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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM LINGUÍSTICA

Reflexões sobre o ensino de língua para fins específicos a


partir da abordagem dos gêneros em manuais e livro
didático de espanhol para secretariado

EDUARDO CÉSAR PEREIRA SOUZA

Orientadora: Profª. Drª. Ana Elvira Luciano Gebara

Dissertação apresentada ao programa de


Mestrado em Linguística, da Universidade
Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos
para a obtenção do título de Mestre em
Linguística.
.

SÃO PAULO
2018
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA


BIBLIOTECA CENTRAL DA
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

S714r Souza, Eduardo Cesar Pereira.


Reflexões sobre o ensino de língua para fins específicos a partir
da abordagem dos gêneros em manuais e livro didático de espanhol
para secretariado. / Eduardo Cesar Pereira Souza. -- São Paulo,
2018.
114 p. : il.

Orientadora: Profª. Drª. Ana Elvira Luciano Gebara.


Dissertação (Mestrado) - Programa de Mestrado em Linguística,
Universidade Cruzeiro do Sul.

1. Materiais didáticos. 2. Espanhol para secretariado. 3.


Gêneros textuais/discursivos. I. Gebara, Ana Elvira Luciano. II.
Universidade Cruzeiro do Sul. Programa de Mestrado em Linguística.
III. Título.

CDU: 81
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

Reflexões sobre o ensino de língua para fins específicos a


partir da abordagem dos gêneros em manuais e livro
didático de espanhol para secretariado

EDUARDO CÉSAR PEREIRA SOUZA

Dissertação de mestrado defendida e aprovada


pela Banca Examinadora em _____________

BANCA EXAMINADORA:

Profª. Drª. Ana Elvira Luciano Gebara


Universidade Cruzeiro do Sul
Presidente

Profª. Drª. Patricia Silvestre Leite Di Iório


Universidade Cruzeiro do Sul

Profª. Drª. I. Gretel M. Eres Fernández


Universidade de São Paulo
DEDICATÓRIA

Aos estudiosos da Língua Espanhola no contexto do Secretariado Executivo.


AGRADECIMENTOS

Estou tão feliz por finalizar mais esta etapa! Certamente, muitas pessoas e
instituições contribuíram para que eu chegasse até aqui.

Meus mais profundos agradecimentos a Deus, que nunca me abandonou por


onde eu passei nesses últimos dez anos: Montes Claros/MG, Macapá/AP,
Viçosa/MG e São Paulo/SP. Em meio às atribulações, Ele sempre esteve comigo e
me deu forças para seguir em frente.

Sou grato aos meus pais, Adeildon e Clemência Oliveira (Dona Edite), que me
incentivaram nos estudos seja financeiramente ou moralmente. Principalmente à
minha mãe, que na hora das ligações de desespero, tinha uma palavra confortante e
revigorante para me dizer.

A minha orientadora maravilhosa, diva, salvadora da pátria, Profª. Drª. Ana


Elvira Luciano Gebara. Quanta competência, cuidado, carinho, atenção e incentivo
ela me deu ao longo desses quase dois anos! Sempre tive receio de ser orientado
por um professor indiferente no stricto sensu, mas como Deus é maravilhoso
comigo, não tenho queixas a fazer.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes),


por meio do Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino
Particulares (Prosup), pelo apoio financeiro. Sem essa bolsa, possivelmente, eu não
teria como me manter no Mestrado de uma Instituição privada.

Aos professores maravilhosos que tive desde o primário. Foram tantos! Não
tenho memória para resgatar os nomes de todos eles, mas saibam que não me
esqueço de vocês. Aqui, neste parágrafo, mencionarei os que me incentivaram e me
deram um grande apoio neste mundo acadêmico perverso, desafiador e gratificante:
Drª. Cibele Barsalini Martins (UFSC), Drª. Marilena Zanon (PUCSP), Dr. Alexandre
Gomes Galindo (Unifap), Drª. Alexandra Maria de Castro e Santos Araújo (UVA,
Sobral), Ma. Ana Paula Cinta, Drª. Adelma das Neves Nunes Barros Mendes
(Unifap) e Drª. Rosimeri Ferraz Sabino (UFS). Quanta inspiração!

Muito agradecido, também, pelas parcerias com essas pessoas tão especiais:
Profª. Drª. Emili Barcellos Martins Santos (EUA), Profª. Drª. Viviane Cristina Poletto
Lugli (UEM), Profª. Ma. Silvana Kelly de Morais da Silva (Unifap), Profª. Esp. Maria
Elizabete Silva D’Elia (FECAP), Profª. Ma. Walkíria Gomes de Almeida (FMU) e
Profª. Janusa Guimarães Gomez.

Às professoras do Programa de Mestrado em Linguística/Unicsul: Drª. Magalí


Elisabete Sparano, Drª. Ana Lúcia Tinoco Cabral, Drª. Guaraciaba Micheletti e Drª.
Helba Carvalho pelas aulas ministradas, pois aprendi muito em cada uma delas.

À grande parceira e amiga, Isabel Cristina Baptista, do Sindicato das


Secretárias e Secretários do Estado de São Paulo (Sinsesp) e Centro de
Desenvolvimento Profissional (Develop).

Aos professores e/ou coordenadores dos cursos de secretariado espalhados


pelo Brasil, que muito contribuíram na viabilização de documentos institucionais
importantes e necessários no desenvolvimento desta Dissertação.

Aos amigos, parentes e conhecidos que estiveram na torcida pela conclusão


de mais esta etapa. São tantos! Nem vou citar nomes para não me comprometer.

Finalmente, e não menos importante, às professoras que aceitaram o convite


para participar na qualificação e na defesa deste trabalho: Profª. Drª. Patricia
Silvestre Leite Di Iório, da Unicsul, e Profª. Drª. I. Gretel M. Eres Fernández da
Faculdade de Educação - Universidade de São Paulo (USP).

A todos: muita gratidão!


“Feliz Aquele que Transfere o que sabe e
Aprende o que Ensina”. Cora Coralina
SOUZA, E. C. P. Reflexões sobre o ensino de língua para fins específicos a
partir da abordagem dos gêneros em manuais e livro didático de espanhol para
secretariado. 2018. 114 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade
Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2018.

RESUMO

Muitos são os gêneros (orais e escritos) que estão presentes no cotidiano de


trabalho do profissional de secretariado. Embora tenhamos um número considerável
de estudos sobre os gêneros no contexto da Língua Portuguesa (CONTO, 2006;
ZANON, 2007; NASCIMENTO, 2010; MEDEIROS, 2011; PINTO, 2011; OLIVEIRA;
NASCIMENTO, 2012; CARNEIRO; NICOLAU, 2013; NICOLAU; SILVA, 2015; dentre
outros), pouco se sabe sobre o comportamento dos gêneros nos materiais didáticos
de espanhol para secretariado. Assim sendo, o objetivo geral deste estudo foi
analisar qual o papel dos gêneros nos materiais didáticos de espanhol para esta
área, tendo como objetivos específicos: a) conhecer a formação dos professores
autores dos materiais didáticos; b) identificar se nos materiais didáticos analisados
abordam-se gêneros; c) caso haja alguma abordagem dos gêneros, verificar se eles
estabelecem relação com a esfera em que o secretariado se insere (ou seja, o
âmbito profissional); d) tendo em vista a importância das atividades e/ou tarefas no
processo de assimilação de conteúdo, verificar qual a abordagem presente nelas (se
mantêm aproximação com as teorias de ensino e aprendizagem da Linguística
Aplicada ou se se distanciam dessa perspectiva); e e) verificar se são adotados
critérios para a elaboração dessas atividades. Quanto aos aspectos metodológicos,
esta pesquisa se caracterizou como de caráter descritivo, bibliográfico, documental e
qualitativo. Em nossas análises consideraram-se três materiais didáticos, quais
sejam: El Español por profesiones: secretariado, de Aguirre e Gómez de Enterría
(1992); Español para Secretariado, de Durão et al. (1999) e Espanhol para
secretariado: um guia prático para secretários, assessores e assistentes, de
González (2012). Os resultados coletados nas análises revelaram que apenas um
dos três materiais investigados estava especificamente direcionado ao ensino de
espanhol para fins específicos, nesse caso ao secretariado, a partir da abordagem
dos gêneros, da mesma forma que as atividades propostas, embora se trate de uma
obra da década de 1990 e não elaborada por secretários. Isso, por sua vez, sinaliza
a necessidade da elaboração de novos materiais didáticos de espanhol para
secretariado, por pesquisadores da área e afins, e que se pautem no papel dos
gêneros nesse ensino.

Palavras-chave: Materiais didáticos. Espanhol para secretariado. Gêneros


textuais/discursivos.
SOUZA, E. C. P. Reflections about the language teaching to specific goals
starting genres approach in manuals and didactic book of spanish for
secretariat. 2018. 114 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade
Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2018.

ABSTRACT

Plenty are the genres (oral and written) that are into the work daily of a secretariat
professional. Although we have a considerable number of studies about genres in the
Portuguese Language context (CONTO, 2006; ZANON, 2007; NASCIMENTO, 2010;
MEDEIROS, 2011; PINTO, 2011; OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2012; CARNEIRO;
NICOLAU, 2013; NICOLAU; SILVA, 2015; etc.), little is known about the behavior of
the genres in the didactics materials of Spanish to Secretariat. Thus, the general goal
of this study was analyze which role of the genres in the didactics material of Spanish
to this area, having as specific objectives: a) To know the training of the authors
teachers of the didactic material; b) Identify in the didactics materials analyzed
approach of genres; c) In case have some approach of the genres, verify if they
establish relation with the sphere that the secretariat is into (professional scope); d)
Seeing the importance of the activities and/or tasks, in the absorption process of the
content, verify which approach that are in them (If keep the approach with theories of
teaching and learning of the Applied Linguistics or if they distance themselves of this
perspective; and e) Verify which are the criteria adopted to the elaboration of this
activities; About the methodologies aspects, this research has been characterized as
descriptive character, bibliographic, documental and qualitative. In our analysis, was
considered three didactics materials, which are El Español por profesiones:
secretariado, of Aguirre and Gómez de Enterría (1992); Español para secretariado,
of Durão et al. (1999) and Espanhol para secretariado: um guia prático para
secretários, assessores e assistentes, of González (2012). The results in this
analysis revealed that only one from the thee materials investigated was specifically
directed to the Spanish teaching for specific goals, in this case to secretariat, starting
from the approach of the genres, the same way that the proposed activities, although
in this matters is a work of 90’s and don’t made by secretaries. It, for this time, signs
the need of the elaboration of news didactics material of Spanish for secretariat, for
researchers of the area and pairs, and stick themselves for the genres role in this
teaching.

Keywords: Didactic Materials. Spanish for secretariat. Textual/discursive genre.


SOUZA, E. C. P. Reflexiones sobre la enseñanza de la lengua para fines
específicos a partir del enfoque de los géneros en manuales y libro didáctico
de español para secretariado. 2018. 114 f. Dissertação (Mestrado em Linguística)
– Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2018.

RESUMEN

Muchos son los géneros (orales o no) que están presentes en el cotidiano de trabajo
del profesional de secretariado. Aunque tengamos un número considerable de
estudios sobre los géneros en el contexto de la Lengua Portuguesa (CONTO, 2006;
ZANON, 2007; NASCIMENTO, 2010; MEDEIROS, 2011; PINTO, 2011; OLIVEIRA;
NASCIMENTO, 2012; CARNEIRO; NICOLAU, 2013; NICOLAU; SILVA, 2015; etc.),
poco se sabe sobre el comportamiento de los géneros en los materiales didácticos
de español para secretariado. Así, el objetivo general de este estudio es analizar
cuál es el papel de los géneros en los materiales didácticos de español para
secretariado. Tenemos como objetivos específicos: a) conocer la formación de los
profesores autores de los materiales didácticos; b) identificar si en los materiales
didácticos analizados se tratan los géneros; c) caso exista algún enfoque de los
géneros, verificar si ellos establecen alguna relación con la esfera discursiva en que
el secretariado está incluido (o sea, el ámbito profesional); d) teniendo en cuenta la
importancia de las actividades y/o tareas en el proceso de asimilación del contenido,
verificar cuál es el enfoque presente en ellas (si mantiene aproximación con las
teorías de la enseñanza y aprendizaje de la Lingüística Aplicada o si se distancia de
ella); y e) verificar si son adoptados criterios para la elaboración de esas actividades.
Encuanto a los aspectos metodológicos, la investigación se caracteriza como de
carácter descriptivo, bibliográfico, documental y cualitativo. En nuestros análisis se
consideran tres materiales didácticos: El Español por profesiones: secretariado, de
Aguirre y Gómez de Enterría (1992); Español para Secretariado, de Durão et al.
(1999) y Espanhol para secretariado: um guia prático para secretários, assessores e
assistentes, de González (2012). Los resultados recolectados en los análisis
muestran que solamente uno de los tres materiales investigados está amplamente
direccionado a la enseñanza del español para fines específicos, en este caso al
secretariado, a partir del enfoque de los géneros, de la misma forma que las
actividades propuestas, aunque se trate de una obra de la década de 1990 y no
elaborada por secretarios. Eso, a su vez, señala la necesidad de la elaboración de
nuevos materiales didácticos de español para secretariado por los investigadores del
área y afines, y que mencionen claramente el papel de los géneros en esa
enseñanza.

Palabras-clave: Materiales didácticos. Español para secretariado. Géneros


textuales/discursivos.
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Perfil do profissional secretário ......................................................... 34

Quadro 2 – Perfil do profissional secretário ......................................................... 35

Quadro 3 – Principais acontecimentos do secretariado brasileiro ..................... 36

Quadro 4 – Atribuições do secretário executivo e do técnico em secretariado


.................................................................................................................................. 38

Quadro 5 – Perspectivas teóricas em curso internacionalmente para o estudo


dos gêneros ............................................................................................................. 46

Quadro 6 – Atribuições do secretário executivo e do técnico em secretariado


.................................................................................................................................. 53

Quadro 7 – Relação de IES ofertantes dos cursos de secretariado, disciplinas


de LE na modalidade obrigatória e carga horária ................................................ 61

Quadro 8 – Relação de referências e frequência de citação ............................... 62

Quadro 9 – Relação final de materiais que serão analisados e seus autores ... 63

Quadro 10 – Categorias de análise ........................................................................ 64

Quadro 11 – Resumo dos gêneros identificados na obra “Español para


secretariado” ........................................................................................................... 68

Quadro 12 – Resumo dos gêneros identificados na obra “El español por


profesiones: secretariado” ..................................................................................... 82

Quadro 13 – Resumo dos gêneros identificados na obra “Espanhol para


secretariado: um guia prático para secretários, assessores e assistentes” ..... 92
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Capa do manual “Español para secretariado”.................................... 65

Figura 2 – Conteúdo proposto para ensinar o gênero Curriculum Vitae (Parte 1)


.................................................................................................................................. 70

Figura 2 – Conteúdo proposto para ensinar o gênero Curriculum Vitae (Parte 2)


.................................................................................................................................. 71

Figura 3 – Exemplo de atividade “de prática da forma” ...................................... 73

Figura 4 – Exemplo de atividade “pré-comunicativa” .......................................... 73

Figura 5 – Exemplo de atividade comunicativa “tarefa” ...................................... 73

Figura 6 – Exemplo de atividade legitimada pelo gênero “social” ..................... 76

Figura 7 – Capa do livro “El español por profesiones: secretariado” ................ 77

Figura 8 – Conteúdos propostos para as unidades 1, 2, 3, 4 e 5 ........................ 80

Figura 9 – Conteúdos propostos para as unidades 6, 7, 8 e 9 ............................ 81

Figura 10 – Tipos de carta ...................................................................................... 83

Figura 11 – Tipos de reuniões ................................................................................ 85

Figura 12 – Ordem do dia ....................................................................................... 85

Figura 13 – Exemplo de atividade “de prática da forma” .................................... 86

Figura 14 – Exemplo de atividade “pré-comunicativa” ........................................ 86

Figura 15 – Exemplo de atividade comunicativa “tarefa” .................................... 87

Figura 16 – Capa do livro “Espanhol para secretariado: um guia prático para


secretários, assessores e assistentes” ................................................................ 89

Figura 17 – Conteúdo proposto para o gênero atendimento telefônico............. 93

Figura 18 – Exemplo de atividade “de prática da forma” .................................... 95

Figura 19 – Exemplo de atividade “pré-comunicativa” ........................................ 95


Figura 20 – Exemplos de atividades focadas nas habilidades de escuta dos
aprendizes................................................................................................................ 96

Figura 21 – Exemplo de atividade direcionada para a “prática de forma” ......... 96

Figura 22 – Exemplo de atividade legitimada pelo gênero “social” ................... 97

Figura 23 – Exemplo de conteúdo não legitimado pelo gênero “social” ........... 97


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABPSEC Associação Brasileira de Pesquisa em Secretariado


AN Análise de Necessidades
Anpoll Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e
Linguística

APLs Arranjos Produtivos Locais

Capes Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior


CBO Classificação Brasileira de Ocupações
CNE Conselho Nacional de Educação
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
DCNs Diretrizes Curriculares Nacionais
EFE Espanhol com Fins Específicos
Elfe Ensino de Línguas con Fins Específicos
Enasec Encontro Nacional Acadêmico de Secretariado Executivo
FECAP Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado
Fenassec Federação Nacional das Secretárias e Secretários
IES Instituições de Ensino Superior
IFES Instituições Federais de Ensino Superior
IFMT Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato
Grosso
Inep Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira
LA Linguística Aplicada
LD Livro Didático
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
LE Língua Espanhola
LinFE Línguas para Fins Específicos
LP Língua Portuguesa
MEC Ministério da Educação
Mercosul Mercado Comum do Sul
PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais
Prosup Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino
Particulares
SE Secretariado Executivo
Siget Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais
SESu Secretaria de Educação Superior
Sinaes Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior
Sinsesp Sindicato das Secretárias e Secretários do Estado de São Paulo
TDICs Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação
UEL Universidade Estadual de Londrina
UEM Universidade Estadual de Maringá
Uepa Universidade do Estado do Pará
UFBA Universidade Federal da Bahia
UFC Universidade Federal do Ceará
UFPB Universidade Federal da Paraíba
UFPE Universidade Federal de Pernambuco
UFRR Universidade Federal de Roraima
UFS Universidade Federal de Sergipe
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UFV Universidade Federal de Viçosa
Unespar Universidade Estadual do Paraná
Unicentro Universidade Estadual do Centro-oeste
Unioeste Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Unicsul Universidade Cruzeiro do Sul
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................................... 19

CAPÍTULO I - SECRETARIADO EM PERSPECTIVA HISTÓRICO-ATUAL ............ 31

1.1. Os escribas como preceptores históricos da profissão ............................... 32

1.2. Os profissionais de secretariado do século XXI: quem são e o que fazem?


.................................................................................................................................. 34

CAPÍTULO II - GÊNEROS: UM CONCEITO QUE RELACIONA TEXTO E


DISCURSO ............................................................................................................... 42

GÊNEROS: FÉRTIL ÁREA PARA OS EMBATES INTERDISCIPLINARES............ 43

CAPÍTULO III - O MATERIAL DIDÁTICO E OS GÊNEROS: O CASO DO ENSINO


DE ESPANHOL ........................................................................................................ 51

MATERIAIS DIDÁTICOS PARA FINS ESPECÍFICOS NO SÉCULO XXI: FOCO NO


ENSINO DE ESPANHOL POR MEIO DOS GÊNEROS .......................................... 52

CAPÍTULO IV - O ENSINO DE ESPANHOL PARA SECRETARIADO COM O


APOIO DOS GÊNEROS EM MATERIAIS DIDÁTICOS ........................................... 60

4.1. Aspectos Metodológicos ................................................................................. 60

4.2. Nossos achados ............................................................................................... 65

4.2.1. Obra 1: “Español para Secretariado” .......................................................... 65

4.2.2. Obra 2: “El español por profesiones: secretariado” .................................. 77

4.2.3. Obra 3: “Espanhol para secretariado: um guia prático para secretários,


assessores e assistentes”...................................................................................... 89

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 99

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 106


19

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Pesquisas, discussões e publicações acerca da importância dos materiais


didáticos de espanhol, de certo modo, são ações recorrentes nas áreas de Letras,
Linguística, Linguística Aplicada (LA) e Educação no Brasil, desenvolvidas tanto nos
cursos de formação de professores, pelas entidades representativas ou de modo
independente pelos pesquisadores desses campos. Entretanto, ao direcionarmos
nosso olhar para o ensino da língua espanhola em cursos de Secretariado,
ressaltando a abordagem dos gêneros em materiais didáticos, verificam-se poucas
investigações publicadas ou em andamento no país. Ao considerarmos essa
deficiência e também a partir da nossa prática profissional e científica na área de
espanhol, surge o interesse em conhecer como está se estabelecendo o ensino
dessa língua nesses cursos.

Revisitando nosso percurso estudantil - quando iniciamos o curso de Técnico


de Secretariado (2008-2009), durante o tempo em que nos dedicamos à graduação
em Secretariado Executivo, entre 2011-2014, ou mesmo na Especialização (2015-
2016) -, constatamos que o termo “gêneros” não foi um assunto recorrente nas aulas
e nem nos materiais didáticos estudados. Nas classes de Técnicas Secretariais,
alguns professores chegaram a ensinar alguns modelos de documentos (gêneros)
em sala de aula, mas sem qualquer referência ao que eles representam ou podem
representar em um dado espaço sociointerativo. Ao longo das disciplinas de língua
portuguesa e estrangeiras, outros professores fizeram comentários sobre alguns
gêneros, no entanto essas abordagens não eram aprofundadas por eles.

Em nosso entendimento, não compete oficialmente aos professores de


Técnicas Secretariais o ensino dos gêneros, pois eles, em sua maioria, não
possuem a formação em Letras e também porque, até mesmo para eles, as
discussões que perpassam o ensino dos gêneros se mostram um tanto complexas e
requerem estudos aprofundados para um entendimento satisfatório do tema e seu
posterior compartilhamento em sala de aula.
20

Haja vista que o assunto não foi explorado satisfatoriamente na graduação e


na especialização, a deficiência existente sobre o estudo dos gêneros só veio a ser
preenchida quando iniciamos o Mestrado em Linguística, no ano de 2017, pois as
professoras do Programa, em especial a Doutora Ana Elvira Luciano Gebara,
começaram a aguçar nosso interesse pelo tema, resultando na proposta desta
dissertação.

Embora pareça ser um assunto novo, o estudo dos gêneros já era explorado
no exterior (Estados Unidos) por autores como Swales e Miller na década de 1980,
ou seja, há mais ou menos 38 anos. No Brasil, coube a Motta-Roth (1995), Dilamar
Araújo (1996) e Biasi-Rodrigues (1998) o pioneirismo das primeiras investigações
nessa área a partir de suas pesquisas de doutorado, culminadas nas defesas de
suas teses. Ainda assim, em terras brasileiras, o termo só veio a se popularizar, de
fato, com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o ensino
de Língua Portuguesa (LP) no nível fundamental, em 1998 (BEZERRA, 2017).

Outra questão que eventualmente pode ter contribuído para a falta de clareza
na definição do termo gêneros em nossos estudos foi a relação, mesmo que
involuntária, com o gênero na condição de categoria “social” (masculino/feminino,
homem/mulher, macho/fêmea, menino/menina). Em nossa produção bibliográfica,
alguns dos trabalhos publicados são sobre gênero e diversidade no âmbito do
secretariado1 e isso representou certa confusão dos conceitos e maior necessidade
de leitura para compreensão dos conflitos terminológicos, que se tornam ainda mais
complexos quando precisamos empregar os termos em Inglês (genre e gender) para
esclarecer a ambiguidade na LP.

