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UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro

Trabalho de Antropologia
Docentes: Marcia Contins e Joana Bahia.
Gabriel Teixeira e Clara Miller
08/11/2021

“Qual a tese e a argumentação de Durkheim a respeito da relação entre o


pensamento lógico e o pensamento religioso. Não deixe de trazer os dados
etnográficos para esta argumentação. Mostre com quem Durkheim está discutindo.”

Durkheim, em um grande dialogo com Lévi-Strauss, busca traçar uma relação


entre o pensamento logico e o pensamento religioso através de um fenômeno
chamado de totemismo, principio que vem das religiões ditas totêmicas, religiões
estas que estão relacionadas com uma crença fundamental, que é o “totem”.

Para ir mais a fundo nessas religiões e entender o pensamento que está por
trás da origem delas, Durkheim tem suas atenções focadas no totem e em sua
origem, que é definido como uma coisa em que traz designação para um clã e cria
laços de família entre os membros desse clã. Sendo assim, o autor constata que o
símbolo sagrado não está no objeto em si, e sim na apropriação simbólica que dão
para o objeto, isto é, o totem, antes de qualquer coisa é um símbolo, e esse símbolo
é visto como a explicação material de outra coisa.

Agora, Durkheim tenta entender o que é essa outra coisa em que a


explicação se resume no totem e o que traz esse símbolo místico e religioso para o
totem.
Chegamos na parte do texto em que essa questão se torna um tanto
complexa e densa, Durkheim afirma que o totem é ao mesmo tempo, como símbolo
religioso, um símbolo de deus e da sociedade, e que o deus para com esses povos
totêmicos e a sociedade são uma coisa, então, o deus do clã, ou seja, seu deus
totêmico, só pode ser o próprio clã, o próprio povo e sociedade, mas representado
de uma forma mística sob a aparência do animal que é o totem. Após isso, Durkheim
dá por respondida as dúvidas sobre o totem, de como ele tem esse status de
sagrado e o que ele simboliza. Percebe-se como ocorre uma construção a respeito
das questões religiosas desses povos, porém sempre sob um ponto de vista logico.

Ele também afirma que a sociedade, como a figura de deus, desempenha um


duplo papel sobre estes povos. O primeiro é o da autoridade moral, que mantém os
indivíduos na linha, respeitando seus fundamentos, sem haver um questionamento
sobre as mesmas, há uma manutenção da ordem para com os indivíduos porque há
neste a crença de que uma força superior lhe da ordem.

O segundo papel da sociedade é o de trazer consolo para o indivíduo, como


se fosse um deus em que os fiéis vão procurar em seus momentos mais difíceis.
Isso acontece porque a sociedade, para Durkheim, é uma dita “potência moral”, que
carrega consigo ideias e sentimentos de indivíduos de muitos séculos.

No cotidiano, o indivíduo percebe nele mesmo as representações que foram


criadas nessa coletividade da sociedade, e estas determinam o modo como ele, de
forma singular, vê o mundo ao seu redor, sendo assim, este indivíduo está
condicionado a agir de uma determinada forma, que ele é impelido a agir de uma
determinada maneira, mas não consegue nomear o que exerce essa influência
sobre ele, como algo vindo da sociedade.

Neste contexto, a religião também surge como uma forma de trazer uma
explicação para como esses indivíduos se sentem e como uma maneira também, de
se explicar a natureza que rodeia esses indivíduos. Perceba que os indivíduos são
impelidos a realizar suas ações através de uma influência da sociedade, mas para
eles, a religião é que os influencia.
Durkheim afirma que esta religião, embora não seja o real motivo para o
comportamento desses indivíduos, não é uma representação falsa sobre este
mundo, ou fruto de algum delírio, mas trata da religião como um fenômeno que além
de proporcionar um senso de pertencimento nos indivíduos, e um valor moral, é
responsável por desenvolver e causar uma estruturação no próprio pensamento e
entendimento como humano.

A religião desempenha um papel muito importante na orientação da ação dos


indivíduos, ou seja, quando se há um questionamento por parte dessas pessoas, um
porque deles fazerem o que fazem, a religião surge para sanar com esses
questionamentos.

“A Bruxaria é um tema que permeia a história da disciplina, baseado nos


autores do curso explique a dimensão simbólica da mesma e como essa ainda pode
ser atual.”

De acordo com Evans a crença zande a respeito da bruxaria é de que esta


ferramenta é utilizada para como um meio de explicar os infortúnios, ou seja, quando
algo de ruim acontece naquela sociedade, é atribuído a fins místicos.

