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Universidade Federal de Campina Grande – CDSA –

Campus Sumé, 04/11/2023, 5° Período


Curso de licenciatura em Ciências sociais

Disciplina: Antropologia brasileira


Docente: Valdonilson Santos
Discente: Melissa Dias da Silva Siqueira
Referência do livro: ROBERTO DA MATTA. O que faz o brasil, Brasil? Rio De
Janeiro: Rocco, 2001.

ATIVIDADE AVALIATIVA – Resumo/ Resenha

 Capítulo 1 – O que faz o brasil, Brasil? A questão da identidade


Afinal, o que faz o brasil, Brasil?. O capítulo se inicia destacando a necessidade de
distinguir um "brasil" com letra minúscula, que se refere a um objeto inanimado, como
uma madeira ou uma feitoria exploratória, e o "Brasil" com letra maiúscula, que
representa um país, uma cultura, valores, e ideais de vida, o"brasil" com letra minúscula
é visto como uma entidade em inércia, enquanto o "Brasil" é complexo e cheio de vida.
Com esta introdução então, DaMatta aborda como alguns teóricos sociais do século
XIX viam o Brasil como uma mistura doentia de raças condenada à degeneração, mas
argumenta que o Brasil com letra maiúscula é uma entidade viva e consciente, com uma
abrangente cultura quando diz que “o Brasil com B maiúsculo é algo muito mais
complexo. É país, cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecidos
internacionalmente, e também casa, pedaço de chão calçado com o calor de nossos
corpos, lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial,
única, totalmente sagrada.”
Ele descreve o Brasil como uma sociedade com valores e julgamentos únicos, onde as
pessoas seguem um padrão próprio e explora a ideia de que o Brasil está em toda parte,
não apenas em questões políticas e econômicas, mas também na comida, na cultura, nas
relações pessoais e na religião. DaMatta argumenta que o Brasil se define por seu estilo
e modo de fazer as coisas, e que a identidade social se constrói por meio de afirmativas
e negativas diante de questões específicas, ele destaca a importância de reconhecer que
o Brasil é uma sociedade que se liga tanto aos dados quantitativos modernos quanto aos
dados sensíveis e qualitativos, criando assim uma identidade complexa, e enfatiza a
capacidade do Brasil de misturar o antigo com o moderno, o tradicional com o
contemporâneo, e como essa capacidade relacional é a chave para entender a sociedade
brasileira. Assim, Damatta conclui que o Brasil é como uma moeda com dois lados, e
que é importante compreender como essas duas faces se relacionam para entender
verdadeiramente o que faz o Brasil ser o que é.
 Capítulo 2 – A casa, a rua e o trabalho
No capítulo dois, DaMatta observa a questão da rotina brasileira, e sua forte presença
em nossa cultura, e descreve a interação entre a casa e a rua, destacando como esses
dois espaços desempenham papéis fundamentais na vida social e na cultura brasileira. A
casa é vista como um local de tranquilidade, tradição, valores familiares, e intimidade,
onde as relações são calorosas e pessoais, é um espaço onde as pessoas são únicas e
insubstituíveis, e há um forte sentido de defesa dos bens materiais e dos membros
frágeis da família, a casa é um lugar moral, repleto de símbolos que marcam a
identidade social. Por outro lado, a rua é um espaço de movimento, contraste com a
calma da casa. Ela é vista como um local de luta, onde as pessoas são frequentemente
desconhecidas e onde a autoridade legal exerce controle.
A rua é associada à insegurança e à falta de respeito, onde as relações são mais
impessoais. O texto também discute a complexa relação entre trabalho, casa e rua no
Brasil, destacando como o trabalho é percebido de maneira ambivalente na sociedade
brasileira, devido à influência da escravidão e da moralidade nas relações de trabalho, e
cita como nossos heróis normalmente são o malandro, o renunciador, e o santo, que
fogem de um estereótipo trabalhista. Além disso, o texto ressalta como casa e a rua são
mais do que simples espaços físicos, mas também perspectivas através das quais os
brasileiros interpretam o mundo. A casa representa a harmonia, enquanto a rua
simboliza a dura realidade da vida, esses espaços se complementam e influenciam as
relações sociais e a cultura brasileira de maneira complexa e profundamente enraizada
na sociedade. A casa e a rua são elementos essenciais na vida social e cultural brasileira,
moldando as interações e as percepções das pessoas.