Ademais, ao iniciarmos as leituras e os fichamentos sobre os gêneros para a


construção desta dissertação, pareceu-nos um tanto delimitador a necessidade de
se colocar textual ou discursivo depois do vocábulo. A partir de nossas leituras,
acabamos concordando com Bezerra (2017) em suas conclusões: a primeira é que,
no caso da perspectiva brasileira, temos dificuldade de usar o termo gênero (genre,

1
Para conhecer mais sobre o assunto, ler o primeiro livro publicado no Brasil e dedicado aos estudos
de gênero e diversidade no secretariado: SOUZA, E. C. P; VIANA, I. A. F.; SILVA, S. K. M. (Orgs.)
Estudos de gênero e diversidade no contexto do secretariado: antigos dilemas, novos olhares.
São Paulo: SINSESP, 2017.
21

no Inglês) sem a necessidade de um adjetivo, pois o gênero “social” na língua


inglesa é simplesmente gender. A segunda conclusão foi que usar textual ou
discursivo é apenas uma forma polifônica que os pesquisadores utilizam para se
aproximarem ou se afastarem da perspectiva bakhtiniana. Quer dizer, quando uso
“gênero discursivo”, estou me aproximando de Bakhtin, quando uso “gênero textual”,
estou me distanciando dessa corrente. Na verdade, isso nada mais é do que a
sinalização de uma filiação teórica específica (ROJO, 2005).

Todavia, como provocou Bezerra (2017, p. 13), “os gêneros são ‘textuais’ ou
‘discursivos’?”. O autor esclarece que “o gênero não é ou discursivo ou textual, mas
é simultaneamente indissociável tanto do discurso quanto do texto e seria um
equívoco reduzi-lo a qualquer um desses polos” (BEZERRA, 2017, p. 13). No
entanto, conforme o próprio Bezerra (2017) elucida mais adiante no livro, a questão
não é tão simples de ser resolvida ou explicada. A indefinição ou ambivalência dos
termos no Brasil não é trivial. Ele cita como exemplos o nome do Grupo de Trabalho
“Gêneros Textuais/Discursivos” da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Letras e Linguística (Anpoll) e as temáticas recentemente adotadas no
Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais (Siget): “Diálogos no estudo
de gêneros textuais/discursivos” (2015) e “Pesquisa e ensino de gêneros
textuais/discursivos para a participação social” (2017).

Marcuschi (2011), por sua vez, enfatiza que, por se tratar de uma área
interdisciplinar, não é possível concebermos os gêneros como modelos estanques,
tão pouco rígidos, mas é preciso pensar neles como formas culturais e cognitivas de
ação social, pertencentes à linguagem e muito dinâmicas. Além disso, não podemos
perder de vista que, por terem uma identidade e serem entidades poderosas
(MARCUSCHI, 2011), em sua produção textual não estamos livres para fazermos
escolhas aleatórias, sejam elas lexicais, de formalidade ou da natureza dos temas
em apreciação (BRONCKART, 1999).

Por reconhecermos a diversidade de perspectivas de conceituação e


compreensão do fenômeno em referência, neste trabalho, o conceito de gênero que
adotamos é aquele que o estuda como uma categoria mediadora do texto e do
discurso concomitantemente, pois, nesse entendimento, não estaremos
22

evidenciando a dicotomia de que o texto é apenas uma “materialização” de um


discurso “imaterial” (BEZERRA, 2017). Em outras palavras, não nos prendemos ao
conceito de gênero textual ou discursivo, já que ao compreendermos a dimensão
mais ampla do termo, notamos que tanto o texto quanto o discurso estão
relacionados produtivamente com o seu contexto cognitivo e social e, assim, tanto o
estudo teórico quanto a aplicação pedagógica se tornam muito mais viáveis e
eficazes (BEZERRA, 2017).

Entendemos que os “gêneros não são apenas formas. Gêneros são formas
de vida, modos de ser. São frames2 para a ação social. São ambientes para a
aprendizagem. São lugares onde o sentido é construído.” (BAZERMAN, 2011, p.
23). Em complemento, os gêneros contribuem para moldar os pensamentos que
construímos e as comunicações que são empregadas em nossos relacionamentos.
Eles são entendidos como “lugares familiares”, quer dizer, conhecidos, para onde
nos dirigimos a fim de criar ações comunicativas transparentes uns com os outros e
ao mesmo tempo modelos que utilizamos para explorar o “não-familiar”, ou seja, o
desconhecido (BAZERMAN, 2011).

A motivação para este estudo surge no momento em que se constatam as


deficiências existentes no que se relaciona ao ensino e aprendizagem do Espanhol
no contexto do secretariado e pela ausência de materiais didáticos e pesquisas
produzidas pelos próprios secretários-pesquisadores (SOUZA, 2015). Nesse
sentido, entendemos que tal lacuna talvez esteja associada à inexistência de
programas de pós-graduação stricto sensu3 específicos da área (MARTINS et al.,
2011) ou ainda pelo fato de que somente a partir da consulta pública 4 realizada pela

2
O termo frames tem a ver com modelos cognitivos e foi cunhado por Minsky em 1975. De acordo
com Koch e Travaglia (1996, p. 60) “[...] os frames estão inseridos no nosso conhecimento de mundo
e, portanto, são conjuntos de conhecimentos armazenados na memória debaixo de certo ‘rótulo’, sem
que haja qualquer ordenação entre eles”.
3
A Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste)
encaminharam a Capes propostas de mestrado para avaliação: 1) Resolução n. 56/CONSUNI, de 30
de outubro de 2017, que aprova a criação do Programa de Pós-graduação em Secretariado Executivo
da UFC (Mestrado Acadêmico); 2) Processo CR n. 52216/2017, que encaminha propostas de nove
cursos stricto sensu para análise e parecer no ano de 2017, dentre eles o de Mestrado em Assessoria
Executiva (PPGAE), no campus Toledo.
4
A Consulta Pública empreendida pela SESu/MEC questionava o incipiente número de pesquisas
científicas produzidas nos cursos de Bacharelado em Secretariado Executivo, e caso não fosse
mudado esse cenário, recomendava-se o fechamento dos referidos cursos e alocação dos
estudantes em outras graduações das IES.
23

Secretaria de Educação Superior (SESu/MEC), no ano de 2009, foi que, de fato, os


professores e pesquisadores atentaram para o incipiente número de pesquisas
científicas e começaram a dedicar-se a buscar por um conhecimento científico
efetivamente reconhecido pela academia (MARTINS et al., 2017).

Também nos impulsiona, na efetivação desta investigação, conforme já


adiantado por Lugli (2013), o fato de que, ao averiguar os conteúdos trabalhados
nas disciplinas de língua portuguesa para o secretariado, constatou-se a existência
de tópicos semelhantes nos manuais didáticos de espanhol no tocante aos gêneros
epistolares. Isso, por sua vez, deve ser visto como positivo, já que está de acordo
com o que se considera necessário para o desenvolvimento das competências de
linguagem do profissional de secretariado. No entanto, se olharmos somente para o
contexto da língua espanhola, veremos que há muito mais para fazer no que se
relaciona ao ensino, quer dizer, explorar o ensino e a aprendizagem dos gêneros
que perpassam a comunicação internacional do secretariado (LUGLI, 2013).

Motiva-nos, ainda, na realização desta pesquisa, o propósito de contribuir


com o avanço do conhecimento científico na área de secretariado, juntamente como
os demais pesquisadores, para que ele volte a integrar a tabela de áreas do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Como já adiantado, não se tem conhecimento sobre a realização de muitas


pesquisas que versem especificamente sobre a temática proposta nesta dissertação.
Todavia, há trabalhos que empregam o secretariado como objeto de estudo para
entender o comportamento dos gêneros na LP e na LE. Em seguida, apresentamos
os temas abordados nas investigações mapeadas:

Na LP: Cognição, leitura e produção da carta de apresentação (CONTO,


2006); Manuais de correspondências comerciais (ZANON, 2007); Gêneros
textuais/discursivos (ata, memorando, declaração) (NASCIMENTO, 2010;
CARNEIRO; NICOLAU, 2013; NICOLAU; SILVA, 2015); Gênero ata e sequências
didáticas (OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2012); Gêneros textuais e tradução
(MEDEIROS, 2011); Práticas de letramento e gêneros textuais (PINTO, 2011),
dentre outros.
24

Na LE: Manual de correspondencia del Mercosur (RODRIGUEZ, 2006);


Espanhol, análise de necessidades e gêneros (ABDALLA, 2009); Género como
práctica social en el curso de secretariado ejecutivo (LUGLI, 2009); Géneros
textuales e unidad didáctica de español para fines específicos (LUGLI, 2011);
Gêneros da comunicação internacional para o secretariado (LUGLI, 2013); Gênero
ata e as preposições em espanhol (LUGLI, 2016); Verbos de dizer em atas do
parlamento Mercosul (LUGLI, 2017).

Ao se propor a realização de uma determinada investigação, é comum que os


estudiosos averiguem, nos estudos existentes, eventuais lacunas deixadas por
outros pesquisadores ou até mesmo esses próprios interessados dando seguimento
a essas agendas. Sabendo disso, a proposta aqui apresentada procura levar em
consideração um dos resultados encontrados no estudo de Souza (2015) sobre a
abordagem comunicativa em materiais didáticos de espanhol para secretariado.
Para o autor, os livros didáticos, assim como as produções científicas futuras da
área poderiam ser mais abrangentes se procurassem desbravar outras
necessidades específicas dos profissionais de secretariado em ambiente laboral
(SOUZA, 2015), pauta esta que já foi antecipada por Lugli (2013).

No que diz respeito às necessidades específicas mencionadas anteriormente,


podemos destacar que elas são percebidas como a “pedra angular” (BEDIN, 2017)
do secretariado, pois se trata de uma abordagem fundamental, central, no ensino e
na aprendizagem de línguas para fins específicos (LinFE)5, embora também seja
importante nos cursos para fins gerais (BEDIN, 2017). No âmbito da Análise de

5
Strevens (1988) destacou que o século XVI foi o ponto de partida para os estudos de LinFE. No
entanto, todas essas abordagens aconteceram em um contexto de distintas terminologias até os dias
atuais. De acordo com Rodríguez-Piñero Alcalá e García Antunã (2009, p. 910) algumas das
denominações catalogadas foram: lenguas de especialidad (Gomez de Enterría, 2009), linguajes de
especialidad (Cabré, 1993), lenguas especializadas (Lerat, 1997), linguajes especializados por la
temática (Sager et alii, 1980), lenguas especiales (Rodríguez Díez, 1980), linguaje de laciencia y de la
técnica (Gili Gaya, 1964), tecnolecto (Haensch, 1987), lenguatécnica (Quemada, 1978), microlengua
(Balboni, 1982), lengua de minoria (Hernán Ramírez, 1979), linguajes com fines específicos
(Beaugrande, 1987), linguajes específicos, linguaje científico (Gutiérrez Rodilla, 2005),
lenguajesectorial (Beccaria, 1973), discurso científico (Grabarczyk, 1988), sottocodice (Berruto, 1997),
sublenguaje (Lehrberger, 1982) etc. De acordo com Bedin (2017, p. 78), “no Brasil, a denominação
utilizada para o ensino de LinFE tem sido indicada, basicamente, sob duas etiquetas:
‘abordagem/ensino instrumental’ (VIAN Jr., 1999; CELANI, 2009; RAMOS, 2005, 2009) e ‘Elfe’
(ALMEIDA FILHO; BARÇANTE; GUIMARÃES; SILVA, 2014), entre outros.
25

Necessidades (AN)6, não podemos perder de vista o papel que o professor de


espanhol possui, já que na maioria das vezes fica sob sua responsabilidade trilhar
os caminhos necessários para explorar da melhor forma possível os conceitos
intrínsecos nessa abordagem em sala de aula e superar os obstáculos que se
apresentarem ao longo do processo.

No exercício de pensarmos sobre a elaboração de materiais didáticos de


espanhol para secretariado que ofereçam contribuições para a prática profissional
dos estudantes-profissionais podemos pensar, por exemplo, nas questões que
envolvem os Arranjos Produtivos Locais (APLs), uma vez que se trata de um
assunto popular e que vem sendo incorporado ao debate sobre tópicos ligados à
organização da produção e das políticas industriais (DIAS, 2014). No entendimento
de Cassiolato e Lastres (1999) os APLs referem-se às metodologias e critérios que
apresentam fortes vínculos com os agentes localizados no mesmo território,
incluindo não apenas empresas e suas diversas formas de representação e
associação, mas também diversas outras instituições públicas e privadas. Assim
sendo, depreende-se que a interação entre esses diferentes elementos pode ser
vista como importante fonte geradora de vantagens competitivas às organizações e
aos trabalhadores.

Pensar em AN e APLs no ensino de espanhol para secretariado pode ser


interessante à medida que precisamos considerar as diferentes realidades dos
cursos distribuídos pelo Brasil, tanto nos aspectos associados à necessidade no
ensino da referida língua, quanto nos de desenvolvimento industrial e de
empregabilidade das regiões. Quer dizer, nos estados brasileiros que fazem fronteira
com países de língua espanhola, parte-se do pressuposto de que há necessidade do
ensino desse idioma no curso de secretariado e, nesse caso, além dos conteúdos
corriqueiros do programa da disciplina (gramática, história da língua, conversação
etc.), o professor poderá incrementar suas aulas com conteúdos relativos à cultura,

6
A análise de necessidades estabelece como cerne a Situação Ambiental e que deve considerar: a)
as informações pessoais dos aprendizes; b) as informações da língua sobre a situação alvo; c) as
lacunas dos aprendizes; d) as necessidades dos aprendizes do curso; e) as necessidades de
aprendizagem da língua; f) como se comunicar na situação alvo; g) as informações profissionais
sobre os aprendizes. In: DUDLEY-EVANS, T.; St. JOHN, M.J. Developments in English for specific
purposes: a multi-disciplinary approach. Cambridge: CUP, 1998.
26

ao turismo, à sociedade dos países próximos, dentre outros correlatos. Por outro
lado, quando pensamos em regiões industrializadas e com alta empregabilidade,
como no Sul e Sudeste, podemos considerar os APLs, uma vez que dizem respeito
a regiões com outras variantes laborais no uso do idioma pelo profissional de
secretariado, tais como: relacionamento com expatriados, reuniões presenciais e/ou
virtuais com colaboradores em países hispânicos, viagens internacionais, assessoria
em eventos nacionais e internacionais etc.

Ainda no que se relaciona às necessidades específicas do profissional de


secretariado para o trabalho, é interessante evidenciar que o cotidiano da profissão
não se resume a um atendimento telefônico despojado ou a um documento mal
elaborado. Essa rotina precisa dar conta de uma prática social que se estabelece
além dos espaços organizacionais. Após a conclusão da graduação em secretariado
espera-se que ingresse, no mercado de trabalho, um profissional com capacidade e
aptidão para compreender as questões que envolvem sólidos domínios científicos,
acadêmicos, tecnológicos e estratégicos, específicos de seu campo de atuação,
assegurando eficaz desempenho de múltiplas funções de acordo com as
especificidades de cada organização, gerenciando com sensibilidade, competência e
discrição o fluxo de informações e comunicações internas e externas (BRASIL,
2005).

No que refere à prática social, faz-se necessário esclarecer que ela


corresponde aos significados construídos coletivamente e incorporados pelo sujeito
no cotidiano de sua própria prática. Esses significados, por sua vez, refletem
perspectivas sociais sobre o que é bom, ruim, bonito, feio, certo ou errado
(GHERARDI; STRATI, 2014). Na prática do profissional de secretariado, é notório
que esses colaboradores estão em contato com os mais diferentes gêneros, orais e
escritos, conforme ficou evidenciado ao longo desta parte introdutória do trabalho.

Todos esses elementos (AN, APLs e a prática secretarial) são mencionados


nesta introdução, pois podem nos ajudar na compreensão de como deverá ser o
material didático de espanhol para secretariado do século XXI, já que “além das
alterações no trabalho [secretarial] em sua estrutura, também são observadas as
demais categorias sociais como o status, a divisão social do trabalho [novas e
27

reinventadas formas de atuação – pool de secretariado, secretariado remoto,


consultoria secretarial, empreendedorismo], o controle social [hierarquização -
terceirização], o papel social e a ética na formação e atuação desses profissionais
[...]” (SOUZA, 2005, p. 21-22).

Diante do exposto e pelas razões aludidas, nossa pesquisa tem por objetivo
geral identificar qual o papel dos gêneros nos materiais didáticos de espanhol para
secretariado e pretende responder à seguinte questão-problema: No contexto do
Espanhol para Fins Específicos (EFE), Ensino de línguas com fins específicos (Elfe)
e ainda de Língua para Fins Específicos (LinFE), qual o papel dos gêneros em
materiais didáticos?

Como objetivos específicos, propõe-se:

 Conhecer a formação inicial e continuada dos professores autores dos


materiais didáticos, uma vez que estar inserido no ensino de EFE, Elfe ou
LinFE é fator fundamental para ensinar línguas de especialidade;
 Identificar se nos materiais didáticos analisados abordam-se os gêneros, já
que a existência deles é vista como milenar nas diferentes práticas sociais
(MARCUSCHI, 2008) e que eles desempenham papel fundamental no dia a
dia do profissional de secretariado;
 Verificar se os gêneros inseridos nesses materiais didáticos estabelecem
alguma relação com a esfera em que o secretariado se insere (ou seja, o
âmbito profissional);
 Verificar qual o tratamento que as atividades e/ou tarefas recebem no
processo de assimilação do conteúdo (se elas mantêm aproximação com as
teorias de ensino e aprendizagem da Linguística Aplicada ou se se distanciam
dela)7;

7
Na visão de González (2017) ao se alinhar com Almeida Filho: “o discernimento entre uma atividade
pré-comunicativa e uma comunicativa é um requisito para professores profissionais do ensino de
línguas já que cada uma dessas categorias de atividades detém um potencial específico para gerar
competência linguística (foco na estrutura da língua) ou competência comunicativa (foco no uso
adquirido da língua) (ALMEIDA FILHO, 2012)”. Além disso, “o reconhecimento de atividades que
preparam para a comunicação (pré-comunicativas) e atividades que envolvem de fato a comunicação
(comunicativas) requer análise atenta de determinadas características que as diferenciam”. Dessa
forma, nos materiais didáticos, geralmente, exploram-se três tipos de atividades: a) comunicativas:
são orientadas pela mensagem e são pouco frequentes nos materiais. Para Stern (1992, p. 177) o
28

 Verificar se são adotados critérios para a elaboração dessas atividades, pois


é pertinente que elas mantenham certa adequação ao contexto laboral do
profissional de secretariado, bem como ao tratamento do gênero em si.
No contexto em que este estudo está inserido, vislumbramos três possíveis
hipóteses:
1. Nos materiais didáticos de espanhol para secretariado, os gêneros não são
trabalhados ou, quando inseridos nas obras, eles são encarados como
modelos estanques a serem seguidos (BEZERRA, 2017), cuja estrutura
apresentada em um modelo anterior deve ser repetida com adaptações
mínimas;
2. Quando o material didático é elaborado por autor especialista em EFE, Elfe
ou LinFE, nota-se maior adequação ao contexto do trabalho e exploração dos
gêneros;
3. Quando o material didático é elaborado por autor não especialista em uma
dessas abordagens, não há uma efetiva contextualização desse espaço e o
que se apresenta dos gêneros normalmente aparece em forma de
generalizações e não de reconhecimento e adaptação à realidade que o
profissional-estudante irá encontrar.
Partindo do que propõe esta investigação, julgamos, ainda, que são
apontadas ideias e sugestões que podem contribuir para:
a) os professores em formação e/ou em atuação nas diferentes instituições de
ensino brasileiras, em cursos de secretariado;
b) os estudantes que se encontram em processo de formação e necessitam
de esclarecimentos sobre o papel dos gêneros em materiais didáticos de espanhol
para secretariado; e,

termo atividades comunicativas designa “[...] atividades motivadas, tópicos e temas que envolvem o
estudante em comunicação autêntica”. b) pré-comunicativas: são orientadas por formas linguísticas,
funções comunicativas e/ou vocabulário e são muito frequentes nos livros. c) de prática da forma: são
orientadas pelo código e também frequentes nos materiais didáticos. Essas atividades procuram
conduzir o aluno ao aprendizado de formas específicas do sistema da língua. Neste caso, merece
destaque as atividades de preencher lacunas. Há também outra modalidade de atividade conhecida
como tarefa e é descrita como uma “atividade longa produzida geralmente aos pares ou em
pequenos grupos que parte da colocação de uma situação problemática a ser ‘resolvida’ através da
intensa interação entre os participantes na própria língua-alvo” (GONZÁLEZ, 2017).
29

c) os autores, os editores e as editoras, que podem ver nestes escritos alguns


direcionamentos sobre como deve ser o material didático de espanhol para o
secretariado do século XXI.
Quanto aos aspectos metodológicos, o estudo é descritivo, bibliográfico,
documental e qualitativo. Em nossas análises, consideramos três materiais
didáticos, quais sejam: El Español por profesiones: secretariado, de Blanca Aguirre e
Josefa Gómez de Enterría (1992); Español para Secretariado, de Adja Balbino
Barbieri Durão et al. (1999) e Espanhol para secretariado: um guia prático para
secretários, assessores e assistentes, de Patricia Varela González (2012).

Para dar conta do que propusemos entregar, a dissertação está estruturada


da seguinte forma: inicia-se com a Introdução a fim de contextualizar o leitor do
assunto ora abordado. Em seguida, centramo-nos no desenvolvimento do estudo,
que se dá a partir das seguintes partes:

O Capítulo I foi intitulado “Secretariado em perspectiva histórico-atual”,


que, por sua vez, foi subdividido em dois subitens: “Os escribas como preceptores
históricos da profissão” e “Os profissionais de secretariado do século XXI: quem são
e o que fazem?”, cujos objetivos são destacar as adaptações vivenciadas pela
profissão ao longo do tempo e entender em que contexto o estudo dos gêneros tem
lugar no cotidiano desse profissional.

O Capítulo II intitula-se “Gêneros: um conceito que relaciona texto e


discurso” e que está subdividido em um subitem: “Gêneros: fértil área para os
embates interdisciplinares”, que lança mão de alguns conceitos e teorias com vistas
a ampliar o entendimento das questões que envolvem as discussões sobre os
estudos dos gêneros na sociedade e no ambiente laboral.

O Capítulo III, no que lhe concerne, estuda “O material didático e os


gêneros: o caso do ensino de espanhol”, distribuído no subtópico: “Materiais
didáticos para fins específicos no século XXI: foco no ensino de espanhol por meio
dos gêneros”, que procura explorar o universo dos materiais didáticos (enfatizando-
se o papel do livro e do manual), a partir da observância aos gêneros e o ensino de
espanhol.
30

O Capítulo IV nomeia-se “O ensino de espanhol para secretariado com o


apoio de gêneros em materiais didáticos” e destina-se a apresentar os aspectos
metodológicos estabelecidos para o estudo e os resultados encontrados. Além
disso, procuramos organizar tais achados a partir das seguintes etapas inter-
relacionadas: identificação, descrição, análise e interpretação dos dados.

