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11.09.2014
OBRA:
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Ed. 26. In: Sérgio Buarque de Holanda (org.). O homem
Cordial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995., pp.139-151.
O texto é iniciado contestando a ideia de que o Estado moderno seja uma evolução da
família, ou que tenha esta por descendente. Ao contrário, o autor defende uma oposição entre
estes dois elementos, uma total incompatibilidade, e é justamente as consequências desta
crise que orientam o estudo da história social. Antigamente, na velha estrutura social, “o
mestre e seus aprendizes e jornaleiros formavam como urna só família, cujos membros se
sujeitam a urna hierarquia natural, mas que partilham das mesmas privações e confortos”,
porém no estado moderno não há esse tipo de relação entre os atores da indústria, antes
“separando os empregadores e empregados nos processos de manufatura e diferenciando
cada vez mais suas funções, suprimiu a atmosfera de intimidade que reinava entre uns e
outros e estimulou os antagonismos de classe”. Segundo o autor isso demonstra essa
separação entre a estrutura da família e a estrutura do estado moderno. Desta forma, quando
a educação familiar se torna sólida demais, em especial a patriarcal, a adaptação do indivíduo
na vida social atual torna-se precária.
Esta é uma das raízes do subdesenvolvimento no Brasil, haja vista ter aqui imperado (e
ainda hoje pode observar) o tipo primitivo de educação familiar patriarcal, uma vez que,
dentre outros, essa raiz dificulta a compreensão das diferenças existentes entre a coisa pública
e a coisa privada, base fundamental para o desenvolvimento do clientelismo, do
patrimonialismo, do coronelismo e tantos outros fatores que dificultam o pleno exercício da
modernização, como ocorrida por exemplo na Europa Ocidental. Outra consequência desta
realidade brasileira é separação do “funcionário ‘patrimonial’ do puro burocrata conforme a
definição de Max Weber”. Assim, diferente do Estado Burocrático weberiano, aqui a gestão
pública, a política e o funcionalismo se estabilizam de acordo com interesses pessoais, não
objetivos.
Em suma, o autor defende que essa característica do povo brasileiro é, apesar de bem
vista por estrangeiros desacostumados com a cordialidade, uma das grandes responsáveis pelo
diminuto desenvolvimento sociopolítico nacional, e conclui afirmando que “A vida íntima do
brasileiro nem é bastante coesa, nem bastante disciplinada, para envolver e dominar toda a
sua personalidade, integrando-a, corno peça consciente, no conjunto social”.