 Capítulo 3 – A ilusão das relações raciais


No século XVIII, o autor Antonil observou a sociedade brasileira dividida entre
senhores, escravos e mulatos e declarou: "O Brasil é um inferno para os negros, um
purgatório para os brancos e um paraíso para os mulatos." No entanto, essa afirmação
não deve ser interpretada estritamente em termos biológicos ou raciais, mas sim como
uma reflexão sobre aspectos sociológicos da sociedade. Ela aponta para uma
compreensão mais profunda das relações raciais no Brasil, indo além da mera questão
de raça, o contexto das teorias raciais predominantes na época, que eram racistas e
eurocêntricas, a mistura racial era vista com horror, e a miscigenação era considerada
prejudicial. Teóricos como o Conde de Gobineau acreditavam que a mistura de raças
levaria ao declínio da sociedade, no entanto, DaMatta observa como Antonil destaca a
singularidade do "racismo à brasileira" ao considerar o valor positivo da miscigenação,
Gobineau e outros teóricos do racismo viam a mistura como algo a ser evitado a todo
custo, e a palavra "mulato" era associada a algo híbrido e incapaz de reproduzir-se. O
preconceito dessas teorias era baseado na proibição do contato íntimo entre raças vistas
como diferentes, no entanto, o capítulo aborda a questão de forma simbólica, associando
o branco ao purgatório, o negro ao inferno e o mulato ao paraíso.
Ele reconhece o valor positivo da categoria intermediária representada pelo mulato e a
capacidade brasileira de aceitar e celebrar essa ambiguidade, a sociedade brasileira não
se encaixa em um sistema dualista estrito, como o dos Estados Unidos, mas permite a
coexistência de uma ampla variedade de categorias intermediárias, o autor também
aponta que a sociedade brasileira não se baseia em igualdade jurídica, mas em
hierarquia e graduações, tornando o preconceito mais sutil e difícil de combater. No
entanto, ele defende que a democracia racial só será possível quando todos os brasileiros
forem iguais perante a lei, desafiando a mitologia das "três raças formadoras" e
reconhecendo a desigualdade subjacente à sociedade brasileira. Em resumo, o texto
aborda a complexidade das relações raciais no Brasil, destacando como o "racismo à
brasileira" difere do "racismo à europeia" ou "racismo à americana". DaMatta enfatiza a
importância de reconhecer as raízes históricas e sociológicas do preconceito no país e a
necessidade de garantir igualdade perante a lei para alcançar uma verdadeira
democracia racial.

 Capítulo 4 – Sobre comidas e mulheres...


No capítuloquatro o autor enfatiza a importância dos alimentos, da comida e da
cozinha na sociedade brasileira, ressaltando a relação entre esses elementos e a
construção de identidades culturais e sociais. DaMatta destaca também a influência do
antropólogo Claude Lévi-Strauss, que relacionou os processos naturais do "cru" e
"cozido" não apenas aos alimentos, mas também a transformações sociais, a comida é
vista como um símbolo que permite entender a sociedade, integrando aspectos
intelectuais e sensoriais, unindo olhar, gosto e cheiro. A relação entre o "cru" e o
"cozido" é usada como metáfora para compreender o dilema entre a pressa (selvageria)
e a calma (civilização), e a distinção entre "alimento" e "comida" é destacada, onde o
primeiro se refere à simples ingestão para sobrevivência, enquanto o segundo envolve
prazer e comensalidade, marcando identidades e estilos de vida.
O texto também aborda a relação entre comida e sexualidade, destacando como a
metáfora de "comer" se aplica ao ato sexual, onde o comido é absorvido pelo comedor,
mulheres desempenham um papel crucial nessa metáfora, com algumas sendo
consideradas "comidas" e outras sendo as responsáveis pela cozinha e pela
comensalidade na casa. A culinária brasileira é caracterizada pela preferência por
alimentos cozidos que misturam elementos sólidos e líquidos, refletindo a mistura e a
relação entre diferentes culturas e raças no Brasil, a comida é vista como um ato
coletivo que reforça relações sociais e hierarquias na sociedade. No geral, o texto
explora a complexa relação entre comida, sexo, cultura, identidade e sociedade no
Brasil, destacando como a comida é mais do que apenas uma necessidade física, mas
um elemento essencial na construção da cultura brasileira e das relações interpessoais.