Finalmente, tecem-se as Considerações Finais e elencam-se as Referências


utilizadas para a construção desta dissertação.
31

CAPÍTULO I - SECRETARIADO EM PERSPECTIVA HISTÓRICO-


ATUAL

Secretariado Executivo é uma profissão cujas origens


remontam à Antigüidade e que transita ao longo dos tempos e
também na contemporaneidade sob influências sócio-
econômicas, tecnológicas e de gênero. O ser Secretário
configura-se, para além de competências tecnicistas e
burocráticas, frente às exigências de múltiplos saberes
especializados em um campo de atuação marcadamente
organizacional e dinâmico. Historicamente vinculada às
concepções lingüísticas [...] e funções administrativas, este Ser
Secretário ocupou as mais altas esferas do poder, privilégio
concedido aos poucos detentores da escrita nas civilizações
antigas.
8
Karine Freitas Souza

Neste momento inicial, entendemos que resgatar o panorama histórico da


profissão de secretário, em uma perspectiva sociocultural, pode ser interessante
para destacar as adaptações vivenciadas pelo profissional ao longo do tempo e
entender em que contexto o estudo dos gêneros tem lugar no cotidiano desse
trabalhador.

De antemão, como destacado por Souza (2005, p. 17), “questões filosóficas


como o ser, o fazer, o conhecer e o atuar, constituem-se em um mosaico identitário
que fundamentam a existência do indivíduo em seu grupo social”. Dito isto, é natural
que surjam questionamentos como: O que é secretariado? Quem é o profissional de
secretariado? Quando apareceu como profissão? Quais eram suas características?
Que personagens da História desenvolviam atividades semelhantes? O que faziam
no passado? O que fazem no presente? O que tudo isso que eles fazem hoje tem a
ver com os gêneros?

Para responder a essas questões, recorremos a essas páginas da história


sociocultural e nos valemos de documentos legais, materiais didáticos ou não, tal
como estudos que se fizeram importantes no tocante ao resgate da memória do
secretariado e como ele é visto neste século XXI.
8
Secretariado executivo: uma perspectiva histórica da profissão. 2005. 206 f. Dissertação
(Mestrado em Análise Regional). Universidade Salvador, UNIFACS, Salvador, 2005.
32

No item 1.1 iniciamos essa trajetória dissertando sobre os escribas na


qualidade de preceptores históricos da profissão de secretário.

1.1. Os escribas como preceptores históricos da profissão

Ao revisitarmos a história das profissões mais conhecidas na Antiguidade


constatamos que seus núcleos estavam concentrados na Medicina, na Matemática,
na Astrologia, na Administração ou ainda na Adivinhação, como uma das mais
relevantes. Para exercer tais profissões levava-se em consideração o status do
indivíduo nas camadas sociais e isso era determinante do grau de significância e
destaque nas civilizações do passado (SOUZA, 2005).

No contexto de tais afirmativas, um dos personagens que se destacava nas


civilizações antigas, quais sejam, egípcia, mesopotâmica, síria, judaica e cristã
(BOND; OLIVEIRA, 2009), era o escriba, que tinha atribuições semelhantes, em
muitos aspectos, às atividades de um profissional de secretariado, além de possuir
elevado destaque e reconhecimento naquelas civilizações. No entanto, deve-se ter
certo cuidado, pois “este personagem histórico também representa culturalmente
outras tantas profissões” (SOUZA, 2005, p. 27).

Na perspectiva de Souza (2005, p. 30, grifo nosso),

entende-se a importância desse trabalhador da Antigüidade, a partir da


análise dos contextos sócio-político e econômico da época. O
desenvolvimento das rotinas de trabalho do escriba, o planejamento e
controle das diversas atribuições sob sua responsabilidade, além do
entendimento sobre sua formação, bem como as técnicas utilizadas para a
escrita e criação de documentos ao longo dos anos permitem, entender
sobre esse trabalhador. Historicamente, os escribas eram considerados
como pertencentes a uma casta privilegiada (nobres) ou estavam sob a
condição de escravos letrados em algumas civilizações.

Desde sua origem, os escribas se ocupavam da assessoria aos líderes, reis,


faraós, imperadores, exigindo desse profissional um sólido domínio de
conhecimentos administrativos, além de linguísticos e de relações humanas
(SOUZA, 2005; SABINO, 2006). É importante destacar, ainda, que, em seus
primórdios, esse ofício era exercido quase que exclusivamente por homens, pois
33

“raros, incipientes, mas existentes, são os registros sobre as descobertas relativas


às mulheres escribas, cujas responsabilidades eram semelhantes aos de seus pares
masculinos” (SOUZA, 2005, p. 45). Dito isso, o vínculo da mulher com o secretariado
não se deu somente após a Segunda Guerra Mundial, embora, provavelmente, as
ocorrências de sua atuação como escriba tenham sido muito isoladas ou pouco
divulgadas, sabe-se que as mulheres escribas foram uma absoluta minoria na
atividade (JACQ, 2000; SOUZA, 2005).

Para Souza (2005, p. 59)

as civilizações egípcia e mesopotâmica contribuíram com importantes


aspectos históricos relativos à formação, ao perfil profissiográfico, às
particularidades e condições de trabalho dos escribas nos períodos de
surgimento da escrita e sua evolução. Permitiu entender, também, como os
aspectos religiosos e a condição social hereditária (status), vincularam-se
ao exercício da atividade, possibilitando conhecer a história dos escribas
mais a fundo e ampliar a sua história em relação ao secretariado atual.

No contexto da atuação do escriba, percebe-se que, no Egito e na


Mesopotâmia, existia certo decoro que exaltava esse trabalhador a um patamar
superior, mantido especialmente pelas castas hereditárias, ou seja, possuía
propriedades semelhantes a um sacerdócio divino (SOUZA, 2005). Evidentemente,
essas características foram se modificando ao longo dos períodos e no século XXI a
profissão possui outras particularidades, apesar de que essa questão do status
ainda é uma marca recorrente, já que esses profissionais estão ao lado do poder
decisório das organizações, quer dizer, ao lado de quem tem força coercitiva e de
comando (NEIVA; D’ELIA, 2014).

Embora não se tenha conhecimento de que o conceito de gêneros já existia


nas civilizações passadas, é possível inferir que ele se fazia presente no dia a dia
laboral dos escribas, pois gêneros dizem respeito às formas que os indivíduos
escolhem para se comunicarem e se fazerem entendidos com e por outros membros
da sociedade na qual estão inseridos. Por exemplo: quando um escriba se
comunicava com outro reino, outra tribo ou outra comunidade por meio de uma carta
ou outro documento, modelo textual em uso naquele momento, ele estaria fazendo
uso dos gêneros.
34

Com esse breve recorte sobre os escribas na condição de possíveis


antepassados dos secretários e como os gêneros estavam inseridos no cotidiano
desses trabalhadores, acreditamos que foi possível resgatar um pouco da história do
secretariado e ainda responder algumas das questões levantadas na introdução
deste capítulo (Que personagens da História desenvolviam atividades semelhantes?
O que faziam no passado?). Feito isso, na segunda parte, abordaremos outras
temáticas mais recentes no âmbito da profissão.

1.2. Os profissionais de secretariado do século XXI: quem são e o que fazem?

No contexto do século XXI, entendemos o profissional de secretariado como


um assessor que tem entre suas atribuições a tarefa de organizar as rotinas dos
gestores em suas empresas (e outras formas de organização), recorrendo-se em
maior escala aos conhecimentos advindos da ciência administrativa, que forma o
núcleo conceitual básico para o desenvolvimento das tarefas que estão sob a sua
responsabilidade (SABINO; MARCHELLI, 2009)9.

Os Quadros 1 e 2, a seguir, extraídos de Neiva e D’Elia (2014, p. 38-39),


contribuem para compreendermos qual era o perfil do profissional de secretariado no
passado e como ele é visto atualmente. De mais a mais, ajudará no entendimento
sobre como os diferentes gêneros estão imbricados no dia a dia desse colaborador.

Quadro 1 – Perfil do profissional secretário


Como era Como fica
Digitação. Coordenação do sistema de informação com
o uso de ferramentas tecnológicas.
Envio e recebimento de correspondência. Coordenação do fluxo de informações (sejam
elas físicas ou virtuais).
Provisão, para o departamento, de material Coordenação de compras, cotação de preços
necessário à realização da rotina com fornecedores alternativos e
administrativa. administração de custos do departamento.
Organização de reuniões. Além da maneira tradicional, sistemas

9
Na percepção de Souza, Galindo e Martins (2015, p. 168) esses saberes ainda podem ser
agrupados da seguinte maneira: “a) saberes nucleares que caracterizam a esfera de atuação mais
operacional da atividade secretarial clássica (Núcleo epistemológico de Saberes da Área Secretarial);
b) saberes que se encontram fortemente associados às esferas da gestão organizacional dentro das
perspectivas das diversas outras áreas do conhecimento já consolidadas (Esfera Complementar de
Saberes), e, c) saberes vinculados à esfera mais ampliada que diz respeito à inserção do
Secretariado como profissional-cidadão frente às questões que dizem respeito às dinâmicas da
sociedade contemporânea (Esfera Ampliada de Saberes)”.
35

integrados fazem esse trabalho (como


videoconferências, conference calls).
Atendimento ao telefone. Atendimento global ao cliente com qualidade
e excelência.
Manutenção de arquivos. Organização do sistema de dados e
informações em arquivos manuais e
eletrônicos. Exemplo: Gerenciamento
Eletrônico de Documentos – GED.
Fonte: Extraído de Neiva e D’Elia (2014, p. 38).

Quadro 2 – Perfil do profissional secretário


Ontem Década de 1990 A partir de 2001
Formação dispersiva, Existência de cursos Educação continuada.
autodidatismo. específicos para formação.
Falta de qualquer requisito Cursos de reciclagem e de Atualização permanente.
para o aprimoramento. conhecimentos peculiares.
Ausência de política para Existência de qualificação e Organizações empreendedoras,
recrutamento e seleção. definição de atribuições e trabalho em equipe, visão
plano de carreira. global, metodologia flexível,
divisão de responsabilidade.
Tarefas traçadas pela Tarefas definidas pelo novo Tarefas globais com autonomia
chefia. estilo gerencial. para execução.
Secretário como função. Secretário como profissão. Secretário com reconhecimento
profissional e comprometimento
com resultados.
Objetivo de trabalho Objetivo de trabalho definido Objetivo do trabalho definido
determinado pelo poder da pela necessidade do mercado. pela equipe empreendedora.
chefia.
Falta de recursos. Domínio em informática e Necessidade constante de
outros conhecimentos. aprimoramento e de novas
competências, bem como visão
do negócio.
Chefia. Executivo/Gestor. Parceria/Time.
Fonte: Extraído de Neiva e D’Elia (2014, p. 39).

Com base no que é exposto nos Quadros 1 e 2, fica notório que o perfil do
profissional de secretariado para este século é outro e aquele que desejar se inserir
na área e/ou manter sua empregabilidade terá que se enquadrar nas novas
exigências do mercado de trabalho. Além disso, também está evidente que, no
exercício diário do profissional de secretariado, o contato com os mais diferentes
gêneros, orais e/ou escritos, é recorrente. Outro aspecto interessante de se
mencionar é que esses trabalhadores, eventualmente, também necessitarão dos
conhecimentos de gêneros para trabalharem na prestação de serviços em idioma(s)
estrangeiro(s), uma vez que estão inseridos no contexto das funções
administrativas.
36

Estando eles dentro do sistema das funções administrativas, é natural que


precisem se comunicar oralmente e/ou por escrito com seus colegas de escritório.
Como adiantado por Rodriguez (2006, p. 19), “mediante a palavra escrita podemos
pensar, mudar, acrescentar, corrigir, até encontrar a forma mais apropriada de
expressão”10, já que no contexto do trabalho empresarial não nos relacionamos
apenas falando, mas por meio de atos. Para a autora, “[...] a comunicação está
composta por diferentes atos do comportamento humano, produzindo assim um
intercâmbio de ideias e atitudes”11 (RODRIGUEZ, 2006, p. 19). Em suma, “a
empresa não sobrevive sem a palavra escrita”12 (RODRIGUEZ, 2006, p. 19), e para
fazer uso dela, necessário será conhecer os diferentes gêneros que se materializam
nas práticas sociais.

De acordo com a CBO (2002), os profissionais de secretariado

trabalham nas mais variadas atividades econômicas da indústria, comércio


e serviços, além da administração pública, como assalariados com carteira
assinada, estatutários, ou autônomos, sob supervisão ocasional. Atuam de
forma individual ou em equipe, em ambientes fechados e em horários
diurnos. Podem permanecer em posições desconfortáveis por longos
períodos. Assessoram chefias, atendendo mais de um diretor ou uma área
(BRASIL, 2002).

No Brasil, os resultados dos primeiros esforços para regulamentação da


profissão de secretário vieram em 1978, quando foi promulgada a Lei n. 6.556, em 5
de setembro. Por meio dessa legislação, estabeleceu-se a formação profissional
requerida para o exercício no mercado de trabalho (SABINO, 2017).

O Quadro 3, que segue, adaptado de Martins et al. (2017, p. 273), tem por
objetivo apresentar os principais acontecimentos da área de Secretariado entre 1931
e 2013.

Quadro 3 - Principais acontecimentos do secretariado brasileiro entre 1931 e 2013


Ano Conquista
1931 Decreto Lei n. 20.158, organiza o ensino comercial, regulamenta a profissão de
profissional de secretariado e dá outras providências

10
Tradução livre nossa. No original: “Mediante la palabra escrita podemos pensar, cambiar, añadir,
corregir, hasta encontrar la forma más apropiada de expresión”.
11
Tradução livre nossa. No original: “La comunicación está compuesta por diferentes actos del
comportamento humano, produciendo así un intercambio de ideas y actitudes”.
12
Tradução livre nossa. No original: “La empresa no sobrevive sin la palabra escrita”.
37

1943 Decreto Lei n. 6.143, estabelece as bases de organização e de regime do ensino


comercial, de secretariado, entre outros
1943 Abertura do primeiro curso Técnico em Secretariado, na Fundação Escola do
Comércio Álvares Penteado (FECAP), em São Paulo
1968 Criação do “Clube das Secretárias”
1969 Abertura do primeiro curso superior de Secretariado, na Universidade Federal da
Bahia (UFBA)
1970 Transformação do Clube das Secretárias em “Associação das Secretárias do Rio
de Janeiro”
1976 Criação da “Associação Brasileira de Entidades de Secretárias”
1977 Publicação da Lei n. 1.421, que institui o dia 30 de setembro como o Dia Nacional
da Secretária
1978 Publicação da Lei n. 6.556, que dispõe sobre as atividades do Profissional de
secretariado e dá outras providências
1978 Primeiro reconhecimento de curso superior em Secretariado Executivo pelo órgão
regulador brasileiro (MEC), na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
1985 Publicação da Lei n. 7.377, que regulamenta a profissão de Profissional de
secretariado no Brasil
1987 Publicação da Portaria n. 3.103 de Enquadramento Sindical, que denomina a
profissão como categoria profissional diferenciada
1988 Criação da Federação Nacional das Secretárias e Profissional de secretariados
(Fenassec)
1989 Publicação do Código de Ética da profissão
1993 Realização do 1º Simpósio Internacional de Secretariado, em Manaus
1996 Publicação da Lei n. 9.261, que complementa a Lei n. 7.377/1985
2002 Criação do 1º Grupo de Pesquisa na área de Secretariado: “Grupo de Pesquisa
em Secretariado Executivo Bilíngue”, da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (Unioeste).
2002 Inclusão da profissão de Profissional de secretariado na Classificação Brasileira
de Ocupações (CBO)
2005 Publicação da Resolução MEC n. 3, que institui as Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCNs) para os cursos Superiores de Secretariado Executivo
2005 Início da realização de concursos públicos pelas Instituições Federais de Ensino
Superior (Ifes) para o cargo de profissional de secretariado-executivo
2007 Lançamento do primeiro curso totalmente e-learning de pós-graduação para
Secretariado em Educação a Distância
2008 Publicação da Resolução n. 3, do Conselho Nacional de Educação (CNE), que
dispõe sobre a instituição e implantação do Catálogo Nacional de Cursos
Técnicos de Nível Médio, na qual se insere o de Técnico em Secretariado
2010 Realização do 1º Encontro Nacional Acadêmico de Secretariado Executivo
(Enasec)
2013 Criação da Associação Brasileira de Pesquisa em Secretariado (ABPSEC)
Fonte: Adaptado de Martins et al. (2017, p. 273).

Levando em consideração o que é apresentado no Quadro 3, notamos que


muitos foram os estágios de desenvolvimento vivenciados pela profissão de
secretário desde a década de 1930. Assim sendo, como referenciado anteriormente,
o profissional de secretariado está presente em diferentes estruturas organizacionais
e em seu cotidiano do trabalho são exigidas diferentes habilidades e competências,
com vistas a atender as expectativas dos gestores no que diz respeito ao
desempenho da sua função (CARNEIRO; NICOLAU, 2013).
38

Além da formação específica, seja de nível técnico ou superior, o profissional


de secretariado deve ter senso crítico, postura ética, capacidade de articulação,
visão generalista e sistêmica, ser empreendedor, gerenciar informações com
eficácia, ser proativo, ser criativo, trabalhar em equipe fazendo uso de liderança, ter
maturidade emocional etc. Em outras palavras, ele deve estar apto ao aprendizado
contínuo, inclusive, em nível de escolaridade (NEIVA; D’ELIA, 2014).

Conforme evidenciado nos parágrafos anteriores, desde seu surgimento, a


profissão se desenvolveu e novas competências e habilidades foram sendo
incorporadas ao perfil profissional. Investigando as competências comportamentais
dos profissionais de secretariado, considerando-se o impacto da atuação
internacional da empresa, Almeida, Borini e Souza (2018, p. 3) afirmaram que
“quando uma empresa contrata um profissional de secretariado, ela deseja um perfil
que contemple os dois níveis de competência: técnica e comportamental”. Na visão
dos autores, no que diz respeito às atribuições técnicas muito se aprende nos cursos
de formação, mas sobre os componentes comportamentais pouco se sabe
(ALMEIDA; BORINI; SOUZA, 2018). Em outras palavras, podemos dizer que naquilo
que diz respeito ao técnico, certamente, demandará conhecimento dos gêneros. No
comportamental, por sua vez, outras competências serão exigidas: relacionamento
com o cliente, trabalho em equipe, gestão do tempo, criatividade e negociação
(ALMEIDA; BORINI; SOUZA, 2018).

A fim de ampliar a discussão sobre as competências e habilidades do


profissional de secretariado, no Quadro 4 encontramos informações sobre as
atribuições do Secretário Executivo e do Técnico em Secretariado13, a partir do que
estabelece a legislação em vigor:

Quadro 4 - Atribuições do secretário executivo e do técnico em secretariado


Atribuições do Secretário Executivo
I Planejamento, organização e direção de serviços de secretaria
II Assistência e assessoramento direto a executivos

13
A legislação para o secretário está em fase de modificação. Tramitou na Câmara dos Deputados o
Projeto de Lei n. 6.455, de 2013, que altera a Lei n. 7.377, de 30 de setembro de 1985. Dentre as
mudanças propostas está a inclusão do Tecnólogo em Secretariado, igualmente suas atribuições
profissionais. Desde 07 de dezembro de 2017 a minuta foi encaminhada ao Senado Federal e
aguarda deliberação.
39

III Coleta de informações para a consecução de objetivos e metas de empresas


IV Redação de textos profissionais especializados, inclusive em idioma estrangeiro
V Interpretação e sintetização de textos e documentos
Taquigrafia de ditados, discursos, conferências, palestras de explanações, inclusive
VI
em idioma estrangeiro
Versão e tradução em idioma estrangeiro, para atender às necessidades de
VII
comunicação da empresa
VIII Registro e distribuição de expedientes e outras tarefas correlatas
Orientação da avaliação e seleção da correspondência para fins de encaminhamento
IX
à chefia
X Conhecimentos protocolares
Atribuições do Técnico em Secretariado
I Organização e manutenção dos arquivos de secretaria
II Classificação, registro e distribuição da correspondência
Redação e datilografia de correspondência ou documentos de rotina, inclusive em
III
idioma estrangeiro
Execução de serviços típicos de escritório, tais como recepção, registro de
IV
compromissos, informações e atendimento telefônico
Fonte: Adaptado de Brasil (1985; 1996).

Com base no que é apresentado no Quadro 4, constatamos que é exigida do


profissional de secretariado uma atuação que perpassa outros campos do saber:
Administração, Letras, Psicologia, Tradução, Arquivologia etc. Tendo em vista tal
informação, no que diz respeito a essa multiplicidade teórica característica do saber
secretarial14, Sabino e Marchelli (2009, p. 608) argumentam que “a complexidade da
profissão é esboçada desde sua própria denominação, que é envolta por dicotomias
semânticas, polêmicas sobre a natureza do campo de atuação, divisão de gênero e
fundamentação em teorias organizacionais, culturais e sociológicas” (SABINO;
MARCHELLI, 2009, p. 608).

Quer dizer, a profissão de secretário, além de estar situada nos perímetros de


uma frágil e incipiente zona de estudos científicos, também enfrenta outras
problemáticas como:

 As inúmeras denominações no mercado de trabalho (assistente, assessor,


auxiliar etc.), que camuflam a profissão nas organizações, pois assistente,
assessor e auxiliar não são profissões;

14
A natureza da práxis secretarial é considerada, então, multidisciplinar, na qual se utilizam teorias
diversas de forma interdisciplinar, com vistas a atingir a coerência científica necessária à
compreensão da realidade da função, bem como de seus aspectos práticos. [...] O fazer do
secretariado tem se baseado, entretanto, na aplicação de conhecimentos múltiplos, gerados como
forma de interação entre disciplinas que possibilitam o entendimento da práxis de cada uma
separadamente. (SABINO; MARCHELLI, 2009, p. 610).
40

 A inserção de profissionais de outras áreas nos cargos de secretários no


âmbito das empresas privadas (Letras, Administração, Contabilidade,
Economia, Psicologia, Direito, Tradutor-intérprete, Recursos Humanos), pois o
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)15 não realiza a devida fiscalização.
Como já adiantado, para exercer as profissões de técnico em secretariado e
secretário executivo é necessário ter o registro profissional no MTE;
 Um cenário similar ao descrito no item anterior é o que ocorre nos concursos
públicos para os cargos de secretário executivo das Ifes, já que é possível
concorrer às vagas os profissionais de Letras. No estudo de Oliveira et al.
(2016), por exemplo, identificou-se 110 editais que disponibilizaram 531
vagas, sendo que somente 308 vagas (de 57 editais) foram exclusivamente
destinadas aos candidatos habilitados profissionalmente, de acordo com a Lei
nº 7.377, de 30 de setembro de 1985;
 As questões de gênero e diversidade, notadamente o feminino - secretária -,
uma vez que, até o momento, não se superou o retorno dos homens ao
secretariado e isso provoca discussões desnecessárias por postos de
trabalho e reconhecimento (SILVA; VEIGA; SOUZA, 2017). Na comunidade
acadêmica secretarial há dois movimentos que acaloram as discussões sobre
o gênero e a diversidade na profissão. O primeiro percebe a necessidade
desses estudos e os empreende. O segundo desqualifica muitas dessas
iniciativas, pois não compreende que tais investigações sejam pertinentes e
necessárias na mudança do imaginário social desse ofício.
 Resgatando o início deste parágrafo, temos, ainda, as limitações existentes
nos embasamentos teóricos para atuação do secretário no mercado de
trabalho, pois são advindos de outras áreas: Letras, Tradução, Administração,
Economia, Direito, Sociologia, Psicologia etc. Isso, por sua vez, endossa o
lugar do secretariado como uma área que ainda não tem suas teorias próprias
e com tradição como nas outras áreas mencionadas.

15
As profissões que não possuem Conselho Profissional (agenciador de propaganda, arquivista,
artista, atuário, guardador e lavador de veículos, jornalista, publicitário, radialista, secretário
executivo, sociólogo, técnico em arquivo, técnico em espetáculos de diversões, técnico de segurança
do trabalho e técnico em secretariado) têm seus exercícios profissionais fiscalizados pelo MTE.
41

Com base nos parágrafos delineados anteriormente sobre o secretariado,


percebe-se que ele está marcado por alguns paradigmas histórico-culturais, sociais
e profissionais que parecem estar situados em um círculo vicioso, pois “inicialmente
tratou-se de um ofício reconhecido, especializado e masculino e, ao longo da sua
evolução, tornou-se um cargo, sob a seleção improvisada, ocupado
predominantemente por mulheres e sem o prestígio de sua origem” (SABINO, 2006,
p. 142).

