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Universidade Federal da Bahia

Tópicos Especiais em Humanidades


Silas Bandeira da Silva

Identidades e Direitos Territoriais


Um dos maiores debates dentro dos estudos das humanidades é a questão
da Identidade. Desde Rousseau, Kant e Camus nos convidando a avaliar nosso
interno em busca do chamado esclarecimento, até as questões mais modernas
como as tratadas nos textos lidos, a relação entre território e identidade.
O texto de cruz já abre citando Bauman, tratando da constante paridade entre
identidade e conflito, cujo central no texto é o que ocorre entre os indígenas
habitantes milenares da Amazônia, e o Estado, que almejam explorar a região em
busca de recursos, já que para eles de nada importa a destruição que causarão para
os habitantes daquela região. Pra falar de novo de Kant, em seu livro “Para a paz
perpétua”, ele nos faz a distinção entre cidadão e súdito, sendo cidadão aquele que
é membro do Estado junto com seu líder. Ao contrário do súdito, que na verdade
deve se sujeitar ao chefe de Estado, que nesse caso é na verdade o proprietário do
mesmo. No Brasil, os indígenas não são vistos como cidadãos, mas sim súditos do
Estado brasileiro, já que para nós a destruição de suas terras “não nos fará perder
nossos banquetes, temporada de caça, palácios de férias e festas da corte” (Kant,
1989, p.:69).
Um dos maiores exemplos disso ainda apontados por Cruz, é como a partir
da década de 1960, foram idealizados projetos de infraestrutura, por meio de um
projeto conservador de modernização, onde não haveria mais espaço para as
“comunidades tradicionais”, apontando seu estilo de vida, pouco ou nada voltado
para a busca do lucro, como um empecilho para o desenvolvimento nacional.
No fim, o ponto principal discutido por cruz é a relação entre identidade e
território, desde nos apresentar diferentes conceitos de identidade como “Identidade
Relacional e Contrativa”, “Identidade Material e Simbólica” e “Identidade estratégica”
e como todas as três possuem relação direta com uma noção tradicional ou não de
território. À até mesmo discussões sobre como entendemos a natureza, sendo ela
associada a vida e biodiversidade, ou sendo vista como recurso escasso que deve
ser guardado para utilização futura. (Cruz, 2007).
O assunto é igualmente bem abordado por Little, este que nos fala dos
processos de territorialização do Brasil, passando pelo período de colonização e do
Império, de como as disputas por direitos territoriais sempre estiveram diretamente
ligados com a história do país.
Um dos pontos mais importantes do trabalho de Little é toda a problemática
que a presença de outras territorialidades causa dentro do Estado-Nação brasileiro.
As questões atreladas a soberania nacional e principalmente voltando para a
pergunta abordada também por cruz, de qual a relação entre identidade e território,
de como os territórios tomam parte importantíssima na formação da identidade de
um grupo ou povo, de sua relação com a memória coletiva e dos danos materiais e
imateriais que sua destruição pode causar para aquele grupo social.
Fazendo uma referência com a sociedade que eu escolhi para tratar, eu sinto
que me faltaram palavras específicas para abordar o que eu realmente tinha
interesse de tratar naquele texto. Palavras essas que vieram na forma do que Cruz
chama de auto-identidade, ou seja, a forma como um grupo reconhece e vê a si
mesmo, e a hetero-identidade que é como os demais os enxergam. Sendo assim,
dialogando com o antigo texto, levando em consideração todos os fatores que a
Somalilândia se apresenta como um Estado, sua auto-identidade é a de um Estado-
nação legítimo e independente, só lhes falta que sua hetero-identidade, seja a
mesma vista pelos demais, e não mais uma província rebelde da Somália.

Referências Bibliográficas:
CRUZ, V. C. Territórios, identidades e lutas sociais na Amazônia. In: Frederico
Guilherme Bandeira Araújo; Rogério Haesbaert. (Org.). Identidades e Territórios:
questões e Olhares Contemporâneos. 1ed. Rio de Janeiro Rj: ACCESS, 2007, v. 1,
p. 93-122.
LITTLE, Paul E. Territórios sociais e povos tradicionais no Brasil: por uma
antropologia da territorialidade. Série Antropologia, Brasília, n. 322, 2002.
KANT, Immanuel. À paz perpétua. Porto Alegre: L&PM, 1989.

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