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MINISTÉRIO DA ECONOMIA

Secretaria de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria


Formulário para o envio de contribuições para a Consulta Pública ME-SECAP nº 02/2019
Consulta Pública ME-SECAP nº 02/2019

Dados do colaborador

Nome: Rodrigo Brandão Rodrigues Da Silva


Organização: ABAESP - Associação Brasileira de Apostas Esportivas
E-mail: rodrigo-villalobos@hotmail.com.br
Telefone: 21 98117-3286

Contribuições:

I) INTRODUÇÃO

1. A Associação Brasileira de Apostas Esportivas (ABAESP) é um órgão sem fins lucrativos que visa
defender os direitos e interesses de seus membros assim como de empresas, operadores, e demais
entidades que buscam ver o mercado brasileiro de apostas esportivas positivamente regulado.
Acolhemos com satisfação a oportunidade de responder à consulta pública trazida pela SECAP, nos
termos da Lei n.º 13.756 de dezembro de 2018.

2. Os membros fundadores da Associação são em sua maioria figuras públicas no cenário das apostas
esportivas brasileiras, e por conta disso contam com grande abrangência e penetração junto aos
apostadores. Conjuntamente possuem mais de 500.000 assinantes e seguidores nas mais diversas
redes sociais e outros meios de comunicação. Além disso, muitos dos membros possuem mais de
uma década de experiência nas apostas esportivas, e com isso carregam amplo conhecimento em
relação à indústria do jogo, nacional e internacionalmente.

3. Graças a essa forte influência na indústria das apostas esportivas do Brasil, a Associação pôde
contribuir significativamente com grande adesão de participações na primeira consulta pública
proposta sobre o tema, cujas opiniões foram colhidas até o final de agosto.

4. O principal objetivo da ABAESP é proteger os membros, consumidores e parceiros, e respondendo ao


pedido da SECAP para que hajam contribuições acerca do modelo regulatório que pretendem
implementar, a Associação traz a seguir seus apontamentos em relação ao tema.

5. A Associação acolheria com satisfação um maior envolvimento com as autoridades brasileiras para o
desenvolvimento de um modelo de apostas esportivas regulamentado. Todas as correspondências
sobre o assunto devem ser encaminhadas para: presidencia@abaesp.com

II) DA TRIBUTAÇÃO AO APOSTADOR


6. O art.31 da Lei 13.756/2018 prevê que sobre os ganhos obtidos com os prêmios pagos pelas apostas
esportivas, incidirá tributação de 30% mediante desconto na fonte pagadora, para ganhos a partir de
R$1.903,99. Dessa maneira o legislador equiparou as apostas esportivas a uma loteria convencional.

7. Por definição, uma loteria é uma competição onde as pessoas compram bilhetes com números, e
após um sorteio aleatório, tais pessoas podem receber uma premiação em dinheiro caso tais números
sejam sorteados.

8. As apostas por sua vez são definidas como um acordo entre duas ou mais pessoas diferentes, dentro
de uma partida ou competição, devendo quem não está certo pagar algo previamente convencionado.

9. Notem que essa diferenciação básica se faz necessária, uma vez que está sendo atribuída ao
apostador esportivo a mesma regra de tributação para aquele apostador de jogos de azar (ou de
sorte).

10. Em uma loteria os algoritmos com a acumulação de turnover, dividem os prêmios adequadamente
para sua lucratividade. Neste caso as loterias conhecem sempre o prizepool. Nessa visão podemos
perceber que as loterias são um jogo de soma negativa para o apostador, pois o mesmo tem chances
irrisórias de vencer, porém são chances conhecidas, imutáveis para cada aposta feita, o que dá uma
vantagem enorme para quem explora o jogo. As probabilidades de uma loteria já são conhecidas pelo
ente lotérico e essa matemática é imutável por conta de se tratar de uma informação matemática fixa.

11. Em uma casa de apostas esportivas as probabilidades de prizepool são definidas de acordo com uma
informação que é oscilante, não fixa. Pois se trata de fatores humanos, além de estatísticas que
podem ser diferentemente interpretadas de acordo com novas informações que vão surgindo.
Estamos falando de esportes, onde ausências de jogadores, fatores climáticos e uma série de outros
fatores podem alterar essas probabilidades.