No desenrolar dos últimos 30 anos, é possível perceber que a área de


secretariado tem superado as adversidades impostas pelo mercado de trabalho e os
desafios surgidos com o advento da tecnologia, que, por sinal, ampliou o trabalho
secretarial nas empresas, trouxe novos desafios de adaptabilidade e também
ocasionou demissões para aqueles que não acompanharam as transformações
empreendidas no mundo dos negócios.

Ao resgatarmos as informações apresentadas nos Quadros 1 e 2, sobre o


perfil profissional, e no Quadro 4, sobre as atribuições do secretário executivo e
técnico em secretariado, em nosso ponto de vista, fica notório o envolvimento
desses trabalhadores com os diferentes gêneros, tanto na língua materna quanto
nas estrangeiras. Na qualidade de assessor dos gestores organizacionais, este
colaborador deverá estar preparado para atuar com esses gêneros, pois eles
materializam as práticas sociais em diferentes contextos: família, amigos, trabalho
etc.

Dito isso, no próximo capítulo dissertaremos sobre os gêneros em uma


perspectiva que relaciona o texto e o discurso.
42

CAPÍTULO II - GÊNEROS: UM CONCEITO QUE RELACIONA TEXTO


E DISCURSO

Apesar de o termo gênero ser, hoje, amplamente utilizado para


identificar as especificidades de vários tipos de criações nas
mais diversas esferas criativas, continua carregando consigo o
estigma de uma superficialidade formulaica e de um limitado
repertório de expressões estilísticas e organizacionais. As
produções artísticas consideradas principalmente como
pertencentes a um gênero são, frequentemente, contrastadas
com trabalhos artísticos mais ricos e criativos, que teriam
transcendido às limitações do gênero.
16
Charles Bazerman

O Capítulo 1 tratou de evidenciar o panorama histórico da profissão de


secretário em uma perspectiva histórica e sociocultural. Este capítulo, por sua vez,
com base no que estabelecem pesquisadores das áreas de Letras e Linguística
(MARCUSCHI, 2008; BAZERMAN, 2011; KOCH; ELIAS, 2015; BEZERRA, 2017),
pretende lançar mão de alguns conceitos e teorias com vistas a ampliarmos o
entendimento das questões que envolvem as discussões sobre o estudo dos
gêneros na sociedade e no ambiente laboral.

Embora não tenhamos conhecimento de que o conceito de gêneros era


descrito em documentos elementares da Antiguidade, é fato que sua existência pode
ser percebida como milenar e que sempre esteve presente nas práticas sociais
(MARCUSCHI, 2008). Além do mais, “o [seu] reconhecimento [tipificava] as
possíveis ações e intenções sociais, uma vez que se percebe que uma carta de
reclamação é uma resposta possível a alguma injustiça nas relações comerciais”
(BAZERMAN, 2011, p. 28). Quer dizer, “os gêneros, da forma como são percebidos
e usados pelos indivíduos, tornam-se parte de suas relações sociais padronizadas,
de sua paisagem comunicativa e de sua organização cognitiva” (BAZERMAN, 2011,
p. 28).

16
Gênero, Agência e Escrita. HOFFNAGEL, J. C.; DIONÍSIO, A. P. (Orgs.). Tradução de Judith
Chambliss Hoffnagel. 2a. ed. São Paulo: Cortez, 2011, p. 24-25.
43

Na perspectiva que consideramos para este trabalho, temos como ponto de


partida que a argumentação e a contraposição de ideias e teorias culminam em um
interessante e provocante embate multidisciplinar/interdisciplinar dos gêneros
(MARCUSCHI, 2008), proposição esta que será mais bem elucidada no subitem 2.1.

GÊNEROS: FÉRTIL ÁREA PARA OS EMBATES INTERDISCIPLINARES

Calsamiglia e Tusón (1999, p. 151)17 esclarecem que “a necessidade de


estabelecer unidades, tipologias ou classificações é algo inerente à forma que tem o
pensamento humano de se aproximar da realidade que o circunda”. Nesse sentido,
para que possamos estudar os fenômenos que a língua produz, é preciso um
planejamento e organização mínima, a fim de que se tenha uma compreensão mais
ampla do complexo modelo de comunicação humana (CALSAMIGLIA; TUSÓN,
1999).

Ao tratarmos desse complexo modelo de comunicação humana, inserido em


um contexto socioeconômico que desafia o trabalhador, tornou-se fundamental o
domínio de um ou vários idiomas, uma vez que a linguagem é o instrumento que
facilita e contribui para desenvolver o acesso à informação e que permite a
transmissão do conhecimento e do conhecimento consolidado, quer dizer, o saber
(AGUIRRE BELTRÁN, 2000).

Na árdua tarefa de se conhecer, conhecer o outro, conhecer o mundo a sua


volta e entender como as coisas se materializam, uma das possibilidades que temos
hoje é com base no que reconhecemos como gênero: “uma categoria cultural, um
esquema cognitivo, uma forma de ação social, uma estrutura textual, uma forma de
organização social e uma ação retórica” (MARCUSCHI, 2008, p. 149). Ademais, é
necessário esclarecer que

os textos escritos têm funções comunicativas específicas, segundo as


diferentes práticas discursivas. Sendo assim, a participação nessas práticas
exige conhecimento de vários gêneros, orais ou escritos, assim como a

17
Tradução livre nossa. No original: “[…] La necesidad de establecer unidades, tipologías o
clasificaciones se diría que es algo inherente a la forma que tiene el pansamiento humano de
acercarse a la realidad que le circunda”.
44

adequação de cada um deles a seus contextos de uso e a competência em


compreendê-los e produzi-los (ERES FERNÁNDEZ et al., 2012, p. 22).

Para Koch e Elias (2015, p. 54), todos os indivíduos, falantes e ouvintes,


escritores e leitores, desenvolvem, ao longo dos anos, uma “competência
metagenérica”. Ela, por sua vez,

[...] nos propicia a escolha adequada do que produzir textualmente nas


situações comunicativas de que participamos. Por isso, não contamos piada
em velório, nem cantamos hino do nosso time de futebol em uma
conferência acadêmica, nem fazemos preleções em mesa de bar (KOCH;
ELIAS, 2015, p. 54).

Ainda no entendimento das autoras,

[...] todas as nossas produções, quer orais, quer escritas, se baseiam em


formas-padrão relativamente estáveis de estruturação de um todo a que
denominamos gêneros. Longe de serem naturais ou resultado da ação de
um indivíduo, essas práticas comunicativas são modeladas/remodeladas
em processos interacionais dos quais participam os sujeitos de uma
determinada cultura (KOCH; ELIAS, 2015, p. 55).

Os gêneros podem ser percebidos como formas verbais do que conhecemos


como ação social, estabilizados e recorrentes em textos situados nas diferentes
comunidades de práticas e em domínios discursivos específicos (MILLER, 1984).
Assim, podemos dizer que eles são “entidades dinâmicas, históricas, sociais,
situadas, comunicativas, orientadas para fins específicos, ligadas a determinadas
comunidades discursivas, ligadas a domínios discursivos, recorrentes e
estabilizadas em formatos mais ou menos claros” (MARCUSCHI, 2008, p. 159).

A forma como se deve conviver com os gêneros diz respeito ao trato da


língua em seu cotidiano nas mais diversas esferas (MARCUSCHI, 2008). Estudar
gêneros é enveredar por caminhos que procurem responder as demandas das
práticas sociais em determinados contextos. Em outros termos, pode-se afirmar que
“os gêneros tipificam muitas coisas além da forma textual. São parte do modo como
os seres humanos dão forma às atividades sociais.” (BAZERMAN, 2011, p. 32). Ou
seja, os “gêneros emergem nos processos sociais em que pessoas tentam
compreender umas às outras suficientemente bem para coordenar atividades e
compartilhar significados com vistas a seus propósitos práticos” (BAZERMAN, 2011,
45

p. 32). Levando-se em consideração uma ata, por exemplo, sua função prática situa-
se no registro oficial das discussões realizadas em um determinado evento
comunicativo com vistas a facilitar a eventual consulta por parte de um interessado.
Como possível resultado, acreditamos que ela poderia contribuir na agilidade dos
processos de tomada de decisão dos gestores organizacionais.

Concomitantemente, deve-se pensar ainda que “nem todos os gêneros têm o


mesmo grau de estabilidade e de identificação autoral e muitos deles são menos
próprios para a análise de autoria, pois são gêneros formulaicos18” (MARCUSCHI,
2011, p. 30). Dessa forma, os gêneros não devem ser percebidos como um
protótipo, ou seja, “entidades a serem reproduzidas ou imitadas, seja no ensino ou
no dia a dia, pois são de tal ordem que mais parecem paradigmas de
heterogeneidade enunciativa19” (MARCUSCHI, 2011, p. 31). Ou seja, quando
ensinamos alguém a atuar por meio do e com gênero, ensinamos um modo de
“atuação sociodiscursiva” numa dada cultura e não apenas um simples modo de
(re)produção textual (MARCUSCHI, 2011).

Ampliando as discussões sobre os gêneros, Bazerman (2011, p. 59)


esclarece que

as formas de escrita são fenômenos históricos – criados, reconhecidos,


mobilizados e fortalecidos dentro da mente de cada escritor e leitor em
momentos sócio-históricos específicos, mas transmitidos na acumulação de
textos. A experiência textual acumulada e socialmente contextualizada
aumenta o repertório formal e o comando processual de cada escritor e
leitor.

Considerando, então, que o gênero “não é simplesmente uma categoria


linguística definida pelo arranjo estruturado de traços textuais” (BAZERMAN, 2011,
p. 60), mas, sim, “uma categoria sociopsicológica que usamos para reconhecer e
construir ações tipificadas dentro de situações tipificadas” (BAZERMAN, 2011, p.

18
Gêneros formulaicos são aqueles “vistos como exemplares que seguem um padrão formal de
construção – como documentos áridos, construídos a partir de uma argumentação incisiva, objetiva,
prática e desprovida de quaisquer aparatos retóricos [...]”. (SILVA, 2017, p.14).
19
Para Authier-Revuz (1990; 2004) a questão da heterogeneidade é postulada a partir da noção de
heterogeneidades enunciativas. Para ela, há dois tipos: a mostrada e a constitutiva, esta busca
reconhecer os “processos reais de constituição dum discurso”; já aquela, busca reconhecer os
“processos de representação, num discurso, de sua constituição”, identificando explicitamente o
outro, delineado no interior da própria enunciação.
46

60), o Quadro 5, a seguir, pode ser útil no entendimento sistematizado dos gêneros,
já que ele propõe um paralelo com algumas das perspectivas teóricas em curso
internacionalmente para o estudo dos gêneros versus seus principais expoentes,
mesmo que de modo embrionário ou sem rígidos critérios de classificação, como já
adiantado por Marcuschi (2008).

Quadro 5 – Perspectivas teóricas em curso internacionalmente para o estudo dos gêneros

Perspectivas Autores
Sócio-histórica e dialógica Bakhtin ([1979]. 1992)
Comunicativa Steger (1974), Gülich (1986), Bergmann e
Luckmann (1995), Berkenkotter e Huckin (1995)
Sistêmico-funcional Halliday (1976)
Sociorretórica de caráter etnográfico voltada Swales (1990), Bhatia (1997)
para o ensino de segunda língua
Interacionista e sociodiscursiva de caráter Dolz e Schneuwly (1998), Bronckart (1999)
psicolinguístico e atenção didática voltada
para língua materna
Análise crítica G. Kress (1989), N. Fairclough (1992)
Sociorretórica/sócio-histórica e cultural C. Miller (1984/1994), Freedman (1999),
Bazerman (2005)
Fonte: Adaptado de Marcuschi (2008, p. 152-153).

Como pudemos perceber, as correntes teóricas são muitas, mas não se pode
perder de vista que os gêneros são entidades dinâmicas (MILLER, 1984). Assim
sendo, é natural que eles se desenvolvam e deem origem a novos gêneros, como
uma espécie de desmembramento do outro ou de outros, por causa das
necessidades estabelecidas pelas modernas Tecnologias Digitais da Informação e
Comunicação (TDIC). Um gênero dá origem a outro e assim surgem outros modelos
com novas aplicabilidades, sempre se levando em consideração o surgimento de
demandas mais atuais (MARCUSCHI, 2011).

Aliás, como também já adiantou Marcuschi (2011), os gêneros são históricos


e culturais, mas não é corriqueiro fazer disso uma fonte de investigação. Para se
chegar a uma compreensão mais aprofundada deles, é necessário assimilá-los
como “fenômenos de reconhecimento psicossocial” (BAZERMAN, 2011, p. 32).
Marcuschi (2011) complementa: [...] pode-se dizer que os gêneros não preexistem
como formas prontas e acabadas, para um investimento em situações reais, mas
são categorias operativas, instrumentos globais de ação social e cognitiva
(MARCUSCHI, 2011, p. 23).
47

Gêneros se referem aos “textos materializados em situações comunicativas


recorrentes” (MARCUSCHI, 2008, p. 155). Eles são formatos textuais que
encontramos em nosso dia a dia e que apresentam padrões sociocomunicativos
característicos estabelecidos por “definições funcionais, objetivos enunciativos e
estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais,
institucionais e técnicas” (MARCUSCHI, 2008, p. 155). Em outras palavras:

[...] gêneros são tão-somente os tipos que as pessoas reconhecem como


sendo usados por elas próprias e pelos outros. Gêneros são o que nós
acreditamos que eles sejam. Isto é, são fatos sociais sobre os tipos de atos
de fala que as pessoas podem realizar e sobre os modos como elas os
realizam (BAZERMAN, 2011, p. 32).

Na maioria dos estudos sobre análise dos gêneros empreendidos pelos


pesquisadores, a técnica em geral traduz-se em selecionar e compreender um
gênero único e específico (BEZERRA, 2017). Além disso, conforme evidenciou
Bhatia (2004), em razão dos interesses pedagógicos no ensino ou de decisões
metodológicas em pesquisa, os gêneros tendem a ser apreendidos como entidades
estanques, carregadas de certa plenitude e estabilidade, que podem ser alvo de
pesquisas ou de ensino sem muitos contratempos. De mais a mais, a ideia de que
os gêneros são entidades plausíveis de estudo como formas puras é “muito atraente
e extremamente útil para uma diversidade de aplicações pedagógicas; contudo, na
prática, é incapaz de captar as complexas realidades comunicativas do mundo
profissional e acadêmico atual” (BHATIA, 2004, p. 80).

Quando consideramos o cenário prático e no qual os discursos se


materializam, em vez de lidarmos com os gêneros na condição de entidades
isoladas, nos deparamos com gêneros que “frequentemente são vistos na relação
com outros gêneros, com certo grau de sobreposição ou até, por vezes, de conflito”
(BHATIA, 2004, p. 29), em agrupamentos ou “constelações”, também conhecidos
como “conjuntos de gêneros” (DEVITT, 1991), “sistemas de gêneros” (Bazerman,
1994), “cadeias de gêneros”, “redes de gêneros” (SWALES, 2004), “gêneros
disciplinares” ou “colônias de gêneros” (BHATIA, 2004), entre outros títulos. Na visão
de Swales (2004), as relações e conexões entre os gêneros representam “um dos
48

mais importantes temas atuais” na abordagem da língua para fins de pesquisa e


ensino (SWALES, 2004, p. 12).

Considerando tais prerrogativas, concordamos com Bezerra (2017, p. 48)


quando afirma que os gêneros “não devem ser tratados como entidades discretas,
claramente distintas, prontas para serem ensinadas e aprendidas, mas como
entidades complexas, dinâmicas, que se manifestam no mundo real e como parte da
complexidade desse mundo” (BEZERRA, 2017, p. 48).

A fim de caracterizar como os gêneros se configuram e se encaixam em


organizações, papéis e atividades mais amplas, os próximos parágrafos objetivam
apresentar alguns conceitos que se sobrepõem, mas ao mesmo tempo cada um
envolve um novo ponto de vista sobre: 1) Conjuntos de gêneros; e 2) Sistemas de
gêneros.

O termo conjunto de gêneros (genre set) foi apresentado pela primeira vez
por Devitt (1991) no contexto de uma pesquisa sobre profissionais de contabilidade.
Nesse sentido, entende-se que o conjunto de gêneros “é a coleção de tipos de
textos que uma pessoa num determinado papel tende a produzir” (BAZERMAN,
2011, p. 33). Para Devitt (1991, p. 340), “quando examinamos o conjunto de gêneros
de uma comunidade, estamos examinando as situações, as atividades recorrentes e
os relacionamentos da comunidade. O conjunto de gêneros realiza seu trabalho”. Na
visão de Bezerra (2017, p. 52), “o conjunto de gêneros não diz respeito apenas à
produção (falar e escrever)”, pensamento apresentado em Bazerman (2011), “mas
também às atividades de recepção de textos (ouvir ou ler) que caracterizam os
papéis dos indivíduos nos distintos sistemas de atividade”.

O sistema de gêneros (genre systems), por sua vez, “compreende os diversos


conjuntos de gêneros utilizados por pessoas que trabalham juntas de uma forma
organizada, e também as relações padronizadas que se estabelecem na produção,
circulação e uso desses documentos” (BAZERMAN, 2011, p. 33). Este último é
também parte do sistema de atividades. “Ao definir o sistema de gêneros em que as
pessoas estão envolvidas, você identifica também um ‘frame’ que organiza o seu
trabalho, sua atenção e suas realizações” (BAZERMAN, 2011, p. 35).
49

Em outras palavras, quando passamos a considerar o sistema de atividades


acompanhado do sistema de gêneros, devemos buscar esclarecimentos para
entender o que as pessoas fazem e como os textos ajudam as pessoas a fazê-lo,
em vez de focalizar os textos como fins em si mesmos (BAZERMAN, 2011).

De acordo com Bezerra (2017), além do conjunto de gêneros e do sistema de


gêneros, outros agrupamentos também merecerem esclarecimento, uma vez que

[...] conjunto, sistema, cadeia e colônia de gêneros são conceitos que, à


exceção da relação próxima entre os dois primeiros, trazem implicações
teórico-metodológicas bastante específicas, não obstante, se mostram
como ferramentas claramente úteis para o pesquisador, a depender da
investigação que ele pretenda fazer (BEZERRA, 2017, p. 58).

Em contrapartida,

as noções de gêneros disciplinares, hierárquicos, repertórios, redes e


ecologias de gêneros se apresentam como possibilidades de descrição das
complexas relações entre os gêneros, mas não como critério para seu
agrupamento para fins analíticos (BEZERRA, 2017, p. 58).

Como neste trabalho não temos a pretensão de explorar detalhadamente o


universo dos agrupamentos de gêneros, já que não está previsto nos nossos
objetivos, os demais agrupamentos apresentados por Bezerra (2017) (gêneros
disciplinares, hierarquias de gêneros, cadeias de gêneros, redes de gêneros,
repertório de gêneros, ecologias de gêneros e colônias de gêneros) não serão
aprofundados.

Conforme evidenciado ao longo deste capítulo, o estudo dos gêneros é uma


temática que transcende outras áreas e também está no foco delas. Na condição de
leitores, críticos, historiadores, professores e escritores precisamos, a todo tempo,
caracterizar a espécie de texto com a qual estamos trabalhando. Nas Ciências
Sociais (Antropologia, Sociologia, História), na Linguística e/ou Linguística Aplicada,
na Retórica, nota-se a necessidade de aprofundamento dos estudos dos gêneros
para compreender melhor os desdobramentos das questões que envolvem a
comunicação com base neles (BAZERMAN, 2011).
50

Sendo assim, pensamos como Bazerman (2011, p. 63) quando estabelece


que “[...] o gênero tem sido particularmente útil para compreender as práticas
discursivas acadêmicas e profissionais, em que enunciados altamente individuais e
estratégicos são produzidos em formas bastante distintivas e reconhecíveis [...]”. Ou
seja, formas que têm histórias conscientes extensivas e para as quais escritores
novos em um domínio precisam dedicar algum tempo para aprendê-las,
independentemente das habilidades de escrita que o escritor traz consigo de outros
domínios (BAZERMAN, 2011).

É nesse entendimento que esta dissertação se direciona, à medida que


procura conhecer como os gêneros se comportam nos materiais didáticos de
espanhol para secretariado, além de procurar respostas para as práticas discursivo-
textuais que são produzidas por profissionais de secretariado especialistas em sua
área de atuação.
51

CAPÍTULO III - O MATERIAL DIDÁTICO E OS GÊNEROS: O CASO


DO ENSINO DE ESPANHOL

O mercado editorial de materiais didáticos de espanhol


vivenciou, nas duas últimas décadas, profundas modificações.
De um lado, houve um incremento significativo na quantidade
de títulos disponíveis e, do outro, passou-se a exigir a
incorporação, nesses materiais, de princípios e referenciais
variados e atualizados, tanto linguísticos como socioculturais.
20
Gretel Eres Fernández et al.

No primeiro capítulo, apresentamos um breve histórico da profissão de


secretário em uma perspectiva sociocultural. No segundo, dedicamos atenção às
diferentes teorias e abordagens dos gêneros. Neste capítulo, procuramos explorar o
universo dos materiais didáticos, tendo como ponto de referência a observância aos
gêneros e o ensino de espanhol, uma vez que a existência deles pode ser percebida
como milenar, que sempre esteve presente nas diferentes práticas sociais
(MARCUSCHI, 2008) e que desempenha papel fundamental no dia a dia dos
profissionais de secretariado, seja no contexto da língua materna ou estrangeira.

Como apresentado por Eres Fernández et al. (2012, p. 7), “o ensino de


espanhol tem sido foco da atenção de legisladores, órgãos públicos, instituições de
ensino, editoras, autores, professores, futuros professores e pesquisadores”. Ainda
que o objetivo de cada uma dessas instâncias e profissionais seja bem diferenciado,
nota-se que todos eles têm em comum a percepção de que o material didático deve
ter um lugar de destaque (ERES FERNÁNDEZ, 2012).

Certamente, muitas são as modalidades de materiais didático-pedagógicos


existentes e utilizados nas aulas de espanhol para fins gerais e/ou específicos.
Assim sendo, Eres Fernández (2012) destaca que alguns dos mais comuns são:
livro didático, gramática, dicionário, livros de leitura em geral, livros paradidáticos de

20
Materiais didáticos de espanhol: entre a quantidade e a diversidade. 2012. 68 f. Relatório final
de pesquisa não financiada – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
Disponível em: <http://www4.fe.usp.br/wpcontent/uploads/cepel/materiales-didacticos-de-espanol-
informe.pdf>. Acesso em: 30 jun. 2018.
52

leitura, livro de conjugação verbal, livro de exercícios complementares e apostila da


instituição.

Partindo dessa contextualização, a seguir dissertamos sobre os materiais


didáticos direcionados para os fins específicos, focando no ensino do espanhol por
intermédio dos gêneros.

MATERIAIS DIDÁTICOS PARA FINS ESPECÍFICOS NO SÉCULO XXI: FOCO NO


ENSINO DE ESPANHOL POR MEIO DOS GÊNEROS

Não há dúvida sobre a existência de discussões acerca da importância dos


materiais didáticos no processo de ensino e aprendizagem das línguas estrangeiras,
neste caso do espanhol, nas áreas de Letras, Linguística, Linguística Aplicada e
Educação no Brasil. Todavia, é comum certa confusão terminológica efetivada,
inclusive, pelos próprios pesquisadores dessas áreas ao associarem a expressão
“material didático” apenas a “livro didático” ou a “método” (FERNÁNDEZ LÓPEZ,
1993; 2005; SÁNCHEZ PÉREZ, 1986; 1997).