 Capítulo 5 – O carnaval ou o mundo como teatro do prazer


O quinto capítulo explora a dualidade entre a rotina e os momentos extraordinários na
vida das sociedades, onde o autor destaca como todas as culturas alternam entre esses
polos, como trabalho e festa, ordem e caos, memória e esquecimento. A mudança da
rotina para o extraordinário é influenciada por diversos fatores e é fundamental para a
formação da memória individual e social, no contexto brasileiro, Roberto DaMatta
enfatiza que a rotina está associada ao trabalho, obrigações e castigos, enquanto o
extraordinário, exemplificado pelo carnaval, é uma oportunidade de escapar dessa rotina
e de se libertar por um curto período de tempo da rotina, que é quase como um castigo
pro indivíduo brasileiro.
O carnaval é descrito como um evento de liberdade, alegria e inversão das normas
sociais, onde as pessoas podem expressar sua individualidade e se libertar das
hierarquias rígidas que dominam o cotidiano, a festa permite a troca de uniformes por
fantasias, a competição e a crítica social aberta, rompendo com as convenções habituais.
O autor argumenta que o carnaval é uma reviravolta positiva e desejada na vida social,
onde as pessoas podem experimentar o mundo como um excesso de prazer e liberdade,
além disso, o carnaval é visto como uma forma de solidariedade, onde as diferenças são
temporariamente superadas em prol da celebração coletiva. Em resumo, o texto discute
a importância dos momentos extraordinários, como o carnaval, na vida das sociedades,
destacando como esses eventos permitem a inversão das normas sociais e a expressão
da individualidade, criando um senso de liberdade e igualdade temporárias.

 Capítulo 6 – As festas da Ordem


O sexto capítulo explora e fala sobre o papel das festas na sociedade, destacando
como elas permitem oscilações entre uma visão alegre e uma leitura soturna da vida,
festas criam temporalidades diferenciadas, promovendo tanto momentos de rápida
intensidade, como o carnaval, quanto celebrações lentas e pesadas, como rituais da
ordem e formalidades. As festas recriam tempo, espaço e relações sociais, realçando
aspectos muitas vezes despercebidos na vida cotidiana, nas festas, aspectos como
talento, beleza, classe social, preconceito e alegria são descobertos e destacados, elas
proporcionam a consciência de diferenças sociais e a celebração do mundo tal como ele
é no dia a dia, DaMatta ainda diferencia festas da ordem, que reforçam a estrutura social
existente, daquelas que promovem a "desordem" ou orgias, que desafiam as normas
sociais.
No contexto brasileiro, as solenidades promovem a ligação entre casa, rua e outro
mundo de maneiras específicas, o carnaval busca abrir portas e muralhas, enquanto ritos
cívicos e religiosos celebram a ordem social e suas hierarquias. Os rituais religiosos
destacam a verticalidade na relação entre Deus, santos e fiéis. Os ritos da ordem buscam
manter as diferenças e gradações sociais. O texto também aborda a contenção física e
social nos rituais da ordem, enfatizando a rigidez dos gestos e o comportamento solene.
Essa contenção visa promover a ordem, o respeito e a uniformidade nas solenidades,
além disso, DaMatta explora como os rituais ressaltam a distinção entre o mundo
profano e o sagrado. Os rituais também desempenham um papel fundamental em
eventos de passagem, como nascimentos, casamentos e funerais e celebram exemplos,
modelos e ajudam a dar sentido à vida. Por fim, o autor enfatiza a importância de
eventos centrais, como a mesa e o bolo em festas de aniversário, que coordenam a ação
e a atenção de todos os participantes e destaca a presença de ritmo social, com
oscilações entre forma e conteúdo, continência física e excesso, festas são descritas
como momentos eternos ritualizados, sempre passageiros.

 Capítulo 7 – O modo de navegação social: A malandragem e o “Jeitinho”


O capítulo discute a relação dos brasileiros com as leis e normas universais,
destacando o dilema entre a ordem e o excesso, representado pelo Carnaval e pela
malandragem, nele DaMatta argumenta que os brasileiros têm uma tendência a buscar
"jeitinhos" para contornar as regras e fazer com que elas se adequem às suas
necessidades pessoais, o famoso “jeitinho brasileiro”, e que muitas vezes, fazem isso em
detrimento do bom senso e da coletividade. O autor menciona ainda, a oscilação entre as
leis universais, que deveriam valer para todos, e as relações pessoais, que funcionam
apenas para quem as possui. Essa oscilação resulta em um sistema social dividido entre
o sujeito das leis universais e o sujeito das relações sociais, com a malandragem, o
"jeitinho" e o famoso "sabe com quem está falando?" sendo estratégias para lidar com
essas contradições.
Ele também compara a situação no Brasil com países como Estados Unidos, França e
Inglaterra, onde as regras são geralmente obedecidas ou não existem, nessas
sociedades, a lei é vista como um instrumento que faz a sociedade funcionar bem, em
vez de explorar ou submeter o cidadão. Além disso, ele explora o conceito de
malandragem como um modo de navegação social brasileiro, destacando que o
malandro é alguém que encontra maneiras criativas de lidar com as leis e as normas
sociais, muitas vezes usando relações pessoais para alcançar seus objetivos. Por fim, o
capítulo enfatiza que a malandragem não é apenas um aspecto cultural sem
consequências, mas sim um modo de ser e uma estratégia para encontrar harmonia em
um sistema social profundamente dividido, a malandragem é vista como um valor social
que permite aos brasileiros conciliar a lei com a realidade social diária, muitas vezes
através de jeitos e acordos casuísticos. Em resumo, o texto aborda a relação complexa
dos brasileiros com a lei e as normas universais, destacando a malandragem e os
"jeitinhos" como estratégias para lidar com essa ambiguidade e encontrar harmonia em
um sistema social dividido.

