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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
HISTÓRIA DO BRASIL COLÔNIA - CARMEN ALVEAL
DISCENTE: BIANCA ARAUJO DOS SANTOS
PROVA DA 1° UNIDADE - 2021.1

3) O homem cordial, discutido por Sérgio Buarque de Holanda, muitas vezes é


apresentado no senso comum como referente à cordialidade inerente do brasileiro.
Discuta essa afirmação, explicando como SBH reflete sobre o brasileiro.

O livro Raízes do Brasil escrito pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda


ainda na segunda metade da década de 1930, trouxe para a historiografia brasileira sobre
o processo de colonização do Brasil uma nova visão sobre diversos pontos que ainda se
encontravam nebulosos no período, dentre esses pontos está a relação e importância da
família colonial na formação de uma nova sociedade e em quais segmentos essas
famílias tiveram influência. Um dos aspectos que essa relação de familismo moldou foi
no modo de agir dos homens perante diversos momentos e situações de suas vidas
íntimas e públicas.
A cordialidade do homem brasileiro descrita por Sérgio Buarque de Holanda
tem sua base construída nas relações familiares que no período da colonização foi
amplamente difundida nas demais esferas da sociedade, a demasiada forma intimista de
tratamento pelos membros que formavam o núcleo familiar, não somente com os
parentes consanguíneos, foi a grande causadora dessa excessiva, e muitas vezes
interesseira “cordialidade”.
Além da religiosidade que Sérgio Buarque retrata como sendo quase
desrespeitosa por todos cidadãos apresentarem o desejo de buscar uma incansável
intimidade com as figuras religiosas, a vida política também era baseada nas relações
pessoais, pois somente com a família e a integração dos individuas na sociedade é que
se pode criar o Estado e os “contratos primários" que seriam feitos entre membros
familiares eram o modelo a ser seguido em todas as esferas da vida privada e política e
o que movia todos esses desejos eram vontades particulares que não seriam exprimidas
com sucesso em núcleos que não fossem interpessoais.
Independente destes fatores, em Raízes do Brasil, essas relações são analisadas
sob um ponto de vista bastante excepcional. Para o historiador, essa cordialidade não
iria muito além de um jogo de interesses, onde a amizade, familiaridade e a cordialidade
seriam usadas para realizar desejos pessoais, esse aspecto de civilidade não seria real.
No capítulo Homem Cordial tamanha polidez é definida como “um disfarce que
permitirá a cada qual preservar inatas sua sensibilidade e suas emoções” (BUARQUE,
1936, p.147). Dando continuidade a seu pensamento, é enfatizado que essa
característica tão marcante na sociedade brasileira seria uma máscara para se manter em
uma determinada estabilidade social onde se era prezada essa cordialidade, essa máscara
nada mais eram do que uma maneira de se afastar de si mesmo e dos conflitos que
existem quando o autoconhecimento é adquirido.
Por fim, Sérgio Buarque elucida que tamanha cordialidade e aversão a ritos de
formalidade e polidez não seria nos brasileiros uma forma de se proteger, já que seria de
grande facilidade se libertar de todas as amarras que enlaçariam esses ditos homens
cordiais, suas vidas íntimas seriam suficientemente “rasas” para que esse desenlace
ocorresse sem muitos danos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Editora
Companhia Das Letras, 2004.

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