No contexto brasileiro, é o Livro Didático (LD) que acaba sendo o recurso


mais utilizado nas classes de língua espanhola. Não raro, ele é percebido como um
relevante instrumento didático-pedagógico para muitos professores, desde a
educação básica até o ensino superior. Consequentemente, isso o coloca no alvo
dos estudos da Linguística Aplicada (e outras áreas), principalmente no que tange
ao ensino e à aprendizagem de línguas estrangeiras (ARAÚJO, 2012).

De acordo com o Instituto Cervantes (1997), o livro didático

é uma das possíveis formas que podem adotar os materiais didáticos para
facilitar o processo de ensino e aprendizagem. Trata-se de um documento
impresso concebido para que o docente desenvolva o seu programa:
normalmente estrutura e organiza de maneira precisa a prática pedagógica,
isto é, a seleção, a ordenação e organização temporal dos conteúdos, a
seleção dos textos de apoio, o tipo de atividades e de exercícios de
21
avaliação.

21
Diccionario de Términos Clave de ELE, disponível em:
<https://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/diccionario/librotexto.htm>. Acesso em:
20 jul. 2018. Tradução nossa de: “[...] es una de las posibles formas que pueden adoptar los
materiales curriculares para facilitar el proceso de enseñanza-aprendizaje. Se trata de un documento
impreso concebido para que el docente desarrolle su programa: habitualmente, diseña y organiza de
53

Como o próprio nome sugere, ele é ou deveria ser didático. Mas, no Brasil,
em decorrência da “precaríssima situação educacional”, isso “faz com que ele [o LD]
acabe determinando conteúdos e condicionando estratégias de ensino, marcando,
pois, de forma decisiva, o que se ensina e como se ensina o que se ensina”
(LAJOLO, 2008, p. 4). Dessa forma, sua eficiência prática estaria mais condicionada
a uma “receita de bolo”, do que a uma atividade coletiva e enriquecedora para o
professor e o aluno.

No plano do processo de ensino e aprendizagem da língua estrangeira


(dinâmico e plural), e no contexto do espanhol para secretariado, acreditamos que o
livro didático para esse público deve considerar, em sua composição, as diferentes
características dos cursos de línguas para fins gerais e para fins específicos (LinFE)
- já comentadas na nota de rodapé n. 6, da Introdução. O quadro 6, extraído de
Bedin (2017, p. 90), contribui ainda mais no esclarecimento de tais características.

Quadro 6 – Características dos cursos de línguas para fins gerais e para fins específicos

Fins Gerais Fins Específicos


 Contextos escolares, institutos de  Contextos profissionais e acadêmicos
idiomas, CELs
 Necessidades não são facilmente  Necessidades específicas
especificados
 Metas amplas Metas específicas
 Análise de necessidades indireta Análise de necessidades direta
 Trabalham-se as quatro habilidades A definição das habilidades varia de
linguísticas acordo com cada grupo de alunos e/ou
com o tipo/propósito do curso
Fonte: Extraído de Bedin (2017, p. 90).

A partir do que é apresentado no Quadro 6, é possível inferir que os livros


didáticos, normalmente, cumprem diversos propósitos, alguns são percebidos como
mais sutis e intangíveis, outros não quantificáveis e invisíveis (AGUIRRE BELTRÁN,
2009). Ou seja:

[...] além de serem suporte para a aprendizagem, de transmitir


conhecimentos, eles têm um valor agregado ao carregarem uma dimensão
operativa, um know-how, um saber fazer específico do seu terreno, assim
como uma aproximação afetiva e cultural na comunidade epistemológica ou

manera precisa la práctica didáctica, esto es, la selección, la secuencia y organización temporal de
los contenidos, la elección de los textos de apoyo, el diseño de las actividades y de los ejercicios de
evaluación.”
54

profissional que se comunica em um âmbito específico (AGUIRRE


BELTRÁN, 2009, p. 161)22.

Nesse ponto de vista, entendemos que a produção de materiais didáticos de


espanhol para a área de secretariado não deve privilegiar os interesses comerciais
das editoras, mas, sim, atender às necessidades dos profissionais de secretariado.
Eles devem visar os interesses práticos (foco nas habilidades e competências) e
comunicativos (foco nas atribuições) desses trabalhadores, inseridos em um
contexto de exigências e competitividade (SOUZA, 2015), caso contrário, será difícil
manter a empregabilidade neste século XXI.

Em se tratando especificamente do valor agregado, como citado por Aguirre


Beltrán (2009, p. 161-162), ele

[…] implica a capacidade de poder desenvolver-se em situações de


comunicação, usando com propriedade a língua de especialidade, textos,
gêneros, léxico, terminologia específica, familiarizando-se com os
procedimentos, formas de pensar e atuar dos profissionais ou acadêmicos
dos diversos campos, adequando-se à cultura acadêmica ou empresarial,
com uma perspectiva intercultural, que é a razão essencial da organização
de um processo de ensino-aprendizagem de Espanhol com Fins
23
Específicos.

Em nossa concepção e pelo que estabelece Aguirre Beltrán (2009), o valor


agregado permite ao profissional ter seu horizonte de atuação ampliado, pois ele
possibilita ao aprendiz a fuga do “lugar comum”, aquele no qual não há experiências
autênticas na língua estudada. Em outras palavras, ao utilizar materiais genuínos de
um determinado contexto, o professor estará expondo seus aprendizes a três
possíveis cenários:

-Possibilidade de expor os aprendizes em contato com a língua real; -


Facilitar a aprendizagem: suporte da aprendizagem; -Servir de estímulo e
motivação; de referência profissional, isto é, a relevância dos gêneros,

22
Tradução livre nossa. No original: “[...] Además de ser soporte para el aprendizaje, de transmitir
conocimientos, tienen un valor añadido al aportar una dimensión operativa, un know-how, un saber
hacer sobre el terreno, así como una aproximación afectiva y cultural a la comunidad epistemológica
o profesional que se comunica en un ámbito específico”.
23
Tradução nossa. No original: “[...] implica la capacidad de poder desenvolverse en situaciones de
comunicación, usando con propiedad la lengua de especialidad, textos, géneros, léxico, terminología
específica, familiarizándose con los procedimientos, formas de pensar y actuar de los profesionales o
académicos de los diversos campos, adecuándose a la cultura académica o empresarial, con una
perspectiva intercultural, que es la razón esencial de la organización de un proceso de enseñanza-
aprendizaje de EFE”.
55

formulários, léxico em contexto e uso de fórmulas etc. (AGUIRRE


24
BELTRÁN, 2009, p. 169) .

Levando em consideração as informações apresentadas nos parágrafos


anteriores, temos que muitas são as possibilidades de contribuições advindas do
uso dos materiais didáticos em sala de aula. Neste trabalho, em especial, focamos
na utilização dos livros didáticos de espanhol direcionados aos alunos dos cursos de
secretariado, buscando descobrir qual o papel dos gêneros nessas obras.

Conforme adiantado por Amendola (2017), o livro didático tem sido, desde os
primórdios, o principal recurso material da Educação e pode ainda ser percebido
como uma ferramenta metodológica elementar do professor para com o aluno.
Dessa forma, pensa-se como Lugli (2006, p. 11) que é necessário verificar se os
gêneros “estão se constituindo em um ‘termo de referência intermediário’ ou em um
instrumento para a ação do professor e para a aprendizagem do aluno”, uma vez
que se acredita que a aprendizagem verdadeira só é possível em um espaço em
que existam práticas de linguagem reais (em uso na sociedade) e exercícios de
linguagem nos quais “se produzem as transformações sucessivas da atividade do
aprendiz, que conduzem à construção das práticas de linguagem” (SCHNEUWLY;
DOLZ, 2004, p. 75).

Ao propor uma discussão do ensino da LE, neste caso da Espanhola, com


base nos estudos teóricos dos gêneros, acreditamos que se assumem os discursos
sociais que compõem essa língua, ou seja, devemos considerar os textos
materializados oralmente ou por escrito e que fazem parte das práticas discursivas
dessa área (COUTO; NUNES, 2012). Ampliando tal argumentação, entendemos que
compete às instituições de ensino propiciar a formação de leitores críticos e que
sejam capazes de construir significados para além da superfície do texto, atentando
para as funções sociais da leitura e da escrita nos diferentes contextos. Isso, por sua
vez, poderia contribuir para direcioná-los a uma participação plena e crítica nas
práticas sociais que envolvem o uso da escrita e da oralidade (HILA, 2009). Afinal de

24
Tradução livre nossa. No original: “-Posibilidad de exponer a los aprendientes a la lengua real; -
Facilitar el aprendizaje: soporte del aprendizaje; -Servir de estímulo y motivación; de referencia
profesional, esto es, la relevancia de los géneros, formularios, léxico en contexto y uso de fórmulas,
etc.”
56

contas, “[...] é preciso considerar os diferentes ambientes de circulação dos textos;


por exemplo, aqueles produzidos na escola serão bem diferentes dos gerados no
ambiente de trabalho ou no campo jurídico” (ERES FERNÁNDEZ et al., 2012, p. 22).

Quando se pensa na didática do ensino da Língua Espanhola, de tal modo


que seja possível desenvolver uma análise e uma crítica das relações que o texto
estabelece com a língua, poder, grupos e práticas sociais, acreditamos que seja
importante examinar alguns conceitos que perpassam a própria teoria dos gêneros,
por exemplo: suporte, esfera discursiva, identidade do/s emissor/es e do/s
receptor/es, finalidade, tema, tipo textual e estrutura composicional do gênero
(COUTO; NUNES, 2012). Ao empregar os múltiplos gêneros nas aulas de espanhol
para secretariado, tais conceitos deverão ser discutidos e recapitulados de
diferentes formas, seja por meio de atividades de compreensão textual ou de
produção escrita.

De mais a mais, conforme destacou Eres Fernández et al. (2012, p. 22), não
se pode perder de vista que

os gêneros compartilham determinados parâmetros contextuais tais como


os propósitos comunicativos, os papéis do emissor e do receptor, os tipos
de interação (oral ou escrita), o âmbito social, o fato de serem reconhecidos
socialmente, além de recursos e estruturas linguísticas que se aproximam.

No âmbito das análises dos gêneros, percebemos que os propósitos


comunicativos representam “um dos conceitos centrais para a compreensão da
construção, interpretação e uso dos gêneros” (BIASI-RODRIGUES; BEZERRA,
2012, p. 232). Nesse sentido, Bhatia (1993, p. 13) salienta que, em sua natureza e
construção, o gênero “é caracterizado essencialmente pelo(s) propósito(s)
comunicativo(s) que pretende realizar”, apesar de que também é influenciado por
elementos como conteúdo, forma, audiência, meio ou canal (BIASI-RODRIGUES;
BEZERRA, 2012). Em outras palavras, o vínculo estabelecido entre o gênero e o
propósito comunicativo é tão estreito e central que se pode concebê-lo como “um
exemplo da realização bem-sucedida de um determinado propósito comunicativo,
utilizando o conhecimento convencionado de recursos linguísticos e discursivos”
(BHATIA, 1993, p. 16).
57

O propósito comunicativo relaciona-se com aquilo que os gêneros realizam na


sociedade e, no entanto, o objetivo de um gênero não é essencialmente único e
preestabelecido. Quando consideramos o conjunto de propósitos comunicativos de
um dado gênero, percebemos que alguns se estabelecerão de modo específico,
com “intenções particulares”, de atores sociais determinados, sejam eles os
produtores dos gêneros ou os controladores de sua produção e circulação, como no
caso dos gêneros da mídia, por exemplo, ao passo que outros terão propósitos
“socialmente reconhecidos” (BHATIA, 1993, 1997).

Em se tratando do ensino do espanhol no Brasil, é relevante destacar o fato


de que estamos em um continente com vários países cuja língua oficial é o
Espanhol: Argentina, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Chile, El Salvador,
Equador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto
Rico, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Nesse contexto, notamos que há
certa necessidade de ensinar e aprender esse idioma no país (AMENDOLA, 2017).
Aos brasileiros, para que possam desfrutar de outras oportunidades de trabalho,
inclusive no exterior, aprender o Espanhol pode representar um significativo
diferencial (SOUZA; SANTOS, 2017).

Mesmo que ele não seja percebido por um grande número de pessoas, esse
idioma está muito presente no dia a dia dos brasileiros. Conforme destacou
Amendola (2017), alguns aspectos políticos, econômicos e sociais recentes

contribuíram para o impulso dado ao ensino do espanhol, tais como a


criação do Mercado Comum do Sul (Mercosul) em 1991, a vinda de capital
espanhol especialmente nas décadas de 1990 e 2000, a crescente
quantidade de emigrantes do Peru, da Bolívia e da Colômbia em alguns
estados brasileiros e o avanço exponencial das tecnologias digitais de
informação e comunicação que ampliaram a conexão entre falantes da
maioria das línguas e o acesso a informações em outros idiomas
(AMENDOLA, 2017, p. 27).

Aliás, no âmbito do Mercosul, existem materiais didáticos específicos para o


ensino de correspondência entre os países do bloco. Um exemplo disso é o livro de
Rodriguez (2006), Manual de correspondencia del MERCOSUR, que, na visão da
autora, está estruturado de modo “[claro, prático] [e com] informações úteis para
secretárias, executivos, estudantes e pessoas que ‘falam por meio do papel’.
58

(RODRIGUEZ, 2006, p. 13). Ainda sobre a obra, merece destaque o fato de que
esse material é todo escrito em espanhol e aborda amplamente os gêneros, o que
representa algo diferenciado quando nos voltamos aos demais materiais didáticos
de espanhol para secretariado.

Partindo das informações apresentadas anteriormente, entendemos que se


tornou ainda mais possível e provável conviver, em algum momento, com essa
língua estrangeira. No entanto, também devemos considerar que, em diversos
âmbitos da sociedade brasileira, não há esse intercâmbio, inclusive para uma
parcela importante dessa comunidade, aprender espanhol é totalmente dispensável,
pois ela o considera muito próximo da Língua Portuguesa, ou seja, fácil. (FANJUL;
GONZALEZ, 2014).

Em termos gerais, podemos dizer que os profissionais de distintas


organizações (com suas estruturas formais, explícitas – cargos e funções bem
definidas), incluindo os profissionais de secretariado,

[…] utilizam a língua como instrumento de comunicação em complexas


situações, orais, escritas ou mistas, que incluem interações transacionais e
interpessoais, que exigem uma comunicação efetiva e eficaz (singular, dual
ou plural; presencial, por telefone e por videoconferência) para desenvolver-
se de forma assertiva, transmitir ordens, obrigações ou funções e comunicar
constantemente informações e decisões, estabelecer negociações ou para
orientar, consultar e controlar atividades ou condutas e gerir informações
em diversos suportes mediante o uso das tecnologias da informação
(AGUIRRE BELTRÁN, 2000, p. 36)25.

Material didático, gêneros e ensino de espanhol são termos que se


relacionam no contexto do profissional de secretariado, pois estamos frente a
demandas prescritas desde os primórdios da profissão e que serão contextualizadas
no parágrafo seguinte.

25
Tradução livre nossa. No original: “[...] utilizan la lengua como instrumento de comunicación en
complejas situaciones, orales, escritas o mixtas, que incluyen interacciones transaccionales e
interpersonales, que exigen una comunicación efectiva y eficaz (singular, dual o plural; presencial, por
teléfono y por videoconferencia) para desenvolverse de forma asertiva, transmitir órdenes,
obligaciones o funciones y comunicar constantemente información y decisiones, establecer
negociaciones o para orientar, consultar y controlar actividades o conductas y gestionar información
en diversos soportes mediante el uso de las tecnologías de la información”.
59

A regulamentação da profissão, no art. 4º, inciso IV, prediz que os


profissionais de secretariado devem dar conta da “[...] redação de textos
profissionais especializados, inclusive em idioma estrangeiro”, o inciso VII, por sua
vez, acrescenta que eles ainda são responsáveis pela “[...] versão e tradução em
idioma estrangeiro, para atender as necessidades de comunicação da empresa”
(BRASIL, 1985). Isso tudo, evidentemente, tem a ver com a produção de materiais
didáticos de língua e estrangeira(s) que atendem a esse público e que abordam os
diferentes gêneros que perpassam a rotina desse colaborador.

Tendo realizado nossas explanações sobre os materiais didáticos no


ambiente profissional e educacional do secretariado, em uma perspectiva que
relaciona a observância aos gêneros e o ensino de espanhol, a seguir,
apresentamos o Capítulo IV, com informações sobre o ensino de espanhol para
secretariado por meio dos gêneros nesses materiais. Ademais, dissertamos sobre os
aspectos que envolvem nossa metodologia de pesquisa, assim como descrevemos
o corpus, os dados coletados e realizamos as análises e interpretações cabíveis.
60

CAPÍTULO IV - O ENSINO DE ESPANHOL PARA SECRETARIADO


COM O APOIO DE GÊNEROS EM MATERIAIS DIDÁTICOS

4.1. Aspectos Metodológicos

Este capítulo inicia-se abordando alguns aspectos importantes do processo


metodológico delineado para esta dissertação como viés da abordagem do
problema, características da pesquisa no tocante aos objetivos e fins e, ainda, em
relação aos meios traçados para se chegar aos resultados.

No que diz respeito à abordagem do problema, este estudo é,


predominantemente, qualitativo, uma vez que de acordo com Minayo (2001, p. 14),
esse tratamento manipula um “universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das
relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis”. Ao resgatarmos que nossa problemática é “Qual o
papel dos gêneros em materiais didáticos, no contexto do EFE, Elfe e LinFE?”,
entendemos que a busca por informações e posterior análise dos dados coletados
fica mais bem esclarecida em uma pesquisa do tipo qualitativa por manipular
variáveis de cunho dissertativo e não numérico.

Quanto aos objetivos e aos fins, a investigação é de natureza exploratória,


pois busca descobrir ideias e intuições, na tentativa de adquirir maior familiaridade
com o fenômeno pesquisado (SELLTIZ; WRIGHTSMAN; COOK, 1965), ou seja, o
ensino dos gêneros em materiais didáticos de espanhol para secretariado. Zikmund
(2000), por sua vez, classifica os estudos exploratórios como úteis para diagnosticar
situações, explorar alternativas ou descobrir novas ideias.

Em relação aos meios traçados, a pesquisa é documental, já que, de acordo


com Lakatos e Marconi (2001), a coleta de dados é realizada em fontes primárias,
como documentos escritos ou não, pertencentes a arquivos públicos, arquivos
particulares de instituições e domicílios e fontes estatísticas. Desse modo, neste
estudo, recorremos aos programas das disciplinas de espanhol ministradas nos
61

cursos de bacharelado em Secretariado, Secretariado Executivo, Secretariado


Executivo Bilíngue e Secretariado Executivo Trilíngue de Instituições de Ensino
Superior (IES) públicas brasileiras.

A escolha de apenas IES públicas (entre estaduais e federais)26 se relaciona


às delimitações pensadas para a amostra, uma vez que , atualmente, na página do e-
MEC, site administrado pelo MEC, existem mais de cem instituições cadastradas,
entre as quais muitas já não ofertam o curso de secretariado e, dentre aquelas que
ainda o oferecem, há algumas que possuem sites sem informações sobre o curso,
desatualizadas e, consequentemente, inviabilizando o andamento da coleta de
dados.

O Quadro 7 apresenta a relação de IES ofertantes dos cursos de


secretariado, do mesmo modo que aquelas com as disciplinas de LE na modalidade
obrigatória27 e suas respectivas cargas horárias28.

Quadro 7 – Relação de IES ofertantes dos cursos de secretariado, disciplinas de LE na modalidade


obrigatória e carga horária
Região Estado IES Disciplinas Carga
horária
29
Pará Uepa E-I, E-II, E-III e E-IV 400h
Roraima UFRR LE I, LE II, LE III e Redação 240h
Norte
Empresarial em Língua
Espanhola
Bahia UFBA E-I, E-II, E-III e E-IV 374h
Ceará UFC Optativas -
Paraíba UFPB LE I, LE II, LE III, LE IV, LE 180h
V, Redação Comercial em
Espanhol e Técnicas de

26
Neste trabalho não consideramos as Faculdades de Tecnologia (Fatecs), no estado de São Paulo,
bem como os vários Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs), pois tais instituições
oferecem, em sua maioria, cursos de Tecnologia em Secretariado, exceto o IFMT. Sobre o ensino de
EFE no ensino superior tecnológico, recomendamos consultar a tese doutoral de Maria Camila Bedin
(2017), no endereço: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48138/tde-31072017-162103/pt-
br.php>
27
Algumas IES não ofertam disciplinas de LE, como é o caso da UFPE e UFSC, e em outras, a LE é
optativa, neste caso, UFC e UEM. Assim sendo, das quinze IES apresentadas no Quadro 7,
passamos a considerar apenas 11.
28
Embora as disciplinas apresentadas no Quadro 7 sejam específicas de Espanhol, não é em todos
os níveis que há referência ao secretariado. Normalmente, no nível I (semestre, período, ciclo, ano,
série), contextualiza-se o idioma, apresentam-se questões introdutórias da língua etc. Somente a
partir do nível II, em algumas IES até do nível III, é que o professor começará a inserir o estudante no
ambiente específico da profissão de secretário.
29
No caso da Uepa, mesmo oferecendo disciplinas de LE, não foram identificadas nos conteúdos
programáticos analisados nenhuma das obras listadas no Quadro 8.
62

Tradução em Espanhol
Pernambuco UFPE - -
Nordeste Sergipe UFS EFE I e EFE II 120h
Centro-Oeste Mato Grosso IFMT LE I, LE II e LE III 198h
Sudeste Minas Gerais UFV LE I, LE II, LE III e Espanhol 240h
Empresarial
Unespar- E-I, E-I, E-III e E-IV 420h
Fecea
30
UEL LE I, LE II e LE III 408h
UEM Optativas -
Unicentro EAS I, EAS II e EAS III 306h
Unioeste LE I, LE II e LE III 272h

Sul Paraná
Santa Catarina UFSC - -
Fonte: Elaborado pelo autor.

Legenda: (E): Espanhol; (LE): Língua Espanhola; (EFE): Espanhol para Fins Específicos; (EAS):
Espanhol Aplicado ao Secretariado.

No intuito de se conhecer quais eram as referências utilizadas nos cursos de


secretariado nas disciplinas de LE e a frequência com que elas se repetiam nos
programas das disciplinas, elaborou-se o Quadro 8.

Quadro 8 – Relação de referências e frequência de citação

Referência IES que utiliza como


bibliografia básica
DURÃO, A. B. A. B. (Org.). Español para secretariado. UFV, Unespar-Fecea,
Londrina: Editora da UEL, 1999. Unicentro, UFPB e
Unioeste
AGUIRRE, B.; GÓMEZ DE ENTERRÍA, J. G. El Español por UFPB, Unespar-Fecea,
profesiones: Secretariado. Madrid: SGEL, 1992. Unicentro e UFRR
GONZÁLEZ, P. V. Espanhol para secretariado: um guia UFBA, UFS e UFPB
prático para secretários, assessores e assistentes. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2012.
VARGEM, D. P. de M.; FREITAS, L. M. A. de. Espanhol para UFBA, UFS e UFPB
secretariado executivo. Curitiba: IESDE, 2011. (Digital)
DURÃO, A. B. A. B.; RUANO, M. A. Español profesional – IFMT e UFS
secretariado. Paraná: Eduel, 2008.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Subsequente ao levantamento das referências utilizadas nas disciplinas de LE


e para fins de delimitação do corpus estabeleceu como critério considerarmos
apenas aquelas que eram usadas por, no mínimo, três IES, e no formato impresso.
Com isso, obtivemos as produções de Durão (1999), Aguirre e Gómez de Enterría

30
Após várias tentativas, por e-mail e ligações telefônicas, não conseguimos ter acesso aos
conteúdos programáticos das disciplinas de espanhol ministradas no curso de secretariado executivo
da UEL. Sendo assim, das onze IES ofertantes da disciplina na modalidade obrigatória, consideramos
apenas dez para a seleção do corpus.
63

(1992) e González (2012) como sendo as possíveis obras selecionadas para o


estudo.