12. Para exemplificar as probabilidades de ter um bilhete premiado em uma loteria, os números
fornecidos pela Caixa Econômica Federal dão conta que a chance de se acertar os 6 números da
Mega Sena é de 1 em 50.063.860. Já a da Quina é de de 1 em 24.040.016. E a da Lotofácil de 1 em
3.268.760. Tais probabilidades independem de fatores climáticos, circunstanciais, humanos, ou de
qualquer outra ordem. São imutáveis e matematicamente aferidos.

13. Já em uma aposta esportiva, as probabilidades serão sempre dependentes de circunstâncias, fatores
humanos e até mesmo climáticos. Dependem também de estatísticas, históricos, trabalho humano
dos “oddsmakers” e “traders”, que são os responsáveis por analisar o evento esportivo e atribuir
cotações (odds) às diferentes apostas que podem ser feitas.

14. Quando a casa de apostas atribui uma cotação (odds) a um evento esportivo, nessa cotação já estão
inseridos os custos operacionais, risco, tributos, e demais encargos que essa empresa suporta ao
oferecer seu produto ao consumidor. E da mesma maneira, o apostador ao aceitar uma cotação
(odds) em um evento esportivo, já está pagando por tais encargos.

15. De uma forma simples, uma loteria já sabe que será lucrativa, enquanto uma casa de apostas não
tem como projetar lucratividade em um espaço futuro de tempo.

16. Outra diferença marcante fica no jogador que aposta na loteria e o jogador que investe nas apostas
esportivas. Nas apostas esportivas esse jogador busca o melhor preço para o seu investimento. Neste
caso irá em busca dentre as casas de apostas concorrentes, onde exista uma cotação (odds) que lhe
paguem um melhor prêmio em relação a mesma quantidade de investimento. Podendo este
apostador estar a frente da casa de apostas em termos de informação, podendo assim perceber se
existe desajuste na probabilidade ofertada pela casa de apostas. Dessa forma podendo compreender
se a cotação está adequada ou baixa demais para a sua aposta.

17. Na mesma esteira, não se pode atribuir uma tributação ao apostador quando ele ganha uma aposta,
mas não trazer nenhum tipo de restituição nas apostas que ele perde. O apostador se equipara a um
investidor de rendimentos de capital, e sua percepção de lucro ou prejuízo deve ser auferido após o
término de determinado período. Assim como não se tributa um investidor de renda fixa, e de fundos,
sobre todas as transações que ele efetua no mercado, e sim periodicamente através de seu Imposto
de Renda, o apostador esportivo não pode suportar que todos seus ganhos sejam tributáveis, já que
no longo ou médio prazo ele pode ter percebido prejuízo com suas apostas.

18. O apostador de uma casa de apostas busca preços melhores, e se tributado em demasia,
comparando com o mercado externo, buscará alternativas mais adequadas para os seus
investimentos. O jogo ilegal aumenta por conta desse fator. O apostador ao ser tributado deixa de
jogar nas casas de apostas licenciadas, comprometendo a receita dos operadores e a arrecadação
final.

19. Para nós é cristalino que equiparar os prêmios (e tributação) das loterias com o das apostas
esportivas é uma imprecisão que trará graves obstáculos à atividade no Brasil. A boa prática nos
mercados regulamentados é a de não haver tributação dos apostadores, uma vez que ela já é
existente no ato de apostar. Assim como toda pessoa física residente no país ou fora dele, fica sujeita
a um imposto sobre sua renda de acordo com sua faixa de incidência, com o apostador não é
diferente. No mais, a tributação prevista no art.31 da Lei 13.756/2018 pode acarretar em bitributação,
uma vez que um só fato gerador poderá gerar a cobrança de dois tributos.

III) DA TRIBUTAÇÃO AO OPERADOR

20. Se inserido numa estrutura regulamentar e tributária adequada, até 2024 o Brasil poderia ver o
mercado licenciado equivaler a mais de 2,389.2 milhões de reais em ganhos brutos, sendo as apostas
esportivas equivalentes a 95% do mercado. Para isso é fundamental que os modelos atendam e
adaptam-se aos desafios regulamentares correlacionados. O desenvolvimento de um modelo
regulamentar e fiscal eficaz é, portanto, uma tarefa importante e necessária.