 Capítulo 8 – Os caminhos para Deus


Neste capítulo, DaMatta destaca a importância dos espaços religiosos na sociedade
brasileira e como eles são considerados fundamentais, a casa e a rua são citadas como
espaços onde as pessoas vivem suas vidas cotidianas, enquanto os espaços religiosos,
como igrejas, capelas, terreiros, sinagogas, templos e cemitérios, marcam as fronteiras
entre o mundo dos vivos e o "outro mundo" habitado por mortos, espíritos e divindades.
DaMatta ressalta que a comunicação com o divino difere da comunicação no mundo
cotidiano, e que enquanto na vida comum usamos a linguagem do dinheiro e números,
na religião, buscamos uma comunicação mais direta com Deus, santos e outras
entidades divinas, envolvendo preces, súplicas e rituais formais. As formas coletivas de
comunicação incluem a cantoria, que reúne os pedidos em uma só voz para "subir" aos
céus, a verticalidade é destacada, relacionando o "alto" com tudo o que é nobre e
poderoso, habitado por anjos e santos, enquanto o "baixo" representa a terra, onde
vivemos. As práticas religiosas buscam ligar essas esferas, permitindo a comunicação
entre o mundo terreno e o divino, ele também menciona a importância das promessas e
oferendas como parte da comunicação com o divino, pois elas representam um
compromisso mais profundo e dramático. A relação com Deus e entidades divinas é
baseada na sinceridade, humildade e promessas de renunciar às pompas terrenas.
O texto discute a variedade de religiões no Brasil, com ênfase no catolicismo e em
outras tradições, incluindo religiões afro-brasileiras e o espiritismo kardecista. Apesar
das diferenças, todas compartilham a ênfase na comunicação com o divino e a
importância das relações pessoais com entidades protetoras. Além disso, o texto explora
como a religião oferece explicações para infortúnios e injustiças, assim como marca
momentos significativos na vida das pessoas, como nascimentos, casamentos e funerais.
A religião serve para legitimar a organização da sociedade e explicar as diferenças de
poder, com uma ressalta a pessoalidade na relação dos brasileiros com o divino,
destacando a importância de santos e entidades protetoras. A pluralidade de crenças e
práticas religiosas no Brasil é vista como complementar, refletindo a comunicação
íntima e direta entre os fiéis e o divino, em suma, DaMatta enfatiza como a religião
desempenha um papel fundamental na vida e na cultura brasileira, proporcionando uma
conexão entre o mundo terreno e o espiritual, com ênfase na pessoalidade e nas diversas
formas de comunicação com o divino.

 Resenha final sobre o livro


Quando se pensa na antropologia, buscamos compreender coisas que parecem mais
complexas ou desconhecidas da cultura e da sociedade, mas coisas que parecem
simples, e rotineiras da nossa vida e do dia a dia, também podem ser absolutamente
deliciosas de se estudar e compreender, nisto, o autor Roberto DaMatta tem total
maestria. Seu livro “O que faz do brasil, Brasil”, é puro suco nacional,com todos os seus
âmbitos, do doce ao salgado, do amargo ao azedo, mas tudo em um puro sabor do
Brasil. Não do brasil, com “b” minúsculo, mas sim do país Brasil, descrito
magnificamente por ele.
DaMatta destrincha a rotina brasileira, os resquícios da terrível escravidão, a relação
do brasileiro com o trabalho, o dogma da casa e a boêmia das ruas, o preconceito
presente no Brasil e a miscigenação como grande debate teórico, debate o famosíssimo
“jeitinho brasileiro” e como somos acostumados a corrupção da lei por meio da lábia, a
nossa forte conexão cultural com a comida, e como a comida de une principalmente ao
contexto e conotação sexual brasileiros como algo quente, cozido, ou cru, a libertação
social momêntanea que o carnaval nos oferece em meio as suas músicas, fantasias e sua
forte ligação com a rua. E por fim, sua análise absolutamente fantático do brasileiro e da
religião, onde o brasileiro cria sua porta entre o mundano e o divino, o mundo dos vivos
e o mundo dos mortos, em todas as suas religiões, que o influenciam diretamente.
DaMatta é direto, e traz uma leitura dinâmica, ao qual o leitor se identifica como
brasileiro, e solta breves sorrisos sinceros ao ler, pois cata o diário, a vivência e a
essência brasileira de modo fantástico, é com certeza um ouro antropológico atemporal ,
perfeito para quem busca reconhecer a identidade nacional.

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