O Quadro 9 apresenta a relação final dos materiais que serão analisados no


item 4.2 desta dissertação:

Quadro 9 – Relação final de materiais que serão analisados e seus autores


Materiais didáticos Autores
Español para Secretariado (1999) Adja Balbino de Amorim Barbieri
Durão (Org.)
El Español por profesiones: Secretariado (1992) Blanca Aguirre e Josefa Gómez
de Enterría
Espanhol para Secretariado: um guia prático para Patrícia Varela González
secretários, assessores e assistentes (2012)
Fonte: Elaborado pelo autor.

Com vistas a atingir o objetivo geral deste trabalho, que é analisar materiais
didáticos de espanhol para secretariado adotados pelos cursos de graduação em
secretariado no Brasil, com o fim de verificar qual o papel dos gêneros nesse ensino,
as análises estiveram voltadas para: a) conhecer a formação inicial e continuada dos
professores autores dos materiais didáticos, uma vez que estar inserido no ensino
de EFE, Elfe ou LinFE é fator fundamental para ensinar línguas de especialidade; b)
identificar se nos materiais didáticos analisados abordam-se os gêneros, já que a
existência deles é vista como milenar nas diferentes práticas sociais (MARCUSCHI,
2008) e que eles desempenham papel fundamental no dia a dia do profissional de
secretariado; c) verificar se os gêneros inseridos nesses materiais didáticos
estabelecem alguma relação com a esfera em que o secretariado se insere (ou seja,
o âmbito profissional); d) verificar qual o tratamento que as atividades e/ou tarefas
recebem no processo de assimilação do conteúdo (se elas mantêm aproximação
com as teorias de ensino e aprendizagem da Linguística Aplicada ou se se
distanciam dela); e) verificar se são adotados critérios para a elaboração dessas
atividades, pois é pertinente que elas mantenham certa adequação ao contexto
laboral do profissional de secretariado, bem como ao tratamento do gênero em si.

As análises e discussões realizadas desenvolveram-se, basicamente, por


meio das seguintes etapas interconectadas: descrição, identificação e análise dos
dados encontrados/identificados nos manuais e no livro em estudo, sempre
64

amparadas em algumas das teorias apresentadas ao longo do referencial teórico


desta pesquisa.

As categorias de análise estabelecidas para este trabalho podem ser


localizadas no Quadro 10 e foram convencionadas a partir dos referenciais teóricos
que apresentamos nesta dissertação, especialmente, nos Capítulos II e III.

Quadro 10 – Categorias de análise


Categorias
Gêneros:
- identificação do gênero (Marcuschi, 2008, 2011)
- posição na esfera discursiva (Bazerman, 1994, 2004, 2005, 2011)
- relevância para o profissional (Bhatia, 1993, 1997, 2004; Aguirre Beltrán, 2000)
Atividades propostas:
- trabalho com o gênero (Aguirre Beltrán, 2000)
- menção à esfera discursiva (Marcuschi, 2008, 2011; Bazerman, 1994, 2004, 2005, 2011)
- indicação do uso para o profissional (Bhatia, 1993, 1997, 2004; Aguirre Beltrán, 2000)
Fonte: Elaborado pelo autor.

A categoria “gêneros” está relacionada com a esfera discursiva em que o


profissional de secretariado está inserido e procura identificar nos materiais didáticos
a referência aos gêneros que, por sua vez, tem a ver com a posição dessas
abordagens no discurso da profissão e a relevância desses gêneros para o
profissional da área. Já o eixo “Atividades propostas” viabiliza a fixação do conteúdo,
pelos aprendizes, e devem estar relacionadas com a prática profissional desses
trabalhadores e com as teorias do ensino e da aprendizagem no âmbito da
Linguística Aplicada. Em outras palavras, procuraremos descobrir como as autoras
trabalham os gêneros nas atividades, se há menção ao espaço discursivo desses
colaboradores e, igualmente, se há indicação do uso voltada para o trabalho.

Continuamente, iniciamos a apresentação dos resultados, acompanhados de


suas respectivas interpretações.
65

4.2. Nossos achados

4.2.1. Obra 1: “Español para Secretariado”

O primeiro material analisado nesta dissertação foi republicado em 1999,


segunda edição, e organizado por Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão. Durante
a realização da pesquisa não conseguimos acesso à primeira edição do livro. Como
já apresentado no Quadro 8 (ver página 62), esta obra foi identificada em cinco dos
dez programas de disciplinas considerados para o estudo.

Na figura 1, que segue, apresentamos a capa do manual. Na sequência,


procuramos responder ao primeiro objetivo específico do trabalho, que é conhecer
qual o envolvimento das autoras com EFE, Elfe ou LinFE. Para tanto, recorremos às
sínteses curriculares disponíveis nos apêndices da capa.

Figura 1 – Capa do manual “Español para secretariado”

Fonte: Durão et al. (1999).


66

Sobre as autoras:

Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão é Doutora em Linguística Espanhola pela


Universidad de Valladolid e mestre em Língua Espanhola e Literaturas Hispânicas
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Suas linhas de pesquisa atuais se
concentram nos problemas de aprendizagem dos brasileiros aprendizes de espanhol
e nos processos de ensino de segundas línguas. Atualmente é professora de Língua
Espanhola e Linguística Aplicada na Universidade Estadual de Londrina31.

Beatriz Sanz Alonso é Doutora em Filologia Hispânica e professora de Língua


Espanhola na Universidad de Valladolid, onde ministrou, durante muitos anos,
cursos nos estudos para estrangeiros. Suas linhas de pesquisa atuais são a
gramática espanhola, a toponímia e o ensino de espanhol como segunda língua32.

Carmen Hoyos Hoyos é Doutora em Filologia Hispânica pela Universidad de


Valladolid. Suas linhas de pesquisa atuais são a gramática do espanhol e a didática
do espanhol como segunda língua. Atualmente é professora de Linguística, assim
como Diretora nos cursos para estrangeiros da Universidad de Valladolid33.

María Ángeles Sastre Ruano é Doutora em Filologia Hispânica pela Universidad de


Valladolid. Suas linhas de pesquisa atuais se concentram na morfossintaxe do
espanhol nas vertentes sincrônicas e diacrônicas e no ensino do espanhol como
segunda língua. Atualmente é professora de Língua Espanhola, assim como

31
Tradução livre nossa. No original: “Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão es Doctora en
Lingüística Española por la Universidad de Valladolid y Master en Lengua Española y Literaturas
Hispánicas por la Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sus líneas actuales de investigación se
centran en los problemas de aprendizaje de brasileños aprendices de español y en los procesos de
enseñanza de segundas lenguas. En la actualidad es profesora de Lengua Española y Lingüística
Aplicada en la Universidade Estadual de Londrina”.
32
Tradução livre nossa. No original: “Beatriz Sanz Alonso es Doctora en Filología Hispánica y
profesora de Lengua Española en la Universidad de Valladolid, en la que ha impartido, además,
durante años, cursos en los Estudios para Extranjeros. Sus líneas de investigación actuales son la
gramática española, la toponimia y la enseñanza del español como segunda lengua”.
33
Tradução livre nossa. No original: “Carmen Hoyos Hoyos es Doctora en Filología Hispánica por la
Universidad de Valladolid. Sus líneas actuales de investigación son la gramática del español y la
didáctica del español como segunda lengua. En la actualidad es profesora de Lingüística, así como
Directora en los Cursos de Extranjeros en la Universidad de Valladolid”.
67

professora de Gramática nos estudos para estrangeiros na Universidad de


Valladolid34.

María Montserrat Ruiz Prieto é Graduada em Filologia Hispânica pela Universidad


de Valladolid. Suas linhas de pesquisa atuais se concentram na morfossintaxe do
espanhol e no ensino de espanhol como segunda língua. Atualmente é professora
de Gramática nos estudos para estrangeiros na Universidad de Valladolid35.

Nievez Mendizábal de la Cruz é Doutora em Filologia Hispânica pela Universidad


de Valladolid. Suas linhas de pesquisa atuais são a gramática do espanhol e a
metodologia do ensino de espanhol como segunda língua. Atualmente é professora
de Espanhol, assim como professora de Gramática nos cursos para estrangeiros da
Universidad de Valladolid36.

Considerando as informações sobre as autoras transcritas anteriormente, é


possível afirmar que nenhuma delas possui qualquer envolvimento com estudos do
espanhol para secretariado e tão pouco elas apresentam formação acadêmica
específica na área. Além disso, elas também não possuem experiência com Elfe ou
LinFE, competência esta que é fundamental para ensinar línguas de especialidade.
Logo, é possível depreender que o conteúdo da obra é baseado no que as
professoras julgam importante e necessário para tais profissionais, sem a devida
experiência prática ou visão sistêmica das questões que envolvem a profissão de
secretário no mercado de trabalho. Ademais, entendemos que os autores que
possuem efetiva atuação com as línguas de especialidade tendem a contribuir mais
com a área à qual se dedicam, já que elaboram materiais didáticos que servem de

34
Tradução livre nossa. No original: “María Ángeles Sastre Ruano Doctora en Filología Hispánica por
la Universidad de Valladolid. Sus líneas actuales de investigación se centran en la morfosintaxis del
español en las vertientes sincrónica y diacrónica y la enseñanza del español como segunda lengua.
En la actualidad es profesora de Lengua Española, así como profesora de Gramática en los Estudios
para Extranjeros en la Universidad de Valladolid”.
35
Tradução livre nossa. No original: “María Montzerrat Ruiz Prieto es Licenciada en Filología
Hispánica por la Universidad de Valladolid. Sus líneas actuales de investigación se centran en la
morfosintaxis del español y la enseñanza del español como segunda lengua. En la actualidad es
profesora de Gramática en los Estudios para Extranjeros de la Universidad de Valladolid”.
36
Tradução livre nossa. No original: “Nievez Mendizábal de la Cruz es Doctora en Filología Hispánica
por la Universidad de Valladolid. Sus líneas actuales de investigación son la gramática del español y
la metodología de enseñanza del español como segunda lengua. En la actualidad es profesora de
Español, así como profesora de Gramática en los Cursos para Extranjeros de la Universidad de
Valladolid”.
68

suporte para a aprendizagem e também capazes de transmitir conhecimentos, além


de apresentarem um valor agregado na dimensão prática, um saber fazer específico
do secretariado, da mesma forma que uma aproximação cuidadosa e cultural na
comunidade profissional que se comunica em um âmbito específico (AGUIRRE
BELTRÁN, 2009).

O livro possui 188 páginas, foi publicado pela Editora Eduel (Londrina-PR) e
está escrito totalmente em Língua Espanhola. A edição analisada é de 1999
(corrigida e aumentada), mas pelo que localizamos no Currículo Lattes da
organizadora, há uma primeira, possivelmente publicada em 1998. O material está
dividido em oito unidades e dispõe de sete subtópicos em cada uma delas, a saber:
Diálogo; Situaciones comunicativas; Destrezas lectoras; Destrezas de escritura;
Apuntes de Gramática; No te lo saltes a la torera e Con las armas en la mano.

Na Unidad 1, o primeiro gênero estudado é o Curriculum vitae. Na segunda,


as pesquisadoras dedicaram atenção à Carta, enfatizando-se a Carta Personal e a
Carta Comercial. Na sequência, elas iniciam com o gênero oral Atendimento
Telefônico e seguem dissertando mais um pouco sobre a Carta Comercial. Na
quarta unidade, estudam as Cartas de presentación. Na quinta, tem-se outro gênero
oral, Entrevista de Trabajo e outros escritos: Cartas para concertar cita y responder a
propuestas de citas e Cartas de agradecimiento. Na Unidad 6 o gênero apresentado
foi o Contrato. Na unidade 7, a atenção foi voltada, novamente, para a Carta
Comercial: oferta de productos. Na Unidad 8, por fim, não se apresentam novos
conteúdos didáticos, mas as professoras aproveitaram o espaço para inserirem
alguns exercícios de fixação.

No intuito de respondermos a segunda questão proposta para o estudo, qual


seja “identificar se nos materiais didáticos abordam-se os gêneros”, o Quadro 11
apresenta um resumo do que as autoras exploram de gêneros nesta obra.
69

Quadro 11 – Resumo dos gêneros identificados na obra “Español para secretariado”


Obra Gêneros identificados
Español para Secretariado Curriculum vitae, Cartas (pessoal, comercial, de
apresentação, em resposta a propostas de
reuniões, de agradecimento), Atendimento
telefônico, Entrevista de trabalho e Contrato.
Fonte: Elaborado pelo autor.

No livro organizado por Durão et al. (1999), identificamos que as questões


relacionadas aos gêneros eram exploradas, basicamente, na sessão intitulada
“Destrezas de escritura”. Ao todo foram oito conteúdos (tópicos), sendo que seis
deles estavam situados na esfera escrita e dois na oral. Na introdução do manual, as
autoras destacam essa sessão como capaz de reunir “as principais técnicas da
correspondência comercial, assim como outras atividades em espanhol que se
baseiam na rotina da atividade como secretário ou secretária”37 (DURÃO et al.,
1999, p. XI, grifo nosso).

Um ponto interessante, e ao mesmo tempo preocupante de se observar, já


que se trata de um manual que está sendo usado nos cursos de formação, é que, no
comentário apresentado na introdução, elas se referem ao secretariado como uma
atividade, demonstrando total desconhecimento de que, no Brasil, trata-se de uma
profissão regulamentada desde 1985. Considerando que cinco das seis autoras
moravam na Espanha, onde secretário não é profissão (SABINO, 2006), isso talvez
possa justificar o apontamento errôneo, embora não as isentem do equívoco, até
porque a professora Adja Durão lecionava na UEL, onde há o curso de Secretariado
Executivo desde 1994.

No intuito de visualizarmos como os conteúdos propostos para os gêneros


eram apresentados nesse manual, extraímos um texto que aparece na seção
“Destrezas de escritura”, da Unidade 1, e diz respeito ao gênero “Curriculum Vitae”,
que se inicia na página 7 e finaliza na página 8.

37
Tradução livre nossa. No original: “[...] Las principales técnicas de la correspondencia comercial,
así como otras actividades en español que se basan en la rutina de la actividad como secretario o
secretaria”.
70

Figura 2 - Conteúdo proposto para ensinar o gênero Curriculum Vitae (Parte 1)

38

Fonte: Durão et al. (1999, p. 7).

38
Notamos que na terceira-quarta linha do primeiro parágrafo há certa confusão com as pessoas do
discurso, pois o texto começa com “tú” (2ª pessoa do singular – “sabes”) e, de repente, aparece o
“vosotros” (2ª pessoa do plural – “Aquí os ofreceremos”). Como na referência consta que se trata de
uma adaptação, não se sabe se o erro está no arquivo original ou na transcrição das autoras.
71

Figura 2 - Conteúdo proposto para ensinar o gênero Curriculum Vitae (Parte 2)

39

Fonte: Durão et al. (1999, p. 8).

O gênero currículo mantém estreita relação com o dia a dia do profissional de


secretariado. Seja porque esse colaborador trabalha na assessoria ao setor de
recrutamento e seleção, seja porque ele está desempregado e precisa de

39
Após a apresentação da referência, o texto segue com o trecho “La estructura de un curriculum no
suele variar mucho. Os presentaremos un modelo”. (Grifo nosso). Novamente, aparece a 2ª pessoa
do discurso (vosotros). Pelas circunstâncias de todo o manual, no qual as autoras tratam o leitor por
“tú”, de fato, essa 2ª pessoa destoa do restante da obra.
72

recolocação no mercado de trabalho. Em ambos os casos, ter esse conhecimento


pode ser fundamental para garantir a sua empregabilidade ou de outrem, pois
embora a confecção desse documento pareça ser simples, até banal, qualquer gafe
em sua construção pode colocar em jogo a credibilidade do candidato.

No contexto da primeira obra investigada, ao perpassarmos pelas oito


unidades que ela possui, é pertinente e apreciável o fato de as autoras terem
considerado alguns dos gêneros corriqueiros no ambiente de trabalho do profissional
de secretariado, mas não há registro, por exemplo, do ensino de outros documentos
próprios dessa prática: correio eletrônico, ata (RODRIGUEZ, 2006; ABDALLA,
2009); memorando, declaração (RODRIGUEZ, 2006; NASCIMENTO, 2010); carta de
porte, certificado de origem (LUGLI, 2013); ofícios, requerimentos (SOUZA, 2015),
dentre outros. Isso, por sua vez, responde ao terceiro objetivo proposto para o
estudo que é verificar se os gêneros abordados nos materiais estabelecem relação
com a esfera em que o secretariado se insere, ou seja, no âmbito do trabalho. Neste
caso, em específico, os poucos gêneros inseridos no manual estabelecem relação
com a área de secretariado.

Nas oito unidades consideradas para o estudo não se encontrou qualquer


menção sobre o que seriam os gêneros, quais suas funções, em quais contextos
eles aparecem, como incorporá-los no dia a dia e se é possível isso, se eles são
fixos, cristalizados ou mutáveis (MARCUSCHI, 2008). Como se trata de uma obra
republicada em 1999, ou seja, quando os estudos de gênero ainda não estavam tão
difundidos, embora estejamos de acordo com Marcuschi (2008) sobre a presença
dos gêneros desde sempre nos grupos e relações sociais. Além disso, entendemos
que, na prática secretarial, o conhecimento dos gêneros é indispensável para o bom
desempenho no trabalho, seja em língua materna ou estrangeira(s).

Quanto às atividades propostas, respondendo ao quarto objetivo desta


pesquisa (verificar se as atividades e/ou tarefas mantem aproximação com as teorias
de ensino e aprendizagem da Linguística Aplicada ou se distanciam), constatamos
que entre as atividades inseridas no livro há uma predominância daquelas
classificadas como “de prática da forma”, seguidas das “pré-comunicativas” e poucas
são as atividades comunicativas do tipo “tarefa”. Conforme já contextualizado mais
73

amplamente em nota de rodapé, (ver página 27 e 28), as atividades “de prática da


forma” têm como objetivo focar na forma da língua e no vocabulário; as “pré-
comunicativas” instigam os estudantes a produzirem formas linguísticas aceitáveis e
não necessariamente comunicarem significados; as do tipo “tarefa”, normalmente
realizadas em pares ou em grupos, colocam os alunos frente às situações-problema,
de modo que eles procurem resolvê-las por meio de intensa interação (GONZALEZ,
2017).

Os fragmentos apresentados nas Figuras 3, 4 e 5 foram retirados da Unidade


1 e procuram materializar os comentários anteriormente feitos sobre as atividades
e/ou propostas na obra.

Figura 3 - Exemplo de atividade “de prática da forma”

Fonte: Durão et al. (1999, p. 16)

Figura 4 - Exemplo de atividade “pré-comunicativa”

Fonte: Durão et al. (1999, p. 5).

Figura 5 - Exemplo de atividade comunicativa “tarefa”

Fonte: Durão et al. (1999, p. 11).


74

No primeiro fragmento, partindo do que orienta o comando da questão, a “de


prática da forma” está voltada para o emprego das formas contratas “a” (preposición)
+ “el” (artículo), que resulta em “al”; “de” (preposición) + “el” (artículo), que resulta em
“del”, nos respectivos casos que o estudante julgar cabível. Já na Figura 4, que diz
respeito a uma atividade “pré-comunicativa”, o que se espera do aluno é que ele
desenvolva um pequeno texto, com formas linguísticas aceitáveis, que responda ao
desafio proposto, neste caso, justificar a resposta dada caso concorde que se em
uma situação na qual a pessoa não cumpre os requisitos da vaga, mas considera
que pode ocupá-la, é cabível contra-argumentar com esses gestores de modo que
eles acreditem nessa premissa e selecionem o candidato. No caso da atividade
comunicativa “tarefa”, propõe-se que o estudante redija o currículo do colega de
classe, conforme o modelo apresentado pelas autoras, mas, para tanto, deverá
primeiro fazer uma minientrevista.

Com base no comando que é apresentado na atividade comunicativa “tarefa”,


Figura 5, talvez seja pertinente recordar que os gêneros não podem ser vistos como
um protótipo “no sentido de entidades a serem reproduzidas ou imitadas, seja no
ensino ou no dia a dia, pois são de tal ordem que mais parecem paradigmas de
heterogeneidade enunciativa” (MARCUSCHI, 2011, p. 31). Em outras palavras,
quando os aprendizes consideram tal comando e reproduzem o gênero tal como
recomendado, dificilmente eles estarão sendo instigados a desenvolverem-se em
outras situações de comunicação, de modo que sejam capazes de usarem com
propriedade a língua de especialidade, os textos, os gêneros, o léxico, a
terminologia específica, dentre outros recursos da língua.

Ainda no que diz respeito às atividades propostas, percebemos que as


autoras inserem frases e exemplos relacionados à prática dos gêneros somente
quando os conteúdos são gêneros. Quando se trata de outro tipo de conteúdo
(gramatical, cultural, comunicativo etc.) esses excertos não têm nenhuma relação
com a esfera discursiva dos profissionais de secretariado. Complementar a isso,
também não conseguimos identificar claros critérios para a elaboração de tais
atividades. Mesmo assim, entendemos que o quinto objetivo da pesquisa (verificar
75

se são adotados critérios para a elaboração dessas atividades) foi parcialmente


respondido.

Para fins de contextualização do parágrafo anterior podemos utilizar os


próprios fragmentos 3 e 5 apresentados anteriormente. No caso do excerto 5,
relacionado ao gênero “Curriculum vitae”, a atividade proposta dizia respeito a ele.
Quando consideramos o extrato 3, atividade 4, que estava ligado aos tópicos
gramaticais “el artículo determinado”, “valores semânticos de lo” e “usos del neutro
lo”, as frases e exemplos apresentados, com exceção do item 3 – “Por favor, dame
el correo de .... jefe, se lo voy a colocar en su mesa”, não têm nenhuma relação
com o contexto sociodiscursivo do profissional de secretariado. Nesse sentido,
acreditamos que essas frases e exemplos seriam mais produtivos e ofereceriam
uma efetiva contribuição se estivessem relacionados com o ambiente de trabalho
desse colaborador.

Sendo um “empreendimento cada vez mais multidisciplinar” (MARCUSCHI,


2008, p. 149) e uma “forma de ação social” (MILLER, 1984), entendemos que as
abordagens dos gêneros nos materiais didáticos deveriam colocá-los como
possibilidades de trilhar caminhos que procurem responder às demandas das
práticas sociais em determinados contextos, neste caso, do secretariado. Além
disso, parece que são necessários alguns questionamentos: em que medida os
gêneros contribuem para a manutenção ou modificação da prática secretarial? Um
currículo, por exemplo, sempre apresentou a mesma estrutura ou ele se transformou
ao longo do tempo?