A bruxaria nesta sociedade, além de integrar a religião e estar presente no


cotidiano das pessoas, esta se manifesta como uma forma de pensar/agir destas
pessoas, dando sentido a tudo que está presente na vida delas. Isto é, quando algo
de bom acontece, é atribuído a isso, quando algo de ruim, também é atribuído a isto,
nada escapa da bruxaria em Zande. A dimensão deste elemento está presente em
tudo nesta sociedade, em todos lugares há bruxaria.

A magia surge como contraposto a bruxaria, isto é, enquanto a bruxaria é a


causadora dos males, como as doenças a magia surge para interromper esses
processos criados pela bruxaria, dando fim nas doenças, além de promover um
controle benéfico em relação a agricultura e a caça. Além disso, a magia atua como
forma de repressão e vingança contra os ditos buxos e os feiticeiros, este último
grupo normalmente identificado pelos oráculos.
O conceito de feitiçaria parece ser uma filosofia quase natural entre os
Azande (para eles, a feitiçaria é muito comum, não a classificam como sobrenatural,
porque nem sequer têm este conceito), através de seus acontecimentos e
fenômenos cotidianos, é mais e mais simples do que explicar por meio da
causalidade essencial usada em nossa sociedade.

Essa mesma crença na bruxaria serve como um sistema de valores para


regular o comportamento das pessoas. O autor afirma que a bruxaria é "onipresente"
porque aparece em todos os momentos da vida dos Zands, em todas as áreas - a
família ou a esfera pública - se encontrarmos algum tipo de infortúnio, eles podem
dizer (Azande) "Isto é feitiçaria."

A diferença entre a filosofia zande e a nossa é que simplesmente


interpretamos certos eventos como morte ou coincidência, sem especificar a causa
exata do evento. Até certo ponto, os Azande não vão deixar lacunas como nós. A
partir da ideia de feitiçaria, tenta-se esclarecer como os eventos acontecem a partir
de seu desenvolvimento mais distante (relação espaço-tempo), mesmo que se trate
de uma estrutura misteriosa ou pode-se dizer mística.

Além disso, não descartam a possibilidade de que existem outras causas não
relacionadas à bruxaria, ou seja, reconhecem causalidade, embora esses outros
efeitos sejam entendidos como simultaneidade de causas secundárias; a bruxaria é
sempre participante-primária (em motivos múltiplos).

A forma como a magia é realizada se dá quase sempre conscientemente,


pois, para sua realização é necessário o uso de certas drogas e ingredientes
específicos. Ou seja, para cada finalidade ou ritual com uma finalidade é necessário
o uso de certos itens inerentes a aquele processo e este é um dos fatores em que
mais se difere a magia da bruxaria.
Ainda há outra distinção nesse grupo, a chamada de boa magia, esta, é a
magia socialmente aceita e a feitiçaria, em que é descrita como algo maligno, imoral
e antissocial, que tem como objetivo primeiro a realização do mal contra outras
pessoas, ou seja, enquanto na magia só vemos boas finalidades é na bruxaria que
encontramos um cerne maldoso, uma má intenção nos atos daqueles que a
praticam.

Agora, falando sobre os ritos mágicos, estes, são secretos e raramente


acontecem e embora apenas um grupo restrito do povo de zande, normalmente os
mais velhos, o autor saliente que todos os indivíduos dessa sociedade têm um
resquício de magia em seus corpos, uma vez que todos já tiverem contato com a
magia ou com alguma droga ao longo da sua criação.

A preocupação do autor é colocar em questão as diferenças entre os povos


tradicionais e os ocidentais-modernos, tem sido observada por autores das safras
mais recentes da antropologia que exibem neste estudo os precedentes da atual
antropologia simétrica.

Buscando trazer isso para a atualidade, o conceito de bruxaria pode-se


explicado como uma forma de manifestação religiosa, que ocorre de forma dizer
“mística”. Na umbanda, por exemplo, como na pratica magica azande, ocorre a
consulta com “oráculos”, que no caso da umbanda são as entidades que estão ali
para o auxilio dos praticantes. Isto é, vários aspectos desta sociedade se
assemelham com os rituais praticados por religiões existentes no brasil nos dias
atuais.
Evans-Pritchard, E.E. “A noção de bruxaria como explicação dos infortúnios” In Bruxaria,
oráculos e magia entre os Azande ([1951] 1978), pp. 56-71, Zahar, RJ.

Guerreiro, Silas. A atualidade da teoria da religião de Durkheim e sua aplicabilidade no estudo das
novas espiritualidades. Estudos de Religião, v. 26, n. 42 Edição Especial, p.11-26, 2012.

Durkheim, É. As formas elementares da vida religiosa. Introdução e Conclusão

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