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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CURSO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

ARNOUD DE SOUZA LIMA (122103002)


GUILHERME MONTEIRO MORAES (122103008)

ANTROPOLOGIA II

Interpretação das relações de hierarquia, desigualdades e moralidades no Brasil

ANGRA DOS REIS

2022
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DE ANGRA DOS REIS
CURSO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
PROF. DIBE SALUA AYOUB
ALUNOS: ARNOUD DE SOUZA LIMA (122103002)
GUILHERME MONTEIRO MORAES (122103008)
DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA II

É possível entender a sociedade brasileira, ou melhor, as sociedades brasileiras das mais


diferentes formas. Isto é, complexa da forma que se apresenta, há relações únicas e respeitá-
las é primordial para não só pensar seu funcionamento, mas também criticá-las. É nesse
sentido, que buscaremos entender os fenômenos de hierarquização, desigualdade e as
moralidades que são criadas a partir dessas dinâmicas, observando não só um Brasil, mas as
diversas possibilidades que são criadas quando relacionamos estes termos. Desta forma, o
primeiro ponto que será levantado será como a sociedade brasileira cria uma dinâmica
hierarquizante e a moralidade advinda disso.

Em ‘’Carnavais, Malandros e Heróis’’, Roberto da Matta busca sobre o dilema da sociedade


de uma sociedade que está constantemente buscando condições melhores, mais justas, mais
harmônicas e democráticas mas, em contraponto a esse desenvolvimento, demonstrando um
autoritarismo e hierarquização que deteriora cada vez a possibilidade de alcançar esta
condição. Ora, esta é a genuína sociedade brasileira, seja boa ou ruim. O tempo todo nos
deparamos com uma estrutura rígida, que nos enclausura dentro de uma hierarquia delimitada,
sendo poucos os momentos em que tal destoa.

Exemplo disso, como dito no livro, é justamente a diferença entre o Dia da Pátria e o
Carnaval. Começa citando o tempo, sobre como a estrutura que rege o Dia da Pátria é uma
estrutura delimitada, específica, que tem raízes históricas e de um período específico. Faz com
isso, uma delimitação sobre como este evento possui uma rigidez evidente, sobre como não é
possível desvirtuar ou ‘’dançar’’ no meio desta relação. Metaforicamente ou não, é possível
no Carnaval subverter essa rigidez presente. O tempo do Carnaval é o tempo cósmico, divino,
onde todos se conectam e são capazes de apreender, solto, que não conserva uma estrutura,
por mais que como dito no texto, tenha hora, lugar e tempo de duração a cumprir. Ainda no
capítulo um, nas problemáticas que são criadas, não é possível dizer que há uma estrutura
intransigente nestes rituais sociais, no capítulo dois, explora sobre como há uma dialética
entre a casa e a rua na dinâmica carnavalesca, sobre como essas noções irão se misturar
conforme a sociedade se desdobra.

No caso de comparar Dia da Pátria e Carnaval, não é possível dizer que não há esta relação,
mas delimitar que, sobretudo, elas diferentemente criam uma realidade de Brasil diferente das
demais. Assim, a realidade que é reforçada pelo Dia da Pátria é dessa estrutura hierárquica de
mando e obediência, da hierarquização militar e da hierarquização social, onde o público é
mero espectador, enquanto no Carnaval, essa noção hierárquica se confunde. Como analisado
no texto, a interpretação do carnaval, a teatralidade ou mesmo o ‘’fervor’’ popular advindo
das escolas de samba e seus membros, permite que aquela relação de dominador e dominado
não cesse, mas se misture, se inverta, ainda está ali, mas não conserva a estrutura rígida e
hierárquica que é criada, onde mesmo o pobre torna-se nobre. Como explicado no texto, o
desfile é polissêmico por remeter a diversos subuniversos símbolos da sociedade brasileira,
por ser festa do povo, ao passo que o Dia da Pátria é uma afirmação daquilo que o carnaval
nega: a hierarquia manifesta e a autoridade.

Assim, a moralidade criada a partir desta relação é justamente aquela que mantém as noções
de hierarquia, afinal, esta está enraizada em nossa sociedade, o respeito àquele que possui
uma ‘’diferenciação’’ social de você, mas havendo o contraponto do evento que pode
subverter essa ordem, essa delimitação moral estrita e criando uma dinâmica própria, onde
não mais o poder está no dominante, mas no dominado, na expressão, na vivacidade, no povo.

