, quando a miséria da seca enlouquecesse as criaturas...” (p. 34, linha 9)
89
TAQUINHO = pedacinho
“─ Carecia mesmo dormir alguém no alpendre para botar sentido...” (p. 45, linha 22)
JEITO = solução
“O vaqueiro saiu com a rede, resoluto:
─ Vou ali naquela bodega, ver se dou um jeito...” (p. 47, linha 16)
“─ Tá aqui. O homem disse que a rede estava velha, só deu isso, e ainda por cima
se fazendo de compadecido...” (p. 47 linha 21)
“─ Que foi, Josias? Você anda abestado, ou isso é ruindade? Que foi que andou
fazendo? ” (p. 53, linha 13)
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“[...] o menino tomou o choro, e ficou quase um minuto, roxo e duro, o rosto num
esgar de desespero. (p. 50, linha 18)
TORNOU = voltou a si
“─ Duca! Duca!
Afinal o pequeno tornou; e Chico Bento tangeu a burra.” (p. 50, linha 23)
“─ Ele mesmo só ficou porque carecia dele lá, mode o gado. Mas toda semana vai
no Quixadá...” (p. 56, linha 33)
“Me convidou para abrir uma bodega, que me dava mundos e fundos, garantia de
um tudo.” (p. 84, linha 6)
“─ Botei pra fora. Aquilo era uma mundiça. Não dava interesse; só sabia
quebrar louça e namorar...” (p. 69, linha 20)
“─ Qual nada! Seu Vicente é pessoa muito divertida... É naquela labuta, mas sempre
tirando prosa com um, com outro... É um moço muito sem bondade... Dizedor de prosa como
ele só!...” (p. 57, linha 5)
91
“─ [...] Então você preferia ter ficado perto daquelas velhas, suas primas, lá no
calcanhar-do-judas, do que junto de sua filha? (p. 60, linha 3)
“─ Chico, eu não posso mais... Acho até que vou morrer. Dá-me aquela zoeira na
cabeça! (p. 63, linha 21)
“─ E até aquela filha do Zé Bernardo, só porque sempre ele passa lá e diz alguma
palavrinha a ela, anda toda ancha, se fazendo de boa...” (p. 57, linha 11)
“─ Tome! Só se for isto! A um diabo que faz uma desgraça como você fez, dar-se
tripas é até demais!...” (p. 67, linha 6)
“─ Pois, meu filho, vá até aquela casa ver se arranja um tiquinho de água mode
consertar e lavar...[“as tripas”]” (p. 67, linha 2)
“Viera por causa de uma partida de caroço que encomendara para o gado, e nada de ir,
e ele nos maiores apertos.” (p. 72, linha 19)
92
“─ Aquilo é uma doida, uma vagabunda. Danou-se para vir pro Ceará porque ouviu
dizer que estavam tratando retirante a vela de libra.” (p. 76, linha 15)
É MINHAS MÃOS E MEUS PÉS = por ser muito eficiente e prestativo, é meu apoio
RETIRANTE = sertanejo que se evade de suas terras ou da região em que mora, acossado
pela seca
“Não... Ninguém tinha visto... Sabia lá!... A toda hora estava passando retirante...”
(p. 81, linha 3)
“─ Quando de manhã cacei o menino, não teve quem desse notícia.” (p. 82, linha 4)
“No modo que agora era o seu, curvado, quase trôpego, Chico Bento endireitou para
a casa apontada,[...]” (p. 81, linha 10)
“─ Eu sou filho natural de Iguatu, mas faz muito tempo que morava pras bandas do
Quixadá.” (p. 82, linha 24)
93
“─ Entre, compadre! Essa é a comadre? Adeus, comadre, entre também! Cadê meu
afilhado?” (p.83, linha 6)
SEM MAIS PRA QUÊ (“sem que nem pra que”, “sem que nem mais”) = sem motivo
plausível; sem razão justa
“─ Não diga isso, compadre, não é possível! Deixar morrer aquele gadão todinho, sem
mais pra quê! (p. 83, linha 26)
“─ Pois mandou soltar no dia de São José! Eu ainda esperei obra duma semana...”
(p. 83, linha 28)
“─ [...] Para mim, isso agora já é um capricho...” (p. 94, linha 19)
“─ Tomei a peito e vou ao fim... Se salvar tudo, lucro muito, se nada... paciência...” (p.
94, linha 20)
“─ [...] O que eu fiz foi um esforço enorme para ir à cidade, só para a ver, chego lá,
acho Dona Conceição toda dura, sem querer saber de ninguém... e ainda por cima, fui
eu?!... “ (p. 135, linha 26)
DE VEZ = definitivamente
DURO E SECO = atento e ansioso, pois o assunto dizia respeito a sua vida
“Bastava que Chico Bento demorasse um nada, para que ela andasse aflita [...].”
(p.100, linha 20)
“─ Eu queria primeiro que a senhora desse uns conselhos a ela; e ao depois que me
arranjasse umas passagenzinhas pro vapor.” (p. 106, linha 3)
“─ Que voltar! Só falei no sol por brincadeira... Você é tão cheio de nove-horas,
parece um velho! “ (p. 116, linha 10)
“─ Olhe sua perguntadeira, se você quer mesmo ir, vá-se vestir. Não se ponha depois
com empalhe...” (p. 115, linha 19)
95
“─ Duquinha! Ande para casa! Seu cabrito! Se cair na cacimba, morre! Eu já não
disse?!” (p. 125, linha 21)
“─Faz dois dias que a gente não bota um de-comer de panela na boca...” (p.40, linha5)
“─ Eu é que estou com uma fraqueza, em tempo de dar um passamento... ainda não
botei um bocado na boca, hoje...” (p. 128, linha 25)
“─ Chuva? Possível?!
Meteu os pés da rede, correu ao alpendre [...]”
“Mocinha chegou animada, a bem dizer risonha [...]” (p. 49, linha 17)
“─ Não sei como não morri, por aí, aos emboléus, sofrendo tudo quanto é precisão...”
(p. 140, linha 16)
“Tem o quê! Vazante, só pra verão curto... Aquilo carece do salzinho da chuva mode
dar alguma coisa... Nem que agoe como aguar...” (p. 119, linha 12)
96
“─ Que esperança! Vá pensando! Puxa ao pai e a mais ninguém!” (p. 146, linha 26)
COM MAIS VERAS = com mais razões (o termo vera, nesta acepção, só é usado
acompanhado por “com mais”)
“─ Ah! Foi assim? Como você não tinha dito nada, nem ela... pois com mais veras,
pode agora pensar na Marinha...” (p. 135, linha 30)
“─ [...] o gado faz dó! Está com o focinho por acolá, só de bater na babugem... e eu
preciso estar vendo e cuidando...” (p. 137, linha 3)
“Mocinha chegou animada, a bem dizer risonha [...]” (p. 49, linha 17)
“─ De que morreu essa novilha, se não é da minha conta?” (p. 39, linha 26)
Considerações finais
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