Somando-se a isso, o que dizer sobre os aspectos contrastivos da língua, não


seriam necessários no ensino dos gêneros? A forma de redigir e estruturar um
currículo no Brasil é a mesma que na Argentina, Venezuela, Espanha etc. ou há
diferenças? Isto é importante destacar na medida em que notamos que ao
introduzirem o assunto, as autoras remetem somente ao conhecimento do gênero
em LM. Partir do pressuposto de que o aluno já sabe fazer um currículo na LM nem
sempre é uma estratégia, pois na LE esse conteúdo pode ter diferenças
significativas em outro país.
76

Compreender a movimentação dos gêneros em contextos específicos pode


ser visto como uma forma de promover ou contribuir com a aprendizagem
verdadeira, já que ela se torna possível à medida que exista um espaço onde as
práticas de linguagem são reais (em uso na sociedade) e suas atividades
reproduzam transformações constantes no inconsciente do aluno, deixando-o apto a
construir suas próprias práticas comunicativas (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004).

Não menos importante, mas necessário, é observarmos os discursos


socialmente estigmatizados no âmbito do secretariado, pois conforme apresentado
no Capítulo I, o gênero “social”, marcadamente quando nos referimos à secretária,
contribui para promovermos a separação entre profissionais homens e mulheres na
profissão (SILVA; VEIGA; SOUZA, 2017). Nesse ponto de vista, entendemos que as
autoras alimentam esse imaginário social quando, por exemplo, na atividade
comunicativa “tarefa”, Figura 5, elas empregam o termo compañero40, no masculino,
mas nas atividades propostas, da página 27, mudam o discurso, passando a utilizar
o vocábulo secretaria, no feminino, conforme apresentado na Figura 6.

Figura 6 - Exemplo de atividade legitimada pelo gênero “social”

Fonte: Durão et al. (1999, p. 27).

Embora as autoras considerem como ponto de partida o texto do tópico


“Destrezas lectoras - Secretaria perfecta” para elaborar a questão apresentada na
Figura 6, entendemos que isso não justifica a mudança de tratamento quanto ao
gênero “social” na atividade. Ainda que se trate de uma obra publicada no século
XX, no qual os estudos de gênero e diversidade no âmbito do secretariado eram
incipientes, os principais problemas que vemos é o fato dessa bibliografia ainda ser
utilizada nos cursos de secretariado em pleno século XXI, bem como não ter sido
atualizada desde então.

40
Entendemos que elas estão se referindo ao colega de classe.
77

A existência desse cenário, possivelmente, ainda contribui para inibir


(repreender) a participação, o engajamento dos estudantes do sexo masculino nas
classes de espanhol, no curso como um todo e na até própria profissão. A ausência
da percepção sobre a existência de profissionais masculinos nos materiais didáticos
e na profissão acarreta falta de pertencimento e faz-nos resgatar os
questionamentos propostos por Silva, Veiga e Souza (2017, p. 209): “ao
escolhermos uma profissão, devemos estar subordinados às “características
sexuais” de cada uma delas? Seriam elas responsáveis pela obtenção do sucesso
numa dada área? O receio do julgamento da sociedade deve prevalecer perante o
desejo de exercer uma dada profissão?”.

A seguir, dedicamos atenção ao segundo material didático selecionado para o


estudo.

4.2.2. Obra 2: “El español por profesiones: secretariado”

Esse livro foi publicado em 1992, primeira edição, pela Sociedad General
Española de Librería, S. A. (SGEL), Madrid/Espanha, e tem como autoras Blanca
Aguirre e Josefa Gómez de Enterría. De acordo com o Quadro 8 (ver página 62), ela
foi identificada em quatro dos dez programas de disciplinas considerados para esta
investigação.

Na Figura 7, apresentamos a capa do livro e, em seguida, procuramos


responder ao primeiro objetivo específico da pesquisa, que é conhecer qual o
envolvimento das autoras com EFE, Elfe ou LinFE. Neste caso, como não
encontramos no livro as sínteses curriculares, recorremos a outros meios como a
internet, por exemplo.
78

Figura 7 – Capa do livro “El español por profesiones: secretariado”

Fonte: Aguirre e Gómez de Enterría (1992).

Sobre as autoras:

Blanca Aguirre foi professora pesquisadora da Universidad Complutense de Madrid


(Espanha) e autora de inúmeros trabalhos científicos e materiais didáticos de
espanhol língua de especialidade.

Josefa Gómez de Enterría41é Professora Emérita da Área de Língua Espanhola,


Universidad de Alcalá (Espanha). Pesquisadora principal de Projetos de Pesquisas
do Plano Nacional até o momento atual, sem interrupções. Suas investigações
abarcam múltiplas facetas das línguas de especialidade em perspectiva sincrônica e
diacrônica, tais como o ensino-aprendizagem do espanhol língua de especialidade;
41
Tradução livre nossa. No original: “Profesora Emérita del Área de Lengua Española. Universidad de
Alcalá (España). Investigadora principal de Proyectos de Investigación del Plan Nacional desde el año
2000 hasta el momento actual ininterrumpidamente. Sus investigaciones abarcan múltiples facetas de
las lenguas de especialidad en sincronía y diacronía, tales como la enseñanza-aprendizaje del
español lengua de especialidad; recursos terminológicos y fraseológicos de los vocabularios
especializados en diversas áreas temáticas; neología y análisis discursivo en los vocabularios
científicos de los siglos XVII al XIX; la traducción de los textos científicos históricos, etc. Es autora de
numerosos trabajos de investigación (libros y artículos en revistas especializadas) y Premio Conde de
Cartagena de la Real Academia Española”. Disponível em: <http://ciefe.com/josefa-gomez-de-
enterria/>. Acesso em: 2 maio 2018.
79

recursos terminológicos e fraseológicos dos vocabulários especializados em


diversas áreas temáticas; neologia e análise discursiva nos vocabulários científicos
dos séculos XVII ao XIX; a tradução dos textos científicos históricos etc. É autora de
numerosos trabalhos de pesquisa (livros e artigos em revistas especializadas) e
Prêmio Conde de Cartagena da Real Academia Española.

Com base nos dados apresentados sobre as autoras é possível afirmar que,
apesar de não terem formação acadêmica em secretariado, as sólidas experiências
no ensino do espanhol como língua de especialidade, EFE, Elfe e/ou LinFE, além do
envolvimento com os recursos terminológicos e fraseológicos dos vocabulários
especializados em diversas áreas temáticas, como é o caso de Gómez de Enterría,
possibilita às pesquisadoras apresentarem inúmeras contribuições para um
determinado nicho profissional.

A obra em análise possui 190 páginas e é a primeira da coleção “El Español


por profesiones” da “SGEL-Educación”. O livro está distribuído em nove unidades e
em todas elas o leitor encontrará:

Apresentação: com documentos autênticos ou diálogos que introduzem a


situação profissional, o tema e o léxico pertinente.
Para ler e compreender - Para falar - Para praticar - Para terminar.
Incorporam as quatro habilidades básicas, assim como exercícios e
atividades comunicativas que permitem a familiarização com os documentos
42
e os procedimentos da profissão (AGUIRRE; GÓMEZ DE ENTERRÍA,
1992, p. 5).

O material didático também possui uma seção de consulta ao final,


objetivando facilitar a aprendizagem e na qual consta: dicionário, esclarecimentos
sobre usos/funções de termos específicos, gramática e memória, os expoentes das
funções, os aspectos gramaticais e as competências desenvolvidas em cada uma
das unidades didáticas da obra. El español por profesiones: secretariado, como
adiantado pelas autoras, destina-se aos profissionais, professores e estudantes
interessados por esta temática.

42
Tradução livre nossa. No original: “Presentación: con documentos auténticos o diálogos que
introducen la situación profesional, el tema y el léxico pertinente. Para leer y comprender. Para
hablar. Para practicar. Para terminar. Incorporam las cuatro destrezas básicas, así como ejercicios y
actividades comunicativas que permiten la familiarización con los documentos y procedimientos de la
profesión”.
80

Na sequência, apresentamos dois fragmentos, Figuras 8 e 9, a fim de


contextualizarmos sobre como a obra está distribuída no tocante aos gêneros, objeto
de nosso estudo.

Figura 8 – Conteúdos propostos para as unidades 1, 2, 3, 4 e 5

Fonte: Aguirre e Gómez de Enterría (1992, p. 6).


81

Figura 9 – Conteúdos propostos para as unidades 6, 7, 8 e 9

Fonte: Aguirre e Gómez de Enterría (1992, p. 7).

Levando-se em consideração o que é exposto nos conteúdos programáticos


do livro, Figuras 8 e 9, construímos um resumo para ilustrar o que se exploram de
gêneros nesta obra, e que consta no Quadro 12. Assim sendo, entendemos que tal
82

representação responde à segunda questão estabelecida para esta pesquisa:


identificar se no material didático há alguma abordagem dos gêneros.

Quadro 12 – Resumo dos gêneros identificados na obra “El español por profesiones: secretariado”
Obra Gêneros identificados
El español por profesiones: secretariado Múltiplos modelos de Cartas (de pêsame, de
felicitação, de desculpas etc.), Saudações,
Telex, Telefax, Memorando, Telegrama,
Convocação, Entrevista de Trabalho,
Solicitação de emprego, Atendimento
telefônico, Reunião e Atendimento ao cliente.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Preliminarmente, convém comentar que a inclusão de gêneros como telex,


telefax, telegrama etc. responde a demandas da década de 1990, mas não se
justifica na atualidade e, nesse sentido, parece anacrônico o uso desse livro nas IES
do século XXI.

Embora as autoras também não mencionem o termo “gênero” em todo o livro,


elas exploram vários deles nas nove unidades, sejam aqueles entendidos como
orais ou escritos. Conforme consta no índice, há um espaço para o ensino dos
gêneros no conteúdo principal da unidade, bem como nas atividades propostas.
Sobre a ausência da referência ao termo gêneros, resgatamos que se trata de uma
publicação do ano de 1992 e os estudos iniciais desse tema no exterior só
começaram a ser explorados por Swales e Miller na década de 1980. Talvez, por
isso, seja natural que Aguirre e Gómez de Enterría ainda não citem os gêneros
como corriqueiros na prática do profissional de secretariado.

Tendo em vista que, nesse livro, não há um conteúdo direcionado


especificamente para o estudo do currículo, como apresentamos nos fragmentos 1 e
2, retirados da obra de Durão (1999), reproduziremos um exemplo para o tema
Cartas, da Unidade 1 – Comunicações por escrito, no qual se pode notar que há
uma breve contextualização do tópico, quais as modalidades mais utilizadas e em
que consiste cada uma delas. Isso, por sua vez, contribui para reforçar o argumento
de que os gêneros são um empreendimento multidisciplinar/interdisciplinar
(MARCUSCHI, 2008) e que precisam ser contextualizados na prática profissional em
que estão inseridos.
83

Na visão de Rodriguez (2006, p. 21), as cartas são destinadas “ao público


externo e serve[m] como cartão de visita da empresa, já que levam a imagem dela
aos clientes, provedores, autoridades, etc.”43. Sendo assim, temos que se trata de
um documento essencial no trabalho cotidiano do profissional de secretariado.

Figura 10 - Tipos de carta

Fonte: Aguirre; Gómez de Enterría (1992, p. 13).

43
Tradução livre nossa. No original: “[…] al público externo y sirve como tarjeta de visita de la
empresa, ya que lleva la imagen de la misma a los clientes, proveedores, autoridades, etc.”.
84

Como revelado no Quadro 13, esta obra explora vários gêneros (orais,
escritos) próprios do ambiente secretarial/empresarial, tais como: diferentes
modalidades de cartas, memorandos, solicitação de emprego, atendimento
telefônico, pedidos de material para o escritório, dentre outros. Nessa lógica, chama-
nos a atenção o fato de que as autoras, embora não haja menção ao nosso objeto
de estudo, já sinalizavam no conteúdo proposto certa preocupação com os
agrupamentos ou “constelações”, também conhecidos como “conjuntos de gêneros”
(DEVITT, 1991), “sistemas de gêneros” (BAZERMAN, 1994), “cadeias de gêneros”,
“redes de gêneros” (SWALES, 2004), “gêneros disciplinares” ou “colônias de
gêneros” (BHATIA, 2004), entre outras denominações.

Na Unidade 9, por exemplo, estudam-se os “Atos e Informes da Empresa:


preparação de reuniões”. Esse tema, por natureza, é complexo e demanda dos
profissionais de secretariado atenção aos detalhes e conhecimento prévio dos
agrupamentos de gêneros, embora na prática desse colaborador isso já aconteça de
modo inconsciente, pois entendemos que ao serem realizados diariamente
acabaram sendo incorporados ao fazer dos escritórios. Isso, de certo modo, já é
adiantado pelas autoras quando destacam que

uma parte essencial da vida da empresa são as reuniões, nas quais a


secretária terá diferentes responsabilidades. Por um lado, corresponde a
secretária, antes da efetivação de um desses atos, a organização,
convocação e preparação da documentação, assim como o controle e
instruções prévias para um perfeito desenvolvimento da reunião (AGUIRRE;
44
GÓMEZ DE ENTERRÍA, 1992, p. 128).

No decorrer desse ritual, as autoras informam que ainda estará sob a


competência do profissional de secretariado a tomada de notas importantes para a
posterior elaboração da ata. Estando ela pronta, cuidará, em alguns casos, de
encaminhar para os participantes as respectivas correspondências, com os
resultados e deliberações da reunião (AGUIRRE; GÓMEZ DE ENTERRÍA, 1992).

Na visão das autoras, é importante saber ainda quais são os tipos de reuniões
existentes. O fragmento da Figura 11 ilustra tal percepção.
44
Tradução livre nossa. No original: “una parte esencial de la vida de la empresa son las reuniones,
en las cuales la secretaria tendrá distintas responsabilidades. Por una parte, corresponde a la
secretaria, antes de la celebración de uno de estos actos, la organización, convocatória y preparación
de la documentación, así como el control e instruciones previas para un perfecto desarrollo”.
85

Figura 11 - Tipos de reuniões

Fonte: Aguirre; Gómez de Enterría (1992, p. 129).

Referindo-nos ao trabalho diário do profissional de secretariado percebemos


que as reuniões demandam prévias convocatórias. Nelas, deverão constar o
assunto da reunião, a ordem do dia, o local, a data e o horário, assim como quem
convoca para ela. Vejamos um esquema de ordem do dia, com os itens que não
podem faltar, conforme apresentado na Figura 12.

Figura 12 - Ordem do dia

Fonte: Aguirre; Gómez de Enterría (1992, p. 129).

O contexto em que aparecem todas essas informações e demandas


solicitadas ao profissional de secretariado, permite-nos depreender que estamos
frente ao que Bazerman (2004, p. 318) chamou de conjunto de gêneros: “a coleção
de tipos de texto que alguém, em um determinado papel, provavelmente produzirá”.
Nesse sentido, é importante destacar que, embora os gêneros que formam um
conjunto sejam intertextualmente ligados, eles se mostram “individualmente
distintos” e revelam somente um lado da atividade profissional (BHATIA, 2004;
BAZERMAN, 2004). De fato, contata-se que as autoras produziram um material que
estava à frente do seu tempo, pois sendo um livro de 1992, as teorias sobre os
agrupamentos de gêneros ainda estavam em desenvolvimento nos diferentes países
ao redor do mundo.
86

Uma abordagem dos gêneros acontece de modo contínuo e pertinente em


toda a obra em análise. Isso também se repete na forma como as atividades são
propostas, já que as frases e exemplos são retirados do contexto de trabalho do
profissional de secretariado ou específicas de alguns gêneros, por exemplo. Esse
tratamento, por sua vez, contribui para responder ao quarto objetivo desta pesquisa:
verificar qual a abordagem dada às atividades e se elas estão conectadas com as
teorias da Linguística Aplicada ou se se distancia delas. Após explorar todo o
manual, concluímos que há uma distribuição equilibrada entre a quantidade de
atividades “de prática da forma”, “pré-comunicativa” e “tarefas”.

Os exemplos 13, 14 e 15, que seguem, referem-se à “Unidade 1 –


Comunicações por escrito” e procuram materializar o comentário anterior sobre as
atividades propostas.

Figura 13 - Exemplo de atividade “de prática da forma”

Fonte: Aguirre; Gómez de Enterría (1992, p. 11).

Figura 14 - Exemplo de atividade “pré-comunicativa”

Fonte: Aguirre; Gómez de Enterría (1992, p. 17).

Figura 15 - Exemplo de atividade comunicativa “tarefa”

Fonte: Aguirre; Gómez de Enterría (1992, p. 31).


87

No primeiro fragmento, relacionado à atividade “de prática da forma”, deseja-


se que aluno complete as frases com as preposições necessárias. Já na Figura 14,
modelo de atividade “pré-comunicativa”, pede-se que o estudante tome nota dos
distintos protótipos de encabeçamento das cartas, saudações e despedidas, para
depois apresentar os equivalentes moldes no seu idioma materno. Finalmente, na
atividade da Figura 15, atividade comunicativa “tarefa”, o desafio é montar um grupo,
ler os anúncios e cartas da Seção B e decidir a quem darão o trabalho e por quê.
Espera-se ainda que, nesta oportunidade, os alunos pratiquem na conversação os
pronomes pessoais átonos me, te, se, le, nos, etc.

Entendemos que atividades como as apresentadas nos fragmentos 13, 14 e


15 concretizam o conceito de valor agregado. Quer dizer, com base na resolução
desse tipo exercício o aprendiz-profissional de secretariado estará se capacitando
no idioma, neste caso, o Espanhol, a fim de sobreviver em diferentes situações de
comunicação, empregando com propriedade a língua de especialidade, textos,
gêneros, léxico, terminologia específica, familiarizando-se com os procedimentos,
formas de pensar e atuar dos profissionais da sua e de outras áreas, do mesmo
modo que se adequando à cultura empresarial na qual está inserido (AGUIRRE
BELTRÁN, 2009).

No que diz respeito ao quinto objetivo da dissertação: verificar se há critérios


para a elaboração das atividades propostas, identificamos que em todas as
unidades as autoras procuraram apresentar atividades que explorassem as quatro
habilidades básicas da língua (escutar, falar, ler e escrever) e que havia pertinência
entre elas e o contexto laboral do profissional de secretariado, bem como ao
tratamento do gênero em si.

Ao analisarmos a obra El Español por profesiones: secretariado, pelo viés dos


gêneros, aqueles que nascem dos processos sociais quando os indivíduos tentam
se compreender e compreender o outro suficientemente bem para coordenar
atividades e compartilhar significados com vistas a seus propósitos práticos
(BAZERMAN, 2011), fica notório que essa noção permeia todo o interior do livro,
mesmo que não se encontre qualquer menção ao termo. Isso talvez se justifique
pelo fato de que gêneros é um conceito que sempre existiu, mas somente nos
88

últimos vinte anos ele se popularizou no mundo. Sendo uma obra da década de
1990, possivelmente a necessidade de mencioná-lo não se mostrou em evidência
para as autoras.

De mais a mais, não se pode perder de vista que, no contexto do EFE, está
latente a questão da abordagem comunicativa como posição adotada pelas autoras.
E nesse sentido é importante destacar que as funções comunicativas possuem um
papel de relevância nos estudos dos gêneros, já que eles estão associados aos
eventos comunicativos (SWALES, 2004).

Mesmo não sendo secretárias, ao manusear o livro, constata-se que as


autoras procuraram fazer com que a publicação se tornasse um efetivo material
didático capaz de fornecer suporte à aprendizagem dos alunos, que transmitisse
conhecimentos válidos para um dito nicho, que tivesse um valor agregado, um saber
fazer específico para o secretariado, assim como uma aproximação afetiva e cultural
à comunidade profissional que se comunica em um âmbito determinado (AGUIRRE
BELTRÁN, 2009).

Diferentemente da primeira obra investigada, nesta há uma maior


preocupação com as demandas laborais dos profissionais de secretariado, trazendo
para o debate questões reais da prática secretarial, partindo do uso dos gêneros, em
diferentes esferas do trabalho (reuniões, atendimento ao cliente, buscas de
emprego, no exercício das funções, ao telefone, em eventos etc.).

Outro ponto interessante de destacar, igualmente ocorrido na obra de Durão


(1999), (ver página 76 – sobre as questões do gênero “social”), é que no livro de
Aguirre e Gómez de Enterría (1992) também há uma abordagem discursiva
direcionada para o trabalho secretarial sob o viés do feminino. Sendo uma
publicação da década de 1990 e voltada para o público de secretariado da Espanha,
onde o número de secretários homens é ainda muito menor que no Brasil, essa
orientação para o feminino pode ser explicada, embora também contribua para
segregar os diferentes públicos dos cursos no contexto brasileiro.

Em seguida, analisamos a terceira e última obra elencada para este estudo.


89

4.2.3. Obra 3: “Espanhol para secretariado: um guia prático para secretários,


assessores e assistentes”

A terceira obra considerada neste estudo teve sua primeira edição publicada
em 2012, pela Elsevier Editora Ltda. (Rio de Janeiro/RJ) e tem como autora Patricia
Varela González. Resgatando o Quadro 8 (ver página 62), ela foi identificada em
três dos dez programas de disciplinas considerados para esta investigação.

Na figura 16, apresentamos a capa do manual e, em seguida, procuramos


responder ao primeiro objetivo específico da pesquisa, que é conhecer qual o
envolvimento da autora com EFE, Elfe ou LinFE. Para tanto, recorremos à síntese
curricular disponível no apêndice da contracapa.

Figura 16 – Capa do livro “Espanhol para secretariado: um guia prático para secretários, assessores
e assistentes”

Fonte: González (2012).


Sobre a autora:

Patricia Varela González é formada em Letras (Espanhol e Inglês) pela Universidad


de la Coruña (España), com especialização em Ensino de Espanhol dos Negócios
pela Universidad Complutense de Madrid, além de pós-graduada em Enseñanza de
90

Español para Extranjeros pela Universidad de Alcalá de Henares (Espanha, onde


além de estudar também lecionou durante muito tempo). É professora do Instituto
Cervantes de São Paulo e diretora da escola Espanhol Express. É também autora
do livro Curso de Español Jurídico (Campus/Elsevier). Participa de diversos
congressos sobre ensino de Espanhol no Brasil.

A partir da descrição curricular de González (2012), foi possível perceber que


ela também não possui formação na área de secretariado e tão pouco é secretária,
como as demais autoras dos materiais didáticos investigados neste estudo. Apesar
disso, como informado na própria obra, considerou-se “a experiência real de alunas
que exercem essa profissão” (GONZÁLEZ, 2012, p. 3). Quanto a esta experiência,
não se sabe de que forma ela foi considerada: se houve uma pesquisa de campo, se
foram realizadas entrevistas com as alunas/profissionais. Mesmo assim, a autora se
estabelece como possível detentora de conhecimento para escrever o manual
direcionado aos profissionais de secretariado.

Respondendo a primeira questão proposta para o estudo, sobre a inserção


dos autores no ensino de EFE, Elfe ou LinFE, é possível constatar que González
possui certo envolvimento com Elfe ou LinFE, já que fez especialização em ensino
de espanhol dos negócios.

O livro possui 160 páginas e está escrito ora em Língua Portuguesa, ora em
Espanhola, e sobre este bilinguismo, a autora não esclarece as razões de tais
escolhas. Ele divide-se em seis grandes temas, a saber: 1. Pronunciación; 2.
Nociones básicas de gramática; 3. Atención telefónica: pautas a seguir; 4.
Correspondencia empresarial: la carta formal y el correo electrónico; 5. La agenda:
organización de reuniones, visitas y viajes en español; 6. Falsos amigos. Convém
destacar que muitos dos conteúdos apresentados na obra também podem ser
escutados por áudio, via site da Editora.

Conforme adiantado na contracapa, trata-se de um manual

voltado para todos os profissionais que estão interessados no estudo do


espanhol adaptado às necessidades diárias do mundo corporativo. O
objetivo principal é atender a todas as necessidades linguísticas desses
91

leitores de uma forma agradável e divertida, imaginando diferentes


situações nas quais o conhecimento do idioma faz toda a diferença.