21. O Turnover é a soma de todo dinheiro transacionado dentro de uma casa de apostas por parte dos
jogadores, ou seja, a soma de todas as apostas efetuadas. Diferente de uma empresa que produz um
produto a partir de matéria prima, uma casa de apostas não tem um produto de fato. Tudo se resume
ao dinheiro que essa casa de apostas arrecada. E no turnover temos todo o dinheiro transacionado
pelos jogadores apostando contra a casa de apostas e até mesmo o dinheiro transacionado entre os
jogadores, no caso do mercado de intercâmbio, o que de nenhuma forma configura lucratividade para
essa empresa como veremos a seguir em um exemplo no mercado Exchange/lntercâmbio (Bolsa de
Apostas Esportivas):

22. O exemplo do quadro anterior é muito semelhante ao que se passa num operador convencional.
Contudo, nesses operadores, quem aposta contra é sempre o operador. Todas as apostas feitas
pelos apostadores são previamente disponibilizadas pelo operador. Acontece que no momento de
disponibilizar a cotação (odds) que o apostador pode apostar, a casa de apostas já está a precificar o
risco do mercado, custo da operação, tributação, demais encargos, e tudo recai sobre as odds
(cotações) que são repassadas ao jogador para que a casa possa rentabilizar a operação.

23. O exemplo procura deixar claro que todos os tributos que uma casa de apostas paga são repassados
ao apostador. Neste processo existe um equilíbrio delicado, onde qualquer aumento de tributação
para qualquer um dos lado gera um desbalanço a esse processo, ocasionando por exemplo, a
diminuição dos prêmios pagos de acordo com o investimento deste apostador, o que implica na
diminuição da procura pelo jogo legal.

24. O art. 3º da Minuta do Decreto que regulamenta as apostas esportivas prevê que ao Operador incidirá
tributação de 1% sobre o turnover. Tal modelo levará à perda de competitividade aos operadores
regulados e encorajar os consumidores a utilizarem o mercado não-regulado. Tal regime tributário
tornará mais difícil a promoção de um grande mercado regulamentado no Brasil. O sistema proposto
levará a um pequeno, ineficiente e desprotegido mercado.

25. Em contrapartida, os países que utilizam tributação sobre o GGR, lucro bruto da operação (que é
calculado como: as apostas dos jogadores, menos as apostas ganhadoras dos apostadores, menos
as compensações e bônus aos apostadores) são capazes de criar um mercado maior, mais eficiente,
e com um sistema mais seguro aos consumidores.

26. As evidências dos mercados europeus revelam que um modelo fiscal oneroso, especialmente sobre
as apostas online e relativo a outros mercados, prejudicaria a maximização do setor. O modelo de
receita bruta das atividades de jogo (GGR) passou a ser a abordagem padrão à tributação dos
serviços de jogos online em grande parte da Europa e, de fato, em nível global.

27. Quando imposto incide sobre a soma de todas as apostas efetuadas (turnover) sempre gera produtos
de apostas menos competitivos e não atrai consumidores, em comparação aos operadores que
oferecem os mesmos produtos com tributação sobre o GGR. Os consumidores de apostas são
sensíveis aos preços e produtos e, por isso, mudam de operadora dependendo da concorrência das
ofertas de apostas.

28. Portanto, o tipo e nível de tributação influenciam expressivamente a dimensão e disponibilização dos
produtos do mercado licenciado de apostas, e desempenham um importante papel no crescimento,
estrutura e atratividade do consumidor ao mercado. Tanto os membros quanto a Associação se
preocupam com a abordagem fiscal ao (turnover) proposta no Brasil, que vai contra as normas
globais.

29. Por exemplo, as operadoras com GGR na faixa de 10-20% caracterizam-se por níveis de canalização
de consumidores às operadoras regulamentadas que variam de "elevados a muito elevados”, como
no Reino Unido e Dinamarca. Por outro lado, as taxas de canalização das operadoras que aplicam
impostos sobre o turnover variam de "baixas a médias", como na França e Portugal:
30. Os mercados baseados em um sistema tributário altamente elevado não atraem as operadoras de
apostas online e os consumidores sempre sofrem com os baixos níveis de pedidos de licenças e
respectiva concorrência no mercado. Em 2016, o número de licenças a jogos online no Reino Unido
foi superior a 200, e 38 na Dinamarca (ambos com alíquotas tributárias de taxas de 15% a 20% sobre
GGR), enquanto a França contou com apenas 16 operadoras licenciadas, e Portugal com 2 (ambas
aplicam um sistema tributário progressivo entre 8-16% de imposto sobre o turnover).