Para além dessa concepção, é possível trazer para entender a hierarquia brasileira, ainda em
Carnavais, Malandros e Heróis, saber com quem você está falando. Como apresenta no
capítulo quarto, há uma dramatização do mundo social brasileiro mediante a imponência
exercida pela autoridade, a afirmação, através da célebre frase ‘’sabe com quem está
falando?’’ da hierarquia social. Isto é, as faculdades privadas e públicas se confundem e se
misturam, usa-se do Status Social para reafirmar a posição de subalterna que o outro tem, ou
melhor, que deveria ter e não está respeitando, devolvendo a pessoa ‘’ao seu lugar’’. Deve-se,
portanto, diferenciar pessoa de indivíduo, não são o mesmo por mais que queira-se aproximá-
lo. A pessoa é geral, obedece a regra, está presa a totalidade, enquanto o indivíduo é único
cria a regra, sua consciência é individual e não coletiva.
Assim, a hierarquia é reafirmada mesmo em lugares onde a individualidade é pulsante, caso
esse que não identifica no Brasil, mas por exemplo, nos EUA, extremamente individualista.
Ocorre que existe uma certa dialética entre os dois, ambos existem simultaneamente e
conversam entre si, como é o caso do racismo ou exclusivismos ocorridos nos Estados Unidos
e presente no Brasil. Categoriza-se assim o Brasil como um ‘’país de pessoas’’, onde não é
valorizada justamente a individualidade, mas colocada como problema a se lidar e como
sinônimo de egoísmo, que vai servir justamente a essa estrutura hierárquica ‘’pessoal, onde
mais significa ao que você pertence (família, cargo, etc) que sua individualidade, submetido
às suas relações sociais, à autoridade.

Isso produz, no Brasil, uma moralidade que tende a conservar essa estrutura, não por querer,
mas por ser imposta, por ser reafirmado constantemente o local de onde se vem, numa
dialética onde o indivíduo não deixa de existir mas se vê dominado por um sistema de leis e
regras que o empurra para respeitar e aceitar que ele deve entender com quem ele está
falando. No entanto, essa não é a única forma de compreender a sociedade brasileira e seus
males, fora criticado ao longo do texto, mas há outras noções sociais que devem ser levadas
em conta, dado o tema escolhido.

Em contrapartida com as ideias desenvolvidas em: Carnavais Malandros e Heróis, temos as


ideias apresentadas nos textos: “Com Parente Não se Neguceia” de Klaas Woortmann e
Repensando a Família Patriarcal Brasileira de Mariza Corrêa, nesses textos, somos
introduzidos às noções distintas de moralidade dos povos de campesinato, como nos é
explicado nos textos, os camponeses dão certos valores as coisas que os cidadãos de cidade
não consideram de mesma importância, nos campesinatos os camponeses consideram o
trabalho não como uma potência de subsistência apenas mas também como uma honra e como
o devido exercer do dever do homem, além disso a família se encontra no centro das
moralidades camponesas a família é para o camponês patriarcal e hierarquizada com as
mulheres tendo em posse as posições de menor poder e os homens com as posições de maior
prestígio, além disso o homem mais velho que compõe-se membro da família(Patriarca)
possui uma espécie de posição de poder absoluto, a sua palavra é lei para todos os membros
da família.
A família patriarcal não é algo recente, na realidade é um conceito aplicado ao Brasil desde o
período colonial e também muito aplicado durante os séculos XVI e XIX sendo reforçado
também pelos dogmas religiosos católicos também presentes no Brasil desde o período
colônia. Considerando os fatos, a pergunta que resta é: Como solucionar as desigualdades
sociais e outras consequências geradas por moralidades nocivas enraizadas no comportamento
social brasileiro como o mencionado “você sabe com quem está falando”?

A conclusão alcançada pelo grupo é que a nocividade está concentrada na moralidade, mas
não nela em si e sim na estrutura que cria e lastra essas ideias as naturalizando e
estigmatizando as inúmeras vítimas de seus apedrejamentos sociais, os membros da sociedade
devem batalhar contra esta estrutura, buscando alcançar uma melhor relação social, não a
noção de fato de uma revolução ou ruptura total, mas a reforma de um sistema que conserva
mazelas, rompendo o elo de forças que torna isso possível, como explicitado ao longo do
texto.
BIBLIOGRAFIA

DAMATTA, Roberto. 1997. Carnavais, malandros e heróis: para uma


Sociologia do dilema brasileiro (Capítulos I, II e IV).

CORRÊA,Mariza. 1981.REPENSANDO A FAMÍLIA PATRIARCAL BRASILEIRA.

WOORTMANN,Klaas. 1990. “Com Parente Não se Neguceia” O campesinato Como


Ordem Mortal.

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