Para alcançar tal proposta, ainda no apêndice da capa dessa publicação, a


editora informa que o material “traz o que de mais importante os profissionais de
secretariado precisam saber sobre vocabulário, gramática, pronúncia, entre outros,
tendo como base experiências reais que a autora vivencia em sua atuação como
professora”.

Conforme consta na página 3, Introdução, “durante sua produção, foram


consideradas as necessidades específicas de uma secretária, sua rotina diária e a
importância de seu trabalho no andamento de diferentes gestões empresariais”
(GONZÁLEZ, 2012). Somando-se a isso, considerou-se “a experiência real de
alunas que exercem essa profissão” (GONZÁLEZ, 2012, p. 3).

Tendo em vista o que encontramos nessas partes e também na introdução da


obra, cabem alguns questionamentos: se o material é voltado para secretários,
assessores e assistentes (conforme o próprio título sugere), como é possível que
esse manual se destine a todos os profissionais? Além disso, algum material
didático é capaz de atender a todas as necessidades de um determinado público?
Qual foi o critério de seleção para determinar o que é mais importante de ensinar
aos secretários?

De antemão, podemos presumir que a escolha dessa obra pelos professores


de espanhol esbarra em alguns dos critérios considerados básicos para selecionar,
analisar e avaliar materiais curriculares de EFE45, além de questões metodológicas e
que colocam em xeque a credibilidade da publicação. Nessa direção, podemos
elencar a ausência de critérios claros sobre a seleção dos tópicos considerados

45
“[...] los materiales representan el vehículo, los medios que permiten que el proceso de enseñanza-
aprendizaje alcance sus objetivos, siempre y cuando, cumplan con determinadas cualidades
generales (motivación, adecuación, propiedad, utilidad, viabilidad, flexibilidad/versatilidad,
disponibilidad, accesibilidad y adaptabilidad a los diversos aprendientes, etc.) y unos estándares
específicos en relación con el tipo de soporte (impresos en papel, grabaciones audiovisuales,
multimedia, etc.).” In: AGUIRRE BELTRÁN, B. Consideraciones y criterios para seleccionar, analizar y
evaluar materiales curriculares de EFE. XX CONGRESO INTERNACIONAL DE LA ASOCIACIÓN
PARA LA ENSEÑANZA DEL ESPAÑOL COMO LENGUA EXTRANJERA (Asele), Comillas. Actas
del XX Congreso Internacional de la Asociación para la Enseñanza del Español como Lengua
Extranjera (ASELE). Actas… Comillas: Fundación Comillas, 2009. Disponível em:
<https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5596336>. Acesso em: 02 mai. 2018.
92

importantes para ensinar aos secretários e a presunção de estarem produzindo um


material capaz de atender a todos os profissionais.

Seguindo com nossas análises, identificamos que, no manual de González


(2012), não há um espaço específico, em cada capítulo, ou um tema, como
apresentado pela autora, para o estudo dos gêneros, mas ela dedica duas das seis
unidades para abordar esse assunto, quais sejam: Atención telefónica: pautas a
seguir (gênero oral); Correspondencia empresarial: la carta formal y el correo
electrónico (gêneros escritos).

Um resumo do que a autora propõe, para o estudo dos gêneros na obra, é


apresentado no Quadro 13, que responde a segunda questão proposta para essa
dissertação: identificar se no material didático abordam-se os gêneros.

Quadro 13 – Resumo dos gêneros identificados na obra “Espanhol para secretariado: um guia prático
para secretários, assessores e assistentes”
Obra Gêneros identificados
Espanhol para secretariado: um guia prático Atendimento telefônico, Carta (convite), correio
para secretários, assessores e assistentes eletrônico (e-mail) e Organização de reuniões.
Fonte: Elaborado pelo autor.

A Figura 17, retirada do manual, diz respeito ao Tema 3: Atención telefónica:


pautas a seguir e materializa um exemplo do que encontramos de gêneros.
93

Figura 17 – Conteúdo proposto para o gênero atendimento telefônico

Fonte: González (2012, p. 61).

Ao enveredarmos pela terceira obra selecionada para esta investigação,


constatamos que González (2012) dedica os temas 3 e 4 para tratar de alguns dos
gêneros mais corriqueiros no dia a dia de trabalho do profissional de secretariado,
quais sejam: “Atendimento Telefônico” e “Correspondência Empresarial”. Logo,
temos resposta para o terceiro objetivo proposto: verificar se os gêneros abordados
no material estabelecem relação com a esfera em que o secretariado está inserido.
Apesar de serem poucos na obra, eles estabelecem relação com o cotidiano do
secretário.

Ao conhecermos o conteúdo proposto no manual, percebemos que tanto em


Atención telefónica: pautas a seguir, quanto em Correspondencia empresarial: la
94

carta formal y el correo electrónico, a autora não menciona que estes tópicos são
gêneros, orais ou escritos, próprios do campo secretarial. Mesmo no caso do
atendimento telefônico, aparentemente um gênero híbrido, no contexto do
secretariado, ele acaba adquirindo uma dimensão mais ampla, pois coloca o
profissional que trabalha assessorando o alto escalão das empresas numa posição
de evidência e qualquer deslize em um telefonema poderá comprometer o sistema
organizacional. Por isso, deixar claro os pormenores próprios desses gêneros,
quando inseridos no contexto do secretariado, faria toda a diferença na obra
investigada.

Sendo uma publicação de 2012, em que as discussões, eventos e


publicações sobre os gêneros estavam em plena fase de crescimento, preocupa-nos
o fato de a autora não mencionar o lugar que eles ocupam na prática secretarial, já
que saber da existência deles e buscar incorporá-los no dia a dia do trabalho pode
ser uma forma de ampliar a compreensão sobre a dimensão das práticas sociais que
empreendemos uns com os outros diariamente.

No que diz respeito às atividades propostas nas unidades, respondendo ao


quarto objetivo da pesquisa: verificar se as atividades e/ou tarefas mantem
aproximação com as teorias de ensino e aprendizagem da Linguística Aplicada ou
se se afastam, percebemos que a maioria delas parece estar situada em
circunstâncias do que conhecemos por “faça o que se pede”, “faça conforme o
modelo” etc. Em outras palavras, há uma predominância de atividades do tipo “de
prática da forma” e outras poucas “pré-comunicativas”. Não se identificaram
atividades comunicativas “tarefas”, ou seja, aquelas voltadas para desafiar os
aprendizes na resolução de situações-problema. Vejamos os fragmentos 18 e 19,
extraídos do Tema 3 - Atención telefónica: pautas a seguir e do Tema 4 –
Correspondencia empresarial: la carta formal y el correo electrónico,
respectivamente.
95

Figura 18 – Exemplo de atividade “de prática da forma”

Fonte: González (2012, p. 79).

Figura 19 – Exemplo de atividade “pré-comunicativa”

Fonte: González (2012, p. 99).

As propostas de atividades apresentadas anteriormente, e que perpassam


todo o manual em análise, tendem a mostrar os gêneros como formas pré-
concebidas e sem contextos marcados, quando, na verdade, eles deveriam refletir
os estudos do texto e do discurso, além da descrição da língua e visão da
sociedade, bem como procurar responder as problemáticas de ordem sociocultural
96

que envolve o uso da língua em um contexto mais amplo (MARCUSCHI, 2011).


Nesse sentido, caberia um comentário sobre o uso do português no livro. Não seria
mais produtivo se ele fosse escrito em espanhol?

Já no que se relaciona ao quinto objetivo desta dissertação - verificar se há


critérios para a elaboração das atividades propostas - identificamos que, nas
diferentes unidades/temas, competências eram inseridas e retiradas. Por exemplo:
no Tema 1 – pronunciação, as atividades eram focadas nas habilidades de escuta
dos aprendizes. No Tema 2 – Noções básicas de gramática, a autora inseriu
atividades direcionadas para a “prática da forma” ou de marcar a opção correta e
assim nas próximas unidades. As Figuras 20 e 21, que seguem, ilustram tais
afirmativas.

Figura 20 – Exemplos de atividades focadas nas habilidades de escuta dos aprendizes

Fonte: González (2012, p. 18).

Figura 21 – Exemplo de atividade direcionada para a “prática da forma”

Fonte: González (2012, p. 56).


97

Com base nas figuras 20 e 21, percebemos, de certo modo, que havia
pertinência entre elas e o contexto laboral do profissional de secretariado, bem como
ao tratamento do gênero em si.

Dito isso, vale observar que, também nesta obra e igualmente nas outras
duas analisadas, há certa tendência de marcar o gênero “social” no feminino,
demonstrando talvez desconhecimento da presença de homens no secretariado,
resistência em mudar o discurso ou até mesmo manter o estabelecimento dessa
visão estereotipada. Na obra de González (2012), inclusive, parece existir um
desencontro entre as escolhas lexicais, pois ela emprega “secretária executiva” em
uma atividade proposta e em outro momento já utiliza “profissional de secretariado”
no conteúdo propriamente dito.

Os fragmentos 22 e 23 ilustram tais afirmativas.

Figura 22 – Exemplo de atividade legitimada pelo gênero “social”

Fonte: González (2012, p. 99).

Figura 23 – Exemplo de conteúdo não legitimado pelo gênero “social”

Fonte: González (2012, p. 87).


98

Sendo uma obra produzida para os profissionais de secretariado do século


XXI, no qual os estudos de gênero e diversidade estão sendo desenvolvidos de
modo mais consistentes e perenes na área secretarial, essa abordagem pode ser
vista como inapropriada e estar contribuindo para manter um discurso social
dissidente. Não obstante, poderá ainda viabilizar a queda da participação dos
secretários do sexo masculino nas classes de espanhol, no curso como um todo e
ainda na profissão.

Dito isso, passemos às considerações finais do estudo.


99

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pesquisas, discussões e publicações acerca da importância dos materiais


didáticos de espanhol são ações recorrentes nas áreas de Letras, Linguística,
Linguística Aplicada e Educação no Brasil, desenvolvidas nos cursos de formação
de professores pelas entidades representativas ou pelos pesquisadores desses
campos. Todavia, ao direcionarmos nossos olhares para o ensino da Língua
Espanhola em cursos de secretariado, ressaltando a abordagem dos gêneros em
materiais didáticos, se tem conhecimento de poucas investigações publicadas ou em
andamento no país.

Além disso, conforme foi constatado em pesquisa de Lugli (2013), os


conteúdos trabalhados nas disciplinas de língua portuguesa para o secretariado
apresentam tópicos semelhantes aos que são abordados nos manuais didáticos de
espanhol no tocante aos gêneros epistolares. Em contrapartida, quando nos
detemos somente no contexto da Língua Espanhola, vemos que há muito mais para
fazer no que se relaciona à exploração do ensino e da aprendizagem dos gêneros
que perpassam a comunicação internacional do secretariado (LUGLI, 2013).

Considerando tais contextos, esta dissertação teve por objetivo geral


responder a seguinte questão-problema: qual o papel dos gêneros nos livros
didáticos de espanhol para secretariado, no contexto do EFE, Elfe e LinFE? Além
disso, a investigação buscou respostas para os seguintes objetivos específicos: a)
conhecer a formação inicial e continuada dos professores autores dos materiais
didáticos, uma vez que estar inserido no ensino de EFE, Elfe ou LinFE é fator
fundamental para ensinar línguas de especialidade; b) identificar se nos materiais
didáticos analisados abordam-se os gêneros, já que a existência deles é vista como
milenar nas diferentes práticas sociais (MARCUSCHI, 2008) e que eles
desempenham papel fundamental no dia a dia do profissional de secretariado; c)
verificar se os gêneros inseridos nesses materiais didáticos estabelecem alguma
relação com a esfera em que o secretariado se insere (ou seja, o âmbito
profissional); d) verificar qual o tratamento que as atividades e/ou tarefas recebem
no processo de assimilação do conteúdo (se elas mantêm aproximação com as
100

teorias de ensino e aprendizagem da Linguística Aplicada ou se se distanciam dela);


e) verificar se são adotados critérios para a elaboração dessas atividades, pois é
pertinente que elas mantenham certa adequação ao contexto laboral do profissional
de secretariado, bem como ao tratamento do gênero em si.

Quanto ao primeiro objetivo estabelecido para a pesquisa (conhecer a


formação inicial e continuada das autoras), identificamos que Durão et al. (1999),
Aguirre e Gómez de Enterría (1992) e González (2012) não possuem formação
acadêmica específica em secretariado. No caso de Durão et. al. (1999), além de não
terem formação, elas também não possuem envolvimento com as abordagens Elfe
ou LinFE. As pesquisadoras da segunda obra, Aguirre e Gómez de Enterría (1992),
apesar de não terem formação específica, possuem vasta experiência no ensino de
língua de especialidade. A autora do terceiro material, González (2012), por sua vez,
tem certo envolvimento com Elfe ou LinFE, já que possui especialização no ensino
de espanhol dos negócios.

No que diz respeito ao segundo objetivo, identificar se as obras abordavam os


gêneros, obtivemos que nas três há essa preocupação, embora não seja
mencionado o termo nos escritos, bem como não ofereça informações e explicações
sobre eles. No caso da ausência empreendida na primeira obra investigada,
Español para Secretariado, de 1999, temos que os estudos de gênero ainda não
estavam tão difundidos, embora estejamos de acordo com Marcuschi (2008) sobre a
presença dos gêneros desde sempre nos grupos e relações sociais. Na segunda, El
español por profesiones: secretariado, sendo uma publicação de 1992 e publicada
na Espanha, entendemos que as discussões dos gêneros ainda eram incipientes no
exterior e, por isso, isentaram-se de mencioná-los no texto. No contexto da terceira,
Espanhol para secretariado: um guia prático para secretários, assessores e
assistentes, de 2012, realmente não conseguimos compreender porque a autora não
referencia o vocábulo no manual. De toda forma, neste estudo, partimos do
pressuposto de que os gêneros são parte da dinâmica da língua (BAKHTIN, 1997) e
desempenha um papel fundamental no dia a dia do profissional de secretariado.

No material didático Español para secretariado foram abordados os seguintes


gêneros: Curriculum vitae, Cartas (pessoal, comercial, de apresentação, em
101

resposta a propostas de reuniões, de agradecimento), Atendimento telefônico,


Entrevista de trabalho e Contrato. No segundo, El español por profesiones:
secretariado: Múltiplos modelos de Cartas (de pêsame, de felicitação, de desculpas
etc.), Saudações, Telex, Telefax, Memorando, Telegrama, Convocação, Entrevista
de Trabalho, Solicitação de emprego, Atendimento telefônico, Reunião e
Atendimento ao cliente; no terceiro, Espanhol para secretariado: um guia prático
para secretários, assessores e assistentes: Atendimento telefônico, Carta (convite),
correio eletrônico (e-mail) e Organização de reuniões.

Sobre a verificação da inserção dos gêneros na esfera em que o secretariado


ocupa (ou seja, o âmbito profissional), nosso terceiro objetivo, foi possível constatar
que todos eles estavam relacionados com a área secretarial. Apesar disso, sentiu-se
falta, no caso da primeira obra investigada – Español para Secretariado, da
abordagem de outros gêneros como: correio eletrônico, ata (RODRIGUEZ, 2006;
ABDALLA, 2009); memorando, declaração (RODRIGUEZ, 2006; NASCIMENTO,
2010); carta de porte, certificado de origem (LUGLI, 2013); ofícios, requerimentos
(SOUZA, 2015) etc. Embora no segundo livro analisado, El español por profesiones:
secretariado, vislumbramos uma abordagem mais voltada para o ensino dos
gêneros, os conteúdos “Telex, Telefax e Telegrama” se mostram altamente
ultrapassados para este século XXI. Nesse sentido, entendemos que a atualização
desse material didático parece ser urgente.

No tocante ao quarto objetivo - verificar qual o tratamento que atividades e/ou


tarefas receberam (se mantinham aproximação com as teorias de ensino e
aprendizagem da Linguística Aplicada ou se se distanciavam) - constatamos que, na
obra de Durão et al. (1999), havia uma predominância daquelas classificadas como
“de prática da forma”, seguidas das “pré-comunicativas” e poucas são as atividades
comunicativas do tipo “tarefa”. Em Aguirre e Gómez de Enterría (1992), percebemos
uma distribuição equilibrada entre a quantidade de atividades “de prática da forma”,
“pré-comunicativa” e “tarefas”. Finalmente, em González (2012), a maioria delas
estavam situadas em circunstâncias do que conhecemos por “faça o que se pede”,
“faça conforme o modelo” etc. Em outras palavras, havia uma predominância de
atividades do tipo “de prática da forma” e outras poucas “pré-comunicativas”. Não
102

identificamos as comunicativas do tipo “tarefas”, ou seja, aquelas voltadas para


desafiar os aprendizes na resolução de situações-problema.

Quanto a verificar se foram adotados critérios para a elaboração das


atividades, pois é pertinente que elas mantenham certa adequação ao contexto
laboral do profissional de secretariado, bem como ao tratamento do gênero em si, na
primeira obra, as autoras inseriam frases e exemplos relacionados à prática dos
gêneros somente quando os conteúdos são gêneros. Quando se tratava de outro
tipo de conteúdo (gramatical, cultural, comunicativo etc.), esses excertos não tinham
nenhuma relação com a esfera discursiva dos profissionais de secretariado. Na
segunda publicação investigada, identificamos que em todas as unidades as autoras
procuravam apresentar atividades que explorassem as quatro habilidades básicas
da língua (escutar, falar, ler e escrever) e que havia pertinência entre elas e o
contexto laboral do profissional de secretariado, bem como ao tratamento do gênero
em si. Por fim, na terceira, identificamos que, nas diferentes unidades/temas,
competências eram inseridas e retiradas. De certo modo, verificamos que havia
pertinência entre elas e o contexto laboral do profissional de secretariado, bem como
ao tratamento do gênero em si.

No contexto deste estudo, vislumbramos três possíveis hipóteses: a) nos


materiais didáticos de espanhol para secretariado os gêneros não são trabalhados
como tais ou quando inseridos nas obras eles são encarados como modelos
estanques a serem seguidos (BEZERRA, 2017), cuja estrutura apresentada no
modelo anterior deve ser repetida com adaptações mínimas; b) quando o material
didático é elaborado por autor especialista em EFE, Elfe ou LinFE nota-se maior
adequação ao contexto do trabalho e exploração dos gêneros; c) quando o material
didático é elaborado por autor não especialista em uma dessas abordagens não há
uma efetiva contextualização desse espaço e o que se apresenta dos gêneros
normalmente aparece em forma de generalizações e não de reconhecimento e
adaptação à realidade que o profissional-estudante irá encontrar.

A primeira hipótese foi parcialmente refutada, pois, nos materiais didáticos de


espanhol para secretariado investigados, os gêneros são trabalhados. Na obra de
Durão et al. (1999), no comando de algumas atividades, eles eram encarados como
103

modelos estanques a serem seguidos (BEZERRA, 2017) e cujas estruturas


deveriam ser repetidas com ou sem adaptações mínimas. Isso, por sua vez, não
ocorreu com a segunda obra. Nela, essa percepção dos gêneros como modelo
estanque não foi notada nos conteúdos propostos, da mesma forma que nas
atividades. Na publicação de González (2012), finalmente, a visão de modelos pré-
formatados e que devem ser reproduzidos tal como apresentado voltou a ser
constatada nas atividades e tarefas inseridas no livro.

Quanto à segunda hipótese – material didático elaborado por autor


especialista em EFE, Elfe ou LinFE e maior adequação ao contexto do trabalho
secretarial e abordagem dos gêneros – ela foi comprovada, pois no livro das autoras
especialistas, Aguirre e Gomez de Enterría (1992), constatamos uma maior ênfase
em temas direcionados ao lugar desse profissional nas organizações, assim como
uma preocupação em inserir na obra gêneros presentes no dia a dia de um
secretário.

A terceira hipótese dizia respeito ao material didático elaborado por autor não
especialista em EFE, Elfe ou LinFE e seu distanciamento da efetiva contextualização
do espaço de trabalho do secretário e que os gêneros presentes em obras
organizadas por esses autores, normalmente, aparecem em forma de
generalizações e não de reconhecimento e adaptação à realidade que o profissional-
estudante irá encontrar. Nesse sentido, a hipótese foi parcialmente confirmada, pois
nas obras de Durão (1999) e González (2012), autoras não especialistas, esse
distanciamento da realidade laboral de um secretário foi percebido em várias
abordagens presentes nos materiais didáticos.

Conforme destacamos na introdução desta pesquisa, em seu


desenvolvimento seriam apontadas ideias e sugestões que poderiam contribuir para
os professores em formação e/ou em atuação nas diferentes instituições de ensino
brasileiras, nos cursos de secretariado; os estudantes que se encontram em
processo de formação e necessitam de esclarecimentos sobre o papel dos gêneros
em materiais didáticos de espanhol para secretariado; e os autores, os editores e as
editoras, que poderiam ver nestes escritos alguns direcionamentos sobre como deve
ser o material didático de espanhol para o secretariado do século XXI. Nesse
104

sentido, entendemos que conseguimos apresentar alguns questionamentos ao longo


do estudo e esperamos que eles produzam bons frutos em um futuro não muito
distante.

No contexto dos três materiais didáticos analisados, observarmos que havia


uma tendência de reprodução dos discursos socialmente estigmatizados no âmbito
do secretariado, notadamente ao gênero “social”, quando eles se referiam à
secretária, pois essa abordagem contribui para promover a separação entre
profissionais homens e mulheres na profissão (SILVA; VEIGA; SOUZA, 2017). Como
já notamos nas descrições, duas das obras são da década de 1990, uma publicada
no Brasil e outra na Espanha, em cenários totalmente diferentes e desafiadores. A
terceira publicação é da década de 2010, mas também não conseguiu se libertar das
questões relacionadas ao gênero e a diversidade no secretariado. Entendemos que
essas abordagens são preocupantes, uma vez que se trata dos principais materiais
didáticos de espanhol para secretariado, inseridos nos cursos de formação no Brasil.

Por meio deste estudo, conseguimos identificar que os gêneros nos livros
didáticos de espanhol para secretariado possuem o papel de capacitar os alunos
e/ou profissionais no que diz respeito ao exercício de suas funções nas empresas.
Além disso, não há dúvidas de que no exercício dessas atribuições/funções, tais
como: Gerenciamento de sistemas de informação por meio do controle de rotinas
automatizadas multimídia (editores de texto, agendas e planilhas eletrônicas, bancos
de dados etc.); coordenação de fluxo de informações e de papéis no departamento,
muitas vezes, encaminhando-os para uma equipe de apoio; coordenação de
compras, cotação de materiais com fornecedores alternativos e administração dos
custos do departamento; organização de sistemas de dados e informações em
arquivos físicos e eletrônicos, dentre outras, esses profissionais estarão em contato
com inúmeros gêneros, mas para comprovações teóricas, isso ainda necessita de
estudos aprofundados.

Dentre as limitações percebidas para a realização deste estudo podemos


mencionar a dificuldade de ter acesso aos conteúdos programáticos das disciplinas
de espanhol em alguns cursos de secretariado das IES públicas. Infelizmente, a
105

burocracia ainda está presente em nossas organizações públicas de ensino e isso


tende a comprometer o progresso da ciência.

Além disso, destacamos a existência de um pequeno número de referências


específicas sobre o ensino de espanhol para secretariado, sobre os livros didáticos
para essa área e ainda sobre o papel dos gêneros na atuação profissional
secretário. Entendemos, ainda, que esses materiais ganhariam uma nova conotação
se fossem produzidos pelos próprios pesquisadores da área de secretariado
executivo.

Em suma, acreditamos que outras investigações serão bem-vindas no sentido


de desmistificar as questões que envolvem o ensino e a aprendizagem do espanhol
no contexto secretarial.
106

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