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SOCIAL: A
MALANDRAGEM E O
“JEITINHO”
Roberto DaMatta
■ Desordem X ordem
■ Excesso X disciplina
■ Branco X preto
■ Leis universais X relações pessoais
■ Leis universais – formal
■ Relações pessoais – informal
■ Sistema social dividido: indivíduo e pessoa
■ Indivíduo
– Sujeito das leis universais que modernizam a sociedade.
■ Pessoa:
– Sujeito das relações sociais, que conduz ao polo tradicional do sistema.
■ Navegação social
– Jeitinho brasileiro
– Você sabe com quem está falando?
– Malandragem.
■ Relacionar formal com pessoal
■ Permitir juntar um problema pessoal com um problema impessoal.
■ Jeitinho brasileiro
– Modo pacífico de resolver problemas.
■ Malandragem
– Tirar vantagens de certas situações.
“O jeito é um modo pacífico e até mesmo legítimo de resolver tais problemas, provocando essa junção
inteiramente casuística da lei com a pessoa eu a está utilizando.” (p. 66)
“‘Jeitinho’ e ‘você sabe com quem está falando?’ são, pois, os dois polos de uma mesma situação. Um é
um modo harmonioso de resolver a disputa.
“‘Você sabe com quem está falando?’ afirma um estilo diferente, onde a autoridade é reafirmada, mas
com a indicação de que o sistema é escalonado e não tem uma finalidade muito certa ou precisa. Há
sempre outra autoridade, ainda mais alta, a quem se poderá ocorrer.”
“Por isso tudo, não há no Brasil quem não conheça a malandragem, que não é só
um tipo de ação concreta situada entre a lei e a plena desonestidade, mas
também e sobretudo é uma possibilidade de proceder socialmente, um modo
tipicamente brasileiro de cumprir ordens absurdas, uma forma ou estilo de
conciliar ordens impossíveis de serem cumpridas com situações específicas, e
também – um modo ambíguo de burlar as leis e as normas sociais mais gerais.”
(p. 69)
“A malandragem, assim, não é simplesmente uma singularidade inconsequente de todos
nós, brasileiros. Ou uma revelação de cinismo e gosto pelo grosseiro e pelo desonesto. É
muito mais que isso. De fato, trata-se mesmo de um modo – jeito ou estilo –
profundamente original e brasileiro de viver, e às vezes sobreviver, num sistema em que
a casa nem sempre fala com a rua e as leis formais da vida pública nada têm a ver com
as boas regras da moralidade costumeira que governam a nossa honra, o respeito e,
sobretudo, a lealdade que devemos aos amigos, aos parentes e aos compadres. Num
mundo tão profundamente dividido, a malandragem e o ‘jeitinho’ promovem uma
esperança de tudo juntar numa totalidade harmoniosa e concreta. Essa é a sua
importância, esse é o seu aceno. Aí está a sua razão de existir como valor social.” (p. 70-
71)