31. Nestes processos, o regulador será sempre o principal responsável por fazer ou não o mercado
funcionar. Os apostadores apesar de preferirem apostar no mercado regulado, dão sempre
preferência aos operadores que paguem mais. Há uma preferência inequívoca pelas melhores
cotações (odds).

32. Aos membros e à Associação causa estranheza que diante de tantos exemplos de mercados
regulados bem sucedidos ao redor do mundo, o modelo que o Brasil pretende adotar seja justamente
aquele sabidamente fracassado, como o de Portugal.

33. Em termos de regulamentação e integridade, a abordagem irá servir para a criação de um ambiente
muito mais desafiador do que seria verificado num modelo globalmente mais representativo e
competitivo, em termos de tributação. São diversos os estudos realizados pelos mais renomados
institutos ao redor do mundo que corroboram esse nosso entendimento. Há evidências claras de que
um mercado com tributação sobre o GGR constitui como um dos principais elementos para modelos
satisfatórios de regulamentação e tributação.

34. Sugerimos enfaticamente que para maximizar o potencial de gerar rendimentos no mercado brasileiro
e definir um regime eficaz de regulamentação e licenciamento com níveis elevados de canalização de
consumidores, é necessário que tenhamos uma alíquota tributária fixa sobre o GGR, definida entre
15% a 20%.

IV) OS PRODUTOS DE APOSTAS


35. Além das necessárias estruturações fiscais e regulamentatórias, também é preciso que seja dada
ampla variedade de produtos de apostas esportivas, para que não haja por parte do consumidor a
busca por tais produtos em operadores ilegais.

36. Por produtos de apostas entendemos abranger as apostas pré-jogo (pre-match), apostas ao-vivo
(live), apostas em cota fixa, e troca de apostas (através de bolsas de apostas esportivas), e tudo isso
deve se dar de maneira irrestrita ao apostador, e com a devida previsão legal.

37. Mais uma vez utilizando o exemplo negativo de Portugal, temos que os regulamentos portugueses
restringem os operadores licenciadas a só disponibilizar apostas constantes na lista de eventos
esportivos e em determinados tipos de produtos. Com isso o mercado português não consegue atrair
operadores e conta com apenas 11 licenças em vigor, (e apenas 7 abrangem apostas), o que leva
consumidores a utilizarem operadores do mercado offshore que oferecem uma ampla lista de
produtos de aposta esportiva.

38. Em relação às apostas ao-vivo, há pouca evidência de que os riscos sejam maiores que os riscos
associados às apostas em pré-eventos. Não é necessário impor restrições ao tipo de apostas que os
operadores regulamentadas oferecem aos apostadores. Tal medida pode inclusive aumentar o risco
dos apostadores utilizarem apostas no mercado cinza e negro, sobre o qual não há controle. Toda
proibição aos produtos, especialmente às apostas ao vivo e às bolsas de apostas (trading esportivo),
irá, portanto, produzir efeitos contrários ao objetivo almejado.

V) QUARENTENA (PERÍODO DE BLACK-OUT)

39. A Associação entende que no período de 6 meses entre a publicação do Decreto e o início da
operacionalização das apostas esportivas no Brasil, não deve haver qualquer tipo de quarentena em
relação aos operadores que já oferecem seus produtos ao consumidor nacional, assim como qualquer
vedação de publicidade durante tal período. Tais medidas além de desestimular a entrada de todos os
operadores para o mercado legalizado, também prejudicam a receita e arrecadação de impostos tanto
dos clubes de futebol e empresas de propaganda, como das apostas no momento em que estas
forem liberadas.

VI) REFERÊNCIAS

a) http://www.rga.eu.com
b) https://gamblingcompliance.com/
c) https://www.copenhageneconomics.com
d) https://calvinayre.com/
e) http://www.srij.turismodeportugal.pt
f) https://www.gamblingcommission.gov.uk/
g) http://www.igamingbusiness.com
h) https://www.gibraltar.gov.gi
i) https://ibia.bet/

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