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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANSA


CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DISCIPLINA SOCIOLOGIA III – 3º PERÍODO
PROFESSOR: ALEXANDRE KRÜGNER
ALUNO: RUY CAVALCANTE DE OLIVEIRA SOBRINHO

11.09.2014

Fichamento referente ao capitulo 5 do livro “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de


Holanda.

OBRA:
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Ed. 26. In: Sérgio Buarque de Holanda (org.). O homem
Cordial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995., pp.139-151.

O texto é iniciado contestando a ideia de que o Estado moderno seja uma evolução da
família, ou que tenha esta por descendente. Ao contrário, o autor defende uma oposição entre
estes dois elementos, uma total incompatibilidade, e é justamente as consequências desta
crise que orientam o estudo da história social. Antigamente, na velha estrutura social, “o
mestre e seus aprendizes e jornaleiros formavam como urna só família, cujos membros se
sujeitam a urna hierarquia natural, mas que partilham das mesmas privações e confortos”,
porém no estado moderno não há esse tipo de relação entre os atores da indústria, antes
“separando os empregadores e empregados nos processos de manufatura e diferenciando
cada vez mais suas funções, suprimiu a atmosfera de intimidade que reinava entre uns e
outros e estimulou os antagonismos de classe”. Segundo o autor isso demonstra essa
separação entre a estrutura da família e a estrutura do estado moderno. Desta forma, quando
a educação familiar se torna sólida demais, em especial a patriarcal, a adaptação do indivíduo
na vida social atual torna-se precária.

Esta é uma das raízes do subdesenvolvimento no Brasil, haja vista ter aqui imperado (e
ainda hoje pode observar) o tipo primitivo de educação familiar patriarcal, uma vez que,
dentre outros, essa raiz dificulta a compreensão das diferenças existentes entre a coisa pública
e a coisa privada, base fundamental para o desenvolvimento do clientelismo, do
patrimonialismo, do coronelismo e tantos outros fatores que dificultam o pleno exercício da
modernização, como ocorrida por exemplo na Europa Ocidental. Outra consequência desta
realidade brasileira é separação do “funcionário ‘patrimonial’ do puro burocrata conforme a
definição de Max Weber”. Assim, diferente do Estado Burocrático weberiano, aqui a gestão
pública, a política e o funcionalismo se estabilizam de acordo com interesses pessoais, não
objetivos.

Desse tipo de educação e princípios familiares surge a expressão “Home cordial”, e


esta característica do brasileiro, de tornar tudo familiar e pessoal, de ser cordial e hospitaleiro,
generoso e amável, a ponto de ser reconhecido por estrangeiros como um povo “gente boa”,
é também o que dificulta, como vimos, que ele trate o estado político como algo impessoal,
prejudicando assim o pleno funcionamento político burocrático do mesmo. Assim, em terras
brasileiras reinou, e de certo modo continua reinando, a individualidade que suplanta o social,
prejudicando nossa reverência ante o superior, que pode ser exemplificado por nossa
dificuldade na obediência das leis. Essa característica se manifesta em todos os ramos da vida
social brasileira, inclusive na vida religiosa, denotada pela maneira irreverente e não dada a
muita solenidade com que o brasileiro pratica sua religião. Como diz o autor: “A exaltação dos
valores cordiais e das formas concretas e sensíveis da religião, que no catolicismo tridentino
parecem representar uma exigência do esforço de reconquista espiritual e da propaganda da
fé perante a ofensiva da Reforma, encontraram entre nós um terreno de eleição e
acomodaram-se bem a outros aspectos típicos de nosso comportamento social”.

Em suma, o autor defende que essa característica do povo brasileiro é, apesar de bem
vista por estrangeiros desacostumados com a cordialidade, uma das grandes responsáveis pelo
diminuto desenvolvimento sociopolítico nacional, e conclui afirmando que “A vida íntima do
brasileiro nem é bastante coesa, nem bastante disciplinada, para envolver e dominar toda a
sua personalidade, integrando-a, corno peça consciente, no conjunto social”.

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